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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE
UNICENTRO
Catalogação na PublicaçãoRegiane de Souza Martins -CRB9/1372
Biblioteca Central Campus Guarapuava
Copyright © 2008 Editora UNICENTRO
Conselho Editorial
Presidente: Marco Aurélio RomanoBeatriz Anselmo OlintoCarlos Alberto KühlHélio SochodolakLuciano Farinha WatzlawickLuiz Antonio Penteado de CarvalhoMarcos Antonio QuinaiaMaria Regiane TrincausOsmar Ambrosio de SouzaPaulo Costa de Oliveira FilhoPoliana Fabíula CardozoRosanna Rita SilvaRuth Rieth Leonhardt
Editora UNICENTRO
Direção: Beatriz Anselmo OlintoAssessoria Técnica: Andréa do Rio Alvares, Carlos de Bortoli, Oséias de Oliveira e Waldemar FellerDivisão de Editoração: Renata DaleteseDivisão de Revisão: Rosana GonçalvesSeção de Revisão Lingüística: Níncia Cecília Ribas Borges TeixeiraCorreção: Denise Gabriel WitzelDiagramação: Andréa do Rio Alvares, Anna Júlia Peccinelli Minieri e Eduardo Alexandre Santos de Oliveira. Diagramadora: Andréa do Rio AlvaresCapa: Fernanda P. M. Guevara MalvestitiImpressão: Gráfica UNICENTRODireção: Lourival GonschorowskiMapas: Mafalda Francischett
Reitor: Vitor Hugo Zanette Vice-Reitor: Aldo Nelson Bona
Pegoraro, Éverly
Dizeres em confronto: a Revolta dos Posseiros de 1957
na imprensa paranaense / Éverly Pegoraro. – – Guarapuava:
Unicentro, 2008.
243 p.: il.
Bibliografia
ISBN 978-85-89346-93-1
1. Paraná – História. 2. Paraná – Francisco Beltrão –
História. 3. Revolta dos Posseiros. 4. Revolta dos
Posseiros – Aspectos Jornalísticos. I. Título.
CDD 981.62
P376d
Agr
adec
imen
tos
agraDecimentos
À minha orientadora, professora Ismênia, por toda a
ajuda durante o meu mestrado.
À Unicentro e a Universidade Federal Fluminense, pela
oportunidade de desenvolver uma pesquisa que traz em si um
pouco de minha própria história e do povo de minha região, o
Sudoeste do Paraná.
Aos professores Sitillo Voltolini, Márcia Motta, Beatriz
Olinto e Verônica Secreto, pois sua ajuda foi fundamental para a
realização desse trabalho.
Aos meus depoentes, por compartilharem comigo
memórias tão preciosas.
À Mafalda Francischett, pela sua disponibilidade em
elaborar os mapas que aqui se encontram.
À Fernanda Pacheco, pelo desenvolvimento de uma arte
tão criativa para a capa do livro.
A meus pais, irmão e amigos, pela compreensão e pelo
apoio.
Não poderia deixar de registrar um agradecimento
especial a Rogério e Janaína, amigos tão queridos que me
acolheram todas as vezes que precisei de hospedagem em
Curitiba.
8
Também deixo meus agradecimentos a todos os demais
que, mesmo não mencionados aqui, sabem que ajudaram a
tornar esse livro uma realidade.
Finalmente, agradeço a Deus, a quem devo tudo que sou
e tudo que tenho.
[...] os falares diferem de grupo para grupo, e
cada homem é prisioneiro de sua linguagem: fora
da sua classe, a primeira palavra marca-o, situa-o
inteiramente e expõe-no com toda a sua história. O
homem é oferecido, entregue pela sua linguagem,
traído por uma verdade formal que escapa
às suas mentiras interesseiras ou generosas.
Roland Barthes
Sum
ário
sumário
Prefácio............................................................................. 13
Apresentação ................................................................... 17
A Revolta dos Posseiros de 1957 ...................................... 25
A voz de um conflito: a Rádio Colméia na Revolta dos
Posseiros de 1957 .............................................................99
As palavras de um conflito: discursos sobre a Revolta
dos Posseiros de 1957 nas páginas da imprensa
paranaense ..................................................................... 143
Considerações Finais .......................................................223
Referências ......................................................................229
Lista de siglas .................................................................. 241
Pref
ácio
Prefácio
Um país de dimensões continentais como o nosso, no
campo historiográfico, sofre, inevitavelmente, as conseqüências
das generalizações produzidas a partir dos centros hegemônicos,
político-econômicos e, naturalmente, culturais.
A história local e regional conheceu um grande
desenvolvimento, no Brasil, a partir de 1980, com a consolidação
e a multiplicação dos programas de pós-graduação nas
universidades públicas, federais e estaduais.
A implantação de cursos de mestrado e doutorado,
praticamente em todos os Estados da União, propiciou condições
objetivas para o desenvolvimento material das pesquisas.
Paralelamente à produção de novos conhecimentos, colocou-se a
necessidade da preservação das fontes e a questão da organização
e da disponibilização dos acervos públicos e privados.
Não se tratava mais, porém, da velha história regional,
vassala dos ufanismos e, sim, de um esforço sério e sistematizado
de pesquisa. Assim, o sentido da história local e regional não
se aprisiona nos seus limites geográficos, mas se articula,
devidamente, com as estruturas mais amplas em que se insere.
Dessa forma, as realidades menores, recortadas pelo
historiador, buscam, na maioria das vezes, respostas específicas
para questões gerais, produzindo realidades mais amplas,
regionais, nacionais e, até mesmo, internacionais, sobretudo
nessa conjuntura do capitalismo globalizado.
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O trabalho de Éverly Pegoraro é exemplar nessa
perspectiva.
Dominando o debate historiográfico sobre o tema,
sustentada por adequado instrumental teórico-metodológico,
lançou-se à pesquisa, incorporando novas fontes e utilizando
abordagens originais, sem, na verdade, se afastar dos pressupostos
fundadores do conhecimento histórico.
Docente da Área de Comunicação, enfrentou o desafio
de cursar o Mestrado em História, em um dos programas mais
qualificados nesta área, no Brasil.
Ainda que a escolha do tema e, sobretudo, seu tratamento
através do discurso jornalístico revelem sua procedência
acadêmica, apreendeu e repassou, no seu texto, a noção do
processo histórico, o peso das dominações de classe e a matriz
explicativa dos conflitos.
A Revolta dos Posseiros de 1957 constitui-se em um dos
capítulos dos conflitos agrários no país, e, sem dúvida, o mais
expressivo da história recente do Paraná, estado que, desde
o início do seu povoamento, foi cenário de inúmeras disputas
de terras. A autora propôs uma abordagem inteiramente
original para recuperar aspectos praticamente inexplorados na
historiografia anterior.
O objetivo principal da pesquisa era realizar o estudo
comparativo do discurso jornalístico, produzido pelos periódicos
Gazeta do Povo e O Estado do Paraná, acerca daquele conflito.
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Valeu-se de um recorte cronológico, que compreendia os
meses de deflagração do movimento e de sua culminância.
A análise do material revela sua perspicácia no
desvendamento do sentido atribuído à Revolta pelos dois órgãos
da imprensa local, selecionados de maneira ideal, uma vez que
representavam grupos de interesses diferentes. Inventariou, de
forma exaustiva, as matérias dos dois periódicos, articulando-as
criticamente.
Seu texto oferece uma competente comparação do
discurso dos dois jornais paranaenses. No entanto, muito mais
que isso foi captado, uma vez que todos os sujeitos da ação,
colonos, posseiros, companhias grileiras e políticos, são alçados
à cena, evidenciando os que ganharam espaço e os que foram
silenciados nas matérias jornalísticas.
Como pesquisadora bem formada, foi às fontes com
suas questões, mas demonstrou ser atenta e competente para
perceber os novos problemas que delas brotavam. Assim, por
exemplo, o papel do rádio no conflito e na articulação comunitária
tornou-se uma questão relevante.
Constatando que a Rádio Colméia, que participou da
revolta em Pato Branco e em Francisco Beltrão, não tinha
preservado seus arquivos, lançou mão da história oral para
recuperar não apenas o papel da emissora naquela conjuntura,
mas também a memória do conflito.
Valeu-se deste método com maestria, consciente de que
é impossível recuperar a voz do passado, pois o que nos chega é
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uma voz mediada pelo depoente e também pelo pesquisador. No
entanto, as possibilidades que apresenta, criando e recuperando
informações, são da maior importância e preenchem lacunas de
outros corpos documentais.
Finalmente, é importante ressaltar que o texto, que
ora se publica, constituiu-se como Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação Interinstitucional em História UFF/
UNICENTRO, como requisito para obtenção do Grau de Mestre
– Área de Concentração: História Social.
A banca examinadora, que tive o prazer de presidir, foi
integrada pelas Professoras Doutoras Marcia Maria Menendes
Motta, da Universidade Federal Fluminense, e Maria Verônica
Secreto de Ferreras, da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, ambas especialistas de grande projeção. O parecer
exarado, naquela oportunidade, destacou, entre muitos outros
méritos, que o trabalho de Éverly Pegoraro constituía-se em
contribuição expressiva para a História dos Conflitos Agrários no
Brasil. Não posso imaginar maior elogio para uma autora que se
dedicou a um estudo regional!
Niterói, 10 de julho de 2008
Profª. Ismênia de Lima MartinsPós-Doutora pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences
Sociales, EHESS, França.
Apr
esen
taçã
oaPresentação
De espingarda, de facão à cinta e empunhando a bandeira nacional,
os colonos se levantaram em governos populares
O Cruzeiro, 2 de novembro de 1957.
Como a imprensa media e colabora para a construção
histórica de um conflito de terras? Essa é uma das perguntas que
perpassa toda essa pesquisa. Entende-se que a imprensa assumiu
um papel significativo na construção da narrativa histórica
contemporânea, já que os meios de comunicação tomam para
si o papel de intermediários para que o acontecimento marque
agora a sua presença. Entretanto, o discurso jornalístico é
construído através de uma série de intervenções e interesses.
Essas intenções, traduzidas em estruturas textuais e perceptíveis
no contexto da produção discursiva, confirmam o papel ativo da
linguagem na construção histórica de um conflito.
Não é minha pretensão afirmar que a versão transmitida
por um ou outro jornal seja mais ou menos verdadeira. Afinal, se
a história pode ser contada de inúmeras maneiras, fornecendo
diferentes interpretações aos assuntos, dotando-os, então,
de sentidos diversos, os jornais, ao optarem por uma forma
discursiva, uma maneira de selecionar os fatos e apresentá-los
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ao leitor, também fornecem um ângulo peculiar para a escrita
da história1.
Entender como as idéias são transmitidas e como os
meios pelos quais se dá a sua transmissão interferem na própria
compreensão das mensagens, além de refletir sobre como o
contato com essa palavra afeta o comportamento de um sujeito
histórico, inserido em um tempo e lugar determinados, fazem
parte dos argumentos que justificam a pertinência do estudo do
discurso jornalístico2.
Partindo-se desses pressupostos, esta pesquisa analisa
como a imprensa paranaense construiu o discurso jornalístico
sobre a Revolta dos Posseiros de 1957 no Sudoeste do Paraná,
apontando possíveis interesses dos veículos de comunicação
analisados, perceptíveis na forma como eles expressam o conflito
em suas narrativas. O levante envolveu posseiros, companhias
de terras e o governo estadual. O início das disputas de terras
se deu em 1940 e perdurou por mais de 20 anos. Em outubro
de 1957, posseiros e colonos se organizaram em um conflito
armado, tomaram as suas cidades e expulsaram as companhias
de terras e os jagunços por elas contratados.
1 BARBOSA, Marialva. Por uma história dos sistemas de comunicação. In: Revista
Contracampo. Nº 1. Julho/Dezembro 1997.
2 Ibid., p. 78.
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Nos anos 50 do século XX, como o Sudoeste iniciava seu
processo de ocupação incentivado pelo governo federal, ainda
não possuía periódicos impressos que possam servir como fonte
de pesquisa. Entretanto, contava com uma emissora de rádio,
a Rádio Colméia, presente nos municípios de Pato Branco e
Francisco Beltrão, que realizou uma mediação significativa durante
o conflito, resgatada neste trabalho a partir de depoimentos orais
de radialistas, lideranças locais e ouvintes.
O discurso jornalístico impresso é analisado através dos
periódicos paranaenses Gazeta do Povo e O Estado do Paraná,
em suas edições de setembro, outubro e novembro de 1957.
Os dois primeiros meses representam o período mais intenso e
violento do conflito, culminando com a Revolta dos Posseiros,
em 10, 11 e 12 de outubro de 1957.
Nessa pesquisa, procurei analisar como se deu a
produção de sentido da revolta nos dois veículos; comparar o
discurso dos dois jornais paranaenses, focalizando para o modo
com que o levante foi mostrado e para os sujeitos que ganharam
voz e para os que foram silenciados nas matérias jornalísticas;
retomar alguns aspectos dos dois periódicos em análise, que irão
ajudar a definir a linha editorial que cada jornal seguiu; analisar o
papel do rádio como espaço de ligação comunitária na revolta, já
que a Rádio Colméia, tanto em Pato Branco como em Francisco
Beltrão, participou do conflito; fazer um levantamento dos
principais autores que já discorreram sobre o assunto e levantar
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informações que possam contribuir para a história da imprensa
paranaense, assunto que ainda está em seus contornos iniciais.
No primeiro capítulo do livro, apresento a Revolta dos
Posseiros de 1957. Explico o início da colonização no Sudoeste
do Paraná, como se deu a chegada de posseiros, colonos e
companhias grileiras na região e a contextualização dos conflitos
que surgiram a partir disso. Para essa etapa, utilizo sobretudo
fontes bibliográficas, pois minha intenção principal de pesquisa
não é discorrer a respeito da Revolta dos Posseiros em si, motivo
que pretende justificar a não utilização de fontes comprobatórias.
Inicio o 1º capítulo justamente mostrando os principais autores
que estudaram o levante e os debates de interpretações que
se abriram. Além disso, aponto a contextualização política do
período e informações sobre o governador do Paraná, Moysés
Lupion, tendo como fontes históricas as mensagens apresentadas
à Assembléia Legislativa do Estado por ocasião da abertura das
Sessões Ordinárias de: 1948; 1957; 1958; 1959 e 1960, alguns dos
anos em que esteve à frente da administração pública do Estado.
“As revoluções no Paraná se fazem pelo rádio”, já dizia
a revista O Cruzeiro3. Dessa forma, não poderia deixar de falar
sobre a intercessão das emissoras da Rádio Colméia, em Pato
Branco e Francisco Beltrão, no levante. Ambas tiveram papel
importante na intervenção a favor dos colonos. Único veículo
3 MORAES, Mário de. Sangue no Paraná. O Cruzeiro, p. 5, 12 out. 1957.
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de comunicação no Sudoeste, em meio a uma população em
sua grande maioria analfabeta, o rádio desempenhava a função
de informador, mediador e conselheiro. Nessa época, seus
radialistas eram tidos em grande consideração pelos ouvintes,
eram verdadeiros artistas. Foi dessa forma que Ivo Thomazoni,
radialista da Colméia em Pato Branco, foi gradativamente
assumindo o papel de uma das lideranças do levante. Já em
Francisco Beltrão, eram os próprios acionistas da emissora que
tomaram partido a favor dos colonos, utilizando o rádio como
megafone de luta.
Essas informações são trazidas no segundo capítulo.
Em sua parte inicial, falo sobre a participação e a influência
da imprensa enquanto poder simbólico formador de discurso
histórico. É também nesta etapa do trabalho que trago algumas
reflexões sobre a relação entre imprensa e história. Sou jornalista
por formação, e esses conceitos foram primordiais para adentrar
no território dos historiadores.
Além disso, apresento algumas características do
rádio que permitem compreender a força que esse veículo de
comunicação tinha em uma região como o Sudoeste do Paraná.
As duas emissoras não apenas forneciam informações para o
seu público ouvinte, mas também alimentavam a imprensa
da capital, pois somente no mês de outubro de 1957 alguns
veículos de comunicação enviaram repórteres para cobrir in loco
o levante. Entre eles, cita-se O Estado do Paraná, O Cruzeiro e
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Manchete. Foi interessante observar como posicionamentos
diferentes construíram discursos diferentes sobre a mesma
revolta. Enquanto a imprensa da capital, distante do cotidiano
de luta, abordava principalmente o aspecto político do conflito,
a imprensa regional tomava parte direta no confronto, embora
sem abandonar os seus interesses partidários.
As principais fontes de pesquisa para esse capítulo são
orais. Infelizmente, as duas emissoras não possuem arquivos
sonoros que pudessem servir como fontes históricas. Para
suprir essa falta, utilizei-me da História Oral. Para compreender
a participação da Rádio Colméia de Pato Branco, conversei com
Inelci Pedro Matiello e Ivo Thomazoni, os quais trabalhavam
na emissora no ano de 1957. Também conversei com Jácomo
Trento, o vendedor de equipamentos que percorria o interior
do Sudoeste e alimentava com informações a Rádio Colméia de
Pato Branco. Sobre a Rádio Colméia de Francisco Beltrão, não
foi possível conversar com os seus acionistas, pois já não vivem
mais. Entretanto, alguns ouvintes puderam delinear o perfil
que ajuda a compreender a sua importância. O caminhoneiro
Aurélio Antonio Negri, além de ouvinte, transportou colonos
até a praça de Francisco Beltrão para participarem do levante
de outubro. A outra depoente é Manoela Pécoits, esposa do
médico e um dos líderes da revolta, Walter Pécoits. Seu relato
forneceu informações relevantes sobre a construção da liderança
de seu marido e a forma como suas entrevistas no veículo de
comunicação atuavam como formadoras de opinião.
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No terceiro capítulo, apresento os dois periódicos da
capital: O Estado do Paraná e a Gazeta do Povo. Alguns aspectos
de criação e linha editorial permitem compreender a postura
adotada face ao conflito. Minhas fontes históricas serão as
primeiras edições, assim como alguns números comemorativos
históricos e os próprios exemplares a serem analisados de 1957.
Na segunda parte do capítulo, apresento a análise de
discursos jornalísticos das matérias publicadas pela Gazeta do
Povo e em O Estado do Paraná, entre os meses de setembro,
outubro e novembro de 1957. Meu principal objetivo foi
confrontar os discursos dos dois jornais paranaenses, apontando
quem ganhou voz e quem foi silenciado nas matérias jornalísticas
e analisando como se deu a produção de sentido nos textos.
O Estado do Paraná fez uma cobertura mais ampla,
enfocando principalmente o aspecto político da questão. De posição
contrária ao governo do Estado, seu discurso reiterava que o principal
culpado pelo problema de terras no Sudoeste era o governador
do Paraná. Depois que o periódico enviou repórteres para a
região, suas matérias tornaram-se mais “humanas”, no sentido
de mostrarem os próprios personagens envolvidos no conflito.
Já a Gazeta do Povo assumiu uma postura de defensora do
governo do Estado. O próprio governador era um dos acionistas
do jornal e o diretor era o Chefe de Polícia do Estado, Pinheiro
Junior. Seu principal discurso era de que a questão de terras no
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Sudoeste foi inflamada por uma oposição política interessada
em manipular a situação a seu favor.
Esta pesquisa é, portanto, o trabalho de uma jornalista
por formação, interessada em adentrar no campo da História e
em tecer relações entre duas áreas tão vinculadas entre si na
construção do discurso histórico na contemporaneidade. Um
mesmo discurso apresenta múltiplas possibilidades de leitura,
inseridas em épocas e contextos diversos. Nesta investigação,
emergem algumas dessas alternativas, que não se esgotam em
si, mas servem para apontar as relações complexas que surgem
entre o Jornalismo e a História.
Esta pesquisa é fruto de minha dissertação de Mestrado
em História Contemporânea pela Universidade Federal
Fluminense – UFF , em parceria com a Universidade Estadual do
Centro-Oeste – Unicentro. Indicada pela banca final de avaliação
para publicação, encorajei-me a transformá-la em livro. Faço dele
minha homenagem a todos aqueles que, direta ou indiretamente,
participaram da Revolta dos Posseiros de 1957. Espero, dessa
forma, contribuir para manter viva a memória de um período
importante da História do Paraná e do povo da região Sudoeste
do Paraná, do qual faço parte.