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Funções da entoação 1 Ivan Fónagy trad. Waldemar Ferreira Netto FÓNAGY, Ivan. Des fonctions de l’intonation : Essai de synthèse. Flambeau, 29, p. 1–20, 2003. FUNÇÕES DA ENTOAÇÃO: TENTATIVA DE SÍNTESE Ivan Fónagy Sistemas ternários Os autores atribuem, na maior parte das vezes, três funções à entonação, raramente as mesmas. O número mágico 3 parece guardar sua forma atrativa,mesmo em ciência. O modelo clássico de Bühler (1934) — função expressiva, função de chamamento, função representativa — oferece uma quadro conveniente para a discussão das funções de entonação, sabendo ao mesmo tempo que esse quadro arrisca-se de ser muito extenso e muito estreito para a análise funcional da entonação. Faure (1962), seguindo o modelo funcional de Karl Bühler (1934) atribuiu à entonação as funções representativa, apelativa e expressiva. Entretanto, contrariamente a Bühler, entre Faure, a expressão das emoções faz parte da função apelativa. Milan Romportl (1973) distingue as funções demarcativa (entoação +/- terminal), modal (interrogativa +/-), emotiva (+/-). Segundo Herbert Pilch (1972), a entonação pode ter (a) um papel morfossintático, (b) pode marcar o gênero do discurso e (c) pode caracterizar o locutor ou seu grupo social. Marie-Christine Hazaël-Massieux (1983) propôs as funções de integração, de segmentação e de significação. O fato de se colocar em releve um elemento é conhecido em termos de culminação, de ênfase, de acentuação, de focalização 1 ou de contraste. A função segmentadora e demarcadora A articulação prosódica da mensagem é a condição fundamental da interpretação. As dificuldade que nos apresenta a leitura de manuscritos lineares, sem intervalos, sem signos de pontuação, testemunha, pela negativa, a importância da articulação prosódica do texto oral. A demarcação das unidades discursivas ou a estruturação do discurso é, segundo Gleason (1965, p. 179) a função primária da entoação. 2 František Daneš (1960, 44) distingue duas funções — primária e secundária — da entoação. A estruturação é a primeira função da entoação, a distinção das modalidades a segunda. Dieter Wunderlich faz a mesma distinção binária (1988, em ed. H. Altmann, p. 1-40) A entoação marca as unidades de base do discurso e coloca em evidência a estrutura informacional do enunciado (PERROT, 1978), ainda que ela o separe em duas partes consecutivas, das quais uma é o tema e a outra a proposta (*MARTINS-BALTAR, 1977, p. 20). A entoação de fim de enunciado pode marcar os limites do enunciado sugerindo que o enunciado é um elemento de uma unidade maior, designada pelos termos de “sintagma retórico” (von ESSE, 1956, p. 29) ou “unidade macro-sintática” (BLANCHE- BENVENISTE, 1975; 1990; DEULOFEU, 1977, BERRENDONNER, 1990). Há outros meios para assinalar que o enunciado faz parte das unidades que vão além

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Page 1: FONAGY_FuncoesDaEntoacao

Funções da entoação 1 Ivan Fónagy trad. Waldemar Ferreira Netto

FÓNAGY, Ivan. Des fonctions de l’intonation : Essai de synthèse. Flambeau, 29, p. 1–20, 2003.

FUNÇÕES DA ENTOAÇÃO: TENTATIVA DE SÍNTESE

Ivan Fónagy

Sistemas ternários Os autores atribuem, na maior parte das vezes, três funções à entonação, raramente as

mesmas. O número mágico 3 parece guardar sua forma atrativa,mesmo em ciência. O modelo clássico de Bühler (1934) — função expressiva, função de chamamento,

função representativa — oferece uma quadro conveniente para a discussão das funções de entonação, sabendo ao mesmo tempo que esse quadro arrisca-se de ser muito extenso e muito estreito para a análise funcional da entonação.

Faure (1962), seguindo o modelo funcional de Karl Bühler (1934) atribuiu à entonação as funções representativa, apelativa e expressiva. Entretanto, contrariamente a Bühler, entre Faure, a expressão das emoções faz parte da função apelativa.

Milan Romportl (1973) distingue as funções demarcativa (entoação +/- terminal), modal (interrogativa +/-), emotiva (+/-). Segundo Herbert Pilch (1972), a entonação pode ter (a) um papel morfossintático, (b) pode marcar o gênero do discurso e (c) pode caracterizar o locutor ou seu grupo social.

Marie-Christine Hazaël-Massieux (1983) propôs as funções de integração, de segmentação e de significação.

O fato de se colocar em releve um elemento é conhecido em termos de culminação, de ênfase, de acentuação, de focalização1 ou de contraste.

A função segmentadora e demarcadora A articulação prosódica da mensagem é a condição fundamental da interpretação. As

dificuldade que nos apresenta a leitura de manuscritos lineares, sem intervalos, sem signos de pontuação, testemunha, pela negativa, a importância da articulação prosódica do texto oral.

A demarcação das unidades discursivas ou a estruturação do discurso é, segundo Gleason (1965, p. 179) a função primária da entoação.2 František Daneš (1960, 44) distingue duas funções — primária e secundária — da entoação. A estruturação é a primeira função da entoação, a distinção das modalidades a segunda. Dieter Wunderlich faz a mesma distinção binária (1988, em ed. H. Altmann, p. 1-40)

A entoação marca as unidades de base do discurso e coloca em evidência a estrutura informacional do enunciado (PERROT, 1978), ainda que ela o separe em duas partes consecutivas, das quais uma é o tema e a outra a proposta (*MARTINS-BALTAR, 1977, p. 20). A entoação de fim de enunciado pode marcar os limites do enunciado sugerindo que o enunciado é um elemento de uma unidade maior, designada pelos termos de “sintagma retórico” (von ESSE, 1956, p. 29) ou “unidade macro-sintática” (BLANCHE-BENVENISTE, 1975; 1990; DEULOFEU, 1977, BERRENDONNER, 1990).

Há outros meios para assinalar que o enunciado faz parte das unidades que vão além

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Funções da entoação 2 Ivan Fónagy trad. Waldemar Ferreira Netto

do enunciado: a ausência de pausa terminal, o arco melódico que liga dois enunciados consecutivos, muitas vezes de modalidades diferentes, ainda em alguns “clichês melódicos” (FONAGY, I; BÉRARD; e FONAGY, J, 1983):

��Mais non.∪ Pourquoi? ��C’est inquiétant. ∪ Où peut-il être? A melodia de enumeração pode ir além do fim do enunciado para marcar uma

unidade de narração.3 O retorno de um motivo melódico característico , como o do clichê triangular (aumentando uma sexta, descendo uma terça) ou de um motivo de fim de enunciado — as rimas melódicas4 — podem assinalar a unidade discursiva de dois ou de mais enunciados (FÓNAGY I e FONAGY, J., 1983, p. 173).

Anna Catherine Simon (2001) considerou a relação entre demarcação tonal e a estrutura interna do texto. Ela distingue três tipos de relação: (a) a prosódia confirma uma marcação que existe em outra parte; (b) a prosódia permite refinar a análise; (c) a prosódia não está em fase com o nível de análise sintática do texto, ela reflete uma análise que intervém em um outro nível. Em linguagem musical, as duas análises estão em contraponto.5

Função de ênfase A função dita culminativa ou enfática dirige a atenção,com a ajuda do acento e da

entoação, sobre tal ou tal palavra do enunciado. A segmentação por si só, com ou sem pausa, pode ser uma maneira de se colocar em relevo. Michel Martins-Baltar (1977, p. 20) opôs entoação segmentadora enfática à entoação neutra, cuja curva supõe-se ligar tema e proposta.

Para além da frase, em “macro-sintaxe” o movimento melódico (nível elevado, elevação tonal) coloca em relevo as passagens essenciais (os focos) da mensagem, e releva ao plano baixo, por movimento opostos (nível médio, melodia estática) outras partes do texto.

É importante, então, ter em conta do inverso da ênfase: a redução do “peso semântico” que vai a par de uma redução de “peso fônico”. A ausência de acento (e de pausa) pode transformar na conversação uma frase intercalada em advérbio: “ … ...puisque je fais un service moi j’sais pas en six mois” (Mr.N.P. bibliotecária). O enunciado intercalado tem o valor do advérbio “talvez” (FONAGY, I e FONAGY, J., 1983).

Função gramatical? Segundo Leonard Bloomfield (1933), as entoações são “formas socialmente efetivas,

sem ser distintivas” (oc., p´. 114). Kenneth Pike (1945) recusa categoricamente uma função gramatical à entoação.ele distingue atitudes de enunciação de não tipos gramaticais de enunciados.6 David Crystal (1969) vai ainda mais longe nesse sentido: “Falar de uma função puramente gramatical da entoação, em face da atitude, é um absurdo teórico”7 A emoção domina a entoação, disse Dwight Bolinger (1986, p. VIII). “O uso que faz a gramática é um tipo de catch-as-catch-can”, ele escreveu em uma outra publicação (1957, p. 36).

Função sintática Pode-se contornar essa controvérsia ideológica observando-se o papel da entoação na

desambiguação do enunciados (KOOIJ 1971; HIRST, 1975; DI CRISTO, 1976;

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Funções da entoação 3 Ivan Fónagy trad. Waldemar Ferreira Netto

BOULAKIA 1978). Boulakia distingue três fontes de ambigüidade: (a) a da origem lexical, (b) a ambigüidade da estrutura subjacente (“la peur de l’ennemi [o medo do inimigo”) e (c) a ambigüidade da estrutura de superfície. Não pode ser questão de desambiguar o duplo sentido lexical; é impossível eliminar, por meios prosódicos, a ambigüidade da estrutura subjacente (KOOIJ, 1971). É a ambigüidade da estrutura de superfície que oferece um vasto terreno de intervenção para a prosódia.

A entoação pode colocar em evidência o agrupamento de constituintes da frase em caso de dúvida. Em un acteur du cinéma muet [um ator do cinema mudo] ou o ator é mudo, ou (b) trata-se de cinema mudo. No primeiro caso, o ator de cinema é o determinado, “mudo” o determinante; no segundo caso, o ator é que é determinado e de cinema mudo o determinante. A entoação distingue as duas estruturas marcando uma juntura entre o determinado e o determinante: teri-se-a no caso (a) uma juntura entre cinema e mudo, no caso (b) entre ator e o resto do sintagma (ver MARTINS-BALTAR, 1977, p. 15 e ss.). Boulakia (1978) analisou com a ajuda de testes semânticos, a partir de enunciados sintetizados, a importância relativa do papel da entoação e da pausa na distinção de outros casos de agrupamento de constituintes ambíguo. Segundo seus resultados, para une tasse de thé russe [uma taça de chá russo] o pico melódico sobre thé [chá] favorece a interpretação “a taça é russa”. Essa vez ainda, é a marcação da juntura em russe [russa] que permite identificar como determinante de une tasse de thé [uma taça de chá].

Os mesmo meios permitem a distinção da “incidência da negação”, segundo os termos de Martins-Baltar (op. cit., p. 120) no caso da presença ou ausência da “vírgula”; isto é, da juntura no enunciado ambíguo: Il n’est pas venu(,) par ambition [ele não veio (,) por ambição]. A juntura fez de par ambition [por ambição] um enunciado complementar, o que implica que era justamente por ambição que ele não teria vindo. A supressão da ‘vírgula’ em Je ne suis pas venu (,) parce que j’étais malade [Eu não vim (,) porque eu estava doente] (exemplo citado de Martins-Baltar, op. cit., p. 120) nos leva a incorporar a subordinada causal à principal e fazer dela um complemento do predicado (“por causa da doença”), criando a expectativa de uma outra motivação (“Eu não vim por causa da doença, mas por essa ou por aquela outra razão”).

É ainda a entoação, e mais especificamente a entoação da juntura, que transforma um advérbio em modal particular. Bernard Pottier (1967, p. 20) qualifica naturalmente separada por uma juntura como “circunstante externo”. A juntura que separa o advérbio do predicado faz, ao mesmo tempo, uma marca pessoal, um comentário metalingüístico. A juntura dá ao advérbio um estatuto semiológico diferente.

A expressão prosódica desse estatuto é mais complexa do que o comentário do advérbio acima, é integrado na frase, e ocupa o mesmo lugar que o advérbio correspondente.

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Funções da entoação 4 Ivan Fónagy trad. Waldemar Ferreira Netto

(a) Je suis bien à Paris = ‘Je me sens bien à Paris’ [Eu estou bem em Paris = ‘Eu me sinto bem em Paris’] (b) Je suis bien à Paris = ‘Je suis à Paris, n’est-ce pas’ [(b) Eu estou bem em Paris = ‘Eu estou em Paris, não é?’] (citado de Martins-Baltar, op. cit, p. 16). É a ausência do acento de bien [bem] que

distingue o advérbio de intensidade e marca seu estatuto de particular modal ‘simples’. A melodia monotonal em um nível baixo-médio corresponde a seu caráter introdutório ( n’est-ce pas... [‘não é...]’). A oposição de bien [bem] complemento do verbo e de bem [bem] particular modal está bem estabelecida no francês falado.

Em todo caso, a prosódia tem um papel distintivo no nível da sintaxe do enunciado. Stockwell (1972), Léon (19872), Cruttenden (1970) distinguem entre função distintiva imediata e função distintiva indireta, em que a distinção tem outras funções, tal como a função demarcativa ou a função culminativa. Segundo Cruttenden (op. cit.), a distinção gramatical é sempre secundária e pode ser relacionadas a outras funções menos evoluídas do ponto de vista semântico.

Antes de responder a esta questão, nos devemos observar outros casos em que a entoação intervém na distinção de sentido das estrutura sintáticas.

A mudança de nível tonal e de intensidade são fatores concomitantes8 que permitem colocar em relevo o inciso: a inserção de uma expressão na frase, separando os membro de um sintagma nominal ou verbal.

Uma enumeração constituída de dois grupos acentuais pode ser distinguida pela entoação de uma estrutura apositiva. A repetição do mesmo esquema melódico caracteriza a enumeração. Assim, na seqüência, “Frédé�rique, mon voi�sin... [Frede�rico, meu vi�zinho...]” o retorno do mesmo esquema entoacional no mesmo nível melódico assinala que se trata de dois sintagmas equivalentes do ponto de vista sintático, análogos do ponto de vista pragmático, fazendo parte de uma série de dois, três ou mais membros. Uma relação apositiva deveria ser marcada por uma mudança de nível, a depressão e a compressão do segundo membro.

que i r Frédé- sin mon voi- --------------------------- A entoação tem um papel concomitante na enumeração: nas seqüências em que a

analogia morfossintática e semântica dos membros consecutivos exprimem claramente o caráter enumerativo nos textos escritos. Entretanto, o francês conhece três variantes estilística da entoação enumerativa, segundo o acento atribuído à última, à primeira ou à sílaba anterior dos membros da seqüência. A enumeração em que os picos melódicos coincidem com a última sílaba acentuada das palavras, representa a variante não-marcada. No estilo pedagógico ou jornalístico, o pico se encontra na primeira sílaba, que por um acento ‘didático’, segundo o termo proposto por Vincent Lucci (1979). É no estilo lírico ou elegíaco que o pico melódico, um aumento (de uma quarta) seguido de um descenso (de

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Funções da entoação 5 Ivan Fónagy trad. Waldemar Ferreira Netto

uma terça) , se situa entre a primeira e a última sílaba da palavra. A entoação enumerativa é distintiva uma vez que ele atribui um caráter enumerativo

a um texto que comporta somente os índices morfossintáticos e semânticos de uma enumeração. Em tais casos, ela ajunto ao texto uma mensagem como ‘mas não tem nada de novo’, ‘é redundante’, ‘é o eterno retorno das coisas’ (FONAGY, I e FONAGY, Y, 1983).9

Pode-se citar outros exemplos em que a função gramatical distintiva da entoação não pode ser derivada nem da ênfase, nem da demarcação. É, por assim dizer, a expressão musical da estrutura lógica das duas proposições sucessivas: ela cria uma tensão de espera que será resolvida desde que a proposição causal traga a resposta esperada. Ela é útil como o fator concomitante, mas é essa conjunção que coloca em evidência a verdadeira relação dos dois enunciados. Entretanto, na ausência ocasional da conjunção, é à entoação que é dado sugerir o fato de uma relação lógica. “�Il gèle [donc] � nous ne sortirons pas. [�geou (então), �nós não sairemos.” “�Nous ne sortirons pas [puisqu’] �il gèle [�Nós não sairemos, �já que geou]” (Charles Bally 1941, 1965: 56 s.). A entoação torna-se distintiva, mesmo se ela não exprime a relação das duas proposições mesmo sempre com a mesma precisão. Assim, no exemplo mais banal proposto por Martins-Baltar (1977, p. 111): “�Il pleut�je vais sortir. [�Chove �eu vou sair.]”10

O cliché melódico encaixado (FONAGY, I; BÉRARD, E; FÓNAGY, J, 1983, P. 158-159) que liga dois enunciados independentes sugere na maioria das vezes uma relação causal. “��C’était un accident.∪ C’était écrit dans les journaux [��Foi um acidente. ∪ Estava escrito nos jornais]”

Função modal A modalidade interrogativa não representa a interrogação, como o objeto que se opõe

à asserção, como o objeto? Roman jakobson já respondeu a essa questão: “A frase interrogativa não é uma referência, mas uma chamada de referência.”11 São os termos questão e asserção que tomam esses fenômenos como objetos, por abstração. A entoação permite distingui-los. Nesse momento, ele cumpre uma função distintiva, o que não implica uma análise conceitual dessas duas categorias modais.

Ela permite, entretanto, a identificação dos modos do enunciados (as modalidades) sem a ajuda de outros índices (morfemas ou inversão da ordem sujeito-verbo). Whilhelm Oppenrieder (em ALTMANN (ed), 1988, p. 153-163) distingue, seguindo a tradição clássica, cinco modalidades marcadas pela entoação: marquées par l’intonation: injunção (Aufforderung), questão (Frage), enunciação (Aussage), exclamação (Aufruf) et desejo (Wunsch).12

O estatuto modal da exclamação foi debatido em muitos artigos da coletânea de Almann (1988, ver principalmente o artigo de Altmann, de Oppenrieder, e de Anton Batliner)13. A partir de quais índices pode-se distinguir a modalidade de uma emoção de base ou de uma atitute recorrente? Segundo a definição porposta por Hans Altmann (1988a, em Meibauer, (ed)), a modalidade se distingue pela presença de marcadores lingüísticos constantes.14

Não são necessariamente as mesmas atitudes recorrentes que são elevadas na listas de modalidades para as diferentes línguas. Assim, o vougoul, contrariamente às línguas indoeuropéias, distingue as modalidades probabilitiva, necessitiva, precativa e pejorativa.

A distinção melódica de duas modalidades por ser mais ou menos bem estabelecida. Em um grande número de línguas, a oposição melódica da questão binárias (sim/não) e da asserção é muito bem elaborada e bem fixada.15 A distinção de questões e de asserç~çoes

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Funções da entoação 6 Ivan Fónagy trad. Waldemar Ferreira Netto

alternativas, em francês e em húngaro, é menos bem estabelecida, mas funcional: o sucesso de identificação varia entre 43 e 100%

Michel Martins-Baltar (1977, p. 62-63) se serviu do termo modalidade como um homônimo de atitude proposicional (volição, julgamente, sentimento). Ele opôs a atitude modal ás outras atitudes cujo conteúdo não pode ser formulado por uma proposição.16

Função imitativa Os movimentos melódicos podem re-présenter [re-apresentar, em português], no

sentido literal do termo, o movimento espacial no sentido físico ou metafórico do termo, imitando pelo meios que lhe são próprios, pelo aumento ou decenso do tom, tal como definido por Aristoxène (4º século antes de nossa era). A imitação é uma maneira elementar da representação que permite refletir o objeto sem haver de recriado no nível do pensamento conceitual como lexema ou morfema. A melodia compartilha essa capacidade imitativa com os órgãos da fala. Os lábios e a língua podem reproduzir alguns eventos externos ou interner no interios da cavidade bucal. A entoação irônica é um modelo da imitação caricatural, uma pantomina do movimento mental (FÓNAGY [1993] 1991, p. 135-137). Eva Bérard (1996), em sua análise fonética e semântica da “Balançoire” interpretada por Yves Motand, colocou em evidência, entre outras coisas, os meios prosódicos que permitiram ao artista reproduzie o movimento do balanço e dar ao ouvinte a ilusão de reviver essa experiência (op. cit., p. 306-309).17

Função de chamamento O modelo funcional de Karl Bühler (1934), o apelo coloca em destaque o papel que

tem o ouvinte (o outro) no ato de comunicação. No sentido estrito do termo, o apelo é um ato de linguagem que pode tomar diferentes formas, segundo a situação e segundo a relação dos participantes do ato de comunicação. Dafydd Gibbon (1976, p. 276 e ss.) distinque hailing (grito para qualquer um: “hal-lo!”, “ Yoo-hoo!”), calling (chamar qualquer um: “John-nee!”), greeting (cumprimento, “By-by”), formulaic shouting (fórmulas de chamamento: “Le dîner est servi! [O jantar está servido!]”), talking to babes-in-arms (mimar o bebê), transaction (chamamentos ligados a convenções “S’il vous plaît [Por favor!], “Merci-i [Obriga:ado]”)

O modelo funcional de Roman Jakobson (SW 3, p. 18-51 [960]) permite distinguir a função conativa (vocativo, imperativo) da função fática que serve para preservar o contato entre interlocutores (eh!, alô, está ouvindo?). A entoação tem um papel importante nos dois casos.

Função lógica A asserção (e questões) alternativas — as disjunções como operações lógicas —

podem ser exclusivas ou inclusivas. O ou exclusivo não atribui valor de verdade senão a um dos dois termos, seja a seja b. Em uma disjunção inclusiva, a verdade de a não exclui a verdade de b. Segundo alguns lingüistas, a entoação distingue entre os dois tipos de alternativas, o que permite atribuir à entoação uma função lógica (VARGA, 1981). Os testes semânticos feitos a partir de enunciados alternativos mostram claramente que a distinção das duas operações lógicas não é senão aparente. De fato, os informantes distinguem entre uma atitude permissiva e uma atitude voluntária, categórica. A disjunção exclusiva favorece a polarização tonal: o primeiro termo se desloca para cima, e o segundo

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Funções da entoação 7 Ivan Fónagy trad. Waldemar Ferreira Netto

para baixo (FÓNAGY; BÉRARD, 1980). Função preditiva A preparação da fase seguinte, a coarticulação progressiva é um caráter fundamental

da fala. Ela se manifesta particularmente no nível prosódico. Pode-se verificar isso apresentando a grupos de ouvintes enunciados truncados e aplicando aos participantes teste de completar lacunas. Dessa maneira, ou ouvintes húngaros puderam precisar de 15 a 18 casos em 19 se a proposição apresentada seguida de uma coordenada copulativa (introduzida por és ‘e’) ou por uma proposição adversativa (introduzida por de ‘mas’). Para as subordinadas causais ou concessivas, o sucesso da previsão variou entre 16 e 19 casos, em 19.18 Da mesma maneira,a melodia das enumerações assinala, claramente, trata-se do primeiro membro (n-1) da enumeração, ou então, ao contrário, a enumeração parece continuar (FÓNAGY; MAGDICS, 1967, p. 166-171)

Jacqueline Vaissière (2001, p. 11) distingue duas formas de antecipação. Um aumento antecipatório (“pre-rise”) seguido de um descenso que prepara um aumento maior de continuação. Uma queda preparatória seguida de uma subida (“pre-fall rise”) precede e prepara uma queda final.

A tensão crescente que reflete a o aumento do tom no curso da apresentação do tema precede a solução melódica e semântica que leva o tema (GRAMMONT, 1964).A melodia do enunciado concessivo nos prepara para uma conclusão restritiva. Segundo os testes feitos a partir de enunciados truncados, o ouvinte prevê na maioria dos casos se a proposição seguinte será introduzida por e ou por mas (FÓNAGY, 1979; 1981; GROSJEAN, 1983). Assim, apresentando-se a 100 sujeitos a primeira parte dos enunciados:

(a) Oui, c’est un gentil garçon (et il est le premier de sa classe) (b) Oui, c’est un gentil garçon (mais il n’aime pas faire les commissions) [(a) Sim, ele é um moço educado (e é o melhor da classe) (b) Sim, ele é um moço educado (mas não gosta fazer as lições)] As divergências prosódicas das duas proposições permitiram a 87 sujeitos, em 100,

prever a proposição suprimida (em um teste de escolhas forçadas). Na primeira proposição (a), o tom ascendente da palavra garçon no início até o fim. Na segunda proposição (b), a ascenção foi seguida de um descimento (de uma depressão), formando um tipo de gancho. Verificamos geralmente essas depressões tonais nas enunciações refletindo uma atitude negativa, restritiva, ambivalente ou hesitante. Segundo o testemunho dos testes estatísticos, os resultados foram bastante significativos: os sujeitos previram em 87% dos casos a conjunção suprimida (FÓNAGY, 1979, p. 116).

A função preditiva pode se transformar em função distintiva. A nasalização da vogal anuncia, em francês antigo, a consoante nasal subseqüente. Após a queda das consoantes nasais em posição final, a nasalização transformou-se de um traço redundante em um traço distintivo: pôde-se assistir ao nascimento da oposição das vogais orais e das vogais nasais. De uma maneira semelhante, a melodia preditiva se transforma em entoação distintiva nos enunciados elípticos, ou a melodia, por si só, relaciona o sentido da proposição ausente. Et alors? [E daí?] dito com um tom ascendente convida o locutor a contar a seqüência da história. O mesmo enunciado, pronunciado com um abaixamento de um quarto de tom ao nível baixo médio, sugere “e o que eu tenho com isso?” (Martin-Baltar, 1970; 1977).

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Funções da entoação 8 Ivan Fónagy trad. Waldemar Ferreira Netto

Encontram-se estratégias tonais semelhantes em inglês, em alemão, em russo, em húngaro. Função alusiva Algumas entoações são “vagamente distintivas”, na medida em que elas se referem a

um objetos sem o definir de uma maneira explícita. Essa função, que se poderia chamar de alusiva, tem papéis importantes na fala cotidiana: ela permite sugerir opiniões sem se engagem formalmente, ou exprimir idéias em gestação, antes de encontrar as palavras apropriadas para as elevar ao nível do pensamento conceitual. Em um sentido mais extenso, pode-se dizer que a melodia das enunciações é sempre mais ou menos alusiva: o ouvinte não pode se furtar de atribuir um sentido aos desvios dos movimentos melódicos, em relação a uma linha melódica ideal (abstrata) perfeitamente neutra.

Em um sentido mais específico, pode-se reservar o termo de entoação alusiva às formas melódicas recorrentes, convencionais que o ouvinte é capaz de traduzir em linguagem vergal. A entoação irônica, elevada ao nível conceitual, quer dizer “eu não pensei realmente, eu pensei exatamente o contrário daquilo que eu estou dizendo.” O húngaro conhece uma forma de ênfase alusiva.

Kati tudta ‘Kati (o) sabia’ quer dizer, segundo acento caia na primeira ou na segunda palavra, “É Kati que o saber’ ou “Kati, ele, o sabia”. Há uma forma de entoação, próxima da ironia, que implica claramente uma mensagem complementar: “[Kati, ele o sabia], mas alguns outros, que eu prefiro não nomear (você sabem muito bem em que eu penso), não o saberia(m).”19

Função identificadora Os testes feitos a partir de gravações laringográfica, que não deixam permanecer

senão os traços prosódicos em ausência do ‘texto”, mostram que os informantes distinguem a partir de índices prosódicos, a leitura da conversação, o curso livre do curso espontâneo (FÓNAGY, 1978). A voz da narradora de um conto popular é melhor identificada como tal (33 em 36 casos). Pelo contrário, o discurso político é muitas vezes tomado por uma tirade cornélienne (16 em 36 casos) (FÓNAGY, 1978). Os testes semânticos justificam admitir uma função identificadora proposta por Pierre Léon (1971)

A estratégia melódica dos locutores e das locutoras varia segundo o gênero do discurso. Eles mudam involuntariamente o nível tonal. A altura média da fala dos mesmos locutores vai além, no curso de uma conferência e da exposição, o nível da conversação em francês (FÓNAGY; LUCCI; BOË, 1977; LUCCI, 1979; 1983) como no húngaro (FÓNAGY; MAGDICS, 1967). O movimento tonal é mais vivo, as mudanças de altura menos previsíveis na conversação do que na exposição livre e na exposição livre em relação à leitura.20

Pode-se gravar, ao vivo, os efeitos de uma mudança de gênero súbita. Durante sua exposição, Madame F.R, ouviu um ruído devido à indução do microfone. “Ça y est, ça commence à faire du bruit![ ]”, ela disse, e seu nível tonal abaixou repentina e rapidamente uma terça.

As diversas formas de leitura — fluxo de leitura, leitura de um narrativa, leitura de um conto de fadas, leitura de informações — distinguem-se pela recorrência de um número limitado de configurações melódicas. As curvas melódicas — um decréscimo gradual seguido de um aumento gradual—, caracterizam a leitura, sobretudo aquelas dos contos de fada. No fluxo da leitura de nossas duas locutoras, as curvas melódicas predominaram nos

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Funções da entoação 9 Ivan Fónagy trad. Waldemar Ferreira Netto

contos de fada21 e lhes atribuíam um caráter ondulante. Se solicitávamos a uma locutora reler uma passagem de sua exposição livre ou seus enunciados produzidos no curso de uma conversação (gravados), o número de curva aumentava sensivelmente. A linha melódica ondulante dos contos de fada contrasta com a curva angular, irregular das informações televisadas (FÓNAGY, 1982).

A “vivacidade” do tom da conversação se explica, em parte, pela ausência da isomorfia estrutural e tonal (PH.MARTIN, 1973; 1977). A estrutura melódica faz o contraponto com a estrutura sintática. Os aumentos tonais repetidos dão contorno às unidades sintáticas, e tomam a atenção do ouvinte para um evento.22

Caracterologia vocal Os atores e as atrizes continuam a obra do escritos emprestando ás personagem que

eles encarnam um estilo vocal apropriado. A criação vocal dos comediantes nos permite estudar os meios que constituem a personagem vocal do carateres. Nos podemos comparar as variantes fonética e prosódicas de eles se servem para ‘assentar’ a personagem. Pode-se facilitar a análise convidando o autor a pronunciar o mesmo texto e colocando na pele das personagem caráter contrastantes: um general, um romântico.23

Essas análises poderiam lançar as bases de uma futura ciência, a da caraterologia vocal, comparável a grafologia científica. A caracterologia vocal teria a vantagem de poder aproveitar do conhecimento das estruturas prosódica que correspondem às diversas emoções e atitudes.

Os psicólogos e os psiquiatras se servem de índices vocais para interpretar a evolução mental de seus pacientes (MOSES, 1954; OSTWALD, 1973; HARGREAVES; STARKWATHER, 1964; MAHL; SCHULZE, 1964).

Função estética A repetição ou a variação de uma estrutura melódica, independentemente do papel

que ela tenha no enunciado, executa ao mesmo tempo o papel que a repetição e a variação de um tema têm no canto ou em uma composição musical: uma função estética por excelência. Os clichês melódicos são o ponto entre a fala e o canto. A redundância (a alta regularidade) manifesta-se, e na vibração das cordas vocais, e na seqüência quasi musical de tons (FÓNAGY, I; BÉRARD, E; FÓNAGY, J.; 1983).

Função expressiva Discutiu-se muito sobre a função representativa, a função distintiva ou a função

gramatical, mas nunca alguém pensou em colocar em questão a função expressiva da entoação. As discussões eram e estão centradas no número das emoções e das atitudes expressivas, que os meios prosódicos permitem distingue, sobre os meios de que se servem para as exprimir, e sobre as semelhanças e as diferenças que caracterizam a expressão dos mesmos conteúdos emotivos nas diversas língua aparentadas e não-aparentadas.

Os pequenos, bem antes da idade da fala, reconhecem as emoções das pessoas à sua volta e reagem pelo medo e pelo choro à expressão vocal de cólera e com o sorriso à aproximação vocal de ternura.

Para obter resultados confiáveis e quantificáveis sobre a transmissão de um grande número de emoções e de atitudes emotivas, é importante assegurar-se de que a transmissão

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vocal de conteúdos emotivos efetivamente ocorreu, para colocar em evidência pela seqüência de diversos fatores que permitiram a transmissão vocal dos conteúdos emotivos.

A primeira tarefa que se impõe é isolar a comunicação vocal afastando as informações lexicais e gramaticais. Pode-se conseguir isso mesmo sem ajuda técnica substituindo as palavras por seqüências de sílabas que não têm nenhuma significação. Os pseudo-enunciado quasi húngaros kisera mera ba:vatag não significam nada nem para húngaros nem para japoneses. É isso que nos permite apresentar as 18 variantes emocionais do pseudo-enunciado por vez a estudantes húngaros, americanos, checos, franceses e japoneses. A distribuição significava das respostas (ver FÓNAGY, 1981) indica que a transmissão vocal das emoções, tais como a cólera, o rancor, o medo, a alegria, a surpresa ou as atitudes como o desejo (longing), a ameaça, a súplica, a persuasão ou a ironia (moqueria) podem muitas vezes ir além das palavras.

A expressão vocal compreende dois fatores distintos: o jogo dos órgãos articulatórios, de um lado, e os traços prosódicos (velocidade, acento, entoação) de outro lado. Para eliminar as informações bucais (supraglotais), é preciso usar um glotógrafo (ou laringógrafo)24 que transmita apenas as vibrações das cordas vocais (FÓNAGY, 1979). Ou ouvintes percebem somente as variações melódicas e a velocidade da fala. Os ouvintes americanos, 54 estudantes de lingüística, deveriam atribuir o sinal sonoro a uma das 11 emoções e atitudes propostas (ternura, cólera, cólera contida, alegria, medo, tristeza, faceirice, desdém, desejo, nostalgia, censura, ironia). Trata-se de emoções e atitudes interpretadas pela atriz. Os testes estatísticos (χ

2) confirmaram que os valores positivos obtidos eram significativos para um nível de 0,05.

Função exploratória e preparatória Como o termo parece sugerir, as formas melódicas expressivas têm por função a ex-

pressão de diversos movimentos mentais que distinguem sua intensidade e o estado de excitação das operações cognitivas, puramente elaborativas. A ex-pressão dos estados emotivos visa, então, a reduzir uma tensão mental elevada.

As novas abordagens sociolingüísticas e cognitivas evidenciaram que a redução da tensão interna está longe de ser a única função das emoções e de suas manifestações vocais. Freud fez no quadro de análise da angústia um primeiro passo na direção da avaliação utilitária e cognitiva das emoções. Freud se encontra no grito angustiado do bebê que precede a carência (a fome) devido à ausência da mãe. “Essa mudança marca o primeiro grande progresso nas preocupações da subsistência; ele implica a transição do estado de angústia recorrente à utilização da angústia como sinal de perigo” (Inhibition, symptôme et angoisse, GW 14; p. 113-205, p. 168. SE 20, p. 87-171). Magda Arnold vê na emoção as tendência de atos “calques-bleus [blue prints]” de idéias em gestação, o plano para futuras ações. Cada emoção pressupõe, segundo Plutchik (1962; 1980), uma avaliação prévia quanto ao objetivo benéfico ou maléfico de um ato, a partir de estímulos externos ou internos. A cólera é um mecanismo de mediação entre uma frustração e a agressão (BERKOWITZ, 1962).

Kalus R. Sherer elaborou em publicações sucessivas (1981; 1982; 1984) uma teoria cognitiva das emoções que permite prever sua expressão vocal. ele representa as emoções como a interface entre o organismo e seu entorno, indispensável para a sobrevivência da espécie. As emoções preparam as reações adequadas às diversas situações. Um acontecimento imprevisto que faça obstáculo à conclusão de um ato: desencadeando o medo. Na falta de meios apropriados para transpor um obstáculo, a fuga é a única saída. Ela

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se exprime no nível prosódicos por uma inspiração profunda, seguida de uma respiração acelerada.25

Herarquia das funções. As funções que nós vimos separadamente contribuem simultaneamente na articulação

e no enriquecimento da mensagem. E o grau de importância de sua participação que varia segundo o gênero do discurso.

A função de estruturação, a função demarcativa, bem onipresente, têm um papel particularmente importante na narrativa neutra ou na comunicação científica. Elas correm o rico de se suprimirem por momentos em um diálogo apaixonado. A função de ênfase (de colocar em relevo) tem um papel maior no discurso com caráter pedagógico ou político.

A função preditiva passa ao primeiro plano no estilo oratório que visa a aumentar a tensão, retardando a conclusão. O estilo oratório usa (e abusa), ao mesmo tempo, da função modal, aumentando o número das questões ditas retóricas, para criar as tensões a se resolverem.

A presença simultânea das funções não elimina a sua ordem genética. Visto sob o ângulo evolutivo, a função primária da entoação é a ex-pressão no sentido literal do termo: a redução da tensão mental com a ajuda da fala. É a função única do grito que é ao mesmo tempo o primeiro ato de fala do recém-nascido. A expressão das emoções, a das atitudes e a distinção das modalidades representam três fases da evolução sucessiva na análise e na expressão de conteúdos mentais.

A entoação é motivada na medida em que ela representa o ato que a desencadeia. Assim, os saltos repetidos a partir de uma linha melódica rígida que caracteriza a cólera são o reflexo acústico de um combate, as linhas melódicas ondulantes mimetizam os movimentos de cuidado. A redução súbita da gama melódica e a fixação do movimento tonal na angústia reproduzem, no nível acústico, o comportamento do homem perseguido que se agacha imóvel para passar despercebido (DARWIN, 1872, p. 77/81/289; FÓNAGY, 1991[1983], p. 128-129)

Notas 1 Recentemente (18 de janeiro de 2003) uma sessão da Sociedade de Lingüística de Paris teve por tema central as “Funções e meios de expressão da focalização através das línguas”. 2 Harsgove e MacGarr (1994) consagram um livro à organização prosódica do discurso. 3 Nós já analisamos, a partir de conversações e de falas espontâneas, os aspectos prosódicos e semânticos da coordenação parafrástica (FONAGY, I e FONAGY, J., 1983). 4 ““Il fallait pas chercher la bonne �ré-��ponse. Il fallait transcrire comme vous le pro-�non��ciez. Il n’y avait pas à chercher à �faire ��mieux.” Esse alongamento da gama melódica no final do terceiro enunciado que marca a unidade discursiva parafrástica. 5 Para uma análise aprofundada das relações entre estrutura do enunciado, do texto e estrutura prosódica, ver AUCHLIN e FERRARI, 1994. 6 Não há uma base gramatical para entoação... O caráter distintivo do sentido… não pode ser definido pela sentença gramatical tipo em que a entoação ocorre, mas pela atitdo do falante e no tempo em que a sentença é dada (oc.10) 7 “A sugestão de que haja uma função puramente gramatical da entoação, opondo-se à atitudinal, é teoricamente unsound” (CRYSTAL, oc, p. 254, ver ainda, p. 288-290) 8Eu emprestei o termo da fonologia em que o termo de variação extrafonológica concomitante designa as variantes “que acompanham uma oposição fonológica na qualidade de caráter acessório” (Projeto de terminologia fonológica, publicado em suplemento no fim do tomo 4 (1931) dos Travwux du Cercle Linguistique de Prague, p. 318 e s.) que, entretanto, pode aparecer, na ausência ocosional desse contexto

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fonético, para substituir e assumir uma papel distintivo. 9 “Bon bien sûr / � c’est un film �extraordinaire / �c’est une documentation / �puis on fait �une interprétation / �marxiste ou catholique...” [“Certamente / � é um filme �extraordinário/ �é uma documentação / �mas de fato �uma interpretação/ �marxista ou católica...”]

10 Martins-Baltar propôs muitas soluções: (a) ‘eh bien, je vais sortir’, (b) ‘puisqu’il pleut, je vais sortir’; (c) ‘Il pleut, puisque je vais sortir.’

11 “The interrogative sentence is not a reference but only an appeal for reference [A sentença interrogativa nãoé uma referência mas somente um apelo para referência]” [1939]1971 SW1, p. 289) 12 O desejo não figura entre as modalidade propostas por Maria Schubiger para o inlgês (1958). 13”Der Exlamativ: mehr als Aussage oder doch nur mehr oder weniger Aussage? [A exclamativa, mais que um enunciado ou somente mais ou menos um enunciado?]”, ALTMANN (ed.), 1988, p. 207-222). Ver também FÓNAGY; BÉRARD, 1996,;FÓNAGY, 2001, p. 146-157 e p. 678-679]. 14

“...eine regelmässige Zuordnung eines Satztyps...mit angebbaren formalen Eigenschaften zu einer bestimmten Art von Funktion im Sprachlichen Handeln, die ich Funktionstyp nennen will (op. cit.. 3)”. 15 Em húngaro, a entoação da questão binária tem três variantes melódicas bem determinadas, em função do lugar do acento. 16 Admite-se o medo como uma atitude modal, mas não a ternura 17 Assim, a comparação de notas musicais e da evolução da freqüência musical mostra que “a sílaba Une de

‘Une demoiselle’ se situa em torno de um dó2 na partitura, que corresponde à freqüência de 130,8 Hz, enquanto que no canto de Yves Montand a voz sobe de 90 Hz para 230 Hz...” (p. 308).

18 Os resultados foram apresentados e analisados em detalhes em uma obra sobre entoação do húngaro (FÓNAGY; MAGDICS, 1967, P. 152-181)

19 Ver FÓNAGY, 1989, p. 63 20 Isso quer dizer, em uma linguagem mais ‘técnica’, que desvio padrão, para os desvios de altura

intersilábica da conversação varia entre 2,38 e 2,65; é claramente menos elevado no fluxo da leitura pelas mesmas locutoras, variando entre 1,39 e 1,60 (FONAGY, 1982).

21 As 40 e 48 curvas melódicas ultrapassaram significativamente os valores teóricos (37,9 e 30,0. 77 curvas (valor teóricos 65,5). Na conversação, as mesmas locutoras relevaram claramente menos curvas: 28 (valor teórico 11) e 11 (valor teórico 26,3).

22 “quel est l’intérêt �comparé �de la conversation �justement” (Madame A.B.). �il �fallait �opposer �ce �bé...” (Madame F.R.).

23 Para uma descrição mais detalhada dos métodos e resultados, ver FÓNAGY, 1991[19983], p. 176-187. 24 Nós nos servimos nos cursos dos anos 1969-1974 do glotógrafo de Fabre na versão melhorada por A.J.

Foucin (FOURCIN; ABBERTON; 1972). 25 Hipócrates viu na hiperventilação um traço característico da cólera.

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