easton, david. (org.) - modalidades de análise politica

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    MODALIDADES DE ANLISE POLTICA

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    BIBLIOTECA DE CINCIAS SOCIAIS

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    D a v i d E a s t o nda Universidade de Chicago

    ( Organizador)

    M O D A L I D A D E S D E

    A N L I S E P O L T I C A

    Ensaios de:

    J a m e s M . B u c h a n a n

    D a v i d E a s t o n

    J a m e s G. M a r c h T a l c o t t P a r s o n s

    A n a t o l R a p o p o r t

    H e r b e r t A . S i m o n

    M. G. S m i t h

    Traduo de:G u i l h e r m e V e l l o s o , F a n i B a r a t z

    e Lus An t n io

    Ma c h a d o

    d a

    Si l v a

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    Ttulo original:

    Varieties of Political Theory

    Traduzido da primeira edio, publicada em 1966 por Prentiee-Hall, Inc.,Englewood Cliffs, N. J na coleo CONTEMPORARY POLITICAL

    THEORY, dirigida por D a v i d E a s t o n .

    Copyright 1966 by Prentice-Hall, Inc.

    3

    h ] B I B L I O T E C A C E N T R A L

    C M / 0 2 . / f i "

    1 9 7 0

    Direitos para a lngua portugusa adquiridos porZ A H A R E D I T O R E S

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    N D I C E

    In t h o d i j o : E S T R A T G I A S A L T E R N A T I V A S N A P E S Q U I S AT E R I C A , D a v i d E a s t o n ................................................... 7

    O I m p a c t o d a Re v o l u o T e r i c a ............................... 9A teoria e o mito da metodologia ..................... 9O vnculo entre a teoria e a pesquisa .................. 11

    A teoria moderna como um elo para as CinciasSociais Bsicas ........................................................................ 12O caminho para a integrao das disciplinas . . 14

    T e o r i a s d e F o r a ........................................................................ 17

    Contedo dste volume ................................................. 17Um princpio para a classificao das teorias . . 21

    1 : P E S Q U I S A P O L T IC A : A E S T R U T U R A D A T O -M A D A D E D E C I S O , He r b e r t A. S i m o n ............. 24

    E x p l i c a o d a T o m a d a d e D e c i s o .................... 25

    F a s e s n a T o m a d a d e D e c i s o ......................................... 28

    A L i n g u a g e m d a T e o r i a d a T o m a d a d e D e c is o 32

    C o n c l u s o : A E s t r u t u r a d a T o m a d a d e D e c is o 35

    2 : U M A T E O R I A I N D I V I D U A L S T I C A D O P R O -C E S S O P O L T I C O , J a m e s M. B u c h a n a n .................. 37

    Ap n d i c e ........................................................................................ 52

    3 : O P O D E R D O P O D E R , J a m e s G . M a r c h .................. 53

    1 . 0 I n t r o d u o .................................................................................... 53

    2 . 0 T r s Ab o r d a g e n s a o E s t u d o d o Po d e r ....................... 552.1 O estudo experimental ...................................................... 552.2 O estudo da comunidade .............................................. 58

    2.3 O estudo institucional.............................................................. 623 . 0 Se i s Mo d e l o s d e E s c o l h a So c i a l e o C o n c e i t o d e

    P o d e r ................................................................................................. 663.1 Modelos aleatrios .............................................................. 673 -2 Modelos de fra bsica ............................................... 723.3 Modelos de ativao da fra .................................... 77

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    6 n d i c e

    4.0 O Po d e r d o P o d e r ................. ................................................... 91

    4 : O A S P E C T O P O L T I C O D A E S T R U T U R A E D O

    P R O C E S S O S O C I A L , T a l c o t t Pa r s o n s ....................... 95

    O s Co n c e i t o s d e Au t o r i d a d e e C a r g o ....................... 101

    O Co n c e i t o d e Po d e r .............................................................. 105

    A l g u m a s L i m i t a e s d a E s t r u t u r a B u r o c r t i c a 108

    O S i s t e m a d e Su p o r t e ........................................................... 110

    D i f e r e n c i a o d a s E s t r u t u r a s Po l t i c a s .................. 123

    Al g u n s A s p e c t o s d o P r o c e s s o Po l t i c o ..................... 128Fluxo circular ........................................................................ 128Crescimento .......................................................................... 132Mudana estrutural .............................................................. 135

    Co n c l u s o ...................................................................................... 13 7

    Ap n d i c e : No t a T c n i c a ...................................................... 138

    5 : U M A A B O R D A G E M E S T R U T U R A L A P O L T I C A

    COMPARADA, M. G. S m i t h .....................................................148

    6: ALGUMAS ABORD AGEN S D E SISTEM A PARA A

    T E O R I A P O L T I C A , A n a t o l R a po po b t ..................... 168

    E x e m p l o s ........................................................................ .............. 169

    7 : C A T E G O R I A S P A R A A A N L I S E D E S I S T E M A SE M P O L T I C A , D a v i d E a s t o n ......................................... 185

    A V id a P o l t i c a c o m o S i s t e m a Ab e r t o e Ad a p-t a t i v o ........................................................... .. ...................... 186

    An l is e s d e E q u i l b r io e s u a s D e f i c i n c ia s . . . . 187

    Co n c e i t o s M n im o s p a r a a An l i s e d e S i s t e m a s 190

    Va r i v e i s d e L i g a o e n t r e S i s t e m a s ....................... 193

    D e m a n d a s e Apo io c o m o I n d i c a d o r e s d e In p u t s 194

    O u t p u t s " e F e e d b a c k ........................................................ 195M o d l o * d e F l u x o d o S i s t e m a Po l t i c o ....................... 197

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    i n t r o u u A o

    D a v i d E a s t o n

    Universidade de ChicagoT r a d u o d e G u i l h e r m e V e l l o s o

    Est ratgias Al t ernat i vasna Pesquisa Terica

    Freqentemente se tem dito que as guerras no mudamas correntes intelectuais ou polticas bsicas, .que elas simplesmente atrasam ou modificam o que de qualque forma teriarealmente ocorrido.1 Seja esta afirmativa verdadeira ou nopara tdas as guerras, a Segunda Guerra Mundial marcou defato uma importante mudana de rumo na histria da cincia poltica que s foi reconhecida uma dcada ou mais depois de ocorrida. verdade que antes da Segunda Guerra

    Mundial havia algumas indicaes do padro que tomariam osfuturos desenvolvimentos na teoria poltica. Mas, depois de1945, algumas novas correntes foram postas em movimentocujo reconhecimento mais cedo teria desafiado a agudezamesmo do observador mais perspicaz e cuidadoso. Entreessas inovaes encontramos em lento crescimento um corpode teoria poltica diferente de tudo o que o havia precedidonos ltimos 2.000 anos.

    Antes da Segunda Guerra Mundial, a teoria implicava

    quase que exclusivamente filosofia moral nas suas vrias for

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    mas, ou, no mnimo, a histria e anlise dos sistemas d moraldos grandes pensadores polticos do passado. Somente os vislumbres mais fracos do moderno tipo de teoria eram visveis.Para a maioria dos estudiosos de poltica o pouco que existia

    dificilmente era reconhecido como tal; muito raramente eraidentificado e rotulado de modo claro.Desde a Segunda Guerra Mundial, entretanto, tem-se

    acumulado gradualmente um inventrio, pequeno porm distinto, dsse nvo tipo de indagao terica, que poderamoschamar de teoria descritiva ou emprica.

    Teoria emprica no significa em absoluto homognea; seualcance e grau de abstrao variam amplamente. Muito doque a compe confina-se em hipteses bastante limitadas sbre

    pequenos fragmentos de comportamento poltico; outras desuas partes dizem respeito a campos de certa forma mais amplos dos fenmenos polticos, tais como encontramos em grupos especficos de instituies polticas em partidos, comportamento administrativo ou escolhas eleitorais, por exemplo.Mas o tipo de teoria emprica que representa a mais notvele promissora inovao desde a Segunda Guerra Mundial busca iluminar todo o domnio da interao poltica. Isto , anova teoria que tem especial importncia na cincia poltica

    procura sistematizar e dar coerncia e direo a todo o campoda cincia poltica como disciplina. Representa na cinciapoltica o que, em outros campos como Economia e Sociologia tem sido chamado de teoria geral, em oposio teoria parcial ou especial.2

    A teoria moderna, sob a forma de teoria geral, tem inmeras funes importantes. Ela d direo pesquisa emprica resumindo o que tem sido descoberto e indicando a relevncia ou significncia de novas investigaes propostas. Age

    como um meio econmico de se estocar e restaurar gruposmaiores de informao, aparentemente descontnua, sbre comportamento poltico. Mas a teoria geral serve tambm de incentivo para a elaborao de novas informaes, at o pontoem que operaes lgicas podem ser efetuadas a partir desuas proposies tericas para ampliar os horizontes de nossacompreenso e esclarecimento. Nessa funo repousa o potencial verdadeiramente criador e mais gratificante da teoria

    2 Para comentrios mais desenvolvidos sbre essa nova teoria, vermeu A Framework for Political Analysis, Prentice-Hall, Inc., 1965, especialmente o primeiro captulo. (N. do E.: ste livro foi traduzido para

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    E s t r a t g i a s A l t e r n a t i v a s n a P e s q u i s a T e r i c a 9

    geral, a qual, podemos esperar, se afirmar crescentementena cincia poltica, medida que a indagao terica adquirir um sentido mais profundo de segurana e maior apetitepor audcias inovadoras.

    Apesar da significao que j tem o corpo da modernateoria poltica, le apenas comeou a desenvolver-se nessasdcadas posteriores Segunda Guerra Mundial. No obstante,mesmo em sua insuficincia, le representa uma ruptura como passado cuja gravidade s lentamente est sendo absorvidapela conscincia dos cientistas polticos. No estamos aindaplenamente cnscios do fato de que como parte da revoluo cientfica geral em curso na rea dos mtodos e tcnicas comumente descrita como o estudo do comportamento poltico a cincia poltica est experimentando tambm umarevoluo no campo da teoria, de propores e importnciacomparveis quela.

    O I m p a c t o d a R e v o l u o T e r i c a

    As implicaes dessa revoluo terica so variadas e pro

    fundas. Para avaliar plenamente a significao dos ensaioscontidos neste volume ser til explorar algumas delas.

    A teoria e o mito da metodologia

    A revoluo na teoria poltica testemunha o fato de que,na cincia poltica, temos tido a possibilidade de nos dedicardiretamente a substanciais construes tericas. Isso pode pa

    recer uma estranha declarao, j que, presumivelmente, umavez que empreendemos a construo da teoria, nenhum outrocaminho pareceria estar aberto. Mas o fato que em cinciapoltica temos pouca noo das distores e movimentos desnecessrios de que temos sido misericordiosamente poupados.

    Ao contrrio da Sociologia e Psicologia, a cincia poltica, no momento em que as portas do mtodo cientfico finalmente se abriram de todo, tem sido capaz de evitar um longoe doloroso perodo no qual seus esforos tericos poderiam tersido enterrados no que tem sido chamado o mito da metodologia.3 Foi-nos possvel tirar vantagem da histria de outrasdisciplinas na qual com a maior facilidade a teoria poderia

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    imperceptivelmente escorregar da anlise concreta para a discusso metodolgica. A metodologia freqentemente masca-rou-se sob o ttulo de teoria. Ao explorarmos as alternativas

    tericas em cincia poltica, normalmente conseguimos distinguir claramente a metodologia e o tratamento concreto deelaboraes tericas, atribuindo a cada um o lugar e o psoadequados.

    sse conhecimento autoconsciente da diferena entre teoria substantiva e anlise metodolgica tem-se desenvolvido juntamente com uma apreciao equilibrada da importncia relativa da rigorosa coleta de fatos em relao teorizao.Com muita freqncia, a distino inadequada entre discusso

    metodolgica e anlise terica tem vindo acompanhada poruma nfase indevida sbre a rigorosa coleta de dados, independentemente de critrios de relevncia tericos; cada umreforava o outro. A preocupao com a metolologia levou experimentao com variadas tcnicas para obter dados difceis; o investimento de grande soma de tempo e trabalho nacoleta de dados encorajou uma contnua explorao dos mtodos usados e suas implicaes. No perodo compreendidoentre as duas guerras mundiais, a coleta de fatos no-regulada

    pela teoria o hiperfatualismo, como a chamei em outrotrabalho4 atingiu seu auge no conjunto das Cincias Sociais.Ainda que a admisso do mtodo cientfico na cincia po

    ltica s tenha ocorrido aps a Segunda Guerra Mundial, nossadisciplina tambm participou do hiperfatualismo dos anos vinte e trinta, por mais caractersticas que fssem nossas tcnicas. Mas, poca em que o mtodo cientfico realmente comeou a efetuar srias incurses na pesquisa poltica, depoisda Segunda Guerra Mundial, a cincia poltica foi poupada

    dos pecados das outras Cincias Sociais. Ela pode aprendercom os erros cometidos pelas outras ao se desenvolverem.

    Por volta do fim da Segunda Guerra Mundial, uma nova era se abrira para as outras Cincias Sociais: o hiperfatualismo sofria severas crticas e j estava em declnio. Dssenvo esprito, medida que os cientistas polticos se tomavam cada vez mais receptivos ao mtodo cientfico, ficamosrpidamente em condies de perceber os riscos representados pelo fortalecimento de nossas tcnicas de pesquisa emprica para a coleta e interpretao de dados sem, ao mesmotempo, testarmos a relevncia e significncia dos resultados

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    E s t r a t g ia s A l t e r n a t i v a s n a P e s q u i s a T e r i c a H

    pela aluso teoria empiricamente orientada. As conseqn-cias do negligenciarse a teoria tomaramse por demais apa-rentes para serem ignoradas. Assim, embora em seu perodo

    prcientfico a cincia poltica tenha atravessado sua prpriafase de hiperfatualismo, to logo ela comeou a entrar total-mente em sua prpria era cientfica ps de lado essa nfase.

    Ficando a cincia poltica sob a plena influncia do m-todo cientfico, medida que a assim chamada revoluo com

    portamental tem assumido o contrle,5 temos tido a sorte depoder desenvolver a capacidade de seguir um caminho duplo,porm paralelo. Temos tido xito em, simultneamente, aper-feioar nosso instrumental de pesquisa emprica e fundamen-tar nossa compreenso terica, substantiva, nos nveis conceptuais mais altos. Descobrimos que no necessrio, nem de-sejvel, substituir a discusso metodolgica por contribuiestericas, ou confundir a rigorosa coleta de fatos com a com-

    preenso e o conhecimento explicativos.

    O vnculo entre a teoria e a pesquisa

    A revoluo terica na cincia poltica tem tido outrasimplicaes vitais para a colocao da teoria na estrutura dadisciplina como um todo. Desde tempos imemoriais, a teoria

    poltica pretendeu oferecer liderana intelectual dentro dacincia poltica. Por razes relatadas em outro trabalho,6

    proporo que, na primeira metade dste sculo, a cincia po-ltica se movia, experimentalmente, na direo de uma cinciaexata (buscando explicaes mais do que preceitos afirmati-

    vos), a preocupao da teoria tradicional com a avaliao mo-ral e a histria das idias contribua para divorciar o ramo dateoria poltica da corrente principal de pesquisa no conjuntoda cincia poltica. Hoje, contudo, pela primeira vez nestesculo, a emergncia de uma teoria orientada empiricamentemantm a promessa de que a teoria pode comear a reafir-mar sua liderana intelectual. Mesmo enquanto as tcnicasde pesquisa rigorosa so melhoradas e aperfeioadas cada vez

    mais, a nova teoria poltica definiu suas prprias tarefas de tal

    5 Para uma completa discusso sobre o astinto ver David Easton

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    modo que procura produzir proposies que afinal podero sertestadas atravs dessas prprias tcnicas. A teoria procuramarchar lado a lado com a pesquisa emprica.

    Porm, de maior significao ainda, a moderna teoriaprocura seguir a grande tradio da teoria moral. Ela formulaquestes fundamentais sbre a natureza e a direo da indagao poltica, mesmo que, para a moderna teoria, isso signifique investigar profundamente a natureza e a direo da novapesquisa cientfica, enquanto ela se propaga por tda a disciplina. Est claro que a moderna teoria j comeou a agir comoum importante e violento solvente das numerosas hipteses no-examinadas existentes na pesquisa emprica. Novas dimenses

    da vida poltica tm sido reveladas; novas unidades de anlise tm sido propostas; conceptualizaes gerais alternativasda disciplina tm sido idealizadas; e novos objetivos de pesquisa tm sido sugeridos. A teoria no mais forma a retaguarda,mas, ao contrrio, procura agir como a vanguarda da pesquisa.

    A teoria moderna como um elo para as Cincia Sociais bsicas

    Vista da longa perspectiva da histria, talvez a maior contribuio dessa revoluo terica prove ser a obteno, paraa cincia poltica, de um lugar permanente entre as assimchamadas Cincias Sociais bsicas. A cincia poltica nemsempre foi aceita dessa forma. Em passado recente, por exemplo, outros cientistas sociais no tiveram apenas grandes dvidas sbre a posio da cincia poltica no corpo das CinciasSociais; les algumas vzes chegaram ao ponto de interpretara cincia poltica como sendo apenas uma disciplina para aaplicao do conhecimento bsico obtido pelas demais Cincias Sociais. Para stes, ela tem sido mais um campo de conhecimento aplicado do que de conhecimento terico.7

    Como resultado de suas novas tendncias tericas, a cincia poltica est alcanando, pela primeira vez, uma completa apreciao de si mesma como disciplina com status tericoequivalente, em qualquer aspecto, quele das outras CinciasSociais. Ainda que no passado a cincia poltica pudesse de

    finir uma rea institucional de intersse distinta das outras

    7 Ver Talcott Parsons The Social System (Nova York: Fee Press of

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    E s t r a t g ia s A l t e r n a t i v a s n a P e s q u i s a T e r i c a 1 3

    disciplinas, ela teve dificuldade em mostrar que sua compreen-so dos fenmenos polticos possua uma coerncia terica todiferente quanto as prprias interaes polticas. A moderna

    teoria teve que fazer exatamente isso de modo a demonstrarsua prpria validade e justificar sua prpria existncia comorea de investigao. Em outras palavras, uma das princi-

    pais tarefas da teoria consistiu em identificar uma srie decomportamentos que poderia descrever como polticos e, nesse

    processo, construir um sistema analtico ou uma teoria queajudasse a explicar a realidade do comportamento. Uma teo-ria poltica nada mais do que um sistema simblico til

    para a compreenso de sistemas polticos concretos ou em-

    pricos.Se a teoria poltica conseguiu ou no formular um siste-ma conceptual que explique o funcionamento dos sistemas

    polticos discutvel. Mas o que inconfundivelmente claro,mesmo nesse estdio precoce do desenvolvimento da modernateoria poltica, que a cincia poltica tomou conscincia desua prpria autonomia terica potencial, ou seja, da capaci-dade de criar sua prpria teoria geral, aplicvel aos fenme-nos normalmente includos em seu mbito. Nesse sentido, ela

    uma cincia terica bsica, equivalente em todos os aspec-tos s outras Cincias Sociais mais importantes. preciso no inferir, a partir dessa concluso, que, en-

    quanto rea de conhecimento, a cincia poltica independedas outras disciplinas e pode, por conseguinte, explicar os fe-nmenos polticos sem referncia s outras principais reasde comportamento. A interrelao do comportamento e damaioria do conhecimento pode ser considerada hoje como pon-to pacfico. Mas a afirmativa de que a cincia poltica se tor-nou uma disciplina com autonomia terica significa realmen-te que podemos conceituar o campo de intersse da cincia

    poltica de modo que as teorias da interao poltica terostatus idntico ao das teorias da cultura, a economia, a estru-tura social e outras formas bsicas da interao social.

    No mais plausvel sugerir que a cincia poltica ape-nas um campo no qual o conhecimento bsico adquirido emoutras disciplinas aplicado para a compreenso das institui-

    es polticas. Atravs da nova ptica da teoria emprica, po-demos reafirmar uma verdade fundamental: que cada disci-plina aborda um aspecto mpar, embora interrelacionado, da

    id i l f d l d

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    14 M o d a l i d a d e s d e A n l i s e P o l t i c a

    O caminho para a integrao das disciplinas

    Uma ltima conseqncia, digna de ser citada, da revo

    luo terica na cincia poltica a de que ela abriu as portas para uma relao nova e mais significativa entre a cinciapoltica e as outras disciplinas. No passado, quando a cinciapoltica inquiria sbre a relao dela prpria com as outrasdisciplinas, ela seria capaz de afirmar, no mximo, que poderia tomar de emprstimo as descobertas e os mtodos dasoutras Cincias Sociais e aplic-los em prol de um melhor entendimento dos fenmenos polticos. Na verdade, moda antiga, os mtodos de pesquisa eram caracteristicamente descri

    tos como sendo psicolgicos, sociolgicos, histricos etc. Naprtica, pouca coisa foi tomada de emprstimo em matria detcnicas. A cincia poltica quando muito importou limitadasquantidades de dados e descobertas das outras disciplinas afim de fortalecer as premissas das quais se originavam as interpretaes polticas. Em essncia, medida que as CinciasSociais se afastavam da disciplina de origem, a Filosofia, e proporo que a especializao profissional se intenjsificavaem fins do sculo XIX, a cincia poltica, mais do que as

    outras Cincias Sociais, tendia a seguir um caminho diferente. Ela manteve sua ntima associao inicial com a Filosofiae permaneceu indiferente, se no hostil, a muitas das disciplinas afins. Durante a maior parte da primeira metade dosculo XX ela quase seguiu um caminho de esplndido isolamento.

    Porm, com o crescimento da teoria emprica, a cinciapoltica comeou a estender novas e profundas razes para asoutras Cincias Sociais. Em parte, sses novos laos resultamdos esforos dos prprios cientistas polticos para fortalecer abase terica de sua disciplina.

    Uma das caractersticas peculiares ao desenvolvimento dacincia poltica, compreensvel em virtude de sua profundaligao com a Filosofia, a de que ela foi incapaz de desenvolver muito em matria de teoria geral a partir de seus prprios recursos internos. Poderamos ser tentados a negar ssefato apontando uma nica exceo importante a anlise doequilbrio como se desenvolveu na abordagem de grupopara a poltica.8 Mesmo esta, entretanto, tem muito a dever

    Sociologia e seus tericos que na Alemanha e ustria sededicaram, em fins do sculo passado, ao estudo do grupo,

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    E s t r a t g ia s A l t e r n a t i v a s n a P e s q u i s a T e r i c a 1 5

    principalmente medida que suas idias eram interpretadasnos Estados Unidos por Albion Small e outros. Mas com ex-ceo da anlise de grupo, que poderia ser considerada maisum produto da Filosofia pluralista do que da Sociologia degrupo, e portanto como produto nativo da cincia poltica,houve muito pouca teorizao geral, do tipo emprico, no m-

    bito da cincia poltica.J que a cincia poltica carece de uma tradio na qual

    pudesse buscar inspirao para inovao terica, podemos verpor que, proporo que a revoluo cientfica realizava in-curses cincia poltica, comeou a buscar auxlio junto soutras Cincias Sociais. Isso particularmente compreensvel

    se observarmos a rpida taxa de mudana no conjunto da cin-cia poltica aps a Segunda Guerra Mundial. Por causa dis-so, cincia poltica, ao contrrio de outras disciplinas, faltoutempo para especular sbre uma variedade de alternativas

    produzidas independentemente, ou para moverse lentamente, base de tentativa e rro, em direo a um senso comummnimo sbre as poucas abordagens promissoras selecionadasde um conjunto maior de experimentao. Ao contrrio, emretrospecto, parece que enquanto ns cientistas polticos te-

    mos procurado meios de conceituar nossa disciplina, compreensivelmente esquadrinhamos os modelos tericos de outrasdisciplinas cientficas, naturais ou sociais, especialmente ondesses modelos ajudaram a disciplina a alcanar aqule nvelde autoconscincia e organizao geral que de esperar deum campo cientfico em processo de maturao. Se no poroutras razes, as presses combinadas de tempo e necessida-de nos impuseram essa estratgia.

    Atravs de emprstimos tericos to explcitos pelo me-nos, alguma interpenetrao da cincia poltica com as outrasdisciplinas comeou a ocorrer. Teorias sbre o processo detomada de deciso do campo organizacional, a abordagem estruturalfuncional da Antropologia e Sociologia, a teoria daao da Sociologia e anlises de sistemas das cincias da co-municao ofereceram vastos reservatrios de conceitos razovelmente bem desenvolvidos e mesmo, em mbito mais limita-do, de teoremas que pareceram convincentes a estudiosos de

    cincia poltica.9Mas a integrao da cincia poltica com outras discipli-nas no foi deixada apenas iniciativa da cincia poltica.

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    processo. E aqui deparamos com um fenmeno estranho aosanais da cincia e que o objeto do presente volume. Cientistas sociais situados fora do campo da prpria cincia poltica sentiram-se impelidos a inventar novos recursos tericos

    para conceituar globalmente a poltica. Sem dvida, a histria das Cincias Sociais, quando fr escrita, revelar a extraordinria natureza dsse influxo de modelos tericos das disciplinas adjacentes para a cincia poltica. Socilogos, economistas e antroplogos, entre outros, voltaram suas habilidadespara a sistematizao do estudo dos fenmenos polticos, numalto grau de generalidade terica, como os ensaios contidosneste livro demonstraro amplamente.

    Existem indubitavelmente muitos motivos por que outroscientistas sociais se sentiriam compelidos a fazer pela cinciapoltica o que a prpria disciplina tem custado a fazer por siprpria. Entre elas, a crescente permanncia da crise polticano mundo moderno aparece com destaque. A substituio,nos Estados Unidos e em grande parte do mundo desenvolvido, da primazia econmica pela poltica no poderia deixar defixar em muitos cientistas sociais as inevitveis conseqnciasda poltica para todos os demais aspectos da sociedade. Na

    poca presente tomou-se cada vez mais claro para outras Cincias Sociais que uma compreenso adequada ao mnimo dosfenmenos situados no centro de seus prprios intersses seria alcanada mais rpidamente se o conhecimento existentesbre comportamento poltico fsse moldado em alguma forma sistemtica. J que as outras Cincias Sociais tinham esperado muitas dcadas para que a cincia poltica comeassea prov-las com essa conceituao generalizada dela prpria,podemos verificar por que estudiosos dessas disciplinas deve

    riam sentir-se impacientes e tomariam les prprios a iniciativa, mesmo se a falta de conhecimento especfico representasse um empecilho a seus esforos.

    A existncia nas disciplinas, antes da Segunda GuerraMundial, de mentalidade semelhante de uma guilda medieval, poderia ter levado um cientista poltico, que prezassesua honra profissional, a proclamar: Parem! Invasores, cuidado. Esses terrenos destinam-se a cientistas polticos exclusivamente. Embora ainda existam alguns que poderiam defender sse ponto de vista, a ndole dos tempos mudou dramtica-mente. Estamo-nos acostumando gradualmente a nos imagi

    t i t t d di t i tfi

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    Com essa nova mentalidade, desde a Segunda GuerraMundial muitas pontes foram construdas para ligar a cinciapoltica com as outras disciplinas em todos os nveis, do puramente emprico ao amplamente terico. Muitas tcnicas soidnticas para tdas as Cincias Sociais; muitos teoremas soagora compartilhados; e mesmo o treinamento em pesquisase justape a elas. Resta muito pouco na cincia poltica dovelho mdo de que as incurses pelos outros resultassem emperdas intelectuais. Ao contrrio, comea hoje a prevalecer aconvico de que tais invases podem beneficiar a todos. Hpoucas razes, portanto, para opor-se a teorias sbre polticaenunciadas por outros cientistas sociais, simplesmente porquetrazem com elas um tipo diferente de conhecimento e de especializao. Essa nova atitude com relao ao crescente intercmbio de idias entre a cincia poltica e as outras Cincias Sociais recebe, ento, estmulo tanto de dentro quanto defora.

    T e o r i a s d e F o r a

    Essas observaes nos conduzem diretamente ao contedo

    dsse volume de ensaios sbre teoria poltica. proporoque os tericos de outras disciplinas comearam a trazer opotencial de suas prprias categorias para aplic-lo aos fenmenos polticos, comeamos a adquirir quase imperceptivel-incnte um considervel inventrio de estratgias alternativaspara a construo da teoria geral. parte qualquer outra considerao, essas abordagens externas teoria poltica so certamente dignas de ateno particular, pelo menos porque representam o pensamento de eminentes especialistas de outras

    reas. Alm disso, entretanto, j que essas categorias tericas tm uma histria de uso em suas respectivas disciplinas,podemos v-las nesses ensaios aplicadas aos fenmenos polticos com a flexibilidade e sensibilidade acessvel a estudiosos

    j inteiramente acostumados a elas em outras reas.

    (Umtedo dste volume

    Os ensaios dste volume so uma amostra de tipos deleoria que, a partir da Segunda Guerra Mundial, se originaram fora da cincia poltica, e que constituem ajudas critei i i i i d h i

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    que, at agora, os cientistas polticos no se aperceberam inteiramente da freqncia com que as disciplinas adjacentestm colocado os fenmenos polticos no contexto de suas prprias teorias. Tambm no tomamos conhecimento da variedade considervel de alternativas j disponveis. E podemosprever que essa variedade continuar a aumentar, pelo menosat que a prpria cincia poltica tenha produzido alternativas mais profcuas, no apenas para seus prprios propsitos,mas tambm para as exigncias de outras disciplinas.

    No ttulo desta Introduo chamei os ensaios dste volumede estratgias alternativas para a pesquisa terica. Se quisssemos, poderamos cham-los de teorias, como eu prprio

    fiz quando o contexto desta Introduo parecia requerer. Maspouco precisamos lembrar-nos, agora que a teoria empricaest sendo discutida to detalhadamente na cincia poltica,que no conjunto das Cincias Sociais a teoria em qualquersentido ideal ainda pouco conhecida. No fundamental,portanto, conferir a sses trabalhos o status de teorias emqualquer sentido rigoroso; suficiente consider-los programasde anlise que, em condies adequadas, podero tomar-seteorias definidas com maior rigor.

    stes ensaios (excetuando-se o meu) originaram-se decontribuies para um painel no encontro anual da AssociaoAmericana da Cincia Poltica na cidade de Nova York, emsetembro de 1963. Como presidente da Seo de Teoria Poltica daquele encontro, ocorreu-me que seria til reunir algumas das abordagens alternativas teoria poltica geral quese vinham desenvolvendo silenciosamente fora da cincia poltica. O comparecimento excepcionalmente grande sessoprincipal do painel dedicado a sses trabalhos testemunhou

    o intersse despertado por essas preocupaes tericas e seusilustres representantes.Embora stes ensaios no esgotem as possveis estratgias

    externas para a anlise poltica, les de fato representam amaior parte daquelas significativas. Todos os trs primeirostrabalhos tomam como ponto de partida aquela vasta rea dateoria que adota como conceitos centrais os processos de tomada de deciso ou escolha individual e social. Contudo, sosuas diferenas que fornecem o foco de nosso intersse.

    Para Herbert A. Simon, a teoria organizacional fornece amatriz a partir da qual le pode concluir que a tomada dedeciso no um aspecto altamente especial do processo polti l t l Ai d J M B

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    tante fenmeno, le argumenta em favor daquilo que chunmum modlo individualista e um modlo que representa umaextenso (consciente) dos instrumentos, mtodos e procedi

    mentos utilizados pelo economista.James G. March tambm focaliza as decises, mas a nfase

    de seu pensamento o leva a uma anlise da utilidade de umconceito muito antigo em cincia poltica, o conceito de poder. Ainda, como le prprio afirma, que sinta que as implicaes imediatas para teorias gerais da sociedade. . . sejam pro-vvelmente escassas, le talvez subestime a significao desuas prprias observaes. Atingindo a idia de poder a partirdo campo geral da teoria organizacional, le conclui que elanos d um rendimento surpreendentemente pequeno em modelos racionais de complexos sistemas de escolha social. Jque le identifica os sistemas polticos como mecanismos deescolha social, o pso do argumento contido em seu trabalhoeliminaria o poder como dimenso importante na construode uma teoria poltica geral.

    Mas, como para ilustrar a grande variedade de abordagens teoria geral, Talcott Parsons, ao aplicar sua conhecida

    teoria da ao a sistemas polticos, oferece um exemplo deum modo pelo qual o poder pode continuar a ser usado paraa teoria geral. Como em todos os casos em que suposiesbsicas e premissas tericas divergem amplamente a teoriaorganizacional e a teoria da ao de Parsons constituem umbom exemplo um teste interessante para a habilidade docrtico fazer o tipo de comparao detalhada necessria paraavaliar as possibilidades relativas de cada uma como um quadro de referncia para a anlise poltica.

    O trabalho de M. G. Smith representa uma abordagemque ainda est por receber a ateno que merece por partedos cientistas polticos. le vai diretamente ao assim chamado mtodo comparativo da Antropologia para sugerir umaestratgia alternativa para a anlise poltica geral. le rejeitaa abordagem teoria baseada no processo, contedo ou funes como a encontrada, digamos, na teoria da ao relacionada,como , anlise funcional e opta a favor de uma teoriapuramente estrutural. Utilizando o tipo de corporao de

    Weber como unidade estrutural bsica, le argumenta quecomparaes entre sistemas polticos devem distingui-los segundo sua simplicidade ou complexidade estrutural, de acr

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    uma maneira radicalmente nova de incorporar a claudicanteabordagem de grupo em cincia poltica a uma estruturaterica mais ampla. le pode oferecer tambm cincia po-ltica uma forma de obter mximos dividendos da grande aten-o devotada pela pesquisa poltica, no passado, s formas eestruturas polticas.

    Os ensaios finais ajudam a esclarecer o impacto do vastoe crescente campo do conhecimento as cincias da comu-nicao na qual a orientao terica dominante pode serdescrita como sendo a anlise de sistemas. Anatol Rapoport

    chama a ateno para o fato de que a anlise de fenmenospolticos nesses trmos requer ateno especfica e detalhadapara as assim chamadas propriedades de sistema da vidapoltica. Meu prprio trabalho foi acrescentado como ilustra-o concreta de uma introduo a um tipo de anlise de sis-temas de fenmenos polticos.

    Muito embora eu tenha definido os projetos tericos anun-ciados neste volume como estratgias para a teorizao pol-

    tica originadas fora da cincia poltica, claro que nem todosos autores so, formalmente, membros de outras disciplinas.Apesar disso, se a inspirao principal da teorizao de umautor, ou se uma boa parte de sua orientao, deriva de dis-ciplinas que no a cincia poltica, tomei a liberdade de in-cluir seu pensamento na vasta categoria de teorias originadasfora da cincia poltica. Defini essa categoria livremente, jque o objetivo principal no opor qualquer rtulo defini-tivo aos estudiosos. Este objetivo , antes, chamar a ateno

    para a variedade de idias produtivas em teoria, disponveisfora do mbito normal de reflexo em cincia poltica, e que

    podem servir de estmulo para a descoberta de padres adi-cionais de anlise pela prpria cincia poltica.

    No que, como cientistas polticos, no tenhamos conhe-cimento da existncia de estratgias alternativas para a cons-truo da teoria. Em cincia poltica, ningum poderia igno-rar, hoje, o importante papel que a tomada de deciso ou a

    anlise de sistemas comeou a desempenhar na ltima dcada.Mas vemos essas teorias formuladas externamente sob umaperspectiva nova e mais clara quando as reunimos as reconhe-

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    Um princpio para a classificao das teorias

    Pode parecer algo estranho utilizar como princpio de classificao teorias originadas fora da cincia poltica, em contraste com aquelas formuladas a partir de modelos e raciocnio que se desenvolveram amplamente dentro da cinciapoltica. A simplicidade absoluta dste princpio no , entretanto, casual.

    Existem muitas outras maneiras profcuas de classificar asteorias. Poderamos dividi-las segundo seu mbito se elasso microteorias ou macroteorias; segundo sua funo se

    procuram lidar com o esttico ou o dinmico, com a estruturaou o processo, com sistemas polticos individuais, isolados, ousistemas considerados comparativamente; segundo sua estrutura se so sistemas de pensamentos rgidos, com inter-rela-cionamentos lgicos, formulados detalhadamente ou se constituem um conjunto de proposies definidas mais livremente;ou segundo seu nvel pelo relacionamento dos sistemas decomportamento a que se referem enquanto classificados emalguma escala hierrquica.

    Cada classificao deve ser avaliada segundo os propsitos com que empregada. Neste livro escolhi a afinidadedisciplinar ou fonte de uma teoria, separando as de fora dasde dentro da cincia poltica. Muitos motivos fundamentam autilidade desta diviso.

    Em primeiro lugar, ela ilumina implicitamente o prprioprocesso de formao da teoria. Ela mostra que a imaginaoterica no precisa esperar a gerao espontnea para ocorrerno interior da disciplina. As idias tericas so suficientemen

    te difceis de obter e no existe nada na natureza da teoriaque proba o emprstimo e adaptao em to grande escalaquanto seja necessrio e vivel.

    Em segundo lugar, a paternidade de uma teoria nos ajudaa reconhecer suas foras, limites e implicaes. Pode-se esperar que quaisquer pontos fracos que uma teoria possa terem seu campo de origem venham a contamin-la, quando frelaborada visando seu emprgo para a compreenso dos fenmenos polticos. A afinidade disciplinar de uma teoria, portanto, de importncia crucial para alertar-nos sbre tdasas suas implicaes.

    Fi l t i f t d t t d

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    um dos mecanismos centrais para intercmbios intelectuaisem qualquer perodo de especializao. A situa-se uma grande fonte potencial de convergncia, se no de unidade, das

    perspectivas das diferentes Cincias Sociais.Essa considerao merece ser mais explorada. Freqentemente se tem observado que a unidade da cincia no poderepousar em seu objeto. Cada um dos grandes grupos de disciplinas as fsicas, biolgicas e sociais trata de diferentestipos de dados. E dentro dsses conjuntos de dados, cadadisciplina individual se distingue das outras pelo seu tipo diferente de objeto de estudo. Smente o tipo mais inflexvelde reducionismo, como o fisicalismo atmico extremo, poderia

    argumentar em favor da unidade fundamental do campo deestudo de tda a cincia, natural ou social.Se aceitamos sem maiores discusses que a similaridade de

    tdas as cincias no pode basear-se na identidade do objetode seu estudo, smente o mtodo permanece como uma possvel fonte importante de unidade. Isso eqivale a dizer quepodemos atribuir a qualidade cientfica a tdas as cincias,porque elas aderem ao mtodo cientfico, mesmo que possamaplic-lo atravs do uso de diferentes tcnicas especficas. No

    mtodo reside a unidade bsica de tda a cincia. Essa concluso tem sido aceita de h muito na filosofia da cincia.Porm, quando ficamos alertas para a variedade de mo

    delos alternativos existentes fora da cincia poltica, modelosque procuram seduzir os cientistas polticos a adotarem suasdiferentes formas de perceber os problemas da anlise poltica geral, somos forosamente despertados para outra fraunificadora trabalhando ativamente na histria de qualquercincia, tanto social como natural. Ela abre a possibilidade

    de que no mais precisemos atribuir a unidade de tda acincia unicamente ao mtodo. provvel que tomando emprestadas teorias umas das outras, as cincias tenham podidomanter, tdas, alguma conexo, se no coeso, mnima, mesmoem face de seus objetos diversos e das tendncias centrfugasda especializao. Aqui se encontra uma fra negligenciada, trabalhando em prol da unidade das disciplinas.

    Ao verificarmos o parentesco entre a cincia poltica erelevantes teorias exteriores a ela, lembramo-nos que em tdas

    as pocas existiram padres tericos dominantes que se infiltraram em tdas as reas bsicas do conhecimento. Mas ssespadres tericos no se tornam dominantes atravs de alguma

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    iludes da que recebe. Durante sculos, a mecnica newtonianaresistiu como modlo terico para as Cincias Sociais bemcomo para as Naturais. A teoria evolucionista de Darwin per

    meou todos os domnios do pensamento na ltima metade dosculo XIX. De forma similar, hoje, a Ciberntica a cinciada comunicao e do contrle, ou em sua concepo mais ampla, a anlise de sistemas espalhou-se por todos os camposde realizao intelectual.

    Podemos, por conseguinte, encarar o estmulo externo auma disciplina como um importante mecanismo de difuso depadres tericos. Graas a isso, tambm o estmulo tericoexterno toma seu lugar como meio vital para congregar todo oempreendimento intelectual cientfico em algum tipo de estrutura unificada num grau mnimo.

    Assim, examinando as conceituaes da poltica conformeaparecem em outras disciplinas, estamos, de qualquer forma,aumentando nossa compreenso da maneira pela qual a cincia poltica, atravs de sua revoluo terica, est-se tomando parte da emprsa maior que a cincia hoje. Isso, por sis, constitui razo importante para a classificao de teorias

    do modo como fizemos. Alm disso, essa abordagem nos permite tirar vantagem de nosso conhecimento sbre o modo peloqual a teoria tende a estender-se sbre as disciplinas, independentemente de laos formais e especializaes. Ao ponto emque formos capazes de elevar sse processo para um nvelmais alto de conscientizao, seremos mais capazes de testara relevncia das principais idias tericas que permeiam umapoca, independentemente de sua origem, para uma compreenso dos problemas fundamentais da poltica,

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    H e r b e r t A. S i m o n

    Instituto Carnegie de Tecnologia

    Traduo d e G u i l h e r m e V e l l o s o

    Pesqui sa Polt i ca:A Est ru t ura da Tomada d e Deci so

    Ao identificar abordagens pesquisa poltica, a pessoano deve considerar as vrias abordagens particulares comomtuamente exclusivas, muito menos como antitticas. A concretizao de frases enganosas conduz apenas disputa metodolgica estril. Se eu tivesse rotulado o que vou dizer deteoria da ao, teoria dos jogos, teoria econmica ou teoria da influncia, meus comentrios no seriam muito alterados. Os comentrios sero mais relevantes por mostrar o que

    diferentes estruturas tm em comum do que por diferenci-las.Ao falar sbre tomada de deciso, no estou lidando com

    um aspecto altamente especial do processo poltico, mas comseu ncleo central. Votar, legislar, adjudicar e administrartm sido sempre concebidos como processos de tomada de deciso. As ferramentas da anlise poltica legais, histricase comportamentais tm sido sempre adaptadas anlise dadeciso. O uso de uma estrutura de tomada de deciso para

    a pesquisa poltica no nvo; ao contrrio, representa o desenvolvimento contnuo por caminhos que se estendem at osprimrdios da cincia poltica.

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    E x p l i c a o d a T o m a d a d e D e c i s o

    Que significa explicar o comportamento que leva to

    mada de deciso? Que perguntas estamos propondo ao fenmeno e o que aceitaramos como resposta? No existe umsignificado nico ou simples para o trmo explicao. Portanto,tomarei um ponto de vista mais particular do que geral e queprovou ser especialmente frutfero na anlise da tomada dedeciso. Deixem-me introduzi-lo por meio de dois exemplosbastante diversos.

    Em primeiro lugar, consideremos uma sucesso de pesquisas de opinio realizadas com um grupo de cidados durante uma campanha eleitoral, ou mesmo durante uma srie decampanhas. No levantamento inicial, os entrevistados respondero a perguntas que ajudaro a situ-los no sistema social,de acrdo com a idade, sexo, ocupao, renda, educao, raa,religio e nacionalidade e origem tnica. Podero tambmresponder a perguntas sbre suas preferncias entre os candidatos ou suas intenes de voto, e sbre sua posio com relao aos problemas. Podero tambm responder a perguntassbre seus padres de comunicao poltica: sua exposio aessa comunicao e sua iniciao em atividades polticas.Poucos estudos eleitorais tm sido to amplos como o que estoudescrevendo, o qual talvez seja um tipo ideal. Mesmo assim,alguns estudos recentes dle se aproximaram.1

    Qualquer que seja a amplitude da seqncia de levantamentos, estou interessado nas perguntas que gostaramos de responder com sua ajuda. Proponho que consideraramos o fenmeno explicado se pudssemos formular um conjunto re

    lativamente simples de regras invariveis ou leis que nos permitiriam prever as respostas a tdas as perguntas do levantamento feito num tempo t, com base em nosso conhecimentodas respostas dadas s perguntas nos levantamentos anterioresao tempo t, e, de forma idntica, prever o voto, a comunicaoou outro comportamento poltico dos entrevistados no tempot, com base nas informaes obtidas anteriormente ao tempo t.2

    Em outras palavras, queremos uma teoria dinmica vlida,com dinmica significando exatamente o que significa no cam

    po da mecnica. No se trata de uma especificao vaga,

    l f ld h i ( h

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    porque as leis da dinmica tm uma forma especfica. Elasno afirmam simplesmente como o mundo est em qualquertempo determinado; expressam uma relao entre o modo comoo mundo est em um certo momento inicial, digamos t0, e omodo como est em algum momento posterior, digamos ti.Assim, as leis newtonianas smente nos permitem prever ondeos plantas estaro, se soubermos onde esto e estiveram. Especificamente, mostrando-nos quais sero as aceleraes comofuno das atuais posies das partes do sistema, as leis nospermitem calcular as posies futuras a partir das aceleraese velocidades atuais.

    Nem tdas as leis fsicas so leis da dinmica. Por exem

    plo, num sistema mecnico em repouso na Terra, o centro degravidade toma a posio mais baixa compatvel com a liberdade de movimento do sistema. Esta uma afirmao decomo o mundo est em qualquer momento, quando em equilbrio esttico a posio de equilbrio independe (pelo menos onde quer que essa lei seja vlida) da histria anterior dosistema. Muitas leis fsicas, entretanto, so leis dinmicas, ea maioria das leis estticas so casos especiais casos deequilbrio de leis dinmicas mais gerais.

    sse estado de coisas a predominncia da dinmica no um problema de preferncia esttica entre os cientistas.Na verdade, seria muito mais simples para todos os interessados se a natureza pudesse ser explicada estticamente. Osgregos fizeram uma tentativa: as coisas se comportam de acordo com sua natureza; os corpos leves sobem, os pesados caem,tdas as coisas procuram seu lugar apropriado no mundo. Anica dificuldade estava em que a explicao no funcionava da Galileu e Newton. Constatou-se que as leis invariveis

    mais simples que realmente explicavam os fenmenos observveis eram leis dinmicas, equaes diferenciais, ao invs deleis estticas.

    A tarefa consiste, ento, em formular de forma dinmicaleis do comportamento eleitoral: explicar o voto ou intenode voto num tempo ti como uma funo (simples) da situaodo entrevistado no tempo t0 e dos acontecimentos que afetaram no perodo compreendido entre t0 e ti. J existem, claro, diversos modelos tericos que tm exatamente essa es

    trutura: os modelos em cadeia de Markoff e esquemas correia tos idealizados por T. W. Anderson, James Coleman eWilliam McPhee, pesquisadores associados ao Departamento

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    enquanto, seus modelos serviro de exemplos do tipo de esquema explicativo que tenho em mente.3

    Meu segundo exemplo refere-se a uma seqncia de de

    cises na poltica externa as decises tomadas durante acrise de Quemi, que foram analisadas por C. A. McClelland.4Aqui de nvo, parece pouco frutfero buscar princpios invariveis simples que iro prever o que os atres decidiro. muito menos irreal supor que podemos encontrar princpiosrelacionais simples invariveis que iro prever as prximas decises do ator como funo da situao em seu desenvolvimento at o momento dado. Assim, McClelland identificaquatro momentos principais de deciso na crise de Quemi,

    cada um definido pela situao criada pelas decises anteriores (de ambos os lados) e pelos acontecimentos.Modelos dinmicos para situaes dsse tipo tambm fo

    ram construdos mais de uma vez. Na rea da poltica externa podemos voltar at o pioneiro e clssico modlo matemtico de uma corrida armamentista formulado por Richardson.5 Escolhi para exemplo a microestrutura da crise deQuemi de preferncia macroestrutura de uma corrida armamentista para enfatizar o fato de que a construo de teo

    rias dinmicas no se limita s situaes que so fcilmentequantificveis ou redutveis a smbolos matemticos num sentido clssico. No caso da corrida armamentista, ou dos modelos dinmicos formais de comportamento eleitoral, o comportamento a ser explicado descrito em trmos de relativamentepoucas dimenses e variveis, naquelas dimenses, que podemser quantificadas. No parece bvia, de imediato, a maneirade formalizar o caso Quemi de modo semelhante. Alm disso,a maioria dos fenmenos polticos que nos interessam no se

    afigura suscetvel de quantificao.Nada do que eu disse sbre a distino entre teorias dinmicas e estticas implica, entretanto, quantificao. Simplesmente observei que as constantes da natureza podem, freqentemente, no ser constantes absolutas no sentido de

    8 Ver, por exemplo, T. W. Anderson, Probability Models for Analy-zlng Time Changes in Attitudes, em Mathem atical Thinking, in th e SocialSciences, org. por P. F. Lazarsfeld (Nova York: Free Press of Glencoe,Inc., 1954); W. N. McPhee, Formal Theories of Mass Behavior (NovaYork: Free Press of Glencoe, Inc., 1963); J. S. Coleman, Introduction toMathem atical Sociology (Nova York: Free Press of Glencoe, Inc., 1964).

    4 C. A. McClelland, Decisional Opportunity and Political Controver-ny: The Quemoy Case, The Journal of Conflict Resolution, VI (setem

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    regras sbre a forma pela qual o mundo se apresenta e simconstantes relativas relaes entre a forma pela qual o mundo se apresenta num determinado momento e num momentoligeiramente posterior. Quer estejamos buscando explicao

    quantitativa, quer qualitativa, precisamos decidir que tipos deconstante estamos procurando. E no final das contas claroque nossa escolha dever ser governada, no por nossa preferncia, mas por nosso xito em realmente descobrir leis constantes de um tipo ou de outro.

    E mais ainda: se vamos lidar adequadamente com a riqueza qualitativa da histria, exemplificada pelo caso Quemiou por uma sucesso de decises constitucionais, precisaremosencontrar linguagens formais para enunciar leis dinmicas que

    vo muito alm dos recursos das linguagens da Matemticaclssica. Como explicarei em breve, acredito que agora possumos tais linguagens.

    F a s e s n a T o m a d a d e D e c i s o

    Tenho falado como se a tomada de deciso fsse o equivalente a todo o curso da ao. Se isso verdade ou no,depende, evidentemente, de quo amplamente interpretemos

    o trmo tomada de deciso. Eu o tenho interpretado de modobastante amplo; nem tdas as teorias contemporneas relativas deciso o tm. Desenvolveu-se em Economia e em Estatstica Matemtica na ltima gerao e hoje j familiar aquase tdas as Cincias Sociais a teoria matemtica da deciso, que lida com algo muito mais restrito do que aquiloque venho chamando de processo de tomada de deciso.

    Nesse sentido mais restrito, a teoria da deciso no sepreocupa com a seleo, base de um critrio de preferncia,

    de um tipo timo de ao a partir de um conjunto de tiposde ao alternativos especificados. A teoria alcanou um altonvel de elegncia formal e tem sido aplicada, com bons resultados, a diversas tarefas explanatrias porm, mais especialmente, a tarefas normativas nas Cincias Sociais. evidente que a teoria da deciso, assim limitada, no umateoria da corrente do comportamento humano, individual ousocial.6

    8 A propsito da relao entre o processo da tomada de deciso, con

    forme discutido aqui, e a teoria da deciso convencional, ver meu Admi-nistrative Behavior, 2.a ed. (Nova York: The Macmillan, Company,1957), pgs. XXVII-XXIX; e meu Models o f Man (Nova York: JohnWiley & Sons Inc 1957) pgs 196 206

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    Se examinamos tal corrente do comportamento, vemos quegrande parte dela se preocupa em determinar quais os pro

    blemas de deciso que sero observados. Outras partes sepreocupam em descobrir ou planejar tipos de ao. Apenasuma pequena parte em trmos de homem-hora preocupa-se em selecionar um tipo particular de ao, com base em umcritrio de escolha bem definido, a partir de um conjunto dealternativas j especificadas. A teoria dinmica que desejamos ser necessriamente uma teoria referente a todo o espectro da atividade de tomada de deciso orientao da ateno, projeto, escolha e no apenas a teoria de um segmento.7

    Essa prpria concluso constitui uma generalizao emprica fundamental e muito significativa sbre o comportamentohumano. Ela no ocorreria em todos os mundos imaginveis.Em particular, no ocorreria num mundo to simples e confinado que tdas as alternativas da ao pudessem ser enumeradas, de uma vez por tdas, e pudessem ser avaliadas emtrmos de algum critrio de escolha definido. Em tal mundo,no haveria necessidade de se orientar a ateno, pois tdasas coisas relevantes poderiam ser observadas; no existiriamprojetos alternativos, pois tdas as alternativas seriam conhecidas do incio; restaria apenas a escolha. O tipo convencionalde teoria da deciso, como tem sido desenvolvido, pode explicar otimamente o comportamento naquele mundo.

    Infelizmente, aqule mundo no o nosso mundo. Vivemos num mundo de processadores de informaes peridicas, limitadas, lidando com uma complexidade que, para todosos fins prticos, infinita em comparao com seus podresde coleta e computao de informaes. um mundo povoado de criaturas de limitada racionalidade. Porque no podemos prestar ateno simultneamente a tudo o que potencialmente relevante, precisamos ter processos que determinemo foco da ateno. Se as alternativas no so dadas, mas devem ser encontradas, ento deve haver processos para procur-las. A prpria escolha entre alternativas pode muito bemacabar sendo relativamente inconseqente, em comparaocom os processos que determinam quais as alternativas disponveis para escolha.

    Assim, para explicar as decises no campo dos direitos civis em 1963, no basta explicar os votos dos comits ou doplenrio nas emendas propostas ao projeto de lei de direitos

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    civis, ou no prprio projeto. Precisamos explicar tambm, emprimeiro lugar, como o tpico direitos civis veio ter agenda,e bem no alto da agenda, em 1963. Como a ateno se con

    centrou nesse problema e no em todos os outros problemasque poderiam agitar os homens?Em seguida, para explicar as decises referentes aos direi

    tos civis, ser preciso explicar como se formaram os tipos deao empricos propostos. Manifestaes de adeso, por exemplo, smente se tomaram comuns em 1961 ou 1962. Semdvida a manifestao de adeso no foi uma criao nova foi uma simples adaptao das greves de braos cados* dosanos trinta. Mas como se tomou uma alternativa a ser consi

    derada pelos defensores dos direitos civis? Poder-se-ia argumentar que a alternativa da adeso j existia antes de 1961de alguma forma implcita ou potencial, mas foi tcitamenterejeitada como tipo de ao preferencial. Mas, ainda quetal argumento preservasse o formalismo da teoria da decisotima, iria de encontro aos fatos psicolgicos.

    Muitos outros exemplos de criao ou planejamento detipos de ao alternativos poderiam ser citados. O Corpo deVoluntrios da Paz, por exemplo, melhor compreendido como

    uma tal criao, idealizada para simbolizar o programa daNova Fronteira. Ainda que, como tdas as criaes, tivesseseus precursores neste caso, um precursor evidente foi oCorpo de Proteo dos Civis (Civilian Conservation Corps) o Corpo de Voluntrios da Paz s existiu como alternativapara a ao depois que a idia de tal organizao tinha sidoconcebida e desenvolvida.8

    Nem os partidos polticos e candidatos devem ser sempreencarados como alternativas preexistentes. Uma eleio

    pode, sem dvida, ser normalmente analisada, de imediato,

    O autor usa aqui as expresses sit-in demonstraton e sit-own strike. A primeira se refere ao tipo de manifestao pacfica que as pessoas aderem espontneamente, permanecendo sentadas em um determinado local at que suas reivindicaes sejam atendidas ou que sejam retiradas fra. A segunda indica aqule tipo de greve de protesto em queos operrios ou funcionrios permanecem no trabalho procurando produziio mnimo possvel; seria uma espcie de operao tartaruga. (N. do T .)

    8 Surpreendentemente pouca ateno sistemtica tem sido dada aos

    processos de orientao de ateno e criao de alternativas" em poltica. Para um desenvolvimento de alguns dsses pontos ver How Go-vernmental Organizations Originate, em Public Administration, de H.A Simon D W Smithburg e V A Thompson (Nova York: Alfred A

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    como a escolha pelos eleitores entre um conjunto de partidose candidatos apresentados. Mas uma explicao mais aprofundada do desenrolar dinmico dos acontecimentos deve levar

    em conta tambm os prprios partidos e candidatos. Umacincia adequada do comportamento poltico explicaria acriao e ascenso do Partido Republicano na dcada de1850 e a escolha entre quatro partidos em 1948. Levaria emconta no apenas as escolhas entre candidatos, mas tambm adisponibilidade de nomes especficos como candidatos. Quando o primeiro esbo dste ensaio foi escrito, quatro homensapareciam como possveis candidatos republicanos s eleiesde 1964: Goldwater, Rockefeller, Romney e Scranton. Existem

    talvez 20 milhes de homens adultos no Partido Republicano.Por que sses quatro? No estou querendo dizer que se tratade um fenmeno misterioso, mas apenas que ste um dosfenmenos que a teoria deve explicar.

    Observaes semelhantes podem ser feitas relativamenteaos determinantes dos focos de ateno. Os sres humanosindividuais tm constituio semelhante das mquinas processadoras de informaes em srie. les podem observarapenas uma ou algumas coisas de cada vez. sse fato fundamental tem conseqncias de grande alcance para o comportamento.

    O corpo poltico composto de um nmero bastanpfegrande de sres humanos. Assim, le perfeitamente capazde operar como um sistema paralelo, desenvolvendo muitasatividades simultneamente. As aulas no precisam ser suspensas ou as fbricas fechadas quando se apaga um incndio(a no ser que o incndio seja muito grande, ou que a co

    munidade seja muito pequena). No obstante, alguns processos polticos cruciais em particular mudanas legislativase institucionais que afetam importantes valres conflitantes smente ocorrem na presena da ateno simultnea de grandenmero de cidados. Se um dsses problemas est na agenda a ser discutida, muitos outros esto amontoados fora dela.Um exemplo simples dsse fato o adiamento, por consentimento mtuo, de quase tda a discusso de problemas domsticos vitais em tempo de guerra. Uma causa, claro, para o

    estreitamento da ateno provm do fato de mudanas de maioiimportncia reclamam a ao pelo Presidente e pelo Congresso, ou outras instituies especficas, nicas. O Congresso tem

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    mais, os canais de comunicao formais e informais da socie-dade parecem capazes de manipular apenas uns poucos t-picos em qualquer espao de tempo. A noo de foco daateno pblica poderia ser operacionalizada fcilmente poruma anlise de contedo das conversas de barbeiro ou pelacontagem das linhas dos boatos de jornal.

    A teoria do comportamento poltico diz respeito, portan-to, a trs aspectos do processo de tomada de deciso. Elaprecisa expor, em primeiro lugar, as regras que governam amudana e persistncia da ateno nos problemas especficosque ocupam a arena poltica. Ela precisa afirmar os princ-

    pios que governam a criao e projeto de tipos potenciais de

    ao poltica. E precisa estabelecer as condies que deter-minam as aes que sero escolhidas. Em tdas as trs esfe-ras da explicao podemos esperar que as leis tomem a for-ma de princpios dinmicos: expressando relaes entre o es-tado de coisas em qualquer momento especfico do tempo e osacontecimentos que provvelmente se seguiro pouco depois.

    A L i n g u a g e m d a T e o r i a d a T o m a d a d e D e c i s o

    O grau de otimismo que temos em relao s nossas pos-sibilidades de determinar essas leis depende da nossa avalia-o das tcnicas disponveis para formular e testar a teoria.

    Nesse aspecto, estamos infinitamente melhor hoje do que umadcada atrs.

    Teorias dinmicas nas Cincias Fsicas tomam a forma deequaes diferenciais, que fornecem regras para a mudana no

    sistema dentro do prximo curto intervalo de tempo comofuno da presente posio do sistema. As prprias regrasso invariveis. Mas, desde que a invariabilidade que ex-

    pressam uma relao entre a situao presente e a mudanano sistema, o comportamento que prevem pode ter a maiorvariao.

    A dificuldade na utilizao de equaes diferenciais comolinguagem da teoria em cincia poltica surgiu em descrevero sistema que nos interessa, em trmos de poucas variveisdo tipo familiar Matemtica clssica. Em alguns casos, exis-tem maneiras bastante naturais de fazlo a porcentagemd t bli l i d t i d t

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    Ao lidarmos com a crise de Quemi, por exemplo, comocaracterizaremos como varivel a posio americana em qualquer ponto do tempo? A resposta tradicional a sse tipo deproblema tem sido a construo de escalas. Dessa forma, poderamos construir uma seqncia de possveis posies americanas e coloc-las numa escala, de acrdo com o grau de conteno ou agressividade. As escalas no precisam ser unidi-mensionais; e o nmero de dimenses necessrias para caracterizar um conjunto de alternativas pode freqentemente serestabelecido de forma operacional.

    Apesar disso, quando caracterizamos a riqueza qualitativados fenmenos verdadeiros por escalas, temos que descartar

    um grande nmero de informaes talvez a maior parte dasinformaes existentes. Um mtodo mais direto para manipular fluxos de emisses de smbolos (pois a maior parte docomportamento social exatamente isso) seria altamente desejvel. Tal mtodo j est disponvel. O moderno computador digital emitir e responder por seqncias de smbolos.Sua capacidade de operar bastante geral e flexvel, seu padro de emisso e resposta determinado por um programaarmazenado.

    A um nvel formal, o programa de um computador acontrapartida de um conjunto de equaes diferenciais. umconjunto de regras invariveis que especifica o seu comportamento durante o prximo intervalo de tempo como uma funo de suas condies (o contedo de sua memria e o fluxode entrada de smbolos) no instante presente. Assim, um programa de computador pode servir de teoria para um sistemadinmico. Pode-se fazer programas descrevendo um sistemanumrico que so exatamente equivalentes a qualquer sistema

    clssico de equaes diferenciais. Portanto, pode-se programar um computador para simular as equaes da teoria dacorrida armamentista de Richardson ou de uma teoria dinmica sbre preferncias eleitorais.9

    Mas pode-se tambm escrever programas para computadores que sejam a expresso de teorias no-numricas sbreos sistemas de processamento de smbolos. Os smbolos lidose emitidos por um computador no precisam representar nmeros; podem representar igualmente bem as letras do alfu-

    9 O uso, como teorias, de programas de computador, discutklo mralguma extenso por Allen Newell e H. A. Simon em Computors in Py*

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    beto ou, no que isso diz respeito, palavras. Portanto, podemosesperar construir uma teoria sbre a crise de Quemi que,dada uma descrio apropriada da situao inicial, previria

    as aes e pronunciamentos polticos das faces contendoras.Uma parte dsse programa seria a teoria do processo de tomada de deciso do Govrno americano; outra, a teoria doprocesso de tomada de deciso do Govrno chins. Cada umadessas teorias incorporaria as premissas da deciso do Govrno e um conjunto de processos para tomar decises com basenessas premissas. Os processos de ambos os Govemo podemser semelhantes ou no; isso teria de ser determinado baseda evidncia emprica.

    sse tipo de construo de teoria no quimrico. Teorias comparveis j foram elaboradas e parcialmente testadaspara situaes de tomada de deciso que so, quando muito,uma ou duas ordens de grandeza mais simples do que esta.10Clarkson construiu uma teoria, em forma de programa de computador, dos processos de tomada de deciso, do diretor deinvestimentos de um truste bancrio.11 Cyert e March simularam o comprador de uma grande loja comercial.12 Newell,Shaw e eu formulamos uma teoria dos processos de membros

    de laboratrio resolvendo problemas simples,13 e uma teoria,muito menos verdica em sua forma atual, dos processos detomada de deciso de um jogador de xadrez.14 O que ssesprogramas mostram em geral que a variedade de coisas queum ser humano leva em considerao quando est tomandouma deciso complexa no enorme e que os processos doraciocnio no so terrivelmente emaranhados ou sofisticados.No vejo por que, mesmo com o equipamento de computaoexistente, no deveramos aspirar a escrever programas para

    simular os processos de tomada de deciso de um eleitor, congressista ou administrador. Nossa primeira tentativa provvelmente n ser muito precisa, mas o fato que temos os

    10 Para uma descrio no-tcnica dsses programas ver Computersin Psycology, ou Shape of Automation, por Newell e Simon, pgs. 76-92.

    11 G. P. E. Clarkson, Portfolio Selection: A Simulation of Trust Invest-ment (Englewood Cliffs, N. J.: Prentice-Hall, Inc., 1962).

    12 R. M. Cyert e J. G. March, A Behavioral Theory of the Firm|(Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice-Hall, Inc., 1963), pgs. 128-148.

    13 Para uma breve descrio e maiores referncias, ver Computersin Psychology, e The Shape of Automation, pgs. 82-86, por Newell eSimon.

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    meios tcnicos para construir tais teorias e os meios, atravsda simulao, de test-las.

    Mas o que podemos aprender construindo teorias sob aforma de programas de computador que no podemos aprender pelo senso comum? Acho que a pessoa encontrar a resposta mais claramente se recuar at sua lgebra do curso colegial e seus primeiros encontros com equaes simultneas.Como podia resolver problemas, utilizando equaes simultneas, que no poderia resolver sem elas? O truque est emque tendo a lgebra como ferramenta, a pessoa no precisainicialmente lidar com todo o problema, mas apenas com assuas partes ou mecanismos separados. Cada afirmao referente a um problema individual traduzida para uma nicaafirmao algbrica. Quando tdas estas estiverem anotadas,o mecanismo da lgebra o algoritmo para resolver equaessimultneas faz o resto do trabalho. le calcula as conseqncias das interaes entre os mecanismos individuais quea pessoa especificou e as segue onde a mente humana, semajuda, se perderia rpidamente.

    De forma parecida, ao construir programas como teorias

    dos processos humanos de tomada de deciso, comeamos postulando mecanismos simples como a base do sistema. Em seguida verificamos se o comportamento aparentemente complexo do sistema como um todo no pode ser o resultado inevitvel das interaes dsses mecanismos simples. Dessa maneira, os processos de investigao seletiva, de abstrao, emesmo de intuio que caracterizam a atividade humana aoresolver problemas foram produzidos a partir de um conjunto

    relativamente simples de processos de manipulao de smbolos para levar a cabo anlises do tipo meios e fim. Tudoleva a crer que sses e outros processos igualmente simplespodem explicar muitos dos fenmenos ligados tomada dedeciso poltica.

    C o n c l u s o : A E s t r u t u r a d a T o m a d a d e D e c i s o

    Tenho sustentado ser provvel que as constantes dos fenmenos polticos que estamos procurando atravs de nossapesquisa tomem, predominantemente, a forma de leis dinmi

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    o, a busca de alternativas para a ao e a escolha entre asalternativas.

    Durante os ltimos vinte e cinco anos, a pesquisa empri

    ca e a elaborao terica fizeram progressos substanciais nessesentido. sse progresso est sendo agora acelerado pelo usode computador digital como um nvo instrumento para formular e testar teorias. Formulando nossas teorias sbre a tomada de deciso humana sob a forma de programas de computadores para operao de smbolos no-numricos, livramo-nos da difcil tarefa de matematizar a teoria de modo a dar-lhe forma. E, pelo uso do computador como recurso parasimular o comportamento do sistema assim programado, temos

    um poderoso meio de inferir as conseqncias das interaesdos mecanismos simples que postulamos no programa e decomparar essas conseqncias com as correntes reais de comportamento humano.

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    J a m e s M. B u c h a n a n

    Universidade de VirginiaTraduo de G u i l h e r m e V e l l o s o

    Uma Teor i a Indi v i dualst i cado Processo Polt i co

    A teoria ou abordagem apresentada neste trabalho representa uma extenso dos instrumentos, mtodos e procedimentos utilizados pelo economista para um anlise da poltica.Como o cientista poltico, o economista estuda a organizaosocial. Mas o economista o faz, ou deveria faz-lo, de formadiferente. le estuda o aparecimento das relaes de troca ede mercado a partir dos processos de escolha dos participantes individuais. A teoria econmica neoclssica ortodoxa duma posio central teoria do comportamento da escolha individual; e, normalmente, os manuais comeam com uma anlise da procura individual de bens e servios. Sbre essa teoria do comportamento da escolha individual, constri-se umateoria da interao entre indivduos e grupos. A organizaoque surge como resultado da diferente participao dos indivduos nos processos de troca se chama a economia. Essaorganizao, essa economia, como tal, no tem uma existnciaindependente da interao dos indivduos que nela participam.

    No tem metas, nem propsitos intencionais.1 corretamente1 Como Gunnar Myrdal indicou em sua fundamental crtica metodo

    lgica muitos economistas tm errado ao inferir um contedo social nos

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    uma organizao social, mas no um organismo social. Apalavra individualstica no ttulo dste ensaio o oposto dapalavra organsmica, e indica a abordagem feita em trmosde metodologia, no em trmos de ideologia.

    Na abordagem individualstica, a forma de Govmo examinada como uma organizao social, de maneira similarquela com que a economia tem sido tradicionalmente analisada. A estrutura poltica concebida como algo que emergedos processos de escolha dos participantes individuais. claroque essa abordagem poltica no nova. Tda a tradiodo contratualismo pode, em um sentido, ser classificada comopertencente a essa abordagem. Entretanto, parece ser verdade que o comportamento individual na participao e determinao do resultado do processo poltico tem sido relativamente negligenciada pelos cientistas polticos. Muitos dssesestudiosos continuam a achar que, de alguma forma e em algum lugar, existe um intersse pblico, ou um interssegeral divorciado dos intersses dos indivduos participantes.Supe-se que em seu comportamento no processo econmico,as pessoas individualmente, enquanto consumidoras, trabalhadoras, investidoras e empreendedoras, tm diferentes gostos,desejos e valres. E a economia representa a resposta institucional ou organizacional necessidade de satisfazer simultneamente a sse variado conjunto de desejos. Por contraste,e com importantes excees, quando os indivduos participamna formao das decises sociais ou coletivas, presume-se queles so de alguma forma idnticos. O processo poltico notem sido examinado suficientemente como um meio atravs doqual os intersses distintos e separados do indivduo e dogrupo venham a ser conciliados, muito embora importantescontribuies tenham sido feitas nos Estados Unidos pela assimchamada Escola de Bentley.

    parte essa escola, o processo poltico continuou a serencarado como um meio pelo qual as decises certas oucorretas so alcanadas. Em sua maior parte, as decisespolticas ainda so concebidas como julgamentos da verdade; a tarefa primria da tomada de deciso poltica toma-se descobrir o verdadeiro intersse pblico. Quando asescolhas coletivas se reduzem a decises mutuamente exclu

    sivas, do tipo ou um ou outro, sse modlo de tipo julgamento da verdade tem alguma validade. O problema bsico se le ou no o modlo apropriado para analisar o funciona

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    posio de que le no , e de que o processo poltico nasociedade democrtica pode ser melhor examinado se fr interpretado como um meio de conciliar intersses divergentes.Trata-se de uma teoria da democracia individualista em oposio democracia idealista, nos trmos empregados por T.D. Weldon.2

    A aceitao dsse modlo individualstico como o apropriado envolve juzos de valor em dois aspectos distintos. Sendo algum que aceita as tradies da sociiedade ocidental,penso que deveramos tratar o indivduo humano como a entidade filosfica bsica e que deveramos conceber o Estadocomo se fsse fundamentalmente derivado do consentimentoindividual. O segundo juzo de valor, que mais importantepara os objetivos dste ensaio, um juzo sbre fatos, umjuzo de valor caracterizante, para usar o trmo de Nagel;le pode ser aceito independentemente de qualquer julgamento relativo filosofia do Estado. le envolve a consideraoemprica de que o processo poltico pode ser decompostoat o nvel das escolhas individuais.

    Evidentemente, esta afirmao no precisa envolver a reivindicao para o modlo individualstico de relevncia exclu

    siva, ou mesmo predominante, na formulao de previsessbre os processos de deciso poltica. No edifcio da cinciaexistem muitas casas e, ao analisar a poltica, existe certamente espao para modelos alternativos. Para alguns propsitos,um modlo orgnico pode ser til; para outros, uma teoria doEstado como a da classe dominante ou da fra. E, em muitoscasos, um modlo que ultrapasse o individual e comece coma interao dos intersses de grupo pode apresentar previsesinteiramente satisfatrias. Bsicamente, reivindica-se apenas

    que o modlo que origina todo o processo poltico de decisestomadas por indivduos, que se presume que se comportamracionalmente, explica elementos da poltica que parecem complicados em outros modelos, proporcionando algumas explicaes da realidade que no so compatveis com teoriasalternativas.

    Nesse ponto, surge uma conhecida dificuldade metodolgica, a mesma que provocou certa ambivalncia no exame maiscompleto dessa abordagem poltica publicado por mim e

    Gordon Tullock.3 O que se exige de uma teoria da poltica?2 T. D. Weldon, States and Morais (Nova York: McGraw-Hll Book

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    H duas respostas possveis para esta pergunta. A teoria,primeiramente, pode ser concebida como uma estrutura lgica, uma explicao, que permite se faam afirmaes sig

    nificativas e que ajuda a estabelecer alguma uniformidade nopensamento sem produzir hipteses conceptualmente refutveis.Nesse nvel, que pode ser classificado como o da teoria lgica, tudo o que se requer no modlo individualstico queos intersses difiram e que os indivduos ajam de acrdo comsses intersses distintos. No h necessidade de examinar anatureza dessas diferenas entre os desejos do indivduo e dogrupo. Tudo o que se requer para a estrutura formal de umateoria a suposio de que os diferentes indivduos querem

    realizar coisas diferentes atravs do mecanismo poltico. Essateoria lgica da democracia individualista pode ajudar nacompreenso dos processos atravs dos quais, num sistema deordem poltica, as pessoas e os grupos ajustam e conciliamsuas diferenas.

    Entretanto, para uma teoria da poltica verdadeiramenteproftica, necessrio mais. Se por teoria entendemosTb desenvolvimento de hipteses acrca do comportamento no processo poltico que possam ser refutadas conceptualmente pelaobservao dos acontecimentos no mundo real, algumas restries adicionais dever ser identificadas no modo pelo qual osintersses distintos diferem. A mais conhecida dessas restries, de nvo retirada da Economia, a hiptese de que osindivduos agem na poltica da mesma forma que presumivelmente agem na proftica teoria dos mercados, de modo a maximizar sua utilidade esperada, e que seu comportamento aofaz-lo seja mensurvel em trmos de alguma grandeza iden

    tificvel objetivamente, como renda pessoal ou riqueza. Empoltica, essa teoria positiva implica que os indivduos e grupos agem de modo a favorecer sua posio econmica. Porexemplo, os agricultores da Califrnia votam nos congressistas que votam por fundos federais para projetos de irrigao,os proprietrios de emprsas de transporte rodovirio votamnos congressistas que votam em projetos de gastos em auto-estradas. claro que esta hiptese tem pelo menos algumvalor explicativo. Restries alternativas ao padro de diferen

    as individuais poderiam, evidentemente, ser impostas; hipteses poderiam ser formuladas e as implicaes testadas.Deve-se enfatizar que a aceitao da abordagem individua-

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    tificvel. Por ser uma teoria lgica do comportamento poltico, o modlo aplicvel tanto a um mundo de altrustas quan

    to a um mundo de egostas, embora as hipteses testveisfssem evidentemente diferir acentuadamente nos dois casos.A construo lgica pode ser aplicada at mesmo a um mundode santos, bastando que suas vises da boa sociedade difiram. O modlo s inaplicvel a um mundo onde realmenteno existam intersses individuais distintos, mas, ao contrrio,sejam de alguma forma transcendidos por algum conjunto deobjetivos supra-individuais.

    Que contribuio a abordagem individualstica pode fazer

    para uma compreenso da poltica? A afirmao subjacente que os intersses individuais diferem. A partir da, queacontece ao intersse pblico? Existe le, e, se existe, comoos intersses individuais se podem conciliar com le? A abordagem padro em cincia poltica parece ter sido aquela quecomeava com o intersse pblico, definido talvez em trmosdaquilo a que os modernos economistas do bem-estar chamaram de uma funo de bem-estar social. Todo o problemade poltica e costumes, de obrigao poltica, surge de

    tentativas de fazer que as pessoas aceitem o intersse pblico como o seu prprio. Em outras palavras, a conciliao,se que existe, entre intersses privados e pblicos, deve viratravs de alguma fra moral que stes ltimos exeram sbreo comportamento individual. O comportamento poltico dosindivduos toma-se, nessa conhecida abordagem, um comportamento necessariamente moral.

    Tda essa concepo da poltica estranha abordagemresumida neste ensaio. No existe uma funo de bem-estar

    social, nem um intersse pblico como tal, numa sociedadede indivduos que escolhem livremente, e parece no haverrazo para inventar tal concepo por convenincia analtica.Isso no quer dizer, entretanto, que o processo poltico se reduza a uma simples luta pelo poder entre indivduos e grupos,que possa ser analisada sistemtica e cientificamente, mas sbrea qual nada se pode dizer normativamente. E precisamentenesse estdio que o modlo individualstico pode salvar o intersse pblico, indiretamente, pela separao essencial entre

    os estdios constitucional e operacional da deciso poltica.A clarificao dessa separao, e as implicaes que podemscr inferidas a partir de sua compreenso representam a prin

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    reduz de fato simplesmente quela entre os intersses conflitantes do indivduo e do grupo, e a tomada de deciso constitucional, em que se pode considerar que os indivduos par

    ticipam de escolhas sbre o conjunto de regras segundo asquais as subseqentes decises cotidianas sero tomadas. ssesegundo conjunto de decises, de escolhas, que pode ser chamado de constitucional, o importante, e, nesse estdio,toma-se possvel conciliar os intersses individuais distintoscom algo que poderia, com certa legitimidade, ser chamadode o intersse pblico no fsse pela confuso que ste usoparticular poderia gerar.

    O centro da ateno torna-se o clculo mental do indi

    vduo quando le se defronta com a escolha entre regras alternativas para chegar a decises polticas subseqentes t-isto , quando le se defronta com um problema genuinamente constitucional. O indivduo no sabe, nem capaz deprever, que problemas especficos se apresentaro aps a adoo da regra. E, mesmo que possa prever, com alguma exatido, o tipo de problemas que podero surgir, le dificilmente poderia prever sua prpria posio face aos outros membrosdo grupo. Enfrentando tamanha incerteza, como procede le

    para escolher entre regras alternativas? le deve procurarselecionar, na essncia do caso, uma regra que funcione razo-velmente bem para uma srie imprevisvel de acontecimentos,e em trmos de sua prpria situao pessoal, que le presumir ser distribuda mais ou menos aleatoriamente. O simplesintersse prprio diz que o indivduo procura classificar regras e instituies alternativas para tomada de deciso coletiva. O elemento essencial nessa altura o reconhecimentode que o intersse prprio, ao nvel de decises sbre regras

    e instituies que se espera permanecero vlidas por longosperodos de tempo, impe ao indivduo uma atitude e umpadro de comportamento que no so idnticos aos que seriam ditados pelo mesmo intersse prprio em escolhas particulares relativas a problemas polticos especficos.

    Os membros do grupo podem, evidentemente, discordarsbre as regras, enquanto as discutem no nvel constitucionalde deciso. Um consenso quanto classificao dos esquemas institucionais alternativos no surgir necessriamente.

    Mas precisamente nesse estdio constitucional que pode terlugar uma discusso num sentido significativo. nesse estdioque anlise e debate podem ser teis na soluo de diferen

  • 7/25/2019 EASTON, David. (Org.) - Modalidades de Anlise Politica

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    42 M o d a l id a d e s d e A n l i s e P o l t i c a

    reduz de fato simplesmente quela entre os interesses con-flitantes do indivduo e do grupo, e a tomada de deciso cons-titucional, em que se pode considerar que os indivduos par-

    ticipam de escolhas sbre o conjunto de regras segundo asquais as subseqentes decises cotidianas sero tomadas. ssesegundo conjunto de decises, de escolhas, que pode ser cha-mado de constitucional, o importante, e, nesse estdio,tornase possvel conciliar os interesses individuais distintoscom algo que poderia, com certa legitimidade, ser chamadode o interesse pblico no fsse pela confuso que ste uso

    particular poderia gerar.O