comentário crítico

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Modelo de Auto-Avaliação da Biblioteca Escolar Análise/Comentário Crítico Comparando o modelo de avaliação proposto pela Inspecção Geral de Educação (IGE) e o Modelo de Auto-Avaliação da Biblioteca Escolar (MAABE), encontramos uma base comum, já que qualquer uma das avaliações pressupõe uma recolha de evidências, podendo mesmo referir que ambos os modelos se organizam por domínios, sustentados em factores de análise de avaliação que contribuem para esses domínios ou campos a avaliar. A IGE apresenta como domínios: Resultados; Prestação do serviço educativo; Organização e gestão escolar; Liderança; e, Capacidade de auto-regulação e melhoria da Escola/Agrupamento. Estes são definidos por uma escala de níveis de desempenho a conseguir pela escola que vai de insuficiente a bom. O MAABE é constituído por: Apoio ao desenvolvimento curricular; Leitura e literacia; Projectos, parcerias e actividades livres e de abertura à comunidade; e, Gestão da biblioteca escolar. Aqui o modelo de avaliação também apresenta uma escala de níveis a atingir, mas em classificação numérica, isto é, de 1 a 4. Escolhi três escolas que se situam na área onde trabalho e resido, porque conhecia os espaços e tinha alguma curiosidade na sua avaliação. São todas elas pertencentes à Direcção Regional de Lisboa e Vale do Tejo. As avaliações foram todas do ano lectivo 2009/2010, por se encontrarem mais perto desta nova realidade das BE e MAABE, pensei eu. As escolas foram: Agrupamento de Escolas da Quinta do Conde, Sesimbra; Agrupamento de Escolas de Vale Milhaços, Seixal; Agrupamento de Escolas Nun’Álvares, Seixal. Após ter lido vários relatórios de escolas diferentes, e independentemente de ter feito a escolha pelas três acima mencionadas, ficou claro que em todos eles o papel da Biblioteca Escolar (BE) na Sílvia da Veiga Bastos

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Page 1: Comentário crítico

Modelo de Auto-Avaliação da Biblioteca Escolar

Análise/Comentário Crítico

Comparando o modelo de avaliação proposto pela Inspecção Geral de Educação (IGE) e

o Modelo de Auto-Avaliação da Biblioteca Escolar (MAABE), encontramos uma base comum, já

que qualquer uma das avaliações pressupõe uma recolha de evidências, podendo mesmo referir

que ambos os modelos se organizam por domínios, sustentados em factores de análise de

avaliação que contribuem para esses domínios ou campos a avaliar. A IGE apresenta como

domínios: Resultados; Prestação do serviço educativo; Organização e gestão escolar; Liderança;

e, Capacidade de auto-regulação e melhoria da Escola/Agrupamento. Estes são definidos por

uma escala de níveis de desempenho a conseguir pela escola que vai de insuficiente a bom. O

MAABE é constituído por: Apoio ao desenvolvimento curricular; Leitura e literacia; Projectos,

parcerias e actividades livres e de abertura à comunidade; e, Gestão da biblioteca escolar. Aqui

o modelo de avaliação também apresenta uma escala de níveis a atingir, mas em classificação

numérica, isto é, de 1 a 4.

Escolhi três escolas que se situam na área onde trabalho e resido, porque conhecia os

espaços e tinha alguma curiosidade na sua avaliação. São todas elas pertencentes à Direcção

Regional de Lisboa e Vale do Tejo. As avaliações foram todas do ano lectivo 2009/2010, por se

encontrarem mais perto desta nova realidade das BE e MAABE, pensei eu. As escolas foram:

Agrupamento de Escolas da Quinta do Conde, Sesimbra;

Agrupamento de Escolas de Vale Milhaços, Seixal;

Agrupamento de Escolas Nun’Álvares, Seixal.

Após ter lido vários relatórios de escolas diferentes, e independentemente de ter feito a

escolha pelas três acima mencionadas, ficou claro que em todos eles o papel da Biblioteca

Escolar (BE) na escola/agrupamento está integrado na avaliação da escola, mas de uma forma

muito minimizada, como podemos conferir no quadro seguinte:

Sílvia da Veiga Bastos

Page 2: Comentário crítico

Modelo de Auto-Avaliação da Biblioteca Escolar

Referência às Bibliotecas Escolares nos Relatórios de Avaliação Externa da IGE

EscolasAgrupamento de

Escolas Nun’ÁlvaresAgrupamento de Escolas de Vale

Milhaços

Agrupamento de Escolas da Quinta do

Conde1.Caracterização do Agrupamento

Sem referência Sem referência Sem referência

2. Prestação de serviço educativo

“As Bibliotecas Escolares/Centro de Recursos Educativos são pólos que dinamizam várias actividades, algumas no âmbito do Plano Nacional de Leitura”

“(…) as componentes activa, social e cultural, são tidas em conta com a realização de actividades em vários projectos e clubes …”

“… são desenvolvidas actividades educativas na Biblioteca,…”

3. Organização e gestão escolar

“A utilização da biblioteca (…) é rentabilizada”“As bibliotecas partilham os recursos entre si, de forma adequada”

“A escola-sede possui condições físicas adequadas à prática de acção educativa, tanto a nível das salas de aula, apetrechadas com equipamento informático, como os espaços específicos, nomeadamente laboratórios e Biblioteca Escolar/Centro de Recursos Educativos (…)”“A BE/CRE está bem equipada, possui uma docente bibliotecária a tempo inteiro e constitui um espaço educativo de excelência, onde se desenvolvem diversas actividades de natureza educativa/recreativa.”

“A escola-sede possui uma biblioteca integrada na Rede de Bibliotecas Escolares, sendo um espaço acolhedor e bem equipado que dinamiza um conjunto diversificado de actividades, quer de apoio ao processo de ensino e de aprendizagem quer às actividades de enriquecimento curricular e dos tempos livres dos alunos.”“A escola básica do 1º ciclo possui igualmente uma biblioteca, também integrada na Rede, mas que se encontra condicionada, tal como os outros espaços físicos, em resultado do efeito de uma intempérie.”

4. Liderança

“O Agrupamento está, ainda, envolvido em projectos nacionais e internacionais, tais como o Plano Nacional de Leitura, o Plano de Acção da Matemática II, Rede de Bibliotecas Escolares e Programa Comenius.”

Sem referência “O Agrupamento tendo em vista a formação integral dos alunos, está envolvido em projectos nacionais, como a , Rede de Bibliotecas Escolares, o Plano Nacional de Leitura…”

5. Capacidade de auto-regulação e melhoria do Agrupamento

Sem referência Sem referência Sem referência

Sílvia da Veiga Bastos

Page 3: Comentário crítico

Modelo de Auto-Avaliação da Biblioteca Escolar

Em síntese, após uma reflexão e análise dos relatórios da IGE, as referências às BE

ficam muito aquém do desejado. Em vários momentos de leitura depreendo, porque sei qual o

papel de uma BE, que existem muitas actividades que ocorrem por iniciativa ou colaboração da

BE, no entanto, isso não é claramente referido nos relatórios. É, também, de realçar a alusão,

em alguns relatórios, à articulação da BE com os currículos e com as aprendizagens resultantes

das vivências dos alunos, ao enriquecimento curricular e à formação integral que proporciona e

às actividades motivadoras que desenvolve.

Mas, os projectos, a actuação junto da comunidade educativa, a importância das acções

para o desenvolvimento das aprendizagens dos alunos, o papel e contribuição na promoção da

leitura e literacia e uma actuação proactiva e contaste no seio escolar, raramente ou nunca são

referenciados.

Na análise do relatório da avaliação externa do Agrupamento de Escolas Nun’Álvares, a

BE é referida poucas vezes e praticamente mencionada como um espaço, um recurso da escola.

Mais preocupante é o caso do Agrupamento de Escolas de Vale Milhaços, onde no

relatório se enumeram vários espaços existentes na escola, sendo a BE/CRE mais um. Refere

que a BE está equipada e tem uma professora bibliotecária a tempo inteiro, mas nem sequer faz

referência ao Plano Nacional de Leitura.

Em relação ao Agrupamento de Escolas da Quinta do Conde, a biblioteca aparece, mais

vezes citada do que nos relatórios dos agrupamentos anteriores. Aqui, o espaço em que a

biblioteca se insere surge como sendo acolhedor e bem equipado, referindo o relatório que

existe inclusivamente uma biblioteca numa escola de 1ºciclo. O Plano Nacional de Leitura

também é citado.

Ora, a BE, um espaço que é alvo de uma avaliação tão concisa como o MAABE, em que

são recolhidas tantas evidências e analisados tantos pontos, onde o papel da pessoa que a

coordena, o PB, deve ter um papel tão proactivo e tão abrangente, detentor de tanto

conhecimento do Agrupamento, é depois tido como apenas mais recurso físico da escola. Mas

uma BE é muito mais do que isso, é uma zona nuclear da escola, com uma missão e um

envolvimento global que não pode ficar ausente nem incipiente numa avaliação de um

Agrupamento. Penso que há muito para fazer e muito para mudar no que se refere à inclusão da

auto-avaliação da BE na avaliação da escola/agrupamento. Escolhi três relatórios de avaliação

do ano lectivo 2009/2010, pensando que com a nova portaria das BE, já se desse o devido valor

e destaque a todo o trabalho que é desenvolvido pelas equipas dinamizadoras das BE, mas

custou-me ver que os relatórios não espelham a realidade e a projecção que as BE podem ter

numa escola, sendo estas núcleos de organização pedagógica da escola, isto é, um dos

principais recursos no processo ensino aprendizagem.

Sílvia da Veiga Bastos