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Anais do V Seminário de Geografia do Norte do Paraná
XI Encontro de Ensino XXIX Semana de Geografia da UEL
26 a 30 de novembro de 2013 – Londrina/PR
EXPANSÃO E RETRAÇÃO DOS CURSOS SUPERIORES DE TURISMO E O
POSSÍVEL PAPEL DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA NESSA FORMAÇÃO1
ELISÂNGELA APARECIDA ANASTÁCIO – UEL
SÉRGIO KAORU NAKASHIMA – UEL
MARIA DEL CARMEN MATILDE HUERTAS CALVENTE – UEL
RESUMO
Neste artigo primeiramente se faz uma abordagem sobre o fenômeno do turismo e
as mudanças do espaço geográfico relacionadas à atividade. Também se apresenta
uma discussão sobre a expansão da atividade do turismo no Brasil e o surgimento
dos primeiros cursos no país, bem como sobre a formação do profissional dessa
área. Como o turismo ainda não é uma ciência, muitas vezes se apropria das
categorias e conceitos da Geografia para sua pesquisa científica. Mas o
desenvolvimento da pesquisa científica nos cursos de turismo não é algo aceito em
todas as instituições, especialmente por razões históricas na criação destes cursos
no Brasil. As contradições existentes na sociedade brasileira produziram uma
expansão, praticamente um modismo, e a seguir uma série de problemas, inclusive
a falta de uma sólida formação científica, que causou uma retração significativa
desses cursos, como constatado na pesquisa realizada nas instituições do Estado
do Paraná.
Palavras-chave: Turismo. Curso. Faculdade. Universidade. Geografia.
INTRODUÇÃO O turismo é uma atividade que se intensificou a partir da Segunda Guerra
Mundial nos países da Europa Ocidental e nos Estados Unidos. Posteriormente essa
expansão se deu para outros países da Ásia, América Latina e África.
O Brasil, inserido nessa expansão mundial já nas décadas finais do século
passado, necessitou repensar o território com os novos desafios que surgiam, tanto
1 Resultado parcial do Projeto de Pesquisa “Estado da Arte – Geografia e Turismo no Paraná”.
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que em 2003 é criado o Ministério do Turismo. Nesse processo, pelo território
nacional surgiram novos cursos de turismo para atender à demanda crescente de
uma sociedade que passava a ter novos hábitos de consumo ou a ingressar neste
mercado. Estes cursos, na sua maioria, ofereciam disciplinas geográficas, e algumas
das pesquisas realizadas, nas instituições paranaenses que exigem monografias (e
não são todas) como trabalho de conclusão de curso, observou-se que parte dos
trabalhos usou categorias e conceitos da Geografia.
Como em todo o Brasil, no Paraná também houve aumento da atividade
turística, assim como a abertura de cursos de turismo para formar profissionais para
trabalhar nesta área. Ocorreu algo que pode ser chamado de uma explosão de
cursos superiores de turismo abertos ao longo das duas últimas décadas, mas uma
quantidade significativa de instituições teve que encerrá-los. A pesquisa Estado da
Arte – Geografia e Turismo no Paraná, em andamento, procurou, através de
enquetes, encontrar as razões para isto e como o conhecimento da Geografia pode
contribuir para esta nova formação, com claros impactos no espaço, no território, na
região, na paisagem e no lugar, portanto nas categorias geográficas.
REFERENCIAL TEÓRICO
Até o século XIX considerava-se o turismo como uma atividade aristocrática,
que se popularizou com a criação do turismo de massa ligado as transformações
decorrentes no mundo do trabalho, como o surgimento de férias remuneradas e a
diminuição da jornada de trabalho associado à melhoria dos meios de transportes.
O contexto atual explica a inserção dos cursos de turismo para ofertar
serviços que venham de encontro com as novas necessidades causadas pelas
mudanças pós-guerra e industrial. Segundo Calvente (2005) o desenvolvimento
técnico científico possibilitou o crescimento acelerado do deslocamento de objetos,
capitais e pessoas se comparado ao que era possível realizar até meados do século
XIX. A partir deste momento a atividade turística se intensifica, graças às facilidades
possibilitadas por este processo.
As sociedades chamadas pós-industriais passam por um processo novo que
aumenta com o passar dos anos devido ao desenvolvimento de novas tecnologias.
Isso reafirma a necessidade de que: “Cada vez mais as organizações vem
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precisando menos da simples mão de obra humana e mais de pessoas qualificadas,
interativas, criativas e multifuncionais” (MOTA, 2011, p.38).
Todo esse processo de transformação influencia a criação de diferentes
cursos de formação superior, e algumas universidades e faculdades buscam se
adequar as necessidades apresentadas mediante os processos de transformações
socioeconômicas vivenciadas até o presente momento. Dentro da lógica do capital,
novos cursos, nesse processo de transformação, também podem ser encarados
como uma mercadoria a ser ofertada com grande possibilidade de lucro já que há
uma demanda crescente.
No Brasil vigora, atualmente, o Plano Nacional de Educação, aprovado pela
Lei nº 10.172 de 9 de janeiro de 2001, que estabelece em seu artigo 214, a
necessidade de promoção da qualidade do ensino, a formação para o trabalho e a
formação humanística, científica e tecnológica. Propõe diretrizes e metas para cada
nível, desde o ensino básico ao ensino superior. Também, após um longo processo,
entendendo a importância econômica do turismo, o Governo Federal criou em 2003
o Ministério do Turismo. A Lei nº 1.172/2008 institui o Sistema Nacional do Turismo
compondo um grupo estratégico formado pelo Ministério do Turismo, Conselho
Nacional do Turismo e Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de
Turismo (MOTA, 2011). O recém lançado novo Plano Nacional de Turismo (BRASIL,
2013) reafirma que promover o apoio à pesquisa, inovação e conhecimento está
entre os cinco objetivos estratégicos da política pública nacional para o setor.
No Brasil, o primeiro curso técnico (ou tecnológico) apenas de turismo foi
fundado pelo SENAC (Serviço Nacional do Comércio) em São Paulo, no ano de
1951, que também dava formação em hotelaria. Anteriormente a isso, em 1948, o
SENAC de Porto Alegre já tinha inaugurado outro curso, mas com o nome de
Turismo e Hospitalidade, dando mais ênfase nos serviços de atendimento em
restaurantes (HALLAL, 2010).
O primeiro curso de turismo de graduação no Brasil foi fundado em 1971 na
Faculdade Anhembi Morumbi, atualmente Universidade Anhembi Morumbi, na
cidade de São Paulo. O segundo curso surgiu no ano seguinte, na Faculdade Ibero-
Americana, também na capital paulista (BONFIM, 2007).
Antes de abrir o curso, a Universidade Anhembi fez uma pesquisa de
demanda e verificou que muitas mulheres pertencentes à classe média, que tinham
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seus filhos já criados, desejavam voltar a freqüentar um curso superior. Além disso,
uma grande quantidade de estudantes que tinham concluído o Ensino Médio (antigo
Curso Colegial) almejava cursos diferenciados (DEGRAZIA, 2006).
Num âmbito de escala nacional, a classe média enxergava o curso de turismo
como “[...] um curso de fácil ingresso e dessa forma teriam possibilidade de cursar
uma faculdade e ter, além da profissionalização, todo o status que acompanhavam e
acompanham um diploma de curso superior” (TEIXEIRA, 2006, p. 6).
No início da década de 1970, Bonfim (2007, p. 83) afirma que o “[...] Brasil
passava por um processo de modernização, o curso de Turismo foi visto como uma
possibilidade de ascensão econômica para uma parcela da população que ansiava
setores mais dinâmicos e modernos da economia.” Outra explicação, complementar,
é dada por Teixeira (2006, p. 2), que afirma também a necessidade de profissionais
qualificados para suprir essa nova demanda de profissionais, mas ainda em uma
perspectiva pragmática. Entende-se que as duas explicações são complementares.
O curso superior de turismo no Brasil surgiu na década de 1970, num momento em que passávamos por grandes mudanças políticas, econômicas e sociais. O curso foi criado em pleno Regime Militar (1964 – 1985), especialmente numa época conhecida como “Milagre Brasileiro” (1968 – 1973), onde o crescimento da economia brasileira apresentou uma extraordinária aceleração, com uma ampliação média de 11% ao ano.
Ou seja, os cursos de turismo surgiram no Brasil vinculados a diversos
acontecimentos simultâneos na sociedade nacional. O crescimento econômico é um
quesito importante, pois até então o turismo era uma prática bastante restrita,
reservada a uma elite, mas que passou também a ser um produto de consumo para
as classes médias.
Após a abertura dos cursos de turismo das duas primeiras instituições, os
anos seguintes também foram marcantes para a evolução dos cursos superiores de
turismo no Brasil.
[...] o curso toma mais força como objeto de estudo acadêmico e científico em 1973, quando a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP - cria o curso de turismo, sendo a primeira universidade [e instituição pública] do país a oferecer um curso de turismo. Posteriormente outras universidades criam o curso de turismo, como a Pontifícia Universidade Católica de
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Campinas, em 1974, e a Universidade Católica de Pernambuco, em 1975. (TEIXEIRA, 2006, p. 1)
Este mesmo autor explicita que a abertura de um curso de turismo em uma
instituição desse porte se justifica como uma circunstância conveniente de “[...]
diversificar as atividades da grande universidade que é a USP, e também porque a
formação de profissionais bem preparados para o turismo seria de grande relevância
para a economia do Brasil” (TEIXEIRA, 2006, p. 3).
Em 2005 havia 680 cursos de turismo autorizados no Brasil. Esta lista inclui
os cursos de administração com ênfase em turismo e também os tecnológicos
(COELHO, 2006).
Baseando-se nas informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (INEP), com dados obtidos em 2011, publicados em 2012, havia no
Brasil 442 cursos de Hotelaria, Gestão de Turismo, Planejamento e Organização do
Turismo e Turismo, como se pode observar na tabela a seguir (Tabela 1):
Tabela 1 - Cursos relacionados ao turismo no Brasil
Nome do curso Grau Instituição
Total Pública Particular
Hotelaria Tecnológico 9 41 50
Hotelaria Bacharel 6 21 27
Gestão de Turismo Tecnológico 30 43 73
Planejamento e Organização do
Turismo Bacharel 2 0 2
Turismo Bacharel 56 234 290
Fonte: INEP, 2012 – Organização: Nakashima, 2013.
Através dos dados da tabela anterior, pode-se observar que os cursos
oferecidos estão majoritariamente nas instituições particulares, correspondendo a
76,7% do total.
Em seus trabalhos, autores como Coelho (2006) e Degrazia (2006) destacam
essa concentração de cursos em instituições particulares de ensino. O número de
cursos em instituições públicas é bem menor.
De acordo com Teixeira (2006), há várias explicações dos motivos dos cursos
de turismo terem surgido e de sua rápida expansão. Uma delas era o retorno rápido
em relação ao baixo investimento necessário destes cursos. O fato de ser um curso
novo atrairia um número elevado de estudantes. Foi levado também em
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consideração que localidades com atrativos turísticos significativos necessitam mão
de obra especializada, o que facilitaria a oferta e procura desses cursos, já que os
estudantes se convenceriam de que iam obter um emprego.
MATERIAIS E MÉTODOS
Os dados do presente artigo foram coletados através de consultas às
páginas da internet, e-mails e telefonemas para as diversas instituições. Estes dados
foram então analisados à luz da bibliografia pertinente, procurando também obras
recentes, como teses e dissertações de mestrado relacionadas ao tema.
O trabalho aqui apresentado é um resultado inicial da pesquisa Estado da
Arte – Geografia e Turismo no Paraná. O "estado da arte" indica uma pesquisa que
documenta o que está a ser feito atualmente em determinado campo em estudo.
Seu objetivo é interagir com a produção acadêmica através da quantificação,
identificação e análise de dados bibliográficos, com o objetivo de mapear essa
produção num período delimitado, em anos, locais e áreas de produção.
O objetivo principal da pesquisa como um todo é sistematizar a produção de
pesquisa geográfica concluída e\ou defendida sobre o turismo no recorte espacial do
Estado do Paraná, desde o ano de 2008 (cinco anos). Para isso, ocorrerá um
levantamento das pesquisas realizadas nas universidades públicas e privadas
(cursos de Geografia e Turismo), a sistematização destas pesquisas por recortes
espaciais, temáticos e temporais e a análise dos resultados. O levantamento das
instituições de ensino paranaenses que ofertavam o curso de turismo mostrou esta
realidade, o da expansão e retração desses cursos, e se tornou importante analisar
as razões disto para a continuidade da pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
As informações do Ministério da Educação e Cultura (MEC) são de que
atualmente no estado do Paraná há 24 cursos cadastrados de Turismo e Turismo e
Hotelaria (grau de bacharel), conforme se pode verificar no quadro seguinte (Quadro
1).
Quadro 1 – Cursos de Turismo e Turismo e Hotelaria cadastrados no MEC Instituição Nome do curso Modalidade Município
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Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR)
Turismo Presencial Maringá
Centro Universitário Dinâmica das Cataratas (UDC)
Turismo Presencial Foz do Iguaçu
Centro Universitário Internacional (UNINTER)
Turismo Presencial Curitiba
Faculdade Anglo Americano (FAA) Turismo Presencial Foz do Iguaçu
Faculdade Curitibana (FAC) Turismo Presencial Curitiba
Faculdade Cristo Rei (FACCREI) Turismo Presencial Cornélio Procópio
Faculdade de Ensino Superior de São Miguel do Iguaçu (FAESI)
Turismo Presencial São Miguel do Iguaçu
Faculdade Dinâmica Turismo Presencial Cascavel
Faculdade Foz do Iguaçu (FAFIG) Turismo Presencial Foz do Iguaçu
Faculdade Guarapuava (FG) Turismo Presencial Guarapuava
Faculdade Paranaense (FAPAR) Turismo Presencial Curitiba
Faculdade Pitágoras de Londrina Turismo Presencial Londrina
Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (FECEA)
Turismo Presencial Apucarana
Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (FECILCAM)
Turismo Presencial Campo Mourão
Instituto de Ensino Superior de Foz do Iguaçu (IESF)
Turismo Presencial Foz do Iguaçu
Instituto Superior do Litoral do Paraná (INSULPAR)
Turismo Presencial Paranaguá
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)
Turismo Presencial Curitiba
Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL)
Turismo A distância
Pólos de Cascavel, Curitiba, Foz do Iguaçu, Londrina, Ponta Grossa
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)
Turismo Presencial Ponta Grossa
Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO)
Turismo Presencial Irati
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)
Turismo Presencial Foz do Iguaçu
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Turismo Presencial Curitiba
Universidade Norte do Paraná (UNOPAR)
Turismo e Hotelaria
Presencial Londrina
Fonte: Brasil, MEC, 2013 – Organização: Nakashima, 2013.
Pelos dados do Quadro 1, pode-se destacar que duas cidades concentram
boa parte dos cursos oferecidos, Foz do Iguaçu, com seis, e Curitiba, com cinco
cursos, incluindo os pólos do curso à distância da UNISUL. Além de serem dois
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importantes centros urbanos, são também dois pólos de atração turística no Paraná.
Isso corrobora a análise de Teixeira (2006) de que lugares de intensa atividade
turística tendem a oferecer um maior número de cursos e de procura, já que há
maior oferta de empregos, o que parece óbvio.
Conforme observado anteriormente, a efetivação do turismo como uma área
do ensino superior se deu pelo reconhecimento da importância do setor turístico
para a economia, portanto a atividade era vista por representantes de conselhos
educacionais como uma importante alternativa de desenvolvimento econômico para
o país. Mas é justamente no período de ditadura militar que órgãos como a
EMBRATUR surgem para fomentar e dar o suporte necessário ao desenvolvimento
dessa atividade econômica, então a ideia de desenvolvimento era restrita ao
desenvolvimento econômico. Carneiro (2008, p. 118) afirma que:
[...] os debates para a definição do currículo do curso superior de turismo tiveram origem, em um primeiro momento, na estruturação de cursos técnicos que traziam estratégias de incentivo ao desenvolvimento da economia brasileira propostas pelos governos militares.
Portanto, a preocupação com a pesquisa científica não estava na origem.
Desse modo ainda hoje se constata que o turismo, na área da educação, traz
marcas de uma área destinada à formação técnica e que ainda não estruturou suas
especificidades acadêmicas e sua pesquisa cientifica; assim observa-se que os
formados afirmam que a os que possuem formação técnica ganham (pelo salário
menor) no momento de competir no mercado de trabalho. Como fruto deste
processo histórico de origem, os turismólogos se apropriam, nas suas pesquisas
científicas, do arcabouço conceitual de outras ciências, tendo um papel importante a
Geografia. No Paraná, 11 instituições pesquisadas, com cursos de turismo, possuem
disciplinas relacionadas à ciência geográfica, como pode ser observado no Quadro 2
(como a pesquisa está em andamento, optou-se por não explicitar o nome da
instituição).
Quadro 2 – Graduação – Disciplinas geográficas dos cursos de turismo Numeração da instituição
Disciplinas
Instituição 1 Geografia I Geografia II Geografia do Turismo I Geografia do Turismo II
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Instituição 2 Aspectos Geográficos do Turismo
Instituição 3 Análise geográfica do turismo
Instituição 4 Espaço Geográfico Brasileiro
Instituição 5 Geografia Aplicada ao Turismo
Instituição 6 1º ano - Geografia Geral e Cartografia Aplicada ao Turismo 2º ano - Geografia do Brasil e regional
Instituição 7 Geografia Aplicada ao Turismo
Instituição 8 Geografia do Turismo
Instituição 9 Geografia (currículo novo, iniciado em 2013, apenas para o turno da noite) Geografia Geral (currículo antigo, iniciado em 2004) Geografia Regional como optativa.
Instituição 10 Geografia do turismo
Instituição 11 Geografia aplicada ao turismo/Cartografia
Organização: Calvente. Pesquisa: Anastácio, Ferraz, Lone, Lopes, Nakashima, Pelarim e Vioto. Grupo de estudo TERNOPAR: 2013.
Então, a conclusão se impõe: a Geografia brasileira, como ciência, tem um
papel importante na formação de um turismólogo com fundamentos humanísticos,
científicos e tecnológicos, da Lei nº 10.172, do Plano Nacional de Educação, e para
atuar pelas políticas públicas nacionais, nas quais o turismo é visto como uma
possibilidade de inclusão (tanto no mercado de trabalho quanto no conhecimento
sobre o país). Por estas razões, a equipe pretende concluir uma análise das
ementas destas disciplinas, a partir das principais correntes epistemológicas da
Geografia brasileira.
A partir de todas estas informações e observando as análises dos diversos
autores, compreendem-se os resultados preliminares, discutidos no grupo de
estudo, sobre a importância da Geografia para uma melhor formação e sobre a
expansão e retração dos cursos de turismo nas universidades e faculdades do
Paraná, bem como o período de início e fechamento destes cursos, conforme
mostrado no quadro 3.
Quadro 3 – Graduação - cursos de turismo fechados no Paraná – ano de abertura, fechamento e razões do encerramento Instituição Ano de
abertura Ano do fechamento
Razões do encerramento
Instituição 1 2001 2008 A baixa procura no processo seletivo
Instituição 2 2005 O curso ainda é ofertado porem não há procura
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Instituição 3 2000 2008 Falta de demanda
Instituição 4 2000 2011 Falta de procura nos vestibulares
Instituição 5 2002 2008 Não soube informar
Instituição 6 2003 2009 Pouca demanda e a igualdade de salários entre técnicos e graduandos
Instituição 7 1998 Não soube informar
Não fecha turma
Instituição 8 2002 Não soube informar
Não soube informar
Instituição 9 1997 2005 Não soube informar
Instituição 10 1999 2013 Falta de demanda, a última turma se formou em 2013, mas já anos antes não formava nova turma
Instituição 11 2000 2006 A falta de demanda
Instituição 12 2000 2008 A falta de demanda
Instituição 13 2000 2012 O curso está aberto porem não há demanda para a formação de turmas
Informação ainda não obtida em quatro instituições. Organização: Calvente. Pesquisa: Anastácio, Ferraz, Lone, Lopes, Nakashima, Pelarim e Vioto. Grupo de estudos TERNOPAR: 2013.
Quando em contato com as instituições de ensino pode-se perceber que a
maioria das respostas apresentadas destaca a falta de demanda para a formação de
turmas para o curso. Constatou-se também que existe o agravante da remuneração
de um aluno graduado ser praticamente a mesma de um técnico. Então, o diferencial
deve ser o de um ensino superior voltado para o pensamento científico, na procura
de alternativas para um turismo que traga mais benefícios ao território.
É notável o grande percentual de cursos que fecharam por falta de demanda
para a formação de turma. As respostas obtidas também demonstram uma
frustração por parte dos estudantes que não conseguiram obter êxito em sua
inserção no mercado de trabalho após sua formação.
Contata-se que na sua maioria a abertura dos cursos de turismo nas
universidades do Paraná coincide no mesmo período, entre as universidades
mencionadas, ao mesmo tempo em que ocorre quase que simultaneamente a
coincidência também dos fechamentos.
CONCLUSÃO
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Os cursos de turismo surgiram no Brasil para atender a demanda crescente
da atividade turística no país. A sociedade passava por diversas transformações
econômicas, políticas e sociais. O turismo passou a ser uma prática de uma parcela
maior da sociedade.
O turismo representa uma importância significativa para a economia do país,
com o desenvolvimento do turismo de massa devido às diversas mudanças que
possibilitou algumas facilidades para o acesso do turismo como as transformações
no mercado de trabalho, o surgimento das férias remuneradas e o desenvolvimento
técnico científico que possibilitou o deslocamento de objetos, pessoas e capitais.
Não se devem desprezar as conquistas adquiridas referentes à formação
acadêmica séria que visa suprir as necessidades do território com o crescimento da
atividade turística, mas ainda há muito a ser feito para uma formação científica. A
visão do turismo como uma atividade que apenas exige uma formação para o
mercado do trabalho (o que se pode chamar de visão pragmática) está bem longe
do que o território necessita para um turismo que traga benefícios para a população
brasileira, como o formulado nas políticas públicas na escala nacional.
Ressaltando as diferenças nas abordagens de um pesquisador turismólogo e
um pesquisador geógrafo, entende-se que, por exemplo, perspectivas teóricas como
as correntes teóricas geográficas crítica, cultural e socioambiental podem trazer
importantes contribuição para os futuros turismólogos pesquisadores do setor.
Pode-se perceber que entre o final da década de 1990 e os anos 2000 é que
ocorre um grande processo de aberturas de cursos de turismo no Paraná e que a
partir de 2001 o que predomina é o encerramento destes cursos. Apenas para efeito
de comparação, no Paraná, pelos dados da pesquisa, nenhum curso de Geografia
foi encerrado no período pesquisado. Por outro lado, até agora o resultado é que
uma quantidade de aproximadamente 50% dos cursos de turismo no Paraná
deixaram de existir. Este encerramento dos cursos de turismo após uma explosão
que foi quase um modismo pode ter um lado benéfico, permitindo que os que
resistiram cumpram o papel de dar uma sólida formação e aí a Geografia pode
cumprir um papel importante.
REFERÊNCIAS
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