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Dissertação Mestrado Integrado em Medicina A PROPÓSITO DE UM CASO DE CIRROSE HEPÁTICA Rita Maria Vieira de Carvalho Orientador Professor Doutor Jorge Areias Porto 2009/10

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Dissertação

Mestrado Integrado em Medicina

A PROPÓSITO DE UM CASO DE CIRROSE HEPÁTICA

Rita Maria Vieira de Carvalho

Orientador

Professor Doutor Jorge Areias

Porto 2009/10

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Dissertação

Mestrado Integrado em Medicina

A PROPÓSITO DE UM CASO DE CIRROSE HEPÁTICA

Rita Maria Vieira de Carvalho

Orientador

Professor Doutor Jorge Areias

Porto 2009/10

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I

“To make a great dream come true,

the first requirement is a great capacity to dream;

the second is persistence – a faith in the dream.”

Hans Selye, MD

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II

ABREVIATURAS

ALC-1 anticorpo anti-citosol hepático tipo-1

ALT alanina aminotransferase

AMA anticorpos anti-mitocondriais

ANA anticorpos anti-nucleares

AST aspartato aminotransferase

BilD bilirrubina directa

BilT bilirrubina total

CBP cirrose biliar primária

CEP colangite esclerosante primária

CHC carcinoma hepatocelular

CHP/HSA Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António

CPT Child-Pugh-Turcotte

EAM enfarte agudo de miocárdio

EDA endoscopia digestive alta

EUA Estados Unidos da América

FA fosfatase alcalina

GGT gama-glutamil transferase

HAI hepatite auto-imune

Hb hemoglobina

HH hemocromatose hereditária

HLA antígeno leucocitário humano

IAIHG International Autoinmune Hepatitis Group

IgG Imunoglobulina G

IV intra-venoso

LKM anticorpos antimicrossomais de fígado e rim

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III

MELD Model for End-stage Liver Disease

pANCA anticorpos citoplasmáticos antineutrofílicos perinucleares

RM ressonância magnética

SMA anticorpos anti-músculo liso

SLA antígeno hepático solúvel

SLA/LP antígeno hepático solúvel/anti-fígado-pâncreas

SS síndrome de sobreposição

SU Serviço de Urgência

TAC tomografia axial computorizada

UMA Unidades Maço Ano

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IV

RESUMO

Introdução: Cirrose define a destruição da arquitectura hepática normal de forma

progressiva, difusa, fibrosante e nodular, sendo geralmente irreversível. A prevalência

mundial é desconhecida, mas a estimativa aponta para 1% da população mundial. O

conhecimento da causa permite prever as complicações, decidir qual o tratamento mais

apropriado e, quando possível, implementar medidas preventivas. Se o tratamento médico

perde a eficácia no controlo das complicações, o transplante hepático deve ser considerado,

visto ser o único curativo. Descrição do caso: Paciente com cirrose hepática Child C por

síndrome de sobreposição e sobrecarga de ferro, em estudo por melenas de repetição e

agravamento progressivo da disfunção hepatocelular nos meses que antecederam os

internamentos, com hiperbilirrubinemia e hipoalbuminemia. Discussão: Cirrose Biliar

Primária e Hepatite Auto-Imune são as duas principais doenças imunologicamente

mediadas que se encontram em pólos opostos do espectro das doenças auto-imunes

hepáticas. Alguns doentes apresentam características que não se enquadram nos critérios

diagnósticos de apenas uma destas entidades: síndromes de sobreposição, que representam

aproximadamente 20% das doenças hepáticas imunes, estando os pacientes expostos ao

risco de fibrose e outras complicações. O tratamento e o prognóstico estão estreitamente

relacionados com a entidade que predomina. A acumulação de ferro hepático pode ocorrer

em diversas situações, sendo a mais importante a Hemocromatose Hereditária. O ferro é

co-factor de morbilidade em doenças hepáticas crónicas e também carcinogénio. O

transplante hepático é o tratamento de escolha nos pacientes com síndrome de

sobreposição em estágio terminal. Conclusão: Surgimento de melenas num doente com

varizes esofágicas e gastropatia hipertensiva portal aponta para hemorragia digestiva alta

por rotura de varizes esofágicas como a principal causa. Na síndrome de sobreposição,

38% desenvolvem cirrose ou insuficiência hepática em apenas 5 anos, apresentando pior

prognóstico do que os que têm apenas uma das patologias isoladamente.

PALAVRAS-CHAVE

Cirrose Hepática; Hepatite Auto-Imune; Cirrose Biliar Primária; Síndrome de

Sobreposição; Hemocromatose Hereditária; Transplante Hepático

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V

AGRADECIMENTOS

Gostava de manifestar a minha gratidão para com o Prof. Doutor Jorge Areias, pela

oportunidade que me proporcionou de desenvolver um trabalho na minha área de interesse,

bem como pela confiança que depositou em mim, demonstrada desde o primeiro momento.

Estou-lhe verdadeiramente agradecida pela sua disponibilidade e excelência na orientação

científica deste trabalho. Não posso deixar de agradecer também a todos os professores

que, ao longo do meu percurso académico, contribuíram com os seus conhecimentos para a

minha formação.

Agradeço muito ao Hugo, cuja visão criativa, experiente e inspiradora valorizou

este trabalho.

Estou igualmente grata aos meus pais, Elsa e Fausto, por me deixarem sonhar, por

acreditarem nos meus sonhos, por sonharem comigo e por me ajudarem a tornar esses

sonhos realidade. Ao meu irmão, Henrique, pelo exemplo e por sempre me ter apoiado.

Aos meus avós, Helena e Fausto, pelo amor, carinho e muita ajuda. Ao Nuno, pelo que tem

feito por mim e por nós.

Correndo o risco de, por lapso, não ter sido mencionado alguém que devia, resta um

pedido de desculpa e, finalmente, agradecer.

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VI

ÍNDICE

ABREVIATURAS ............................................................................................................................. II

RESUMO ......................................................................................................................................... IV

PALAVRAS-CHAVE ...................................................................................................................... IV

AGRADECIMENTOS ...................................................................................................................... V

ÍNDICE ............................................................................................................................................ VI

ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................................... VII

ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................................ VIII

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1

DESCRIÇÃO DO CASO ................................................................................................................... 4

DISCUSSÃO ...................................................................................................................................... 7

CONCLUSÃO ................................................................................................................................. 14

BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................. 16

ANEXOS.......................................................................................................................................... 26

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VII

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - EDA .................................................................................................................................. 4

Figura 2 - Colonoscopia ...................................................................................................................... 5

Figura 3 - Melenas (toque rectal) ........................................................................................................ 6

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VIII

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Causas de Cirrose Hepática .............................................................................................. 26

Tabela 2 - Avaliação laboratorial da cirrose ....................................................................................... 27

Tabela 3 - Classificação de Child-Pugh-Turcotte (CPT), obtida pelo somatório dos resultados dos 5

parâmetros: classe A (5 a 6 pontos), B (7 a 9) e C (10-15). Classificação igual ou superior a 7 pontos

(classe B) indica descompensação, sendo este nível aceite para inclusão na lista de transplantação.

Resultado do paciente: 11 pontos (CPT classe C) .................................................................................. 28

Tabela 4 - Exames complementares de diagnósticos, relativos a 2005, aquando do diagnóstico do

quadro de Cirrose Hepática .................................................................................................................. 29

Tabela 5 - Escala IAIHG diagnóstica de HAI ...................................................................................... 30

Tabela 6 - Critérios simplificados de diagnóstico de HAI (Hennes et al)................................................ 31

Tabela 7 - Categorias da deposição de ferro hepático .......................................................................... 32

Tabela 8 - Quantificação histológica do armazenamento de ferro hepático ........................................... 33

Tabela 9 - Indicações e Contra-indicações para o Transplante Ortotópico de Fígado ............................ 34

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1

INTRODUÇÃO

Cirrose, define a destruição da arquitectura hepática normal que ocorre de uma

forma progressiva, difusa, fibrosante e nodular(1)

. Fibrose é a substituição de tecido lesado

com formação de matriz de colagénio, resultante da perpetuação da resposta de

fibrinogénese(2)

. As células responsáveis pelo processo de fibrose hepática parecem ser os

miofibroblastos activados e a reversibilidade da fibrose depende da eliminação dos

mesmos(3,4)

. A cirrose e a distorção vascular a ela associada são geralmente irreversíveis,

mas recentes investigações sugerem que poderá haver regressão ou reversibilidade(2,5,6)

.

A prevalência exacta a nível mundial é desconhecida, mas presume-se que seja de

aproximadamente 0,15% na Europa e EUA. Contudo, os números são superiores na

maioria dos países subdesenvolvidos, o que faz com que uma estimativa mais razoável

aponte para que 1% da população mundial desenvolva fibrose hepática(2)

.

A etiologia pode ser identificada pela combinação da história do paciente com a

avaliação serológica e histológica. O conhecimento da causa (Anexo: Tabela 1) permite

prever as complicações, decidir qual o tratamento mais apropriado e, quando possível,

implementar medidas preventivas(2)

. A maioria das causas preveníveis é atribuída ao

álcool, hepatites víricas e esteatose hepática não-alcoólica. O consumo excessivo de álcool

é um importante problema de saúde pública(7,8)

. Em Portugal, 10% da população é

consumidora abusiva de álcool, sendo esta a principal causa de cirrose no país(9)

.

Cirrose é frequentemente uma doença silenciosa, mantendo-se a maioria dos

doentes assintomáticos até que ocorra descompensação. Aproximadamente 80-90% do

parênquima encontra-se já destruído quando a lesão hepática se manifesta clinicamente.

Numa fase inicial compensada, pode manifestar-se sob a forma de anorexia e perda de

peso, fadiga ou até osteoporose(1)

. A apresentação como cirrose descompensada é também

comum, caracterizando-se pela presença de complicações como varizes hemorrágicas,

ascite, peritonite bacteriana espontânea, ou encefalopatia hepática(10-14)

. Os sinais e

sintomas mais comuns à apresentação incluem icterícia, prurido, ascite, caput medusae,

flapping, hálito cetósico, hepatomegalia, esplenomegalia, aranhas vasculares

(telangiectasias e angiomas) e sintomas constitucionais(1)

.

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2

O diagnóstico dos casos assintomáticos é frequentemente feito em exames de

rotina, sendo confirmado posteriormente por uma avaliação mais aprofundada (Anexo:

Tabela 2)(15)

. Os achados laboratoriais mais frequentes são: AST e ALT normais ou

moderadamente aumentadas (relação AST:ALT habitualmente superior a 1); FA elevada;

GGT elevada (sobretudo na lesão alcoólica); hipoalbuminemia; diminuição do tempo de

protrombina; imunoglobulinas aumentadas (sobretudo IgG); hiponatremia; anemia;

trombocitopenia e leucopenia(2)

. Se não houver alterações, mas se mantiver uma suspeita

através da clínica, uma nova avaliação deve ser feita no prazo de seis meses(16)

. Se um

paciente apresentar elevação da ALT persistente, serologias víricas devem ser analisadas;

se forem negativas, devem incluir-se no estudo anticorpos (anti-nucleares e anti-músculo

liso), para averiguação de hepatites auto-imunes; a saturação da transferrina, capacidade

total de fixação do ferro e ferritina permitem avaliar a hemocromatose(17)

. Num doente com

idade inferior a 40 anos, com suspeita de doença de Wilson, ceruloplasmina e cobre devem

ser medidos. A avaliação da colestase deve ser feita perante a suspeita de CBP ou CEP.

Avaliação do défice de α1 anti-tripsina deve ser realizada quando existe lesão hepática

crónica e sem causa aparente(1)

. A ecografia é o exame de primeira linha na avaliação de

cirrose(18)

, sendo a TAC ou RM apenas necessárias em caso de dúvida. A biópsia hepática

é considerada gold-standard no diagnóstico, classificação e estadiamento de cirrose.

Contudo, está associada a alguns riscos bem como a uma grande variabilidade nas

diferentes doenças do fígado(19,20)

.

Numerosos estudos têm sido desenvolvidos no sentido de criar um sistema de

classificação que possa caracterizar o nível de lesão hepática e estimar o prognóstico dos

pacientes com cirrose, baseando-se na clínica e em parâmetros laboratoriais. A

classificação de Child-Pugh-Turcotte (Anexo: Tabela 3) é amplamente usada. A

sobrevivência para os pacientes ao final de um ano é de 100%, 80% e 45% para CPT A, B

e C, respectivamente(21)

. CPT estima o desenvolvimento de complicações, bem como a

resposta dos pacientes a intervenções cirúrgicas(22)

. Recentemente, surgiu também um

sistema de classificação MELD, que avalia com maior precisão a mortalidade a curto prazo

(3 meses), independentemente da etiologia da cirrose(23)

.

A evolução da cirrose depende da etiologia e do tratamento causal(2)

. O tratamento

numa fase inicial deve centrar-se na diminuição da sintomatologia e na prevenção do

desenvolvimento de cirrose. Após a cirrose se ter estabelecido, deve focar-se na prevenção

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das complicações. Quando o tratamento médico perde a eficácia no controlo das

complicações da cirrose, o transplante hepático deve ser considerado(22)

. O único

tratamento curativo é o transplante, sendo que os casos de cirrose englobam 70-90% das

suas indicações(8,24)

.

Muitos progressos têm sido feitos no sentido de prevenir e tratar as complicações

decorrentes da mesma, tais como varizes esofágicas, ascite, peritonite bacteriana

espontânea, síndrome hepatorrenal e encefalopatia(10,11)

. A cirrose é também um dos

factores de risco major que leva ao desenvolvimento de carcinoma hepatocelular, um dos

tumores sólidos mais comuns a nível mundial(25)

, cuja incidência é de aproximadamente 2-

7% ao ano. A vigilância do aparecimento de CHC é fundamental no seguimento destes

pacientes. A taxa de mortalidade por CHC associado com cirrose tem aumentado na

maioria dos países desenvolvidos, enquanto a decorrente de outras complicações (que não

o CHC) tem decrescido(26)

. Após a descompensação, a mortalidade na ausência de

transplante é superior a 85% em 5 anos. Portugal era, no início dos anos 80, o 5º país com

maior mortalidade mundial por cirrose hepática; contudo esses valores têm declinado(27)

.

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DESCRIÇÃO DO CASO

Paciente do sexo masculino, de 58 anos, caucasiano, natural de Moçambique e a

residir actualmente no Porto foi admitido em 15 de Setembro de 2009 no serviço de

Gastrenterologia do CHP/HSA, após ter recorrido ao SU do mesmo hospital, por melenas.

Tratava-se de um doente com uma Cirrose Hepática por um Síndrome de Sobreposição e

sobrecarga de ferro, ex-fumador de 46 U.M.A. e antecedentes de EAM. Apresentava-se

com melenas de repetição, com uma semana de evolução, associadas a anorexia e astenia;

sem náuseas, vómitos, abdominalgias ou outros sintomas. Previamente, a 13 de Agosto do

mesmo ano, tinha sido internado com queixas semelhantes, tendo estado aproximadamente

meio mês nesta enfermaria. À entrada apresentava um Hb= 12g/dL, estando

hemodinamicamente estável. Na altura foi-lhe realizada EDA (Figura 1), colonoscopia

(Figura 2) com progressão até ao cego e ainda paracentese evacuadora, devido a aumento

do perímetro abdominal. Durante o internamento registou-se uma descida do valor de Hb

para 8,2g/dL. Teve alta após melhoria clínica e analítica (Hb 10,2 g/dL), mas sem que na

altura se tivesse identificado a origem das hemorragias. O doente referiu melhoria da

sintomatologia após o internamento, queixando-se contudo de alguma fadiga, mas

mantendo a autonomia.

Figura 1 - EDA: “varizes esofágicas grandes com sinais vermelhos, sem estigmas de

hemorragia; sem sangue no estômago; gastropatia hipertensiva portal leve” (da

esquerda para a direita e de cima para baixo: esófago, corpo, retroversão e antro).

Fonte: Processo clínico.

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Quanto aos antecedentes pessoais registam-se febre-amarela na infância; EAM

postero-inferior, com derrame pericárdico, em 2000 (realizou cateterismo com angioplastia

e colocação de 2 stent, fazendo medicação anti-agregante desde então); cirurgia para

remoção bilateral de cataratas, em 2008. De entre os antecedentes familiares, importa

salientar a neoplasia do cólon, que motivou o falecimento do pai.

Em 2005, quando procurou auxílio médico por notar a pele e mucosas ictéricas, foi-

lhe diagnosticada Cirrose Hepática Child C (Anexo: Tabela 3), associada a Síndrome de

Sobreposição, com sobrecarga de ferro. Foram-lhe realizados vários exames

complementares de diagnóstico, que confirmaram a patologia (Anexo: Tabela 4). Nega

factores de risco para doença hepática (hábitos etílicos escassos, sem comportamentos

sexuais de risco, nem consumo de drogas injectáveis). Desde então refere uma perda

ponderal de 14 Kg (de 90Kg para 76 Kg), com aumento progressivo da fadiga e prurido.

Apresenta também hipotensão arterial, aumento do perímetro abdominal e evidências de

circulação colateral, colúria e acolia. Houve agravamento progressivo da disfunção

hepatocelular nos meses que antecederam estes internamentos, com hiperbilirrubinemia

(Bil T/Bil D- 10,29/6,93 mg/dL) e hipoalbuminemia (22,6g/L).

O doente apresentava pele, mucosas e escleróticas ictéricas. O abdómen era mole e

globoso, indolor à palpação superficial ou profunda, com evidência de circulação venosa

colateral e sem sinais de irritação peritoneal. Os ruídos hidro-aéreos estavam presentes em

todos os quadrantes e eram de timbre e frequência normal. Ao toque rectal notava-se a

presença de prolapso hemorroidário de grau II, esfíncter normotónico e dedo de luva com

fezes e sangue (Figura 3), mas não se detectaram massas palpáveis.

Figura 2 - Colonoscopia: “fezes líquidas em pequena quantidade, sem sangue; pólipos

diminutos e doença hemorroidária”. Fonte: Processo clínico.

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6

Durante o internamento foi medicado com Prednisolona per os 2,5mg i.d.;

Esomeprazol per os 40 mg i.d.; Metoclopramida IV 10mg 8/8h (SOS); Norfloxacina per os

400mg i.d.; Paracetamol per os 400mg i.d.; Terlipressina IV 0,5mg 4/4h; Albumina

humana a 20% (50 mL=10g) IV 20g 8/8h; Soros e aditivos - polielectrolítico sem glicose

1L/24h (41,67 mL/h) contínuo; dieta ligeira, restrita em sódio e sacarose. Foi proposto para

Transplante Hepático.

Figura 3 - Melenas (toque rectal).

Fonte: Processo clínico.

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7

DISCUSSÃO

A Hepatite Auto-Imune é uma doença hepática crónica, necroinflamatória e

heterogénea(28)

. É uma das hepatopatias imunes mais frequentes, com uma prevalência de

17/100000 pessoas(29)

. O mecanismo patogénico permanece desconhecido, sendo a

predisposição genética sugerida como uma das principais causas, tendo em conta o

predomínio desta doença no sexo feminino (80%) e a associação com HLA. O gene HLA

tem um papel dominante na predisposição para HAI(28,30)

, apresentando-se as formas HLA-

B8, -DR3 e -DR4 com uma frequência elevada nas diferentes populações de

pacientes(28,31,32)

. A evolução da doença é flutuante, sendo a presença de IgG e

autoanticorpos, bem como a resposta à imunossupressão, as suas principais

características(28)

. As manifestações clínicas variam desde a doença assintomática a

hepatite ictérica severa ou inclusivamente insuficiência hepática fulminante, que requer

transplantação hepática(28)

. Os sintomas não específicos mais frequentes são fadiga,

letargia, anorexia, náuseas, abdominalgia ou prurido; ao exame físico podem observar-se

hepatomegalia, esplenomegalia, icterícia e sinais de doença hepática crónica(28,33)

.

Elevação de AST e ALT; aumento das globulinas séricas, em particular IgG (1,2-3 vezes

superior ao normal); anticorpos ANA, SMA, SLA/LP e LKM são as alterações mais

comuns. O diagnóstico é um desafio, visto que apenas os anticorpos SLA/LP são altamente

específicos(34)

e estão presentes em somente 20% dos pacientes. Os restantes

autoanticorpos podem ser encontrados em várias doenças hepáticas e a sua presença, por si

só, não é diagnóstica de HAI. Os anticorpos estão ausentes em cerca de 10% dos

pacientes(35)

. Devido à inexistência de testes de diagnóstico de HAI precisos, a biópsia

hepática continua a ser a principal ferramenta diagnóstica. As alterações histológicas

características são: infiltrado de mononucleares (hepatite de interface); células plasmáticas

abundantes; eosinófilos; fibrose com distorção hepática e nódulos regenerativos na

presença de cirrose(28,36)

. Alguns pacientes com apresentação aguda evidenciam doença

crónica na biópsia hepática, o que indica que tiveram doença subclínica durante algum

tempo. Habitualmente o diagnóstico é feito utilizando o sistema de classificação IAIHG(37)

,

descrito inicialmente em 1992 e adaptado em 1999(28,37)

(Anexo: Tabela 5). A sensibilidade

ronda os 97-100%, mas a especificidade é inferior, variando de 66-92%(28,37)

. Hennes et al.

(2008) propôs um sistema de classificação mais simplificado, composto apenas por quatro

critérios(38)

(Anexo: Tabela 6). Um diagnóstico definitivo exige a exclusão de outras

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8

importantes causas de dano hepático, como álcool, vírus, drogas e toxinas, ou doença

hepática hereditária(39)

.

HAI tipo 1 caracteriza-se pela presença de ANA e/ou SMA e um título de pelo

menos 1:80 é geralmente aceite como positivo(37)

; habitualmente está associado com HLA-

DR3. Anticorpos antiactina são também mais específicos do tipo 1(40)

, bem como

SLA/LP(41,42)

e pANCA(43,44)

. HAI tipo 2 é uma doença rara associada a LKM-1 e ALC-1,

podendo surgir juntos ou separadamente, associado com HLA-DRB1 e HLA-DQB1(45,46).

Cirrose Biliar Primária é uma doença hepática imune, colestática, com progressão

variável mas habitualmente lenta(47)

. A sua prevalência é de 25-40/100000 pessoas(48)

,

afectando sobretudo o sexo feminino (90-95%, com uma prevalência 1 em cada 1000

mulheres após os 40 anos). A frequência mais elevada ocorre no hemisfério norte(49,50)

.

Aproximadamente metade dos pacientes com CBP são afectados por pelo menos outra

doença auto-imune e 20% têm múltiplas alterações auto-imunes(51)

. O mecanismo

patogénico preciso continua por definir(47)

. Os sintomas mais comuns incluem fadiga e

prurido, em 85% e 70% dos casos, respectivamente(52,53)

; contudo a maioria é

assintomática no momento da apresentação(54)

. O diagnóstico baseia-se na elevação dos

marcadores de colestase, isto é, FA e GGT (elevados por um período superior a 6 meses), e

na presença de AMA (geralmente um título elevado) contra a subunidade E2 da enzima

piruvato quinase, na ausência de outra explicação para o facto(55)

. AMAs são altamente

específicos do diagnóstico de CBP, no entanto, aproximadamente 5% dos pacientes com

CBP são AMA negativos(56)

.Histologicamente, ocorre lesão dos ductos biliares com dano

epitelial, infiltrado inflamatório portal denso(57)

e perda progressiva dos pequenos ductos

biliares intra-hepáticos(58)

. Contudo, nenhuma destas alterações é patognómonica de CBP e

foi sugerido que o diagnóstico “definitivo” e “provável” se faça pela presença de três e

dois destes achados, respectivamente(59)

.

CBP e HAI são as duas principais doenças hepáticas imunologicamente mediadas

que se encontram em pólos opostos do espectro das doenças auto-imunes do fígado,

diferindo sobretudo nos achados patológicos e na intervenção terapêutica. Alguns doentes

apresentam características de doenças hepáticas auto-imunes que não se enquadram nos

critérios diagnósticos de apenas HAI ou CBP - síndromes de sobreposição(60)

. O termo SS

é usado para descrever formas variantes de HAI que apresentam características de HAI e

CBP ou CEP; não existe evidência de uma sobreposição CBP e CEP(39)

. A síndrome de

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sobreposição CBP-HAI é uma entidade que foi pela primeira vez descrita por Popper e

Schaffner(61)

, na década de 1970(62,63)

, e representa aproximadamente 20% das doenças

hepáticas imunes. No verdadeiro SS, o paciente apresenta características clínicas,

serológicas e histológicas das duas patologias, em simultâneo ou durante o decorrer de uma

das doenças(64)

. 8% dos casos de HAI apresentam características clínicas, bioquímicas,

imunológicas ou histológicas compatíveis com CBP e até 9% dos doentes com CBP

apresentam manifestações de HAI(33,65,66)

. Não está esclarecido se esta síndrome é formada

por duas entidades diferentes ou é apenas uma variante das hepatopatias imunes

major(33,67)

. Para Lohse et al.(1999), a dúvida reside em saber se será uma simples variação

da CBP ou uma síndrome única(66)

. O síndrome de sobreposição afecta sobretudo o sexo

feminino, com uma idade média de 50 anos.

As manifestações clínicas da síndrome de sobreposição HAI-CBP são inespecíficas,

sendo o sintoma principal prurido(68)

, mas podem apresentar também fadiga, artralgias e

mialgias; as provas de função hepática mostram um padrão misto com presença de citólise

e colestase; a biópsia hepática é de grande valor no diagnóstico de afectação hepática

coexistente(69)

e o estudo histológico apresenta evidência de colangite com hepatite de

interface(33,65)

. Os AMA são positivos em cerca de 20% dos casos de HAI, dos quais 88%

apresentam títulos iguais ou superiores a 1:160, não se considerando relevantes títulos

baixos de AMA(70)

. Contudo, AMA-M2 estão presentes em pelo menos 8% dos casos de

HAI e podem ser considerados patognomónicos de CBP, independentemente do título(71)

.

Não existem critérios diagnósticos consensuais para a síndrome de sobreposição CBP-

HAI. A maioria dos autores utiliza os estabelecidos por Chazouillères et al.(1998)(65)

, que

para a HAI são: a) elevação ALT sérico pelo menos 5 vezes o limite superior da

normalidade; b) IgG pelo menos 2 vezes o limite superior da normalidade e/ou

positividade para AMA; c) histologia compatível com hepatite de interface moderada a

severa. Os critérios de CBP compreendem: a)FA pelo menos 2 vezes mais elevada que o

limite superior ao valor normal e/ou GGT pelo menos 5 vezes maior que o limite superior

da normalidade; b) presença de AMA; c) lesão histológica dos ductos biliares. Para o

diagnóstico é necessário que se cumpram pelo menos 2 dos 3 critérios de cada uma das

entidades(65)

. Contudo, Ben-Ari e Czaja (2001)(72)

consideram que os critérios de

Chazouillères et al. foram estabelecidos de forma arbitrária e não têm sensibilidade

demonstrada, pelo que propõem que o diagnóstico de síndrome de sobreposição HAI-CBP

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se realize naqueles pacientes que apresentam uma classificação de “provável” no sistema

de pontuação do IAIHG, associado a positividade dos AMA e presença de colangite no

estudo histológico. Nesse sentido, Yamamoto et al.(2003)(73)

, propõem um sistema de

pontuação para o diagnóstico de CBP similar ao da IAIHG, e comprovam que todos os

casos de síndrome de sobreposição apresentam pontuações elevadas em ambos os sistemas

de pontuação. O diagnóstico de uma SS auto-imune não é apenas importante para a

classificação, mas também pelas implicações terapêuticas demonstradas por estudos

recentes(60)

. O intervalo entre o diagnóstico de HAI e o de CBP pode variar de 6 meses até

13 anos. A remissão em pacientes que desenvolveram cirrose pode ser de 80%, após

terapia imunossupressora adicional. Os pacientes com síndrome de sobreposição HAI-CBP

têm pior prognóstico que aqueles que apresentam apenas uma das patologias

isoladamente(74)

. Dependendo dos critérios de diagnóstico usados, a sua prevalência varia

dos 4,8-19% dos pacientes com CBP(65,75)

e 5-8,3% dos pacientes com HAI(73)

. Alguns

autores consideram que surge de um processo auto-imune único, com efeitos diversos nos

hepatócitos e nos ductos biliares, ou seja, SS é uma forma intermediária do espectro das

doenças hepáticas auto-imunes(76)

. Para outros, SS ocorre quando duas doenças diferentes

surgem no mesmo paciente(77)

. Uma terceira hipótese descreve-a como uma forma de

HAI(78)

ou CBP(66)

variante. Pacientes com sobreposição de HAI-CBP apresentam um

importante dilema terapêutico(51)

. Actualmente, a patogenia e o tratamento não estão

completamente definidos, contudo é evidente que o tratamento e o prognóstico estão

estreitamente relacionados com a entidade que predomina na síndrome(33,65,66)

.

A acumulação de ferro no fígado pode ocorrer numa ampla variedade de situações

(Anexo: Tabela 7), sendo a mais importante a Hemocromatose Hereditária. A distinção

entre a acumulação de ferro na HH e outras causas pode ser complicada, baseando-se na

combinação de alterações morfológicas, clínica, estudos genéticos e/ou análise quantitativa

de ferro em amostras hepáticas(79)

. HH é uma doença muito comum, que afecta sobretudo a

população caucasiana, causada por mutações nos genes que controlam o metabolismo do

ferro(80)

e que leva à deposição de hemosiderina(79)

. As mutações ocorrem em pelo menos

quatro diferentes genes. A absorção de ferro (1-2mg/dia) ocorre no duodeno, sendo o

organismo incapaz de excretá-lo devido à inexistência de mecanismos que controlem esse

processo; a perda de ferro ocorre normalmente de forma lenta, por perda das células

intestinais aquando da sua renovação e através das células epiteliais da pele(79)

. Absorção

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intestinal inapropriadamente aumentada de ferro e reciclagem acelerada pelos macrófagos

levam a um acúmulo progressivo de ferro no organismo e produção de stress oxidativo nos

tecidos, que conduzem ao dano celular, indução de inflamação e fibrose(80)

. O curso natural

pode ser modificado por factores ambientais e predisposição pessoal(80)

. Em 1996, Feder et

al descobriram os gene HFE(81)

. Alterações do metabolismo do ferro causadas por

mutações em 2 alelos do gene HFE, podem ser responsáveis por HH, de transmissão

autossómica recessiva(79)

. Contudo, existem também formas de HH não-HFE.

HH tipo 1 é a forma mais estudada, apresenta distribuição mundial e está associada

a mutações no gene HFE(81)

.A anomalia fundamental é a absorção excessiva de ferro no

duodeno. O aumento progressivo do ferro total corporal é reflectido pelo aumento na

saturação de transferrina sérica e ferritina, bem como deposição anormal de ferro,

predominantemente nos hepatócitos. Esta doença é clinicamente inaparente até à 5ª-6ª

décadas, altura em que surgem variadas manifestações. A complicação mais temida é a

fibrose hepática progressiva e consequente cirrose, que aumentam o risco de carcinoma

hepatocelular. Contudo, 5-10% das HH em adultos são não-HFE: HH tipo 3 ou tipo 4(82)

.

As formas não-HH em adultos estão associadas a acumulação de ferro predominantemente

nas células reticuloendoteliais e não beneficiam com as flebotomias(82)

. As formas juvenis,

tipos 2A e 2B são menos comuns(82)

.

Em fases precoces, a hemosiderina deposita-se nos hepatócitos periportais. A

acumulação progressiva evolui para os hepatócitos da zona média e centrolobular, bem

como para o epitélio biliar. Os hepatócitos que acumulam níveis elevados de ferro sofrem

sideronecrose com consequente fibrose(83)

.

Progressos feitos em genética molecular e em imagiologia permitiram que

actualmente fosse possível fazer o diagnóstico através de métodos não invasivos na

maioria dos casos de alterações do metabolismo do ferro. A biópsia hepática continua a ter

elevada importância para avaliação de lesões, sobretudo fibrose, não só em casos com

HFE, mas também não-HFE(84)

. A concentração de ferro hepático é um método de

referência para quantificar o ferro no fígado(85)

. Em condições normais, varia de 10-

36µmol/g(85)

de peso seco e é histologicamente invisível. O excesso de ferro é considerado

leve a partir de 150 µmol/g, moderado entre 150-300 µmol/g,importante acima de 300

µmol/g. Casos superiores a 1000 µmol/g são excepcionais. Avaliação histológica

semiquantitativa, permitiu que Scheuer et al.(1962) propusessem um sistema de

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classificação original(86)

, posteriormente modificado, amplamente usado (Anexo: Tabela

8). A RM permite a detecção e quantificação do excesso de ferro hepático em níveis

superiores a 300µmol/g de peso seco(87)

; permite classificar o excesso de deposição no

parênquima, mesênquima e misto(88)

.

Os dados na literatura são escassos, mas está descrito que os pacientes com SS

estão expostos ao risco de fibrose e outras complicações(68,89)

. As variáveis associadas a

mau prognóstico são: transaminases 10 vezes superiores ao limite normal, aquando do

diagnóstico; hiperbirrubinemia; persistência das transaminases e ou bilirrubina duas vezes

superior ao limite do normal, após três meses de terapia(68)

. 38% desenvolvem cirrose ou

insuficiência hepática em 5 anos(68)

. Estes pacientes apresentam um risco superior de

hipertensão portal, apresentando sintomatologia associada à mesma, como varizes

esofágicas, sangramento gastrointestinal e ascite(74)

. O desenvolvimento de

hepatocarcinoma ou, mais raramente, hepatocolangiocarcinoma, também está descrito em

pacientes com SS(89)

. O aparecimento destas complicações, pode levar à necessidade de

transplante hepático ortotópico e/ou morte(74)

.

Os pacientes com HH apresentam um risco 240 vezes superior de virem a

desenvolver carcinoma hepatocelular, estando o risco relacionado com a quantidade de

ferro depositada e com o grau de fibrose(90)

. A fibrose alargada aos septos biliares com

preservação da arquitectura vascular do fígado explica que a hipertensão portal e a

insuficiência hepática sejam complicações raras na hemocromatose. 25-50% são já

diagnosticados após o desenvolvimento de cirrose. O ferro tem um papel carcinogénico

devido à produção de stress oxidativo e favorece o crescimento tumoral e/ou modifica o

sistema imune(90)

. O cancro hepático é uma complicação frequente(90)

, sendo a maioria

representada por CHC, mas há também relatos de colangiocarcinoma(91)

.Elevado índice de

suspeita de CHC é importante, visto que este pode desenvolver-se em um terço dos

pacientes com cirrose devida HH(92)

. O ferro é ainda um co-factor de morbilidade em

doenças hepáticas crónicas de várias causas, sendo por isso importante identificar,

qualificar, quantificar e interpretar a presença do mesmo noutras doenças(84)

.

A importância de distinguir SS das patologias que a constituem isoladamente, deve-

se sobretudo às opções terapêuticas(65)

. A baixa prevalência de síndrome de sobreposição

HAI-CBP tem limitado a realização de estudos de controlo terapêutico(39)

. As

recomendações terapêuticas continuam a basear-se no tratamento tanto da HAI quanto da

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CBP. Existem dados que sugerem que o tratamento combinado é mais efectivo(93)

. Quando

não tratada, a HAI severa tem uma mortalidade superior a 50%, em 3 a 5 anos após o

diagnóstico(28)

. A imunossupressão com corticóides (a prednisona tem sido usada na dose

inicial de 0,5mg/kg/dia e deve ser ajustada com base nos valores de ALT(89)

),

habitualmente em combinação com azatioprina, 1-15 mg/kg/dia)(89,94)

, é considerada o

tratamento de primeira linha para induzir e manter a remissão da HAI. O objectivo

terapêutico é a normalização completa das transaminases. Sob imunossupressão, a maioria

dos pacientes atinge a remissão completa(95)

. Apesar de alguns atingirem a remissão após

algum tempo de tratamento, muitos necessitam terapia prolongada. A remissão deve ser

alcançada por pelo menos quatro anos antes de ser considerada a retirada da terapia

imunossupressora(95)

. Os pacientes com HAI tipo 2 devem ser tratados com

imunossupressão permanente, sendo que esta só pode ser concluída em pacientes com HAI

tipo 1. Alguns pacientes não toleram os efeitos secundários da terapia, sendo necessárias

outras alternativas: ciclosporina em pacientes resistentes aos corticóides(96)

; tacrolimus(97)

;

metotrexato(98)

; ciclofosfamida(99)

; ursodiol(100)

; micofenolato mofetila(101)

. O ácido

ursodeoxicólico é o tratamento habitual aprovado para a CBP. Quando administrado na

dose de 13-15mg/kg/dia, 2 em cada 3 pacientes tem uma esperança média de vida normal,

sem necessidade de adição de outras medidas terapêuticas. Um em cada 3 pacientes não

responde à terapêutica ou pode necessitar de medidas adicionais e/ou transplante. A

sobrevivência média dos indivíduos não tratados é de 7,5-16 anos(102,103)

.

O transplante hepático é um tratamento de escolha nos pacientes com SS em

estágio terminal. As indicações para transplante (Anexo: Tabela 9) são cirrose

descompensada com desenvolvimento de ascite resistente ao tratamento, peritonite

bacteriana espontânea recorrente, encefalopatia, varizes esofágicas sangrantes recorrentes

e/ou CHC. Em pacientes altamente seleccionados, o prurido na ausência de cirrose

descompensada pode ser indicação para transplante, tal como também o é a osteoporose

severa (104)

. As taxas de sobrevivência são de 80-90% após 5 anos. Não existe diferença

estatística significativa entre os pacientes com SS em relação aos que não apresentam esta

síndrome no que respeita a morte (27% vs 13%), necessidade de transplante hepático (15%

vs 7%) ou presença de cirrose (50% vs 39%)(74)

. A doença recidiva em mais de 30% dos

pacientes 10 anos após transplantação, mas geralmente apresenta-se com uma evolução

moderada e que responde à terapia imunossupressora(104)

.

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CONCLUSÃO

Apesar de em Portugal a doença hepática alcoólica ser a principal causa de cirrose

(1 em cada 10 casos), o doente descrito não apresentava hábitos etílicos importantes. Além

da ausência de consumo de álcool, o mesmo negava ainda outros factores de risco para

doença hepática, tais como comportamentos sexuais de risco ou consumo de drogas

endovenosas, por exemplo. Tal facto, obriga a ponderar uma causa auto-imune ou

hereditária como etiologia provável de cirrose.

A presença de elevação de AST e ALT indicam a presença de citólise, que

associadas a hipergamaglobulinemia com pico de IgG, bem como presença de ANA e

SMA, favorecem o diagnóstico de HAI, provavelmente de tipo 1. Contudo, o aumento de

FA e GGT, assim como AMA indicam lesão colestática por CBP. A biópsia hepática

realizada comprova precisamente a presença simultânea de lesões características de ambas

as doenças. A HAI e CBP são patologias com elevada prevalência no sexo feminino,

sobretudo na quinta década de vida, mas que no entanto também ocorrem com alguma

frequência no sexo masculino. Quando HAI e CBP, doenças que se encontram em pólos

opostos no espectro das lesões hepáticas auto-imunes, surgem em simultâneo no mesmo

paciente trata-se de um Síndrome de Sobreposição HAI-CBP. Estes doentes apresentam

pior prognóstico do que os que têm apenas uma das patologias isoladamente. Além da

sobreposição HAI-CBP, o doente apresentava ainda outra alteração histológica na biópsia

hepática: siderose grau 1 em 4, que indica deposição hepática de ferro, por HH, mas sem

outras manifestações da doença. Até ao momento não está descrito nenhum caso de

síndrome de sobreposição associado a hemocromatose hereditária.

À semelhança do que ocorre na maioria dos casos de cirrose, a doença hepática de

base manteve-se assintomática até que ocorresse descompensação, ou seja, quando já

aproximadamente mais de 80% do parênquima se encontra lesado. Após o estabelecimento

de cirrose, o tratamento deve focar-se na prevenção das complicações. Quando a

terapêutica médica deixa de ser eficaz, o transplante é então o único tratamento curativo.

A presença de sintomatologia, como prurido, aumento da fadiga e icterícia são

habituais no SS. Outras alterações, como hipotensão arterial, ascite, colúria, acolia e

presença de circulação venosa colateral estão, por sua vez, mais associadas à

descompensação da cirrose hepática.

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No presente episódio, o surgimento de melenas num doente com varizes esofágicas

e gastropatia hipertensiva portal leva a ponderar uma hemorragia digestiva alta por rotura

de varizes esofágicas como a principal causa. A existência de antecedentes familiares de

neoplasia de cólon, obriga contudo a ponderar esta como outra possível etiologia, mas

descartada pela colonoscopia.

Os doentes com SS, 38% desenvolvem cirrose ou insuficiência hepática em apenas

5 anos, aumentando o risco de hipertensão portal. A sobrevivência após um ano de um

doente com cirrose hepática Child-Pugh-Turcotte classe C é de 45%. A mortalidade após

descompensação e na ausência de transplante é de 85% em 5 anos.

A cirrose é também um importante factor de risco para CHC. Outro factor que

aumenta o risco de CHC é a presença de HH (risco 240 vezes superior). O ferro é

carcinogéneo e em simultâneo um co-factor de morbilidade noutras doenças hepáticas

crónicas.

O transplante deve ser considerado em pacientes com cirrose descompensada que

não respondem à medicação. Neste caso o doente apresentava cirrose descompensada com

ascite resistente ao tratamento e varizes esofágicas sangrantes, tornando-se por isso

candidato a transplante. O enfarte agudo de miocárdio póstero-inferior com derrame

pericárdico que o doente sofreu em 2001 poderia ser considerada uma contra-indicação ao

mesmo; contudo os benefícios são considerados superiores aos riscos.

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ANEXOS

Tabela 1 - Causas de Cirrose Hepática

Mais frequentes Menos frequentes

Doença Hepática Alcoólica 60-70% Hepatite Auto-Imune

Hepatite Viral Crónica

- Hepatite B

- Hepatite C

10% Fármacos e toxinas

- α- metildopa

- Amiodarona

- Isioniazida

- Metotrexato

Patologia Biliar

- Atresia biliar/hepatite neonatal

- Fibrose quística

- Cirrose Biliar Primária

- Colangite Esclerosante Primária

- Colangiopatia Auto-Imune

5-10% Doença Hepática Metabólica Hereditária

- Défice de α 1 anti-tripsina

- Porfiria

- Doença de Wilson

Hemocromatose 5-10% Infecção

- Brucelose

- Sífilis congénita ou terciária

- Equinococose

- Shistosomíase

Esteato-hepatite não-alcoólica 10% Alterações vasculares

- Insuficiência cardíaca direita

- Telangiectasia hemorrágica hereditária

Doença veno-oclusiva

Idiopática

Fonte: Adaptado de Heidelbaugh JJ, Bruderly M (2006) Cirrhosis and Chronic Liver Failure: Part I.

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Tabela 2 - Avaliação laboratorial da cirrose

Bioquímica Elevação das AST e ALT, FA, GGT, bilirrubina

Diminuição albumina, TP

Hemograma Anemia

Trombocitopenia e/ou leucopenia

Marcadores víricos HBsAg, Anti-HBc, DNA-HBV e/ou HBeAg

Anti-HCV e RNA-HCV

Marcadores Auto-imunes AAM

p-ANCA

ANA, Anti-KLM, Anti-SLA

Fonte: Adaptado de Schuppan D, Nezam HA (2008) Liver Cirrhosis. Lancet

371(9615):838-851.

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Tabela 3 - Classificação de Child-Pugh-Turcotte (CPT), obtida pelo somatório dos

resultados dos 5 parâmetros: classe A (5 a 6 pontos), B (7 a 9) e C (10-15). Classificação

igual ou superior a 7 pontos (classe B) indica descompensação, sendo este nível aceite para

inclusão na lista de transplantação. Resultado do paciente: 11 pontos (CPT classe C).

Parâmetros 1 2 3 Paciente

Bilirrubina sérica (µmol/L ou

mg/dL)

<34 ou <2 34-51 ou 2-

3

>51 ou >3 7,12 mg/dL

Albumina sérica (g/L) >35 28-35 <28 27,4 g/L

TP (INR) <1,7 1,7-2,2 >2,2 1,564

Ascite Nenhuma Facilmente

controlada

Mal

controlada

Mal

controlada

Encefalopatia hepática Nenhuma Mínima Avançada Nenhuma

Fonte: Schuppan D, Nezam HA (2008) Liver Cirrhosis. Lancet 371(9615):838-851. e

Processo Clínico.

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Tabela 4 - Exames complementares de diagnósticos, relativos a 2005,

aquando do diagnóstico do quadro de Cirrose Hepática

BQ Bilirrubina total= 7,1 mg/dL

Bilirrubina directa= 5,54 mg/dL

DHL= 1128 U/L

TGO= 878U/L

TGP= 1502 U/L

Eco abdominal Hepatomegalia homogénea; quisto biliar de 13mm

no lobo direito; vesícula e vias biliares normais;

incipiente esplenomegalia homogénea;

adenopatias/conglomerados adenopáticos peri-

pancreáticos com 21 e 27 mm.

Marcadores

Víricos

VHB, VHC e VIH negativos.

Proteinograma Inversão albumina/globulinas e pico na γ-globulina.

IEF sérica Hipergamaglobulinemia policlonal.

Ferritina sérica > 2000 ng/ mL

Auto-anticorpos ANA 1/1280; AMA 1/320; M2 positivo fraco; AML

1/40; IgG 3640 mg/dL.

Biópsia hepática Fígado com fibrose marcada (em evolução

cirrógenea) e alterações morfológicas que

favorecem o diagnóstico de CBP. Alterações do

metabolismo do ferro (siderose grau 1 em 4).

Fonte : Processo Clínico.

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Tabela 5 - Escala IAIHG diagnóstica de HAI

Parâmetros Características

Sexo feminino +2

FA/AST (ou ALT)

<1.5

1.5-3

>3

+2

0

-2

Globulinas séricas ou IgG superior ao normal

>2

1.5-2

1.0-1.5

<1.0

+3

+2

+1

0

ANA,SMA ou LKM-1

>1:80

1:80

1:40

<1:40

+3

+2

+1

0

AMA positivos -4

Marcadores de hepatite vírica

Positivos

Negativos

-3

+3

Consumo de drogas

Positivo

Negativo

-4

+1

Consumo abusivo de álcool

<2,5g/dia

>60g/dia

+2

-2

Histologia hepática

Hepatite de interface

Infiltrado predominantemente linfoplasmocítico

Células hepáticas ruborizadas

Nenhum dos anteriores

Alterações biliares

Outras alterações

+3

+1

+1

-5

-3

-3

Outra doença auto-imune +2

Parâmetros opcionais adicionais

Positividade para outros auto-anticorpos

HLA DR3 ou DR4

Resposta à terapêutica

-completa

-recidiva

+2

+1

+2

+3

Interpretação da escala

-pré-tratamento

HAI definitiva

HAI provável

-pós-tratamento

HAI definitiva

HAI provável

>15

10-15

>17

12-17

Fonte: Alvarez F, Berg PA, Bianchi FB, Bianchi L, Burroughs AK, Cancado EL et

al (1999) International Autoinmune Hepatites Group Report: review of criteria for

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Tabela 6 - Critérios simplificados de diagnóstico de HAI (Hennes et al)

Parâmetro Limite Pontuação

ANA ou SMA

ANA ou SMA

ou LKM

ou SLA

≥1:40

≥1:80

≥1:40

Positivo

1

2

IgG >limite

superior

normal

>1.10 vezes

o limite

superior

normal

1

2

Histologia hepática compatível

com HAI 1

Ausência de hepatite vírica Sim 2

≥6: HAI provável

≥7: HAI definitivo

Fonte: Hennes EM, Zeniya M, Czaja AJ, Pares A, Dalekos GN,

Krawitt EL et al (2008) Simplified criteria for the diagnosis of

autoinmune hepatitis. Hepatology 48:169-176.

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Tabela 7 - Categorias da deposição de ferro hepático

Hemocromatose Hereditária

HFE (Tipo 1)

Não-HFE (Tipos 2A, 2B, 3 e 4)

Hemosiderose secundária a doenças sistémicas

Tranfusões

Alterações eritrocitárias (hemólise, eritropoiese ineficaz)

Anemia das doenças crónicas

Hemosiderose relaciona com cirrose

Hemosiderose mista

Hemocromatose neonatal

Hemosiderose associada a doença viral crónica e esteatose

Aumento de ferro na dieta

Fonte: Batts KP (2007) Iron overload syndromes and the liver. Mod Pathol

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Tabela 8 - Quantificação histológica do armazenamento de ferro hepático

Grau Observação e ampliação necessária

0

1

2

3

4

- Grânulos ausentes ou escassamente visíveis a 400x

- Grânulos escassamente visíveis a 250x e facilmente confirmáveis a 250x

- Grânulos discretos visíveis a 100x

- Grânulos discretos visíveis a 25x

- Massas visíveis a 10x ou sem necessidade de microscopia

Fonte: Deugnier Y, Trulin B (2007) Pathology of hepatic iron overload. World J

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Tabela 9 - Indicações e Contra-indicações para o Transplante Ortotópico de Fígado

Indicações Contra-Indicações

Insuficiência Hepática Crónica Avançada

- CPT>7

- MELD

Relativas

- HIV seropositivo

- Dependente de Metadona

- CHC em estádio 3

Insuficiência Hepática Aguda

- Malignidade Hepática Irressecável

- Transtorno Metabólico Hereditário

Absolutas

- Doença maligna extra-hepática

- SIDA

- Colangiocarcinoma

- Infecção sistémica severa, incontrolada

- Insuficiência multi-orgânica

- Doença cardiopulmonar avançada

- Abuso de substâncias

Geral

- Inexistência de terapia alternativa

- Ausência de contra-indicações absolutas

- Capacidade para cumprir os cuidados pós-transplante

Fonte: Schuppan D, Nezam HA (2008) Liver Cirrhosis. Lancet 371(9615):838-851.