educaÇÃo ambiental: concepÇÕes e prÁticas .gt22 - educação ambiental – trabalho 885...
Post on 20-Jan-2019
214 views
Embed Size (px)
TRANSCRIPT
GT22 - Educao Ambiental Trabalho 885
EDUCAO AMBIENTAL: CONCEPES E PRTICAS
PEDAGGICAS DOS PROFESSORES DA EDUCAO DE JOVENS E
ADULTOS DA REDE PBLICA DE ABAETETUBA, PAR
Alessandra Sagica Gonalves UFPA
Marilene da Silva Feijo Pereira UFPA
Jos Mateus Rocha da Costa UFPA
Agncia Financiadora: CAPES
Resumo
Este artigo apresenta um campo de reflexo acerca das concepes e prticas
pedaggicas dos professores da Educao de Jovens e Adultos (EJA) sobre a temtica
ambiental em uma escola da rede pblica estadual de educao. Trata-se de uma
pesquisa com anlise qualitativa, cujos instrumentos utilizados foram entrevistas,
anlise do Projeto Poltico Pedaggico (PPP) e observao do ambiente educativo. O
estudo, realizado em Abaetetuba, Par, revelou por meio dos discursos que todos os
professores (as) pesquisados (as) concordam com a importncia da insero da
Educao Ambiental (EA) na EJA e alegam trabalhar com o tema em suas aulas. As
observaes diretas do ambiente demonstraram atividades voltadas principalmente
reutilizao de materiais reciclveis, a observao da natureza e horta. Apesar dos
avanos do debate sobre a EA na EJA que foi impulsionado pelas Diretrizes
Curriculares Nacionais de Educao Ambiental de 2012, ainda mostrou-se
predominante nos discursos e nas prticas pedaggicas uma concepo de cunho
reducionista e naturalista de EA.
Palavras-chave: Educao Ambiental. Concepes. Professores
Introduo
O presente artigo socializa parte de uma pesquisa mais ampla que analisou a
insero da educao ambiental na Educao de Jovens e Adultos na Rede Pblica de
Ensino, de modo a diagnosticar suas contribuies para a escola pblica da Amaznia
Paraense. Neste sentido, este ensaio estabelece reflexes acerca da Educao Ambiental
(EA) na Educao de Jovens e Adultos (EJA), na sociedade contempornea. De modo
geral, investigamos quais a concepes e prticas pedaggicas dos professores da EJA
sobre a EA na escola pblica da rede estadual de educao na Amaznia Paraense.
2
38 Reunio Nacional da ANPEd 01 a 05 de outubro de 2017 UFMA So Lus/MA
A importncia deste estudo diz respeito principalmente a dois aspectos: 1) O
primeiro se refere insero da EA no currculo da educao brasileira, que foi
reafirmada por meio das Diretrizes Curriculares Nacionais para a EA (DCNEA) de 15
de junho de 2012; 2) E o segundo decorre da necessidade da ampliao do debate acerca
da qualidade das prticas pedaggica e curriculares na EJA.
O artigo foi organizado a partir de pesquisa realizada com enfoque no estudo
de caso, de abordagem qualitativa, envolvendo pesquisa bibliogrfica e documental,
bem como pesquisa de campo junto aos professores da EJA, na cidade de Abaetetuba,
Estado do Par. Alm disso, para construo deste estudo foi realizado um dilogo com
os seguintes autores: Arroyo (2014), Guimares (2004), Leff (2001), Pedrini (1998),
Reigota (2004), entre outros, que possibilitaram o entendimento e a ampliao do
contedo pesquisado e que serviram de arcabouo terico nesta investigao. As
investigaes em campo ocorreram nos anos de 2015 a 2016 na cidade de Abaetetuba1 e
a coleta e anlise dos dados foram realizadas a partir de entrevistas semiestruturada
direcionadas a 20 professores da EJA.
Portanto, apresentam-se as anlises das questes fulcrais que nortearam a
pesquisa de campo a partir dos depoimentos dos entrevistados e dos documentos
investigados. O escrito organiza-se a partir de trs campos de discusso: primeiramente,
apresentam-se as premissas polticas e tericas sobre Educao Ambiental. A seguir
discute-se brevemente sobre a trajetria da EA e da EJA no Brasil. E posteriormente,
apresentado os resultados da pesquisa luz dos depoimentos dos sujeitos envolvidos na
investigao de campo.
Premissas polticas e tericas sobre Educao Ambiental
Segundo Pedrini (1998), com o capitalismo teve-se um avano de progresso
econmico e tecnolgico, bem como estragos socioambientais provocados por um
desenvolvimento totalmente insustentvel: misria, exploso demogrfica, poluio das
guas, do ar e do solo, extino de espcies animais e vegetais, desertificao das
florestas, destruio da camada de oznio, aquecimento global do planeta, etc. Ao
perceber que tais atitudes conduziriam ao caos, a humanidade estabeleceu leis que
previam multas e privaes de liberdade. Contudo, tais medidas no foram suficientes,
1 uma cidade que fica localizada a 110 km de, Belm, e possui uma populao de 141.100 habitantes,
conforme dados do Censo de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE, 2010).
3
38 Reunio Nacional da ANPEd 01 a 05 de outubro de 2017 UFMA So Lus/MA
fazia-se necessrio a estas um processo educativo contnuo, capaz de propiciar um novo
relacionamento do homem com o restante da natureza. Neste contexto surge a Educao
Ambiental (EA).
No cenrio global a questo Ambiental emerge como uma crise de civilizao e
as rupturas desta crise buscam questionar os paradigmas do conhecimento e os modelos
societrios da modernidade, emergindo a necessidade de construir outra racionalidade
social, que seja orientada por novos valores e saberes; por modos de produo
sustentados em bases ecolgicas e significados culturais; por novas formas de
organizao democrtica.
Para Leff (2001) a problemtica ambiental gerou mudanas globais em
sistemas socioambientais complexos que afetam as condies de sustentabilidade do
planeta. Uma das principais causas da problemtica ambiental foi atribuda ao processo
histrico do qual emerge a cincia moderna e a Revoluo Industrial.
Para Harvey (2011) o capitalismo baseia-se no usufruto da natureza. O
esgotamento e a degradao da terra e dos chamados recursos naturais no fazem mais
sentido no longo prazo do que a destruio dos poderes coletivos de trabalho, pois
ambos esto na raiz da produo de toda a riqueza.
Guimares (2005) nos alerta que essa crise que afeta o planeta, se configura
como esgotamento de um estilo de desenvolvimento ecologicamente predador,
socialmente perverso, politicamente injusto, culturalmente alienado e eticamente
repulsivo.
A partir das ltimas dcadas do sculo XX, com a intensificao dos problemas
ambientais em escala global, o aprofundamento da crise ambiental, as estratgias de
preservao so consideradas necessrias para que ocorra uma mudana tanto de
concepo quanto de prtica na relao que a sociedade estabelece com a natureza.
Estas consideraes levam a compreenso de que o debate acerca da
problemtica ambiental ganhou uma formidvel dimenso no cenrio internacional e
nacional, especialmente no mbito das polticas pblicas educacionais. Pois, diante das
inmeras adversidades criadas pelo modelo de desenvolvimento econmico, muitos
governantes e legisladores se sentiram pressionados a desenvolver propostas e aes
adequadas aos apelos dos movimentos socioambientais. Nesse horizonte, EA passou a
ser considerada como uma estratgia fundamental para a formao de indivduos
partcipes na construo de uma sociedade sustentvel, socialmente justa e
ecologicamente equilibrada.
4
38 Reunio Nacional da ANPEd 01 a 05 de outubro de 2017 UFMA So Lus/MA
Partindo dessas consideraes, defende-se neste artigo, uma proposta crtica de
EA, conforme preconiza Guimares (2013), que se deve trabalhar com uma viso
sistmica de meio ambiente, compreendido em sua totalidade complexa como um
conjunto no qual seus elementos/partes interdependentes se inter-relacionam entre si,
entre as partes e o todo, o todo nas partes em uma interao sintetizada no equilbrio
dinmico. O espao natural veio historicamente sendo apropriado pelas sociedades
humanas, transformando-o em um espao socialmente produzido.
A EA na perspectiva crtica objetiva contribuir para a construo de uma
conscincia crtica da realidade socioambiental e da relao sociedade-natureza, que
seja capaz de instigar mudanas tanto individuais como coletivas, de modo a influenciar
na mudana dos modelos de paradigmas da sociedade moderna.
Jacobi (2005) disserta que EA na perspectiva crtica ocorre na medida em que
o professor assume uma postura reflexiva. E isto potencializa entender a EA como uma
prtica poltico-pedaggica, representando a possibilidade de motivar e sensibilizar as
pessoas para transformar as diversas formas de participao em potenciais fatores de
dinamizao da sociedade e de ampliao da responsabilidade socioambiental.
Revisitando a trajetria da Educao Ambiental e da EJA
A trajetria histrica da EA mostra que paulatinamente essa dimenso da
educao vem conquistando seu espao e se inserindo nos debates pedaggicos nas
instituies de ensino no Brasil desde a educao bsica at ao ensino superior. De
modo geral, adquirindo, em nvel globalizado, um importante papel na luta pela
conservao e preservao dos recursos naturais. E, por isso, acredita-se que este tipo de
educao deve estar presente em todos os nveis do ensino, desde a educao infantil at
ao ensino superior, desenvolvendo o senso crtico de ca