elementos para a compreensão do processo de (re)construção...

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UNIVERSIDADE DO PORTO FACULDADE DE DESPORTO Elementos para a compreensão do processo de (re)construção do conhecimento do treinador de andebol em Portugal Dissertação apresentada com vista à obtenção do grau de Mestre em Ciências do Desporto, na área específica de especialização de Treino de Alto Rendimento Desportivo, nos termos do Decreto-Lei nº 216/92, de 13 de Outubro Orientadores: Professora Doutora Paula Batista Professora Doutora Luísa Estriga Ana Filipa Vasquez Paulo Cunha Porto, Junho de 2012

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UNIVERSIDADE DO PORTO

FACULDADE DE DESPORTO

Elementos para a compreensão do processo de (re)con strução do

conhecimento do treinador de andebol em Portugal

Dissertação apresentada com vista à obtenção do

grau de Mestre em Ciências do Desporto, na área específica

de especialização de Treino de Alto Rendimento Desportivo,

nos termos do Decreto-Lei nº 216/92, de 13 de Outubro

Orientadores:

Professora Doutora Paula Batista

Professora Doutora Luísa Estriga

Ana Filipa Vasquez Paulo Cunha

Porto, Junho de 2012

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II

Ficha de catalogação:

Cunha, A. P. (2012). Elementos para a compreensão do processo de

(re)construção do conhecimento do treinador de andebol em Portugal.

Dissertação de Mestrado. Faculdade de Desporto - Universidade do Porto.

PALAVRAS-CHAVE: CONHECIMENTO DO TREINADOR; FORMAÇÃO DO TREINADOR;

TREINADOR; REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA

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III

Agradecimentos

Este trabalho não teria sido possível sem o contributo de diversas

pessoas, tanto a nível pessoal como profissional. A todas elas, aproveito este

espaço para expressar a minha sincera gratidão e reconhecimento:

Às minhas orientadoras Professora Doutora Paula Batista e Professora

Doutora Luísa Estriga que sempre me acompanharam e auxiliaram, mesmo

nos momentos mais conturbados desta caminhada. Obrigada pelo rigor e

dedicação com que contribuíram para a realização deste trabalho;

A todos os treinadores que participaram no presente estudo. O

contacto com cada um deles foi, sem dúvida, o mais enriquecedor de todo o

processo, pela simplicidade com que me receberam e a disponibilidade que

demonstraram. Foram momentos de aprendizagem que ficarão sempre

gravados na minha memória;

Ao Mestre Paulo Queirós pela disponibilidade e preciosas sugestões

na elaboração da entrevista;

À Patrícia Gomes pelo seu auxilio na “luta” com o programa NVivo7;

Ao Pedro Azevedo, companheiro de trabalho pelas “ajudas

informáticas” que tornaram a análise qualitativa uma realidade;

Ao Pedro Vieira, amigo e companheiro de muitas batalhas, por me

fornecer o contacto da maior parte dos treinadores. Sem ele não teria sido

possível;

Aos meus atletas, que durante esta época tiveram uma treinadora

mais impaciente, sem saberem muito bem porquê. Mas que mesmo assim

foram capazes de alcançar o “sonho”;

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IV

Às minhas amigas, Diana Teixeira e Bárbara Baião que a faculdade

me permitiu conhecer e guardar no coração, para me ajudarem a vencer mais

uma etapa da minha vida;

À Filipa Rodrigues, Inês Sena, Helena Oliveira, Marta Marques, Cárin

Mateus e Suse Mateus, por todo o carinho, compreensão e palavras de

incentivo que me ajudaram a superar as dificuldades;

À Kelly, por todas as dicas nos momentos de maior desorientação;

Às minhas irmãs, Alice e Sofia pelos seus maravilhosos sorrisos;

Ao Mário, pelas muitas “caras feias” e “respostas tortas” que aguentou

sem nunca deixar esmorecer as suas palavras de apoio;

Aos meus avós, pessoas fantásticas que tanto já fizeram por mim e

que ainda agora, no final desta etapa, mobilizam esforços para que a minha

vida seja mais fácil;

Ao meu pai, por toda a confiança que depositou em mim ao longo do

percurso, pelas criticas e correções, sempre acompanhadas por um abraço

apertado;

À minha mãe, alicerce firme da minha vida, por todas as sábias

palavras e incentivos que permitiram o meu equilíbrio.

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V

Índice geral

Índice de quadros VII

Índice de anexos IX

Resumo XI

Abstract XIII

Introdução geral 3

I – Enquadramento teórico

Estudo 1 - O percurso de construção do conhecimento: Um estudo de revisão

sistemática da literatura 11

II – Componente empírica

Estudo 2 - Fontes de conhecimento percecionadas pelos treinadores: Estudo

com treinadores de andebol da 1ª divisão de andebol em Portugal 39

III – Conclusões gerais 69

Bibliografia geral 75

Anexos XVII

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VII

Índice de quadros

I Revisão da literatura

Estudo I

Quadro 1 - Origem dos artigos 16

Quadro 2 - Tipo de modalidades contempladas 17

Quadro 3 - Contextos de prática desportiva contemplados 17

Quadro 4 - Instrumentos utilizados 18

Quadro 5 - Fontes de conhecimento referidas 19

Quadro 6 - Experiências obtidas pelos treinadores nos seus percursos 20

II Estudo empírico

Estudo 2

Quadro 7 - Dados caraterizacionais dos treinadores inquiridos 42

Quadro 8 - Categorias e subcategorias - Fontes de conhecimento 43

Quadro 9 - Categorias - Tipo de conhecimento 49

Quadro 10 - Distribuição das referências pelas categorias das fontes de

conhecimento 50

Quadro 11 - Distribuição das referências de cada treinador pelas categorias 52

Quadro 12 - Distribuição das referências de cada treinador pelas

subcategorias 53

Quadro 13 - Tipo de conhecimento adquirido em cada categoria das fontes de

conhecimento 54

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IX

Índice de Anexos

Anexo 1 - Quadro Sinótico XVII

Anexo 2 - Estrutura da entrevista XXI

Anexo 3 - Guião da entrevista XXV

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XI

Resumo

O crescente número de praticantes, associado ao aumento da popularidade

do desporto e a sua profissionalização aportaram ao sistema desportivo um

alargado leque de novas preocupações. Dado o caráter global e sistémico

dessas preocupações e também da dificuldade de atuar sobre todas as

componentes do sistema, as exigências acabam por convergir na figura do

treinador, enquanto veículo condutor das novas imposições sociais

direcionadas para o espetáculo e sucesso desportivo. Neste contexto,

assumindo que o conhecimento do treinador é a chave para o crescimento e

manutenção da qualidade dos processos de treino (Rynne et al., 2009),

impõe-se a necessidade de qualificar os treinadores (Vargas-Tonsing, 2007;

McCullick et al., 2005) de modo a garantir uma evolução estruturada e

sustentada de todo o sistema desportivo. Nesse sentido, os principais

propósitos deste estudo foram mapear os estudos efetuados acerca da

construção do conhecimento do treinador, colocando em evidência as fontes

de conhecimento utilizadas e detetar a perceção que os treinadores de

andebol em Portugal têm das fontes de conhecimento que utilizam, nos

diferentes momentos das suas carreiras desportivas. De modo a dar resposta

a estes objetivos efetuou-se um estudo de revisão sistemática da literatura e

um estudo empírico com 10 treinadores de elite de andebol, que atuam na 1ª

divisão em Portugal. Neste segundo estudo o instrumento utilizado foi a

entrevista semiestruturada. Os principais resultados evidenciaram que os

treinadores adquirem o seu conhecimento numa grande variedade de fontes

de conhecimento, nomeadamente as mediadas, as diretas e as internas. As

diretas são aquelas que os treinadores percecionam como de maior

relevância para o seu desenvolvimento, apesar de reconhecerem a

importância das mediadas e das internas. Já a fonte de conhecimento interna

não revelou ter o impacto esperado na construção do conhecimento dos

treinadores de andebol em Portugal.

PALAVRAS-CHAVE: CONHECIMENTO DO TREINADOR; FORMAÇÃO DO TREINADOR;

TREINADOR; REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA

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XIII

Abstract

The increasing number of athletes linked to the sport’s popularity and

professionalism are responsible for new concerns in the sport system. These

global and systemic concerns and the difficulty of acting in each system

component lead to converge in the coach’s professional behaviour, as social

demands oriented to the show business and sport success. In this context,

assuming the coaching knowledge as a key factor in the training process

quality and maintenance (Rynne et al., 2009), it is very important the

contribution to qualify the coaching education (Vargas-Tonsing, 2007),

guaranteeing the structured and sustained evolution of the whole sport

system. So, the aims of this was mapping the research done about the

coaching knowledge and searching the portuguese handball coach’s

perception about their own knowledge sources in different moments of their

sport careers. In order to answer to the goals a systematic review was made

and an empirical study with 10 handball elite coaches that act at the first

portuguese league. At the second study it was used a semi structured

interview. Data show that coaches get their knowledge using several different

sources - mediated, unmediated and internal. The coaches assume the

unmediated sources as the most relevant in their development, recognizing

however the importance of the mediated and internal ones. The internal

knowledge source didn’t have the expected influence coaches’ knowledge

construction.

KEY WORDS: COACHES’ KNOWLEDGE; COACH EDUCATION; COACH; COACH

SYSTEMATIC REVIEW OF LITERATURE

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Introdução geral

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3

Introdução geral

O desporto é uma atividade que congrega um conjunto alargado de

modalidades, cujo impacto é cada vez maior nos diferentes setores da

sociedade portuguesa. Esta relevância, em parte, encontra justificação no

crescimento exponencial da prática desportiva federada (93%), traduzido em

termos absolutos numa variação de 266 mil praticantes em 1996 para os 513

mil em 2009 (Instituto do Desporto de Portugal, 2011).

Neste contexto, o crescente número de praticantes, associado ao

aumento da popularidade do desporto e a sua profissionalização são

responsáveis pelo surgimento de um alargado leque de novas preocupações

no sistema desportivo que sente a necessidade de se adaptar e reestruturar

para ir de encontro às novas exigências dos diferentes intervenientes sociais.

Dado o caráter global e sistémico dessas preocupações e também da

dificuldade de atuar sobre todas as componentes do sistema, as exigências

acabam por convergir na figura do treinador como veículo condutor das

novas imposições sociais direcionadas para o espetáculo e sucesso

desportivo.

Da mesma forma que o sistema desportivo sofreu alterações, também

o papel do treinador assumiu novos contornos (Côté et al., 2007). As tarefas

do treinador tornaram-se mais complexas como advoga Cushion (2007) ao

caracterizar o processo de treino como complexo, incerto, dinâmico, singular

e repleto de conflitos de valores. Noutras palavras, treinar é operar na

ambiguidade, porque cada situação de treino incorpora algum grau de

novidade (Jones e Wallace, 2005) que obriga o treinador a uma maior

versatilidade na sua atuação (Czajkowski, 2010).

Outro aspeto a considerar é que o processo de treino não ocorre no

vazio, mas sim numa estrutura de relações humanas que se estabelecem

com outros significativos, num contexto social e cultural específico (Jones et

al., 2002) onde a interação entre o treinador, o atleta e os constrangimentos

do contexto determinam a natureza complexa da atividade.

Desta forma, a ação do treinador não é independente das estruturas

que o envolvem, nem tão pouco lhes fica circunscrita (Cushion, 2007). O seu

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valor é indiscutível no desenvolvimento de uma equipa (Bloom et al., 2003),

assim como no crescimento da participação desportiva. Acresce, que a sua

ação é social, física, psicológica e emocional (Misener e Danylchuk, 2009),

guiando, moldando e influenciando o desempenho desportivo (Ford et al.,

2009).

Paralelamente às novas e renovadas exigências que se colocam ao

papel do treinador, a definição daquele que é um expert reveste-se de um

caráter multidisciplinar representando a complexidade de tarefas que o

treinador assume.

Face a este entendimento, Côté e Gilbert (2009) definem expert como

aquele que demonstra a capacidade de aplicar, de forma consistente, os

seus conhecimentos a um grupo particular de atletas e circunstâncias, no

sentido da otimização das aprendizagens. Concretamente, é necessário o

treinador possuir um reportório de conhecimentos que lhe permitam uma

estabilização no desempenho da sua função, para que possa ser

considerado um treinador expert.

Neste contexto, assumindo que o conhecimento do treinador é a chave

para o crescimento e manutenção da qualidade dos processos de treino

(Rynne et al., 2009), impõe-se a necessidade de qualificar os treinadores

(Vargas-Tonsing, 2007; McCullick et al., 2005) de modo a garantir uma

evolução estruturada e sustentada de todo o sistema desportivo. Para isso, é

necessário compreender como os treinadores adquirem o seu conhecimento,

nomeadamente que fontes utilizam para recolher a informação adequada às

exigências que a prática lhes coloca, que caminhos precisam de percorrer

para possuírem as experiências relevantes a um desempenho competente e

como transformam cada momento de aprendizagem e experiência vivida em

conhecimento útil.

Face a estes propósitos, a comunidade científica tem vindo a

aumentar o número de estudos focados no percurso de vida dos treinadores,

assim como em outras temáticas capazes de influenciar o processo de treino

(Smith e Cushion, 2006; Cushion et al., 2006). O resultado foi um

crescimento no número de publicações ao nível das diversas temáticas

associadas ao treinador (Gilbert e Trudel, 2004), que são, em grande parte,

relacionadas com a realidade desportiva dos EUA (Trudel e Gilbert, 2006).

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Esta realidade americana possui uma estrutura competitiva diferente daquela

que existe na maioria dos outros países. A organização desportiva deste país

é suportada, essencialmente, por instituições de ensino, escolas e

universidades, o que não se observa nos países europeus, onde há uma

identificação clara do clube como suporte da estrutura competitiva.

Face ao exposto, importa que o conhecimento científico, associado às

temáticas do treinador, alargue a sua área de pesquisa a diferentes

realidades desportivas. Nesse sentido, o principal propósito deste estudo é

detetar a perceção que os treinadores de andebol em Portugal têm das suas

fontes de conhecimento, nos diferentes momentos das suas carreiras

desportivas. Assim, com este estudo, pretende-se fornecer dados acerca da

realidade desportiva portuguesa que possam, de alguma forma, colmatar

uma das lacunas reconhecidas pela comunidade científica.

Estrutura do estudo

O presente estudo foi elaborado de acordo com as normas e

orientações da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, para a

redação e apresentação de dissertações. A sua estrutura assemelha-se ao

modelo escandinavo, incorporando estudos com vista a publicação.

Sendo assim, a presente dissertação encontra-se estruturada em três

capítulos que procuram dar resposta à problemática em foco: o processo de

(re)construção do conhecimento do treinador.

O capítulo I integra o enquadramento teórico através um estudo de

revisão da literatura que teve como objetivo sintetizar e analisar os resultados

dos estudos empíricos publicados na década de 2001 a 2010 associados à

temática da construção do conhecimento do treinador.

O capítulo II incorpora o estudo empírico que teve como objetivo

identificar as fontes de conhecimento percecionadas pelos treinadores de

andebol em Portugal, assim como examinar a relação que se estabelece

entre cada uma delas e o tipo de conhecimento adquirido.

No capítulo III são apresentadas as conclusões gerais, onde são

sintetizados os resultados obtidos nos estudos realizados e se dá resposta ao

propósito central da dissertação.

Para finalizar, é apresentada a bibliografia geral e os anexos.

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I. Enquadramento teórico

Estudo 1 - O processo de construção do conhecimento do treinador:

Um estudo de revisão sistemática da literatura

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Resumo

A função do treinador tem vindo a revestir-se de novas exigências e

responsabilidades (Nash et al., 2008), colocando-o numa posição de

indiscutível importância como elemento condutor do sucesso desportivo.

Face a este enquadramento, os treinadores tendem a estar altamente

motivados para adquirir novos conhecimentos que os auxiliem a melhorar as

capacidades dos seus atletas (Reade et al., 2008b). De acordo com Werthner

e Trudel (2006), a aquisição de conhecimento pode verificar-se mediante a

influência de três tipos de fontes de conhecimento: mediada, direta e interna.

Neste contexto, o presente estudo teve como propósito central mapear os

estudos efetuados acerca da construção do conhecimento do treinador,

através da realização de uma revisão sistemática da literatura com os

seguintes objetivos complementares: (1) identificar as fontes do

conhecimento do treinador; (2) identificar as experiências relevantes para um

percurso desportivo no sentido da obtenção do sucesso; (3) compreender de

que forma as diferentes fontes de conhecimento contribuem para a

construção de novo conhecimento. De modo a dar respostas a estes

objetivos foram utilizadas as bases de dados eletrónicas: SportDiscus Full

Text e Academic Search Complete. As palavras-chave utilizadas para a

pesquisa foram: coach development, coaching development, coaching

experience, coaching learning, coaches’ knowledge, coaching knowledge,

tendo sido incorporados 29 artigos da década 2001-2010. Os principais

resultados evidenciam que os treinadores adquirem o seu conhecimento

através de uma grande variedade de fontes de conhecimento,

nomeadamente as mediadas, as diretas e as internas. As diretas são

apontadas como sendo as de maior relevância para a construção do

conhecimento. No entanto, as internas parecem determinar o impacto que

cada uma das outras tem na construção do conhecimento do treinador. As

experiências como jogador e treinador parecem ser determinantes, apesar de

não ser possível traçar uma marca quantitativa que todos os treinadores

tenham de alcançar para atingir o sucesso.

PALAVRAS-CHAVE: REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA; CONHECIMENTO DO

TREINADOR; FONTES DE CONHECIMENTO

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11

Introdução

O palco desportivo tem vindo a suscitar cada vez mais interesse nos

diferentes setores da sociedade, designadamente na procura de espetáculos

atrativos e lucrativos. Na verdade, o acréscimo de popularidade e

competitividade do desporto conduziram-no à profissionalização e

comercialização. Neste contexto, a função do treinador revestiu-se de novas

exigências e responsabilidades (Nash et al., 2008) que o colocaram numa

posição de indiscutível importância como elemento condutor do sucesso.

Com efeito, cabe ao treinador desenvolver as habilidades técnicas, táticas,

físicas e mentais dos seus atletas, sendo ainda suposto vencer (Becker,

2009). Este último propósito é, na grande maioria das vezes, a única meta a

cumprir, por se entender a vitória como a representação máxima do sucesso

desportivo.

Face a este entendimento, os treinadores tendem a estar altamente

motivados para adquirir novos conhecimentos e formas de pensar que os

auxiliem a melhorar o desempenho dos seus atletas, com o objetivo de

alcançarem resultados competitivos satisfatórios (Reade et al., 2008b).

Esta aquisição é um processo, em grande medida, da

responsabilidade do próprio treinador, que se carateriza por um conjunto de

tomadas de decisão (Wiman et al., 2010), dependentes das interações e

oportunidades vivenciadas em determinados contextos (Young et al., 2009).

De acordo com Werthner e Trudel (2006) a aquisição de conhecimento

resulta da adaptação e alteração da estrutura cognitiva do treinador que pode

verificar-se mediante a influência de três tipos de situações de aprendizagem:

mediada (formal), direta (não formal) e interna (reflexão)1.

Considerando a grande variedade de situações de aprendizagem em

que os treinadores participam e o seu contributo para a melhoria do nível da

qualidade do processo de treino, a comunidade científica tem demonstrado

grande interesse no estudo da construção do conhecimento do treinador, no

sentido de compreender quais as situações de aprendizagem em que

participam (Jones et al., 2003; Erickson et al., 2008), que experiências são

1Nossa tradução de mediated, unmediated e internal

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relevantes para a obtenção do sucesso (Gilbert et al., 2006) e como se

tornam elementos de sucesso (Gilbert e Trudel, 2001).

Estas preocupações, entre outros aspetos, têm-se traduzido num

crescimento exponencial do número de estudos empíricos acerca desta

temática (Gilbert e Trudel, 2004).

Paralelamente a este investimento, a pesquisa tem visado auxiliar a

publicação de estudos que possibilitem a procura de uma base sólida para a

construção, tanto de um programa de formação de treinadores que vá de

encontro às necessidades da prática, como de um modelo de ação, aplicável

aos três diferentes contextos de treino definidos por Trudel e Gilbert (2006):

desporto de recreação, desporto de desenvolvimento, e desporto de elite.

Este investimento é de tal forma notório, que o número médio de publicações

na área do coaching cresceu de 1,8 artigos por ano em 1970 para 30 em

2001 (Gilbert e Trudel, 2004).

Considerando este crescimento exponencial de publicações, torna-se

clara a dificuldade de investigadores e treinadores acederem à informação

disponível, pelo que importa realizar sistematizações regulares dos diversos

estudos publicados, que resultem numa convergência da informação que

facilite a transmissão clara e sucinta do conhecimento científico à

comunidade desportiva.

Como referem Gilbert e Trudel (2004), na ausência de revisões e

análises da literatura, os investigadores têm a sua ação dificultada na

contextualização do seu trabalho dentro da coaching science, assim como na

compreensão das necessidades de investigação

Face ao exposto, o presente estudo teve como propósito central

mapear os estudos efetuados acerca da construção do conhecimento do

treinador, colocando em evidência as fontes de conhecimento utilizadas pelo

treinador.

Metodologia

Dado ser um estudo de revisão sistemática da literatura, de natureza

descritiva e bibliográfica, à semelhança da análise realizada por Gilbert e

Trudel (2004) foi estruturado em 4 fases.

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A Fase I consistiu numa identificação exaustiva de toda a informação

publicada em revistas científicas na língua inglesa, em duas bases de dados

eletrónicas: SportDiscus Full Text e Academic Search Complete, na década

compreendida entre janeiro de 2001 e dezembro de 2010.

De todas as bases de dados eletrónicas disponíveis na Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto foi escolhida a SportDiscus Full Text por

ser a base de dados mais específica para as Ciências do Desporto e a

Academic Search Complete por ser de caráter multidisciplinar.

A seleção dos estudos foi realizada a partir do ano de 2001, no sentido

de dar continuidade à pesquisa de Gilbert e Trudel (2004) que consideraram

para análise os estudos científicos publicados no período compreendido de

1970 a 2001.

As palavras-chave utilizadas para a pesquisa foram: “coach

development” (337 resultados), “coaching development” (272 resultados),

“coaching experience” (276 resultados), “coaching learning” (86 resultados),

“coaches’ knowledge” (86 resultados), “coaching knowledge” (46 resultados).

Identificada a totalidade de artigos que no título, palavras-chave ou

abstract apresentavam pelo menos uma das palavras de pesquisa, avançou-

se para a Fase II.

A Fase II teve como objetivo selecionar os estudos a incorporar na

pesquisa. Para isso, após a identificação dos estudos na Fase I efetuou-se

uma análise dos abstracts de todos os artigos e aplicaram-se os critérios de

exclusão. Desta forma, foram excluídos os estudos que não se enquadravam

na temática em foco, designadamente os que se reportavam ao tema do

coaching empresarial. Foram também excluídas as dissertações, os capítulos

de livros, os artigos não publicados e os resumos de conferências. Da

aplicação destes critérios resultou um total de 144 artigos.

Após esta fase de seleção, avançou-se para a Fase III, onde foi

realizada a primeira leitura integral dos estudos para uma nova análise. Desta

fase foram selecionados todos os artigos de caráter empírico, associados à

temática da construção do conhecimento do treinador, mais especificamente,

aqueles que procuravam: (1) identificar as fontes do conhecimento do

treinador; (2) identificar as experiências relevantes para um percurso

desportivo no sentido da obtenção do sucesso; (3) compreender de que

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14

forma as diferentes fontes de conhecimento contribuem para a construção de

novo conhecimento. Após a aplicação destes critérios de inclusão ficou-se

com um total de 29 artigos.

Na Fase IV os 29 artigos que cumpriram os critérios de inclusão foram

submetidos a uma análise de conteúdo e agrupados em três unidades de

análise definidas a priori: (A) artigos que procuraram identificar as fontes de

conhecimento do treinador; (B) artigos que procuraram identificar

experiências relevantes para a obtenção do sucesso; (C) artigos que

procuraram compreender a construção do conhecimento a partir das diversas

fontes. Dentro do grupo A foram incluídos 23 artigos, no grupo B 6 artigos, 2

dos quais também foram incluídos no grupo A por atenderam

simultaneamente às duas unidades de análise e no grupo C foram apenas

incluídos 2 artigos.

Procedimentos de análise

Os artigos do grupo A foram categorizados, a priori, de acordo com a

definição que Werthner e Trudel (2006) fazem das situações de

aprendizagem: mediadas, diretas e internas.

Nas situações denominadas como mediadas, a aprendizagem é

promovida diretamente por um instrutor ou professor no decorrer de cursos

de treinadores, clinics ou workshops. Contrariamente, na aprendizagem

direta não existe instrutor ou professor, o treinador toma a iniciativa e

responsabilidade de escolher o que pretende aprender e procura, entre

outras opções, observar os seus pares ou interagir com os atletas.

Aprendizagem interna é essencialmente o resultado da autorreflexão onde

não existe o surgimento de nova informação, mas sim a reconsideração e

reorganização de ideias já existentes na estrutura cognitiva do treinador.

Complementarmente às categorias mediada, direta e interna, houve

necessidade de criar subcategorias a posteriori, representativas das fontes

de conhecimento utilizadas pelos treinadores ao longo dos seus percursos

desportivos: cursos de treinadores; formação académica; workshops/clinics;

mentoring formal; interação com treinadores; interação com atletas; interação

com a família; interação com os pais dos atletas; experiência no trabalho;

experiência como atleta; experiência como treinador; influência de mentores;

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15

tentativa/erro; observação de competições; observação de treinadores;

livros/revistas; internet; comunidade científica; networking; feedback externo;

e reflexão.

O mesmo se verificou na análise dos artigos do grupo B, onde se

definiram a priori duas categorias: (1) experiências obtidas enquanto atletas;

(2) experiências obtidas enquanto treinadores. No decurso da análise

emergiram subcategorias relativas às diferentes experiências enunciadas

pelos treinadores: experiência em diversas modalidades; experiência em

funções de liderança; experiência desportiva influenciada positivamente por

agentes desportivos; experiência em tarefas de treino/ competição/

administração; experiência em formação profissional; e influência de

mentores.

Para além da categorização associada à situação de aprendizagem

que cada fonte de conhecimento promove e ao tipo de experiência obtida, os

artigos de todos os grupos foram ainda analisados segundo o contexto da

prática desportiva a que os treinadores se encontravam associados.

A análise teve como base as definições de contexto recreativo, de

desenvolvimento e de elite que Trudel e Gilbert (2006) delinearam com o

intuito de uniformizar conceitos na comunidade científica. Segundo os

autores o contexto recreativo refere-se à prática desportiva que enfatiza a

participação e o lazer em detrimento da competição, propiciando a

aprendizagem das ações motoras de base, numa atividade de baixa

intensidade. A sua organização é formal mas de funcionamento irregular e

local. Os atletas não são selecionados pelas suas capacidades físicas.

O contexto de desenvolvimento inclui um sistema mais formal de

competição, com um aumento do envolvimento dos atletas e treinadores. É o

primeiro momento para a identificação de talentos para o desporto de elite,

uma vez que existe uma seleção dos atletas de acordo com as suas

capacidades físicas. Neste contexto estão englobadas as participações

desportivas escolares a nível local e regional.

O contexto de elite é caraterizado por um envolvimento máximo dos

atletas e treinadores, no sentido da preparação para a competição, altamente

estruturada. Os atletas são rigorosamente selecionados de acordo com o

rendimento que obtêm e os treinadores são geralmente profissionais. Neste

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16

contexto estão englobados os campeonatos universitários de alguns países,

assim como as equipas que participam nos campeonatos nacionais e provas

internacionais.

Relativamente à tipologia dos treinadores focados nos estudos

procedeu-se ainda a uma categorização de acordo com o tipo de modalidade

em que os treinadores se encontravam inseridos: modalidade coletiva ou

individual, na tentativa de ir de encontro às designações utilizadas em

estudos como os de Erickson et al. (2007) e Mesquita et al. (2010),

possibilitando assim futuras comparações.

Resultados

Como referido anteriormente, o presente trabalho abrange os estudos

científicos publicados na década compreendida entre 2001 e 2010, centrados

na temática da construção do conhecimento do treinador. Os artigos incluídos

para análise foram publicados em 14 revistas diferentes.

Detendo a International Journal of Sports Science and Coaching e The

Sport Psychologist as maiores percentagens de publicações com 31% e

13,8%, respetivamente, da totalidade dos artigos incluídos (Quadro 1).

Quadro 1 – Origem dos artigos

Revista Artigos (n) Artigos (%)

Journal of Teaching in Physical Education 1 3,4

Sport Education and Society 2 7

The Sport Psychologist 4 13,8

Reflective Practice 1 3,4

International Journal of Sports Science and Coaching 9 31

Modern Athlete and Coach 1 3,4

Journal of Sports Sciences 2 7

Research Quarterly for Exercise and Sport 1 3,4

Physical Education and Sport Pedagogy 2 7

International Journal of Sport Science 1 3,4

Journal of Sport Behavior 1 3,4

International Journal of Coaching Science 2 7

Journal of Sports Science and Medicine 1 3,4

Physical Educator 1 3,4

14 Revistas 29 Artigos 100

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17

No conjunto dos 29 trabalhos foram estudados treinadores

maioritariamente do género masculino, cerca de 80% (Anexo 1),

provenientes de 7 países diferentes, dos quais se destacam o Canadá, Reino

Unido e EUA com um maior número de estudos, associados a uma grande

variedade de modalidades. Os desportos coletivos surgem na maioria dos

estudos, enquanto que os desportos individuais são referenciados

isoladamente em apenas 5 estudos, todos associados ao contexto de elite

(Quadro 2).

Quadro 2 – Modalidades contempladas

Tipo de modalidade Artigos (n) Artigos (%)

Individual 5 17,2

Coletiva 12 41,4

Individual e Coletiva 12 41,4

29 artigos 100

As modalidades mais evidenciadas são o futebol, hóquei no gelo,

natação e basquetebol, sendo que a maioria está associada ao desporto de

elite, existindo apenas 4 estudos que contemplam nas suas amostras

treinadores que atuam no contexto recreativo (Quadro 3).

Quadro 3 – Contextos de prática desportiva contemplados

Contexto de prática Artigos (n) Artigos (%)

Recreativo 0 0

Desenvolvimento 6 20,8

Elite 17 58,6

Recreativo/ Desenvolvimento 2 6,9

Recreativo/ Elite 1 3,4

Desenvolvimento/ Elite 2 6,9

Elite/ Desenvolvimento/ Recreativo 1 3,4

29 artigos 100

No que concerne aos instrumentos de recolha de dados foram

utilizados preferencialmente instrumentos associados à metodologia

qualitativa (Quadro 4), sendo que a entrevista semiestruturada foi o

instrumento mais utilizado (51,7%). Dentro dos instrumentos associados à

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metodologia quantitativa, verificou-se apenas a utilização de questionários,

mas num menor número de estudos (13,8%).

Quadro 4 – Instrumentos utilizados

Instrumentos Artigos (n) Artigos (%)

Entrevista semiestruturada 15 51,7

Entrevista estruturada 3 10,4

Questionário 4 13,8

Observação/entrevista/documentos 3 10,4

História de vida 1 3,4

Questionário/entrevista/focus group 1 3,4

Questionário/entrevista 2 6,9

29 artigos 100

Relativamente às fontes de conhecimento referenciadas pelos

diferentes estudos, estas perfazem um total de 21, distribuídas por diferentes

tipos de aprendizagem: mediada, direta e interna (Quadro 5).

Nas fontes de conhecimento mediadas os treinadores referem os

cursos de treinadores, a formação académica, independentemente da área, a

frequência de workshops e clinics, assim como o recurso a sessões práticas

de treino orientadas por um mentor. No entanto, neste grupo, são os cursos

de treinadores que mais vezes se apresentam como fonte de conhecimento

utilizada.

Como fonte de conhecimento direta os treinadores indicam uma maior

variedade de situações, sendo que as que parecem assumir um papel mais

preponderante são a interação com outros treinadores e a experiência como

atleta e treinador. Por outro lado, a interação com os pais dos atletas, a

experiência no trabalho e o feedback externo foram apenas mencionados

como fonte de conhecimento uma vez.

Todos os autores fazem referência às fontes de conhecimento diretas.

As mediadas não estão presentes em apenas 3 artigos, enquanto que as

internas surgem unicamente em 7 estudos, especialmente nos anos 2009 e

2010, mais especificamente em estudos associados ao contexto de prática

de elite.

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Quadro 5 – Fontes de conhecimento referidas

Fontes de conhecimento Jone

s et

al.,

200

3

Irw

in e

t al.,

200

4

Wer

thne

r e

Tru

del,

2006

Gau

thie

r et

al.,

200

6

Abr

aham

et a

l., 2

006

Lync

h e

Mal

lett,

200

6

Cre

gan

et a

l., 2

007

Will

iam

s e

Ken

dall,

200

7

Wrig

ht e

t al.,

200

7

Lem

yre

et a

l., 2

007

Rea

de e

t al.,

200

8 a

Eric

kson

et a

l., 2

008

Rea

de e

t al.,

200

8 b

Wer

thne

r e

Tru

del,

2009

Car

ter

e B

loom

, 200

9

Jim

énez

et a

l., 2

009

Ste

phen

son

e Jo

wet

t, 20

09

Dor

go, 2

009

Nas

h e

Spr

oule

, 200

9

Wim

an e

t al.,

201

0

Wils

on e

t al.,

201

0

Ryn

ne e

t al.,

201

0

Mes

quita

et a

l., 2

010

%

Med

iada

Cursos de treinadores X X X X X X X X X X X X X 56

Formação académica X X X X X X X 30

Workshops/Clinics X X X X X X X X X X X X 52

Mentoring formal X X 9

Dire

ta

Interação treinadores X X X X X X X X X X X X X X X X X 70

Interação atletas X X X X 13

Interação familia X X 9

Interação pais X X 9

Exp. no trabalho X 4

Exp. como atleta X X X X X X X X X X X X X X 61

Exp. como treinador X X X X X X X X X X X X X X X 65

Mentores X X X X X X X X X X X 48

Tentativa/Erro X X X 13

Obs. de competições X X X X X 22

Obs. de treinadores X X X X X X X X X X X 48

Livros/Revistas X X X X X X X X X X X X X 56

Internet X X X X X X X 30

Comunidade científica X X X X 17

Networking X X X X X X 22

Feedback externo X 4

Interna Reflexão X X X X X X X 30

Para além da procura das fontes de conhecimento utilizadas pelos

treinadores, encontraram-se estudos (Gilbert et al., 2006; Lynch e Mallett,

2006; Erickson et al., 2007; Nash e Sproule, 2009; Young et al., 2009; Gilbert

et al., 2009) que advogam que a experiência é uma fonte indispensável à

construção do conhecimento, pelo que procuraram definir quais as que

surgem como relevantes para um percurso de sucesso na área do treino

(Quadro 6), associado a indicações com vista a que essas experiências

resultem na aquisição de novo conhecimento (Gilbert e Trudel, 2001; Gilbert

e Trudel, 2005).

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Quadro 6 – Experiências obtidas pelos treinadores nos seus percursos

Gilb

ert e

t al.,

200

6

Lync

h e

Mal

lett,

200

6

Eric

kson

et a

l., 2

007

Nas

h e

Spr

oule

, 200

9

You

ng e

t al.,

200

9

Gilb

ert e

t al.,

200

9

Experiências como atleta - Perfil Atleta C I C I C/I I C I

Experiência em diversas modalidades X X X X X X

Técnica e táticamente melhor que a média X X X X X X X

Experiência em funções de liderança X X X X X

Prática desportiva influenciada positivamente por agentes desportivos X

Experiências como treinador - Perfil Treinador C I C I C/I I C I

Elevado nº de horas em tarefas de treino/competição/administração X X X X X X

Reduzido nº de horas em formação profissional X X X

Influência de mentores X X X X X

Legenda: C = Modalidade Coletiva; I = Modalidade Individual

Nesse sentido, Gilbert et al. (2006) e Lynch e Mallett (2006)

procuraram identificar experiências significativas nos treinadores de sucesso

durante os seus percursos desportivos. Tendo sido possível concluir que os

treinadores, no que concerne ao perfil de experiências como atleta,

acumulam em média milhares de horas e vários anos de treino, praticam

diversas modalidades e quase sempre assumem funções de liderança. Para

além de que na maior parte dos casos, são jogadores titulares e

percecionam-se melhores que a média comparativamente aos seus pares.

Identificadas as experiências comuns de alguns treinadores de

sucesso, Erickson et al. (2007) procuraram encontrar qual a quantidade

mínima necessária de cada uma delas para se alcançar a mestria. Os

autores verificaram a existência de experiências comuns a treinadores de

modalidades coletivas e individuais tais como: a experiência como atleta na

modalidade que lideram; a frequência em cursos de treinadores; uma

autoperceção de habilidade desportiva superior à média dos seus pares e a

influência de mentores. A referência à vivência de funções de liderança e à

experiência como atleta noutra(s) modalidade(s) foram encontradas

maioritariamente no grupo dos treinadores de modalidades coletivas.

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No entanto, em nenhuma das experiências detetadas foi possível

quantificar, em anos ou épocas, o necessário para se alcançar o sucesso.

Em todos os treinadores existiram, nas diferentes experiências, valores com

desvio-padrão muito elevados, muitas das vezes superiores às próprias

médias.

Nash e Sproule (2009) ao procurarem compreender o percurso de

treinadores experts, constataram a existência de consideráveis semelhanças

em cada um deles, designadamente terem iniciado a atividade de treinador

ainda como atletas, terem praticado diversas modalidades e identificado pelo

menos uma pessoa com impacto positivo na sua participação desportiva.

Para além destes aspetos, também ficou claro que a passagem formal destes

treinadores de elite, para o papel de treinador ocorreu a partir do momento

em que terminaram a sua prática desportiva.

Por outro lado, Young et al. (2009) procuraram estabelecer uma

comparação entre os percursos desportivos de treinadores, de diferentes

níveis competitivos, tendo encontrado perfis muito discrepantes. Enquanto

atletas, os treinadores envolvidos em competições de nível nacional,

relativamente aos envolvidos em competições de nível local, iniciaram a sua

prática mais cedo, vivenciaram uma carreira mais longa, atingiram níveis de

desempenho superiores, tiveram mais mentores, assim como enquanto

treinadores, estiveram mais tempo em funções de liderança, tiveram um

maior número de horas de interação com os seus atletas, investiram mais

horas na formação profissional, exerceram a função de mentor um maior

número de vezes e disputaram mais campeonatos.

Na mesma linha de pesquisa, Gilbert et al. (2009) acrescentam aos

estudos anteriores a procura de experiências que se associem diretamente

ao sucesso dos treinadores. Estes autores reforçam os resultados de Gilbert

et al. (2006) e Lynch e Mallett (2006) ao verificarem que os treinadores

acumulam várias épocas como atletas na modalidade que lideram e os de

Erickson et al. (2007) ao verificarem o elevado número de horas que os

treinadores investem em tarefas de treino, competição e administração.

Gilbert et al. (2009) ao analisarem diferentes elementos do perfil de

experiências dos treinadores e alguns parâmetros de sucesso, encontraram

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relação positiva em dois itens: o tempo investido como atleta na modalidade

e o tempo investido como treinador em tarefas de treino e administração.

Juntamente com a procura de quais as fontes de conhecimento

utilizadas pelo treinador e quais as experiências relevantes para se obter

sucesso, foram encontrados outros estudos que se debruçaram sobre a

forma como cada uma das experiências contribui para construção de novo

conhecimento (Gilbert e Trudel, 2001, 2005).

Nesse contexto, Gilbert e Trudel (2001, 2005) examinaram 6

treinadores de jovens e identificaram a reflexão como o elemento mediador

entre a experiência e o conhecimento.

Os mesmos autores (2001) consideram que o conhecimento é

construído em resultado de uma experiência refletida, num processo

caraterizado por 6 componentes que consistem na situação de treino; nas

caraterísticas da posição que o treinador ocupa; no surgimento de um

problema; na construção de uma estratégia; na experimentação e na

avaliação2.

O processo inicia-se quando o treinador, no cumprimento das suas

funções, é confrontado com inúmeras situações que se denominam de

situações de treino. Estas podem estar relacionadas tanto com o

comportamento direto dos atletas, como com a estrutura organizativa do

próprio clube. Cada situação é analisada pelo treinador de acordo com o

contexto que a envolve, considerando a idade e nível competitivo dos

praticantes, a especificidade da modalidade praticada e os objetivos

estabelecidos.

No confronto com uma situação de treino que, de acordo com o

contexto que a envolve, é uma situação problemática, o treinador identifica

um obstáculo para o qual procura construir estratégias de intervenção que

podem ser conseguidas com ou sem o auxilio dos seus pares. Neste sentido,

o treinador pode recorrer a materiais didáticos como livros e revistas, à sua

própria criatividade e reportório de habilidades ou recorrer aos seus pares

pedindo opinião, debatendo ideias ou mesmo, observando-os para adaptar

as estratégias aplicadas ao seu contexto.

2 Nossa tradução de: coaching issues; role frame; issue setting; strategy generation; experimentation; evaluation.

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23

Uma vez encontrada uma estratégia de ação, o treinador coloca em

prática as suas ideias e avalia a sua aplicação. A estratégia construída é

avaliada e o treinador dá por terminado o seu processo de reflexão, ou

regressa à procura de uma estratégia mais eficaz. Desta forma, o treinador é

envolvido num processo de reflexão sistemática na procura de soluções para

os problemas que surgem na prática do dia a dia e durante o qual, vai

construindo o seu conhecimento.

No entanto, a construção do conhecimento está dependente da

capacidade de cada treinador para refletir acerca das situações que lhe são

apresentadas. Só mediante uma situação problema é que o treinador

envereda na procura de novas estratégias de ação que tendem a alargar o

seu reportório de habilidades. Para isso, Gilbert e Trudel (2005) consideram

que o processo de reflexão depende da interação de 4 condições: o acesso

que o treinador tem aos seus pares; a etapa de desenvolvimento do próprio

treinador; as caraterísticas da situação problemática e o contexto que a

envolve.

Discussão dos resultados

Os dados evidenciam que os treinadores participam numa grande

variedade de situações de aprendizagem, mediadas, diretas e internas, as

quais têm um contributo importante para a construção do conhecimento. No

entanto, são as diretas que se apresentam como mais relevantes nos

diversos estudos analisados, oferecendo aos treinadores uma panóplia mais

alargada de opções no momento da procura de conhecimento. Esta maior

amplitude, pode assim representar um impacto superior deste grupo de

situações de aprendizagem, ao nível da construção de estratégias de ação.

Seria, em todo o caso, pouco razoável acreditar que a aprendizagem

mediada pudesse ultrapassar a direta em termos de volume de experiências

que o treinador vivencia ao longo do seu percurso. Com efeito, como refere

Reade (2009), se forem contabilizadas o número de horas, dias, semanas,

meses e anos que um treinador investe em situações de aprendizagem

diretas, certamente que as mediadas estarão em desvantagem.

As fontes de conhecimento associadas a uma aprendizagem mediada

materializam-se maioritariamente em cursos de treinadores, que apesar de

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24

serem frequentemente criticados, pelo seu contributo limitado para a

construção do conhecimento do treinador, são referidos em 56% dos estudos

analisados. Este facto, pode indicar, que mesmo quando os cursos são uma

imposição federativa, são reconhecidos como elementos positivos na

construção do conhecimento. Este grupo de fontes de conhecimento esteve

ausente em apenas 3 dos artigos analisados, que se encontram relacionados

com contextos desportivos muito específicos, designadamente Gauthier et al.

(2006), Cregan et al. (2007) e Rynne et al. (2010).

Neste âmbito, Gauthier et al. (2006) procuraram compreender quais as

fontes de conhecimento que treinadores, de uma zona isolada do Canadá,

utilizavam na procura de estratégias para a resolução dos seus problemas

geográficos. Os dados da pesquisa evidenciaram a inexistência de

referências a situações formais de aprendizagem, assim como no estudo de

Cregan et al. (2007) onde se examinaram as fontes de conhecimento de

treinadores associados ao desporto adaptado. Rynne et al. (2010),

procuraram perceber de que forma os treinadores inseridos no State Institute

of Sport (SIS), mesmo face aos constrangimentos competitivos que o próprio

local de trabalho impunha, continuavam a construir o seu conhecimento. Os

três estudos apontaram para que quanto maior a especificidade da

informação que se procura para a resolução dos problemas, menor é o

investimento em situações de aprendizagem formal, pelo seu caráter

generalizado e de pouca transferência para situações reais de treino (Côté,

2006).

Não obstante estas evidências, seria incorreto afirmar que umas fontes

de conhecimento são preferíveis comparativamente às outras. Na verdade,

elas são distintas e complementares. Nesse sentido, importa salientar as

vantagens e desvantagens de cada uma, no que concerne ao seu contributo

para o percurso do treinador. A aprendizagem mediada tem como base

procedimentos formais com garantia de qualidade, permite acesso a experts

e possibilita a certificação, mas pode apresentar lacunas ao nível da sua

aplicação por promover aprendizagens muito gerais. Por outro lado, a

aprendizagem direta pode ocorrer em qualquer contexto, de acordo com as

necessidades de cada treinador, conferindo-lhe um caráter muito individual

sem, no entanto, garantia de qualidade (Mallett et al., 2009).

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25

No que concerne às situações de aprendizagem internas, constata-se

que estas se encontram associadas aos estudos com treinadores experts,

maioritariamente em contextos de elite. Estes dados apontam para a

influência do nível de desenvolvimento do treinador no recurso à fonte de

conhecimento interna, tal como evidenciaram Stephenson e Jowett (2009).

Estes autores promoveram um confronto entre as fontes de conhecimento de

novatos e experts, detetando a aprendizagem interna apenas no grupo dos

treinadores experts.

Contudo, sistematizando os resultados de todos os estudos

analisados, é possível afirmar que os treinadores constroem o seu

conhecimento com base em quatro principais fontes de conhecimento: cursos

de treinadores; experiência como jogador; experiência como treinador; e

interação com outros treinadores.

Relativamente à experiência como jogador e treinador, alguns autores

procuraram quantificar as fontes de conhecimento com o intuito de traçar

uma quantidade mínima que garantisse a obtenção do sucesso. No entanto,

não se encontraram dados que sustentem a identificação de uma quantidade

mínima em nenhuma delas. Na realidade, o que ficou claro é que existem

percursos muito divergentes, fruto da influência que a estrutura cognitiva de

cada treinador impõe em cada situação de aprendizagem (Werthner e Trudel,

2009) e da própria complexidade do processo de treino que longe de ser

simples, é multifacetado e impossível de ser representado por um só

elemento (Cushion, 2009). Neste sentido, apenas é possível esboçar um

perfil das experiências que parecem ser relevantes, mas não suficientes, para

a construção do conhecimento de um treinador de sucesso.

Como primeiro elemento desse perfil, surge a experiência como atleta

que Young et al. (2009) consideram ser um pré-requisito para que qualquer

treinador possa exercer a sua ação a um nível competitivo superior ao local.

Pré-requisito este que, usualmente, se encontra associado à modalidade na

qual o treinador exerce a sua ação, apesar de também não ser incomum os

treinadores terem praticado outras modalidades.

Desta forma, parece ser necessário que treinadores de modalidades

coletivas e individuais desenvolvam um leque generalizado de competências

que poderão ser adquiridas com a participação em diferentes contextos

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26

desportivos. No entanto, treinadores de modalidades individuais parecem

centrar a sua participação num único desporto individual, a par de uma

vivência mais diversificada ao nível dos desportos coletivos. Nos treinadores

de modalidades coletivas a situação modifica-se, com a participação

desportiva a surgir diversificada tanto em modalidades coletivas como

individuais. Parece assim, que a especialização dos treinadores de

modalidades individuais, começa na própria vivência desportiva que estes

tiveram. A necessidade de adquirir competências muito específicas parece

obrigar a que os treinadores de modalidades individuais tenham uma prática

desportiva mais direcionada para o que será o seu futuro campo de ação.

Para além da experiência como atleta, surge a perceção de sucesso

que o treinador tem do seu desempenho como atleta. Neste contexto, os

treinadores de sucesso foram habitualmente melhores que a média durante a

sua prática desportiva, sem que com isso se imponha a necessidade de ser

atleta de elite. O que realmente é relevante é a perceção de sucesso que os

treinadores têm do seu percurso como atletas, o qual parece propiciar o

desenvolvimento de um maior gosto e envolvimento na modalidade. Quanto

mais nos consideramos competentes em determinada área, maior será a

possibilidade de sermos efetivamente competentes, isto porque nos

encontrarmos mais disponíveis para mobilizar esforços perante uma

adversidade. Um atleta, ao terminar a sua participação desportiva, sente

necessidade de continuar a desfrutar dos sentimentos positivos que a prática

desportiva lhe ofereceu e acaba por assumir a função de treinador. Este facto

parece ser evidenciado por Nash e Sproule (2009) ao constatarem que o

envolvimento formal na atividade de treinador se inicia no final da carreira

desportiva como atleta.

Fundamentalmente, entende-se que o mais relevante não é o nível

que se alcança como atleta, mas sim a perceção de sucesso que se adquire

e a conotação que é dada ao contexto desportivo, seja por uma prática de

sucesso ou pela influência positiva de um agente desportivo. Para além da

perceção de habilidade que a maioria dos treinadores de sucesso

manifestam, é comum indicarem a influência de mentores, como pessoas que

conotaram a prática desportiva com caráter positivo (Erickson et al., 2007;

Nash e Sproule, 2009; Young et al., 2009).

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Por outro lado, parece existir uma associação entre o nível competitivo

onde o treinador se encontra inserido e o nível competitivo vivenciado como

atleta. Rodgers et al. (2007) verificaram que treinadores a exercerem a sua

função em contextos de competição nacional e internacional enquanto atletas

acumularam experiências nesses mesmos contextos. Da mesma forma que

treinadores a competir localmente tiveram uma prática desportiva a esse

mesmo nível, o que parece ser resultado da especificidade que cada contexto

desportivo apresenta. Um treinador em início de carreira possui já

competências adquiridas ao longo do seu percurso como atleta que se

encontram inevitavelmente associadas ao contexto onde esteve inserido. Por

conseguinte, um treinador sente maior conforto ao associar-se a um contexto

já conhecido e para o qual já possui algumas ferramentas de ação, do que ao

mergulhar num contexto completamente desconhecido.

O percurso para que um treinador possa atingir o sucesso na elite é

específico do próprio contexto de elite e o mesmo se passa para a recreação

e para o desenvolvimento. O treinador vai acumulando experiência dentro do

seu contexto, estabelecendo muito pouco contacto com qualquer um dos

outros. Apenas um pequeno número de treinadores de sucesso no contexto

de elite indicam ter tido experiência noutros contextos de prática (Erickson et

al., 2007), uma vez que as competências adquiridas em determinado

contexto não são possíveis de transferir na totalidade para outro (Ford et al.,

2009).

Cada contexto desportivo, designadamente de recreação,

desenvolvimento e elite apresenta as suas caraterísticas específicas que não

permitem grande fluxo de treinadores. O sucesso em determinado contexto

está associado a um conhecimento específico para um contexto particular

(Côté e Gilbert, 2009).

Dentro dos artigos do grupo B, que procuraram encontrar as

experiências relevantes para a obtenção do sucesso, surge ainda um outro

traço comum entre os treinadores, a vivência de situações de liderança

durante o percurso como atleta.

Tanto os treinadores de modalidades coletivas como os de

modalidades individuais que passaram por modalidades coletivas, referem ter

tido experiência em funções de liderança que poderão justificar uma parte do

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seu sucesso enquanto treinadores. A passagem por funções de liderança

durante o percurso de atleta poderá ter possibilitado a aquisição de

determinadas competências, necessárias ao desempenho enquanto

treinador.

Por outro lado, a verificação de que tanto treinadores de modalidades

coletivas como de modalidades individuais fazem referência à vivência de

situações de liderança, parece apontar para a existência de um traço de

personalidade que qualquer treinador de sucesso deverá possuir. Este

poderá manifestar-se ainda enquanto atleta, através de uma predisposição

para a participação em tarefas de liderança.

Relativamente ao perfil de experiências como treinador, uma das

caraterísticas comuns entre os diferentes estudos é o reduzido tempo que

estes dedicam à formação profissional. Mais uma vez fica em evidência o

facto de os treinadores valorizarem muito mais as situações de aprendizagem

direta comparativamente às mediadas. No entendimento de Reade (2009), a

aprendizagem direta possibilita um acesso mais evidente ao conhecimento

necessário para a resolução dos problemas. Ford et al. (2009) reforçam esta

noção ao sugerirem que a construção do conhecimento se desenvolve

através da experiência no terreno.

Nesta linha de ideias, Gilbert et al., (2009) procuraram estabelecer

uma relação positiva entre as diferentes situações de aprendizagem diretas e

elementos indicadores de sucesso da ação do treinador. Neste esforço os

autores procuraram identificar o número de épocas e anos investidos como

atleta na modalidade liderada e o tempo investido como treinador em tarefas

de treino e administração, como os únicos elementos associados

positivamente ao sucesso do treinador.

No entanto, como sublinham Côté et al. (2007), a simples acumulação

de experiências não se traduz automaticamente na aquisição de

conhecimento. Deste modo, pode afirmar-se que treinadores aprendem

através de uma grande variedade de situações (Lynch e Mallett, 2006;

Nelson et al., 2006), que não são valorizadas de igual forma e que podem

assumir maior ou menor relevância mediante a forma como cada treinador

“vê” as situações de aprendizagem (Gilbert, 2009).

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Gilbert e Trudel (2001), ao procurarem compreender como os

treinadores aprendem através da experiência, acrescentaram a reflexão

como um elemento crucial para o desenvolvimento da compreensão do

crescimento do conhecimento do treinador.

De certa forma, os autores colocaram em evidência que a construção

do conhecimento só é possível mediante um contacto refletido com qualquer

uma das fontes de conhecimento. Sem reflexão a prática do treinador torna-

se uma simples reprodução de experiências passadas que são entendidas

como corretas e que podem bloquear o crescimento do conhecimento

(Cassidy, 2010). O treinador atua na sua zona de conforto e quando

confrontado com uma situação problemática é forçado a enfrentar o problema

desencadeando-se alguma resistência (Jones, 2010) que determina a

construção ou não de novo conhecimento. Vencendo a resistência, o

treinador constrói novas estratégias de ação que são o resultado da

convergência da etapa de desenvolvimento em que o treinador se encontra,

do acesso que tem às fontes de conhecimento, das caraterísticas da situação

problemática e do contexto que a envolve (Gilbert e Trudel, 2005).

Desta forma é possível inferir-se que a construção do conhecimento

através da experiência está, em muito, dependente da capacidade de

reflexão que o treinador possui. Tanto na capacidade de detetar lacunas na

sua prática, que o obriguem a enveredar na busca de ferramentas que

melhorem a sua intervenção, como na capacidade de encontrar as

ferramentas certas, recorrendo às fontes de conhecimento mais apropriadas

às diferentes situações.

O recurso à situação de aprendizagem interna é caraterística dos

treinadores mais experientes e encontra-se associada a todas as outras

situações de aprendizagem, na medida em que só será possível construir

conhecimento se as diferentes situações de aprendizagem forem

acompanhadas de um processo de reflexão.

Contudo, importa reforçar a ideia de que o processo de construção do

conhecimento é caraterizado por inúmeros níveis de interação que se

estabelecem na influência de diversos sujeitos, cada um deles com a sua

bagagem pessoal, problemas e aspirações (Jones, 2007), o que justifica a

grande diversidade de resultados que surgiram da análise dos estudos.

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Conclusões

Face aos dados resultantes dos estudos analisados, é possível inferir

que os treinadores adquirem o conhecimento numa grande variedade de

fontes de conhecimento, nomeadamente as mediadas, as diretas e as

internas, que se complementam no sentido de propiciar a construção do

conhecimento. As diretas são aquelas que os treinadores assumem como de

maior relevância para o seu desenvolvimento, apesar de reconhecerem a

importância das mediadas. No entanto, as internas parecem determinar o

impacto que cada uma das outras tem na construção do conhecimento do

treinador.

Dentro das situações de aprendizagem diretas, as experiências como

jogador e treinador parecem ser determinantes, apesar de não ser possível

traçar uma marca quantitativa que todos os treinadores tenham de alcançar

para atingir o sucesso. No entanto, existem experiências que parecem

auxiliar na busca desse objetivo. A experiência como atleta na modalidade

liderada parece ser imprescindível quando se pretende estar relacionado com

um nível competitivo superior ao local como treinador. Contudo, a experiência

desportiva surge muito diversificada e associada à vivência de situações de

liderança.

Tanto nas modalidades coletivas como individuais os treinadores

referem ter tido experiências positivas na modalidade em que estão

envolvidos, tanto por influência de agentes desportivos como por elevados

desempenhos desportivos como atleta. A conotação que a prática desportiva

assume parece ser determinante para a passagem do papel de atleta para o

de treinador, assim como para a construção do sucesso nesse mesmo papel.

Como treinador, o tempo dispendido em tarefas de treino e

administração parecem ser elementos associados positivamente ao sucesso,

enquanto que as experiências mais comuns são o fraco investimento na

formação profissional e a influência de mentores.

Independentemente destas evidências, cada treinador percorre um

caminho que é único, ditado pelas suas caraterísticas pessoais e vivências

passadas que funcionam como um filtro para todas novas aquisições,

condicionando o percurso que cada treinador vai traçando.

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II. Componente empírica

Estudo 2 - Fontes de conhecimento percecionadas pelos treinadores de

andebol da 1ª divisão de seniores masculinos em Portugal

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Resumo

O treinador é considerado fundamental no processo de desenvolvimento

desportivo, especialmente no contexto de elite onde a pressão para alcançar

resultados é muito intensa. Com efeito, as exigências que se colocam aos

treinadores não ficam circunscritas às questões técnicas e táticas. Estas

exigem que o treinador domine um conjunto muito diversificado de

conhecimentos que vão sendo adquiridos através de uma grande variedade

de situações de aprendizagem (Mallett et al., 2009; North, 2010). Face a este

panorama, importa compreender a construção do conhecimento do treinador.

Para isso, o principal propósito deste estudo foi identificar as fontes de

conhecimento percecionadas pelos treinadores de andebol em Portugal em

três momentos distintos dos seus percursos desportivos: (1) utilizadas no

passado; (2) utilizadas no presente; (3) e que gostariam de utilizar no futuro.

Complementarmente procurou-se examinar a relação entre as diferentes

fontes de conhecimento percecionadas e a natureza do conhecimento

adquirido. De modo a dar resposta a estes objetivos realizaram-se entrevistas

semiestruturadas, para posterior análise de conteúdo, a 10 treinadores de

elite de andebol da 1ª divisão em Portugal. Os dados obtidos revelam que as

fontes de conhecimento diretas assumem uma posição de destaque na

construção e reconstrução do conhecimento do treinador, nomeadamente a

interação com treinadores, a influência de mentores e a experiência como

treinador, seguidas das mediadas e por último as internas. Quando se

considera o fator temporal algumas diferenças são identificadas. Por outro

lado, parecem existir associações entre as caraterísticas dos treinadores,

designadamente a experiência como atleta, nível competitivo vivenciado,

habilitação académica, idade e experiência como treinador e as fontes de

conhecimento que percecionam como mais relevantes para a construção do

seu conhecimento. Relativamente ao tipo de conhecimento que cada fonte de

conhecimento desencadeia, constatou-se uma maior participação das fontes

diretas na aquisição de qualquer tipologia de conhecimento.

PALAVRAS-CHAVE: CONHECIMENTO DO TREINADOR; FORMAÇÃO DE TREINADORES;

FONTES DE CONHECIMENTO; TREINADORES DE ANDEBOL

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Introdução

O treinador é considerado um elemento central no processo de

desenvolvimento desportivo, especialmente no contexto de elite onde a

pressão para alcançar patamares elevados de desempenho é muito grande.

Com efeito, as exigências que se colocam aos treinadores não se

circunscrevem às questões técnicas e táticas. É esperado que o treinador

seja capaz de assumir qualquer tarefa que contribua para a criação de

melhores condições de trabalho para os seus atletas (Knowles et al., 2005).

Esta necessidade, para além de revestir o processo de treino de extrema

complexidade, exige que o treinador domine um conjunto muito diversificado

de conhecimentos que vão sendo adquiridos através de uma grande

variedade de situações de aprendizagem (Mallett et al., 2009; North, 2010).

Da panóplia de situações que se apresentam aos treinadores, a

literatura sugere a experiência como atleta (Lynch e Mallett, 2006; Carter e

Bloom, 2009; Wiman et al., 2010), a experiência como treinador (Abraham et

al., 2006; Lemyre et al., 2007; Erickson et al., 2008), a participação em cursos

de treinadores (Wright et al., 2007; Werthner e Trudel, 2009) e a interação

entre treinadores (Jones et al., 2003; Gauthier et al., 2006; Reade et al.,

2008a), como fontes de conhecimento utilizadas para a construção do

conhecimento.

Nos anos 90, Gould et al. (1990) identificaram como principais fontes

de conhecimento, através da aplicação de questionários a treinadores de

atletas olímpicos, a experiência como treinador e a observação de outros

treinadores, colocando em segundo plano a utilização de situações formais

de aprendizagem.

Na mesma linha de ideias, Salmela (1995), num análise das perceções

de seis treinadores de modalidades colectivas considerados experts, coloca

em evidência a importância da influência de mentores e da experiência como

atleta na construção do conhecimento do treinador.

Dados mais recentes sugerem uma valorização mais equilibrada das

diferentes fontes de conhecimento utilizadas na construção do conhecimento

do treinador. Mencione-se o caso de Irwin et al. (2004) que apontam para a

influência de mentores, a experiência como treinador, a experiência como

atleta e a frequência em cursos de treinadores, como as principais fontes de

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conhecimento dos treinadores de elite. Da mesma forma, Reade et al.

(2008b) concluem com base na aplicação de um questionário, que a

interação com outros treinadores e a frequência em workshops são as fontes

de conhecimento mais procuradas para a reconstrução do conhecimento dos

treinadores.

Paralelamente a estas evidências, treinadores e comunidade científica

atribuem o sucesso do treinador a muito mais do que uma coleção de

atributos pessoais (Ollis e Sproule, 2007) ou de um simples emparelhamento

de saberes (Jones, 2009). Neste entendimento, considera-se fundamental

uma prática refletida para que exista desenvolvimento profissional (Nash e

Sproule, 2009), surgindo cada vez mais a referência à reflexão nos diferentes

estudos (Dorgo, 2009; Stephenson e Jowett, 2009; Jiménez et al., 2009).

O reconhecido valor do desenvolvimento do conhecimento do

treinador como forma de melhorar o desempenho dos atletas, associado à

ideia de que qualquer situação de aprendizagem encontra como

condicionante a capacidade de reflexão do treinador, passou a ser evidente

na preocupação com o desenvolvimento de cursos de treinadores que

estimulem uma prática reflexiva (Knowles et al., 2001; Knowles et al., 2006),

assim como a procura de novas estratégias que facilitem o processo de

reflexão (Carson, 2008).

No entanto, a informação produzida sobre a temática da construção do

conhecimento do treinador é maioritariamente decorrente da realidade

desportiva dos EUA (Trudel e Gilbert, 2006), e portanto não diretamente

aplicável à realidade portuguesa apesar de fornecer importantes pistas que

importa percorrer.

Os resultados obtidos nos diversos estudos carecem de um confronto

com outras realidades, na medida em que não podemos deixar de considerar

a vertente individual e social do próprio processo de treino (Cushion et al.,

2003). Como advogam Côté et al. (1995a), o processo de treino centra-se

nas componentes da competição, do treino e da organização, condicionadas

pelas variáveis contextuais, caraterísticas pessoais do treinador,

caraterísticas pessoais dos atletas e níveis de desenvolvimento.

Face a este panorama, importa efetuar uma incursão na realidade

portuguesa, no sentido de obter uma melhor compreensão acerca da

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construção do conhecimento do treinador. Para isso, é necessário examinar a

realidade concreta do treinador de elite em Portugal, dando-lhes voz, para

que a situacionalidade do processo de aquisição de conhecimento possa

acontecer.

Neste contexto, o principal propósito deste estudo foi identificar as

fontes de conhecimento percecionadas pelos treinadores de andebol em

Portugal em três momentos distintos dos seus percursos desportivos: (1)

utilizadas no passado; (2) utilizadas no presente; (3) e que gostariam de

utilizar no futuro. Complementarmente procurou-se examinar a relação entre

as diferentes fontes de conhecimento percecionadas e a natureza do

conhecimento adquirido.

Materiais e Métodos

Caraterização da amostra

A amostra foi constituída por 10 treinadores de andebol. A escolha

recaiu sobre os treinadores principais das equipas de seniores masculinos da

1ª divisão portuguesa, na época desportiva de 2009/2010, de forma a

analisar a perceção daqueles que tiveram acesso ao mais alto nível de

prática em Portugal.

Os treinadores estudados são considerados de sucesso, pela posição

que ocupam do andebol português. No entanto, quatro em dez não são

considerados experts, pelo facto de não cumprirem o critério da experiência

profissional (<10 anos), como definem Lemyre et al. (2007) e consideram nos

seus estudos Côté et al. (1995b), Saury et al. (1998) e Valleé e Bloom (2005).

Todos os sujeitos são do sexo masculino, nove de nacionalidade

portuguesa e um de nacionalidade sérvia, com idades compreendidas entre

os 30 e os 55 anos (média=42.6±8.2). A experiência como treinador varia

entre os 5 e os 39 anos (média=18.5±11.6) e a experiência como jogador de

andebol federado entre os 7 e os 23 anos (média=15.0±5.6). De todos os

treinadores, seis estiveram envolvidos nos trabalhos das seleções regionais

enquanto atletas, dos quais apenas quatro chegaram a competir pelas

seleções nacionais, três sujeitos na seleção portuguesa e um na jugoslava.

Relativamente às habilitações literárias, dois possuem o 12º ano, três a

licenciatura, quatro o mestrado e um o doutoramento (Quadro 7). De todos os

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42

sujeitos com formação superior apenas um não obteve formação académica

ao nível das Ciências do Desporto. No entanto, todos são detentores do nível

máximo de treinador (grau IV) atribuído pela Federação de Andebol de

Portugal.

Quadro 7 – Dados caraterizacionais dos treinadores inquiridos

Treinadores

Critérios T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10

Idade 44 55 30 43 47 37 55 38 42 35

Habilitações literárias D M 12º 12º M M L L M L

Anos de experiência como atleta 8 18 20 10 16 23 7 21 15 12

Anos de experiência como treinador 25 30 7 20 23 5 39 7 22 7

Legenda: T = Treinador; 12º = 12º ano; L = Licenciatura; M = Mestrado; D = Doutoramento

Procedimentos de recolha

Neste estudo recorreu-se à metodologia qualitativa, porquanto se

considerou ser a mais apropriada à compreensão do comportamento humano

(Côté et al., 1993) e a que melhor se adapta à complexidade do processo de

treino (Potrac et al., 2002; Cushion, 2007). Especificamente, optou-se por

recolher os dados com base numa entrevista semiestruturada, pelo grau de

flexibilidade que proporciona na sua condução (Culver et al., 2003). A

validação foi efetuada por dois especialistas na área das Ciências do

Desporto. De referir que antes da elaboração do guião final foi efetuada uma

entrevista piloto com um treinador, com o mesmo perfil dos participantes no

estudo, para atestar a compreensibilidade das questões e se a informação

recolhida dava resposta aos objetivos definidos.

Em termos de estrutura a entrevista engloba 4 grandes grupos

temáticos de questões abertas: (1) percurso desportivo como atleta; (2)

percurso como treinador; (3) atuação como treinador; (4) competência

profissional (Anexos 2 e 3).

Cada entrevista foi conduzida em local e data da conveniência do

treinador e gravadas, com a devida permissão, no digital voice recorder WS-

110. A duração das entrevistas variou entre 24 e 87 minutos.

Os treinadores foram recrutados por e-mail ou por contacto telefónico

e convidados a participar no estudo. Todos os treinadores principais das

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43

equipas que competiram no campeonato nacional de seniores masculinos da

1ª divisão, na época em estudo, foram convidados a participar no estudo. A

quase totalidade (11 em 12) se disponibilizou para participar. Contudo, uma

das entrevistas foi apenas utilizada para refinamento do instrumento,

funcionando como entrevista piloto.

Procedimentos de análise

As respostas obtidas durante as entrevistas foram integralmente

transcritas e sujeitas a procedimentos de análise de conteúdo, recorrendo ao

software de análise qualitativa, NVivo 7.

Em termos de métodos de análise do conteúdo informativo das

entrevistas houve a conjugação de métodos dedutivos e indutivos. Assim, no

que se refere às fontes de conhecimento foram definidas a priori 3 grandes

categorias e 12 subcategorias (Quadro 8), provenientes da revisão da

literatura realizada. O objetivo foi criar um quadro conceptual o mais estável

possível. Além destas categorias foram ainda definidas categorias a

posteriori, oriundas do conteúdo informativo das entrevistas (Quadro 8),

porquanto algum conteúdo não se enquadrava em nenhuma das categorias

definidas previamente.

Quadro 8 – Categorias e subcategorias - Fontes de conhecimento

Subcategorias - Fontes de conhecimento

Categorias a priori a posteriori

Mediada

Cursos de treinadores

Formação académica

Workshops/ Clinics

Direta

Interação com treinadores Interação com agentes desportivos

Interação com atletas Material tecnológico

Experiência como atleta Competição

Experiência como treinador

Influência de mentores

Observação de competições

Observação de treinadores

Pesquisa e investigação

Interna Reflexão

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Fontes de conhecimento

As categorias foram estabelecidas a priori de acordo com a

classificação das situações de aprendizagem proposta por Werthner e Trudel

(2006): (A) mediada; (B) direta; (C) interna1. Por sua vez, as subcategorias

foram também definidas a priori com base nos resultados dos estudos

analisados na revisão da literatura: (A1) cursos de treinadores; (A2) formação

académica; (A3) workshops/Clinics; (B1) interação com treinadores; (B2)

interação com atletas; (B3) experiência como atleta; (B4); experiência como

treinador (B5) influência de mentores; (B6) observação de competições; (B7)

observação de treinadores; (B8) pesquisa e investigação; (C1) reflexão.

No entanto, com o decorrer da análise foi necessário incluir a posteriori

novas subcategorias para fazer face à informação presente nas entrevistas:

(B9) interação com agentes desportivos; (B10) material tecnológico; (B11)

competição.

Como complemento, todas as subcategorias foram analisadas

segundo o fator temporal, tendo sido realizada uma segmentação de acordo

com o momento em que determinada aquisição de conhecimento teve lugar.

Para isso, a cada referência codificada foi atribuída a designação de

presente, passado ou futuro de acordo com a perceção que o treinador

evidenciou do momento da aprendizagem.

De modo a tornar claro o significado de cada uma das categorias

consideradas passa-se de seguida à explicitação de cada uma:

Fontes de conhecimento - Categoria mediada

Nas situações de aprendizagem mediadas os conteúdos são

compartimentados em módulos, segundo determinadas temáticas e

transmitidos aos treinadores pela voz de um instrutor que é entendido como

especialista.

Estas situações de aprendizagem assumem o formato de cursos de

treinadores ou workshops onde os treinadores adotam uma posição

relativamente passiva na aquisição da informação. Geralmente estão

associadas a uma certificação por incorporarem os saberes que as estruturas

1Nossa tradução de: mediated, unmediated e internal

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governamentais estipularam como sendo imprescindíveis para um bom

desempenho profissional.

Dentro desta categoria consideraram-se os cursos de treinadores, a

formação académica e a frequência em workshops/clinics como

subcategorias.

Cursos de treinadores

Referem-se à formação específica para a modalidade, organizada pela

Form.And, sociedade comercial criada pela Federação de Andebol de

Portugal para a formação de agentes desportivos no andebol, no sentido de

os qualificar. Permitem a obtenção de determinado grau de treinador. O

excerto da entrevista ilustra a tipologia de conteúdo que a categoria

comporta: “O cursos como são muito abrangentes muitas vezes dão-nos a possibilidade de

equilibrar um pouco mais o nosso conhecimento” (T10, ref. 20).

Formação académica

Incluiu os cursos de ensino superior, independentemente da área de

estudo, organizados por instituições de ensino superior que conferem um

grau académico. O excerto da entrevista ilustra a tipologia de conteúdo que a

categoria comporta: “Na faculdade foi-me dado o conhecimento científico” (T8, ref. 2).

Workshops/clinics

Inclui as formações organizadas por diversas instituições,

nomeadamente de ensino superior, associações, clubes ou outras, que

permitem certificação em determinada área específica da modalidade. O

excerto da entrevista apresenta a tipologia de conteúdo que a categoria

comporta: “No clube fazíamos formação interna, havia uma caraterística que não sei se

ainda hoje mantêm, pegarem nos jovens que eram iniciados, juvenis ou juniores e fazer

ações de formação e eu comecei aí a aprender” (T7, ref. 9).

Fontes de conhecimento - categoria direta

As situações de aprendizagem diretas podem ocorrer em qualquer

lugar e a qualquer momento, sem os benefícios e as restrições da ação de

um instrutor.

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O treinador escolhe os estímulos a que dedica a sua atenção,

assumindo a responsabilidade no que pretende aprender. Desta forma, o

conteúdo assimilado adquire elevado significado para o treinador. No entanto,

estas situações de aprendizagem estão limitadas à capacidade que o próprio

treinador tem de aprender, na medida em que não é possível procurar

informação acerca de um tema do qual se desconhece a existência. Nesta

categoria foram definidas a priori 8 subcategorias e a posteriori 3.

Interação com treinadores

Relação que os treinadores estabelecem com os seus pares,

independentemente do contexto em que ocorre, há uma referência à partilha

de conhecimentos. O excerto da entrevista exemplifica a tipologia de

conteúdo que a categoria comporta: “... o que mais me marcou e mais me fez crescer

como treinador foi o contacto com outros meus colegas” (T4, ref. 2).

Interação com atletas

Nesta subcategoria foram indexadas as referências onde os

treinadores indicam os atletas como meio de aprendizagem. O excerto da

entrevista exemplifica a tipologia de conteúdo que a categoria comporta: “...

nós estamos sempre a aprender, aprendemos com os jogadores...” (T7, ref. 2).

Experiência como atleta

A esta subcategoria foram indexadas as referências que os

treinadores fazem à sua prática desportiva como elemento de construção do

seu conhecimento. O excerto da entrevista exemplifica a tipologia de

conteúdo que a categoria comporta: “... eu acho que um dos aspetos que me ajudou

da parte do ser jogador foi a experiência porque é a mesma coisa que ter aulas práticas

durante 20 anos” (T6, ref. 7).

Experiência como treinador

Incluiu as referências que sublinham as vivências enquanto treinador

como fonte de conhecimento. O excerto da entrevista ilustra a tipologia de

conteúdo que a categoria comporta: “Nem tudo o que pensamos dá certo e isso

também é uma forma de adquirir conhecimento, se eu não tivesse colocado em prática

nunca teria chegado a essa conclusão” (T8, ref. 36).

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Influência de mentores

Inclui as referências que os treinadores fazem à influência de

determinadas pessoas na formação dos seus conceitos, ideais e métodos de

treino, podendo existir uma interação pedagógica ou uma simples

concordância de filosofias de trabalho. O excerto da entrevista exemplifica a

tipologia de conteúdo que a categoria comporta: “O meu primeiro treinador que é

uma pessoa que pela atitude pelo treino, pela atitude perante a competição, a

responsabilidade com que encarava as coisas, foi um exemplo para mim” (T1, ref. 6).

Observação de competições

A esta subcategoria foram indexadas as referências que os

treinadores fazem à observação de competições, seja de forma presencial ou

não, como elemento de construção do seu conhecimento. O excerto da

entrevista exemplifica a tipologia de conteúdo que a categoria comporta: “Eu

sou capaz de ver por dia 2 jogos de andebol, da minha equipa e dos adversários e é aí que

vou buscar conteúdo” (T10, ref. 17).

Observação de treinadores

Nesta subcategoria foram indexadas as referências onde os

treinadores indicam a observação de outros treinadores como meio de

aprendizagem. O excerto da entrevista exemplifica a tipologia de conteúdo

que a categoria comporta: “... onde às vezes vou buscar informação é ir ao pavilhão e

ver por exemplo um treino dos iniciados ou juvenis, se vir algum exercício que goste vou

fazê-lo independentemente de quem seja o treinador” (T10, ref. 19).

Pesquisa e investigação

Inclui as referências relativas a uma procura de conhecimentos ao

nível da internet, livros e revistas. O excerto da entrevista ilustra a tipologia

de conteúdo que a categoria comporta: “Lia, pesquisava bastante, interessava-me

por tudo o que era bibliografia de andebol...” (T5, ref. 8).

Interação com agentes desportivos

Relação que os treinadores estabelecem com qualquer agente da

comunidade desportiva que não sejam os treinadores e atletas já referidos

noutras subcategorias. Foram incluídos os árbitros, dirigentes, pais de

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atletas, fisioterapeutas e professores de Educação Física. O excerto da

entrevista ilustra a tipologia de conteúdo que a categoria comporta: “Neste

momento o que estabeleço como prioridade para melhorar o meu nível de competência é

continuar a partilhar com colegas professores” (T8, ref. 30).

Material tecnológico

Subcategoria que se encontra relacionada com a utilização de

materiais tecnológicos como meios de construção de conhecimento. O

excerto da entrevista exemplifica a tipologia de conteúdo que a categoria

comporta: “Para melhorar a minha competência enquanto treinador gostaria de arranjar

programas de tratamento de vídeo, depois é só carregar num botão e ver toda a informação

deste ou de aquele atleta” (T3, ref. 23).

Competição

A esta subcategoria foram indexadas as referências que os

treinadores fazem à participação em competições e confronto com os

adversários como meio de aprendizagem. O excerto da entrevista exemplifica

a tipologia de conteúdo que a categoria comporta: “Esse confronto de

vitória/derrota de uma forma positiva faz-nos crescer enquanto treinadores, se perdemos um

jogo porque o treinador fez isto ou aquilo eu vou analisar e querer combater essas mesmas

coisas e isso leva à evolução do treino, do jogo e da modalidade” (T10, ref. 25).

Fontes de conhecimento - categoria interna

As situações de aprendizagem internas são o resultado de uma

reconsideração de ideias já existentes na estrutura cognitiva do treinador

através de um processo de reflexão.

Nesta categoria definiu-se apenas a subcategoria reflexão. O excerto

da entrevista exemplifica a tipologia de conteúdo que a categoria comporta:

“O mais importante foi a experiência vivida e a análise dessa experiência” (T10, ref. 26).

Tipo de conhecimento

No que concerne ao tipo de conhecimento que cada fonte propicia

foram definidas categorias apenas a priori com base no entendimento de

Feitosa (2002). Com efeito, utilizamos as 3 componentes principais do

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conhecimento propostas pela autora: (D) conhecimento concetual; (E)

conhecimento processual; (F) conhecimento contextual2 (Quadro 9).

Quadro 9 – Categorias - Tipo de conhecimento

Tipo de conhecimento

Categorias a priori

Conhecimento concetual

Conhecimento processual

Conhecimento contextual

Conhecimento concetual

O conhecimento concetual refere-se a todo o conhecimento que o

treinador expressa verbalmente ou de forma escrita, englobando os conceitos

básicos da modalidade e das diversas ciências do desporto, onde assentam

as fundamentações teóricas para a sua atuação.

Conhecimento processual

O conhecimento processual inclui todo aquele que possibilita a

transmissão e aplicação de conteúdos, antes, durante e após as sessões de

treino, baseado nas rotinas e meios de treino provenientes da área da

didática.

Conhecimento contextual

O conhecimento contextual é aquele que se associa ao contexto de

treino e que possibilita uma tomada de decisão adequada/adaptada aos

diferentes momentos e contextos.

Resultados

Uma visão geral dos dados obtidos acerca das fontes de

conhecimento percecionadas pelos treinadores para a construção do seu

conhecimento coloca em evidência que todas as categorias e subcategorias

são objeto de referência por parte dos treinadores entrevistados.

2Nossa tradução de: conceitual, procedimental e contextual

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A categoria mais referenciada é a relativa às fontes de conhecimento

propiciadas por situações de aprendizagem direta, com 196 referências

repartidas pela totalidade dos treinadores, seguida da mediada com 43

referências associadas a 8 treinadores. A categoria menos referenciada é a

interna, com apenas 6 referências em 3 treinadores (Quadro 10).

Quadro 10 - Distribuição das referências pelas categorias das fontes de conhecimento

Categorias Subcategorias Casos

Referências

Ps Pr F T

Fon

tes

de c

onhe

cim

ento

Mediada

Cursos treinadores 4 7 0 0 7

Formação académica 4 8 2 3 13

Workshops/clinics 7 17 3 3 23

8 casos - 43 referências

Direta

Interação com treinadores 8 19 4 15 38

Interação com atletas 2 2 2 0 4

Experiência como atleta 8 21 0 0 21

Experiência como treinador 8 19 6 4 29

Influência de mentores 9 33 0 0 33

Observação de competições 4 4 4 4 12

Observação de treinadores 7 8 7 5 20

Pesquisa e investigação 7 9 9 2 20

Interação com agentes desportivos 5 9 1 2 12

Material tecnológico 1 0 0 1 1

Competição 4 3 1 2 6

10 casos - 196 referências

Interna Reflexão 3 2 1 3 6

3 casos - 6 referências

Legenda: Ps = Passado; Pr = Presente; F = Futuro; T = Total

Ainda nesta análise global dos dados, fica claro que as três fontes de

conhecimento mais referenciadas pelos treinadores, para a construção e

reconstrução do seu conhecimento, são provenientes da categoria direta,

representada pelas seguintes subcategorias: interação com treinadores (38

ref.); influência de mentores (33 ref.); e experiência como treinador (29 ref.).

No entanto, aquelas que são referenciadas por um maior número de

treinadores são: a influência de mentores (9 ref.); a interação com treinadores

(8 ref.); a experiência como atleta (8 ref.); e a experiência como treinador (8

ref.).

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Ao examinar individualmente cada categoria, surgem na categoria

mediada, os workshops/clinics como fontes de conhecimento mais

referenciadas e os cursos de treinadores como menos referenciados. Os

excertos das entrevistas ilustram a fraca relevância que os treinadores

atribuem à subcategoria cursos de treinadores:

“Não fui aprender nada de novo” (T8), “Têm uma relevância menor” (T4), “Sinceramente a

qualidade desses cursos deixa muito a desejar (T5)”, “Acho que um curso de formação feito

para 500 ou 1000 treinadores não tem qualquer relevância (T6)”.

Na categoria direta, para além dos resultados já enunciados, é

evidente a presença de um maior número de fontes de conhecimento,

representadas por 11 subcategorias, que se contrapõem a apenas 3 na

categoria mediada.

Relativamente ao fator temporal, considerado como forma

complementar de análise de conteúdo, verifica-se que os treinadores

entendem a influência de mentores, a experiência como atleta e a interação

com treinadores como as fontes de conhecimento mais relevantes para a

construção do seu conhecimento. Na reconstrução desse mesmo

conhecimento os treinadores indicam como principais fontes de

conhecimento a pesquisa e investigação, a observação de treinadores e a

experiência como treinador.

Para o futuro, os treinadores indicam a interação com treinadores, a

observação de treinadores, a experiência como treinador e a observação de

competições como as principais fontes de conhecimento que gostariam de ter

disponíveis para melhorar os seus níveis de conhecimento. No entanto,

apontam para falta de tempo e natureza competitiva da atividade que

desenvolvem como elementos condicionadores da construção do

conhecimento. Os excertos das entrevistas deixam transparecer os

constrangimentos que os treinadores encontram:

Falta de tempo “Eu gostava muito de participar em trabalhos de preparação de equipas de

alto nível, estágios de preparação, mas infelizmente enquanto estiver ligado ao treino não o

consigo fazer, falta de tempo” (T5, ref.15).

Natureza competitiva da atividade “... quer queiramos quer não, os treinadores gostam de

guardar algumas das suas coisas para si porque acreditam que aí residem as chaves do seu

sucesso” (T1, ref. 21).

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Ao nível das fontes de conhecimento percecionadas por cada um dos

treinadores verifica-se que a categoria direta surge referenciada em todos os

casos, assumindo uma posição de destaque no que concerne ao número de

referências, seguida da categoria mediada e por último pela categoria interna

(Quadro 11). O excerto da entrevista deixa transparecer a relevância da

categoria direta na perceção dos treinadores acerca da construção do

conhecimento:

“Sou prático e a minha referência é o jogo e o que acontece no jogo, a partir daí transformo

tudo para o campo de treino, não vou buscar nada fora que não seja a vivência prática”(T10,

ref. 14).

Quadro 11 - Distribuição das referências de cada treinador pelas categorias

Treinadores

Referências T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10

Fon

tes

de

conh

ecim

ento

Mediada 10 0 4 0 2 6 5 8 5 3

Direta 17 5 25 14 14 27 21 43 8 22

Interna 0 0 0 0 3 0 0 1 0 2

Legenda: T = Treinador

Se se atender, em cada um dos treinadores, às três subcategorias

com maior número de referências, verifica-se que todos eles apresentam,

pelo menos um dos seus valores mais elevados, em subcategorias

associadas às fontes de conhecimento de aprendizagem direta. Apenas os

treinadores 1, 7 e 9 apresentam os valores mais elevados em subcategorias

pertencentes às fontes de conhecimento mediadas e o treinador 5 na

subcategoria reflexão (Quadro 12).

Ao direcionar a atenção para cada uma das subcategorias, observa-se

ainda que a reflexão é considerada apenas pelos treinadores 5, 8 e 10 e que

a experiência como jogador apresenta valores mais elevados nos treinadores

2, 6, 8 e 10 (Quadro 12). O extrato da entrevista é ilustrativo da relevância

que a experiência como atleta assume na construção do conhecimento do

treinador:

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“A experiência, vivenciada ao nível que eu tive a sorte de poder jogar, deu-me a

possibilidade de conhecer várias realidades, o andebol nórdico, o da península ibérica que

são filosofias diferentes de onde bebi um pouco de cada para definir a minha personalidade

enquanto treinador” (T8, ref. 9).

Quadro 12 - Distribuição das referências de cada treinador pelas subcategorias

Treinadores

Fontes de conhecimento T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10

Cursos treinadores 0 0 2 0 0 0 1 2 0 2

Formação académica 2 0 0 0 0 3 0 6 2 0

Workshops/clinics 8 0 2 0 2 3 4 0 3 1

Interação com treinadores 3 0 5 5 5 9 2 8 1 0

Interação com atletas 0 1 0 0 0 0 3 0 0 0

Experiência como atleta 1 3 0 1 0 5 1 6 1 3 Experiência como treinador 1 1 5 3 3 2 0 8 0 6 Influência de mentores 2 0 1 1 2 3 4 5 6 9 Observação de competições 0 0 0 0 1 0 2 8 0 1

Observação de treinadores 4 0 1 3 0 7 3 1 0 1

Pesquisa e investigação 3 0 6 1 2 1 3 4 0 0

Interação com agentes desportivos 2 0 6 0 1 0 1 2 0 0

Material tecnológico 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0

Competição 1 0 0 0 0 0 2 1 0 2

Reflexão 0 0 0 0 3 0 0 1 0 2

Legenda: T = Treinador; nº de referências mais elevadas

A interação com atletas está presente em apenas dois treinadores 2 e

7. A título ilustrativo apresenta-se o excerto da entrevista que transparece a

construção de conhecimento através da interação com os atletas:

“Nos temos 20% naquilo que o jogador faz, o resto está relacionado com as qualidades da

pessoa, com o seu valor, com o empenho que dedica à tarefa, depois consegue evoluir e ele

próprio nos ensina porque aparece a fazer coisas que nós só ajudamos a potenciar” (T7, ref.

25).

Outro aspeto que importa destacar é a presença de referências na

subcategoria cursos de treinadores apenas nos treinadores 3, 7, 8 e 10.

No que concerne ao tipo de conhecimento desencadeado por cada

uma das fontes de conhecimento, detetou-se uma fraca distribuição das

referências, sendo evidente uma maior concentração na fonte de

conhecimento relacionada com aprendizagens diretas (Quadro 13).

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Quadro 13 - Tipo de conhecimento adquirido em cada categoria das fontes de conhecimento

Categorias

Tipo de conhecimento Fonte de conhecimento Casos Re ferências

Concetual

Mediada 5 8

Direta 6 12

Interna 0 0

8 casos - 20 referências

Processual

Mediada 1 1

Direta 9 36

Interna 0 0

10 casos - 37 referências

Contextual

Mediada 0 0

Direta 3 6

Interna 0 0

3 casos - 6 referências

Discussão dos resultados

A realidade desportiva portuguesa possui caraterísticas particulares

que a distinguem das realidades vivenciadas nos países analisados na

maioria dos estudos científicos. As caraterísticas dos próprios treinadores

refletem uma natureza heterogénea da realidade, com os elementos

caraterizacionais a apresentarem grandes variações na idade e experiência

profissional, assim como na base que sustenta a posição que ocupam. Esta

parece ser justificada com diferentes argumentos. Uns pela competência

demonstrada no passado como treinadores e outros, tal como acontece por

todo o mundo, pelo estatuto e credibilidade que adquiriram enquanto

jogadores. A realidade portuguesa é, no referido aspeto, similar ao

referenciado na literatura, que indica que os antigos atletas acabam por

assumir a liderança das suas equipas, sob o risco de, muitas das vezes, não

existir o conhecimento necessário ao desenvolvimento dos atletas (Côté e

Gilbert, 2009).

Fontes de conhecimento

De uma forma geral, sobressai uma acentuada discrepância na

quantidade de fontes de conhecimento diretas relativamente às mediadas e

internas, quer seja pelo número de subcategorias definidas, quer pelo

número de referências emergentes de cada uma delas.

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55

As fontes de conhecimento diretas surgem, indiscutivelmente, como as

principais edificadoras do conhecimento dos treinadores, independentemente

do fator temporal, ocupando um lugar de destaque em todos os treinadores,

tal como sugeriram Nelson et al. (2006), Erickson et al. (2008) e Mallett et al.

(2009) entre outros autores da área.

De uma análise mais detalhada fica evidente que das três principais

fontes de conhecimento enunciadas pelos treinadores, as pertencentes às

categorias interna e mediada, estão em evidência em apenas dois

treinadores. Número que contrasta com os dez treinadores que destacam a

categoria direta. Contudo, apesar da evidente centralização das referências

na categoria direta, não parece existir um trajeto comum entre treinadores.

Na verdade, o que se observa são traços convergentes mas a variabilidade

denuncia a própria complexidade do processo de construção do

conhecimento. Estes dados vêm de encontro ao advogado por Nash e

Sproule (2009), que mencionam que não existe uma lista de caraterísticas

pessoais ou de comportamentos padrão que possam garantir o sucesso do

treinador.

A par deste elemento, podem fundir-se as categorias mais

referenciadas com aquelas que surgem num maior número de casos. Por um

lado, surge a interação com treinadores, a influência de mentores e a

experiência como treinador e por outro acresce unicamente a experiência

como jogador. Estes dados vêm colocar destaque no caráter prático da

construção do conhecimento, que estabelece, apenas em alguns casos,

pontes de ligação com a ação teórica, tal como verificaram Gould et al.

(1990).

Fontes de conhecimento diretas

A questão temporal parece influenciar a natureza da fonte direta

escolhida. Na construção do conhecimento, entendido como um processo

passado, o treinador perceciona como principais fontes de conhecimento a

influência de mentores, a experiência como atleta e a interação com

treinadores. Estas são diferentes situações de aprendizagem a que o

treinador pode ser sujeito sem uma procura intencional de conhecimento, de

certa forma a sua posição é de recetor de informação, da qual só toma

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consciência muito mais tarde, compreendendo anos depois, as influências a

que foi sujeito (Bloom et al., 1998; Jones et al., 2009). Já no que concerne à

reconstrução desse mesmo conhecimento, as fontes de conhecimento

alteram-se, surgindo uma maior participação do treinador como elemento que

procura, de forma intencional, aumentar o seu conhecimento. Por

conseguinte, a ação torna-se mais consciente, acabando por dar lugar à

observação de treinadores, à experiência como treinador e à pesquisa e

investigação como fontes de conhecimento utilizadas no presente.

Relativamente ao futuro, os treinadores mantêm a mesma linha de

opções centrando as suas preferências na interação com treinadores,

observação de treinadores, experiência como treinador e observação de

competições. No entanto, à semelhança do ilustrado por Gilbert e Trudel

(2005), a natureza competitiva do processo de treino condiciona a partilha de

conhecimentos. Neste âmbito, Culver e Trudel (2008) acrescem que os

treinadores acabam por não interagir regularmente com os seus pares

porque os consideram oponentes e não parceiros.

Experiência como atleta

A subcategoria experiência como atleta é referenciada com valores

mais elevados por treinadores que apresentam caraterísticas similares no

que concerne à sua prática desportiva. Estes treinadores, enquanto atletas,

estiveram envolvidos nos trabalhos das seleções nacionais o que aponta

para a importância da experiência como atleta na aquisição de

conhecimentos para o exercício da função de treinador. Não obstante este

dado, não parece que seja uma condição necessária, mas sim uma

possibilidade de aquisição de conhecimentos que valoriza a ação do

treinador. A participação em competições de nível internacional parece ser

uma fonte de conhecimento relevante para quem teve a possibilidade de a

vivenciar (Carter e Bloom, 2009).

Interação com atletas

Ainda associada às subcategorias de aprendizagem direta, verificou-

se que os únicos treinadores que manifestam adquirir conhecimento através

da interação com os atletas, foram os que possuem maior experiência

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enquanto treinadores e mais idade. Este dado leva a equacionar a

importância da experiência e da idade, como possíveis fatores

condicionadores do próprio processo de construção do conhecimento, tal

como sugere Côté (2006) ao afirmar que a competência profissional só surge

após a obtenção de determinado patamar de experiências. A experiência

permite que o treinador atinja determinada maturidade profissional,

libertando-se da necessidade de afirmação social, que o torna mais flexível

na relação com os atletas e mais orientado para o desenvolvimento pessoal

de cada um deles (Salmela, 1995). A sua posição dentro do grupo de

trabalho é firme e a sua liderança inquestionável, o que lhe confere maior

possibilidade de interação com os atletas ao ponto de ser possível a

ocorrência de aprendizagem.

Fontes de conhecimento mediadas

Relativamente à categoria mediada, verifica-se que todos os

treinadores que destacam esta categoria, pertencem ao grupo com menor

experiência como atleta. Neste grupo encontram-se cinco treinadores com

experiências que variam entre os 5 e os 15 anos, sendo que dois não

realçam a aprendizagem mediada, como sendo uma das três principais

fontes de conhecimento. Estes fazem referência à participação nos trabalhos

das seleções.

Deste modo, parece que a referência à categoria mediada é

condicionada pela experiência como atleta e nível de prática desportiva

vivenciada.

Já os treinadores com menor experiência enquanto atletas, sem

participação desportiva a elevado nível competitivo, tendem a valorizar mais

as fontes de conhecimento mediadas como forma de adquirir conhecimento,

possivelmente pelo facto de não terem tido oportunidade de vivenciar um

variado leque de experiências que a prática desportiva a determinado nível

propícia.

Esta constatação aponta para que a prática desportiva, por si só, não

seja um elemento relevante na construção do conhecimento do treinador,

mas sim a sua associação a determinado contexto de prática. O

percecionado é que, poderá existir uma necessidade, por parte dos

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treinadores com menor experiência enquanto atletas, de recorrer a fontes de

conhecimento mediadas, como forma de colmatar a ausência de vivências

em contextos de elevada riqueza competitiva. Neste entendimento, Carter e

Bloom (2009) afirmam que é possível um treinador tornar-se expert sem a

acumulação de experiências como atleta em contextos de elite, no entanto, a

ausência dessas experiências obriga a que tenham um trabalho redobrado

para preencher as lacunas do seu conhecimento.

Cursos de treinadores e formação académica

A subcategoria cursos de treinadores apenas foi objeto de menção por

quatro treinadores que pertencem ao grupo dos treinadores com menor

habilitação académica. Este facto sugere que a ausência de uma habilitação

académica elevada faça com que os cursos de treinadores sejam mais

valorizados, possivelmente por ser a única fonte de conhecimento a que têm

acesso que lhes fornece o conhecimento concetual necessário à atuação do

treinador. Por outro lado, a maioria dos treinadores que fazem referência à

formação académica possuem uma habilitação superior, o que sugere que o

conhecimento adquirido nas instituições de ensino superior acaba por se

sobrepor ao fornecido pelos cursos de treinadores e que é entendido como

elemento construtor do conhecimento.

Importa ainda salientar que a fraca referência aos cursos de

treinadores pode relacionar-se com o caráter obrigatório da sua frequência.

Com efeito, ao serem uma imposição federativa, desenvolvidos em

momentos específicos da época desportiva, condicionam a predisposição do

próprio treinador para a aquisição do conhecimento, acabando por se revelar

ineficazes na promoção de modificações nos comportamentos (Côté, 2006).

Com veicula Reade (2010) os treinadores tendem a atuar de acordo com

princípios tradicionais e rotinas que aceitam como corretas e que na ausência

de informação que considerem relevante mantêm as suas práticas habituais.

Fonte de conhecimento interna

Dentro da categoria interna, constatou-se que a subcategoria reflexão

é referenciada em apenas três casos, apesar do frequente apelo da

comunidade científica para a sua importância na construção do conhecimento

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do treinador (Watson e Wilcox, 2000; Jones, 2007). No entanto, os três

treinadores que fazem referência a este tipo de aprendizagem foram

influenciados pelo mesmo mentor, o que poderá ser o elemento

condicionador da natureza reflexiva da prática desenvolvida. A convivência e

aprendizagem com um treinador reflexivo poderá promover a capacidade de

reflexão no futuro. Contudo, ao atende-se ao tipo de conhecimento que cada

fonte de conhecimento propícia, nenhum dos treinadores que salienta a

reflexão faz uma associação entre o seu mentor e esta capacidade. Porém, a

ausência de impacto da categoria interna deve ser equacionada. A presença

da reflexão poderá estar subjacente a todas as outras fontes de

conhecimento diretas, na medida em que é condição para que o contacto

com as diversas situações de aprendizagem possa resultar em aquisições de

conhecimento (Norman, 2010). A aprendizagem pressupõe uma reflexão que,

muitas das vezes, não é percecionada pelos próprios intervenientes do

processo e que acaba por se traduzir numa fraca referenciação da categoria.

Tipo de conhecimento

Avançando para a interpretação dos dados, associados às categorias

do tipo de conhecimento, encontrou-se uma tendência para a utilização de

fontes diretas na aquisição de conhecimento concetual, processual e

contextual que acentuam o caráter prático da sua construção. No entanto,

parece existir uma relação muito próxima entre as fontes de conhecimento

diretas e o conhecimento processual e contextual. No conhecimento

concetual, apesar do maior número de referências estar associado às fontes

diretas, encontrou-se uma forte valorização das fontes mediadas,

comparativamente a qualquer outro tipo de conhecimento.

Os resultados parecem também demonstrar a importância que cada

treinador atribui a cada tipo de conhecimento. O conhecimento concetual e

processual surgiram como as tipologias de conhecimento mais valorizadas

pelos treinadores, em detrimento do contextual que surge, essencialmente,

em casos específicos onde os treinadores estão circunscritos a situações

contextuais muito particulares, como a insularidade.

Estas constatações poderão resultar do facto de os treinadores

valorizarem os conhecimentos que utilizam predominantemente na sua

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actuação, deixando para segundo plano aqueles que são menos mobilizados

diariamente.

Conclusões

De acordo com os resultados obtidos através da perceção do

treinador, pode concluir-se que as fontes de conhecimento diretas assumem

uma posição de destaque na construção e reconstrução do conhecimento,

seguidas pelas mediadas e por último as internas. Contudo, ao ser

considerado o fator temporal parecem existir algumas diferenças.

Como fontes percecionadas pelos treinadores no passado para a

construção do conhecimento, verificou-se um maior impacto da influência de

mentores, da experiência como atleta e da interação com treinadores.

Para a reconstrução desse mesmo conhecimento surgiu a pesquisa e

investigação, a observação de treinadores e a experiência como treinador.

Enquanto que para o futuro, os treinadores manifestaram uma preferência

pela interação com treinadores, a observação de treinadores, a experiência

como treinador e a observação de competições.

Por outro lado, parecem existir diversas associações:

- entre a referência à categoria mediada e a experiência como atleta e

nível competitivo vivenciado. Quanto menor é a experiência como

atleta e mais baixo é o nível competitivo a que o treinador desenvolveu

a sua prática desportiva, maior é a referenciação às fontes de

conhecimento mediadas;

- entre a referência à subcategoria cursos de treinadores e a habilitação

académica. Quanto menor é a habilitação académica, maior é a

referenciação à fonte de conhecimento cursos de treinadores;

- entre a referência à subcategoria formação académica e a habilitação

académica. Quanto maior é a habilitação académica, maior é a

referenciação à fonte de conhecimento formação académica;

- entre a referência à subcategoria experiência como atleta e o nível

competitivo vivenciado enquanto atleta. Quanto maior é o nível

competitivo que os treinadores vivenciaram enquanto atletas, maior é

a referenciação à fonte de conhecimento experiência como atleta;

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- entre a referência à subcategoria interação com atletas e a idade e

experiência como treinador. Quanto maior a experiência como

treinador e a idade, maior a referência à fonte de conhecimento

interação com atletas.

Relativamente ao tipo de conhecimento que cada fonte de

conhecimento desencadeia, verificou-se uma maior participação das fontes

diretas na aquisição de qualquer conhecimento. No entanto, o conhecimento

processual parece ser o mais valorizado pelo treinador, acentuando o caráter

prático da construção do conhecimento. O conhecimento contextual parece

ser o menos valorizado, surgindo apenas em situações contextuais muito

específicas como a insularidade.

Em síntese, pode inferir-se que a grande variabilidade dos resultados

obtidos espelha a complexidade do processo de construção e reconstrução

do conhecimento, não existindo um percurso único a percorrer pelos

treinadores. Existem fontes que os treinadores percecionam como mais

relevantes que outras para o seu crescimento pessoal, de acordo com as

suas convicções. No contacto com cada uma das fontes de conhecimento, o

treinador leva consigo todo um conjunto de caraterísticas e vivências

pessoais que fazem com que as aprendizagens adquiram significados

extremamente individuais.

No entanto, só através da compreensão do processo de construção e

reconstrução do conhecimento de cada um dos treinadores, é possível

construir cursos de formação mais adequados às necessidades dos

treinadores.

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III. Conclusões gerais

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Conclusões gerais

O caminho que os treinadores de andebol percorrem em Portugal na

aquisição de conhecimentos, pelas vozes daqueles que são considerados

treinadores de sucesso, não é dissemelhante daquele que se encontra na

literatura em geral. Cada treinador percorre um trajeto único, resultado das

suas caraterísticas e experiências pessoais, adquirindo o conhecimento em

resultado da combinação de uma grande variedade de situações de

aprendizagem, onde se destacam as fontes de conhecimento diretas.

Face a esta evidência, o caráter prático do processo de construção do

conhecimento ganha relevo, impondo-se a necessidade de refletir acerca da

estruturação dos programas de formação atuais.

No que concerne às fontes de conhecimento mediadas, estas parecem

não assumir um lugar de destaque nas perceções dos treinadores. Estes

reconhecem que são fontes que contribuem para a construção do

conhecimento, mas o papel que ocupam parece ser exíguo

comparativamente às fontes de conhecimento diretas.

Reconhecida a importância das fontes de conhecimento diretas,

importa também salientar as diferenças encontradas quando a análise

contempla o fator temporal. Neste enquadramento, nos diferentes trajetos

percorridos pelos treinadores, na sua jornada de aquisições de

conhecimentos, emergiram duas faces subsequentes e indissociáveis do

próprio processo. Na primeira, desenvolvida durante o percurso como atleta e

primeiros anos de treinador, as influências são mais ou menos conscientes e

os treinadores percecionam como elementos construtores do conhecimento a

experiência como atleta, a influência de mentores e a interação com

treinadores. Mais tarde, numa segunda fase, o treinador releva que assume

uma posição mais ativa na reconstrução do seu conhecimento, procurando

de forma intencional aumentar o seu reportório de ação, através da

observação de treinadores, da observação de competições, da experiência

como treinador e da pesquisa e investigação.

Face ao exposto, depreende-se que o treinador adquire muito do seu

conhecimento numa fase inicial do seu percurso desportivo, designadamente

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no papel de atleta e de treinador iniciante. Tal facto, coloca em destaque a

importância dos contactos que se estabelecem nesta fase do processo de

construção do conhecimento. Nesta fase inicial, muitos treinadores adquirem

o seu conhecimento no contacto com os seus antigos treinadores, que

acabam por assumir o papel de mentores pela relação de confiança e

admiração que se estabelece. Não obstante essa mais-valia, esta admiração

também pode revelar-se nefasta, porquanto pode condicionar a capacidade

de reflexão acerca dos conhecimentos adquiridos (Cassidy, 2010). As

aquisições são tidas como certas, formando-se uma zona de conforto para a

atuação do treinador que, por sua vez, dificulta a reflexão e

consequentemente a construção de novo conhecimento. É sabido que,

enquanto alguns treinadores possuem anos de experiência analisada e

refletida, atingindo um patamar de expert, outros, com o mesmo número de

anos, a experiência não se reverte em novo conhecimento. Estes limitam-se

a reproduzir os mesmos comportamentos vezes sem conta (Lynch e Mallett,

2006).

No sentido de combater a reprodução pouco refletida de

comportamentos, importa realçar e transmitir a importância da atuação dos

próprios treinadores, no seu contexto de treino, para a formação de novos

treinadores. A promoção de boas práticas desportivas permite a aquisição de

conhecimentos relevantes nos próprios atletas que poderão auxiliar uma

futura atuação enquanto treinadores.

O mesmo se verifica na construção dos cursos de treinadores de

níveis mais baixos e cursos académicos voltados para a área do treino. Neste

âmbito é fundamental garantir uma formação inicial consistente para que todo

o processo de construção do conhecimento seja mais rico e direcionado para

o sucesso profissional. Para isso, é necessário construir cursos académicos e

de treinadores que sejam capazes de transmitir conhecimentos valorizados

pelos treinadores, atendendo às fontes de conhecimento que os treinadores

referem como relevantes para a sua formação. Assim, parece ser importante

incluir e reforçar a observação de treinadores e de competições e promover

interações com treinadores e experiências como treinador, nos diferentes

blocos e disciplinas das fontes de conhecimento mediadas.

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Fica então subentendido que um dos ingredientes para a melhoria dos

processos formativos e consequentemente do desempenho dos treinadores,

poderá ser pelo revestir as fontes de conhecimento mediadas de um caráter

mais direto.

Outro aspeto que importa sublinhar é a importância que a reflexão

assume no processo de (re)construção do conhecimento, temática que

carece de investimento ao nível da estrutura dos cursos académicos e de

treinadores.

A fonte de conhecimento interna não assumiu o impacto esperado na

construção do conhecimento dos treinadores de andebol em Portugal. Facto

este que poderá ser um sinal de alerta para o sistema desportivo, no sentido

da criação de cursos académicos e de treinadores que contemplem o

desenvolvimento de diferentes técnicas de reflexão. Este posicionamento

poderá ser uma aposta futura, de modo a dotar os treinadores portugueses

de ferramentas que potenciem o desenvolvimento de experts e com isso

garantir uma evolução sustentada e estruturada de todo o sistema desportivo:

Só assim, será possível responder cabalmente às novas e renovadas

exigências colocadas pela comercialização e profissionalização do desporto.

Limitações do estudo e sugestões para trabalhos fut uros

A natureza dos dados obtidos coloca limitações que impedem

generalizações e extrapolações para outras realidades. Contudo, o que se

pretendeu foi detetar as perceções dos treinadores de uma realidade

específica e com isso fornecer indicações relevantes para a construção de

programas de formação adaptados às exigências que a prática coloca.

Nesse sentido, revela-se fundamental ultrapassar os modelos

tradicionais do processo de ensino e aprendizagem para abraçar métodos

mais interativos (Nash e Collins, 2006) que privilegiem a construção

contextualizada do conhecimento, através da cooperação e debate entre

treinadores. Desta forma, a aprendizagem adquire elevado significado para o

treinador e favorece o desenvolvimento de técnicas de reflexão.

Paralelamente a esta ideia parece existir uma necessidade em

acompanhar os treinadores ao longo do seu percurso profissional para que a

aquisição de conhecimentos através da tentativa/erro não seja a única opção.

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Importa ainda salientar que o estudo ao se reportar às perceções que

os treinadores têm da construção do seu conhecimento não acede à

estrutura cognitiva, pelo que não permite compreender como se processou a

construção do conhecimento.

Para finalizar, emerge a necessidade de se procurar aprofundar o

modo como se processa a construção e reconstrução do conhecimento na

ação. Isto é, em contexto de treino e competição.

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Bibliografia geral

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Anexos

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r e

a sa

ber

o qu

e sa

be s

obre

a a

tivid

ade

do tr

eina

dor?

E

m q

ue m

edid

a a

sua

expe

riênc

ia c

omo

atle

ta c

ontr

ibui

u pa

ra o

seu

co

nhec

imen

to s

obre

a s

ua a

tivid

ade

de tr

eina

dor?

C

omo

fora

m a

s su

as p

rimei

ras

expe

riênc

ias

com

o tr

eina

dor?

(Q

uand

o co

meç

ou

a se

r tr

eina

dor?

C

omeç

ou

com

o ad

junt

o ou

tr

eina

dor

prin

cipa

l?)

C

om q

uem

tra

balh

ou c

omo

adju

nto?

Por

qua

ntos

ano

s? (

O q

ue é

que

ap

rend

eu c

om e

ssa

expe

riênc

ia?)

Q

ue

trei

nado

res

mai

s de

cisi

vam

ente

o

influ

enci

aram

no

se

u de

senv

olvi

men

to

com

o tr

eina

dor?

O

qu

e de

m

ais

impo

rtan

te

lhe

tran

smiti

ram

?

Par

ticul

arm

ente

no

iníc

io e

dep

ois

ao l

ongo

da

sua

carr

eira

, qu

ais

pens

a te

rem

sid

o as

prin

cipa

is f

onte

s do

seu

con

heci

men

to p

ara

o

Exp

eriê

ncia

/Val

or

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X

XII

exer

cíci

o da

funç

ão d

e tr

eina

dor?

Q

ual

a re

levâ

ncia

dos

cur

sos

fede

rativ

os d

e at

ribui

ção

de g

rau,

da

form

ação

ac

adém

ica

espe

cífic

a?

Des

taca

al

gum

cu

rso,

ão

de

form

ação

, ou

ou

tra

font

e de

co

nhec

imen

to

com

o pa

rtic

ular

men

te

mar

cant

e na

sua

car

reira

? Q

uais

as

expe

riênc

ias

e os

epi

sódi

os m

ais

mar

cant

es n

o se

u pe

rcur

so

com

o tr

eina

dor?

Q

ue m

omen

tos

reco

rda

que

cons

tituí

ram

pon

tos

críti

cos

de m

udan

ça

na s

ua a

tuaç

ão c

omo

trei

nado

r ou

que

o l

evar

am a

enc

arar

de

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a di

fere

nte

a su

a fu

nção

? N

este

mom

ento

, o

que

esta

bele

ce c

omo

prio

ridad

es p

ara

mel

hora

r o

seu

níve

l de

com

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ncia

? Q

ue fo

ntes

de

conh

ecim

ento

gos

taria

de

ter

disp

onív

el p

ara

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r a

sua

com

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ncia

en

quan

to

trei

nado

r (li

tera

tura

, vi

sual

izaç

ão

de

víde

os, c

onve

rsas

com

out

ros

trei

nado

res,

etc

.)

Qua

is o

s m

otiv

os q

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faze

m c

ontin

uar

a qu

erer

ser

trei

nado

r?

Atu

ação

com

o tr

eina

dor

Con

hece

r as

áre

as d

e in

terv

ençã

o do

tr

eina

dor;

C

onhe

cer

os a

spet

os v

alor

izad

os p

elo

trei

nado

r na

s di

fere

ntes

áre

as d

a su

a in

terv

ençã

o;

Con

hece

r o

tipo

de r

elaç

ão q

ue o

tr

eina

dor

proc

ura

esta

bele

cer

com

os

dife

rent

es in

terv

enie

ntes

da

com

unid

ade

desp

ortiv

a.

Qua

is s

ão,

na s

ua p

ersp

etiv

a, a

s ár

eas

fund

amen

tais

de

inte

rven

ção

do tr

eina

dor?

Q

uais

o as

ár

eas

da

sua

ativ

idad

e de

tr

eina

dor

que

cons

ider

a do

min

ar m

elho

r? E

qua

is a

s qu

e se

nte

esta

r m

enos

bem

pre

para

do?

A q

ue é

que

mai

s at

ençã

o no

pla

neam

ento

e n

a pr

epar

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da

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ativ

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e de

trei

nado

r?

A

que

é qu

e dá

m

ais

aten

ção

na

sua

inte

rven

ção

no

trei

no,

na

com

petiç

ão,

e ev

entu

alm

ente

em

out

ros

âmbi

tos

da s

ua i

nter

venç

ão

com

o tr

eina

dor?

Q

ue t

ipo

de r

elaç

ão p

rocu

ra e

stab

elec

er c

om o

s se

us a

tleta

s (o

utro

s in

terv

enie

ntes

)?

Val

or/O

pini

ão

Com

petê

ncia

pr

ofis

sion

al

Con

hece

r o

conc

eito

de

com

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ncia

pr

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sion

al;

Con

hece

r os

mod

elos

de

refe

rênc

ia;

Con

hece

r as

font

es d

e co

nhec

imen

to;

Ass

ocia

r as

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es d

e co

nhec

imen

to à

s et

apas

de

dese

nvol

vim

ento

da

com

petê

ncia

pro

fissi

onal

.

O q

ue é

par

a si

um

trei

nado

r co

mpe

tent

e? C

omo

o ca

rate

riza?

C

onhe

ce a

lgum

tre

inad

or q

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onsi

dere

com

pete

nte

(indi

que

um a

o ní

vel n

acio

nal e

out

ro a

o ní

vel i

nter

naci

onal

)?

Qua

is a

s ca

rate

ríst

icas

faze

m d

eles

trei

nado

res

com

pete

ntes

? Q

ue c

ondi

ções

aju

dam

à m

anife

staç

ão d

e um

exe

rcíc

io c

ompe

tent

e?

Que

con

stra

ngim

ento

s en

cont

ra n

o se

u di

a a

dia

com

o tr

eina

dor

que

são

impe

ditiv

os d

a ex

pres

são

da c

ompe

tênc

ia?

A q

ue fa

tore

s at

ribui

o n

ível

de

com

petê

ncia

que

alc

anço

u?

Qua

is o

s co

nhec

imen

tos

que

cons

ider

a es

senc

iais

o t

rein

ador

pos

suir

para

um

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rcíc

io c

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tent

e?

E a

o ní

vel d

o sa

ber

faze

r (p

lane

amen

to, a

tuaç

ão/in

terv

ençã

o)?

E a

o ní

vel d

as c

ompe

tênc

ias

étic

as (

ao n

ível

pes

soal

e p

rofis

sion

al)?

Val

or/O

pini

ão

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X

XIII

E a

o ní

vel d

as c

ompe

tênc

ias

pess

oais

(re

laçõ

es in

terp

esso

ais)

? Q

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utra

s co

mpe

tênc

ias

cons

ider

a es

senc

iais

? N

o in

ício

da

sua

carr

eira

com

o tr

eina

dor,

qua

is a

s pr

inci

pais

fon

tes

de

conh

ecim

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a q

ue r

ecor

reu?

N

este

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ento

, qu

ais

as p

rinci

pais

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tes

de c

onhe

cim

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a q

ue

reco

rre

para

mel

hora

r o

seu

níve

l de

com

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ncia

? Q

ue o

utra

s fo

ntes

de

conh

ecim

ento

gos

taria

de

ter

disp

onív

el p

ara

mel

hora

r a

sua

com

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ncia

en

quan

to

trei

nado

r (li

tera

tura

, vi

sual

izaç

ão d

e ví

deos

, con

vers

as c

om o

utro

s tr

eina

dore

s)?

No

trei

no q

uais

são

os

aspe

tos

que

cons

ider

a do

min

ar m

elho

r? E

pio

r?

Qua

is s

ão a

s su

as p

rinci

pais

pre

ocup

açõe

s na

con

stru

ção/

prep

araç

ão

do tr

eino

? E

na

cond

ução

?

Con

clus

ão

Rec

olhe

r in

form

ação

que

não

tenh

a si

do

cont

empl

ada

ante

riorm

ente

; S

inte

tizar

asp

ecto

s qu

e po

ssam

ser

im

port

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s pa

ra a

com

pree

nsão

das

re

spos

tas

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riore

s.

Par

a te

rmin

ar, t

em a

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a ac

resc

enta

r ou

idei

as fo

rtes

a s

inte

tizar

? E

xper

iênc

ia/V

alor

Val

idaç

ão d

a en

trev

ista

Ave

rigua

r as

rea

ções

à e

ntre

vist

a;

Rec

olhe

r su

gest

ões

para

a m

elho

ria d

a en

trev

ista

; A

valia

r o

guiã

o da

ent

revi

sta;

R

ecol

her

info

rmaç

ões

que

não

tenh

am

sido

con

tem

plad

as a

nter

iorm

ente

e q

ue

seja

m im

port

ante

s pa

ra o

ent

revi

stad

o;

Agr

adec

er a

col

abor

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no

estu

do.

Con

side

ra q

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sta

foi b

em c

ondu

zida

?

Con

side

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con

teúd

o da

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vai d

e en

cont

ro a

os o

bjet

ivos

en

unci

ados

? T

em a

lgum

a qu

estã

o qu

e qu

eira

col

ocar

?

Val

or

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XXV

Anexo 3 - Guião da entrevista

Entrevista

Tema

Elementos para a compreensão do processo de construção,

(re)construção e manifestação em situação de treino da competência

profissional.

Objetivos gerais

1. Caraterizar o percurso desportivo dos treinadores;

2. Percecionar as fontes de conhecimento utilizadas pelos treinadores

para a construção da sua competência profissional e procurar

compreender a importância que estes atribuem a cada uma delas

nos vários momentos do seu percurso;

3. Captar as representações que os treinadores têm acerca do que é

um treinador competente;

4. Indagar o modo como os treinadores percecionam a sua atuação

em situação.

A) Legitimação da entrevista

1. Deseja saber mais alguma coisa sobre o trabalho? E acerca da

entrevista?

2. Tem alguma objeção a que a entrevista seja gravada?

3. Há alguma coisa que não tenha ficado clara?

B) Identificação

Sexo, idade, habilitações literárias, atividade profissional que exerce

no momento e há quantos anos.

C) Percurso desportivo como atleta

1. Qual foi o seu percurso como praticante desportivo?

2. Que modalidades praticou?

3. Em que modalidade se especializou (federou)? Por quantos anos?

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XXVI

4. Que clubes representou?

5. A que níveis de prática competiu (juniores e seniores)? Foi atleta

de seleção?

D) Percurso como treinador

1. Quais as razões que o levaram a ser treinador?

2. Onde, como e com quem aprendeu a ser treinador e a saber o que

sabe sobre a atividade do treinador? (gostaria que se reportasse às

suas vivências formativas ou práticas como atleta ou treinador

(como obteve a qualificação, cursos que realizou, experiências), e

mencionasse quais é que se revelaram úteis ao exercício da sua

atividade como treinador, as que são fundamentais à sua

capacidade de intervenção como treinador)?

a. Em que medida a sua experiência como atleta contribuiu

para o seu conhecimento sobre a sua atividade de

treinador?

b. Como foram as suas primeiras experiências como treinador?

(Quando começou a ser treinador? Começou como adjunto

ou treinador principal?)

c. Com quem trabalhou como adjunto? Por quantos anos? (O

que é que aprendeu com essa experiência?)

d. Que treinadores mais decisivamente o influenciaram no seu

desenvolvimento como treinador? O que de mais importante

lhe transmitiram?

e. Particularmente no início e depois ao longo da sua carreira,

quais pensa terem sido as principais fontes do seu

conhecimento para o exercício da função de treinador?

f. Qual a relevância dos cursos federativos de atribuição de

grau, da formação académica específica? Destaca algum

curso, ação de formação, ou outra fonte de conhecimento

como particularmente marcante na sua carreira?

3. Quais as experiências e os episódios mais marcantes no seu

percurso como treinador?

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XXVII

4. Que momentos recorda que constituíram pontos críticos de

mudança na sua atuação como treinador ou que o levaram a

encarar de forma diferente a sua função?

5. Neste momento, o que estabelece como prioridades para melhorar

o seu nível de competência?

6. Que fontes de conhecimento gostaria de ter disponível para

melhorar a sua competência enquanto treinador (literatura,

visualização de vídeos, conversas com outros treinadores, etc.)?

7. Quais os motivos que o fazem continuar a querer ser treinador?

E) Atuação como treinador

1. Quais são, na sua perspetiva, as áreas fundamentais de

intervenção do treinador?

2. Quais são as áreas da sua atividade de treinador que considera

dominar melhor? E quais as que sente estar menos bem

preparado?

3. A que é que dá mais atenção no planeamento e na preparação da

sua atividade de treinador?

4. A que é que dá mais atenção na sua intervenção no treino, na

competição, e eventualmente em outros âmbitos da sua

intervenção como treinador?

5. Que tipo de relação procura estabelecer com os seus atletas

(outros intervenientes, equipa técnica, dirigentes, familiares de

atletas, comunicação social)?

F) Competência profissional

1. O que é para si um treinador competente? Como o caracteriza?

2. Conhece algum treinador que considere competente (indique se

possível um a nível nacional e outro a nível internacional)?

3. Quais as características fazem deles treinadores competentes (de

um e de outro)?

4. Na sua opinião, quais as condições que ajudam à manifestação da

competência? (condições ideais).

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XXVIII

5. No seu dia a dia como treinador que constrangimentos encontra à

expressão da competência?

6. A que fatores atribui o nível de competência que alcançou?

7. Quais os conhecimentos que considera essenciais o treinador

possuir para um exercício competente?

8. E ao nível do saber fazer (planeamento, atuação/intervenção)?

9. E ao nível das competências éticas (ao nível pessoal e

profissional)?

10. E ao nível das competências pessoais (relações interpessoais)?

11. Que outras competências considera essenciais?

G) Conclusão

Para terminar, tem algo a acrescentar ou ideias fortes a sintetizar?

H) Validação da entrevista

1. Considera que a entrevista foi bem conduzida?

2. Considera que o conteúdo da entrevista vai de encontro aos

objetivos enunciados?

3. Deseja acrescentar mais algum aspeto que considere importante

para o esclarecimento da sua opinião acerca dos temas tratados?

4. Tendo em conta os objetivos a que nos propusemos considera que

a entrevista deveria ter mais alguma questão?

5. Tem alguma questão que queira colocar?

Mais uma vez agradecemos a sua preciosa colaboração.

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