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Estrutura e
Dinâmica Social (EDS)
Prof. Diego Araujo Azzi 2018.3
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Introdução à Sociologia brasileira
Raízes da Desigualdade Social
na Cultura Política brasileira
Teresa Sales, 1993.
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Tese:
Existência de elementos de continuidade do passado no
presente do Brasil.
A mais decisiva permanência é a estrutura agrária
baseada no grande domínio territorial, que continuou
praticamente intocada nos vários pactos de poder
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• Ao contrário do que ocorreu na França e na Inglaterra, a “revolução burguesa” no Brasil não se consumou completamente, pois a burguesia emergente se associou a antiga classe latifundiária.
• Assim, não se efetivou a formação de uma ordem competitiva, racional e do mercado no país (Weber)
• Não existe uma sociedade de classes aberta, ou seja, com mobilidade social efetiva. A anomia é aí fruto de uma sociedade que não visa integrar os indivíduos (Durkheim)
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Conceito de Dádiva: Marcel Mauss, Ensaio sobre a Dádiva
Métodos e regras de troca entre sociedades primitivas da Polinésia (1925)
Ciclo:
Presentar
Reciprocidade
Obrigação de presentear
Obrigação de de aceitar
Mostra como a partir das trocas se formam relações sociais mais amplas entre grupos tribais, envolvendo alianças, proteção mútua, assistência e hospitalidade
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Cultura Política
“espécie de cimento das relações de mando e subserviência”
permanência de elementos presentes em nossa cultura política que representam continuidade em relação aos padrões de mando/subserviência do passado
um dos elementos-chave de permanência é a estrutura agrária baseada em grandes extensões territoriais (latinfúndio)
As raízes da desigualdade estão na cultura política brasileira
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Weber: poder, dominação e obediência
Sales: obediência não, subserviência (além de obedecer, também pedir)
Pedir um favor implica ter um provedor forte
Um favor sempre implica uma contrapartida de quem o recebe, seja no presente ou no futuro
Relações de Reciprocidade:
“você precisa me ajudar a te ajudar”
“quem quer rir tem que fazer rir”
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Estrutura agrária: intocada do latifúndio ao agronegócio
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A história social da Casa Grande é a história íntima de quase todo brasileiro
Gilberto Freyre, 1973
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Gilberto Freyre (1936):
• O mestiço é a síntese do Brasil. Ele traz a contribuição civilizatória do português, somada a contribuição cultural dos indígenas e negros. Esta seria a nossa democracia racial.
• No Brasil, não haveriam raças mas sim “etnias”, que se toleram e se misturam sem limitar direitos e oportunidades às “pessoas de cor”.
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O sadismo do menino sinhôzinho, excedendo a esfera da vida sexual e doméstica; tem-se feito sentir através da nossa formação em
campo mais largo: social e político
Gilberto Freyre, 1973
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Primeira República (1889-1930)
Mesmo após a abolição da escravatura, a cidadania não se realiza
plenamente para os novos homens livres, prevalecendo o compromisso
coronelista, com mecanismos de patronagem e clientelismo que marcam esse
período
Permanece ainda muito tempo depois de abolido o trabalho escravo, o seu
vínculo de dependência pessoal para com o senhor de terras
O sentido da morada é uma expressão desse vínculo de subserviência do
morador em relação ao senhor das terras
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Coronelismo na Primeira República
Troca de favores entre o poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos chefes locais
Reciprocidade entre os chefes municipais e os coronéis com seus currais eleitorais, de um lado, e de outro, o Estado que dispõe do orçamento, dos empregos, da força policial e dos favores
O coronelismo é a nova manifestação do poder privado, assentado ainda no latifúndio
Cultura política do coronelismo: Motivação particularista dos indivíduos; incapacidade de guiar-se por critérios impessoais ou ideológicos
Currais eleitorais, fraude eleitoral, mandonismo, filhotismo
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Coronelismo na Primeira República
Chefes Locais > apoio aos candidatos da situação, garantir os votos
Governos > concessão de carta branca ao chefe local governista, até na nomeação de funcionários públicos do lugar
A própria autonomia municipal passa a ser uma dádiva do poder, concedida pelos senhores da localidade (Nordeste)
O compromisso implica sobretudo a dádiva do poder
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Cidadania Concedida (contradição em termos)
Cidadania sem conquista
Construção da cidadania brasileira como uma não-cidadania para o homem livre e pobre, sempre dependente dos favores do senhor de terras
Numa sociedade escravocrata, homens livres e pobres dependem das dádivas provenientes de senhores de terra
A dinâmica da dádiva sobrevive desde o domínio privado das fazendas coloniais, a abolição da escravatura, no compromisso coronelista e chega aos nossos dias
A cultura da dádiva é a expressão política da nossa desigualdade social, pautada pela relação mando-subserviência
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A dádiva chega à República substituindo direitos básicos de cidadania que o nosso liberalismo não proveu
Democracia Racial e Homem Cordial: noções mediadoras das nossas relações de classe
contribuem para que situações de conflito frequentemente não resultem em conflito de fato, mas em conciliação
Década de 1960: massivo êxodo rural (fim do vínculo com o latifúndio) causa um relativo rompimento dessa relação. Extrema mobilidade espacial do trabalhador rural brasileiro da Colônia até hoje
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A liderança local exerce seu domínio não apenas pela força mas também pela concessão de favores – dádivas – ao povo pobre
O domínio territorial é a fonte do poder da liderança local
Centralidade do latifúndio para a nossa própria constituição enquanto nação permanece
Situação intermediária de milhões de pessoas: não são mais escravos, mas ainda não são cidadãos
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Contradição
Os donos do poder privado (senhores de terras) controlam os aparelhos de justiça, os delegados de polícia e as administrações municipais
Quando o pobre tem algum problema com uma instituição pública, ele recorre ao auxílio do senhor de terras
Favor como categoria de mediação da relação social e das esferas pública e privada
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Nas nações ibéricas, à falta dessa racionalização da vida, que tão cedo experimentaram algumas terras protestantes, o princípio unificador foi sempre representado pelos governos
A obediência aparece muitas vezes como virtude suprema para os ibéricos. Obediência cega, diferente da lealdade medieval e feudal
A dominação, quando mediada pelo favor, aparece como uma benesse e o próprio dominado reafirma a cadeia de lealdades que o prende aos poderosos; a entende como benefício recebido com gratidão e como autoridade voluntariamente aceita
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Crescimento da burocracia estatal e ampliação de programas sociais como elementos de construção nacional (nation-building)
Impessoalidade dos programas sociais fomentam uma nova identidade social em substituição àquela baseada na lealdade local
Corte da mediação poder privado dos coronéis e capitalização por parte dos políticos locais
A vinculação pobreza-submissão, mais do que a marca da cultura política herdada do monopólio do mando pelo domínio territorial, é uma marca desse compromisso herdado de nossa República Velha
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• Homem cordial (Sergio Buarque de Holanda)
Combinação de traços culturais ibéricos e africanos
hospitalidade
gentileza
generosidade
raízes na esfera do familiar e do privado
religiosidade caseira, intimidade com os santos
uso do diminutivo acrescido ao nome na linguagem corrente ou uso do primeiro nome
informalidade no convívio em geral
portador de uma ética de fundo emotivo
A cordialidade do homem brasileiro seria de caráter utilitarista, pois se expressa na expectativa de uma retribuição de favores
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Um sério dilema para o Brasil
Homem cordial representa a impossibilidade de atingir uma
ordenação impessoal que permita a ruptura com padrões
privatistas e particularistas dominantes
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