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FACULDADE EVANGÉLICA DO PARANÁ SOCIEDADE EVANGÉLICA BENEFICENTE DE CURITIBA HOSPITAL UNIVERSITÁRIO EVANGÉLICO INSTITUTO DE PESQUISAS MÉDICAS GILBERTO LAURINO ALMEIDA ESTUDO DE VALIDAÇÃO EXTERNA DO ESCORE DE RISCO DA EUROPEAN ORGANIZATION FOR RESEARCH AND TREATMENT OF CANCER (EORTEC) PARA RECORRÊNCIA E PROGRESSÃO APÓS RESSECÇÃO TRANSURETRAL EM PACIENTES BRASILEIROS COM CÂNCER DE BEXIGA ESTÁDIOS TA E T1 Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em Princípios da Cirurgia da Faculdade Evangélica do Paraná (FEPAR)/Hospital Universitário Evangélico de Curitiba (HUEC)/ Instituto de Pesquisas Médicas (IPEM), como requisito parcial à obtenção do grau acadêmico de Mestre. Orientadora: Profa. Dra. Carmen Austrália Paredes Marcondes Ribas Co-Orientador: Prof. Dr. Wilson F. S. Busato Júnior Coordenador: Prof. Dr. Osvaldo Malafaia CURITIBA 2015

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FACULDADE EVANGÉLICA DO PARANÁ

SOCIEDADE EVANGÉLICA BENEFICENTE DE CURITIBA

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO EVANGÉLICO

INSTITUTO DE PESQUISAS MÉDICAS

GILBERTO LAURINO ALMEIDA

ESTUDO DE VALIDAÇÃO EXTERNA DO ESCORE DE RISCO DA EUROPEAN

ORGANIZATION FOR RESEARCH AND TREATMENT OF CANCER (EORTEC)

PARA RECORRÊNCIA E PROGRESSÃO APÓS RESSECÇÃO TRANSURETRAL

EM PACIENTES BRASILEIROS COM CÂNCER DE BEXIGA ESTÁDIOS TA E T1

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em Princípios da Cirurgia da Faculdade Evangélica do Paraná (FEPAR)/Hospital Universitário Evangélico de Curitiba (HUEC)/ Instituto de Pesquisas Médicas (IPEM), como requisito parcial à obtenção do grau acadêmico de Mestre. Orientadora: Profa. Dra. Carmen Austrália Paredes Marcondes Ribas Co-Orientador: Prof. Dr. Wilson F. S. Busato Júnior Coordenador: Prof. Dr. Osvaldo Malafaia

CURITIBA

2015

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GILBERTO LAURINO ALMEIDA

ESTUDO DE VALIDAÇÃO EXTERNA DO ESCORE DE RISCO DA EUROPEAN

ORGANIZATION FOR RESEARCH AND TREATMENT OF CANCER (EORTEC)

PARA RECORRÊNCIA E PROGRESSÃO APÓS RESSECÇÃO TRANSURETRAL

EM PACIENTES BRASILEIROS COM CÂNCER DE BEXIGA ESTÁDIOS TA E T1

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em Princípios da Cirurgia da Faculdade Evangélica do Paraná (FEPAR)/Hospital Universitário Evangélico de Curitiba (HUEC)/ Instituto de Pesquisas Médicas (IPEM), como requisito parcial à obtenção do grau acadêmico de Mestre. Orientadora: Profa. Dra. Carmen Austrália Paredes Marcondes Ribas Co-orientador: Prof. Dr. Wilson F. S. Busato Júnior Coordenador: Prof. Dr. Osvaldo Malafaia

CURITIBA

2015

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DEDICATÓRIA

Dedico essa dissertação aos enfermos portadores de câncer de bexiga que possam

vir a se beneficiar dos resultados aqui encontrados, e que isso possa servir de

instrumento para seu tratamento e alento para sua convalescência.

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A minha esposa amada, Regina, que transforma em alegrias as dificuldades da

minha vida e sempre está caminhando ao meu lado transformando meus defeitos

em virtudes.

A Alícia, minha filha, que me mostrou o significado de “amor incondicional” e que me

motiva todos os dias à busca pelo melhor.

A Regina Maria, minha mãe, responsável pela minha formação pessoal e exemplo

de carinho e dedicação ao próximo.

A Gilberto, meu pai, responsável pela minha formação pessoal e profissional, e

sempre um referencial na minha trajetória como homem e médico.

A minhas irmãs, Letícia, Vivian e Raquel, que me acompanharam durante minha

caminhada e sempre estiveram presentes quando preciso.

A minha sogra, Inês, mãe de coração, que me recebeu como

filho em sua vida.

A Vilson, meu sogro, que sempre esteve presente com orientações e amizade.

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AGRADECIMENTOS

A Profa. Dra. Carmen Austrália Paredes Marcondes Ribas, orientadora

deste trabalho, pela brilhante contribuição a este estudo e pela amizade tão recente,

mas tão sincera. Minha gratidão e admiração são incomensuráveis.

Ao meu amigo e colega Prof. Dr. Wilson Francisco Schreiner Busato

Júnior, co-orientador deste trabalho, pelo incentivo, companheirismo e sempre

valorosa e inestimável orientação na esfera pessoal e profissional. A ciência corre

em suas artérias!

A todos do IPEM, especialmente ao Prof. Dr. Osvaldo Malafaia, coordenador

deste programa e um obstinado pela ciência, e à Érika Gomes da Rosa pela sua

amizade, companheirismo e eterna disponibilidade.

A Bruno Ariede e a Profa. Raquel Laurino Almeida pela competência e

auxílio na revisão ortográfica e das normas técnicas.

A Profa. Vânia Hirakata pelo auxílio e orientação tão importantes na análise

estatística.

Ao meu amigo, Prof. Dr. Daniel Cury Ogata, pelo companheirismo e

incentivo.

Ao Prof. Ottavio De Cobelli pela grande amizade e pela oportunidade dada

no Istituto Europeo di Oncologia tão valiosa na minha vida acadêmico-científica.

A todos do Instituto Catarinense de Urologia (INCAU), refúgio de trabalho e

marco inicial deste estudo e de minha vida profissional.

Aos meus colegas de Mestrado, grupo formado por grandes profissionais, os

quais dividiram comigo durante este trajeto angústias, dúvidas, sem nunca deixar o

otimismo de lado.

A CAPES que me proporcionou a oportunidade de cursar a pós-graduação,

mestrado, e pela manutenção da pesquisa em nível de excelência em nosso país.

A Faculdade Evangélica do Paraná e todos os seus colaboradores pela

oportunidade oferecida com notória excelência.

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EPÍGRAFE

Morreremos tal qual viemos, mas se alguma contribuição pudermos deixar, enfim

venceremos...

J.J Camargo. Professor e Cirurgião Torácico em seu livro “A tristeza pode

esperar”

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - INCIDÊNCIA MUNDIAL DO CÂNCER DE BEXIGA EM

MULHERES E HOMENS ...................................................................20

FIGURA 2 - CÂNCER DE BEXIGA - ESTADIAMENTO TUMORAL ......................24

FIGURA 3 - MATERIAL CIRÚRGICO UTILIZADO PARA RESSECÇÃO

ENDOSCÓPICA DOS TUMORES VESICAIS ....................................33

FIGURA 4 - RESSECÇÃO SISTEMÁTICA EM DOIS TEMPOS DOS

TUMORES VESICAIS ........................................................................34

FIGURA 5 - FOTOMICROGRAFIA DE CARCINOMA DE CÉLULAS

TRANSICIONAIS DE BAIXO GRAU ..................................................35

FIGURA 6 - FOTOMICROGRAFIA DE CARCINOMA DE CÉLULAS

TRANSICIONAIS DE ALTO GRAU ....................................................36

FIGURA 7 - ESTADIAMENTO PATOLÓGICO TUMORAL DO CÂNCER DE

BEXIGA ..............................................................................................37

FIGURA 8 - TC MOSTRANDO TUMOR DE BEXIGA MENOR QUE TRÊS

CENTÍMETROS EM PAREDE LATERAL DIREITA ........................... 38

FIGURA 9 - US MOSTRANDO TUMOR DE BEXIGA MENOR QUE TRÊS

CENTÍMETROS EM PAREDE LATERAL DIREITA ........................... 38

FIGURA 10 - TC MOSTRANDO TUMOR DE BEXIGA MAIOR QUE TRÊS

CENTÍMETROS EM PAREDE LATERAL ESQUERDA ..................... 39

FIGURA 11 - US MOSTRANDO TUMOR DE BEXIGA MAIOR QUE TRÊS

CENTÍMETROS EM PAREDE POSTERIOR ..................................... 39

FIGURA 12 - VISÃO ENDOSCÓPICA DE MÚLTIPLOS TUMORES VESICAIS ..... 40

FIGURA 13 - VISÃO ENDOSCÓPICA DE TUMOR VESICAL ÚNICO .................... 40

FIGURA 14 - FOTOMICROGRAFIA DE CARCINOMA DE CÉLULAS

TRANSICIONAIS in situ ..................................................................... 44

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - CLASSIFICAÇÃO TNM 2009 PARA CÂNCER DE BEXIGA .............. 23

QUADRO 2 - CLASSIFICAÇÃO DA GRADUAÇÃO HISTOLÓGICA DO CUNMI .... 25

QUADRO 3 - PREDITORES DE RECORRÊNCIA E PROGRESSÃO ..................... 28

QUADRO 4 - SISTEMA DE ESCORE PRA CÁLCULO DO RISCO DE

RECORRÊNCIA E PROGRESSÃO DO CUNMI ................................ 28

QUADRO 5 - ESTRATIFICAÇÃO DO CUNMI EM GRUPOS DE RISCO PARA

RECORRÊNCIA E PROGRESSÃO ................................................... 29

QUADRO 6 - ESTRATIFICAÇÃO POR IDADE DA POPULAÇÃO ESTUDADA ...... 45

QUADRO 7 -FREQUÊNCIA DA TERAPIA INTRA-VESICAL ADJUVANTE NA

POPULAÇÃO ESTUDADA ................................................................ 46

QUADRO 8 - FREQUÊNCIA ENTRE OS DESFECHOS ESTUDADOS ................. 51

QUADRO 9 - COMPARAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS TUMORAIS ENTRE

ESSE ESTUDO E O DE SYLVESTER et al ....................................... 55

QUADRO 10 - COMPARAÇÃO ENTRE AS TAXAS DE RECORRÊNCIA AO

LONGO DO TEMPO ESTRATIFICADOS POR GRUPOS DE

RISCO .............................................................................................. 59

QUADRO 11 - COMPARAÇÃO DA FREQUÊNCIA DOS DESFECHOS

ENCONTRADOD ENTRE ESSE ESTUDO E O DE SYLVESTER

et al .................................................................................................. 61

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO EM ESTUDO ......................44

TABELA 2 - COMPARAÇÃO DAS PROBABILIDADES DE RECORRÊNCIA

DE ACORDO COM ESCORE DE RISCO ENTRE A EORTEC E

ESSE ESTUDO EM 1 E 5 ANOS .......................................................52

TABELA 3 - COMPARAÇÃO DAS PROBABILIDADES DE PROGRESSÃO DE

ACORDO COM ESCORE DE RISCO ENTRE A EORTEC E

ESSE ESTUDO EM 1 E 5 ANOS .......................................................52

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - TEMPO PARA PRIMEIRA RECORRÊNCIA EM 1 ANO PELO

ESCORE DA EORTEC NESTA SÉRIE ........................................... 47

GRÁFICO 2 - TEMPO PARA PRIMEIRA RECORRÊNCIA EM 5 ANOS PELO

ESCORE DA EORTEC NESTA SÉRIE ........................................... 48

GRÁFICO 3 - TEMPO PARA PRIMEIRA PROGRESSÃO EM 1 ANO PELO

ESCORE DA EORTEC NESTA SÉRIE ........................................... 49

GRÁFICO 4 - TEMPO PARA PRIMEIRA PROGRESSÃO EM 5 ANOS PELO

ESCORE DA EORTEC NESTA SÉRIE ........................................... 50

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas

CaB - Câncer de Bexiga

CCT - Carcinoma de Células Transicionais

CEP - Comissão de Ética em Pesquisa

CIS - Carcinoma in situ

CNS - Conselho Nacional de Saúde

EORTC - European Organization for Research and Treatment of Cancer

EAU - European Association of Urology

FEPAR - Faculdade Evangélica do Paraná

IPEM - Instituto de Pesquisas Médicas

INCAU - Instituto Catarinense de Urologia

MS - Ministério da Saúde

CUNMI - Carcinoma Urotelial Não Músculo-Invasivo de Bexiga

RTU - Ressecção Trans-Uretral

TPP - Tempo Para a Progressão

TPR - Tempo Para a Primeira Recidiva

TC - Tomografia Computadorizada

UFPR - Universidade Federal do Paraná

UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí

US - Ultrassonografia

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RESUMO

Introdução: O carcinoma urotelial não músculo-invasivo (CUNMI) representa até 85% das neoplasias de bexiga. Recorrência e progressão tumoral são características do CUNMI, porém seu comportamento biológico é muito heterogêneo. A estratificação em grupos de risco de recorrência e de progressão tem sido fundamental na escolha da terapêutica adequada e no prognóstico desses pacientes, e em virtude disso a tabela de risco da EORTEC tem sido largamente utilizada na prática clínica. Objetivo: Validar a tabela de escore de risco da EORTEC e sua aplicabilidade em portadores de CUNMI na região sul do Brasil. Métodos: Foram avaliados 205 pacientes portadores de CUNMI submetidos à ressecção trans-uretral de bexiga (RTU). Foram analisados seis parâmetros: grau histológico, estadiamento patológico tumoral, tamanho e número de tumores, taxa de recorrência prévia e presença de carcinoma in situ. Foram calculados o tempo para primeira recorrência (TPR), o tempo para progressão (TPP), o escore de risco e as probabilidades de recorrência e progressão para cada paciente e comparadas às probabilidades obtidas pela tabela da EORTEC. Para validação, foi calculado o índice C e avaliada a acurácia da tabela da EORTEC. Resultados: Observou-se o estadiamento patológico Ta em 91 pacientes e o T1 em 114. Noventa e sete pacientes tinham tumor único, 64 tinham duas a cinco lesões e 44 apresentavam mais que cinco. Cento e três pacientes tinham tumor menor que três centímetros e 102 tinham maior ou igual a três centímetros. O carcinoma in situ esteve presente em 21 pacientes. Observou-se grau histológico G1 e G2 em 95 pacientes e o G3 em 110. Cento e cinco pacientes receberam terapia intra-vesical. Recorrência ocorreu em 117 pacientes e a média do TPR foi de 14,2 ± 7,3 meses, enquanto progressão ocorreu em 43 pacientes e a média do TPP foi de 26,9 ± 15,2 meses. O índice C para recorrência foi 0,72 para um ano e 0,7 para cinco anos e para progressão foi 0,86 para um ano e 0,78 para cinco anos. O risco de recorrência observado foi de 28,8% em um ano e 57,1% em cinco anos, independentemente do escore. O risco de progressão observado foi 3,4% em um ano e 19,1% em cinco anos, independentemente do escore. Na população estuda, as tabelas de risco do EORTEC superestimaram o risco de recorrência em um ano e subestimaram em cinco anos, enquanto que para progressão o risco foi superestimado em um e cinco anos. Conclusão: A validação externa das tabelas de risco da EORTEC em portadores de CUNMI na região sul do Brasil foi satisfatória e seu uso para predizer recorrência e progressão deve ser estimulado.

Palavras-chave: Neoplasia da bexiga urinária. Recorrência. Progressão.

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ABSTRACT

Introduction: The non-muscle invasive urothelial cancer (NMIBC) represents 85% of all bladder tumors. Although a heterogeneous biologic behavior, recurrence and progression are typical to these tumors. The stratification in risk groups of recurrence and progression has been determinant to choose adequate treatment and define prognosis of these patients, and the EORTEC risk tables has been widely used in clinical practice for this goal. Objective: Validate the EORTEC risk tables and its applicability in patients with NMIBC from the south of Brazil. Methods: Two hundred and five patients with NMIBC submitted to trans-urethral bladder resection were analyzed. The six parameters analyzed were: histologic grading, pathologic stage, size and number of tumors, previous recurrence rate and concomitant carcinoma in situ. The time for first recurrence (TFR), time for progression (TFP), risk score and probabilities of recurrence and progression were calculated for each patient and compared to the probabilities obtained from EORTEC risk tables. To external validation, the C-index was calculated and accuracy of EORTEC risk tables was analyzed. Results: The pathologic stage Ta was presented in 91 patients and T1 in 114. Ninety-seven patients had solitary tumor, sixty-four had 2 to 5 lesions and forty-four had more than 5 lesions. One hundred and three patients had tumors smaller than 3 centimeters and one hundred had bigger than 3 centimeters. Concomitant carcinoma in situ was observed in 21 patients. Histologic grading G1 and G2 were presented in 95 patients, and the G3 in 110. Intravesical therapy was utilized in 105 patients. Recurrence was observed in 117 patients and the mean TFR was 14,2 ± 7,3 months; progression was observed in 43 patients and mean TFP was 26,9 ± 15,2 months. The C-index for recurrence was 0,72 for 1 year and 0,7 for 5 years, and for progression was 0,86 for 1 year and 0,78 for 5 years. The recurrence risk was 28,8% in 1 year and 57,1% in 5 years, independently of the scoring risk. The progression risk was 3,4% in 1 year and 19,1% in 5 years, independently of the scoring risk. In our population, the EORTEC risk tables overestimated the risk of recurrence in 1 year and underestimated in 5 years, and for progression the risk was overestimated in 1 and 5 years. Conclusion: The external validation of the EORTEC risk tables in south Brazilian population with NMIBC was satisfactory and should be stimulated to predict recurrence and progression. Keywords: Bladder cancer. Recurrence. Progression.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................16

2 OBJETIVO ...........................................................................................................18

2.1 OBJETIVO GERAL ...........................................................................................18

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................18

3 REVISÃO DA LITERATURA ...............................................................................19

3.1 EPIDEMIOLOGIA ..............................................................................................19

3.2 FATORES DE RISCO .......................................................................................21

3.3 TIPO HISTOLÓGICO ........................................................................................22

3.4 CLASSIFICAÇÃO TNM E ESTADIAMENTO ....................................................22

3.4.1 Carcinoma Urotelial de Bexiga não Músculo-Invasivo ...................................24

3.4.2 Carcinoma Urotelial de Bexiga Músculo-Invasivo ..........................................25

3.5 GRADUAÇÃO HISTOLÓGICA DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE

(OMS)/SOCIEDADE INTERNACIONAL DE PATOLOGIA UROLÓGICA (ISUP) ....25

3.6 RECORRÊNCIA E PROGRESSÃO TUMORAL ................................................26

3.7 FATORES PROGNÓSTICOS DE RECORRÊNCIA E PROGRESSÃO ............27

4 CASUÍSTICA E MÉTODOS .................................................................................31

4.1 CASUÍSTICA .....................................................................................................31

4.1.1 Normas e Local ..............................................................................................31

4.1.2 Casuística .......................................................................................................31

4.1.3 Critérios de Inclusão e Exclusão ....................................................................31

4.2 MÉTODOS ........................................................................................................32

4.2.1 Coleta dos Dados ...........................................................................................32

4.2.2 Parâmetros Analisados ..................................................................................34

4.2.2.1 Grau histológico ..........................................................................................35

4.2.2.2 Estadiamento patológico T ..........................................................................36

4.2.2.3 Tamanho do tumor ......................................................................................37

4.2.2.4 Número de tumores .....................................................................................40

4.2.2.5 Taxa de recorrência prévia ..........................................................................41

4.2.2.6 Presença de carcinoma in situ ....................................................................41

4.2.3 Escores de Risco e Estratificação em Grupos de Risco ................................41

4.2.4 Tempo para Primeira Recorrência e Tempo para Progressão .......................42

4.2.5 Desfechos Avaliados ......................................................................................42

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4.2.6 Análise Estatística ..........................................................................................42

5 RESULTADOS .....................................................................................................44

5.1 CARACTERÍSTICAS DOS PACIENTES ...........................................................44

5.1.1 Idade e Sexo ..................................................................................................45

5.1.2 Características dos Tumores ..........................................................................45

5.1.3 Terapia Intra-Vesical ......................................................................................46

5.2 RECORRÊNCIA E TEMPO PARA PRIMEIRA RECORRÊNCIA ......................46

5.3 PROGRESSÃO E TEMPO PARA PROGRESSÃO ...........................................48

5.4 ÍNDICE DE CONCORDÂNCIA (índice C) .........................................................50

5.5 DESFECHOS ....................................................................................................50

5.6 AVALIAÇÃO DA ACURÁCIA DOS ESCORES DE RISCO DA EORTEC .........51

5.7 SEGUIMENTO ..................................................................................................53

5.8 SOBREVIDA .....................................................................................................53

6 DISCUSSÃO ........................................................................................................54

6.1 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA ................................................................54

6.1.1 Epidemiologia .................................................................................................54

6.1.2 Características dos Tumores ..........................................................................54

6.1.3 Terapia Intra-Vesical ......................................................................................56

6.2 RECORRÊNCIA E TEMPO PARA PRIMEIRA RECORRÊNCIA ......................57

6.3 PROGRESSÃO E TEMPO PARA PROGRESSÃO ...........................................59

6.4 DESFECHOS ....................................................................................................60

6.5 SEGUIMENTO ..................................................................................................61

6.6 VALIDAÇÃO ......................................................................................................61

6.6.1 Discriminação .................................................................................................62

6.6.1.1 Índice de concordância................................................................................62

6.6.2 Acurácia .........................................................................................................63

6.6.3 Validações Externas Descritas na Literatura ..................................................65

6.7 PERSPECTIVAS FUTURAS .............................................................................67

7 CONCLUSÃO ......................................................................................................68

REFERÊNCIAS .......................................................................................................69

ANEXO ...................................................................................................................74

ANEXO 1 .................................................................................................................74

APÊNCICES ..........................................................................................................75

APÊNCICE 1 ...........................................................................................................75

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APÊNCICE 2 ...........................................................................................................78

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16

1 INTRODUÇÃO

O câncer de bexiga (CaB) é a 9a neoplasia em incidência mundial, sendo o

7o câncer mais comum em homens e o 17o em mulheres (MURTA-NASCIMENTO et

al, 2007). Em termos geográficos, o Egito, a Europa Oriental e a América do Norte

apresentam as maiores incidências; enquanto os países asiáticos possuem as

menores (FERLAY et al, 2012).

Segundo a Sociedade Americana de Câncer, mais de 90% dos casos

acometem indivíduos com mais de 55 anos de idade, apesar de também incidir em

jovens. O tabagismo é o fator de risco mais importante vinculado ao CaB, estando

relacionado em até 50% dos casos em homens e 35% em mulheres (ZEEGERS et

al, 2000). Fumantes apresentam de duas a quatro vezes mais risco de

desenvolverem CaB do que não-fumantes (KIRKALI et al, 2005).

Em torno de 85% dos pacientes apresentam-se com CaB confinado à

mucosa (estádio clínico Ta e Tis) ou à submucosa (estádio clínico T1),

caracterizando o carcinoma uroteliai não-músculo invasivo (CUNMI). O tratamento é

diverso entre o CUNMI e os tumores músculo-invasivos. Enquanto no primeiro o

tratamento de eleição é a ressecção transuretral (RTU) combinado ou não com

imuno ou quimioterapia intra-vesical adjuvante, no segundo, preferencialmente, o

tratamento é a cistectomia radical (VAN DER HEIJDEN; ALFRED WITJES, 2009).

O estádio clínico e grau tumoral são importantes fatores de prognóstico para

recorrência, progressão e sobrevida, além de serem determinantes para a escolha

do tratamento adequado (COLOMBEL et al, 2008). O CUNMI pode ser dividido em

três grupos com relação à recorrência e progressão tumoral. O primeiro representa

20 a 30% dos casos e apresenta-se como um carcinoma de células transicionais

(CCT) relativamente benigno com taxa de recorrência baixa e sem progressão. Já o

segundo e maior grupo representa os casos que desenvolvem recorrência tumoral

frequente, mas progressão ocasional. O terceiro é a menor parcela dos CUNMI e

apresenta significativa agressividade tumoral, pois aproximadamente 45% dos

pacientes progridem para tumores músculo-invasivos apesar do tratamento

adequado (VAN DER HEIJDEN e ALFRED WITJES, 2009).

A amplitude na variação das taxas de recorrência e progressão encontradas

na literatura deve-se à heterogeneidade do CUNMI. Esse tumor pode apresentar-se

com altas taxas de recorrência após RTU, variando de 15% a 61% no primeiro ano e

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17

31% a 78% em cinco anos, e taxas de progressão que podem chegar a 45% (VAN

DER HEIJDEN e ALFRED WITJES, 2009; SYLVESTER et al, 2006). Cada vez mais

a estratificação em grupos de risco de recorrência e de progressão tem sido

determinante na escolha da terapêutica adequada do CUNMI (COLOMBEL et al,

2008).

O principal objetivo do tratamento de pacientes com CUNMI é prevenir o alto

número de recorrências e a progressão pela identificação dos fatores de risco, de

modo a individualizar o tratamento e o seguimento das lesões (VAN DER HEIJDEN

e ALFRED WITJES, 2009). A European Organization for Research and Treatment of

Cancer (EORTEC), em decorrência do estudo desenvolvido por Sylvester et al

(2006), publicou critérios de risco relacionados à recorrência e progressão em

pacientes com CUNMI após RTU (SYLVESTER et al, 2006). Tais critérios formam

um sistema de escore de risco, conhecido como tabela de risco da EORTEC, que se

baseia em seis diferentes características da doença: grau histológico, número de

tumores, tamanho do tumor, taxa de recorrência prévia, categoria T (TNM) e

presença de carcinoma in situ (CIS) (SYLVESTER et al, 2006; SYLVESTER, 2011).

A European Association of Urology (EAU) adotou nas suas diretrizes a

tabela de risco da EORTEC dividindo os CUNMI em baixo, intermediário e alto risco

de recorrência e progressão, com nítida implicação na terapêutica e seguimento

destes doentes (BABJUK et al, 2013).

Poucos artigos estão disponíveis na literatura referenciando a validação

externa das tabelas de risco da EORTEC e, consequentemente do estudo de

Sylvester et al (2006) (ATHER e ZAIDI, 2009; SEO et al, 2009; SYLVESTER, 2011;

FERNANDEZ-GOMEZ et al, 2011; HERNÁNDEZ et al, 2011; PILLAI et al, 2011;

ALTIERI et al, 2012; XU et al, 2012; SAKANO et al, 2013; XYLINAS, 2013;

BORKOWSKA et al, 2013; AJILI et al, 2013; DING et al, 2014;). Apesar de serem

largamente utilizadas na prática urológica diária, ainda carecem dados na América

do Sul, particularmente no Brasil, que as referendem nessa população. Sua

validação externa é necessária para determinar sua aplicabilidade na prática clínica

em diferentes populações pelo mundo (MALLET et al, 2010; SYLVESTER et al,

2011; FERNANDEZ-GOMEZ et al, 2011; PILLAI et al, 2011).

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2. OBJETIVO

2.1 OBJETIVO GERAL

Validar as tabelas de risco da EORTEC e sua aplicabilidade em portadores

de CUNMI na região sul do Brasil.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Determinar a probabilidade de recorrência e a média do TPR.

Determinar a probabilidade de progressão e a média do TPP.

Determinar o índice de concordância deste estudo e compará-lo ao estudo de

Sylvester et al (2006).

Determinar a acurácia das tabelas de risco da EORTEC quando aplicadas a

uma população do sul do Brasil.

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3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 EPIDEMIOLOGIA

O câncer de bexiga (CaB) é o tumor maligno mais comum do trato urinário,

(BABJUK et al, 2013; MURTA-NASCIMENTO, 2007). De acordo com as últimas

estimativas mundiais (INCA, 2014), realizadas em 2012, ocorreram 430 mil novos

casos e cerca de 165 mil óbitos no mundo naquele ano. As mais altas taxas de

incidência para esse tipo de câncer foram encontradas em países da Europa,

América do Norte e norte da África, enquanto que as menores, em países asiáticos

(Figura 1) (FERLAY et al, 2014).

A incidência é mais alta em homens do que em mulheres (INCA, 2014). Na

União Europeia, a taxa de incidência é 27 por 100.000 homens e seis por 100.000

mulheres. A incidência varia entre diferentes regiões e países, tendo sido relatada

na Espanha a mais alta incidência do continente europeu, enquanto que a menor

encontra-se na Finlândia. Na Europa, o CaB é a 8a causa de mortalidade câncer-

específica, embora sua incidência e mortalidade venham apresentando redução em

alguns relatos. Isso deve-se à diminuição do impacto dos agentes causadores,

principalmente o tabagismo, e do melhor manejo terapêutico (BABJUK et al, 2013).

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FIGURA 1 - INCIDÊNCIA MUNDIAL DO CÂNCER DE BEXIGA EM MULHERES E HOMENS.

FONTE: Ferlay et al (2013)

NOTA: Incidência por 100 mil habitantes.

No Brasil, em 2014, estima-se que tenham ocorrido 6.750 novos casos de

CaB em homens e 2.190 em mulheres (INCA, 2014). Esses valores correspondem a

um risco estimado de 6,89 casos novos a cada 100 mil homens e 2,15 a cada 100

mil mulheres. Sem considerar os tumores de pele não-melanoma, o CaB em homens

é o sexto mais frequente na região Sudeste (10,00/ 100 mil) e o sétimo na região

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Centro-Oeste (5,86/ 100 mil). Na região Sul (9,10/ 100 mil), é o oitavo. Nas regiões

Norte (1,98/ 100 mil) e Nordeste (2,82/ 100 mil), é o décimo e o 11°,

respectivamente. Para as mulheres, é 13° mais frequente nas regiões Centro-Oeste

(2,72/ 100 mil) e Norte (0,70/ 100 mil). Nas regiões Sul (3,29/ 100 mil), Sudeste

(2,55/ 100 mil) e Nordeste (1,24/ 100 mil), é o 14o (INCA 2014). Em Santa Catarina,

em termos de frequência, o câncer da bexiga em homens e mulheres ocupa o 4o e o

7o lugares, respectivamente (INCA, 2014).

3.2 FATORES DE RISCO

Os dois fatores de risco mais bem estabelecidos para o CaB são o

tabagismo e a exposição ocupacional à carcinógenos uroteliais (MCCAHY, HARRIS

e NEAL, 1997; ZEEGERS et al, 2000). O tabagismo é o fator de risco mais

determinante, sendo responsável por, aproximadamente, 66% dos casos novos em

homens e 30% em mulheres nas populações mais industrializadas (MCCAHY,

HARRIS e NEAL, 1997; INCA, 2014). O tabagista apresenta duas a quatro vezes

risco maior de desenvolver CaB que os não-tabagistas, e o risco aumenta

proporcionalmente com a intensidade e duração do hábito de fumar (KIRKALI et al,

2005). Após cessar o tabagismo, o risco diminui 30% nos primeiros quatro anos e

60% após 25 anos, porém nunca retorna ao nível dos indivíduos que não fumam.

Grande parte do risco associado ao fumo se dá em razão da presença de aminas

aromáticas na fumaça do cigarro (BRENNAN et al, 2000).

A exposição ocupacional à carcinógenos uroteliais é o segundo fator de risco

mais importante e está relacionado com cinco a 20% dos casos de CaB (VINEIS e

SIMONATO, 1991; KOGEVINAS et al, 2003). Indivíduos que apresentam exposição

a aminas aromáticas (benzeno, por exemplo) possuem um risco maior para o

desenvolvimento dessa neoplasia. Ocupações como pintor, cabeleireiro, barbeiro,

trabalhador de refinaria de petróleo e fábrica de tintas também apresentam um

aumento no risco de desenvolver CaB em função da exposição a uma variedade de

produtos químicos, incluindo hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, formaldeídos e

solventes (SCHULTE et al, 1987; POPP et al, 1992; BOFFETTA, JOURENKOVA e

GUSTAVSSON, 1997; GOLKA et al, 2004; INCA, 2014).

Outros fatores de risco envolvidos, porém em menor frequência, são: história

familiar, infecção crônica do trato urinário, uso de ciclofosfamida, uso abusivo de

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fenacetina, exposição à radiação, ingestão deficiente de legumes, frutas e vitaminas

(KANTOR et al, 1984; TRAVIS et al, 1995; KALDOR et al, 1995; STEINMAUS,

NUNEZ e SMITH, 2000).

3.3 TIPO HISTOLÓGICO

O tipo histológico mais prevalente é o carcinoma de células uroteliais,

também chamado de carcinoma de células transicionais (CCT). O CCT representa

mais de 90% dos casos de CaB (FLESHNER et al, 1996), enquanto o carcinoma de

células escamosas e o adenocarcinoma perfazem 5% e 1%, respectivamente

(KANTOR et al, 1988; LYNCH e COHEN, 1995).

Embora o CCT seja mais frequente, essa proporção varia entre os países.

Na América do Norte, Europa e Austrália, a incidência de CCT chega a 99% dos

casos de CaB. Já em países do Sudeste da Ásia, a proporção fica em torno de 80%

de CCT. De forma geral, sua incidência é mais alta em homens do que em mulheres.

Entretanto, em países da África, essa proporção diminui substancialmente,

chegando a 50% de todos os casos. Isso se dá em razão da infecção pelo

Schistosoma hematobium nos países africanos, este relacionado com o carcinoma

de células escamosas (INCA 2014).

3.4 CLASSIFICAÇÃO TNM E ESTADIAMENTO CLÍNICO

O sistema de classificação de tumores aprovado e atualizado em 2009 pela

Union International Contre le Cancer (UICC) é denominado TNM (Tumor, Node,

Metastasis) (Quadro 1) (SOBIN et al, 2009). Tumores papilares confinados à mucosa

são classificados como estádio Ta, enquanto aqueles que invadem lâmina própria

são estágio T1 (Figura 2). O tumor plano e de alto grau histológico também

confinado à mucosa é denominado carcinoma in situ (CIS) e classificado como

estádio Tis.

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QUADRO 1 - CLASSIFICAÇÃO TNM 2009 PARA CÂNCER DE BEXIGA FONTE: SOBIN et al (2009)

T - TUMOR PRIMÁRIO Tx Tumor primário não pode ser avaliado T0 Não há evidência de tumor primário Ta Carcinoma papilífero não invasivo Tis Carcinoma in situ: “tumor plano” T1 Tumor que invade o tecido conjuntivo subepitelial T2 Tumor que invade o músculo T2a. Tumor que invade a musculatura superficial (metade interna) T2b. Tumor que invade a musculatura profunda (metade externa) T3 Tumor que invade o tecido peri-vesical T3a. Microscopicamente T3b. Macroscopicamente (massa extra-vesical) T4 Tumor que invade qualquer uma das seguintes estruturas: próstata, útero, vagina, parede pélvica ou parede abdominal T4a. Tumor invade próstata, útero ou vagina T4b. Tumor invade parede pélvica ou abdominal N - LINFONODOS REGIONAIS Nx Os linfonodos regionais não podem ser avaliados N0 Ausência de metástase em linfonodo regional N1 Metástase em um único linfonodo na pelve (hipogástrico, obturador, ilíaco externo ou pré-sacral) N2 Metástase em múltiplos linfonodos na pelve (hipogástrico, obturador, ilíaco externo ou pré-sacral) N3 Metástase em linfonodo da ilíaca comum M - METÁSTASES À DISTÂNCIA M0 Ausência de metástases à distância M1 Metástase à distância

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FIGURA 2 - CÂNCER DE BEXIGA - ESTADIAMENTO TUMORAL FONTE: SOBIN et al (2009).

3.4.1 Carcinoma Urotelial de Bexiga Não Músculo-Invasivo

Aproximadamente 75-80% dos CaB apresentam-se como CUNMI ao

diagnóstico (WHO, 2003). Destes, 70% correspondem ao estádio Ta, 20% o T1 e

10% o Tis (KIRKALI et al, 2005). Entretanto, CUNMI define um grupo

significativamente heterogêneo e se recomenda mencionar o estádio e o grau

histológico devido ao comportamento biológico diverso entre essas lesões. Enquanto

o CIS e o T1 de alto grau apresentam altas taxas de recorrência, progressão e

mortalidade; o Ta e T1 de baixo grau comumente têm modesta taxa de recorrência e

baixo risco de progressão (BABJUK et al, 2013).

Essa heterogeneidade dos CUNMI dificulta a avaliação da eficácia e da

padronização das diferentes modalidades terapêuticas. Devido a isso, a

estratificação de risco é imperativa para se classificar os pacientes de acordo com

categorias de risco de recorrência e progressão tumoral, a fim de determinar o

tratamento mais adequado para cada categoria de risco (COLOMBEL et al, 2008).

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3.4.2 Carcinoma de Bexiga Músculo-Invasivo

O CaB invasivo são aqueles tumores que se estendem histologicamente

além da lâmina própria e apresentam invasão a partir da camada muscular própria

ou detrusora da bexiga, compreendendo os estádios T2-4 (Figura 2) (BABJUK et al,

2013).

3.5 GRADUAÇÃO HISTOLÓGICA DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE

(OMS)/SOCIEDADE INTERNACIONAL DE PATOLOGIA UROLÓGICA

(International Society of Uro-Pathology-ISUP)

A classificação da OMS/ISUP foi publicada em 2004 (Quadro 2) e definiu a

estratificação das lesões papilares em neoplasias uroteliais de baixo potencial de

malignidade (NUBPM), carcinoma de células transicionais (CCT) de baixo grau e de

alto grau (SAUTER et al, 2004). A classificação NUBPM é reservada somente para

tumores estágio Ta (BABJUK et al, 2013).

QUADRO 2 - CLASSIFICAÇÃO DA GRADUAÇÃO HISTOLOGICA DO CUNMI FONTE: Sauter et al (2004)

GRADUAÇÃO HISTOLÓGICA OMS 1973 Papiloma Urotelial Grau 1: bem diferenciado Grau 2: moderadamente diferenciado Grau 3: pouco diferenciado GRADUAÇÃO HISTOLÓGICA OMS 2004 Lesões planas Hiperplasia (lesões planas sem atipia ou aspecto papilar) Atipia reativa (lesão plana com atipia) Atipia de significado incerto Displasia urotelial CIS urotelial é sempre alto grau Lesões papilares Papiloma urotelial (lesões completamente benignas) Neoplasia urotelial papilar de baixo potencial de malignidade (NUBPM) Carcinoma urotelial papilar de baixo grau Carcinoma urotelial papilar de alto grau

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3.6 RECORRÊNCIA E PROGRESSÃO TUMORAL

Mesmo com o tratamento adequado, até 70% dos pacientes portadores de

Ta e T1 irão apresentar recorrência dentro de um ano após a RTU como tratamento

exclusivo (ALLARD et al, 1998; VAN DER HEIJDEN e ALFRED WITJES, 2009). A

recorrência tumoral pode ser atribuída à combinação de tumores não identificados

durante a RTU e/ou cistoscopia no seguimento, RTU incompleta, reimplantação de

células tumorais após ressecção e ocorrência de novo de tumores de alto risco (VAN

DER HEIJDEN e ALFRED WITJES, 2009). Menos frequente, porém com pior

desfecho, a progressão do tumor para uma lesão músculo-invasiva e/ou metastática

pode chegar a 40% em cinco anos (KURTH et al, 1995). Fatores clínicos,

patológicos e modalidades terapêuticas podem influenciar as taxas de recorrência e

progressão (VAN DER HEIJDEN e ALFRED WITJES, 2009; SYLVESTER et al,

2006).

A progressão histológica é um processo linear, com a metástase sendo um

evento tardio. A sua causa está ligada à heterogeneidade intra-tumoral, que consiste

em achados fenotípicos variados, tais como: expressão gênica, metabolismo,

motilidade, atividade proliferativa, e potenciais metastático, angiogênico e

imunogênico dentro de um mesmo tipo de tumor (DIAZ-CANO, 2012).

Garcia-Rodriguez et al (2006) descreveram recorrência 1,8 vezes maior em

mulheres, em um período de seis meses. Além disso, as mulheres também tiveram

um risco relativo maior de terem tumores múltiplos em relação aos homens. Os

tumores recorrentes tiveram uma tendência a serem múltiplos e menores que três

centímetros.

Lee et al (2012) avaliaram os riscos de recorrência e progressão em

portadores de CUNMI. Os autores dividiram os pacientes em T1a (invasão

superficial da lâmina própria) e T1b/c (invasão da camada muscular da

mucosa/invasão além da camada muscular da mucosa, mas sem invadir a

musculatura própria). Identificaram que a recorrência entre os grupos T1a e T1b/c

não era significante (p=0,338), no entanto, a progressão foi estatisticamente maior

nos pacientes com estágio pT1b/c (p=0,003).

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3.7 FATORES PROGNÓSTICOS DE RECORRÊNCIA E PROGRESSÃO

Fatores clínicos e patológicos para predizer recorrência e progressão têm

sido estudados exaustivamente nas últimas décadas (SYLVESTER et al, 2006). Os

fatores prognósticos para recorrência tumoral de maior relevância são a

multiplicidade (PARMAR et al, 1989; MILLÁN-RODRÍGUEZ et al, 2000; SHINKA et

al, 1990; KIEMENEY et al, 1994), o estádio patológico (SHINKA et al, 1990;

KIEMENEY et al, 1994), o grau histológico (SHINKA et al, 1990; KIEMENEY et al,

1994; KURTH et al, 1995) e o tamanho tumoral (MILLÁN-RODRÍGUEZ et al, 2000;

SHINKA et al, 1990; KIEMENEY et al, 1994; KURTH et al, 1995).

Entretanto, o principal fator prognóstico de recorrência é o resultado da primeira

cistoscopia realizada três meses após a RTU (PARMAR et al, 1989; WALCZAK, BAR e

WALCZAK, 2013), ou seja, a taxa de recorrência precoce (SYLVESTER et al, 2006). Já

os fatores prognósticos de maior importância para progressão tumoral são a presença

de CIS, o alto grau e o estádio T1 (SYLVESTER, 2006).

A fim de predizer separadamente o risco de recorrência e progressão

tumoral a curto e a longo prazo, a EORTEC desenvolveu um sistema de escore e

classificação por tabelas de risco (SYLVESTER et al, 2006). Sylvester et al (2006)

calculou a probabilidade de recorrência e progressão usando um banco de dados de

2596 pacientes que integravam sete ensaios clínicos da EORTEC.

Os critérios de inclusão foram CUNMI estágios Ta e T1 tratados por RTU.

Os critérios de exclusão foram a presença de CIS e tratamento adjuvante com a

vacina BCG (bacilo de Calmette-Gerin) intravesical em esquema de manutenção.

Foram avaliados o tempo para primeira recorrência e tempo para progressão para

doença músculo-invasiva. Finalmente, um sistema de escore (Quadros 3 e 4) foi

derivado de seis fatores clínicos e patológicos:

• número de tumores,

• diâmetro tumoral,

• taxa de recorrência prévia,

• estádio T,

• presença de CIS concomitante

• grau tumoral.

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FATOR RECORRENCIA PROGRESSÃO

Número de tumores Único

0 0

2a7 3 3 >ou= 8 6 3

Diâmetro tumoral < 3,0 cm

0 0

>ou= 3,0 cm 3 3

Recorrência prévia Primário 0 0 <ou= 1 recorrência/ano 2 2 > 1 recorrência/ano 4 2

Categoria pTa

0 0

PT1 1 4

CIS concomitante Não

0 0

Sim 1 6

Grau histológico (OMS 1973) G1 0 0 02 1 0 03 2 5

Escore total 0-17 0-23

QUADRO 3 - PREDITORES DE RECORRÊNCIA E PROGRESSÃO FONTE: Babjuk et al (2008)

ESCORE DE RECORRÊNCIA

PROBABILIDADE DE RECORRÊNCIA EM 1 ANO

PROBABILIDADE DE RECORRÊNCIA EM 5 ANOS

GRUPO DE RISCO RECORRENTE

% (95% 1C) % (95% 1C)

0 15 (10-19) 31 (24-37) Baixo risco

1-4 24 (21-26) 46 (42-49) Risco intermediário

5-9 38 (35-41) 62 (58-65) Risco intermediário

10-17 61 (55-67) 78 (73-84) Alto risco

ESCORE DE PROGRESSÃO

PROBABILIDADE DE PROGRESSÃO EM 1 ANO

PROBABILIDADE DE PROGRESSÃO EM 5 ANOS

GRUPO DE RISCO EM PROGRESSÃO

% (95% 1C) % (95% 1C)

0 0,2 (0-0,7) 0,8 - (0-1,7) Baixo risco

2-6 1 (0,4-1,6) 6 (5-8) Risco intermediário

7-13 5 (4-7) 17 (14-20) Alto risco

14-23 17 (10-24) 45 (35-55) Alto risco

QUADRO 4 - SISTEMA DE ESCORE PARA CÁLCULO DO RISCO DE RECORRÊNCIA E PROGRESSÃO DO CUNMI

FONTE: Babjuk et al (2008)

Assim, fundamentada nos fatores prognósticos e principalmente nas tabelas

de risco da EORTEC, a EAU recomenda em suas diretrizes a estratificação dos

pacientes em três grupos de risco (Quadro 5) que facilita e norteia as

recomendações terapêuticas (BABJUK et al, 2014).

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ESTRATIFICAÇÃO POR GRUPOS DE RISCO CARACTERÍSTICAS

Tumores baixo-risco Primário, solitário, Ta, baixo grau (G1), < 3 cm, sem CIS

Tumores risco-intermediário Todos os tumores não estratificados nas outras 2 categorias

Tumores alto-risco

Qualquer um dos seguintes:

T1

Alto grau (G3)

CIS

Múltiplo e recorrente e grande (> 3 cm) Ta G1 G2 (devem estar presente todas as características para esses tumores)

QUADRO 5 - ESTRATIFICAÇÃO DO CUNMI EM GRUPOS DE RISCO PARA RECORRÊNCIA E PROGRESSÃO

FONTE: Babjuk et al (2008)

O escore de risco da EORTEC pode ser utilizado por urologistas para

determinar a estratégia terapêutica mais adequada baseada no risco de recorrência

e progressão tumoral (SYLVESTER et al, 2006; COLOMBEL et al, 2008). Isso

permite o tratamento mais individualizado para o paciente portador de CUNMI

(COLOMBEL et al, 2008). A calculadora de risco da EORTEC está disponível em:

http://www.eortc.be/tools/bladdercalculator.

Limitações ao estudo de Sylvester et al (2006), que originaram as tabelas de

risco da EORTEC, devem ser salientadas. Os escores de risco foram

fundamentados em pacientes, na grande maioria, tratados com esquema antigo de

quimioterapia intra-vesical. Além disso, o uso de instilação imediata de

quimioterápico, regime de indução e manutenção com BCG intra-vesical e segunda

RTU (re-RTU) não foram considerados no desenvolvimento dessas tabelas de risco.

A melhoria na administração de quimioterápicos e o aumento no uso de BCG podem

reduzir o poder de predição dessas tabelas. Além disso, poucos casos de CIS foram

incluídos nesses sete ensaios clínicos, o que torna as tabelas de risco da EORTEC

com baixa acurácia para predizer recorrência e progressão nesses pacientes

(COLOMBEL et al, 2008).

Ademais, ensaios clínicos não são amostras representativas de todos os

pacientes. Mudanças ocorrem ao longo do tempo em relação a diagnóstico,

sistemas de estadiamento e de graduação, recomendações de tratamento; aspectos

que podem afetar os resultados terapêuticos e prognósticos (SYLVESTER et al,

2006). Apesar da EAU (BABJUK et al, 2013) ter adotado em suas diretrizes para

CUNMI as tabelas de risco da EORTEC, validações externas são necessárias para

determinar a aplicabilidade dessas tabelas na prática clínica e em diferentes

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populações pelo mundo (SYLVESTER, 2011; PILLAI et al, 2011; FERNANDEZ-

GOMEZ et al, 2011).

Fernandez-Gomez et al (2009) desenvolveram um escore baseado em

pacientes tratados com BCG intra-vesical para predizer recorrência e progressão a

curto e longo prazo. Conhecidas por tabelas de risco de CUETO (Club Urológico

Español de Tratamiento Oncológico), apresentam risco de recorrência mais baixo do

que as tabelas da EORTEC e risco de progressão mais baixo somente para

pacientes de alto risco. Esse risco menor encontrado nas tabelas de CUETO é

atribuído ao uso de BCG, que é a terapia intra-vesical com maior eficácia (BABJUK

et al, 2013). A calculadora de risco de CUETO está disponível em

http://www.aeu.es/Cueto.html.

Outros fatores de prognóstico têm sido descritos para populações

específicas de pacientes com CUNMI. Palou et al (2012) identificou o sexo feminino

e a presença de CIS na uretra prostática como importantes fatores prognósticos em

pacientes com tumores T1 alto grau tratados com RTU e BCG intra-vesical. Este

mesmo autor, em outro estudo, descreveu a recorrência nos primeiros três meses

após a RTU como sendo o mais importante preditor de progressão em tumores T1

G2 (PALOU et al, 2009).

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31

4. CASUÍSTICA E MÉTODOS

4.1 CASUÍSTICA

4.1.1 Normas e Local

Esta pesquisa foi realizada no Programa de Pós-graduação em Princípios da

Cirurgia do Instituto de Pesquisas Médicas (IPEM) da Faculdade Evangélica do

Paraná (FEPAR) e no Instituto Catarinense de Urologia (INCAU), Itajaí/SC.

O projeto foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa (CEP), da

Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), conforme parecer consubstanciado

número 609.475 de 04/04/2014 (Anexo 1), estando de acordo com a Resolução

466/2012 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde (CNS/MS).

Foram utilizadas as normas para apresentação de documentos científicos e

de referências bibliográficas da Universidade Federal do Paraná (UFPR/2007) e da

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (NBR 6023:2002, 6028:2003,

14724:2011, 6024:2012 e 6027:2012).

4.1.2 Casuística

Foi desenvolvido um arquivo de base de dados de forma prospectiva e

consecutiva com 205 pacientes portadores de CUNMI submetidos a RTU de bexiga

no intervalo de janeiro de 2003 a outubro de 2010. O período de inclusão dos

pacientes no estudo foi de oito anos. Todos os pacientes foram atendidos no INCAU

em regime ambulatorial, encaminhados por outros serviços ou por procura

espontânea e o ingresso foi tanto de casos novos como de recorrências.

4.1.3 Critérios de Inclusão e Exclusão

Foram incluídos aqueles pacientes que apresentavam CUNMI estágio

patológico Ta ou T1, conforme classificação TNM da UICC (Quadro 1) (SOBIN et al,

2009), com seguimento clínico na instituição e que aceitaram participar do estudo e

assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Foram excluídos aqueles pacientes que foram submetidos à quimioterapia

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e/ou radioterapia para outra neoplasia no período do estudo; que não realizaram

seguimento clínico completo, ou seja, com mais de uma falta às consultas médicas

e/ou não realizaram os exames complementares quando indicados, bem como

aqueles cujos dados estavam incompletos no prontuário e/ou se recusaram a

participar do estudo.

4.2 MÉTODOS

4.1.1 Coleta de Dados

As informações foram obtidas durante as consultas médicas e os

procedimentos cirúrgicos e foram arquivadas diretamente nos prontuários conforme

protocolo de dados desenvolvido pelo pesquisador e utilizado no INCAU (Apêndice

1). A coleta dos dados foi realizada por dois pesquisadores e a análise histológica foi

feita por dois patologistas com experiência em patologia do trato urinário, afim de

minimizar a variabilidade de interpretação entre observadores.

O seguimento clínico dos pacientes foi realizado através de consulta

urológica, uretrocistoscopia, citologia urinária e exames de imagem. Sua

periodicidade foi a cada três meses nos primeiros dois anos, a cada seis meses nos

três anos subsequentes e anualmente até completar o estudo e/ou atingir algum dos

desfechos. Quando identificada uma recorrência, a RTU e o exame histopatológico

eram realizados. A análise patológica e citologia urinária foram feitas no Laboratório

de Patologia PHD, Itajaí/SC. Os exames de imagem realizados foram

Ultrassonografia do aparelho urinário (US) e Tomografia Computadorizada do

aparelho urinário (TC) com contraste endovenoso quando função renal satisfatória

(creatinina sérica inferior a 1,5 mg/dL). A TC foi realizada quando havia alta

suspeição de tumor em trato urinário alto (rim e ureter) e/ou tumores T1 de alto grau.

A recorrência foi definida como o reaparecimento do tumor vesical após a

sua remissão prévia tanto no sítio primário quanto em outra localização. Todos

aqueles pacientes que apresentaram nova lesão após tratamento do tumor primário

foram definidos como tendo apresentado recorrência.

A progressão foi definida como a evolução de um tumor não-músculo

invasivo (Ta e T1) para uma lesão com invasão da camada muscular própria (T2) ou

estruturas adjacentes (T3 e T4), conforme classificação TNM da UICC (Quadro 1)

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33

(SOBIN et al, 2009).

O uso de terapia intra-vesical foi verificado no momento da inclusão no

estudo e durante o seguimento dos pacientes. Quanto à terapia, os pacientes foram

subdivididos em: nenhuma terapia intra-vesical, quimioterapia intra-vesical com

Mitomicina C, imunoterapia intra-vesical com BCG e terapia intra-vesical combinada

com Mitomicina C e BCG. A administração da Mitomicina C ocorreu no período pós-

operatório imediato até 12h após a RTU, mantendo-se a droga em contato com a

mucosa vesical por até duas horas. Já a BCG foi administrada em esquemas de

indução (uma aplicação semanal por seis semanas após 2 a 4 semanas da RTU) e

de manutenção (uma série de ciclos de três semanas repetidos aos 3, 6, 12, 18, 24,

30 e 36 meses após o ciclo de indução conforme o estudo da Southwest Oncology

Group [SWOG]) (LAMM et al, 2000).

O procedimento cirúrgico denomina-se ressecção trans-uretral endoscópica

de bexiga (RTU) para tratamento e estadiamento do tumor. Para ressecção do

tumor, utilizou-se ressectoscópio da marca Storz® (Karl Storz-Endoskope,

Tuttlingen, Alemanha) baínha 26 French com irrigação contínua.

FIGURA 3: MATERIAL CIRÚRGICO UTILIZADO PARA RESSECÇÃO ENDOSCÓPICA DOS

TUMORES VESICAIS. FONTE: O autor

A técnica de ressecção foi realizada através da via transuretral,

primeiramente com coleta de material para citologia urinária, e em seguida inventário

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da mucosa uretral e vesical, identificação e caracterização das lesões e, finalmente,

ressecção dos tumores. Tumores pequenos, menores que um centímetro, foram

ressecados em bloco, contendo a neoplasia e o detrusor adjacente. Já os tumores

maiores que um centímetro foram ressecados de forma sistemática: porção exofítica,

base incluindo detrusor e bordas da lesão para análise histopatológica em separado

e identificação mais precisa da invasão muscular e neoplasia residual (Figura 4)

(RICHTERSTETTER, 2012). A retirada das lesões foi efetuada através do evacuador

de Ellik e hemostasia do leito de ressecção com cauterização monopolar.

FIGURA 4 - RESSECÇÃO SISTEMÁTICA EM DOIS TEMPOS DOS TUMORES VESICAIS. FONTE: WIESNER, JÄGER e THÜROFF (2010) NOTA: Ressecção do tumor no primeiro tempo e da base incluindo musculatura própria no segundo

tempo.

4.1.2 Parâmetros analisados

Os parâmetros considerados foram os seis analisados no estudo da

EORTEC (SYLVESTER et al, 2006):

• grau histológico,

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• estadiamento patológico T,

• tamanho do tumor,

• número de tumores,

• taxa de recorrência prévia,

• presença de carcinoma in situ (CIS).

4.2.2.1 Grau histológico

O grau histológico foi determinado através de análise histopatológica das

peças cirúrgica, conforme a classificação da OMS/ISUP de 2004 (Quadro 2)

(SAUTER et al, 2004), e categorizado neste estudo como CCT de baixo grau ou de

alto grau (Figuras 5 e 6).

FIGURA 5 – FOTOMICROGRAFIA DE CARCINOMA DE CÉLULAS TRANSICIONAIS DE BAIXO

GRAU. FONTE: Dr. Daniel Ogata (2015) NOTA: Evidencia-se neoplasia papilífera com discreto polimorfismo nuclear (HE 200x)

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FIGURA 6 – FOTOMICROGRAFIA DE CARCINOMA DE CÉLULAS TRANSICIONAIS DE ALTO

GRAU FONTE: Dr. Daniel Ogata (2015) NOTA: Evidencia-se marcante despolarização, intenso pleomorfismo nuclear e figuras mitóticas

facilmente identificadas características do carcinoma urotelial de alto grau (HE 200x)

4.2.2.2 Estadiamento patológico T

O estádio patológico T (pT) foi determinado através de análise

histopatológica das peças cirúrgicas conforme a classificação TNM da UICC (Quadro

1) (SOBIN et al, 2009). O estádio Ta foi considerado o tumor papilar confinado à

mucosa, enquanto que o estágio T1 foi o tumor papilar que invade a lâmina própria

(Figura 7). O estádio Tis (carcinoma in situ) também foi catalogado e definido como o

tumor plano de alto grau histológico confinado à mucosa.

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FIGURA 7 - ESTADIAMENTO PATOLÓGICO TUMORAL DO CÂNCER DE BEXIGA FONTE: Urology Care Foundation - disponível no site: http://www.urologyhealth.org/urology

4.2.2.3 Tamanho do tumor

O tamanho do tumor foi determinado através de exame de imagem, US e/ou

TC, levando-se em consideração a medida do seu maior eixo, e subdividido entre

lesões menores que três centímetros e igual ou maiores a três centímetros (Figuras

8, 9, 10 e 11).

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FIGURA 8 – TC MOSTRANDO TUMOR DE BEXIGA MENOR QUE TRÊS CENTÍMETROS EM PAREDE LATERAL DIREITA

FONTE : O autor

FIGURA 9 – US MOSTRANDO TUMOR DE BEXIGA MENOR QUE TRÊS CENTÍMETROS EM

PAREDE LATERAL DIREITA. FONTE: O autor

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FIGURA 10 – TC MOSTRANDO TUMOR DE BEXIGA MAIOR QUE TRÊS CENTÍMETROS EM PAREDE LATERAL ESQUERDA

FONTE: O autor

FIGURA 11 – US MOSTRANDO TUMOR DE BEXIGA MAIOR QUE TRÊS CENTÍMETROS EM

PAREDE POSTERIOR FONTE: O autor

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4.2.2.4 Número de tumores

O número de tumores foi determinado por visualização direta durante a RTU

e foi subdividido em três categorias: tumor único, duas a cinco lesões ou mais que

cinco lesões (Figuras 12 e 13).

FIGURA 12 – VISÃO ENDOSCÓPICA DE MÚLTIPLOS TUMORES VESICAIS. FONTE: O autor NOTA: Cistoscopia mostrando múltiplas (mais que cinco) lesões intra-vesicais de aspecto vegetante

características de CCT

FIGURA 13 – VISÃO ENDOSCÓPICA DE TUMOR VESICAL ÚNICO FONTE: O autor NOTA: Cistoscopia evidenciando lesão intra-vesical vegetante única no momento da ressecção

endoscópica

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4.2.2.5 Taxa de recorrência prévia

A taxa de recorrência prévia foi subdividida em três categorias: primário

(pacientes que não apresentaram nenhuma recorrência até a data da inclusão no

estudo), até uma recorrência por ano e mais que uma recorrência por ano.

4.2.2.6 Presença de carcinoma in situ

A presença de carcinoma in situ, definido pelo estadiamento Tis, foi

determinada através da avaliação histopatológica e considerado como tumor plano

de alto grau histológico confinado à mucosa (Figura 14), conforme a graduação da

OMS/ISUP de 2004 (Quadro 2) (SAUTER et al, 2004).

FIGURA 14 – FOTOMICROGRAFIA DE CARCINOMA DE CÉLULAS TRANSICIONAIS in situ FONTE: Dr. Daniel Ogata (2015) NOTA: Evidencia-se neoplasia urotelial plana com importante despolarização (a) (HE 100x) e atipía

nuclear (b) (HE 400x)

4.2.3 Escores de risco e estratificação em grupos de risco

Após avaliação dos seis preditores de recorrência e progressão, foram

calculados para cada paciente seus respectivos escores de risco e suas

probabilidades de recorrência e progressão em um e cinco anos, de acordo com as

diretrizes da EAU (2014) (Quadros 3 e 4). Essas probabilidades encontradas foram

comparadas às publicadas por Sylvester et al (2006), a fim de verificar a

confiabilidade das tabelas de risco da EORTEC numa população de Santa Catarina.

a b

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Os pacientes foram, ainda, estratificados em três grupos de risco (Quadro 5)

para recorrência e progressão de acordo com a recomendação das diretrizes da

EAU (BABJUK et al, 2008).

4.2.4 Tempo para primeira recorrência e tempo para progressão

O tempo para a primeira recorrência (TPR) e o tempo para a progressão

(TPP), contados a partir da RTU de entrada no estudo, foram estimados para fins de

comparação ao estudo de Sylvester et al (2006). Os pacientes foram divididos em

quatro grupos de risco de acordo com as tabelas da EORTEC e verificou-se o

número de pacientes em risco para TPR e TPP nos períodos de um e cinco anos.

O TPR, ou intervalo livre de doença, foi considerado o tempo desde a data

de entrada no estudo até a primeira recorrência tumoral. O TPP foi considerado o

tempo desde a data de entrada no estudo até o primeiro diagnóstico de estádio pT2-

T4.

4.2.5 Desfechos Avaliados

Para análise dos desfechos, foram considerados cinco eventos ao final do

estudo:

1. Livre de doença: definida como ausência de CaB

2. Óbito: definido como óbito por causas diversas que não o CaB

3. Óbito pela doença

4. Abandono do tratamento: definido como desistência do paciente ao

tratamento proposto durante o seguimento e/ou perda de seguimento

5. Progressão da doença: definida como diagnóstico de estágio pT2-4

4.2.6 Análise Estatística

A análise estatística dos dados foi realizada por meio da utilização do

programa estatístico SPSS versão 17. Para a validação estatística, utilizou-se a

determinação da taxa de recorrência e da taxa de progressão em um e cinco anos.

O TPR e TPP foram estimados pelo método de Kaplan-Meier. O método de

validação utilizado foi a discriminação através do índice de concordância (índice C)

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descrito por Harrel (1985).

Este índice representa a probabilidade de concordância entre o valor predito

(EORTEC) e o observado. Quando um índice C corresponde a 0,5 não há

concordância, ou seja, representa que a distribuição ocorreu ao acaso e, quando

corresponde a 1, significa perfeita concordância ou discriminação (HARRELL JR,

LEE e MARK, 1996). Assumiu-se um índice C adequado quando igual ou maior que

o encontrado pelo estudo de Sylvester et al (2006). A confiabilidade ou acurácia do

estudo foi verificada através da calibragem entre as probabilidades de recorrência e

progressão em um e cinco anos obtidas neste estudo e das relatadas por Sylvester

et al (2006).

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5 RESULTADOS

5.1 CARACTERÍSTICAS DOS PACIENTES

As características dos pacientes desse estudo são apresentadas na Tabela 1.

TABELA 1 - CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO EM ESTUDO.

Características Grupo do estudo n (%)

Número total de pacientes 205

Idade (anos) < 60 55 (26,8) 61-70 86 (42) 71-80 55 (26,8) > 80 9 (4,4) desconhecida 0

Gênero Masculino 144 (70,2) Feminino 61 (29,8) desconhecido

Estágio T pTa 91 (44,4) pT1 114 (55,6)

Número de tumor Único 97 (47,3) 2 a 5 64 (31,2) > 5 44 (21,5) desconhecido -

Tamanho do tumor < 3cm 103 (50,2) > 3cm 102 (49,8) desconhecido 0

Presença de CIS Sim 21 (10,2) Não 184 (89,8)

Recorrência Primário 137 (66,8) < 1/ano 35 (17,1) > 1/ano 33 (16,1)

Grau histológico G1/G2 95 (46,3) G3 110 (53,7)

Terapia Intra-vesical Nenhuma 90 (43,9) Quimioterapia 24 (11,7) BCG 46 (22,4) Quimioterapia + BCG 45 (22)

Seguimento (meses) Médio 63,6 Mínimo 6 Máximo 144

Recorrência Sim 117 (57,1) Não 88 (42,9)

Progressão

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Sim 42 (20,5) Não 163 (79,5)

Desfecho Livre da doença 127 (62) Progressão 25 (12,2) Óbito pela doença 21 (10,2) Óbito 15 (7,3) Abandono 17 (8,3)

Sobrevida Vivos 152 (74,2) Mortos 36 (17,5) Desconhecido 17 (8,3)

FONTE: O autor (2014)

5.1.1 Idade e Sexo

A idade variou de 42 a 88 anos, com média de 66,61 ± 8,9 anos e mediana

de 67 anos. A estratificação por grupos etários é mostrada no quadro 6. Cento e

quarenta e quatro pacientes (70,2%) eram do sexo masculino e 61 (29,8%),

feminino.

QUADRO 6 - ESTRATIFICAÇÃO POR IDADE DA POPULAÇÃO ESTUDADA. FONTE: O autor (2014) NOTA: Idade em anos a partir da data de entrada no estudo e estratificada em décadas de vida.

5.1.2 Características dos Tumores

O estadiamento patológico Ta foi observado em 91 (44,4%) pacientes,

enquanto o T1 em 114 (55,6%) pacientes. Noventa e sete (47,3%) pacientes

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apresentaram-se com tumor único, 64 (31,2%) pacientes com duas a cinco lesões

tumorais e 44 (21,5%) pacientes com mais que cinco tumores. Com relação ao

tamanho tumoral, 103 (50,2%) pacientes tinham tumor menor que três centímetros e

102 (49,8%) pacientes maior ou igual a três centímetros. A presença de CIS foi

verificada em 21 (10,2%) pacientes, enquanto 184 (89,8%) pacientes não o

apresentaram. Já o grau histológico G1 e G2 esteve presente em 95 (46,3%)

pacientes e o G3 em 110 (53,7%).

5.1.3 Terapia Intra-Vesical

Noventa (43,9%) pacientes não receberam qualquer terapia intra-vesical

adjuvante, 24 (11,7%) receberam quimioterapia intravesical perioperatória com

Mitomicina C, 46 (22,4%) receberam imunoterapia intravesical adjuvante com BCG e

45 (22%) pacientes a combinação quimioterapia intra-vesical perioperatória com

Mitomicina C e imunoterapia intra-vesical adjuvante com BCG (Quadro 7).

QUADRO 7 - FREQUÊNCIA DA TERAPIA INTRA-VESICAL ADJUVANTE NA POPULAÇÃO

ESTUDADA. FONTE: O autor (2014)

5.2 RECORRÊNCIA E TEMPO PARA PRIMEIRA RECORRÊNCIA

Observou-se recorrência tumoral em 117 (57,1%) pacientes, e 88 (42,9%)

pacientes não apresentaram recorrência. Verificou-se que 137 (66,8%) pacientes

não haviam apresentado recorrência tumoral quando entraram no estudo,

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denominados assim tumor primário, e que 68 (33,2%) já haviam tido recorrência

prévia à inclusão. Destes, 35 (17,1%) pacientes tinham recorrência prévia há menos

de um ano e 33 (16,1%) há mais de um ano.

Nos 117 pacientes que presentaram recorrência, a média do TPR foi de 14,2

± 7,3 meses, com mínimo de três e máximo de 36 meses. A recorrência em um ano

foi identificada em 59 pacientes (28,8%) e, em cinco anos, em todos estes 117

pacientes.

Os gráficos 4 e 5 mostram o TPR em um e cinco anos, respectivamente,

estratificados pelos grupos de escore de risco da EORTEC e mostram o número de

paciente em risco a cada intervalo de três meses, quando TPR avaliado em um ano,

e a cada 12 meses quando em cinco anos.

Escore Número de pacientes em risco no início de cada intervalo

0 30 30 30 29 25 1 - 4 54 54 54 52 47 5 - 9 78 78 74 69 59

10 - 17 43 43 38 27 17

GRÁFICO 1 - TEMPO PARA PRIMEIRA RECORRÊNCIA EM 1 ANO PELO ESCORE DA EORTEC

NESTA SÉRIE. FONTE: O autor (2014) NOTA: Acompanha tabela indicando número de paciente em risco a cada intervalo de 3 meses.

1 ano

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Escore Número de pacientes em risco no início de cada intervalo

0 30 25 23 22 21 18 1 - 4 54 47 33 18 18 18 5 - 9 78 59 32 21 12 11

10 - 17 43 17 5 4 3 3

GRÁFICO 2 - TEMPO PARA PRIMEIRA RECORRÊNCIA EM 5 ANOS PELO ESCORE DA EORTEC NESTA SÉRIE.

FONTE: O autor (2014) NOTA: Acompanha tabela indicando número de paciente em risco a cada intervalo de 12 meses.

5.3 PROGRESSÃO E TEMPO PARA PROGRESSÃO

Quarenta e três (20,5%) pacientes apresentaram progressão tumoral e 162

(79,5%) não. A média do TPP foi de 26,9 ± 15,2 meses, com mínimo de seis e

máximo de 64 meses. A progressão em um ano foi identificada em sete pacientes

(3,4%) e, em cinco anos, em 36 (17,5%) pacientes.

Os gráficos 6 e 7 mostram o TPP em um e cinco anos, respectivamente,

estratificados pelos grupos de escore do EORTEC e mostram o número de paciente

em risco a cada intervalo de três meses quando TPP avaliado em um ano e a cada

12 meses quando em cinco anos.

5 anos

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Escore Número de pacientes em risco no início de cada intervalo 0 30 30 30 29 27 1 - 6 48 48 48 47 46 7 - 13 66 65 65 65 63 14 - 23 61 61 61 58 55

GRÁFICO 3 - TEMPO PARA PRIMEIRA PROGRESSÃO EM 1 ANOS PELO ESCORE DA EORTEC NESTA SÉRIE.

FONTE: O autor (2014) NOTA: Acompanha tabela indicando número de paciente em risco a cada intervalo de 3 meses.

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Tempo até a progressão (meses)

Escore Número de pacientes em risco no início de cada intervalo 0 30 27 26 25 23 20 1 - 6 48 46 46 43 36 33 7 - 13 66 63 57 53 41 34 14 - 23 61 55 44 31 21 15

GRÁFICO 4 - TEMPO PARA PRIMEIRA PROGRESSÃO EM 5 ANOS PELO ESCORE DA EORTEC NESTA SÉRIE.

FONTE: O autor (2014) NOTA: Acompanha tabela indicando número de paciente em risco a cada intervalo de 12 meses.

5.4 ÍNDICE DE CONCORDÂNCIA (índice C)

Em relação à recorrência tumoral, o resultado do índice C neste estudo foi

de 0,72 para um ano e 0,7 para cinco anos. Quanto à progressão, o índice C

encontrado foi de 0,86 para um ano e 0,78 para cinco anos.

5.5 DESFECHOS

A frequência dos cinco desfechos avaliados foi (Quadro 8):

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livre de doença em 127 (62%) pacientes

óbito em 15 (7,3%) pacientes

progressão em 25 (12,2%) pacientes

abandono do tratamento em 17 (8,3%) pacientes

óbito pela doença em 21 (10,2%) pacientes

QUADRO 8 - FREQUÊNCIA ENTRE OS DESFECHOS ESTUDADOS. FONTE: O autor (2014)

5.6 AVALIAÇÃO DA ACURÁCIA DOS ESCORES DE RISCO DA EORTEC

Para avaliação da acurácia, ou confiabilidade, do modelo do EORTEC, as

probabilidades de recorrência e progressão obtidas em nesse estudo foram

comparadas àquelas relatadas por Sylvester et al (2006).

Com relação à recorrência, encontramos risco de 28,8% em um ano e 57,1%

em cinco anos, independente do escore. A comparação das probabilidades de

recorrência em um e cinco anos com os resultados de Sylvester et al (2006) em

cada grupo do escore de risco está evidenciada na tabela 2. Encontramos, como

resultado, probabilidade menor de recorrência em um ano em todos os grupos de

risco de pacientes que as descritas por Sylvester et al (2006). Para recorrência em

cinco anos, encontramos como resultado risco superior, exceto quando grupo com

escore de risco zero.

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TABELA 2 - COMPARAÇÃO DAS PROBABILIDADES DE RECORRÊNCIA DE ACORDO COM ESCORE DE RISCO ENTRE A EORTEC E ESTE ESTUDO EM 1 E 5 ANOS.

Escore de recorrência

No de pacientes *

Probabilidade de recorrência em 1 ano (IC 95%)

Probabilidade de recorrência em 5 anos (IC 95%)

EORTC presente estudo EORTC presente estudo

0 30 15 (10 a 19) 6,7 (0,8 a 22,1) 31 (24 a 37) 10,0 (2,1 a 26,5) 1 a 4 54 24 (21 a 26) 14,8 (6,6 a 27,1) 46 (42 a 49) 46,3 (32,6 a 60,4) 5 a 9 78 38 (35 a 41) 29,5 (19,7 a 40,9) 62 (58 a 65) 66,7 (55,1 a 76,9)

10 a 17 43 61 (55 a 67) 60,5 (44,4 a 75,0) 78 (73 a 84) 86,0 (72,1 a 94,7)

205 28,8 (22,7 a 35,5) 57,1 (50,0 a 63,9)

FONTE: O autor (2014) e Sylvester et al (2006) LEGENDA: * Número de pacientes no presente estudo em cada grupo de risco do EORTEC.

Na população estudada, as tabelas de risco do EORTEC superestimaram o

risco de recorrência em um ano e subestimaram em cinco anos, exceto quando o

escore foi zero, porém os intervalos de confiança se sobrepuseram.

Para progressão, encontramos risco de 3,4% em um ano e 19,1% em cinco

anos, independente do escore. A comparação das probabilidades de recorrência em

um e cinco anos com os resultados de Sylvester et al (2006) em cada grupo do

escore de risco está evidenciada na tabela 3. Encontramos como resultado um risco

menor de progressão em um e cinco anos para cada grupo de pacientes que os

descritos por Sylvester et al (2006), principalmente para os grupos de risco com

escores maiores, exceto em cinco anos para os pacientes com escore de risco sete

a treze.

TABELA 3 - COMPARAÇÃO DAS PROBABILIDADES DE PROGRESSÃO DE ACORDO COM ESCORE DE RISCO DA EORTEC E ESTE ESTUDO EM 1 E 5 ANOS.

Escore de progressão

No de pacientes *

Probabilidade de Progressão em 1 ano (IC95%)

Probabilidade de Progressão em 5 ano (IC95%)

EORTC presente estudo EORTC presente estudo

0 30 0,2 (0 a 0,7) 0 0,8 (0 a 1,7) 0 1 a 6 48 1 (0,4 a 1,6) 0 6 (5 a 8) 2,1 (0,05 a 11,1) 7 a 13 66 5 (4 a 7) 1,5 (0,04 a 8,3) 17 (14 a 20) 18,5 (9,9 a 30,0) 14 a 23 61 17 (10 a 24) 9,8 (3,7 a 20,2) 45 (35 a 55) 42,6 (30,0 a 55,9)

205 3,4 (1,4 a 6,9) 19,1 (14,0 a 25,2)

FONTE: O autor (2014) e Sylvester et al (2006) LEGENDA:* Número de pacientes no presente estudo em cada grupo de risco do EORTEC.

As tabelas de risco do EORTEC superestimaram o risco de progressão

nesta população, exceto naqueles com escore de risco de sete a treze para

progressão em cinco anos, porém os intervalos de confiança se sobrepuseram.

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5.7 SEGUIMENTO

O tempo de seguimento médio foi de 63,6 ± 28,6 meses, variando de seis a

144 meses. Houve uma perda de seguimento em 17 (8,3%) pacientes durante o

estudo.

5.8 SOBREVIDA

Em relação à sobrevida, 152 (74,2%) pacientes encontravam-se vivos ao

final do estudo e 36 (17,5%) faleceram, destes 21 (10,2%) devido à doença e 15

(7,3%) por causas diversas.

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6 DISCUSSÃO

6.1 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA (Apêndice 2)

6.1.1 Epidemiologia

O CaB tem uma incidência maior em homens, numa frequência 3 a 4 vezes

maior quando comparado às mulheres (INCA, 2014; SEXTON et al, 2009). Segundo

estimativa recente do INCA (2014), o risco estimado é de 6,89 casos novos a cada

100 mil homens e 2,15 a cada 100 mil mulheres por ano.

Quanto à relação homens/mulheres do CaB no estado de Santa Catarina,

estima-se que seja 3,37/1 em 2014. Essa relação parece vir diminuindo com o

passar dos anos, uma vez que em 2012 era de 3,6/1 (INCA 2014). Esses resultados

são ligeiramente superiores aos encontrados no presente estudo, cuja proporção

homens/mulheres foi de 2,3/1 com 70,2% dos pacientes sendo do sexo masculino.

Tal índice deve-se possivelmente ao aumento crescente do hábito do fumar na

população feminina nas últimas décadas e a procura maior das mulheres por

atendimento médico preventivo. Ainda, o período de coleta dos dados deste estudo

teve início há mais de uma década podendo não refletir a estimativa atual da relação

homem/mulher.

A média de idade descrita na literatura dos pacientes com CaB é de 70 anos

(SEXTON et al, 2009). Sylvester et al (2006), em seu estudo, identificaram uma

relação homens/mulheres de 3,96 com 80% dos pacientes sendo do sexo

masculino, e a idade média de sua amostra foi 65 anos. Neste estudo, a média de

idade foi de 66,61 anos e teve a maior incidência na década de 61 a 70 anos, 86

(42%) pacientes, sendo muito similar aos resultados observados na literatura.

6.1.2 Características dos Tumores

A comparação das características tumorais encontradas no presente estudo

com os descritos por Sylvester et al (2006) é mostrada no quadro 9.

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QUADRO 9 - COMPARAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS TUMORAIS ENTRE ESSE ESTUDO E O

DE SYLVESTER et al. FONTE: dados da pesquisa (2014) e Sylvester et al (2006)

Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2003), aproximadamente

75-80% dos CaB apresentam-se como CUNMI ao seu diagnóstico. Destes, o estágio

Ta representa 70%, o estágio T1, 20% e o estágio Tis, 10% (KIRKALI et al, 2005).

Sylvester et al (2006) identificaram 55,9% de tumores com estágio Ta, 42,7% com

T1 e CIS somente em 4%. Quanto ao grau histológico, 10,7% dos pacientes

apresentavam alto grau (G3) e 84,1% baixo grau (G1 e G2). Na população

estudada, 44,4% dos pacientes apresentaram estágio Ta, 55,6% T1 e em 10,2% o

CIS foi identificado. Quanto ao grau histológico, 46,3% eram baixo grau e 53,7% alto

grau.

A multiplicidade (PARMAR et al, 1989; MILLÁN-RODRÍGUEZ et al, 2000;

SHINKA et al, 1990; KIEMENEY et al, 1994) e o tamanho tumoral (MILLÁN-

RODRÍGUEZ et al, 2000; SHINKA et al, 1990; KIiEMENEY et al, 1994; KURTH et al,

1995) também estão relacionados à recorrência do CaB. Conforme as tabelas de

risco do EORTEC, adotadas nas diretrizes da EAU, tumores únicos e menores que

três centímetros caracterizam baixo risco de recorrência e progressão (BABJUK et

al, 2013).

Sylvester et al (2006) obteve em sua amostra 56,4% de tumores únicos e

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42% de múltiplos, destes 32,8% com dois a cinco tumores e 9,8% com mais de

cinco tumores. Quanto ao tamanho, 80,4% dos tumores eram menores que três

centímetros e 17,9% maiores que três centímetros. Já a casuística em estudo

evidenciou uma tendência maior a pacientes de alto risco que o estudo de Sylvester

et al (2006), uma vez que a proporção de tumores múltiplos e maiores que três

centímetros foi superior, 52,7% e 49,8% respectivamente.

Este estudo compreendeu uma amostra com maior potencial de

agressividade tumoral quando comparado à literatura e ao estudo de Sylvester et al

(2006). Isto devido a uma proporção maior de pacientes com estágio T1 que o

descrito na literatura, e de uma proporção maior de tumores de alto grau, múltiplos,

maiores que três centímetros e com CIS que o estudo de Sylvester et al (2006).

O acesso mais difícil ao sistema de saúde no Brasil bem como a diferença

cultural entre a população brasileira e a europeia, visto que em nosso país a

preocupação e o entendimento do cuidado com a saúde não são iguais aos países

com maior desenvolvimento socioeconômico, são fatores que possivelmente

explicam a diferença do potencial de agressividade tumoral entre a população

analisada e a do estudo de Sylvester et al (2006). Além disso, o reduzido número de

casos de CIS incluído nos sete ensaios clínicos utilizados no estudo de Sylvester et

al (2006) torna as tabelas de risco do EORTEC com baixa acurácia para predizer

recorrência e progressão nesses pacientes (COLOMBEL et al, 2008). Por outro lado,

este estudo contemplou a proporção de CIS descrita na literatura, expressando,

assim, uma população mais próxima à da realidade.

Pillai et al (2011) descreveram, em um estudo de validação externa, algumas

limitações do estudo de Sylvester et al (2006) e salientaram que a coleta e a

interpretação dos dados realizada por um único pesquisador e análise patológica

realizada por um único patologista podem minimizar a variabilidade de interpretação

entre observadores. O presente estudo não enfrentou variabilidade significativa entre

observadores, uma vez que foi realizado por somente dois pesquisadores e dois

patologistas efetuaram a análise histológica, o que minimiza a possibilidade de

vieses distintos no que tangem à interpretação e análise dos dados.

6.1.3. Terapia Intra-Vesical

Sylvester et al (2006) fundamentaram seu estudo nos achados de sete

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ensaios clínicos fase III, os quais utilizaram diversos esquemas de terapia intra-

vesical para fins de adjuvância após RTU. Os esquemas de quimioterapia intra-

vesical utilizados nesses estudos eram antigos e, além disso, o uso de instilação

imediata peri-operatória de quimioterápico, regime de indução e manutenção

adjuvante com BCG intra-vesical e re-RTU não foram considerados no

desenvolvimento das tabelas de risco da EORTEC.

Nesse estudo 43,9% dos pacientes não receberam qualquer terapia intra-

vesical adjuvante. Dos 56,1% restantes, 11,7% dos pacientes receberam

quimioterapia intra-vesical peri-operatória com Mitomicina C, 22,4% receberam

imunoterapia intra-vesical adjuvante com BCG e 22% com a combinação

quimioterapia peri-operatória intravesical e imunoterapia intravesical adjuvante com

BCG.

Sylvester et al (2006) teve, em sua amostra, 78,4% dos pacientes recebendo

alguma terapia intra-vesical, número significativamente maior quando comparado a

população em estudo e à real necessidade dessa terapia na prática clínica atual. O

elevado uso de quimioterapia intra-vesical e com esquemas antigos utilizados por

Sylvester et al (2006), a melhoria na administração de quimioterápicos e o crescente

uso adjuvante do BCG atualmente podem reduzir o poder de predição das tabelas

do EORTEC.

6.2 RECORRÊNCIA E TEMPO PARA PRIMEIRA RECORRÊNCIA

A literatura relata que, apesar do tratamento adequado, até 70% dos

pacientes portadores de Ta e T1 irão apresentar recorrência dentro de um ano após

a RTU como tratamento exclusivo (VAN DER HEIJDEN e ALFRED WITJES, 2009;

ALLARD et al, 1998). No estudo de Sylvester et al (2006), 47,8% dos pacientes

apresentaram recorrência tumoral num seguimento de 14 anos, com 44,3% já tendo

apresentando pelo menos uma recorrência quando da sua entrada no estudo.

Destes, a recorrência havia ocorrido em 19,5% há menos de um ano e 24,8% há

mais de um ano da inclusão no estudo.

Os resultados encontrados são ligeiramente mais próximos aos descritos na

literatura que os de Sylvester et al (2006). A taxa de recorrência que observamos foi

de 57,1% no seguimento de 12 anos. Verificou-se, ainda, que 33,2% dos pacientes

já haviam apresentado recorrência prévia à inclusão no estudo. Destes, 17,1% há

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menos de um ano e 16,1% há mais de um ano.

A menor recorrência observada por Sylvester et al (2006) quando

comparada à literatura e a este estudo pode ser explicada pela diferença

significativa no número de pacientes que realizaram terapia intra-vesical (78,4%

versus 56,1%) entre os estudos. Esse achado pode ser decorrente de um viés de

seleção do estudo de Sylvester et al (2006), que incluiu pacientes de sete ensaios

clínicos cujo objetivo era analisar o valor profilático da terapia intra-vesical pós-RTU,

e não o estudo dos fatores prognósticos de recorrência e progressão. Assim foi

selecionada uma mostra viciada, pois quase 80% receberam terapia intra-vesical em

seu estudo.

Em um seguimento médio de 5,5 anos com máximo de 12 anos, dos 117

pacientes que presentaram recorrência a média do TPR foi de 14,2 ± 7,3 meses,

com mínimo de três e máximo de 36 meses. Nestes, a recorrência em um ano foi

identificada em 28,8% e em 100% em cinco anos, enquanto que, no estudo de

Sylvester et al (2006), o TPR foi de 31 meses. Observou-se um TPR mais de 50%

menor na população estudada, apesar do gráfico de tempo para recorrência

estratificado por grupos de risco ter apresentado um comportamento semelhante ao

do estudo de Sylvester et al (2006) (Quadro 10), principalmente aos cinco anos. Nos

pacientes desta amostra, a recorrência ocorreu em um tempo significativamente

mais precoce e isso pode ter ocorrido em detrimento do menor uso de quimioterapia

intra-vesical e às características tumorais, as quais já foram salientadas

anteriormente como maior proporção de tumores estágio T1, alto grau, múltiplos,

maiores que 3 cm e com CIS.

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QUADRO 10 - COMPARAÇÃO ENTRE AS TAXAS DE RECORRENCIA AO LONGO DO TEMPO

ESTRATIFICADAS POR GRUPO DE RISCO FONTE: O autor (2014) e Sylvester et al (2006) NOTA: Tempo mensurado em anos LEGENDA: ESTUDO DE SYLVESTER et al (A) E ESTE ESTUDO (B)

6.3 PROGRESSÃO E TEMPO PARA PROGRESSÃO

A progressão tumoral é menos frequente que a recorrência, porém

apresenta desfecho mais desfavorável. A progressão de um CUNMI para uma lesão

músculo-invasiva e/ou metastática pode incidir em até 40% dos pacientes num

período de cinco anos (KURTH et al, 1995).

Sylvester et al (2006) descreveu a presença de CIS, alto grau e estágio T1

como sendo os fatores prognósticos de maior relevância para a progressão tumoral.

Sylvester et al (2006), em seu estudo para desenvolvimento das tabelas de risco da

EORTEC, observou uma taxa de progressão de 10,7%, menor que a descrita pela

literatura. Foi observada neste estudo uma taxa de progressão de 20,5%, o dobro

descrito por Sylvester et al (2006).

O TPP foi em média de 26,9 meses, com mínimo de seis e máximo de 64

meses. Quando feita a análise do TPP estratificado pelos períodos de um e cinco

anos, identificou-se que a taxa de progressão foi de 3,4% e de 17,5%,

respectivamente. Esse resultado é semelhante ao descrito na literatura e superior ao

de Sylvester et al (2006), o que pode ser decorrente da diferença significativa entre

as duas amostras de pacientes estudadas. Principalmente quando se verifica um

maior número de tumores de alto grau, T1 e CIS como em nossa amostra, ou seja,

maior número de pacientes no grupo de alto risco. Ainda relativo ao estudo de

Sylvester et al (2006), esses pacientes de alto risco não foram submetidos a re-RTU,

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o que atualmente é preconizado no manejo desse grupo de pacientes, a fim de

identificar recorrência e progressão precoces. Outro fator que pode explicar essa

diferença, como já descrito anteriormente, é o maior uso de terapia intra-vesical no

estudo de Sylvester et al (2006) e o acesso mais dificultoso ao atendimento médico

para nossa população.

6.4 DESFECHOS

Em relação aos desfechos avaliados, foram encontrados resultados muito

semelhantes aos de Sylvester et al (2006) quando analisamos a proporção de

pacientes livres de doença (62% versus 67,1%), progressão (12,2% versus 10,7%),

abandono de tratamento (8,3% versus 5%) e óbito pela doença (10,2% versus

10,1%) (Quadro 11). Já quando analisamos óbito, houve uma diferença significativa

entre este estudo (7,3%) e o de Sylvester et al (2006) (32,9%). Embora os pacientes,

quando estratificados por grupos de idade, tenham mostrado frequências análogas

entre os dois estudos, o de Sylvester et al (2006) apresentou uma proporção maior

de pacientes do sexo masculino, os quais costumam apresentar expectativa de vida

menor que o sexo feminino. Este achado pode explicar essa diferença no desfecho

óbito entre os dois estudos.

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QUADRO 11 - COMPARAÇÃO DA FREQUÊNCIA DOS DESFECHOS ENCONTRADOS ENTRE

ESSE ESTUDO E O DE SYLVESTER et al. FONTE: Dados da pesquisa (2014) e Sylvester et al (2006)

6.5 SEGUIMENTO

O seguimento deste estudo foi muito semelhante ao do estudo de Sylvester

et al (2006), apesar de menor no total, porém com uma média de tempo maior.

Enquanto a população em estudo foi acompanhada em média por 66 meses com

máximo de 144 meses, Sylvester et al (2006) obtiveram um seguimento médio de

46,8 meses com máximo de 177,6 meses. A perda de seguimento foi de 8,3% dos

pacientes, já Sylvester et al (2006) observaram uma perda de 11% dos pacientes

randomizados para o estudo que não preencheram os critérios de inclusão e 5%

perderam seguimento.

6.6 VALIDAÇÃO

Após conclusão de um modelo prognóstico, é necessária a sua validação, ou

seja, a avaliação de sua capacidade de predizer o resultado em novos pacientes. Os

dois métodos mais utilizados para validação são a discriminação e a calibração. A

discriminação consiste na habilidade de um modelo prognóstico de separar

pacientes com diferentes desfechos, enquanto a calibração determina a acurácia do

modelo em estimar a probabilidade do desfecho (MALLET et al, 2010).

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A validação pode ser realizada de forma externa e/ou interna (MOREIRA et

al, 2012). A validação externa é um pré-requisito essencial antes da aplicação de um

determinado modelo prognóstico à prática clínica e, preferencialmente, deve ser

realizada por pesquisadores externos (ALTMAN et al, 2009; JUSTICE, COVINSKY,

BERLIN, 1999).

A maior dificuldade encontrada para se realizar essa validação externa foi a

disparidade significativa entre as amostras do estudo original da EORTEC e desse

estudo. Isto se deve ao fato de que o estudo de Sylvester et al (2006) não foi

realizado com o intuito de criar tabelas de prognóstico, como já descrito

anteriormente, enquanto que este estudo foi desenvolvido para a análise dessas

tabelas e em uma população mais condizente com a realidade clínica.

O grande mérito do estudo de Sylvester et al (2006) é o desenvolvimento da

ideia de se ter um mecanismo para calcular risco de recorrência e progressão

tumoral nos pacientes portadores de CUNMI. Contudo, as tabelas da EORTEC

devem sofrer adequações para terem maior confiabilidade e aplicabilidade na prática

urológica atual.

6.6.1 Discriminação

A discriminação de um modelo prognóstico indica quão adequado este

modelo separa pacientes que experimentaram o evento de interesse daqueles que

não experimentaram (McGEECHAN et al, 2008; ALTMAN et al, 2009). Diversas

medidas de discriminação têm sido desenvolvidas, algumas são aplicadas quando

variáveis categóricas são utilizadas, enquanto outras quando variáveis contínuas

são estudadas, como os índices de prognóstico (exemplo: o índice C).

6.6.1.1 Índice de concordância

Harrel et al (1985) propuseram um método de avaliação da discriminação

que denominaram de índice de concordância ou índice C e o definiram como a

probabilidade de que, para qualquer par de pacientes escolhidos aleatoriamente,

aquele com melhor resultado real é exatamente o que possui o melhor resultado

previsto. Quando C é igual a 0,5, não há discriminação, ou seja, a distribuição ocorre

por acaso e, quando seu valor é 1,0, há discriminação ou concordância perfeita.

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Uma das limitações deste método é decidir o quanto de discriminação deve

ser considerado para justificar o uso de um determinado modelo. Não há uma

resposta estatística para esta questão; considerações clínicas são fundamentais

para a decisão acerca de qual é o índice C adequado a cada situação (MOREIRA et

al, 2012). O índice C não está relacionado a um modelo prognóstico em particular,

seu objetivo é determinar se um modelo é clinicamente aplicável ou clinicamente

absurdo (MALLET et al, 2010). Em um artigo científico de bom padrão, os autores

devem assinalar qual o índice C foi considerado adequado e por qual motivo

(MOREIRA et al, 2012).

No presente estudo, o índice C representa a probabilidade de concordância

entre o valor predito (EORTEC) e o observado. Assumiu-se, então, um índice C

adequado quando igual ou maior ao encontrado pelo estudo de Sylvester et al

(2006), o que representa um resultado mais próximo ao da realidade clínica. Para

recorrência tumoral, nesta série, o índice C foi de 0,72 para um ano e 0,7 para cinco

anos, superior ao resultado de 0,66 descrito por Sylvester et al (2006) para os

mesmos períodos. Quanto à progressão, o índice C foi de 0,86 para um ano e 0,78

para cinco anos, superior ao descrito por Sylvester el at (2006), de 0,74 para um ano

e 0,75 para cinco anos.

Quando comparamos os índices C alcançados por este estudo e pelo de

Sylvester et al (2006), concluímos que houve discriminação ou concordância entre

ambos. Além disso, os índices C ora encontrados apresentaram uma performance

superior aos relatados por Sylvester el at (2006), o que evidencia uma concordância

maior dos resultados deste estudo com a realidade clínica. Esses resultados tornam

este estudo adequado para o aplicação na prática diária.

6.6.2 Acurácia

A acurácia, por vezes denominada de confiabilidade, diz respeito ao grau de

concordância entre o resultado previsto pelo modelo e aquele realmente obtido na

prática (HARRELL et al, 1985; HALABI e OWZAR, 2010; VICKERS e CRONIN,

2010). A acurácia pode ser apresentada pela calibragem entre as taxas de sobrevida

nos diferentes grupos de risco fixadas a um determinado período de tempo e

mostradas para o modelo predito (EORTEC) e o estudado (MALLET et al, 2010).

Para avaliar a acurácia do modelo da EORTEC, as probabilidades de recorrência e

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progressão obtidas neste estudo foram comparadas àquelas relatadas por Sylvester

et al (2006).

Para recorrência, encontramos risco de 28,8% em um ano e 57,1% em cinco

anos, independentemente do escore. Ao comparar as probabilidades de recorrência

em um ano com os resultados de Sylvester et al (2006) para cada grupo de risco, a

probabilidade foi menor de recorrência em todos os grupos de pacientes deste

estudo. Em cinco anos, a probabilidade de recorrência na população estudada foi

superior para a maioria dos grupos de risco, exceto quando escore de risco zero.

Essa probabilidade menor de recorrência em um ano encontrada nesta

mostra pode refletir uma limitação de aferição, uma vez que o seguimento clínico se

faz algumas vezes dificultoso na realidade médica brasileira. São comuns

empecilhos como re-RTU após os três meses preconizados, atraso para

cistoscopias de controle, demora no retorno ambulatorial dos pacientes, a não

compreensão da real gravidade da doença pelos pacientes, o que pode não refletir a

verdadeira recorrência no primeiro ano.

Para progressão, o risco encontrado foi de 3,4% em um ano e 19,1% em

cinco anos, independentemente do escore. Quando se comparou a probabilidade de

progressão em um ano e cinco anos com os resultados de Sylvester et al (2006) em

cada grupo de risco, encontrou-se probabilidade menor de progressão nos dois

períodos de tempo nos grupos de pacientes deste estudo. Este achado se deve,

principalmente, aos grupos de risco com escores maiores, exceto em cinco anos

para os pacientes com escore de risco sete a 13.

A população estudada compreendeu pacientes com características que

refletem maior potencial de agressividade tumoral, uma vez que obtivemos maior

proporção de pacientes com tumores T1, de alto grau, múltiplos, maiores que três

centímetros e com CIS se comparado ao estudo de Sylvester et al (2006). Apesar

disso, as tabelas de risco do EORTEC superestimaram o risco de recorrência em um

ano e o risco de progressão em um e cinco anos. Isto pode ser explicado pelo baixo

uso de BCG e pelo elevado uso de quimioterapia intra-vesical com esquemas

antigos utilizados no estudo de Sylvester et al (2006). A administração de

quimioterápicos mais modernos, o uso do BCG de forma mais adequada e o uso

rotineiro da re-RTU em grupos de alto risco podem ter refletido nas taxas menores

de recorrência em cinco anos e progressão em um e cinco anos encontradas neste

estudo.

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6.6.3 Validações Externas Descritas na Literatura

Fernandez-Gomez et al (2011) realizaram a validação externa das tabelas

de risco da EORTEC em pacientes tratados por BGC intra-vesical em uma

população espanhola. A estratificação do risco de recorrência e progressão foi

satisfatória em sua coorte de pacientes. Entretanto, a habilidade de discriminação

das tabelas da EORTEC para progressão diminuíram nesses pacientes e

superestimavam o risco de recorrência e progressão após tratamento com BCG

intra-vesical.

Pillai et al (2011), em sua tentativa de validação externa das tabelas de risco

da EORTEC em uma população do Reino Unido, evidenciou diferença significativa

nas probabilidades de recorrência e diferença menos marcante nas probabilidades

de progressão entre seu estudo e o de Sylvester et al (2006). O insatisfatório

número de pacientes não permitiu uma conclusão quanto à validade externa, porém

salientou algumas limitações do estudo de Sylvester et al (2006).

Xylinas et al (2013) analisaram a discriminação das tabelas de risco da

EORTEC e o sistema de escore de CUETO, descrito por Fernandez-Gomez et al

(2009). Identificaram que os dois modelos superestimam o risco de recorrência e

progressão em pacientes de alto risco, porém seu estudo apresenta a limitação de

ser retrospectivo e multicêntrico.

Ding et al (2014) avaliaram a aplicabilidade das tabelas de risco da EORTEC

em uma população chinesa, a fim de predizer recorrência e progressão. Apesar da

quimioterapia intra-vesical imediata ter diminuído a recorrência, concluíram ter

validade externa nessa população, uma vez que os intervalos de confiança das

taxas de recorrência e progressão de seu estudo e do estudo de Sylvester et al

(2006) foram sobrepostos.

Sakano et al (2011) estudaram a validação externa das tabelas de risco da

EORTEC adotadas pelas diretrizes da EAU para recorrência numa população

japonesa. Seus resultados foram de que os escores da EORTEC não são aplicáveis

a pacientes dessa nacionalidade, talvez somente para o grupo de risco intermediário

poderia ser útil.

Borkowska et al (2013), em estudo de validação externa em pacientes

poloneses, identificaram que os escores de risco da EORTEC superestimavam o

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risco de recorrência e subestimavam o risco de progressão nessa população.

Porém, assim como o estudo de Sylvester et al (2006), sua amostra também não

recebeu esquemas modernos de terapia intra-vesical, o que pode ter limitado seus

achados.

Xu et al (2012) estudaram a validade das tabelas de risco da EORTEC para

predizer recorrência e progressão em pacientes com CUNMI tratados com

Pirarubicina intravesical. Os resultados superestimavam o risco de recorrência,

porém mostraram uma capacidade de predizer progressão semelhante aos descritos

por Sylvester et al (2006).

Seo et al (2010) validaram as tabelas de risco em uma população coreana,

uma vez que identificaram taxa de recorrência e progressão semelhantes às

calculadas por Sylvester et al (2006). Os autores defendem o uso na prática clínica

dos escores de risco da EORTEC para predizer recorrência e progressão e para

selecionar o tratamento mais adequado em coreanos portadores de CUNMI.

Ather e Zaidi (2009) estudaram a capacidade de predição das tabelas de

risco da EORTEC em uma população paquistanesa e identificaram uma

concordância significativa para recorrência em um ano. A progressão foi menor que

a predita, porém o reduzido número de pacientes teve forte influência neste achado.

Altieri et al (2012) identificaram taxas de recorrência e progressão similar

àquelas extraídas das tabelas de risco da EORTEC em uma população italiana.

Encontraram ainda uma mínima redução na taxa de recorrência nos grupos de risco

intermediário e alto. Diante destes resultados, postularam ser essencial o uso das

tabelas de risco da EORTEC na prática clínica diária.

Ajili et al (2013) estudaram em 112 pacientes as taxas de recorrência e

progressão em um ano e compararam aos resultados calculados pelas tabelas de

risco da EORTEC. Os pacientes desta coorte foram adequadamente estratificados

para de risco de recorrência e progressão pelo escore da EORTEC, porém a

capacidade de discriminação das tabelas da EORTEC foi reduzida para a

progressão. Isto ocorreu como consequência do reduzido tamanho da amostra.

Hernández et al (2011) realizaram a validação externa em uma população

espanhola de 417 pacientes. Os autores compararam as taxas de recorrência e

progressão estratificadas pelos grupos de risco com as de Sylvester et al (2006), e

identificaram intervalos de confiança sobrepostos entre os dois estudos. Diante

disso, Hernández et al (2011) defendem o uso das tabelas de risco da EORTEC

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nessa população, principalmente para predizer recorrência.

6.7 PERSPECTIVAS FUTURAS

O uso já consolidado desta ferramenta para predição prognóstica em

pacientes com CUNMI demanda obrigatoriamente algumas reflexões a serem

aprofundadas em oportunidades futuras:

1. Existe a necessidade de aprimorar as tabelas de risco de recorrência e

progressão para diferentes populações na tentativa de minimizar as diferenças

étnicas, geográficas e de prática clínica tão distintas ao redor do mundo.

2. Marcadores tumorais e mapeamento genético se fazem necessário

para termos a identificação mais precisa do comportamento biológico desses

tumores e consequentemente do risco de recorrência e progressão.

3. Comparar as curvas de mortalidade e sobrevida para cada escore de

risco em diferentes populações estudadas, a fim de avaliar se há impacto na

mortalidade quando a conduta médica é norteada pela aplicação dessas tabelas de

risco, será fundamental para a consolidação dessa ferramenta.

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7 CONCLUSÃO

A validação externa das tabelas de risco da EORTEC em portadores de

CUNMI na região sul do Brasil foi satisfatória e seu uso para predizer recorrência e

progressão deve ser estimulado.

A probabilidade de recorrência foi de 57,1% e a média do TPR foi 14,2

± 7,3 meses.

A probabilidade de progressão foi de 20,5% e a média do TPP foi 26,9

± 15,2 meses.

O índice de concordância para recorrência tumoral foi 0,72 para um

ano e 0,7 para cinco anos, enquanto para progressão foi 0,86 para um ano e 0,78

para cinco anos. Estes resultados são superiores aos encontrados por Sylvester et

al (2006).

Em relação à acurácia, as tabelas da EORTEC superestimaram o risco

de recorrência em 1 ano e superestimaram em 5 anos. Além disso, superestimaram

o risco de progressão em 1 e 5 anos numa população do sul do Brasil.

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ANEXO

ANEXO 1 – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

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APÊNDICES

APÊNDICE 1 - PROTOCOLO DE COLETA DE DADOS

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APÊNDICE 2 - CARACTERÍSTICAS DOS PACIENTES DESTE ESTUDO E DA SÉRIE DO EORTEC

Características Grupo do estudo n (%) EORTEC n (%)

Número total de pacientes 205 2596

Idade (anos) < 60 55 (26,8) 859 (33,1) 61-70 86 (42) 890 (34,3) 71-80 55 (26,8) 690 (26,6) > 80 9 (4,4) 118 (4,5) desconhecida 0 39 (1,5)

Gênero Masculino 144 (70,2) 2044 (78,7) Feminino 61 (29,8) 515 (19,8) desconhecido 37 (1,4)

Estágio T pTa 91 (44,4) 1451 (55,9) pT1 114 (55,6) 1108 (42,7)

Número de tumor Único 97 (47,3) 1465 (56,4) 2 a 5 64 (31,2) 836 (32,2) > 5 44 (21,5) 255 (9,8) desconhecido - 45 (1,7)

Tamanho do tumor < 3cm 103 (50,2) 2087 (80,4) > 3cm 102 (49,8) 464 (17,9) desconhecido 0 45 (1,7)

Presença de CIS Sim 21 (10,2) 113 (4,4) Não 184 (89,8) 2440 (94,0)

Recorrência Primário 137 (66,8) 1405 (54,1) < 1/ano 35 (17,1) 505 (19,5) > 1/ano 33 (16,1) 645 (24,8)

Grau histológico G1/G2 95 (46,3) 2260 (87,1) G3 110 (53,7) 271 (10,4)

Terapia Intra-vesical Nenhuma 90 (43,9) 561 (21,6) Quimioterapia 24 (11,7) 2035 (78,4) BCG 46 (22,4) - Quimioterapia + BCG 45 (22) 361 (13,9)

Seguimento (meses) Médio 63,6 46,8 Mínimo 6 - Máximo 144 177,6

Recorrência Sim 117 (57,1) 1240 (47,8) Não 88 (42,9) 1356 (52,2)

Progressão Sim 42 (20,5) 279 (10,7) Não 163 (79,5) 2317 (89,3)

Desfecho Livre da doença 127 (62) 1743 (67,1) Progressão 25 (12,2) 279 (10,7) Óbito pela doença 21 (10,2) 262 (10,1) Óbito 15 (7,3) 461 (17,8) Abandono 17 (8,3) 130 (5)

Sobrevida Vivos 152 (74,2) 1743 (67.1) Mortos 36 (17,5) 279 (32.9) Desconhecidos 17 (8,3) -

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