ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR EM LIVROS DIDÁTICOS DE CIÊNCIAS
DOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 1
Juliana Biar (Grupo Formar-Ciências, Faculdade de Educação Unicamp)
Marilac Luzia S. L. S. Nogueira (Grupo Formar-Ciências, Faculdade de Educação
Unicamp)
Jorge Megid Neto (Grupo Formar-Ciências, Faculdade de Educação Unicamp)
RESUMO:
O livro didático no Brasil é o principal recurso utilizado pelos professores para planejar
e desenvolver suas aulas. Devido a sua importância faz-se necessária a análise de seus
conteúdos e metodologias entre outros aspectos. Um aspecto importante do processo
educacional escolar que ainda não constou de quadros de pesquisa é a questão da
interdisciplinaridade. Nesse contexto, esta pesquisa visa construir e validar um quadro de
indicadores, que avaliem a abordagem interdisciplinar em livros didáticos de Ciências
Naturais do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. O quadro foi elaborado com base numa
revisão bibliográfica e referencial teórico, sendo testados preliminarmente na análise de
uma coleção didática. Após adequações ao conjunto de indicadores, três coleções
didáticas aprovadas no PNLD-Ciências-2014 foram analisadas, por meio da técnica de
análise de conteúdo. Os resultados mostram que predomina uma abordagem multi ou
pluridisciplinar e não propriamente interdisciplinar nas coleções analisadas, envolvendo
uma ou outra área do conhecimento, e não ao conjunto de disciplinas escolares. Com
maior frequência há integração das áreas próprias da Ciências da Natureza (Biologia,
Física, Química, Geociências) ou com áreas correlatas, como Saúde, e sobretudo com
Língua Portuguesa. Raramente são sugeridos, nas coleções analisadas, projetos coletivos
de natureza interdisciplinar, envolvendo o conjunto de professores e alunos de uma
determinada série escolar, menos ainda a comunidade escolar como um todo.
Observamos, em suma, que as abordagens multi, pluri ou interdisciplinar são propostas,
nas coleções analisadas, geralmente numa perspectiva curricular complementar, ou seja,
podem ser suprimidas das atividades realizadas por professores e alunos sem maior
prejuízo ao desenvolvimento do currículo regular; a perspectiva interdisciplinar não é
tratada de modo gerador e como eixo temático-metodológico do currículo preconizado
pelas coleções.
PALAVRAS-CHAVE: Livros Didáticos, Ciências Naturais, PNLD-2014, Abordagem
interdisciplinar.
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
O livro didático é visto como o recurso mais utilizado nas salas de aula de todo o
país, constituindo uma importante ferramenta pedagógica para professores e alunos.
Apesar de seu destaque e importância, é necessário salientar que o livro didático deve ser
utilizado como material de apoio e não como único elo na relação professor-aluno.
1 Pesquisa realizada com apoio da FAPESP.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 300849
A forte presença do uso do livro didático nas escolas está apoiada na criação do
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), em 19 de agosto de 1985. O programa
tem como objetivos, dentre outros, “a adoção de livros reutilizáveis (exceto 1º ano);
escolha do livro pelo conjunto de professores; e sua distribuição gratuita às escolas e sua
aquisição com recursos do Governo Federal” (BATISTA, 2001). O PNLD teve como
meta inicial atender todos os alunos da 1ª a 8ª séries do ensino fundamental (atual 2º ao
9º anos) e, desde 2003, alunos do ensino médio das escolas públicas de todo o território
brasileiro.
Depois da criação do PNLD, em 1995, o Ministério da Educação (MEC)
desenvolveu “um conjunto de medidas para avaliar sistemática e continuamente o livro
didático brasileiro e para debater, com diferentes setores envolvidos em sua produção e
consumo, um horizonte de expectativas em relação a suas características, funções e
qualidade” (BATISTA, 2001). Para essa avaliação, em 1993, foi constituída uma equipe
de pesquisadores que analisou as coleções didáticas das quatro primeiras séries escolares
mais utilizadas no Brasil no ano de 1991. Desse trabalho foi elaborado um documento
intitulado Definição de Critérios para Avaliação dos Livros Didáticos – 1ª a 4ª séries,
publicado em 1994, onde foram avaliados os conteúdos e metodologia dos livros
didáticos isolados e/ou coleções didáticas mais escolhidas e adquiridas pelo MEC,
totalizando dez títulos de cada uma das áreas de Ciências, Matemática, Língua Portuguesa
e Estudos Sociais. Este foi o primeiro processo de avaliação de Livros Didáticos
promovido pelo MEC. A partir disso, decorreram processos periódicos e alternados de
avaliação de coleções dos anos iniciais ou dos anos finais do ensino fundamental e, a
partir de 2003, também do ensino médio.
Apesar desses processos de avaliação, pesquisas acadêmicas brasileiras no campo
do Ensino de Ciências têm evidenciado que houve poucas mudanças de organização
didática e de tratamento das concepções epistemológico-metodológicas fundamentais do
ensino de Ciências nos livros didáticos (MEGID NETO e FRACALANZA, 2006). Várias
dessas pesquisas reconhecem as melhorias provocadas nas coleções didáticas a partir das
avaliações do PNLD: melhorias do projeto gráfico, de correção conceitual, de diversidade
textual e de diversidade de atividades, melhorias também nos manuais do professor.
Todavia há aspectos que ainda carecem de melhor abordagem, por exemplo as
concepções de ciência e de ambiente, das relações ciência-tecnologia-sociedade, da
abordagem de história da ciência numa perspectiva social e da presença de atividades
práticas de natureza aberta e investigativa.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 300850
Integrado ao PNLD, em 1997 foram publicados os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN). No PCN de Ciências, o currículo é dividido em quatro blocos:
Ambiente; Ser Humano e Saúde; Recursos Tecnológicos; e Terra e Universo. Os temas e
conteúdos desses quatro blocos devem ser trabalhados de maneira integrada ao longo de
uma mesma série e articulada de uma série para outra, com uma abordagem gradualmente
mais profunda e complexa (em espiral). A partir desses blocos e dessa abordagem, deveria
ser abandonada a antiga divisão dos conteúdos de Ciências Naturais, por exemplo, nos
anos finais do ensino fundamental: Geociências (5ª série), Biologia (6ª e 7ª série), Física
e Química (8ª série). Reforça-se, assim, uma perspectiva de integração das várias áreas
das Ciências da Natureza.
Infelizmente, todas essas mudanças que ocorreram ao longo das décadas no ensino
de Ciências não modificaram significativamente a prática escolar e o cotidiano das nossas
escolas. Continuamos a assistir aulas de Ciências cujos conteúdos de Biologia,
Geociências, Física e Química são tratados de maneira estanque e isolada, por meio de
métodos de ensino-aprendizagem centrados na transmissão-recepção cultural.
Inserido nessa problemática, configuramos a seguinte questão central de
investigação: os atuais Livros Didáticos de Ciências Naturais do 6º ao 9º anos do
ensino fundamental apresentam uma abordagem dos conteúdos numa perspectiva
integrada e interdisciplinar?
UMA BREVE VISÃO SOBRE INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO
O ensino de Ciências constitui a base da formação científica e tecnológica e seu
modelo curricular nas escolas é influenciado pelas mudanças na própria concepção de
ciência pela sociedade. Reflexo disso é que na década de 1950, época de uma sociedade
mais conservadora, o conhecimento científico era ensinado nas escolas de forma
expositiva e objetiva. Nesse período, os conteúdos curriculares eram fragmentados em
temas: Física, Química, Biociências (atualmente Biologia) e Geociências. Em
contrapartida, com o desenvolvimento industrial e a importância do desenvolvimento
cientifico e tecnológico, a forma como o ensino de ciências era organizado mudou a partir
da década de 1970, quando houve a tentativa de organizar o currículo a partir de temas
unificadores, que aglutinariam as áreas tradicionais das Ciências Naturais (Biologia,
Química, Física e Geologia), predispondo a uma interdisciplinaridade. (AMARAL,
2000). Mais à frente, em meados dos anos 1990, os PCN tentam organizar os conteúdos
curriculares de Ciências Naturais a partir de “eixos temáticos”, os quais também sugerem
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 300851
uma tentativa de integração dos campos específicos das Ciências da Natureza. Ao mesmo
tempo, propõem a articulação das várias disciplinas do currículo escolar do ensino
fundamental por meio do estudo de “temas transversais”, que deveriam ser trabalhados
por todas as disciplinas de modo simultâneo e integrado.
Para tratarmos da interdisciplinaridade, é preciso ressaltar que o termo disciplina
possui dois enfoques: um epistemológico e outro pedagógico (LÜCK, 1994; JAPIASSÚ,
1976). De acordo com o enfoque epistemológico, a disciplina é entendida como uma
ciência (atividade de investigação) em que há um conjunto de conhecimentos com
características próprias, correspondendo a um saber especializado (LÜCK, 1994).
Já no enfoque pedagógico, disciplina é um termo que indica “atividade de ensino
ou ensino de uma área da ciência” (LÜCK, 1994), e isso pode ser observado na gama de
disciplinas oferecidas nas escolas, como: Ciências Naturais, Língua Portuguesa,
matemática, geografia, dentre outras. Essa definição de disciplina citada por Lück é
constatada nos materiais didáticos atuais, onde há uma fragmentação das disciplinas, não
proporcionando ao aluno uma visão integrada do que lhe é ensinado, uma vez que as
disciplinas são lecionadas de forma isolada sem estabelecer qualquer tipo de conexão ou
relação com as demais.
A proposta do trabalho interdisciplinar na educação ressalta a necessidade de uma
conexão entre as disciplinas e a realidade vivida pelo aluno, para que o mesmo tenha uma
compreensão mais abrangente do que lhe é ensinado. O trabalho interdisciplinar transpõe
os limites da disciplina para estabelecer uma relação entre a ciência e a realidade do aluno,
uma vez que cria conexões entre o que é ensinado e o cotidiano vivido pelo mesmo.
Como definição do termo interdisciplinaridade tomamos por base Japiassú (1976).
O autor classifica em quatro as formas de relação entre as disciplinas, sendo elas:
multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade.
Para o autor, multidisciplinaridade é caracterizada pela falta de relação entre disciplinas,
propostas simultaneamente de forma independente e isolada, ou seja, sem que haja
nenhum tipo de cooperação entre elas. O termo pluridisciplinaridade é caracterizado pela
superposição de duas ou mais disciplinas, fazendo-se parecer que há relações entre elas,
embora superficiais ou tênues, ou seja, tratando-se de um nível de pouca colaboração
disciplinar. Já o termo interdisciplinaridade é entendido pelo autor como:
[...] axiomática comum a um grupo de disciplinas conexas e definida no nível
hierárquico imediatamente superior, o que introduz a noção de finalidade.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 300852
Sistema de dois níveis e de objetivos múltiplos; coordenação procedendo do
nível superior (JAPIASSÚ, 1976, p. 73).
Em outras palavras, o termo indica que há forte relação entre as disciplinas,
indicando que duas ou mais disciplinas trabalham juntas ultrapassando seus limites. Por
fim tem-se a transdisciplinaridade, vista por Japiassu (1976) como o último grau das
gradações da interdisciplinaridade, onde ocorre uma relação mútua entre todas as
disciplinas envolvidas. Dentre as gradações, o conceito de interdisciplinaridade proposto
pelo autor surge como uma forma de ultrapassar as barreiras construídas pela
especialização na ciência, sugerindo uma relação entre as disciplinas como forma de
permitir que os professores dialoguem entre si e com os alunos, não havendo uma
hierarquia entre eles e nem entre as disciplinas.
Para Pombo (1994), a interdisciplinaridade deve ser entendida num contexto
epistemológico, pedagógico e mediático. Em seu contexto epistemológico, refere-se à
transferência entre as disciplinas, enquanto que no seu contexto pedagógico se refere às
transferências de conhecimento entre professores e alunos. No contexto mediático, a
interdisciplinaridade é usada nos meios de comunicação a fim de colocar diferentes
pessoas a falar sobre um mesmo assunto.
Pontuschka (1999), por sua vez, acredita que o trabalho coletivo diminui o
isolamento das disciplinas especializadas. Esse é o primeiro passo para que a
interdisciplinaridade ocorra. Mas também a autora afirma que muitos professores têm
dificuldade de criar relações com outras disciplinas, muitas vezes pela falta de
conhecimento básico sobre a disciplina de outro professor. Para que ocorra a
interdisciplinaridade, Pontuschka (1999) diz que é necessário existir pontos comuns entre
os que pretendem realizá-la, de forma a existir um conhecimento mínimo sobre as
disciplinas dos demais.
Entendemos que o ensino escolar de Ciências por si só já implicaria um trabalho
interdisciplinar, pois envolve disciplinas como Biologia, Física, Química e Geologia,
além de áreas correlatas como Astronomia, Educação Ambiental e Educação em Saúde.
A importância do ensino de Ciências para a formação cientifica e tecnológica
torna relevante que o aluno interaja a fim de se sentir parte do local onde vive e essa
integração se inicia na escola e pode ocorrer através de trabalhos de grupo, a partir de
temas geradores; e de trabalhos com o grupo, onde há presença mais ativa do professor,
favorecendo ainda mais a interdisciplinaridade, pois há uma troca de informações que
ocorre através da problematização do tema em estudo. (MARQUES, 1993).
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 300853
METODOLOGIA DA PESQUISA
O objetivo da pesquisa é analisar como a interdisciplinaridade é abordada em
livros didáticos de Ciências Naturais do 6° ao 9° ano do Ensino Fundamental aprovados
pelo PNLD 2014, construindo e validando um quadro de indicadores para tal finalidade.
A partir de estudo teórico sobre a questão da interdisciplinaridade na educação,
mais particularmente no contexto escolar, iniciamos a elaboração do quadro de
indicadores para análise da abordagem da interdisciplinaridade em coleções didáticas.
Tomamos como base o texto “Avaliando Livros Didáticos de Ciências: Análise de
Coleções Didáticas de Ciências de 5a a 8a Séries do Ensino Fundamental” (AMARAL
et al. 2006). Nesse trabalho constam vários indicadores para análise de livros didáticos da
área de Ciências, tanto para o ensino fundamental como para o ensino médio: concepção
de Ambiente; concepção de Ciência/Tecnologia/Sociedade; concepção de Cotidiano;
concepção de Saúde; Atividades; e Manual do Professor.
Inicialmente compusemos um conjunto de indicadores da abordagem
interdisciplinar, mensurados quanto à sua intensidade de ocorrência nas coleções
didáticas com base numa escala tipo Likert, com variação de 1 até 5, onde 1 significa:
nunca ou raramente, 2 – pouco frequente, 3 – frequência regular, 4 – boa frequência e 5
– alta frequência. O quadro analítico foi testado analisando-se uma coleção didática,
sendo realizados alguns ajustes a partir dessa análise. O quadro final está apresentado no
Apêndice 1.
Em seguida, selecionamos três coleções didáticas aprovadas na última avaliação
de livros didáticos do 6º ao 9º anos do ensino fundamental (PNLD-2014). A partir da
leitura do Guia de Ciências do PNLD-2014, buscamos coleções que tivessem sido bem
avaliadas no conjunto de aspectos considerados na avaliação. Como são coleções que
ainda serão distribuídas às escolas públicas no início de 2015, procuramos junto a escolas
da região de Campinas e às Diretorias Regionais de Ensino do estado de São Paulo
coleções encaminhadas pelas editoras por ocasião do processo de escolha pelos
professores das escolas. Compatibilizando esses dois critérios, selecionamos as seguintes
coleções:
- Radix, de Elisangela Andrade, Karina Alessandra P. da Silva, Leonel Delvai Favalli;
Editora Scipione, 2ª Edição, 2012
- Ciências Naturais, de Erika Regina Mozena e Olga Aguilar Santana; Saraiva Livreiros
Editores, 5ª edição, 2012;
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 300854
- Para viver juntos, de Ana Luiza Petillo Nery, André Luiz Catani, Gustavo Isaac
Killner, João Batista Vicentin Aguilar, Márcia Regina Takeuchi e Paula Signorini;
Edições SM, 3ª edição, 2012;
As coleções foram analisadas segundo a técnica de Análise de Conteúdo (AC).
Para Bauer e Gaskell (2005, p.3), esta “é uma técnica para produzir inferências de um
texto focal para seu contexto social de maneira objetivada”. O primeiro passo é a
realização de uma pré-análise, onde se realiza a ‘leitura flutuante’ dos documentos
selecionados e anotações que auxiliarão a delimitar os indicadores. Com as coleções
didáticas a serem analisadas, o próximo passo foi a elaboração das unidades de análise
que orientaram nosso olhar na análise das coleções. Utilizamos por unidade de análise o
“conteúdo integrador” (palavra ou frase) relacionado a duas ou mais áreas internas das
Ciências da Natureza (Biologia, Física, Geociências, Química) ou relacionado a pelo
menos uma das áreas das Ciências Naturais com outras áreas disciplinares (Matemática,
Língua Portuguesa, Arte, História, Geografia etc.). Observamos os 4 volumes de cada
uma das 3 coleções selecionadas, no que se refere aos Textos, às Ilustrações (figuras,
quadros, fotos, esquemas, gráficos, mapas etc.) e às Atividades ali constantes. Marcamos
aqueles trechos em que observarmos relação entre duas ou mais áreas, página por página,
capítulo por capítulo. Para cada volume da coleção, preenchemos o Quadro de
Indicadores (Apêndice 1), e em seguida preenchemos uma Quadro-Síntese de cada
coleção. A partir desse quadro síntese fizemos uma análise quali-quantitativa de como as
questões de interdisciplinaridade foram tratadas na coleção como um todo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
- Coleção RADIX – Editora Scipione
Nessa coleção, a integração interna entre duas ou mais áreas das Ciências da
Natureza ocorre com baixa frequência, exceto as relações entre Biologia e Geociências e
entre Química e Física, que ocorrem de modo frequente.
A integração de conteúdos de Ciências Naturais com outras disciplinas acontece
raramente com a Matemática, Educação Física, Artes, Língua Estrangeira e Astronomia.
Com Geografia e com Educação Ambiental a intensidade é baixa; com História e
Educação em Saúde a frequência é regular; e com Língua Portuguesa, elevada.
Na coleção, como um todo, a interdisciplinaridade é utilizada como elemento de
exemplificação com intensidade baixa, como elemento de ponto de chegada com
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 300855
intensidade rara e como elemento de partida com forte intensidade. A coleção intenciona
o trabalho interdisciplinar frequentemente com a participação do aluno de modo
individual, e em pequenos grupos com intensidade regular.
A coleção também intenciona o trabalho interdisciplinar com a participação do
aluno na realização das atividades e na sistematização dos resultados de modo regular.
As atividades interdisciplinares são propostas raramente através de estudo do meio e de
projetos, de modo mais frequente através do estudo temático teórico bibliográfico. Essas
atividades aparecem frequentemente em textos do autor, regularmente através de textos
de outras fontes e de ilustrações e poucas vezes através de atividades propostas.
As atividades interdisciplinares têm caráter curricular intrínseco com rara
frequência e com maior frequência com caráter curricular complementar. Em linhas
gerais, a coleção incentiva a integração disciplinar fortemente em nível pluridisciplinar,
com pouca frequência no nível multidisciplinar e raramente no nível interdisciplinar.
- Coleção Ciências Naturais – Editora Saraiva
Nessa coleção a integração interna de áreas das ciências da natureza ocorre
raramente entre química e geociências, pouco frequente entre biologia e química, biologia
e física, e entre física e geociências. E de modo mais regular entre biologia e geociências
e entre química e física.
A integração com outras disciplinas ocorre raramente com Matemática, Educação
Física e Artes; de modo regular com História, Geografia, Educação Ambiental e
Educação em Saúde; e mais frequentemente com Língua Portuguesa.
Na coleção a interdisciplinaridade é utilizada com frequência como elemento de
ponto de partida e de modo raro como exemplificação e elemento de ponto de chegada.
O trabalho interdisciplinar é intencionado com a participação do aluno frequentemente de
modo individual; em alguns casos, em pequenos grupos; e raramente com a escola toda.
O aluno participa, frequentemente, na realização das atividades e na
sistematização e divulgação dos dados. As atividades interdisciplinares são propostas em
grande parte através do estudo temático teórico bibliográfico e em poucas ocasiões
através de estudo do meio, projetos, e experimentação.
As atividades interdisciplinares aparecem em grande parte através de textos do
autor e de modo regular através de textos de outras fontes, ilustrações e atividades
propostas. Essas atividades interdisciplinares têm caráter curricular complementar em
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 300856
grande parte e em algumas vezes tem caráter curricular intrínseco. A coleção incentiva a
integração disciplinar em nível multi ou pluridisciplinar.
Coleção “Para Viver Juntos” – Editora SM
A coleção raramente apresenta integração interna de áreas de Ciências da
Natureza envolvendo Biologia e Química, Biologia e Física, Química e Geociências ou
Física e Geociências; regularmente, as relações ocorrem apenas entre Química e Física.
Essa coleção apresenta integração com outras disciplinas como, matemática e
astronomia de modo raro, relação com história, geografia, educação física pouco
frequente; de modo regular com Educação Ambiental, e de forma mais frequente com
Língua Portuguesa.
A interdisciplinaridade é utilizada como elemento de exemplificação de modo
raro, e como elemento de ponto de partida de maneira muito frequente. A coleção
intenciona o trabalho interdisciplinar com a participação do aluno individualmente, em
algumas vezes; frequentemente com a participação do aluno em pequenos grupos, e em
alguns casos com a classe, escola e comunidade externa.
A coleção também intenciona o trabalho interdisciplinar com a participação do
aluno sempre na realização de atividades e na sistematização e divulgação dos dados, e
regularmente no planejamento das atividades. As atividades interdisciplinares são
propostas regularmente através de projetos, experimentação, e estudo temático teórico
bibliográfico.
Essas atividades interdisciplinares aparecem em alguns casos nos textos do autor,
textos de outras fontes, ilustrações e atividades propostas. As atividades têm caráter
curricular complementar.
A coleção incentiva a integração disciplinar em nível pluridisciplinar na grande
maioria das vezes e raramente em nível interdisciplinar.
SÍNTESE E CONSIDERAÇÕES FINAIS
As três coleções analisadas, de maneira geral, apresentam relações entre as
disciplinas internas das áreas das Ciências da Natureza, embora não de forma acentuada
e, com menos frequência ainda envolvendo todas as áreas internas ao mesmo tempo.
Também ocorre com baixa frequência a integração com disciplinas de outras áreas como
Matemática, Geografia, História, Arte entre outras. As relações mais frequentes
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 300857
acontecem com a disciplina de Língua Portuguesa, sobretudo, e com Educação Ambiental
e Educação em Saúde.
As coleções “RADIX” e “Para viver juntos” possuem uma divisão de conteúdo
bem fragmentada nos volumes, sendo característico no volume do 6° ano o tema água, no
volume do 7° o assunto sobre classe e reino dos animais, no 8° ano o tema principal é o
corpo humano e no 9º ano os conteúdos de Física e Química.
A coleção “Ciências Naturais” possui uma distribuição mais transversal, pois ao
longo dos volumes são abordados temas referentes a várias disciplinas. Como exemplo,
o volume do 7° ano, cujo tema geral é energia, o qual é abordado no âmbito da Física,
Química, Biologia e Geociências, proporcionando uma integração dos temas que facilita
ao aluno visualizar essa relação.
Nas três coleções analisadas há presença de projetos ou experimentação nos finais
dos capítulos referente ao tema estudado, porém apenas na coleção “Ciências Naturais”
esses projetos recebem estimulo para serem realizados em grupos; nas demais coleções
os projetos geralmente apresentam orientação para serem realizados de modo individual.
Também na coleção “Ciências Naturais” os alunos são estimulados a divulgarem os
resultados obtidos com a execução do projeto e a discuti-los em sala.
As três coleções apresentam, em sua grande parte, a relação multidisciplinar ou
pluridisciplinar entre os conteúdos abordados nos volumes. Propostas de abordagem de
fato interdisciplinar, supondo o trabalho coletivo e colaborativo entre professores de
várias disciplinas e seus alunos, ou mais ainda envolvendo toda a comunidade escolar,
são raríssimos. Por fim, observamos que as abordagens multi, pluri ou interdisciplinar são
propostas geralmente numa perspectiva curricular complementar, ou seja, podem ser
suprimidas das atividades realizadas por professores e alunos sem maior prejuízo ao
desenvolvimento do currículo regular. A perspectiva interdisciplinar não é tratada de
modo gerador e como eixo temático-metodológico do currículo preconizado pelas
coleções.
REFERÊNCIAS
AMARAL, I. A. Currículo de ciências: das tendências clássicas aos movimentos atuais
de renovação In: BARRETTO, E. S. S. Os currículos do ensino fundamental para
escolas brasileiras. Campinas, SP: Autores Associados, 2000, p. 202-229.
_______; MEGID NETO, J.; FRACALANZA, H; AMORIM, A. C. R.; SERRÃO, S. M.
Avaliando livros didáticos de Ciências: análise de coleções didáticas de Ciências de 5ª
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 300858
a 8ª séries do Ensino Fundamental. In: FRACALANZA, H; MEGID NETO, J; (Orgs.)
O livro didático de ciências no Brasil. Campinas, SP: Komedi, 2006, p. 199-213.
BATISTA, A. A. G. Recomendações para uma política pública de livros didáticos.
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental, 2001.
FRANCO, M. L. P. B. Análise de Conteúdo. Brasília, LiberLivros, 2005.
GUIMARÃES, F.M. Como os professores de 6º e 9º anos usam o livro didático de
Ciências. 2011. Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação,
UNICAMP, Campinas, SP, 2011.
JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e Patologia do Saber. Rio de Janeiro: Imago,
1976.
LÜCK, Heloísa. Pedagogia Interdisciplinar: fundamentos teórico-metodológicos.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
MARQUES, I. A. Abre-se uma porta: forma-se a dança coral. In: PONTUSCHKA, N. N.
(Org.). Ousadia no diálogo. São Paulo: Loyola, 1993. p. 37-52.
MEGID NETO, J. ; FRACALANZA, H. O livro didático de Ciências: problemas e
soluções. In FRACALANZA, H.; MEGID NETO, J. (Org). O livro didático de
ciências no Brasil. Campinas, SP: Komedi, 2006.
NOGUEIRA, M. L. S. L. S. Práticas Interdisciplinares nas séries iniciais do ensino
fundamental: um estudo de teses e dissertações. 2008. Dissertação (Mestrado em
Educação). Faculdade de Educação, UNICAMP, Campinas, SP, 2008.
POMBO, O. Contribuição para um vocabulário sobre interdisciplinaridade (seleção e
organização). In: POMBO, O., Levy, T., Guimarães, H. A interdisciplinaridade:
reflexão e experiência. 2 ed. Lisboa: Texto, 1994. p. 92-97.
PONTUSCHKA, N. N.O. Interdisciplinaridade: aproximações e fazeres. São Paulo:
Terra Livre, v. 14, p. 90-110, 1999.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 300859
APÊNDICE 1 – Quadro de Indicadores da Abordagem de Interdisciplinaridade
em Coleções Didáticas de Ciências Naturais INDICADORES 1 2 3 4 5
Há integração interna de áreas
das ciências da natureza
Biologia – Química
Biologia – Física
Biologia–Geociências
Química – Física
Química–Geociências
Física–Geociências
Há integração com outras
disciplinas
História
Geografia
Matemática
Língua Portuguesa
Educação Física
Artes
Língua Estrangeira
Educação Ambiental
Educação em Saúde
Astronomia
Economia
A interdisciplinaridade é
utilizada como elemento de
Exemplificação
Ponto de chegada
Ponto de partida
Intenciona o trabalho
interdisciplinar com a
participação do aluno
Individualmente
Em pequenos grupos
Com a classe toda
Com a escola toda
Com a comunidade Externa
Intenciona um trabalho
interdisciplinar com a
participação do Aluno na
Escolha da temática
Planejamento das Atividades
Realização das Atividades
Sistematização e Divulgação de
Resultados
Avaliação do Trabalho
As atividades
interdisciplinares são
propostas através
Estudo do meio
Projetos
Experimentação
Estudo temático teórico-
bibliográfico
Outra Estratégia (qual:____)
As atividades
interdisciplinares aparecem
em
Textos do autor
Textos de outras fontes
Ilustrações
Atividades propostas
Sugestões complementares
As atividades
interdisciplinares têm caráter
curricular
Intrínseco
Complementar
Suplementar
Incentiva a integração
disciplinar em nível
Multidisciplinar
Pluridisciplinar
Interdisciplinar
Transdisciplinar
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 300860