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Tatyana Mabel Nobre Barbosa Claudianny Amorim Noronha Estágio Supervisionado DISCIPLINA Módulo de orientação Autoras O período de observação da escola: criando um outro olhar sobre os espaços, sujeitos e ações de uma antiga conhecida nossa 03

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Tatyana Mabel Nobre Barbosa

Claudianny Amorim Noronha

Estágio SupervisionadoD I S C I P L I N A

Módulo de orientação

Autoras

O período de observação da escola:

criando um outro olhar sobre os espaços,

sujeitos e ações de uma antiga conhecida nossa

03

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Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da UFRN

- Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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- Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEEDCarlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitoraÂngela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a DistânciaVera Lúcia do Amaral

Secretaria de Educação a Distância- SEDIS

Coordenadora da Produção dos MateriaisMarta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Coordenador de EdiçãoAry Sergio Braga Olinisky

Projeto Gráfi coIvana Lima

Revisores de Estrutura e LinguagemJanio Gustavo Barbosa

Eugenio Tavares Borges

Thalyta Mabel Nobre Barbosa

Revisora das Normas da ABNTVerônica Pinheiro da Silva

Revisoras de Língua PortuguesaJanaina Tomaz Capistrano

Sandra Cristinne Xavier da Câmara

Revisor TécnicoLeonardo Chagas da Silva

Revisora Tipográfi caNouraide Queiroz

IlustradoraCarolina Costa

Editoração de ImagensAdauto Harley

Carolina Costa

DiagramadoresBruno de Souza Melo

Ivana Lima

Johann Jean Evangelista de Melo

Mariana Araújo de Brito

Adaptação para Módulo MatemáticoJoacy Guilherme de A. F. Filho

Imagens UtilizadasBanco de Imagens Sedis

(Secretaria de Educação a Distância) - UFRN

Fotografi as - Adauto Harley

Stock.XCHG - www.sxc.hu

Barbosa, Tatyana Mabel Nobre.

Estágio supervisionado interdisciplinar / Tatyana Mabel Nobre Barbosa, Claudianny Amorim Noronha. –

Natal, RN: SEDIS, 2008. 11v

224 p.

1. Estágio supervisionado. 2. Formação de professores. 3. Educação. I. Noronha, Claudianny

Amorim. II. Título.

ISBN: 978-85-7273-489-9

CDD 370.733

RN/UF/BCZM 2008/109 CDU 371.133

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado 1

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Apresentação

Neste módulo, apresentaremos as etapas e requisitos para o período de observação da

escola. Não pretendemos esgotar as possibilidades de leitura da sua infra-estrutura,

do seu projeto político pedagógico e das características dos professores e alunos da

instituição. Os relatos dos ex-estagiários e nossos, enquanto, Professoras Orientadoras, aqui

retomados, buscam oferecer uma fatia da riqueza de episódios, ritos e gestos da escola. Eles

podem não reproduzir as mesmas cenas que você encontrará, mas visam convidá-lo a propor

uma nova lente para olhar a escola, sem clichês ou estereótipos.

Nesse sentido, neste módulo, partiremos dos seus conhecimentos prévios sobre a escola,

para orientar observações e registros sobre alguns elementos da instituição escolar. Para isso,

trabalharemos com a noção de observação participante, que permitirá a você aprender a

observar a escola e participar da sua rotina; e orientaremos a elaboração do diagnóstico, com

base em sugestões de observação e da escrita de si, através do diário de campo.

Conteúdos

Orientações referentes ao processo de observações dos

espaços, infra-estrutura e condições materiais da escola

campo de estágio.

Orientações referentes ao processo de análise do Projeto

Político Pedagógico e do papel da equipe técnica e

gestores.

Orientações referentes ao processo de observação e

análise do trabalho dos professores e das características

dos alunos.

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado2

Sugestão de atividade

Retome suas memórias de escola

Antes de iniciar suas observações, elabore um relato sucinto em que você

apresente sua visão da escola, seja a visão que construiu como aluno ou a

que elaborou ao longo da sua vida docente. Você também poderá retomar as

observações que realizou na disciplina Educação e Realidade, orientadas nas

aulas 12 (Desafi os da escola hoje), 13 (O aluno) e 14 (A aprendizagem e o ensino),

e listar os pontos que considera que devem ser analisados ao se observar a

escola.

Ao fi nal deste módulo, voltaremos ao seu relato.

De volta à escola: orientações para

iniciar a observação participante

Como elaborar um plano de trabalho para ser desenvolvido no Estágio? O que é importante

para a escola? Como a minha disciplina pode colaborar com as expectativas/necessidades de

aprendizagem dos alunos? Com quais recursos e pessoas posso contar?

Essas são algumas questões que, certamente, você se colocará ao iniciar seu

planejamento de trabalho. Mas, elas não podem ser respondidas sem que se compreendam

os sentidos atribuídos por essa escola às suas próprias ações, aos seus sujeitos e espaços.

Por isso, será fundamental que, no início do estágio, você organize sessões de observação participante na escola.

Como observar a escola

O termo observação participante é originalmente usado na pesquisa científi ca das

ciências humanas, caracterizando a ação do pesquisador em vivenciar a própria

realidade que pesquisa e não apenas não realizar uma observação distanciada do

seu objeto de pesquisa. Assim, utilizaremos a expressão sessões de observação participante para denominar os diversos momentos em que o estagiário for

observar a escola, pois entendemos que essa observação não é feita com um

olhar distanciado, mas com uma postura gradualmente participativa:

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado 3

[...] quem observa o faz de um certo ponto de vista, o que não situa o observador

em erro. O erro na verdade não é ter um certo ponto de vista, mas absolutizá-lo e

desconhecer que, mesmo do acerto de seu ponto de vista é possível que a razão

ética nem sempre esteja com ele. (FREIRE, 2006, p. 14)

Por isso, a leitura da escola, realizada em função dessas sessões, será

fundamental para a seleção dos aspectos metodológicos a serem adotados no

desenvolvimento do estágio, dos conteúdos, objetivos de trabalho, bem como

da compreensão das relações estabelecidas entre seus sujeitos, as cobranças

mútuas, os acordos éticos que delimitam as normas e trocas entre as diferentes

instâncias que compõem a escola.

Nesse sentido, quando orientamos que você realize sessões de observação participante,

sugerimos que agende encontros em uma escola, na qual, em princípio, deseje estagiar e em

que procure:

conversar com as pessoas para compreender que valor dão ao próprio

trabalho;

freqüentar os diferentes espaços da escola e, aos poucos, compartilhar/

compreender as práticas ali desenvolvidas;

avaliar como pode ser desenvolvido o seu estágio e quais expectativas a

escola tem em relação a sua participação.

Como a escola é um espaço que você freqüentou ao longo de muitos anos (seja como aluno

ou como professor), nela, você aprendeu não apenas os conteúdos curriculares propriamente,

mas, recolheu elementos essenciais para avaliar o que é ser um “bom” professor, quais

metodologias de ensino são mais efi cientes, em que medida a infra-estrutura da escola é relevante

para o trabalho pedagógico que nela se realiza, dentre outros aspectos.

Por isso, ao realizar essas sessões de observação participante, lembre-se das imagens

que você construiu da escola quando aluno e retome essa experiência que você tem da sala

de aula para questioná-la e (re)elaborar novas leituras sobre velhos espaços.

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado4

Como ofi cializar seu estágio

Antes de iniciar suas observações, é necessário encaminhar três documentos à escola:

um ofício, solicitando o desenvolvimento dessa atividade; o termo de compromisso

do estagiário, em que você dá ciência acerca da sua participação; e uma fi cha com

dados para contato, a fi m de facilitar a comunicação com a escola. Ao chegar à escola, lembre

de procurar o Supervisor de Estágio ou Diretor, ele será o responsável em encaminhá-lo ao

Professor Colaborador.

Veja no Fichário do Estágio:

o ofício para formalização do Estágio

na escola;

o termo de compromisso do estagiário;

a fi cha de dados para contato.

No Fichário do Estágio, você terá duas vias de cada documento: o ofício deve ser assinado

pelo Tutor de Estágio; o termo de compromisso e a fi cha de dados assinados por você. Uma cópia

de cada documento deve fi car na escola e a outra deve ser entregue ao Tutor de Estágio com os

respectivos vistos dos responsáveis pelo acompanhamento, seguida da data de recebimento do

documento, comprovando a formalização do estágio e a ciência das informações.

Caso seja necessário mudar de escola durante o semestre, ou não seja possível

permanecer na mesma escola ao longo dos três estágios, é essencial que você comunique o

Tutor de Estágio, ele irá avaliar o seu desligamento da escola campo de estágio e entrar em

contato com a mesma. Posteriormente, o Tutor de Estágio encaminhará você para outra escola,

enviando um ofício à nova escola.

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado 5

O que observar na escola

Com a formalização das observações, você deve está se perguntando: quantos dias

serão necessários para que eu compreenda os sentidos da escola? O que devo, objetivamente,

observar? Como devo registrar minhas impressões?

Ao iniciar as observações, é possível que você se sinta em meio a um turbilhão de

perguntas, as quais serão fundamentais para que comece a organizar seu diagnóstico

sobre a escola. Assim, sugerimos que você esteja atento a 4 pontos básicos para nortear

suas observações:

aspectos materiais, físicos e sócio-econômicos da escola;

corpo discente: expectativas e possibilidades de aprendizagem;

corpo docente: formação, planejamento, avaliação e concepções;

direção e equipe técnica: organização das ações e seu projeto político pedagógico.

Esses aspectos são fundamentais, uma vez que, a partir deles, é possível compreender

a relevância que têm as diferentes dimensões da escola para o seu estágio supervisionado e

para suas atuações futuras como professor.

A leitura dos aspectos materiais, físicos e sócio-econômicos pode lhe permitir analisar

de que modo os espaços da escola são organizados, estruturados e em que medida isso traduz

valores ou condições específi cas de trabalho. Seus momentos de observação participante,

certamente, serão muito ricos quando se voltarem para os alunos e professores, quando você

observará como eles tecem seus planos de trabalho, quais as suas expectativas em relação à

escola e em que medida vinculam a rotina de trabalho a suas experiências pessoais. Lançar seu

olhar sobre as formas de gestão de ações e a organização do projeto político pedagógico

da escola deve lhe possibilitar interpretar seu funcionamento, papéis estabelecidos e normas

partilhadas pela comunidade da escola e com quem ela interage.

Como vê, a observação participante deverá ser um momento rico, favorecendo-o a

redescobrir e participar da vida na escola. Por isso, para melhor analisar cada um desses

aspectos, podem ser necessárias diversas sessões de observação participante e, além

disso, você poderá identifi car elementos que mereçam ser analisados e que não estavam

especifi camente mencionados nas nossas sugestões de observação: aspectos religiosos,

eventos comemorativos, trabalhos realizados junto à comunidade extra-escolar etc.

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado6

Como elaborar o diagnóstico da escola

É importante que o conjunto das sessões de observação lhe permita

construir um diagnóstico da escola capaz de desmistifi car estereótipos e visões

generalizantes sobre sua rotina e práticas desenvolvidas. Por isso, consideramos

que para esse objetivo ser realizado é necessária uma continuidade da sua

presença na escola e a sistematização das observações.

Para fazer o diagnóstico, precisamos ir além da estatística e dos dados

numéricos. Necessitamos verificar a escola viva, funcionando. É o

movimento acontecendo na entrada dos alunos, no pátio, na sala de aula,

na hora do recreio, na saída [...]. (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 224).

Portanto, nessa fase inicial de observações, seja continuamente presente

na escola, sensibilizando seu olhar para compreender os fatores implícitos que

mobilizam as escolhas, indefi nições e posições assumidas pelos membros da

comunidade escolar acerca da sua organização, funcionamento e planejamento

de ações; esteja atento para identifi car as representações que esses sujeitos têm

sobre suas metodologias de trabalho e o seu papel pedagógico.

Para isso, é importante olhar para as pequenas coisas dessa escola: a cara

nova que os alunos dão ao uniforme; os assuntos que são debatidos na sala

dos professores no horário do intervalo e os que são pauta das reuniões; como

o porteiro vê a chegada e saída de cada um, de onde vêm e como voltam para

casa... São essas particularidades, ocultas nos currículos e programas, invisíveis,

muitas vezes, nos documentos institucionais, que serão fundamentais para que

você identifi que e analise como a escola assume movimentos particulares diante

de ritos já consagrados nas suas práticas.

Para construir esse diagnostico, é necessário observar e registrar tais

observações. Nesse sentido, veja a seguir o roteiro que sugerimos para orientá-

los nas suas observações e os encaminhamentos que damos a fi m de orientar

os registros dessas observações.

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado 7

Como registrar suas observações: o

diário de campo como narrativa de si

O diário de campo é um instrumento muito importante para o estágio supervisionado.

Trata-se de uma escrita não somente sobre a escola, mas, principalmente de como

o estagiário se vê, como atua, quais suas impressões e questionamentos e de como

relaciona essas novas aprendizagens experienciais com sua formação docente. Por isso, o

diário é, sobretudo, uma escrita de si, onde o estagiário, ao mesmo tempo em que enxerga a

escola, constrói sua visão como agente nesse espaço:

[no diário,] A escrita da narrativa remete o sujeito para uma dimensão de auto-escuta de si

mesmo, como se estivesse contando para si próprio suas experiências e as aprendizagens

que construiu [...], através do conhecimento de si. (SOUZA, 2006, p. 47).

Essa escrita do diário de campo deve ser realizada após cada dia de observação (e de

aula ministrada). Nesse diário, você deve escrever suas impressões, “guardar” as pequenas

descobertas, lançar perguntas, dúvidas e novas orientações para o seu próprio trabalho de

observação, não sendo, portanto, um texto pronto e acabado.

Essas anotações, embora aparentemente esparsas e desconexas, depois se revelarão em

férteis elementos para acompanhar a evolução da sua visão acerca da escola, para elaborar

seu diagnóstico e sua auto-avaliação durante o estágio e, sobretudo, se constituirão numa

espécie de rastro da sua formação.

Esclarecemos que os diários de campo e trabalhos de final de estágio (ensaio

autobiográfi co) que ilustram este módulo foram produzidos por alunos do curso Letras da

UFRN em situação de estágio exigido nas disciplinas Práticas de Ensino de Língua Portuguesa e

Literatura (EDU-685, 686), ofertadas pelo Departamento de Educação. No sentido de preservar

a identidade dos sujeitos e da escola, as menções a esses materiais serão feitas apenas ao

longo deste módulo e não constam em suas referências.

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado8

Para facilitar suas observações e registros, sugerimos, ao longo deste módulo, alguns

roteiros de observação, a fi m de orientar o seu olhar sobre os principais pontos a serem

observados na escola e, conseqüentemente, para nortear sua escrita no diário de campo.

Vale lembrar que não nos cabe julgar ou acusar a escola! A observação participante

e seus registros não são somente instrumentos de análise, interpretação e

identifi cação de pontos que precisarão ser revistos ou retomados em seu estágio

supervisionado, mas são, sobretudo, instrumentos para sua formação.

Nesse sentido, é fundamental assumir uma postura ética e compreender que a escola não

é apenas um lugar de ensino-aprendizagem, mas uma instituição que atuará signifi cativamente

na sua formação como professor, seja ao longo do seu estágio supervisionado, seja ao longo

da sua vida docente.

Diário de Campo

Em primeiro lugar, as necessidades infra-estruturais da escola [...], segundo as

orientadoras pedagógicas que ciceronearam a visita e esclareceram os mais diversos

questionamentos, são a implementação de laboratórios de ciências e de informática

e a construção de uma quadra de esportes.

Tais reivindicações tornam-se ainda mais pontuais diante das prioridades

da inclusão digital, das aulas práticas de química e física e da prática ordenada e

indispensável de modalidades esportivas. [...]

Em relação ao capital humano encontrado na escola, constatou-se uma forte

interação entre professores, técnicos e alunos, bem como um ambiente propício

para o diálogo, o bom humor e para o comprometimento com os bens físicos e

intelectuais dos educandos. Esses, segundo informações dos gestores educacionais,

costumam comportar-se de forma ordeira, ocorrendo, de quando em vez, episódios

conturbadores, coisa comum no ambiente escolar extra-classe. De acordo com uma

supervisora, a demanda docente é na área de matemática.

Foi comovente identifi car, no mesmo espaço escolar, discursos díspares

tanto de indignação, quanto de paixão pela profi ssão de professor. Os depoimentos

alternaram-se entre frágil e desiludida condição profi ssional, passando pela baixa

auto-estima como educador, até as mais espontâneas e desprendidas demonstrações

afetivo-emocionais em relação à educação [...]

A recepção e atenção de todos que cruzaram nosso caminho deixaram

impermeabilizada a impressão de que ainda há jeito para a escola pública, uma

imperecível esperança para a educação de nossos jovens. [...] Em frente, sempre.

(SILVA, 2007, diário de campo)

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado 9

O que observar dos aspectosmateriais, físicos e sócio-econômicos da escola

Durante nossa experiência como Professoras Orientadoras de Estágio, vimos, muitas

vezes, alunos e professores atribuírem sentidos às dimensões espaciais, físicas e

materiais da escola. Certa vez, ao acompanharmos um estagiário numa escola pública,

situada num bairro nobre da zona sul da cidade de Natal-RN, observamos que seus alunos

cuidavam meticulosamente da aparência: as meninas usavam muitas pulseiras e colares, eram

perfumadas e maquiadas e tinham penteados variados, feitos com um fi no acabamento; os

meninos usavam acessórios metálicos e cabelos de corte moderno, adotando um estilo em

sintonia com o visual de uma classe social específi ca.

Com aquela imagem de meninos e meninas que se esforçavam para se assemelhar a

uma classe sócio-econômica distinta da periferia onde moravam, começamos a nos interrogar

onde buscaram aquelas referências e por que aquele era um valor tão signifi cativo para eles.

Obtivemos essa “resposta” ao atravessar a porta de saída da escola: o bairro onde ela se situava

não só era de classe média alta, como em seu entorno estavam as butiques mais luxuosas

da cidade. Entendemos que aquelas crianças, que tinham de 11 a 15 anos, se empenhavam

em fazer efetivamente parte daquela paisagem, em pertencer àquele mundo em que a escola

estava “inserida”.

Nesse caso, era fundamental que o estagiário estivesse atento à ligação entre as

dimensões material e física da escola e o perfi l sócio-econômico real, tomado como referência

pelos alunos. Certamente, no sentido atribuído por eles a essa escola pesava o seu papel como

mediadora de diferentes esferas sociais. Hipótese que se confi rmou ao sabermos da direção que

as famílias se esforçavam em lá conseguir uma vaga para seus fi lhos “por ser um lugar seguro”,

“por ser um outro ambiente”, “pelas boas amizades que poderiam fazer”, como diziam os pais.

Como vê, esses aspectos mais materiais da escola (local, organização dos seus espaços,

recursos etc.) podem lhe trazer pistas importantes acerca das expectativas e possibilidades

de ensino e de aprendizagem dos alunos e professores. Diante dessa leitura da escola, duas

perguntas seriam fundamentais para nortear seu estágio supervisionado: em que medida

minha atuação pode se benefi ciar por conhecer as expectativas desses pais e alunos acerca

da escola? Como posso colaborar para que os alunos retomem suas aprendizagens escolares

para ler criticamente sua realidade?

No entanto, esse é apenas um dos elementos que pode ser observado por você, mas outros,

certamente, serão igualmente importantes para elaborar uma leitura coerente sobre a escola

selecionada. Nos diários de campo dos nossos estagiários, por exemplo, é muito recorrente

o levantamento dos itens existentes e disponíveis na escola: se tem máquina copiadora, se

disponibiliza recursos alternativos (cartolina, cola, tesoura etc.), se há assento para todos os

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado10

alunos, se a ventilação da sala e sua localização em relação às demais dependências da escola

é adequada, como é o acervo da biblioteca e seu gerenciamento etc.

Ambos os diários de campo seguem analisando em que medida esses fatores – falta

de estrutura material e organização dos espaços na escola – pesaram ou pesariam no

desenvolvimento da sua atuação como professores. No primeiro caso, a estagiária questionava

se as difi culdades de leitura e escrita dos alunos não seriam ainda mais ratifi cadas tendo em

vista a falta de legibilidade do material e o espaço insufi ciente para o desenvolvimento de suas

produções de texto. Os comentários do segundo diário seguem comparando essa escola, em

que as salas de aula são seqüenciadas, com outra em que estagiou, onde a integração com o

pátio o fazia interromper constantemente sua aula para “controlar” as portas e janelas e evitar

dispersão dos alunos.

Diário de Campo

[...] [ao ver a prova elaborada pela professora] pude então perceber as difi culdades com as quais os professores do ensino público se defrontam a cada dia: a prova era mimeografada [...]. As questões eram elaboradas numa única folha, onde os espaços entre elas era mínimo, também pelo mesmo motivo econômico. Penso que isso acaba limitando a criatividade do professor e do aluno, levando ambos a produzirem perguntas e respostas também limitadas.

(AZEVEDO, 2006, diário de campo)

Diário de Campo

[...] Outro fator que ao meu ver contribuiu para um melhor andamento [do estágio] foi a distribuição das salas de aula, que fi cavam seqüenciadas em corredores, evitando muita aglomeração de alunos.

(MIRANDA, 2006, diário de campo).

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado 11

Sugestão de atividade

Essas condições materiais, infra-estruturais e sócio-econômicas levam professores

a questionar permanentemente as instâncias responsáveis e/ou a buscar alternativas para

não penalizar o próprio trabalho ou abrir mão de suas convicções. Por outro lado, para os

estagiários, o processo de observação participante permitia compreender esses problemas

como uma “fatia ínfi ma de uma prática profi ssional mais prolongada” (AZEVEDO, 2006, diário

de campo). Entendiam, com isso, que apenas a permanência prolongada na escola possibilitaria

a aprendizagem de estratégias e elaboração de um planejamento coerente com as demandas

e possibilidades da escola.

Observação e registro dos aspectos materiais,

físicos e socioeconômicos da escola

Sugerimos, no roteiro de observação, alguns pontos para nortear as sessões de

observação participante. Agende com seu Tutor de Estágio e Professor Colaborador

o período necessário para a realização das etapas de observação e escreva no diário

de campo suas impressões sobre aqueles pontos presentes no roteiro e observados

na escola. Antes de observar e escrever, confi ra nossas orientações a seguir.

Roteiro para observação participante Diário de Campo

1) sobre a localização da escola: observe

o bairro onde se localiza (periferia, zona

rural, centro etc.); as condições de acesso;

a proximidade de centros comunitários,

comércio, residências.

Na sua escrita, não é necessário seguir a

ordem do roteiro, mas é preciso fi car atento

para que seu diário relate e analise os pontos

sugerimos aqui.

É possível que elementos novos surjam.

Caso eles sejam pertinentes, não deixe de

registrá-los, pois serão importantes para o

planejamento das suas atividades da escola.

Procure avançar seu olhar acerca dos

elementos materiais e físicos da escola para

além de uma descrição puramente quantitativa

(total de salas de aula, de professores, de

computadores etc.). É importante que, nesse

período de observação, você possa fazer uma

imersão gradual na escola e compreender

o que signifi ca sua localização ser onde é,

sua infra-estrutura ser como é, seu perfi l

socioeconômico ser como é.

2) sobre a infra-estrutura da escola: descreva

as dependências da escola; profissionais

lotados, provisórios e terceirizados; identifi que

quais as áreas/setores que têm carência de

pessoal; total de alunos que atende; recursos e

tecnologia disponíveis; observe se há materiais

didáticos sufi cientes, fardamento, refeição no

turno letivo.

3) sobre o perfi l socioeconômico: observe as

atividades que desenvolve junto à comunidade;

perfi l do público de alunos e professores;

problemas sociais que repercutem na escola

(gravidez juvenil, uso de entorpecentes,

relações familiares etc.).

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado12

O que observar dos alunos,suas expectativas e possibilidades de aprendizagem

[...] quem aprende ensina ao aprender.

(FREIRE, 2006, p. 23)

Em princípio, a observação da escola e, especialmente dos alunos, pode apresentar vários

desafi os e perguntas que poderão ser, ao longo do seu estágio, redimensionadas. Muitos

dos nossos estagiários apontaram o reconhecimento das formas de interação com a

turma, bem como a contribuição para suas necessidades e possibilidades de aprendizagem

como aspectos fundamentais para o desenvolvimento do estágio. No entanto, parece

haver, inicialmente, um sentimento de incapacidade. “O que vou fazer com esse aluno?”

era uma pergunta que estava, muitas vezes, nos seus discursos durante os momentos em

que acompanhávamos o estágio. Por isso, quando você estiver diante da responsabilidade

de observar a sala de aula, verá que esse momento é, por vezes, envolto de expectativas e

ansiedades, como menciona uma estagiária:

Nos diários de campo dos estagiários há, normalmente, longas passagens em que

descrevem as situações de tensão em sala de aula e a preocupação em encontrar estratégias

para ganhar a atenção da turma em torno de um objetivo comum de trabalho. No entanto, ao

longo das observações, seus diários de campo já não focalizam exatamente esses problemas,

mas já identifi cam as soluções encontradas pelos professores colaboradores e o quanto

aprenderam com os alunos. Desse modo, nos trabalhos de fi nal de estágio, é comum que

tenham avançado do sentimento de caos e de falta de alternativa para fazer um balanço das

suas contribuições na realização das aprendizagens, como poderemos ver no trabalho fi nal

de Santos, mesma autora do diário de campo apresentado inicialmente:

Diário de Campo

Começo então a já me preocupar com alguns atritos que possivelmente surgirão entre mim e os alunos. Falo isso porque para poder desempenhar qualquer tipo de trabalho, acho indispensável algumas posturas básicas, como por exemplo, silêncio, disciplina e respeito para com quem está falando.

(SANTOS, 2006, diário de campo)

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado 13

Sugestão de atividade

Ao longo das suas observações, é possível que outros elementos chamem sua atenção:

a relação que os alunos se propõem a estabelecer com você, as difi culdades específi cas

de aprendizagem, o interesse por determinadas dinâmicas de trabalho em sala de aula, os

conhecimentos de mundo que têm e que possam ser pertinentes para o ensino de determinados

conteúdos, os modos como interagem nos momentos de recreação etc.

Observação e registro das expectativas

e possibilidades de aprendizagem dos alunos

Sugerimos, no roteiro de observação, alguns pontos para nortear as

sessões de observação participante. Agende com seu Tutor de Estágio e Professor

Colaborador o período necessário para a realização das etapas de observação

e escreva no diário de campo suas impressões sobre aqueles pontos presentes

no roteiro e observados na escola. Antes de observar e escrever, confi ra nossas

orientações a seguir.

Trabalho fi nal do Estágio Supervisionado

O desejo de contribuir, mesmo minimamente para a formação de meus alunos foi constante, desde o primeiro exercício de projeção no campo de estágio feito em sala de aula [na universidade], até o fi nal de minha regência. Queria mostrar-lhes como podem perceber o valor da educação e atribuir sentido para os vários assuntos que estudam na escola. Desejo contribuir para que eles atribuam funcionalidade. Queria provocá-los, instigá-los, requisitar sua adesão à causa do conhecimento.

(SANTOS, 2006, ensaio auto biográfi co).

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado14

Roteiro para observação participante Diário de Campo

1) perfi l do aprendiz pelo professor: identifi que como

o professor define os alunos, quais as principais

difi culdades apontadas sobre a sala de aula, o que

considera fundamental para o trabalho com o aluno. Na sua escrita, não é necessário seguir a

ordem do roteiro, mas é preciso fi car atento

para que seu diário relate e analise os pontos

que aqui sugerimos.

É possível que elementos novos surjam.

Caso eles sejam pertinentes, não deixe de

registrá-los, pois serão importantes para o

planejamento das suas atividades na escola.

Procure elaborar o perfi l do aluno a partir do

confronto das visões dos diferentes sujeitos,

inclusive ao observar a sala de aula. Converse

com seu Professor Colaborador para realizar

observações durante as aulas. Aos poucos

sua presença vai deixando se ser “estranha”

aos alunos e você poderá identificar suas

especifi cidades de aprendizagem. A escrita

minuciosa dessas observações lhe permitirá

planejar suas ações em consonância com as

possibilidades e expectativas de aprendizagem

dos seus alunos. Escreva as suas impressões,

as inferências que você faz a partir das

afirmações de cada um quando falam do

aluno.

2) perfi l do aprendiz pela direção e equipe técnica: identifi que como a direção e equipe técnica defi nem

o aluno, o tipo de observação e acompanhamento que

realizam, as difi culdades que observam etc.

3) perfi l do aprendiz em sua turma: em grupo, na sala

de aula, os alunos formam o que chamamos de turma.

Observe como interagem com o professor e com os

colegas, em que medida se concentram/dispersam

em sala de aula, quais as difi culdades/avanços, como

participam das dinâmicas escolares, sua assiduidade,

pontualidade etc.

4) perfil do aprendiz por ele mesmo: identifique,

em conversas com os alunos, sua classe social,

o papel que a família atribui à escola; como se

relacionam entre si, quais critérios usam para formar

os grupos, quais são suas principais difi culdades

de aprendizagem, quais os métodos de ensino e

conteúdos que são mais apreciados por eles, como

vêem a presença do estagiário na escola, quais

expectativas desenvolveram em relação ao seu

trabalho etc.

O que observar dos professores

colaboradores: sua formação,

planejamento, avaliação e concepções

Quem ensina aprende ao ensinar [...]

(FREIRE, 2006, p. 23)

Nos diários de campo e nos textos de conclusão do Estágio Supervisionado, a fi gura

dos professores do tempo de escola é, quase sempre, uma das principais referências

para a vida profi ssional. Muitos estagiários relatavam a retomada das práticas dos

seus professores de escola nas metodologias adotadas, na avaliação dos alunos, dentre outros

aspectos. Isso se justifi ca porque o professor tem contato com seu objeto de trabalho – o

ensino-aprendizagem – não apenas na sua formação acadêmica, mas ao longo de sua vivência

como aluno, em que as marcas da escola são muito signifi cativas.

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado 15

Ao longo deste módulo, procuramos exemplifi car diversas situações do estágio a partir

dos registros escritos de estagiários como vocês, para que fosse possível a sua compreensão

dos sentidos e vivências de quem se inicia na docência quando assistida por vários sujeitos

(tutor, professores etc.). Mas, há um relato muito especial de um grande mestre – Paulo Freire

– que reforça ainda mais que a escola é um lugar no qual quem aprende, aprende também

como ser professor:

[...] Às vezes, mal se imagina o que pode passar a representar na vida de um

aluno um simples gesto do professor. O que pode um gesto aparentemente

insignifi cante valer como força formadora ou como contribuição à do educando

por si mesmo. Nunca me esqueço, na história já longa de minha memória, de

um desses gestos de professor que tive na adolescência remota. Gesto cuja

signifi cação mais profunda talvez tenha passado despercebida por ele, o professor,

e que teve importante infl uência sobre mim. Estava sendo, então, um adolescente

inseguro, vendo-me como um corpo anguloso e feio, percebendo-me menos

capaz do que os outros, fortemente incerto de minhas possibilidades. Era muito

mais mal-humorado que apaziguado com a vida. Facilmente me eriçava. Qualquer

consideração feita por um colega rico da classe já me parecia o chamamento à

atenção de minhas fragilidades, de minha insegurança.

O professor trouxera de casa os nossos trabalhos escolares e, chamando-nos

um a um, devolvia-os com o seu ajuizamento. Em certo momento me chama e,

olhando ou re-olhando o meu texto, sem dizer uma palavra, balançava a cabeça

numa demonstração de respeito e de consideração. O gesto do professor

valeu mais do que a própria nota dez que atribuiu à minha redação. O gesto do

professor me trazia uma confi ança ainda obviamente desconfi ada de que era

possível trabalhar e produzir. De que era possível confi ar em mim, mas que seria

tão errado confi ar além dos limites quanto errado estava sendo não confi ar. A

melhor prova da importância daquele gesto é que dele falo agora como se tivesse

sido testemunhado hoje. E faz, na verdade, muito tempo que ele ocorreu... [...].

(FREIRE, 2006, p. 42/43).

Paulo Freire segue apontando que a escola não é um lugar em que se aprendem

apenas os conteúdos curriculares e, nesse sentido, gostaríamos de chamar a sua atenção

para o questionamento acerca dos gestos desse professor que faz parte da sua observação

participante. Busque refl etir quais concepções estariam subjacentes ao planejamento de

trabalho que realiza, às orientações que lhe dá para atuar na escola e o que signifi ca para os

alunos a presença dele em sala de aula.

Durante nossa vivência como orientadoras de estágio nas sessões de acompanhamento

nas escolas, vimos muitas imagens de professores: aqueles exaustos, que eram surpreendidos

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado16

Sugestão de atividade

pelo desejo de jovens estagiários em ser professores; aqueles entusiasmados para compartilhar

experiências e conhecimentos; e aqueles que observavam o desenvolvimento do estágio para,

em momentos seguintes, optar por acompanhar ou não um estagiário. Cada uma dessas

situações revela a responsabilidade do Estágio Supervisionado para o professor: como

possibilidade de reinvestir na profi ssão, como possibilidade de trocas, como possibilidade

de motivação.

Para suas conversas com o Professor Colaborador, sugerimos alguns pontos que

mencionaremos na atividade a seguir.

Observação e registro sobre a formação, planejamento,

avaliação e concepções dos professores colaboradores

Sugerimos, no roteiro de observação, alguns pontos para nortear as sessões de

observação participante. Agende com seu Tutor de Estágio e Professor Colaborador o

período necessário para a realização das etapas de observação e escreva no diário de

campo suas impressões sobre aqueles pontos presentes no roteiro e observados na

escola. Antes de observar e escrever, confi ra nossas orientações a seguir.

Roteiro para observação participante Diário de Campo

1) Formação: identifi que qual a formação do professor,

como ele avalia sua formação acadêmica em relação

às demandas escolares, se participa de cursos de

formação continuada etc.

Na sua escrita, não é necessário seguir

a ordem do roteiro, mas é preciso fi car

atento para que seu diário relate e

analise os pontos que aqui sugerimos.

É possível que elementos novos

surjam. Caso eles sejam pertinentes,

não deixe de registrá-los, pois serão

importantes para o planejamento das

suas atividades na escola.

Na sua escrita, considere que o

Professor Colaborador, muitas vezes,

não tem a disponibilidade de tempo

necessária para uma conversa mais

alongada, o que pode infl uenciar nos

seus relatos sobre esses momentos.

Por isso, esteja atento às aulas

que agendarem para você realizar

suas observações, a fim de que na

escrita do seu diário de campo você

possa interpretar o porquê do seu

planejamento, métodos de ensino,

avaliação e uso de materiais didáticos

serem organizados da forma que são.

2) Planejamento: nas suas conversas com o Professor

Colaborador e na observação da sala de aula, observe

como ele planeja o trabalho, a quais conteúdos dá

ênfase, quais métodos de ensino privilegia e em que

medida observa a dinâmica escolar e extra-escolar

para adaptar seu planejamento.

3) Avaliação: identifique a concepção de avaliação

presente na prática do Professor Colaborador, como

incentiva a participação dos alunos, em que medida

acompanha a sua aprendizagem etc.

4) Materiais didáticos: identifi que de quais materiais

didáticos o Professor Colaborador faz uso; observe

qual papel assume o livro didático na suas aulas, se

é central ou se é alternado com outros materiais e

métodos de ensino.

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado 17

O que observar das ações da direção e

equipe técnica: seus modos de organização

e seu projeto político pedagógico

“Uma escola não é feita apenas de alunos e professores”. Essa era uma frase repetida por

muitos dos estagiários que acompanhamos na sua iniciação docente assistida. Compreender

as formas de gestão da escola e seu funcionamento fornecerá muitos elementos para que

você identifi que parte das razões da organização dos espaços e capital material da escola, as

concepções partilhadas por professores e seus modos de interagir com os alunos.

O núcleo da sala de aula não funciona isoladamente de uma rede de relações que são

estabelecidas entre desde professor e alunos até supervisores, coordenadores, equipe técnica,

direção e o mundo para onde essas pessoas vão e de onde vêm todos os dias.

A maioria dos nossos estagiários, ao conversar com a direção da escola, manifestando o

interesse em conhecer seu projeto político pedagógico, se surpreendia porque, muitas vezes,

ele não existia no papel. É possível que essa também seja a realidade da escola em que você

esteja desenvolvendo suas observações. Mas, é importante que você se questione: que leitura

é possível realizar acerca dessa ausência? Como a escola funciona sem um plano? Como

são orientadas suas ações? Quais são as metas de trabalho e concepções pedagógicas que

orientam suas ações?

Ao longo das suas observações, você poderá identifi car que essa aparente desordem

guarda, na verdade, um projeto que, embora não esteja redigido, é relativamente partilhado

pelos sujeitos: eles estão em consonância acerca de diversos aspectos, mas podem divergir

de alguns preceitos assumidos pela escola; são capazes de compreender suas atribuições;

promovem reuniões para discutir suas posições político-educacionais, a organização das

atividades culturais da escola etc.

Por isso, nesse caso, você precisará empenhar-se ainda mais para tentar identifi car quais as

grandes perspectivas de trabalho da escola e de que modo o desenvolvimento da sua disciplina

junto aos alunos se insere nesse projeto político pedagógico, inexistente materialmente numa

folha de papel, mas visível nas práticas de todos aqueles que fazem a escola.

Diversos funcionários, além dos professores, fazem a escola: a merendeira saberá

lhe dizer a importância que o alimento tem para os alunos, se há horta e outros trabalhos

realizados pelos professores nesse espaço; o porteiro saberá quais cuidados têm os pais

ao encaminhar seus fi lhos à escola e quais critérios a escola adota para permitir/cercear o

contato da escola com a comunidade; a bibliotecária poderá lhe informar em que medida

o acervo pode contribuir para o seu trabalho em sala de aula e se há possibilidade de

desenvolver um trabalho na sala de leitura.

Um olhar sobre a atuação desses personagens na escola lhe ajudará a pensar/desenvolver

seu trabalho no sentido de usar a horta e os alimentos ali produzidos para o ensino de

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado18

Sugestão de atividade

matemática ou ciências naturais, por exemplo; quais as possibilidades de levar os alunos

para uma aula de campo; e como seria possível estabelecer uma interação da biblioteca com

o ensino da sua disciplina.

Veja que para desenvolver cada um desses trabalhos é importante sua interação com

diferentes instâncias da escola. Por isso, conhecer seus modos de organização, seu projeto

político pedagógico e como cada um dos seus sujeitos é responsável por uma atuação específi ca

dentro desse plano global de trabalho é imprescindível para a sua atuação como professor.

Observação e registro sobre a direção e equipe técnica:

seus modos de organização e seu projeto político pedagógico

Sugerimos, no roteiro de observação, alguns pontos para nortear as

sessões de observação participante. Agende com seu Tutor de Estágio e Professor

Colaborador o período necessário para a realização das etapas de observação

e escreva no diário de campo suas impressões sobre aqueles pontos presentes

no roteiro e observados na escola. Antes de observar e escrever, confi ra nossas

orientações a seguir.

Roteiro para observação participante Diário de Campo

1) sobre a direção da escola: observe quais as principais

metas da sua gestão, como foi realizada a eleição,

quais as expectativas da escola; como/se organiza

fóruns de discussão, quais os canais de comunicação

que estabelece com a comunidade escolar e

extra-escolar; como capta e gerencia os recursos;

quais as principais demandas que identifi ca etc.

Na sua escrita, não é necessário seguir

a ordem do roteiro, mas é preciso fi car

atento para que seu diário relate e

analise os pontos que aqui sugerimos.

É possível que elementos novos

surjam. Caso eles sejam pertinentes,

não deixe de registrá-los, pois serão

importantes para o planejamento das

suas atividades na escola.

Procure avançar seu olhar acerca

de cada um desses pontos, não se

restringindo a uma descrição muito

objetiva. As sessões de observação

participante devem lhe permitir saber

colocar-se no lugar do outro para

inferir os valores que se atribuem como

direção escolar e como equipe técnica,

bem como o sentido que delegam ao

projeto político-pedagógico.

2) sobre a equipe técnica: observe sua qualifi cação

profi ssional, como se integra às atividades escolares;

qual sentido dá ao seu trabalho e como interage com

a comunidade escolar.

3) sobre o projeto político pedagógico: observe se está

vinculado às diretrizes nacionais de educação, se está

articulado ao contexto social e político do momento;

qual o perfil do aluno que se deseja formar (no

ensino fundamental e médio), quais as orientações

para a estrutura curricular, o que se espera de

cada disciplina, quais os procedimentos previstos

para a execução do projeto; como o projeto prevê

o engajamento dos agentes educacionais e sociais;

como/se o projeto permite a interação do aluno com

a realidade social.

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado 19

Sugestão de atividade

Neste momento, não pretendemos que você saiba tudo sobre cada um dos aspectos aqui

elencados para melhor compreender a escola. Essa aprendizagem será contínua a partir dos

registros e análises resultantes das suas observações participantes e da sua imersão gradual

nas diferentes rotinas da escola. O que fi zemos foi apresentar alguns dos resultados das

nossas próprias análises sobre os momentos de acompanhamento dos alunos estagiários nas

escolas, bem como a visão desses estagiários no momento em que, como vocês, se iniciavam

no estágio ou fi nalizavam essa etapa de sua formação.

O que consideramos importante neste momento é que você comece a realizar as

observações participantes a fi m de que dialogue mais criticamente com as orientações aqui

mencionadas e possa acrescentar novas versões e novos olhares a essa velha conhecida nossa: a escola.

Agora, você dispõe de dois tipos de relatos sobre

a escola: um solicitado ao início do nosso módulo

que lhe orientava a retomar suas lembranças

escolares e outros que você produziu a partir das

orientações dos roteiros de observação e escrita

nos diários de campo. Esse conjunto de materiais

lhe permitiu elaborar um diagnóstico da escola,

conforme nos indicou Pimenta e Lima (2004)

anteriormente.

Nesse sentido, a partir dos diferentes olhares que

você foi criando acerca da escola, escreva uma

carta ao seu professor orientador apresentando

o seu diagnóstico da escola. Não se esqueça

de retomar os seus diários de campo e procure

articular os diversos pontos orientadores das suas

observações.

Sua carta deve conter seu nome completo, curso, pólo, nome da escola em que

estagia, Tutor de Estágio e Professor Colaborador que o acompanha. A carta

poderá ser entregue no seu pólo para ser encaminhada à Secretaria de Educação a

Distância ou encaminhada via página da disciplina no fórum específi co. Certifi que-

se junto ao seu Tutor de Estágio a data limite para envio da atividade.

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado20

Leitura complementar

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 33. ed.

São Paulo: Paz e Terra, 2006. (Coleção Leitura).

Este livro será, certamente, uma leitura signifi cativa para você. Paulo Freire apresenta-

nos uma visão verdadeiramente otimista, crítica e política das diferentes interfaces de ensinar.

Referências

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 45. ed. São

Paulo: Cortez, 2003. v 13. (Questões da nossa época).

______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 33. ed. São Paulo:

Paz e Terra, 2006. (Coleção Leitura).

PAIVA, Irene Alves de; PERNAMBUCO, Marta Maria Castanho Almeida. Educação e realidade:

interdisciplinar. Natal-RN: EDUFRN, 2005.

PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência. São Paulo: Cortez,

2004. (Coleção docência em formação, Série saberes pedagógicos).

SOUZA, Elizeu Clementino de. O conhecimento de si: estágio e narrativas de formação de

professores. Rio de Janeiro: DP&A; Salvador, BA: UNEB, 2006.

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Anotações

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Anotações

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado 23

Anotações

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Módulo de orientação 3 | Estágio Supervisionado24

Anotações

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EMENTA

Claudianny Amorim Noronha

Tatyana Mabel N. Barbosa

Estágio Supervisionado I – INTERDISCIPLINAR

AUTORAS

AULAS

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01 Módulo de orientação 1 – O Estágio Supervisionado para Formação de Professores: orientações para o estagiário

02 Módulo de orientação 2 – O Estágio Supervisionado como possibilidade de pesquisa-formação

03 Módulo de orientação 3 – O período de observação da escola: criando um outro olhar sobre os espaços, sujeitos

e ações de uma antiga conhecida nossa

04 Módulo de orientação 4 – Propostas de ações colaborativas para o Estágio: a interface entre os conhecimentos

escolares e acadêmicos

05 Módulo de orientação 5 – Materiais didáticos: como avaliar, utilizar e (re)elaborar

06 Módulo de orientação 6 – Planejamento de ensino I: objetivos, conteúdos, métodos e avaliação da aprendizagem

07 Módulo de orientação 7 – Planejamento de ensino II: objetivos, conteúdos, métodos e avaliação da aprendizagem

08 Módulo de orientação 8 – A avaliação do estágio: um processo de refl exão contínua

09 Módulo de orientação 9 – A (re)escrita do trabalho avaliativo fi nal: o relatório, o artigo científi co e o memorial

10 Módulo de orientação 10 – Estágio Supervisionado: o papel da escola como instituição co-formadora

11 Fichário de estágio

Apresenta as diferentes interfaces do estágio supervisionado, focalizando, principalmente, suas concepções

e orientações institucionais para a formação docente; as orientações práticas para a vivência pedagógica e o

planejamento do estágio na escola e a interlocução entre os saberes acadêmicos e escolares; como também

os princípios de avaliação e acompanhamento do estagiário pelos diferentes sujeitos do estágio na EaD.

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