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    Cadveres, vagalumes, fogos-ftuos

    Eduardo Sterzii(UNICAMP)

    Resumo:

    Examina-se aqui a invocao das palavras, das imagens e sobretudo dafigura do escritor e cineasta italiano Pier Paolo Pasolini em duas obrasliterrias especialmente relevantes dos ltimos anos, Gomorra, de RobertoSaviano, e Monodrama, de Carlito Azevedo assim como num ensaio dohistoriador e filsofo da arte Georges Didi-Huberman. a prpriapossibilidade de continuar a escrever para alm do colapso da escrita que oprosador italiano e o poeta brasileiro parecem encontrar em suasrememoraes de Pasolini.Palavras-chave:poesia, morte, experincia.

    Abstract:

    We examine here the invocation of the words, images and especially thefigure of the Italian writer and filmmaker Pier Paolo Pasolini in two decisiveliterary works from recent years, Gomorra, by Roberto Saviano, andMonodrama, by Carlito Azevedo as well as in an essay by the art historianand philosopher Georges Didi-Huberman. It is the very possibility ofcontinuing to write beyond the collapse of writing that the Italian authorand the Brazilian poet seem to find in their rememorations of Pasolini.Keywords:poetry, death, experience.

    Duas obras cruciais da literatura contempornea de um lado, um volume de gnero

    indeterminado, situado entre o romance e o ensaio, entre a memria e a reportagem,

    escrito por um jovem italiano; de outro, o mais recente livro de um dos principais poetas

    brasileiros da atualidade fazem coincidir momentos decisivos de suas tessituras com

    invocaes explcitas das palavras, das imagens e sobretudo da figura do escritor e cineasta

    Pier Paolo Pasolini.

    A primeira invocao a que me refiro encontra-se nas pginas iniciais da segunda das

    duas partes de Gomorra, de Roberto Saviano, publicado em 2006. Recordam-se, ali, as

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    circunstncias da morte, num acidente de trabalho, de Francesco Iacomino, operrio da

    construo civil de Ercolano. Como os canteiros de obras da regio so controlados pela

    Camorra, a organizao criminosa que domina Npoles e arredores, os companheiros de

    Iacomino fugiram do local do acidente sem nem mesmo chamar o socorro mdico. O corpofoi deixado no meio da rua, agonizante, expelindo sangue dos pulmes. Estava longe de ser

    uma morte excepcional: como observa Saviano, era apenas mais um dos trezentos

    operrios que se arrebentavam todo ano nos canteiros da Itlia. Mas, para a sensibilidade

    poltica e tica do escritor, um limite fora ultrapassado:

    Com a morte de Iacomino, desencadeou-se em mim uma raiva daquelasque se assemelham mais a um ataque de asma do que a uma crise nervosa.Gostaria de fazer como o protagonista de A vida acre [La vita agra] deLuciano Bianciardi que chega a Milo com a vontade de explodir o Pirellone[ poca, edifcio-sede da Pirelli; desde 1978, sede da administraoregional da Lombardia] para vingar os quarenta e oito mineiros de Ribolla,massacrados por uma exploso, em maio de 1954, no poo Camorra.Chamado assim pelas infames condies de trabalho. Tambm eu devia,talvez, escolher um prdio, o Prdio, para explodir, mas ainda antes deenfiar-me na esquizofrenia do terrorista [attentatore], logo que entrei nacrise asmtica de raiva retumbou nos meus ouvidos o Eu sei [Io so] dePasolini como um jingle musical que se repetia at a obsesso [sinoallassillo]. E assim, em vez de esmiuar prdios a explodir, fui a Casarsa,

    at o tmulo de Pasolini. (SAVIANO, 2006, p. 232.)

    Eu sei a frmula pasoliniana evocada por Saviano a primeira frase, logo

    repetida anaforicamente na abertura dos onze seguintes pargrafos, de um artigo

    publicado no Corriere della Seraem 14 de novembro de 1974, um ano antes de Pasolini ser

    assassinado. Neste texto, que se intitulou originalmente O que este golpe? (Che cos

    questo golpe?) e hoje conhecido pelo ttulo que ganhou nos Escritos corsrios, O

    romance das matanas (Il romanzo delle stragi), Pasolini, em tom proftico, dizia saber

    os nomes dos responsveis pela violenta instabilidade poltica na Itlia daqueles ltimos

    anos, a comear pelos atentados cometidos em 1969 e em 1974, por meio dos quais se

    buscava gerar medo na populao e justificar a adoo de medidas de exceo:

    Eu sei os nomes dos responsveis pela matana de Milo em 12 dedezembro de 1969.

    Eu sei os nomes dos responsveis pelas matanas de Brscia e deBolonha nos primeiros meses de 1974.

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    Eu sei os nomes da cpula [vertice] que manobrou, sejam osvelhos fascistas idealizadores de golpes, sejam os neofascistas autoresmateriais das primeiras matanas, sejam, enfim, os desconhecidos

    autores materiais das matanas mais recentes. (PASOLINI, 1974, p. 362)

    Pasolini dizia saber os nomes do grupo de poderosos que, com a colaborao da CIA, dos

    coronis gregos e da mfia, manipulavam e acobertavam, entre uma missa e outra

    (aluso aos democratas-cristos), velhos generais, jovens neofascistas, ou antes

    neonazistas e at mesmo criminosos comuns todos convertidos em peas de um

    grande e intrincado xadrez poltico-criminal. Este conhecimento que Pasolini cristaliza na

    frmula relembrada por Saviano revela-se trgico, em certo sentido, na medida em que no

    pode se transformar em ao, a no ser no mbito, restrito mas por isso mesmo potente, daescrita, da literatura:

    Eu sei. Mas no tenho as provas. No tenho nem ao menos indcios.Eu sei porque sou um intelectual, um escritor, que busca

    acompanhar tudo o que acontece, conhecer tudo o que se escreve,imaginar tudo o que no se sabe ou que se cala; que coordena fatos mesmodistantes, que pe juntos os pedaos desorganizados e fragmentrios deum inteiro e coerente quadro poltico, que restabelece a lgica l onde

    parecem reinar a arbitrariedade, a loucura e o mistrio. (Id., p. 363)

    Podemos dizer, ento, que, para Pasolini mas tambm para Saviano , Eu sei o

    nome de um intervalo trgico entre conhecimento e ao (intervalo propcio para a

    imaginao, que pode saber tudo o que no se sabe e pode falar tudo o que se cala); Eu

    sei, pois, a senha de um saber que tenta extrair alguma potncia de sua prpria impotncia

    (o que talvez seja o paradoxo fundamental de toda arte frente ao real).1Saviano tambm

    sabe os nomes dos responsveis pela morte de Francesco Iacomino e de todas as outras

    vtimas da Camorra e escreve seu livro precisamente para declin-los, coordenando fatos

    [...] distantes (os negcios da Camorra, como ele demonstra com relatos exemplares,

    embora enraizados em Npoles ou Casal di Principe, acabam por se estender a todos os

    continentes), pondo juntos pedaos desorganizados e fragmentrios de modo a formar

    1Como exemplo dessa potncia extrada da impotncia, podemos lembrar que a reconstruo da verdade apropsito do que aconteceu na Itlia depois de 1968 reconstruo que, frisa Pasolini, no to difcil,

    pelo menos quando se conta com a imaginaoestava na base de Petrleo(Petrolio), romance que ele vinhaescrevendo por aqueles dias e que a sua morte deixaria incompleto (s tendo sido publicado, postumamente,em 1992).

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    um quadro complexo mas coeso, restabelecendo a lgica l onde parecem reinar a

    arbitrariedade, a loucura e o mistrio. O prprio Saviano explica em termos de uma

    conquista da possibilidade de escrever a sua viagem a Casarsa:

    Fui ao tmulo de Pasolini no para uma homenagem, tampouco para umacelebrao. [...] Fui para encontrar um lugar. Um lugar onde fosse aindapossvel refletir sem vergonha sobre a possibilidade da palavra. Apossibilidade de escrever sobre os mecanismos do poder, para alm dashistrias, alm dos detalhes. Refletir se era ainda possvel dar os nomes[fare i nomi], um a um, indicar as faces, despir os corpos dos delitos edevolv-los condio de elementos da arquitetura da autoridade. Se eraainda possvel seguir como porcos atrs de tartufo as dinmicas do real, aafirmao dos poderes, sem metforas, sem mediaes, com a lminanica da escrita. (SAVIANO, 2006, p. 233)

    *

    A segunda invocao a Pasolini que tenho em mente aparece na ltima pgina do

    livro Monodrama, de Carlito Azevedo, publicado em 2009 mais precisamente, no

    pargrafo final do estupendo poema em prosa H., no qual o poeta relembra os ltimos

    dias e a morte de sua me, assim como as suas primeiras reaes ausncia dela. Neste

    pargrafo derradeiro, Carlito tenta imaginar o que lhe diria sua me se indagada se lhecoube a morte boa ou a morte m. A resposta que a imaginao lhe oferece no

    exatamente reconfortante, mas tampouco desesperadora:

    Comparada com a larga eternidade de nada sentir, nada provar, nada tocar, ver eouvir que nos espera, a morte no sono, como dizem que coube a Chaplin, vale oque valem as dez costelas partidas, as orelhas arrancadas, os dedos decepados, alacerao horrvel entre o pescoo e a nuca, a equimose larga e profunda nostestculos, o fgado lacerado, o corao lacerado, o rosto inchado irreconhecvel, os

    hematomas, ltima forma fsica assumida por Pasolini nesse louco planeta queagora, para voc, gira tambm sem mim. (AZEVEDO, H., in 2009, p.152.)2

    Numa primeira leitura, talvez no se veja a mais do que uma afirmao

    desencantada da profunda indiferena entre todas as modalidades de morte, uma vez que a

    qualquer delas se segue o mesmo nada devastador. Porm, esta no seria uma

    2O nome de Pasolini tambm aparece em outro poema do mesmo livro: A foto do santurio de Delfos / no

    dipode Pasolini / colada no painel do seu carro / no espelho do banheiro / e na caixa de remdios / me repete /que voc no mais triste / do que qualquer pessoa / que eu conhea / nesta cidade / de i migrantes / fantasmas/ sombra / do obsessor (AZEVEDO, 2009, p. 99).

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    interpretao condizente com a complexidade retrica do poema. preciso notar,

    sobretudo, numa segunda leitura, que aqui estamos perante uma voz que, pelo menos na

    imaginao, desgarra-se da morte para dirigir-se a um vivo (aquele voc enfatizado pela

    melodia e pela sintaxe, prximo ao final da longa frase), cobrando-lhe tacitamente, antes detudo, o reconhecimento dessa sobrevivncia espectral. S assim se pode apreender o

    significado da invocao de Pasolini neste texto. Do ponto de vista estabelecido por

    Carlito3, Pasolini parece ser mais que uma vtima da morte m, a qual, enfim, pelo

    menos do ponto de vista dos mortos, termina por equivaler morte boa o nome de uma

    forma de potncia que no apenas consegue vencer a prpria impotncia, mas que, na

    memria e na imaginao dos vivos, resiste mesmo mais dolorosa destruio.4 Afinal,

    como sugere a comparao proposta no poema, mesmo a morte (boa ou m, tranquila ou

    dolorosa) uma forma extrema, certo de experincia: isto , uma forma de ainda

    (mesmo que pela ltima vez) sentir, provar, tocar, ver, ouvir. Neste sentido, pode-se dizer

    que a imagem de Pasolini morto vale o que valem todas as imagens de imigrantes e

    manifestantes que pontuam este livro proeminentemente poltico de Carlito Azevedo,

    como figuraes de experincias limtrofes, marcadas pelo risco.5 Mas sobretudo, pela

    comunho na violncia fsica, na agresso ao corpo, parece se aproximar especialmente da

    imagem da jovem / que se picava junto / mureta do Aterro, / camiseta salpicada, / a

    seringa suja (tambm ela, como se saber depois, uma imigrante6), de outro poema de

    Monodrama, imagem desoladora que suscita a assero criticamente certeira, atribuda por

    Carlito a uma interlocutora no-identificada, de que Nenhum poema / mais difcil / do

    que sua poca. O que ainda uma maneira de dizer, com Pasolini, Eu sei: com todas as

    dificuldades (Eu sei. Mas no tenho as provas), mas tambm todas as possibilidades (Eu

    sei porque sou um intelectual, um escritor, que busca [...] imaginar tudo o que no se sabe

    ou que se cala), que esse saber, operador dialtico entre a experincia e a escrita, implica,

    para o poeta no menos que para o leitor. A circunstncia de fundo, em Carlito como em

    Saviano, a de uma guerra civil, nunca de todo declarada, que acaba por se confundir com a

    3 Que, sutilmente (consciente ou inconscientemente, o que no importa), parece cifrar o desejo de umamorte boa para si mesmo na aluso a Chaplin, cujo personagem mais notrio, como se sabe, conhecido noBrasil como Carlitos portanto, um quase homnimo do poeta.4Cf. AZEVEDO, O anjo boxeador tenta descrever uma cena, in 2009, pp. 118-119.5Cf. AZEVEDO, 2009, pp. 11-29 (Emblemas), 73-85 (Dois estrangeiros), 86-88 (Limpeza do aparelho),

    91-108 (Monodrama).6Id., p. 47: Voc a reconheceu / como sendo a menina / coreana da Central / de Fotocpias do Catete / aquelacom / camiseta salpicada / presilhas fluo / mureta / e hipodrmica pendente / do brao.

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    prpria vida e da qual ningum sai completamente ileso: eu disse: e sempre / como um

    pas / se dando conta / de que entrou / em guerra, um dia / um pas se d conta / de que a

    guerra / de que todos falam / a sua guerra, o / pas o seu / pas, e o que chamam / de a

    guerra a / sua vida.7

    Da porque estamos em meio conflagrao, porque ainda no hcomo se saber com clareza quem so os vencedores e quem so os vencidos, e menos ainda

    se estamos entre os vencedores ou entre os vencidos que s vezes no reste muito mais

    ao poeta, sobretudo quando confrontado com as runas de nossas mentes estropiadas

    e de certas casas e ruas / suburbanas, que se deitar sobre a grama e se pr a escutar a /

    desconexo absoluta de / todas as falas do mundo, de / todos os sonhos do mundo

    (AZEVEDO, Plido cu abissal, in 2009, p. 55). O desafio que se coloca para ele, tanto

    quanto para qualquer um que se disponha a encarar e dizer seu prprio tempo, o de

    conseguir transformar essa realidade hostil (essa vida que se d a perceber como uma

    guerra, e que, precisamente por ser hostil, atravessada dialeticamente pelo desejo, pelo

    sonho e pela utopia) em experincia: isto , em matria genuinamente vivida e

    potencialmente transmissvel. No por acaso, a mesma interlocutora que esclareceu o

    poeta sobre a relao entre a poesia e a sua poca dir, pouco adiante, qualquer / coisa

    assim: como no tenho / mais questo alguma / com a metafsica, eu / no fico esperando

    por / alguma presena para / experimentar o que / experimento, experimento / todos os

    dias (AZEVEDO, O tubo, in 2009, pp. 33 e 42).

    *

    No por acaso, tambm, um dos mais recentes livros do historiador e filsofo da arte

    Georges Didi-Huberman, Survivance des lucioles (DIDI-HUBERMAN, 2009c), o qual constitui

    uma espcie de vindicao do poder de resistncia poltica de certas imagens e certas

    palavras, parte de uma premissa semelhante: refuta-se a noo, que se acha, por exemplo,

    em alguns textos de Giorgio Agamben, de que a possibilidade da experinciaencontra-se

    7 Id., pp. 35-36; cf. id., pp. 53-54, 57 ( a guerra. a guerra. essa maldita guerra..., ele entoava bembaixinho, resignado, tomando o rumo de volta para casa [...]), 68-69, 71-72, 89-90, 121-134. Cf. RobertoSaviano, Gomorra cit., p. 134: Como na Bsnia, como na Arglia, como na Somlia, como em qualquerconfusa guerra interna, quando difcil entender a que lado pertences, basta matar o teu vizinho, o co, o

    amigo, ou um teu familiar. Um boato de parentesco [Una voce di parentela], uma semelhana condiosuficiente para se tornar alvo. Basta que passes por um rua para receber de pronto uma identidade dechumbo. Sobre as imagens de guerra na poesia brasileira contempornea, cf. WEINTRAUB, 2012; LINS, 2012.

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    destruda para o homem contemporneo.8E significativo que Didi-Huberman comece seu

    livro pela releitura francamente antittica e problematizadora de um clebre ensaio de

    Pasolini, publicado, no mesmo Corriere della Sera, poucas semanas depois do j mencionado

    Il romanzo delle stragi. Trata-se do ensaio que ficou conhecido como Larticolo dellelucciole (com este ttulo foi recuperado nos Scritti corsari, embora, em sua forma primeira,

    de 1 de fevereiro de 1975, se intitulasse, mais prosaicamente, Il vuoto del potere in Italia)

    (PASOLINI, 1975, pp. 404-411). Didi-Huberman busca pensar com Pasolini, sem se furtar,

    quando necessrio, a pensar contra Pasolini (adotando postura semelhante frente a

    Agamben).

    No seu texto cujo ttulo pode ser traduzido por O artigo dos vagalumes 9 ,

    Pasolini faz um diagnstico extremamente desesperanado da sociedade italiana de sua

    poca, a qual estaria sucumbindo a uma nova e, at h pouco, imprevisvel forma de

    fascismo, de consequncias talvez mais nocivas que o fascismo histrico (ou fascismo

    fascista, para falar como o autor). Este fascismo radicalmente, totalmente,

    imprevisivelmente novo teria resultado de um fenmeno ocorrido na Itlia dez anos

    antes, conforme data Pasolini. Em vez de simplesmente descrever tal fenmeno com o

    lxico da poltica ou da sociologia, Pasolini (justificando assim faz-lo por ser um escritor, e

    escrev[er] em polmica) busca circunscrev-lo por meio de uma definio de carter

    potico-literrio ou seja, por meio de uma imagem:

    Nos primeiros anos Sessenta, por causa da poluio do ar, e, sobretudo, nocampo, por causa da poluio da gua (os rios azuis e os canaistransparentes), comearam a desaparecer os vagalumes. O fenmeno foifulminante e fulgurante. Depois de poucos anos os vagalumes no existiammais. (So agora uma recordao, bastante aflitiva, do passado: e um

    8 Escreve Agamben, nas primeiras linhas do ensaio que d ttulo ao livro Infanzia e storia, citadas por Didi-Huberman: Todo discurso sobre a experincia deve hoje partir da constatao de que esta no mais algoque nos seja ainda dado fazer. Porque, assim como foi privado da sua biografia, o homem contemporneo foiexpropriado da sua experincia: antes, a incapacidade de fazer e transmitir experincias , talvez, um dospoucos dados certos de que ele dispe sobre si mesmo. AGAMBEN, 1978, p. 5.9H uma traduo do texto, com o ttulo de O artigo dos pirilampos, em Pier Paolo Pasolini, Os jovensinfelizes. Antologia de ensaios corsrios, org. Michel Lahud, trad. Michel Lahud e Maria Betnia Amoroso, SoPaulo: Brasiliense, 1990. Vagalume me parece prefervel a pirilampo porque, embora tenha surgido comoeufemismo para caga-lume, sugere algo como luzes vagantes. Mas devemos lembrar que tambm temos emportugus a palavra lucola (proveniente justo do italiano lucciola), a qual, embora no registrada nem noAurlionem no Houaiss, encontra-se no Caldas Aulete(gnero de insetos colepteros telefordeos das regies

    quentes da Europa; so brilhantes de noite), com uma abonao extrada de Fagundes Varela: As milconstelaes se tresmalham quais errantes lucolas. Vale lembrar que a palavra tambm aparece no ttulo doclebre romance de Jos de Alencar.

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    homem velho que tenha uma tal recordao no pode reconhecer, nosnovos jovens, a si mesmo quando jovem, e portanto no pode mais ter as

    belas saudades de um dia.) (PASOLINI, 1975, pp. 404-405)

    Como nota Didi-Huberman, Pasolini no recorre a esta imagem potico-ecolgica

    para suavizar a violncia do fenmeno que diagnosticou, mas, sim, para insistir na

    dimenso antropolgica a seus olhos a mais profunda, a mais radical do processo

    poltico em questo: o desaparecimento dos vagalumes (la scomparsa delle lucciole)

    corresponderia, no plano cultural, a nada menos que (a hiprbole pasoliniana) um

    genocdio (DIDI-HUBERMAN, 2009c, p. 23; PASOLINI, 1975, p. 407). Pasolini descreve

    esse processo em trs fases. Antes do desaparecimento dos vagalumes, era completa e

    absoluta a continuidade entre fascismo fascista e fascismo democrata-cristo. A

    democracia que os antifascistas democrata-cristos opunham ditadura fascista era

    despudoradamente formal: os mesmos cdigos continuavam ativos, a mesma

    violncia policial, o mesmo desprezo pela Constituio (PASOLINI, 1975, p. 405). O

    regime sustentava-se numa maioria absoluta que congregava amplos estratos das classes

    mdias e das massas camponesas, sob a tutela do Vaticano. Os valores que contavam

    permaneciam os mesmos da poca fascista: a Igreja, a ptria, a famlia, a obedincia, a

    disciplina, a ordem, a poupana, a moralidade. Eram valores, frisa Pasolini, tambm

    reais, isto , pertenciam s culturas particulares e concretas que constituam a Itlia

    arcaicamente agrcola e paleoindustrial; porm, no momento em que eram assumidos

    como valores nacionais no podiam seno perder toda realidade, tornando-se um

    atroz, estpido, repressivo conformismo de Estado. Diante desse quadro, mesmo os

    intelectuais e os opositores nutriam insensatas esperanas: Esperava-se que tudo

    aquilo no fosse completamente verdadeiro, e que a democracia formal contasse no fundoalguma coisa (Id., pp. 405-406). Pasolini passa ento descrio da segunda fase,

    simultnea ao desaparecimento dos vagalumes. Neste perodo, o grande pas que estava

    se formando dentro do pas isto , a massa operria e camponesa organizada pelo PCI

    [Partido Comunista Italiano] [tanto quanto] os intelectuais, mesmo os mais avanados e

    crticos, no se aperceberam que os vagalumes estavam desaparecendo (Id., p. 406).

    Este desconhecimento, segundo Pasolini, poderia se atribuir ao fato de se dispor, ento,

    apenas de informaes fornecidas pela investigao sociolgica, que eram informaes

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    ainda no vividas, em substncia formalistas (volta-se, pois, questo da experincia

    como fundamento de um saber radical): Ningum podia suspeitar a realidade histrica que

    seria o imediato futuro [...] (Id., pp. 406-407). Por fim, advm a terceira fase, aps o

    desaparecimento dos vagalumes, na qual impossvel fechar os olhos para a realidadehostil: agora, os valores nacionalizados e, portanto, falsificados, provenientes do velho

    universo agrcola e paleocapitalista, j no contam e no servem mais nem mesmo

    enquanto falsos. A substituir-lhes, esto os valores de um novo tipo de civilizao,

    totalmente outra em relao civilizao camponesa e paleoindustrial. [...] trata-se da

    primeira unificao real sofrida pelo nosso pas [...]. (Id., p. 407) Enquanto em outros

    pases houve uma passagem gradual de um modelo civilizacional a outro, na Itlia o

    processo foi abrupto e extremamente destrutivo. O trauma italiano do contato entre a

    arcaicidade pluralista e o nivelamento industrial tem talvez um nico precedente: a

    Alemanha antes de Hitler. Tambm aqui os valores das diversas culturas particulares

    [culture particolaristiche] foram destrudos pela violenta homologao da industrializao:

    com a consequente formao daquelas enormes massas, no mais antigas (camponesas,

    artess) e no ainda modernas (burguesas), que constituram o selvagem, aberrante,

    impondervel corpo das tropas nazistas. (Id., p. 407) O prognstico no poderia ser mais

    desanimador e mesmo apocalptico: Na Itlia est acontecendo algo semelhante: e com

    ainda maior violncia, dado que a industrializao dos anos setenta constitui uma

    mutao decisiva mesmo com relao quela alem de cinquenta anos antes. No

    estamos mais defronte, como todos j sabem, a tempos novos, mas a uma nova poca da

    histria humana: daquela histria humana cujos prazos so milenares [ le cui scadenze sono

    millenaristiche]. Era impossvel que os italianos reagissem pior que assim a tal trauma

    histrico. Estes se tornaram em poucos anos (especialmente no Centro-sul) um povo

    degenerado, ridculo, monstruoso, criminoso (Id., pp. 407-408). Esta mutao

    sociopoltica, e mesmo antropolgica, e o trauma dela decorrente so particularmente

    sensveis para quem sempre enxergou nas tradies e prticas do povo da velha Itlia

    camponesa formas de resistncia ao progresso uniformizador e totalitrio. Um homem

    imbudo de tal amor por seu povo no podia seno interpretar a vertiginosa converso

    dos italianos em massa consumidora como uma catstrofe ou um genocdio: Vi,

    portanto, com os meus sentidos [coi miei sensi] o comportamento imposto pelo poderdos consumos recriar e deformar a conscincia do povo italiano, at uma irreversvel

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    degradao. O que no acontecera durante o fascismo fascista, perodo em que o

    comportamento era completamente dissociado da conscincia. Infrutiferamente o poder

    totalitrio iterava e reiterava as suas imposies comportamentais: a conscincia no

    estava implicada a. Os modelos fascistas no eram seno mscaras, a se colocar e tirar.Quando o fascismo fascista caiu, tudo voltou a ser como era (Id., p. 408). Da que Pasolini

    assevere drasticamente que a distino entre o fascismo fascista e o fascismo desta

    segunda fase do poder democrata-cristo no s no tem comparaes na nossa histria,

    mas provavelmente em toda a histria (Id., p. 408).

    E da tambm que, levando ao extremo as reflexes j ensaiadas em textos

    anteriores igualmente lembrados por Didi-Huberman (PASOLINI, 1973, 1974b e 1974c),

    desenvolvesse os temas do verdadeiro fascismo e do genocdio at chegar, pouco

    depois da publicao do artigo sobre o desaparecimento dos vagalumes, concluso radical

    de que foi antes de tudo o prprio ser humano que desapareceu na sociedade

    contempornea. Numa entrevista publicada seis dias depois de seu assassinato, Pasolini

    dizia ao jornalista: Pretendo que voc olhe em torno e se d conta da tragdia. Qual a

    tragdia? A tragdia que no existem mais seres humanos, existem estranhas mquinas

    que se batem umas contra as outras (PASOLINI, 1975b, p. 1724). Didi-Huberman sintetiza

    muito bem o que est em jogo nessa justaposio de figuras em desapario:

    preciso ento compreender que o improvvel e minsculo esplendor dosvagalumes, aos olhos de Pasolini esses olhos que sabiam to bemcontemplar um rosto ou deixar se manifestar [dployer] o gesto justo nocorpo de seus amigos, de seus atores , no metaforiza nada mais do que ahumanidade por excelncia, a humanidade reduzida sua mais simplespotncia de nos fazer sinais dentro da noite [ lhumanit rduite sa plussimple puissance de nous faire signe dans la nuit]. (DIDI-HUBERMAN, 2009c,

    p. 25)

    *

    Contra a noo de uma absoluta aniquilao da humanidade, condensada

    poeticamente na imagem do desaparecimento dos vagalumes, Didi-Huberman afirma que

    uma coisa indicar a mquina totalitria, uma outra lhe conceder to rapidamente uma

    vitria definitiva e sem volta (Id., p. 35). Ou seja, ainda que estejamos envolvidos edominados pelas trevas do totalitarismo mais insidioso (porque no se mostra

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    imediatamente como tal) ou, sobretudo, pelos complementares clares do espetculo

    triunfante, a humanidade ou, para usar uma expresso cara ao autor, os povos (peuples)10

    preservaram a capacidade de emitir seus sinais de resistncia e esperana. E , antes de

    mais, no prprio Pasolini que Didi-Huberman descobre uma abertura a estes sinais: toda aobra literria, cinematogrfica e mesmo poltica de Pasolini parece atravessada [semble bien

    traverse] por tais momentos de exceo onde os seres humanos se tornam vagalumes

    seres luminescentes, danantes, errticos, inapreensveis e, como tais, resistentes sob

    nosso olhar maravilhado (DIDI-HUBERMAN, 2009c, p. 19).

    Os prprios vagalumes, afinal, no desapareceram de todo. Eles reaparecem, por

    exemplo, para o poeta e fotgrafo Denis Roche, que, num livro intitulado, certamente em

    homenagem a Pasolini, La disparition des lucioles, reproduz um fragmento de dirio, datado

    de 3 de julho de 1981, no qual registra uma noite passada entre amigos nos campos da Itlia:

    cerca de vinte vagalumes iluminam-se junto s folhagens, provocando exclamaes dos

    convivas, para logo mais desaparecerem novamente na escurido (ROCHE, 1982, citado por

    DIDI-HUBERMAN, 2009c, pp. 37-40). E os vagalumes aparecem tambm para o prprio

    Didi-Huberman, que rememora a poca em que viveu em Roma, dez anos depois da morte

    de Pasolini, quando, na colina do Pincio, mais precisamente num local conhecido como

    bosque dos bambus, havia uma verdadeira comunidade de vagalumes a fascinar os

    passantes: os vagalumes no tinham desaparecido entre 1984 e 1986, mesmo em Roma,

    mesmo no corao urbano do poder centralizado (DIDI-HUBERMAN, 2009c, p. 40). No

    entanto, conta Didi-Huberman que, mais recentemente, retornou ao Pincio e constatou que

    os bambus haviam sido cortados e que os vagalumes haviam, outra vez, desaparecido (Id.,

    ibid.). Porm, seguramente para voltar a aparecer em outro lugar. Se queremos ver de novo

    os vagalumes, num tempo em que a sua sobrevivncia toma a forma de uma comunidade

    anacrnica e atpica, precisamos saber a hora de nos deslocar, de mudar de posio: trata-

    se, afinal, de uma iluminao intermitente (clairage intermittent) que tambm uma

    iluminao em movimento(clairage en mouvement), uma iluminao fugidia no tempo e

    no espao (Id., pp. 42 e 39). Se h, segundo Deleuze e Guattari, uma literatura menor

    (representada por Kafka), haveria tambm, prope Didi-Huberman, uma luz menor

    (lumire mineure) que possui as mesmas caractersticas filosficas daquela: do forte

    10 o ttulo do quarto captulo de DIDI-HUBERMAN, 2009c, pp. 77-97. Cf. tambm id., 2008; id., 2009a ; id.,2009b.

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    coeficiente de desterritorializao s premissas de que tudo a poltico e tudo adquire

    um valor coletivo, falando do povo e das condies revolucionrias inerentes sua

    marginalizao (DELEUZE e GUATTARI, 1975, pp. 29-33; cf. DIDI-HUBERMAN, 2009c, p.

    44).Podemos nos perguntar se no precisamente esta luz menor que Roberto

    Saviano e Carlito Azevedo foram buscar nas palavras, nas imagens e sobretudo na figura de

    Pasolini? Se no a luz dos vagalumes, a luz dos fogos-ftuos que, em certas noites do

    campo, desprendem-se dos cadveres e fazem pensar em fantasmas, em aparies. Afinal,

    qualquer exame atento das artes de nossa poca, pelo menos em suas mais interessantes

    realizaes, demonstra que nelas a crtica da contemporaneidade no se dissocia do que

    poderamos chamar de uma esttica, que tambm uma poltica, da assombrao. Que

    igualmente, antes de tudo, uma potica da sobrevivncia, se por sobrevivncia

    compreendemos a forma extrema de comunicao e indeterminao entre vivos e mortos

    mas tambm, em analogia com esta, a dinmica trans-histrica intrnseca s artes, e, antes

    que a elas, a todas as imagens, artsticas e no-artsticas (cf. DIDI-HUBERMAN, 2002).

    Sobrevive-se a um morto ou sobrevive-se prpria morte: em ambos os casos, toda uma

    vida espectral, to afim condio pstuma da literatura11(e das artes em geral), que a

    se inicia. No por acaso, j num de seus primeiros poemas, Carlito Azevedo confrontava o

    leitor com a figura ambgua ou limtrofe do vivente morrente (AZEVEDO, A dvida de

    Camilo Pessanha, in 1991, p. 40; cf. PESSANHA, gua morrente, 1895). Isto : do

    sobrevivente. Isto : do resistente da resistncia.

    Referncias bibliogrficas:

    AGAMBEN, Giorgio. Infanzia e storia. Saggio sulla distruzione dellesperienza. In Infanzia

    e storia. Distruzione dellesperienza e origine della storia(1978). Nuova edizione accresciuta.

    Turim: Einaudi, 2001. pp. 3-66.

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    AZEVEDO, Carlito. Monodrama. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009.

    DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Flix. Kafka. Pour une littrature mineure. Paris: Minuit, 1975.

    11Cf. FERRONI, 1996.

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    Muse Nationale dArt Moderne, 108 (t 2009a), pp. 86-115.DIDI-HUBERMAN, Georges. Peuples exposs ( disparatre), Chimres, 66-67 (2008)

    [Morts ou vifs], pp. 21-42.

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Peuples exposs, peuples figurants, De(s)gnrations, 9

    (septembre 2009b) [Figure, figurants], pp. 7-17.

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Survivance des lucioles. Paris: Minuit, 2009c.

    FERRONI, Giulio. Dopo la fine. Sulla condizione postuma della letteratura. Torino: Einaudi,

    1996.

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    no contexto da violncia. In SELIGMANN-SILVA, Mrcio, GINZBURG, Jaime e FOOT

    HARDMAN, Francisco (org.). Escritas da violncia. V. 1: O testemunho. Rio de Janeiro:

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    WEINTRAUB, Fabio. Meu primeiro bunker: imaginrio blico em Terminal, de Ronald

    Polito, Literatura e Autoritarismo, dossi Imagens de devastao, no prelo.

    i Eduardo STERZI doutor em Teoria e Histria Literria pela UNICAMP, com tese sobre a VitaNuovade Dante Alighieri e a origem da lrica moderna. Desde 2012, professor da mesmauniversidade. Realizou pesquisas de ps-doutorado na USP e na Universit degli Studi di Roma "LaSapienza". autor dos livros de estudos literrios Por que ler Dante(Globo, 2008) eA prova dos nove:alguma poesia moderna e a tarefa da alegria(Lumme, 2008). Como escritor,publicou Prosa(IEL/CORAG, 2001),Aleijo(7Letras, 2009) e Cavalo sopa martelo(Dobra, 2011).