universidade fumec mestrado acadêmico em administração
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UNIVERSIDADE FUMEC
MESTRADO ACADMICO EM ADMINISTRAO
INTEGRAO DO IFMG: CENTRALIZAO, DESCENTRALIZAO E
DESCONCENTRAO
OLMPIA DE SOUSA MARTA
Belo Horizonte
2012
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OLMPIA DE SOUSA MARTA
INTEGRAO DO IFMG: CENTRALIZAO, DESCENTRALIZAO E
DESCONCENTRAO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao Mestrado Interinstitucional
Acadmico em Administrao MINTER -
FUMEC/IFMG da Universidade FUMEC como
requisito parcial para obteno do ttulo de
Mestre em Administrao.
Orientador: Prof. Dr. Daniel Jardim Pardini
rea de Concentrao: Gesto Estratgica das
Organizaes.
Linha de Pesquisa: Estratgia em Organizaes
e Comportamento Organizacional.
Belo Horizonte
2012
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Ficha Catalogrfica
Elaborada por Olvia Soares de Carvalho. CRB/6: 2070
Marta, Olmpia de Sousa. M375i Integrao do IFMG: centralizao, descentralizao e 2012 desconcentrao. / Olmpia de Sousa Marta ; Orientador, Daniel Jardim Pardini. -- 2012.
111f. : il. ; 30 cm.
Dissertao (mestrado) Universidade FUMEC. Faculdade de Cincias Empresariais, 2012.
Inclui bibliografia.
1. Desenvolvimento organizacional Estudo de casos. 2. Empresas Fuso e incorporao - Estudo de casos. I. Pardini, Daniel jardim. II. Universidade FUMEC. Faculdade de Cincias Empresariais. III. Ttulo.
CDU: 65.011.8
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PARA
Benedito (meu pai)
Di de tanto medir a distncia,
saber que no vou te tocar,
alm da lembrana.
A tua falta sol sem calor.
Est aqui, mas se foi.
Virou estrela, a nossa estrela no cu.
BETO GUEDES
Geralda (minha me)
Foste fiel aos meus passos e tropeos e fizeste,
fizeste com que eu acreditasse em recomeos,
levantando-me das quedas quando eu s sabia
cair dos sonhos. ALUSIO SANTIAGO JNIOR
Roberto, Rosilene, Sebastiana, Bernadete e
Ronaldo (meus irmos)
Do que posso lembrar era uma tarde antiga dentro
de outra tarde, em que aquecamos a nossa
infncia num pequeno tapete e almofadas de l,
perto da caixa de surpresas... ALUSIO SANTIAGO JUNIOR
Gilberto (meu namorado)
Minha vida, nossas vidas
formam um s diamante CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
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AGRADECIMENTOS
A gratido no nos tira nada, ela dom em
troca, mas sem perda e quase sem objeto. A
gratido nada tem a dar, alm do prazer de
ter recebido.
ANDR COMTE-SPONVILLE
Deus, pela onipresena em minha vida, dando-me sade, pacincia
e a vitria de chegar aqui.
Anjos de Deus que intercederam pelas minhas necessidades e
aflies.
Professor Daniel Pardini, pela pacincia e competncia
profissional durante a orientao.
Gestores do IFMG, pela iniciativa do projeto em parceria com a
FUMEC.
Prof. Neimar, pelo incentivo e contribuio.
Direo do campus Ouro Preto, pelo espao cedido para o curso
dos crditos e pelas caronas nos finais de semana.
Direes dos campi Ouro Preto e So Joo Evangelista, que
abriram as portas para a coleta dos dados, bem como cederam
espao e documentao para que as anlises fossem realizadas.
Servidores que, gentilmente, concederam entrevistas. Obrigada!
Colegas de Ouro Preto, pelo acolhimento, carinho e ateno (os
cafezinhos, os biscoitinhos e muito mais...).
Pedro Paulo e Mnica, que partiram, antes da ltima estao,
deixando-nos a saudade e a tristeza dos seus lugares vazios.
Colegas do mestrado, obrigada por me suportaram por um ano.
Em especial Naliana, pelas noites em que dividimos pousada e
pelas ricas conversas de final de dia e noite adentro.
queles a quem considero meus amigos, por acreditarem em
mim.
Todas as pessoas que me prestaram socorro no desespero pela
busca de dados.
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A sabedoria gerencial comea com a conscincia
de que no h um sistema timo de administrar.
TOM BURNS
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RESUMO
Com o objetivo de analisar os movimentos de centralizao, descentralizao e
desconcentrao para identificar suas vantagens e desvantagens nos processos de mudana
organizacional, este estudo focou a criao do Instituto Federal de Educao, Cincia e
Tecnologia de Minas Gerais IFMG, a partir da fuso de trs antigas autarquias: Centro
Federal de Educao Tecnolgica de Ouro Preto, Centro Federal de Educao Tecnolgica
de Bambu e Escola Agrotcnica Federal de So Joo Evangelista. Para relatar a evoluo
organizacional das instituies analisadas, utilizou-se o estudo de casos mltiplos,
aplicando-se os componentes do tringulo de Pettigrew (1973) como mtodo de anlise
dos dados. Ao final, apurou-se que a maior desvantagem da gesto do IFMG a
morosidade decorrente da centralizao de determinadas atividades administrativas vitais
ao pleno funcionamento dos campi. Constatou-se que tais atividades eram realizadas nas
antigas autarquias, apontando as consequncias da perda de autonomia pelos campi. As
opinies divergem entre a ampliao da desconcentrao, pelo monitoramento constante
das atividades e a implantao de sua efetiva descentralizao. Embora a maioria dos
entrevistados atestem que a administrao adotada pelo IFMG descentralizada, as
discusses revelaram a presena da centralizao e da desconcentrao, atestando um
modelo gerencial de perfil misto, ou seja, uma gesto ao mesmo tempo centralizada,
descentralizada e desconcentrada. Na linha dos conceitos de centralizao,
descentralizao e desconcentrao, concluiu-se que no vivel gesto do IFMG adotar
o processo gerencial puramente descentralizado, tendo em vista tratar-se de uma instituio
formada por vrias unidades administradas por vrios gestores locais, mas com apenas um
gestor responsvel pela prestao de contas das aes realizadas o reitor. Sendo assim, o
controle por parte da gesto central necessrio, como tambm necessria a
desconcentrao ou descentralizao do maior nmero possvel de aes, de forma a
garantir o atendimento s demandas dos campi. Os resultados ora alcanados atestam que
os dois anos de existncia do IFMG no representam tempo suficiente para avaliar as
vantagens e desvantagens dos processos que conformam o seu modelo de gesto, e
sugerem que a implantao do programa Enterprise Resource Planning ERP ir
aperfeioar o gerenciamento dos processos, tornando o controle mais eficiente. Esta
pesquisa atuou no sentido de contribuir com o processo gerencial do IFMG, haja vista as
dificuldades naturais oriundas da unio dessas trs instituies de culturas e tamanhos
diferentes, todas sadas de um exerccio de autonomia de gerenciamento, dificuldades estas
consequentemente refletidas no dia-a-dia de suas gestes administrativas.
Palavras-chave: integrao, IFMG, centralizao, descentralizao, desconcentrao.
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ABSTRACT
The focal point of this study is the Federal Institute of Education, Science and Technology
of Minas Gerais, IFMG. IFMG is a melding of three former learning institutions; the
Federal Center of Technological Education of Ouro Preto, the Federal Center of
Technological Education of Bambu, and the Federal Agrotechnical School of So Joo
Evangelista. This study is an analysis of the movements involving centralization or
decentralization of this institution and allowed us to identify any strengths or weaknesses
in the processes affecting organizational change. To better understand the organizational
development of the IFMG analysis, we used the multiple case study method of applying
the components of the triangle (Pettigrew: 1973) as a method of data analysis. At the
conclusion of my analysis, it was clear that the biggest drawback regarding the general
management of IFMG was the length of time it took to accomplish specific administrative
activities which are critical to a well-functioning campus; a direct result of the
centralization of duties. It was discovered that these administrative activities were carried
out more quickly and efficiently when the campus was managed with a more hands-on and
autonomous mandate. Because of the complexity of the study, opinions differed regarding
the expansion of decentralization into the daily operations of the campus and the constant
monitoring of activities that were required to make decentralization affective. As a group,
the majority of respondents agreed that the administration model adopted by IFMG was
being decentralized, but in more personal conversations, the study also revealed a strong
presence of centralization regarding administration duties and activities. In other words,
the managerial model had a strong presence of both centralized and decentralized
mandates; it blurred the lines authority. When studying the dramatic differences between
centralization, decentralization and devolution of administration models, it became clear
that it is not feasible to adopt the administration management model of decentralization
currently in place at IFMG. Today, IFMG is a single institution that is made up of three
separate entities with numerous on-site managers that are tasked with the daily operation of
their individual campuses. However, there is only one general manager, the Dean of
Schools, who is actually accountable for all the actions taken across the three separate
campuses. The study reveals that either the Dean of Schools needs to relinquish some of
his authority, or a singular management model of centralization be put in place that
removes the blurred lines of accountability between upper management of each campus
and the Dean of Schools for IFMG. Regarding the study itself; it could be debatable if two
years is sufficient time to collect and analyze the data exposing the advantages and
disadvantages of the current IFMG management model. I also need to mention that some
of the findings of this study are already being improved through the implementation of
processes being initiated by ERP (the Enterprise Resources Planning) group. It is the
intent of ERP to improve all managerial procedures that would make administrative
decisions more efficient.
Keywords: integration, IFMG, centralization, decentralization, deconcentration.
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 A rede federal no Brasil (situao em dez/2008) .............................. 24
FIGURA 2 Os institutos federais do Estado de Minas Gerais
(situao em dez/2008) ..................................................................... 25
FIGURA 3 Organograma do campus aps a criao dos institutos federais ....... 25
FIGURA 4 Organograma do IFMG/reitoria (situao em 2011) ....................... 28
FIGURA 5 Instituto Federal de Minas Gerais IFMG (situao em 2011) ....... 29
FIGURA 6 Modelo de anlise de Pettigrew ....................................................... 42
FIGURA 7 Logo do IFMG Campus Ouro Preto ............................................. 53
FIGURA 8 Logo do IFMG Campus So Joo Evangelista ............................... 66
FIGURA 9 Logo do IFMG Campus Bambu ................................................... 79
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LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Elementos do modelo Pettigrew (1973) ................................ 50
QUADRO 2 Sntese dos movimentos de centralizao, descentralizao e
desconcentrao nos processos gerenciais: vantagens e
Desvantagens ...... ................................................................... 95
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Estratificao da amostra por cargo ocupado .................................. 48
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LISTA DE SIGLAS
ABNT
APAE
Associao Brasileira de Normas Tcnicas
Associao de Pais e Amigos Excepcionais
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
CD Cargo de Direo
CEAD Centro de Educao Aberta e Distncia
CEFET Centro Federal de Educao Tecnolgica
CEFET-OP Centro Federal de Educao Tecnolgica de Ouro Preto
CF Constituio Federal
CGPP Coordenao Geral de Produo e Pesquisa
CGPEX Coordenao Geral de Pesquisa e Extenso
CGRH Coordenao Geral de Recursos Humanos
CONIF
CPA
Conselho dos Institutos Federais
Comisso Prpria de Avaliao
DAP Diretor de Administrao e Planejamento
DRH Departamento de Recursos Humanos
EAF Escola Agrotcnica Federal
EAFB Escola Agrotcnica Federal de Bambu
EAFSJE Escola Agrotcnica Federal de So Joo Evangelista
ERP Enterprise Resource Planning (Gerenciamento de Recursos Planejados)
ETF Escola Tcnica Federal
ETFOP Escola Tcnica Federal de Ouro Preto
FAPEMIG Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais
FG Funo Gratificada
IFMG Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Minas Gerais
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
LOA
MEC
Lei Oramentria Anual
Ministrio da Educao
PAD Processo Administrativo Disciplinar
PNDE Plano Nacional de Desenvolvimento Econmico
PROEP Programa de Expanso da Educao Profissional
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PROPLAN Pr-Reitoria de Planejamento e Oramento
RH Recursos Humanos
SETEC Secretaria de Educao Tecnolgica
SIDEC Sistema Integrado de Descentralizao de Crdito
SISPLAN Sistema de Planejamento Participativo
TCU Tribunal de Contas da Unio
UFOP Universidade Federal de Ouro Preto
UNED Unidade de Ensino Descentralizada
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SUMRIO
1 INTRODUO ................................................................................................. 15
1.1 Objetivos ............................................................................................................. 17
1.1.1 Objetivo geral ...................................................................................................... 17
1.1.2 Objetivos especficos .......................................................................................... 18
1.2 Justificativa .......................................................................................................... 18
1.3 Estruturao textual ............................................................................................. 18
2 FUNDAMENTAO TERICA ..................................................................... 20
2.1 Histrico do surgimento e estruturao da educao profissional e
tecnolgica no Brasil e em Minas Gerais ............................................................. 20
2.1.1 A criao dos institutos federais de educao, cincia e tecnologia .................. 23
2.1.2 IFMG: constituio e funcionamento .................................................................. 26
2.2 Os movimentos de centralizao, descentralizao e desconcentrao no
processo de mudana em instituies de ensino tecnolgico .............................. 31
2.2.1 A centralizao ..................................................................................................... 31
2.2.2 A descentralizao ............................................................................................... 32
2.2.2.1 A perspectiva constitucional da descentralizao ............................................... 36
2.2.3 A desconcentrao ............................................................................................... 37
2.2.3.1 Desconcentrao versus descentralizao ............................................................ 38
2.2.4 O modelo de Pettigrew ......................................................................................... 42
3 METODOLOGIA .............................................................................................. 45
3.1 Tipo de pesquisa quanto abordagem ................................................................. 45
3.2 Tipo de pesquisa quanto aos fins ......................................................................... 46
3.3 Tipo de pesquisa quanto aos meios ..................................................................... 46
3.4 Unidades de observao e sujeitos da pesquisa .................................................. 48
3.5 Instrumentos de coleta de dados .......................................................................... 49
3.6 Tratamento e anlise dos dados ............................................................................ 50
3.7 Anlise de contedo ............................................................................................. 51
4 ANLISE DE RESULTADOS ......................................................................... 52
4.1 Campus Ouro Preto .......................................................................................... 53
4.1.1 Contexto interno ................................................................................................. 53
4.1.2 Contexto externo .................................................................................................. 55
4.1.3 Contedo .............................................................................................................. 58
4.1.4 Processos: centralizao, descentralizao e desconcentrao
aes e reaes .................................................................................................... 61
4.2 Campus So Joo Evangelista .......................................................................... 66
4.2.1 Contexto interno ................................................................................................. 66
4.2.2 Contexto externo .................................................................................................. 69
4.2.3 Contedo .............................................................................................................. 71
4.2.4 Processos: centralizao, descentralizao e desconcentrao
aes e reaes ..................................................................................................... 73
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4.3 Campus Bambu ................................................................................................ 79
4.3.1 Contexto interno ................................................................................................. 79
4.3.2 Contexto externo .................................................................................................. 82
4.3.3 Contedo .............................................................................................................. 84
4.3.4 Processos: centralizao, descentralizao e desconcentrao
aes e reaes ..................................................................................................... 86
4.4 Consolidao dos trs casos ............................................................................... 90
4.4.1 Contexto interno ................................................................................................... 91
4.4.2 Contexto externo ................................................................................................... 92
4.4.3 Contedo ............................................................................................................... 93
4.4.4 Processos: centralizao, descentralizao e desconcentrao
aes e reaes ...................................................................................................... 94
5 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................ 100
REFERNCIAS ................................................................................................. 103
APNDICE ..........................................................................................................111
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15
1 INTRODUO
No momento em que o Brasil vive a implementao da rede de ensino pblico
federal, cuja proposta abranger todo o pas com unidades de educao tecnolgica, torna-
se pertinente a realizao de um estudo sobre o tema, com abordagem centrada na
reestruturao das unidades de ensino tecnolgico, constituda de uma rica e profcua srie
de aes destinadas a possibilitar maior acesso da populao a esse tipo de ensino.
Nesse sentido, esta pesquisa abrange, especificamente, a anlise da histria da
integrao do Instituto Federal de Educao Cincia e Tecnologia de Minas Gerais
IFMG, e das possveis mudanas ocorridas nas antigas autarquias que se fundiram para
constitui-lo, transformando-se em seus campi, para melhor compreenso dos movimentos
das principais decises gerenciais quanto estruturao dessas unidades, focada no
cumprimento dos objetivos educacionais e administrativos propostos. Com esta
abordagem, pretende-se contribuir com um modelo estrutural de gesto pblica voltada
para o ensino.
Tem-se alguns artigos publicados sobre os institutos federais, mas ainda no se sabe
de documentos que, alm de mencionar a instituio desses institutos, abordem tambm os
processos decisrios que definem sua atuao na educao brasileira. Desde a criao das
escolas de aprendizes e artfices, em 1909, vrias aes foram realizadas com vistas a
aprimorar o ensino tcnico voltado tanto para a rea industrial como para a agropecuria.
Foram vrias as transformaes at se alcanar um modelo ideal que atendesse ao ensino
tcnico profissionalizante da mo de obra. tambm objetivo dos institutos ofertar ensino
de nvel superior (tecnologias, bacharelados e licenciaturas) e ps-graduao.
A legislao da educao profissional tecnolgica aponta que o ensino no Brasil se
desenvolveu de acordo com as necessidades de cada poca. O surgimento da era industrial
propiciou a criao de cursos tcnicos voltados para a indstria brasileira, pois, at ento, o
pas possua um perfil exclusivamente agrrio. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao
Nacional LDB de 5.692/71 (BRASIL, 1971) trouxe transformaes no currculo das
escolas tcnicas, aumentando o nmero de matrculas e oferta de novos cursos.
Em 1978, a transformao das escolas tcnicas federais do Paran, de
Minas Gerais e do Rio de Janeiro em Centro Federal de Educao Tecnolgica CEFET
deu incio a representativas mudanas na educao profissional. Anos mais tarde, vrias
outras instituies de ensino tcnico e tecnolgico surgiram, ampliando o nmero de
cursos nessas reas. A partir desses movimentos, comeou a histria dos institutos federais
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16
de educao, cincia e tecnologia, culminando com a sua criao em 29 dezembro de 2008,
pela Lei n 11.892 (BRASIL, 2008).
Visando compreender em profundidade tal integrao, empreendeu-se, com este
estudo, uma breve pesquisa da rede federal de educao tecnolgica, fundamentando-se na
descrio de seu processo evolutivo, no Brasil e em Minas Gerais, e na anlise da
formao do IFMG, um de seus importantes componentes.
Assim, pautada no objetivo de analisar os movimentos de centralizao,
descentralizao e desconcentrao e as vantagens e desvantagens desses movimentos no
processo de mudana estrutural do Centro Federal de Educao Tecnolgica de Ouro
Preto, do Centro Federal de Educao Tecnolgica de Bambu e da Escola Agrotcnica
Federal de So Joo Evangelista, instituies educacionais fundidas para a criao do
IFMG, este estudo ancora-se na conceituao desses movimentos como forma de
processos da gesto pblica.
Uma vez que a organizao institucional depende de decises gerenciais, para que
os objetivos propostos sejam alcanados com sucesso necessrio definir metodologias
que norteiem as aes do modelo de gesto adotado. Neste sentido, h que se considerar
que os processos decisrios podem conter mais de um movimento gerencial, ou seja, de
centralizao, descentralizao e desconcentrao, conforme ser analisado neste estudo.
Segundo entendimento de Bastos (1975), Cretello Jnior (1998), Fernandes (1999)
e Rivas (1991), na centralizao, a deciso est no nvel da unidade central, cujas
atividades so estabelecidas por um pequeno grupo de decisores. Sendo assim, o conceito
de centralizao retrata a tomada de deciso a partir de uma nica unidade tambm
chamada de centro, aqui representada pela reitoria, que centraliza a gesto do IFMG.
Quanto aos processos de descentralizao e desconcentrao, os autores citados e
Tobar (1991) os definem como transferncia de autoridade. A diferena entre os dois est
na questo da autonomia decisria, pois, enquanto na descentralizao prevalece a
autonomia das unidades descentralizadas, ou seja, os grupos que esto nas unidades locais
possuem autonomia para definir as linhas gerenciais, na desconcentrao a transferncia de
autoridade para as instncias locais ocorre com autonomia limitada ou at mesmo sem
autonomia (TOBAR, 1991; FLEURY, 2006; ALVES, 2007). Essa aparente semelhana
acaba incentivando o uso acentuado da desconcentrao como uma faceta da
descentralizao (TOBAR, 1991; MATOS; 1996; LIMA, 2004; ABRUCIO, 1997).
A escolha do processo de gesto centralizado, descentralizado ou desconcentrado
pressupe o estudo de um conjunto de fatores interligados para sua efetivao, tais como:
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17
geogrficos, socioculturais, polticos e administrativos. Em se tratando da gesto pblica,
centralizar, descentralizar ou desconcentrar objetiva possibilitar o melhor atendimento e
imprimir qualidade nos servios pblicos ofertados ao cidado. A deciso por um desses
trs processos tem fortes implicaes nos programas governamentais e, muitas vezes, pode
estar associada a estratgias para a definio, escolha e execuo de metas do governo e
dos meios mais eficientes para se gastar os recursos destinados a esses planos.
Para entender os movimentos gerenciais da estrutura organizacional das unidades
analisadas foram realizadas entrevistas com servidores que participaram direta e
indiretamente da criao do IFMG, os quais relataram as vantagens e desvantagens dos
movimentos.
Visando, pois, analisar os movimentos de gesto e as vantagens e desvantagens
consequentes desses movimentos no processo de mudana estrutural das antigas autarquias
que se transformaram em campi do IFMG, esta pesquisa objetivou responder ao seguinte
problema de pesquisa: de que maneira se manifestam os movimentos de centralizao,
descentralizao e desconcentrao e quais as vantagens e desvantagens decorrentes
desses movimentos no processo de criao do Instituto Federal de Educao, Cincia e
Tecnologia de Minas Gerais IFMG, a partir da fuso de instituies federais de ensino?
Para responder ao problema de pesquisa, optou-se pela investigao das principais
mudanas de gesto no mbito de uma estruturao organizacional pelos processos de
centralizao, descentralizao e desconcentrao, realizadas nas antigas autarquias
transformadas em campi do IFMG. Para relatar a evoluo organizacional das instituies
analisadas foi utilizado o mtodo de estudo de casos mltiplos (JOIA, 2004), constitudo
de coleta dos dados para anlise dos referidos movimentos nos processos gerenciais,
aplicando-se os componentes do tringulo de Pettigrew (1973), com base em anlises
documentais e entrevistas para obteno das informaes necessrias.
1.1 Objetivos
1.1.1 Objetivo geral
Analisar os movimentos de centralizao, descentralizao e desconcentrao para
definir suas vantagens e desvantagens no processo de criao do Instituto Federal de
Educao, Cincia e Tecnologia de Minas Gerais IFMG, a partir da fuso de instituies
federais de ensino.
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18
1.1.2 Objetivos especficos
1 Contextualizar as mudanas na gesto e estruturas de poder realizadas nas
autarquias que originaram o IFMG;
2 levantar os processos e fluxos de atividades gerenciais e pedaggicas
adotados na mudana estrutural; e
3 analisar os movimentos de centralizao, descentralizao e
desconcentrao no contexto da mudana estrutural, relacionando as
vantagens e desvantagens acarretadas com a mesma.
1.2 Justificativa
Considerando-se a atribuio de competncia que dada pela Constituio Federal
s instituies pblicas de ensino de prestar servio educacional gratuito e de qualidade, o
estudo da centralizao, da descentralizao e da desconcentrao relaciona-se matria
prestao de servios pblicos, mesmo nela no se esgotando. Toda a atuao
administrativa do Estado pode ser enquadrada como atuao centralizada ou
descentralizada e concentrada ou desconcentrada, conforme a organizao e as tcnicas de
repartio de atribuies adotada por suas diferentes administraes.
Dada a importncia de estudar os modelos gerenciais das instituies que oferecem,
gratuitamente, a qualificao de mo de obra para atender s necessidades do pas, o
presente estudo focou a integrao do Instituto Federal de Minas Gerais IFMG, a partir
da fuso de unidades federais de ensino tcnico e tecnolgico do Estado, como parte de um
grande projeto do governo federal para propagar a educao tecnolgica. Assim, optou-se
pela abordagem dos processos gerenciais em deciso respaldada tanto pelo potencial
investigativo do processo de mudana oriundo dessa fuso de natureza institucional, como
pela condio desta autora de servidora efetiva do IFMG, o que facilita seu livre acesso s
informaes.
1.3 Estruturao textual
Esta dissertao de mestrado, textualmente estruturada segundo as normas da
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas para trabalhos cientficos, compe-se
de oito partes: (1) Introduo; (2) Fundamentao Terica; (3) Metodologia; (4) Anlise de
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19
Resultados; (5) Consideraes Finais; (6) Referncias; e (7) Apndice.
Na Introduo (Captulo 1), tem-se a apresentao e contextualizao do tema em
anlise, a definio do problema de pesquisa, dos objetivos e da metodologia textual.
Atuando como base de sustentao do confronto entre teoria e prtica realizado na
Anlise de Resultados, a Fundamentao Terica (Captulo 2), cujo objetivo apresentar
os apoios tericos que fundamentaram a pesquisa de campo, constituda de um breve
histrico do surgimento e estruturao da educao profissional e tecnolgica no Brasil e
em Minas Gerais, bem como da criao do IFMG, seguido da conceituao dos termos
centralizao, descentralizao e desconcentrao e da descrio do Modelo
Pettigrew (1973) recurso metodolgico que embasou a anlise do processo de
transformao das trs unidades analisadas, transformadas em campi do IFMG.
Na Metodologia (Captulo 3), os mtodos cientficos utilizados na pesquisa so
apresentados em seus contedos essenciais: (a) caracterizao quanto abordagem, quanto
aos fins e quanto aos meios; (b) unidades de observao e sujeitos da pesquisa; (c)
instrumentos de coleta de dados; (d) tratamento e anlise dos dados; e (e) anlise de
contedo.
Na Anlise de Resultados (Captulo 4), tem-se o confronto entre teoria e prtica,
por meio da descrio analtica dos documentos e das entrevistas com servidores das
unidades pesquisadas, visando a identificao das vantagens e desvantagens dos
movimentos em cada processo analisado, metodologicamente organizada na forma do
modelo Pettigrew (1973), de forma a demonstrar o entrelaamento entre esses dois plos
antagnicos, que culmina nos resultados alcanados.
Nas Consideraes Finais (Captulo 5) so sintetizados os achados da pesquisa,
com base no problema levantado e nos objetivos almejados, de forma a se concluir sobre
sua eficcia cientfica.
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20
2 FUNDAMENTAO TERICA
A administrao pblica exerce suas funes administrativas por meio de rgos,
pessoas jurdicas e agentes pblicos. Visando garantir uma efetiva atuao do Estado,
estabeleceu-se formas de distribuir as competncias estatais. E no processo de organizao
dessa atribuio de competncias, tanto possvel encontrar a presena de centralizao
(ou descentralizao) quanto a de concentrao (ou desconcentrao) do poder de deciso.
Segundo Gournay1
(1978 apud Alves, 2007, p. 155-157), ao resumir
conceitualmente os trs termos constitutivos do tema em estudo, a centralizao se
manifesta quando as atividades administrativas ficam a cargo das unidades centrais.
Quanto descentralizao, ela predomina em situaes em que o exerccio de aes
administrativas e funes confiado a agentes locais, com autonomia para a tomada de
decises. J no processo de desconcentrao no h autonomia, o poder de deciso
diminudo, diferentemente daquelas unidades administrativas resultantes do processo de
descentralizao.
Com vistas ao objetivo de analisar tais movimentos administrativos para definir
suas vantagens e desvantagens no processo de mudana ocorrido para a criao de uma
instituio federal de ensino tcnico e tecnolgico a partir da fuso de escolas tcnicas
federais, importante se faz contextualizar o tema, a partir do resgate da histria da
educao profissionalizante em nosso pas, destacando-se a sua evoluo no Estado de
Minas Gerais.
2.1 Histrico do surgimento e estruturao da educao profissional e tecnolgica
no Brasil e em Minas Gerais
A discusso sobre educao profissional preconiza a era da rede federal de ensino.
Em 1808, as transformaes sociais, econmicas e polticas advindas da transferncia da
Corte Portuguesa para o Brasil contriburam para a criao de instituies que, mantidas
por sociedades privadas sob o apoio do Estado, deram o primeiro passo para o processo de
aprendizagem, no pas, com a formao de artfices naturais da terra (FONTES, 1985).
Com a finalidade de serem instrumentos de poltica voltados para as classes
desprovidas, em 1909, foram criadas dezenove escolas de aprendizes e artfices no governo
1 GOURNAY, Bernard. Introduo cincia administrativa. Ed. reimp. Lisboa: Europa/Amrica, 1978. 372
p.
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do ento presidente da Repblica Nilo Peanha. Um de seus objetivos era qualificar a mo
de obra e manter o controle social dos cidados jovens que viviam em situao de risco
social, sensveis aos vcios e hbitos nocivos sociedade como um todo. Essas dezenove
escolas deram origem aos Centros Federais de Educao Tecnolgica CEFETs, e
surgiram em um contexto onde o domnio do capital agrrio-exportador dava lugar
industrializao. Por isso, no perodo de 1930-1945, a economia brasileira sofreu
significativa alterao em seu eixo, passando de atividade agroexportadora para atividade
industrial. Em 1937, essas escolas foram transformadas em liceus industriais e, em 1942,
os liceus passaram a se chamar escolas industriais e tcnicas.
A partir desse mesmo ano, vrias mudanas foram implementadas educao
profissional, dentre elas, a oferta, pelas Escolas Industriais e Tcnicas, de formao
profissional em nvel equivalente ao secundrio (BRASIL, 2008).
Em meados do sculo XX, com a promulgao da Constituio Federal de 1946,
foram criadas as escolas agrcolas, com base no modelo escola-fazenda, visando a
formao dos filhos dos pequenos produtores rurais em tcnicos agrcolas, ento
subordinadas Superintendncia de Ensino Agrcola e Veterinrio do Ministrio da
Agricultura. A transferncia de subordinao ao Ministrio de Educao e Cultura MEC
ocorreu em 1967, quando tambm passaram a fazer parte da Rede de Educao
Profissional. Em 1979, as escolas agrcolas receberam a denominao Escola Agrotcnica
Federal (BRASIL, 2008).
Na dcada de 1950, por meio de diversos atos legais, foi estabelecido o ajustamento
e a reformulao da rgida estrutura educacional herdada do perodo autoritrio
(WERMELINGER; MACHADO; ARMNCIO FILHO, 2007). Ocorreu que, com o
surgimento da indstria automobilstica nacional, em 1956, a rea da educao foi
priorizada com investimentos na formao de profissionais visando ao cumprimento das
metas de desenvolvimento do pas. Em 1959, teve incio o processo de transformao das
Escolas Industriais e Tcnicas em autarquias com autonomia didtica e de gesto, ento
denominadas Escolas Tcnicas Federais. Essa nova realidade intensificou gradativamente
a formao de tcnicos, cuja mo de obra tornou-se indispensvel diante da acelerao do
processo de industrializao.
Portanto, quando da publicao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
em 1961 (BRASIL, 1961), que previa muitas inovaes, a educao cotidiana j as
praticava, como por exemplo: a equivalncia entre o ensino mdio e os cursos de
aprendizagem em cooperao com empresas. Completando esse ciclo de iniciativas na
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educao, em 1971, foi promulgada pelo governo federal a Lei n 5.692 (BRASIL, 1971),
instituindo o ensino de segundo grau de profissionalizao obrigatria. Porm, a falta de
estrutura para implantao dos cursos tcnicos e a falta de pessoal docente habilitado
fizeram com que o governo, alguns anos depois, editasse outro instrumento legal,
eliminando o carter obrigatrio da profissionalizao (WERMELINGER; MACHADO;
FILHO, 2007). Naquele mesmo ano, surgiu o primeiro Plano Nacional de
Desenvolvimento Econmico PNDE, prevendo programas especficos que contriburam
para a implantao de cursos tcnicos em reas correlatas. Ainda em 1971, a LDB 5.692
(BRASIL, 1971) transformou, obrigatoriamente, todo o currculo do segundo grau das
escolas tcnicas em tcnico-profissional, aumentando o nmero de matrculas e
implantando novos cursos tcnicos.
Em 1978, trs Escolas Tcnicas Federais - do Paran, de Minas Gerais e do
Rio de Janeiro - foram transformadas em Centro Federal de Educao Tecnolgica
CEFET. A essas instituies foi conferida a atribuio de atuar em nvel mais elevado de
formao, cabendo-lhes formar engenheiros de operao e tecnlogos (BRASIL, 2008).
O desenvolvimento de novas tecnologias agregadas produo e prestao de
servios, contribuiu para o crescimento e implementao da rede federal de educao
tecnolgica. Na dcada de 1980, um novo cenrio econmico e produtivo foi estabelecido,
ajustando-se demanda tcnico-operacional surgida. Nesse cenrio, as aes
governamentais consistiram em diversificar programas e cursos para elevar os nveis da
qualidade do ensino (BRASIL, 2008).
No ano de 1994, a Lei Federal n 8.948 (BRASIL, 1994) instituiu no pas o sistema
nacional de educao tecnolgica com vistas transformao das demais escolas tcnicas
federais em centros federais de educao tecnolgica, os CEFETs, sinalizando que as
escolas agrotcnicas federais tambm poderiam ser integradas ao processo de cefetizao.
Essa transformao foi promovida, considerando-se as instalaes fsicas, os laboratrios e
equipamentos, as condies tcnico-pedaggicas e administrativas, bem como os recursos
humanos e financeiros essenciais ao funcionamento da nova instituio (BRASIL, 1994).
A partir de 1995, um movimento de mudanas nas instituies federais de educao
profissional atendeu ao objetivo de promover uma reforma curricular. Em 1996, foi
aprovada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional Lei n 9.394/96
(BRASIL, 1996) e, em 1997, o Decreto n 2.208/97 regulamentou os artigos da citada lei
que tratam, especificamente, da educao profissional.
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A partir de 1999, ocorreu a efetiva implantao dos novos CEFETs oriundos da
transformao das escolas tcnicas e agrotcnicas federais. Inspirado por esse projeto
educacional de cefetizao, o governo brasileiro firmou convnio com o Banco
Interamericano de Desenvolvimento BID, visando a implantao do Programa de
Expanso da Educao Profissional PROEP. Em 2002, o PROEP propiciou a
transformao de duas unidades analisadas nesta pesquisa em Centros Federais de
Educao Tecnolgica, entrando para a histria do avano da educao profissional:
Escola Agrotcnica Federal de Bambu e a Escola Tcnica Federal de Ouro Preto.
Em 2003, com a publicao do Decreto Presidencial n 4.877/03, o Ministro da
Educao passou a nomear os gestores (diretor-geral) das escolas tcnicas e agrotcnicas e
dos centros federais de educao tecnolgica aps o processo de escolha feita pela
comunidade escolar de cada autarquia. A vigncia do decreto possibilitou a
descentralizao de autoridade, resultando na primeira eleio do principal cargo nessas
instituies federais de ensino.
Em 2004, as instituies que compunham a rede federal de educao tecnolgica
ganharam autonomia para criar e implantar cursos em todos os nveis de ensino. Nessa
mesma poca, as escolas agrotcnicas federais, que at ento ofertavam somente os cursos
tcnicos (nvel mdio), receberam autorizao excepcional para ofertar cursos superiores
de tecnologia.
As mudanas, as inovaes e o explcito crescimento da necessidade de mo de
obra qualificada evidenciaram a urgente necessidade de expandir a educao profissional e
tecnolgica no pas. Nesse cenrio, o governo decidiu ampliar a oferta da educao,
aumentando o nmero de escolas federais de educao profissional e tecnolgica.
A expanso da rede federal se deu em duas fases. A primeira iniciada em
2006, com a implantao de novas unidades em Estados ainda desprovidos da
existncia de uma instituio da rede. A segunda, iniciada em 2007 sob o tema: Uma
escola tcnica em cada cidade-plo do pas. A partir da expanso e evoluo do ensino,
emergiu a nova institucionalidade que culminou com a criao, em dezembro de 2008, dos
Institutos Federais de Educao, Cincia e Tecnologia.
2.1.1 A criao dos institutos federais de educao, cincia e tecnologia
Documentos do Ministrio da Educao atestam que a rede federal de educao
tecnolgica est espalhada por todo o territrio nacional, com a finalidade de qualificar
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profissionais para os diversos setores da economia do pas, realizar pesquisas e
desenvolver novos processos, produtos e servios em colaborao com o setor produtivo.
Com o advento da Lei n 11.892/2008 (BRASIL, 2008), 31 centros federais de educao
tecnolgica (CEFETs), 75 unidades descentralizadas de ensino (UNEDs), 39 escolas
agrotcnicas federais, 7 escolas tcnicas federais e 8 escolas vinculadas a universidades
deixaram de existir para formarem os Institutos Federais de Educao, Cincia e
Tecnologia. Assim, a rede federal passou a ser constituda pelas seguintes instituies: (a)
38 Institutos Federais de Educao, Cincia e Tecnologia; (b) 2 Centros Federais de
Educao Tecnolgica; (c) 25 Escolas Tcnicas Vinculadas a Universidades Federais; e (d)
1 Universidade Tecnolgica Federal, conforme Figura 1:
FIGURA 1 A Rede Federal no Brasil (situao em dez/2008)
Fonte: www.mec.gov.br
Na Figura 2, observa-se que o Estado onde esto concentrados o maior nmero de
institutos federais Minas Gerais, possuidor de 5 unidades em regies bem diversas, cada
uma delas constituda de seus respectivos campi.
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FIGURA 2 Os Institutos Federais do Estado de Minas Gerais (situao em dez/2008)
Fonte: www.mec.gov.br
Antes da legitimao dos Institutos Federais, as unidades de ensino tecnolgico
apresentavam estruturas departamentalizadas, constitudas de um diretor geral, diretores de
departamentos e coordenadores. Cabia aos diretores dos departamentos responderem,
juntamente com o diretor-geral, pela gesto pedaggica e administrativa. O cargo de
diretor geral representava a instncia mxima das instituies.
Pela Lei n 11.892, de 29 de dezembro de 2008, que criou os institutos federais, sua
autonomia encontra-se na natureza jurdica de autarquia, na prerrogativa de criao e
extino de cursos e na emisso de diplomas. Os institutos federais so organizados em
estrutura multicampi, ou seja, tendo uma reitoria como rgo executivo e vrios campi
(BRASIL, 2008). O organograma dos campi possui a mesma estrutura departamentalizada,
porm com a figura da reitoria, representada pelo reitor, acima do diretor geral (FIG. 3).
FIGURA 3 - Organograma do campus aps a criao dos Institutos Federais
Fonte: ESTATUTO DO IFMG
Diretor-Geral CEFET/EAF
Chefia de Gabinete Depart./Diretoria de Ensino (podendo ter mais de uma)
Departamento de Administrao/Planejament
o
Coordenaes-Gerais
Setores
Coordenaes-Gerais
Setores
Reitor (reitoria)
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26
Para Fernandes (2009), nesse momento em que h uma reorganizao da rede
atravs da criao dos institutos federais, torna-se importante compreender que as
estruturas departamentalizadas no so adequadas nova proposta de gesto. Para o autor,
o novo construdo a partir do aperfeioamento da cultura existente. Sendo assim, no
processo organizacional da reitoria, h que se buscar a essncia das funes institucionais
estratgicas e tticas.
Nesse sentido, reitoria competiro as funes de definio de polticas,
superviso e controle. Para tanto, necessrio uma estruturao que congregue
um gabinete e rgos de assessoramento para assistncia imediata ao reitor, alm
de unidades administrativas que devero trabalhar matricialmente vinculadas aos
rgos afins dos campi. Dessa forma a estrutura compreende as cinco pr-
reitorias previstas na legislao, cujas atuaes so requeridas para as principais
reas de estrutura e funcionamento da instituio (FERNANDES, 2009, p. 7).
Ressalta-se o entendimento de Pugh e Hickson (2004, p. 24) sobre organizao: O
que fazia e faz muita diferena para as caractersticas de uma organizao o seu tamanho
e o seu grau de dependncia de outras organizaes. Pesquisas do Grupo de Aston
apontam que quanto maior a organizao, maior a quantidade de funes especializadas,
maior a padronizao e a formalizao de documentos, e tanto mais elevado o grau de
complexidade na estruturao das atividades e quanto mais burocratizada, tanto maior o
poder de deciso. O contrrio, quanto menor, quanto mais dependente de outra, menos
autonomia na tomada de decises. E nesse caso, os estudos revelam que as poucas decises
a serem tomadas tendero a ser mais centralizadas do que descentralizadas (PUGH;
HICKSON, 2004).
2.1.2 IFMG: constituio e funcionamento
O Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Minas Gerais ou,
simplesmente, Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), quinta instituio federal de
ensino profissionalizante do estado oriunda do processo de fuso de dois CEFETs e uma
EAF foi formado pelas autarquias: Centro Federal de Educao Tecnolgica de Ouro Preto
CEFET-Ouro Preto, Centro Federal de Educao Tecnolgica de Bambu CEFET-
Bambu, e Escola Agrotcnica Federal de So Joo Evangelista EAFSJE transformadas
em seus respectivos Campi.
Nesse processo de fuso, outros trs campi foram agregados ao IFMG, a saber:
Governador Valadares, Congonhas e Formiga, sendo os dois ltimos advindos da
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27
transformao das Unidades Descentralizadas de Ensino de Congonhas (que integrava o
CEFET-Ouro Preto) e de Formiga (que integrava o CEFET-Bambu), totalizando, pois,
seis campi, na composio de sua nova estrutura (BRASIL, 2008), a saber: Bambu,
Congonhas, Formiga, Governador Valadares, Ouro Preto e So Joo Evangelista.
O estatuto do IFMG, em seu o art. 5, prev os objetivos da instituio para o
alcance das metas propostas pela gesto educacional. Alm de ministrar a educao
profissional regular (cursos tcnicos e tecnolgicos), o IFMG oferta cursos de formao
inicial e continuada para os trabalhadores, visando mant-los atualizados em suas
profisses. Com vistas formao de profissionais para a educao bsica e para os
diversos setores da economia, tambm oferta cursos de licenciatura e bacharelado. A
realizao de pesquisas aplicadas e o desenvolvimento de atividades de extenso
constituem, tambm, instrumentos que orientam as aes do instituto, tendo em vista ser
uma instituio de ensino superior de cunho social (BRASIL, 2008).
O Decreto n 6.986/2009 regulamenta o processo de escolha dos dirigentes dos
Institutos Federais, determinando que essas organizaes sejam administradas por um
reitor, nomeado pelo Presidente da Repblica. Cada campus que integra o IFMG ser
administrado por um diretor geral nomeado pelo reitor.
Conforme rege o estatuto, a organizao administrativa do Instituto Federal de
Minas Gerais compreende: rgos Colegiados, Reitoria e Campi que, por sua vez, so
assim constitudos: 1 - rgos Colegiados: (a) Conselho Superior, e (b) Colgio de
Dirigentes; 2 - Reitoria (rgo executivo): (a) Gabinete, (b) Pr-Reitorias: i -
Administrao, ii - Ensino, iii - Extenso, iv - Pesquisa, Inovao e Ps-Graduao, e v -
Planejamento e Oramento, (c) Diretorias Sistmicas, (d) Auditoria Interna, (e) Ouvidoria
Geral, (f) Procuradoria Federal e (g) Assessoria de Relaes Internacionais; 3 Campi
(considerados sede para fins de legislao educacional), representados na Figura 4.
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FIGURA 4 - Organograma do IFMG/reitoria (situao em 2011)
Fonte: ESTATUTO DO IFMG.
A reitoria, sede do IFMG localizada em Belo Horizonte, o rgo executivo
superior responsvel por planejar, administrar, gerir, coordenar e superintender as
atividades do Instituto, com anuncia do reitor. As pr-reitorias tambm so rgos
executivos, com objetivos que preveem planejamento, organizao, controle, superviso e
fomento das aes correlatas a cada uma. Os colegiados, a saber: comit de ensino, comit
de pesquisa, inovao e ps-graduao, comit de extenso e comit de administrao e
planejamento do suporte gesto administrativa e acadmica. O conselho acadmico
um rgo consultivo e deliberativo no mbito do campus, cuja funo colaborar para o
aperfeioamento do processo educativo e zelar pela correta execuo das polticas do
IFMG. Os demais colegiados tm finalidade consultiva.
Atualmente, o IFMG composto por nove campi: Bambu, Betim, Congonhas,
Formiga, Governador Valadares, Ouro Branco, Ouro Preto, Ribeiro das Neves e So Joo
Evangelista; um ncleo avanado: Sabar; e quatro unidades conveniadas: Joo
Monlevade, Pompu, Piumhi e Oliveira, todos vinculadas reitoria (FIG. 5).
Reitor (gabinete)
Chefia de Gabinete
Pr-Reitorias
Diretorias Sistmicas
Campi
Coordenaes
Setores
Auditoria Interna
Procuradoria Federal
Cons. Superior Colg. Dirigentes
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FIGURA 5 Instituto Federal de Minas Gerais - IFMG (situao em 2011)
Fonte: www.ifmg.edu.br (adaptado para este estudo)
Conforme apurado na investigao documental e anlise das entrevistas, a estrutura
organizacional das atividades administrativas e acadmicas do IFMG est organizada na
forma de fluxos.
No mbito das aes administrativas, o planejamento oramentrio anual do IFMG
comea pelo Colgio de Dirigentes composto dos diretores-gerais dos campi e pr-reitores,
por tratar-se do rgo que define as polticas institucionais para o ano subsequente. A
coordenao dos trabalhos fica a cargo da Pr-Reitoria de Planejamento e Oramento
PROPLAN, que d incio ao planejamento participativo nos campi, com a formalizao do
processo e reunies com todos os centros de custos. Nessas reunies, so apresentados os
procedimentos metodolgicos, cronograma de atividades, limites oramentrios, dentre
outras informaes relevantes para o desenvolvimento do trabalho. Cada campus
dividido em centros de custos, ou seja, cada setor, cada coordenao, cada diretoria um
centro de custo. Os centros de custos informam seu planejamento por meio do Sistema de
Planejamento Participativo SISPLAN, uma plataforma que funciona via web. Aps o
prazo determinado para o planejamento das despesas de custeio e capital para o ano
seguinte, os diretores gerais aprovam e os campi enviam o oramento PROLAN atravs
do SISPLAN. Quando necessrio, h adequaes, muito embora, ao longo do ano, haja
momentos pr-determinados para a reprogramao do planejamento. Os limites
oramentrios de cada campus so estabelecidos pela matriz do Conselho dos Institutos
Federais CONIF, que utiliza como principal fonte de referncia o nmero de matrculas
ponderadas e o nmero de alunos em regime de internato. Uma vez aprovado pelos
Campi
Unidades conveniadas Ncleo avanado
Reitoria (sede)
http://www.ifmg.edu.br/
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30
responsveis no campus e pela PROPLAN, o planejamento do campus encaminhado ao
reitor para anlise e aprovao e, em seguida, apresentado ao colgio de dirigentes.
A execuo do planejamento anual (aquisies e/ou contrataes) realizada de
forma conjunta pelas Pr-reitorias de Administrao e de Planejamento e Oramento. Os
processos referentes s aquisies previstas na Lei n 8.666/93 (BRASIL, 1993), realizadas
na modalidade de tomada de preo, prego eletrnico, concorrncia e carta convite,
ocorrem na reitoria, pela equipe da Pr-Reitoria de Administrao, tendo como parmetro
o planejamento anual. Finalizado o processo licitatrio na reitoria, os empenhos so
encaminhados aos campi, que solicitam a entrega das mercadorias e/ou prestao dos
servios e, posteriormente, encaminham as notas fiscais para pagamento na Pr-Reitoria de
Planejamento e Oramento. Com objetivo de dar agilidade aos processos, emergncias
como dispensa de licitaes previstas na Lei n 8.666/93 (BRASIL, 1993), capacitao de
servidores, suprimento de fundos, pagamentos de dirias e assistncia estudantil so feitas
diretamente pelos campi, desde que cadastradas em Sistema Prprio para Descentralizao
de Crdito SIDEC e encaminhadas reitoria para aprovao e deliberao.
A execuo das atividades pedaggicas atividades fins do IFMG, ocorre nos
campi. As regulamentaes so expedidas pelo Ministrio da Educao e pelo Comit
Acadmico, que tem representao de todos os campi na pr-reitoria de ensino. O processo
de criao de novos cursos, bem como de extino, iniciado no campus, observada a
legislao pertinente. A proposta dever ser aprovada pelo Conselho Acadmico, que o
rgo colegiado mximo do campus. A Pr-Reitoria de Ensino poder emitir parecer para
subsidiar, mas o poder de deciso do conselho superior.
Conforme j mencionado neste trabalho, so sujeitos da presente pesquisa apenas
os campi Ouro Preto, Bambu e So Joo Evangelista, por serem as antigas autarquias que
deram origem ao IFMG, onde foram vivenciadas mudanas administrativas refletidas nos
processos gerenciais. Mudanas estas motivadoras dos movimentos de centralizao,
descentralizao e desconcentrao a serem evidenciados no confronto estabelecido pela
anlise de documentos pblicos sobreposta anlise crtica dos depoimentos prestados por
servidores ocupantes e no ocupantes de cargos comissionados, participantes diretos e
indiretos do processo de criao do IFMG, apresentadas na Anlise de Resultados.
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31
2.2 Os movimentos de centralizao, descentralizao e desconcentrao no
processo de mudana em instituies de ensino tecnolgico
Tais movimentos foram desencadeados com o surgimento e estruturao da rede
federal tecnolgica no Brasil e em Minas Gerais, com base em um arranjo situacional dos
Institutos Federais caracterizado por uma estrutura em rede, para integrar sistemicamente
as diversas organizaes de ensino atravs de um ncleo central no mbito nacional,
atravs da Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica do Ministrio da Educao, e
no espao regional os vrios campi, atravs de uma Reitoria.
2.2.1 A centralizao
A centralizao o processo no qual as atividades so definidas no nvel da
unidade central, e estabelecidas por um pequeno grupo de agentes de deciso. Diz respeito
forte concentrao de autoridade nas mos de um nico grupo de pessoas (RIVAS, 1991;
CRETELLO JNIOR, 1998; FERNANDES, 1999). Bastos (1975), em uma concepo
mais enftica, entende que a centralizao um instrumento que tem por alvo tudo
dominar.
Mintzberg (1973) atesta que uma organizao que tende a adotar o processo de
centralizao apresenta uma pequena hierarquia, possui pouca ou nenhuma tecnoestrutura,
a assessoria de apoio pequena e os departamentos so muito parecidos. Nesse tipo, o
poder est nas mos de quem est no topo da hierarquia, dispensando, assim, planejamento
e ou outros procedimentos semelhantes. Em contrapartida, segundo Mintzberg (1973), essa
organizao apresenta flexibilidade quando o gerente o proprietrio. Nesse caso, os
processos podem ter participao dos envolvidos, mas sob o controle gerencial (PUGH,
HICKSON, 2004).
No entendimento de Chandler (1962), em uma organizao centralizada, promove-
se a especializao das habilidades visando o aperfeioamento dos profissionais
especialistas, mas a prtica, a execuo das aes desses profissionais permanecer sob o
controle dos proprietrios, ou seja, dos que se encontram no topo da hierarquia. No
entanto, com o crescimento, essa organizao, mesmo sob o controle de uma gesto
centralizada, dever adotar um sistema de capacitao da mo de obra, colocando o
conhecimento ao alcance de mais pessoas, criando, assim, uma estrutura inovadora
(PUGH; HICKSON, 2004).
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32
Caupers (1995) e Amaral (2006) elencam algumas vantagens trazidas por sistemas
centralizadores no mbito de entidades governamentais, pelas razes: (a) asseguram a
unidade do rgo no tratamento de assuntos estratgicos; (b) garantem a igualdade na ao
poltica e administrativa desenvolvida pelos governos ou gerentes; e (c) permitem que haja
melhor coordenao do exerccio da funo administrativa. Tais vantagens explicam
porque h modelos de administrao centralizadores que obtiveram sucesso no Brasil,
ainda que parciais, adotando estruturas organizacionais em que unidades especficas
controlam toda a gesto de recursos tcnicos, financeiros e humanos (SANTOS, 2001).
Por outro lado, a centralizao traz alguns inconvenientes, a saber: (a) pode
provocar o gigantismo da unidade central; (b) tornar ineficiente a ao administrativa
pela sobrecarga de atividades; e (c) impedir que a comunidade exera o direito de ir e vir
com autonomia, podendo, em algumas situaes, vir a desrespeitar possveis liberdades de
participao popular dessa comunidade, fazendo com que a soluo para os problemas
locais dependa, exclusivamente, do sistema administrativo que se encontra nas mos da
unidade central, prejudicando a execuo das atividades rotineiras das unidades locais
(CAUPERS, 1995; AMARAL, 2006).
Os malefcios de processos centralizados so tambm lembrados no estudo de
Bryce2 (1964 apud Matos, 1996, p. 65). O conselheiro do governo canadense aponta
algumas causas do fracasso administrativo de empresas que utilizam sistemas
centralizadores, a saber: (a) incompreenso das funes da alta direo; (b) insuficincia de
pessoal administrativo; (c) falta de administradores com experincia; (d) falta de delegao
das aes; e (e) falta de atividades conscientes, que se traduzem em objetividade (MATOS,
1996, p. 65).
2.2.2 A descentralizao
Utilizado na Administrao Pblica, a finalidade desse instrumento desenvolver
ferramentas de gesto que reestruturem o rgo ou instituio, diminuindo os custos e
aumentando a eficincia e a eficcia das aes das polticas pelo deslocamento de
competncias e de poder de deciso para as unidades locais (COSTA; OLIVEIRA;
TEODORIO, 2008; FARIA, 2009).
2 BRYCE, Murray D. Desenvolvimento industrial: um manual para acelerar o processo econmico. So
Paulo: Pioneira, 1964. 310 p.
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33
Em mbito governamental, o fenmeno descentralizao vem sendo concebido
como mecanismo de reduo das funes bsicas e indispensveis ao Estado e como
sinnimo de democratizao da administrao pblica e da burocracia por meio da
multiplicao de estruturas de poder. Pode-se considerar uma continuao que vai da
simples transferncia de competncias a uma complexa reestruturao do poder decisrio.
Em um conceito mais abrangente, a descentralizao consiste tambm em garantir as
liberdades, preservando as identidades locais e proporcionando a participao de cidados
nos processos decisrios das polticas pblicas, aproximando-os dos gestores, gerando
maior controle das aes e soluo dos problemas das administraes. Trata-se, pois, de
um mecanismo que facilita a mobilizao das iniciativas e fomenta o surgimento de
parcerias, de aes integradas e de articulao dos atores envolvidos no processo
(CASTRO, 1991; TOBAR, 1991; CAUPERS, 1995; AMARAL, 2006).
Na descentralizao, os grupos que esto nas unidades locais possuem determinado
grau de autonomia para definir as aes administrativas. Na perspectiva da deciso
poltica, a descentralizao redefine as relaes de poder, na medida em que so
transferidas as decises e funes, o que incentiva a criao de estruturas formais
administrativas panejadas e organizadas (VIEIRA, 1971; LCIO, 2009). Assim,
pertinente dizer que a descentralizao est associada redistribuio do poder poltico e
reduo do papel e das responsabilidades da unidade central, autonomia esta que passa a
ser instrumento predominante para tomadas de deciso nas unidades locais (CORAGGIO,
19943; BRUGU; GOM, 1998
4 apud CARNEIRO, BRASIL, 2007).
Nesse mesmo sentido, Lobo (1990) define a descentralizao como sendo uma
distribuio de poderes financeiros e funcionais do governo central ao local, que envolve
questes como redistribuio de poder e deslocamento de centros decisrios.
O surgimento de novas unidades de uma organizao ou instituio em regies
locais conduz transferncia de recursos para os gestores locais. Assim, a
descentralizao, como instrumento de reestruturao do poder, consolida-se com o
deslocamento do fluxo de poder poltico, administrativo, financeiro e tecnolgico da
unidade central para as demais unidades gestoras locais. Neste movimento, ficam limitadas
unidade central apenas as altas funes polticas (BASTOS, 1975; TEIXEIRA, 19915;
3 CORAGGIO, Jos L. Economia urbana: la perspectiva popular. Quito: Ponencias del Instituto Fronesis,
1994. 140 p. 4 BRUGU, Quim; GOM, Ricard (Coord.). Gobiernos locales y polticas pblicas: bienestar social,
promocin econmica y territorio. Barcelona: Ariel, 1998. 284 p. 5 TEIXEIRA, Snia Maria Fleury. Perspectivas da descentralizao dos sistemas de sade na Bolvia. Revista
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34
TIEZZI, 20046; OLIVEIRA, 1999
7 apud SOARES, 2005; NARDI, 2008). So exemplos
de administrao descentralizada as autarquias, as sociedades de economia mista e as
fundaes pblicas (FERNANDES, 1999).
A descentralizao proporciona, tambm, a expanso da lgica democrtica, em
que so ampliadas as possibilidades de negociao, ou seja, as decises sobre os conflitos
das unidades locais pertencem prpria localidade. A descentralizao seria, ento, a
multiplicao das instncias de negociao e de conciliao, uma estratgia que alivia a
carga da unidade central, deixando que os problemas locais sejam abordados e tratados
pelas gestes locais (TOBAR, 1991, p. 9; MELO, 1996; LCIO, 2009).
Consequentemente, o processo da transferncia de responsabilidades e recursos aos
gestores das unidades locais facilita o ajuste da oferta de bens e servios s demandas de
comunidades, ao buscar aquelas solues mais adequadas s especificidades regionais,
com menor custo de fornecimento (SANTOS, 2002; CARNEIRO, BRASIL, 2007). Nesse
contexto, a prpria populao passa a ter interesse em participar dos processos decisrios
relativos distribuio dos recursos pblicos.
Resende e Teodsio (2008) argumentam que a descentralizao um dos pontos
centrais da reforma do Estado, uma vez que auxilia na redefinio do papel estratgico do
governo para que a prestao de servios pblicos adquira maior flexibilidade e
proximidade da populao. Para Oates (1985), a efetiva participao da populao nas
decises do governo legitima o aumento dos impostos da localidade, pois estes devero
retornar em forma de recursos para atender s demandas locais (OATES, 1985). Num
processo descentralizante, as estruturas polticas e administrativas locais possuem
autoridade para formular as diretrizes da administrao, desempenhar suas funes e
promover os servios locais a partir de recursos financeiros disponibilizados (VIEIRA,
1971; COSTA, 1998; SOUZA, 2007).
Esse dilogo que atrela a descentralizao participao popular entendido entre
os autores de forma dicotmica. Para Belmartino et al.8 (1990 apud Tobar, 1991), no h
relao que condicione um elo entre participao e descentralizao, fazendo com que uma
ao seja necessria outra, porm elas se realimentam mutuamente. O prprio Tobar
de Administrao Pblica, v. 25, n. 4, p. 135-175, out./dez.1991. 6 TIEZZI, S. A organizao da poltica social do governo Fernando Henrique. So Paulo em Perspectiva, v.
18, n. 2, p. 49-56, 2004. 7 OLIVEIRA, Cleiton et al. A municipalizao do ensino no Brasil. Belo Horizonte: Autntica, 1999.
8 BELMARTINO, S.; BLOCH, C.; LUPPI, I.;QUINTEROS, Z.T.; TRONCOSO, M.C. Mercado de trabalho
y mdicos de reciente graduacin. Centro de Estudios Sanitarios y Sociales (CESS)/Associacin Mdica de
Rosrio/ OPS-Oficina Regional de la OMS-Representacin de Argentina, n. 14, 65 p., 1990.
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(1991) atesta que a participao popular a nica forma de saber se a descentralizao no
est sendo formulada como forma de restrio de espao pblico. A descentralizao no
existe por si s, mas em consonncia com muitas variveis de natureza econmica, social
ou poltica (VIEIRA, 1971).
Falleti9 (2005 apud Oliveira e Pontes, 2009) tambm destaca que a descentralizao
em um modelo federativo pode ocorrer sob o aspecto administrativo, poltico e fiscal
transferido da unidade central s locais. No se deve negar, no entanto, que a implantao
do processo descentralizante envolve conflitos e negociaes complicados, uma vez que a
proposta do modelo de gesto que cada um dos gestores locais participantes mantenha
em seu poder um rol de competncias e atribuies em determinadas reas.
Faz-se importante ressaltar que o rgo central exerce um papel decisivo na gesto
do processo de descentralizao. Handy (1979) revela que a funo da unidade central
orientar e influenciar as decises da organizao como um todo. Um dos princpios das
aes de delegao que a alta administrao no exera funes que possam ser
realizadas por outros nveis. Para isso, necessrio um considervel nvel de confiana
entre os gestores (PUGH; HICKSON, 2004).
Cabe salientar, no entanto, os perigos e desvantagens oferecidos pela
descentralizao. Lobo (1990), Tobar (1991), Costa (1998) e Santos (2001) apontam que o
processo de descentralizao implantado precipitadamente pode levar a gesto central a
alguns riscos, principalmente, se for baixo o grau de confiana entre as unidades central e
local. Segundo Costa (1998), relatrio do Banco Mundial prev trs ciladas que podem
ocorrer em decorrncia das deficincias oriundas do processo de descentralizao:
1 perda do controle das aes por parte da unidade central em consequncia
da ingerncia das unidades locais;
2 surgimento de tenses por causa das disparidades regionais, no caso de
existir um tratamento individualizado s unidades locais, respeitando-se
suas especificidades; e
3 administrao sob influncias de interesses particulares por parte dos
gestores locais, tornando a administrao menos sensvel e responsvel.
9 FALLETI. A sequential theory of decentralization Latin American cases in comparative perspective.
JSTOR-Latin American Perspectives, v. 20, n. 2, 2005.
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2.2.2.1 A perspectiva constitucional da descentralizao
No Brasil, a primeira tentativa de reforma gerencial da administrao pblica
ocorreu no final dos anos de 1960, por meio do Decreto-Lei n 200, no ano de 1967. O
Decreto-Lei promoveu a transferncia das atividades de produo de bens e servios para
as autarquias, fundaes, empresas pblicas e sociedades de economia mista. Foram
institudos como princpios de racionalidade administrativa: o planejamento, o oramento,
a descentralizao e o controle dos resultados (BRESSER PEREIRA, 1997). O processo de
descentralizao na administrao pblica se intensificou ao final dos anos de 1970 (incio
da crise do Estado) e incio dos anos de 1980, legitimando-se com a redefinio dos papis
do Governo Federal, Estadual e Municipal, com a promulgao da Constituio Federal
em 1988 CF/1988 (SANTOS, 2001; MONTEIRO; FERREIRA, 2008).
A emancipao de municpios brasileiros, aps a promulgao da CF/1988,
permitiu melhor atendimento populao em suas necessidades bsicas, proporcionando
crescimento e desenvolvimento aos municpios, ampliando a autonomia administrativa,
poltica e financeira, por torn-los entes federativos10
. Assim, a descentralizao um dos
fundamentos bsicos da reforma do Estado. Nesse contexto, os governos locais tm maior
capacidade de alocar eficazmente os bens pblicos, de forma que os benefcios sejam
usados em prol da comunidade local (COSTA, OLIVEIRA, TEODORIO, 2008;
GALVARRO et. al, 2009). Mas, para Filippim e Abrucio (2008, p. 4): os resultados
prticos dessa descentralizao ainda esto longe de configurar uma significativa
autonomia decisria no mbito local, notadamente nos municpios, porque nem sempre os
municpios alcanam capacidade administrativa e recursos tcnicos (equipamentos,
recursos humanos e conhecimento especializado) necessrios descentralizao.
H de se observar que a disparidade existente no Brasil, em razo do seu tamanho e
diferenas regionais (econmico-social), representa um fator restritivo ao processo
descentralizante. Os contrastes regionais, s vezes, no permitem igualdade na distribuio
de benefcios das polticas descentralizantes. A desigualdade territorial no processo de
municipalizao anula o principal objetivo da descentralizao, que permitir maior
liberdade alocativa aos governos e sociedades locais. Por essa e outras razes, a
descentralizao em pases caracterizados por extremas desigualdades, como o Brasil, fica
10
Unidade dotada de autonomia poltica, com capacidade para elaborar a prpria Lei Orgnica (RAMOS,
Diego da Silva. Municpios brasileiros: natureza de ente federativo? Juris Way, 10 dez. 2010. Disponvel em:
http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=5169 . Acesso em: 13 fev. 2012).
http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=5169
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limitada, podendo ser afetada por fatores como a diversidade na capacidade financeira e
administrativa dos municpios (GALVARRO et. al, 2009). Alguns municpios brasileiros,
inclusive, no possuem capacidade para promover a expanso da arrecadao de impostos,
para financiar outras atividades que no sejam as relacionadas ao pagamento de servidores
pblicos, ou para promover atividades relacionadas prestao de servios de sade e
educao, ainda que possuam recursos transferidos para esse fim (SOUZA, 2002).
2.2.3 A desconcentrao
A desconcentrao consiste na delegao de atribuies, funes e competncias
pela unidade central s regionais, com dependncia direta do grupo que se encontra no
centro, sem que haja poder decisrio. um mecanismo de transferncia de encargos e
tarefas entre unidades administrativas locais. Pelo processo de desconcentrao, tudo que
for realizado na localidade ser por ordem do rgo central (TOBAR, 1991; MELO, 1996;
CRETELLO JNIOR, 1998; OLIVEIRA, 199911
apud SOARES, 2005). A deciso
confere s unidades locais poderes decisrios de pequeno grau (CAUPERS, 1995;
AMARAL, 2006).
Para Alves (2007), o que determina a desconcentrao o grau de autonomia dado
ao poder local para a tomada das decises. Segundo o autor, o processo se assemelha
centralizao, uma vez que as aes geradas no abdicam das orientaes e decises do
centro. A desconcentrao transfere competncias e responsabilidades s unidades locais,
mantendo o poder de deciso na gesto central.
No entanto, Caupers (1995) e Amaral (2006) apresentam conceitos que, em sua
essncia, assemelham a desconcentrao descentralizao, pois, em graus, a
desconcentrao pode ser intensa, conduzindo as unidades locais a se transformarem em
rgos independentes, deixando de ser subalternas; ou pode ser relativa e menos intensa,
quando o controle institucional mantido sob a responsabilidade do poder central.
11
OLIVEIRA, Cleiton et al. A municipalizao do ensino no Brasil. Belo Horizonte: Autntica, 1999.
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2.2.3.1 Desconcentrao versus descentralizao
A mera transferncia de autoridade de uma esfera superior outra inferior por si s,
sem a autonomia nas tomadas de deciso, no caracteriza a descentralizao (TOBAR,
1991). muito frequente o uso inadequado do termo descentralizao em um processo
de desconcentrao, uma vez que esses termos no so sinnimos (LUBAMBO, 200012
apud LIMA; RCKERT, 2005).
O que difere o conceito de desconcentrao do conceito de descentralizao ,
justamente, a variao em graus, conforme abordam Caupers (1995) e Amaral (2006). De
um lado, tem-se a desconcentrao, onde as funes so distribudas pela unidade central
s locais. Essas instncias dependem diretamente das decises da unidade central. De
outro, tem-se a descentralizao, onde ocorre a mesma distribuio de funes e
atividades, porm no se tratando de delegar tarefas, e sim de obter determinado grau de
autonomia para as tomadas de deciso, sem dependncia direta da instncia central
(CASASSUS, 1989; RIVAS, 1991). Nessa concepo de graus, que poder variar at
chegar a um nvel mais elevado, a desconcentrao seria, ento, uma condio necessria,
embora no suficiente, para atingir os nveis desejados de descentralizao nas tomadas de
deciso (TOBAR, 1991, p. 5).
A adoo de um processo descentralizante pode gerar dvidas quanto sua efetiva
implantao em razo de suas vrias modalidades. As diversas formas de descentralizar
fazem com que a descentralizao ganhe o jargo de camaleo poltico. Em cada caso,
poder ser aplicada uma funcionalidade diferente, de acordo com os interesses particulares
das autoridades, o momento e a situao em que aplicada (TOBAR, 1991). Segundo
Casassus (1989), a diferena entre os dois fenmenos situa-se na finalidade do processo de
delegao:
[...] parece-me que pode mudar algo mais na preciso dos conceitos de
descentralizao e desconcentrao, e em particular na orientao de alguns
autores (Caetano e outros, 1982) que recordam que a diferena essencial entre
ambos reside em que um deles - a desconcentrao - reflete processos cujo
objetivo assegurar a eficcia do poder central, enquanto que o outro -
descentralizao - um processo que visa a assegurar a eficcia do poder local
(CASASSUS, 1989, p. 15).
12
LUBAMBO, C. Descentralizao: a experincia das ONGs na formulao de polticas pblicas na cidade
do Recife. Caderno de Estudos Sociais, Recife: Massangana, v. 16, n. 1, jan./jun. 2000. FJN.
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Casassus (1989) e Rivas (1991) se juntam ao pensamento de Tobar (1991), pois
compreendem a descentralizao em duas dimenses: desconcentrao e a prpria
descentralizao, apontando que, nos termos da poltica pblica, o processo de
descentralizao transfere as atividades da unidade central s locais. Primeiro, pela
desconcentrao, passando-se, em seguida, ao estado de descentralizao. Para esses
autores, a formulao de estratgias de desconcentrao e descentralizao acontece de
forma sequencial e gradual em um processo de escolha de tomadas de deciso.
Para Abrucio (1997), a simples descentralizao administrativa um processo de
desconcentrao, pois no prevalecendo descentralizao poltica, existe apenas uma
significativa delegao de autoridade que se refere ao exerccio de pequenas aes, como o
atendimento ao pblico e outros servios mais formais. Nessa concepo, Alves (2007)
alega que o discurso descentralizador no aponta para uma verdadeira descentralizao, e
sim para uma desconcentrao, confundindo-se a denominao dos dois processos.
Desconcentrar representa, apenas, a melhoria da eficcia, com delegao de poderes e
competncias sem a devida autonomia para tomadas de deciso. Esses processos
autodenominados de descentralizao representam, na verdade, o exerccio de
desconcentrao administrativa e repasse de funes a governos locais sem garantia da
autonomia (FLEURY, 2006; ALVES, 2007).
Lima (2004) tambm cita a dualidade do processo descentralizante, quando aborda
a reforma do sistema educativo portugus. As propostas apresentadas por uma comisso ao
governo pressupunham a descentralizao da administrao, a autonomia da escola e a
criao de um rgo de direo democrtica no seu interior. A ideia consistia em
implantar polticas de efetiva descentralizao na administrao educativa. O governo
portugus se ops e optou em adotar uma administrao centralizada no Ministrio da
Educao, um sistema centralizado-desconcentrado. Essa opo levou as escolas
(representando o poder local) a exercerem apenas autonomia administrativa e
simplesmente operacionalizarem as aes e atividades de rotina (LIMA, 2004, p. 11).
Abrucio (1997) faz meno experincia inglesa para ilustrar outro caso de
desconcentrao denominado de descentralizao. Para definir as responsabilidades das
agncias governamentais e dos seus funcionrios pblicos, o governo ingls adotou o
modelo da administrao por objetivos e a descentralizao administrativa. O objetivo do
processo de descentralizao foi dar mais autonomia s agncias locais e aos
departamentos. Nesse processo, havia uma definio clara dos objetivos de cada unidade
local. Porm, esses objetivos deveriam ser cumpridos sob a vigilncia e controle da
-
40
unidade central. Sendo assim, apesar da propaganda governamental anunciar a
descentralizao, o que ocorria de fato era a desconcentrao de poderes (ABRUCIO,
1997).
No mbito do sistema de ensino brasileiro, a desconcentrao parte da poltica
educacional descentralizadora, pois a delegao de atribuies concedida pelo governo
central (Estado) s unidades administrativas regionais ou locais (municpios), s escolas,
instituies privadas ou comunitrias limitada (ALMEIDA, 2005), conforme
anteriormente citado. Os maiores empecilhos descentralizao efetiva do ensino so de
natureza administrativa e financeira, principalmente, por causa da distribuio desigual dos
recursos entre os muitos municpios brasileiros e da ausncia de capacidade tcnica para
enfrentar os problemas de gesto e operacionalizao da rede escolar (BUENO,
PINHEIRO, PEREIRA, 2007).
Vieira (1971), na mesma linha de pensamento de Casassus (1989), Rivas (1991),
Melo (1996) e Nardi (2008), diz que a descentralizao abrange o processo de
desconcentrao. Para esse autor, nenhuma unidade descentralizada (local)
completamente autnoma, pois mesmo sendo, est sob o controle do poder central, que
determina suas competncias, podendo, inclusive, decidir pela sua extino. A outorga de
poderes da unidade central para as locais tem como base dois princpios gerais:
desconcentrao e descentralizao, que na prtica, formam um sistema misto, cuja
proporo varia de caso para caso (VIEIRA, 1971), a saber:
Na desconcentrao, o poder central cria unidades administrativas ou rgos
locais, isoladamente ou formando uma hierarquia, e determina o que podem
fazer e como devem fazer. A autoridade central reserva-se o poder de deciso
sobre todos os assuntos que envolvem diretrizes fundamentais de governo. A
desconcentrao tem por objetivo descentralizar a execuo dos servios. A
unidade desconcentrada ser mais ou menos autnoma conforme a soma de
poderes que lhe tenham sido outorgados pelo governo central. Na
descentralizao, as unidades locais so criadas com certos poderes prprios
para administrar certos campos de atividade em que podem usar iniciativa e
discernimento prprios (VIEIRA, 1971, p. 80).
Para outros autores, o processo descentralizante possui autonomia e valor
democrtico, pois h o deslocamento de poder da unidade central para as locais, visando
fortalec-las, permitindo gerir o mximo de tarefas pelos prprios interessados ou por seus
representantes. A desconcentrao uma tcnica de comando, no tem em si valor
democrtico e se concretiza atravs da transferncia da execuo de tarefas da unidade
central s locais, sem a devida autonomia para a iniciativa da execuo dessas tarefas:
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tudo o que a periferia realizar por ordem do centro, pois nesse processo no h
deslocamento de poder decisrio (CRETELLO JNIOR, 1998, p. 150; CARVALHO,
2004; SOARES, 2005).
Duarte (2005) complementa que a implantao de processos descentralizantes e de
desconcentrao no simples ou consensual. Esses processos exigem reviso de
atribuies, distribuio de aes, redefinio de funes, negociao, vontade poltica de
todos os envolvidos e outros componentes. A adoo desses processos exige habilidade e a
implantao complexa.
Descentralizao implica em uma transformao nas instncias de poder, de um
ente federado, por exemplo. No caso da desconcentrao, a estrutura se mantm
e h ainda relao de subordinao entre centro e periferia, dentro do mesmo
sistema (DUARTE, 2005, p. 83).
O fato de haver vrias filiais e diretorias em locais distantes no significa um
processo descentralizante. A implantao de normas rgidas, limitadoras da autoridade
condiciona a deciso apenas unidade central (MATOS, 1996).
O que se entendesse por descentralizao no seria mais do que o espraiar de
problemas trabalhados por grupos diversos, sob a presso do aumento de
volume de casos, mas sem a necessria autonomia da deciso, nico fator capaz
de tornar a administrao, como um todo, livre para exercer suas funes
fundamentais de planejar, organizar, dirigir, motivar e controlar (MATOS, 1996,
p. 60).
Num modelo de administrao em que no h responsabilizao dos dirigentes
locais pelas aes demandadas, embora se busque a descentralizao da execuo de
atividades, a centralizao das decises e o controle dos resultados a serem alcanados
permanecem. Dessa forma, essa descentralizao representa a redistribuio de atividades
administrativas, excluindo-se o poder de deciso. Em seu significado real, a
descentralizao um processo de distribuio do poder e dos meios para exercit-lo, e a
desconcentrao a delegao de competncia, porm, sem a transferncia do poder
decisrio (TOBAR, 1991; CABRAL NETO; ALMEIDA, 2000).
A evidenciao das diferenas entre os dois fenmenos gerenciais no ofusca
alguns de seus pontos convergentes. Para Cretello Jnior (1998), h algo em comum entre
desconcentrao e descentralizao, que o fato de algum poder de deciso importante
escapar da unidade central e ser exercido pelas unidades locais. O que est em jogo, no
entanto, de que forma garantir a eficcia e a eficincia dos recursos pblicos na utilizao
desses modelos de gesto.
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No curso desta pesquisa, a inteno verificar como ocorre esses trs movimentos
no processo de integrao no setor pblico. Para entender a mudana na estrutura da
instituio pblica decorrente da introduo de processos gerenciais com aes
centralizadas, descentralizadas e desconcentradas com decises centralizadas, adaptar-se-
o modelo de Pettigrew (1973), que ser tratado na sequncia.
2.2.4 O modelo de Pettigrew
O modelo idealizado por Pettigrew (1973) tem contribudo com vrias pesquisas,
principalmente na Europa e nos Estados Unidos (PEREIRA, 1998), sendo normalmente
utilizado como parmetro para organizaes da inicia