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UNIVERSIDADE PAULISTA
PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
INOVAÇÃO EM REDES DE COOPERAÇÃO:
O CASO COORIMBATÁ
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Paulista – UNIP para obtenção de título de Mestre em Administração.
THIAGO COSTA CAMPOS
SÃO PAULO
2017
UNIVERSIDADE PAULISTA
PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
INOVAÇÃO EM REDES DE COOPERAÇÃO:
O CASO COORIMBATÁ
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Paulista – UNIP para obtenção de título de Mestre em Administração.
Orientador: Prof. Dr. Celso Augusto Rimoli.
Área de concentração: Redes Organizacionais.
Linha de Pesquisa: Abordagem Sociais nas Redes.
THIAGO COSTA CAMPOS
SÃO PAULO
2017
Campos, Thiago Costa. Inovação em redes de cooperativa: o caso Coorimbatá. / Thiago
Costa Campos - 2017. 97 f. : il. CD-ROM.
Dissertação de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-
Graduação em Administração da Universidade Paulista, São Paulo, 2017.
Área de concentração: Redes Organizacionais.
Orientador: Prof. Dr. Celso Augusto Rimoli.
1. Redes. 2. Inovação. 3. Cooperação. 4. Cooperativa Coorimbatá. I. Rimoli, Celso Augusto (orientador). II. Título.
THIAGO COSTA CAMPOS
INOVAÇÃO EM REDES DE COOPERAÇÃO:
O CASO COORIMBATÁ
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Paulista – UNIP para obtenção de título de Mestre em Administração.
Aprovada em:
BANCA EXAMINADORA
__________________/_____/_________
Prof. Dr. Celso Augusto Rimoli Universidade Paulista – UNIP
__________________/_____/_________
Prof. Dr. Flávio Romero Macau Universidade Paulista – UNIP
__________________/_____/_________
Prof. Dr. Júlio Araujo Carneiro da Cunha Universidade Nove de Julho- UNINOVE
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus por me amparar nos momentos mais difíceis
dessa longa caminhada, em outra cidade, e longe das pessoas mais importantes.
A minha esposa, Mayra Fernanda de Sousa Campos, com quem compartilho
as minhas dificuldades e angústias, e quem me mostra a cada dia, como passar por
elas pode ser mais leve e feliz. Meu grande exemplo de otimismo.
Ao meu amado filho, Arthur Sousa Campos, simplesmente o motivo de tudo!
Aos meus colegas, Carlos Eduardo Santos, Maria Carolina D’arruda, Augusto
Cézar D’arruda, Filipe Meirelles Gonçalves de Freitas e Paulo Henrique que, assim
como eu, aceitaram esse desafio em outra cidade, e que nos momentos mais
difíceis sempre ofereceram uma palavra amiga.
Ao meu professor orientador, Dr. Celso Augusto Rimoli, um grande
profissional, sempre um passo à frente nas suas orientações para que não saísse
dos trilhos até a última frase dessa dissertação.
Três virtudes para evitar o fracasso: - Ensinar o que se sabe; - Praticar o que se ensina; - Perguntar o que se ignora.
(Mario Sergio Cortella)
RESUMO
O presente estudo objetivou identificar como o processo de inovação se desenvolve
em redes de cooperação, tendo por base a afirmação orientadora de que a
confiança e o comprometimento são antecedentes e indutores da cooperação.
Esses dois elementos estão inseridos no contexto mais amplo da sociedade em
rede, no qual a sobrevivência e o desenvolvimento das organizações e das pessoas
atualmente são viabilizados por meio de objetivos comuns, atividades coletivas,
compartilhamento de recursos etc. Como objeto de investigação escolheu-se a Rede
Coorimbatá, formada em seu primeiro nível pelos seguintes atores: a Cooperativa de
Pescadores e Artesãos de Pai André e Bonsucesso, associações de produtores
rurais, organizações de setores públicos e a Universidade Federal do Mato Grosso
(UFMT). Em termos metodológicos esta investigação se caracterizou como
predominantemente descritiva e qualitativa e empregou a estratégia de pesquisa
estudo de caso único. As evidências foram coletadas por meio de entrevistas
semiestruturadas, pesquisa de observação direta e dados secundários e
examinadas pela estratégia analítica ‘contando com proposições teóricas’. Os
resultados encontrados sustentaram a afirmação orientadora do trabalho e
confirmaram as proposições enunciadas, permitindo que o objetivo proposto fosse
alcançado.
Palavras-chave: Redes. Comprometimento. Confiança. Redes de cooperação.
Inovação.
ABSTRACT
This study aimed to identify how the innovation process is developed in cooperation
networks, based on the guiding affirmation that trust and commitment are
antecedents and inducers of cooperation. These two elements – aim and guiding
affirmation – are embedded in the broader context of network society, which enables
the survival and development of organizations and people nowadays through
common goals, collective activities, sharing of resources, etc. The Coorimbatá
Network was chosen as research object, which was formed at its first level by the
following actors: Cooperativa de Pescadores e Artesãos de Pai André e Bonsucesso,
associations of rural producers, public sector organizations, and Universidade
Federal do Mato Grosso (UFMT). Methodologically this research was characterized
as predominantly descriptive and qualitative and employed the research strategy
single case study. The evidence was collected through semi-structured interviews,
direct observation research and secondary data and was examined by the analytical
strategy 'counting on theoretical propositions'. The results support the guiding
affirmation of the dissertation and confirmed the stated propositions, allowing the
proposed goal to be achieved.
Keywords: Networks. Commitment. Trust. Cooperation Networks. Innovation.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Tabela 1 – Busca de palavras chaves no Portal Scielo ............................................. 18
Tabela 2 – Busca de palavras chaves no Ebsco ....................................................... 19
Figura 1 – Redes que atua no sistema integrado de inovação tecnológica .............. 20
Figura 2 – Modelo KMV de Morgan e Hunt ............................................................... 40
Figura 3 – Proposta de modelo teórico de pesquisa ................................................. 40
Figura 4 – Nova estrutura do frigorífico após reforma ............................................... 56
Figura 5 – Marca própria da Rede Coorimbatá ......................................................... 62
Quadro 1 – Características das inovações ................................................................ 34
Quadro 2 – Questões relacionadas à sustentação da proposição 1 ......................... 41
Quadro 3 – Questões relacionadas à sustentação da proposição 2 ......................... 42
Quadro 4 – Questões relacionadas à sustentação da proposição 3 ......................... 42
Quadro 5 – Sujeitos de pesquisa .............................................................................. 49
Quadro 6 – Guia para coleta e análise de dados ...................................................... 50
Quadro 7 – Sujeitos das entrevistas semiestruturadas ............................................. 58
Quadro 8 – Características das inovações ................................................................ 71
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APL Arranjo produtivo Local
EIT-UFMT Escritório de Inovação Tecnológica da Universidade Federal de Mato
Grosso
IFMT Instituto Federal de Mato Grosso
UFMT Universidade Federal de Mato Grosso
PME Pequenas e Médias Empresas
NIT Núcleos de Inovação Tecnológica
PADIC Programa de Apoio Direto às Iniciativas Comunitárias
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
1.1 Questão de pesquisa ...................................................................................... 14
1.2 Objetivos ......................................................................................................... 14
1.2.1 Objetivo Geral ....................................................................................... 14
1.2.2 Objetivos Específicos ........................................................................... 14
1.2.3 Proposições .......................................................................................... 15
1.3 Justificativa ..................................................................................................... 15
2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 17
2.1 Estudo bibliométrico ....................................................................................... 17
2.2 Base teórica .................................................................................................... 24
2.2.1 Conceituação de Redes ....................................................................... 24
2.2.2 Abordagens de redes e a vertente social ............................................. 27
2.2.3 Categorias sociais de rede: Confiança ................................................. 28
2.2.4 Categorias sociais de redes: Comprometimento .................................. 29
2.2.5 Redes de cooperação ........................................................................... 30
2.2.6 Inovação ............................................................................................... 32
2.2.7 Inovação em redes de cooperação....................................................... 35
2.3 Proposta teórica da pesquisa ......................................................................... 37
3 ABORDAGEM METODOLÓGICA ........................................................................ 43
3.1 Tipo de pesquisa ............................................................................................ 43
3.2 Estratégia de pesquisa ................................................................................... 44
3.3 Coleta de dados ............................................................................................. 45
3.3.1 Pesquisa de dados secundários ........................................................... 45
3.3.2 Entrevistas semiestruturadas ............................................................... 46
3.3.3 Pesquisa de observação direta ............................................................ 47
3.4 Análise dos dados .......................................................................................... 48
3.5 Esquematização da pesquisa realizada ......................................................... 49
3.5.1 Coleta e análise dos dados .................................................................. 49
3.5.2 Relatório ............................................................................................... 52
4 APRESENTAÇAO E ANÁLISE DOS DADOS ...................................................... 53
4.1 Dados secundários da rede Coorimbatá ........................................................ 53
4.2 Dados primários da rede Coorimbatá ............................................................. 57
4.2.1 Resultados das Entrevistas semiestruturada ........................................ 57
4.2.1.1 Bloco A – Descrever a dinâmica da Rede de cooperação
Coorimbatá .............................................................................. 58
4.2.1.2 Bloco B – Identificar quais tipos de inovação (incremental e
radical; de produto, de processo, de marketing e
organizacional) ocorrem na rede ............................................. 60
4.2.1.3 Bloco C – Descrever a influência da variável confiança no
processo de inovação da rede estudada ................................. 63
4.2.1.4 Bloco D – Descrever a influência da variável comprometimento
no processo de inovação da rede estudada ............................ 64
4.2.1.5 Bloco E - Consolidação entre os blocos de questões .............. 65
4.2.2 Instrumento observação direta ............................................................. 66
4.3 Análise dos dados .......................................................................................... 68
4.3.1 Análise da dinâmica da Rede Coorimbatá ............................................ 68
4.3.2 Análise dos tipos de inovação encontrados na Rede Coorimbatá ........ 69
4.3.3 Análise da influência da variável confiança no processo de inovação da
rede estudada ....................................................................................... 71
4.3.4 Análise da influência da variável comprometimento no processo de
inovação da rede estudada .................................................................. 72
4.3.5 Análises das proposições do estudo .................................................... 73
4.3.6 Comentários sobre a proposta teórica da pesquisa ............................. 74
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 76
5.1 Limitações e sugestões para trabalhos futuros .............................................. 79
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 81
APÊNDICE ................................................................................................................ 89
Apêndice A – Roteiro de entrevista semiestruturada ............................................. 89
Apêndice B – Roteiro para observação direta........................................................ 94
Apêndice C – Principais trabalhos oriundos da bibliometria que complementam a
base teórica ........................................................................................................... 95
11
1 INTRODUÇÃO
Conforme Nohria e Eccles (1992), a concepção de organização nas últimas
décadas passou por muitas transformações baseadas no desenvolvimento
tecnológico, no processo de tomada de decisão flexível e descentralizado, assim
como na capacidade de trabalhar em grupo e na constante busca por inovações.
Esses autores afirmam também que tais transformações vêm modificando a
estrutura da própria sociedade que as contêm, a ponto de elas, atualmente, se
constituirem em redes. Assim se pode falar em uma sociedade em redes que é
composta por redes de negócio, de políticas públicas, de inovação, de cooperação
etc.
A formação de redes, em função da possibilidade de ações conjuntas facilita a
resolução de problemas comuns e viabiliza oportunidades que dificilmente seriam
alcançadas pelas organizações atuando sozinhas (KLEIN, 2012). Por outro lado,
cada rede possui suas próprias características e, em alguns casos, ocorre de as
relações entre alguns atores serem mais fortes e com grande envolvimento. Em
outras situações, as ligações entre eles podem ser mais fracas com pouco
envolvimento e densidade. O primeiro caso revela redes mais coesas e com laços
fortes e o segundo caracteriza redes menos estruturadas e mais permeáveis à
influências externas, como é o caso da inovação (GRANOVETTER, 1985). Algumas
vantagens no fato das organizações se agruparem em redes podem ser notadas
pela interface entre categorias sociais na resolução de problemas e conflitos comuns
(BERTÓLI; GIGLIO; RIMOLI, 2014). E o desenvolvimento de uma rede pode ser
percebido ao se enxergar ações cooperativas em grupos. Nesses casos os atores se
tornam estrategicamente interdependentes, o que proporciona a solidificação das
relações sociais paralelamente ao surgimento de ações como troca de
conhecimentos e tecnologias (LARSON, 1992).
Outro parâmetro importante na sociedade atual é a inovação, que tem sido
apresentada como estratégia de diferenciação das organizações frente a seus
concorrentes. Conforme Silocchi (2002, p. 15) “diante das mudanças e dos cenários
cada vez mais competitivos, as empresas que pretendem manter-se ‘vivas’,
necessitam de uma estratégia de inovação”. Tradicionalmente, a inovação era
desenvolvida e aplicada em primeiro lugar por grandes empresas isoladamente, que
conduziam seu processo desde seu surgimento, passando pela aplicação até sua
12
substituição. Entretanto, consistentemente à sociedade em rede, a evolução dos
modelos e práticas voltados à gestão da inovação teve seu contexto antes interno e
isolado em cada organização modificado para o desenvolvimento de inovações em
redes (NOHRIA; ECCLES, 1992).
É possível constatar isso por meio de abordagens de gestão da inovação que
começaram a surgir a partir dos anos 1990, como a Hélice Tripla da Inovação e o
modelo denominado Inovação aberta. O primeiro envolve a atuação conjunta de três
tipos de atores principais visando a otimização dos resultados das inovações
(ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 1995). Cada tipo ou grupo de atores é representado
por uma hélice do modelo. A primeira hélice é representada por um grupo de
empresas, a segunda por instituições de ensino e pesquisa e a terceira por
instituições governamentais. Pode-se dizer que a união de esforços e os trabalhos
conjuntos dos atores dessas três hélices fomentam e inovação e constituem uma
formação em redes.
A segunda abordagem, Inovação aberta, foi apresentada por Henry
Chesbrough (2006) e sugere que o conhecimento e a inovação são desenvolvidos e
aplicados de maneira mais eficiente por um conjunto de organizações do que por
cada uma isoladamente. Além das organizações focais da inovação, o modelo inclui
universidades, fornecedores, canais de distribuição e consumidores, entre outros. O
autor afirma que criar e inovar são necessidades constantes principalmente das
organizações voltadas a fabricar e comercializar bens e serviços em que há uma
aplicação de tecnologia em produtos, em processos, na organização etc. O autor
cunhou o termo ‘conectividade e desenvolvimento’, ampliando o escopo da inovação
para além da pesquisa e desenvolvimento (P&D) tradicional. Assim, a inovação
aberta ressalta a importância de outros atores para a obtenção dos resultados que
ela enseja no contexto de organizações que cooperam em uma sociedade em rede.
Desse modo, os dois modelos mencionados envolvem a criação e difusão de
inovações em rede, constituindo arranjos entre organizações que tendem a trazer
não apenas resultados econômicos positivos para as organizações envolvidas, mas
também sociais relativos ao desenvolvimento da área em que essas organizações
estão localizadas (PAIVA; FERREIRA; MORAES, 2009). Pode-se considerar que
ambas são abordagens que envolvem inovações em redes que cooperam, o que
caracteriza o tema básico do trabalho.
Diante do que foi exposto até este ponto, vale argumentar sobre a importância
de possíveis indutores sociais da cooperação: as categorias sociais confiança e
13
comprometimento. Entende-se que a cooperação desempenha papel destacado no
alcance dos objetivos das redes e, entre eles estão a criação, desenvolvimento de
difusão de inovações e suas decorrências (produtos, serviços e soluções diversas).
Para diversos autores, a confiança e o comprometimento conduzem à cooperação,
mediando diversas outras variáveis (MORGAN; HUNT, 1994; WEGNER et al., 2010;
SOUSA et al., 2015).
Pode-se dizer também que não há consenso estabelecido quanto à
precedência das categorias ou variáveis confiança, comprometimento e cooperação
entre si. Assim, em alguns trabalhos a cooperação aparece antes da confiança e do
comprometimento em uma rede (LARSON, 1992); em outros, as três variáveis se
manifestam conjuntamente (PERROW, 1992; ZAWISLAK, 2000). Ainda em outros, a
confiança e o comprometimento geram ou antecedem a cooperação (PUTNAM,
2000), e ainda acontece de confiança e comprometimento ocorrerem
simultaneamente na rede (BERTÓLI, 2014). É possível que as posições como
antecedentes ou consequentes entre essas variáveis dependam do contexto
específico de cada rede, ou que alguma dessas posições seja prevalentes na
grande maioria dos casos. O que parece certo é que são necessários mais estudos
a esse respeito e essa é uma das razões que justificam a realização deste trabalho,
que parte da premissa de que confiança e comprometimento são variáveis
antecedentes da cooperação, e esta última potencializa as inovações.
Assim, foi adotada neste trabalho a afirmação orientadora de que a confiança
e o comprometimento são antecedentes e indutores da cooperação, com base no
estudo seminal de Morgan e Hunt (1994). Conforme foi desenvolvido na base teórica
da dissertação os autores identificaram essa relação, entre outras, na construção e
validação do modelo KMV (ver Figura 2, p. 40).
Considerando esse panorama, esta pesquisa se propôs a analisar um caso
que envolve pesquisadores de uma universidade e uma comunidade de pescadores
e pequenos produtores rurais e também mais alguns atores importantes bem como a
geração e aplicação de inovações. Trata-se de uma rede localizada no estado do
Mato Grosso na qual a inovação gerou resultados econômicos e sociais. Seus
principais atores são: a Cooperativa de Pescadores e Artesãos de Pai André e
Bonsucesso (Coorimbatá), associações de produtores rurais, organizações dos
setores públicos, e a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Este último ator
atua como incubadora através do Escritório de Inovação Tecnológica (EIT) no
contexto da inovação em rede. A Rede Coorimbatá constitui uma experiência bem-
14
sucedida de participação da universidade em cooperação com uma comunidade de
pescadores e pequenos produtores, entre outros atores. Os resultados dessa
cooperação podem ser considerados exemplares em termos de desenvolvimento
econômico e social, e por esse motivo essa rede foi escolhida como objeto de
estudo desta dissertação. Isso se expressa no questionamento de pesquisa,
apresentado a seguir.
1.1 Questão de pesquisa
Este projeto pretende responder à seguinte questão: Como o processo de
inovação se desenvolve em redes de cooperação?
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
O objetivo desta dissertação é investigar como o processo de inovação se
desenvolve em redes de cooperação.
1.2.2 Objetivos Específicos
Os objetivos específicos, associados ao tema em questão, são:
a) Descrever a dinâmica da Rede de Cooperação Coorimbatá;
b) Identificar quais tipos de inovação (incremental e radical; de produto, de
processo, de marketing e organizacional) ocorrem na rede.
c) Descrever a influência da variável confiança no processo de inovação da
rede de cooperação estudada;
d) Descrever a influência da variável comprometimento no processo de
inovação da rede de cooperação estudada.
Os estudos, leituras e contatos permitiram no âmbito da Rede Coorimbatá
também a formulação e avaliação de algumas proposições que visaram avaliar a
precedência das categorias confiança e comprometimento à cooperação e a relação
desta última com as inovações. Elas são enunciadas na sequência.
15
1.2.3 Proposições
Proposição 1. A confiança influencia positivamente o desenvolvimento e
a aplicação de inovações na rede de cooperação Coorimbatá.
Proposição 2. O comprometimento influencia positivamente o
desenvolvimento e a aplicação de inovações na rede de cooperação
Coorimbatá.
Proposição 3. Redes de cooperação propiciam o desenvolvimento de
inovações.
1.3 Justificativa
A escolha do tema dessa pesquisa envolve o esforço de conhecer mais sobre
a dinâmica da inovação em redes de cooperação. Os conceitos centrais que a
norteiam – seus possíveis indutores, confiança e comprometimento, bem como seus
efeitos nas inovações – seguem linha de atuação conjunta de diferentes
organizações para o desenvolvimento e a aplicação de inovações, visando o alcance
e objetivos comuns com esforços compartilhados (NOHRIA; ECCLES, 1992;
CASTELLS, 1999; VERSCHOORE; BALESTRIN, 2008). Acredita-se que análises
das categorias confiança e comprometimento como antecedentes da cooperação
possam trazer contribuições a esses estudos, pois não se encontrou consenso sobre
isso.
A escolha da Rede Coorimbatá como objeto de pesquisa se deu devido a
algumas peculiaridades e repercussões que sua criação e desenvolvimento
geraram. Conforme foi desenvolvido no Capítulo 4, a parceria entre a UFMT, por
meio do EIT e das comunidades de pescadores e pequenos agricultores que a
compõem, junto a outros atores, propiciou à Rede Coorimbatá grandes
repercussões econômicas e sociais. Essa situação gerou diversas publicações em
periódicos científicos nas áreas de gestão da inovação, inovação tecnológica social,
economia solidária e sustentabilidade. Entretanto, no âmbito da Rede Coorimbatá, o
enfoque desta dissertação, não foi encontrado. Desse modo, justifica-se a escolha
do tema também em face da oportunidade de entender como os temas envolvidos
interagem para propiciar inovações em redes, podendo assim ampliar as
explicações teóricas existentes.
16
Além disso, a pesquisa de Paese et al. (2013) analisou opiniões de gestores
de empresas em Mato Grosso e constatou a importância das Instituições de
pesquisas como indutoras no processo de inovação para pequenas empresas,
propiciando maior competitividade a elas. Porém, o desenvolvimento de novos
produtos e processos ainda é incipiente, o que torna fundamental a aplicação desse
conhecimento nas pequenas empresas de modo sistemático, senão os saberes
científico e tecnológico produzido na academia se encerrariam nela mesma.
Existem outros trabalhos científicos sobre a Rede Coorimbatá, resultantes de
processos sistêmicos de atuação articulados entre a cooperativa, instituições de
ensino e outras organizações públicas e privadas referentes às áreas de engenharia
e tecnologia de alimentos, microbiologia, entre outras. Nessas pesquisas o foco foi
direcionado aos aspectos técnicos e até para gestão, mas não contemplam os
questionamentos desta dissertação. Como exemplo há a pesquisa de qualidade de
processamento da matéria prima, que culminou na ampliação de parcerias para a
criação do Sistema Integrado de Inovação Tecnológica Social (HARUKO; PRIANTE,
2012). Em outra pesquisa (Neto et al., 2014) apresentaram a estratégia adotada pela
UFMT para estabelecer articulação inovadora a partir da incubação de
empreendimentos de economia solidária, com objetivo de ampliar as conexões dos
ambientes de inovação e os setores público e privado entre a UFMT, Coorimbatá e a
ARCA Multincubadora subordinada ao Escritório de Inovação Tecnológica da
Universidade Federal de Mato Grosso (EIT/UFMT). Desse modo, o que distingue o
presente trabalho é a busca por conhecer a influência das categorias sociais
confiança e comprometimento em redes de cooperação e seus efeitos em
inovações.
Além desta introdução, este trabalho traz em seu segundo capítulo a revisão
da bibliografia com o estudo bibliométrico em que é mostrado um panorama sobre
trabalhos relevantes ao tema e também a fundamentação teórica que serviu de
respaldo conceitual para as análises realizadas. A abordagem metodológica é
desenvolvida no terceiro capítulo demonstrando o método e técnica escolhidos e,
por fim, a apresentação e análise dos resultados e as considerações finais do
trabalho estão descritas nos capítulos quarto e quinto, respectivamente.
17
2 REVISÃO DA LITERATURA
Este capítulo traz a revisão da literatura pertinente a esta dissertação que
serviu como base para as análises realizadas e é composto por três tópicos
principais. Assim, o Tópico 2.1 traz um estudo bibliométrico a partir das palavras-
chaves do trabalho indicadas no resumo (para a base de artigos em português) e no
abstract (para a base de artigos em inglês) que foram pesquisadas. Essa
providência teve como finalidade enriquecer a base teórica do trabalho,
desenvolvida no Tópico 2.2, que apresenta as principais áreas do conhecimento
envolvidas (redes e inovação) e seus recortes específicos. Por fim, o Tópico 2.3 traz
a proposta teórica da pesquisa e as proposições enunciadas.
2.1 Estudo bibliométrico
Este tópico apresenta uma busca em publicações acadêmicas a respeito do
tema desta dissertação a partir das palavras-chaves do trabalho, ou seja, redes de
cooperação, inovação, confiança e comprometimento. Tratou-se de acompanhar a
evolução sobre o tema e os principais artigos publicados em periódicos acadêmicos
nacionais e internacionais nas línguas em português e inglês. Isso foi realizado por
meio de um estudo bibliométrico que, conforme Cunha (1985) permite selecionar
uma quantidade artigos importantes para o tema estudado, direcionando as buscas
sobre determinado assunto. Para isso, foram utilizados os portais SCIELO e
EBSCO, dois bancos de dados com artigos nacionais e internacionais
respectivamente. Ambos são continuamente atualizados e indicam a quantidade e a
tendência temática de artigos publicados em revistas científicas que apresentam
resultados a partir de palavras e expressões chaves das pesquisas.
Em consulta ao portal SCIELO buscou-se inicialmente a palavra-chave “redes
de cooperação”, na área de Ciências Sociais aplicadas, o que resultou em 82
artigos. A busca foi repetida com filtro para o período 2006-2017 na área de Ciências
Sociais aplicadas e o total foi reduzido para 72 artigos. A Tabela 1 mostra o
resultado final dessa busca com os mesmos parâmetros para as quatro palavras-
chaves e acrescentando o filtro somente no resumo. Traz também as intersecções
entre elas.
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Tabela 1 – Busca de palavras chaves no Portal Scielo
Palavras-chaves Frequência
(1) Redes de cooperação 54
(2) Inovação 595
(3) Confiança 232
(4) Comprometimento 99
(1) e (2) 9
(1) e (3) 6
(1) e (4) 2
(2) e (3) 17
(2) e (4) 1
(3) e (4) 5
(1), (2),(3) e (4) 0
Fonte: Desenvolvida pelo autor em 2017.
Pode-se verificar pela Tabela 1 que houve uma quantidade considerável de
pesquisas acadêmicas no Brasil envolvendo o tema inovação, porém o tema central
dessa pesquisa redes de cooperação retornou somente 54, e desse número, apenas
9 envolvendo o tema redes de cooperação e inovação. Quanto às interseções
desses termos os números diminuem muito, e não apresentando nenhum trabalho
que traga as combinações dos termos 1, 2, 3 e 4, o que demonstra que pesquisas
envolvendo esses temas no Brasil ainda são irrisórias. Por fim, da Tabela 1 foram
consideradas para o estudo as intersecções 1 e 2 e também a 3 e 4, o que somou
14 artigos do portal Scielo.
Quanto à investigação dos artigos internacionais se considerou relevante
realizar a pesquisa pelo portal EBSCO, um banco de dados reconhecido e destinado
a indicar a quantidade e a tendência de artigos internacionais. A consulta ao EBSCO
se deu a partir da tradução das palavras-chaves utilizadas na busca anterior para o
idioma inglês, obtendo-se: Cooperation Networks (1); Innovation (2); Trust (3); e
Commitment (4). Analogamente à consulta anterior, esta foi feita para os termos
mencionados (1, 2, 3 e 4) e suas intersecções, tendo com filtros a busca em
periódicos acadêmicos, tipo de documento artigo, e com cada uma das palavras-
chaves no título e limitadas ao período 2006-2017. Os resultados obtidos são
mostrados na Tabela 2.
19
Tabela 2 – Busca de palavras chaves no Ebsco
Categorias Frequência
(1) Cooperation Networks 183
(2) Innovation 15.079
(3) Trust 5.232
(4) Commitment 3.426
(1) e (2) 14
(1) e (3) 2
(1) e (4) 0
(2) e (3) 41
(2) e (4) 27
(3) e (4) 5
(1), (2), (3) e (4) 0
Fonte: Desenvolvida pelo autor em 2017.
Os resultados apresentados na Tabela 2 mostram números maiores para
cada um dos termos pesquisados individualmente em relação ao portal SCIELO,
mantendo, porém com um padrão semelhante de diminuição nas intersecções de
palavras-chaves. O destaque nos dois portais é a quantidade de pesquisas com o
tema inovação frente aos outros temas, o que mostra grande interesse em
pesquisas por esse tema genérico.
No entanto, o conjunto desses números mostra que o tema deste trabalho,
inovação em redes de cooperação, ainda não foi extensamente pesquisado. Para a
pesquisa deste trabalho, foram escolhidas da Tabela 2 as linhas 1 e 2, e também a 3
e 4, que totalizam 19 artigos extraídos do portal EBSCO.
A seguir se discorre brevemente sobre o conteúdo de alguns artigos
selecionados por essas buscas e que se acredita puderam enriquecer a feitura desta
dissertação. A seleção dos artigos que seguem privilegiou a experiência brasileira
em temas correlatos, em função de o objeto de estudo – a Rede Coorimbatá – ser
um fenômeno e uma experiência estritamente brasileiros.
A pesquisa de Freitas e Freitas (2013) buscou entender como um arranjo
organizacional de cooperativa de economia solidária contribui para fortalecimento da
agricultura familiar de maneira sustentável. Como resultado, as interações sociais
estabelecidas entre as organizações locais e a cooperativa tornaram-se um meio
20
racional de desenvolvimento e fortalecimento econômico para os participantes da
cooperativa.
O trabalho de Araraki et al. (2012) propõe apresentar um processo de
desenvolvimento de tecnologias sociais e de incubação de empreendimentos de
economia solidária, com base na lei de inovação. Trata-se de um arranjo em rede e
de forma articulada entre uma cooperativa de economia solidária e uma Instituição
de ensino e pesquisa – Escritório de Inovação Tecnológica da Universidade Federal
de Mato Grosso (EIT-UFMT). Essa estrutura pode ser replicada em outros Núcleos
de Inovação Tecnológica (NIT) para inclusão social. O plano estratégico e as ações
são articulados em rede, propiciando a definição de novos parceiros e
proporcionando soluções conjuntas para a otimização dos recursos e melhor
alcance dos resultados. A Figura 1 a seguir ilustra a rede envolvida nesse trabalho,
cuja pesquisa de campo se deu em Cuiabá e envolve a Coorimbatá, cooperativa que
faz parte da rede objeto de estudo desta dissertação.
Figura 1 – Redes que atua no sistema integrado de inovação tecnológica
Fonte: Araraki et al. (2012).
O trabalho de Martins et al. (2014) traz a feitura de uma pesquisa em uma
rede de inovação tecnológica na qual um dos principais parceiros foi o SEBRAE. Os
resultados mostraram que houve fomento à rede via suporte às ações de pesquisas
desenvolvidas pelas empresas participantes da rede.
21
Bastos et al. (2014) identificam em seu trabalho a categoria comprometimento
como a força que caracteriza o envolvimento do indivíduo com a organização por
meio da aceitação dos valores e objetivos organizacionais. Outro ponto importante
relacionado a isso é a vontade de fazer parte do grupo e a realização de esforços
individuais em benefício de todos os membros de um grupo.
Balestrin e Verschoore (2010) mostraram que os esforços de aprendizagem e
de inovação estão se modificando de um processo individual e endógeno para um
processo multidirecional, exógeno, colaborativo e em redes. Destacam-se também
na pesquisa que as redes mais antigas, com maior número de atores e do setor de
comércio foram as que obtiveram melhor desempenho com relação ao lançamento
de novos serviços e produtos, assim como a adoção de novas práticas. Tal fato
pode ser sustentado pela frequência de relacionamentos duradouros trazendo para
dentro da rede de cooperação maior capital social e confiança.
Klein et al. (2014) caracterizaram a categoria comprometimento como um
elemento responsável pela cooperação quando se trata de informações e
aprendizagem. Outro resultado importante e pertinente a esta dissertação é que a
falta de confiança e de comprometimento é um fator importante entre os
responsáveis pela saída das empresas das redes.
Silva et al. (2008) apresentaram um modelo com benchmarking, mostrando
como ocorre a transferência de tecnologia impulsionada pelas universidades ao nível
de redes de inovação. Foi confirmada na pesquisa a importância das universidades
como maiores propulsoras do desenvolvimento e da competitividade regional nas
redes, propiciando uma maior transferência de conhecimento visando à inovação.
De acordo com Hernandez (2012), comprometimento e confiança, por
possuírem a característica de inter-relacionamento, se apresentam como variáveis
importantes na relação com os demais atores da rede. Consistentemente, a falta de
ambos tende a influenciar negativamente a capacidade de troca de informações
entre atores da rede (HERNANDEZ, 2012).
Conforme Tálamo e Carvalho (2010) a estruturação em forma de redes de
cooperação foi um fator crítico para o sucesso das empresas participantes de seu
estudo, dotando-as de flexibilidade e competitividade frente aos obstáculos de
mercado. Contudo, exige-se amadurecimento tanto dos empresários participantes
quanto da rede de cooperação para a superação de limitações culturais, mitigando
assim as barreiras ao aprendizado sinérgico.
22
De acordo com Pires et al. (2012) a complexidade no processo de inovação
tecnológica vem intensificando o surgimento de novos modelos de negócio e
arranjos colaborativos para o desenvolvimento de atividades de pesquisa e de
inovação. Essa pesquisa identificou que para haver total alinhamento entre
instituições de pesquisa e empresas é necessário avançar na capacidade de
trabalhar em redes de colaboração e na configuração adequada de arranjos
institucionais e convergência com a estratégia corporativa.
Balestrin e Verschoore (2008) confirmaram proposições teóricas evidenciando
que a cooperação em redes é um caminho viável para desenvolver economias locais
de forma sustentável. Os fatores mais relevantes evidenciados nessa pesquisa, em
ordem de importância, foram: (1) acesso a soluções, (2) poder de mercado, (3)
inovação e aprendizagem, (4)relações sociais, (5) diminuição de riscos e custos.
Moura et al. (2008) identificaram em sua pesquisa três aprendizados. O
primeiro é que o processo de reestruturação de P&D “ocorre de fora para dentro”, ou
seja, a internalização de recursos e capacidades em redes de inovação. O segundo
remete a uma sequência lógica de tipos de inovações em que a inovação
incremental possibilita o acesso a recursos financeiros e mercadológicos que
possibilitam investimentos em inovação de ruptura, com maior impacto no mercado.
Por fim, a rede de inovação possibilitou reestruturação de seu modelo de negócio.
Para Silva, Feitosa e Aguiar (2012) o fator inovação foi considerado primordial
para o desenvolvimento de redes interorganizacionais em que seus atores
consideraram que a parceria entre as empresas era indutora de inovações. Porém,
apesar de os levantamentos estatísticos mostrarem que existe de fato uma relação
forte de parceria no APL, ficou claro que os benefícios econômicos dessa relação
eram limitados a algumas empresas em detrimento das outras.
Ainda no contexto da inovação, Ipiranga (2008) realizou um ensaio com
objetivo de articular esquemas e conceitos teóricos como um guia de aprendizagem
da inovação num contexto de redes interorganizacionais de arranjo local, por ser um
espaço de compartilhamento tácito que ocorre através do imbricamento social. O
autor concluiu que a capacidade de inovação em sistemas produtivos locais tem
reorientado as políticas públicas para desenvolvimento local.
Nascimento et al. (2011) analisaram como uma incubadora e sua equipe
gestora se relacionavam com as empresas incubadas na troca de informação para o
desenvolvimento da inovação. Dentre as observações, destacam-se: (1) As
23
incubadoras tinham consciência do seu papel como mediadoras, porém de maneira
informal. (2) Devido ao grande número de empresas incubadas a oportunidade de
troca de informações era propícia, mas ainda assim, havia dificuldade de
comunicação entre elas. (3) Existia assimetria no âmbito da rede na percepção das
empresas parceiras. (4) Inovações incrementais eram mais frequentes.
O trabalho de Desidério e Popadiuk (2015) mostrou a possibilidade de as
pequenas empresas terem de obter vantagem competitiva através do acesso a
redes de inovação aberta, com o compartilhamento e transferência de conhecimento
viabilizando a inovação. Em pequenos negócios há uma grande dificuldade em
manter uma estrutura inovadora sustentável, que somente são acessíveis em
estrutura de grande porte. Nesse contexto a pesquisa buscou identificar os perfis na
interação em rede com pequenas empresas, onde foram identificadas oportunidades
de absorção tecnológica em ambientes interativos e abertos.
E por fim, Martin (2013) argumentou em sua pesquisa em vários setores
localizados em diferentes partes da Europa, que o tipo das redes de inovação varia
substancialmente considerando o nível de conhecimento que é necessário para que
ocorra a inovação. A base de conhecimento da rede pode diferir em vários aspectos:
localização geográfica, tempo de existência, sua estrutura e densidade, posição
estratégica de alguns atores e a relação entre eles. Os resultados sugerem que as
redes são pouco influenciadas pela distância geográfica e que o conhecimento é
trocado de uma forma altamente seletiva entre as empresas.
Pode-se constatar após essa breve busca que alguns artigos são mais
convergentes com o tema desta dissertação e por isso contribuíram mais para sua
evolução. Como exemplos, o artigo do Klein et al. (2014) em que a falta de confiança
e comprometimento constituem fator responsável pela saída das empresas das
redes. Também os artigos de Nascimento et al., (2011) sobre a troca de informação
para o desenvolvimento de inovações a partir de uma instituição de pesquisa e a
empresa incubada trazem importantes ideias. E o trabalho de Desidério e Popadiuk
(2015), que mostra bons resultados de pequenos negócios utilizando a inovação.
A lista dos artigos que complementam os artigos comentados, que foram
identificados na pesquisa bibliométrica e considerados relevantes para esta
dissertação, estão esquematizados no Apêndice C, que traz a autoria, fonte, o título,
as palavras-chaves e os conceitos e resultados importantes para esta pesquisa.
24
2.2 Base teórica
Neste tópico são desenvolvidas teorias e conceitos sobre os temas redes,
principalmente em sua abordagem social e inovação, visando subsidiar a pesquisa
proposta neste projeto.
2.2.1 Conceituação de Redes
Conforme Alvarez e Ferreira (1995), em períodos de estabilidade e
competição restrita, as organizações configuradas de forma hierarquizada e
verticalizada obtiveram muito sucesso. Porém, a partir dos anos 1980 essa
configuração de negócios não tem dado a resposta que o mercado exige por estar
muitas vezes associada a inflexibilidade e ineficiência. O autor argumenta também
que com o intuito de atender às novas exigências de mercados instáveis, com
elevação nos padrões de consumo e demanda crescente por produtos
personalizados, as organizações têm utilizado uma nova configuração de negócios.
De maneira crescente as redes têm sido empregadas para isso e se caracterizam
por serem mais flexíveis e oferecerem maior capacidade adaptativa, com respostas
mais rápidas às necessidades do mercado e da sociedade na qual estão imersas.
Loiola e Moura (1997) lembram que a origem do termo redes faz alusão aos
nós ou entrelaçamento entre as organizações, destacando a complementaridade
entre elas, sendo que a competição isolada foi substituída pela cooperação entre as
organizações, em forma de redes. Dessa maneira, as organizações têm adotado sua
utilização, primeiramente as grandes e depois as pequenas, que se vincularam
umas às outras através de arranjos de cooperação. Há casos exemplares, como
ocorreu no norte da Itália, em que pequenas empresas vêm se mantendo
competitivas em seus mercados através do arranjo em redes (CASAROTTO; PIRES,
1998).
Redes podem ser vistas como grupos de instituições que cooperam entre si
no desenvolvimento de diversos projetos conjuntos visando superar problemas
comuns em pontos que nenhuma delas seria capaz de resolver melhor sozinha. Isso
é o que basicamente fomenta a colaboração entre elas (CEGLIE; DINI, 1999).
Segundo Passador (2003), na formação de redes as empresas integrantes
precisam manter algumas características, tais como flexibilidade, interdependência e
25
diferenciação. A flexibilidade é uma importante característica das organizações
integrantes de redes e ocorre tanto no aspecto organizacional quanto na inovação
do processo produtivo. Outra característica importante é a interdependência: trata-se
de um mecanismo que sugere a constituição de atividades de coordenação e de
cooperação. E a diferenciação em redes ocorre a partir do momento em que todos
os seus atores conseguem acesso aos benefícios inovadores gerados e
compartilhados por eles.
Grandori e Soda (1995) defendem que as redes podem ser classificadas
conforme seu nível de formalidade, centralidade e por mecanismos de coordenação,
utilizados para regular a cooperação. Há redes que se caracterizam pela simetria,
situação na qual não existe uma organização centralizadora das decisões da rede. E
também há a situação de assimetria, em que uma empresa centraliza a maior parte
das relações, das decisões ou das informações. Isso evidencia a importância das
organizações e da coordenação ou governança da rede conforme o poder relativo
que cada ator detém.
Segundo Maturana e Varela (1987), no momento em que a rede se torna um
grupo com determinado nível de independência em relação às forças externas, essa
posição seria o objetivo maior buscado nos processos de rede. Em outras palavras,
uma rede está estabelecida quando a dinâmica de fluxos vai ocorrendo com relativa
independência das ações individuais e dos processos externos. Pode-se dizer que
redes assim configuradas têm características de auto-organização.
No plano de resultados, a potencialização dos benefícios do relacionamento
entre os atores tais como ganhos de escala e poder de negociação com o mercado
é oriunda do amadurecimento da rede. Em geral isso ocorre em relação direta com
seu tempo de existência e número de participantes (VERSCHOORE; BALESTRIN,
2008). Dessa maneira, para os autores, a vantagem competitiva em redes está
diretamente ligada ao nível de evolução e complexidade em que ela se encontra.
Essa condição favorece também os processos de inovação, que serão tratados
adiante.
Nohria e Eccles (1992), afirmam que o conceito de redes se tornou relevante
e mais discutido nas últimas décadas devido ao surgimento de:
1. Uma nova forma de competição, que busca a reestruturação da
organizações com enfoque em relações colaborativas;
2. Mudanças causadas pelas novas tecnologias, que trouxeram novos
arranjos produtivos desagregados, distribuídos e flexíveis; e
26
3. Maturidade do tema no meio científico da análise de rede como disciplina
acadêmica, com teorias e métodos cada vez mais convergentes e
consistentes.
E finalizando essas noções iniciais sobre redes é oportuno apresentar cinco
premissas básicas para análise de organizações segundo a perspectiva de redes
(NOHRIA; ECCLES, 1992).
1. Toda organização é ou faz parte de uma rede social e deve ser analisada
como tal, pois é um conjunto de nós entre pessoas e organizações
entrelaçadas através de relacionamentos recorrentes, com foco em
relações formais e informais e não em produtos.
2. O ambiente organizacional é visto como sistemas abertos reconhecidos
como redes de organizações. Para entender suas estruturas principais é
preciso que sejam analisados de um ponto de vista externo como
funciona o padrão das relações com os outros participantes da rede.
3. As ações (atitudes e comportamentos) podem ser explicadas conforme a
posição dos atores na rede de relacionamento, em vez de se saber quais
atributos diferem um ator do outro.
4. Redes limitam as ações, mas são determinadas por elas. A posição dos
atores na rede ou restringe ou permite suas ações e, por sua vez, estão
em constante mudança conforme o interesse deles.
5. As características de rede devem ser levadas em consideração para
maior clareza na análise comparativa das organizações. A maior parte
das pesquisas comparativas não lida diretamente com as relações que
compõem a estrutura das redes, o que limita a observação de
configurações importantes.
Apesar de haver muitas distinções e conceitos conforme os autores
consultados, algumas características comuns das redes podem ser ressaltadas,
como a importância dos relacionamentos e a interdependência entre os atores. Além
disso, há também atributos como cooperação, objetivos coletivos, esforços
compartilhados, entre outros. Isso tudo proporciona eficiência coletiva através
cooperação para superar limitações individuais. Estabelecida a caracterização
27
básica das redes, o próximo item traz duas abordagens principais ao estudo das
redes, a racional-econômica e a social e também descreve a segunda.
2.2.2 Abordagens de redes e a vertente social
Os estudos de redes podem ser agrupados em duas abordagens principais, a
racional-econômica e a social. A primeira segue a premissa de que a existência das
redes está vinculada principalmente a objetivos comuns dos atores, ligados a
resultados econômicos e de contratos que regulam suas ações. A segunda destaca
a proeminência de categorias sociais como confiança, comprometimento, poder,
capital social, governança informal, entre outras, para a existência das redes em
longo prazo e os comportamentos e ações em rede. Uma abordagem não nega a
relevância e a validade dos atributos básicos da outra. Existe apenas uma diferença
no grau de importância para cada uma em relação às questões
racionais/econômicas e às sociais.
Um dos pontos centrais da abordagem social de redes é expresso pelo termo
social embeddedness, que traduz o entrelaçamento ou imbricamento entre os atores
nas redes (GRANOVETTER, 1985). Para o autor, as relações sociais têm um papel
de suma importância na formação das redes, pois em todas as transações, mesmo
quando o foco é econômico, as relações sociais estão presentes em acordos formais
e informais. Segundo Nohria e Eccles (1992), as relações sociais são uma espécie
de plano de fundo de todas as relações existentes em uma rede e, por extensão,
todas as organizações estão em algum tipo de rede social, e devem ser analisadas
nessa perspectiva, tanto nas relações formais quanto nas informais. Para esses
autores, a complexidade em um ambiente de negócios depende do papel e da
relação entre os atores da rede, tais como: clientes, consumidores, fornecedores,
agentes econômicos e administrativos etc. Na mesma linha, Baldi (2004) defende
que a imersão em categorias ou laços sociais, como confiança e comprometimento,
é fundamental para a caracterização e os estudos de redes, pois proporcionam
maior compreensão sobre como elas emergem e se transformam. Oliver (1990) e
Doz (1996) afirmam que a relação entre as variáveis sociais (comprometimento,
confiança, capital social etc.) em uma rede criam estruturas que viabilizam a
cooperação e a gestão entre os participantes da rede, contribuindo para mantê-la
coesa.
28
Considera-se apenas que as categorias sociais de redes são mais adequadas
para analisar e responder aos questionamentos colocados neste trabalho, dada a
natureza de seus questionamentos. Por isso a abordagem social de redes foi
adotada como uma das bases desta dissertação. Adiante serão conceituadas as
categorias sociais confiança e comprometimento, por fazerem parte dos
questionamentos expressos nos objetivos específicos do trabalho.
2.2.3 Categorias sociais de rede: Confiança
Conforme Morgan e Hunt (1994), confiança é a crença que um indivíduo tem
que outro parceiro se comportará da forma adequada, sem se aproveitar dos
demais. Para Lopes e Baldi (2009) o termo confiança é utilizado para definir algo
que pode ser calculado, um comportamento previsível pelos custos e riscos
envolvidos e como um imperativo moral definidor da conduta de um participante.
Tanto os autores brasileiros quanto internacionais apresentam nuances diferentes
no que se refere à definição de confiança, entendendo o mesmo construto de pontos
de vista diferentes. Muitas vezes é dada importância ao comportamento das
pessoas e das organizações para sua conceituação.
Conforme Gulati (1995) considera, confiança é um fenômeno interpessoal,
intrínseco às relações sociais. Sendo assim, trata-se de algo recorrente no âmbito
das redes de cooperação, considerando ser um agrupamento social, com
expectativa de atenuar o temor ao ato oportunista por parte de um parceiro
comercial, principalmente quando fatores relacionados à P&D estão envolvidos.
Segundo autores como Balestrin e Vargas (2004), a confiança torna as redes
de PMEs mais competitivas e fortes à medida que ela viabiliza a criação de laços
fortes e define padrões de comportamento entre os participantes da rede,
minimizando, por essa via, comportamentos oportunistas.
A confiança implica uma condição de risco, à medida que um participante da
rede toma a decisão de colocar o seu destino na responsabilidade de outro. Assim, a
confiança se torna fundamental nas relações entre os atores da rede para expor
seus problemas ou soluções, solicitar ajuda, compartilhar conhecimento e inovação
etc. Alternativamente, ou seja, se houver desconfiança, esses tipos de relações
podem ser tornar confusas e/ou dar margem ao surgimento de comportamentos
oportunistas entre os atores (INKPEN; TSANG, 2005).
29
Considerando esses conceitos e comentários, a definição de confiança
adotada nessa dissertação é a que segue. Trata-se de um agir conforme
comportamento previsível, um imperativo moral em que as pessoas colocam-se na
dependência das outras de maneiras variadas. Como exemplos citamos a exposição
de problemas ou de soluções, solicitações de ajuda, oferecimento de recursos
compartilhamento de conhecimento e de inovação, evitando comportamentos
oportunistas (INKPEN; TSANG, 2005).
2.2.4 Categorias sociais de redes: Comprometimento
Conforme Pereira (2005, p. 67), “comprometimento é a disposição do ator
para o trabalho em conjunto”. O autor defende que para a formação de rede essa
categoria tem que estar presente em um grupo. O comprometimento está
relacionado à crença dos atores de uma rede que o relacionamento construído é
importante ao ponto de valer a pena seus esforços para mantê-lo. Em função de
estar na base do inter-relacionamento com outros atores da rede em geral é
considerada uma variável importante.
Para Anderson e Weitz (1992, p. 19) o comprometimento é entendido como a
predisposição de um indivíduo para ações coletivas, colocando os benefícios do
grupo ao qual pertence à frente dos interesses individuais. Os autores afirmam que o
“comprometimento de uma relação implica o desejo de desenvolver uma relação
estável, o desejo de fazer sacrifícios de curto prazo para manter a relação”
(ANDERSON; WEITZ, 1992, p. 19).
Segundo Cullen, Johnson e Sakano (2000) há dois tipos de
comprometimento: comprometimento calculativo, que se expressa pela expectativa
de se obter ganhos e recursos no relacionamento e comprometimento de atitude,
que se define como o esforço extra com objetivo de ir além das obrigações
contratuais. No comprometimento de atitude os atores são empenhados em
desenvolver tarefas, tomando novas iniciativas e apresentando novas ideias no
âmbito da rede da qual participa, pensando no crescimento do grupo. E o
comprometimento calculativo trata do esforço esperado por todos os sujeitos
envolvidos na rede para obter ganhos econômicos financeiros.
Safari et al. (2013) definem comprometimento como a forma pela qual são
demonstradas atitudes positivas e significativas sobre o comportamento dos
30
indivíduos na rede. A pesquisa aponta também alguns indicadores de manifestação
do comprometimento, como: a colaboração interpessoal, a necessidade de
aprovação social e fatores de justiça distributiva.
Para Ariño (2003), à medida que os participantes percebem dos parceiros que
há um maior comprometimento nas relações, mais elas serão fortalecidas, como
uma espiral crescente. Isso quer dizer que, quanto mais pessoas estiverem
empenhadas e comprometidas com o negócio, mais participantes tendem a se
comprometer pelo grupo. Nessa linha, Anjos et al. (2013) definem o conceito de
comprometimento como a expressão da vontade de permanecer com os parceiros
atuais, mesmo se houver oportunidade de interações disponíveis mais gratificantes,
pois existem benefícios maiores ao se manter essas relações
Considerando as definições apresentadas, optou-se nesse trabalho por adotar
como definição de comprometimento como a disposição de uma pessoa para ações
coletivas, sem colocar o benefício próprio a frente dos interesses do grupo,
implicando fazer sacrifícios para manter e desenvolver uma relação estável
(ANDERSON; WEITZ, 1992). Mas essa categoria parte também da existência de um
engajamento afetivo, onde o sentimento de coletividade se reforça, fazendo com que
as organizações tenham o sentimento de pertencimento e identidade com a rede.
2.2.5 Redes de cooperação
Redes de cooperação estão ligadas à teoria das redes sociais. Elas se
referem ao modo como os laços sociais entre os atores, bem como a posição deles
nas redes, são importantes para o desempenho adequado das organizações
envolvidas. Burt (1992) buscou especificar como a posição de um ator em uma rede
está diretamente ligada às oportunidades que pode lançar mão. Por exemplo, a
posição de um ator em sua rede é determinada pela quantidade de inter-relações
que ele possui com outros atores e pode indicar uma relação de maior poder frente
aos atores com poucas ligações na rede.
Albers (2005) vê a cooperação nas redes como uma atividade de ações
compartilhadas e considera que a relação de cooperação se dá entre no mínimo
dois atores. As ações pretendidas por um deles devem ser tomadas segundo o
mesmo entendimento pelos demais participantes da rede.
31
Conforme afirmam Balestrin e Vargas (2004) existem redes verticais e
horizontais, em que as verticais seguem uma estruturação hierárquica, com papéis e
relações bem-definidos para cada nó da rede, como fornecedores, compradores,
distribuidores etc. Esse tipo de rede também é chamada de cadeia (ou rede) de
suprimentos. Diferentemente, nas redes horizontais as relações entre os atores são
mais complexas, pois há maior dimensão de cooperação entre os atores, em função
de eles escolherem cooperar no âmbito da rede. Wegner e Padula (2010) destacam
que nessas redes a cooperação é uma alternativa estratégica importante, sendo que
elas podem ser compreendidas como organizações ou indivíduos se complementam
nas fases de um processo. Em geral essa divisão de tarefas leva em consideração
as habilidades individuais ou organizacionais. Entretanto, para que a cooperação
seja efetiva é preciso considerar os esforços de coordenação de atividades que
envolvem organizações diferentes. Assim, é preciso estudar e definir as
possibilidades de governança, tanto formal quanto informal que permeiam as ações
de cooperação entre elas.
A cooperação, segundo Ebers (1997), transforma concorrentes em aliados
que se fortalecem perante a competição no mercado, o que permite a eles alcançar
resultados melhores nas articulações e negociações para suprir suas necessidades.
Feijó e Zuquetto (2014) destacam que através da organização de empresas
alinhadas com o conceito de cooperação, em longo podem alcançar, com objetivos
comuns, vantagens competitivas sustentáveis diante da concorrência. Assim, a
atuação das empresas como redes de cooperação permite a elas competirem com
maior capacidade e recursos em cenários de concorrência acirrada. Entre os ganhos
obtidos podem ser destacados: aumento de inovações tecnológicas, reduções de
custo, ganhos de escala, melhor acesso a informações, marketing e capacitação de
gestores. Assim, as redes de cooperação têm contribuído para o alcance de
objetivos comuns pelos atores, com a realização de ações configuradas em relações
estruturadas por um conjunto de transações repetidas e dotadas de fronteiras
dinâmicas e elementos interconectados (TODEVA, 2006). Isso tudo propicia também
uma visão completa dos processos envolvidos, ampliando os resultados.
O trabalho de Balestrin et al. (2010) mostram que pesquisas crescentes sobre
redes de cooperação interorganizacionais estão na pauta de estudos
organizacionais brasileiros. Esse enfoque se deve principalmente a fatores como a
expressiva contribuição social e econômica que a formação de redes de empresas
32
vem trazendo principalmente ao desenvolvimento das pequenas e também das
médias empresas brasileiras.
Outro aspecto importante é que as redes de cooperação constituem um
fenômeno presente da teoria organizacional e, por isso elas têm sido reiteradamente
estudadas a partir de diferentes abordagens teóricas (GRANDORI; SODA, 1995).
Tais contribuições revelam interdisciplinaridade e também foram destacadas por
Brass et al. (2004) e por Oliver e Ebers (1998) ao indicarem as principais teorias
correntes utilizadas para analisar e explicar as redes de cooperação entre
organizações. Destacam-se a teoria dependência de recursos, a economia
industrial, as teorias críticas, a teoria institucional, a teoria de redes sociais e a
abordagem de estratégias organizacionais.
Diante dessa discussão, a definição de rede de cooperação adotada no
interesse deste trabalho é: grupo de organizações interdependentes que trabalham
em conjunto para superar problemas comuns em pontos que nenhuma delas seria
capaz de resolver melhor se estivesse sozinha (CEGLIE; DINI, 1999).
2.2.6 Inovação
Para Schumpeter (1961) inovação é a introdução no mercado de um novo
produto ou processo, ou de uma versão otimizada ou qualidade de um produto ou
processo existente. Tais inovações abrangem: a) introdução de um novo bem ou de
uma nova qualidade de certo bem; b) introdução de um novo método de produção;
c) abertura de um novo mercado para determinada indústria; d) utilização de uma
nova fonte de matéria-prima ou produto semiacabado; e) estabelecimento de uma
nova organização em determinada indústria.
A partir da definição estabelecida pelo autor por volta de 1910, surgiram
diversas definições de inovação formuladas por autores diversos que conceituaram
além desses tipos, inovações tecnológicas, social etc. Por isso cabe no interesse
desta dissertação caracterizar claramente esse termo. O conceito de inovação que
foi considerado para este trabalho envolve novas ideias que necessariamente geram
resultados econômicos e/ou sociais. Aliás, esse é o ponto que diferencia inovação
do conceito de invenção, segundo o qual novas ideias não estão necessariamente
ligadas a resultados práticos imediatos (FREEMAN, 1982; QUANDT, 2009).
33
Conforme foi comentado, muitas são as definições de inovação que
expressam esse conceito (ideias novas que geram resultados econômicos e
sociais). A adotada no interesse deste trabalho é a do Manual de Oslo (2005). Seu
conteúdo indica que a inovação envolve a implementação de um bem, serviço,
processo, método de marketing ou organizacional que seja novo ou
significativamente melhorado no contexto interno ou externo de atuação das
organizações.
Dessa definição derivam duas tipologias principais de inovação, sendo que
uma delas se refere à sua natureza, classificada de quatro maneiras. São elas:
1. Inovação de produto (ou serviço);
2. De processo (ligada a produção e operações);
3. De marketing (concepção de comunicação de produtos a seus mercados);
e
4. Organizacional (relativa aos processos administrativos das organizações).
A segunda tipologia caracteriza a intensidade das mudanças provocadas,
sendo a inovação classificada como incremental e radical. De acordo com Freeman
e Perez, (1982) a inovação incremental se refere à melhoria contínua de um
conceito ou aperfeiçoamento de algo que já existe. Tais inovações ocorrem no
cotidiano, tanto na indústria quanto nos serviços, como resultado de qualquer
pesquisa de desenvolvimento, partindo de iniciativas como de engenheiros, ou de
outros profissionais e até mesmo dos consumidores. Já a inovação radical é
caracterizada como um novo conceito que surge e provoca quebra de paradigmas,
podendo causar rupturas drásticas em relação aos produtos e empresas dominantes
em determinado mercado. Nesses casos, a inovação radical é de um tipo particular,
chamada de disruptiva, ou inovação de ruptura (CHRISTENSEN, 1997).
Geralmente, essa dimensão de inovação é resultado de pesquisas aprofundadas,
conduzidas em laboratórios de P&D, em instituições governamentais e em
universidades. Ambas as tipologias são caracterizadas no Quadro 1, a seguir:
34
Quadro 1 – Características das inovações
INTENSIDADE DE INOVAÇÕES
Radical
- Tecnologia cria mercado novo
- Invenção de P&D nos laboratórios
- Desempenho funcional superior em relação à antiga
tecnologia
- Oportunidade de mercado específica ou necessidade
secundária apenas
- Lado da oferta: technology push
Incremental
- Extensão do produto ou processo existentes
- Características de produtos bem definidas
- Vantagens competitivas em custos de produção
baixos
- Sempre desenvolvida em resposta a uma
necessidade de mercado específica
- Lado da demanda: customer pull
T
I
P
O
S
D
E
I
N
O
V
A
Ç
Ã
O
Produto. A inovação de produto envolve a introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente
melhorado referente à suas características ou previsão de uso. Podem contemplar mudanças em
especificações técnicas, nos componentes e nos materiais utilizados como insumos, além de softwares
que possam ser incorporados no produto, ou quaisquer outras características funcionais. A inovação de
produto pode também ser associada a um novo uso para do produto, mesmo que existam pequenas
modificações.
Processo. Visa reduzir custo e a melhoria da qualidade do produto ou serviço com a implementação de
um novo método de distribuição ou produção ou significativamente melhorado, com mudanças
significativas em técnicas, equipamentos e/ou softwares.
Marketing. A inovações no marketing envolvem implementação de novos métodos de marketing, com
mudanças de design do produto e embalagem, em métodos de estabelecimento de preços de bens e de
serviços, e na promoção do produto e sua colocação.
Organizacional. Refere-se à implementação de novos métodos organizacionais, com mudanças nas
práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de trabalho e nas suas relações externas.
Visar à melhoria do desempenho de uma empresa por meio da redução de custos de transação ou
administrativos, com aumentando da produtividade no trabalho e redução de custos.
Fonte: Adaptado pelo o autor, com base no Manual de Oslo (2005) e Mohr, Sengupta e Slater (2005,
p. 19).
Cabe salientar ainda outro aspecto importante a respeito de inovação: por
muito tempo, principalmente no século XX, o processo inovador e de difusão, bem
como as questões de P&D, eram limitados aos recursos internos para geração de
inovações. Autores como Clark e Wheelwright (1993) e Dodgson, Gann e Salter
(2006) afirmam que o processo de inovação ocorria eminentemente com recursos
internos das organizações havendo baixa interação e acesso ao conhecimento
externo. Nesse sentido, se pode dizer que a estabilidade reinante no passado foi
substituída pela dinâmica dos processos compartilhados de inovação, em resposta
ao aumento de competitividade nos mercados (CHESBROUGH, 2003). Por isso, as
organizações passaram a gerar e administrar a inovação de forma compartilhada
com outras organizações, conforme é comentado no próximo item.
35
2.2.7 Inovação em redes de cooperação
O processo de inovação passa por mudanças em que os resultados atuais
mostram que o processo de P&D passou de um processo endógeno à organização
que a permeia, mas é também exógeno a ela. Isso fica evidenciado nas redes de
cooperação (fornecedores, clientes, concorrentes), em que todos se beneficiam de
um ambiente favorável à socialização de conhecimento e inovação (ROTHWELL,
1995). Segundo afirmam Dyer e Nobeoka (2000), o aprendizado de uma
organização geralmente está além da sua capacidade individual, e presente na rede
da qual a empresa faz parte. Schilling e Phelps (2007) defendem que a coesão e a
conectividade de uma rede contribuem para maior transferência de informações e
consequentemente propiciam maior capacidade de criação das organizações em
rede. Afirmam que a heterogeneidade dos atores da rede também contribuem para
que a inovação ocorra nelas. Em complementação, Bell, Tracey e Heide (2009)
partindo de um contexto de redes e de suas relações sociais compreendem a
inovação como um processo interativo, coletivo e que depende de ação conjunta dos
participantes da rede.
Ahuja (2000) constatou o quanto a estrutura das redes afeta a capacidade de
inovação. Verificou-se que em redes fechadas, ou seja, naquelas com relações
constantes e de longo prazo entre os atores, havia um ambiente mais colaborativo e
de confiança mitigando um comportamento oportunista. De outra forma, as redes
com lacunas estruturais em que há contatos com muitos parceiros, porém com
pouca interação a obtenção de novas informações, são mais rápidas, porém ainda
assim prejudicam a inovação devido à limitação nas relações de confiança.
Nessa trilha, Powell e Grodal (2005) constataram os benefícios que a
inovação em redes contribui para o desenvolvimento e a difusão da inovação, com
compartilhamento de recursos e ativos das empresas da rede com troca de
conhecimento através da interação. Conforme Desidério e Popadiuk (2015), as
relações entre universidade e empresa no processo de transferência de inovação
são dependentes das demandas e de níveis relacionais entre os atores que
autorizam a transferência de conhecimento.
Fonseca e Cruz (2015) constataram que as motivações de trocas de
experiência resultaram em embeddedness associado, ou seja, os atores com
maiores índices de centralidade de grau, proximidade e intermediação para as
36
motivações de novos negócios, têm mais possibilidade de obter melhor desempenho
em rede de inovação.
De acordo com Chesbrough (2006) criar e inovar são necessidades
constantes das empresas, principalmente quando se trata das que têm foco
concentradas em fabricar e comercializar itens que envolvem grandes mudanças no
processo produtivo. O conceito determinante da inovação aberta envolve as
empresas que têm capacidade de utilizar novas ideias externas a ela, cooperando
com uma rede outras organizações. Desse modo ela pode avançar em seu modelo
de gestão de negócios e prosperará no ambiente competitivo (DODGSON et al.,
2006).
Chesbrough (2006) considera como parte do processo inovador o
compartilhamento do conhecimento de universidades, de organizações parceiras, de
fornecedor e de canais de distribuição, entre outros atores. Esse modelo de geração
e gestão de inovação é denominado de inovação aberta. Além disso, o autor utiliza o
termo conectividade e desenvolvimento em adição à tradicional P&D, já estabelecida
em organizações com processos tradicionais de inovação, chamados por ele de
inovação fechada. Observa-se na literatura da área que nos últimos anos o conceito
de inovação aberta está presente em pesquisas não apenas de empresas grandes
de tecnologia, mas também empresas de médio e pequeno porte, incluindo aquelas
organizadas em cooperativas (VRANDE et al., 2009).
Assim, grandes centros de pesquisas qualificam seus funcionários
possibilitando que eles iniciem suas próprias empresas, trazendo todo conhecimento
adquirido para trabalhar em startups. Esse processo ocorreu na IBM e em muitas
outras grandes empresas e tornou a inovação fechada menos rentável. Além disso,
todo o investimento aportado em conhecimento e pesquisa não garantia mais que
seria mantida dentro da corporação (CHESBROUGH, 2006).
As empresas podem se beneficiar de várias formas na inovação aberta. Uma
das principais vantagens é que as organizações podem se beneficiar a partir de uma
ampla gama de especialistas que repassam seus conhecimentos para as empresas
envolvidas (WHITLA, 2009). Assim, se pode concluir que indivíduos ou empresas
com novas concepções de pesquisa e trabalho podem gerar ideias que
possivelmente não surgiriam no âmbito de apenas uma organização.
A inovação em redes de cooperação parte do princípio de que o aprendizado
de uma organização geralmente está além da sua capacidade individual e presente
37
na rede da qual a empresa faz parte. Em complementação, considera nessa
pesquisa como parte do processo inovador o compartilhamento do conhecimento de
universidades, de organizações parceiras, de fornecedor e de canais de distribuição,
entre outros atores. Essa concepção de inovações em redes de cooperação está em
consonância com o estudo realizado na dissertação, cuja proposta teórica de
pesquisa, que procurou articular os conceitos desenvolvidos até este ponto, é
apresentada no próximo tópico.
2.3 Proposta teórica da pesquisa
Muito se tem discutido sobre as categorias sociais confiança,
comprometimento e cooperação no âmbito das redes. Sem ter a pretensão de
esgotar o assunto discute-se neste tópico alguns aspectos da interação dessas
categorias ou variáveis apresentadas anteriormente, para em seguida apresentar a
proposta teórica que norteou a pesquisa desta dissertação.
Larson (1992) afirma que para o surgimento e desenvolvimento de uma rede
são necessários pré-requisitos como a reputação dos participantes da rede,
expectativas mútuas e experiências de cooperação anteriores. Os fatores sociais
nesse sentido atuam de modo a reduzir as incertezas sobre o comportamento dos
parceiros. Com o desenvolvimento da rede, com regras e apresentação de
resultados, surgem demonstrações de comprometimento e confiança, até que o
grupo adquire o ponto de equilíbrio da rede.
Na pesquisa de Perrow (1992), a cooperação, a confiança e o
comprometimento se apresentam como pontos centrais para as cooperativas
obterem vantagens frente às concorrentes, pois se cria um ambiente favorável para
a inovação, trazendo vantagem competitiva, como diferenciação de produto e
processo com diminuição de custos. Define desenvolvimento da rede quando há a
presença de variáveis como relações de longo prazo e compartilhamento de
informações.
No caso da experiência italiana, a pesquisa de Putnam (2000) verificou bons
indícios no mecanismo de cooperação quando questionou os motivos que levaram
determinadas regiões na Itália a se desenvolverem mais que as outras. O autor
buscou explicações sobre a influência que os aspectos sociais tiveram no
desenvolvimento dessas regiões. A explicação mais surpreendente para essa
38
disparidade de desenvolvimento entre as regiões se deveu principalmente à
importância da confiança e do comprometimento entre as pequenas empresas para
desenvolvimento das regiões. Putnam verificou que as regiões mais desenvolvidas
na Itália eram justamente aquelas que já apresentavam há muito tempo sinais de
virtudes cívicas com bases em confiança e em comprometimento. O autor concluiu
que foi fundamental um alto nível de confiança mútua entre as pequenas empresas
para ocorrência de cooperação. A confiança mútua entre elas, ao mesmo tempo em
que foi de suma importância para a cooperação, constituiu também um desafio para
pessoas e instituições, pois não havia exemplos de cooperação bem-sucedidos, o
que tornou mais difícil a superação de barreiras postas pela desconfiança e pelo
oportunismo, que conduziam a um círculo vicioso. E o oposto também se mostrou
verdadeiro neste caso, ou seja, quanto maior o grau de confiança e
comprometimento maior será a tendência de que a cooperação aumente, diminuindo
incertezas e desestimulando transgressões e oportunismos.
Algumas variáveis sociais foram pesquisadas por Zawislak (2000) e as
conclusões indicaram que havendo a presença das variáveis cooperação,
comprometimento e confiança entre os atores, ocorrerão trocas de ativos tangíveis e
intangíveis. Esses resultados induzem à formação de novas competências e
aprendizados coletivos, o que permite a esses atores desempenharem melhor suas
funções.
Balestrin e Vargas (2004) afirmam que as organizações em configuração de
redes mantêm relações de interdependência e que as variáveis sociais vêm
mostrando que são as que mais influenciam redes de diversos tipos. Nessas redes,
variáveis como comprometimento e cooperação têm se mostrado essenciais para a
obtenção de resultados como trocas de conhecimento, aprendizagem e inovação.
Lourenzani, Silva e Azevedo (2006) constataram que a confiança e o
comprometimento conquistados só são possíveis em relações repetitivas com
antigos parceiros. Assim, há um aspecto histórico nas redes envolvendo essas
variáveis que deve ser levado em considerado nas pesquisas.
Pereira e Bellini (2007), em pesquisa sobre o relacionamento entre empresas
e clientes de software, concluíram que os principais construtos para a análise de
redes são: a confiança, o comprometimento, a cooperação e a comunicação. Além
de confirmarem que quanto maior é a capacidade de adaptação maior será a
39
interdependência, esta acontece em função da percepção de comprometimento e
confiança entre as partes.
Percebe-se, por meio dos trabalhos mencionados, que o tripé cooperação,
confiança e comprometimento são de extrema importância para a sobrevivência e
desenvolvimento de redes. Além disso, a cooperação geralmente se dissolve
quando uma das partes percebe que há um tratamento desigual e injusto ou
apresenta resultados incompatíveis com sua contribuição, assim normalmente o
comprometimento dentro da rede é afetado (WEGNER, 2010). Hernandes (2012)
complementa afirmando que a ausência do comprometimento e da confiança
poderia trazer desequilíbrio na troca de informação entre os participantes da rede.
Pode-se dizer também, conforme já foi antecipado na introdução, que não há
um consenso estabelecido quanto à precedência das categorias ou variáveis
confiança, comprometimento e cooperação entre si. Assim, em alguns trabalhos, a
cooperação aparece antes da confiança e do comprometimento em uma rede
(LARSON, 1992). Em outros, as três variáveis se manifestam conjuntamente
(PERROW, 1992; ZAWISLAK, 2000). Ainda em outros, a confiança e o
comprometimento geram ou antecedem a cooperação (PUTNAM, 2000).
Conforme foi mencionado na introdução da dissertação, este trabalho assume
como afirmativa orientadora que confiança e comprometimento são antecedentes e
indutores da cooperação. Essa linha de pensamento está de acordo com o projeto
temático do orientador desta dissertação e tem suas raízes no estudo seminal de
Morgan e Hunt (1994). Os autores, nesse estudo seminal, propuseram e concluíram
que confiança e comprometimento atuam como mediadores, aumentando a relação
de causalidade entre diversas variáveis sendo algumas antecedentes e outras
consequentes. Conforme mostra a Figura 2, há, entre as variáveis antecedentes:
valores compartilhados e benefícios do relacionamento; entre as consequentes,
efeitos de diminuição da propensão a sair da rede e da incerteza e aumento da
cooperação. Isso significa que as variáveis antecedentes e consequentes desse
modelo se potencializam se houver confiança e comprometimento envolvidos como
mediadores. Cabe ressaltar também que a única variável consequente que é
positivamente influenciada por ambos, confiança e comprometimento
simultaneamente, é a cooperação.
40
Figura 2 – Modelo KMV de Morgan e Hunt
Fonte: Morgan e Hunt (1994).
Desse modo, a proposta teórica que orientou a pesquisa dessa dissertação
adotou como premissa a ideia de que confiança e comprometimento atuam como
indutores, ou influenciam positivamente as redes de cooperação, que potencializam
inovações de tipos variados. Isso está esquematizado na Figura 3, a seguir.
Figura 3 – Proposta de modelo teórico de pesquisa
Fonte: o autor.
Assim, se defende neste trabalho que as redes de cooperação podem ser
fortalecidas pelas categorias sociais confiança e comprometimento e, com isso elas
podem desenvolver, adotar e aplicar inovações que as aperfeiçoam.
Confiança
Comprometi-
mento
Rede de
cooperação
Coorimbatá
Inovações Radical---Incremental
Produto
Processo
Marketing
Organizacional
41
Na sequência são apresentados três quadros que visam dar sustentação
teórica às proposições que operacionalizam a proposta teórica de modelo teórico por
meio da fundamentação das proposições teóricas indicadas na introdução. Cabe
ressaltar que esses quadros complementam e são complementados pelo Quadro 6,
apresentado no próximo capítulo, bem como pelos apêndices A e B. Em conjunto
eles procuram explicitar e sintetizar as opções escolhidas para levar a bom termo a
pesquisa desta dissertação.
Proposição 1: A cooperação influencia positivamente o desenvolvimento e a
aplicação de inovações na rede estudada.
Quadro 2 – Questões relacionadas à sustentação da proposição 1
Numeração no
roteiro de
pesquisa
Texto da questão Referência
A2 Existem muitos ou poucos contatos e
trabalhos em conjunto entre os atores
para resolução de problemas da rede,
introdução de novidades etc.?
Para Morgan e Hunt (1994) a
cooperação é quando o trabalho é
realizado em conjunto para alcançar
objetivos mútuos.
A3 Em sua opinião os atores consideram
as ações coletivas mais importantes
que as isoladas para soluções de
problemas, trocas de conhecimentos e
introdução de novidades na rede? Pode
dar exemplos?
Feijó e Zuquetto (2014) destacam que
organização de empresas alinhadas com
o conceito de cooperação conseguem
competir com mais capacidade de
recursos, inovação tecnológica, redução
de custos, ganhos de escala, acesso à
informação, marketing, capacitação de
gestores, propiciando uma visão
completa dos processos ampliando os
resultados.
A4 Os atores da rede compartilham
recursos para alcance dos objetivos
coletivos ou não? Até que ponto fazem
isso?
Wegner e Padula (2010) destacam que a
cooperação pode ser compreendida
quando organizações ou indivíduos se
complementam nas fases de um
processo.
Fonte: O autor.
Proposição 2: A confiança influencia positivamente o processo de inovação
na rede de cooperação estudada.
42
Quadro 3 – Questões relacionadas à sustentação da proposição 2
Numeração
no roteiro
de pesquisa
Texto da questão Referência
C1 O senhor percebe que os
participantes confiam uns nos outros
e trocam informações, contam seus
problemas e dificuldades entre eles
todos, ou isso não acontece?
A confiança implica uma condição de risco, à
medida que um participante da rede toma a
decisão de expor seu problema ou soluções,
solicitar ajuda (INKPEN; TSANG, 2005).
C3 Senhor, pode me contar algum caso,
ou situação em que alguém do grupo
confiou em outro e essa pessoa se
aproveitou dessa confiança para
obter benefício próprio? Se existem
essas situações, como são tratados?
Existem punições?
Segundo autores como Balestrin e Vargas
(2004), a confiança cria laços fortes e define
padrão de comportamento entre os
participantes da rede, minimizando
comportamento oportunista.
C4 Acredita que esse nível de confiança
ajuda ou atrapalha o surgimento de
mudanças benéficas e de soluções
para os problemas da rede?
Na pesquisa de Perrow (1992), a cooperação,
confiança e comprometimento apresentam
como ponto central para as cooperativas
obterem vantagens frente as concorrentes, pois
cria-se um ambiente favorável para a
inovação, trazendo vantagem competitiva,
como diferenciação de produto e processo com
diminuição de custos.
Fonte: O autor.
Proposição 3: O comprometimento influencia positivamente o
desenvolvimento e a aplicação de inovações na rede de cooperação Coorimbatá.
Quadro 4 – Questões relacionadas à sustentação da proposição 3
Numeração
no roteiro
de pesquisa
Texto da questão Referência
C4 Existem na rede muitas situações nas
quais um ator se empenha em trabalhar
pelo grupo sem ganhar nada com isso ou
essas situações tendem a ser raras? Já
houve casos em que um parceiro arcou
com custos ou esforços próprios para que
houvesse ganhos coletivos?
Comprometimento como a disposição de
uma pessoa em ações coletivas, sem
colocar o benefício próprio a frente do
interesse do grupo, implicando em fazer
sacrifícios para manter e desenvolver uma
relação estável (ANDERSON; WEITZ,
1992).
D4 Acredita que esse nível de
comprometimento ajuda ou atrapalha o
surgimento de mudanças benéficas e de
soluções para os problemas da rede?
Conforme Zawislak (2000) e conforme o
pesquisador, havendo a presença das
variáveis cooperação, comprometimento e
confiança entre os atores, ocorrerão trocas
de ativos tangíveis e intangíveis, existirá
formação de novas competência e
aprendizado coletivos, assim os atores a
desempenharão melhor suas funções.
Fonte: O autor.
43
3 ABORDAGEM METODOLÓGICA
A caracterização metodológica de um trabalho científico é importante porque
explicita a lógica e a coerência que deve existir entre seus questionamentos e os
resultados encontrados, e por isso conferem a ele credibilidade e validade (YIN,
2010; MARCONI, 2003). Seguindo esse princípio, são apresentadas nesse capítulo
as definições e os passos metodológicos que foram seguidos para a realização da
dissertação, envolvendo principalmente sua tipificação e o plano para coleta e
análise dos dados.
3.1 Tipo de pesquisa
A pesquisa realizada na dissertação se caracterizou como qualitativa e
descritiva, de corte transversal. A pesquisa qualitativa pode ser compreendida como:
Um meio para explorar ou compreender o significado que indivíduos ou grupos atribuem a um problema social ou humano. O pesquisador que escolhe essa abordagem adota um estilo indutivo de pesquisa, com foco no significado individual e na importância da interpretação da complexidade (CRESWELL, 2010, p. 26).
Assim, a pesquisa qualitativa propicia ao exame de fenômenos sociais em
que o pesquisador capta dados reais do objeto de pesquisa. O corte transversal
visou fornecer uma visão atual sobre a rede estudada desde sua constituição, que
ocorreu no ano de 2000, com a formalização da parceria entre a Cooperativa de
Pescadores e Artesãos de Pai André e Bonsucesso (Coorimbatá), e a UFMT. Além
desses dois atores, integram a rede de primeiro nível objeto deste estudo:
pescadores ribeirinhos filiados à Coorimbatá, Secretaria Municipal de meio Ambiente
e as associações de pequenos produtores rurais. Em segundo nível há empresas do
setor público e privado como a Secretaria de Estado do Mato Grosso, bancos e
grandes redes de supermercados.
Estudos descritivos, a segunda caracterização da dissertação, têm como
finalidade principal o entendimento do fenômeno como um todo, levando em
consideração as suas complexidades (GODOY, 1995; TRIVINÕS, 1987). Conforme
Gil (2002), pesquisa descritiva deve exibir as características de determinado
fenômeno, grupo etc. utilizando técnicas de forma padronizada na coleta de dados.
44
Como a proposta da dissertação foi descrever a rede informada anteriormente em
relação à sua dinâmica envolvendo inovações e categorias sociais, com proposições
de caráter confirmatório e não explicativo, caracteriza-se assim a escolha pela
abordagem descritiva.
3.2 Estratégia de pesquisa
Neste trabalho, a estratégia de pesquisa escolhida foi o estudo de caso único,
que é centrada no entendimento das dinâmicas percebidas em um contexto em
eventos contemporâneos. Além disso, possibilita o entendimento de diversos
aspectos relacionados com o objeto de estudo, principalmente quando os limites
entre os fenômenos e o seu contexto não são claros (YIN, 2010). Isso se expressa
na citação que segue.
Em geral, os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo ‘como’ e ‘por quê’, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real (YIN, 2001, p. 19).
De acordo com Creswell (2010), a estratégia de pesquisa estudo de caso
permite que o pesquisador alcance maior profundidade e compreensão na descrição
do fenômeno ou do grupo estudado, por meio da coleta e análise de dados
qualitativos. Tanto esse autor quanto Yin (2010) referenciam que os estudos de caso
múltiplos são geralmente mais robustos que os únicos, dada a possibilidade de
replicação e análises cruzadas que podem ser realizadas. Entretanto, há situações
de pesquisa que recomendam o estudo de caso único, como ela ser extrema ou
peculiar, ou reveladora, ou exemplar etc. Acredita-se que haja unicidade suficiente
no objeto desta pesquisa – a Rede Coorimbatá – para condução de um estudo de
caso único. Essa rede é um exemplo de parceria bem-sucedida entre uma
universidade e uma comunidade de pescadores e pequenos empresários em que a
inovação possibilitou ganhos econômicos e sociais, e que ainda, esse objeto de
estudo é especial pela expectativa de confirmar teorias onde afirmam que as
instituições e empresas configuradas em redes de cooperação propiciam a
inovação.
45
A escolha desse caso surgiu levando em consideração alguns aspectos, tais
como: fácil acesso do pesquisador ao grupo, sinais de rede e pesquisas científicas
anteriores com descrições a respeito da capacidade de inovação dessa rede.
A unidade de análise deste estudo de caso é a própria Rede Coorimbatá
considerada em sua totalidade, conforme definida anteriormente, no Tópico 3.1 e
não apenas na cooperativa de mesmo nome. Considera-se que esses atores
compõem o todo que dá sentido à rede e permite que ela funcione como tal.
3.3 Coleta de dados
As fontes utilizadas na coleta de dados para alcançar o objetivo pretendido na
pesquisa são de natureza primária e secundária. Fontes primárias dependem da
ação do pesquisador, como aplicação de questionários, realização de entrevistas, de
observação direta. E as fontes secundárias referem-se a informações que já
estavam disponíveis ao pesquisador, como arquivos particulares, documentos,
pesquisas anteriores, notícias, publicações etc (LAKATOS; MARCONI 2003).
Conforme Yin (2010) é recomendável a utilização de múltiplas fontes de
evidências na coleta de dados, o que permite realizar a triangulação, ou seja a
obtenção de linhas convergentes de investigação, em que os resultados podem ser
reforçados ou não. Segundo o autor, a triangulação pode se dar em quatro
instâncias: de dados, de investigadores, de teorias e de métodos de pesquisa. Esse
procedimento minimiza vieses de pesquisa em função da confirmação das
informações. Neste trabalho procurou-se principalmente realizar a triangulação dos
dados obtidos a partir de diferentes fontes de evidência, porém complementares.
Tais fontes foram pesquisa de dados secundários, entrevistas semiestruturadas com
atores chaves da rede estudada e também pesquisa de observação direta pelo
acompanhamento de reuniões da rede (YIN, 2010).
3.3.1 Pesquisa de dados secundários
A primeira fase da pesquisa focalizou o levantamento extensivo dos dados
secundários disponíveis sobre a Rede Coorimbatá ao autor do trabalho nos
seguintes canais: artigos acadêmicos, matérias em sites da internet, jornais e
revistas tradicionais, estatuto da cooperativa, entre outros documentos. Essa fase
46
permitiu traçar um panorama geral da rede em estudo. Foi organizada com essas
informações a história da rede, e seu desenvolvimento, através de um vasto material
disponível em publicações em sites e artigos publicados sobre a rede, muito devido
ao acesso da rede a instituições de pesquisa com suas publicações científicas e as
instituições financeiras com financiamento de projetos aprovados, oportunizando ao
pesquisador uma maior compreensão da rede.
3.3.2 Entrevistas semiestruturadas
Em seguida, procedeu-se ao levantamento de dados primários, através
principalmente da realização de entrevistas semiestruturadas com atores principais
da rede. Foram realizadas seis entrevistas, sendo: dois pesquisadores da
Universidade, presidente e Diretor Administrativo da Cooperativa Coorimbatá,
pequeno agricultor e o representante da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e
Desenvolvimento Rural Sustentável. Foi realizado levantamento simples utilizando
questionário semiestruturado, com objetivo de verificar como percebem a rede e a
troca de conhecimento entre os atores.
Para a realização das entrevistas foi desenvolvido o roteiro que consta do
Apêndice A, que se baseou em roteiros utilizados em outras dissertações que
abordaram as mesmas áreas temáticas, especificamente redes e inovação. O roteiro
foi inicialmente construído e, durante seu desenvolvimento passou por três pré-
testes. O primeiro com um ex-presidente da Coorimbatá, que iniciou sua vida
profissional como pescador. Isso foi muito útil, pois tem uma visão ampliada da rede
na medida em que como pescador conhece muito bem as relações e necessidades
internas da rede. E como ex-presidente consegue expressar a realidade das
interações com outras organizações de um ponto de vista bem diferente. Os outros
dois pré-testes foram realizados com professores doutores do Instituto Federal de
Educação, muito familiarizados com pesquisa dentro da Instituição, sendo que um
deles já teve como objeto de pesquisa a própria rede em estudo, porém com outro
foco. Assim, eles puderam oferecer contribuições ao aperfeiçoamento do roteiro do
ponto de vista acadêmico e também com conhecimento da realidade do objeto de
pesquisa. Tais pré-testes permitiram que o roteiro de entrevista semiestruturada
fosse aperfeiçoado em vários aspectos. Um deles se refere à clareza e pertinência
das questões frente aos objetivos estabelecidos; outro, à adequação do roteiro aos
47
entrevistados que vivem realidades distintas. Isso, levando em conta que o mesmo
roteiro foi aplicado com pesquisadores doutores da universidade e a representantes
pescadores e gestores da cooperativa e um pequeno agricultor com nível de
escolaridade mais elementar.
Quanto aos atores entrevistados, procurou-se atender aos critérios de
representatividade, ou seja, entrevistar sujeitos que pudessem fornecer informações
significativas sobre a Rede Coorimbatá, bem como o de saturação. Este último
critério recomenda que as entrevistas devem ser interrompidas quando entrevistas
adicionais não acrescentam novas informações relevantes (CRESWELL, 2010).
Devido à grande convergência e consistência obtidas nas respostas, bem como à
oferta de atores disponíveis para entrevista não ser muito grande, decidiu-se
terminar esse processo após a realização de seis entrevistas. O Quadro 5
esquematiza os atores que foram entrevistados, indicando também sua posição e
função na rede estudada.
3.3.3 Pesquisa de observação direta
Conforme Triviños (1987), pesquisa de observação direta trata da pesquisa
que acompanha eventos e fenômenos da realidade social, da forma como
acontecem, através do convívio com os sujeitos em seu cotidiano em eventos de
interesse para a pesquisa. Neste estudo além da entrevista semiestruturadas
utilizou-se também como fonte de dados primários a observação direta não
participante. Esse instrumento foi muito importante para compreensão da rede,
podendo destacar alguns benefícios, como: forma de aproximação com os
participantes, entender a dinâmica e amplitude da rede, constatar e conhecer os
atores em destaque da rede, e oportunizar o agendamento das entrevistas com
atores.
A pesquisa de observação direta teve acompanhamento em duas reuniões, a
primeira foi uma reunião de posse da nova equipe gestora da cooperativa
Coorimbatá, enquanto a segunda foi uma reunião operacional na sede da Arca
Multincubadora subordinada Escritório de Inovação Tecnológica da Universidade
Federal de Mato Grosso (EIT/UFMT).
48
3.4 Análise dos dados
Neste tópico são apresentadas as estratégias e técnicas utilizadas para
análise e interpretação dos dados coletados. Creswell (2010) afirma que analisar
estudos de casos consiste em construir uma descrição em detalhes do contexto e
do(s) caso(s) em estudo. E de acordo com Yin (2010), a análise de um caso consiste
em categorizar, tabular e recombinar evidências de modos variados para que o
pesquisador possa chegar a conclusões consistentes e fundamentadas.
Para o autor, explicitar as estratégias e as técnicas analíticas (e obviamente
realizá-las) confere validade interna aos estudos de caso, então seguem
comentários nesse sentido. Yin (2010) apresentou quatro estratégias para análise
dos dados de um estudo de caso: contar com proposições teóricas, desenvolver a
descrição do caso, utilizar dados qualitativos e quantitativos e examinar explanações
rivais. Para operacionalizar a aplicação dessas estratégias, apresentou também
cinco técnicas analíticas. São elas: combinação de padrões, construção da
explanação, análise de séries temporais, modelos lógicos e síntese cruzada de
casos.
No trabalho analítico, é possível combinar tanto utilizar cada estratégia
isoladamente quanto combiná-las, dependendo de cada projeto de estudo de caso,
sendo esse mesmo princípio válido para as técnicas analíticas também. Por
exemplo, é possível analisar um estudo de casos múltiplos servindo-se da estratégia
de ontar com proposições teóricas e as técnicas combinação de padrões e síntese
de casos cruzados. Isso indicaria que o plano de análise desse estudo de casos
múltiplos permitiu o desenvolvimento de proposições construídas a partir dos
campos teóricos desse trabalho a serem testadas empiricamente segundo a técnica
combinação de padrões, em que o padrão teórico estabelecido pelas proposições é
confrontado e comparado a um padrão empírico que é fruto da coleta de dados
realizada. E como se trata de um estudo de caso múltiplo, os resultados dos casos
poderiam ser analisados de modo cruzado, ou seja, comparando as respostas a
uma mesma questão para todos os casos estudados, além dos resultados de cada
caso em si. Essa estratégia analítica mista proveria maior riqueza e profundidade de
análise, mas cabe lembrar que essa é apenas uma entre as várias possibilidades
analíticas que podem ser construídas conforme os interesses de cada pesquisador.
Nesta dissertação optou-se por usar a estratégia contando com proposições
teóricas, pois foram construídas três proposições a partir da teoria que envolve
49
redes de cooperação e inovação. E a técnica analítica considerada mais adequada e
que foi escolhida é combinação de padrões, em que foi realizada uma comparação
do padrão teórico construído no Capítulo 2 com o padrão empírico levantado durante
a coleta de dados. O próximo item esquematiza as opções metodológicas escolhidas
e utilizadas neste trabalho.
3.5 Esquematização da pesquisa realizada
Este tópico traz de forma sintética as opções metodológicas e a
esquematização da coleta e análise realizadas. Os Quadros 5 e 6 trazem
respectivamente a indicação dos sujeitos pesquisados e um guia para coleta e
análise de dados.
3.5.1 Coleta e análise dos dados
Quanto aos sujeitos de pesquisa entrevistados, foi realizado um total de seis
entrevistas com atores considerados mais centrais segundo sua posição na rede,
tempo de convivência nela e conhecimento de sua realidade. Utilizou-se também o
critério de saturação para obtenção e confirmação de informações a respeito da
Rede Coorimbatá.
Quadro 5 – Sujeitos de pesquisa
ENTREVISTADO PAPEL DO ENTREVISTADO NA REDE
Sujeito 1 Pesquisador Cooperado da Universidade Federal de Mato Grosso.
Sujeito 2 Pesquisador Cooperado da Universidade Federal de Mato Grosso.
Sujeito 3 Presidente da Cooperativa Coorimbatá e ex-pescador.
Sujeito 4 Diretor Administrativo da Cooperativa Coorimbatá.
Sujeito 5 Pequeno agricultor participante da rede.
Sujeito 6 Diretor da Secretaria Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural
Sustentável.
Fonte: O autor.
50
Sobre Quadro 6 cabe esclarecer que: a) sua função principal foi indicar a
lógica que une os questionamentos e proposições do trabalho aos resultados
encontrados (YIN, 2010); b) as técnicas de coleta relativas a dados secundários e
pesquisa de observação direta foram apresentadas antes da indicação dos objetivos
específicos por terem iniciados antes de eles estarem completamente definidos,
auxiliando nessa tarefa; e c) as proposições do trabalho foram alocadas junto aos
objetivos que auxiliaram a questionar e alcançar e, nesse sentido a proposição 3 é
pertinente a todos os objetivos específicos bem como ao questionamento geral da
pesquisa realizada.
Quadro 6 – Guia para coleta e análise de dados
QUESTÃO DE PESQUISA
Como o processo de inovação se desenvolve em redes de cooperação?
OBJETIVO GERAL
Identificar como o processo de inovação se desenvolve em redes de cooperação.
COLETA DE DADOS SECUNDÁRIOS
Os dados secundários são a primeira fase da pesquisa, com o levantamento extensivo dos dados,
ele permeia todo o trabalho, e de forma direta como um guia para definição dos objetivos
específicos.
PESQUISA DE OBSERVAÇÃO DIRETA
A observação direta assim como outras fontes permeia todo o trabalho, orientando a cada decisão
a seguir, em particular nos ajustes dos objetivos específicos.
OBJETIVO
ESPECÍFICO 1 E
PROPOSIÇÃO 3
CONTEÚDOS DA
BASE TEORICA
- Conceituação de
Redes;
- Redes de cooperação;
.
ROTEIRO ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
a.1 – Quais são os principais objetivos da Rede Coorimbatá?
Esses objetivos foram definidos em conjunto por todos os
atores ou por alguns deles e apresentados aos demais? São
reconhecidos e aceitos por todos na rede?
a.2 – Existem muitos ou poucos contatos e trabalhos em
conjunto entre os atores para resolução de problemas da
rede, introdução de novidades, etc.?
a.3 – Em sua opinião os atores consideram as ações
coletivas mais importantes que as isoladas para soluções de
problemas, trocas de conhecimentos e introdução de
novidades na rede? Pode dar exemplos?
a.4 – Os atores da rede compartilham recursos para alcance
dos objetivos coletivos ou não? Até que ponto fazem isso?
a.5 – Após as perguntas feitas neste bloco, como o senhor
(a) avalia a cooperação na Rede Coorimbatá? Existe, não
existe, há muita ou pouca cooperação? Acredita que esse
nível de cooperação ajuda ou atrapalha o surgimento de
mudanças benéficas e de soluções para os problemas da
rede?
51
OBJETIVO
ESPECÍFICO 2 E
PROPOSIÇÃO 3
CONTEÚDOS DA
BASE TEORICA
- Conceituação de
Redes;
- Redes de cooperação;
- Inovação;
- Inovação em redes de
cooperação
b.1 – Tem havido muitas ou poucas mudanças e novas
ideias (exemplificar, se necessário para o sujeito o tipo de
mudança: produtos, processos, formas de comercialização,
organização e gestão) na Rede Coorimbatá?
b.2 – O senhor poderia me falar como se dá a criação de
novos conhecimentos, processos e soluções? Os atores
discutem e criam dentro da rede ou buscam essas soluções
fora dela? Nesse último caso, onde são buscados?
b.3 – Pedir para o entrevistado indicar em ordem
decrescente quais atores trazem mais novas ideias e soluções
para o grupo: (pesquisadores, pescadores, pequenos
empresários, Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia,
Secretaria da agricultura, etc., conforme a visão dele).
b.4 – Alguma dessas mudanças e soluções modificou
totalmente o que era feito antes ou houve apenas pequenas
melhoras no que já estava sendo feito na rede? Pode dar
exemplos de pequenas e grandes mudanças?
b.5 – Entre as mudanças e soluções introduzidas na Rede, o
Sr (a) poderia identificar os seguintes tipos:
b5.1 Produtos: tem havido criação ou aperfeiçoamentos de
produtos pelos atores da rede. Exemplos
b5.2 Processos: tem havido criação ou aperfeiçoamentos
nos modos de fabricar ou estruturar produtos e serviços?
Exemplos
b5.3 Marketing: tem havido criação ou aperfeiçoamentos
nos modos de comercializar ou divulgar os produtos e
serviços da rede? Exemplos
b5.4 Organizacional: tem havido criação ou
aperfeiçoamentos nas maneiras de gerenciar e conduzir a
cooperativa? Exemplos
b.6 – Na opinião senhor (a), essas mudanças e soluções são
pouco ou muito importantes para a sobrevivência e a
evolução da rede?
OBJETIVO
ESPECÍFICO 3 E
PROPOSIÇÕES
1 E 3
CONTEÚDOS DA
BASE TEORICA
- Conceituação de
Redes;
- Abordagens de redes
e a vertente social;
- Categorias sociais de
rede: Confiança;
- Redes de cooperação;
- Inovação;
- Inovação em redes de
cooperação
c.1 – O senhor percebe que os participantes confiam uns nos
outros e trocam informações, contam seus problemas e
dificuldades entre eles todos ou isso não acontece?
c.2 – Como o senhor (a) percebe a confiança entre os atores
da rede (intensa ou não; só para alguns assuntos; irrestrita,
etc.)? É uniforme entre todos ou há subgrupos ou
‘panelinhas’?
c.3 – senhor pode me contar algum caso, ou situação em que
alguém do grupo confiou em outro e essa pessoa se
aproveitou dessa confiança para obter benefício próprio? Se
existem essas situações, como são tratados? Existem
punições?
c.4 – Após as perguntas feitas neste bloco, como o senhor
(a) avalia a confiança na Rede Coorimbatá? Existe, não
existe, há muita ou pouca confiança? Acredita que esse nível
de confiança ajuda ou atrapalha o surgimento de mudanças
benéficas e de soluções para os problemas da rede?
52
OBJETIVO
ESPECÍFICO 4 E
PROPOSIÇÕES
2 E 3
CONTEÚDOS DA
BASE TEORICA
- Conceituação de
Redes;
- Abordagens de redes
e a vertente social;
- Categorias sociais de
redes:
Comprometimento;
- Redes de cooperação;
- Inovação;
- Inovação em redes de
cooperação
d.1 – Existe na rede muitas situações nas quais um ator se
empenha em trabalhar pelo grupo sem ganhar nada com isso
ou essas situações tendem a ser raras? Já houve casos em
que um parceiro arcou com custos ou esforços próprios para
que houvesse ganhos coletivos?
d.2 – Conte um pouco como é a participação das pessoas nas
atividades desenvolvidas pelo grupo. Elas estão sempre
dispostas e empenhadas para as atividades da rede, ou
preferem atuar individualmente?
d.3 – O senhor (a) tem observado situações em que as
pessoas desse grupo sempre fazem o que prometem ou tem
acontecido mais de prometerem e não cumprirem?
d.4 – Após as perguntas feitas neste bloco, como o senhor
(a) avalia o comprometimento na Rede Coorimbatá? Existe,
não existe, há muito ou pouco comprometimento? Acredita
que esse nível de comprometimento ajuda ou atrapalha o
surgimento de mudanças benéficas e de soluções para os
problemas da rede?
Fonte: O autor.
3.5.2 Relatório
Por fim, o relatório do trabalho foi escrito conforme uma estrutura linear
padrão recomendada para uma dissertação que traz a seguinte sequência de
capítulos: Introdução, Revisão da literatura, Metodologia, Apresentação e análise
dos dados e Conclusão (LAKATOS; MARCONI, 2003; TRIVINÕS, 1987). Em termos
formais, foi adotado o Guia de Normalização para Apresentação de Trabalhos
acadêmicos da Universidade Paulista: ABNT.
53
4 APRESENTAÇAO E ANÁLISE DOS DADOS
Este capítulo traz a coleção de dados recolhidos durante o trabalho de campo
organizados em secundários e primários, bem como a análise realizada frente à
base teórica do trabalho visando responder a seus questionamentos. No item 4.1
são apresentados os dados secundários, que estabeleceram o contexto do objeto de
estudo, ou seja, a Rede Coorimbatá. A partir desse contexto, no item 4.2 foram
apresentados os dados primários (entrevistas semiestruturadas e pesquisa de
observação direta) e em seguida, no tópico 4.3 a análise do referido material. Tanto
na apresentação quanto na análise dos dados procurou-se, quando possível, indicar
a convergência ou divergência de evidências coletadas pelas três fontes. Buscou-se
desse modo, realizar a triangulação de dados no processo analítico.
4.1 Dados secundários da rede Coorimbatá
Neste item são apresentados os dados de fontes secundárias, constando em
documentos consultados, reportagens em sites, artigos publicados, sobre a rede em
estudo.
A cooperativa dos pescadores e Artesões de Pai André e Bonsucesso
(Coorimbatá) tem sua sede no município de Várzea Grande, cidade vizinha a Cuiabá
(MT). Foi fundada em 1997, por meio do Programa de Apoio Direto às Iniciativas
Comunitárias (PADIC), financiado pelo Governo do Estado do Mato Grosso. Essa foi
a alternativa encontrada pelos pescadores das comunidades da Coorimbatá para
tentar agregar valor a seus produtos e assim buscar maior competitividade no
mercado em relação ao trabalho individual de cada pescador. A atividade inicial
estava ligada apenas ao processamento de peixes e derivados e húmus de
minhoca. No entanto, devido à falta de informações sobre gestão e planejamento, a
cooperativa não alcançou os resultados esperados com essa iniciativa (HARUKO,
PRIANTE, 2012).
No ano de 2000, a Coorimbatá e a Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT) estreitaram seus laços e assim alguns de seus pesquisadores se
associaram à cooperativa. Foi formalizado então o novo estatuto da Coorimbatá,
incluindo a pesquisa científica como um de seus objetivos. Para isso foi criada a
figura do pesquisador cooperado, que não participa da renda do setor produtivo,
54
mas compartilha seus riscos. Desse modo os pesquisadores obtêm em contrapartida
aos riscos, oportunidades para o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas. Essa
nova forma de organização estabeleceu novos espaços de trabalho, em que
acadêmicos, representantes do poder público, pescadores, artesãos, distribuidores e
outros atores se envolveram voluntariamente em uma empreitada em rede. Esse
conjunto de atores constitui o objeto de pesquisa desta dissertação e passam a ser
referidos neste trabalho a partir deste ponto como Rede Coorimbatá. Em geral os
resultados deste arranjo têm sido positivos desde o início, pois os atores vêm
compartilhando seus recursos, conhecimentos, experiências, em prol do
desenvolvimento da rede (HARUKO; PRIANTE, 2012).
O que é especial nesse projeto de acordo com Vankrunkelsven Luc (2009) é o
trabalho em rede de parceiros variados. Ninguém pode se apropriar do projeto, mas
pode apoiá-lo e isso favorece a cooperação e participação de todos os atores. A
alteração do estatuto estabeleceu novas fontes de renda além do processamento de
peixes e de húmus de minhoca preexistente. Passou a haver também o
processamento de frutas (manga, banana e abacaxi) e de carne de jacaré,
oferecendo oportunidades de manutenção e complementação de renda àqueles que
não podem pescar em épocas de piracema.
Promovendo parcerias e estabelecendo fortes relações com entidades e
empresas do setor público e privado, como o Programa Petrobrás Fome Zero, a
Rede Coorimbatá se estruturou (possui sede própria, frigorífico, lanchas, entre
outros) e ganhou corpo em todo o estado. Prova disso, é o reconhecimento nacional
expresso na obtenção dos prêmios FINEP de Inovação Tecnológica de 2004 na
região Centro Oeste, que promoveu a articulação e o estabelecimento de fortes
relações entre pessoas, entidades e empresas do setor público e privado.
A partir de 2005, além de suprir os cooperados, a Rede Coorimbatá, com
base nos princípios da economia solidária e do comércio justo, vem mantendo
relações comerciais com atores diversos. Entre eles estão agricultores parceiros,
como os chamados ribeirinhos; e também com quilombolas não ligados à Rede
Coorimbatá, além de associações, empresas comerciais e produtores rurais. Essas
parcerias garantiram a distribuição da produção, possibilitando fortalecimento de
toda a cadeia fornecedora de matérias-primas, que contribui para o funcionamento
adequado das três unidades produtivas da Rede Coorimbatá, com o processamento
de peixe, jacaré, doces e do processamento de húmus de minhoca oriundo dos
55
resíduos sólidos. Em outro extremo da cadeia produtiva, a Rede Coorimbatá tem
privilegiado a comercialização de seus produtos em uma rede de supermercados de
Mato Grosso, conforme os princípios de comércio justo e solidário.
Segundo Mariano (2009), se pode aquilatar a importância da Rede
Coorimbatá para amenizar a escassez de renda dos pescadores ribeirinhos na
época de piracema, quando estão proibidos de pescar. Destaca-se também a
parceria com os pesquisadores da UFMT, que utilizavam seus laboratórios e
técnicos para o desenvolvimento de projetos com os alimentos processados no
âmbito da rede. E a prefeitura de Várzea Grande (MT) cidade vizinha a Cuiabá,
cedeu um prédio para a Cooperativa.
O site da Arca Multi Incubadora (2013) – subordinada ao Escritório de
Inovação Tecnológica da Universidade Federal de Mato Grosso (EIT/UFMT) –
mostra que ela atua em rede, de forma sistêmica em parceria com os setores
governamentais, acadêmicos e não governamentais, além de empresas. Entre suas
atribuições ela desenvolve e consolida empreendimentos solidários agregando valor
a processos, produtos e serviços por meio da articulação de conhecimentos e de
projetos que promovam a evolução socioambiental e/ou a inclusão.
De acordo com o site Redes de Desenvolvimento Sustentável (2015), o
frigorífico utilizado pela rede foi reformado com recursos do Programa Redes do
BNDES/VOTORANTIM. O espaço onde ele se localiza foi totalmente reorganizado,
havendo aquisição de novos equipamentos, como câmara fria e maquinário para
lavar e escamar peixes com capacidade de evisceração de 5000 kg por dia. A esse
respeito o mais recente ex-presidente da Coorimbatá comentou:
O programa foi uma benção para nós. Passávamos muita dificuldade até então, pois o espaço não era adequado e não tínhamos as certificações e selos que hoje o mercado exige. E sem isso não conseguíamos vender. Com o projeto, vamos ficar numa situação bastante privilegiada em termos de concorrência com outros serviços semelhantes da região (SITE, REDES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, 2015).
A Figura 4 mostra o aspecto externo do frigorífico.
56
Figura 4 – Nova estrutura do frigorífico após reforma
Fonte: http://www.programaredes.com.br/coorimbata-comemora-reformulacao-de-espaco-e-novos-
equipamentos/img_0760/
O Programa Redes do BNDES/VOTORANTIM também contribuiu com os
pescadores na busca por novos mercados para os produtos produzidos com foco
voltado à venda dos produtos da rede para o setor gastronômico da região de Mato
Grosso, que conta com vários restaurantes trabalhando com peixe, além de
supermercados e hotéis. Além disso, a Rede Coorimbatá acessou também
mecanismos de aquisições públicas, através do Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA), impulsionando as vendas na região. Com esses novos
investimentos, a vida dos cooperados melhorou muito, comentou o ex-presidente da
Coorimbatá Benedito Gonçalves da Silva:
Hoje, é muito difícil sobreviver da pesca do rio. Não há peixe suficiente e a renda é sempre muito instável. Por isso, muitos cooperados ainda vivem de serviços pontuais, para conseguir se manter. Com o projeto funcionando de verdade, vai fazer diferença na vida de todos. Pela primeira vez, teremos a oportunidade de ter uma renda fixa e um trabalho contínuo (REDES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, 2015).
Em 2015, a Coorimbatá deu um passo importante e estratégico para a
comercialização de seus produtos à base de pescado. Trata-se da reserva do
Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa), que avalia a qualidade da produção de alimentos de origem
animais comestíveis ou não comestíveis.
57
A Coorimbatá também sagrou-se vencedora do edital da Fundação Banco do
Brasil, o que vem gerando grandes repercussões econômicas e sociais. Ser
contemplada por esse edital foi mais um passo para a conquista de melhor
qualidade de vida para os pescadores em pequenos empresários. Foram obtidos
pelo edital recursos financeiros no valor de R$ 149 mil, o que permitiu a ampliação
do processamento e comercialização de pescados e a aquisição de novos
equipamentos. Houve também aquisição de um furgão frigorífico responsável pela
comercialização de peixes em diversos bairros de Cuiabá.
Para conseguir a aprovação de um projeto desta natureza, foi necessário superar diversas dificuldades técnicas, documentais e de gestão. O recebimento dos recursos deste edital demonstra a maturidade da cooperativa e um grande engajamento dos nossos cooperados. Isso gera mais reconhecimento e, consequentemente mais responsabilidade, devido à sua importância para processos de inclusão produtiva no Território da Baixada Cuiabana (SITE, VGNEWS, 2017).
Em função das informações apresentadas, se pôde verificar a repercussão
que a Rede Coorimbatá trouxe para a região, envolvendo vários atores que
colaboram para o alcance de objetivos comuns, o que está relacionado às
categorias estudadas nessa pesquisa.
4.2 Dados primários da rede Coorimbatá
Seguem as informações primárias, mais diretamente relacionadas aos
objetivos e proposições enunciados, nos itens 4.2.1 e 4.2.2, entrevistas
semiestruturadas e pesquisa de observação direta respectivamente.
4.2.1 Resultados das Entrevistas semiestruturada
São mostradas neste item informações coletadas seguindo o roteiro de
entrevista semiestruturada previamente definido e elaborado a partir de bases
teóricas (TRIVINOS, 1987). Esse instrumento é apropriado para captar as
percepções dos atores chaves da pesquisa e os aspectos dos fenômenos
estudados. Foram buscadas a síntese dos pensamentos dos entrevistados e a
identificação de convergências e divergências entre as respostas, exemplificadas
através de dizeres ilustrativos, quando apropriado. As entrevistas foram realizadas
58
de acordo com dois critérios: incluir os principais atores da rede objeto deste estudo,
e também os de saturação, ou seja, as entrevistas cessaram quando novas
informações relevantes deixaram de ser agregadas. De acordo com esses critérios
foram realizadas seis entrevistas, conforme o Quadro 7, a seguir.
Quadro 7 – Sujeitos das entrevistas semiestruturadas
ENTREVISTADO PAPEL DO ENTREVISTADO NA REDE
Sujeito 1 Pesquisador Cooperado da Universidade Federal de Mato Grosso.
Sujeito 2 Pesquisador Cooperado da Universidade Federal de Mato Grosso.
Sujeito 3 Presidente da Cooperativa Coorimbatá e ex-pescador.
Sujeito 4 Diretor Administrativo da Cooperativa Coorimbatá.
Sujeito 5 Pequeno agricultor participante da rede.
Sujeito 6 Diretor da Secretaria Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural
Sustentável.
Fonte: Elaborado pelo autor.
A apresentação foi estruturada levando em consideração o roteiro de
entrevista (Apêndice A), dividido em cinco blocos, sendo que os quatros primeiros
(A,B,C,D) visaram atender a cada um dos objetivos específicos e às proposições
enunciadas. O último (bloco E) buscou consolidar as informações de campo frente
às categorias sociais pesquisadas, bem como consolidar as proposições. Desse
modo, seguem as informações das entrevistas por bloco de questões sendo que
cada parágrafo corresponde a uma questão do referido roteiro.
4.2.1.1 Bloco A – Descrever a dinâmica da Rede de cooperação Coorimbatá
Os entrevistados foram unânimes ao declararem que os principais objetivos
da Rede Coorimbatá são propiciar renda aos participantes com a comercialização da
produção, oportunizar a inclusão social às pessoas em situação de vulnerabilidade e
facilitar as pesquisas científicas envolvendo a rede. É de se ressaltar que, embora
atualmente esses objetivos sejam reconhecidos e aceitos por todos na rede, logo
após a entrada dos pesquisadores houve receio dos participantes mais antigos,
especialmente os pescadores. Nos primeiros passos foram realizados contatos
iniciais entre os líderes da Coorimbatá e pesquisadores da UFMT visando realizar
algumas pesquisas para solução de problemas específicos. Os pescadores temiam
59
que fossem explorados, que os pesquisadores não trouxessem resultados efetivos
para a rede, privilegiando suas pesquisas. Tal receio somente se dissipou com o
tempo e as soluções que aos poucos os pesquisadores trouxeram para a rede. Do
ponto de vista dos pesquisadores, a participação da Rede Coorimbatá era de grande
interesse pelo fato de poderem dirigir seu escopo de pesquisa para além da
universidade em direção a algo social. A frase do sujeito 1 ilustra essa situação: “A
grande virada na minha vida foi no momento que eu deixei de fazer pesquisa tendo
como foco a universidade”. Isso mostra a importância para o pesquisador da
investigação de um tema envolvendo a comunidade. O marco inicial foi a alteração
do estatuto da Coorimbatá em 2000, quando foi incluída a pesquisa científica como
um dos objetivos da rede, pela criação da figura do pesquisador cooperado. Com
isso tudo, as relações entre pesquisadores, pescadores, pequenos produtores e
demais atores se estreitaram até que passaram a definir objetivos comuns e a agir
de forma consistente a isso.
Em relação aos contatos e trabalhos em conjunto para resolução de
problemas ou introdução de novidades, os entrevistados responderam que em geral
há muitos contatos nas atividades entre os atores e que hoje pouca coisa se faz
sozinho na rede. A frase do sujeito 3 exemplifica essa interpretação: “Uma pessoa
isolada não tem o poder de solução de problemas mais complexos, como exemplo
foi a decisão em produzir o húmus da minhoca a partir da orientação dos
pesquisadores”. Contudo, o sujeito 5 ponderou que: “em momentos de crise
financeira alguns tendem a trabalhar sozinhos”.
Quanto à opinião dos atores sobre a importância das ações coletivas frente às
isoladas para troca de conhecimento, introdução de novidade ou solução de algum
problema, segundo os entrevistados, no começo existia uma grande resistência dos
participantes da rede quanto às ações coletivas, porém com o passar do tempo eles
foram percebendo que as ações coletivas eram mais importantes do que as isoladas
para a busca de soluções de problemas e trocas de conhecimento. Como exemplo,
o sujeito 2 ilustrou: “Quando algum ator da rede está com problema de
documentação, a Arca incubadora da UFMT auxilia nesse sentido”. Em outro caso, o
sujeito 4 citou: “que era um grande problema na época da proibição de pesca, pois a
renda caía drasticamente e os pesquisadores, para solucionar esse problema,
propuseram a produção de frutas desidratadas, atividade que até aquele momento
era pouco explorada, e que foi fundamental para complementação da renda”. Em
outra fala, o sujeito 5 ilustrada com a seguinte frase: “Está impregnada em todos nós
60
essa necessidade, não é possível solucionar problemas sem ser através de ações
coletivas”.
No que se refere ao compartilhamento de recurso para o alcance dos
objetivos comuns e até que ponto é compartilhado, como regra geral os atores da
rede compartilham recursos para alcance dos objetivos coletivos, ao ponto de
compartilharem estrutura física, automóveis, equipamentos ou espaço público
cedido pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural Sustentável.
Uma frase dita pelo sujeito 3 que ilustra esse ponto é: “uma época nós tínhamos o
caminhão, mas não tínhamos o motorista, pedimos emprestado o serviço de um
motorista de uma outra cooperativa que foi prestado sem custo algum”.
Sobre existir ou não cooperação na rede e se o nível cooperação ajuda ou
não as mudanças benéficas na rede: conforme opinião dos entrevistados, existe
muita cooperação na rede, e o nível de cooperação existente na rede contribui muito
para a solução de problemas e para o surgimento de mudanças benéficas.
Entretanto, foi relatado também pelos entrevistados que isso tem acontecido com
maior frequência nos últimos anos em que a rede está mais “madura”. Um
comentário ilustrativo dessa situação foi feito pelo sujeito 6: “Quando chega ao ponto
de comercializar junto é porque há muita cooperação”.
4.2.1.2 Bloco B – Identificar quais tipos de inovação (incremental e radical; de
produto, de processo, de marketing e organizacional) ocorrem na rede
A primeira pergunta sobre inovação foi se tem havido muitas ou poucas
mudanças e novas ideias na Rede Coorimbatá, o que foi respondido
afirmativamente por todos os entrevistados. Eles declararam que concordam que
tem havido novas ideias e mudanças na rede em grande número e de todos os tipos
indagados. Eles também destacaram que, além dos pesquisadores cooperados, as
novas ideias provêm dos produtores mais simples, pois eles têm conhecimento e
visão da prática que os pesquisadores da UFMT não possuem. Outro ponto
destacado é que as novas ideias estão sendo implementadas à medida que se
consolidam as relações de confiança e comprometimento na rede.
Quando indagados sobre a criação de novos conhecimentos, processos e
soluções e se eles são buscados dentro ou fora da rede, houve grande convergência
nas respostas no sentido de que a maior parte das novas criações e soluções
surgem dentro da rede pela interação entre os atores. Em geral essa interação tem
61
sido motivada por necessidades econômicas. Nessa troca, o pesquisador cooperado
contribui com conhecimentos científicos e os cooperados com habilidades adquiridas
no dia a dia, de modo que os atores criam e discutem a inovação internamente na
rede.
Na visão dos atores quando solicitados para indicarem em ordem decrescente
quais atores trazem mais novas ideias e soluções para o grupo, houve certa de
quem traz mais novas ideias. Os pesquisadores responderam que no processo de
inovação um ator complementa o outro. Pode-se ter uma ideia disso pela fala do
sujeito 4, que diz: “O pesquisador é quem faz os projetos e nós executamos, então
um depende do outro”. Os pescadores e os pequenos agricultores consideram,
porém, que os pesquisadores trazem mais soluções e sustentabilidade para dentro
da rede. Uma frase do sujeito 5 exemplifica essa posição: “Somos leigos de
conhecimento técnico e a universidade supre isso”. Foi possível depreender pelas
respostas que os pesquisadores e o poder público tendem a contribuir mais com
mudanças radicais e estruturais para a rede, ao passo que os pescadores e
produtores rurais o fazem com mudanças incrementais e técnicas, ligadas a seu dia
a dia.
Acerca dessas mudanças e soluções se elas modificaram totalmente o que
era feito antes (inovações radicais) ou houve pequenas melhorias no que já estava
sendo feito na rede (inovações incrementais), os entrevistados confirmaram que
houve muitas mudanças, dos dois tipos. O sujeito 3 ilustrou:
Uma das grandes alterações foi o processamento de peixe em conformidade com a legislação com a certificação do Selo de Inspeção Federal (SIF) e a utilização da carne de peixe para fazer hambúrguer, linguiça e empanado.
Em outro exemplo foi mencionado, pelo sujeito 5 que “a fabricação de banana
verde e de mandioca chips, que antes não existiam no mercado, ajudam a
complementar a renda”. Outras alterações lembradas foram o aprimoramento das
embalagens dos produtos e a reestruturação da parte administrativa e contábil da
cooperativa. O sujeito 2 afirmou: “Hoje tem uma legislação rigorosa que regula a
maneira de manipular o peixe e, para nos adequarmos a ela ocorreu uma grande
mudança estrutural e cultural entre nós”.
Sobre exemplos de inovações de produtos os entrevistados mencionaram a
produção de banana e mandioca chips, de linguiça e empanado de um peixe, frutas
62
secas, doces típicos da região, roupas confeccionadas com couro de peixe, húmus
de minhoca, criação de jacaré para extração de carne e de couro. Assim, as
inovações de produto se concentraram na oferta de bens simples à comunidade que
tem contribuído para incremento da renda.
As inovações de processo exemplificadas pelos entrevistados foram a
introdução de quebradores do fruto do Cumbaru para retirada de sua amêndoa e
aquisição de máquina de desidratação de frutas cuja patente é própria à rede.
Houve também mudanças no modo de manipular peixes a partir da construção de
uma nova planta para processamento de alimentos em conformidade com a
legislação.
Quanto às inovações de marketing os entrevistados mencionaram o
desenvolvimento da marca própria à Rede (ver Figura 5), utilizando a logomarca da
cooperativa em novas embalagens, além de participação em feiras e workshops
para divulgação. Nesse aspecto, ressalta-se o fomento que a Secretaria de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Rural Sustentável tem realizado para o
desenvolvimento da rede. Há anualmente a organização pela Secretaria de dois
grandes eventos, sendo que o primeiro se chama “Peixe Santo”. Isso porque na
Semana Santa a Secretaria organiza toda a estrutura de vendas necessária em
pontos estratégicos da cidade de Cuiabá para estimular a venda de peixes. E o
segundo evento é uma série de feiras itinerantes nas quais os agricultores têm
oportunidade de vender seus produtos diretamente ao consumidor final.
Figura 5 – Marca própria da Rede Coorimbatá
Fonte: https://www.cirandas.net/coorimbata/galeria-de-imagens.
63
Os entrevistados indicaram como inovações organizacionais: a adaptação da
nova planta frigorífica conforme as exigências das normas sanitárias e a criação da
Central de Distribuição que recebe os produtos de todos os pescadores e
agricultores e os distribui para o mercado consumidor. Além disso, comentaram que
a partir da entrada da Arca - a incubadora de empreendimentos solidários ligada à
UFMT, anteriormente mencionada - houve a reestruturação da parte administrativa
da cooperativa.
As opiniões dos entrevistados convergiram no sentido de que as mudanças e
soluções implantadas foram muito importantes para a sobrevivência e o
desenvolvimento da Rede Coorimbatá. Os pesquisadores cooperados (sujeitos 1 e
2) comentaram a respeito da importância na evolução da rede no sentido de permitir
que pescadores e pequenos agricultores compreendam cada vez melhor a
importância do trabalho em rede, bem como os papéis destacados que eles
desempenham nela.
4.2.1.3 Bloco C – Descrever a influência da variável confiança no processo de
inovação da rede estudada
Neste subitem foi analisado o modo como os atores percebem a existência de
confiança entre os participantes da rede na troca de informações e se compartilham
seus problemas e dificuldades uns com os outros. As respostas foram unânimes em
afirmar que os participantes da rede confiam uns nos outros para a troca de
informações ou para o compartilhamento de seus problemas pessoais e
profissionais. Uma frase do sujeito 6 exemplifica essa situação:
Uma cooperativa parceira foi multada e em reunião na rede os motivos foram compartilhados com integrantes de outras cooperativas parceiras para que elas pudessem se readequar e evitar serem multadas também.
Os atores da rede entrevistados declararam ser alta a confiança entre eles de
modo geral, mas alguns assuntos especiais que no primeiro momento são tratados
em nível de direção para harmonização. Posteriormente, quando se trata de decidir
e divulgar resultados o processo é uniforme, ou seja, sem haver diferenças entre os
atores. Um comentário do sujeito 2 indica essas características.
64
Como as decisões são tomadas em reunião com muitos participantes, e geralmente acontecem muitas discussões até que se chegue a um consenso, em um primeiro momento a decisão é uniformizada a decisão pelos gestores antes das reuniões com os participantes das várias cooperativas.
Quando perguntados sobre oportunismo, ou seja, situações em que alguém
do grupo confiou em outro e essa pessoa se aproveitou dessa confiança para obter
benefício próprio, foram relatados alguns casos, mas todos receberam punições
exemplares. Destacaram o caso em que um presidente foi destituído do cargo por
não ter conseguido prestar contas de recursos financeiros gastos. Em outro caso um
ator utilizou um veículo com intuito particular e consumiu combustível da Rede sem
fazer a devolução ou reembolso e isso foi repudiado pelo restante do grupo, que o
expulsou.
Em relação à avaliação sobre como é a confiança na Rede Coorimbatá, os
entrevistados declararam que ela é intensa e que ela auxilia no surgimento de novas
ideias ou a solucionar problemas. Mas eles indicaram que não foi sempre assim, que
tratou-se de um processo gradativo. Essa confiança foi construída aos poucos e à
medida em que os atores foram se conhecendo e os resultados positivos das ações
conjuntas foram se consolidando. Uma frase do sujeito 5 ilustrou esse processo:
Hoje em dia tem um grande acordo entre as cooperativas para fornecimento de alimentos in natura para as escolas da prefeitura e do estado. A Central de Distribuição é responsável por toda a logística. Foi longo o processo para viabilizar esse fornecimento, até que houvesse confiança entre os participantes.
4.2.1.4 Bloco D – Descrever a influência da variável comprometimento no
processo de inovação da rede estudada
Sobre a existência de comprometimento na rede, ou seja, de situações em
que um ator se empenha em trabalhar pelo grupo sem ganhar nada com isso, foi
dito que isso ocorre com frequência. Muitas vezes se observam as pessoas na rede
trabalharem pelo grupo e ganharem muito pouco em troca. Uma frase do sujeito 3
ilustra esse ponto:
Hoje mesmo todos estão se submetendo a ganhar muito menos do que normalmente se ganha por mês, devido à dificuldade da cooperativa em regularizar umas documentações que estavam em atraso.
65
Em outra frase o sujeito 4 exemplifica essa situação: “A minha preocupação
sempre foi com que todos tenham retorno do esforço aqui dentro. Se não houver
comprometimento dificilmente conseguimos passar por momentos de crise”.
Os entrevistados, quando perguntados se as pessoas sempre estão
comprometidas para participação nas tarefas desenvolvidas pelo grupo ou preferem
atuar sozinhas, disseram que existem as duas situações, mas que prevalecem as
atividades desenvolvidas em grupo. Algumas vezes, pessoas entram no grupo com
a mentalidade de quem trabalha individualmente e só depois de conhecerem os
benefícios do trabalho cooperativo é que mudam a forma de pensar e agir. O sujeito
5 ilustrou esse ponto em sua fala:
Na hora do trabalho em conjunto a maioria das pessoas se compromete com o grupo, porém tem pessoas ainda que pouco contribuem. Só que na hora de repartir o resultado querem a distribuição de forma igualitária, ainda que isso é uma exceção.
Outro ponto abordado foi a existência de situações nas quais os participantes
ou fazem sempre o que prometem, ou prometem e não cumprem. Foi pontuado que
a primeira situação é bem mais comum. Nem sempre cumprem o que prometem,
mas de modo geral tem acontecido mais o cumprimento do que foi combinado.
Mesmo porque foi reportada a existência de controle informal na rede, uma cultura
no grupo que desaprova o não cumprimento do que estava estabelecido. O sujeito 3
ilustrou a situação de forma coloquial: “Em uma caixa de bananas a maioria é boa,
mas sempre tem a banana podre”.
Por fim, quando indagados se após essas perguntas consideram que existe
ou não comprometimento na Rede Coorimbatá e sua intensidade, os entrevistados
afirmaram que o comprometimento é intenso na rede e que esse nível de
comprometimento auxilia a resolução de problemas e adoção de inovações. Porém,
foi destacado também pelo sujeito 4 que “há um limite para isso, por falta da
compreensão de algumas pessoas, dos benefícios que o trabalho em grupo pode
trazer”.
4.2.1.5 Bloco E - Consolidação entre os blocos de questões
Os entrevistados confirmaram que de modo geral a confiança e
comprometimento ajudam a melhorar a cooperação na rede. Entretanto, indicaram
66
também que existem situações que impõem certa dificuldade a algumas pessoas
para a cooperação em rede. Como exemplo, foram mencionadas situações em que
algumas pessoas mostraram dificuldades em seguir a decisão do grupo. Tratava-se
de um período em que a rede passava por uma crise financeira e alguns se
afastaram para trabalhar de forma isolada. Apesar disso, o que ficou patente nas
entrevistas, pelas respostas e exemplos fornecidos é que dificilmente a Rede
Coorimbatá teria se tornado o que ela é atualmente se não houvesse confiança e o
comprometimento como pilares das relações de cooperação.
Quanto à avaliação dos entrevistados se a cooperação facilita ou atrapalha o
surgimento de inovações na rede, as respostas foram positivamente convergentes.
Foi declarado, de forma praticamente unânime, que a cooperação na rede facilita
muito no surgimento de inovações relacionadas à solução de problemas e novas
ideias aplicadas. Nas entrevistas ficou explícito que a cooperação propicia a
inovação, através principalmente da quantidade de novas atividades introduzidas no
escopo dos participantes, atividades que dificilmente seriam introduzidas
isoladamente. É importante destacar que nas entrevistas ficou clara a importância da
UFMT, através de seus pesquisadores, no processo de inovação.
Por fim, observou-se no discurso dos atores entrevistados, que compõem a
rede de primeiro nível, que apesar de seus diferentes papéis e características, houve
grande convergência entre as respostas. Acredita-se que essa sintonia seja
indicativa de que eles realmente assumem e procuram realizar objetivos coletivos
por meio de esforços comuns em um contexto no qual a inovação tem papel
destacado. Além dessas razões, ressalta-se também a repercussão positiva que a
Rede Coorimbatá vem alcançando na região. Houve também sinergia e boa-vontade
dos atores da rede em conceder e responder às entrevistas.
4.2.2 Instrumento observação direta
A pesquisa de observação direta foi realizada através do acompanhamento
de duas reuniões, sendo a primeira referente à posse da nova equipe gestora da
Rede Coorimbatá e a segunda uma reunião de trabalho que tratou de questões
operacionais.
O primeiro acompanhamento se deu no dia 1 de abril de 2017, na sede da
cooperativa. Estavam presentes cerca de 20 pessoas, entre elas os seguintes
67
representantes dos seguintes atores: Coorimbatá (a cooperativa), associações de
produtores rurais, um representante da Secretaria de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Rural Sustentável e a UFMT. O motivo da reunião foi a cerimônia
de posse da nova diretoria para mais um mandato de dois anos de gestão da Rede.
Algo que ficou evidente foi o sentimento de religiosidade compartilhado pelos
presentes, que iniciou com uma missa para abençoar a nova gestão. Houve diversas
menções à Deus e à religião durante todo o decorrer da reunião. Após a missa
foram iniciadas de fato as discussões referentes à nova gestão, identificando-se
sinais da liderança dos dois pesquisadores cooperados, que organizaram e
conduziram a reunião, definindo algumas regras para isso.
Um ponto de destaque foi a participação dos líderes de outras três
cooperativas parceiras, com um breve dizer sobre a renovação de compromisso
entre todos os atores para transpor as dificuldades na rede. Foi digno de nota o que
disse um dos representantes de uma dessas cooperativas parceiras: “Nós somos
todos Coorimbatá”. Embora ele fosse representante de outra cooperativa, mostrou
nessa frase um sentimento de pertencimento ao grupo maior, demonstrando sinais
de laços sociais presentes e da existência de uma configuração em formato de rede.
Outro ponto que chamou atenção foi o primeiro discurso do novo presidente
ao assumir o desafio de conduzir a Coorimbatá. Ele declarou que foi necessário abrir
mão de algumas questões particulares em nome do grupo e que, para superar as
dificuldades, todos terão de pensar e agir de forma cooperativa. Nesse instante
houve uma forte demonstração de emoção tanto do novo presidente quanto de um
dos pesquisadores cooperados, indicando forte ligação deles com a rede e que
nesse âmbito os fatores sociais se sobrepõem aos racionais e econômicos.
A segunda reunião ocorreu em 12 de abril de 2017, na sede da Arca
incubadora da UFMT e tratou do Fórum Territorial de Segurança Alimentar e
Nutricional da Baixada Cuiabana (FTSAN-BC). Estavam presentes além dos
pesquisadores cooperados que foram responsáveis pela organização e condução da
reunião os representantes das cooperativas, pequenos agricultores e um
representante do governo estadual através da Secretaria de Estado de Trabalho e
Assistência Social. Essa reunião tratou de assuntos operacionais, com uma breve
apresentação dos encaminhamentos definidos na última reunião, destacando-se o
andamento de alguns projetos em execução, tendo o envolvimento de todos para o
alcance de resultados. Nessa dinâmica se pôde observar certa interdependência
68
entre os atores. Outro assunto abordado foram os ajustes necessários na logística
de entrega pelas cooperativas de produtos oriundos da agricultura familiar nas
escolas estaduais e municipais. Essa ação tem a participação da Arca, o que
caracteriza mais um envolvimento da UFMT na Rede Coorimbatá.
Com a observação direta verificou-se que as variáveis estudadas nessa
pesquisa como a confiança, comprometimento e inovação estão presentes e
configuradas em rede, pois se constata nas falas dos participantes relatados acima
sinais importantes dessas variáveis para as mudanças significativas, que para essa
pesquisa caracterizamos como inovação em rede.
4.3 Análise dos dados
Neste tópico são relatadas as análises das evidências coletadas e
apresentadas nos tópicos 41 e 42. Foi realizada basicamente buscando-se verificar
a convergência ou divergência das evidências coletadas pelos três modos de coleta
de dados, a partir de fontes secundárias e primárias. E também relacionando os
padrões de respostas encontrados com os padrões teóricos desenvolvidos na base
teórica.
4.3.1 Análise da dinâmica da Rede Coorimbatá
Os dados levantados tanto nas entrevistas como nos dados secundários
revelaram que atualmente os atores da rede têm objetivos comuns definidos com a
participação da maioria. Entre eles destacaram-se a inclusão social e renda as
pessoas em situação de vulnerabilidade e propiciar a pesquisa científica. Quanto a
esse último objetivo, seu alcance começou a ser observado com a alteração do
estatuto da cooperativa, sendo incluída a pesquisa científica como uma das
finalidades da rede. O trabalho de Araraki et al. (2012) que investigou o mesmo
objeto de estudo, apresentou evidencias convergentes ao indicar que o processo de
desenvolvimento de tecnologias se dava em um contexto organizacional articulado
em forma de redes envolvendo uma Instituição de ensino e pesquisa, exatamente a
UFMT. Assim, verificou-se que existe convergência tanto entre fontes de dados
coletados nesta pesquisa quanto em resultados encontrados na literatura sobre a
influência da positiva da UFMT no processo de desenvolvimento e inovação da rede
estudada.
69
Apurou-se nas entrevistas que os atores consideram as ações coletivas mais
importantes que as isoladas para assuntos como solução de problemas, trocas de
conhecimento e introdução inovações. Essas ações coletivas ficaram evidenciadas
pelo volume reportagens em sites mostrando vários projetos de fomento aprovados
com o auxílio do EIT/UFMT.
Alguns trabalhos anteriores a esta dissertação indicaram a existência de
parcerias bem sucedidas, com destaque para a pesquisa de Martins et al. (2014).
Esse trabalho traz o exemplo de uma pesquisa em uma rede de inovação
tecnológica na qual um dos principais parceiros foi o SEBRAE. Os resultados
mostraram que houve fomento à rede via suporte às ações de pesquisas
desenvolvidas pelas empresas participantes da rede.
4.3.2 Análise dos tipos de inovação encontrados na Rede Coorimbatá
Em relação ao segundo objetivo específico, os dados coletados mostraram
que todos esses tipos de inovação têm ocorrido na rede, ou seja, foram identificados
na Rede Coorimbatá inovações de produto, de processo, de marketing e
organizacional. Além disso, esses tipos de inovações puderam ser classificados
também como radical ou incremental, sendo esta última mais frequente, em
convergência com o resultado apontado na pesquisa de Nascimento et al. (2011)
Eles analisaram como uma incubadora e sua equipe gestora se relacionava com as
empresas incubadas na troca de informação para o desenvolvimento da inovação.
Dentre as observações da pesquisa destacou-se que as Inovações incrementais
eram mais frequentes, conforme aponta a teoria (DODGSON; ROTHWELL, 1995).
De acordo com as evidencias coletadas as inovações e as novas soluções
para problemas antigos surgem com maior intensidade internamente à rede, a partir
da interação entre os atores envolvidos. Isso possivelmente ocorre por haver na
própria rede uma diversidade de habilidades e capacidades dos atores participantes.
Exemplo disso é a interação dos pesquisadores da UFMT com pescadores
ribeirinhos e pequenos produtores. Trata-se de um processo cíclico de
complementariedades teóricas e técnicas dos primeiros e da prática dos últimos que
acaba resultando em uma espiral positiva de inovações. Ahuja (2000) em trabalho
semelhante constatou o quanto a estrutura das redes afeta a capacidade de
inovação. Esse autor verificou que em redes nas quais prevalecem relações internas
70
entre os atores há um ambiente de confiança, mas com menor capacidade de
inovação. E no caso de redes mais permeáveis a relacionamentos com atores
externos a elas a capacidade de inovação tende a ser maior. Esses resultados estão
em linha também com Granovetter (1985), que relaciona maior capacidade de
inovação a laços fracos e vice-versa. Acredita-se que o resultado diferente desse
padrão, apresentado pela Rede Coorimbatá se deva à figura do pesquisador
cooperado como membro ativo da rede e seu relacionamento próximo aos
pescadores ribeirinhos e pequenos produtores.
Tanto no discurso dos entrevistados quanto nas observações diretas
realizadas durante o acompanhamento das duas reuniões da rede se pôde constatar
que os pesquisadores e o poder público contribuem mais com inovações radicais, ao
passo que os pescadores e produtores rurais com mudanças incrementais. Esses
resultados são condizentes com o que afirma Christensen (1997), de que a inovação
radical geralmente resulta de pesquisas aprofundadas, conduzidas em laboratórios
de P&D, em instituições governamentais e em universidades.
Foram detectadas na Rede Coorimbatá inovações dos quatro tipos (produtos,
processo, marketing e organizacional), algumas resultando em poucas alterações
(incrementais) ao passo que outras mudaram totalmente a forma de fazer as coisas
(radicais), conforme (SCHUMPETER, 1961; MANUAL DE OSLO, 2005). Estão
relacionados no Quadro 8 os tipos de inovação propriamente ditos que ocorreram na
rede durante o período pesquisado, considerando também a intensidade de
inovação mais preponderante, ou seja, se mais radical ou incremental. Para a
caracterização desse último quesito, considerou-se, conforme Mohr, Sengupta e
Slater (2005) que as inovações radicais e incrementais são pontos extremos de um
contínuo no qual varia a intensidade da novidade (baixa nas incrementais e alta nas
radicais). Essa intensidade de novidade levou em conta os benefícios agregados à
rede, bem como os esforços e os recursos empregados em cada inovação de
acordo com os entrevistados, que as caracterizaram como baixo, médio e alto. E o
contexto geral dessa classificação foi o impacto das inovações na dinâmica da
própria rede.
Ressalta-se que essas mudanças e soluções introduzidas têm sido muito
importantes para a sobrevivência e o desenvolvimento da Rede Coorimbatá. Neste
trabalho se considera como rede desenvolvida aquelas que alcançaram determinado
ponto de equilíbrio ou homeostase. Ou seja, elas estão desenvolvidas a partir do
71
momento em que atingem certa estabilidade e podem resolver problemas criados
por assimetrias e conflitos entre os atores (BERTÓLI; GIGLIO; RIMOLI, 2014).
Quadro 8 – Características das inovações
INTENSIDADE DE INOVAÇÕES
INCREMENTAL RADICAL
GRAU DE NOVIDADE
BAIXO MÉDIO ALTO
T
I
P
O
S
D
E
I
N
O
V
A
Ç
Ã
O
Pro
du
to
- Húmus de minhoca;
- Frutas secas;
- Doces típicos da região;
- Criação de jacaré.
- Produção de linguiça e
empanado de peixe.
- Banana e mandioca chips.
Pro
cesso
- Maneira de manipular com
peixe.
- Quebrador de cumbaru para
retirada da amêndoa.
- Máquina de desidratação de
frutas patenteada pela rede
- Construção de nova planta de
processamento; certificada
pelo SIF.
Ma
rketin
g
- Participação em feiras e
workshops.
-Aprimoramento das embalagens
dos produtos.
- Criação e aplicação da marca
da rede.
Org
an
izacio
na
l
- Organização dos
processos administrativo e
contábil da rede.
- Adaptação da nova planta
frigorífica da Rede Coorimbatá.
- Criação da Central de
distribuição.
Fonte: Baseado em Mohr, Sengupta e Slater (2005) e no Manual de Oslo (2005).
4.3.3 Análise da influência da variável confiança no processo de inovação da
rede estudada
Percebeu-se que os atores da rede confiam um nos outros para a troca de
informação ou para compartilhamento de problemas, tanto em nível pessoal quanto
profissional. Isso ficou evidente nas entrevistas e principalmente na observação
direta feita em uma das reuniões, em que demonstraram como é intenso o
compartilhamento de informações e problemas, considerando que, apesar da
participação de variados atores na reunião não houve nenhum constrangimento no
72
compartilhamento de problema. Essa constatação está em convergência com a
teoria, pois conforme afirmam Inkpen e Tsang (2005) a confiança implica uma
condição de risco na medida em que um participante da rede toma a decisão de
expor seu problema e solicitar ajuda e soluções. Em outras palavras, os autores
indicam que para obter os benefícios da confiança se corre o risco de compartilhar
informações sensíveis e/ou estratégicas. Considera-se assim, que foram
encontradas evidências na Rede Coorimbatá de níveis altos de confiança e que eles
favorecem as inovações.
As evidências mostraram também que houve poucos casos em que alguém
do grupo se aproveitou em benefício próprio da confiança depositada por outra
pessoa, ou seja, pequena incidência de comportamento oportunista. Além disso,
esse tipo de ocorrência não acontece há vários anos, o que também contribui para o
sucesso das inovações implantadas na rede. Esses achados estão de acordo com
Balestrin e Vargas (2004), ao afirmarem que a confiança cria laços fortes e define
padrões de comportamento entre os participantes da rede, minimizando
comportamento oportunista.
4.3.4 Análise da influência da variável comprometimento no processo de
inovação da rede estudada
Quanto ao último objetivo específico, verificou-se tanto nas entrevistas quanto
na observação direta forte existência de sinais da influência positiva da categoria
comprometimento no processo de inovação. Um exemplo claro disso é que foram
identificadas situações nas quais determinados atores trabalham pelo grupo
ganhando muito pouco em curto prazo. Assim, são diversos os atores que se
comprometem com a rede e investem no trabalho visando benefícios futuros para
todo o grupo. Isso está expresso no trabalho de Anderson e Weitz, (1992) para
quem o comprometimento é a disposição de uma pessoa para ações coletivas, sem
colocar o benefício próprio a frente do interesse do grupo. Ações desse tipo
implicam fazer sacrifícios para desenvolver e manter uma relação estável.
Surgiram também nas entrevistas fatos apartados das ações em rede, como
pessoas que nem sempre estão dispostas para atividades em grupo, preferindo
atuar individualmente ou que não cumprem o que prometeram. Isso geralmente
ocorre em momentos de crise financeira na rede, tendendo a ser um comportamento
73
de exceção. Nos resultados de Klein et al. (2014) a falta de confiança e de
comprometimento são fatores importantes entre os responsáveis pela saída das
empresas das redes. Assim, acredita-se que em um grupo relativamente grande
algumas pessoas destoam nas ações de comprometimento em alguns momentos,
porém isso não macula o nível de comprometimento do grupo todo e não
compromete o surgimento de mudanças benéficas na rede.
4.3.5 Análises das proposições do estudo
As proposições desta pesquisa procuraram direcionar de maneira focalizada
seus questionamentos em uma base confirmatória em relação aos objetivos
específicos já comentados.
Proposição 1: A cooperação influencia positivamente o desenvolvimento e a
aplicação de inovações na rede estudada.
Essa proposição foi confirmada com a análise dos dados. No conjunto dos
dados analisados pode concluir que a cooperação influenciou positivamente o
desenvolvimento e a aplicação de inovações na rede, com destaque a inovação
entre a EIT/UFMT com as Cooperativas, sendo mostrada que a implementação das
maiorias das inovações teve o suporte da universidade, através de captação de
recursos de projetos e assessoria na execução, conclui-se que a grande maioria das
inovações ocorridas na rede ocorreu na troca de conhecimento da universidade para
as cooperativas. Isso está expresso no trabalho de Nascimento et al. (2011) que
analisaram como uma incubadora da universidade e sua equipe gestora se
relacionava com as empresas incubadas na troca de informação para o
desenvolvimento da inovação. Foi observado que as incubadoras tinham
consciência do seu papel como mediadoras, porém de maneira informal. Além disso,
devido ao grande número de empresas incubadas a oportunidade de troca de
informações era mais propícia.
Proposição 2: A confiança influencia positivamente o processo de inovação
na rede estudada.
Essa afirmativa após análises dos dados também se confirmou, ficando claro
que a confiança entre os atores influencia positivamente o processo de inovação na
74
rede. Na entrevista com presidente da cooperativa Coorimbatá foi relatado que no
começo quando os pesquisadores da UFMT passaram a participar da rede, houve
certo receio de que o interesse deles fosse somente obter dados para suas
pesquisas. Entretanto, com a convivência mútua os cooperados mais antigos
perceberam que tais receios eram infundados em função da postura dos
pesquisadores e dos resultados obtidos. Assim, essas reservas iniciais foram aos
poucos dissipadas, o que pode ser observado nas reuniões da rede que foram
acompanhadas. Essa constatação está em convergência com a teoria, pois
conforme afirma Perrow (1992), a cooperação, a confiança e o comprometimento
apresentam vantagens para as cooperativas frente aos concorrentes, pois se cria
um ambiente favorável à inovação, trazendo vantagens competitivas baseadas em
diferenciação de produtos e de processos com diminuição de custos.
Proposição 3: O comprometimento influencia positivamente o
desenvolvimento e a aplicação de inovações na rede de cooperação Coorimbatá.
Os dados da pesquisa mostraram que o comprometimento está ligado à
confiança, pois assim que ela aumentou na rede na mesma proporção também
aumentou o comprometimento e vice-versa. Verificou-se tanto nas entrevistas
quanto nas observações que em várias ocasiões os cooperados aceitaram os novos
projetos. Havia confiança nas análises de viabilidade realizadas pelos pesquisadores
da UFMT, o que contribuiu para reforçar o comprometimento durante o
desenvolvimento e a aplicação das inovações. Esses achados estão de acordo com
Ariño (2003) pois, à medida que os atores percebem que há grande
comprometimento por parte dos parceiros, mais suas relações são fortalecidas,
como uma espiral crescente. Em outras palavras, quanto mais pessoas estiverem
empenhadas e comprometidas com o negócio, mais participantes tendem a confiar e
comprometer-se pelo grupo. Desse modo considera-se que a proposição 3 também
foi confirmada neste estudo.
4.3.6 Comentários sobre a proposta teórica da pesquisa
O objetivo geral da pesquisa foi identificar como o processo de inovação se
desenvolve em redes de cooperação, e o que distingue o presente trabalho é a
busca por conhecer as interfaces de inovação e de variáveis sociais entre os atores,
75
pois assume a premissa de que confiança e comprometimento são antecedentes e
indutores da cooperação. Essa linha de pensamento está de acordo com o projeto
temático do orientador desta dissertação e tem suas raízes no estudo seminal de
Morgan e Hunt (1994) em que seu modelo teórico afirma que a única variável
consequente que é positivamente influenciada por ambos, confiança e
comprometimento simultaneamente é a Cooperação.
A partir desse raciocínio foi construída a proposta teórica que orientou a
pesquisa desta dissertação, adotando como premissa a ideia de que confiança e
comprometimento atuam como indutores, ou influenciam positivamente as redes de
cooperação e potencializam inovações de tipos variados. Reproduz-se aqui a Figura
3 apresentada inicialmente na Base teórica à p. 40, que esquematiza a pesquisa
realizada.
Figura 3 – Esquema da proposta teórica de pesquisa
Fonte: o autor.
Entende-se que esta proposta de pesquisa serviu bem aos propósitos da
pesquisa realizada, espelhando adequadamente a questão de pesquisa, os objetivos
estabelecidos e as proposições formuladas. Pode-se dizer que no âmbito da Rede
Coorimbatá esta proposta se revelou adequada e permitiu que se pesquisasse o
papel das variáveis sociais confiança e comprometimento como indutoras em redes
de cooperação. Isso no que tange à criação e aplicação de inovações de vários tipos
e intensidades.
76
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho versou sobre a influência das categorias sociais confiança e
comprometimento em inovações de uma rede de cooperação. Foi realizado um
estudo de caso único em uma rede que envolve uma parceria inovadora entre
pesquisadores da UFMT em cooperação com uma comunidade de pescadores e
pequenos produtores rurais, entre outros atores. A pesquisa teve como objetivo
geral “investigar como o processo de inovação se desenvolve em redes de
cooperação”. Para sua operacionalização e investigação efetiva esse objetivo geral
foi detalhado em quatro objetivos específicos e também em três proposições.
O primeiro objetivo específico procurou descrever a dinâmica da Rede de
Cooperação Coorimbatá. As evidências coletadas e analisadas mostraram que os
atores compartilham objetivos comuns definidos com a participação da maioria
deles. Apurou-se também que as finalidades da rede são a inclusão social, o
aumento da renda de pessoas em situação de vulnerabilidade social e propiciar a
realização de pesquisas científicas que beneficiem a rede. Quanto a essa última
finalidade, seu alcance começou a ser observado com a alteração do estatuto da
Coorimbatá, quando a pesquisa científica passou a ser formalmente incluída como
uma das finalidades da rede. Assim, verificaram-se resultados positivos da influência
da UFMT no processo de desenvolvimento e inovação da rede estudada. Verificou-
se também que os atores consideram as ações coletivas mais importantes que as
isoladas quando se trata de solução de problemas da rede, de trocas de
conhecimento e desenvolvimento e aplicação de inovações. Essas ações coletivas
ficaram evidenciadas nas entrevistas realizadas e pelo volume de reportagens em
sites mostrando vários projetos de fomento aprovados e aplicados à rede com o
auxílio do Arca, incubadora do EIT/UFMT.
Em relação ao segundo objetivo específico, identificar quais tipos de inovação
(incremental e radical; de produto, de processo, de marketing e organizacional)
ocorrem na rede, pode-se afirmar que foram encontrados exemplos de todos esses
tipos. Cada um foi classificado também como radical ou incremental, sendo este
último mais frequente do que o primeiro. Esses resultados foram esquematizados no
Quadro 8 do capítulo anterior. Os dados mostraram ainda que os atores poder
público e pesquisadores cooperados têm contribuído principalmente com inovações
radicais, ao passo que os pescadores e produtores rurais com mudanças
77
majoritariamente incrementais. Isso se justifica pela origem e habilidade de cada
ator, ou seja, os pesquisadores da UFMT tendem a trazer mais contribuições
técnicas de laboratórios de P&D e os pescadores possuem maior conhecimento
prático de sua realidade diária de trabalho. Observou-se também que a maioria das
inovações tem origem internamente à rede, pela interação entre esses três atores.
Isso possivelmente ocorre por haver na própria rede uma diversidade de habilidades
e capacidades dos atores participantes. Ressalta-se por fim que as inovações
introduzidas têm sido muito importantes para a sobrevivência e o desenvolvimento
da Rede Coorimbatá. Neste trabalho se considerou como redes desenvolvidas
aquelas que alcançaram determinado ponto de equilíbrio ou homeostase. Isso ficou
caracterizado nesta rede a partir do momento em que ela alcançou estabilidade para
resolver problemas criados por assimetrias e conflitos entre os atores (BERTÓLI;
GIGLIO; RIMOLI, 2014).
O terceiro objetivo específico foi descrever a influência da variável confiança
no processo de inovação da rede de cooperação estudada. Percebeu-se através da
pesquisa que os atores confiam um nos outros para a troca de informações ou para
compartilhamento de problemas, tanto em nível pessoal quanto profissional. Isso
ficou evidente nas entrevistas e principalmente na pesquisa de observação direta
realizada durante o acompanhamento das reuniões da rede. Ficou patente como é
intenso o compartilhamento de informações e de problemas. Considera-se que
apesar da participação de atores variados nas reuniões não houve nenhum
constrangimento quanto ao compartilhamento e tentativa de resolução desses
problemas simples ou complexos. Desse modo, as evidências encontradas na
pesquisa de campo indicaram que na Rede Coorimbatá há níveis altos de confiança
entre os atores que favorecem a ocorrência de inovações.
Por fim, o quarto objetivo específico buscou descrever a influência da variável
comprometimento no processo de inovação da rede de cooperação estudada.
Verificaram-se nos dados coletados evidências consistentes da influência positiva da
categoria comprometimento no processo de inovação. Exemplos disso são situações
nas quais determinados atores trabalham pelo grupo ganhando muito pouco em
curto prazo, visando ao bem da rede no futuro. Assim, são diversos os atores que se
comprometem com a rede e investem seu trabalho em ações coletivas para gerar
benefícios futuros para todo o grupo. É verdade também que houve alguns
resultados indicando a existência de comportamentos individualistas e de pessoas
78
que não cumprem o que prometeram em relação à rede. Porém, tais ocorrências se
dão em momentos de crise financeira, caracterizando comportamentos de exceção
e, apesar deles, a rede como um todo tem conseguido superar esses momentos
difíceis. Desse modo essas ações não maculam o nível de comprometimento do
grupo todo e nem atrapalham o surgimento de inovações na rede.
Assim, diante do que foi apresentado nos parágrafos anteriores, conclui-se
que o objetivo geral foi alcançado, uma vez que ficou caracterizado como o processo
de inovação se desenvolve em redes de cooperação no caso estudado. Investigou-
se especificamente a importância das categorias sociais confiança e
comprometimento nesse processo. Essas categorias, além de estarem presentes,
são importantes para o surgimento e a implantação das inovações. Esse resultado
inclusive foi ratificado pelas proposições examinadas, conforme está exposto a
seguir.
A primeira proposição tratou de verificar se a cooperação influencia
positivamente o desenvolvimento e a aplicação de inovações na rede estudada, o
que foi confirmado. Foi possível concluir que a cooperação influenciou positivamente
o desenvolvimento e a aplicação de inovações na rede, com destaque para as
interações entre a EIT/UFMT com os pescadores e pequenos produtores. Foi
mostrado também que a implementação maior parte das inovações teve o suporte
da universidade, através de captação de recursos de projetos e assessoria na
execução. A segunda proposição examinou se a confiança influencia positivamente
o processo de inovação na rede estudada e os resultados indicaram que sim, de
modo que esse resultado respalda também o alcance já relatado dos objetivos
específicos. E a terceira proposição tratou de verificar se o comprometimento
influencia positivamente o desenvolvimento e a aplicação de inovações na Rede de
cooperação Coorimbatá, o que, além de ser confirmado, ainda sugeriu que o
comprometimento está ligado à confiança. Isso porque as evidências indicaram a
construção e o aumento dessas duas categorias em paralelo. Verificou-se, tanto nas
entrevistas quanto nas observações diretas, que em várias ocasiões os cooperados
aceitaram novos projetos sem muita resistência. Havia confiança nas análises de
viabilidade realizadas pelos pesquisadores da UFMT, o que contribuiu para reforçar
o comprometimento durante o desenvolvimento e a aplicação das inovações.
Com isso tudo foi possível responder à questão de pesquisa: “Como o
processo de inovação se desenvolve em redes de cooperação?”. Entendeu-se que
79
foi confirmado que na Rede Coorimbatá o processo de inovação se desenvolve a
partir do fortalecimento das relações sociais permitindo afirmar que dentre as
variáveis sociais a confiança e o comprometimento são antecedentes e indutores da
cooperação, que por sua vez potencializa as inovações.
As contribuições do trabalho podem ser ressaltadas em duas instâncias: a
teórica e a gerencial. A contribuição teórica se expressa na confirmação de que as
categorias sociais confiança e comprometimento são antecedentes e indutores da
cooperação que potencializa inovações, conforme foi estabelecido no modelo de
Morgan e Hunt (1994). A afirmação orientadora deste trabalho se baseou em um
recorte das relações entre confiança, comprometimento e cooperação expressa no
trabalho desses autores, no qual há outras variáveis envolvidas (ver Figura 2, p. 40)
e adicionou inovação como resultado alcançado. Nesta dissertação, essa relação foi
confirmada em um contexto específico da Rede Coorimbatá, algo bem diferente da
pesquisa original, tanto no plano metodológico quanto em relação ao setor
investigado. No artigo supramencionado a investigação foi realizada em uma rede
de varejistas de pneus de automóveis e utilizou uma abordagem quantitativa, com
hipóteses e análise de equações estruturais. E a contribuição gerencial se expressa
em reflexões sobre como o processo de confiança e comprometimento são
importantes para a realização de inovações que permitem o desenvolvimento e o
fortalecimento da Rede Coorimbatá. Entretanto, essas categorias ficam mais frágeis
em tempos de crise. Essa constatação pode servir para treinamentos e outras ações
gerenciais visando o fortalecimento da rede em épocas difíceis.
5.1 Limitações e sugestões para trabalhos futuros
Quanto às limitações do estudo se tem, em primeiro lugar, as limitações de
caráter metodológico, pois a utilização de estudo de caso como estratégia de
investigação permitiu estudar em profundidade a realidade da rede. Entretanto, não
é possível extrapolar esses resultados para outras redes análogas diretamente, mas
apenas utilizá-los como possibilidades de replicação e verificar então os resultados.
Outro fator limitador foi a resistência inicial de alguns sujeitos de pesquisa
investigados, o que ocorreu no início de algumas entrevistas. Porém, após as
explicações sobre os propósitos da pesquisa e os cuidados que foram tomados,
80
envolvendo sigilo de informações e anonimato das pessoas, acredita-se que essa
resistência tenha sido minimizada.
Como sugestão para estudos futuros sugere-se a replicação desta pesquisa
em redes de cooperação com características similares. Dessa forma, sugere-se
pesquisar os fenômenos aqui estudados em outras redes de cooperação, buscando-
se evidências de variáveis sociais na dinâmica do de inovação em redes que
possam confirmar ou não os resultados da pesquisa atual, o que pode contribuir
para a generalização dos resultados. Abordagens quantitativas também são
encorajadas.
81
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89
APÊNDICE
Apêndice A – Roteiro de entrevista semiestruturada
O roteiro de entrevista foi desenvolvido a partir de indicadores convergentes
com os objetivos da pesquisa, com questões semiestruturadas, em que os
entrevistados serão os atores que na pesquisa com dados secundários mostraram
ser importantes na rede. A aplicação se dará, a princípio, após uma explanação
sobre a pesquisa com a apresentação do tema do trabalho, assim como as regras
de ética quanto ao sigilo, tempo de entrevista, autorização para gravação e o
feedback a eles ao final do resultado da pesquisa.
Entrevistados:
1. Pesquisadores Cooperado da UFMT;
2. Presidente e Diretor Administrativo da Cooperativa Coorimbatá;
4. Pequeno agricultor participante da rede e,
5. Diretor da Secretaria Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural Sustentável
ROTEIRO DE ENTREVISTAS
Objetivos específicos a, b, c, d.
a) Descrever a dinâmica da rede de cooperação Coorimbatá.
Definição de rede de cooperação escolhida para este trabalho: Grupo de
organizações interdependentes que trabalham em conjunto para superar problemas
comuns em pontos que nenhuma delas seria capaz de resolver com eficiência
sozinha (CEGLIE; DINI, 1999; VERSCHOORE, 2006).
a.1 – Quais são os principais objetivos da Rede COORIMBATÁ? Esses objetivos
foram definidos em conjunto por todos os atores ou por alguns deles e apresentados
aos demais? São reconhecidos e aceitos por todos na rede? [Finalidade: Conhecer
o modo como os objetivos da rede foram formulados]
90
a.2 – Existem muitos ou poucos contatos e trabalhos em conjunto entre os atores
para resolução de problemas da rede, introdução de novidades etc.? [Finalidade:
Identificar o nível de atividades coletivas entre os atores da rede]
a.3 – Em sua opinião os atores consideram as ações coletivas mais importantes que
as isoladas para soluções de problemas, trocas de conhecimentos e introdução de
novidades na rede? Pode dar exemplos? [Finalidade: Identificar a disposição dos
atores para realizar atividades coletivas na rede]
a.4 – Os atores da rede compartilham recursos para alcance dos objetivos coletivos
ou não? Até que ponto fazem isso? [Finalidade: identificar até que ponto os atores
compartilham recursos ao executar as atividades da rede]
a.5 – Após as perguntas feitas neste bloco, como o senhor (a) avalia a cooperação
na Rede Coorimbatá? Existe, não existe, há muita ou pouca cooperação? Acredita
que esse nível de cooperação ajuda ou atrapalha o surgimento de mudanças
benéficas e de soluções para os problemas da rede? [Finalidade: Identificar se o
nível de cooperação existente na rede favorece a implantação de inovações]
b) Identificar quais tipos de inovação (incremental e radical; de produto,
de processo, de marketing e organizacional) ocorrem na rede.
Definição de inovação escolhida para este trabalho: A implementação de um
produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou
um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de
negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas (MANUAL
DE OSLO, 2005).
b.1 – Tem havido muitas ou poucas mudanças e novas ideias (exemplificar, se
necessário para o sujeito o tipo de mudança: produtos, processos, formas de
comercialização, organização e gestão) na Rede Coorimbatá? [Finalidade: chamar a
atenção do entrevistado para a ocorrência de inovações na rede]
b.2 – O senhor poderia falar como se dá a criação de novos conhecimentos,
processos e soluções? Os atores discutem e criam dentro da rede ou buscam essas
soluções fora dela? Nesse último caso, onde são buscados? [Finalidade: investigar a
origem interna ou externa das inovações]
b.3 – Pedir para o entrevistado indicar em ordem decrescente quais atores trazem
mais novas ideias e soluções para o grupo: (pesquisadores, pescadores, pequenos
91
empresários, Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia, Secretaria da
agricultura, etc., conforme a visão dele). [Finalidade: hierarquizer em ordem
decrescente os atores mais inovadores]
b.4 – Alguma dessas mudanças e soluções modificou totalmente o que era feito
antes ou houve apenas pequenas melhoras no que já estava sendo feito na rede?
Pode dar exemplos de pequenas e grandes mudanças? [Finalidade: investigar a
ocorrência de inovações incrementais e radicais na rede].
b.5 – Entre as mudanças e soluções introduzidas na Rede, o Sr (a) poderia
identificar os seguintes tipos:
b5.1 Produtos: tem havido criação ou aperfeiçoamentos de produtos pelos
atores da rede. Exemplos
b5.2 Processos: tem havido criação ou aperfeiçoamentos nos modos de
fabricar ou estruturar produtos e serviços? Exemplos
b5.3 Marketing: tem havido criação ou aperfeiçoamentos nos modos de
comercializar ou divulgar os produtos e serviços da rede? Exemplos
b5.4 Organizacional: tem havido criação ou aperfeiçoamentos nas maneiras
de gerenciar e conduzir a cooperativa? Exemplos [Finalidade: caracterizar as
inovações da rede segundo a tipologia do Manual de Oslo]
b.6 – Na opinião senhor (a), essas mudanças e soluções são pouco ou muito
importantes para a sobrevivência e a evolução da rede? [Finalidade: investigar a
visão que o entrevistado tem sobre a importância das inovações na rede]
c) Descrever a influência da variável confiança no processo de
inovação da rede estudada;
Definição de confiança escolhida para este trabalho: Como uma predisposição
em que as pessoas colocam-se na dependência do outro de várias formas, como a
expor seu problema ou soluções, solicitar ajuda, dispor de seus recursos,
compartilhando conhecimento e inovação, minimizando o comportamento
oportunista (INKPEN e TSANG, 2005).
c.1 – O senhor percebe que os participantes confiam uns nos outros e trocam
informações, contam seus problemas e dificuldades entre eles todos ou isso não
acontece? [Finalidade: Obter uma ideia geral da confiança existente entre os atores
da rede]
92
c.2 – Como o senhor (a) percebe a confiança entre os atores da rede (intensa ou
não; só para alguns assuntos; irrestrita etc.)? É uniforme entre todos ou há
subgrupos ou ‘panelinhas’? [Finalidade: Caracterizar a confiança de acordo com
intensidade e uniformidade na rede]
c.3 – O senhor pode contar algum caso, ou situação em que alguém do grupo
confiou em outro e essa pessoa se aproveitou dessa confiança para obter benefício
próprio? Se existem essas situações, como são tratados? Existem punições?
[Finalidade: identificar a ocorrência de oportunismo na rede]
c.4 – Após as perguntas feitas neste bloco, como o senhor (a) avalia a confiança na
Rede Coorimbatá? Existe, não existe, há muita ou pouca confiança? Acredita que
esse nível de confiança ajuda ou atrapalha o surgimento de mudanças benéficas e
de soluções para os problemas da rede? [Finalidade: verificar se o nível de
confiança existente na rede favorece o surgimento e a aplicação de inovações]
d) Descrever a influência da variável comprometimento no processo de
inovação da rede estudada.
Definição de comprometimento escolhida para este trabalho: Disposição de
uma pessoa para ações coletivas sem colocar o benefício próprio à frente do
interesse do grupo, implicando fazer sacrifícios para manter e desenvolver uma
relação estável (ANDERSON; WEITZ, 1992).
d.1 – Existe na rede muitas situações nas quais um ator se empenha em trabalhar
pelo grupo sem ganhar nada com isso ou essas situações tendem a ser raras? Já
houve casos em que um parceiro arcou com custos ou esforços próprios para que
houvesse ganhos coletivos? [Finalidade: identificar o nível de comprometimento dos
atores com o todo da rede da qual fazem parte]
d.2 – Conte um pouco como é a participação das pessoas nas atividades
desenvolvidas pelo grupo. Elas estão sempre dispostas e empenhadas para as
atividades da rede, ou preferem atuar individualmente? [Finalidade: identificar o nível
de comprometimento dos atores com seus pares]
d.3 – O senhor (a) tem observado situações em que as pessoas desse grupo
sempre fazem o que prometem ou tem acontecido mais de prometerem e não
cumprirem? [Finalidade: identificar o nível de comprometimento dos atores com as
tarefas a serem cumpridas por eles na rede]
93
d.4 – Após as perguntas feitas neste bloco, como o senhor (a) avalia o
comprometimento na Rede Coorimbatá? Existe, não existe, há muito ou pouco
comprometimento? Acredita que esse nível de comprometimento ajuda ou atrapalha
o surgimento de mudanças benéficas e de soluções para os problemas da rede?
[Finalidade: verificar se o nível de comprometimento existente na rede favorece o
surgimento e a aplicação de inovações]
e) Consolidação entre os blocos de questões
e.1 – O senhor (a) acredita que os níveis de confiança e de comprometimento
existentes na rede ajudam a melhorar a cooperação na rede? [Finalidade: identificar
se a confiança e o comprometimento são indutores da cooperação nessa rede]
e.2 – Em sua opinião, a cooperação na rede estudada facilita ou atrapalha o
surgimento de mudanças benéficas e de soluções para os problemas da rede?
[Finalidade: verificar se o nível de cooperação existente na rede favorece o
surgimento e a aplicação de inovações]
94
Apêndice B – Roteiro para observação direta
a. Postura geral
A proposta é acompanhar as assembleias e reuniões festivas da rede nas quais a
maioria dos atores participa, observando: certos fenômenos de forma direta e sem
interferir nos discursos dos participantes. Mediante autorização, as reuniões serão
gravadas, registradas e transcritas de acordo com os objetivos específicos desse
projeto, mantendo-se o autor do trabalho sempre neutro para que não seja
introduzido nenhum viés na pesquisa.
b. Observação dos participantes
- Quantidade de pessoas presentes
- Interação entre os participantes e com quem está comandando a reunião
- Conteúdo das comunicações
- Facilidade ou dificuldade de obtenção de consenso
- Participação e atitudes dos participantes
- Nível de entrosamento dos participantes
- Grau de liberdade para expressar ideias e sentimentos
- Consideração de pontos de vista diferentes
- Nível de troca de ideias (alto-baixo)
- Sinais de interdependência cooperação
c. Clima da reunião
- Agradável e amistoso
- Interessante e produtivo
- Tenso, com sinais de hostilidade
- Desinteressante
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Apêndice C – Principais trabalhos oriundos da bibliometria que complementam
a base teórica
Autor Fonte Título da Obra Palavras- chaves Conceitos e resultados relevantes para a pesquisa
SCHREIBER D. et al. (2013).
Revista Eletrônica de Administração, Porto Alegre, Edição 76, N° 3, p. 767-795, Set/Dez. 2013.
Posicionamento estratégico de MPE´s com base na inovação através do modelo hélice tríplice
Micro e Pequenas Empresas, Hélice Tríplice, Estratégia, Redes de Cooperação.
A conclusão do trabalho indicou que o posicionamento estratégico de empresas de pequeno porte configuradas em rede de cooperação permitiu o desenvolvimento de competências dentro do modelo de Hélice Tríplice, contribuiu de forma efetiva para a concepção de estratégias das organizações em rede, com foco na inovação de produtos e de processos.
TRAVAGLINI C. (2012).
Revista de Administração da USP, São Paulo, v.47, n.3, p.436-445, jul./ago/set. 2012.
A construção e reconstrução de capital social em empresas cooperativas sociais de multi-staheholders: uma abordagem dinâmica do sistema
Cooperativas Sociais, Capital Social, Multi-Stakeholder, Sistema Dinâmico, Empreendedorismo Social.
O trabalho concluiu que o capital social é um ativo importante no Terceiro Setor e, ao mesmo tempo, considera suas variáveis criadoras e propagadoras. A cooperação entre voluntários, clientes, líderes da comunidade e empreendimentos locais do Terceiro Setor é fundamental para o estabelecimento da confiança para manter contratos de longo prazo possibilitando-lhes aumentar a inovação.
VERSCHOORE J.; BALESTRIN A. (2008).
Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v. 12, n. 4, p. 1043-1069, Out./Dez. 2008.
Fatores relevantes para o estabelecimento de redes de cooperação entre empresas do Rio Grande do Sul
Cooperação, Redes, Competitividade.
O trabalho indicou que a cooperação em redes se destacou como configuração organizacional alternativa. Os resultados obtidos confirmam a importância de fatores como aprendizagem e inovação; aumento de escala e de poder de mercado; e acesso a soluções.
BAIARDI A. (2008).
Revista Organizações & Sociedade, Bahia, v.15, n.45, Abr./Jun. 2008.
Competição e competição / cooperação
Competição, Cooperação
O trabalho é uma tentativa de encontrar um eixo comum baseado na relação entre a competição e a cooperação em arranjos produtivos locais e redes.
BEUREN I. et al. (2015).
Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, p. 216-237, Mar./Abr. 2016.
Percepção de Justiça nos Sistemas de Controle Gerencial Aumenta Comprometimento e Confiança dos Gestores?
Justiça Organizacional; Sistemas de Controle Gerencial; Comprometimento dos Gestores; Confiança dos Gestores
O artigo objetiva verificar se a percepção de justiça em relação às dimensões dos Sistemas de Controle Gerencial aumenta o comprometimento e a confiança dos gestores. Concluiu-se que o comprometimento e a confiança dos gestores podem ser fatores preponderantes na diminuição de ações retaliatórias causadas pelo sentimento de injustiça organizacional.
96
BARCELLOS P. et al. (2012).
Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, Rio de Janeiro, Out/Dez. 2012.
Insucesso em redes de cooperação
Redes, Cooperação, Insucesso, Estudo Multicasos.
O objetivo do trabalho foi identificar as possíveis causas que levaram algumas redes de cooperação a encerrarem suas atividades. As seis redes que integraram essa pesquisa faziam parte do Programa de Redes de Cooperação da Universidade de Caxias do Sul, o discurso dos respondentes indica que aspetos associados ao individualismo e à falta de confiança, comprometimento e liderança entre os membros estão entre os 12 motivos que levaram à extinção das redes.
WEBER B..; HEIDENREICH S. (2016).
International
Journal of
Innovation
Management, Vol.
20, Issue 7, p. 1-
29, 2 Diagrams, 3
Charts, Oct. 2016.
Improving innovation capabilities by cooperation: examining effects of core network management functions and relational mechanisms in the industrial goods sector.
Cooperação, Rede, Inovação.
Os resultados mostrados no artigo trazem modelagem de equações estruturais que fornecem evidências de que as funções de gerenciamento de rede melhoram significativamente a capacidade de inovação das empresas.
KAMALIAN A. et al. (2015).
International Journal of Management, Accounting & Economics, Vol. 2, Issue 3, p. 233-242, Mar. 2015.
Cooperation Networks and Innovation Performance of Small and Medium-Sized Enterprises (SMEs).
Redes de Cooperação, Inovação.
O artigo descreve como o relacionamento entre as pequenas e as médias empresas nos anos estudados favoreceu a inovação. Além disso, a cooperação vertical e horizontal com clientes, fornecedores e outros atores teve papel significativo e distintivo no processo de inovação das pequenas e médias organizações.
JELONEK D. (2016)
Scientific Papers
of Silesian
University of
Technology.
Organization &
Management,
Issue 90, p. 9-24,
2016.
Innovation networks identification of cooperation barriers.
Redes, Cooperação.
O trabalho tem como objetivo identificar as barreiras à cooperação em redes de inovação. O estudo mostrou que há barreiras mentais e barreiras relacionadas à experiência de cooperação ruim. A identificação de barreiras permite que as empresas mitiguem seus impactos negativos e possibilitem colaborações efetivas e bem-sucedidas.
SCHILLER M. (2015).
Global Business &
Economics
Anthology, Vol. 2,
p. 114-125, 12p.
Dec. 2015.
Innovation, knowledge, and cooperation: a survey of networks in Brazil.
Inovação, Cooperação.
O artigo mostrou que o propósito de uma rede de inovação é a troca de conhecimentos e experiências na cooperação entre parceiros. As conclusões da pesquisa mostram que o crescimento da cooperação aumentou 50% entre 2008 e 2011 no Brasil.
97
PINTO H.; TERESA M.; FAUSTINO C. (2015).
Journal of
Technology
Management &
Innovation, Vol.
10, Issue 1, p. 83-
102, 20p. 2015.
knowledge and cooperation determinants of innovation networks: a mixed-methods approach to the case of Portugal.
Redes de inovação, Inovação.
O artigo traz um modelo que sublinha que os atores que utilizam tecnologias externas e promovem o conhecimento têm maior probabilidade de inovar. Do mesmo modo, os atores envolvidos em gestão e apoio ao empreendedorismo têm menor probabilidade de fazê-lo.
HOFFMANN M.; AMAL M.; MAIS I. (2011)
Revista de
Administração
Faces Journal,
Vol. 10, Issue 4, p.
64-85, 22p,
Oct/Dec. 2011.
Estratégia, estrutura e redes de cooperação: relações com uma capacidade de um conjunto de inovação têxtil.
Redes de cooperação, Inovação
O objetivo da pesquisa foi verificar como variáveis relevantes estão configuradas para a inovação em um clusters têxtil em Blumenau-SC, são abordadas três variáveis: a lógica estratégica que fundamenta as decisões da empresa; a estrutura e investimentos destinados às atividades voltadas à inovação; e a inserção em redes de cooperação. Os resultados demonstram que a lógica estratégica, a estrutura de investimentos e a inserção em redes de cooperação são baseadas em uma lógica de manutenção do paradigma vigente, refletida na capacidade de inovação das empresas investigadas.
GRETZINGER S.; HINZ H.; MATIASKE W. (2010).
Management
Revue, Vol. 21,
Issue 2, p. 193-
219, 27p, 2010.
Cooperation in innovation networks: the case of Danish and German SMEs.
Inovação, PME. O artigo mostra que a Informação é um recurso crítico no processo de inovação, e que as PME em particular são aconselhadas a recorrer a consultorias externas no processo de inovação, considerando que seus recursos internos são limitados frente às grandes empresas. Para promover as informações relevantes as PME recorrem ao setor Público que presta consultorias, no entanto, as informações mais relevantes no processo de inovação vem do contato direto com clientes e fornecedores.
XIE X.; ZENG S.; TAM C. (2010)
Innovation:
Management,
Policy & Practice,
Vol. 12, Issue 3, p.
298-310, 13p,
Dec. 2010.
Overcoming barriers to innovation in SMEs in China: A perspective based cooperation network.
Rede de Cooperação, Inovação.
Este trabalho revela que: a) a "falta de especialistas técnicos" é a barreira mais importante;; b) o 'cliente', o mais importante parceiro de cooperação; e c) a 'política fiscal preferencial’ é a mais favorável em termos de inovação para as PME.
RAMPERSAD G.; QUESTER, P.; THOSHANI, I. (2010).
Journal of
Business &
Industrial
Marketing, Vol. 25,
Issue 7, p. 487-
500,. 14p. 2010.
Examining network factors: commitment, trust, coordination and harmony.
Confiança, Comprometimento.
O objetivo deste artigo foi investigar o impacto de confiança e do comprometimento na harmonia e na coordenação da rede. Revela que a confiança tem impactos significativos sobre ambos, coordenação da rede e em sua harmonia.