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CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA ESTUDO DE CASO: O PAPEL DO SEGUNDO PROFESSOR EM UMA ESCOLA ESTADUAL NA PERSPECTIVA DA EXPERIÊNCIA INCLUSIVA COM ALUNOS QUE APRESENTAM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS DEISEDERE DELFINO BALDOINO SÃO JOSÉ 2010

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CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

ESTUDO DE CASO: O PAPEL DO SEGUNDO PROFESSOR EM UMA ESCOLA

ESTADUAL NA PERSPECTIVA DA EXPERIÊNCIA INCLUSIVA COM ALUNOS

QUE APRESENTAM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS

DEISEDERE DELFINO BALDOINO

SÃO JOSÉ

2010

DEISEDERE DELFINO BALDOINO

ESTUDO DE CASO: O PAPEL DO SEGUNDO PROFESSOR EM UMA ESCOLA

ESTADUAL NA PERSPECTIVA DA EXPERIÊNCIA INCLUSIVA COM ALUNOS

QUE APRESENTAM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS.

Trabalho final apresentado como requisito à

conclusão do curso de Pedagogia do Centro

Universitário Municipal de São José - USJ.

Professora orientadora: MSc.Vera Regina Lúcio

SÃO JOSÉ

2010

DEISEDERE DELFINO BALDOINO

ESTUDO DE CASO: O PAPEL DO SEGUNDO PROFESSOR EM UMA ESCOLA

ESTADUAL NA PERSPECTIVA DA EXPERIÊNCIA INCLUSIVA COM ALUNOS

QUE APRESENTAM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS.

Relatório apresentado como requisito à conclusão do Curso de Pedagogia pelo Centro

Universitário Municipal de São José - USJ.

Avaliado em 06 de Julho de 2010 por:

__________________________________________

Profª. MSc. Vera Regina Lucio

Orientadora

__________________________________________

Profª. MSc. Silvanira Lisbôa Scheffler

Membro examinador

__________________________________________

Profª. MSc. Izabel Cristina Feijó de Andrade

Membro examinador

DEDICATÓRIA

Ao garoto, que no alto de seus onze anos,

me fez refletir sobre o valor do

comprometimento com a educação.

AGRADECIMENTOS

A Deus, que me ofereceu paciência, ânimo e saúde para concluir este trabalho.

À Santa Paulina, por ter me auxiliado na conquista do primeiro emprego. Pelo cargo

que ocupei em uma escola, pude conhecer certo garoto de onze anos, bravo e teimoso, que me

instigou a conhecer outras experiências inclusivas, como o papel do segundo professor em tais

experiências.

À minha mãe, agradeço, pelas conversas que me fizeram rir de doer a barriga e “os

carrinhos” da boca pelas intempéries do cotidiano e por todo esforço feito nesses vinte e dois

anos.

Às amigas, que me proporcionaram momentos alegres, presenciais e a distância, neste

período turbulento. Assim, fazendo perceber que coisas tão simples podem ser tão

significativas.

À professora orientadora, que me esclareceu dúvidas e me conduziu no processo de

construção do trabalho.

Às professoras Izabel Cristina de Feijó Andrade e Silvanira Lisbôa Scheffler,

membros da banca de defesa do TCC, por aceitarem o convite.

Aos professores do curso de Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São

José, que em sua maioria, mostraram-me com a sua dedicação, a vontade de sempre oferecer

o melhor nas práticas educativas.

Às diretoras das instituições em que fiz a pesquisa pelo acolhimento. Apesar de uma

destas instituições não ser contemplada no presente trabalho, tive a oportunidade de conhecer

pessoas maravilhosas.

Às professoras das classes observadas, pela disposição e pela postura tomadas em

frente aos dias em que entrei em seus ambientes de trabalho.

Aos colegas de curso, alguns em especial, que me auxiliaram a tornar a pessoa que

aqui escreve hoje.

“[...] Não há, não, duas folhas iguais

em toda a criação. Ou nervura a

menos, ou célula a mais, não há, de

certeza, duas folhas iguais.”

António Gedeão

RESUMO

Este relatório apresenta um estudo de caso em busca da compreensão da função do segundo

professor acerca da experiência inclusiva no que diz respeito à prática pedagógica juntamente

com o professor regente em uma escola estadual do município de São José. Fundamentado

teoricamente, a priori, na trajetória da Educação Especial no país e nos preceitos de integração

e inclusão. Posteriormente, foi utilizada a análise dos discursos dos professores para o

entendimento do papel do segundo professor na inserção ou não do aluno com necessidades

educacionais especiais.

Palavras-chave: Inclusão escolar. Segundo professor. Necessidades educacionais especiais.

RESUMEN

Este informe presenta un estudio de caso en búsqueda de la comprensión de la función del

según profesor acerca de la experiencia inclusiva en relación a la práctica pedagógica

juntamente con el profesor regente en una escuela estadual de São José. Fundamentado

teóricamente, a priori, en la trayectoria de la educación especial en el país y en los preceptos

de integración e inclusión .Después, fue utilizada la análisis de los discursos de los profesores

para el entendimiento del papel del según profesor en la inserción o no del alumno con

necesidades educacionais especiales.

Palabras-llave: Inclusión escolar. Según profesor. Necesidades educacionais especiales.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................10

1. 1 Justificativa............................................................................................................11

1.2 Objetivos.................................................................................................................14

1.1. 1 Objetivo Geral.......................................................................................................14

1.1.2 Objetivos Específicos............................................................................................14

1.3 Identificação do Problema de Pesquisa.................................................................15

2 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................17

2.1 Educação Especial: Preconceitos, Estigmas e Estereótipos................................17

2.2 Inclusão Escolar: Leis, Declarações e Movimentos Sociais.................................28

2.3 Análise do Discurso..................................................................................................36

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................42

3.1 Metodologia de Coleta de Dados............................................................................42

3.2 Metodologia de Análise de Dados..........................................................................44

3.3 Análise dos Dados....................................................................................................47

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................63

5 REFERÊNCIAS.........................................................................................................66

Apêndices........................................................................................................................69

10

1 INTRODUÇÃO

O título e a escolha do tema deste trabalho, referente ao papel do segundo professor

em uma experiência inclusiva, deu-se pela minha experiência como Auxiliar de Ensino para

educando com deficiência, cargo ocupado no ano de 2009, durante seis meses em uma classe

de uma escola básica municipal de Florianópolis/SC.

Muitas dúvidas, perguntas e inquietações surgiram ao longo da prática pedagógica.

Como me posicionar, se o professor da turma não se importa com o aluno com necessidades

educacionais especiais? Sou eu que devo fazer as atividades para este aluno? Será que não

devo colaborar com o processo ensino-aprendizagem dos demais alunos? Será que sou apenas

uma cuidadora? Será que somente neste município que acontece esta confusão?

Apesar de seguir um documento norteador que estabelecia o que um auxiliar de ensino

para educando com deficiência deveria fazer, no cotidiano, as práticas se afastavam do belo

documento norteador. Ninguém sabia ao certo qual era a real função deste profissional,

porque se tratava de uma função nova como a inclusão escolar, sendo que a peça chave desta

função também era recente.

É possível acrescentar a toda esta confusão de papéis, a escassa literatura que se tem

sobre este profissional, o segundo professor, função esta tratada nesse trabalho. Além da falta

de esclarecimento sobre o conceito de inclusão escolar e da também Educação Especial, que

de maneira ou outra, está atrelada a esta “inclusão”.

Por todos estes questionamentos citados acima, e por conviver com um aluno com

necessidades educacionais especiais, inicialmente, desmotivado e irritado e, que no decorrer

do semestre, demonstrou que tinha vontade de aprender a ler o mundo. Estes motivos me

impulsionaram para que investigasse outra realidade do papel do segundo professor em uma

escola estadual do município de São José em uma experiência inclusiva.

Optar por uma escola da rede estadual de ensino fez-se presente pela curiosidade em

saber também como se dava a prática entre este professor e o professor de sala: Planejariam as

aulas juntos ou cada um faria seu trabalho isoladamente?

Além disso, procurei investigar o fundamental, o papel do segundo professor frente à

experiência inclusiva com alunos que apresentam necessidades educacionais especiais em

uma escola estadual do município de São José/SC.

11

1.1 Justificativa

Outrora, as pessoas com alguma deficiência eram mortas ou abandonadas como na

Grécia e em algumas comunidades indígenas, ou isoladas em asilos desde o nascimento. Estas

pessoas eram (e são) estigmatizadas por suas diferenças, ou seja, eram vistas de forma

negativa. Para estas sociedades, as famílias, em que alguma pessoa com deficiência nascia,

tinham sua reputação e seu nome “manchados” se as demais pessoas de seu convívio social

soubessem desse fato. Por este motivo, as pessoas com deficiência até pouco tempo eram

enclausuradas em suas casas ou somente frequentavam as escolas especiais, visto que o que

fugia do padrão era inaceitável.

Ao longo dos anos, com a movimentação de grupos minoritários e com a implantação

da Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada em 1948 pela Organização das

Nações Unidas (ONU), as pessoas com deficiência passaram a ter visibilidade. Assim, a

sociedade não poderia mais segregá-las, e incluí-las deixou de ser somente uma opção e

passou a ser o reconhecimento de um direito previsto em lei.

Algumas tentativas de efetivar as propostas e os estudos realizados acerca do tema

foram realizadas. A educação, uma das instâncias mais relevantes, assegurada pelo Estado,

também foi contemplada com o movimento de pertencimento das pessoas com necessidades

educacionais especiais. Assim, a proposta de inclusão, neste caso, no âmbito escolar, foi

inicialmente nomeada de “integração”.

Entende-se por integração a inserção pura e simples das pessoas com necessidades

educativas especiais, sem que haja nenhuma adaptação específica do contexto para o

desempenho de tais atividades, utilizando-se para isso somente os recursos

previamente disponíveis. (GUEBERT, 2007, p.35)

O aluno com deficiência frequentava a escola regular se pudesse acompanhar o

currículo e a metodologia adotada pela instituição, ou seja, com o fracasso evidente, o aluno

iria para uma classe especial/atendimento educacional especializado, seria matriculado em

uma escola especial ou sairia do estabelecimento educacional. A escola não se

responsabilizava pelo processo de ensino e aprendizagem deste aluno. Sendo assim, ele se

manteria na instituição por esforço próprio. Dessa forma, o que efetivamente ocorria era a

permanência do aluno em sala de aula, porém permanecia esquecido e invisível, o “mais um”

do grupo escolar.

Esse fato, normalmente ocorre porque o aluno com necessidades educacionais

especiais não é visto como “capacitado” em participar das aulas como os demais colegas. Ele

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somente está inserido “no grupo”, mas não está “com o grupo”. Desse modo, o aluno não faz

parte da turma, dos alunos que devem fazer parte do processo.

Leis, declarações, diretrizes em nível nacional e estadual foram (e são) criadas para

assegurar os direitos e a efetiva inclusão das pessoas com deficiência e com necessidades

educacionais especiais. Uma delas, a destacar é a Declaração de Salamanca.

Em 1994, na Espanha ocorreu um encontro em que se elaborou um documento que

assegurava os direitos educacionais das pessoas com necessidades educacionais especiais.

Segundo GUEBERT (2007), até o momento, esta se constitui como suporte pedagógico para

garantir a igualdade de oportunidades.

Em âmbito nacional, é possível elencar algumas leis que contemplam o atendimento

das pessoas com necessidades educacionais especiais, preferencialmente, na rede regular de

ensino público e gratuito. Dentre outras podemos destacar: Estatuto da Criança e do

Adolescente (1990), Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 96) nº4,

024/61, Art.58 a 60, Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação

Inclusiva (2008) relacionado à função do segundo professor e outras nomeações, Resolução

CNE/CEB nº2, de 11 de setembro de 2001- Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na

Educação Básica. E a Lei nº 7.853/89, segundo a qual se negada a matrícula, a instituição será

penalizada.

Buscando analisar um recorte das Escolas Estaduais de Santa Catarina localizadas no

município de São José a respeito da inclusão, algumas leis, neste âmbito em particular, são

importantes para compreender como se configura a estrutura das escolas estaduais em relação

à Educação Especial e ao processo inclusivo nas escolas regulares, a destacar: Resolução

Estadual nº112/2006/CEE/SC (função de segundo professor), Proposta Curricular de Santa

Catarina de 1998 (Educação Especial) e Política de Educação Especial Estado de Santa

Catarina (2006).

A partir dessas leis vigentes em âmbito nacional e estadual que vêm ao encontro da

perspectiva da Educação Inclusiva que postula a igualdade de direito a todos, reconhecendo

os limites de cada educando, e que propõe mudanças nos currículos e práticas pedagógicas.

Segundo Mantoan apud Belo e Gaio (2007), o paradigma da inclusão surge para

aprimorar a Educação Escolar, beneficiando os alunos com ou sem deficiência, a partir de

uma pedagogia focada no educando , reconhecendo suas diferenças, explorando suas

potencialidades e propiciando oportunidades de vivências cognitivas e sociais para todos.

13

Entretanto, com um olhar mais atento e crítico em relação à teoria e a prática, ou seja,

as leis e a sua aplicabilidade e, alguns estudos acerca da Inclusão Escolar e do aprendizado

das crianças com necessidades educacionais especiais e a vivência em sala de aula percebe-se

que, raramente ocorre a efetiva inclusão, apresentada de forma tão flórea em alguns estudos.

A Educação Inclusiva1 descrita nas leis está vinculada à Educação Especial, e não

apresenta foco inclusivo, porque é “exclusiva”, ou seja, “especial” (grifos da autora) para um

público específico. Em algumas leis analisadas, identifica-se a proposta de que a pessoa com

deficiência e necessidades educacionais especiais tenha atendimento educacional

especializado por professores habilitados em Educação Especial em classe regular ou um

instrutor, tradutor/intérprete, monitor, cuidador, auxiliar de ensino ou um segundo professor

que deve acompanhar o aluno com deficiência em sala e auxiliá-lo a “integrar se” com a

escola.

No âmbito estadual, para a admissão de um aluno com deficiência ou necessidades

educacionais especiais em classe regular, é obrigatório apresentar um parecer técnico da

Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE).

Diante deste contexto, pode-se perceber que o aluno com necessidades educacionais

especiais, somente é integrado à escola comum, entretanto permanece todo aparato da

Educação Especial para que seja possível esta permanência. Assim, é possível observar a

confusão sobre os alunos que devem frequentar a Educação Especial e Educação Inclusiva.

A Educação Especial nacional é um apêndice da Escola regular, visto que não é

apresentada no Projeto Político Pedagógico das escolas, serve como apoio ou “uma escada”

na falsa perspectiva de inclusão, assumindo um papel clínico e assistencial, ou seja,

disponibilizando suporte através de seus serviços especializados para algo que não

corresponde a esta educação de pessoas com necessidades educacionais especiais.

Segundo Pereira (2008), espera-se por fórmulas mágicas vinda de apoio ou assessoria

de profissional de saúde. Assim, muitas vezes, o professor deixa que a questão clínica supere

o pedagógico, patologizando algo que, teoricamente, não consegue solucionar. O professor

acaba concluindo que a tarefa de educar o aluno com necessidades educacionais especiais não

é sua função, porque o aluno a seu ver é “doente”. Desse modo, o professor se exime de sua

1 Refiro-me a Educação Especial como a educação para pessoas com deficiência impossibilitadas de

frequentarem a escola regular por terem desenvolvimento cognitivo comprometido e a necessidade de

acompanhamento especializado. Enquanto, a Educação Inclusiva parte do pressuposto da “educação para todos”,

desde os alunos com dificuldades no aprendizado até os alunos com necessidades especiais.

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responsabilidade e compromisso, assim o aluno dificilmente volta para o ensino regular,

retornando ao círculo de exclusão, como afirma Silva (2008).

Deste modo, é importante analisar as funções da Educação Especial dentro da Escola

Regular nas classes comuns, especialmente as competências e responsabilidades dos

profissionais que permanecem em sala de aula diretamente com os alunos, inclusive o

segundo professor.

Os profissionais da educação deveriam realizar o exercício de análise da sua prática

pedagógica bem como a discussão com outros professores sobre o cotidiano em sala de aula,

que colabora para a (re) construção de paradigmas educacionais em relação à educação para

todos. Assim, com criticidade poderiam verificar como a prática desconstrói a teoria/lei

rebuscada e ligeiramente confusa em relação à Educação Inclusiva de pessoas com

necessidades educacionais especiais.

A partir da questão norteadora do presente estudo foi analisada a prática de dois

professores da classe regular e segundo professor 2 de uma Escola Estadual do município de

São José em uma classe dos anos iniciais. Tal análise teve o intuito de se verificar qual o

papel do segundo professor de uma instituição de ensino estadual em uma experiência

inclusiva.

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Analisar a prática educativa dos professores envolvidos com alunos com necessidades

especiais em uma escola pública estadual.

1.3.2 Objetivos Específicos

Perceber como se dá a relação de trabalho entre segundo professor e professor regente.

2 Nas séries iniciais do Ensino Fundamental, o segundo professor, preferencialmente habilitado em Educação

Especial, tem por função correger a classe em parceria com o professor titular. Nas séries finais do Ensino

Fundamental, o segundo professor de classe terá como função apoiar o professor regente no desenvolvimento

das atividades pedagógicas.

15

Analisar se os professores acreditam que sua prática se apoia na Inclusão Escolar.

Investigar a estrutura que a escola comporta para a integração/inclusão do aluno com

necessidades educacionais especiais.

Verificar como o segundo professor avalia a sua contribuição para o processo ensino e

aprendizagem.

Analisar o que está por detrás dos discursos dos professores entrevistados no que se

refere às questões legais da inclusão.

1.4 Identificação do Problema de Pesquisa

Com a matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais, em maior

quantidade nas escolas regulares, após a contemplação do processo de inclusão escolar, foram

necessárias, certas adaptações nas instituições de ensino em suas classes comuns.

Dentre essas modificações, pode-se destacar a contratação de instrutores,

tradutores/intérpretes, monitores, cuidadores, auxiliares de ensino ou segundo professor com a

proposta de efetivar a inclusão escolar destes alunos.

A Rede Estadual de Ensino do Estado de Santa Catarina autoriza a contratação do

segundo professor para turmas com grande número de alunos ou que tenham alunos com

necessidades educacionais especiais em sala. Porém, entre os professores, participantes do

processo educativo, discute-se ou se avalia (no murmúrio) o papel do segundo professor em

sala de aula. É responsabilidade dele ensinar ao aluno com necessidades educacionais

especiais? Ele é um cuidador da Educação Especial?

Observa-se que alguns professores de turma se afastam do ensino de alunos com

necessidades educacionais especiais por se considerarem incompetentes para lidar com a

turma heterogênea, ou seja, com alunos diferentes.

Os professores de ensino regular consideram-se incompetentes para lidar com as

diferenças nas salas de aula, especializados sempre se distinguem por realizar

unicamente esse atendimento e exageram essa capacidade de fazê-lo aos olhos de

todos (MANTOAN Apud MACHADO, p.95, 2009)

Assim, colocam a responsabilidade da educação aos segundos professores, contratados

também para a inclusão escolar do aluno com necessidades educacionais especiais.

16

Apesar de existir um documento que norteia esta função, por ser nova e ainda

permeada pelos conceitos das funções de auxiliar de sala (presente na educação infantil) e

cuidador (remete aos cuidados de uma babá), a função na prática diária de aprendizagem dos

alunos ainda é discutida.

Nenhum profissional sabe ao certo qual é a função real do segundo professor, uma vez

que esta não é esclarecida no momento da contratação deste profissional, nem a ele, nem a

todos seus colegas de trabalho, qual é sua função perante a prática de ensino e a aprendizagem

dos alunos. Isso leva estes profissionais contratados a serem auxiliares de sala ou cuidadores.

A confusão do papel do segundo professor é alimentada por alguns profissionais da

educação, dentre eles os próprios professores, que acreditam que o segundo professor somente

deve cuidar e educar o aluno com necessidades educacionais especiais, deixando os demais

alunos a cargo do professor de classe.

Este processo de “deixar de ser” e “vir a ser” professor tanto quanto o professor da

classe, em meio a este turbilhão de conceitos, somado a experiência de inclusão, provocou-me

interesse pela problemática.

A falta de esclarecimento dos professores de turma e dos próprios segundos

professores sobre a inclusão escolar, sobre o papel do segundo professor e da ideia de

incompetência de alguns professores em lidar com diferenças na sala também contribuíram

para a pesquisa.

Por esses elementos destacados, a questão norteadora deste trabalho busca, através do

estudo de caso, identificar se o segundo professor contribui no e para o processo de inclusão.

É possível dizer que uma escola da rede estadual de ensino localizada no município de

São José no primeiro semestre do ano corrente (2010) tem experiência inclusiva porque

possui um 2º professor?

17

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Educação Especial: preconceitos, estigmas e estereótipos

Um modelo, a diferença, o rótulo, a discriminação: o caminho do indivíduo que não

segue o padrão estipulado pela sociedade.

O modelo padrão está presente em todos os aspectos da vida humana. Os padrões

estabelecidos vão desde a norma padrão da língua portuguesa brasileira que alguns

veneradores da gramática acreditam que é dever de todos os brasileiros utilizarem em seus

discursos, mesmo sabendo-se que o país tem variações lingüísticas; até o modelo ideal de

corpo determinado pelo mundo da moda, das revistas e da mídia em geral, que instiga

pessoas de biótipos, estruturas corporais diferentes a buscarem ideais de beleza que

dificilmente irão alcançar.

Quem determina o ideal e a partir de que padrões? Por que o cabelo crespo é ruim

para alguns, e o cabelo liso é melhor? Por que os olhos azuis são mais bonitos que os olhos

castanhos? Por que o azul é para os meninos e o rosa para as meninas? Por que uma criança

com deficiência precisa estar em uma escola especial?

Muitas questões emergem da análise dos discursos inculcados no decorrer dos anos,

os quais são tomados por verdades irrefutáveis. Entretanto, não são todas as pessoas que

promulgam esses padrões, mas a classe social que está no poder em determinado momento

histórico.

Tais normas, modelos e padrões estabelecidos se referem à ideologia presente em

todos os aspectos sociais estipulados pela classe dominante. Sendo assim, o indivíduo que

não pertence ao modelo padrão da sociedade é estigmatizado e excluído como acontece com

as pessoas com deficiência.

Segundo Nascimento (2007, p. 4), na Antiga Grécia, as pessoas com deficiência

eram mortas ou abandonadas em montanhas. Em Roma, essas pessoas eram jogadas no Rio

Tibre. Alguns séculos depois, na Idade Antiga, as pessoas com deficiência eram associadas a

forças sobrenaturais ou malignas. No início do século XIX, a Igreja Católica que exercia um

grande poder na sociedade adotou a idéia de remodelagem e recuperação das pessoas com

deficiência através do exorcismo.

18

No mesmo século, com o avanço da ciência médica e o estudo das deficiências, é

estabelecida a visão clínica sobre a deficiência. Asilos, centros de reabilitação, manicômios e

medicamentos proliferam e tornam as pessoas com deficiência, “prisioneiras” segregadas do

meio social.

Pessoas com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e com altas

habilidades eram remanejadas, em sua grande maioria, para instituições de Educação

Especial.

Inicialmente, era atribuída a estas instituições a assistência de crianças, jovens e

adultos em caráter de zelo e não de educação. Algo não tão distinto ainda ocorre: as

instituições se baseiam na abordagem clínica e assistencial, e utilizam em suas propostas de

ensino, métodos de abordagem tecnicistas cuja avaliação é definida pela memorização dos

conteúdos compactos como o que está exposto na Proposta Curricular do estado de Santa

Catarina de 1998.

A Educação Especial na Proposta Curricular citada acima é um tema transversal de

todas as modalidades de ensino. Porém, a Educação Especial, neste documento como em

outros de âmbito nacional e estadual, é vista como um recurso da Educação Inclusiva na

escola regular sendo que a primeira tem propostas totalmente distintas desta. Sendo assim,

para que ocorra a compreensão de alguns aspectos da Educação Especial, é necessário, a

priori, destacar alguns pontos relevantes da trajetória desta modalidade de ensino baseado em

obras de Dota e Alves (2007) e Mazzotta (2005).

Segundo os autores Mendes e Bueno (apud. Dota e Alves, 2007:3) o grande marco

inicial da Educação Especial no Brasil foi a construção do Imperial Instituto dos Meninos

Cegos (hoje, Instituto Benjamin Constant) e Imperial Instituto dos Surdos - Mudos (hoje,

Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES) em 1854 e 1857, respectivamente.

Fundados por D. Pedro II, tais institutos inspirados em modelo parisiense estavam localizados

na cidade do Rio de Janeiro.

A diferença é que as instituições cariocas eram de caráter assistencialista, ou seja,

utilizavam sua política de “favor” como Dota e Alves (2007) afirmam, enquanto as

instituições parisienses conservavam tais locais como oficinas de trabalho.

Apesar do caráter assistencialista de tais instituições, poucas pessoas com deficiência

visual e auditiva foram favorecidas por esse movimento. De acordo com Mazzotta (2005),

trinta e cinco pessoas cegas e dezessete pessoas surdas eram atendidas no ano de 1872 em

meio à população de 15.848 cegos e 11.595 surdos. Afinal, quem frequentava esses institutos?

19

Os filhos da classe elitista frequentavam as instituições brasileiras e talvez foram

também alunos de renomados institutos internacionais, como é o caso de José Álvares de

Azevedo, nome importante relacionada à fundação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos,

um dos alunos do Instituto dos Jovens Cegos de Paris. Segundo Mazzotta (2005) José Álvares

de Azevedo chamou a atenção e o interesse do ministro do Império conselheiro Couto Ferraz

por ter alcançado sucesso na educação de Adélia Sigaud, filha do Dr. José F. Xavier Sigaud,

médico da família imperial. Com a influência do então ministro, D. Pedro II criou o instituto.

É notável, desde o Período Imperial, a omissão com a democratização do ensino:

processo político, produto do descompromisso histórico do Estado que favorecia os interesses

da classe dominante, segundo Dota e Alves (2007).

Em 1874, teve início a assistência às pessoas com deficiência intelectual, atendendo a

população do estado baiano. O Hospital Estadual de Salvador (hoje, Juliano Moreira) foi

construído para atender as pessoas com tratamentos psiquiátricos. Em alguns casos, as

pessoas surdas e cegas eram isoladas em institutos sem que houvesse a necessidade de

interná-los. Reportando ao século passado, a situação se aproximava da falta de

conhecimento, muito bem explicitado em alguns trechos do filme “E seu Nome é Jonas” (And

your name is Jonah - TV Film, USA, 1979).

O longa-metragem conta a história de um garoto surdo que foi retirado do convívio

familiar para ser internado em uma clínica por ser rotulado como “louco” até o momento em

que sua mãe consegue reverter a situação. A história traz à tona, situações semelhantes que

ocorrem em séculos diferentes, século XIX e final do século XX, independente dos

movimentos a partir da revolução industrial, científica, cultural e social que ocorreu ao longo

deste período.

Com a proclamação da República, a Educação Especial se expandiu de forma lenta,

mas as instituições foram criadas com intuito de atender somente os casos mais graves.

A instauração do federalismo ressaltou a responsabilidade da política educacional com

a educação das pessoas com deficiência. Na área médica, os serviços de higiene mental e

saúde pública iniciaram a patologização e a segregação. Porém, o que se percebe é que

somente pelo interesse de segregar as pessoas com deficiência do ambiente escolar que estava

sendo expandido, ocorre o empenho da área médica (MAZZOTTA, 2005).

Segundo Bueno apud Dota e Alves (2007), a partir deste contexto foi criada em 1911,

São Paulo, a inspeção médica-escolar, responsável pela criação de classes especiais e

formação de pessoal para trabalhar com esta clientela.

20

Desde o início do século XX até o final da década de 50, houve um aumento

considerável no número de instituições que passaram a atender as pessoas com deficiência.

Entre essas Instituições particulares e filantrópicas conforme Mazzotta (2005) destacam-se:

- Associação a Assistência à Criança Defeituosa - AACD (SP, 1950).

- Instituto Santa Terezinha (SP, 1929)

- Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais (MG, 1935)

- União dos Cegos no Brasil (RJ, 1924)

- Fundação para o Livro do Cego no Brasil (1946, SP)

- APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (1954, RJ)

Conforme o documento de Política de Educação Especial de Santa Catarina (2009), a

criação no século XX da National Association for Retarded Children – NARC/EUA, nos

Estados Unidos, exerceu forte influência em vários países e inspirou o Brasil a criação da

Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE, que foi instituída, em 1954, na

cidade do Rio de Janeiro.

Não obstante, a criação de inúmeras instituições para pessoas com deficiência, o

empenho dos pais também se fez presente, e a sociedade Pestalozzi, ao lado da APAE, abriu o

caminho na busca por uma sociedade igualitária.

Os movimentos sociais mobilizados para a inclusão social se fizeram presentes e

representativos, dando um passo muito importante para assegurar o direito a ter direitos. Para

culminar esses movimentos, em 1948 ocorreu a implantação da Declaração Universal dos

Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Entre as décadas de 30 e 40, ocorreu a devastadora segunda Guerra Mundial. Após o

seu término, houve uma maior preocupação com feridos de guerra e notável acréscimo de

atendimento de reabilitação. Os participantes da guerra adquiriram vários tipos de deficiência.

Foi necessária uma catástrofe se abater sobre alguns países para que as pessoas cressem na

capacidade das pessoas com necessidades especiais, ou seja, assim como os participantes da

guerra foram lembrados pelo seu esforço em defender a sua nação, as pessoas com

necessidades como estes seriam úteis aos seus países também (WERNECK apud.

MAZZOTTA, 2005).

No Brasil, entre 1948 e 1961, medidas como a criação dos Conselhos Estaduais de

Educação e cooperação financeira, por lei, às escolas privadas, contribuíram para a Educação

Especial.

21

Em 1950, foi instalada no estado paulista, a primeira classe em escola regular de

Braile em caráter provisório, oficializada somente em 1953. No mesmo estado, em 1955, foi

autorizado pelo governo um curso de Especialização para o ensino de pessoas cegas no

Instituto de Educação Caetano dos Campos com duração de um ano.

O atendimento educacional às pessoas com deficiência foi assumido, em nível

nacional, pelo Governo Federal. Já em 1958, o Ministério da Educação começa a prestar

assistência técnico-financeira às secretarias de educação e instituições especializadas (DOTA

e ALVES, 2007).

As discussões políticas se intensificam e mudanças estruturais ocorrem em relação à

Educação Especial, através das campanhas promovidas pelo governo, que de acordo com

Mazzotta (2005) se destacam:

- Campanha para Educação do Surdo do Brasil (1957).

- Campanha Nacional de Educação dos Cegos em 1960(subordinado ao Ministério de

Estado da Educação e Cultura).

- Campanha Nacional de Educação e reabilitação de Deficientes Mentais (1960).

Em 1960, o Plano Nacional da Educação assegura recursos através do Fundo Nacional

do Ensino Primário para a educação das pessoas com deficiências (rotuladas neste caso como

“excepcionais”) e bolsas de estudos preferencialmente para assistir crianças com deficiência.

Desse modo, com algumas campanhas realizadas e leis promulgadas na ordem educacional “a

favor” das pessoas com deficiência surge o movimento de integração escolar que de acordo

com Blamires (apud MACHADO, 2009) envolve preparar os alunos para serem colocados nas

escolas regulares, o que implica um conceito de “prontidão” para transferir o aluno da escola

especial para a escola regular.

A integração escolar postulava que o aluno deveria se adequar a escola, ou seja, o

aluno é responsável pelo seu sucesso ou fracasso escolar. Assim sendo, o aluno permanece na

sala de aula, mas não participa “com” os demais alunos. Ele está na escola, mas não “com” a

escola (grifos da autora).

No decorrer do processo de integração, o aluno com necessidades educacionais

especiais evade e volta à escola/classe especial ou permanece na escola com o apoio de um

profissional especializado retomando a algo semelhante às instituições de Educação Especial

com o atendimento educacional especializado, sendo que a dificuldade que o aluno tenha, é de

22

responsabilidade do Ensino Regular e não da Educação Especial. Deste modo, a integração

escolar se inicia, porém seu ápice somente ocorre nos anos 80.

Um ano depois, 1961, após treze anos de espera, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da

Educação) foi promulgada.

A Reportagem da revista VEJA de 1971 (citada no artigo A legislação da Educação

Especial no Brasil - de Capanema à LDB/61) comenta sobre o ministro Capanema, o

responsável pelo engavetamento do projeto da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional e a espera de treze anos para a reformulação da educação básica. Episódio que fez

com que as idéias da LDB se tornassem inadequadas para o ano em que foi promulgada.

Embora tenha ocorrido a integração da Educação Especial ao sistema regular de ensino, pode-

se perceber a quase inalterada proposta em relação à Educação Especial:

Art.88-A educação dos excepcionais deve, no que for possível, enquadrar-se no

sistema geral da educação a fim de integrá-los na sociedade.

Art.89-Toda iniciativa privada considerada eficiente pelos Conselhos Estaduais de

Educação, e relativa à educação de excepcionais receberá tratamento especial

mediante bolsa de estudo, empréstimos e subvenções.

Sendo assim, a responsabilidade da Educação Especial passou a ser de

responsabilidade do Estado e a iniciativa privada, o compromisso pela criação e gestão das

instituições, ou seja, o compromisso do atendimento aos “excepcionais”.

Tratando da responsabilidade do Estado na Educação Especial, não se deve esquecer a

contribuição do estado de Santa Catarina na história da educação nacional. Além da criação

da Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE), um dos institutos mais bem

renomados do país amparado por instrumentos legais e normativos da Educação Especial

Estadual.

Desse modo, é importante destacar o desenvolvimento da Educação Especial no estado

conforme o documento da Política da Educação Especial de Santa Catarina (2009).

No decorrer dos anos, no âmbito nacional e mundial ocorreram vários movimentos em

prol a integração/da pessoa com deficiência e políticas públicas legisladas, o que viabilizou o

desenvolvimento da Educação Especial. Porém, muitas pessoas com deficiência não

frequentavam essas instituições ou classes especiais.

Assim, em 1984, o Conselho Estadual da Educação estabeleceu normas para a

Educação Especial promovendo a expansão das classes especiais nas escolas regulares para

receber a demanda de alunos. Também foram implantadas as salas de multimeios nas escolas,

para atender as necessidades dos alunos com deficiência sensorial.

23

Conforme a Proposta Curricular de Santa Catarina, em 1987, ocorreu a reformulação

do sistema estadual de ensino que garantiu a efetivação da política de integração da pessoa

com necessidades educacionais especiais na rede de ensino regular, a partir da matrícula

compulsória. A palavra compulsória significa obrigatória, portanto a matrícula compulsória

significa matrícula obrigatória para as pessoas com necessidades educacionais especiais na

rede de ensino regular estadual.

A partir de 1989, em âmbito nacional, com a lei nº7853/89, é estabelecida a oferta

obrigatória e gratuita da Educação Especial em estabelecimentos públicos de ensino. Além de

nomear como crime punível e reclusão de quatro anos a recusa em matricular e suspender sem

justa causa alunos que apresentavam algum tipo de deficiência, segundo Guebert (2007).

Entretanto, no mesmo ano, um grande número de crianças em idade escolar estava

fora das escolas e a Secretaria Estadual de Educação estabeleceu o plano de ação para o

quadriênio 1988-1991 que garantia a escolarização básica para todos dessa faixa etária.

Segundo o Plano de Educação Especial de Santa Catarina (2009), foram estabelecidas

cinco diretrizes, quanto ao atendimento de crianças com deficiência:

1 - Acesso ao ensino regular de educandos com deficiência, assegurado pela matrícula

Compulsória.

2 - Permanência mediante a expansão das modalidades alternativas de atendimento (salas de

recursos para deficientes sensoriais, salas de apoio pedagógico para o deficiente mental leve e

salas de atendimento alternativo para deficientes mentais moderados, severos e profundos, nas

localidades onde não houvesse escolas especiais).

3 - Descentralização administrativa com a implementação das equipes regionais de Educação

Especial.

4 - Reorganização curricular para a elaboração da proposta curricular do Estado.

5 - Pesquisa e extensão para a capacitação de educadores e desenvolvimento de ajudas

técnicas.

Apesar da implantação dessas diretrizes, o plano de ação não teve sucesso. Problemas

ocorreram por vários motivos, dentre eles: a reorganização administrativa da Secretaria

Estadual da Educação que comprometeu a descentralização pelo fato da extinguir as Unidades

de Coordenação Regional de Educação – UCREs, a inexistência da modalidade da Educação

Especial na Proposta Curricular do Estado de 1991 e a rotatividade de professores.

Desde 1991 até o ano de 2006, o governo estadual juntamente com outras instituições

estaduais e nacionais legislou políticas públicas educacionais como a Resolução nº 01 do

24

Conselho Estadual de Educação – CEE, que fixou as normas para a Educação Especial no

Sistema de Ensino e, em 1998, publicou os cadernos da Proposta Curricular que definiram a

concepção de educação adotada pelo Estado. A Proposta Curricular de Santa Catarina de 1998

em seu caderno definiu a Educação Especial como a modalidade de ensino transversal em

todas as etapas e níveis.

Em 2001, o Estado de Santa Catarina elaborou o documento “Política de Educação

Inclusiva” (SANTA CATARINA, 2001), fundamentado nos princípios constitucionais da

cidadania, democracia e participação social, visando à educação pública, gratuita e de

qualidade a todos, como trata o Plano de Educação Especial de Santa Catarina (2009).

Já em 2005, a Proposta Curricular de Santa Catarina, em sua 3º edição, foi

reformulada, porém em relação à Educação Especial como tema multidisciplinar, não sofreu

alterações.

A Resolução Estadual nº112/2006/CEE/SC estabeleceu as normas para a Educação

Especial no sistema estadual de ensino, tratava a modalidade de Educação Especial como a

que, “demanda um conjunto de procedimentos e recursos específicos que visam ao ensino, à

prevenção, à reabilitação e à profissionalização das pessoas com deficiência, condutas típicas

e altas habilidades”.

A Política de Educação Especial do Estado de Santa Catarina oficializada no mesmo

ano (2006), não esquivou do modelo de inclusão, estabelecendo como objetivo garantir o

”atendimento educacional através do qual possam desenvolver suas potencialidades para que

sejam percebidas pelo outro e por si mesmas como sujeitos de direitos”. Em âmbito nacional,

o decreto nº93613 de 21 de novembro de 1986, o CENESP foi renomeado: Secretaria de

Educação Especial - SESPE. No mesmo ano é criada a Coordenadoria Nacional para

Integração da Pessoa com Deficiência - CORDE.

O Estatuto da criança e do adolescente (ECA) legislado em 1990 no governo de

Fernando Collor assegura a educação, saúde, moradia, lazer e outros aspectos às crianças e

aos adolescentes. Em relação à educação para alunos com deficiência, no capítulo IV - Do

Direito à Educação, a Cultura e ao lazer, Artigo 54, é dever do Estado, assegurar à criança e

ao adolescente o atendimento educacional especializado para portadores de deficiência

preferencialmente na rede regular de ensino. Elemento estabelecido igualmente nos artigos

direcionados a este público na LDB 9394/96.

No mesmo ano ocorre a Conferência Mundial de Educação para Todos em Jomtiem,

Tailândia, onde foram estabelecidos os objetivos para a satisfação das necessidades básicas de

25

aprendizagem. Declaração em que no seu preâmbulo remete a Declaração Universal dos

Direitos Humanos e à luta pelo cumprimento do direito de todos à educação.

Entretanto, apesar dos movimentos para assegurar os direitos elementares do cidadão

mundial, a declaração apresenta: analfabetismo maior entre o sexo feminino, a inexistência de

acesso ao conhecimento impresso, as tecnologias e novas habilidades por milhares de adultos

e crianças que não conseguem completar o ensino básico e os que conseguem concluí-lo não

adquirem as habilidades e conhecimentos essenciais.

Trata, também, dos problemas que impossibilitam os esforços para assegurar a

educação para todos e do crescimento econômico de alguns países, o que possibilitou o

investimento no aspecto educacional, mas sem a expansão da educação para todos. O

documento está dividido em dez artigos e somente no penúltimo parágrafo (1º documento) o

trabalho com pessoas com deficiência é citado, de maneira indireta:

[...] Não há modo mais significativo do que este para iniciar o Ano Internacional da

Alfabetização e avançar rumo às metas da Década das Nações Unidas para os

Portadores de Deficiências (1983-1992), Década Internacional para o

Desenvolvimento Cultural (1988-1997), Quarta Década das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (1991-2000), Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas

de Discriminação contra a Mulher e Estratégias para o Desenvolvimento da Mulher,

e da Convenção sobre os Direitos da Criança [...].

Cláudia Werneck (2008), percussora da Educação Inclusiva, discorda da importância

desta declaração pelo motivo de que em nenhum momento ser citada a questão das pessoas

com necessidades educacionais especiais. Somente em outro artigo citam que pessoas com

necessidades educacionais especiais devem estar inseridas.

Para Werneck (2008), a não veiculação do último artigo com o primeiro denota o

enfraquecimento e consequente esquecimento deste segmento social. Também ressalva que a

declaração trata da inserção dos alunos com necessidades educacionais especiais no “sistema

geral de ensino” não especificando em qual modalidade.

Usando as palavras de Werneck (2008), em uma entrevista em que coloca a questão de

qual declaração é mais importante para o movimento da inclusão escolar, Salamanca ou

Educação para Todos, “[...] se você fala em "sistema de ensino", pode estar falando de classes

especiais. E classes especiais não é inclusão. Devido a estes motivos, reconhece a importância

da Declaração de Salamanca.

A Declaração de Salamanca oficializou o termo inclusão no campo educacional. O

documento foi elaborado no encontro realizado na Espanha em 1994. A declaração assegura

os direitos à educação das pessoas com “necessidades especiais”.

26

A reformulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) ocorrida

em 1971, na Lei nº5692, que fixou diretrizes para o ensino de 1º e 2º grau (ensino

fundamental e ensino médio). Esta lei não apresenta mudanças em relação à Educação

Especial comparada a LDBEN anterior.

Segundo o documento de Política Nacional de Educação Especial, na perspectiva da

Educação Inclusiva (2008), esta lei, ”não promove a organização de um sistema de ensino

capaz de atender as necessidades educacionais especiais e acaba reforçando o

encaminhamento dos alunos para as classes e escolas especiais”. Somente na LDBEN de

1996, promulgada no governo de Fernando Henrique Cardoso ocorrem essas mudanças.

A Educação Especial é tratada no capítulo V nos artigos 58 a 60 na LDBEN (1996)

como a modalidade de ensino que deve ser oferecida, preferencialmente na rede regular de

ensino para alunos com necessidades educacionais especiais. As transformações iniciam na

Educação Infantil com as Creches e Pré-Escolas incluídas ao sistema de ensino geral, como a

primeira etapa da Educação Básica Brasileira.

Em 1999, a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, mais conhecida como Convenção

de Guatemala (1999), postula o banimento de todas as formas de discriminação contra as

pessoas com necessidades educacionais especiais e o apoio a integração no meio social, além

de conceituar os termos deficiência e discriminação.

Dois anos depois, no Brasil, a resolução CNE/CEB nº2, de 11 de setembro de 2001-

Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica instituiu normas para a

educação de alunos com necessidades educacionais especiais na Educação Básica em todas as

etapas e modalidades.

A Política Nacional de Educação Especial, na perspectiva da Educação Inclusiva

(2008), em meio à luta das classes minoritárias para a efetiva inclusão e respeito a seus

direitos adere ao movimento com o objetivo de garantir aos alunos com deficiência,

transtornos globais do desenvolvimento e superdotação/altas habilidades, a inclusão escolar,

por meio de acesso ao ensino regular com participação, aprendizagem e permanência,

capacitação dos professores, a transversalidade da Educação Especial em todos os níveis de

ensino, acessibilidade arquitetônica, entre outros aspectos.

Portanto, para a melhor compreensão dos conceitos referidos neste estudo, ressalta-se

a diferença entre a Educação Especial e a Educação Inclusiva.

27

A Educação Inclusiva realizada na escola regular propõe a “educação para todos”,

sendo que as pessoas com necessidades educacionais especiais sem comprometimento

cognitivo severo são alunos.

A resolução CNE/CEB Nº 2, de 11 de Fevereiro de 2001, em seu Art. 5º trata dos

educandos com necessidades educacionais especiais a partir de:

I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de

desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades

curriculares, compreendidas em dois grupos:.

a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; .

b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências;

II - dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais

alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis;

III - altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que

os levem a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes

Já a Educação especial favorece um grupo de alunos que precisam de atendimento

especializado, como as pessoas com deficiência estas com comprometimento cognitivo.

Assim sendo, a partir do conhecimento dos aspectos que efetivaram a Educação

Especial em instituições especializadas e também no ensino regular, esta última, que está

envolvida diretamente com a inclusão escolar, é imprescindível, compreender os papéis dos

participantes da experiência inclusiva nesta modalidade de ensino para melhor análise das

experiências inclusivas que ocorrem nas escolas estaduais. Dentre estes participantes, será

destacada neste trabalho, a função do segundo professor em uma escola estadual do município

de São José em relação à sua prática na experiência inclusiva de alunos com necessidades

educacionais especiais junto ao professor regente.

28

2.2 Inclusão Escolar: Leis, Declarações e Movimentos Sociais

A inclusão escolar surge a partir de movimentos sociais de familiares e de

simpatizantes da causa das pessoas com necessidades educacionais especiais e com

deficiência. Inicialmente, este movimento buscava oportunidades no mercado de trabalho para

estas pessoas, posteriormente outros aspectos como o escolar se tornaram itens principais da

manifestação pela validação dos seus direitos elementares.

Segundo Guebert (2007) e Mazzotta (2005), a partir de 1948 com a legislação da

Declaração dos Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas (ONU) que as

pessoas com deficiência e necessidades educacionais especiais finalmente foram consideradas

”humanas” por esta declaração. Os autores consideram que o movimento em prol das pessoas

com deficiência, principalmente pelo movimento dos familiares e simpatizantes dessa causa,

teve como primeiro objetivo, talvez o precursor, oportunidades no mercado de trabalho a

estas.

Estes indivíduos permaneceram por muito tempo, enclausurados em clínicas, abrigos

ou casas como o personagem que dá nome ao filme de animação produzido em 1996 pelos

estúdios da Walt Disney, Corcunda de Notre Dame (The Hunchback of Notre Dame) pelo fato

de ser diferente, segundo o padrão comum estabelecido. A diferença é inerente ao ser

humano, sendo que todos são diferentes entre si, mas iguais perante a lei. Não obstante, para

algumas pessoas a deficiência estabelece o indivíduo como um todo. Práticas que denotam os

defeitos das pessoas com deficiência foram estabelecidas também pelos métodos de

investigação da deficiência.

Os métodos de investigação da deficiência quando não eram evidenciados por teste de

Q.I, eram usados métodos também precários como o exemplo dado por Guebert (2007) para

avaliar o desenvolvimento de uma pessoa.

Guebert (2007) cita o exemplo de uma aluna de escola especial que foi levada para

uma avaliação psicopedagógica com o intuito de encaminhá-la ao ensino regular, entretanto,

em função do resultado de uma avaliação motora, retornou para a instituição especializada.

Sua inclusão não foi aceita na classe comum do ensino regular porque quando arremessada

uma bola para a aluna, ela não havia segurado, sendo que esse quesito diminui os pontos para

a promoção do ingresso a escola. O problema de hemiplegia (limitação para essa atividade

física) não foi considerado pelos avaliadores, assim descartando outras possibilidades e

29

habilidades intelectuais. Assim, desvalorizam as potencialidades e supervalorizam a

deficiência.

Inicialmente, segundo Nascimento (2007), essas formas de avaliação da deficiência

eram de enfoque quantitativo e caráter psicológico. Testes como o de Q.I determinavam o

grau de inteligência e insuficiência determinado pela deficiência, porém não estudava as

interações sociais que a pessoa com deficiência estabelecia.

De acordo com os estudos de Vygotsky, conforme Nascimento (2007), que

posteriormente vieram embasar a concepção sócio-interacionista de ensino, o

desenvolvimento da criança se estabelece através da interação dela com o objeto de

conhecimento a partir da mediação de uma pessoa mais experiente, portanto o

desenvolvimento da criança com deficiência não era prejudicado, logo porque não ocorria

alteração na interação desta socialmente.

Com o desenvolvimento de estudos na área, uma nova questão sobre as crianças com

deficiência é apresentada: a criança com deficiência não é menos desenvolvida, mas se

desenvolve de outra maneira. Assim, há o reconhecimento das possibilidades da criança com

deficiência como um ser humano que se desenvolve com aspectos únicos e individuais.

É possível estabelecer uma ligação desta questão trazida por Vygotsky, apud.

Nascimento, com a visão da turma homogênea, também resquício de uma pedagogia

tradicional. Apesar de muitos professores refutarem a idéia da turma heterogênea com alunos

que aprendem de formas e ritmos distintos, o estudioso russo trouxe à tona que a criança com

deficiência aprende, mas de maneira diferente. Assim, todos os alunos, de um modo ou de

outro, com dificuldades ou não, por serem distintos, aprendem de modos diferentes.

Desvinculando de estudos da psicologia que determinava a relação idade X

desenvolvimento, pressupunha que a criança apresentava um desenvolvimento único

determinado pelo meio, estímulo recebido e seu organismo (Nascimento, 2007).

Vygotsky foi um percussor dos estudos de um novo olhar sobre a deficiência ou como

ele mesmo denominava “defeito”.

O termo "deficiência" significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza

permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais

atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e

social. (CONVENÇÃO DE GUATEMALA, 1998)

Nascimento (2007) aborda o estudo de Vygotsky sobre o “defeito”, a defectologia.

Segundo esta concepção, o que é priorizado são as habilidades e não as dificuldades,

30

influenciando diretamente a educação escolar dessas pessoas. Para uma compreensão

abrangente do indivíduo, é necessária uma investigação a respeito da alteração biológica, da

qualidade das suas interações sociais e se teve experiências de aprendizado.

É notável, nessa abordagem, que a deficiência decorre das relações sociais

estabelecidas. Assim, Vygotsky sugere uma diferenciação na deficiência, em dois tipos:

deficiência primária e deficiência secundária.

A deficiência primária tem origem biológica decorrente de lesões orgânicas, cerebrais,

malformações, alterações cromossômicas, ou seja, as características aparentes da pessoa com

deficiência. Enquanto, a deficiência secundária é concebida pelo desenvolvimento que o

sujeito apresenta fundamentado nas suas relações sociais (NASCIMENTO, 2007).

Sendo assim, o modo que a pessoa com deficiência primária se desenvolve está

intrinsecamente ligada à forma como que ocorre sua interação social.

Portanto, conforme Nascimento (2007), a ausência de uma educação escolar adequada

contribui para tal desenvolvimento da pessoa com deficiência, convertendo a deficiência

primária em secundária em certas condições.

O enfoque quantitativo da deficiência determina que o sujeito seja inteiramente

responsável por sua deficiência determinada pelo fator biológico. Assim, denota as

deficiências do indivíduo. Enquanto, a defectologia estudada por Vygotsky considera que a

deficiência possa ser devido às interações sociais que o sujeito estabelece com o meio. Essa

visão reforça as habilidades do sujeito.

É possível relacionar a deficiência às interações sociais segundo Vygotsky,como por

exemplo,um aluno surdo que não se comunica por LIBRAS. Ninguém ensinou a ele a língua

brasileira de sinais, assim em suas relações sociais a voz e alguns gestos eram as únicas fontes

de comunicação. Em meio a alguns alunos ouvintes que sabiam se comunicar fluentemente

por esta língua, ele se tornou um deficiente, porque não havia comunicação entre eles. Por

este motivo, Vygotsky deu ênfase a deficiência secundária motivada pela interação social.

O estudioso russo contribuiu com seus estudos sobre o pensamento e a linguagem,

desenvolvimento proximal e especialmente, a relação entre o desenvolvimento cognitivo que

se dá na interação do indivíduo com o meio a partir da mediação de uma pessoa experiente.

Desse modo, Vygotsky propõe a concepção sócio-interacionista:

Para Vygotsky, a vivência em sociedade é essencial para a transformação do homem

biológico em ser humano. É pela aprendizagem nas relações com os outros que

construímos os conhecimentos que permitem nosso desenvolvimento mental.

(NOVA ESCOLA ON LINE, p.2, 2008)

31

Os estudos de Vygotsky ofereceram aos educadores e estudiosos das ciências sociais a

valorização do conhecimento construído a partir das interações sociais e do desenvolvimento

cognitivo do ser humano.

Devido a estudos como os de Vygotsky e de outros pesquisadores, ademais da luta das

classes minoritárias para o cumprimento dos seus direitos perante a lei, a inclusão social (das

pessoas com deficiência) como um movimento legitimado inicia-se em meados dos anos

oitenta (80), nos Estados Unidos. Neste país, a inclusão social iniciou na perspectiva de

expandir as oportunidades no mercado de trabalho para as pessoas com deficiência.

Com as vagas no mercado de trabalho crescente para pessoas com deficiência, a

sociedade acredita que ocorre a efetiva integração da pessoa. Porém, somente com o emprego,

a pessoa com deficiência, talvez, não desenvolva suas habilidades intelectuais como alguém

que frequente a escola. Assim, para uma efetiva inclusão, a educação também é necessária.

Desse modo, os esforços para o direito a educação destas pessoas não diminuíram.

No Brasil, a valorização e legitimação da Educação Inclusiva iniciaram a partir da

constituição de 1988 com maior ênfase após a Declaração de Salamanca (1994) e a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação (1996).

A educação, como um dos aspectos sociais, também se apropriou do movimento,

nomeado como inclusão escolar. Conforme algumas obras de Mantoan, serão feitas algumas

considerações sobre a inclusão escolar.

A educação brasileira vem a longos anos sendo marcada pela evasão e fracasso escolar

por práticas pedagógicas que não priorizam os conhecimentos adquiridos fora do ambiente

escolar pelos alunos, em sua grande maioria, além da exclusão social de que são vítimas em

todos os seus aspectos, segundo Mantoan (2006).

Estes alunos que são excluídos do processo de escolarização, quando não saem das

escolas, são repetentes e recebem o rótulo de incapazes, preguiçosos ou problemáticos. A

escola para solucionar o problema aposta no encaminhamento para outra escola, outra sala,

psicóloga, instituição de Educação Especial ou reforço. Entretanto, na maioria dos casos, o

encaminhamento, expulsão ou a repetência não resolvem o problema.

Freitas (1998) postula que a escola não reconhecendo a diferença dos alunos, sua

realidade, seu modo de falar e agir utilizando suas atividades descontextualizadas com

métodos ortodoxos contribui para a construção de ignorância da escola, ou seja,dá lugar a

evasão e repetência.

32

O que a escola não admite é que o problema faz parte dela, ou seja, é seu, não do

aluno. A escola para não se responsabilizar do seu fracasso coloca o “problema” na mão dos

especialistas, seus “salva-vidas”. Porém, por meio deles, continua o círculo vicioso da

discriminação dos alunos que ela não dá conta de ensinar como nos diz Mantoan (2006).

A visão de “homogeneidade” dos alunos também é outro fator relevante para a roda

viva da exclusão que ressalta a realidade dos que não querem ver. Trabalhar com um grupo

“homogêneo” se torna mais prático, mas os que não conseguem acompanhar o grupo? Vão

para o encaminhamento. Alguns profissionais creem na dificuldade de terem alunos rotulados

como diferentes em suas salas por não saberem (ou quererem) usar práticas diferenciadas com

todos os alunos.

Para se alcançarem objetivos em uma prática educativa é preciso estar apto a usar

diversos recursos, pois, como se sabe, nem todos os alunos aprendem da mesma maneira.

Assim, não existe uma sala homogênea. Independente de deficiência, alguns aprendem

ouvindo e escrevendo ou escrevendo e vendo alguma imagem, ou seja, aprendem de modos

diferentes. Não aprendendo do modo convencional, isto não quer dizer, que ele não aprenda,

mas aprenda de um modo diferente.

A turma heterogênea é comum, somente pelo fato de todos os indivíduos serem

diferentes, inclusive o educador. Em uma sociedade complexa, inserida em um mundo

globalizado, cheio de diferentes culturas e pluralidade de manifestações intelectuais, sociais e

afetivas, conviver com as diferenças desde os primeiros anos de vida, contribui para o

crescimento intelectual e pessoal dos indivíduos. Que de acordo com Mantoan (2006), incluir

é necessário, primordialmente, para melhorar as condições da escola, de modo que nela se

possam formar gerações mais preparadas para viver a vida em sua plenitude, com liberdade,

sem preconceitos, sem barreiras.

Assim, a inclusão escolar parte do princípio da educação para todos na igualdade de

oportunidades.

Segundo Guebert (2007), a igualdade de oportunidades enfoca a valorização do direito

ao desenvolvimento (emocional, físico e social) e a consideração do indivíduo como um todo,

porém respeitando seus anseios e suas diferenças.

Na concepção transformadora (inclusiva), como trata a autora citada acima, a pessoa é

valorizada por suas habilidades, restando a “deficiência” o papel de característica do

individuo. A pessoa não é a deficiência, assim abandona o aspecto biológico da deficiência,

assumido, muitas vezes, para justificar o desempenho do aluno.

33

Para que aconteça a experiência de inclusão escolar, precisam-se mais do que

mudanças na prática dos professores, mas sim, de toda a comunidade escolar e de outros

aspectos.

A avaliação, nesta perspectiva, é realizada com todos os participantes do processo

ensino aprendizagem, aluno e professor, constantemente. Os pontos positivos e negativos do

processo são vistos de forma geral, não estabelecendo quem é o culpado por algo. Analisam-

se as dificuldades, reflete-se sobre elas e antes de qualquer ação, como reitera Silva (2005),

aprende-se com todo o processo.

Segundo Machado, “a inclusão implica uma reforma radical nas escolas em termos de

currículo, avaliação, pedagogia e formas de agrupamento dos alunos nas atividades de sala de

aula”. (MITTLER apud MACHADO, p. 47, 2009).

O currículo, talvez, seja a instância que dirige a mudança nos demais aspectos como: a

avaliação e a metodologia adotadas pelo professor. Algumas pessoas acreditam que a

mudança do currículo é realizada pelo professor, que este possui autonomia para tanto.

Segundo Rodrigues (2006), ”é a coesão do coletivo “escola” que pode incentivar a confiança

para desenvolver projetos inovadores e permite ao professor assumir riscos”.

Assim sendo, o currículo deve ser flexível, possibilitando alterar, retirar, completar e

criar novos objetivos, contribuindo com a aprendizagem de todos os alunos (GUEBERT,

2007).

Muitos educadores têm receio da educação inclusiva por acreditarem que ela, como

mesmo é definida, deva atender as especificidades de cada aluno, ou seja, crêem que se trata

de um ensino individual.

A educação inclusiva não parte do ensino individual, mas sim de igualdade de

oportunidades a todos. Se um aluno tem atendimento exclusivo, todos os alunos podem ter. A

inclusão escolar deve atender as necessidades educacionais de todos, sendo que a educação é

para todos.

Conforme Rodrigues (2007), o ensino pode ser individual e não considerar as

necessidades do aluno, e ser em grande grupo e atendê-las. Segundo o mesmo autor, a gestão

de uma sala com experiência inclusiva propõe que as situações de aprendizado sejam

adequadas às diferentes características do aluno e do trabalho, possibilitando o

compartilhamento de vários tipos de identidade e interação. Para que ocorra o aprendizado

significativo para todos, o autor pressupõe que os alunos possam ter acesso a vários tipos de

34

grupos de aprendizagem: grande grupo, grupos de projeto, grupos de nível, trabalhos em pares

e trabalho individual.

A concepção ou a ideia de alguns educadores sobre inclusão é errônea. Como se

percebe, para que a sociedade se torne inclusiva é importante que a mudança se inicie pelos

membros que a compõe, neste caso, os professores.

Os professores devem “abraçar” suas concepções, ou melhor, estes devem acreditar

em suas ideias. Atualmente, como não era diferente do passado, a escola tem papel importante

na educação das crianças. As crianças tomam como o exemplo os adultos, imitam seus gestos

e vocabulário desde a mais tenra idade. A partir deste pressuposto, é possível analisar a sua

influência, referente ao discurso, que o professor tem com o aluno, com a sociedade e com a

mudança. É a partir do discurso que a escola propaga se a mudança será realizada ou não,

como dizia Foucault (1970). Partindo do pressuposto que os professores são os maiores

propagadores de discursos que são tidos como verdade, estes têm papel importante, para a

construção e reconstrução de conceitos.

A ideia que circula no ambiente escolar é que a inclusão é somente para os alunos com

necessidades educacionais especiais: errado. Desse modo, não há inclusão, porque está

restrito a um grupo de alunos: os alunos com necessidades educacionais especiais,

colaborando para que outros alunos sejam excluídos. O objetivo primordial da inclusão

escolar é oferecer oportunidade de igualdade ao acesso e permanência na escola a todos, ou

seja, a educação é para todos. Na perspectiva de inclusão escolar, não existe diferenciação

entre os alunos, todos devem ter suas necessidades educacionais atendidas.

Outro ponto importante e que deve ser comentado trata-se da confusão que ocorre

entre a concepção de integração e inclusão. Muitos professores acreditam que a inclusão é o

novo nome da integração ou que a inclusão é a nova versão da inclusão.

A integração parte do aluno, ele se adapta ao ambiente. Como trata Rodrigues (2006),

a integração se constituía em uma classe especial dentro de uma classe regular de ensino: os

alunos “deficientes” tinham condições especiais de frequência.

A escola integradora também rotula os alunos entre “deficientes” e “normais”. Os

últimos seguiam o currículo, normas e valores da escola normalmente. Já para os

“deficientes” era selecionado condições especiais de apoio. Além de, o aluno quando, não

tivesse o comportamento e aproveitamento adequado, voltaria para a instituição de Educação

Especial (RODRIGUES, 2006).

35

Portanto, na escola integrativa os alunos com necessidades educacionais especiais

recebiam um tratamento especial como ainda ocorre em algumas escolas.

A escola inclusiva parte do pressuposto da igualdade de direitos a educação para

todos. Como reitera Rodrigues utilizando Perrenoud (2006), é inclusiva ao encarar como

todos diferentes e necessitados de uma pedagogia diferenciada.

A igualdade de direitos, prática diferenciada, entre outros assuntos, predomina nas

falas dos professores que identificam estes termos como parte de sua prática pedagógica ou

que deveriam ser evidenciadas na educação. Estes dificilmente modificam o discurso em

relação à educação. Mas, será que este discurso é original?

O discurso é proferido em diversas instâncias e a todo instante, desde uma simples

conversa com um colega de trabalho a um discurso de um candidato ao governo em um

programa eleitoral. Textos escritos e falados são produzidos a todo o momento com

intencionalidade.

A intencionalidade do discurso advém do objetivo a que este se propõe. É possível

utilizar como exemplo, a fala de um professor que chama a atenção de um aluno por ele estar

apelidando um aluno com síndrome de down de louco. O professor grita pedindo para parar e

ameaça dizendo que vai chamar a diretora. A intenção do professor era encerrar o fato por

ameaça para que não ocorressem maiores consequências.

Nada é escrito ou dito sem alguma intenção, nem sequer a mais singela das frases.

Palavras, frases, textos são carregados de experiências de vida, ideias, concepções, leituras e,

principalmente, de outros discursos que se interpenetram em um aparentemente novo.

Conforme Silva (2005), através da linguagem o homem transforma a realidade em que

vive e a si mesmo. O homem tem a capacidade de atribuir sentido às coisas, assim confere

sentido a existência humana.

Partindo do pressuposto que nenhum discurso é original e tentando responder a

questão: “o que é que tornou possível dizer isso?”, os discursos dos professores segundo a

abordagem da análise conforme Foucault e os princípios da análise critica do discurso.

36

2.3 Análise do Discurso

A análise enunciativa ou discursiva de Foucault não busca interpretar palavras,

orações ou localizar “o que há por trás” de certos termos utilizados. Segundo Cordeiro (1995),

ela tem o objetivo de descrever o que é dito, visa a definir um conjunto de condições de

existência.

Julia fala com Bernardo sobre a afetividade. Para Foucault, isto é um acontecimento

discursivo. Este acontecimento é qualquer coisa que se solta do murmúrio anônimo, ou seja,

qualquer coisa dita que pertence a outro discurso já feito. Descrever esse acontecimento é a

tarefa da análise do discurso. (CORDEIRO, 1995)

Deste modo, o objetivo deste tipo de análise é relacionar a linguagem com outra coisa,

a qual não é de aspecto linguístico. Essa relação da língua com “outra coisa” se faz no uso da

linguagem. Segundo Cordeiro (1995), Foucault nomeia essa relação como discurso.

O discurso é uma prática que relaciona a língua com outra coisa, a prática discursiva:

[“...] é um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e

no espaço, que definiram, numa dada época, e para uma determinada área social,

econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função

enunciativa. (L’ARCHÉOLOGIE, p.147-148 apud. CORDEIRO, p.2, 1995)

O acontecimento discursivo pressupõe a existência de uma fala anterior, a

anterioridade de um “murmúrio anônimo”. Cordeiro (1995) trata do discurso quando reitera

que através de um murmúrio anterior, dá-se o acontecimento, ou seja, algo é dito. Pergunta

quem disse isto e se esta fala iniciou nesse alguém que proferiu. A resposta é não, o discurso

já existia anteriormente, ou seja, o murmúrio era anterior.

Como alguém falará de algo que nunca ouviu, sem estar em certo local e sem ser ele

próprio? O discurso da inclusão, por exemplo, dito por muitos profissionais da educação, não

é inédito. Este é permeado de outros discursos anteriores, ou seja, nenhum discurso é original.

Não obstante, o discurso é um relacionamento complexo, o qual define as regras de

exercício ou da existência da enunciação e dos enunciados.

A análise enunciativa segundo Foucault, como já citado, não busca fazer uma análise

de sentido, e sim, investigar a existência do discurso, sobre as questões que estão presentes

neste, como por exemplo, a manifestação de outros discursos. “[...] segundo que modo é que

elas existem, o que é que é isso de se terem manifestado, de terem deixado marcas e, talvez,

de terem ficado ali, para uma eventual reutilização; o que é que é isso de terem sido elas a

aparecer - e não outras no seu lugar.” (CORDEIRO, 1995).

37

As perguntas sobre o discurso, mesmo com sua análise, não terminam. A análise do

discurso pressupõe um estudo inconcluso, porque é dado ênfase em alguns aspectos e não em

outros. Segundo Nogueira (2001), “como a Análise do Discurso é muito rica” será

provavelmente impossível admitir, alguma vez, que os “dados” foram exaustivamente

analisados, e que, por isso, não existe nada mais a considerar, isto é, que a análise está

completa”. Assim, um estudo pode percorrer outros caminhos que deixariam outros a fazer e

percorrer.

O discurso analisado não se torna estável, seu movimento prossegue, como a língua

falada comparada à língua escrita, este é mutável. Palavras, ideias, metáforas são

acrescentadas e trocadas.

Outros discursos entremeiam como um hipertexto. Tudo parece original e livre, porém

a produção do discurso é controlada. A Igreja e a Escola como aparelhos ideológicos do

estado servem como exemplos da proposição de Foucault na obra “A ordem do discurso

(1970)”.

Suponho que em toda a sociedade a produção do discurso é simultaneamente

controlada, seleccionada, organizada e redistribuída por um certo número de

processos que têm por papel exorcizar-lhe os poderes e os perigos, refrear-lhe o

acontecimento aleatório, esquivar-lhe a pesada, temível materialidade.”

(FOUCAULT apud. CORDEIRO,p.3,1995)

Cordeiro (1995) trata da citação de Foucault para extrair algo para o entendimento de

comunicação que ocorre na troca de mensagens, ou seja, no diálogo. A interação que acontece

na comunicação nunca é pacífica, de mútuo entendimento e um exercício livre das

competências dos sujeitos. Segundo o autor, o diálogo é uma luta pela palavra. Assim, a

palavra é alvo do exercício dos poderes que a controlam.

Foucault havia estudado sobre o controle dos corpos que se observavam nas prisões,

manicômios e nas escolas. Mas não somente os corpos são punidos e vigiados, as palavras

também são. Por que havia o temor das palavras?

O discurso utilizado pela escola, a qual é um aparelho ideológico do estado tem por

objetivo manter a estrutura de sociedade vigente. Entretanto, se a escola reforça um discurso

no qual as pessoas com necessidades educacionais especiais são incluídas, todas as pessoas do

ambiente escolar tomaram esta informação como verdade, além dos outros sujeitos de seu

convívio social que aderirão a esta informação.

38

Na atividade discursiva, segundo Cordeiro (1995), alguns suspeitavam que houvesse

“poderes e perigos que imaginamos mal”. O discurso é objeto de desejo por exercer poder em

todos os aspectos, é o próprio poder, o poder da palavra.

Além da luta pelo poder e contra o poder da palavra, o controle discursivo buscava

frear o acontecimento aleatório, provavelmente o que não era previsto, que sairia de controle.

É possível utilizar como exemplo do controle discursivo a frear o acontecimento

aleatório, as leis que tratam da inclusão escolar. Estas nomeiam a inclusão escolar conforme o

ponto de vista de uma classe de profissionais do campo educacional, médico e jurídico

contratados pelo governo para reiterarem uma visão que dificilmente será contestada, sendo

que está legislada e foi escrita por profissionais renomados que apóiam a causa.

Conforme Cordeiro (1995),p.1,

[...] a partir de algo escrito ou falado, procura localizar a palavra e amarrá-la por

intermédio de mecanismos que ligam aquilo que é transitoriamente dito ou a

qualquer coisa já dita,ou a um sentido não dito que esclarece,explica o que é dito, ou

a alguém ou a uma disciplina teórica.

Assim, segundo o autor, “a instância do discurso é apresentada enquanto resultado dos

mais diferentes métodos restritivos da palavra: limitam o que pode ser dito, o que pode ser

dito de verdadeiro e de razoável, operando um tipo de bloqueio no “murmúrio anônimo”, ou

seja, para que se tenha um discurso original pressupõe o bloqueio do discurso anterior, como

não há discurso original, a palavra fica restrita. Estas práticas restritivas que são aplicadas ao

discurso, ocorrem de várias formas, prejudicando os indivíduos.

[...] sejam aqueles mecanismos que prendem tudo aquilo que aparece na ordem do

discurso a um mesmo - texto primeiro, autor, disciplinas -, sejam aqueles que, pela

instituição de uma cena a repetir, pela constituição de “sociedades de discurso”, pelo

funcionamento doutrinal do discurso, pelas apropriações sociais, limitam os sujeitos

falantes. (CORDEIRO, 1995, p.3)

Com estes mecanismos citados acima é possível entender o que Foucault (1970)

postula como os dois procedimentos de exclusão do discurso: intervenções exteriores e

interiores. Nas intervenções externas ao discurso se encontra o interdito, a partilha da razão,

da loucura e da vontade de verdade. Essas intervenções se dão em diversos discursos inclusive

o que se busca analisar neste trabalho, o escolar.

Enquanto, nas intervenções internas ao discurso se localizam o comentário, a autoria, a

disciplina e o ritual das palavras.

39

Retomando o aspecto das intervenções externas, primeiramente temos o interdito. Este

é relacionado aos assuntos censurados que não são permitidos que se comentem, ou seja,

assuntos proibidos, os chamados “tabus”. Foucault dizia, "[...] que não se pode dizer tudo, que

qualquer um não pode falar de qualquer coisa”. Sexo e política são alguns destes, porque seus

discursos exercem grande poder.

Em relação ao discurso escolar é possível considerar que a própria “discriminação”

contra o aluno com necessidades educacionais especiais em uma classe comum, neste caso, se

faz tabu. Não se discute o propósito e a causa deste aluno estar em certa classe entre os

professores, direção e responsáveis, além de se limitarem a resposta a outros alunos que

perguntam sobre o aluno com necessidades educacionais especiais.

É comum escutar frases populares sendo sempre reproduzidas, como por exemplo,

sobre a religião e futebol, que acerca deles não se discute. A partir dessa frase popular, nota-se

a inculcação de certa posição acrítica e submissa da maioria da população, assim ocorre a

restrição ao discurso a certo público. Quando é negada a discussão de certos temas “tabus”

como a “diferença” entre os alunos e professores de uma classe comum é possível afirmar que

posições, conceitos, olhares que poderiam ser construídos e reconstruídos permaneçam da

mesma maneira.

A partilha e rejeição, a oposição entre razão e loucura se constitui em mais uma das

intervenções externas do discurso. A oposição entre a razão e a loucura se manifesta no

discurso do louco.

Desde a Idade Média, o que o louco dizia não era considerado, não valia ou não

existia, não era verdadeiro e nem importante. Em oposição à rejeição do seu discurso, alguns

indivíduos lhe atribuíam estranhos poderes: de adivinhação, de anunciar uma verdade oculta,

algo que os outros não poderiam ver. Foucault (1970), em seu discurso comenta que, na

Europa, por muito tempo, a palavra do louco era rejeitada ou quando notada, era ouvida como

uma palavra verdadeira.

De qualquer maneira, o discurso atribuído de certa razão ou rejeitado, não existia. Por

intermédio do discurso do louco que se reconheceu a sua loucura. O lugar que acontecia a

partilha era em seu discurso, porém suas palavras não eram guardadas ou escutadas.

Assim, somente se dava a palavra ao louco de modo simbólico como em uma peça de

teatro sendo que ele representaria a “verdade mascarada”. Até o fim do século XVIII, nenhum

médico analisou o motivo do louco realizar certo discurso, além de não procurar entendê-lo.

(FOUCAULT, 1970).

40

Foucault (1970) trata no seu Discurso da Crença que algumas pessoas creem que a

partilha tal qual ocorria com o louco não existe mais, porém ele afirma que ocorre de modo

distinto. O autor traz o exemplo do médico e do paciente: ambos partilham e inculcam

discursos. O paciente fala a causa de sua visita e o médico escuta. O profissional faz o

diagnóstico do paciente e este o recebe por meio de seu discurso. O paciente então toma o seu

discurso e o médico contribui para a manutenção da censura como reitera o autor.

É possível observar o discurso do louco também em uma instituição de ensino. Nesta

versão moderna do louco, este poderia ser um segundo professor que aposta na capacidade de

um aluno que, por exemplo, tenha necessidades educacionais especiais. Este profissional

conversa com outros professores em busca de ideias para contribuir com a aprendizagem

deste aluno, porém ele não é ouvido. Os professores acreditam que o aluno não passa de um

preguiçoso ou retardado sem condições de desenvolvimento. Como já dizia o ditado “só uma

andorinha não faz verão”.então, a ideia do segundo professor seria vetada e, assim o discurso

dos outros professores continuaria soberano.

O poder do discurso somente favorece o mais alto patamar de uma sociedade de

discursos. Sociedade esta que é composta por várias e distintas áreas como, por exemplo, a

área médica e a área educacional. Cada área tem seus tipos de discurso estabelecidos pelos

renomados de certo campo. Deste modo, é possível notar a postura, por exemplo, do médico

(e ainda estudantes de medicina) e das pessoas de seu convívio que o tem como uma pessoa

superior. Confirma-se o poder que a palavra e o conhecimento instituem na sociedade.

Uma lei educacional é sancionada e escrita por nomes renomados da educação, a alta

classe da educação. Estes membros foram escolhidos porque têm seu discurso valorizado e

reconhecido nesta área. É possível usar este exemplo, antecipando o último processo de

controle de discurso de caráter externo, a vontade de verdade.

A vontade da verdade como último procedimento de exclusão de caráter externo

estabelece que algo seja verdadeiro, segundo Baggio (2003), quando está manifestado ou

afirmado dentro da ordem das instituições,seguindo suas regras de produção e articulação.

Entende-se que tudo que é publicado ou falado é verdadeiro por este motivo. Desse

modo, as leis certamente fazem parte da vontade da verdade, mesmo não sendo efetivadas.

Somente por serem legisladas, de modo simbólico, elas são “exercidas”. Os discursos não são

estáticos e impermeáveis, como já citado, eles são fluidos. Assim, outros discursos

entrelaçam-se a eles, novos significados se dão a tais discursos e algo que era tido como

verdade absoluta pode ser contestada.

41

Tendo em vista estas características do discurso e tomando como ferramentas de

estudo alguns elementos da análise critica do discurso é possível considerar como na análise

conversacional que entendia os “propagadores” do discurso como constrangidos a interação e

ao contexto, nesta linha de análise o constrangimento é maior, porque os indivíduos não são

livres agentes nas suas escolhas, são sujeitos constrangidos nas suas escolhas de linguagem e

em suas ações, mesmo que estas não sejam completamente determinadas (NOGUEIRA,

2001).

Portanto, é importante ressaltar, que a abordagem da análise do discurso que será

utilizada neste trabalho é essencialmente do macro-discurso.

Assim sendo, o discurso é analisado como um todo, buscando a identificação e

descrição dos principais discursos em questão. Como ressalta Nogueira (2001), “a questão é

de saber relativamente a determinados tópicos quais são os discursos disponíveis, como se

desdobram e para que servem”. Além de atribuir importância ao modo com que recursos

sociais e culturais são contemplados nas atividades humanas.

42

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Metodologia de Coleta de Dados

Inicialmente, foi pesquisada a localização das escolas estaduais para a coleta de

dados.

Após a investigação da localização das instituições de ensino, uma escola estadual do

município de São José foi visitada para que se efetivasse a pesquisa relacionada à função do

segundo professor em uma experiência inclusiva com alunos que apresentam necessidades

educacionais especiais.

A diretora da instituição conversou sobre os alunos com necessidades educacionais

especiais: alunos com hiperatividade que não possuem diagnósticos e dois alunos do quarto

ano que posteriormente estavam nas turmas observadas.

A escola escolhida para a pesquisa está localizada no bairro Ipiranga na cidade de São

José. A instituição com seus trezentos e cinqüenta e seis alunos (356) faz parte do sistema de

Ensino Fundamental Estadual, do primeiro ao nono ano.

As turmas que foram observadas possuem dezesseis (16) alunos (sala1) e dezessete

(17) alunos (sala 2), com duas professoras em cada sala: uma professora da turma e a segunda

professora.

Os alunos da classe olhavam curiosos e acreditavam que a pesquisadora seria uma

nova professora. Sanada a dúvida, com a apresentação da pesquisadora, pela professora da

turma, os alunos ficaram mais tranquilos com a presença de uma estranha na sala. Ao longo

das observações, alguns alunos passaram a se aproximar.

As professoras foram atenciosas e prestativas em todos os momentos em que a

pesquisadora esteve presente.

Nas primeiras observações, a pesquisadora tentou registrar o mínimo possível para

que não houvesse nenhum “mal estar” entre as profissionais. O olhar e escuta atentos foram

imprescindíveis para a fidelidade dos registros.

Dentre os dezesseis (16) alunos da sala que frequentavam a turma do quarto ano da

sala 1, foram observados dois alunos com necessidades educacionais especiais. No terceiro

dia de observação, um destes alunos foi transferido para outra turma de quarto ano. Com o

término das quatro observações na sala 1, a pesquisadora se dirigiu à sala 2 para iniciar o

processo de observação.

43

Na segunda turma sala 2, os alunos se aproximaram rapidamente querendo saber o

nome da pesquisadora e se apresentando; era uma turma, aparentemente, agitada.

As professoras da turma - sala 2 também foram atenciosas. A professora regente,

sempre que possível, repassava uma cópia das atividades. A segunda professora estava

iniciando o trabalho naquela turma, foi contratada em função da mudança de sala do aluno da

sala 1, mostrava as atividades e os resultados que eram obtidos com o mesmo. O mesmo

método de registro foi utilizado nesta sala.

Um aluno, em especial, se aproximou da pesquisadora. Ele era muito agitado e

normalmente não fazia as atividades na hora em que a professora solicitava. Por vezes, a

pesquisadora ouviu as suas histórias e em outros momentos auxiliou-o com as suas atividades.

Após as quatro observações na turma da sala 2 foi construído o questionário que,

alguns dias depois, foi entregue às professoras para que respondessem e devolvessem no

prazo de um dia. Voltando à escola no dia proposto, as professoras não haviam respondido o

questionário, foi necessário esperar in locu que todas as participantes da pesquisa

respondessem, no horário de intervalo, a pesquisa. Todas as perguntas do questionário foram

respondidas, sendo que uma das docentes respondeu as questões com a ajuda de um livro.

44

3.2 Metodologia de Análise de Dados

O presente estudo se apresenta através de uma pesquisa exploratória, modalidade de

pesquisa que possibilita um planejamento mais flexível e contribui para a construção de

hipóteses para pesquisas posteriores, conforme Gil (2007).

Com o intuito de elaborar a revisão bibliográfica deste trabalho e ter subsídios para

analisar os dados levantados foi realizada uma pesquisa bibliográfica a partir de livros e

artigos científicos.

Esta modalidade de pesquisa, com o olhar histórico acerca da Educação Especial, da

inclusão escolar e da deficiência, mostrou-se eficiente. Segundo Gil (2007), “a pesquisa

bibliográfica também é indispensável nos estudos históricos. Em muitas situações, não há

outra maneira de conhecer os fatos passados, se não com base em dados bibliográficos”.

Ademais foram utilizadas fontes de outra natureza como documentos de arquivos públicos

oficiais, estaduais e nacionais caracterizando uma pesquisa documental.

Após a leitura intensiva destes materiais, foi delineada a pesquisa com base nos

procedimentos técnicos que foram utilizados. A pesquisa documental, segundo Gil (2007),

apresenta uma série de vantagens:

- é possível considerar que os documentos são uma fonte rica e estável de dados;

- as leis, declarações e propostas educacionais retratadas colaboram para resgatar o

processo histórico da educação e se tornam fontes importantíssimas.

O método estudo de caso foi considerado apropriado para verificar a resposta acerca

da questão norteadora referente ao papel do segundo professor na experiência inclusiva de

alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, em duas turmas de quarto ano de

uma escola estadual do município de São José, no primeiro semestre do ano de 2010.

Por investigar uma pequena amostragem, é possível analisar profundamente a unidade caso.

Desse modo, o estudo de caso para esta pesquisa se fez pertinente segundo seus objetivos,

segundo Gil (2007), p.137:

[...] é caracterizado pelo estudo profundo exaustivo de um ou poucos objetos, de

maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado, tarefa praticamente

impossível mediante os outros tipos de delineamentos considerados. Delineando o

estudo de caso, após formular o problema, é necessário definir a(s) unidade(s) caso.

Além da proposta do trabalho de segundo professor ser interessante na teoria, o fato de

poder corroborar em sala de aula e construir junto ao professor regente a elaboração e

45

execução do plano de ensino, permite que o mesmo desempenhe o seu papel com a mesma

importância do professor de sala.

As escolas estaduais de Santa Catarina seguem o modelo de descentralização do

governo em relação à inclusão de alunos com deficiência. Em cada região do estado, há uma

gerência (GERED) com uma professora integradora que recebe os pedidos/processos das

escolas solicitando um segundo professor. Assim sendo, os pedidos são avaliados pela

Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE). Quando as solicitações são aprovadas, a

professora integradora fica responsável pela abertura de vagas para professores em sua

gerência3, segundo uma profissional da GERED de Florianópolis.

Na gerência da região da Grande Florianópolis, localizada no bairro Kobrasol em São

José, a informação que se teve foi que este é o primeiro ano dessa prática, e que a contratação

do segundo professor foi por meio de processo seletivo. Anteriormente, as contratações eram

realizadas por meio das gerências. Ou seja, o candidato se dirigia ao local, fazia sua inscrição

e esperava ser chamado para o cargo.

Algumas vezes, mesmo com a contratação pelo processo seletivo, professores são

contratados através da análise curricular, haja vista que muitos desses professores

classificados em processo seletivo não assumem a vaga.

Já para o cargo de segundo professor, um professor efetivo excedente na unidade

escolar pode assumir a vaga, desde que apresente segundo o documento de 2009 das

Orientações para Organização e Funcionamento das Unidades Escolares de Educação Básica

e Profissional da Rede Pública Estadual, por ordem de prioridade:

- Histórico escolar da graduação com disciplinas de Educação Especial.

- Certificado de formação continuada em áreas da Educação Especial com um mínimo de

80(oitenta) horas.

- Comprovação de um (1) ano como 2º professor de turma.

Segundo a gerência da Grande Florianópolis, há cerca de oitenta escolas com segundo

professor na região.

A definição por serem os sujeitos da pesquisa duas professoras de duas turmas de

quarto ano, a segunda professora de cada uma dessas turmas e os alunos das referidas turmas

que apresentam necessidades educacionais especiais, em uma escola estadual, advém da

leitura das leis e curiosidade em conhecer como se apresenta o lugar no processo ensino

aprendizagem do segundo professor e sua relação com o professor regente.

3 Informação fornecida por uma profissional da GERED de Florianópolis localizada na Secretaria Estadual de

Educação.

46

A instituição escolhida é representativa na região. Inicialmente, na classe do quarto

ano em que ocorreram as observações, uma vez que havia dois alunos com necessidades

educacionais especiais. Posteriormente, um destes alunos foi encaminhado a outra turma de

quarto ano. Os alunos que fizeram parte da pesquisa possuíam diagnósticos: um aluno

deficiência mental leve e uma aluna com paralisia cerebral severa.

Em seguida, partiu-se para o estudo de campo. No ambiente escolar foram conhecidos

os sujeitos da pesquisa, através das observações e questionários.

Conforme Gil (2007), para o estudo de campo é necessária a utilização de várias

técnicas para coleta de dados como formulários, entrevistas, questionários e escalas de

observação. Nessa pesquisa, as técnicas utilizadas foram questionários e observação.

Segundo Gandini e Goldhaber (2002), p.152, “É necessário que registremos o que

vemos e ouvimos, elaborando registros significativos das nossas observações”.

O registro, elemento principal da observação, é uma considerável ferramenta para o

pesquisador. É nele que, muitas vezes, encontram-se os registros de fatos e falas que,

normalmente, passariam despercebidos. Neste estudo, foram realizadas quatro observações,

em cada turma.

Segundo Gandini e Goldhaber (2002) coletadas as observações, é necessário editá-las

e prepará-las para análise.

Para tanto, foram utilizadas para um melhor procedimento de pesquisa, pressupostos

de Bauer e Gaskell (2002), intitulados como dimensões na investigação social:

1ª) Delineamento da pesquisa – levantamento por amostragem, observação

participante.

2ª) Métodos de coleta de dados: questionário, entrevista, observação e a busca de

documentos.

3ª) Tratamentos analíticos dos dados: análise de discurso e análise estatística.

Para comparar os registros das observações com o discurso dos professores, foram

utilizadas as informações obtidas através do questionário com questões abertas (ver apêndice

C) que foram aplicados. O questionário, em questão, contemplou dez perguntas envolvendo a

discussão da inclusão escolar.

Após a coleta de dados, foi realizada a tabulação de dados para uma melhor percepção

das informações obtidas. Em seguida, a análise foi realizada, esta partiu da comparação dos

dados da observação com as respostas dadas pelas professoras. Posteriormente, foi analisado

o discurso das professoras a partir das questões elencadas no questionário.

47

3.3 Análise dos Dados

As quatro professoras que responderam o questionário, entre estas, profissionais com

funções de segundo professor e professora regente na escola pesquisada, são experientes na

área educacional. A professora menos experiente possui 10 anos de prática e a mais

experiente dentre elas, possui 16 anos de profissão na área educacional.

A experiência destas professoras foi investigada levando em consideração o período

de experiência na escola pesquisada. A professora com menos experiência tem um mês de

trabalho na instituição. Entretanto, as professoras com mais tempo de serviço nesta escola são

as professoras da turma com uma média de oito (8) anos de prática.

São profissionais da educação com formação em Pedagogia e Pós-Graduação em

diversas áreas, dentre elas, uma professora regente, com Pós-Graduação em Educação

Especial.

A experiência na área educacional é importante, porque através dela que é possível

construir e reconstruir novos modos de ensinar e aprender, porém existem outros pontos

consideráveis para que as novas práticas pedagógicas e os novos olhares sobre a educação se

efetivem. A formação dos professores é relevante para o processo, uma vez que se faz

necessário, segundo Plestch (2009), p.1:

[...] compreender que mudanças na educação para atender ao paradigma vigente de

inclusão educacional dependem de diversos fatores, como, por exemplo, o contexto

social, econômico e cultural em que se insere a escola, as concepções e

representações sociais relativas a deficiência e,por fim,os recursos materiais e os

financiamentos disponíveis a escola(MENDES,2002).Ou seja,a formação deve

atender as necessidades e aos desafios da atualidade.para tanto sugerimos que o

professor seja formado de maneira,a saber mobilizar seus conhecimentos,articulando

os com suas competências mediante ação e reflexão teórico prática.

Somente através da formação adequada é que a Educação pode atender ao público a

que é destinada e buscar outras possibilidades para outros grupos. Com embasamento teórico,

a falsa pedagogia do amor se afasta dos professores e dos alunos. A partir de bases sólidas

que advêm do conhecimento, é possível, construir e reconstruir conhecimentos significativos

com os alunos, não deixando a prática do professor se levar à simples “amorosidade” sem

fundamentos, ou seja, prática que engana a si próprio e os alunos.

Para um melhor entendimento, os tópicos a seguir com suas respectivas análises têm

como base as dez perguntas contempladas no questionário respondido pelas quatro

professoras da escola estadual, localizada no município de São José.

48

Quando perguntadas o que é um aluno com necessidades especiais, nenhuma das

professoras questionou o termo “pessoas com necessidades especiais”, que no âmbito escolar

não é mais utilizado. O termo correto é “pessoas com necessidades educacionais especiais”,

segundo Sassaki (2002).

Duas professoras que trabalham na mesma sala, professora de turma e segunda

professora, responderam esta pergunta de modo semelhante. Estas professoras definiram o

aluno com necessidades especiais como “aquele que precisa de ajuda e apoio” e “aquele que

depende de seu auxílio” para se desenvolver no aspecto intelectual, cultural e social.

O termo utilizado pelas professoras para o aluno com necessidades educacionais

especiais remete a imagem de um sujeito passivo, dependente da ajuda de alguém para se

desenvolver em todos os aspectos citados acima em uma primeira verificação.

Ao se analisar mais a fundo, percebe-se que nem sempre as palavras são usadas de

forma que condizem necessariamente com as idéias. Então, é possível dizer que, no discurso,

as professoras seguem os postulados de Vygotsky Apud. Nascimento (2007) ao reiterarem

que o desenvolvimento cognitivo do sujeito parte da interação com o meio, junto a outro

indivíduo com maior conhecimento e que faz a mediação do processo. A utilização do

discurso de Vygotsky possivelmente pode ter partido da Proposta Curricular de Santa

Catarina que também é baseada em seus pressupostos.

Segundo a Proposta Curricular de Santa Catarina de 1998, a partir dos anos noventa

houve uma mudança de paradigma sobre a deficiência e sua integração: a pessoa que antes era

vista como passiva diante de sua “deficiência” e tinha seu comportamento moldado pelas

pressões do ambiente, por isso a concepção de sujeito imutável, foi analisada de outro modo,

conforme as contribuições da concepção histórico cultural, segundo Vygotsky Apud.

Nascimento (2007).

Segundo este documento, Vygotsky reitera que as deficiências corporais afetam

primeiramente as relações sociais e não suas interações diretas com o ambiente físico. Assim,

o processo de desenvolvimento ocorre porque implica na relação entre o sujeito e o objeto a

ser conhecido, porém mediada por outro sujeito.

Importante enfatizar, entretanto, que esta escola, ao promover a apropriação do

conhecimento, propicie interações sociais, uma vez que nada garante que elas se

deem espontaneamente, que assegurem aos alunos o direito de pensar, expressar seu

pensamento, entabular negociações, criar argumentos a partir de discussões

realizadas, buscar soluções comuns a partir de contribuições diversas. Tais

interações são, pouco frequentes na educação em geral e, particularmente, na

especial. (PROPOSTA CURRICULAR DE SANTA CATARINA-EDUCAÇÃO

ESPECIAL, 1998, p.66)

49

Assim, a Escola de Ensino Regular tem o importante papel no desenvolvimento deste

aluno, pelo fato de que, para a aprendizagem, segundo Vygotsky apud. Nascimento (2007) é

necessária a interação social. O estudioso afirma também que a criança com deficiência se

desenvolve, porém de modo distinto. Esta proposta entende que a heterogeneidade é um fator

imprescindível no contexto escolar, porque pela vivência e troca entre sujeitos de diversas

possibilidades, contribui para a produção e conhecimento do outro além de respeitar a

diferença.

A pessoa com necessidades especiais deve romper dois processos, conforme a

proposta: o de incapacidade e o analfabetismo. A escola contribui para a ruptura, se adotar

uma proposta de alfabetização que gere espaço para a escuta e a fala, a discordar, cooperar e

negociar. A apropriação da língua escrita, da apropriação e produção de diferentes linguagens

é importante para que o aluno com necessidades educacionais especiais desenvolva o

pensamento abstrato.

A proposta curricular do Estado de SC se prende aos pressupostos da concepção

histórico-cultural quando afirma que a interação social é importante para o desenvolvimento

do aluno. Além de reiterar a importância de discutir o ensino em um contexto mais amplo

sobre a função social da escola e da real finalidade da Educação Especial. Entende-se que a

última não pode ser compreendida como uma proposta ou um currículo a parte. A proposta

trata dos posicionamentos tomados em todo documento relacionado às concepções de ensino,

aprendizagem, projeto político pedagógico, educação e trabalho, dentre outros que serviram

de subsídios para a construção da proposta pedagógica da educação das pessoas com

necessidades especiais.

Entretanto, nas observações realizadas na sala 1, foi comprovado que a aluna com

necessidades educacionais especiais dificilmente tem contato, de forma pedagógica mesmo

em momentos de brincadeira, alimentação e na troca de fralda com as professoras.

Assim, é possível reiterar que esta aluna somente é inserida para que tenha contato

com outras pessoas, ou seja, na concepção de Vygotsky apud. Nascimento (2007) permanece

somente no discurso.

Nas observações da sala 1, foi possível verificar que as relações sociais , ou melhor, a

socialização dos alunos com necessidades educacionais especiais eram sempre mencionadas e

de algum modo realizada a partir da visão de “socialização” por parte das professoras: “A

professora regente comentou que não há “inclusão”, os alunos estão na escola para se

50

socializarem com os outros alunos.(fragmento do primeiro relatório de observação da sala

1).”

A aluna com necessidades educacionais especiais desta sala ficava sempre junto à

outra colega de classe sem participar de nenhuma atividade, estando “inserida” na turma e não

sendo participante ativa do processo. De acordo com a observação realizada nesta sala, a

“Paula era a boneca das meninas da sala, algumas meninas vão até ela para mexer em seus

cabelos e arrumar sua cabeça. A professora regente faz o mesmo. A segunda professora se

aproxima dela quando a garota está desequilibrada na cadeira. Paula não fez nenhuma

atividade. (trecho do primeiro relatório de observação-sala 1).”

Assim, podemos caracterizar a sua não inclusão, reiterando as falas das professoras no

discurso e nas respostas do questionário. Para as professoras, os alunos com necessidades

educacionais especiais devem ser cuidados e socializados ao seu modo como foi percebido

nas observações. Estas profissionais podem colocar a culpa na falta do projeto de inclusão

(tão mencionado por uma das professoras), na falta de estrutura física ou conhecimento. A

inclusão será discutida nos demais tópicos.

As demais professoras fizeram um bom discurso, porém este não se relaciona com a

realidade observada em sala de aula. É necessário destacar que uma das professoras utilizou

um livro sobre deficiência para responder as questões do questionário.

Esta professora abordou em sua resposta, a diferença entre os sujeitos e utilizou o

termo “pessoa com deficiência”, como sinônimo a pessoa com necessidades educacionais

especiais. Segundo esta profissional, “pessoas com deficiência são/têm impedimento que

limita ou compromete o desempenho considerado normal.”

Como já discutido anteriormente, no segundo capítulo de revisão de literatura, a

educação do aluno com deficiência compete à Educação Especial por ter recursos específicos

e apropriados. Enquanto os alunos com necessidades especiais não graves são de

responsabilidade do ensino comum.

Em relação à outra professora, ela respondeu semelhante a sua colega de classe, porém

esta profissional se aproximou mais do que é promulgado nas leis, como pessoas com

necessidades educacionais especiais.

Segundo a professora, “crianças com necessidades especiais são aquelas que têm

alguma limitação e necessitam de modificações ou adaptações no programa educacional

para atingir seu potencial (problemas visuais, auditivos, mentais, etc)” (apêndice D, tabela 2).

51

O quinto artigo da Resolução CNE/CEB nº2, de 11 de setembro de 2001- Diretrizes

Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, lei que especifica quais são os

educandos com necessidades educacionais especiais.

Art. 5º Consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que,

durante o processo educacional, apresentarem:.

I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de

desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares,

compreendidas em dois grupos:.

a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; .

b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências;

II - dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos,

demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis;

III - altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve

a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes.

Os alunos com necessidades educacionais especiais são pessoas com deficiência com

ou sem causa orgânica, com disfunções, limitações e altas habilidades. Porém, a lei não

especifica quais são as limitações e disfunções. Será que os alunos com dificuldade de

aprendizagem, por exemplo, em matemática são beneficiados?

Estes alunos, como vários, ou até mesmo, todos, têm necessidades educacionais. Deste

modo, não deveria ser limitado a certo grupo de alunos, porque a inclusão escolar oferece

igualdade de oportunidades de acesso e permanência a todos.

É perceptível na resposta desta professora que ela não assume a responsabilidade de

educação do aluno com necessidades educacionais especiais colocando a cargo de outro o que

seria o “programa educacional”, ou seja, não exemplifica o que seria “programa educacional.”

Programa educacional partiria do governo, da direção da escola, de um projeto ou dos

professores?

É certo dizer que esta professora tem um belo discurso, porém não o pratica. A

responsabilidade da educação do aluno com necessidades educacionais especiais ficaria com a

segunda professora, como foi visto na maioria das observações, “a professora regente se

aproximou de Bernardo porque a outra professora chamou. A segunda professora falou algo

como olha o desenho do Bernardo e a professora Bete disse que ele poderia ter caprichado

mais” (trecho do relatório de observação nº2 - sala 2).

Em relação ao significado de inclusão escolar, nas respostas das professoras ocorreram

variações, olhares distintos sobre a inclusão escolar. Uma resposta que chamou a atenção foi:

“É quando o aluno está inserido como mandam as leis, adaptado e apropriado para as suas

necessidades, e não fazendo de conta sem preocupação nenhuma da parte governamental”

(apêndice D, tabela 2), é perceptível a falta de esclarecimento sobre o que é a inclusão escolar.

52

Inclusão escolar está além da inserção e da adaptação. A inclusão escolar implica na

igualdade de oportunidades a todos. Para que a inclusão se efetive, é necessária uma reforma

nas práticas escolares envolvendo o currículo e as formas de agrupamento dos alunos em

atividades.

A inclusão implica numa reforma radical nas escolas em termos de currículo,

avaliação, pedagogia e formas de agrupamento dos alunos nas atividades de sala de

aula. Ela é baseada em um sistema de valores que faz com que todos se sintam bem-

vindos e celebra a diversidade que tem como base o gênero, a nacionalidade, a raça,

a linguagem de origem, o background social, o nível de aquisição educacional ou

deficiência. (MITTLER apud MACHADO,p.15,2009)

A inserção e a adaptação seria integração, termo utilizado anteriormente quando não

havia estudos e autores que discutiam e apresentavam comprovantes da possibilidade efetiva

do desenvolvimento das habilidades em pessoas com necessidades educacionais especiais e

pessoas com deficiência.

Na proposta de integração, havia uma seleção de alunos que poderiam se adaptar à

escola. Assim, os alunos que não conseguiam se adaptar às práticas da escola frequentariam a

escola de forma individual, estariam em classes especiais ou instituições de Educação

Especial.

Nas situações de integração escolar, nem todos os alunos com deficiência cabem nas

turmas de ensino regular, pois há uma seleção prévia dos que estão aptos à inserção.

Para esses casos, são indicados: a individualização dos programas escolares,

currículos adaptados, avaliações especiais, redução dos objetivos educacionais para

compensar as dificuldades de aprender. Em suma: a escola não muda como um todo,

mas os alunos têm de mudar para se adaptarem às suas exigências. (Mantoan Apud.

Machado, pg. 59, 2009)

Apesar da confusão com os conceitos de inclusão e integração, uma professora

também comentou da responsabilidade do governo com a inclusão escolar. Se o governo não

colabora para a formação continuada dos professores, não proporciona, às escolas, estrutura

física e material, não oferece um salário digno aos professores, dificilmente estes ficariam

instigados a fazerem parte das mudanças na educação.

Outro ponto importante comentado, pela mesma professora é “ não fazendo de conta”

que exista inclusão escolar. Atrelo esse comentário às “leis” que a professora se referiu.

Foucault (1970) reitera algumas formas de intervenções externas e internas no controle

do discurso. Entre elas, a vontade de verdade, intervenção de caráter externo.

A vontade de verdade se manifesta quando o que foi discursado e legislado por alguém

influente em certa sociedade do discurso é tomado como verdade, mesmo que não seja. Ligo

53

este enfoque à fala da professora quando ela diz para o governo não fingir que acontece a

inclusão escolar, apesar de estar regulamentado, dentro da lei, não ocorre efetivamente.

Duas professoras também pontuaram que a inclusão escolar deve se iniciar pela

reestruturação das escolas: “É a reestruturação das instituições escolares para que possam

atender a todas as crianças” e “É quando a estrutura, os materiais e todo o ambiente está

preparado para receber”. (apêndice D,tabela II)

Uma das professoras reiterou a resposta colocando que todo ambiente escolar deve

estar preparado para receber qualquer aluno com necessidades especiais. Como já discutido, a

inclusão escolar não é limitada ao grupo de alunos com necessidades educacionais especiais,

mas sim, a todos os alunos.

Já para outra docente, a reestruturação das escolas deve atender as especificidades dos

alunos para que os mesmos possam desenvolvê-las. Isto remete a reabilitação de pessoas com

deficiência pelo fato de que, por exemplo, um aluno com deficiência física, um cadeirante na

escola comum poderia voltar a realizar movimentos com as pernas. Não que isto seja ruim,

porém a escola comum deve partir das habilidades dos alunos, não abordar em sua prática a

deficiência (grifos da autora).

Por fim, uma professora respondeu que a escola não está preparada para a inclusão,

porque não tem estrutura física. Porém, ela acredita que a educação é um trabalho de

“formiguinha”. Assim, espera-se que a população josefense tenha uma escola estruturada para

recebê-los.

Quando se escuta a história da formiguinha, um clássico no discurso de muitas pessoas

é observável que a história remete a um trabalho individual. Assim, se todos fizerem um

trabalho à parte, ele se aglomerará e ficará maior, auxiliando muitas pessoas.

Talvez, o “cada um faz o seu” não sirva para a inclusão escolar, já que a mesma parte

da igualdade de oportunidades para todos e de um movimento de mudança.

Acerca da experiência inclusiva que tiveram anteriormente ou não, todas as

professoras responderam de forma positiva a esta pergunta. Duas professoras trabalharam em

instituições especializadas e as outras profissionais trabalharam em classe comum.

As professoras que trabalharam na Educação Especial responderam que “aprendi

muito e cresci muito com os alunos integrados. Sabendo respeitar as suas diferenças.” e

“trabalhamos sempre com a socialização, amor, afetividade” (apêndice D, tabela II).

É possível discutir a inclusão escolar do aluno na Educação Especial, vendo que neste

espaço o aluno convive com pessoas iguais a ele. Dificilmente, são trabalhadas as diversas

54

especificidades dos alunos em uma sala. Assim, as especificidades são trabalhadas

separadamente, cada singularidade tem seu núcleo nestas instituições.

Uma professora respondeu que trabalhou com crianças com deficiência mental em

classe comum, “Através de metodologias diferenciadas conseguiram se alfabetizar.”

(apêndice D, tabela II).

Como já discutido anteriormente, em uma sala heterogênea há alunos diferentes que

aprendem de formas distintas. Assim, nada melhor que utilizar métodos diferentes para

favorecer o aprendizado de todos os alunos.

Houve também o relato de uma professora que trabalhou com uma aluna com paralisia

cerebral na quarta série. Através da produção de um texto “ Sou uma criança”, a professora

descobriu que a aluna se sentia rejeitada pelas pessoas.

O preconceito pela falta de informação é recorrente em ambientes sociais,

principalmente na escola. É possível atrelar este fato ocorrido com a professora ao discurso do

louco (Foucault, 1970), a oposição entre a razão e a loucura.

Anteriormente, o discurso do louco não era considerado e valorizado. Em outros

momentos, poderia ser considerado, porém o discurso era visto como sobrenatural, uma

previsão. Algo oculto aos olhos comuns. O mesmo ocorreu com a aluna que se sentia

discriminada, uma vez que se ela falasse ou não as pessoas não se importavam. A partir de um

texto ela foi “ouvida”.

Em relação ao desenvolvimento da prática pedagógica com seu parceiro de trabalho

(professor de sala ou segundo professor), todas as professoras responderam que planejam as

aulas juntas (apêndice D, tabela III).

As professoras da sala 1 responderam esta pergunta de modo semelhante. Uma delas

elogiou em grande parte da resposta, sua colega de trabalho, “É uma experiência bem

gratificante venho aprendendo a cada dia. Ela é uma pessoa dinâmica e agradável, tudo que

fizemos é em conjunto, tanto o planejamento da criança com necessidades, como do restante

da turma. É uma troca de experiência bem gratificante” (anexo IV, tabela 3). Sua colega, por

conseguinte, reiterou que elas trabalham em conjunto: “Planejamos as atividades juntas,

tomamos decisões e atitudes relacionadas aos educandos e seu processo de ensino-

aprendizagem” (apêndice D, tabela 3).

Este companheirismo e amizade foi explicitamente percebido no período de

observação da sala 1, em todos os momentos. A tarefa de executar tudo que se refere à prática

pedagógica com os alunos é realizada pelas duas professoras: “É importante lembrar que a

55

segunda professora exerce a mesma postura da professora regente: chama a atenção dos

alunos, faz o planejamento (pelo que parece) e intervém na aula.” (trecho do primeiro

relatório de observação- sala1). A parceria entre estas professoras colabora com o processo

ensino e aprendizagem.

As demais professoras que também trabalham juntas, responderam diferentemente,

não ficando perceptível através das respostas, se elas constroem o planejamento juntas:

“Trabalhamos com um planejamento sendo que algumas atividades trabalhadas junto com

toda turma, outras, individual com o aluno”. A outra professora respondeu, “Com efetivo

aproveitamento. Nas aulas de Educação Física e Artes elaboramos planejamentos e

avaliamos os trabalhos realizados” (apêndice D, tabela 3).

Pelas observações que foram feitas na sala 2, aparentemente as professoras não

constroem planos de aulas em conjunto. Talvez, a professora regente peça alguma sugestão

para a segunda professora, mas não elaboram as atividades:

Observando que a professora regente estava demorando a chegar, ela foi até

a secretaria. Alguns minutos depois, voltou à sala e disse que a professora

atrasaria um pouco, porque estava doente. A segunda professora resolveu

então passar atividades de revisão no quadro. Procurou o livro de

matemática que o grupo utiliza, mas não achou. Pediu então, para uma aluna

da sala mostrar-lhe o caderno para saber onde o grupo “estava”. A segunda

professora resolveu então passar operações de divisão. (trecho do relatório

nº3-sala 2)

Nesta dupla, a segunda professora se restringe a planejar atividades para o aluno com

necessidades educacionais especiais.

Outro destaque é o planejamento das atividades diferenciadas para os alunos com

necessidades educacionais especiais, comentado pelas docentes.

Em relação à avaliação de sua contribuição para o processo ensino e aprendizagem as

professoras responderam distintamente. Abordaram a auto-avaliação da prática depois de

ressaltarem as más condições de trabalho, a troca de experiência com sua colega de trabalho, a

prática realizada a partir da realidade do aluno envolvendo a inclusão e a contribuição para o

desenvolvimento do aluno para a construção de um ser global.

Uma das respostas foi: “Vontade todos nós professores temos de cada dia aprender

mais, para assim fazer um ótimo trabalho, porém as condições que nos dão, às vezes, nos faz

desanimar. Amo o que faço e procuro sempre melhorar e repensar a minha prática para uma

melhor condição de ensino” (apêndice D,tabela 3) . Que pode muito bem ser vinculada, a uma

das observações realizadas pela pesquisadora: A menina estava se mexendo muito,

56

principalmente depois que ficou livre na cadeira. A professora regente falou com a menina

dizendo que assim ela não iria para a aula. Enfim, conseguiram retirar o casaco e enquanto

a colocavam no lugar novamente a segunda professora falou algo como “tem que amar

muito”. (trecho do relatório de observação nº2 - sala 2)

Apesar das más condições de trabalho, como uma das professoras afirma, em sua

resposta ela faz uma auto-avaliação da sua prática. Ou seja, independente das circunstâncias

avalia qual é o seu compromisso com o processo, atitude que deveria ser seguido por todos.

Outra resposta interessante foi a dada pela segunda professora da sala 2, a respeito da

inclusão: A inclusão traz para todos nós o desafio de mudarmos nossa forma de ver o mundo,

de agir e de pensar. Temos uma grande oportunidade quando convivemos com as pessoas

que são diferentes de nós. Oportunidade de crescermos, de nos tornamos melhores. A escola

tem um papel fundamental para mudança desse olhar. O pedagógico é trabalhado dentro da

realidade do aluno (apêndice D, tabela 3).

A resposta com tema inclusão foi bem pontuada, porém fugiu à pergunta em uma

primeira análise. Após uma análise mais detalhada de uma das respostas, pode-se concluir que

a maior contribuição dela para os alunos é a presença de um aluno com necessidades

educacionais especiais na turma, porque faz com que os alunos cresçam e se tornem

melhores. Como professora desta escola, ela tem o papel de colaborar para a mudança do

olhar sobre o diferente (grifos da autora).

O questionamento referente à relevância da presença de duas professoras em sala foi

escolhido pela pesquisadora para avaliar se haveria alguma divergência entre as professoras

regentes e segundas professoras, principalmente no que diz respeito ao trabalho realizado

entre as mesmas. Porém, todas as professoras responderam afirmadamente à questão, ou seja,

consideram a presença de dois professores na sala relevante.

As justificativas para a afirmação foram diferentes. Entre elas, houve quem defendesse

a atenção individual, a parceria entre as professoras, troca de experiência entre as professoras

e o cuidado dos alunos, “Se for necessário, sim, pois sempre há uma troca”; “ É bastante

relevante, quando ambas se entendem bem e em tudo.”; “É de grande importância, é

necessário. Temos crianças que precisam ser trocadas e alimentadas, os professores não

trabalham somente com o pedagógico” e “Com certeza, é importante esta parceria na

mediação do conhecimento que todos os alunos constroem. Dois professores na sala podem

dar atenção individual aos sujeitos com dificuldades de aprendizagens”(apêndice D,tabela 4).

57

Uma das respostas que mais chamou a atenção já foi citada anteriormente: “É de

grande importância, é necessário. Temos crianças que precisam ser trocadas e alimentadas,

os professores não trabalham somente com o pedagógico”. Esta resposta foi dada pela

segunda professora da sala 2. É possível atrelar esta resposta com o cuidar e educar da

Educação Infantil além do papel que a professora assume nesta função.

Para analisar a resposta da professora é possível utilizar a Política Nacional de

Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (2008) relacionado à função de

segundo professor e outras nomeações.

Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação especial na perspectiva da

educação inclusiva, disponibilizar as funções de instrutor, tradutor/intérprete de

Libras e guia intérprete, bem como de monitor ou cuidador aos alunos com

necessidades de apoio nas atividades de higiene, alimentação, locomoção,entre

outras que exijam auxílio constante no cotidiano escolar.

Para a efetivação da Educação Inclusiva, esta lei propõe a disponibilização de tais

funções para apoiar e auxiliar os alunos com necessidades educacionais especiais nas

atividades do cotidiano escolar. As funções de monitor e cuidador remetem às práticas da

Educação Infantil que se baseiam na função de educar e cuidar. Porém, ao mesmo tempo, tais

funções são apresentadas e exercidas de forma não pedagógica como “cuidador”, retomando

as práticas de uma babá.

Retomando as práticas das funções elencadas anteriormente semelhantes à Educação

Infantil, é possível afirmar, segundo Cerisara (1999) que as práticas da Educação Infantil

iniciaram nessa duplicidade entre cuidar e educar: as creches exerciam caráter assistencialista

e as pré-escolas caráter educacional.

As creches exerciam uma proposta de educação assistencialista às crianças pobres com

a importação do modelo hospitalar/familiar, logo assistencialista, que não necessitava de

profissionais com formação para cuidar destas crianças. Assim, os cuidados, basicamente,

eram de higiene e alimentação.

As pré-escolas exerciam uma proposta de educação para as crianças mais abastadas

financeiramente, importando as práticas escolarizantes do Ensino Fundamental. As funções de

cuidado eram desvalorizadas e diferenciadas das atividades pedagógicas (CERISARA, 1999).

Com a análise e debates sobre as práticas destas instituições foi possível constatar que

essa separação entre as práticas de cuidar e educar deveriam ser superadas. A Educação

Infantil atentaria as especificidades desta modalidade de ensino, sendo assim educar e cuidar

faria parte das práticas dos educadores (CERISARA, 1999).

58

Educar e cuidar não se assemelha às práticas familiares, porque há um objetivo

específico: ensinar algo à criança. Um exemplo dessa dicotomia pode ser dado à criança

quando é trocada. Neste momento, o educador pode falar das cores, da textura e do tamanho

da roupa da criança.

As práticas da Educação Infantil, especificamente as da educadora Maria Montessori,

inspiraram práticas da Educação Especial conforme Mazzotta (2005). Por este motivo, é

importante levar em consideração tais elementos desta modalidade de ensino que influenciam

práticas da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva.

Em relação às práticas do “cuidador”, que apareciam (aparecem) em instituições

filantrópicas e residências sem maiores projeções pedagógicas, ainda é corrente nas escolas de

ensino regular. Alguns professores somente exercem a função de cuidadores dos alunos com

necessidades educacionais especiais.

Infelizmente, o que acontece dentro dos muros escolares não aparece nas leis uma vez

que as mesmas são vistas como verdade absoluta, como abordado na intervenção interna do

controle do discurso por Focault (1970) na revisão de literatura.

Talvez, pelo fato dos professores acreditarem que somente sua função não provocará

mudanças, não ter projeto de inclusão nas escolas, não terem formação específica, não terem

apoio da direção da escola, o seu papel se limitaria às funções de higiene e alimentação. O

valor do salário dos professores ”cuidadores” não precisa ser alto, sendo que eles fazem pelo

amor à profissão.

O discurso da pedagogia do amor valoriza este tipo de comportamento da sociedade,

em relação aos professores. Também é relevante lembrar as “tias”, mulheres, mães ou não e

sem formação que trabalhavam como professoras.

São questões que levam a refletir o processo de desvalorização dos professores,

principalmente das professoras dos anos iniciais. Porém, o que estes professores, muitas

vezes, não percebem, é que todas estas ideias estão enraizadas em toda a sociedade com o

objetivo de reconhecer e manter estas instituições no poder.

Em relação à posição assumida frente ao ensino e aprendizagem do aluno com

necessidades especiais, as professoras responderam de forma diferente a esta pergunta. Uma

das professoras considerou sua posição, em relação ao processo ensino aprendizagem, como

luta, apesar de gostar do que faz. Sua colega de trabalho respondeu que considera este aluno

como os demais, porém com ele (não foi compreendido, se ela estava falando do seu antigo

aluno ou da aluna que ela tem em sala) são necessários materiais adaptados e mais atenção.

59

Já, a segunda professora da sala 2 descreveu sua prática enfatizando o amor, a

socialização e a inclusão: “O processo ensino aprendizagem da criança é o socialismo, o

amor, a inclusão, trabalhar junto a sua realidade. O conto de uma historia, por exemplo, o

aluno participa do círculo da leitura, mas ele não lê, nós trabalhamos a leitura através das

gravuras, releitura dos textos com gravuras e linguagem” (apêndice D, tabela 4). Esta

profissional remete-se a pedagogia de forma flórea com as palavras “socialismo”, “amor” e

“inclusão” remetendo a Educação Infantil quando estes aspectos são mais abordados.

Já outra profissional, declarou que ela respeita as limitações do aluno e organiza um

trabalho para desenvolver suas potencialidades. Reiterando a posição de desenvolver as

habilidades deste aluno e não suas dificuldades como é considerado na inclusão escolar

(apêndice D, tabela 4). Porém, o que foi percebido nas observações é que dificilmente a

mesma professora que deu esta resposta dificilmente se aproxima do aluno com necessidades

educacionais especiais, demonstrando que a sua contribuição para a aprendizagem é

praticamente nula.

A respeito da crença de que a prática pedagógica é fundamentada nos princípios da

Inclusão Escolar, três professoras responderam afirmativamente a questão, enquanto uma

professore respondeu “nem sempre” (apêndice D, tabela 4).

A justificativa das professoras foi distinta. Dentre elas, “ Se baseia na Educação como

um todo”; “Tenho um cadeirante com paralisia cerebral. Tentamos ter garantia de qualidade

na educação, propiciando melhor adaptação, acomodar o aluno com sua deficiência”; “É

com base na diversidade que poderemos crescer como seres humanos. É a mediação e

socialização dos saberes de um grupo que faz a diferença.” e “Nem sempre, porque a

estrutura e profissionais não estão preparados para recebê-los.”(apêndice D, tabela 4).

Também é possível considerar que a resposta dada pela professora: “Nem sempre,

porque a estrutura e profissionais não estão preparados para recebê-los.” a uma pergunta

que questiona sua prática remete a sua posição negativa a inclusão. Porém, nas observações

foi possível perceber na fala dessa docente que existem outros professores da escola que não

acreditam no potencial destes alunos e não é somente por causa da estrutura precária da

escola.

A resposta que mais chamou a atenção, durante a pesquisa, foi: “Sim. Tenho um

cadeirante com paralisia cerebral. Tentamos ter garantia de qualidade na educação,

propiciando melhor adaptação, acomodar o aluno com sua deficiência” (apêndice D, tabela

4).

60

Primeiramente, os termos “adaptação” e “acomodação” do aluno são termos ignorados

pela inclusão escolar. Na perspectiva da integração, adaptação e acomodação do aluno na

escola eram realizadas. Porém, na perspectiva inclusiva é a escola que deve se reformular para

atender todos os alunos, indistintamente.

Referente ao uso de “acomodar o aluno com sua deficiência” remete a passividade do

aluno a sua deficiência, a não melhora, ao não desenvolvimento, ou seja, a deficiência ligada

ao aspecto biológico, dificilmente curável.

Em relação à escola ter ou não estrutura física e outras providências para atender o

aluno com necessidades educacionais especiais relacionados à acessibilidade, todas as

professoras responderam de forma negativa. Ou seja, a escola não tem estrutura física e outras

providências para atender o aluno com necessidades educacionais especiais.

As justificativas foram que a escola não está preparada para a inclusão, a estrutura não

está adaptada, para a locomoção de um aluno cadeirante não tem rampas. Não tem a estrutura

e a adaptação dos ambientes necessária para o acesso desses alunos.

A lei 10.098 de 19 de dezembro de 2000 estabelece normas gerais e critérios básicos

para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade

reduzida e dá outras providências.

I – acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com

segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das

edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa

portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;

O direito de ir e vir são promulgados em lei, porém nem todas as pessoas têm acesso a

todos os ambientes sociais. A escola, como ambiente social, deve ter espaços acessíveis a

todos os alunos, reiterando o pressuposto da tão comentada inclusão escolar.

Em relação ao aluno com necessidades educacionais especiais ser incluído nas práticas

escolares (referente ao aluno da turma) ou não, todas as professoras responderam

afirmadamente a questão.

Três professoras consideraram a inclusão quando o aluno é aceito pelos outros

colegas: “Ela está inserida a partir do momento que a turma a aceita, conversam com ela,

fazem carinho e até mesmo se preocupam quando a mesma não vem ou está doente”(

(apêndice D, tabela 6).

Dentre estas professoras, uma delas, enfatizou não somente a inclusão com os colegas,

mas também nas atividades pedagógicas. A interação ocorre em atividades em grupo, “Sim,

61

eles tem a inclusão com os alunos e com atividades pedagógicas, sendo que nem todas tem a

interação algumas são trabalhadas individuais” (apêndice D, tabela 6).

Primeiramente, é possível reiterar que o pressuposto da inclusão escolar não parte

somente da socialização dos alunos com necessidades educacionais especiais, mas sim da

igualdade de oportunidades de acesso e permanência na escola a todos.

As escolas abertas as diferenças e capazes de ensinar a turma toda demandam uma

re-significação e uma reorganização completa dos processos de ensino

aprendizagem usuais, pois não se pode encaixar um projeto novo em uma velha

matriz de concepção.(FÁVERO, PANTOJA & MANTOAN apud. MACHADO,

p.93, 2009)

Se estes alunos com necessidades educacionais especiais fossem à escola somente para

a socialização, não necessitariam ficar todo o período. Porém, o objetivo destes alunos

frequentarem a escola não é somente de socialização, mas a busca da aprendizagem. Quando

a socialização se torna o objetivo principal em uma sala de aula é possível dizer que os

professores não acreditam na capacidade de desenvolvimento do aluno, colocando a

“amorosidade” em um lugar que não lhe compete.

Outra professora respondeu que o aluno participa com gestos e ações, com isto

percebe que ele compreendeu alguns conceitos trabalhados.

Em relação à questão que tratava do que é necessário para que este aluno seja incluído

na escola, as respostas das professoras variaram entre a importância da estrutura física, a

aceitação do profissional e a posição dos governantes.

A estrutura física é fundamental para a acessibilidade de todos os alunos em todos os

ambientes da escola. Estrutura física, recursos materiais e humanos colaboram para a inclusão

escolar. Porém, a acessibilidade só será estrutural, se as professoras não assumirem uma

postura inclusiva.

A resposta dada por uma das professoras, aceitação do profissional, deveria partir do

pressuposto que não existem alunos iguais e que todos não aprendem da mesma maneira.

Partindo deste princípio, o professor deveria procurar novas metodologias e atividades

significativas para todos. Assim, a heterogeneidade é quem dinamiza os grupos, dá vigor,

funcionalidade e garante o sucesso escolar. (MANTOAN Apud. MACHADO, 2009)

Juntamente com a compreensão, por parte do professor, que o conhecimento adquirido não é

eterno e que a formação continuada é necessária para uma prática pedagógica responsável.

62

Outro ponto citado pelas professoras foi à posição do governo diante da educação.

Uma das professoras citou que os governantes colocam na mídia o que não fazem. Porém, não

falam do compromisso do estado com a formação docente.

Recursos materiais, bons salários, inclusão escolar, alimentação, entre outras coisas

passaram pela mente da professora quando estava respondendo esta questão. O apoio do

governo é importante para as experiências inclusivas, mas não é suficiente.

Foucault (1970) comentou que o alto cargo de uma sociedade do discurso controla a

sociedade através deste. O falso discurso de uma inclusão escolar é inculcado nas pessoas,

fazendo com que elas não modifiquem suas ações, reafirmando o poder do estado.

A sociedade em geral tem papel importante para com a inclusão, seja ela escolar ou

social e a partir das mudanças de paradigmas relacionados ao poder, movimentos em prol do

bem comum para a maioria da população serão legitimados.

63

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Adentrar ao espaço escolar nos remete as lembranças da primeira professora, da

alegria na hora do recreio e de alguns colegas mais próximos e das conversas entre as

crianças.

Como pesquisadora, pude analisar e concluir que a inclusão é vista como

socialização, ou seja, uma evolução da integração.

Os alunos com necessidades educacionais especiais estão inseridos, tratados com

carinho pelas professoras, principalmente as professoras da primeira sala a ser observada,

mas elas não possuem consciência da dimensão do compromisso, do seu papel enquanto

educadoras.

As professoras em suas respostas ao questionário afirmam que a escola não é

inclusiva, porém elas acreditam que sua prática pedagógica é apoiada no conceito de

inclusão escolar. Pela análise dos dados, é perceptível que as professoras não promovem

inclusão escolar, mas sim a inserção.

Como falar de inclusão, se as professoras seguem o modelo de integração, baseado

na adaptação do aluno à escola e da mera socialização sem nenhum objetivo pedagógico

em quaisquer atividades contempladas nas observações.

A relação de trabalho entre segunda professora e professora regente nas salas 1 e 2

ocorre de maneira indistinta comprovada pelas observações. Mesmo as professoras da sala

2 afirmando que planejam as aulas juntas, pude perceber no decorrer da pesquisa que as

professoras planejam separadamente: a segunda professora planeja a as aulas para o aluno

com necessidades educacionais especiais e a professora regente para os demais alunos.

Entretanto, a relação de trabalho, entre as professoras da sala 1, dá-se de maneira

harmoniosa, pois além de serem colegas de trabalho, são amigas na vida particular. É

perceptível, a amizade que elas construíram. Estas professoras planejam as aulas juntas e

até chamam a atenção dos alunos da mesma maneira. Estão alinhadas.

Em relação a segunda professora da sala 1, pude observar que a professora regente

possibilita a intervenção e a participação da mesma abrindo espaço para a atuação da

segunda professora da sala. Seja corrigindo avaliações, colocando as notas no diário ou

discutindo com ela as próximas atividades.

64

Entretanto, a professora regente da sala 2 trata a segunda professora como auxiliar

de sala, que se limita a atuar como professora do aluno com necessidades educacionais

especiais, sendo que ela foi contratada para colaborar com a educação de todos.

A atuação da segunda professora é limitada à educação do aluno com necessidades

educacionais especiais. Entretanto, apesar da segunda professora da sala 1 se referir

também à aluna com necessidades educacionais especiais, seu trabalho contempla os

demais alunos da sala, questão comprovada pelas observações.

Em relação ao processo de ensino aprendizagem do aluno com necessidades

educacionais especiais, acredito que elas fugiram da pergunta e não conseguiram, naquele

momento, expressar o grau de contribuição das mesmas com a educação destes alunos.

Outro ponto importante a destacar é a confusão existente entre o papel da

professora regente e da segunda professora para os profissionais e alunos da escola.

Situação vivenciada por mim na escola, quando presenciei uma fala do aluno em dia não

contemplado pelas observações em que a segunda professora não estava presente. Um dos

alunos, perguntou para a professora da turma onde estava “a mulher que cuida do

Bernardo”. A professora repreendeu o aluno e disse que ela tinha nome e era professora

como ela. Desse modo, deveria respeitá-la.

Em relação à estrutura física e outras providências para a integração do aluno com

necessidades educacionais especiais, pude perceber nas observações e na fala das

professoras que a escola pesquisada não oferece nenhum tipo de acessibilidade. As

professoras comentaram que também não há fraldário, outro ambiente fundamental para os

alunos observados.

Reitero que o estudo de caso contempla somente as classes e suas professoras

observadas, por este motivo não é possível ampliar a conclusão da pesquisa a todas as

escolas estaduais do município josefense.

Com a presente pesquisa sendo um estudo de caso, acredito que é de fundamental

importância o caminho aberto às novas pesquisas que contemplem o estudo do papel destes

profissionais que estão a cargo também da inclusão escolar.

Diante dessas questões pontuadas, pude concluir que o papel da segunda

professora, nesta escola, dá-se de duas maneiras distintas: como cuidadora e em alguns

momentos como auxiliar de sala. Exercem o papel de auxiliar de sala apesar do trabalho

que realizam com diários de classe, elaboração de atividades e outras atividades em sala

com todos os alunos.

65

É possível reiterar que a presença da segunda professora em uma sala que tem um

aluno com necessidades educacionais especiais, no contexto analisado, não promove a

experiência inclusiva. Com esta perspectiva, acredito que a nomenclatura e a função da

“segunda professora” deveria ser extinta, uma vez que o acréscimo desta função em

escolas estaduais com grande número de alunos ou com a presença em sala de aluno com

necessidades educacionais especiais não mudou a atitude da sociedade, e principalmente o

compromisso das instituições de ensino e de seus profissionais, em relação a inclusão

escolar.

A presença deste professor, somente fez com que a escola deixasse a cargo de um

profissional especializado a educação do aluno com necessidades educacionais especiais,

sendo que a escola não admite a responsabilidade do seu fracasso por não conseguir

trabalhar com pessoas diferentes que aprendem de formas distintas.

Estes profissionais especializados das escolas estaduais a que se refere este

trabalho, não contam com apoio diário em suas práticas por parte dos demais professores e

direção. Contam somente com seus colegas de trabalho que permanecem na mesma classe

ou pela Fundação Catarinense de Educação Especial que em alguns momentos promove a

seleção e formação destes profissionais e de professores regentes que trabalham com

alunos com necessidades educacionais especiais em sala.

Acredito que dois professores em sala são fundamentais pelo fato de que eles, com

um trabalho em conjunto alinhado, possam promover uma prática pedagógica efetiva e

eficaz. Assim, dois profissionais em classe sem hierarquia, sem definição de cargo de

importância, somente dois docentes conscientes do seu papel de cuidar e educar, por si só

não é o suficiente. A ação só se efetivará quando planejarem as atividades em conjunto.

Nesse contexto, ambos serão reconhecidos por todos os profissionais da instituição

de ensino, pelos alunos e comunidade como professores regentes, comprometidos com a

educação de qualidade para todos.

66

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69

APÊNDICES

APÊNDICE A – Relatórios de observação- Sala 1

APÊNDICE B – Relatórios de observação - Sala 2

APÊNDICE C- Questionário aos professores

APÊNDICE D - Questionário respondido pelas professoras da sala 1 e 2

APÊNDICE E - Termo de autorização para a pesquisa realizada.

70

APÊNDICES

APÊNDICE A – Relatórios de observação- Sala 1

RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO Nº1

DATA: 29/04/10

A primeira visita à escola foi realizada dois dias antes da primeira observação. Nessa

visita, falei com a diretora que prontamente permitiu a observação das aulas da quarta série e

falou sobre os alunos com necessidades educacionais especiais na escola.

Chegado o dia, dirigi-me à secretaria da escola, expliquei o motivo de minha presença

e a coordenadora pediu que eu esperasse na sala dos professores que ela iria me apresentar à

professora da sala. Alguns minutos antes de tocar o sinal, a diretora chegou e me apresentou à

professora da turma, que será chamada de Júlia para preservar a sua identidade.

Júlia me convidou para acompanhá-la até a sala, onde conheci a segunda professora

que será chamada Amanda para preservar a sua identidade. Amanda sorriu discretamente,

meio que desconfiada.

Todos os quinze alunos estavam em sala e as carteiras vazias ficavam entre eles.

Chamou-me a atenção o número reduzido de alunos para uma quarta série de uma escola

pública.

A professora Júlia (grifos da autora) me apresentou aos alunos falando sobre a

pesquisa em inclusão escolar referindo-se aos colegas com deficiência, aqui chamados de

Bernardo e Paula para preservar as identidades.

Paula (grifos da autora) é uma menina com paralisia cerebral que permanece em uma

cadeira de rodas. Como a professora regente afirma, todas as crianças querem que a menina

fique ao lado delas, assim cada dia ela fica ao lado de um colega da turma. Neste dia, Paula

ficou ao lado de uma colega que procurava “ajeitar” a sua cabeça sempre que ela ficava fora

da cadeira.

Bernardo é um garoto mais agitado, não fala, apenas balbucia. Entretanto, pede para

tomar água, comer, mexe a cabeça para o “sim” e para o “não” e compreende o que as pessoas

falam.

71

As professoras estavam comentando que o Bernardo vai para outra turma de quarta

série, porque para elas não havia tempo nem para tomar café (elas dão o lanche para eles em

sala). A professora regente comentou que para transferi-lo para outra sala foi complicado.

Sugeriram que a menina permanecesse na turma da tarde e ele na turma da manhã.

Mas não foi possível, porque ele frequenta outra instituição especializada nesse período. Uma

professora regente e duas segundas professoras também não poderiam ficar na mesma sala.

Com a visita da integradora da GERED4 e diante do movimento dos pais dos alunos com

necessidades especiais, como reitera a segunda professora, foi contratada uma segunda

professora para a turma que o Bernardo irá.

As professoras falavam para o aluno que ele iria mudar de sala e ele começava a

chorar. As professoras, com o intuito de contornar a situação, tentavam amenizar o choro

dizendo que iriam ser professoras deles ainda, que são amigas dele, mas não resolveu. Às

vezes, com algumas palavras, o aluno sorria e balbuciava, porém somente após a segunda

professora dizer que iria arrumar o caderno dele foi que ele se acalmou. Bernardo fica em

uma cadeira de rodas que possui um acessório semelhante a uma carteira. O aluno ficou ao

lado da segunda professora durante as aulas. Inicialmente, ele estava na frente. Depois, a

segunda professora o colocou ao seu lado na última carteira.

Enquanto desenvolvia uma atividade com a turma, a professora regente entregou uma

boneca para Paula e ficou brincando com a garota por alguns minutos. Fez com a menina a

segurasse. Para Bernardo, a professora da turma entregou o texto e pediu que ele não o

jogasse no chão, mas ele jogou. Depois, a segunda professora leu o texto para ele.

Júlia, a professora regente me mostrou uma coleção de livros infantis sobre a inclusão,

cada livro tratava de uma deficiência. A um dado momento, sentou-se a minha frente e falou

sobre a inclusão. Antes disso, Júlia já havia falado que as professoras nem poderiam tomar

café, porque tinham que alimentar os alunos com necessidades especiais e que os mesmos

usavam fraldas e que eram trocados na sala de aula porque não há um lugar apropriado na

escola.

Comentar sobre a inclusão comigo, seria uma forma de se justificar pelo que acontecia

em sala de aula?

A professora regente, Júlia, comentou que não há “inclusão”, os alunos estão na escola

para se socializarem com os outros alunos.

4 GERED – Gerência Regional de Educação

72

Segundo a professora regente, os ambientes da escola não são adaptados. A escola não

tem rampa para chegar à biblioteca, que está localizada no segundo piso e que por esse motivo

também não poderiam estudar nas salas desse andar.

De acordo com a professora regente, Júlia, além de a escola não ter trocador e os

materiais necessários para os alunos que usam fraldas, precisam de colchões para a troca. Os

materiais utilizados, são fornecidos pelos pais. Júlia comentou também, que alguns

professores têm preconceito com os alunos.

”Elas fazem o que podem” (referente as professoras), algo semelhante o que a

professora disse ou quis dizer.

Júlia propôs aos alunos a leitura do texto em voz alta. A maioria dos alunos leu e

Bernardo também participou.

Enquanto os alunos faziam as atividades, Bernardo balbuciava alto e as professoras o

repreendiam, principalmente a segunda professora. As mãos de Bernardo permanecem

fechadas e viradas para baixo constantemente e as professoras pediam para que ele as abrisse

e as colocasse em cima da cadeira. Quando não fazia, os alunos falavam que ele é “bichinha”

e alguns alunos começavam a repetir.

Com esforço, o Bernardo colocava as mãos em cima da cadeira por alguns minutos e

elas apoiavam. Permaneceu lado da segunda professora sem fazer nenhuma atividade,

enquanto ela corrigia e olhava folhas. A mesma situação se repetiu com a Paula.

Paula era a boneca das meninas da sala, algumas meninas vão até ela para mexer em

seus cabelos e arrumar sua cabeça. A professora regente faz o mesmo. A segunda professora

se aproxima dela quando a garota está desequilibrada na cadeira. Paula não fez nenhuma

atividade.

Quase chegado o momento de intervalo, a segunda professora deu lanche ao Bernardo

E depois em um colchonete trocou a Paula. Ela permanece no colchonete, enquanto Bernardo

come os biscoitos com a ajuda da professora regente.

Na hora do intervalo, todos os alunos saem da sala e a professora regente me convidou

para ir à sala dos professores. Lá, a professora pegou xícaras de café e açúcar e voltou para a

sala. Permaneci por algum tempo na sala dos professores e voltei para a sala de aula. A sala

estava com a porta fechada, as professoras estavam tomando café e conversando e os alunos,

Paula e Bernardo, em seus lugares. Alguns minutos depois, tocou o sinal para o retorno a

aula.

73

A professora regente comunicou à turma que haveria um teatro e a segunda professora

disse que não iria porque daria iogurte para Paula.

É importante lembrar que a segunda professora exerce a mesma postura da professora

regente: chama a atenção dos alunos, faz o planejamento (pelo que parece) e intervém na aula.

A segunda professora me pareceu mais rígida com os alunos do que a professora Júlia.

Enquanto, a professora regente não sabe quando é o momento para ir ao refeitório, dá

alguns biscoitos para Bernardo. Depois, a professora regente organiza a fila no pátio e segue

até o refeitório. No refeitório, pede para que as crianças sentem no chão em frente a um

pequeno palco que há no espaço. Foram chegando os alunos de outras turmas para ver a

apresentação teatral cujo o tema era o piolho.

Bernardo se agitou, pediu água para a professora e para todas que chegavam perto. A

professora se negou a dar água porque havia perguntado a ele antes e o garoto não queria.

Bernardo insistiu na água balbuciando alto e a professora regente repetiu várias vezes que se

continuasse assim voltaria para a sala, tirando a cadeira do lugar.

A diretora disse que era para ele voltar para a sala. Porém, ele continuou a reclamar,

mas não foi. Algum tempo depois, outra professora da escola levou-o até a sala de aula.

Com o término do teatro, todos os alunos voltaram para a sala e a professora regente

gritou com o Bernardo para “não fazer ela de boba” e comentou com a segunda professora o

ocorrido.

Retomando a aula, os alunos contaram suas histórias com a formiguinha. Com o final

da contação de história, a professora passou no quadro, desafios matemáticos. Enquanto isso,

Bernardo se aproximou de alguns alunos que estavam sentados no fundo e puxou a mão de

um deles. Bernardo usou um dos pés para empurrar a cadeira. Nesse momento, a professora

falou que ele estava atrapalhando o aluno que estava fazendo a atividade.

Paula anteriormente havia sido colocada em um colchão no fundo da sala para ser

trocada. Depois, a segunda professora colocou-a novamente na cadeira e ao lado de sua

colega.

Algum tempo depois, a mãe de Paula veio buscá-la e Bernardo foi logo depois.

Análise: É observável que as professoras trabalham conjuntamente e isto deve ser

levado em consideração para um bom trabalho junto aos alunos.

74

Fiquei surpresa pela colocação da professora regente ao dizer que na escola não teria

inclusão. Para a professora regente falando sobre a inclusão com a pesquisadora, talvez tenha

sido uma forma de denúncia ou de argumento para sua prática.

RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO - Nº 02

DATA: 05/05/10

Ao tocar o sinal, a 2º professora se dirige aos alunos para levá-los à sala. Em meio à

aula, Paula chegou com sua mãe, que repassou as instruções à segunda professora.

Algum tempo depois, chegou a professora regente e ela informou que o Bernardo não

queria entrar na outra sala (hoje seria o 1º dia na outra sala) e que ele estava chorando. As

professoras foram na sala em que o Bernardo estava para convencê-lo a permanecer na sala e

auxiliar a nova segunda professora. Na maioria das vezes, as professoras saíam para ir à outra

sala, uma de cada vez, para ver como ele estava.

Os alunos copiavam o texto e comentavam sobre os erros que nele havia. Algum dos

alunos foi até o quadro corrigir a palavra. Outro aluno disse que era pegadinha da professora.

A professora regente corrigia uma atividade que os alunos estavam fazendo, enquanto

a segunda professora interveio dizendo que eles deveriam prestar atenção no que escrevem e

que, se não soubessem como é a forma correta de escrever uma palavra, que a soletrassem.

Ela deu um exemplo. Depois disso, a 2ª professora voltou ao seu lugar: duas carteiras juntas

no final da primeira fila onde estava entretida entre cadernos e chamadas.

A professora regente avisou que os alunos com dificuldade em Português e

Matemática iriam ficar nas aulas de Educação Física em sala para que ela os ensinasse. A

professora comentou que já havia falado com o professor de Educação Física. Como os alunos

estavam muito agitados, disse que iria fazer uma prova (redação e operações matemáticas) e

que se não soubessem iriam ficar em sala.

Algum tempo depois, toca o sinal para a segunda aula. Educação Física era a aula tão

esperada. Chegando o professor em sala, todos correram para a quadra. Nesse momento, a

professora diz que deveria tirar o casaco da Paula para que ela participasse da aula de

Educação Física, o que foi bem difícil. A segunda professora disse para que o professor fosse

até a quadra que ela iria levá-la depois. Enquanto os alunos estavam na quadra, Paula ainda

tirava o casaco.

75

As duas professoras tiveram que desamarrá-la da cadeira, onde era fica presa em um

tipo de “avental” amarrado pelas pontas . A menina estava se mexendo muito, principalmente

depois que ficou livre na cadeira. A professora regente falou com a menina dizendo que assim

ela não iria para a aula.

Enfim, conseguiram retirar o casaco e enquanto a colocavam no lugar novamente a

segunda professora falou algo como “tem que amar muito”. A professora regente brincou com

a menina que estava com as pernas dobradas chamando a de perereca.

As professoras levaram a menina para próximo da quadra. A menina foi colocada

próxima de uma parede no espaço em que estavam três alunos jogando bola. As professoras

foram na sala dos professores e me convidaram para acompanhá-las. Disse que queria ficar

ali. Elas falaram com o professor de Educação Física e ele somente disse às crianças que

tomassem cuidado.

Ele se dirigiu à quadra, não voltando em nenhum momento para interagir com estes

alunos. Os demais estavam jogando futebol na quadra.

Uma das alunas que estava jogando bola me convidou para jogar. Por algum tempo,

joguei com os alunos, até que os meninos se dispersaram. Depois joguei bola somente com a

menina. Enquanto isso, Paula estava no mesmo lugar.

Tocou o sinal e aula acabou. Os alunos saíram correndo para tomar água e ir a ao

banheiro. A menina me chamou para acompanhá-la. Perguntei sobre a Paula. Ela disse que o

professor iria levá-la

Quando chegamos à sala, a Paula já estava lá ao lado da segunda professora, onde

permaneceu o restante da tarde. Os alunos estavam bastante agitados, assim as professoras

chamaram a atenção por diversas vezes. Quase ao fim da aula, a segunda professora deu o

lanche a Paula. O lanche da merenda escolar era risoto. E como ela só bebia iogurte a

professora tentou mudar a rotina dando o risoto.

A professora colocou Paula em seus braços e deu o risoto, a menina tossiu por diversas

vezes, parecendo estar engasgada. A segunda professora disse que ela estava tossindo muito e

que tinha bronquite. A professora regente disse que era melhor dar iogurte.

Para o dia das mães as crianças iriam tiram fotos para lembrança e que um professor

da escola tiraria as fotos. A professora regente disse que poderia ser em qualquer horário. A

segunda professora então comentou que a Paula não poderia tirar a foto porque e estava

comendo. Alguns minutos depois resolveram tirar as fotos. A segunda professora disse que

76

Paula já tinha foto, mas que fora utilizada algumas vezes e seria bom tirar outra foto. A

professora regente disse que “somente muda o arrepiado do cabelo” e ela não tirou a foto.

Durante o intervalo Paula foi colocada no colchão no fundo da sala. As professoras

tomaram café, enquanto falavam da vida pessoal. Tocou o sinal para o retorno a sala e as

professoras estavam sentadas ao fundo, conversando. A professora regente recolheu as xícaras

e os alunos pediram o biscoito que ela tinha na mão. Ela ofereceu biscoitos a vários alunos.

No início da quarta aula em que ocorreu a continuação das atividades, a segunda

professora trocou a menina no fundo da sala, onde ela permaneceu na hora do intervalo. A

segunda professora cobriu algumas cadeiras com um pano para que ficasse mais reservado,

sendo colocada novamente na cadeira.

Enquanto, os alunos faziam as atividades, conversavam e brincavam e era chamada a

atenção. A segunda professora da outra sala da quarta série onde estava o Bernardo,

perguntou sobre a troca de fralda. A professora regente a auxiliou.

A segunda professora disse-lhe que poderia contar com as duas professoras. A

segunda professora elogiou a professora regente falando que se não fosse pela sua presença ,

ela não continuaria na escola. A nova professora falou em fazer um projeto de inclusão.

Falaram também sobre a orientação da Fundação Catarinense de Educação Especial, entre

outras coisas que por estar longe, não pude escutar.

A nova segunda professora saiu e as professoras comentaram que iria acontecer algo,

porque ela saiu antes do horário. A segunda professora penteou os cabelos de Paula e disse a

ela enquanto passava brilho labial na garota, algo como “Vou passar batom para ficar bonita”.

Alguns meninos olharam e a professora perguntou se eles queriam passar. Um dos meninos

disse que sim. A segunda professora comentou que não se deve passar batom que fosse de

outra pessoa. Outro garoto da sala falou em voz razoável que “pode ficar igual ela”.

Quase no final da quinta aula, a mãe da Paula foi buscá-la. A segunda professora

relatou o que aconteceu à tarde. As professoras falaram do material que faltou para a troca de

fralda. A mãe da aluna disse que iria fazer uma lista para a diretora dos produtos que faltavam

ou ligaria para a GERED. Depois de alguns minutos de conversa, comentando sobre

Bernardo e a chegada da nova professora, a aula terminou.

Análise: A tarde foi bastante movimentada pela mudança de turma de Bernardo.

Porém, pareceu que as professoras ficaram mais aliviadas com a saída de Bernardo. Acredito

que pelo fato do menino ser mais agitado e responder a estímulos comprometeria o “tempo”

da prática dos alunos com ambas as professoras.

77

Observei que com o comentário de um dos alunos sobre o episódio do batom há um

preconceito velado sobre a menina. Não somente deste menino, mas até das colegas que se

aproximam de Paula por ela ser vista como um ser inanimado como uma boneca.

RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO – Nº 03

DATA: 06/05/10

Paula estava ao lado da mesma menina, quando a professora se aproximou delas para

entregar o livro. Ela brincou com a menina e entregou o livro a ela dizendo algo como “Abre

esse livro!”, colocando as mãos dela para abri-lo. A menina jogou o livro no chão e a outra

garota coloca em suas mãos novamente. Isso ocorre mais de uma vez, até que ela consegue

pegar o livro e colocá-lo na carteira ao lado.

Enquanto a Paula fica ao lado de outra menina, a segunda professora organiza as

provas corrigindo com a professora regente.

Em meio a terceira aula, a segunda professora regente veio falar comigo. Ela

comentou que eu deveria estar anotando algumas coisas da aula e que com certeza ela não

fazia nada com a Paula. Disse também, que não tem o que fazer pelo fato da mesma ter

paralisia cerebral severa. Assim, a instituição que ela frequenta recomendou que ela

trabalhasse com as texturas.

A segunda professora comentou que trabalha com as texturas, porém às vezes a Paula

não fica com os materiais nas mãos. Também comentou da facilidade de trabalhar com o

Bernardo, que tem deficiência mental e que corresponde. Disse também que as professoras

das duas salas de quarta série irão sentar com a diretora para fazer um projeto de inclusão para

eles. Comentou que se eu quisesse o laudo da Paula, ela mostrava.

Nas duas últimas aulas, os alunos recebem um texto sobre futebol o qual leem em

leitura silenciosa. Durante a leitura do texto, os alunos perguntam sobre o significado de

algumas palavras constantemente e a professora regente diz que eles devem sublinhar as

palavras que não conhecem para procurar o significado. Então, a segunda professora

recomenda que eles usem o dicionário da sala de aula.

É chamada a atenção de dois alunos constantemente. Algum tempo depois, a

professora regente faz com que eles sentem ao lado dela no fundo da sala, onde estava

organizando material com a segunda professora.

78

Próximo ao final das aulas, a mãe da Paula chega para buscá-la. A segunda professora

comenta como foi o comportamento dela. A mãe da garota fala com a professora regente

também. Pelo que se observa, elas se relacionam muito bem.

Análise: A fala da segunda professora nesta tarde foi o que mais me chamou a atenção.

Ao meu ver, ela buscou justificar sua posição em frente a sua prática, reiterando também da

reunião que farão com a diretora sobre um projeto de inclusão.

RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO – Nº 04

DATA: 07/05/10

Tocou o sinal para entrada e todos os alunos foram para a sala bastante agitados, era

aula de Educação Física. Em meio à espera do professor, a Paula chega acompanhada da sua

mãe.

Pelo fato do dia estar nublado e frio, Paula permaneceu na sala com as professoras.

Como uma das alunas me convidou para acompanhar a aula de Educação Física, não

acompanhei o que a Paula ficou fazendo em sala de aula.

Após a aula de Educação Física, a professora regente propôs aos alunos que

realizassem as atividades que estavam no quadro. As atividades eram sobre resoluções de

problemas matemáticos.

Enquanto os alunos copiavam e resolviam as atividades, a Paula ficou ao lado da

segunda professora, que cuidava de alguns papéis. Sempre que a professora regente passava

perto da Paula brincava com ela. Depois de algum tempo, as professoras resolveram colocá-la

em um colchão. A professora regente buscou dois colchões enquanto a segunda professora

estendeu um lençol em cima deles. Com a ajuda da professora regente a segunda professora

colocou-a sobre os colchões.

Paula se mexia constantemente ficando quase fora dos colchões. Uma das meninas

colegas que havia terminado as atividades, já na terceira aula, pediu para a segunda professora

se poderia ficar ao lado de Paula. A professora deixou e recomendou que ela fizesse carinho e

falasse com a garota. Enquanto, a professora regente corrigia as atividades de quem já havia

terminado, a menina permaneceu ao lado de Paula.

79

Com o toque do sinal para o intervalo, alguns alunos que não haviam terminado,

ficaram esperando a reação da professora. Depois de alguns minutos, ela os deixou ir.

As professoras permaneceram na sala com a Paula. Chamou-me a atenção o fato da

professora regente comentar, durante o intervalo, que trabalha em um restaurante nos finais de

semana; acho que é como auxiliar de cozinha.

Com a volta dos alunos para sala, a segunda professora resolve trocar Paula. A

professora regente pede para os alunos saírem da sala. Ela os acompanha. Depois chega a

segunda professora da sala de Bernardo, para pedir auxílio para as professoras.

A fralda de Bernardo também é trocada na sala. A segunda professora vira Paula para

frente do quadro para que ela não olhe Bernardo sendo limpo.

A segunda professora pede para uma das alunas buscar o prato e o garfo para o lanche

de Paula, banana amassada com geléia. A segunda professora deu o lanche com a menina

sentada na cadeira. Na maioria das vezes, oferece o lanche para a aluna sentando-a no seu

colo.

Análise: Nesta tarde, Paula não participou de nenhuma atividade. As professoras

brincam e mexem com a menina para que se tenha uma falsa impressão de aprendizagem. Já

que a escola não é inclusiva, para quê fazer alguma coisa?

Observável também o auxílio que as professoras deram a segunda professora da sala

de Bernardo, sendo que ela era nova no ambiente.

80

APÊNDICE B – Relatórios de observação - Sala 2

RELATORIO DE OBSERVAÇÃO Nº1

DATA: 10/05/10

Uma nova turma, outros alunos e professoras. Assim, foi marcado o primeiro dia de

observação na “nova” turma de Bernardo. A turma não era tão “nova” para Bernardo, já que

ele tinha frequentado as aulas desta professora com alguns de seus colegas anteriormente.

Quando cheguei à sala, muitos alunos me questionaram se eu seria a nova professora.

Respondi a eles que não. Perguntaram também o meu nome e disseram os seus. Um dos

alunos contou a história do seu nome, que deveria ser de um jeito, mas como aqui não se fala

assim, ficou do modo que se escreve.

A turma é bastante agitada. Dificilmente, os alunos ficaram em seus lugares e em

silêncio. A professora chamava atenção de um e de outro aluno, mas o efeito durava por

poucos segundos. Até estes poderiam ficar quietos por estes milésimos de segundos, porém

outro levantava e começava a falar com o colega. Chamarei a professora regente de Bete e a

segunda professora por Cléo para preservar suas identidades.

A segunda professora chegou, cumprimentou a professora e sentou na última carteira

da fila ao meu lado. Ela comentou que Bernardo deveria ter chegado.

No fundo da sala, como é comum, há um armário em que a professora guarda

materiais. No início da aula, a professora regente foi até ele. Nesse momento, a segunda

professora disse que se ela precisasse de ajuda poderia dizer-lhe (a professora regente

comentou que havia passado mal no fim de semana). A professora regente a abraçou dizendo

que era bom contar com os amigos.

A professora regente iniciou a aula com oração. Pediu para que os alunos abaixassem

a cabeça e pedissem para que tivessem uma boa tarde. Após esse momento, propôs aos alunos

que fizessem a atividade de Matemática entregue por ela.

Depois de alguns minutos, o aluno chegou. Então, a segunda professora, pedindo o

auxílio dos alunos para afastar suas carteiras, levou o menino até o lugar em que estava

sentada.

A segunda professora conversou com Bernardo e disse que eles iriam trabalhar neste

dia. Ele fez sinal negativo com a cabeça. A professora falou que isso era para o bem dele.

Perguntou se ele queria ficar com a mão atrofiada (dificilmente abre a mão direita), ele

81

afirmou. A professora comentou que todos estavam fazendo as atividades e que ele iria fazer

também. Assim, a professora colocou em cima de sua carteira um brinquedo de encaixe de

peças. Algumas peças foram colocadas para que ele colocasse.

O aluno se negou a colocar diversas vezes, mas colocou uma ou duas peças no lugar

durante a intervenção da segunda professora. A professora regente se aproximou dele e disse

que queria vê-lo encaixar as peças.

Um dos alunos foi auxiliado pela segunda professora nas atividades, enquanto

Bernardo tentava encaixar as peças. O menino encaixou uma peça para mostrar a ele. A

segunda professora comentou algo. A segunda professora continuou a auxiliar o aluno.

A professora Cléo comentou que ele já havia colocado três peças e que isso era muito

bom para ele. Bernardo inclinou o corpo e ficou olhando a bolsa da segunda professora. Por

quê? Era o celular. Bernardo queria brincar com ele. Então a professora Cléo, disse que se ele

colocasse a peça no local certo, ela entregaria o celular.

Ele colocou a peça com o auxílio de sua mão esquerda com dificuldade, porém

conseguiu o tão sonhado celular. Bernardo ficou mexendo no celular com uma das mãos.

Assim, a professora resolveu pegar o celular novamente e pedir para que ele brincasse com o

jogo de encaixe. Ele não quis. A segunda professora disse que daria um descanso a ele e

depois iriam continuar. Com isso, a professora Cléo colocou o celular dentro da manga da

camiseta de Bernardo para que ele pegasse.

Bernardo se expressava facialmente e balbuciava algo como “ai’ tentando pegar o

celular com uma das mãos. Quando a segunda professora observava que ele teria mais

dificuldade, colocava o celular próximo ao término da manga. Bernardo conseguia tirar o

celular, este caía na carteira (acoplada a cadeira) e ele tentava segurar o celular. Porém, a

professora Cléo colocava o celular em sua camiseta novamente.

A segunda professora comentou que se tivessem trabalhado com Bernardo desde

pequeno ele poderia andar e falar do seu jeito. Disse também que se ele não tivesse com

vontade de fazer a atividade, ele não faria lembrando que a professora Cléo havia dito.

Quando os alunos terminavam as atividades, amontoavam ao redor de Bernardo. Um

dos alunos havia terminado a atividade de matemática e tentou brincar com ele com o jogo de

encaixe. O menino colocava o objeto perto de sua forma para que Bernardo apenas

empurrasse. Outros dois meninos passavam próximo também. Ficaram por alguns minutos.

Uma aluna, já na terceira aula de Português, pegou o brinquedo de encaixe que a

segunda professora havia colocado no armário já que Bernardo para pegar o celular derrubava

82

o brinquedo que estava próximo. Vários alunos estavam próximos. Enquanto a segunda

professora auxiliava em sua carteira, os alunos que tinham dificuldades nas atividades, outros

alunos brincaram com Bernardo.

A menina colocou o brinquedo em cima da carteira do aluno, abriu a portinha que

tinha no brinquedo de encaixe e colocou o celular dentro, fechou e colocou a chave na

fechadura para que Bernardo puxasse e pegasse o celular. Bernardo estava tentando abrir a

porta, quando a garota facilitava, abrindo-a, para que Bernardo somente pegasse o celular.

Alguns alunos falavam alto dizendo que a garota estava facilitando.

A menina dizia que não, que Bernardo havia aberto a porta. A professora Cléo disse

que eles deveriam o deixar fazer sozinho, que assim iriam ajudá-lo. A segunda professora deu

um exemplo de uma pessoa que come com o auxílio de outra dando a comida na boca. Essa

pessoa iria querer aprender sozinha, perguntou a ela. A menina disse que não.

Depois, a menina deixou de ser a líder da brincadeira e um dos meninos ocupou o

lugar. Ele colocava o celular e abria a porta para que Bernardo pegasse. Um menino batia na

mão dele para que tirasse a mão da porta dizendo que Bernardo deveria fazer. Em seguida, o

menino colocava os objetos próximos a forma para que Bernardo somente empurrasse.

Bernardo participou algumas vezes, empurrando os objetos.

Alguns minutos antes de tocar o sinal para o intervalo, a segunda professora levou

Bernardo no refeitório para o lanche. Antes, avisou a professora regente que iria levá-lo. A

seguir, todos os alunos foram para o recreio.

Fui até o refeitório onde estava Bernardo e a professora Cléo. Lá, Bernardo comia

biscoitos que ele mesmo pegava e, às vezes, a professora dava-lhe na boca.

Perguntei a segunda professora se ela já havia trabalhado em escola regular. Ela disse

que não, somente havia trabalhado em instituição de educação especial e que era a primeira

vez que trabalhava com inclusão. Com o término do intervalo, a professora foi até a sala para

pegar materiais para trocá-lo.

Enquanto isso, na sala, os alunos terminavam as atividades de Português que foram

entregues na segunda aula. A professora regente entregou uma cópia das atividades para mim

e para segunda professora, anteriormente.

Bernardo retornou à sala e continuou tentando segurar o celular, enquanto a segunda

professora auxiliava os alunos nas atividades.

A professora regente iria ao médico e sairia antes do término das aulas. Tocou o sinal

para a quinta aula. As professoras se despediram e foram embora.

83

A aula foi de Educação Física. O professor levou Bernardo próximo à quadra e sentou

ao lado dele. Enquanto isso, os alunos brincavam na quadra de futebol ou fora dela, com

bambolês. Inicialmente, os meninos brincavam de futebol, enquanto as meninas de bambolê.

Bernardo ao lado do professor tentava tocar no seu bolso da calça. O professor falava

que não poderia fazer isso. Bernardo continuava a mexer. Então, o professor mostrou o

celular a ele. Trocou de lado sentando no lado direito do garoto para que, talvez, usasse a

outra mão para pegar o celular. Ele somente usava a mão esquerda. O professor comentou que

ele utilizava a outra mão, mas agora ela está atrofiando sem o uso.

Depois, os meninos resolveram brincar com os bambolês e um deles quis mostrar suas

habilidades. Disse para Bernardo vê-lo. Bernardo viu o colega brincando com o bambolê e

sorriu. Logo,tocou o sinal para o fim das aulas.

Análise: Os alunos desta turma são bastante agitados, fazendo com que, às vezes, a

professora perca a calma.

Alguns alunos ficam próximos ao Bernardo em poucos momentos da aula,

normalmente isto ocorre quando pedem auxílio a segunda professora ou quando percorrem a

sala. No recreio,nenhum aluno da sala fica próximo a ele.

Acredito que Bernardo se recusou a fazer a proposta de atividade do jogo, porque ele

deve realizá-la constantemente em outros lugares, como na instituição que frequenta. Por este

motivo, que ele prefere o celular a este jogo, sendo que o primeiro é uma novidade

tecnológica.

Neste dia, a segunda professora ficou totalmente responsável pelas atividades de

Bernardo, sem nenhuma intervenção da professora regente.

RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO Nº2

DATA: 14/05/10

Dois dias sem aula para Bernardo: dia chuvoso e no outro, entrega de boletins.

Na véspera do fim de semana, após tocar o sinal para o início das aulas sem a chegada

da professora regente, os alunos e a segunda professora esperaram próximos à sala, a vinda da

professora.

Bernardo estava acompanhado por uma profissional da casa lar. A segunda professora

viu o aluno e foi cumprimentá-lo, depois iniciou uma conversa com a pessoa que o

84

acompanhava. Alguns minutos depois, a antiga professora de Bernardo passa por ele e o

cumprimenta.

Com a chegada da professora regente, a porta é aberta e todos se acomodam em suas

carteiras, e é claro, com certo barulho. A segunda professora senta no fundo da sala no lado

esquerdo com Bernardo. A segunda professora fala com um aluno para que sente ao seu lado.

A professora Cléo diz para Bernardo que eles vão trabalhar e que depois ele poderia brincar.

Bernardo faz “não” com a cabeça e a segunda professora repete o que havia falado.

A professora Bete dá início a aula com a oração. Com o término do pedido de uma boa

tarde, esta entrega revistas e folhas com a ajuda da segunda professora aos alunos, enquanto

uma aluna escreve no quadro o cabeçário que deveria estar no caderno de Matemática.

A professora regente diz para a outra professora que Bernardo pode fazer esta

atividade. A segunda professora, então, fala para Bernardo que eles vão fazer a atividade.

Ela pergunta para a professora Bete se ela quer ajuda para entregar as revistas e ela diz

que sim. A segunda professora ficou circulando na sala.

A aula foi sobre simetria, os alunos deveriam encontrar nas revistas um rosto. Com

ele, fariam a atividade. Para isto, era necessário cortar a metade do rosto, colar na folha

branca para desenhar a outra metade igual. Todos estes procedimentos e o que era simetria

foram explicados pela professora.

A segunda professora volta ao seu lugar e Bernardo estava folheando a revista. Ela

dizia para que ele achasse um rosto. Bernardo ficou por um bom tempo folheando, até que a

professora decide auxiliá-lo. Não me recordo se Bernardo encontrou o rosto.

A segunda professora recortou a imagem, pôs cola, colou a figura e pediu para que

Bernardo pressionasse a figura. Após a colagem, a segunda professora pediu para que

desenhasse o outro lado do rosto. Bernardo desenhou.

A professora regente se aproximou de Bernardo porque a outra professora chamou. A

segunda professora falou algo como olha o desenho do Bernardo e a professora Bete disse

que ele poderia ter caprichado mais.

Depois de auxiliar o aluno que estava ao seu lado, a segunda professora auxilia

Bernardo a fazer algumas partes do desenho, como olho e o restante da boca. A segunda

professora me chama dizendo que Bernardo está também, para que avalie seu trabalho.

Em alguns momentos, o vigilante da escola apareceu na porta da sala para falar com

Bernardo. O vigilante fazia sinal de positivo para Bernardo. O aluno mostrava a língua. A

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segunda professora perguntou se ele queria entrar, mas ele acabou ficando na porta falando

com a professora regente.

Na terceira aula, quando os alunos terminavam seus trabalhos, a professora pediu para

que eu cortasse folhas de papel pardo porque os trabalhos seriam expostos no pátio da escola.

Depois, a professora sugeriu aos alunos que os trabalhos fossem decorados com canudinhos

de papel. Com os trabalhos prontos, a professora pediu o meu auxílio para colocar fita adesiva

nos trabalhos para que os alunos colassem.

Quinze minutos antes do intervalo, a segunda professora leva Bernardo para o lanche.

Após o lanche, esta professora o leva para a troca.

Voltando a sala, a segunda professora comenta que quando ele estiver “assim”, não vai

trocá-lo. Coloca Bernardo ao seu lado, abre a janela e pede para eu olhá-lo. A professora disse

que precisa respirar. Enquanto isso, Bernardo geme e aponta para a bolsa da professora. O

celular estava lá. Eu disse que ele deveria esperar a professora e que não se pode mexer na

bolsa de outra pessoa, nada adiantou. A professora regente perguntou o que estava

acontecendo e ela disse algo semelhante.

Foi entregue o livro de Matemática para os alunos fazerem a as atividades sobre

simetria do livro. Bernardo recebeu o livro. Tentei fazer com que ele prestasse atenção nele,

mas não resolveu. O aluno até que sorriu algumas vezes, mas depois continuava a apontar

para a bolsa.

Após o retorno da professora, esta pega o jogo de encaixe, tira algumas peças e coloca

em cima da carteira de Bernardo. Ele não quis fazer a atividade. A segunda professora disse

que se ele conseguisse daria o celular. Então, ele foi tentando encaixar as peças nos seus

lugares. Bernardo não consegui encaixar nenhuma peça. A segunda professora resolveu,

então, colocar o celular em uma das janelas do brinquedo e colocou a chave para que ele

abrisse a porta. Ajudei Bernardo a encaixar a chave certa, perguntando se era ou não a chave

de certa janela. Ele respondia afirmando ou negando com a cabeça. Bernardo conseguiu abrir

uma porta e pegou o celular. Enquanto estava com Bernardo, a segunda professora anotava

em seu caderno.

A segunda professora comentou sobre o que havia ocorrido na troca, dizendo “estudar

para isso”. Anteriormente, ela havia comentado com a professora regente também.

Depois me afastei de Bernardo e outro aluno ficou próximo a ele por algum tempo.

Após isto, Bernardo ficou mexendo no celular.

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Análise: A atividade sobre simetria foi uma tarefa importante cumprida por Bernardo.

Apesar de não desenhar como o convencional ou como foi pedido, ele participou da atividade

e se empenhou. Bernardo se dispersa facilmente das atividades e volta sempre ao celular.

A maior intervenção que a professora regente fez em relação ao Bernardo ocorreu

neste dia. Percebi também que os alunos se distanciaram do menino.

RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO Nº3

DATA: 21/05/10

Esperando a porta ser aberta pelo vigilante, a segunda professora fala com a diretora

sobre a instituição que Bernardo mora. Os demais alunos brincam, enquanto esperam. Esta

mostrou a mochila de Bernardo e conversou rapidamente com a professora. A porta foi aberta

e os poucos alunos entraram em sala.

A segunda professora leva Bernardo até o fundo da sala ao lado da última carteira em

que sentou.

Alguns alunos perguntaram a segunda professora se a professora regente iria vir. Ela

respondia que sim.

A segunda professora rezou com os alunos, porém antes do inicio da oração perguntou

se alguém queria fazê-la. Ela escolheu Bernardo e pediu para que o levasse para frente da

turma.

Observando que a professora regente estava demorando a chegar, ela foi até a

secretaria. Alguns minutos depois, voltou à sala e disse que a professora atrasaria um pouco,

porque estava doente. A segunda professora resolveu, então, passar atividades de revisão no

quadro. Procurou o livro de Matemática que o grupo utiliza, mas não o encontrou. Pediu

então, para uma aluna da sala mostrar-lhe o caderno para saber onde o grupo “estava”. A

segunda professora resolveu então passar operações de divisão.

Enquanto isso, Bernardo apontava para a sua bolsa pedindo pelo celular. Ela

perguntava o que o aluno queria e ela dizia que somente lhe entregaria depois. O menino

mandava beijo para ela e a professora confirmava a resposta de que não daria. Então, ele

mostrava a língua. Ela dizia que era feio e que depois daria. Ele sorria, porém voltava a

apontar para o celular.

Algum tempo, a professora regente chegou. Disse “bom” para a atividade que a

segunda professora passou no quadro. Mas logo saiu para ver a sala em que os alunos iriam

87

assistir a um filme. Em seguida, a professora regente voltou à sala e disse que teria que

esperar algum funcionário para saber se poderia passar o vídeo. Enquanto isso, os alunos

resolvem as operações matemáticas. Bernardo continua sem participar da aula, apenas

“pedindo” pelo celular da segunda professora. Esta profissional conversa sempre com

Bernardo. Neste dia, ela disse que estava doente e queria uma massagem, Bernardo atende ao

pedido e abre as mãos e passa em seu ombro.

Os alunos têm dificuldade em resolver as atividades e esta professora pede para que

eles usem a tabuada. Também colocou a tabuada de sete e oito no canto do quadro. Ajudei um

aluno próximo a resolver as atividades. Logo depois, a professora regente pede aos alunos

resolverem no quadro.

Com os exercícios resolvidos, a professora regente volta a ver se poderia passar o

vídeo, mas não pôde. Não haviam levado o filme. Voltou a sala e disse que teria que fazer

outra atividade. Alguns alunos estavam comentando que um dos colegas tinha filmes na sala.

Anteriormente,o aluno estava contando sobre os filmes para seus colegas. A professora

perguntou quais eram os filmes. Estes eram de terror. Ela disse que não os passaria. Resolveu

propor uma atividade de Educação Religiosa.

A professora regente entregou uma folha branca para cada aluno. Depois, ela deu as

instruções que deveriam fazer com ela. Primeiramente, pediu para que os alunos a dobrassem

até que ficasse com dezesseis quadrados. Com isso, a professora ditaria palavras que os

alunos deveriam escrever em um lado na folha e, no outro lado deveriam colocar uma palavra

que correspondesse com a dita pela professora.

Bernardo participou da atividade com o auxílio da segunda professora. A atividade

estava tranquila, até que um dos alunos disse que havia feito errado. Esta disse algo negativo e

pediu para que eu o ajudasse. Quinze minutos antes do intervalo, Bernardo foi ao refeitório.

Quando os alunos haviam terminado e estavam colorindo a atividade, tocou o sinal

para a hora do intervalo.

Bernardo comeu biscoito com leite preparado pela segunda professora. Algumas

funcionárias da escola passavam e falavam com ele. Quando terminou o lanche, Bernardo

pediu mais colocando a mão na barriga, porém a professora Cléo disse que não, porque ele já

havia comido muito. Logo depois, um garoto se aproximou dele. Este garoto mora com ele

em uma instituição. Com isso, a segunda professora pede para que ele o olhe para tomar café.

Assim, a professora vai para a sala de professores e toma seu café. Depois vai ao encontro de

Bernardo e de seu amigo. O garoto leva Bernardo até um espaço perto da quadra e a

88

professora comenta que o aluno foi abandonado pela mãe e o pai e o outro garoto também, e

que isto era triste. Algum tempo depois, uma garota se aproxima. Ela também mora com os

dois garotos.

Andam pelo pátio até a hora de tocar o sinal para a volta.Com o fim do intervalo, a

professora leva Bernardo para trocar a fralda.

Na sala, os alunos continuam a atividade. Esta se transformaria em um livro, com a

capa em EVA, cujas folhas escritas e coloridas pelos alunos se transformaria em livro.

Alguns alunos estavam quase finalizando a atividade e outros estavam dispersos e não

haviam terminado.

Alguns minutos depois, retorna à sala e continua a atividade. Para ele, só faltava

colocar a capa do livro. A segunda professora grampeou a capa nas folhas recortadas por ele.

Sobre as folhas recortadas é importante ressaltar a participação efetiva de Bernardo que abriu

e fechou a tesoura para que a folha fosse recortada. A segunda professora segurou a folha para

que Bernardo a cortasse. Esta professora chamou a professora regente para mostrar o

desempenho do Bernardo. Ela o elogiou e logo depois saiu.

Bernardo não esqueceu o celular em algum momento, sempre o pedia. Após a

atividade, com maior frequência. A segunda professora dizia que ela entregaria depois para

que desacostumasse com o celular.

A segunda professora grampeava os livros dos alunos, enquanto alguns deles

terminavam.

Com a entrega dos livros para a professora, esta resolveu contar-lhes uma nova versão

da história do Chapeuzinho Vermelho feita por alunos. Depois, duas alunas leram outras

histórias que estavam no livro.

Enquanto isso, a professora cantava para Bernardo a música “se essa rua fosse minha”

e ele dançava e sorria, quando a professora mudou a música, ele modificou a expressão. Ela

voltou a cantar a música anterior. A segunda professora também propôs alongamento a

Bernardo pedindo para que ele levantasse e abrisse as mãos como ela. Fez algumas outras

brincadeiras das quais não me recordo.

A aula terminou com as novas versões da história do Chapeuzinho Vermelho.

Análise: Neste dia, Bernardo participou da atividade de Educação Religiosa auxiliado

pela segunda professora. Percebi que há uma maior proximidade entre a professora Cléo e

Bernardo, notável no momento que ela estava cantando para ele. A professora regente

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somente interfere nas práticas da professora Cléo quando é chamada por ela ou quando não

está próxima.

RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO Nº4

DATA: 25/05/10

A aula iniciou com a oração feita pela professora regente e acompanhada por todos os

alunos. A segunda professora estava ao lado da professora regente no momento da oração.

Logo em seguida, a professora regente fala do trabalho que deveriam fazer sobre o sal.

Enquanto isso, a segunda professora recorta bilhetes que foram entregues pela segunda

professora da outra turma da quarta série. As professoras destas duas turmas fariam curso no

dia posterior, por isso não haveria aula.

Na entrega dos bilhetes, a segunda professora pergunta a outra professora se com o

Bernardo são dezesseis ou dezessete alunos. A professora responde. Depois, a segunda

professora entrega os bilhetes para a turma. Primeiramente, ela cola o bilhete no caderno de

Bernardo e pede para que ele avise alguém. Ele movimenta a cabeça, afirmando. Após esse

momento, a professora regente inicia a aula de Ciências.

A professora pede para o ajudante do dia, entregar o livro para cada aluno. Como

faltavam livros para alguns alunos, a segunda professora entregou o livro de Bernardo para

outro aluno. Assim, ela o entregou um livro de Matemática. Em meio à entrega dos livros, a

professora comenta sobre “sentar diferente” e pede para os alunos formarem um círculo com

suas carteiras. Bernardo se aproxima da roda iniciada usando seu pé para empurrar a cadeira.

A segunda professora sorri e chama a professora para vê-lo. Esta olha e fala algo positivo.

Ao decorrer da aula sobre solo e vegetação houve a grande participação dos alunos. A

segunda professora participou lendo o texto do livro para que a professora explicasse e os

alunos intervissem com suas vivências. Depois de alguns comentários dos alunos, a

professora fez perguntas para Bernardo e ele respondia afirmando ou negando movimentando

a cabeça. Em seguida, o aluno ficou folheando o livro de Matemática.

Após o momento da explicação, a professora pediu para que cada aluno fizesse um

resumo do que ela havia explicado. Ela passou os tópicos que deveriam ser apresentados neste

resumo. Enquanto isso, a professora faz a chamada e Bernardo responde vocalizando.

Próximo à hora do intervalo, a segunda professora leva Bernardo para o refeitório. Ele

é acompanhado por uma das alunas da sala.Chegando neste espaço,a segunda professora o

90

coloca perto da mesa e prepara a refeição. Bernardo muito ansioso, vocaliza pedindo a

comida. A professora diz que está muito quente e que ele deve esperar, caso ele não queira

queimar a boca. Ela pergunta se ele quer queimar a boca e ele responde que sim. Alguns

minutos depois com o prato mais frio, a professora o traz. Não só um prato, mas dois deles.

Bernardo comeu os dois pratos com risoto. Enquanto Bernardo comia, um garoto se

aproximou dele. Este garoto mora com Bernardo e ele sempre se aproxima dele na hora do

intervalo.

Junior come próximo ao Bernardo até terminar, depois o garoto vai repetir a comida.

O risoto havia acabado e ele volta a ficar perto de Bernardo. Quando a professora pede para o

garoto “olhar” Bernardo, enquanto ela vai até a sala dos professores, toca o sinal.

De volta a sala, a professora coloca Bernardo em seu lugar e saí. Agora é aula de

Artes. A professora da disciplina auxiliou o Bernardo nas tarefas. Porém,enquanto as crianças

se acalmavam e sentavam em seus lugares, uma das alunas ficou conversando com Bernardo.

Admirado pela sua beleza, Bernardo como faz de costume quando segura a mão de

alguém aperta com toda força até que esta fale “ai”, fez deste modo com a menina. A aluna

dizia que iria sentar e ele continuava a segurar a sua mão e vocalizar. Até a professora dar

atenção a ele, a menina ficou ao seu lado. Esta pediu a professora uma folha para que ele

desenhasse. Assim, ela poderia também fazer sua atividade. Após a professora acalmar os

ânimos e comentar sobre a atividade, Bernardo foi riscando a folha dada.

A atividade consistia em fazer um plano em uma folha do caderno de desenho e pintá-

lo. Em outra folha, deveriam desenhar formas geométricas para fazer uma composição junto

ao fundo.

Algum tempo depois, a professora fez a atividade com Bernardo. Perguntou-lhe se ele

queria amassar ou recortar a folha. Ele respondia. Ela foi extremamente atenciosa com o

aluno. Depois de finalizada a atividade, a professora mostrou o trabalho de Bernardo para os

alunos que estavam fazendo. Minutos depois, toca o sinal para a última aula.

As professoras voltam à sala e a professora regente anuncia que a aula será na

informática. Nesta sala, continuariam a atividade que a professora havia proposto

anteriormente. Na sala de informática, os alunos continuaram suas histórias e desenhos,

enquanto Bernardo digitava letras.

A segunda professora mostrou o seu nome, digitando as letras e pronunciando as

sílabas. Depois, pediu para que Bernardo digitasse letras diferentes, porém não digitou. O

aluno permanecia apertando a mesma tecla. Assim, ela pegou sua mão e foi movimentando

91

para que ele mudasse as letras. Mesmo com a insistência da professora, ele não digitava outras

letras. Essa situação mudava quando ela ameaçava (iria embora, não iria mais para a sala de

informática) ou dizia que daria o celular a ele. Bernardo já não se interessou pela digitação,

assim a professora perguntou se ele queria desenhar ou jogar. O aluno não quis.

A professora regente pediu auxílio para a segunda professora para a correção dos

textos dos alunos. Quando esta foi até um dos alunos próximos, Bernardo empurrou a cadeira

com o pé. Perguntei se ele queria ficar próximo a segunda professora e ele respondeu que sim.

Então, levei-o até ela. Depois, a segunda professora colocou no mesmo lugar e deu atenção à

correção dos textos. O professor da sala se aproximou e perguntou de uma garota. Bernardo

abriu a boca e mostrou a língua sinalizando enjoo. O professor comentou que ele não gosta

que falem dessa garota. Ela seria a “garota” de que ele gostava.

Alguns minutos depois, a aula termina.

Análise: Os pontos altos deste dia foram a participação da segunda professora com a

classe e a aula de artes.

Este dia, em que a segunda professora participou junto a turma da atividade proposta

pela professora regente. Creio que nos outros dias, como já presenciei um comentário, ela

para alguns alunos, era só a “mulher que cuida de Bernardo”

A aula de Artes foi extremamente proveitosa para Bernardo. Sem a professora regente

e a segunda professora, a professora de Artes conseguiu auxiliar Bernardo a fazer a atividade.

92

APÊNDICE C- Questionário aos professores

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

ACADÊMICA: DEISEDERE DELFINO BALDOINO

CURSO: PEDAGOGIA

DISCIPLINA: TCC II

QUESTIONÁRIO

*Professor, seu nome será mantido em sigilo.

Sua função: ( ) professor de classe ( ) segundo professor

Experiência em educação (período):

Período de experiência nesta escola:

FORMAÇÃO:

1-Para você, o que é um aluno com necessidades especiais?

2-Para você, o que significa inclusão escolar?

3-Você participou de alguma experiência inclusiva anteriormente? Se a resposta for positiva,

relate sua experiência. Entretanto, se for negativa, conte como você está analisando a

experiência atual.

4-Como se dá a prática pedagógica com seu parceiro de trabalho (professor de sala ou

segundo professor)? Por exemplo: Planejamento de aulas, avaliação, posicionamento na

realização de atividades.

5-Como você avalia a sua contribuição para o processo ensino e aprendizagem dos alunos?

6-Você considera relevante a presença de dois professores em sala? Justifique.

7-Qual é a sua posição frente ao processo e ensino aprendizagem do aluno com necessidades

especiais? Descreva sua prática.

8-Você acredita que sua prática pedagógica se baseia nos princípios da Inclusão Escolar? Por

quê?

93

9- A acessibilidade dos alunos com necessidades educacionais especiais é necessária para o

efetivo acesso em todo o ambiente escolar. Você acredita que esta escola possui estrutura

física e outras providências para atender o aluno com necessidades educacionais especiais?

Justifique.

10-Você acredita que o aluno com necessidades educacionais especiais é incluído nas práticas

escolares (referente ao aluno de sua turma)? Se a resposta for positiva, elenque motivos. No

entanto, se for negativa, dirija-se à próxima pergunta.

10.1-O que é necessário para que este aluno seja incluído na escola? Qual seria a opção mais

favorável a este aluno?

94

APÊNDICE D- Questionário respondido pelas professoras da sala 1 e 2.

Tabela 1: Informações referentes ao período de experiência em educação, período de serviço

na escola pesquisada e formação.

CATEGORIAS DADOS FREQUÊNCIA

PERÍODO DE

EXPERIÊNCIA NESTA

ESCOLA

Entre 1 a 12 meses 1

Entre 1 a 7 anos 1

Entre 8 a 10 anos 2

EXPERIÊNCIA EM

EDUCAÇÃO

Entre 1 a 10 anos 1

Entre 11 a 15 anos 2

Entre 16 a 20 anos 1

FORMAÇÃO

Graduada em Pedagogia (séries

iniciais) 2

Graduada em Pedagogias-Artes

Plásticas (não identificou se é uma

graduação ou curso)

1

Graduada em Pedagogia (séries iniciais

e Educação Infantil) 1

Pós-Graduação 4

Pós Graduação em Gestão e

interdisciplinaridade 1

Pós Graduação (não identificada) 1

Pós Graduação em Metodologia de

Ensino 1

Pós Graduação em Educação Especial 1

95

Tabela 2 - Opinião dos professores participantes da pesquisa em relação ao aluno com

necessidades educacionais especiais, a participação em experiência inclusiva e a inclusão

escolar.

CATEGORIAS

DADOS

FREQUÊNCIA

PARA VOCÊ,

O QUE É UM

ALUNO COM

NECESSIDADES

ESPECIAIS?

É aquele que precisa de ajuda e apoio para o

desenvolvimento da aprendizagem intelectual,

social e cultural.

2

... nenhum aluno e ser humano é igual ao outro

sempre com diferenças físicas e

comportamentais. ... as pessoas com deficiência

são impedimento que limita ou compromete o

desempenho considerado normal.

1

... são aquelas que têm alguma limitação e

necessitam de modificações ou adaptações no

programa educacional para atingir seu potencial

(problemas visuais, auditivos, mentais, etc).

1

Crianças com necessidades especiais são aquelas

que têm alguma limitação e necessitam de

modificações ou adaptações no programa

educacional para atingir seu potencial (problemas

visuais, auditivos, mentais, etc).

1

VOCÊ

PARTICIPOU DE

ALGUMA

EXPERIÊNCIA

INCLUSIVA

ANTERIORMENTE?

Sim. Trabalhei 10 anos Educação Especial na

FCEE. 1

Sim. 1

Sim. Trabalhei na APAE - com todos os tipos de

deficiência

1

Sim. Trabalhei com crianças com deficiência

mental leve. 1

RELATE SUA

EXPERIÊNCIA

[...] aprendi muito e cresci muito com os alunos

integrados. 1

Com uma aluna paralisada cerebral, na quarta

série,a mesma se sentia discriminada pelos

vizinhos e amigos.

1

trabalhamos sempre com a socialização, amor,

afetividade. 1

Através de metodologias diferenciadas

conseguiram se alfabetizar. 1

PARA VOCÊ, O

QUE SIGNIFICA

INCLUSÃO

ESCOLAR?

É quando o aluno está inserido como manda as

leis adaptado e apropriado para as suas

necessidades e não fazendo de conta sem

preocupação nenhuma da parte governamental.

1

96

[...] nossas escolas ainda não têm preparação para

a inclusão na escola, não temos rampa, enfim,

nenhuma preparação física para isso.

1

É a reestruturação das instituições escolares para

que possam atender a todas as crianças nas suas

especificidades para que estas desenvolvam suas

especificidades.

2

97

Tabela 3- Opinião dos professores participantes da pesquisa em relação à prática pedagógica

com seu parceiro de trabalho (professor de sala ou segundo professor) e a avaliação de suas

contribuições para o processo ensino e aprendizagem dos alunos.

CATEGORIAS

DADOS

FREQUÊNCIA

COMO SE DÁ A

PRÁTICA

PEDAGÓGICA COM

SEU PARCEIRO DE

TRABALHO

(PROFESSOR DE

SALA OU SEGUNDO

PROFESSOR)?

[...] tudo que fizemos é em

conjunto, tanto o planejamento da

criança com necessidades, como do

restante da turma.

1

Planejamos as atividades juntas,

tomamos decisões e atitudes

relacionadas aos educandos e seu

processo de ensino- aprendizagem

1

Trabalhamos com um planejamento

sendo que algumas atividades

trabalhadas junto com toda turma,

outras, individual com o aluno.

1

Nas aulas de Educação Física e

Artes elaboramos planejamentos e

avaliamos os trabalhos realizados.

1

COMO VOCÊ

AVALIA A SUA

CONTRIBUIÇÃO

PARA O PROCESSO

ENSINO E

APRENDIZAGEM

DOS ALUNOS?

[...] procuro sempre melhorar e

repensar a minha prática para uma

melhor condição de ensino.

1

É uma troca de experiência muito

importante, trocamos idéias, nos

entendemos muito bem e crescemos

juntas na nossa prática pedagógica.

1

O pedagógico é trabalhado dentro

da realidade do aluno.

1

Meu objetivo como professora é

contribuir de forma a promover a

aprendizagem e o desenvolvimento

pessoal de cada aluno para que se

construam como seres globais.

1

98

Tabela 4 - Opinião dos professores participantes da pesquisa em relação à relevância de dois

professores em sala e a posição frente ao processo ensino aprendizagem do aluno com

necessidades especiais.

CATEGORIAS

DADOS

FREQUÊNCIA

POR QUE VOCÊ

CONSIDERA

RELEVANTE A

PRESENÇA DE

DOIS

PROFESSORES

EM SALA?

Se for necessário, sim, pois sempre há

uma troca.

1

É bastante relevante, quando ambas se

entendem bem e em tudo.

1

É de grande importância, é necessário.

Os professores não trabalham somente

com o pedagógico.

1

[...] é importante esta parceria na

mediação do conhecimento que todos

os alunos constroem. Dois professores

na sala podem dar atenção individual

aos sujeitos com dificuldades de

aprendizagens.

1

QUAL É A SUA

POSIÇÃO FRENTE

AO PROCESSO

ENSINO

APRENDIZAGEM

DO ALUNO COM

NECESSIDADES

ESPECIAIS?

É gostar muito do que faz, pois tudo

que se precisa relacionado a este aluno

tem que ter muita luta.

1

Para mim, ele é um aluno igual aos

outros, porém precisa de mais atenção

e materiais adaptados.

1

O processo ensino aprendizagem da

criança é o socialismo, o amor, a

inclusão, trabalhar junto a sua

realidade.

1

Respeitar suas limitações e organizar

um trabalho para que este possa

desenvolver suas potencialidades.

1

99

Tabela 5 - Opinião dos professores participantes da pesquisa em relação a sua prática

pedagógica relacionada à inclusão escolar e a estrutura física e outras providências da escola

para a inclusão do aluno com necessidades educacionais especiais.

CATEGORIAS

DADOS

FREQUÊNCIA

VOCÊ ACREDITA

QUE SUA

PRÁTICA

PEDAGÓGICA SE

BASEIA NOS

PRINCÍPIOS DA

INCLUSÃO

ESCOLAR?

Baseia-se na Educação como um todo. 1

Nem sempre, porque a estrutura e os

profissionais não estão preparados

para recebê-los.

1

Sim. Tentamos ter garantia de

qualidade na educação, propiciando

melhor adaptação, acomodar o aluno

com sua deficiência.

1

Sim. É com base na diversidade que

poderemos crescer como seres

humanos. É a mediação e socialização

dos saberes de um grupo que faz a

diferença.

1

VOCÊ ACREDITA

QUE ESTA

ESCOLA POSSUI

ESTRUTURA

FÍSICA E OUTRAS

PROVIDÊNCIAS

PARA ATENDER

O ALUNO COM

NECESSIDADES

EDUCACIONAIS

ESPECIAIS?

Não, pois a escola não está preparada

para inclusão de todos.

1

Não acredito, pois sua estrutura não

está adaptada.

1

Não. Não temos as necessidades

básicas para ter um aluno cadeirante.

1

É necessário adaptar os ambientes para

o acesso desses alunos. Minha escola

não possui estrutura física.

1

100

Tabela 6 - Opinião dos professores participantes da pesquisa em relação à inclusão do aluno

com necessidades educacionais especiais nas práticas escolares.

CATEGORIAS

DADOS

FREQUÊNCIA

VOCÊ ACREDITA

QUE O ALUNO

COM

NECESSIDADES

EDUCACIONAIS

ESPECIAIS É

INCLUÍDO NAS

PRÁTICAS

ESCOLARES

(REFERENTE AO

ALUNO DE SUA

TURMA?)

Ela está inserida a partir do momento

que a turma a aceita, conversam com

ela, fazem carinho e até mesmo se

preocupam quando a mesma não vem

ou está doente.

1

Acredito, pois as crianças aceitam sem

discriminá-lo.

1

Sim, eles têm a inclusão com os

alunos e com atividades pedagógicas,

sendo que nem todas tem a interação

algumas são trabalhadas individuais.

1

Sim, meu aluno participa se

expressando por gestos e com ações

que percebemos que este compreendeu

alguns conceitos trabalhados.

1

O QUE É

NECESSÁRIO

PARA QUE ESTE

ALUNO SEJA

INCLUÍDO NA

ESCOLA?

O primeiro passo é que o próprio

profissional se aceite.

1

É preciso que os governantes não

coloquem na mídia o que não fazem.

Fantasiando o que não é.

1

Ele é incluído na escola, mas a maior

dificuldade é o físico da escola.

1

Ter estrutura física no ambiente como

uma sala de recursos, fraldário, maior

atenção de seus responsáveis.

1

101

APÊNDICE E- Termo de autorização para a pesquisa realizada.

COORDENAÇÃO DO CURSO DE PEDAGOGIA

SOLICITA AUTORIZAÇÃO

Solicitamos autorização para que a acadêmica Deisedere Delfino Baldoino, aluna

regularmente matriculada no curso de Pedagogia do USJ / disciplina de Trabalho de Conclusão de

Curso (TCC) realize pesquisa de campo nessa Instituição.

A referida estudante desenvolve pesquisa sobre O papel do segundo professor em uma

experiência inclusiva. Para tanto, delimitou essa instituição para a realização de investigação.

São José, 20 de abril de 2010.

Atenciosamente,

Profª. ______________________________

Vera Regina Lúcio

Professora da disciplina de Trabalho de conclusão de Curso (TCC)