faculdade de ciências educacionais e empresariais de natal

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Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal Portaria nº 1.372 de 09.07.2001 Polo de Extensão Universitária e Pós-Graduação Rua Jundiaí, 421 Centro Natal/RN Fone: (84) 3201 7205 Rua Edgar Dantas, 25B Centro Parnamirim/RN Fone: (84) 3645 5408 Alexandre de Paiva dos Anjos ESTUDO MORFOLÓGICO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS PARNAMIRIN / RN 2017

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Page 1: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

Portaria nº 1.372 de 09.07.2001

Polo de Extensão Universitária e Pós-Graduação

Rua Jundiaí, 421 – Centro – Natal/RN

Fone: (84) 3201 7205

Rua Edgar Dantas, 25B – Centro – Parnamirim/RN

Fone: (84) 3645 5408

Alexandre de Paiva dos Anjos

ESTUDO MORFOLÓGICO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

PARNAMIRIN / RN

2017

Page 2: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

ALEXANDRE DE PAIVA DOS ANJOS

ESTUDO MORFOLÓGICO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Artigo apresentado a FACEN (Faculdade de

Ciência Educacionais e Empresariais de

Natal), como requisito parcial para a obtenção

do Título de Especialista do Curso de

Especialização em Língua Brasileira de Sinais

- LIBRAS.

Orientador: Prof.º Ms. Eudécio Carvalho

Neco.

FACEN/RN 2017

Page 3: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

Artigo apresentado ao Curso de Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS da Faculdade

FACEN

______________________________________________________

Alexandre de Paiva dos Anjos

___________________________________________________________

Orientador: Prof.º Ms. Eudécio Carvalho Neco

___________________________________________________________

Coordenador(a) do Curso

___________________________________________________________

Examinador(a)

___________________________________________________________

Examinador(a)

PARNAMIRIN/RN

2017

Page 4: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à Deus, pоr ser essencial

еm minha vida, autor dе mеu destino, mеu

guia, socorro presente nа hora dа angústia.

Page 5: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

AGRADECIMENTOS

Ао meu professor orientador Eudécio

Carvalho, ao professor José Elber, ao meu

professor Coach Felipe Sabará, minha filha

Alexia Paiva е a toda minha família.

A esta instituição, sеu corpo docente, direção е

administração quе oportunizaram а janela quе

hoje vislumbro um horizonte superior, eivado

pеlа acendrada confiança nо mérito е ética

aqui presentes.

Page 6: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

ESTUDO MORFOLÓGICO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Alexandre de Paiva dos Anjos1

Eudécio Carvalho Neco2

Resumo

Embora o ensino da Língua Brasileira de Sinais esteja vivendo um momento de expansão na

pesquisa acadêmica, ainda existe uma necessidade de pesquisas correlacionadas aos aspectos

gramaticais na aprendizagem dessa língua. Diante disso, o presente trabalho traz alguns

conhecimentos relacionados ao estudo morfológico da Língua Brasileira de Sinais mostrando

e analisando a estrutura interna e as regras que definem a composição desses sinais, dentre as

quais estão: a derivação, composição, incorporação de numeral e a incorporação da negação, e

classe de palavras/sinais. A partir de trabalhos já realizados por Ferreira-Brito (1995),

Quadros e Karnopp (2004) e Felipe (2006) entre outros, o presente trabalho descreve a

ocorrência de processos construtores da variedade de Língua Brasileira de Sinais.

Palavras-chave: Morfologia da Língua de Sinais. Formação de sinais. Classe de palavras.

Abstract

Although the teaching of the Brazilian Sign Language is experiencing a moment of expansion

in academic research, there is still a need for research correlated to the grammatical aspects in

the learning of that language. Thus, the present work brings some knowledge related to the

morphological study of the Brazilian Language of Signals showing and analyzing the internal

structure and the rules that define the composition of these signals, among which are:

derivation, composition, incorporation of numeral and incorporation of negation, and class of

words / signs. This paper describes the occurrence of constructive processes of the Brazilian

Sign Language variety, based on works already performed by Ferreira-Brito (1995), Quadros

and Karnopp (2004) and Felipe (2006).

Keywords: Morphology of Sign Language. Sign formation. Class of words/signs.

1 Graduado em Letras/Libras. UFPB – Campus I – João Pessoa - PB. e-mail:

[email protected] 2 Professor orientador. FACEN. E-mail: [email protected]

Page 7: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

Anjos, Alexandre de Paiva dos.

Estudo Morfológico da Língua Brasileira de Sinais / Alexandre de Paiva

dos Anjos. Natal: Artigo do Curso de Especialização em Língua

Brasileira de Sinais da Faculdade de Ciências Empresariais e Estudos

Costeiros de Natal – FACEN, 2017. Orientador Professor Ms. Eudécio

Carvalho Neco.

Page 8: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

1 INTRODUÇÃO

A morfologia é a área de estudo na linguística que analisa a estrutura interna de cada

palavra3 pertencente à classe gramatical, observando cada palavra separadamente, ou seja,

sem essas estarem participando de um enunciado. Ela também examina os processos que

geram palavras recém-criadas nas línguas.

A morfologia indica as regras que definem a formação das palavras/sinais tanto nas

línguas de sinais quanto nas línguas orais. A palavra morfema deriva do grego morphé, que

significa forma. Os morfemas são menores unidades significativas que se podem identificar,

são constituintes morfológicos. (QUADROS; KARNOPP, 2004, p.86)

A falta de conhecimento básico da morfologia da LIBRAS dificulta a aprendizagem

correta que posteriormente traz problemas no entendimento comunicativo. A análise

morfológica na aprendizagem da LIBRAS é importante para que se possa entender toda

estrutura de formação de palavra/sinal e fazer uma comunicação com excelência.

Este trabalho tem por objetivo descrever os processos de formação de palavras,

derivação, composição, incorporação de numeral e a incorporação da negação.

No que se refere ao procedimento técnico adotado para este trabalho, foi feito uma

pesquisa bibliográfica, pelo fato do desenvolvimento deste estudo ocorrer a partir de trabalhos

já realizados.

Embora o ensino da LIBRAS esteja vivendo um momento de expansão na pesquisa,

ainda existe uma falta de pesquisas correlacionadas aos aspectos gramaticais na aprendizagem

da LIBRAS. Dessa maneira, o presente trabalho é de suma importância porque colabora para

o desenvolvimento e renovação dos conhecimentos relacionados à análise morfológica na

aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais.

3 A ‘palavra’ indica que o sinal também é estudado.

Page 9: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

2 MORFOLOGIA DA LÍNGUA DE SINAIS

Morfologia é uma área da linguística que analisa a estrutura interna, a formação e

classificação linguística das palavras ou sinais. Para Quadros (1997, p. 86) morfologia é “[...]

o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, assim como das regras que

determinam a formação das palavras”.

Fundamentado no conceito que foi citado acima, pode-se declarar que as formações

dos sinais tem origem na combinação dos parâmetros: configuração de mão, ponto de

articulação, movimento, expressão facial e corporal, nesta ocasião julgados morfemas, ou

seja, unidades significativas mínimas que, ao se unirem, formam cada palavra/sinal com

significado, assim como explica Felipe:

Estes cinco parâmetros podem expressar morfemas através de algumas

configurações de mão, de alguns movimentos direcionados, de algumas

alterações na frequência do movimento, de alguns pontos de articulação na

estrutura morfológica e de alguma expressão facial ou movimento de cabeça

concomitante ao sinal, que, através de alterações em suas combinações,

formam os itens lexicais das línguas de sinais (FELIPE, 2006, p. 202).

Poucos morfemas por si só formam palavras/sinais, entretanto, há alguns itens lexicais

que carecem da combinação mínima de dois morfemas para sua construção.

A libras é dotada de uma gramática constituída a partir de elementos

constitutivos das palavras ou itens lexicais e de um léxico (o conjunto das

palavras da língua) que se estruturam a partir de mecanismos morfológicos,

sintáticos e semânticos que apresentam especificidade mas seguem também

princípios básicos gerais. Estes são usados na geração de estruturas

linguísticas de forma produtiva, possibilitando a produção de um número

infinito de construções a partir de um número finito de regras

(BRITTO,1995, p. 1).

É de suma importância salientar que a Libras não é o português sinalizado, a libras não

depende da língua oral, por esse motivo necessita de estudos específicos, já que não se pode

aplicar estudos de línguas orais a ela.

Na Língua Brasileira de Sinais também existe, uma sequência de sinais que são

constituídos por processos de derivação, composição e incorporação. Na Libras, o

processamento de derivação é aquele que os nomes advém de verbos, caracterizando um

processo conhecido como nominalização. Em relação ao processo de composição, duas ou

Page 10: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

mais raízes se combinam e posteriormente forma outra palavra, outro sinal. Outro

processamento normal na composição de palavras da Libras é a incorporação, cujo há dois

tipos: A incorporação de numeral e a incorporação de negação. A incorporação de numeral

mostra um limite na expressão de quantidade. Já a incorporação de negação se limita a um

número reduzido de sinais.

As línguas de sinais são línguas e contém classe de palavras/sinais, assim como o

português. No que e refere à classe de palavras/sinais e às classes lexicais que fazem parte das

línguas de sinais, estão nomes, verbo, advérbio, adjetivo, numeral, conjunção.

3 FORMAÇÃO DE SINAIS EM LIBRAS

Com relação à existência das línguas que há no mundo, independente de sua

particularidade linguística, elas mostram processos responsáveis pela geração de novas

palavras nessas línguas. Em Libras há um léxico vasto e um sistema de geração de novos

sinais no qual os morfemas são ligados. Tal ligação se dá entre os morfemas: lexicais,

gramaticais ou derivacionais, de acordo com Felipe (2006, p. 201):

Nos estudos sobre os processos de formação de palavras [composição,

aglutinação, justaposição e derivação], as línguas são sempre apresentadas

em relação aos seus morfemas lexicais (raízes/radicais) que se prendem a

morfemas gramaticais formantes (desinências e vogais temáticas) e/ou a

derivacionais (afixos e clíticos).

Segundo a autora os cinco parâmetros das línguas de sinais apresentam morfemas

mediante a algumas configurações de mão, movimentos, alterações na frequência do

movimento, pontos de articulação na composição morfológica e em expressão facial ou

movimento de cabeça simultâneo ao sinal. A LIBRAS apresenta a formação dos sinais

baseada nos parâmetros que se combinam, principalmente fundamentada na concomitância.

• Configuração das mãos: É a forma que as mãos assumem ao longo da produção de um

sinal, ou seja, está relacionada, principalmente, na posição de cada dedo da mão no

que se refere aos demais. Segue abaixo a tabela das configurações de mãos.

Page 11: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

Figura 01: Configuração de mãos.

Fonte:http://2.bp.blogspot.com/-

KZs2KEsltNQ/VD8hSSQCUFI/AAAAAAAAADk/DE3oNMmFQeo/s1600/CM%2B61%2BNPb.jpg

• Ponto de articulação: está relacionado ao local em que o sinal é realizado, ou seja, o

ponto espacial em que as mãos incidem quando da realização do sinal. Um sinal pode

ser realizado apoiado no corpo ou não. Os sinais podem ser feito à frente do corpo ou

apoiados na parte frontal do sinalizador, nas alturas compreendidas entre o ventre e

pouco acima da cabeça, conforme apresenta a imagem abaixo:

Figura 02: Espaço de sinalização.

Fonte: Autor

Page 12: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

• Movimento: movimentação das mãos no momento da produção do sinal. Vejamos um

exemplo a seguir:

Figura 03: Sinal de TERREMOTO. Movimentação das mãos para frente e para trás de forma alternado.

Fonte: Autor

• Orientação/Direcionalidade: apontamento da palma da mão no momento em que o

sinal é realizado. Vejamos a seguir alguns exemplos apontamento da palma da mão no

momento de realização dos sinais:

Figura 04: Sinal de OUVINTE. Orientação da Palma da mão para frente.

Fonte: Autor

Page 13: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

Figura 05: Sinal de CHUVA. Orientação da Palma da mão para baixo.

Fonte: Autor

• Expressão facial e/ou corporal: apresentam traços que diferenciam uma sentença

afirmativa de uma interrogativa; por funcionar, a depender de como é realizada, como

marcador de plural ou de intensidade etc. A seguir algumas expressões faciais mais

recorrentes em Libras:

Figura 06: Expressões faciais.

Fonte: Autor

Por meio das alterações nas combinações desses morfemas, os itens lexicais das

línguas de sinais são construídos. Segundo Felipe (1998), esses morfemas podem ser:

morfemas lexicais, que podem ser uma raiz ou um radical; morfemas derivacionais, que

podem ser um afixo; ou morfemas gramaticais, definindo uma marca de concordância de

número pessoal ou de gênero.

Page 14: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

A LIBRAS mostra processos derivacionais, que são processos construtores de novos

sinais a começar de sinais que já existem na língua. Alguns deles são: a derivação, a

composição e a incorporação, que são processos bem produtivos na Língua Brasileira de

Sinais.

3.1 Processo de derivação

De acordo com Basílio (1987, p. 26), derivação é processo que “se caracteriza pela

junção de um afixo (sufixo ou prefixo) a uma base para a formação de uma palavra”.

Conforme o conceito citado anteriormente pelo autor, as maneiras abaixo são exemplos de

derivação, porque neles contém estruturação base + sufixo ou base + prefixo ou base +

prefixo: carta + eiro = carteiro; planta + ção = plantação; des + leal = desleal

Na Língua Brasileira de Sinais, os nomes derivam de verbos, que caracteriza um

processo conhecido como nominalização. Quadros e Karnopp (2004) alegam que a LIBRAS

consegue derivar nomes de verbos mediante a alteração na forma da movimentação. A

movimentação dos nomes repete e a movimentação dos verbos diminui como nos sinais

CADEIRA (substantivo) e SENTAR (verbo).

Nos sinais CADEIRA (substantivo) e SENTAR (verbo), é provável perceber que o

sinal SENTAR tem uma movimentação diminuída. Para compor o sinal CADEIRA, foi

fundamental a repetição da movimentação. Parâmetros como configuração de mão e a locação

são iguais nos pares de sinais.

Felipe (2006) sugere a ocorrência na derivação zero como forma de derivação presente

na Língua Brasileira de Sinais. Nesse processo de derivação, itens lexicais são distintos

apenas a começar do seu papel no contexto linguístico em que estão incluídos. Isto significa

que dependerá do contexto linguístico saber se o sinal está relacionado a um verbo ou a um

nome. Como por Ex.: DIRIGIR e CARRO.

O sinal de DIRIGIR é usado em enunciados como: EU DIRIGIR (verbo) ÔNIBUS

MEU TIO. O sinal de CARRO é usado em enunciados como: EU COMPRAR CARRO

(substantivo) NOVO. Esses itens lexicais são sinalizados de maneira iguais (mesma

configuração de mão, locação e movimento). Ao serem efetuados, o que vai distingui-los

(quando substantivo CARRO ou verbo DIRIGIR) é o contexto do enunciado.

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3.2 Derivação através da modificação de parâmetros do sinal primitivo

A derivação por alteração no mínimo de um dos parâmetros do sinal primitivo

aparenta ser um processo muito produtivo na composição de novas palavras/sinais na Língua

Brasileira de Sinais. Podemos considerar como exemplo o sinal PESQUISAR, o qual é

representado na figura 07, derivado de PERGUNTAR.

Figura 07: Sinal derivado através da alteração no movimento.

Fonte: Autor

O sinal PESQUISAR significa a produção do sinal PERGUNTAR várias vezes, em

vez de passar a lateral da mão direita (ativa) na palma da mão esquerda (passiva) apenas uma

vez, que ocorre no sinal PERGUNTAR, roçar-se a lateral da mão direita na palma da esquerda

várias vezes para frente e para trás. Um processo parecido pode acontecer com os sinais

VIZINH@ e FAVELA, derivados de CASA.

Figura 08: Sinais derivados através da modificação do movimento.

Fonte: autor

Page 16: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

A movimentação realizada entre as mãos, onde ambas tocam uma a outra através das

pontas dos dedos no sinal CASA é alterado em VIZINH@4 e FAVELA. Em VIZINH@, as

mãos são mantidas em contato por meio das pontas dos dedos, sendo movimentadas para os

lados várias vezes. Da mesma forma ocorre com o sinal FAVELA, a diferença é que as mãos

são movimentadas para frente do corpo, girando simultaneamente pelos pulsos. As mudanças

do sinal CASA são provocadas pela semântica das maneiras derivadas. No sinal VIZINH@, a

movimentação das mãos para os lados propõe proximidade. Já no sinal FAVEL@, a

movimentação sitiada dos pulsos para frente propõe as más condições dos barracos e a seu

grande número.

3.3 Processo de composição

Na LIBRAS, o processo de composição forma vários sinais nessa língua. Segundo

Felipe (2006), a composição pode se fazer de três formas na Língua Brasileira de Sinais:

1) Através da justaposição de dois itens lexicais – como em ALMOÇAR, composta

pela junção de MEIO-DIA + COMER.

2) Através da justaposição de um classificador com um item lexical – como em

FORMIGA, composta pela junção de INSETO + COISA PEQUENA [classificador].

3) Através da justaposição da datilologia da palavra em português+sinal que

representa a execução feita pelo substantivo, como, por ex.: AGULHA, feito pela ligação de

COSTURAR-COM-AGULHA com A-G-UL-H-A. Além dessas formas de produção da

composição em Língua Brasileira de Sinais, existe ainda três regras morfológicas para dar

origem aos compostos. Quadros e Karnopp (2004) mostram estas regras:

a) Regra do contato: a formação de um sinal composto se originaliza da junção de dois

sinais que realizados juntos. O contato do primeiro sinal ou do segundo é preservado. Segue o

exemplo prático: O sinal composto ESCOLA, formado pelos sinais CASA e ESTUDAR, em

que o contato de ambos é preservado no composto.

4 A Libras não apresenta desinência de gênero e número. As palavras em Língua Portuguesa que as possuem

deverão ser transcritas com o símbolo @ (arroba) no lugar da desinência. Ex.: EL@ (ela ou ele), ME@ (meu ou

minha).

Page 17: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

Figura 09: Exemplo de sinal composto: Escola.

Fonte: Autor

b) Regra da sequência única: em relação aos compostos, a repetição do movimento é

suprimida. Por ex.: os sinais: PAI e MÃE, separadamente, mostram uma movimentação

repetitiva, mas quando estão juntos para compor o sinal composto PAIS, esse movimento é

suprimido;

c) Regra da antecipação da mão não dominante: a junção dos sinais:

SABER+ESTUDAR compõem o sinal composto de ACREDITAR, nesse sinal a mão não

dominante estará no espaço neutro à frente do sinalizador com a configuração de mão

pertencente ao composto.

Em LIBRAS, o sinal que é realizado isoladamente tem um significado próprio.

Quando os sinais se juntam para compor outro novo sinal, eles passam a ter outro significado.

Geralmente, Nesses sinais compostos há um significado bastante distante do significado dos

sinais que o deram origem. Em razão disso, é certo alegar que, no resultado da composição,

não há como presumir o significado do novo sinal apenas analisando o significado dos sinais

de primitivos (QUADROS; KARNOPP, 2004).

3.4 Processo de incorporação

A incorporação é um processamento bastante normal na construção de palavras da

Língua Brasileira de Sinais, tendo duas formas nessa língua: a incorporação de numeral e a

incorporação da negação.

Page 18: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

De acordo com Quadros e Karnopp (2004), morfemas retidos (menores unidades

significativas que não ocorrem sozinhos) conseguem se combinar (ou combinar com um

morfema livre) para gerar novos significados em Língua Brasileira de Sinais. Isto acontece no

processamento de incorporação de numeral, onde a alteração na configuração de mão (de 1

para 2, para 3 ou para 4) de um sinal pode alterar o número de meses, dias, horas, anos e

dentre outros advérbios. Os outros elementos dos sinais continuam os mesmos. Apenas a

configuração de mão é modificada. Ex.: UM-MÊS, DOIS-MESES, TRÊS-MESES e

QUATRO-MESES.

Os sinais vistos anteriormente são construídos por dois morfemas retidos: um

morfema que significa MÊS e engloba a orientação da mão, as expressões não manuais e a

locação; e o outro morfema é a configuração de mão, que leva o significado de um numeral.

Esses morfemas são feitos simultaneamente, compondo o sinal UM-MÊS, DOIS-MESES,

TRÊS-MESES ou QUATRO-MESES, que depende do numeral que é incorporado.

Segundo Felipe (2006, p. 204), ele também comprova a existência do processo de

incorporação de numeral, e em relação a ele admite: “a incorporação do numeral,

representando os numerais de um até quatro através de configurações de mão, acrescenta à

raiz um quantificador”. A autora declara algo que é essencial salientar: a configuração de mão

para os sinais DIAS, MESES, ANOS OU HORAS poderá ser alterada até o número 4. A

contar do número 5, o numeral é pronunciado de maneira separada dos sinais.

A negação é outro processo de incorporação. Nesse processo, o item lexical negado

admite modificação em um dos parâmetros, normalmente no movimento, resultando em sua

contrapartida negativa (FERREIRA-BRITO, 1995). Felipe (2006) relata que essa modificação

acontece da seguinte maneira: o sufixo de negação se agrega à raiz de alguns verbos que tem

uma raiz com um primeiro movimento, concluindo-os com uma movimentação contrária,

como, por ex.: o verbo GOSTAR e a sua contraparte NÃO-GOSTAR.

Em relação a incorporação da negação através da modificação de um parâmetro,

Felipe (2006) e Ferreira-Brito (1995) apontam outra maneira de negação além da citada

anteriormente: a negação através da expressão facial, incorporada ao sinal e sem modificação

dos parâmetros. Segundo Felipe (2006), o infixo de negação se incorpora à raiz de alguns

verbos através da movimentação negativa realizada com a cabeça. Essa expressão facial é

feita concomitantemente ao sinal, como no verbo CONHECER e na sua contraparte NÃO-

CONHECER.

Page 19: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

4 CLASSE DE PALAVRAS/SINAIS

No que se refere à classe de palavras e às categorias lexicais concernentes às línguas

de sinais, encontram-se: nomes, verbo, advérbio, adjetivo, numeral, conjunção. Conduzindo o

estudo morfológico para Libras, fundamentado em uma curta análise sugerida por Silva

(1998, apud SANTOS, 2013, P. 63), encontram-se os seguintes casos:

a. Quando se quer diferenciar o sexo entre pessoas ou animais, usa-se o sinal

HOMEM e MULHER para fazer referência ao nome, mas geralmente sem

apresentar flexão de gênero, como se pode perceber no sinal de AMIG@,

que pode ser usado tanto para o sexo masculino ou feminino. Sinais como

PAI e MÃE não necessitam dessa marcação de gênero, pois possuem sinais

próprios.

b. Os adjetivos trazem como características a expressão facial e

intensificação do sinal, não há marca de gênero ou número. Cita-se como

exemplo a sinalização de BONITINHO e de MUITO BONITO, que precisa,

cada um a sua maneira, de expressão facial e intensificação do sinal, sendo

que o segundo necessita também de expressão facial. Essas marcações

linguísticas trazem o significado real do sinal.

c. Os pronomes na Libras são realizados em diferentes pontos no espaço, a

articulação do sinal depende da pessoa que se faz referência e do número, ou

seja, singular e plural. Destacam-se ainda as conjunções, sendo que as

manifestadas em Libras são MAS, PORQUE (explicativo e interrogativo),

COMO e o SE.

d. Em relação aos numerais, estes são classificados em quantidade, cardinal

e ordinal, trazendo como parâmetros de diferenciação na articulação dos

números a configuração de mão, ponto de articulação e movimento, além do

contexto.

e. A marcação do tempo verbal é realizada através de itens lexicais ou sinais

adverbiais como afirma Brito: “Dessa forma, quando o verbo refere-se a um

tempo passado, futuro ou presente, o que vai marcar o tempo da ação ou do

evento serão itens lexicais ou sinais adverbiais como ONTEM, AMANHÃ,

HOJE, SEMANA-PASSADA, SEMANA-QUE-VEM.” (BRITO, 1998, p.

46).

Na Língua Brasileira de Sinais, quando o verbo está relacionado a um tempo passado,

futuro ou presente, a marcação do tempo da ação será itens lexicais ou sinais adverbiais como

ONTEM, AMANHÃ, HOJE, SEMANA-PASSADA, SEMANA-QUE-VEM. Os sinais que

apresentam conceito temporal vêm seguidos de marcação de passado, futuro ou presente da

seguinte maneira: Movimentação para trás (passado); Movimentação para frente (futuro); e

Movimentação no plano do corpo (presente).

Page 20: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

Figura 10: Passado.

Fonte: autor

Figura 11: Ontem estudei português.

Fonte: autor

Figura 12: Futuro.

Fonte: autor

Page 21: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

Figura 13: Amanhã irei estudar.

Fonte: autor

Figura 14: Presente.

Fonte: AUTOR

Figura 15: Hoje vou dançar.

Fonte: autor

Page 22: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

5 CONCLUSÃO

Conclui-se que este trabalho expôs os principais conceitos existentes nos estudos

morfológicos da Língua Brasileira de Sinais, como formação de sinais em LIBRAS, processo

de derivação, composição e incorporação, e classe de palavras/sinais.

Observamos que além da composição, construções de novos sinais através da

justaposição de dois outros sinais já existentes podem derivar sinais através da modificação de

um dos parâmetros do sinal primitivo ou por meio da junção de partes de outros sinais.

Por fim, percebe-se que este estudo atingiu o objetivo proposto, tendo em vista que

demonstrou os principais conceitos morfológicos considerados importantes na Língua

Brasileira de Sinais. Os resultados do presente trabalho podem ser utilizados para continuação

de pesquisas sobre o tema ou aperfeiçoamento de futuras pesquisas na área estudada.

Page 23: Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal

REFERÊNCIAS

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BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de línguas de sinais. Rio de Janeiro: Tempo

Brasileiro/UFRJ, Departamento de Linguística e Filologia, 1995.

BRITO, L. F. et. al. Língua Brasileira de Sinais-Libras. In:________. (Org.) BRASIL,

Secretaria de Educação especial. Brasília: SEESP, 1998.

FELIPE, T.A. O Signo Gestual-Visual e sua Estrutura Frasal na Língua dos Sinais dos

Centros Urbanos Brasileiros. Dissertação de Mestrado, UFPE, PE, 1988.

FELIPE, Tanya Amara. Os processos de formação de palavra na Libras. Estudos

Linguísticos: Grupos de Estudos e Subjetividade, Campinas, v. 7, n. 2, p. 200-

217, jun. 2006.

FERREIRA-BRITO, Lucinda. Por uma gramática de línguas de sinais. Rio de

Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995.

QUADROS, Ronice Müller. Educação de surdos: aquisição da linguagem. São Paulo:

Artmed, 1997.

QUADROS, Ronice Müller; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de sinais

brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.

SILVA, Ayonan Santos. Linguagem e surdez: A coesão em textos de surdos. São Paulo/SP.

2013. 114f. Trabalho de Conclusão Estágio (Mestrado em Língua Portuguesa) –

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.