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A exposio ao chumbo de militares alvejados por arma de fogo
por
Marcio Lus Soares Bezerra
Dissertao apresentada com vistas obteno do ttulo de Mestre emCincias na rea de Sade Pblica.
Orientadora principal: Prof. Dr. Maria de Ftima Ramos MoreiraSegundo orientador: Prof. Dr. Eduardo Borba Neves
Rio de Janeiro, maio de 2011.
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Esta dissertao, intitulada
A exposio ao chumbo de militares alvejados por arma de fogo
apresentada por
Marcio Lus Soares Bezerra
foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:
Prof. Dr. Ulisses Csar de Araujo
Prof. Dr. Liliane Reis Teixeira
Prof. Dr. Maria de Ftima Ramos Moreira Orientadora principal
Dissertao defendida e aprovada em 27 de maio de 2011
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Catalogao na fonteInstituto de Comunicao e Informao Cientfica e TecnolgicaBiblioteca de Sade Pblica
B574 Bezerra, Marcio Lus SoaresA exposio ao chumbo de militares alvejados por arma de
fogo. / Marcio Lus Soares Bezerra. -- 2011.
xv,104 f. : il. ; tab.Orientador: Moreira, Maria de Ftima Ramos
Neves, Eduardo BorbaDissertao (Mestrado) Escola Nacional de Sade Pblica
Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2011
1. Chumbo. 2. Armas de Fogo. 3. Militares. 4. ExposioOcupacional. 5. Ferimentos por Arma de Fogo. 6. IndicadoresBiolgicos. 7. Sintomas. I. Ttulo.
CDD - 22.ed. 363.11
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A Deus, por ser tudo na minha vida.
Aos meus pais e irmos, pelo apoio.
minha esposa e filhos, pela compreenso
e por terem sempre acreditado em mim e
no meu potencial.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, por tudo que Ele na minha vida.
Aos meus pais Nauricio Severo Bezerra e Nelma Soares Bezerra, pelo amor com
que me educaram e todo esforo desprendido a fim de que hoje eu pudesse concluir com
sucesso mais uma etapa de minha vida, minha eterna gratido.
A minha esposa Luciana, meus filhos Guilherme e Gabriel (por vir) pela
compreenso, apoio, companheirismo e indispensvel contribuio na execuo deste
trabalho, principalmente nos momentos em que o mesmo foi priorizado.
Aos Prof. Dr. Maria de Ftima Ramos Moreira e Prof. Dr. Eduardo Borba Neves
pela orientao segura, apoio e colaborao.
Aos meus amigos, Prof. Dr. Clayton Amaral Domingues, Prof. Dr. Rafael Soares
Pinheiro da Cunha, Prof. Dr. Marco Carlos Uchida, e Prof. Ms. Pedro Henrique Luz
Gabriel, pelo constante incentivo pesquisa e especializao.
minha amiga, Profa. Ms. Leda Diva Freitas de Jesus, pela disposio em
auxiliar constantemente, sendo fundamental para o bom andamento deste trabalho.
Aos professores e colegas da ENSP e do CESTEH, pela caminhada solidria.
Escola de Aperfeioamento de Oficiais, por ter permitido a utilizao de suas
instalaes para a realizao das coletas.
Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro, por todo o apoio prestado e pela
cesso dos sujeitos para esta pesquisa.
Ao Laboratrio de Metais do Centro de Estudos em Sade do Trabalhador e
Ecologia Humana, pela cesso de material e pessoal para a anlise das amostras.
Seo de Informtica da ENSP, pelos esforos em viabilizar a defesa desta
dissertao.
A todos aqueles que direta ou indiretamente colaboraram para que este trabalho
fosse concretizado.
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Combati o bom combate, acabei acarreira, guardei a f. Desde agora, a coroa
da justia me est guardada, a qual o
Senhor, justo juiz, me dar naquele dia; e
no somente a mim, mas tambm a todos
os que amarem a sua vinda.
II Carta de Paulo a Timteo 4:7-8
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RESUMO
O chumbo um elemento de ocorrncia natural, amplamente utilizado h milhares deanos. Atualmente, um dos contaminantes mais comuns do ambiente, devido sinmeras atividades industriais que favorecem a sua grande distribuio e capacidadede penetrar no organismo atravs da inalao (ar atmosfrico), ingesto (gua, alimentose solo contaminados) e por via drmica. Comumente, as munies de arma de fogo socompostas de 95 a 97 % de chumbo. O presente trabalho teve por objetivo identificar aexposio ao chumbo nos policiais militares alvejados por arma de fogo e quepermanecem com algum projtil ou fragmentos alojados em seus corpos, maisespecificamente, determinar as concentraes de chumbo no sangue de militaresbaleados e que possuam projtil ou fragmentos alojados em seus corpos, comparando-as ao grupo controle, e identificar possveis efeitos advindos da contaminao pelochumbo entre os militares estudados, relacionando-os s concentraes de chumboencontradas. Para isso foram selecionados 15 policiais militares do estado do Rio deJaneiro, do sexo masculino, com as seguintes mdias: idade de 36,00 + 6,75 anos, alturade 1,74 + 0,05 metros, massa corporal de 80,36 + 14,19 Kg e tempo de servio naPMERJ de 16,14 + 7,10 anos. Comparou-se um grupo de policiais militares do estadodo Rio de Janeiro que possuam projteis e/ou fragmentos de munio alojados em seuscorpos com outro grupo de policiais que nunca haviam sido baleados. Coletaram-seamostras de sangue dos participantes, nas quais a concentrao de chumbo foideterminada por espectrometria de absoro atmica eletrotrmica. Determinou-se umaconcentrao mdia de chumbo no sangue, em g dL-1, de 10,49 9,62 para os policiais
expostos e de 2,43 0,65 para o grupo controle. Foram utilizados a estatsticadescritiva, o teste de correlao de Spearman, o teste de hipteses de Mann Whitney, e aregresso linear. Embora todos os resultados tenham sido abaixo dos valores limitesestabelecidos pela legislao brasileira, houve diferena significativa entre as amostrasde sangue (z = 3,130 e p = 0,002) dos dois grupos. Encontrou-se associaosignificativa entre os nveis de chumbo no sangue e a localizao do projtil do grupoexposto ( = 0,730 e p = 0,031), porm no houve associao com o tempo deexposio ao projtil ou com a massa do mesmo. Foi constatada diferena significativaentre os possveis efeitos neurolgicos dos grupos (z = 2,261 e p = 0,024). Foramformuladas equaes que pudessem predizer as futuras concentraes de chumbosanguneas nos policiais expostos, e estas equaes apresentaram excelente correlao
com o chumbo sanguneo efetivamente determinado. Concluiu-se que a presena deprojtil e / ou fragmentos alojados no corpo se constitui numa fonte significativa dometal, aumentando assim a contaminao bem como a possibilidade de efeitosneurolgicos advindos desta contaminao, o que deve ter sido potencializado pelaexposio ocupacional a que todos os policiais militares esto sujeitos. Recomendou-seque seja efetuada, sempre que possvel, a retirada do projtil e fragmentos dosindivduos alvejados O desenvolvimento de novos estudos sobre o tema, poucoexplorado pela comunidade cientfica, assim como dos ndices de contaminao pelochumbo formulados nesta pesquisa so recomendados de forma a facilitar o processo detomada de deciso por parte dos mdicos e cirurgies.
Palavras-chave:1. Chumbo. 2. Arma de fogo. 3. Militares. 4. Ferimentos por arma defogo. 5. Sintomas.
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ABSTRACT
Lead is a naturally occurring element widely used for thousands of years. Currently, it isone of the most common contaminants of the environment, due to several industrialactivities that promote its widespread distribution and due to its capability to enter thehuman body through inhalation (air), ingestion (food, water and contaminated soil) anddermal. Usually, the ammunition of firearms is made from 95 to 97% of lead. This studyaimed to identify the lead exposure in the military police shot by a firearm and withsome remaining fragments or bullet lodged in their bodies, more specifically, todetermine lead concentrations in the blood of soldiers who got shot and remained withbullet and /or ammunition fragments lodged in their bodies, comparing thoseconcentrations to the control group, and identify possible effects resulting from leadcontamination in the military studied, relating them to the concentrations of lead found.For this there were selected 15 military policemen from Rio de Janeiro state, male, aged36.00 + 6.75 years, height 1.74 + 0.05 meters, body weight of 80.36 + 14.19 kilogramsand service time in PMERJ 16.14 + 7.10 years. We compared a group of military policeof the state of Rio de Janeiro who had projectile and / or fragments of ammunitionlodged in their bodies with another group of policemen who had never been shot. Bloodsamples were collected from participants, in which the lead concentration wasdetermined by electrothermal atomic absorption spectrometry. It was determined anaverage blood lead concentration, in g dL-1, of 10.49 9.62 for the exposed policeofficers and 2.43 0.65 for control group. We used descriptive statistics, the Spearmancorrelation test, the hypothesis test of Mann-Whitney and linear regression. Although all
results were below the limits established by Brazilian legislation, they showed astatistically significant difference between the blood samples (z = 3,130 and p =0,002) in both groups. There was also a significant association between blood leadlevels and bullet location of the exposed group ( = 0.730 and p = 0.031), but nocorrelation with the projectile exposure time or the bullet weight. There were significantdifferences among the possible neurologic effects of the groups (z = 2.261 p = 0.024).There were formulated equations that could predict future blood lead concentrations inexposed police officers, and these equations showed excellent correlation witheffectively determined blood lead levels. There was considered that there was nomilitary police totally free of lead exposure. It was concluded that the presence ofprojectile and / or fragments lodged in the body constitutes a significant source of the
metal, thus increasing the contamination and the possibility of neurologic effectsresulting from this contamination, which must have been augmented by occupationalexposure that all police officers are subjected to. It was recommended to be made,whenever possible, the removal of the bullet and fragments of targeted individuals. Thedevelopment of new studies on this subject, largely unexplored by the scientificcommunity, as well as the lead contamination indexes formulated in this research arerecommended to facilitate the decision-making process by physicians and surgeons.
Keywords:1. Lead. 2. Firearms. 3. Military Personnel. 4. Gunshot. 5. Symptoms.
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LISTA DE ILUSTRAES
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Figura 1 Modelo de trs compartimentos............................................................................. 13
Figura 2 Composio interna de um cartucho...................................................................... 20
Figura 3 Composio interna de um projtil encamisado.................................................... 22
Figura 4 Munies encamisadas e projteis aps impacto em gelatina balstica................. 23
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LISTA DE TABELAS
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Tabela 1Resultado de pesquisa sistemtica nas bases de dados PubMed, Lilacs e
Cochrane Library.................................................................................................... 6
Tabela 2Principais efeitos sobre a sade relacionados ao Pb e os respectivos rgos
crticos.................................................................................................................... 18
Tabela 3 Limites do Pb-S, segundo instituio regulamentadora......................................... 37
Tabela 4 Caracterizao da populao quanto idade, massa corporal e altura................... 51
Tabela 5 Caracterizao da populao quanto ao posto/graduao...................................... 51
Tabela 6 Caracterizao da populao quanto ao tempo de servio na Polcia Militar........ 52
Tabela 7 Caracterizao da populao quanto ao nvel de escolaridade............................... 52
Tabela 8 Caracterizao da populao quanto classe econmica....................................... 53
Tabela 9 Pb-S nos grupos...................................................................................................... 54
Tabela 10 Estatstica descritiva do Pb-S nas amostras de sangue da populao estudada...... 55
Tabela 11 Pb-S advindos de fontes relacionadas a munies................................................. 56
Tabela 12 Pb-S medidos em trabalhadores e usurios de estandes de tiro.............................. 58
Tabela 13 Perfil das exposies ambiental e ao fumo............................................................. 62
Tabela 14 Perfil da exposio aos projteis/fragmentos......................................................... 64
Tabela 15 Nvel de vascularizao do grupo exposto............................................................. 65
Tabela 16 Correlao de Spearman entre o Pb-S e as variveis componentes do perfil de
exposio aos projteis / fragmentos...................................................................... 65
Tabela 17 Sintomas neurolgicos e possibilidade de alcoolismo crnico.............................. 71
Tabela 18 Teste de Mann-Whitney para os sintomas neurolgicos........................................ 71
Tabela 19 Resultados do ndice de Contaminao por Pb1.................................................... 75
Tabela 20 Resultados do ndice de Contaminao por Pb2.................................................... 77
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LISTA DE SMBOLOS
[Pb]................................. Concentrao de chumbo
g dL-1............................ Micrograma por decilitro
g L-1 ............................. Micrograma por litro
g m-3............................ Micrograma por metro cbico
m................................... Micrmetro
(rho)............................. Coeficiente de Correlao de Postos de Spearman
Al.................................... Alumnio
Ba.................................... Brio
Ba(NO3)2........................ Nitrato de brio
Ca.................................... Clcio
Cu................................... Cobre
Fe.................................... Ferro
g cm-3.............................. Grama por centmetro cbico
Hb................................... Hemoglobina
H2PO3............................. Grupo fosfato de di-hidrognio / cido fosforoso
mg dL-1........................... Miligrama por decilitro
mg m-3............................. Miligrama por centmetro cbico
Mg(NO3)2....................... Nitrato de magnsio
Mn.................................. Mangans
NH2................................. Grupo amino
N4H4................................ Tetrazeno
Ni.................................... Nquel
OH.................................. Grupo hidrxido
P...................................... Fsforo
Pb.................................... Chumbo
Pb2+................................. on de chumbo / divalente
Pb4+................................. on de chumbo / tetravalente
Pb-P................................ Concentrao de chumbo no plasma
Pb-S................................ Concentrao de chumbo no sanguePb-U................................ Concentrao de chumbo na urina
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PbCO3............................. Cerussita
PbCl(VO4)3..................... Vanadinita
Pb5Cl(PO4)3.................... Piromorfita
PbCrO4............................ Crocota
PbMoO4.......................... Wulfenita
PbO2................................ Perxido de chumbo
PbO2H(NO2)3.................. Estifinato de chumbo
PbS.................................. Galena
PbSO4............................. Anglesita
Sb.................................... Antimnio
Sb2S3............................... Trissulfeto de antimnio
SH................................... Grupo sulfidrila
Zn.................................... Zinco
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LISTA DE ABREVIATURAS
ALAD..... cido delta aminolevulnico desidratase
ALA-U.... cido delta aminolevulnico na urina
EPI...... Equipamento de proteo individual
ET AAS...... Espectrometria de absoro atmica eletrotrmica
FRXL.......................... Fluorescncia de raios X de camada L
IBE.......... ndice biolgico de exposio
IBMP.. ndice biolgico mximo permitido
IMC ndice de massa corprea (kg m-2)
LEO............................ Limite de exposio ambiental
MLL ndice mximo
PAF............................. Perfurao por arma de fogo
PE............................... Protoporfirina eritrocitria
SN............................... Sistema nervoso
SNC Sistema nervoso central
SPSS .. Statistical Package for the Social Sciences
TLV Valor Limite de Exposio ou Valor Limite de Tolerncia
VR.. Valor de referncia
ZPP. Zinco protoporfirina
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LISTA DE SIGLAS
ABEP.......... Associao Brasileira de Empresas de Pesquisa
ACGIH...... American Conference of Governmental Industrial Hygienists
ATSDR....... Agency for Toxic Substances and Disease Registry
CBC............. Companhia Brasileira de Cartuchos
CCEB.......... Critrio de Classificao Econmica Brasil
CDC............ Centers for Disease Control and Prevention
CE............... Comunidade Europia
CEP............. Comit de tica em Pesquisa
CESTEH..... Centro de Estudos em Sade do Trabalhador e Ecologia Humana
CONEP....... Conselho Nacional de tica em Pesquisa
DeCS........... Descritores em Cincias da Sade
DGS............. Diretoria Geral de Sade
ENSP........... Escola Nacional de Sade Pblica Srgio Arouca
EsAO........... Escola de Aperfeioamento de Oficiais
FIOCRUZ... Fundao Oswaldo Cruz
HCPM......... Hospital Central da Polcia Militar
IARC........... International Agency for Research on Cancer
Lilacs........... Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade
MeSH.......... Medical Subject Headings
MTE............ Ministrio do Trabalho e Emprego
NIOSH........ National Institute for Occupational Safety and Heath
NR............... Norma Regulamentadora do Ministrio do Trabalho e EmpregoOPM............ Organizao Policial Militar
OSHA.......... Occupational Safety and Health Administration
PMERJ........ Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro
PubMed.......Publicaes Mdicas (U.S. National Institutes of Health (NIH) free digital
archive of biomedical and life sciences journal literature)
SBN............. Sociedade Brasileira de Neurocirurgia
SCOEL........ Scientific Committee on Occupational Exposure LimitsWHO........... World Health Organization
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SUMRIO
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1 INTRODUO................................................................... 1
2 OBJETIVOS........................................................................ 4
2.1 GERAL.................................................................................. 4
2.2 ESPECFICOS...................................................................... 4
3 JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA................................ 5
4 CHUMBO E SUAS CARACTERSTICAS...................... 84.1 PROPRIEDADES QUMICAS E FSICAS......................... 8
4.2 PRINCIPAIS FONTES DE EXPOSIO........................... 9
4.3 TOXICOCINTICA............................................................. 10
4.3.1 Absoro............................................................................... 10
4.3.2 Distribuio.......................................... 12
4.3.3 Eliminao e excreo......................................................... 14
4.4 TOXICODINMICA........................................................... 15
5 ARMAS DE FOGO, MUNIES E
CARACTERSTICAS........................................................ 19
5.1 ARMAS DE FOGO............................................................... 19
5.2 MUNIES.......................................................................... 19
5.3 ABSORO DO CHUMBO DAS MUNIES................. 23
6 INDICADORES BIOLGICOS....................................... 26
6.1 BIOMARCADORES PARA O CHUMBO.......................... 26
6.2 INDICADORES BIOLGICOS DE EXPOSIO AO
CHUMBO............................................................................. 28
6.2.1 Urina..................................................................................... 29
6.2.2 Sangue................................................................................... 29
6.2.3 Plasma / soro........................................................................ 30
6.2.4 Saliva..................................................................................... 31
6.2.5 Ossos e dentes....................................................................... 32
6.2.6 Outros biomarcadores........................................................ 32
6.3 EXPOSIO OCUPACIONAL........................................... 34
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6.3.1 Limites de exposio ocupacional...................................... 34
7 MATERIAIS E MTODOS............................................... 38
7.1 REA DE ESTUDO............................................................. 38
7.2 POPULAO DE ESTUDO................................................ 38
7.2.1 Critrios de seleo da populao...................................... 39
7.2.1.1 Incluso................................................................................. 39
7.2.1.2 Excluso................................................................................ 40
7.2.2 Aspectos ticos..................................................................... 40
7.3 EXPERIMENTAL................................................................ 42
7.3.1 Coleta de dados.................................................................... 42
7.3.1.1 Pr-teste................................................................................. 46
7.3.2 Coleta e conservao das amostras biolgicas.................. 46
7.3.3 Instrumental......................................................................... 47
7.3.4 Descontaminao do material............................................ 47
7.3.5 Reagentes e solues............................................................ 47
7.3.6 Preparao das amostras.................................................... 48
7.3.7 Exatido................................................................................ 48
7.3.8 Tratamento estatstico......................................................... 48
8 RESULTADOS E DISCUSSO........................................ 50
8.1 POPULAO DE ESTUDO................................................ 50
8.2 CARACTERIZAO DA POPULAO DE ESTUDO.... 50
8.2.1 Perfil antropomtrico.......................................................... 50
8.2.2 Perfil ocupacional................................................................ 51
8.2.3 Nvel de escolaridade........................................................... 528.2.4 Perfil econmico.................................................................. 52
8.3 CHUMBO SANGUNEO..................................................... 53
8.4 EXPOSIES REFERIDAS AO CHUMBO....................... 61
8.4.1 Perfil das exposies ambiental e ao fumo........................ 61
8.4.2 Perfil da exposio aos projteis / fragmentos.................. 64
8.5 IDENTIFICAO DOS POSSVEIS SINTOMAS
NEUROLGICOS RELACIONADOS AO CHUMBO...... 708.5.1 Sintomas neurolgicos (Q16) e varivel de
confundimento (CAGE)...................................................... 70
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8.6 NDICES DE CONTAMINAO POR PROJTIL
ALOJADO............................................................................. 75
9 CONCLUSO..................................................................... 80
REFERNCIAS.................................................................. 83
ANEXO A QUESTIONRIO AOS SUJEITOS........... 101
ANEXO B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE
E ESCLARECIDO.............................................................. 104
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1 INTRODUO
Os metais podem danificar toda e qualquer atividade biolgica. Por isso h,
teoricamente, diferentes respostas a esses elementos para os diversos tipos de atividade.
Todavia, o acesso variado aos componentes biolgicos faz com que certos tipos de
respostas predominem. Por exemplo, todos os sistemas enzimticos so potencialmente
suscetveis aos metais. Por outro lado, nos organismos vivos, o acesso a essas
substncias pode ser limitado pelas estruturas anatmicas; alm disso, os stios ligantes
podem competir pelos ons metlicos. Por essas razes, freqentemente existem
considerveis diferenas de sensibilidade entre diferentes rgos e tecidos, assim como
na ao observada entre experimentos in vivo e in vitro, entre espcies e entre respostas
tpicas de intoxicao clnica 1,2.
O chumbo (Pb) um elemento de ocorrncia natural, amplamente utilizado h
milhares de anos. Atualmente, um dos contaminantes mais comuns do ambiente,
devido s inmeras atividades industriais que favorecem a sua grande distribuio,
podendo penetrar no organismo atravs da inalao (ar atmosfrico), ingesto (gua,alimentos e solo contaminados) e por via drmica. Assim, praticamente todos os seres
humanos possuem Pb em seus organismos como resultado da exposio s fontes
exgenas 1. No entanto, este metal no possui nenhuma funo fisiolgica conhecida no
organismo, e seus efeitos txicos sobre os homens e animais j so conhecidos h muito
tempo por afetarem praticamente todos os rgos e sistemas do corpo humano 3,4.
O Pb absorvido distribudo para o sangue, tecidos moles e sseos. As maiores
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concentraes de Pb, em torno de 95% da carga corporal, so encontradas no tecido
sseo, tornando-se, desta forma uma fonte endgena deste metal, que mobilizado de
acordo com as diferentes demandas do organismo 5. Qualquer que seja a via de entrada
(inalao ou ingesto), os efeitos biolgicos do chumbo so os mesmos porque o metal
interfere no funcionamento normal das clulas e nos processos fisiolgicos. O sistema
nervoso, medula ssea e os rins so os stios crticos na exposio a este metal 2.
Os efeitos txicos do chumbo incluem a hiperatividade, perda de coordenao,
confuso, encefalopatia, perda de memria, entre outros, sendo efeitos claros de
neurotoxicidade. A anemia um efeito causado por desvios hematolgicos uma vez que
o metal tem ao txica sobre as clulas vermelhas e eritropoiticas na medula ssea. A
exposio excessiva e prolongada ao chumbo pode levar a doenas renais progressivas e
irreversveis 1,2,4,6,7,8,.
Estudos em animais forneceram evidncias suficientes de carcinogenicidade do
chumbo inorgnico e seus compostos, e evidncias limitadas de que carcinognico
para os seres humanos. Assim, aInternational Agency for Research on Cancer(IARC)
9, em documento de 2006, classifica o chumbo inorgnico e seus compostos como
"provavelmente carcinognicos para humanos" (grupo 2A). Nos Estados Unidos, uma
lista das 275 substncias mais perigosas para 2007 mostra o chumbo em segundo lugar,
atrs somente do arsnio 10.
Os constituintes metlicos de munies e granadas militares so basicamente o
chumbo (Pb), com 95 - 97% em sua constituio e o antimnio (Sb), em torno de 2%. O
brio (Ba), o nquel (Ni), o zinco (Zn), o mangans (Mn) e o cobre (Cu), complementam
os percentuais restantes 11,12,13. A elevada percentagem de chumbo na composio da
munio deve-se s propriedades do metal, entre as quais a ductilidade e a fcil
associao com outros minerais polimetlicos, como zinco, cobre e ferro, permitindo
melhor desempenho mecnico e fsico do produto final 14.
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Existem, tambm, os projteis conhecidos como encamisados (ou jaquetados),
que so construdos por um ncleo de chumbo recoberto por uma capa externa chamada
camisa ou jaqueta. A camisa normalmente fabricada com ligas metlicas como cobre e
nquel; cobre, nquel e zinco; cobre e zinco; cobre, zinco e estanho ou ao 15,16.
H, ainda, projteis especiais fabricados com material diferente do chumbo
como o cobre (copper bullet), ou a munio silver point ou gold, que so
normalmente usadas por foras armadas e foras policiais, sendo mais caras do que a
munio comum e de difcil acesso pela populao civil, incluindo o chamado mercado
negro 16.
Sujeitos alvejados por munio de arma de fogo e que possuem projtil ou
fragmentos alojados em seus corpos, apresentam uma fonte endgena de chumbo.
Policiais militares que freqentemente passam por situaes de fogo cruzado esto mais
suscetveis a serem alvejados e, dependendo da situao, acabam permanecendo com
projteis alojados nos seus organismos. Ao longo dos anos, esse chumbo vai sendo
oxidado com intensidade variada, de acordo com sua localizao no corpo, passando
para a corrente sangunea e causando efeitos txicos. Neste sentido, importante
verificar o nvel de contaminao por esse metal no organismo humano na presena
deste tipo de fonte.
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2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
Identificar a exposio ao chumbo nos policiais militares alvejados por armas
de fogo e que permanecem com algum projtil ou fragmentos alojados em seus corpos.
2.2ESPECFICOS
1) Determinar a concentrao de chumbo em sangue nas amostras coletadas;2) Comparar os nveis sanguneos de chumbo encontrados nos militares com
projteis alojados com os valores encontrados no grupo controle;
3) Identificar entre os policiais com projtil, aqueles que apresentampossveis efeitos relativos ao Pb, atravs de questionrio;
4) Correlacionar os possveis efeitos com as concentraes de Pb-Sencontradas.
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3 JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA
A partir da dcada de 70, houve um aumento do interesse sobre as relaes de
trabalho com a sade do trabalhador. O crescimento da produo cientfica fez com que
fossem reconhecidas as situaes de risco presentes nos ambientes de trabalho 17,18,19,20.
Uma pesquisa analisou o perfil da produo cientfica sobre Sade do
Trabalhador e constatou que a categoria dos militares, incluindo-se os policiais
militares, foi uma das classes de trabalhadores menos estudadas no perodo de 2001 a
2008 21. Em uma anlise sumria realizada em bases de dados eletrnicas, pode-se
perceber que as pesquisas envolvendo policiais militares concentram-se em estudos a
respeito de aspectos psicolgicos e sociais da profisso. Foi observado em um estudo de
caso, cujo sujeito analisado possua 3 projteis alojados no abdmen, perna direita e
coluna lombo-sacra, que os autores associavam a contaminao pelo Pb ao contato deste
metal com o lquido cefalorraquidiano 22. No foram observadas pesquisas versando
sobre a exposio ao chumbo em policiais militares realizadas no Brasil.
Anlises realizadas nas bases de dados do PubMed,Lilacse Cochrane Library
utilizando de maneira associada os descritores lead poisoning (intoxicao por
chumbo), gunshot wound (ferimentos por arma de fogo) e human (humanos), no
perodo de 1962 a 2008 (Tabela 1), apontaram a existncia de 81 (PubMed), 6 (Lilacs) e
1 (Cochrane Library) pesquisas, sendo que, no PubMed, 58 destes so estudos de caso
22. Na base de dados do Scielo, foram encontrados apenas dois estudos de caso
relacionados intoxicao por chumbo em pessoas com projteis alojados e ambos do
nfase terapia quelante e relacionam a contaminao proximidade com grandes
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articulaes como joelho, quadris, ombros e coluna vertebral, com o conseqente
contato com o lquido cefalorraquidiano 23.
Tabela 1 Resultado de pesquisa sistemtica nas bases de dados PubMed, Lilacs e Cochrane Library
Base de dados PubMedTpicos principais de busca MeSH e
palavras-chaveQuantidade de estudos de 1962 a 2008
lead poisoning e gunshot wound ehuman
81
lead poisoning e gunshot wound ehuman e case reports
58
Base de dados LilacsDescritor DeCS e palavras-chave Quantidade de estudos de 1962 a 2008
intoxicao por chumbo e ferimentospor arma de fogo
6
Base de dados Cochrane LibraryTpicos principais de busca MeSH e
palavras-chaveQuantidade de estudos de 1962 a 2008
lead poisoning e gunshot wound 1MeSH = Medical Subject Headings; Lilacs = Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias daSade; DeCS = Descritores em Cincias da Sade.Fonte: Adaptado de Madureira et al(2009)22.
Com a inexistncia de estudos sobre a contaminao por chumbo em policiais
militares, houve o interesse em pesquisar este grupo de trabalhadores, tendo em vista
que o contexto no qual se vive e labuta o mesmo onde as doenas aparecem 24.
Considerando-se, ainda, que a realidade social da cidade do Rio de Janeiro expe esta
categoria enorme possibilidade de ferimentos por arma de fogo.
Esta pesquisa poder auxiliar na conscientizao da importncia de se buscar a
retirada da fonte de exposio, o projtil alojado, sempre que for possvel, diminuindo a
incidncia das doenas relacionadas presena de chumbo no organismo e os
conseqentes gastos indiretos causados pela perda de produo com o afastamento dos
policiais militares dos seus servios. Ressalte-se, tambm, a minimizao dos custos
gerados por aquelas doenas, fruto da hospitalizao e da realizao de exames, e a
otimizao do estado de sade, de maneira geral, das pessoas que contm projteis
alojados.
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Neste sentido, oportuno afirmar que informaes sobre a contaminao
causada pelo chumbo proveniente dos projteis alojados no corpo de policiais militares
so necessrias, para se buscar maneiras de minimizar os efeitos da contaminao
causada por aquele metal.
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4 CHUMBO E SUAS CARACTERSTICAS
4.1 PROPRIEDADES QUMICAS E FSICAS
O chumbo (do latimplumbum) um elemento qumico de smbolo Pb, nmero
atmico 82, com massa atmica igual a 207,2 u, pertencente ao grupo 14 (4A) da
classificao peridica dos elementos qumicos, o mesmo grupo do carbono e do
estanho. O chumbo tem o nmero atmico mais elevado entre todos os elementos
estveis 4.
um metal denso, resistente, dctil e apresenta cor cinza azulado brilhante.
muito leve, malevel e de alta densidade: 11,35 g cm
-3
. Possui vrias aplicaes pela suaestabilidade, baixo ponto de fuso (327,4 C) e alta resistncia aos raios-X 25.
Os estados de oxidao do chumbo so (0), (I), (II) e (IV), porm nos
ambientes naturais encontrado, predominantemente, sob a forma Pb+2, que a mais
txica. O estado de oxidao Pb+4
forma compostos orgnicos estveis, que tambm so
txicos, representando risco sade do homem, principalmente nos pases que ainda
utilizam aditivos com chumbo na gasolina 26.
Raramente aparece no seu estado elementar, mas sim em combinao com
outros elementos. Os seus minerais mais importantes so a galena (PbS), a cerussita
(PbCO3), a anglesita (PbSO4), a piromorfita (Pb5Cl(PO4)3), a vanadinita (PbCl(VO4)3), a
crocota (PbCrO4) e a wulfenita (PbMoO4)25.
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4.2 PRINCIPAIS FONTES DE EXPOSIO
A maior parte do chumbo utilizado pela indstria vem da explorao de
minrios (primria) ou da reciclagem de fragmentos de metal ou baterias
(secundria). As atividades humanas tm espalhado o chumbo por todo o ambiente
1,27. Atualmente, as maiores fontes ambientais de chumbo e seus sais, que contribuem
para a ingesto diria, so ar, poeira, alimentos, bebidas e tinta. A fumaa de cigarro
tambm pode aumentar o total de chumbo ingerido por dia. Alimentos tais como frutas,
vegetais, carnes, gros, frutos do mar, bebidas suaves e vinhos podem conter chumbo,
originado da gua de preparo, plantas e animais criados em locais contaminados. Potes
ou pratos de cermica vitrificados incorretamente, vidraria de cristal contendo chumbo,
latas e chaleiras com solda base do metal tambm contribuem para a contaminao da
alimentao 27,28.
Ao longo das trs ltimas dcadas, as concentraes atmosfricas de chumbo
diminuram significativamente em todo o mundo, uma vez que muitos pases optaram
por remover o chumbo tetraetila ou alquil-Pb da gasolina 29. Embora a combusto da
gasolina com chumbo j tenha sido fonte primria de poluio do ar, as emisses
industriais deste elemento, tais como fundies de metais no ferrosos, fbricas de
baterias, plantas qumicas e modificao de construes antigas contendo tinta base de
chumbo so agora os maiores contribuintes para o total do metal liberado para aatmosfera 30. Nos EUA, por exemplo, embora o uso de chumbo nas tintas para pintura
de moradias tenha sido proibido em 1978, estima-se que 40% das residncias da nao
ainda contenham tinta base de chumbo 31.
A intoxicao pelo chumbo, comumente conhecida como saturnismo, est, em
grande parte, relacionada atividade profissional. A exposio ocupacional ao chumbo
ocorre principalmente na produo de baterias, fundio de munio, fabricao de
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proteo contra raios-X, cermica, tintas, minerao, e na formao de ligas metlicas
para a produo de soldas, fusveis, revestimentos de cabos eltricos, materiais
antifrico, metais de tipografia, entre outros 32,33.
O consumo de alimentos cidos acondicionados em latas ou cermicas
vitrificadas e a contaminao do meio ambiente so consideradas as principais fontes de
exposio ao chumbo no relacionadas ao trabalho. Por outro lado, no Brasil, uma das
principais formas de exposio ocupacional ao chumbo a atividade de reciclagem de
baterias automotivas. Na maioria das vezes, este processo se d em pequenas indstrias,
sem a devida proteo aos trabalhadores 28,34,35,36.
A ingesto de tintas que contm chumbo se constitui na maior fonte disponvel
do metal para crianas e importante fonte para muitos adultos, especialmente aqueles
envolvidos com construo e reforma de casas, e os que tm a pintura como profisso
ou passatempo. Outras fontes tambm podem aumentar o total de chumbo ingerido por
dia, tais como brinquedos pintados, cosmticos faciais, tintura de cabelo, impresso
colorida, gua de tubulao com solda de chumbo e os remdios populares 27,37.
4.3 TOXICOCINTICA
4.3.1 Absoro
As principais vias de absoro do Pb no organismo so os pulmes e o trato
gastrointestinal. Em mdia, 50 % do chumbo inalado so absorvidos pelos pulmes e 10
% do chumbo ingerido so absorvidos pelo trato gastrointestinal 38. Seus compostos
orgnicos conseguem penetrar no organismo por via cutnea como, por exemplo, o
chumbo tetraetila, que penetra rapidamente no organismo pelos pulmes, pelo trato
gastrointestinal e pela pele 3,4,39.
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A absoro do Pb influenciada pela via de exposio, espcie qumica
formada, tamanho da partcula (no caso de particulado), solubilidade em gua, e
variaes individuais fisiolgicas e patolgicas. Essa absoro pode ser superior a 50%
da dose inalada/ingerida para gases de exausto e sais altamente solveis, assim como
para fumantes e pessoas com doenas das vias respiratrias superiores, favorecendo
assim uma maior deposio das partculas de chumbo no trato respiratrio 1,4.
A absoro do chumbo pelo trato gastrointestinal depende mais de fatores
nutricionais tais como ingesto de clcio (Ca), ferro (Fe), fsforo (P) e protenas do que
da solubilidade de seus compostos, devido acidez do estmago. Sabe-se que um baixo
teor de Ca ou Fe na dieta aumenta a absoro do Pb. O mesmo verdadeiro para uma
alimentao deficiente em P e protenas. A sua absoro pela mucosa intestinal
possivelmente envolve um mecanismo de competio com relao ao clcio 4,28.
A absoro do chumbo ingerido pelo trato gastrointestinal muito varivel e
parece estar relacionada ingesto simultnea de alimentos Este tipo de absoro
estimada em, aproximadamente, 10 a 20% nos adultos, j que a maior parte do chumbo
ingerido excretada in natura. Mas o ndice de absoro pode chegar a 50% quando
ingerido como soluo, sendo que elementos como o clcio, fsforo, ferro, fitato
parecem reduzir esta absoro 40. Nas crianas, esta absoro pode chegar a 40% do
total do chumbo ingerido com os alimentos 39. Crianas at dois anos de idade retm
34% da quantidade total de chumbo absorvido, enquanto que esta reteno de apenas
1% nos adultos 4,28.
Maddaloni e colaboradores verificaram que 26,2% do Pb foram absorvidos
quando administrados a 6 adultos em jejum. Aps a ingesto de um caf da manh
padronizado, a taxa de absoro caiu para 2,52% 41.
Pela via respiratria, a absoro varia com a forma (fumos metlicos x
partculas), a concentrao, e com as variaes patolgicas e fisiolgicas individuais.
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Aproximadamente 90% das partculas de chumbo inaladas do ar ambiente so
absorvidas, seja como carbonato de chumbo ou por fagocitose. Estas partculas so
ento, depositadas nas regies nasofarngea, traqueobrnquica e alveolar, de onde so
eliminadas pelo mecanismo mucociliar da traquia, ou engolidas e absorvidas, ou
eliminadas pelo trato gastrointestinal (com exceo da regio alveolar) 39.
Um estudo realizado em 1995 sugere que, aps 24 horas de inalao, 10-60%
de partculas de chumbo de 0,01-5,0 m de dimetro so absorvidas, exceto se o
composto de chumbo tem baixa solubilidade 40. Partculas maiores so depositadas nas
vias areas superiores e a maioria delas engolida 38.
4.3.2 Distribuio
O chumbo absorvido distribudo no organismo atravs da corrente sangunea,
onde aproximadamente 95 % se fixam nas hemcias e 5% no plasma, ligados
albumina, 2- globulina ou como ons no ligados. Aps a absoro, um equilbrio
estabelecido entre as fraes do metal no plasma e nas clulas vermelhas. O chumbo do
sangue se distribui pelos tecidos moles (fgado e rins) e ossos. A reteno do metal nos
tecidos moles se estabiliza na vida adulta, podendo at decrescer em alguns rgos com
o avano da idade. Contudo, continua a se acumular nos ossos e na aorta durante toda a
vida. Quando em estado de equilbrio, cerca de 90% do contedo total de chumbo no
organismo se encontram nos ossos. Os tempos de meia-vida do metal so bastante
diferentes, sendo estimados em 36 dias para o sangue, 40 dias para os tecidos moles e
27 anos para os ossos 4,38,42, com um controverso tempo mais curto para os ossos
trabeculares, cerca de 1 ano 40.
Existem alguns modelos cinticos para explicar a distribuio do chumbo no
organismo. O primeiro modelo proposto foi o de trs compartimentos de Rabinowitz e
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colaboradores (1976), que diz que o chumbo no metabolizado, mas complexado por
macromolculas, sendo diretamente absorvido, distribudo e excretado. Uma vez
absorvido, o chumbo se distribui entre o sangue, os tecidos moles (rins, medula ssea,
fgado e crebro) e os tecidos mineralizados (ossos e dentes) (Figura 1) 42,43,44. Da
mesma forma, Nilsson e colaboradores (1991) 47 concluram que o esqueleto representa
o compartimento em que a cintica de eliminao a mais lenta (principalmente o osso
cortical), enquanto que a mais rpida observada no sangue e em alguns tecidos moles.
Sugerem ainda o osso trabecular como componente intermedirio, uma vez que este
apresenta uma cintica diferenciada do osso cortical.
Figura 2 Modelo de trs compartimentos (Rabinowitz e col., 1976)44
.Fonte: Adaptado de Moreira e Moreira, 20044.
Rabinowitz (1991) apresentou, tambm, um modelo cintico simples, de dois
compartimentos (osso e sangue), em que prope valores numricos variveis com a
idade e sade para as alteraes dos nveis de Pb-S, decorrentes das mudanas nas taxas
de mobilizao. Duas propostas so oferecidas para quantificar a troca de chumbo, uma
envolve o estudo de pessoas com exposio conhecida, enquanto a outra abrange
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istopos estveis e sujeitos, que se mudam de uma regio geogrfica para outra 4,46.
Independentemente do modelo cintico considerado, sabe-se que o osso o
principal compartimento onde se armazena o metal. Cerca de 90% do chumbo
encontrado no organismo est depositado nos ossos sob a forma de trifosfato 47.
Como o chumbo qualitativamente um anlogo biolgico do clcio, sua
entrada e liberao do esqueleto so, em parte, controladas por muitos dos mecanismos
que regulam a homeostase do mineral. Estes incluem os processos normais de difuso
mineral e de troca (aposio/ ressoro) 48.
Esse metal pode atravessar livremente a barreira placentria, aproximando seus
nveis no sangue da me e do feto 49, e tambm pode ser rapidamente distribudo entre
as estruturas subcelulares, ligando-se firmemente s mitocndrias em um importante
fenmeno de distribuio e toxicidade intracelular 39. Durante a sua distribuio, o
chumbo segue a via metablica do clcio e se acumula nos ossos e dentes 4.
4.3.3 Eliminao e excreo
A eliminao do chumbo feita principalmente pela urina (75-80%) e, em
menor grau, pelas fezes (15%) 38. Entretanto, a quantidade excretada, independente da
via, afetada pela idade, caractersticas da exposio, e dependente da espcie. A
comparao dos dados sobre a cintica do chumbo em adultos e crianas mostra que,
aparentemente, estas ltimas parecem ter uma taxa total de excreo menor 4,28.
Alm de o chumbo ser excretado principalmente pela urina e fezes, uma via
especial de excreo do chumbo endgeno o leite materno. Embora este tipo de
eliminao tenha pouca importncia do ponto de vista de liberao do organismo, pode
representar um risco para o lactente, j que existe uma correlao entre a concentrao
do chumbo no sangue e o leite 40,49.
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4.4 TOXICODINMICA
A toxicodinmica consiste no estudo dos efeitos bioqumicos, morfolgicos e
fisiolgicos do agente qumico ou do seu produto de biotransformao no rgo-alvo 50.
Relaciona a dose interna (quantidade de substncia liberada no stio de ao em
condies de agir efetivamente) resposta do rgo-alvo 51,52,53.
O chumbo um mineral no essencial, txico que se acumula no organismo de
forma lenta na maioria dos casos. Uma importante caracterstica de sua contaminao
a reversibilidade das alteraes bioqumicas e funcionais induzidas. Esses efeitos so
inicialmente devidos sua interferncia no funcionamento adequado das membranas
celulares e enzimas, causada pela formao de complexos estveis com ligantes
contendo enxofre, fsforo, nitrognio e oxignio (grupamentos -SH, -H2PO3, -NH2, -
OH) como doadores de eltrons 39.
A toxicidade do Pb gera desde efeitos claros, ou clnicos, at efeitos sutis, ou
bioqumicos. Estes ltimos envolvem vrios sistemas de rgos e atividades
bioqumicas. Os efeitos biolgicos do chumbo so os mesmos quaisquer que sejam as
vias de entrada, uma vez que h interferncia no funcionamento normal da clula e em
inmeros processos fisiolgicos. Apesar dos ossos serem os maiores depsitos de
chumbo, os primeiros efeitos adversos no so l observados, e sim, no sistema nervoso,
medula ssea e rins, tidos como rgos crticos na exposio ao chumbo, enquanto que
os distrbios na funo do sistema nervoso (SN) e os desvios na sntese do heme so
considerados como efeitos tpicos crticos 54. Tambm os sistemas gastrintestinal e
reprodutivo so alvo da intoxicao pelo chumbo 5.
O conjunto de rgos mais sensvel ao envenenamento por chumbo o sistema
nervoso, sendo que a encefalopatia um dos mais srios desvios txicos induzidos pelo
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chumbo em crianas e adultos. Alm da ausncia de um limite preciso, a toxicidade do
chumbo na infncia pode ter efeitos permanentes, tais como menor quociente de
inteligncia e deficincia cognitiva. Durante o desenvolvimento de uma criana, o
sistema nervoso pode ser afetado adversamente por valores de Pb-S menores do que 10
g L-1, nveis antes considerados seguros 55,56. Nos adultos, o sistema nervoso central
tambm afetado por concentraes relativamente baixas (Pb-S em torno de 40 g dL -
1). Os danos sobre o sistema nervoso perifrico, primeiramente motor, so observados
principalmente nos adultos 1,2,37,57.
A encefalopatia causada pelo chumbo ocorre nas formas aguda e crnica. O
curso clnico da encefalopatia aguda pelo chumbo varia, dependendo da idade e da
condio geral do paciente, da quantidade absorvida, do tempo de exposio e de certos
fatores concomitantes, como o alcoolismo crnico. A relao dose-resposta para as
desordens do sistema nervoso central no bem conhecida. Encefalopatia aguda se
desenvolve somente aps doses macias e rara quando os nveis de Pb-S esto abaixo
de 100 g dL-11,2,57.
A associao da anemia com a concentrao do Pb uma constatao real da
contaminao por este metal, no estando necessariamente associada com deficincia de
ferro. Geralmente, de leve a moderada em adultos (os valores de hemoglobina (Hb)
variam de 8 a 12 g 100 mL-1) e, algumas vezes, severa em crianas. Os desvios
hematolgicos que levam anemia pelo chumbo so considerados como resultado de
sua ao txica sobre as clulas vermelhas e eritropoiticas na medula ssea. Esses
efeitos incluem inibio da sntese do grupo heme e diminuio do tempo de vida dos
eritrcitos circulantes, resultando na estimulao da eritropoese. Entretanto, a anemia
no uma manifestao precoce da contaminao por chumbo, sendo rara sem outros
efeitos detectveis, e s evidente quando o nvel de Pb-S significativamente elevado
por perodos prolongados 1,2,30.
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O chumbo inibe a capacidade do organismo de produzir Hb, afetando vrias
reaes enzimticas, crticas para a sntese do grupo heme. As atividades de trs
enzimas 5-aminolevulinato desidratase, coproporfirinognio oxidase e ferroquelatase
so inibidas pelo chumbo. Isso enfraquece a sntese da heme e desencoraja a sntese
da 5-aminolevulinato sintetase, enzima inicial e limitante da taxa da biossntese da
heme, e da coproporfirinognio descarboxilase. Em conseqncia, h maior produo e
excreo dos precursores 5-aminolevulinato sintetase e coproporfirina, com aumento na
protoporfirina circulante, geralmente ligada ao zinco. Nas clulas vermelhas, a sntese
diminuda de mono-oxigenases (citocromos P-450) compromete a oxidao de drogas e
o chumbo se liga Hb. A ferroquelatase, que catalisa a insero de ferro na
protoporfirina IX, completamente sensvel ao chumbo. Entretanto, a inibio desta
enzima um fator limitante da taxa para a sntese da Hb, j que a protoporfirina IX se
acumula nos eritrcitos, constituindo cerca de 95% das porfirinas no ligadas ao ferro
nas clulas vermelhas. Assim, uma diminuio na atividade da ferroquelatase resulta em
aumento do substrato, protoporfirina eritrocitria, nas clulas vermelhas 1,28,37.
Os efeitos hematolgicos do chumbo so os nicos para os quais as relaes
dose-resposta foram estabelecidas com exatido e, por isso mesmo, pressupe-se que a
concentrao de Pb-S represente a dose ao qual o indivduo foi exposto. Dessa forma,
vrias das alteraes hematolgicas servem como testes para o diagnstico de absoro
excessiva: os efeitos sobre a sntese do heme fornecem indicadores de exposio ao
chumbo na ausncia de marcadores quimicamente detectveis 2,5,37.
Outras alteraes morfolgicas podem ser encontradas na contaminao por
chumbo tais como degenerao segmentar das lminas de mielina; bloqueio pr-
sinptico; distrbios nos vasos cerebrais e proliferao de clulas gliais nas massas
cinzenta e branca39
. O sistema gastrintestinal tambm pode ser alvo desta intoxicao5
,
e podem ser verificadas manifestaes clnicas hematolgicas pela exposio ao Pb 47.
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Alguns estudos sustentam ainda que a exposio ao Pb possa estar associada a danos
cromossmicos 58,59,60.
Um resumo dos principais efeitos sobre a sade relacionados ao Pb pode ser
verificado na tabela 2.
Tabela 2- Principais efeitos sobre a sade relacionados ao Pb e os respectivos rgos crticos
Efeitos sobrea sade
rgos crticos Efeitos adversos Ref
NeurolgicosSistema nervosocentral, perifrico eautnomo
Encefalopatia aguda ecrnica; neuropatiaperifrica
61-69
Hematolgicos Sangue Anemia 70-77
EndcrinosTecidos sseos esangue
Prejuzo aos rins e aodesenvolvimento dasclulas, dentes e ossos.Possveis danos tireide
78-80
Crescimento Ossos Crescimento reduzido 81-84
Renais Rins Nefropatia e gota saturnnica 85-88
Reprodutivos e deDesenvolvimento
Sistemas reprodutoresmasculino e feminino
Fertilidade reduzida, grandeprobabilidade de abortos
espontneos, contagemreduzida de esperma emotilidade; teratognico emanimais
89-100
CarcinognicosRins e clulas do DNAgenmico
Carcinognico para osanimais e envolvimentoepigentico na expresso dogene alterado
9, 10,101, 102
Cardiovasculares Sistema cardiovascular
Provvel aumento napresso sangnea, leses
cardacas eeletrocardiogramas anormais
67, 88,
103-107
Gastrointestinais Trato gastrointestinal Clica1, 28,30, 57
Hepticos FgadoCapacidade funcionalreduzida do citocromo P-450para metabolizar drogas
28, 57,108, 109
Fonte: Adaptado de Moreira e Moreira (2004) 27.
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5 ARMAS DE FOGO, MUNIES E CARACTERSTICAS
5.1 ARMAS DE FOGO
Genericamente, arma todo o instrumento destinado ao ataque e defesa. Para
a criminalstica, arma de fogo todo o engenho constitudo de um conjunto de peas
com finalidade de lanar um projtil no espao pela fora de propulso (gases
provenientes da queima da carga de projeo) 110.
As armas de fogo podem ser classificadas, entre outros, pelos seguintes
critrios: alma do cano (lisa ou raiada), tipo (de porte, portteis ou no portteis),
funcionamento (automticas, semi-automticas ou de repetio), emprego (individuais
ou coletivas), modo de carregar (antecarga ou retrocarga), modo de percusso (de
pederneira, de espoleta ou de percusso direta no cartucho), calibre (dimetro interno do
cano da arma, tomado na sua boca, medido entre dois cheios, que so os espaos que
separam uma raia da outra) 110,111.
As armas mais comumente encontradas so os revlveres, as pistolas semi-
automticas e as armas de caa110
, sendo que os grupos de criminosos normalmente
encontrados nas grandes cidades, como o Rio de Janeiro, utilizam ainda armamentos de
grande calibre e automticos como fuzis e metralhadoras.
5.2 MUNIES
A munio das armas carregadas por retrocarga, as mais usadas, normalmente
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conhecida como cartucho (Figura ), e constituda por quatro elementos bsicos:
estojo, cpsula ou bainha; espoleta ou escorva; carga ou plvora e projtil 112.
Projtil qualquer slido que pode ser ou foi arremessado, lanado. No
universo das armas de fogo, o projtil a parte do cartucho que ser lanada atravs do
cano, basicamente confeccionado com chumbo e pode ser dividido em ponta, corpo e
base 15.
A Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) usa, atualmente, em seus
cartuchos, misturas iniciadoras da espoleta base de estifinato de chumbo
[PbO2H(NO2)3], nitrato de brio [Ba(NO3)2], trissulfeto de antimnio [Sb2S3], tetrazeno
[N4H4] e alumnio [Al]113. A presena de chumbo nesta mistura provoca a elevao das
concentraes de chumbo no ar e em objetos ou partes do corpo humano prximos
arma no momento do disparo.
Figura 2- Composio interna de um cartuchoFonte: Sato, 2003 112.
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Os projteis inteiramente de chumbo so confeccionados exclusivamente com
ligas deste metal e podem ser encontrados em diversos tipos para usos variados (ogival,
ogival ponta plana, semi-ogival, ponta oca, etc). So mais comumente encontrados no
comrcio (e com os marginais) por serem mais baratos do que os outros modelos de
projteis, desgastam menos os canos das armas e normalmente so usados em armas de
calibre menor e que apresentam velocidade inicial baixa, como revlveres (calibres .22,
.32, .38, .380 auto, etc) e pistolas (calibres .40, .45, 9 mm Luger, etc) 15,16. At 1986 a
CBC produzia os projteis com chumbo puro. A partir daquele ano, todos os projteis
CBC so produzidos com uma liga de chumbo, composta em grande parte por chumbo e
um elemento endurecedor, o antimnio, na porcentagem de 1 a 2,5 % 16,113.
Os projteis conhecidos como encamisados (ou jaquetados) (Figura 3) so
projteis construdos por um ncleo recoberto por uma capa externa chamada camisa ou
jaqueta. A camisa normalmente fabricada com ligas metlicas como cobre e nquel;
cobre, nquel e zinco; cobre e zinco; cobre, zinco e estanho ou ao. O ncleo
constitudo geralmente de chumbo praticamente puro, conferindo a massa necessria e
um bom desempenho balstico. Estes tipos de projteis podem ser impelidos a
velocidades superiores quelas dos projteis comuns de chumbo e so menos sujeitos a
deformaes. Os projteis encamisados so mais caros, provocam maior desgaste dos
canos dos armamentos e so mais usados em armas de calibre maior e / ou que
apresentam velocidade inicial elevada (fuzis, metralhadoras e pistolas semi-automticas
de calibres maiores) 15,16.
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Atualmente, fruto de pesquisas e novas necessidades, existem projteis
especiais fabricados com material diferente do chumbo como o cobre (copper bullet),
ou a munio silver point ou gold, que normalmente so caracterizados por
apresentarem caractersticas como ponta oca e camisa de tomback (liga de cobre e
lato), o que garante perfeita expanso e ideal penetrao sem a transfixao do alvo,
fazendo com que toda energia balstica gerada seja transmitida para o alvo. Estas
munies so normalmente usadas por foras armadas e foras policiais, sendo de difcil
acesso pela populao civil, incluindo o chamado mercado negro 16.
Os projteis de calibre e velocidade inicial menores tm grande possibilidade
de no atravessar o corpo humano, pois, por sua capacidade de expanso no momento
do impacto, principalmente as munies de ponta oca, apresentam grande poder de
parada (stopping power), formando um cogumelo e causando um choque traumtico
muito grande. Nestes casos, mesmo os projteis encamisados permitem o contato direto
do chumbo com o organismo atingido, como se pode verificar na Figura 4 16.
Figura 3 - Composio interna de um projtilencamisadoFonte: Castro, s.d.15.
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Projteis de armamentos de calibre maior e (ou) de velocidade inicial elevada
normalmente atravessam o corpo humano, sendo, na maior parte das vezes, causador do
bito pelos grandes estragos causados no organismo.
Normalmente os criminosos utilizam projteis inteiramente de chumbo e
munies recarregadas por eles mesmos, dada a dificuldade de obteno lcita demunio. Neste sentido, os indivduos alvejados por marginais comumente possuem em
seus corpos projteis feitos integralmente com chumbo. As foras armadas e policiais,
bem como desportistas autorizados, utilizam munio especial, na maioria das vezes
importada legalmente.
5.3 ABSORO DO CHUMBO DAS MUNIES
O potencial de absoro do chumbo em humanos possuidores de projtil
alojado parece estar relacionado com fatores como a rea de superfcie de chumbo
exposta para dissoluo, a localizao do projtil de chumbo no corpo, e o perodo de
tempo em que os tecidos esto expostos ao chumbo absorvvel, entre outros 114.
Sujeitos com histrico de projteis ou fragmentos retidos e sintomas de
Figura 4 Munies encamisadas e projteis aps impacto em gelatina balsticaFonte: Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC)16.
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intoxicao por chumbo devem ter uma avaliao clnica completa e os nveis de
chumbo no sangue monitorados constantemente. A fisiopatologia da absoro de
chumbo dos projteis retidos ainda no bem explicada, porm muitos fatores parecem
contribuir para o aumento dos nveis de chumbo sanguneos dos sujeitos com projteis
alojados. A fragmentao do projtil aumenta a superfcie de contato e,
consequentemente, a absoro do chumbo, j tendo sido relatados aumentos dos nveis
de chumbo no sangue na ordem de 25,6% devido fragmentao 115.
A correlao entre a localizao do projtil e toxicidade do chumbo j foi
explorada em alguns trabalhos. Interfaces sinoviais e sseas, fraturas sseas
(especialmente do trax), e o contato com os lquidos sinovial, pleural e
cefalorraquidiano tm sido associados a elevadas taxas de absoro e toxicidade do
chumbo. Nestes casos, tanto a fragmentao do projtil quanto a proximidade destes
fragmentos de uma grande articulao parecem desempenhar papel importante no
aumento dos nveis de chumbo no sangue 115,116,117.
Alguns casos de intoxicao por chumbo resultante de ferimentos por munio
j foram relatados na Europa. A maioria dos casos documentados de saturnismo
relacionados a munies nos Estados Unidos envolve dissoluo de um nico projtil de
chumbo pelo lquido sinovial ao longo de vrios anos. As caractersticas solventes do
lquido sinovial associadas artrite local aparentemente so fatores importantes na
dissoluo e absoro do chumbo dos projteis localizados nas articulaes e suas
proximidades 114,117.
A vigilncia para os sujeitos com projteis ou fragmentos alojados deve ser
baseada nas caractersticas de alto risco mencionadas anteriormente e no potencial de
interveno cirrgica. A remoo dos projteis e / ou fragmentos advindos de
ferimentos por arma de fogo no uma prtica muito comum, mas deve ser considerada
a realizao de consultas com toxicologista e cirurgio para a determinao da relao
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custo / benefcio de uma cirurgia para remoo daquela fonte endgena. Crianas com
projteis e / ou fragmentos alojados devem ser ainda mais monitoradas dadas as suas
caractersticas e os potenciais prejuzos sade, que parecem ser mais evidentes nelas
115,118.
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6 INDICADORES BIOLGICOS
Os indicadores biolgicos, tambm chamados de biomarcadores, so
parmetros que refletem o comportamento e as interaes ocorridas entre o toxicante e o
sistema biolgico por apresentarem sensibilidade e especificidade para esta interao,
permitindo, assim, estabelecer um vnculo causal entre a presena do xenobitico e a
alterao dela decorrente 27,30,53,119,120. So classificados em trs tipos 53,121:
de exposio ou dose interna - confirmao ou estimativa da exposioindividual ou de um grupo a uma determinada substncia;
de efeito - registro de alteraes pr-clnicas ou efeitos adversos sade; de suscetibilidade - avaliao da intensidade da resposta apresentada
pelos indivduos expostos.
6.1 BIOMARCADORES PARA O CHUMBO
Inmeros testes mostram a ocorrncia de exposio ao chumbo, que pode ser
determinado em sangue, urina, tecidos moles, ossos e dentes. Apesar dos indicadores de
dose interna tais como sangue total, plasma e urina, e os de efeito, cido delta
aminolevulnico na urina (ALA-U), cido delta aminolevulnico desidratase (ALAD),
zinco protoporfirina (ZPP) e protoporfirina eritrocitria (PE), serem muito utilizados,
todos tem algum tipo de limitao 27.
Existem, ainda, os indicadores de susceptibilidade, que se referem a limitaes
inerentes sensibilidade do organismo exposto, influenciando na capacidade de
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responder exposio e nas caractersticas desta resposta 122. Estes indicadores so
considerados como ferramentas complementares no processo de avaliao de risco,
fornecendo dados que podem ser usados para predizer o desenvolvimento de doenas e
para implementao de programas de preveno dessas doenas 123.
A importncia da utilizao dos indicadores de susceptibilidade na execuo e
interpretao de programas de monitorao da exposio de populaes a substncias
qumicas est na considerao da questo da variabilidade interindividual 124. As demais
classes de indicadores, embora forneam de maneira precoce informaes acerca do
processo de desenvolvimento de doenas provenientes de exposies, no levam em
considerao os determinantes genticos que podem conferir susceptibilidade
diferenciada a indivduos sujeitos a nveis de exposio semelhantes 125.
So exemplos de indicadores de susceptibilidade os polimorfismos genticos
de enzimas envolvidas no metabolismo de substncias txicas 126. Pesquisadores de
diversas instituies tm investigado genes que, por possurem mltiplos alelos,
determinam polimorfismos metablicos 127,128. Por exemplo, o polimorfismo da enzima
cido -aminolevulnico desidratase pode ser responsvel por diferentes intensidades de
efeitos do chumbo, sendo os portadores do alelo 1 mais sensveis diminuio da
atividade da enzima com o consequente incremento dos efeitos 129,130. Os aductos de
macromolculas, por seu lado, podem tambm ser entendidos como indicadores de
susceptibilidade, j que a sua formao tem provavelmente uma base gentica 131.
Alguns dos indicadores de exposio mais utilizados para determinao da
concentrao de Pb so: sangue, plasma/soro, saliva, ossos, dentes, fezes e urina. Para
Barbosa e colaboradores 132, nenhum desses biomarcadores uma alternativa unnime
para o Pb-S, devido, em parte, a dados com base em errneos ou duvidosos protocolos
de anlises, que no levam em considerao variveis de confundimento. Porm,
dependendo do objetivo de cada pesquisa, um biomarcador ser o mais indicado. Por
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exemplo, ser deseja-se pesquisar a quantidade ingerida de Pb e que no foi absorvida,
provavelmente as fezes sero o melhor indicador, se o objetivo for determinar a
concentrao de Pb armazenada no organismo, os melhores indicadores sero os ossos
ou os dentes. Se a anlise dos tecidos sseos for invivel, seja pela ausncia do caro
equipamento, seja pelo custo deste tipo de anlise, o plasma poder ser utilizado, pois
este possui uma tima correlao com aqueles tecidos.
6.2 INDICADORES BIOLGICOS DE EXPOSIO AO CHUMBO
O indicador biolgico capaz de indicar uma exposio ambiental acima do
limite de tolerncia, porm, isoladamente, desprovido de significado clnico ou
toxicolgico prprio, no sendo possvel estabelecer diagnsticos ou associaes entre a
concentrao sangunea de Pb e efeitos ou disfunes no sistema biolgico investigado.
O sangue, apesar das limitaes inerentes a todos os indicadores 133, ainda o indicador
mais recomendado para verificao da exposio total de Pb em casos de exposio
crnica recente 27, embora no estabelea relao entre a concentrao de Pb no fluido
biolgico e os efeitos sistmicos nos seres humanos 30,38,53.
A espectrometria de absoro atmica eletrotrmica (ET AAS) uma tcnica
sensvel, precisa e bastante utilizada para determinao da concentrao de Pb em
fluidos biolgicos 30,43,49,53,134,136. Inmeras pesquisas a respeito do Pb nos diversos
fluidos biolgicos so realizadas com a ET AAS. Moreira e Neves (2008) usaram esta
tcnica para determinar a concentrao de chumbo no sangue e na urina de pessoas
expostas ambiental e ocupacionalmente no estudo de correlao entre estes indicadores
43. Outros pesquisadores usaram a ET AAS para determinao da concentrao de
chumbo no leite e no colostro maternos136,137
, esmalte dentrio138
e, os trabalhos que
mais a utilizaram foram aqueles que avaliaram os nveis de chumbo no sangue 20,139.
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6.2.1. Urina
A determinao da concentrao do chumbo na urina (Pb-U) tem sido usada
como teste de exposio em sade ocupacional, j que reflete uma exposio atual 1,27.
Estudo recente relatou forte correlao entre o Pb-U e o Pb-S, no
aconselhando, todavia, a utilizao do Pb-U como preditor direto dos valores de Pb-S,
em virtude da grande variabilidade das razes dos indicadores inter-individuais.
Entretanto, a utilizao do Pb-U como teste para avaliao da contaminao de
trabalhadores por chumbo tem como vantagem evitar que estes sejam submetidos a
exames invasivos peridicos, uma vez que esse tipo de amostra no traz desconforto ao
trabalhador e apresenta maior facilidade na coleta, armazenamento, transporte e
manuseio. A urina pode ser utilizada em substituio ao sangue para avaliao da
exposio ocupacional a este metal. Contudo, no caso da exposio ambiental,
recomenda-se cautela nessa substituio, devendo-se utilizar o chumbo urinrio como
uma estimativa do contedo do metal no sangue 43.
6.2.2 Sangue
A determinao do Pb-S o biomarcador de exposio a este metal mais
amplamente utilizado. o teste de rastreamento e diagnstico mais til para esta
exposio 1,27. Contudo, uma nica determinao de Pb-S no pode distinguir entre
exposio intermediria ou crnica de baixo nvel e exposio aguda de nvel elevado,
devido mobilizao cclica do chumbo entre o sangue e o osso. Os dois tipos de
exposio poderiam resultar no mesmo nvel de Pb-S por causa da repetio do ciclo a
partir do osso. Por isso, a concentrao de chumbo em sangue no indicada como
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medida exata da exposio ao metal ou do contedo corpreo total do mesmo, devido
aos processos interferentes de transferncia, mobilizao e armazenamento entre os
diferentes compartimentos do corpo. Assim, o nvel de chumbo no sangue reflete um
equilbrio dinmico entre absoro, excreo e depsito nos compartimentos de tecidos
moles e duros, enquanto que, para exposies crnicas, subestima o contedo corpreo
total 42.
Apesar de o Pb-S ser utilizado como medida padro no monitoramento
biolgico da exposio ocupacional a este metal, as experincias no campo reforam a
idia de que freqentemente a amostragem de sangue no uma atividade de fcil
realizao. Crianas e, at mesmo, alguns adultos tm dificuldades em permitir a coleta
por inmeras razes, tais como: medo, presena de tecido adiposo ao redor das veias,
entre outras 43.
6.2.3 Plasma/soro
A concentrao de Pb no plasma (Pb-P) parece representar um ndice mais
relevante da exposio, distribuio, e riscos sade associados com Pb do que o Pb-S.
Do ponto de vista fisiolgico, pode-se assumir que os efeitos txicos do chumbo so
principalmente associados com o Pb-P, pois esta frao a mais rpida nas trocas do
compartimento sanguneo. Nos ltimos anos, grande ateno tem sido dada para o
monitoramento da concentrao de chumbo no plasma (ou soro). No entanto, as
investigaes sobre as associaes entre Pb-P e os resultados toxicolgicos ainda so
bastante raras, e ainda permanece um lapso significativo no conhecimento 132.
Aproximadamente 95% do chumbo no sangue esto ligados aos eritrcitos, no
sendo, por isso, facilmente dispersados. O chumbo no plasma (5% do contedo total do
sangue) composto de duas fraes: uma ligada s protenas do plasma e a outra,
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dispersa. Provavelmente, esta ltima frao o centro metabolicamente ativo do
depsito de chumbo no organismo e fornece a melhor aproximao do contedo de
chumbo biologicamente efetivo 27,140. Porm, a variao natural na partio relativa (%)
do chumbo entre sangue total e plasma de 2 a 4 vezes para um determinado nvel deste
elemento no sangue total e reflete as diferenas inerentes aos indivduos, contanto que
tcnicas limpas e sensveis sejam usadas para coleta e anlise das amostras,
respectivamente 27,141.
As baixas concentraes de chumbo no plasma fazem com que estas medidas
sejam extremamente difceis, particularmente em baixas concentraes de Pb-S (menos
de 20 g dL-1). Entretanto, usando tcnicas analticas mais sensveis, estudos recentes
tm mostrado que as concentraes de chumbo no plasma podem se correlacionar mais
fortemente com os nveis de chumbo no osso do que as concentraes de chumbo em
sangue 27,30.
6.2.4 Saliva
A saliva tem sido proposta como uma fonte de diagnstico para diversas
finalidades, uma vez que pode ser facilmente coletada 142. No entanto, geralmente no
aceita como biomarcador confivel de exposio ao Pb, devido ausncia de medies
consistentes e confiveis do chumbo salivar. A saliva apresenta grandes variaes em
seu contedo de ons ao longo do dia, e tambm mudanas nas taxas de fluxo salivar
antes, durante e depois das refeies. Variaes tambm podem surgir dependendo da
forma em que a coleta de saliva estimulada (ou no), e de acordo com o estado
nutricional e hormonal de cada indivduo 132.
As alteraes nas taxas de fluxo salivar, a falta de materiais de referncia ou
certificados, e ausncia de valores de referncia confiveis para as populaes humanas
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so os principais fatores que limitam a utilidade de medidas de saliva Pb. Alm disso, os
nveis muito baixos de chumbo presentes na saliva ajudam a limitar o leque de mtodos
analticos adequados, diminuindo ainda mais a utilidade e confiabilidade desse
biomarcador para a predio da exposio ao Pb 132,143,144,145,146.
6.2.5 Ossos e dentes
O chumbo pode ser medido nos dentes e ossos, que refletem exposio de
longo prazo, por fluorescncia de raios-X (camadas K e L), porm este mtodo ainda
no est amplamente disponvel. A acuracidade e preciso das medidas de chumbo no
osso in vivo usando fluorescncia de raios X de camada L (FRXL) foram comparadas
com aquelas das medidas independentes de chumbo no osso, obtidas por espectrometria
de absoro atmica eletrotrmica, aps digesto cida. A concordncia entre FRXL e
ET AAS foi razoavelmente boa para o osso exposto, mas pobre para a perna ntegra. A
variabilidade das medidas por FRXL foi grande para ambas as amostras, o que gera
srias suspeitas sobre o seu uso analtico in vivo 27,147.
6.2.6 Outros biomarcadores
O cabelo uma amostra biolgica de fcil coleta e no invasiva, com custo
mnimo, sendo facilmente armazenado e transportado para anlise laboratorial. Estes
atributos fazem com que o cabelo seja um substrato atraente para biomonitoramento,
pelo menos, superficialmente. Muitos tm sugerido o seu uso para avaliar a exposio
ao Pb, uma vez que o metal tambm excretado por esta via. Essas propostas surgem
particularmente nos pases em desenvolvimento, onde os servios laboratoriais
especializados nem sempre esto disponveis e os recursos so limitados 148. No entanto,
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existe um amplo debate sobre as limitaes do cabelo como biomarcador de exposio
aos metais em geral. Existem muitas questes relativas ao Pb, tais como as
preocupaes pr-analtica para controle de contaminao, amostragem e os intervalos
de referncia, que tambm se aplicam a outros metais 132,149,150,151,152.
Como o cabelo, as unhas possuem muitas vantagens superficiais como
biomarcador para exposio ao Pb, especialmente porque a coleta no-invasiva e
simples, assim como as amostras de unha so bastante estveis aps a coleta, no
exigindo condies especiais de armazenamento. A concentrao de Pb na unha
considerada um reflexo da exposio a longo prazo, pois esse compartimento fica
isolado de outras atividades metablicas do corpo 153. Uma vez que as unhas dos ps so
menos afetadas pela contaminao ambiental exgena do que as unhas das mos,
aquelas tm sido preferidas para estudos de exposio ao Pb. As unhas dos ps tm uma
taxa de crescimento menor do que as da mo (at 50% mais lenta, especialmente no
inverno) e, portanto, podem fornecer uma melhor medio da exposio ao Pb 132.
A concentrao de Pb nas unhas parece depender da idade do sujeito 154, porm
parece no depender do sexo 155,156.
At o momento, diversos dados foram obtidos com base na utilizao de
biomarcadores alternativos no monitoramento da exposio ao chumbo. No entanto,
ainda no est claro se estes resultados so melhores do que as informaes obtidas a
partir de medies de Pb-S. Obviamente, muitas das limitaes identificadas nestes
biomarcadores devero ser esclarecidas antes que estas alternativas possam ser aceitas
como indicadores confiveis da exposio ao Pb. Atualmente, a medio de Pb-S ainda
o indicador mais confivel da exposio ao Pb recente, apesar de que a medio em
srie do Pb-S pode oferecer uma avaliao melhor das flutuaes temporais da absoro
de Pb132
.
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6.3 EXPOSIO OCUPACIONAL
Existem duas maneiras pelas quais o chumbo pode estar presente em variados
nveis no organismo: por meio da contaminao ambiental ou pela exposio
ocupacional 157,158. A exposio ocupacional o principal modo pelo qual ocorre a
absoro excessiva de chumbo em adultos. Medidas preventivas tm diminudo o
nmero de casos de contaminao por chumbo nos pases desenvolvidos, porm as
conseqncias dos longos perodos de exposio em trabalhadores assintomticos no
so totalmente conhecidas 157.
6.3.1 Limites de exposio ocupacional
Sabendo-se que o grau de toxicidade de agentes qumicos presentes no ar ou
em uma fonte endgena depende, entre outros fatores, da sua concentrao, da via de
absoro e do tempo de exposio e que, muitas vezes, impossvel evitar a exposio a
essas substncias no ambiente de trabalho, foram estabelecidos valores-limites para a
exposio ocupacional a substncias qumicas, entre elas o chumbo. O objetivo desses
limites manter as concentraes ambientais em nveis abaixo dos quais, o risco de
agravo sade do trabalhador seja minimizado, tendo sido obtidos a partir do estudo
das relaes dose-efeito e dose-resposta para a exposio humana ao Pb e seus
compostos 30,37,159. As unidades de medida de concentrao mais comumente
empregadas na caracterizao dos limites de exposio so mg m-3e g m-3no ar ou de
mg dL-1e g dL-1para os fluidos biolgicos, variando de acordo com o metal analisado
e a concentrao normalmente encontrada em cada matriz. Para comparao dos valores
recomendados com os resultados obtidos no estudo, esta pesquisa adotou a unidade g
dL-1, mundialmente utilizada para o Pb-S.
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No Brasil, em 1978, o Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE) elaborou
normas regulamentadoras da exposio ocupacional a produtos txicos, dentre eles o
chumbo: as NRs n 7 e n 15. A NR-7 identifica os agentes qumicos nocivos sade
humana e estabelece parmetros para controle biolgico da exposio ocupacional a
esses produtos atravs da anlise do indicador biolgico adequado (Tabela 3) 160.
Segundo a NR-7, limite de exposio ocupacional consiste no valor acima do
qual devem ser iniciadas aes preventivas de forma a minimizar a probabilidade de que
as exposies a agentes ambientais ultrapassem os limites de exposio. Nas situaes
em que os resultados se encontram acima do limite de exposio ocupacional (LEO),
torna-se necessria a implantao de medidas de controle e/ou modificao. Estes
limites levam em conta a concentrao da substncia, a utilizao de equipamentos de
proteo individual (EPI) e as medidas de higiene industrial 160,161.
A NR-7 estabelece 40 g dL-1como o valor de referncia de normalidade (VR)
para o chumbo no sangue, ou seja, valor possvel de ser encontrado em populaes no
expostas ocupacionalmente. Convencionalmente, o VR equivale metade do valor
estabelecido como limite para exposio ocupacional. Para a Comunidade Europia
(CE), o valor de 35 g dL-1 considerado como referncia para a populao em geral,
no exposta ocupacionalmente ao Pb 160,162.
Com relao exposio ocupacional, a NR-7 estabelece o ndice biolgico
mximo permitido (IBMP) de 60 g dL-1, valor mximo de referncia que,
supostamente, no oferece risco de danos sade da maioria das pessoas
ocupacionalmente expostas e que, se ultrapassado, caracteriza a exposio excessiva 160.
O valor de 30 g dL-1de sangue o VR recomendado pela American Conference of
Governmental Industrial Hygienists(ACGIH) para trabalhadores expostos ao Pb 163.
A ACGIH
utiliza um Pb-S de referncia de 10 g dL-1
para crianas e de 30
g dL-1para adultos, sendo o limite mximo (MLL) de 50 g dL-1(tabela 3). Contudo,
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embora tenham estabelecido parmetros, as agncias reguladoras norte-americanas
tambm deixam claro que nenhuma quantidade de exposio ao Pb totalmente segura
9,164.
Nos Estados Unidos existem, ainda, outras agncias federais que editam e
aplicam regulamentaes sobre segurana e sade ocupacional para empresas e
indstrias instaladas no pas. O rgo responsvel por regulamentar a segurana e a
sade no ambiente de trabalho, a Occupational Safety and Health Administration
(OSHA), recomenda afastamento do profissional com concentraes acima de 50 g
dL-1e retorno s atividades apenas quando as concentraes estiverem abaixo de 40 g
dL-1165. Se concentraes de chumbo em sangue total estiverem entre 40 e 50 g dL -1,
recomenda-se monitorao mensal. A partir de correlao clnica, determinao de
fatores de exposio e concentrao sangunea acima de 60 g dL-1, pode-se instituir
terapia de quelao 166. O National Institute for Occupational Safety and Health
(NIOSH), rgo do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) estabelece
como seguro o limite de 10 g dL-1para exposio ao Pb, considerado normal para a
populao em geral, no exposta (tabela 3) 163.
Na Europa, a proteo aos trabalhadores contra riscos qumicos regulada pela
CE, atravs do Scientific Committee on Occupational Exposure Limits (SCOEL), que
estabelece limites de exposio ocupacional a agentes qumicos, bem como valores-
limites biolgicos. Para o Pb inorgnico preconizado um Pb-S de 35 g dL-1162.
Assim como a ACGIH, que reconhece a existncia de variao na resposta
biolgica a uma determinada substncia qumica, independentemente da concentrao
dessa substncia no ambiente, vrios autores argumentam que, ao estabelecerem limites
de exposio, as normas regulamentadoras no levam em considerao fatores que
deixam os indivduos mais suscetveis aos efeitos da exposio, tais como fontes
adicionais de exposio, a possibilidade de uma diminuio da resistncia devido a
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baixos nveis de clcio na dieta, a existncia de doenas crnicas e de condies
especiais (crianas, mulheres grvidas e pessoas idosas) que fragilizam o sistema
imunolgico e ainda a predisposio gentica 53,167,168.
Parece ser consenso na comunidade cientfica que os valores usados como
referncia atualmente devem ser reduzidos, principalmente porque j foi comprovado
que doses entre 5 e 10 g dL-1de chumbo no sangue, consideradas pequenas, de acordo
com as normas vigentes, j indicam exposio acima do normal e esto relacionadas a
vrios efeitos 2,4,7,17,20,27.
Tabela 3:Limites do Pb-S, segundo instituio regulamentadora
AGNCIASLIMITES DE EXPOSIO
(g dL-1)COMENTRIOS
MTE 40 g dL-1 60 g dL-1Indica exposio excessiva, e temsignificado clnico ou toxicolgico
prprio
CDC/NIOSH 10 g dL-1
Crianas e populao no exposta
OSHA(*) 40 g dL-1 (**) 60 g
dL-1
* Causa de notificao escrita e examemdico
** Causa de afastamento mdico daexposio
ACGIH 30 g dL-1 Indica exposio ao valor limite (TLV)
SCOEL 35 g dL-1 Indica exposio ao valor limite (TLV)
Fonte: Brasil (1978)160; ATSDR (2011)163; SCOEL (1975)169.
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7 MATERIAIS E MTODOS
7.1 REA DE ESTUDO
A rea de estudo foi composta pelas Unidades da Polcia Militar do Estado do
Rio de Janeiro (PMERJ), localizadas na cidade do Rio de Janeiro e selecionadas pela
corporao.
7.2 POPULAO DE ESTUDO
A Diretoria Geral de Sade (DGS) da PMERJ listou 377 policiais militares que
apresentaram afastamento crnico por leso por perfurao por arma de fogo (PAF).
Deste universo, 293 encontravam-se no servio ativo, sendo que, para facilitar os
contatos com os policiais alvejados e aumentar a possibilidade de encontrar aqueles que
possuam projtil (eis) alojado (s), a 1 Seo do Estado-Maior Geral da PMERJ, optou
por enviar ofcios para as Organizaes de Polcia Militar (OPM) que contivessem pelo
menos quatro daqueles feridos por PAF. Assim, chegou-se a 217 policiais, sendo que os
demais se encontravam em menor nmero espalhados pelas OPM ou no interior do
Estado do Rio de Janeiro.
Aps a 1 Seo ter enviado ofcios a todas as unidades que continham pelo
menos quatro policiais que haviam sido alvejados, os voluntrios foram centralizados
por aquela Seo e seus contatos foram repassados ao pesquisador, que se encarregou de
entrar em contato com aqueles policiais e de realizar os acertos necessrios coleta de
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dados. Vale ressaltar que, em conversa informal com o Chefe da 1 Seo, antes de
serem enviados os ofcios para as OPM, o mesmo disse que deveria encontrar certa
resistncia