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CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO AMBIENTAL VITOR GONÇALVES ECOLOGIA DE ESTRADAS: A RODOVIA BR-116 E O PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS IFRJ – CAMPUS RIO DE JANEIRO 2016

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CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO AMBIENTAL

VITOR GONÇALVES

ECOLOGIA DE ESTRADAS: A RODOVIA BR-116 E O PARQUE

NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS

IFRJ – CAMPUS RIO DE JANEIRO

2016

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VITOR GONÇALVES

ECOLOGIA DE ESTRADAS: A RODOVIA BR-116 E O PARQUE

NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS

Projeto apresentado à

coordenação do Curso Superior

de Tecnologia em Gestão

Ambiental como cumprimento

parcial das exigências para

conclusão do curso.

Orientador: Prof. Dr. Gustavo

Simas Pereira

IFRJ – CAMPUS RIO DE JANEIRO

2016

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Aos animais que inspiraram este trabalho:

Héctor, Nicholas, Otho e Valdirene.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que me acompanharam durante este longo período:

professores, colegas de classe e amigos. Esses tornaram ainda mais agradável

minha passagem pelo IFRJ, fazendo com que eu me sentisse à vontade como em

poucos lugares.

Agradeço à minha família, que, além do grande auxílio na parcela

operacional do trabalho, forneceu todo o apoio e a paciência necessária para a

conclusão do mesmo. Também agradeço por servir como espécie de válvula de

escape para todo a pressão que os prazos e as metas causaram.

Em relação a paciência, não poderia deixar de agradecer ao meu orientador,

Professor Gustavo Simas, que esteve ao meu lado na elaboração deste trabalho

ao longo de dois anos. Também por suas orientações em relação ao trabalho,

manifesto aqui minha gratidão.

Agradeço também à Professora Carla Santi pela gentil ajuda com os

equipamentos de geoprocessamento e com a confiança depositada ao fornecê-los

para o estudo. Também agradeço pelo tempo e disposição dedicados ao trabalho.

Também gostaria de registrar minha gratidão à Professora Simone Lorena

principalmente por seu papel de educadora das disciplinas de Projeto de Pesquisa

I e Projeto de Pesquisa II, mas também pelos esclarecimentos fornecidos quanto

aos prazos e às documentações necessárias ao trabalho.

Ao amigo Arnaldo Saverio Mazza agradeço pelo incentivo e pela grande

ajuda em relação às dificuldades rotineiras que atrapalharam consideravelmente a

elaboração do trabalho durante certo período.

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GONÇALVES, V.. Ecologia de Estradas: A Rodovia Br-116 e o Parque Nacional da Serra dos Órgãos. 97 p. Trabalho de Conclusão de Curso. Coordenação do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), Campus Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2016.

RESUMO

A construção e a utilização de uma rodovia podem gerar variados impactos ao meio ambiente. De todos os impactos causados, dois merecem destaque pelo alto grau de perturbação à natureza: a fragmentação de habitat e, principalmente, os atropelamentos de fauna. Para minimizar tais impactos, diversas medidas mitigadoras foram projetadas e testadas em rodovias. O presente estudo tem como objetivo analisar as medidas mitigadoras no trecho da rodovia BR-116 que corta o Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Para a realização desse objetivo, foi utilizado o Sistema Urubu, banco de dados gratuito que disponibiliza dados de atropelamentos de fauna em todo o território nacional e também foram realizadas duas saídas de campo a fim de verificar a quantidade e os tipos de medidas mitigadoras implantadas em cada trecho de 1 km de extensão na qual a área foi dividida. O trecho analisado da rodovia continha 30 km de extensão: 10 km antes do trecho comum ao Parque Nacional, os 10 km do trecho comum e os 10 km seguintes, a fim de estabelecer uma comparação entre os dados da área interior à Unidade de Conservação com os dados das áreas exteriores. No total, foram observadas 115 medidas de mitigação, onde a maioria (50,43%) se concentra no interior do Parque Nacional. Os dados indicam que as medidas de mitigação no trecho do Parque Nacional da Serra dos Órgãos tem potencial na redução de acidentes. Palavras-chave: Gestão Ambiental 1. Ecologia de Estradas 2. Parque Nacional 3.

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GONÇALVES, V.. Road Ecology: The highway BR-116 and the Serra dos Órgãos National Park. 97 p. Completion of course work. Coordination of the Course of Technology in Environmental Management, Federal Institute of Education, Science and Technology of Rio de Janeiro (IFRJ), Campus Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2016.

ABSTRACT

The construction and use of a road can generate various impacts on the environment. Of all the impacts, two are worth mentioning the high level of disturbance to nature: the fragmentation of habitat, and especially the wildlife roadkill. To minimize these impacts, several mitigation measures were designed and tested on highways. This study aims to analyze the mitigation measures in the stretch of the BR-116 highway, one of the country's largest, which crosses the Serra dos Órgãos National Park. To achieve this goal, we used the Urubu system free database that provides wildlife roadkill data throughout the national territory and were also carried out two field trips in order to check the amount and types of implemented mitigation measures each stretch of 1 km in length in which the area was divided. The analyzed stretch of highway contained 30 km long: 10 km before the common stretch to the National Park, 10 km from the common section and 10 km following in order to establish a comparison between the data of the inner area to the protected area with data from outdoor areas. 115 mitigation measures were detected, 58 (50,43%) in the area of the National Park. The data indicate that the mitigation measures in the section of the National Park has the potential to reduce accidents. Keywords: Environmental Management 1. Road Ecology 2. National Park 3.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Mosaico Mata Atlântica Central Fluminense 09

Figura 2 Localização da área de análise no estado do Rio de Janeiro 12

Figura 3 Parque Nacional da Serra dos Órgãos e a Rodovia BR-116 13

Figura 4 Representação de balizas 25

Figura 5 Parcela 3 da área de estudo 31

Figura 6 Parcela 2 da área de estudo 32

Figura 7 Destaque de área com dois atropelamentos sobrepostos (024 e 33 036)

Figura 8 Parcela 1 da área de estudo 34

Figura 9 Ocupação urbana à margem esquerda da rodovia no Trecho 01 41

Figura 10 Condomínio em construção no Trecho 02 42

Figura 11 Ocupação urbana à margem do Trecho 03 43

Figura 12 Ferro velho próximo ao Viaduto Jeferson Tricano 44

Figura 13 Lombada, ocupação urbana e vegetação do Trecho 05 45

Figura 14 Sinalização viária e ocupação urbana 46

Figura 15 Única construção do Trecho 07 à esquerda da rodovia 47

Figura 16 Vegetação arbórea e as faixas de rolamento do Trecho 08 48

Figura 17 Didelphis aurita, o gambá-de-orelha-preta 49

Figura 18 Sinalização viária indicando fiscalização eletrônica no Trecho 10 50

Figura 19 Início da faixa verde indicadora 52

Figura 20 Estabelecimentos comerciais na BR-116 no trecho do PARNASO 53

Figura 21 Sinalização viária indicando fiscalização eletrônica e a realização 54 de obras

Figura 22 Paredão rochoso à direita: impedimento de acesso à rodovia 55

Figura 23 Vegetação densa e inclinação acentuada 56

Figura 24 Trecho capinado próximo a curva: ampliação do campo visual 57 dos motoristas

Figura 25 Vegetação densa e área de vegetação rasteira 58

Figura 26 Área plana e de vegetação densa: provável trecho de travessia 59

Figura 27 Sede Guapimirim do PARNASO, próxima ao final do trecho de 60 interseção

Figura 28 Placa do Projeto Fauna Viva 61

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Figura 29 Área de vegetação densa: provável região de travessia de 63 animais

Figura 30 Região de possível implementação de passagens superiores de 64 fauna

Figura 31 Área urbana no Trecho 23 65

Figura 32 Trecho com três faixas de rolamento 66

Figura 33 Uma das poucas construções do Trecho 25 67

Figura 34 Entrada do município de Guapimirim: área urbana ao redor da 68 rodovia

Figura 35 Área com grande canteiro central 69

Figura 36 Rodovia marginal e sua mureta de contenção 70

Figura 37 Canteiro central com telamento sem passagem 71

Figura 38 Sinalização viária de limitação de velocidade 72

Figura 39 Registros totais de atropelamentos pelo Sistema Urubu na região 91 analisada durante todo seu período de atividade

Figura 40 Registros de espécies identificadas pelo Sistema Urubu na 92 região analisada

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Unidades de Conservação do Mosaico Mata Atlântica Central 10 Fluminense

Tabela 2 Medidas mitigadoras de impactos em rodovias 22

Tabela 3 Identificação dos trechos de análise 35

Tabela 4 Discussão individual dos trechos 74

Tabela 5 Número de atropelamentos e de medidas mitigadoras por trechos 85

Tabela 6 Número de medidas mitigadoras por parcelas 87

Tabela 7 Número de atropelamentos e de medidas mitigadoras por 88 parcelas

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Sumário

1-Introdução ........................................................................................................... 3

1.1-Unidades de Conservação e biodiversidade ................................................. 5

1.2-Ecologia de Estradas e seus fatores ........................................................... 14

1.3-Mitigação dos atropelamentos de fauna ..................................................... 20

1.4-Rodovia BR-116 .......................................................................................... 27

2-Objetivos ........................................................................................................... 29

2.1-Objetivo geral .............................................................................................. 29

2.2-Objetivos específicos .................................................................................. 29

3-Metodologia ....................................................................................................... 30

4-Resultados ........................................................................................................ 40

4.1-Parcela 1 ..................................................................................................... 40

4.1.1-Trecho 01 ............................................................................................. 40

4.1.2-Trecho 02 ............................................................................................. 41

4.1.3-Trecho 03 ............................................................................................. 42

4.1.4-Trecho 04 ............................................................................................. 43

4.1.5-Trecho 05 ............................................................................................. 44

4.1.6-Trecho 06 ............................................................................................. 45

4.1.7-Trecho 07 ............................................................................................. 46

4.1.8-Trecho 08 ............................................................................................. 47

4.1.9-Trecho 09 ............................................................................................. 49

4.1.10-Trecho 10 ........................................................................................... 50

4.2-Parcela 2 ..................................................................................................... 51

4.2.1-Trecho 11 ............................................................................................. 51

4.2.2-Trecho 12 ............................................................................................. 53

4.2.3-Trecho 13 ............................................................................................. 54

4.2.4-Trecho 14 ............................................................................................. 55

4.2.5-Trecho 15 ............................................................................................. 56

4.2.6-Trecho 16 ............................................................................................. 57

4.2.7-Trecho 17 ............................................................................................. 58

4.2.8-Trecho 18 ............................................................................................. 59

4.2.9-Trecho 19 ............................................................................................. 60

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4.2.10-Trecho 20 ........................................................................................... 61

4.3-Parcela 3 ..................................................................................................... 62

4.3.1-Trecho 21 ............................................................................................. 62

4.3.2-Trecho 22 ............................................................................................. 64

4.3.3-Trecho 23 ............................................................................................. 65

4.3.4-Trecho 24 ............................................................................................. 66

4.3.5-Trecho 25 ............................................................................................. 67

4.3.6-Trecho 26 ............................................................................................. 68

4.3.7-Trecho 27 ............................................................................................. 69

4.3.8-Trecho 28 ............................................................................................. 70

4.3.9-Trecho 29 ............................................................................................. 71

4.3.10-Trecho 30 ........................................................................................... 72

5-Discussão .......................................................................................................... 73

6-Conclusão ......................................................................................................... 94

7-Referências bibliográficas ................................................................................. 96

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1-Introdução

A Conferência das Nações Unidas em Estocolmo, realizada em 1972,

possibilitou a discussão da temática ambiental em nível global. Por levar o tema do

meio ambiente a uma elevada quantidade de nações, a Conferência foi considerada

um importante marco temporal. Sendo seguida por outras Conferências como a

Eco 92 e Rio+20. Dessa forma, a busca pelo meio ambiente equilibrado na esfera

global tomou corpo no cenário mundial. Mas para atingir metas globais antes de

tudo deve-se trabalhar na esfera local, como por exemplo a redução de riscos

ambientais à fauna próximas as vias de circulação de automóveis, uma área de

estudos recente denominada Ecologia de Estradas.

A conservação ambiental, por sua vez, teve uma maior evolução durante a

segunda metade do século XX, e, consequentemente, seu estabelecimento como

prioridade internacional. Esse avanço foi possibilitado por dois motivos principais:

o desenvolvimento científico e tecnológico permitido após a revolução científica

ocorrida no século XIX e a percepção sobre os riscos que a natureza e o planeta

estavam sujeitos em relação à crescente industrialização mundial. A partir desse

período, com o apoio da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação

e a Agricultura), da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação,

Ciências e Cultura) e do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente), a questão da conservação ambiental foi melhor difundida

internacionalmente (MEDEIROS, 2003).

A Ecologia de Estradas é um tema considerado de grande importância para

a conservação ambiental, sendo objeto em diferentes estudos. BAGER (2012)

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define a Ecologia de Estradas como a “disciplina que busca estudar as relações

entre empreendimentos rodoviários e sistemas ecológicos”. O estudo de STONER,

publicado em 1925, é considerado um dos precursores na área, relatando casos de

atropelamentos de fauna no estado de Iowa nos Estados Unidos, servindo de base

para o desenvolvimento inicial dessa temática de pesquisa.

Outro aspecto, que diz respeito à evolução da questão da proteção ao meio

ambiente, está relacionado às Unidades de Conservação (UC), criadas no Brasil a

partir do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, o SNUC,

implantado pela Lei número 9.985 de 2000. O SNUC define em seu terceiro capítulo

as categorias de Unidades de Conservação, diferenciando-as em Unidades de Uso

Sustentável, organizadas em sete subcategorias (como a área de proteção

ambiental), e em Unidades de Proteção Integral, organizadas em cinco

subcategorias, dentre as quais se encontram os Parques Nacionais por exemplo.

Desta forma, o objetivo central das unidades de conservação é a manutenção da

qualidade ambiental em territórios delimitados e com regulamentação própria. No

entanto, na prática as unidades de conservação sofrem uma série de desafios,

como a falta de regulamentação fundiária, a carência de recursos humanos e

financeiros para a sua gestão, invasão de seu território por caçadores e madeireiros

ameaçando a fauna e a flora, entre outros.

Dentro deste cenário os Parques Nacionais (PARNAS) constituem-se de

uma categoria de unidade de conservação mais restritiva onde não se pode fazer

uso direto de seus recursos, sendo portanto, uma fonte de manutenção da

biodiversidade. Esse é o caso da Unidade de Conservação analisada no presente

trabalho, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Porém por vezes a malha viária

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próxima as UC acabam por ser uma via de impacto ambiental. A fauna das UC e

de seu entorno ao se deslocar pode entrar em contato com uma via de circulação

de automóveis e sofrer acidente, ocasionando a sua morte, em grande parte das

vezes.

Dessa forma, a Ecologia de Estradas busca avaliar essa relação e os

melhores caminhos a serem tomados a fim de minimizar a perda da biodiversidade.

O presente trabalho tem como objetivo avaliar as medidas de prevenção de

acidentes a fauna existentes na rodovia BR-116, que interage com o Parque

Nacional da Serra dos Órgãos no estado do Rio de Janeiro.

1.1-Unidades de Conservação e biodiversidade

A manutenção das condições de sobrevivência e de harmonia da

biodiversidade local é uma das principais metas do Sistema Nacional de Unidades

de Conservação da Natureza – SNUC. A Lei número 9.985 de 2000 define, em seu

artigo 4º, os objetivos do SNUC, assinalando o compromisso direto com a

preservação da biodiversidade, conforme disposto em seus incisos:

“I - contribuir para a manutenção da diversidade

biológica e dos recursos genéticos no território nacional

e nas águas jurisdicionais;

II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no

âmbito regional e nacional;

III - contribuir para a preservação e a restauração da

diversidade de ecossistemas naturais.”

(BRASIL, 2000, artigo 4)

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As condições adequadas à biodiversidade local são essenciais para a

existência de um meio ambiente equilibrado, direito de todo cidadão brasileiro

segundo o artigo 225 da Constituição Brasileira. Desta forma, diferentes

ferramentas são empregadas a fim de buscar a manutenção e/ou melhoria da

qualidade ambiental, entre elas a criação e o gerenciamento de áreas protegidas

como as Unidades de Conservação.

Não é possível afirmar uma data precisa para o início da utilização de

medidas de proteção à natureza. Porém, práticas de controle de acesso a

determinados territórios naturais existem desde a Antiguidade. Apesar disso,

apenas a partir da utilização da filosofia e das ciências sociais e naturais, o homem

pôde fundamentar o processo de exploração e de preservação da natureza

(MEDEIROS, 2003).

As UCs tiveram como marco inicial de instauração a criação do Parque

Nacional de Yellowstone, em 1872 nos Estados Unidos, apesar de a origem da

ideia ser desconhecida (MORSELLO, 2001). No Brasil, a criação de Unidades de

Conservação federais teve início na década de 1930, com a criação dos Parques

Nacionais de Itatiaia, em 1937, do Iguaçu e da Serra dos Órgãos, ambos em 1939

(MEDEIROS e GARAY, 2006; MACIEL, 2011).

De acordo com o ICMBIO (2008), o Parque Nacional da Serra dos Órgãos

(PARNASO), como um dos precursores dos Parques Nacionais brasileiros, é uma

das Unidades de Conservação de relevada importância do país. O parque possui

um Programa de Proteção bem estruturado e separado em quatro diferentes

setores sob a responsabilidade da Coordenação de Proteção. São eles: Setor de

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Fiscalização Ambiental; Setor de Controle do Entorno; Prevenção e Combate a

Incêndios Florestais; Montanhismo e Resgate.

O Parque Nacional da Serra dos Órgãos está localizado no interior do estado

do Rio de Janeiro, estendendo-se por quatro municípios: Magé, Guapimirim,

Petrópolis e Teresópolis. Possui 20.024 hectares de área protegida. Em relação à

biodiversidade, o PARNASO possui mais de 2.800 espécies de vegetais, 462 de

aves, 105 de mamíferos, 103 de anfíbios e 83 de répteis. 130 dessas espécies

estão ameaçadas de extinção (ICMBIO, 2016b). Além disso, é uma das Unidades

de Conservação integrantes do Mosaico Mata Atlântica Central Fluminense, um

dos treze mosaicos de Unidades de Conservação reconhecidos pelo Ministério do

Meio Ambiente (MMA). Um mosaico de Unidades de Conservação é um modelo de

gestão que “tem como objetivo primordial compatibilizar, integrar e otimizar

atividades desenvolvidas nas UCs que o compõem” (BRASIL, 2016a).

O Mosaico Mata Atlântica Central Fluminense (Figura 1) foi reconhecido pela

Portaria número 350, de 11 de dezembro de 2006 e formado por vinte e nove

Unidades de Conservação (Tabela 1). Protege o bioma Mata Atlântica, um hotspot1

da conservação. O Mosaico promove uma maior eficiência de conservação, visto

que permite o trabalho em conjunto entre as equipes das Unidades de Conservação

constituintes. Fazem parte do Mosaico Mata Atlântica Central Fluminense cinco

Unidades de Conservação federais, a Área de Proteção Ambiental de Petrópolis, a

Área de Proteção Ambiental Guapimirim, a Estação Ecológica da Guanabara, o

Parque Nacional da Serra dos Órgãos e a Reserva Biológica do Tinguá. Sete

1 Áreas que contêm excepcionais concentrações de espécies endêmicas e que sofrem com supressão de habitat (MYERS et al., 2000).

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grandes rodovias interagem com essas Unidades de Conservação, sendo elas a

BR-040, a BR-116, a BR-493, a BR-495, a RJ-107, a RJ-113 e a RJ-117. Apenas

a Estação Ecológica da Guanabara não possui trechos de interseção entre essas

rodovias e seus territórios.

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Figura 1 – Mosaico Mata Atlântica Central Fluminense. Fonte: ICMBIO, 2010, p.14.

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Tabela 1 – Unidades de Conservação do Mosaico Mata Atlântica Central Fluminense

Numeração (Figura 1) Unidade de Conservação 1 ESEC Guanabara 2 ESEC Paraíso 3 MONA Pedra do Elefante 4 REBIO do Tinguá 5 REBIO Araras 6 PE Três Picos 7 PARNA Serra dos Órgãos 8 PNM Montanhas de Teresópolis 9 PNM Serra do Barbosão 10 APA Bacia do Rio Macacu 11 APA Bacia do Rio dos Frades 12 APA Floresta do Jacarandá 13 APA Guapi-guapiaçu 14 APA Guapimirim 15 APA Macaé de Cima 16 APA Petrópolis 17 APA Suruí 18 APA Jaceruba 19 APA Maravilha 20 PNM Taquara 21 PNM Petrópolis 22 PNM Araponga 23 ESEC Monte das Flores 24 MONA Pedra das Flores 25 RPPN Querência 26 RPPN Graziela Maciel Barroso 27 RPPN Fazenda Suspiro 28 RPPN El Nagual 29 RPPN CEC Tinguá

O PARNASO é habitat natural de 120 espécies de animais ameaçadas de

extinção, de acordo com o ICMBIO (2016c), considerando as listas estadual,

nacional e da IUCN (International Union for Conservation of Nature). Essas

espécies estão subdivididas em 28 de mamíferos, 72 de aves, 1 de répteis, 16 de

anfíbios, 2 de peixes e 1 de invertebrados. Atropelamentos em regiões de entorno

de Unidades de Conservação são ainda mais problemáticos, visto que nessa região

existem muitas espécies ameaçadas (LIMA e OBARA, 2004). Além disso, são de

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grande importância para a conservação da Mata Atlântica, tendo em vista que

apenas 22% da vegetação nativa está preservada e o bioma possui 1.689 espécies

de répteis, mamíferos, aves e anfíbios (BRASIL, 2016b). Além de possuir diferentes

espécies endêmicas, o PARNASO abriga nascentes das duas principais bacias

hidrográficas do estado do Rio de Janeiro: a Bacia do Rio Paraíba do Sul e a Bacia

da Baía de Guanabara.

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Figura 2 – Localização da área de análise no estado do Rio de Janeiro.

Elaboração própria a partir da ferramenta Google Earth.

1:12.277.777,8

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Figura 3 – Parque Nacional da Serra dos Órgãos e a Rodovia BR-116.

Elaboração própria a partir da ferramenta Google Earth.

O PARNASO foi criado em 1939, sendo a terceira Unidade de Conservação

mais antiga do Brasil, considerado, portanto, referência para estruturação de outras

Unidades. Além de proteger a Mata Atlântica, também abriga o Dedo de Deus

considerado um Patrimônio Nacional e, portanto, possui grande importância cultural

1:750.000

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também. Outras medidas para a proteção do bioma Mata Atlântica foram realizadas

em conjunto com outras Unidades de Conservação da região, como a criação do

Mosaico Mata Atlântica Central Fluminense e o Corredor Ecológico da Serra do

Mar.

1.2-Ecologia de Estradas e seus fatores

O presente estudo tem como tema principal a Ecologia de Estradas (EE),

conhecida originalmente como Road Ecology. É a seção da ciência que estuda a

interação dos organismos e do meio ambiente com as rodovias (FORMAN et al.,

2003). A Ecologia de Estradas é uma área de pesquisa recente, tendo seu número

de estudos e a difusão de seus conceitos tomado a proporção atual há apenas duas

décadas (BAGER, 2012; LAUXEN, 2012).

As estradas são estruturas imprescindíveis ao desenvolvimento da

humanidade, apesar de serem responsáveis por impactos nos meios físico, biótico

e antrópico (BANDEIRA e FLORIANO, 2004). Seus impactos são causados desde

o momento da construção até a utilização da rodovia, causados pelos veículos ou

pela pavimentação. A EE busca identificar e monitorar os impactos causados por

rodovias, bem como procura criar, aplicar e avaliar medidas mitigadoras.

O início das pesquisas em Ecologia de Estradas no Brasil foi em 1988, com

o estudo de Novelli et al., que descrevia a mortalidade de aves durante meses no

Rio Grande do Sul. O primeiro programa de minimização de impactos ambientais

relacionados a rodovias do país foi o Programa Estrada Viva, entre os municípios

de Campo Grande e de Corumbá, na rodovia BR-262. Foi realizado em parceria

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pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, o Ministério dos Transportes e

a Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes. Também são consideradas

precursoras na mitigação aos impactos ambientais de estradas as intervenções da

Linha Verde – BA 099, na Bahia, o Parque Estadual do Morro do Diabo, em São

Paulo, e a Estação Ecológica do Taim – BR 471, no Rio Grande do Sul, todas na

década de 1990 (BAGER, 2012).

A sazonalidade é um fator importante em relação aos atropelamentos.

Alguns animais, devido a épocas de reprodução ou de migração, tendem a

aparecer com maior frequência em certos períodos do ano. A fauna em geral possui

maior incidência de acidentes nos meses de primavera e menor, nos meses de

verão, apesar de o motivo de tal comportamento ser desconhecido (BUENO e

RIBEIRO, 2011). Além disso, cada local possui suas próprias características

peculiares. Para RAMOS et al. (2014) a classe mais afetada em sua pesquisa,

realizada no município de Tefé, no Amazonas, era a de anfíbios, ao contrário da

maioria das pesquisas.

Alguns autores relacionam o aumento da taxa de atropelamentos com a

chegada da época de chuvas. Nessa época, há uma maior disponibilidade de

frutas, de sementes e de flores, além de estar relacionada com o período

reprodutivo (SEILER, 2001). Entretanto, GUMIER-COSTA e SPERBER (2009)

afirmam que não houve relação significativa entre os índices pluviométricos e os

índices de atropelamentos em sua pesquisa, realizada na Floresta Nacional de

Carajás, no Pará. Também é possível relacionar os atropelamentos com o horário,

visto que a maioria dos mamíferos em fragmentos florestais está em atividade

durante a noite (SCOSS, 2002).

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As estradas podem afastar ou atrair os animais. A vibração dos veículos e a

emissão de ruídos contribuem para o afugentamento de espécies, bem como a

iluminação inconstante dos faróis e o asfalto, onde a locomoção é difícil para

algumas espécies. Contudo, o asfalto permanece aquecido por um longo período

após o pôr do sol, atraindo, principalmente, espécies pecilotérmicas2 para a região

de perigo (BAGER e JOHN, 2015). A invasão de espécies exóticas também deve

ser considerada como possibilidade, visto que, após a abertura de uma rodovia,

novos estabelecimentos comerciais e residências podem ser construídos, atraindo,

por exemplo, animais domésticos para a região (ROCHA, 2005).

De acordo com TROMBULAK e FRISSEL (2000), áreas desmatadas ao lado

das rodovias contribuem para a redução do número de acidentes, visto que

aumentam o campo visual dos animais e dos motoristas. Por outro lado, o plantio

de árvores nas bordas das estradas forma um tipo de passagem superior para

diversas espécies através de seus galhos, mitigando o efeito de barreira (LAUXEN,

2012). De acordo com ROCHA (2005), o corte da vegetação ao lado de estradas

promove o crescimento de prado, atraindo animais para a pastagem à beira das

rodovias.

O efeito de barreira, junto aos atropelamentos, constitui o grupo de impactos

mais significativos em relação à Ecologia de Estradas. Por ser menos visível, o

efeito de barreira não recebe a mesma atenção por parte da população em geral

como os atropelamentos de fauna. Porém, são responsáveis pela fragmentação de

hábitat, que, por sua vez, leva à compartimentalização de espécies. Tal efeito é

2 Espécies que não são capazes de manter a temperatura corporal constante. Dependem da temperatura ambiente.

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responsável por separar espécies predadoras de presas, machos de fêmeas,

espécimes de seus alimentos ou até de isolar populações inteiras, como no caso

de pequenos animais.

Outros dois fatores também são de grande importância para a Ecologia de

Estradas: o número de faixas de rolamento e a inclinação das margens da rodovia

(ARESCO, 2005; BAGER, 2012). Esse último fator se destaca por sua possibilidade

de impedir o acesso da fauna à pista, isto é, quanto maior for a inclinação, menor

é a chance de animais alcançarem a rodovia. Quanto à quantidade de faixas de

rolamento, sua relação com o número de atropelamentos é direta. Quanto maior é

o número de pistas, maior é a chance de ocorrência de atropelamentos. A partir de

tal ideia, ARESCO (2005) realizou um monitoramento relacionado a tartarugas na

Flórida e verificou que em uma rodovia de quatro faixas de rolamento, uma

tartaruga teria 98% de chance de ser atropelada. Além disso, ARESCO (2005)

também notou que as chances de sucesso na travessia de uma tartaruga na

rodovia U.S. Highway 27 diminuíram em 30% entre 1977 e 2001 devido a um

aumento de 162% do tráfego local.

As rodovias são construções geradoras de grande impacto para o meio

ambiente. Os atropelamentos e a fragmentação de hábitat se destacam como os

principais impactos. Porém, outros impactos podem ser causados pelas estradas,

como a poluição do ar, a geração de efeitos de barreira, a perda de áreas

habitáveis, a produção de efeitos de borda, a emissão de ruídos, a

impermeabilização do solo, o descarte de lixo, a possibilidade de derramamentos

de produtos químicos, o afugentamento da fauna e as alterações geradas pela

iluminação artificial (SEILER, 2001; ROCHA, 2005; LAUXEN, 2012). Também

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podem ser citados fatores como a invasão de espécies exóticas e a maior eficiência

de caça (ROCHA, 2005).

A fragmentação de hábitat é um dos impactos de rodovias mais relevantes.

São gerados, principalmente, em estradas que não possuem medidas mitigadoras

para passagem de fauna, como, por exemplo, os túneis. Está diretamente ligado

ao efeito de barreira, no qual a rodovia impede a travessia dos animais. Esse efeito

pode alterar os níveis de predação, afastar os espécimes de seus alimentos ou até

interferir nas taxas de reprodução, separando machos e fêmeas, devido à repulsa

pela travessia gerada pelas estradas (SEILER, 2001; LAUXEN, 2012). Alguns

animais tentam buscar um hábitat adequado através das necessidades

anteriormente citadas e se expõem ao risco de atropelamento (DA SILVA et al.,

2011). Também pode levar a uma maior mortalidade por caça, devido ao

encurralamento dos animais em uma região. Além disso, a longo prazo, pode

provocar uma redução na variabilidade genética dos animais (ROCHA, 2005).

Outro fator bastante impactante em relação à fauna é a poluição do ar

relacionada aos gases emitidos pelos escapamentos dos veículos, podendo o efeito

prejudicial ser amplificado com a proximidade dos hábitats. A perda de áreas

habitáveis e a impermeabilização do solo ocorrem na área exata da localização da

estrada, com a possibilidade de alteração dos cursos hídricos como consequência

do último impacto mencionado (FORMAN e ALEXANDER, 1998; LAUXEN, 2012).

Os efeitos de borda são alterações nas características de hábitats, incluindo

temperatura, umidade, radiação solar e vento, por exemplo (ATTADEMO et al.,

2011).

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Os efeitos de borda são outros impactos negativos que ocorrem após a

instalação de uma rodovia. Está relacionado às mudanças no hábitat natural

próximo à rodovia, como mudanças de temperatura, de luminosidade e de umidade

(LAUXEN, 2012). Juntamente com a emissão de ruídos, os efeitos de borda são os

principais responsáveis pelo afastamento das aves do local onde está uma rodovia.

Há uma forte tendência de redução da avifauna em regiões próximas às estradas.

Unidades de Conservação com regiões remotas em relação às estradas possuem

uma maior riqueza de espécies de aves (AYRES e FREITAS, 2011).

O descarte de lixo pode gerar incêndios, no caso de objetos reluzentes ou

de vidro, contaminar o solo ou funcionarem como armadilhas para alguns animais,

no caso de latas e garrafas (SPELLERBERG, 2002). Além disso, restos de comida

podem atrair a fauna para uma região onde há risco de atropelamentos. Cargas

descobertas também podem ser derramadas na pista (BAGER e JOHN, 2015).

Outros autores também atribuem grande relevância ao derramamento de alimentos

nas rodovias em relação aos atropelamentos (MAGINA et al., 2007; SÁSSI et al.,

2013). A iluminação artificial pode alterar o comportamento de algumas espécies,

sendo as aves as mais suscetíveis ao impacto. A instalação de lâmpadas promove

alterações no comportamento das aves em relação ao horário, geradas pela

confusão dos animais entre os períodos diurno e noturno (SPELLERBERG, 2002).

Os atropelamentos, foco principal do presente estudo, são, junto ao efeito de

barreira, o impacto mais relevante causado por rodovias, podendo causar variações

nas taxas populacionais das espécies (TROMBULAK e FRISSELL, 2000). De

acordo com o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas, o CBEE, a

cada segundo, quinze animais silvestres são mortos por atropelamento no Brasil,

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fazendo com que o número ultrapasse um milhão de animais por dia. O cálculo foi

realizado com base em 14 artigos científicos diferentes, com recortes temporais

variados, e levou em consideração os padrões de rodovias federais com pista

simples.

Alguns fatores, além dos anteriormente citados como a temperatura do

asfalto e alimentos na pista, contribuem significativamente para o atropelamento de

fauna. Entre eles está a falta de pavimentação da rodovia, que, pela semelhança

do solo com o de seu hábitat, impede que o animal perceba o risco do local. A falta

de iluminação também contribui para o aumento dos números de atropelamentos

(BAGER e JOHN, 2015).

Questões culturais e outros animais mortos também colaboram para a

ocorrência dos acidentes. Animais considerados perigosos, como as cobras, ou de

aparência diferente são muitas vezes atropelados propositalmente. Animais já

atropelados, por sua vez, atraem espécies detritívoras3 para a área de risco. Os

urubus, por exemplo, podem ser atropelados ao tentarem se alimentar de outro

animal atropelado (BAGER e JOHN, 2015).

1.3-Mitigação dos atropelamentos de fauna

Há uma grande variedade de medidas mitigadoras para o impacto de

atropelamentos. As medidas estão sempre direcionadas a um dos dois lados do

acidente (Tabela 2): ao motorista ou à fauna. Entre elas estão as passagens

3 Espécies que se alimentam de animais mortos. São também conhecidas como espécies saprófagas.

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inferiores, as passagens superiores, a sinalização, as passagens no estrato

arbóreo, a ampliação do canteiro central, a implantação de mecanismos de redução

de velocidade, as campanhas educativas, os túneis e viadutos rodoviários, as

balizas, os mecanismos de alerta e afugentamento, a remoção de carcaças, os

túneis e cercas para herpetofauna e as telas (ROCHA, 2005; LAUXEN, 2012). A

Tabela 2, elaborada por LAUXEN (2012), enumera e classifica as medidas de

mitigação, além de informar o nível de eficiência em relação a cada grupo de fauna

(ictiofauna, avifauna, herpetofauna e mastofauna), conforme disposto a seguir:

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Tabela 2 - Medidas mitigadoras de impactos em rodovias.

Fonte: LAUXEN, 2012, p.61.

A Tabela 2 classifica as medidas de mitigação em relação à eficácia,

relacionada aos grupos de espécies, e em relação à natureza da medida. O nível

de eficiência está definido em três patamares, além da indeterminação. Está

relacionado aos grupos de espécies: ictiofauna (peixes), avifauna (aves),

mastofauna (mamíferos) e herpetofauna (anfíbios e répteis). Além disso, as

medidas estão classificadas em intervenções estruturais, quando há a necessidade

de construções ou de obras, e de manejo. Também estão classificadas em relação

ao alvo: algumas medidas são destinadas aos motoristas, como a sinalização viária

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e as campanhas educativas; outras estão direcionadas à fauna, como as

passagens de fauna e os mecanismos de alerta e afugentamento. Algumas

medidas não possuem uso verificado em território nacional. É possível perceber o

grande número de medidas existentes para mitigação de atropelamentos. Também

é possível verificar a imprecisão dos níveis de eficácia de diversas medidas de

mitigação, principalmente as medidas de manejo, geralmente menos impactantes

e financeiramente custosas (Tabela 2).

As passagens inferiores e superiores de fauna são muito similares quanto

ao conceito empregado. Ambas desviam a trajetória dos animais para uma

passagem alternativa à rodovia, podendo ser um tipo de túnel ou uma espécie de

passarela para a fauna, respectivamente. Possuem diversas dimensões, podendo

ser maiores ou menores dependendo da fauna alvo. Devem ser mais atrativas o

possível para os animais, contendo, por exemplo, vegetação em seu percurso. A

principal desvantagem dessa medida mitigadora é o fato de condicionar e obrigar

a passagem dos animais por um caminho único, visto que é comumente associada

ao telamento, podendo induzir práticas predatórias. Além disso, as anteriormente

citadas passagens no estrato arbóreo são uma espécie de passagens superiores,

podendo conter estruturas artificiais ou não (LAUXEN, 2012). No entanto, apenas

a instalação de uma passagem para a fauna já causa distúrbios, por se tratar de

uma obra de grande porte geralmente (GUMIER-COSTA e SPERBER, 2009).

A sinalização viária, as campanhas educativas e os mecanismos de redução

de velocidade são medidas mitigadoras direcionadas à outra extremidade do

impacto, os motoristas. Tendo em vista que muitos acidentes acontecem devido à

falta de informação sobre a presença de animais no local, a sinalização e as

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campanhas educativas são de grande eficiência. Os mecanismos de redução de

velocidade, como as lombadas eletrônicas e a redução da largura das pistas,

cedem ao motorista segundos adicionais para a reação no caso de iminência de

acidente (LAUXEN, 2012).

A ampliação do canteiro central pode ceder ao animal um espaço para

retornar, caso seja necessário. É uma espécie de local seguro na área de risco,

sendo recomendado que seja o mais parecido com o hábitat quanto for possível.

Os viadutos e túneis rodoviários são desvios para que as estradas não passem pelo

hábitat natural, sendo a ideia exatamente oposta às passagens de fauna. A

remoção de carcaças possui o efeito de evitar a atração de espécies detritívoras

para a rodovia, evitando assim atropelamentos em sequência (BAGER, 2012;

LAUXEN, 2012).

A instalação de balizas (Figura 4) tem como alvo a avifauna, evitando que as

aves sobrevoem a rodovia à altitude de um veículo. Para isso, as balizas devem

possuir uma altura seguramente superior à altura dos veículos mais altos, como os

caminhões. Outra medida mitigadora é a instalação de mecanismos de alerta e

afugentamento, que podem utilizar sensores para identificar a presença de um

animal próximo à estrada e alertar o motorista ou afugentar o espécime. Alguns dos

mecanismos de afugentamento mais comuns são a utilização de espelhos para

refletir a luz dos faróis dos veículos e a reprodução de ruídos (LAUXEN, 2012). São

mecanismos que dependem do condicionamento da fauna, segundo BECKMANN

et al. (2010).

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Figura 4 - Representação de Balizas. Fonte: LAUXEN, 2012, p.91.

O telamento é uma das medidas mitigadoras mais utilizadas, devido à sua

pequena complexidade relativa e ao baixo custo. A construção de cercas também

é uma medida viável, pois possui a mesma essência de funcionamento das telas.

Algumas cercas são utilizadas em conjunto com estruturas conhecidas como “mata-

burros”, sendo perigosas para algumas espécies devido ao risco de

aprisionamento. Os túneis e barreiras para herpetofauna devem ser adaptados para

atrair cada classe específica. No caso de anfíbios, os túneis devem ser

preferencialmente úmidos. As barreiras para herpetofauna são formadas por uma

estrutura côncava que atira o animal de volta ao local de onde veio, evitando que

ele passe para a estrada (LAUXEN, 2012).

Portanto, a Ecologia de Estradas é atualmente considerada de grande

importância para a manutenção da biodiversidade e, com isso, promove a

elaboração de uma série de ferramentas de difusão e aplicação de seus conceitos,

como o Projeto Fauna Viva, o Sistema Urubu e o Road Ecology Brazil.

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O Projeto Fauna Viva é um projeto realizado na rodovia BR-116, no trecho

conhecido como rodovia Rio-Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, que

visa o monitoramento de acidentes, o resgate de animais em perigo e a aplicação

de medidas mitigadoras. Existe desde 2008 como iniciativa da Concessionária Rio-

Teresópolis – CRT – em parceria com o PARNASO. As atividades operacionais de

identificação e alerta sobre atropelamentos são realizadas por funcionários da CRT,

enquanto os estudos posteriores ao recebimento do animal morto e a destinação

do mesmo são realizados pelo PARNASO.

O Sistema Urubu reúne dados de acidentes de variadas fontes por todo o

território nacional, que são avaliados por pesquisadores especializados na

identificação de espécies e, posteriormente, são disponibilizados para contribuir

com os responsáveis pelos trechos de rodovias e de ferrovias na mitigação de tal

impacto, segundo seu endereço eletrônico. Foi desenvolvido pelo CBEE, da

Universidade Federal de Lavras, e possui a simplicidade de funcionar com o envio

de dados pelo celular através do aplicativo Urubu Mobile pelos usuários

cadastrados. As imagens são analisadas por cinco especialistas paralelamente,

sem contato. Os dados de localização e horário são registrados pelo aplicativo no

momento da coleta (CBEE, 2016).

Também organizado pelo CBEE, o Road Ecology Brazil – REB – é o

congresso destinado à discussão de questões que relacionem a biodiversidade e

as rodovias ou as ferrovias, ou seja, a Ecologia de Estradas. Foram realizadas até

hoje três edições, em 2010, 2011 e 2014. Também é conhecido como Congresso

Brasileiro de Ecologia de Estradas. As edições anteriores do REB foram de extrema

importância para os estudos de Ecologia de Estradas, pois divulgaram após a sua

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realização as pesquisas apresentadas durante o evento, contando com a

participação de especialistas referenciados sobre o assunto, como o Dr. Alex

Bager, o Dr. Richard Forman e a Dra. Lenore Fahrig (CBEE, 2016).

Apesar de todo o esforço realizado e das medidas mitigadoras aplicadas, as

rodovias são estruturas muito impactantes para a vida selvagem. De acordo com o

Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra dos Órgão (ICMBIO, 2008), por

exemplo, a rodovia BR-116 é a estrutura mais impactante de todas para tal Unidade

de Conservação. Em alguns casos, como o da iluminação artificial, uma estrada

causa impactos com ou sem a aplicação do mecanismo. Causam impacto de

qualquer maneira, visto que provocam alterações nos comportamentos das aves,

caso haja iluminação, e diminuem a visibilidade, caso não haja, demonstrando a

grande complexidade dos impactos causados por rodovias.

1.4-Rodovia BR-116

A rodovia BR-116 possui muitos nomes ao longo de seus 4.610 km de

extensão. É conhecida como Régis Bittencourt, Rio-Bahia, Santos Dumont,

Presidente Dutra e Rio-Teresópolis, entre outras denominações, dependendo da

região que corta. Suas extremidades estão nos municípios de Jaguarão, no Rio

Grande do Sul, e em Fortaleza, capital do Ceará. Possui dezenove praças de

pedágio em toda sua extensão e apenas um é unidirecional (ABCR, 2016). Ao longo

de sua extensão estão localizados diversos postos da Polícia Rodoviária Federal

(PRF), além das Sedes Regionais da PRF dos estados do Rio de Janeiro e do

Ceará (PRF, 2016).

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A rodovia BR-116 é uma rodovia com grande fluxo diário de veículos (20.000

veículos por dia) e que possui alguns trechos no interior de Unidades de

Conservação, sendo um deles, o trecho de análise do presente estudo. Por tais

motivos, a Rodovia Rio-Teresópolis, como é conhecida nesse trecho crítico, é

considerada pelo Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra dos Órgãos como

a construção que mais causa impacto a essa Unidade de Conservação, gerando,

assim, a necessidade da realização de diversas medidas que buscam amenizar tal

impacto (ICMBIO, 2008).

A rodovia é administrada entre Duque de Caxias e a divisa com o estado de

Minas Gerais pela Concessionária Rio-Teresópolis (CRT) desde 1996. A

associação entre a Concessionária Rio-Teresópolis e o Parque Nacional da Serra

dos Órgãos criou o Projeto Fauna Viva, responsável pelo monitoramento e pela

instalação de medidas mitigadoras no local (CRT, 2016).

O trecho de análise da rodovia está inserido em região de relevo bastante

acentuado, além de possuir grande variação de taxas de ocupação urbana à

margem da rodovia. Corta dois municípios: Guapimirim e Teresópolis. Neste último,

faz ligação com rodovias de intenso fluxo, como a Avenida Rotariana.

Tendo em vista que a rodovia BR-116 é considerada a construção de maior

impacto no interior do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (ICMBIO, 2008),

estudos relacionados à Ecologia de Estradas e à mitigação de impactos causados

por rodovias são de grande importância para a manutenção do equilíbrio natural da

região. O presente estudo busca auxiliar a mitigação de tais impactos, contribuindo

para uma possível tomada de decisão em relação à instalação de medidas que

reduzam os efeitos negativos provocados por essa construção.

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2-Objetivos

2.1-Objetivo geral

Avaliar as medidas de mitigação de atropelamentos de fauna na rodovia BR-

116 no trecho de interação com o Parque Nacional da Serra dos Órgãos.

2.2-Objetivos específicos

1. Caracterizar a rodovia BR-116 e seu trecho de interseção com o Parque

Nacional da Serra dos Órgãos;

2. Identificar os principais grupos de vertebrados impactados na rodovia BR-

116;

3. Identificar e analisar as principais medidas de proteção à fauna de

vertebrados na rodovia BR-116.

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3-Metodologia

Dos 4.610 km de extensão da rodovia BR-116 cerca de 10 km passam pelo

PARNASO. O início do trecho comum entre a rodovia e a Unidade de Conservação

ocorre entre os quilômetros 89 e 90 da rodovia (sentido sul), enquanto o final da

interseção está localizado entre os quilômetros 98 e 99. Com o objetivo de analisar

a área de forma mais abrangente, verificando parte da zona de amortecimento do

Parque, foram também verificados dez trechos, antes e após o trecho de

interseção. Dessa forma, a área de abrangência do trabalho vai desde o quilômetro

79 da rodovia BR-116, em Teresópolis, até o quilômetro 109 da mesma, em

Guapimirim. Cada trecho tem o comprimento de 1,0 km, portanto ao total foram

avaliados 30 segmentos (10 antes da interseção, 10 na interseção e mais 10 após

a interseção), vide tabela 3.

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Figura 5 – Parcela 3 da área de estudo.

Elaboração própria a partir da ferramenta Google Earth.

1:163.200

Marcadores azuis: final do trecho de análise (km 109);

Marcadores pretos: início de quilômetro;

Marcadores vermelhos: registros de atropelamentos pelo Sistema Urubu;

Traçado vermelho: área analisada da rodovia BR-116.

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Figura 6 – Parcela 2 da área de estudo.

Elaboração própria a partir da ferramenta Google Earth.

1:88.055,6

Marcadores pretos: início de quilômetro;

Marcadores vermelhos: registros de atropelamentos pelo Sistema Urubu;

Traçado vermelho: área analisada da rodovia BR-116.

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Figura 7 – Destaque de área com dois atropelamentos sobrepostos (024 e 036).

Elaboração própria a partir da ferramenta Google Earth.

1:10.222,2

Marcadores pretos: início de quilômetro;

Marcadores vermelhos: registros de atropelamentos pelo Sistema Urubu;

Traçado vermelho: área analisada da rodovia BR-116.

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Figura 8 – Parcela 1 da área de estudo.

Elaboração própria a partir da ferramenta Google Earth.

1:82.500

Marcadores azuis: início do trecho de análise (km 89);

Marcadores pretos: início de quilômetro;

Marcadores vermelhos: registros de atropelamentos pelo Sistema Urubu;

Traçado vermelho: área analisada da rodovia BR-116.

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Tabela 3 - Identificação dos trechos de análise.

Trechos de análise

Coordenadas Altura da rodovia (km) Início Final Início Final

Parcela 1

Trecho 01 22°24’15.04”S 42°57’8.93”O

22°24’43.77”S 42°56’59.27”O

79 80

Trecho 02 22°24’43.77”S 42°56’59.27”O

22°25’17.10”S 42°56’59.13”O

80 81

Trecho 03 22°25’17.10”S 42°56’59.13”O

22°25’32.24”S 42°57’11.49”O

81 82

Trecho 04 22°25’32.24”S 42°57’11.49”O

22°25’59.83”S 42°56’52.59”O

82 83

Trecho 05 22°25’59.83”S 42°56’52.59”O

22°26’31.28”S 42°57’6.09”O

83 84

Trecho 06 22°26’31.28”S 42°57’6.09”O

22°27’5.04”S 42°57’10.50”O

84 85

Trecho 07 22°27’5.04”S

42°57’10.50”O 22°27’20.07”S 42°57’38.20”O

85 86

Trecho 08 22°27’20.07”S 42°57’38.20”O

22°27’38.35”S 42°57’46.29”O

86 87

Trecho 09 22°27’38.35”S 42°57’46.29”O

22°27’33.82”S 42°58’21.52”O

87 88

Trecho 10 22°27’33.82”S 42°58’21.52”O

22°27’40.85”S 42°58’57.41”O

88 89

Parcela 2

Interseção 22°27’46.79”S 42°59’17.09”O

Parte do Trecho 11

Trecho 11 22°27’40.85”S 42°58’57.41”O

22°27’50.73”S 42°59’31.88”O

89 90

Trecho 12 22°27’50.73”S 42°59’31.88”O

22°27’58.99”S 43° 0’3.21”O

90 91

Trecho 13 22°27’58.99”S 43° 0’3.21”O

22°28’23.32”S 43° 0’4.41”O

91 92

Trecho 14 22°28’23.32”S 43° 0’4.41”O

22°28’50.57”S 42°59’56.02”O

92 93

Trecho 15 22°28’50.57”S 42°59’56.02”O

22°28’37.51”S 42°59’44.97”O

93 94

Trecho 16 22°28’37.51”S 42°59’44.97”O

22°29’1.10”S 42°59’45.27”O

94 95

Trecho 17 22°29’1.10”S

42°59’45.27”O 22°29’12.14”S 42°59’58.06”O

95 96

Trecho 18 22°29’12.14”S 42°59’58.06”O

22°29’21.49”S 43° 0’23.43”O

96 97

Trecho 19 22°29’21.49”S 43° 0’23.43”O

22°29’48.74”S 43° 0’8.73”O

97 98

Trecho 20 22°29’48.74”S 43° 0’8.73”O

22°30’1.95”S 42°59’53.36”O 98

99

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36

Parcela 3

Interseção 22°29’54.06”S 42°59’58.68”O

Parte do Trecho 21

Trecho 21 22°30’1.95”S

42°59’53.36”O 22°30’12.77”S 42°59’48.61”O

99 100

Trecho 22 22°30’12.77”S 42°59’48.61”O

22°30’35.40”S 43° 0’3.46”O

100 101

Trecho 23 22°30’35.40”S 43° 0’3.46”O

22°31’4.40”S 43° 0’7.85”O

101 102

Trecho 24 22°31’4.40”S 43° 0’7.85”O

22°31’28.10”S 42°59’58.41”O

102 103

Trecho 25 22°31’28.10”S 42°59’58.41”O

22°31’53.77”S 42°59’42.97”O

103 104

Trecho 26 22°31’53.77”S 42°59’42.97”O

22°32’19.42”S 42°59’16.59”O

104 105

Trecho 27 22°32’19.42”S 42°59’16.59”O

22°32’46.17”S 42°59’17.29”O

105 106

Trecho 28 22°32’46.17”S 42°59’17.29”O

22°33’16.14”S 42°59’31.78”O

106 107

Trecho 29 22°33’16.14”S 42°59’31.78”O

22°33’42.85”S 42°59’52.22”O

107 108

Trecho 30 22°33’42.85”S 42°59’52.22”O

22°34’7.75”S 43° 0’14.08”O

108 109

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37

As pesquisas em campo foram realizadas duas vezes, pela manhã, à luz do

dia, para reduzir a possibilidade de falhas de observação (16/06/2016, quinta-feira,

e 26/06/2016, domingo). Cada trecho de análise teve as coordenadas geográficas

de seu início e de seu final registradas com o auxílio das ferramentas do software

Google Earth, previamente, e com o aparelho de GPS Garmin eTrex 20,

posteriormente. Também por questões de segurança, as inclinações das margens

da rodovia não foram medidas em campo. Tal parâmetro foi medido com o auxílio

de ferramentas do software Google Earth. A cada 500 metros, com auxílio da

ferramenta “caminho”, foram traçados cortes em ângulo de 90° com a rodovia. Com

a utilização da função “mostrar perfil de elevação”, considerando a maior elevação

em 50 metros para cada lado da rodovia, obteve-se a inclinação em valores

percentuais. Os valores percentuais foram convertidos para radianos e,

posteriormente, para graus com a utilização de métodos matemáticos. A análise

desse parâmetro é de grande importância para o estudo, pois através dela é

possível deduzir os níveis de facilidade com que os animais acessam a rodovia.

Em cada ponto de análise, foi avaliada a presença de medidas mitigadoras,

bem como a observação de algumas características locais, de acordo com a lista

de verificação, elaborada tendo como base a Tabela 2 (página 22), que destaca as

principais medidas de mitigação relacionadas a atropelamentos de fauna. Os dados

foram coletados pelo mesmo observador e registradas com a câmera digital

Motorola G, com 5,0 megapixels de resolução. Os fatores componentes da Tabela

2 ausentes na lista de verificação não podem ser verificados pelo método de

observação utilizado, ou seja, observação da superfície da rodovia em veículo a

velocidade constante. Alguns itens como as passagens inferiores de fauna, não

podem ser avistados da superfície da rodovia. Outros são de tamanho reduzido,

possivelmente imperceptíveis à observação em movimento, como as barreiras para

herpetofauna.

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38

Lista de verificação – BR 116

1. Número do Ponto no GPS: _______________________________ 2. Altura da BR-116 (km): _______________________________ 3. Sentido: Guapimirim-Teresópolis Teresópolis-Guapimirim 4. Horário: _______________________________ 5. Número de faixas de rolamento _______________________________ 6. Faixa adicional de acostamento _______________________________ 7. Canteiro central 8. Superfície da rodovia _______________________________ 9. Divisórias de sentido 10. Vegetação marginal _______________________________ 11. Construções: _______________________________ 12. Observações adicionais:

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

13. Número de registro das fotografias: _______________________________________________________________________________________________________________________

Medidas de Mitigação

14. Passagens superiores de fauna Quantidade ___________

a. Passagens no estrato arbóreo Quantidade ___________ i. Com estrutura artificial Quantidade ___________ ii. Sem estrutura artificial Quantidade ___________

15. Túneis rodoviários Quantidade ___________ 16. Viadutos e elevadas Quantidade ___________ 17. Sinalização viária Quantidade ___________ 18. Limitação de velocidade Quantidade ___________ 19. Balizas Quantidade ___________ 20. Alerta e afugentamento Quantidade ___________

a. Espelhos Quantidade ___________ 21. Cercas e barreiras Quantidade ___________

a. Telamento Quantidade ___________ b. Cercas Quantidade ___________

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39

Algumas medidas de mitigação foram excluídas do processo de verificação

por questões de segurança ou pela elevada dificuldade de visualização dentro de

um veículo em movimento. As passagens inferiores de fauna só seriam vistas caso

o observador deixasse o veículo, um procedimento considerado de alto risco. As

barreiras para herpetofauna também foram excluídas devido à sua difícil

identificação. As medidas foram incluídas na lista verificação de acordo com sua

possível identificação de um veículo em movimento.

Os dados coletados foram sistematizados em planilha MS Office Excel para

análise qualitativa e quantitativa das informações. As análises relacionaram-se às

medidas de mitigação e aos registros de atropelamentos. As informações

relacionadas a acidentes com a fauna, no trecho objeto de estudo, foram coletadas

a partir dos dados disponíveis pelo Sistema Urubu disponível no website

<http://cbee.ufla.br/portal/sistema_urubu/urubu_map.php>. Toda a informação

colhida foi analisada e discutida à luz da bibliografia pertinente ao tema,

disponibilizadas no Portal Periódicos Capes em artigos científicos, livros, teses,

entre outros.

Os valores de registros de atropelamentos foram coletados e analisados de

acordo com dados obtidos pelo Sistema Urubu, enquanto os valores de medidas

mitigadoras por trecho foram estabelecidos de acordo com as observações do

trabalho de campo e com a bibliografia, quando relacionada à classificação de tais

medidas. Além disso, para evitar confusão, foi estabelecido o sentido Teresópolis-

Guapimirim como padrão, a fim de definir as margens direita e esquerda da rodovia.

Também é válida a colocação de que o Sistema Urubu, além de ser uma criação

recente, é um mecanismo que depende de registro de atropelamentos, fazendo

com que os valores indicados por ele sejam subestimados, isto é, muitos

atropelamentos ocorrem e não são registrados pelo Sistema Urubu por diversos

motivos, como a remoção das carcaças por espécies detritívoras, a

desconfiguração de espécimes por sucessivos atropelamentos e a impossibilidade

de obtenção do registro em rodovias de fluxo intenso.

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40

4-Resultados

4.1-Parcela 1

A Parcela 1 é iniciada no quilômetro 79 e seu final está localizado no

quilômetro 89 da rodovia BR-116. Seu comprimento total é de 10 km e representa

o trecho de análise da zona de amortecimento ao norte do Parque Nacional da

Serra dos Órgãos. Inclui construções, como residências, regiões comerciais e

viadutos. Possui inclinação marginal menor em relação à área interior ao

PARNASO. A densidade da vegetação diminui conforme a distância para a Unidade

de Conservação aumenta. Possui pavimentação em toda sua extensão e alguns

trechos sinuosos que podem contribuir para a ocorrência de acidentes. Em geral, é

caracterizada pela área urbana que a cerca e suprime as áreas habitáveis para a

fauna.

4.1.1-Trecho 01

O trecho 01 está compreendido entre os quilômetros 79 e 80 da rodovia BR-

116. Está localizado em uma área de vasta urbanização, no município de

Teresópolis. As construções no local são diversas. Na margem direita, no sentido

Teresópolis-Guapimirim, que sempre será o sentido referencial do trabalho, há

apenas um ponto de ônibus. Porém, na margem esquerda, há uma grande

quantidade de edificações residenciais e comerciais (Figura 9). Além disso, a

vegetação local é reduzida e geralmente rasteira ou arbustiva.

A rodovia é pavimentada e possui duas faixas de rolamento nesse trecho.

As únicas medidas de mitigação encontradas no trecho são duas placas de redução

de velocidade, que atuam indiretamente no combate aos atropelamentos, tendo

sua provável instalação, ocorrido por causa da população local. A inclinação das

margens está entre valores de 30° de declive e 21° de aclive na margem direita e

entre 14° e 21° de aclive na margem esquerda. O Sistema Urubu não registrou

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qualquer caso de atropelamento no trecho, muito provavelmente devido à ocupação

urbana no local que acaba por afugentar a fauna.

Figura 9 – Ocupação urbana à margem esquerda da rodovia no Trecho 01.

4.1.2-Trecho 02

O “Trecho 02” localiza-se entre os quilômetros 80 e 81 da rodovia. É mais

um trecho localizado em área urbana e também possui muitas construções. Uma

delas, no entanto, representa a expansão urbana: um condomínio ainda em fase

de instalação (Figura 10). Também há um posto de gasolina e uma entrada para o

município de Teresópolis na região, tornando esse outro trecho de pouca

atratividade para as espécies animais silvestres. A vegetação, apesar de parecida

com a do trecho anterior, é um pouco mais densa, ocorrendo trechos até de

vegetação arbórea.

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42

A superfície da rodovia é semelhante à do “Trecho 01” e o número de faixas

também é mantido. O “Trecho 02” possui cinco placas de redução de velocidade,

além de uma placa que indica o Parque Nacional da Serra dos Órgãos e suas

sedes. A inclinação marginal varia bastante, mas os valores são elevados. Também

não houve registros de atropelamentos nesse trecho.

Figura 10 – Condomínio em construção no Trecho 02.

4.1.3-Trecho 03

Localizado entre os quilômetros 81 e 82. Possui extensa ocupação urbana à

margem direita. A vegetação é ainda mais densa que no “Trecho 02”, contendo

vegetação rasteira, arbustiva e arbórea. A exemplo de toda a extensão analisada

no presente estudo, o trecho possui superfície pavimentada. Possui duas faixas de

rolamento, uma em cada sentido. A inclinação máxima de ambos os lados é de

aproximadamente 30°, porém em sentidos opostos. Não houve registro de

atropelamentos nesse trecho.

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43

Figura 11 – Ocupação urbana à margem do Trecho 03.

4.1.4-Trecho 04

Localizado entre os quilômetros 82 e 83. Também possui grande ocupação

urbana, além de uma construção empresarial e um ferro-velho. A vegetação é

similar à do “Trecho 02”. Possui duas faixas de rolamento. O viaduto Jeferson

Tricano está localizado entre os trechos 04 e 05 e poderia ser considerado uma

medida mitigadora, caso estivesse localizado fora de área urbana. A inclinação

marginal é iniciada próxima aos 30° e, ao fim do trecho, chega a 5° em ambos os

lados. Duas aves e um mamífero foram atropelados nesse trecho, todos próximos

ou sobre o viaduto Jeferson Tricano.

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44

Figura 12 – Ferro velho próximo ao Viaduto Jeferson Tricano.

4.1.5-Trecho 05

Localizado entre os quilômetros 83 e 84, é outra área de intensa ocupação

urbana. Junto a quatro sinalizações viárias, estão duas lombadas, que contribuem

para a limitação de velocidade no local. A associação entre a baixa velocidade dos

veículos e a ocupação urbana leva à menor probabilidade de atropelamentos de

fauna. O Sistema Urubu não registrou casos de atropelamento nesse trecho. Nesse

trecho, o número de faixas aumenta em algumas localidades para três pistas. A

região, em geral, é plana, não evitando o acesso de animais à rodovia.

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45

Figura 13 – Lombada, ocupação urbana e vegetação do Trecho 05.

4.1.6-Trecho 06

Trecho entre os quilômetros 84 e 85. Possui ocupação urbana. Possui duas

lombadas e duas placas. Uma placa é de limitação de velocidade e a outra indica

a sede do Parque Estadual dos Três Picos, informando aos motoristas que estão

em seu interior. Ao final do trecho, o número de construções diminui

consideravelmente, levando a uma maior presença da fauna no local. Também por

esse motivo, foram registrados três casos de atropelamento no local, sendo três

mamíferos; dois do gênero Didelphis. A vegetação local é rasteira, arbustiva e

arbórea. As inclinações das margens não ultrapassam 30°, facilitando o acesso da

fauna à rodovia.

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46

Figura 14 – Sinalização viária e ocupação urbana.

4.1.7-Trecho 07

Trecho localizado entre os quilômetros 85 e 86. Possui apenas uma

construção pequena cuja natureza não foi possível identificar. A mata no local é

bastante densa. A inclinação máxima marginal é de aproximadamente 25°. A ponte

sobre a Represa Guinle funciona como uma passagem inferior de fauna. Além

disso, há apenas uma placa de limitação de velocidade no trecho. A rodovia possui

duas faixas de rolamento nesse trecho, uma para cada sentido. Um atropelamento

de um mamífero foi registrado no local.

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Figura 15 – Única construção do Trecho 07 à esquerda da rodovia.

4.1.8-Trecho 08

Trecho localizado entre os quilômetros 87 e 86. Não possui construções nem

medidas de mitigação. Também não foram registrados casos de atropelamentos. A

vegetação é formada por áreas de vegetação rasteira e outras de vegetação

arbórea. Nesse trecho, a rodovia também possui duas faixas de rolamento e a

inclinação das margens permite o acesso de animais, apesar de impor certo grau

de dificuldade para tal atividade, chegando a 30º no máximo.

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Figura 16 – Vegetação arbórea e as faixas de rolamento do Trecho 08.

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4.1.9-Trecho 09

Localizado entre os quilômetros 87 e 88, esse trecho possui dois registros

de atropelamentos. Os dois espécimes atropelados pertencem à espécie Didelphis

aurita (Figura 17), uma espécie de mamífero conhecida popularmente como

gambá-de-orelha-preta, a espécie mais impactada pelos atropelamentos na região.

O trecho possui uma placa relacionada à redução de velocidade e outra placa que

indica a proximidade do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Também nesse

trecho está o viaduto Imperatriz Tereza Cristina. Há apenas uma construção no

local e a vegetação é composta por árvores e por vegetação rasteira. Nesse trecho,

a rodovia segue com duas faixas de rolamento e a inclinação marginal varia entre

28° de declive na margem direita e 30° de aclive na margem esquerda.

Figura 17 – Didelphis aurita, o gambá-de-orelha-preta. Fonte: INEMA.

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4.1.10-Trecho 10

Trecho entre os quilômetros 88 e 89. Possui dois registros de

atropelamentos, ambos mamíferos. Um deles, da espécie Dasypus novemcinctus,

o tatu-galinha. O trecho possui o viaduto Comary e uma placa de limitação de

velocidade, além de não possuir construções às margens da rodovia. A vegetação

é predominantemente arbórea, mas possui áreas de vegetação rasteira. Possui

duas faixas de rolamento e a inclinação média das margens é em torno de 25°.

Figura 18 – Sinalização viária indicando fiscalização eletrônica no Trecho 10.

Portanto, a Parcela 1 foi caracterizada como uma área que recebe influência

provocada pela área urbana que a cerca, além da vegetação menos densa em

relação à área interior ao PARNASO (Parcela 2) e da menor inclinação em relação

à Parcela 2. Possui trechos com mecanismos de limitação de velocidade

relacionados com as áreas de perímetro urbano e muitos viadutos, os quais podem

ser utilizados como passagens inferiores de fauna. Além disso, parte de sua

extensão está localizada no interior do Parque Estadual de Três Picos.

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4.2-Parcela 2

A Parcela 2 é iniciada no quilômetro 89 e seu final está localizado no

quilômetro 99 da rodovia BR-116. Seu comprimento total é de 10 km e representa

o trecho de análise interior ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Poucas são

as construções. Possui inclinação marginal elevada, o que dificulta o acesso de

animais à rodovia. A vegetação que rodeia a região é bastante densa, sendo

composta por vegetação arbórea em sua maior parte. Possui pavimentação em

toda sua extensão e também trechos de alta sinuosidade, com curvas acentuadas

e em grande número. É caracterizada em geral pela ausência de área urbana, pela

elevada inclinação marginal e pelo alto número de medidas de mitigação instaladas.

4.2.1-Trecho 11

O “Trecho 11” está localizado entre os quilômetros 89 e 90 da rodovia. É o

trecho onde a área de interseção entre o Parque Nacional da Serra dos Órgãos e

a Rodovia Rio-Teresópolis é iniciada. Também é o trecho que possui o principal

acesso à cidade de Teresópolis: a Avenida Rotariana. Nesse trecho não foram

registrados atropelamentos pelo Sistema Urubu e o número de medidas

mitigadoras é superior aos dos trechos anteriormente citados, localizados fora da

Unidade de Conservação federal. O trecho possui sete sinalizações relacionadas à

velocidade, uma placa que indica o Parque Nacional dos Três Picos e uma placa

que indica a entrada no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Também foi

observado o telamento de uma área na margem esquerda da rodovia e uma faixa

verde pintada no asfalto logo que o trecho de interseção se iniciou (Figura 19). Além

disso, também há um canteiro central no local, que pode servir como uma espécie

de refúgio para os animais no meio da rodovia. Algumas construções estão ali

localizadas, incluindo algumas casas. A vegetação no local é formada por

vegetação rasteira, arbustos e árvores. O número de faixas de rolamento varia

entre duas e quatro. A partir desse trecho, a inclinação marginal começa a

aumentar, chegando a 35° de cada lado.

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Figura 19 – Início da faixa verde indicadora.

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53

4.2.2-Trecho 12

O “Trecho 12” está localizado entre os quilômetros 90 e 91 e é o primeiro

trecho completamente dentro do território do Parque Nacional da Serra dos Órgãos.

Conforme esperado, uma quantidade elevada de medidas mitigadoras foi

observada: três placas de limitação de velocidade e três placas relacionadas à

conservação do meio ambiente. Uma placa estava diretamente relacionada à

Ecologia de Estradas, indicando sobre o Projeto Fauna Viva e seu monitoramento

de animais silvestres na via. Há um número limitado de estabelecimentos

comerciais nesse trecho, à margem esquerda da rodovia (Figura 20). A vegetação

local é arbórea e a quantidade de pistas varia entre duas e três faixas. A inclinação

das margens chega a 34° de um lado e a 33º do outro, dificultando o acesso dos

animais à pista. Não há registro de atropelamentos no local.

Figura 20 – Estabelecimentos comerciais na BR-116 no trecho do PARNASO.

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4.2.3-Trecho 13

Localizado entre os quilômetros 91 e 92, esse trecho apresentou obras em

seu interior, contribuindo para a redução da velocidade dos automóveis no local e,

consequentemente, para uma possível redução na taxa de atropelamentos.

Também não houve registros de atropelamentos no trecho pelo Sistema Urubu. No

local, há duas placas do Projeto Fauna Viva relacionadas à prevenção de

atropelamentos de fauna, além de duas placas que indicam que o trecho é interior

ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos, além de outras medidas mitigadoras,

como lombadas eletrônicas. Também há um canteiro central, que, apesar de

possuir uma cerca de contenção, possui também um espaço que permite a

passagem de pequenos animais. O trecho não possui construções, possui

vegetação arbórea e duas faixas de rolamento. A inclinação marginal está entre 25°

e 30°, aproximadamente.

Figura 21 – Sinalização viária indicando fiscalização eletrônica e a realização de obras.

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4.2.4-Trecho 14

O trecho entre os quilômetros 92 e 93 não possui registros de

atropelamentos. Além de três placas para limitação de velocidade, o trecho possui

uma placa sobre o Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Não há construções no

trecho, a vegetação é arbórea e possui duas faixas de rolamentos. A inclinação

marginal é bem acentuada, chegando a 38° de declive na margem esquerda e a

40º de aclive na margem direita.

Figura 22 – Paredão rochoso à direita: impedimento de acesso à rodovia.

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56

4.2.5-Trecho 15

O “Trecho 15” é localizado entre os quilômetros 93 e 94 da rodovia. Não há

registro de atropelamentos nesse trecho. A área possui como medidas de mitigação

duas placas sobre redução de velocidade, uma placa sobre o Parque Nacional da

Serra dos Órgãos e o viaduto Grota do Garrafão. Não há construções no local e a

vegetação é arbórea. O trecho possui variação entre duas e três pistas. A inclinação

marginal é bastante acentuada, chegando a 40° em ambos os lados da rodovia.

Figura 23 – Vegetação densa e inclinação acentuada.

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57

4.2.6-Trecho 16

Este trecho é iniciado no quilômetro 94 e termina no quilômetro 95. Dois

atropelamentos de aves foram registrados, sendo um deles logo após uma curva.

A sinalização viária é composta por uma placa de limitação de velocidade e uma

placa sobre o Parque Nacional. O canteiro central não pode ser considerado uma

medida mitigadora, pois está localizado entre um paredão de concreto e um posto

de gasolina, este último citado no plano de manejo da Unidade como uma das

atividades mais prejudiciais à biodiversidade local. A rodovia possui três faixas de

rolamento nesse trecho, a vegetação predominante é arbórea e a inclinação

marginal é bem acentuada, chegando a 41º em um dos lados.

Figura 24 – Trecho capinado próximo a curva: ampliação do campo visual dos motoristas.

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58

4.2.7-Trecho 17

Trecho contido entre os quilômetros 95 e 96. Possui registro de um

passeriforme atropelado. O trecho possui quatro mecanismos de sinalização viária,

sendo três deles relacionados à Unidade de Conservação. Não há construções no

trecho e a vegetação é arbórea. A rodovia possui três pistas nessa área. A

inclinação marginal é menor que nos trechos anteriores: em torno de 25°.

Figura 25 – Vegetação densa e área de vegetação rasteira.

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59

4.2.8-Trecho 18

O “Trecho 18” está localizado entre os quilômetros 96 e 97. É o trecho mais

crítico na área de interseção entre o Parque Nacional e a rodovia. Possui três

registros de atropelamentos, todos próximos a uma curva. Incluem uma ave e dois

espécimes de Salvator merianae, espécie conhecida popularmente como lagarto-

teiú. As medidas de mitigação são sete no total, todas de sinalização viária. Apenas

uma é relacionada à limitação de velocidade e outras três placas, do Projeto Fauna

Viva. Não há construções no trecho e a vegetação predominante é arbórea. O

número de faixas de rolamento alterna entre duas e três pistas e a inclinação das

margens está em torno de 25º.

Figura 26 – Área plana e de vegetação densa: provável trecho de travessia.

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60

4.2.9-Trecho 19

O “Trecho 19” está compreendido entre os quilômetros 97 e 98 da rodovia.

Há dois registros de atropelamentos nesse trecho no Sistema Urubu: uma ave e

um Cerdocyon thous, o cachorro-do-mato. O trecho possui cinco medidas de

mitigação: quatro placas, sendo três de redução de velocidade e uma sobre o

Parque Nacional, e a ponte do Rio Soberbo, que pode funcionar como uma

passagem inferior de fauna. A única construção no trecho é a sede de Guapimirim

do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. A vegetação predominante é de árvores

e o número de faixas de rolamento varia entre duas e três pistas. A declividade

marginal está entre 20° e 25°.

Figura 27 – Sede Guapimirim do PARNASO, próxima ao final do trecho de interseção.

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61

4.2.10-Trecho 20

O trecho entre os quilômetros 98 e 99 é a região onde a área de interseção

entre a rodovia e o Parque Nacional termina. Nesse trecho, há um registro de

atropelamento, logo após uma curva. Esse trecho possui sete medidas mitigadoras,

todas elas de sinalização viária. O diferencial é que apenas uma está relacionada

a limitação de velocidade. Uma das placas traz a frase “Travessia de animais

silvestres – reduza a velocidade” em seu conteúdo (Figura 28). Não há construções

nesse trecho, a vegetação é arbórea, a rodovia contém três faixas de rolamento e

a inclinação é alta em alguns trechos (35° e 37°).

Figura 28 – Placa do Projeto Fauna Viva.

A Parcela 2 se configura, desse modo, pela elevada inclinação marginal, a

vegetação arbórea, na maioria de sua extensão, e pelo maior número de medidas

mitigadoras instaladas, principalmente medidas de sinalização viária. A alta

sinuosidade da região contribui para a redução da velocidade dos veículos e para

a limitação da visibilidade da rodovia.

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62

4.3-Parcela 3

A Parcela 3 está localizada entre os quilômetros 99 e 109 da rodovia BR-

116. Seu comprimento total é de 10 km e representa o trecho de análise da zona

de amortecimento ao sul do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Possui diversas

construções, como extensas áreas urbanas. Sua inclinação marginal é quase nula.

A densidade da vegetação é reduzida em relação à Parcela 2. Possui pavimentação

em toda sua extensão e pouca sinuosidade, tornando-a a parcela com os maiores

limites de velocidade. Em geral, possui faixas de rolamento aparentemente mais

largas e em maior número.

4.3.1-Trecho 21

O trecho entre os quilômetros 100 e 99 é o primeiro após o Parque Nacional

da Serra dos Órgãos. Há o registro do atropelamento de um passeriforme nessa

região. A partir desse trecho, o número de medidas mitigadoras tende a decrescer.

São cinco no “Trecho 21”: um canteiro central sem cercas, uma placa que indica o

Parque Nacional da Serra dos Órgãos e três placas de limitação de velocidade. Não

há construções nessa região e a vegetação possui árvores, arbustos e vegetação

rasteira. O trecho mantém suas três faixas de rolamento em toda sua extensão e

sua inclinação marginal varia cerca de 15° de cada lado.

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Figura 29 – Área de vegetação densa: provável região de travessia de animais.

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64

4.3.2-Trecho 22

Esse trecho está contido entre os quilômetros 100 e 101. Não possui registro

de atropelamentos e possui quatro medidas de sinalização viária como medidas

mitigadoras. Não possui construções e possui vegetação arbustiva, arbórea e

rasteira. O número de faixas varia entre duas e três pistas e a inclinação é de

moderada a suave.

Figura 30 – Região de possível implementação de passagens superiores de fauna.

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4.3.3-Trecho 23

Esse trecho está contido entre os quilômetros 101 e 102. A partir dessa

região, as áreas urbanas voltam a ocupar as margens da rodovia. Esse trecho não

possui registro de atropelamentos e também não possui medidas de mitigação

diretamente eficazes, sendo suas três medidas, duas placas de redução de

velocidade e a ponte sobre o Rio Bananal. Há uma pequena área urbana nesse

trecho e algumas casas construídas um pouco mais à distância. As faixas de

rolamento se mantêm em três. A vegetação se alterna em arbustiva, arbórea e

rasteira e a maior inclinação marginal observada foi de 20º.

Figura 31 – Área urbana no Trecho 23.

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66

4.3.4-Trecho 24

Trecho contido entre os quilômetros 102 e 103. Não houve registro de

atropelamentos nesse trecho. Esse trecho possui uma placa de limitação de

velocidade, apenas. Possui poucas construções residenciais e comerciais. A

rodovia possui três pistas e a vegetação local é arbórea. A inclinação local é

praticamente plana.

Figura 32 – Trecho com três faixas de rolamento.

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67

4.3.5-Trecho 25

Trecho entre os quilômetros 103 e 104. Esse trecho não conteve

atropelamentos registrados e também não possui qualquer medida de mitigação

implantada. Possui poucas construções residenciais e comerciais. A rodovia alterna

entre duas e três faixas de rolamento. A vegetação marginal é arbórea e a

inclinação ao redor da rodovia é plana.

Figura 33 – Uma das poucas construções do Trecho 25.

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68

4.3.6-Trecho 26

Este trecho está localizado entre os quilômetros 104 e 105. Há o registro de

uma ave atropelada no trecho em uma área de reta longa. O trecho possui apenas

três placas de limitação de velocidade e um canteiro central implantados. Possui a

entrada para o município de Guapimirim (Figura 34) e algumas propriedades rurais.

A rodovia alterna entre duas e quatro faixas de rolamento. A vegetação é arbustiva

e arbórea e a inclinação pode ser considerada plana.

Figura 34 – Entrada do município de Guapimirim: área urbana ao redor da rodovia.

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4.3.7-Trecho 27

O “Trecho 27” está localizado entre os quilômetros 105 e 106. Ocorreram

três atropelamentos registrados nesse trecho: uma ave, um mamífero da ordem

Chiroptera e um espécime de Columbina talpacoti, a rolinha-roxa, todos ao longo

de uma grande curva. Esse trecho possui um canteiro central e quatro placas de

limitação de velocidade como medidas mitigadoras indiretas. Possui sedes

institucionais e algumas residências. Além disso, a rodovia possui quatro faixas de

rolamento. A vegetação local é rasteira e arbustiva e a inclinação máxima chega a

26º.

Figura 35 – Área com grande canteiro central.

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70

4.3.8-Trecho 28

Trecho localizado entre os quilômetros 106 e 107. Há o registro de

atropelamento de três aves nesse trecho pelo Sistema Urubu, sendo uma delas um

bem-te-vi (Pitangus sulphuratus). Possui trecho com canteiro central e uma placa

de limitação de velocidade. Esse trecho possui grande área urbana ao seu redor,

além de uma rodovia marginal com duas faixas e uma mureta de contenção entre

as duas rodovias (Figura 36). A rodovia possui quatro faixas de rolamento. A

vegetação da área é rasteira e arbórea e a inclinação varia entre 25º e a

configuração plana.

Figura 36 – Rodovia marginal e sua mureta de contenção.

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71

4.3.9-Trecho 29

Trecho entre os quilômetros 107 e 108. Nenhum espécime foi atropelado

nesse trecho. Possui apenas um canteiro central com tela sem abertura para

passagem de animais (Figura 37). Há na região muitas construções e um posto de

gasolina. A rodovia possui quatro pistas. A vegetação é composta por poucas

árvores e arbustos. A inclinação é plana. NÃO HOUVE REGISTRO

Figura 37 – Canteiro central com telamento sem passagem.

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72

4.3.10-Trecho 30

Trecho contido entre os quilômetros 108 e 109. Não há registro de

atropelamentos de animais silvestres nesse trecho. Possui um canteiro central e

três placas de limitação de velocidade. Há na região alguns estabelecimentos

comerciais, um posto de gasolina e algumas propriedades rurais. A rodovia possui

quatro faixas de rolamento. A vegetação local é rasteira e a inclinação máxima

chega a 20°.

Figura 38 – Sinalização viária de limitação de velocidade.

A Parcela 3 é caracterizada por sua menor sinuosidade, sua considerável

área urbana e pelo fluxo mais intenso que nas outras parcelas. Possui taxas de

atropelamentos e de medidas de mitigação próximas às da outra região de zona de

amortecimento, a Parcela 1. A inclinação marginal reduzida contribui para o fácil

acesso de animais à pista e também há a presença de propriedades rurais.

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73

5-Discussão

Alguns fatores são muito importantes para a avaliação de cada trecho quanto

ao nível de criticidade relacionado a atropelamentos de fauna. Entre eles estão os

atropelamentos, as características quantitativas e qualitativas das construções

próximas, a inclinação marginal, o número e a natureza das medidas mitigadoras e

a vegetação local. Cada fator influencia a tendência de atropelamentos de uma

região de maneira diferente dos outros. A caracterização de cada trecho em relação

a tais fatores e as consequências relacionadas às tendências de acidentes estão

organizados na Tabela 4, disposta a seguir:

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Tabela 4 – Caracterização individual dos trechos.

Trecho Atropelamentos Construções Inclinação

marginal

Medidas

mitigadoras Vegetação

01

Sem registros,

provavelmente devido à

extensa área urbana

local.

A urbanização

suprime o habitat

natural e reduz os

índices de

acidentes.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Poucas medidas de

mitigação. Contribui

pouco.

Pouca vegetação,

contribuindo para

uma menor

incidência de

animais no local.

02

Nenhum caso. Todos os

fatores contribuem para

evitar atropelamentos.

A urbanização

suprime o habitat

natural e reduz os

índices de

acidentes.

Dificulta

bastante o

acesso de

animais.

Alto número de

medidas. Contribui

bastante para a

mitigação.

Pouca vegetação,

contribuindo para

uma menor

incidência de

animais no local.

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75

03

Sem registros,

provavelmente devido à

extensa área urbana

local.

A urbanização

suprime o habitat

natural e reduz os

índices de

acidentes.

Dificulta o

acesso de

animais em

alguns trechos.

Nenhuma medida

de mitigação.

Pouca vegetação,

contribuindo para

uma menor

incidência de

animais no local.

04

Três registros de

acidentes. Todos em um

viaduto, onde a fuga da

pista é dificultada.

A urbanização

suprime o habitat

natural e reduz os

índices de

acidentes.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Poucas medidas de

mitigação. Contribui

pouco.

Pouca vegetação,

contribuindo para

uma menor

incidência de

animais no local.

05

Sem registros,

provavelmente devido à

extensa área urbana

local.

A urbanização

suprime o habitat

natural e reduz os

índices de

acidentes.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Alto número de

medidas. Contribui

bastante para a

mitigação.

Pouca vegetação,

contribuindo para

uma menor

incidência de

animais no local.

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76

06

Três registros de

acidentes. Todos em área

de curva com longa reta

em ambos os sentidos.

A urbanização

suprime o habitat

natural e reduz os

índices de

acidentes.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Algumas medidas

de mitigação.

Contribui para

reduzir a incidência

de acidentes.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

07

Um registro em trecho de

longa reta, onde a

velocidade dos veículos é

maior. A vegetação e o

número de medidas

favorecem a incidência de

atropelamentos.

Não interferem na

fauna.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Poucas medidas de

mitigação. Contribui

pouco.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

08

Sem registros, apesar de

todos os fatores

indicarem ser um trecho

crítico.

Não possui. Sem

interferência na

fauna.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Nenhuma medida

de mitigação.

Vegetação

permite a

habitação de

animais em alguns

trechos.

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77

09

Dois registros. As

medidas de mitigação não

estão contribuindo o

suficiente neste trecho.

Não interferem na

fauna.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Algumas medidas

de mitigação.

Contribui para

reduzir a incidência

de acidentes.

Vegetação

permite a

habitação de

animais em alguns

trechos.

10

Dois registros. A

combinação entre fatores

que favorecem a

ocorrência de

atropelamentos e poucas

medidas de mitigação

contribui para a existência

de casos.

Não possui. Sem

interferência na

fauna.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Poucas medidas de

mitigação. Contribui

pouco.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

11

Sem registros. A

inclinação marginal e a

urbanização evitam

casos.

Área urbanizada.

Provável barreira

para a fauna.

Dificulta

bastante o

acesso de

animais.

Alto número de

medidas. Contribui

bastante para a

mitigação.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

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78

12

Sem registros. A

quantidade de medidas e

a elevada inclinação

marginal são

responsáveis pelo índice.

Poucas

construções. Sem

interferência na

fauna.

Dificulta o

acesso de

animais em

alguns trechos.

Alto número de

medidas. Contribui

bastante para a

mitigação.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

13

Sem registros. Todos os

fatores favorecem os

atropelamentos, mas a

elevada quantidade de

medidas se mostra

eficiente.

Não possui. Sem

interferência na

fauna.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Alto número de

medidas. Contribui

bastante para a

mitigação.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

14

Sem registros. A

inclinação marginal evita

o acesso de animais à

via.

Não possui. Sem

interferência na

fauna.

Dificulta

bastante o

acesso de

animais.

Algumas medidas

de mitigação.

Contribui para

reduzir a incidência

de acidentes.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

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79

15

Sem registros. A

inclinação marginal evita

o acesso de animais à

via.

Não possui. Sem

interferência na

fauna.

Dificulta

bastante o

acesso de

animais.

Algumas medidas

de mitigação.

Contribui para

reduzir a incidência

de acidentes.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

16

Dois registros. Um dos

casos ocorreu após curva

acentuada.

Posto de gasolina.

Sem interferência

na habitação da

fauna.

Dificulta

bastante o

acesso de

animais.

Algumas medidas

de mitigação.

Contribui para

reduzir a incidência

de acidentes.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

17 Um registro. Ocorrência

em região de curva.

Não possui. Sem

interferência na

fauna.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Algumas medidas

de mitigação.

Contribui para

reduzir a incidência

de acidentes.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

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80

18

Três registros. Dois

registrados

simultaneamente e da

mesma espécie.

Provavelmente um único

atropelamento gerou dois

registros.

Não possui. Sem

interferência na

fauna.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Alto número de

medidas. Contribui

bastante para a

mitigação.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

19

Dois registros.

Ocorrências em regiões

de curva.

Poucas

construções. Sem

interferência na

fauna.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Alto número de

medidas. Contribui

bastante para a

mitigação.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

20 Um registro, após curva

bastante acentuada.

Não possui. Sem

interferência na

fauna.

Dificulta

bastante o

acesso de

animais.

Alto número de

medidas. Contribui

bastante para a

mitigação.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

21

Um registro. Diversos

fatores contribuem para a

presença de animais na

pista.

Não possui. Sem

interferência na

fauna.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Alto número de

medidas. Contribui

bastante para a

mitigação.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

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81

22

Sem registros. As

medidas mitigadoras e a

inclinação marginal

evitam o acesso de

animais à rodovia.

Não possui. Sem

interferência na

fauna.

Dificulta o

acesso de

animais em

alguns trechos.

Algumas medidas

de mitigação.

Contribui para

reduzir a incidência

de acidentes.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

23

Sem registros. A área

urbana é o provável

impedimento à aparição

de animais na região.

Área urbana.

Possível barreira

para habitação de

espécies.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Algumas medidas

de mitigação.

Contribui para

reduzir a incidência

de acidentes.

Vegetação

permite a

habitação de

animais em alguns

trechos.

24

Sem registros. Apesar do

reduzido número de

medidas de mitigação,

demonstra ser suficiente.

Poucas

construções. Sem

interferência na

fauna.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Poucas medidas de

mitigação. Contribui

pouco.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

25

Sem registros. Apesar do

reduzido número de

medidas de mitigação,

demonstra ser suficiente.

Poucas

construções. Sem

interferência na

fauna.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Nenhuma medida

de mitigação.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

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82

26

Um registro. Trecho de

alta velocidade com

vegetação densa.

Acesso ao

município de

Guapimirim.

Provável barreira

para a habitação da

fauna.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Algumas medidas

de mitigação.

Contribui para

reduzir a incidência

de acidentes.

Vegetação

favorece a

presença de fauna

no local.

27

Três registros. O elevado

limite de velocidade da

região provoca

possivelmente alguns

casos de atropelamentos.

Construções são

prováveis barreiras

para a habitação da

fauna.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Alto número

medidas. Contribui

bastante para a

mitigação.

Vegetação

permite a

habitação de

animais em alguns

trechos.

28

Três registros. O elevado

limite de velocidade da

região provoca

possivelmente alguns

casos de atropelamentos.

A urbanização

suprime o habitat

natural e reduz os

índices de

acidentes.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Poucas medidas de

mitigação. Contribui

pouco.

Pouca vegetação,

contribuindo para

uma menor

incidência de

animais no local.

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83

29

Sem registros. A

urbanização e a

vegetação escassa

contribuem para a

redução dos índices.

A urbanização

suprime o habitat

natural e reduz os

índices de

acidentes.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Poucas medidas de

mitigação. Contribui

pouco.

Pouca vegetação,

contribuindo para

uma menor

incidência de

animais no local.

30

Sem registros. A

urbanização e a

vegetação escassa

contribuem para a

redução dos índices.

A urbanização

suprime o habitat

natural e reduz os

índices de

acidentes.

Não evita o

acesso de

animais à pista.

Algumas medidas

de mitigação.

Contribui para

reduzir a incidência

de acidentes.

Pouca vegetação,

contribuindo para

uma menor

incidência de

animais no local.

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84

Conforme demonstrado através da Tabela 4, alguns fatores influenciam

diretamente a taxa de atropelamentos de fauna, como as construções, a inclinação

marginal, as medidas mitigadoras e a vegetação local. As construções estão

relacionadas diretamente ao número de animais que habitam uma determinada

região. Poucas espécies são capazes de viver em harmonia com a área urbana,

reduzindo significativamente o número de animais em alguns trechos. A inclinação

marginal influencia a taxa de animais na pista, visto que uma maior inclinação

marginal reduz as chances de espécimes acessarem a rodovia, devido à maior

dificuldade de locomoção entre a margem e a estrada. A vegetação local também

é responsável por influenciar as taxas de atropelamentos. Geralmente, quanto mais

densa é a vegetação local, maiores são as chances de espécies habitarem a região,

levando a um consequente aumento da probabilidade de animais chegarem às

rodovias próximas a esses locais. Por fim, as medidas mitigadoras são instaladas

com o objetivo de reduzir o impacto dos atropelamentos, evitando suas ocorrências.

Portanto, quanto maior for o número de medidas mitigadoras numa determinada

região, desde que instaladas adequadamente, menor é o índice de atropelamentos

nessa mesma região. A Tabela 4 confirma tais relações entre esses quatro fatores

e as taxas de atropelamento na maioria dos trechos analisados, salvo poucas

exceções.

Comparando as três áreas, duas de fora do PARNASO e uma na Unidade

de Conservação, pode-se verificar a grande diferença na quantidade de medidas

mitigadoras implantadas. Entre elas, foi possível observar a presença de

sinalização viária, principalmente, telamento, presença de canteiros centrais,

viadutos e pontes, entre outras. Também é perceptível que muitas medidas não

são implantadas com o objetivo de mitigar o impacto dos atropelamentos de fauna,

mas acabam por exercer também essa função. Foi verificada também a presença

de diversas barreiras de contenção de automóveis, não contabilizadas como cercas

no presente estudo.

A quantidade de medidas destinadas a motoristas, isto é, medidas que

esperam ações dos motoristas para a mitigação do impacto, é muito superior no

trecho analisado em relação à quantidade de medidas para a fauna, conforme

demonstrado pela Tabela 5. Isto significa que as medidas implantadas na região

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85

são medidas relacionadas à Educação Ambiental, de conscientização de

motoristas. A maior parte dessas medidas é representada pela sinalização viária,

conforme é possível observar na Tabela 6. Além disso, muitas medidas são

indiretas, como sinalização viária de limitação de velocidade, ou tiveram suas

instalações realizadas por outras motivações, gerando também efeitos de

mitigação de atropelamentos de fauna.

Tabela 5 – Número de atropelamentos e de medidas mitigadoras por trechos.

Trecho Atropelamentos

Medidas

mitigadoras

para

motoristas

Medidas

mitigadoras

para fauna

Total de

medidas

mitigadoras

Parcela 1 11 28 0 28

01 0 2 0 2

02 0 6 0 6

03 0 0 0 0

04 3 3 0 3

05 0 6 0 6

06 3 4 0 4

07 1 2 0 2

08 0 0 0 0

09 2 3 0 3

10 2 2 0 2

Parcela 2 9 55 3 58

11 0 10 1 11

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86

12 0 6 0 6

13 0 6 1 7

14 0 4 0 4

15 0 4 0 4

16 2 2 1 3

17 1 4 0 4

18 3 7 0 7

19 2 5 0 5

20 1 7 0 7

Parcela 3 8 23 6 29

21 1 4 1 5

22 0 4 0 4

23 0 3 0 3

24 0 1 0 1

25 0 0 0 0

26 1 3 1 4

27 3 4 1 5

28 3 1 1 2

29 0 0 1 1

30 0 3 1 4

Total 28 106 9 115

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Tabela 6 – Número de medidas mitigadoras por parcelas

Parcela 1 Parcela 2 Parcela 3 Total

Balizas 0 0 0 0

Canteiro

central

(trechos)

0 3 6 9

Cercas 0 0 0 0

Lombadas 4 0 0 4

Mecanismos

de alerta e

afugentamento

0 0 0 0

Passagens

superiores 0 0 0 0

Sinalização

viária

(atropelamento

de fauna e

conservação

da natureza)

3 28 2 33

Sinalização

viária

(limitação de

velocidade)

17 24 20 61

Telamento 0 1 0 1

Túneis

rodoviários 0 0 0 0

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Viadutos e

elevadas 4 2 1 7

Total 28 58 29 115

A Tabela 7 demonstra que o Parque Nacional da Serra dos Órgãos consegue

manter seus índices de atropelamento próximos aos de áreas com urbanização

muito maior, ou seja, com menor densidade populacional de fauna, e com o mesmo

fluxo de veículos. A manutenção de um índice próximo aos das demais área pode

ser considerada um bom indicativo da eficácia das medidas mitigadoras devido à

grande supressão de mata por áreas urbanas que ocorre nas regiões exteriores ao

Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Com a supressão das áreas de habitat,

animais são afastados da região, o que leva à tendência de queda nos índices de

atropelamento nessas regiões urbanizadas (FRANCHIN et al., 2004).

Tabela 7 – Número de atropelamentos e de medidas mitigadoras por parcelas.

Parcela 1 Parcela 2 Parcela 3

Interior/Exterior ao

PARNASO

Exterior ao

PARNASO

Interior ao

PARNASO

Exterior ao

PARNASO

Município Teresópolis Guapimirim Guapimirim

Quilometragem km 79 a km 89 km 89 a km 99 km 99 a km 109

Atropelamentos 11 9 8

Medidas

mitigadoras 28 58 29

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Medidas

mitigadoras

direcionadas aos

motoristas

28

(100%)

55

(95%)

23

(79%)

Medidas

mitigadoras

direcionadas aos

animais

0

(0%)

3

(5%)

6

(21%)

De acordo com a Tabela 5, é possível perceber que o número de

atropelamentos de trechos com maior número de medidas mitigadoras é menor

quando comparado a trechos semelhantes com menor número de medidas

mitigadoras, isto é, trechos com inclinação marginal, vegetação e construções

semelhantes. Um importante fator que deve ser considerado durante a comparação

de valores é a diferença entre trechos urbanos e trechos com vegetação marginal

densa. Trechos com maior área urbana às suas margens da rodovia tendem a

possuir menor número de espécimes. Isso se deve à supressão de vegetação

causada pela construção de residências, levando às espécies a, geralmente, deixar

o local e a procurar regiões com vegetação mais densa. Por esse motivo, trechos

urbanos tendem a ter uma quantidade de atropelamentos menor quando

relacionados a trechos florestais e, portanto, não podem ser comparados

diretamente entre eles. A Tabela 6, por sua vez, indica o maior número de medidas

mitigadoras de sinalização viária em relação aos outros tipos de medidas. Ao total,

são 94 medidas de mitigação de sinalização viária em um total de 115 medidas,

correspondendo a aproximadamente 82% das medidas de mitigação observadas

durante as saídas de campo. A sinalização viária é uma medida de custo financeiro

relativamente baixo, quando comparada a outras medidas. Não necessita de obras

de instalação e maiores estudos, como necessitam as passagens inferiores de

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fauna, por exemplo. A área de interseção entre o Parque Nacional da Serra dos

Órgãos e a Rodovia BR-116 possui aproximadamente o dobro de medidas de

mitigação quando comparada aos outros dois trechos (Tabela 7). Há também larga

diferença entre a utilização de medidas mitigadoras que têm como alvo os

condutores, como placas de alerta, e as medidas que visam os animais, como

passagens superiores (Tabela 7). Algumas medidas mitigadoras não podem ser

avistadas da superfície da rodovia, tais como as passagens inferiores de fauna. Por

motivos de segurança, não foram realizadas paradas na rodovia com o objetivo de

procurar tais medidas e, portanto, não foi possível determinar a existência delas no

presente estudo.

Considerando que a Parcela 2 não possui área urbana, ao contrário das

outras duas parcelas, a supressão de vegetação marginal e a consequente perda

de áreas habitáveis é inferior às Parcelas 1 e 3. Por esse motivo, há uma tendência

de que mais animais acessem a rodovia na região da Parcela 2, indicando que as

taxas de atropelamentos deveriam ser maiores nessa área que nas outras. No

entanto, os valores de taxas de atropelamentos são bem parecidos nas três

parcelas, indicando que o número elevado de medidas mitigadoras no interior do

Parque Nacional da Serra dos Órgãos resulta em significativa redução dos índices

de acidentes com fauna. Tal informação é ratificada quando considerada a maior

sinuosidade da Parcela 2, que reduz a visibilidade dos motoristas e contribui para

o aumento das taxas de atropelamentos.

Ao observar a Figura 39, pode-se indicar que as classes mais afetadas pelos

atropelamentos na região são os mamíferos e as aves. Enquanto isso, nenhum

espécime de anfíbio foi registrado em acidentes na região, provavelmente por

serem espécimes facilmente desconfigurados após o atropelamento, devido ao

reduzido porte. Anfíbios possuem geralmente ossos frágeis que podem ser

quebrados mais facilmente com atropelamentos, levando a possíveis perdas das

características físicas que permitem sua identificação e, consequentemente, ao seu

registro.

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91

Figura 39 – Registros totais de atropelamentos pelo Sistema Urubu na região analisada durante todo seu período de atividade.

De acordo com a Figura 40, é possível perceber que a espécie Didelphis

aurita (gambá-de-orelha-preta) é a espécie mais impactada pelos atropelamentos

de fauna na região. Além dos três espécimes identificados até a espécie na

classificação taxonômica, outros dois espécimes do gênero Didelphis foram

identificados, um da família Didelphidae e dois da classe Mammalia. Caso todos

sejam da espécie Didelphis aurita, seriam oito indivíduos da mesma espécie

registrados na mesma região. A espécie Didelphis aurita é a mais atingida porque

Mamíferos; 11; 39%

Aves; 15; 54%

Répteis; 2; 7%

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é uma espécie generalista, isto é, suporta variadas condições de vida e hábitats,

fazendo com que sua população aumente.

Figura 40 – Registros de espécies identificadas pelo Sistema Urubu na região analisada.

Além das passagens inferiores de fauna, já citadas anteriormente, o Projeto

Fauna Viva também realiza atividades de Educação Ambiental para minimizar os

impactos das rodovias na fauna do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Também

estão previstas implantações de passagens superiores de fauna, até hoje ausentes

no trecho.

De acordo com BAGER (2012) os animais carniceiros muitas vezes

removem as carcaças da rodovia antes que ela possa ser observada. Desta forma,

não foi possível realizar a análise de valor de indivíduos por hora por quilômetro,

0 1 2 3

Didelphis aurita (gambá-de-orelha-preta)

Cerdocyon thous (cachorro-do-mato)

Dasypus novemcinctus (tatu-galinha)

Pitangus sulphuratus (bem-te-vi)

Columbina talpacoti (rolinha-roxa)

Salvator merianae (lagarto teiú)

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93

indicada pelo mesmo autor. Ratificando a incidência subestimada de

atropelamentos, diversos outros estudos registram taxas bem mais elevadas, após

monitoramento adequado (LIMA e OBARA, 2004; PINOWSKI, 2005; MAGINA et

al., 2007; SÁSSI et al., 2013). A realização ideal da pesquisa, de acordo com

BAGER (2012), é condicionada a diversos fatores, tais como: a padronização do

número de observadores durante as pesquisas de campo, a realização de uma

análise que defina o número de indivíduos por quilômetro por dia, a velocidade

constante do veículo a 40 km/h, o intervalo entre amostragens condicionado à

sazonalidade das espécies da região, a realização da observação nas primeiras

horas da manhã e o acompanhamento da região por, no mínimo, dois anos.

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6-Conclusão

A partir da análise dos dados coletados, foi possível concluir que a estratégia

de mitigação de impacto empregada na Rodovia BR-116 em seu trecho de

interseção com o Parque Nacional da Serra dos Órgãos está baseada na

percepção e na conscientização dos motoristas que trafegam pela região. A

proporção de medidas direcionadas aos condutores em relação às medidas

direcionadas aos animais é muito grande, chegando a mais de 75% do total de

medidas de qualquer um dos três trechos analisados.

Comparando o trecho de interseção com os trechos exteriores ao Parque

Nacional da Serra dos Órgãos, é possível perceber que as medidas são

implantadas com maior intensidade no trecho interior à Unidade de Conservação

do que nos demais trechos. Além disso, foi possível concluir também que a

manutenção de índices de atropelamento similares dentro e fora da Unidade de

Conservação representa a eficácia das medidas mitigadoras implantadas no

interior do Parque Nacional, visto que as áreas exteriores possuem mancha urbana

no entorno da rodovia, afastando as espécies de tais regiões.

Apesar de alguns autores não concordarem com tal afirmação, a análise

realizada demonstrou que a utilização da sinalização viária como forma de

conscientização dos motoristas é uma medida que gera resultados significativos

para a mitigação dos atropelamentos de fauna. A grande maioria das medidas

implantadas na rodovia verificadas foram sinalizações viárias, incluindo

sinalizações que geram efeito indireto, tais como placas de limitação de velocidade.

Ou seja, a instalação de medidas de baixo custo e de reduzida complexidade em

relação a medidas estruturais levaram a níveis de mitigação satisfatórios sem a

necessidade de investimentos financeiros altos. Além disso, foi verificado o grau de

utilização de medidas que causam outros impactos, como a utilização do telamento

sem passagens de fauna. A utilização de cercas foi observada em apenas uma

oportunidade, significando que as medidas utilizadas no local, em geral, não

causam impactos secundários significativos.

Ao final, foi possível concluir que as medidas utilizadas, em geral, no trecho

de interseção com o Parque Nacional da Serra dos Órgãos são de grande

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importância para minimizar os impactos da rodovia BR-116 na região. Devido à

impossibilidade de remover a rodovia e, consequentemente, acabar com os

impactos causados pela mesma, as medidas de mitigação utilizadas demonstraram

ser a solução mais viável para tal questão. A possibilidade de melhoria local está

contida na padronização dos níveis de medidas de mitigação entre as três parcelas.

Isto é, elevar o número de medidas mitigadoras nas Parcelas 1 e 3 à semelhança

da Parcela 2.

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