DECODIFICANDO REMBRANDT

Estudo da técnica de pintura à óleo de Rembrandt através da cópia de um de seus auto-retratos

Este trabalho foi realizado por Nathalia Gomes sob orientação do professor Ricardo Newton com o intuito de auxiliar os estudantes das técnicas clássicas de pintura, esclarecendo os procedimentos levados a cabo durante as várias fases da pintura de uma cabeça. Cada etapa foi fotografada e comentada para servir como orientação para a continuidade da pintura. O suporte utilizado foi a tela e as cores empregadas foram as seguintes: Branco de titânio, Amarelo de cádmio limão, Amarelo de cádmio médio, Laranja de cádmio, Vermelho de cádmio, Vermelho de Veneza, Laca de alizarim, Amarelo ocre, Terra de Sienna natural, Terra de Sienna queimada, Azul de cobalto, Azul ultramar, Preto de marfim. Chamamos a atenção para o fato de que essa não é a paleta original de Rembrandt e sim a utilizada por pintores de uma fase muito posterior, mas, mesmo assim, um colorido muito próximo ao do grande mestre foi obtido com o seu emprego.

Obv: Foi utilizado nas correções o vocabulário típico comum aos pintores em épocas anteriores, com explicações sobre seu significado sempre que necessário.

Desenho a carvão (marcação)

A marcação a carvão está OK! Agora vc. deve esbater com um pano o excesso de carvão e contornar o desenho com tinta ocre. Use um pincel marca Tigre 815, nº zero. Depois de seco esse contorno, para ''queimar'' um pouco o tom excessivamente branco da tela, passe uma camada bem rala ( veladura, aguada) de Sombra Natural ou Terra de Sienna ou o próprio Ocre. Pode usar um pincel largo ou até mesmo um rolinho de esponja. É importante que essa aguada seja bem diluída e sem adição de branco para que não se perca o grão da tela e o fundo possa ''respirar''. A fim de preparar o diluente para a tinta nessa veladura, use uma mistura de óleo de linhaça( 2 partes) e água raz mineral( 1 parte).

(marcação executaDa com terra De sienna queimaDa sobre funDo

coloriDo feito com velaDura À base De terra De sienna natural)

Ficou bom Nat. Agora dê a camada de base usando um colorido quente e vibrante. Não detalhe nada, represente os planos gerais. Tanto a área de sombra como a de luz devem ser executados com extrema simplicidade. Não use branco nas sombras e seja extremamente cuidadosa no desenho do eixo desta. Aliás, na continuidade da pintura sempre fique atenta para não perder a marcação ou o claro-escuro não terá onde se apoiar e a figura perderá a estrutura. Assim sendo, o trabalho de agora em diante é: manter os fundamentos do desenho + executar a pintura. Tudo ao mesmo tempo! Não é pouca coisa...Não se esqueça de usar pincéis de tamanho adequado para cada área( diversos pincéis, sempre o Tigre nº 815). Também é importante não adensar muito os valores, isto é: não chegue muito próximo do tom final, tanto da sombra, como da luz. Mesmo na luz não se deve usar empastamento nessa fase, faça tudo bem liso, ralo... a pintura pode ter a aparência de uma aquarela.

camaDa De base ( esboço)executaDa com tons fortes e vibrantes( altos)

Está indo bem Nat. Esclarecendo: as cores nas camadas inferiores devem ser saturadas e luminosas, pois torna mais eficiente o trabalho de neutralizar (''cozinhar'', no linguajar típico particular da pintura tradicional) as camadas que vem por cima, com menos perigo de ''sujar''(perder a vibração, aparentar um tom de lama...) a cor. Caso isso aconteça depois, ''limpa-se'' a cor aplicando uma cor ''pura'' sobre a área ''suja'', a tinta ainda molhada. Vc. agora já pode ''afinar'' as meias-tintas( meios tons), isto é: já pode fazer umas passagens mais sutis, mas ainda sem grande aprofundamento. E mantendo a sombra sempre simples. Lembre-se do fundamento essencial, a regra de ouro do procedimento tradicional de pintura: Sombra simples/ luz detalhada; sombra transparente/ luz empastada. A propósito: Rembrandt foi o supremo mestre desse procedimento. Dessa maneira consegue-se um efeito de grande volume, mas no início deve-se trabalhar ao longo de todas as áreas, tanto de sombra como de luz com tinta lisa, para entrar com empastamentos na luz mais adiante, com mais segurança do ajuste tonal do conjunto. E tome cuidado com o uso do branco na sombra que ''mata'' a vibração da cor transparente na área. Seria melhor evitá-lo. Pode-se usar o branco na sombra em determinadas circunstancias, mas no nosso estudo convém descartá-lo.R.N.

aborDanDo as meias tintas(meios tons) e aJustanDo as sombras

Continue modelando as meias tintas; pode já trabalhar um pouco nos cabelos, acrescentando alguns detalhes. A parte de sombra já está bem adiantada; agora basta ajustar um pouco por meio de veladuras, envolvendo bem as áreas (lembre-se: nas sombras vc. deve investir no mistério...). Então, alguns segmentos vc vai dissolvendo mais e outros deixa mais marcado para que a forma não se perca A imaginação do espectador completa o que é apenas insinuado...

aProfunDanDo as meias tintas e neutraliZanDo( coZinhanDo) o coloriDo

Nathalia: Continue enriquecendo as meias tintas, criando mais passagens, detalhando mais as áreas dos olhos e as áreas em volta deste, amaciando a linha do contorno do rosto junto à orelha e envolvendo mais a área dos cabelos nos tons do entorno.RN

entranDo na sintonia fina

Acho que a linha da passagem que contorna o rosto perto da orelha no plano de luz ainda está rígida. Os meios tons estão evoluindo, mas há necessidade de mais sutileza e detalhamento nas mesmas áreas que citei antes. Está chegando a hora de posicionar com atenção o brilho dos olhos. As regiões do pescoço e bochechas carecem de passagens mais sutis e os meios tons estão ainda meio duros. O tratamento dos cabelos agora está OK e os valores da área dos lábios estão justosRN

aProfunDanDo a sintonia fina

Nathy:Agora vc acertou a solução para a passagem do contorno do rosto perto da orelha. Funciona bem melhor assim de um jeito mais esfumado. O nariz está ficando bem modelado e se projeta à frente como tem que ser em toda pintura de cabeça, pois isso é decisivo. As áreas de luz no próprio nariz e ao lado pedem pequenos ajustes para que o brilho da ponta se destaque. A face está ficando bem modelada, mas ainda há certas durezas na área do queixo. E o brilho nas pupilas ainda precisa ser posicionado...Lembro que na técnica clássica de pintura os tons frios e acinzentados vão entrando aos poucos após os quentes, havendo a preocupação de se conseguir, ao final, uma unidade no conjunto do colorido.RN

ProceDimentos finais

Os brilhos nas pupilas ficaram ótimos e isso é muito importante, pois caso haja erro na intensidade dos mesmos; na sua localização e tamanho, todo o efeito de veracidade da representação dos olhos fica prejudicado e esses vão parecer ''vidrados''. O modelado das pálpebras e os meios tons em torno dos olhos estão justos. As ''bolsinhas'' embaixo dos olhos estão modeladas com sutileza, mas penso que subsiste umas durezas ainda na área do queixo e pescoço, assim como uma linha muito rígida no eixo da sombra embaixo da boca.RN

trabalho finaliZaDo

Acho que a tarefa foi cumprida com sucesso. Os problemas das passagens meio rígidas na área do queixo e pescoço foram resolvidos. Quanto ao resto, a resolução de meias tintas na luz está feita com sutileza, variações de tonalidades justas e correta relação de brilhos. As sombras executadas com simplicidade, assim como as roupas, ajudam a criar um poderoso efeito de conjunto ao final.RN

Detalhe

O detalhe mostra com clareza o belo trabalho de empastamentos.Parabéns Nathalia! Ricardo Newtonwww.ricardonewton.com

Pintura por:

Nathália Gomes

www.nathaliags.com