coletânea de mensagens v
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COLETÂNEA
de MENSAGENS
V
Este é um trabalho de tradução e adaptação
feito pelo Pr Silvio Dutra, de obras publicadas
nos séculos XVI a XIX, por um processo de
eximia seleção de arquivos em domínio
público de homens santos de Deus que
tiveram uma vida piedosa e real, que é tão
raramente vista em nossos dias. Estas
mensagens estão sendo traduzidas
pioneiramente para a língua portuguesa,
dando assim oportunidade de serem lidas e
conhecidas em países da citada língua.
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Sumário
A Paciência e seu Trabalho Perfeito.........................................................
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A Palavra de Homens e a Palavra de Deus........................................................
42
A Peneira e seus Efeitos......................
83
A Preciosidade da Provação..............
115
A Presença Pessoal do Confortador...............................................
163
A Principal Finalidade da Vida........
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A Paciência e Seu Trabalho Perfeito
Título original: Patience and Her Perfect Work
Por J. C. Philpot (1802-1869)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
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“Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações; sabendo que a
prova da vossa fé opera a paciência. Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que
sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma.” (Tiago 1.2-4)
Uma raça singular de homens vivia na Idade
Média chamada alquimistas - um nome ainda
conservado nas palavras "químico" e "química" – os quais gastaram seu dinheiro, quebraram seus
espíritos e desperdiçaram suas vidas em uma busca incansável de três coisas - primeiro, um
remédio que curaria todas as doenças, que chamavam de "panaceia"; em segundo lugar,
uma tintura, ou, para usar sua linguagem, um "elixir vital", que prolongaria a vida por um
período indefinido; e em terceiro lugar, um pó, denominado "pedra filosofal", que transmutaria
o chumbo e outros metais básicos em ouro.
Não preciso lhes dizer que todas as suas laboriosas pesquisas, que perseguiram durante
vários séculos foram completamente infrutíferas, sem que se obtivesse qualquer
resultado satisfatório.
Se eles pudessem ter encontrado um remédio para curar todas as doenças, isso teria afastado a
velhice e suas enfermidades?
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Se eles pudessem ter uma vida prolongada por um período indefinido, a sepultura, cedo ou
tarde, não fecharia a vítima?
E se pudessem ter mudado toneladas de chumbo em ouro; ou a despesa do processo teria
engolido todos os lucros, ou a abundância obtida por uma manufatura barata por si mesma
teria destruído seu valor quando realizada, em razão do aumento excessivo da oferta de ouro
que diminuiria seu preço no mercado.
Mas, o que não puderam encontrar na química deve ser encontrado no evangelho. A natureza,
por mais que fosse torturada na fornalha, não poderia fazer nenhum milagre como eles
tentaram realizar, mas a graça de Jesus livremente e sem constrangimento tem
trabalhado e ainda diariamente os trabalha.
Há um remédio que nas mãos de Jeová Rafá, o grande Médico (Êx 15:26) cura todas as doenças
e dissipa todas as queixas. Como Davi fala; "Quem cura todas as tuas doenças" ( Salmos 103:
3).
E o que é esta "panaceia"?
O precioso sangue de Cristo, que "purifica de
todo pecado".
O pecado não é uma doença?
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E se este sangue precioso purifica de todo pecado, não deve ser um medicamento
universal, tanto mais valioso quando cura a doença da alma, que deve ser infinitamente
mais mortal e destrutiva, do que qualquer doença corporal?
A doença abateu o alquimista em meio a seus extratos e essências, e com todos os traços mais
mortíferos de seu sacrifício da própria saúde na vã tentativa, de curar a doença do outro. Mas, o
nosso abençoado Médico não só revelou e trouxe à luz uma medicina infalível, mas ele
mesmo a aplica com suas próprias mãos e a torna eficaz para uma cura perfeita.
E não há no mesmo Jesus abençoado, a verdadeira panaceia milagrosa da vida? O que ele disse à mulher de Samaria?
"Quem beber da água que eu lhe der nunca terá sede, mas a água que eu lhe der será nele uma fonte de água, que brota para a vida eterna". (Jo
4:14).
Nós temos esta garantia na sua ressurreição e ascensão ao céu de onde intercede por nós dia e
noite à direita do Pai. Ele ressuscitou e vive eternamente tendo triunfado sobre a morte, e
nós também juntamente com ele.
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O alquimista apenas procurou acrescentar mais alguns anos à vida humana, mas Jesus dá a vida
para sempre.
Sua graça não é a verdadeira "pedra filosofal", transformando de forma miraculosa a agonia e
aflições de chumbo em consolações de ouro; misérias terrenas em misericórdias celestiais;
maldições legais em bênçãos do evangelho, e pecadores vis em santos preciosos?
Assim, os sonhos ilusórios dos alquimistas tornaram-se sólidas realidades, excedendo em muito o que eles labutavam em vão para
encontrar, como a eternidade supera o tempo, e o céu supera a terra.
Um desses milagres da graça, nós encontramos em nosso texto - "Meus irmãos", diz Tiago, "tenham por motivo de toda alegria quando
caírem em várias tentações".
Que milagre deve ser quando um homem pode levar em suas mãos uma carga de tentações e
provações, e, por um ato de fé transmutá-las em alegria! Se você pudesse pegar um pedaço de
chumbo, colocar um pó sobre ele, segurá-lo por alguns minutos em uma fornalha, e transformá-
lo em um sólido pedaço de ouro, isto seria um milagre maior do que transformar aflições em
um eterno peso de glória?
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Como isso é feito, espero que com a bênção de Deus, vejamos a partir das palavras do nosso
texto na abertura, que dirigirei suas mentes a quatro características principais que me
parecem estar estampadas nelas:
I. Primeiro, as "diversas tentações" nas quais o povo de Deus "cai".
II. Em segundo lugar, o efeito de cair em diversas tentações - que provam a fé, e que "a
tentação da fé opera paciência."
III. Em terceiro lugar, o conselho apostólico: "Que a paciência tenha seu trabalho perfeito", que o santo de Deus "seja perfeito e habilitado,
sem nada faltar".
IV. Em quarto lugar, o efeito transmutador da graça permite que a família tentada e provada de Deus "tenha toda a alegria" quando cair em
diversas tentações.
I. As "diversas provações e tentações" nas quais o povo de Deus "cai".
Contudo, antes de mergulhar no meu assunto, devo, com a bênção de Deus, tentar explicar de
forma tão clara e concisa quanto possível o significado preciso de várias palavras em nosso
texto, para que possamos ter uma visão mais
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clara da mente e do significado do Espírito Santo na passagem diante de nós.
A palavra traduzida "tentações", abarca no original um campo mais amplo de experiência
do que o termo inglês transmite. Devemos, portanto ampliar a ideia de modo a incluir também as "provações", pois a palavra original
significa não apenas "tentações", mas inclui também o que entendemos pelo termo
"provações".
Devemos também ampliar ainda mais o significado da palavra "diversas", porque o termo no original significa não somente
“diversificado, vários, de diferentes tipos”, mas também “muitos em número”. De modo que
possamos assim ampliar nosso texto, em perfeita coerência com a mente do Espírito
Santo - "tenha toda alegria quando cair em muitas e várias provações e tentações".
Assim, vemos que as palavras neste sentido ampliado compreendem todas as provações e
todas as tentações, por mais numerosas e mais diversificadas que sejam, em que os santos de
Deus possam cair. De outra forma, se o texto fosse restrito, não se aplicaria a todos da família
de Deus, a menos que a palavra “tentações” usada por Tiago incluísse em seu significado,
cada provação, cada tipo de tentação.
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Também devo deixar uma palavra de explicação sobre a expressão "cair em", pois há algo muito
significativo na ideia transmitida por ela. A ideia é de uma “queda súbita em um perigo
inesperado”, como, por exemplo, de um viajante caindo em uma emboscada de ladrões; porque o
Senhor usa exatamente a mesma palavra quando fala na parábola do homem que desceu de Jerusalém a Jericó e "caiu entre os ladrões."
(Luc 10:30). Ele estava viajando, como pensava, em segurança, mas de repente caiu em uma
emboscada de ladrões que o rodearam, o despojaram e feriram, deixando-o meio morto.
Ou, a expressão pode referir-se à ideia de um navio dirigindo seu curso em segurança
aparente, e de repente atinge um recife de rochas, ou é pego em um redemoinho, pois
temos a mesma palavra exata do navio que transportava Paulo para a Itália; "Dando, porém,
num lugar onde duas correntes se encontravam, encalharam o navio; e a proa,
encravando-se, ficou imóvel, mas a popa se desfazia com a força das ondas." (At 27:41).
Assim, a palavra "cair em" diversas tentações tem um significado peculiar, como expressão para a própria vida e maneira pela qual os santos
de Deus muitas vezes, e inesperadamente caem em tentações numerosas e diversas, e
provações que se encontram como se numa emboscada com muitos salteadores, ou que se
escondem como rochas e areias movediças na
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viagem da vida. Para você ter em mente que o santo de Deus é tanto um viajante, como um
peregrino. Ele tem uma maneira de pisar, um caminho para viajar - o caminho estreito e
apertado que leva à vida eterna. O cristão tem uma viagem a fazer, pois navega num mar onde
várias formas de morte aparecem; e são "aqueles que descem ao mar em navios, que fazem negócios em águas profundas, que veem as
obras do Senhor e as suas maravilhas no abismo" (Salmos 107: 23-24).
A estrada em si é áspera e acidentada, e o mar tempestuoso e turbulento, mas são os perigos do caminho; "as rochas e as areias movediças
profundamente escondidas, que, através da falsa passagem”, em outras palavras, as
provações e tentações espalhadas pelo percurso, tornam a viagem tão difícil e perigosa.
Mas, vejamos alguns desses perigos e estas "diversas provas" nas quais a família de Deus cai. Eles podem ser chamados de "diversos", ou
“muitos e variados”, como nós explicamos a palavra, pois brotam de fontes tão numerosas e
diferentes; mas vou apenas nomear quatro:
1. do alto;
2. de baixo;
3. de fora;
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4. de dentro.
1. Alguns são do ALTO.
"O Senhor", expressamente nos é dito, "prova os
justos". "Examina-me, ó Deus, e prova o meu coração", diz o salmista - experimente-me e
conheça meus pensamentos.
As provações com que o próprio Deus prova o seu povo não são apenas numerosas e variadas,
mas na maior parte, são de uma natureza muito dolorosa e desconcertante, mas todas são
exatamente adaptadas à natureza do caso, e adequadas ao estado da pessoa provada, sendo
planejado por sabedoria inabalável, e pesado, medido e programado pelo amor infinito.
Assim, como o Deus da providência, o Criador de nossos corpos, bem como o Criador de
nossas almas, e o Deus de nossas famílias, que dá e toma à vontade o fruto do ventre, ele prova
alguns de seus filhos com a pobreza, outros com a doença, outros com a remoção do desejo de
seus olhos de um golpe, ou corta as tenras oliveiras que surgiram ao redor de sua mesa
Quão súbitas e inesperadas são as provações! Perdas pesadas no negócio, privação de uma situação, varredura do pouco que tinha - as
economias de uma vida - por alguma fraude ou falha, truque ou traição, riquezas que fazem asas
para si e voam para longe, a pobreza e a
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necessidade que vêm como se fossem um homem armado para saquear o naufrágio; como
tão repentinamente tais golpes vêm!
A doença também; quão rápido é o seu ataque! Estamos neste momento numa época muito
doentia. A doença nos rodeia de todos os lados. Novas queixas, como a terrível doença da
difteria, ou doenças ressuscitadas como a varíola estão se espalhando muito longe, e
fazendo todos tremerem por si ou por suas famílias; ambas as doenças eram então muito
prevalentes, e como os santos de Deus não estão isentos de sua participação nessas aflições,
muitos temem, ou estão esticados em leitos de dor, ou assistindo ao lado de parentes aflitos e
tendo filhos morrendo.
Como de repente, também, as provações de
vários tipos vêm! Em um só dia Jó, "o maior de todos os homens do Oriente" perdeu toda a fortuna que Deus tinha lhe dado, e o pai de dez
filhos sentou-se à noite em sua casa solitária, sem filhos e desolada.
Como as dores de parto caíram de repente sobre Raquel, e a mãe impaciente que tinha gritado
"Dê-me filhos ou então eu morro", expirou sob a carga de sua carga cobiçada! Mas estas e todas
as outras provações temporais, embora sejam às vezes muito severas para a carne; embora
precisemos de muita graça para suportá-las
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com paciência e submissão, embora sejamos muitas vezes acometidos por nossa própria
irritabilidade, e usadas como armas pela incredulidade, e ainda Satanás para afligir
agudamente a mente; contudo são de pouca significância real quando comparadas com as
PROVAÇÕES ESPIRITUAIS que afundam profundamente a alma de um homem. Estas, então, são as provações mais afiadas entre
aquelas que vêm do ALTO; e entre elas podemos colocar como a mais aguda de todas, o fato de
Deus esconder de nós o seu rosto como uma marca do Seu desagrado. Como Davi, Hemã,
Jeremias, Jonas e outros santos da Bíblia choraram e lamentaram sob estas ocultações do
semblante do Senhor. "Você escondeu seu rosto e eu fiquei perturbado", Salmos 30: 7.
"Senhor, por que você rejeita a minha alma, por que você esconde seu rosto de mim?", Salmos
88:14.
Para um santo de Deus, que já experimentou a elevação da luz do semblante do Senhor, nada é
mais doloroso e tentador do que o Senhor esconder o rosto, pois todo o seu conforto
murcha, sua própria evidência parece ter desaparecido, as antigas colunas para o bem
estão cercadas por uma nuvem escura, e o descontentamento do Senhor parece ser mais
sentido do que o crente pode suportar.
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Mas, se o abençoado Senhor bebeu desse cálice amargo quando clamou "Meu Deus, meu Deus,
por que me desamparaste?", não devemos sofrer com ele se quisermos ser glorificados
juntamente?
O Senhor também "prova os justos" por descobrir-lhes as iniquidades secretas do
coração. Foi assim com Ezequias, de quem lemos: "Contudo, no negócio dos embaixadores
dos príncipes de Babilônia, Deus o deixou para o provar, para que ele soubesse tudo o que havia
em seu coração" (2 Cr 32:31).
Assim, o Senhor para nos despojar de nosso próprio orgulho, para esmagar nossa vã
confiança, nos mostrar que toda a nossa força é fraqueza e que a graça deve santificar
livremente, bem como salvar, subjugar o pecado e perdoá-lo; muitas vezes nos deixa à
descoberta do que somos na queda de Adão. "O espírito do homem", que é o novo homem da
graça, "é a vela ou lâmpada do Senhor, procurando em todas as partes interiores do
coração" (Pv 20:27).
" Eu, o Senhor, esquadrinho a mente, eu provo o coração" (Jeremias 17:10).
Como, então, "em sua luz vemos a luz", e "todas as coisas que são reprovadas são manifestadas
pela luz" (Sl 36: 9; Ef 5:13), o pecado depois que é
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descoberto, e o ensino do Espírito faz sensível o coração e a consciência; a alma é dolorosa e
agudamente provada para ver e sentir essas abominações internas.
Como notavelmente vemos isso em Jó! "provando-me Ele”, disse Jó, "sairei como o ouro" (Jó 23:10), mas na fornalha descobriu-se a
corrupção de seu coração, que antes era para si mesmo insuspeita e desconhecida!
Essas abominações internas não haviam escapado do olhar penetrante da Onisciência;
mas havia escapado do olho do homem mais perfeito e reto, de acordo com o próprio
testemunho de Deus, que então habitava sobre a terra. Quando, no entanto, este santo eminente
de Deus foi tentado por aflições e deserções, dor de corpo e agonia de mente, então as
corrupções profundas e sujas de seu coração se tornaram manifestas, e as expressões mais rebeldes e inconvenientes foram encontradas
através de seus lábios.
Você pode pensar duramente de Jó, mas o maior santo, o cristão mais favorecido colocado na mesma fornalha, não se comportaria melhor do
que ele. Se o Senhor colocar "a sua mão esquerda debaixo da cabeça", as provações
temporais mais agudas podem ser pacientemente ou até mesmo suportadas
alegremente.
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Todas as aflições tornam-se leves se a Sua mão direita abraçar a alma, mas se ele retirar a sua
presença, fechar os ouvidos para a oração, reter a luz de seu semblante e deixar-nos entregues
ao nosso coração corrupto; qual pode ser o resultado, senão inquietação e rebelião
murmurando pensamentos, incredulidade e autopiedade?
2. Outras provações dos santos de Deus são de BAIXO.
Não podemos explicar o profundo mistério por
que o Senhor deve permitir que Satanás retenha tal poder depois que Jesus feriu sua cabeça tão
eficazmente na cruz, depois de ter levado cativo o cativeiro e destruído principados e poderes,
jogando-os para baixo do seu lugar de eminência e fazendo uma exibição deles
abertamente.
Que Satanás ainda deve ser autorizado a exercer tal influência neste mundo inferior, e até
mesmo exercer seu poder contra os santos que são queridos a Cristo como a menina do seu
olho; certamente, este é um mistério que não podemos agora decifrar. Mas sabemos da
autoridade da Escritura, do testemunho dos santos e de nossa própria experiência pessoal,
que o Senhor, por seus próprios e sábios propósitos permite a Satanás assediar e
angustiar muito a alma do povo de Deus.
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Há também esta peculiaridade nas tentações de Satanás, de que, ao operar por elas em nossa
mente carnal, não podemos distingui-las muitas vezes dos pecados de nosso próprio coração.
Vemos isso na tentação sofrida por Davi, de Satanás para numerar o povo, e nas
impressionantes exclamações apaixonadas de Jó. Esses bons homens não viram o tentador, embora sua respiração quente inflamasse suas
mentes. Como em uma forja ou fundição, as brasas ardentes ou ferro fundido são vistos, mas
não o tubo escondido através de cuja explosão sustenta "o fogo de fusão"; tantos pensamentos
vis, sugestões infiéis ou uma ideia horrível resplandecem no coração, soprados em uma
chama através do tubo negro do Príncipe das trevas.
3. Outra fonte de provações surge de FORA. Existem poucos santos de Deus que em sua
passagem pela vida, não tiveram que sofrer muito com os inimigos externos. A perseguição
aberta assalta alguns; a calúnia secreta e deturpação atacam o caráter e ferem a mente
dos outros; seus melhores amigos, como outrora pensavam, às vezes provaram ser os
inimigos mais cruéis. Onde esperavam nada além de simpatia e bondade, eles encontraram
senão dureza e negligência.
Quão agudamente Jó sentiu isto quando ele reclamou: "àquele que está aflito deve ser
mostrado piedade de seu amigo."
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Mas, em vez de pena, seus "irmãos o traíram enganosamente como um ribeiro"; secado pelo
sol de verão, ao qual "as tropas de Temã procuravam provisão”, mas "tinha
desaparecido o tempo em que aqueceu".
Davi tinha um Saul, um Doegue e um Aitofel; e
Alguém maior que Davi teve um Judas que o beijou, senão para trair.
Miqueias nos adverte contra nossos semelhantes: "O melhor deles é como um
espinho; o mais reto é pior do que uma sebe de espinhos. Veio o dia dos seus vigias, a saber, a
sua punição; agora começará a sua confusão. Não creiais no amigo, nem confieis no
companheiro; guarda as portas da tua boca daquela que repousa no teu seio." (Miq 7: 4-5).
E Jeremias diz: "Maldito o homem que confia no homem e faz da carne o seu braço" (Jer 17: 5).
Diante de tais testemunhos precisamos nos questionar se os falsos amigos são muitas vezes,
mais prováveis do que os inimigos abertos?
"Salve-me de meus amigos!" Tem sido o grito
amargo de muitos corações.
4. Mas, afinal, nossas provas mais acentuadas
são de DENTRO.
Muitos que na providência de Deus estão comparativamente isentos de severas
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provações externas sofrem um martírio interno. Uma tempestade pesada pode estar produzindo
raiva no ar; aguaceiro, neve, e granizo, que conduzido por um vento oriental afiado pode
escurecer o céu; e você em seu quarto quente pode ver algum viajante pobre submetido à
tempestade impiedosa. Mas você, embora sob abrigo, pode estar atormentado com uma dor corporal, ou estar morrendo com uma doença
lenta, ou ser interiormente esmagado pelo sofrimento mental e tristeza. Qual é a provação
dele comparada com a sua? O que são os dedos gelados com frio, em comparação com as mãos
queimando com febre?
O que é uma pitada de neve sobre as roupas, comparada com uma carga de gelo no coração, ou inundações de chuva natural comparado
com uma inundação de sofrimento no interior do ser?
Assim, as provações externas são graves para os olhos, mas as internas são graves para o coração. Pobreza, doença, luto, perseguições, não
esmagam e quebram o coração como culpa e remorso, os terrores do Todo Poderoso, e as
dores do inferno.
Mas vamos agora dar uma olhada nas "diversas TENTAÇÕES" nas quais o povo de Deus cai, diferentemente das provações que se
encontram em seu caminho.
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Há muitos santos de Deus cuja vida é uma série de provações externas, e há outros que sabem
menos da provação externa, porém mais da tentação interna. O Senhor arranja todo o
conjunto delas, por mais que pareça ocorrerem casualmente, e todas estão no controle do
Senhor. Ele designa a cada um de seus filhos o caminho peculiar que tem para pisar, e o número e peso dos fardos que ele tem que
carregar. Seja qual for a provação, ou a tentação que venha, é do Senhor - quer indiretamente
por permissão, ou diretamente por visitação. Muitos parecem passar pela vida sem qualquer
conhecimento profundo das tentações. Os amigos de Jó, embora bons homens, parecem
ter tido pouca ou nenhuma experiência delas; enquanto Jó, Hemã, Asafe, Jeremias e Jonas
foram muito visitados por elas. A mesma diferença existe agora.
Vendo, então, as "tentações", distintas das
"provações" podemos dividi-las em dois ramos principais: tentações que afligem e tentações
que seduzem. As primeiras são as mais dolorosas, mas as posteriores são as mais
perigosas.
1. Tentações que afligem.
Você pode ter andado por algum tempo nos caminhos do Senhor sem qualquer experiência
profunda da infidelidade, blasfêmia, rebeldia,
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inimizade, e horrível perversidade de sua natureza caída. Sendo este o caso, você foi
secretamente levantado com orgulho e autojustiça. Você ainda não tinha tido essa
profunda descoberta de si mesmo, que era necessária para humilhá-lo na poeira. É verdade
que você olhou em certa medida para o Senhor Jesus Cristo, para a salvação, mas sem conhecer a sua ruína total e a desesperada maldade de seu
coração, olhou apenas com um olhar; embora você o tenha segurado, era só com uma mão, e
ainda que andasse com ele, era senão com um pé, mancando. A razão era que a tentação ainda
não tinha arrancado os seus cabelos, lhe amarrado com grilhões de bronze e levado a ser
torturado na prisão.
Mas, de repente você caiu em uma dessas
"tentações diversas". Vou apenas nomear duas como espécimes de sua natureza. A infidelidade
assolou sua mente em um momento como com uma nuvem das mais densas e tenebrosas. Um
véu foi imediatamente lançado sobre as Escrituras, pois nem sequer podia acreditar que
elas fossem verdadeiras. Começou uma objeção depois de outra objeção, e você estremeceu de
horror para não viver, e morrer como um infiel confirmado. Oh, que provação foi essa! Eu estive
aqui, e sei que trabalho faz. "Se os fundamentos forem destruídos, o que os justos podem fazer?"
Rejeitamos o pensamento com horror, voltamos para experiências passadas, reunimos todas as
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nossas evidências, pensamos na fé e na esperança dos santos que partiram, clamamos a
Deus por ajuda para crer, mas ainda assim a flecha envenenada está enraivecida no coração.
Ou você pode ter sido tentado a se abrir para a blasfêmia, e até mesmo a esse terrível crime de
blasfemar contra Deus. Jó e Jeremias foram tentados, e muitos filhos de Deus foram perseguidos noite e dia com a mesma terrível
tentação. Mas, que evidência há da profunda corrupção da mente humana e do poder de
Satanás, que as pessoas, por exemplo, as mulheres sensíveis, cercadas pelas restrições
da sociedade, educação e moralidade, que nunca deixaram cair uma expressão indecorosa
de seus lábios, ou dificilmente ouviram isto sendo proferido por outros, podem ainda ser
atacadas, quando chamadas pela graça, para experimentarem as mais horríveis tentações de
blasfêmia, pela qual seu próprio pensamento em seus sentimentos naturais se revolta, e do
qual elas se considerariam absolutamente incapazes. Conheço tais casos, portanto os
nomeio, que se alguém aqui presente está passando por este "caminho ardente", eles não
possam ser totalmente derrubados como se algo estranho lhes acontecesse (1 Pe 4:12).
Muitos se opõem a que tais coisas sejam mencionadas, mas a sua própria menção como
experimentada por aqueles que temem a Deus,
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por vezes coloca a tentação para fugir, ou diminuir seu poder.
Mas, que prova da corrupção do homem; que evidência do poder de Satanás!
Fiquei à beira mar e vi a água se espalhar
calmamente como um espelho; e eu tenho navegado neste mar quando a brisa não sopra seu rosto, mas também o vi numa tempestade
com suas ondas cheias de espuma e fúria, e também naveguei sobre ele quando onda após
onda batia sobre o convés. Porém, era o mesmo mar tanto na calmaria quanto na tempestade.
Assim, a mente do homem pode ser tão calma como um mar dormindo, ou se enfurecendo
como a onda tempestuosa; mas é o mesmo coração ainda. O sopro da tentação, como o
vento do oceano faz toda a diferença entre a calma e a tempestade.
Mas, deixe-me perguntar: você não teme, reverencia e adora esse Nome grande e glorioso
que Satanás tem tentado você a blasfemar? Não é isso, então, uma prova de que dele vêm essas
sugestões?
De todas as tentações de Satanás esta parece ser a mais infernal; de todas as suas ameaças, esta é
a mais mortal. Se Satanás pudesse prevalecer pela palavra, ele triunfaria sobre você como
uma alma perdida. Portanto, ele faz tudo o que
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pode para levá-lo até as armadilhas do inferno, mas ele não terá sucesso, pois "as armas forjadas
contra ti não prosperarão".
2. Tentações que seduzem.
Mas, há tentações nem tanto angustiantes e ainda mais perigosas. Essas coisas que acabo de
sugerir são vistas, mas há aquelas que não o são.
Naquelas que são vistas, o inimigo dificilmente pode disfarçar sua mão conspiradora; mas nas
que não são vistas ele estende o laço, mas não se mostra. Naquela ele é um leão no
transbordamento do Jordão, na outra uma serpente escondida na grama.
Há tentações tão bem adaptadas à nossa natureza caída; laços tão adequados às nossas
concupiscências, que Satanás tem um modo de seduzir sua vítima pouco a pouco na armadilha
até cair sobre ela, que ninguém pode escapar senão pelo poder de Deus.
Estou convencido de que ninguém pode livrar a alma dessas armadilhas do caçador, exceto pela
poderosa mão que nos livra do poço horrível e da argila lamacenta! O tempo, entretanto não me
permitirá entrar em todas as provações e tentações diversificadas com as quais o Senhor
prova os seus santos.
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II. Passo, portanto, a mostrar qual é o EFEITO de cair nessas diversas tentações, pois essa é a
fonte da alegria que nos é oferecida: passar por elas.
Não há lucro ou prazer nas tentações e provações em si mesmas, pois "nenhuma correção, ao presente parece ser alegre, senão
dolorosa" (Hebreus 12:11). É pelo efeito que produzem que devemos calcular os nossos
ganhos. E este efeito é duplo, como aqui apontado pela caneta do Espírito Santo; um é
que ela prova a fé; o outro que trabalha a paciência.
1. A provação da fé.
Sempre que Deus comunica fé, ele a prova. Por quê?
Para que possa ser provado que é genuína. Veja isso no caso de Abraão. Ele é um padrão para os crentes; é, portanto chamado "o pai de todos os
que creem" (Rom 4: 11) – por sua fé ser tão eminente e de caráter tão espiritual e gracioso.
Mas veja como foi tentado; por vinte e cinco anos o Senhor experimentou a fé que plantara
no seio de Abraão. Ano após ano, mês após mês, semana após semana, dia após dia, o Senhor
estava provando a fé de Abraão. A petulância de Sara, o desejo ansioso por uma criança, o ciúme
de Agar e depois a oprimiu até que ela fugiu de
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casa; e tudo o mais deve ter provado profundamente a fé do patriarca. Mas, contra a
esperança, ele acreditava na esperança, era "forte na fé, dando glória a Deus, e sendo
totalmente persuadido de que o que Ele havia prometido era capaz de cumprir" (Ro 4: 18-21).
Olhe, também, no caso de Davi; como ele foi caçado como uma perdiz nas montanhas,
estando em constante apreensão de perder a vida pela mão de Saul, de modo que disse: "Há
apenas um passo entre mim e a morte".
Veja esses dois eminentes santos de Deus; onde sua fé foi tentada ao extremo!
Na verdade, quanto mais forte for sua fé, maiores serão as provações que ela terá de suportar. A realidade, a autenticidade, bem
como a força de sua fé são apenas para ser evidenciadas pela quantidade de provações que
irá suportar, e tudo para a exclusiva glória de Deus.
Quando, por exemplo, você anda há alguns meses por um caminho suave e fácil, e mal experimentou provações de fora ou de dentro;
você mal conheceu a força, ou mesmo a realidade, de sua própria fé. Você foi induzido a
tomar as coisas como muito por garantidas.
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Você não olhou para o Senhor como deveria olhar, nem confiou em Sua força como deveria
confiar. Você tem se apoiado secretamente em sua própria sabedoria, apoiando-se em uma
profissão consistente, e confundindo a facilidade em Sião com sendo a garantia da fé.
Mas, quando uma provação vem; onde está sua fé agora?
Ela afunda fora de vista e se dissipa; você parece não ter nenhuma, pelo menos, nenhuma que possa fazer uso, ou que faça qualquer bem.
"Ó", você diz: "Eu pensei que poderia confiar no Senhor, mas como posso confiar nele agora, se ele não aparece? Ele esconde seu rosto, os céus
são como bronze, ele exclui o meu clamor. Venha sobre mim, para que eu possa crer, o que
farei se Deus não aparecer; sou um homem perdido sem ele. Oh, que ele se manifestasse em
misericórdia para minha alma!”
Agora, o Senhor está provando a sua fé; se você
pode confiar nele na escuridão, assim como na luz; se pode olhar para Jesus à direita do Pai com
um único olho, se pode descansar todo o peso da tua alma sobre o seu sangue e justiça; ou se falta algo em você para ganhar o favor de Deus e
recomendá-lo à Sua atenção.
Assim, o Senhor prova a sua fé colocando uma pressão sobre ela. É como o modo em que a força
29
do canhão é testada; as armas são dupla ou triplamente carregadas, e se eles não
estourarem, são considerados idôneos para tudo que possa ser posteriormente exigido
deles. Ou como cabos de aço são julgados ao serviço da rainha; eles são submetidos a uma
tensão muito maior do que aquelas a que são submetidos comumente, e se eles suportarem a tensão pesada, são considerados aptos para o
mar.
Na verdade, não é confiada uma espada ou um mosquete ao soldado que não tenha sido
submetido à provação mais severa; pois qual seria a consequência?
Podem falhar no dia da batalha. Assim, quando o
Senhor chama um homem para ser um soldado e coloca a fé em sua mão, ele lhe dá uma fé que
ele próprio provará, de acordo com sua própria palavra; "aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para que te enriqueças"
(Apo 3.18).
Ele não colocará na mão de seu soldado uma
espada que se quebrará em pedaços quando encontrar o inimigo, ou uma arma que se
quebre na mão no primeiro ataque, mas com a qual ele será capaz de lutar, e sairá mais do que
vencedor, isto é, a fé provada em seu próprio dom e trabalho.
Eu estendo a palavra para todas as suas
tentações, bem como suas provações. Você um
30
dia verá, se não agora, como cada uma trabalhou para este fim; para provar sua fé, de que tipo ela
é - se o seu coração está certo com Deus - se você é sincero perante ele - procurando Jeová - se
acredita no Senhor Jesus Cristo com uma fé de uma operação divina, ou se sua fé e esperança
são meramente da manufatura da natureza, posta em sua mão por si mesmo e por Satanás para arruinar você sob um disfarce de religião.
2. O trabalho da paciência.
Outro efeito do provação é apontado pelo
Espírito Santo - ele "trabalha paciência". Por "paciência" não estamos inteiramente
entendendo a palavra em sua significação usual. A palavra "paciência" na Escritura significa
“grande resistência”. Isso não significa tanto aquela quietude da alma , aquela calma e
silenciosa submissão à vontade de Deus que entendemos pela palavra "paciência", mas aquela firme e duradoura resistência de tudo
aquilo que Deus pode considerar adequado sobre nós. É uma virtude de soldado em vez de
um eremita; a firmeza de um homem robusto sob a dor em vez de submissão passiva de uma
mulher silenciosa sob sofrimento.
"Vocês ouviram," diz Tiago, "da paciência de Jó." Olhe para o contexto. "Eis que nós consideramos felizes aqueles que perseveram." O que se
segue? "Vocês ouviram falar da paciência de Jó."
31
Agora, é apenas a mesma palavra em ambas as expressões no original, e poderia, portanto ter
sido traduzido a "resistência" de Jó, pois nenhuma de todas as suas provações e
tentações o fizeram desistir da fé e da esperança.
A fé, então vista como o dom de Deus, e como provada por todas as provações e tentações que
ele envia para exercitá-la, para "trabalhar" a resistência do soldado do qual fala o nosso texto.
Pois como é feito um soldado? Mande-o para a Crimeia ou para a Índia, que o tornará um
soldado.
Ele não aprende os deveres severos de seu chamado desfilando em paradas militares na
cidade. Ele deve entrar em guerra real, deve ouvir o rugido do canhão e ver os sabres
passando perto do seu rosto, dar e receber cortes e contusões, repousar em todas as noite
no campo de batalha e lutar para vencer ou morrer. A batalha sozinha faz o soldado - a
experiência - e não a teoria da guerra.
Como é feito o soldado cristão? Ao ir à capela -
lendo a Bíblia - cantando hinos - falando sobre religião? Tanto quanto o veterano guerreiro é feito desfilando na cidade?
Ele deve entrar na batalha e lutar lado a lado com Satanás e a carne; ele deve suportar feridas
cruéis dadas por inimigos externos e internos;
32
ele deve deitar-se no frio solo da desolação e da deserção; ele deve abrir a brecha quando
chamado para invadir os castelos do pecado e do mal, e nunca "ceder ou deixar o campo de
batalha", mas lutar para vencer ou morrer. Nessas batalhas do Senhor, no devido tempo ele
aprende como lidar com suas armas - como invocar a Deus em súplica e oração, confiar em Jesus Cristo com todo seu coração, derrotar
Satanás, crucificar a si mesmo e viver uma vida de fé no Filho de Deus.
A religião não é uma questão de teoria ou doutrina; é estar no meio da batalha, lutando
com o inimigo mão a mão, pé a pé, ombro a ombro. Esta guerra real - e não falsa - torna o
soldado cristão forte - fortalece os músculos de seu braço - lhe dá habilidade para manejar suas
armas, e poder para colocar seus inimigos em fuga. Assim, ele "trabalha resistência" - o torna
um veterano, de modo que não é mais um recruta cru, mas alguém capaz de lutar as
batalhas do Senhor e "suportar as aflições, como um bom soldado de Jesus Cristo".
Quais foram então, seus melhores amigos? Suas provações. Onde você aprendeu suas melhores
lições? Na escola da tentação.
O que fez você olhar para Jesus? Um sentido de seu pecado e miséria.
33
Por que você pendurou a palavra da promessa? Porque você não tinha mais nada para pendurar
em cima. Assim, você poderia olhar para os resultados, e veria isso - que provações e
tentações produziram em seu espírito os dois efeitos de que o texto fala, que elas provaram sua
fé, e às vezes até o extremo, de modo que na provação parecia que toda a sua fé tinha ido embora, E ainda assim elas produziram
paciência - elas te fizeram perseverar.
Por que você não renunciou há muito tempo a toda a religião? Suas provas o deixaram disposto a desistir?
Elas fizeram você segurar mais rápido nela. Suas tentações induziram você a deixá-la ir como
uma questão de pouca importância? Porque, você nunca teve mais religião real do que
quando foi tentado, se realmente a teve, e nunca segurou a fé com um aperto mais apertado do que quando Satanás estava puxando tudo para
longe. Os crentes mais fortes não são os homens de doutrina, mas os homens de experiência; não
os fanfarrões, mas os lutadores; não os "oficiais de desfile", mas os soldados esfarrapados, sujos,
feridos, meio mortos que não tomam parte do pecado ou de Satanás.
Mas, a palavra tem outro significado - em mais estrita conformidade com a palavra "paciência";
que é a “submissão” à vontade de Deus. Quando
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o Senhor nos coloca no forno, nós vamos chutando e nos rebelando. Nossa carne covarde
foge da chama, mas, quando chegamos ao forno e descobrimos que não podemos escapar, e que
nossa própria luta só faz com que as brasas queimem mais ferozmente, finalmente pela
graça de Deus trabalhando em nós, começamos a deixar de resistir.
Foi assim com Jó. Como ele lutou contra Deus! Como sua mente carnal foi despertada em
autojustificação e rebelião até que o próprio Senhor apareceu e falou a seu coração do céu.
Então ele chegou a este ponto: "Antes te conhecia somente de ouvir, mas agora os meus
olhos te veem. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza".
Então o Senhor o aceitou e o livrou; virou seu
cativeiro, o perdoou e abençoou. Assim foi com Abraão, quando se submeteu ao sacrifício de
Isaque, e Deus apareceu para libertá-lo. Assim, com Davi, quando se submeteu à mão de castigo
do Senhor, o trouxe de volta a Jerusalém depois da perseguição de Absalão. Mas isso será mais
evidente no nosso próximo ponto, ao qual agora passamos.
III. O conselho apostólico,
"Que a paciência tenha seu trabalho perfeito", para que os santos de Deus "possam ser perfeitos
e completos, não faltando em coisa alguma.”
35
Há um trabalho para a paciência executar. Toda graça do Espírito tem um certo trabalho a fazer.
Como em uma grande fábrica, cada mão conhece seu lugar e o trabalho que tem que
fazer; assim na maravilhosa peça da maquinaria divina; a obra de Deus sobre a alma, toda a graça
do Espírito tem sua obra separada a realizar.
A fé não faz a obra do amor, nem a esperança a da fé, nem o amor a da paciência. Cada graça é
diferente, como engrenagens separadas em alguma máquina, tem seu próprio lugar e seu
próprio trabalho. A paciência então, tem seu trabalho; e o que é isso? Duplo, de acordo com
minha explicação da palavra.
1. Resistir a todas as provações, viver todas as
tentações, suportar todas as cruzes, carregar todas as cargas, lutar todas as batalhas,
trabalhar em todas as dificuldades e vencer todos os inimigos.
2. Submeter-se à vontade de Deus, reconhecer que ele é Senhor e Rei, não ter vontade ou modo próprio, nenhum esquema ou plano para
agradar a carne, evitar a cruz ou escapar da vara da correção; mas submeter-se simplesmente
aos tratados justos de Deus, tanto na providência como na graça, acreditando que ele
faz bem todas as coisas, que é um soberano "e faz todas as coisas segundo o conselho da sua
própria vontade" (Ef 1:11).
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Ora, até que a alma seja trazida a este ponto, a obra da paciência não é perfeita; pode estar
acontecendo, mas não está consumada. Você pode estar na fornalha da tentação agora,
passando pela provação ardente. Você é rebelde ou submisso?
Se ainda rebelde, você deve permanecer na fornalha até que seja trazido à submissão; e não somente assim, mas deve ter submissão
completa, ou então a paciência não tem seu trabalho perfeito. A escória da rebelião deve ser
removida, e o metal puro aparecer. É toda a graça de Deus sentir isso por um único
momento.
Mas não há, e não houve, tempos e estações em sua alma, quando você poderia estar quieto e saber que ele é Deus? Quando você poderia se
submeter à sua vontade, acreditando que ele é muito sábio para errar, e bom demais para ser
cruel?
Quando essa submissão é sentida, a paciência tem seu trabalho perfeito. Olhe para Jesus, nosso grande exemplo; veja-o no jardim
sombrio, com a cruz em perspectiva diante dele na manhã seguinte. Como ele poderia dizer:
"Não a minha vontade, mas a sua seja feita!" Havia o perfeito trabalho de paciência na alma
perfeita do Redentor.
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Agora você e eu devemos ter uma obra em nossa alma correspondente a isso, ou então não
estamos conformados com a imagem de sofrimento de nosso Senhor crucificado. A
paciência em nós deve ter seu trabalho perfeito, e Deus cuidará que assim seja. Como em uma
bela peça de máquina, se o engenheiro vê uma engrenagem solta, ou uma roda fora da engrenagem, ele deve ajustar a parte
defeituosa, para que possa trabalhar corretamente, e em harmonia com a máquina
inteira. Assim, se o Deus de toda a nossa salvação vê uma graça particular não operando,
ou não executando adequadamente sua obra designada, ele pelo seu Espírito influencia o
coração para que seja novamente trazido para o trabalho como ele projetou a ser feito.
Meça sua fé e paciência por este padrão, mas não confunda com eles o funcionamento de sua
mente carnal. Aqui, nós muitas vezes erramos, pois podemos ser submissos quanto ao nosso
espírito - mansos e pacientes, calmos e resignados no homem interior, mas sentir
muitas revoltas e rebeliões da carne, e assim a paciência pode não parecer ter o seu trabalho
perfeito. Mas, procurar a submissão perfeita na carne é procurar a perfeição na carne, que
nunca foi prometida e nunca é dada.
Olhe para o que o Espírito está trabalhando em você, não na mente carnal, que não está sujeita
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à lei de Deus, nem mesmo pode estar, e, portanto não conhece a sujeição nem a
submissão. Olhe para aquele principado interior do qual o Príncipe da paz é Senhor e Governante,
e veja se, nas profundezas de sua alma, onde ele vive e reina, há submissão à vontade de Deus.
Mas, acrescenta: "para que possam ser perfeitos e completos, não faltando em coisa alguma.”
A palavra "perfeito" na Escritura não significa, como se aplica a um santo de Deus, ou qualquer
coisa que se aproxime da ideia usual de perfeição, como implicação de santidade
impecável e sem pecado - mas alguém amadurecido e experimentado na vida de Deus -
não mais uma criança, mas um homem adulto.
Quando uma árvore cresceu até sua estatura
completa é dito ter alcançado a perfeição; assim quando o Senhor, o Espírito, produziu a obra de
paciência em suas almas no que diz respeito a essa obra, vocês são perfeitos, pois ela é a obra
de Deus em vocês, e até agora você está "completo", isto é, possuindo tudo o que a graça
dá "sem faltar em coisa alguma" que essa graça pode comunicar.
Submeter-se inteiramente à vontade de Deus, e ser perdido e engolido de acordo com ela, é o auge da maturidade cristã aqui embaixo; e quem
tem isso, tem tudo, porque ele tem todas as
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coisas em Cristo. Qual, então, é a maior altura de graça à qual a alma pode chegar? Onde a graça
brilhou de maneira tão visível como no Senhor Jesus Cristo? E onde a graça se manifestou mais
do que no lúgubre jardim e na cruz sofredora? Não era a natureza humana de Jesus mais
manifestamente cheia com o Espírito, e toda graça brilhou nele mais claramente no Getsêmani e no Calvário do que quando no
Monte da Transfiguração?
Assim, há uma graça mais manifestada no coração de um santo de Deus que sendo experimentado e tentado, pode dizer: "Tua
vontade seja feita", e submeter-se à vara de castigo de seu Pai Celestial, do que quando está
se deleitando em raios cheios do Sol da Justiça. Quantas vezes estamos equivocados neste
assunto - anseio de gozo, em vez de ver a verdadeira graça nos fazendo se submeter à
vontade de Deus, seja no vale ou sobre o monte!
IV. O efeito transformador da graça permite à família tentada e provada de Deus "ter por
motivo de toda a alegria" quando cair em diversas tentações.
Esta é a grande chave do todo, e sobre a qual eu não preciso demorar muito, como já antecipei.
Devemos "ter por motivo de toda a alegria" quando caímos em diversas tentações. Eu tenho
colocado diante de você um problema de
40
aritmética - uma adição de compostos; adicione-os para cima ou para baixo, e olhe para a soma
total - "Alegria".
Tome todas as suas provações e marque-as para baixo; em seguida adicione todas as tentações com que sua mente foi exercitada; agora
adicione-as acima, e qual é a quantidade total?
Uma palavra de sete letras - uma soma mais valiosa do que se fosse sete figuras, e cada figura um nove - "Alegria". Essa é a soma total, segundo
o cálculo do Espírito Santo, de todas as suas provações e tentações. Você deve tê-las "por
motivo de toda alegria".
Que aritmética misteriosa! Quão diferente da adição ensinada nas escolas! Quão diferente das somas e problemas colocados em quadros e
cadernos! Quão diferente é o resultado que o Senhor, o Espírito, traz de seus próprios cálculos
quando os olhava um a um, sem calcular a soma total!
Então, "tenha por motivo de toda a alegria"
quando cair em diversas tentações, sabendo que seu efeito é o desmame do mundo - para amar a
Cristo - para tornar a sua verdade santos na luz.
Você está satisfeito com a solução do problema? Você pode escrever seu próprio nome no fundo
42
A Palavra de Homens e a
Palavra de Deus
Título original: The Word of Men and the
Word of God
Por J. C. Philpot (1802-1869)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
43
"Por esta causa também nós agradecemos a
Deus sem cessar, porque quando recebestes a
palavra de Deus que ouvistes de nós, não a
recebestes como palavra dos homens, mas
como é na verdade, a palavra de Deus, que
eficazmente funciona também em vocês que
creem." (1 Tessalonicenses 2:13)
Vamos com a ajuda e a bênção de Deus,
aproximar nosso texto, no qual eu acho que
podemos ver essas quatro características
principais;
Primeiro, "a palavra dos homens" em contraste
com "a palavra de Deus".
Em segundo lugar, que há uma recepção do
evangelho como a palavra dos homens, e uma
recepção do evangelho como a palavra de Deus.
Em terceiro lugar, a evidência e a prova da
recepção do evangelho como a palavra de Deus
está efetivamente operando naqueles que
creem.
44
Em quarto lugar, que é uma questão de contínuo
agradecimento e louvor; "Por esta causa
também agradecemos a Deus sem cessar".
I. "A palavra dos homens" em contraste com "a
palavra de Deus". Na medida em que o apóstolo
era um homem, falando com lábios humanos e
usando a linguagem humana comum, sua
palavra era necessariamente a "palavra dos
homens". Na verdade, não poderia ser de outra
forma. Deus não fala ao Seu povo com uma voz
do céu, não usa a instrumentalidade dos anjos
para revelar sua mente e vontade aos filhos dos
homens. Ele fala ao homem, por homens de
semelhantes paixões com seus semelhantes, e
em uma linguagem que eles entendem
mutuamente. Caso contrário, seria como Paulo
diz "Há, sem dúvida, muitos tipos de vozes no
mundo; nenhum deles, contudo, sem sentido."
“Se eu, pois ignorar o significado da voz, serei
estrangeiro para aquele que fala; e ele,
estrangeiro para mim". (1 Cor. 14:10, 11.) Nesse
sentido, portanto a palavra que os servos de
Deus falam é "a palavra dos homens"; e ainda em
outro sentido é "a palavra de Deus",
estabelecendo claramente uma distinção vital e
essencial entre elas.
45
Busquemos entrar um pouco mais de perto na
distinção entre a palavra dos homens e a palavra
de Deus, como pretendia o apóstolo, pois a força
do texto gira principalmente nesse ponto.
1. Pela "palavra dos homens" podemos primeiro
compreender o modo geral de comunicação
entre o homem e o homem, pelo qual cada
transação da vida humana é realizada. Não
preciso explicar, que tudo no modo de
comunicação entre o homem e seu
companheiro é levado a cabo por palavras, pois
escrever são apenas palavras em outra forma. O
uso da linguagem para comunicar o
pensamento é uma das grandes distinções entre
o homem e a criatura bruta, e sem seu uso e
exercício contínuos, toda a estrutura da
sociedade cairia em pedaços como um navio
lançado por uma tempestade sobre as rochas. É,
pois o dever da palavra dos homens, comunicar
mutuamente seus pensamentos e ligar a
sociedade em conjunto com uma participação
de interesses mútuos. Por isso, enquanto a
palavra dos homens está engajada na sua esfera
regular, deve ser lembrado que foi Deus quem
inventou a linguagem e deu-nos o poder de
assim proferir e dar a conhecer aos outros, os
46
nossos pensamentos, necessidades, planos e
intenções. O apóstolo não despreza nem
descarta a palavra dos homens, portanto
participa da sua faculdade natural de
comunicação entre o homem e o homem, ou
mesmo seu emprego mais elevado quando
usado como instrumento de pregação do
evangelho. Enquanto essas palavras dos
homens forem palavras de verdade e
honestidade, palavras de integridade e
sinceridade, elas cumprirão um propósito sem
o qual o mundo em si não poderia se manter, ou
a sociedade ser levada adiante.
Mas, quando nos aproximamos do domínio das
coisas celestiais, quando saímos da terra com
tudo o que é terreno, e nos voltamos ao céu e às
coisas celestiais, ali a palavra dos homens
necessariamente falha. As palavras não são
senão a expressão do pensamento ou a
comunicação do conhecimento. Mas, o que o
homem, como homem, pode pensar ou
conhecer dos profundos mistérios de Deus?
Eles não estão completamente fora de sua vista
e seu alcance? "É tão alto como o céu, o que você
pode fazer? Mais profundo do que o inferno, o
que você pode saber? A sua medida é mais longa
47
do que a terra e mais ampla do que o mar." (Jó 11:
8, 9.) Então, como os pensamentos de Deus não
são os nossos pensamentos, e seus caminhos
não são os nossos caminhos, o que podemos
saber deles, senão por uma revelação divina?
Assim, tudo a respeito de Deus, especialmente
Sua existência numa trindade de Pessoas e
Unidade de Essência; tudo relacionado com a
coigualdade e coeternidade de seu querido
Filho; tudo relacionado com sua adoração
aceitável, ou como um pecador pode ser salvo;
tudo ligado a um futuro estado de felicidade e
miséria; em uma palavra, toda doutrina que
encontramos nas Escrituras está além de toda a
compreensão e concepção do coração do
homem por natureza. E como está além de sua
concepção, deve estar além de sua expressão.
Vemos, portanto que há necessidade de algo
além da palavra dos homens para nos
comunicar um conhecimento daquilo que diz
respeito aos nossos interesses eternos e
imortais. A palavra dos homens é boa, na
medida em que está relacionada com as coisas
dos homens, mas há necessidade de algo além
da palavra dos homens, se quisermos saber
alguma coisa dessas verdades celestiais e
48
realidades divinas que não são apenas para o
tempo, mas para a eternidade.
2. Aqui, vem a necessidade e a natureza da
Palavra de Deus, pois embora Deus use nela
palavras humanas, comunica por ela o que
ninguém poderia ter conhecido, senão por
revelação divina. Além disso, no uso da "palavra
dos homens" como instrumento do discurso
comum, há um sentido mais elevado em que "a
palavra dos homens" é feita como um meio de
comunicar a palavra de Deus. O conhecimento,
os pensamentos, e a inspiração são divinos; mas
as palavras em que são expressas, embora
ditadas por Deus, são como linguagem humana
e até agora apenas as palavras dos homens.
Agora, o apóstolo foi enviado para pregar a
palavra de Deus. Fazer isso era o fim e o objeto
de sua vida, e o que ele pregou como a palavra de
Deus, que deve ser recebida como a palavra de
Deus foi a alegria e deleite de sua alma. Mas,
como ele soube que era obra de Deus? Que
evidência tinha em seu seio, que o evangelho
que ele pregava não era a palavra dos homens;
que havia algo nele sobrenatural e divino; e que
de uma maneira tão preeminente, que era tanto
49
a palavra de Deus em seus lábios, como se o
próprio Deus falasse por eles. Para confirmar
isso, vejamos o chamado do apóstolo quando o
próprio Senhor apareceu a ele na porta de
Damasco, e ouviu qual era a comissão que o
mesmo Jesus que estava perseguindo lhe falou;
"Mas levanta-te e põe-te em pé; pois para isto te
apareci, para te fazer ministro e testemunha
tanto das coisas em que me tens visto como
daquelas em que te hei de aparecer." (Atos
26:16).
Esta comissão foi renovada três dias depois,
quando Ananias veio com uma mensagem do
Senhor. "Disse ele: O Deus de nossos pais de
antemão te designou para conhecer a sua
vontade, ver o Justo, e ouvir a voz da sua boca.
Porque hás de ser sua testemunha para com
todos os homens do que tens visto e ouvido."
(Atos 22:14, 15). Então, aqui temos o testemunho
claro e indubitável de Paulo, de que Deus lhe
havia dito algo; que havia algo sobrenatural e
divino que ele tinha visto, tinha ouvido, tinha
provado, sentiu e manipulou, e que deveria
declarar como uma revelação especial de Deus
para ele, não só para sua própria alma, mas
também para as almas dos outros.
50
De modo quase semelhante, ele fala em sua
epístola aos Gálatas, "Mas faço-vos saber,
irmãos, que o evangelho que por mim foi
anunciado não é segundo os homens; porque
não o recebi de homem algum, nem me foi
ensinado; mas o recebi por revelação de Jesus
Cristo." (Gálatas 1:11, 12).
Ele, portanto fala da mesma forma na primeira
Epístola aos Coríntios, "Mas, como está escrito:
As coisas que olhos não viram, nem ouvidos
ouviram, nem penetraram o coração do
homem, são as que Deus preparou para os que o
amam. Porque Deus no-las revelou pelo seu
Espírito; pois o Espírito esquadrinha todas as
coisas, mesmos as profundezas de Deus." E, para
mostrar que as mesmas palavras que ele lhes
falou foram dadas de cima, acrescenta: "As quais
também falamos, não com palavras ensinadas
pela sabedoria humana, mas com palavras
ensinadas pelo Espírito Santo, comparando
coisas espirituais com espirituais." (1 Cor. 2: 9, 10,
13).
Não é evidente por esses testemunhos, que o
que Paulo falou em nome de Deus, ele falou
como a própria palavra de Deus? Como Deus
51
falou com ele, assim falou Deus por ele, e o que
proferiu por seus lábios foi de fato proferido
pelo Espírito Santo através dele; aquele divino e
celestial Mestre fazendo uso de sua língua para
expressar as coisas reveladas à sua alma. Ele
declara de sua pregação, que era "em
demonstração do Espírito e do poder". (1 Cor. 2:
4).
Agora, sem essa inspiração que foi assim dada
ao apóstolo e aos outros escritores do Antigo e
Novo Testamento, não teríamos nenhuma
evidência ou certeza de que a Bíblia é a palavra
de Deus e, como tal, contém uma revelação de
sua mente e vontade. Toda a questão reside em
uma bússola muito estreita; a Bíblia é ou não a
palavra de Deus. Se é a "palavra de Deus", não é a
"palavra dos homens"; se é a "palavra dos
homens", não é a "palavra de Deus". Certamente,
aqueles que a receberam como palavra de Deus
devem saber se Deus lhes falou ou não, e ver a
que conclusão devemos chegar se negarmos
isso. Moisés, Isaías, Jeremias, Ezequiel, todos os
profetas do Antigo Testamento, e os apóstolos
de nosso Senhor no Novo Testamento devem ter
recebido palavras diretas e imediatas de Deus
em seu coração, quando disseram que "a palavra
52
do Senhor veio até eles", e que Deus falou com
eles, ou então eles devem ser os piores
impostores que já viveram. Não pode haver
outra conclusão senão uma dessas duas. Eles
devem ser o que professam; profetas e apóstolos
inspirados pelo Espírito Santo, recebendo sua
mensagem diretamente de Deus, ou devem ser
os piores enganadores e impostores, fingindo
que Deus lhes falou, quando nunca falou com
eles. Assim, o que quer que os homens digam
contra a inspiração em geral, ou contra a
inspiração verbal e plenária em particular,
somos levados a este ponto, que esses homens
de Deus devem ter sido o que disseram ser,
inspirados pelo Espírito Santo com uma
mensagem de Deus, que eles nos entregaram,
ou então devem ter sido alguns dos maiores
impostores que o mundo já conheceu.
A este ponto, então viemos, para que o
evangelho que Paulo pregou não fosse a palavra
dos homens, isto é, dos homens naturais, não
iluminados, sem inspiração, mas a palavra de
Deus. Isto você vai dizer que poderia ter sido a
verdade do evangelho que Paulo pregou quando
o ministrou. Mas Paulo está morto; e que provas
temos de que temos o evangelho de Paulo
53
agora? Nossa evidência é que o mesmo Paulo
que escreveu as Epístolas é o que pregou o
evangelho; de modo que o que uma vez falou
com sua língua, ele fala agora por sua pena. Ele
diz aos coríntios; "Se alguém se considerar um
profeta ou espiritual, reconheça que as coisas
que vos escrevo são os mandamentos do
Senhor." (1 Coríntios 14:37). Ele também diz aos
romanos; "Desejo vê-los para que eu lhes
conceda algum dom espiritual." (Romanos 1:11).
Agora, esse dom espiritual que lhes transmitiria
pela sua boca, ele nos comunica pela sua mão.
Temos, portanto o mesmo evangelho, a mesma
palavra de Deus em seus escritos que os
tessalonicenses tinham em suas palavras
faladas.
II. Mas passo a considerar o próximo ponto em
que propus mostrar, o que é receber o
evangelho como palavra dos homens, e o que é
receber o evangelho como palavra de Deus.
O apóstolo em nosso texto, evidentemente traça
uma linha muito simples entre essas duas
coisas. "Por esta causa também agradecemos a
Deus sem cessar, porque quando recebestes a
palavra de Deus que ouvistes de nós, não a
54
recebestes como palavra de homens, mas como
é em verdade a palavra de Deus". Dessa forma,
evidentemente percebemos que há um
recebimento do evangelho como a palavra dos
homens, pois se tivessem recebido esse
evangelho apenas como a palavra dos homens,
não haveria motivo para se alegrar em seu
coração.
A. Vamos então olhar para este ponto; o que é
receber o evangelho como a palavra dos
homens. Você pode receber o evangelho como a
palavra dos homens, sem recebê-la como a
palavra de Deus, e este é o caso de centenas e
milhares. Eles recebem o evangelho, creem que
é verdadeiro, e em muitos casos fazem uma
profissão de sua fé, mas o recebem como a
palavra dos homens. Assim, lemos sobre
aqueles que "por um tempo creem, e que em
tempo de tentação caem". (Lucas 8:13). Assim,
descobrimos que "muitos creram em Cristo" nos
dias da sua carne, que nunca acreditaram nele
para a salvação de sua alma, mas eram de seu pai
o diabo. (João 8:30, 44). A verdade tem nela uma
força dominante. Quando Jesus falou, "o povo
ficou espantado com a sua doutrina, porque os
ensinava como alguém que tem autoridade e
55
não como os escribas". (Mateus 7:28, 29). Até
mesmo do mago Simão é dito ter "acreditado", e
foi batizado sobre essa fé, continuando com
Filipe e interrogando-o enquanto contemplava
os milagres e os sinais que foram feitos. E, no
entanto "não teve nem parte nem sorte neste
ministério", porque "o seu coração não era reto
aos olhos de Deus", e com toda a sua fé, e todo o
seu batismo ainda estava "no fel da amargura e
no laço da iniquidade". (Atos 8:13, 21, 23). A
verdade, como eu disse, tem um poder
dominante, e agora vou me esforçar para
mostrar-lhe o efeito que tem como tal, quando
recebida como "a palavra dos homens".
1. Primeiro, então é recebido na compreensão
natural. Há uma luz que atende ao evangelho.
Lemos, portanto que quando o Senhor foi morar
em Cafarnaum, "o povo que estava sentado nas
trevas viu uma grande luz, e para os que estavam
sentados na região e sombra da morte, surgiu a
luz." (Mt 4:13, 16); e ainda esta mesma
Cafarnaum que foi "exaltada ao céu" por ter
Cristo morando ali como a luz do mundo,
deveria "ser trazida ao inferno". (Mateus 11:23).
Há também uma beleza, uma harmonia, e uma
evidência na forma de uma autoevidência na
56
verdade, que muitas vezes se recomenda às
mentes dos homens; e sob esta influência
muitos recebem a palavra em seu julgamento,
seu intelecto, seu entendimento, que nunca
sentiram e nunca sentirão o poder da verdade
em seus corações, recebido com luz divina, vida
e eficácia, para regenerar suas almas.
2. Outra vez, há uma recepção do evangelho
como a palavra dos homens na CONSCIÊNCIA
natural. Há uma consciência natural, bem como
uma consciência espiritual. Isto é muito
evidente a partir da linguagem do apóstolo,
quando se fala dos gentios - "que mostram a obra
da lei escrita em seus corações, sua consciência
também testemunha, e seus pensamentos
acusando ou desculpando uns aos outros".
(Romanos 2:15). E lemos sobre os que acusaram
a mulher adúltera, que foram "condenados pela
sua própria consciência, e saíram um a um,
começando pelo mais velho, até o último." (João
8: 9). O apóstolo também fala de "recomendar-se
à consciência de cada homem, à vista de Deus".
(2 Cor 4: 2).
Ora, como pregou a milhares, não poderia tê-lo
feito, a menos que houvesse consciência em
57
todo homem, assim como em todo bom homem.
Quase nada parece se aproximar da obra da
graça tão perto como isto; pois que vemos nos
casos de Saul, Acabe e Herodes, que pode haver
as mais profundas convicções de consciência e
ainda não salvar e converter a Deus. Assim, há
um receber o evangelho na consciência natural,
produzindo convicções morais, e uma obra que
parece à primeira vista ter uma semelhança
impressionante com a obra de Deus sobre a
alma; e, no entanto, o todo pode ser uma mera
imitação da graça, um movimento da natureza
flutuando na superfície da mente e, às vezes,
tocando o domínio da consciência, mas não
brotando da palavra de Deus como trazida com
um poder divino ao coração.
3. Mas há um ir além disso. Há um recebimento
do evangelho como a palavra dos homens nas
afeições, isto é, nas afeições naturais. Esta
parece ser, na verdade, a aproximação mais
próxima possível a uma obra divina; para
"receber o amor da verdade" que referido na
Escritura como uma evidência de salvação. (2
Tessalonicenses 2:10). E, no entanto, há um ser
58
"zelosamente afetado, mas não tanto". (Gálatas
4:17). Há um amor a um ministro, de modo que
"se possível, haveria um arrancar de seus
próprios olhos, para dá-los a ele"; e ainda, um
apóstolo pode justamente estar em dúvida
quanto à salvação dos tais. (Gálatas 4:15, 20). Tão
doce pode ser o som do evangelho, que um
ministro pode ser para um povo "como um canto
muito lindo de alguém que tem uma voz
agradável"; mas eles podem "ouvir as suas
palavras e não as praticarem." (Ezequiel 33:32).
O Senhor não fala dos ouvintes da terra
pedregosa que "recebem a palavra com alegria"
e ainda "não têm raiz, que por algum tempo
creem e em tempo de tentação caem?" (Lucas
8:13). Herodes ouviu João com alegria, e fez
muitas coisas, mas ainda podia ordenar que sua
cabeça fosse cortada pela palavra de uma
dançarina. Todas estas coisas nos mostram que
há um recebimento do evangelho nas afeições
naturais, tendo um gosto, até mesmo do que
podemos quase chamar de amor a ele, e ainda
assim tudo ser decepção e ilusão.
Isso, então, é receber o evangelho como "a
palavra dos homens". Milhares nunca o
59
recebem de nenhuma outra maneira, nem
penetram mais profundamente do que eu
descrevi, nem nunca o recebem com poder de
salvação. A semelhança, de fato, é tão grande e a
correspondência tão estreita entre os dois, que
é a coisa mais difícil para um ministro traçar a
linha perfeita de distinção entre um filho de
Deus em seu pior estado, e um hipócrita no seu
melhor; entre a mais baixa obra da graça, e a
mais alta obra da natureza. Mas há uma linha,
embora possa ser tal como "nenhuma galinha
sabe, e que o olho do abutre não viu", que vou
agora tentar desenhar, descrevendo o que é
receber o evangelho, não como a palavra de
homens, mas como "a palavra de Deus".
B. O que é receber o evangelho como a palavra
de DEUS. Deus fala em e por sua palavra, a Bíblia,
que a temos em nossas mãos, e espero que a
alguns de nós em nossos corações. Quando os
apóstolos pregavam, a sua palavra era então a de
Deus, porque Deus falou neles como agora nos
fala por eles. Tenha isso em mente, que não há
outra maneira pela qual Deus fala às almas dos
homens, senão por sua palavra escrita. Como
isso contém e desdobra o evangelho de sua
graça, é especialmente em e por este evangelho
60
que Sua voz é ouvida; porque é o mesmo
evangelho que Paulo pregou, do qual ele diz em
nosso texto que é a palavra de Deus. Agora, ele
diz aos tessalonicenses que este evangelho "não
lhes veio somente em palavras, mas também em
poder e no Espírito Santo e em muita certeza". (1
Tessalonicenses 1: 5).
Esta é a mesma distinção que procurei traçar.
Vem a alguém em palavra somente; eles ouvem
a palavra do evangelho, o som da verdade, mas
chega somente ao ouvido externo ou se toca nos
sentimentos interiores como eu descrevi, é
meramente como a palavra dos homens. Mas
onde Deus Espírito Santo começa e leva a sua
obra divina e salvadora, ele recebe a palavra
com um poder peculiar, indescritível, e ainda
invencível. Isto cai como de Deus, sobre o
coração.
Ele ouve falar nisto, e assim Sua gloriosa
Majestade parece abrir os olhos, desobstruir os
ouvidos e transmitir uma mensagem de sua
própria boca para a alma. Assim, isto vem "não
somente em palavras, mas também em poder, e
no Espírito Santo, e em muita certeza".
61
Como tracei a linha de distinção entre natureza
e graça, e tentei mostrar a maneira pela qual o
evangelho é recebido como "a palavra dos
homens", tomarei agora a contrapartida, e
tentarei apontar como ele é recebido como "a
palavra de Deus". E você vai observar que em
quase todos os pontos há uma semelhança, e
ainda uma diferença distintiva.
1. Primeiro, então, sob os ensinamentos e
operações do Espírito abençoado, ele é recebido
como a palavra de Deus em um
ENTENDIMENTO iluminado. Que a
compreensão é espiritualmente iluminada, é
evidente a partir da oração de Paulo; "Para que o
Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da
glória, vos dê o espírito de sabedoria e de
revelação no pleno conhecimento dele; sendo
iluminados os olhos do vosso entendimento,
para que saibais qual seja a esperança da sua
vocação, e quais as riquezas da glória da sua
herança nos santos," (Efésios 1:17, 18).
Uma luz peculiar atende ao evangelho, como
trazida ao coração pelo poder de Deus. Dessa luz
o apóstolo fala assim, "Porque Deus, que
ordenou que a luz brilhasse das trevas, brilhou
62
em nossos corações, para dar a luz do
conhecimento da glória de Deus na face de Jesus
Cristo". (2 Cor 4: 6). É este brilho peculiar de
Deus no coração que distingue esta luz, da mera
iluminação da compreensão natural. Nosso
Senhor, portanto o chama de "luz da vida". "Eu
sou a luz do mundo, aquele que me segue não
andará em trevas, mas terá a luz da vida". (João
8:12).
É também desta luz que João fala, "Mas se
andarmos na luz, como ele está na luz, temos
comunhão uns com os outros, e o sangue de
Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo
pecado". (1 João 1: 7).
É através desta luz que brilha sobre a Pessoa de
Cristo que aqueles que o receberam
"contemplaram a sua glória, a glória como do
unigênito do Pai". Ter essa luz é ser "cheio de um
conhecimento da vontade de Deus em toda
sabedoria e entendimento espiritual"; por isso
somos "libertados do poder das trevas, e trazidos
para o reino do amado Filho de Deus". (Col 1: 9,
13). Esta é uma coisa muito diferente do que é
chamado de "conhecimento principal"; porque é
assistido pela regeneração, ou "a colocação do
63
novo homem que é renovado no conhecimento
segundo a imagem daquele que o criou".
(Colossenses 3:10.) O apóstolo, portanto diz,
"Você já foi trevas, mas agora você é luz no
Senhor".
2. Ainda, sob este poder divino o evangelho é
recebido como a palavra de Deus na
CONSCIÊNCIA. Deus fala em e pela palavra,
particularmente para a consciência; e quando
assim fala, a alma cai sob o poder da palavra, pois
a consciência é, por assim dizer, a sua parte vital
e sensível. Alguns ouvem o evangelho como a
mera palavra dos homens, talvez por anos, antes
de Deus falar nele com um poder divino para sua
consciência. Houve por vezes, um toque da
corda do sentimento natural. Eles achavam que
entendiam o evangelho, pensavam que sentiam,
e pensavam que adoravam. Mas, todo esse
tempo não viram nenhuma distinção vital entre
recebê-lo como a palavra dos homens e como a
palavra de Deus. Mas, em algum momento
inesperado, quando pouco a procuravam, a
palavra de Deus foi trazida à sua consciência
com um poder nunca antes experimentado;
uma luz brilhou no seu interior através dela, que
eles nunca viram antes; uma majestade, uma
64
glória, uma autoridade, uma evidência que a
acompanharam, que nunca conheceram antes;
e debaixo desta luz, vida e poder voltaram para
casa com a palavra de Deus em seus corações,
como o apóstolo fala em sua Epístola aos
Coríntios. (1 Coríntios 14:25).
Aqui está o início da obra da graça, pois esta luz
e vida divinas produzem convicções espirituais
de pecado, tristeza segundo Deus, trabalhando o
arrependimento para a salvação, com um senso
da Majestade de Jeová como o grande Buscador
de corações, e da nossa condição perdida e
arruinada diante dele. Pois, Deus fala à
consciência, que é o domínio especial do
Espírito Santo, que é o leito de semente especial
da Palavra de Deus; o solo em que ela forma raiz,
cresce e prospera.
3. Mas, como agora estou falando
principalmente não da lei, mas do evangelho
como o poder de Deus para sua salvação, devo
passar a um terceiro ponto, pelo qual se
distingue da "palavra dos homens". Sempre que
o evangelho é trazido com um poder divino e
uma evidência ungida no coração como a
palavra de Deus, ela é recebida nas AFEIÇÕES
65
espirituais. Assim como temos um
entendimento natural para a palavra dos
homens e uma compreensão espiritual para a
palavra de Deus; como temos uma consciência
natural para a primeira, e uma consciência
espiritual para a outra, então temos afeições
naturais para gostar da palavra, e afeições
espirituais para amar a palavra. "Coloque suas
afeições", diz o apóstolo, "nas coisas do alto".
Lemos sobre alguns que "não receberam o amor
da verdade para serem salvos", implicando
claramente que há um recebimento da verdade,
sem receber o amor da verdade, e sempre que
há uma recepção do amor da verdade, há uma
salvação nele. Quando então, Cristo fala no
evangelho ao coração; quando se revela à alma;
quando a Sua palavra caindo como a chuva, e
destilando como o orvalho é recebida na fé e no
amor, e Ele é abraçado como o chefe entre dez
mil e o todo amável, pelo poder do evangelho Ele
toma seu lugar sobre os afetos e se torna
entronizado no coração como seu Senhor e
Deus.
Isto é receber a palavra de Deus nas afeições,
como antes foi recebida no entendimento por
uma luz divina, e na consciência por um poder
66
penetrante. E isto, é "recebido". Antes havia
rebelião contra isto, era fechado, repelido, ou se
recebido, era apenas flutuando na superfície;
uma espécie de luz passageira, ou convicção
transitória, ou afeição momentânea; nada
sólido, nada permanente, nada vital, nada
realmente divino ou espiritual, mas um simples
subir e descer, uma elevação e afundamento do
sentimento natural que deixou o entendimento
realmente não iluminado, a consciência
realmente intocada, e as afeições realmente
impassíveis; não renovadas, inalteradas.
Assim, embora haja uma imitação da obra do
Espírito sobre a alma, que parece como se
abraçasse essas três coisas, luz, vida e amor; mas
a leviandade, a superficialidade, o vazio
carimbado sobre todos os que meramente
recebem o evangelho como a palavra dos
homens é prova suficiente de que nunca
penetrou profundamente no coração, nunca
tomou qualquer aperto poderoso sobre sua
alma. Portanto, nunca trouxe consigo qualquer
separação real do mundo; nunca deu força para
mortificar o menor pecado; nunca comunicou
poder para escapar do menor laço de Satanás;
nunca foi recebido com um Espírito de graça e
67
súplicas; nunca trouxe honestidade,
sinceridade e retidão para o coração diante de
Deus; nunca deu qualquer espiritualidade de
mente, ou qualquer afeição amorosa para o
Senhor da vida e glória, ou para o povo de Deus.
Não fazia de seus miseráveis possuidores,
melhores do que qualquer ciência, ou arte, ou
um ofício, que pudessem ter aprendido
naturalmente. Era apenas a natureza em outra
forma, apenas a recepção da verdade da mesma
maneira que recebemos meros princípios
científicos, ou aprendemos uma língua, um
negócio ou um comércio.
Mas, quando é recebida como palavra de Deus,
é preciso que o entendimento, o coração, a
consciência e as afeições de um homem se
tornem tão eficazes, que nunca o deixa ir até que
fique seguro no céu. Um homem nunca pode
escapar, nem nunca deseja escapar dos eternos
braços, que estão debaixo dele na Palavra de
Deus, quando é feita vida e poder na sua alma.
Ele também nunca sai da rede do evangelho,
pois o cercou com as cordas do amor, e sempre
o segurará. Nem deseja escapar do olho de Deus,
ou fugir do som do evangelho, ou deixar o
Senhor que se fez precioso para sua alma. Sua
68
preocupação e ansiedade são, pelo menos, que
ele sabe tão pouco, sente tão pouco e goza tão
pouco do evangelho da graça de Deus, que
deleitaria sua própria alma se tivesse mais luz
em seu entendimento, mais ternura em sua
consciência, mais amor em seu coração.
Ele não diz a Deus: “Apartai-vos de nós, porque
não desejamos o conhecimento dos vossos
caminhos" (Jó 21:14), mas pelo contrário, deseja
sempre que o Senhor se aproxime cada vez mais
dele. Ele também não se contenta com a forma
de piedade enquanto nega o poder, pois sempre
suspira pelo poder, sempre quer o ensino do
Espírito, luta sempre sob um corpo de pecado e
morte, não desejando nada, senão a liberdade, o
amor, a comunhão, a espiritualidade e o gozo
das coisas divinas em seu próprio coração; e
andar de modo digno de seu chamado, viver
uma vida de fé e oração, e assim se manifestar
como alguém ensinado e abençoado por Deus.
Assim, embora seja difícil para um ministro
descrever a distinção correta entre natureza e
graça, e mostrar até que ponto um homem pode
ir e não ter religião real, ou até que ponto um
santo pode afundar e parecer ter menos do que
69
até mesmo um hipócrita; ainda há uma
diferença vital que distingue o precioso do vil, e
que não só é visível aos olhos do grande
Buscador de corações, mas é óbvio também para
a nossa visão mais sombria. Não podemos deixar
de ter às vezes, em nossa mente uma clara
evidência da distinção entre receber a palavra
de Deus como palavra de Deus, e recebê-la como
a palavra dos homens.
Até o ouvinte gracioso, às vezes escuta o
evangelho como a palavra dos homens. Ele sabe
que é a verdade que está soando em seus
ouvidos, mas nenhuma vida ou poder, orvalho,
aroma, ou influência divina é comunicado à sua
alma. Ele não é abalado quanto às doutrinas que
ele detém, e que ouve com ousadia, fiel e
claramente pregadas; a experiência descrita
corresponde com o que ele sentiu, provou e
manipulou da palavra da vida, mas há algo
faltando, o que eu bem posso chamar de coisa
principal, pois se "o reino de Deus não consiste
em palavra, mas em poder", não sentir o poder é
ficar aquém de uma apreensão vital e um gozo
vivo do reino de Deus na própria alma. Nestes
tempos, então a palavra de Deus é para ele,
70
senão a palavra dos homens, pois não há voz
nela além da voz do pregador.
Mas há épocas em que o evangelho é feito o
poder de Deus para a salvação; quando não vem
em palavra apenas, mas também em poder, no
Espírito Santo, e em muita certeza. E embora ele
possa ser incapaz de descrever seus
sentimentos, pois muitos cristãos bem
ensinados são incapazes de descrever o que
experimentam e sabem experimentalmente,
ainda ele tenha uma evidência interior e
indubitável de que Deus falou com ele no
evangelho, e trouxe uma Mensagem de
reconciliação, de perdão, de misericórdia, de
paz, de salvação ao seu coração.
O poder que ele assim sentiu sob o evangelho é
tal, que carrega com ele sua própria evidência.
Ele não pode explicá-lo aos outros, nem
compreender sua própria natureza, mas quando
o sentiu uma vez, depois ele pode sempre
reconhecê-lo, e é consciente de tudo distinto
dele, e que fica aquém dele. Assim, embora os
filhos de Deus possam ser muitas vezes
exercitados, até onde podem ir e provar estarem
finalmente errados, cada um ainda carrega em
71
seu próprio ser mais ou menos alguma
evidência interior, que ele tem recebido em
várias ocasiões do evangelho, não como a
palavra de homens, mas como é na verdade, a
palavra de Deus.
III. Passo ao nosso próximo ponto, a PROVA e
EVIDÊNCIA de receber o evangelho, não como a
palavra dos homens, mas como é na verdade, a
palavra de Deus - ele efetivamente funciona
naqueles que creem.
Receber a palavra, como a palavra dos homens
produz como eu mostrei, certos efeitos, mas não
produz eficazmente. Essa palavra "eficazmente"
marca a diferença entre as duas obras com o
próprio selo de Deus. Se o que eu disse é correto;
se tracei com algum grau de verdade e clareza a
obra da natureza e a obra da graça, você verá que
receber o evangelho como a palavra dos
homens trabalha no entendimento, na
consciência e nas afeições, isto é , na medida em
que são naturais, mas não funciona eficazmente
de modo a trazer a salvação. Não há nada
realmente feito com isso; nenhum bem é
realmente comunicado, nada forjado ou
produzido que resista à eternidade; na verdade,
72
mesmo no que diz respeito aos efeitos visíveis,
não há trabalho eficaz onde não há graça. Não há
separação efetiva do mundo, nenhum
arrependimento eficaz, nenhuma fé, esperança
ou amor eficaz, nenhuma oração ou súplica
eficaz; não há união eficaz ao Senhor com
propósito sincero de coração. Tudo é
superficial, enganoso e hipócrita.
Mas, onde o evangelho é recebido como a
palavra de Deus, embora possa ser em uma
pequena medida, é em uma medida eficaz. A
palavra de Deus, como obra de Deus, deve ter
uma realidade nela.
Quando Deus disse "Que haja luz", a luz explodiu
em seu fiat lux criativo, e foi luz efetiva, ela
existia ao mesmo tempo como dia. Quando Deus
ordenou ao dia conhecer seu lugar, o sol brilhar
no céu, ou mandar a terra produzir suas
criaturas vivas, sua grama, seus frutos, e assim
por diante, a palavra de Deus foi eficaz. "Pela
palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o
exército deles pelo sopro da sua boca... Pois ele
falou, e tudo se fez; ele mandou, e logo tudo
apareceu." (Salmo 33: 6, 9).
73
Mas, a palavra do homem não é eficaz para
produzir o desígnio de Deus. Eu poderia dizer
em uma noite como esta, "Mudança de vento!
Queda de chuva!", mas minhas palavras seriam
as palavras de um idiota. Que Deus comande
apenas os “reservatórios do céu”, e elas
deixarão cair toda a sua reserva sobre a terra
depois da longa e severa seca. Que Deus
somente fale; e a natureza sorri, ou a natureza
morre, conforme a palavra da sua boca.
Assim é na graça. Quando Deus fala, Ele fala
eficazmente, e Sua palavra tem uma operação
eficaz. Assim, se Ele dá convicção, é convicção
eficaz, e nunca desaparece até que termine em
consolo eficaz. Se trouxer a alma eficazmente
sob o monte Sinai, Ele a trará efetivamente para
o Monte Sião; se Ele convence eficazmente da
incredulidade, dará fé eficaz; se efetivamente
mata, Ele efetivamente torna vivo de novo; e se
efetivamente derruba, Ele efetivamente
levanta. Esta é a grande marca distintiva de
receber o evangelho como a palavra de Deus -
que é uma obra completa. Quando Deus chamou
Abraão, não houve demora, ele saiu para a terra
que não conhecia. Compare a saída de Ló de
Sodoma com a saída da esposa de Ló. Ló saiu
74
efetivamente. A esposa de Ló seguiu os passos
de seu marido, mas se voltou; não houve saída
eficaz de Sodoma, portanto, ela caiu sob a
destruição de Sodoma.
Lemos sobre alguém que disse, "Eu irei, senhor",
mas ele não foi. Não houve nenhum curso eficaz.
O outro disse que não iria, mas depois se
arrependeu e foi. Isso foi eficaz. Então, quando
Abraão foi convidado a oferecer a Isaque, ele se
levantou de madrugada e foi até o lugar que
Deus lhe tinha dito. Deus operou eficazmente
nele por Sua palavra, e pelo poder dessa palavra
em seu coração foi capacitado para oferecer
Isaque. Assim, mesmo que você tenha apenas
uma pequena medida de graça, contudo, se
recebeu o evangelho em seu coração como a
palavra de Deus, ela operou em você
efetivamente. Pode não ter sido um trabalho
muito profundo, ou de longa data; talvez tenha
muito a aprender de si mesmo e do Senhor, da
sua miséria e da Sua misericórdia, da sua
fraqueza e da Sua força, do seu pecado para
condenar e da Sua misericórdia para salvar. Sua
fé pode ser fraca, sua esperança fraca, e seu
amor, senão escasso; e ainda se eles foram
operados em seu coração pelo poder de Deus
75
através de sua palavra e do evangelho de Sua
graça, eles foram operados em você
eficazmente.
Sabemos que muitos bebês ainda que vivos,
nascem muito fracos e enfermos, e alguns que
foram até mesmo postos de lado para morrer,
reviveram por uma enfermagem cuidadosa; e a
vida sendo descoberta neles cresceu, e formou
homens ou mulheres fortes. Portanto, não se
deve medir a obra da graça em sua própria alma
ou na dos outros pela sua profundidade ou força,
mas pela sua vitalidade. Existe vida em seu ser?
O poder de Deus atendeu ao trabalho? A graça
de Deus está realmente em seu coração? Deus
falou com sua alma? Você já ouviu Sua voz,
sentiu Seu poder e caiu sob Sua influência?
Talvez, no presente, não se estenda muito além
da convicção do pecado, da confissão de suas
transgressões e iniquidades, cobrindo você com
confusão e vergonha diante da face de Deus,
alguma tentativa de invocar Seu santo nome e
buscar Seu rosto com oração e súplica. No
momento, você pode ter pouca atuação efetiva
de Sua palavra em seu coração, a não ser para
fazê-lo pensar seriamente sobre a salvação de
76
sua alma, separando você do mundo e trazendo-
o como um humilde ouvinte sob o evangelho
pregado. A sua visão da Pessoa e obra de Cristo,
da sua adequação aos seus desejos e desgraças,
à compaixão do seu coração amoroso, à sua
bem-aventurança celestial, pode ser escassa e
fraca, e mesmo assim podem ser espirituais e
reais, para trazer uma medida de fé e esperança
nEle.
Pode haver toda esta fraqueza em sua fé e
esperança, e ainda pode haver verdade e
vitalidade nelas. Eu não diria uma palavra para
encorajar a presunção de um professante vago,
autoconfiante, mas certamente não estenderia
a mão para apagar o pavio fumegante, ou
quebrar a cana machucada. Eu procuraria, se
esta fosse a última vez que falasse em seus
ouvidos, encorajar a mais débil obra de graça,
enquanto também tentaria eliminar todas as
faíscas de fogo falso, para que você tenha
acendido o fogo verdadeiro a fim de aquecer
suas mãos. Mas, embora eu fale assim, contudo
sei que é a parte mais difícil do ministério
cristão traçar essa linha estreita para fortalecer
as mãos fracas e confirmar os joelhos fracos de
77
crentes reais, e ainda não fortalecer as mãos de
professantes autoenganados.
Eu digo "verdadeiros crentes", para agora olhar
para as pessoas em quem, de acordo com o
nosso texto, a palavra de Deus eficazmente
funciona; "naqueles que creem". A fé é o olho
pelo qual vemos a luz, na luz de Deus; a fé é o
ouvido por meio do qual ouvimos a palavra de
Deus, e a fé é a mão pela qual recebemos graça
sobre graça de Cristo. Assim, a palavra de Deus
opera eficazmente naqueles que creem e neles
somente, pois onde não há fé não pode haver
trabalho eficaz; e posso acrescentar, que ela
funciona eficazmente em medida e proporção
exatas em relação à nossa fé. Se a nossa fé é
fraca, então o poder que opera em nós é fraco,
ou, para falar mais corretamente, se o poder que
opera em nós é fraco, nossa fé, correspondente
a esse poder, também será fraca. Assim como
cremos, isso nos é feito. A fé forte traz consolo
forte; a fé fraca traz consolo fraco.
Nós todos temos a mesma mão, o mesmo
número de dedos, a mesma maneira de usá-los,
mas a mão pode ser a mão de um bebê ou a mão
de um homem forte. O bebê pode agarrar o
78
mesmo objeto que o homem, mas há diferença
na força com que os pequenos dedos de um bebê
agarram um objeto e as mãos musculosas de um
homem robusto! Assim, as mãos do menor bebê
na graça podem apoderar-se da Pessoa e da obra
de Cristo, e receber da Sua plenitude, mas
compare essa mão fraca com a mão forte do
homem abençoado, com doce segurança e uma
confiança santa e feliz, permitindo-lhe
regozijar-se na esperança da glória de Deus.
IV. Mas é hora de avançarmos para nosso último
ponto, a causa que existe para a INCESSANTE
AÇÃO DE GRAÇAS, porque Deus tem um povo
que recebeu a Sua palavra, não como a palavra
dos homens, mas como é na verdade, a palavra
de Deus - "Por isso também agradecemos a Deus
sem cessar".
Oh, infelizmente falhamos nisso! Que chama
ardente de amor celestial queimou no peito de
Paulo! Ele estava louvando a Deus sem cessar
pela bênção que repousava em seu ministério.
Aqui ficamos diminuídos, aqui vemos quão
escassa é a nossa medida de graça, em
comparação com a do apóstolo. E, no entanto
todo ministro cristão, cada servo de Deus deve
79
ter causa profunda de gratidão ao ver e acreditar
que há um povo que recebeu o seu evangelho,
não como a palavra dos homens, mas como é na
verdade, a palavra de Deus; e em ter provas e
evidências, de como eficazmente trabalha
naqueles que creem, de contemplar os frutos da
fé como manifestado por seus lábios e em sua
vida. João pôde dizer, "Alegrei-me muito por ter
descoberto que os vossos filhos andam na
verdade" (2 João 4), e outra vez, "não tenho maior
alegria do que ouvir que meus filhos andam na
verdade". (3 João 4). Então, Paulo poderia dizer
aos Tessalonicenses; "Porque, qual é a nossa
esperança, ou gozo, ou coroa de glória, diante de
nosso Senhor Jesus na sua vinda? Porventura
não sois vós?
Na verdade vós sois a nossa glória e a nossa
alegria." (1 Tessalonicenses 2:19, 20), e ainda:
"Por isso, irmãos, em toda a nossa necessidade e
tribulação, ficamos consolados acerca de vós,
pela vossa fé, porque agora vivemos, se estais
firmes no Senhor." (1 Tesssalonicenses 3: 7, 8).
Espero que, embora eu deseje falar de mim com
humildade e modéstia, contudo, gostaria de
desejar que o Senhor, não apenas aqui, mas em
80
outros lugares tenha usado o evangelho que
preguei para ser recebido não como a palavra
dos homens, mas como é, a palavra de Deus. Eu
espero que haja aqueles que estão debaixo deste
teto esta noite, que possam colocar o selo que
receberam, no que eu disse a partir deste
púlpito, não como a palavra dos homens, mas
como a palavra de Deus. Eles sentiram em várias
ocasiões um poder na palavra, como se o próprio
Deus quisesse falar a seus corações, e dos efeitos
por ela realizados, na paz e na alegria que
comunicou; na liberdade que trouxe, no
conforto que deu, na doce certeza que tem
fornecido, nos efeitos permanentes que tem
produzido, e por estes efeitos possam olhar para
trás e reconhecer como tendo sido para eles, a
própria voz de Deus.
Agora, meus queridos amigos, isto
permanecerá para sempre. Se tiverem recebido
o que lhes tenho dito durante estes muitos anos,
apenas como palavra dos homens, quando eu
estiver fora, todos terão desaparecido, e assim,
eu e eles esquecidos como se eu nunca tivesse
pregado aos seus ouvidos a palavra da vida . Será
tão vão, fugaz, tão inútil como a espuma sobre a
água quando agitada por uma brisa, todos
81
passarão como a fumaça de uma chaminé ou
como a palha das eiras de verão.
Não, pior, porque onde o evangelho não é o
aroma de vida para a vida, é o cheiro de morte
para a morte (2 Cor 2:16); e se nosso evangelho
se esconder, está escondido para aqueles que
estão perdidos (2 Coríntios 4: 3); pouco lhe
beneficiará no grande dia ter ouvido o
evangelho por muitos anos, se não foi feito o
poder de Deus para a sua salvação. Pior, não
pode deixar de aumentar a sua condenação por
ter visto a luz, e se rebelado contra ela, de ter
ouvido a verdade, e ainda interiormente ou
exteriormente, no coração ou na vida ter se
voltado para a mentira.
Mas vocês, que receberam o evangelho dos
meus lábios como a palavra de Deus, e
encontraram e sentiram o seu poder eficaz no
seu coração suportarão cada tempestade e
viverão por fim. Assim, o que você ouviu e
recebeu, foi para a eternidade. Isto salvou e
santificou sua alma, e ela será propriedade de
Deus no último dia como Sua voz, através de
mim para você. A fé levantada em seu coração
pelo poder desta palavra, a esperança que foi
82
comunicada e o amor derramado pelo Espírito
Santo através dela terão a sua aprovação no
grande dia em que Cristo virá, e todos os Seus
santos com Ele. Então, vocês que, pela sua
doutrina e testemunho, creem no nome do
unigênito Filho de Deus, vocês somente que
podem dizer que desejam temer o Seu nome,
seja você fraco ou forte, será achado nEle
naquele dia aceito no Amado.
Ó, que agora possamos ser abençoados com
uma doce certeza, de que entraremos no gozo
do Senhor, quando todas as fraquezas da carne
forem esquecidas, todos os pecados da nossa
natureza forem perdidos e sepultados, e quando
estaremos diante do trono, com palmas em
nossas mãos e coroas eternas sobre nossas
cabeças, e toda tristeza e suspiro afastados para
longe, e para todo o sempre!
83
A Peneira e Seus Efeitos
Título original: The Sieve and its Effects
Por J. C. Philpot (1802-1869)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
84
“Disse também o Senhor: Simão, Simão, eis que
Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo;
mas eu roguei por ti, para que a tua fé não
desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma
teus irmãos.” (Lucas 22.31,32)
Os caminhos de Deus não são os nossos
caminhos; nem são seus pensamentos os nossos
pensamentos. Isto é aplicável a uma variedade
de coisas. Na verdade, não há apenas uma única
circunstância relacionada com as coisas de
Deus a que essas palavras não se apliquem. Mas,
há dois casos especiais aos quais, segundo
minha opinião, se aplicam particularmente. Um
deles respeita ao crescimento na graça do filho
de Deus; o outro, às qualificações necessárias
para um ministro de Cristo.
Se nos perguntassem (supondo que
ignorávamos o caminho e que tínhamos a
educação de um cristão), o que era mais
propício para um crescimento na graça, e como
devíamos colocá-lo, talvez algum esquema
como este possa ocorrer à nossa mente: coloque
o crente no campo, em um local calmo e
retirado, onde não teria negócios nem
85
ansiedades mundanas para distrair sua mente; e
deixá-lo lá ler a sua Bíblia, ser cercado por
amigos religiosos, fixar certas horas para
meditar, vigiar e orar. Tal poderia ser um
delgado esboço do que consideramos o modo
certo de educar um cristão nas coisas de Deus.
Este esquema foi bastante usado. Por ele os
homens foram conduzidos na caverna do
eremita; mosteiros e conventos foram formados
sobre este plano; e em vez de serem as moradas
da religião, acabaram por provar em muitos
casos, ser pouco mais que antros de iniquidade.
Mas, suponhamos que também fomos
chamados (eu ainda presumo que somos
ignorantes do caminho de Deus) para encaixar e
educar um ministro na obra do ministério.
Podemos propor um esquema como este. Dê-lhe
uma boa educação; instrua-o nas línguas
originais; forneça-lhe uma biblioteca teológica
bem selecionada; coloque-o em um círculo de
irmãos ministros; deixe-o passar o seu tempo na
leitura, meditação, vigilância e oração. Nesse
esquema, os homens dotaram as universidades.
colégios, academias e instituições de vários
tipos surgiram neste sistema. E qual é o
resultado? Em vez de criarem servos para Deus,
86
eles terminaram em criar servos para Satanás.
Este é o caminho do homem. E vemos o
resultado; que em vez de conduzir ao
crescimento da graça um cristão privado; em
vez de encaixar um ministro para o serviço de
Deus, tudo termina em confusão, e num
afastamento dos caminhos retos do Senhor.
Assim, simplesmente esbocei os caminhos do
homem e os pensamentos do homem.
Cheguemos agora ao manancial de toda a
verdade e toda a sabedoria e vejamos se os
caminhos de Deus não diferem dos caminhos do
homem; e os pensamentos que residem no
coração do Criador dos pensamentos que se
alojam no seio da criatura.
Quais são esses caminhos e quais são esses
pensamentos, esforçar-me-ei para apresentar-
lhes consoante as palavras do texto. “Disse
também o Senhor: Simão, Simão, eis que
Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo;
mas eu roguei por ti, para que a tua fé não
desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma
teus irmãos.”
Podemos observar três características
principais nas palavras que temos diante de nós.
87
Primeiro, a peneira; "Satanás desejou ter você
para que ele pudesse peneirá-lo como trigo."
Em segundo lugar, o que é que não falta na
peneira; "Eu orei por você para que a sua fé não
desfaleça."
Em terceiro lugar, os benefícios e bênçãos que
brotam da peneira; "Quando te converteres,
fortalece os teus irmãos".
I. A peneira - "Satanás desejou ter você para que
ele pudesse peneirar você como trigo." O Senhor
estava se aproximando do fim de sua estada na
terra; ele estava chegando perto da hora solene
quando estava prestes a ser batizado com o
batismo de sofrimento e sangue. E parece que
Satanás aproveitou esta oportunidade para ver
se, por suas artes infernais, não conseguia
remover seus discípulos. Ele não ignorava que o
Senhor Jesus Cristo era o Filho de Deus, nem o
que ele veio fazer sobre a terra. Ele sabia que ele
veio para construir uma igreja contra a qual as
portas do inferno não poderiam prevalecer.
Mas, se ele conseguisse desviar pela tentação ou
pela perdição, qualquer um dos discípulos do
Senhor, que vitória ele obteria! Ele, portanto,
88
parece ter reservado sua grande força para a
última hora, e ter olhado com atenção para cada
um dos seguidores do Senhor.
Há uma expressão em Jó 1: 8, que, penso, lança
grande luz sobre o modo como Satanás marca a
sua presa. Disse-lhe o Senhor: Consideraste
meu servo Jó? Agora, se olharmos para a
margem de nossa Bíblia, lemos o seguinte:
"Você colocou seu coração em meu servo Jó?" O
Senhor viu que ele tinha colocado seu coração
em Jó; não um coração de amor, mas um
coração de inimizade; e que ele era como um
açougueiro fixando seu olho em um cordeiro, e
dizendo: "Aqui está um para a minha faca!" Ou
como um lobo que rodeia um rebanho de
ovelhas, e destaca a mais gorda para sua
garganta gananciosa. Portanto, Deus lhe disse:
"Você colocou seu coração em meu servo Jó?" “O
que! Ele deve ser sua presa? Nada te satisfará,
senão sobrecarregar-te de sua malícia? Mas
qual foi a resposta do adversário de Deus e do
homem? - Você não colocou uma cerca sobre
ele? Ele não negou que seu coração estava posto
em cima de Jó; que desejava por as mãos no
sangue de seu coração; mas ele se queixa de que
Deus tinha colocado uma cerca ao redor dele;
89
que havia uma cerca por onde ele não poderia
passar e que não poderia quebrar. Assim,
embora pudesse olhar para a sebe, a presa
estava a salvo de sua infernal malícia até que
Deus tirou a sebe.
Mas, o Senhor tirou duas vezes a cerca exterior,
e preservou duas vezes a interior, dizendo,
finalmente: "Eis que ele está na tua mão, mas
não lhe tires a vida". O Senhor manteve isso; e o
resto deu a Satanás. E assim, quando a cerca
exterior foi tirada, encontramos Satanás
invadindo-o, primeiro despojando-o de sua
propriedade e de sua família, então afligindo seu
corpo, e fazendo tudo exceto o que não lhe foi
permitido fazer - tocar sua vida.
Assim, parece-me que nestes últimos dias da
peregrinação do Senhor sobre a terra, este lobo
estava cercando o redil em que o Senhor tinha
colocado suas ovelhas, pondo seu coração em
uma e outra, e desejando tragá-las com a sua
garganta infernal. E Deus o permitiu em um
exemplo; não só pôr seu coração em uma delas,
mas gratificar sua malícia infernal sobre Judas,
o filho da perdição, que não sendo guardado
pelo poder de Deus, foi permitido que caísse nas
90
mãos de Satanás, e ser destruído em corpo e
alma eternamente.
O Senhor abrange em nosso texto todos os seus
discípulos. É um erro pensar que só é aplicável a
Pedro. As palavras correm assim: "Simão, Simão,
Satanás desejou tê-lo, não só você (está no plural
no original), mas "ter todos vocês para que ele
possa peneirar vocês como trigo”.
Especialmente você - "mas tenho orado por você
para que sua fé não desfaleça; Simão. Como se
Satanás os visse todos, e desejasse peneirar tudo
em sua peneira. E assim ele fez até certo ponto.
Mas, havia um em particular. É quase como se
Satanás tivesse falado assim: "Eu apanhei um
dos tenentes; deixe-me ver se eu não posso
derrubar o coronel. Eu tenho Judas; eu vou ter o
Pedro também. E assim faria, se o Senhor não
tivesse orado por ele, e fortalecido sua fé. Judas
ele poderia ter; ele era um dos seus. Mas Pedro
era um dos do Senhor. Encorajado pela queda de
Judas, ele estava determinado a ter Pedro em
seguida. Mas, como o Senhor anulou tudo, e fez
disso uma bênção para Pedro, e para o resto dos
discípulos!
E isso nos mostra que todos devem ter a peneira.
Todos os professantes - todos os que se chamam
91
pelo nome do Senhor, e todos os que invocam o
nome do Senhor - todos devem ser colocados na
peneira; e assim ser provado que são de Deus e
de quem não são.
Mas, o que é uma peneira? Primeiro, vamos ver
a figura literal e naturalmente; pois, a menos
que entendamos a figura literalmente, não
podemos esperar compreender sua significação
espiritual. Qual é o objetivo da peneira? É
separar o grão sobre o chão do celeiro,
misturado como está com poeira e palha,
sementes pequenas, e lixo. Ele deve ser
separado de todos estes antes de ser apto para se
fazer pão. E qual é o instrumento usado para
esse fim? Uma peneira. Esta é a ideia principal
representada. A peneira é sacudida para trás e
para a frente para separar o grão sadio do não
sadio; poeira e sementes pequenas caem assim
através das malhas da peneira, enquanto o grão
bom permanece na mesma. Isto concorda com
as palavras do Profeta: "Pois eis que darei
ordens, e sacudirei a casa de Israel em todas as
nações, assim como se sacode grão na peneira;
todavia não cairá sobre a terra um só grão."
(Amós 9: 9).
92
Agora, para aplicá-lo, vamos ver a sua
interpretação espiritual. Significa, então, ser
colocado nas circunstâncias em que nossa
profissão é tentada ao máximo. Seja qual for o
motivo pelo qual nossa profissão é provada,
nossa religião é peneirada, e a poeira e sujeira
são separadas dela; seja qual for o meio pelo qual
esse processo é executado, pode ser chamado de
peneira. E eu diria que há, na maior parte, quatro
peneiras empregadas. Pode haver outras; mas
há quatro especialmente que ocorrem em
minha mente - em que professantes de religião,
e todos que se chamam pelo nome do Senhor,
devem ser testados, peneirados e provados,
sejam eles do Senhor ou não.
1. Primeiro, há a peneira da PROSPERIDADE. Os
efeitos disso lemos no Salmo 73, e no capítulo 21
de Jó, onde encontramos os frutos dos
professantes em circunstâncias prósperas. Esta
peneira que encontramos também é indicada
na primeira epístola a Timóteo, onde o Apóstolo
diz: "Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os
males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé,
e se traspassaram a si mesmos com muitas
dores.” (1 Timóteo 6:10). Quem tem olhos para
ver, não viu isto clara e repetidamente? Há um
93
membro de uma igreja, e ele será humilde e
contrito, enquanto em circunstâncias pobres.
De coração quebrantado, sua conversa será
deleitável, doce e proveitosa, ele estará
observando a mão de Deus na providência e
recebendo muitas marcas do favor da
misericórdia e do amor de Deus, mas se ele
ganhar muito dinheiro, o negócio prosperar ou
se casar com uma esposa rica, qual é o efeito?
Ele se torna magro espiritualmente, estéril,
morto e inútil, e em vez de sua conversa ser
como antes, sobre as coisas de Deus, o mundo e
as coisas dele parecem comer cada coisa verde
em sua alma. Por esta peneira, Deus igualmente
ciranda para fora da peneira professantes, e
manifesta-se frequentemente se há ou não a
vida verdadeira de Deus na alma.
2. Mas, ainda, existe a peneira da
ADVERSIDADE. E esta peneira da adversidade
tenta alguns que não foram provados na peneira
da prosperidade. A pobreza, as circunstâncias
deprimentes, as perdas nos negócios, o
comércio afundando, as ansiedades na família e
a doença do corpo, fazem parte desta peneira; e
ela é uma que é muito tentadora.
94
3. Outra peneira é a peneira da ALMA
ATRIBULADA. Sondagens concernentes ao
nosso estado diante de Deus; dolorosas
descobertas dos males do nosso coração; o
funcionamento da incredulidade e infidelidade,
rebelião, blasfêmia e obscenidade da nossa
natureza corrompida pelo pecado; nenhuma luz
sobre o nosso caminho, nenhuma doce resposta
à oração, nenhuma manifestação de
misericórdia e amor, nenhuma presença de
Deus para o nosso coração; gemidos e choros,
suspiros e lágrimas, tribulações, fardos, aflições
e tristezas - nesta peneira quantas pessoas de
Deus são tentadas ao extremo!
4. A quarta e última peneira de que falarei é a
peneira da TENTAÇÃO; como Pedro foi
colocado nela, bem como todo o povo de Deus é
mais ou menos colocado nela. Pois Satanás
deseja peneirar tudo como trigo; e não há um
filho de Deus, nem um professante, que Satanás
não deseje, mais ou menos, peneirar com a
peneira da tentação. Agora, destas tentações,
algumas são muito apropriadas e agradáveis à
nossa carne, e algumas são muito terríveis,
cortantes, perfurantes e causam feridas ao
nosso espírito. Por exemplo; olhe para a maneira
95
pela qual Satanás peneirou os santos de outrora.
Abraão, Isaque e Jacó, pelo temor do homem; e
Aarão pela mesma tentação. Olhe como ele
peneirou em sua peneira Noé por bebida forte;
Raquel por inveja e ciúme; Davi pela luxúria;
Ezequias por orgulho; Asafe por irritação;
Salomão por idolatria; e Moisés pela
impaciência. Olhe através dos registros da
Bíblia, e veja se podemos encontrar um santo na
Palavra de Deus que não foi de alguma forma ou
outra peneirado na peneira da tentação.
Mas, além daquelas que são apropriadas e
sedutoras para a carne - além da concupiscência
da carne, da luxúria dos olhos e do orgulho da
vida - além da facilidade, da cobiça, do espírito
mundano e de mil encantos sedutores, existem
outras tentações pelas quais é permitido a
Satanás peneirar o povo de Deus. Tentações
quanto às suas próprias vidas; tentações quanto
à divindade do Senhor Jesus Cristo; tentações
quanto à inspiração das Escrituras - tentações
quanto à eficácia do sangue do Cordeiro;
tentações sobre se Deus ouve e responde a
oração; se temos uma alma, ou nossas almas
existem após a morte; tentações sobre o céu e
tentações para blasfemar, desistir de toda a
96
religião e mergulhar de cabeça no mundo;
tentações para amaldiçoar a Deus e morrer;
tentações para murmurar, zangar e repreender
sob cada dispensação dolorosa; tentações para
não orar mais porque Deus não envia
manifestamente uma resposta à oração.
Quem sabe alguma coisa das coisas de Deus, ou
de seu próprio coração, não sabe o que é estar
em uma ou outra destas quatro peneiras; às
vezes exaltado pela prosperidade; às vezes
deprimido pela adversidade; às vezes visitado
pela tribulação; às vezes sacudido para trás e
para a frente na peneira da tentação?
II. Mas, passamos para o nosso segundo ponto -
o qual não falha quando colocado na peneira. "Eu
orei por você para que sua fé não desfaleça." O
Senhor não orou por Judas; ele era o filho da
perdição, e, portanto, ele caiu através da
peneira, e caiu no inferno, onde ele está agora, e
onde ele estará por toda a eternidade. E você e
eu certamente cairíamos também, a menos que
tenhamos um interesse salvador no amor e
sangue do Cordeiro. Você pode escapar por um
tempo; mas se você não tem nenhum interesse
salvador na mediação do Senhor Jesus Cristo; se
97
você não tem nenhuma parte em seu sangue
expiatório e graça; se ele não está intercedendo
por você em virtude de Sua presença à direita do
Pai, mais cedo ou mais tarde você vai cair
através da peneira e vai cair no inferno.
Agora na peneira espiritual há coisas que caem,
e há coisas que não caem; assim como na figura
literal, há coisas que caem através da peneira
natural, e há coisas que não caem através dela.
Sujeira, sementes pequenas, partículas de lixo
passam; mas o bom e saudável grão permanece.
Assim, na alma do cristão, há aquilo que cai
através das malhas da peneira, e há o que é
deixado para trás.
Mas o que é que cai através das malhas? Vou
dizer-lhe.
1. Primeiro, autojustiça. Isso cai; porque se um
homem for colocado na peneira da tribulação, e
nele houver uma descoberta dos males de seu
coração; ou se Satanás puder sacudi-lo para trás
e para a frente na peneira da tentação, ele vai
sacudir a sua autojustiça, e esta deve cair. Um
homem não pode ser um fariseu autojusto que é
bem peneirado na peneira da tentação. É
98
impossível. A autojustiça cai de sua alma como a
sujeira cai através das malhas da peneira.
2. Confiança falsa é outra coisa que cai da
peneira. Quão vãos são alguns homens! Que
linguagem forte eles usam! Que posição alta
eles ocupam! Haverá uma das alturas de Sião,
sobre a qual não resistirão? Ora, se os julgar
pelas suas palavras, pareceriam prontos para
voar para o céu; mas observem-nos nas suas
obras, e os verão rastejar sobre a terra. Em
palavras, parecem muito perto do trono de
Deus; em ações, não muito longe do espírito do
diabo. Agora essa confiança vã passa. Se eu sou
peneirado na peneira da tentação; se eu
conheço os males do meu coração; se eu sou
agitado para trás e para a frente na peneira da
tribulação da alma, como pode a confiança vã
ficar? Tudo se rompe e voa como a névoa diante
do sol, ou o pó diante do vento. Ele cai, e o ego
afundará para o seu lugar certo - um pobre
miserável.
3. A força da criatura é outra coisa que cai
através da peneira. Força da criatura! Essa foi a
força de Pedro quando ele tremeu diante de
uma criada; quando não podia suportar o peso
99
de uma empregada doméstica, mas se encolhia
como um frango diante de um falcão. Essa foi a
força, a coragem deste poderoso Pedro, que
estava indo para a prisão e para a morte, que
podia tirar sua espada e cortar a orelha do servo
do sumo sacerdote, mas agora temia e tremia
diante de uma empregada.
Deixe a nossa força de criatura ser colocada na
peneira da tentação; deixe o diabo nos sacudir
para trás e para a frente; deixe Deus esconder
seu rosto; que a escuridão cubra a mente; deixe
que os problemas agarrem a alma - onde está
toda a nossa força? Quando a tentação vem para
seduzir, enfeitiçar, enredar, emaranhar, e
desviar, podemos ficar de pé? Não! Nós caímos
em um momento. Deixe o diabo entrar,
podemos ficar de pé? Poderia Jó ficar de pé? Davi
poderia ficar de pé? Aarão poderia? Não, nem
por um instante! A força da nossa criatura cede
quando somos colocados na peneira de Satanás!
4. A sabedoria da carne é outra coisa que cai
através da peneira. Nosso alardeado
conhecimento da Palavra de Deus; nossas visões
profundas deste e daquele capítulo da Bíblia, e
nossas visões profundas dessa passagem; o
100
conhecimento doutrinário que talvez tenhamos
armazenado em nossas cabeças durante anos,
tudo cai através da peneira - não oferece
nenhum conforto, não traz nenhum alívio, não
comunica nenhum apoio - tudo o que
aprendemos em nosso julgamento falha na hora
da prova. Não podemos fazer uso dessas coisas;
todas elas caem através da peneira.
Outras eu poderia mencionar; tais como a
oração carnal, a santidade da criatura, as
observâncias legais. Tudo de natureza terrestre,
tudo que não é da própria implantação de Deus
na alma, nos falha na hora da provação. Você
conhece isto - se você esteve na peneira. Era
uma peneira para mim ser afastado do
ministério, e meus inimigos dizendo, “Deus
fechou a sua boca; esperamos que nunca mais
seja aberta!" Não era uma peneira? Eu sei que
era para mim. Aflição, dificuldade, tristeza e
tribulação; os dardos ardentes do inferno;
armadilhas colocadas para os meus pés - um
homem que não conhece essas coisas como
sendo uma peneira, nunca esteve nelas.
Mas, se ele entrar nessa peneira, ela tirará toda
a sua falsa religião e lhe fará sentir que não tem
101
senão o que o próprio Deus colocou em sua
alma, soprou em seu coração e lhe deu
conhecimento pelo poder do Espírito. Nada
mais vai ficar na peneira; "Porque cada planta
que meu Pai celestial não plantou, será
arrancada" (Mateus 15:13). Todas estas coisas,
então, e outras que poderiam ser mencionadas,
vão nos falhar na peneira.
Mas, não há algo que não falha? Bendito seja
Deus que existe. O Senhor disse a Pedro: "Eu
tenho orado por você, para que a sua FÉ não
desfaleça". E que misericórdia que a fé de Pedro
nunca falhou; pois se a sua fé tivesse falhado, ele
mesmo certamente teria descido pela peneira!
Mas, o Senhor orara por ele; e sua fé não falhou.
Não o deixou no dia da provação; ela estava lá
onde o próprio Deus a havia implantado pela
primeira vez.
Mas, como a fé age nessas circunstâncias? Por
estabelecer uma maior firmeza na verdade de
Deus; um firme domínio sobre o Senhor Jesus
Cristo como o único refúgio e Salvador dos
pecadores; uma ligação mais firme ao seu
sangue expiatório, gloriosa justiça e amor
moribundo. A fé não falha; não, só é mais
fortalecida por ser colocada na peneira; por ser
102
livrada da religião falsa, da fé carnal que a
cercara, como a hera aperta o tronco da árvore,
e que sendo cortada, a fé se fortalece na alma. A
fé não falha, e isto nunca acontecerá, onde ela
realmente é implantada por Deus.
E a ESPERANÇA não falha. A falsa confiança
falha; a força da criatura falha; a confiança
carnal falha. Todos caem através da peneira!
Nenhum deles resiste. Mas, a esperança nunca
falha; porque é a âncora da alma, segura e firme;
e não falha porque entra dentro do véu. Ela se
levanta na provação, e permanece na peneira, e
como o bom grão não pode cair.
O amor não falha. Pedro nunca cessou de amar
o Senhor Jesus Cristo; ele poderia apelar para
ele como um Deus que procurava o coração e
dizer: "Você sabe todas as coisas, você sabe que
eu o amo". Estejamos na peneira da tribulação,
da tentação, da adversidade e da angústia - isso
apaga o amor do Senhor Jesus Cristo, onde uma
vez foi derramado no coração? Não! Ele o
preserva; não pode morrer; e a alma está saindo
em desejos afetuosos por Ele como "o chefe
entre os dez mil e o totalmente desejável".
103
A oração fracassa? Ah não! Onde uma vez o
espírito de graça e súplica é derramado sobre
uma alma, ele nunca falha. Eu nunca soube
disso falhando. Podemos ter longas temporadas
de morbidade e esterilidade espiritual; mas
quanto mais somos provados, mais oramos;
quanto mais nossa alma é atribulada, mais
clamamos ao Senhor; quanto mais pesada for a
prova, mais gemeremos em nossas petições.
Nada podemos fazer sem isto. A tristeza oprime
os nossos peitos? Oração, súplica, clamores,
gemidos, petições? O que! Estes falham? Nunca!
Pode haver golpes impressionantes por um
tempo; eu senti isso. O golpe parece tão pesado
que mal conseguimos pronunciar uma palavra;
mas a oração se eleva, brota espontaneamente,
é derramada de novo, extraída da mesma Fonte
de todo o bem.
Olhar para o Senhor fracassa? A dependência de
sua Palavra falha? Apoiar-se em sua promessa
falha? Não! Estes são a própria implantação de
Deus na alma; eles não falham. A falsa oração
cai, a verdadeira oração permanece; falsas
esperanças perecem, a verdadeira esperança
permanece. Assim, poderemos percorrer toda a
obra da graça e mostrar que nenhuma das
104
graças e frutos do Espírito Santo falham quando
somos colocados na peneira da tentação, mas
somos todos fortalecidos por isso.
III. Os benefícios e bênçãos que brotam da
peneira- nossa terceira característica principal
é muito notável; porque lança uma luz
abençoada e graciosa sobre o todo: "Quando te
converteres, fortaleça os teus irmãos". Alguns
tiraram uma conclusão muito estranha disto,
que Pedro não era convertido antes. Esse não é o
significado da palavra; o significado da palavra é
este, "quando você for restaurado, fortaleça seus
irmãos". "Quando você for trazido de volta,
quando você estiver recuperado." Pedro era
convertido antes deste evento. Antes disso, o
Senhor lhe dissera: "A carne e o sangue não to
revelaram, mas meu Pai que está nos céus".
(Mateus 16:17); e Pedro poderia dizer: "Cremos e
temos certeza de que você é o Cristo, o Filho do
Deus vivo" (João 6:69). Os homens devem ser
estranhamente enganados pelo som de uma
palavra para pensar que Pedro não era
convertido antes. Mas, ele se afastou e negou o
seu Senhor. Sob a tentação, ele não pôde ficar de
pé; mas a misericórdia o restaurou e o trouxe de
105
volta; o Senhor teve piedade dele; e saiu do forno
como ouro puro.
Mas, quando ele foi convertido, restaurado,
recuperado, trazido de volta - este foi o
benefício, este foi o fruto de ter sido peneirado
na peneira de Satanás - ele deveria fortalecer
seus irmãos. Esta foi a maneira pela qual Pedro
foi feito ministro. Não foi enviado para a
"academia de Cafarnaum", nem para a
"universidade de Nazaré"; foi colocado na
"peneira de Satanás"; e nessa peneira aprendeu
aquelas lições pelas quais saiu para fortalecer
seus irmãos. Sou corajoso, então, para dizer que
um homem que não esteve mais ou menos na
peneira não merece o nome de um cristão - e
estou certo de que um pregador não provado
não vale o nome de um ministro. Na verdade,
para que serve isso? Muito parecido com o sal
que perdeu o seu sabor – é apenas adequado
para ser lançado no monturo.
Tomemos, por exemplo, um ministro não
provado - para que ele serve? Comer, beber e
dormir; para edificar hipócritas no engano; para
esmagar o pobre, o necessitado, o povo afligido
de Deus; e lançar flechas de desprezo contra os
106
servos do Senhor que alimentam o rebanho para
matança. Isso é tudo que ele é adequado para
fazer.
Para edificar a igreja de Deus; para lançar o
caminho; para remover as pedras de tropeço;
para fortalecer as mãos fracas; para confirmar
os joelhos fracos; para levantar um padrão para
o povo; ele não sabe, ele não é adequado para
essas coisas. E nenhum filho provado de Deus
escutará seu ministério por muito tempo.
Tome um ouvinte não provado, para o que ele é
apto? Metade do tempo adormecido, e a outra
metade olhando para o relógio; ou sonhando o
tempo com algo que ele fez no sábado, ou
ocupando seus pensamentos com algo a ser
feito na segunda-feira. Isso é tudo o que ele faz.
Além de criar conflitos, e fazer outros tão
mortos como ele mesmo. Para que servem os
diáconos não provados? Encher a igreja de
professantes vazios. Não sendo provados nas
coisas de Deus, não sendo sacudidos na peneira,
não sabendo distinguir entre a obra de Deus e a
obra da natureza; como podem eles, quando os
candidatos vêm a eles, discernir o que é de Deus
em sua alma? Se eles não puderem discerni-lo,
(e discerni-lo não podem, a não ser que tenham
107
sido bem abalados na peneira de Satanás),
encherão a igreja de professantes vazios e
superficiais. De fato, para o que é apto um
homem professo não provado? Para nada! Sua
profissão o impede para o mundo; e sua falta de
provação o inabilita para a igreja de Deus; e
assim ele só está apto para ser expulso por
ambos.
Mas, tome o outro lado do caso. Para que serve
um cristão provado? Ele é apto para Deus e para
a Sua glória; apto para o céu e felicidade eterna,
onde as ondas de provação e tristeza não mais
baterão sobre sua alma perturbada; apto para a
conversa com o povo afligido de Deus; apto para
ouvir a verdade como ela é em Jesus; apto a viver
uma vida de testemunho do evangelho que ele
professa; apto a brilhar como uma luz no
mundo.
Para que serve um ouvinte provado? Ele está
apto para chorar e suspirar quando chega à
igreja, para que o Senhor abençoe a Palavra para
sua alma; ele está apto a ouvir um ministério
experimental; apto a sentar-se sob um servo
provado de Deus; apto para as promessas,
misericórdias e bênçãos do evangelho; apto
108
para as doces manifestações do sangue de Jesus,
da graça e do amor à sua alma; apto para cada
boa palavra e obra.
E para que serve um diácono? Apto para
descobrir o estado real e a condição do
candidato; conhecer a experiência dos
membros; para ver onde está a obra de Deus;
para provar o que os servos de Deus pregam por
experiência pessoal; para discernir o que é
verdade e o que é erro; o que é o ensinamento do
Espírito e o que o ensinamento do homem; o que
é a sabedoria de cima, e o que é a sabedoria de
baixo.
E para que serve um ministro provado? Para
fortalecer os irmãos; que é o que ele deve fazer.
Ninguém mais está apto a fortalecer os irmãos,
senão aquele que esteve na peneira de Satanás.
Se a religião falsa não tiver sido sacudida da
alma, deve construir uma religião falsa na alma
dos outros; se ele não provou o que
permanecerá, e o que não resistirá, como ele
pode construir uma verdadeira obra de graça
nos corações do povo de Deus? Ou como ele
pode separar o precioso do vil?
109
Mas, como ele fortalece seus irmãos? Ele não
deve fortalecer as mãos dos malfeitores; ele não
deve fortalecer as mãos de professantes ímpios;
ele não deve fortalecer a segurança morta, a
confiança vã, a presunção vazia, a religião
superficial e exterior; ele não deve fortalecer
nenhuma dessas coisas; mas quebrá-las em mil
pedaços, como Deus vai capacitá-lo. Tudo deve
ser arrancado; e ele o fará, se Deus tirar esses
trapos de suas próprias costas. Mas, fortalecerá
os irmãos; os queridos filhos de Deus; os santos
provados e aflitos. Ele os fortalecerá; pois muitas
vezes são fracos e precisam de fortalecimento.
Mas COMO ele os fortalecerá? De várias
maneiras.
1. Ele lhes mostrará o caminho em que Deus
conduz seu povo. Pode haver, por exemplo, um
filho de Deus que nunca ouviu sobre as várias
tentações a que está sujeita a liderança da igreja.
Mas agora ele diz: "Tenho sentido tentações por
anos; mas sempre me disseram que não era
religião; que devemos nos guardar de todas
estas coisas; que nunca devemos ter uma
dúvida; que nunca devemos ter medo; mas
colocá-los todos sob nossos pés. Foi-me dito
110
para olhar para Cristo, para viver sobre ele, para
reivindicar uma parte de sua misericórdia e
amor, e para subir ao céu como sobre as asas de
águia. Fui instruído repetidamente que isto é
religião; e que as tentações, as provações, as
tribulações, os conflitos, os gemidos, os
suspiros, as lágrimas, o abatimento e a
depressão - que tudo isso nunca é para ser
entretido, para nunca ser pensado por um único
momento; que um filho de Deus não tem
provações e aflições, mas caminha na luz de
Deus o dia inteiro. Mas, agora, (eu suponho que
um filho provado de Deus aqui pode falar) eu
posso ver que eu tenho experimentado tudo isso
por anos; mas fui tentado porque não podia ser
o que eu pensava que um filho de Deus devia ser,
e não podia pôr de lado aquelas dúvidas e medos
que me fizeram tão pobre criatura abatida, ou
vencer aquelas tentações que tanto me
incomodaram.
2. Ele também fortalecerá os irmãos, apontando
mais claramente a plenitude da graça que está
em Cristo, e assim os levará a olharem e a se
inclinarem mais sobre ele, e menos sobre si
mesmos.
111
3. Ou, um servo de Deus pode mostrar na
peneira o que se opõe à obra de Deus na alma; e
desta maneira os irmãos podem ser fortalecidos
para lutar contra isto.
4. Ou, ainda, quando o Senhor se alegra em nos
tirar de nossas angústias e nos abençoar com
qualquer descoberta de sua misericórdia,
podemos dizer ao povo de Deus: “Eu estive em
apuros, e o Senhor apareceu para mim, e me
abençoou e me livrou." Quando saímos desta
maneira do forno, podemos fortalecê-los
dizendo: “Espere, vigie, suspire, chore e ore; e o
Senhor aparecerá em seu próprio tempo.”
5. Ainda, nós fortalecemos os irmãos
mostrando-lhes que na peneira todas as falsas
esperanças cedem; toda a justiça da criatura
chega ao fim; e tudo que é de uma natureza
terrestre perece. E assim, tirando estas coisas, a
vida e o poder de Deus são fortalecidos. Suponha
que você fosse um fazendeiro e, no começo da
primavera, deu um passeio em seus campos, e
viu todos os tipos de ervas daninhas brotando.
“Oh!”, diz, “eu vou perder a minha colheita -
estas ervas daninhas vão sufocar o grão!” Você
trabalha para arrancar as ervas daninhas, e
limpar a lavoura; e quando está feito, quando as
112
ervas daninhas são arrancadas, e lançadas sobre
o monturo, qual é a consequência? O trigo
floresce.
Dá-se o mesmo espiritualmente. O servo
provado do Senhor vem e mostra-lhe o lixo em
seu coração; o que não é da graça, mas apenas
natureza. “Aqui está o berço da autojustiça; ali a
erva da cobiça; aqui o joio da santidade carnal; lá
a erva venenosa do orgulho e da ambição -
arranque-os! Não deixe um restante! Qual é a
consequência? Quando estas coisas são
arrancadas, a vida de Deus começa a florescer
na alma - e uma colheita começa a brotar para a
honra e glória de Deus. Eles já estavam meio
sufocados pela erva daninha - mas agora as
ervas daninhas são arrancadas, e a graça
prospera.
Agora, assim, o homem que esteve na peneira
da tentação poderá mais ou menos fortalecer
seus irmãos. Mas, ele não fortalecerá mais
ninguém - e em seu juízo certo ele não quer
fortalecer ninguém mais. Suponhamos que eu
viesse a esta capela com vistas a fortalecer as
mãos dos malfeitores; encorajar professantes
descuidados; fortalecer aqueles que não sabem
113
nada da vida e poder da piedade e que não a
desejam - eu estaria fazendo a obra de Deus? Eu
teria uma consciência limpa diante de Deus? Eu
esta noite deitaria minha cabeça sobre meu
travesseiro, e diria, “Eu tenho feito a obra de
Deus hoje? Tenho fortalecido as mãos dos
ímpios? Tenho lhes tornado mais ousados,
robustos e mais fortes do que eram antes.
Poderia eu, se eu tivesse alguma consciência,
colocar a cabeça no meu travesseiro e dizer:
“Bendito seja Deus, tenho fortalecido as mãos
dos ímpios hoje?” Não! Eu não poderia fazer
isso!
Mas, se Deus abençoar minhas fracas palavras e
fazer com que esta visita seja um meio de
fortalecer os irmãos e de confortar os pobres e
desanimados filhos de Deus, mostrando a obra
de Deus em suas almas, e alegrando seus
corações, que outra recompensa eu desejaria?
Por que eu deveria deixar o meu povo e família,
vir aqui com um corpo fraco, com muitas
provações, exceto na mão do Senhor para
fortalecer os irmãos? Se o Senhor me colocou
na peneira (como ele tem feito uma e outra vez)
e me tirou da peneira, e me capacita a falar, para
fortalecer as mãos dos irmãos - as pessoas
114
cansadas de Deus - e assim ser feito um
instrumento de bênção para suas almas - eu não
quero mais e se Deus quiser, eu não teria menos.
Isso pode satisfazer minha alma, que os homens
digam o que quiserem, ou pensem o que
quiserem. Se Deus me dá um testemunho na
minha própria consciência; e se Deus me aprova
à sua consciência, isso é um testemunho
suficiente. É o que Deus tem prazer em fazer em
mim, e o que ele tem prazer em fazer em você
por meu intermédio, que permanecerá. Deixe
minha alma; que as nossas almas que temem a
Deus, permaneçam no testemunho de Deus. "Se
eu quisesse agradar o homem", disse o apóstolo;
e todo verdadeiro servo de Deus acrescentará
sua amiga cordialidade a isto, "Eu não deveria
ser servo de Cristo". Eu deixo isso para suas
consciências.
115
A Preciosidade da Provação
Título original: The preciousness of trial
Por Octavius Winslow (1808-1878)
Traduzido, Adaptado e Editado por Silvio Dutra
116
"Para que a prova da vossa fé, mais preciosa do
que o ouro que perece, embora provado pelo
fogo, redunde para louvor, glória e honra na
revelação de Jesus Cristo." (1 Pedro 1: 7)
É à preciosidade da provação em geral,
incluindo a preciosidade da provação da fé em
particular, a que o apóstolo assim se refere.
Propomos, portanto, amplificar a verdade e
ilustrar no presente capítulo a preciosidade de
todas aquelas provações das quais, mais ou
menos, os santos de Deus são participantes.
Esta visão pode apresentar o sujeito da provação
em um ponto de luz mais reconfortante e
santificante do que o leitor tem sido
acostumado a contemplá-lo. Você pensou em
provação, antecipou a provação, encontrou a
provação, se encolheu da provação como o
paciente recua do bisturi do cirurgião,
esquecendo que essa mesma provação foi o
processo necessário pelo qual Deus estava
prestes a extrair por ela, algum grande bem em
sua experiência pessoal; e que, longe de ser
temida, deve ser acolhida como uma das coisas
117
mais preciosas de Deus, as mais ricas bênçãos
da aliança eterna.
Os pontos que propomos para ilustrar são a
provação; a preciosidade da provação, e as
bênçãos que brotam da provação.
O termo é expressivo. Refere-se a um processo
pelo qual o caráter ou força de uma coisa é
testado. O engenheiro prova a base de seu arco,
o arquiteto prova a fundação de seu edifício, o
refinador prova a natureza de seu minério. A
palavra provação adquire assim, uma
importância significativa em relação a esse
processo disciplinar pelo qual Deus prova seu
povo.
A provação, então torna-se um elemento
necessário na educação e treinamento dos
filhos de Deus para o dever e serviço na terra, e
para gozo e glória no céu. Isente a Igreja de Deus
de provação, e ela é excluída de um processo
cujos resultados são incalculáveis em sua
experiência.
Ela tenderá a abrir este assunto com mais força,
se considerarmos quem o Senhor prova, no
118
sentido em que o termo é empregado agora. Há
uma passagem no livro de Deus que contém,
como muitas frases breves de verdade
inspirada, e fornecerá a resposta à pergunta:
Quem o Senhor prova?
"O Senhor prova os justos". A fornalha em que
Deus coloca Seu povo, em outras palavras, o
processo de provação pelo qual Ele os prova, não
é a mesma pela qual o mundo ímpio é provado.
"O fogo em Sião e a sua fornalha em Jerusalém",
são apenas para Seus próprios eleitos. Ele tem o
cadinho para o ouro, e o cadinho para a terra; o
fogo do amor, e o fogo da ira, e em nada Ele mais
distinguirá Seu próprio povo dos ímpios; o ouro,
da "prata reprovada", do que na maneira pela
qual ambos são assim tratados. Ele prova os
justos porque são justos; ele castiga Seus filhos,
porque s são filhos; ele repreende, disciplina e
os aflige, porque os ama, tendo lhes "escolhido
na fornalha da aflição".
Que palavras tocantes de Cristo são estas; quem
pode lê-las sem emoção?
"A todos os que amo, repreendo e castigo".
Novamente: "porque o Senhor corrige a quem
119
ama e açoita a todo filho a quem recebe". Assim,
é Seu próprio povo, Seus justos, Seus santos, em
quem Sua mão aflitiva é frequentemente mais
severa e pesadamente colocada. "O Senhor
prova o JUSTO."
Mas o que o Senhor prova? Não é a nossa
natureza caída que Ele prova, a existência de
cuja depravação é clara e inconfundível, pois
não precisa de nenhuma prova de que somos
pecadores, corruptos, e que "em nossa carne
não habita qualquer coisa boa". Mas o Senhor
prova Sua própria maravilhosa obra de graça na
alma. Ele prova tudo que é divino, bom, e santo
no regenerado. Ele prova seus princípios, Ele
prova seus motivos, Ele prova suas graças, Ele
prova o seu conhecimento, Ele prova a sua
experiência, Ele prova o Seu próprio trabalho.
Tomemos, por exemplo, algumas das graças
espirituais que Ele mais especialmente traz à
provação. Ele prova o amor do crente. "Você me
ama mais do que estes?" Muitas vezes essa é a
pergunta de sondagem de Jesus para Seus
discípulos. Ele testará a realidade, a sinceridade,
a força do nosso amor por Ele; se pode confiar
Nele quando o ferir, se agarrar a Ele quando se
afastar, obedecê-Lo quando Ele ordenar, se ele
120
se achegará a Ele mais do que as tempestades
procuram afastá-lo da sua posição.
"Você pode renunciar a esta bênção? Você vai
realizar este serviço? Você é capaz de beber este
cálice, ou levar esta cruz por mim?"
É a linguagem significativa de muitas provações
com as quais o Senhor prova os justos. Você é
feliz, se seu amor suporta a prova de sua
sinceridade, e seu coração responde: "Sim,
Senhor, com o teu amor inspirando o meu amor,
a tua graça ajudando na minha enfermidade, a
tua força aperfeiçoada na minha fraqueza, eu
posso.
O Senhor também prova a paciência de Seu
povo. Não há, talvez, graça do Espírito, ou adorno
do caráter cristão mais negligenciado do que
isso, e ainda não há algo mais precioso e belo,
honrando a Deus. Para encontrar esta pérola
divina e rara devemos frequentemente passar
da superfície da sociedade e buscá-la; onde de
fato, a piedade e o gosto de poucos os conduzem
em meio a cenas de sofrimento, de dor, de
adversidade. Em algum apartamento isolado,
em algum leito de dor, sombreado pela pobreza
121
e solidão, essa graça divina pode existir, e não
haver qualquer olho contemplando seu brilho
em meio à escuridão circundante, mas sim
Aquele cujos olhos "estão sobre os justos e os
ouvidos estão abertos ao seu clamor." Pode-se
ver o paciente, espírito calmo de um humilde
crente em Jesus, perseverando sem uma palavra
murmurante, caminhando sem um sentimento
rebelde; sofrendo sem um duro pensamento
daquele que o feriu com uma submissão calma,
e digna à divina disposição; à vontade de Deus. E
ainda, quem, em qualquer caminho que ande,
não encontra, em algumas circunstâncias de
sua história diária, a "necessidade de paciência?"
As circunstâncias difíceis da vida, a pesada cruz
diária, o contato constante com gostos
diferentes, mentes pouco convencionais,
corações incompreensíveis, os atrasos na
resposta à oração, a dor incessante, a cabeça
inquieta, o temperamento nervoso para o qual o
zumbido de uma mosca é uma agonia; acima de
tudo, os afastamentos de Deus, a permanência,
a suspensão da consolação do Espírito; todos
exigem o exercício daquela paciência com a qual
o crente possui a sua alma. Esta é a graça que o
Senhor prova! Ah! Quão pouco conhecemos a
122
impaciência de nosso espírito, a petulância e a
insubmissão que não aguentam atraso, que se
agita contra o Senhor, e se revolta contra Suas
operações, até que o Senhor nos prove.
Mas, Ele prova a nossa paciência apenas para
aumentá-la. Humilhados sob a convicção de
quão rebelde é o nosso espírito, somos levados a
clamar poderosamente a Deus para nos dar esta
graça, mansamente suportar, sofrer
silenciosamente e alegremente fazer Sua
vontade.
"O Senhor dirija os vossos corações à paciência
de Cristo".
"Tendes necessidade de paciência, para que,
depois de ter feito a vontade de Deus, possais
receber a promessa".
Somos exortados a "deixar a paciência ter seu
trabalho perfeito, para que você possa ser
perfeito e íntegro, não faltando em nada".
"Aqui está a paciência dos santos."
Falei da provação da fé. Sem lembrar a linha de
pensamento já perseguida, pode-se brevemente
123
afirmar que a fé, sendo a rainha das graças;
todas as demais são seus servos régios, e o
Senhor prova especialmente esta graça do
crente e, ao fazê-lo, indiretamente prova e assim
fortalece todas as graças cognatas da alma.
Assim, lemos:
"A provação de sua fé produz paciência".
E quais são os fins a serem cumpridos na
provação da fé?
O Senhor prova a nossa fé para testar sua
genuinidade, para promover sua pureza, para
revigorar seu poder, e assim, nos trazer a um
conhecimento mais íntimo de Si mesmo.
Nunca deveríamos provar a Deus, assim como
fizemos. Deveríamos nos contentar em viajar
por muitas etapas sem Ele. Sem qualquer senso
de dependência infantil, não há comunhão
sagrada; sem buscar Sua vontade, não há
qualquer prova de Seu amor, fidelidade e
sabedoria. Quão raramente o Senhor veria
nosso rosto erguido, nossas mãos estendidas, ou
ouvindo os suaves acentos de nossa voz, se
124
permitisse que esta graça permanecesse lenta e
estagnada na alma.
Mas é "água viva" que Cristo depositou dentro do
regenerado, e a provação é necessária para
mantê-la pura, cintilante e ascendente.
Certifiquem-se disto, amados, de que o Senhor
exercita assim sua fé, somente para torná-lo um
possuidor mais rico desta mais enriquecedora
das suas graças, que é a fé. É um processo
bondoso de Jesus, pelo qual Ele procura o seu
maior bem. Quanto mais sua fé é provada, mais
ela lida com Deus, e viaja para Cristo; e é
impossível para você passar um minuto com
Deus, ou ter um vislumbre de Cristo, e não ser
sensata e incomensuravelmente um vencedor.
Quanto mais sua fé o conduz ao trono da graça,
mais preciosa será a oração. Quanto mais sua fé
lida com a expiação de Cristo, mais a glória de
Sua obra se desdobrará em sua mente. Quanto
mais sua fé se apodera das Divinas Promessas,
mais ela será confirmada na verdade da Palavra
de Deus. Assim, a fé tão sobrenatural e
maravilhosa é uma graça que transforma tudo o
que toca em ouro precioso, e confere ao crente
125
provado, mas um feliz possuidor de, "maiores
riquezas do que os tesouros do Egito".
Mas, quem pode percorrer o círculo de todas as
provações a que os santos de Deus estão
sujeitos?
Quão grande é a sua variedade! Quão peculiar é
muitas vezes, o seu caráter! Cada filho de Deus
parece se mover em um sulco peculiar a si
mesmo, para girar ao redor do grande centro
em uma órbita própria. O Senhor nos trata como
indivíduos para que possamos ter relações
individuais com Ele, portanto entre o catálogo
das tribulações do cristão, aquelas de natureza
individual podem ter a precedência sobre todas
as demais. É uma grande misericórdia quando
podemos nos afastar da multidão e lidar com
Deus individualmente; quando podemos tomar
as preciosas promessas para nós mesmos;
quando podemos ir a Jesus com pecados,
fraquezas e dores individuais, sentindo que Sua
mão está estendida para nós, e todo o Seu
coração absorto em nós, como se fôssemos o
objeto solitário de Seu amor.
Ó, lide pessoalmente com Cristo, assim como
Ele trata pessoalmente com você. Seu convite é:
126
"Venha a mim", e Ele quer que você venha, e
você não pode honrá-Lo mais, reconhecendo
Sua personalidade e Sua relação pessoal com
você, do que quando revelando suas
circunstâncias, fazendo confissão de pecado, e
apresentando desejos, fraquezas e tristezas
pessoais.
Mas além de pessoal, muitas vezes há provações
relativas, que muitos são chamados a
experimentar. É impossível não sentir no
coração, as circunstâncias daqueles a quem
estamos ligados por estreitos e ternos laços de
amor e amizade em uma medida própria. A
religião de Jesus é a religião da simpatia. Ensina-
nos a;
"chorar com os que choram e a regozijar-se com
os que se regozijam";
"carregar os fardos uns dos outros, e assim
cumprir a lei de Cristo".
E que exemplificação tão tocante desta nossa
religião fez o seu grande Autor, ao curvar-se
sobre o túmulo de Lázaro; como nos diz o
evangelista - "JESUS CHOROU"!
127
Ele sofria de aflições próprias - oh, quão
amargas! Mas as enterrava profunda e
silenciosamente dentro de Seu peito, e parecia
sentir e chorar apenas pelas dores dos outros.
"Em todas as suas aflições ele foi afligido."
E assim, também muitas vezes é com o crente;
escondendo suas dores pessoais, suportando
em seu silêncio solitário e sem queixar de seu
próprio fardo, muitas vezes ele é encontrado,
por seu altruísmo e sensibilidade, sendo mais
profundamente afligido e oprimido pelas
tristezas e fardos dos outros.
"Quem é fraco, que eu não enfraqueça?", diz o
apóstolo Paulo.
Mas há provações espirituais peculiares aos
filhos de Deus. O mundo, como não pode
simpatizar com a alegria do crente, por isso não
pode participar da sua tristeza espiritual. O
Senhor julga os justos como justos. O que o
mundo conhece das provações que brotam da
habitação do pecado, das provações de Satanás,
das trevas espirituais, do conflito da
incredulidade, das enfermidades da oração, da
magreza da alma, do frio do amor, da dureza do
128
coração, da tendência perpétua a uma recaída
espiritual?
Nada disto! Mas, tais são as tribulações da alma
de muitos santos de Deus, e estas constituem
suas provações mais dolorosas.
Mas, não é tanto sobre o fato dos provações do
cristão que nós nos demoraríamos na
exposição, como sobre um aspecto particular
daquelas provações que, especialmente no
processo real de provação, somos propensos a
esquecer, a saber, a sua preciosidade. O apóstolo
claramente insinua isto: "A provação de sua fé
sendo muito mais preciosa do que o ouro".
É à preciosidade da provação da fé, nem tanto à
preciosidade da própria fé, a que ele se refere,
apesar desta ser também preciosa. Busquemos
brevemente essa ideia e vejamos em que
sentido o filho de Deus pode contemplar suas
provações, como entre as coisas preciosas de
Deus.
A provação é preciosa, porque o que ela prova é
também precioso. A obra que Deus traz à prova
da aflição é digna de todas as dores que Ele usa
129
para provar sua realidade, para promover sua
pureza e para avançar seu crescimento. Nada é
tão precioso, tão caro, tão indestrutível como a
obra do Espírito Santo na alma. Se, amados,
vocês tiverem um coração quebrantado pelo
pecado, se possuírem fé menor que um grão de
semente de mostarda, se houver no seu coração
uma centelha solitária de amor divino, ou bater
na sua alma um pulsar de vida espiritual; se, em
uma palavra, há o esboço da imagem moral
estabelecida de Deus, fraca e imperfeita, porém
nenhuma figura pode ilustrar sua beleza, nem
as palavras descrevem seu valor. Ela distingue
toda ideia em sua preciosidade intrínseca.
Agora, esta é a obra que o Senhor prova; esses
são os princípios divinos, as emoções sagradas,
os sentimentos celestiais que Ele traz à prova.
Ele prova, porque a provação vale a pena, e
assim a provação em si, se torna uma coisa
preciosa, porque tem a ver com um trabalho
precioso.
A provação também deriva um valor, de ser a
disciplina de um Pai amoroso. No momento em
que a fé pode ver a extração de qualquer gota da
maldição do cálice de tristeza, e rastrear em
seus ingredientes nada, senão os elementos de
130
amor, sabedoria, bondade, fidelidade, justiça,
percebe-se o custo da disciplina. A própria vara
de correção é amada, porque é a vara daquele
que é "Amor".
O castigo é doce, porque é de um Pai, e o
verdadeiro crente exclama; "Meu Pai, por meio
disso, me ensina alguma lição saudável, para
inculcar alguma verdade divina, me repreender
por alguma loucura, me corrigir por algum
pecado, para restaurar meu coração e alma
errantes, afastar minhas afeições e simpatias
dos atrativos da terra, e atrair-me para mais
perto do Céu. Preciosa provação, que é o ditado
de uma sábia e santa disciplina, que deixa
vestígios da mão de um Pai, que é amorosa em
sua origem, em sua natureza, e em seus
resultados!"
A provação é preciosa, porque aumenta a
preciosidade de Cristo. É na adversidade que a
amizade humana é testada. Quando a explosão
invernal passa, quando a fortuna desaparece, a
saúde falha, a posição diminui, e a popularidade
e a influência diminuem, então os pássaros de
verão da amizade terrena expandem suas asas e
procuram um clima mais quente!
131
O mesmo teste que comprova o vazio da afeição
e da inconstância do mundo confirma o crente
na realidade, no poder e na preciosidade da
amizade de Jesus. Para conhecermos
plenamente quem é Cristo, precisamos
conhecer algo da adversidade. Devemos ser
provados e oprimidos; devemos provar a
amargura da tristeza, sentir a pressão da
carência, pisar o caminho da solidão e, muitas
vezes, ser levados ao fim de nossas próprias
forças e da simpatia e conselho humanos. Jesus
brilha mais ao olho da fé, quando todas as coisas
são escuras e tristes. E quando outros se
retiraram de nossa presença, com sua paciência
esgotada, sua compaixão exausta, seu conselho
perplexo, talvez seu afeto resfriado e sua
amizade mudada, então Cristo se aproxima e
toma o lugar vago; senta ao nosso lado, fala de
paz ao nosso coração perturbado, acalma nossas
tristezas, guia a nossa provação e nos ordena:
"Não temas".
Amado leitor, quando Cristo apareceu mais
próximo e mais precioso para a sua alma?
Não foi nas épocas em que você teve mais
necessidade de Seus conselhos orientadores e
de Seu amor reconfortante?
132
Na região da pecaminosidade de seu coração,
você aprendeu o valor, a integridade e a
preciosidade de Sua obra expiatória, de Sua
salvação consumada. Mas, a parte terna,
amorosa e simpática de Sua natureza, vocês
foram trazidos à experiência somente na escola
da provação santificada. Oh, quão precioso a
provação o fez! Em que intimidade sagrada e
estreita comunhão e proximidade consciente
tem trazido você; quando Ele se aproximou com
uma expressão tão benigna, com um olhar tão
vencedor, com influência e palavras tão
tranquilizadoras, e lhe disse que estava
familiarizado com a sua tristeza, entrou em sua
perda, sentiu todos os toques delicados de sua
dor, e então falou palavras de consolo ao seu
espírito, amarrou seu coração quebrado,
gentilmente o atraiu para uma doce, santa e
alegre submissão à Sua vontade e plena
justificação de Suas transações; Ele não
entronizou a Si mesmo sobre sua alma naquele
momento mais supremamente e firmemente
do que nunca?
Você já pensou que o conhecia, e o fez em algum
grau, mas agora, no fundo de sua tristeza
consagrada, uma tristeza na qual o Homem das
133
dores e o Irmão nascido para a adversidade
consagrou todo o seu ser, você exclama;
"Antes te conhecia somente por ouvir, mas
agora os meus olhos te veem."
Perguntamos; não é a provação uma disciplina,
uma correção e uma escola preciosa, que o leva
mais plenamente à experiência sincera da
preciosidade do Salvador?
Não se rebelem, portanto contra o que lhes faz
conhecer melhor o seu melhor amigo, o seu
amado Irmão, o terno, simpatizante, Amado da
sua alma. Vocês conhecerão mais de Jesus em
uma provação santificada do que através de uma
biblioteca de volumes, ou ouvindo uma centena
de sermões.
É impossível contemplar os resultados
dispendiosos da provação, e não encontrar uma
evidência de sua preciosidade. A provação é um
processo frutífero; e, embora muitas vezes
dolorosas como as incisões da faca amputadora,
os resultados dessas incisões são saudáveis. A
provação santificada abre uma saída para a fuga
de muita enfermidade da alma. O mal
134
profundamente arraigado, oculto e reprimido
há muito tempo, cuja existência foi como uma
aflição irritante, prejudicando toda a
constituição espiritual da alma, foi expulso por
esse processo, e surgiu um estado e uma ação
saudável. Que egoísmo, que carnalidade, que
rebelião, que mundanismo, que declinação
secreta, tem o bisturi de Deus trazido à luz,
revelando-os, mas para inspirar
autoaborrecimento, aversão ao pecado e
abandono do pecado; e tudo isso é o caro fruto
de uma aflição profundamente santificada!
A provação, também nos estimula a agarrar
Deus em oração. Nada provavelmente, em todos
os meios de graça do Senhor e dispensações da
providência nos leva assim à oração, incita-nos
a invocar o Senhor, como a pressão da aflição.
E tão alto privilégio é o acesso a Deus, tão doce
lugar é o trono da graça, tão grandes e santas as
bênçãos que brotam de uma espera de alma
sobre o Senhor, que deve ser uma disciplina
saudável que leva a tais resultados.
Oh, considerem-na como uma provação
preciosa, uma aflição de ouro que leva o seu
135
coração a uma comunhão mais íntima com
Cristo! A voz do seu irmão mais velho pode,
como a de José soar dura e alarmantemente em
seu ouvido, enchendo-o de medo e
pressentimento, mas é a voz de seu Irmão, a "voz
do Amado", que fala apenas para despertá-lo
para uma abertura mais plena e confiante de
seu coração em oração. Oh, prova preciosa! Oh,
aflição enviada pelo céu! Que rompe as
barreiras, elimina as restrições, descongela os
engarrafamentos que interceptam e
interrompem minha comunhão com Deus e
com o Seu amado Filho, Cristo Jesus.
Nosso Pai Celestial ama ouvir a voz de Seus
filhos, mas quando há uma suspensão da
comunhão do coração, e os tons são silenciosos,
que eram usados para cair como música em Seu
ouvido, Ele envia um provação, e então nos
levantamos e nos entregamos à oração. Talvez,
seja uma perplexidade, e vamos a Ele para
conselho; ou é uma necessidade, e vamos a Ele
para o suprimento; ou é uma tristeza, e vamos a
Ele para nos acalmar; ou é um fardo, e nós
olhamos para Ele para suportá-lo; ou é uma
enfermidade, e nós recorremos a Ele para
receber graça; ou uma provação, e voamos para
136
Ele em busca de apoio; ou é um pecado, e nós
recorremos a Ele por perdão; mas, seja qual for
a sua forma, ela tem uma voz: "Levanta-te e
invoca o teu Deus!"
E o próprio Deus nos move a isso.
Quanto também, a provação santificada
profundamente corrige nossos falsos conceitos.
Concebemos pensamentos obscuros sobre o
caráter de Deus, visões erradas de Suas
transações, interpretações cruas de Sua Palavra,
mas quando sob a mão de Deus, tudo isso é
corrigido A tempestade passageira varreu as
nuvens, limpou nosso intelecto, purificou nossa
atmosfera moral, um céu mais brilhante e mais
sereno nos sorriu, e nosso caminho se tornou
mais fácil e agradável. Vemos o caráter de Deus
e o nosso sob uma luz diferente; a sua tão
gloriosa, a nossa tão vil. Interpretamos Suas
relações de maneira diferente e mais favorável,
e começamos a aprender que não há nenhum
indivíduo que talvez, não tenha mais em seu
caráter para admirar e amar, do que censurar e
condenar; e que não há nenhum evento na
Divina Providência que não tenha uma lição de
verdade e uma mensagem de amor.
137
(Nota do tradutor: Pura verdade. Atesto todas
essas palavras em minha própria experiência,
pois reconheço que todo o avanço que fiz no
crescimento da graça e no conhecimento de
Jesus, foi progressivamente aumentado à
medida que passei por essas provações
santificadas, tanto na Providência, quanto na
graça. Quão grande impulso espiritual eu tive,
depois de ter passado por uma internação
hospitalar de sessenta e dois dias consecutivos
num Hospital Público, numa enfermaria com
várias outras pessoas. Foi ali, que mais aprendi
de Deus do que nunca antes, e desde então, as
provações não têm cessado, mas é com uma fé
mais firme e tranquila que as tenho enfrentado,
vendo em tudo a mão do Senhor, não somente
controlando e dominando todas as
circunstâncias, como também consolando de
modo prático o meu espírito, para que esteja
firme, por estar sendo revestido com a graça de
Jesus.
Lembro-me perfeitamente do comando que o
Senhor me deu, quando estava extremamente
fragilizado e sendo atacado pelos dardos
inflamados do maligno, para que eu ficasse
138
quieto. “Fique calado. O que você pode fazer
agora?”
Nada Senhor, foi a minha resposta. Sinto-me
mais impotente do que o pó, mas sei em quem
tenho crido, e que tudo podes fazer.” Não
somente me foi provido alívio para as minhas
dores, como tenho sido mudado desde então!”)
Estamos profundamente endividados com a
provação, e assim ela sustenta plenamente seu
caráter entre as coisas preciosas de Deus; como
autenticando o fato de nossa filiação divina.
Apague a provação santificada do catálogo das
operações do Senhor, e você cancelaria uma das
mais fortes evidências de sua adoção.
Que pai terreno não corrige a obstinação, a
vontade própria e a desobediência de seu filho?
E nosso Pai celestial, no exercício de uma
sabedoria e amor ainda maior, não empregará
uma disciplina santa e saudável para com os
Seus filhos?
Cada golpe de Sua vara é uma prova de Seu
amor, e toda correção de Sua mão é uma
evidência de nossa filiação. Quão terna e tocante
139
é a admoestação: "Filho meu, não desprezes o
castigo do Senhor, nem desmaies quando és
repreendido por Ele. Por que o Senhor castiga a
quem ama e açoita a todo filho a quem recebe".
Assim então, nossas aflições e provações
santificadas estão entre as coisas escolhidas,
preciosas de Deus, porque são sinais e selos de
nossa graciosa adoção em Sua família.
Não se abata, crente, como se alguma coisa
estranha e desagradável tivesse acontecido com
você. Não interprete mal os tratos de Deus,
como se suas dores, dificuldades e provações
atuais fossem marcas de Seu desagrado e
evidências contra sua relação verdadeira e
divina.
Muitos do povo do Senhor que parecem isentos
das provações pelas quais os outros estão
severamente aflitos estão propensos a
argumentar a partir daí, contra o fato de serem
verdadeiros filhos de Deus. O mais verdadeiro é
que a religião de Jesus é a religião da cruz, e
nunca houve um verdadeiro cristão sem uma
cruz. No entanto, a penosa desconfiança
resultante da isenção das cruzes que os outros
140
carregam, pode ser a cruz que o Senhor lhe
designa. A busca do coração e a oração, a
seriedade e a ansiedade, que essa convicção
produz, podem ser apenas a autodisciplina que
essas provações peculiares; da ausência da qual
infere ser um mal contra você são projetadas
para produzir um bom efeito. Deus pode
ricamente nos ensinar e santificar
profundamente pela ausência, como pela
presença de uma provação.
Mas ah! Não existem cruzes além do reverso das
circunstâncias, perda de saúde, afeição gelada,
amizade alterada, aflição de coração? Sim, leitor
amado; este corpo da nossa humilhação, o poder
do pecado que habita em nós, os assaltos de
Satanás, as seduções do mundo, os ferimentos
dos santos, os becos e desânimos espirituais, são
suficientes na ausência de toda provação
externa, para disciplinar o coração, humilhar a
alma, e manter o crente perto da cruz de Jesus.
Assim, não há crente sem provação, e nenhum
cristão está sem a cruz.
"Uma senhora de grande piedade queixava-se,
que enquanto na Escritura a cruz é falada em
toda parte como útil e necessária para os filhos
141
de Deus, ela, por sua vez, deveria reconhecer
que até agora o Senhor nunca tinha considerado
a sua vida digna de uma, e isso muitas vezes
surgiu em seus pensamentos melancólicos e
dúvidas, se ela era uma de Seus filhos ou não.
Gotthold disse a ela; eu confesso que
reclamações como a sua não são comuns, na
medida em que poucos cristãos têm qualquer
motivo para lamentar a falta da Cruz, enquanto
outros, cuja parte dela é extremamente
pequena, no entanto imaginam que é tão grande
quanto eles são capazes de suportar, e em
particular, aqueles que ainda não estão
acostumados com ela são propensos a imaginar
que sua cruz é muito grande e pesado para ser
carregada.
Entretanto, para o seu caso, parece-me que você
está realmente levando uma cruz sem estar
consciente dela. Você está vexada com
pensamentos sombrios, porque não tem cruz.
Estes pensamentos sombrios, no entanto me
parecem serem eles próprios uma cruz
considerável, e também uma muito salutar, pois
eles não só mostram, mas nutrem e aumentam
o seu desejo de se assemelhar ao Senhor Jesus,
tomar a sua cruz e segui-Lo. Além disso, as
142
palavras de nosso Salvador: "Quem não toma a
sua cruz e vem após mim, não pode ser meu
discípulo", não se refere apenas às dificuldades
comuns da vida humana, mas também e,
sobretudo tem a ver com a crucificação do velho
homem, de suas concupiscências e desejos
pecaminosos, de abnegação e subjugação da
vontade. Pelo resto, não podemos e não
devemos fazer cruzes para nós mesmos, pois
isso terminaria em hipocrisia.
O Senhor segura o cálice da aflição em Sua
própria mão, e o derrama quando e tanto quanto
Ele quiser. Que Ele vos poupou até agora, deve
ser reconhecido com humilde gratidão; Ele é o
Buscador de corações, e talvez soubesse que,
com a cruz, seu coração não teria sentido para
com Ele, como tem feito sem ela. Reconheça,
contudo que o drama de sua vida ainda não
tenha sido jogado até o fim, e que, você deve
saber que seu Deus gracioso ainda pode ter
alguma pequena cruz em reserva para você, a
ser imposta no devido tempo.
As tempestades mais ferozes vêm
frequentemente à noite dos melhores dias de
verão. Deve ser outro motivo de gratidão a Deus,
143
que Ele lhe deu tempo para se preparar para
todas as emergências, e se vestir com a
armadura necessária para sua defesa." (extraído
de “Emblemas” - de Gotthold.)
Não é um menor resultado da provação
santificada, aumentando assim a sua
preciosidade; o conhecimento mais profundo
em que nos traz da Palavra de Deus?
Na provação voamos para as Escrituras como a
fonte infalível de orientação e conforto. Seja
qual for a natureza de nossa tristeza, ou a
singularidade de nosso caminho temos a
certeza de encontrar na Palavra de Deus, luz,
simpatia e alívio correspondente com ela. Deus
nos envia para esta escola de aflição para
aprender. Assim Ele lidou com Davi;
"Foi bom para mim que eu tenha sido afligido,
para que eu pudesse aprender os seus
estatutos."
A palavra de Deus em todos os momentos deve
ser o nosso estudo e prazer. "Que a palavra de
Cristo habite em vós ricamente em toda
sabedoria".
144
Mas há, por meio de distrações externas e
conflitos internos, uma tendência a
negligenciar a Palavra, a perder o gosto por sua
doçura ou a desviar-se de suas repreensões fiéis.
E como um pai ou um professor, às vezes
emprega a vara para estimular seu aluno a
aprender, então nosso Pai Celestial, nosso
Divino Mestre, muitas vezes envia Sua vara de
correção para nos levar ao estudo da verdade;
então nós testificamos, "Foi bom para mim ter
sido afligido (castigado, repreendido), para que
eu pudesse aprender os seus estatutos".
E, com que maior clareza e beleza a Bíblia muitas
vezes, se desdobra para nós no tempo da
preciosa prova!
Nós entendemos as Escrituras agora, como
nunca fizemos antes. Podemos ter consultado
críticos e expositores, e por nossa própria
ingenuidade e habilidade termos nos esforçado
para penetrar os mistérios sagrados da Palavra,
e ainda, termos alcançado senão pouca
percepção da verdade, mas a vara da correção
provou ser nosso melhor expositor sob a
orientação do Espírito da verdade! "Então abriu-
lhes o entendimento, para que pudessem
entender as Escrituras".
145
Provérbios sombrios, misteriosos e provadores,
tribulações que achávamos tão desagradáveis
foram os nossos melhores comentários sobre as
coisas profundas da Palavra. Que doçura em
nossa experiência pessoal, tem a amargura da
provação impartido a ela!
Não sabíamos que havia tanta doçura na Palavra,
até que encontramos tanta amargura no
mundo; nem tanta plenitude nas Escrituras até
que encontrarmos tanta vaidade na criatura.
Vemos a Bíblia agora, cheia de Jesus Cristo, Sua
revelação, Sua glória e doçura, Seu Alfa e
Omega, Seu princípio e Seu fim. Saciados com os
confortos da criatura, detestávamos o maná da
Palavra, e não tinha mais gosto o nosso alimento
espiritual, do que o mais insípido para o nosso
gosto natural.
Mas a provação doce, santificada e preciosa
levou-nos ao Livro da Palavra do próprio
provado, e nós "regozijamos-nos nele como
alguém que encontra grande despojo". Com o
salmista testemunhamos: "Quão doces são as
tuas palavras ao meu paladar, sim, mais doces
do que o mel à minha boca".
146
"Este é o meu consolo na minha aflição; porque
a tua Palavra me consola."
Oh, bem-vinda, então, alegremente e
submissamente ó preciosa provação, que torna
mais preciosa em sua experiência a
preciosidade da Palavra de Deus!
O tempo da provação, muitas vezes nos coloca
em um exame mais aprofundado do nosso
progresso cristão e esperança.
Na estação do sol e da prosperidade do mundo,
deslizando sobre a corrente suave e calma,
quanto damos por certo quanto ao nosso
verdadeiro estado espiritual; nós julgamos bem
o nosso interior, porque tudo está sorrindo no
exterior. O mundo sorri, os amigos aprovam, os
ministros recomendam, o coração lisonjeia, e a
lâmpada do Senhor brilha ao redor de nós; mas
infelizmente, com que leves evidências de
conversão, com que marcas duvidosas da graça,
com que esperança esbelta do céu, estamos
então satisfeitos!
Quão superficial é o conhecimento de nós
mesmos, quão imperfeito é o nosso
conhecimento de Cristo. Mas, a provação vem
147
com o disfarce de um inimigo, entretanto na
realidade é um amigo. E agora a primeira
explosão da adversidade dispersa a cobertura de
folha de figueira e destrói a bela parede forrada
que nossas próprias mãos construíram para
nossa beleza e defesa. O que pensávamos ser
substância, prova ser senão uma sombra, o que
imaginamos que era uma realidade, prova
apenas ser uma aparência. A fé que pensávamos
ser tão forte, o amor que achávamos tão
fervoroso, a graça que pensávamos ser tão real,
o crescimento que nós pensávamos ser tão
inconfundível; todos desaparecem diante das
operações, das sondagens, dos exames do
Buscador de corações no dia da angústia.
A provação nos trouxe ao nosso lugar certo; os
pés de Jesus. Lá, no espírito do autoexame, do
autoaborrecimento, da autorrenúncia fomos
levados a perguntar: "Esta evidência me servirá
quando eu chegar à morte? Será que este amor
dar-me-á ousadia no dia da provação? Esta fé me
apresentará irrepreensível diante do trono de
Deus e do Cordeiro?"
Abandonando assim as nossas vãs fantasias, os
nossos sonhos tolos, as nossas evidências
148
duvidosas fomos capazes de tomar um renovado
apego a Cristo, de voar de novo à fonte do Seu
sangue e nos envolver mais intimamente
dentro da túnica de Sua justiça. Assim
esvaziado, humilhado aos Seus pés, nós O
louvamos e adoramos pela disciplina que
consumiu a escória, espalhou a palha, varreu
debaixo de nós a areia, e isso fortaleceu nossas
evidências, iluminou nossa esperança,
desdobrou o Espírito e entronizou o Redentor
mais vividamente e supremamente dentro de
nossa alma. Ó provação preciosa!
Como disciplina moral parece impossível
superar a preciosidade da provação. Nenhum
crente foi colocado em uma posição verdadeira
para a formação, desenvolvimento e
completude de seu caráter cristão, que não
tenha passado em algum grau, através desta
disciplina.
Não é mais essencial que o vaso do artesão seja
exposto ao calor do forno, a fim de conferir
transparência ao material, consolidação à sua
forma, e brilho e permanência às cores que seu
lápis traçou sobre ele, do que é para um "vaso de
149
misericórdia a quem Deus preparou para a
glória", ser provado como pelo fogo.
Dessa disciplina moral não há exceção na
família de Deus. É uma observação do seráfico
Leighton - verdadeiro como é belo - que, "Deus
tinha um só Filho sem pecado, e nunca um sem
sofrimento".
Quão tocante e conclusivo é o argumento e o
apelo do apóstolo; ele mesmo purificado neste
cadinho e instruído nesta escola, " e já vos
esquecestes da exortação que vos admoesta
como a filhos: “Filho meu, não desprezes a
correção do Senhor, nem te desanimes quando
por ele és repreendido; pois o Senhor corrige ao
que ama, e açoita a todo o que recebe por filho. É
para disciplina que sofreis; Deus vos trata como
a filhos; pois qual é o filho a quem o pai não
corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual
todos se têm tornado participantes, sois então
bastardos, e não filhos. Além disto, tivemos
nossos pais segundo a carne, para nos
corrigirem, e os olhávamos com respeito; não
nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos
espíritos, e viveremos? Pois aqueles por pouco
tempo nos corrigiam como bem lhes parecia,
150
mas este, para nosso proveito, para sermos
participantes da sua santidade. Na verdade,
nenhuma correção parece no momento ser
motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois
produz um fruto pacífico de justiça nos que por
ele têm sido exercitados."
Assim está claro, que o castigo ou provação é
uma evidência e selo de adoção, e que sem ela
precisamos daquela disciplina espiritual, além
da qual não há simetria e completude
adequadas do caráter cristão. Quem não marcou
a diferença ampla e marcante no caráter e no
comportamento de uma criança treinada sob a
disciplina saudável de um pai, e uma criança
que cresceu sem essa disciplina, deixada para si
mesma?
A que diferença deve ser rastreada, senão à
influência formadora da disciplina em uma, e
toda a sua ausência na outra?
Há um desenvolvimento e força de caráter, uma
maturidade de mente e refinamento suave de
sentimento na criança assim educada, que você
o procura em vão na criança negligenciada.
"Um filho sábio ouve a instrução de seu pai."
151
No hebraico esta passagem pode ser
literalmente traduzida, "Um filho sábio é o
castigo de seu pai". Sobre este texto, assim
tomado, com toda a probabilidade os judeus
fundaram seu provérbio, "Se você vir uma
criança sábia, certifique-se de que seu pai o
castigou."
Agora, quão gracioso e terno é nosso Pai
celestial em condescender assim, para tratar
conosco! Em tudo Ele sustentaria a relação que
tem conosco como um Pai. Não apenas nos
amando, pensando em nós, nos
proporcionando, guiando e guardando-nos,
mas também nos castigando. Ele assumiu um
cargo de pai, e o exercerá plena e fielmente,
ainda que possa usar o frequente e doloroso,
embora amoroso e justo, uso da vara. Oh,é para
que tenhamos certeza de que esta correção é um
novo selo de adoção! Quem não exclamaria
alegremente: "O cálice que meu Pai me deu, não
o beberei?"
E, no entanto pensamos que há um fim ainda
mais elevado alcançado pela provação preciosa,
tanto quanto esta autenticação de nossa adoção.
Referimo-nos à santidade Divina à qual somos
152
chamados a ser coparticipantes. "Ele nos corrige
para o nosso lucro, para que possamos ser
participantes de sua santidade." Junto à sua
justificação, a santificação deve ser o grande
objetivo do crente; e tudo o que promove isto
deve ser precioso. Deus nos faria felizes, mas Ele
só pode nos fazer felizes, fazendo-nos santos.
Felicidade e santidade são verdades afins: são
termos relativos; elas são irmãs gêmeas. Deve
ser feliz aquele que é santo. O pecado é o pai de
toda a miséria; a santidade a raiz de toda a
felicidade. A santidade que Deus nos faria sentir
em simpatia, e nos tornaria participantes de Sua
própria santidade. Há muito que passa no
mundo religioso por santidade, que é espúrio
em sua natureza, e é repudiado por Deus. Não há
verdadeira santidade senão naquilo que nos
molda na imagem divina, aquilo que nos torna
semelhantes a Deus.
Não podemos possuir a santidade essencial de
Deus, mas podemos participar da Sua santidade
impartida. No mesmo sentido em que se diz que
somos "participantes da natureza divina" (2
Pedro 1: 4), somos "participantes da Divina
Santidade". Que retrato é um filho de Deus
153
purificado, santificado e disciplinado por
provação!
Deus é o original divino; ele é a cópia humana.
Sobre esse coração suavizado, sobre aquele
espírito subjugado, sobre aquele abatido, o
santo Senhor Deus imprimiu, embutiu Sua
própria semelhança. E como o espelho polido
reflete a semelhança do homem que olha para
ele, assim faz o filho disciplinado de Deus; a
rudeza do carnal é eliminado pelo espiritual, a
escória do natural é separada do divino; sua
alma purificada reflete e brilha com a santidade
de Deus.
Oh, ser como Deus, exclamando com o salmista:
"Eu sei, ó Senhor, que os teus juízos são retos, e
que me afligiste com fidelidade". Quão terna,
suave e amorosamente seu Pai se dirige a você,
Seu filho provado; "Meu filho, não despreze o
castigo do Senhor".
Há rigor na disciplina? Há amor na vara.
Há amargura no cálice? Há doçura na borda. Há
agudeza no sofrimento? Há calma na relação
"meu filho". Isto nunca poderá ser esquecido na
154
disciplina mais severa, ou na mais dolorosa
correção, que Ele é nosso Pai e nós Seus filhos.
"Não é Efraim para mim um filho precioso,
criança das minhas delícias? Porque depois que
falo contra ele, ainda me lembro dele
solicitamente; por isso se comovem por ele as
minhas entranhas; deveras me compadecerei
dele, diz o Senhor."
Deus nunca emprega uma repreensão sem um
consolo, ou a faca de poda sem o bálsamo.
Quantas vezes a misericórdia precede e prepara
a provação. Foi assim no caso de nossos
primeiros pais. Antes que Deus pronuncie a
terrível sentença, Ele sopra a graciosa
promessa.
A misericórdia escava o canal do juízo, prepara e
pavimenta o seu caminho. Assim, as correções,
repreensões e castigos de Deus são temperados
e suavizados; e como os castigos e repreensões
dos justos, são uma "bondade", e "um óleo
excelente, que não quebrará a cabeça"; assim, o
crente provado pode olhar para o rosto de seu
Pai e dizer; "Justo és, ó Senhor, ainda quando eu
pleiteio contigo; contudo pleitearei a minha
causa diante de ti." (Jeremias 12: 1).
155
Como doce e ternamente Jesus misturou a
advertência com a consolação: "No mundo
tereis aflições, mas em mim tereis paz!"
Nosso Senhor, sábia e graciosamente
apresenta-nos o mundo como uma cena de
tristeza, provação e tribulação, mas a
contrapartida será que, em seu meio,
experimentaremos Sua presença, amor e graça
como nossa paz. Assim, a observação de um
curioso escritor é válida: "Os ramos da aflição
são feitos de muitos galhos afiados, mas são
todos cortadas da árvore da vida."
O crente nunca está tão perto do coração de
Cristo, dos confortos do Espírito e das alegrias
do Céu, como quando o dilúvio de águas escuras
está subindo e girando ao redor dele, erguendo-
o sobre suas crestas. Quanto mais alta a arca que
levava a Igreja dos antigos se elevava sobre o
dilúvio, mais perto ela se aproximava do céu.
Quando a terra recuou, o céu aproximou-se; e a
arca, flutuando sobre as águas subiu cada vez
mais alto. Não é assim com a alma crente,
quando inundações de grandes águas entram
nela?
156
À medida que essas águas inundam e se elevam,
as loucuras pecaminosas, as vaidades
mundanas, as perseguições carnais, o orgulho,
o ego e a ignorância desaparecem e a alma se
aproxima do céu. Preciosa provação que enterra
a vaidade e a corrupção da terra, e revela a
alegria e glória do céu à alma! Assim do
comedor vem comida. A provação que parecia
tão ameaçadora trouxe tal misericórdia. A
nuvem que parecia carregada de eletricidade
esvazia um chuveiro frutífero. Oh, as estações
que nos provam são nossas épocas mais
espirituais e mais afetuosas a Cristo,
conformando-nos a Ele, e assim a provação
torna-se preciosa.
As estrelas brilham mais na noite mais escura;
tochas de fogo são boas para o aquecimento; as
uvas não chegam à prova até serem prensadas;
as especiarias cheiram mais docemente quando
prensadas; o ouro parece mais brilhante quando
é esfregado. Tal é a condição de todos os filhos
de Deus; são mais triunfantes quando mais
pisoteados, mais gloriosos quando mais
afligidos; muitas vezes mais no favor de Deus,
quando menos no do homem; como são suas
batalhas, assim são as suas vitórias; como suas
157
tribulações, assim suas alegrias; eles vivem
melhor na fornalha da perseguição, de modo
que pesadas aflições são os melhores
benfeitores para as bênçãos celestiais, e quando
as aflições pendem mais pesadas, corrupções
pendem mais frouxas, e a graça que está
escondida na natureza, como a água doce nas
folhas da rosa, é então mais perfumada quando
o fogo da aflição é posto debaixo para destilá-lo
para fora." (Spencer.)
Filho favorecido de Deus, cuja disciplina do Pai
na providência e na graça traz tais bênçãos para
a alma! Provação preciosa que torna Jesus mais
precioso; o trono da graça mais precioso, a
disciplina da aliança mais preciosa, a santidade
mais preciosa, os santos de Deus mais preciosos,
a Palavra de Deus mais preciosa e a perspectiva
de voltar para casa na glória mais preciosa!
"Bem-aventurado o crente que, quanto mais
aflições o assaltam, mais estreitamente se
aproxima do Senhor, como o viajante alcançado
por uma tempestade que, quando a chuva ou a
neve cai sobre ele, furiosamente contra ele,
prende com mais firmeza o manto que o
envolve."
158
Um tempo de provação é um tempo de
sensibilidade. Deus, muitas vezes a envia para
este fim. Não há nada no evangelho de Cristo
que proíba a emoção; não há nada na religião de
Jesus para esmagar a sensibilidade, mas tudo
para criá-la. O cristianismo é uma religião de
sentimento profundo e santificado. É a única
religião que apela completamente à nossa
natureza emocional, que toca as fontes
profundas e escondidas de nossa humanidade, e
nos diz que podemos chorar. Com as lágrimas de
Cristo em Betânia e com suas gotas de sangue
no Getsêmani diante de nós, certamente
poderemos expressar a mais profunda simpatia
pela adversidade dos outros, e poderemos
também entrar em profunda simpatia com a
nossa própria.
Chorai, pois amado! Nós não selaríamos aquelas
lágrimas. "Jesus chorou", e você também pode
chorar. "Nenhum castigo no presente é alegre,
mas doloroso." Portanto, não é pecado expressar
a emoção, e ter sensibilidade, regando o nosso
leito com lágrimas. Sem uma medida de
sofrimento nossa aflição não deixaria nenhum
vestígio de bem. Quando Deus fala, nós devemos
ouvir; quando Ele ferir, devemos sentir.
159
Somente deixe o seu sofrimento ser moderado,
castigado e submisso, incorporando seu
sentimento e expressando sua intensidade na
linguagem e espírito do "Homem das Dores",
"Não a minha vontade, ó meu Pai, senão o tua
seja feita."
Que diremos então a estas coisas?
Não devemos contar entre as coisas preciosas
de Deus, como não menos preciosa, a provação
cuja disciplina nos remove o mal, e nos confere
tanto bem?
Quão pouco se deve saber experimentalmente
do Senhor Jesus; que profundidades havia em
Seu amor, que suavização em Sua simpatia, que
condescendência em Sua graça, que delicadeza
em Sua conduta, que beleza requintada em Suas
lágrimas, que segurança sob Suas asas
protetoras de águia, e o que repousa em Seu
coração amoroso, senão por meio da
adversidade.
A tua arca é lançada no meio das águas agitadas,
mas tu tens a Cristo a bordo do teu barco, e não
será naufragado. Ele pode parecer, como nos
160
velhos tempos, "quando adormecido sobre um
travesseiro", ignorante e indiferente à
tempestade que se arrasta descontroladamente
ao seu redor, contudo o olho de Sua divindade
nunca adormece, e Ele no melhor momento se
levantará em majestade e poder, silenciará a
tempestade e ainda as ondas, e haverá paz. E
vocês contarão como sendo uma provação
preciosa que desperta em seu coração a
exclamação de adoração: "Que Homem é esse,
que até os ventos e o mar lhe obedecem?"
Sim, Cristo pisa o caminho límpido de sua
tristeza. Ele vem a você andando sobre o mar de
sua tribulação. Ele se aproxima para sufocar
seus medos, para acalmar sua mente, para lhe
dar paz. E, a não ser por essa alienação de seus
bens terrenos, esse sofrimento terrível, essa
terrível calamidade, essa doença devastadora,
essa languidez, esse sofrimento e essa
decadência, esses dias inquietos e noites de
vigília; ó, quantas visitas preciosas do Amado de
sua alma você teria perdido!
Fique quieto então; a provação trará um Jesus
precioso para você, e a presença, o amor, a
simpatia e a graça de Jesus iluminarão,
161
acalmarão e adoçarão a sua provação. Logo
estaremos em casa, onde "Deus enxugará de
seus olhos todas as lágrimas, e não haverá mais
morte, nem tristeza, nem choro, nem haverá
mais dor".
A última verdade de Deus será vista, a última
lição de santidade será aprendida, a última
mancha de pecado será apagada, e não haverá
mais necessidade de disciplina, de tristeza, nem
da influência sagrada de provação preciosa; a
última brasa da fornalha será extinguida, a
última onda de tribulação morrerá na praia, e
estaremos para sempre com Jesus.
Até então, "entregue o seu caminho ao Senhor",
deixe suas preocupações em Suas mãos, "confie
nele e o mais ele fará", e suba do deserto a Seu
poderoso braço, e apoiado em Seu peito
amoroso, para sustentá-lo em fraqueza, para
aliviá-lo do sofrimento e trazê-lo para casa para
Si mesmo, onde os dias do seu luto serão
terminados, e "DEUS REMOVERÁ TODAS AS
LÁGRIMAS DE SEUS OLHOS".
"Quando aflições doloridas esmagam a alma,
E cada laço terreno é devastador,
162
O coração deve unir-se somente a Deus:
Ele limpa a lágrima de todos os olhos.
Por noites de vigília, quando atormentado pela
dor,
Na cama de enfermidade você repousa,
Lembre-se de que seu Deus está próximo
Para limpar a lágrima de todos os olhos.
Alguns poucos anos, e tudo está acabado;
Suas dores passarão em breve;
Então incline-se na fé, no querido Filho de Deus,
Ele vai limpar a lágrima de todos os olhos.
Oh, nunca seja sua alma rebaixada,
Nem deixe seu coração desanimar,
Certifique-se de que Deus, cujo nome é Amor,
Vai limpar a lágrima de todos os olhos!"
Sra. Mackinlay
163
A Presença Pessoal do Confortador
Título original: The Personal Presence of the
Comforter
Por: William Bacon Stevens (1815—1887)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
164
"E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro
Consolador, para que Ele permaneça convosco
para sempre, o Espírito da verdade, a quem o
mundo não pode receber, porque não o vê, nem
o conhece, mas vós o conheceis porque Ele
habita em vós e estará em vós." (João 14: 16-17)
O verdadeiro cristão tem três Consoladores, e
cada um deles é divino. Deus, o Pai, é
denominado por Paulo, em sua segunda epístola
aos Coríntios, como "o Deus de toda a
consolação, que nos conforta em toda a nossa
tribulação". Deus o Filho, nas palavras do texto,
fala de si mesmo como um Consolador; e Paulo
nos diz que "nossa consolação" ou conforto
"abundam por Cristo". Deus, o Espírito Santo é
nomeado especificamente por Jesus Cristo em
várias instâncias como "o Consolador", e Seu
peculiar ofício como tal é plenamente revelado
no último discurso de nosso Senhor aos Seus
discípulos antes de Sua crucificação.
Assim, cada pessoa da sempre abençoada
Trindade é um Consolador, de caráter divino,
infinito em plenitude, eterno em duração. Não
há, portanto, nenhum consolo verdadeiro, que o
165
coração possa desejar, o qual não possa ser
encontrado em Deus Pai como o Deus de toda a
consolação; em Deus Filho como Paracleto com
o Pai; e em Deus o Espírito Santo como
"Consolador", que procede do Pai e do Filho.
O termo grego Paracletos, aqui traduzido
Consolador, e em outro lugar traduzido
Advogado - é peculiar aos escritos de João, e não
é encontrado em nenhuma outra parte da
Escritura. Não temos nenhuma palavra em
inglês que lhe corresponda exatamente em
sentido; que significando ser, de acordo com a
etimologia da palavra, "um chamado para estar
ao lado de outro." Esta explicação nos apresenta
seu verdadeiro uso clássico, que "denota uma
pessoa que representa outra em uma causa
judicial". Era costume nos antigos tribunais que
as partes comparecessem em tribunal com a
presença de um ou mais de seus amigos mais
influentes, chamados em grego paracletos, e
defensores em latim. Estes paracletos, ou
advogados, deram a seus amigos - não a taxa ou
a recompensa - mas o amor e o interesse - a
vantagem de sua presença pessoal, e a ajuda de
seu conselho judicioso. Assim, aconselhavam-
lhes o que fazer, o que dizer, falava por eles, agia
166
em seu nome, fazia a causa de seus amigos a sua
causa, permanecia por eles e para eles nas
provações, dificuldades e perigos da situação.
Nesse sentido, de Jesus é dito por João como
nosso Paracleto - onde ele diz: "Temos um
Advogado com o Pai, Jesus Cristo, o Justo" -
alguém no Céu diante de Deus, que aparece lá
em nosso favor, representa a nossa causa,
defende nosso pleito, vivendo sempre para
"interceder por nós".
Enquanto na terra, nosso Senhor havia
aconselhado e falado em nome de Seus
discípulos. Eles haviam Lhe procurado para
ajuda, apoio, consolo, verdade, graça; e assim
com Ele sempre ao seu lado, Ele tinha sido para
eles um paracleto, ou advogado. Ele havia se
identificado com eles, ensinava-os a orar, a
pregar, a viver, a fazer milagres e os mistérios do
reino. Mas, Ele estava agora para deixá-los. Sua
forma corporal deveria ser removida da
presença deles. No entanto, com uma doçura de
compaixão peculiarmente tocante, Ele diz: "Não
vos deixarei órfãos" - órfãos, indefesos, não
defendidos, não sustentados. "Convém-vos que
eu vá embora, mas eu rogarei ao Pai, e Ele vos
167
enviará outro Consolador, para que Ele possa
habitar convosco para sempre".
Este "outro" Consolador é o Espírito Santo, como
o nosso Senhor declara no verso 26: "Mas o
Consolador, que é o Espírito Santo". E diz que
este Consolador procede do Pai e do Filho,
enviados em nome de Cristo, em resposta à
oração de Cristo, e para continuar a obra de
Cristo no mundo, da qual Cristo partiria agora.
Consideremos, então, a presença pessoal do
Consolador, que é o Espírito Santo - como a
grande e permanente bênção do crente
individual e da Igreja.
Não há dúvida de que o crente está agora em
melhor relação com Deus, Cristo e os mistérios
da redenção do que aqueles que tiveram o
privilégio de contemplar nosso Senhor com
seus olhos corporais, ouvir Suas palavras e tocar
Suas mãos, e seguir Sua pessoa. Esta verdade
será aparente se analisarmos o ofício e a
natureza deste Consolador conforme descrito
pelo próprio Cristo.
Quais são os pontos em que a alma do homem
precisa de conforto? Ou, colocando a pergunta
168
de outra forma: Quais são as coisas que dão
verdadeira angústia à alma?
Um sentimento de culpa;
Uma consciência de estar sob a maldição;
Ausência do favor divino;
Exposição a dúvidas e erros;
Incerteza quanto ao futuro.
O conforto vem a uma tal pessoa, não
removendo o sentimento de culpa, mas
implantando uma esperança de perdão. O
conforto vem a alguém que está sob a maldição
da lei, mostrando-lhe que essa maldição é
suportada por outro, e ele está isento de sua
inflição. O conforto vem a alguém que sente a
ausência do favor divino - na doce certeza de que
Deus se reconcilia com ele na face de Jesus
Cristo. O conforto vem a alguém exposto à
dúvida e ao erro - na consciência de que ele pode
ser conduzido pelo Espírito em toda a verdade. O
conforto chega a alguém incerto quanto ao seu
futuro - quando ele sabe que sua vida está
escondida com Cristo, e que quando Cristo que
169
é sua vida aparecer, ele "aparecerá com Ele em
glória". Para cada um destes casos especiais, é o
ofício do Espírito Santo para ministrar; e
nenhum outro ser pode aliviar a angústia real da
alma; pois mesmo o plano da salvação -
concebido no amor infinito de Deus Pai e
realizado no infinito amor de Deus, o Filho - não
tem valor para salvar a alma - a não ser que seja
aplicado e efetivado pelo Espírito Santo. De
modo que, na verdade, em essência, Ele é o
Consolador.
Este Consolador, Cristo diz, "o mundo não pode
receber", porque "não o vê, nem o conhece". Pelo
mundo é aqui significado homens carnais
absorvidos em coisas de tempo e sentido. Assim
Paulo diz: "A mente carnal é inimizade contra
Deus". E novamente: "Ser carnal é a morte". Os
objetivos, visões e planos do mundo são
terrenos, temporais, sensuais; o oposto dos
objetivos e planos do Espírito Santo, tanto que o
mundo não pode vê-los ou conhecê-los. "O
homem natural", diz Paulo, "não recebe as coisas
do Espírito de Deus, porque são loucura para ele,
e não pode conhecê-las, porque são
espiritualmente discernidas". As coisas do
Espírito só podem ser vistas e conhecidas por
170
aqueles cujos olhos foram ungidos pelo Espírito
com o poder da visão espiritual.
O apóstolo coloca a pergunta desta forma:
"Porque, qual dos homens sabe as coisas do
homem, senão o espírito do homem, que nele
está?" Assim também as coisas de Deus
ninguém conhece, senão o Espírito de Deus.
Não é por qualquer aprendizagem mundana, ou
esquemas mundanos, ou filosofia mundana,
que devemos receber o Consolador. Pelo
contrário, a posse de uma mente mundana nos
coloca em uma condição não receptiva; e assim
que a luz do sol puder morar em um calabouço
escuro, o Consolador poderá permanecer em
um coração mundano. O Consolador deslocará
o mundo - ou o mundo manterá fora o
Consolador.
"Mas vós", diz Cristo, dirigindo-se a Seus
discípulos, "o conheceis, porque Ele habita
convosco e estará em vós". As pessoas a quem
nosso Senhor se dirigiu eram homens rudes,
sem cultura e sem instrução. Se tivessem
tentado estabelecer escolas como Hillel, ou
Gamaliel, eles teriam sido mal vistos pelos
escribas e fariseus como pretendentes
171
ignorantes. Se fossem a Alexandria e atuassem
como professores de religião, os filósofos
egípcios teriam zombado de suas pretensões. Se
tivessem visitado a Academia Grega - os
estoicos, os cínicos e os platônicos da Grécia
teriam zombado de suas palavras e teriam sido
surdos aos seus ensinamentos. Mas, a esses
camponeses e pescadores galileus, foi dado pelo
próprio Cristo - o próprio Espírito da verdade, o
próprio Senhor e Doador da vida, que devia
morar com eles, neles, e permanecer lá para
sempre.
Verdadeiramente também podemos elevar os
olhos para o Céu e dizer com Jesus: "Eu te
agradeço, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, que
ocultaste estas coisas aos sábios e prudentes e as
revelaste aos pequeninos". E verdadeiramente
podemos dizer com o apóstolo: "O mundo pela
sua sabedoria não conheceu a Deus", e que "a
sabedoria do mundo é loucura para com Deus".
Sim, temos o que as mentes mais profundas da
terra têm procurado em vão - o Espírito da
verdade; e destes homens, não dos templos da
índia, não dos salões de Alexandria, não das
escolas de Atenas - saiu a verdade, que
iluminou, revolucionou e redimiu o mundo!
172
A verdade que este Espírito de verdade como
Consolador tem para revelar, é "a verdade como
é em Jesus". Quando Jesus diz deste Espírito que
"Ele o guiará em toda a verdade" - isso não
significa que o Espírito Santo o guiará em
verdade natural, ou verdade científica, ou
verdade filosófica; mas naquelas grandes
verdades espirituais centrais - a morte
expiatória, a justiça justificadora de Jesus Cristo;
os polos sobre os quais gira como sobre um eixo,
todo o plano de redenção e graça. Como foi por
este Espírito da verdade, que as profecias
referentes a Cristo foram proferidas que
preenchem o Antigo Testamento; como foi pelo
Espírito da verdade que Jesus foi concebido pela
Virgem Maria; como foi por este Espírito de
verdade que Ele foi ungido para Seu ministério
após Seu batismo - assim é declarado que Seu
ofício é tomar das coisas de Cristo e mostrá-las
aos homens. Por isso, Cristo diz deste Espírito,
Ele vos ensinará todas as coisas. Ele dará
testemunho de mim. Ele me glorificará. Ele lhe
mostrará as coisas que virão. Ele o guiará em
toda a verdade.
Quem pode assim ensinar todas as coisas - como
o Espírito que "busca todas as coisas, sim, as
173
coisas profundas de Deus?" Quem pode assim
testificar de Cristo - como o Espírito que revelou
Sua pessoa e o advento através de três mil anos
de profecia? Quem pode glorificar a Cristo -
como o Espírito que formou Seu corpo humano
e o ungiu para Seu ministério? Quem pode
assim mostrar-nos as coisas vindouras - como o
Espírito que estabeleceu Sua veracidade como o
Espírito da verdade por um fluxo sempre
aumentado de profecia cumprida, desde a
queda do Éden, até a canção do velho Simeão?
Quem pode assim guiar toda a verdade - como o
Espírito da verdade que leva a alma à própria
verdade, a verdade encarnada, o Senhor Jesus
Cristo?
Não há nenhuma verdade espiritual que não
comece em Cristo, ou que não sejam centradas
em Cristo. Toque em qualquer ponto da vasta
circunferência da verdade divina que você
deseja, e trace de lá qualquer linha radial - e ela
o levará diretamente a Jesus; pois, como há
apenas uma fonte de luz no sistema solar, então
há apenas uma fonte de verdade no firmamento
moral - Jesus Cristo, "em quem habita
corporalmente toda a plenitude da cabeça de
Deus".
174
Ora, esta verdade de Cristo, que este Espírito da
verdade nos ensina, não é mero dogma abstrato,
nem especulações inertes mas lógicas - é
verdade viva, e está vivificando a verdade; tem
vida em si mesma e dá vida; e aqui contrasta com
os ensinamentos de todas as simples filosofias
humanas. Porque a filosofia humana, como a
aurora boreal - brilha na noite, atraindo
milhares de olhos para suas brilhantes
cintilações, evocando inúmeras especulações e
conjecturas – mas, permanentemente não
ilumina nada, não aquece nada, não vivifica
nada; e quando ela desaparece deixa o céu mais
escuro do que antes. Mas "a verdade como é em
Jesus", que o Espírito da verdade revela, como o
sol - inunda o mundo com seus raios, e não
apenas o ilumina - mas o aquece; e não apenas o
aquece - mas o torna cheio de vida; e não apenas
vitaliza - mas embeleza-o; brilhando não de
forma irregular - mas permanentemente; não
em uma parte do céu somente - mas em todo o
céu; não para morrer em trevas mais profundas
- mas para culminar na luz meridiana do Céu.
Não somente este Consolador é um Espírito
ensinador - mas Cristo diz: "Ele habita convosco
e estará em vós". Examinemos por um momento
175
a força dessas duas pequenas preposições
“com” e “em”.
Um duplo poder do Espírito está aqui implícito:
um poder de guarda, proteção e ajuda externa -
e um poder de controle, animação e santificação
interior. A preposição com, implica uma
agência agindo de fora e em conjunto com nós
mesmos; a outra preposição em, implica uma
agência no trabalho interior, desenvolvendo-se
a partir do coração para fora.
Seria um privilégio raro ter uma grande e
verdadeiramente nobre morada conosco, um
Paulo, um Crisóstomo, um Agostinho; para que
um deles seja nosso monitor perpétuo, e
conselheiro, e exemplo; para que ele nos mostre
como agir, como falar, como viver; para ter o
benefício de sua supervisão, sua sabedoria, seu
favor. Mas, então, a pessoa assim favorecida
poderia nunca copiar completamente a devoção
de um Agostinho, a eloquência de um
Crisóstomo, ou a santidade de um Paulo. Mas,
seria diferente se houvesse um processo pelo
qual o espírito desses grandes homens, em sua
totalidade, pudesse ser infundido nas mentes e
nos corações dos outros, de modo que em vez de
176
morar com um Agostinho - Agostinho deveria
pelo seu espírito habitar neles; em vez de viver
com um Crisóstomo - Crisóstomo deveria viver
sua vida neles; em vez de copiar um Paulo ao
nosso lado - Paulo deveria habitar em nós como
o espírito permanente. Que diferença haveria! O
espírito interior de um Agostinho, faria um
segundo Agostinho; o espírito infuso de um
Crisóstomo, faria outro pregador de boca
dourada; e um Paulo que vivesse em nós,
reproduziria o espírito e as ações do grande
apóstolo em nossa própria vida e trabalho.
O Consolador, como o Espírito da verdade, não
só habita conosco como hóspede; mas habita em
nós como o Espírito interior que controla,
forma, esclarece e santifica, evoluindo de Si
mesmo através das funções e faculdades de
nosso ser, os frutos e as graças de uma vida santa
e o belo caráter de um verdadeiro cristão. E que
belo caráter deve necessariamente ser
desenvolvido por um Espírito que habita em
nós!
O artista que pinta um quadro, ou cinzela uma
estátua - imprime uma certa quantidade de seu
próprio gênio em telas planas ou em mármore
177
frio. Não é uma beleza desenvolvida a partir de
dentro, trabalhando por fora; mas algo colocado
sobre a tela passiva ou mármore, por um
processo externo que nunca vai abaixo da
superfície, nunca dá vida interior. Mas, o poder
artístico do Espírito Santo é visto, em que
fazendo sua morada no coração - Ele renova e
santifica esse coração, e a vida externa é apenas
o desenvolvimento da graça interior.
O Consolador, como Espírito de santidade -
santifica cada pensamento e afeição, e o homem
se torna santo. O Consolador, como o Espírito da
sabedoria - ilumina cada faculdade da mente, e
o homem é feito sábio para a salvação. O
Consolador, como o Espírito da verdade -
orienta o intelecto em toda a verdade, e o
homem se destaca do homem livre da verdade
com os grilhões da dúvida e do erro quebrados a
seus pés. O Consolador, como Espírito de graça
e ajuda - ensina como orar e para o que orar, e o
homem vai corajosamente ao trono da graça. O
Consolador, como o Espírito de força - energiza
todos os poderes do homem para o trabalho
efetivo, e o homem torna-se firme na força de
Deus. O Consolador, como o Espírito do temor
do Senhor - dá um temor santo e filial de ofender
178
a Deus, e leva o homem a reverenciá-lo, e
procurar andar de modo digno do Senhor.
E quando há no trabalho na alma tais agências -
ativas, poderosas, divinas; e quando a alma
necessariamente desenvolve externamente o
espírito animador interior - não deve resultar
uma beleza moral, uma beleza composta das
características combinadas de santidade,
verdade, sabedoria, oração, reverência - que,
combinadas, produzirão uma beleza de vida e
caráter além da imaginação do artista, ou da
concepção do poeta, ou do sonho do filósofo?
Pode esse poder divino habitar conosco, e em
nós - e não ser para nós cheio de conforto, de
modo a merecer o nome de o Consolador?
Mas, a habitação do Consolador não só molda
nossa vida em Seu próprio modelo, e reproduz
em nós Suas próprias características, mas,
transforma cada coração em que Ele
permanece, em um templo. "Não sabeis", diz o
apóstolo, aos Coríntios, "que o vosso corpo é o
templo do Espírito Santo, que está em vós?" E
novamente ele diz: "Não sabeis que sois o templo
de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?"
179
E, escrevendo aos Efésios, ele fala dos cristãos
como sendo "edificados juntamente para
habitação de Deus através do Espírito". Estas são
palavras que nos assustam pela sua ousadia, e
nos admiram por seu mistério. Os cristãos são
então templos - templos do Espírito Santo!
Habitações de Deus através do Espírito! Um
templo é separado do comum e mundano - para
usos sagrados e divinos; nele (o templo do qual o
apóstolo desenhou sua ilustração), foram
oferecidos sacrifícios de louvor e ação de graças;
era sagrado e preservado da poluição e
corrupção, e nele Deus manifestou
especialmente Sua presença. Era a casa de Deus,
reservada para o uso de Deus, e ocupada para a
glória de Deus. Assim, o coração cristão é um
templo vivo em que Deus habita pelo Seu
Espírito Santo. Não é dele, pois ele é comprado
com um preço, e tornou-se de Deus, e nada
impuro ou irreverente deve entrar lá.
Neste templo do coração, Deus se comunica
conosco pelo Espírito Santo. Nele, Ele assegura
o perdão, e fala palavras de amor; e todo o tempo
em que o Consolador habita lá, Ele está
embelezando-o com Sua graça, purgando cada
180
ponto e tornando-o apto para o uso sagrado que
o Espírito Santo tem consagrado.
O cristão então leva consigo um templo; ele
mesmo é um templo, e nele habita o
Consolador. E assim o "Deus de todo o conforto"
está sempre consagrado na alma cristã; não
como a shekinah do templo judaico, local e
definido em forma e material, um mero símbolo
de divindade – mas, a própria divindade em seu
poder iluminador, controlador, vivificante e
renovador da alma, difundido por todas as
partes do nosso ser sensível, e santificando o
homem inteiro como uma "habitação
consagrada de Deus através do Espírito".
A coroa da glória desta permanência do
Consolador em nós, é que Ele permanecerá lá
para sempre. Ele vem até nós não como um
visitante casual, aqui hoje e indo embora
amanhã; mas Ele ocupa Sua morada em nós, faz
Sua morada lá, a transforma em Sua morada, e
tendo assim feito isto Seu templo - Ele habita
para sempre; porque nem a morte o afastará,
porque habita em nós para sempre.
Diga-me, então, o Espírito Santo não merece ser
chamado de Consolador?
181
Este Consolador torna-se nosso em resposta à
oração fervorosa. Deus disse que Ele está "mais
pronto para dar o Espírito Santo àqueles que Lhe
pedem, do que os pais devem dar coisas boas aos
seus filhos". Esta graciosa promessa - tão cheia,
tão paternal, tão apelativa para a nossa própria
consciência e simpatia - pode ser feita nossa,
pedindo ao Deus de todo o conforto que nos
conceda o dom do Espírito Santo de acordo com
a própria promessa de Cristo e para a satisfação
de nossas próprias necessidades espirituais. Tal
pedido feito em fé, em nome de Cristo, será
ouvido - será respondido; e assim podemos
assegurar todas as ricas bênçãos que um
Consolador que habita em casa pode conceder a
uma alma humana!
182
A Principal Finalidade da Vida
Título original: The chief end of life
Por John Angell James (1785-1859)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
183
Uma Palavra Especialmente para Jovens.
“Irmãos, quanto a mim, não julgo que o
haja alcançado; mas uma coisa faço, e é
que, esquecendo-me das coisas que atrás
ficam, e avançando para as que estão
diante de mim, prossigo para o alvo, pelo
prêmio da soberana vocação de Deus em
Cristo Jesus.” (Filipenses 3.13,14)
Encontramo-nos hoje, rapazes, com os nossos
sinceros e simpáticos parabéns, e não de
maneira meramente formal ou simulada,
oferecemos-lhes os cumprimentos pela
passagem de ano, e "desejo-lhes um feliz ano
novo", mais do que isso, uma vida feliz, E ainda
além disso, uma eternidade feliz. O tempo, com
seu fluxo incessante rola para a frente, e está
passando mais do que nunca em sua corrente
irresistível ao oceano ilimitado da eternidade.
Sim, para a eternidade! Mas, não para a
aniquilação eterna, mas para a existência
consciente eterna. Enquanto você está no limiar
de outro ano, pause e pondere - o passado está
para sempre desaparecido. Examine a cena
diante de você, e aprenda seu destino, sua
184
dignidade, seu dever. Uma perspectiva de
existência perpétua, uma visão de épocas sem
fim, sim, e de bem-aventurança também se abre
diante de você, se adotar o lema do apóstolo
Paulo, que afirma em relação a esse objetivo
citado: "uma coisa eu faço". Ele almejava por ela,
não seu ofício de embaixador de Cristo, mas sua
salvação final como um ser imortal.
Há algo surpreendente em ver uma criatura
racional selecionar um objetivo entre os muitos
que o cercam, fixando-o perante o público, com
a declaração "para isso eu vivo" e, a partir desse
momento, perseguindo-o com o ardor de um
amante, a fidelidade de um servo, a coragem de
um herói e a constância de um mártir. Tal poder
de abstração e concentração é um belo
espetáculo. Mas, então o objetivo selecionado
deve ser digno dele - e deve recompensar o
grande esforço. O homem tem apenas uma vida
para gastar, e deve ser cuidadoso, ansioso, sim
quase dolorosamente cuidadoso, para não jogá-
la fora em um objetivo indigno. Pense na sua
chegada ao fim de sua breve e perturbada
permanência neste mundo com a melancólica
confissão: "A vida comigo tem sido uma
aventura perdida."
Nós desejaríamos ajudá-lo a se proteger contra
esta catástrofe e também a escolher o seu
185
objetivo e estabelecer seu plano, de modo que,
depois de uma vida próspera, feliz e útil, até a
própria morte, em vez de ter o naufrágio de suas
esperanças, tenha a consumação das suas
esperanças, e do seu eterno ganho.
Este convite vem a vocês de um corpo de jovens,
intitulado "Associação Cristã de Moços", que são
unidos pelos laços de uma irmandade sagrada
para encorajar e ajudar uns aos outros em
perseguir e assegurar o mais alto e nobre fim da
existência humana. Fizemos nossa escolha;
nosso julgamento e consciência aprovam a
seleção; isto se levanta continuamente perante
nós no deserto da vida, visível, grandioso e
distinto, como as Pirâmides do Egito para o
viajante no deserto; e no exercício de uma
benevolência que o próprio objeto inspira,
estamos ansiosos para engajar outros de nossa
idade, gênero e circunstâncias na mesma busca.
Nosso único assunto, nosso principal fim de
vida, é o mesmo que o do apóstolo - a busca da
glória, honra, imortalidade; nossa esperança é a
possessão da vida eterna; e nossa maneira de
buscá-la "uma continuada paciência em bem
agir". Isto está diante de vocês em toda a sua
simplicidade, e, podemos acrescentar, em toda
a sua sublimidade. A linguagem pode fornecer
um arranjo mais marcante de palavras; ou
pensamento, para tal conjunto de coisas?
186
"Glória", pela qual milhões de pessoas têm
desejado, e para a qual as mais fortes aspirações
da alma humana têm sido dirigidas. "Honra", ou
renome, que inflamou a ambição de muitos dos
mais elevados espíritos de nossa raça, e os fez
dispostos a sacrificar facilidades, tempo, riqueza
e, muitas vezes, princípio e consciência.
"Imortalidade", pela qual "toda a criação tem
dores de parto até agora". E todos estes se
fundem naquela imensa e infinita posse, a "Vida
Eterna". Essa é a nossa única coisa. Temos
alguma razão para nos envergonhar da nossa
escolha? Se isto é pequeno, onde em todo o
universo há alguma coisa maior? Se isso é
degradante, onde se pode encontrar alguma
coisa para elevar?
Há muitos fins secundários e subordinados da
vida, mas só pode haver um que seja supremo.
Sabemos que somos criaturas racionais, e que
devemos melhorar nossas mentes lendo e
estudando; que devemos ser comerciantes, e
estamos nos esforçando para sobressair no
conhecimento do nosso negócio; que devemos,
com toda a probabilidade, estar à frente das
famílias, e estamos nos preparando para "prover
coisas honestas aos olhos de todos os homens";
que somos membros da sociedade e que nos
esforçamos por formar em nós mesmos o
caráter do bom cidadão, e procuramos agir bem
no nosso grande drama da vida humana.
187
Esperamos que não negligenciemos nenhuma
dessas coisas; e, então, estamos inteiramente
convencidos e devidamente impressionados
com o pensamento de que há algo além e acima
de todas essas coisas - que somos criaturas de
Deus, continuamente dependentes dele, e
devemos procurar antes de tudo agradar nosso
Criador – nós que somos pecadores, e sentimos
ser o nosso negócio mais premente obter a
salvação - e que somos criaturas imortais, e
devemos, portanto, certamente considerá-lo
como nosso mais importante interesse em
possuir a vida eterna. Este grande objetivo,
então, temos adotado para nós mesmos, e agora
propomos a você como o principal fim da vida.
Tal decisão repousa naturalmente sobre nossa
convicção da verdade da vontade revelada de
Deus nas Sagradas Escrituras. Se estas
Escrituras são invenções humanas, nós estamos
iludidos e somos impostores enganadores; mas
se elas são uma revelação Divina, estamos
certos, e estamos seguindo os ditames da razão
em ceder aos da religião. Conscientes da
abundância da infidelidade e da falsa filosofia,
examinamos este assunto por nós mesmos e
chegamos à conclusão de que um volume, crido
por provas tão numerosas, variadas e
harmoniosas, deve ser o que afirma ser - a
Palavra de Deus. Nos milagres de nosso Senhor
e de seus apóstolos, tão diversificados e tão
188
multiplicados, e não operados em particular,
mas em público, não apenas diante dos olhos
dos amigos, mas dos inimigos; no cumprimento
de velhas previsões, demasiado extraordinárias
em sua natureza, fornecidas com muito tempo
de antecedência, para serem os artifícios da
previsão e demasiadas para serem entendidas
como meras e curiosas coincidências; no êxito
do cristianismo pelos trabalhos dos pescadores,
e contra os poderes seculares do mundo; no
conteúdo da própria Bíblia, tão extraordinária,
tão sublime e tão pura; nas mudanças que o
cristianismo tem feito; na sua continuação até
os dias de hoje, apesar de todos os inimigos com
os quais teve de lutar; e na sua atitude atual, que
agora está se preparando, sob os auspícios das
nações mais instruídas, científicas, ricas e
poderosas da Terra, para a conquista universal.
Em todos esses pontos de vista, vemos provas, cada uma forte em si mesma e possuindo unida
e cumulativamente uma força que nos satisfaz, quaisquer que sejam as dificuldades em outros
aspectos da natureza dos assuntos, que esta é certamente a Palavra de Deus. E se mais alguma
coisa fosse necessária para completar a cadeia de evidências, encontramos isso na mudança
que ela operou em nós, e que esse precioso volume chama de "o testemunho em nós
mesmos".
189
Guiados então por este volume, fomos levados a ver que a salvação da alma imortal, e uma
preparação para o céu, formam o grande fim da vida do homem sobre a terra. Em outras
palavras, essa verdadeira religião é o nosso grande negócio neste mundo.
Por religião não se entende apenas a adoção de
um credo, a realização de uma gama de
cerimônias, ou a observância de certas
ordenanças; mas, além de tudo isso, e como
princípio animador de todos é:
"Arrependimento para com Deus e fé em nosso
Senhor Jesus Cristo"; uma mente, coração,
consciência e prática regulados pela palavra de
Deus; em suma, o novo nascimento, a
justificação pela fé e uma vida santa.
Isto, dizemos mais uma vez, é o fim principal de
nossa existência, e agora o reafirmamos para
sua adoção em relação a vocês mesmos, e no
exame, será observado conter tudo o que tal
objetivo deve incluir, e nós lhes imploramos a
dar a esta declaração sua consideração mais
séria e devota.
O que se pretende ser o principal fim da vida
deve ser em si mesmo um objetivo legítimo de
ser buscado, e deve ser lícito tanto à vista de
Deus como do homem, como a lei de Deus e as
nossas próprias consciências aprovarão.
Escolher qualquer outro envolver-nos-ia em
rebelião perpétua contra Deus, e em conflito
190
com nós mesmos. Estabelecer um objetivo
proibido de ser buscado faria do nosso próprio
seio a sede da guerra interna perpétua. Agora
que a verdadeira religião é legítima não precisa
ser provado. É, de fato, a única coisa que, como
fim supremo, é lícita. Muitas outras coisas são
legais como fins subordinados, mas como
primário, principal e final, são proibidas e feitas
contrárias. Pois o que diz nosso Senhor, "Buscai
primeiro o reino de Deus e a sua justiça."
O que é o fim principal da vida deve ser
adequado à nossa própria situação e
circunstâncias, algo que nos pertence como
indivíduos e em que temos um interesse
pessoal. Não se pode esperar que ninguém
estabeleça como objetivo de existência aquilo
em que ele não tem interesse, e nos resultados
dos quais não tem participação. É muito afetador
ver um homem gastando a vida e esgotando
suas energias, sobre algo que não tem apenas
reivindicação sobre sua atenção, e não se
conecta em tudo, ou de maneira muito remota,
com seus melhores e eternos interesses. Isto
não pode ser dito da religião em referência a
você, porque é seu negócio; pertence a você; a
ninguém mais do que a você. Cada um de vocês
tem uma alma imortal que deve ser salva ou
perdida; e só pela verdadeira religião pode ser
salva. A você a admoestação é dirigida, "Lembra-
te agora do teu Criador nos dias de tua
191
mocidade." Não há em nosso mundo um
indivíduo a quem este assunto mais pertença do
que a você, ou a quem tenha reivindicações mais
fortes.
O objeto principal da vida deve ser algo
IMPORTANTE. Assim, como uma criatura
racional, um homem não poderia ser justificado
em criar uma mera bagatela como o fim e o
propósito da existência. Isto marca um estado de
espírito baixo e abjeto, ou, de qualquer forma,
uma grande infantilidade de gosto, para
permitir que os pensamentos sentimentos e
aspirações, sejam atraídos, tendo como seu
centro, uma mera trivialidade. Deus deu ao
homem nobres faculdades, e vê-las todas
dedicadas a alguma pequena bagatela, como seu
objetivo supremo - é um espetáculo triste e
humilhante! Estamos ansiosos de que tanto
você como nós devemos estar vivendo por algo
digno de nossa natureza, algo congruente aos
nossos poderes de intelecto, vontade, coração,
memória e consciência; algo que nos faça
conscientes de que não estamos vivendo abaixo
de nós mesmos. E onde podemos encontrar
qualquer coisa que responda a isso tão bem
quanto a piedade, a salvação e a vida eterna? Isso
não é apenas viver a imortalidade, mas é a única
maneira de fazê-lo no sentido mais amplo do
termo. A literatura, a ciência, a filosofia e as
artes, nesta relação, devem ceder à religião. Isto
192
é ter comunhão com "a boa comunhão dos
profetas, a companhia gloriosa dos apóstolos e o
nobre exército de mártires"; isto é entrar em
laços com os santos de cada época, país e igreja;
sim, é ascender à "comunhão do Pai e de seu
Filho Jesus Cristo."
O principal objetivo da vida deve ser algo que
esteja em harmonia com o principal fim de Deus
ao nos colocar neste mundo. Deus nos colocou
aqui; ele tem um fim em fazê-lo; e nada deve ser
o nosso principal fim, senão o que é consoante
com o Seu. Negligenciar isso é travar uma
guerra perpétua com a vontade divina; e
sabemos quem disse: "Ai de quem contende
com o seu Criador". Você se envolveria em tal
conflito? Você correria contrariamente à Sua
vontade, e deixaria que seus planos fossem
sempre opostos aos dele? Que reflexão terrível
para alguém fazer: "Eu estou me opondo a Deus
pelo meu modo de vida!" Pelo contrário, como é
enobrecedor e reconfortante o pensamento, "eu
sou de uma só mente com o meu Criador!"
Ninguém pode dizer isso se não estiver fazendo
da religião verdadeira seu grande negócio, e
vivendo para a salvação de sua alma; pois este é
o principal fim de Deus ao nos enviar para este
mundo.
O que nós selecionamos como o objetivo
principal da vida deve ser algo EXEQUÍVEL. Ao
193
partir para a busca de qualquer objetivo, quanto
mais o nosso supremo, devemos verificar que
ele está ao nosso alcance, e que podemos
esperar obter, tomando medidas adequadas, e
usando diligência adequada. É uma visão
dolorosa ver uma pessoa seguindo uma mera
visão da imaginação, concedendo imenso
trabalho e riqueza e absorvendo quase todo o
seu tempo, na busca de um objetivo, que todos,
menos ela própria, veem claramente que está
além de sua realização. "Pobre homem",
exclamamos, "ele está batendo no ar, correndo
atrás das sombras, visando a impossibilidades".
Mas isso não pode ser afirmado da verdadeira
religião e salvação; todos os deveres e
privilégios de uma, todas as glórias e as
felicidades da outra, estão ao seu alcance. É a
excelência transcendente da verdadeira
religião ser, de todas as coisas, a mais valiosa em
sua natureza e, ao mesmo tempo, a mais segura
de alcançar por todos os que a buscam com
seriedade e perseverança. As incertezas e
desapontamentos incidentes sobre outros
assuntos, não são experimentados a este
respeito. A linguagem de Cristo é: "Pedi, e
recebereis, buscai e achareis, batei, e abrir-se-
vos-á". Lutero disse que amava a Bíblia por causa
desses pronomes, "meu" e "seu". Ele poderia ter
acrescentado, e por causa desses verbos
"querer" e "dever". Em outros assuntos há apenas
194
possibilidade ou probabilidade; mas aqui há
certeza. Você pode ter sucesso nos negócios,
mas você terá sucesso na religião.
O único grande objetivo da vida deve preservar
uma importância imutável de valor, através de
cada mudança de existência e cada vicissitude
das circunstâncias. Seria imprudente para
qualquer pessoa colocar todas as suas energias,
tempo, riqueza e interesse, na busca de um
objetivo que, por mais importante que possa ser
para ela em certa época, possa em uma
determinada situação, não ter qualquer
importância para ela, enquanto em muitos
outros, ela, poderia, e, com toda a probabilidade,
ter se aplicado. Não poucos se engajaram em tal
loucura; e depois de dores imensas, em algum
período futuro teriam de dizer: "Depois de tudo
o que fiz, tenho sobrevivido ao valor de meu
objetivo, qualquer serviço que possa ter sido
para mim em um tempo, é de nenhum serviço
para mim agora."
A única coisa então, quanto à sua importância,
deve ser proporcional a toda a nossa existência.
Quão estritamente isso se aplica à verdadeira
piedade. Ela será o guia de nossa juventude, o
conforto de nossa maturidade, e o seguro de
nossa velhice. Se tivermos sucesso na vida, ela
nos preservará dos laços da prosperidade; e se
falharmos, será nosso consolo na adversidade.
195
Se formos expostos às tentações da má
companhia, ela será nosso escudo; ou, se
habitarmos muito sozinhos, será o consolador
de nossa solidão. Isto nos guiará na escolha de
um companheiro para a vida, adoçará a taça da
felicidade conjugal e sobreviverá à separação de
cada laço terreno. Isto nos refrigerará com a sua
sombra refrescante no meio do calor e carga do
dia agitado da vida, será a estrela vespertina de
nossos anos em declínio e nossa lâmpada no
sombrio vale da sombra da morte, e então subirá
conosco como nossa porção eterna no reino da
imortalidade. Assim como seu autor Divino, "É o
mesmo ontem, hoje e eternamente."
Seja qual for o fim supremo da vida, ele deve
estar em harmonia com isto, e não em oposição
aos fins secundários e subordinados da vida. Os
deveres não podem chocar, as obrigações não
podem estar no antagonismo. Não pode ser o
dever do homem fazer duas coisas que são
naquele momento diretamente e
necessariamente opostas uma à outra. Há
situações e circunstâncias em que, o que em
outras circunstâncias seria um dever, deixa de
existir, por causa da presença de um objetivo de
reivindicações superiores. É um tanto
repugnante ver uma pessoa absorvida em um
objetivo, pela natureza do qual, bem como pelo
tempo que lhe é dedicado, não estar apta a, e não
estar inclinada a buscar qualquer outra coisa. As
196
reivindicações de seus próprios interesses
pessoais, de sua família, de seu país, de sua raça,
são todos substituídos e esquecidos nas
demandas primordiais de toda a busca
envolvente. Por essa busca, ele se desprendeu
de tudo o mais. Isso não pode estar certo.
Se a verdadeira religião era de fato o que muitos
dos devotos da superstição representam - uma
reclusão sombria em mosteiros, conventos e
eremitérios, onde cada laço que nos liga a este
mundo é cortado - não poderia ser de Deus, nem
seria o fim supremo da vida. Mas, isso não é
cristianismo. Não existe um único fim de vida
legítimo que seja, no mínimo, interferido por
este negócio elevado e sagrado. Nenhum
homem é feito pior cidadão, senhor, servo,
marido, pai, filho ou irmão, atendendo a este
assunto importante. A religião verdadeira
auxilia, em vez de impedir, todo interesse
legítimo que o homem tem na terra. Ela
derrama um sorriso benigno sobre todas as suas
próprias atividades, e estende uma mão amiga
para ajudá-lo a levá-las adiante. "A piedade é
proveitosa para todas as coisas, tendo a
promessa da vida que agora é, assim como da
que está para vir." A bela alegoria de Salomão
será considerada verdadeira. "Mais preciosa é
do que os rubis, e tudo o que mais possas desejar
não se pode comparar a ela. Vida longa de dias
está na sua mão direita; e na esquerda, riquezas
197
e honra. Os seus caminhos são caminhos de
delícias, e todas as suas veredas de paz. É árvore
de vida para os que dela tomam, e são bem-
aventurados todos os que a retêm.” (Prov 3.15-
18).
O que é selecionado como o principal fim da
vida, deve recompensar amplamente o trabalho
de perseguição deste objetivo. Não deve quando
percebido, conduzir o possuidor em um tom, e
com sentimentos do desapontamento amargo, a
exclamar, "e é isto tudo?" Gastar a vida sem
qualquer recompensa, ou sem recompensa
adequada, é extremamente temível e
depreciativo. É uma perda e um sacrifício pelo
qual não pode haver compensação. Agora, o que
quer que seja dito sobre a inadequação de
qualquer outro objetivo de busca humana para
remunerar a ansiedade e o trabalho para
adquiri-lo, tal imputação não pertence a isso. É o
bem supremo. A verdadeira religião é a sua
própria recompensa. Nós mesmos, de quem
este objetivo vai adiante, podemos testificar isto.
Se estivéssemos sempre sob a ilusão de que a
piedade é inimiga da felicidade, há muito tempo
teríamos descoberto pela experiência que a
piedade é a verdadeira felicidade. Isso foi
alegado apenas por aqueles que nunca o
experimentaram por experiência pessoal;
tentamos ambos os lados, os prazeres do mundo
e os prazeres da piedade; e descobrimos que
198
entre eles existe toda a diferença que existe
entre a simples diversão passageira e a
verdadeira felicidade.
Nos dias de nossa alegria e loucura fomos
desviados, agora estamos satisfeitos; então
dissemos, em ansiedade ignorante: "Quem nos
mostrará algum bem?" Não sabendo o que era a
felicidade, nem como se podia obtê-la, mas
ainda supondo que devia ser algo para ser visto,
manuseado ou provado, uma mera satisfação
dos sentidos e dos apetites. Agora, somos
capacitados, inteligentes e contentes, para
dizer: "Senhor, ergue a luz do teu rosto sobre
nós, tu és a fonte da vida, e na tua luz veremos a
luz". Uma vez tivemos alegrias, adequadamente
descritas como "o crepitar de espinhos sob uma
panela", uma mera chama, barulhenta,
fumegante e transitória. Temos agora a
felicidade como "a luz resplandecente, que
brilha cada vez mais até ser dia perfeito". E tudo
isso é apenas a promessa da felicidade perfeita e
eterna que buscamos quando chegarmos "à
presença de Deus, onde há plenitude de alegria
e à sua direita onde há prazeres para sempre."
Tais são as nossas visões do grande objetivo da
existência; e para isto recomendamos agora a
sua atenção mais séria.
Jovens, imploramos que deem a este assunto
sua séria consideração. Vocês, como nós,
199
estamos apenas nos preparando para a viagem
plena de vida. Oh digo, não deveria haver um
plano estabelecido, nenhum propósito formado
para tal curso? A vida será sem objetivo, sem
plano, sem sentido? Que vida? Devemos confiar
em incidentes e baixas à medida que surgem -
para o nosso plano de ação? Podemos flutuar
abaixo da correnteza da existência como os
ramos no rio, e sermos achados à mercê de tudo
que pode se prender a nós? Será mero acaso
formar nosso caráter, selecionar nossos
objetivos, orientar nossa conduta? Lembre-se,
só podemos ter uma vida. Caráter e destino para
este mundo e para o próximo estão envolvidos
nesta vida única. "As rodas do tempo não são
feitas para rodar para trás", nem o experimento
para a eternidade jamais será repetido. Uma
vida desperdiçada nunca pode ser gasta
novamente! Uma falha cometida em relação ao
fim principal da existência nunca pode ser
retificada. É um erro em que a morte estabelece
o selo da eternidade, um erro que exigirá
eternas idades para compreendê-lo e deplorá-
lo.
Se você hesitar sobre nossa escolha do fim da
existência, você nos permitirá respeitosa e
afetuosamente perguntar o que você proporia
em vez disso? O que você achou tão
imensamente valioso, que é mais digno de sua
perseguição do que o que temos colocado diante
200
de você? Se é realmente melhor do que o nosso,
mais merecedor de respeito de um ser racional,
moral e imortal do que a religião e a salvação
eterna, diga-nos, para que possamos subir a
uma maior dignidade e felicidade do que a que
temos ainda alcançado.
Você diz que seu objetivo é "ter sucesso em
negócios e obter RIQUEZA?" Não somos
indiferentes a isto como um objetivo
subordinado, e acreditamos, como já dissemos,
que nossa religião ajudará mais do que nos
impedirá de alcançá-lo. Mas, como um objetivo
supremo da existência - é muito incerto quanto
à sua realização, demasiado insatisfatório
quanto à sua natureza, e muito precário quanto
à sua posse, e de vida demasiado curta quanto à
sua continuidade, para ser o nosso fim supremo.
Nós não vimos muito da vida, mas vimos o
suficiente para aprender que muitos falham nos
negócios, onde se consegue alcançá-los; e que
os poucos que conseguem não parecem ser, de
modo algum, os mais felizes. E também fomos
muitas vezes, infelizmente, impressionados e
afetados pelo espetáculo do competidor bem-
sucedido para negócios e riqueza, cortado pela
morte - quando chegou a hora de desfrutar de
seus ganhos e deleitar-se com facilidade nos
lucros de sua indústria. O anúncio feito ao
homem bem sucedido, felicitando-se em suas
aquisições e suas perspectivas, "Tolo! Esta noite,
201
sua vida será pedida. E as coisas que você
preparou – para quem será?”, tem
frequentemente tocado em nossos ouvidos.
É o PRAZER que você propõe como o fim da
vida? Nenhum homem é menos propenso a
desfrutar prazer do que aquele que vive para ele,
que faz dele um negócio e profissão. Não só
ouvimos e lemos, mas vimos que o gosto pelo
prazer na juventude é o caminho para a pobreza
na idade adulta e a miséria na velhice.
Apresentaríamos aqui uma das cenas mais
afetuosas exibidas até no livro dos mártires das
vítimas do prazer. É tirado do leito de morte
desse poeta consumado, e libertino realizado,
Lord Byron; um homem em quem as paixões
mais sombrias da alma, os poderes mais
elevados da imaginação e as mais grosseiras
propensões da natureza animal do homem,
lutavam pela preeminência. Alguém assim
escreveu sobre ele:
"Ele se sentiu seguro de que sua constituição
corporal havia sido irremediavelmente
arruinada pela intemperança, que ele era um
homem desgastado, e que seu poder muscular
tinha desaparecido. Flashes diante de seus
olhos, palpitações e ansiedades, o afligiam a
cada hora". “Você supõe”, ele disse com
impaciência – “que eu desejo viver? Fiquei
muito farto disto e agora aguardo a hora que
202
tenho que partir. Por que eu deveria regressar a
isto, poderia me dar algum prazer? Poucos
homens podem amar com mais prazer do que
eu fiz. Eu, literalmente falando, um jovem velho.
Tão logo cheguei à idade adulta, eu tinha
atingido o zênite da fama. O prazer que eu
conheci sob todas as formas em que poderia se
apresentar aos mortais Eu tinha viajado,
satisfeito a minha curiosidade, e perdido todas
as ilusões. Eu esgotei todo o néctar no copo da
vida: é hora de jogar fora a escória. Mas, a
apreensão de duas coisas agora assombra
minha mente: imagino-me lentamente
expirando sobre uma cama de tortura, ou
terminando meus dias como um triste idiota!
Seria o céu o dia em que eu encontrasse uma
morte imediata e indolor – isto seria o objetivo
de meus desejos.”
"É com infinito arrependimento", continua o
escritor, "devo afirmar que, embora raramente
deixei o travesseiro de lorde Byron durante a
última parte de sua doença, não o ouvi fazer
qualquer menção, mesmo a menor, de religião
verdadeira. Num momento eu o ouvi dizer: “Vou
pedir por misericórdia?” Depois de uma longa
pausa, ele acrescentou: "Venha, venha, não há
fraqueza. Vamos ser um homem até o fim."
Assim terminou, num sombrio ataque de
infidelidade e desespero. Toda a sua posição,
203
riqueza, gênio tinha sido sacrificada ao
ceticismo - e seus frutos naturais, o vício e a
miséria. Ele tinha feito do prazer o seu deus, e
agora viu em que condição miserável seu deus o
deixou.”
Que antídoto sua morte fornece ao veneno de
sua vida! Há alguma coisa aqui para nos tentar à
infidelidade e ao prazer perverso?
Talvez você proponha o cultivo mental e a aquisição do CONHECIMENTO como o grande
fim da vida. Não dizemos nada contra a aprendizagem, a ciência e as artes. Nós
professamos admirá-los, e ter algum gosto por eles. Nós bebemos em suas nascentes, e muitas
vezes lamentamos amargamente que nossas circunstâncias nos proíbem de participar mais
amplamente de suas águas deliciosas. Mas, então, o que farão por nós, para suprir as
necessidades mais profundas de nossa natureza moral, curar suas doenças ou satisfazer suas
aspirações mais elevadas? Podem obter para nós a renovação de nossos corações corruptos,
o perdão de nossos numerosos pecados, o favor perdido de Deus, o auxílio em nossas lutas pela
santidade, o consolo na escuridão e triste hora da desgraça humana, a orientação entre as
perplexidades da vida, e proteção contra seus perigos?
Ou, como pode ser o caso, deveríamos ser
cortados na doce hora da vida, eles vão ficar de
204
pé ao lado do nosso leito de dor, suavizando seus travesseiros, e nos confortando na perspectiva
do túmulo? Eles nos qualificarão para entrar e habitar com Deus no céu, e participar das glórias
da imortalidade? Será que, ao olhar para a vida tão cedo chegamos ao fim e ao olhar para a
eternidade tão perto, sentimos que ao estudarmos a ciência e negligenciando a verdadeira religião, respondemos ao fim da
vida?
Mas, talvez sua ambição tenha um objetivo
menor, um alcance mais estreito, e você tenha
estabelecido a sua marca mais alta em
FELICIDADE DOMÉSTICA, e sentir que ao obter
uma casa confortável e compartilhá-la com a
mulher de sua escolha e do seu amor, você
alcançaria o ápice de sua ambição, e nem
olharia e nem desejaria nada além. Isso, em
subordinação à verdadeira religião, é uma
moderação sábia, uma modesta ambição. Mas,
em lugar da piedade, é um objetivo pequeno e
terreno. Quão logo, se adquirido, esse pequeno
paraíso terrenal é quebrado pela intrusão da
pobreza ou da morte! Além disso, o que é tão
provável para garantir este objetivo como o que
recomendamos? É só sobre a linda cena de uma
casa piedosa que a bela tensão da poesia antiga
ainda pode ser derramada, "Quão formosas são
as tuas tendas, Jacó, e as tuas tendas, Israel,
como vales são espalhados, como jardins à beira
205
do rio, como aloés que o Senhor plantou, como
cedros ao lado das águas."
Provem-se a si mesmos e examinem suas
próprias características, e também em
contraste com tudo o que pode ser posto em
competição com isto, a verdadeira religião se
mostra ser o que realmente é, e nós mesmos
achamos que seja - o fim principal, o bem
principal, e portanto, o negócio principal da
vida.
Para ajudar uns aos outros na busca deste
objetivo, nós, que enviamos esta palavra,
estamos associados na fraternidade e na
comunhão. O propósito de nossa associação não
é científico - que pode ser buscado, e deve ser
procurado, em outras associações. Nem é
político, sobre este assunto temos nossas
opiniões, e como elas podem em alguma
medida diferir, não discutimos esse tema
espinhoso. Nem é comercial, ganhamos nosso
conhecimento de tudo relacionado com o
comércio por leitura solitária e atendendo aos
nossos negócios, seja qual for, no cenário de
nossa ocupação diária. Nem podemos
verdadeiramente afirmar, que seja sectário,
pois somos membros de diferentes
comunidades de cristãos, que, sem sacrificar ou
comprometer nossas convicções conscientes e
práticas usuais, concordamos em nos unir para
206
um objetivo comum, com base em grandes
princípios declarados Por todos nós, e presos
uns aos outros pelo vínculo da bondade e da
caridade fraterna. Já tínhamos aprendido, a
partir de muitas provas ao nosso redor, a
possibilidade de união sem compromisso, e
agora experimentamos, "quão bom e agradável
é que os irmãos vivam juntos em unidade".
Temos a convicção de que nenhum sentimento
deve impedir os cristãos professos de se unirem
uns aos outros de alguma forma, o que não os
impede de se unirem a Cristo.
Dizemos, pois, a vocês como Moisés fez a seu
sogro: "Estamos caminhando para o lugar de que
o Senhor disse, eu o darei a vós. Vem conosco, e
nós o faremos, porque o Senhor falou bem a
Israel." E nós pensamos que seria feliz para você,
se você respondesse na linguagem de Rute a
Noemi, "Aonde você for eu irei - seu povo será
meu povo e seu Deus meu Deus."
No entanto, nosso principal objetivo não é atraí-
lo para dentro do círculo "de nossa sagrada
associação", como o julgamos, pois isso não lhe
faria bem, nem promoveria o fim de nossa união
ou estaria de acordo com suas leis, a menos que
você tenha sido atraído a Deus pela fé em Jesus
Cristo. É este último fim que é o nosso principal
objetivo. Tendo descoberto o segredo
abençoado de que a religião genuína é o guia
207
mais seguro do jovem, bem como a bem-
aventurança mais segura, desejamos
comunicar-lhe o segredo e guiá-lo à fonte da
pura felicidade. Como já dissemos - uma vez que
ignorávamos isso, mas agora os olhos de nosso
entendimento estão abertos, e na plenitude de
nossa admiração, gratidão e amor, sentimos que
não podemos mais dignamente magnificar a
Deus, pela sua graça para nós, ou mais
aceitavelmente servi-lo - do que por um esforço
torná-los compartilhadores de nossa felicidade.
Quando Sir Walter Scott estava em sua última
doença, disse a seu genro: "seja um homem
piedoso, leia-me". – “Que livro, senhor?” Com
um olhar de surpresa, quase de repreensão, o
romancista moribundo e poeta disse: "Só há um
livro que me serve agora." Que prova triste e que
melancólica instância da instabilidade e
insatisfação de toda a grandeza terrena fazem as
cenas finais da vida deste grande homem e a
história póstuma de sua família! Quando no
auge de sua fama, os reis poderiam invejá-lo; e
quando na decadência de sua fortuna e sua vida,
embaraçado em circunstâncias, e quebrado em
espírito, seus inimigos, se ele tivesse qualquer,
poderiam ter pena dele. Vá imaginar as
pitorescas ruínas da Abadia de Dryburgh e,
como se ouve, entre os arcos quebrados, o
sussurro da hera, os gemidos da brisa e as notas
lamentáveis que cantam o seu requiem,
208
escutem outro som que vem sobre aquele ponto
solene, os ecos despertados das palavras
impressionantes de Salomão, "Vaidade de
vaidade, tudo é vaidade!" Tudo, exceto uma
coisa, a verdadeira religião. Tome o conselho
desse homem extraordinário, "seja um homem
piedoso." E poderia falar-lhe do mundo para o
qual seu espírito elevado passou, com uma
ênfase muito mais profunda ele diria, "Seja um
homem piedoso". Nessa curta sentença está
compreendida a mais verdadeira sabedoria, a
mais verdadeira dignidade, a mais genuína
filosofia, a mais pura felicidade, a maior honra
imperecível - do que se poderia aprender com os
cem volumes de sua caneta enfeitiçadora.
Fique de acordo com as VANTAGENS que
possui para perseguir, adquirir e desfrutar deste
principal fim de vida. Estamos na manhã e,
portanto, no frescor da existência. O orvalho de
nossa juventude repousa sobre nós, que brilha
com o sol da manhã, suaviza o solo de nossa
mente e torna nossas faculdades mais
receptivas e ativas. Temos todas as
susceptibilidades e sensibilidades da nossa
natureza, na sua condição mais impressionável
e excitável. Nosso coração, imaginação,
consciência, memória, são todos vigorosos, mas
ternos. Que vantagem para conhecer, procurar
a verdade, praticar a piedade e desfrutar da paz
que passa pela compreensão. A verdadeira
209
religião, quanto às suas evidências, apela por
uma poderosa lógica ao intelecto; mas, no que
diz respeito à sua natureza, enche a imaginação
com uma poesia Divina, e o coração com um
entusiasmo santo e moderado.
Nem isso é tudo. A nossa idade e as
circunstâncias nos libertam da urgência do
cuidado e da pressão da ansiedade, que são o
negócio do homem em todos os momentos,
especialmente nestes, que vemos
experimentados por aqueles em cujo serviço
estamos engajados e que, é evidente, estão entre
os maiores obstáculos e inimigos da piedade. É
verdade que temos nossas tarefas diárias e
trabalhos a realizar, e podemos encontrar pouco
lazer, entre a pressa de negócios, para a reflexão
piedosa. Mas, deixamos nossos cuidados na loja,
e a noite é nossa - aliviando-nos, em parte, da
pressão extrema e do efeito exaustivo do
trabalho sob o qual estávamos acostumados a
sofrer, e pelo qual estávamos todos, senão
absolutamente impróprios para melhoria
mental geral ou exercícios piedosos. Mas, olhe
para os nossos empregadores. Eles nunca estão
livres de cuidados; que os seguem da loja para o
salão, e do salão para o quarto; muitas vezes
impedem o seu sono, porque torna impotente
esta injunção: "Longe de meus pensamentos,
mundo vão, vá, deixe-me em minhas horas
piedosas sozinho."
210
É este o tempo, e são estas as circunstâncias aos
quais você referiria para consideração dos casos
momentosos da alma? "Lembra-te, pois, do teu
Criador nos dias da tua mocidade." A verdadeira
piedade proteger-te-á das armadilhas às quais
os jovens estão sempre e em todos os lugares
expostos: ela te consolará na tristeza, te animará
na solidão, te guiará na perplexidade. Falamos
por experiência, pois fez tudo isso por nós.
E há outra coisa que fará por ti: te salvará de
fazer mal, e te capacitará a fazer o bem.
Ninguém será envenenado por seus princípios,
nem seduzido por sua tentação, nem
corrompido por seu exemplo. "Minha crueldade
assassinou minha esposa, meus princípios
corromperam meu amigo, e minha
extravagância sujou meu menino," era a
confissão agonizante e remorso de um infiel e
de um libertino morrendo. Que mal que você
pode fazer, que ruína você pode causar, se você
não é piedoso - você não pode conceber e se
estremeceria em saber. Mas, por outro lado, a
piedade verdadeira fará necessariamente
filantropos. Você imitará Aquele de quem é tão
simplesmente, mas tão sublimemente dito, "Ele
andou fazendo o bem."
Agora este será seu empenho se você temer a
Deus. Vocês, de uma maneira ou de outra,
procurarão fazer os homens maus serem bons e
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os homens melhores. Todos nós deveríamos
ministrar de alguma forma - alguns como
professores de escola dominical, outros como
distribuidores de literatura religiosa, outros em
comitês de várias instituições religiosas.
Sentimos imediatamente o nosso dever, honra e
bem-aventurança em estar assim ocupados.
Venha e junte-se a nós nestas obras de
misericórdia e trabalhos de amor. Tudo nesta
era maravilhosa chama à ação benevolente. A
voz de Deus e os tempos dizem: "Façam alguma
coisa, façam". Pegue a inspiração do comando e
determine-se deixar o mundo melhor do que
você o encontrou.
Nós agora trazemos esta palavra para um fim,
lembrando-lhe que não pode haver nenhum
tempo a perder para alguns de vocês em colocar
sua mente neste tema momentoso. Não há nada
mais certo do que a morte; não há nada mais
incerto do que a vida. "Os jovens são tão mortais
quanto os idosos." Não presumimos ter longa
vida. Todos seguimos jovens companheiros até
o túmulo; e logo outros nos seguirão até nossos
túmulos. Este ano será, sem dúvida, o último
para alguns que devem ler estas páginas. Muitos
morreram no ano passado, não apenas pela
espada do anjo destruidor sob a forma de peste
que passou sobre nossa terra, mas pelos meios
comuns da morte. Ali estão eles "na
congregação dos mortos". E onde estão eles?
212
Milhares mais este ano seguirão outros
milhares que os precederam até o túmulo. Não
nos sintamos seguros porque a misteriosa e
terrível epidemia que tem lotado tanto nossos
cemitérios foi retirada. A cólera não é a única
arma que a morte emprega no trabalho de
destruição. A metade da juventude britânica é
varrida anualmente pela morte, como o número
inteiro de pessoas de todas as idades que foram
levadas pela pestilência. Oh, para aqueles que
estão preparados, é uma coisa sublime morrer;
eles começarão o ano na terra e terminarão no
céu! Mas, quão indescritivelmente horrível é o
inverso!
É um pensamento consolador e encorajador que
não requer setenta anos para assegurar o
grande objetivo da vida. Às vezes vimos um
jovem de boas perspectivas na vida, possuindo
bons talentos melhorados pela educação e, em
todos os aspectos, prometendo a seus amigos e
à sociedade, cortados pela morte apenas no
começo de sua carreira, e estavam prontos a
exclamar "infelizmente, que decepção! Ele viveu
em vão, e por sua remoção precoce perdeu a
finalidade da vida. Cortado como uma flor na
primavera antes de suas pétalas terem
totalmente desabrochado - de que vantagem
para si ou para os outros foi a sua breve
permanência em nosso mundo?" Podemos
poupar as nossas lamentações, no que se refere
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ao seu próprio assunto. Aquele jovem era
participante da graça de Deus; ele se lembrava
de seu Criador nos dias de sua juventude, e
assim tinha alcançado o fim principal da
existência, tão verdadeiramente como se
tivesse vivido até sessenta anos ou mais. Ele
tinha assegurado "a única coisa necessária". Ele
havia obtido a salvação de sua alma. Que porção
maior ou melhor ele poderia ter obtido se ele
tivesse vivido até a idade de Matusalém? No seu
caso, houve apenas um corte do tempo na terra
para ser adicionado à eternidade, e apenas uma
estada mais curta na terra para uma habitação
mais longa no céu.
Mas, agora, volte-se para outro exemplo,
queremos dizer de um indivíduo que viveu seus
oitenta anos, e morreu, finalmente, sem
verdadeira religião. Ele pode ter adquirido
riquezas e deixou sua família em abundância;
ele pode ter adquirido um nome e obtido um
nicho para sua estátua no templo da fama; ele
pode ter ganhado o respeito por seus talentos
enquanto ele viveu, e por sua memória quando
morto; e ele pode ter deixado um rico legado
para a posteridade, em obras de utilidade
pública. Mas, na medida em que negligenciou
glorificar a Deus por uma vida de religião, viveu
em vão em relação ao mundo eterno. O sublime
fim da existência se perdeu; e no primeiro
momento de seu despertar em outro mundo,
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exclamaria: "Perdi a minha vida, pois perdi a
alma!" Ele cometeu um erro fatal que requer
uma eternidade para entender - e uma
eternidade para deplorar! Daquele engano Deus
pode nos preservar em sua grande misericórdia,
trazendo-nos com inteligência clara, resolução
deliberada, propósito inflexível para adotar e
sempre manter a escolha do apóstolo de um
objetivo de existência e dizer, em referência à
salvação de nossa alma imortal – “essa única
coisa eu faço!”