crise conjunta – conflito sino-soviÉtico, 1969 · dmitry stepanovich polyansky nasceu em 1917 na...

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Guia de Estudos B CRISE CONJUNTA – CONFLITO SINO-SOVIÉTICO, 1969 Partido Comunista da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas A disputa pela Ilha Damansky/ Zhenbao Guilherme Henrique de Lima Mattos Felipe Madeira de Almeida Verônica Soster Ramos Luiza Sartori Costa Matheus Ferraz

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Guia de Estudos B

CRISE CONJUNTA – CONFLITO SINO-SOVIÉTICO, 1969

Partido Comunista da União das Repúblicas Socialistas

Soviéticas

A disputa pela I lha Damansky/ Zhenbao

Guilherme Henrique de Lima Mattos Felipe Madeira de Almeida Verônica Soster Ramos Luiza Sartori Costa

Matheus Ferraz

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SUMÁRIO

CARTA DE APRESENTAÇÃO ...................................................................................................3

POSICIONAMENTO DAS REPRESENTAÇÕES .................................................................... 4

PARTIDO COMUNISTA DA UNIÃO SOVIÉTICA E SUA ESTRUTURA......................... 16

MARXISMO-LENINISMO E SUAS INTERPRETAÇÕES ..................................................... 19

DIRETIVAS................................................................................................................................. 27

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CARTA DE APRESENTAÇÃO

Caros delegados,

É com imenso prazer que lhes damos as boas-vindas à primeira crise

conjunta do FACAMP Model United Nations (FAMUN). Desde seu início, o FAMUN

se propõe a trazer comitês de naturezas diferentes para seus delegados e tem

desempenhado essa tarefa com sucesso nos últimos anos. Assim, a crise conjunta

sobre o conflito sino-soviético busca manter esse padrão de excelência e trazer aos

seus delegados ótimos temas para discussão.

Desde o início, pensamos esse comitê como sendo uma discussão muito

importante e de pouco conhecimento da maioria, o que nos chamou a atenção dada

a alta relevância do tema pouco estudado. Toda nossa equipe tem trabalhado para

que essa possa ser uma simulação com discussões profundas acerca do comunismo,

da Guerra Fria e de como o bloco comunista poderia, ou não, ter se organizado nesse

momento de tensão internacional.

Esperamos os senhores para simular conosco e conhecer mais sobre o

relacionamento entre China e União Soviética, bem como seus próprios modelos de

funcionamento no meio internacional. Aguardamos a presença de todos e estamos à

disposição para ajudá-los no que for possível.

Sinceramente,

Assessoria da Crise Conjunta

Guilherme Henrique Lima de Mattos – Diretor geral Kamila de Cássia Vital – Diretora do Politburo chinês

Felipe Madeira de Almeida – Diretor do Politburo soviético Veronica Soster Ramos – Co-Diretora do Politburo soviético

Luiza Sartori Costa – Diretora assistente do Politburo soviético Matheus Ferraz de Arruda Silveira – Diretor assistente do Politburo soviético

Gabriela Pita Furlan – Diretora assistente do Politburo chinês Gabriela Bulla Gomes – Diretora assistente do Politburo chinês

Lizandra Alencar Ribeiro de Souza – Diretora assistente do Politburo chinês

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POSICIONAMENTO DAS REPRESENTAÇÕES

Alexei Nikolayevich Kosygin

Premier da URSS (chefe de governo) e Presidente do Conselho de

Ministros da URSS

Alexei Nikolayevich Kosygin nasceu em 1904 na cidade de São Petersburgo.

Sua carreira política iniciou-se após servir ao Exército Vermelho junto aos

bolcheviques na Guerra Civil Russa, quando assumiu o cargo de prefeito da cidade

de Leningrado, em 1938. Em 1940 se tornou membro do Conselho de Ministros,

responsável pela política industrial soviética (HANES; HANES, 2004b, p. 279). Em

1948, foi eleito pelo Partido Comunista da União Soviética (PCURSS) para fazer

parte do Politburo. Entretanto, com a morte de Stálin e a ascensão de Khrushchev,

Kosygin foi destituído de sua posição no Politburo, devido a desavenças que possuía

com o novo líder. Com o fim do governo de Khrushchev, em 1964, Kosygin

reassumiu seu antigo cargo (HANES; HANES, 2004b, p. 280).

Com a chegada de Brezhnev ao poder, Kosygin foi nomeado presidente do

Conselho de Ministros, assumindo o cargo de premier, em 1964, e enfrentando a Era

da Estagnação1 (“ALEXEI...”, 2015). Inicialmente, Brezhnev, Kosygin e Podgorny

instituem uma “liderança coletiva”, na qual os três políticos exercem e dividem a

condução do governo. Kosygin era o responsável pelo desenvolvimento da política

econômica e, aos poucos, se tornou uma figura importante também na política

externa, participando de negociações sensíveis devido a sua habilidade em

solucionar controvérsias (HANES; HANES, 2004b, p. 280). Além disso, devido à sua

autoridade, Kosygin tem certa independência em relação ao secretário-geral, de

1 A Era da Estagnação da União Soviética foi um período de desaceleração socioeconômica que começou com o governo de Brezhnev na década de 1960. Apesar de a URSS se encontrar em um patamar econômico mais desenvolvido, sendo reconhecida como uma superpotência, a sua dependência da exportação de recursos naturais revelava uma necessidade de reforma econômica, a qual era ignorada pelos líderes soviéticos. Isso levou a uma grande redução do crescimento econômico. Foi também um período marcado por aumento da corrupção e pela proibição de pensamentos anticomunistas (GRANT, 1997).

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modo que participa e tem influência sobre as decisões tomadas no partido (SALTER,

1972).

Leonid I lyich Brezhnev

Secretário Geral do Comitê Central

Nascido em 1906, em Kamesnkoye (depois renomeada como

Dniprodzerzhyns’k), na Ucrânia, Brezhnev é um estadista soviético e membro do

PCURSS, além de ser o líder da URSS de fato. O político se tornou membro do

PCURSS em 1931 e, em 1935, se graduou como engenheiro no Instituto Metalúrgico

de Dniprodzerzhyns’k. Ascendeu politicamente sob o regime de Joseph Stálin, mas

devido sua amizade com Khrushchev, construiu alianças políticas que o permitiram

ocupar o posto de Secretário Regional do Partido em Dniprodzerzhyns’k. Na

Segunda Guerra Mundial, serviu como comissário político no Exército Vermelho,

liderando as tropas no front ucraniano. No pós-guerra, atuou no processo de

sovietização da Checoslováquia e da Romênia, e em 1946 se afastou do corpo militar

com a patente de major-general (HANES; HANES, 2004a, pp. 41-2).

Com a morte de Stálin em 1953, Brezhnev perdeu temporariamente seus

postos no Comitê Central e no Politburo, por ser um apoiador do antigo líder. Mas

com a ascensão de Khrushchev como primeiro-secretário do PCURSS, em 1954,

voltou à arena política e assumiu como segundo-secretário do Partido Comunista do

Cazaquistão, sendo promovido à primeiro-secretário desta região no ano seguinte.

Em 1956, foi reeleito aos seus antigos postos no Comitê Central e no Politburo. Em

1960, foi eleito Presidente do Presidium do Soviete Supremo, e, nesse cargo, passou

a se envolver em assuntos internacionais. Brezhnev era um dos braços direitos de

Khrushchev no período, sendo inclusive considerado seu sucessor natural (HANES;

HANES, 2004a, p. 44).

Porém, em 1964 houve um rompimento entre Brezhnev e Khrushchev, e o

primeiro líder organizou um golpe contra o segundo, de modo que Brezhnev tornou-

se o secretário-geral do PCURSS. Na área das relações exteriores, se concentrou nos

assuntos de caráter militar. Em 1968, quando a Checoslováquia tentou se tornar um

estado comunista independente da URSS, o político desenvolveu o conceito de

política externa conhecido como Doutrina Brezhnev. Por meio dessa doutrina, ele

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conduziu uma série de intervenções militares nos países sob influência comunista,

pois o Estado Soviético teria o direito de intervir em casos nos quais a essência

comum dos membros do Pacto de Varsóvia fosse ameaçada por um dos próprios

membros (HANES; HANES, 2004a, p. 47).

Alexander Nikolayevich Shelepin

Secretário do Comitê Central

Alexander Nikolayevich Shelepin nasceu em 1918 na cidade de Voronej. Em

sua trajetória política, ascendeu por meio de cargos no Partido Comunista, o que o

levou, em 1957, a se tornar membro do Comitê Central do PCURSS e do Politburo.

Anteriormente, ocupou a presidência da KGB (Komitet Gosudarstvennoi

Bezopasnosti), serviço secreto russo, de 1958 a 1961. Como chefe da KGB, buscou

recuperar a relevância da segurança de Estado no projeto político russo

(“ALEKSANDR...”, 1994).

Em 1961, Shelepin deixou a KGB e foi promovido para o cargo de Secretário

do Comitê Central, e em 1962, tornou-se o primeiro vice primeiro ministro do

PCURSS. Dessa forma, ele passa a ocupar duas posições de grande influência e

poder, além de integrar o Politburo como membro de pleno direito a partir de 1964.

Como membro da Comissão de Controle do Partido e do Estado, Shelepin é

responsável, assim como os outros membros do Secretariado, pela administração

central do partido, dirigindo os trabalhos em curso, selecionando pessoal e

verificando o cumprimento das decisões tomadas. Em 1965, entretanto, ele foi

destituído de seu cargo, devido ao receio dos outros membros do PCURSS acerca de

suas ambições políticas. Contudo, continua sendo membro de influência dentro do

Politburo (“ALEKSANDR...”, 1994).

Andrei Pavlovich Kiri lenko

Secretário do Comitê Central

Andrei Pavlovich Kirilenko nasceu em 1906 no vilarejo de Alexeyevka. Em

1931 se tornou membro do PCURSS e, a partir daí, ascendeu na hierarquia soviética,

ocupando diversos cargos locais e regionais do Partido. Formou-se no Instituto

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Rybinsk de Aviação e Tecnologia em 1936 e trabalhou como engenheiro de projetos

em uma fábrica de aviões em Kiev, onde criou laços políticos com Brezhnev. Tal

proximidade cargos executivos no Partido Comunista Ucraniano entre 1944 e 1955

(KREBS, 1990).

Em 1962, Kirilenko foi eleito como membro de pleno direito do Politburo e,

em 1966, tornou-se secretário Comitê Central do Partido Comunista Soviético,

sendo um dos poucos que possuem um assento tanto no Secretariado quanto no

Politburo (MCCAULEY, 1997). Como secretário do PCURSS, Kirilenko tem como

objetivo garantir a base de poder de Brezhnev e reforçar sua posição no partido. É

responsável pela seleção de pessoal e por uma detalhada supervisão do

planejamento econômico do partido durante a maior parte do governo de Brezhnev,

ganhando poder e influência no partido (KREBS, 1990).

Arvid Yanovich Pelshe

Presidente do Comitê de Controle da URSS

Arvid Pelshe nasceu na Letônia em 1899, e fazia parte de uma próspera

família de fazendeiros. Em 1915, filiou-se ao Partido Comunista da Letônia,

participando ativamente da Revolução de 1917. Formou-se como historiador pelo

Instituto de Moscou do Professorado Vermelho, em 1940. Ocupou dois cargos

importantes na política soviética: o de primeiro-secretário do Partido Comunista de

Letônia, entre os anos de 1959 e 1966, lidando principalmente com propaganda

política, e o de presidente da Comissão Central de Controle do Partido Comunista da

União Soviética, a partir de 1966, quando se tornou membro do Politburo (REMEIKIS,

1966).

Como presidente do Comitê de Controle, Pelshe era rígido com os dissidentes

ideológicos e tinha como principal desafio controlar a corrupção que se disseminava

no Partido (MCCAULEY, 2012, p. 156).

Dmitry Stepanovich Polyansky

Vice Presidente do Conselho de Ministros da URSS

Dmitry Stepanovich Polyansky nasceu em 1917 na Ucrânia. Formou-se em

1930 pelo Instituto de Agricultura de Kharkov, sendo um especialista nessa área.

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Ascendeu em sua vida profissional política, até que, em 1958, Khrushchev o

escolheu para o cargo de presidente do Conselho de Ministros da República

Socialista Federativa Soviética da Rússia (RSFSR), a maior e mais populosa república

soviética já existente. Polyansky ocupou esse cargo até o ano de 1962, quando foi

plenamente aderido ao Politburo por meio da indicação de Khrushchev. Durante o

governo de Brezhnev, Polyansky ocupou o cargo de vice presidente do Conselho dos

Ministros da URSS (MCCAULEY, 2002, p. 161).

O Conselho de Ministros da URSS tem como principal tarefa lidar com a

economia e outros assuntos relacionados à administração das Repúblicas da União

Soviética como um todo. Polyansky ocupa, portanto, uma posição de importância na

política soviética. Qualquer decisão tomada pelo Conselho de Ministros da URSS

tem forte influência em todas as corporações e organizações oficiais de estado e do

povo. Como vice-presidente, sua tarefa é substituir o presidente quando necessário,

além de lhe prestar auxílio em suas principais tarefas (KHRUSHCHEV, 2006, p.

647).

Gennady Ivanovich Voronov

Presidente do Conselho de Ministros da RSFSR

Gennady Ivanovich Voronov é um político russo-soviético, nascido em 1910 e

que ocupa, desde 1962, a função de presidente do Conselho de Ministros da

República Socialista Federativa Soviética da Rússia (CM da RSFSR). Voronov se

tornou membro do PCURSS em 1931. Graduou-se em 1936 como engenheiro elétrico

e trabalhou até o ano de 1961 em vários postos do partido. Em janeiro de 1961,

tornou-se vice-presidente do Politburo para a RSFSR (KHRUSHCHEV, 2006, p. 840).

Em 1962, assumiu a posição de presidente, que corresponde ao líder principal do

Conselho de Ministros da RSFSR. Em outubro de 1966, Voronov se tornou também

membro do Politburo do Comitê Central do PCURSS.

O Presidente Conselho de Ministros da União Soviética tem como principal

tarefa lidar com a economia e outros assuntos relacionados à administração das

Repúblicas da União Soviética como um todo. Qualquer decisão tomada pelo

Conselho de Ministros da URSS tem forte influência nas organizações oficiais do

Estado (KHRUSHCHEV, 2006, p. 640).

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Mikhail Andreyevich Suslov

Secretário do Comitê Central

Suslov é um político conservador da era pós-Stalinista, zeloso dos ideais

comunistas e um dos mais influentes líderes na URSS. Diferentemente da maioria

dos líderes soviéticos, não formou-se como engenheiro ou técnico, mas como

acadêmico e professor, estudando a teoria Marxista-Leninista desde a década de

1920. Tornou-se secretário do Partido em 1947 e adentrou o Politburo em 1995, dois

anos antes de Brezhnev. Sua orientação conservadora foi crucial para apoiar

decisões como o massacre da revolta húngara em 1956 e da revolta na

Checoslováquia durante os eventos da Primavera de Praga, em 1968 (“MIKHAIL...”,

1982).

Suslov é o principal interlocutor estrangeiro entre os países comunistas do

Pacto de Varsóvia. A maior parte de sua carreira política se resume à administração

do aparato partidário do PCURSS, principalmente na comunicação e cooperação

entre os Estados e Partidos comunistas do Leste Europeu. Como a principal

liderança ideológica do partido, Suslov não tolera governos considerados

personalistas, já que se opõem a ideologia de coletividade do socialismo, preferindo

que a administração do país seja dividida e coletivizada (“MIKHAIL...”, 1982).

Nikolai Viktorovich Podgorny

Presidente do Presidium do Supremo Soviético

Nikolai Viktorovich Podgorny nasceu em 1903 em Karlovka, na Ucrânia.

Integrou o PCURSS em 1930 e formou-se, no ano seguinte, no Instituto Tecnológico

da Indústria de Alimentos de Kiev. Nos anos seguintes, ocupou vários cargos

relacionados com a produção alimentar na Ucrânia, até que, em 1946, foi apontado

como representante da República Ucraniana em Moscou, dando assim início a sua

carreira política. Devido aos seus feitos como representante ucraniano, Podgorny se

tornou um membro do Politburo soviético em 1960, e integrou o Secretariado do

Partido Comunista da União Soviética em 1963 (LENTZ, 2014, p. 1946).

Com a queda de Khrushchev, Podgorny disputou com Leonid Brezhnev pela

posição de chefe de governo da União Soviética, mas não logrou alcançar essa

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posição. Ele serviu como o segundo secretário do partido, sendo responsável pela

sua organização. Nesse cargo, ele representava uma ameaça ao poder de Brezhnev,

então premier do Partido Soviético. Devido a isso, em 1965, foi-lhe dado o cargo, que

ocupa desde então, de Presidente do Presidium do Soviete Supremo, no qual

promulga decretos, interpreta as leis soviéticas, nomeia e demite membros das

Forças Armadas Soviéticas, declara guerra em casos de ataque à União Soviética,

ratifica tratados internacionais e atua como representante do Soviete Supremo nas

relações com países estrangeiros. Podgorny inclusive fez várias visitas de estado a

países como FranÇa, Egito, Cuba e vários países africanos (LENTZ, 2014, p. 1946).

Petro Yukhymovych Shelest

Primeiro Secretário do Comitê Central da Ucrânia

Shelest nasceu na Ucrânia no ano de 1908 e se formou pelo Instituto de

Metalúrgica de Mariupol em 1928. Após trabalhar em indústrias metalúrgicas

ucranianas, Shelest serviu ao Exército Vermelho entre 1936-37. Depois de ocupar

várias posições no ramo industrial, sua relação próxima com Khrushchev conduziu-o

à posição principal de Primeiro Secretário do Partido Comunista na Ucrânia, em

1963 (SHAPOVAL, 2008). Nesse cargo, Shelest tornou-se um grande apoiador da

manutenção da cultura ucraniana na república, incentivando, por exemplo o uso da

língua original nas escolas e universidades. Shelest também apoiava o

desenvolvimento econômico da república da Ucrânia, ainda que dentro dos limites

permitidos pela URSS (“PETRO..., 1996).

A posição de primeiro-secretário do Partido Comunista da Ucrânia, ainda que

não oficialmente, é a de líder político dessa República Socialista. As decisões

políticas da república mais importantes são tomadas por ele, e essas decisões finais

da são, então, finalmente discutidas no Politburo. Shelest é um dos membros

participantes do Politburo do PCURSS, representando a República Ucraniana

(SHAPOVAL, 2008).

Andrei Andreyevich Gromyko

Ministro das Relações Exteriores

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Nascido em 18 de julho de 1909, no antigo Império Russo, Gromyko estudou

economia agrária em uma escola agrícola em Minsk. Em 1936, terminou seus

estudos de pós-graduação no Instituto de Economia da Academia de Ciências, sendo

pesquisador sênior e conferencista desta instituição. A perseguição de Stálin a

muitos membros do PCURSS, principalmente na área de política externa, fez com

que Gromyko fosse nomeado chefe da divisão americana do Comissariado Popular

para Assuntos Estrangeiros em 1939. Em 1943, se tornou embaixador da URSS nos

EUA e três anos depois se tornou representante soviético no Conselho de Segurança

da ONU. Em 1952, candidato a membro Comitê Central do PCURSS e nomeado

embaixador para o Reino Unido. Em 1957, foi nomeado Ministro das Relações

Exteriores da URSS, posto que ocupa até o presente momento (“ANDREI...”, 2015).

No governo Brezhnev, a influência de Gromyko e sua atuação no exterior

cresceram. Muito habiloso nas negociações externas, Gromyko prezava pela

manutenção dos valores comunistas, ainda que para tanto o uso da força fosse

necessário (HANES; HANES, 2004a, p. 164). O fortalecimento de sua posição como

negociador de assuntos internacionais, atribuía-lhe prestigio dentro do próprio

PCURSS, de modo que seus colegas buscam com freqüência as recomendações e

direcionamentos do ministro (HANES; HANES, 2004a, pp. 164-165).

Andrei Antonovich Grechko

Ministro da Defesa

Andrei Antonovich Grechko nasceu em 1903 e iniciou sua carreira durante a

Guerra Civil de 1917, quando foi soldado da Primeira Cavalaria do Exército,

integrando o Exército Soviético. Após a guerra, recebeu treinamento e se formou na

Academia Militar de Frunze. Grechko participou de diversas operações militares,

comandando várias delas, principalmente a partir de 1942, quando foi posto no

comando do V Corpo da Cavalaria. Suas tropas, entre 1943 e 1944, ajudaram a

recuperar o Norte do Cáucaso e Kiev. Devido às operações que realizou, Grechko foi,

em 1953, promovido ao patamar de Marechal da União Soviética. Entre 1957-1960, ,

ele foi o Comandante-Chefe das Forças Terrestres Soviéticas, e entre 1960-1967, foi

o Comandante em Chefe das Forças do Pacto de Varsóvia (“ANDREI

ANTONOVICH...”, 2015).

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Em 1967, Grechko torna-se Ministro da Defesa da União Soviética, já sendo

membro do Comitê Central do PCURSS desde 1961 (“ANDREI...”, 2015). Brezhnev

teria escolhido Grechko para o cargo por já o conhecer dos tempos de guerra e

também por ter nele um aliado, que apoiaria suas decisões. Entretanto, Grechko não

se mostrou tão passivo quanto se acreditava: quando se tratava de questões em que

ele via um grande impacto sobre os interesses primordiais do setor militar, ele

fortemente se defendia, inclusive opondo-se ao líder do partido. Por outro lado,

Grechko é conhecido por ser inflexível em suas opiniões, porém se apresenta como

alguém fácil de se lidar (HERSPRING, 1990).

Dmitry Fyodorovich Ustinov

Secretário do Comitê Central em Segurança e Defesa

Dmitry Feodorovich Ustinov é um militar e político soviético nascido na

Rússia em 1908 e formado pelo Instituto de Engenharia Mecânica Militar na Rússia,

em Leningrado. Ustinov se aliou ao Partido Comunista em 1927, e 1941 foi nomeado

como Comissário de Armamento do Povo por Stálin, tarefa na qual atuou sob o título

de Ministro de Armamentos entre os anos de 1946 e 1953. Atuou também como

Ministro de Defesa das Indústrias entre 1953 e 1957. Desde 1952, Ustinov era

membro do Comitê Central, e em 1957 Nikita Khruschev o nomeou como vice

presidente do Comitê Central, mas ainda com responsabilidades voltadas à indústria

bélica (KHRUSHCHEV, 2006, p.459).

Após a saída do poder de Nikita Khruschev, Leonid Brezhnev assumiu o poder

e, com isso, Ustinov se tornou um membro candidato do Politburo e secretário do

Comitê Central em 1965, responsável, ainda assim, pela fiscalização das indústrias

de defesa e de alguns poucos órgãos de segurança. Ustinov também era responsável

por estratégias de bombardeamento da União Soviética e pelo sistema

intercontinental de míssil balístico (KHRUSHCHEV, 2010, p. 749).

Yuri Vladimirovich Andropov

Presidente da KGB

Yuri Andropov nasceu em 1914 e já nos anos 1930 se uniu à Liga da Juventude

Comunista na Rússia (“SOVIET...”, 2014). No PCURSS, ocupou por anos cargos

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ligados ao baixo escalão do Partido, assumindo posições de maior destaque apenas

nos anos 1950. Andropov vai ganhar visibilidade dentro do Partido quando, em 1956,

é enviado à Hungria como enviado para conter a Revolução que de desenrolava no

país: com grande perspicácia, Andropov garantiu a supremacia soviética e o fim da

contestação húngara (“SOVIET..., 2014). Com isso, passou a ocupar posições mais

relevantes dentro do PCURSS chegando, em 1967, ao posto máximo da KGB, o

serviço secreto russo (“YURI...”, 2015).

É considerado conservador, pragmático e rígido pelos membros do PCURSS,

tendo empreendido desde que assumiu o posto de presidente da KGB uma

campanha de perseguição aos dissidentes políticos (“SOVIET..., 2014). Em 1968,

apoiou a intervenção militar para conter os movimentos de contestação que se

multiplicavam na Checoslováquia (“YURI..., 2015).

Referências

“ALEKSANDR N. Shelepin, 76, Dies; K.G.B. Chief Under Khrushchev”. In: The New

York Times. 25 de outubro de 1994. Disponível em:

<http://www.nytimes.com/1994/10/25/obituaries/aleksandr-n-shelepin-

76-dies-kgb-chief-under-khrushchev.html>. Acesso em: 30.abr.2015.

“ALEXEI Nikolaevich Kosygin”. In: Oxford Reference, 2015. Disponível em:

<http://www.oxfordreference.com/view/10.1093/oi/authority.2011080310

0043248>. Acesso em: 01.jun. 2015.

“ANDREI ANTONOVICH Grechko”. In: Oxford Reference. 2015. Disponível em:

<http://www.oxfordreference.com/view/10.1093/oi/authority.2011080309

5905733>. Acesso em: 12.jun.2015.

“ANDREI Gromyko”. In: Biographies - Wilson Center Digital Archive, 2015. Disponível

em: <http://digitalarchive.wilsoncenter.org/resource/cold-war-

history/andrei-gromyko/biography>. Acesso em: 10.jun.2015.

BURNS, J. “The emergence of Yuri Andropov”. In: The New York Times, 6 de

novembro de 1983. Disponível em:

<http://www.nytimes.com/1983/11/06/books/the-emergence-of-yuri-

andropov.html>. Acesso em: 10.jun.2015.

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GRANT, T. “Part 6 – The period of stagnation” In: Russia: from Revolution to

Counterrevolution. Londres: Well Red Publications, 1997. Disponível em:

<http://www.marxist.com/russiabook/part6.html>. Acesso em:

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PARTIDO COMUNISTA DA UNIÃO SOVIÉTICA E SUA

ESTRUTURA A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) é um Estado federativo

composto por quinze repúblicas que, juntas, organizam uma união, ao menos em

teoria, voluntária. As repúblicas eram formadas por unidades territoriais. Cada

república da URSS tinha sua própria Constituição e jurisdição, cujo objetivo era

proteger os interesses das minorias dentro das repúblicas e manter a divisão de

poder na URSS como um todo (SALTER, 1972, p. 1).

O sistema de controle da URSS é hierárquico: dentro do Partido Comunista

há uma organização para cada república, na qual corpos intermediários governam.

Cada nível de governo é comandado por outro acima dele, até chegar ao premier do

Partido, o principal líder soviético (SALTER, 1972, p. 1)

Juntos, três comitês são encarregados pelo sistema de controle da URSS, e

formam o chamado Comitê Central do Partido Comunista: o Politburo, o

Secretariado e a Comissão do Controle do Partido. Esses comitês são os pilares do

Comitê Central, e, portanto, da estrutura de governo soviético. O Politburo merece

destaque, uma vez que é o responsável por direcionar o trabalho do Comitê Central

e por formular a política da URSS, assumindo assim, papel central no

direcionamento estatal (SALTER, 1972, pp. 5-10).

O Politburo é regulamentado por consenso durante o Congresso do Partido

Comunista. As eleições dos membros do Politburo são feitas a cada quatro ou cinco

anos, pois é nessa mesma frequência que o Congresso do Partido Comunista se

reúne. O comitê dispõe de membros permanentes, os quais tomam as mais variadas

e importantes decisões, e de candidatos, que são representantes sempre presentes,

mas que não têm o direito de voto em decisão alguma. O tamanho do Politburo

oscila de um Congresso do Partido Comunista para outro, mas em média há de dez a

quinze membros permanentes e de cinco a dez membros candidatos. É também

importante ressaltar que ao Politburo são destinadas tanto as decisões rotineiras

quanto emergenciais. (SALTER, 1972, p. 31).

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O secretário-geral do Politburo é o cargo que acumula maior poder dentro do

comitê por deter o voto final para tomadas de decisão na URSS. Durante o governo

de Joseph Stálin, que perdurou de 1924 a 1953, o secretário-geral dispunha de poder

quase que absoluto, deixando pouco espaço para questionamentos ou dissidências

dentro do PCURSS. Com isso, após a morte de Stálin, um dos maiores desafios do

Politburo foi garantir o alinhamento de seus membros na ausência da figura do ex-

líder. Nikita Khrushchev, que sucedeu Stálin em 1953, teve grandes problemas

durante seu governo em relação a esse assunto, já que as discordâncias dentro do

comitê quanto às suas sugestões eram grandes. Sua incapacidade de manter a

coesão interna do Partido foi um dos motivos que levou ao fim seu governo e à sua

substituição onze anos após sua posse, em 1964 (SALTER, 1972, p. 79).

Desde 1964, Leonid Brezhnev ocupa o cargo de secretário-geral, sucedendo,

assim, o governo de Khrushchev. Brezhnev ocupa posição central no Politburo, e é

em torno dele que toda a política soviética gira. A pragmática e organizada estrutura

do Politburo era quase que infalível no que se refere ao processo de tomada de

decisão. As decisões chegam a Brezhnev em forma de rascunho de documento, mas

antes disso, comentários e sugestões são feitos pelos membros do Politburo.

Para que as decisões sejam discutidas, encontros semanais são estipulados, e

a agenda é definida anteriormente aos encontros. Brezhnev também presidia as

discussões, direcionando-as de acordo com seus interesses, o que, por um lado,

acabava por enfraquecer o Politburo. Por outro lado, entretanto, ele não tinha

suficiente autoridade para invalidar a vontade da maioria do Politburo sobre um

assunto importante, de modo que apesar de controlar e direcionar as discussões,

Brezhnev não poderia passar por cima das decisões tomadas pela maioria (SALTER,

1972, p. 36).

Durante as reuniões do Politburo, notas privadas que apresentam problemas

e possíveis resoluções a serem discutidas são passadas a Brezhnev. Na maioria dos

casos, essas notas são aceitas por ele como material de discussão. Então, após

acordada uma resolução, um dos secretários do Partido Comunista, encarregado

dessa específica tarefa, produz um rascunho de documento final com todas as ideias

e sugestões do secretariado. Cabe, então, à Brezhnev dar a palavra final: aceitá-lo ou

não (SALTER, 1972, p. 37).

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O segundo comitê integrante do Comitê Central do Partido Comunista é o

Secretariado, responsável pela administração do PCURSS. Alguns membros desse

comitê, como seu secretário-geral, são membros permanentes do Politburo. O

Secretariado é responsável por supervisionar os trabalhos feitos por Chefes de

Departamento do Comitê Central, e para tanto, esse comitê apresenta uma

hierarquia própria (SALTER, 1972, pp. 5-10).

O terceiro comitê é a Comissão Central de Controle do Partido. Este comitê é

responsável por verificar o cumprimento das decisões tomadas pelo PCURSS, as

quais são discutidas dentro do Politburo. A Comissão Central de Controle do Partido

também é responsável por averiguar o trabalho exercido por cada membro político

do partido e sua adequação à ética do PCURSS. A comissão tem o poder de

administrar tanto punições como também expulsões dos membros do partido: ela é

organizada hierarquicamente e seu presidente tem assento garantido no Politburo.

Vale destacar também que é por meio da Comissão Central de Controle do Partido

que o líder soviético, o premier do Politburo, tem acesso às decisões tomadas por

todos os membros políticos do Partido Comunista (SALTER, 1972, pp. 5-10).

Referências

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MARXISMO-LENINISMO E SUAS INTERPRETAÇÕES

Vladimir Ilich Lênin guiou o Partido Bolchevique na Revolução de Outubro de 1917,

na Rússia, e estabeleceu o primeiro Estado de inspiração socialista no mundo, derrubando o

regime czarista vigente na Rússia até então (ALTMAN, 2010). Ele morreu em 1924,

deixando uma série de obras e estudos fundamentais para o entendimento do Marxismo e

do Socialismo. Sua vertente teórica do Marxismo é conhecida como Leninismo e aborda a

tomada do poder pelo proletariado e a construção da sociedade socialista, legitimando a

ação revolucionária do Partido Comunista, centralizado em nome da classe trabalhadora

(BOTTOMORE, 1991, p. 311). Para isso, Lênin seguiu seus princípios e entendimentos sobre o

que deveria ser a Revolução, enfatizando a necessidade de se ter um partido político

organizado, capaz de guiar a luta de classes e realizar a Revolução.

Sua teoria defende que o Imperialismo é o estágio superior do capitalismo, momento

em que as contradições desse modo de produção foram levadas ao seu ponto máximo por

causa da expansão imperialista desenvolvida pelas potências do período, dentre as quais

estava a Rússia czarista. Dado o avanço desse modo de produção, para Lênin era necessário

pensar, em termos teóricos e práticos, a ação política da força proletária no interior da luta

de classes entre capitalistas e trabalhadores (LENINE, 2010).

Os leninistas negam que o capitalismo, como um modo de produção pautado na

desigualdade e na exploração da força de trabalho, possa servir aos interesses do

proletariado, defendendo que este só pode ser superado por meio de um processo

revolucionário. Logo, a tomada do poder é resultado desse processo, o que seria feito por

meio do estabelecimento da ditadura do proletariado, sob a hegemonia do partido

comunista (BOTTOMORE, 1991, p. 311).

No Leninismo, o Partido Comunista é a principal arma na luta de classes, sendo o

responsável por guiar a Revolução do Proletariado. Para isso, Lênin afirma ser necessário

que esse partido seja centralizado e que haja disciplina em sua organização: um partido

fortemente centralizado seria fundamental para a formação da consciência de classe do

proletariado e para a concretização da Revolução, que não ocorreria caso o processo fosse

conduzido por ações espontâneas ou desarticuladas da classe trabalhadora. Assim, o

Leninismo dá ao trabalhador e ao camponês um papel maior e mais central no processo

revolucionário do que o Marxismo Clássico (BOTTOMORE, 1991, p. 311).

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Ao longo dos anos, o Leninismo foi sendo reinterpretado pelos lideres soviéticos, de

modo a se adequar aos projetos políticos de cada governo, como veremos a seguir.

Stalinismo

O Leninismo foi amplamente utilizado por Joseph Stálin como uma ideologia de

legitimação do partido soviético e das suas ações (BOTTOMORE, 1991, p. 312). Stálin, em

sua conferência “Sobre os Fundamentos do Leninismo”, afirma que o Leninismo é “a teoria e

a tática da revolução proletária em geral, a tática da ditadura do proletariado em particular”

(STÁLIN, 1954), ressaltando que Marx e Engels viveram em um período anterior à revolução

proletária, quando o proletariado ainda estava se formando e se unindo. Lênin, por outro

lado, viveu no momento em que a revolução já havia acontecido e derrubado a classe

dominante e a democracia burguesa, instituindo a democracia do proletário (STÁLIN, 1954).

Stálin foi fundamental durante a Revolução Russa de 1917, dado que comandava o

Pravda, o jornal bolchevique da Revolução, por meio do qual os ideais revolucionários eram

disseminados. Ele ficou conhecido no mundo como um político “linha dura” que, com a

eclosão da Guerra Civil, ordenou a execução de desertores e opositores do Partido

Bolchevique. Com a vitória bolchevique nesse conflito, Lênin assumiu o poder e nomeou

Stálin como Primeiro Secretário do Partido Comunista, cargo que lhe permitiu exercer

influência sobre todos os funcionários do governo (“JOSEPH...”, 2014).

Com a morte de Lênin, Stálin assumiu o poder e passou a defender o conceito de

“socialismo em um só país”, o qual buscava fortalecer a URSS ao invés de promover uma

revolução mundial (“JOSEPH...”, 2014). Segundo Bottomore (1991, p. 517), a principal

característica do Stalinismo é o poder absoluto que Stálin exercia dentro do Partido

Comunista, de modo que, durante seu governo, ocorreu uma forte concentração e

centralização do poder embasada pelo culto à personalidade, o qual “identificava em Stálin

o vértice de uma pirâmide que, alargando-se sempre na direção da base, compunha-se de

‘pequenos Stálins’, os quais, vistos de cima, eram os objetos e, vistos de baixo, eram os

produtores e mantenedores do ‘culto da personalidade’” (LUKÁCS, 1977, p. 1). A partir

disso, Stálin pôde governar a seu modo tendo apoio do Partido, em parte por causa da

adoração à sua pessoa e em parte por causa da “limpeza” que realizou no partido,

eliminando qualquer forma de oposição, no que ficou conhecido como “Grande Terror”

(“JOSEPH...”, 2014).

A políticas e decisões implementadas por Stálin são decorrentes e dependentes do

centralismo de seu governo, acompanhado por uma total subordinação da sociedade ao

Estado. O controle que Stálin exercia sobre o governo pôde ser claramente evidenciado na

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mudança de cargos realizada por ele: passou a ser secretário geral do PCURSS em 1923, o

que lhe permitiu acumular poderes e estar no centro da organização do partido,

governando, controlando e coagindo todos à sua volta. Essa mudança foi, então,

fundamental e decisiva para o centralismo político de seu governo (NOVE, 1989, p. 18).

Stálin também acreditava na importância da superestrutura do Estado, responsável

por estabelecer “a base econômica do socialismo por meio de uma industrialização

socialista” (BOTTOMORE, 1991, p. 54, tradução nossa)2. Assim, um ponto particular ao

Stalinismo é a “revolução a partir de cima”, segundo a qual a transformação da URSS em um

país industrializado seria realizada a partir das ordens advindas do Estado, e mais

propriamente de Stálin. O líder promoveu uma rápida industrialização da União Soviética

por meio da coletivização do campo e dos Planos Quinquenais para a promoção da indústria

pesada, visando a uma independência econômica do país em relação aos seus vizinhos

capitalistas (BOTTOMORE, 1991, p.54).

Em relação à coletivização do campo, essa reestruturação fez a massa camponesa

trabalhar em fazendas estatais, e, contrariamente ao defendido por Engels e Lênin, Stálin

utilizou-se da força contra o campesinato para promover tal coletivização em massa.

Embora Stálin proclamasse que a coletivização do campo teria sido um movimento

voluntário dos camponeses para participar e produzir nessas terras coletivas do Estado

(NOVE, 1989, p. 34), o que se percebe é um ponto de ruptura com o projeto socialista de

Lênin: enquanto este se valia da independência do campesinato como forma de promoção

dos avanços necessários para o desenvolvimento da URSS, Stálin realizou, por meio da

centralização do poder, uma repressão sobre essa parte da população russa, obrigando-a a

atender às suas políticas.

Já em relação ao programa de industrialização pesada, tal projeto foi implementado

pelo Primeiro Plano Quinquenal de Stálin. De modo geral, os planos quinquenais visavam

mais a criar novas indústrias do que a dirigi-las, priorizando a indústria pesada e a produção

de energia, o que foi favorecido pela “excepcional riqueza da URSS em matérias-primas

adequadas” que tornavam esse projeto industrializante “lógico e conveniente”

(HOBSBAWM, 2014, p. 371).

As políticas implementadas por Stálin, apesar da repressão utilizada para garantir

sua implementação e eficácia, o que levou ao “terror” stalinista, trouxeram desenvolvimento

e crescimento para a União Soviética, que passou a ser um país industrializado. O sucesso

econômico e social dessas políticas fez com que essa repressão e o caráter arbitrário do

2 Do original: “the economic base of socialism through socialist industrialization” (BOTTOMORE, 1991, p. 54).

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governo ficassem encobertos, tendo menos destaque internacionalmente (BOTTOMORE,

1991, p. 518).

As mudanças introduzidas por Stálin no modelo do Marxismo-Leninismo resultaram,

assim, no chamado Stalinismo, que engloba uma síntese de sua gestão baseada no uso do

terror generalizado e em uma grande ênfase no nacionalismo russo. Por sua vez, os

opositores ao Stalinismo afirmam que este modelo “violou as proposições fundamentais do

Marxismo em muitos pontos, e principalmente na total subordinação da sociedade a um

Estado tirânico”3 (BOTTOMORE, 1991, p. 519, tradução nossa).

Khrushchev e a chamada desestalinização

Com a morte de Stálin em 1953, Nikita Khrushchev assumiu o poder no Partido

Comunista Soviético, porém levou alguns anos para conseguir consolidar a sua posição

acerca da condução da URSS. Em linhas gerais, como secretário geral do PCURSS,

Khrushchev promoveu a chamada “desestalinização”, denunciando, durante o XX

Congresso do Partido Comunista, todos os crimes cometidos por Stálin durante seu

governo. Khrushchev visava a acabar com o culto à personalidade de Stálin e reduzir a

repressão contra opositores do governo praticada até então (“NIKITA...”, 2014). O novo

líder da URSS também deu fim à “revolução a partir de cima”, não mais se valendo da

repressão em massa e do terror característicos do Stalinismo (BOTTOMORE, 1991, pp. 512;

519).

Khrushchev iniciou um novo período na história da URSS, defendendo uma transição

pacífica para o Socialismo, promovendo um culto à personalidade de Lênin e recuperando as

características do Leninismo. Esse movimento de enfraquecer a influência do antigo líder

representou a tentativa de Khrushchev fortalecer sua posição política no partido (NOVE,

1989, p. 134). Por exemplo, Khrushchev defendia dar termo à repressão popular, dado que

Lênin defendia que não se poderia usar força contra e repreender o campesinato

(BOTTOMORE, 1991, p. 512). Politicamente, prometeu respeitar as regras do Partido

Comunista, seguindo os procedimentos negligenciados por Stálin, como a necessidade de se

realizar reuniões do Comitê Central e Congressos regularmente. Ele também permitiu uma

maior liberdade cultural e intelectual, reestabelecendo diversas disciplinas acadêmicas que

haviam sido proibidas, o que possibilitou a retomada de publicações de trabalhos

acadêmicos, os quais respaldavam a crítica de Khrushchev a Stálin (“NIKITA...”, 2014;

BOTTOMORE, 1991, p. 512).

3 Do original: “contravened the most fundamental propositions of Marxism at many points, and most of all in its total subordination of society to a tyrannical state” (BOTTOMORE, 1991, p. 519)

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Ademais, o novo líder defendeu as relações pacíficas e amigáveis com as nações

soviéticas (KRUSCHIOV, 1956). Durante o XX Congresso do Partido Comunista da União

Soviética, Khrushchev também elencou as principais tarefas do Partido no que dizia respeito

à política externa da URSS. Ele afirmou claramente que se deveria “aplicar

consequentemente a política leninista da coexistência pacífica dos diferentes Estados, seja

qual for seu regime social”, o que foi reforçado pela intenção de melhorar as relações com

os Estados Unidos, Inglaterra, França e outros países (KRUSCHIOV, 1956).

Dessa forma, Khrushchev defendia a coexistência pacífica dos dois sistemas

políticos, ideológicos e econômicos ao invés da contraposição entre socialismo e

capitalismo, promovendo novas relações com o Ocidente. Tanto que Khrushchev foi o

primeiro líder soviético a visitar os Estados Unidos (MCCAULEY, 1997). Entretanto, mesmo

com a coexistência pacífica, Khrushchev não negava a possibilidade de uma guerra entre os

regimes capitalista e socialista, como era proferido pela ortodoxia soviética (ALTMAN,

2013). Afinal, havia uma grande concorrência entre URSS e Estados Unidos, marcada tanto

por uma corrida armamentista quanto por uma corrida espacial4. O auge dessa competição

se deu com a Crise dos Mísseis em 1962, momento em que as duas superpotências do

mundo quase entraram em guerra (“NIKITA...”, 2014).

Outro ponto relevante da política externa de Khrushchev foi o rompimento das

relações com a China, devido a divergências nacionais e de perspectivas políticas. Essas

diferenças eram decorrentes, além da troca de acusações mútuas, dos diferentes caminhos

tomados pelos países em relação à revolução comunista. Ademais, tanto os interesses das

burocracias soviética e chinesa quanto as linhas políticas de Khrushchev e de Mao Zedong

eram opostas (BLUNDEN, 1993). Entre os diversos momentos de tensão que se

desenrolaram entre URSS e China, esta acusava aquela de não mais auxiliar em seu

desenvolvimento econômico e nuclear, enquanto a URSS afirmava que Mao Zedong queria

provocar uma guerra mundial (GITTINGS, 2001).

Internamente e em relação à economia, Khrushchev lançou projetos para incentivar

e modernizar a produção agrícola, buscando expandir as áreas cultivadas (“NIKITA...”,

2014). O líder do partido incentivou o crescimento da produção nas fazendas privadas,

aumentou o preço pago pelas safras das fazendas coletivas e auxiliou no aumento dos

investimentos na agricultura (ALTMAN, 2013). A prioridade de Khrushchev era o setor

4 Além da corrida armamentista, a corrida espacial e de tecnologia resultou em grande avanço para a URSS. Ambos buscavam se desenvolver para reafirmar seu poder e ideologia sobre o mundo, entretanto o grande feito da corrida espacial foi, em 1961, quando a União Soviética enviou o primeiro homem ao espaço, Yuri Gagárin, estando à frente dos Estados Unidos (ALTMAN, 2013).

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agrícola, mais do que o setor industrial, entretanto, ele se manteve atento às necessidades

de continuar a industrialização da URSS (NOVE, 1989, p. 128).

Assim, as contribuições deste líder soviético para o fundamento teórico da URSS

foram a desestalinização, com o fim do culto à personalidade de Stálin, reforçando o culto à

personalidade de Lênin; a redução das repressões e da arbitrariedade do líder do partido; e a

promoção da doutrina de coexistência pacífica, mesmo com o incidente da Crise dos

Mísseis de Cuba.

Entretanto, devido às instabilidades geradas pelo governo de Khrushchev, como a

Crise dos Mísseis e o rompimento com China, os membros do Politburo decidiram excluí-lo

do partido por unanimidade (ALTMAN, 2013). Assim, esse cenário de complicadas relações

internacionais fez com que, em 1964, ele sofresse um golpe e fosse destituído de suas

funções políticas.

A Doutrina Brezhnev

Com a queda de Khrushchev em 1964, quem ascendeu ao poder na União Soviética

foi Leonid Brezhnev. Logo após a saída de Khrushchev do poder, foi instituída uma

“liderança coletiva”, na qual Brezhnev assumiu como Primeiro Secretário, Aleksei Kosygin

como Primeiro Ministro da URSS e Nikolai Podgorny como Presidente. Entretanto, Brezhnev

tinha maiores ambições políticas, querendo se tornar chefe do partido, sem ter que dividir o

poder com outros políticos (MCCAULEY, 1997, p. 48).

Essa “liderança coletiva”, entretanto, não significava uma ausência de rivalidades

políticas e conflitos, de modo que o próprio Brezhnev, ao nomear-se secretário geral do

PCURSS, assumia uma posição que lhe garantia maiores poderes e vantagens. Ele, por

exemplo, detinha o poder de decisão acerca das reuniões do Politburo e autoridade para

impor a determinação final sobre a maioria das discussões do partido (SALTER, 1972).

Tal ascensão política de Brezhnev levou-o ocupar uma posição de dominação sobre

os outros membros do Politburo, em um movimento parecido com a centralização do poder

promovida por Stálin. Não à toa: Brezhnev iniciou sua carreira política sob o governo de

Stálin, sendo influenciado por sua personalidade uma vez que foi criado de acordo com as

ideologias propagadas por ele. De certo modo, então, o governo de Brezhnev reavivou

algumas características do Stalinismo: em 1966, seu cargo de Primeiro Secretário foi

renomeado como secretário geral, designação utilizada anteriormente por Stálin (NOVE,

1989, p. 175).

De modo geral, seu governo foi marcado por estagnação econômica e social, pela

détente e pela invasão da Checoslováquia (“LEONID...”, 2015). A eclosão da Primavera de

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Praga na Checoslováquia foi o momento decisivo em que Brezhnev pôde se tornar o chefe

do PCURSS, acabando com a liderança coletiva que até então governava o país. A

intervenção soviética na Checoslováquia garantiu a ascensão da Doutrina Brezhnev,

segundo a qual Moscou poderia intervir em qualquer país soviético em que o Partido

Comunista estivesse sob ameaça (MCCAULEY, 1997, p. 48-49).

Sobre a política externa de Brezhnev, a chamada détente foi o período em que a

URSS vivia o auge de sua influência internacional, com o Marxismo-Leninismo espalhando-

se rapidamente pelos países africanos, os quais, desde sua independência, vivenciaram uma

aproximação com a URSS. Além disso, foi também um momento da história soviética em

que as relações entre URSS e Estados Unidos estavam equilibradas, sendo que tanto o líder

soviético quando os líderes norte-americanos realizaram visitas oficiais aos países um do

outro (MCCAULEY, 1997, p. 49).

Por outro lado, a Doutrina Brezhnev acirrou as relações com os outros países do

bloco comunista, principalmente com a China, que viu na intervenção soviética na

Checoslováquia uma ameaça ao seu país, devido ao surgimento de uma possibilidade de a

URSS aumentar a pressão militar sobre China e justificar uma futura incursão militar

(GERSON, 2010, p. 20).

Dessa forma, as mudanças introduzidas por Brezhnev, durante seu governo, nas

políticas interna e externa da União Soviética promoveram aproximações e acirraram

disputas internacionais e retomaram o caráter centralizador do Stalinismo, dado que

Brezhnev se tornou Secretário Geral do partido, concentrando poder em suas mãos. Além

disso, sua influência e controle sobre o Politburo gerou certo enfraquecimento do poder de

seus membros. O modelo de Socialismo implementado por Brezhnev concilia, então, um

pouco da proposta de Khrushchev com o modelo Stalinista. Pelo primeiro, mantém certa

aproximação com os Estados Unidos, enquanto, pelo segundo, retoma a dominação sobre os

membros do Partido Comunista, subordinando-os às decisões do líder.

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DIRETIVAS As diretivas são ações oficiais do PCCh. Esse documento atende às

demandas do Estado, como negociações internacionais, posicionamento de tropas,

políticas de Estado, e qualquer membro do Politburo é hábil para ser seu titular

(respeitando os poderes de seu cargo). Os delegados não precisam indicar que tipo

de diretiva estão produzindo. Porém, para melhor orientação, os tipos de diretiva

são os seguintes:

• Ação Administrativa: o gabinete pode produzir medidas

administrativas, regulações, ou legislações que tem força de lei. Por

exemplo, censura de mídia, medidas legais de emergência ou a remoção

de oficiais de menor cargo;

• Diretivas Políticas: o gabinete pode se comunicar e enviar comandos às

organizações governamentais locais, líderes legislativos ou aliados,

como uma maneira de angariar apoio político interno;

Page 28: CRISE CONJUNTA – CONFLITO SINO-SOVIÉTICO, 1969 · Dmitry Stepanovich Polyansky nasceu em 1917 na Ucrânia. Formou-se em 1930 pelo Instituto de Agricultura de Kharkov, sendo um

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• Comunicação Interna: o gabinete pode produzir documentos que

organizem as discussões sobre diretivas específicas, instruções,

lembretes ou sugestões. Esse instrumento pode ser usado inclusive

como reforço de uma política específica, ou para instruir os ministros

nacionais a respeito do comportamento com a mídia sobre

determinados assuntos, por exemplo;

• Comunicação Externa: o gabinete pode se comunicar com

representantes que não pertencem ao governo nacional:

o Communiqués: usado para a comunicação com governos ou

órgãos estrangeiros para expressar interesses, políticas ou

intenções internas;

o Pronunciamento Público: usado para comunicação com o público

geral, braços do governo e exército em grande escala, que são

usadas como ferramenta de propaganda;

o Convites e Pedidos: o gabinete, ou seus membros, podem decidir

se encontrar com testemunhas, políticos, prisioneiros ou outros.

Essa diretiva pode ser útil para contato direto ou negociação com

um membro de fora do gabinete do delegado; entretanto, não

existem garantias de aceitação dos pedidos, pois é necessária a

aceitação da parte requisitada;

• Diretivas Militares: o gabinete pode emitir ordens para operações

militares pelas forças armadas:

o Ordem de Operação: usada para promover exercício militar. Esse

tipo de ação requer explicação detalhada sobre a maneira pela

qual a operação irá funcionar, bem como sobre seus objetivos;

o Missões: usadas para operações de aeronaves ou navios com

objetivo específico como reconhecimento, resgate, patrulha,

sinalização ou escolta;

• Diretivas de Inteligência: os gabinetes podem valer-se de exercícios de

inteligência para obtenção de informações sobre outro Estado, tanto por

novas operações, quanto por instruções a agentes já estrategicamente

localizados;

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o Obtenção de Informação: tem o objetivo de instruir espiões para

obter informações secretas de outros Estados. No entanto, essa

ação pode ser dificultada por recursos limitados ou pelo risco de

exposição dele aos oficiais estrangeiros;

o Sabotagem: tem o objetivo de instruir oficiais de inteligência a

tomar atitudes para enfraquecer o outro Estado por meio de

danos às instalações produtivas ou de outra categoria que sejam

vitais para esse inimigo. Para isso, a operação e seu objetivo

devem ser detalhadas;

o Contra-Inteligência: tem o objetivo de promover medidas

especiais para prevenir que outras organizações consigam

coletar ou implantar informações no governo nacional, ou no

gabinete. Isso pode ser feito por meio de assassinatos ou

divulgação de informações erradas;

o Vigilância: tem o objetivo de monitorar personagens específicas

que tem capacidade de mudança constante para ter as

informações necessárias para a tomada de decisão, o que

funciona no nível doméstico, no internacional, com aliados ou

inimigos;

• Outras Diretivas: caso o gabinete veja como necessário outro tipo de

diretiva que não se enquadre às anteriores, os delegados devem enviar

tal proposta para a Secretaria do Gabinete para análise.