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Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO EM FLUÊNCIA DOS AÇOS INOXIDÁVEIS AISI 321 E AISI 441 PELA METODOLOGIA SAG TESTDenilson Pereira de Melo

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Page 1: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

Dissertação de Mestrado

“CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO EM

FLUÊNCIA DOS AÇOS INOXIDÁVEIS AISI 321 E AISI

441 PELA METODOLOGIA SAG TEST”

Denilson Pereira de Melo

Page 2: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

II

Denilson Pereira de Melo

“CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO EM FLUÊNCIA DOS AÇOS

INOXIDÁVEIS AISI 321 E AISI 441 PELA METODOLOGIA SAG TEST”

Dissertação de Mestrado apresentada

ao Curso de Engenharia de Materiais

da Rede Temática em Engenharia de

Materiais da Universidade Federal de

Ouro Preto para a obtenção do Grau

de Mestre em Engenharia de

Materiais.

Área de concentração: Análise e Seleção de Materiais

Orientador: Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria

Ouro Preto, 19 Março de 2021

Page 3: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

Melo, Denilson Pereira de .MelCaracterização do comportamento em Fluência dos Aços InoxidáveisAISI 321 e AISI 441 pela Metodologia Sag Test.. [manuscrito] / DenilsonPereira de Melo. - 2021.Mel97 f.: il.: color., gráf., tab..

MelOrientador: Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria.MelDissertação (Mestrado Acadêmico). Universidade Federal de OuroPreto. Rede Temática em Engenharia de Materiais. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais.MelÁrea de Concentração: Análise e Seleção de Materiais.

Mel1. Aço inoxidável - AISI 441. 2. Aço inoxidável - AISI 321. 3.Metodologia - Sag Test. 4. Veículos automotivos - Sistema de Exaustão. I.Faria, Geraldo Lúcio de. II. Universidade Federal de Ouro Preto. III. Título.

Bibliotecário(a) Responsável: Maristela Sanches Lima Mesquita - CRB-1716

SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO

M528c

CDU 620

Page 4: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

REITORIA ESCOLA DE MINAS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA METALURGICA E DEMATERIAIS

FOLHA DE APROVAÇÃO

Denilson Pereira de Melo

Caracterização do Comportamento em Fluência dos Aços Inoxidáveis AISI 321 e AISI 441 pela Metodologia Sag Test

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais da Rede Temá�ca em Engenharia de Materiais da Universidade Federalde Ouro Preto como requisito parcial para obtenção do �tulo de Mestre em Engenharia de Materiais.

Aprovada em 19 de março de 2021

Membros da banca

Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria – OrientadorUniversidade Federal de Ouro Preto

Profª Dra. Maria Aparecida Pinto

Universidade Federal de Ouro Preto

Prof. Dr. Rhelman Rossano Urzêdo QueirozIns�tuto Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

Campus Ouro Preto

Geraldo Lúcio de Faria, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito no Repositório Ins�tucional da UFOP em 29/04/2021

Documento assinado eletronicamente por Geraldo Lucio de Faria, PROFESSOR DE MAGISTERIO SUPERIOR, em 03/05/2021, às 09:29, conformehorário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

A auten�cidade deste documento pode ser conferida no site h�p://sei.ufop.br/sei/controlador_externo.php?acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0 , informando o código verificador 0166169 e o código CRC 14E75845.

Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.004079/2021-78 SEI nº 0166169

R. Diogo de Vasconcelos, 122, - Bairro Pilar Ouro Preto/MG, CEP 35400-000 Telefone: 3135591561 - www.ufop.br

Page 5: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

VI

Agradecimentos

Em primeiro lugar, agradeço a Deus por tudo na minha vida e ao meu orientador,

Professor Dr. Geraldo Lúcio de Faria, por todo tempo despendido com motivação,

dedicação, explicações, ideias e interpretações com as quais foi possível realizar

esse trabalho.

Desejo igualmente agradecer a Professora Dr. Maria Aparecida Pinto pelo

aprendizado e sempre solícita durante todo esse tempo de convívio e trabalho no

laboratório e também ao Professor Dr. Rhelman Rossano Urzêdo Queiroz pela

colaboração na compilação deste documento com ideias e correções.

Agradeço aos companheiros de trabalho, Paulo Sérgio Moreira, Sidney Cardoso

Araújo, Graciliano Dimas Francisco e ao doutorando Charles Henrique Xavier

Morais Magalhães por todo tempo, empenho, boa vontade e conhecimento

despendido nessa pesquisa.

Agradeço as minhas irmãs pelo apoio e motivação e a minha esposa e filhos (a)

pela paciência, compreensão e entusiasmo na realização desse trabalho e, por

fim, aos meus pais Ubiracy Pereira de Mello (in memoriam) e Maria Aparecida de

Mello que sem eles nada disso seria possível.

Page 6: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

VII

SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................................ IX

ABSTRACT ............................................................................................................. X

LISTA DE FIGURAS .............................................................................................. XI

LISTA DE TABELAS ........................................................................................... XVI

LISTA DE NOTAÇÕES, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS .................................... XVII

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

2. OBJETIVOS ........................................................................................................ 6

2.1. Objetivo Geral ............................................................................................... 6

2.2. Objetivos Específicos.................................................................................... 6

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFIA................................................................................... 7

3.1. Aços Inoxidáveis ........................................................................................... 7

3.1.1. Aços Inoxidáveis Austeníticos .............................................................. 12

3.1.2. Aço Inoxidável Austenítico AISI 321 ..................................................... 16

3.1.3. Aços Inoxidáveis Ferríticos .................................................................. 22

3.1.4. Aço Inoxidável Ferrítico AISI 441 ......................................................... 26

3.2. Componentes do Sistema de Exaustão Automotivo ................................... 30

3.3. O Fenômeno de Fluência ........................................................................... 32

3.3.1. Mecanismos de deformação por fluência ............................................. 34

3.3.2. Mecanismo Nabarro-Herring ................................................................ 36

3.3.3. Mecanismo Coble................................................................................. 36

3.3.4. Mecanismo Harper-Dorn ...................................................................... 37

3.4. Precipitação em Aços Inoxidáveis .............................................................. 45

4. MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................. 49

4.1. Materiais ..................................................................................................... 49

4.2. Procedimentos Experimentais .................................................................... 49

Page 7: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

VIII

4.2.1. Caracterização do Estado de Entrega .................................................. 49

4.2.2. Ensaios de Fluência pela Metodologia Sag Test ................................. 51

4.2.3. Tratamentos Isotérmicos de Crescimento de grão ............................... 53

4.2.4. Efeito do Crescimento de Grão Sobre o Comportamento em Fluência

Sag Test nos Aços Estudados ....................................................................... 53

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 55

5.1. Análise química .......................................................................................... 55

5.2 Análises Microestrutural do Estado de Entrega ........................................... 56

5.3 Caracterização Mecânica do Estado de Entrega ......................................... 60

5.4. Ensaios de Fluência pela Metodologia Sag Test ........................................ 64

5.5 Influência da Temperatura e do Tempo sobre o Crescimento de Grão ....... 77

5.6 Efeito do Crescimento de Grão Sobre a Ductilidade em Fluência Sag Test 81

6. CONCLUSÕES ................................................................................................. 87

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 90

Page 8: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

IX

RESUMO

O sistema de exaustão dos automóveis vem passando por grande avanço

tecnológico nas últimas décadas, tanto para atender às novas legislações

ambientais, quanto para minimização de custo, assim como alcançar maior

durabilidade e eficiência dos componentes do sistema. Há uma tendência mundial

em se substituir os clássicos motores aspirados por motores turbinados. Com a

implementação do sistema turbo, as temperaturas máximas de trabalho de alguns

componentes do escapamento aumentam de 900°C para 1050°C e,

consequentemente, a seleção de materiais para a manufatura dos mesmos é algo

crítico. Devido a este cenário, os aços inoxidáveis têm sido os materiais mais

utilizados para superar esses desafios da atualidade e, para isto, vários trabalhos

científicos vêm sendo realizados para se obter as melhores condições de

viabilidade econômica e performática dos sistemas de exaustão dos automóveis.

Nesse contexto, esse trabalho avaliou o comportamento em fluência (Sag Test) do

aço inoxidável ferrítico AISI 441, geralmente utilizado na manufatura de coletores

e catalizadores de veículos com motores aspirados, comparando-o com o

desempenho do aço inoxidável austenítico AISI 321. Os resultados mostraram que

o comportamento em fluência dos aços AISI 321 e AISI 441 são semelhantes nas

temperaturas de 900°C e 950°C. Entretanto, na temperatura de 1000°C o aço AISI

441 apresentou uma expressiva mudança de comportamento, atingindo uma

flecha máxima de 26mm após 100h de ensaio, enquanto o aço AISI 321

apresentou apenas 5mm. Baseado nos resultados obtidos, pode-se afirmar que o

aço AISI 441 apresenta desempenho limitado em fluência para aplicação em

escapamentos automotivos com motorização turbo. Em um segundo momento da

pesquisa foi avaliado se o crescimento de grão seria uma metodologia viável para

melhorar o desempenho dos dois aços quanto ao seu comportamento em fluência,

e foi constatado a inviabilidade da metodologia pelos inexpressíveis resultados

alcançados associado ao alto custo do processo. Apesar da dificuldade em se

avaliar os mecanismos de fluência mais atuantes, aplicando-se a metodologia aqui

proposta, sugere-se que o mecanismo de fluência preponderante nos casos

estudados foi o de difusão com importante componente Harper-Dorn.

Palavras-chave: Aço inoxidável ferrítico AISI 441, aço inoxidável austenítico AISI

321, fluência, metodologia Sag test, sistema de exaustão.

Page 9: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

X

ABSTRACT

The automotive exhaust system has undergone great technological advances in

recent decades, both to meet the new environmental legislation and to minimize

cost, as well as to achieve greater durability and efficiency of the system

components. There is a worldwide trend to replace the classic aspirated engines

with turbocharged engines. With the implementation of the turbo system, the

maximum working temperatures of some exhaust components increase from

900°C to 1050°C and, consequently, the selection of materials for their

manufacturing is critical. Due to this scenario, stainless steels have been the most

used materials to overcome these current challenges and, for this, several

scientific works have been carried out to obtain the best conditions of economic

and performance viability of the exhaust system of automobiles. In this context, this

work evaluated the creep behavior (Sag Test) of ferritic stainless steel AISI 441,

generally used in the manufacture of collectors and catalysts for vehicles with

aspirated engines, comparing it with the performance of AISI 321 austenitic

stainless steel. The obtained results showed that the creep behavior of AISI 321

and AISI 441 steels is similar at 900°C and 950°C. however, at 1000°C, the AISI

441 steel presented a significant change in the behavior, reaching a maximum

arrow of 26mm after 100h of testing, while the AISI 321 steel presented only 5mm.

Based on the obtained results, it can be stated that the AISI 441 steel has limited

creep performance for application in automotive exhaust with turbo engine. In the

second moment of this research, it was evaluated if the grain growth would be a

viable methodology to improve the performance of the two steels regarding their

creep behavior. It was concluded that this methodology is not viable due to the

inexpressible achieved results in association with the high cost of the process.

Despite the difficulty in evaluating the most active creep mechanisms applying Sag

Test methodology, it was suggested that the predominant creep mechanism in the

studied cases was diffusion, with an important Harper-Dorn component.

Keywords: Ferritic stainless steel AISI 441, austenitic stainless steel AISI 321,

creep, sag test methodology, exhaust system.

Page 10: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

XI

LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1 - Faixas de concentração de cromo e níquel (em % em peso) dos

principais tipos de aços inoxidáveis. ..................................................................... 10

Figura 3.2 - Redução da solubilidade do carbono obtida pela adição de titânio.... 14

Figura 3.3 - Fenômeno de sensitização. ............................................................... 15

Figura 3.4 - Apresenta micrografias (MEV) do aço austenítico 310s que sofreu

corrosão intergranular devido à sensitização: em (a) ataque em solução corrosiva

por 2 horas a 1150°C. em (b) tratamento de envelhecimento por 2 horas à 700°C.

em (c) tratamento de envelhecimento por 2 horas `800°C em (d) tratamento de

envelhecimento por 2 horas a 900°C. ................................................................... 15

Figura 3.5 - Micrografia do aço inoxidável AISI 321. Ataque eletrolítico, 10%

oxálico, 500X. ........................................................................................................ 17

Figura 3.6 – MET- Recuperação e recristalização dinâmica em 3.6(a) deslizamento

de discordâncias a 880°c. em 3.6(b) recuperação dinâmica a 900°c. em 3.6(c e d)

recristalização dinâmica completa a 1000°C e 1100°C.. ....................................... 18

Figura 3.7 - Curva TTT para os precipitados de TiC e Cr23C6 para o aço AISI 321.

.............................................................................................................................. 20

Figura 3.8 - Tratamento termomecânico seguido de recozimento de reversão para

o aço. AISI 321.No primeiro momento (Recozimento à 1200°C), no segundo

momento (Laminação à frio), no terceiro momento (Laminação nas temperaturas

de 700°C a 900°C nos tempos de 2h,5h,10h,15h,25h). ........................................ 21

Figura 3.9 - Variação da camada de óxido do aço AISI 441. Em (a) microscopia

óptica da seção transversal com a influência da variação do tempo e H2O

constante. Em (b) microscopia óptica da seção transversal com a influência da

variação da H2O e o tempo constante. .................................................................. 25

Figura 3.10 - Micrografias TEM do aço AISI 441 tratadas à 850°C e depois

recozidas à 750°C. Em (a) observa-se a fase de Laves precipitada em contornos

Page 11: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

XII

de grão e subgrãos. Em (b) observa-se a fase de Laves nucleada e precipitada em

contornos de subgrão. ........................................................................................... 28

Figura 3.11 - Micrografias TEM e EDX da fase Laves do aço AISI 441 tratado a

850°C por 2 horas e depois recozida por 30 minutos à 600°C. Em (a) destaca-se o

contorno de grão grosseiro com a fase Laves precipitada no contorno. Em (b) a

mesma região com ampliação mostrando fase de Laves precipitada e nucleada a

600°C em contornos de subgrãos e discordâncias. .............................................. 29

Figura 3.13 - Mapa de deformação por fluência do níquel puro. ........................... 35

Figura 3.14 – MET- Evidência micrográfica da movimentação do contorno de grão.

.............................................................................................................................. 37

Figura 3.15 –MET- Multiplicação de discordâncias (CIMM, 2021). ....................... 38

Figura 3.16 – MO - MICROGRAFIA DO AÇO 16CR5TI. ....................................... 39

Figura 3.17 - Crescimento médio dos grãos no ensaio SAG TEST a 850°C e

950°C. ................................................................................................................... 40

Figura 3.18 – MO - Micrografia das duas ligas tratadas a 1050ºC. ....................... 41

Figura 3.19 - Comparação dos dois métodos de ensaio de fluência (CANTILEVER

E 2 PONTOS). ....................................................................................................... 42

Figura 3.20 - Comparação do comportamento em fluência cantilever sag test das

ligas A e B submetidas a 15MPa. .......................................................................... 43

Figura 4.1 - (A) geometria e dimensões dos corpos de prova e suportes para

ensaios de fluência (base de medida em mm); (B) dispositivo Sag Test com corpo

de prova posicionado para ensaio. ........................................................................ 51

Figura 4.2 - (A) fotografia de corpos de prova ensaiados e ainda posicionados no

dispositivo Sag Test; (B) esquema ilustrando a flecha de fluência em um corpo de

prova. .................................................................................................................... 52

Figura 5.1 - (A) micrografia do aço inoxidável austenítico AISI 321, no estado de

entrega, seção longitudinal, aumento de 200x – MO; (B) micrografia do aço

inoxidável austenítico AISI 321, no estado de entrega, seção longitudinal, aumento

de 500x – MO. Ataque Eletrolítico HNO3 60%. ..................................................... 57

Page 12: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

XIII

Figura 5.2 - (A) micrografia do aço inoxidável austenítico AISI 321, no estado de

entrega, ................................................................................................................. 57

seção longitudinal, aumento 1000x – MEV; (B) mapa de análise EDS realizado no

aço AISI 321 no estado de entrega, seção longitudinal. ....................................... 57

Figura 5.3 - (A) micrografia do aço inoxidável ferrítico 441, no estado de entrega,

seção longitudinal, aumento de 200 x. (B) micrografia do aço inoxidável ferrítico,

no estado de entrega, seção longitudinal, aumento de 500x – MO. Ataque

eletrolítico oxálico 10%. ......................................................................................... 59

Figura 5.4 - (A) micrografia do aço inoxidável ferrítico AISI 441, no estado de

entrega, seção longitudinal, aumento 1000x – MEV; (B) mapa de análise EDS

realizado no aço AISI 441 no estado de entrega, seção longitudinal. Ataque

eletrolítico oxálico 10%. ......................................................................................... 59

Figura 5.5 - Mapa de análise EDS realizado no aço AISI 441 no estado de entrega

ilustrando a nucleação heterogênea de carbonetos de nióbio nas faces de uma

partícula de nitreto de titânio. Ataque Eletrolítico Oxálico 10%. ............................ 60

Figura 5.6 - Perfis de microdureza medidos ao longo da espessura para os aços

AISI 321 e AISI 441. ............................................................................................... 61

Figura 5.7 - Curvas σ x ε de engenharia para os aços (A) AISI 321 e (B) AISI 441.62

Figura 5.8 - Região de encruamento uniforme da curva verdadeira σv x εv para os

aços (A) AISI 321 e (B) AISI 441, com suas respectivas derivadas de primeira

ordem. ................................................................................................................... 63

Figura 5.9 - Coeficiente de encruamento (n) em função da deformação verdadeira

(v) para os aços (A) AISI 321 e (B) AISI 441. ....................................................... 64

Figura 5.10 - Flechas de fluência medidas para chapas de 2mm dos aços (A) AISI

321 e (B) AISI 441 em função da temperatura e do tempo de ensaio. .................. 66

Figura 5.11 - Micrografias do aço inoxidável austenítico AISI 321 submetido aos

ensaios Sag Test (A) 5h a 900°C, (B) 100h a 900°C, (C) 5h a 1000°C e (D) 100h a

1000°C - seção longitudinal, aumento de 500X – MO. Ataque Eletrolítico HNO3

60%. ...................................................................................................................... 68

Page 13: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

XIV

Figura 5.12 - Micrografia do aço inoxidável ferrítico 441 submetido aos ensaios

Sag Test (A) 5h a 900°C, (B) 100h a 900°C, (C) 5h a 1000°C e (D) 100h a 1000°C

- seção longitudinal, aumento de 500X – MO. Ataque Eletrolítico Oxálico 10%.... 69

Figura 5.13 - Comparação entre os tamanhos médios de grão do (A) aço AISI 321;

(B) aço AISI 441 no estado de entrega (E.E.) e submetidos a 5h e 100h de ensaio

Sag Test nas temperaturas de 900°C e 1000°C. .................................................. 70

Figura 5.14 - Perfis de microdureza medidos ao longo da espessura para os aços

(A) AISI 321 e (B) AISI 441 submetidos a 5h e 100h de ensaios Sag Test a 900°C

e 1000°C. .............................................................................................................. 72

Figura 5.15 - Micrografias de amostras do aço AISI 441 submetidas a ensaios de

fluência de 100h (A) a 900°C e (B) a 1000°C, destacando o crescimento de grão

ferrítico e a significativa dissolução de precipitados com o aumento da temperatura

– aumento 500x – MEV. Ataque eletrolítico oxálico 10%. ..................................... 74

Figura 5.16 - Efeito da temperatura e do tempo de tratamento isotérmico sobre o

crescimento de grão, na ausência de deformação, para os aços (A) AISI321 e (B)

AISI441. ................................................................................................................ 78

Figura 5.17 - Ajustes da Equação 5.5 aos dados de efeito da temperatura e do

tempo de tratamento isotérmico sobre o crescimento de grão, na ausência de

deformação, para os aços (A) AISI321 e (B) AISI441. .......................................... 79

Figura 5.18 - Flechas de fluência medidas para chapas de 2mm dos aços (a) AISI

321 previamente tratado por 5h a 1000°C e (b) AISI 441 previamente tratado por

100h a 1000°C na condição mais crítica de ensaio avaliada neste trabalho, ou

seja, 100h a 1000°C. ............................................................................................. 82

Figura 5.19 - Micrografias do aço inoxidável austenítico AISI 321 submetidos aos

ensaios Sag Test por 100h a 1000°C - seção longitudinal, (A) aumento de 100X,

(B) aumento de 200X – MO. Ataque Eletrolítico HNO3 60%. ................................ 84

Figura 5.20 - Micrografia do aço inoxidável ferrítico 441 submetidos aos ensaios

Sag Test por 100h a 1000°C - seção longitudinal, (A) aumento de 100X, (B)

aumento de 200X – MO. Ataque Eletrolítico Oxálico 10%. ................................... 84

Figura 5.21 - Comparação entre os tamanhos médios de grão dos aços AISI 321 e

AISI 441 após a realização de ensaios de fluência Sag Test considerando-se duas

Page 14: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

XV

condições iniciais de microestruturas para os corpos de prova: grãos previamente

crescidos e microestrutura do estado de entrega. ................................................. 85

Figura 5.22 - Perfis de microdureza medidos ao longo da espessura para os aços

AISI 321 e AISI 441 submetidos a 100h de ensaios Sag Test a 1000°C após

tratamento térmico de crescimento de grão. ......................................................... 86

Page 15: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

XVI

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 - Aços normalmente usados em escapamentos pela Nippon Steel. ..... 4

Tabela 3.1 Aços inoxidáveis mais comuns com suas respectivas composições

químicas e propriedades medidas em tração. ....................................................... 12

Tabela 3.2- Especificação química de alguns aços inoxidáveis austeníticos ........ 13

Tabela 3.3 - Composição química típica de um do aço AISI 321 (% em peso). .... 17

Tabela 3.4- Especificações químicas de alguns tipos de aços inoxidáveis ferríticos

(% em peso máximo). ........................................................................................... 23

Tabela 3.5 - Aplicações e propriedades gerais de alguns tipos de aços inoxidáveis

ferríticos que atendam à classificação AISI. .......................................................... 24

Tabela 3.6 - Composições químicas típicas do aço AISI 441 (%em peso). .......... 28

Tabela 3.7 - Propriedades mecânicas do aço AISI 441 ........................................ 30

Tabela 3.8 - Tamanho médio dos grãos das ligas A e B. ...................................... 41

Tabela 4.1 – Especificação química dos aços inoxidáveis AISI 321 e AISI 441 (%

em peso). .............................................................................................................. 49

Tabela 5.1 – Composição química dos aços inoxidáveis estudados nesse trabalho

(% em peso). ......................................................................................................... 56

Tabela 5.2 - Principais parâmetros medidos por tração para os aços AISI 321 e

AISI 441................................................................................................................. 62

Page 16: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

XVII

LISTA DE NOTAÇÕES, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS

ABNT Associação Brasileira de Normas técnicas

AISI American Iron Steel Institute

ATMP Processamento termodinâmico avançado

CCC Cúbico de Corpo Centrado

CFC Cúbico de Face Centrada

CIMM Centro de informação METAL MECÂNICA

Cr23C6 Carboneto de cromo

EBSD Difração de elétrons retro- espalhados

γ Gama

HC Hexagonal Compacta

LTM Laboratório de tratamentos térmicos e Microscopia Óptica

Nox Óxidos de nitrogênio

SAED Seleção da área por difração de elétrons

Sc Escândio

σ Sígma

So42- íon sulfato

SPD Deformação plástica severa

Tf Temperatura de fusão

α Ferrita

α’ Fase alfa primário

Page 17: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

1

1. INTRODUÇÃO

Sempre objetivando menor consumo de combustível, maior vida útil dos

componentes e também um bom acabamento do produto final, os aços inoxidáveis

vêm sendo utilizados pela indústria automobilística para alcançar tais objetivos. De

acordo com Inoue e Kikuchi (2003),

“O uso do aço inoxidável em automóveis começou como componentes de acabamento decorativos aproveitando a boa aparência do material, mas agora é usado para muitos componentes funcionais. Seu uso para componentes do sistema de exaustão, entre outros, aumentou notavelmente, representando agora mais da metade de todo o aço inoxidável para um automóvel.”

Nas últimas décadas, os sistemas de exaustão dos veículos automotores tiveram

grande evolução no que diz respeito ao quesito materiais, onde a substituição de

aços convencionais galvanizados ou aluminizados e/ou ferro fundido vem sendo

feita por aços inoxidáveis de alto desempenho. Entretanto, estes aços têm como

fator negativo o seu elevado custo quando se trata de aços ligados com níquel,

como no caso dos aços inoxidáveis austeníticos. Nesse contexto, ainda na década

de 1990, os aços inoxidáveis ferríticos foram propostos como uma boa alternativa

em muitos casos. Esta mudança é devido às novas regulamentações ambientais

que foram implementadas visando a redução da poluição atmosférica e do efeito

estufa, afirmou Itoh et al. (1995), mas com a evolução dos motores aspirados para

os motores turbos, melhores propriedades físicas e químicas são exigidas dos

aços utilizados nos componentes do sistema de exaustão dos automóveis.

Para atender as exigências atuais, o sistema de exaustão dos automóveis teve

grandes transformações tanto no que tange a materiais mais resistentes à

oxidação em altas temperaturas como também mais leves (densidade de

empacotamento). Essas mudanças foram feitas devido aos novos motores mais

eficientes quanto ao consumo de combustível que, por sua vez, trabalham com

uma razão combustível/oxigênio quase estequiométrica (Motores turbos) gerando,

com isso, gases de exaustão da queima com temperaturas mais altas. Em

automóveis com turbo alimentadores, as temperaturas dos gases de escape

podem chegar a 1050C°. Portanto, para que a durabilidade e viabilidade do

dispositivo de exaustão fossem economicamente e operacionalmente factíveis

muito investimento em pesquisas voltadas para este seguimento foi dispendido,

Page 18: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

2

visto que o setor automotivo é muito competitivo (INOUE; KIKUCHI, 2003; DI

CUNTO, 2005).

Os aços inoxidáveis apresentam grande resistência à corrosão e à oxidação, mas

quando submetidos a ambientes de trabalho em alta temperatura estarão sujeitos

à sensitização que, a grosso modo, seria o empobrecimento em cromo da região

adjacente aos contornos de grão, que se precipita na forma de carboneto de

cromo, deixando esta região sujeita à corrosão intergranular e também mais

susceptíveis ao fenômeno de fluência.

Os materiais dos componentes do sistema de exaustão dos motores a combustão,

necessariamente precisam apresentar certas propriedades para conseguirem

desempenhar o seu papel de forma plena e viável. Por esse motivo os

componentes são submetidos a muitos ensaios e simulações por meio de ensaios

mecânicos e de corrosão. A Figura 1.1 apresenta um típico sistema de exaustão

automotivo com os principais componentes que o integram.

Figura 1.1 - O sistema de exaustão automotivo (FARIA, 2006).

O sistema de exaustão, como já foi dito, trabalha em temperaturas relativamente

elevadas, expostos a carregamentos mecânicos cíclicos e ao ataque químico

proveniente dos gases gerados na queima do combustível. No tocante ao

problema causado pela alta temperatura, esse dispositivo é severamente exigido

para responder bem ao fenômeno de fluência, que segundo Meyers e Chawla

(1981), é um fenômeno onde o material tem um comportamento anelástico em

Page 19: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

3

altas temperaturas e que é causa de grande parte das falhas dos materiais

conjuntamente com a fadiga.

Segundo Meyers e Chawla (1981), a fluência se caracteriza por um escoamento

um tanto quanto lento do material, quando este sofre um carregamento estático e

é exposto a uma temperatura elevada. Normalmente, essas temperaturas que

acionam os mecanismos de fluência são aquelas superiores a 1/3 da temperatura

de fusão do material. Quanto maior a temperatura, maior será a cinética de

deformação do material.

Vários fatores e mecanismos influenciam nas propriedades dos aços no que diz

respeito ao fenômeno de fluência. Para citar alguns deles, pode-se escrever:

percentual de precipitados na matriz, difusão de átomos nos contornos de grão,

deslizamento de discordâncias, tamanho de grão, temperatura de trabalho e

outros. Devido às condições severas de trabalho do sistema de exaustão

automotivo, vários estudos têm sido realizados em vários aços que são usados

nos diferentes componentes que o compõe. A Tabela 1.1 mostra os diferentes

aços usados normalmente na montagem de um sistema de exaustão automotivo,

ainda com motores aspirados.

Page 20: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

4

Tabela 1.1 - Aços normalmente usados em escapamentos pela Nippon Steel.

Classes

de aço

Principais

elementos de

liga

Aços semelhantes

na norma JIS

Aplicações típicas

YUS

409D

11Cr - Ti SUH 409L Silenciador, tubo central,

tubo frontal

YUS 432 18Cr – 0.5Mo-Ti SUS 436J1L Silenciador, tubo frontal

YUS 436S 18Cr-0.5Mo-Ti SUS 436L Silenciador, tubo frontal

YUS

450MS

14Cr-0.5Mo-Ti-

Nb

SUS 429 Coletor de escape

YUS 180 19Cr-Nb SUS 430J1L Coletor de escape, tubo

frontal, blindagem do

conversor

YUS

190EM

19Cr-1.7Mo-Ti-

Nb

SUS 444 Coletor de escape

YUS

205M1

20Cr-5Al ---------- Blindagem do catalisador

SUS 304 18Cr-18Ni ---------- Tubo traseiro

YUS 731 19Cr-13Ni-3Si-

0.7Cu

SUS XM15J1 Tubo interno do coletor de

tubo duplo, tubo flexível

(INOUE e KIKUCHI, 2003)

Pode-se observar, na Tabela 1.1, que os aços inoxidáveis ferríticos são

majoritariamente usados nos sistema de exaustão automotivo, isso se deve ao

menor custo e importantes propriedades mecânicas, físicas e químicas desses

aços que, para motores aspirados, atendem perfeitamente às exigências. Os aços

inoxidáveis ferríticos, por apresentarem um coeficiente de expansão térmica

menor do que os aços inoxidáveis austeníticos, deformam-se menos quando

submetidos a altas temperaturas, e esta característica faz deles um bom material

Page 21: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

5

para ser usado em vários componentes do sistema de exaustão, principalmente

no coletor de escape onde as temperaturas são mais altas. Aliado a isto, destaca-

se ainda o seu menor custo em relação aos aços inoxidáveis austeníticos

(GALLO,1999). Entretanto, com o aumento da temperatura de trabalho em

decorrência da utilização do sistema turbo, estudos complementares precisam ser

feitos com o objetivo de se avaliar o comportamento desses aços nesse novo

cenário.

Alguns pesquisadores já vêm desenvolvendo trabalhos a esse respeito e têm

mostrado que com o aumento da temperatura, a estabilidade de fases secundárias

é afetada e a precipitação, ou dissolução das mesmas, a depender da temperatura

de trabalho, pode deteriorar o desempenho dos materiais sob alguns aspectos,

visto que, com a introdução do sistema turbo, uma consequência imediata é o

aumento da temperatura de trabalho desses componentes, podendo a chegar até

1050°C.

Uma opção de solução para o novo ambiente de trabalho são os aços inoxidáveis

austeníticos por apresentarem melhor resistência à corrosão em altas

temperaturas em relação aos ferríticos, porém seu custo é mais elevado devido à

presença do elemento níquel em sua composição química, como é o caso do aço

inoxidável AISI321 (JUUTI, 2019; HUA, 1997; FARIA 2006).

Enfim, percebendo uma lacuna de conhecimento a respeito do comportamento em

fluência pela metodologia Sag Test em temperaturas elevadas, esse trabalho

propõe avaliar o comportamento em fluência do aço inoxidável ferrítico AISI 441,

geralmente utilizado na manufatura de coletores e catalizadores de veículos com

motores não turbinados, comparando-o com o desempenho do aço inoxidável

austenítico AISI 321, de maior custo de fabricação, mas que tem sido cogitado

como possível candidato para a fabricação desses componentes para automóveis

com motorização turbo.

Page 22: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

6

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

Nesse trabalho tem-se como objetivo caracterizar o comportamento em fluência,

pela metodologia Sag Test, dos aços inoxidável austenítico AISI 321 e inoxidável

ferrítico AISI 441, visando avaliar os seus desempenhos para aplicação como

componentes do sistema de exaustão automotivo.

2.2. Objetivos Específicos

● Caracterizar microestruturalmente e mecanicamente os aços AISI 321 e

AISI 441 em seu estado de entrega;

● Caracterizar o comportamento em fluência, pela metodologia Sag Test, dos

aços AISI 321 e AISI 441 em seu estado de entrega;

● Avaliar o efeito de temperaturas e intervalos de tempo de tratamentos

isotérmicos sobre o tamanho de grão dos aços AISI 321 e AISI 441;

● Avaliar o efeito do tamanho de grão na resistência à fluência, pela

metodologia Sag Test, dos aços AISI 321 e AISI 441;

● Tentar descrever quais mecanismos de deslizamento são mais atuantes no

fenômeno de fluência ocorrido nos aços AISI 321 e AISI 441.

Page 23: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

7

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFIA

3.1. Aços Inoxidáveis

O embasamento científico para a descoberta dos aços inoxidáveis pode ser

creditado aos metalurgistas Monnartz, Guillet, Giesen e A.M. Portevin devido aos

seus trabalhos no início do século XX. França, Inglaterra e a Alemanha são os

países pioneiros nos estudos sobre aços inoxidáveis, seguido pelos EUA que, no

ano de 1911, desenvolveram o aço inoxidável ferrítico com as pesquisas dos

metalurgistas Christian Dantsizen e Frederick Becket (PADILHA, 2002).

O objetivo final desses estudos era conseguir, de alguma forma, aumentar a

resistência à corrosão e oxidação dos aços e, consequentemente, ter-se um

menor custo de manutenção das estruturas de aços, pois a maioria dos metais,

salvo raras exceções, tende a voltar para seu estado de menor energia, ou seja,

voltam a ser óxidos metálicos ou sais.

O aço inoxidável é uma liga composta de ferro, carbono e cromo, contendo em

sua composição química no mínimo 10,5% (em peso) de cromo, seu principal

componente. A resistência à corrosão desses aços é devido a uma camada

protetora formada de óxido de cromo que impede o metal base de fazer contato

com a atmosfera oxidante ou corrosiva. Vários elementos de ligas como níquel,

titânio, silício, molibdênio, alumínio, nióbio, nitrogênio e selênio podem ser

adicionados aos aços inoxidáveis de acordo com as propriedades almejadas para

um determinado propósito (CIMM, 2019).

Os aços inoxidáveis vêm ganhando cada vez mais destaque no dia-a-dia por

terem grande praticidade e versatilidade. Eles são usados em vários segmentos

da indústria, pois, possuem grande capacidade de conformação, baixo custo de

manutenção e apresentam desempenho de excelência em diferentes ambientes

de trabalho. Podem ser usados em peças de arquitetura e construção civil devido

ao seu bom acabamento superficial, ou em ambientes de trabalho agressivos

onde se requer altas temperaturas e contato com atmosferas oxidantes e

corrosivas.

A perda de peças metálicas por ação da corrosão tem preocupado engenheiros e

metalurgistas que procuram constantemente não só aperfeiçoar ou desenvolver

Page 24: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

8

novos métodos de proteção, como também aperfeiçoar ou criar novas ligas que

apresentem a característica de resistência à corrosão (PADILHA, 2002;

CHIAVERINI, 2008).

A adição de cromo à composição de um aço aumenta a sua resistência à oxidação

e corrosão. Aços com teores de cromo superiores a 12% em massa podem ser

considerados resistentes à oxidação dependendo do meio onde serão

empregados (CHIAVERINI, 2008).

De acordo com Davis (1994), a classificação dos aços inoxidáveis baseia-se na

microestrutura observada na temperatura ambiente, resultante da adição de

elementos de liga e processos termomecânicos realizados. Portanto, de maneira

simples, os aços inoxidáveis podem ser classificados da seguinte forma: Aços

Inoxidáveis Ferríticos; Aços Inoxidáveis Austeníticos; Aços Inoxidáveis

Martensíticos; Aços Inoxidáveis Duplex; Aços Inoxidáveis Endurecíveis por

Precipitação. Os aços inoxidáveis da classe 300 são todos austeníticos, já os da

classe 400 podem ser tanto ferríticos quanto martensíticos.

Os aços inoxidáveis ferríticos apresentam menor resistência à corrosão em

relação aos inoxidáveis austeníticos, porém são mais resistentes à corrosão sob

tensão em meios contendo cloretos, corrosão atmosférica e à oxidação. Os aços

inoxidáveis ferríticos são representados pela classe de aços 400 (Faria, 2006). Os

aços inoxidáveis austeníticos são ligas à base de Fe-Cr-Ni e outras adições, que

têm a finalidade de alterar suas propriedades e a microestrutura em função do Ni

ser um elemento fortemente gama-gêneo. Essas ligas têm como microconstituinte

principal a austenita que é uma fase com estrutura cristalina cúbica de face

centrada (CFC). Nesses aços, o teor de cromo está entre 15% e 26%, o que

confere ao material boa resistência à corrosão. A fim de estabilizar a austenita,

podem ser adicionados entre 7% a 37% de níquel e outros elementos como

molibdênio, titânio e manganês a fim de melhorar as propriedades mecânicas e de

corrosão desses aços (TOO 2002; FARIA, 2006; TERADA, 2008 e McGUIRE,

2008).

Como o próprio nome diz, os aços inoxidáveis martensíticos possuem

microestrutura martensítica, com estrutura cristalina tetragonal de corpo centrado

que é obtida a partir do resfriamento de uma microestrutura austenítica prévia.

Page 25: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

9

Essa classe de aços inoxidáveis possui teores de cromo que podem variar de 11%

a 18%, com níquel máximo na ordem de 4% e fração em peso de carbono entre

0,1% e 1,0%. Além desses elementos, podem ser adicionados outros como

molibdênio, vanádio, nióbio, alumínio, cobre e titânio com a finalidade de melhorar

as propriedades mecânicas. Esses aços são utilizados em condições onde se

deseja aliar boa resistência mecânica e à corrosão, tendo aplicação em

tubulações na indústria do petróleo, revestimentos de cilindros laminadores,

rotores de bombas, entre outros (McGUIRE, 2008).

Os aços inoxidáveis duplex são constituídos basicamente por ferro, cromo e

níquel, com adições de alguns elementos com a finalidade de estabilizar as fases

e melhorar as propriedades mecânicas e químicas. Esses aços possuem

microestrutura ferrita-austenita em proporções aproximadamente iguais. Suas

propriedades mecânicas e de corrosão consistem na combinação otimizada das

propriedades dos aços inoxidáveis ferríticos e austeníticos. Essa classe de aços é

amplamente utilizada nas indústrias químicas, de papel e celulose, óleo e gás,

entre outras (MAGALHÃES, 2017).

Os aços inoxidáveis endurecíveis por precipitação possuem teores de cromo entre

12% e 18% e níquel entre 3% e 10%, bem como adições de cobre, titânio e

alumínio que promovem endurecimento por precipitação após tratamento térmico.

Alguns compostos formados por esses elementos são solubilizados durante um

tratamento térmico controlado de solubilização e, após uma etapa denominada

envelhecimento, reprecipitam de forma muito refinada na matriz, endurecendo o

material pelo mecanismo de precipitação. Essa classe de material tem como

principal característica boas propriedades mecânicas, porém possui,

relativamente, resistência à corrosão moderada, uma vez que os precipitados

existentes na sua microestrutura atuam como agentes que podem facilitar alguns

mecanismos de corrosão (McGuire, 2008). A Figura 3.1 apresenta os principais

tipos de aços inoxidáveis nos seus campos de existência considerando os teores

de cromo e de níquel.

Page 26: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

10

Figura 3.1 - Faixas de concentração de cromo e níquel (em % em peso) dos principais

tipos de aços inoxidáveis (Adaptado de PADILHA, 2002).

Até pouco tempo atrás, acreditava-se que a alta resistência à oxidação e corrosão

dos aços inoxidáveis se dava devido à adição do cromo que, por sua vez,

propiciava a formação de uma fina camada passiva de óxidos na superfície do aço

com espessura aproximada de 40 angstrons. Esse fenômeno é chamado de

passivação, e que ocorria com a formação de óxido de ferro, cromo e de outros

elementos de liga em contato com o oxigênio atmosférico.

Entretanto, não havia total consenso sobre os mecanismos que envolviam este

fenômeno. Para promover um melhor entendimento e consolidar essa teoria,

estudiosos fizeram experiências com aço-carbono em atmosfera sem umidade

com altas temperaturas e o aço-carbono não oxidou. Porém, uma barra de aço-

carbono em um recipiente com água desoxigenada com adição de nitrogênio

oxidou. Por esta constatação, pode-se especular que o filme passivo dos aços

inoxidáveis tem sua formação com as reações que ocorrem entre o corpo metálico

e a água formando um composto oxihidróxido de ferro e cromo (Carbó, 2008).

Esta fina camada de óxidos é que confere aos aços inoxidáveis a resistência à

Page 27: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

11

corrosão e à oxidação, resistindo à interação e dissolução dos elementos nos

ambientes agressivos de trabalho.

Inovações tecnológicas e novos produtos vêm sendo desenvolvidos no setor de

aços especiais planos de forma bastante dinâmica. No campo dos aços

inoxidáveis, estão sendo atualmente produzidos em maior escala os inoxidáveis

duplex, que possuem maiores resistências mecânica e à corrosão do que os

tradicionais aços inoxidáveis austeníticos. Sua aplicação é principalmente em

tubos flexíveis para a exploração de petróleo, particularmente em águas

profundas.

De forma simples, os aços inoxidáveis são geralmente utilizados em ambientes

degradantes, sejam oxidantes ou corrosivos. Os equipamentos que empregam

estes aços incluem turbinas a gás, caldeiras a vapor de alta temperatura, fornos

de tratamento térmico, aeronaves, mísseis e unidades geradoras de energia

nuclear (CALLISTER, 2001).

Conforme as condições do ambiente de trabalho e dos esforços que estarão

sujeitos os componentes de uma determinada estrutura, tipos específicos de aços

inoxidáveis são empregados para que se atinjam os objetivos com maior

desempenho possível, ou seja, com segurança, durabilidade, eficiência e, por fim,

mantendo sua integridade sob tais condições. Sendo para isso necessário

conhecer suas características físicas, químicas e mecânicas. A Tabela 3.1

apresenta alguns aços inoxidáveis mais comuns com suas respectivas

composições químicas e propriedades em tração.

Page 28: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

12

Tabela 3.1 Aços inoxidáveis mais comuns com suas respectivas composições químicas e

propriedades medidas em tração.

(Adaptado de PADILHA, 2018)

Neste trabalho tem-se como objeto de estudo dois aços inoxidáveis, sendo um aço

inoxidável austenítico AISI 321 e o outro um aço inoxidável ferrítico AISI 441.

Sendo assim, será dada, nos tópicos a seguir, uma ênfase sobre as principais

características desses aços que serão investigados.

3.1.1. Aços Inoxidáveis Austeníticos

Os aços inoxidáveis austeníticos são ligas constituídas de ferro e cromo e

apresenta estrutura cúbica de face centrada (CFC) e, devido ao seu baixo teor de

carbono (em alguns casos podem chegar a um percentual inferior à 0,02% de C),

eles não são endurecíveis por tratamentos térmicos. Em sua fabricação, são

adicionados elementos de liga denominados estabilizantes da austenita como o

níquel, manganês e nitrogênio. Apesar de não serem endurecíveis por tratamentos

térmicos, os aços inoxidáveis austeníticos podem passar por tratamentos térmicos

para outros fins, por exemplo, solubilização, alívio de tensões, estabilização e

tratamentos termoquímico (CHIAVERINI, 2008).

Page 29: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

13

Basicamente, a composição química dos aços inoxidáveis austeníticos varia de

16% a 26% de cromo, e a concentração de níquel pode chegar até 35%.

Outros elementos de liga também são usados com o objetivo de se alterar a

microestrutura visando melhorar alguma propriedade específica. De acordo com

Koch et al. (2002), os aços inoxidáveis austeníticos são utilizados em larga escala

devido à combinação entre resistência mecânica, capacidade de conformação e

resistência à corrosão. A Tabela 3.2 apresenta alguns aços austeníticos com suas

especificações químicas.

Tabela 3.2- Especificação química de alguns aços inoxidáveis austeníticos.

(Adaptado de PISANO, 2017)

As propriedades que mais se destacam nesta classe de aços são a alta

resistência à oxidação e a resistência à corrosão e, para que este aço adquira

maior resistência mecânica, são adicionados elementos de liga como o titânio e

molibdênio. O incremento destas propriedades propicia uma ampla variedade de

empregabilidade deste material em diferentes setores da indústria.

Estes aços, quando submetidos a determinados intervalos de temperatura, podem

sensitizar, devido à precipitação de carbonetos de cromo nos contornos dos grãos,

tornando-se susceptíveis à corrosão intergranular. Umas das formas de se evitar

esta corrosão intergranular é a adição de titânio e nióbio nestes aços. Estes

elementos têm maior afinidade de combinação com o carbono e formam os

Page 30: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

14

carbonetos de titânio e de nióbio evitando, desta forma, a sensitização (SILVA,

1988; CHIAVERINI,2008).

Como apresentado na Figura 3.2, pode-se fazer uma boa análise do efeito do

titânio na redução da solubilidade de carbono no aço inoxidável 18-8 (AISI 321)

com a adição de 0,5% desse elemento.

Figura 3.2 - Redução da solubilidade do carbono obtida pela adição de titânio (Adaptado

de CHIAVERINE, 2008).

Para uma melhor visualização e compreensão do fenômeno de sensitização dos

aços inoxidáveis austeníticos, a Figura 3.3 mostra um desenho esquemático do

fenômeno de sensitização. A Figura 3.4 mostra imagens da corrosão intergranular

do aço inoxidável AISI 310S que passou por tratamentos térmicos de

envelhecimento à 700°C, 800°C e 900°C após ataque em solução corrosiva de

H2S e HCl à 1150°C em autoclave de alta temperatura e pressão.

Page 31: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

15

Figura 3.3 - Fenômeno de sensitização (MARQUES et al., 2000).

.

Figura 3.4 - Apresenta micrografias (MEV) do aço austenítico 310s que sofreu corrosão

intergranular devido à sensitização: em (a) ataque em solução corrosiva por 2 horas a

1150°C. em (b) tratamento de envelhecimento por 2 horas à 700°C. em (c) tratamento de

envelhecimento por 2 horas `800°C em (d) tratamento de envelhecimento por 2 horas a

900°C (QIAN et al., 2016).

Page 32: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

16

De forma resumida, apenas para mostrar o fenômeno de sensitização no aço

anteriormente citado, após passar por um ataque em soluções corrosivas (S e

NaCl) à 1150°C por 2 horas, depois resfriado em água e posteriormente

submetido a diferentes tratamentos térmicos de envelhecimento nas temperaturas

de 700°C, 800°C e 900°C, pode-se observar modificações estruturais. Na Figura

3.4(a), na amostra atacada a 1150°C por 2 horas, pode-se observar que não há

precipitados na matriz nem nos contornos de grão. Na Figura 3.4(b, c e d), após

tratamento de envelhecimento nas temperaturas citadas acima, pode-se observar,

no entanto, que vários carbonetos precipitados foram formados nos contornos de

grão; outra observação bastante visível é o aumento do tamanho de grão com o

aumento da temperatura do tratamento de envelhecimento (QIAN et al., 2016).

3.1.2. Aço Inoxidável Austenítico AISI 321

O aço inoxidável austenítico AISI 321, um dos objetos de estudo do presente

trabalho, caracteriza-se pelo elevado teor de Ni, elemento que contribui fortemente

para a estabilização da fase austenita em uma larga faixa de temperatura, que

inclui a ambiente. Ele possui também, em sua composição química, adições de Ti.

A concentração de Nb nesse aço (0,012%) não é elevada o suficiente para ativar o

seu efeito como elemento estabilizante. A norma DIN 10088-2 afirma que para

compor efeito estabilizante nesse aço, a concentração de Nb deveria ser três

vezes o teor de carbono do aço mais 0,3%, ou seja, deveria ser pelo menos

0,33%. Este aço é requisitado para trabalho em altas temperaturas porque possui

alta resistência à fluência e alta resistência à corrosão intergranular. No entanto,

as informações sobre as características de deformação a quente do aço AISI 321

na literatura são poucas, não há informações sobre a análise sistemática das

evoluções microestruturais durante a deformação a quente mas, de forma geral,

há três mecanismos principais que influem na melhoria da resistência à fluência

destes materiais, que são: tamanho de grão, precipitação e fortalecimento da

solução sólida. Tais mecanismos serão melhor detalhados posteriormente neste

trabalho (NKHOMA et al., 2014; GHAZANI et al.,2018, CAIN, 2006).

A Figura 3.5 mostra uma micrografia típica do aço inoxidável AISI 321. Pode-se

observar vários precipitados localizados principalmente nos contornos de grão,

Page 33: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

17

provavelmente oriundos do processo de fabricação. Em seguida, a Tabela 3.3

apresenta a composição química padrão do aço inoxidável AISI 321.

Figura 3.5 - Micrografia do aço inoxidável AISI 321. Ataque eletrolítico, 10% oxálico, 500X

(CAMPOS, 2003).

Tabela 3.3 - Composição química típica de um do aço AISI 321 (% em peso).

(GHAZANI et al., 2018)

Como já foi citado, os aços inoxidáveis têm boa conformabilidade, mas há poucas

referências na literatura sobre a deformação a quente do aço AISI 321. Em um

trabalho realizado por Ghazani et al. (2018), eles caracterizaram a microestrutura

do aço AISI 321 em um processo de compressão a quente na faixa de

temperaturas entre 800°C e 1200°C e taxa de deformação entre 0,001s-1 e 1s-1.

Logo após as amostras foram temperadas em água fria visando o congelamento

das microestruturas, evitando a recristalização estática e crescimento de grão.

Page 34: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

18

Resumidamente, algumas das conclusões dos autores foram que na temperatura

de 800°C a 900°C, a uma taxa de deformação de 0,01s-1, a microestrutura

formada após a deformação era de grãos de austenita alongados com alguns

precipitados de TiN, portanto apenas o fenômeno de recuperação dinâmica atuou

nesse procedimento. Na deformação à temperatura de 950°C, observaram a

presença de grãos finos auteníticos equiaxias e alongamento do antigo grão de

austenita, portanto, a recristalização dinâmica teve seu início, porém,

parcialmente. Em 1000°C, obtiveram grãos de austenita equiaxiais, ou seja,

recristalização dinâmica completa e, para resumir, nas temperaturas maiores

usadas na pesquisa observaram tanto a recristalização dinâmica completa como

também o aumento do tamanho médio dos grãos.

Na Figura 3.6 podem ser observadas as transformações na microestrutura de um

aço AISI 321 após uma deformação à taxa constante de 0,01s-1 em diferentes

temperaturas, o que diz respeito aos fenômenos de recuperação e recristalização

dinâmica.

Figura 3.6 – MET- Recuperação e recristalização dinâmica em 3.6(a) deslizamento de

discordâncias a 880°c. em 3.6(b) recuperação dinâmica a 900°c. em 3.6(c e d)

recristalização dinâmica completa a 1000°C e 1100°C. (GHAZANI et al., 2018).

Page 35: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

19

Em (a) deformação a 800°C, presença de deslizamentos de discordâncias no

interior e no contorno do grão austenítico (recuperação parcial). Em (b) 900°C,

grãos da austenita apresentando a recuperação dinâmica. Em (c) e (d) nas

temperaturas de 1000°C e 1100°C indicando a recristalização dinâmica completa

(GHAZANI et al., 2018).

Quanto à sensitização do aço AISI 321, esse aço, ao passar por um tratamento de

solubilização em temperaturas maiores que 1075°C, apresenta um menor grau de

sensitização, há um acréscimo na precipitação transgranular e a temperatura

crítica de crescimento de grão é de 1080°C (SOUZA, 2007 apud SILVA, 2007).

De acordo com as constatações de Silva (2007), o aço AISI 321 em processos de

solubilização, crescimento de grão e sensitização, onde esse aço foi solubilizado

nas temperaturas de 800°C, 900°C e 1000°C e logo após sensitizado a 600°C por

100horas, verificou-se que as amostras tratadas em 800°C e 900°C e depois

sensitizadas, apresentaram uma estrutura “Step”, ou seja, uma estrutura livre de

carboneto de cromo, enquanto a amostra tratada a 1000°C apresentou uma

estrutura com grãos não completamente circundados por carbonetos de cromo, ou

seja, uma estrutura “Dual”, portanto, um grau de sensitização maior.

Tal fato, segundo Silva (2007), é explicado devido à cinética de formação do

carboneto de cromo ser favorecida para temperaturas por volta de 600°C,

enquanto a formação do carboneto de titânio é favorecida em torno de 800°C.

Sendo assim, quando o aço AISI 321 é submetido a uma faixa de temperatura de

800°C a 900°C os carbonetos de cromo são dissolvidos e há a formação dos

carbonetos de titânio e consequente retirada do carbono em solução. Sem o

carbono em solução, a condição de formação de carboneto de cromo fica

dificultada e a sensitização amenizada. A Figura 3.7 mostra uma curva

esquemática TTT para os precipitados TiC e Cr23C6

Page 36: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

20

Figura 3.7 - Curva TTT para os precipitados de TiC e Cr23C6 para o aço AISI 321 (MOURA

et al., 2008).

Apesar das boas propriedades físicas e químicas dos aços inoxidáveis

austeníticos e sua ampla aplicação nos diversos setores industriais, algumas

propriedades podem e devem ser melhoradas como, por exemplo, a resistência ao

escoamento e com isso estender sua aplicação.

Para a melhoria de resistência mecânica, normalmente usa-se artifícios como

adição de elementos de liga, refinamento de grão com deformação plástica severa

(SPD) e processamento termodinâmico avançado (ATMP) para os aços comuns e

microligados (GHAZANI et al., 2018).

Nos aços inoxidáveis austeníticos, a austenita é estável na temperatura ambiente

e não ocorre sua transformação em ferrita nos processos termomecânicos, como

ocorre nos aços simples durante o resfriamento. O novo tratamento

termomecânico usado nos aços inoxidáveis austeníticos é a deformação intensa

seguida de recozimento (HUTCHINSON et al, 2010 apud REAZAEI, 2018).

De acordo com (HUTCHINSON et al, 2010 apud REAZAEI, 2018), nesse novo

tratamento termomecânico, durante a deformação a frio, a austenita é

transformada em martensita metaestável e uma estrutura de grãos ultrafinos de

austenita é gerada a partir da martensita no tratamento de recozimento de

Page 37: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

21

reversão, alcançando-se, assim, relevantes melhoras na resistência mecânica dos

aços inoxidáveis austeníticos. A Figura 3.8 traz um desenho esquemático do ciclo

tratamento termomecânico seguido do recozimento de reversão supracitado, que

foi tema do trabalho do pesquisador Reazei et al. (2018) com o aço inoxidável

austenítico AISI 321, e a seguir será mostrado os principais resultados e

conclusões dessa pesquisa.

Figura 3.8 - Tratamento termomecânico seguido de recozimento de reversão para o aço.

AISI 321.No primeiro momento (Recozimento à 1200°C), no segundo momento

(Laminação à frio), no terceiro momento (Laminação nas temperaturas de 700°C a 900°C

nos tempos de 2h,5h,10h,15h,25h) (REZAEI et al., 2018).

Sucintamente, depois do aço inoxidável austenítico AISI 321 ter sido processado,

conforme ilustra a Figura 3.8, os autores observaram que a fração de martensita

induzida pela deformação aumenta quando se aumenta a deformação à frio, e que

para intervalos de tempo de 2 minutos de recozimento, dois fenômenos

microestruturais importantes foram constatados. O primeiro foi a recuperação

dentro dos grãos austeníticos deformados e o segundo foi a formação de grãos

ultrafinos de austenita a partir da martensita induzida por deformação, daí a

explicação no aumento da resistência mecânica após recozimento em dois

minutos.

Page 38: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

22

3.1.3. Aços Inoxidáveis Ferríticos

Neste grupo, o cromo é ainda o principal elemento de liga, podendo atingir valores

muito elevados, superiores a 25%. Como o teor de carbono é baixo, máximo de

0,20%, a faixa de estabilidade austenítica fica totalmente eliminada e, em

consequência, esses aços não são endurecíveis por têmpera (Chiaverini, 2008).

Normalmente, esses aços passam por um tratamento de recozimento para o alívio

das tensões provenientes dos processos de conformação, permitindo, assim, que

eles adquiram e maximizem sua ductilidade. Os aços inoxidáveis ferríticos são

ligas binárias de ferro-cromo, possuem outros elementos de ligas em menores

proporções como o Mo, Al e Si que possibilitam a existência da ferrita que tem a

rede cristalina cúbica de corpo centrado (CCC) estável em todas as temperaturas

(CHIAVERINI, 2008).

Os aços inoxidáveis ferríticos, diferentemente dos austeníticos, são magnéticos e

alguns tipos com maiores teores de cromo possuem excelente resistência à

oxidação e podem trabalhar em temperaturas próximas de 1200ºC. Segundo

Washko (1990) citado por Toma (2012), esses aços podem apresentar boa

ductilidade e formabilidade, porém sua resistência mecânica em altas

temperaturas é inferior à dos aços inoxidáveis austeníticos e sua tenacidade é

relativamente limitada em baixas temperaturas.

Continuando a comparação com os aços inoxidáveis austeníticos, os ferríticos têm

um menor custo devido sua composição química mais simples. Eles possuem

menor resistência à tração, melhor conformabilidade e sua resistência mecânica

pode ser melhorada por trabalho a frio. A Tabela 3.4 mostra a especificação

química de alguns aços inoxidáveis ferríticos com seus percentuais máximos.

Page 39: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

23

Tabela 3.4- Especificações químicas de alguns tipos de aços inoxidáveis ferríticos (% em

peso máximo).

(TEBECHERANI, 1999)

Existem variadas aplicações para os aços inoxidáveis ferríticos, para cada

aplicação usa-se um tipo específico com composição química adequada que irá

responder, de forma satisfatória, aos imperativos próprios de cada função em

particular.

Alguns exemplos de aplicações desses tipos de aços ferríticos são: tubos de

radiadores, caldeiras, recipientes para indústria petroquímica, parafusos, porcas,

ferragens, exaustores de automóveis, para-choques, peças de fornos, câmara de

combustão. A Tabela 3.5 mostra alguns tipos de aços inoxidáveis ferríticos, com

algumas propriedades gerais e algumas aplicações.

Page 40: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

24

Tabela 3.5 - Aplicações e propriedades gerais de alguns tipos de aços inoxidáveis

ferríticos que atendam à classificação AISI (SILVA, 2019).

Para se evitar a sensitização, pesquisas voltadas para a inibição do fenômeno em

altas temperaturas são feitas com estabilizadores, mais comumente com o Ti e o

Nb, mas a busca por outros elementos com potencial de estabilização do cromo

na solução sólida é uma realidade. Por exemplo, uma análise no teorema de

ligação em metais de transição indica que a adição de escândio (Sc) e ítrio (Y),

possivelmente na forma de uma liga mestra para outros elementos

estabilizadores, oferecem um bom campo de pesquisa. Os dois elementos podem

ser promissores no que diz respeito à melhoria da resistência à sensitização de

aços inoxidáveis ferríticos (OGWO e DAVIES, 1977).

Dependendo dos parâmetros de oxidação, as ligas de aços inoxidáveis

apresentam variações entre elas no que diz respeito à sensibilidade à oxidação.

Em experimento realizado por Badin et al. (2014), no aço inoxidável ferrítico AISI

441 e no aço inoxidável austenítico AISI 316 L, objetivando estudar essas

variações de sensibilidade à oxidação de acordo com os parâmetros, eles

Page 41: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

25

pesquisaram as características da camada protetora superficial dos óxidos

formados em uma atmosfera de argônio úmido a 1100°C, em tempos de 2,5

minutos a 20 minutos, e puderam constatar distintas características das camadas

de óxidos formados nos dois aços. A Figura 3.9 (a) e (b) mostra a variação na

espessura da camada de óxido do aço AISI 441 nos tempos de 4 minutos a 20

minutos, variando a umidade de 5% a 13%.

Figura 3.9 - Variação da camada de óxido do aço AISI 441. Em (a) microscopia óptica da

seção transversal com a influência da variação do tempo e H2O constante. Em (b)

microscopia óptica da seção transversal com a influência da variação da H2O e o tempo

constante (BADIN et al., 2014).

Foi observado que a camada de óxido do aço AISI316 L era espessa para todos

os tempos e apresentava rupturas no filme de passivação, por formação de óxidos

de ferro na parte externa, e uma mistura de espinélio, Fe, Cr e Ni na parte interna,

considerando os parâmetros utilizados. Os autores concluíram que o percentual

de H2O na atmosfera tinha influência na natureza dos óxidos de ferro formados na

parte externa da película: menor pressão parcial de água formava mais FeO e

maior pressão parcial de água propiciava a formação de Fe2O3 e Fe3O4 na parte

Page 42: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

26

externa, e também propiciava uma menor difusão do Cr através da espessura da

película de passivação.

A difusão do cromo na rede ferrítica é maior em altas temperaturas (PERALDI E

PINT, 2004 apud BADIN et al. , 2014). Essa diferença de difusidade é considerada

a principal causa das diferentes intensidades e formas de oxidação nos dois aços

com a mudança de mecanismos de oxidação. Quando a camada de passivação é

incapaz de inibir a oxidação, cromo suficiente é difundido para a superfície, dando

ao aço AISI 441 maior resistência à corrosão para os parâmetros utilizados no

experimento, com a formação do Cr2O3 na camada principal misturada com (Mn,

Cr)3O4 e presença da fase espinélio com Fe, Mn e Cr na parte externa da camada

de passivação.

O Si e Mn foram considerados essenciais para se evitar a quebra da camada de

passivação durante esse tratamento. A formação do Mn-espinélio na camada

externa inibe a evaporação do óxido de cromo e o SiO2 atua como uma barreira de

difusão do cromo na camada de passivação. Mas isso não explica a diferença nos

modos de oxidação, pois o Si está presente nos dois aços.

Os aços inoxidáveis ferríticos normalmente apresentam elevados teores de

elementos de liga. Esse fato acarreta problemas na sua estabilidade estrutural.

Altos teores de molibdênio e de cromo, nos aços superferríticos, por exemplo,

facilitam a precipitação das fases σ e α’, e ferritas com teores de cromo acima de

18% ficam susceptíveis à chamada fragilização dos 475°C provocada pela

presença da fase α’. Os decrescimentos na tenacidade e na resistência à corrosão

estão diretamente ligados à presença dessas fases nesses aços. Em tratamentos

térmicos de solubilização, pode haver crescimento de grão exagerado, e a difusão

acontece de forma muito mais rápida na ferrita do que na austenita, dessa forma a

ocorrência dos fatos acima citados tornam-se mais acentuados nos aços

inoxidáveis ferríticos do que nos austeníticos (PADILHA, 2002).

3.1.4. Aço Inoxidável Ferrítico AISI 441

O aço inoxidável AISI 441, tem na sua composição química como elementos de

liga estabilizadores da ferrita o Titânio (Ti) e o Nióbio (Nb), uma das aplicações

dessa liga são nos sistemas de exaustão automotivos, por exemplo, na carcaça do

Page 43: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

27

conversor catalítico. O cromo, nióbio e titânio melhoram a resistência à corrosão

sob tensão.

Os aços inoxidáveis ferríticos inicialmente foram estabilizados apenas com titânio

(Ti), mas para uso em sistemas de exaustão automotivo suas propriedades não

foram consideradas adequadas. Pesquisas mostraram que biestabilizando esses

aços com Ti e Nb, suas propriedades foram visivelmente aprimoradas. Aumentou-

se a qualidade superficial, conformabilidade e soldabilidade, melhorou-se a

resistência à fluência e resistência à fadiga térmica e, por fim, elevou-se sua

resistência à oxidação em altas temperaturas e sua resistência à corrosão em

ambientes úmidos (HAU et al., 1996).

Corroborando a afirmação anterior, na medida em que as demandas de aços

inoxidáveis foram aumentando no decorrer do tempo, tornou-se necessário

desenvolver aços com elevada resistência mecânica em altas temperaturas. Aços

inoxidáveis ferríticos apresentam relativamente um baixo coeficiente de expansão

térmica e alguns esforços foram feitos para desenvolver aços inoxidáveis ferríticos

com altas resistências ao escoamento em temperaturas elevadas, especialmente

pela adição de nióbio, que eleva a resistência ao escoamento em altas

temperaturas por meio do endurecimento por solução sólida (FUJITA et al., 2004;

CAIN, 2006; SELLO, 2010).

A presença do Nb e do Ti no aço AISI 441, além de propiciar a formação de

carbonitretos como Nb (C, N), Ti (C, N) e Fe3Nb3C, também pode dar origem à

fase Laves que, no aço AISI 441, possui estequiometria Fe2Nb e estrutura

cristalina hexagonal. O efeito da fase Laves no comportamento mecânico em

elevada temperatura do aço AISI 441 tem sido muito debatido. Alguns autores têm

reportado que o rápido coalescimento da fase Laves em temperaturas elevadas

prejudica a resistência mecânica do aço à tração a quente e à fluência (FUJITA et

al.,2004; MORRIS et al., 2004).

Por outro lado, alguns pesquisadores afirmam que a fase de Laves parece ter um

efeito benéfico na resistência à fluência em altas temperaturas nos aços

inoxidáveis ferríticos, sendo assim um método popular usado para melhorar essa

propriedade (BHANDARKAR, 1975 apud CAIN, 2006). A Tabela 3.6 mostra

algumas composições químicas típicas do aço inoxidável ferrítico AISI 441 e a

Page 44: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

28

Figura 3.10 mostram micrografias com precipitação da fase de Laves em locais

preferenciais.

Tabela 3.6 - Composições químicas típicas do aço AISI 441 (%em peso).

(SELLO, 2010)

Figura 3.10 - Micrografias TEM do aço AISI 441 tratadas à 850°C e depois recozidas à

750°C. Em (a) observa-se a fase de Laves precipitada em contornos de grão e subgrãos.

Em (b) observa-se a fase de Laves nucleada e precipitada em contornos de subgrão.

(SELLO et al., 2010)

De acordo com o trabalho e conclusões de Sello et al. (2010), existem dois

mecanismos independentes de nucleação da fase Laves no aço AISI 441 em duas

faixas de temperaturas diferentes: em temperaturas mais baixas, próximas de

600°C, a nucleação ocorre preferencialmente a partir de discordâncias, já acima

de 750°C, a nucleação da fase de Laves ocorre principalmente nos contornos de

grão. A Figura 3.11 (a) e (b) mostra micrografias TEM e EDX do aço AISI 441,

corroborando o que foi supracitado.

Page 45: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

29

Figura 3.11 - Micrografias TEM e EDX da fase Laves do aço AISI 441 tratado a 850°C por

2 horas e depois recozida por 30 minutos à 600°C. Em (a) destaca-se o contorno de grão

grosseiro com a fase Laves precipitada no contorno. Em (b) a mesma região com

ampliação mostrando fase de Laves precipitada e nucleada a 600°C em contornos de

subgrãos e discordâncias (SELLO et al., 2010).

Na Figura 3.11 (a), pode-se observar fase Laves precipitadas nos contornos de

grãos grosseiros após tratamento a 850°C por duas horas. Na Figura 3.11(b) após

recozimento a 600°C por 30 minutos, com uma ampliação maior, observa-se que

os locais de nucleação da fase de Laves, neste caso, são principalmente em

discordâncias e contornos de subgrãos. Neste mesmo trabalho, na amostra que

foi recozida a 750°C por 30 minutos, o local preferencial de nucleação e

precipitação da fase de Laves foi nos contornos de grão e subgrãos.

Quanto à resistência à oxidação do aço AISI 441, Salgado et al. (2014) estudaram

esta propriedade em atmosfera oxidante com ar sintético, ou seja, ar mais 1ppm

de oxigênio, nas temperaturas de 850ºC a 950ºC, e foi observado que a taxa de

oxidação a 850ºC foi maior que a taxa de oxidação em 950ºC. Esta aparente

anomalia ou contra senso é explicado pela formação da camada de óxido de

cromo em temperaturas mais baixas que, por sua vez, diminuíram a taxa de

oxidação em temperaturas mais altas. Assim concluíram.

Quanto às propriedades mecânicas do aço AISI 441, a Tabela 3.7 mostra algumas

dessas propriedades desse aço biestabilizado com titânio e nióbio.

Page 46: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

30

Tabela 3.7 - Propriedades mecânicas do aço AISI 441 (CAIN, 2006)

Propriedades Nominal

Limite de Resistência 496 MPa

Dureza 155 Hv

Alongamento 28%

Limite de Escoamento 320MPa

(CAIN, 2006)

3.2. Componentes do Sistema de Exaustão Automotivo

O sistema de exaustão é composto de uma parte quente e outra fria. Para a parte

quente é imprescindível que o aço usado apresente resistência mecânica

adequada em altas temperaturas como resistência à fluência, resistência à fadiga

térmica e também resistência à oxidação e à corrosão. Da mesma forma, para a

parte fria do sistema, é necessário que o aço usado apresente resistência à

corrosão, que é causada pela condensação dos gases provenientes da queima do

combustível, pelas impurezas e pelo sal usado no descongelamento de neve

quando nos países frios (INOUE; KIKUCHI, 2003; Di CUNTO 2005; MENEZES

2010).

As partes quente e fria do sistema são subdivididas em sete componentes, cada

qual tem sua função e, para tal, precisam de determinadas propriedades

específicas. Os componentes do sistema de exaustão de um automóvel, como já

apresentado na Figura 1.1, são: coletor de escape, tubo dianteiro, tubo flexível,

catalisador, tubo central, silenciador, tubo de extremidade traseira.

O coletor de escape é o primeiro componente a receber os gases da queima do

combustível e tem a função de direcioná-los para o tubo dianteiro, a temperatura

neste componente alcança 900°C ou mais, dependendo do tipo de motor. Para

suportar este ambiente de trabalho o aço precisa ter excelente resistência à

fluência, corrosão e fadiga térmica. O tubo dianteiro é o próximo componente do

Page 47: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

31

sistema, ele recebe os gases do coletor de escape, e nesta etapa do curso dos

gases é necessário diminuir o ruído e também a radiação de calor para se evitar o

mal funcionamento da atividade catalítica do conversor catalítico. Para satisfazer

estas necessidades, ultimamente estão sendo usados tubos duplos.

Convencionalmente eram usados tubos únicos nesta região do sistema.

O tubo flexível é usado em alguns sistemas de escapamento, ele é posicionado

depois do tubo dianteiro e anteriormente ao conversor catalítico. Tem como

finalidade principal não deixar que a vibração do motor seja transferida para o

resto do sistema de exaustão. Ele é fabricado em tubo duplo em forma de fole e

recoberto com uma malha de arame de aço inoxidável. Como propriedades

mecânicas exigidas para este componente, é esperado resistência à fadiga

térmica, resistência à corrosão e boa trabalhabilidade devido à sua forma

complexa. O próximo componente é o catalisador (Conversor catalítico) que é um

dispositivo que tem o objetivo de amenizar a poluição do ar, de uso obrigatório por

lei. Ele converte alguns poluentes dos gases da exaustão como o monóxido de

carbono (CO) em dióxido de carbono (CO2), óxidos de nitrogênio (NOX) em

oxigênio e nitrogênio. Este componente trabalha também em ambiente de

temperaturas elevadas e altas vibrações, portanto, o aço precisa ter alta

resistência à corrosão, resistência à fadiga térmica.

O tubo central fica entre o catalisador e o silenciador, neste dispositivo a

temperatura dos gases já é mais amena e, por esse motivo, as propriedades

físicas dos aços usados nesta parte do sistema de escape não precisam ser muito

especiais.

Mas, devido à condensação do vapor de água nesta região, é imperativo que o

aço usado neste dispositivo seja resistente à corrosão na superfície interna e, em

países que se usa sal para o descongelamento da neve das estradas, é preciso

que seja resistente à corrosão causada pelo sal na superfície externa. Na

sequência vem o silenciador principal, que é constituído de uma carcaça externa,

placas internas, tubos internos, placas finais e outros componentes. Nele também

há a formação de condensados que contém NH4+, CO3

2-, SO42- e Cl-, estes

condensados são formado principalmente com as partidas e paradas intermitentes

do motor. Devido à presença destes condensados, internamente o ambiente fica

muito úmido e corrosivo e, como no tubo central a superfície externa fica exposta

Page 48: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

32

ao sal de degelo de neve em países frios. Geralmente chapa de aço inoxidável

aluminizada é usada neste componente devido à sua boa aparência e resistência

à corrosão.

E por fim, O tubo final ou ponteira é o último componente do sistema de exaustão,

este fica exposto aos olhos e, por isso um bom acabamento é essencial, mas a

resistência à corrosão não pode ser desprezada, pois o tubo final também precisa

suportar um ambiente úmido devido à condensação do vapor de água. Para

satisfazer as exigências deste componente são usados aços inoxidáveis

austeníticos, aço cromado ou aluminizado por imersão a quente (INOUE;

KIKUCHI, 2003; Di CUNTO 2005; MENEZES 2010; FARIA 2006).

3.3. O Fenômeno de Fluência

Fluência é um fenômeno caracterizado pela deformação progressiva de um

material sob tensão constante, onde ocorre uma variação nas dimensões no corpo

do material exposto a temperaturas elevadas durante um determinado período de

tempo.

O comportamento anelástico do material é conhecido como fluência e grande

parte das falhas em alta temperatura é atribuída a ela, ou a uma combinação de

fluência e fadiga. A fluência é caracterizada por um escoamento relativamente

lento do material submetido a um carregamento estático em temperatura elevada,

geralmente acima de 30% da temperatura de fusão do material (MEYERS,

CHAWLA, 1981).

Apesar de o material resistir inicialmente aos esforços que estão atuando sobre

ele, a deformação anelástica acontece e, consequentemente, suas dimensões

iniciais são alteradas.

Em ambientes de trabalho com temperaturas elevadas, a resistência mecânica

dos metais diminui devido ao aumento rápido da mobilidade dos átomos, onde os

processos controlados por difusão podem ter um efeito muito significativo no

fenômeno de fluência. Outros mecanismos de deformação ou sistemas de

deslizamento aparecem quando o metal é submetido a altas temperaturas

Page 49: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

33

combinadas a tensões mecânicas elevadas. Um exemplo disso é o

escorregamento nos contornos de grão que pode ser atuante na fluência dos

metais (DIETER, 1986).

A exposição por um tempo prolongado dos metais e ligas a temperaturas

elevadas, segundo DIETER (1986), pode interferir na estabilidade metalúrgica, por

exemplo, nos aços trabalhados a frio podem ocorrer a recristalização, oxidação

intergranular ou crescimento de grãos que, consequentemente, afetarão suas

propriedades mecânicas.

DIETER (1986) afirma que Andrade (1914), um dos pioneiros pesquisadores

dedicados ao estudo da fluência, foi quem fez as curvas de fluência e as dividiu

em três estágios. A Figura esquemática 3.12 mostra esses estágios: 1) Estágio

primário ou transiente; 2) Estágio secundário, de taxa constante, ou quase

constante; 3) Terciário. Estes estágios serão discutidos a seguir:

Figura 3.12 - Curvas de fluência e seus estágios (Adaptado de SANTOS, 2007).

No estágio primário, a velocidade de fluência diminui com o passar do tempo, isto

acontece devido ao aumento progressivo da resistência do material com sua

própria deformação, ou seja, o fenômeno de encruamento começa a operar, por

isso a curva se mostra mais verticalizada no primeiro intervalo.

Page 50: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

34

No estágio secundário, a velocidade de fluência permanece aproximadamente a

mesma ou constante com o tempo, por isso é também denominado estágio

estacionário ou taxa de fluência mínima. Esta região do gráfico corresponde à

região de inflexão da curva. Os estudos sobre fluência buscam calcular valores de

ε para o estágio secundário a partir de mecanismos de microdeformação no

material.

Nessa etapa, ocorre uma competição entre os mecanismos de encruamento e

recuperação da estrutura das discordâncias formadas no material. Nesse estágio

da fluência o processo é ativado individualmente e pode ser expresso por uma

equação de taxa do tipo Arrhenius 𝜀s = Ae-Q/RT

.

No estágio terciário a velocidade de fluência aumenta rapidamente com o tempo

até a fratura. Este estágio ocorre com maior predominância nos ensaios de

fluência a carga constante comparado aos de tensão constante, estabelecendo-se

com maior antecedência em altas tensões e temperaturas elevadas (DIETER,

1986; MEYERS e CHAWLA, 1982).

3.3.1. Mecanismos de deformação por fluência

Os principais mecanismos que operam na deformação por fluência nos metais são

os mecanismos difusionais e mecanismos por movimentação de discordância.

O mecanismo de movimentação de discordância envolve o deslocamento das

mesmas ao longo de planos de deslizamentos e obstáculos da rede cristalina. Ele

é ativado termicamente e ocorre sob alta tensão (𝜎/G >10-²). Nesse mecanismo o

tamanho de grão não tem grande influência (Dieter, 1986).

Conforme afirmam Meyers e Chawla (1981), são diversos os mecanismos que

podem ser responsáveis pela fluência e o que domina depende da tensão aplicada

e da temperatura. Para uma visualização do que foi antes dito, a Figura 3.13

mostra um mapa de deformação do níquel puro, onde a faixa de dominância de

cada mecanismo de fluência predomina de acordo com a temperatura e a tensão

aplicada.

Page 51: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

35

Figura 3.13 - Mapa de deformação por fluência do níquel puro (Adaptado de GROTE e

ANTONSSON, 2009).

Para temperaturas menores que 0,5 Tf (Tf é a temperatura de fusão), a energia de

ativação para fluência tende a ser menor do que a energia de ativação para

autodifusão. Esse efeito é devido à difusão que se dá preferencialmente ao longo

das discordâncias, e não por meio de difusão volumétrica uniforme no material

(MEYERS E CHAWLA, 1981).

Neste mecanismo não há o movimento de discordâncias, ele se dá pelo

movimento dos átomos e vacâncias dentro da rede cristalina sujeita a uma tensão.

O movimento ou fluxo de átomos acontece das áreas sob compressão para as

áreas sob tração. O mecanismo de deformação por deslizamento é ativado

termicamente, onde a superação das barreiras se dá pela difusão de vacâncias e

de átomos (10-4 <𝜎/G<10-2), afirma Dieter (1986).

A fluência difusional se subdivide em fluência Nabarro-Herring, Coble e Harper-

Dorn e serão melhor elucidadas a seguir:

Page 52: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

36

3.3.2. Mecanismo Nabarro-Herring

No mecanismo de Nabarro-Herring, a fluência se dá pelo fluxo de lacunas no

interior do grão, em uma faixa de temperatura T>0,5 Tf e 𝜎/𝐺 ≌ 10-4, as vacâncias

se movimentam de tal maneira que promovem um aumento no comprimento do

grão na direção da tensão aplicada, ou seja, as vacâncias se movimentam do

campo de tração para o campo de compressão e os átomos se difundem em

sentido contrário, esta movimentação causa uma reorientação e mudança de

forma nos grãos (MEYERS E CHAWLA, 1981).

3.3.3. Mecanismo Coble

No mecanismo de Coble, também em uma faixa de temperatura T> 0,5 𝑇f e 𝜎/𝐺 ≌

10-4, a difusão se dá pelos contornos de grão e não pela rede cristalina. Dessa

maneira, há um deslizamento dos contornos de grão. Se um risco extremamente

pequeno e perfeito for feito sobre um corpo de prova anteriormente ao ensaio, ele

se transformará em uma série de segmentos com descontinuidades nos contornos

de grão após o ensaio (DIETER, 1986).

Corroborando o que foi supracitado, Meyers e Chawla (1981) comentam que se o

tamanho de grão for aumentado, pode-se obter uma liga com alta resistência à

fluência, essa prática é usada em superligas e um extremo cuidado tem que ser

dispendido, por exemplo, na fabricação de aletas de turbinas monocristalinas pelo

processo de solidificação direcional. A Figura 3.14 apresenta uma evidência da

movimentação de um contorno de grão.

Page 53: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

37

Figura 3.14 – MET- Evidência micrográfica da movimentação do contorno de grão

(Callister, 2001).

Nas tensões entre 10-4≲ 𝜎/𝐺 ≲ 10 -2 o mecanismo de fluência ativo é o

deslizamento de discordância e a escalagem de discordâncias assistida pela

difusão de lacunas.

Corroborando a escrita acima, Evans e Wilshire (1993) apud Faria (2006),

comentaram em suas pesquisas que dois principais mecanismos de fluência

existem: difusão (escorregamento de contornos de grão) onde consequentemente

o tamanho dos grãos interfere na resistência à fluência e movimento de

discordâncias (associação de discordâncias e obstáculos, por exemplo,

precipitados).

3.3.4. Mecanismo Harper-Dorn

No mecanismo de fluência Harper-Dorn, basicamente é discutido o processo de

migração de vacância pelo núcleo de discordâncias em cunha que estão dispostas

paralelamente ao vetor de Burgers e com a tensão perpendicular ao vetor. Neste

processo, a deformação se dá na rede cristalina e não acontece o acúmulo de

matéria nos contornos de grão, e a taxa de deformação é proporcional à

densidade de discordância e à tensão aplicada (NABARRO, 1948 apud SANTOS,

2007).

Page 54: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

38

O mecanismo que controla a taxa de fluência em Harper-Dorn é influenciado pela

mobilidade de discordâncias. Segundo Frost et al., (1982) e Yavari et al,, (1981), a

presença de precipitados implicaria em forte diminuição da deformação por

fluência, pois, a restrição à mobilidade das discordâncias proporcionaria uma

redução na taxa de formação de lacunas, dificultando os processos difusionais. A

Figura 3.15 mostra uma região de contorno de grão com uma região onde teria

ocorrido multiplicação de discordâncias.

Figura 3.15 –MET- Multiplicação de discordâncias (CIMM, 2021).

Em uma pesquisa realizada por Faria (2006), foi constatado que, para os aços

inoxidáveis ferríticos monoestabilizados com Nb e biestabilizados com Nb e Ti

submetidos ao ensaio de “SAG TEST”, o único mecanismo que atua na

deformação por fluência na temperatura de 850ºC é a movimentação de

discordâncias, visto que pela ausência de precipitados não houve barreira para a

movimentação de discordâncias atuar, principalmente no aço 16Cr5Ti que teve

seu tamanho de grão bastante aumentado e, mesmo assim, teve a maior

deformação no ensaio de Sag Test. A Figura 3.16 mostra a microestrutura com os

poucos precipitados e seu tamanho de grão.

Page 55: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

39

Figura 3.16 – MO - MICROGRAFIA DO AÇO 16CR5TI (FARIA, 2006).

Já na temperatura de 950ºC, os mesmos aços apresentaram os dois mecanismos

de deformação, tanto movimentação de discordâncias como difusão, sendo que a

movimentação de discordâncias foi mais acentuada. Os aços inoxidáveis ferríticos

monoestabilizados apresentaram baixo percentual de precipitados tanto no interior

quanto principalmente nos contornos de grão, onde pôde ser observado o

mecanismo por difusão, devido ao pequeno tamanho de grão alcançado

principalmente no aço 16Cr4Nb, que sofreu maior deformação por fluência. A

Figura 3.17 mostra o crescimento médio dos grãos submetidos ao ensaio de Sag

Test a 850ºC e 950°C.

Page 56: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

40

Figura 3.17 - Crescimento médio dos grãos no ensaio SAG TEST a 850°C e 950°C

(FARIA 2006).

No caso dos aços inoxidáveis ferríticos biestabilizados, com a presença de

pequenos precipitados preferencialmente nos contornos de grão, o mecanismo de

movimentação de discordância foi mais atuante no incremento da resistência à

fluência, principalmente no aço 18Cr1Ti6Nb (FARIA, 2006).

Em outro estudo de caso realizado pela pesquisadora Cain (2005), foram usados

dois aços inoxidáveis ferríticos AISI 441 com teores de Nb diferentes, e os outros

elementos de liga aproximadamente iguais, sendo que, um dos objetivos do

trabalho seria responder às principais diferenças ou discrepâncias nos resultados

de dois métodos “TWO-POINT BEAM SAG TEST” e o “CANTILEVER SAG TEST”,

e quais mecanismos de fluência estariam sendo acionados no fenômeno de

fluência no ensaio de Sag Test.

Os ensaios foram executados após as amostras serem tratadas termicamente

para se obter a melhor microestrutura para as melhores resistências à fluência, ou

seja, melhor tamanho de grão, melhor distribuição de precipitados e/ou

endurecimento da solução sólida. O estudo foi desenvolvido com duas amostras: a

amostra A contendo 0,47% de nióbio e a amostra B contendo 0,74%.

No tratamento térmico foi usado o tempo de 200 segundos de encharque e

variaram-se as temperaturas em 950ºC, 1000ºC e 1050ºC para as duas ligas em

Page 57: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

41

questão, antes do ensaio Sag Test. A Tabela 3.8 mostra o efeito do tratamento

térmico no tamanho médio dos grãos nos dois aços.

Tabela 3.8 - Tamanho médio dos grãos das ligas A e B.

TEMPERATURA TAMANHO MÉDIO DOS GRÃOS

LIGA A (µm) LIGA B (µm)

950°C 21 ± 2 18 ± 3

1000°C 46 ± 5 22 ± 3

1050°C 52 ± 9 29 ± 4

(CAIN, 2005)

Pode-se observar, a partir dos números da Tabela 3.8, que os grãos da liga A têm

um tamanho consideravelmente maior que a liga B. A Figura 3.18 mostra a

micrografia das duas ligas tratadas termicamente a 1050ºC por 200 minutos, onde

pode-se observar as microestruturas de ambas.

Figura 3.18 – MO - Micrografia das duas ligas tratadas a 1050ºC (CAIN 2005).

Page 58: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

42

No ensaio do “cantilever Sag test” foram usadas cargas leves de 5MPa, 10MPa e

15MPa. Já a temperatura foi de 850ºC nos dois ensaios. A Figura 3.19 resume as

discrepâncias encontradas nos resultados dos dois métodos.

Figura 3.19 - Comparação dos dois métodos de ensaio de fluência (CANTILEVER E 2

PONTOS) (CAIN, 2006).

Pode-se observar na Figura 3.19 uma discrepância bastante acentuada nos

resultados adquiridos no Sag Test de dois pontos em comparação com os

resultados do Sag Test cantilever. Para o método de dois pontos, a deflexão

média foi de 3,4mm, enquanto a deflexão média para método cantilever foi de

5mm.

Os resultados do Sag Test cantilever parecem ser mais consistentes segundo a

autora, principalmente quando se observa a discrepância dos valores das

amostras 12,13,14 e 15 do método de dois pontos, que parecem estar

discrepantes em relação aos outros resultados. Estes resultados podem ter tido

interferências de atrito dos suportes das amostras, afirma Cain (2005).

Resumindo, quanto aos resultados, pôde-se concluir que a resistência à fluência

foi aumentando à medida que a temperatura do tratamento térmico foi se

elevando. Segundo a autora, uma das possíveis causas para esta melhora de

Page 59: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

43

resistência, pode ser parcialmente atribuída pelo reforço por solução sólida pelo

Nb dissolvido durante o tratamento em alta temperatura, assim como pela

precipitação do excesso de Nb, acima do limite de solubilidade, que se precipita

em partículas muito finas de fase de Laves (Fe2Nb), o que resulta em aumento de

resistência em alta temperatura. A Figura 3.20 mostra este aumento de resistência

como uma função da temperatura de tratamento (CAIN, 2005).

Figura 3.20 - Comparação do comportamento em fluência cantilever sag test das ligas A e

B submetidas a 15MPa (CAIN 2005).

Por outro lado, os resultados apontam que a liga A tem maior resistência à

fluência que a liga B. Apesar de ter menor teor Nb em sua composição, a liga A

gerou um tamanho médio de grãos bem superior que a liga B em todos os

tratamentos, por isso a explicação agora para a maior resistência à fluência da liga

A passa a ser avaliada a partir do tamanho de grão.

A liga B apresentou um menor crescimento de grão, provavelmente por seu maior

teor de Nb, que dificulta o crescimento seja por arraste de soluto em solução

sólida, ou pelo ancoramento de contornos de grãos quando precipitado. A liga A

teve tanto o tamanho de grão quanto a resistência à fluência significativamente

superior à liga B, especialmente nas temperaturas de tratamento térmico de 950ºC

e 1000ºC. Já nas temperaturas entre 1000ºC e 1050ºC, tanto a diferença da

resistência à fluência quanto a diferença do tamanho de grão foram menores.

Page 60: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

44

No tratamento a 1050ºC, as resistências à fluência das duas ligas são muito

parecidas, indicando que a temperatura do tratamento térmico ideal para as duas

ligas é próxima de 1050ºC, embora a liga A seja um pouco superior (CAIN, 2005).

Quanto à fluência nos aços inoxidáveis austeníticos, a baixa resistência mecânica

desses aços vem desafiando a indústria por longo tempo. Nos aços, os

precipitados se caracterizam por uma segunda fase que se forma quando alguma

condição de contorno é alterada no sistema termodinâmico e a solubilidade

máxima de algum elemento químico é atingida. Entre essas condições de

contorno, pode-se citar como as mais importantes: composição química,

temperatura e pressão. Ao se pensar em aplicações em aços no estado sólido, a

condição de contorno mais comumente alterada é a temperatura. Assim sendo,

uma vez que a composição química e a pressão são mantidas constantes, com o

abaixamento da temperatura, haverá restrições à solubilidade de elementos em

solução sólida.

O carbono no AISI 304 está em solução, enquanto que no AISI 321 está

combinado na forma de carbonitretos TiC e Ti(C,N), evitando-se

consideravelmente a sensitização e corrosão intergranular. Porém, o AISI 321 é

inferior ao AISI 304 quando se trata de resistência à tração em todas as

temperaturas (MOURA 2007 apud NKHOMA, 2014).

Quanto ao crescimento de grão, se a temperatura estiver abaixo da Tcg

(temperatura crítica de crescimento de grão) os precipitados impedem o seu

crescimento, já com a temperatura acima da Tcg, devido ao coalescimento e

dissolução das partículas de precipitados, observa-se o crescimento anormal dos

grãos e, em temperaturas altas, grãos grosseiros são formados a partir dos grãos

pré-existentes e, seu crescimento assemelha-se ao crescimento normal de grãos

(SILVA, 2007).

Na pesquisa realizada por Silva (2007), constatou-se que, na temperatura de

1200ºC, 81% do carbono do aço AISI 347, estabilizado com nióbio, estava

combinado com o nióbio na forma de NbC, já o aço AISI 321, estabilizado com Ti,

apenas 23% do carbono estava na forma de TiC. Visto que o TiC puro é mais

estável que o NbC puro. Essas estabilidades dos carbonetos nos aços inoxidáveis

austeníticos se invertem, ou seja, o Nb consegue se manter ligado ao carbono

Page 61: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

45

mais que o Ti. Uma possível explicação para tal inversão seria uma maior

atividade do Nb nos aços inoxidáveis austeníticos devido às interações

eletrostáticas e covalentes entre os íons.

Os aços inoxidáveis austeníticos AISI 321 e AISI 347, além do que foi acima

citado, possuem uma baixa concentração de nitrogênio, abaixo de 0,15%, que ao

combinar-se com o carbono e outros elementos de liga formam nitretos e

carbonitretos (TiN e TiCN no aço AISI321) que podem interferir na cinética de

crescimento de grão por causa da sua grande estabilidade termodinâmica e, por

vezes, em suas propriedades mecânicas (SILVA, 2007).

3.4. Precipitação em Aços Inoxidáveis

Os precipitados são formados quando a temperatura de uma solução é diminuída,

essa temperatura varia de acordo com a composição química e a pressão do

sistema, isto acontece porque a solubilidade de um elemento (soluto) em outro

(solvente) é afetada diretamente pela temperatura na qual solução se encontra.

Assim, com a diminuição da temperatura, um ou mais elementos precipitam-se,

tornando-se sólidos. Conforme o que se almeja em termos de propriedades de um

aço, os precipitados podem ser de grande importância para se conseguir chegar a

um resultado esperado e, por outro lado, existem também aqueles resultados

indesejados. Os precipitados na matriz de uma liga geram distorções locais na

rede cristalográfica e campos de deformações que dificultam a mobilidade das

discordâncias (MEYERS e CHAWLA, 1982).

A influência dos precipitados nas propriedades mecânicas de um dado material

está relacionada diretamente com as suas dimensões, espaçamento, resistência

mecânica e da fração existente desses precipitados na matriz. Por servirem de

obstáculos à movimentação de discordâncias, os precipitados podem, por

exemplo, melhorar a resistência mecânica da liga que foi tratada termicamente

para tal fim. A precipitação de uma segunda fase a partir de uma solução sólida

supersaturada é, na prática, uma técnica de endurecimento bem versátil e comum

(MEYERS e CHAWLA, 1982).

Page 62: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

46

Existem três grupos de aços endurecíveis por precipitação: aços inoxidáveis

austeníticos, aços inoxidáveis semiausteníticos e martensíticos. Para se obter o

endurecimento por precipitação desses aços, primeiro tem que se ter um

cuidadoso balanço da composição química e depois o endurecimento é obtido por

dois mecanismos diferentes, onde a austenita é transformada em martensita e, em

seguida, precipita-se compostos intermetálicos por meio do tratamento térmico de

envelhecimento (PECKNER et al, 1977).

O tratamento térmico de endurecimento por precipitação é subdividido em três

etapas, a saber:

1-Solubilização: A liga é aquecida na região monofásica e é mantida nesta

temperatura por um tempo suficiente para a dissolução de todos os precipitados

solúveis.

2-Resfriamento brusco: A liga é resfriada rapidamente até a temperatura ambiente

ou a uma temperatura inferior, para que não haja o crescimento de precipitados

estáveis e, desta forma, consegue-se a obtenção de uma solução sólida

supersaturada.

3-Envelhecimento: Para se obter uma estrutura de transição em fina escala, é

preciso deixar o material à temperatura ambiente ou mais alta por um período de

tempo específico, este processo é chamado de tratamento de envelhecimento.

Os precipitados que são formados em ligas que passam por um tratamento

térmico de envelhecimento podem ser coerentes com a matriz da liga,

semicoerentes ou incoerentes. Os átomos dos precipitados coerentes têm uma

correspondência direcional com os átomos da matriz, já para os átomos dos

precipitados semicoerentes há apenas uma correspondência parcial com os

átomos da matriz e, por fim, nos precipitados incoerentes seus átomos não têm

correspondência nenhuma com os átomos da matriz.

Os precipitados podem influenciar de forma benéfica ou não em propriedades

físicas e metalúrgicas dos aços e são objetos de estudo dos pesquisadores como

é mostrado em uma pesquisa realizada por Li et al. (2018) em um aço inoxidável

ferrítico Fe-19Cr-2Mo-Nb-Ti. Eles afirmam que, com o aumento das temperaturas

de recozimento de 850°C para 1050°C, os contornos de grão de baixo ângulo

evoluem para contornos de grão de alto ângulo, e os precipitados mais finos, tipo

Page 63: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

47

fase de Laves (FeCrSi)2 (MoNb) e (Fe, Cr)2 (Nb, Ti), são transformadas em

precipitados mais grosseiros (Nb, Ti) e (C, N), enfraquecendo o efeito que os

precipitados exercem na limitação do crescimento de grão. A quantidade de Nb

em solução sólida pode aumentar a partir da dissolução da fase de Laves e

engrossamento dos precipitados, deteriorando a capacidade de endurecimento da

solução sólida.

Estudos revelam que em aços inoxidáveis duplex, onde se tem uma estrutura

formada por frações aproximadamente iguais de austenita e ferrita, precipitados

ocorrem preferencialmente dentro da ferrita, como é o caso da fase α’, onde

estudos do processo de precipitação em temperaturas de 300°C a 1000°C têm

sido realizados. No trabalho de Borba (2008), houve a constatação da precipitação

da fase α’ entre as temperaturas de 550°C e 600°C e especificamente à

temperatura de 550°C, aproximadamente 20% da ferrita original foi transformada

em α’, isto ficou constatado pelo aumento da dureza em relação à amostra

solubilizada e também pela diferença que se observou entre as frações

volumétricas de ferrita obtidas por ferritoscópio e por esteriologia quantitativa

(BORBA, 2008).

Alguns tipos de fases intermetálicas podem ser extremamente prejudiciais às

propriedades mecânicas como também comprometer a resistência à corrosão dos

aços inoxidáveis, o precipitado Fe, Cr, Mo conhecido como fase σ, gera efeitos

indesejáveis tais como diminuição do limite de escoamento, da tenacidade e do

alongamento (SOKEI et al., 2004).

A precipitação da fase σ, como afirma Sokei et al. (2004), nos aços inoxidáveis

austeníticos se dá em regiões de alta energia, como pontos triplos de contornos

de grãos e junto aos carbonetos e nitretos devido à fase σ ter dificuldade de

nucleação homogênea.

Por ser a ferrita uma fase metaestável na temperatura em que a fase σ se

precipita, ocorre uma transformação eutetóide, onde a ferrita se decompõe em σ

mais austenita preferencialmente nas interfaces ferrita/austenita e também pode

ocorrer nucleação nos contornos de subgrãos ferrita/ferrita e contornos de alta

energia ferrita/ferrita (GUNN, 2003 apud MENDONÇA, 2014).

Page 64: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

48

Nos aços inoxidáveis austeníticos onde o Nb e Ti fazem parte da composição

química, os carbonetos formados por esses elementos são mais solúveis na

austenita do que os carbonetos de cromo, isto é importante para a não formação

ou minimização da nucleação do Cr23C6 devido ao fenômeno de sensitização

(SILVA, 2007; CHIAVERINI,2008).

Em temperaturas mais elevadas, por volta de 1050ºC, os NbC e TiC possuem

uma certa solubilidade na austenita, precipitando, portanto, em temperaturas mais

baixas. Por isso, nem sempre formam dispersões inertes e, consequentemente,

têm uma redistribuição por tratamento térmico. Têm, no entanto, grandes

vantagens de não empobrecer as regiões sensíveis como nos contornos de grão

do elemento Cr, bem como possibilitam o endurecimento por dispersão dos aços

austeníticos, visto que estas dispersões permanecem muito finas dentro de uma

faixa de temperatura entre 500°C-750ºC, com consequente aumento de

resistência à fluência (HONEYCOMB, 1995).

Page 65: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

49

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Materiais

Chapas dos aços AISI 321 e AISI 441 com espessuras de 2mm foram gentilmente

cedidas pela Empresa Aperam South America para o desenvolvimento desse

estudo. A Tabela 4.1 apresenta a especificação química dos referidos aços

segundo a norma DIN EN10088-1 (DIN EN, 2014).

Tabela 4.1 – Especificação química dos aços inoxidáveis AISI 321 e AISI 441 (% em

peso).

Aço C

(Máx.)

Mn

(Máx.)

P

(Máx.)

S

(Máx.)

Si

(Máx.)

Cr

(Máx.)

Ni

(Máx.)

Outros

Elementos

AISI

321 0,08 2,00 0,040 0,030 0,75

17,0-

20,0

9,0-

13,0

Ti = 5xC = 0,70

(Máx.)

AISI

441 0,03 1,00 0,040 0,015 1,00

17,5-

18,5 0,3

(3xC+0,3) -1,00

Nb; 0,10-0,60 Ti

(DIN EN, 2014)

4.2. Procedimentos Experimentais

4.2.1. Caracterização do Estado de Entrega

CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA

A análise química dos aços estudados nesse trabalho foi feita com o auxílio de

três equipamentos: LECO–CS844 (determinação das concentrações de carbono e

enxofre por absorção de infravermelho após fusão), LECO–TC436DR

(determinação da concentração de nitrogênio por termocondutividade após fusão)

e Thermo ARL-4460 (determinação da concentração dos demais elementos por

espectrometria de emissão ótica).

Page 66: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

50

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL

Amostras representativas da seção longitudinal do estado de entrega dos aços

avaliados nesse estudo foram submetidas a procedimentos padronizados de

lixamento e polimento, conforme orienta a norma ASTM E3 (ASTM, 2017). O Aço

AISI 321 foi eletroliticamente atacado com reativo à base de álcool etílico e ácido

nítrico com concentração de 60% (tensão 2V, corrente de 0,2A e tempo de ataque

de 40s). O aço AISI 441 foi eletroliticamente atacado com o reativo aquoso de

ácido oxálico com concentração de 10% (tensão 2V, corrente de 0,1A e tempo de

ataque de 60s).

Para a caracterização microestrutural e obtenção das imagens das

microestruturas, foram utilizados o microscópio óptico LEICA DM 2700 M e o

microscópio eletrônico de varredura (MEV) VEGA-3 da marca da TESCAN,

acoplado a um detector de energia dispersiva (EDS) da Oxford Instruments. Os

tamanhos médios de grão dos aços foram medidos por meio da aplicação do

método automático do diâmetro equivalente médio, padronizado pelas normas

ASTM E112 e ASTM E1382, com 95% de confiança (ASTM E112, 2012; ASTM

E1382, 2015).

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA

Para a caracterização mecânica dos materiais estudados, ensaios de dureza

Vickers e de tração foram realizados. Para a realização dos ensaios de dureza,

duas metodologias foram adotadas: 1) ensaios de dureza Vickers globais, onde

dez medidas aleatórias foram feitas em amostras representativas dos dois aços

para a obtenção da dureza média dos materiais. Para isso, foi utilizado um

durômetro WOLPERT; 2) dois perfis de microdureza Vickers foram executados ao

longo da espessura das chapas com o objetivo de avaliar a homogeneidade dos

materiais. Para esse fim, foi utilizado um microdurômetro PANTEC com carga de

100gf e passe entre endentações de 0,12mm.

Para a realização dos ensaios de tração, para cada aço no estado de entrega, três

corpos de prova de seção útil retangular com comprimento útil de 30mm e área de

seção transversal de 12mm2(ASTM E8/E8M, 2016) foram usinados e ensaiados

Page 67: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

51

em uma máquina servo-hidráulica MTS com taxa de deslocamento de pistão de

2mm/min.

4.2.2. Ensaios de Fluência pela Metodologia Sag Test

Os ensaios de fluência Sag Test foram realizados no Laboratório de Tratamentos

Térmicos e Microscopia Óptica – LTM/DEMET. Esta metodologia de ensaio foi

desenvolvida pioneiramente no Centre Recherche Isberguers (França) (Faria,

2006). O ensaio consiste em colocar corpos de prova planos, com dimensões

padronizadas, fixos em 4 pontos de suas extremidades em um dispositivo

denominado Sag Test, onde é necessário que haja espaço para os corpos de

prova se deformarem sem tocar nas superfícies do dispositivo. Para cada

condição de tempo e temperatura, são ensaiados três corpos de prova para

determinação da flecha média de fluência. As dimensões padronizadas dos corpos

de prova e do suporte são apresentadas na Figura 4.1 (a) e uma imagem

esquemática do dispositivo montado com um corpo de prova posicionado para

ensaio é apresentada na Figura 4.1 (b).

Figura 4.1 - (A) geometria e dimensões dos corpos de prova e suportes para ensaios de

fluência (base de medida em mm); (B) dispositivo Sag Test com corpo de prova

posicionado para ensaio.

Page 68: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

52

No presente trabalho, este dispositivo, com os corpos de prova devidamente

posicionados, foi levado a um forno tipo mufla modelo Linn do fabricante Elektro

Therm com uma temperatura pré-definida e lá permaneceu por intervalos de

tempo pré-determinados. Nesse estudo, as temperaturas avaliadas foram 900°C,

950°C e 1000°C e os intervalos de tempo investigados foram 5h, 25h, 50h e 100h.

Após o tempo de residência dos corpos de prova nas isotermas, eles foram

removidos do interior do forno e, após o resfriamento ao ar, suas flechas foram

medidas com o auxílio de um micrômetro. A Figura 4.2 (a) apresenta uma

fotografia do dispositivo Sag Test com corpos de prova posicionados após a

realização de um ensaio. A Figura 4.2 (b) é uma imagem esquemática que ilustra

a flecha de fluência.

Figura 4.2 - (A) fotografia de corpos de prova ensaiados e ainda posicionados no

dispositivo Sag Test; (B) esquema ilustrando a flecha de fluência em um corpo de prova.

Após a realização dos ensaios Sag Test e medição das flechas médias, foi feita a

caracterização microestrutural (com medição do tamanho médio de grão) e

mecânica (microdureza), para cada aço, de duas amostras submetidas às

condições de ensaio que propiciaram os comportamentos em fluência mais

distintos, ou seja, que tiveram as menores e maiores flechas. Destaca-se que os

Page 69: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

53

procedimentos experimentais de caracterização microestrutural e de medição de

microdureza aqui empregados foram os mesmos já descritos no item 4.2.1.

4.2.3. Tratamentos Isotérmicos de Crescimento de grão

Com o objetivo de avaliar o efeito exclusivo de tratamentos isotérmicos sobre o

crescimento de grão nos aços estudados, amostras de ambos foram submetidas a

três isotermas nas temperaturas de 900°C, 950°C e 1000°C. Para cada

temperatura, quatro intervalos de tempo foram investigados: 5h, 25h, 50h e 100h.

Para esse fim, um forno tipo mufla Lavoisier foi pré-aquecido em cada uma das

referidas temperaturas. Uma vez que o forno ficou estável, quatro amostras de

cada aço foram introduzidas. Uma vez que o controlador do forno voltou a se

estabilizar, um cronômetro foi utilizado para a marcação dos quatro intervalos de

tempo acima mencionados. Cada uma das amostras foi removida do forno após

decorrido um dos intervalos de tempo e foi resfriada ao ar.

Cada uma das amostras isotermicamente tratadas foram microestruturalmente

caracterizadas e os tamanhos médios de grão foram medidos seguindo os

mesmos procedimentos já apresentados no item 4.2.1. Para cada um dos aços,

curvas de tamanho de grão em função da temperatura e tempo de tratamento

isotérmico foram traçadas. Com base nos dados obtidos, uma condição de

tratamento isotérmico foi proposta para ser aplicada a cada um dos aços

estudados, com o objetivo de promover crescimento de grão em corpos de prova

de fluência Sag Test ainda não ensaiados. O objetivo desta etapa do estudo foi

investigar se grãos previamente crescidos iriam influenciar significativamente o

comportamento em fluência dos aços avaliados.

4.2.4. Efeito do Crescimento de Grão Sobre o Comportamento em

Fluência Sag Test nos Aços Estudados

Com o objetivo de avaliar se o crescimento de grão foi um mecanismo eficiente

para melhorar o desempenho em fluência dos aços estudados, corpos de prova

dos dois aços, não ensaiados, foram submetidos a uma condição de tratamento

Page 70: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

54

isotérmico para promover o crescimento de grão. Essa condição foi definida a

partir dos resultados obtidos com os experimentos descritos no item 4.2.3.

Os corpos de prova de cada aço, termicamente tratados, foram submetidos a uma

condição de ensaio de fluência Sag Test no forno de resistência tipo mufla da

marca Elektro Therm, modelo Linn do Laboratório de Tratamentos Térmicos e

Microscopia Óptica (LTM/DEMET). As condições do ensaio de fluência Sag Test

(tempo e temperatura) foram aquelas que, nos experimentos descritos no item

4.2.2, propiciaram o pior desempenho dos aços avaliados.

A caracterização dos corpos de prova ensaiados nessa etapa foi feita seguindo os

mesmos procedimentos descritos no item 4.2.1.

Page 71: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

55

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Análise química

A Tabela 5.1 apresenta a composição química dos aços estudados nesse

trabalho. Pode-se observar que eles atendem às especificações AISI 321 e AISI

441 segundo a norma DIN EN10088-1 (2014).

O aço identificado como AISI 321 caracteriza-se pelo elevado teor de Ni, elemento

que contribui fortemente para a estabilização da fase austenita em uma larga faixa

de temperatura que inclui a ambiente. Deve-se destacar também a significativa

adição de Ti como elemento estabilizante, o que faz desse aço uma boa opção

para aplicações que envolvam altas temperaturas, uma vez que garantirá a ele

baixa susceptibilidade à corrosão intergranular (PAYER et al., 1975; SCHWIND et

al., 2000). A concentração de Nb nesse aço (0,012%) não é elevada o suficiente

para ativar o seu efeito como elemento estabilizante. A norma DIN 10088-2

especifica que, para compor efeito estabilizante nesse aço, a concentração de Nb

deveria ser três vezes o teor de carbono do aço mais 0,3%, ou seja, deveria ser

pelo menos 0,33% (DIN EM 10088-1, 2014).

O aço identificado como AISI 441 é um aço inoxidável ferrítico estabilizado ao Ti e

Nb. A presença desses elementos nesse aço, além de propiciarem a formação de

carbonitretos como Nb(C,N), Ti(C,N) e Fe3Nb3C, também pode dar origem à fase

Laves que, no aço AISI 441, possui estequiometria Fe2Nb e estrutura cristalina

hexagonal. O efeito da fase Laves no comportamento mecânico em elevada

temperatura do aço AISI 441 tem sido muito debatido. Alguns autores têm

reportado que o rápido coalescimento da fase Laves em temperaturas elevadas

prejudica a resistência mecânica do aço à tração a quente e à fluência (FUJITA et

al., 2004; MORRIS et al., 2004).

Page 72: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

56

Tabela 5.1 – Composição química dos aços inoxidáveis estudados nesse trabalho (% em

peso).

Aço C Mn P S Si Cr Ni Ti Nb Mo N2

(p.p.m.)

AISI

321 0,01 0,82 0,03 0,001 0,50 17,0 9,0 0,149 0,012 0,06 118

AISI

441 0,01 0,22 0,03 0,0004 0,45 17,6 0,29 0,135 0,392 0,03 123

5.2 Análises Microestrutural do Estado de Entrega

A Figura 5.1 apresenta micrografias do aço AISI 321 em seu estado de entrega.

Como esperado, observa-se uma microestrutura austenítica homogênea, com

grãos poligonais de tamanho médio (19±6)μm. Percebe-se ainda a presença de

carbonitretos, alguns deles relativamente grosseiros com morfologia poligonal e

cor alaranjada e outros mais refinados. É marcante a presença de algumas faixas

escuras alinhadas no sentido de laminação. Nesse tipo de aço, pode haver

segregação química inerente ao processo de fabricação, que durante a laminação

são direcionadas e alinhadas, podendo inclusive dar origem a sítios preferenciais

de precipitação de carbonetos de cromo, ou de ferro (MANKARI e ACHARYYA,

2018).

Buscando avaliar a natureza dos carbonitretos presentes no aço AISI 321,

análises foram feitas utilizando-se o detector EDS do microscópio eletrônico de

varredura (MEV). A Figura 5.2 apresenta uma imagem de elétrons secundários

(MEV) e o mapa EDS obtido. Pode-se observar que os precipitados maiores com

morfologia cuboide são nitretos de titânio (Ti2N) e os precipitados menores, não

facetados, seriam carbonetos de titânio (TiC). A literatura técnica destaca que a

distribuição desses precipitados tem grande relevância para o comportamento em

fluência dos aços inoxidáveis, pois, a depender do mecanismo de fluência

preponderante, os precipitados podem atuar positivamente como, por exemplo,

dificultando a movimentação de discordâncias, ou negativamente uma vez que a

precipitação, ou o coalescimento de precipitados como TiC e Cr23C6 nos contornos

Page 73: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

57

de grãos austeníticos podem criar sítios preferenciais para a nucleação de vazios

em fluência (MANKARI e ACHARYYA, 2018; MIN et al., 2003).

Figura 5.1 - (A) micrografia do aço inoxidável austenítico AISI 321, no estado de entrega,

seção longitudinal, aumento de 200x – MO; (B) micrografia do aço inoxidável austenítico

AISI 321, no estado de entrega, seção longitudinal, aumento de 500x – MO. Ataque

Eletrolítico HNO3 60%.

,

Figura 5.2 - (A) micrografia do aço inoxidável austenítico AISI 321, no estado de entrega,

seção longitudinal, aumento 1000x – MEV; (B) mapa de análise EDS realizado no aço

AISI 321 no estado de entrega, seção longitudinal.

Page 74: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

58

A Figura 5.3 apresenta micrografias do aço AISI 441 em seu estado de entrega.

Como esperado, observa-se uma microestrutura ferrítica equiaxial, com grãos

poligonais de tamanho médio (40±15)μm. Comparado ao aço AISI 321, percebe-

se que o aço AISI 441 possui um tamanho médio de grão muito maior, além de

apresentar uma grande variabilidade no tamanho dos grãos. Apesar do tamanho

médio de grão ferrítico ser 40μm, verifica-se população significativa de grãos com

tamanho abaixo de 30μm e acima de 50μm. Zimny (2016) também relata a

ocorrência dessa variação no tamanho de grão do aço AISI 441 estudado por ele,

atribuindo-a às características do processo de fabricação do material (ZIMNY,

2016).

Percebe-se também a presença de carbonitretos, sendo alguns deles

relativamente grosseiros com morfologia cuboide e outros mais refinados sem

facetas bem definidas. Buscando avaliar a natureza dos carbonetos presentes,

análises por meio de detector EDS foram executadas na amostra do aço AISI 441.

As Figuras 5.4 e 5.5 apresentam imagens de elétrons secundários (MEV) e os

mapas EDS obtidos. Pode-se observar a presença de carbonitretos de Ti e Nb.

Em algumas regiões, percebe-se que nitretos de titânio previamente formados

atuaram como sítios preferenciais para a nucleação de carbonetos de Nb. Não

foram encontradas evidências de fase Laves no aço AISI 441 em seu estado de

entrega, o que está de acordo com a literatura, uma vez que a formação de fase

Laves nesse aço acontece entre 600°C e 900°C com uma cinética relativamente

lenta. Sello et al. (2011) relatam que para se formar 3% em volume dessa fase na

temperatura de 600°C seriam necessários aproximadamente 700 minutos, ou seja,

quase 12 horas de tratamento isotérmico. Para se formar a mesma quantidade a

900°C, seriam necessários aproximados 100 minutos, o que não acontece no

processo de fabricação dessa liga (ZIMNY, 2016; SELLO et al., 2010).

Page 75: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

59

Figura 5.3 - (A) micrografia do aço inoxidável ferrítico 441, no estado de entrega, seção

longitudinal, aumento de 200 x. (B) micrografia do aço inoxidável ferrítico, no estado de

entrega, seção longitudinal, aumento de 500x – MO. Ataque eletrolítico oxálico 10%.

Figura 5.4 - (A) micrografia do aço inoxidável ferrítico AISI 441, no estado de entrega,

seção longitudinal, aumento 1000x – MEV; (B) mapa de análise EDS realizado no aço

AISI 441 no estado de entrega, seção longitudinal. Ataque eletrolítico oxálico 10%.

Page 76: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

60

Figura 5.5 - Mapa de análise EDS realizado no aço AISI 441 no estado de entrega

ilustrando a nucleação heterogênea de carbonetos de nióbio nas faces de uma partícula

de nitreto de titânio. Ataque Eletrolítico Oxálico 10%.

5.3 Caracterização Mecânica do Estado de Entrega

Ensaios de dureza Vickers foram realizados nas amostras do estado de entrega.

Os aços AISI 321 e AISI 441 apresentaram, respectivamente, durezas de

(143±2)HV e (152±2)HV. Destaca-se que esses valores de dureza estão de

acordo com o esperado para essas classes de aço no estado como fabricado

(ALENCAR, 2016; MOUSA, 2017).

Ensaios de microdureza Vickers foram executados, conforme descrito em

Materiais e Métodos, fazendo-se uso do método de perfis com o objetivo de

avaliar a homogeneidade ao longo da espessura das chapas. A Figura 5.6

apresenta um comparativo entre os perfis de microdureza obtidos para os dois

aços estudados no estado de entrega. Pode-se observar que os dois aços

estudados possuem perfis de dureza homogêneos ao longo da espessura,

variando em média entre 155HV e 178HV.

Page 77: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

61

Figura 5.6 - Perfis de microdureza medidos ao longo da espessura para os aços AISI 321

e AISI 441.

A Figura 5.7 e a Tabela 5.2 apresentam dados sobre o comportamento em tração

na temperatura ambiente, dos aços estudados. Percebe-se que o aço AISI 441

apresenta maior limite de escoamento quando comparado com o aço AISI 321. No

entanto, o limite de resistência do aço AISI 321, assim como a sua deformação

total, são expressivamente maiores do que os verificados para o aço AISI 441.

Isso indica que durante a deformação plástica, o aço AISI 321 possui maior

capacidade de encruamento e, concomitantemente, a nucleação de

microcavidades é retardada em relação ao observado para o aço AISI 441.

Esse comportamento era esperado em função da ocorrência do efeito TRIP no

aço AISI 321. Segundo diversos autores, o aço AISI 321 é um aço austenítico

metaestável que, durante carregamento monotônico, apresenta a transformação

martensítica induzida por deformação como mecanismo de encruamento. A

verificação desse fenômeno justifica a maior capacidade de encruamento e o

maior alongamento desse aço quando comparado ao AISI 441(OLSON et al.,

1975; LO et al., 2009).

A Figura 5.8 apresenta as regiões de deformação uniforme verdadeira em tração e

as respectivas derivadas de primeira ordem para cada um dos aços estudados.

Page 78: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

62

Observa-se que enquanto para o aço AISI 441 a derivada de primeira ordem

diminui continuamente com o aumento da deformação, para o aço AISI 321, a

partir de aproximadamente 0,12 de deformação verdadeira, a derivada aumenta

até aproximadamente 0,30, para só então voltar a diminuir. Esse comportamento é

uma evidência notória da ocorrência do efeito TRIP (DAN, 2008).

Figura 5.7 - Curvas σ x ε de engenharia para os aços (A) AISI 321 e (B) AISI 441.

Tabela 5.2 - Principais parâmetros medidos por tração para os aços AISI 321 e AISI 441.

AISI 321 AISI 441

Limite de Escoamento (MPa) 245±14 Limite de Escoamento (MPa) 299±12

Limite de Resistência (MPa) 682±10 Limite de Resistência (MPa) 478±2

Deformação Total (%) 63±5 Deformação Total (%) 46±6

Redução de Área (%) 69,0±0,8 Redução de Área (%) 65±2

Page 79: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

63

Figura 5.8 - Região de encruamento uniforme da curva verdadeira σv x εv para os aços (A)

AISI 321 e (B) AISI 441, com suas respectivas derivadas de primeira ordem.

Como se sabe, o expoente de encruamento (n) varia como uma função da

deformação Murari (2009). A região plástica da curva tensão versus deformação

verdadeira é descrita, matematicamente, por meio da Equação de Hollomon

(Equação 5.1), sendo v a tensão verdadeira e v a deformação verdadeira. Com o

objetivo de expressar o coeficiente de encruamento como função direta da

deformação verdadeira, a Equação 5.1 pode ser linearizada e derivada em relação

à deformação verdadeira, dando origem à Equação 5.2.

𝜎𝑣 = 𝑘. (𝜀𝑣)𝑛 (5.1)

𝑛 = 𝑑𝜎𝑣

𝑑𝜀𝑣.

𝜀𝑣

𝜎𝑣 (5.2)

No presente trabalho, os dados de tensão e deformação verdadeiros foram

tratados utilizando-se o software Origin 9.0 e, aplicando-se a Equação 5.2

determinou-se, para os dois aços estudados, a evolução do coeficiente de

encruamento (n) em função da deformação verdadeira, como apresenta a Figura

5.9. Pode-se observar que o perfil de variação do coeficiente de encruamento do

aço AISI 321 é muito diferente daquele apresentado pelo aço AISI 441. Enquanto

Page 80: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

64

o coeficiente de encruamento do aço AISI 441 cresce continuamente e se

estabiliza assintoticamente de um valor próximo de 0,28, o coeficiente n referente

ao aço AISI 321 cresce continuamente até um valor máximo de 0,85 ao fim da

região de deformação plástica uniforme. Essa diferença de evolução do

coeficiente de encruamento em função da deformação verdadeira, segundo Zorzi

(2014) e Antunes (2007), é mais uma evidência experimental da ocorrência do

efeito TRIP no aço AISI 321.

Figura 5.9 - Coeficiente de encruamento (n) em função da deformação verdadeira (v)

para os aços (A) AISI 321 e (B) AISI 441.

5.4. Ensaios de Fluência pela Metodologia Sag Test

Neste trabalho, a Equação 5.3 foi utilizada para estimar, por meio da teoria

clássica de flexão, a tensão de tração máxima (máx.) na superfície externa

convexa dos corpos de prova de fluência durante os ensaios Sag Test. Verificou-

se que, considerando as pequenas variações de massa, entre os corpos de prova

dos aços AISI 441 e AISI 321 (entre 60g e 64g respectivamente), o nível máximo

de tensão de tração exercido sobre os corpos de prova, pelo seus próprios pesos,

nos ensaios de fluência variou entre 2,2MPa e 2,4MPa. Na Equação 5.3, P é o

peso do corpo de prova, L é a distância entre os pontos de apoio nos corpos de

Page 81: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

65

prova (200mm), b e h são, respectivamente, a largura (20mm) e a espessura

(2mm) do corpo de prova (ASTM E855-08, 2013).

𝜎𝑚á𝑥 =3.𝑃.𝐿

2.𝑏.ℎ2 (5.3)

A Figura 5.10 apresenta os resultados obtidos por meio da realização dos ensaios

de fluência pela metodologia Sag Test. Como descrito em Materiais e Métodos, os

dois aços foram avaliados em três temperaturas que foram 900°C, 950°C e

1000°C. Pode-se observar que tanto o aço AISI 321 quanto o aço AISI 441

apresentaram bom desempenho em fluência nas temperaturas de 900°C e 950°C.

As flechas máximas medidas para os aços AISI 321 e AISI 441 foram 4mm e

5mm, respectivamente, para 100h de ensaio a 950°C. Entretanto, com o aumento

da temperatura para 1000°C, verificou-se uma mudança brusca de

comportamento do aço AISI 441, que com 100h de ensaio nessa temperatura,

apresentou uma fecha média de 26mm.

Como já apresentado neste trabalho, o aço AISI 441 já é utilizado em alguns

componentes de escapamento automotivo em função de suas boas características

como elevada resistência à corrosão, baixa susceptibilidade à corrosão

intergranular e bom desempenho em fluência nas temperaturas usualmente

verificadas nesse componente automotivo. Segundo Faria (2006), o aço AISI 441,

em automóveis com motorização não turbinada a gasolina, é utilizado na

manufatura de coletores e catalizadores que podem chegar a uma temperatura de

trabalho de até 900°C.

Os resultados obtidos nesse trabalho mostram que nessa temperatura de

trabalho, o desempenho em fluência do aço AISI 441 é satisfatório, justificando

sua utilização e não a do aço AISI 321. Essa afirmação faz-se ainda mais

justificada ao se observar que os aços estudados possuem desempenhos em

fluência semelhantes nessa temperatura, mas que o aço AISI 321 possui um custo

significativamente maior do que o AISI 441.

Page 82: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

66

Em motorizações turbo, as temperaturas de trabalho de coletores e catalizadores

podem chegar a 1050°C. Portanto, é muito importante considerar que na

temperatura de 1000°C, esse aço com 100h de ensaio, deformou-se 420% a mais

do que o verificado na temperatura de 900°C. Nesse cenário, o aço AISI 321

passaria a ser a melhor opção entre os aços avaliados nesse estudo.

Figura 5.10 - Flechas de fluência medidas para chapas de 2mm dos aços (A) AISI 321 e

(B) AISI 441 em função da temperatura e do tempo de ensaio.

Com o objetivo de executar uma caracterização básica de alguns dos corpos de

prova submetidos aos ensaios de fluência Sag Test, as amostras dos aços AISI

321 e AISI 441 ensaiadas nos intervalos de tempo 5h e 100h nas temperaturas de

900°C e 1000°C foram metalograficamente preparadas, atacadas e caracterizadas

por microscopia óptica nos centros de suas seções longitudinais (Figuras 5.11 e

5.12). Os tamanhos médios de grão foram medidos por meio do método do

diâmetro equivalente médio seguindo padrões estabelecidos pelas normas ASTM

E112 e ASTM E1382.

Assim como executado para os corpos de prova em seu estado de entrega, perfis

de microdureza Vickers também foram medidos ao longo da espessura das

chapas com o objetivo de se avaliar possíveis mudanças em decorrência das

alterações microestruturais. Para esse fim, utilizou-se um microdurômetro

Page 83: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

67

PANTEC com carga de 100gf e passe entre endentações de 0,12mm. É

importante destacar que estas condições de ensaio Sag Test foram selecionadas

por serem aquelas onde foram observados comportamentos em fluência

significativamente distintos.

A Figura 5.11 apresenta micrografias das amostras do aço AISI 321 submetidas a

5h e 100h de ensaio Sag Test tanto nas temperaturas de 900°C quanto 1000°C.

Pode-se observar que com o aumento do tempo e da temperatura de ensaio, há

um significativo crescimento de grão austenítico, não tendo sido identificadas

evidências da existência de grãos alongados, nem mesmo nas superfícies

submetidas às maiores tensões de tração e compressão.

Os tamanhos médios de grão austenítico dos corpos de prova do aço AISI 321

caracterizados são apresentados na Figura 5.13 (A), onde também são

comparados com os tamanhos dos grãos austeníticos do estado de entrega. Nota-

se que há uma pequena diferença de tamanhos ao se comparar o estado de

entrega (19±6m) com as amostras submetidas a 5h e 100h a 900°C (26±1m e

25±1m respectivamente). No entanto, as amostras submetidas aos ensaios a

1000°C apresentaram expressivo crescimento de grão, de forma que a amostra

submetida a 5h de ensaio apresentou tamanho médio de grão de 130±19m e a

submetida a 100h, de 153±24m.

Page 84: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

68

Figura 5.11 - Micrografias do aço inoxidável austenítico AISI 321 submetido aos ensaios

Sag Test (A) 5h a 900°C, (B) 100h a 900°C, (C) 5h a 1000°C e (D) 100h a 1000°C - seção

longitudinal, aumento de 500X – MO. Ataque Eletrolítico HNO3 60%.

A Figura 5.12 apresenta micrografias das amostras do aço AISI 441 submetidas a

5h e 100h de ensaio Sag Test tanto nas temperaturas de 900°C quanto 1000°C.

Para este aço, também observou-se que, com o aumento do tempo e da

temperatura de ensaio, houve um significativo crescimento de grão ferrítico, não

tendo sido identificadas, de forma similar, evidências da existência de grãos

alongados, nem mesmo nas superfícies submetidas às maiores tensões de tração

e compressão. Também observou-se significativa dissolução de precipitados ao se

comparar as amostras tratadas a 1000°C com as tratadas a 900°C. Os tamanhos

médios de grão ferrítico dos corpos de prova do aço AISI 441 caracterizados são

apresentados na Figura 5.13 (B). Verifica-se que há um pequeno crescimento de

grão ao se comparar o estado de entrega (40±15m) com as amostras submetidas

a 5h e 100h a 900°C (47±3m e 54±2m respectivamente). No entanto, as

Page 85: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

69

amostras submetidas aos ensaios a 1000°C apresentaram expressivo crescimento

de grão, de forma que a amostra submetida a 5h de ensaio apresentou tamanho

médio de grão de 223±32m enquanto a submetida a 100h, de 252±10m.

Figura 5.12 - Micrografia do aço inoxidável ferrítico 441 submetido aos ensaios Sag Test

(A) 5h a 900°C, (B) 100h a 900°C, (C) 5h a 1000°C e (D) 100h a 1000°C - seção

longitudinal, aumento de 500X – MO. Ataque Eletrolítico Oxálico 10%.

Page 86: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

70

Figura 5.13 - Comparação entre os tamanhos médios de grão do (A) aço AISI 321; (B)

aço AISI 441 no estado de entrega (E.E.) e submetidos a 5h e 100h de ensaio Sag Test

nas temperaturas de 900°C e 1000°C.

A Figura 5.14 apresenta os perfis de microdureza medidos ao longo da espessura

para as amostras dos dois aços ensaiadas por 5h e 100h nas temperaturas de

900°C e 1000°C. Deve-se destacar que a referência de posição 0 foi posicionada

próximo à superfície submetida ao maior nível de tensão de tração. Pode-se

observar que, ao se comparar os resultados aqui obtidos com aqueles do estado

de entrega (Figura 5.5), existem algumas pequenas diferenças.

Em relação ao aço AISI 441, percebe-se que, como no estado de entrega, não há

gradiente significativo de dureza ao longo da espessura dos corpos de prova

ensaiados. Não se percebe variações significativas nem mesmo nas regiões

próximas às superfícies submetidas às maiores tensões compressivas e trativas,

indicando que não há um mecanismo de encruamento atuante para os níveis de

tensão e temperaturas empregados nos ensaios Sag Test. No entanto, de forma

geral, verifica-se uma pequena diminuição da microdureza média de 162HV do

estado de entrega para 160HV nos corpos de prova ensaiados. Entre as

condições avaliadas, percebe-se que não há significativas diferenças. Imagina-se

que um balanço de efeitos em decorrência do crescimento de grão ferrítico e da

precipitação/dissolução de precipitados em função da temperatura de ensaio, seja

o responsável por este comportamento.

Page 87: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

71

No que diz respeito ao aço AISI 321, ao se observar os resultados de forma geral

e ao se considerar os desvios experimentais, também não se observa, para uma

mesma condição de ensaio, grandes variações de microdureza ao longo da

espessura dos corpos de prova. No entanto, percebe-se uma diferença de

microdureza de 27HV a mais entre os corpos de prova ensaiados por 5h a 900°C

e os demais parâmetros para o AISI321. Como já abordado, os corpos de prova

ensaiados nesta condição experimentaram um pequeno crescimento de grão em

relação ao estado de entrega, evoluindo de um tamanho médio de 19m para

26m. Este pequeno crescimento de grão não justificaria, em hipótese alguma,

este comportamento de microdureza. Entretanto, segundo a literatura, o aço AISI

321 é susceptível ao envelhecimento, ou seja, quando submetido a um

determinado intervalo de tratamento isotérmico em uma faixa de temperatura

abaixo da temperatura de completa dissolução de carbonetos, pode ocorrer a

formação de finos precipitados que contribuirão para o aumento da dureza pelo

mecanismo de endurecimento por precipitação. Ao se aumentar o tempo, ou a

temperatura, pode haver coalescimento, ou até mesmo dissolução destes

precipitados, justificando uma gradativa diminuição da dureza (LAI, 1988; GUAN et

al., 2005; PADILHA, 2002; TAVARES et al., 2008).

Segundo Tavares et al. (2008), o aço AISI 321, assim como o também austenítico

AISI 347, é um aço susceptível à formação de finos precipitados (NbC e TiC)

quando tratados por algumas horas (1h-5h) em temperaturas que podem chegar

até 925°C. Ao se observar o diagrama TTT de precipitação destes carbonetos,

verifica-se que o menor tempo para nucleação dos mesmos nestes aços está

justamente nas proximidades de 900°C (PADILHA, 2002; TAVARES et al., 2008).

Na indústria, inclusive, é comum empregar tratamentos térmicos nestes aços,

nestas condições, para promover a precipitação de carbonetos, retirando, assim,

carbono de solução sólida. Este procedimento diminui a susceptibilidade do aço

ao fenômeno de sensitização (TAVARES et al., 2008).

Page 88: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

72

Figura 5.14 - Perfis de microdureza medidos ao longo da espessura para os aços (A) AISI

321 e (B) AISI 441 submetidos a 5h e 100h de ensaios Sag Test a 900°C e 1000°C.

Segundo a literatura, o fenômeno de fluência nesses tipos de aços pode ser

controlado principalmente por dois mecanismos que são: a) fluência por difusão

[transporte de átomos pela matriz (Nabarro-Henrring), transporte de átomos pelos

contornos de grão (Coble), ou transporte de átomos pelo núcleo das discordâncias

(Harper-Dorn)] e b) fluência por deslizamento de discordâncias controlado pelo

mecanismo de escalada. Os mecanismos de fluência por difusão Nabarro-

Henrring e Coble são fortemente sensíveis ao tamanho de grão da estrutura (α

1/d2 e 1/d3), enquanto o de Harper-Dorn e o mecanismo por deslizamento de

discordâncias não, sendo eles mais influenciados pela mobilidade das

discordâncias (FROST e ASHBY, 1982).

No presente estudo, caso os mecanismos de fluência preponderantes fossem os

de difusão Nabarro-Henrring e Coble, quanto maior o tamanho de grão da

estrutura, esperar-se-ia que menor seria a deformação experimentada pelo

material em fluência. Se o mecanismo Harper-Dorn fosse o mais atuante, a taxa

de fluência não seria significativamente dependente do tamanho de grão da

estrutura, mas sim da taxa de geração de lacunas na estrutura. Caso o

mecanismo mais ativo fosse deslizamento de discordâncias, o tamanho de grão

da estrutura teria pouca influência, mas a presença de restrições à mobilidade de

discordâncias, como precipitados, propiciaria melhor desempenho em fluência

(DOLLMAN, 2003; YAVARI et al.,1981).

Page 89: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

73

Como já abordado na revisão bibliográfica, geralmente o mecanismo de fluência

por deslizamento de discordâncias prevalece quando tensões relativamente

elevadas são aplicadas aos corpos de prova de fluência (elevados valores de

tensão normalizada, ou seja, elevadas razões entre tensão aplicada e o módulo de

cisalhamento do material). À medida em que as tensões aplicadas diminuem e as

temperaturas de ensaio aumentam, há uma tendência de que mecanismos

difusionais passem a ser os mais ativos (DOLLMAN, 2003; YAVARI et al.,1981).

A metodologia de ensaio Sag Test permite uma importante avaliação a respeito da

ductilidade em fluência dos aços, sendo, porém, difícil afirmar com certeza qual é

o principal mecanismo de fluência atuante. Entretanto, baseando-se nos

resultados obtidos e acima apresentados, pode-se discutir algumas possibilidades.

Com este objetivo, deve-se pontuar que: 1) nos ensaios de fluência executados, o

nível de tensão máxima atuante nos corpos de prova é relativamente baixo, entre

2,2MPa e 2,4MPa; 2) até a temperatura de 950°C, o desempenho dos dois aços

foi muito semelhante; 3) ao se comparar o desempenho dos aços AISI 321 e AISI

441 na pior situação estudada, ou seja, 100h a 1000°C, percebe-se claramente

que o aço AISI 441 apresentou o pior desempenho em fluência, mesmo possuindo

o maior tamanho de grão e a maior concentração de Nb em sua composição

química; 4) ao se caracterizar a microestrutura do aço AISI 441, submetido ao

ensaio de 100h a 1000°C, percebe-se significativa dissolução de precipitados ricos

em Nb (confirmado por análises em MEV e apresentado na Figura 5.15); 5) ao se

caracterizar a microestrutura do aço AISI 441 submetido a ensaio de 100h a

1000°C, percebe-se um expressivo crescimento de grão ferrítico de (40±15)m

para (252±10)m e não se verificou a existência de grãos alongados, apesar da

grande flecha de fluência; 6) segundo a literatura, aços inoxidáveis ferríticos

possuem elevada energia de falha de empilhamento, ou seja, elevada mobilidade

de discordâncias comparado aos austeníticos (DOLLMAN, 2003; STOUFFER e

DAME, 1996).

Pontuadas essas observações, pode-se afirmar que nos ensaios de fluência, a

diferença de tamanho de grão verificada entre os aços AISI 321 e AISI 441 parece

não justificar a diferença de comportamento em fluência dos dois aços, tendo em

vista que o comportamento deles nas temperaturas de 900°C e 950°C foi

semelhante. Com o aumento da temperatura e a dissolução de precipitados ricos

Page 90: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

74

em Nb no aço AISI 441 (Figuras 5.12 e 5.15), verificou-se um grande aumento na

sua deformação por fluência. Considerando que os precipitados atuavam como

possíveis barreiras à movimentação de discordâncias, a dissolução parcial deles,

associada à maior energia de falha de empilhamento desse aço, parece ter forte

influência sobre essa mudança de comportamento. Em contrapartida, segundo a

literatura, a dissolução significativa de precipitados no aço AISI 321 só aconteceria

para tratamentos isotérmicos de 1h a 5h em temperaturas da ordem de 1100°C

(TAVARES et al., 2008). Neste contexto, seria razoável supor que, mesmo quando

submetido a 100h de ensaio a 1000°C ainda haveria significativa concentração de

precipitados na microestrutura, o que poderia, mesmo nesta condição, estar

limitando a movimentação de discordâncias, justificando o seu bom desempenho

em fluência, assim como o seu crescimento de grão menos expressivo, em

relação ao aço AISI 441.

Figura 5.15 - Micrografias de amostras do aço AISI 441 submetidas a ensaios de fluência

de 100h (A) a 900°C e (B) a 1000°C, destacando o crescimento de grão ferrítico e a

significativa dissolução de precipitados com o aumento da temperatura – aumento 500x –

MEV. Ataque eletrolítico oxálico 10%.

Page 91: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

75

Segundo a literatura, e conforme confirmado na caracterização microestrutural, o

aço AISI 441 em seu estado de entrega possui uma rede de precipitados do tipo

(Nb,Ti)(C,N), porém ao se comparar a Figura 5.3 (A), que apresenta o aço em seu

estado de entrega, com a Figura 5.15 (A), que ilustra a microestrutura após 100h a

900°C, é possível verificar um aumento expressivo de precipitados nos contornos

e no volume dos grãos. Segundo a literatura, e conforme já apresentado em

discussão anterior, nessa temperatura haveria a precipitação da fase Laves

(Fe2Nb) que atuaria como barreira à movimentação de discordâncias. No entanto,

com o aumento da temperatura, haveria a dissolução dessa fase rica em Nb, que

seria quase completamente dissolvida na temperatura de 1000°C, como ilustra a

Figura 5.15 (B). Com a dissolução da fase Laves e uma dissolução parcial de

carbonetos de Nb, a mobilidade local das discordâncias aumentaria.

Neste cenário, onde se verifica que a diferença de tamanho de grão inicial entre os

aços AISI 321 (19±6)m e AISI 441 (40±15)m não parece ter exercido

significativa influência no comportamento em fluência dos aços, mas sim as

temperaturas de ensaio que promoveram eventos diferentes nos dois aços, no que

diz respeito à precipitação e dissolução de precipitados, poder-se-ia refletir sobre a

possibilidade de que as restrições à movimentação de discordâncias seria o fator

mais atuante para se explicar os comportamentos dos aços estudados, levando a

uma possível suposição de que o mecanismo de deslizamento de discordâncias

seria preponderante sobre os mecanismos difusionais.

Entretanto, há que se exaltar outros fatores. Como já descrito, os níveis de tensão

aplicados aos corpos de prova nos ensaios de fluência na metodologia Sag Test

são considerados muito baixos quando comparados a ensaios de fluência

tradicionais. Neste contexto, a tensão aplicada normalizada pela tensão de

cisalhamento dos aços estudados seria muito baixa para se ativar mecanismos

controlados majoritariamente por deslizamento de discordâncias (mecanismo

clássico de deslizamento de discordâncias). Além disso, não foram observados

indícios de grãos alongados, nem mesmo para o aço AISI 441 em sua pior

condição de ensaio, assim como os perfis de microdureza não revelaram

diferenças entre as regiões mais deformadas (superfícies dos corpos de prova) e

as menos deformadas (região central), indicando que pode não haver diferenças

significativas no que diz respeito à densidade de discordâncias ao longo da

Page 92: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

76

espessura. Essas observações sugerem que não houve intensa difusão nos

contornos de grão nem no volume dos grãos em si, mas sim uma mobilidade local

no centro das discordâncias. Estes fatores são descritos na literatura como sendo

mais comuns em materiais submetidos a condições de fluência controlada por

mecanismos difusionais (DOLLMAN, 2003).

Ao se considerar a discussão acima apresentada, o conceito dos mapas de

deformação de Frost e Ashby (1982) e os níveis de tensão atuantes nos ensaios

Sag Test avaliados neste trabalho, pode-se supor que os mecanismos de fluência

mais atuantes seriam os de fluência por difusão (baixo nível de tensões e

elevadas temperaturas). Entretanto, como o tamanho de grão parece não ter

exercido forte influência sobre a deformação em fluência, mas sim a dissolução de

precipitados, isto parece indicar que, entre os mecanismos de fluência por difusão,

o mais atuante seria aquele mais influenciado pela mobilidade local de

discordâncias. Segundo Frost e Ashby (1982) e Yavari et al.(1981), o mecanismo

Harper-Dorn é atuante em ensaios de fluência com corpos de prova submetidos a

tensões relativamente baixas e a temperaturas elevadas (Coeficiente de Norton

n=1). Neste mecanismo, a movimentação de discordâncias atua como fonte e

sorvedouro de lacunas, favorecendo a difusão atômica em altas temperaturas e,

consequentemente, a deformação por fluência. Se alguma restrição à

movimentação de discordâncias está ativa, isso diminuirá a taxa de geração de

lacunas e, portanto, dificultará a difusão, restringindo, assim, a deformação por

fluência.

Segundo Frost e Ashby (1982) e Yavari et al.(1981), o mecanismo de controle da

taxa de fluência em Haper-Dorn é influenciado pela mobilidade de discordâncias.

Os autores afirmam que a presença de precipitados implicaria em uma

significativa diminuição da deformação por fluência, pois, a restrição à mobilidade

das discordâncias levaria a uma redução na taxa de formação de lacunas,

restringindo processos difusionais. Nos ensaios de fluência executados neste

trabalho, a relação entre a tensão máxima e o módulo de cisalhamento foi de

aproximadamente 3x10-5 enquanto a temperatura homóloga (temperatura de

ensaio normalizada pela temperatura de fusão do material) variou de 0,7 a 0,8. Ao

se avaliar estes valores com mapas de deformação típicos de aços inoxidáveis

(FROST e ASHBY, 1982), tem-se mais uma evidência de que a fluência por

Page 93: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

77

difusão parece ser o mecanismo mais ativo, sendo, possivelmente, o Harper-Dorn

o mais atuante.

Considerando as limitações quantitativas do ensaio de ductilidade por fluência Sag

Test, recomenda-se que estudos mais aprofundados sejam conduzidos com o

objetivo de refinar a caracterização dos mecanismos de fluência atuantes nos

aços estudados nesse trabalho em condições de baixas tensões e elevadas

temperaturas para se confirmar as hipóteses e evidências aqui apresentadas.

Aplicando-se ensaios convencionais de fluência pela norma ASTM E139-11,

poder-se-á confirmar se as hipóteses apresentadas neste trabalho a respeito dos

mecanismos procedem.

5.5 Influência da Temperatura e do Tempo sobre o Crescimento de Grão

Com o objetivo de obter informações para que tratamentos térmicos de

crescimento de grão pudessem ser feitos e, portanto, o efeito de um crescimento

exagerado de grão sobre a ductilidade em fluência, medida pela metodologia Sag

Test, pudesse ser avaliado, um estudo a respeito da influência da temperatura e

do tempo sobre o crescimento de grão dos aços AISI321 e AISI441, na ausência

de deformação, foi conduzido. Conforme já explicado em Materiais e Métodos,

amostras dos dois aços foram submetidas a tratamentos isotérmicos de 5h, 25h,

50h e 100h nas temperaturas de 900°C, 950°C e 1000°C.

Após a realização dos tratamentos isotérmicos, cada uma das 12 amostras de

cada um dos aços estudados foi metalograficamente preparada e, fazendo-se uso

do método do diâmetro equivalente médio (ASTM E112 e ASTM E1382),

determinou-se os seus tamanhos médios de grão e respectivos desvios. A Figura

5.16 apresenta os resultados obtidos. Pode-se observar, para os dois aços

estudados, que o efeito da temperatura é mais significativo do que o efeito do

tempo de isoterma. Este resultado está em acordo com a literatura, tendo em vista

que é bem estabelecido que a contribuição da temperatura na cinética de

crescimento de grão em aços é exponencial, enquanto a do tempo é proporcional

a raiz enésima do tempo, como ilustra a Equação 5.4 (YUE et al., 2010; UHM et

al., 2004). Na Equação 5.4, T é a temperatura em escala absoluta (Kelvin), t é o

tempo em segundos, R é a constante universal dos gases (8,314J/mol.K), D0 é o

Page 94: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

78

tamanho inicial de grão antes da execução dos ciclos térmicos, D é o tamanho de

grão instantâneo a uma dada temperatura T, Q é a energia de ativação para o

crescimento de grão, K é uma constante relacionada à velocidade de crescimento

de grão e n é o expoente de crescimento de grão (YUE et al., 2010; UHM et al.,

2004).

Figura 5.16 - Efeito da temperatura e do tempo de tratamento isotérmico sobre o

crescimento de grão, na ausência de deformação, para os aços (A) AISI321 e (B)

AISI441.

𝐷𝑛 − 𝐷0𝑛 = 𝐾0 exp (

−𝑄𝑅𝑇⁄ ) ∗ 𝑡 (5.4)

Neste trabalho, a Equação 5.4 foi adaptada para a forma apresentada pela

Equação 5.5 que foi, portanto, ajustada aos dados experimentais de evolução de

tamanho de grão em função da temperatura e do tempo para os dois aços

estudados. Para este fim, o recurso de regressão múltipla não linear do software

Origin 9.0 foi utilizado. Nesta execução, considerou-se como constantes os

valores de D0 e R. Os valores de D0 adotados nesta etapa foram exatamente

aqueles medidos na caracterização do estado de entrega dos dois aços, ou seja,

19m para o aço AISI 321 e 40m para o aço AISI 441. A Figura 5.17 apresenta

os resultados obtidos para os ajustes da Equação 5.5 aos dados experimentais.

Page 95: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

79

nnt

RT

QKDD

1

00 ]).exp(.[ += (5.5)

Figura 5.17 - Ajustes da Equação 5.5 aos dados de efeito da temperatura e do tempo de

tratamento isotérmico sobre o crescimento de grão, na ausência de deformação, para os

aços (A) AISI321 e (B) AISI441.

Pode-se observar que os ajustes foram bem-sucedidos e que foi possível estimar

as energias de ativação para o crescimento de grão dos aços AISI 321 e AISI 441

como sendo, respectivamente, 373kJ/mol e 287kJ/mol. Segundo a literatura, a

energia de ativação para a difusão de elementos substitucionais na estrutura CFC

do ferro é da ordem de 260kJ/mol a 280kJ/mol. Entretanto, obviamente, isto

depende da composição da fase, tendo sido relatado na literatura, para diferentes

aços, valores também da ordem de 400kJ/mol a 415kJ/mol (UHM et al., 2004).

Segundo Uhm et al. (2004), maiores valores de energia de ativação implicam que

existe uma maior barreira para que a difusão necessária ao crescimento de grão

ocorra. Segundo o autor, esse aumento na energia de ativação pode estar

associado à maior concentração de elementos de liga em solução sólida,

responsáveis pelo efeito de arraste de soluto, ou à existência de outras barreiras à

migração dos contornos de grão, como por exemplo a presença de precipitados.

Kashyap (1992), ao estudar o crescimento de grão em um aço austenítico 316L,

afirmou que a energia de ativação pode variar em função da faixa de temperatura

Page 96: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

80

estudada. Segundo ele, em temperaturas elevadas o crescimento de grão em

aços austeníticos passa a ser controlado, principalmente, pela difusão em volume

e, portanto, a depender da composição química do aço, da presença de

precipitados e outros fatores que possam interferir nos processos difusionais, a

energia de ativação estará nas proximidades do valor correspondente à difusão do

ferro na rede CFC para os aços austeníticos. Kashyap (1992), estudando o

crescimento de grão do aço inoxidável 316L, encontrou, realizando experimentos

na faixa de temperatura entre 1200°C e 1300°C, valores de energia de ativação

em torno de 317kJ/mol.

A literatura técnica também aponta valores típicos de energia de ativação para a

autodifusão do ferro na estrutura CCC. Segundo Zhang (2014), estes valores

podem variar de 240kJ/mol a 300kJ/mol em acordo com o que já foi reportado por

diversos pesquisadores ao longo dos anos. Song et al. (2011), estudando a

energia de ativação para o crescimento de grão em um aço inoxidável ferrítico

estabilizado com 12%Cr, encontraram 112kJ/mol, segundo eles, valores abaixo do

encontrado por outros autores.

Considerando as informações acima apresentadas, pode-se supor que a maior

energia de ativação encontrada neste trabalho para o aço AISI 321 é mais uma

confirmação de que há mais restrições à difusão e, portanto, ao crescimento de

grão, mesmo na faixa de temperatura avaliada. Provavelmente, como já discutido

anteriormente, isso se deve a não dissolução de precipitados que estariam

atuando como barreiras à migração dos contornos de grão. Este aspecto também

justificaria a menor influência do tempo de isoterma. O maior valor encontrado

para o expoente n do aço AISI 321 seria uma evidência matemática disso (n=1,3).

Considerando a menor energia de ativação estimada para o aço AISI 441, o maior

crescimento de grão experimentado por este aço se justifica, uma vez que este

resultado indica que há menos restrições à difusão e, portanto, ao crescimento de

grão. Como já discutido anteriormente, para temperaturas superiores a 950°C

estaria havendo a dissolução de precipitados, facilitando, assim, a mobilidade dos

contornos de grão. Pode-se observar ainda que, justamente para as temperaturas

de 950°C e 1000°C, a influência do tempo no crescimento de grão deste aço,

passa a ser mais significativa. Comparado ao que já foi mostrado para o aço AISI

Page 97: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

81

321, o expoente n do aço AISI 441 é menor (n=1), indicando que, neste aço, maior

é a influência do tempo sobre o tamanho de grão final.

5.6. Efeito do Crescimento de Grão Sobre a Ductilidade em Fluência Sag Test

Buscando avaliar o efeito de um crescimento exagerado de grão sobre a

ductilidade em fluência, avaliada pela metodologia Sag Test, nos aços AISI 321 e

AISI 441, amostras representativas dos dois aços passaram por tratamentos

térmicos específicos para que uma condição de crescimento exagerado de grão

fosse alcançada.

Baseando-se nos resultados apresentados na Figura 5.16, as condições de

tratamento térmico de crescimento de grão definidas para esta etapa foram: 1)

corpos de prova para o ensaio de fluência Sag Test do aço AISI 321 foram

submetidos a tratamentos isotérmicos de 5h a 1000°C; 2) corpos de prova para o

ensaio de fluência Sag Test do aço AISI 441 foram submetidos a tratamentos de

100h a 1000°C. Neste contexto, os tamanhos médios de grão dos corpos de prova

AISI 321 e AISI 441 antes da realização dos ensaios de fluência Sag Test foram,

respectivamente, 127m e 215m.

Os corpos de prova dos aços estudados, termicamente tratados, foram

submetidos à condição mais severa de ensaio Sag Test avaliada neste trabalho,

ou seja, 100h na temperatura de 1000°C. A Figura 5.18 apresenta os resultados

obtidos, assim como os compara com as flechas de fluência medidas para os aços

submetidos à mesma condição de fluência, porém com sua microestrutura original,

proveniente do estado de entrega. Pode-se observar que, para o aço AISI 441, o

crescimento prévio de grão fez com que a flecha de fluência diminuísse de 26mm

para 23mm, representando uma melhoria de desempenho de apenas 11%.

Considerando o consumo de energia associado ao longo tratamento térmico

necessário para promover o crescimento de grão aqui avaliado, pode-se dizer que

o mesmo não seria economicamente viável tendo em vista a pequena melhoria de

desempenho alcançada. Sendo conservador, ao se considerar os desvios

experimentais associados à metodologia experimental utilizada, poder-se ia até

mesmo dizer que não há diferenças significativas de desempenho.

Page 98: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

82

Ao se avaliar a ductilidade em fluência do aço AISI 321 termicamente tratado,

percebe-se que houve um pequeno aumento da flecha de 5mm para 6mm.

Entretanto, como já mencionado para o aço AISI 441, ao se considerar os desvios

experimentais, poder-se-ia afirmar que é uma diferença pouco significativa.

Ao se observar estes resultados, verifica-se mais uma importante evidência de

que o tamanho de grão inicial dos corpos de prova possui pouca influência sobre a

ductilidade em fluência dos aços estudados em condições de baixas tensões

mecânicas e elevadas temperaturas. Esta observação pode ser relatada como

mais uma importante confirmação de que nestas condições de ensaio, o

comportamento em fluência dos aços AISI 321 e AISI 441 seria majoritariamente

controlado pelo mecanismo de difusão Harper-Dorn e não pelos mecanismos

Nabarro-Henrring e Coble que são expressivamente sensíveis ao tamanho de

grão inicial.

Figura 5.18 - Flechas de fluência medidas para chapas de 2mm dos aços (a) AISI 321

previamente tratado por 5h a 1000°C e (b) AISI 441 previamente tratado por 100h a

1000°C na condição mais crítica de ensaio avaliada neste trabalho, ou seja, 100h a

1000°C.

Com o objetivo de executar uma caracterização básica dos corpos de prova

previamente tratados (grãos crescidos) e submetidos aos ensaios de fluência Sag

Test, as amostras dos aços AISI 321 e AISI 441 ensaiadas no intervalo de tempo

de 100h na temperatura de 1000°C foram metalograficamente preparadas,

atacadas e caracterizadas por microscopia óptica nos centros de suas seções

Page 99: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

83

longitudinais. Os tamanhos médios de grão foram medidos por meio do método do

diâmetro equivalente médio seguindo padrões estabelecidos pelas normas ASTM

E112 e ASTM E1382. Perfis de microdureza Vickers também foram medidos ao

longo da espessura das chapas com o objetivo de se avaliar possíveis mudanças

em decorrência das alterações microestruturais.

As Figuras 5.19 e 5.20 apresentam, respectivamente, as microestruturas dos aços

AISI 321 e AISI 441 submetidos aos ensaios de fluência por 100h a 1000°C após

estágio antecedente de tratamento de crescimento de grão. A Figura 5.21

compara os tamanhos médios de grão entre os corpos de prova submetidos a

estas condições com aqueles submetidos aos ensaios de fluência com os mesmos

parâmetros, mas partindo da microestrutura em seu estado de entrega.

O aço AISI 321 termicamente tratado por 5h a 1000°C apresentou tamanho médio

de grão de 127m. Após a sua submissão aos ensaios de fluência por 100h a

1000°C, verificou-se um tamanho médio de 155 m, valor este muito semelhante

ao medido para os corpos de prova ensaiados com microestrutura inicial original

(153m). O aço AISI 441 termicamente tratado por 100h a 1000°C apresentou

tamanho médio de grão de 215m. Após a sua submissão aos ensaios de fluência

por 100h a 1000°C, verificou-se um tamanho médio de 265 m, valor este pouco

superior ao medido para os corpos de prova ensaiados com microestrutura inicial

original (252m).

Sabe-se que a força motriz para o crescimento de grão em aços é a densidade de

contornos de grãos. Assim sendo, é clássico esperar que com o aumento do

tamanho de grão, a cinética de crescimento seja desfavorecida como afirma

Kashyap (1992) e Song et al. (2011). Os resultados obtidos neste trabalho seguem

esta mesma tendência, tendo em vista que os tamanhos de grão final dos corpos

de prova ensaiados pela metodologia Sag Test, para ambos os aços estudados,

seja partindo da microestrutura original, ou já da estrutura constituída por grãos

grosseiros, são semelhantes.

Page 100: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

84

Figura 5.19 - Micrografias do aço inoxidável austenítico AISI 321 submetidos aos ensaios

Sag Test por 100h a 1000°C - seção longitudinal, (A) aumento de 100X, (B) aumento de

200X – MO. Ataque Eletrolítico HNO3 60%.

Figura 5.20 - Micrografia do aço inoxidável ferrítico 441 submetidos aos ensaios Sag Test

por 100h a 1000°C - seção longitudinal, (A) aumento de 100X, (B) aumento de 200X –

MO. Ataque Eletrolítico Oxálico 10%.

Page 101: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

85

Figura 5.21 - Comparação entre os tamanhos médios de grão dos aços AISI 321 e AISI

441 após a realização de ensaios de fluência Sag Test considerando-se duas condições

iniciais de microestruturas para os corpos de prova: grãos previamente crescidos e

microestrutura do estado de entrega.

A Figura 5.22 apresenta os perfis de microdureza medidos ao longo da espessura

para as amostras dos dois aços ensaiadas por 100h a 1000°C com prévio

tratamento de crescimento de grão. Deve-se destacar que a referência de posição

0 foi posicionada próximo à superfície submetida ao maior nível de tensão trativa.

Pode-se observar que, ao se comparar os resultados aqui obtidos com aqueles do

estado de entrega (Figura 5.6) e com aqueles das amostras com microestrutura

original e também ensaiados por 100h a 1000°C (Figura 5.14) não há diferenças

significativas, ao se considerar os desvios experimentais. Mais uma vez, para os

dois aços, não se percebeu variação significativa de dureza ao longo da

espessura, sendo este mais um indício que, mesmo com o crescimento prévio de

grão, não houve mudança significativa de mecanismos de fluência, corroborando

os valores das flechas medidos e comparados na Figura 5.18.

Page 102: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

86

Figura 5.22 - Perfis de microdureza medidos ao longo da espessura para os aços AISI

321 e AISI 441 submetidos a 100h de ensaios Sag Test a 1000°C após tratamento

térmico de crescimento de grão.

Page 103: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

87

6. CONCLUSÕES

Com relação às propriedades mecânicas medidas à temperatura ambiente, as

durezas médias dos aços AISI 321 e AISI 441 são, respectivamente, 143HV10 e

152HV10. O aço AISI 441 apresentou maior limite de escoamento (299MPa) do

que o aço AISI 321 (245MPa). No entanto, os valores de limite de resistência e a

deformação total do aço AISI 321 (682MPa e 63%), que experimentou o efeito

TRIP em tração, foram superiores aos verificados para o AISI 441 (478MPa e

46%). Apesar do aço AISI 441 possuir maior dureza e maior limite de escoamento

à temperatura ambiente, ele apresentou pior desempenho em fluência. Isto

permite concluir que as propriedades mecânicas medidas a frio não refletem o

desempenho mecânico do material na faixa de temperatura estudada.

Os desempenhos em fluência dos aços AISI 321 e AISI 441, com base na

metodologia Sag Test, foram semelhantes nas temperaturas de 900°C e 950°C.

As flechas máximas medidas para os ensaios realizados na temperatura de 950°C

foram 4mm e 5mm para os aços AISI 321 e AISI 441 respectivamente. Entretanto,

na temperatura de 1000°C, o aço AISI 441 apresentou uma expressiva mudança

de comportamento, atingindo uma flecha máxima de 26mm após 100h de ensaio,

enquanto o aço AISI 321 apresentou, na mesma condição, flecha máxima de

apenas 5mm.

Em geral, os aços AISI 441 e AISI 321 não apresentaram, em relação aos seus

estados de entrega, diferenças significativas de dureza ao longo da espessura do

CP após os ensaios Sag Test, nem mesmo próximo às regiões de maiores

tensões trativas e compressivas. Uma exceção foi observada para o aço AISI 321

quando ensaiado por 5h a 900°C. Nesta condição, o aço AISI 321 parece ter sido

susceptível ao envelhecimento. A formação de finos precipitados e, portanto, a

existência de uma contribuição de endurecimento por precipitação explicaria esta

observação.

Page 104: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

88

As energias de ativação para o crescimento de grão dos aços inoxidáveis AISI 441

e AISI 321 foram 373kJ/mol e 287kJ/mol, respectivamente. A maior energia de

ativação encontrada neste trabalho para o aço AISI 321 é uma evidência de que

há maiores restrições à difusão neste aço quando comparado ao aço AISI 441.

Isto implicou em maiores restrições ao crescimento de grão no aço AISI 321 nas

condições estudadas neste trabalho.

O efeito do crescimento de grão sobre a ductilidade em fluência Sag Test não se

mostrou promissor para nenhum dos dois aços estudados. O aço AISI 441 com

grãos grosseiros experimentou uma pequena melhora de desempenho refletida

por uma diminuição de 11% na flecha de fluência (de 26mm de flecha de fluência

para 23mm), enquanto o aço AISI 321 apresentou uma pequena piora de

desempenho, com um aumento de 5,0mm para 6,0mm de flecha nas mesmas

condições experimentais de ensaio Sag Test.

Apesar da dificuldade em se avaliar com precisão os mecanismos de fluência mais

atuantes aplicando-se a metodologia aqui proposta, pode-se sugerir que

provavelmente o mecanismo de fluência preponderante nos casos estudados foi o

de difusão com importante componente Harper-Dorn. A dissolução significativa de

precipitados ricos em Nb no aço AISI 441, associada a elevada energia de falha

de empilhamento dos aços inoxidáveis ferríticos, teria facilitado a mobilidade de

discordâncias na temperatura de 1000°C, aumentando a taxa de geração de

lacunas, facilitando a difusão e, portanto, justificando a mudança de desempenho

do referido aço. O fato do crescimento prévio de grãos nos dois aços não ter se

mostrado efetivo para a diminuição das flechas de fluência é mais uma evidência

de que o mecanismo de difusão Harper-Dorn poderia ser o mais atuante.

Conclui-se, de acordo com os resultados obtidos neste trabalho, que o aço

inoxidável AISI 441 apresenta um bom desempenho de ductilidade em fluência

Sag Test até a temperatura de 950°C. Isto associado ao seu menor custo em

relação ao aço AISI 321 faz com que ele se apresente como a melhor opção para

fabricação de componentes da parte quente do sistema de exaustão para veículos

com motores aspirados, onde as temperaturas podem chegar em até 950°C.

Page 105: Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO DO …

89

Finalmente, o aço inoxidável AISI 321, de acordo com os resultados apresentados,

se mostrou como a melhor opção para automotores turbinados, onde a

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