cuche, denys. a nocao de cultura

Upload: nelsonmugabe89

Post on 14-Jan-2016

226 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

ANTROPOLOGIA

TRANSCRIPT

  • Editora dl Univanldad* da Sijiado Confio

    Coordenao EditorialIrm JacintaTurolo Garcia

    Assessoria AdministrativaIrm Teresa Ana Sofiatti

    Assessoria ComercialIrm urea de Almeida Nascimento

    Coordenao da Coleo VerbumLuiz Eugnio Vscio

    a noode cultura nasc n c a s socas

    Denys Cuche

    VERBUM

    TraduoViviane Ribeiro

  • Introduo

    A jiucu? de cultura nus cincias sociais"O problema da cultura, ou ainda, das culturas,passa por uma atualizao, tanto no plano inte-lectual, devido vitalidade do cultralismo ame-ricano, quanto no plano poltico. Na Frana, aomenos, nunca se falou tanto de cultura quanto

    - hoje (com relao mdia, juventude, aos imi-grantes) e esta utilizao da palavra, por maissem controle que seja, constitui por si mesmaum dado etnolgico."

    Marc AUGE [1988]*

    A noo de cultura c inerente reflexodas cincias sociais. Ela necessria, de^cerfmanejra, para pensaria unidade da umartiatllia diversidade alm dos

    questo da diferena entre os povos, uma vezque a resposta "racial" est cada ve^ mais desa-creditada, medida que h avanos da genticadas populaes humanas.

    O homemj essencialmente um ser de cul-tu|_._0 longo^ processo de ^ hpminizao, come-ado h mais ou menos quinze milhes de anos,

    * As referncias entre colchetes remetem bibli-ografia no final

  • consistiu fundamentalmente >assaeem de*_. *-*

    meio ambienfeTiatlf_ cuIturalJAo longo dest~vo-

    luo, que resulta no Homo sapiens sapiens, oprimeiro homem, houve uma formidvel regres-

    jgo^gs.instintQs,.^siibsttudos""progrcssvamen-^te_pela cultura/isto , por esta adaptao imagi-

    nada e controlada pelo homem que se revelamuito mais funcional que a adaptao genticapor ser muito mais flexvel, mais fcil e rapida-mente transmissvel. A cultura permite ao 'homem no somente adaptar-se a seu meio,jnasjarnb_m_adaptar este meiojao jpropnp Tio1"jnenUa suas necessidades e seus projetos. Emsuma, a cultura torna possvel a transformaoda natureza.

    Se todas as "populaes" humanas pos-suem a mesma carga gentica, elas se diferen-ciam por suas escolhas culturais, cada uma in-ventando solues originais para os problemasque lhe so colocados. No entanto, estas diferen-as no so irredutveis umas s outras pois,considerando a unidade gentica da humanida-de, elas representam aplicaes de princpiosculturais universais, princpios .suscetveis deevolues e at de transformaes.

    A noo de cultura se revela ento o ins-,trumento adequado para acabar com as cxplica-

    jges; naturalizantes dos comportamentos huma-nosj-A natureza, no homem, e^inTifmenfeTn-terpretada pela cultura. As diferenas que pode-riam parecer mais ligadas a propriedades biol-

    gicas particulares como, por exemplo, a diferen-a de sexo, no podem ser jamais observadas"em estado bruto" (natural) pois, por assim di-zer, a cultura se apropria delas "imediatamente":a diviso sexual dos papis e das tarefas nas so-ciedades resulta fundamentalmente da cultura epor isso varia de uma sociedade para outra..

    Nada puramente natural no homem.Mesmo as funes humanas que correspoiT'dem a ncc^ssiaa'3rHsiofgicgs, como_ a tome,~"sono, o deseio.sgxu^^tc ,^ s^o informadospel"cultura:-as sociedades no do exatamen-te as mesmas respostas a estas necessidades. ,4

    domnios em que no h constran-gimento biolgico,' os comportamentos soorientados pela cultura. Por isso, a ordem; "Sejanatural", freqentemente feita s crianas, emparticular nos meios burgueses, significa, narealidade: "Aja de acordo com o modelo da cul-tura que lhe foi transmitido".

    A noo de cultura, compreendida em seusentido vasto, que remete aos modos de vida e depensamento, hoje bastante aceita, apesar daexistncia de certas ambigidades. Esta aceitaonem sempre existiu. .Desde seu aparecimento noscio XVIII, aJd^taJiiQdegl^^u^1 suscitouconstantemente debates acirradosjjualquer queseja o sentido preciso que possa ter sido dado palavra - e no faltaram definies de cultura -sempre subsistiram desacordos sobre sua aplica-o a esta ou quela realidade. O uso da noo decultura leva diretamente ordem simblica, ao

  • que se refere ao sentido, isto , ao ponto sobre oqual mais difcil de entrar em acordo.

    As cincias sociais, apesar de seu desejo deautonomia epistemolgica, nunca foram comple-tamente independentes dos contextos intelec-tuais e lingsticos em que elaboram seus esque-mas tericos e conceituais. Esta a razo pelaqual o exame do conceito cientfico de culturaimplica o estudo de sua evoluo histrica, dire-tamente ligada gnese social da idia modernade cultura. Esta gnese revela que, sob as diver-gncias semnticas sobre a justa definio a serdada palavra, dissimulam-se desacordos sociaise nacionais (captulo I). As lutas de definio so,em realidade, lutas sociais, e o sentido a ser dados palavras revelam questes socjaisjtmdamen-tais. Como

    Assim se pode rctraar paralelamente histriada semntica, isto , gnese das diferentes sig-nificaes da noo de cultura, a histria socialdestas significaes: as mudanas semnticas,aparentemente de natureza puramente simbli-ca, correspondem em realidade a mudanas deuma outra ordem. Correspondem a mudanasna estrutura das relaes de fora entre, de umlado, os grupos sociais no seio de uma mesmasociedade e, de outro lado, as sociedades em re-lao de interao, isto , mudanas nas posi-es ocupadas pelos diferentes parceiros inte-ressados em definies diferentes de cultura[1987, p. 25].

    Apresentaremos em seguida a invenopropriamente dita do conceito cientfico de cul-tura, implicando a passagem de uma definionormativa a uma definio descritiva. Contra-;riamente ^nocp de^oTiTlctg>mas oujasnosriyainomesmo campo semntico, a noo decultura se aplica unicamente ao que humano.E ela oferece a possibilidade de conceber a uni-dade do homem .na diversidade de seus modosde vida e de crena, enfatizando, de acordo comos pesquisadores, jajunidade^iHi a diversidade(captulo II).

    Desde a introduo do conceito nas cin-cias do homem, assiste-se a um notvel desen-volvimento das pesquisas sobre a questo dasvariaes culturais, particularmente nas cin-cias sociais americanas por razes que noacontecem por acaso e que so analisadas aqui.Pesquisas sobre sociedades extremamente di-versas fizeram aparecer a coerncia simblica(jamais absoluta, no entanto) do conjunto dasprticas (sociais, econmicas, polticas, religi-osas, etc.) de uma coletividade particular ou deum grupo de indivduos (captulo III).

    O estudo_atento do encontro das culturas^revela que este encontre-se realiza segundo mo-

    __daldades muito rariad^aj e^lea^a^jesultados ex-_ ^ ^ ^tremamente contrastados, segundo as situaesde contato, As pesqusa_s sobre a "aculturao"permitiram ultcapassai-vrias idias preconcebidas sobre as propriedades da cj.iltura e renovarprofundamente o conceito de cultura. A aculuT

  • rao aparece no como um fenmeno ocasi-l, jde^efeitos. deyastadres,jmas_^rrip uma '

    jas_madalid_ade habituais

    O encontro das culturas no se produz so-mente entre sociedades globais, mas tambmentre grupos sociais pertencentes a uma mesmasociedade complexa. Como estes grupos sohierarquizados entre si, percebe-se que as hi-erarquias sociais determinam as hierarquias cul-turais, o que no significa que a cultura dogrupo dominante determine o carter das cultu-ras dos grupos socialmente dominados. As cul-turas das classes populares no so desprovidasde autonomia nem de capacidade de resistncia(captulo V).

    A ..defesa da autononi ia cultural muito li-gada Dreser^ap^daJdentida^^leivT^COl^

    _tura "e "identidade " sp^conceitos que remetema uma mesma realidade, .vista por dois ngulos..i* i i n. j

    WTTT j^Jor^ jBiHj*,--j'aw r^s J;^ TOI>^_; a_r- ^ 4 *^diferentes. Uma concepo, essencialista daidentidade no resiste mais a um exame do queuma concepo essencialista da cultura, A iden-tidade cultural de um gn^Qrs^ad&-secj:pjn;.

    ""preelidida ao^se^estudaj" suas relaes com oggrupos vizinhos (captulo VI).

    "-"^yjj^jisg^u^,^ conserva, atualmente,toda a sua pertinncia e se revela sempre apta adar conta das lgicas simblicas em jogo nomundo contemporneo, desde que no se negli-genciem os ensinamentos das cincias sociais.

    JVo basta tomar emprestado destas cincias a

    pnr^dade,que esconde freqentemente uma tentati-va

    teJniP^ ls^mfeUSeJa n campo pol-tico ou religioso, na empresa ou em relao aosimigrantes, a cultura no se decreta; ela nopode ser manipulada como um instrumento vul-gar, pois ela est relacionada a processos extre-mamente complexos e, na maior parte das ve-zes, inconscientes (captulo VII).

    No seria possvel, no contexto desta obra,apresentar todos os usos que foram feitos da no-o de cultura nas cincias humanas e sociais. Asociologia e a antropologia foram ento privile-giadas mas, outras disciplinas recorrem tambmao conceito de cultura: a psicologia e sobretudoa psicologia social, a psicanlise, a lingstica, ahistria, a economia, etc. Alm das cincias so-ciais, a noo igualmente utilizada, em particu-lar pelos filsofos. Por no poder ser exaustivo,pareceu-me legtimo concentrar o estudo sobreum certo nmero de aquisies fundamentaisda anlise cultural.

    CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 3CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 6CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 7CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 8CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 9CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 10CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 11CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 12CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 13CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 14CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 15CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 16CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 17CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 18CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 19CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 20CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 21CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 22CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 23CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 24CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 25CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 26CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 27CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 28CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 29CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 30CUCHE__Denys_-_A_noo_de_cultura_nas_cincias_sociais 31