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conexão PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 2015 | Nº 6 jornaldoppe.wordpress.com Greves afetam o acesso a alimentos Nos úlmos anos, o atendimento em vários restaurantes universitários da UFRGS tem sido interrompido devido a paralisações Marianela Zúñiga As greves dos servidores técnico-administrativos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) pro- vocaram o fechamento dos serviços universitários nos úl- timos anos. Entre os serviços mais afetados, estão os restau- rantes universitários (RUs), que oferecem, por preços aces- síveis, alimentação a estudan- tes, professores e funcionários da universidade. Em 2015, a comunidade acadêmica foi surpreendida ao encontrar as portas do RU do Campus Cen- tro fechadas no final de maio, e a paralisação seguiu até o iní- cio de outubro. De acordo com dados da universidade, o RU do Cam- pus Centro é normalmen- te utilizado por mais de mil pessoas para almoçar e pouco menos da metade desse núme- ro para jantar. É frequentado principalmente por estudan- tes bolsistas, muitos deles es- trangeiros que dependem em grande medida desse serviço para realizarem suas refeições diárias. Para garantir o atendi- mento, esse RU conta com cer- ca de 50 trabalhadores. Muitos estudantes contam unicamente com bolsas de es- tudos e não possuem outra fonte de renda. Além disso, o horário de estudos na univer- sidade pode dificultar chegar a tempo de almoçar em lugares mais afastados. Assim, o ser- viço oferecido nos RUs é fun- damental para grande parte da comunidade acadêmica. No caso dos estudantes que frequentam o RU do Cam- pus Centro, uma das saídas encontradas foi realizar as re- feições no RU do Campus Saú- de, que permaneceu aberto. Entretanto, esse RU fica dis- tante dos lugares onde muitos tinham aula e, por isso, não era uma alternativa possível para todos. Como conta a estudante colombiana Diana Manrrique, que frequenta o RU do Cam- pus Centro cinco vezes por semana, “a gente não tinha RU perto e, quando tínhamos aula, a gente devia caminhar até o RU da Saúde, que estava em funcionamento”. “Acabei gastando dinheiro a mais por isso”, complementa Sammer Maravilha, estudante brasileira da UFRGS. Longe de conseguir um almoço pelo mesmo valor do RU, os alunos precisaram conter seus gas- tos durante a greve. De fato, os restaurantes em torno da universidade têm preços que ultrapassam as possibilidades dos estudantes bolsistas, que precisavam pagar até 15 vezes o preço do RU. Mesmo não sendo confor- tável a situação dos estudantes durante a greve, muitos se so- lidarizaram com as reivindica- ções dos servidores. Nathalia Valderrama, estudante colom- biana da UFRGS, afirma que os trabalhadores têm direito de lutar por condições de tra- balho melhores e se unir para evitar a exploração de sua mão de obra. No entanto, ela tam- bém acredita que a UFRGS de- morou muito tempo para so- lucionar o impasse e negociar com os trabalhadores. PROGRAMA DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS | UFRGS Entre o final de maio e o início de outubro de 2015, o RU do Centro fechou as portas. Foto: João Felipe Brum Entrevista Para sabermos mais de- talhes da greve e da situação do RU, entrevistamos Ludy- mila Barroso, que ocupa o cargo de nutricionista chefe do RU do Campus Centro desde outubro de 2014. Ela é formada em Nutrição pela UFRGS (2013) e possui es- pecialização em Segurança de Alimentos. As greves no RU do Cam- pus Centro são frequentes? Ludymila Barroso – As greves que ocorrem no RU são de origem nacional, não apenas uma escolha deste RU. Não há uma frequência pré- determinada, depende do andamento das tratativas do sindicato com o governo. E qual foi o objetivo da última greve? Ludymila – O objetivo da última greve nacional foi re- posição salarial pelo aumento da inflação, reajuste salarial, data-base, além de modifi- cações no plano de carreira e melhorias das condições de trabalho. Quais foram os princi- pais ganhos com a greve? Ludymila – Na verdade, os ganhos foram poucos, mas haverá um pequeno reajuste salarial. O serviço do RU é uma obrigação ou um favor do go- verno para a comunidade? Ludymila – É uma políti- ca institucional das institui- ções federais de Ensino Supe- rior, subsidiada pelo governo, consolidada em algumas uni- versidades, como a UFRGS, e em desenvolvimento em outras. Algumas institui- ções preferem a concessão de auxílio-alimentação, pela complexidade que é a ad- ministração de restaurantes universitários, principalmen- te pela dificuldade de imple- mentação de suas rotinas e de aporte de novas vagas de pes- soal técnico-administrativo especializado. Quais são os próximos objetivos dos trabalhadores do RU? Ludymila – Seguir lutan- do por melhores condições e valorização do trabalho.

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conexãoPORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 2015 | Nº 6

jornaldoppe.wordpress.com

Greves afetam o acesso a alimentosNos últi mos anos, o atendimento em vários restaurantes universitários da UFRGS tem sido interrompido devido a paralisações

Marianela Zúñiga

As greves dos servidores técnico-administrativos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) pro-vocaram o fechamento dos serviços universitários nos úl-timos anos. Entre os serviços mais afetados, estão os restau-rantes universitários (RUs), que oferecem, por preços aces-síveis, alimentação a estudan-tes, professores e funcionários da universidade. Em 2015, a comunidade acadêmica foi surpreendida ao encontrar as portas do RU do Campus Cen-tro fechadas no � nal de maio, e a paralisação seguiu até o iní-cio de outubro.

De acordo com dados da universidade, o RU do Cam-pus Centro é normalmen-te utilizado por mais de mil pessoas para almoçar e pouco menos da metade desse núme-ro para jantar. É frequentado principalmente por estudan-tes bolsistas, muitos deles es-trangeiros que dependem em grande medida desse serviço para realizarem suas refeições diárias. Para garantir o atendi-mento, esse RU conta com cer-ca de 50 trabalhadores.

Muitos estudantes contam unicamente com bolsas de es-tudos e não possuem outra fonte de renda. Além disso, o horário de estudos na univer-sidade pode di� cultar chegar a tempo de almoçar em lugares mais afastados. Assim, o ser-viço oferecido nos RUs é fun-damental para grande parte da comunidade acadêmica.

No caso dos estudantes

que frequentam o RU do Cam-pus Centro, uma das saídas encontradas foi realizar as re-feições no RU do Campus Saú-de, que permaneceu aberto. Entretanto, esse RU � ca dis-tante dos lugares onde muitos tinham aula e, por isso, não era uma alternativa possível para todos. Como conta a estudante colombiana Diana Manrrique, que frequenta o RU do Cam-pus Centro cinco vezes por semana, “a gente não tinha RU perto e, quando tínhamos aula, a gente devia caminhar até o RU da Saúde, que estava em funcionamento”.

“Acabei gastando dinheiro a mais por isso”, complementa Sammer Maravilha, estudante brasileira da UFRGS. Longe de conseguir um almoço pelo mesmo valor do RU, os alunos precisaram conter seus gas-tos durante a greve. De fato, os restaurantes em torno da universidade têm preços que ultrapassam as possibilidades dos estudantes bolsistas, que precisavam pagar até 15 vezes o preço do RU.

Mesmo não sendo confor-tável a situação dos estudantes durante a greve, muitos se so-lidarizaram com as reivindica-ções dos servidores. Nathalia Valderrama, estudante colom-biana da UFRGS, a� rma que os trabalhadores têm direito de lutar por condições de tra-balho melhores e se unir para evitar a exploração de sua mão de obra. No entanto, ela tam-bém acredita que a UFRGS de-morou muito tempo para so-lucionar o impasse e negociar com os trabalhadores.

conexãoPROGRAMA DE PORTUGUÊS

PARA ESTRANGEIROS | UFRGS

Entre o � nal de maio e o início de outubro de 2015, o RU do Centro fechou as portas. Foto: João Felipe Brum

EntrevistaPara sabermos mais de-

talhes da greve e da situação do RU, entrevistamos Ludy-mila Barroso, que ocupa o cargo de nutricionista chefe do RU do Campus Centro desde outubro de 2014. Ela é formada em Nutrição pela UFRGS (2013) e possui es-pecialização em Segurança de Alimentos.

As greves no RU do Cam-pus Centro são frequentes?

Ludymila Barroso – As greves que ocorrem no RU são de origem nacional, não apenas uma escolha deste RU. Não há uma frequência pré-determinada, depende do andamento das tratativas do sindicato com o governo.

E qual foi o objetivo da última greve?

Ludymila – O objetivo da

última greve nacional foi re-posição salarial pelo aumento da inflação, reajuste salarial, data-base, além de modifi-cações no plano de carreira e melhorias das condições de trabalho.

Quais foram os princi-pais ganhos com a greve?

Ludymila – Na verdade, os ganhos foram poucos, mas haverá um pequeno reajuste salarial.

O serviço do RU é uma obrigação ou um favor do go-verno para a comunidade?

Ludymila – É uma políti-ca institucional das institui-ções federais de Ensino Supe-rior, subsidiada pelo governo, consolidada em algumas uni-versidades, como a UFRGS, e em desenvolvimento em outras. Algumas institui-ções preferem a concessão de auxílio-alimentação, pela complexidade que é a ad-

ministração de restaurantes universitários, principalmen-te pela dificuldade de imple-mentação de suas rotinas e de aporte de novas vagas de pes-soal técnico-administrativo especializado.

Quais são os próximos objetivos dos trabalhadores do RU?

Ludymila – Seguir lutan-do por melhores condições e valorização do trabalho.

CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 20152|

O drama dos refugiadosEM DEBATE

“Muitos dos grandes países foram consti-

tuídos por imigrantes e refugiados”

Melissa Kuhn Fornari

Ler e discutir Porto Alegre a partir de uma crônica de Luis Fer-nando Verissimo, pensar represen-tações de arte e literatura a partir de uma crônica de Drummond, dis-cutir questões de comportamento, relacionamentos e linguagem lendo Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu e Nelson Rodrigues com os alunos do PPE foram experiências que ampliaram minha visão sobre ensino de língua adicional, sobre cultura, sobre como discutir um texto literário, e � zeram toda a dife-rença na minha trajetória.

A experiência como professo-ra no curso de Contos e Crônicas me ensinou a trabalhar a partir das leituras dos alunos, e, assim, expe-riências prévias, expectativas, con-cepções culturais e formas de como falar sobre um texto se tornaram parte do que compartilhávamos em aula. Para mim, as discussões no curso eram sempre novas leituras, novas formas de olhar e de pensar interpretações e efeitos de sentido em um texto, en� m, representa-vam um constante descobrir e (re)conhecer, tanto em relação a textos e histórias quanto sobre formas de ensinar e aprender. Algumas tarefas eram elaboradas de forma a incen-

tivar a discussão sobre a temática, como a partir de textos de Rubem Fonseca, Marçal Aquino, Marceli-no Freire, e poemas de Quintana, por exemplo. Outras focavam na construção de personagens, na se-quência de fatos narrados, na lin-guagem, e, a partir delas, os alunos comentavam se uma crônica de Fernando Sabino era engraçada, sobre formas de ler ironia e humor, sobre o gaúcho em trechos de um romance de Erico Verissimo e sobre como uma canção de Los Herma-nos pode ajudar a re� etir sobre um conto de Nélida Piñon. Muitas ve-zes, os alunos relacionavam o texto lido com histórias dos seus países, com crenças, com questões cultu-rais e até com ditados populares, apontando pontos de contato (por vezes inesperados), como entre um trecho de um conto de Guimarães Rosa e um ditado chinês.

As aulas me mostraram que no ensino e aprendizagem de lín-guas adicionais há sempre novas possibilidades a serem exploradas, e me ensinaram sobre como o texto literário pode nos ajudar a aprender mais sobre representações culturais, sobre língua, sobre si mesmo e so-bre o outro.

Arquivo pessoal

PROSA DO PROFESSOR

conexão

CARTA D OS EDITORES

Nesta edição do Conexão PPE, acompanhamos estudantes de di-ferentes países no desa� o de serem repórteres de um jornal em língua portuguesa. Para começar, eles tive-ram de se apropriar dos principais gêneros jornalísticos, como a notícia, a reportagem e a entrevista. Foi um trabalho intenso de leitura e análise de publicações nacionais e interna-cionais, com destaque para o debate sobre a representação do Brasil em jornais dos países de origem dos alu-nos. Além disso, houve uma o� cina de fotogra� a com o professor Mateus Pereira, que ofereceu diversas dicas importantes.

Depois, a turma partiu para a experiência prática. Eles tiveram a liberdade de escolher suas pautas, mas levando em consideração a im-portância do tema para os leitores. Todos puderam compartilhar seus “esboços” de pauta com os colegas, que ouviram as ideias iniciais e � ze-ram sugestões. Por � m, cada um se dedicou à elaboração de seu texto a partir de entrevistas e coleta de infor-mações, assim como à produção de fotos para compor as páginas do jor-nal. Além de reportagens e artigos de opinião, a edição também conta com roteiros de viagem e poemas.

Boa leitura!

Caroline Wink e João Felipe Brum

conexão conexão

Expediente

Coordenação: Gabriela Bulla e Margarete Schlatter

Edição e projeto gráfi co: João Felipe Brum

Produção: Caroline Wink

Colaboração: Camila Alexandrini, Diego Grando, Janaína Vianna, Kétina Timboni,

Laura Moreira, Melissa Kuhn Fornari e Willian Radünz

E-mail: [email protected]

Site: jornaldoppe.wordpress.com

Nº 6 | Dezembro de 2015

Freddy Galileo Santa Cruz

Nos últimos meses, o tema imigrantes e refugiados tem sido bastante discutido no mundo todo. Na Colômbia, onde nasci, devido a 50 anos de con� ito armado, muitas pessoas têm deixado o país. Exis-tem atualmente 396.633 refugiados colombianos em diferentes países do mundo, sendo que 2.872 deles foram explulsos principalmente por grupos violentos. Somente no Bra-sil, até 2013, havia 1.147 refugiados colombianos. Com o acordo de paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), anunciado em Havana, Cuba, no ano passado, espera-se que aconteça a repatriação dos que foram expulsos do país e a cessação da emigração de colombianos para outros lugares no mundo.

Muitos dos grandes países fo-ram constituídos por imigrantes e refugiados. Isso ajudou muito no desenvolvimento dos mesmos. Por-

tanto, as pessoas não precisam ver as imigrações e os refugiados como um problema, mas devem pensar sobre como eles podem contribuir para o desenvolvimento de sua região e como, em primeiro lugar, nós pode-mos ajudá-los.

Eu tenho familiares que já foram imigrantes e que também precisa-

vam de ajuda. É agora o momento de agradecer e dar a mão aos novos imigrantes e refugiados e, juntos, de-senvolvermos nossos países e buscar um futuro melhor.

Acredito que temos que pensar que no mundo ninguém está isen-

to de alguma calamidade, que pode acontecer pela ação da natureza, por algum con� ito político. Ou ainda pode ser que algum dia queiramos estudar ou trabalhar em outro país, onde necessariamente precisaremos de ajuda e gostaremos de ser trata-dos da melhor maneira possível, com cordialidade.

Portanto, hoje devemos pensar já não como países, tampouco como continentes – é hora de pensar como um só planeta, como espécie que ha-bita um mesmo lugar, chamado Ter-ra, e pensar sempre no bem comum. No momento em que o homem pensar dessa maneira, será possível dizer que, de fato, evoluímos. Como o cientista Stephen Hawking disse: “somos apenas uma raça avançada de macacos em um planeta menor que uma estrela de tamanho mediano. Mas podemos compreender o uni-verso. Isso nos torna muito especiais”. Precisamos compreender que somos um só, uma só comunidade, e que devemos nos ajudar.

Karina Yang

Cada vez mais haitianos chegam a Porto Alegre. A televisão, as revistas e os jornais estão cheios de notícias sobre preconceito, discriminação racial e crimes recentes relacionados aos refugiados. O assunto constitui atualmente um tema importante no Brasil e no mundo. Nós devemos acolher os refugiados?

De acordo com estatísticas da ONU (Organização das Nações Uni-das), em 2014, cerca de 1 milhão de pessoas se deslocaram, e isso efetivou uma gigante maré de refugiados no mundo. Ao mesmo tempo, cada país adotou atitudes e posturas diferentes para tratar os refugiados: alguns acei-taram, outros rejeitaram ou � caram pensando demais.

Na minha opinião, nós devemos acolher os refugiados sem hesitar. Por

quê? Penso em dois aspectos para justi� car a minha resposta.

Não devemos deixar pessoas inocentes � carem em países em guerra ou que não respeitem seus direitos básicos. Elas podem morrer

se não fugirem. Podem ser presas por organizações terroristas ou ser forçadas a se tornar membros dessas organizações. Elas não apenas não re-cebem direitos básicos, mas também podem ser vítimas de violência.

Devemos enxergar essas pessoas como iguais, como seres humanos com os mesmos direitos de todos os demais.

Não é possível para os numero-sos refugiados fugirem para outros países através dos meios normais. Eles só têm à disposição formas ile-gais, e a maioria das formas ilegais são muito perigosas. Recebê-los e ajudá-los é a melhor maneira de con-tribuir para melhorar as suas vidas. Os refugiados podem perder a vida durante a travessia. Quando chegam ao destino, eles devem receber iden-tidades autênticas, além de não ser discriminados por fugirem de guer-ras ou não ter os próprios direitos respeitados.

Portanto, devemos nos esforçar para que essas pessoas tenham opor-tunidades. Acolham os refugiados, por favor.

Hora de acolher

Somos um

“Na minha opinião, nós devemos acolher

os refugiados sem hesitar”

Milhões de pessoas são forçadas a deixar seus países em função de confl itos

CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 2015 |3

Ativismo estudantil em altaBert Venema

No início do segundo se-mestre de 2015, entrei em uma universidade que passava por grandes transtornos. Os servi-dores técnico-administrativos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) es-tavam em greve por cortes na educação pública. Isso eu pude compreender; entretanto, quan-do vi que também os estudantes protestavam contra esses cortes, � quei surpreendido. Não só es-tudantes como também pro-fessores explicavam nas aulas o que estava acontecendo e escla-reciam porque era importante apoiar a luta dos trabalhadores contra esses cortes.

As universidades na Holan-da são lugares onde o foco está em estudar e, além disso, a gente não costuma se preocupar muito com a política nacional e, muito menos, com a política estudan-til. Então, quando eu cheguei ao Brasil, não esperava ver tantas pessoas envolvidas na política. Inicialmente, o que me chamou a atenção foi o fato de que as pes-soas andavam pelo campus com camisetas de Stalin, Mao Tsé-Tung e outras � guras históricas polêmicas. Ao ver esses alunos, eu me perguntava por que essas camisas eram usadas, mesmo quando esses líderes carregavam um legado polêmico. Uma des-sas pessoas, certa vez, entrou no ônibus lendo o jornal A Verda-de, que defende os interesses dos trabalhadores na luta de classes. Era, então, bem claro que esses estudantes se identi� cavam com essa ideologia e que, por isso, se vestiam assim. Mas o que eu ainda queria saber é como essas ideias poderiam ser aplicadas na universidade. Quer dizer, quais são exatamente as lutas impor-tantes para eles na universidade?

Além disso, causou-me es-tranheza o fato de que, nas salas de aulas, usualmente entravam participantes do movimen-to estudantil explicando por que lutavam. Entregavam jor-nais defendendo a posição de-

les. Nos jornais, explicavam-se quais eram os problemas do país atualmente e como esses proble-mas afetavam os estudantes.

O Movimento Estudantil brasileiro é constituído por es-tudantes que se organizam para alcançar certos objetivos nas universidades, mas também na política nacional. Já na época da ditadura militar, o movimento estudantil tinha um papel mui-to importante. Os Diretórios Centrais Estudantis (DCEs), as Uniões Estaduais dos Estudan-tes (UEEs) e a União Nacional dos Estudantes (UNE) in� uen-ciaram os rumos da política nacional. Essas instituições for-mavam uma importante fonte de oposição ao governo militar através de seus protestos para a volta da democracia.

Para saber mais sobre a atuação do movimento estudan-til na UFRGS, falei com David Pires, estudante de Engenharia de Energia de 23 anos. David, que se considera parte do movi-mento estudantil, explica que os maiores problemas na universi-dade hoje são os cortes na edu-cação, que prejudicam o nível da educação pública. Além disso, ele menciona o fato de não ha-ver igual representação do povo brasileiro nas universidades pú-blicas no país.

“Gostaria que a universida-de fosse uma representação cor-reta do Brasil. Temos um país tão diverso, mas eu não consigo ver isso na UFRGS. Acho que isso é um problema em todo país. Os grupos étnicos não são representados de forma igual”, complementa.

Ainda há muita coisa para fazer, segundo David, para que

esses desejos se tornem realida-de, mas ele acredita que o movi-mento estudantil seja forte aqui. Como exemplo, explica que es-tudantes ocuparam a reitoria da universidade de 11 até 25 de setembro de 2015. Na ocu-pação, pediram por melhores condições para os bolsistas na UFRGS. “Bolsistas da UFRGS são obrigados a disponibilizar 20 horas todas as semanas para trabalho administrativo. Isso faz com que eles não possam usar esse tempo para estudar”, decla-ra David. Mas esse não é o único motivo, ele explica: “As pessoas que vivem nas casas estudantis estão em um quarto com 20 pes-soas e quase não há vagas para os novos estudantes que preci-sam de um quarto na cidade”.

Na página “Ocupa Reitoria UFRGS 2015 - Permanência Es-tudantil” no Facebook, podem-se encontrar mais dados sobre as condições dos bolsistas e de sua moradia. As pautas pelas quais os estudantes lutam são nume-rosas. Além das reivindicações dos bolsistas, exigem uma casa de estudantes no Campus do Vale e mais segurança para quem estuda na UFRGS. É imprescin-dível, para esse movimento, que os estudantes que moram nas casas da universidade tenham segurança, o que implica, por exemplo, que essas casas sejam equipadas com alarmes contra incêndio. E esses não são os úni-cos problemas contra os quais esse movimento luta.

Por � m, entendi que o movi-mento estudantil é mais forte no Brasil do que na Holanda devido à sua trajetória. Desde a ditadu-ra militar, os estudantes já são uma parte importante da polí-tica nacional. Além disso, eles são ativos porque têm um ideal pelo qual estão dispostos a lutar. Isso nós podemos ver no movi-mento da ocupação da reitoria e também em algumas aulas da UFRGS, interrompidas por es-tudantes. Também se pode ver o impacto do movimento nos car-tazes e nas bandeiras espalhados pelos campi.

REPORTAGEM

Na UFRGS, alunos se engajam em lutas relati vas a cortes, bolsistas e moradia

“Quando eu cheguei ao Brasil, não esperava ver tantas pessoas en-volvidas na política”

Canç ã o do exílio

Jose Oviedo Perez

Minha terra tem subú rbiosOnde nem pá ssaros sussurram.As aves, que aqui gorjeiam,Lá esqueceram como cantar.

Este cé u tem mais poluiç ã o,Estas ruas tê m mais assaltos,Mas estes bosques tê m mais vida,Esta vida mais amores.

Minha terra tem valores puritanos,Que tais nã o encontro eu cá .Em cismar – sozinho, à noite –Ou acompanhado na baladaMais prazeres encontro eu cá .Minha terra tem subú rbios,Onde nem pá ssaros sussurram.

Mockingbird, Cardinal, Nightingale –Nem os nomes sã o bonitos como cá .Sabiá , Sabiá , Sabiá .

Nã o permita Deus que eu morraSem que eu volte para cá .Eu nã o desfruto dos primoresQue se oferecem por lá .Ainda quero o cé u poluí do,E as ruas de assalto ladeadasDe palmeiras, onde canta o Sabiá .

Canção do exílio

Guojin Huang - Bruno

Minha terra tem montanhas,Onde mora uma muralha;As cercas, que aqui protegem,Não protegem como lá.

Nossas campinas têm mais cavalos,Nosso inverno tem mais neves,Nossas cidades têm mais movimento,Nossa noite mais atrações.

Estou sempre a procurarAs belezas que parecem como lá;Minha terra tem montanhas,Onde mora uma muralha.

Minha terra tem comidaMais variada do que cá;Estou sempre a procurarSabores parecidos com os de lá.Espero que alguém me ajudeA descobrir as belezas daquiAntes de eu voltar para lá.

VOZES POÉTICAS

As universidades brasileiras costumam ser centros de ativismo estudantil. Na UFRGS, chamam a atenção cartazes, faixas e pichações que revelam as causas defendidas. Fotos: Bert Venema

CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 20154|

Karina Espinoza Merchan

Era um domingo de manhã, e uma pequena borboleta chegava na rodoviária da cidade com muita alegria para conhecer um enorme parque, do qual muitas das suas ami-gas tinham falado. Mas ela não sabia como chegar a ele.

Então, decidiu pegar a rua da Conceição (rua que permite o trans-porte para vários bairros de Porto Alegre), e ali nossa pequena amiga observou muitas pessoas caminhan-do e, principalmente, muitos auto-móveis que circulavam rapidamente.

Ao chegar ao viaduto, ela resol-veu não o pegar, porque tinha muito barulho e escuridão, então pegou as escadas que ficam do seu lado e con-tinuou voando. Chegou a uma praça

em frente à igreja Nossa Senhora da Conceição, que tinha poucas pessoas andando. À distância, ela viu uma bela flor e voou até lá, comeu um pouco de néctar e continuou.

Ao chegar à Avenida Osvaldo Aranha, viu os prédios muito grandes do Campus Centro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Con-tinuou voando até que finalmente encontrou o que estava procurando, o parque da Redenção, oficialmente chamado Parque Farroupilha. Viu que o parque era contornado pelas avenidas João Pessoa, José Bonifácio, Osvaldo Aranha e pelas ruas Setem-brina e Engenheiro Luís Englert.

A borboleta sentiu no ar algo diferente, que não sentia há muito tempo, uma brisa fresca emanada pelas milhares de árvores que nele es-

tão plantadas. Além disso, percebeu o canto dos passarinhos, que voavam tranquilamente; assim, começou seu passeio pelo parque.

Passou pelo Instituto de Edu-cação General Flores da Cunha, que é o mais antigo estabelecimento de ensino secundário e de formação de professores da cidade, fundado em 1869. Depois, observou o Auditório Araújo Vianna, cenário de grandes espetáculos, que tem como meta res-gatar e preservar a história musical e a importância cultural da cidade.

Ao redor do parque, ela notou que muitas pessoas se exercitavam, algumas caminhavam por trilhas demarcadas, outras iam de bicicleta e outras jogavam futebol. Viu que mui-tas pessoas tiravam fotos do parque, e outras estavam reunidas conversan-

do e curtindo a tranquilidade da na-tureza. Até os cachorros se divertiam.

No seu passeio, a borboleta ob-servou diversos recantos: Recanto Alpino, Recanto Oriental, Recanto Europeu e Recanto Solar, que da-vam a impressão de que o parque era maior do que é. Olhou os vários monumentos em cobre e mármore, mas o que chamou sua atenção foi o Monumento ao Expedicionário, um duplo arco do triunfo com escultu-ras em relevo que homenageiam os “pracinhas” da Força Expedicionária Brasileira, que lutaram na Segunda Guerra Mundial.

Perto dali, viu um parque de di-versões muito maneiro, com passeios de trenzinho e pedalinhos, desfruta-do principalmente por crianças.

Na Avenida José Bonifácio, a

borboleta conheceu o famoso Bri-que da Redenção, espaço cultural que compreende a tradicional feira de artesanato, de artes plásticas e de antiguidades, onde os porto-ale-grenses se reúnem para desfrutar das atrações do parque, tomar chimarrão e encontrar os amigos. Joaquim da Fonseca diz no texto “A Mal-Enten-dida”: “O Brique, na língua gaúcha, é o encurtamento de briqueabraque e é uma feira de antiguidades em que tudo, até revista da semana passada, é considerado antiguidade”.

Ao final do seu longo passeio, a borboleta ficou cansada, mas muito satisfeita por ter conhecido esse belís-simo lugar e, especialmente, porque percebeu que as pessoas ainda ten-tam preservar a natureza, seus costu-mes e suas tradições.

O passeio da borboleta na RedençãoROTEIROS

Um dos locais preferidos dos porto-alegrenses nos fins de semana, o parque oferece shows, brincadeiras, sombra e muita natureza

O Parque Farroupilha reúne diversas atrações, como o Auditório Araújo Vianna (à esquerda), um lago com animais (à direita) e outros encantos para os visitantes. Fotos: Karina Espinoza

Dolly Alexandra Tartas

Conhecida como a sucursal do céu, Cali é uma das cidades principais da Colômbia, locali-zada sobre a planície do rio do Cauca, no centro-oeste do país.

Quem chega ao aeroporto internacional Alfonso Bonilla Aragón pode sentir um clima cálido e tropical ao passar pelo vale da cana-de-açúcar, fonte da indústria principal da região.

No centro da cidade, con-centram-se a maioria dos pon-tos turísticos. Para percorrer e visitar a cidade, inicie pelo local simbólico mais movimentado, a Praça de Caicedo, antigamente chamada de praça maior de al-tas palmeiras; nela, encontrará muitos vendedores ambulantes, engraxates e pessoas sentadas com muitas histórias para con-

tar. Na frente da praça, o Palá-cio Nacional, imponente prédio branco estilo europeu, exibe aos seus visitantes um peque-no museu, que informa sobre o cultivo e o processamento da cana-de-açúcar.

Caminhando duas quadras está a Ermita, uma igreja estilo gótica em miniatura edificada em 1942. Em diagonal ao tem-plo, se encontra a ponte Ortiz, construída sobre o rio Cali, que liga a zona sul à zona norte da cidade. Mas, antes de atravessar a ponte para conhecer o lado norte, não deixe de visitar o Par-que dos Poetas, que foi construí-do em 1995 com esculturas em homenagem aos poetas locais. Você pode fazer uma visita ao Teatro Jorge Issac, declarado monumento nacional com seu prédio em estilo neoclássico

francês e assim chamado em tri-buto ao poeta valecaucano.

O rio Cali, cercado de árvo-res, é uma pequena extensão do rio Cauca, que desemboca na cidade dando um ar de nature-za no meio da zona urbana. Do lado norte, poderá fazer um pas-seio pelo Riacho. Depois de uma longa caminhada apreciando a paisagem, você chegará ao Gato do Rio, uma escultura de bronze acompanhada pelas figuras de várias gatas ao seu redor (elas são as namoradas do Gato), que enfeitam a beira do rio. A poucos passos e atravessando a rua, está o Museu A Tertúlia, onde você poderá encontrar exposições de arte moderna e contemporânea de diferentes artistas.

Outro atrativo turístico é a escultura e o mirante de Se-bastian de Belalcázar, chamado

Conheça a sucursal do céuCali é uma das principais cidades da Colômbia e conta com boas opções turísticas

assim em homenagem ao seu fundador. O lugar oferece uma linda visão panorâmica de Cali.Para visitar, é recomendável su-bir de táxi, porque ir a pé vai ser muito cansativo e difícil de che-gar até o morro.

Cali tem vários lugares para visitar, como o Teatro Munici-pal, a Praça de Touros de Caña-

veralejo, a unidade esportiva Alberto Galindo Herrera, que tem sido cenário de importantes eventos, como os jogos mundiais e o festival mundial da salsa.

Cali é uma cidade encan-tadora, que recebe os seus visi-tantes de braços abertos e cativa com suas paisagens, gastrono-mia e gente linda.

Praça de Caicedo, em Cali. Foto: Rafael Palacios, Wikimedia Commons

CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 2015 |5

Traçando a cidade: Bogotá, a capital da ColômbiaMayra Sánchez

Nosso passeio começa na praça principal da cidade. A praça de Bolívar, cujo nome re-fere-se ao libertador Simón Bo-lívar, está rodeada pelos prédios mais importantes da cidade. Nela, você encontrará os princi-pais ramos do poder: o Palácio de Justiça, o Congresso da Re-pública, a Catedral Primada e a Prefeitura de Bogotá. No centro da praça, você vai ver a estátua de Bolívar. De lá, é possível ver as colinas de Bogotá, um lugar que você vai adorar, pois tem a melhor vista da cidade. Para ir até lá, você pode subir de telefé-rico ou funicular. É só pergun-tar por Monserrate, e qualquer

pedestre irá apontar o caminho. Seguindo na praça de Bolívar, na esquina, você pode visitar o Mu-seu da Independência ou Museu do 20 de Julho, um lugar muito importante porque nele ocorreu um episódio conhecido como o Grito da Independência, no dia 20 de julho de 1810.

Se você caminhar na dire-ção sul da praça, vai encontrar o Palácio de Nariño, a residência oficial do Presidente da Colôm-bia. Nas imediações, também é possível observar outros prédios históricos, de arquitetura colo-nial, a maioria deles escritórios de instituições governamentais. Suba pela Rua 11, e na esquina da Carrera 5 você pode dar uma olhada no Centro Cultural Ga-

briel García Márquez, um espa-ço dedicado à cultura. Tem uma livraria e uma galeria de arte. Não perca a oportunidade de tomar um bom café Juan Valdéz, um dos melhores da cidade e, sem dúvida, do mundo.

Se você continuar para cima na Rua 11, olhe à esquerda e verá a maior biblioteca do país, a Luis Ángel Arango, ou, abre-viadamente, BLAA. Saindo da biblioteca, bem em frente, você encontrará La Casa de la Mo-neda, um monumento nacional que atualmente abriga a coleção numismática e de arte do Ban-co da República. Ao lado, fica o Museu de Botero. A sua visita re-presenta uma boa oportunidade para conhecer as obras doadas à

ROTEIROS

Um passeio pela cidade revela surpresas como Monserrate e o Museu do Ouro

A região histórica de Bogotá é imperdível. Foto: Katja Hasselkus, Flickr

Colômbia pelo artista Fernando Botero, pintor, escultor e artista colombiano.

Por fim, você pode ir à pro-cura de um dos maiores tesou-ros da nossa cultura: a maior coleção de ouro pré-hispânico do mundo, com cerca de trinta e quatro mil peças de ouro. O Mu-seu do Ouro, localizado a quatro

quadras ao norte do Museu de Botero, preserva e exibe peças de ourivesaria e cerâmica de cultu-ras indígenas do período pré-co-lombiano da atual Colômbia.

Espero que você aproveite a visita ao centro histórico de Bogotá, um lugar com grande riqueza arquitetônica, cultural e gastronômica.

As inesquecíveis festas de Cahuita

Jose Brenes-Andrade

Na Costa Rica, temos festas pequenas nas cidades. Pode ser a festa do patrono do bairro ou a comemoração do aniversário do bairro. Qualquer pretexto é um bom motivo para comemorar. Além disso, alguns bairros po-dem ter mais de uma festividade por ano.

Cada pequena cidade tem a oportunidade de fazer a sua pró-pria festa, e é por isso que as pes-soas da Costa Rica chamam essa tradição de “El Turno”.

Minha esposa e eu sempre achamos que essas festas são uma das principais característi-cas das cidades e dos bairros do interior do país. Em certa oca-sião, nas férias, a gente visitou uma cidade pequena do Atlân-

tico de nome Cahuita. É uma pequena aldeia habitada por pessoas muito amigáveis e com uma cultura bem particular. As ruas não são asfaltadas e há ca-sas tradicionais e cabanas muito simples.

Nós gostamos demais de Cahuita, porque é uma aldeia com praias tri legais, com muita natureza, floresta, biodiversida-de, cultura e festas. Ao lado da cidade está localizado o Parque Nacional Cahuita, que é um lu-gar maravilhoso e exuberante. É possível caminhar pelas trilhas, surfar, nadar, mergulhar; tam-bém é possível ver macacos, co-bras, lagartos e muitas espécies de mamíferos e pássaros bem bonitos.

Mas, naquela viagem de férias, também encontramos

“El Turno de Cahuita”. Embora aquela aldeia seja muito tranqui-la, naqueles dias estava lá uma multidão. Foi uma experiência inesperada e inacreditável. Eles tinham passeios, algodão doce, música ao vivo, carnes grelha-das e comidas típicas da região. O festival durou três fins de se-mana, mas as pessoas queriam ainda mais festa.

A minha esposa e eu gosta-mos demais dessa experiência inesquecível. Embora nós volte-mos constantemente para aque-le paraíso, nunca tivemos a sorte de estar de novo durante a fes-tividade. Ainda nos lembramos com saudade dessa experiência, porque aproveitamos e conhece-mos mais da cultura da cidade e fizemos amizade com uma gale-ra muito legal.

No interior da Costa Rica, é possível participar de diversos festivais popularesA cidade da luz e os belos AlumbradosEm Medellín, o Natal é iluminado e encantador

Sara Domínguez Cardozo

É Natal. A alegria está nas ruas, a música forte não incomoda e as cores invadem o ar, sim, o ar. Todos os dias são dias de festa.

Em Medellín, é Natal desde o primeiro dia de dezembro até 6 de janeiro. Na verdade, contando o momento em que as lojas enfeitam suas vitrines, é Natal de novembro a 8 de janeiro, se o Dia de Reis cair numa sexta-feira.

É a melhor época do ano, sem dúvida. Em casa, o cheiro de sobre-mesas, bolachas e bolos que eu ven-do para adoçar as vidas ao meu re-dor enche o andar inteiro do prédio com o cheiro de baunilha, canela, maçã, café, morango... Minha mãe adora quando fica uma “amostra” de sobremesa, o namorado de mi-nha irmã adora quando uma bola-cha quebra e não dá para ser ven-dida, eu adoro quando os pedidos são tantos que até meu pai junta-se à “linha de produção”. Colaboração familiar em doces jornadas até as duas da manhã.

Na rua, o cheiro muda tam-bém. De vela, de fogão, de fogos de artifício, de doces de rua... En-fim, de Natal. Na cidade da eterna primavera, o clima é sempre bom.Mas, nesses dias, é sempre melhor ainda, e assim dá para percorrer a cidade olhando os Alumbrados.

Os Alumbrados, a melhor parte do Natal (até melhor do que vender todas as bolachas), são o que torna Medellín o lugar com o melhor Natal do mundo. É que lá os enfeites são feitos de luz; as ruas, os parques, os prédios, ficam cheios de luzes e figurinhas natalinas. Sem contar o cenário principal: o rio. O rio que atravessa a cidade se torna por mais ou menos dois quilôme-tros um corredor que a cada ano conta uma história diferente: o percurso de Maria e José até o nas-cimento, contos internacionais de Natal, tradições do país... A cada ano é algo enorme, luminoso e en-cantador.

Olhar os Alumbrados é algo indispensável no Natal medelli-nense. É ver todos os tipos de pes-soas que habitam e visitam Medel-lín, é sentir o barulho e a bagunça de Natal, é comer algodão de açú-car, oblea com arequipe (um wafer gigante recheado com doce de leite), pipoca, manga verde com li-mão e sal e, para os mais corajosos, cachorro-quente e espetinho na rua. Os Alumbrados em Medellín são o Natal. É por causa deles que o ar se enche de cores e o coração, de alegria, e é por causa deles que, durante um mês inteiro, a capital da montanha rouba o título da ca-pital da França e ostenta o nome de Cidade da Luz.A bela cidade de Cahuita atrai multidões durante o período de festividades. Foto: Jose Brenes-Andrade

CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 20156|

Toniolo, o anti-herói da CapitalREPORTAGEM

Kay Mars

Padrões de beleza são ubí-quos hoje e afetam a nossa vida, incluindo a minha, de várias ma-neiras. Acho que padrões de bele-za podem ser comparados com as morais e a moralidade na vida cotidiana. Muitas pessoas tendem a pensar em “preto e branco”. Elas determinam o que é bom e o que é ruim, e no caso dos padrões de beleza, o que é bonito e o que é feio. Para mim, que sou estudan-te de antropologia cultural, é bem interessante descobrir quem de� -ne os padrões de beleza na socie-dade. Há só um padrão de beleza ou é possível que vários padrões coexistam?

Padrões de beleza existem em vários aspectos da nossa vida. Um exemplo muito claro é o “projeto verão” da sociedade bra-sileira. Quando os dias alongam, muitos brasileiros começam a ir à academia para perder peso e en-trar em forma para o verão. É algo familiar para mim. Também as mulheres holandesas querem se encaixar em seus novos biquínis e os homens querem mostrar seus corpos musculosos na praia, em-bora em menor extensão do que os brasileiros. Mesmo que eu qua-se nunca vá à academia, sempre tento pegar um bronzeado para não parecer um fantasma quando o verão chegar.

Como o projeto verão mos-trou que padrões de beleza podem incentivar pessoas a ir à academia para perder peso, padrões de bele-za podem ter uma in� uência mais radical no corpo humano. Há sé-culos, pessoas vêm modi� cando seus corpos para obter a aparên-cia que elas adoram. Frequen-temente, isso pede mudanças radicais, resultando em cirurgia plástica. O Brasil é um dos países com a maior proporção de cirur-gia plástica no mundo. O que faz com que os brasileiros façam uma visita ao cirurgião plástico mais jovens e com mais frequência do que, por exemplo, os holandeses? Nunca considerei ir ao cirurgião plástico. Estou bem contente com meu corpo e, por isso, eu acho que não vou tão cedo.

Os padrões de beleza são onipresente e afetam a nossa vida, incluindo a tua e a minha, de vá-rias maneiras. Mas não é uma coisa ruim. É loucura lutar contra os padrões. Sempre estiveram e sempre estarão presentes. A única coisa que nós não podemos es-quecer é que a verdadeira beleza é a interior.

Chris TaafePedro Wang

Muitas pessoas conhecem o pi-chador Sérgio Toniolo, um persona-gem famoso em Porto Alegre. Mas poucos sabem a história dele por trás das pichações. Hoje ele está se apro-ximando dos 70 anos, e tivemos a sorte de nos reunir com esse anti-he-rói e descobrir mais sobre a vida dele.

Crescendo em Porto Alegre Nasceu em 1945, em Porto Ale-

gre. Seus bisavôs estavam no primei-ro navio de imigrantes que vinham da Itália. Toniolo cresceu e ainda reside no bairro Petrópolis, que, se-gundo ele, já foi o principal bairro da capital. Por conta da inexperiência de sua mãe, decidiram que ele moraria com o avô, que já tinha criado nove � lhos. O pai era proprietário de um bar; e o avô, um empresário que foi um dos principais responsáveis pela construção da Igreja São Sebastião, na Protásio Alves.

Como não havia muita tecno-logia, a atividade favorita de Toniolo era o futebol. Ele relembra com sau-dade esses dias mais simples porque “o povo tá hoje em dia assim, doma-do que nem um gado [...] não pensa mais nada”, comenta. Para ele, a ju-ventude foi uma felicidade.

Juntando-se à polícia

Aos 20 anos, Toniolo decidiu

que “não queria trabalhar”. Então, através de conexões da família, ele entrou para a Polícia Civil. Ele gos-tava da experiência como policial até que viu que seu chefe estava se pro-movendo entre os funcionários para se tornar vereador de Porto Alegre. Depois disso, ele começou a publicar críticas nos jornais da cidade contra o seu chefe. Disseram que Toniolo não poderia escrever para as colunas porque era um funcionário público. Mas ele respondeu que era um brasi-leiro e, como qualquer brasileiro, ele tinha o direito de se expressar através dos meios de comunicação. Como resultado dessa disputa, Toniolo foi aposentado por “razões mentais”. Ele continua a� rmando que nunca es-creveu contra a polícia – ele escreveu contra o que havia de errado dentro da polícia.

O políti co

Depois da polícia e das escritas publicadas, Toniolo ganhou notorie-dade e foi convidado para concorrer nas eleições do estado pelo PMDB (Partido do Movimento Democrá-tico Brasileiro). Ele era conhecido por se colocar contra o sistema, e as crônicas dele conquistaram admira-dores. Durante a campanha, quan-do ele era um candidato registrado, houve uma confusão: seu número de registro era 007, mas esse número também pertencia a outro candidato. Além disso, na sua � cha havia a in-formação que sua � liação era com o

PTB (Partido Trabalhista Brasileiro). Por isso, ele tentou concorrer pelo PDS (Partido Democrático Social) como o número 5143, mas foi proi-bido de participar.

O pichador

Foi naquele tempo, quando começou as ações de pichar, que ele � cou famoso. Toniolo conta: “Eu co-mecei a pichar porque em 1982 eu fui caçado da minha candidatura, fui impedido de concorrer. E como eu não tinha nada a perder, eu comecei a pichar de forma agressiva, a pichar como se eu fosse um candidato ain-da”. Assim, ele pichou Toniolo 5143 em boa parte das paredes de Porto Alegre.

Em 1984, ele decidiu avisar ao jornal e à rádio que iria pichar o Pa-lácio Piratini no dia 17 de março, às 17h. Toniolo explica: “Sem avisar é sem graça, qualquer pessoa pode pi-char em qualquer lugar sem avisar”. Mais do que isso, ele deu uma entre-vista ao programa Guaíba Revista, perto do palácio, porque depois de pichar ele seria preso e não poderia falar. E assim aconteceu: enquanto ele pichava o seu nome no palácio, acabou detido, faltando apenas a le-tra “O” para completar. Levaram-no para o Hospital Psiquiátrico São Pe-dro, onde � cou internado por uma tarde. Deste dia até hoje, ele ainda faz pichações e cola adesivos com co-mentários contra todas as coisas que acredita que estão erradas.

A vida depois

Entre 2005 e 2011, Toniolo foi internado devido a problemas men-tais, mas, de acordo com ele, isso só aconteceu por causa da justiça. Ele sempre comenta que o maior ladrão é a justiça.

Mesmo que considere o Bra-sil hoje um “campão de ladrão”, ele nunca esteve fora do país nem tem vontade de ir, porque, segundo ele, “o meu país é aqui, então por que eu vou sair daqui? Vou � car aqui, não vou fugir daqui”.

Embora nunca tenha se casa-do, ele teve uma surpresa sete anos atrás, quando uma moça de 30 anos bateu na sua porta e a� rmou ser sua � lha. A primeira reação dele foi dizer “Acho que não é”, mas depois de um exame de DNA foi con� rmado que ela era � lha dele. Com muita alegria, Toniolo conta que agora ele tem um bom relacionamento com a � lha e com a mãe dela, e com frequência as visita em Canoas. De fato, o que ele mais gosta de fazer hoje é visitar sua � lha.

Ele ainda mora no prédio em que cresceu, comendo as comidas favoritas dele: massa a alho e óleo, e sopa de capelete. Ele ainda gosta de escutar Roberto Carlos e Beatles. Se ele pudesse escolher jantar com uma pessoa, seria Tancredo Neves, e se ele pudesse pichar em qualquer lu-gar do mundo, seria na ONU. Você sabe que ele picharia? “TONIOLO”, é claro.

Na década de 80, o ex-policial se tornou conhecido em função das pichações que espalhou por toda a cidade

Os estudantes Chris Taafe (esquerda) e Pedro Wang (direita) entrevistaram Sérgio Toniolo em sua casa no bairro Petrópolis. Foto: Arquivo pessoal

Padrões de beleza: como nos afetam?

OPINIÃO

CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 2015 |7

Voto obrigatório: bom ou ruim?

Haley Hunter-Zinck

Em 2012, o presidente ame-ricano Barack Obama foi eleito com só 30% de eleitores, menos de um terço da população de vo-tantes. Mas essse número não é o mais baixo. Em 1996, por exem-plo, o presidente Bill Clinton foi reeleito com votos de apenas 24% dos eleitores. Como a de-mocracia mais antiga do mundo pode eleger um presidente com menos de um quarto do total de eleitores?

A resposta é que as eleições americanas têm porcentagem de votantes muito baixa. Entre os países com voto facultativo, os Estados Unidos têm uma das ta-xas mais baixas do mundo, com uma média de 54% desde 1992. Por outro lado, apesar de sua atual impopularidade, a presi-dente brasileira Dilma Rousseff foi eleita com 41% dos eleitores em 2014. O Brasil é um dos 24 países que têm alguma forma de voto obrigatório. Por causa dis-so, em 2014, a percentagem de votantes foi quase 80%.

Não é uma surpresa que o voto obrigatório aumente a por-centagem de votantes. Também, aumentar essa porcentagem tem muitas vantagens, como fazer os resultados da eleição mais re-presentativos da população do país. Esse efeito, então, resulta em candidatos mais moderados. Com o voto facultativo, eleitores têm perspectivas políticas mais extremas e, portanto, elegem políticos com plataformas mais extremas também. Além disso, a moderação dos candidatos pode fazer o governo menos polari-zado, evitando os impasses na legislação vigente no Congresso americano de hoje.

Outra vantagem do voto obrigatório é que acaba sendo muito mais difícil tirar o direito de votar dos cidadãos do país. Por exemplo, nos Estados Uni-dos, alguns estados conservado-res têm aprovado leis que exigem que eleitores tenham um docu-mento para votar. Essas leis são injustas, porque afetam mais as minorias, que normalmente vo-tam na esquerda. Se os Estados

Unidos tivessem um sistema de voto obrigatório, seria mais difí-cil aprovar leis que dificultam o direito de voto.

Contudo, os cidadãos de países com e sem o voto obriga-tório têm várias objeções contra esse tipo de sistema. Uma dessas objeções, especialmente nos Es-tados Unidos, é que as pessoas não devem ser forçadas a votar se a votação entra em confli-to com suas perspectivas pes-soais ou suas crenças religiosas. Porém, com o sistema de voto obrigatório, cidadãos não são forçados a votar. Por exemplo, no Brasil, pessoas podem justi-ficar seus votos facilmente ou, ainda, votar em branco. Cada ação é permitida e não traz ne-nhuma consequência ruim para o cidadão.

Outra objeção é que esse sistema vai forçar pessoas que não são bem informadas a votar. Essas pessoas, então, elegeriam candidatos populares, como ce-lebridades, que não são quali-ficados para serem deputados, senadores ou até presidentes.

OPINIÃO

Enquanto no Brasil maiores de 18 anos devem votar, nos EUA o voto é facultativo

No Brasil, os eleitores utilizam urnas eletrônicas. Foto: Divulgação

Por exemplo, Tiririca, um antigo palhaço, foi eleito como depu-tado federal de São Paulo, mas não tinha nenhuma experiência política. Entretanto, há alguns pontos a pensar sobre a eleição dessas celebridades. Em primei-ro lugar, os eleitores dos Estados Unidos, um país com o voto facultativo, elegeram muitas ce-lebridades também, incluindo Arnold Schwarzenegger, como governador do estado da Cali-fórnia, e Ronald Reagan, como presidente. Em segundo lugar, pessoas sem experiência na po-lítica não são necessariamente

políticos ruins. E, por fim, essa objeção assume que os eleitores atuais em países com o voto fa-cultativo são bem informados. Embora eles votem voluntaria-mente, isso não garante que vo-tem depois de fazer muita pes-quisa.

Há muitos equívocos nos argumentos contra o voto obri-gatório. Sem dúvida, o voto obrigatório poderia resolver o problema da porcentagem baixa de votantes nos Estados Unidos e também trazer muitas outras vantagens, que ainda não são bem conhecidas por nós.

Mudanças no meio ambiente, mudanças em nós

Iñigo Alexander

Hoje, o meio ambiente pas-sou a constituir uma parte mais importante da política interna-cional, e com razão. O mundo no qual vivemos está sujeito a mu-danças climáticas nunca antes vistas e cada vez mais perigosas, tanto para nós mesmos como para o planeta. No entanto, ain-da há muitas pessoas que não acreditam nos acontecimentos ligados a mudanças climáticas. Apesar do ceticismo, evidências comprovam que a consciência sobre a mudança climática e seus impactos é extremamente importante para a sobrevivência saudável do planeta e da popula-ção humana.

De acordo com estatísticas publicadas pela National Aero-nautics and Space Administra-tion (NASA), 9 dos 10 anos mais quentes registrados ocorreram desde 2000. Isso levou a um au-mento mundial das temperatu-ras em 0,8ºC e ao aquecimento dos mares. Esse aumento tam-bém gerou uma diminuição das camadas de gelo em uma escala

global, o que significa um au-mento do nível médio global do mar de 178mm nos últimos 100 anos, 3,22mm a cada ano. Além disso, os níveis de dióxido de carbono no ar são os mais altos dos últimos 650.000 anos. Esses fatos dizem muito sobre a situa-ção na qual nos encontramos e sobre a nossa relacão com a mu-dança climática.

Os efeitos da mudança cli-mática já são vistos em Por-to Alegre. Estudos ambientais mostram que o sul do Brasil poderá experimentar no futuro um aumento de 5% até 10% das chuvas e também um aumento da temperatura da região de até 4ºC. Além da estimativa calcu-lada para o futuro, já sofremos as consequências diretas disso hoje. O fenômeno do El Niño é uma amostra das repercus-sões das mudanças climáticas no Brasil. Em 2015, houve o El Niño mais quente já registrado, o que causou uma primavera e um verão mais quentes do que normalmente acontece. Ramiro, morador de Porto Alegre há 27 anos, afirma que “cada inverno é

mais quente que o último, ago-ra quase nem preciso usar meu casaco”.

O impacto ambiental tam-bém é influenciado pelas ações das pessoas que habitam o pla-neta Terra. Nossas ações diárias contribuem para a mudança cli-mática, mesmo quando não per-

cebemos. Há muitas maneiras fáceis de reduzir o impacto am-biental de cada indivíduo. Aqui estão algumas dicas:

1) Recicle, especialmente vidro. Vidro reciclado reduz a poluição do ar em 20% e a po-luição da água em 50%. Se não for reciclado, pode demorar 1 milhão de anos para se decom-por no meio ambiente.

2) Evite fazer refeições à

REPORTAGEM

Se o impacto ambiental resultante das ações das pessoas é cada vez maior, o que se pode fazer para minimizar os efeitos negativos?

base de carne. Isso ajuda o pla-neta e a sua dieta. São necessá-rios mais de 9 mil litros de água para produzir meio quilo de carne bovina. Além disso, pou-pam-se árvores. Para cada ham-búrguer originado de animais criados em fazendas, cerca de 55m² de mata foram destruídos.

3) Tome banhos mais cur-tos. A cada dois minutos a me-nos no banho, economizam-se mais de 37 litros de água.

4) Sempre que possível, compre de agricultores locais ou mercados de agricultores, assim apoiando a economia lo-cal e reduzindo a quantidade de gases do efeito estufa emi-tidos quando os produtos são transportados por caminhão. Lembre-se da quantidade de poluição gerada para trazer o alimento da fazenda para a sua mesa. Comprar verduras e frutas no Mercado Público é a maneira mais fácil de fazer isso, mas tam-bém há vários supermercados independentes pela cidade.

5) Antes de jogar algum item fora, pense se alguém está precisando dele. Doe para uma

organização de caridade ou ofereça em algum site. No Face-book, você encontra grupos de trocas ou vendas.

6) Procure não usar sacolas de plástico para fazer compras. Uma sacola de plástico demora até mil anos para se degradar. Reciclando sacolas previamente usadas, podemos ajudar a dimi-nuir o consumo de plástico. Essa solução já foi implementada em vários lugares do mundo e tam-bém no Brasil. Em dezembro de 2011, São Paulo aprovou uma lei que proíbe a distribuição gratui-ta de sacolas de plástico, e agora há um projeto de lei para proibi-las em nível nacional.

7) Em vez de usar lâmpa-das convencionais, invista em lâmpadas de baixo consumo. É uma medida muito eficiente, que pode representar uma poupança de 80% em relação às lâmpadas incandescentes, cuja produção foi proibida na Europa em 2012.

Agora mais do que nunca, é importante tomar uma atitude mais ecológica e implementar valores centrados no meio am-biente na sociedade.

“Nossas ações diárias contribuem para a mu-dança climática, mesmo

quando não percebemos”

CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 2015

Porto Alegre, uma cidade quase alemã

REPORTAGEM

No século XIX, muitos imigrantes alemães chegaram a Porto Alegre e se estabeleceram na cidade. Pouco a pouco, a cultura e a tradição alemã misturaram-se com vários âmbitos da vida brasileira. Hoje em dia, ainda se nota essa in-� uência na vida cultural de Porto Alegre, e não apenas na culinária, mas também nos diferentes eventos que acontecem na capital. Saiba mais detalhes sobre essa herança germânica.

A mesa da tribo

Os encontros do grupo POA Stammtisch ocorrem todas as quartas-feiras, às 20h, e o local varia a cada semana. Para se manter infor-mado, basta procurar o grupo no Facebook.

Na capital gaúcha, os interessados pela língua e cultura alemã podem fazer parte do grupo POA Stammtisch - em alemão, Stammtisch sig-ni� ca “a mesa da tribo”, uma oportunidade de estar entre amigos.

Fotos: Lena Fischer

Um dos destaques das reuniões é a Paulaner, cerveja importada da Alemanha que faz grande sucesso entre os participantes.

As cucas, comida típica alemã, são um dos pratos preferidos dos frequentadores do POA Stammtisch.

Lena Fischer

História

Em 1772, Porto Alegre foi fun-dada por imigrantes portugueses que vieram dos Açores. Depois, no século XIX, muitos alemães, polacos e italia-nos imigraram para a cidade.

Os primeiros imigrantes ale-mães vieram em 1824 e fundaram a cidade de São Leopoldo, localizada na região metropolitana de Porto Alegre. Considerada o berço da imi-gração alemã, a cidade foi nomeada em homenagem à arquiduquesa Leopoldina, da casa de Habsburgo. Leopoldina se casou com D. Pedro I, imperador do Brasil. Depois do ca-samento, ela trouxe colonos alemães para a sua nova pátria: camponeses pobres de Hunsrück e de Pommern, que sonhavam com uma vida me-lhor na América do Sul.

Hoje, estima-se que pelo menos um quarto dos habitantes de Porto Alegre tenham raízes alemãs. Muitos ainda falam Hundsrückisch ou Pom-mersch, dialetos do alemão.

Stammti sch

Nesta época de globalização, muitas pessoas desejam aprender a língua alemã. Alguns já têm conhe-cimentos prévios do idioma, que aprenderam em casa com seus avós. Para as pessoas que querem conhecer ou praticar a língua alemã em Porto Alegre, existe uma tradição especial: o Stammtisch.

Em alemão, Stammtisch é uma expressão que signi� ca “a mesa da tribo”. É uma palavra que expressa tanto um encontro regular de pes-soas quanto a mesa na qual esses su-jeitos se reúnem. Nesse encontro, as pessoas vão para um local a � m de conversar, comer e jogar cartas. So-bretudo, bebe-se cerveja.

Na Alemanha, esses encontros não são organizados, ou seja, as pes-soas vão voluntariamente, embora normalmente se encontre sempre a

mesma "tribo" num local. Já em Por-to Alegre, o Stammtisch desvia-se da tradição alemã: os encontros são or-ganizados e o local muda constante-mente. Nesses encontros, habitantes de Porto Alegre com antepassados alemães, alemães que estão no Brasil e pessoas que simplesmente querem aprender a língua reúnem-se a cada semana para conversar, principal-mente em bares e restaurantes vin-culados à cultura alemã. Para saber qual será o próximo local a sediar o encontro, existe um grupo no Face-book, que se chama POA Stammtis-ch e conta com 525 membros (veja fotos ao lado).

O atual organizador do even-to, Eduardo Fasolo, explica que o POA Stammtisch é um grupo que se encontra ao redor de uma mesa para praticar e aprender o alemão. De acordo com Eduardo, a ideia de fundar esse grupo surgiu de uma alemã que já regressou ao seu país de origem. Atualmente, eles reúnem-se todas as quartas-feiras, às 20h.

A respeito dos locais onde ocorre o evento, Eduardo comenta que há vários bares e restaurantes alemães em Porto Alegre, tais como Schnaps Haus (“Casa da aguar-dente”) ou Bierkeller (“Porão da cer-veja”). Entretanto, seus lugares favori-tos são Cuca Haus (“Casa da cuca”) e Biermarkt (“Mercado da cerveja”). Nesses restaurantes, pode-se comer butterbrezel (pão em formato de co-ração com manteiga), apfelstrudel (rolo de maçã) e, além disso, encon-tram-se várias cervejas importadas da Alemanha, como a Paulaner. Os membros do Stammtisch gostam da comida alemã, sobretudo do Brezel. Muitas vezes, as cervejas e as conver-sas do grupo são acompanhadas por essa iguaria.

Os encontros aproximam os in-teressados pela cultura e pela língua alemã. Vanessa, intercambista da Alemanha na UFRGS e membro do POA Stammtisch, conta que, duran-te as reuniões do grupo, ela se sente como se estivesse na Alemanha. As-

sim, quando está com saudade do seu país, vai para o Stammtisch, fala alemão com os amigos e come comi-da alemã.

Oktoberfest

Não só a culinária porto-ale-grense tem in� uência alemã. Na ci-dade, também se festejam algumas festas típicas da Alemanha – entre elas, a mais popular é, sem dúvida, a Oktoberfest.

Em outubro, acontecem várias Oktoberfests em Porto Alegre. A maneira como os gaúchos festejam é resultado de uma mistura da cul-tura brasileira com a alemã. Poucas pessoas vão com a roupa tradicional para a festa, embora as mulheres gos-tem de pôr � ores no cabelo. A música tem elementos típicos da Alemanha, mas as letras são cantadas em por-tuguês. A bebida é evidentemente o chope (ou Schoppen, em baixo-ale-mão): um copo de meio litro de cer-veja.

Cultura viva

A cultura alemã ainda sobrevive em Porto Alegre, embora seja cons-tantemente alterada e misturada com os elementos da cultura brasileira, adquirindo novos contornos. De fato, o Rio Grande do Sul conserva forte-mente suas raízes alemãs.

Para quem quiser experimentar um pouco mais dessa cultura, reco-menda-se visitar a cidade de Grama-do, na serra. A 124 quilômetros da Capital, Gramado poderia ser qual-quer cidade na Alemanha. No Lago Negro, por exemplo, encontram-se árvores cujas sementes foram trazi-das da Floresta Negra, localizada no sudoeste da Alemanha. Além disso, pode-se visitar um parque de diver-são que imita o castelo Schloss Neus-chwanstein. Em suma, são várias atrações que aproximam os povos e que fazem com que imigrantes e in-tercambistas alemães possam se sen-tir em casa, apesar da distância.

Onde irO grupo POA Stammtisch reco-

menda cinco lugares para quem tem interesse em conhecer o melhor da culinária alemã em Porto Alegre:

> Biermarkt (Rua Castro Alves, 442, Rio Branco)> Schnaps Haus (Rua Cândido Sil-veira, 222, Auxiliadora)> Cuca Haus (Rua São Luís, 1.101, Santana)

> Bierkeller (Rua João Abott, 596, Petrópolis)> Ratskeller Baumbach (Avenida Pará, 1.324, São Geraldo)Busque o grupo: www.facebook.com/groups/poastammti sch