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Universidade Federal de Viçosa – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes CIS 217 – Fundamentos de Ciências Sociais Professora: Mariane Silva Reghim Aluno: Arthur Zanuti Franklin – Matrícula: 77377 Estudo dirigido – Pergunta: Quais argumentos Durkheim utiliza para defender a hipótese de que o suicídio tem causas sociais? Émile Durkheim, clássico dos estudos na área das Ciências Sociais, em seus estudos, coloca o suicídio como um fato social. Primeiramente, o sociólogo define suicídio por “todo caso de morte que resulte direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo praticado pela própria vítima, sabedora de que devia produzir esse resultado.” (DURKHEIM, 1897.) Durkheim também acredita que ao tratar o suicídio como um caso isolado, ou seja, individual, não é possível definir a sua causa geradora. Cada grupo social tem uma disposição coletiva para o suicídio e só assim que há as derivadas para as inclinações individuais. O francês também definiu grupos que tem mais propensão a cometer o ato. Segundo ele, solteiros, divorciados e viúvos cometem mais suicídio que casados. Pessoas que não possuem filhos também realizam mais esse tipo de morte e quando se trata de religião, protestantes o fazem mais que católicos e judeus. Ele também explica os motivos para que esses grupos sejam mais propensos ao suicídio: católicos tem comunidades mais unidas que protestantes e também por conta da interpretação do que ocorre post-mortem nas religiões. Ao se matar, o católico iria para o inferno, porém, não há nada sobre isso na doutrina protestante. A vida em sociedade ou em família também interfere no suicídio (o que explicaria o maior número de suicidas entre pessoas sozinhas –sem filhos ou companheiro-). Quando uma sociedade sofre um processo de desintegração, o indivíduo que dela faz parte pode sentir-se estimulado a suicidar-se, 1. Há divergências na literatura sobre o assunto no número de classificações para o suicídio que Durkheim deu. Esse artigo adotará três classificações conforme sua literatura principal de apoio.

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Universidade Federal de Viçosa – Centro de Ciências Humanas, Letras e ArtesCIS 217 – Fundamentos de Ciências Sociais

Professora: Mariane Silva ReghimAluno: Arthur Zanuti Franklin – Matrícula: 77377

Estudo dirigido – Pergunta: Quais argumentos Durkheim utiliza para defender a hipótese de que o suicídio tem causas sociais?

Émile Durkheim, clássico dos estudos na área das Ciências Sociais, em seus estudos, coloca o suicídio como um fato social. Primeiramente, o sociólogo define suicídio por “todo caso de morte que resulte direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo praticado pela própria vítima, sabedora de que devia produzir esse resultado.” (DURKHEIM, 1897.)

Durkheim também acredita que ao tratar o suicídio como um caso isolado, ou seja, individual, não é possível definir a sua causa geradora. Cada grupo social tem uma disposição coletiva para o suicídio e só assim que há as derivadas para as inclinações individuais. O francês também definiu grupos que tem mais propensão a cometer o ato. Segundo ele, solteiros, divorciados e viúvos cometem mais suicídio que casados. Pessoas que não possuem filhos também realizam mais esse tipo de morte e quando se trata de religião, protestantes o fazem mais que católicos e judeus.

Ele também explica os motivos para que esses grupos sejam mais propensos ao suicídio: católicos tem comunidades mais unidas que protestantes e também por conta da interpretação do que ocorre post-mortem nas religiões. Ao se matar, o católico iria para o inferno, porém, não há nada sobre isso na doutrina protestante.

A vida em sociedade ou em família também interfere no suicídio (o que explicaria o maior número de suicidas entre pessoas sozinhas –sem filhos ou companheiro-). Quando uma sociedade sofre um processo de desintegração, o indivíduo que dela faz parte pode sentir-se estimulado a suicidar-se,

já que quanto mais se enfraqueçam os grupos sociais a que ele pertence, menos ele dependerá deles e cada vez mais, por conseguinte, dependerá apenas de si mesmo para reconhecer como regras de conduta tão somente as que se calquem nos seus interesses particulares. (DURKHEIM, 1897.)

O sociólogo, em seus trabalhos, também sistematizou tipos de suicídio olhando em que sociedades ocorre e principalmente seus motivos para que o ato se consolide1.

Primeiramente há o suicídio egoísta, o qual normalmente ocorre com a desintegração social e o que a mesma causa: depressão, melancolia, sensação de desamparo social. O mesmo afirma que “a lacuna gerada pela carência de vida social era maior nos povos modernos do que entre os primitivos e afligia os homens mais do que as mulheres.” (QUINTANEIRO, 2003.)

Há também o suicídio altruísta, que ocorre mais em sociedades ditas inferiores. Praticado por enfermos ou pessoas que chegam ao limiar da velhice ou viúvas em ocasião da perda do marido ou fiéis e servidores com o falecimento de seus chefes ou atos heroicos em guerras ou convulsões sociais. O suicídio é

1. Há divergências na literatura sobre o assunto no número de classificações para o suicídio que Durkheim deu. Esse artigo adotará três classificações conforme sua literatura principal de apoio.

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visto como um dever que se não for cumprido, é punido pela desonra, perda da estima pública ou castigos religiosos.

E o último tipo é o suicídio anômico2, “aquele que se deve a uma situação de desregramento social devido ao qual as normas estão ausentes ou perderam respeito.” (QUINTANEIRO, 2003.) Com isso, há um desregulamento das paixões individuais, deixando-as correr soltas. Esse tipo de suicídio refere-se à quebra do “contrato”, na volta do Estado para o Estado da Natureza, de Thomas Hobbes3, ou seja, essa qualidade é mais comum em sociedades modernas.

Com isso, conclui-se que, para Durkheim, o suicídio explica-se em fatos sociais, em que o mesmo é coercitivo e que independe do individual, focando-se no coletivo, onde busca-se suas explicações, ressaltando que ao ser tratado como um acontecimento isolado, não se torna possível chegar em seu âmago.

Referências Bibliográficas:

CABRAL, João Francisco. Sobre o suicídio na sociologia de Èmile Durkheim. Disponível em <http://www.brasilescola.com/filosofia/sobre-suicidio-na-sociologia-Emile-durkheim.htm> Acesso em 05/04/2014 as 12:15.

DURKHEIM, Émile. O Suicídio. 1897.

QUINTANEIRO, Tânia. Émile Durkheim. In: ____________. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim, Weber. Belo Horizonte: UFMG, 2003. p. 67-105.

2. Anomia: estado de falta de objetivos e perda de identidade.3. Estado da Natureza de Thomas Hobbes: o homem, em busca de regras e para uma melhor convivência, abre mão de sua liberdade para assinar um contrato, saindo do Estado da Natureza e passando a ter um governo forte e que impõe regras.