exemplo de custeio abc

121
Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção RICHARDI PEREIRA DE SOUZA A GESTÃO DOS CUSTOS ATRAVÉS DO CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADES (ABC): UM ESTUDO DE CASO EM PEQUENA EMPRESA DE SERVIÇOS DE SUPORTE EM INFORMÁTICA Dissertação de Mestrado FLORIANÓPOLIS 2002

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  • Universidade Federal de Santa Catarina

    Programa de Ps-Graduao em

    Engenharia de Produo

    RICHARDI PEREIRA DE SOUZA

    A GESTO DOS CUSTOS ATRAVS DO CUSTEIO BASEADO EM

    ATIVIDADES (ABC): UM ESTUDO DE CASO EM PEQUENA

    EMPRESA DE SERVIOS DE SUPORTE EM INFORMTICA

    Dissertao de Mestrado

    FLORIANPOLIS

    2002

  • ii

    RICHARDI PEREIRA DE SOUZA

    A GESTO DOS CUSTOS ATRAVS DO CUSTEIO BASEADO EM

    ATIVIDADES (ABC): UM ESTUDO DE CASO EM PEQUENA

    EMPRESA DE SERVIOS DE SUPORTE EM INFORMTICA

    Dissertao apresentada ao programa de Ps-Graduao

    em Engenharia de Produo, da Universidade Federal de

    Santa Catarina, para obteno do grau de Mestre em

    Engenharia de Produo

    Orientador: Prof. Edvaldo Alves de Santana, Dr.

    FLORIANPOLIS

    2002

  • iii

    RICHARDI PEREIRA DE SOUZA

    A GESTO DOS CUSTOS ATRAVS DO CUSTEIO BASEADO EM

    ATIVIDADES (ABC): UM ESTUDO DE CASO EM PEQUENA

    EMPRESA DE SERVIOS DE SUPORTE EM INFORMTICA

    Esta Dissertao foi julgada e aprovada para obteno do grau de

    Mestre em Engenharia de Produo no Programa de

    Ps-Graduao em Engenharia de Produo da

    Universidade Federal de Santa Catarina

    ___________________________Prof. Ricardo Miranda Barcia, Phd.

    Coordenador do Programa

    Banca Examinadora:

    __________________________Edvaldo Alves de Santana, Dr.

    Orientador

    __________________________Maurcio Fernandes Pereira, Dr.

    Membro

    __________________________Altair Borgert, Dr.

    Membro

  • iv

    Este trabalho dedicado aos meus queridos pais

    Jos Joo de Souza e Snia Luzia Pereira de Souza

    e ao meu grande amor

    Clarissa Schmitz Figueiredo de Souza

  • vAGRADECIMENTOS

    A Deus pelo dom da vida e pelas oportunidades oferecidas;

    Aos meus pais a quem dedico este trabalho atravs da sigla criada paraidentificar a empresa estudada JS, pelos esforos ao longo das suas caminhadas,

    me educando e me preparando para a vida;

    A minha esposa Clarissa, a quem dedico este trabalho, pois sempre meapoiou e me fortaleceu para seguir nesta jornada;

    Aos meus irmos Roberta e Lucas, que nos momentos difceis meapoiaram com palavras de conforto;

    Ao Prof. Edvaldo Alves Santana, que acreditou no tema proposto e sedisps a me orientar, colaborando sempre que necessrio para o desenvolvimento

    da pesquisa;

    Ao Prof. Maurcio Fernandes Pereira, pelas valiosas contribuies eefetiva co-orientao;

    Ao Prof. Vladimir Arthur Fey, que contribuiu de forma efetiva na conclusode mais esta etapa na vida acadmica;

    Ao grande amigo Jos Mateus Hoffmann, pelo apoio e compreensodemonstrada;

    Ao grande amigo Leonardo Schmitz de Figueiredo que sempre meincentivou;

    A empresa JS e a todos os seus colaboradores, que se colocaram adisposio para viabilizar a realizao deste trabalho;

    A todos aqueles que de alguma forma contriburam para a conquista demais uma vitria.

  • vi

    RESUMO

    As mudanas ocorridas no ambiente dos negcios tm provocado um aumento na

    competitividade empresarial e uma mudana no perfil dos seus custos, fazendo com

    que as empresas busquem metodologias de gesto empresarial que forneam

    informaes precisas do negcio, oferecendo condies para melhorar suas

    posies no mercado. As metodologias de custeio tradicionais foram concebidas

    num perodo em que os custos diretos representavam a maior parte dos custos das

    empresas. Os custos indiretos de fabricao (CIF) por sua vez no possuam grande

    representatividade no total dos custos empresariais, e eram distribudos com base

    nos volumes de produo. Porm, como este critrio nas empresas modernas no

    mais to importante para a apropriao dos CIF, necessrio que se mudem as

    metodologias para no haverem distores nas informaes gerenciais. Neste

    contexto, o objetivo geral desta dissertao apresentar uma metodologia de

    Custeio Baseado em Atividades (ABC) para ser utilizada na gesto dos custos na

    pequena empresa de servios de suporte em informtica. Primeiramente foram

    apresentados o tema e problema da pesquisa, juntamente com os objetivos e a

    justificativa da mesma. Em seguida, a fundamentao terica descreve um breve

    histrico sobre a Contabilidade, contextualiza o custeio ABC e apresenta a

    metodologia proposta nesta dissertao. Na seqncia, exposta a metodologia de

    pesquisa utilizada, e para validar a metodologia proposta feita a aplicao prtica

    da mesma atravs de um estudo de caso em uma pequena empresa de servios em

    informtica denominada JS. Concluindo, a aplicao prtica demonstra a

    importncia da utilizao da metodologia de custeio ABC para a gesto dos custos,

    permitindo que a empresa tome conhecimento das atividades desempenhadas nos

    processos, dos recursos consumidos por estas atividades e dos custos dos servios

    prestados com base nas atividades executadas.

  • vii

    ABSTRACT

    The changes happened in business environment have caused na increasing in the

    entrepreneurial competitiveness and a change in the profile of its costs, making the

    enterprises to seek entrepreneurial management methodology that provide accurate

    business information, offering conditions to improve their position in the market. The

    traditional costing methodologys were held in a period that the direct costs

    represented the highest part of the enterprise cost. The manufacturing indirect costs

    (CIF) did not have great representation in the entrepreneurial costs and they were

    distributed on the production volume base. Therefore, as this criteria in the modern

    enterprise are not anymore so important for the appropriation of CIF, it is necessary

    to change the methodologies for not having distortions in the managerial information.

    In this context, the general objective of this dissertation is to present a methodology

    of Cost Based in Activities (ABC) to used for cost management in small enterprise of

    computing support service. Firstly, it was presented the research subject and

    problem, together with the objectivies and justification of it. After, the theoretical

    foundation describes brief history about the Accounting that put in context the cost

    system ABC and presents the methodology proposed in this dissertation. In turn, it is

    exposed the research methodology used, and to validate the methodology proposed

    is made a practical application of it through a case study in small computing service

    enterprise denomited JS. To sum up, the practical application shows the importance

    of cost methodology utilization ABC for cost management, allowing the enterprise to

    get to know the activities performed in the consumed resource processes for these

    activities and the render service costs on the base of executed activities.

  • viii

    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS x

    LISTA DE QUADROS xi

    LISTA DE TABELAS xii

    RESUMO vi

    ABSTRACT vii

    1 INTRODUO 01

    1.1 Tema e problema de pesquisa 01

    1.2 Objetivos da pesquisa 04

    1.2.1 Objetivo geral 04

    1.2.2 Objetivo especficos 04

    1.3 Justificativa 04

    2 FUNDAMENTAO TERICA 07

    2.1 A evoluo da contabilidade como fonte de informao 07

    2.2 A contabilidade gerencial no auxlio tomada de deciso 10

    2.3 A necessidade de mudanas nas metodologias de custeio 13

    2.4 O custeio baseado em atividades (activity based costing-ABC) 18

    2.4.1 As geraes do modelo ABC 19

    2.4.2 Conceituando o custeio ABC 22

    2.4.3 Objetos de custos e atividades 27

    2.4.4 Direcionadores de custos 33

    2.4.5 Atribuindo custos s atividades e aos objetos de custo 36

    2.4.6 Metodologia proposta para a implantao do custeio ABC 40

  • ix

    3 METODOLOGIA 46

    3.1 Perguntas de pesquisa 47

    3.2 Identificao das variveis 47

    3.2.1 Definio constitutiva de termos e variveis 48

    3.2.2 Definio operacional de termos e variveis 49

    3.3 Delimitao da pesquisa 49

    3.3.1 Populao e amostra 50

    3.4 Coleta e anlise dos dados 51

    3.4.1 Tipos de dados 51

    3.4.2 Tcnicas de coleta de dados 53

    3.4.3 Anlise dos dados 54

    3.5 Limitaes da pesquisa 54

    4 APLICAO DA METODOLOGIA PROPOSTA 56

    4.1 O ambiente de estudo do caso 56

    4.2 Determinao do escopo do projeto 59

    4.3 Definio das atividades 60

    4.4 Identificao dos recursos s atividades 68

    4.5 Definio dos objetos de custo 81

    4.6 Identificao das atividades aos objetos de custo 83

    4.7 Anlise das informaes obtidas no modelo 94

    5 CONCLUSES E RECOMENDAES FINAIS 99

    5.1 Concluses 99

    5.2 Recomendaes finais 102

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 103

  • xLISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Apropriao de custos tradicional 15

    Figura 2 Primeira gerao do ABC 20

    Figura 3 Segunda gerao do ABC 21

    Figura 4 Custeio tradicional X ABC 24

    Figura 5 Hierarquia dos elementos de anlise do ABC 26

    Figura 6 Objetos de custo 28

    Figura 7 Representao das atividades 29

    Figura 8 Classificao das atividades 32

    Figura 9 Medidas de atividades 34

    Figura 10 Apropriao dos recursos s atividades 37

    Figura 11 Apropriao das atividades aos objetos de custos 39

  • xi

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 ABC X VBC 17

    Quadro 2 Metodologia proposta para o custeio ABC 58

    Quadro 3 Listagem dos processos, atividades e tarefas 62

    Quadro 4 Dicionrio de atividades 66

    Quadro 5 Direcionadores de recursos 72

  • xii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Recursos consumidos em Novembro de 2001 69

    Tabela 2 Recursos reagrupados consumidos em Novembro de 2001 71

    Tabela 3 Gastos com remunerao por colaborador 73

    Tabela 4 Alocao do tempo dos colaboradores por atividades 75

    Tabela 5 Alocao dos recursos s atividades 78

    Tabela 6 Realocao das atividades secundrias s primrias 80

    Tabela 7 Objetos de custo 82

    Tabela 8 Direcionadores de atividades 84

    Tabela 9 Quantidade de direcionadores por software 85

    Tabela 10 Apropriao dos custos por atividades do Tron-Orc 87

    Tabela 11 Apropriao dos custos por atividades do Irpj-Lalur 88

    Tabela 12 Apropriao dos custos por atividades do At/Dc 88

    Tabela 13 Apropriao dos custos por atividades do Xt/Dc 89

    Tabela 14 Apropriao dos custos por atividades do Liscal 90

    Tabela 15 Apropriao dos custos por atividades do Hrcules 90

    Tabela 16 Apropriao dos custos por atividades do Radar 91

    Tabela 17 Apropriao dos custos por atividades do Rubi 92

    Tabela 18 Apropriao dos custos por atividades do Ronda 92

    Tabela 19 Apropriao dos custos por atividades do Benner 93

    Tabela 20 Demonstrativo de resultado por atividades 95

    Tabela 21 Demonstrativo de resultado por objetos de custo 97

  • 1 INTRODUO

    1.1 Tema e problema de pesquisa

    Nos ltimos tempos, um crescente desenvolvimento de novas tecnologias e

    abertura de mercados vem ocorrendo. Isto tem provocado um aumento da

    competitividade fazendo com que, cada vez mais, os consumidores estabeleam os

    padres aceitveis de qualidade e preos no mercado. Desta forma, as empresas

    tm buscado ferramentas para melhorar sua produtividade, eficincia, lucratividade,

    aumentando suas fatias no mercado, visando sempre atingir a satisfao dos seus

    clientes.

    Segundo Kaplan (1998), as mudanas ocorridas no ambiente competitivo, fazem

    com que gerentes necessitem de informaes para melhorar a qualidade,

    pontualidade e eficincia das atividades que executam, alm de compreender

    precisamente o custo e a lucratividade de cada um de seus produtos, servios e

    clientes. Estas transformaes obrigam as empresas a praticar novas formas de

    gesto, adotando metodologias de custeio que possibilitem implantar aes

    gerenciais que garantam competitividade frente aos seus concorrentes.

    Lawrence (1975) afirma que a contabilidade de custos tem como finalidade

    fornecer informaes sobre as movimentaes de estoque, sobre os custos de

    vendas e distribuio, sobre as vendas e lucros de cada linha de produtos fabricados

    ou servios prestados. A contabilidade de custos tambm fornece informaes

    detalhadas sobre as despesas operacionais envolvidas nos negcios. Desta forma,

    atravs de um sistema de custos possvel conhecer detalhadamente o custo de

    operao de um departamento ou negcio desenvolvido nas empresas.

    Deste modo, como afirmam Deloitte (1993) e Lawrence (1975), a contabilidade

    de custos uma ferramenta gerencial importante para a gesto dos negcios. Mais

    do que nunca os gestores devem estar seguros quanto aos caminhos a serem

  • 2seguidos, e nesse sentido, a contabilidade de custos deve suprir esses profissionais

    com informaes que os orientem na tomada de decises.

    Assim a contabilidade de custos alm de contribuir para a acelerao e aumento

    da produo, fornecendo registros completos e seguros das transaes comerciais,

    aumenta o valor do sistema contbil, determinando o surgimento de informaes a

    respeito das transaes internas do negcio, que normalmente no teria sido

    possvel obter somente por meio de um sistema de contabilidade financeira.

    Nos ltimos anos, surgiram muitas tcnicas de gesto empresarial, dentre elas, o

    sistema de custos ABC Activity Based Costing ou Custeio Baseado em

    Atividades (Ching, 1997). O Custeio Baseado em Atividades uma metodologia que

    surgiu para melhorar a qualidade das informaes de custos. O ABC no foi

    desenvolvido para gerar decises automticas, mas para prover informaes mais

    acuradas sobre atividades de produo e suporte, e custos de processos e de

    produtos, focalizando a ateno dos gerentes nos produtos e processos com maior

    potencialidade para o aumento dos lucros.

    Segundo Boisvert (1999), o Custeio Baseado em Atividades se justifica por ser

    til na tomada de deciso e focar a gesto dos negcios. O ABC um mtodo que

    possibilita rastrear os custos de um negcio ou departamento com as atividades

    executadas, verificando o relacionamento destas atividades com a gerao das

    receitas e o consumo de recursos (Ching, 1997). Atravs do custeio ABC possvel

    avaliar o valor que cada atividade agrega para a performance do negcio,

    otimizando desta forma o processo de gesto nas empresas.

    A empresa na qual se desenvolveu este estudo de caso, denominada neste

    trabalho de JS, situa-se em Florianpolis e foi fundada em 1998, atravs da fuso

    ocorrida com outra empresa. A atividade principal, responsvel por mais de 80% do

    faturamento mensal da empresa, a prestao de servios de suporte em

    informtica oriundos de contratos firmados com seus clientes. A fuso ocorrida em

    1998 proporcionou uma transferncia de clientes para a JS que at os dias atuais

    tm papel fundamental na composio do faturamento da mesma. A transferncia de

    clientes manteve os valores dos contratos at ento cobrados e estes sofrem

  • 3reajustes anuais atravs de ndice econmico, determinado no contrato de prestao

    de servios.

    A JS no possui nenhum tipo de sistema de custeio que proporcione informaes

    relevantes para se determinar o custo dos servios e dos produtos vendidos. Sendo

    assim, os valores dos servios firmados nos contratos no podem ter seus preos

    comparados aos custos reais, no proporcionando uma anlise da lucratividade dos

    mesmos. O valor dos novos contratos cobrados atualmente obtido atravs da

    aplicao de um percentual sobre um valor sugerido pelas softhouses1, dando

    origem tabela de preo praticada na JS.

    Atualmente a competio acirrada no mercado de softwares exige que se adote

    uma gesto empresarial, que fornea informaes precisas do negcio, oferecendo

    condies de se proporcionar aos clientes qualidade nos servios prestados e

    preos competitivos, a fim de satisfazer as necessidades dos clientes. Como j

    citado anteriormente, os sistemas de custos so importantes para a gesto dos

    negcios, pois fornecem informaes precisas sobre os custos e a lucratividade dos

    produtos fabricados ou servios prestados, auxiliando os gestores no processo de

    tomada de deciso.

    Diante do exposto, deseja-se investigar, atravs de um caso real, o seguinte

    problema de pesquisa:

    possvel aplicar o custeio baseado em atividades (ABC) na gesto dos

    custos em pequena empresa de servios de suporte em informtica?

    1 Softhouse Expresso utilizada para denominar as empresas produtoras de software

  • 41.2 Objetivos da pesquisa

    1.2.1 Objetivo geral

    O objetivo geral deste trabalho estudar o modelo de Custeio Baseado em

    Atividades (ABC) e aplic-lo na gesto dos custos na pequena empresa de servio

    de suporte em informtica, atravs de um caso emprico.

    1.2.2 Objetivos especficos

    - Apresentar uma metodologia para a aplicao do caso;

    - Implantar o modelo de custeio ABC e desenvolver o caso emprico;

    - Levantar informaes sobre o consumo dos recursos na empresa;

    - Levantar informaes sobre as atividades desempenhadas na empresa;

    - Verificar se todos os produtos que esto sendo oferecidos aos clientes so

    lucrativos.

    1.3 Justificativa

    J no de hoje que as micro (ME) e pequenas empresas (EPP) desempenham

    papel importante na economia brasileira. Segundo informaes fornecidas pelo

    SEBRAE2, as micro e pequenas empresas so responsveis por 98,8% das

    empresas constitudas legalmente no pas, representando 45,3% das ofertas de

    emprego no setor industrial, 78,4% no setor comercial e 28,5% no setor de servios.

    Em relao ao faturamento, as micro e pequenas empresas so responsveis no

    comrcio por 45,3% do valor da receita bruta, 17,2% na indstria e 28,4% no setor

    de servios.

    2 Informaes extradas do site: http://www.sebrae.com.br

  • 5No entanto, estudos indicam que cerca de 43% dos pequenos negcios no

    conseguem passar do primeiro ano de vida, e que depois de trs anos, apenas 37%

    sobrevivem. Para reverter este quadro, necessrio que as organizaes adotem

    sistemas de gesto que possibilitem obter informaes referentes aos seus

    negcios, permitindo que seus gestores tracem caminhos que conduzam ao xito.

    Segundo Kaplan (1998), as mudanas ocorridas no ambiente competitivo, fazem

    com que gerentes necessitem de informaes para melhorar a qualidade,

    pontualidade e eficincia das atividades que executam, alm de compreender

    precisamente o custo e a lucratividade de cada um de seus produtos, servios e

    clientes.

    A empresa objeto deste estudo atua no mercado de softwares administrativo-

    financeiros e de recursos humanos, onde a concorrncia bastante acirrada,

    exigindo de seus gestores aes que agreguem valor aos seus clientes, melhorando

    o seu desempenho competitivo.

    O problema de pesquisa no qual se baseia a justificativa desta pesquisa, consiste

    no fato de a JS ser uma pequena empresa que no possui nenhuma metodologia de

    custeio, que proporcione informaes relevantes para se determinar como os

    recursos esto sendo consumidos, quais as atividades esto sendo desempenhadas

    e qual o custo dos produtos, no sendo possvel assim analisar se todos os

    produtos so lucrativos ou no.

    Portanto, relevante para as micro e pequenas empresas, como a JS, trabalhar

    de forma adequada a informao gerencial, otimizando o uso de pessoal, capital e

    ativos, voltando-se para o mercado. Os elementos informao, racionalizao e

    orientao para o mercado representam as vantagens competitivas que podem ser

    proporcionadas pela adoo do assim chamado Custeio Baseado em Atividades, ou

    seja, um sistema de determinao de custos que toma por base as atividades

    especficas da empresa (Geishecker, 1997).

    Deste modo, a contribuio do trabalho se faz importante na medida em que as

    micro e pequenas empresas sofrem crescentes influncias de fatores do ambiente

  • 6externo, tendo que utilizar novas metodologias de gesto, neste caso o Custeio

    Baseado em Atividades, no sentido de adaptarem-se s novas condies

    ambientais, visando sobreviver num ambiente competitivo cada vez mais dinmico.

  • 2 FUNDAMENTAO TERICA

    Para um melhor entendimento do objetivo geral da pesquisa, ser apresentado

    um breve histrico da contabilidade, demonstrando sua evoluo ao longo dos anos

    e a sua relevncia como fonte de informaes para o auxlio na gesto dos

    negcios. Tambm abordado o mtodo de custeio ABC, esclarecendo seus

    conceitos e sua importncia como modelo de custeio, e por fim, a metodologia de

    custeio ABC proposta para o desenvolvimento desta dissertao.

    2.1 A evoluo da contabilidade como fonte de informao

    A contabilidade tem como grande objetivo o planejamento e a implantao de um

    sistema de informaes para uma organizao com ou sem fins lucrativos (Crepaldi,

    1998), e este objetivo no serve simplesmente para fornecer dados para fins fiscais,

    mas sim para proporcionar as informaes necessrias a uma correta deciso e

    avaliao das alternativas de uma organizao (Iudcibus et al, 1993).

    A contabilidade surgiu com a civilizao e jamais deixar de existir em

    decorrncia dela (S, 1997). Segundo Iudcibus (1993), desconsiderando a

    Antiguidade, a Contabilidade teve seu florescer nas cidades italianas de Veneza,

    Gnova, Florena, Pisa entre outras, em funo dessas cidades e outras da Europa

    possurem um grande volume de atividades mercantis, econmicas e culturais,

    principalmente a partir do Sculo XIII at o incio do Sculo XVII. O desenvolvimento

    das teorias contbeis e de suas prticas na maior parte das vezes est diretamente

    relacionado com o desenvolvimento comercial, social e institucional das sociedades,

    cidades ou naes.

    Em novembro de 1494, Pacioli3 editou sua Suma de aritimtica, geometria,

    porporo e proporcionalidade sendo tal livro dividido em distines, estas em

    tratados e estes em captulos. A parte deste livro denominada distino IX, tratado

    3 Luca Pacioli, frei franciscano nascido em Borgo di Sepolcro, provncia de Arezzo, Toscana (S, 1997).

  • 8XI, que possua o ttulo Tractatus de Computis et Scripturis (S, 1997), tratava do

    processo das partidas dobradas, que segundo Iudcibus (1993) foi provavelmente o

    primeiro a dar uma exposio completa e com muitos detalhes, no qual discorda S

    (1997, p. 42) citando:

    Erroneamente, difunde-se que Paciolo teria sido o inventor, o

    reformador, o primeiro autor das partidas dobradas, mas a

    realidade histrica a tudo isto desmente. A difuso da obra, em

    toda a Europa, foi grande a ponto de denominar-se partidas

    italianas a prpria partida dobrada, mas entre isto e a

    atribuio a Paciolo da autoria das partidas vai longa e

    substancial diferena.

    Com a propagao da escola italiana por toda a Europa atravs da publicao da

    obra de Pacioli, surge no Sculo XIX um perodo que muitos denominam de

    cientfico, e ao qual Iudcibus (1993) chama de romntico. O perodo cientfico ou

    romntico foi marcado pelo surgimento de vrios autores como Fbio Besta,

    Giuseppe Cerboni, e, no fim do Sculo XIX e incios do Sculo XX, Gino Zappa entre

    outros (Iudcibus, 1993), que publicaram obras de grande repercusso na poca.

    O domnio da escola italiana parece ter chegado a seu final por volta de 1920, e

    a partir de ento, deu incio o domnio norte-americano, favorecido no apenas pelo

    apoio de uma ampla estrutura econmica e poltica, mas tambm por pesquisa e

    trabalho de rgos associativos (Iudcibus, 1993).

    No Brasil, inicialmente a Contabilidade foi influenciada pela escola italiana,

    realizando-se grandes discusses em torno das correntes materialistas,

    personalistas, controlistas e neocontistas, reditualistas, aziendalistas e

    patrimonialistas que foram igualmente irrelevantes como na Itlia (Iudcibus, 1993).

    Segundo S (1997), a corrente que firmemente se implantou no Brasil foi a

    Patrimonialista, hoje reconhecida oficialmente, por considerar a contabilidade como

    cincia do patrimnio, em acordo com as leis e resolues do Conselho Federal de

    Contabilidade.

  • 9Os estudos de Iudcibus (1993) indicam que a primeira escola especializada no

    ensino da Contabilidade foi a escola de comrcio Alvares Penteado, criada em 1902.

    Formou professores excelentes, como Francisco Dauria, Frederico Herrmann

    Jnior, Coriolano Martins e muitos outros. Porm, foi com a fundao da Faculdade

    de Cincias Econmicas e Administrativas da USP, em 1946, e a instalao do

    curso de Cincias Contbeis e Aturias que o Brasil ganharia o primeiro ncleo

    efetivo, embora modesto, de pesquisa contbil nos moldes norte-americanos, com

    professores dedicando-se em tempo integral ao ensino e pesquisa, produzindo

    artigos de maior contedo cientfico e escrevendo teses acadmicas de grande

    relevncia.

    Assim, diramos que a Contabilidade no Brasil evoluiu sob a influncia da escola

    italiana, at que algumas firmas de auditoria de origem norte-americana, e certos

    cursos de treinamento em Contabilidade e Finanas acabassem exercendo forte

    influncia e revertessem essa tendncia, passando a vigorar uma filosofia norte-

    americana (Iudcibus, 1993).

    A contabilidade um sistema de coletar, resumir, analisar e relatar, em termos

    monetrios, informaes sobre uma organizao (Anthony, 1973). Segundo Franco

    (1992), tem como campo de estudo o patrimnio, e seu campo de aplicao o das

    organizaes economico-administrativas, entidades denominadas assim por

    necessitarem de um orgo administrativo que pratica atos de natureza econmica e

    financeira, utilizando bens patrimoniais, para atingir o seu objetivo, seja ele

    econmico ou social.

    Anthony (1973) afirma que o sistema contbil de uma organizao consiste

    essencialmente de duas partes relacionadas, a (1) contabilidade financeira; (2) e a

    contabilidade gerencial. A contabilidade financeira fornece informaes a terceiros

    no participantes do negcio, como acionistas, banqueiros e outros credores, rgos

    governamentais e o pblico em geral. J a contabilidade gerencial preocupa-se com

    a informao contbil que ser til administrao.

    Concluindo ento, a contabilidade surgiu h vrias dcadas com o objetivo de

    controlar o patrimnio das organizaes. Evoluiu de tal forma que acabou se

  • 10

    tornando uma valiosa fonte de informaes a respeito dos negcios da organizao.

    Atualmente, a contabilidade deve ser moldada de acordo com as necessidades dos

    gestores das organizaes, para que esses obtenham informaes preciosas

    atravs dela, e conduzam a empresa ao encontro do sucesso.

    2.2 A contabilidade gerencial no auxlio tomada de deciso

    A contabilidade gerencial o ramo da contabilidade que tem como objetivo

    fornecer instrumentos aos administradores de empresas para auxili-los em suas

    funes gerenciais (Crepaldi, 1998). A contabilidade gerencial est voltada para a

    administrao da empresa, procurando suprir informaes que se encaixem de

    maneira vlida e efetiva no modelo decisrio do administrador ( Iudcibus, 1991),

    conduzindo melhor utilizao dos recursos econmicos da empresa, propiciando

    informaes teis e relevantes que facilitam o encontro das respostas certas para as

    questes fundamentais, com um enfoque constante sobre o que deve ser feito a

    curto e longo prazo (Crepaldi, 1998).

    Historiadores demonstraram que informes contbeis tm sido preparados h

    milhares de anos. Mas a demanda sobre transaes internas nas organizaes um

    fenmeno bem mais recente. A contabilidade gerencial surgiu para produzir

    informaes que suprissem a necessidade da demanda sobre estas transaes,

    permitindo aos gestores reduzir os custos e melhorar a performance da empresa

    (Boisvert,1999).

    A contabilidade gerencial surgiu nos Estados Unidos quando as organizaes

    comerciais, em vez de dependerem dos mercados externos para trocas econmicas

    diretas, passaram a conduzir trocas econmicas internamente. Como conseqncia

    da Revoluo Industrial e da possibilidade de se beneficiar da economia de escala,

    tornou-se interessante para os proprietrios de empresa do sculo XIX direcionar

    significantes somas de capital para seus processos de produo (Jonhson e Kaplan,

    1993).

  • 11

    Com os processos de transformao passando a serem executados dentro das

    organizaes, surgiu a demanda por indicadores para determinar o preo do produto

    de operaes internas. Apareceram ento os primeiros indicadores de contabilidade

    gerencial, que eram simples, e concentravam-se nos custos de transformao,

    produzindo indicadores sintticos que demonstravam o custo horrio ou custo por

    libra produzida de cada processo e de cada trabalhador (Jonhson e Kaplan, 1993).

    Segundo Johnson e Kaplan (1993), os indicadores de contabilidade gerencial

    foram criados para motivar e avaliar a eficincia de processos internos, e no para

    medir a lucratividade dos negcios.

    De acordo com Jonhson e Kaplan (1993), a viabilidade e sucesso a longo prazo

    dessas organizaes administradas revelaram os ganhos que poderiam ser obtidos

    na administrao hierrquica, opondo-se conduo dos negcios atravs de

    transaes de mercado. No incio, os proprietrios provavelmente esperavam que o

    controle centralizado da fora de trabalho iria ampliar os lucros, pelo aumento da

    produo e das vendas. Contudo, perceberam que atravs da reduo dos custos

    era possvel aumentar a eficincia produtiva e o lucro nas organizaes.

    A contabilidade gerencial evoluiu em conjunto com o movimento de

    administrao cientfica. A meta dos criadores da administrao cientfica, tais como

    Frederick Taylor, consistia em melhorar a eficincia e utilizao da mo-de-obra e

    matria-prima, e os padres fsicos por eles desenvolvidos, foram facilmente

    convertidos em padres para custos de mo-de-obra e matria-prima.

    A contabilidade gerencial focalizou a ateno das pessoas nos ganhos potenciais

    da coordenao dos processos produtivos, encorajando os proprietrios a

    aumentarem o tamanho de suas organizaes.

    As ltimas evolues que marcaram nos sistemas de contabilidade gerencial

    ocorreram nas primeiras dcadas do sculo XX, em apoio ao crescimento das

    corporaes com atividades diversificadas (Jonhson e Kaplan, 1993). A Du Pont

    Power Company foi formada em 1903 atravs da juno de empresas que eram

  • 12

    independentes ou de administrao familiar. Foi um modelo das novas

    organizaes que iriam surgir com o passar do tempo (Jonhson e Kaplan, 1993).

    Na Du Pont foi concebido pelos gerentes seniores uma srie de atividades

    operacionais e oramentrias, porm a mais importante e duradoura inovao na

    contabilidade gerencial foi o Indicador de Retorno de Investimento (ROI). O ROI

    possibilitava uma indicao geral do sucesso comercial de cada unidade operacional

    e de toda a organizao.

    Segundo Johnson e Kaplan (1993) em 1925, provavelmente todas as prticas de

    contabilidade gerencial conhecidas, atualmente, j haviam sido desenvolvidas e

    estas prticas haviam evoludo para atender s necessidades de informao e

    controle dos gestores de empresas cada vez mais complexas e diversificadas.

    Esperava-se que nas dcadas subseqentes, com as mudanas ocorridas nos

    processos de produo, nas condies de competio global, e com os avanos na

    tecnologia da informao, os gerentes buscassem sistemas mais oportunos e

    condizentes com as necessidades atuais. Porm o que se viu foi uma estagnao

    dos sistemas de contabilidade gerencial. Esta estagnao em parte pode ser

    atribuda predominncia dos demonstrativos de contabilidade financeira externos

    no sculo XX. Com as crises dos mercados de capitais e as corporaes mais

    colocando seus ttulos disposio do pblico, a auditoria passou a ter grande

    relevncia nas organizaes em funo da exigncia de que seus demonstrativos

    financeiros fossem auditados (Jonhson e Kaplan, 1993).

    Contudo, com as novas exigncias competitivas existentes no mercado, as

    empresas precisam reciclar seus processos produtivos, desenvolvendo pesquisas,

    treinamentos, investindo em tecnologias que as tornem cada vez mais competitivas,

    fazendo com que os custos diretos dos produtos se tornem uma frao bem menor

    dos custos totais, tendo assim, que utilizar novos indicadores financeiros que

    demonstrem com acurcia o desempenho corporativo. A contabilidade gerencial

    deve fazer uso da tecnologia disponvel para criar estes novos indicadores e produzir

    informaes teis elaborao de estratgias e melhoria da performance da

    empresa como um todo.

  • 13

    2.3 A necessidade de mudanas nas metodologias de custeio

    A contabilidade de custos tinha como funo inicial o fornecimento de elementos

    para avaliao dos estoques e apurao do resultado (Neves e Viceconti, 1995).

    Seus princpios derivam dessa finalidade primeira e, por isso, nem sempre

    conseguem atender completamente a suas funes mais recentes (Martins, 2000)

    originadas nas ltimas dcadas, a de fornecer dados de custos para auxlio no

    controle e para a tomada de deciso nas empresas.

    A contabilidade de custos acabou por passar, nessas ltimas dcadas, de mera

    auxiliar na avaliao de estoques e lucros globais para importante arma de controle

    e deciso gerencial (Martins, 2000). A contabilidade de custos utiliza os mesmos

    mecanismos da contabilidade geral ou financeira, porm d mais nfase aos

    problemas de classificao dos dados (custos), bem como ao seu controle,

    significando ser uma ferramenta gerencial de alto valor (Iudicbus et al, 1993).

    A contabilidade de custos, como prtica normal dentro do sistema contbil de

    uma empresa, tem como primeira finalidade fornecer informaes sobre as

    movimentaes de produtos, orientando seus administradores na busca de

    alternativas para a gesto dos negcios. Um sistema de custeio que permite apurar

    adequadamente os custos da produo e os custos das diversas atividades de uma

    empresa, fornece informaes relevantes para a contabilidade gerencial (Reis,

    1997).

    Com o passar dos anos e o desenvolvimento das empresas, o perfil dos custos

    empresariais mudou bastante. Os sistemas de custeio tradicionais4 foram

    concebidos num perodo em que os custos diretos, como mo-de-obra e materiais,

    representavam a maior parte dos custos das empresas. Os custos indiretos de

    fabricao no possuam grande representatividade no total dos custos

    4 Ver Martins (2000);Shank e Govindarajan (1997).

  • 14

    empresariais, e estes por sua vez eram distribudos utilizando-se como critrio a

    mo-de-obra direta. Utilizando critrios como este, os custos eram alocados aos

    produtos e representavam o consumo dos recursos.

    Os sistemas de custeio tradicionais, conforme Martins (2000), utilizam o esquema

    bsico de custos (1) separando os custos e as despesas; (2) apropriando os custos

    diretos aos produtos; (3) e apropriando os custos indiretos de fabricao aos

    produtos mediante critrios de rateio. Como a mo-de-obra direta representava a

    maior parte dos custos das empresas, esta era utilizada como critrio para se

    determinar como os custos indiretos seriam alocados aos produtos.

    Atravs da metodologia de custeio por centros de custo, Sakurai (1997) afirma

    que os overhead 5 da produo so alocados atravs de uma taxa departamental.

    Conforme Figura 01, no primeiro estgio os custos so atribudos diretamente ou

    indiretamente aos centros de custos. E no segundo estgio, estes custos so

    alocados aos produtos, atravs de critrios de rateio baseados em horas de mo-de-

    obra direta, horas-mquina, ou outra base para a apropriao relacionada ao volume

    de produo.

    5 Conforme Ching (1997, p. 18) os custos indiretos so denominados Overhead.

  • 15

    Figura 01 Apropriao de custos tradicional

    Fonte: Sakurai (1997, p. 98)

    Conforme Sakurai (1997) nos sistemas tradicionais de custeio, onde os rateios

    so baseados no volume atravs de critrios como horas-homem de mo-de-obra

    direta, horas-mquina ou consumo de materiais, os procedimentos contbeis se

    concentram nos produtos e no nas atividades. Como o volume de produo no

    mais o fator importante para a apropriao dos overhead, necessrio que se

    mudem as metodologias para no haverem distores nas informaes gerenciais.

    Nessa linha, Brimson (1996) comenta que os sistemas tradicionais de

    contabilidade de custos pressupem que os produtos e seus volumes de produo

    so os causadores dos custos. Portanto, tornaram o produto o centro dos sistemas

    de custeio, classificando os custos em diretos ou indiretos em relao aos produtos.

    Os critrios de atribuio dos custos baseados no volume de produo para alocar

    os custos indiretos aos produtos, podem proporcionar informaes razoavelmente

    corretas, se os custos indiretos forem consumidos em relao ao volume de

    produo. Do contrrio, estas informaes tornam-se distorcidas, quando os custos

  • 16

    indiretos no tendo relao com o volume de produo, aumentam

    significativamente.

    Segundo Ching (1997), a proporo dos custos de materiais diretos se manteve

    estvel na mdia das empresas ao longo destas dcadas. O que provocou esta

    mudana no perfil de custos que a essncia do valor no mais criada na fbrica

    nos seus processos de manufatura, como nas dcadas passadas. Atualmente a

    essncia do valor criada no negcio, ela acontece no servio que prestamos aos

    clientes, na identificao de suas necessidades e exigncias, no melhor desenho do

    produto, na distribuio mais eficiente, enfim, em atividades da rea de custos

    indiretos onde a vantagem diferencial competitiva criada. Isto no significa que a

    manufatura no agrega mais valor ao negcio, porm necessrio ser eficiente em

    todos os processos envolvidos no negcio, para ser tornar competitivo frente a

    concorrncia.

    As comprovaes das deficincias nos sistemas tradicionais de custeio

    impulsionaram estudos para que na dcada de 80 surgissem novos mtodos de

    custeio e de gesto, dentre eles o mtodo de Custeio Baseado em Atividades, que

    segundo Padoveze (1994), foi criado para suprir as necessidades no atendidas

    pelos sistemas de custos tradicionais, procurando aprimorar o custeamento dos

    produtos, atravs de mensuraes precisas dos custos fixos indiretos, relacionando-

    os s atividades geradoras destes custos, para a acumulao diferenciada ao custo

    dos diversos produtos da empresa.

    Conforme Nakagawa (1991), as razes bsicas que provocam a perda da relevncia

    dos sistemas tradicionais, quando utilizados na gesto das empresas, tendo em vista

    o inteiro ciclo de vida dos produtos, est no fato de que os mesmos alm de

    provocarem distores nos custos dos produtos, tambm no permitem adequada

    produo dos mesmos. Sendo assim, Nakagawa (1994) apresenta as seguintes

    diferenas entre o custeio ABC e os sistemas de custeio tradicionais, conforme

    Quadro 01.

  • 17

    Quadro 01 ABC X VBC

    ABC VBC6

    - Escopo eficcia dos custos custos para controle

    - Objetivos competitividade das empresas elaborao de relatrios

    financeiros

    - Gesto viso ex-ante viso ex-post

    - Anlise viso tridimensional viso bidimensional

    - Mensurao acurcia exatido

    Fonte: Nakagawa (1994, p. 12)

    Diante do Quadro expostos acima, Facci et al. (1999, p. 25) afirmam que:

    A amplitude proporcionada pelo sistema ABC possibilita uma

    acentuada melhora acerca das anlises necessrias nos

    processos e atividades na empresa, os quais decorrem, por

    exemplo, (1) da mudana da viso quanto estrita exatido

    que os nmeros procuram identificar na transmisso dos fatos

    ocorridos e seus resultados sobre o patrimnio da empresa; (2)

    das buscas insistentes sobre os efeitos que os fatos podero

    causar na estrutura interna, antes de acontecerem; (3) da

    preocupao sobre os aspectos de competitividade, e no

    somente quanto s informaes contidas nos relatrios

    financeiros (preo e volume somente); (4) da amplitude da

    viso sobre as transaes ocorridas, transcendendo a

    preocupao quanto ao preo e quantidade, para os aspectos

    que cercam os atributos das atividades executadas ou a

    executar.

  • 18

    Observa-se ento, que o sistema de custeio ABC por proporcionar uma melhor

    identificao dos custos que so consumidos nos processos, proporciona uma

    melhoria nas decises gerenciais, j que se deixa de ter produtos subcusteados ou

    supercusteados, permitindo obter transparncia no momento da tomada de deciso

    empresarial, otimizando assim a rentabilidade do negcio.

    2.4 O custeio baseado em atividades (activity based costing-ABC)

    O Custeio Baseado em atividades difundiu-se no Brasil entre os contadores e

    gestores de operaes , promotores de seminrios e criadores de software no final

    dos anos 80 e incio dos 90 ( Ernst & Young, 1992). Os estudos e pesquisas

    cientficas sobre o ABC iniciaram-se em 1989, no Departamento de Contabilidade e

    Atuaria da Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da USP, onde

    esta matria lecionada tanto no nvel de graduao como de ps-graduao

    (Nakagawa, 1994).

    Johnson (apud Catelli & Guerreiro, 1994) informa que o Custeio Baseado em

    Atividades teve seu incio efetivo em trabalhos desenvolvidos na General Eletric, nos

    primeiros anos da dcada de 60, nos EUA, sendo codificado nos anos 70 e

    desenvolvido nos anos 80 por trabalhos executados pelas empresas de consultoria,

    mediante implementaes em outras empresas.

    O custeio ABC, segundo Ostrenga et al. (1997), um mtodo de contabilidade

    gerencial, onde o clculo dos custos indiretos bem mais acurado do que o clculo

    realizado pelos sistemas tradicionais. Para o Custeio Baseado em Atividades, a

    organizao empresarial formada por uma srie de processos intercalados que

    convertem recursos em resultados. Sendo assim, o custeio ABC expressa este

    conceito e o desenvolve, organizando as informaes de custos por atividades.

    6 VBC Volume Based Costing ou Custeio Baseado em Volume

  • 19

    2.4.1 As geraes do modelo ABC

    O modelo conceitual do custeio ABC, segundo Martins (2000), basicamente

    possui duas geraes. Conforme Nakagawa (1994), a primeira foi criada no final dos

    anos 80, com objetivos estratgicos, como ferramenta de gesto para ser utilizada

    para melhorar a acurcia do custeio de produtos e servios e, atravs desta,

    determinar o melhor mix e preos de produtos.

    Martins comenta (2000) que a primeira gerao do ABC demonstrada na Figura

    02, uma viso exclusivamente funcional concebida para o custeio de produtos,

    pois se preocupava em como melhor apropriar o consumo de recursos da empresa

    aos diversos grupos de atividades que eram consumidos nos processos de produo

    atravs dos cost drivers (Nakagawa, 1994).

  • 20

    Figura 02 Primeira gerao do ABC

    Fonte: Nakagawa (1994, p. 68)

    Segundo Nakagawa (1994), na primeira gerao faltavam informaes que

    possibilitassem segregar as atividades que eram mais relevantes no processo, com

    o propsito de identificar seus atributos e desempenhos. Com a utilizao do

    primeiro modelo, as atividades executadas foram acompanhadas, possibilitando uma

    viso sobre o desenvolvimento do processo e sobre a dinmica dos custos. Os

    gestores passaram a receber informaes que auxiliaram a melhoria de processos,

    dando condies aos mesmos que aperfeioassem as atividades sob suas

    responsabilidades. Como conseqncia se desenvolveu uma segunda verso.

  • 21

    Figura 03 Segunda gerao do ABC

    Fonte: Nakagawa (1994, p. 70)

    Esta verso do ABC, que est demonstrada na Figura 03, foi desempenhada

    para suprir as informaes necessrias a dois propsitos. A viso econmica e de

    custeio que constitui a parte vertical do modelo e como na primeira verso, objetiva o

    aprimoramento do custeio de produtos. E a viso de aperfeioamento do processo,

    que constitui a parte horizontal e reflete as informaes relacionadas com os cost

    drivers, permite que se faa uma anlise no financeira, obtendo-se medidas de

    desempenho a respeito das atividades e descrevendo como estas atividades foram

    desenvolvidas.

    Atravs da viso de aperfeioamento do processo possvel analisar os fatores

    geradores de custos. O custeio ABC descreve que a empresa no deveria fazer

    cortes nos recursos de forma indiscriminada e aleatria, e sim concentrar esforos e

    energia para influenciar os fatores geradores de custo (Ching,1997). Segundo

    Ostrenga at al (1997), esta abordagem ao custeio se d devido ao fato de o custo

    ser causado, portanto as suas causas devem ser gerenciadas. Quanto mais perto se

    chegar do relacionamento dos custos s suas causas, mais relevantes sero as

    informaes contbeis para orientar as decises gerenciais na organizao.

  • 22

    Brimson (1996) afirma ainda que os geradores de custos so os fatores que

    provocam custo nas atividades subseqentes e, portanto, deveriam ser

    acompanhados. Porm, o controle de custo geralmente focalizado em seu ponto

    de ocorrncia, sem considerar os geradores de custo. Sendo assim, no custeio ABC

    as informaes relacionadas aos fatores geradores de custo determinam a causa

    dos custos. Portanto, estes fatores devem ser influenciados, observando-se a real

    necessidade de se executar as atividades pertinentes a estes, com o objetivo de se

    minimizar de forma racional os custos.

    Ainda segundo Nakagawa (1994), a segunda verso do ABC, devido a sua

    abrangncia, vem sendo muito utilizada tambm em empresas de servios, como

    instituies financeiras, sade, hotelaria, turismo, universidades, rgos

    governamentais entre outros. A esse respeito Martins (2000) afirma que os conceitos

    e a metodologia do Custeio Baseado em Atividades (ABC) tambm podem ser

    aplicadas nas empresas no-industriais, pois atividades ocorrem tanto nas indstrias

    quanto nas empresas de prestao de servios.

    Conforme Ostrenga at al. (1997), interessante utilizar o Custeio Baseado em

    Atividades para: (1) Entender o que provoca custos em sua empresa; e (2) analisar a

    lucratividade relativa de servios, processos, produtos, clientes. Percebe-se ento

    que o sistema de custeio ABC permite controlar melhor a lucratividade de produtos

    ou clientes, fornecendo informaes para se desenvolver uma base analtica para a

    modificao da estratgia de preos. Tanto nas organizaes de servios como nas

    industriais, as novas informaes proporcionadas pelo ABC devem ser incorporadas

    tomada de deciso das empresas para torn-las e mant-las mais lucrativas.

    2.4.2 Conceituando o custeio ABC

    O Custeio Baseado em Atividades (Activity Based Costing - ABC) uma

    metodologia de custeio que procura diminuir as distores provocadas pelo rateio

    arbitrrio dos custos indiretos (Martins, 2000), rastreando custos de um negcio ou

    departamento para as atividades envolvidas e verificando como estas atividades

    esto relacionadas para a gerao de receitas e o consumo dos recursos (Ching,

  • 23

    1997). O ABC descreve a forma como uma empresa emprega tempo e recursos

    para atingir determinados objetivos, avaliando o valor que as atividades agregam

    para a performance do negcio.

    Neste sentido Cooper & Kaplan (apud Cangi,1995, p.16) dizem que o ABC:

    uma abordagem que analisa o comportamento dos custos

    por atividades, estabelecendo relaes entre atividades e o

    consumo de recursos, independentemente de fronteiras

    departamentais, permitindo a identificao dos fatores que

    levam a instituio ou empresa a incorrer em custos em seus

    processos de oferta de produtos e servios e de atendimento a

    mercados e clientes.

    Um dos mais importantes benefcios do ABC monitorar os esforos da empresa

    para melhorar seu desempenho, atravs da estimativa dos custos para as principais

    causas de custos. O ABC possibilita atravs da estimativa dos custos que os

    gerentes definam prioridades e monitorem os esforos de aperfeioamento, bem

    como o custeamento dos produtos (Ernest Young, 1992).

    A Figura 04 demonstra o panorama visualizado nos sistemas de custeio

    tradicionais, onde se tem como pressuposto que os produtos e o seu volume de

    produo so os causadores dos custos, e portanto, os recursos so consumidos

    pelos produtos. O sistema de custeio ABC parte da premissa de que os recursos so

    consumidos pelas atividades, e estas por sua vez so consumidas pelos produtos e

    clientes, ou objetos de custos.

  • 24

    Figura 04 Custeio Tradicional X ABC

    Fonte: Ching (1997, p. 54)

    O sistema de custeio ABC identifica as atividades desenvolvidas em uma

    empresa atravs de um processo de acumulao e rastreamento de custos e de

    dados de desempenho (Brimson, 1996), facilitando a anlise estratgica dos custos

    (Nakagawa, 1994), possibilitando um maior controle desses custos e o entendimento

    dos mesmos (Brimson, 1996).

    Martins (2000) afirma que a alocao dos custos s atividades deve ser feita da

    forma mais criteriosa possvel e que deve obedecer a seguinte ordem de prioridade:

    (1) alocao direta; (2) rastreamento e em ltimo caso (3) o rateio. A alocao direta

    sempre ser usada caso haja uma relao causal direta entre o recurso consumido

    por uma atividade, ou o consumo de uma atividade por um objeto de custo.

  • 25

    O rastreamento efetuado atravs da identificao de uma relao de causa e

    efeito entre uma atividade e a gerao dos seus respectivos custos, utilizando-se os

    direcionadores de custo como parmetros para constituir o fator que determinar as

    causas e os custos envolvidos nesta atividade. Caso no seja possvel aplicar

    nenhum dos critrios mencionados acima, deve-se ento atribuir os custos s

    atividades atravs de critrios de rateio, como horas-mquina, procurando ser o

    menos arbitrrio e subjetivo possvel.

    O sistema de custos baseado em atividades proporciona, alm das informaes

    de custos mais acuradas, a identificao de oportunidades de melhoria, meios mais

    adequados para a anlise de investimentos, identificao de produtos no rentveis,

    entre outras vantagens. Grande parte deste sucesso se deve viso global dos

    processos e sua diviso em sub-processos e atividades.

    Cooper e Kaplan (1991) caracterizam o custeio ABC como uma ferramenta

    importante para se definir as prioridades de lucro da empresa, auxiliando a gerncia

    a visualizar as oportunidades lucrativas. A prpria estrutura baseada em atividades

    permite aos gerentes focalizar as atividades que causam maiores impactos nos

    custos, e possibilita atravs de esforos de melhoria reduzir os efeitos destas

    atividades nos custos dos produtos.

    Sendo assim, no sistema de custeio ABC os recursos de uma empresa so

    consumidos por suas atividades e as atividades so consumidas pelos produtos ou

    servios. Neste caso, o rastreamento dos custos feito levando-se em considerao

    as atividades empresariais, enquanto que no custeio tradicional os rateios so

    efetuados considerando-se os volumes produzidos (Kraemer, 2000). Como se pode

    notar segundo Kraemer (2000), o sistema de custeio ABC vem tentando minimizar

    os impactos de alocaes inadequadas, atravs do custeamento das atividades

    exigidas pelos produtos ou demais atividades operacionais.

    Segundo Robles Jr. (1996), conforme apresentado na Figura 05, os elementos

    que compe a hierarquia do sistema de custeio ABC so funes, processos de

    negcio, atividades, tarefas, subtarefas e operaes. Uma funo caracteriza-se

    como um conjunto de diversas atividades que so relacionadas segundo um

  • 26

    propsito comum (Brinsom, 1996) como fornecimento de produto, finanas,

    compras, vendas, produo, marketing, segurana e qualidade. A abrangncia das

    atividades relacionadas com a funo muito mais ampla do que a unidade da

    organizao que tem responsabilidade direta por aquela funo (Ching, 1997, p.

    47).

    Figura 05 Hierarquia dos elementos de anlise do ABC

    Fonte: Robles Jr. (1996, p. 44)

    O processo por sua vez realiza uma seqncia ou conjunto de atividades

    relacionadas e interdependentes (Ching, 1997), podendo ser de diferentes funes

    (Boisvert, 1999) com um objetivo especfico (Nakagawa, 1994). As atividades so

    um conjunto de aes executadas para atingir as metas e os objetivos de uma

  • 27

    funo (Nakagawa, 1994). A atividade reagrupa todas as tarefas que so realizadas

    em srie (Boisvert, 1999), descrevendo o modo como uma empresa utiliza o tempo e

    aloca os recursos em busca dos objetivos do negcio. Tarefa a combinao dos

    elementos de trabalho ou das operaes, demonstrando como se executa uma

    atividade. Subtarefa o elemento de uma atividade. Operaes a menor unidade

    possvel de trabalho utilizada para realizar uma atividade (Nakagawa, 1994).

    Robles Jr. (apud Berliner e Brimson,1996) comenta que o termo atividade

    poder servir para o entendimento do sentido geral dos vrios elementos

    apresentados na Figura 05, mesmo existindo uma hierarquia entre eles. Cabe a

    empresa determinar o grau de profundidade do detalhe na escolha do elemento da

    hierarquia em funo das suas especificidades.

    2.4.3 Objetos de custos e atividades

    No custeio ABC os recursos de uma empresa so consumidos pelas atividades,

    e os custos atribudos s atividades so ento alocados atravs do rastreamento

    aos objetos de custo. Segundo Ching (1997), o rastreamento consiste no processo

    de identificao de atividades especficas e de determinao de quanto cada

    atividade cabe ao objeto de custo.

    Conforme ilustrado na Figura 06, os objetos de custo so constitudos de bens e

    servios, como produtos, clientes, fornecedores ou ainda outros objetos (Boisvert,

    1999) e so a finalidade para as informaes sobre os custos levantados (Ching,

    1997). Esta mensurao dos objetos de custo fornecer informaes relevantes para

    se desenvolverem estratgias que possibilitem o alcance dos objetivos do negcio.

  • 28

    Figura 06 Objetos de custo

    Fonte: Ching (1997, p. 100)

    Como j citado anteriormente, as atividades podem ser definidas como um

    conjunto de aes tendo como objetivo a produo de produtos (objetos de custo)

    (Nakagawa, 1994). Um sistema gerencial estruturado em atividades assegura que os

    planos sejam transmitidos para o nvel em que as aes possam ser tomadas

    (Brimson, 1996). Para Martins (2000) as atividades so uma combinao de

    recursos humanos, financeiros, materiais e tecnolgicos, utilizados nos processos de

    produo dos objetos de custo, atravs da realizao das tarefas necessrias para o

    seu desempenho.

    Observando a Figura 07, podemos afirmar que atividades consomem os

    recursos, como pessoas, tecnologia e instalaes, para que se produzam os objetos

    de custo, produtos ou servios, caracterizando o nvel em que as aes acontecem.

    Martins (2000) cita que o custo de uma atividade engloba todos os sacrifcios de

    recursos para execut-la. Nessa linha de pensamento, Ching (1997) afirma que

    atividades so o dia a dia das empresas, ou seja, o que elas fazem. Para que as

  • 29

    mudanas aconteam, devemos mudar o que as pessoas fazem e, portanto,

    devemos mudar as atividades que elas realizam.

    Figura 07 Representao das atividades

    Fonte: Ching (1997, p. 48)

    Brimson (1996) comenta que a definio das atividades deve possibilitar uma

    representao consistente e demonstrvel da totalidade da empresa, possuindo

    acurcia para que possa ser utilizada no processo de tomada de deciso. Portanto,

    necessrio se efetuar uma anlise das atividades para verificar quais so as mais

    importantes dentro da empresa, objetivando estabelecer uma base clara e concisa,

    que possa demonstrar as operaes do negcio e a determinao de custos e

    desempenhos.

    Com base na afirmao acima relatada, Brimson (1996) criou uma metodologia

    para se efetuar a anlise de atividades, composta das seguintes etapas:

    Atividade

    Produto

    Servios

    Pessoas

    Tecnologia

    Instalaes

    Recursos Sadas Fsicas

    (Inputs) (Output)

  • 30

    1) determinar o escopo de anlise de atividades, ou seja, uma definio clara do

    problema especfico ou do negcio a ser analisado;

    2) determinar as unidades da anlise de atividades, dividindo a empresa em

    grupos ou departamentos que possuam finalidades identificveis. Pode-se utilizar

    um organograma e o quadro de pessoal como ponto de partida no momento da

    definio das unidades de atividades. Tambm devem ser analisados o layout das

    instalaes, normas departamentais, registro de ativos fixos, fluxogramas e outros

    documentos relacionados;

    3) definir as atividades, criando uma listagem de todas as atividades

    desempenhadas por unidade, coletando os dados atravs de tcnicas como a

    anlise dos registros histricos, anlise das unidades organizacionais, anlise dos

    processos do negcio, anlise das funes do negcio, estudo dirigido de

    engenharia industrial e reconciliao da definio de atividades. importante, aps

    selecionar a tcnica de coleta de dados a ser utilizada, observar dois critrios

    bsicos: (1) o grau de preciso e o (2) custo da medio;

    4) racionalizar as atividades, ou seja, a lista de atividades deve fornecer um nvel

    de detalhe que seja suficiente para anlise, mas no excessivo. Pode-se utilizar

    alguns critrios de racionalizao como: (1) evitar a agregao de atividades com

    caractersticas econmicas muito diferentes; (2) no agregar atividades que sejam

    diferentes; (3) todas as tarefas necessrias para executar uma atividade devem ser

    combinadas e tratadas como parte de uma nica atividade; (4) e decompor uma

    atividade principal at o nvel de detalhe em que os custos so distribudos

    proporcionalmente entre as atividades com entradas e sadas homogneas;

    5) classificar as atividades em primrias e secundrias, para se apropriar os

    custos e administrar a proporo entre elas;

    6) criar o mapa das atividades, identificando a relao entre funes, processos

    do negcio e atividades. Utiliza-se este mapa para anlise de processos alternativos

    e atividades para desempenhar uma funo; e

  • 31

    7) finalizar e documentar as atividades, compilando-se uma lista de atividades

    que dem apoio s necessidades da anlise organizacional, funcional e dos

    processos do negcio.

    Atravs desta metodologia possvel identificar as atividades que ocorrem na

    empresa, verificar as mais relevantes e analisar como estas atividades consomem

    os recursos disponveis. possvel tambm, estudar os processos desempenhados

    no negcio, buscando a reduo ou eliminao de atividades que no estejam

    agregando valor ao produto, ou que estejam sendo realizadas de forma ineficaz.

    Segundo Brimson (1996), as atividades so classificadas em atividades

    primrias e secundrias. As atividades primrias so aquelas desenvolvidas em um

    departamento ou unidade organizacional, utilizadas dentro ou fora da empresa e que

    demonstram a razo da existncia deste departamento ou unidade. As atividades

    secundrias ou administrativas e de apoio proporcionam um suporte s atividades

    primrias, pretendendo aumentar a eficincia e a eficcia das mesmas. Atividades

    como administrao, superviso, treinamento entre outras, so exemplos de

    atividades secundrias.

    Conforme Figura 08, as atividades tambm podem ser classificadas como VA

    (Value Added) que so aquelas que adicionam valor ao produto sob a viso dos

    clientes. E tambm como NVA (Non Vallue Added), ou seja, aquelas que no

    adicionam valores ao produto sob a tica dos clientes (Nakagawa, 1994). As

    atividades NVA devem ser melhoradas, reorganizadas ou eliminadas, desde que

    no prejudiquem o produto para o cliente.

  • 32

    Figura 08 Classificao das atividades

    Fonte: Ching (1997, p. 82)

    Conforme Ching (1997), para executarmos a melhor forma de gesto dos custos,

    devemos classificar as atividades, ressaltando aquelas que no agregam valor. Esta

    anlise possibilita a concentrao de esforos e ateno nas atividades NVA,

    procurando elimin-las ou minimiz-las (melhorando a eficcia da empresa) para

    somente ento atacar as atividades VA (melhorando a eficincia).

    Ching (1997) afirma ainda que existem duas categorias de atividades NVA. As

    positivas que so necessrias para a execuo das atividades VA, porm devem ser

    minimizadas. E as NVA negativas que alm de no agregarem valor para os

    clientes, tambm originam outras atividades NVA, e devem ser eliminadas.

    Atividades que agregam para asatisfao do cliente

    Atividades que no agregam para asatisfao do cliente mas sonecessrias para possibilitar asatividades VA a serem realizadas

    Atividades que no agregam para asatisfao do cliente e so possveisde serem eliminadas

    Tipos de atividade

    O conceito de atividades VAA e NVA necessita de elaborao.A identificao de atividade positiva e negativa ajuda isto.

    Negativa Positiva

    VA

    NVA

  • 33

    2.4.4 Direcionadores de custos

    Os direcionadores de custos ou cost driver so fatores que determinam o

    consumo de recursos pelas atividades e destas para os objetos de custo. Os

    direcionadores de custo so critrios utilizados para medir o montante dos custos

    que sero atribudos a cada uma das atividades desenvolvidas no processo.

    A definio dos direcionadores de custos possui grande relevncia para o custeio

    ABC, pois deve representar tanto o consumo de recursos pelas atividades, quanto o

    consumo dos custos das atividades pelos produtos ou objetos de custo. Alm de

    representar a demanda, por parte das atividades e dos objetos de custo, os

    direcionadores de custos devem refletir ou estar relacionados com a causa bsica

    dos custos.

    O processo de escolha dos direcionadores de custo deve ser realizado levando

    em considerao todas as opes existentes, e estas sendo bem analisadas.

    Segundo Ostrenga et al. (1997), no momento da definio dos direcionadores de

    custo deve-se levar em considerao a preciso relativa de cada alternativa de

    direcionador de custo e o custo relativo da coleta de dados sobre o mesmo. Pois em

    alguns casos o custo de se obter dados sobre um suposto direcionador de custo

    pode ser muito elevado, o que provoca a inviabilizao do mesmo como

    direcionador.

    Segundo Cooper (apud Cogan, 1997), trs fatores devem ser considerados no

    momento da seleo dos direcionadores de custos: (1) ser de fcil medio e fcil

    obteno, proporcionando baixos custos de obteno dos dados; (2) ser

    correlacionado e possuir alto coeficiente de correlao com o consumo de recursos

    ou de atividades; (3) e ter um potencial de influncia no comportamento das

    pessoas, induzindo a um comportamento proveitoso para a empresa.

    De acordo com Brimson (1996), o direcionador de custo ideal deve ser de fcil

    entendimento, fcil medio, fcil extrao e ter relao direta aos fatores de

    produo da atividade. Conforme Nakagawa (1994), todo fator que altere o custo de

  • 34

    uma atividade um Cost Driver. Os direcionadores de custo no sistema de custeio

    ABC so classificados como direcionadores de recursos e direcionadores de

    atividades, ou direcionadores de primeiro estgio e de segundo estgio.

    Os direcionadores de recursos, ou primeiro estgio, servem para medir o

    consumo dos recursos pelas atividades. Para identificar os recursos s atividades

    das empresas, segundo Boisvert (1999), necessrio lanar os valores escriturados

    no livro razo diretamente nas atividades, ou caso no seja possvel, dividir esses

    valores entre as vrias atividades realizadas. Essa distribuio feita com base em

    direcionadores de recursos. Assim, de acordo com Nakagawa (1994), o direcionador

    de recursos um mecanismo para rastrear os recursos registrados na contabilidade

    s atividades.

    Figura 09 Medidas de atividades

    Atividade Medidas de atividades

    Contas a pagar Faturas

    Cheques

    Contas a receber Pedidos de clientes

    Quantidade de clientes

    Controle de estoque Quantidade de peas

    Planejamento e controle de materiais Quantidade de peas

    Compras Quantidade de ordens de compra compras

    Recebimento e almoxarifados de

    componentes

    Quantidade de ordens de compra

    Inspeo de recebimento Quantidade de inspees

    Controle da qualidade Quantidade de inspees

    Avaliao de vendedores Quantidade de fornecedores

    Certificao de vendedores Quantidade de fornecedores

    Fonte: Brimson (1996, p. 137)

    Como podemos ver na Figura 09, Brimson (1996) apresenta alguns exemplos de

    medidas de atividades7. Brimson (1996) conceitua a medida de atividade como

    sendo uma entrada, uma sada ou um atributo fsico de uma atividade. O autor

    apresenta tambm algumas caractersticas que as medidas de atividades devem

  • 35

    possuir como (1) ser de fcil entendimento, fcil medio, fcil extrao a partir de

    fontes j existentes e que tenha relao direta aos fatores de produo da atividade;

    (2) deve haver uma relao direta entre as mudanas no contedo de uma medida

    de atividade e nos fatores de produo. Quando o contedo das atividades varia

    com mudanas na organizao, nas operaes, na tecnologia e nas vendas, os

    fatores de produo tambm variam. Assim, quando mudanas afetam a forma

    como as atividades so realizadas, a medida de atividade deve ser reavaliada; (3)

    medidas de atividade se estendem alm das medidas diretas de produo, como o

    custo ou horas de mo de obra direta. Para os departamentos altamente

    automatizados a medida horas-mquina pode ser relevante. Medidas fsicas

    relacionadas a peso, volume, distncia e rea tambm podem ser utilizadas de

    acordo com a necessidade. Um departamento de mo de obra indireta pode utilizar

    medidas de atividades como quantidade de preparao e peso de material

    movimentado; (4) atravs da determinao da produo e dos usurios da

    informao da atividade, os gestores podem determinar se tais atividades esto a

    servio de prioridades a curto ou longo prazo. Uma definio precisa das atividades

    e dos resultados desejados fundamental para alcanar esses resultados; (5) e

    possibilitar que se conhea o custo por atividade para auxiliar nos planejamentos e

    nos oramentos.

    Pode-se perceber ento que os direcionadores de custo de primeiro estgio

    podem ser facilmente encontrados, entretanto, conforme Ostrenga et al. (1997), no

    se deve optar pela utilizao de um direcionador de custo apenas pela facilidade de

    obteno do mesmo e sim pelo conjunto de certas caractersticas que assegurem

    que este direcionador representar os custos consumidos por uma determinada

    atividade.

    Os direcionadores de atividades ou de segundo estgio indicam as atividades

    necessrias para a fabricao de produtos ou atendimento dos clientes. Segundo

    Ching (1997), o direcionador de atividade um indicador que estabelece a dimenso

    quantificvel para a sada de uma atividade. Descreve quantas vezes a atividade

    ocorreu em um determinado perodo.

    7 Brinsom (1996) denomina os direcionadores de primeiro estgio como sendo medidas de atividades.

  • 36

    Boisvert (1999) apresenta alguns critrios que auxiliam no momento da escolha

    de um direcionador de atividades: (1) capacidade de mensurar e quantificar os

    fatores; (2) disposio dos dados de custo; (3) custo para a obteno destes dados;

    (4) falta de tendncia a criao de valor; (5) possuir relao com a estratgia

    empresarial; (6) capacidade de influenciar comportamentos; (7) ser controlvel; (8)

    facilitador da ao curto prazo; (9) ser pragmtico, ou seja, prtico.

    Os direcionadores de atividades so parmetros que identificam e medem os

    recursos gastos na realizao de uma atividade, representando o fator pelo qual

    variam mais diretamente os custos de determinado processo. A identificao de um

    direcionador de atividade adequado crucial para a implantao bem sucedida de

    um sistema de Custeio Baseado em Atividades.

    2.4.5 Atribuindo custos s atividades e aos objetos de custo

    No modelo de custeio ABC a apropriao dos custos feita em duas fases

    distintas, sendo na primeira fase os custos apropriados s atividades. O custo das

    atividades compreende todos os sacrifcios de recursos necessrios para

    desempenh-las. O livro razo geral a primeira fonte de dados utilizada para

    custear as atividades, e geralmente, tambm so desenvolvidos estudos na rea de

    engenharia, entrevistas com os responsveis por cada departamento ou processo e

    at com quem executa as atividades.

    Martins (2000) afirma que a atribuio dos custos s atividades deve ser feita de

    forma bastante criteriosa, observando a seguinte prioridade: (1) alocao direta,

    desde que haja uma identificao clara, direta e objetiva dos custos s atividades

    relacionadas; (2) rastreamento utilizando os direcionadores de recursos para

    estabelecer uma relao de causa e efeito entre a ocorrncia da atividade e a

    gerao dos custos; (3) e em ltimo caso o rateio baseado em volumes de produo.

  • 37

    Figura 10 Apropriao dos recursos s atividades

    Fonte: Ching (1997, p. 54, adaptada)

    A Figura 10 ilustra o momento da atribuio dos custos s atividades, atravs da

    alocao direta, rastreamento ou rateio. As informaes obtidas neste momento so

    de grande valia para a administrao da empresa, pois a mesma passa a saber o

    quanto est gastando em cada atividade desempenhada no processo. Para Brimson

    (1996) alm do entendimento completo do processo da empresa atravs da

    identificao de todas as atividades envolvidas no processo, dispe-se tambm dos

    custos das atividades que compem este processo, possibilitando que se faa uma

    anlise do custo e do desempenho destas atividades.

    Na Segunda fase, os custos das atividades so apropriados aos objetos de

    custo. Os objetos de custos podem ser tanto os produtos, como servios, lotes de

    produtos, linhas de produtos ou servios, peas, clientes, entre outros, de acordo

    com o interesse da administrao. O clculo com acurcia dos custos dos objetos

    reveste-se de importncia devido ao grande nmero de decises que utilizam estes

    resultados.

    Recursos

    Consumidospor

    Atividades

    Direcionador derecursos

  • 38

    De acordo com Pamplona (1997), a informao de custos dos objetos de custo

    requerida para atingir objetivos, como (1) estabelecimento de preos de venda; (2)

    estimativa de custos de novos produtos; (3) determinao da lucratividade para

    expanso ou abandono de diferentes segmentos de negcios, tais como linhas de

    produtos, segmentos de mercado, canais de distribuio, ou clientes; (4) clculo de

    margem bruta associada com produtos individuais; (5) facilitar decises sobre a

    fabricao interna de uma pea ou a compra da mesma atravs de um fornecedor

    externo; (6) auxlio no processo de anlise de investimentos; e (7) valorizao de

    estoques e clculo dos custos de produtos vendidos para demonstraes financeiras

    externas.

    Uma grande diferena entre o sistema tradicional de custos e o sistema de

    custeio ABC encontra-se nesta fase, pois no sistema de custeio ABC, so utilizados

    muitos direcionadores de custos para rastrear o consumo das atividades pelos

    objetos de custos, enquanto que no sistema tradicional utiliza-se apenas bases de

    rateio baseados no volume para apropriar tanto os custos diretos quanto os custos

    indiretos de fabricao aos objetos de custos.

    Segundo Brimson (1996, p. 202), o custeio ABC:

    Est fundamentado no princpio de que as atividades

    consomem recursos, enquanto os produtos consomem

    atividades e materiais. O custeio do produto apropriado por

    uma identificao mais especfica dos custos de suporte, que

    tradicionalmente tm sido amontoados nos gastos gerais de

    fabricao e rateados a todos os produtos. O custo do produto

    por atividade calculado pela identificao dos materiais e

    atividades necessrias para fabricar o produto e pela

    determinao da quantidade das atividades para cada produto.

    O custo do produto ento determinado pela soma dos custos

    de todas as atividades identificveis.

  • 39

    Figura 11 Apropriao das atividades aos objetos de custos

    Fonte: Ching (1997, p. 54, adaptada)

    A Figura 11 exibe a alocao das atividades desempenhadas nos processos aos

    objetos de custos, com base nos direcionadores de atividades ou de segundo

    estgio. O sistema de custeio ABC calcula o custo de um produto rastreando todas

    as atividades relacionadas aos produtos, com base no respectivo consumo.

    Portanto, o custo de um produto representa a soma dos custos de todas as

    atividades identificadas no processo, demonstrando assim atravs deste conjunto de

    atividades, o consumo de todos os recursos da empresa.

    2.4.6 Metodologia proposta para a implantao do custeio ABC

    A metodologia de implantao de um sistema de custeio ABC deve sempre ser

    adaptada s necessidades e aos objetivos da empresa em estudo, e segundo

    Boisvert (1999) a implantao possui uma srie de etapas que tem sua ordem

    determinada em funo de quem executa o projeto. Para melhor atender as

    Atividades

    Consumidospor

    Objetos de custos

    Direcionador deatividades

  • 40

    necessidades da empresa em estudo, a metodologia proposta baseada nas

    propostas apresentadas por Boisvert (1999) e Ching (1997) e ter seus tpicos

    descritos a seguir.

    Determinao do escopo do projeto

    Um pr-requisito essencial para a concepo de um sistema de custeio ABC a

    definio do problema ou negcio a ser analisado. Para Nakagawa (1994) a

    definio do projeto deve abranger o escopo, os objetivos, os produtos derivados do

    modelo proposto e a gesto do projeto. Na definio do escopo do projeto, os

    gestores da organizao devem determinar o que se pretende atingir com o novo

    modelo de custeio de forma clara, assegurando melhorias atravs da aplicao do

    modelo.

    Segundo Martins (2000), a definio do escopo do projeto de fundamental

    importncia, pois determina a ampla gama de informaes que pode ser propiciada,

    como: (1) custeio de produtos; (2) custeio de canais de distribuio; (3) custeio de

    clientes, mercados e segmentos de mercado; (4) anlise de lucratividade dos objetos

    custeados; (5) se o sistema ser apenas para anlise de custos; enfim diversos itens

    que devem suprir as necessidades dos gestores dentro do prazo especificado e com

    os recursos disponveis.

    Definio das atividades

    Para se definir as atividades realizadas na empresa, deve-se efetuar o

    mapeamento dos processos objetivando estabelecer uma viso completa e a

    conseqente compreenso do consumo dos recursos pelas atividades executadas

    nos processos. Para Harrington (1993), processo qualquer atividade que recebe

  • 41

    uma entrada (input), agrega-lhe valor e gera uma sada (output) para um cliente

    interno ou externo.

    Nakagawa (1994) afirma que as tcnicas mais utilizadas na coleta das

    informaes sobre as atividades desenvolvidas na empresa so:

    - Observao Esta pode ser a forma mais rpida e econmica para se obter

    as informaes sobre as atividades que desejamos analisar, porm no fcil de

    se realizar e nem suficiente para se obter todas as informaes que se necessita.

    Poder complementar as informaes obtidas atravs de outras tcnicas;

    - Registros de tempos Uma tcnica bastante simples, porm no muito

    usual, principalmente se tratando de registros de tempos relacionados com a

    mo-de-obra indireta. Por ser trabalhosa e ter que englobar todas as atividades

    que se deseja analisar, o registro de tempos realizado atravs de amostragens

    peridicas, associadas a entrevistas, permitindo que se organize uma matriz de

    atividades e de tempos gastos com cada uma delas;

    - Questionrios geralmente a tcnica mais utilizada, principalmente

    quando o nmero de indivduos envolvidos no processo muito grande. Os

    questionrios fornecem informaes mais consistentes e elaboradas, pois os

    indivduos tm mais tempo e privacidade para preench-los. Normalmente os

    questionrios possuem as seguintes finalidades: (1) preparar com antecedncia

    os gerentes que sero entrevistados; (2) proporcionar a coleta de dados

    primrios, substituindo as entrevistas e os registros de tempo; e (3) assegurar a

    eficcia do desenho do ABC, incorporando novas atividades e respectivos

    direcionadores de custos, alm de eliminar aquelas que j no mais existem ou

    que foram alteradas;

    - Storyboards8 esta tcnica reuni um grupo de pessoas envolvidos em um

    problema e promove a discusso do mesmo, objetivando encontrar a soluo.

    Com a devida adaptao, pode ser de grande utilidade, pois alm de tomar

    8 Storyboards Quadro ou nmero de quadros onde se descreve um enredo.

  • 42

    menos tempo que as entrevistas, envolve todas as pessoas relacionadas ao

    problema e no somente os gerentes;

    - Entrevistas So o elemento-chave para o desenho e implantao do

    custeio ABC, principalmente quando se est adotando o sistema de custeio pela

    primeira vez, pois as informaes fluem em ambas as direes, possibilitando ao

    entrevistador coletar os dados e ao entrevistado conhecer melhor o custeio ABC

    e os seus objetivos. Embora seja esta a tcnica mais demorada e mais cara,

    tambm a mais eficaz para a execuo do custeio ABC.

    As tcnicas acima citadas devem ser utilizadas para facilitar a coleta das

    informaes relacionadas s atividades executadas na empresa. Aps a coleta das

    informaes sobre as atividades com as pessoas envolvidas nas mesmas, criado

    um dicionrio de atividades para facilitar o processo de identificao dos recursos s

    atividades.

    Identificao dos recursos s atividades

    No custeio ABC, os recursos consumidos nos processos so destinados s

    atividades atravs de lanamentos dos valores registrados no livro razo das contas

    contbeis s atividades. Caso no seja possvel fazer esta alocao direta,

    necessrio repartir esses valores s atividades envolvidas no processo com base

    nos direcionadores de recursos (Boisvert, 1999).

    Os direcionadores de recursos alocam os custos e as despesas s atividades,

    conforme o consumo de recursos. Atravs do levantamento dos direcionadores de

    recursos, se obtm indicadores que permitem calcular o custo de cada atividade, ou

    seja, o direcionador de recursos auxilia a medir a quantidade de recursos

    consumidos pelas atividades realizadas no processo (Gonalves e Cocenza, 1997).

    Portanto, de fundamental importncia que se utilize critrios precisos no momento

  • 43

    da escolha dos direcionadores de custos que so envolvidos no processo de

    identificao dos recursos s atividades.

    Definio dos objetos de custo

    Segundo Boisvert (1999), o responsvel pela implantao de um sistema de

    custeio ABC pode decidir pela definio dos objetos de custo e seus direcionadores

    de custo antes mesmo de identificar as atividades e os recursos consumidos na

    empresa. Porm, no poder executar nesse momento a alocao dos custos das

    atividades aos objetos de custo, pois somente poder proceder esta etapa aps a

    definio das atividades e a identificao dos seus respectivos custos. Portanto, com

    base nesta afirmao, optou-se por definir os objetos de custo somente aps o

    levantamento das atividades e dos seus respectivos custos, que so o alvo do

    Custeio ABC.

    Os objetos de custos constituem a finalidade para a qual a informao sobre o

    custo necessria. Geralmente os objetos de custo so formados por bens e

    servios da empresa. Os produtos, os clientes, os fornecedores, o setor de mercado

    ou a infra-estrutura so exemplos de objetos de custo. Enfim, as estratgias de custo

    traadas pelos gestores das empresas que determinam quais os objetos de custo

    que sero analisados no custeio ABC.

    Identificao das atividades aos objetos de custos

    Concluda a etapa da definio dos objetos de custo, o passo seguinte repartir

    os custos apropriados anteriormente s atividades para os objetos de custos que

    com elas se relacionam. Esta repartio realizada com o auxilio dos direcionadores

    de atividades. Os direcionadores de atividades so indicadores que representam

  • 44

    uma relao de causa e efeito, e servem para identificar as atividades envolvidas no

    processo de um objeto de custo. Os direcionadores de atividades alocam os custos

    das atividades para os objetos de custo, que podem ser produtos, servios ou

    clientes, e medem a freqncia e a intensidade demandada de uma atividade por

    um objeto de custo (Gonalves e Cocenza, 1997).

    Segundo Ching (1997), com relao ao volume, existem trs tipos de

    direcionadores de atividades que devem ser considerados: (1) Medida de sada de

    durao que deve considerar a extenso de tempo utilizada na realizao de uma

    atividade; (2) Medida de sada de transao que considera o nmero de vezes que

    uma atividade realizada, no levando em considerao o tempo despendido na

    realizao da mesma; e (3) Medida de sada de simplicidade ou homogeneidade que

    considera a atividade simples ou homognea quando o output do mesmo tipo que

    outros e exige similar esforo.

    Ching (1997) afirma ainda que existem trs grandes finalidades para os

    direcionadores de atividades: (1) Direcionar as atividades aos objetos de custo; (2)

    auxiliar no entendimento dos custos envolvidos nos processos; (3) e servir como

    medida de desempenho ou performance na avaliao da eficincia e eficcia dos

    processos.

    Os direcionadores de atividades so os principais elementos que diferenciam o

    custeio ABC do custeio por centros de custo. Pois, no custeio ABC, os custos so

    repartidos com base num indicador que est diretamente ligado origem do

    consumo dos recursos pelas atividades, e no segundo uma taxa de atribuio

    baseada no volume dos objetos de custo (Boisvert, 1999).

    Anlise das informaes obtidas no modelo

    Por fim, a ltima etapa a ser efetuada no modelo proposto para o ABC a

    anlise de todas as informaes obtidas no decorrer do processo de implantao do

    custeio ABC, principalmente com relao aos custos das atividades e dos objetos de

    custo. Segundo Brimson (1996), o clculo com acurcia dos custos dos objetos de

  • 45

    custo reveste-se de importncia por causa do grande nmero de decises que

    utilizam estes resultados. O autor afirma ainda que as informaes requeridas sobre

    os custos dos objetos de custo podem ser utilizadas para (1) estabelecimento de

    preos de venda; (2) estimativa de custos de novos produtos; (3) determinao da

    lucratividade para expanso ou abandono de diferentes segmentos de negcios, tais

    como linhas de produtos, segmentos de mercado, canais de distribuio, ou clientes;

    (4) clculo de margem bruta associada com produtos individuais; (5) facilitar

    decises sobre se fabricar internamente uma pea ou compr-la de um fornecedor

    externo; (6) auxlio no processo de anlise de investimentos; (7) valorizao de

    estoques e clculo dos custos de produtos vendidos; (8) para auxiliar na tomada de

    decises sobre fontes de recursos externos. Enfim, de posse das informaes sobre

    os custos das atividades e dos objetos de custo envolvidos no processo, devese

    ento analisar os resultados e verificar se os objetivos traados para o Custeio ABC

    foram alcanados.

  • 3 METODOLOGIA

    Gil (1991) afirma que o conhecimento cientfico deve ser obtido atravs de um

    mtodo que identifique as operaes mentais e tcnicas que possibilitam sua

    verificao. Sendo assim, Selltiz et al. (1974) afirmam que o objetivo da pesquisa

    indagar respostas sobre a investigao, atravs de processos cientficos, para

    aumentar a probabilidade de que a informao obtida seja precisa e relevante a

    pergunta proposta.

    A dissertao um estudo terico, de natureza reflexiva, que consiste na

    ordenao de idias sobre um determinado tema, sendo portanto, um trabalho

    cientfico que requer uma interpretao dos dados e que possui carter didtico,

    pois se constitui em um treinamento e/ou iniciao investigao (Lakatos e

    Marconi, 1990).

    Assim, com o intuito de atender os objetivos propostos neste estudo e com base

    na fundamentao terica apresentada no captulo anterior, este captulo apresenta

    a metodologia cientfica que tornou vivel a investigao do problema de pesquisa e

    o desenvolvimento desta dissertao. Desse modo, formulou-se as perguntas da

    pesquisa e procedeu-se a identificao das variveis. Na seqncia foi apresentada

    a delimitao da pesquisa, a populao e amostra, a tcnica para a coleta dos

    dados e a anlise dos mesmos, finalizando com as limitaes da pesquisa.

  • 47

    3.1 Perguntas de pesquisa

    As perguntas decorrentes da problemtica e dos objetivos deste estudo podem

    ser formuladas da seguinte forma:

    1) Como os recursos so consumidos no perodo?

    2) Que atividades so desempenhadas na empresa?

    3) Qual o custo dos produtos na JS ?

    4) Todos os produtos comercializados na JS so realmente lucrativos

    organizao?

    3.2 Identificao das variveis

    A varivel um smbolo onde so atribudos algarismos, algo que varia, que

    muda (Kerlinger, 1980). As variveis geralmente se apresentam em trs tipos: as

    independentes, as dependentes e as intervenientes. As variveis independentes so

    as variveis explicativas, atuam sobre outra varivel e provocam efeitos nela

    (Trivios, 1987), esto aqui representadas pelas atividades desempenhadas na