epnlusa-matthias hoeninghemerotecadigital.cm-lisboa.pt/.../diariodenoticias... · 1 iliário bt...

1
1 iliário bt Notícias 1 35 1 ARTES 1 3.g FEIRA ! 1 5. AGOST0.2006 I EPNLusa-Matthias Hoening Escritor I Ataques a Günter Grass multiplicam-se nos media alemães, mas o Prémio Nobel també_m tem defensores LITERATURA Livros em português C) 'O TAMBOR' Estúdios Cor C> 'O CÃO DE HITLER' Estúd ios Cor C> 'O GATO E O RATO' -> Publicações Europa-América; reeditado pela Editorial Notícias C> 'O LINGUADO' Inquérito e 'A RATAZANA' Dom Quixote C) 'MAU AGOIRO' Bertrand C> 'UMA LONGA HISTÓRIA' Presença C>'OMEU SÉCULO' Editorial Notícias/Círculo de Leitores C> 'A PASSO DE CARANGUEJO' Editorial Notícias Alemanha dividida sobre confissão de Günter Gràss Depois de o Prémio Nobel da Paz Lech Walesa ter pedido, na segun- da-feira, ao escritor alemão Günter Grass para devolver a sua distinção de cidadão honorário da cidade po- laca de Gdansk ( ex-Dantzig alemã, onde Grass nasceu, em 1927), após este ter revelado que integrou as Waffen-SS no final da II Guerra Mundial, é agora o PEN Club da Re- pública Checa que, de acordo com o diário Die Welt, pretende retirar ao autor de O Tambor o prémio que lhe concedeu. Grass sempre disse que tinha feito a guerra numa antiaérea. Na Alemanha, entretanto, ferve a controvérsia sobre a confissão de Grass na entrevista que deu no fim- -e-semana ao Frankfurter Allgemei- ne Zeitung, antecipando a publica- ção, em Setembro, das suas memó- rias, Descascando a Cebola, dividin- do editorialistas, escritores, políti- cos e a opinião pública. Segundo Joachim Fest, historia- dor e biógrafo de AdolfHitler, falan- do à Der Spiegel, "a confissão chega tarde, sobretudo vinda de alguém que durante décadas se apresentou como a instância moral do país". Fest subinha que o deplorável não é Grass ter sido chamado para as filei- ras das Waffen-SS, mas sim tê-lo es- condido durante tanto tempo. "Eu e muitos camaradas de escola fomos voluntários para a Wehrmacht por- que sabíamos que assim evitaríamos acabar nas Waffen-SS", declarou. Muito mais violento é o crítico li- terário Helmut Karasek, que chama a Günter Grass "apóstolo moral com lacunas na memória", frisando que o facto de este ter pertencido às Waffen-SS aos 17 anos "seria em si uma coisa menor , não fosse o facto de ele ser aquele que agitou o cacete da moral com mais frequência". Pelo mesmo diapasão afina o di- rector do diário Tagesspiegel, Ste· phan-Andreas Casdorff, que frisa: "A pessoa política de Grass decep- cionou leitores, colegas e defensores dos direitos humanos", rematando que "Grass volta a conseguir que to· dos o ouçam, embora sem o mere· cer". Outro historiador, Michael Wolffsohn, relembra que, quando em Abril de 1985 o então chanceler alemão Helmut Kohl e o falecido presidente dos EUARonald Reagan visitaram o cemitério militar de Bitburg, onde estavam também se- pultados militares das Waffen-SS, Günter Grass protestou contra a vi- sita, em vez de se ter levantado e de- clarado "Eu também estive lá". A favor do autor falou o seu tam- bém polémico colega Martin Walser, criticando a "campanha" posta em marcha contra Grass, que "uma péssima imagem da incapacidade alemã de encarar a História", talco- mo o também escritor e filólogo Wal- ter Jens, que considera a confissão do escritor "equilibrada, precisa e razoável". Também do lado do SPD, o Parti- do Social-Democrata alemão, que Günter Grass sempre apoiou, che- gam apelos à moderação. O seu pre- sidente, Kurt Beck, apelou à não con- denação do Nobel da Literatura, personalidade que "já enfrentou ca- pítulos muito duros da sua vida". I

Upload: others

Post on 09-Jul-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: EPNLusa-Matthias Hoeninghemerotecadigital.cm-lisboa.pt/.../DiarioDeNoticias... · 1 iliário bt Notícias 1 35 1 ARTES 1 3.g FEIRA !15.AGOST0.2006 I EPNLusa-Matthias Hoening Escritor

1

iliário bt Notícias 1 35 1 ARTES 1 3.g FEIRA ! 15.AGOST0.2006 I

EPNLusa-Matthias Hoening

Escritor I Ataques a Günter Grass multiplicam-se nos media alemães, mas o Prémio Nobel també_m tem defensores

LITERATURA

Livros em português C) 'O TAMBOR' Estúdios Cor

C> 'O CÃO DE HITLER' Estúdios Cor

C> 'O GATO E O RATO' -> Publicações Europa-América; reeditado pela Editorial Notícias

C> 'O LINGUADO' Inquérito

e 'A RATAZANA' Dom Quixote

C) 'MAU AGOIRO' Bertrand

C> 'UMA LONGA HISTÓRIA' Presença

C>'OMEU SÉCULO' Editorial Notícias/Círculo de Leitores

C> 'A PASSO DE CARANGUEJO' Editorial Notícias

Alemanha dividida sobre confissão de Günter Gràss

Depois de o Prémio Nobel da Paz Lech Walesa ter pedido, na segun­da-feira, ao escritor alemão Günter Grass para devolver a sua distinção de cidadão honorário da cidade po­laca de Gdansk ( ex-Dantzig alemã, onde Grass nasceu, em 1927), após este ter revelado que integrou as Waffen-SS no final da II Guerra Mundial, é agora o PEN Club da Re­pública Checa que, de acordo com o diário Die Welt, pretende retirar ao autor de O Tambor o prémio que lhe concedeu. Grass sempre disse que tinha feito a guerra numa antiaérea.

Na Alemanha, entretanto, ferve a controvérsia sobre a confissão de Grass na entrevista que deu no fim­-e-semana ao Frankfurter Allgemei-

ne Zeitung, antecipando a publica­ção, em Setembro, das suas memó­rias, Descascando a Cebola, dividin­do editorialistas, escritores, políti­cos e a opinião pública.

Segundo Joachim Fest, historia­dor e biógrafo de AdolfHitler, falan­do à Der Spiegel, "a confissão chega tarde, sobretudo vinda de alguém que durante décadas se apresentou como a instância moral do país". Fest subinha que o deplorável não é Grass ter sido chamado para as filei­ras das Waffen-SS, mas sim tê-lo es­condido durante tanto tempo. "Eu e muitos camaradas de escola fomos voluntários para a Wehrmacht por­que sabíamos que assim evitaríamos acabar nas Waffen-SS", declarou.

Muito mais violento é o crítico li­terário Helmut Karasek, que chama a Günter Grass "apóstolo moral

com lacunas na memória", frisando que o facto de este ter pertencido às Waffen-SS aos 17 anos "seria em si uma coisa menor, não fosse o facto de ele ser aquele que agitou o cacete da moral com mais frequência".

Pelo mesmo diapasão afina o di­rector do diário Tagesspiegel, Ste· phan-Andreas Casdorff, que frisa: "A pessoa política de Grass decep­cionou leitores, colegas e defensores dos direitos humanos", rematando que "Grass volta a conseguir que to· dos o ouçam, embora sem o mere· cer".

Outro historiador, Michael Wolffsohn, relembra que, quando em Abril de 1985 o então chanceler alemão Helmut Kohl e o falecido presidente dos EUARonald Reagan visitaram o cemitério militar de Bitburg, onde estavam também se-

pultados militares das Waffen-SS, Günter Grass protestou contra a vi­sita, em vez de se ter levantado e de­clarado "Eu também estive lá".

A favor do autor falou o seu tam­bém polémico colega Martin Walser, criticando a "campanha" posta em marcha contra Grass, que dá "uma péssima imagem da incapacidade alemã de encarar a História", talco­mo o também escritor e filólogo Wal­ter Jens, que considera a confissão do escritor "equilibrada, precisa e razoável".

Também do lado do SPD, o Parti­do Social-Democrata alemão, que Günter Grass sempre apoiou, che­gam apelos à moderação. O seu pre­sidente, Kurt Beck, apelou à não con­denação do Nobel da Literatura, personalidade que "já enfrentou ca­pítulos muito duros da sua vida". I