clima urbano

36
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO COLÉGIO UNIVERSITÁRIO – COLUN CURSO TÉCNICO EM MEIO AMBIENTE DISCIPLINA: CLIMATOLOGIA PROFa. ROSALVA REIS ROOSEVELT FERREIRA ABRANTES WILLIAN COSTA CORDEIRO

Upload: rusgat

Post on 04-Jun-2015

4.276 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Clima urbano

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO COLÉGIO UNIVERSITÁRIO – COLUN

CURSO TÉCNICO EM MEIO AMBIENTE

DISCIPLINA: CLIMATOLOGIAPROFa. ROSALVA REIS

ROOSEVELT FERREIRA ABRANTESWILLIAN COSTA CORDEIRO

SÃO LUÍS

Page 2: Clima urbano

2012 ROOSEVELT FERREIRA ABRANTES

WILLIAN COSTA CORDEIRO

Clima Urbano: O clima das cidades.

Trabalho apresentado à disciplina de Climatologia do segundo modulo, ministrada pelo Profa. Rosalva Reis para obtenção de nota.

Page 3: Clima urbano

SÃO LUÍS2012

Page 4: Clima urbano

SUMARIO

Resumo..............................................................................................................................04Introdução...........................................................................................................................05O Ambiente Urbano............................................................................................................06O Clima Urbano..................................................................................................................06Fenômenos Inter-relacionados ao Clima Urbano...............................................................08Influencia da Poluição Atmosférica no Clima Urbano.........................................................09O Microclima e os seus Efeitos nos Centros Urbanos........................................................10O Microclima........................................................................................................................10Os Principais Efeitos do Microclima nos Centros Urbanos..................................................11A Urbanização, o Meio Ambiente e o Conforto Térmico......................................................11Impermeabilização do Solo e as grandes Enchentes e Inundações nos Espaços Urbanos................................................................................................................13A Problemática da Chuva Acida nas Cidades....................................................................15O Fenômeno da Ilha de Calor.............................................................................................16Os Problemas Socioambientais nas Cidades Decorrentes do Clima Urbano....................18Planejamento Urbano Sustentável......................................................................................19As Construções Bioestruturais e Bioclimáticas uma Solução Sustentável para asCidades Contemporâneas...................................................................................................21A Implantação de Novas Políticas Publicas para Construções dos Centros Urbanos Contemporâneos...................................................................................................22Considerações Finais ..........................................................................................................24Referencias Bibliográficas ...................................................................................................25

4

Page 5: Clima urbano

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo realizar uma revisão teórica sobre o clima urbano, destacando principalmente os estudos produzidos para as cidades brasileiras e as ocorrências de mudança em seus microclimas. As condições climáticas existentes em áreas urbanizadas são totalmente diferentes das áreas rurais circunvizinhas. Estas diferentes condições são decorrentes da interferência provocada pela estrutura urbana, como a forma geométrica das construções, os materiais utilizados, a impermeabilização do solo que interferem nas trocas de energia entre superfície e a atmosfera e consequentemente gera diferentes ambientes climáticos no espaço urbano. Um aspecto muito peculiar, e que facilmente se percebe nas regiões essencialmente urbanizadas, é o fenômeno das ilhas de calor, típico somente dos grandes centros urbanos. Atualmente muitos trabalhos estão sendo realizados em cidades de pequeno porte no Brasil mostrando que estas também apresentam temperaturas mais elevadas quando comparadas com seu entorno. É importante salientar que trabalhos nessa linha de pesquisa são relevantes, pois possibilitam identificar e mapear as áreas mais problemáticas e dar subsídios para que o poder público adote alternativas para a sua mitigação.

Palavras chaves: Clima; Urbanização; Ilhas de Calor.

5

Page 6: Clima urbano

INTRODUÇÃO

O homem vem provocando alterações no clima urbano, por meio das transformações da natureza na ocupação e modelação do espaço citadino, dentro desta perspectiva, usa, recria as condições do ambiente não mais como uma forma de adaptação ao meio, mas de forma que o meio se adapte às suas intenções. No entanto as condições infraestruturais, ambientais e sociais na utilização do espaço urbano das cidades podem propiciar as variações térmicas em diferentes pontos da cidade, isto leva em conta a releitura da metodologia de verticalização e impermeabilização dos espaços criados nos centros urbanizados, o que nos impulsiona a repensar nas avaliações de como a ação antropica na construção das cidades tem criado condições para a variação do microclima. A cidade representa sistemas complexos onde ocorre o cotidiano humano. Por conseguinte, cada cidade possui peculiaridades, tanto no que se refere a elementos geoecológicos como a elementos antrópicos (sociais, econômicos e culturais), em seus aspectos individuais e em suas interações deles decorrentes. Trata-se de um grande e complexo sistema com suas diferenças espaços-temporais em função da atuação conjunta dos componentes geoecológicos e dos diversos padrões de uso do solo com impactos diretos e indiretos nos atributos naturais. Dentre os atributos naturais, também o ambiente climático sofre derivações vinculadas aos seus sítios topo-climáticos (conferindo uma variedade de climas locais), que, conjugado às suas condições geo-urbanas gera uma complexidade maior, isto é, gera o seu próprio clima urbano. Estamos diante de uma relação homem/natureza de absoluta externalidade, sendo a natureza vista como um meio para atingir um fim, consagrando a capacidade humana dedominar a natureza. Usamos, recriamos, alteramos e reformulamos as condições do ambiente não mais como uma forma de adaptação ao meio, mas de forma que o meio se adapte às nossas intenções, sejam individuais, coletivos ou de forma global com as construções de estruturas. O incremento técnico intensifica o domínio sobre a natureza, provoca a substituição das restrições naturais pelas restrições impostas ao espaço modificado. As áreas urbanas representam a mais profunda modificação humana da face da Terra, da atmosfera e dos ecossistemas terrestres. Os efeitos urbanos são intensivos e localizados. Assim mudança originaria com a urbanização levam a alterações no comportamento dos elementos atmosféricos, na natureza que interferem no balanço de radiação, estoque de calor, umidade, circulação do ar e emissão de poluentes. Tais características devem-se às mudanças nas propriedades de albedo, condução e emissividade dos materiais empregados na construção civil, obstrução de certa porcentagem da radiação solar sky view factor pelos altos edifícios, supressão de áreas verdes e superfícies líquidas entre outros provocam modificações ao comportamento climático.

6

Page 7: Clima urbano

O AMBIENTE URBANO

A urbanização é um processo histórico que nos possibilita verificar nas estruturas internas das cidades, os agentes econômicos e sociais presentes no crescimento e desenvolvimento das mesmas. Visando conhecer os problemas sócioambientais do espaço urbano podemos perceber os processos de expansão das cidades e identificar a dinâmica das mudanças, tendo como ênfase seus impactos negativos no meio ambiente. As discussões sobre o ambiente urbano recaem em outras permutas importantes, como por exemplo, a questão do desenvolvimento sustentável para as cidades, tema de bastante interesse para os geógrafos, ambientalistas, setores administrativos do município como a secretaria de meio ambiente, educação e também a população local. O enfoque de uma pesquisa exploratória feita em órgãos públicos municipais, IBGE e análise geográfica com fotos, procurou levantar dados que revelem os principais problemas sociais que afetam o meio ambiente da cidade, e, posteriormente, sirvam para contribuição do desenvolvimento sustentável dos municípios, e juntamente com toda a comunidade, cobrarem seus direitos e reconhecerem seus deveres de cidadãos para com o ambiente em que vivem. Também houve preocupação com atividades conscientes de previsão das ações em opções política-epistemológica, tendo como referência as situações históricas concretas. Atualmente mais de 80% da população vive nas áreas urbanas, principalmente nos países em desenvolvimento. Assim as cidades cresceram de forma desordenada sem muito planejamento e adequação a meio natural, o que vem causando vários problemas que interferem na qualidade de vida. A urbanização duplicou a taxa de impermeabilização, diminuindo a evaporação, a evapotranspiração e a infiltração, gerando o desconforto térmico como também o risco de inundações, principalmente nos períodos chuvosos, e gerando grande impacto em termos de custo para o poder público e para a população atingida por estes episódios. É importante destacar que a urbanização juntamente com a industrialização modifica as características da atmosfera. A urbanização gera o aumento tanto horizontal quanto vertical das estruturas urbanas, e consequentemente é registrado um acréscimo significativo no coeficiente de rugosidade na superfície, alterando o deslocamento do vento, temperatura do ar, infiltração da água e a evaporação no interior da cidade. Essas mudanças nos elementos climáticos já foram quantificadas, analisadas em diversos trabalhos realizados tanto para cidade de grande porte quanto de pequeno porte, iniciados na década de 1950. Mesmo tendo um volume considerável de resultados vale ressaltar que poucos foram os estudos que se dedicaram às mudanças climáticas causadas pela urbanização e seus efeitos no clima regional.

O CLIMA URBANO

Ao incidir sobre a superfície da Terra, a radiação solar interage com os vários elementos que a compõem. Essa relação possibilita, não só a iluminação natural, mas, também o ganho de calor. Nas cidades, essa relação de ganho de calor pode ser potencializada pela transformação do ambiente natural proporcionada pelas construções que alteram a rugosidade, a forma do relevo e a impermeabilização do solo. À medida que a cidade se verticaliza e se adensa, provoca transformações que podem repercutir negativamente no balanço energético, o que consequentemente, pode alterar o clima local. Muitas alterações podem ser observadas dentro destes microclimas regionais onde se encontram as cidades, um deles em especial pode ser notado com facilidade, como é o caso do surgimento de ilhas de calor, fenômeno compreendido como uma diferença na temperatura de uma área urbana em relação a seu entorno ou a uma área rural e é

7

Page 8: Clima urbano

consequência, dentre diversos fatores, do aumento da rugosidade da superfície e da redução das trocas de calor no meio urbano. Assim, a degradação do ambiente provocada pelo crescimento das cidades as transforma num ambiente mais afetado climaticamente. A preocupação com a insalubridade das cidades não é recente e a concepção dos urbanistas modernos, está na busca de espaços racionais e abertos, capazes de promover a higiene, a ordenação e a segurança das cidades. Sobre isso, o fator de visão do céu desempenha um importante papel para a iluminação natural, já que as edificações muito próximas dificultam o acesso à luz, além de possíveis problemas de higiene (proliferação de fungos e ácaros), já que a radiação solar tem efeitos biológicos (bactericida). Na Roma antiga, o imperador Ulpiano criou o Heliocaminus, uma lei para regular o ato de edificar, garantindo ao povo o direito ao Sol. Atualmente, em cidades com alta densidade como Hong Kong, Nova York e Chicago, legislações e leis de zoneamento regulam as relações entre a altura das edificações e a largura das ruas. Assim, uma dessas regulamentações possibilita, por exemplo, o surgimento de blocos tronco-piramidais, com fachadas inclinadas, que podem ser observados na Figura.

Fonte: www.analisegeo.com / Imagem: A cidade de Hong Kong e os edifícios do centro de Belo Horizonte são exemplos de como estas construções contribuem para a formação do microclima urbano.

O FVC está diretamente ligado ao sombreamento da cidade, e sua relação com o consumo de energia elétrica pode ser observada por dois ângulos diferentes. Um, quando o sombreamento proporcionado por esse entorno diminui consideravelmente a luz natural na unidade, forçando a utilização de iluminação artificial. Outro, quando esse mesmo sombreamento diminui a carga térmica absorvida pela unidade, amenizando seu ganho de calor. Assim, percebe-se a importância da relação entre o FVC e o planejamento urbano. Por isso, planejadores e arquitetos, devem estar atentos principalmente onde existe a valorização do solo urbano e o poder público é pressionado pelo mercado imobiliário a permitir construções de grande altura e pequenos afastamentos.

8

Page 9: Clima urbano

FENÔMENOS INTER-RELACIONADOS AO CLIMA URBANO

Os fenômenos inter-relacionados, como a poluição do ar, chuvas intensas, desconforto térmico e inundações, passam a fazer parte do cotidiano, levando populações a se defrontarem com essa natureza alterada obrigando-as a conviver diariamente com os problemas dela decorrentes. O homem em sua jornada diária, sofre estímulos contraditórios de uso do solo inadequado. O clima interfere no cotidiano do ser humano assim como o homem também pode influenciá-lo através da modificação das áreas naturais para a formação dos centros urbanos. Segundo Amorim (2000) “as transformações na paisagem provocadas pelo surgimento e crescimento das cidades alteram o balanço de energia e o balanço hídrico urbano ”. Considerando as transformações ocorridas nas cidades e o aumento significativo da população, é que nasceu a necessidade de uma nova abordagem no estudo do clima para os centros urbanos. Monteiro (1976) definiu clima urbano como sendo o sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua urbanização. O clima urbano é fruto da interferência de atributos como capeamento do solo, material empregado nas construções, geometria e rugosidade da cidade, emissão de aerossóis e produção artificial de calor sobre a camada limite, segundo Danni (1995). Alguns trabalhos citados abaixo enfocam o clima urbano em cidades brasileiras de pequeno porte. Embora apresentando várias abordagens e metodologias os resultados foram muito semelhantes, principalmente no que se refere a diferença de temperatura, quando comparado o centro da cidade com a áreas de entorno. Evidentemente que cada cidade apresentou intensidade diferente dos valores de temperatura devido às feições diversificadas, localização geográfica e uso do solo urbano. Anunciação e Sant’Anna Neto (2002) realizaram um estudo para a cidade de Campo Grande-MS e constataram que a formação de ilhas de calor e de frescor ocorrem tanto na estação de verão quanto na estação de inverno. Este padrão sazonal é explicado pela atuação dos sistemas atmosféricos e as variações espaciais, tanto de temperatura quanto de umidade relativa, foram associadas ao tipo de uso do solo, exposição de vertentes, presença de vegetação, altitude e intensidade de radiação. Numa análise comparativa Zamparoni (1995) estudou as variações de temperatura e umidade relativa do ar em duas cidades Barras do Bugres e Tangará da Serra no Mato Grosso. Foram utilizadas medidas móveis e pontos fixos, as coletas foram realizadas na estação seca e na chuvosa no ano de 1993. Também foi elaborado um mapa de uso do solo para as duas cidades. Os resultados mostraram valores de ilha de calor de 2 oC durante a estação chuvosa e 3,6oC na estação seca na Barra do Bugres. Para Tangará da Serra, os valores foram maiores, sendo de 4 oC na estação chuvosa e 5,4 oC na estação seca. A tendência para a formação de ilhas de calor foi realizada por Tavares et. al. (1995) para três cidades médias tropicais no estado de São Paulo, Jales, Rio Claro e Americana, no período do inverno, enfocando as interações entre os sistemas atmosféricos atuantes, o clima urbano e a poluição do ar. Entre vários resultados apresentados, concluíram que no período de inverno a ocorrência de ilha de calor em cidades médias tropicais é frequente ao anoitecer, a contribuição deste padrão é devido a presença abundante de materiais dotado de grande condutibilidade térmica, que tornam o resfriamento mais lento. Também ressaltaram a importância de extensas áreas vegetadas, estas contribuem para atenuar ou dissipar o fenômeno de ilha de calor. Tarifa (1977) fez uma análise comparativa da temperatura e a umidade do ar na área urbana e rural de São José dos Campos-SP. Caracterizou a influência da natureza do espaço e do tipo de cobertura do solo nas variações de temperatura e umidade, investigou as variações impostas a esses elementos pelas diferentes exposições de vertentes. Comparando os valores da temperatura urbana com a área rural com diferentes exposições de vertentes, constatou que o ambiente urbano mostrou-se mais aquecido.

9

Page 10: Clima urbano

Existem muitos outros trabalhos relevantes realizados em cidades de pequeno porte que não foram neste momento contemplados nesta revisão teórica, considerando ser um resumo expandido. Porém é importante destacar que todos os estudos elaborados são necessários, porque o processo de crescimento urbano impõe um caráter específico a ponto de produzir condições atmosféricas locais distintas das encontradas em seu entorno.

INFLUÊNCIA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA NO CLIMA URBANO

Entende-se como poluição do ar, a mudança em sua composição ou em suas propriedades, decorrentes das emissões de poluentes, tornando-o impróprio, nocivo ou inconveniente à saúde, ao bem-estar público, à vida animal e vegetal e, até mesmo, ao estado de conservação de determinados materiais. Diversos agentes podem considerados contaminantes atmosféricos. Alguns exemplos de agentes de origem natural são as brumas marinhas (bactérias e micro cristais de cloreto e brometos alcalinos), produtos vegetais (grãos de pólen, hidrocarbonetos ), produtos de erupções vulcânicas (enxofre, óxidos de enxofre, vários tipos de partículas, ácido sulfúrico, dentre outros) e poeiras extraterrestres (material pulverizado de meteoritos que chegam à atmosfera); enquanto que os de origem artificial podem ser representados pelos radio-núcleos, derivados plúmbicos e os derivados de hidrocarbonetos (COELHO, 1997). A poluição do ar realmente passou a ser considerada um problema ligado à saúde pública a partir da Revolução Industrial, quando começaram a ser adotadas técnicas baseadas na queima de grandes quantidades de carvão, lenha e, posteriormente, óleo combustível. O uso intensivo dessas técnicas acarretou a perda gradativa da qualidade do ar nos grandes centros urbano-industriais, os centros urbanos tornaram-se maiores e mais populosos, marcados pelo uso intenso e crescente de veículos automotores , com reflexos nítidos na saúde de seus habitantes. Portanto, a qualidade do ar deixou de ser um problema de bem-estar e passou a representar efetivamente um risco à população. Muitos episódios caracterizados por elevados índices de poluição atmosférica têm sido registrados nos grandes centros urbanos do mundo, como: Cidade do México, Los Angeles, Detroit, São Paulo, Londres, Tóquio e Osaka. Nessas concentrações urbanas, mesmo quando não são registrados episódios críticos, os níveis de qualidade do ar são tão ruins, que seus habitantes ficam permanentemente expostos a uma frequência maior de doenças cardiorrespiratórias. Isso ocorre porque mesmo com a presença de substâncias nocivas em baixas concentrações no ar, o risco reside no tempo de exposição, já que uma substância tóxica, mesmo que presente em pequena quantidade no ar, pode se tornar perigosa por seu efeito acumulativo no organismo. Enfermidades como o câncer, enfisemas, pneumonias, bronquites, gripes, insuficiências respiratórias são uma presença certa em toda cidade. Os efeitos da poluição atmosférica não atingem a todos da mesma forma. Para os idosos, as crianças e as pessoas com problemas respiratórios, as consequências são dramáticas, caracterizadas por internações e até a morte. Na América Latina, a OMS(Organização Mundial da Saúde) estima que atualmente mais de 100 milhões de pessoas na América Latina estão expostas a níveis de contaminantes atmosféricos que excedem os valores recomendados, incluindo milhões de pessoas expostas à contaminação do ar em interiores, devido à queima de biomassa e de outras fontes. WEHRMAN (1996) resume as causas da poluição atmosférica nas cidades latino-americanas em três grupos:

1. A concentração do tráfego de veículos num espaço cada vez mais limitado, devido à intensa atividade econômica da população urbana e à ausência de um planejamento eficiente das cidades;

10

Page 11: Clima urbano

2. O alto consumo de gasolina e a ausência de equipamento para reduzir as emissões que caracterizam os países mais pobres;

3. A ocupação de áreas de produção industrial ou trechos próximos das vias intensas de circulação para residências ou local de trabalho, expondo grande parcela da população, diariamente, à emissão de poluentes liberados por veículos automotores ou industriais.

a. A poluição do ar afeta o clima das áreas urbanas de diversas formas. O próprio balanço energético das cidades sofre interferência, pois os poluentes refletem, dispersam e absorvem radiação solar. Muitos poluentes também servem de núcleos de condensação, sendo, portanto, abundantes no ar das cidades, cuja umidade já é substancialmente abastecida através da evaporação, dos processos industriais e dos automóveis, que emitem grandes quantidades de vapor d'água. Consequentemente, a tendência da precipitação é aumentar sobre as áreas urbanas. Contudo, os efeitos mais alarmantes da poluição atmosférica ocorrem na saúde da população urbana. AYOADE (1998).

b. O Sistema Clima Urbano é regido por condições geoclimáticas, mas a grande questão está nas diferenciações microclimáticas ocasionadas pelas diversas coberturas e no balanço térmico urbano. Portanto, as intervenções provocadas no sítio interferem na qualidade de vida dos habitantes das cidades, gerando transtornos como as inundações em épocas de chuva, o desconforto térmico e a má qualidade do ar.

Dos combustíveis fósseis, o de melhor desempenho, do ponto de vista ambiental, é o gás natural, cujas emissões de contaminantes atmosféricos são muito menores. Uma outra alternativa já testada é a utilização do etanol como combustível que reduz as emissões de monóxido de carbono (CO) e outros gases. Pesquisadores reforçam a importância das áreas verdes nos centro urbanos, devido à influência que a vegetação exerce nos parâmetros climáticos de diversas áreas e seus arredores, reduzindo a radiação, a temperatura, gerando a elevação da umidade e reduzindo a velocidade do vento. A arborização do meio urbano é um fator extremamente importante para a qualidade do ar. Uma cortina de árvores, por exemplo, é capaz de reter mais de 80% das partículas inaláveis emitidas pelos motores a diesel (SIRKIS, 1999) Esses poluentes, dos mais perigosos do ponto de vista da saúde pública, são também os mais pesados, com menor capacidade de transporte aéreo. Por esta razão, áreas de lazer, praças com brinquedos infantis ou equipamentos para exercício físicos instalados a menos de 50 metros de via de trânsito intenso, é uma decisão urbanística que expõe os usuários desses locais à poluição.

O MICROCLIMA E OS SEUS EFEITOS NOS CENTROS URBANOS

O MICROCLIMA O microclima é a área relativamente pequena cujas condições atmosféricas diferem da zona exterior. Os microclimas geralmente formam-se quando há barreiras geomorfológicas, ou elementos como corpos de água ou vegetação. Há ainda casos de microclimas urbanos, onde as construções e emissões de poluentes atmosféricos dão

11

Page 12: Clima urbano

origem ao aumento da temperatura, tal como da composição natural do ar, provocando diferenças de temperatura, composição da atmosfera, umidade e precipitação, entre outros componentes do clima. O micro clima urbano ainda pode ser entendido como a alteração climática nos centros urbanos.

OS PRINCIPAIS EFEITOS DO MICROCLIMA NOS CENTROS URBANOS Os centros urbanos têm apresentado diversos problemas ambientais: poluição dos recursos hídricos, destinação e tratamento inadequado de resíduos, redução da cobertura vegetal, poluição atmosférica, inversão térmica, entre outros. Todos esses elementos são extremamente prejudiciais à vida de todas as espécies, e as consequências desse processo já são sentidas pela população. Um aspecto muito comum nas cidades é a alteração climática, na qual ocorre a elevação da temperatura local, diferenciando das condições climáticas da região. Esse fenômeno é denominado microclima urbano, e se desenvolve em escalas diferentes, sendo determinado pelas estruturas de cada cidade (pavimentação, área verde, indústrias, etc.). A temperatura de uma cidade pode ser elevada em até 6 °C por consequência do conjunto das seguintes ações: substituição da vegetação pelo asfalto, concreto e outras superfícies impermeáveis, que ocasiona uma grande absorção da radiação solar; verticalização das construções (edifícios), formando uma barreira para a circulação do ar e emissão de gases poluentes na atmosfera. O concreto absorve bastante radiação solar (cerca de 98% da radiação que atinge a superfície), enquanto que as áreas verdes conseguem dissipar essa energia. Para agravar a situação, a construção de edifícios prejudica a circulação do ar, dificultando a dispersão do ar quente. A emissão de gases poluentes intensifica o efeito estufa, promovendo ilhas de calor, ou seja, aumento da temperatura local. Esse fenômeno é mais acentuado nos grandes centros urbanos, visto que eles são mais dotados de construções e indústrias, além do fluxo de automóveis ser mais intenso. As cidades industrializadas são, ainda, mais vulneráveis a outros fenômenos, como, por exemplo, o “smog” – espécie de nevoeiro composto por diversas partículas, sendo considerada a principal forma de poluição atmosférica. Portanto, o microclima urbano é promovido por ações humanas, havendo a necessidade da elaboração e aplicação de Planos Diretores que adotem medidas para expansão da área urbana, além da implantação de áreas verdes nos centros urbanos.

A URBANIZAÇÃO, O MEIO AMBIENTE E O CONFORTO TÉRMICO

No atual estágio da modernidade, a sociedade se expressa espacialmente de forma cada vez mais urbana, cosmopolita. Submetida ao domínio global do capitalismo avançado, a nova relação tempo-espacial se deve às mudanças nas formas de trabalho, devido à alta tecnologia. A necessidade de anular as distâncias e a consequente evolução nas comunicações e no transporte, resulta na dispersão da população nas áreas metropolitanas. Entre os mais evidentes e graves impactos socioambientais produzidos pela urbanização devido à sua intensa transformação do meio natural, encontram-se a contaminação e a formação de um clima urbano específico e, como consequência, a perda da qualidade de vida dos habitantes da cidade. O clima urbano é produzido pela ação do homem sobre a natureza e se relaciona à produção de condições diferenciadas de conforto / desconforto térmico, à poluição do ar,

12

Page 13: Clima urbano

às chuvas intensas, às inundações e aos desmoronamentos das vertentes dos morros, são eventos de grande custo social (LOMBARDO, 1985). As condições climáticas urbanas inadequadas significam perda da qualidade de vida para uma parte da população, enquanto para outra, conduzem ao aporte de energia para o condicionamento térmico das edificações. Em consequência, aumentam as construções de usinas hidrelétricas, termoelétricas ou atômicas, de grande impacto sobre o meio ambiente (LAMBERTS et al., 1997). Assim, os processos de urbanização atuais e a configuração das cidades refletem o desenvolvimento de relações complexas e de resultados negativos para o convívio humano / social na cidade, o que ocorre e também pode ser percebido de forma distinta conforme a sua condição social, principalmente onde as diferenças sociais mais se acentuam: nos "países de desenvolvimento complexo". O Brasil, incluído nesta condição de desenvolvimento, apresenta uma dinâmica de urbanização que resulta na segregação social e espacial e na exclusão de grande parte de sua população (SANTOS, 1994). Atualmente, mais de 80% da população brasileira habitam em áreas urbanas (IBGE, 2006) que, em sua maioria, cresceram desordenadamente. Do alto índice brasileiro de urbanização decorrem problemas de difícil administração e correção sem que sejam destinados recursos para investimentos essenciais. Além de uma maior vulnerabilidade da população mais desfavorecida ao desconforto térmico, essa parcela da sociedade geralmente é induzida a se estabelecer nos espaços mais degradados da cidade, onde é possível que as condições climáticas específicas agravem ainda mais os baixos índices de qualidade de vida. A importância do conforto térmico relaciona-se não só à sensação de conforto das pessoas, como também ao seu desempenho no trabalho e à sua saúde. Os limites da sobrevivência, dependendo do tempo de exposição das pessoas às condições termo-ambientais, definem uma faixa bastante larga de temperatura. Já os limites da saúde são bem mais estreitos, sendo os de conforto ainda mais. A condição de conforto é obtida mediante o efeito conjugado e simultâneo de um complexo conjunto de fatores objetivos, como os elementos do clima (temperatura do ar, umidade relativa, movimento do ar e radiação) e a vestimenta, e outros de caráter subjetivo como aclimatação, forma e volume do corpo, cor, metabolismo etc. O efeito conjugado destes parâmetros, quando produz sensações térmicas agradáveis, é denominado zona de conforto e seu estudo é de suma importância para o condicionamento térmico natural das edificações ou Arquitetura Bioclimática (RORIZ, 1987). Embora o organismo tenha seu funcionamento regulado pela adaptação às condições climáticas como uma resposta fisiológica, há que se ressaltar, ainda, entre os fatores de caráter subjetivo, aqueles de origem cultural formados pela tradição e pela experiência vivida, dos quais depende a satisfação com o ambiente térmico e que conduzem a comportamentos defensivos a condições térmicas desfavoráveis.A adaptação dos povos ao meio natural tornou-se o fator determinante das formas de se construir, tornando o ambiente construído as edificações e seu conjunto, a cidade o meio favorável para o desenvolvimento do homem. Desta forma, as expressões construtivas de forte caráter regional são as que possuem estreita relação com o seu entorno (OLGYAY, 1963). Mas, nos últimos séculos, de modo cada vez mais intenso, a comunicação entre as sociedades, o desenvolvimento tecnológico e as descobertas de novos materiais têm contribuído para que o ato de construir se distancie dessa adaptação natural. O Clima Urbano "resulta das modificações radicais que os processos de urbanização produzem na natureza da superfície e nas propriedades atmosféricas de dado local" (OKE, 1978). Desta forma, por meio da emissão de poluentes, atividades industriais, desflorestamento e outras atividades antropogênicas, o processo de urbanização provoca

13

Page 14: Clima urbano

alterações na atmosfera urbana, gerando "ilhas de calor" e "ilhas de frescor", conforme a configuração da dinâmica do uso do espaço e resultando na diferenciação dos microclimas urbanos. Os microclimas, frequentemente, deixam de ser considerados no planejamento das cidades, tampouco tem sido dada a devida importância às condições climáticas urbanas resultantes da interação da natureza e da sociedade (morfologia do relevo, massas de vegetação, estrutura urbana e circulação de ar, entre outras). O conhecimento das condições climáticas em localidades diferenciadas na cidade pode contribuir para a melhoria das condições de conforto humano dentro e fora das edificações, bem como para o uso racional da energia e, portanto, colaborar com o desenvolvimento humano duradouro. Alguns trabalhos sobre a climatologia urbana têm sido realizados em várias cidades do Brasil, em condições climáticas diversas, entre os quais destacamos os de Danni (1987), Lombardo (1985), Mendonça (1995), Brandão (1996) e Assis (2000). Respeitando os princípios do conforto ambiental, o planejamento e o controle do uso e ocupação do solo podem beneficiar milhões de pessoas de todos os níveis sociais. Uma configuração de cidade ambientalmente adequada deve minimizar os impactos do crescimento urbano sobre a natureza, reduzir a poluição do solo, da água e do ar decorrentes das atividades humanas, melhorar as condições de insolação e ventilação dos ambientes, buscar uma boa distribuição e índices adequados de áreas permeáveis e de áreas vegetadas, e ampliar o uso racional dos recursos naturais na construção. Deve, enfim, promover a preservação da qualidade do meio ambiente urbano e da qualidade de vida dos seus habitantes.

IMPERMEABILIZAÇÃO DO SOLO E AS GRANDES ENCHENTES E INUNDAÇÕES NOS ESPAÇOS URBANOS

As causas das enchentes em regiões urbanas em que o problema tende a se agravar pelas alterações do clima, frequentemente tem haver com impermeabilização do solo destas regiões, ou seja a dificuldade e impossibilidade que a água da chuva encontra em percolar nestes ambientes, gerando assim um escoamento gradativo e volumétrico com forças devastadoras. Um dos fatores preponderantes nas cidades que as tornam vulneráveis às enchentes é a taxa de impermeabilização do solo, relação pouco abordada pela imprensa e outros canais de informação. Grande parte deste problema esta em municípios com enormes índices de ocupação e aglomeração humana e estrutural, a forma com que o uso e a ocupação do solo é feita nestes centros causa muitos entraves e preocupações para os administradores públicos, os questionamentos feitos principalmente aos órgãos públicos, especialistas e estudiosos sobre a adequação e o cumprimento das leis que restringem habitações em áreas instáveis, de proteção e conservação ambiental e zonas intempéries ainda não são devidamente respeitas no Brasil. A impermeabilização excessiva do solo dificulta ou mesmo impede a absorção da água da chuva, que escoa em grande quantidade para as galerias de esgoto e os rios. Ao transbordar, a água suja e o lixo invadem as residências. Além da impermeabilização, a destruição da mata ciliar e o assoreamento dos rios são os principais vilões causadores das enchentes. A maior parte dessa problemática se identifica no desrespeito as Leis de Uso e Ocupação do Solo e também na grande desigualdade socioeconômica que empurra famílias inteiras e trabalhadores informais para os centros urbanos formados pelas aglomerações de subsistência no entorno dessas cidades uma vez que esse tipo de política orquestrada e ostentada pelo neocapitalismo vigente, frequentemente impõe pressões sobre estes grupos apenas para suprir seus interesses financeiros,

14

Page 15: Clima urbano

principalmente os que possuem especulação de interesse imobiliário e de desapropriação campesinata.

As enchentes e inundações no espaço urbano:

O problema das inundações em áreas urbanas existe em muitas cidades brasileiras e suas causas são tão variadas como assoreamento do leito dos rios, impermeabilização das áreas de infiltração na bacia de drenagem ou fatores climáticos. A atividade antrópica vêm provocando alterações e impactos no ambiente há muito tempo, existindo uma crescente necessidade de se apresentar soluções e estratégias que minimizem e revertam os efeitos da degradação ambiental e do esgotamento dos recursos naturais que se observam com cada vez com mais frequência. O homem por sua vez procura combater os efeitos de uma cheia nos rios, construindo represas, diques, desviando o curso natural dos rios, etc. Mesmo com todo esse esforço, as inundações continuam acontecendo, causando prejuízos de vários tipos.O melhor meio para se evitar grandes transtornos por ocasião de uma inundação é regulamentar o uso do solo, limitando a ocupação de áreas inundáveis a usos que não impeçam o armazenamento natural da água pelo solo e que sofram pequenos danos em caso de inundação. Esse zoneamento pode ser utilizado para promover usos produtivos e menos sujeitos a danos, permitindo a manutenção de áreas de uso social, como áreas livres no centro das cidades, reflorestamento, e certos tipos de uso recreacional. Inundações devido à urbanização: as enchentes aumentam a sua frequência e magnitude devido a ocupação do solo com superfícies impermeáveis e rede de condutos de escoamentos. O desenvolvimento urbano pode também produzir obstruções ao escoamento como aterros e pontes, drenagens inadequadas e obstruções ao escoamento junto a condutos e assoreamentos; Estas enchentes ocorrem, principalmente, pelo processo natural no qual o rio ocupa o seu leito maior, de acordo com os eventos chuvosos extremos, em média com tempo de retorno superior a dois anos. Este tipo de enchente, normalmente, ocorre em bacias grandes ( > 500 km2), sendo decorrência de processo natural do ciclo hidrológico. Os impactos sobre a população são causados, principalmente, pela ocupação inadequada do espaço urbano. Essas condições ocorrem, em geral, devido às seguintes ações: como, no Plano Diretor Urbano da quase totalidade das cidades brasileiras, não existe nenhuma restrição quanto ao loteamento de áreas de risco de inundação, a sequencia de anos sem enchentes é razão suficiente para que empresários loteiem áreas inadequadas; invasão de áreas ribeirinhas, que pertencem ao poder público, pela população de baixa renda; ocupação de áreas de médio risco, que são atingidas com frequência menor, mas que quando o são, sofrem prejuízos significativos.

Os principais impactos sobre a população são:

1. Prejuízos de perdas materiais e humanas;2. Interrupção da atividade econômica das áreas inundadas;3. Contaminação por doenças de veiculação hídrica como leptospirose, cólera, entre

outros;4. Contaminação da água pela inundação de depósitos de material tóxico, estações de

tratamentos entre outros.

O gerenciamento atual não incentiva a prevenção destes problemas, já que a medida que ocorre a inundação o município declara calamidade pública e recebe recursos a fundo perdido e não necessita realizar concorrência pública para gastar. Como a maioria

15

Page 16: Clima urbano

das soluções sustentáveis passam por medidas não-estruturais que envolvem restrições a população, dificilmente um prefeito buscará este tipo de solução porque geralmente a população espera por uma obra. Enquanto que, para implementar as medidas não-estruturais, ele teria que interferir em interesses de proprietários de áreas de risco, que politicamente é complexo a nível local. Além disso, quando ocorre a inundação ele dispõe de recursos para gastar sem restrições. Para buscar modificar este cenário é necessário um programa a nível estadual voltado a educação da população, além de atuação junto aos bancos que financiam obras em áreas de risco.

Os principais impactos devido a urbanização:

O planejamento urbano, embora envolva fundamentos interdisciplinares, na prática é realizado dentro de um âmbito mais restrito do conhecimento. O planejamento da ocupação do espaço urbano no Brasil não tem considerado aspectos fundamentais que trazem grandes transtornos e custos para a sociedade e para o ambiente. O desenvolvimento urbano brasileiro tem produzido um aumento caótico na frequência das inundações, na produção de sedimentos e na deterioração da qualidade da água superficial e subterrânea. A medida que a cidade se urbaniza, ocorre o aumento das vazões máximas (em até 7 vezes) devido a impermeabilização e canalização. A produção de sedimentos também aumenta de forma significativa, associada aos resíduos sólidos e a qualidade da água chega a ter 80% da carga de um esgoto doméstico. Estes impactos têm produzido um ambiente degradado, que na condições atuais da realidade brasileira somente tende a piorar. Este processo infelizmente não está sendo contido, mas está sendo ampliado à medida que os limites urbanos aumentam ou a densificação se torna intensa. A gravidade desse processo ocorre principalmente nas médias e grandes cidades brasileiras. A importância deste impacto está latente através da imprensa e da TV, onde se observam, em diferentes pontos do país, cenas de enchentes associadas a danos materiais e humanos. Considerando ainda, que cerca de 80% da população encontra-se nas cidades, a parcela atingida é significativa. O potencial impacto de medidas de planejamento das cidades é fundamental para a minimização desses problemas. No entanto, observa-se hoje que nenhuma cidade brasileira possui um Plano Diretor de Drenagem Urbana. As ações públicas atuais estão indevidamente voltadas para medidas estruturais como a canalização, no entanto esse tipo de obra somente transfere a enchente para jusante. O prejuízo público é dobrado, já que além de não resolver o problema os recursos são gastos de forma equivocada. Esta situação é ainda mais grave quando se soma o aumento de produção de sedimentos (reduz a capacidade dos condutos e canais) e a qualidade da água pluvial (associada aos resíduos sólidos). Esta situação é decorrente, na maioria dos casos, da falta de consideração dos aspectos hidrológicos quando se formulam os Planos Diretores de Desenvolvimento Urbano. Deste modo são estabelecidos, por exemplo, índices de ocupação do solo incompatíveis com a capacidade da macrodrenagem urbana.

AS PROBLEMATICAS DA CHUVA ACIDA NAS CIDADES

A chuva acida nas cidades ocorre devido à presença de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera comumente liberada por combustão realizada por automóveis, aparelhos e maquinários comburentes, fabricas industriais e queima de muitos outros gases que as atividades antropicas normalmente acabam por dispersar no ambiente.

16

Page 17: Clima urbano

A chuva ácida pode também ser assim explicada quando existe na atmosfera um número muito grande de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio (NO, NO2, N2O5) que, quando em contato com o hidrogênio em forma de vapor, formam ácidos como o ácido nítrico (HNO3), ou o ácido sulfúrico (H2SO4). Com um pH em torno de 5,4, a chuva comum não traz nenhum prejuízo ao homem ou à natureza. Isso porque, a acidez é baixa. (A escala utilizada para medir o pH vai de 0 a 14, sendo que 7 é o pH neutro. Acima disso, é básico e abaixo é ácido. Quanto mais baixo, mais ácido.) O problema, é que com a queima de combustíveis fósseis, como o petróleo, e o aumento considerável do acúmulo de dióxido de carbono na atmosfera (além do normal) fazem com que o pH da chuva caia para algo entre 5 e 2,2 e se torne extremamente nociva ao homem e à natureza. As grandes cidades como Nova York (EUA), Berlim (Alemanha) e até a Atenas (Grécia) já sofrem com os efeitos da chuva ácida há muito tempo, mas, há apenas 10 anos que este tema começou a ser investigado mais a fundo pelos ecologistas e cientistas do clima. Os efeitos mais nocivos da chuva ácida ocorrem no meio ambiente. Um lago, por exemplo, que possui um pH em torno de 6,5 não sobrevive a um pH abaixo de 4 ou 4,5, podendo ocorrer a morte de todos os seres que vivem ali. A chuva ácida também causa a acidificação do solo tornando-o improdutivo e mais suscetível à erosão. A acidez do solo, inclusive, é um dos principais fatores para a diminuição da cobertura vegetal em diversos países. Estudos recentes publicados pelo WWF apontam que a chuva ácida já um dos principais responsáveis pelo desmatamento na Mata Atlântica. Para o homem o acúmulo de dióxido de enxofre no organismo pode levar à formação de ácidos no corpo humano causando até danos irreversíveis aos pulmões. Na Inglaterra, em 1952, na cidade de Londres, cerca de 4000 pessoas morreram por causa da emissão de dióxido de enxofre pela queima de carvão nas indústrias e nas casas. O pior de tudo é que nem sempre a chuva ácida cai sobre a local onde foi feita a emissão de dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio. Como essas substâncias estão em forma de gás, elas podem ser transportadas pelo vento por quilômetros de distância antes de cair na forma de chuva.

O FENOMENO DA ILHA DE CALOR

A Ilha de Calor não é um fenômeno típico somente dos grandes centros urbanos, muitos trabalhos realizados em cidades de pequeno porte em diferentes regiões do Brasil, têm mostrado que estas também apresentam diferentes “ilhas” ou de calor ou de frescor no seu interior. Estes trabalhos são relevantes porque possibilita identificar e mapear as áreas mais problemáticas e também disponibilizar subsídios para que o poder público adote algumas alternativas para a mitigação como, por exemplo, a arborização urbana, calçadas ecológicas ou calçadas com a utilização de materiais permeáveis dentre outras medidas para amenizar a temperatura do ar como também possibilitar o aumento da taxa de infiltração da água no solo. A Ilha de Calor (ou ICU, ilha de calor urbana) pode ser ainda designada como à distribuição espacial e temporal do campo de temperatura sobre a cidade que apresenta um máximo, definindo uma distribuição de isotermas que faz lembrar as curvas de nível da topografia de uma ilha, dai a origem do nome ilha de calor.

17

Page 18: Clima urbano

Fonte: Adaptado de Henderson-Sellers e Robinson (1989) / Imagem: Representação esquemática das camadas da atmosfera urbana (urban boundary layer e canopy boundary layer).

Há um contraste térmico entre a área mais urbanizada e menos urbanizada ou periférica, que inclusive pode ser área agrícola. Alterações da umidade do ar, da precipitação e do vento também estão associadas à presença de ilha de calor urbana. Em geral, nas cidades de latitudes médias e altas (onde o clima é mais frio) forma-se durante a noite, em associação com o estabelecimento de uma circulação tridimensional na camada limite urbana (CLU) cujo ramo inferior ocorre na forma de um fraco escoamento centrípeto chamado brisa urbana, com intensidade da ordem de 1 a 3 km/h. A origem das ilhas de calor decorre da simples presença de edificações e das alterações da paisagem feitas pelo homem nas cidades. A superfície urbana apresenta particularidades em relação à menor capacidade térmica e densidade dos materiais utilizados nas construções urbanas: asfalto, concreto, telhas, solo exposto, presença de vegetação nos parques, ruas, avenidas, bulevares e também, alterações do albedo (reflexão das ondas curtas solares) devido às sombras projetadas das construções e à impermeabilização da superfície do solo que implica aumento da velocidade do escoamento superficial da água de chuva e maior risco de cheias das baixadas, varzeas etc.

18

Page 19: Clima urbano

Fonte: www.brasilescola.com / Imagem: Ilha de calor é um fenômeno típico dos grandes centros urbanos. A ilha de calor ocorre em centros urbanos onde há grande concentração de edificações.

OS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS NAS CIDADES DECORRENTES DO CLIMA URBANO

O inicio do século XXI encontra-se marcado pela concentração humana nas cidades. As áreas urbanas demandam, cada vez mais, atenção de cientistas e gestores urbanos, particularmente quando se trata da formação de riscos e vulnerabilidades socioambientais. O clima urbano, e seu estudo, constituem parte importante para o tratamento dos problemas socioambientais urbanos e conduz, em ultima instancia, à revisão do planejamento e da gestão das cidades na atualidade. Estudar a cidade de forma integral constitui-se num importante desafio aos cientistas, intelectuais e aos gestores urbanos. Neste sentido o texto apresenta as propostas do SCU – Sistema Clima Urbano, e do SAU – Sistema Ambiental Urbano – cujo objetivo principal é aquele de embasar estudos e perspectivas que tomem a cidade a partir da perspectiva multi e interdisciplinar. Considerando a perspectiva das mudanças climáticas globais, e a consequente intensificação do calor e da urbanização, particularmente nos países não desenvolvidos, estima-se que haverá uma exacerbação dos riscos e das vulnerabilidades socioambientais urbanos, embora esta condição não seja decorrência única e exclusiva daquela. Três são as formas de manifestação dos riscos, a natural, a tecnológica e a social; cada uma delas pode se manifestar de maneira isolada, todavia, a associação de duas ou mais formas caracteriza boa parte dos processos nos quais a sociedade humana é colocada em perigo. Os riscos socioambientais podem se manifestar para toda a população de uma determinada área num certo momento, especialmente quando da ocorrência de hazards (naturais, sociais e tecnológicos), mas não atinge a todos da mesma maneira. Este último aspecto coloca em evidencia as diferentes formas de suscetibilidade das populações aos impactos dos eventos extremos, sendo neste caso evidenciada a vulnerabilidade socioambiental das populações aos riscos socioambientais. Enquanto a formação de situações de excepcionalidade climática revela, particularmente, uma condição natural dos riscos, as diferenciações socais, políticas, econômicas e culturais das

19

Page 20: Clima urbano

populações revelam, por seu lado, condições de injustiça social que se ligam, diretamente, às diferenciações da vulnerabilidade socioambiental das populações aos eventos extremos. Muito recentemente nota-se o inicio do emprego da concepção de resiliencia à analise das manifestações de fenômenos de caráter extremo; todavia, parece ser necessário uma melhor discussão e aprofundamento desta perspectiva, pois o retorno às condições pré-acidentes da grande parte das populações dos países não desenvolvidos é lastimável para se desejar voltar a ela. O emprego destas três concepções na ciência em geral, e na geografia em particular, tem provocado importantes transformações na forma de conceber e analisar o espaço geográfico. A mais importante delas talvez seja a mudança do enfoque, ou seja, as três perspectivas irrompem com a leitura “estática” do espaço e colocam sua dinâmica em evidencia; elas impõem a necessária abordagem da condição passada de uma dada realidade espacial em apreço, forma direta de conceber o presente como seu resultado, mas inserem o exercício da construção da situação (cenário) futura. Desta forma o planejamento urbano e regional, por exemplo, conduzem a atuação do geógrafo a não mais realizar projeções sobre um espaço imóvel, mas sim, a considerá-lo sob um ponto de vista de intenso dinamismo; obriga-o, de certa maneira, a exercitar um pouco mais sua criatividade científico-técnica. O estudo do clima urbano registra avanços consideráveis no presente, sendo este um campo especial de estudos da climatologia. Destaca-se, no âmbito brasileiro a proposta do SCU – Sistema Clima Urbano, fartamente aplicada em estudos no país, e reapropriada mais recentemente com a proposta de analise do SAU – Sistema Socioambiental Urbano. Ambas tomam o estudo do clima e do ambiente da cidade a partir de uma perspectiva integradora dos elementos naturais, sociais e construídos da cidade; nesta perspectiva observa-se um considerável avanço na analise dos problemas socioambientais urbanos. Mais recentemente, com a intensificação do processo de urbanização e sua tendência em agudizar-se na forma de cidades-região gigantescas nas próximas décadas, especialmente na América Latina, África e Ásia, o estudo do clima urbano e dos problemas socioambientais a ele relacionados toma maior vigor. Assim, o desconforto térmico, as inundações e a poluição do ar constituem problemas de expressivo interesse da climatologia e dos geógrafos na atualidade, associados aos quais a analise dos riscos e vulnerabilidades socioambientais urbanos traz importantes contribuições à gestão da cidade. Particularmente no âmbito das discussões relativas às mudanças climáticas globais, é preciso enfatizar, e ainda que a temática esteja fortemente revestida de controvérsias, há que se considerar que a formação de riscos e vulnerabilidades socioambientais ao clima deva se intensificar; isto decorre não somente de mudanças ou variabilidade nos climas do planeta, mas sobretudo à expansão das áreas urbanas no presente e a perspectiva futura para o desenvolvimento das mesmas.

PLANEJAMENTO URBANO SUSTENTÁVEL

O desenvolvimento sustentável nas cidades é, no entanto, um aparente consenso entre governos e ambientalistas, revela mais imprecisão do que clareza em torno de seu significado. Alguns discursos e aspectos dessa fragilidade teórica e conceitual busca supera sem vislumbrar uma alternativa para o futuro. À primeira vista, trata-se de um desgaste típico dos modismos que, ao repetirem à exaustão um novo discurso, acabam por esvaziá-lo de seu significado. Entretanto, argumenta-se, com base em uma revisão de abordagens recentes, que, partindo da economia política e incorporando elementos da ecologia política e do pós-

20

Page 21: Clima urbano

estruturalismo, a noção de desenvolvimento urbano sustentável (ou de cidades sustentáveis) traz consigo alguns conflitos teóricos de difícil, porém não impossível, reconciliação, entre natureza e meio físico, os quais se destacam:

1. O conflito entre a trajetória da análise ambiental e a da análise urbana que, originando-se em áreas do conhecimento diferentes, convergiram recentemente na proposta de desenvolvimento sustentável, com objetivos às vezes divergentes;

2. O conflito entre formulações teóricas e propostas de intervenção, o que se tem traduzido no distanciamento entre análise social/urbana crítica e planejamento urbano. Tal distinção aparece mais claramente na literatura internacional do que na brasileira, quase configurando áreas de atuação profissional distintas.

Estruturado da seguinte forma: na primeira parte, discutem-se as trajetórias da análise ambiental e da análise urbana que desembocam no conceito de desenvolvimento urbano sustentável. É mister considerar que a maior parte das discussões teóricas acerca do desenvolvimento sustentável referem-se ao desenvolvimento da sociedade (embora, em geral, enfatizando fortemente os aspectos econômicos), e não especificamente ao desenvolvimento urbano. Por outro lado, a adoção do conceito de desenvolvimento urbano sustentável faz-se muitas vezes com base nas práticas do planejamento urbano, sem grandes questionamentos acerca das formulações teóricas que lhe servem de suporte. Na segunda parte, são examinadas algumas propostas de planejamento que adotam, de forma explícita ou não, o discurso e/ou pressupostos de sustentabilidade urbana, discutindo-os à luz do contexto em que foram formulados. São utilizados como exemplos as propostas europeias de cidades compactas, o movimento das cidades sustentáveis da Califórnia e, no caso brasileiro, a experiência recente de planejamento urbano em Belo Horizonte. Tais casos visam realimentar a discussão teórica inicial, já que a saída para os impasses mencionados parece estar sendo construída prioritariamente a partir da prática. Pode-se dizer que une a economia política à crítica pós-estruturalista contemporânea por meio de um projeto político de libertação, no qual as questões ambientais teriam o importante papel de agentes catalizadores da transformação. Nestes termos, parece uma abordagem promissora para analisar as práticas urbanas contemporâneas, já que essas cada vez mais se articulam em torno de questões que podem (e devem) ser definidas como socioambientais: constitui, assim, um arcabouço de análise urbana crítica, que incorpora a diversidade contemporânea dos discursos locais, das práticas de gestão, a partir de situações concretas, nas quais a qualidade socioambiental dos espaços seja um elemento central, ou ainda, em que os conflitos em torno de questões ambientais urbanas possam articular interesses divergentes. Em síntese, pode-se dizer que o campo dos estudos ambientais vem experimentando, simultaneamente, o alargamento de suas bases conceituais e a multiplicação da quantidade de estudos e áreas do conhecimento envolvidas. Em grande parte desses trabalhos, a dimensão espacial/urbana das análises permanece subestimada, às vezes inexistente, ou ainda, numa perspectiva mais radical, até mesmo negada como não-ambiental, não-natural. Breheny (1992), por exemplo, observa que, enquanto o tempo é uma dimensão explícita na maioria das noções de sustentabilidade, o espaço é frequentemente ignorado. Curiosamente, a recente evolução de experiências de planejamento e de práticas urbanas, particularmente no chamado primeiro mundo, como que desconhece tal hostilidade e parece ter assumido o desenvolvimento sustentável como a principal meta a orientar as propostas de ação. Algumas visões críticas certamente associarão a versão urbana de desenvolvimento sustentável à construção de um discurso hegemônico de legitimação do planejamento contemporâneo, à semelhança da crítica feita pelo pós-

21

Page 22: Clima urbano

estruturalismo à idéia de desenvolvimento (econômico) sustentável como o discurso contemporâneo das políticas de desenvolvimento.

AS CONSTRUÇÕES BIOESTRUTURAIS E BIOCLIMÁTICAS UMA SOLUÇÃO SUSTENTAVEL PARA AS CIDADES COMTEMPORANEAS

A Arquitetura bioclimática consiste em pensar e projetar um edifício tendo em conta toda a envolvência climatérica e características ambientais do local em que se insere. Pretende-se assim otimizar o conforto ambiental no interior do edifício (i.e. o conforto térmico, luminoso, acústico, etc.) utilizando apenas o design e os elementos arquitetônicos disponíveis. A grande inovação no contexto da Arquitetura Bioclimática resulta então, quanto a nós, de dois grandes fatores: da multidisciplinaridade necessária para conceber um projeto eficiente e da sua inserção no tema da sustentabilidade. Ambos estes fatores têm sido largamente desprezados na Arquitetura moderna visto por um lado existir de certa forma uma falta de diálogo entre a Arquitetura e a Engenharia e por outro lado existir ainda uma globalização dos critérios arquitetônicos criando um “modelo internacional” que em muitos casos está desenraizado do contexto. A Arquitetura Bioclimática permite integrar várias áreas do saber, criando modelos e projetos únicos para cada situação, podendo considerar, não só os aspectos climáticos como também aspectos ambientais, culturais e socioeconômicos.

Fonte: UTL – Universidade Técnica de Lisboa - Curso de Bioarquitetura / Imagem: Esquema gráfico de uma casa bioclimatica

Com as suas raízes no empirismo das regras de boa arte dos nossos antepassados, a arquitetura bioclimática surgiu numa altura em que a não existência de tecnologias que pudessem responder às necessidades de climatização e de iluminação obrigavam a uma construção eficiente e inserida no clima circundante. É ainda de notar que nessa altura os materiais utilizados eram os materiais locais, o que permitia uma diversificação e uma exploração limitada de cada tipo de material. Exemplos deste tipo de construção são visíveis em algumas casas no Alentejo, em que o fato de estas estarem todas em banda, com ruas estreitas, permitia um maior sombreamento e as paredes

22

Page 23: Clima urbano

grossas pintadas de branco permitiam uma maior inércia térmica do edifício e uma menor absorção da radiação solar. Outro exemplo bastante conhecido são as casas existentes em países nórdicos com uma inclinação acentuada dos telhados, necessária para permitir que a neve não permaneça em cima deste. Ambos estes exemplos ilustram casos em que com medidas muito simples se promove o conforto tanto de Inverno como de Verão. Percebe-se assim que um edifício bioclimático não tem que envolver despesas acrescidas, visto não precisar de complicados dispositivos tecnológicos. Assim, o seu sucesso depende apenas da experiência, dos conhecimentos e da criatividade do seu projetista. No fundo, a Arquitetura Bioclimática é apenas um rótulo relativamente recente para classificar uma série de atitudes no processo de projeto. A vantagem da existência da Arquitetura Bioclimática enquanto área do saber, é a progressiva sistematização e evolução dos objetivos a que se propõe:

1. projetar, tendo em conta o aproveitamento energético potencial do local a que se destina.

2. Existem outras definições relacionadas com este tema, que trabalham no mesmo sentido e que importa distinguir aqui a título de informação:

• Arquitectura solar passiva: é muito semelhante à Arquitetura Bioclimática com a única diferença de que apenas lida com os ganhos energéticos provenientes do Sol, enquanto que a Arquitetura Bioclimática pode incluir outras preocupações climatéricas.

• Design ativo ou Arquitetura solar ativa: Lida com meios mecânicos de baixo consumo energético, em geral associado ao uso de energias renováveis: ex. painéis solares, fotovoltaico, sistemas hibridos de arrefecimento por evaporação, etc.

• Construção Sustentável: Lida com o impacto ambiental de todos os processos envolvidos na construção de uma casa desde os materiais utilizados até às técnicas de construção passando pelo consumo de energia no processo construtivo e no edifício durante o seu tempo de vida. Este tipo de arquitetura abarca o conceito de arquitetura bioclimática.

A IMPLANTAÇÃO DE NOVAS POLÍTICAS PUBLICAS PARA CONSTRUÇÕES DOS CENTROS URBANOS CONTEMPORANEOS

As políticas públicas relativas ao uso e ocupação do solo podem, efetivamente, ampliar sua eficácia no processo de condução do desenvolvimento urbano, incorporando às suas finalidades o propósito de contribuir para a sustentabilidade das cidades brasileiras e, mais especificamente, de evitar ou minimizar a interferência negativa do crescimento urbano na qualidade do ambiente. Como se verifica em algumas das estratégias urbanísticas vistas em alguns países de primeiro mundo, sugeridas para o nosso país, contribuem para o atingimento de mais de um objetivo, alem do econômico e social, evidência de que estas terão maior influência na manutenção ou aprimoramento da qualidade do espaço urbano. Este fato reforça a importância de uma abordagem sistêmica e integrada na elaboração das políticas públicas, diretrizes e planos setoriais de modo a obter o máximo de resultados – também sob o ponto de vista ambiental - das potencialidades transformadoras de cada ação ou investimento público. A exemplo das que tratam da organização territorial, as políticas públicas podem e devem tornar-se instrumentos da construção de um processo de desenvolvimento urbano sustentável, incluindo em seus objetivos e metas a preocupação com a sustentabilidade e incorporando às suas motivações a necessidade de interação entre justiça social,

23

Page 24: Clima urbano

qualidade de vida, equilíbrio ambiental e, como comenta Jacobi (2002), a necessidade de desenvolvimento com respeito à capacidade de suporte da cidade. Considerando que o processo de desenvolvimento urbano implica na multiplicação dos impactos ambientais decorrentes do assentamento humano sobre a área de influência da cidade e a existência de diretrizes de ação visando à promoção da sustentabilidade urbana na Agenda 21 Brasileira, bem como nas disposições do Estatuto da Cidade, especialmente no que se refere aos objetivos da política urbana, garantia do direito a cidades sustentáveis, planejamento do desenvolvimento urbano, estudo de impacto de vizinhança e ao Plano Diretor, o trabalho aponta possibilidades de efetivação destas diretrizes e dispositivas legais no gerenciamento urbano através de políticas públicas locais no âmbito dos transportes, habitação e uso do solo. Tais políticas deverão estar dirigidas a objetivos ambientais definidos em função do grau de qualidade ambiental urbana presente e da equidade da sua distribuição espacial, visando uma situação futura desejada.

24

Page 25: Clima urbano

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o desenvolvimento deste trabalho, verificou-se com base em pesquisas bibliográficas de autores renomados sobre o assunto clima urbano, que algumas das milhares entre milhões de modelações urbanas observadas em diversas cidades do Brasil, vem perpassando por uma drástica mudança microclimática em muitas de suas diversas regiões. Estas mudanças nos microclima só são possíveis devido ao surgimento de muitas cidades variando de acordo com os interesses da sociedade que nela se desenvolvem as suas atividades. Nessa perspectiva a caracterização de um modelo urbano, na estrutura das cidades e sua dinâmica funcional demonstraram as nuances dos possíveis fatores da mudança do clima urbano de diversas cidades brasileiras. Perceber esta mudança sutil no ambiente não é uma tarefa fácil, já que este fator evolui de forma gradativa. Ver as cidades hoje e analisar o seu recorte histórico e absorver as mutações de comportamento de uma sociedade alongo destas décadas de tal forma que o seu espaço urbano se produz e reproduz em novos cenários, onde a migração populacional, o crescimento econômico, a industrialização e o consumo reformulam a forma orgânica das cidades principalmente notadas durante estas ultima décadas. Soma-se ainda a essa realidade, a alta taxa de densidade demográfica revelada pelo IBGE nestas ultimas décadas, que acelerada degradação dos recursos naturais compromete a qualidade de vida dos moradores de algumas áreas em detrimento de outras, onde se observa novos problemas ambientais, que não se limitam apenas à temática ambiental, mas, sobretudo, às questões sociais, tidas como consequência dos problemas de ordem econômica, política, cultura e ideológicas. Todos estes fatores são pontes, são determinantes quando estudamos as cidades como um todo e como este todo vem contribuindo com as alterações na modelação. Não se pode dizer hoje que as modelações não existam, mesmo que se apresente em escalas do microclima eu mesmo imperceptível para alguns indivíduos. As mudanças que ocorrem na estrutura urbana, tem comprometido as condições do microclima, isto porque constatou-se que como outras cidades no mundo, as médias das temperaturas já apresentam características e indícios semelhantes na condições físicas e estrutura organizacional que provocaram focos do fenômeno de ilha de calor como consequência na modelação do microclima.

25

Page 26: Clima urbano

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

AMORIM, M.C.C.T. O clima urbano de Presidente Prudente-SP. 2000, 374p. (Tese de Doutorado). Programa de Pós Graduação em Geografia Física – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

ANUNCIAÇÃO, V.S., SANT’ANNA NETO, J.L., O Clima Urbano da Cidade de Campo Grande – MS. p.61-87. In. SANT’ANNA NETO, J.L. (Org.) Os Climas das Cidades Brasileiras. Presidente Prudente, 2002, 227p.

DANNI, I.M. Aspectos conceituais do sistema clima urbano: uma breve revisão bibliográfica sobre as ilhas de calor. Caderno de Geociência, Rio de Janeiro, n.15, p. 1-191, julho/setembro, 1995.

MONTEIRO, C.A.F. Teoria e Clima Urbano. São Paulo: IGEOG/USP. 1976, 181p. (Série Teses e Monografias, 25).

TARIFA, J.R. Análise comparativa da temperatura e umidade na área urbana e rural de São José dos Campos – SP. Geografia. Rio Claro, v.2, n.4, p. 59-80, 1977.

TAVARES, A.C. et. al. Interações entre ilhas de calor em cidades médias tropicais, tipos de tempo no inverno e saúde dos citadinos. Geografia, Rio Claro-SP, vol.20(2), p.73-99, outubro 1995.

ZAMPARONI, C.A.G.P. Ilha de calor em Barra do Bugres e Tangará da Serra – MT: uma contribuição ao estudo do clima urbano em ci dades de pequeno porte em área tropical. 1995.

26