conservaÇÃo de superfÍcies arquitetÓnicas · cal aérea calcítica e agregado silicioso e...
TRANSCRIPT
CONSERVAÇÃO DE SUPERFÍCIES ARQUITETÓNICAS
Maria do Rosário Veiga [email protected]
outubro 2013
1
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
Argamassas de edifícios históricos. Composições e funções específicas
Maria do Rosário Veiga
Argamassas históricas Diagnóstico e anomalias Estratégias de conservação Materiais compatíveis
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
3
Reparação
Conhecimento das paredes antigas e respetivos
revestimentos
Diagnóstico
Eliminar / controlar causas
Manutenção e recuperação do
património histórico
Causas Anomalias
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
4
Manutenção
Estratégia
Materiais tradicionais Técnicas de consolidação
Reparação
Compatibilidade
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
As paredes de edifícios históricos são
Elementos essenciais da sua estrutura resistente Proteção do espaço interior em relação às ações externas: chuva,
vento, temperaturas extremas, ruído, etc.
Estas funções exigem Boa resistência mecânica Características hígricas, térmicas e acústicas adequadas a essas funções
INTRODUÇÃO
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
São elementos compósitos Constituídas por materiais porosos O seu bom desempenho depende da compatibilidade de todos os
constituintes e do consequente bom funcionamento conjunto.
INTRODUÇÃO
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
As argamassas fazem parte integrante da parede e têm que ter composição e características compatíveis
com o tipo de alvenaria com os restantes materiais que constituem a parede (incluindo
argamassas préexistentes) com o grau de exposição às ações climáticas e ambientais e com as funções que desempenham no elemento construtivo.
É necessário analisar a parede como um todo e considerar as argamassas nesse contexto.
Em qualquer intervenção na alvenaria é essencial:
ter presente o funcionamento global da parede
usar materiais e técnicas que preservem esse funcionamento
INTRODUÇÃO
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
FUNÇÕES DAS ARGAMASSAS
Argamassas de assentamento (função estrutural)
Argamassas de refechamento de juntas (funções de proteção à água e ao ar e decorativa)
Argamassas de reboco exterior (funções de proteção às ações externas, nomeadamente à água e outras ações climáticas, e funções decorativas)
Argamassas de reboco interior (funções estéticas, de conforto e decorativas)
Barramentos e estuques (funções decorativas e de proteção complementar)
Argamassas de assentamento de azulejos (funções de colagem)
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
FUNÇÕES DAS ARGAMASSAS
Classificação das argamassas por funções
Relevância dos requisitos técnicos
Requisitos Técnicos Assentamento Refechamento
de juntas
Reboco
exterior
Caldas
(grout)
Revestimento
interior
Aderência 3 3 3 2 3
Resistência mecânica (flexão e
compressão) 2* 2* 1* 2* 1*
Deformabilidade e elasticidade (E) 3 3 2 3 1
Proteção às ações climáticas
Resistência à penetração da água 2 3 3 1 1
Resistência ao gelo 2 3 3 1 0
Dilatação térmica 1 1 3 1 3
Permeabilidade ao vapor de água 2 3 3 1 3
Comportamento à molhagem e
secagem 2 3 3 1 2
Estética 1 3 3 0 3
*Os valores das características mecânicas das argamassas devem ser inferiores às dos blocos (pedras, tijolos, etc.)
Segundo o TC 203 RHM
(RILEM) (2010):
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS
A caracterização das argamassas existentes é muito importante para: Registo histórico Avaliação do seu estado de degradação Seleção e formulação de argamassas de reparação compatíveis
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS
Estudo da composição – são usadas várias técnicas complementares, para se chegar o mais perto possível da sua composição atual:
Difração de raios X (DRX) – identificar os compostos cristalinos principais (por exemplo carbonato de cálcio, silicatos, etc.).
Análises térmicas (DTG/ATD) – quantificar a presença de vários compostos, através de reações conhecidas ocorridas a temperaturas bem definidas.
Ataque com ácido clorídrico ou nítrico – separar os carbonatos (normalmente provenientes dos ligantes) dos agregados de natureza não calcária e ainda dos compostos hidráulicos, sendo assim possível determinar aproximadamente as proporções entre esses constituintes.
Análise petrográfica – determinar a natureza, dimensões e forma dos principais agregados e ter uma ideia dos vários tipos de vazios, porosidades e fissuras da argamassa.
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS
Espectrofotometria de infravermelho (FTIR) – para detetar e identificar a presença de constituintes orgânicos.
Microscopia eletrónica de varrimento associada com a microanálise de raios X por dispersão em energias (MEV/AXDE) – caracterização à escala do micrómetro para materiais heterogéneos orgânicos e inorgânicos.
Existem muitas outras técnicas complementares a estas para uma análise tão aproximada quanto possível da composição das argamassas antigas.
No entanto, deve ter-se em conta que as composições a que se chega não são as originais, mas sim as atuais, após prolongadas reações entre os constituintes, eventuais dissoluções e “lavagens” de ligantes, cristalização de sais no interior dos poros e contaminações diversas. Ou seja, esta análise não permite, só por si, elaborar argamassas para reparação idênticas às originais.
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS
Caracterização física e mecânica:
Determinar o estado de conservação
Definir as características de compatibilidade
Estabelecer exigências de durabilidade
Os provetes retirados de obra têm formas e dimensões diferentes dos provetes previstos nas normas; foi necessário desenvolver métodos de caracterização apropriados e viáveis para determinar as características mais importantes para definir a compatibilidade:
Resistência à compressão
Absorção de água por capilaridade
Permeabilidade ao vapor de água
Módulo de elasticidade por ultra-sons
Coeficientes de dilatação térmica e hígrica
Estrutura porosa (porosidade em vácuo e MIP)
.
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS
Nas intervenções com argamassas de reparação pretende-se que as tensões, as deformações e o transporte de água não tenham grandes variações em relação às argamassas originais, para preservar o funcionamento da parede e proteger as argamassas mais antigas.
Alguns problemas típicos de incompatibilidade de argamassas de reparação:
O uso de argamassas de refechamento de juntas mais impermeáveis que as pré-existentes faz com que o transporte da água da chuva passe a ocorrer preferencialmente através das argamassas antigas ou através da própria pedra, contribuindo para acelerar a degradação desses elementos históricos e alterando o funcionamento global da parede.
Do mesmo modo, se usarmos argamassas de substituição menos deformáveis que as originais, teremos concentrações de tensões junto às interfaces com os materiais antigos, que contribuirão para a degradação destes.
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS
O uso de argamassas de reboco mais impermeáveis que as pré-existentes origina maior ascensão capilar pelo interior da parede; retenção de água na interface entre a alvenaria e o reboco; cristalização de sais nessa interface; provável destacamento do novo reboco.
O mesmo acontece se se usar uma pintura de baixa permeabilidade ao vapor de água, mesmo que o reboco seja compatível.
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
Alguns factos que descobrimos ou confirmámos nos nossos estudos:
16
Argamassas Romanas de Conímbriga (aprox. séc. I) – pó de tijolo (e
fragmentos de tijolo
VELOSA, A; COROADO, J.; VEIGA, M. R.; ROCHA, F. – Characterisation
of roman mortars from Conímbriga with respect to their repair. Materials
Characterisation, 58, (11-12 Spec. issue), 2007, pp 1208-1216.
CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
17
Alguns factos que descobrimos ou confirmámos nos nossos estudos:
Estuques do período Islâmico (aprox. séc. XII) em Mértola (Mhirab) – gesso
FREIRE, T.; SANTOS SILVA, A.; VEIGA, M. R.; BRITO, J. –
Caracterização de Revestimentos Interiores Antigos Portugueses. In
3º Congresso Nacional de Argamassas de Construção, APFAC, Lisboa:
18 e 19 de Março de 2010.
CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
18
Cal aérea calcítica e agregados com granulometria bem distribuída,
principalmente quartzítica mas também incorporando grãos de basalto alterados.
Teores elevados de compostos hidráulicos resultantes de reações pozolânicas
entre cal e agregados.
Polimorfos da calcite: aragonite e vaterite.
Teores elevados de sais solúveis.
Resistentes e compactas.
Alguns factos que descobrimos ou confirmámos nos nossos estudos:
Forte de N. Sra da Luz , séc. XVI-XIX,Cascais – Argamassas de cal aérea
com elevada durabilidade em ambiente marítimo
CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
19
Edifício do LNEC, 1950, Lisboa – Marmorite de cal aérea
Alguns factos que descobrimos ou confirmámos nos nossos estudos:
VEIGA, M. R.; TAVARES, M. T.; MAGALHÃES, A. C. – Restauro da fachada em
marmorite de cal do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa.
Materiais, métodos e resultados. Conferência convidada in Actas do VII
Seminário Brasileiro de Tecnologia de Argamassas, Recife, Brasil, Maio de 2007.
CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
Foram estudadas argamassas de numerosos edifícios históricos
de tipo militar, religioso e residencial corrente, do século I a meados do século XX localizados em zonas costeiras e no interior
Verificou-se que as argamassas antigas de todos os edifícios estudados têm:
Ligante: cal aérea calcítica e/ou dolomítica; nalguns revestimentos interiores encontrou-se ainda o ligante gesso (revestimento interior)
Agregados: siliciosos, basálticos, calcários, argilosos Dosagens ligante : agregado: 1:1,5 a 1:15 – em massa Tendo em conta as massas volúmicas médias correntes dos constituintes usados –
correspondem a traços volumétricos de 1:0,5 a 1:5 Não foram encontrados ligantes hidráulicos, embora tenham sido detetados alguns
compostos hidráulicos resultantes de reações pozolânicas ocorridas ao longo do tempo entre os constituintes, principalmente nas argamassas mais antigas e nas argamassas romanas
CARACTERÍSTICAS DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
CARACTERÍSTICAS DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS
Tipo de construção e identificação
Época Função da argamassa
Composição da argamassa (traços aproximados em massa)
Características da argamassa
Mecânicas (Resis. à compressão e módulo de elasticidade
em N/mm2)
Hígricas (Coef. de
capilaridade em kg/m2.min½)
Co
nst
ruçõ
es m
ilit
ares
de
alve
nar
ia d
e p
edra
Forte de Santa Marta
XVII Revestimento Cal calcítica e areia siliciosa e calcária
1:1,5 (int) 1:1,8 (ext)
- Cc=0,4 (int) Cc=0,6 (ext)
Forte de S. Bruno
XVII Revestimento Cal aérea e areia siliciosa e calcária;
compostos hidráulicos de neoformação ?:?
Rc=7,1 Cc=0,2
Forte de N. Srª da Luz
XV-XVI Revestimento-
reboco (NSL-TJ1-I)
Cal calcítica:agregado silicioso e basáltico; compostos hidráulicos de neoformação
1:2 E=2800 Cc=3,8
XV-XVI Assentamento
(NSL-TJ2)
Cal calcítica:agregado silicioso c/ conchas e carvão e agregado basáltico
compostos hidráulicos de neoformação ?:?
E=1500 Rc=1,7
Cc=6,2
XVIII-XIX Assentamento
(NSL-BS5)
Cal dolomítica:agregado silicioso c/ conchas e carvão e compostos hidráulicos
de neoformação 1:2
E=1900 Rc=1,4
Cc=3,2
XVII-XVIII
Reboco (NSL MS9)
Cal calcítica : agregado silicioso c/ conchas e carvão e compostos hidráulicos
de neoformação 1.2
E=3500 Rc=2,0
Cc=2,0
Castelo de Amieira do Tejo
XIV Revestimento
(AM2)
Cal calcítica e dolomítica: agregado silicioso
1:1,5 Rc=3,6 CC5=0,7
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
Argamassas de edifícios de carácter militar – pretendia-se maior resistência e durabilidade
CARACTERÍSTICAS DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS
Composições ricas em ligante. Cal aérea calcítica e agregado silicioso e calcário, por vezes com grãos basálticos e conchas. Os grãos basálticos dão origem a reações pozolânicas, muito lentas; tendo em conta o tipo de edifícios em que têm sido encontrados, admite-se que possam ter sido usados propositadamente com esse fim.
Fortes séc. XVII na barra do Tejo
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
CARACTERÍSTICAS DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS
Tipo de construção e
identificação Época
Função da
argamassa
Composição da
argamassa
(traços aproximados
em massa)
Características da argamassa
Mecânicas
(Resis. à compressão
e módulo de
elasticidade em
N/mm2)
Hígricas
(Coef. de
capilaridade em
kg/m2.min½)
Co
nst
ruçõ
es m
ilita
res
de
terr
a (c
om
alg
um
as
estr
utu
ras
de
alve
nar
ia)
Fortes das Linhas
de Torres (Projeto
das Rotas
Históricas das
Linhas de Torres –
RHLT)
XIX
(1809-1810)
Juntas e
Revestimento
(amostras retiradas
dos paióis de
alvenaria de pedra)
Cal calcítica : argila
(terra) : agregado
silicioso e calcário
1:1:5 a 15
Shore A: 39 a 69
(Dureza fraca a
moderada)
- Não foi possível
fazer o ensaio de
compressão -
Cc5=0,2 a 4,0
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
CARACTERÍSTICAS DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS
Argamassas pobres em cal e com mistura de terra, mesmo nos elementos de alvenaria de pedra.
Edifícios militares de taipa
Fortes de Linhas de Torres – séc. XIX (1809-10)
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
Tipo de construção e identificação
Época Função da argamassa Composição da argamassa
(traços aproximados em massa)
Características da argamassa
Mecânicas (Resis. à compressão e módulo de elasticidade
em N/mm2)
Hígricas (Coef. de capilaridade
em kg/m2.min½)
Co
nst
ruçõ
es r
elig
iosa
s d
e al
ven
aria
de
ped
ra
Catedral de Elvas
XVI
Revestimento (SEL 1, SEL 5)
Cal calcítica e agregado silicioso e calcário
1:2,5; 4,5
Rc=2,0 Rc=3,0
Cc5=1,0 Cc5=0,4
Juntas (SEL 6)
Cal calcítica e agregado silicioso e calcário
1:1,5 Rc=3,1 Cc5=0,4
Capela do Castelo de
Amieira do Tejo XVI
Revestimento exterior (AM3)
Cal calcítica e agregado silicioso
1:5,5 Rc=2,4 CC5=1,2
Igreja Matriz de Mértola
XII (período Islâmico)
Revestimento (Mihrab) (MT4)
Ligante gesso : agregado silicioso 1:0,15
Rc=3,5 CC5=3,3
Junta (MT5) Ligante cal calcítica : agregado
silicioso 1:3
Rc=3,3 CC5=1,0
Revestimento (MT4) Ligante cal calcítica : agregado
aluvionar 1:4
- -
Catedral de Évora
XVI-XVII Revestimento (SEV2,
SEV 4, SEV 8)
Cal calcítica e dolomítica : agregado silicioso 1:1,5; 1:2,5; 1:3,5
Rc=3,3 Rc=3,5 Rc=2,3
CC5=0,3 Cc5=0,3 Cc5=0,3
XIV? Junta (SEV6, SEV 7) Cal calcítica: agregado silicioso
1:4 e 1:3,5 - -
Igreja do Sacramento
(exterior) XVII
Revestimento SE12)
Cal aérea calcítica : areia siliciosa + basalto + conchas
(1:1,7) Rc=3,1 Cc5=0,2
Igreja do Sacramento
(interior) XVII Revestimento (S1)
Cal aérea calcítica : areia siliciosa + basalto (1:?)
E=2800 Rc=2,4
Cc=0,1
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
CARACTERÍSTICAS DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS
Dosagens de ligante intermédias; mostram diferentes ligantes e agregados muitas vezes selecionados para cumprir funções estéticas e decorativas
Argamassas dos edifícios religiosos
Catedral de Évora - Lisboa Sécs. XVI-XVII
e Igreja do Convento do Sto Sacramento – Lisboa
Sécs. XVII-XVIII
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
Tipo de construção e identificação
Época Função da argamassa
Composição da argamassa
(traços aproximados em massa)
Características da argamassa
Mecânicas (Resis. à compressão e módulo de elasticidade
em N/mm2)
Hígricas (Coef. de
capilaridade em kg/m2.min½)
Co
nst
ruçõ
es
resi
den
ciai
s p
op
ula
res
de
al
ven
aria
de
p
ed
ra e
mis
ta
Edifícios do Centro Histórico
de Palmela
XVI (PAL1) Revestimento Cal aérea calcítica : areia
siliciosa + argila (1:12) Rc=1,2 MPa Cc5=1,2
XX (início) (PAL3)
Revestimento Cal aérea calcítica : areia
siliciosa + argila (1:12) Rc=2,7 MPa Cc5=1,0
Co
nst
ruçõ
es d
o
per
íod
o Is
lâm
ico
de
al
ven
aria
de
pe
dra
Igreja Matriz de Mértola
XII
Revestimento (Mihrab) (MT4)
Gesso : agregado silicioso 1:0,15
Rc=3,5 CC5=3,3
Junta (MT5) cal aérea calcítica : agregado
silicioso 1:3
Rc=3,3 CC5=1,0
Revestimento (MT4)
cal aérea calcítica : agregado aluvionar
1:4 - -
Co
nst
ruçõ
es R
om
anas
de
alv
enar
ia
de
ped
ra e
mis
ta
Criptopórtico de Mértola
IV - - Rc=1,5 a 3,5 CC5=0,70 a 0,30
Torre do Rio de Mértola
(alvenaria de mármore – MT1
– e de xisto – MT2)
IV-V Juntas (MT1 e
MT2)
Cal aérea calcítica : agregado quartzítico de xisto + fragmentos de tijolo + pó
de tijolo; Compostos hidráulicos de
reação 1:2 (MT1) 1:5 (MT2)
Rc = 3,5 (MT1) Cc=5=0,3 (MT1)
Cetária de Troia I-IV Juntas Cal aérea calcítica,
fragmentos de tijolo e pó de tijolo
Rc= 4,5 a 5,5 CC5=0,43 a 0,37
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
Argamassas de edifícios correntes
CARACTERÍSTICAS DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS
Traços mais fracos em ligante e agregado com mistura de argila.
Edifícios do Centro Histórico de Palmela –
sécs XIII a XX
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
CARACTERÍSTICAS DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS
Argamassas islâmicas Argamassas só de cal aérea, sem elementos cerâmicos Encontrou-se argamassa interior de gesso (estuque)
Mihrab da Mesquita de Mértola (séc. XII)
“Casas Islâmicas” no Castelo de S. Jorge
Muralha de Tavira (séc. VII)
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
CARACTERÍSTICAS DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS
Argamassas romanas
Agregados de fragmentos de tijolo e pó de tijolo. Estes elementos cerâmicos combinam-se com a cal através de reações pozolânicas, dando origem a produtos hidráulicos. Dão a cor rosada característica do opus signinum. Argamassas de baixas permeabilidades adequadas para estruturas em contacto com a água, como a Torre do Rio de Mértola e a Cetária de Tróia.
Mértola – Baptistério Tróia – Cetária Conímbriga
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
CARACTERÍSTICAS DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS
Apresentam em dois casos (Castelo de Amieira do Tejo e Catedral de Évora) cal aérea dolomítica, além da cal aérea calcítica.
Argamassas de revestimento dos edifícios medievais do Alentejo
Argamassas de edifícios de carácter militar localizados junto à costa
Ligante só de cal aérea calcítica Mas apresentam compostos hidráulicos de neoformação resultantes de reações deste ligante com agregados siliciosos alterados e basálticos. Muito compactas e resistentes, apesar dos cristais salinos encontrados na sua composição. Nestes edifícios, o desenvolvimento e tipo de compostos de neoformação permitem distinguir, até certo ponto, as idades das argamassas e a sua localização, o que acrescenta ainda uma nova utilidade a estes estudos.
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
REPARAÇÃO
Quando se iniciam processos de degradação a reparação das anomalias deve
ser realizada tão cedo quanto possível, mas tendo em conta os seguintes
princípios básicos:
Primeiro devem ser diagnosticadas e reparadas as causas das anomalias.
Deve seguir-se o princípio da mínima intervenção.
Deve preservar-se o funcionamento global da parede usando soluções e
materiais compatíveis.
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
REPARAÇÃO
A forma mais segura de executar intervenções em argamassas de edifícios
históricos implica a análise tão completa quanto possível de amostras das
argamassas originais e a aproximação de argamassas novas através de um
processo iterativo:
Inicia-se o processo por uma formulação baseada nos resultados da análise das
argamassas antigas em bom estado de conservação; caracteriza-se a
argamassa obtida dos pontos de vista físico e mecânico; em seguida corrige-se
a formulação de forma a aproximar mais das características originais; repete-se
o processo até que a argamassa obtida se possa considerar compatível;
executam-se aplicações experimentais dessa argamassa; se for necessário faz-
se ainda uma (ou mais) correção(ões) à formulação definida.
No entanto, dada a morosidade do processo e o tempo limitado disponível é
necessário começar tão perto quanto possível da última iteração e para esse
efeito é útil conhecer características de uma gama abrangente de argamassas
novas.
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
CONCLUSÕES
As argamassas têm funções diversas e importantes nas alvenarias históricas, que implicam o cumprimento de requisitos funcionais específicos.
As composições das argamassas antigas variam com o tipo de edifício e de alvenaria, a época de construção, a localização e a exposição aos agentes externos.
Contudo, apesar da diversidade de composições, as argamassas antigas encontradas em edifícios Portugueses de alvenaria, entre o século I e o início do século XX, têm como ligante principal a cal aérea (calcítica ou calcítica e dolomítica) e agregados siliciosos, calcários e, menos frequentemente, de outras naturezas.
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
CONCLUSÕES
As intervenções a realizar sobre estas argamassas devem ter como objetivo preservar, não só o seu aspeto, mas também o funcionamento global da parede e garantir a sua durabilidade como um todo, com especial destaque para os elementos mais antigos.
Para isso é necessário conhecer com profundidade as argamassas pré-
existentes e a sua dinâmica de evolução ao longo do tempo, ter uma boa informação sobre as soluções atuais existentes para argamassas compatíveis e procurar formulações adequadas com composições e características suficientemente próximas das originais para garantirem um bom comportamento global.
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
AGRADECIMENTOS
Projeto Limecontech – Conservação e durabilidade de revestimentos
históricos: técnicas e materiais compatíveis
(PTDC/ECM/100234/2008)
Toda a equipa do LNEC e das instituições parceiras (visível na lista
de referências a seguir)
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
REFERÊNCIAS
TAVARES, M.; MAGALHÃES, A.; VEIGA, M. R.; VELOSA, A.; AGUIAR, J. –
Repair mortars for a maritime fortress of the XVII th century. In Medachs,
Lisboa, LNEC, Janeiro de 2008
BORGES, C.; SANTOS SILVA, A.; VEIGA, M. R. – Ancient mortars under action
of marine environment: a physico-chemical characterization. In 2nd Historic
Mortars Conference. RILEM Proceedings PRO 78, Praga, 22-24-Setembro de
2010. ISBN:978-2-35158-112-4.
BORGES, C.; SANTOS SILVA, A.; VEIGA, M. R. – Durability of Ancient mortars
in water environment. In press.
SANTOS SILVA, A.; PAIVA, M. J. – Aplicação da caracterização mineralógica
no estudo da degradação de argamassas antigas. Lisboa: LNEC, Julho de
2004. Relatório 347/2004 – NMM.
SANTOS SILVA, A.; VEIGA, M. R. – Degradation and repair of renders in
ancient fortresses close to sea. In Medachs, Lisboa, LNEC, Janeiro de 2008
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
REFERÊNCIAS
VEIGA, M. R.; SANTOS SILVA, A.; TAVARES, M.; SANTOS, A. RiTA; LAMPREIA,
N. – Durable mortars of a portuguese military structure from the XVIth century.
In ICDS12-International Conference Durable structures: from construction to
rehabilitation. May-June 2012, Lisbon, Portugal.
MAGALHÃES, A.; VEIGA, M. R. – Physical and mechanical characterisation of
ancient mortars. Application to the evaluation of the state of conservation.
Materiales de Construcción, Vol 59(295): 61-77 doi: 10.3989/mc.2009.41907.
VEIGA, M. Rosário; SANTOS SILVA, A.; SANTOS, A. R.; TAVARES, M. – Rota
Histórica das Linhas de Torres. Caracterização de amostras de argamassas
históricas. Lisboa: LNEC, Março de 2011. Relatório 49/2011 – NRI.
Confidencial
SANTOS SILVA, A.; ADRIANO, P.; MAGALHÃES, Ana C.; PIRES, J.;
CARVALHO, A.; CRUZ, A. J.; MIRÃO, J.; CANDEIAS, A. – Characterization of
historical mortars from Alentejo’s religious buildings. International Journal of
Architectural Heritage vol. 4 (22010. Philadelphia: Taylor and Francis. Paulo B.
Lourenço and Pere Roca eds. ISSN 1558-3058.
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
REFERÊNCIAS
ADRIANO, P.; CRUZ, T.; SANTOS SILVA, A.; VEIGA, R.; CANDEIAS, A;
MIRÃO, J. – Mineralogical comparison study of old mortars from Southern
Portugal Cathedrals (Évora and Elvas). Materiais 2007, Porto, Abril 2007.
ADRIANO, P.; SANTOS SILVA, A.; VEIGA, R.; MIRÃO, J.; CANDEIAS, A. –
Microscopic characterization of old mortars from the Santa Maria church in
Évora. In 11th Euroseminar on microscopy applied to building materials,
Porto, Junho 2007.
SANTOS SILVA, A.; BORSOI, G; VEIGA, M. R.; FRAGATA, A.; TAVARES, M.;
LLERA, F. – Physico-chemical characterization of the plasters from the
church of Santissimo Sacramento in Alcântara, Lisbon. In 2nd Historic
Mortars Conference. RILEM Proceedings PRO 78, Praga, 22-24-Setembro de
2010. ISBN:978-2-35158-112-4.
MAGALHÃES, Ana; VEIGA, M. Rosário – Apoio às ações de conservação dos
revestimentos exteriores dos edifícios do Centro Histórico de Palmela.
Diagnóstico e recomendações gerais. Lisboa: LNEC, Agosto de 2007.
Relatório 268/2007 – NRI.
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa
REFERÊNCIAS
ADRIANO, P.; SANTOS SILVA – Caracterização de argamassas antigas do
período romano e árabe da Vila de Mértola. Relatório 200/06-NMM Lisboa:
LNEC, Julho de 2006.
SANTOS SILVA, A.; PAIVA, M.; RICARDO, J.; SALTA, M.; MONTEIRO, A. M.;
CANDEIAS, A. E. – Characterisation of roman mortars from the
archaeological site of Troia. Mater. Sci. For., 2007.
SANTOS SILVA, A.; RICARDO, J. M.; SALTA, M.; ADRIANO, P.; MIRÃO, J.;
ESTÊVÃO CANDEIAS, A.; MACIAS, A. – Characterization of Roman mortars
from the historical town of Mértola. In International Conference on Heritage,
Weathering and Conservation, June 2006, Vol. I, Madrid, pp. 85-90.
SANTOS SILVA, António – Caracterização de argamassas antigas – casos
paradigmáticos. Lisboa: LNEC, Outubro 2002. Cadernos Edifícios, n.º 2, pp.
87-101.
VEIGA, M. R.; FRAGATA, A.; VELOSA, A. L.; MAGALHÃES, A. C.; MARGALHA,
M. G. – Lime-based mortars: viability for use as substitution renders in
historical buildings. Int. Journal of Arch. Heritage vol. 4 (2), pp.177-195, 2010.
Philadelphia: Taylor and Francis. ISSN 1558-3058).
Ciclo de Palestras – Casa de Rui Barbosa