deepwater horizon um desastre neoliberal

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Um desastre neoliberal? O artigo publicado ontem (14/06) no "Los Angeles Times", em cima do muro e superficial como não poderia deixar de ser, acaba por mostrar que o pior desastre ambiental da História dos EUA - a explosão da plataforma "Deepwater Horizon" e o derramamento sem controle de milhares de barris de petróleo diariamente no Golfo do México - é fruto direto do "novo paradigma organizacional" levado ao extremo na indústria de petróleo, com terceirizações e subcontratações em camada. Vejam abaixo, nesta tradução de pé quebrado: Plataformas com bandeira estrangeira driblam as regras de segurança dos EUA A responsabilidade pelas inspeções de segurança da Deepwater Horizon era das Ilhas Marshall, não dos EUA LA Times, 14/06/2010 Washington – A plataforma de petróleo Deepwater Horizon, que explodiu no Golfo do México, foi construída na Coréia do Sul e era operada por uma companhia suíça, contratada por uma empresa de petróleo britânica. A responsabilidade principal pela segurança e outras inspeções não era do governo dos EUA, mas sim das Ilhas Marshall – uma minúscula e pobre nação do Oceano Pacífico. Por sua vez, as Ilhas Marshall, um labirinto de atóis minúsculos, muitos deles menores do que a malsinada plataforma de petróleo, subcontratavam muitas das suas responsabilidades com empresas privadas. Agora, enquanto o governo dos EUA tenta descobrir o que deu errado na pior catástrofe ambiental da história do país, esta colcha de retalhos de autoridade internacional dividida e com prioridades por vezes conflitantes está a emergir como um fator fundamental subjacente à explosão da plataforma. De acordo com a lei internacional, plataformas de petróleo offshore, como a Deepwater Horizon, são tratadas como navios, e seus proprietários estão autorizados a "registrá- las” em lugares improváveis, como as Ilhas Marshall, o Panamá e a Libéria – o que limita o papel do governo dos EUA no controle e na fiscalização da segurança e demais padrões operacionais. "Hoje, essas plataformas de petróleo podem operar sob padrões diferentes e mínimos para inspeção estabelecidos pelos tratados marítimos internacionais", disse o deputado

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artigo do LA Times

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Page 1: Deepwater Horizon Um Desastre Neoliberal

Um desastre neoliberal?

O artigo publicado ontem (14/06) no "Los Angeles Times", em cima do muro e superficial como não poderia deixar de ser, acaba por mostrar que o pior desastre ambiental da História dos EUA - a explosão da plataforma "Deepwater Horizon" e o derramamento sem controle de milhares de barris de petróleo diariamente no Golfo do México - é fruto direto do "novo paradigma organizacional" levado ao extremo na indústria de petróleo, com terceirizações e subcontratações em camada. Vejam abaixo, nesta tradução de pé quebrado:

Plataformas com bandeira estrangeira driblam as regras de segurança dos EUA A responsabilidade pelas inspeções de segurança da Deepwater Horizon era das Ilhas Marshall, não dos EUA

LA Times, 14/06/2010

Washington – A plataforma de petróleo Deepwater Horizon, que explodiu no Golfo do México, foi construída na Coréia do Sul e era operada por uma companhia suíça, contratada por uma empresa de petróleo britânica. A responsabilidade principal pela segurança e outras inspeções não era do governo dos EUA, mas sim das Ilhas Marshall – uma minúscula e pobre nação do Oceano Pacífico.

Por sua vez, as Ilhas Marshall, um labirinto de atóis minúsculos, muitos deles menores do que a malsinada plataforma de petróleo, subcontratavam muitas das suas responsabilidades com empresas privadas.

Agora, enquanto o governo dos EUA tenta descobrir o que deu errado na pior catástrofe ambiental da história do país, esta colcha de retalhos de autoridade internacional dividida e com prioridades por vezes conflitantes está a emergir como um fator fundamental subjacente à explosão da plataforma.

De acordo com a lei internacional, plataformas de petróleo offshore, como a Deepwater Horizon, são tratadas como navios, e seus proprietários estão autorizados a "registrá-las” em lugares improváveis, como as Ilhas Marshall, o Panamá e a Libéria – o que limita o papel do governo dos EUA no controle e na fiscalização da segurança e demais padrões operacionais.

"Hoje, essas plataformas de petróleo podem operar sob padrões diferentes e mínimos para inspeção estabelecidos pelos tratados marítimos internacionais", disse o deputado

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James L. Oberstar, presidente da Comissão de Transportes da Câmara dos Deputados dos EUA.

Alguns especialistas em perfuração offshore, bem como alguns dos sobreviventes da explosão que acabou por resultar no derramamento maciço de óleo [ora em curso], afirmam que o registro em outro país permite a adoção de estruturas de comando confusas e com pouco pessoal responsável – fatores que podem ter contribuído para o desastre.

Membros graduados do Congresso – incluindo Oberstar e o presidente da Comissão de Recursos Naturais, Nick J. Rahall II – lançaram seu olhar para as inspeções e as questões de pessoal. A subcomissão da Câmara para a Guarda Costeira e Transporte Marítimo vai realizar uma audiência quinta-feira sobre plataformas de bandeira estrangeira no Golfo do México.

Os diferentes tipos de plataforma têm classificações diferentes, e as Ilhas Marshall atribuíam à Deepwater Horizon uma classe que permitia a contratação de pessoal em menor quantidade.

“Ao longo dos anos, o efetivo foi sendo mais e mais reduzido", disse Douglas Harold Brown, mecânico-chefe a bordo da Deepwater Horizon, que foi trabalhar na plataforma pouco depois de ela ter sido fabricada em 2000. "Creio que isto acabou por comprometer a segurança", disse ele em entrevista.

O advogado de Brown e outros dizem que as Ilhas Marshall licenciaram a Deepwater Horizon de tal maneira que permitiram ao operador – a Transocean Ltd. – fazer com que um especialista em perfuração de – o gerente de exploração offshore – tomasse a frente de um comandante de marinha na tomada de decisões no dia em que a explosão ocorreu. “A duplicidade de comando criou uma confusão que acabou por retardar uma resposta eficaz à crise que se desenvolvia a bordo”, acusam.

Funcionários da Transocean e das Ilhas Marshall negam as acusações. Eles dizem que cumpriram todos os requisitos da lei e que os padrões mais estritos da indústria de exploração de petróleo, bem como os da Guarda Costeira dos EUA, foram atendidos.

Brian Kennedy, porta-voz da Transocean, diz que as acusações são "flagrantemente infundadas e incendiárias". A desorganização relatada por membros da tripulação que sobreviveram à explosão da Deepwater Horizon foi o resultado de um desastre trágico e

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inesperado, e não o reflexo de deficiências de pessoal ou segurança por parte da Transocean, disse Kennedy. "No balanço geral, penso que o fato de que 115 pessoas saíram vivas da plataforma naquela noite será visto como um testemunho do treinamento, da habilidade e dos atos heroicos de dezenas de membros da tripulação", afirmou.

O vice-ministro do transporte marítimo das Ilhas Marshall, Thomas Heinan, disse que os requisitos de tripulação a bordo da Deepwater Horizon eram "iguais aos dos EUA e em conformidade com as normas internacionais".

Uma plataforma de petróleo em águas profundas flutua muito acima do poço, ligada a este por milhares de metros de tubulação, e é mantida na posição por propulsores e por sofisticados sistemas de navegação.

Desde a Segunda Guerra Mundial, milhares de navios e plataformas estadunidenses e de outros países industrializados têm sido registrados em nações menos desenvolvidas, como as Ilhas Marshall.

Alguns membros do Congresso estão expressando preocupação sobre as Ilhas Marshall e outros países que terceirizam suas responsabilidades de inspeção a empresas privadas. Membros da Guarda Costeira confirmam que os procedimentos de inspeção mais rigorosa se limitam a um número relativamente pequeno de plataformas registradas nos EUA.

Navios estrangeiros são inspecionados pela Guarda Costeira, mas a fiscalização é relativamente superficial e baseada em relatórios de inspeção elaborados por empresas externas, pagas diretamente pelos proprietários do navio.

O Serviço Federal de Gestão Mineral (Federal Minerals Management Service), que também tem um papel na supervisão das operações de exploração marítima de petróleo, trata apenas das questões "abaixo da linha d’água" da plataforma flutuante, não se responsabilizando por pessoal, estruturas de comando ou outras questões operacionais da parte emersa.

John Konrad, um comandante aposentado e que publica um blog marítimo, trabalhando atualmente como consultor para os sobreviventes da explosão, disse que as plataformas petrolíferas deveriam estar sob o comando de comandantes de marinha. "Na Deepwater

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Horizon você tinha o cara que era responsável pela perfuração tomando decisões sobre a segurança”, disse.

Essa duplicidade de comando não seria aceita para plataformas de bandeira estadunidense, dizem especialistas.

O comandante da Deepwater Horizon testemunhou a investigadores, no mês passado, que ele teve que consultar o gerente de perfuração antes de tentar desconectar a plataforma do poço. Quando finalmente um membro da tripulação decidiu por conta própria realizar a desconexão emergencialmente, já era tarde demais.

Kennedy, o porta-voz da Transocean, disse: "O fato de existirem duas posições complementares de comando, que refletem a dupla funcionalidade da plataforma, como a Deepwater Horizon, cria uma visível cadeia de comando colaborativo, e esta configuração tem sido empregada pela indústria ao longo de décadas”. Porém, Steven Gordon, um advogado marítimo em Houston que representa Brown, seis outros sobreviventes e os familiares de um dos 11 trabalhadores mortos na explosão, afirmou: "Esta forma de trabalho custou vidas humanas”.

"Isso gerou desorganização e confusão na Deepwater Horizon no momento em que estas se faziam mais necessárias", disse.

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