com giz e laptop o projeto conexÃo professor e a prÁtica pedagÓgica .pdf
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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
COM GIZ E LAPTOP:
O PROJETO CONEXÃO PROFESSOR E A PRÁTICA PEDAGÓGICA
ADRIANO VARGAS FREITAS
Petrópolis, RJ - setembro de 2009
2
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
COM GIZ E LAPTOP:
O PROJETO CONEXÃO PROFESSOR E A PRÁTICA PEDAGÓGICA
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado
em Educação da Universidade Católica de
Petrópolis como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre.
Mestrando
Adriano Vargas Freitas
Orientadora:
Prof.a Dr.
a Lígia Silva Leite
Petrópolis
2009
3
Bibliotecária Responsável : Antonieta Chinelli Souto.
F866c
Freitas, Adriano Vargas.
Com giz e laptop : o projeto Conexão Professor e prática pedagógica. /
Adriano Vargas Freitas.
Petrópolis : Universidade Católica de Petrópolis, Mestrado em
Educação, 2009.
194p.
Orientadora : Lígia Silva Leite.
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Educação da
Universidade Católica de Petrópolis como requisito parcial da obtenção
do título de Mestre, 2009.
1. Tecnologias da informação. 2. Comunicação. 3. Alfabetização
tecnológica do professor. 4. Projeto Conexão Professor. I. Leite, Lígia
Silva. II. Com giz e laptop.
CDD 370
4
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS
Faculdade de Educação
Curso de Mestrado em Educação
COM GIZ E LAPTOP:
O PROJETO CONEXÃO PROFESSOR E A PRÁTICA PEDAGÓGICA
Mestrando: Adriano Vargas Freitas
Orientadora: Prof.a Dr.
a Lígia Silva Leite
Petrópolis, 28 de setembro de 2009
Banca Examinadora:
___________________________________________________________
Prof.a Dr.
a Lígia Silva Leite
___________________________________________________________
Prof.a Dr.
a Maria Celi Chaves Vasconcelos
___________________________________________________________
Prof.a Dr.
a Lia Ciomar Macedo de Faria
5
DEDICATÓRIA
Por todo o apoio nas muitas horas em que estive envolvido nesta pesquisa, pela
presença (ou lembrança) que conforta, pelo incentivo incessante, este trabalho dedico a
vocês:
Aos meus pais Abel José Vargas Freitas e Isis Vargas Freitas (in
memoriam). Uma singela homenagem como forma de retribuir o amor
incondicional com que me cercaram. Obrigado pela educação, pelo
incentivo e carinho.
A Sidnei Percia da Penha pelo companheirismo e cumplicidade
constante. Mais uma vez me fez acreditar que era possível.
À minha mestra e orientadora, Dra. Lígia Silva Leite que desde o
primeiro instante acreditou na viabilidade desta empreitada. Mesmo nos
momentos em que tudo parecia incerto, transmitiu-me força, paciência e
determinação. Obrigado por tudo que me ensinou e por todo o convívio
afetivo.
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Dra. Maria Celi Chaves Vasconcelos pelas contribuições
imprescindíveis para a construção desta pesquisa. Obrigado pelas valiosas sugestões
bibliográficas e pelas ideias relacionadas à pesquisa nos meandros das políticas públicas.
Agradeço a Marcelo Monteiro Bandeira por toda a demonstração de amizade e
companheirismo. Obrigado pelas leituras, sugestões e pelo inestimável apoio em todas as
etapas de construção deste trabalho.
Agradeço a Dra. Vera Rudge Werneck pela participação no Exame de
Qualificação desta pesquisa.
Agradeço ao Dr. Antônio Flávio Barbosa Moreira e aos demais professores do
curso de Mestrado em Educação da Universidade Católica de Petrópolis, pelo carinhoso
acolhimento.
Agradeço a Ana Paula de Oliveira Brito e Daise das Neves Mussel por
proporcionarem valiosos subsídios relacionados à nossa pesquisa documental. Obrigado
por todo o apoio.
Agradeço ao professores Rodrigo Ventura e Guilherme Hartung, cujas
entrevistas nos serviram para conhecer pioneiros projetos petropolitanos relacionados ao
uso de novas tecnologias no ambiente escolar.
7
Agradeço ao demais professores que participaram desta pesquisa, respondendo a
questionários, concedendo entrevistas e oferecendo sugestões.
Agradeço aos meus colegas de curso pelo companheirismo e incentivo: Alberto
Alvarães, Lenise Souza, Arcanjo Delguel, Ana Cecília, Vanildes Vieira, Valéria
Regina e tantos outros que se fizeram presentes em diversos momentos desta caminhada.
8
RESUMO
COM GIZ E LAPTOP:
O PROJETO CONEXÃO PROFESSOR E A PRÁTICA PEDAGÓGICA
O presente estudo trata da análise sobre a prática pedagógica dos professores da
rede estadual de ensino do Rio de Janeiro a partir da implementação do projeto Conexão
Professor. Tal projeto, desenvolvido e implementado pela Secretaria de Educação deste
estado, consistiu na entrega inicial de 31000 laptops em regime de comodato aos docentes
da rede. Através de ampla análise documental, foi possível acompanhar o caminho
percorrido pelo projeto e os debates que o envolveram, realizados na Alerj e no Sindicato
dos professores. A base teórica utilizada na análise de alguns elementos que influenciam
diretamente a prática pedagógica dos profissionais da educação encontra-se nos trabalhos
de Sampaio e Leite, Sancho e Hernández, Lévy, Freire dentre outros autores. Para a
pesquisa de campo, selecionamos uma escola situada na cidade de Petrópolis-RJ, na qual
desenvolvemos um levantamento de campo (survey) através da aplicação de questionários a
vinte e sete professores que receberam o laptop. Os dados obtidos nesses questionários nos
serviram de base para a seleção de dois informantes-chave que foram entrevistados. São
apresentadas ainda mais quatro entrevistas com outros profissionais da Educação cujos
posicionamentos e ideias auxiliaram no entendimento de pontos relacionados ao uso das
novas tecnologias no ambiente escolar. Uma das conclusões possíveis é a crescente
percepção de que o uso de novas tecnologias pode facilitar e ampliar o trabalho docente,
tornando-o mais colaborativo; mas é imprescindível que seja oferecida a esse docente uma
capacitação para a utilização de forma crítica e autônoma desses recursos.
Palavras-chave: Tecnologias da Informação e Comunicação, Alfabetização Tecnológica do
Professor, Projeto Conexão Professor.
9
ABSTRACT
USING CHALK AND LAPTOP: THE PROJECT “CONEXÃO PROFESSOR” AND
THE PEDAGOGICAL PRACTICE
This study presents an analysis of the pedagogical practice of teachers from public
school in the state of Rio de Janeiro since the project “Conexão Professor” was
implemented. This project, developed and carried out by the Rio de Janeiro Board of
Education, consisted of initially delivering 31000 laptops to their teachers, through a
lending scheme. By a thorough analysis of documents, it was possible to observe the
development of the project and the debates on it, which took place at Allerj and the Union
of teachers. In order to analyse some elements that have a direct influence on the
professional’s pedagogical practice, we based our study on Sampaio and Leite, Sancho and
Hernández, Levi, Freire’s Works, among other author’s. A public school in Petrópolis was
selected for the field survey and twenty-seven of their teachers who received the laptop
were selected to reply to a questionnaire. The data obtained from the survey provided us
with means to select two important informers, who were chosen to be interviewed. This
study also includes four more interviews with educators whose ideas and opinions helped
us understand aspects involving the use of technology at school. It was possible to conclude
the there is a growing awareness of how technology can facilitate and enrich the teacher’s
work, also making it more collaborative; however, it is essential that these teachers be
given systematic training so that they will be prepared to use these resources in an
independent and critical way.
Key words: Information and Communication Technologies, Technology Literacy of
Teachers, Project “Conexão Professor”.
10
LISTA DE SIGLAS
ABE - Associação Brasileira de Educação
ABI - Associação Brasileira de Imprensa
ABL - Academia Brasileira de Letras
ABMES - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior
ABT - Associação Brasileira de Tecnologia Educacional
ALERJ - Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro
ANDHEP - Associação nacional de Direitos Humanos, Pesquisas e Pós-Graduação
ANFOPE - Associação Nacional pela Formação de Profissionais da Educação
APE - Associação Petropolitana de Estudantes
APERJ - Associação dos Professores do Estado do Rio de Janeiro
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CdTE - Coordenação de Tecnologia Educacional
CEDERJ - Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro
CEE - Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro
CEP - Centro de Professores do Rio de Janeiro
CNE - Conselho Nacional de Educação
CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
CPI - Comissão Parlamentar de Inquérito
CTI - Ciência, Tecnologia e Inovação
DOM-RJ - Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro
ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio
ETIC - Encontro de Educação e Tecnologias da Informação e Comunicação
FUNDEB - Fundo de manutenção e Desenvolvimento da Economia Básica
GESAC - Governo Eletrônico e Serviço de Atendimento ao Cidadão
GLP - Gratificação por Lotação Prioritária
GSM - Sistema de padrão Móvel Global
GT - Grupo Temático
11
ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação
MEC - Ministério da Educação e Cultura
MERLIN - Monitoring and Evaluation of Research in Learning Innovations
MSN - Microsoft Network
ONG - Organização não Governamental
PCI - Projeto Computadores para Inclusão
PDE - Programa de Desenvolvimento da Educação
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PRODERJ - Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Est. Rio de Janeiro
PROINFO - Programa Nacional de Informática na Educação
SAEB - Sistema de Avaliação da Educação Básica
SEEDUC - Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro
SEP - Sociedade Estadual dos Professores
SEPE-RJ - Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro
SMS - Short Message Service
TIC - Tecnologias de Informação e Comunicação
UBES - União Brasileira de Estudantes
UDIME-RJ - União dos Dirigentes Municipais de Educação do Rio de Janeiro
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UPERJ - União dos Professores do Rio de Janeiro
UPPES - União dos Professores Públicos do Estado
12
LISTA DE FIGURAS
Pág.
Figura 1 - Número e percentual de matrículas em toda a rede de Ensino Médio
do Estado do Rio de Janeiro, por dependência administrativa........................
62
Figura 2 - Funções docentes de acordo com a abrangência administrativa...................
66
Figura 3 - Distribuição das idades dos professores que participaram da pesquisa........
99
Figura 4 - Número de anos trabalhados na rede estadual de ensino..............................
101
Figura 5 - Carga horária semanal dos professores em sala de aula...............................
102
Figura 6 - Opinião dos professores sobre a eficácia dos cursos de capacitação
para o uso do computador oferecidos pela SEE-RJ.........................................
104
13
LISTA DE TABELAS
Pág.
Tabela 1 - Proporção de professores, segundo a frequencia de realização de
outras atividades........................................................................................
45
Tabela 2 - Proporção de professores, por renda familiar mensal, segundo a
existência de computador em casa............................................................
46
Tabela 3 - Proporção de professores, por dependência administrativa da escola,
segundo opinião sobre temas a serem tratados na escola..........................
46
Tabela 4 - Proporção de professores, por renda familiar mensal, segundo opinião
sobre os efeitos das novas tecnologias de informação sobre a educação..
47
Tabela 5 - Estabelecimentos com Ensino Médio - Ano 2006..................................
63
Tabela 6 - Número de funções docentes em exercício, por dependência
administrativa, segundo a região geográfica e a unidade da Federação,
em 29/03/2006...........................................................................................
65
Tabela 7 - Número de funções docentes por níveis de ensino................................
66
Tabela 8 - Funções docentes / níveis de formação...................................................
67
Tabela 9 - Disciplinas ministradas pelos docentes...................................................
99
Tabela 10 - Distribuição dos docentes por áreas de conhecimento............................
100
Tabela 11 - Indicações dos professores sobre o que é necessário para que haja a
inclusão de novas tecnologias em sua prática pedagógica........................
106
Tabela 12 - Indicações dos professores sobre os motivos de nunca utilizar o laptop
nas tarefas docentes em sala de aula..........................................................
108
Tabela 13 - Indicações dos professores sobre as principais atividades realizadas
em sala de aula em que utilizam o laptop..................................................
109
Tabela 14 - Indicações dos professores sobre vantagens que tem verificado em seu
trabalho pedagógico a partir do uso do laptop com acesso à internet.......
110
14
Tabela 15 - Indicações dos professores sobre vantagens que tem verificado em seu
trabalho pedagógico a partir do uso do laptop com acesso à internet -
Respostas agregadas..................................................................................
111
Tabela 16 - Indicações dos professores sobre o grau de importância do uso do
laptop no desenvolvimento das atividades pedagógicas...........................
112
Tabela 17 - Indicações dos professores sobre o quanto costuma utilizar o laptop
em suas tarefas docentes fora de sala de aula............................................
113
Tabela 18 - Indicações dos professores sobre as principais atividades docentes
realizadas fora de sala de aula em que utilizam o laptop..........................
113
Tabela 19 - Indicações dos professores sobre as principais atividades não docentes
em que utilizam o laptop...........................................................................
114
Tabela 20 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 1...............................
115
Tabela 21 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 2...............................
116
Tabela 22 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 3...............................
116
Tabela 23 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 4...............................
117
Tabela 24 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativas 5 a 8........................
118
Tabela 25 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 9...............................
118
Tabela 26 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 10.............................
119
Tabela 27 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativas 11 e 12....................
120
Tabela 28 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 13.............................
120
Tabela 29 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 14.............................
121
Tabela 30 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativas 15 e 16....................
121
15
SUMÁRIO
Pág.
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
1.1 - Considerações iniciais .....................................................................................
18
1.2 - A sociedade tecnológica .................................................................................
21
1.3 - Objetivos, metodologia e justificativa de nossa pesquisa ..............................
24
CAPÍTULO 2 - A EDUCAÇÃO E A ESCOLA NA SOCIEDADE
TECNOLÓGICA
2.1 - Formar o cidadão globalizado e incluído na sociedade tecnológica................
30
2.2 - Novos currículos para escolas interativas .......................................................
34
2.3 - Projetando uma escola onde caiba o mundo ...................................................
38
2.4 - O professor brasileiro e a sociedade tecnológica ............................................
44
2.5 - Homo Sapiens, Homo Faber ou Homo Zappiens? .........................................
50
2.6 - As políticas públicas e os novos papéis do professor .....................................
53
CAPÍTULO 3 - O PROJETO CONEXÃO PROFESSOR
3.1 - Breve panorama das escolas e dos professores da rede estadual
de ensino do Rio de Janeiro ............................................................................
60
3.2 - Conexão Professor: implementação do projeto, história e embates................
71
3.3 - A reação do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de
Janeiro ao projeto Conexão Professor ...........................................................
80
3.4 - Algumas vozes, no Plenário e no Governo .....................................................
84
3.5 - A voz do Professor ..........................................................................................
88
16
CAPÍTULO 4 - PESQUISA DE CAMPO
4.1 - Características da Escola selecionada..............................................................
95
4.2 - Primeira parte da pesquisa de campo: Questionários......................................
96
4.3 - Análise dos dados colhidos nos questionários.................................................
98
4.4 - Segunda parte da pesquisa de campo: Entrevistas...........................................
123
4.4.1 - Entrevista: Professor 13...................................................................................
125
4.4.2 - Entrevista: Professor 6.....................................................................................
129
4.4.3 - Entrevista: Professor que não recebeu o laptop seguindo determinação do
SEPE................................................................................................................
132
4.4.4 - Entrevista: Diretora da unidade escolar...........................................................
138
4.4.5 - Entrevista extra: Professor Rodrigo e o projeto “Quadro Digital”..................
141
4.4.6 - Entrevista extra: professor Guilherme e o projeto “Fractais Multimídia”.......
145
4.5 - Considerações a respeito das entrevistas.........................................................
149
CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES E ALGUMAS RECOMENDAÇÕES...................
152
5.1 - Quais foram os objetivos traçados pela SEEDUC-RJ ao desenhar o projeto
de entrega de laptops aos professores de sua rede?.........................................
154
5.2 - Qual o caminho percorrido pelo projeto, quanto à origem dos recursos e
debates realizados?..........................................................................................
155
5.3 - Quais as habilidades e competências necessárias ao professor para que
inclua novas tecnologias em sua prática pedagógica?.....................................
156
5.4 - Que apoio está sendo oferecido pela SEEDUC-RJ aos seus professores para
que estes possam incluir esta nova tecnologia em seu trabalho?.....................
158
5.5 - Que modificações ocorreram na prática pedagógica docente a partir deste
projeto?............................................................................................................
159
5.6 - Considerações finais........................................................................................
162
17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................
165
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO..............................................................................
173
APÊNDICE B - ROTEIRO BASE DA ENTREVISTA..............................................
178
ANEXO I - DOCUMENTOS
Documento 1 - Diário Oficial: Projeto Conexão Professor.............................
179
Documento 2 - Termo de recebimento, guarda e responsabilidade do laptop.
181
Documento 3 - Carta do Governador aos Professores.....................................
182
Documento 4 - Carta do SEPE-RJ...................................................................
183
Documento 5 - Circular SEEDUC-RJ.............................................................
185
Documento 6 - Panfleto distribuído à população fluminense pelo SEPE-RJ..
186
Documento 7 - Nota Fiscal de compra do laptop e seus acessórios enviada à
unidade escolar................................................................................................
188
Documento 8 - Resolução SEEDUC-RJ dispondo sobre a inclusão de
professores docentes II, diretores e coordenadores regionais no projeto
Conexão Professor...........................................................................................
189
ANEXO II - TELAS DE APRESENTAÇÃO
TELA 1 - Imagem inicial do curso oferecido através de CD-Rom.................
193
TELA 2 - Página da SEEC-RJ que apresenta o serviço “tira dúvidas”...........
194
TELA 3 - Página no Portal da Coordenação de Tecnologia Educacional.......
195
TELA 4 - Página principal do Portal Conexão Professor................................
196
TELA 5 - Página principal da Fractais Multimídia.........................................
197
TELA 6 - Página principal do Portal Conexão Aluno..................................... 198
18
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
“Onde estão as fronteiras,
senão nos limites de nossa própria visão?”
Frei Betto, 1997
1.1 - Considerações iniciais
De acordo com Perrenoud (1999, p.15), “a evolução do mundo, das fronteiras, das
tecnologias, dos estilos de vida requer uma flexibilidade e criatividade crescentes dos seres
humanos”, características consideradas fundamentais ao indivíduo incluso em uma
sociedade marcada pela aceleração na troca de informações, no fluxo de pessoas e
comércio, dentre outras. A missão de proporcionar um ambiente favorável ao
desenvolvimento de tais características, além do diálogo, da reflexão e da descoberta,
destinada em geral à escola, não deve necessariamente ser encarada como uma utopia, mas
como uma possibilidade real e prioritária onde se possa trabalhar o “desenvolvimento da
inteligência como capacidade multiforme de adaptação às diferenças e às mudanças”
(PERRENOUD, 1999, p.15). Essas mudanças de um mundo em constante avanço
tecnológico exigem, cada vez mais, que os professores se tornem profissionais capazes de
“lidar com inúmeros desafios suscitados pela escolarização de massa em todos os níveis de
ensino” (TARDIF, 2007, p.114). E o professor, profissional da Educação, vem lidando
diretamente com as tensões e problemas de nossa época, ao mesmo tempo em que sua
categoria profissional vem sendo socialmente desvalorizada e perdendo prestígio
(FERREIRA & BITTAR, 2006, p. 1162), embora ainda ocupe uma posição estratégica em
um mundo onde a informação1 é cada vez mais de fácil acesso. Vivemos em um mundo
1 Utilizamos o conceito de Informação como sendo o “esclarecimento, explicação, indicação ou informe” e
ainda, “acontecimento ou fato de interesse geral tornado do conhecimento público pelos meios de
comunicação, notícia” (Houaiss, 2009).
19
globalizado, onde as barreiras físicas das escolas, das bibliotecas e de qualquer outro prédio
que abrigue formalmente os saberes, caem de forma a derramar para quem se dispuser a
coletar todo o conhecimento2 acumulado pelo ser humano, em todas as áreas do
conhecimento. Hoje, o local onde é fácil encontrar toda essa gama de informação vem
sendo chamado por alguns autores de ciberespaço.
O ciberespaço, interconexão dos computadores do planeta, tende a tornar-
se a maior infraestrutura da produção, da gestão, da transação econômica.
Em breve, constituirá o principal equipamento coletivo internacional da
memória, do pensamento e da comunicação. (LÉVY, 2008).
Esta facilidade ao acesso e produção da informação, que é hoje uma das
características mais dominantes neste novo mundo, interfere diretamente na necessidade de
uma análise sobre o papel da escola, do currículo e, em especial, do profissional que irá
atuar nesta escola. A formação recebida por este profissional terá sido suficiente para que
ele se sinta à vontade para lidar com estas novas formas de comunicação?
É necessário e urgente que se busquem formas consistentes de inclusão digital deste
professor, e consequentemente de seu aluno, e que esta nova tecnologia não seja vista
apenas como um modismo moderno, ou mesmo como uma solução para todos os males,
pois como afirma Buckingham (2008, p. 9), os meios digitais têm “enorme potencial para o
ensino, mas é difícil realizar este potencial se eles são considerados apenas tecnologias, e
não formas de comunicação”. Possibilitar inclusão digital mais abrangente parece de fato
ser mais um dos grandes desafios que o sistema educacional brasileiro deve transpor e que
nenhuma equipe que desenvolve políticas educacionais deve ignorar, pois são muitos os
contrastes e desníveis a serem vencidos nesta área.
Na tentativa de entendermos de que forma os elementos e atores envolvidos direta
ou indiretamente no processo de ensino-aprendizagem podem ser afetados a partir da
utilização das novas tecnologias, em especial o computador e a internet, desenvolvemos a
pesquisa que ora apresentamos. Este trabalho tem como objetivo analisar as possíveis
mudanças na prática pedagógica dos professores da rede estadual de ensino do Rio de
Janeiro que receberam em 2008 um laptop da Secretaria Estadual de Educação (SEEDUC-
2 Utilizamos o conceito de Conhecimento proposto por Houaiss (2009) em nosso estudo: “ato ou atividade
de conhecer, realizado por meio da razão e/ou da experiência”. Segundo Winch e Gingell (2007), “o
conhecimento tem um a ligação necessária com a verdade, e por causa disso, atingir o conhecimento é,
essencialmente, uma atividade teórica” (p. 51), ou seja, uma aquisição de mais e mais verdades.
20
RJ) em regime de comodato, para uso na sala de aula e fora dela. Este projeto foi
denominado pela SEEDUC-RJ de Conexão Professor.
De modo a possibilitar as respostas às questões de estudo que posteriormente serão
apresentadas e consequentemente atingir o objetivo exposto, organizamos o presente
trabalho da seguinte maneira:
No Capítulo 1, após a apresentação de um breve panorama histórico das
tecnologias, trataremos dos objetivos, da metodologia e da justificativa de nossa pesquisa.
O capítulo 2 é destinado a análises de alguns elementos e atores envolvidos na
pesquisa, tais como a formação do cidadão globalizado e incluído na sociedade tecnológica,
currículos para a nova escola, formação do professor e a influência das políticas públicas
sobre a Educação escolar.
O capítulo 3 inicia-se com um panorama da situação das escolas estaduais do Rio de
Janeiro e dos professores que atuam nestas escolas, para reconhecermos o ambiente e os
atores, alvos diretos do Projeto Conexão Professor. Pelo fato de este projeto - a entrega de
um laptop ao professor da rede estadual de ensino - ter gerado calorosas discussões,
incluímos neste capítulo algumas falas de Deputados Estaduais, além de posicionamentos
do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação e de alguns professores que se
utilizaram do ambiente virtual para divulgarem suas opiniões sobre tal projeto.
No capítulo 4 é apresentada a pesquisa de campo, as entrevistas com professores e
direção de escola pertencente à rede estadual de ensino e as análises sobre os dados
colhidos.
Por fim, encontramos no capítulo 5 algumas conclusões possíveis, tendo por base o
material coletado e os referenciais teóricos selecionados, além de algumas recomendações
que julgamos convenientes para que projetos semelhantes ao Conexão Professor alcancem
seus objetivos.
21
1.2 - A sociedade tecnológica
Pelo fato de nossa pesquisa se orientar por objetivos diretamente ligados à
revolução tecnológica e à influência desta revolução no ambiente escolar e na prática
pedagógica do professor, apresentaremos um breve panorama das importantes descobertas
científicas e a acelerada escalada de invenções e inovações neste campo, pois, tão antigas
quanto a espécie humana, as tecnologias têm garantido ao homem um processo crescente de
inovações nos diversos campos do conhecimento, possibilitando aumento na qualidade de
vida e trabalho, autossuficiência e a supremacia sobre outros animais. Kenski (2008) nos
lembra que “tecnologia é poder”, pois, desde o início dos tempos, o domínio de
determinados tipos de tecnologias, assim como o domínio de certas informações, distingue
os seres humanos entre si. Da Idade da Pedra aos nossos dias, os vínculos entre
conhecimento, poder e tecnologias sempre estiveram presentes. Porém, adaptar-se ao
complexo movimento do mundo atual requer uma agilidade maior que em tempos
passados. Analisando tal situação, Filé argumenta que:
Talvez, uma das grandes diferenças entre os passos da humanidade é que,
em outros tempos, as transformações eram quase imperceptíveis, mais
lentas. (...) A tecnologia de hoje não é só o resultado da inteligência
moderna. Ela é como um eco dos tempos: reverbera hoje como resultado
daquilo que veio sendo gritado, desde sempre (2008, p. 33).
As ideias de Filé são corroboradas por outros analistas, tais como Bauman (2008).
Este afirma que “é ponto pacífico que nada ou quase nada na história humana é totalmente
novo no sentido de não ter antecedentes no passado” (p. 39), por outro lado, é
inquestionável também que o que “faz a diferença” são as peculiaridades as quais devem
ser observadas nos fenômenos reconfigurados a cada novo ciclo da sociedade.
Concordamos com Castells (2007, p.43), quando afirma que “a tecnologia não
determina a sociedade”, mas que ela é parte integrante dessa sociedade, a qual “não pode
ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas”. O rádio, o jornal, o
cinema, a televisão e agora os equipamentos da chamada era digital, assim como tantos
outros que poderiam ser aqui citados, impuseram (e ainda impõem) grandes transformações
sociais e já foram acusados de disseminarem exclusão ou desigualdades e quase sempre
22
estão no centro de grandes debates sobre a inclusão social, possibilidades de uso, seus
malefícios e/ou benefícios à sociedade e em especial à Educação. Para não tendermos à
demonização ou a panaceia, não podemos esquecer que qualquer tecnologia não é apenas
fruto da inteligência do homem, mas parte também de um processo histórico-evolutivo,
político e econômico constante da sociedade na qual este homem está incluso. Casttels
(2008, p.69) nos oferece algumas características da evolução contemporânea das
tecnologias:
O que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de
conhecimentos e informação, mas a aplicação desses conhecimentos e
dessa informação para a geração de conhecimentos e de dispositivos de
processamento/comunicação da informação, em um ciclo de
realimentação cumulativo entre a inovação e seu uso. (...)
consequentemente, a difusão da tecnologia amplifica seu poder de forma
infinita, à medida que os usuários apropriam-se dela e a redefinem.
Para termos uma ideia da amplitude e densidade desta evolução histórica e
consequentes mudanças tecnológicas, podemos considerar alguns dados oferecidos por
Sevcenko (2007) referentes ao século XX. Para mostrar-nos a tendência contínua e
acelerada de inovações tecnológicas, é apresentada a taxa de crescimento dos
conhecimentos técnicos, que desde o começo do século XX era de 13% ao ano. Segundo
este autor, vem dobrando a cada cinco anos. Estamos diante de um “surto dramático de
transformações” (p. 23), pois a escala das mudanças desencadeadas a partir da revolução da
microeletrônica faz os momentos históricos anteriores parecerem projeções em câmara
lenta. Diante destas análises, ainda de acordo com o autor, alguns teóricos calculam que,
nestes primeiros anos do século XXI, a taxa de crescimento das inovações tecnológicas
tenderá a ser da ordem de mais de 40% ao ano, “chegando praticamente a dobrar a cada
período de doze meses” (p. 24). O fato é que, embora as mudanças tecnológicas causem
vários desequilíbrios nas sociedades mais desenvolvidas, oferecem também os maiores
benefícios. As demais sociedades “são arrastadas de roldão nesta torrente, ao custo da
desestabilização de suas estruturas e instituições, da exploração predatória de seus recursos
naturais e do aprofundamento drástico de suas já graves desigualdades e injustiças” (p. 21).
De acordo com Kenski (2008), através da utilização de inovações tecnológicas, os
homens buscaram ampliar seus domínios e acumular cada vez mais riquezas. Essa relação
não mudou até hoje, pois “os vínculos entre conhecimento, poder e tecnologias estão
23
presentes em todas as épocas e em todos os tipos de relações sociais” (p. 17). A chance que
o homem tem para conseguir acompanhar o movimento do mundo é adaptar-se à
“complexidade que os avanços tecnológicos impõem a todos, indistintamente” (p. 18). O
que nos leva a verificar que se forma aí um duplo desafio para a Educação: ela também se
orientar por estes avanços ao mesmo tempo em que ofereça orientações de caminhos para
que seu trabalho seja de fato inclusivo e amplo.
Segundo Cavalcanti e Nepomuceno (2007, p.14), no final do século XX, três
processos independentes se uniram, culminando em uma nova estrutura social baseada
sobretudo em redes de longa distância. São eles:
- As exigências da economia por flexibilidade administrativa, e pela
globalização do capital, da produção e do comércio.
- As demandas da sociedade, em que valores da liberdade individual e da
comunicação aberta ganharam supremacia.
- E os avanços extraordinários na computação e nas telecomunicações,
possibilitados pela revolução microeletrônica.
Dentre as possibilidades provenientes desta nova estrutura social, podemos destacar:
o acesso à base de dados a distância; publicação de produções intelectuais ou ideias, por
quaisquer pessoas em tempo real, a baixo custo e à longa distância e a troca de mensagens
também à longa distância e a baixo custo. Tais possibilidades tem gerado “novos
paradigmas de comunicação” (ibid., p. 15) e novas formas de gerar conhecimento.
Nas análises de Leite (2008, p. 61), o momento sociocultural em que vivemos
“certamente é distinto de momentos anteriores da nossa civilização”, pois cada etapa da
nossa construção cultural apresenta características específicas. É certo que as mudanças
tecnológicas têm ocasionado mudanças em praticamente todas as esferas de nossas vidas, e,
estando o processo pedagógico inserido nesta dinâmica de transformações sociotécnicas, é
importante inseri-lo nas reflexões que envolvam mudanças na sociedade. Na análise de tais
mudanças, a autora destaca da seguinte forma o importante papel do professor:
(...) a primeira grande etapa para que a aproximação da educação e da
comunicação se efetive com sucesso constitui na compreensão desta ideia,
ou seja, de ver e ouvir, interagir com a mídia sem cobrança educativa e, a
partir da sua adequação à proposta pedagógica em questão, integrá-la ao
processo educativo em consonância com a abordagem da Tecnologia
Educacional. Para isso, um dos grandes desafios reside no papel do
professor, uma vez que essa iniciativa só vai ter sucesso se ele, a partir
desta compreensão, e imerso em um contínuo processo de alfabetização
24
tecnológica, que lhe permita conhecer mais e melhor a cada dia as mídias,
irá fazer individualmente e com seus alunos uma leitura crítica das
mesmas e do entretenimento da contemporaneidade (LEITE, 2008, p. 70).
O que pode nos levar a concluir e concordar com diversos analistas educacionais
que: “Educação, Ciência e Tecnologia são as três chaves da nova era” (SEVCENKO,
2007). E por isso consideramos necessário que tais elementos estivessem presentes na
construção dos objetivos de nossa pesquisa, o que é apresentado em seguida.
1.3 - Objetivos, metodologia e justificativa de nossa pesquisa
De acordo com Del Priori (2008, p. 63), estamos diante do nascimento de um
“sétimo continente”, um ciberespaço feito de redes de comunicação, capazes de “gerar e
diminuir as desigualdades de informação e conhecimento”. Um mundo virtual que já existe
e se expande em uma velocidade assustadora, pois
(...) com a Internet criou-se uma grande nação cibernética, sem bandeira
ou território físico definido, onde a barreira de espaço e tempo não leva
mais do que alguns milésimos de segundo para ser superada. (NETTO,
2005, p. 20).
A tentativa de entender a possibilidade de gerar e diminuir (ao mesmo tempo)
desigualdades, inerentes ao ciberespaço e às novas tecnologias e suas consequências na
sociedade brasileira através da escola, foram os motes iniciais de nossa pesquisa. Diante da
percepção da importância da análise das políticas públicas neste campo de estudo,
resolvemos focar em um projeto específico que tivesse seus objetivos voltados de alguma
forma para a tarefa de melhorar o sistema educacional vigente. Chegamos assim ao projeto
“Conexão Professor” implementado pela Secretaria Estadual de Educação do Rio de
Janeiro, a partir de fevereiro de 2008, e que está, até os nossos dias, de acordo com a equipe
responsável, sendo reelaborado.
25
A análise sobre as possíveis mudanças nas práticas pedagógicas dos docentes que
atuam em escolas estaduais do Rio de Janeiro e que receberam em regime de comodato o
laptop foi desmembrada nas seguintes questões:
1) Quais foram os objetivos traçados pela SEEDUC-RJ ao desenhar o projeto de entrega de
laptops aos professores de sua rede?;
2) Qual o caminho percorrido pelo projeto, quanto à origem dos recursos e debates
realizados para sua aprovação?;
3) Quais as habilidades e competências necessárias ao professor para que inclua novas
tecnologias em sua prática pedagógica?;
4) Que apoio está sendo oferecido pela SEEDUC-RJ aos seus professores para que estes
possam incluir esta nova tecnologia em seu trabalho?;
5) Que modificações ocorreram na prática pedagógica docente a partir deste projeto?
De acordo com os autores Bogdan e Biklen em sua obra intitulada “Investigação
qualitativa em Educação” (1991), é possível a utilização conjunta das abordagens
qualitativa e quantitativa em pesquisas educacionais, embora ressaltem que pelo fato de as
duas abordagens apresentarem pressupostos diferentes, o pesquisador pode deparar-se com
algumas dificuldades. Argumentam que alguns autores utilizam-nas conjuntamente e tal
prática é comum quando “se constroem questionários para entrevistas abertas” (p. 63). Para
que se obtenha êxito na pesquisa, estes mesmos autores listam alguns conselhos ao
pesquisador, dentre eles, que seja prático em suas escolhas, a fim de conduzir e concluir sua
pesquisa dentro do prazo previsto e de acordo com suas possibilidades. A localização das
fontes do pesquisador também é considerada como determinante. E, por fim, que o
pesquisador não se prenda de forma rígida a planos preestabelecidos, estando sempre
“preparado para modificar as suas expectativas ou o seu plano” (p. 87). Com base nestas
propostas, apresentamos a metodologia de trabalho desta dissertação, que é composta de
pesquisa bibliográfica e documental, com vistas a compreender parte dos problemas
identificados neste estudo e fundamentar a pesquisa de campo que foi dividida em duas
fases como veremos a seguir.
26
Na primeira fase utilizamos o levantamento de campo (survey), que se caracteriza,
de acordo com Gil (2008), pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se
deseja conhecer. Desta forma, solicitamos informações a um grupo de professores de uma
escola pública da rede estadual, utilizando questionários com perguntas semiabertas
relacionadas à utilização de novas tecnologias dentro e fora do ambiente escolar e suas
percepções sobre o projeto Conexão Professor. Tais perguntas foram direcionadas para
buscarmos respostas às questões de nossa pesquisa, apresentadas anteriormente,
objetivando conhecer as possíveis mudanças nas práticas educativas dos profissionais que
lecionam em uma escola da rede estadual e que receberam o laptop; e se estes profissionais
necessitam de algum tipo de preparação para efetivarem o que a lei que criou o Projeto
Conexão Professor os obriga: utilizar o laptop em sala de aula para que haja melhoria da
qualidade de seu trabalho docente.
Após recolhermos esses questionários, utilizamos análises quantitativa e qualitativa,
para obter as conclusões correspondentes aos dados coletados. Foram utilizadas análises
estatísticas descritivas (média e porcentagem) dos dados quantitativos e a técnica da análise
do conteúdo para os dados qualitativos.
A busca de informações junto a uma ampla gama de integrantes do universo
pesquisado nos proporcionou um censo com informações gerais acerca da população
estudada, “indispensáveis em boa parte das investigações sociais” (GIL, 2008, p. 55).
Dentre as principais vantagens listadas por Gil (2008, p.56) a respeito do levantamento de
campo, destacamos:
a) O conhecimento direto da realidade: como são as próprias pessoas que informam acerca
de seu comportamento. A investigação torna-se mais livre de interpretações subjetivas.
b) Quantificação: os dados obtidos mediante levantamentos podem ser organizados de
forma a propiciar análises estatísticas e correlações entre variáveis.
A partir dos dados coletados nesta primeira fase, passamos à segunda em que
abordamos, através de entrevistas individuais, dois professores que foram selecionados com
base em suas respostas aos questionários. Entrevistamos também a Diretora desta unidade
escolar e um docente cuja postura foi a de não receber o laptop da SEEDUC-RJ. Para estas
entrevistas elaboramos perguntas do tipo abertas que foram feitas oralmente, sendo as
respostas registradas pelo entrevistador. Esta parte da pesquisa de campo nos permitiu um
27
estudo sobre as características que podem oferecer um entendimento das posturas dos
docentes e seus trabalhos pedagógicos com relação ao uso de novas tecnologias, assim
como possíveis comparações referentes a atitudes, conceitos e formas de utilização de
novas tecnologias por parte destes docentes. Gil (2008, p.58) argumenta que para a
exploração de “situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos”, tanto o
questionário quanto a entrevista são muito utilizados por pesquisadores que pretendem
entender comportamentos de seus entrevistados.
Nossa pesquisa de campo foi realizada em uma escola situada no bairro de Itaipava,
30 Distrito
3 da cidade de Petrópolis, que faz parte, de acordo com a forma organizativa da
Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, da região Serrana III, Coordenadoria
Regional 11. De acordo com informações coletadas junto à Direção desta unidade escolar,
seu funcionamento acontece em três turnos, atendendo a aproximadamente 1350 estudantes
do ensino fundamental (70 ao 9
0 ano) e ensino médio regular, oriundos de diversos bairros
de Petrópolis e cidades próximas, distribuídos em um total de 34 turmas. Para que seja
possível atender a esse grande contingente de alunos, a escola conta com uma grande
equipe de professores regentes e funcionários extraclasse.
A escolha desta unidade escolar se deve à combinação de algumas características
que a tornam, sob nosso julgamento, um local propício à implementação de projetos
pedagógicos inovadores, ressaltando aqueles referentes à utilização de novas tecnologias.
Tendo uma boa parte de seus docentes recebido o laptop, o mencionado colégio ampliou e
modernizou recentemente seu laboratório de informática e fez a aquisição de equipamentos
que facilitam a utilização destas máquinas inclusive em sala de aula. Aliado a essas
características, podemos perceber em nosso acompanhamento que diversos projetos
interdisciplinares são elaborados neste ambiente escolar, propiciando aos seus estudantes o
contato frequente com a informação e, por consequencia, a geração de conhecimento.
Como nossa pesquisa possui foco sobre a prática pedagógica do professor, a
possibilidade de acesso a um bom número de docentes que tenham participado do Projeto
Conexão Professor tornou-se outra característica primordial para nossa escolha. Desta
forma, objetivamos encontrar o que Bogdan e Biklen (1991, p.95) denominam de
3 De acordo com a página oficial da Prefeitura de Petrópolis, o 3
0 Distrito possui uma área de 121 km
2 e uma
população aproximada de 19.000 habitantes.
28
“informantes-chave”, que são aqueles entrevistados que apresentam maior disponibilidade
de falar e participar da pesquisa. Consideramos também a facilitação ao acesso e
diminuição da necessidade de longas viagens, o que torna possível “entrar e sair,
rapidamente, do campo de observação” (BOGDAN e BIKLEN, 1991, p. 86), e propicia
conhecer direta e profundamente os aspectos abordados na região em que o pesquisador
trabalha.
Ao obtermos o acesso aos nomes de todos os docentes dessa unidade escolar
incluídos no projeto “Conexão Professor”, optamos por utilizar o procedimento de
amostragem de estágio único, que, segundo Creswell (2007, p.164), é aquele no qual “o
pesquisador tem acesso aos nomes da população e pode testar as pessoas diretamente” por
meio de um questionário que combinou perguntas fechadas com perguntas abertas, a fim de
se obter “um levantamento mais amplo e exaustivo a respeito do assunto pesquisado”
(BARROS e LEHFELD, 1990, p. 75).
Durante a realização dos trabalhos nesse estágio de nossa pesquisa, tivemos contato
com outros dois docentes de diferentes unidades escolares da cidade de Petrópolis que
elaboraram e colocaram em prática projetos diferenciados de utilização de novas
tecnologias em sala de aula. Por consideramos que agregar essas experiências nesta
dissertação a tornaria mais rica, apresentamos como fechamento desta parte as entrevistas
realizadas via internet, utilizando o programa Windows Live Messenger, em perguntas do
tipo abertas em que foram narradas as experiências profissionais, com destaque para os
projetos que envolvem o laptop recebido da SEEDUC-RJ.
Tal pesquisa se justifica pela percepção de que ainda é a escola, e em especial a
escola pública, um local privilegiado para a democratização do acesso a um mundo
globalizado, dinâmico e tecnológico. Daí a importância no investimento da formação
permanente do docente que trabalhará nessa escola; como consequência, nos é possível
constatar a importância de pesquisas que possam nortear possíveis caminhos para que isso
aconteça.
Ao mesmo tempo em que podemos verificar que as Novas Tecnologias de
Informação e Comunicação oferecem bons resultados na difusão e obtenção de
conhecimento em todas as áreas, é perceptível também um certo distanciamento do
ambiente escolar. A relevância desta dissertação está então no fato de podermos contribuir
29
para a reflexão sobre as causas da dificuldade de inserção de tais tecnologias nesse
ambiente a partir da implementação de uma política pública específica, e quais as possíveis
maneiras de inserção dessas tecnologias de modo que venham a agregar mudanças
significativas que resultem em inclusão do professor e de seu aluno em uma nova sociedade
que lida permanentemente com o conhecimento.
30
CAPÍTULO 2
A EDUCAÇÃO E A ESCOLA NA SOCIEDADE TECNOLÓGICA
Neste capítulo apresentamos alguns elementos e atores envolvidos em nossa
pesquisa, tais como as características do cidadão globalizado e incluído na sociedade
tecnológica e a necessária (boa) formação do professor para atuar em escolas interativas
onde caiba o mundo. São apresentados em seguida reflexões sobre a importância de novos
currículos, assim como sobre políticas públicas que influenciam diretamente o fazer
pedagógico.
Por fim, abordaremos o desafio da profissionalização docente no Brasil através de
pesquisas que indicam, entre outras coisas, que a exclusão socioeconômica do docente está
intimamente ligada à exclusão digital.
2.1 - Formar o cidadão globalizado e incluído na sociedade tecnológica
Com vistas a desenvolver projetos que envolvam Educação, Ciência e Tecnologia, o
Ministério da Ciência e Tecnologia elaborou o Livro Branco4 (BRASIL, 2002), que propõe
uma série de políticas de longo prazo que possam incluir o Brasil nesse contexto de rápidas
e profundas transformações, imensos desafios e demandas por que passa o mundo.
4 A publicação do Livro Branco caracterizou a conclusão de um ciclo de conferências sobre Ciência,
Tecnologia e Inovação (CTI) iniciado com a preparação do Livro Verde (BRASIL, 2000) em setembro de
2001. A elaboração desse livro teve o envolvimento de mais de 150 especialistas, entre professores
universitários, empresários, políticos, administradores públicos e representantes de ONGs, divididos em 12
grupos temáticos (GT). A proposta dessa etapa foi a de realizar consultas públicas para ouvir a população
sobre o tema em questão e, a partir daí, iniciar a execução do programa de construção do Livro Branco, como
definidor das políticas públicas em CTI. Dentre estas políticas destacamos a pretensão de atingir a
universalização do acesso das tecnologias de informação e comunicação para as populações de baixa renda.
31
De acordo com o documento, não é aleatória a ênfase conferida nos últimos anos à
inovação, “nesta virada do século XXI, em que emergem as chamadas Economia do
Conhecimento e Sociedade da Informação, levantamos a bandeira da Inovação (...)
procurando superar barreiras históricas que obstruem o processo inovativo no País” (p. 11).
Em uma era marcada pelo impacto das TIC, torna-se cada vez mais estratégia de
manutenção da soberania nacional produzir conhecimentos e transformar tais
conhecimentos em inovações nas esferas econômica e social. Desse documento destacamos
ainda:
Na sociedade do conhecimento, é particularmente relevante acompanhar a
revolução provocada pelas chamadas Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC). Entre os desafios dessa área, salienta-se o de
direcionar os benefícios presentes e potenciais das TIC a todos os
brasileiros, para evitar o aprofundamento das desigualdades sociais e do
hiato digital. É imprescindível avançar na universalização do acesso, na
alfabetização digital, no desenvolvimento e implantação da infraestrutura
e dos sistemas de comunicações de mais altas velocidades, no comércio e
serviços eletrônicos, no governo eletrônico e na indústria de equipamentos
eletrônicos e de software. (BRASIL, 2002, p. 69).
Formar um cidadão de um mundo cada vez mais dinâmico e globalizado, que possa
se apropriar de forma crítica e autônoma desses novos meios de comunicação tornou-se um
dos grandes desafios para a Educação em uma sociedade dita da informação e do
conhecimento. Sobre tais ideias, kenski (2008, p.41) argumenta que
Um saber ampliado e mutante caracteriza o estágio do conhecimento na
atualidade. Essas alterações refletem-se sobre as tradicionais formas de
pensar e fazer educação. Abrir-se para novas educações, resultantes de
mudanças estruturais nas formas de ensinar e aprender possibilitadas pela
atualidade tecnológica é o desafio a ser assumido por toda a sociedade.
De acordo com Sampaio e Leite (1999, p.32), tais desafios se apresentam como uma
necessidade contínua e atual.
A preocupação revelada pela maioria dos estudiosos da área, em relação à
democratização do acesso aos benefícios das novas tecnologias,
fundamenta-se na constatação da exclusão como característica inerente ao
sistema capitalista. Esta característica leva à necessidade de reflexão a
respeito da intervenção da escola e do professor no sentido de formar um
homem que não assimile passivamente uma conformação social em que
haja divisão entre os que pensam e os que executam, os que produzem e
os que usufruem, os que têm uma relação ativa e participativa com o
conhecimento e a informação e os que lidam passivamente com eles.
32
Aproveitar então os benefícios oferecidos pelas tecnologias e a democratização do
acesso a elas tem sido uma das metas incluídas na agenda social de diversos países,
inclusive do Brasil, como a que poderemos encontrar na área de Educação do Governo
Federal (BRASIL, 2008). No documento denominado de Agenda Social do Governo
Federal, encontramos a descrição de iniciativas que pretendem promover o resgate da
cidadania e a transformação social através da criação de ambientes informatizados nas
escolas públicas. Nesse mesmo documento são informados investimentos5 na atualização
do professor (na área de novas tecnologias), principalmente daqueles que atuem nessas
escolas públicas.
Este País, em que se quer promover a transformação social e o resgate da cidadania,
acaba se apresentando como um lugar de grandes contrastes, inclusive no que se refere à
inclusão digital. De acordo com recentes reportagens, vivíamos em um país que possuía
dois milhões de computadores com acesso à internet em 1998, e, apenas dez anos depois,
este número salta para 22,7 milhões (LEAL, 2008, p.92), ao mesmo tempo em que nos
deparamos com os números das pesquisas realizadas pela Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2008), que revelam o quanto o Brasil
ainda utiliza métodos considerados “primários e mecânicos” nas escolas, tais como
repetição de frases e utilização frequente de cópias de textos. Um país que detém o título de
campeão de acessos a sites de relacionamento do tipo Orkut amarga, ao mesmo tempo, um
índice ainda bastante elevado de pessoas sem qualquer tipo de acesso a novas tecnologias.
Este é mais um dos grandes desafios que devem ser enfrentados pelas equipes
governamentais que desenvolvem políticas de Educação em nosso País: possibilitar uma
inclusão digital mais abrangente.
Concordamos com NETTO (2005, p.16) quando afirma que só é possível o
desenvolvimento de uma nação “a partir do amadurecimento de uma política que vise à
Educação como agente modificador da sociedade”. E para atingir tais objetivos, de acordo
5 Neste documento (BRASIL, 2008, p.6), encontramos a informação de que o Governo Federal pretende
investir até o ano de 2011 R$ 15 bilhões para combater o analfabetismo, promover a melhoria do sistema de
ensino e universalizar o ensino público. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
(FUNDEB) contará com investimentos de R$ 4,5 bilhões para a educação em 2009. Estas são iniciativas que,
de acordo com o documento, atenderão a mais de 47 milhões de estudantes brasileiros, pois “pelo menos 60%
dos recursos vão para investimentos na remuneração e na valorização dos professores de escolas públicas”.
33
com CASTELLS (1999), não poderemos ignorar a penetrabilidade cada vez maior das
tecnologias nesta sociedade em todas as esferas da atividade humana.
Novos recursos tecnológicos, tais como o computador e a internet, não são mais
ficção científica e impuseram sua presença na sociedade moderna e em uma boa quantidade
de escolas. Eles já estão lá e invocam reformas pedagógicas nem sempre fáceis ou rápidas,
pois, sendo a Educação escolar composta por um conjunto consistente de componentes que
se afetam mutuamente, é necessário tempo, mecanismos de reajustes e a fundamental
intenção de mudar. Sobre esta dificuldade de mudança no ambiente escolar, o representante
da UNESCO no Brasil, Jorge Werthein, argumenta que
A educação escolar é um todo solidário, apoiado nos seus pilares
tradicionais. Dessa forma, a tecnologia não é um adorno ou um adendo
superficial que se possa incrustar no velho prédio sem que as outras partes
sejam afetadas. Voltada para a continuidade das gerações, não por acaso a
educação escolar apresenta consistente unidade e intensas forças coesivas,
em que um componente afeta o outro (WERTHEIN, 2004, p.8).
De acordo com Sancho e Hernandéz (2006), a análise sobre a história da escola ao
longo dos tempos comprova a afirmação de que não existe o milagre de uma mudança
rápida, que ao mesmo tempo seja ampla e indolor, quando se trata de transformar os
componentes e atores envolvidos na Educação para que se possa atualizar critérios,
conteúdos e formas de atuação. Como exemplo desta afirmação, podemos recorrer
justamente às novas tecnologias a que estamos nos referindo. Elas já estão lá, mas embora
se verifique uma aparente facilidade de aceitação, muitas vezes são usadas para reforçar
crenças existentes sobre os ambientes de ensino, o que pode significar a manutenção de
estruturas pedagógicas presas a ultrapassados currículos e relações de poder. Justificando
tais análises, os autores ainda argumentam:
O que mostra essa facilidade de adaptação das TIC às diferentes
perspectivas sobre o ensino e a aprendizagem é que, em si mesmas, não
representam um novo paradigma ou modelo pedagógico. Assim,
professores e especialistas em educação tendem a adaptá-las às suas
crenças sobre como acontece a aprendizagem. O desafio é que os
profissionais da educação mudem de imediato sua forma de conceber e
pôr em prática o ensino ao descobrir uma nova ferramenta (ibid.., 2006,
p.22).
34
O desafio consiste, então, no fato de que, justamente em momentos de propagada
crise escolar, como a que vivenciamos em nossos dias, possamos fugir da paralisia
pedagógica, aquela que leva o profissional da Educação, e em especial o professor, a
enveredar-se por caminhos de puro lamento e saudosismo de uma época de ouro da escola,
época esta que talvez nunca tenha existido. Caberá a esse profissional construir “uma rede e
não uma rota” (SILVA, 2007, p.73), desenvolver currículos que se apresentem como
territórios a serem explorados, sem abrir mão de indispensáveis conteúdos.
No próximo item passamos a abordar a importância da análise sobre a organização
de currículos que estejam relacionados à escolha de procedimentos e seleção de conteúdos
imprescindíveis ao novo cidadão, e de que forma as novas tecnologias podem facilitar a
implementação de novos currículos.
2.2 - Novos currículos para escolas interativas
Tendo em vista a íntima relação do objeto de estudo do presente trabalho - as
possíveis mudanças na prática pedagógica do professor a partir do uso das novas
tecnologias - com o currículo escolar, passamos a analisar a necessidade de reelaboração do
currículo para que a escola possa cumprir o papel de proporcionar um ambiente
democrático e inclusivo em uma nova sociedade tecnológica.
Partindo da premissa de que existe uma “relação intrínseca entre educação e
cultura(s)” (CANDAU, 2008, p.13), nos é possível perceber que parte da propagada crise
escolar deve-se ao fato de termos currículos usados ainda como moldadores de cidadãos
para uma sociedade fabril, quando deveriam ter como objetivo proporcionar meios de
tornar esse cidadão incluído de fato em uma nova sociedade, a do conhecimento. Para
tentarmos justificar tais ideias, apresentaremos argumentos para o uso reflexivo de novas
tecnologias no ambiente escolar, porém sem a ingênua pretensão de encará-las como
remédio para todos os males, ou mesmo como uma simples tecnologização dos fazeres
tradicionais verificados em muitas de nossas escolas. Tais reflexões podem nos afastar de
algumas idéias pré-concebidas, tais como as de que no ambiente escolar não cabe o uso de
35
novos recursos comunicacionais, tais como o telefone celular, o MP3, a internet... Eles já
estão lá, porém na maioria das vezes sem uso educacional, e quase sempre como forma de
lazer.
Outra análise possível consiste em aceitar que as possibilidades embutidas nessas
novas Tecnologias de Informação e Comunicação são mais do que simplesmente se
adequar à moda, ou a tendências de mercado nacional e internacional para ressignificar
“velhas” coisas como o diálogo ou modelos de transmissão de conhecimentos.
Acreditamos que os argumentos utilizados sobre as estratégias de marketing -
relatando que tais estratégias sejam capazes de criar a adesão em um cidadão que compra
passivamente o mais recente lançamento tecnológico - podem ser refutados; basta
verificarmos as modificações na forma de comunicação desta nossa “sociedade em rede”6.
Os “novos meios de comunicação que estão surgindo, sem exceção, já têm inerentes à sua
constituição a capacidade de interação entre o produtor de conteúdo e o público a quem se
destinam suas mensagens” (AMORA, 2008, p.21). Já é possível falar de um “novo
espectador”7 acostumado cada vez mais com a interação, com a participação e com a
criação de novos conteúdos. Desta forma, devemos considerar a necessidade de que nossas
escolas não descartem a possibilidade de formar alunos conhecedores dos meios de
comunicação a ponto de poderem interferir nos produtos oferecidos por esses meios. Sobre
tais ideias Amora argumenta:
A esperança, talvez a única, para uma profunda transformação na
produção dos meios de comunicação de massa que temos nos dias de hoje
é a escola. É no processo de formação que a escola deve assumir como
motor do conjunto indivíduo-família-sociedade, que está a real chance de
produzirmos pessoas conscientes da importância dos meios de
comunicação, de como usá-los em benefício deles e de como não se
deixar usar por estes veículos quando isso lhes for nocivo. (2008, p. 27).
A transformação neste caso só é possível se dispusermos de professores qualificados
para esse trabalho e de um currículo que ofereça possibilidades de interação com as TIC, o
6 “Sociedade em rede” é um termo apresentado por Castells (2007) em sua obra homônima, em que defende
que devemos “localizar o processo de transformação tecnológica revolucionária no contexto social em que ele
ocorre e pelo qual está sendo moldado”(p. 43). 7 Silva (2007, p.14) apresenta o termo “novo espectador” como aquele que está cada vez menos passivo diante
da emissão, citando como exemplos o uso do joystick, do controle remoto e da internet. O novo espectador
“faz por si mesmo uma vez que não se submete a emissões separadas da sua participação”, tendo a seu favor
as tecnologias hipertextuais.
36
que não deve significar simplesmente aumentar a carga horária de uma determinada
disciplina criada para esse fim, ou agregar ao currículo escolar uma disciplina com aulas
em ambiente específico, tais como laboratórios informatizados.
Silva (2007, p.11) argumenta que um dos principais objetivos de nossas escolas
sejam elas “info-ricas” ou “info-pobres”8, deveria ser a busca constante de uma
interatividade que não seja “apenas fruto de uma tecnicidade informática, mas um processo
em curso de reconfiguração das comunicações humanas em toda sua amplitude”, o que
possibilitaria uma renovação da relação do usuário com a imagem, com o texto, com o
conhecimento. A sala de aula interativa seria então um ambiente onde o professor deixa de
lado a tradição do falar/ditar, assim como deixa de ser um mero “contador de histórias”. E
Silva ainda completa, apresentando novas formas de atuar para o professor:
Ele constrói um conjunto de territórios a serem explorados pelos alunos e
disponibiliza coautoria e múltiplas conexões, permitindo que o aluno
também faça por si mesmo. Isto significa muito mais do que ser um
conselheiro, uma ponte entre a informação e o entendimento (...). O aluno,
por sua vez, passa de espectador passivo a ator situado num jogo de
preferências, de opções, de desejos, de amores, de ódios e de estratégias,
podendo ser emissor e receptor no processo de intercompreensão (p. 73).
Dessa forma, ainda de acordo com Silva (2007), a Educação poderia deixar de ser
tratada como um produto, passando a se tornar um processo de troca de ações que criam
conhecimento e não apenas o reproduzem, buscando utilizar as novas tecnologias como
aliadas ao combate a uma sociedade desigual e excludente. Desenvolver um currículo que
permita tais mudanças torna-se primordial em uma escola que deseje ser interativa.
Mas, qual é o papel do currículo?
Para tentarmos responder a essa pergunta, precisamos inicialmente defini-lo. E para
isso, recorremos aos dicionários, onde encontramos diversos significados para a palavra
currículo: “as matérias constantes de um curso” (FERREIRA, 2004, p. 214), “curso,
carreira” (LUFT, 2006, p. 252). Atalho, corte, ato de correr, são também expressões
comumente empregadas para definir currículo. Outra definição é encontrada em Marinho
(2006, p.7):
8 O autor se refere a tais conceitos de acordo com as possibilidades de uso ou não do computador e outras
tecnologias no ambiente da sala de aula (SILVA, 2007, p. 74). Dessa forma, a que oferece computadores para
seus alunos poderia ser classificada como info-rica.
37
Currículo viria do latim curriculum, que significa corrida, carreira, lugar
onde se corre, campo, liça, hipódromo, picadeiro. Liça era o espaço
cercado por paliçada de madeira que rodeava os castelos medievais e onde
ocorriam torneios, justas e combates. Era também a paliçada que impedia
o acesso às fortalezas.
A descrição apresentada por Marinho é recheada de significados que podem ser
interpretados de acordo com visões e intencionalidades diferenciadas. É o currículo um
“espaço de grandes embates onde duelam os atores da escola” (ibid., p. 7) ou um
impeditivo a acessos?
O currículo entendido como ato de correr, ou local onde se corre, nos chega como
uma metáfora de uma pista de corrida, cujas marcações (incluindo seus pontos de partida e
chegada) geram a previsibilidade de um conjunto de disciplinas que devem ser cumpridas
em um determinado tempo, com uma determinada segurança e aproveitamento. Após a
apresentação dos significados para a palavra currículo, Marinho (2006, p. 10) afirma que
“precisamos ver a questão do currículo numa dimensão mais contemporânea” que pode
significar repensar a escola para uma nova Educação, focada na sua função social numa
sociedade globalizada e mergulhada na informação, mas que continua excludente e
discriminatória.
De acordo com Moreira (2007, p. 287), “há que se voltar a considerar mais
rigorosamente os processos de selecionar, organizar e sistematizar os conhecimentos a
serem ensinados e aprendidos na escola”, buscando uma coerência conceitual que estimule
a promoção na sala de aula de uma evolução coerente e contínua da aprendizagem de
conceitos. Para que tal promoção seja de fato alcançada, é primordial, de acordo com esse
autor, uma postura diferenciada do profissional da Educação, que nos é apresentada da
seguinte forma:
Os significados e os padrões culturais do cotidiano não são suficientes
para garantir o aprendizado do aluno e ampliar seus horizontes.
Precisamos, além da imersão nos padrões do cotidiano, da imersão nos
padrões da disciplina escolar. Para isso, há absoluta necessidade de um
professor capaz de uma instrução explícita, planejada e efetiva. Há a
necessidade de um professor que, além de bem conhecer o aluno e a
comunidade da escola, conheça os conceitos a serem dominados e seja
bem sucedido ao orientar o aluno na consecução das metas definidas (p.
287).
38
Não podemos abrir mão de bons professores, “capazes de bem selecionar
procedimentos e conteúdos” (ibid., p. 288), atentos às transformações de uma sociedade
que se transforma em uma velocidade espantosa, ao mesmo tempo em que mantém
cristalizados alguns pontos que devem ser combatidos para que tenhamos de fato uma
sociedade mais justa e igualitária.
É perceptível que a informação e o conhecimento possibilitados pelas novas
tecnologias constituem hoje um fator-chave para a competitividade econômica e o
comportamento dos cidadãos. A incorporação dessas tecnologias pela Educação torna-se
então obrigatoriamente parte de “uma estratégia global de política educativa” (TEDESCO,
2004, p. 11) e um elemento essencial para o caráter democrático das sociedades do futuro,
futuro este construído também (e talvez principalmente) no ambiente escolar, pelas mãos de
professores, que necessitam urgente de claros caminhos e currículos que permitam que a
aprendizagem aconteça dentro de um contexto reflexivo e exploratório, proporcionando
então um ambiente escolar democrático, inclusivo e interativo. Sobre esse novo ambiente
escolar trataremos a seguir.
2.3 - Projetando uma escola onde caiba o mundo
No projeto de uma escola nova, democrática e inclusiva, além de flexíveis
currículos e ambientes propícios à interação, é imprescindível a previsão de investimentos
em capacitação de professores para o domínio técnico e crítico de projetos educacionais
que proporcionem não apenas bons índices estatísticos, mas que resultem de fato em
aprendizagens relevantes para o seu corpo docente e discente.
Kenski (2008, p. 106) afirma que “não é possível impor aos professores a
continuidade da autoformação, sem lhes dar a remuneração, o tempo e as tecnologias
necessárias para sua realização”. Na defesa de ideias semelhantes, Lucena (2003)
argumenta que, nos últimos tempos, a tarefa de melhorar nosso sistema educacional tem
exigido decisões fundamentais e criativas que possam propor mudanças efetivas na
39
Educação. Dentre tais decisões, ainda de acordo com esse autor, a de inserir as TICs na
Educação com ênfase no computador conectado à internet, torna-se a cada dia mais
fundamental, uma vez que os alunos já são exploradores no cotidiano das “inúmeras
possibilidades disponibilizadas pelas novas tecnologias e tudo o que elas representam em
termos de potenciais para a produção e veiculação de conhecimento” (ibid., 2009, p. 237),
bem como de outras facilidades relacionadas à vida e ao trabalho.
Sobre essas novas gerações de estudantes, Rivoltella (2007, p.16) aponta que elas
estão chegando às escolas completamente ligadas à tecnologia e aos meios de comunicação.
Por isso educar para os meios de comunicação, para a vida contemporânea significa
também educar para a cidadania. Sintonizar o processo ensino-aprendizagem com a vida
contemporânea, proporcionando aos atores envolvidos nesse processo novas formas de
comunicação, favorece o que Lévy (2008) denomina de “inteligência coletiva”9.
De acordo com Kesnki (2008), não basta o treinamento técnico intensivo dos
professores para o uso das novas formas de comunicação, apesar da necessidade de uma
formação pedagógica e crítica “para o desenvolvimento de projetos educacionais de acordo
com os mais novos paradigmas e teorias educacionais”(p. 125). É indispensável uma nova
mentalidade, um novo olhar sobre a Educação em uma nova realidade tecnológica. Com
relação a essa reflexão, e com vistas a projetos desenvolvidos anteriormente que
envolveram as TIC mas que se descuidaram da preparação dos profissionais que
trabalhariam com elas no ambiente escolar, Lucena (2003, p. 241) analisa que
Já está suficientemente claro que não basta ter computadores nas escolas
se os professores não estiverem preparados para trabalhar com eles. Não é
a presença das TICs nas escolas que resolverá os problemas de evasão, de
repetência e de baixo índice de aprendizagem.
Este mesmo autor ainda salienta que informatizar escolas para reproduzir a velha
educação, tradicional, linear, centrada no ditar/falar do professor, não torna a Educação
atualizada, e completa:
A integração das TICs na escola vai além da implantação dos laboratórios
de informática. É preciso que elas façam parte do projeto político-
9 Inteligência coletiva é conceituado por Lévy (2008, p. 2) como a valorização, a utilização otimizada e a
colocação em sinergia das competências, imaginações e energias intelectuais, independentemente de sua
diversidade qualitativa e de sua localização .
40
pedagógico da escola, para que sejam utilizadas como potencializadoras
na construção do conhecimento e não como instrumento ou ferramenta de
uma velha educação travestida de uma roupagem nova. Discutir uma
educação onde haja uma integração com as TICs exige necessariamente
uma discussão sobre o acesso a esta tecnologia principalmente nas escolas
públicas, que poderiam se constituir em espaços de inserção da população
menos favorecida economicamente (chamados por alguns de excluídos
informáticos) a esta modalidade comunicacional (p. 247).
Dessa forma seria possível criar uma escola criativa e interativa onde “caiba o
mundo” e apta a melhor receber as novas gerações de estudantes, chamados por Veen e
Vrakking (2009) de pensadores digitais. Estes autores defendem mudanças significativas no
ambiente escolar utilizando-se dos benefícios proporcionados pelas TIC com relação à
facilidade de fluxos de informação da mesma forma que as novas gerações vêm se
apropriando. Vejamos, por exemplo, seu posicionamento no destaque a seguir:
Queremos deixar claro que devemos perceber que usar as tecnologias da
informação e da comunicação como as crianças fazem pode ajudar nossa
educação a ter um melhor desempenho. Os pensadores digitais, como são
as nossas crianças, podem fazer muito mais do que se espera delas nas
escolas (p. 70).
Ainda na defesa pelas mudanças no ambiente escolar, Veen e Vrakking apresentam
o argumento de que a sociedade continuará a educar seus jovens, mas não necessariamente
por meio das instituições tradicionais ou do Governo. Na mesma linha de pensamento
encontraremos as análises de Vasconcelos (2005, 2006), que revela sua percepção de que
talvez esteja próximo o dia em que acontecerá a quebra da “supremacia inquestionável” da
instituição escolar, ocasionando um possível retorno à Educação doméstica. Isso deverá
ocorrer porque
(...) com as informações sendo levadas a qualquer ponto e não havendo
mais necessidade de espaços que concentrem essas informações
fisicamente, com a virtualidade do conhecimento e a possibilidade de se
apropriar dele a qualquer momento, não poderá a Casa reabilitar seu lugar
de educação? Não poderão os mestres entrar nas Casas novamente através
da tecnologia já disponível? (ibid., 2005, p. 225).
Tais questionamentos têm sido gerados em parte pela percepção de que encaixar
novas tecnologias em velhos e obsoletos modelos de Educação tem demonstrado ser uma
luta inglória. Podem, porém, ser encarados como novos desafios, uma busca para uma
41
possível saída a fim de atenuar alguns problemas relacionados à fórmula educacional
vigente.
De acordo com Antonio (2008), ao analisarmos a escola que temos hoje,
perceberemos um descompasso entre o ritmo da evolução tecnológica e o da evolução de
nossos processos educacionais. Antonio argumenta ainda que essa constatação não deve ser
uma novidade para ninguém, pois é perceptível que a escola implementa mudanças de uma
forma lenta ainda que, paradoxalmente, seja uma instituição que deveria se propor a ser um
constante fator de mudanças.
Segundo Silva (2000, 2003), a pedagogia da transmissão agoniza, e a sala de aula
está cada vez mais sem atrativos e os alunos cada vez mais desinteressados pelo seu modelo
clássico, baseado na transmissão de conhecimentos. O autor ressalta que “a obsolência do
modelo tradicional de ensino escolar vem agravando-se na cibercultura” (SILVA, 2003, p.
13), e do quanto é emergencial para o professor dar-se conta das mudanças paradigmáticas
em informação e comunicação que se operam em nosso tempo, ou seja, do como é
importante buscarem a alfabetização tecnológica, para “lançar mão do que há de oportuno
em cibercultura a fim de favorecer o salto de qualidade necessário em Educação” (ibid., p.
14). Ao utilizar-se da cibercultura, o professor passa, de acordo com Silva, a poder atuar de
outras formas em seu trabalho pedagógico:
A par da cibercultura, de suas implicações e possibilidades, o professor
estará tentado ser mais que instrutor, treinador, parceiro, conselheiro,
guia, facilitador, colaborador. Ele procurará ser um formulador de
problemas, provocador de situações, arquiteto de percursos, mobilizador
das inteligências múltiplas e coletivas na experiência do conhecimento.
(ibid., p. 7).
Agregar esses novos papéis ao trabalho docente passa obrigatoriamente pela
implementação de novas políticas educacionais que possibilitem que o computador deixe
de ser visto como um bem de consumo e seja encarado como um instrumento fundamental
de trabalho do professor, uma porta para o mundo do ciberespaço, que, de acordo com Lévy
(2008, p.9), é a interconexão dos computadores do planeta, tendendo a tornar-se a maior
infraestrutura da produção, da gestão e da transação econômica, e “em breve constituirá o
principal equipamento coletivo internacional da memória, do pensamento e da
comunicação”.
42
Proporcionar subsídios ao docente a fim de que este se sinta capacitado para lidar
com essas novas tecnologias vem sendo denominado de alfabetização tecnológica. Essa
capacitação consiste no desenvolvimento de novas formas de atuar e no acesso ao domínio
técnico, pedagógico e crítico das novas “ferramentas”, em especial às relacionadas ao uso
do computador e da internet.
O destaque no termo “ferramentas” deve-se ao fato de que, mesmo sendo utilizado
por inúmeros teóricos educacionais, ainda gera discordâncias na sua interpretação e
utilização. Segundo Santos (2008)10
, o computador é muito mais do que uma ferramenta; é
uma interface, pois a ferramenta necessita de energia física do ser humano para ser usada.
O computador estende nossa capacidade cognitiva; “ele é mais que ferramenta, é máquina,
uma máquina cerebral”. E é através dessa máquina que temos acesso como “imigrantes” ao
mundo virtual proporcionado pela internet. “Dizer que não é importante para o professor ter
computador é excluir este indivíduo da sociedade”. Em consonância com tais ideias,
Casttels (2008, p.69) afirma que “as novas tecnologias da informação não são simplesmente
ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos”, pois usuários e
criadores podem se tornar a mesma coisa. O autor acrescenta que
Desta forma, os usuários podem assumir o controle da tecnologia como no
caso da internet. Há, por conseguinte, uma relação muito próxima entre os
processos sociais de criação e manipulação de símbolos (a cultura da
sociedade) e a capacidade de produzir e distribuir bens e serviços (as
forças produtivas). Pela primeira vez na história, a mente humana é uma
força direta de produção, não apenas um elemento decisivo no sistema
produtivo. (p. 69).
Por sua vez, tais ideias são corroboradas pelo filósofo italiano Rivoltella (2007),
que defende que o professor precisa saber fazer análises críticas e organizar atividades de
produção usando essas tecnologias. Rivoltella nos lembra de que “há cinco anos, éramos
apenas consumidores de conteúdos prontos” (p. 16), e nos apresenta uma breve comparação
entre a utilização das novas tecnologias pelos professores italianos e brasileiros, ressaltando
que, de acordo com suas pesquisas, nos dois países o professor parece não compartilhar
com os alunos a mesma cultura, pois afirma que
10
Palestra proferida durante o 400 Seminário Brasileiro de Tecnologia Educacional, organizado pela
Associação Brasileira de Tecnologia Educacional (ABT) em 18 de junho de 2008 no Rio de Janeiro.
43
Aqui, na Europa, é comum o professor ver os meios de comunicação
como uma cultura popular e de baixo nível, em oposição aos livros, que
são a alta cultura. No Brasil, me parece, a questão é outra: muitos
educadores não têm sequer acesso a elas. Nesse caso, a situação é ainda
pior (p. 15).
As afirmações de Santos e Rivoltella sobre a necessidade de criar formas de
propiciar o acesso às novas tecnologias ao docente brasileiro encontram respaldo em
pesquisa realizada pela UNESCO (2004) com professores nos 26 estados brasileiros e no
Distrito Federal, que, de acordo com analistas, comprova que a exclusão digital é
consequência direta da situação econômica em que vivem os professores. Medeiros (2004,
p.1), ao analisar os dados desta pesquisa da UNESCO, afirma que
O mundo digital está muito distante do cotidiano do professor brasileiro.
Pesquisa realizada pela UNESCO (...) traçou um perfil dos docentes do
ensino fundamental e médio do país e revela dados inquietantes para a
formação das futuras gerações: mais da metade dos professores não tem
computador em casa, não navega na internet e sequer usa o correio
eletrônico.
De acordo com Kenski (2008, p.63), é importante que se desenvolva nos
professores, e consequentemente em seus alunos, uma relação cíclica com a informação:
“quanto maior o acesso à informação, mais necessidade se tem de atualização para ficar em
dia com as mais novas informações”, e é a escola, segundo a autora, o espaço social
fundamental para alimentar essa relação.
A facilitação ao acesso e à produção da informação é hoje uma das características
dominantes neste novo mundo, e interfere diretamente na necessidade de uma análise sobre
o papel da escola, e em especial do profissional que irá atuar nesta escola. Com relação a
tais mudanças, poderíamos indagar: O que os professores brasileiros fazem, pensam e
almejam? Título por sinal da pesquisa desenvolvida pela UNESCO (2004), que nos servirá
de base para importantes análises sobre o próximo subtema deste capítulo.
44
2.4 - O professor brasileiro e a sociedade tecnológica
O que os professores brasileiros fazem, pensam e almejam com relação às novas
tecnologias? Na tentativa de buscar respostas para tais questionamentos, utilizaremos parte
de uma importante e abrangente pesquisa realizada pela UNESCO do Brasil (2004) em que
foram abordados 5.000 docentes de escolas públicas e privadas atuantes no ensino
fundamental ou médio das 27 unidades da Federação, que, dentre outros, investigou
também o tema: Novas Tecnologias da Informação e Comunicação.
Conforme demonstram os organizadores da pesquisa, aprofundar o conhecimento
sobre quem são esses professores “constitui condição essencial para que se possam tornar
efetivas as iniciativas voltadas à sua valorização e à possibilidade real de que venham
corresponder às expectativas neles depositadas” (ibid., p.19). Dentre diversas informações
imprescindíveis para o entendimento desse profissional, apresentadas nos relatórios
publicados, destacaremos algumas que nos servem diretamente como possíveis respostas às
perguntas apresentadas anteriormente.
Os dados apresentados nas Tabelas 1 e 2 nos revelam que dos 5.000 profissionais
consultados, 74,3% assistem TV diariamente; 50,5% não possuem computador em casa;
59,6% nunca usaram correio eletrônico; 89,3% nunca participaram de qualquer lista de
discussão no ambiente virtual; 58,4% não costumam navegar na internet.
Diante de números tão alarmantes, a esperança de possíveis mudanças na postura
desse profissional e no ambiente escolar em que ele atua pode se transformar rapidamente
em profundo desânimo. Mas nem tudo está perdido: existe um dado que desponta reluzente
na pesquisa e pode reacender a esperança de que mudanças geradas com o apoio das TIC
podem ser bem vindas: 86,9% na escola pública e 88,2% na escola privada desses
professores consultados, de acordo com os dados da tabela 3, concordam que a análise dos
meios de comunicação deve ser tratada na escola. Infelizmente, só não sabem de que forma
fazê-lo, e não se sentem preparados para tal tarefa. Sobre esses índices destacados os
analistas da pesquisa indicam que
Em geral, pode-se constatar que a maioria dos professores concordam
com a introdução de temas da atualidade no currículo (...). Essa postura
pode estar relacionada tanto à sua identificação com concepções mais
45
atuais da função docente quanto às situações potencialmente
problemáticas que enfrentam cotidianamente na escola. (ibid., p. 16).
Para apreciação e verificação do leitor dos dados comentados anteriormente,
apresentamos as Tabelas 1, 2 e 3.
Tabela 1 - Proporção de professores, segundo a frequencia de realização de outras
atividades
Tipo de atividade Frequência de outras atividades
Total Diariamente 3 ou 4 vezes
por semana
1 ou 2 vezes
por semana
A cada 15
dias
Nunca
Vê TV
74,3 13,7 10,1 1,2 0,6 100,0
Ouve rádio
52,0 17,1 17,4 6,4 7,2 100,0
Ouve música
em sua casa
55,1 18,6 19,0 5,2 2,0 100,0
Estuda ou toca algum
instrumento musical
8,3 4,6 4,6 5,2 77,3 100,0
Lê jornal
40,8 22,6 23,5 9,5 3,7 100,0
Lê revistas
31,6 24,8 25,9 14,3 3,3 100,0
Faz ginástica, esportes
ou alguma
atividade física
17,8 15,3 18,7 13,7 34,5 100,0
Participa de listas de discussão
através do correio eletrônico
1,5 1,6 2,6 4,9 89,3 100,0
Usa o correio
eletrônico
9,1 8,4 10,5 12,4 59,6 100,0
Navega
na internet
7,3 8,9 12,6 12,7 58,4 100,0
Diverte-se
com seu computador
9,9 9,3 14,6 12,4 53,9 100,0
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002 (p.98).
Nota dos organizadores da pesquisa: Foi perguntado aos professores: Indique com que frequência
o(a) sr.(a) realiza as seguintes atividades:
46
Tabela 2 - Proporção de professores, por renda familiar mensal, segundo a existência
de computador em casa.
Tem computador
em casa
Renda familiar mensal
Total Até 2 salários
mínimos
Mais de 2 a
5 salários
Mais de 5 a
10 salários
Mais de 10 a
20 salários
Mais de 20
salários
Sim 2,8 22,1 52,5 76,2 91,7 49,5
Não 97,2 77,9 47,5 23,8 8,3 50,5
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002 (p.122).
Nota dos organizadores da pesquisa: Foi perguntado aos professores: Na sua casa existe
computador?
Tabela 3 - Proporção de professores, por dependência administrativa da escola,
segundo opinião sobre temas a serem tratados na escola.
Temas a serem tratados na
escola
Opinião Dependência administrativa Total
Pública Privada
A educação sexual e saúde
reprodutiva
Concorda 97,9 98,5 97,9
Não concorda 2,1 1,5 2,1
Total 100,0 100,0 100,0
Religião
Concorda 66,2 55,1 65,7
Não concorda 33,8 44,9 34,3
Total 100,0 100,0 100,0
Análise de situações políticas
e sociais atuais
Concorda 92,5 94,9 93,0
Não concorda 7,5 5,1 7,0
Total 100,0 100,0 100,0
Música
Concorda 86,1 86,7 86,4
Não concorda 13,9 13,3 13,6
Total 100,0 100,0 100,0
Análise da televisão e outros
meios de comunicação de
massa
Concorda 86,9 88,2 87,4
Não concorda 13,1 11,8 12,6
Total 100,0 100,0 100,0
Prevenção do uso de drogas
Concorda 98,9 99,7 99,0
Não concorda 1,1 0,3 1,0
Total 100,0 100,0 100,0
Violência
Concorda 96,1 97,8 96,5
Não concorda 3,9 2,2 3,5
Total 100,0 100,0 100,0
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002 (p. 115).
Notas dos organizadores da pesquisa:
1) Foi perguntado aos professores: O(a) sr.(a) concorda ou não concorda que estes temas sejam
tratados nas escolas? 2) As escolas privadas religiosas foram retiradas da análise.
47
De acordo ainda com esta pesquisa da UNESCO, poderemos verificar que, em
geral, os professores têm uma visão positiva a respeito dos efeitos das novas tecnologias de
informação sobre o seu trabalho pedagógico (ver Tabela 4). Dos professores consultados,
85% indicam que as TIC permitem melhorar a qualidade da Educação e da aprendizagem;
a mesma porcentagem responde que essas novas tecnologias ampliam o acesso ao
conhecimento por parte dos alunos.
Tabela 4 - Proporção de professores, por renda familiar mensal, segundo opinião
sobre os efeitos das novas tecnologias de informação sobre a Educação.
Efeitos das novas tecnologias de
informação sobre a educação
Renda familiar mensal
Total Até 2 salários
mínimos
Mais de 2 a
5 salários
Mais de 5 a
10 salários
Mais de 10 a
20 salários
Mais de 20
salários
Vão substituir parcialmente o
trabalho dos professores nas
aulas
29,8 24,3 23,9 20,3 17,9 23,1
Vão promover uma
desumanização do ensino e das
instituições pedagógicas
19,5 17,3 17,7 14,9 13,1 16,7
Vão criar facilidades para os
alunos
86,0 84,6 86,4 88,0 90,3 86,5
São recursos que facilitarão o
trabalho dos professores nas
aulas
88,4 89,9 91,6 91,3 90,3 90,8
Permitirão melhorar a
qualidade da educação e da
aprendizagem
81,4 84,4 84,9 86,4 85,5 85,0
Vão ampliar as oportunidades
de acesso ao conhecimento por
parte dos alunos
81,4 84,4 84,9 86,4 85,5 85,0
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002 (p.123).
Nota dos organizadores da pesquisa:
Foi perguntado aos professores: Em relação aos efeitos que teriam as novas tecnologias de
informação (computadores, internet, ensino programado, ensino à distância, etc.) sobre o trabalho
docente, o(a) sr.(a) concorda ou não concorda com as seguintes afirmações?
O grau de concordância com os efeitos indesejáveis das TIC sobre o trabalho
docente verificado nesta pesquisa está, de acordo com os analistas, fortemente relacionado
com a renda familiar mensal, como se pode perceber a seguir
48
O percentual de professores que concordam que as novas tecnologias de
informação vão substituir parcialmente o trabalho dos professores nas
aulas cai de 29,8%, assinalados pelos professores com renda familiar de
até 2 salários mínimos, para 17,9%, entre aqueles com renda familiar
superior a 20 salários mínimos. O percentual dos que concordam que as
novas tecnologias de informação vão promover a desumanização do
ensino e das instituições pedagógicas cai de 19,5%, entre os professores
com renda familiar de até 2 salários mínimos, para 13,1%, entre aqueles
com renda familiar superior a 20 salários mínimos. O maior grau de
concordância dos professores localizados nos estratos econômicos mais
baixos com os efeitos indesejáveis das novas tecnologias de informação
sobre o trabalho docente pode ser atribuído, entre outros motivos, ao fato
de poucos deles possuírem computador em casa e, muito provavelmente,
estarem pouco familiarizados com a utilização do recurso. (ibid.,p. 122).
A partir de tais dados, segundo os analistas da pesquisa, pode-se concluir que os
professores brasileiros acreditam que a introdução de novas tecnologias de informação
ocasionará impactos positivos na Educação, mas não substituirá o fator humano no
processo de ensino e aprendizagem.
Mesmo nos estratos econômicos de menor renda, os novos meios de comunicação e
informação vêm assumindo um papel significativo como agente de instrução nos últimos
anos. O debate sobre as possíveis vantagens e desvantagens da utilização do computador
como instrumento facilitador da aprendizagem mobiliza, de forma significativa, a literatura
especializada e as discussões sobre políticas públicas no Brasil e no mundo. Ressaltando as
perceptíveis diferenças que ocorrem neste debate de acordo com o país onde se realiza, os
analistas destacam que
Nos países onde a infraestrutura das escolas de ensino médio e
fundamental já não mais exige grandes dispêndios com a aquisição de
computadores, e a conexão à internet é muito difundida, o debate está
centrado sobre os efeitos pedagógicos e sobre os resultados acadêmicos da
utilização da nova tecnologia. (ibid., p. 124).
Analisando ainda os relatórios da UNESCO (2004), encontramos reflexões
indicadores de que um número cada vez maior de pesquisas sobre a influência das TIC na
aprendizagem vem sendo realizado, e que tais estudos11
têm mostrado “o papel estratégico
desempenhado pelos professores para que as novas tecnologias possam realizar suas
11
Um exemplo desta literatura é o relatório final do projeto MERLIN (Monitoring and evaluation of research
in learning innovations) aplicado em países da Comunidade Européia e concluído em agosto de 2002. Texto
disponível em: <http://www.ub.edu/euelearning/merlin/docs/finalreprt.pdf> Acesso em 07/03/09.
49
promessas com relação ao ensino-aprendizagem” (p.124). Porém, como argumenta Antonio
(2008)12
, já não basta o docente perder o medo do computador, é preciso mais. Para que
possam fazer bom uso pedagógico das máquinas e da internet e acompanhar o ritmo das
novas gerações, é precisa a elaboração de oficinas de capacitação desses docentes.
Conforme nos mostram as pesquisas realizadas por Win e Vrakking (2009, p. 29),
as novas gerações acostumadas com o uso constante das novas tecnologias sabem processar
informações de forma descontínua numa velocidade três ou mais vezes superior à de um
adulto. Esta espantosa habilidade foi se desenvolvendo a partir do volume imenso de
informações disponíveis que precisam ser descartadas ou aproveitadas, de acordo com sua
vontade ou seus objetivos. Essa geração foi denominada pelos autores de homo zappiens e
expressam sua impaciência com relação à forma tradicional do fazer pedagógico indicando
que “os professores são extremamente lentos em suas explicações e em suas respostas,
desejando explicar tudo em detalhes” (p. 63). Passaremos então a analisar um pouco mais
essa nova geração de estudantes e sua relação com o conhecimento.
12
Segundo os dados biográficos apresentados pelo próprio professor José Carlos Antonio em sua página
pessoal na internet, desde 1998 escreve sobre a importância do uso dos computadores como ferramenta de
ensino-aprendizagem e dá palestras sobre o assunto. É autor de um teste para verificar se o professor pode se
considerar um professor digital, apresentando dez habilidades necessárias para que seja considerado como tal.
Quanto maior for o número de habilidades, mais perto se chega ao perfil de um professor digital. As
habilidades são as seguintes: 1) Possuir um endereço de e-mail e utilizá-lo pelo menos duas vezes por semana
(o ideal seria fazê-lo diariamente); 2) Possuir um blog, um site ou uma página atualizável na Internet onde
regularmente se produz, socializa e se confronta seu conhecimento com outras pessoas; 3) Participar
ativamente de um ou mais “grupos de discussão”, fórum ou comunidade virtual ligada à sua atividade
educacional; 4) Possuir algum programa de troca de mensagens on-line, como o MSN, com, no mínimo, dois
colegas de profissão em sua “lista de contatos” e usá-lo para fins profissionais pelo menos uma vez por
semana, em média; 5) Assinar algum periódico on-line (mesmo que gratuito) sobre notícias e novidades
relacionadas à educação ou à sua disciplina específica, e lê-lo regularmente; 6) Preparar rotineiramente
provas, resumos, tabelas, roteiros e materiais didáticos diversos usando um processador de textos (como o
Word, por exemplo), uma planilha eletrônica (como o Excel) ou um programa de apresentações multimídia
(como o Power Point); 7) Fazer pesquisa na Internet regularmente com vistas à preparação de suas aulas (no
mínimo) e, preferencialmente, manter um banco de dados de sites úteis para sua disciplina e para a educação
em geral. Melhor ainda seria compartilhar esse banco de dados com colegas e alunos; 8) Preparar pelo menos
uma aula por bimestre sobre um tema de sua disciplina onde os alunos usarão os computadores e a sala de
informática de forma produtiva e não apenas para “matar o tempo”; 9) Manter contato com o computador por,
pelo menos, uma hora diária, em média, e 10) Manter-se atento para as novas possibilidades de uso
pedagógico das novas tecnologias que surgem continuamente e tentar implementar novas metodologias em
suas aulas. Vale destacar que na lista desenvolvida pelo professor não consta a necessidade de se possuir um
computador, porque “não é preciso possuir algum para ser um professor digital, ou mesmo para incluir-se
digitalmente”. Disponível em: <http://professordigital.wordpress.com/2008/06/30/voce-e-um-professor-
digital/>, Acesso em 13.03.09.
50
2.5 - Homo Sapiens, Homo Faber ou Homo Zappiens?
Apenas o ser humano trabalha e educa (Saviani, 2007). Partiremos desta afirmação
para resgatar ideias imprescindíveis a reflexões sobre o fato de que a existência humana não
é garantida pela natureza, mas sim um produto do trabalho dos próprios homens, o que
“significa que o homem não nasce homem, ele forma-se homem” (ibid., p.154). Este autor,
analisando os fundamentos histórico-ontológicos da relação trabalho-educação chega a
propor que buscássemos nos despir de todo orgulho para verificarmos que a história nos
apresenta características constantes do homem e da inteligência que poderiam culminar em
uma mudança de denominações: talvez não devêssemos ser o Homo Sapiens13
, mas sim
Homo Faber14
, e argumenta que
Se a existência humana não é garantida pela natureza, não é uma dádiva
natural, mas tem de ser produzida pelos próprios homens, sendo, pois, um
produto do trabalho. Isso significa que o homem não nasce homem. (...)
Portanto, a produção do homem é, ao mesmo tempo, a formação do
homem, isto é, um processo educativo. A origem da Educação coincide,
então, com a origem do homem mesmo. (ibid., p. 154).
Quais seriam então os pré-requisitos para que esse homem compreenda e atue neste
mundo em que vive atualmente? Talvez aprender a ler, escrever e contar, dominar
princípios das ciências naturais e sociais, e poder interagir de forma autônoma e reflexiva
com tecnologias cada vez mais poderosas e abrangentes que o cercam. E é a escola o local
13
Segundo o site de Educação Brasil Escola, o ser humano é um membro da espécie de primata bípede Homo
sapiens (do latim: homem sábio). Os membros dessa espécie têm um cérebro altamente desenvolvido, com
inúmeras capacidades como o raciocínio abstrato, a linguagem, e a resolução de problemas. Esta capacidade
mental, associada a um corpo ereto, possibilitaram o uso dos braços para manipular objetos, fator que
permitiu aos humanos a criação e a utilização de ferramentas para alterar o ambiente a sua volta mais do que
qualquer outra espécie de ser vivo. O fóssil mais representativo e estudado de Homo sapiens foi o Homem de
Neanderthal, cuja provável existência compreendeu o período entre 70.000 e 40.000 anos atrás, habitando a
Europa e a Ásia. Os Neanderthais demonstravam habilidades na fabricação de instrumentos de pedras,
utilizados para furar peles e confeccionar roupas e também produziam lanças de madeira usadas para abater
animais de grande porte.
Endereço: <http://www.brasilescola.com/biologia/a-nossa-especie-homo-sapiens.htm> Acesso em: 24.07.09. 14
Destacamos o conceito de homo faber apresentado por Libâneo (2008), para quem o ser humano que
maneja a técnica nasceu com o homo sapiens, o ser humano dotado de inteligência. O autor destaca que o “o
animal que seguia unicamente os instintos chegou a aprimorá-los por casualidades da natureza” e ainda que
“quando brota a inteligência, surge a percepção do fim que se escolhe”, em vista deste fim o ser humano
dispõem de instrumentos, e aí o homo faber atuará com sua técnica. O homo faber é então o homem que cria
técnicas para domar e modificar a natureza a sua volta. Libâneo defende que hoje em dia assistimos ao
crescimento de poder do homo faber, pois ele “não organiza meios inocentes para fins de pequeno alcance,
ambiciona lançar-se por mares nunca dantes navegados”.
51
privilegiado, não o único, onde pode o indivíduo ter contato com trabalhos pedagógicos que
visem desenvolver essas e outras habilidades e competências.
De acordo com Perrenoud (2000, p. 168), “a evolução da escola transforma o ofício
de professor década após década, por um duplo movimento: ambições crescentes e
condições de exercício cada vez mais difíceis”, o que poderíamos completar com a
afirmativa de que “uma cultura tecnológica de base também é necessária para pensar as
relações entre a evolução dos instrumentos (informática e hipermídia), as competências
intelectuais e a relação com o saber que a escola pretende formar” (ibid., 2008 p. 138).
Ao profissional ligado à Educação, tal cultura torna-se ainda mais emergencial, pois
é este o profissional que necessitará ampliar suas competências e habilidades para lidar com
o novo mundo, a cada instante, dentro e fora de sala de aula.
Com a evolução constante deste novo mundo, poderemos acompanhar a evolução
de um novo homem, o nativo digital ou Homo Zappiens15
(VRAKKING e VEEN, 2008),
uma geração de seres humanos que cresceu em meio às tecnologias digitais e que aprendeu
desde muito cedo que tais tecnologias lhes permitem acessar de forma rápida uma gama
imensa de informações e se comunicar com pessoas. Eles “zapeiam”16
entre as diversas
informações que julgam interessantes ou úteis, da mesma forma como ficam mudando de
canal no aparelho de televisão, ou seja,
O modo como elas assistem à televisão é um processo ativo de busca por
indicadores e pontos importantes mais do que deixar-se levar pelo fluxo
de eventos, conversas e sequências de imagens. Esta habilidade tornou-se
tão natural para elas que também a aplicam em suas próprias
comunicações nas salas de bate papo e no MSN17
. Mesmo em suas
15
Segundo Veen e Vrakking (2009), homo zappiens é a denominação dada a uma nova geração de seres
humanos que desde a infância utiliza recursos tecnológicos que lhes permitem ter controle sobre o fluxo de
informações, “lidar com informações descontinuadas e com a sobrecarga de informações, mesclar
comunidades virtuais e reais, comunicar-se e colaborarem em rede, de acordo com suas necessidades” (p.12).
Desta forma, este ser é um processador ativo de informações, resolvendo problemas de maneira muito hábil,
usando estratégias de jogos e sabendo se comunicar muito bem. 16
Zapear é um neologismo geralmente utilizado para designar o ato de mudar constantemente o canal da
televisão utilizando-se de um controle remoto. Segundo a enciclopédia on-line Wikipédia, “o termo talvez
tenha se originado da onomatopeia zap! que remete a algo feito rapidamente”. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/zapear> Acesso em 07/01/09. 17
Microsoft Network ou simplesmente MSN é um portal e uma rede de serviços oferecidos pela Microsoft em
suas estratégias envolvendo tecnologias da internet. A sigla atualmente é mais conhecida como programa
mensageiro, pois o MSN Messenger permite conversar on-line e em tempo real.
(Fontes: Wikipédia, Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/MSN> e MSN Messenger, Disponível em:
< http://webmessenger.msn.com/?mkt=pt-br> Acesso em 12.03.09).
52
conversas elas usam a linguagem das mensagens SMS18
ou MSN. Pode-se
notar que as crianças ficam impacientes enquanto ouvem você dar uma
resposta às suas perguntas: “por favor, vá direto ao assunto, está
demorando demais”. (ibid., p. 63).
Essa possibilidade de mudar rapidamente o foco da atenção de acordo com os
interesses, segundo os autores, pode ser observada também no ambiente escolar, onde é
cada vez mais difícil despertar-lhes a atenção. Os professores que irão trabalhar com esses
alunos precisam ter ciência dessas características de uma nova geração que aprendeu a
“cooperar em redes e negociar sobre as informações e confiança” (ibid., p. 62). As novas
gerações aceitam as novas tecnologias sem medo, porém ainda necessitam de que lhes
indiquem caminhos para que tais benefícios sejam utilizados de forma reflexiva e
autônoma. Estes autores destacam diferenças significativas dessas gerações que nasceram
com uma série de novas tecnologias em pleno funcionamento, e as anteriores, que
acompanharam a evolução nem sempre tranquila.
Os Homo Zappiens vieram conhecer as oportunidades que a tecnologia
oferece, sem todos os problemas que ela nos trouxe quando ainda
estávamos desenvolvendo-a. Para eles, um telefone celular é um telefone
celular, não um aparelho que pode ser muito prático, mas na metade do
tempo não funciona. Um computador é apenas uma tela, um mouse e um
teclado que permite a conexão com pessoas e coisas legais, não um
equipamento especial caro que nos custa muito adquirir. Em suma, eles
vivem sem medo da tecnologia, o que lhes permite utilizá-la. (ibid., p. 60).
Ao reconhecer as habilidades e as estratégias de aprendizagem que as novas
gerações digitais estão desenvolvendo (principalmente fora do ambiente escolar), nossas
instituições de ensino poderiam responder de acordo com as necessidades desses novos
estudantes. Este é o grande desafio da Educação de hoje: encontrar formas de fazer mesclar
o poder de reflexão, inteligência, construção e destreza com a tecnologia dessa nova
geração; em outras palavras, mesclar o Homo Sapiens com o Homo Faber e estes dois com
o Homo Zappiens.
As reestruturações de currículos, os investimentos na formação do professor e na
aquisição de tecnologias, para que os ambientes educacionais estejam aptos a receber
18
SMS é o serviço de mensagens curtas (Short Message Service). Disponível em telefones celulares digitais
que permitem o envio de mensagens. O SMS foi projetado originalmente como parte do GSM (Sistema de
Padrão Móvel Global), mas está agora disponível num vasto leque de redes, incluindo as do tipo 3G. (Fonte:
Wikipédia, Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sms> Acesso em 12.03.09).
53
gerações de alunos acostumados com as TIC, e facilitar o acesso aos que se encontram à
margem da revolução tecnológica, muitas vezes são bloqueados por políticas públicas
confusas e pouco abrangentes. Há casos também de políticas relacionadas à inclusão digital
e ao livre acesso à informação, elaboradas de forma que no papel se apresentem como
grandes obras de literatura, mas vazias de prática e realismo. Como exigir do docente que
esteja preparado para os grandes desafios da Educação sem que as políticas públicas que
interferem diretamente no seu fazer pedagógico proporcionem meios para isso acontecer?
Este é o foco da próxima subseção deste capítulo.
2.6 - As políticas públicas e os novos papéis do professor
Segundo Lévy (2008), toda e qualquer política de Educação deverá levar em
consideração os novos suportes de informação e comunicação e proporcionar aos atores
envolvidos no processo educacional uma formação que lhes permita evitar posicionamentos
extremistas com relação ao uso das novas tecnologias, pois eles podem proporcionar
mudanças na forma de trabalho do professor no novo mundo da cibercultura, onde o
docente deixa de ser apenas um dispensador de conhecimentos, e passa a ser um animador
da inteligência coletiva. Com relação ao trabalho do professor, este autor ainda destaca que
A função-mor do docente não pode mais ser uma difusão dos
conhecimentos, executada doravante com uma eficácia maior por outros
meios. Sua competência deve deslocar-se para o lado do incentivo para
aprender e pensar. O docente torna-se um animador da inteligência
coletiva dos grupos dos quais se encarregou. Sua atividade terá como
centro o acompanhamento e o gerenciamento dos aprendizados: incitação
ao intercâmbio dos saberes, mediação relacional e simbólica, pilotagem
personalizada dos percursos de aprendizado, etc. (p. 11).
Ainda de acordo com Lévy, com o desenvolvimento da internet e
consequentemente, do ciberespaço, torna-se cada vez mais perceptível que a maioria das
competências adquiridas por uma pessoa, no começo de sua carreira, poderão tornar-se
obsoletas no fim de seu percurso profissional, se este não se atualizar constantemente. A
mesma opinião podemos encontrar nos trabalhos desenvolvidos por Sennet (2007), que
argumenta que o mercado globalizado e o uso de novas tecnologias são as características do
54
capitalismo de nossa época. Estas novas características criam a sensação de fracasso e
incerteza constantes. As mudanças rápidas corroem não só o trabalhador, mas o seu caráter,
a família e mesmo suas perspectivas de vida. É importante a adaptação a outras formas de
organizar o tempo e, sobretudo, o tempo de trabalho, pois, segundo este autor
O sinal mais tangível dessa mudança talvez seja o lema “Não há longo
prazo”. No trabalho, a carreira tradicional, que avança passo a passo pelos
corredores de uma ou duas instituições, está fenecendo; e também a
utilização de um único conjunto de qualificações no decorrer de uma vida
de trabalho (p. 22).
A exigência do mercado de trabalho de que o trabalhador se atualize e esteja em
constante adaptação a novas realidades é analisado por Sennet como um novo paradigma
mercadológico. De acordo com este autor, numa sociedade cada vez mais dinâmica como a
que vem se descortinando, as pessoas passivas “murcham”, e no presente, cada vez mais
“flexível e fragmentado, talvez pareça possível criar narrativas apenas sobre o que foi, e
não mais narrativas precisas sobre o que será”(ibid., p. 161).
Essa mudança nos paradigmas mercadológicos não deverá ser sentida apenas pelos
profissionais liberais, ou por aqueles ligados a grandes instituições, mas sim, e de forma
significativa, pelo profissional da Educação, o que, nas palavras de Paulo Freire (1996), é
um ser na busca constante de ser mais, uma busca de caráter permanente por
conhecimentos que possibilitem análises críticas do seu comprometimento com a
Educação, verificando a validade do novo (novas formas de atuar) e livrando-se de
preconceitos, inclusive sobre a utilização das novas tecnologias, pois “o homem é um ser
inacabado e por isso se educa” (FREIRE, 1977, p. 27). Capacitar-se profissionalmente é
também, segundo Freire, buscar desenvolver (ou aprimorar) a consciência crítica, que tem
como características: anseio de profundidade na análise de problemas, amor ao diálogo e
reconhecimento de que a realidade é mutável. Ele nos lembra também que o papel do
professor é muito mais que puramente treinar, ao afirmar que
(...) transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é
amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício
educativo: o seu caráter formador. (...) Educar é substancialmente formar.
Divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a ciência é uma forma altamente
negativa e perigosa de pensar errado. (1996, p. 33).
55
O desafio da profissionalização docente no Brasil tem sido amplamente abordado
por diversos autores, tais como Sampaio e Leite (1999); Rodrigues (2001); Cury (2002);
Weber (2003); Campos (2007); Silva (2007), entre outros, nas suas diferentes concepções e
campos de estudo. De uma forma geral, tais estudos convergem para a constatação da
importância de que políticas públicas criem possibilidades de um desenvolvimento
contínuo das competências necessárias para que esse profissional se sinta de fato à vontade
e fortalecido na sua tarefa diária de mediação do conhecimento.
Campos (2007, p.17), ao apresentar novas perspectivas e desafios para esse
profissional, oferece-nos as seguintes análises
O que significa a profissão docente hoje? Ter profissionalismo e
compromisso social, o que implica (1) pensar e pensar-se como docentes
não só ocupados com tarefas didáticas, mas numa dimensão maior que
inclui a gestão escolar e as políticas estratégicas educacionais; (2) ser
protagonista das mudanças e capaz de participar e intervir nas decisões da
escola e em espaços técnico-políticos mais amplos; (3) desenvolver
capacidades e competências para trabalhar em cenários diversos,
interculturais e em permanente mudança; (4) atuar com gerações que têm
estilos e códigos de comunicação e aprendizagens diversos, com novas
exigências e desafios à competência dos docentes.
Tais reflexões podem ser complementadas pelos comentários de Helena Freitas,
presidente da Associação Nacional pela Formação de Profissionais da Educação
(Anfope)19
, em documento elaborado pela UNESCO em 200720
. Segundo Freitas (2007, p.
18), o movimento dos educadores vem defendendo há décadas a “necessidade de uma
política global de formação e valorização do magistério que contemple igualmente a
formação inicial e continuada, condições de trabalho, salários dignos e uma carreira com
critérios justos”.
Para a completa formação do professor, é fundamental, segundo Fischer (1997, p.
296) que sejam incluídas em seus estudos as “imagens, os processos de produção, de
materiais audiovisuais, as diferentes formas de recepção e uso das informações, narrativas e
interpelações de programas de televisão, filmes, vídeos e jogos”. De acordo com Sampaio e
Leite (1999, p. 15), torna-se necessário preparar o professor “para utilizar pedagogicamente
19
Endereço na internet: http://lite.fae.unicamp.br/anfope/ 20
O desafio da profissionalização docente no Brasil e na América Latina. Publicação elaborada pelo Conselho
Nacional de Secretários de Educação em parceria com UNESCO do Brasil. Março de 2007.
56
as tecnologias na formação de cidadãos que deverão produzir e interpretar as novas
linguagens do mundo atual e futuro”.
Nas palavras de Perrenoud (2008), todo professor que se preocupa com o
reinvestimento dos conhecimentos escolares na vida deveria ter interesse em adquirir uma
cultura básica no domínio das tecnologias. Lutar contra a evasão e o fracasso escolar,
segundo o autor, são também grandes motivos que poderiam servir de inspiração para a
busca em desenvolver suas habilidades e competências na utilização de novas tecnologias
no ambiente escolar. Formar o docente para a utilização das novas tecnologias, de acordo
com este autor, pode ser entendido da seguinte maneira
Formar para as novas tecnologias é formar o julgamento, o senso crítico, o
pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de
pesquisa, a imaginação, a capacidade de memorizar e classificar, a leitura
e a análise de textos e de imagens, a representação de redes, de
procedimentos e de estratégias de comunicação. (p. 128).
A importância de uma formação que desenvolva tais habilidades, a alfabetização
tecnológica do professor, pode ser percebida de forma mais clara quando deparamos com
alguns dados extraídos do estudo Tecnologia, Informação e Inclusão organizados pela
UNESCO (2008) sobre o uso domiciliar das TIC.
De acordo com esse estudo, até o ano de 2006, 90% das casas possuíam rádio e
quase a totalidade, 97% das casas, possuía ao menos um aparelho de televisão. Menos de
20% dos brasileiros não tinham computador em casa, e, dos que tinham, apenas 14,5%
estavam ligados à internet. Mais da metade dos brasileiros, 67%, nunca tinha navegado na
internet. A mesma pesquisa ressalta aumento significativo nos números que indicam a
presença do computador nos domicílios, pois poderemos verificar que em 2005 era de
16,6%, passando para 19,6% no ano seguinte, com a indicação de que as regiões Sul e
Sudeste ficaram bem acima da média nacional, com 25% de brasileiros tendo o
equipamento em suas casas. Nas regiões Norte e Nordeste, verifica-se o oposto, pois no
período ainda se encontravam bem abaixo disso, na faixa de 9%. Estes e outros dados nos
permitem delinear o perfil do indivíduo incluído na sociedade de informação no Brasil, de
acordo com a UNESCO:
A maioria dos brasileiros computadorizados, (65%), tem curso superior
completo e se situa entre as classes A e B (61 e 65%), C (51,2%),
57
deixando um índice bem abaixo para as classes D-E (30%). A faixa etária
predominante entre esses mesmos usuários vai de 16 a 24 anos (23%);
apenas 8% são pessoas acima de 60 anos. Os dados permitem delinear o
perfil do indivíduo incluído na sociedade da informação no Brasil: ele é
jovem, pertence às classes mais abastadas, vive num lar com TV, rádio,
celular e videogame, sabe usar a tecnologia e utiliza conexão rápida à
internet. (p. 2)
Outras conclusões possíveis a partir da análise dos dados desta importante pesquisa
são: 1) No Distrito Federal, um em cada três habitantes possui computador. A região é a
campeã no país neste quesito, seguida de São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Porto
Alegre, nessa ordem; 2) As classes D e E utilizam mais o computador e a internet nas
escolas e centros de acesso pagos (lan houses); 3) A escola é um dos importantes locais de
acesso ao computador e à internet para os mais jovens, de 10 a 15 anos, assim como os
centros de acesso pagos; 4) A população na faixa de 16 a 34 anos costuma recorrer aos
cursos de informática para aprender a usar o computador, enquanto os menores de 16 estão
encontrando na escola as primeiras “letras tecnológicas” (principalmente os da classe D-E).
De acordo com Melo (2008, p. 3), a “exclusão digital é uma mera projeção da
exclusão cultural e tem seu fundamento na exclusão socioeconômica”. A diferença de
possibilidades de acesso de pobres e ricos ao ciberespaço recebe a denominação do autor de
“muralha digital” e, em uma perspectiva histórica, completa:
Ela (a exclusão) se impõe desde o aparecimento da imprensa, projeta-se
com o rádio, continua com a televisão e persiste com a cibermídia.
Qualquer sociedade que possua excluídos do bem estar social,
evidentemente, conta com um grande número de excluídos midiáticos.
(...) A internet brasileira ainda é um canal de comunicação das elites, das
classes mais favorecidas e de segmentos específicos das classes médias”.
(p. 3).
Poderemos concluir, a partir dos dados deste estudo que ainda é a escola, e de forma
especial a pública, o principal local de democratização do acesso à rede. O principal local
de acesso ao computador das classes D e E está nas escolas públicas do país. Cabe a esta
escola o papel importante de garantir que a técnica, a ciência e a cultura não sejam
conhecimentos relegados apenas a elites. Estará o professor desta escola preparado para
proporcionar essa democratização?
Conforme Sampaio e Leite (1999, p. 46), o educador deve sempre estar atento às
características e necessidades do mundo atual, tendo como objetivo “contribuir
58
significativamente para a concretização desse papel fundamental da Educação e da escola”,
que é a de formar cidadãos que atuem de forma crítica na sociedade, pois, de acordo com as
autoras:
Precisamos pensar em uma escola que forme cidadãos capazes de lidar
com o avanço tecnológico, participando dele e de suas consequências.
Esta capacidade se forja não só através do conhecimento das tecnologias
existentes, mas também, e talvez principalmente, através do contato com
elas e da análise crítica de sua utilização e de suas linguagens. (ibid., p.
15).
Estas autoras defendem a necessidade de uma alfabetização tecnológica do
professor, como forma de capacitar o profissional para novas formas pedagógicas de atuar
utilizando-se de novas tecnologias disponíveis. A alfabetização tecnológica pode ser
entendida também como uma democratização digital e possibilidade de acesso ao domínio
técnico, pedagógico e crítico dessas novas tecnologias, pois como nos mostra as mesmas
autoras:
O conceito de alfabetização tecnológica do professor envolve o domínio
contínuo e crescente das tecnologias que estão na escola e na sociedade,
mediante o relacionamento crítico com elas. Este domínio se traduz em
uma percepção do papel das tecnologias na organização do mundo atual -
no que se refere a aspectos locais e globais - e na capacidade do professor
em lidar com essas diversas tecnologias, interpretando sua linguagem e
criando novas formas de expressão, além de distinguir como, quando e
por que são importantes e devem ser utilizadas no processo educativo.
(ibid., p. 100).
Assim, o desenvolvimento crítico desse profissional não pode estar ligado
simplesmente a acompanhar o progresso das novas tecnologias (FISCHER, 1997, p.65),
mas sim a estudá-lo na complexidade de todas as relações em jogo. Tal pensamento
encontramos também em Lucena (2008, p. 242), que argumenta:
O professor precisa estar aberto para interagir com esta tecnologia no
sentido de formar um cidadão atuante na sociedade e que tenha condições
de fazer uma leitura crítica da mesma sociedade. Para preparar esse novo
cidadão, é fundamental a aquisição de equipamentos tecnológicos e
clareza de uma ação pedagógica em consonância com essas mudanças,
onde o professor possa interagir com as tecnologias, desenvolvendo
práticas pedagógicas não lineares, e sim estruturadas de forma
hipertextual21
.
21
O hipertexto é, para Silva (2007, p. 14), uma teia de conexões de um texto com inúmeros outros textos.
59
Kellner (2008, p. 1) afirma que as formas de desenvolver essas competências que
capacitem as pessoas a participar de forma autônoma de um mundo cada vez mais
complexo e mutante é uma das discussões mais presentes em nossos dias, pois “deveríamos
considerar seriamente a tese de que estamos passando agora pela revolução tecnológica
mais significativa na Educação, desde a mudança do ensino, baseada na oralidade para o
ensino baseado na imprensa e no livro”. Este autor defende ainda que, pelo fato de
vivermos em uma sociedade multicultural, precisamos de múltiplas modalidades de
alfabetizações. Com relação a essa análise, nos apresenta o seguinte argumento:
Teorizar uma reconstrução multicultural e democrática da educação força-
nos, assim, a enfrentarmos a barreira digital e a reconhecermos que há
divisões entre a informação e tecnologia dos que tudo têm e dos que nada
têm, assim como existem divisões de classe, gênero e raça em todas as
esferas das constelações existentes na sociedade e na cultura. As últimas
pesquisas da divisão social, no entanto, indicam que as questões-chave
desta barreira são a classe social e Educação, e não raça e gênero, o que
traz elementos para questionar também o argumento tão disseminado de
que as novas tecnologias apenas reforçam a hegemonia dos machos
brancos da classe superior. (ibid., p. 2)
Com a mesma ênfase, Kellner nos chama a atenção para o desenvolvimento e
implementação de programas de alfabetização tecnológica propostos aos professores
resultantes de decisões de “cima para baixo”, como o projeto desenvolvido pela SEEDUC-
RJ na entrega de laptops para os professores da rede estadual de ensino, o polêmico
“Conexão Professor”, do qual trataremos no capítulo 3 desta pesquisa.
60
CAPÍTULO 3
O PROJETO CONEXÃO PROFESSOR
Neste capítulo apresentamos o projeto desenvolvido pela Secretaria de Educação do
Rio de Janeiro de entrega de laptops aos professores da rede de ensino, denominado
“Conexão Professor”, que nos servirá de base para a pesquisa de campo e análises das
possíveis mudanças nas práticas pedagógicas dos professores a partir da utilização de novas
tecnologias de informação e comunicação.
Iniciamos com um breve panorama da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro,
suas escolas e seus professores, as propostas do projeto Conexão Professor sobre esses dois
elementos e diversas vozes que se manifestaram a favor e contra sua implementação.
Por fim, algumas reflexões sobre por que, de uma forma geral, não é permitido ao
professor que se manifeste sobre tais projetos, uma vez que tem justamente sua prática
pedagógica como foco de atenção, e quais as formas utilizadas por alguns professores para
superar tais barreiras.
3.1 - Breve panorama das Escolas e dos Professores da Rede Estadual de Ensino do
Rio de Janeiro
No ano de 2007, a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-
RJ), em parceria com a União dos Dirigentes Municipais de Educação do Rio de Janeiro
(UDIME-RJ), elaborou um documento norteador de discussões para construção de um
Plano Estadual de Educação para o Estado. O intuito deste documento, de acordo com seus
organizadores, era oferecer subsídios para discussões em amplos segmentos da sociedade
civil em torno da construção desse Plano. O documento, denominado também de Tese
Guia, foi elaborado com o apoio de inúmeros representantes de importantes instituições
61
ligadas à Educação22
. Os dados apresentados neste e em outros documentos nos serve para
tomada de consciência do panorama em que se encontrava a Rede de Ensino no momento
em que o projeto Conexão Professor ainda estava sendo elaborado.
O documento norteador de discussões para a construção de um Plano Estadual de
Educação (SEEDUC-RJ, 2007), torna-se, então, uma rica fonte de dados que nos ajudam a
compreender a abrangência e a complexidade de qualquer implantação de políticas públicas
na área da Educação fluminense, pois nele encontraremos diagnósticos e diretrizes
elaboradas a partir da análise destes diagnósticos, e são revelados objetivos e metas a serem
alcançados a “fim de tornar o conjunto do Sistema de Ensino mais equânime, democrático e
qualificado” (p. 5). A importância da elaboração de tal documento foi ressaltada por seus
criadores logo nas primeiras páginas, de onde destacamos:
A Educação fluminense ressente-se da ausência de ferramentas que
propiciem que as ações dos gestores sejam planejadas e referenciadas,
movidas por um projeto educacional que ultrapasse a duração de governos
e estabeleça-se como uma política de Estado. O Plano Estadual de
Educação deve ser esta ferramenta, a qual permite que a gestão desse bem
tão caro à sociedade brasileira - a Educação - firme-se em propósitos
balizadores e propulsores de valores éticos, culturais e sociais sólidos
capazes de promoverem a construção de um Sistema estadual articulado
de Educação23
(p. 5).
No sentido de alcançar estas intenções, a proposta de Minuta do Plano Estadual de
Educação prioriza a gestão democrática e a qualidade social da Educação, defendendo
sempre a promoção da garantia da Educação para todos, de acordo com um dos princípios
22
Neste documento encontramos uma lista com mais de sessenta instituições representativas de diversos
segmentos da sociedade que foram convidadas a enviar delegações e observadores para os fóruns regionais e
para o II Congresso Estadual de Educação. Para oferecer uma ideia da perceptível busca intencionada pelos
organizadores por uma maior amplitude das discussões, destacaremos algumas das entidades convidadas:
ABE (Associação Brasileira de Educação); ABI (Associação Brasileira de Imprensa); ABL (Academia
Brasileira de Letras); ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior); ANDHEP
(Associação Nacional de Direitos Humanos, Pesquisas e Pós-Graduação); ANFOPE (Associação Nacional
pela Formação dos Profissionais da Educação); CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior); CEE (Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro); CNE (Conselho Nacional de
Educação); CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação); Comissão dos Direitos
Humanos da ALERJ (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro); Comissão de Educação da ALERJ; SEPE
(Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação); UPPES (União dos Professores Públicos no Estado), etc.
23 Por Sistema Estadual articulado de Educação entende-se a promoção de políticas que incentivem o regime
de colaboração entre os Sistemas de Ensino, tendo como um dos instrumentos o financiamento da Educação.
(SEEDUC-RJ, 2007, p. 5).
62
da Constituição Federal de 1988, assim como a preocupação com os temas ligados à
inclusão e à diversidade, e o combate aos problemas que geram a evasão escolar.
De acordo com esse documento (SEEDUC-RJ, 2007), o Ensino Médio no Estado
fluminense é oferecido pela rede pública (composta de instituições federais, estaduais e
municipais) e instituições particulares, perfazendo um total de aproximadamente 732.000
alunos. A rede pública atende a aproximadamente 84% dos alunos nesse nível de ensino,
enquanto que a rede particular atende a aproximadamente 16% das matrículas (Figura 1).
Figura 1 - Número e percentual de matrículas em toda a rede de Ensino Médio do Estado do
Rio de Janeiro, por dependência administrativa.
Estadual (80,87%)
Federal (1,72%)
Municipal (1,42%)
Particular
(15,99%)
Fonte: MEC/INEP/2006 - RIO DE JANEIRO, Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro
-Tese Guia, Documento norteador das discussões sobre a construção do Plano Estadual de
Educação do Rio de Janeiro, SEEDUC-RJ, 2007. (p. 20).
Este documento nos mostra que do total de alunos matriculados no Ensino Médio,
aproximadamente 60% (434.834 estudantes) cursam o turno da manhã e 40% (296.920
estudantes), o turno da noite (SEEDUC-RJ, 2007, p. 20). A rede privada de ensino possui
42% das unidades escolares do Ensino Médio, mas somente 16% do total de alunos estão
matriculados nela, enquanto que a rede pública conta com 58% das escolas e matricula
cerca de 84% dos alunos (Ver Tabela 5).
63
Tabela 5 - Estabelecimentos com Ensino Médio - Ano 2006
Dependência Administrativa Total de Escolas %
Federal 22 1
Estadual 1038 55
Municipal 38 2
Privada 805 42
Total 1903 100
Fonte: MEC/INEP - RIO DE JANEIRO, Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro -Tese
Guia, Documento norteador das discussões sobre a construção do Plano Estadual de Educação do
Rio de Janeiro, SEEDUC-RJ, 2007 (p. 21).
A taxa líquida de escolarização no estado do Rio de Janeiro é de aproximadamente
44%, fazendo supor, de acordo com a equipe que elaborou o documento, que muitos
jovens, com idade entre 15 e 17 anos, estão ainda no Ensino Fundamental. A taxa bruta de
escolarização, em torno de 100%, sugere que “aqueles que abandonaram os estudos ou que
se evadiram retornaram à escola, seja na Educação de Jovens e Adultos, seja no Ensino
Médio” (p. 21), o que reflete diretamente na taxa de defasagem idade/série no Ensino
Médio.
É interessante verificar, no documento em análise, que a taxa de aprovação no
Estado é inferior à do Sudeste, apresentando por consequência taxas de reprovação e
abandono superiores.
Comparando os anos de 2000 e 2004, tanto no Sudeste, quanto no Rio de
Janeiro, houve uma diminuição nas taxas de aprovação e um aumento nas
de reprovação. Já a taxa de abandono diminuiu na região, porém
aumentou no Estado. Constata-se que o índice de aprovação no estado do
Rio de Janeiro é baixo, ocorrendo-se ainda altos índices de reprovação e
abandono (p. 22).
Em uma análise comparativa entre a região Sudeste e o estado do Rio de Janeiro, no
período compreendido entre 2000 a 2004, os analistas da SEEDUC-RJ verificaram que:
1) O tempo médio de permanência no Ensino Médio não se altera no período, porém o
Estado apresenta um tempo de permanência maior;
64
2) O tempo médio de conclusão é menor na região Sudeste. No Estado, este tempo vem
aumentando anualmente;
3) A taxa média de conclusão é maior na região na região Sudeste e a diferença fica mais
acentuada em 2004.
A análise destes e de outros índices levou os organizadores do documento a
enumerar alguns objetivos e metas a serem atingidos. Dentre estes objetivos, destacamos:
- Reduzir em 5% ao ano a repetência e a evasão (para aumentar a taxa líquida de
escolarização);
- Elevar em 5% ao ano os índices de desempenho dos alunos de Ensino Médio nos exames
nacionais (SAEB e ENEM) e avaliação externa estadual;
- Igualar, em dois anos, a mesma taxa de conclusão da região Sudeste;
- Assegurar a gestão democrática e a autonomia das escolas;
- Estabelecer estratégias para a redução da carência de professores nas diferentes áreas do
conhecimento;
- Definir padrões mínimos de infraestrutura para as escolas, prevendo espaço para a prática
da Educação Física, biblioteca, laboratórios de informática e tecnologia digital24
, etc.
- Oferecer cursos de qualificação aos professores25
e estabelecer estratégias que permitam
a promoção de encontros de professores para uma reflexão conjunta sobre a escola, sua
finalidade, seus problemas e possíveis propostas de melhorias.
No mesmo documento, encontramos informações sobre o Censo Escolar de 2006
(p. 61) relacionados à formação inicial e continuada dos profissionais de Educação,
condições de trabalho, salário e carreira. De acordo com os autores,
Há um certo consenso de que o sucesso da Educação depende do perfil do
professor e de suas condições de trabalho; entretanto, o sistema de ensino
nem sempre fornece os meios pedagógicos necessários à realização de
suas tarefas, cada vez mais complexas. Os professores são compelidos a
buscar, então, por seus próprios meios, formas de requalificação que
muitas vezes se traduzem em aumento não reconhecido e não remunerado
da jornada de trabalho. (p. 61).
No Brasil, no ano de 2006, existiam 2.647.414 funções docentes26
, exercendo
atividades nos diversos níveis de modalidades de ensino da Educação Básica. As escolas
24
Grifo nosso 25
Grifo nosso
65
públicas reuniam aproximadamente 85% do total, ou seja, 2.119.923 funções docentes, e a
região Sudeste contava com o maior percentual de professores atuando no sistema público
de ensino, 1.104.534 docentes (Tabela 6).
Tabela 6 - Número de funções docentes em exercício, por dependência administrativa,
segundo a região geográfica e a unidade da Federação, em 29/03/2006
Unidade da federação Funções Docentes exercendo atividades em sala de aula
Total
Dependência administrativa
Federal Estadual Municipal Privado
Brasil 2.647.414 14.825 958.593 1.146.505 527.491
Sudeste 1.104.534 5.531 442.773 390.822 265.408
Minas Gerais 284.972 1.780 117.415 110.712 55.065
Espírito Santo 48.107 501 12.906 25.012 9.688
Rio de Janeiro 238.415 3.116 79.061 92.100 64.138
São Paulo 533.040 134 233.391 162.998 136.517
Fonte: MEC/INEP - RIO DE JANEIRO, Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro -Tese
Guia, Documento norteador das discussões sobre a construção do Plano Estadual de Educação do
Rio de Janeiro, SEEDUC-RJ, 2007. (p. 62).
A partir dos dados da Tabela 6, foi elaborado o gráfico apresentado na Figura 2,
onde foram destacados, para facilitar a comparação, apenas os valores relacionados ao
Brasil, a região Sudeste e ao Rio de Janeiro.
26
Tendo como foco o diagnóstico do quantitativo dos professores em atuação no sistema de ensino, colocam-
se questões em relação às dificuldades de apresentar este dimensionamento. De acordo com o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o Censo Escolar se baseia em
informações prestadas pela escola quanto ao número de professores em exercício. Entretanto, esses
professores podem atuar em outras escolas. Da mesma forma, em uma escola, o mesmo professor pode atuar
em mais de um nível/modalidade de ensino. Por essa razão, foi adotado o uso do termo “função docente” nas
estatísticas do INEP. Fonte: Tese Guia, Rio de Janeiro, 2007 (p. 61).
66
Figura 2 - Funções docentes de acordo com a abrangência administrativa
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2.500.000
3.000.000
Federal Estadual Municipal Privado Total
Brasil
Sudeste
Rio de Janeiro
Fonte: RIO DE JANEIRO, Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro -Tese Guia,
Documento norteador das discussões sobre a construção do Plano Estadual de Educação do Rio de
Janeiro, SEEDUC-RJ, 2007. (p. 62).
Os dados da Tabela 6 nos permitem observar que o estado do Rio de Janeiro reunia,
em 2006, um total de 238.415 funções docentes, sendo 174.277 na rede pública e 64.138 no
ensino privado. Desse total, de acordo com a Tabela 7, pode-se verificar que 47,10%
funções docentes estavam nas creches, Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino
Fundamental. No Ensino Fundamental de 60 ao 9
0 anos (antigas 5
a a 8
a séries), havia um
total de 30,49% de funções docentes e no Ensino Médio, o total de 22,41%.
Tabela 7 - Número de funções docentes por níveis de ensino
Funções Docentes / níveis de ensino Brasil Sudeste Rio de
Janeiro
Creche 94.038 42.691 6.907
Educação Infantil (pré-escola) 309.881 125.005 22.627
Ensino Fundamental (anos iniciais) 1.665.341 670.160 137.465
Ensino Fundamental (5a a 8
a série) 865.655 360.797 75.688
Ensino Médio 519.935 243.317 55.634
Fonte: RIO DE JANEIRO, Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro -Tese Guia,
Documento norteador das discussões sobre a construção do Plano Estadual de Educação do Rio de
Janeiro, SEEDUC-RJ, 2007 (p. 63).
67
Tabela 8 - Funções docentes / níveis de formação
Área de atuação Superior Nível Médio Ens. Fund.
completo
Ens. Fund.
incompleto
Educação Infantil creche 34,89 61,96 2,64 0,49
Educação Infantil pré-escola 43,81 54,73 1,32 0,12
Ensino Fundamental séries iniciais 50,61 49,35 0,45 0,03
Ensino Fundamental (5a a 8
a séries) 99,43 0,56
Ensino Médio 99,81 0,18
Educação Profissional 96,33 3,58
Fonte: RIO DE JANEIRO, Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro - Tese Guia,
Documento norteador das discussões sobre a construção do Plano Estadual de Educação do Rio de
Janeiro, SEEDUC-RJ, 2007 (p. 64).
Na proposta de um Plano Estadual de Educação para o Rio de Janeiro, elaborada e
divulgada por Maranhão (2007), nos são apresentadas reflexões sobre o fato de o estado do
Rio de Janeiro apresentar alguns dos indicadores27
mais elevados do País, mas também ter
sofrido nas últimas décadas os reflexos da falta de investimentos no ensino público. Por
isso, de acordo com este autor, precisamos trabalhar de forma ainda mais intensa para
melhorar o desempenho de nossos estudantes e a formação continuada de nossos docentes.
Sobre isso ele argumenta que
Está provado que o desempenho do corpo discente está estreitamente
relacionado à qualificação do corpo docente. Assim, estamos nos
esforçando para agir em coerência com a LDB, que trata o professor como
peça-chave do processo ensino-aprendizagem, de quem dependemos para
o sucesso da implementação das reformas do ensino determinadas pela
Lei e sugeridas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais. É preciso,
portanto, que nossos docentes se tornem também pesquisadores,
sintonizando as necessidades educacionais específicas da clientela que
atendem e adaptando o processo de ensino à sua realidade. (...) Assim, é
imprescindível que, além de uma boa formação inicial nos cursos de
preparação do magistério, eles possam contar com meios permanentes de
autoaprimoramento. Infelizmente, temos dois problemas: a formação
27
Dentre outros indicadores, destacamos o fato de que o Estado do Rio de Janeiro possui aproximadamente
96% de seus habitantes residindo em áreas urbanas, com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH,
medido pelo Pnud, Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento, que leva em conta como
indicadores a Educação, a expectativa de vida e a renda da população) de 0,802, que é superior ao IDH
nacional, de 0777. Vale destacar também que o estado tem a segunda maior economia do país e é um dos
maiores polos nacionais de investimentos. (MARANHÃO, 2007, p. 9).
68
deficiente de parte do corpo docente fluminense e a falta de oportunidades
para a formação continuada. (p. 12).
Os dados apresentados na Tabela 8, elaborada a partir dos dados quantitativos
disponíveis na Tese Guia da SEEDUC-RJ (2007, p. 64), nos oferecem uma visão sobre os
níveis de formação dos professores de acordo com o nível escolar em que atuam. Dessa
tabela destacamos o fato de aproximadamente 50% dos professores que atuam nas séries
iniciais do ensino fundamental possuírem apenas o nível médio de escolaridade.
Como possíveis soluções para amenizar esse quadro, Maranhão apresenta algumas
medidas que estão sendo tomadas a fim de melhorar a formação do quadro de docentes do
Estado, tais como parcerias com o Ministério da Educação para a promoção de cursos para
professores nas áreas de Biologia, Física, Química e Matemática que estejam atuando no
Ensino Médio da rede pública estadual. Destaca também os cursos de licenciatura
oferecidos através do consórcio do Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de
Janeiro (CEDERJ)28
, composto por universidades públicas.
Julgamos que os cenários apresentados são suficientes para nos servir de subsídios a
fim de abalizar e entender políticas públicas que estão sendo implementadas ou que
surgirão a partir de novos fóruns e debates, como, por exemplo, o projeto Conexão
Professor, que será apresentado posteriormente neste trabalho. Mas, concordamos com os
autores desses documentos, que nos serviram para a apresentação de panoramas da rede
estadual de ensino do Rio de Janeiro, quando afirmam que, para uma reflexão mais
completa, outros indicadores necessitam de avaliação detalhada, tais como a evolução das
funções docentes e matrículas por níveis de ensino dentro de uma série histórica; a
proporção de alunos por funções docentes; o grau de formação mais elevado dos docentes
nas disciplinas em que atuam e vínculo institucional e contratual dessas funções.
Com relação à valorização dos profissionais da Educação, destacamos:
28
O primeiro vestibular do Consórcio Cederj aconteceu em 2001. Os cursos oferecidos até o ano de 2009 são
licenciaturas nas áreas de Ciências Biológicas, Física, História, Matemática, Pedagogia, Química e Turismo,
além da graduação em Administração. Com relação a cursos de extensão, são oferecidos: Biologia,
Informática Educativa, Educação em Ciências, Química, Física, Geografia, Matemática e Governança. São 33
pólos de estudo espalhados por todo o Estado. Dados obtidos no endereço:
<http://www.cederj.edu.br/fundacaocecierj/index.php> Acesso em 14.03.09.
69
O Plano Estadual de Educação, atendendo a orientações originadas do
MEC e àquelas já existentes no sistema público estadual, defende a
necessidade de valorização dos profissionais da Educação como ponto de
partida para a melhoria da qualidade de ensino. Para que isso se efetive, o
Plano deverá propor políticas públicas que favoreçam não só a
qualificação e a atualização dos profissionais, como a melhoria de suas
condições salariais e de trabalho (SEEDUC-RJ, 2007, p. 64).
Isso nos permite verificar que o Plano Estadual de Educação tem como referência a
Lei de Diretrizes e Bases, de onde podemos destacar as indicações de favorecer o
desenvolvimento profissional do docente:
Art. 67 - Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos
profissionais da Educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos
estatutos e dos planos de carreira do magistério público.
(...) II- aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com
licenciamento periódico para esse fim.
(...) IV - progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na
avaliação do desempenho. (BRASIL, 1996)
Com base nos parâmetros educacionais traçados pelas leis, e análise sobre os
cenários apresentados nos números indicados nos gráficos e tabelas, foram desenvolvidos
pelos seus analistas alguns objetivos e metas para que seja efetivada a valorização do
profissional da Educação no estado do Rio de Janeiro. Dentre outros, destacamos:
Implantar políticas de formação continuada que permitam ao professor o
domínio sobre a cultura letrada, dentro de uma visão crítica e da
perspectiva de um novo humanismo; desenvolver programas de formação
continuada, de modo que os professores possam recorrer a eles
frequentemente, especialmente através de tecnologias de comunicação
adequadas; salário condigno, competitivo no mercado de trabalho, com
outras ocupações que requerem nível equivalente de formação; ampliar as
condições de acesso dos profissionais da Educação aos cursos de
mestrado e doutorado; desenvolver políticas de incentivo e valorização da
formação docente, que contribuam para a formação de um quadro de
profissionais comprometidos com a melhoria da qualidade de
ensino.(SEEDUC-RJ, 2007, p. 66).
Ainda destacamos que, dentre os objetivos definidos, a utilização das TIC aparece
como uma possibilidade real de melhoria da qualificação do docente. O que poderemos
verificar que está de acordo também com as metas apresentadas pela Agenda Social do
Governo Federal (BRASIL, 2008), onde podemos constatar que a Educação no Brasil
receberá R$ 15 bilhões até o ano de 2011 para combater o analfabetismo, promover a
70
melhoria do sistema e universalizar o ensino público brasileiro, através do Programa de
Desenvolvimento, que é apresentado da seguinte forma
No ano de 2007 o Governo Federal lançou o Programa de
Desenvolvimento da Educação (PDE). (...) O lema do Programa é “Todos
pela Educação”, traçando as metas de o País ter, em 2022 - ano do
Bicentenário da Independência do Brasil -, toda criança e jovem de 4 a 17
anos na escola; toda criança plenamente alfabetizada até os oitos anos;
todo aluno com aprendizado adequado á sua série; e todo jovem com o
Ensino Médio concluído até os 19 anos. Esses objetivos serão alcançados
com a adoção de uma gestão adequada e moderna dos recursos (p. 6).
No mesmo documento, encontramos esclarecimentos a respeito de como parte dos
valores envolvidos neste projeto serão distribuídos.
Em seu segundo ano de existência, o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de valorização dos profissionais
da Educação (Fundeb) conta com investimentos de R$ 3,2 bilhões na
educação do País. Para o próximo ano, os valores deverão subir para R$
4,5 bilhões, uma iniciativa que atenderá a mais de 47 milhões de
estudantes brasileiros. Pelo menos 60% dos recursos do Fundeb vão para
investimentos na remuneração e na valorização dos professores de escolas
públicas. (p. 6).
Neste documento, encontramos a seguir uma série de descrições de iniciativas do
Governo Federal que pretendem promover “o resgate da cidadania e a transformação
social”. Dentre estas, destaca-se a iniciativa de criação de ambientes informatizados nas
escolas públicas, com a estimativa de “35 mil laboratórios de informática instalados em
2009 e outros 45 mil em 2010” (p.6).
O apoio da União em projetos que promovam ações de inclusão digital pode ser
acompanhado também através da implementação de diversos outros programas, tais como:
Projeto Computadores para Inclusão (PCI); Projeto Computador para Todos; Governo
Eletrônico e Serviço de Atendimento ao Cidadão (GESAC), e o Programa Nacional de
Informática na Educação (PROINFO).
Podemos verificar também, através de entrevistas diversas concedidas pelo
Presidente da República de nosso País, que o Governo Federal apoiou integralmente a
implementação do Projeto Conexão Professor no estado do Rio de Janeiro, que culminou
com a entrega de 31 mil laptops para os professores de Ensino Médio da rede estadual de
71
ensino. Nas palavras do Presidente, a ampliação do acesso da população à internet e a
crescente demanda interna por artigos de informática são conquistas do cidadão brasileiro.
É uma conquista superior do ser humano. É uma conquista de cidadania
importante para que as pessoas possam utilizar o computador como um
instrumento de melhorar a sua vida, de prestar serviço, de receber
informações, de estudar. (FOLHA ONLINE, Edição de 14 de abril de
2008, Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult
124u391862.shtml> Acesso em 29/08/09).
A criação de Portais como Software Livre29
e Governo Eletrônico30
, assim como o
desenvolvimento de programas de inclusão digital destinados a toda a população brasileira
citados anteriormente, podem servir de indicadores de que de fato os indivíduos
responsáveis em dirigir um país em transformação parecem estar cientes do relevante papel
que as novas formas de comunicação e informação exercem sobre a sociedade.
Convém ressaltar o que nos lembram alguns teóricos educacionais, tais como
Xavier (2008), que a inclusão digital (inclusive a do professor) tem um tripé que
compreende o acesso à Educação, renda e tecnologias. A ausência de qualquer um desses
significa deixar uma grande parcela da população brasileira permanecendo na condição de
mera aspirante à inclusão digital.
3.2 - Conexão Professor: implementação do projeto, história e embates
Para a elaboração desta parte de nossa pesquisa, contamos com vasto material
recolhido em escolas públicas estaduais que nos foram gentilmente cedidos. Desta forma
tivemos acesso a publicações, comunicados e normas enviados pela SEEDUC-RJ às
unidades de ensino e aos professores, assim como jornais e panfletos distribuídos por
sindicatos. A reprodução de discursos de autoridades no plenário da ALERJ, e diversas
reportagens de jornais disponíveis, inclusive na internet, compõem outras fontes que
29
Endereço da página: <http://www.softwarelivre.gov.br/> Acesso em 15.03.09 30
Endereço da página: <https://www.governoeletronico.gov.br/> Acesso em 15.03.09
72
propiciaram análises sobre um momento histórico e político da implementação de um
projeto ao mesmo tempo pioneiro e polêmico: Conexão Professor.
Embora este trabalho não tenha a intenção de se tornar denunciativo, julgamos que
alguns fatos relacionados ao desenvolvimento deste projeto que podem ajudar a entender
medidas públicas, discursos e posicionamentos adotados, devem aqui ser mencionados.
Nas palavras da Secretária de Educação do Estado do Rio de Janeiro, Tereza Porto,
o projeto Conexão Professor pode ser definido da seguinte maneira:
Foi o primeiro passo para a implementação de um projeto maior
denominado Educação para a Sociedade do Conhecimento, que além de
entregar 31.000 laptops aos professores, trabalhará também na
qualificação destes profissionais para usar essa tecnologia. Em um
segundo momento será implementado o Conexão Escola, que consistirá
na criação de um laboratório de informática em todas as 1.591 escolas
estaduais com internet em banda larga (PORTO, 2008, p.1).
Podemos perceber a partir desta fala da Secretária que as políticas públicas a serem
implementadas por parte do Governo Estadual, voltadas para a criação de ambientes
informatizados nas escolas, estão em conformidade com projetos traçados pelo Governo
Federal, tais como os indicados no Livro Branco desenvolvido pelo Ministério da Ciência e
Tecnologia e já comentado anteriormente.
De acordo com Evaldo Bittencourt (2008), Superintendente de Planejamento da
Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, órgão responsável pela
implementação do projeto, a derrubada do medo das novas tecnologias foi um dos
principais objetivos traçados para o Conexão Professor, e a rotineira utilização destas novas
tecnologias pode facilitar a geração da confiança, e posteriormente o uso do computador em
sala de aula.
Em carta entregue junto ao equipamento aos professores da rede estadual de
ensino, em março de 2008, o Governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, relata
sua percepção de que novas tecnologias podem gerar mudanças na Educação31
:
Vivemos em mundo novo, que muda cada vez mais rapidamente. O
computador e a internet aproximam as pessoas e aceleram o crescimento
econômico. Como porta de entrada para essa nova sociedade do
31
A íntegra da carta do Governador aos professores se encontra no Anexo I.
73
conhecimento, o Governo do Rio de Janeiro escolheu como prioridades a
escola e o professor (CABRAL, 2008, p.1).
E logo adiante, justifica esta escolha:
O professor sempre foi e continuará a ser um elemento essencial na
evolução da nossa sociedade. É papel do Estado incentivar a inclusão
digital predominantemente dentro das escolas, com a sua participação
ativa, na sala de aula e fora dela.
Em uma iniciativa inédita, de acordo com Cabral, o investimento em tecnologia e
treinamento para os professores da rede estadual de ensino realiza-se como parte de um
programa que visa formar com urgência “uma geração de jovens capazes de aproveitar as
oportunidades geradas pelo avanço da tecnologia (CABRAL, 2008, p.1), o que só será
possível com a imprescindível inclusão dos responsáveis diretos pelo estímulo à pesquisa, à
informação e ao conhecimento: os professores.
O processo administrativo para a compra de 31 mil laptops foi aberto em 26 de
novembro de 2007, quando a Secretaria de Educação ainda estava sob o comando de
Nelson Maculan. De acordo com reportagem publicada no Jornal O Globo (edição de 18 de
fevereiro de 2009), nove dias úteis depois, o pregão eletrônico32
foi iniciado pelo Centro de
Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Rio de Janeiro (Proderj), presidido
por Tereza Porto, que em 18 de fevereiro de 2008 passa a assumir a pasta da Educação33
.
Em comunicado público34
, o ex-secretário de Educação do Rio de Janeiro informa
que encontrou fortes resistências em sua gestão e não conseguiu avançar em questões
importantes para uma verdadeira transformação da qualidade de ensino no Estado. Entre as
ações desenvolvidas ao longo dos quatorze meses que esteve à frente da pasta, Maculan
32
Desta mesma reportagem do jornal O Globo, destaca-se que este pregão contou com oito empresas inscritas
para disputar a venda. Três destas empresas foram desabilitadas por apresentarem preços maiores que o teto
anunciado no edital, e das cinco que sobraram, três deram apenas um lance na disputa e as outras duas se
associaram à Investiplan, que venceu a disputa. 33
De acordo com diversas reportagens publicadas à época, funcionários do Governo garantiram que questões
políticas foram determinantes para a exoneração de Maculan, pois apesar de uma crise pela constante falta de
professores na rede, a decisão pela troca de secretários deu-se pela tentativa de o governador tentar apaziguar
o PMDB, e em especial o deputado Jorge Picciani. Ao efetuar a troca de secretários e suas respectivas
equipes, Picciani passaria a apoiar a candidatura do então secretário de Turismo, Eduardo Paes, à Prefeitura
do Rio, como era o desejo do governador. (Fontes: O Dia Online (Edição de 19 de março de 2008), OGLOBO
Online (edição de 18 de fevereiro de 2008). 34
Este documento é apresentado na íntegra no anexo I.
74
(2008) destacou a elaboração do Plano Estadual de Educação, que contou com um intenso e
participativo debate para a definição de políticas públicas educacionais para o Estado, e a
aquisição dos 31 mil laptops para os docentes da rede. Em sua declaração, argumenta que
acreditava que seria possível realizar outras propostas.
Foi com a consciência de enfrentar um grande desafio que assumi a
incumbência de dirigir a Secretaria de Educação do Estado do Rio de
Janeiro, responsabilidade que aceitei pela importância que sempre conferi
à Educação e pela experiência acumulada durante minha vida profissional.
Desempenhando à época o cargo de Secretário de Educação Superior do
Ministério da Educação, aceitei o convite do então recém-eleito
Governador Sérgio Cabral, atraído por suas propostas de valorização do
magistério e de melhoria da qualidade do ensino, com as quais sempre me
identifiquei. (ibid., 2008, p. 1).
Porém, poucas linhas abaixo deste mesmo comunicado, nos apresenta sua frustração
por não ter conseguido atingir algumas metas importantes, tais como a recuperação dos
salários dos professores, a implantação do plano de carreira do magistério e a
democratização da gestão escolar. A conclusão do documento apresenta o argumento de
que é necessário que haja vontade política para que verdadeiras transformações da
qualidade de ensino aconteçam.
A Educação deve ser um projeto de longo prazo, com políticas marcadas
pela continuidade. Não há milagre possível, o que deve haver é vontade
política. Sem valorizar o professor, sem capacitá-lo e sem remunerá-lo
dignamente, jamais conseguiremos atingir uma Educação de qualidade e
que transforme verdadeiramente o nosso País. (p.1).
Ao tomar posse no Palácio Guanabara, Tereza Porto concedeu entrevistas35
em que
discordava de seu antecessor, garantindo a disposição do Governo em resolver os grandes
problemas da rede em um curto espaço de tempo, fazendo em seguida o anúncio da entrega
dos laptops aos professores como sendo o primeiro grande ato de sua gestão.
A publicação em Diário Oficial do projeto Conexão Professor aconteceu em 31 de
janeiro de 2008. Tal documento prevê a “disponibilização de computadores para uso
pessoal dos professores docentes I da rede pública Estadual36
em suas atividades de ensino
35
Entre os jornais que publicaram esta entrevista, destacamos O Globo Online (Edição de 18 de fevereiro de
2008), O Dia Online (Edição de 19 de fevereiro de 2008) e o Diário de Teresópolis Online (Edição de 19 de
fevereiro de 2009). 36
A indicação Professor I refere-se ao profissional que possui habilitação para lecionar no 20 segmento do
Ensino Fundamental e Ensino Médio.
75
e pesquisa”, considerando a “necessidade premente de dar subsídios e equipamentos de
trabalho ao corpo docente do Ensino Médio e do segundo segmento do Ensino
Fundamental, visando ao aprimoramento do exercício de suas funções” (RIO DE
JANEIRO, 2008 p. 16). Deste documento destacamos37
:
Parágrafo Único - Cada professor será beneficiado pela cessão de um
único computador, mesmo que possua mais de uma matrícula.
(...)
Artigo. 30 - Os professores beneficiados deverão se comprometer a
introduzir e intensificar o uso do computador em sala de aula e em
laboratórios de informática educativa, como instrumentos de melhoria de
seus cursos e da formação de seus alunos.
Artigo. 40 - Os computadores a que se refere a presente Resolução serão
obrigatoriamente inventariados pelo Agente Responsável pela guarda,
conservação e controle dos bens imóveis no Inventário de Bens
Patrimoniais na Unidade Escolar na qual cada professor beneficiado
estiver lotado, conforme as normas e padrões estabelecidos na legislação
pertinente.
Artigo. 50 - Cada professor beneficiado com o computador, por sua vez,
assinará um Termo de Responsabilidade no ato do recebimento do
computador, no qual se comprometerá a manter o equipamento em boas
condições e a devolvê-lo à Unidade Escolar nos casos de remoção,
remanejamento ou desvinculação da Unidade Escolar em que estiver
lotado, ou de cessação de suas atividades de regência de turma, de
afastamentos, exoneração ou aposentadoria, conforme o modelo constante
no Anexo desta resolução38
.
(...)
Artigo. 70 - A Secretaria Estadual de Educação oferecerá um programa de
treinamento visando ao aperfeiçoamento de seus professores no uso de
software básico, dos recursos da internet e das tecnologias da informação
e da comunicação.
(...)
É importante destacar no artigo 30 o comprometimento que cada professor fará ao
aceitar o laptop em regime de comodato, que diz respeito à introdução e intensificação do
uso do computador em sala de aula e fora dela. Ao assinar o Termo de Responsabilidade39
,
37
Apresentação do documento na íntegra encontra-se em anexo I. 38
Para que fosse feita a entrega, o professor deveria assinar o Termo de Recebimento, Guarda e
Responsabilidade, que, entre outras indicações, proíbe a instalação de softwares que não tinham sido
disponibilizados pela SEEDUC-RJ, além de informar que, no caso da ocorrência de furto, roubo, destruição
ou outra qualquer circunstância que acarrete perda ou extravio do equipamento, deverá ser feito o Registro de
Ocorrência na Delegacia mais próxima, e a comunicação imediata, por escrito, à Direção da Unidade Escolar. 39
A reprodução do Termo de Responsabilidade encontra-se no anexo I.
76
o docente declara estar ciente desse comprometimento. Em contrapartida, o
comprometimento feito pela Secretaria Estadual de Educação aparece no 70 artigo,
restringindo-se apenas a oferecer programas de capacitação para o uso de softwares
básicos.
A entrega das máquinas aos professores obedeceu a um calendário que teve início
em fevereiro de 2008 na comunidade da Mangueira, zona norte do Rio de Janeiro, onde em
clima de comício estiveram presentes ao Ciep Governador Leonel de Moura Brizola, o
Governador, a Secretária de Educação, representantes do Governo Federal, Deputados
Estaduais e diversas outras autoridades, embaladas por muita festa, música e discursos
empolgados, como nos mostra a seguinte reportagem:
Em seu discurso, o governador garantiu que o programa Conexão
Professor vai distribuir todos os computadores no mês de março. Ele
garantiu também que irá montar laboratórios de informática nas escolas
estaduais para incluir os alunos nos mesmos benefícios do programa. Os
professores recebem os computadores em regime de comodato por tempo
indeterminado. Disse ainda que o programa custará cerca de R$ 70
milhões e que a manutenção e a garantia das máquinas é de
responsabilidade da Investiplan, empresa fornecedora dos equipamentos
escolhida via pregão eletrônico, que deu garantia de um ano ao laptop,
além de fornecer manutenção em todo o estado (Jornal A Voz da Cidade,
Edição de 01 de março de 2008, Disponível em: < http://www.avozdaci
dade.com/portal/c/c20090310.asp>. Acesso em 20/06/09).
A entrega nas demais cidades, embora menos festiva, seguiu o mesmo modelo de
comício, sempre contando com um palco armado e plateia calorosa40
. Após os discursos
das autoridades presentes, a solenidade seguia com a entrega de um laptop a um professor
da escola sede da festa previamente escolhido, que também teria o direito de proferir
algumas palavras, quase sempre de agradecimento e alegria. Os demais professores da
mesma cidade só receberiam suas máquinas alguns dias após essa comemoração, às vezes
meses.
40
Conforme informações obtidas na página da União Brasileira de Estudantes (UBES), cerca de mil
estudantes da cidade de Petrópolis aproveitaram a visita do Governador para a solenidade de entrega dos
laptops (ocorrido no dia 04 de março de 2008), organizando uma grande passeata pelas ruas próximas ao
colégio Pedro II, onde se realizaria a cerimônia. Nessa tentativa de passeata, impedida em parte pelo grande
esquema de segurança montado pela Prefeitura, os estudantes fizeram cobranças relacionadas às promessas de
campanha do Governador. Dentre essas promessas, a instalação de uma universidade pública na cidade.
Fonte: UBES/APE (Associação Petropolitana de Estudantes). Disponível no endereço:
<http://www.une.org.br/home3/movimento_estudantil/movimento_estudantil_2007/m_11869.html> Acesso
em 14.03.09.
77
Em meio a uma sucessão de festas por diversas cidades do interior do estado,
tivemos notícia do primeiro caso registrado de roubo das máquinas. O fato aconteceu na
Escola Estadual Herbert de Souza, situada no bairro da Tijuca, na qual 20 laptops que
estavam estocados na sala da Direção foram roubados no dia 21 de março de 2008.
Conforme reportagens de jornais, os bandidos renderam o vigia da escola e avisaram que só
queriam os notebooks.
De acordo com a Direção da Herbert de Souza, a Secretaria Estadual de
Educação autorizou a escola a ficar com os 20 laptops que sobraram. A
instituição recebeu 107 computadores, mas alguns professores não
quiseram levá-los “por terem um melhor” ou por que não quiseram se
responsabilizar pelo modelo portátil. (O Dia Online, Edição do dia 22 de
março de 2008. Disponível em: < http://franco2008.wordpress.com/2008/
04/15/bandidos-roubam-20-laptops-de-escola> Acesso em 20/06/09).
Em seguida, a matéria desse jornal dá destaque ao receio relatado por alguns
professores em receber o laptop:
O receio de assalto tem levado docentes a recusar os notebooks ou deixá-
los em casa. A professora de religião Rosilene Ramos, 46 anos, pega dois
ônibus de casa, em São Gonçalo, para o Colégio Estadual Guilherme
Briggs, em Niterói, onde dá aula no turno da noite: “Já fui assaltada
algumas vezes no ônibus, levaram dinheiro e o celular novinho. Imagina
um computador na bolsa. Não vou correr este risco (ibid.).
Depois do roubo ocorrido na escola Herbert de Souza, ainda de acordo com a
reportagem do jornal, a entrega deixou de ser avisada com antecedência, numa tentativa de
chamar menos a atenção para o fato. Na mesma matéria, o Diretor do Sindicato dos
Profissionais da Educação (SEPE-RJ), Bruno Deusdará, afirmava que a propaganda do
Governo Estadual ao entregar as máquinas acabava expondo os professores aos criminosos,
pois “agora eles sabem que o professor não tem dinheiro no bolso, mas está com um laptop
na mochila”. Questionada a respeito desse receio por parte dos professores, a Secretária
Tereza Porto respondeu:
Isso impede que você use seu notebook, já que é uma ferramenta de
trabalho? Por que para um professor isso é algo que atrapalha a vida e não
atrapalha no caso de um operador da Embratel, ou um técnico da Light
fazendo uma vistoria? Que profissional deixa de usar o notebook por
causa disso? Considero isso um preconceito por parte do professor. (O
GLOBO ONLINE, Edição de 23 de abril de 2008. Disponível em:
<http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2008/04/23/laptop_nas_es
78
colas_do_rio_nao_vou_distribuir_papel_com_os_cds_diz_secretaria_tere
za_porto-427020263.asp>.Acesso em: 20/06/09).
E na mesma entrevista relata suas percepções com relação ao treinamento oferecido
pelo CD-Rom entregue junto com o laptop ao professor.
Várias pesquisas internacionais demonstram que laboratórios de
informática na escola não necessariamente equivalem a uma melhoria no
ensino. E eles não devem servir para aprender informática, mas para
aprimorar o ensino das disciplinas existentes. Um professor de
matemática não deve usar a tecnologia como ferramenta para a sua aula,
não como um fim em si. A introdução à informática está no CD que veio
com o computador.
Talvez percebendo uma certa falta de clareza nas ideias apresentadas, o jornalista
ainda insiste no assunto, relatando que alguns professores teriam achado o CD extenso
demais e ao mesmo tempo superficial no que se refere ao uso pedagógico da máquina. Em
seguida indaga: “Não seria o caso de ter uma apostila junto?”
Estamos focando em tecnologia; não vou distribuir papel. E o
acompanhamento do CD será feito não pelos Núcleos de Tecnologias
Educacionais, mas pelo suporte técnico especializado nisso, por telefone
ou por e-mail. É um conceito de ensino à distância mesmo. Até porque o
professor não tem tempo para o treinamento. Ele tem que dar várias horas
de aula por dia e ainda preparar as aulas. Preferimos dar a ele flexibilidade
de horário para estudar o CD.
O CD-Rom a que a Secretária de Educação se refere é composto de quatro unidades:
1) Abertura; 2) O curso; 3) Avaliações e 4) Atendimento. A segunda unidade41
abrange
quatro módulos: I) Introdução à informática; II) Ferramentas básicas; III) Interatividade na
Internet e IV) Desenvolvimento de competências dos Docentes & Didática para
Multiplicadores.
Logo nas primeiras semanas de implementação do projeto, a SEEDUC-RJ criou um
serviço “tira-dúvidas” pelo telefone42
. Alguns meses depois foram oferecidos alguns cursos
presenciais e a distância43
de capacitação aos softwares básicos (utilização de editores de
texto, trabalho com planilhas, etc.). Um dos cursos oferecidos pela Coordenação de
41
Ver: Tela de Apresentação 1, Anexo II. 42
Ver: Tela de Apresentação 2, Anexo II. 43
Ver: Tela de Apresentação 3, Anexo II.
79
Tecnologia Educacional (CdTE), denominado de Mídias na Educação, é descrito pela
própria entidade da seguinte forma:
Mídias na Educação é um programa de formação a distância, modular,
dedicado ao uso pedagógico das tecnologias da informação e da
comunicação e principais mídias contemporâneas – TV e vídeo,
informática, rádio e material impresso – de modo integrado ao projeto
pedagógico da escola, colaborando para a formação de cidadãos críticos e
criativos, capazes de produzir nas diversas mídias. (Disponível em:
<http://www.cted.educacao.rj.gov.br/publico/midias/midias_2007.asp>
Acesso em 14.03.09).
Posteriormente, foi lançado o Portal Conexão Professor44
, oferecendo notícias
relacionadas à Educação, informações sobre congressos e seminários, entrevistas com
reconhecidos teóricos educacionais, links para outros sites importantes e uma página
dedicada a debates virtuais. Nesse espaço, por sinal, há diversos fóruns em andamento
sobre assuntos relacionados à nossa pesquisa, tais como: tecnologias na Educação,
professor Web 2.0, laptop para o professor, etc. Posteriormente apresentaremos algumas
considerações sobre essas postagens.
Conforme relatamos anteriormente, pretendemos com nossa pesquisa, entre outros
questionamentos, verificar se tais medidas têm sido suficientes para que o professor se sinta
confortável na utilização de novas tecnologias em sala de aula. Ao analisarmos o CR-Rom,
as ementas dos cursos básicos oferecidos, o Portal Conexão Professor e o funcionamento do
serviço de tira-dúvidas pelo telefone, ainda não nos foi possível encontrar as formas
adequadas para a “introdução e intensificação do computador em sala de aula (...) como
instrumento de melhoria” (RIO DE JANEIRO, 2008) dos cursos oferecidos pelos docentes
da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, como consta na forma da Lei que originou o
projeto. Essa falta tem sido uma dentre várias características do projeto que o torna tão
polêmico, e tem gerado tantos embates. Trataremos a seguir desses embates.
44
Ver: Tela de Apresentação 4, Anexo II.
80
3.3 - A reação do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro
ao projeto Conexão Professor
A simples leitura do título da carta redigida pela direção do Sindicato Estadual dos
Profissionais da Educação do Rio de Janeiro (SEPE-RJ) e disponibilizada no site da
entidade45
já revela seu posicionamento: “Troco meu laptop pela verdadeira valorização do
profissional da Educação e por uma escola pública de qualidade”46
. Dessa carta
destacamos:
A assembléia da rede estadual do dia 15 de março deliberou que os
diretores do Sepe em todas as suas instâncias (Sepe Central, Núcleos e
Regionais) não deverão aceitar os laptops concedidos pelo governo
estadual. A recusa de receber os laptops é um protesto contra essa
“doação” que consideramos demagógica e que tenta maquiar os
gravíssimos problemas das escolas públicas em nossa rede. (...) A
princípio, parece tratar-se de intolerância de nossa parte diante dessa
iniciativa do governo estadual na suposta intenção de “valorizar o
professor”, mas vejamos: a carta compromisso com as promessas não
cumpridas do então candidato Sérgio Cabral Filho viraram cinzas, assim
como as expectativas de uma grande parcela da categoria que ainda
acreditava nelas (SEPE, 2008-A).
Dentre os motivos listados nessa carta para o posicionamento político de
recusa, podemos destacar:
O fato é que hoje praticamente todos os laboratórios de informática estão
fechados ou subutilizados, privando milhares de alunos do acesso. Como
podemos justificar aos estudantes, aos pais e mães essa contradição?
Tivesse Sérgio Cabral investido parte dos R$ 77 milhões usados para
comprar os laptops em garantir o funcionamento desses laboratórios e
melhorado substancialmente o programa de mídia educativa, todos da
comunidade escolar teriam em maior quantidade o que há de melhor da
tecnologia aplicada à Educação. Temos o dever de denunciar mais essa
FARSA de Sérgio Cabral.
A apresentação dos motivos segue indicando que a verba investida no
projeto seria suficiente para pagar todos os profissionais que não estariam recebendo a
45
Endereço do site do SEPE: <http://www.seperj.org.br/site> Acesso em 14.03.09 46
Ver: Anexo I, Documento 4, onde reproduzimos a carta na íntegra.
81
gratificação denominada de Nova Escola47
, criada pela ex-governadora Rosinha Garotinho.
Outro motivo apresentado refere-se a um ponto bastante polêmico e que tem gerado muita
discussão: o valor pago pelas máquinas.
Aliás, por que o governo paga cerca de R$ 1.900 por cada laptop? No
comércio local custa bem menos48
. Não aceitamos essa nova versão de
“propaganda enganosa”, uma nova “carta”, agora modernizada (os
laptops), com o pretexto de montar palanque para apoiar os seus
candidatos, nas eleições municipais deste ano. (...) Assim, ao negar o
recebimento destes laptops, TROCAMOS a hipocrisia dessa “política
eleitoreira” pela verdadeira valorização dos Profissionais da Educação.
(...) Enfim, repudiamos essa “pegadinha” do governador Sérgio Cabral
que tem a intenção de nos desviar do verdadeiro foco que é a luta pela
nossa pauta de reinvidicações (ibid.).
A história desse Sindicato tem início no ano de 1977, com a criação da
Sociedade Estadual dos Professores (SEP), que em 1979 se fundiu com a União dos
Professores do Rio de Janeiro (UPERJ) e com a Associação dos Professores do Estado do
Rio de Janeiro (APERJ), criando o Centro de Professores do Rio de Janeiro (CEP), que de
acordo com o histórico obtido no site do SEPE-RJ, é “uma entidade que se tornou
referencial de luta e organização dos educadores fluminenses” (SEPE, 2008-B).
47
Nova Escola é a denominação de um projeto criado no governo de Anthony Garotinho em 1999, que
avaliava as escolas estaduais por meio de alguns índices estatísticos, tais como quantidade de reprovações e
evasões de alunos, e outros de cunho administrativo, tais como prestação de contas. Esta avaliação atribuía
um nível que poderia variar de 1 a 5 à escola, e de acordo com o nível, os professores recebiam gratificações
que poderiam variar de R$ 100,00 a R$ 435,10 mensais. O processo de avaliação, classificado como obscuro
pelo professorado, sempre gerou grandes reclamações. A última avaliação foi realizada em 2005 e, desde
então, uma série de promessas têm sido feitas no sentido de que a gratificação seria incorporada aos salários
em um valor que fosse igual a todos da rede. Informações obtidas nas páginas: O Globo - Online, Edição de 3
de outubro de 2008 endereço:<http://oglobo.globo.com/educacao/mat/2008/10/03/estado_vai_incorporar_100
_do_nova_escola_ao_salario_de_professores_estaduais-548547489.asp>, e na página: G1 Globo.com,
endereço: <http://g1.globo.com/Noticias/Rio/0,,MUL92874-5606,00-RJ+PAGA+GRATIFICACAO+A+PRO
FESSORES+LICENCIADOS.Html>. Acesso em: 29.07.2009. 48
Na tentativa de verificar se tais argumentos apresentados pelo Sindicato estavam corretos, reunimos
panfletos de propaganda de três grandes lojas distribuídos aos seus clientes no período em que as máquinas
foram adquiridas pelo Estado (fevereiro/março de 2008). As três empresas são consideradas “populares” pelo
fato de possuírem diversas lojas espalhadas por todo o Estado e estarem sempre com seus preços em
promoção. Buscamos nesses panfletos laptops que apresentassem características similares aos oferecidos
pelos professores e verificamos que no período da compra dos laptops os preços variavam de R$ 1.299,90 a
1.599,00 a unidade. Conforme conseguimos apurar em nossa pesquisa, a nota fiscal enviada às unidades
escolares apresenta o valor de R$ 1.903,49 pago a cada laptop, mais R$ 300,00 referente ao mini modem, R$
33,00 pela bolsa com logotipo do Estado e R$ 5,00 pagos pelo CD-Rom com um curso básico de capacitação.
Em resumo, o valor total pago por cada laptop e seus acessórios descritos foi de R$ 2.241,49. Ver anexo 1,
documento de número 7.
82
O ano de 1979 foi um marco na história do SEPE, quando conseguiu
conquistar um piso salarial equivalente a cinco salários mínimos, numa
greve considerada histórica para o movimento. Neste período, o
governador Chagas Freitas mandou fechar a entidade, mas não conseguiu
calar nossa voz nem frear nossa ação (ibid.).
Acreditamos que a breve apresentação da história do SEPE-RJ é relevante para
auxiliar o entendimento de posicionamentos políticos apresentados, assim como as
indicações de paralisações que foram propostas após a divulgação da carta analisada
anteriormente.
No Boletim do SEPE-RJ, edição de março de 2008, a Direção convoca a categoria
para uma manifestação no dia 10 de abril de 2008 “contra as mentiras de Cabral” e “sua
prática demagógica da doação de laptops”, as quais tiveram início, segundo o Sindicato,
quando o governador, antes das eleições, elaborou uma carta compromisso para todos os
professores da rede estadual.
Nesta carta, como todos os profissionais se lembram, Cabral prometeu a
reposição das perdas salariais dos últimos dez anos e a incorporação da
gratificação do programa Nova Escola, piso salarial, entre outras
promessas. (...) Essa prática demagógica do governador tem um exemplo
na recente compra pelo governo, no valor de R$ 77 milhões (...) O
governador distribuiu esses computadores, juntamente com a secretária
Tereza Porto, em diversas escolas, tentando aparecer na imprensa graças à
Educação. A verdade, no entanto, é outra: esses laptops em quase nada
vão melhorar a situação dos professores estaduais, à volta com problemas
gravíssimos em suas escolas e sem reajuste salarial digno há mais de 10
anos (SEPE, 2008-C).
Posteriormente, em maio, uma nova convocação é feita pelo sindicato. Dessa vez,
os profissionais das escolas estaduais são chamados a paralisar suas atividades escolares
por 24 horas, no dia 07 de maio de 2008 (SEPE, 2008-D). Às 14 horas desse mesmo dia,
ficou definido que aconteceria uma Assembleia geral no Clube Municipal da Tijuca, a fim
de que os profissionais pudessem definir estratégias para a campanha salarial de 2008. De
acordo com entrevistas de representantes da SEEDUC-RJ publicadas no dia seguinte,
apenas três escolas aderiram parcialmente a essa convocação. Nas poucas reportagens que
cobriram o movimento, encontramos vestígios que indicariam para uma adesão pífia do
corpo docente estadual e que, ou os professores teriam ignorado o apelo do Sindicato, ou
simplesmente não ficaram sabendo do chamado. Como exemplo da cobertura dada ao
83
movimento, selecionamos a reportagem do jornal O Globo Online: “De acordo com a
secretaria, os colégios estão funcionando normalmente e apenas alguns professores não
compareceram para às aulas. A secretaria estima que menos de 1% dos professores tenha
aderido à paralisação” (O Globo Online. Edição de 07 de maio de 2008. Disponível em:
<http://oglobo.com/educaco/mat/2008/05/07/menos_de_1_dos_professores_aderiu>Acesso
em: 20/06/09).
No Boletim do Sindicato, edição de março de 2009 (SEPE, 2009-A), encontramos
novas denúncias relacionadas ao projeto Conexão Professor, citando matéria publicada no
dia 13 de fevereiro de 2009 no Jornal O Globo. De acordo com o Boletim, a Investiplan,
empresa vencedora do contrato de venda de 31 mil laptops, vem sendo seguidamente
vitoriosa em outros contratos vultosos, tais como a garantia de um “contrato de aluguel de
21.939 computadores para as salas de aula por R$ 35,7 milhões”. Esta empresa, ainda de
acordo com o documento, vem sendo favorecida pelo Governo Estadual por pertencer ao
Deputado Estadual Jorge Picciani49
, Presidente da Assembleia Legislativa do Rio de
Janeiro e “um dos principais apoiadores do Governador Sérgio Cabral”. Desse boletim
destacamos:
A necessidade de informatização das escolas é um fato, mas também é
verdade que o governador não investe na infra-estrutura das unidades.
Grande parte dos prédios nem sequer tem salas próprias para a instalação
de computadores, por exemplo.
Na citada reportagem do Jornal O Globo, edição de 13 de fevereiro de 2009, o
Deputado Estadual Rodrigo Dantas, durante discurso em plenário, pediu a criação de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a veracidade do fato de a empresa
vencedora do pregão eletrônico, a Investiplan, pertencer a um sócio do Deputado Jorge
Picciani. Já Comte Bittencourt, presidente da Comissão de Educação, afirmou em seu
discurso, na mesma sessão, que iria pedir à Secretaria de Educação a relação de todos os
49
Nesta edição do jornal O Globo foi publicada também uma nota elaborada pelo deputado estadual Picciani
criticando a reportagem que informava que ele era sócio do dono da Investiplan, Paulo Trindade, conhecido
como o “Rei do Computador”. De acordo com o deputado, o jornal quis “confundir a opinião pública”,
porém, na mesma reportagem, foram apresentados dados apurados que indicavam que existe de fato
sociedades entre o deputado e Paulo Trindade, e que tais empresas somaram desde 2005 até 2008 o
faturamento de aproximadamente R$ 4,3 milhões.
84
participantes de pregões eletrônicos que a empresa pertencente ao deputado Picciani teria
ganho entre 2007 e 2008.
Em abril de 2009 mais uma movimentação desse Sindicato, no sentido de cobrar do
Governador transparência nas ações e resolução de problemas nas escolas estaduais,
começava a despontar. Milhares de panfletos50
foram distribuídos nas ruas e escolas da rede
com o título: “O governo estadual tem anunciado a distribuição de computadores para
professores e alunos, bem como a informatização das escolas. Enfim, anuncia uma nova era
na Educação pública do Estado. Mas será que isto é verdade?” (SEPE, 2009-B). Desse
documento, destacamos os argumentos do Sindicato de que pelo fato dos investimentos
relacionados à aquisição dos computadores estarem concentrados em uma única empresa, a
Investiplan, torna tais aquisições nebulosas e com grandes indícios de superfaturamento.
Passaremos então, no próximo item desta pesquisa, a “ouvir” as vozes de deputados
que se posicionaram contra ou a favor do projeto Conexão Professor, assim como de outras
autoridades relacionadas à sua implementação.
3.4 - Algumas vozes, no Plenário e no Governo
Em nossas pesquisas, verificamos que uma das vozes na Assembleia Legislativa do
Rio de Janeiro (ALERJ) que mais se pronunciou com relação ao projeto Conexão Professor
é o professor e Presidente da Comissão de Educação, Deputado Comte. Bittencourt. Em sua
página pessoal51
, chegou a manter durante alguns meses uma enquete da qual qualquer
visitante poderia participar, respondendo a perguntas um tanto quanto tendenciosas: “Você
acha certo o Governo comprar 31 mil laptops para dar aos professores do Estado, enquanto
as escolas públicas estão com seus laboratórios de informática fechados52
?”.
50
Ver anexo I, Documento 6. 51
Endereço da página: <http://www.comte.com.br/index.php>. 52
Até a data de 06 de julho de 2009 a pesquisa apontava que: 44% responderam SIM e 56% responderam
NÃO. A página não informava o total de votos contabilizados. Esses números não puderam ser atualizados
pelo fato de atualmente a pesquisa não estar mais disponível.
85
De acordo com o perfil de Bittencourt disponível em sua página na internet, seu
nome está sempre associado às principais decisões legislativas “em favor do
desenvolvimento econômico e sustentável e do ensino público”. Destacamos em um de
seus discursos:
Eu fiz diversos pronunciamentos, ano passado, desta tribuna, sobre o
drama pelo qual a rede estadual de Educação passou com relação à
inclusão digital. Trouxe, ao longo de todo o ano, dados para debate em
Plenário, bem como para debate junto aos meus pares na Comissão de
Educação. (...) O Último senso do IBGE e do Comitê Gestor de
Informática, em dados de 2005, apontam para uma completa situação de
exclusão digital da população das classes D e E. Seguramente, mais de
60% dessa camada econômica do país é formada por excluídos digitais.
Na classe C, chega a 40% o número de excluídos na população brasileira
(BITTENCOURT, 2008 -A).
Em seu discurso pronunciado em sessão ordinária na ALERJ no dia 14 de fevereiro
de 2008, Bittencourt, argumenta que a escola pública é o principal local de democratização
e acesso à internet. Fez críticas ao ex-Secretário de Educação do Estado, Nelson Maculam,
por ter retirado todos os orientadores tecnológicos dos laboratórios de informática que
estavam em funcionamento e mandado que eles retornassem às salas de aula, e conclamou
os outros deputados a auxiliar na busca de uma inclusão digital para todos os alunos da
rede. Ainda em seu discurso, embora levante discreto elogio ao projeto Conexão Professor,
critica o fato de a Secretaria de Estado de Educação não criar um programa de capacitação
dos professores para o adequado uso das máquinas, e ter retirado o dinheiro para a
aquisição das máquinas do Fundo Estadual de Combate à Pobreza. Desse pronunciamento
destacamos:
(…) Mas houve uma situação mais preocupante, Sr. Deputado L.P., que,
junto com o Sr. Deputado P.R., combatemos aqui. A questão do uso
indevido dos recursos do Fundo Estadual de Combate à Pobreza. Este
fundo, (...) no seu artigo 30, parágrafo 1
0, diz que ele poderá ser usado em
ações suplementares não regulares para a educação. Ações
complementares, não regulares. O governador Sérgio Cabral retirou, em
dezembro, 60 milhões do Fundo estadual de Combate à Pobreza para
comprar 31 mil laptops, (...) achando que essa é uma ferramenta, Sr.
Deputado A.C., para auxiliar os programas complementares de combate e
erradicação da pobreza e da miséria (ibid., 2008 -A).
O discurso segue com a indicação de que o posicionamento não é radicalmente
contrário ao do Governador, mas que acredita que esse projeto só serviu para criar um fato:
86
“gerar no ouvido da população um ar de inclusão digital”. Em outro discurso, pronunciado
no dia 19 de fevereiro de 2008, o Deputado Bittencourt retorna ao tema:
(...) o governo se preocupa em comprar laptop para o professor, mas se
entrarmos hoje no site da Secretaria de Estado de Educação, verá que as
informações todas são do ano letivo de 2007. (...) Esse mesmo governo
que sequer consegue atualizar o site da sua Secretaria cria um
merchandising com o Fundo Estadual de Combate à Pobreza pra dar
laptop para professor, que neste momento precisa mesmo é de salário
digno, de remuneração que lhe dê alguma condição para poder comprar
um livro, poder se deslocar. Estamos em um estado em que professor em
início de carreira ganha 428 reais por mês. Este é o Estado do Rio de
Janeiro (ibid., 2008 - B).
Em nossas pesquisas obtivemos também outros pronunciamentos de deputados que
usaram a tribuna para elogiar ou criticar o projeto. Dentre esses, citaremos o do deputado
Domingos Brazão:
Permito-me discordar em relação aos laptops. Eu acho que precisamos de
muita estrutura, mas o laptop também é bem-vindo. Aprendi (...) que o
bom é inimigo do ótimo. Na falta do ótimo, se faz o bom. Então é
importante que os professores contem com mais esta ferramenta, o laptop.
O que não é possível é que, em função do laptop, haja prejuízo das outras
demandas, que reconhecemos como sendo urgentes (BRAZÃO, 2008).
Durante palestra organizada pela Associação Brasileira de Tecnologia Educacional
(ABT)53
, foram apresentadas algumas justificativas por parte do Superintendente de
Planejamento da SEDUC-RJ, Evaldo Bittencourt, para a implementação do projeto
Conexão Professor. O simples fato de o “laptop gerar a ruptura de paradigmas” na
Educação já torna o projeto válido. Evaldo Bittencourt ressaltou em sua fala que, quando
assumiu a Superintendência, em fevereiro de 2008, a implementação do projeto já estava
em plena “ebulição” e que, mais do que discutir qual é a tecnologia disponível, deveríamos
desenvolver uma filosofia, uma proposta que afete, que desconstrua o fazer Educação na
forma tradicional. E acrescentou:
(...) Então nós precisamos de uma filosofia que possa dar conta de quem
está lá na escola. Hoje são 1591 escolas, 1,5 milhão de alunos na rede
estadual do Rio de Janeiro. Precisamos pensar um paradigma de gestão,
53
Palestra proferida durante o 400 Seminário Brasileiro de tecnologia Educacional, organizado pela
Associação Brasileira de tecnologia Educacional (ABT) em 18 de junho de 2008 no Rio de janeiro.
87
um paradigma pedagógico e um paradigma de formação dos professores
para o uso da tecnologia. E a Secretaria está preocupada com isso, com
esse rompimento da verticalização do conhecimento, não só de instruir,
mas sim, do professor ser o mediador do processo. (BITTENCOURT,
2008).
E relata em seguida sua percepção com relação às políticas públicas que estavam em
andamento:
O que nós estamos entendendo como política pública neste momento é
que, além de melhorar os equipamentos, universalizar os laboratórios de
informática, colocar orientadores tecnológicos (nestes laboratórios) e
chegar ao desafio maior para a política do Estado: a formação de uma
nova postura do professor para este enfrentamento. (...) Uma forma de
impactar este professor, essa apropriação do laptop está gerando uma
ruptura do paradigma, e é justamente o que nós queremos, que é a
possibilidade de primeiro o professor possa se familiarizar com o uso da
tecnologia, para depois utilizá-la com segurança no espaço escolar (ibid.).
Paralelamente ao andamento das discussões referentes ao projeto Conexão
Professor, outros projetos (e outras vozes) de outros estados e municípios despontaram em
nossas pesquisas em defesa de projetos similares. Dentre eles, destacaremos dois, um da
prefeitura de uma cidade do interior do Estado e outro da própria cidade do Rio de Janeiro.
O primeiro foi desenvolvido por Celso Jacob, prefeito da cidade de Três Rios até o
ano de 2008. Apresentados em palestra54
, seus projetos de inclusão digital dos professores
da rede municipal de ensino da cidade de Três Rios consistiam, dentre outras ações, de
propiciar o acesso a novas tecnologias facilitando a compra de um laptop pelo docente. A
“Prefeitura entra com 70% do investimento e o profissional com apenas 30%, que ainda
poderá ser financiado”(JACOB 2008). De acordo com Jacob, com o laptop devidamente
equipado, será possível o acesso a informações importantes. Com isso, os alunos ganham
em qualidade de ensino, pois passam a contar com profissionais antenados com o mundo da
tecnologia da informação.
O segundo projeto surge a partir da resolução publicada pela Secretaria Municipal
de Educação do Rio de janeiro em 2 de outubro de 2008, apresentando similaridades com
relação ao Conexão Professor, pois foram entregues cerca de 26.000 computadores
portáteis aos seus professores para “aprimorar a ação pedagógica junto aos alunos da rede
54
Palestra proferida na Universidade Católica de Petrópolis, em julho de 2008, como parte das atividades
desenvolvidas na disciplina “A política educacional como objeto de pesquisa” no curso de Mestrado em
Educação desta Universidade.
88
municipal” (RIO DE JANEIRO, 2008). A compra fez parte de um programa municipal que
teve como objetivo ampliar o acesso dos professores às modernas tecnologias da
informação e da comunicação.
Chegamos então ao momento de nos questionarmos: Qual é a opinião do professor
com relação a esses projetos? Existe um local onde seja possível esse professor expor sua
opinião sobre tais projetos? Para responder a esses questionamentos, passaremos ao
próximo ponto de estudo.
3.5 - A voz do professor
Em nosso estudo sobre a atuação do SEPE-RJ, verificamos que houve uma
reduzida participação dos professores em algumas atividades convocadas pelo seu sindicato
no ano de 2008. Tal fenômeno pode ser interpretado de diversas formas e sob diversos
aspectos. Um deles é a possível descrença em processos de representações políticas. Outro,
a não percepção de que ele - o professor - deve ser o protagonista de projetos como o
Conexão Professor. Poderemos, então, lançar as questões: A voz do professor foi ouvida
pelas autoridades políticas que traçaram o projeto? A voz do professor foi ouvida pelo
Sindicato que se anuncia como seu representante?
O historiador marxista Eric Hobsbawm (2007) nos apresenta algumas contribuições
para alimentar reflexões sobre a não escuta das autoridades aos professores. Ele afirma que
“a vontade do povo, ainda que expressa, não pode determinar as tarefas efetivas e
específicas do governo,(...), a vontade do povo não julga os projetos, e sim o resultado
deles” (p. 110).
Boa parte das decisões políticas é negociada nos bastidores. Isso
aumentará a desconfiança dos cidadãos com relação aos governos e o mau
conceito que eles têm dos políticos. Os governos se emprenharão em uma
guerra de guerrilha permanente contra a coalizão formada entre a
imprensa e os interesses de campanha, minoritários e bem organizados. A
imprensa verá cada vez mais como sua função à publicação daquilo que
os governos preferiram manter em silêncio, ao mesmo tempo em que
89
depende dos propagandistas das instituições que ela deve criticar para
preencher suas telas e páginas. Aí está a ironia de uma sociedade baseada
em um fluxo ilimitado de informações e lazer. (ibid., p. 113).
O historiador ainda nos apresenta a sua opinião relacionada ao fato de que
continuaremos a viver em um mundo populista “em que os governos têm de levar em conta
o povo, e o povo não pode viver sem os governos” (ibid., p. 114), nos levando em seguida
a verificar que as eleições democráticas continuarão a dar legitimidade aos governos, sendo
um modo conveniente de consultar o povo sem necessariamente assumir qualquer
compromisso concreto.
Referindo-se ao desenvolvimento de projetos educacionais elaborados e
implementados na ordem vertical (de cima para baixo) sem necessariamente obedecer a
promessas de campanha, consultar a população, ou a parcelas específicas dela, Lucena
(2008, p. 244) argumenta:
É importante a iniciativa do governo em disponibilizar as TIC para as
escolas públicas. Contudo, (...) o que temos visto até o momento são
propostas, sempre obedecendo a uma ordem vertical, sem que sejam
consultadas as partes interessadas - a comunidade escolar.
O economista, e também Presidente do Fundo Brasil de Direitos Humanos, Sérgio
Haddad, apresenta em artigo intitulado “é preciso ouvir a voz do professorado” descrições
sobre a imagem atual do docente da escola pública, alvo de nossas análises nesta pesquisa.
Segundo Haddad (2008, p.2), uma vez ao ano, no Dia do Professor, este profissional é
apresentado quase como um sacerdote, ou um herói, uma pessoa boa e comprometida. Após
esse dia, aparece quase sempre na mídia de forma negativa.
Quase sempre a ele é imputada a responsabilidade por todos os males do
ensino: ou é mal formado, ou sem interesse, ou falta muito às aulas, ou é
incompetente, ou é corporativo - só pensa no salário e na carreira e não
nos alunos - ou ainda, é um coitado, vítima da violência dos próprios
alunos.
Após essa apresentação da imagem propagada do docente, em especial da escola
pública, o autor passa a problematizar o fato de a voz dos professores não ser ouvida pelos
chamados especialistas ou dirigentes, e que quase sempre a voz que aparece nos meios de
comunicação é a dos empresários, que elaboram novos projetos para a implementação de
90
uma nova Educação para o desenvolvimento e para a economia, criticam o modelo de
gestão, falam em produtividade e como obter melhores respostas, e acabam tratando os
docentes como seres automatizados. O mesmo autor afirma:
As soluções apresentadas para a melhoria da qualidade quase sempre são
definidas independentemente dos professores, por cima deles,
considerando que eles são pacientes das reformas - e não agentes. Afinal,
se são culpados por todos os males, por que então tomá-los em
consideração? (ibid., p. 3).
Dois fenômenos que se complementam são apresentados como possíveis causas
para o silêncio dos professores: “de um lado, a desvalorização do trabalho do docente; por
outro, a existência de mecanismos repressivos que impedem o seu livre expressar” (ibid., p.
2). Esta segunda causa, por sinal, foi motivo de uma denúncia apresentada pelo SEPE-RJ
em seu boletim de 29 de julho de 2008 (SEPE, 2008-E) sobre a circular de n0 001/2008 da
SEEDUC-RJ55
, proibindo todos os seus funcionários de conceder entrevistas à imprensa
sem antes consultar a Secretaria de Comunicação da pasta. De acordo com o Sindicato, tal
proibição mereceria uma ação na Justiça contra o Governo Estadual.
Na tentativa de romper essas barreiras e expor suas reflexões sobre projetos de
inclusão das novas tecnologias na sala de aula e a entrega do laptop, alguns professores
saíram em busca de espaços alternativos onde pudessem ser escutados. Encontramos, então,
análises dos professores relacionadas ao projeto Conexão Professor nas seções destinadas à
voz do leitor nos jornais, em cartas publicadas no site do Sindicato e em especial no
ambiente da internet, em debates travados em tribunas virtuais56
.
Um bom exemplo dessas democráticas tribunas virtuais poderemos encontrar no
portal “Educação Pública”57
, na seção “sua opinião”. Nesse espaço foram postadas críticas
e elogios de diversos docentes a partir do questionamento: “A distribuição de laptops para
os professores aumenta sua eficiência pedagógica?” Esse tema58
no fórum foi criado em 4
de março de 2008, e até o dia 14 de março de 2009 contava com aproximadamente 42
55
Ver: Documento 5, no anexo I. 56
Utilizamos o termo como forma de criar uma analogia com os espaços formais onde falam oradores.
Consideramos que os fóruns abertos no ciberespaço proporcionaram formas democráticas de exposição de
ideias, críticas, elogios e sugestões sobre os mais diversos assuntos, independente da hora e do local físico em
que o participante se encontra. 57
Endereço: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/> Acesso em: 14.03.09. 58
Endereço: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/discutindo/discutindo.asp?cod_per=94> Acesso em:
14.03.09.
91
postagens. Uma boa parcela dessas postagens ressalta que apenas o empréstimo dessa
ferramenta não significa valorização do profissional, e que se ressentem do esquecimento,
por parte das autoridades, das outras carências da categoria. Como exemplos dessas
postagens destacamos:
Na minha opinião, é uma medida extremamente demagógica! O gasto
com a aquisição e manutenção desses laptops deveria ser poupado, para o
reajuste salarial dos professores, que (sobre)vivem com salário aviltante,
vergonhoso! Além do fato de que o laptop não se conecta à internet em
qualquer lugar. O que acontece é que estão sendo utilizados muito mais
para exibição de vídeos em CD-ROM, ou como editores de texto, de que
como “computador de verdade”! (Profa. Érika, postagem feita em
10/09/08).
Eficiência pedagógica engloba mais (muito mais) do que portar um
laptop. Para o docente alcançar seus objetivos profissionais, ele precisa
estar em paz consigo mesmo. E para tal, ele precisa estar em paz com seus
credores. Como ser eficiente em sala de aula, quando o tempo necessário
para planejar seu curso é gasto em dois, três estabelecimentos de ensino
em pólos diferentes? (Prof. Marcos, postagem feita em 18/03/08).
Algumas postagens elogiam o projeto, listando algumas possibilidades de uso na
sala de aula:
Aumenta a eficiência, sim, se o usarmos com fins de aprimoramento
buscando leituras, cursos de aperfeiçoamento e grupos de estudos que
existem na rede. E, na prática, os recursos em sala de aula aumentam
consideravelmente. Mas vejo como principal ganho nesta distribuição a
possibilidade de compartilhar ideias, sugestões de atividade e materiais de
estudo com outros educadores.(...) (Profa. Tânia, postagem feita em
26/01/09).
Na minha opinião, qualquer instrumento de informática é útil na melhoria
da qualidade de ensino. Como nossos alunos estão cada vez mais
informatizados, nós, professores, devemos estar atualizados e um
benefício como esse, com certeza, irá ajudar a melhorar ainda mais o
nosso trabalho. (Profa. Silvaneide, postagem feita em 04/03/08).
Outras postagens indicam a necessidade de investimentos em aperfeiçoamento do
professor e aquisição de outras tecnologias:
Sozinho, realmente fica difícil. Precisa de capacitação do professor,
ambientes preparados no que diz respeito às instalações, projetores,
ventiladores, tomadas e principalmente que esta internet funcione, o que
92
realmente não acontece nos laps que foram distribuídos. (...) (Profa. Vânia,
postagem feita em 25/03/08).
A verdade é que o laptop é apenas mais uma ferramenta para uso do
docente. Não implica, de forma alguma, em aumento de eficiência
pedagógica se não for utilizada de forma produtiva. E para que isto
ocorra, se faz necessária toda uma estruturação da rede condizente com o
potencial tecnológico da ferramenta. Numa analogia, é como ter uma
guitarra e não possuir o equipamento de amplificação para se fazer ouvir.
(Prof. Alexandre, postagem feita em 13/03/08).
Diversas postagens convergem para a percepção da importância de se atualizarem
com relação a tecnologias que muitos de seus alunos dominam e já incluíram de forma
natural ao seu dia a dia, mas ressaltam que não sabem de que forma farão essas tecnologias
possibilitar experiência, inovações e pesquisas no ambiente escolar.
Destacaremos a seguir algumas postagens feitas no fórum do portal Conexão
Professor, seção “hora do cafezinho”59
. Esse fórum foi iniciado em 5 de dezembro de 2008
e em 14 de março de 2009 contava com 11 postagens relacionadas ao tema: entrega dos
laptops aos professores da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro. Dentre essas
postagens também encontramos uma razoável quantidade de docentes apresentando críticas
ao investimento feito no laptop, aos baixos salários, à falta de preparação do professor para
trabalhar com as novas tecnologias e à falta de oferta de cursos que possam indicar
caminhos para que esse trabalho pedagógico possa ser feito de forma eficiente. Dentre
diversas postagens, destacamos:
A valorização profissional passa longe da realidade do Estado do Rio de
Janeiro, mas o fazer bem feito, mesmo não sendo valorizado ou
remunerado por isso decentemente, tem um prazer diferente. Você
concorda que numa escola sem recursos os alunos pobres recebam uma
educação POBRE pois há escassez de recursos? Assim estaríamos dando
a eles um recado bem explícito: “Vocês não merecem mais do que isto
pois eu não ganho o suficiente para me superar e dar o melhor de mim”.
As TICs são um agente transformador e socializador da informação que é
hoje o grande diferencial no mercado de trabalho. Fazer com que esses
alunos tenham uma educação popular de QUALIDADE para que eles
rompam os limites da marginalização e se transformem em agentes de
mudança social, pessoal comunitária. (Prof. Robson, postagem feita em
24/02/09).
59
Endereço: <http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/cafezinho-forum.jsp> Acesso em 14.03.09.
93
Outros temas relacionados também ao uso das novas tecnologias na Educação estão
despontando nessa página, tais como “Professor web 2.0 - você é um?”, “orientadores
tecnológicos”, etc. É interessante destacar que nesse portal os temas abertos para debate são
criados pelos próprios visitantes, o que pode nos levar a perceber a grande vontade desses
profissionais em discutir a utilização das novas tecnologias nas práticas pedagógicas.
Fora da internet também é possível encontrar posicionamentos de professores
relacionados ao projeto Conexão Professor. Como exemplo dessa afirmação, destacamos o
artigo publicado em abril de 2008 no site do SEPE-RJ, do professor de matemática da rede
estadual de ensino, Sérgio Leal. Ele enumera nessa publicação os diversos motivos pelos
quais decidiu não aceitar a máquina oferecida pelo governo estadual. Dentre outros
motivos, o fato de que o professor da área de exatas “pode tranquilamente dispensar esse
recurso, uma vez que um bom quadro de giz o substitui com perfeição”. Através do artigo,
o professor se dirige ao Governador:
O senhor vive alegando que não tem dinheiro para aumentar o piso, mas
gastou setenta milhões na compra dessas máquinas, dinheiro oriundo do
Fundo de Pobreza. Fundo cujos recursos vêm da alíquota de ICMs
altíssima. Todo cidadão contribui compulsoriamente quando compra um
quilo de feijão e arroz. E o senhor gasta na compra de algo que em nada
modificará o quadro ruim de nossa educação pública, pois o cliente
principal é o filho do trabalhador assalariado que tem salários de fome.
(LEAL, 2008, p.2).
Se a utilização do laptop está modificando ou não a forma como o professor realiza
seu trabalho pedagógico, foi um dos questionamentos que levamos aos professores que
fizeram parte de nossa pesquisa de campo e que apresentaremos no capítulo seguinte.
Até este ponto buscamos apresentar uma revisão bibliográfica sobre a evolução
acelerada das novas tecnologias, e o quanto esse fato acaba impingindo uma maior
flexibilidade e criatividade no trabalho docente. Para atingir habilidades e competências
relacionadas ao uso crítico das TIC, torna-se urgente que se busquem formas consistentes
de inclusão digital desse profissional, uma alfabetização tecnológica. É fundamental
também que a escola esteja aberta para mudanças em seus currículos, de tal forma que as
possibilidades de usos pedagógicos disponíveis no ciberespaço possam ajudar a mesclar, no
que tem de melhor, o homo sapiens com o homo zappiens. E, para que mudanças sejam de
fato implementadas no currículo, no ambiente escolar e na formação do professor,
94
necessitamos de claras políticas públicas direcionadas para a criação de uma nova escola,
uma escola onde caiba o mundo.
Na próxima etapa de nossa pesquisa, relataremos nossos contatos com professores
da rede estadual de ensino que receberam o laptop por meio do projeto Conexão Professor.
Através de entrevistas e questionários, analisaremos se o recebimento dessa máquina
proporcionou de alguma forma uma mudança na prática pedagógica desse docente, e em
que medida melhorou essa prática, buscando entender as dificuldades encontradas por esses
docentes para incluir as novas tecnologias no dia a dia do docente, novos caminhos e ideias
desenvolvidas para que essa inclusão ocorra, e quais são as perspectivas de mudança em
seu trabalho docente de democratização da informação global.
95
CAPÍTULO 4
PESQUISA DE CAMPO
Neste capítulo apresentamos considerações elaboradas a partir dos dados colhidos
na pesquisa de campo realizada em uma escola pertencente à rede estadual de ensino do
Rio de Janeiro que está situada no 30
Distrito da cidade de Petrópolis, na localidade de
Itaipava.
Este capítulo, assim como a própria pesquisa de campo, foi dividido em duas partes.
Na primeira apresentamos análises efetuadas sobre as informações prestadas por
professores por meio de questionários que foram entregues àqueles que receberam o laptop
da SEEDUC-RJ em regime de comodato. Na segunda parte apresentamos os resultados das
entrevistas efetuadas com os docentes selecionados como informantes-chave, essenciais em
nossa busca por respostas às perguntas que desencadearam esta pesquisa.
4.1 - Características da Escola selecionada
Para a realização da pesquisa de campo, selecionamos uma escola situada no bairro
de Itaipava, 30 Distrito da cidade de Petrópolis. Essa escola faz parte, de acordo com a
forma organizativa da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, da região
Serrana III, Coordenadoria Regional 11.
De acordo com as informações coletadas junto à Direção da unidade escolar
selecionada, são atendidos aproximadamente 1350 estudantes em três turnos, divididos em
ensino fundamental (70 ao 9
0 ano) e ensino médio regular, oriundos de diversos bairros de
Petrópolis e cidades próximas, distribuídos em um total de 34 turmas. Para atender a esse
contingente de alunos, a escola conta com aproximadamente cinquenta professores regentes
e funcionários extra classe.
96
Nos últimos anos essa unidade escolar vem se destacando na cidade de Petrópolis
por implementar uma série de atividades interdisciplinares desenvolvidas por sua equipe
pedagógica. Dentre tais atividades, destacamos a Feira de Conhecimentos, que em
novembro de 2008 apresentou sua quinta edição. Nesse evento aberto à comunidade,
diversos assuntos são apresentados pelos próprios alunos após um longo período de
pesquisa e preparação sob a orientação de seus professores. Para divulgar os conhecimentos
adquiridos sobre assuntos tão distintos, como por exemplo, as obras de Machado de Assis,
meios de transporte e doenças sexualmente transmissíveis, as salas de aula são
transformadas em oficinas, laboratórios e até mesmo em arenas de teatro.
Ao verificarmos essas e outras características, julgamos que esse poderia ser um
espaço propício à implantação de projetos pedagógicos inovadores, inclusive no que se
refere à utilização de novas tecnologias, pois essa unidade escolar conta com um
laboratório de informática com aproximadamente 15 computadores ligados à internet e
oferece aos seus docentes equipamentos que facilitam a utilização dos laptops em sala de
aula.
4.2 - Primeira parte da pesquisa de campo: Questionários
O questionário utilizado na primeira parte da pesquisa de campo foi elaborado tendo
por base a busca de respostas complementares para questionamentos que motivaram esta
pesquisa:
- Quais as habilidades e competências necessárias ao professor para que inclua novas
tecnologias em sua prática pedagógica?
- Que apoio está sendo oferecido pela SEEDUC-RJ aos seus professores para que eles
possam incluir essa nova tecnologia em seu trabalho?
- Que modificações ocorreram na prática pedagógica docente a partir desse projeto?
Em capítulos anteriores, apresentamos nossos referenciais que geraram os subsídios
teóricos necessários para a análise sobre as habilidades e competências necessárias ao
97
docente a fim de que ele se sinta capaz e motivado a incluir as novas tecnologias na sua
prática pedagógica. Passaremos então a tecer reflexões sobre as considerações informadas
pelos próprios docentes a respeito de sua prática pedagógica, e em especial à sua forma de
relacionamento com as novas tecnologias. São docentes que podem muitas vezes
desconhecer teorias pedagógicas, mas percebem que o mundo no qual está inserida sua sala
de aula muda cada vez mais rápido, e se vê cercado de uma série de inovações que
modificam sua forma de se relacionar com a informação e o conhecimento.
Para que pudéssemos atingir tais objetivos, desenvolvemos uma série de questões
que nos permitiram comparar aspectos importantes para o entendimento de características
que tornam o docente apto ao uso não apenas do laptop, mas de uma gama de tecnologias
que possam gerar mudanças em sua prática pedagógica. Tais questões passaram por um
período de análise e testagem junto a professores dessa e de outras unidades escolares.
Dentre as principais mudanças sugeridas por esses docentes, destacamos a diminuição do
número de questões e a adaptação da linguagem em algumas delas, no intuito de tornar o
questionário mais claro e direcionado aos aspectos que se desejava pesquisar. Após esse
processo de maturação, chegamos a um corpo de 21 questões, que se encontram disponíveis
no Apêndice A desta dissertação. Ao trabalharmos com essas informações nos foi possível
selecionar os profissionais que nos concederam as entrevistas que compõem a segunda
parte deste capítulo.
Dentre os quase cinquenta profissionais que estavam atuando nessa unidade escolar
no momento de nossa pesquisa, apenas quarenta docentes estavam aptos60
a receber o
laptop no início da implementação do projeto Conexão Professor, o que ocorreu no início
de 2008. Essa informação nos foi oferecida pela Direção da unidade escolar através de uma
lista organizada pela própria SEEDUC-RJ no período de início da implementação do
projeto, indicando nominalmente aqueles que iriam receber a máquina. A partir dessa lista
passamos a verificar as possibilidades de entrega dos questionários a esses docentes, o que
pôde ser feito com trinta e três deles. Os sete docentes restantes não receberam o
questionário pelos seguintes motivos:
60
Para que fosse considerado apto a receber o laptop na primeira fase do projeto Conexão Professor, o
docente deveria preencher as seguintes características: ser classificado como docente I (habilitado e
concursado para atuar no ensino médio), ter exercido durante o ano de 2007 a função de regência de turmas e
permanecido na mesma função no ano seguinte (RIO DE JANEIRO, 2008, Art. 20). Ver Anexo I, Documento
1.
98
- Um docente recusou-se a receber o laptop seguindo determinação do SEPE-RJ;
- Dois docentes encontravam-se em licença médica no momento da realização desta
pesquisa;
- Dois docentes tinham sido transferidos para outras unidades escolares, e
- Dois docentes haviam abandonado a rede estadual de ensino.
Dos trinta e três professores que receberam o questionário, somente seis declinaram
do convite para participar desta pesquisa, o que nos proporcionou chegar então, à vinte e
sete questionários recolhidos, ou seja, 81,8% dos trinta e três docentes que foram incluídos
no projeto “Conexão Professor” e que estavam atuando nessa unidade escolar no momento
de nossa pesquisa de campo e que aceitaram receber o laptop da SEEDUC-RJ. A utilização
deste levantamento de campo em grande abrangência nos permitiu realizar uma série de
análises imprescindíveis em nossa busca de respostas a questionamentos relacionados a
possíveis mudanças nas práticas educativas do docente da rede estadual de ensino do Rio de
Janeiro a partir do recebimento do laptop, como pode ser acompanhado a partir do tópico a
seguir.
4.3 - Análises dos dados colhidos nos questionários:
Com o intuito de traçar um perfil do docente que recebeu o laptop nesta unidade
escolar, iniciamos com perguntas objetivas relacionadas à informações imprescindíveis
para caracterizar os sujeitos desta pesquisa, tais como gênero, idade, carga horária, e outras.
Temos então um grupo de vinte e sete docentes consultados, composto de oito homens
(29,6%) e dezenove mulheres (70,4%) com idades que variam de 25 a 65 anos. Podemos
verificar, de acordo com dados apresentados no Gráfico 1, que esse grupo apresenta uma
concentração maior nas duas primeiras faixas de idade, que compreende o intervalo de 25 a
35 anos e apenas quatro docentes se encontravam nas faixas acima de 46 anos de idade.
99
Figura 3 - Distribuição das idades dos professores que participaram da pesquisa
0
1
2
3
4
5
6
7
8
de 25 a 30 de 31 a 35 de 36 a 40 de 41 a 45 de 46 a 50 mais de 50
idades
Com relação aos dados referentes à disciplina ministrada por esses docentes,
decidimos apresentá-los em grupos devido ao fato de terem sido poucos os que declararam
ministrar apenas uma disciplina (Tabela 9).
Tabela 9 - Disciplinas ministradas pelos docentes
Disciplina(s) ministrada(s) Número de Docentes
Português / Literatura / inglês 14
Matemática / Geometria / Física 5
História / Geografia / Filosofia 4
Artes 2
Educação Física 1
Biologia 1
Total 27
100
A grande concentração de profissionais atuando na área de Português pode ser
entendida pela combinação dos seguintes fatos: a quantidade de aulas por turma (quatro
aulas semanais), e a utilização de profissionais dessa área para trabalharem a disciplina
denominada “Projetos”, que nesta unidade escolar acontece por meio de leitura e
interpretação de textos diversos. Para simples efeito de comparação, podemos separar os
docentes que responderam ao questionário em duas grandes áreas de conhecimento,
obtendo desta forma os seguintes dados (Tabela 10):
Tabela 10 - Distribuição dos docentes por áreas de conhecimento
Áreas Número de Docentes /
Porcentagem
Exatas / Biomédicas
(Matemática / Geometria / Física / Biologia)
6 - 22%
Humanas
(Português / Literatura / inglês / História / Geografia /
Filosofia / Artes / Educação Física)
21 - 78%
Total 27 - 100%
A elaboração do gráfico apresentado na Figura 4, apresentado em seguida, foi feita
com base nos dados obtidos na questão de número 3 do questionário: “Há quantos anos
trabalha na rede estadual de ensino?”
101
Figura 4 - Número de anos trabalhados na rede estadual de ensino.
0
2
4
6
8
10
12
até 2 3 5 6 9 11 15 18 mais
de 20
número de anos
Julgamos que as informações contidas nas Figuras 3 e 4 são complementares, uma
vez que o primeiro apresenta uma população predominantemente jovem de docentes na
unidade escolar e, o segundo indica uma grande parcela de profissionais que foram
admitidos recentemente na rede estadual de ensino. A pouca quantidade de professores com
muitos anos de trabalho nessa unidade escolar pode ser entendido como um crescimento do
colégio, ou será que significa uma perda constante desses profissionais? A resposta a essa
indagação obtemos na entrevista realizada com a diretora da unidade escolar, e é
apresentada mais adiante no tópico 4.4.4 deste capítulo.
Destacamos que, para o docente poder receber o laptop no início de 2008, era
necessário que no ano anterior já estivesse fazendo parte do quadro de docentes da rede
estadual de ensino, ou seja, o docente incluído no projeto Conexão Professor deveria ter
sido admitido na rede estadual de ensino do Rio de Janeiro no mínimo durante o ano letivo
de 2007.
102
Com relação à carga de trabalho, pedimos que o docente indicasse a sua carga
horária semanal (em sala de aula), incluindo outras esferas de atuação, como a rede
municipal e particular, se fosse o caso. Os dados contabilizados são apresentados na Figura
5.
Vale destacar que a carga horária do professor docente I na rede estadual de ensino
é de 12 aulas semanais em sala de aula, o que nos leva a verificar que do grupo consultado,
apenas um docente tem seu trabalho restrito a essa quantidade. Analisando os dados dos
questionários, verificamos que uma grande parcela está envolvida com cargas que variavam
de 25 a impressionantes 72 aulas semanais. Outro destaque necessário com relação a essa
informação refere-se ao fato de a rede de ensino passar por uma grande carência de
profissionais, o que acaba gerando contratações de sua própria equipe em regime de horas
extras, sob a denominação de Gratificação por Lotação Prioritária (GLP). Em nossos
contatos com esses profissionais, muitos admitiram trabalhar em até três turnos nesse tipo
de regime.
Figura 5 - Carga horária semanal dos professores em sala de aula
0
1
2
3
4
5
6
12 13 a 18 19a 24 25 a 30 31 a 39 40 a 49 50 a 59 mais de
60
número de aulas semanais
103
Ao solicitarmos que o docente indicasse sua formação na questão de número 5 do
questionário, verificamos que todos os profissionais consultados possuem graduação
completa na área em que lecionam, o que já tínhamos ciência de ser condição obrigatória
para que fossem classificados como docente I, uma das características necessárias para que
estivesse apto a receber o laptop. Quatorze (51,8%), dos vinte e sete consultados,
declararam possuir algum tipo de especialização, e um docente indicou possuir o curso de
mestrado. Tais dados nos parecem ser um bom quadro no que se refere à iniciativa de tais
profissionais para a busca de formação continuada.
Em seguida questionamos se já possuíam computador antes de receber o laptop da
SEEDUC-RJ. Verificamos então que vinte e quatro (88,8%) responderam que sim e apenas
quatro (11,2%) disseram que não. Essas informações alertam para o fato de que a maior
parte dos docentes atuantes nessa unidade escolar receberam o laptop como pelo menos
uma segunda máquina com possibilidade de acesso à internet e que talvez já pudessem ser
considerados incluídos digitalmente.
Os dados obtidos na pergunta seguinte: “O(a) sr.(a) já frequentou algum curso
relacionado ao uso geral do computador?” podem nos ajudar a reforçar a impressão de que
tais profissionais possuem a preocupação com a sua formação, pois vinte e um (77,8%)
responderam que sim e apenas seis (22,2%) indicaram que não, dados esses que se
apresentam de forma quase inversa na questão que se segue: “O(a) sr.(a) já frequentou
algum curso relacionado ao uso pedagógico do computador?”. Aqui verificamos que apenas
quatro (14,8%) responderam que sim e vinte e três (85,2%) indicaram que não.
Como comentado em capítulos anteriores desta pesquisa, periodicamente a
SEEDUC-RJ oferece, para o seu quadro de professores, cursos sobre a utilização de
softwares do tipo editores de texto, desenvolvimento de planilhas e utilização de internet.
Com base nessa informação, resolvemos checar junto aos professores como eles viam esses
cursos, daí incluirmos no questionário a questão de número 9: “Na sua opinião, os cursos
oferecidos pela Secretaria de Educação Estadual são suficientes para à capacitação do
professor para o uso do computador?”, as respostas obtidas podem ser conferidas na Figura
6 a seguir.
104
Figura 6 - Opinião dos professores sobre a eficácia dos cursos de capacitação para o
uso do computador oferecidos pela SEEDUC-RJ: (N=27)
0
5
10
15
20
25
30
sim não desconheço
núm. de prof.
Os dados da Figura 6 nos permitem verificar que não houve qualquer docente
declarando que tais cursos são suficientes para a capacitação do professor. Apenas três
deles (11,1%) indicaram que não e vinte e quatro (88,9%) indicaram que desconhecem tais
cursos. Indagados sobre a razão de terem assinalado a opção “desconheço” como resposta,
os professores citaram o fato de esses cursos serem pouco divulgados e em geral, quando
são divulgados, não atenderem aos seus anseios relacionados ao uso pedagógico da
informática. Um dos professores chegou a sugerir que a SEEDUC-RJ desenvolvesse cursos
contínuos de capacitação pedagógica nessa área.
A questão de número 10 do questionário referiu-se a informações apresentadas
anteriormente em nossa pesquisa com relação à defesa feita pela Secretária de Educação do
Estado do Rio de Janeiro a respeito da utilização, por parte do docente, de um CD-Rom que
foi entregue junto ao laptop como forma de suporte técnico para a implementação adequada
de seu uso. Com a declaração de que “não vou distribuir papel” (O GLOBO ONLINE,
Edição de 23/04/2008), Porto ressalta que a ideia era a de implementar um ensino à
distância que se iniciaria com a utilização deste CD-Rom e que seria acompanhado pelos
Núcleos de Tecnologias Educacionais.
Com relação a essa possível forma de capacitação, resolvemos indagar dos docentes: “Você
já utilizou o CD-Rom enviado junto ao laptop?”. Verificamos que no enunciado não foi
105
especificado de que forma o professor teria utilizado o CD-Rom. As respostas indicaram
que dos vinte e sete professores consultados, dezenove (70,3%) responderam que não,
cinco (18,5%) responderam que sim e três (11,2%) indicaram desconhecer o CD-Rom.
Caberiam aqui então diversas indagações, dentre as quais destacamos: 1) Apostilas
impressas teriam tido a mesma rejeição?; 2) A rejeição ao CD-Rom deveu-se ao fato de ele
apresentar tópicos muito básicos de conteúdo?
Passando agora ao uso do computador recebido por esse docente, indagamos na
questão de número 11: “Na sua opinião, em que medida o recebimento do laptop contribuiu
para a inclusão digital do professor?”. Foram dadas três opções de respostas: “muito”, “em
parte” e “não contribuiu”, pedidos também que justificassem suas respostas. Dos quinze
(55,5%) professores que assinalaram a opção que indicava como “muito” a contribuição do
recebimento do laptop para a inclusão digital do professor, selecionamos as seguintes
justificativas:
Com o laptop e o acesso fácil à internet, o professor tem em suas mãos
maior facilidade de enriquecer suas atividades pedagógicas. (Prof. 2).
Era o que faltava aos professores interessados, e é um desafio aos
desinteressados. (Prof. 6).
Porque amplia a capacidade de trabalho do professor. (Prof. 17).
Porque nos aproxima da realidade atual. (Prof. 19).
Um total de dez professores (37%) assinalou a opção “em parte”, justificando
muitas vezes de forma parecida com os que assinalaram a opção “muito”. Uma parcela
desses docentes indicou que faltou por parte da SEEDUC-RJ a preocupação com a
capacitação adequada para o uso do laptop recebido.
Falta uma conexão mais rápida para a web. (Prof. 4).
Resolveu a questão do acesso, porém deixou de lado a capacitação. (Prof.
14).
Muitos professores não estão capacitados para seu uso. (Prof. 24).
Oferece a ferramenta, mas falta o conhecimento. (Prof. 27).
Apenas dois docentes (7,5%) indicaram que o recebimento do laptop não significou
contribuição para a inclusão digital do professor da rede de ensino. Desses, houve uma
106
justificativa relacionada ao fato de muitos já possuírem pelo menos um computador antes
do recebimento do laptop.
Quando indagados na questão de número 12 sobre “o que é necessário ao professor
para que ele inclua novas tecnologias em sua prática pedagógica (dentro e fora de sala de
aula)”, os docentes puderam assinalar quantos itens desejassem dentre oito opções listadas
e mais a indicação de outras que não estivessem descritas na lista. Os dados obtidos nessa
questão são apresentados na Tabela 11.
Tabela 11 - Indicações dos professores sobre o que é necessário para que haja a
inclusão de novas tecnologias em sua prática pedagógica. (N=27)
Opções Quant. %
Compreender as possibilidades de uso pedagógico das novas
tecnologias
20 74
Buscar o aperfeiçoamento constante no uso das novas tecnologias
23 85,2
Acompanhar o desenvolvimento de novos softwares pedagógicos
em sua área
14 51,8
Desenvolver os próprios softwares para uso pedagógico
3 11,1
Buscar a interatividade constante com os alunos através de
recursos disponíveis na internet
11 40,7
Saber utilizar estratégias que envolvam computador e internet que
possibilitem a transmissão de conhecimentos
21 77,7
Atuar como mediador entre os conhecimentos proporcionados
pela internet e o seu aluno
18 66,6
Utilizar o computador e a internet como ferramenta auxiliar de
ensino
24 88,8
Outras 3 11,1
Ao analisarmos a frequência das respostas apresentadas na Tabela 11, podemos
concluir que os docentes indicam ser muito importante a compreensão das possibilidades de
uso pedagógico das novas tecnologias. Tal percepção pode ser complementada com o item
seguinte, selecionado por uma grande parcela, relacionado à busca do aperfeiçoamento
profissional, ou mesmo nos 51,8% dos docentes que indicaram ser importante o
acompanhamento do desenvolvimento de novos softwares pedagógicos em sua área de
107
atuação. Apenas 11,1% indicaram que a habilidade de desenvolvimento de softwares
próprios é necessária para a inclusão de novas tecnologias na prática pedagógica. Afinal,
estamos diante de uma habilidade geralmente desenvolvida em cursos específicos de
informática.
O item relacionado à importância da busca de utilizar os recursos disponíveis na
internet como forma de proporcionar uma maior interatividade com seus alunos foi
indicado por 40,7%. Interessante salientar que um número maior de professores (66,6%)
destacaram outro item quase complementar a este, relacionado à forma de atuar do
professor, tornando-se mediador do conhecimento proporcionado pela internet.
Outros dois itens que a princípio podem se completar foram também destacados por
muitos professores: “saber utilizar estratégias que envolvam computador e internet que
possibilitem a transmissão de conhecimentos” com 77,7% e “utilizar o computador e a
internet como ferramenta auxiliar de ensino” com 88,8%. A análise de tais números pode
nos indicar a princípio a utilização um “fazer tradicional”, devido aos termos “transmissão
de conhecimentos” e “ferramenta auxiliar de ensino”, mas ao mesmo tempo pode significar
uma percepção de que esse “fazer tradicional” já merece ser revisto diante de novas
possibilidades de formas de atuação pedagógica.
Nos três (11,1%) questionários nos quais constatamos a indicação de outras opções,
verificamos que a necessidade do “tempo para aprender e planejar o uso eficiente de novas
tecnologias” (Prof. 14) se destacava como item fundamental para possíveis mudanças em
sua atuação pedagógica. É interessante destacar que esse docente (de n0 14) que salientou a
importância do tempo para preparar sua aula se encontra na faixa dos que lecionam
aproximadamente 50 aulas semanais.
Em seguida, apresentamos aos docentes, a questão de número 13 que indagava:
“Você costuma utilizar o laptop em suas tarefas docentes em sala de aula?”. Três docentes
(11,1%) indicaram que “sempre”, quatorze (51,8%) “periodicamente” e dez (37%)
responderam que “nunca”.
Então, na questão seguinte, solicitamos àqueles que disseram nunca ter utilizado o
laptop em suas práticas docentes que explicitassem seus motivos. Ao elaborarmos as
opções iniciais que seriam dadas aos docentes, recorremos a alguns argumentos
apresentados por professores nas “tribunas virtuais” comentadas em capítulos anteriores
108
desta dissertação. O medo de assalto, por exemplo, foi um item bastante comentado nos
fóruns e debates da internet, além de aparecer em reportagens datadas da época da
implementação do Conexão Professor. No grupo de professores que consultamos, nenhum
indicou este item, como pode ser visto na Tabela 12. Podemos entender que tal fato tenha
acontecido devido às características da comunidade na qual está inserida essa unidade
escolar selecionada, pois nesse local não se têm verificado altos índices de violência,
gerando, por consequência, um ambiente de maior segurança.
Tabela 12 - Indicações dos professores sobre os motivos de nunca utilizar o laptop nas
tarefas docentes em sala de aula. (N=27)
Opções Quant. %
Por medo de assalto
0 0
Por não me sentir preparado para o uso em sala de aula
6 22,2
Por não achar necessário o uso em sala de aula
4 14,8
Outro(s) motivo(s)
3 11,1
Os outros dois itens, “por não me sentir preparado para o uso em sala de aula”
(22,2%) e “por não achar necessário o uso em sala de aula” (14,8%), foram destacados
como motivos principais para a não utilização do laptop. Outros docentes ofereceram
motivos diferentes que até então não tínhamos dado a devida atenção, tais como “o peso da
máquina” (Prof. 10) e o “tempo de duração das aulas” (Prof. 2) que nos foi explicado como
sendo muito curto para se montar o maquinário (laptop e datashow). Um professor da área
de Educação Física destacou que nunca usa o laptop pelo fato de sua matéria ser
“predominantemente prática” (Prof. 11).
A Tabela 13 apresentada a seguir foi elaborada a partir dos dados obtidos na questão
de número 15: “Se o(a) sr.(a) indicou que usa sempre ou periodicamente, indique as
principais atividades em sala de aula em que utiliza o laptop: (assinale quantos itens
desejar)”.
109
Tabela 13 - Indicações dos professores sobre as principais atividades realizadas em
sala de aula em que utilizam o laptop. (N=27)
Opções Quant. %
Para exibição de filmes e documentários.
6 22,2
Para apresentação de slides preparados em programas do tipo
Power Point.
9 33,3
Para utilização de programas que facilitam a aprendizagem por
parte dos alunos.
4 14,8
Para pesquisas na internet.
9 33,3
Outro(s) motivo(s)
4 14,8
Mais uma vez recorremos às postagens efetuadas por professores nos fóruns virtuais
que apresentassem temas semelhantes ao enunciado da questão em análise (n0 15). Como
podemos observar na Tabela 13, “para exibição de filmes e documentários” obteve 22,2%;
“para apresentação de slides”, 33,3%; “para a utilização de programas que facilitam a
aprendizagem por parte dos alunos” com 14,8%, e “para pesquisa na internet” com 33,3%.
A escolha da opção “outras atividades” foi feita por 14,8% dos professores, com a
indicação do uso do laptop para acessar páginas do tipo “You Tube e Google Earth” (Prof.
20) entre outras.
Para os professores que utilizam o laptop ainda questionamos: “se o(a) sr.(a) utiliza
o laptop no seu trabalho pedagógico, indique algumas vantagens que tem verificado.
(assinale quantos itens desejar)”. Os dados desta questão se encontram na Tabela 14.
110
Tabela 14 - Indicações dos professores sobre vantagens que tem verificado em seu
trabalho pedagógico a partir do uso do laptop com acesso à internet. (N=27)
Opções Quant. %
Ele agiliza o método tradicional de ensino. 6 22,2
Ele expande as possibilidades de ensino. 12 44,4
Ele estimula a aprendizagem. 15 55,6
Outro(s) motivo(s) 2 7,4
A análise sobre a questão de número 16 é especialmente significativo para nossa
pesquisa, pois nos remete a possíveis mudanças no trabalho pedagógico a partir do uso
dessas novas tecnologias, o que já foi apresentado como sendo uma de nossas questões
básicas. Podendo assinalar quantos itens desejasse, os professores puderam optar entre três
itens listados e mais a opção “outras vantagens”. Considerávamos inicialmente que as duas
primeiras opções de respostas oferecidas teriam o caráter do antagonismo, pois “ele agiliza
os métodos tradicionais de ensino” e “ele expande as possibilidades de ensino” nos
pareciam apresentar características conflitantes e foram incluídas de modo proposital nesse
questionário, a partir de debates gerados quando da apresentação de dados iniciais de nossa
pesquisa em evento científico61
relacionado ao tema. Nesses debates, a discussão se
encaminhou para o fato de que diversos professores que receberam o laptop o estariam
utilizando basicamente para a manutenção do “fazer pedagógico tradicional”, quando
deveriam (de acordo com alguns debatedores presentes no evento) utilizá-lo como forma de
ampliar e modificar tais práticas. Essa discussão nos remete às ideias propagadas por Silva,
para quem é visível a agonia da pedagogia tradicional da transmissão, o que torna a sala de
aula cada vez mais sem atrativos, tornando-se necessário que o docente utilize as
possibilidades geradas pelas novas tecnologias para ser mais que instrutor, ser um
“mobilizador das inteligências múltiplas e coletivas na experiência do conhecimento”
(SILVA, 2003, p.13).
Ao contabilizarmos os dados obtidos nesta questão, verificamos que os docentes
consultados deram diversas interpretações às opções disponíveis, inclusive a de não
61
Dados iniciais de nossa pesquisa foram apresentados no VI Encontro de Educação e Tecnologias de
Informação e Comunicação (ETIC) em novembro de 2008.
111
antagonismo nas duas primeiras opções, mas sim de complementaridade. Talvez a esse
docente, agilizar os métodos tradicionais de ensino de forma que se possibilite a expansão e
estimulação da aprendizagem seja etapa natural em sua prática pedagógica. Para que o
leitor possa compreender melhor essas respostas dadas em conjunto, elaboramos a Tabela
15.
Tabela 15 - Indicações dos professores sobre vantagens que tem verificado em seu
trabalho pedagógico a partir do uso do laptop com acesso à internet - Respostas
agregadas. (N=27)
Opções Quant. %
Assinalaram somente a opção:
1- Eles agilizam os métodos tradicionais de ensino.
0 0
Assinalaram somente a opção:
2 - Eles expandem as possibilidades de ensino.
2 7,4
Assinalaram somente a opção:
3 - Eles estimulam a aprendizagem.
5 18,5
Assinalaram somente a opção:
4 - Outras possibilidades.
2 7,4
Assinalaram ao mesmo tempo as duas opções:
1 - Eles agilizam os métodos tradicionais de ensino.
2 - Eles expandem as possibilidades de ensino.
2 7,4
Assinalaram ao mesmo tempo as duas opções:
1 - Eles agilizam os métodos tradicionais de ensino.
3 - Eles estimulam a aprendizagem.
1 3,7
Assinalaram ao mesmo tempo as duas opções:
2 - Eles expandem as possibilidades de ensino.
3 - Eles estimulam a aprendizagem.
5 18,5
Assinalaram ao mesmo tempo as duas opções:
3 - Eles estimulam a aprendizagem.
4 - Outras possibilidades.
1 3,7
Assinalaram ao mesmo tempo as três opções:
1 - Eles agilizam os métodos tradicionais de ensino.
2 - Eles expandem as possibilidades de ensino.
3 - Eles estimulam a aprendizagem.
3 11,1
Interessante destacar que, de modo geral, aqueles que assinalaram a primeira opção
assinalaram também outro item, como se estivessem informando que fazem o “tradicional”
112
com o uso do laptop, mas que isso não os impede de buscar expandir possibilidades e
estimular aprendizagens.
As respostas da questão de número 16 puderam ser complementadas na questão
seguinte, com a solicitação: “com relação às atividades indicadas no item anterior
(vantagens do uso do laptop no trabalho pedagógico), indique o grau de importância do
uso do laptop”. Como poderemos analisar na Tabela 16, foram dadas três opções: “é
fundamental”, “é importante, mas algumas atividades poderiam ser desenvolvidas sem o
uso do laptop” e por fim a opção “pouco importante”. Constatamos na contabilização das
respostas que todos os participantes que responderam a essa questão assinalaram a segunda
opção, o que pode ser interpretado, de forma otimista, como uma percepção desses
profissionais das possibilidades a serem desenvolvidas e exploradas para o uso de novas
tecnologias no ambiente escolar, ao mesmo tempo em que verificamos um certo equilíbrio
na possível utilização dessas ferramentas, pelo fato de nenhum professor ter assinalado as
opções extremas em que o laptop é colocado como imprescindível ou pouco importante.
Tabela 16 - Indicações dos professores sobre o grau de importância do uso do laptop
no desenvolvimento das atividades pedagógicas. (N=27)
Opções Quant. %
É fundamental. Sem ele as atividades pedagógicas não poderiam ser
realizadas.
0 0
É importante, mas algumas atividades podem ser desenvolvidas sem o uso
do laptop.
22 81,5
Pouco importante.
0 0
Nas três questões apresentadas em seguida (as de número 18, 19 e 20), nos
propusemos a conhecer algumas atividades em que o laptop estaria sendo utilizado pelos
professores fora da sala de aula. Iniciamos com a pergunta: “você costuma utilizar o laptop
em suas tarefas docentes fora de sala de aula?”. A análise dos dados obtidos nessa pergunta
e apresentados na Tabela 17, provavelmente já seriam suficientes para encher de orgulho a
equipe da SEEDUC-RJ. Para o Superintendente deste órgão, Evaldo Bittencourt (2008), a
113
utilização rotineira do laptop pode facilitar o uso do computador em sala de aula,
quebrando antigos paradigmas e inserindo o trabalho pedagógico do professor da rede
estadual de ensino em uma nova era de conhecimento.
Tabela 17 - Indicações dos professores sobre o quanto costuma utilizar o laptop em
suas tarefas docentes fora de sala de aula. (N=27)
Opções Quant. %
Sempre. 11 40,7
Periodicamente. 16 59,3
Nunca. 0 0
Para podermos complementar as informações apresentadas na Tabela 17, incluímos
a seguinte questão: “indique as principais atividades docentes fora de sala de aula em que
utiliza o laptop”. Foram dadas quatro opções de escolha, podendo o professor assinalar
quantas desejasse. As respostas obtidas são apresentadas na Tabela 18.
Tabela 18 - Indicações dos professores sobre as principais atividades docentes
realizadas fora de sala de aula em que utilizam o laptop. (N=27)
Opções Quant. %
Preparar provas e testes. 25 92,6
Preparar aulas. 13 48,1
Lançar notas 9 33,3
Pesquisas na internet. 26 96,3
Outra(s) atividade(s). 4 14,8
Com relação às atividades docentes desenvolvidas fora de sala de aula indicadas por
aqueles que assinalaram “outras”, destacamos:
Entrar em contato com os alunos. (Prof. 14).
Intercâmbio de material didático por e-mail (textos, pesquisas, novidades,
etc.). (Prof. 15).
114
Armazenar dados pessoais e sites importantes relativos a pré-vestibular.
(Prof. 16).
Com a questão de número 20 do questionário tivemos a intenção de conhecer um
pouco mais sobre os possíveis usos que estariam sendo feito com o laptop, e por isso
perguntamos: “indique as principais atividades não docentes em que utiliza o laptop
(assinale quantas itens desejar)”. Pela grande variedade e combinações de respostas
obtidas, talvez nos seja possível afirmar que esse grupo, pelo menos em grande parte, conta
com profissionais que ultrapassaram a etapa do medo do uso de novas tecnologias,
principalmente no que se refere ao laptop e à internet. Os dados obtidos estão apresentados
na Tabela 19 a seguir:
Tabela 19 - Indicações dos professores sobre as principais atividades não docentes em
que utilizam o laptop. (N=27)
Indique as principais atividades não docentes em que utiliza o laptop: Quant. %
Lê revistas e/ou jornais on-line. 13 48,1
Envia e recebe e-mails. 25 92,6
Envia e recebe mensagens em programas do tipo MSN. 10 37
Participa de listas de discussão. 0 0
Pesquisa na internet. 27 100
Utiliza para lazer (jogos, filmes, música, etc.) 12 44,4
Outras atividades. 1 3,7
O professor que assinalou o item “outras atividades” indicou que usa o laptop
também como telefone, com softwares do tipo Skype62
. Dentre a lista de opções,
destacamos dois tópicos, o que se refere a utilizar e-mail, que foi assinalado por 92,6%, e
um outro que recebeu 100%, referente a utilizar o laptop para pesquisas na internet. Esses
dados podem nos servir para afirmar mais uma vez que, dentre os professores consultados,
uma boa parcela já poderia se considerar um professor digital, o que nos remete ao teste
organizado por Antonio (2008) comentado no capítulo 2 desta pesquisa: possuir e utilizar
um endereço de e-mail; possuir e utilizar programa de troca de mensagens do tipo MSN; ler
62
Skype é uma empresa global de comunicação via internet, permitindo comunicação de voz e vídeo grátis
aos usuários do software de mesmo nome desenvolvido por essa empresa. Informações obtidas na
Enciclopédia eletrônica Wikipédia. Endereço: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Skype>. Acesso em 25.07.09.
115
jornais e revistas on-line; preparar rotineiramente aulas, provas e testes no computador;
manter contato com o computador por pelo menos uma hora diária e efetuar pesquisas na
internet. Essas são algumas das características listadas por Antonio. Quanto maior for o
número de habilidades indicadas, mais perto se chega ao perfil denominado de professor
digital.
Passaremos então para a última parte do questionário, composta de uma série de
afirmativas apresentadas aos docentes. Para cada uma delas o docente consultado deveria
escolher uma dentre três possibilidades: “concordo”, “concordo em parte” ou “discordo”.
Foram 16 afirmativas elaboradas ao longo do desenvolvimento dos capítulos iniciais desta
pesquisa. As análises decorrentes das respostas obtidas nos serviram para reforçar algumas
percepções a respeito da postura pedagógica do grupo consultado, desfazer alguns mitos e
verificar as possíveis concordâncias a ideias defendidas por teóricos educacionais e
autoridades apresentadas anteriormente nesta pesquisa.
A primeira afirmativa nos remete à justificativa apresentada por Edvaldo
Bittencourt (2008) para a criação do projeto: a de que a derrubada do medo do uso das
novas tecnologias foi o grande mote para a elaboração e implementação do “Conexão
Professor”. A parcela significativa de docentes que concordaram nos serve mais uma vez de
indicação que o projeto teria alcançado pelo menos esse objetivo inicial. Vale, porém,
ressaltar os 66,7% que assinalaram concordar “em parte” como forma de indicação de que
talvez os criadores do projeto tenham se descuidado de alguns processos essenciais para
que os objetivos fossem plenamente alcançados.
Tabela 20 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 1
Questão 21 - Afirmativa 1 concordo concordo
em parte
discordo Total
O recebimento do laptop proporcionou a
diminuição de receios relacionados ao uso de
novas tecnologias por parte do professor.
8
29,6%
18
66,7%
1
3,7%
27
100%
Em seguida, buscamos conhecer a visão dos professores em relação à possível
utilização da internet em suas atividades pedagógicas. Como podemos observar nos dados
116
abaixo, tendo 85,2% assinalado que concordam com a afirmativa apresentada, esse grupo
de professores mais uma vez reforça a percepção de que podem ser considerados incluídos
digitalmente, pois já estariam em um estágio em que não apenas conhecem ou utilizam a
internet, mas que também percebem suas possíveis formas de utilização pedagógica.
Tabela 21 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 2
Questão 21 - Afirmativa 2 concordo concordo
em parte
discordo Total
A internet proporciona diferentes formas de uso
pedagógico.
23
85,2%
4
14,8%
0 27
100%
No capítulo 2 desta pesquisa, discorremos sobre a importância do desenvolvimento
de novos currículos para escolas interativas, citando uma série de autores que defendem que
seja feita uma sintonia do processo de ensino aprendizagem com a vida contemporânea,
como é o caso por exemplo de Lévy (2008). Sobre esse assunto resolvemos perguntar aos
professores se os currículos que utilizavam em seu trabalho necessitavam de atualizações.
Podemos verificar pelo quadro abaixo que 96,3% indicaram que sim, dividindo-se em
“concordo” e “concordo em parte”, com a discordância de apenas um docente.
Tabela 22 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 3
Questão 21 - Afirmativa 3 concordo concordo
em parte
discordo Total
Os atuais currículos escolares precisam ser
atualizados para que os professores possam
incluir o uso das novas tecnologias em sua
prática.
16
59,3%
10
37%
1
3,7%
27
100%
A próxima afirmativa nos revelará a concordância dos professores consultados em
relação à constatação de que é a escola, e em especial a da rede pública de ensino, um
importante local de “democratização do acesso aos benefícios das novas tecnologias”
(SAMPAIO e LEITE, 1999, p.32). Como apresentado no capítulo 2 desta pesquisa, dados
de uma pesquisa realizada pela UNESCO (2008) nos revelam o quanto a escola pública é
117
importante (principalmente para as classes D-E), para o acesso às primeiras “letras
tecnológicas”. Mostrando-se sensíveis a essa situação, não houve qualquer discordância no
grupo de professores consultados com relação a esses fatos, como poderemos verificar nos
dados apresentados em seguida.
Tabela 23 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 4
Questão 21 - Afirmativa 4 concordo concordo
em parte
discordo Total
A escola é um importante local para a inclusão
digital do aluno das classes menos favorecidas.
23
85,2%
4
14,8%
0 27
100%
A importância nas quatro afirmativas apresentadas em seguida (5 a 8) reside no fato
de que, entre outros motivos, o grupo consultado ter seu trabalho pedagógico regido por
políticas públicas em um espaço público de Educação. No tópico (2.6) de nossa pesquisa
denominado de “as políticas públicas e os novos papéis do professor”, discorremos sobre o
desafio da profissionalização docente no Brasil e do quanto é importante que sejam
desenvolvidas políticas públicas que visem à inclusão digital do professor e de seu aluno. A
necessidade de uma política global de formação e valorização do magistério tem sido
defendida pela UNESCO (2007) como forma de obter uma adequada preparação para que
estes profissionais se sintam aptos a lutar contra a evasão e o fracasso escolar, assim como
poderem conhecer formas de utilizar as novas tecnologias como aliados para esta árdua
tarefa.
Os dados obtido nos informam os posicionamentos do grupo consultado,
convergindo para as ideias defendidas pelas autoridades e autores citados em nossa
pesquisa. Com exceção da afirmativa de número 8, as três primeiras não receberam nenhum
voto de discordância. Tais afirmativas nos remetem também às ideias de Netto (2005), para
quem só é possível o desenvolvimento de uma nação a partir do amadurecimento de
políticas públicas que visem à Educação como “agente modificador da sociedade” (p.16).
118
Tabela 24 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativas 5 a 8
Questão 21 - Afirmativas 5 a 8 concordo concordo
em parte
discordo Total
As políticas públicas devem visar à inclusão
digital do professor.
25
92,6%
2
7,4%
0 27
100%
As políticas públicas devem visar à inclusão
digital do estudante.
22
81,5%
5
18,5%
0 27
100%
As políticas públicas devem visar à capacitação
do professor para o uso de novas tecnologias.
26
96,3%
1
3,7%
0 27
100%
Cabe ao próprio professor se preocupar com a
sua capacitação profissional para o uso das novas
tecnologias.
9
33,3%
15
55,6%
3
11,1%
27
100%
A próxima afirmativa aparece em nossa pesquisa como forma de verificação do
quanto os professores poderiam se sentir incomodados com a evolução das novas
tecnologias. Mas os dados obtidos demonstram que todos indicam que o papel do professor
(mesmo que haja modificações) continuará a ser essencial na evolução da sociedade
tecnológica.
Tabela 25 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 9
Questão 21 - Afirmativa 9 concordo concordo
em parte
discordo Total
O papel do professor continuará a ser essencial
na evolução da sociedade tecnológica.
20
74%
7
26%
0 27
100%
Em nossa pesquisa, ao analisarmos o Diário Oficial do Estado do Rio de janeiro de
31 de janeiro de 2008, o qual traz a resolução da SEEDUC-RJ de n0 3824, onde é criado o
projeto “Conexão Professor”, deparamos com o artigo 30, informando que os professores
que receberem o laptop “deverão se comprometer a introduzir e intensificar o uso do
computador em sala de aula e em laboratórios de informática educativa, como instrumento
de melhoria de seus cursos e da formação de seus alunos”. Essa parte da resolução aparece
também, conforme já comentamos em capítulos anteriores desta pesquisa, no documento
que foi assinado por cada um dos docentes que recebeu o laptop; ou seja, a princípio todos
119
estariam cientes e de acordo com essa imposição, independente da forma que deveriam
colocá-la em prática.
Para nossa surpresa, uma grande parcela dos professores consultados indicou
concordar com a afirmativa, mas cabe ressaltar que 70,4% concordaram em parte, o que
pode significar existirem dúvidas relacionadas ao modo prático como esse professor
poderia introduzir e intensificar o uso do computador em sua prática pedagógica.
Tabela 26 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 10
Questão 21 - Afirmativa 10 concordo concordo
em parte
discordo Total
Ao receber o laptop, o professor se comprometeu
a introduzir e intensificar o uso do computador
em sala de aula.
2
7,4%
19
70,4%
6
22,2
27
100%
As duas afirmativas apresentadas em seguida nos são essenciais para dirimir
dúvidas relacionadas ao posicionamento do grupo consultado em relação ao “fazer
tradicional”. Estamos nos referindo novamente à questão de número 16 desse questionário
em análise em que perguntamos: “Se o(a) sr.(a) utiliza o laptop em seu trabalho
pedagógico, indique algumas vantagens que tem verificado”. Nessa questão, conforme
comentários anteriores, as opções disponibilizadas talvez tenham gerado dúvidas por não
ter deixado de forma clara o antagonismo de ideias que inicialmente tínhamos previsto. Aí
reside então a verificação do grau de importância das duas afirmativas que se seguem: “o
computador deve ser usado em sala de aula somente para agilizar as formas rotineiras de
trabalho do professor”, que apresenta de forma clara a ideia da manutenção do fazer
rotineiro e tradicional. Ao obtermos 70,4% de discordância e 26% de concordância em
parte, podemos concluir que o grupo converge para a possibilidade de um uso melhor de
novas tecnologias que não sejam apenas de repetir velhas fórmulas de transmissão de
conhecimento. Ao não obtermos discordância com relação à afirmativa que indica que o
computador deve ser usado para ampliar as possibilidades de trabalho do professor,
podemos perceber uma adequação às ideias de teóricos educacionais apresentados em
capítulos anteriores.
120
Tabela 27 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativas 11 e 12
Questão 21 - Afirmativas 11 e 12 concordo concordo
em parte
discordo Total
O computador deve ser usado em sala de aula
somente para agilizar as formas rotineiras de
trabalho do professor.
1
3,7%
7
26%
19
70,4%
27
100%
O computador deve ser usado em sala de aula
para ampliar as possibilidades de trabalho do
professor.
21
77,8%
6
22,2%
0 27
100%
Formar um cidadão de um mundo dinâmico e globalizado é uma das tarefas do
profissional que atua em uma escola cada vez mais sem atrativos. Caberá a ele profissional,
segundo Silva (2007), construir redes - e não rotas - e desenvolver currículos que se
apresentem como territórios a serem explorados. Para atingir esses objetivos é necessária a
sólida formação acadêmica. Esses foram os motes para apresentarmos a afirmativa de
número 13, que recebeu mais da metade de concordância e 11,1% de discordância. Cabe
ressaltar que dentre os três docentes que indicaram discordar, dois já atuam há mais de
quinze anos na rede e estão na faixa de idade acima de 35 anos, o que significa terem
cursado sua licenciatura em um momento que a internet ainda era apenas uma forma quase
totalmente desconhecida de comunicação, e a possibilidade de possuir um computador
pessoal significava altos custos, principalmente em nosso País.
Tabela 28 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 13
Questão 21 - Afirmativa 13 concordo concordo
em parte
discordo Total
Os cursos de licenciatura não estão preparando
os professores para a utilização das novas
tecnologias em sala de aula.
15
55,6%
9
33,3%
3
11,1%
27
100%
A próxima afirmativa foi incluída em nosso questionário como forma de comparar
dados obtidos na pesquisa realizada pela UNESCO (2004) denominada: “O que os
professores brasileiros fazem, pensam e almejam”, com esta nossa pesquisa. A verificação
feita pelo órgão que entrevistou 5000 docentes de escolas públicas e privadas atuantes no
ensino fundamental ou médio das 27 unidades da Federação constatou que, como
demonstrado em capítulos anteriores, 86,9% na escola pública e 88,2% na escola privada
121
desses professores consultados concordaram que a análise dos meios de comunicação
deveria ser tratada na escola. Em nossa pesquisa junto ao grupo de docentes da unidade
escolar selecionada, chegamos a índices mais significativos de concordância: 92,6%, que é
o resultado da soma de 55,5% que concordaram e 37% que concordaram em parte.
Tabela 29 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativa 14
Questão 21 - Afirmativa 14 concordo concordo
em parte
discordo Total
Análise sobre a utilização da internet e outros
meios de comunicação são temas que devem ser
tratados em sala de aula.
15
55,6%
10
37%
2
7,4%
27
100%
Por fim, as duas afirmativas que julgamos serem complementares e que podem
refletir medos e anseios desse grupo de professores: pesquisas realizadas por Sampaio &
Leite (1999) concluíram que era grande o número de docentes que acreditavam que as
novas tecnologias poderiam promover a desumanização do processo de ensino-
aprendizagem, mesmo que pudessem ampliar as oportunidades de acesso. Por isso
incluímos a afirmativa de número 15, a qual recebeu 74% de discordância, enquanto a
afirmativa de número 16, que acena para a ampliação das oportunidades de acesso ao
conhecimento, recebeu 66,7% de concordância.
Tabela 30 - Dados da questão 21 do questionário, Afirmativas 15 e 16
Questão 21 - Afirmativa 14 concordo concordo
em parte
discordo Total
A utilização das novas tecnologias vai promover
a desumanização do ensino e das instituições
pedagógicas
1
3,7%
6
22,2%
20
74%
27
100%
A utilização das novas tecnologias vai ampliar as
oportunidades de acesso ao conhecimento por
parte dos alunos
18
66,7%
8
29,6%
1
3,7%
27
100%
Depois de solicitarmos tantas informações dos docentes, não poderíamos nos furtar
a ceder-lhes um espaço para comentários, sobre tópicos relacionados ao projeto “Conexão
Professor”, que julgassem não terem sido abordados no questionário. Por isso fizemos o
seguinte convite: “se desejar, utilize o espaço abaixo para fazer comentários sobre o projeto
122
em análise: a entrega do laptop ao professor da rede estadual de ensino”. Os comentários
podem ser organizados basicamente em dois grupos, o daqueles que deram ênfase a
diversos problemas relacionados ao seu trabalho docente na rede estadual de ensino que
prejudicariam esse e outros projetos, e o daqueles que ressaltaram a importância de uma
capacitação permanente para o uso do laptop e de outras tecnologias.
Como exemplo de comentários do primeiro grupo, destacamos:
Penso ser válida a entrega do laptop ao professor, mas há outras
prioridades dentro da Educação que mereceriam maior atenção por parte
das autoridades, tais como: o excesso de alunos nas turmas, as péssimas
condições do espaço físico em algumas escolas, o tempo de aula de
algumas disciplinas, a má remuneração do professor e a falta de uma
prática educacional que, de fato, queira provocar profundas
transformações no sistema que temos. (Prof. 2).
Foi benéfico, entretanto queria meios financeiros mais adequados para o
meu trabalho, para que eu mesmo pudesse comprar o meu! Sem a
necessidade de ganhar, teria mais dignidade! Teremos em breve o maior
sucateamento tecnológico do estado. (Prof. 20).
Para exemplificarmos comentários de docentes que enfatizaram a importância de o
professor da rede estadual de ensino ter acesso a cursos de capacitação para o uso de novas
tecnologias em seu trabalho, destacamos:
Com certeza a inclusão digital é necessária e de extrema importância na
Educação. Porém, o governo do Estado deveria aprimorar esta iniciativa
com estratégias envolvendo o laptop e a internet na transmissão de
conhecimentos. (Prof. 9).
Foi um passo importante, porém necessitamos de constante capacitação
para as novas maneiras de usá-lo. Tenho buscado essa capacitação em
organizações não governamentais, mas acho que poderia haver encontros
entre professores da área para fazermos uma troca de experiências que
enriquecesse o nosso dia-a-dia na escola. (Prof. 17).
O governo deu um passo importante na busca da inclusão digital dos
professores e alunos, mas não basta isso. Vejo isso como um primeiro
passo. Seria necessário agora, criar um programa de capacitação dos
professores, para que estes, posteriormente, incluíssem o uso de
computadores nas suas práticas pedagógicas. (Prof. 24).
Em resumo, diante de todas as informações obtidas nesta pesquisa, podemos
descrever as características gerais do docente que recebeu o laptop nessa unidade escolar: é
123
jovem (na faixa de 25 a 30 anos), trabalha na rede há aproximadamente dois anos com alta
carga horária semanal, possui graduação completa na sua área e busca fazer novos cursos,
inclusive sobre o uso do computador. Desconhece os cursos e o CD-Rom oferecidos pela
SEEDUC-RJ e acha que o recebimento do laptop contribuiu bastante para a inclusão digital
do docente que trabalha na rede. Esse docente utiliza periodicamente o laptop em sala de
aula por verificar que ele possibilita a expansão das possibilidades de ensino,o que torna
essa ferramenta importante, mas não indispensável, pois algumas atividades podem ser
feitas sem o seu uso. Ao utilizar o laptop fora de sala de aula, quando está usando para seu
trabalho, é principalmente para preparar provas e testes ou realizar pesquisas na internet. As
atividades não docentes em que o usa são principalmente para enviar e receber e-mails e
pesquisa na internet. Esses professores concordam que o simples recebimento do laptop já
proporciona uma diminuição dos medos relacionados às novas tecnologias, e que a internet
pode proporcionar novas formas de prática pedagógica. Concordam também com a
importância da escola (em especial a pública) como local de democratização de acesso à
internet, e que políticas públicas devem visar à inclusão do professor e de seu aluno. Por
fim, indicam discordar dos que temem a desumanização do processo de ensino-
aprendizagem e acreditam que a utilização das novas tecnologias pode de fato ampliar as
possibilidades de acesso ao conhecimento.
Passaremos então ao próximo estágio de nossa pesquisa: as entrevistas.
4.4 - Segunda parte da pesquisa de campo: Entrevistas
De acordo com a metodologia previamente elaborada para nossa pesquisa, a partir
da análise das respostas colhidas nos questionários entregues a vinte e sete professores da
unidade escolar selecionada, selecionaríamos dois deles com base na percepção de estarmos
diante de profissionais com características e posicionamentos diferenciados com relação à
utilização das novas tecnologias dentro e fora da sala de aula. Pretendíamos confrontar
ideias desses dois docentes que teriam recebido o laptop da SEEDUC-RJ e demonstrassem
124
posturas antagônicas com relação ao trabalho com essa máquina: um docente que
demonstrasse desenvoltura com as TIC e alinhamento com as ideias que defendem a
utilização dessas tecnologias na prática pedagógica como forma de propiciar novos
caminhos, e um outro profissional que apresentasse características de estar mais refratário
às possíveis mudanças em sua prática pedagógica a partir do recebimento do laptop ou da
utilização de outras novas tecnologias.
A seleção do professor que representasse o primeiro tipo foi feita sem qualquer
problema. Porém, ao analisarmos as informações que tínhamos em mãos, verificamos que,
pelo menos diante das respostas apresentadas nos questionários, não havia nenhum que se
apresentasse de forma plena, de acordo com o segundo caso. Para darmos continuidade
então a esta parte de nossa pesquisa resolvemos pedir auxílio à diretora da unidade escolar
selecionada, na intenção de termos a indicação do nome de um docente, dentro do grupo
que havia respondido ao questionário, aquele que mais próximo estaria das características
do docente do segundo tipo. A indicação foi feita, e dessa forma conseguimos compor o
quadro desejado.
As entrevistas com esses dois profissionais foram feitas tendo por base um roteiro
pré-definido (Apêndice B), com respostas do tipo abertas em que as perguntas foram feitas
e respondidas oralmente, gravadas e, posteriormente, transcritas. O processo de construção
do roteiro e aplicação das entrevistas seguiu as referências de Gil (2008), inclusive na
adoção de flexibilidade ao conduzirmos o trabalho, na tentativa de “conferir ao entrevistado
ampla liberdade para expressar-se sobre o assunto” (pág. 112). O roteiro, base das
entrevistas, passou primeiramente por um período de testagem e maturação, em que
contamos com a colaboração de dois professores: um que leciona na própria unidade
escolar selecionada e outro ligado a outra instituição escolar e cuja prática em pesquisas nos
proporcionou valiosas reflexões. Ambos fizeram sugestões que resultaram em melhorias
nas questões do roteiro, base das entrevistas, tais como adaptação de linguagem para torná-
lo mais focado às nossas questões de estudo e diminuição do número de questões.
Nas próximas páginas apresentamos as entrevistas realizadas com o professor 13,
que, conforme verificação utiliza recursos de novas tecnologias como aliadas ao seu
trabalho pedagógico, seguida da entrevista com o professor 6, para quem tais recursos ainda
necessitam ser desmistificados.
125
No intuito de complementar nossas análises, apresentamos em seguida as entrevistas
realizadas com dois profissionais dessa unidade escolar que não participaram diretamente
da primeira fase de nossa pesquisa de campo, mas que nos foram úteis para entendermos
alguns questionamentos relativos ao nosso estudo. Por isso, relatamos a entrevista feita com
um docente da mencionada unidade escolar que na época da entrega dos laptops fazia parte
da diretoria do SEPE-RJ e que, seguindo a determinação do órgão, optou por não receber a
máquina, e uma entrevista realizada com a diretora da unidade escolar selecionada.
Por fim, decidimos incluir mais duas entrevistas extras feitas com dois professores
da rede estadual de ensino que elaboraram e implementaram projetos criativos envolvendo
a utilização de novas tecnologias. Embora trabalhem na cidade de Petrópolis, eles atuam
em outras unidades escolares. Ressaltamos que, embora essas entrevistas não fizessem
parte da nossa metodologia inicial, julgamos que elas representam mais um auxílio na
busca de entender quais habilidades e competências são necessárias para que o professor se
sinta motivado a incluir tais ferramentas em sua prática pedagógica com a intenção de
estimular a aprendizagem de seus alunos.
Em resumo, apresentaremos o total de seis entrevistas que nos possibilitarão
esclarecer melhor as dúvidas relacionadas ao estudo em análise, permitindo conhecer
variados posicionamentos relativos ao uso de novas tecnologias no ambiente escolar.
4.4.1 - Entrevista: Professor 13
A seleção desse professor para nossa entrevista foi feita com relativa facilidade,
pelo fato de termos verificado através de observações a contínua utilização do laptop por
parte desse profissional no ambiente escolar. Ele tem idade entre 41 a 45 anos, trabalha na
rede estadual há 11 anos e possui carga horária semanal superior a 40 aulas semanais.
Possui especialização em sua área e já possuía computador antes de receber o laptop;
porém, até a data de nossa entrevista, não tinha freqüentado nenhum tipo de curso
relacionado ao seu uso. Em seu questionário indicou desconhecer os cursos oferecidos pela
126
SEEDUC-RJ e não teve contato com o CD-Rom entregue junto com a máquina. Como
comentado anteriormente, costuma usar periodicamente o laptop em atividades dentro e
fora de sala de aula. Dentro de sala de aula, indicou que o utiliza para exibição de trechos
de filmes, apresentação de aulas previamente preparadas em slides e pesquisa na internet.
Considera a utilização desse recurso como importante, pelo fato de expandir as
possibilidades de ensino e estimular a aprendizagem dos estudantes, mas ressalva que
algumas atividades podem ser desenvolvidas sem o seu uso. Fora do ambiente escolar, o
utiliza para enviar e receber e-mails, comunicar-se através de programas do tipo MSN e
pesquisas. Concorda que o computador deve ser utilizado em sala de aula para ampliar as
possibilidades de trabalho do professor e que a utilização das novas tecnologias podem
ampliar as oportunidades de acesso ao conhecimento por parte dos alunos.
O professor em questão possui um blog63
onde periodicamente disponibiliza aos
seus alunos trechos de filmes e livros que possam ser utilizados de forma complementar ao
seu trabalho em sala de aula, e também desenvolveu formas de comunicação com os seus
alunos através de contas de e-mail em que todos têm acesso, para o envio e recebimento de
tarefas pedagógicas.
A entrevista64
com o referido profissional aconteceu dentro do colégio selecionado,
no momento de intervalo de suas aulas, e nos serve para apresentar um profissional
comprometido com seu trabalho, a ponto de tentar buscar sempre novas formas de fazer
com que sua mensagem chegue às novas gerações de estudantes, acostumados cada vez
mais com a utilização de novas tecnologias. Quando indagado sobre a sua opinião sobre o
projeto Conexão professor, respondeu:
Olha, sem dúvida, o laptop engrandeceu muito as minhas aulas, não tenho
como negar. Aliás, o laptop serve até de estímulo para que as minhas
aulas melhorem, porque eu sei que eu tenho uma tecnologia em sala de
aula; eu sei que eu tenho uma internet à minha disposição. Então, esse
conjunto eu acho que fortalece as minhas aulas. Eu não posso negar que
63
Blog de acordo com a Enciclopédia Virtual Wikipédia, é a contração do termo “Web log”. É um site que
permite atualização rápida de artigos, fotos, filmes, etc. A capacidade de leitores deixarem comentários de
forma a interagir com o autor e outros leitores é uma parte importante de muitos blogs. Dispensando a
necessidade do domínio de uma linguagem específica do tipo HTML, os sistemas de edição tornaram-se
atrativos, acessíveis e fáceis de serem manipulados. Endereço: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Blog> Acesso
em: 25.07.2009.
64 Entrevista ocorrida em 01.07.2009.
127
houve um engrandecimento; só acho que deveria ser um pouco mais
moderno.
Ao tentarmos entender a queixa relacionada ao equipamento, verificamos que o
professor referia-se à falta de liberdade para poder instalar novos programas na máquina,
efetuar melhorias, como aumento da capacidade de memória e não poder contar sempre
com a internet. Mesmo diante desses problemas, afirmou:
O computador já veio um pouco lento, e às vezes causa certos problemas,
mas com certeza minhas aulas melhoraram muito. Apesar de não dominar
tanto a área de informática, eu já trabalhava com a internet em casa, já
preparava minhas aulas no computador em casa, mas sem dúvida isso só
vem melhorando.
Indagamos em seguida sobre o que, em sua opinião, seria necessário para que o
professor que recebeu o laptop da SEEDUC-RJ utilizasse novas tecnologias em sua prática
pedagógica.
Perder o medo. Eu acho que o grande medo de alguns professores... é o
medo de acessar o computador, é medo talvez de mostrar pros alunos que
não entende de informática, não sabe trabalhar com a máquina. Eu
confesso que assim que o laptop chegou eu tive este receio também. Esse
medo tem que acabar uma hora e por que não agora? Então, depois que eu
usei uma primeira vez ficou uma coisa tão rotineira, que eu não consigo
mais me ver sem o laptop pelo menos uma vez por semana em sala de
aula.
Interessante destacar logo no início dessa fala do professor, o posicionamento
idêntico ao do Superintendente de Planejamento da SEDUC-RJ, Evaldo Bittencourt, para a
implantação do projeto Conexão Professor. A derrubada do medo e a ruptura de paradigmas
já tornariam o projeto válido, pois “é a possibilidade de que primeiro o professor possa se
familiarizar com o uso da tecnologia, para depois utilizá-la com segurança no espaço
escolar” (BITTENCOURT, 2008).
Retornando ao nosso professor entrevistado, direcionamos a entrevista para o foco
de nossa atenção: “Você percebe alguma mudança em sua prática pedagógica a partir do
recebimento do laptop? Que mudanças seriam essas?”
128
Eu me sinto muito mais confortável pra dar aulas, porque hoje em dia eu
posso de uma hora para outra repensar até uma estratégia de uma aula,
porque o laptop me proporciona isso. Eu acho que hoje estou mais seguro,
as minhas aulas estão melhores e percebo isso através dos alunos. De
alguma forma esta questão de só usar o quadro e o giz realmente já está
ultrapassada.
Como comentamos anteriormente, a mobilidade proporcionada por essa máquina a
esse docente, permitiu-lhe desenvolver formas complementares de seu trabalho em sala de
aula, como se fosse uma extensão dos momentos presenciais. Seu blog e e-mails, mesmo
em fase de testes, já proporcionavam resultados satisfatórios. Finalizamos a entrevista
indagando se havia recebido por parte da SEEDUC-RJ algum apoio para auxiliar no uso do
laptop em sua prática pedagógica.
Não. O pouco que eu sei na verdade aprendi com os amigos professores
daqui. Me ensinaram a baixar alguns programas... foram os amigos que
me ajudaram... mas não recebi, não, nenhuma forma de preparo.
Quando indagado se gostaria de fazer mais algum comentário sobre o projeto em
questão, retornou ao ponto da falta de liberdade ao lidar com a máquina pelo fato de ser
apenas um comodato.
Eu acho que o laptop deveria ser nosso realmente, que nós tivéssemos
mais liberdade pra lidar com ele. A gente não sabe até que ponto pode ir...
Às vezes a gente quer baixar um programa e não pode, e de uma hora pra
outra o Estado resolve cortar a internet. O próprio antivírus que eles
ofereceram já expirou. Quer dizer, não é legal o Estado dar com uma mão
e tirar com a outra, eu não sei até que ponto isso é legal.
Pelas características descritas anteriormente, podemos considerar este docente como
sendo incluído digitalmente, embora não se considere como tal. Percebemos que sua
alfabetização tecnológica dá-se de forma empírica e com a ajuda de colegas de profissão, o
que vem tornando a sua prática pedagógica cada vez mais envolvida com a inovação,
visando a uma melhoria qualitativa do processo educativo no qual está envolvido.
129
4.4.2 - Entrevista: Professor 6
Conforme comentamos anteriormente, a seleção desse docente65
contou com a
colaboração da diretora da unidade escolar, pois desejávamos entrevistar um profissional
que tivesse recebido o laptop, mas que demonstrasse certa rejeição ao uso dessa e de outras
tecnologias. Percebemos, ao analisar os questionários, que mesmo os docentes contrários ao
projeto Conexão, e ainda avessos ao uso de novas tecnologias, relataram concordar com a
inserção delas no ambiente escolar, o que poderia inviabilizar a nossa tarefa de comparar
falas dos profissionais com posturas opostas.
De acordo com a diretora, o docente em questão poderia ser considerado como
avesso à utilização de diversas novas tecnologias, pois não costumava utilizar o laptop no
ambiente escolar e ainda era dos poucos que preparava suas avaliações sem o uso do
computador, preferindo a escrita manual ou colagens. Esse docente tem mais de cinquenta
anos de idade, trabalha na rede estadual de ensino há aproximadamente vinte e três anos,
com uma carga horária semanal acima de quarenta e oito horas/aula. Possui graduação
completa na área em que leciona, não possuía computador antes de receber o laptop da
SEEDUC-RJ, porém, informou já ter frequentado um curso relacionado ao uso geral, mas
não pedagógico, do computador. Desconhece os cursos e o CD-Rom oferecidos, e
considera que o recebimento do laptop contribuiu bastante para a inclusão digital do
professor, como podemos perceber em sua fala, “É o que faltava aos interessados, e é um
desafio aos desinteressados”.
Na sua opinião, para que o professor possa incluir essa e outras tecnologias em sua
prática docente é necessário buscar o aperfeiçoamento constante para o uso dessas
ferramentas, além de acompanhar o desenvolvimento de programas pedagógicos e buscar a
interatividade constante com os alunos através de recursos disponíveis na internet. Quando
indagado sobre a periodicidade com que usa o laptop nas tarefas docentes em sala de aula, a
resposta nunca foi seguida da explicação de que não se sentia preparado para esse uso, e
que o utiliza periodicamente fora do ambiente escolar para pesquisa na internet e lazer.
65
Entrevista ocorrida em 07.07.2009.
130
Podemos perceber sua disposição em aprender a utilizar os recursos do laptop através da
fala em destaque:
É um verdadeiro desafio. Ainda não quis nem conhecer o CD-Rom
enviado junto com o laptop, mas este procedimento já faz parte do que me
proponho diante desta nova realidade para minhas aulas, interessantíssima
por sinal, a meu ver. Com vista a um melhor desempenho no trabalho que
faço com tanto amor, e a um esforço comum para que este projeto
aconteça, promovendo assim uma educação moderna, eu me proponho a
vencer barreiras, custe o que custar.
Ao indagarmos sobre as suas impressões a respeito do Conexão Professor, lamentou
o fato de talvez, devido à proximidade de sua aposentadoria, não poder acompanhar as
futuras mudanças na Educação que poderão acontecer a partir da utilização de novas
tecnologias no ambiente escolar.
Olha, eu fiquei encantada, porque a Educação há muito tempo já exigia
uma mudança, porque não dá mais para sustentar esse sistema antigo e tal.
Os alunos querem outras coisas; eles já estão engajados nessa tecnologia,
então trazer uma tecnologia para a sala de aula era tudo que a Educação
precisava. Então eu achei assim: a minha primeira impressão foi... poxa,
que pena que talvez eu não veja tanto as mudanças, mas mesmo assim é
muito bom...
Perguntamos então se estaria conseguindo se adaptar, e se estaria recebendo algum
apoio para conseguir se adaptar ao uso de novas tecnologias. Respondeu: “infelizmente
não, do Estado não...”. Sentimos que essa foi uma resposta triste e sincera, e prosseguiu:
“por conta própria... um tempinho que eu tenha...”. Nesse momento nos veio à mente o fato
de esse profissional trabalhar com alta carga horária, e ainda precisar dedicar-se aos
afazeres domésticos e à família. Concluímos que sobraria pouco tempo para que
acontecesse essa adaptação.
Diante do questionamento a respeito da possível contribuição à inclusão digital do
professor, respondeu que acha que depende de cada profissional, mas que “com certeza,
você tem mais acesso, então tem mais oportunidades de aprimorar isso”. E o que é
necessário para que o professor utilize o computador e a internet em sua prática
pedagógica, indagamos.
131
Bom, aí o Estado vai ter que oferecer sabe... assim... exemplificações, ele
vai ter que formular aí encontros pedagógicos. Então professores viriam...
e dariam uma aula nesse esquema pra gente poder ver como vai fazer,
porque está todo mundo sem saber como é que fica, como é que vai ficar,
como é que vai ser isso... e os alunos, o que é que eles vão fazer... Então, é
preciso que a gente tenha a princípio um exemplo concreto. Ainda é só
abstrato. É porque você ainda está só assim... ah, vai ser ótimo!
Maravilhoso! Mas, é como eu te falei, você ainda não tem nada concreto.
Aí, a gente ainda está assim na abstração, você já tem uma idéia, mas não
sabe como aplicar, aonde eu acho necessários os encontros.
Indagamos então se conseguia perceber em outros professores algumas mudanças
nas práticas pedagógicas, e quais seriam estas mudanças.
Ah sim, muitos professores já estão nesse esquema, já tem necessidade até
do Data Show; outros que estão assim mais avançados que eu... Eu ainda
me sinto assim bem atrasadinha; agora é que eu comecei... Eu queria que
você que está pesquisando levasse isso para o pessoal que está
implementando esse projeto pra que haja essa demonstração. Isso é
importante. Encontros de aulas mesmo. Eles mesmos vão passar pra nós
como utilizar o computador no computador. Em termos assim mais
concreto, seria assim três encontros para a gente ver como iria funcionar
isso, pra termos possibilidades de diálogos, tirarmos as dúvidas...
Encerramos a entrevista nesse ponto, pois sua presença estava sendo solicitada no
Conselho de Classe da escola, que ocorria em outra sala. Porém, ao acompanharmos o
mesmo docente em direção a tal sala, ele ainda elaborou uma comparação para exemplificar
como via o projeto Conexão Professor: “é como se eles tivessem dado uma bicicleta para
uma criança que nunca a teve e dissessem: se vira por que agora quero ver você andando
nela”.
Despedimo-nos com a sensação de que estávamos diante de mais um profissional
da Educação que, embora perceba a relevância da busca constante pela capacitação, talvez
não disponha do necessário tempo para tal. Esse profissional clama por melhores condições
de trabalho, e pela possibilidade de participar de cursos que apresentem formas de utilizar
pedagogicamente as novas tecnologias. Tais constatações nos remetem às palavras de Leite
(1995, apud SAMPAIO e LEITE, 1999, p.88), quando argumenta que o papel que a
tecnologia desempenhará na escola depende mais de decisões políticas, investimentos em
132
equipamentos, currículos e formação de professores do que da resistência desses
profissionais em utilizar essa tecnologia disponível.
4.4.3 - Entrevista: Professor que não recebeu o laptop seguindo determinação do
SEPE-RJ
No capítulo 3 desta pesquisa, tópico 3.3, apresentamos a reação do SEPE-RJ,
Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro, ao projeto Conexão
Professor, e a indicação de que seus filiados assumissem a posição política de não
aceitarem o laptop, através da carta redigida pela direção do SEPE-RJ e disponibilizada no
site da entidade, cujo título já apresenta seu posicionamento: “Troco meu laptop pela
verdadeira valorização do profissional da Educação e por uma escola pública de
qualidade”. Assim, tomamos ciência dos motivos da recusa. Acusando o projeto de
demagógico e eleitoreiro, a diretoria do SEPE-RJ argumenta que a entrega da máquina ao
professor da rede estadual de ensino “tem a intenção de nos desviar do verdadeiro foco, que
é a luta pela nossa pauta de reivindicações” (SEPE, 2008-A). Para alcançarem os objetivos
de mobilização contrária ao projeto, foram feitas convocações de assembleias, passeatas e
paralisações. Porém, diversos veículos de comunicação noticiaram na época que foram
poucos os professores da rede que aderiram ao movimento proposto pelo seu Sindicato e
não quiseram receber a máquina.
Para nossa surpresa, ao recebermos a listagem nominal dos professores da unidade
escolar selecionada, verificamos que dentre os quarenta docentes aptos a receber o laptop,
um deles optou pelo posicionamento indicado pelo SEPE-RJ, ou seja, recusou-se a receber
a máquina. Mesmo não tendo participado da primeira fase da pesquisa de campo relativa ao
questionário, solicitamos uma entrevista66
ao mencionado profissional, explicando o quanto
nos seria útil em nossa pesquisa para entendermos tal posicionamento.
66
Entrevista ocorrida em 30.06.2009.
133
Ficamos sabendo logo no início da conversa que ele fazia parte da direção do SEPE-
RJ no início de 2008, momento em que o projeto Conexão Professor começou a ser posto
em prática. A primeira pergunta já foi então direcionada ao posicionamento de recusa ao
laptop. Em sua resposta, o docente contextualizou seu posicionamento como condizente
com sua trajetória acadêmica e política.
Bom, eu tenho um ano de Estado, fiz dois anos agora, mas, desde que eu
entrei pra trabalhar, uma das primeiras coisas que eu fiz foi entrar no
sindicato. Eu resolvi entrar no sindicato por acreditar que o sindicato é o
único órgão, o único caminho para tentar solucionar a questão da crise da
educação. É um dos órgãos que a gente tem pra luta, pra organização dos
trabalhadores. Isso desde a faculdade. Um do grupo que a gente
participava já pregava que uma das formas que a gente iria atuar era o
sindicato.
Em seguida, passou a relatar as diversas reuniões internas no SEPE-RJ no momento
do início da implementação do Conexão Professor, o que nos oferece uma ideia do quão
deve ter sido controvertido o posicionamento político que adotaram.
Logo que pintou essa notícia, algumas pessoas do sindicato falaram que
não iriam pegar. Inclusive, na época, um dia teve um debate tremendo, um
debate de duas assembleias, um debate desgastante, porque começou... as
pessoas falavam, mas você não pode proibir ninguém. O sindicato não
pode proibir ninguém de pegar o laptop. Posição do sindicato, posição da
diretoria não tá proibindo. Houve uma resolução do sindicato, que os
diretores... Quem fosse diretor, não pegaria. Houve gente contrária a isso,
gente a favor, eu mesmo votei favorável porque não acho que o laptop vai
ter essa utilidade de fazer o que eles querem, o projeto em si. Acredito que
falta um pouco mais do Estado, desde condições melhores na sala de aula,
a propriamente mais salas de aula. (...) Fora isso, tem a própria questão
salarial que foi totalmente esquecida.
Ainda relatando suas percepções sobre o projeto Conexão Professor, o referido
professor passou a exemplificar por que considera demagógico o projeto, trazendo falas de
professores que trabalham em condições precárias, e a disposição constante de abandonar
sua profissão, como podemos acompanhar na fala em destaque:
Olha, a gente vai te dar o laptop para você melhorar as condições de sala
de aula... Muita gente que pegou está utilizando o laptop. Isso é legal. O
laptop é um dos mecanismos que pode vir a dar um outro tipo de aula,
mas não é o mecanismo em si da sala de aula. É uma questão interessante.
Até eu vi uma menina falando... uma colega minha, lá de Niterói,
conversando por que ela particularmente não quis pegar, e ela escreveu
134
uma carta dizendo o seguinte: ela trabalha vinte e poucos anos no Estado,
ela queria ela, ter condições dela comprar o próprio computador dela. Ela
comprar o laptop dela, não receber isso como uma migalha, como o
Estado mesmo fez a propaganda... A propaganda que o Estado fez em
cima desse laptop foi algo assim covarde, algo no sentido assim: que a
gente agora vai dar boa aula porque a gente tem laptop. Não é o laptop
que você... vai ou não vai dar boa aula. Você vai melhorar tua condição de
aula, com certeza. Qualquer instrumento que você use além da garganta é
um instrumento. Seja a televisão, seja imagens que você leve, seja enfim
que você possa utilizar que não seja somente cuspe e giz, é um outro
mecanismo. As crianças podem ver ou não, podem gostar ou não, mas
você está usando outros mecanismos sem ser o cuspe e giz.
E retomamos ao evento das discussões internas sobre o projeto e o desgaste político
que teria gerado esse posicionamento para o Sindicato, pois, de acordo com o entrevistado,
alguns participantes dessas reuniões chegaram a fazer a indicação de que se recusassem a
receber não apenas o laptop, mas também uma gratificação paga mensalmente aos
professores criada na gestão do governador Anthony Garotinho, chamada de “Nova
Escola”, já definida anteriormente nesta pesquisa. Indagado se teria estado presente nessas
reuniões e também na reunião ocorrida na ALERJ, o professor em questão respondeu
afirmativamente, apresentando inclusive alguns motivos que levaram o SEPE-RJ a
questionar a origem da verba investida na compra das máquinas, nas assembleias.
Participei. Sim, em debate que foi introduzido isto, tentando ver de onde
vem essa verba, porque na verdade se descobriu que essa verba vem da
própria Educação. Essa verba não é algo assim que veio lá de fora. Essa
verba é da Educação que o Estado tinha que gastar de alguma maneira,
tinha que ter uma justificativa pro gasto, e ele não deu essa justificativa
dando isso em salário. Deu um chamado prêmio que todo mundo sabe
que... isso aí foi uma grande negociata infelizmente que o Estado fez com
fornecedores que ele tem, (...) Muita gente que não tem computador, que
não tinha condições, tudo bem, hoje tem acesso à informática, tem acesso
até a internet; mas só isso que vai fazer melhorar as suas condições de
trabalho?
O entrevistado passou então a tecer considerações sobre a necessidade da formação
continuada para os professores da rede e a sua percepção de que a simples entrega da
máquina ao professorado não significaria melhoria do trabalho pedagógico desses
profissionais.
Ter condições de fazer uma formação continuada... seja fazendo o
mestrado, seja fazendo um curso que você queira fazer; por isso a licença
pro cara que está fazendo o mestrado... vem cá, será que não seria
135
melhor... vem cá te dou um ano com licença remunerada pra você, pra
quando você voltar ser um outro professor. Não, isso não, vou te dar só
um computador. Não é fazer um curso que você queira fazer pra melhorar
as condições de aula... Uma das razões que eu não peguei, porque eu era
diretor do sindicato, foi determinado. Eu achei que era certo na época e
continuo achando que a gente não deveria ter pego, ainda mais com a
propaganda covarde que o Estado fez, uma propaganda nojenta que o
Estado fez, (...) falando que agora os professores vão melhorar porque
todos os professores tem um computador na sala de aula...
As difíceis condições de colocar em prática a utilização das novas tecnologias, e em
especial o laptop ele analisa em seguida, inclusive sob o aspecto da falta de segurança em
certas unidades escolares.
E aquela coisa, como é que você vai transportar esse laptop? Tudo bem
tem o laptop, mas como é que eu vou levar ele pra sala de aula? Tem essas
questões também operacionais, ou seja, você tem o laptop, mas você não
pode levar pra muitos lugares. Não digo nem aqui em Petrópolis, mas em
outros lugares você não leva porque você não tem condições físicas de
levar. É um instrumento de trabalho, mas não pode ser o único, o
instrumento de trabalho como o Estado está falando, que vá solucionar
tudo, não. Tem muita coisa ainda fora esse computador, fora esse laptop.
Não conheço muito a realidade aqui de Petrópolis, mas tem outras
realidades lá no Rio que invariavelmente você entra em sala de aula... e
elas estão superlotadas. Tem um amigo meu que tem sessenta e cinco
alunos numa sala de aula. É humanamente impossível...
Indagamos em seguida se considerava que as condições de trabalho que teria
encontrado naquela unidade escolar eram melhores que as que estava descrevendo. Sua
resposta foi positiva, indicando que ali encontrava turmas com número razoável de alunos,
o que não poderia ser considerado como uma realidade geral para as unidades escolares da
rede estadual de ensino do Estado.
Nesse momento da entrevista, enveredamos para um ponto que consideramos como
contraditório na conduta desse profissional. Antes de iniciarmos esta entrevista, tomamos
conhecimento que o mesmo profissional teria aceitado o laptop em um projeto semelhante,
organizado e implementado poucos meses após o Conexão Professor, pela rede municipal
de ensino do Rio de Janeiro, do qual também faz parte. Como o SEPE-RJ é o órgão que
cuida a princípio dos interesses dos professores que atuam tanto na rede estadual e
municipal, indagamos por que a recusa em receber de uma esfera, e não da outra?
136
Não, na verdade, a gente não teve nem a opção,... a gente não teve até a
opção de escolher. Mas eu falei: ah, eu vou pegar pra ver qual é da parada.
Mas sem brincadeira, eu não uso, eu uso o meu computador mas não uso
o laptop. Ele está parado lá. De vez em quando eu ligo pra ver se tá tudo
bem. Por que aquela questão... (...) mas e as condições pra usar? Por
exemplo, na minha escola não tem datashow, e mesmo se tiver datashow,
onde eu vou instalar? Tudo bem, coloco na sala de aula, mas minhas salas
de aula do município acontece exatamente isso... não dão trinta, mas tem
quarenta em sala de aula... tem quarenta alunos na sala de aula, aluno
praticamente um em cima do outro... Não tem condições. (...) E tem esse
problema seríssimo de estruturação. Não tem estrutura pra ter quarenta
alunos. Isso não acontece só na minha escola... Acontece em várias
escolas do município do Rio. Falta de estrutura.
Por considerarmos que a resposta ainda não havia esclarecido a mudança de
posicionamento, insistimos no questionamento: e o Sindicato chegou a tomar algum
posicionamento contrário ao recebimento dos laptops também do município do Rio? “Por
incrível que pareça, no município não houve discussão. Não houve justamente pra evitar o
desgaste que houve no Estado” foi a resposta obtida.
A fala seguinte retoma o desgaste ocorrido pelo Sindicato com relação ao
posicionamento de indicação de recusa do laptop e a pouca aceitação por parte de seus
filiados em acompanhar a diretoria, além da falta de condições de trabalho nas redes.
(...) Porque muita gente ... depois que acabou esse debate, depois de duas
assembleias que esse debate acabou, mais à frente, as pessoas falavam...
Ah, então a gente vai ter que negar... Vocês estão negando o laptop... é um
desgaste totalmente desnecessário. Acho que era uma posição pessoal.
Conheço muita gente também no município que também não levou, não
pegou... (...) Eu particularmente eu estou pronto pra devolvê-lo, porque eu
não vejo sentido naquela coisa. Está ocupando espaço. Porque, por
exemplo, eu vou levar uns alunos ... tem uma sala de informática... levo os
alunos pra sala de informática... mas encontro computador quebrado, são
quinze, vinte computadores, mas minha sala tem quarenta. Então boto
dois em cada. Então em quanto você está falando com um, tem outro
mexendo em não sei o quê... Você tem que estar sempre quase em um
desgaste, quase num enfrentamento.
Enveredando para considerações a respeito da falta de apoio dos dirigentes das redes
e dos pais de alunos aos professores, o entrevistado nos relata sua percepção de que em
outros tempos a Educação era encarada de outra forma por esses segmentos, obtendo uma
maior valorização, e por consequência, os professores gozavam de melhores condições de
trabalho.
137
Acho que a Educação hoje em dia tá difícil em vários sentidos. Tá difícil
porque, por exemplo, existe disposição da gente em trabalhar, existe
projetos que a gente quer fazer, mas não existe sentido na Educação pro
Estado e pra família do estudante, sentido que a família não encontra
mais. Vem cá, por que é porque o meu filho tem que estudar?
Antigamente tinha uma posição pra Educação, tinha uma função, mas
hoje em dia... (...) Sabe, aí entram esses mecanismos... essas várias mídias
que você pode utilizar... Tudo bem, acho que antigamente a gente não
tinha isso, mas a gente usava jornal, revista, recortar revista, recortar
jornal, usava outras tecnologias,... Então a mídia não é que esteja
mudando muito... a mídia acho que é praticamente a mesma... mas a
disposição das pessoas... acho que tinham sentido na Educação. (...) Por
exemplo, tem uma dificuldade pessoalmente lá no Rio. Que eu tô pegando
uma turma de sexto ano que não sabe ler ou escrever... Como é que você
vai fazer história com eles? Tem que primeiro ensinar a ler, e como é que
eu vou ensinar a ler? Não tenho técnica, me sinto incompetente. (...) Você
tem que criar técnicas pra tentar atrair o aluno para o conhecimento... Mas
não acho que seja esse o ponto da Educação. Acho que falta muito mais,
falta um investimento mais sério na Educação, do que simplesmente
laptop, televisão vídeo. Acho que um pouco mais do que isso.
Com essas considerações do entrevistado indicando que falta muito para que um
projeto como o Conexão Professor dê resultados satisfatórios na Educação, finalizamos
nossa entrevista. Diante do relato exposto, temos a impressão de um quadro de dualidades,
pois ao mesmo tempo em que o Sindicato marca de forma incisiva um posicionamento
político de negação ao Projeto na esfera estadual, poucos meses depois, diante de projeto
semelhante na esfera municipal, se abstém de qualquer discussão, mesmo percebendo que
ambas as esferas de atuação apresentam problemas crônicos que tornam difíceis as
condições de trabalho de seus filiados.
Podemos interpretar tais posicionamentos como a percepção de que as discussões
internas para assumirem um posicionamento teriam gerado um grande desgaste na imagem
do órgão, e, principalmente, o fato de não terem conseguido obter grande adesão junto
àqueles a quem estariam representando - os professores; isso foi suficiente para que
demonstrassem certo arrependimento e não repetissem as mesmas atuações quando da
implementação do projeto do município.
138
4.4.4 - Entrevista: Diretora da unidade escolar
Ao analisarmos as informações provenientes dos questionários coletados dos vinte e
sete professores da unidade escolar selecionada, verificamos que estávamos diante de uma
população predominantemente jovem de docentes que foram admitidos recentemente na
rede estadual de ensino. Conforme comentários apresentados neste capítulo, no item 4.3, os
dados geraram dúvidas, e por isso solicitamos uma entrevista67
com a diretora do colégio. A
entrevista aconteceu na sala da direção, de onde nos era possível ouvir o som proveniente
de obras referentes à implantação de climatização das salas de aula desse colégio. Era mais
um projeto desenvolvido pela SEEDUC-RJ que estava sendo colocado em prática, não
apenas nessa unidade escolar, mas em todos os colégios da rede: a colocação de ar
refrigerado em todas as salas de aula.
Com idade entre trinta e um e trinta e cinco, do total de quinze anos em que trabalha
na rede estadual de ensino, a diretora completou doze anos no cargo. Possui graduação em
Pedagogia e cursos de pós-graduação relacionados ao cargo de gestor. No período de nossa
pesquisa, aguardava o recebimento do seu laptop68
.
Iniciamos a entrevista com a questão apresentada. Estaria o mencionado colégio
apresentando uma alta rotatividade de professores ou significaria crescimento e, portanto, a
necessidade de mais docentes? Ficamos sabendo que a hipótese da alta rotatividade não se
aplicava a tal instituição, e o que estava ocorrendo era basicamente o preenchimento de
vagas que antes eram ocupadas por professores em regime de horas extras. Em alguns
casos, segundo a entrevistada, nem mesmo chegavam a ser preenchidas, ou seja, os alunos
não tinham as aulas daquela determinada matéria. Mas, que também estava ocorrendo nos
últimos anos um aumento significativo na quantidade de alunos e a consequente
necessidade de mais profissionais, conforme podemos conferir no trecho destacado a
seguir:
67
Entrevista ocorrida em 01.07.2009. 68
Em janeiro de 2009 uma nova resolução da SEEDUC-RJ (n0 4198) passa a beneficiar outras categorias de
professores, além dos docentes I e também os diretores de unidades escolares e coordenadores regionais. Ver
Anexo I- Documento 8.
139
Primeiro o colégio cresceu, e teve uma demanda maior de professores.
Segundo, que nos últimos anos têm sido preenchidas as vagas que
deveriam ser preenchidas. O Estado ficou muitos anos sem chamar
ninguém. A escola não tinha professores. Então parece que entraram
muitos, e na realidade eles estão preenchendo as vagas que nunca foram
preenchidas.
Com a questão esclarecida, passamos a colher mais informações a respeito do
trabalho de sua equipe com relação ao uso de novas tecnologias, iniciando com a pergunta
sobre quais seriam suas impressões a respeito do projeto Conexão Professor.
Quando começou, eu achei que seria uma coisa mais pra adoçar a boca do
professor. Agora acho que não. Assim, eu vejo alguns professores
utilizando isso como ferramenta. Por exemplo, o que surtiu como
resultado pra escola? Hoje nós temos as provas todas sendo enviadas por
e-mail, provas digitadas. (...) É, tem muita gente que não o usa bem, mas
já há uma mudança.
Em seguida, passou a relatar sua percepção sobra a seriedade do projeto de entrega
do laptop aos seus professores, comentando que passou a ter o apoio de uma empresa
especialmente contratada pela SEEDUC-RJ para propiciar a melhor utilização do
laboratório de informática. Indagamos em seguida se tinha conhecimento se, além da
entrega do laptop, estava sendo oferecido algum curso de capacitação para o uso dessa
máquina aos docentes da rede: “Que eu esteja me lembrando agora não. Cursos rápidos,
reciclagem não sei do quê...”.
Se não oferecem cursos de capacitação, quais teriam sido, na sua opinião, os
objetivos da SEEDUC-RJ ao entregar o laptop aos professores?
Eu acho que o Governo tem mania de criar metas. Então, por exemplo,
meta: informatizar o professorado no estado do Rio de Janeiro. Então é
isso, não adianta você dar um palito de fósforo para o homem das
cavernas sem mostrar como utilizar. Estão cumprindo uma meta.
Informatizar cem por cento das escolas, sem se importarem com os
computadores dos laboratórios. Vou ter que chamar um técnico para
arrumar... Eles querem é fazer, cumprir aquela meta, sem se preocupar
com os menores detalhes...
E teria percebido alguma mudança em sua equipe de professores a partir do
recebimento e utilização destes laptops? Indagamos em seguida. Sua resposta inicia com a
informação de que antes do projeto alguns professores já utilizavam o Data Show em
140
algumas aulas, mas era necessário o deslocamento de um computador do laboratório de
informática, o que sempre causava um trabalho maior.
E hoje em dia eu não preciso mais de um computador para usar o
datashow, os professores usam o seu laptop. Cada um tem o seu laptop. E
sinto que alguns professores usam programas específicos em sua área, as
provas, conforme já falei, todas informatizadas. Agora temos e-mail de
todos os professores. (...) Eu acho isso um ganho. Estamos agora
preparando o simulado, e recebendo as questões por e-mail. Antes era
complicado, vinha em papel, precisava digitar, disquete... Enchia o
computador de vírus...Embora eu saiba que alguns laptops estão na mão
dos filhos destes professores. Tem gente que pegou e deu para o filho de
presente... Mas já há uma mudança. Eu acredito que quando cem por
cento do professorado tiver o laptop... as pautas estarão informatizadas em
tempo real.
Finalizamos com os comentários, por parte da entrevistada, a respeito da
necessidade dos cursos de capacitação, mas também da boa vontade por parte do
professorado em disponibilizar-se para tais cursos. Mas, mesmo diante de perceptíveis
problemas, acredita na possibilidade de mudanças que signifiquem maior qualidade para a
Educação, como se pode perceber a seguir:
Eu no início achei que ia ser assim, um presentinho. Mas eu sinto uma
mudança... Embora seja difícil expressar essas mudanças com palavras...
Por exemplo, com relação à reclamação das escolas com a falta de
suporte, o Estado contratou um técnico em informática para cada uma das
escolas... Tomara que agente tenha conferências, cursos, mais coisas...
São mil e tantas escolas, trinta e dois mil professores... Eu ainda acredito!
Destacamos a ênfase dada nessa fala ao fator grandiosidade da rede: a percepção do
significado, e a consequente dificuldade em implementar qualquer projeto em ambientes
que podem se apresentar tão distintos quanto o de uma escola situada em bairro nobre da
cidade do Rio de Janeiro e outra de uma periferia de uma cidade do interior do estado. Tais
distâncias, e não estamos nos referindo apenas às geográficas, podem de fato resultar em
dificuldades para a implementação de projetos amplos como o da informatização das
escolas estaduais. E talvez, só possamos verificar o resultado de tais projetos a curto prazo,
em pequenos detalhes. Nessa escola, o fato de todas as provas estarem sendo entregues via
e-mail e o próprio fato de o colégio comunicar-se com toda a sua equipe também via
internet podem ser vistos como pequenos detalhes. Mas, por que não vê-los também através
141
de óculos otimistas? Os professores estão utilizando de alguma forma as máquinas!
Percebemos que o posicionamento dessa diretora é de otimismo, acreditando que os
pequenos detalhes podem gerar futuras significativas mudanças no ambiente escolar.
4.4.5 - Entrevista extra: Professor Rodrigo e o projeto “Quadro digital”
Quando recebeu seu laptop, o professor Rodrigo ficou pensando em como poderia
utilizar as possibilidades de sua máquina em suas aulas de matemática. Preparou slides em
programas do tipo Power Point, construiu gráficos e outros recursos que facilitassem a
apresentação de determinados conteúdos e despertassem a atenção de seus alunos. Mas, por
ainda não estar satisfeito com a forma que estaria usando tais artifícios, teve a ideia de
utilizá-los em um quadro digital interativo69
. Porém, ao verificar que o preço dessa
tecnologia era proibitivo, decidiu buscar outras formas de utilizar os recursos do quadro
com uma tecnologia que fosse acessível e barata.
Pesquisou na internet e chegou ao quadro interativo desenvolvido pelo pesquisador
americano Johnny Chung Lee70
, que, utilizando joistick de videogames, conseguiu chegar
ao mesmo quadro e seus mesmos recursos com muito menos investimento. O Professor
Rodrigo fez as necessárias adaptações, montou o seu quadro interativo digital, utilizou-o
em sua sala de aula e ainda disponibilizou um vídeo no You Tube71
no intuito de informar
aos demais professores a possibilidade de utilizarem mais esse novo recurso tecnológico.
Justamente pelo fato de esse professor expor-se na internet e desejar socializar seus
69
O quadro interativo é apresentado comercialmente como sendo uma lousa sem fio que permite ao professor
desenvolver o traço eletrônico com o simples toque de uma caneta especial que funciona a base de tecnologia
eletromagnética, projetando sua escrita em tempo real ou utilizando recursos previamente preparados, como
slides por exemplo. Dados obtidos no site Ccom, empresa que comercializa quadros interativos no Brasil.
Endereço:<http://www.infochannel.com.br/loja/produtos_descricao.asp?nome=Quadro-Interativo-InterWrite
&PartNumber=&lang=pt_BR&código_produto=2060>. Acesso em 27.07.2009. 70
Johnny Chung Lee mantém página na internet onde disponibiliza filmes explicativos sobre o
funcionamento deste e de outros projetos. Endereço: < http://johnnylee.net/projects/wii/> Acesso em
27.07.2009. 71
Endereço: <http://www.youtube.com/watch?gl=BR&hl=pt&v=w6_7l8gylY4> Acesso em 27.07.2009.
142
conhecimentos relativos à construção do quadro interativo com outros professores,
verificamos que seu nome poderia ser aqui apresentado, no que obtivemos plena permissão.
Embora o mencionado professor trabalhe em uma escola da cidade de Petrópolis,
ele não faz parte da equipe de docentes da unidade escolar selecionada para nossa pesquisa.
Mas julgamos que pela sua interessante e criativa história sobre a sua utilização do laptop,
resolvemos incluir sua entrevista nesta pesquisa.
Diferente das entrevistas anteriores, essa foi feita72
totalmente via internet, sendo
parte via e-mail e outra significativa parte utilizando o programa Windows Live Messenger,
que nos permitiu a troca de mensagens oral e escrita, além de imagens em tempo real.
Iniciamos com o pedido de informações que nos permitissem traçar seu perfil e avançamos
para a coleta de impressões sobre o projeto Conexão Professor e sua postura diante de
novas tecnologias no ambiente escolar.
O professor Rodrigo tem idade entre vinte e cinco e trinta anos e trabalha há menos
de dois anos na rede estadual de ensino do Rio de Janeiro. Possui graduação completa na
área em que leciona e atualmente cursa mestrado. Já possuía computador antes de receber o
laptop e já havia frequentado cursos relacionados ao uso do computador, mas nenhum deles
relacionado ao seu uso pedagógico. Desconhece os cursos de capacitação e o CD-Rom
oferecidos pela SEEDUC-RJ e é de opinião que o recebimento do laptop contribuiu
parcialmente para a inclusão digital do profissional da rede. Periodicamente utiliza o laptop
em suas tarefas docentes dentro e fora de sala de aula por acreditar que essa e outras novas
tecnologias podem expandir as possibilidades de ensino. Dentre as principais atividades
docentes realizadas com o laptop, indica a preparação de aulas, testes e provas, pesquisa na
internet, desenvolvimento de planilhas eletrônicas, além da utilização do quadro digital.
Porém, ainda considera que o utiliza muito pouco. Quando indagado sobre sua impressão
sobre o projeto Conexão Professor, respondeu:
Acho o projeto muito interessante. É um pontapé inicial pra gente
trabalhar e inserir as novas tecnologias em sala de aula. A gente não
pode deixar de lado essa evolução tecnológica e achar que isso não
vai entrar na sala de aula, isso tem que entrar, a gente tem que
participar dessa evolução. Os nossos alunos vêm isso todo dia e não
é motivo pra que isso não vá parar dentro da sala de aula. Na verdade,
eu faço votos de que cada vez mais os professores utilizem essas
72
Entrevista realizada no período de 18 a 21 de julho de 2009.
143
ferramentas e trabalhem cada vez mais com a informática dentro da sala
de aula porque ela tem infinitas possibilidades. E que nós professores, se
envolvam em pesquisas como a sua e até mesmo como a minha, de
ferramentas novas de softwares novos. Eu acho muito interessante isso, eu
gosto muito dessa área, e acho que a gente não pode ficar limitado.
Em que medida então esse computador estaria contribuindo para a inclusão digital
do professorado da rede estadual de ensino? Seria o medo a principal barreira para a
utilização de novas tecnologias no ambiente escolar?
Olha, eu não sei em relação aos outros professores, mas pra mim, o laptop
trouxe algumas vantagens sim. Eu posso utilizar a internet a qualquer
momento. Eu posso pesquisar mais informações pra prática dentro da sala
de aula. A qualquer momento do dia, principalmente com a conexão a
internet 3G que a gente está utilizando. Apesar dela não ser muito rápida,
ela é boa. A gente consegue bastante material. Eu particularmente tenho
utilizado pouco o que eu pensava que eu iria utilizar em sala de aula. Mas
tenho utilizado todo dia para fazer pauta. Eu sei que é pouco a minha
utilização. Mas eu estou tentando aos poucos introduzir a informática
dentro da sala de aula. A questão da inclusão do professor... Acho que a
maioria já tinha acesso ao computador, os que queriam na verdade. Acho
que todos sabem que tem muito material na internet, só fica preso mesmo
a material impresso quem você comentou não tem coragem de vencer
esse medo aí.
Em seguida pedimos que relatasse suas experiências em sala de aula utilizando o
quadro interativo digital. No relato podemos perceber as dificuldades enfrentadas pelo
docente ao tentar levar para a sala de aula uma novidade desse porte, inclusive no que se
refere à necessidade de um prévio treinamento da metodologia a ser utilizada com tais
novidades. Outro detalhe que merece destaque em sua fala é a percepção de que, mesmo
utilizando-se de recursos modernos, não conseguiu agradar a todos os alunos.
Eu fiz duas experiências, (...) Eu pensei que ia ser uma receptividade
melhor, que iria prender muito mais a tenção deles. Eu acredito que foi
uma falha minha na verdade. Quando eu montei a apresentação... eu fiz
uma apresentação em Power Point, utilizei o quadro interativo para poder
passar os slides, e fazer alguns comentários. Quer dizer, eu não usei o
quadro interativo totalmente como se fosse um quadro comum, eu vi que
há uma necessidade muito grande pra quando a gente utiliza tecnologias
assim, de uma pesquisa muito grande, e até mesmo preparo pra você
montar essa aula, (...) Você tem que montar ela todinha na cabeça,
exatamente o que você vai falar, pra poder na hora de apresentar não se
enrolar. É complicado você prender atenção deles. Ou eles dividem
144
atenção com você, com aquela novidade, ou prestam atenção naquilo que
você está tentando apresentar pra eles de conteúdo. Mesmo assim, alguns
alunos acharam um pouco cansativo a aula, porque você fica passando
muita coisa, e como a aula é mais dinâmica, não tem tempo de eles
copiarem, de eles verem aquilo que está acontecendo, e eles se perdem
um pouco. Mas como foi a primeira experiência, eu acredito que mais pra
frente, com novas experiências, vai dar pra trabalhar melhor e fazer com
que eles se prendam mais ao que eu estou falando e que aquilo seja um
motivo para eles aprenderem mais.
Neste momento enveredamos para a sua pesquisa e montagem do quadro interativo,
o baixo investimento empregado e as infinitas possibilidades de uso. A familiaridade deste
docente com a informática, aliada ao desejo de inovar, foram destacadas como habilidades
que muito contribuíram para a implementação dessa ideia na sala de aula.
A questão do quadro interativo surgiu quando justamente eu recebi o
laptop. Eu vi a necessidade maior de integrar essa ferramenta que nos foi
dada dentro da sala de aula que eu acho que é a ideia principal da
Secretaria de Educação. A princípio eu procurei informações na internet, a
respeito de como funcionava o quadro interativo, na verdade a minha
ideia era eu mesmo desenvolver um quadro interativo. (...) Mas, eu acabei
encontrando um quadro desenvolvido por um pesquisador americano. Na
verdade, o cara é um hacker de videogames. Ele conseguiu desenvolver
um quadro interativo utilizando a tecnologia de um joistick de
videogames, o Nintendo Wii. É muito interessante isso, porque ele
conseguiu baixar o custo absurdamente. Se você for ver no mercado, um
quadro interativo custa em torno de quatro a cinco mil dólares, e esse
modelo desenvolvido por ele não custa mais do que cem dólares, é
absurdamente mais barato, e com as mesmas funcionalidades. Então você
aplica isso em qualquer lugar, fica fácil pra qualquer professor utilizar
isso. E eu achei muito bacana a ideia dele, e pesquisei mais a ponto de
poder aplicar isso. E na verdade, a todos que me perguntam eu tento
passar todas as informações para que outras pessoas continuem utilizando
isso. Eu vi essa necessidade de usar melhor o computador, justamente pela
questão que eu te falei, que a maioria dos professores guardam seus
laptops em casa, alguns têm medo de levar para o colégio, de serem
roubados, outros de não saberem usar dentro da sala de aula. Mas, como
eu tenho uma familiaridade boa com a informática, então eu quis utilizar
mais o computador dentro da sala de aula. Acho que vai ser uma ideia
assim, quando eu puder desenvolver melhor as minhas aulas para o
quadro interativo vai ser muito bom.
Ao pedirmos que listasse quais seriam, em sua opinião, as habilidades necessárias
para que o professor da rede desenvolvesse postura semelhante à sua, o entrevistado
destacou: a motivação, a vontade de pesquisar e o fator tempo, ressaltando a percepção de
145
que faz parte de um pequeno percentual de docentes que leciona poucas aulas semanais, e
que por isso se encontraria em vantagem.
Não vou dizer que é interesse, mas é questão de motivação mesmo de
utilizar essa tecnologia não só o quadro interativo mas o laptop mesmo
em sala de aula. Eu sou um caso à parte, um professor que dá 12 horas
aula por semana só. Eu convivo com professores que trabalham em três
turnos, então eu vejo que pra eles falta um pouco de motivação, e até
mesmo tempo pra pesquisar em cima disso... Nossa realidade é meio
maluca mesmo. Eu sou um caso à parte, (...) eu tenho tempo pra pesquisar
um pouquinho... eu tenho tempo até de diversificar as minhas aulas. Mas
mesmo assim eu vejo que falta um pouco de motivação mesmo para os
professores buscarem novas tecnologias, acho que os que buscam é um
percentual bem pequeno do nosso grupo.
Finalizamos a entrevista com comentários do entrevistador novamente ressaltando
as boas qualidade do projeto Conexão Professor e também as boas intenções da equipe da
SEEDUC-RJ ao implementarem tal projeto, reafirmando mais uma vez sua vontade de
socializar seus conhecimentos a respeito do quadro interativo, e os votos de que os
professores percam o medo e passem a utilizar novas tecnologias em suas práticas
pedagógicas, sempre na intenção de conquistarem maior qualidade em seus trabalhos.
4.4.6 - Entrevista extra: Professor Guilherme e o projeto “Fractais Multimídia”
A ideia inicial era de ele próprio desenvolver alguns jogos educativos para serem
usados nas suas aulas de matemática e física no colégio estadual em que leciona, mas, ao
perceber que os programas utilizados para criar tais jogos eram extremamente intuitivos e
fáceis de usar, resolveu ampliar seu projeto. Nasce aí a simulação de uma empresa que tem
a missão de produzir entretenimento aliado à Educação: Fractais Multimídia73
. No projeto,
um grupo de alunos coordenados pelo professor Guilherme se divide em tarefas
relacionadas ao desenvolvimento de jogos em um ambiente colaborativo de criação.
73
Ver Anexo II: Tela 5
146
Tomamos conhecimento desse projeto quando da publicação de reportagem na
página “Conexão Aluno”74
em julho de 2009. Pelo fato de estar sendo desenvolvido em
uma unidade escolar na mesma cidade e com características semelhantes75
à unidade
escolar selecionada para nossa pesquisa de campo, resolvemos solicitar uma entrevista com
o professor que elaborou e implementou mais um projeto inovador que utiliza novas
tecnologias no ambiente escolar, o que nos foi prontamente atendido76
. Da mesma forma
que a entrevista apresentada anteriormente, esta também foi realizada utilizando o ambiente
virtual, via e-mails e programas do tipo Windows Live Messenger. Obtivemos permissão
do entrevistado de citá-lo nominalmente.
Inicialmente colhemos mais informações sobre o funcionamento do projeto Fractais
Multimídia e posteriormente sobre o perfil e posicionamento do docente, que, junto com
material disponibilizado no blog mantido pelo próprio e reportagens e entrevista publicadas
na página “Conexão Aluno”, nos permitiu elaborar reflexões sobre mais um docente da
rede estadual de ensino que também recebeu o laptop e sente-se motivado a desenvolver
formas de trabalhos pedagógicos que envolvam novas tecnologias.
O professor Guilherme tem idade próxima de trinta e cinco anos e trabalha na rede
de ensino estadual há oito anos com uma carga horária semanal total de quarenta e oito
aulas semanais. Leciona as disciplinas de Matemática e Física, tendo especialização em
Matemática, além de exercer o cargo de orientador tecnológico em sua unidade de ensino.
Já possuía computador antes de receber o laptop da SEEDUC-RJ, e indicou não apenas
conhecer, mas também ter utilizado o CD-Rom que foi entregue junto com a máquina.
Frequentou cursos relacionados ao uso geral do computador, mas não especificamente para
o uso pedagógico, e considera que os cursos de capacitação oferecidos pela SEEDUC-RJ
são suficientes para a capacitação do professor da rede para o uso do computador, pois
“constantemente recebemos convites de bons cursos”.
Considera que o recebimento do laptop contribuiu em parte para a inclusão digital
do professor, pois argumenta que:
74
Ver Anexo II: Tela 6. 75
A unidade escolar em que o projeto Fractais Multimídia está sendo desenvolvido está situada na periferia da
cidade de Petrópolis, no bairro Pedro do Rio, quarto Distrito. 76
Entrevista realizada no período de 23 a 27 de julho de 2009.
147
Vale a pena ressaltar que a entrega do laptop, é uma pequena parte de um
processo muito mais complexo de inclusão digital do professor, do aluno
e da dinâmica pedagógica. Acho que uma reciclagem para os docentes,
não apenas a oferecida, mas como atividade periódica e incluída na carga
horária do professor, é extremamente importante para que esta inclusão
realmente funcione.
Para que o docente da rede inclua novas tecnologias em sua prática, defende que ele
deve se sentir valorizado em sua função para querer buscar além do quadro e giz, pois
“vários colegas estão insatisfeitos, e por isso não ambicionam novos desafios”.
Acompanhar o desenvolvimento de novos softwares em sua área e buscar compreender as
possibilidades de uso pedagógico dessas novas tecnologias também são apontados pelo
entrevistado como necessários à inclusão digital do professor.
O professor Guilherme afirma sempre utilizar o laptop recebido em suas tarefas
docentes em sala de aula. Além de o utilizar no trabalho com os jogos educativos e
softwares de realidade aumentada77
, realiza pesquisa na internet e apresenta slides, filmes e
documentários. Acredita que pelo fato de ser “uma linguagem afim desses nativos”, esses
recursos podem agilizar e expandir os métodos tradicionais de ensino e estimular a
aprendizagem deles. Porém, reconhece que algumas atividades podem ser desenvolvidas
sem o uso do laptop ou qualquer outra nova tecnologia.
Fora de sala de aula também usa o laptop para uma série de atividades que fazem
parte de seu trabalho pedagógico, desde a preparação de avaliações até o desenvolvimento
de objetos de aprendizagem. Com relação às principais atividades não docentes em que usa
a máquina recebida, lista a leitura de revista e jornais on-line, o envio e recebimento de
mensagens, dentre diversas outras.
Quando indagamos sobre sua opinião a respeito do que faltaria ao professor da rede
para que ele se sinta motivado a adotar as novas tecnologias em sua prática pedagógica,
respondeu:
77
Realidade aumentada (RA) é uma linha de pesquisa dentro da Ciência da Computação que lida com a
integração do mundo real e elementos virtuais ou dados criados pelo computador. Atualmente, a maior parte
das pesquisas em RA estão ligadas ao seu uso para vídeos transmitidos ao vivo, que são digitalmente
processados e “ampliados” pela adição de recursos computacionais. São bastante utilizados também na
construção de marcadores que geram a sensação de tridimensionalidade em objetos. Informações obtidas na
enciclopédia virtual: Wickpédia. Endereço: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Realidade_aumentada>. Acesso em:
28.07. 2009.
148
Sendo bastante breve, acho que começa com um salário adequado de
forma que o professor possa ter dedicação exclusiva à sua escola. O
ensino deve ser integral e as turmas devem ser menores, digamos vinte
alunos no máximo. Com isso, os índices certamente favorecerão o nosso
ensino.
Sobre o projeto desenvolvido na unidade escolar em que trabalha, nos explica-nos
que é realizado de forma extraclasse, quando atua como orientador tecnológico. Mas
acredita que com devidas adaptações é possível aplicá-lo em classe. Para que isso aconteça,
sugere uma breve capacitação do aluno para o trabalho com os programas de criação de
jogos, e o incentivo ao desenvolvimento de algumas habilidades, tais como o desenho.
Embora ainda não tenha índices para confirmar, argumenta que existe, e é fácil perceber
que houve uma mudança sensível nos alunos que participam desse projeto em relação a
uma melhoria de aprendizagem nas outras disciplinas.
Para obtermos um pouco mais de informações a respeito do projeto, destacamos um
trecho da entrevista do professor Guilherme ao “Conexão Aluno”:
A ideia do projeto foi concebida após uma simples observação: é fácil
notar que as pessoas são atraídas pela tecnologia, mas, principalmente por
conta da interatividade, existe uma fatia especial dessa tecnologia que os
nossos alunos não só apenas gostam, mas são completamente fascinados.
São os jogos eletrônicos, ou games, como eles dizem. Como professor e
orientador tecnológico, me senti na obrigação de tentar canalizar essa
energia para o processo de ensino-aprendizagem. (...) Então, tendo em
vista as novas profissões digitais e um mercado carente de profissionais,
imaginei a possibilidade de se criar uma empresa fictícia de
desenvolvimento de conteúdos educacionais, onde o forte é o processo
colaborativo. Assim surgiu a ideia principal do projeto. (HARTUNG,
2009).
O funcionamento dessa empresa fictícia reproduz, segundo o entrevistado, um
ambiente colaborativo, onde cada aluno desenvolve suas atividades seguindo cronogramas
previamente elaborados. Mas a intenção não é, a princípio, prepará-los para o mercado de
trabalho; “ a ideia é dar uma noção do que é um procedimento complexo que exige trabalho
em equipe com sincronia.”. O entrevistado defende a ideia de que redes sociais podem ser
ferramentas eficazes no trabalho pedagógico, quando vinculadas a um planejamento
cuidadoso, argumentando que o trabalho orientado nesse sentido pode ser riquíssimo.
149
Ao ser questionado sobre qual o papel da tecnologia como ferramenta pedagógica, e
em que medida poderia trazer modificações para a realidade da Educação nacional,
responde com uma mensagem de esperança:
A tecnologia já está transformando a Educação no mundo. Aos poucos, a
mesma está sendo disponibilizada nas escolas, ainda temos muito a
caminhar. O Brasil é um celeiro de profissionais criativos. Na Educação
não é diferente. Se estes profissionais, professores, estiverem satisfeitos
com suas condições de trabalho e forem munidos de recursos e
treinamento, nossa Educação despontará no cenário mundial.
(HARTUNG, 2009).
Tais palavras nos serviram para incluir mais uma característica à nossa lista de
características necessárias ao professor para que este inclua em sua prática pedagógica as
novas tecnologias: o otimismo. Como nos alerta Freire (1996, p. 72), existe uma relação
entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança, e que seria uma contradição
que uma pessoa que não teme a novidade não seja criticamente esperançosa.
4.5 - Considerações a respeito das entrevistas
Consideramos que a análise das informações obtidas nesta parte de nossa pesquisa é
suficiente para o entendimento de algumas questões que desencadearam a elaboração,
aplicação e a expansão (por meio de entrevistas extras) do processo metodológico adotado.
Verificamos que, pelo menos dentro do universo pesquisado, existe um certo clamor, um
pedido do professorado para que lhe seja oferecido algum tipo de suporte para o uso das
novas tecnologias. Algo que vá além dos cursos básicos de informática e envolva de forma
contínua e colaborativa os interessados na busca por formas de utilizar novas tecnologias
em sua prática pedagógica. E que tais suportes, ou capacitações, sejam realizados dentro da
carga horária de trabalho do professor, não exigindo mais de um profissional, que
verificamos muitas vezes já envolvido em um grande volume de trabalho. Exigir dele que
dedique suas horas de folga para a sua capacitação pode significar mais um motivo de
desestímulo com relação à sua profissão.
150
Verificamos também que a percepção de que mudanças são necessárias na
Educação, independentemente de o docente ter aceito ou não o laptop e utilizá-lo ou não em
sala de aula. E o quão próximos estão as reflexões dos docentes com relação à necessidade
de se prepararem para as inovações que nos chegam cada vez mais rápido. Tão próximos,
que o leitor desavisado que pegue a frase solta: “A Educação há muito precisava de
mudança” (Professor 6), irá imaginar que se trata do docente que passou a usar
regularmente o laptop em sua prática pedagógica. Não é. Esse é o docente que não o usa em
sua prática pedagógica. Mas é também o docente que nos faz quase um pedido de socorro:
Eu queria que você que está pesquisando, levasse isso para o pessoal que
está implementando esse projeto pra que haja essa demonstração. Isso é
importante. Encontros de aulas mesmo. Eles mesmos vão passar pra nós
como utilizar o computador no computador (...). (Professor 6).
Tal pedido enche-nos ao mesmo tempo de comoção e esperança. Afinal, por que
não ficar satisfeitos por termos tido dificuldade em nossa pesquisa em encontrar aquele que
representasse o docente refratário à utilização de novas tecnologias no ambiente escolar? O
que não podemos, e aí verificamos o grande descuido da equipe da SEEDUC-RJ, é querer
que se cumpra algo como a integração do laptop no trabalho em sala de aula sem oferecer
caminhos. Mesmo nas falas dos professores que apresentam projetos inovadores,
encontraremos a percepção de que ainda buscam esses caminhos.
Faltou um projeto pedagógico que envolvesse a entrega das máquinas. Tal análise
nos remete à pesquisa de Sancho e Hernadéz (2006), que afirmam que, após analisarem
programas de implementação do computador em diversas escolas, verificaram que, em
geral, cumprem apenas com a parte de adquirir infraestrutura tecnológica adequada, mas
descuidam de outros fundamentais pontos que tornariam os projetos bem sucedidos: “é
mais fácil conseguir fundos para comprar equipamento do que para transformar as
concepções e práticas educativas” (p. 27).
Quando buscamos compreender que habilidades e competências são necessárias aos
professores para utilizarem as tecnologias, verificamos que, antes da proximidade com
linguagens informáticas, ou mesmo a participação em cursos, foram destacados: a boa
vontade, a disponibilidade para pesquisar, aprender e preparar atividades diferenciadas,
além é claro da esperança e a alegria com relação ao novo, a alegria tão citada por Paulo
151
Freire, a qual é necessária ao docente ao perceber que também ele, o professor, está se
educando com todo esse processo.
Talvez então sejam essas as respostas para a nossa busca sobre quais mudanças
teriam ocorrido na prática pedagógica dos docentes da rede estadual de ensino a partir desse
projeto. Possivelmente alguns tenham redobrado a sua disponibilidade e esperança pelo
desejo de melhorar sempre: “eu confesso que assim que o laptop chegou eu tive este receio
também. Esse medo tem acabar uma hora e por que não agora?” (Prof. 13). Perceberam que
o aprendizado será uma constante em sua prática pedagógica a partir do uso de novas
tecnologias: “eu vi que há uma necessidade muito grande pra quando a gente utiliza
tecnologias assim, de uma pesquisa muito grande, e até mesmo preparo pra você montar
essa aula ...” (Prof. Rodrigo).
Ressaltamos que, independentemente das características ou habilidades destacadas
por esses docentes, a reflexão de que o laptop, ou qualquer outra tecnologia, não está sendo
encarado como a solução de todos os problemas (e não são poucos) da Educação, está
sempre presente nas falas. Mas podem apresentar formas que, se adequadamente utilizadas,
auxiliam o encontro de algumas delas, como declarou um de nossos entrevistados:
Vale a pena ressaltar que a entrega do laptop, é uma pequena parte de um
processo muito mais complexo de inclusão digital do professor, do aluno
e da dinâmica pedagógica. (Prof. Guilherme).
Uma pequena parte. Mais uma vez, o pequeno detalhe que pode significar futuras
grandes mudanças. Faremos coro com a diretora da unidade escolar: Nós acreditamos que é
possível!
152
CAPÍTULO 5
CONCLUSÕES E ALGUMAS RECOMENDAÇÕES
(...) a nossa tarefa educacional é, simultaneamente, a
tarefa de uma transformação social, ampla e emancipadora.
Nenhuma das duas pode ser posta à frente da outra. Elas
são inseparáveis. (...) a Educação não pode funcionar
suspensa no ar. Ela pode e deve ser articulada
adequadamente e redefinida constantemente no seu inter-
relacionamento dialético com as condições cambiantes e as
necessidades da transformação social emancipadora e
progressiva em curso. Ou ambas têm êxito e se sustentam,
ou fracassam juntas. Cabe a nós todos - todos, porque
sabemos muito bem que “os educadores também têm de ser
educados” - mantê-las de pé, e não deixá-las cair. As
apostas são elevadas demais para que se admita a hipótese
de fracasso.
(MÉSZÁROS, 2005, p. 76).
Quando nos propusemos a analisar de que forma os elementos e atores envolvidos
direta ou indiretamente no processo de ensino-aprendizagem poderiam ser afetados a partir
da utilização das novas tecnologias, em especial o computador e a internet, optamos por
focar em um projeto de características ímpares, que o tornava ao mesmo tempo pioneiro e
polêmico: o projeto Conexão Professor. Tal projeto, viu sua história construída em bases
conturbadas, por meio de negociações carentes de transparência e valores cuja origem e
aplicação têm gerado calorosos debates.
Mantendo-se em geral distante desta discussão, aquele que dá nome ao projeto, e a
quem provavelmente recairão as culpas caso o projeto não resulte em índices esperados: o
docente. Nesta pesquisa, embora tenhamos aberto espaço a diversos segmentos envolvidos,
optamos por dar especial atenção a ele, ouvir sua voz, acompanhar parte de seu processo de
inclusão digital e tentar entender seus posicionamentos.
No trecho que escolhemos para dar início a esta última parte de nossa pesquisa,
temos a defesa de Mészáros por uma escola pública, cuja função maior seja a luta contra a
153
alienação. E isso pode significar muito. Pode significar ajudar a decifrar os enigmas do
mundo, um mundo produzido pelos próprios homens, que cada vez mais convivem com
uma vertiginosa quantidade de informações, que não necessariamente significarão
conhecimento. Pode significar lutar contra um novo analfabetismo, o tecnológico, que se
agigantará na mesma proporção em que, nós educadores, nos omitirmos diante de nossa
função social: a de abrir veredas para a emancipação de nossos alunos. E para que isso seja
possível e aconteça em um ambiente escolar, muitas vezes ainda isolado das mudanças à
sua volta, defendemos que sejam desenvolvidas formas para que o professor, e em especial
o da escola pública, possa estudar e entender as novas formas de comunicação e as novas
tecnologias que a representam.
Mészáros (2005, p. 76) argumenta que “os educadores também têm de ser
educados”, e Freire (1996, p. 29), que “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”.
Ao juntarmos essas duas ideias, poderemos ressaltar a necessidade de que o profissional da
área da Educação tenha como características, dentre outras, a constante busca pelo
aprimoramento, a busca por respostas às suas indagações e o desenvolvimento de análise
crítica sobre os elementos que envolvem o processo que nem sempre pode ser previsto: o
ensinar e o aprender. E essa imprevisibilidade é fruto muitas vezes de um dinamismo ditado
pelo ritmo das inovações tecnológicas. Sendo o espaço escolar parte de uma sociedade
tecnológica, não há por que mantê-lo em padrões e métodos ainda direcionados a antigos
modelos de sociedade e trabalho.
Como forma de organizar as questões desenvolvidas em nossa pesquisa, algumas
respostas e recomendações que consideramos possíveis de serem adotadas com a intenção
de ampliar as possibilidades de sucesso sobre projetos de inclusão digital do professor,
passaremos a destacá-las separadamente.
154
5.1 - Quais foram os objetivos traçados pela SEEDUC-RJ ao desenhar o projeto de
entrega de laptops aos professores de sua rede?
A apresentação dos dados no capítulo 3 desta pesquisa foi iniciada com um breve
panorama das escolas e professores da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro. Através
da análise de diversos documentos, tomamos ciência, por exemplo, de que o Estado
apresenta taxa de aprovação inferior à média da região sudeste, e por consequência, taxas
maiores de reprovação e evasão. Esses e outros importantes índices levaram os
organizadores do documento norteador de discussões para a construção de um Plano
Estadual de Educação (SEEDUC-RJ, 2007) a enumerar uma série de objetivos e metas a
serem atingidos. Dentre esses objetivos, destacamos a promoção da qualificação e
valorização dos professores, através da implantação de políticas de formação continuada de
modo a poderem recorrer a essa formação sempre que necessitarem, especialmente através
de tecnologias da comunicação.
O projeto Conexão Professor, implementado a partir do primeiro bimestre de 2008,
encontra-se então alinhado com tais objetivos. Fazendo parte de um projeto maior
denominado de “Educação para a Sociedade do Conhecimento”, além de entregar em
regime de comodato mais de trinta mil laptops aos professores da rede estadual de ensino
do Rio de Janeiro, objetivava também qualificá-los para o uso dessa tecnologia.
Segundo Evaldo Bittencourt (2008), Superintendente de Planejamento da Secretaria
de Educação, devemos destacar a derrubada do medo das novas tecnologias e o seu
consequente uso rotineiro, gerando uma confiança e posterior uso em sala de aula como os
principais objetivos traçados pela equipe que o elaborou. Já na resolução publicada no
Diário Oficial (RIO DE JANEIRO, 2008), que traça as diretrizes do projeto, encontramos
outras indicações: os computadores foram entregues aos professores da rede para que
fossem utilizados em suas atividades de ensino e pesquisa, porém deveriam os professores
“se comprometer a introduzir e intensificar a uso do computador em sala de aula e em
laboratórios de informática educativa, como instrumentos de melhoria e de seus cursos e da
formação de seus alunos” (ibid., p.16). Os professores que receberam o laptop assinaram o
155
“Termo de recebimento, guarda e responsabilidade”78
, onde declararam conhecer esse
comprometimento. Porém, pelo menos no grupo de docentes que participaram de nossa
pesquisa, poucos concordaram integralmente com tal determinação (7,4%).
5. 2 - Qual o caminho percorrido pelo projeto, quanto à origem dos recursos e debates
realizados?
Após a elaboração do projeto Conexão Professor, a SEEDUC-RJ ainda sob o
comando do ex-secretário de Educação do Rio de Janeiro, Nelson Maculan, abriu em 26 de
novembro de 2007 um processo para a compra dos laptops. Houve um pregão que contou
inicialmente com oito empresas inscritas. Três delas foram desabilitadas por não estarem de
acordo com as regras da licitação, e, das cinco que sobraram, apenas três deram apenas um
lance na disputa. A empresa ganhadora foi a Investiplan, e as outras duas empresas
perdedoras se associaram posteriormente a ela. O órgão responsável pelo pregão eletrônico,
o Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (Proderj), até então era comandado
por Tereza Porto, que pouco tempo depois passa a substituir Maculam. De acordo com
reportagens publicadas à época, a exoneração de Maculam teria sido uma tentativa do
Governo em agradar ao PMDB, e em especial ao deputado Jorge Picciani, que se
comprometeria a apoiar a candidatura do seu secretário de turismo Eduardo Paes ao cargo
de Prefeito do Rio de Janeiro nas eleições municipais de 2008.
O programa teve um custo aproximado de setenta milhões de reais ao adquirir as
máquinas (e seus acessórios) por um valor acima do praticado no mercado no mesmo
período: R$ 2.241,49 cada. Esses valores levaram o sindicato dos professores e alguns
deputados a levantarem uma série de suspeitas sobre um superfaturamento, e a cobrarem
maior transparência das contas apresentadas. No período, o sindicato resolve conclamar sua
diretoria e filiados a não aceitarem a máquina como forma de protesto pela falta de
valorização do profissional da Educação. Com relação à origem dos recursos, de acordo
78
Ver Anexo I, Documento 2.
156
com o deputado Bittencourt (2008-A), o dinheiro seria proveniente do Fundo Estadual de
Combate à Pobreza, o que se tornou motivo de ainda mais protestos e debates tanto na
ALERJ quanto nas assembleias do Sindicato.
A entrega das máquinas aos professores da rede teve início em fevereiro de 2008 na
comunidade da Mangueira, em clima de comício, com a participação de representantes do
Governo Federal, deputados estaduais e outras autoridades.
5.3 - Quais as habilidades e competências necessárias ao professor para que inclua
novas tecnologias em sua prática pedagógica?
Em nossa pesquisa verificamos que as habilidades e competências mais desejáveis
para que o docente inclua novas tecnologias em sua prática são:
a) utilizar o computador e a internet como ferramenta auxiliar de ensino;
b) buscar o aperfeiçoamento constante no uso das novas tecnologias;
c) saber utilizar estratégias que envolvam computador e internet que possibilitem a
construção de conhecimentos;
d) compreender as possibilidades de uso pedagógico das novas tecnologias;
e) atuar como mediador entre os conhecimentos proporcionados pela internet e o seu aluno;
f) acompanhar o desenvolvimento de novos softwares pedagógicos em sua área .
Nossa análise indica que tais afirmativas acabam se complementando na prática do
professor, ou seja, para que uma ocorra, quase obrigatoriamente uma outra também deve
ocorrer. É o caso, por exemplo, de que, para se utilizar adequadamente o computador e a
internet como ferramenta auxiliar de aprendizagem, devemos buscar compreender as
possibilidades de uso pedagógico destas ferramentas (itens a e d).
Ao realizarmos as entrevistas, verificamos que as mesmas habilidades relacionadas
às características como boa vontade, destemor e esperança seriam também aliadas para que
o trabalho realizado com as novas ferramentas tivesse êxito. A qualidade da perseverança,
aprender com os próprios erros e conservar-se firme no desejo de mudanças, também foi
157
seguidamente citada nas entrevistas. A opção de incluir novas tecnologias em sua prática
está relacionada ao fato de que trabalhar num campo de grandes novidades gera uma maior
imprevisibilidade sobre como se desenvolverá o trabalho docente dentro e fora de sala de
aula. É necessário um tempo de maturação para que as mudanças sejam encaradas de forma
rotineira.
Estamos diante de docentes que, em grande parte, tiveram sua formação apoiada em
tecnologias do tipo mimeógrafo e máquina de escrever. Para esse profissional, um laptop
poderá representar uma máquina ainda envolta em muito mistério e da qual ainda guarda
receios. A grande maioria dos consultados indicaram que atualmente não existe uma
necessidade de o docente dominar uma determinada linguagem de construção de softwares.
Estão sendo lançados softwares de ambiente cada vez mais amigável e fácil, bastando, é
claro, uma certa disposição para a pesquisa e a implementação dos resultados desta
pesquisa em sua prática.
Mas também estivemos com profissionais que ainda não desenvolveram algumas
habilidades relacionadas ao uso de novas tecnologias simplesmente pelo fato de não terem
tempo. Como solicitar ao professor envolvido em uma grande carga horária de aulas, que se
desloca muitas vezes para várias escolas diferentes, que dedique suas horas de folga para
desenvolver novas formas de atuar em sala de aula? Por isso, ouvimos tantas queixas
relacionadas aos baixos salários, ao número de alunos em sala, e algumas vezes, à falta de
infraestrutura. Reconhecemos que são pontos cruciais para que o desempenho do docente
seja afetado pelo sentimento de insatisfação com seu trabalho e ao mesmo tempo
desestimulado para efetuar mudanças.
158
5.4 - Que apoio está sendo oferecido pela SEEDUC-RJ aos seus professores para que
estes possam incluir essa nova tecnologia em seu trabalho?
Como comentamos em unidades anteriores, ao mesmo tempo em que o professor
deveria se comprometer a introduzir e intensificar o uso do computador na sua prática
pedagógica, a SEEDUC-RJ assumia o compromisso de entregar a máquina em regime de
comodato e oferecer programas de capacitação para o uso de softwares básicos. Nas
primeiras semanas de implementação do projeto, foi criado o serviço “tira dúvidas” pelo
telefone, voltado principalmente para informações de como o professor deveria proceder
caso necessitasse de assistência técnica.
Algumas informações referentes à utilização do laptop foram disponibilizadas
através de um CD-Rom entregue junto com a máquina, sob o argumento dado pela
Secretária de Educação de que “o professor não tem tempo para o treinamento” (PORTO,
2008-B) e que preferiu dar a ele flexibilidade de horário para estudar, afinal “ele tem várias
horas de aula por dia e ainda prepara suas aulas”.
Alguns meses depois, a Coordenação de Tecnologia Educacional iniciou o
oferecimento de alguns cursos presenciais e à distância para a utilização de editores de
texto, trabalhos com planilhas, e Mídias na Educação, entre outros. Em nossa pesquisa
verificamos que, dentre o grupo consultado, a grande maioria desconhece tais cursos,
destacando a pouca divulgação como causa de sua não participação. Como recomendação
para mudança dessa situação, um bom número de docentes sugeriu a necessidade de
elaboração de cursos contínuos de capacitação em suas áreas específicas de atuação, e uma
divulgação mais direcionada e eficiente. Como nos falou um dos professores entrevistados:
Eu queria que você (...) levasse isso para o pessoal que está
implementando esse projeto pra que haja essa demonstração. Isso é
importante. Encontros de aulas mesmo. Eles mesmos vão passar pra nós
como utilizar o computador no computador (...). (Prof. 6).
Encontramos também um número alarmante de professores que indicaram não
utilizarem o CD-Rom enviado junto ao laptop, talvez pelo fato de ele apresentar tópicos
muito básicos, e alguns responderam desconhecer totalmente esse acessório.
159
No final de 2008, foi criado o portal “Conexão Professor”, que apresenta
reportagens sobre iniciativas de alguns professores da rede para a utilização de novas
tecnologias dentro e fora da sala de aula, além de espaço para debates e outros tópicos
ligados de alguma forma à Educação. Por fim, não encontramos nenhuma informação com
relação ao apoio oferecido para o uso do computador propriamente dito em sala de aula, de
forma que a prática pedagógica do professor, com a ajuda de novas tecnologias, possa
apresentar significativas mudanças.
5.5 - Que modificações ocorreram na prática pedagógica docente a partir desse
projeto?
Verificamos que os profissionais consultados que passaram a utilizar o computador
e a internet em sua prática pedagógica com certa regularidade, indicaram principalmente o
fato de sentirem necessidade de estudar cada vez mais as possibilidades oferecidas pelas
ferramentas adotadas, quer sejam recursos de um programa como o Power Point ou a de um
programa que facilite a criação de jogos educacionais; quer sejam as muitas possibilidades
de uso de um quadro digital interativo ou as infinitas possibilidades relacionadas à imensa
quantidade de informação disponibilizada no ciberespaço. Qualquer que seja a ferramenta
escolhida será exigida certa dose de dedicação e estudo para que seja melhor utilizada em
seu trabalho. Essa é a forma utilizada pelos profissionais que declararam sentirem-se à
vontade com tais recursos: tornaram-se pesquisadores das novas tecnologias e das possíveis
maneiras de integrá-las à sua prática pedagógica. Não falamos aqui necessariamente de
uma pesquisa acadêmica, ou uma pesquisa de cunho científico, mas sim de uma pesquisa
que se apresente como parte do próprio trabalho do professor. Como nos ensina Freire
(1996), referindo-se às características essenciais do bom professor: “pesquiso para conhecer
o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade” (p.29).
Outra significativa mudança é o novo olhar sobre o seu trabalho, a percepção de que
o uso de novas tecnologias pode facilitar, de modo que o processo de ensino aprendizagem
160
passe a ter um caráter mais colaborativo, onde podem ser criadas redes de conhecimento.
Nesse caso o professor passa a assumir papéis diferentes do que está acostumado até então.
De detentor e transmissor do conhecimento, passa a ser agente mediador entre o aluno e as
possibilidades de construção de conhecimento, uma ponte que pode unir os dois.
Verificamos que o recebimento de uma máquina dotada de bons recursos
tecnológicos e acesso à internet pode de fato auxiliar o docente a investigar algumas novas
possibilidades de comunicação e por consequencia, promover a gradual derrubada do medo
relacionado ao uso destas novas tecnologias, principalmente fora da sala de aula. Afinal,
quando temos 100% dos docentes indicando que já utilizam o ciberespaço para realizar
pesquisas e 92,6% que utilizam rotineiramente o sistema de envio e recebimento de e-
mails, podemos supor que estamos diante de um grupo de profissionais que, por diversos
caminhos, está se inserindo em um novo mundo tecnológico.
Infelizmente, a utilização no ambiente escolar dessas novas tecnologias ainda faz-se
muito tímida. Pouco utilizado em sala de aula, em geral o será para apresentação de slides
preparados em programas do tipo Power Point e exibição de filmes e documentários, como
forma de substituir outras tecnologias com a mesma função, tais como o antigo
videocassete e o retroprojetor. Essas observações nos levam a concluir que, pelo menos por
enquanto, e dentro desse nosso espaço amostral, não houve significativas modificações na
prática pedagógica desses docentes a ponto de terem integrado as TIC, e especificamente o
laptop recebido mediante o projeto Conexão Professor, como parte de um projeto político
pedagógico, para que pudessem ser utilizadas como potencializadoras na construção do
conhecimento, “e não como instrumento ou ferramenta de uma velha Educação travestida
de roupagem nova” (LUCENA, 2003, p. 247).
Porém, não podemos negar que encontramos profissionais dispostos a implementar
mudanças, e que muitas vezes se questionam até quando sustentarão o modelo educacional
de transmissão de conhecimentos considerado por Silva (2003, p.13) como obsoleto,
principalmente com o advento da cibercultura. Como exemplo desta disposição podemos
destacar as seguintes falas obtidas em nossas entrevistas:
Olha, eu fiquei encantada, porque a Educação há muito tempo já exigia
uma mudança, porque não dá mais para sustentar esse sistema antigo e tal,
os alunos querem outras coisas, eles já estão engajados nessa tecnologia,
161
então trazer uma tecnologia para a sala de aula era tudo que a Educação
precisava. (Prof. 6).
A gente não pode deixar de lado essa evolução tecnológica e achar que
isso não vai entrar na sala de aula, isso tem que entrar, a gente tem que
participar dessa evolução, os nossos alunos vêm isso todo dia e não é
motivo pra que isso não vá parar dentro da sala de aula, na verdade eu
faço votos de que cada vez mais os professores utilizem essas ferramentas
e trabalhem cada vez mais com a informática dentro da sala de aula
porque ela tem infinitas possibilidades, (...). (Prof. Rodrigo).
Mas, quase todos se ressentem da falta de caminhos para implementar modificações
em sua prática. Quando buscam aprender a utilizar os recursos das novas tecnologias
muitas vezes o fazem com o apoio de colegas de profissão, como ouvimos no seguinte
relato:
(...) o pouco que eu sei na verdade aprendi com os amigos professores
daqui me ensinaram a baixar alguns programas... Foram os amigos que
me ajudaram. Mas não recebi não, nenhuma forma de preparo. (Prof. 13).
Este e outros relatos obtidos, nos remetem novamente à defesa da importância de
implementação de políticas públicas que possibilitem subsídios ao docente a fim de lhe
proporcionar acesso ao domínio técnico, pedagógico e crítico das novas ferramentas, em
especial às relacionadas ao uso do computador e da internet. Acreditamos que mudanças
significativas no trabalho pedagógico do professor poderão ocorrer a partir desta
capacitação, e que as propagadas qualidades necessárias ao seu trabalho, tais como domínio
do conteúdo, reflexão sobre a sua prática, reconhecimento de sua infalibilidade e respeito
aos saberes dos educando (FREIRE, 1996), serão cada vez mais solicitadas a partir do
momento em que o professor passar a “lançar mão do que há de oportuno em cibercultura a
fim de favorecer o salto de qualidade necessário em Educação” (SILVA, 2003, p.13). Ao
depararmos com 77,8% dos professores concordando sem ressalvas com a afirmativa de
que o computador pode ampliar as possibilidades do seu trabalho, entendemos que muitas
mudanças que estão por vir serão bem vindas.
Diante dos dados coletados e analisados percebemos que nossas escolas estão em
tempos de mesclar a utilização de recursos tecnológicos que podem ser integrados à prática
pedagógica; por isso encontramos atuando em conjunto no processo ensino-aprendizagem
tanto o giz quanto o laptop, intercalando e algumas vezes integrando o tradicional e o novo.
162
Esperamos que esta realidade signifique uma fase de transição rumo a um futuro onde os
medos e as inquietações de nossos dias tenham definitivamente cedido espaço à uma escola
competente no que diz respeito à utilização da tecnologia, integrada à sociedade
contemporânea e às novas possibilidades comunicacionais que produz, ou seja, uma escola
em que caiba o mundo.
5.6 - Considerações finais
Cada tópico desta pesquisa foi elaborado de modo que nossas análises não soassem
como uma apologia ao uso das novas tecnologias desprovida de necessárias críticas,
ressaltando que não devemos encarar estas novas ferramentas como uma panaceia para a
Educação. Defendemos que, enquanto educadores, não podemos cerrar os olhos para a
percepção do quão difícil é a implementação de mudanças, por mais necessárias que sejam,
no ambiente escolar. E principalmente, defendemos que uma das características mais
genuínas das novas tecnologias é a versatilidade para o seu uso, e sendo assim, por que não
torná-las aliadas ao trabalho pedagógico do professor? Por que não tentar utilizá-las em
mudanças que ajudem a ampliar o acesso ao processo de construção do conhecimento?
Através de nossa pesquisa, verificamos que não é o simples fato de entregar uma
máquina de grandes recursos ao docente que o fará, de um momento para outro, sentir-se
seguro para sua utilização. Muitas vezes o medo do novo pode se apresentar em proporções
maiores que a sua vontade de ser um profissional melhor. Afinal, estamos falando de algo a
que seus alunos podem já estar acostumados, pois nasceram em um tempo em que a
facilidade de acesso a uma série de novas tecnologias não os permitirá nem mesmo
imaginar as dificuldades que outras gerações podem ter passado antes que tais recursos
existissem. Dificuldade de comunicação? Dificuldade em ter acesso às últimas notícias do
mundo? Dificuldade em trabalhar com texto, fotos ou vídeos? Muitos das novas gerações
não conhecem tais dificuldades.
Mas, e a geração do mimeógrafo e da máquina de escrever? Passar a utilizar novas
ferramentas, para alguns docentes dessa geração, significa um grande desapego ao que já
163
dominam e ao que lhes traz segurança. E o novo muitas vezes gera o medo. É preciso muita
disposição e a percepção de que educar para a nova sociedade significa cada vez mais fazer
acontecer nos espaços pedagógicos a aprendizagem baseada na troca e na cooperação, no
enfrentamento dos riscos, na aceitação do argumento do outro, na aceitação da diversidade,
na elaboração de hipóteses e no reconhecimento de sua própria falibilidade. Quem enxerga
Educação com esses olhos pode perceber que as novas tecnologias podem propiciar a
ampliação da comunicação para além dos limites do ambiente escolar, um navegar por
diferentes mares, um mar de informações que com a devida análise crítica podem, e
acreditamos nisso, auxiliar o processo de construção de conhecimento.
Para que não ficássemos apenas no campo teórico de discursos que poderiam ser
classificados como utópicos, optamos por efetuar um estudo sobre um projeto de inclusão
tecnológica do professor da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro que, parece-nos, que
está sendo copiado, com algumas poucas modificações, por outras secretarias de Educação.
Buscamos entendê-lo tentando desatar alguns nós, olhando pelas frestas e escutando vozes
que apresentam diversas versões de uma mesma história.
Concluímos que qualquer que seja o projeto que vise promover a inclusão
pedagógica do professor, que se apresente desprovido de um estudo prévio e de um
embasamento teórico-pedagógico que o sustente, encontrará grandes dificuldades para ser
posto plenamente em prática. Seu sucesso passa a depender quase que exclusivamente da
boa vontade e disposição daqueles a quem muitas vezes já são exigidas altas cargas horárias
de trabalho dentro e fora de sala de aula. Esse, por sinal, um dos motivos de termos ouvido
repetidas vezes, em nossas entrevistas e também nas democráticas tribunas virtuais,
reclamações direcionadas ao sentir-se esquecido pelos seus representantes, e sentirem-se
ludibriados com um presente (o laptop) que na realidade é um empréstimo.
A valorização da categoria passa obrigatoriamente por salários que possibilitem que
o próprio docente tenha condições de adquirir o laptop com o fruto de seu trabalho.
Ouvimos muito, em nossa pesquisa, vozes clamando pela restituição dessa dignidade aos
professores da rede estadual. E pela demasiada quantidade de vozes repetindo as mesmas
palavras, como se fosse um mantra, não poderíamos nos furtar a incluí-las também aqui
neste momento de conclusão.
164
Mas, não ficamos apenas no lamento. Tivemos contato com vozes que
ultrapassaram diversas barreiras e conseguiram inovar em atitudes e desenvolveram formas
de começar desde agora a reinventar-se como profissional. Por isso, fizemos questão de
incluir casos de professores inovadores e questionadores de convicções pedagógicas presas
a uma escola desprendida da modernidade tecnológica.
Temos a ciência de que apresentamos apenas partes de múltiplas formas possíveis
de investigação de um cenário rico em possibilidades, e ao mesmo tempo de uma história
tão recente que ainda não houve tempo de ser contada em vasta bibliografia. Por fim,
fazemos votos de que essas tantas possibilidades sejam investigadas em outros estudos, que
a pesquisa realizada possa contribuir como ponto de partida para outros pesquisadores e
que ela lhes permita a continuidade da busca e contribuição significativa para futuras
reflexões.
Como sugestão de temas para futuros estudos complementares à nossa pesquisa,
indicamos a sua aplicação em outras unidades escolares pertencentes à rede estadual de
ensino que apresentem características diferenciadas da que selecionamos. Acreditamos ser
possível desta forma efetuar comparações que possam facilitar um entendimento sobre o
impacto que as novas tecnologias podem exercer sobre diferentes realidades educacionais.
Indicamos também que outros estudos verifiquem a ocorrência da continuidade das
políticas públicas que implementaram o Conexão Professor, destacando quais pontos foram
concretizados e se a troca de futuros governadores e secretários de Educação significarão
modificações, ou mesmo a descontinuidade do referido Projeto.
165
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173
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO
Professor(a), o presente questionário é parte integrante de pesquisa
realizada no Mestrado em Educação da Universidade Católica de Petrópolis sobre
as “possíveis mudanças nas práticas pedagógicas dos docentes da rede estadual
de ensino que receberam o laptop”. Esta pesquisa faz parte das atividades do
grupo de estudos “Construção de conhecimento na prática educativa: tecnologia e
educação à distância”.
As respostas obtidas servirão de fonte para a construção de trabalho
acadêmico, e os autores se comprometem a não citar nomes, utilizando-se,
quando necessário, de identificações impessoais, tais como: professor A,
professor B, etc.
As questões foram elaboradas de modo a possibilitar a elaboração de
análises e recomendações para que políticas públicas propiciem condições de
melhoria no trabalho docente, e por isso, desde já, agradecemos a sua
colaboração.
Declaração
Declaro estar de acordo com a minha participação nesta pesquisa. Petrópolis, _______ de maio de 2009 Nome: ___________________________________________________ Assinatura: _______________________________________________
174
1. Qual (quais) disciplinas ministra?_________________________________________
2. Idade: ( ) menos de 25 anos ( ) de 25 a 30 anos ( ) de 31 a 35 anos
( ) de 36 a 40 anos ( ) de 41 a 45 anos ( ) de 46 a 50 anos ( ) mais de 50 anos
3. Há quantos anos trabalha na rede estadual de ensino? ________
4. Qual a sua carga horária docente semanal (incluir particular, municipal, etc.)? _________
5. Indique sua formação: ( ) graduação completa ( ) especialização
( ) mestrado ( ) doutorado
6. O(A) sr.(a) já possuía computador antes de receber o laptop? ( ) Sim ( ) não
7. Já frequentou algum curso relacionado ao uso geral do computador? ( ) Sim ( ) não
8. Já frequentou algum curso relacionado ao uso pedagógico do computador? ( ) Sim ( ) não
9. Na sua opinião, os cursos de capacitação oferecidos pela Secretaria de Educação Estadual são
suficientes para a capacitação do professor para o uso do computador?
( ) Sim.
Por quê? ______________________________________________________
( ) Não.
Por quê? ______________________________________________________
( ) desconheço estes cursos.
10. Você conhece/utilizou o CD-rom enviado junto ao laptop? ( ) Sim. ( ) Não.
( ) Desconheço este CD-rom.
11. Na sua opinião, em que medida o recebimento do laptop contribuiu para a inclusão digital do
professor:
( ) Muito.
Por quê? __________________________________________________________
( ) Contribuiu em parte.
Por quê? _______________________________________________
( ) Não contribuiu.
Por quê? ___________________________________________________
175
12. O que é necessário ao professor para que este inclua novas tecnologias em sua prática
pedagógica (dentro e fora de sala de aula)? (pode assinalar quantos itens desejar):
( ) Compreender as possibilidades de uso pedagógico das novas tecnologias.
( ) Buscar o aperfeiçoamento constante no uso das novas tecnologias.
( ) Acompanhar o desenvolvimento de novos softwares pedagógicos em sua área.
( ) Desenvolver os próprios softwares para uso pedagógico.
( ) Buscar a interatividade constante com os alunos através de recursos disponíveis
na internet.
( ) Saber utilizar estratégias que envolvam computador e internet que possibilitem
a transmissão de conhecimentos.
( ) Atuar como mediador entre os conhecimentos proporcionados pela internet
e o seu aluno.
( ) Utilizar o computador e a internet como ferramenta auxiliar de ensino.
( ) Outras. Quais?_______________________________________________________
13. Você costuma utilizar o laptop em suas tarefas docentes em sala de aula?
( ) sempre ( ) periodicamente ( ) nunca
14. Se no item anterior, o(a) sr.(a) assinalou nunca, indique o por quê:
(assinale quantos itens desejar):
( ) por medo de assalto.
( ) por não me sentir preparado para o uso em sala de aula.
( ) por não achar necessário o uso em sala de aula.
( ) outro(s) motivo(s). Quais? ________________________________________________
15. Se o(a) sr.(a) indicou que usa sempre ou periodicamente, indique as principais atividades em
sala de aula em que utiliza o laptop: (assinale quantos itens desejar)
( ) Para exibição de filmes e documentários.
( ) Para apresentação de slides preparados em programas do tipo power point.
( ) Para utilização de programas que facilitam a aprendizagem por parte dos alunos.
( ) Para pesquisa na internet.
( ) Outros. Quais? _____________________________________________________
16. Se o(A) sr.(a) utiliza o laptop no seu trabalho pedagógico, indique algumas vantagens que tem
verificado: (assinale quantos itens desejar)
( ) Ele agiliza os métodos tradicionais de ensino.
( ) Ele expande as possibilidades de ensino.
( ) Ele estimula a aprendizagem.
( ) Outros. Quais. ______________________________________________________
17. Com relação as atividades indicadas no item anterior , indique o grau de importância do uso do
laptop:
( ) É fundamental. Sem ele as atividades pedagógicas não poderiam ser realizadas.
( ) É importante, mas algumas atividades poderiam ser desenvolvidas sem o uso do laptop.
( ) Pouco importante.
176
18. Você costuma utilizar o laptop em suas tarefas docentes fora de sala de aula?
( ) sempre ( ) periodicamente ( ) nunca
19. Indique as principais atividades docentes fora de sala de aula em que utiliza o laptop:
(assinale quantos itens desejar)
( ) Preparar provas e testes.
( ) Preparar aulas.
( ) Lançar notas.
( ) Pesquisas na internet.
( ) Outros. Quais? __________________________________________________
20. Indique as principais atividades não docentes em que utiliza o laptop:
(assinale quantos itens desejar)
( ) Lê revistas e/ou jornais on-line.
( ) Envia e recebe e-mails.
( ) Envia e recebe mensagens em programas do tipo MSN.
( ) Participa de listas de discussão.
( ) Pesquisa na internet.
( ) Utiliza para lazer (jogos, filmes, música, etc.)
( ) Outros. Quais? ____________________________________________________
21. Com relação às afirmativas apresentadas a seguir, indique sua concordância: Afirmativas concordo Concordo
em parte
discordo
O recebimento do laptop proporcionou a diminuição de receios relacionados ao uso de
novas tecnologias por parte do professor.
A internet proporciona diferentes formas de uso pedagógico.
Os atuais currículos escolares precisam ser atualizados para que os professores
possam incluir o uso das novas tecnologias em sua prática.
A escola é um importante local para a inclusão digital do aluno das classes menos
favorecidas.
As políticas públicas devem visar à inclusão digital do professor.
As políticas públicas devem visar à inclusão digital do estudante.
As políticas públicas devem visar à capacitação do professor para o uso de novas
tecnologias.
Cabe ao próprio professor se preocupar com a sua capacitação profissional para o uso
das novas tecnologias.
O papel do professor continuará a ser essencial na evolução da sociedade tecnológica.
Ao receber o laptop, o professor se comprometeu a introduzir e intensificar o uso do
computador em sala de aula.
O computador deve ser usado em sala de aula somente para agilizar as formas
rotineiras de trabalho do professor.
O computador deve ser usado em sala de aula para ampliar as possibilidades de
trabalho do professor.
Os cursos de licenciatura não estão preparando os professores para a utilização das
novas tecnologias em sala de aula.
Análise sobre a utilização da internet e outros meios de comunicação são temas que
devem ser tratados em sala de aula.
177
A utilização das novas tecnologias vão promover a desumanização do ensino e das
instituições pedagógicas
A utilização das novas tecnologias vão ampliar as oportunidades de acesso ao
conhecimento por parte dos alunos
22. Se desejar, utilize o espaço abaixo para fazer comentários sobre o projeto em análise: a entrega
do laptop ao professor da rede Estadual de Ensino.
178
APÊNDICE B - ROTEIRO BASE DA ENTREVISTA
1. Quais são as suas impressões sobre o projeto da Secretaria Estadual de Educação de
entrega de um laptop ao professor de sua rede?
2. Na sua opinião, em que medida o recebimento do laptop contribuiu para a inclusão
digital do professor?
3. Na sua opinião, o que é necessário para que este professor utilize novas tecnologias
como o computador, ou a internet em sua prática pedagógica?
4. O sr.(a) percebe alguma mudança em sua prática pedagógica a partir da implantação do
projeto?
Se sim, quais mudanças? Como aconteceram as mudanças?
Recebeu alguma preparação por parte da SEE?
Se não, por quê? O que falta para que mudanças aconteçam?
5. Gostaria de fazer mais algum comentário sobre o projeto em análise: a entrega do laptop
ao professor da rede Estadual de Ensino que não tenha sido abordado nesta entrevista?
179
ANEXO I - DOCUMENTOS
Documento 1 Diário Oficial: Projeto Conexão Professor
Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro
Ano XXXIV - N0 022 - Parte I
Rio de Janeiro, quinta-feira - 31 de janeiro de 2008
_______________________________________________________________
Secretaria de Estado de Educação
_______________________________________________________________
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO
ATOS DO SECRETÁRIO
RESOLUÇÃO SEEDUC N
0 3824 DE 17 DE JANEIRO DE 2008
DISPONIBILIZA COMPUTADORES PARA USO DOS PROFESSORES
DOCENTES I DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE ENSINO E DÁ OUTRAS
PROVIDÊNCIAS
O SECRETÁRIO DE ESTADO DE EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições, tendo em vista o que consta
no processo n0 E-03/300.009/2008, e
CONSIDERANDO a necessidade premente de dar subsídios e equipamentos de trabalho ao corpo Docente
do Ensino Médio e do Segundo Segmento do Ensino Fundamental, visando ao aprimoramento do exercício de
suas funções;
CONSIDERANDO a necessidade de desenvolver nos Professores da Rede Estadual de Ensino a prática para
aperfeiçoamento de suas aulas; e
CONSIDERANDO a necessidade do domínio do uso das tecnologias da informação e da comunicação, que
muito irão contribuir para o aprimoramento do uso de computadores e de sua aplicabilidade em sala de aula,
RESOLVE:
Art. 10 - Disponibilizar computadores para uso pessoal dos Professores Docentes I da Rede Pública estadual
em suas atividades de ensino e pesquisa.
Art. 20 - Serão contemplados com a cessão de um equipamento do tipo notebook os Professores Docentes I da
Secretaria de Estado de Educação que tenham sido regentes de turma no ano de 2007 e que permaneçam no
exercício dessas funções no corrente ano letivo.
Parágrafo Único - Cada Professor será beneficiado pela cessão de um único computador, mesmo que possua
mais de uma matrícula.
180
Art. 30 - Os Professores beneficiados deverão se comprometer a introduzir e intensificar o uso do computador
em sala de aula e em laboratórios de informática educativa, como instrumento de melhoria de seus cursos e da
formação de seus alunos.
Art. 40 - Os computadores a que se refere a presente Resolução serão obrigatoriamente inventariados pelo
Agente Responsável pela guarda, conservação e controle dos bens imóveis no Inventário de Bens
Patrimoniais da Unidade escolar na qual cada Professor beneficiário estiver lotado, conforme as normas e
padrões estabelecidos na legislação pertinente.
Art. 50 - Cada Professor beneficiado com o computador, por sua vez, assinará um termo de Responsabilidade
no ato de recebimento do computador, no qual se comprometerá a manter o equipamento em boas condições e
a devolvê-lo à Unidade Escolar nos casos de remoção, remanejamento ou desvinculação da Unidade Escolar
em que estiver lotado, ou de cessação de suas atividades de regência de turma, de afastamentos, exoneração
ou aposentadoria, conforme o modelo constante no Anexo desta Resolução.
Art. 60 - Deverá ser instaurada Sindicância, nos termos do Decreto n
0 7526, de 06 de setembro de 1984, que
aprovou o Manual do Sindicante, em todos os casos em que ocorrer furto, roubo, destruição ou outra qualquer
circunstância que acarrete perda ou extravio do equipamento objeto desta Resolução, devendo dela constar o
devido registro de ocorrência.
Art. 70 - A Secretaria de Estado de Educação oferecerá um programa de treinamento visando ao
aperfeiçoamento de seus Professores no uso de software básico, dos recursos da internet e das tecnologias da
informação e da comunicação.
Art. 80 - Os equipamentos destinados a Professores que não necessitarem de seu uso, ou que não se
comprometeram através do termo de Responsabilidade, ficarão à disposição da Unidade Escolar onde estiver
lotado o Docente contemplado, para uso por outros Docentes, pela equipe de apoio pedagógico da Unidade
Escolar ou pelos laboratórios de informática educativa, a critério e sob a responsabilidade da Direção.
Art. 90 - os casos omissos serão resolvidos pela Secretaria de estado de Educação, ouvidos seus órgãos de
competências específicas.
Art. 100 - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação revogadas as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 2008
NELSON MACULAN
Secretário de Estado de Educação
181
Documento 2 Termo de recebimento, guarda e responsabilidade do laptop
182
Documento 3 Carta do Governador aos Professores
183
Documento 4 Carta do SEPE-RJ
184
185
Documento 5 Circular SEEDUC-RJ
Reprodução do documento publicado no Boletim do SEPE - Rede Estadual - julho de
2008 - 4 (Edição de 29 de julho de 2008, p. 4).
186
Documento 6 Panfleto distribuído à população fluminense pelo SEPE-RJ (abril de 2009) - Frente
187
Panfleto distribuído à população fluminense pelo SEPE (abril de 2009) - Verso
188
Documento 7 Nota Fiscal de compra do laptop e seus acessórios enviada à unidade escolar.
189
Documento 8 Resolução SEEDUC dispondo sobre a inclusão de professores docentes II, diretores e
coordenadores regionais no projeto Conexão Professor
190
191
192
193
ANEXO II - Telas de Apresentação
TELA 1
Tela de Apresentação - Imagem inicial do curso oferecido através do CR-Rom.
Esta tela refere-se ao 20 Módulo do curso oferecido pela SEEDUC-RJ através de
um CD-Rom entregue aos professores junto ao laptop. O mesmo curso foi disponibilizado
na internet, página Rio Digital, mantida pela SEE-RJ.
Endereço: < http://www.riodigital.rj.gov.br/ocurso.htm> Acesso em: 14.03.2009.
194
TELA 2
Tela de Apresentação - Página da SEEC-RJ que apresenta o serviço “tira- dúvidas”
Página inicial do Portal da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro que
apresenta o serviço para tirar dúvidas dos professores que receberam o laptop.
Endereço: <http://www.educacao.rj.gov.br/index5.aspx?tipo=categ&idcategoria
=432&idItem=2586&idsecao=13> Acesso em: 14.03.2009.
195
TELA 3
Tela de Apresentação - Página no Portal da Coordenação de Tecnologia Educacional
Página no Portal da Coordenação de Tecnologia Educacional (CdTE), que funciona
vinculada à Superintendência Pedagógica (SUPED), órgão ligado à Subsecretaria de Gestão
da Rede de Ensino (SUGEM), da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. A
página em destaque apresenta a convocação dos professores da rede estadual de ensino para
a participação de novos cursos de capacitação ao uso das novas tecnologias.
Endereço: <http://www.cted.educacao.rj.gov.br/publico/midias/midias_2007.asp>
Acesso em: 14.03.2009.
196
TELA 4
Tela de Apresentação - Página principal do Portal Conexão Professor
Página inicial do Portal Conexão Professor, elaborado e mantido pela SEEC-RJ.
Endereço: <http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/index2.jsp> Acesso em: 14.03.2009.
197
TELA 5
Tela de Apresentação - Página principal da Fractais Multimídia
Página inicial da Fractais Multimídia que disponibiliza projetos desenvolvidos pelos
alunos de uma escola estadual do Rio de Janeiro sob a orientação do prof. Guilherme
hartung.
Endereço: <http://www.fractalmultimidia.blogspot.com/> Acesso em: 28.07.2009
198
TELA 6
Tela de Apresentação - Página principal do Portal Conexão Aluno
Página inicial do Portal Conexão Aluno, elaborado e mantido pela SEEC-RJ
Endereço: <http://www.conexaoaluno.rj.gov.br/> Acesso em: 28.07.2009