curriculo
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Curriculo, EADTRANSCRIPT
UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnPPRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEaD
Currículo1a. edição
Natal/RN2010
S725c Sousa, Regina Lúcia Maciel de. Currículo / Regina Lúcia Maciel de Sousa, Maria Socorro Queiroz de Souza. – Natal: EdUnP, 2010. EdUnP, 2010. 80p. : il. ; 20 cm
Ebook – Livro eletrônico disponível on-line. ISBN 978-85-61140-34-2
1. Currículo. I. Souza, Maria Socorro Queiroz de. II. Título.
RN/UnP/BCSF CDU 371.214
DIRIGENTES DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP
ReitoriaSâmela Soraya Gomes de Oliveira
Pró-Reitoria de Graduação e Ação ComunitáriaSandra Amaral de Araújo
Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-GraduaçãoAarão Lyra
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP
Coordenação Geral Barney Silveira Arruda
Luciana Lopes Xavier
Coordenação PedagógicaEdilene Cândido da Silva
Coordenação de Produção de Recursos Didáticos
Michelle Cristine Mazzetto Betti
Coordenação de Produção de VídeosBruna Werner Gabriel
Coordenação de Logística Helionara Lucena Nunes
Revisão de Linguagem e Estrutura em EaDPriscilla Carla Silveira MenezesThalyta Mabel Nobre BarbosaÚrsula Andréa de Araújo Silva
Apoio AcadêmicoFlávia Helena Miranda de Araújo Freire
Assistente AdministrativoEliane Ferreira de SantanaGabriella Souza de Azevedo Gibson Marcelo Galvão de SousaGiselly Jordan Virginia Portella
Regina Lúcia Maciel de SousaMaria Socorro Queiroz de Souza
CurrículoLivro-texto EaD
Natal/RN2010
EQUIPE DE PRODUÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS
OrganizaçãoLuciana Lopes Xavier
Michelle Cristine Mazzetto Betti
Coordenação de Produção de Recursos DidáticosMichelle Cristine Mazzetto Betti
Revisão de Linguagem e Estrutura em EaDÚrsula Andréa de Araújo Silva
Ilustração do MascoteLucio Masaaki Matsuno
EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICODelinea - Tecnologia Educacional
Coordenação PedagógicaMargarete Lazzaris Kleis
Coordenação de EditoraçãoCharlie Anderson Olsen
Larissa Kleis Pereira
Coordenação de Revisão Gramatical e NormativaMichelle Christie Olsen
Revisão Gramatical e NormativaRaymi de Fátima Link
Márcia Cristina Caetano de Carvalho
Coordenação de DiagramaçãoAlexandre Alves de Freitas Noronha
DiagramaçãoFabricio Trindade Ferreira
IlustraçõesAlexandre Beck
REGINA LÚCIA MACIEL DE SOUSA
Sou graduada em Pedagogia, com especialização em Gestão e
Organização Escolar pela Universidade Potiguar – UnP, onde, hoje,
sou Professora de Fundamentos da Educação, Práticas Pedagógicas,
Estágio Supervisionado, Orientação de TCC e estou na Direção
Adjunta do Curso de Pedagogia. Pertenço também ao quadro de
Professores Titulares da Secretaria Municipal de Educação do RN -
SME, lotada no Departamento de Ensino Fundamental, no setor de
Desenvolvimento de Projetos. Como sou estudiosa por natureza,
sempre me dediquei ao estudo da língua materna, tornando-me
revisora de Língua Portuguesa. Por ter me aprofundado no estudo
do Currículo o elegi como objeto de minhas pesquisas, procurando
contribuir para o seu entendimento e, consequentemente, para
a sua transformação, em busca de uma educação escolar mais
significativa, criativa, duradoura, e, sobretudo, mais humana.
MARIA SOCORRO QUEIROZ DE SOUZA
Sou Mestra em Administração Profissional pela Universidade
Potiguar – UnP, Psicopedagoga pela Universidade Potiguar – UnP,
Pedagoga Graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte – UFRN, autora do Livro Didático “Introdução à Psicologia”,
tutora da disciplina: Introdução à Psicologia do NEaD da UnP,
coordenadora dos Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu da UnP:
docência no Ensino Médio e Docência no Ensino Superior. Sou
professora do Curso de Graduação em Pedagogia UnP. Ministro
disciplinas relacionadas às áreas de Administração, à Psicologia,
Gestão e à Legislação e à Políticas da Educação. Já atuei como
professora no Centro de Educação Especial da Secretaria Estadual
de Educação do Rio Grande do Norte e como professora Pedagoga
vinculada à Secretaria Municipal de Educação de Natal/RN.
CON
HEC
END
O O
AU
TOR
CURRÍCULO
Quando falamos em Currículo, deparamo-nos com ampla
gama de significados. Neste livro, porém, vamos tratar do assunto
mediante reflexões sobre o que consideramos ser o tema central
do Currículo - o conhecimento escolar e, aqui, quando falamos
escola, usamos o termo abreviadamente para todas as formas
de instituições educativas. O currículo é quem dimensiona o que
ensinar e como ensinar. Sendo ele a previsão do caminho para a
ação da aprendizagem, como fazer para que o indivíduo aprenda?
Qual a sua importância para o desenvolvimento cultural?
Você verá que nos últimos anos, em função das discussões
provocadas pelas Diretrizes, Parâmetros e Referenciais Curriculares
o Currículo ganhou alguma evidência entre os educadores e isso,
certamente, refletiu em algumas mudanças na organização das
disciplinas e dos conteúdos. Verá também, que a lógica do currículo
instrucionista não mudou e é urgente que se promova uma revisão
profunda na atual estrutura curricular, pois a discussão sobre o que
se deve ensinar precisa se renovar constantemente, ainda mais se
considerarmos que a nossa escola tem tido sempre a dificuldade de
decidir o quê e como ensinar. Como poderemos contribuir para esta
mudança, uma vez que sabemos que ela é necessária do ponto de vista
sociológico? Como a prática nos mostra, não é fácil, mas de acordo com
a história, podemos constatar que as coisas mudam e isso é possível.
O estudo desta disciplina permitirá, portanto, que você possa
refletir sobre esse processo de transformação, por meio de temas
que abordaremos, visando à compreensão do que entendemos
por currículo no processo educacional, suas teorias, suas principais
questões e como elas interferem em nossa prática docente. Veremos
ainda como devemos selecioná-lo a partir das necessidades culturais,
considerando a relação do sujeito com o conhecimento e com a
realidade, considerando também a sua formação como pessoa, de
modo que possamos avançar na concretização de um currículo que
torne a escola o espaço que defendemos e, sobretudo, almejamos:
de ensino e aprendizagem significativos e duradouros e que
contribuam de fato para o desenvolvimento humano.
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Capítulo 1 - Conceitos de Currículo: Aproximações Possíveis ................. 131.1 Contextualizando .......................................................................................................... 131.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 14 1.2.1 Currículo: sua etimologia e significados ..................................................... 14 1.2.2 Um breve Vitae Curriculum do Currículo ................................................... 15 1.2.3 Aproximação ao conceito de Currículo ....................................................... 22 1.2.4 Aproximações possíveis ao conceito de Currículo ................................. 241.3 Aplicando a teoria na prática .................................................................................... 251.4 Para saber mais .............................................................................................................. 271.5 Relembrando .................................................................................................................. 271.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 28Onde encontrar ..................................................................................................................... 28
Capítulo 2 - Teorias Tradicionais, Críticas e Pós-Críticas do Currículo ... 312.1 Contextualizando .......................................................................................................... 312.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 32 2.2.1 Conceito e fundamento de teoria, discurso e teoria do currículo ..... 32 2.2.2 Uma breve retrospectiva histórica ................................................................ 33 2.2.3 Teorias do currículo ............................................................................................ 34 2.2.4 Mudanças à vista ................................................................................................. 40 2.2.5 Voltando ao currículo oculto? ........................................................................ 42 2.2.6 Teorias pós-críticas? ........................................................................................... 442.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 462.4 Para saber mais .............................................................................................................. 472.5 Relembrando .................................................................................................................. 482.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 49Onde encontrar ..................................................................................................................... 49
Capítulo 3 - Currículo na Contemporaneidade ........................................ 513.1 Contextualizando .......................................................................................................... 513.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 52 3.2.1 Educação na contemporaneidade: um pagamento para a entrada na Era do Conhecimento ........................................................................................ 52 3.2.2 Considerações gerais sobre educação, escola, conhecimento, e currículo escolar .................................................................................................. 53 3.2.3 O currículo na atualidade .................................................................................. 58 3.2.4 Currículo e gestão escolar: uma questão de poder ................................. 59 3.2.5 Onde mesmo o currículo se escondeu? ...................................................... 613.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 633.4 Para saber mais .............................................................................................................. 653.5 Relembrando .................................................................................................................. 663.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 66Onde encontrar ..................................................................................................................... 66
Capítulo 4 - Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade: Aplicabilidade no Percurso do Componente Curricular ................................................... 694.1 Contextualizando .......................................................................................................... 694.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 70
SUM
ÁRI
O
4.2.1 Da disciplinaridade à transdisciplinaridade ....................................................................... 70 4.2.2 Para entender a disciplinaridade: Uma breve retrospectiva ........................................ 71 4.2.3 O que vem a ser multidisciplinaridade e pluridisciplinaridade? .................................. 73 4.2.4 E o que é interdisciplinaridade? ............................................................................................... 74 4.2.5 E como chegamos à transdisciplinaridade? ........................................................................ 75 4.2.6 Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade: aplicabilidade no percurso do componente curricular ............................................................................................................. 754.3 Aplicando a teoria na prática .............................................................................................................. 804.4 Para saber mais ....................................................................................................................................... 814.5 Relembrando ........................................................................................................................................... 814.6 Testando os seus conhecimentos ..................................................................................................... 82Onde encontrar .............................................................................................................................................. 82
Capítulo 5 - Currículo, Conhecimento, Cultura e Desenvolvimento Humano ........... 835.1 Contextualizando ................................................................................................................................... 835.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................. 84 5.2.1 O sentido da moralidade no currículo ................................................................................. 905.3 Aplicando a teoria na prática .............................................................................................................. 965.4 Para saber mais ....................................................................................................................................... 975.5 Relembrando ........................................................................................................................................... 985.6 Testando os seus conhecimentos ..................................................................................................... 98Onde encontrar ............................................................................................................................................100
Capítulo 6 - Currículo em Construção: Atividade Docente e Discente .....................1036.1 Contextualizando .................................................................................................................................1036.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................104 6.2.1 A Escola e o Currículo ...............................................................................................................106 6.2.2 Retrospectiva histórica das reformas curriculares do Ensino Médio no Brasil .....106 Reforma Francisco Campos (1931), segundo Romanelli (2006, p. 131): .................................................. 107 Reforma Gustavo Capanema (1942): ................................................................................................................... 108 Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961 ................................................................................................ 109 Lei de Diretrizes e Bases da Educação, n° 5.692/1971 - Período do Governo Militar .......................... 109 Lei n° 7.044/1982 ......................................................................................................................................................... 110 Lei de Diretrizes e Bases da Educação n° 9.394/1996 .................................................................................... 111 6.2.3 O Currículo envolvendo as competências .........................................................................1126.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................1176.4 Para saber mais .....................................................................................................................................1196.5 Relembrando .........................................................................................................................................1196.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................120Onde encontrar ............................................................................................................................................120
Capítulo 7 - Currículo na Prática .................................................................................1237.1 Contextualizando .................................................................................................................................1237.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................124 7.2.1 Conceito da palavra prática ....................................................................................................124 7.2.2 O papel dos educadores ..........................................................................................................124 7.2.3 O dizer e o fazer ...........................................................................................................................125 7.2.4 O discurso e a prática educacional .......................................................................................125
7.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................1367.4 Para saber mais .....................................................................................................................................1377.5 Relembrando .........................................................................................................................................1387.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................138Onde encontrar ............................................................................................................................................139
Capítulo 8 - O Currículo Avaliado ................................................................................1418.1 Contextualizando .................................................................................................................................1418.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................142 8.2.1 A análise do Currículo – Uma avaliação concreta ..........................................................142 8.2.2 Ponto de Partida ou Ponto de Chegada? Definição de Currículo, uma avaliação contínua ....................................................................................................147 8.2.3 Reformas Educacionais e Políticas Curriculares ..................................................149 8.2.4 O Currículo Avaliado ...................................................................................................1528.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................1558.4 Para saber mais .....................................................................................................................................1578.5 Relembrando .........................................................................................................................................1578.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................158Onde encontrar ............................................................................................................................................158
Referências .....................................................................................................................................................161
13Currículo
CONCEITOS DE CURRÍCULO: APROXIMAÇÕES POSSÍVEIS
CAPÍTULO 1
1.1 Contextualizando
Diante das mudanças que acontecem na educação neste início de século
XXI, acreditamos que debater as questões relacionadas ao Currículo faz-
se urgente e necessário para todos os que atuam na Educação. Entretanto,
podemos perceber que não existem muitas discussões em torno dessa questão,
principalmente quando se trata de compreender o Currículo como espaço de
crescimento e de socialização dos sujeitos.
Desta forma, buscaremos, neste capítulo, uma aproximação ao conceito de
Currículo, procurando não apenas as definições ou o seu verdadeiro significado,
mas um aprofundamento nas questões mais amplas do Currículo, assim como
da escola e do conhecimento, uma vez que estão intrinsecamente ligados.
Procuraremos entendê-lo percorrendo as diferentes concepções e levando em
conta as diversas teorias que procuram defini-lo.
Assim, resgataremos desde a etimologia até as teorias que o têm
influenciado ao longo do tempo, tentando esclarecer que ele é o resultado de
ideologias que envolvem aspectos filosóficos, políticos, históricos, religiosos e
morais, para que, deste modo, possamos compreendê-lo neste sentido mais
amplo de maneira que por meio deste conhecimento, possamos avançar
na construção e concretização de um Currículo que ultrapasse a lógica de
mecanização que se reflete em grande parte do ensino e aprendizagem, tanto
nas nossas escolas quanto na própria sociedade.
Esperamos que você estude com prazer, entusiasmo e comprometimento
e que, ao final deste capítulo, possa:
Capítulo 1
14 Currículo
• conhecer os significados da palavra Currículo/curriculum;
• compreender as suas configurações ao longo da história;
• fazer uma aproximação ao conceito de Currículo.
1.2 Conhecendo a teoria
1.2.1 Currículo: sua etimologia e significados
Afinal, o que é Currículo? Não poderíamos começar nossas discussões sem
que analisássemos, etimologicamente, a palavra Currículo, uma vez que ela
apresenta uma pluralidade de significados. A definição da palavra mediante a
etimologia torna-se importante, pois a sua origem lhe dá sentido. Por exemplo:
a palavra Currículo, em latim, pode ser entendida como originária de currere,
que significa correr. Recorrendo às derivações substantivas do próprio latim,
como cursus, significa carreira, ou curriculum – no sentido de caminho, curso,
percurso. Deste modo, podemos dizer que, “no curso dessa corrida, que é o
Currículo, acabamos por nos tornar o que somos” (SILVA, 1999, p. 15). Você já
pode perceber, então, que o Currículo é muito importante, e que exerce um
papel decisivo na nossa vida, no nosso caminho, influindo em como pensamos,
como agimos, no que defendemos e no que acreditamos ou não.
Este significado nos remete, também, ao grande orador e pensador
político romano, Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), que já utilizava a palavra curriculum
em seus textos, na forma de vitae curriculum, assim como a Calvino (1509-1564),
que também já a usava em seus sermões, com o sentido de uma caminhada
que tem um fim, passando por etapas determinadas (Hamilton, 1992, apud
Vasconcelos, 2009 p. 28).
Segundo Sacristán (2000), o Currículo é um conceito de uso relativamente
recente entre nós, se considerarmos a significação que tem em outros
contextos culturais e pedagógicos nos quais conta com uma maior tradição. Se
recorrermos ao dicionário, encontraremos no Houaiss (2001) o significado de
Currículo em dois verbetes: o primeiro remete ao “ato de correr, corrida, curso
[...] programação total ou parcial de um curso ou de matéria a ser examinada”;
o segundo remete a “documento em que se reúnem dados relativos a
características pessoais, formação, experiência profissional”. Ora, quem não
conhece o Currículo profissional, que chamamos também de Curriculum Vitae?
Para nos inserirmos no mercado de trabalho, é necessário que elaboremos este
Capítulo 1
15Currículo
documento. O conceito pedagógico, em vários dicionários, é bastante recente,
porém, buscando outras fontes, como por exemplo, enciclopédias, onde já
podemos encontrá-lo deste modo.
E aqui, vemos a necessidade de ressaltar que, apesar de já estar sendo
usado como linguagem especializada, observamos que seu uso não é comum
nem mesmo entre os docentes no meio educativo.
1.2.2 Um breve Vitae Curriculum do Currículo
Ao longo da história, surgiram diferentes concepções de Currículos.
Partimos aqui do pressuposto que, por trás dessas concepções, existem
teorias de justiça social, contribuições filosóficas, psicológicas, antropológicas,
sociológicas, e, ao mesmo tempo, de teorias de ensino e aprendizagem;
portanto, não existe uma instância metafísica que defina um Currículo
universal, que se coloque como uma verdade irrestrita. Neste sentido,
DEFINIÇÃO
“o Currículo é uma produção humana, marcado histórica e culturalmente” (VASCONCELOS, 2009, p. 29).
Você verá, portanto, que para levantarmos o Vitae Curriculum do
Currículo será necessário fazermos um breve resgate da escola elementar,
o que de certa forma é bastante complexo, pelo fato de que, do século
XV ao XVIII, quando essa forma de ensino se expandiu, não havia ainda
sistemas nacionais de educação (VASCONCELOS, 2009). Algumas práticas
de ensino levavam centenas de anos para se consolidar, enquanto outras
desapareciam completamente. As pesquisas nos mostram que, a Escola
Moderna, que já reflete o modelo que temos hoje, define-se entre os séculos
XV e XIX, sendo os séculos XV e XVI particularmente importantes para a sua
compreensão. Porém, vale lembrar que, apenas no final do Século XVIII,
a escola realmente se configurou no modelo de escola que conservamos
no presente. A qui, é importante também relembrarmos que a adoção
da palavra curriculum no vocabulário pedagógico deu-se justamente na
primeira metade do século XVI.
Capítulo 1
16 Currículo
Os jesuítas já utilizavam o termo curriculum no documento que dava as diretrizes para os seus colégios — a Ratio Studiorum, de 1599. Nos séculos XVI e XVII, passa a ser aplicado às instituições de ensino.
SAIBA QUE
Existe outro fator que dificulta o resgate histórico da escola elementar, que era
a linguagem, utilizada de acordo com os contextos da época, ou seja, a mudança do
significado de cada palavra: escola, curso, Currículo, série, educandário, gramática,
colégio, academia, universidade, entre outras, difere muitas vezes do significado da
mesma palavra na atualidade; a isso damos o nome de historicidade.
No entanto, existe um outro lado deveras positivo, o qual facilita esse
resgate, que é a grande documentação produzida na época, gerada tanto
pela conscientização da importância do papel da educação, quanto pelas
possibilidades culturais criadas pelo uso da imprensa. Outro fator facilitador
foi também o uso do Latim, que era a língua culta comum.
Nos últimos anos, a produção e as publicações em História da Educação cresceram de forma bastante significativa, porém ainda não temos muito material específico sobre a história do nosso Currículo escolar.
CURIOSIDADE
a) A Escola e sua construção histórica: mudanças pelo caminho
De qualquer forma, sabemos que a escola nem sempre foi como é agora;
que, como outras instituições, ela é uma construção histórica. Fatos foram
acontecendo e ocasionando uma série de mudanças. Uma delas, por exemplo,
foi a introdução do ensino simultâneo proposto por Comenius (1592-1670),
cuja aplicação foi atribuída a Jean-Baptiste de La Salle (1651-1719).
Capítulo 1
17Currículo
Jan Amos Komensky, ou Comenius, (1592-1670) nasceu em Nivnice, Moravia, hoje República Tcheca. Entre seus escritos destacaram-se Janua linguarum reservata (1631), um manual para o ensino de línguas e Didactica Magna, uma proposta de sistema educativo a ser aplicado da infância aos estudos pós-universitários, propondo a universalização do saber e a supressão dos conflitos religiosos e políticos e Orbis sensualium pictus (1658) livro amplamente ilustrado com gravuras didáticas, cada qual desempenhando um importante papel na lição. Obteve muito prestígio por toda a Europa, onde colocou em prática suas teorias pedagógicas e filosóficas. Foi seguido por grandes educadores, como Jean-Jacques Rousseau, John Locke e J. H. Pestalozzi (SANTANA, 2008).
BIOGRAFIA
Porém, segundo Vasconcelos (2009, p.31), como prática mais disseminada,
esse ensino data de meados do século XIX. É interessante observarmos que,
antes do ensino simultâneo, existiam outras formas de ensino, como o individual
e o monitorial ou mútuo, criado na Inglaterra por Joseph Lancaster, no final
do século XVIII. No ensino individual, os alunos ficavam em um mesmo lugar, o
professor chamava-os e os orientava por um determinado tempo; após isso, o
aluno voltava para o seu lugar e refletia sobre as orientações do mestre. Já no
ensino mútuo, um aluno, denominado decurião, era orientado pelo professor
e após isso, sob sua supervisão, ensinava a um grupo de dez (decúria).
Em 1822, um Decreto Imperial criou no Brasil uma escola de ensino mútuo, no
Rio de Janeiro, sendo que já em 1827 um novo decreto — o da Escola de Primeiras
Letras — propunha a aplicação do método Lancasteriano em todas as escolas
primárias. Este método pedagógico entendia que se deveriam dividir os alunos
em classes, segundo seus conhecimentos, e que o procedimento educacional de
castigo físico deveria acabar, instituindo uma nova forma de pensar a disciplina
escolar. Foi implantado oficialmente no Brasil pela Lei de15 de outubro de 1827,
que definia as diretrizes do ensino em linhas gerais. Aqui, você já pode notar
a fragmentação do ensino. É importante lembrarmos que escolarizar envolvia
instruir e moralizar; no caso das camadas mais favorecidas a ênfase no Currículo
se dava na instrução, e no das menos favorecidas por meio da disciplina que,
compreendida como educação moral, era o aspecto mais enfatizado.
E sobre este assunto, vale a pena observar que os estudos de Foucault
sobre o processo de disciplinarização da sociedade são bastante interessantes
(Vasconcelos, 2009). O modo como ele analisou a escola fez com que ela nunca
Capítulo 1
18 Currículo
mais fosse a mesma. Em seu livro Vigiar e Punir (1977), ele descreveu os processos de
disciplinarização dos corpos em alguns estabelecimentos como colégios, fábricas,
oficinas e quartéis, evidenciando que a principal característica destas instituições
é a disciplina corporal e que, dentre todas elas, a escola era a que possuía a maior
abrangência, uma vez que os sujeitos passam nela a maior parte da sua formação.
Ainda segundo o autor, a disciplina no interior da instituição educacional não
se limitou ao corpo, pois ali também ocorreu a submissão dos conhecimentos à
disciplina institucional, ou seja, à escolarização dos saberes. E sabe por que isso
aconteceu? Porque ela ocorreu num período de intervenção histórica que se
pautava na organização, classificação, depuração e censura dos conhecimentos,
de modo que atingiu também os próprios conhecimentos a serem ensinados. A
chamada escola disciplinar surgiu em uma época de grandes modificações nas
estruturas de poder, que originaram um aparato social e político que Foucault
denominou “sociedade disciplinar”. E nesses estudos, podemos entender, através
de um importante modelo teórico, o surgimento da escola moderna.
Michel Foucault nasceu em Poitiers, na França, em 15 de outubro de 1926. Estudou na Escola Normal Superior da França, a partir de 1946, onde conheceu e manteve contatos com Pierre Bourdieu, Jean-Paul Sartre, Paul Veyne, entre outros. Seus estudos sobre o processo de disciplinarização da sociedade mostraram que esta exercia grande influência na escola, partindo da análise de que os sujeitos passam nela a maior parte das suas vidas (SANTANA, 2008).
BIOGRAFIA
b) O Currículo e suas ênfases ao longo da história
Segundo Vasconcelos (2009, p. 21), as ênfases do Currículo ao longo da
história acontecem através de uma abordagem rigorosa da temática curricular
que privilegia os elementos básicos da situação de ensino-aprendizagem. E
quais são esses elementos? São eles:
• os sujeitos: alunos e professores – suas trajetórias e histórias de vida;
• os objetos de conhecimento: o que vai ser estudado – gênese e
desenvolvimento, constituição como conhecimento e objeto de estudo;
• a realidade: o contexto em que se dá a Atividade Dodiscente (docente
e discente) – sua história, através de seu movimento e transformações.
Capítulo 1
19Currículo
Nessa breve linha do tempo, veremos que as diferentes ênfases do Currículo passam pelas diversas concepções de educação que nos mostram o quanto ele é um objeto cultural e social, determinado de acordo com os interesses de cada momento histórico:
• Educação Clássica (Idade Antiga – Grécia, Roma), cuja ênfase do Currículo é o sujeito (público).
• Educação Escolástica (Idade Média), cuja ênfase é o Objeto (saber conceitual).
• Educação Renascentista, cuja ênfase é a realidade.
• Educação Tradicional (Idade Moderna), a ênfase é o objeto como saber conceitual.
• Educação Tradicional (início da Idade Contemporânea) com ênfase no objeto (saber conceitual, procedimental e atitudinal, com caráter instrumental).
• Educação Moderna/ Escola Nova (Idade Contemporânea) cuja ênfase foi o sujeito (indivíduo).
• Educação Tradicional (Idade Contemporânea) ênfase no objeto, no saber conceitual.
• Educação Crítica (Idade Contemporânea), que dava ênfase à realidade.
• Educação Neotecnicista (Idade Contemporânea), com ênfase no Objeto (saber fazer).
• Concepção Dialética-Libertadora (Idade Contemporânea), com ênfase no sujeito concreto, entendido como um todo, em todas as suas dimensões.
Ao se aprofundar nesta linha do tempo, você vai poder observar que
o Currículo é incrivelmente inerte se comparado às grandes mudanças que
acontecem na sociedade e nas ideias pedagógicas. Neste momento, é necessário
alertarmos para a importância de um aprofundamento nos estudos, através
das leituras indicadas, pois aqui temos apenas uma breve visão, cujo objetivo
é o de contextualizar a nossa reflexão sobre o assunto.
É importante ainda, ressaltarmos a Concepção de Educação Escolástica
(Idade Média), pois foi neste período em que se delineou, explicitamente, a
primeira grande forma de organização curricular estruturada na seguinte forma:
Trivium (três vias): Gramática, Retórica e Dialética, considerados
instrumentos básicos ou ciências da linguagem ou do pensamento;