consequênciasdaglobalização: igualdade/desigualdade; convergência/divergência

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“It is very difficult to have a democracy without citizens. It is impossible to be a citizen if you don't make an effort to understand the most basic activities of your government. It is very difficult to thrive in an increasingly competitive world if you're a nation of dodos.”

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AsConsequênciasdaglobalização:promet

iamqueofuturopolíticoeeconómicodoMundosendoentregueaomercadolivreglobaldesreguladoalterariadramaticamenteasperformanceseconómicasquenosp

volvidosquernosemviasdedesenvolvimento.Oquese

percepcionacombIgualdade/desigualdade;uporteaesteestudoéqueestefoiumcaminhoparaainst

abilidConvergência/divergênciacascome

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Mestrado em Economia Portuguesa e Integração Internacional Disciplina de Globalização e Integração Económica Internacional

Autoria: Paulo Moreira:36882 daseconomiasestescederamumaenormeproporçãodoseupodereconómicoaosmercadosglobaiseaosinteressesprivados.Aglobalizaçãonãopassademaisumentr

2

3

Lisboa, Janeiro de 2011

4

ÍNDICE

1. “Globalização”; diferentes interpretações........................................................................................ 5

2. O fenómeno da globalização produz igualdades ou reforça desigualdades? ............................... 7

2.1 Análise empírica ........................................................................................................ .................. 8

3. Convergência versus divergência ...................................................................................................... 9

3.1 Sobre o tema da convergência ............................................................................................ ........ 9

3.2 O PIB global: desempenho e composição por países e regiões .............................................. 11

4. Conclusões ......................................................................................................................................... 12

FONTES BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................... 17

ÍNDICE DE ANEXOS

Gráfico 1 .................................................................................................................... ............................... 21

Gráfico 2 .............................................................................................. ..................................................... 22

Gráfico 3 ................................................................................................................... ................................ 23

Gráfico 4 .................................................................................................................... ............................... 24

Gráfico 5 ................................................................................................................... ................................ 25

Gráfico 6 ................................................................................................................... ................................ 26

Tabela 3 do BM ......................................................................................................... ............................... 27

Gráfico 4 do BM ................................................................................................... .................................... 28

Quadro 2 ................................................................................................................................................... 29

5

“It is very difficult to have a democracy without citizens. It is impossible to be a citizen if you don't

make an effort to understand the most basic activities of your government. It is very difficult to thrive

in an increasingly competitive world if you're a nation of dodos.”

(Joe Klein, Revista TIME)

1. “Globalização”; diferentes interpretações.

De modo a enquadrar o que diversos autores de diversos quadrantes entendem por

globalização, suas virtudes ou malefícios associados, discorra-se um pouco acerca do assunto

procedendo-se ao mesmo tempo a uma análise taxonómica das diferentes teorias.

O pensamento apresentado por Wallerstein, marcadamente herdado da perspectiva de

abordagem historicista, postula a existência de sistemas-mundo, que ele define não como um

sistema do mundo mas sim como sistemas económicos, sociais e políticos localizados em

determinadas partes do globo em diversas eras da História; um continuum no espaço-tempo que

vai sofrendo mutações diversas em conformidade com as inevitáveis alterações políticas, sociais

e económicas dos tempos. A análise desses sistemas-mundo diz-nos que apenas existiram duas

variedades até ao momento: impérios mundiais e economias mundiais. Os primeiros eram

caracterizados por serem pesadas estruturas burocráticas com um único centro político e com

múltiplas culturas. Uma economia mundial é pelo contrário um sistema que apresenta uma

grande divisão do trabalho, múltiplos centros políticos e múltiplas culturas. Segundo

Wallerstein, a actual era, conheceu o seu apogeu em Maio de 68 com a revolta dos estudantes

parisienses naquilo que ele proclama ter sido um presságio do fim da longa fase deste sistema-

mundo, na qual nos encontramos de momento, e que minou a geocultura central-liberal que o

suportava Para o autor, a actual era representa o terceiro momento do tempo da análise do

sistema histórico que vivemos, ou segundo as suas palavras:

“There are three basic moments in time for any historical system: the time of its coming into

being; the time (much longer) of its "normal" functioning and development/evolution; the time of

its structural crisis, bifurcation, and demise. The first and third times are quite different from the

second (much the longest) time.” (Wallerstein, 2005, p. 3).

6

Outros teóricos ou analistas do fenómeno preferem marcar vincadamente as fronteiras das

épocas, numa perspectiva bebida do campo da ciência política, compartimentando através da

simbologia política a divisão temporal. As novas eras passam assim a ser anunciadas através do

derrube de símbolos definidores dos regimes políticos. A queda do Muro de Berlim, que

assinalou o final da Guerra Fria, satisfaz essa análise socioeconómica dos últimos vinte anos em

que um status-quo previamente existente ruiu e foi substituído pela actual era da globalização

que, numa vertente que sendo optimizada à escala planetária, traz com ela todos os benefícios e

todos os males inerentes a um processo massificador da actividade humana com esta

envergadura. Não sendo apologistas acérrimos das virtudes com que contribui, nem defensores

ávidos de um combate aos vícios que esta enferma, preferem uma postura que, não sendo

propriamente neutral terá antes uma visão evolucionista, advogando que este fenómeno é

irreversível e que todos – povos e países – se devem adaptar às suas idiossincrasias para

poderem sobreviver. Ao contrário do sistema que substituiu, este não é um sistema estático, mas

dinâmico; a globalização envolve a inexorável integração de mercados, nações-Estados e

tecnologias num grau nunca visto, de modo que permite a todos os actores presentes –

indivíduos, empresas e países – chegarem em todo o mundo mais longe, mais depressa, com

menos custos e mais profundamente do que em qualquer outra época (Friedman, pp. 33-36).

Outros ainda, numa perspectiva neo-keynesiana, falam ainda de uma Idade de Ouro que

identificam entre o final da Segunda Guerra Mundial e a primeira crise do petróleo em 1973. Os

anos 70 do século passado assinalam o fim de uma época de desenvolvimento ímpar e várias

décadas de crescimento. As mudanças entretanto ocorridas em termos do sector público, das

empresas privadas, instituições e políticas, levaram a mudanças nos regimes económicos.

Poderia ter-se optado por reformar o sistema de governo, gerir o crescimento de modo a que

atingisse os seus objectivos tradicionais no novo ambiente ou, em alternativa, poderia ter-se

corrigido o rumo permitindo suavizar a regulação dos mercados de modo que estes

estabelecessem as linhas e directrizes do futuro. No entanto as poderosas elites económicas

preferiram seguir a via do egoísmo do que a do interesse público. O resultado foi o neo-

liberalismo global. Criou-se desse modo uma nova e destruidora relação inter-dinâmica entre o

sector público e o privado, entre instituições e políticas, transformando o círculo virtuoso da

prosperidade num círculo vicioso de fraco crescimento, competição destrutiva e incipientes

relações laborais (Crotty, pp. 28-29).

7

No que os autores não discordam é que a força por detrás da globalização é a mão, nada

invisível, do poder financeiro internacional e o capitalismo de mercado livre que, associados

àquilo que Acemoglu designa por “confusão entre mercados livres e mercados desregulados”,

constituem os pilares do que os economistas mainstream chamam de economia neoclássica; um

eufemismo que, sua forma de intervencionismo mais cruenta nascida com o advento do

Consenso de Washington, despoleta uma poderosa reacção da parte dos que são brutalizados ou

deixados para trás por este sistema. Resta como certeza absoluta que a angústia definidora da era

da globalização é a sensação de que o nosso emprego, comunidade ou local de trabalho podem

ser transformados de um momento para o outro por forças económicas que são tudo menos

estáveis.

2. O fenómeno da globalização produz igualdades ou reforça desigualdades?

Existem duas perspectivas, a um tempo antagónicas e logicamente distintas, acerca dos

benefícios ou malefícios do neo-liberalismo e do sistema de mercado global perfeitamente

competitivo. Segundo o ponto de vista neo-liberal deve existir uma ausência total da

interferência estatal, seja na economia doméstica ou na economia internacional integrada, de

forma a estas serem mais eficientes. Esta perspectiva preconiza que numa economia desregulada

com o máximo de intensidade competitiva, os preços relativos e a persecução do lucro criam

eficiência microeconómica; os recursos são direccionados para o seu uso mais produtivo. As

pressões competitivas também mantêm os factores de mercado optimizados ou perto da

optimização; em equilíbrio existe pleno emprego e capacidade óptima de utilização. O controlo

da inflação tornar-se-á o único objectivo legítimo da política macroeconómica depositando para

esse fim, uma maior esperança na politica monetária do que na fiscal.

Por outro lado os críticos do neo-liberalismo concluem que a extensiva liberalização e a

integração global levará a que a politica obsessiva no que diz respeito à inflação por parte dos

bancos centrais e a instabilidade nos mercados financeiros manterá as taxas de juro reais muito

altas. Com as políticas macroeconómicas desfocadas do crescimento, o PIB real e a

produtividade assinalarão valores inferiores. A alta taxa de desemprego em simultâneo com

centrais sindicais débeis e relações de trabalho precárias, abrandarão a taxa de crescimento e

aumentarão as desigualdades. Os mercados financeiros tornar-se-ão mais instáveis. Os países

desenvolvidos que adoptem os princípios da política neo-liberal experimentarão um fraco ciclo

longo de crescimento, maior instabilidade e rápido incremento das desigualdades. Estes

problemas não são vistos como o resultado inevitável de uma maior integração global mas sim

8

causados pelo modo potencialmente destrutivo da integração associada ao neo-liberalismo

(Crotty, pp. 1-4).

2.1 Análise empírica

Uma vez que se pretende descortinar qual a realidade associada ao fenómeno da

globalização, seja incremento das desigualdades ou promoção das igualdades, procede-se de

seguida a uma análise nesse sentido.

Na visão de Stiglitz, para a maior parte do Mundo a globalização, como tem sido conduzida,

assemelha-se a um pacto com o demónio. Algumas pessoas nalguns países ficam mais ricas, as

estatísticas do PIB - pelo valor que possam ter - aparentam melhoras, mas o modo de vida e os

valores básicos da sociedade ficam ameaçados. Isto não é como deveria ser. (Stiglitz, J.,“The

Pact with the Devil”, introdução à sua Aula Magna, por ocasião da entrega do Prémio Nobel,

Estocolmo, 8/12/2001). Portanto, a globalização, que pode ser uma força propulsora de

desenvolvimento e da redução das desigualdades internacionais, está sendo corrompida por um

comportamento hipócrita que não contribui para a construção de uma ordem económica mais

justa e para um mundo com menos conflitos (Stiglitz, “Globalization and its discontents”, 2002).

Mais importante foi o facto de o crescimento económico mundial ter diminuído

significativamente: enquanto o PIB real teve uma média de crescimento anual médio na

economia mundial de 4,9% de 1950 a 1973, abrandou para 3% no período 1973-92. As taxas de

crescimento da Europa Ocidental caíram de 4,7% para 2,2%, na América Latina de 5,3% para

2,8% e na Ásia, o ultimo bastião da intervenção económica estatal – que foi igualmente a única

área do globo que não experimentou um abrandamento, o crescimento manteve-se entre os 5% e

os 6% durante todo o período (Crotty, pp. 6-7).

Um estudo do Banco Mundial, parece no entanto, lançar por terra a teoria da redução da

desigualdade no Mundo mostrando que, nas últimas décadas, não houve abrandamento mas sim

aumento da pobreza em termos mundiais. Utilizando cálculos para obter as três medidas de

pobreza - headcount, número de pobres e poverty gap – para pessoas vivendo com menos de 2

dólares por dia, os autores afirmam nesta passagem:

“Our estimates suggest less progress in getting over the $2 per day line. The poverty rate by this

higher standard has fallen from 67% in 1981 to 53% in 2001 (Table 3). This has not been a

sufficient decline to prevent a rise in the number of people living below $2 per day, from 2.4

billion to 2.7 billion (Table 4). Thus the number of people living between $1 and $2 has actually

risen sharply over these two decades, from about 1 billion to 1.6 billion. This marked “bunching

up” of poor people just above the $1 line suggests that a great many people in the world remain

vulnerable to aggregate economic slow downs.” (Chen, Ravallion, p. 16)

9

As tabelas a que os autores se referem estão publicadas em anexo. Da interpretação das

mesmas, da leitura do documento e a jeito de conclusão, releva que o fosso entre os muito ricos e

os cada vez mais pobres tem vindo a aumentar mesmo elevando a fasquia para os 2 dólares

como limite mínimo de sobrevivência diária. A era da globalização portanto, “taken the world as

a whole” tem vindo a incrementar a desigualdade em termos mundiais.

3. Convergência versus divergência.

A grande questão que se levanta não é de saber se a globalização é ou não benéfica para o

mundo como um todo, mas sim a da equidade na distribuição dos seus (hipotéticos) benefícios

entre os países e entre os indivíduos. É aí que se põe a maior parte dos problemas éticos.

Segundo Wallerstein, pouco se fez desde o final da 2.ª Guerra Mundial para diminuir o gap entre

países ricos e pobres, pelo contrário, a distância não parou de aumentar, algo que já os

revolucionários de sessenta e oito apregoaram a alta voz.

3.1 Sobre o tema da convergência.

O capitalismo, sob a forma de arranjo socioeconómico, tende a disseminar-se entre as várias

partes do globo, transpondo fronteiras nacionais de forma a conectar e a fundir mercados de

bens, serviços e activos. O fenómeno da globalização, lato sensu, é nesse sentido indissociável

do próprio capitalismo. Mais duvidosa é a expectativa de que tenda a produzir espaços

crescentemente homogéneos no que diz respeito ao desenvolvimento económico; de que tenda a

produzir convergência, em algum dos sentidos que têm sido emprestados ao termo.

A discussão do tema é dificultada pelo emprego do termo em muitas acepções diferentes.

Islam (apud, Macedo e Silva, p. 3), por exemplo, diferencia entre vários tipos de convergência.

a) Convergência dentro de uma economia e convergência entre economias;

b) Convergência em termos de taxa de crescimento e convergência em termos

de nível de rendimento;

c) Convergência- β e convergência-σ;

d) Convergência incondicional (ou absoluta) e condicional;

e) Convergência global e convergência local (ou “de clube”);

f) Convergência-rendimento e convergência-produtividade total dos factores.

Os exercícios de convergência-β testam a hipótese de que países inicialmente mais pobres

(com ou sem o controle de outras condições) tendam a crescer mais rapidamente do que os

países inicialmente mais ricos num período subsequente.

10

As regressões mais simples têm o formato:

Y = A + β Ln(Y0),

onde Y é a taxa de crescimento da amostra de países durante o período de estudo e Y0 é o

rendimento per capita no ano base.

A intuição é que, na presença de convergência, com os países pobres crescendo mais

rapidamente do que os ricos, o coeficiente β seja negativo. Já o conceito de convergência-σ

enfoca directamente a dispersão entre as várias economias. Entretanto, outros indicadores de

dispersão – como o coeficiente de variação e os índices de Gini e de Theil – são frequentemente

utilizados.

No modelo de crescimento de Solow, sob a hipótese simplificadora (e completamente

arbitrária) de parâmetros comportamentais e tecnológicos idênticos entre os países, todas as

economias tendem a configurações de steady state com idênticos níveis e taxas de crescimento

do rendimento per capita. Essa é a ideia de convergência incondicional. A presença de

parâmetros diferentes gera distintas configurações de steady state. Uma infinidade de diferentes

growthregressions procura estabelecer as condições da convergência condicional, destacando

factores de natureza geográfica, histórica, institucional, tecnológica, de política económica ou

ainda ligados ao grau de abertura (comercial, produtiva, financeira) ao exterior. Economias que

desfrutem de condições semelhantes tendem a configurações de equilíbrio semelhante,

caracterizando a chamada convergência de clube.

Branko Milanovic (2005), economista do Banco Mundial, demonstra que também a discussão

da desigualdade é perturbada pelo emprego de diferentes acepções do termo. Milanovic explora

três conceitos distintos de desigualdade:

a) “Conceito 1”: Desigualdade internacional não-ponderada ;

b) “Conceito 2: Desigualdade internacional ponderada pela população;

c) “Conceito 3”: “distribuição global do rendimento”.

O conceito 1 limita-se a comparar o rendimento per capita dos diversos países. As

comparações dizem respeito, portanto, ao “indivíduo médio” de cada nação, como se em cada

país houvesse apenas um único indivíduo. O conceito 2, para a composição de agregados,

pondera (por exemplo) o rendimento per capita de cada país pelo tamanho da sua população.

Assim, e obviamente dado o tamanho da população chinesa, o impacto do crescimento chinês

sobre qualquer medida de dispersão será muito maior no conceito 2 do que no conceito 1. Na

opinião de Milanovic, o conceito 1 responde se as nações estão convergindo (em termos de seus

11

níveis de rendimento). O conceito 2 é talvez o menos interessante uma vez que nem lida apenas

com nações nem com indivíduos mas fica em algum lugar entre ambos. Sua principal vantagem

é ser uma boa aproximação do conceito 3 (que, embora seja um conceito óptimo, é o mais difícil

de computar).

Quadro 1

Comparação dos três conceitos de desigualdade segundo Milanovic

Fonte: Milanovic (2005, p. 10)

3.2 O PIB global: desempenho e composição por países e regiões

O Quadro PIB PPP (ver Anexos), regista outro importante ponto metodológico, que diz

respeito à conversão dos dados nacionais a uma unidade monetária comum; os chamados dólares

Geary-Khamis para o emprego de taxas de câmbio de paridade de poder de compra (Purchasing

Power Parity - PPP). A observação do conjunto de dados mostra que, o PIB global, durante o

longo ciclo de expansão 1960-1973, apresentou desempenho mais dinâmico. Há relativamente

poucos casos de países para os quais o crescimento atinge o seu auge em período posterior. A

análise dos países revela a existência de uma maioria de países cujo padrão é o mesmo da

economia global: menos crescimento e mais volatilidade na era da globalização (atente-se, por

exemplo, no caso de Portugal). A situação inversa – mais crescimento e menos volatilidade -

ocorre apenas no caso da China.

O que o índice de Theil mostra (Gráfico 1), é uma queda da disparidade de rendimento entre

os países, quando levadas em conta as diferenças de tamanho em suas populações. De facto, a

linha pontilhada indica que o movimento é explicado integralmente pelo crescimento do

12

rendimento per capita da China, com sua enorme população. Excluída a China, percebe-se que a

concentração do rendimento aumenta, ainda que levemente, durante todo o período.

O Gráfico 2 mostra, por intermédio da razão entre o PIBpc PPP das seis maiores economias e

o PIBpc PPP norte-americano, que para aquelas, a convergência deixou de ocorrer.

O Gráfico 3 ilustra, de forma dramática, o descompasso entre o desempenho da Coreia e

Taiwan e o de um conjunto de países emergentes. Ilustra também como se estreita, nos últimos

anos, o diferencial entre Brasil e China.

No Gráfico 4, comparação semelhante pode ser realizada entre Japão e os quatro NICs

(Newly Industrialized Country), de um lado, e os demais países da Ásia dinâmica, do outro.

Salta aos olhos o sucesso dos NIC, que ultrapassam o Japão durante a sua “década perdida”. Por

essa razão, no Gráfico 5, retiram-se os “convergentes” asiáticos mais tradicionais.

O Gráfico 6 revela por sua vez o desempenho pouco impressionante das sete maiores

economias da América Latina. Apenas a economia chilena tem uma rota de convergência, e

mesmo assim somente a partir de meados da década de 80.

A análise empírica tem demonstrado a existência de “convergência condicional”: sob certas

condições, os países... convergem. O busílis está em determinar de forma convincente que

condições são essas. Parte importante da bibliografia tem insistido sobre o papel central das

instituições. De outro lado, porém, desenvolve-se uma literatura menos apriorística e mais atenta

à diversidade do mundo real. Para Rodrik, há sem dúvida alguns “princípios de primeira ordem

de política económica aos quais todos os países com êxito mais ou menos aderiram”:

estabilidade macroeconómica, integração à economia mundial, protecção aos direitos de

propriedade e enforcement dos contratos e manutenção de algum grau de “coesão social,

solidariedade e estabilidade política” (Rodrik, p. 3).

4. Conclusões

Os entusiastas da globalização prometiam que o futuro político e económico do Mundo sendo

entregue ao mercado livre global desregulado, alteraria dramaticamente as performances

económicas quer nos países desenvolvidos quer nos em vias de desenvolvimento. O que se

percepciona, com base nos textos que serviram de suporte a este estudo, é que este foi um

caminho para a instabilidade económica, com as trocas comerciais entre as nações a crescerem

exponencialmente, o grau de integração da finança global a explodir geometricamente, com os

fluxos de capitais externos a fluir fora de qualquer controlo governamental e da regulação social

dos assuntos económicos.

13

Apesar do peso que os governos ainda têm na maioria das economias, estes cederam uma

enorme proporção do seu poder económico aos mercados globais e aos interesses privados. A

globalização levanta novos desafios especialmente em face do papel do governo, dos

trabalhadores e dos cidadãos na nova ordem económica mundial em que as economias de

mercado se tornaram os paradigmas da competição para as políticas públicas e de governação. O

nível de a quem as externalidades negativas da globalização são internalizadas, difere de acordo

com o sucesso diferencial dos regimes de regulação/compensação e com a extensão com a qual

as economias incorporam as éticas do jogo limpo nas suas práticas. Todos estes conceitos são

afectados e conduzidos quer pela inovação tecnológica, quer pelo comércio globalizado;

encontram-se num equilíbrio frágil, estão inter-relacionados e necessitam ser conduzidos de

maneira coerente e de modo mutuamente reforçado.

Nenhuma transformação da sociedade deve ocorrer sem haver uma melhoria daqueles que

estão em pior situação (Rawls, 1971). No fundo, a manifestação máxima do desejo que Kant

disse que temos de nos expressar como seres racionais, livres e iguais e isto inclui o direito a

saber, o direito a participar e o direito ao benefício das transformações operadas no seio da

economia global. É ponto assente que o futuro do desenvolvimento deve ser sustentável, mas

este desenvolvimento sustentável deve ser visto como um conceito amplo que incorpore

preocupações acerca da economia, do ambiente e do emprego, que estão neste momento a ser

erodidas pela alteração do locus do comércio mundial. Sem instituições fidedignas que garantam

a aplicação das regras do jogo e uma distribuição equitativa da nova economia global, a justiça

não será alcançada.

Segundo Bourguignon, - embora, diga-se, de um modo pouco assertivo - (Bourguignon et al,

p.8) independentemente do tipo de análise empírica de medição do grau de pobreza e de

desigualdade no Mundo, é possível chegar às seguintes conclusões:

- Desde 1950, embora as desigualdades inter-países tenham continuado a crescer (ponderado

com o peso total da população), a desigualdade em termos mundiais primeiro estabilizou e

depois começou a decrescer. Isto reflecte o efeito de catching-up dos países da Ásia em relação

com os E.U.A. e com os da Europa;

- O aumento da desigualdade intra-país atenuou o declínio da desigualdade em termos mundiais,

associada ao crescimento, em alguns dos maiores e mais populosos países, nomeadamente China

e Índia. No entanto, a desigualdade global parece ter caído, ou pelo menos ter atingido um

patamar mais elevado, no final dos anos 90;

14

- Embora o tema da desigualdade nos primeiros anos do século XXI ainda não tenha sido

devidamente analisado, parece claro que esta tendência continuou. Desde 2002 a taxa de

crescimento médio para os países de baixo rendimento tem estado acima da dos países de alto

rendimento, pela primeira vez desde os anos sessenta;

- A desigualdade absoluta no Mundo, o “gap” absoluto entre ricos e pobres, tem estado a subir

pelo menos desde a década de 70 e, provavelmente, desde muito antes dessa época;

- Mesmo assim, a incidência da pobreza absoluta no Mundo tomado em conjunto, tem vindo a

cair desde pelo menos o inicio dos anos 80, embora mais rapidamente em alguns períodos e em

algumas regiões do que noutras;

- Algumas grandes disparidades no desenvolvimento humano continuam a persistir, embora seja

encorajador que as desigualdades globais no que diz respeito a objectivos na saúde e na

educação tenha vindo a cair um pouco por toda a parte (...).

Concluindo, da análise da informação consultada pode-se condensar, em 10 pontos, o

seguinte:

(i) Na “era da globalização” (grosso modo iniciada nos anos 80), houve um ligeiro aumento

da instabilidade do crescimento global (medida pelo coeficiente de variação do PIB);

(ii) O aumento mais significativo ocorreu no segmento dos países classificados pelo Banco

Mundial como de rendimento médio; a participação dos países em desenvolvimento no

PIB global é crescente, tendo superado ligeiramente, a dos países desenvolvidos;

(iii) As mudanças na composição do PIB global, porém, não podem ser descritas

simplesmente por intermédio da contraposição entre países desenvolvidos e em

desenvolvimento;

(iv) No período da globalização, o crescimento económico tem se concentrado nos Estados

Unidos e na chamada Ásia dinâmica, cabendo a esses dois blocos as mais importantes

contribuições ao crescimento do PIB global;

(v) Em termos de ponderação na economia global, tem-se assistido a forte aumento do peso

da Ásia, em contraste com perdas de participação significativas dos países desenvolvidos

(exclusive E.U.A.), do Leste Europeu e da América Latina;

(vi) A convergência é também um fenómeno essencialmente asiático; na América Latina, a

única excepção relevante é o Chile;

(vii) Há uma significativa desconcentração do rendimento no âmbito global, mas esta é

explicada essencialmente pelo desempenho chinês;

15

(viii) Medida pelo diferencial de rendimento per capita entre os países mais ricos e os países

mais pobres, a concentração continua a aumentar;

(ix) Constata-se também um importante aumento da participação dos países em

desenvolvimento nas exportações globais;

(x) O aumento concentra-se, novamente, na Ásia dinâmica.

16

17

FONTES BIBLIOGRÁFICAS

1. ACEMOGLU, D. “The Crisis of 2008: Structural Lessons for and from Economics”, MIT, January

11, 2009.

2. BOURGUIGNON, F. et al, “Global income inequality”, in: The Princeton Encyclopedia of the World

Economy, 2008).

3. CHEN, S., RAVALLION, M. “How have the world’s poorest fared since the early 1980s?”

Development Research Group, World Bank, World Bank Policy Research Working Paper 3341, June

2004.

4. CROTTY, J. “Slow Growth, Destructive Competition, and Low Road Labor Relations: A Keynes-

Marx-Schumpeter Analysis of Neoliberal Globalization.” University of Massachusetts Amherst,

Working Paper Series, 2000).

5. FRIEDMAN, T.L., “The Lexus and the Olive Tree – Understanding Globalization.”2000, ISBN 972-

564-426-3.

6. MACEDO e SILVA, A., “Convergência e desigualdade na economia global”. Universidade de

Campinas, Brasil. Texto para discussão, 2007, ISSN 0103-9566.

7. RAWLS, J. “A Theory of Justice”, Cambridge, Massachusetts: Belknap Press, 1971. ISBN: 0-674-

00078-1.

8. RODRIK, D. “Getting Institucions Right”. CESifo DICE Report, 2/2004.

9. WALLERSTEIN, I., “World-Systems Analysis”, Duke University Press, 2005.

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ANEXOS

20

21

Gráfico 1

Índice T de Theil da distribuição internacional do rendimento (ponderado pela população)

Fonte: Penn World Table Version 6.2, Center for International Comparisons of Production, Income and Prices at the University of

Pennsylvania, Sept. 2006

22

Gráfico 2

G-6: razão entre PIBpc (PPP) e PIBpc USA

Fonte: The Conference Board and Groningen Growth and development Centre, Total Economy Database, Sept. 2006.

23

Gráfico 3

Alguns países emergentes: diferença entre PIBpc (PPP) e PIBpc médio do G-7

Fonte: The Conference Board and Groningen Growth and development Centre, Total Economy Database, Sept. 2006.

24

Gráfico 4

Japão e Ásia dinâmica: diferença entre PIBpc (PPP) e PIBpc médio do G-7

Fonte: The Conference Board and Groningen Growth and development Centre, Total Economy Database, Sept. 2006.

25

Gráfico 5

China, India e Asean-4: diferença entre PIBpc (PPP) e PIBpc médio do G-7

Fonte: The Conference Board and Groningen Growth and development Centre, Total Economy Database, Sept. 2006.

26

Gráfico 6

América Latina-7: diferença entre PIBpc (PPP) e PIBpc médio do G-7

Fonte: The Conference Board and Groningen Growth and development Centre, Total Economy Database, Sept. 2006.

27

Tabela 3 do Banco Mundial (headcount, índices de pobreza no Mundo)

Fonte: CHEN, S., RAVALLION, M.

28

Tabela 4 do Banco Mundial (número de pobres no Mundo)

Fonte: CHEN, S., RAVALLION, M.

29

Quadro 2

PIB PPP: taxas médias anuais de crescimento

Fonte: The Conference Board and Groeningen Growth and Development Centre, Total Economy Database, Sept. 2006.

(Elaboração própria).

1960-1970 1970-80 1980-90 1990-00 2000-03

Europa Ocidental

Alemanha 4,2 2,7 1,4 2,1 0,4

Austria 4,7 3,6 2,3 2,6 1,1

Bélgica 4,9 3,4 1,9 2,1 1,2

Dinamarca 4,5 2,2 2,0 2,6 0,6

Finlândia 4,8 3,4 3,1 1,8 1,9

França 5,6 3,2 2,3 2,1 1,4

Holanda 5,1 2,9 2,2 2,9 0,5

Itália 5,8 3,6 2,2 1,6 0,8

Noruega 4,2 4,7 2,4 3,7 1,7

Reino Unido 2,8 2,0 2,6 2,4 2,2

Suécia 4,6 2,0 2,0 2,0 1,6

Suiça 4,7 1,2 2,1 1,0 0,4

Total 12 Europa 4,5 2,8 2,1 2,1 1,1

Coesão

Espanha 8,6 4,9 3,2 2,8 3,1

Irlanda 4,2 4,7 3,6 7,1 5,6

Grécia 7,6 4,7 1,6 2,3 4,4

Portugal 6,4 4,7 3,2 2,9 0,5

Total 29 Europa 4,8 3,0 2,2 2,3 1,4

ex-Colónias Europeias

Austrália 5,3 3,3 3,3 3,6 3,6

Canadá 5,1 4,3 2,8 2,9 2,3

E.U.A. 4,2 3,2 3,2 3,3 1,7

Nova Zelândia 3,5 2,1 1,8 2,8 3,9

Total ex-colónias Europeias 4,3 3,3 3,2 3,3 1,8

Federação Russa -3,9 5,7

Total 7 países Leste europeu 4,3 3,8 -0,2 0,8 3,1

Total ex-URSS 4,8 2,4 1,5 -4,3 6,4

8 Países América latina

Argentina 4,3 2,9 -0,9 4,2 -2,5

Brasil 5,7 8,1 1,5 2,7 1,3

Chile 4,2 2,5 2,9 6,4 3,2

Colômbia 5,2 5,5 3,4 2,4 2,5

Mexico 6,5 6,6 1,8 3,4 0,7

Peru 5,6 3,8 -1,3 4,4 3,0

Uruguai 1,5 2,8 0,5 2,7 -4,2

Venezuela 4,6 2,7 0,7 2,1 -4,5

Total 8 5,3 5,7 1,3 3,3 0,5

Total América Latina 5,3 5,6 1,3 3,2 0,7

Ásia

China 3,7 5,0 7,2 7,2 12,4

Coreia Sul 8,7 8,4 9,1 5,9 4,6

Filipinas 4,9 5,9 1,7 3,0 3,6

Hong Kong 8,9 9,0 6,5 4,5 1,8

India 3,7 3,1 5,6 5,6 6,1

Indonesia 3,6 7,1 5,0 4,1 4,1

Japão 10,5 4,5 4,0 1,4 0,4

Malásia 5,8 8,3 6,0 7,1 3,2

Singapura 9,2 9,0 7,1 7,7 0,4

Tailândia 7,8 6,7 7,8 4,5 4,8

Taiwan 10,0 9,2 6,7 6,4 1,5

Oriente Médio e Turquia

Turquia 5,7 5,1 5,4 3,6 1,8

Total 15 Oriente Médio 7,7 6,2 2,1 3,7 3,0

Total Ásia 6,3 5,0 5,1 4,7 6,3

África

Africa do Sul 5,7 3,4 1,4 1,7 3,0

Total Africa 5,0 4,0 2,2 2,7 4,0

Total Mundial 5,0 3,8 3,1 3,0 3,6

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