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1 CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM ETEC RUBENS DE FARIA E SOUZA FUNDAMENTOS DE ENFERMAGEM I Compilação e Organização: Dra. Catharina Maria Buglia Koritiake CORENSP- 15074 Nome: ____________________________________________________

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CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM

ETEC RUBENS DE FARIA E SOUZA

FUNDAMENTOS DE ENFERMAGEM I

Compilação e Organização:

Dra. Catharina Maria Buglia Koritiake

CORENSP- 15074

Nome: ____________________________________________________

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2Esta apostila foi elaborada em consonância ao Plano de Curso do Técnico em

Enfermagem do Centro Paula Souza – SP. Os conteúdos foram retirados de diversos livros, apostilas e documentos do MS; Secretaria Estadual de Saúde de SP; COFEN e CORENSP. Aceitamos críticas e sugestões para o aprimoramento desta.

Dra. Catharina Maria Buglia Koritiake CORENSP 15074

O QUE É ENFERMAGEM? É uma ciência e uma arte. A ciência da enfermagem deseja proporcionar um corpo de conhecimentos abstratos, resultantes de pesquisas científicas e análises lógicas, e deseja ser capaz de transferir esses conhecimentos para a prática. O uso criativo e imaginativo do conhecimento para a melhoria do homem encontra expressão na arte da enfermagem. É uma ciência empírica, cujo propósito é descrever e explicar o fenômeno central de seu interesse (o homem, indivíduo ou grupo) e de predizer a seu respeito; descrição, explanação e predição são os precursores da intervenção baseada em conhecimentos. Cabe à enfermagem desenvolver atividades para a manutenção e promoção da saúde, bem como para a prevenção de doenças, sendo de sua responsabilidade o diagnóstico e a intervenção de enfermagem. Seu objetivo é assistir as pessoas para atingirem seu potencial máximo de saúde. Os princípios para guiar a prática emergem do sistema conceitual, cujo fenômeno é o processo vital. A prática da enfermagem procura promover a interação sincrônica entre o homem e o ambiente, fortalecer a coerência e a integridade do corpo humano, e dirigir e redigir a padronização dos campos humanos e ambientais para a realização máxima do potencial de saúde. Saúde e doença estão submersos na totalidade sinergética do homem; desvios ao longo do eixo vital resultam da complementação sincrônica do Homem e do ambiente. A prática é criativa e imaginativa. Está fundamentada em conhecimentos abstratos, julgamento intelectual e compaixão humana. Os objetivos da enfermagem tomam e adicionam dimensões na medida em que conhecimentos teóricos proporcionam direções à prática. A enfermagem está se dirigindo a uma nova era: a do preenchimento das necessidades humanas.

PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM É um agente de mudanças: através das atividades da enfermagem ele visa encontrar relações entre o homem e o ambiente, no processo vital. Visa incorporar novos conhecimentos e processo instrucional para encontrar uma maneira de ação. O enfermeiro de amanhã será diferente do de hoje, e o de hoje é diferente do de anos passados. Os novos horizontes da enfermagem exigem do profissional responsabilidade de elaboração das bases científicas desta ciência em desenvolvimento. O enfermeiro deve estar motivado para acompanhar os conhecimentos e para aplicá-los, bem como para realizar investigações e pesquisas. SAÚDE

Apesar de Abdellah não ter nunca definido saúde em si, seu conceito de saúde pode ser descrito como o padrão dinâmico de funcionamento, em que existe uma contínua interação das forças internas e externas que resulta no uso ideal de recursos necessários e serve para minimizar as vulnerabilidades. A ênfase deve ser colocada sobre a prevenção e a reabilitação, tendo o bem-estar como meta para toda a vida. Ao realizar as ações de enfermagem através de uma abordagem holística, a enfermeira ajuda o cliente a adquirir um estado de saúde. No entanto, para desempenhar efetivamente essas ações, a enfermeira deve identificar corretamente as faltas ou as deficiências relativas à saúde que o cliente está apresentando. Essas faltas ou deficiências são as necessidades de saúde do cliente.

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3A EVOLUÇÃO DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE NOS PERÍODOS HISTÓRICOS

- Período Pré-Cristão Neste período as doenças eram tidas como um castigo de Deus ou resultavam do poder do demônio. Por isso os sacerdotes ou feiticeiras acumulavam funções de médicos e enfermeiros. O tratamento consistia em aplacar as divindades, afastando os maus espíritos por meio de sacrifícios. Usavam-se: massagens, banho de água fria ou quente, purgativos, substâncias provocadoras de náuseas. Mais tarde os sacerdotes adquiriam conhecimentos sobre plantas medicinais e passaram a ensinar pessoas, delegando-lhes funções de enfermeiros e farmacêuticos. Alguns papiros, inscrições, monumentos, livros de orientações política e religiosa, ruínas de aquedutos e outras descobertas nos permitem formar uma idéia do tratamento dos doentes. -Egito Os egípcios deixaram alguns documentos sobre a medicina conhecida em sua época. As receitas médicas deviam ser tomadas acompanhadas da recitação de fórmulas religiosas. Pratica-se o hipnotismo, a interpretação de sonhos; acreditava-se na influência de algumas pessoas sobre a saúde de outras. Havia ambulatório gratuito, onde era recomendada a hospitalidade e o auxílio aos desamparados. - Índia Documentos do século VI a.C. nos dizem que os hindus conheciam: ligamentos, músculos, nervos, plexos, vasos linfáticos, antídotos para alguns tipos de envenenamento e o processo digestivo. Realizavam alguns tipos de procedimentos, tais como: suturas, amputações, trepanações e corrigiam fraturas. Neste aspecto o budismo contribui para o desenvolvimento da enfermagem e da medicina. Os hindus tornaram-se conhecidos pela construção de hospitais. Foram os únicos, na época, que citaram enfermeiros e exigiam deles qualidades morais e conhecimentos científicos. Nos hospitais eram usados músicos e narradores de histórias para distrair os pacientes. O bramanismo fez decair a medicina e a enfermagem, pelo exagerado respeito ao corpo humano proibia a dissecação de cadáveres e o derramamento de sangue. As doenças eram consideradas castigo. - Assíria e Babilônia Entre os assírios e babilônios existiam penalidades para médicos incompetentes, tais como: amputação das mãos, indenização, etc. A medicina era baseada na magia - acreditava-se que sete demônios eram os causadores das doenças. Os sacerdotes-médicos vendiam talismãs com orações usadas contra ataques dos demônios. Nos documentos assírios e babilônicos não há menção de hospitais, nem de enfermeiros. Conheciam a lepra e sua cura dependia de milagres de Deus, como no episódio bíblico do banho no rio Jordão. "Vai, lava-te sete vezes no Rio Jordão e tua carne ficará limpa”. (II Reis: 5, 10-11) - China Os doentes chineses eram cuidados por sacerdotes. As doenças eram classificadas da seguinte maneira: benignas, médias e graves. Os sacerdotes eram divididos em três categorias que correspondiam ao grau da doença da qual se ocupava. Os templos eram rodeados de plantas medicinais. Os chineses conheciam algumas doenças: varíola e sífilis. Procedimentos: operações de lábio. Tratamento: anemias; indicavam ferro e fígado; doenças da pele, aplicavam o arsênico. Anestesia: ópio. Construíram alguns hospitais de isolamento e casas de repouso. A cirurgia não evoluiu devido à proibição da dissecação de cadáveres. - Japão Os japoneses aprovaram e estimularam a eutanásia. A medicina era fetichista e a única terapêutica era o uso de águas termais. -Grécia As primeiras teorias gregas se prendiam à mitologia. Apolo, o deus sol, era o deus da saúde e da medicina. Usavam sedativos, fortificantes e hemostáticos, faziam ataduras e retiravam corpos estranhos, também tinham casas para tratamento dos doentes. A medicina era exercida pelos sacerdotes-médicos, que interpretavam os sonhos das pessoas. Tratamento: banhos, massagens, sangrias, dietas, sol, ar puro, água pura mineral. Dava-se valor à beleza física, cultural e a hospitalidade. O excesso de respeito pelo corpo atrasou os estudos anatômicos. O nascimento e a morte eram considerados impuros, causando desprezo pela obstetrícia e abandono dos doentes graves. A medicina tornou-se científica, graças a Hipócrates, que deixou de lado a crença de que as doenças eram causadas por maus espíritos. Hipócrates é considerado o Pai da Medicina. Observava o doente, fazia diagnóstico, prognóstico e a terapêutica. Reconheceu doenças como: tuberculose, malária, histeria, neurose, luxações e fraturas. Seu princípio fundamental na terapêutica consistia em "não contrariar a natureza, porém auxiliá-la a reagir". Tratamentos usados: massagens, banhos, ginásticas, dietas, sangrias, ventosas, vomitórios, purgativos e calmantes, ervas medicinais e medicamentos minerais.

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4- Roma

A medicina não teve prestígio em Roma. Durante muito tempo era exercida por escravos ou estrangeiros. Os romanos era um povo, essencialmente guerreiro. O indivíduo recebia cuidados do Estado como cidadão destinado a tornar-se bom guerreiro, audaz e vigoroso. Roma distinguiu-se pela limpeza das ruas, ventilação das casas, água pura e abundante e redes de esgoto. Os mortos eram sepultados fora da cidade, na via Ápia. O desenvolvimento da medicina dos romanos sofreu influência do povo grego. O cristianismo foi a maior revolução social de todos os tempos. Influiu positivamente através da reforma dos indivíduos e da família. Os cristãos praticavam uma tal caridade, que movia os pagãos: "Vede como eles se amam". Desde o início do cristianismo os pobres e enfermos foram objeto de cuidados especiais por parte da Igreja.

ENFERMAGEM

“Nenhuma ciência pode sobreviver sem filosofia própria. Embora esta muitas vezes não apareça de

maneira clara e por escrito, percebe-se que todos os cientistas, daquele ramo do saber humano, estão

ligados entre si por comum unidade de pensamento: na filosofia científica.

A filosofia leva a Unidade de pensar, e este pensar se dirige à busca da Verdade, do Bem e do Belo.

A enfermagem, como os outros ramos do conhecimento humano, não pode prescindir de uma filosofia

unificada que lhe dê bases seguras para o seu desenvolvimento.

Filosofar é "pensar a realidade", é "uma interrogação". Inúmeros são os conceitos de filosofia, mas

todos eles têm em comum: o Ser, o Conhecer e a Linguagem.

O Ser "é aquilo que é", é a realidade. Na enfermagem distinguimos três Seres: o Ser-Enfermeiro, o

Ser-Cliente ou Paciente e o ser-enfermagem.

O Ser-Enfermeiro é um ser humano, com todas as suas dimensões, potencialidades e restrições,

alegrias e frustrações; é aberto para o futuro, para a vida, e nela se engaja pelo compromisso assumido

com a enfermagem. Este compromisso levou-o a receber conhecimentos, habilidades e formação de

enfermeiro, sancionados pela sociedade que lhe outorgou o direito de cuidar de gente, de outros seres

humanos. Em outras palavras: o Ser-Enfermeiro é gente que cuida de gente.

O Ser-Cliente ou Paciente pode ser um indivíduo, uma família ou uma comunidade; em última análise,

são seres humanos que necessitam de cuidados de outros seres humanos em qualquer fase de seu ciclo

vital e do ciclo saúde-enfermidade.

Quando o Ser-Enfermeiro está isolado, ele não exerce enfermagem a não ser consigo mesmo. Para

que surja o Ser-Enfermagem é indispensável a presença de outro ser humano, o Ser-Cliente ou

Paciente. Do encontro do Ser-Enfermeiro com o Ser-Cliente ou Paciente surge uma interação resultante

das percepções, ações que levam a uma transação; neste momento surge o Ser-Enfermagem: um Ser

abstrato, um Ser que se manifesta na interação e transação do Ser-Enfermeiro com o Ser-Cliente ou

Paciente. O Ser-Enfermagem é um Ser que tem como objeto assistir as necessidades humanas básicas.

Está, portanto, intrinsecamente ligado ao ser humano. Esta assistência ao ser humano ocorre no ciclo

saúde-enfermidade e em qualquer fase do ciclo vital. O Scr-Enfermeiro aparece na iminência ou na

transcendência da ação de Enfermagem. O aspecto iminente da ação do Ser-Enfermeiro surge naquilo

que é rotineiro, cotidiano,mas não fica a ele limitado. Para atingir sua plenitude de ação o Ser-

Enfermeiro se subtranscende e pode alcançar assim os níveis mais elevados do Ser-Enfermagem.

Transcender o Ser-Enfermagem é ir além da obrigação, do "ter o que fazer". É estar comprometido,

engajado na profissão, é compartilhar com cada ser humano sob seus cuidados a experiência vivenciada

em cada momento. É usar-se terapeuticamente, é dar calor humano, é se envolver (sem base

neurótica) com cada ser e viver cada momento como o mais importante de sua profissão. Esta

transcendência assume um caráter mais importante no binômio vida-morte.

Ajudar a vir ao mundo um novo ser, nele ver todo o potencial que se desenvolverá, o mistério da

vida, é transcendental. A morte, fim inevitável de todos nós, é a ocasião única para a transcendência

do Ser-Enfermagem, no exato momento em que ajuda outro ser a crescer e se auto transcender na

passagem para uma outra vida, da qual pouco ou nada sabemos, mas que, com a ajuda do Ser-

Enfermeiro,o ser humano suporta sem temor, em paz, com segurança. Obter este resultado leva o Ser-

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5Enfermeiro aos píncaros da Transcendência do Ser-Enfermagem. É uma experiência única e que jamais

se repete por igual.” Dra.Wanda de Aguiar Horta

Ainda segundo a Dra.Wanda de Aguiar Horta, a enfermagem é “É uma ciência e uma arte. A ciência da

enfermagem deseja proporcionar um corpo de conhecimentos abstratos, resultantes de pesquisas

científicas e análises lógicas, e deseja ser capaz de transferir esses conhecimentos para a prática. O

uso criativo e imaginativo do conhecimento para a melhoria do homem encontra expressão na arte da

enfermagem.

É uma ciência empírica, cujo propósito é descrever e explicar o fenômeno central de seu interesse (o

homem, indivíduo ou grupo) e de predizer a seu respeito; descrição, explanação e predição são os

precursores da intervenção baseada em conhecimentos.

Cabe a enfermagem desenvolver atividades para a manutenção e promoção da saúde, bem como para

a prevenção de doenças, sendo de sua responsabilidade o diagnóstico e a intervenção de enfermagem.

Seu objetivo é assistir as pessoas para atingirem seu potencial máximo de saúde.

Os princípios para guiar a prática emergem do sistema conceitual, cujo fenômeno é o processo vital. A

prática da enfermagem procura promover a interação sincrônica entre o homem e o ambiente,

fortalecer a coerência e a integridade do corpo humano, e dirigir e redigir a padronização dos campos

humanos e ambientais para a realização máxima do potencial de saúde. Saúde e doença estão

submersos totalidade sinergética do homem; desvios ao longo do eixo vital resultam da complementação

sincrônica do Homem e do ambiente.

A prática é criativa e imaginativa. Está fundamentada em conhecimentos abstratos, julgamento

intelectual e compaixão humana.

Os objetivos da enfermagem tomam e adicionam dimensões na medida em que conhecimentos teóricos

proporcionam direções a prática. A enfermagem está se dirigindo a uma nova era: a do preenchimento

das necessidades humanas.

“Assistir em enfermagem é: fazer pelo ser humano aquilo que ele não pode fazer por si mesmo;

ajudar ou auxiliar quando parcialmente impossibilitado de se auto cuidar; orientar ou ensinar,

supervisionar e encaminhar a outros profissionais.”

HISTÓRIA DA ENFERMAGEM Origem da Profissão A profissão surgiu do desenvolvimento e evolução das práticas de saúde no decorrer dos períodos históricos. As práticas de saúde instintivas foram as primeiras formas de prestação de assistência. Num primeiro estágio da civilização, estas ações garantiam ao homem a manutenção da sua sobrevivência, estando na sua origem, associadas ao trabalho feminino, caracterizado pela prática do cuidar nos grupos nômades primitivos, tendo como pano-de-fundo as concepções evolucionistas e teológicas. Mas, como o domínio dos meios de cura passaram a significar poder, o homem, aliando este conhecimento ao misticismo, fortaleceu tal poder e apoderou-se dele. Quanto à Enfermagem, as únicas referências concernentes à época em questão estão relacionadas com a prática domiciliar de partos e a atuação pouco clara de mulheres de classe social elevada que dividiam as atividades dos templos com os sacerdotes. As práticas de saúde mágico-sacerdotais abordavam a relação mística entre as práticas religiosas e de saúde primitivas desenvolvidas pelos sacerdotes nos templos. Este período corresponde à fase de empirismo, verificada antes do surgimento da especulação filosófica que ocorre por volta do século V a.C. Essas ações permanecem por muitos séculos desenvolvidos nos templos que, a princípio, foram simultaneamente santuários e escolas, onde os conceitos primitivos de saúde eram ensinados. Posteriormente, desenvolveram-se escolas específicas para o ensino da arte de curar no sul da Itália e na Sicília, propagando-se pelos grandes centros do comércio, nas ilhas e cidades da costa. Naquelas escolas pré-hipocráticas, eram variadas as concepções acerca do funcionamento do corpo humano, seus distúrbios e doenças, concepções essas, que, por muito tempo, marcaram a fase empírica da evolução dos conhecimentos em saúde. O ensino era vinculado à orientação da filosofia e das artes e os estudantes viviam em estreita ligação com seus mestres, formando as famílias, as quais serviam de referência para mais tarde se organizarem em castas. As práticas de saúde no alvorecer da ciência relacionam a evolução das práticas de saúde ao surgimento relacionam a evolução das práticas de saúde ao surgimento da filosofia e ao progresso da ciência, quando estas

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6então se baseavam nas relações de causa e efeito. Inicia-se no século V a.C., estendendo-se até os primeiros

séculos da Era Cristã. A prática de saúde, antes mística e sacerdotal, passa agora a ser um produto desta nova fase, baseando-se essencialmente na experiência, no conhecimento da natureza, no raciocínio lógico - que desencadeia uma relação de causa e efeito para as doenças - e na especulação filosófica, baseada na investigação livre e na observação dos fenômenos, limitada, entretanto, pela ausência quase total de conhecimentos anátomo- fisiológicos. Essa prática individualista volta-se para o homem e suas relações com a natureza e suas leis imutáveis. Este período é considerado pela medicina grega como período hipocrático, destacando a figura de Hipócrates que como já foi demonstrado no relato histórico, propôs uma nova concepção em saúde, dissociando a arte de curar dos preceitos místicos e sacerdotais, através da utilização do método indutivo, da inspeção e da observação. Não há caracterização nítida da prática de Enfermagem nesta época. As práticas de saúde monástico-medievais focalizavam a influência dos fatores sócio-econômicos e políticos do medievo e da sociedade feudal nas práticas de saúde e as relações destas com o cristianismo. Esta época corresponde ao aparecimento da Enfermagem como prática leiga, desenvolvida por religiosos e abrange o período medieval compreendido entre os séculos V e XIII. Foi um período que deixou como legado uma série de valores que, com o passar dos tempos, foram aos poucos legitimados a aceitos pela sociedade como característica inerentes à Enfermagem. A abnegação, o espírito de serviço, a obediência e outros atributos que dão à Enfermagem, não uma conotação de prática profissional, mas de sacerdócio. As práticas de saúde pós monásticas evidenciam a evolução Enfermagem no contexto dos movimentos Renascentistas e da Reforma Protestante. Corresponde ao período que vai do final do século XIII ao início do século XVI. A retomada da ciência, o progresso social e intelectual da Renascença e a evolução das universidades não constituíram fator de crescimento para a Enfermagem. Enclausurada nos hospitais religiosos, permaneceu empírica e desarticulada durante muito tempo, vindo desagregarem-se ainda mais a partir dos movimentos de Reforma Religiosa e das conturbações da Santa Inquisição. O hospital, já negligenciado, passa a ser um insalubre depósito de doentes, onde homens, mulheres e crianças utilizam as mesmas dependências, amontoados em leitos coletivos. Sob exploração deliberada, considerada um serviço doméstico, pela queda dos padrões morais que a sustentava, a prática de Enfermagem tornou-se indigna e sem atrativos para as mulheres de casta social elevada. Esta fase tempestuosa, que significou uma grave crise para a Enfermagem, permaneceu por muito tempo e apenas no limiar da revolução capitalista é que alguns movimentos reformadores, que partiram, principalmente, de iniciativas religiosas e sociais, tentam melhorar as condições do pessoal a serviço dos hospitais. As práticas de saúde no mundo moderno analisam as ações de saúde e, em especial, as de Enfermagem, sob a ótica do sistema político-econômico da sociedade capitalista. Ressaltam o surgimento da Enfermagem como atividade profissional institucionalizada. Esta análise inicia-se com a Revolução Industrial no século XVI e culmina com o surgimento da Enfermagem moderna na Inglaterra, no século XIX. Enfermagem Moderna O avanço da Medicina vem favorecer a reorganização dos hospitais. É na reorganização da Instituição Hospitalar e no posicionamento do médico como principal responsável por esta reordenação, que vamos encontrar as raízes do processo de disciplina e seus reflexos na Enfermagem, ao ressurgir da fase sombria em que esteve submersa até então. Naquela época, estiveram sob piores condições, devido a predominância de doenças infecto-contagiosas e a falta de pessoas preparadas para cuidar dos doentes. Os ricos continuavam a ser tratados em suas próprias casas, enquanto os pobres, além de não terem esta alternativa, tornavam-se objeto de instrução e experiências que resultariam num maior conhecimento sobre as doenças em benefício da classe abastada. É neste cenário que a Enfermagem passa a atuar, quando Florence Nightingale é convidada pelo Ministro da Guerra da Inglaterra para trabalhar junto aos soldados feridos em combate na Guerra da Criméia. Período Florence Nightingale Nascida a 12 de maio de 1820, em Florença, Itália, era filha de ingleses. Possuía inteligência incomum, tenacidade de propósitos, determinação e perseverança o que lhe permitia dialogar com políticos e oficiais do Exército, fazendo prevalecer suas idéias. Dominava com facilidade o inglês, o francês, o alemão, o italiano, além do grego e latim. No desejo de realizar-se como enfermeira, passa o inverno de 1844 em Roma, estudando as atividades das Irmandades Católicas. Em 1849 faz uma viagem ao Egito e decide-se a servir a Deus, trabalhando em Kaiserswert, Alemanha, entre as diaconisas. Decidida a seguir sua vocação, procura completar seus conhecimentos que julga ainda insuficiente. Visita o Hospital de Dublin dirigido pelas Irmãs de Misericórdia Ordem Católica de Enfermeiras, fundada 20 anos antes. Conhece as Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo, Maison de la Providence em Paris.

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7Aos poucos vai se preparando para a sua grande missão. Em 1854, a Inglaterra, a França e a Turquia declaram guerra à Rússia: é a Guerra da Criméia. Os soldados acham-se no maior abandono. A mortalidade entre os hospitalizados é de 40%.Florence partiu para Scutari com 38 voluntárias entre religiosas e leigas vindas de diferentes hospitais. Algumas enfermeiras foram despedidas por incapacidade de adaptação e principalmente por indisciplina. A mortalidade decresce de 40% para 2%. Os soldados fazem dela o seu anjo da guarda e ela será imortalizada como a "Dama da Lâmpada" porque, de lanterna na mão, percorre as enfermarias, atendendo os doentes. Durante a guerra contrai tifo e ao retornar da Criméia, em 1856, leva uma vida de inválida. Dedica-se porém, com ardor, a trabalhos intelectuais. Pelos trabalhos na Criméia, recebe um prêmio do Governo Inglês e, graças a este prêmio, consegue iniciar o que para ela é a única maneira de mudar os destinos da Enfermagem - uma Escola de Enfermagem em 1859.Após a guerra, Florence fundou uma escola de Enfermagem no Hospital Saint Thomas, que passou a servir de modelo para as demais escolas que foram fundadas posteriormente. A disciplina rigorosa, do tipo militar, era uma das características da escola nightingaleana, bem como a exigência de qualidades morais das candidatas. O curso, de um ano de duração, consistia em aulas diárias ministradas por médicos. Nas primeiras escolas de Enfermagem, o médico foi de fato a única pessoa qualificada para ensinar. A ele cabia então decidir quais das suas funções poderiam colocar nas mãos das enfermeiras. Florence morre em 13 de agosto de 1910, deixando florescente o ensino de Enfermagem. Assim, a Enfermagem surge não mais como uma atividade empírica, desvinculada do saber especializado, mas como uma ocupação assalariada que vem atender a necessidade de mão-de-obra nos hospitais, constituindo-se como uma prática social institucionalizada e específica.

Primeiras Escolas de Enfermagem Apesar das dificuldades que as pioneiras da Enfermagem tiveram que enfrentar, devido à incompreensão dos valores necessários ao desempenho da profissão, as escolas se espalharam pelo mundo, a partir da Inglaterra. Nos Estados Unidos a primeira Escola foi criada em 1873. Em 1877 as primeiras enfermeiras diplomadas começam a prestar serviços a domicílio em New York. As escolas deveriam funcionar de acordo com a filosofia da Escola Florence Nightingale, baseada em quatro idéias-chave: 1- O treinamento de enfermeiras deveria ser considerado tão importante quanto qualquer outra forma de ensino e ser mantido pelo dinheiro público. 2- As escolas de treinamento deveriam ter uma estreita associação com os hospitais, mas manter sua independência financeira e administrativa. 3- Enfermeiras profissionais deveriam ser responsáveis pelo ensino no lugar de pessoas não envolvidas em Enfermagem. 4- As estudantes deveriam, durante o período de treinamento, ter residência à disposição, que lhes oferecesse ambiente confortável e agradável, próximo ao hospital. Sistema Nightingale de Ensino As escolas conseguiram sobreviver graças aos pontos essenciais estabelecidos: 1º. Direção da escola por uma Enfermeira. 2º. Mais ensino metódico, em vez de apenas ocasional. 3º. Seleção de candidatos do ponto de vista físico, moral, intelectual e aptidão profissional.

HISTÓRIA DA ENFERMAGEM NO BRASIL A organização da Enfermagem na Sociedade Brasileira começa no período colonial e vai até o final do século XIX. A profissão surge como uma simples prestação de cuidados aos doentes, realizada por um grupo formado, na sua maioria, por escravos, que nesta época trabalhavam nos domicílios. Desde o princípio da colonização foi incluída a abertura das Casas de Misericórdia, que tiveram origem em Portugal. A primeira Casa de Misericórdia foi fundada na Vila de Santos, em 1543. Em seguida, ainda no século XVI, surgiram as do Rio de Janeiro, Vitória, Olinda e Ilhéus. Mais tarde Porto Alegre e Curitiba, esta inaugurada em 1880, com a presença de D. Pedro II e Dona Tereza Cristina. No que diz respeito à saúde do povo brasileiro, merece destaque o trabalho do Padre José de Anchieta. Ele não se limitou ao ensino de ciências e catequeses. Foi além. Atendia aos necessitados, exercendo atividades de médico e enfermeiro. Em seus escritos encontramos estudos de valor sobre o Brasil, seus primitivos habitantes, clima e as doenças mais comuns. A terapêutica empregada era à base de ervas medicinais minuciosamente descritas.

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8Supõe-se que os Jesuítas faziam a supervisão do serviço que era prestado por pessoas treinadas por eles. Não

há registro a respeito. Outra figura de destaque é Frei Fabiano Cristo, que durante 40 anos exerceu atividades de enfermeiro no Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro (Séc. XVIII). Os escravos tiveram papel relevante, pois auxiliavam os religiosos no cuidado aos doentes. Em 1738, Romão de Matos Duarte consegue fundar no Rio de Janeiro a Casa dos Expostos. Somente em 1822, o Brasil tomou as primeiras medidas de proteção à maternidade que se conhecem na legislação mundial, graças à atuação de José Bonifácio Andrada e Silva. A primeira sala de partos funcionava na Casa dos Expostos em 1822. Em 1832 organizou-se o ensino médico e foi criada a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. A escola de parteiras da Faculdade de Medicina diplomou no ano seguinte a célebre Madame Durocher, a primeira parteira formada no Brasil. No começo do século XX, grande número de teses médicas foram apresentadas sobre Higiene Infantil e Escolar, demonstrando os resultados obtidos e abrindo horizontes e novas realizações. Esse progresso da medicina, entretanto, não teve influência imediata sobre a Enfermagem. Assim sendo, na enfermagem brasileira do tempo do Império, raros nomes de destacaram e, entre eles, merece especial menção o de Anna Nery.

Anna Nery Aos 13 de dezembro de 1814, nasceu Ana Justina Ferreira, na Cidade de Cachoeira, na Província da Bahia. Casou-se com Isidoro Antonio Nery, enviuvando aos 30 anos. Seus dois filhos, um médico militar e um oficial do exército, são convocados a servir a Pátria durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), sob a presidência de Solano Lopes. O mais jovem, aluno do 6º ano de Medicina oferece seus serviços médicos em prol dos brasileiros. Anna Nery não resiste à separação da família e escreve ao Presidente da Província, colocando-se à disposição de sua Pátria. Em 15 de agosto parte para os campos de batalha, onde dois de seus irmãos também lutavam. Improvisa hospitais e não mede esforços no atendimento aos feridos. Após cinco anos, retorna ao Brasil, é acolhida com carinho e louvor, recebe uma coroa de louros e Victor Meireles pinta sua imagem, que é colocada no edifício do Paço Municipal. O governo imperial lhe concede uma pensão, além de medalhas humanitárias e de campanha. Faleceu no Rio de Janeiro a 20 de maio de 1880. A primeira Escola de Enfermagem fundada no Brasil recebeu o seu nome. Anna Nery que, como Florence Nightingale, rompeu com os preconceitos da época que faziam da mulher prisioneira do lar. Desenvolvimento da Educação em Enfermagem no Brasil (Séc. XIX) Ao final do século XIX, apesar de o Brasil ainda ser um imenso território com um contingente populacional pouco e disperso, um processo de urbanização lento e progressivo já se fazia sentir nas cidades que possuíam áreas de mercado mais intensas, como São Paulo e Rio de Janeiro. As doenças infecto-contagiosas, trazidas pelos europeus e pelos escravos africanos, começam a propagar-se rápida e progressivamente. A questão saúde passa a constituir um problema econômico-social. Para deter esta escalada que ameaçava a expansão comercial brasileira, o governo, sob pressões externas, assume a assistência à saúde através da criação de serviços públicos, da vigilância e do controle mais eficaz sobre os portos, inclusive estabelecendo quarentena revitaliza, através da reforma Oswaldo Cruz introduzida em 1904, a Diretoria-Geral de Saúde Pública, incorporando novos elementos à estrutura sanitária, como o Serviço de Profilaxia da Febre Amarela, a Inspetoria de Isolamento e Desinfecção e o Instituto Soroterápico Federal, que posteriormente veio se transformar no Instituto Oswaldo Cruz. Mais tarde, a Reforma Carlos Chagas (1920), numa tentativa de reorganização dos serviços de saúde, cria o Departamento Nacional de Saúde Pública, Órgão que, durante anos, exerceu ação normativa e executiva das atividades de Saúde Pública no Brasil. A formação de pessoal de Enfermagem para atender inicialmente aos hospitais civis e militares e, posteriormente, às atividades de saúde pública, principiou com a criação, pelo governo, da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, no Rio de Janeiro, junto ao Hospital Nacional de Alienados do Ministério dos Negócios do Interior. Esta escola, que é de fato a primeira escola de Enfermagem brasileira, foi criada pelo Decreto Federal nº. 791, de 27 de setembro de 1890, e denomina-se hoje Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, pertencendo à Universidade do Rio de Janeiro - UNI-RIO. Cruz Vermelha Brasileira A Cruz Vermelha Brasileira foi organizada e instalada no Brasil em fins de 1908, tendo como primeiro presidente o médico Oswaldo Cruz. Destacou-se a Cruz Vermelha Brasileira por sua atuação durante a I Guerra Mundial (1914-1918).

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9Durante a epidemia de gripe espanhola (1918), colaborou na organização de postos de socorro, hospitalizando doentes e enviando socorristas a diversas instituições hospitalares e a domicílio. Atuou também socorrendo vítimas das inundações, nos Estados de Sergipe e Bahia, e as secas do Nordeste. Muitas das socorristas dedicaram-se ativamente à formação de voluntárias, continuando suas atividades após o término do conflito. Primeiras Escolas de Enfermagem no Brasil 1. Escola de Enfermagem "Alfredo Pinto" Esta escola é a mais antiga do Brasil, data de 1890, foi reformada por Decreto de 23 de maio de 1939. O curso passou a três anos de duração e era dirigida por enfermeiras diplomadas. Foi reorganizada por Maria Pamphiro, uma das pioneiras da Escola Anna Nery. 2. Escola da Cruz Vermelha do Rio de Janeiro Começou em 1916 com um curso de socorrista, para atender às necessidades prementes da 1ª Guerra Mundial. Logo foi evidenciada a necessidade de formar profissionais (que se desenvolveu somente após a fundação da Escola Anna Nery) e o outro para voluntários. Os diplomas expedidos pela escola eram registrados inicialmente no Ministério da Guerra e considerados oficiais. Esta encerrou suas atividades. 3. Escola Anna Nery A primeira diretoria foi Miss Clara Louise Kienninger,senhora de grande capacidade e virtude, que soube ganhar o coração das primeiras alunas. Com habilidade fora do comum, adaptou-se aos costumes brasileiros. Os cursos tiveram início em 19 de fevereiro de 1923, com 14 alunas. Instalou-se pequeno internato próximo ao Hospital São Francisco de Assis, onde seriam feitos os primeiros estágios. Em 1923, durante um surto de varíola, enfermeiras e alunas dedicaram-se ao combate à doença. Enquanto nas epidemias anteriores o índice de mortalidade atingia 50%, desta vez baixou para 15%. A primeira turma de Enfermeiras diplomou-se em 19 de julho de 1925. Destacam-se desta turma as enfermeiras Lais Netto dos Reys, Olga Salinas Lacôrte, Maria de Castro Pamphiro e Zulema Castro, que obtiveram bolsa de estudos nos Estados Unidos. A primeira diretora brasileira da Escola Anna Nery foi Raquel Haddock Lobo, nascida a 18 de junho de 1891. Foi a pioneira da Enfermagem moderna no Brasil, esteve na Europa durante a Primeira Grande Guerra, incorporou-se à Cruz Vermelha Francesa, onde se preparou para os primeiros trabalhos. De volta ao Brasil, continuou a trabalhar como Enfermeira. Faleceu em 25 de setembro de 1933. 4. Escola de Enfermagem Carlos Chagas Por Decreto nº 10.925, de 7 de junho de 1933 e iniciativa de Dr. Ernani Agrícola, diretor da Saúde Pública de Minas Gerais, foi criado pelo Estado a Escola de Enfermagem "Carlos Chagas", a primeira a funcionar fora da Capital da República. A organização e direção dessa Escola coube a Laís Netto dos Reys, sendo inaugurada em 19 de julho do mesmo ano. A Escola "Carlos Chagas", além de pioneira entre as escolas estaduais, foi a primeira a diplomar religiosas no Brasil. 5. Escola de Enfermagem "Luisa de Marillac" Fundada e dirigida por Irmã Matilde Nina, Filha de caridade, a Escola de Enfermagem Luisa de Marillac representou um avanço na Enfermagem Nacional, pois abria largamente suas portas, não só às jovens estudantes seculares, como também às religiosas de todas as Congregações. É a mais antiga escola de religiosas no Brasil e faz parte da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. 6. Escola Paulista de Enfermagem Fundada em 1939 pelas Franciscanas Missionárias de Maria, foi a pioneira da renovação da enfermagem na Capital paulista, acolhendo também religiosas de outras Congregações. Uma das importantes contribuições dessa escola foi início dos Cursos de Pós-Graduação em Enfermagem Obstétrica. Esse curso que deu origem a tantos outros, é atualmente ministrado em várias escolas do país. 7. Escola de Enfermagem da USP Fundada com a colaboração da Fundação de Serviços de Saúde Pública (FSESP) em 1944, faz parte da Universidade de São Paulo. Sua primeira diretora foi Edith Franckel, que também prestara serviços como Superintendente do Serviço de Enfermeiras do Departamento de Saúde. A primeira turma diplomou-se em 1946. 8.Escola de Enfermagem "Coração de Maria" da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – Campus de Sorocaba Seguindo a orientação da Igreja, na pessoa do Eminentíssimo Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, a organização da escola, iniciada no 2° semestre de 1950, foi confiada às Irmãs Franciscanas do Coração de Maria, que para desenvolver essas atividades tiveram que deixar sua Escola de Enfermagem São Francisco de Assis, instalada no Hospital Santa Cruz de São Paulo. A elas foi delegada a direção da Escola, que na época ficou sob a responsabilidade da Irmã Evangelina Maria e como diretora do Hospital Santa Lucinda Madre

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10Cristina Maria de São José. A autorização para funcionamento deu-se pela Portaria n° 497 em março de 51,

após a visita de inspeção designada pela Diretoria do Ensino Superior, e passou a funcionar no Hospital Santa Lucinda, a partir do mesmo mês do documento federal.

Em 1952, para fins de reconhecimento e a pedido da Diretoria, a Escola de Enfermagem recebeu a visita de nomes ilustres da enfermagem brasileira, com o objetivo de vistoriar suas instalações e seus trabalhos, como representantes do Ministério da Educação, a senhora Haydée Guanais Dourado, membro da campanha contra a tuberculose e diretora de cursos de Auxiliar de Enfermagem, e Ana Jaguaribe Nava, professora de Enfermagem de Saúde Pública, da Escola Ana Néri do Rio de Janeiro. Essa comissão era presidida pela senhora Edith de Magalhães. Através de um relatório favorável da Comissão de Inspeção, aos 13 de janeiro de 1953, o Diário Oficial da União publicou o Decreto n° 32.087 pelo qual o Poder Executivo concedia o solicitado reconhecimento para os dois cursos, apoiado no Decreto n° 27.246/49, que trata da sistematização do ensino de enfermagem brasileira.

Entidades de Classe 1. Associação Brasileira de Enfermagem – ABEn Sociedade civil sem fins lucrativos que congrega enfermeiras e técnicos em enfermagem, fundada em agosto de 1926, sob a denominação de "Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras". É uma entidade de direito privado, de caráter científico e assistencial regida pelas disposições do Estatuto, Regulamento Geral ou Regimento Especial em 1929, no Canadá, na Cidade de Montreal, a Associação Brasileira de Enfermagem, foi admitida no Conselho Internacional de Enfermeiras (I.C.N.). Por um espaço de tempo a associação ficou inativa. Em 1944, um grupo de enfermeiras resolveu reerguê-la com o nome Associação Brasileira de Enfermeiras Diplomadas. Seus estatutos foram aprovados em 18 de setembro de 1945. Foram criadas Seções Estaduais, Coordenadorias de Comissões. Ficou estabelecido que em qualquer Estado onde houvesse 7 (sete) enfermeiras diplomadas, poderia ser formada uma Seção. Em 1955, esse número foi elevado a 10 (dez). Em 1952, a Associação foi considerada de Utilidade Pública pelo Decreto nº 31.416/52. Em 21 de agosto de 1964, foi mudada a denominação para Associação Brasileira de Enfermagem - ABEn, com sede em Brasília, funciona através de Seções formadas nos Estados, e no Distrito Federal, as quais, por sua vez, poderão subdividir-se em Distritos formados nos Municípios das Unidades Federativas da União.

1.1. Finalidades da ABEn - Congregar os enfermeiros e técnicos em enfermagem, incentivar o espírito de união e solidariedade entre as classes; - Promover o desenvolvimento técnico, científico e profissional dos integrantes de Enfermagem do País; - Promover integração às demais entidades representativas da Enfermagem, na defesa dos interesses da profissão. 1.2. Estrutura ABEn é constituída pelos seguintes órgãos, com jurisdição nacional: a) Assembléia de delegados b) Conselho Nacional da ABEn (CONABEn) c) Diretoria Central d) Conselho Fiscal 1.3. Realizações da ABEn - Congresso Brasileiro em Enfermagem Uma das formas eficazes que a ABEn utiliza para beneficiar a classe dos enfermeiros, reunindo enfermeiros de todo o país nos Congressos para fortalecer a união entre os profissionais, aprofundar a formação profissional e incentivar o espírito de colaboração e o intercâmbio de conhecimentos. - Revista Brasileira de Enfermagem A Revista Brasileira de Enfermagem é Órgão Oficial, publicado bimestralmente e constitui grande valor para a classe, pois trata de assuntos relacionados à saúde, profissão e desenvolvimento da ciência. A idéia da publicação da Revista surgiu em 1929, quando Edith Magalhães Franckel, Raquel Haddock Lobo e Zaira Cintra Vidal participaram do Congresso do I.C.N. em Montreal, Canadá. Numa das reuniões de redatoras da Revista, Miss Clayton considerou indispensável ao desenvolvimento profissional a publicação de um periódico da área. Em maio de 1932 foi publicado o 1º número com o nome de "Anais de Enfermagem", que permaneceu até 1954. No VII Congresso Brasileiro de Enfermagem foi sugerida e aceita a troca do nome para "REVISTA BRASILEIRA DE ENFERMAGEM"- ABEn (REBEn). Diversas publicações estão sendo levadas a efeito: Manuais, Livros didáticos, Boletim Informativo, Resumo de Teses, Jornal de Enfermagem.

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112. Sistema COFEN/CORENs 2.1. Histórico

a) Criação - Em 12 de julho de 1973, através da Lei 5.905, foram criados os Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem, constituindo em seu conjunto Autarquias Federais, vinculadas ao Ministério do Trabalho e Previdência Social. O Conselho Federal e os Conselhos Regionais são Órgãos disciplinadores do exercício da Profissão de Enfermeiros, Técnicos e Auxiliares de Enfermagem. Em cada Estado existe um Conselho Regional, os quais estão subordinados ao Conselho federal, que é sediado no Rio de Janeiro e com Escritório Federal em Brasília.

b) Direção - Os Conselhos Regionais são dirigidos pelos próprios inscritos, que formam uma chapa e concorrem a eleições. O mandato dos membros do COFEN/CORENs é honorífico e tem duração de três anos, com direito apenas a uma reeleição. A formação do plenário do COFEN é composta pelos profissionais que são eleitos pelos Presidentes dos CORENs.

c) Receita - A manutenção do Sistema COFEN/CORENs é feita através da arrecadação de taxas emolumentos por serviços prestados, anuidades, doações, legados e outros, dos profissionais inscritos nos CORENs.

d) Finalidade - O objetivo primordial é zelar pela qualidade dos profissionais de Enfermagem e cumprimento da Lei do Exercício Profissional.

O Sistema COFEN/CORENs encontra-se representado em 27 Estados Brasileiros, sendo este filiado ao Conselho Internacional de Enfermeiros em Genebra.

2.2. Competências - Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) Normatizar e expedir instruções, para uniformidade de procedimento e bom funcionamento dos Conselhos Regionais; Esclarecer dúvidas apresentadas pelos CORENs; Apreciar Decisões dos CORENs; Aprovar contas e propostas orçamentárias de Autarquia, remetendo-as aos Órgãos competentes; Promover estudos e campanhas para aperfeiçoamento profissional; Exercer as demais atribuições que lhe forem conferidas por lei. - Conselho Regional de Enfermagem (COREN) Deliberar sobre inscrições no Conselho e seu cancelamento; Disciplinar e fiscalizar o exercício profissional, observando as diretrizes gerais do COFEN; Executar as instruções e resoluções do COFEN; Expedir carteira e cédula de identidade profissional, indispensável ao exercício da profissão, a qual tem validade em todo o território nacional; Fiscalizar e decidir os assuntos referentes à Ética Profissional impondo as penalidades cabíveis; Elaborar a proposta orçamentária anual e o projeto de seu regimento interno, submetendo-os a aprovação do COFEN; Zelar pelo conceito da profissão e dos que a exercem; Propor ao COFEN medidas visando a melhoria do exercício profissional; Eleger sua Diretoria e seus Delegados a nível central e regional; Exercer as demais atribuições que lhe forem conferidas pela Lei 5.905/73 e pelo COFEN.

2.3. Sistema de Disciplina e Fiscalização O Sistema de Disciplina e Fiscalização do Exercício Profissional da Enfermagem, instituído por lei, desenvolve suas atividades segundo as normas baixadas por Resoluções do COFEN. O Sistema é constituído dos seguintes objetivos:

a) Área disciplinar normativa: estabelecendo critérios de orientação e aconselhamento para o exercício da Enfermagem, baixando normas visando o exercício da profissão, bem como atividade na área de Enfermagem nas empresas, consultórios de Enfermagem, observando as peculiaridades atinentes à Classe e a conjuntura de saúde do país.

b) Área disciplinar corretiva: instaurando processo em casos de infrações ao Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, cometidas pelos profissionais inscritos e, no caso de empresa, processos administrativos, dando prosseguimento aos respectivos julgamentos e aplicações das penalidades cabíveis; encaminhando às repartições competentes os casos de alçada destas.

c) Área fiscalizatória: realizando atos e procedimentos para prevenir a ocorrência de Infrações à legislação que regulamenta o exercício da Enfermagem; inspecionando e examinando os locais públicos e privados, onde a Enfermagem é exercida, anotando as irregularidades e infrações

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12verificadas, orientando para sua correção e colhendo dados para a instauração dos processos de

competência do COREN e encaminhando às repartições competentes, representações.

Bibliografia TURKIEWICZ, Maria. História da Enfermagem. Paraná, ETECLA, 1995. GEOVANINI, telma; ...(et.ali.) História da Enfermagem : versões e Interpretações. Rio de janeiro, Revinter, 1995. BRASIL, Leis, etc. Lei 5.905, de 12 de julho de 1973. Dispõe sobre a criação dos Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 13 de julho de 1973. Seção I, p. 6.825. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Documentos Básicos de Enfermagem. CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO. Home-page.

CONCEITOS:

A Moral “A palavra moral deriva do latim mores que significa costumes, no sentido de conjunto de normas ou

regras adquiridas por hábito. A moral depende da convenção social, é determinada pelos costumes, em épocas e locais diferentes, além de adquirir um caráter normativo e obrigatório. Por isso, dizemos que ela varia historicamente, de cultura e de sociedade.

Em resumo, moral é o comportamento humano estabelecido como regra de convívio social e os atos que concordam com essas regras. Vale observar que a expressão "bons costumes" é utilizada como sinônimo de moral ou moralidade no texto de Silva e Silva, 2007.

Conforme explicitado, a moral tem um caráter prático imediato, está relacionada com o comportamento humano e faz parte integrante da vida. Não é apenas um conjunto de regras e normas acerca do que devemos ou não fazer, mas também direciona nosso discurso e influencia nossas decisões e opiniões. Assim, apreendemos que a moral é totalmente prática e ela é utilizada para tomar decisões.

Citamos o exemplo de um profissional de enfermagem, fora de seu horário e local de trabalho, que se depara com uma pessoa caída na rua. Imediatamente, aproxima-se, verifica que ela precisa de ajuda e presta os primeiros socorros. Isso é uma atitude moralmente aceita e, conforme afirma Vasquez, é um ato consciente e voluntário.

Essas afirmações acerca da moral nos permitem depreender que o ato moral corrobora com as regras sociais, bem como exige que a pessoa tenha reconhecido normas e deveres, e interiorize essas regras sociais e haja com liberdade, visto que o ato moral é consciente e voluntário, como sabemos.

A moral é um sistema de normas, princípios e valores, o qual regulamenta as relações entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livres e conscientemente por uma convicção íntima e não de uma maneira mecânica, externa e impessoal.

Na enfermagem, o ato moral se impõe tanto no cuidado, a partir de ações conscientes e livres para o bem do cliente e família, como para o cuidador em exigências intrínseca e extrínseca. A forma intrínseca ocorre na própria formação do profissional, que lhe impõe valores e princípios em que o ato moral é atribuído livre e conscientemente, na consolidação de um cuidado efetivo, eficaz e eficiente. Na forma extrínseca, a exigência moral é posta pela sociedade, que demanda uma conduta correta, um agir para o bem, trabalhar em prol da promoção da saúde e das pessoas.

O profissional de enfermagem deve conduzir sua ação, consciente de suas responsabilidades para com o outro, exercendo suas virtudes consigo e com o próximo e praticando o amor fraterno como diz Vieira, 2007. Qualquer ato que não atenda estas exigências morais interfere na imagem pública de toda a classe profissional.

Assim, mediante a repercussão dos atos morais sobre a categoria profissional, podemos afirmar que o modo como os profissionais exercem sua função tem implicações morais e, por conseguinte, a prática de cuidados de saúde é uma atividade moral. Dessa forma, os atos eventualmente tornam-se problemas morais, conceituados como uma situação na qual um dilema ou dificuldade é vivido entre seus próprios valores e normas e os de outras pessoas – uma situação que na sua percepção não é correta ou não deveria ocorrer (LUNARDI et al, 2007).

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13Então, a moral é julgada por nós, pelo que aprendemos, assimilamos e interiorizamos das

normas de convívio humano.

A Ética Quando nos referimos à Ética, o ponto de partida deve ser estudar o conceito de ética, a fim de

estabelecer seu campo de aplicação e tecer pequenas abordagens que consideramos mais importantes para o nosso estudo e prática.

O termo Ética origina-se do vocábulo grego ethos, que significa assentamento, vida comum. Aristóteles, porém, considerou este termo como significado de caráter e formulou o adjetivo ético, para designar uma classe particular de virtudes humanas e a ética como a ciência que estuda estas virtudes que você pode ler em Fontinele Junior, 2001.

Então, podemos dizer que o estudo da ética iniciou-se com filósofos gregos há 25 séculos. E, atualmente, seu campo de atuação não está restrito aos limites da filosofia, pois profissionais de outras áreas do conhecimento se dedicam ao seu estudo, entre eles sociólogos, psicólogos, biólogos, enfermeiros e médicos, que desenvolvem trabalhos no campo da ética.

A preocupação com o aspecto moral do exercício profissional na enfermagem remonta aos primórdios de sua institucionalização, que se deu em meados do século XIX, na Inglaterra. Na verdade, o nascimento da enfermagem moderna surge sob uma atmosfera de moralidade, disciplina rígida e religiosidade.

Na tentativa de modificar a situação de pouco prestígio social que a enfermagem vivia, Florence Nightingale tratou de promover um sistema de educação de enfermeiras no qual interava um rígido esquema de conduta moral.

Exigia-se que as mesmas fossem dedicadas e obedientes. Supomos que, neste momento, a conduta era considerada ética quando tais princípios de dedicação, benevolência e obediência fossem cumpridos à risca.

Atualmente, o comportamento ético não se deve ater unicamente aos atos que favoreçam o bem estar do cliente, ou por outro lado, que garantam a segurança dos profissionais, mas deve abranger ambos, entendendo que somos todos sujeitos sociais nesse processo, com responsabilidades, direitos e deveres de cidadãos.

Portanto, o objeto de estudo da ética é o que guia a ação: os motivos, as causas, os princípios, as máximas, as circunstâncias, bem como a análise das conseqüências destas ações. Os profissionais de enfermagem, assim como acontece com os demais, se deparam constantemente com situações que exigem de si tomadas de decisões no âmbito da ética. Finalmente, a ética tem como objetivo fundamental levar a modificações na moral, com aplicação universal, como guia norteador da forma racional e do melhor modo da vida humana e também do cuidado de enfermagem.

Ao contrário da moral, a ética é teórica, é uma reflexão filosófica, puramente racional, realizada a respeito da moral, segundo Silva e Silva (2007). Assim, a ética está relacionada à opção do profissional de enfermagem, ao desejo de realizar a vida, mantendo suas relações interpessoais justas e aceitáveis. Em regra, está fundamentada nas idéias de bem e virtude, enquanto valores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numa existência plena e feliz.

O estudo da ética procura regras que efetivamente sejam importantes e entendidas como uma boa conduta em nível mundial, que sejam aplicáveis a todos os profissionais de enfermagem e de outras áreas. Estes fatores designam a ela um caráter universalista, ao contrário do caráter restrito da moral, que pertence a indivíduos, comunidades e/ou sociedades, que variam de pessoa para pessoa, de comunidade para comunidade.

Sendo assim, a vida ética consiste na interiorização dos princípios, valores e normas de uma sociedade e, no nosso caso específico, preceitos aceitos na profissão de enfermagem como o juramento da nossa profissão, e o código de ética profissional que estudaremos com mais detalhes nas próximas páginas.

Podemos depreender que a ética profissional, assim como a sua codificação não são coisas abstratas, deslocadas do homem real, mas, ao contrário, constitui uma representação do viver humano, com valores, crenças e influências. A ética não tem caráter exclusivamente descritivo, uma vez que visa investigar e explicar o comportamento moral, traço inerente da experiência humana.

Também não é função da ética formular juízos de valor quanto à prática moral de outras sociedades, mas explicar a razão de ser destas diferenças e o porquê de os homens recorrerem, ao longo da história, às práticas morais diferentes e até opostas. Portanto, o ideal ético está numa vida livre dentro de um Estado livre, que preserve os direitos dos homens e exija-lhes seus deveres, na qual a consciência moral e as leis não estejam separadas ou em contradição.

O importante, é que a ética e a moral são, muitas vezes, compreendidas como sendo a mesma coisa, quando, na verdade, divergem do ponto de vista dos problemas práticos e dos problemas teóricos.

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14Decidir e agir corresponde a um problema prático/moral. Investigar uma decisão, uma ação e a

responsabilidade que ela subjaz, a liberdade e o grau de determinismos envolvidos é um problema teórico, portanto, ético.

Outro objeto de estudo da ética é a responsabilidade do ato moral, ou seja, o problema prático-moral que consiste na decisão de agir de uma maneira numa situação concreta. Mas, investigar se a pessoa pôde escolher entre duas ou mais alternativas de ação e agir conforme sua decisão é um problema teórico-ético, pois o que se verifica é a liberdade ou o determinismo ao qual nosso ato esteve sujeito. Se o determinismo é total, então não há mais espaço para a ética; pois, se estamos nos referindo às ações humanas e se essas ações estão totalmente determinadas de fora para dentro, não há qualquer espaço para a liberdade, para a escolha e autodeterminação, conseqüentemente, não há espaço para a ética.

Todos nós já tivemos a oportunidade de vivenciar a experiência de não nos conformarmos diante de uma prática ou valor moral. Com isso, vivenciamos um dilema ético.

Assim, os dilemas éticos estão presentes nas situações de tomada de decisão ou realização de uma determinada ação. Não podemos negar que as pessoas estão imbuídas de valores morais, culturais e, assim sendo, no exercício de sua profissão, não poderiam se abstrair desses valores em seu ambiente de trabalho.

“Se os valores não estiverem sedimentados, ou seja, se não forem claros, e se divergirem dos valores positivos, as decisões e ações serão erradas ou para o mal. Vasquez (2002) afirma não haver nada valioso que não tenha sido antes para o homem.”

O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE) contém normas, princípios, direitos e deveres pertinentes à conduta ética do profissional, que deverão ser assumidos por todos. Além do código de ética, o exercício profissional é limitado pelo Código Penal Brasileiro (CPB). O Código de Ética Profissional de Enfermagem está relacionado às ações dos profissionais de enfermagem e o Código Penal Brasileiro se relaciona ao profissional como cidadão.

Diante disso, destacamos a abordagem em ambos os códigos de alguns temas polêmicos tais como bioética, aborto, eutanásia, imperícia, imprudência e negligência, porque todos os profissionais poderão responder a estas duas instâncias

CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ANEXO PREÂMBULO A Enfermagem compreende um componente próprio de conhecimentos científicos e técnicos, construído e reproduzido por um conjunto de práticas sociais, éticas e políticas que se processa pelo ensino, pesquisa e assistência. Realiza-se na prestação de serviços à pessoa, família e coletividade, no seu contexto e circunstâncias de vida. O aprimoramento do comportamento ético do profissional passa pelo processo de construção de uma consciência individual e coletiva, pelo compromisso social e profissional configurado pela responsabilidade no plano das relações de trabalho com reflexos no campo científico e político. A Enfermagem Brasileira, face às transformações sócio-culturais, científicas e legais, entendeu ter chegado o momento de reformular o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE). A trajetória da reformulação, coordenada pelo Conselho Federal de Enfermagem com a participação dos Conselhos Regionais de Enfermagem, inclui discussões com a categoria de Enfermagem. O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem está organizado por assunto e inclui princípios, direitos, responsabilidades, deveres e proibições pertinentes à conduta ética dos profissionais de Enfermagem. O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem leva em consideração a necessidade e o direito de assistência em Enfermagem da população, os interesses do profissional e de sua organização. Está centrado na pessoa, família e coletividade e pressupõe que os trabalhadores de Enfermagem estejam aliados aos usuários na luta por uma assistência sem riscos e danos e acessível a toda população. O presente Código teve como referência os postulados da Declaração Universal dos Direitos do Homem, promulgada pela Assembléia Geral das Nações Unidas (1948) e adotada pela Convenção de Genebra da Cruz Vermelha (1949), contidos no Código de Ética do Conselho Internacional de Enfermeiros (1953) e no Código de Ética da Associação Brasileira de Enfermagem (1975). Teve como referência, ainda, o Código de Deontologia de Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem (1976), o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (1993) e as Normas Internacionais e Nacionais sobre Pesquisa em Seres Humanos [Declaração Helsinque (1964), revista em Tóquio (1975) e a Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde (1996)].

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PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

A Enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde e qualidade de vida da pessoa, família e coletividade. O Profissional de Enfermagem atua na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais. O profissional de enfermagem participa, como integrante da equipe de saúde, das ações que visem satisfazer as necessidades de saúde da população e da defesa dos princípios das políticas públicas de saúde e ambientais, que garantam a universalidade de acesso aos serviços de saúde, integralidade da assistência, resolutividade, preservação da autonomia das pessoas, participação da comunidade, hierarquização e descentralização político-administrativa dos serviços de saúde. O Profissional de Enfermagem respeita a vida, a dignidade e os direitos humanos, em todas as suas dimensões. O Profissional de Enfermagem exerce suas atividades com competência para a promoção do ser humano na sua integralidade, de acordo com os princípios da ética e da bioética. CAPÍTULO I DAS RELAÇÕES PROFISSIONAIS DIREITOS Art. 1º - Exercer a Enfermagem com liberdade, autonomia e ser tratado segundo os pressupostos e princípios legais, éticos e dos direitos humanos. Art. 2º – Aprimorar seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais que dão sustentação a sua prática profissional. Art. 3º - Apoiar as iniciativas que visem ao aprimoramento profissional e à defesa dos direitos e interesses da categoria e da sociedade. Art. 4º - Obter desagravo público por ofensa que atinja a profissão, por meio do Conselho Regional de Enfermagem. RESPONSABILIDADES E DEVERES Art. 5º - Exercer a profissão com justiça, compromisso, eqüidade, resolutividade, dignidade, competência, responsabilidade, honestidade e lealdade. Art. 6º – Fundamentar suas relações no direito, na prudência, no respeito, na solidariedade e na diversidade de opinião e posição ideológica. Art. 7º Comunicar ao COREN e aos órgãos competentes, fatos que infrinjam dispositivos legais e que possam prejudicar o exercício profissional. PROIBIÇÕES Art. 8º - Promover e ser conivente com a injúria calúnia e difamação de membro da Equipe de Enfermagem, de Saúde e de trabalhadores de outras áreas, de organizações da categoria ou instituições. Art. 9 – Praticar e/ou ser conivente com crime, contravenção penal ou qualquer outro ato, que infrinja postulados éticos e legais. SEÇÃO I DAS RELAÇÕES COM A PESSOA, FAMILIA E COLETIVIDADE. DIREITOS Art. 10- Recusar-se a executar atividades que não sejam de sua competência técnica, científica, ética e legal ou que não ofereçam segurança ao profissional, à pessoa, família e coletividade. Art. 11 - Ter acesso às informações, relacionadas à pessoa, família e coletividade, necessárias ao exercício profissional. RESPONSABILIDADES E DEVERES Art. 12 - Assegurar à pessoa, família e coletividade assistência de Enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência. Art. 13 - Avaliar criteriosamente sua competência técnica, científica, ética e legal e somente aceitar encargos ou atribuições, quando capaz de desempenho seguro para si e para outrem. Art. 14 – Aprimorar os conhecimentos técnicos, científicos, éticos e culturais, em benefício da pessoa, família e coletividade e do desenvolvimento da profissão. Art. 15 - Prestar Assistência de Enfermagem sem discriminação de qualquer natureza.

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16Art. 16 - Garantir a continuidade da Assistência de Enfermagem em condições que ofereçam segurança,

mesmo em caso de suspensão das atividades profissionais decorrentes de movimentos reivindicatórios da categoria. Art. 17 - Prestar adequadas informações à pessoa, família e coletividade a respeito dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca da Assistência de Enfermagem. Art. 18 - Respeitar, reconhecer e realizar ações que garantam o direito da pessoa ou de seu representante legal, de tomar decisões sobre sua saúde, tratamento, conforto e bem estar. Art. 19 - Respeitar o pudor, a privacidade e a intimidade do ser humano, em todo seu ciclo vital, inclusive nas situações de morte e pós-morte. Art. 20 - Colaborar com a Equipe de Saúde no esclarecimento da pessoa, família e coletividade a respeito dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca de seu estado de saúde e tratamento. Art. 21 - Proteger a pessoa, família e coletividade contra danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência por parte de qualquer membro da Equipe de Saúde. Art. 22 - Disponibilizar seus serviços profissionais à comunidade em casos de emergência, epidemia e catástrofe, sem pleitear vantagens pessoais. Art. 23 - Encaminhar a pessoa, família e coletividade aos serviços de defesa do cidadão, nos termos da lei. Art. 24 – Respeitar, no exercício da profissão, as normas relativas à preservação do meio ambiente e denunciar aos órgãos competentes as formas de poluição e deteriorização que comprometam a saúde e a vida. Art. 25 – Registrar no Prontuário do Paciente as informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar. PROIBIÇÕES Art. 26 - Negar Assistência de Enfermagem em qualquer situação que se caracterize como urgência ou emergência. Art. 27 – Executar ou participar da assistência à saúde sem o consentimento da pessoa ou de seu representante legal, exceto em iminente risco de morte. Art. 28 - Provocar aborto, ou cooperar em prática destinada a interromper a gestação. Parágrafo único - Nos casos previstos em Lei, o profissional deverá decidir, de acordo com a sua consciência, sobre a sua participação ou não no ato abortivo. Art. 29 - Promover a eutanásia ou participar em prática destinada a antecipar a morte do cliente. Art. 30 - Administrar medicamentos sem conhecer a ação da droga e sem certificar-se da possibilidade dos riscos. Art. 31 - Prescrever medicamentos e praticar ato cirúrgico, exceto nos casos previstos na legislação vigente e em situação de emergência. Art. 32 - Executar prescrições de qualquer natureza, que comprometam a segurança da pessoa. Art. 33 - Prestar serviços que por sua natureza competem a outro profissional, exceto em caso de emergência. Art. 34 - Provocar, cooperar, ser conivente ou omisso com qualquer forma de violência. Art. 35 - Registrar informações parciais e inverídicas sobre a assistência prestada. SEÇÃO II DAS RELAÇÕES COM OS TRABALHADORES DE ENFERMAGEM, SAÚDE E OUTROS DIREITOS Art. 36 - Participar da prática profissional multi e interdisciplinar com responsabilidade, autonomia e liberdade. Art. 37 - Recusar-se a executar prescrição medicamentosa e terapêutica, onde não conste a assinatura e o numero de registro do profissional, exceto em situações de urgência e emergência. Parágrafo único – O profissional de enfermagem poderá recusar-se a executar prescrição medicamentosa e terapêutica em caso de identificação de erro ou ilegibilidade. RESPONSABILIDADES E DEVERES Art. 38 - Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades profissionais, independente de ter sido praticada individualmente ou em equipe. Art. 39 - Participar da orientação sobre benefícios, riscos e conseqüências decorrentes de exames e de outros procedimentos, na condição de membro da equipe de saúde. Art. 40 – posicionar-se contra falta cometida durante o exercício profissional seja por imperícia, imprudência ou negligência. Art. 41 - Prestar informações, escritas e verbais, completas e fidedignas necessárias para assegurar a continuidade da assistência.

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17PROIBIÇÕES Art. 42 - Assinar as ações de Enfermagem que não executou, bem como permitir que suas ações sejam assinadas por outro profissional. Art. 43 - Colaborar, direta ou indiretamente com outros profissionais de saúde, no descumprimento da legislação referente aos transplantes de órgãos, tecidos, esterilização, fecundação artificial e manipulação genética. SEÇÃO III DAS RELAÇÕES COM AS ORGANIZAÇÕES DA CATEGORIA DIREITOS Art. 44 - Recorrer ao Conselho Regional de Enfermagem, quando impedido de cumprir o presente Código, a legislação do Exercício Profissional e as Resoluções e Decisões emanadas pelo Sistema COFEN/COREN. Art. 45 - Associar-se, exercer cargos e participar de Entidades de Classe e Órgãos de Fiscalização do Exercício Profissional. Art. 46 – Requerer em tempo hábil, informações acerca de normas e convocações. Art. 47 – Requerer, ao Conselho Regional de Enfermagem, mediadas cabíveis para obtenção de desagravo público em decorrência de ofensa sofrida no exercício profissional. RESPONSABILIDADES E DEVERES Art. 48 - Cumprir e fazer os preceitos éticos e legais da profissão. Art. 49 – Comunicar ao Conselho Regional de Enfermagem, fatos que firam preceitos do presente Código e da legislação do exercício profissional. Art. 50 – Comunicar formalmente ao Conselho Regional de Enfermagem fatos que envolvam recusa ou demissão de cargo, função ou emprego, motivado pela necessidade do profissional em cumprir o presente Código e a legislação do exercício profissional. Art. 51 – Cumprir, no prazo estabelecido, as determinações e convocações do Conselho Federal e Conselho Regional de Enfermagem. Art. 52 – Colaborar com a fiscalização de exercício profissional. Art. 53 – Manter seus dados cadastrais atualizados, e regularizadas as suas obrigações financeiras com o Conselho Regional de Enfermagem. Art. 54 – Apura o número e categoria de inscrição no Conselho Regional de Enfermagem em assinatura, quando no exercício profissional. Art.55 – Facilitar e incentivar a participação dos profissionais de enfermagem no desempenho de atividades nas organizações da categoria. PROIBIÇÕES Art. 56 – Executar e determinar a execução de atos contrários ao Código de Ética e às demais normas que regulam o exercício da Enfermagem. Art. 57 – Aceitar cargo, função ou emprego vago em decorrência de fatos que envolvam recusa ou demissão de cargo, função ou emprego motivado pela necessidade do profissional em cumprir o presente código e a legislação do exercício profissional. Art. 58 – Realizar ou facilitar ações que causem prejuízo ao patrimônio ou comprometam a finalidade para a qual foram instituídas as organizações da categoria. Art. 59 - Negar, omitir informações ou emitir falsas declarações sobre o exercício profissional quando solicitado pelo Conselho Regional de Enfermagem. SEÇÃO IV DAS RELAÇÕES COM AS ORGANIZAÇÕES EMPREGADORAS DIREITOS Art. 60 - Participar de movimentos de defesa da dignidade profissional, do seu aprimoramento técnico-científico, do exercício da cidadania e das reivindicações por melhores condições de assistência, trabalho e remuneração. Art. 61 - Suspender suas atividades, individual ou coletivamente, quando a instituição pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer condições dignas para o exercício profissional ou que desrespeite a legislação do setor saúde, ressalvadas as situações de urgência e emergência, devendo comunicar imediatamente por escrito sua decisão ao Conselho Regional de Enfermagem. Art. 62 - Receber salários ou honorários compatíveis com o nível de formação, a jornada de trabalho, a

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18complexidade das ações e responsabilidade pelo exercício profissional.

Art. 63 - Desenvolver suas atividades profissionais em condições de trabalho que promovam a própria segurança e a da pessoa, família e coletividade sob seus cuidados, e dispor de material e equipamentos de proteção individual e coletiva, segundo as normas vigentes. Art. 64 - Recusar-se a desenvolver atividades profissionais na falta de material ou equipamentos de proteção individual e coletiva definidos na legislação específica. Art. 65- Formar e participar da comissão de ética da instituição pública ou privada onde trabalha, bem como de comissões interdisciplinares. Art. 66 - Exercer cargos de direção, gestão e coordenação na área de seu exercício profissional e do setor saúde. Art. 67 - Ser informado sobre as políticas da instituição e do Serviço de Enfermagem, bem como participar de sua elaboração. Art. 68 – Registrar no prontuário e em outros documentos próprios da Enfermagem informações referentes ao processo de cuidar da pessoa. RESPONSABILIDADES E DEVERES Art. 69 – Estimular, promover e criar condições para o aperfeiçoamento técnico, científico e cultural dos profissionais de Enfermagem sob sua orientação e supervisão. Art. 70 - Estimular, facilitar e promover o desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão, devidamente aprovadas nas instâncias deliberativas da instituição. Art. 71 - Incentivar e criar condições para registrar as informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar. Art. 72 – Registrar as informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar de forma clara, objetiva e completa. PROIBIÇÕES Art. 73 – Trabalhar, colaborar ou acumpliciar-se com pessoas ou jurídicas que desrespeitem princípios e normas que regulam o exercício profissional de Enfermagem. Art. 74 - Pleitear cargo, função ou emprego ocupado por colega, utilizando-se de concorrência desleal. Art. 75 – Permitir que seu nome conste no quadro de pessoal de hospital, casa de saúde, unidade sanitária, clínica, ambulatório, escola, curso, empresa ou estabelecimento congênere sem nele exercer as funções de Enfermagem pressupostas. Art. 76 - Receber vantagens de instituição, empresa, pessoa, família e coletividade, além do que lhe é devido, como forma de garantir Assistência de Enfermagem diferenciada ou benefícios de qualquer natureza para si ou para outrem. Art. 77 - Usar de qualquer mecanismo de pressão ou suborno com pessoas físicas ou jurídicas para conseguir qualquer tipo de vantagem. Art. 78 – Utilizar, de forma abusiva, o poder que lhe confere a posição ou cargo, para impor ordens, opiniões, atentar contra o puder, assediar sexual ou moralmente, inferiorizar pessoas ou dificultar o exercício profissional. Art. 79 – Apropriar-se de dinheiro, valor, bem móvel ou imóvel, público ou particular de que tenha posse em razão do cargo, ou desviá-lo em proveito próprio ou de outrem. Art. 80 - Delegar suas atividades privativas a outro membro da equipe de Enfermagem ou de saúde, que não seja Enfermeiro. CAPÍTULO II DO SIGILO PROFISSIONAL DIREITOS Art. 81 – Abster-se de revelar informações confidenciais de que tenha conhecimento em razão de seu exercício profissional a pessoas ou entidades que não estejam obrigadas ao sigilo. RESPONSABILIDADES E DEVERES Art. 82 - Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua atividade profissional, exceto casos previstos em lei, ordem judicial, ou com o consentimento escrito da pessoa envolvida ou de seu representante legal. § 1º Permanece o dever mesmo quando o fato seja de conhecimento público e em caso de falecimento da pessoa envolvida. § 2º Em atividade multiprofissional, o fato sigiloso poderá ser revelado quando necessário à prestação da

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19assistência. § 3º O profissional de Enfermagem intimado como testemunha deverá comparecer perante a autoridade e, se for o caso, declarar seu impedimento de revelar o segredo. § 4º - O segredo profissional referente ao menor de idade deverá ser mantido, mesmo quando a revelação seja solicitada por pais ou responsáveis, desde que o menor tenha capacidade de discernimento, exceto nos casos em que possa acarretar danos ou riscos ao mesmo. Art. 83 – Orientar, na condição de Enfermeiro, a equipe sob sua responsabilidade sobre o dever do sigilo profissional. PROIBIÇÕES Art. 84 - Franquear o acesso a informações e documentos a pessoas que não estão diretamente envolvidas na prestação da assistência, exceto nos casos previstos na legislação vigente ou por ordem judicial. Art. 85 - Divulgar ou fazer referência a casos, situações ou fatos de forma que os envolvidos possam ser identificados. CAPÍTULO III DO ENSINO, DA PESQUISA E DA PRODUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA DIREITOS Art. 86 - Realizar e participar de atividades de ensino e pesquisa, respeitadas as normas ético-legais. Art. 87 – Ter conhecimento acerca do ensino e da pesquisa a serem desenvolvidos com as pessoas sob sua responsabilidade profissional ou em seu local de trabalho. Art. 88 – Ter reconhecida sua autoria ou participação em produção técnico-científica. RESPONSABILIDADES E DEVERES Art. 89 – Atender as normas vigentes para a pesquisa envolvendo seres humanos, segundo a especificidade da investigação. Art. 90 - Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo à vida e à integridade da pessoa. Art. 91 - Respeitar os princípios da honestidade e fidedignidade, bem como os direitos autorais no processo de pesquisa, especialmente na divulgação dos seus resultados. Art. 92 - Disponibilizar os resultados de pesquisa à comunidade científica e sociedade em geral. Art. 93 - Promover a defesa e o respeito aos princípios éticos e legais da profissão no ensino, na pesquisa e produções técnico-científicas. PROIBIÇÕES Art. 94 - Realizar ou participar de atividades de ensino e pesquisa, em que o direito inalienável da pessoa, família ou coletividade seja desrespeitado ou ofereça qualquer tipo de risco ou dano aos envolvidos. Art. 95 - Eximir-se da responsabilidade por atividades executadas por alunos ou estagiários, na condição de docente, Enfermeiro responsável ou supervisor. Art. 96 - Sobrepor o interesse da ciência ao interesse e segurança da pessoa, família ou coletividade. Art. 97 – Falsificar ou manipular resultados de pesquisa, bem como, usá-los para fins diferentes dos pré-determinados. Art. 98 - Publicar trabalho com elementos que identifiquem o sujeito participante do estudo sem sua autorização. Art. 99 – Divulgar ou publicar, em seu nome, produção técnico-científica ou instrumento de organização formal do qual não tenha participado ou omitir nomes de co-autores e colaboradores. Art. 100 - Utilizar sem referência ao autor ou sem a sua autorização expressa, dados, informações, ou opiniões ainda não publicados. Art. 101 – Apropriar-se ou utilizar produções técnico-científicas, das quais tenha participado como autor ou não, implantadas em serviços ou instituições sob concordância ou concessão do autor. Art. 102 – Aproveitar-se de posição hierárquica para fazer constar seu nome como autor ou co-autor em obra técnico-científica. CAPÍTULO IV DA PUBLICIDADE DIREITOS Art. 103 – Utilizar-se de veículo de comunicação para conceder entrevistas ou divulgar eventos e assuntos de sua competência, com finalidade educativa e de interesse social. Art. 104 – Anunciar a prestação de serviços para os quais está habilitado.

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20RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 105 – Resguardar os princípios da honestidade, veracidade e fidedignidade no conteúdo e na forma publicitária. Art. 106 – Zelar pelos preceitos éticos e legais da profissão nas diferentes formas de divulgação. PROIBIÇÕES RESPONSABILIDADES E DEVERES Art. 107 – Divulgar informação inverídica sobre assunto de sua área profissional. Art. 108- Inserir imagens ou informações que possam identificar pessoas e instituições sem sua prévia autorização. Art. 109 – Anunciar título ou qualificação que não possa comprovar. Art. 110 – Omitir, em proveito próprio, referência a pessoas ou instituições. Art. 111 – Anunciar a prestação de serviços gratuitos ou propor honorários que caracterizem concorrência desleal. CAPÍTULO V DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES Art. 112 - A caracterização das infrações éticas e disciplinares e a aplicação das respectivas penalidades regem-se por este Código, sem prejuízo das sanções previstas em outros dispositivos legais. Art. 113- Considera-se Infração Ética a ação, omissão ou conivência que implique em desobediência e/ou inobservância às disposições do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Art. 114 - Considera-se infração disciplinar a inobservância das normas dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem. Art. 115 - Responde pela infração quem a cometer ou concorrer para a sua prática, ou dela obtiver benefício, quando cometida por outrem. Art. 116 - A gravidade da infração é caracterizada por meio da análise dos fatos do dano e de suas conseqüências. Art. 117 - A infração é apurada em processo instaurado e conduzido nos termos do Código de Processo ético das Autarquias dos Profissionais de Enfermagem. Art. 118 - As penalidades a serem impostas pelos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem, conforme o que determina o art. 18, da Lei n° 5.905, de 12 de julho de 1973, são as seguintes: I - Advertência verbal; II - Multa; III - Censura; IV - Suspensão do Exercício Profissional; V - Cassação do direito ao Exercício Profissional. § 1º - A advertência verbal consiste na admoestação ao infrator, de forma reservada, que será registrada no Prontuário do mesmo, na presença de duas testemunhas. § 2º - A multa consiste na obrigatoriedade de pagamento de 01 (um) a 10 (dez) vezes o valor da anuidade da categoria profissional à qual pertence o infrator, em vigor no ato do pagamento. §3º - A censura consiste em repreensão que será divulgada nas publicações oficiais dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem e em jornais de grande circulação. § 4º - A suspensão consiste na proibição do exercício profissional da Enfermagem por um período não superior a 29 (vinte e nove) dias e serão divulgados nas publicações oficiais dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem, jornais de grande circulação e comunicada aos órgãos empregadores. § 5º - A cassação consiste na perda do direito ao exercício da Enfermagem e será divulgada nas publicações dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem e em jornais de grande circulação. Art.119 - As penalidades, referentes à advertência verbal, multa, censura e suspensão do exercício profissional, são da alçada do Conselho Regional de Enfermagem, serão registradas no prontuário do profissional de Enfermagem; a pena de cassação do direito ao exercício profissional é de competência do Conselho Federal de Enfermagem, conforme o disposto no art. 18, parágrafo primeiro, da Lei n° 5.905/73. Parágrafo único - Na situação em que o processo tiver origem no Conselho Federal de Enfermagem, terá como instância superior a Assembléia dos Delegados Regionais. Art. 120 - Para a graduação da penalidade e respectiva imposição consideram-se: I - A maior ou menor gravidade da infração; II - As circunstâncias agravantes e atenuantes da infração;

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21III - O dano causado e suas conseqüências; IV - Os antecedentes do infrator. Art. 121 - As infrações serão consideradas leves, graves ou gravíssimas, segundo a natureza do ato e a circunstância de cada caso. § 1º - São consideradas infrações leves as que ofendam a integridade física, mental ou moral de qualquer pessoa, sem causar debilidade ou aquelas que venham a difamar organizações da categoria ou instituições. § 2º - São consideradas infrações graves as que provoquem perigo de vida, debilidade temporária de membro, sentido ou função em qualquer pessoa ou as que causem danos patrimoniais ou financeiros. § 3º - São consideradas infrações gravíssimas as que provoquem morte, deformidade permanente, perda ou inutilização de membro, sentido, função ou ainda, dano moral irremediável em qualquer pessoa. Art. 122 - São consideradas circunstâncias atenuantes: I - Ter o infrator procurado, logo após a infração, por sua espontânea vontade e com eficiência, evitar ou minorar as conseqüências do seu ato; II - Ter bons antecedentes profissionais; III - Realizar atos sob coação e/ou intimidação; IV - Realizar ato sob emprego real de força física; V - Ter confessado espontaneamente a autoria da infração. Art. 123 - São consideradas circunstâncias agravantes: I - Ser reincidente; II - Causar danos irreparáveis; III - Cometer infração dolosamente; IV - Cometer a infração por motivo fútil ou torpe; V - Facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outra infração; VI - Aproveitar-se da fragilidade da vítima; VII - Cometer a infração com abuso de autoridade ou violação do dever inerente ao cargo ou função; VIII - Ter maus antecedentes profissionais. CAPÍTULO VI DA APLICAÇÃO DAS PENALIDAES Art. 124 - As penalidades previstas neste Código somente poderão ser aplicadas, cumulativamente, quando houver infração a mais de um artigo. Art. 125 - A pena de Advertência verbal é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 5º a 7º; 12 a 14; 16 a 24; 27; 30; 32; 34; 35; 38 a 40; 49 a 55; 57; 69 a 71; 74; 78; 82 a 85; 89 a 95; 89; 98 a 102; 105; 106; 108 a 111 deste Código. Art. 126 - A pena de Multa é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 5º a 9º; 12; 13; 15; 16; 19; 24; 25; 26; 28 a 35; 38 a 43; 48 a 51; 53; 56 a 59; 72 a 80; 82; 84; 85; 90; 94; 96; 97 a 102; 105; 107; 108; 110; e 111 deste Código. Art. 127 - A pena de Censura é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 8º; 12; 13; 15; 16; 25; 30 a 35; 41 a 43; 48; 51; 54; 56 a 59 71 a 80; 82; 84; 85; 90; 91; 94 a 102; 105; 107 a 111 deste Código. Art. 128- A pena de Suspensão do Exercício Profissional é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 8º; 9º; 12; 15; 16; 25; 26; 28; 29; 31; 33 a 35; 41 a 43; 48; 56; 58; 59; 72; 73; 75 a 80; 82; 84; 85; 90; 94; 96 a 102; 105; 107 e 108 deste Código. Art.129 - A pena de Cassação do Direito ao Exercício Profissional é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 9º, 12; 26; 28; 29; 78 e 79 deste Código. CAPÍTULO VII DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 130- Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Federal de Enfermagem. Art. 131- Este Código poderá ser alterado pelo Conselho Federal de Enfermagem, por iniciativa própria ou mediante proposta de Conselhos Regionais. Parágrafo único - A alteração referida deve ser precedida de ampla discussão com a categoria, coordenada pelos Conselhos Regionais. Art. 132 O presente Código entrará em vigor 90 dias após sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Rio de Janeiro, 08 de fevereiro de 2007.

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Lei nº. 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da Enfermagem e dá outras providências O presidente da República. Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - É livre o exercício da Enfermagem em todo o território nacional, observadas as disposições desta Lei. Art. 2º - A Enfermagem e suas atividades Auxiliares somente podem ser exercidas por pessoas legalmente habilitadas e inscritas no Conselho Regional de Enfermagem com jurisdição na área onde ocorre o exercício. Parágrafo único - A Enfermagem é exercida privativamente pelo Enfermeiro, pelo Técnico de Enfermagem, pelo Auxiliar de Enfermagem e pela Parteira, respeitados os respectivos graus de habilitação. Art. 3º - O planejamento e a programação das instituições e serviços de saúde incluem planejamento e programação de Enfermagem. Art. 4º - A programação de Enfermagem inclui a prescrição da assistência de Enfermagem. Art. 6º - São enfermeiros: I - o titular do diploma de enfermeiro conferido por instituição de ensino, nos termos da lei; II - o titular do diploma ou certificado de obstetriz ou de enfermeira obstétrica, conferidos nos termos da lei; III - o titular do diploma ou certificado de Enfermeira e a titular do diploma ou certificado de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz, ou equivalente, conferido por escola estrangeira segundo as leis do país, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como diploma de Enfermeiro, de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz; IV - aqueles que, não abrangidos pelos incisos anteriores, obtiverem título de Enfermeiro conforme o disposto na alínea "d" do Art. 3º. do Decreto nº 50.387, de 28 de março de 1961. Art. 7º. São técnicos de Enfermagem:

I - o titular do diploma ou do certificado de Técnico de Enfermagem, expedido de acordo com a legislação e registrado pelo órgão competente; II - o titular do diploma ou do certificado legalmente conferido por escola ou curso estrangeiro, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como diploma de Técnico de Enfermagem. Art. 8º - São Auxiliares de Enfermagem: I - o titular do certificado de Auxiliar de Enfermagem conferido por instituição de ensino, nos termos da Lei e registrado no órgão competente; II - o titular do diploma a que se refere à Lei nº. 2.822, de 14 de junho de 1956; III - o titular do diploma ou certificado a que se refere o inciso III do Art. 2º. da Lei nº. 2.604, de 17 de setembro de 1955, expedido até a publicação da Lei nº. 4.024, de 20 de dezembro de 1961; IV - o titular de certificado de Enfermeiro Prático ou Prático de Enfermagem, expedido até 1964 pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia, do Ministério da Saúde, ou por órgão congênere da Secretaria de Saúde nas Unidades da Federação, nos termos do Decreto-lei nº. 23.774, de 22 de janeiro de 1934, do Decreto-lei nº. 8.778, de 22 de janeiro de 1946, e da Lei nº. 3.640, de 10 de outubro de 1959; V - o pessoal enquadrado como Auxiliar de Enfermagem, nos termos do Decreto-lei nº. 299, de 28 de fevereiro de 1967; VI - o titular do diploma ou certificado conferido por escola ou curso estrangeiro, segundo as leis do país, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como certificado de Auxiliar de Enfermagem. Art. 9º - São Parteiras: I - a titular de certificado previsto no Art. 1º do Decreto-lei nº. 8.778, de 22 de janeiro de 1964, observado o disposto na Lei nº. 3.640, de 10 de outubro de 1959; II - a titular do diploma ou certificado de Parteira, ou equivalente, conferido por escola ou curso estrangeiro, segundo as leis do país, registrado em virtude de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil, até 2 (dois) anos após a publicação desta Lei, como certificado de Parteira. Art. 11º - O Enfermeiro exerce todas as atividades de Enfermagem, cabendo-lhe: I - privativamente: a) direção do órgão de Enfermagem integrante da estrutura básica da instituição de saúde, pública ou privada, e chefia de serviço e de unidade de Enfermagem; b) organização e direção dos serviços de Enfermagem e de suas atividades técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços; c) planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços de assistência de Enfermagem; d) - (vetado), e) - (vetado), f) - (vetado), g) - (vetado) h) consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria de Enfermagem; i) consulta de Enfermagem;

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23j) prescrição da assistência de Enfermagem; l) cuidados diretos de Enfermagem a pacientes graves com risco de vida; m) cuidados de Enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas; II - como integrante da equipe de saúde: a) participação no planejamento, execução e avaliação da programação de saúde; b) participação na elaboração, execução e avaliação dos planos assistenciais de saúde; c) prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde; d) participação em projetos de construção ou reforma de unidades de internação; e) prevenção e controle sistemático de infecção hospitalar e de doenças transmissíveis em geral; f) prevenção e controle sistemático de danos que possam ser causados à clientela durante a assistência de Enfermagem; g) assistência de Enfermagem à gestante, parturiente e puérpera; h) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto; i) execução do parto sem distócia; j) educação visando à melhoria de saúde da população; Parágrafo único - às profissionais referidas no inciso II do Art. 6º desta Lei incumbe, ainda: a) assistência à parturiente e ao parto normal; b) identificação das distócias obstétricas e tomada de providências até a chegada do médico; c) realização de episiotomia e episiorrafia e aplicação de anestesia local, quando necessária. Art. 12º - O Técnico de Enfermagem exerce atividade de nível médio, envolvendo orientação e acompanhamento do trabalho de Enfermagem em grau auxiliar, e participação no planejamento da assistência de Enfermagem, cabendo-lhe especialmente: a) participar da programação da assistência de Enfermagem; b) executar ações assistenciais de Enfermagem, exceto as privativas do Enfermeiro, observado o disposto no Parágrafo único do Art. 11 desta Lei; c) participar da orientação e supervisão do trabalho de Enfermagem em grau auxiliar; d) participar da equipe de saúde. Art. 13º - O Auxiliar de Enfermagem exerce atividades de nível médio, de natureza repetitiva, envolvendo serviços auxiliares de Enfermagem sob supervisão, bem como a participação em nível de execução simples, em processos de tratamento, cabendo-lhe especialmente: a) observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas; b) executar ações de tratamento simples; c) prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente; d) participar da equipe de saúde. Art. 14º - (vetado) Art. 15º - As atividades referidas nos art. 12 e 13 desta Lei, quando exercidas em instituições de saúde pública e privadas, e em programas de saúde, somente podem ser desempenhadas sob orientação e supervisão de Enfermeiro. Art. 16º - (vetado), Art. 17º - (vetado), Art. 18º - (vetado) Art. 20º - Os órgãos de pessoal da administração pública direta e indireta, federal, estadual, municipal, do Distrito Federal e dos Territórios observarão, no provimento de cargos e funções e na contratação de pessoal de Enfermagem, de todos os graus, os preceitos desta Lei. Parágrafo único - Os órgãos a que se refere este artigo promoverão as medidas necessárias à harmonização das situações já existentes com as disposições desta Lei, respeitados os direitos adquiridos quanto a vencimentos e salários. Art. 21º - (vetado) Art. 22º - (vetado) Art. 23º - O pessoal que se encontra executando tarefas de Enfermagem, em virtude de carência de recursos humanos de nível médio nesta área, sem possuir formação específica regulada em lei, será autorizado, pelo Conselho Federal de Enfermagem, a exercer atividades elementares de Enfermagem, observado o disposto no Art. 15 desta Lei. Parágrafo único - A autorização referida neste artigo, que obedecerá aos critérios baixados pelo Conselho Federal de Enfermagem, somente poderá ser concedida durante o prazo de 10 (dez) anos, a contar da promulgação desta Lei. Art. 24º - (vetado) Parágrafo único - (vetado)

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24Art. 25º - O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 120 (cento e vinte) dias a contar da data de

sua publicação. Art. 26º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 27º - Revogam-se (vetado) as demais disposições em contrário.

Brasília, em 25 de junho de 1986, 165º da Independência e 98º da República José Sarney Almir Pazzianotto Pinto Lei nº 7.498, de 25.06.86 publicada no DOU de 26.06.86 Seção I - fls. 9.273 a 9.275

Lei nº 8.967, de 28 de dezembro de 1994 Altera a redação do parágrafo único do art. 23 da Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências O Presidente da República Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - O Parágrafo único do Art. 23 da Lei nº 7.498 de 25 de junho de 1986, passa a vigorar com a seguinte redação: Parágrafo único - É assegurado aos Atendentes de Enfermagem, admitidos antes da vigência desta Lei, o exercício das atividades elementares da Enfermagem, observado o disposto em seu artigo 15. Art. 2º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 28 de dezembro de 1994; 175º da Independência e 106º da República Itamar Franco Marcelo Pimentel

DIREITOS DOS USUÁRIOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE

Em 17 de março de 1999, o Governador do Estado de São Paulo, Mário Covas, promulgou a Lei nº. 10.241, de autoria do Deputado Roberto Gouveia, que dispõe sobre os direitos dos usuários dos serviços e das ações de saúde no Estado e dá outras providências, cujo texto é seguinte: Artigo 1º. A prestação dos serviços e ações de saúde aos usuários de qualquer natureza ou condição, no âmbito do Estado de São Paulo, será universal e igualitária, nos termos do artigo 2º da Lei Complementar nº. 791 de 9 de março de 1995. Artigo 2º. São direitos dos usuários dos serviços de saúde no Estado de São Paulo: I - ter um atendimento digno, atencioso e respeitoso; II - ser identificado e tratado pelo seu nome ou sobrenome; III - não ser identificado ou tratado por: a) números b) códigos; ou c) de modo genérico, desrespeitoso, ou preconceituoso; IV - ter resguardado o segredo sobre seus dados pessoais, através da manutenção do sigilo profissional, desde que não acarrete riscos a terceiros ou à saúde pública; V - poder identificar as pessoas responsáveis direta e indiretamente por sua assistência através de crachás visíveis, legíveis e que contenham: a) nome completo; b) função; c) cargo; e d) nome da instituição; VI - receber informações claras, objetivas e compreensíveis sobre: a) hipóteses diagnósticas; b) diagnósticos realizados; c) exames solicitados; d) ações terapêuticas; e) riscos, benefícios e inconvenientes das medidas diagnósticas e terapêuticas propostas;

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25f) duração prevista do tratamento proposto; g) no caso de procedimentos de diagnósticos terapêuticos invasivos, a necessidade ou não de anestesia, o tipo de anestesia a ser aplicada, o instrumental a ser utilizado, as partes do corpo afetadas, os efeitos colaterais, os riscos e conseqüências indesejáveis e a duração esperada do procedimento. h) exames e condutas a que será submetido; i) a finalidade dos materiais coletados para exame; j) alternativas diagnósticas e terapêuticas existentes no serviço de atendimento ou em outros serviços: e o que julgar necessário: VII - consentir ou recusar de forma livre, voluntária e esclarecida, com adequada informação, procedimentos diagnósticos ou terapêuticos a serem nele realizados: VIII - acessar, a qualquer momento, o seu prontuário médico, nos termos do artigo 3º da Lei Complementar nº. 791 de 9 de março de 1995: IX - receber por escrito o diagnóstico e o tratamento indicado, com a identificação do nome do profissional e o seu número de registro no órgão de regulamentação e controle da profissão: X - vetado: XI - receber as receitas: a) com nome genérico das substâncias prescritas; b) datilografadas ou em caligrafia legível; c) sem a utilização de códigos ou abreviaturas; d) com o nome do profissional e seu número de registro no órgão de controle e regulamentação da profissão; e e) com assinatura do profissional: XII - conhecer a procedência do sangue e dos hemoderivados e poder verificar, antes de recebê-los, os carimbos que atestaram a origem, sorologias efetuadas e prazo de validade. XIII - ter anotado em seu prontuário, principalmente se inconsciente durante o atendimento: a) todas as medicações com suas dosagens utilizadas; e b) registro da qualidade de sangue recebida e dos dados que permitam identificar a sua origem, sorologias e prazo de validade; XIV - ter assegurado durante as consultas, internações, procedimentos diagnósticos e terapêuticos e na satisfação de suas necessidades fisiológicas: a) a sua integridade física; b) a privacidade; c) a individualidade: d) o respeito aos seus valores éticos e culturais: e) a confidencialidade de toda e qualquer informação pessoal; e f) a segurança do procedimento; XV - ser acompanhado, se assim o desejar, nas consultas e internações por pessoas por ele indicada; XVI - ter a presença do pai aos exames pré-natais e no momento do parto; XVIII - receber do profissional adequado, presente no local, auxilio imediato e oportuno para a melhoria do conforto e bem estar: XIX - ter um local digno e adequado para o atendimento; XX - receber ou recusar assistência moral, psicológica, social ou religiosa; XXI - ser prévia e expressamente informado quando o tratamento proposto for experimental ou fizer parte de pesquisa: XXII - receber anestesia em todas as situações indicadas: XXIII - recusar tratamentos dolorosos ou extraordinários para tentar prolongar a vida: e XXIV - optar pelo local de morte. & 1º - A criança ao ser internada terá em seu prontuário a relação das pessoas que poderão acompanhá-la integralmente durante o período de internação. & 2º - A internação psiquiátrica observará o disposto na Seção III do Capítulo IV do Título I da segunda parte da Lei Complementar nº 791 de 9 de março de 1995. Artigos 3º, 4º e 5º - vetados.

ANATOMIA

APRESENTAÇÃO Anatomia. Um dos estudos mais antigos da história da humanidade: já no século 400 a.C., Hipócrates dissecava o corpo humano à procura de respostas aos questionamentos da existência. Ao longo do tempo, o

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26homem aprofunda-se mais e mais na busca de soluções. A cada descoberta surge um novo mistério,

desafiando a astúcia e perícia de quantos queiram entender o enigma do funcionamento do corpo humano. Contudo, se a anatomia estuda a forma, a fisiologia visa conhecer o funcionamento do corpo. Por isso, sob pena de ficarem incompletos, esses estudos não podem caminhar separados É a base do conhecimento na área de saúde, fornecendo ao profissional instrumentos para toda e qualquer ação. O CORPO HUMANO Nos dias atuais, o culto ao corpo e a busca de uma forma perfeita assumem importância cada vez maior. Padrões estéticos passam a nortear condutas e mudar hábitos, criando estreita ligação com os padrões de saúde. Para que possamos entender o corpo humano e seu funcionamento, faz-se necessário partir de um ponto em evidência. Observe seu próprio corpo. Como pode perceber, ele é composto por uma cabeça, constituída por crânio e face; um tronco, onde encontram-se o pescoço, o tórax e o abdome; dois membros superiores, que são os braços e as mãos e, finalmente, dois membros inferiores, representados pelas pernas e pés. Isto parece bastante simples, mas não o suficiente para que você possa descrever ou localizar algo no corpo de alguém. Vamos imaginar que, durante seu exercício profissional, lhe seja solicitada a execução de determinado procedimento no membro inferior de um paciente. Essa informação será suficiente para que você vá direto ao ponto? É claro que não. Portanto, utilizando a imaginação, vamos agora traçar três planos para dividir o corpo humano: o sagital, que nos fornece a porção direita e esquerda do corpo; o coronal, referente à porção anterior (ventral)e à posterior (dorsal); e o transversal, que nos permite observar a porção cranial (superior ou proximal) e a caudal (inferior ou distal) do corpo (figura 1). Um dos elementos que possibilitam localizar com maior exatidão as áreas do corpo são suas faces internas e externas. Assim, colocando-se uma pessoa deitada em decúbito dorsal (o dorso, as costas em contato com o leito), com as palmas das mãos para cima, pode-se observar um corpo em posição anatômica; as áreas mais internas são obviamente as faces internas; as outras, as faces externas. Até agora, detivemo-nos na apresentação do corpo humano em sua forma anatômica. Se, contudo, desejamos envolver o fator saúde, apenas conhecer a forma não é suficiente, faz-se necessário entender seu funcionamento.

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Volte novamente os olhos para seu corpo. Perceba que ele é completamente recoberto por um tecido que muda de aspecto conforme a especificidade das partes. Assim, o que recobre a face superior das mãos é diferente do que recobre a palma; o que recobre os lábios é diferente do que recobre a face, etc. Mas há um ponto comum: todos são compostos por células que atuam em conjunto, formando verdadeiras equipes de trabalho. A essa altura, observando atentamente o corpo e não tendo conseguido diferenciar nenhuma célula, você deve ter percebido que elas são invisíveis a olho nu, só podendo ser vistas com o auxílio de microscópios. Embora a maioria seja composta por um núcleo - onde fica armazenado o material genético com informações que garantem suas características -, um citoplasma e uma membrana - que envolve a célula e a protege -, as células possuem funções e formas diferentes e sua disposição resulta em vários tipos de tecidos: • conjuntivo - composto por células e fibras imersas num meio especial chamado substância intercelular. A proteína fibrosa existente entre as células do tecido conjuntivo é denominada colágeno. Sua função é de sustentação: o tecido conjuntivo sustenta e une os órgãos, ocupando os espaços vazios entre os mesmos. Forma as cartilagens (conjuntivo cartilaginoso), os ossos (conjuntivo ósseo), o tecido gorduroso conjuntivo adiposo) e o sangue (conjuntivo sangüíneo); • muscular - composto por fibras musculares; • epitelial ou de revestimento - como o nome sugere, reveste e protege todas as superfícies do organismo. Recobre a parte externa da pele (chamada de epiderme) e a parede interna (denominada mucosa) de diversos órgãos, como a boca, estômago, intestino, etc.; • nervoso - composto por células nervosas, chamadas neurônios, tem a função de captar estímulos ambientais e do próprio corpo, conduzindo-os e interpretando-os. Entretanto, se agrupamentos de células podem formar tecidos diferentes, estes, por sua vez, formam distintos órgãos que interagem para desempenhar determinada função no organismo, resultando, então, em um sistema. O corpo humano é constituído por vários sistemas, cada um deles executando tarefas distintas; que devem estar sintonizados e funcionando de forma integrada e harmônica, para manter a saúde do organismo.

SISTEMA LOCOMOTOR

Ossos Os ossos são responsáveis pela firmeza, sustentação e postura do corpo humano. Por serem constituídos de um tecido conjuntivo especial, são formados por células vivas denominadas osteócitos, que precisam ser nutridas. Tal fato o diferencia de outros tecidos conjuntivos, pois no interstício há grande quantidade de sais minerais, especialmente fosfato e cálcio, o que explica sua dureza. Os ossos apresentam grande variedade de forma, tamanho e estrutura interna e têm como principais funções a sustentação do corpo e a fixação do tecido muscular esquelético (ou voluntário), além da proteção dos órgãos moles como, por exemplo, cérebro, coração e pulmões. Os ossos longos, como por exemplo o fêmur, localizado na coxa, têm sua estrutura composta externamente por uma camada densa e rígida, e internamente por outra camada, esponjosa, onde se localiza a medula óssea – a qual possui um tecido de coloração avermelhada e forma a maior parte das células sangüíneas. No corpo do osso, chamado de diáfise, há uma membrana fibrosa, o periósteo, que o reveste externamente. As extremidades, onde se processa o crescimento do tecido ósseo por acréscimo de camadas superficiais, são chamadas de epífises e recobertas de cartilagem para facilitar o movimento. Há também os ossos chatos ou planos, que são largos, compridos e finos. Como exemplo, podemos citar a escápula, mais compacta, que não produz células sangüíneas - encontrada na face posterior do tórax, bilateralmente.

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Geralmente, esses ossos desempenham funções de proteção como os ossos planos do crânio, que protegem o cérebro. Citam-se, ainda, os ossos curtos, que possuem as três dimensões mais ou menos iguais (assemelhando-se a um cubo) e são encontrados apenas no tornozelo (tarso) e punho (carpo). Os ossos irregulares, que possuem diversas formas como aqueles da face, e os ossos sesamóides, que se desenvolvem em certos tendões (por exemplo, a patela) e são encontrados no cruzamento dos tendões com as extremidades dos ossos longos nos membros, protegem os tendões do desgaste excessivo e geralmente mudam o ângulo dos mesmos quando passam por suas inserções. O tecido ósseo, desde que habituado a pesos freqüentes, do próprio corpo ou não, torna-se mais forte em sua estrutura. Já quando paralisado - como, por exemplo, se estiver engessado – torna-se, pela inatividade no dia-a-dia, mais frágil. Ao ocorrer uma fratura, há um estímulo espontâneo de produção de células ósseas. São então produzidas fibras de colágeno mais sais de cálcio, visando favorecer a regeneração do osso. Ao atingirem a velhice, as pessoas passam a apresentar grande dificuldade de regeneração dos ossos, em vista da diminuição da quantidade de cálcio e teor aquoso, além da redução das fibras de colágeno. A osteoporose,por exemplo, é uma doença causada pela descalcificação dos ossos, tornando-os mais frágeis pelo envelhecimento - o que acontece pela diferença entre a produção e absorção de células ósseas

Esqueleto humano O corpo é constituído por aproximadamente 206 ossos – os quais serão estudados a partir da divisão do corpo em cabeça, tronco e membros (figura 2).

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29A cabeça é formada pela face e crânio. O crânio envolve o encéfalo e suas meninges (revestimentos), as partes proximais dos nervos cranianos e vasos sangüíneos. Nele situam-se os ossos frontal, parietal, temporal, esfenóide, etmóide e occipital, que envolvem e protegem o cérebro. Por sua vez, o esqueleto da face (figura 3) contém as órbitas (onde se encaixam os olhos), as cavidades do nariz, maxila e mandíbula. Na face, encontram-se os ossos lacrimais, zigomáticos, nasais, vômer (entre as fossas nasais), palatino, maxilar e mandíbula (o único osso móvel da face).

No tronco (figura 4) estão a coluna vertebral e a caixa torácica. A coluna vertebral inicia-se logo abaixo do crânio e é formada por cinco regiões distintas. Inicialmente, localiza-se a região cervical, composta por sete vértebras. A primeira e a segunda vértebras, respecti- vamente denominadas Atlas e Axis, são responsáveis pela sustentação e movimentação da cabeça. A seguir, temos a região torácica ou dorsal, totalizando doze vértebras. Abaixo desta situa-se a região lombar, com cinco vértebras; logo após a região sacral, também com cinco vértebras, fixadas entre si. Ao final da coluna, temos a região coccigeana com quatro vértebras, também fixadas entre si (figura 5). Cada vértebra possui um espaço no centro, conhecido como forâmen vertebral (figura 6). O posicionamento das vértebras, umas sobre as outras, permite a formação do canal vertebral, por onde passa a medula espinhal.

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A caixa torácica é composta por vinte e quatro costelas (em doze pares), mais o osso esterno, denso e grosso. As costelas têm forma chata e alongada e o espaço entre elas é chamado de espaço intercostal. Na sua maioria, são fixadas posteriormente nas vértebras da região torácica ou dorsal e anteriormente no osso esterno - osso achatado composto pelo manúbrio (parte superior), corpo (parte mediana) e apêndice xifóide (parte inferior). Aquelas diretamente articuladas ao osso esterno são denominadas costelas verdadeiras (da 1ª a 7ª); as falsas (da 8ª a 10ª) são aquelas que se articulam às cartilagens do osso esterno, e não diretamente a ele. Já as costelas flutuantes (da 11ª a 12ª) são aquelas que não têm contato com o osso esterno, sendo fixadas somente nas vértebras da região dorsal. A caixa torácica óssea, além das costelas e esterno, inclui as vértebras torácicas e seus discos intervertebrais, formando um arcabouço ósteo-cartilaginoso que protege o coração, pulmões e alguns órgãos abdominais, como o fígado, por exemplo. O esqueleto dos membros superiores é composto pela cintura escapular (cíngulo peitoral) e pelos ossos dos braços e mãos. A cintura escapular une-se anteriormente ao manúbrio esternal e é formada pelas clavículas e escápulas. Embora seja muito móvel, é sustentada e estabilizada por músculos inseridos nas costelas, esterno e vértebras. A região do braço inicia-se no ombro ou cintura escapular, de onde parte a clavícula - osso longo e fino, situado na parte anterior do corpo. Já a escápula, de forma achatada e triangular, localiza-se na sua parte posterior. O úmero, osso do braço situado na porção proximal, apresenta forma longa e tem uma das extremidades encaixada na escápula - gerando a articulação que permite a realização de movimentos dife- renciados em várias direções. O antebraço (porção distal), por sua vez, é composto por dois ossos denominados rádio e ulna, que se articulam com o úmero em uma de suas extremidades, formando o cotovelo. Para se distinguir os ossos do antebraço, basta esticar o braço com a palma da mão voltada para cima e observar que o osso do mesmo lado do dedo polegar é o rádio; o outro, na direção do dedo mínimo, é a ulna. Estes dois ossos possuem forma longa, porém são mais finos quando comparados ao úmero.

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31Nas mãos (figura 7), encontramos três diferentes grupos de ossos. O punho ou carpo é formado por oito pequenos ossos. Na palma da mão ou metacarpo, somam-se cinco ossos pequeninos. Os dedos compõem-se de três ossículos denominados falange proximal, falange medial e falange distal – exceto o polegar, formado por apenas dois ossículos (não há falange medial).

O quadril ou cintura pélvica (figura 8) é considerado parte integrante do esqueleto dos membros inferiores. É formado por três ossos - ilíaco, ísquio e púbis – que, juntamente, com o sacro e o cóccix, constituem a bacia ou pélvis. O ílio é o maior osso do quadril e situa-se na parte superior lateral da pelvis, oferecendo suporte para as vísceras abdominais. Forma a parte superior do acetábulo (depressão côncava) na face lateral do osso do quadril, onde se articula com a cabeça do fêmur. Sua parte superior é conhecida como crista ilíaca. O ísquio forma a parte póstero-inferior da pélvis e é o principal ponto de apoio quando a pessoa está sentada. O púbis situa-se na parte anterior da pélvis e liga-se ao ílio e ao ísquio, originando o que se denomina sínfise púbica.Na coxa, encontra-se o fêmur, o mais longo osso do corpo humano, que tem uma de suas extremidades articulada com o quadril e a outra, com o joelho. A perna é constituída por três ossos: dois longos e um curto. A patela fica localizada no joelho, o qual une a coxa com a perna. A tíbia localiza-se na parte anterior da perna; a fíbula, na parte posterior. Podem ser diferenciadas pela espessura: a primeira é mais grossa que a segunda (também conhecida como osso da canela) A extremidade distal da fíbula forma o maléolo externo,( chamado de osso do tornozelo). Os pés (figura 9), principais pontos de apoio de todo o esqueleto, são compostos por três divisões distintas: tarso, metatarso e falange. Tarso (com sete ossos) é a parte articulada com a perna, onde também se encontra o calcanhar; o metatarso (com cinco ossos) é a região mediana do peito do pé; a falange (com quatorze ossos) é a extremidade do corpo e divide-se em proximal, média e distal. O hálux só possui a falange proximal e distal. Em um pé, totalizamos 26 ossos.

Cartilagens Ao tocarmos algumas regiões de nosso corpo, como a orelha e a ponta do nariz, é possível percebermos alguma mobilidade. Você sabe por que isso acontece? Isto ocorre pela existência de cartilagens, tecido flexível constituído principalmente por fibras colágenas, com consistência semelhante à da borracha, em cuja estrutura não há vasos sangüíneos.

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32Pode-se distinguir três tipos de cartilagens:

• a hialina: reveste as superfícies articulares e é encontrada principalmente nas paredes das fossas nasais, traquéia e brônquios, na extremidade ventral das costelas e recobrindo as superfícies articulares dos ossos longos; • a fibrosa ou fibrocartilagem: tecido intermediário entre o conjuntivo denso e a cartilagem hialina. É encontrada nos discos intervertebrais, nos pontos em que alguns tendões e ligamentos se inserem nos ossos e na sínfise púbica; • a elástica: assemelha-se à cartilagem hialina, porém inclui, além das fibrilas de colágeno, uma abundante rede de fibras elásticas finas e contínuas. Este tipo é menos sujeito a processos degenerativos do que a hialina. Localiza-se no pavilhão auditivo, no conduto auditivo externo, na epiglote e na cartilagem cuneiforme da laringe. Estudos comprovam que o esqueleto de um embrião é formado basicamente por tecido cartilaginoso. Nos recém-nascidos, pode-se constatar maior maleabilidade dos ossos, principalmente na hora do parto, em vista da maior quantidade de fibras de colágeno do que de cálcio. Mais tarde, com o aumento de cálcio no organismo, essas células cartilaginosas morrem. No espaço intercelular, então, há uma substituição gradual por tecido ósseo - que, dessa forma, não resulta diretamente de sua transformação. Este é o motivo pelo qual o esqueleto do adulto apresenta menor proporção de tecido cartilaginoso. Entretanto, pode-se constatar que a cartilagem atua como proteção nos espaços entre as vértebras da coluna, evitando seu desgaste (figura 10).

Articulações Na anatomia do corpo, articulação é a junção de dois ou mais ossos distintos, permitindo seu movimento. De acordo com o tipo de material que une os ossos articulados, as articulações podem ser divididas em: • fibrosas: unidas por tecido fibroso; • cartilagíneas: unidas por cartilagem ou por uma combinação de cartilagem e tecido fibroso; • sinoviais: unidas por cartilagem com uma membrana sinovial que circunda a cavidade articular. Para a obtenção de um desempenho adequado e sem atritos, a maioria dessas articulações possui um lubrificante denominado líquido sinovial, razão de seu nome. Ressalte-se que as articulações sinoviais são as mais comuns e proporcionam o movimento livre entre os ossos que une, caracterizando-se pela presença em quase todas as articulações dos membros. Apresentam uma cavidade articular e extremidades ósseas revestidas por cartilagem articular. Essas articulações são circundadas por uma cápsula articular, fibrosa, internamente revestida por uma membrana sinovial (figura 11). A junção com os ossos pode ser do tipo móvel, semimóvel ou fixa. A articulação do ombro com o braço permite a realização de amplos movimentos, como o de girar o braço em várias direções. Isto exemplifica a diartrose, ou seja, articulação móvel. Outro exemplo de diartrose, porém com movimentos menos amplos, é encontrado no joelho, onde se constata a semelhança com o movimento de uma dobradiça. Observando-se os ossos do crânio, pode-se verificar que os mesmos estão firmemente encaixados entre si e que suas extremidades são irregulares, ou seja, nem retas nem lisas. Isto exemplifica a sinartrose, definida como articulação imóvel ou fixa.

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33Já os movimentos realizados pela coluna vertebral, limitados, representam um exemplo de anfiartrose, ou seja, articulação semimóvel.Nas articulações, há também os ligamentos, responsáveis pela união dos ossos, limitando-lhes os movimentos a determinadas direções. Esses ligamentos são constituídos por tecido conjuntivo fibroso e encontram-se fortemente unidos à membrana de revestimento do osso denominada periósteo. Quando a articulação não possui ligamentos eficientes, há necessidade do apoio muscular, sendo este o maior responsável pela estabilidade do conjunto. As principais articulações do esqueleto humano são têmporo mandibular, processo articular vertebral, coxo-femoral, joelho, calcanhar, ombro, cotovelo, punho. Os principais movimentos articulares são: - flexão: diminui o ângulo entre as partes do corpo; - extensão: corrige ou aumenta o ângulo entre as partes do corpo; - abdução: afasta parte do corpo do plano sagital mediano no plano coronal; - adução: aproxima parte do corpo do plano sagital mediano, no plano coronal - exceção feita aos dedos das mãos e pés, nos quais abdução significa separá-los e adução, juntá-los; - rotação: mover uma parte do corpo ao redor do seu eixo longitudinal.

Músculos Em qualquer movimento realizado, mesmo o mais discreto, como mexer o dedo do pé ou piscar o olho, utiliza-se a musculatura. Os músculos distribuem-se por todo o corpo, sendo responsáveis por todo e qualquer movimento, intencional ou não.Ao dobrar firmemente o braço, você fará um movimento de flexão contraindo o músculo bíceps, que ficará mais curto e grosso; ao estendê-lo, o músculo retornará a seu tamanho original. Quando nos espregui- çamos, acontece um alongamento nos músculos. Analisando-se esses dois exercícios pode-se compreender a principal característica do tecido muscular: sua capacidade “elástica” de contração e distensão. Para que um músculo funcione, ou seja, para a realização do movimento, faz-se necessário um comando do cérebro - enviado pelos nervos motores e cujo resultado é a contração muscular. Ao ficar paralisado por longo tempo o músculo perde sua tonicidade, o que dificulta ou impede seu movimento. Para sua recuperação a pessoa precisará praticar exercícios de fisioterapia – o que fará com que o músculo, aos poucos, retome os movimentos perdidos. Todas as pessoas possuem a mesma quantidade de músculos, mas cada uma apresenta diferenças em relação à forma e tamanho. Os músculos variam de volume quando exercitados com freqüência, tornando-se mais delineados e desenvolvidos, como podemos observar nos esportistas. Ao tocar sua coxa você pode perceber a extensão do músculo que a constitui, considerado um músculo grande. Ao contrário, seu rosto exemplifica um conjunto de músculos pequenos.

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34O músculo, constituído por fibras, possui forma alongada, parte central alargada (ventre, porção carnosa

contrátil) e extremidades afuniladas que se fixam aos ossos ou órgãos por meio de tendões (cordões fibrosos) ou aponeuroses (lâminas fibrosas). Cada fibra muscular é uma célula longa e fina, com vários núcleos e filamentos microscópicos a preencher seu citoplasma. O conjunto de fibras constitui o feixe muscular e cada músculo possui numerosos feixes. Em algumas regiões do corpo, a musculatura é diferenciada de acordo com a função a ser desempenhada. A musculatura esquelética estriada, situada nas camadas superficiais do corpo, liga-se firmemente às cartilagens e aos ossos por meio de tendões ou aponeuroses Seus movimentos são voluntários, comandados pela vontade. Ela recobre todo o esqueleto, permitindo o controle dos movimentos da face, pernas, braços, etc. A musculatura lisa ou visceral, responsável pelo movimento de órgãos como o esôfago, o estômago e os intestinos, contrai-se lentamente, independente de nossa vontade. Além disso, faz parte da maioria dos vasos e controla o fluxo do sangue através dos vasos sangüíneos. Você já sentiu cólica? O motivo de seu surgimento, seja por disfunção do intestino, útero ou qualquer outro órgão visceral, são as fortes contrações das fibras musculares lisas, que provocam intensa dor. A musculatura do coração, músculo estriado cardíaco, também conhecida como miocárdio, é responsável por seus movimentos (batimentos cardíacos) e contrai-se vigorosa e involuntariamente, apesar de composta por fibras estriadas.

Músculos da face e pescoço Os músculos da face (figura 12) contraem-se e relaxam-se inúmeras vezes, o que nos permite expressar sensações como sorrir, chorar, espantar-se, sentir dor, raiva, etc. Cada uma dessas expressões envolve movimentos de diversos músculos faciais, também conhecidos como mímicos. Ao nos alimentarmos faz-se necessária a mastigação, processo que exige a participação dos músculos mastigadores. Localize em seu próprio corpo, com o uso de um espelho, ou em seu colega, os músculos a seguir comentados.

Na face:

Músculos dos membros superiores Seria difícil contar durante todo um dia os diversos movimentos realizados pelos braços, como pentear-se, pegar objetos, dirigir, abraçar uma pessoa querida, etc. Determinados movimentos necessitam dos músculos flexores, que participam da retração muscular; outros, dos músculos extensores (figura 14), que permitem a extensão do membro. Na região do braço localizam-se os músculos com grandes massas, responsáveis pela força (figura 13). Os principais são: - deltóide – encontra-se na articulação do ombro e produz a elevação do braço - é nele que se aplica a injeção intramuscular; - bíceps – localiza-se na parte anterior do braço, sendo responsável pela flexão do antebraço sobre si mesmo – é bem delineado em pessoas que exercem práticas esportivas; - tríceps – situa-se na parte posterior do braço e afasta o antebraço do bíceps. O movimento do antebraço é limitado, o que lembra uma dobradiça. Porém, as mãos executam movimentos precisos e delicados, como abotoar uma blusa, fazer uma trança, digitar um texto, dentre muitos outros utilizados no dia-a-dia. Para a prática de seu serviço duas posições do antebraço são muito úteis: supina,

- frontal: situa-se na testa e forma rugas quando elevado; - músculo do supercílio: realiza os movimentos de elevação e aproximação das sobrancelhas; - orbicular dos olhos: localiza-se em torno das pálpebras e realiza os movimentos de abrir e fechar os olhos; - músculo do nariz: responsável pelo movimento de franzir o nariz; - bucinador: situa-se na bochecha e atua nos movimentos de inflar e contrair; - masseter: localiza-se nos lados da face, movimentando-se durante a mastigação; - orbicular dos lábios: situa-se em volta dos lábios e é responsável pelo sopro, sucção, beijo estalado e assobio; - músculo depressor do lábio inferior: atua na projeção do lábio inferior e na contração do queixo. No pescoço (figura 12) são encontrados os músculos platisma e Esternocleidomastóide (responsável pela. rotação da cabeça).

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35quando o antebraço se encontra com a palma da mão para cima, e prona, quando a palma está virada para baixo. Seus principais músculos são: - flexor dos dedos – situa-se na parte anterior do antebraço e promove a flexão dos dedos; - extensor dos dedos – localiza-se na parte posterior do antebraço, sendo responsável pelo afastamento dos dedos.

Músculos do tronco Os principais músculos do tórax (figura 13) são: - trapézio – localiza-se na região superior das costas, sendo responsável pela elevação dos ombros - é nele que se realiza a massagem de conforto; - grande dorsal – situa-se na região inferior das costas, tendo como função principal levar o braço para trás; - peitoral maior – como o nome indica, localiza-se no peito, permitindo o movimento do braço para a frente; - grande denteado – situa-se na parte lateral do tórax, promovendo a elevação das costelas, ajudando, dessa forma, o processo de respiração. No abdome, os principais músculos são: - reto abdominal – localiza-se na frente do abdome ou barriga, sendo responsável por dobrar o tórax sobre o abdome, ajudando na inspiração (entrada de ar no organismo) forçada; - oblíquo externo – situa-se nos lados do abdome; atua comprimindo as vísceras e inclinando o tórax para a frente; - diafragma – separa o tórax do abdome e ajuda na inspiração. A musculatura abdominal é também responsável pela sustentação do peso e pressão dos órgãos viscerais. Na prática de seu trabalho três posições distintas são muito utilizadas: decúbito dorsal - quando o corpo se encontra com o dorso (costas) em contato com a superfície de apoio (maca ou leito); decúbito ventral - quando o corpo está apoiado sobre o ventre (de barriga para baixo); decúbito lateral - quando o corpo está apoiado em um lado específico, seja o direito ou o esquerdo.

Músculos dos membros inferiores Os principais músculos dos membros inferiores (figura 13) são: - grande glúteo ou glúteo superior - localiza-se nas nádegas e permite a extensão da coxa; - quadríceps - situa-se na parte anterior da coxa, sendo responsável pela extensão da perna; - costureiro - é o músculo mais longo do corpo: inicia-se no quadril, cruza a coxa e termina na lateral interna do joelho; sua função é aproximar a coxa do abdome; - bíceps crural ou femoral – localiza-se na face posterior da coxa, permitindo o movimento de flexão das pernas; - gêmeos ou gastrocnêmios – situam-se na face posterior da perna (“batata” da perna) e são responsáveis pela extensão dos pés. Por sua vez, os pés apresentam movimentos de extensão (figura 14), flexão e rotação – possíveis devido à utilização dos músculos extensores e flexores neles inseridos por meio dos tendões. Em pacientes acamados ou sem nenhum exercício com os pés é comum acontecer o que se chama de queda plantar. Devido à falta de atividade da musculatura responsável pelo movimento, ela se torna rígida e atrofiada, necessitando de cuidados especiais para resgatar os movimentos normais

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37SISTEMA TEGUMENTAR

A pele reveste todo o corpo humano, exercendo funções indispensáveis para a manutenção da vida. Adicionalmente, como vive em perfeita harmonia com o organismo, reflete seu estado de saúde. Ao mesmo tempo que mantém a temperatura corporal estável, protege-o contra agressões físicas, químicas e biológicas, além de captar sensações e participar da síntese de vitamina D, pela utilização dos raios solares. Internamente, temos a mucosa, nome dado ao tegumento que reveste as cavidades internas como, por exemplo, a mucosa oral. A coloração da pele depende da espessura (quanto mais espessa mais amarela), do grau de irrigação sangüínea (o que a torna mais ou menos rosada), da presença de melanina (um pigmento que escurece a pele) e da absorção do caroteno (responsável pela tonalidade amarela). Quanto maior a quantidade de melanina existente, mais intensa será a cor.

AS CAMADAS DA PELE A pele é formada por três camadas: a epiderme, a derme e a hipoderme ou tecido celular subcutâneo. A epiderme, por sua vez, é constituída por cinco camadas, sendo que a quinta, a camada córnea rica em queratina, só existe nas palmas das mãos e plantas dos pés. A camada mais interna, situada logo acima da derme, é a responsável pelo surgimento das células epiteliais, sendo por isso chamada de germinativa ou basal. Conforme as células vão surgindo na camada basal, as demais vão amadurecendo e sendo empurradas para camadas superiores pelas células mais jovens. Sofrem um processo de queratinização que as torna mais resistentes e impermeáveis, até se depositarem na camada superior da epiderme, quando, então, já estão mortas e são eliminadas por descamação. Nesta camada também se localiza a melanina, responsável pela coloração da pele, que apresenta maior concentração nas pessoas da raça negra. A epiderme é responsável pela impermeabilidade da pele, o que dificulta a evaporação da água pela superfície corporal. A derme, localizada logo abaixo da epiderme, é um tipo de tecido conjuntivo que também possui fibras elásticas. Nesta camada, que é bem vascularizada, encontram-se as terminações nervosas, vasos linfáticos, glândulas sebáceas e alguns folículos pilosos. Nela se desenvolvem as defesas contra agentes nocivos que tenham vencido a primeira barreira, ou seja, a epiderme. Em sua atividade profissional, você perceberá que é na derme que se realizam a maioria dos testes cutâneos e administração de vacinas - como a BCG, por exemplo. A derme mantém a pele sob constante tensão elástica e forma a impressão digital pela projeção das papilas dérmicas para a epiderme, com formato de cristas separadas por sulcos. O tecido celular subcutâneo ou hipoderme encontra-se logo abaixo da derme. É um tecido conjuntivo gorduroso (tecido adiposo), representando importante reserva calórica para o organismo, além de funcionar em algumas partes do corpo como um coxim (almofada) denominado panículo adiposo, evitando traumas. É nele que encontramos, em pessoas obesas, os “detestados” excessos de gordura. No entanto, o panículo adiposo proporciona proteção contra o frio. Distribui-se por toda a superfície do corpo e varia de acordo com a idade, sexo, estado nutricional e taxa de hormônios. Por ser mais vascularizada que a derme essa camada da pele é capaz de absorver com maior rapidez as substâncias nela injetadas – motivo pelo qual recebe a administração de certas medicações, como a insulina para pacientes diabéticos, por exemplo.

OS ANEXOS DA PELE

Se a pele tem importância para a saúde das pessoas, seus anexos (figura 15) não podem ser esquecidos: os pêlos, glândulas sebáceas, glândulas sudoríparas e unhas.

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Aparentemente, pode parecer que os pêlos são superficiais, mas se você depilar a sobrancelha, por exemplo, verificará que eles têm uma inserção profunda, pois situam-se em invaginações (saliências) na epiderme. Os pêlos são constituídos por células queratinizadas produzidas por folículos pilosos, localizados na derme ou hipoderme, onde se abrem as glândulas sebáceas. Têm por função proteger áreas de orifícios e olhos, possuindo rica inervação que lhes confere, ainda, o papel de aparelho sensorial cutâneo. A cor dos pêlos, tamanho e disposição variam de acordo com a raça e a região do corpo. Estão presentes em quase toda a superfície da pele, exceto em algumas regiões bem delimitadas. Quando sentimos frio ou estamos em uma situação considerada “arrepiante”, podemos observar que os pêlos ficam eretos, arrepiados, devido à função sensorial da pele. As glândulas sebáceas situam-se na derme e, como já dito, formam- se junto aos pêlos, podendo existir várias para cada folículo piloso. Em certas regiões, como lábio, glande e pequenos lábios da vagina, os ductos das glândulas sebáceas abrem-se diretamente na pele. São responsáveis pela secreção de gorduras que lubrificam e protegem a superfície da pele e estão presentes em todo o corpo, exceto nas palmas das mãos e plantas dos pés. As glândulas sudoríparas são encontradas em toda a pele, exceto em certas regiões, como a glande. Secretam o suor – solução extremamente diluída, que contém pouquíssima proteína -, além de sódio, potássio, cloreto, amônia e ácido úrico. Nas palmas das mãos e plantas dos pés se abrem diretamente na superfície cutânea, sendo mais numerosas nessas áreas. Ao atingir a superfície da pele o suor se evapora, baixando a temperatura corporal. Dessa forma, exercem importante papel no controle da temperatura corporal – motivo pelo qual suamos mais no calor e menos no frio. A presença de catabólitos no suor sugere que as glândulas sudoríparas também têm função excretora. Quando desembocam nos folículos pilosos são chamadas de glândulas sudoríparas apócrinas e localizam-se apenas nas regiões axilares, perianal e pubiana. Podem ser estimuladas pela tensão emocional e sua secreção é ligeiramente viscosa e sem cheiro, mas adquire odor desagradável e característico pela ação de bactérias na pele. As unhas recobrem a última falange dos dedos e são formadas por queratina dura e fixadas sobre a epiderme nos denominados leitos ungueais. Crescem apenas longitudinalmente, não para os lados. Protegem as pontas dos dedos, evitando traumatismos e possuem em seu contorno uma espécie de selo chamado cutícula, que impede a entrada de agentes infecciosos, como bactérias. Ao cuidar das unhas, muitas pessoas têm o hábito de retirar a cutícula, o que pode resultar na contaminação do leito ungueal e em processos inflamatórios - vulgarmente conhecidos por “unheiro” – que podem até mesmo causar, conforme o grau de agressão, uma deformação permanente na unha. O cuidado com as unhas deve limitar-se à limpeza, escovação e corte. Para o profissional de saúde, a pele deve ser objeto de atenção especial, pois sua coloração, textura e aparência podem ser indicativas de alterações no organismo. Por outro lado, os cuidados básicos de higiene e hidratação são essenciais para a manutenção da saúde em geral. O hábito de massagear diariamente a pele com um creme hidratante mantém a boa irrigação de sangue nas células da epiderme. Tal procedimento é particularmente importante no caso de pacientes acamados que, devido à má circulação sangüínea e à morte prematura de células epidérmicas por falta de oxigenação, podem apresentar lesões de pele, denominadas escaras.

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39SISTEMA CARDIOVASCULAR

O sangue pode ser chamado de “meio de transporte” do corpo. Veículo de elementos tão importantes que uma falha sua pode causar a morte dos que esperam suas “mercadorias”: as células. O sangue é uma massa líquida, contida num compartimento fechado, o aparelho circulatório, e mantida em movimento regular e unidirecional devido às contrações rítmicas do coração. Num adulto, seu volume total é de aproximadamente 5,5 litros. Para executar com precisão suas funções, tais como suprir as necessidades alimentares dos tecidos, transportar detritos das células para serem eliminados e conduzir substâncias e gases de uma parte a outra do corpo, possibilitando o bom funcionamento das células, o sangue necessita de elementos especiais em sua composição – sobre os quais passaremos a discorrer. Se colhermos uma pequena quantidade de sangue observaremos que em pouco tempo haverá a separação entre um líquido amarelado e uma massa vermelha (coágulo). Assim, verificamos que o sangue é formado de uma parte líquida, denominada plasma, e de uma parte sólida, composta por células e fragmentos de células (elementos figurados). O plasma representa 56% do volume sangüíneo e é constituído por 90% de água e diversas substâncias, como proteínas, sais inorgânicos, aminoácidos, vitaminas, hormônios, lipoproteínas, glicose e gases - oxigênio, gás carbônico e nitrogênio -, diluídos em seu meio. Os sais minerais, juntamente com a água, regulam a pressão osmótica, ou seja, a força que pressiona a passagem de água através de uma membrana de um local menos concentrado para outro mais concentrado. Os principais sais minerais são o cloreto, o sódio, o potássio, o cálcio e o magnésio. Com relação ao plasma, suas principais proteínas são a albumina, as globulinas e o fibrinogênio. Entre outras funções, a albumina transporta medicamentos, bilirrubina e ácido biliar, além de manter a pressão osmótica uniforme no plasma, propiciando a troca de água entre o sangue e os tecidos. As globulinas são compostas pelas alfa e betaglobulinas que transportam o ferro e outros metais, hormônios, vitaminas, lipídios e as gamaglobulinas (anticorpos) que protegem o nosso organismo – motivo pelo qual são chamadas de imunoglobulinas. Por sua vez, o fibrinogênio é necessário para a formação de fibrina, na etapa final da coagulação sangüínea. Das células que compõem a parte sólida do sangue, os glóbulos vermelhos, também chamados hemácias ou eritrócitos, são os que existem em maior quantidade. Não possuem núcleo e apresentam um pigmento rico em ferro, denominado hemoglobina, que torna o sangue vermelho e tem a função de transportar oxigênio para as células. Qualquer interferência nesse transporte pode ser letal para as células do tecido afetado – o que é possível de ser percebido mediante a observação da pele e mucosas (como os lábios), que se apresentarão hipocoradas (sem cor). As hemácias se formam nas medulas vermelhas dos ossos longos e vivem cerca de 120 dias; ao morrerem são transportadas pelo próprio sangue para o baço, onde se fragmentarão. O valor normal de eritrócitos é de 4,5 a 5 milhões/ml de sangue; e o hematócrito, ou seja, a porcentagem de eritrócitos no sangue, de 45%. A anemia significa uma deficiência de hemácias, que pode ser causada por perda muito rápida ou produção demasiado lenta. É muito importante que você saiba que nessas células existem certos componentes (aglutinógenos), geneticamente determinados, convencionalmente chamados de A e B. Sua presença define o tipo sanguíneo de uma pessoa. Quatro tipos de sangue podem ser identificados: tipo A – com hemácias que só contêm o elemento A; tipo B - com hemácias que só contêm o elemento B; tipo AB - com hemácias que contêm os dois elementos; e tipo O, com hemácias “vazias”, ou seja, sem aglutinógeno. Além destes componentes, há o fator Rh. Cerca de 85% da população possui o aglutinógeno Rh, sendo chamadas de Rh+. A presença desses aglutinógenos específicos nas hemácias não é um dos elementos responsáveis pelas reações transfusionais resultantes de tipos sangüíneos incompatíveis. Daí a necessidade de se conhecer a tipagem sanguínea do paciente quando da necessidade de realização de transfusão. Os leucócitos ou glóbulos brancos são células que existem no sangue em menor quantidade que as hemácias. Responsáveis pela defesa do organismo são capazes de destruir os invasores, além de produzir histamina (substância manifesta nas reações alérgicas) e heparina (anticoagulante). Quando suspensos no sangue os leucócitos são esféricos e classificam-se em granulócitos - ou poliformonucleares - e agranulócitos - segundo características celulares - e se diferenciam em outras células durante a fase de maturação. Os granulócitos são compostos de 60% a 75% de neutrófilos, 2% a 4% de eosinófilos e 1% de basófilos. Formam-se na medula óssea e são destruídos e eliminados pelo fígado, baço, muco-bronquial,

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40secreções glandulares e por autodestruição. Defendem o organismo na fase aguda do processo infeccioso e

inflamatório. Os eosinófilos participam de processos alérgicos. Os agranulócitos compreendem os linfócitos e monócitos. Os linfócitos correspondem a 25%-40% dos leucócitos e são formados nos tecidos linfóides, onde se armazenam (timo e baço). Uma pequena quantidade circula pelo corpo, atuando lentamente nas inflamações crônicas em vista de sua pouca ação destrutiva sobre as bactérias, no entanto são importantes nas reações de defesa contra proteínas estranhas ao organismo. Os monócitos formam-se na medula óssea e participam no combate de infecções crô- nicas, correspondendo a 3%-6% dos leucócitos. Um terceiro elemento de fundamental importância no sangue são as plaquetas, fragmentos de células especiais da medula óssea chamadas megacariócitos. Nosso corpo possui cerca de 250 a 450 mil plaquetas/ml, cuja função é a coagulação sangüínea - se não existissem, perderíamos todo o sangue através de qualquer ferimento. Assim, quando um vaso sangüíneo sofre lesão em sua parede inicia-se um processo chamado hemostasia (coagulação sangüínea), que visa impedir a perda de sangue (hemorragia). O vaso lesado se contrai (vasoconstrição) e as plaquetas circulantes agregam-se no local, formando um tampão plaquetário. Durante a agregação, fatores do plasma sangüíneo, dos vasos lesados e das plaquetas promovem a interação seqüencial (em cascata) de 13 proteínas plasmáticas, originando a fibrina e formando uma rede que aprisiona leucócitos, eritrócitos e plaquetas. Forma-se então o coágulo sangüíneo, mais consistente e firme que o tampão plaquetário. Protegido pelo coágulo, a parede do vaso restaura-se pela formação de tecido novo. Por fim, a ação de enzimas plasmáticas e plaquetárias faz com que o coágulo seja removido. Ressalte-se que os vasos sangüíneos são inervados pelo nervo simpático, que possui ação vasoconstritora (diminui o calibre dos vasos), e pelo nervo parassimpático, que é vasodilatador (aumenta o calibre dos vasos). A ação desses dois feixes nervosos mantém o diâmetro e a tonicidade dos vasos sanguíneos. Vias do sangue Até agora, falamos sobre o sangue e sua função de transporte. No entanto, para que atenda a todo o organismo, é necessário que circule por todo o corpo. Mas de que forma acontece essa circulação? Como a função do sangue é suprir as células e carrear-lhes os detritos, ele necessita de muitas vias para exercer sua tarefa. Essas vias são compostas por tubos chamados veias ou artérias, conforme o fluxo que seguem e o tipo de sangue que por eles passa. Assim, por meio das veias e artérias o sangue está constantemente abastecendo e transportando os detritos das células. Qualquer interrupção no seu fluxo pode acarretar a morte celular e, portanto, ocasionar uma lesão nos tecidos. As veias possuem paredes musculares finas, podendo contrair-se ou expandir-se conforme a necessidade (figura 16). Não pulsam, funcionam como reservatórios do sangue que nelas se movimenta. Geralmente, transportam o sangue já utilizado pelo organismo, portanto rico em detritos e gás carbônico. Seu diâmetro aumenta gradativamente à medida que se aproximam do coração. Apresentam válvulas no seu interior, principalmente nos membros inferiores e superiores, para direcionar o fluxo sangüíneo no sentido do coração e impedir o refluxo. Quando essas válvulas perdem parte de sua funcionalidade as veias se dilatam e surgem as varizes. Na maioria das vezes, as artérias são responsáveis por levar o sangue rico em nutrientes e substâncias essenciais - como o oxigênio - às células. Possuem paredes resistentes, formadas por musculatura lisa (involuntária), pois transportam o sangue sob alta pressão para que seu fluxo seja tão rápido quanto necessário. As artérias podem ser palpadas, principalmente em regiões articulares, onde são mais superficiais. Os batimentos arteriais palpados são o que chamamos de pulso e recebem os nomes conforme a artéria palpada, sendo os mais comuns: pulso carotídeo - artéria carótida; pulso radial - artéria radial (figura 17); pulso femoral - artéria femoral; e pulso pedial - artéria pediosa. Devido à pressão existente no interior desses vasos, quando puncionados para a realização de exames diagnósticos e/ou terapêuticos devem receber uma compressão no local, por alguns minutos, para evitar o sangramento e a formação de hematoma. Em seu trabalho, rapidamente você verificará que as veias dos membros inferiores e superiores são as mais utilizadas para a punção venosa (figura 18).

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41Figura 16

A máquina da vida O coração é uma “bomba” muscular oca, responsável pela circulação do sangue pelo corpo. Para tanto, apresenta movimentos de contração (sístole) e relaxamento (diástole), por meio dos quais o sangue penetra no seu interior e é impulsionado para os vasos sangüíneos. Localiza-se na porção central da cavidade torácica conhecida como mediastino - mais precisamente o mediastino médio e é envolvido por um saco fibrosseroso de paredes duplas, chamado pericárdio, que tem em seu interior pequena quantidade de líquido aquoso – o que permite seu melhor deslizamento quando dos movimentos de sístole e diástole. A estrutura cardíaca é formada por três camadas musculares: epicárdio (camada externa), miocárdio (camada média e a mais espessa) e endocárdio (camada interna).

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42O coração é composto por quatro câmaras, denominadas átrios (superiores) e ventrículos (inferiores). Os

átrios recebem o sangue que vem das veias, motivo pelo qual suas paredes são delgadas - ao inverso dos ventrículos que, por injetarem sangue nas artérias e necessitarem de maior força para vencer a resistência vascular, têm paredes musculares espessas. Os movimentos cardíacos são rítmicos, numa média de 80 batimentos por minuto, no adulto – como na criança o espaço a ser percorrido é menor, seus batimentos são mais acelerados. Ao pousar a mão ou o diafragma do estetoscópio sobre o terço inferior do osso esterno, você poderá sentir ou ouvir o pulso referente ao ápice do coração, chamado pulso apical. E em cada movimento de sístole você perceberá que uma grande quantidade de sangue é impulsionada para fora do coração, com a importante missão de manter a vida.

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43Um trajeto de vida A cada sístole o coração expulsa o sangue de suas câmaras; e a cada diástole, as enche de sangue. No entanto, de onde vem e para onde vai este sangue? Tomemos por início o ventrículo esquerdo, localizado na porção inferior esquerda do coração. O sangue que dele sai, rico em oxigênio, é impulsionado para a artéria de maior calibre do corpo: a aorta. Seu objetivo é alimentar as células de todos os tecidos. Para tanto, possui muitas artérias menores que recebem o sangue da aorta, conduzindo-o para lugares diferentes. As artérias vão-se dividindo e ficando cada vez menores, até se tornarem arteríolas - os últimos e pequenos ramos do sistema arterial, que atuam como válvulas controladoras pelas quais o sangue é liberado para os capilares. Os capilares, por sua vez, possuem paredes extremamente permeáveis - o que permite a passagem de nutrientes, gases e substâncias para as trocas com o meio - e são capazes de dilatar-se de acordo com a necessidade do tecido irrigado. Após efetuar as trocas com o meio, o sangue, agora rico em detritos e gás carbônico, é recolhido pelas vênulas, que o conduzem e gradativamente confluem formando veias de calibre cada vez maior até chegar à veia cava, que o deposita no átrio direito. As finas paredes musculares dos átrios, no entanto, não possuem força para vencer a resistência muscular das artérias, porém uma vez repletos de sangue desencadeiam a abertura da válvula tricúspide - que localiza-se entre o átrio direito e o ventrículo direito e, quando aberta, permite a passagem do sangue do átrio para o ventrículo; quando fechada, impede o retorno sangüíneo do ventrículo para o átrio. Como as paredes ventriculares são espessas e capazes de vencer a força vascular das artérias, o sangue é mais uma vez, empurrado para fora do coração. A posse desse conhecimento lhe permitirá entender que, uma vez no ventrículo direito, o sangue é impulsionado para a artéria pulmonar, sendo posteriormente conduzido aos pulmões – onde efetuará importantes trocas, deixando gás carbônico e recolhendo oxigênio (figura 19). Entre o ventrículo direito e a artéria pulmonar localiza-se a valva do tronco pulmonar ou semilunar, que impede o refluxo de sangue para o ventrículo direito. Rico em oxigênio para as células, o sangue necessita percorrer o organismo. Para isso, é novamente conduzido ao coração pela veia pulmonar, que o libera no átrio esquerdo. Este, valendo-se de válvulas (mitral ou bicúspide) que o separam do ventrículo esquerdo e impedem o refluxo sangüíneo, repassa o sangue para essa câmara. De volta ao ventrículo esquerdo, este novamente vence a força da potente parede aórtica para reiniciar o processo. Entre o ventrículo esquerdo e a artéria aorta encontra-se a válvula aórtica que, quando aberta, permite a saída de sangue para as artérias e, quando fechada, impede o seu refluxo. A distribuição de sangue pelo organismo recebe a denominação de circulação sistêmica ou grande circulação. A pressão com que o sangue é bombeado para as artérias precisa ser adequada às suas resistências e às necessidades dos tecidos. Assim, uma pressão abaixo do nível necessário resulta em lesões teciduais pela falta de oxigenação de suas células. E uma pressão contínua acima do nível suportável pelas paredes vasculares pode resultar no seu rompimento. O coração é inervado pelos nervos simpático e parassimpático, que afetam a função cardíaca alterando sua freqüência ou força de contração do miocárdio. O simpático acelera os batimentos cardíacos e aumenta a força de contração do miocárdio; conseqüentemente, mais sangue é expulso do coração. O parassimpático age inversamente ao simpático. O coração trabalha automaticamente por ação do sistema nervoso e o impulso para exercer sua atividade cardíaca origina-se nele próprio – processo conhecido como sistema de condução do coração, responsável pelas contrações espontâneas. É composto pelo nó sinusal (ou sinoatrial), situado no átrio direito próximo à desembocadura da veia cava superior - ponto de origem de todos os estímulos, sendo por isso denominado marca-passo cardíaco. Os estímulos por ele produzidos são transmitidos por fibras musculares ao nó atrioventricular, localizado próximo ao septo atrial. Pela musculatura ventricular, esses estímulos atingem o feixe de His e prosseguem pelas fibras de Purkinge, direita e esquerda. O controle automático do coração sofre influências externas como temperatura (a febre aumenta a freqüência cardíaca), alterações na concentração sérica de cálcio e potássio - que podem provocar diminuição de sua freqüência cardíaca e força de contração -, parada cardíaca e contração espástica. Daí a importância dada à dosagem no preparo de soluções e medicações que contenham esses eletrólitos.

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44O CORAÇÃO

É o órgão central da circulação. É um músculo oco cuja função é recolher o sangue proveniente das veias e lançá-lo nas artérias. O coração está envolvido por uma túnica que se chama pericárdio, enquanto as suas cavidades internas estão forradas por uma membrana delgada: o endocárdio. A parte muscular do coração se chama miocárdio. A forma do coração é aproximadamente a de um cone. A sua ponta corresponde ao quinto espaço intercostal da esquerda. A cor é de um vermelho mais ou menos escuro, mas a uniformidade dessa cor é interrompida por estrias amareladas, devidas às formações de tecido adiposo. O volume do coração varia nos diversos indivíduos. As suas dimensões médias, em um homem adulto, são as seguintes: Comprimento, 98 milímetros; Largura, 105 milímetros; Circunferência, 230 milímetros.

O peso é de cerca de 275 gramas. O coração da mulher tem dimensões inferiores de 5 a 10 milímetros, e pesa 5 a 10 gramas a menos.

Está localizado na cavidade torácica, diretamente atrás do esterno, deslocado em direção ao lado esquerdo. Suas paredes de tecidos musculares são reforçadas por bandas de tecido conjuntivo e todo o órgão está coberto pelo tecido conjuntivo chamado pericárdio. Tanto o coração como todos os vasos estão revestidos por uma capa de células planas, chamada endotélio que evita que o sangue se coagule. O coração se divide em quatro cavidades: duas aurículas e dois ventrículos. As aurículas recebem o sangue do interior do organismo e o impulsiona aos ventrículos, estes propulsam o sangue que recebem a todo o corpo (não há comunicação interauricolar nem interventricular) por sua função de bombeamento o coração está provido de válvulas (aurícula e ventrículo) que, ao fechar hermeticamente, evitam o retrocesso do sangue: válvula tricúspide, entre as duas cavidades direitas (aurícula e ventrículo); Válvula bicúspide ou mitral, entre as duas cavidades esquerdas; e válvulas semilunares, na origem das artérias aorta e pulmonar que partem dos ventrículos.

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Para o sangue circular, levando os glóbulos vermelhos (com oxigênio), glóbulos brancos (que combatem infecções) e as plaquetas (que ajudam a coagulação), alguém tem que empurrar e puxar. É o coração que faz esse trabalho. A prova de que ele é importante? Basta dizer que quando o coração pára, a vida acaba. E é danado de rápido esse coração: mais rápido que o segundo. A cada minuto, ele bate 80 vezes, em média. Ou seja, mais de uma vez por segundo. E passa de 100 por minuto quando a gente pula corda! Os lugares mais fáceis de sentir a nossa pulsação: - no pulso, onde passa a artéria radial - no pescoço, onde passa a veia jugular

“Tum, Tum”, bate coração: Já reparou que o coração tem duas batidas? Uma mais forte, outra mais fraca. Uma puxa o sangue, a outra empurra: Sístole (contração), Diástole (dilatação), sístole, diástole, sístole, diástole. O tempo todo, desde a hora em que a vida começa até quando ela acaba. O coração é um músculo em constante atividade. Dentro dele é a maior movimentação. É um entra-e-sai que não tem fim. Nessa verdadeira casa da mãe Joana existe várias salas: Aurícula direita: recepciona o sangue que vem das veias; Aurícula esquerda: por aqui entra o sangue que vem dos pulmões, também por veias; daqui ele passa

para os dois ventrículos; Ventrículo direito: manda o sangue para os pulmões, por artérias; Ventrículo esquerdo: empurra o sangue para o corpo, pela artéria aorta (uma das principais vias de

circulação do sangue).

O serviço de lavanderia é impecável: o sangue vai pelas artérias, limpinho, para todo o corpo; e o sangue volta pelas veias, sujo, para o coração mandá-lo para os pulmões, que vão limpar a sujeira.

* Fonte das figuras e textos sobre os órgãos - www.corpohumano.hpg.ig.com.br

SISTEMA RESPIRATÓRIO Desde o nascimento, o sistema respiratório é utilizado de forma autônoma. Nele pode-se distinguir uma porção condutora que compreende as fossas nasais, nasofaringe, laringe, traquéia, brônquios e bronquíolos e uma porção respiratória representada pelas porções terminais da árvore brônquica que contém os alvéolos, responsáveis pela troca gasosa. O pulmão é formado pela árvore brônquica e pelos milhões de alvéolos. A boca só participa do sistema devido à necessidade de liberar o ar interno durante a fala. O nariz é o órgão que comunica o meio externo ao interno. As fossas nasais iniciam-se nas narinas, estendendo-se até a faringe. Dividem-se por uma parede cartilaginosa chamada septo nasal. A ins piração (condução do ar para dentro) filtra as impurezas do ar, possibilitando que chegue mais limpo aos pulmões. Esse processo ocorre porque no interior das fossas nasais encontram-se os pêlos e o muco (secreção da mucosa nasal), cuja função é reter substâncias do ar, manter a umidade da mucosa e aquecer o ar, facilitando o desempenho dos outros órgãos. A faringe é um canal que liga a boca às fossas nasais e estas à laringe; integra tanto o sistema respiratório (pois conduz o ar para a laringe) como o digestório (pois repassa os alimentos para o esôfago).

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46A laringe, com forma tubular e tecido cartilaginoso, situa-se na parte anterior do pescoço. Seu início é a

glote, orifício em cujas bordas há duas pregas vocais - conhecidas como cordas vocais - que se movem com a passagem do ar, ocasionando uma vibração entre si e produzindo a fala ou a voz. Anteriormente à glote encontra-se uma saliência cartilaginosa denominada epiglote - a qual pode ser vista com a abertura da boca e o estiramento da língua. Sua função é muito importante na alimentação, pois veda a glote durante o processo de deglutição. Você já se engasgou alguma vez? Tal fato acontece quando não há o vedamento total da glote pela epiglote, permitindo a passagem de resíduo alimentar para as vias respiratórias. Contudo, logo ocorre uma reação es- pontânea do organismo para expulsar o corpo estranho - a tosse. A traquéia é formada por um conjunto de anéis cartilaginosos,sobrepostos, resultando em uma anatomia tubular. Mede aproximadamente 12 centímetros e em sua parte inferior possui uma bifurcação que dá origem a dois pequenos tubos denominados brônquios. Deles partem algumas ramificações conhecidas como bronquíolos, que desembocam nos alvéolos pulmonares, os quais, por sua vez, têm forma arredondada, apresentam-se agrupados e são revestidos por uma fina membrana e recobertos por muitos vasos capilares sangüíneos. O pulmão é um órgão duplo, elástico devido a sua função, localizado no interior da caixa torácica. O direito é composto por três partes, denominadas lobo superior, lobo médio e lobo inferior; já o esquerdo possui apenas dois lobos: o superior e o inferior Sustentados pelo diafragma, os pulmões são recobertos por uma fina membrana denominada pleura, responsável por sua proteção na caixa torácica. Quando, pela inspiração, o ar chega aos pulmões os músculos respiratórios (intercostais e o diafragma) contraem-se permitindo a elevação das costelas. Em conseqüência, há aumento do volume da caixa torácica e expansão dos pulmões. Durante a expiração (saída do ar para o meio externo) o ar sai dos pulmões espontaneamente, reduzindo o volume da caixa torácica e permitindo a aproximação ou abaixamento das costelas – processo que ocasiona o relaxamento dos músculos diafragma e intercostais, que participam do mecanismo respiratório. Durante a passagem do ar pelas vias aéreas ele é umidificado, aquecido e filtrado de corpos estranhos pela mucosa e cílios que revestem as porções condutoras do sistema respiratório. O ar inspirado é composto de O2 (oxigênio), que passa para o sangue do capilar, e CO2 (gás carbônico). Através da hemoglobina, substância existente nos glóbulos vermelhos, o O2 é transportado pelo sangue. Com o CO2 ocorre o processo inverso: passa do sangue para o alvéolo, de onde é eliminado através da expiração. O sangue que foi oxigenado nos pulmões é levado ao coração, que, pelos vasos sanguíneos, o distribui a todo o corpo.

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A DINÂMICA DA RESPIRAÇÃO

Pode dividir-se em distintos processos: 1. Inspiração: Consiste na entrada de ar até os alvéolos pulmonares. Ingressa oxigênio. 2. Processo de intercâmbio de oxigênio e dióxido de carbono entre os alvéolos pulmonares e o sangue; e transporte do sangue aos tecidos. 3. Expiração: consiste na saída do ar dos alvéolos pulmonares para o exterior. Elimina-se dióxido de carbono. O oxigênio ingressa pela narina, atravessa a faringe, a laringe e traquéia. A traquéia se ramifica em dois brônquios, que se dirigem cada um a um pulmão. No pulmão os brônquios vão se dividindo e, ao mesmo tempo, diminuem seu calibre até formar os bronquíolos. Esses continuam se dividindo em condutos ainda menores até o bronquíolo terminal ou respiratório, que formam finalmente os sacos aéreos ou alvéolos. Em volta de cada alvéolo há uma rede de capilares sangüíneos. Nos pulmões o oxigênio passa por difusão dos alvéolos aos capilares sangüíneos e o bióxido de carbono dos capilares para os alvéolos. Nos tecidos corporais o oxigênio passa do sangue e líquidos corporais às células, e o bióxido de carbono no sentido oposto, também pelo processo de difusão. As funções metabólicas normais das células requerem um fornecimento constante de oxigênio e, por sua vez, produzem bióxido de carbono como resíduo, portanto a carga de bióxido de carbono nas células é maior e a de oxigênio é menor em relação à dos capilares, o que produz a difusão de uma zona de maior concentração a outra de menor.

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Órgãos do aparelho respiratório

O NARIZ

Os ossos das cavidades nasais estão revestidos por uma capa de células (epitélio) que secreta uma substância chamada muco. Tem uma rega sangüínea abundante. Quando os vasos se dilatam e secretam muco em excesso, produz-se o congestionamento do nariz e a sensação de peso na cabeça, característicos de um resfriado. Quando o ar passa pelas narinas, as cavidades nasais cumprem distintas funções: Esquentam e umedecem o ar. Normalmente a temperatura do ar inspirado se eleva a uma temperatura que é 1o centígrado menor do que a corporal. Filtram partículas. Os pelos localizados à entrada das narinas são importantes para filtrar as partículas grandes. Porém é mais importante ainda a eliminação de partículas por adesão à membrana. Devido à anatomia dos condutos as se partículas chocam contra o revestimento de muco e são capturadas.

SISTEMA DIGESTÓRIO

Os alimentos só podem ser absorvidos pelo organismo após sofrerem modificações químicas que possibilitem sua absorção pela corrente circulatória. Os nutrientes não absorvidos são eliminados sob a forma de fezes. A digestão é o processo pelo qual grandes moléculas orgânicas presentes nos alimentos - como proteínas, carboidratos, lipídeos, etc. são quebradas em moléculas menores pela ação de enzimas digestivas - processo chamado de catabolismo. Estas enzimas diferem entre si pela substância que irão digerir (substrato), locais de atuação ao longo do tubo digestivo e condições de acidez (pH) ideais para seu funcionamento. O tubo digestivo é constituído pela boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, ampola retal ou reto e ânus, e por órgãos auxiliares da digestão denominados órgãos anexos: o pâncreas, a vesícula biliar e o fígado. Os órgãos digestivos são revestidos por células epiteliais cuja função é fabricar o muco que permite o deslizamento do bolo alimentar e secretar as enzimas que irão quebrar as grandes moléculas.

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Processo digestório A digestão inicia-se na boca, constituída pelos dentes, língua, palato duro (céu da boca), palato mole (região onde situa-se a úvula ou “campainha” da garganta) e três pares de glândulas: as parótidas, as submandibulares e as sublinguais, responsáveis pela liberação da saliva, denominadas glândulas salivares maiores porque além delas existem pequenas glândulas salivares esparsas. Estas glândulas secretam cerca de um litro a um litro e meio de saliva diariamente – a qual é basicamente composta por água, o que auxilia a diluir o bolo alimentar, e enzimas. Triturado pelos dentes, o alimento, com o auxílio da língua, é posteriormente empurrado em direção à faringe num processo denominado deglutição. Na boca, além da trituração, o alimento começa a sofrer a atuação de uma enzima liberada pelas glândulas salivares, denominada amilase salivar ou ptialina, cuja função é começar a digerir o amido e carboidratos do bolo alimentar. As glândulas salivares são controladas pelo sistema nervoso autônomo, porém fatores quími- co-físico e psíquicos podem interferir em sua secreção. Os dentes, responsáveis pela trituração dos alimentos, estão dispostos em duas curvas chamadas arcadas dentárias, articuladas nos ossos maxilares e mandibular. Os dentes são formados pela coroa (sua parte visível); uma ou mais raízes (inseridas no alvéolo do osso) e colo (localizado entre a coroa e a raiz). Estruturalmente, são constituídos por uma porção não calcificada, a polpa, e duas porções calcificadas, o esmalte e a dentina.

Para evitar que restos de alimentos fiquem retidos entre os dentes e venham a apodrecer, causando cáries, o que dificulta a mastigação e conseqüentemente a digestão, todas as pessoas devem, após as refeições ou

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50consumo de doces em horários intermediários, realizar uma higiene bucal correta, mediante uma boa

escovação. Durante a deglutição, o alimento passa por uma válvula denominada epiglote – responsável, através de mecanismos reflexos, pelo fechamento da laringe, impedindo desse modo que o bolo alimentar penetre nas vias aéreas – e posteriormente pela faringe, estrutura que também pertence ao sistema respiratório, pois se comunica com a boca, cavidade nasal, esôfago e laringe. Da faringe, o alimento é encaminhado para o esôfago, que o transporta rapidamente até o estômago devido aos movimentos peristálticos existentes (inclusão e reorganização de conteúdo). Ao se dirigir ao estômago o alimento ainda passa por outra válvula denominada cárdia, cuja função é impedir o refluxo do bolo alimentar para o esôfago. Em crianças recém-nascidas, cuja cárdia ainda não está bem formada, o refluxo é freqüente. O estômago, dilatação do tubo digestivo, é um órgão que digere os alimentos e secreta hormônios. Sua principal função é continuar a digestão dos hidratos de carbono, iniciada na boca, e transformar os alimentos ingeridos, mediante contração muscular, em uma massa semilíquida e altamente ácida de nome quimo. O estômago divide-se em cárdia, onde desemboca o esôfago; fundo, região superior que se projeta para o diafragma; corpo, sua maior parte; e piloro, parte final que se comunica com o duodeno e que se abre e fecha alternadamente, liberando pequenas quantidades de quimo para o intestino delgado. No estômago, o bolo alimentar sofre a ação de uma secreção estomacal denominada suco gástrico, rica em ácido clorídrico e em duas enzimas, a pepsina e a renina, secretadas pela mucosa estomacal. Após chegar à primeira porção do intestino delgado, denominado duodeno, o quimo é neutralizado pelo bicarbonato de cálcio liberado pela mucosa intestinal, induzido por um hormônio denominado secretina; nesse momento, já neutralizada sua acidez, o bolo alimentar recebe o nome de quilo. Posteriormente, o quilo sofrerá a ação do suco entérico, liberado por milhares de glândulas existentes na mucosa intestinal - que contém as enzimas enteroquinase, cuja função é ativar a tripsina (uma enzima pancreática), e peptidases, que atuam na digestão dos peptídeos. Produzido no pâncreas, o suco pancreático é levado até o duodeno pelo canal colédoco. Nele, encontramos as enzimas tripsina e quimiotripsina, que irão digerir as proteínas, a lipase pancreática, que digere lipídios, e a amilase pancreática, que continuará a digerir o amido não digerido na boca pela ptialina. É também no duodeno que o bolo alimentar receberá a ação da bile. Produzida no fígado e armazenada na vesícula biliar, a bile não é uma enzima, mas sais que irão emulsificar, ou seja, quebrar, moléculas grandes de gordura em moléculas menores, possibilitando, assim, a ação da lipase. A função do fígado não é apenas produzir a bile, mas sim tratar e limpar as substâncias tóxicas do sangue que nele desemboca trazido pela veia porta e proveniente do intestino, pâncreas e estômago.

Absorção de nutrientes

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51Os nutrientes resultantes do quilo são absorvidos por células da mucosa intestinal (intestino delgado) em estruturas denominadas microvilosidades, posteriormente transferidas para a corrente sangüínea, que se encarregará de levá-los para todo o corpo. Por intermédio de um esfíncter denominado ileo-cecal, os resíduos não absorvidos pelo intestino delgado irão para o intestino grosso. Neste, perderão água e endurecerão, formando o bolo fecal – o qual passará para a ampola retal por meio de movimentos peristálticos, sendo eliminado pelo ânus pelo processo de defecação.

SISTEMA URINÁRIO

O sistema urinário contribui para a manutenção da homeostase, produzindo a urina que elimina resíduos do metabolismo, água, eletrólitos (soluto que em solução aquosa é capaz de conduzir corrente elétrica; exemplo, sais) e não-eletrólitos em excesso no organismo, como glicose,uréia e outros. Abrange os rins, que secreta a urina, os ureteres, vias que conduzem a urina para a bexiga (que funciona como reservatório), e o ureter, que lança a urina para o exterior. No homem, o sistema urinário é interligado ao sistema genital; na mulher, esse sistema é independente. Os rins são órgãos glandulares que poupam ou excretam a água e sais nas quantidades adequadas para preservar a normalidade e o meio ambiente em que as células vivem. São responsáveis pela eliminação dos detritos que as células liberam e depositam no organismo, recolhidas pelo sangue (uréia, creatinina, ácido úrico). O acúmulo dessas substâncias pode ser letal, pois rapidamente prejudica as funções de diversos órgãos e sistemas importantes (coração, sistema nervoso, pulmão). Mas de que forma esses pequenos órgãos localizados na região lombar (um de cada lado), com formato de feijões e medindo apenas 10 cm, podem interferir em questões tão importantes? Uma lesão renal pode realmente levar à morte? Para que você entenda o funcionamento dos rins, precisa antes saber o que é uma filtragem osmótica e hidrostática, pois é através delas que os rins recolhem os sais e resíduos do sangue. Isto parece complicado, mas não é. Na verdade, é muito simples. Veja o seguinte exemplo. Quando você adoça em excesso seu café, o que faz para não tomar algo que lhe desagrada? Basta apenas adicionar um pouco de café sem açúcar e logo o sabor ficará mais de acordo com seu paladar. Como você não está se preparando para ser cozinheiro, mas sim profissional de saúde, é bom que entenda o que de fato aconteceu. Homeostase – tendência do meio interno do organismo em se manter em equilíbrio. O rim, atuando como glândula, produz uma substância chamada renina que exerce importante papel no controle da pressão arterial. As partículas de açúcar, num processo simultâneo e lento, foram infiltrando-se no líquido puro e, mesmo que você não tenha agitado a mistura, em pouco tempo

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este ficou uniformemente adoçado, fenômeno denominado difusão. Agora, imaginemos que num “arroubo científico” você colocasse o líquido adoçado (ou salgado) em um saquinho permeável e o introduzisse no líquido puro. O que aconteceria? Mesmo assim o líquido se tornaria uniforme, pois as partículas de açúcar presentes exerceriam uma espécie de pressão e atravessariam a membrana

para nele difundir-se. A esse processo, responsável pelo equilíbrio fisiológico do organismo, chamamos osmose. Voltando à nossa matéria: se uma célula for imersa em solução com pressão osmótica idêntica a do líquido encontrado no interior de sua membrana, esta permanecerá estável. Nesta circunstância diz-se que a solução em que a célula está imersa é isotônica. Entretanto, se a pressão do líquido que circunda a célula for maior (líquido hipertônico) que a do seu interior, ele penetrará na célula – e se esta não suportar a pressão pode romper-se. O inverso acontece se o líquido circundante for hipotônico (pressão osmótica menor). Nesse caso, ocorrerá a perda de líquido pela membrana da célula, o que, dependendo da quantidade, também pode ser letal à célula. Nos rins, o processo de filtragem do sangue acontece de forma bastante semelhante, pois pela ação da pressão hidrostática o sangue passa através das membranas.

Mais que um filtro: um purificador Você já aprendeu que durante o processo de circulação o sangue distribui no organismo os elementos indispensáveis à vida, bem como retira os detritos das células para serem eliminados. Dessa forma, o gás carbônico é eliminado no pulmão, que em troca fornece o oxigênio; mas para eliminar os detritos celulares e manter a quantidade adequada de água em todo o corpo é necessário o funcionamento dos rins. Impulsionado para a artéria aorta, o sangue segue sob pressão pelas artérias seguintes. Penetra nos rins pela artéria renal, que por sua vez gradativamente se subdivide até transformar-se em inúmeras arteríolas (arteríolas aferentes) que penetram em pequenos grãozinhos existentes nos rins: as cápsulas de Bowman.

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53No interior destas, as arteríolas assumem o calibre de capilares e enrolam-se sobre si mesmas, como microscópicos novelos de lã - chamados de glomérulos, onde o sangue é filtrado. No trajeto seqüencial, os capilares enovelados novamente assumem o calibre de arteríolas e saem das cápsulas sob a denominação de arteríolas eferentes. Mas será que as arteríolas aferentes penetram nas cápsulas de Bowman, onde assumem o calibre de capilares, apenas para mudar de nome ao sair? Por certo, não. Uma vez dentro dos glomérulos, o sangue deixa passar água e sais pelas paredes permeáveis dos capilares. Os materiais filtrados são também absorvidos pelas permeáveis paredes das cápsulas de Bowman, que os deixam passar para a espécie de funil em que estão inseridas. Assim, os filtrados penetram em tubos sinuosos - túbulos contorcidos proximais - onde ocorre a absorção de água e íons importantes para o funcionamento do organismo, como sódio, cloro, glicose, cálcio, fosfato e magnésio. Após efetuarem muitas voltas, para permitir maior absorção, os túbulos formam grandes alças chamadas alças de Henle, onde o excesso de água e parte do sódio são absorvidos passando, então, a novamente formar tubos contorcidos (túbulo contorcido distal) - os quais completam a absorção das alças que os antecedem e desembocam em túbulos coletores. Considerado a unidade funcional dos rins, o conjunto de glomérulos e túbulos recebe o nome de néfron. Por sua vez, os túbulos coletores desembocam em vias de calibre maior (ductos capilares), que se dispõem lado a lado, arrumados como pirâmides, com os vértices voltados para o interior do rim. Esses vértices inserem-se em estruturas semelhantes ao nome que possuem: cálice renal - para onde flui o filtrado, quase que totalmente modificado para urina. Cada grupo de três ou quatro cálices se une num cálice maior, que se comunica com a maior das câmaras de saída: a pelve renal. Essas câmaras (uma para cada rim) recebem a urina e afunilam-se formando os ureteres, pelos quais ela é depositada numa bolsa muscular, a bexiga, capaz de armazenar mais de um litro de líquido. A bexiga possui um anel de musculatura lisa, cuja ação independe de nossa vontade, o que pode causar situações constrangedoras se não atendermos à necessidade de seu esvaziamento. Abaixo dele localizam-se feixes musculares estriados para a micção voluntária. A ineficiência renal, por qualquer fator traumático ou por doenças, pode levar à perda desnecessária de água e de substâncias importantes para o organismo, bem como à eliminação excessiva de água e de elementos indispensáveis ao nosso corpo, como as proteínas, por exemplo. A porção final do sistema urinário é a uretra, tubo muscular curto e estéril (não tem microrganismo) por onde a urina é expelida para o exterior através do meato urinário.

SISTEMA NERVOSO

Você é capaz de parar de respirar? Ou fazer seu coração parar de bater? Por certo que não. Não temos controle sobre determinadas ações de nosso corpo. No entanto, esse controle existe e é executado basica- mente pelo sistema nervoso. Em geral, o sistema nervoso controla a maioria das funções do corpo, mediante o controle das contrações dos músculos esqueléticos, músculos lisos dos órgãos internos e velocidade de secreção de glândulas exócrinas (secreção externa, como o suor) e endócrinas (glândulas que secretam substâncias para dentro do organismo).

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54O tecido nervoso é constituído por células nucleadas especiais, denominadas neurônios, com longos

prolongamentos capazes de captar estímulos exteriores como calor, frio, dor. Possuem morfologia complexa, mas quase todos apresentam três componentes. Os dendritos são prolongamentos numerosos, cuja função é receber os estímulos do meio ambiente, de células epiteliais sensoriais ou de outros neurônios. O corpo celular ou pericário é o centro do tráfico dos impulsos nervosos da célula. O axônio é um prolongamento único, especializado na condução de impulsos que transmitem informações do neurônio para outras células nervosas, musculares e glandulares. A transmissão do impulso nervoso de um neurônio a outro depende de estruturas altamente especializadas: as sinapses. Os axônios estão envoltos em uma camada gelatinosa que funciona como isolante e denomina-se bainha de mielina. O conjunto de axônios corresponde às fibras nervosas, cuja união forma os feixes ou tractos do sistema nervoso central e os nervos do sistema nervoso periférico. A junção dos corpos neuronais constitui uma substância cinzenta denominada córtex.

O funcionamento do sistema nervoso depende do chamado arco reflexo constituído pela ação das vias aferentes, centrípetas ou sensitivas, responsáveis pela condução dos impulsos originados nos receptores externos (provenientes do sistema sensorial) ou internos existentes em diversos órgãos e sensíveis às modificações químicas, à pressão ou tensão; pelos centros nervosos que formam a resposta aos estímulos enviados pelas vias sensitivas; pela via eferente, motora ou centrífuga que conduz a resposta voluntária ou involuntária dos centros nervosos para os tecidos muscular e glandular. Anatomicamente, o sistema nervoso divide-se em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é representado pelo encéfalo e medula espinhal, respectivamente localizados no interior da caixa craniana e coluna vertebral. O encéfalo é constituído pelo cérebro, diencéfalo, cerebelo e tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e medula oblonga) e sua parte central é constituída por uma substância branca; a externa, por uma substância cinzenta. O cérebro divide-se em duas partes simétricas (hemisférios direito e esquerdo) cuja troca de impulsos é feita pelo corpo caloso. Sua superfície evidencia pregas (giros) e reentrâncias (sulcos e fissuras) do córtex cerebral. Os sulcos e fissuras dividem os hemisférios em lobos responsáveis por funções específicas - como sensitivas, auditivas, visuais, movimentação voluntária, memória, concentração, raciocínio, linguagem, comportamento, entre outras. O diencéfalo circunda o terceiro ventrículo, forma a parte central mais importante do encéfalo e contém o tálamo e hipotálamo. Pelo tálamo passam todas as vias sensitivas que informam as percepções da sensibilidade dos órgãos dos sentidos, exceto o olfato – também percebe sensações como calor extremo, pressão e dor in- tensa. O hipotálamo, situado abaixo do tálamo, aloja a hipófise e controla as principais funções vegetativas e endócrinas do corpo. É uma das principais vias de saída de controle do sistema límbico (circuito neuronal que controla o comportamento emocional e os impulsos motivacionais). O cerebelo controla os movimentos, a tonicidade muscular e participa da manutenção do equilíbrio do corpo. O tronco cerebral une todas as partes do encéfalo à medula espinhal, vulgarmente chamada “espinha”. O tronco cerebral desempenha funções especiais de controle, dentre outras, da respiração, do sistema cardiovascular, da função gastrintestinal, de alguns movimentos estereotipados do corpo, do equilíbrio, dos movimentos dos olhos. Serve como estação de retransmissão de “sinais de comando” provenientes de centros neurais ainda mais superiores que comandam o tronco cerebral para que este inicie ou modifique funções de controle específico por todo o corpo. A medula espinhal encontra-se no interior do canal formado pelas vértebras da coluna vertebral. Dela irradiam-se 33 pares de nervos espinhais, à direita e à esquerda, que inervam o pescoço, tronco e membros,

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55ligando o encéfalo ao resto do corpo e vice-versa. É também mediadora da atividade reflexa (atos instantâneos, realizados independentemente da consciência). Estende-se da base do crânio até o nível da segunda vértebra lombar, pouco acima da cintura. Se você já assistiu a uma punção lombar (para anestesia peridural, por exemplo) deve ter percebido os cuidados adotados para apalpar as vértebras, visando evitar lesão na medula. A substância cinzenta da medula espinhal tem o formato da letra H, cujas extremidades são a raiz anterior, de onde saem as fibras motoras, e raiz posterior, local de saída das fibras sensitivas. Por sua vez, o SNP consiste nos nervos cranianos e espinhais. Emergindo do tronco cerebral, há 12 pares de nervos cranianos que exercem funções específicas e nem sempre estão sob controle voluntário. Os nervos que possuem fibras de controle involuntário são chama- dos de sensitivos; e os de controle voluntário, motores. A partir dos órgãos dos sentidos e dos receptores (terminações nervosas sensitivas), presentes em várias partes do corpo, o SNP conduz impulsos nervosos para o SNC, e deste para os músculos e glândulas. Os nervos espinhais são divididos e denominados de acordo com sua localização na coluna vertebral: 8 cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais e um coccígeo. Fisiologicamente, o sistema nervoso pode ser dividido em sistema nervoso voluntário, que comanda a musculatura estriada esquelética, e sistema nervoso autônomo (SNA) ou involuntário, responsável pelo controle da musculatura lisa, do músculo cardíaco, da secreção de todas as glândulas digestivas e sudoríparas e de alguns órgãos endócrinos.

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O quadro a seguir facilita a identificação das ações dos 12 pares de nervos cranianos:

Em sua maioria, as funções do SNA são articuladas em coordenação com o SNC, em especial o hipotálamo. Do ponto de vista anatômico e funcional, o SNA divide-se em sistema simpático e parassimpático, que trabalham de modo antagônico, porém em equilíbrio. O sistema simpático estimula atividades realizadas durante situações de emergência e estresse, nas quais os batimentos cardíacos se aceleram e a pressão arterial se eleva. O sistema parassimpático estimula as atividades que conservam e restauram os recursos corpóreos (por exemplo, diminuição dos batimentos cardíacos). Cada parte do SNA possui duas cadeias de neurônios. O corpo celular do primeiro neurônio situa-se na coluna referente visceral do encéfalo e da medula espinhal; o do segundo neurônio, num gânglio autônomo, externamente ao SNC. O axônio do primeiro neurônio é chamado fibra pré-sináptica ou pré-ganglionar; o do segundo, fibra pós-sináptica ou pós-ganglionar. Os gânglios localizam-se ao longo da coluna vertebral, na cavidade abdominal, nas proximidades ou interior dos órgãos por eles inervados Para chegarem à musculatura, as fibras pós-ganglionares utilizam uma

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57artéria, um nervo independente ou ligado aos nervos espinhais. No sistema simpático, os corpos celulares dos neurônios pré ganglionares localizam-se na substância cinzenta (corno lateral) da medula espinhal, começando no primeiro segmento torácico e terminando no segundo ou terceiro segmento lombar. Os corpos celulares dos neurônios pós-ganglionares situam-se nos gânglios para-vertebrais e pré vertebrais. Por liberarem adrenalina ou noradrenalina, as terminações pós-ganglionares simpáticas são conhecidas como adrenérgicas. No sistema parassimpático, os corpos celulares dos neurônios pré-ganglionares situam-se nos núcleos dos pares III, VII, IX e X de nervos cranianos no tronco encefálico e no segundo, terceiro e quarto segmentos sacrais da medula espinhal. As fibras pré-ganglionares fazem sinapse com o corpo celular de um neurônio pós-ganglionar parassimpático, próximo ou na parede do órgão-alvo. Por liberarem acetilcolina, a maioria das terminações pós-ganglionares parassimpáticas são denominadas colinérgicas. Regulação postural e do movimento A atividade motora somática depende do padrão e da frequência de descarga dos neurônios motores espinhais e cranianos. Estes neurônios, que constituem as vias finais comuns para os músculos esqueléticos, são bombardeados por impulsos provenientes de um conjunto de vias e visam função regular a postura do corpo e possibilitar os movimentos coordenados. Estes impulsos servem a três funções distintas: a primeira, é a do sistema piramidal e das regiões do cérebro correlacionadas com a gênese e o padrão dos movimentos; a segunda, é das múltiplas vias agrupadas como sistema extrapiramidal ou córtico-estrio-reticular; a terceira, é a do cerebelo, com suas conexões aferentes e eferentes. No sistema piramidal os impulsos se originam no córtex cerebral e estão relacionados com a iniciação de movimentos voluntários delicados e de habilidade, como o início da marcha. Os mecanismos extrapiramidais são integrados em diversos níveis em todo o trajeto, desde a medula espinhal até o córtex cerebral. Controlam o tônus muscular, os movimentos involuntários, as respostas reflexas, a harmonia e a coordenação do movimento. O cerebelo está relacionado com a coordenação, ajuste e uniformidade de movimentos. Recebe impulsos aferentes do córtex motor, dos proprioceptores e dos receptores tácteis cutâneos, auditivos e visuais. Como proteger estruturas tão importantes? O SNC é completamente envolvido por um sistema especial de formação protetora, representado por três membranas denominadas meninges, que impedem o seu atrito com a caixa óssea. A função das meninges vai além de uma proteção mecânica, pois é através de sua camada mais interna, a pia-máter, que passam os vasos sangüíneos que fazem a irrigação cerebral. A camada seguinte, denominada aracnóide, é presa à meninge mais externa, fibrosa e resistente: a dura-máter. Mas entre a pia-máter e a aracnóide existe um espaço denominado espaço subaracnóideo, por onde circula o líquido cefalorraquidiano ou líquor. Semelhantemente ao coração, o encéfalo também possui quatro cavidades, os ventrículos, que se comunicam como os cômodos de uma casa. O líquor é um líquido transparente - semelhante à água cristalina - que circula pelos ventrículos e por todo o SNC, protegendo-o de impactos (funcionando como amortecedor) e agentes invasores. Exerce ainda a função de manter a estabilidade da pressão cerebral, sendo continuamente fabricado nos ventrículos laterais do SNC (III e IV), drenado e reabsorvido. Como vimos, o sistema nervoso é o centro de comando do organismo, capaz de influenciar os atos voluntários, involuntários e reflexos. Por isso, exige do profissional de saúde - durante procedimentos como a localização adequada para a administração de medicamentos intramusculares, por exemplo - cuidados especiais no sentido de sua preservação.

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58Você já deve ter observado que diante da suspeita de um caso de meningite (inflamação das meninges)

imediatamente indica-se a punção lombar para a coleta de líquor. Durante a coleta, você já ouviu a expressão “água de rocha”? É uma expressão clássica utilizada para se referir a um líquor de aparência normal, pois quando há presença de agentes infecciosos este geralmente se torna turvo. Você já viu a cabeça de uma pessoa portadora de hidrocefalia? Seu aumento não lhe chamou a atenção? Ele resulta do acúmulo de líquor em um dos ventrículos, o que muitas vezes requer a instalação de uma válvula chamada ventrículo-peritonial que drena o excesso de líquor para o peritônio onde é absorvido. Ventrículo - espaço fechado que serve como reservatório de líquor.

SISTEMA LINFÁTICO

Você, por certo, já observou em algum paciente a saída de um líquido aquoso drenado de uma lesão - aquela famosa “aguinha”que sai do machucado. Esta “agüinha” é o que chamamos de linfa, principal elemento na formação da crosta ou “casca” protetora das feridas, cuja função é auxiliar a cicatrização. Mas o que é a linfa e de onde vem? Quais são suas demais funções? Para responder a essas perguntas lembre-se do que aprendeu sobre circulação sangüínea, pois o papel da linfa é, de certo modo, complementar ao do sangue venoso, pois também drena as impurezas do corpo através da circulação. Recorde-se de que o sangue arterial, ao sair do ventrículo esquerdo pela artéria aorta, empreende uma fabulosa jornada por todo o corpo penetrando em artérias de calibres cada vez menores até chegar às arteríolas e iniciar seu retorno pelas vênulas. É nessa passagem das arteríolas para as vênulas que uma fração aquosa, denominada plasma, escapa dos vasos e circunda as células, fornecendo-lhes substâncias trazidas pelo sangue, ao mesmo tempo que recolhe os resíduos do metabolismo celular. Quando fora dos vasos capilares, esse líquido permanece nos espaços entre as células (espaço intercelular ou espaço intersticial), ali ficando estagnado. Você imagina o que aconteceria se não houvesse a drenagem desse líquido? Saiba que todo ele é drenado por capilares linfáticos de calibre microscópico; ao atravessar suas paredes, o líquido intercelular passa a chamar-se linfa. Agora, você pode deduzir o que acontece, já que o processo é semelhante ao da circulação sangüínea. A linfa percorre a rede de vasos linfáticos, que se ampliam cada vez mais. Para realizar esse movimento ela não depende do coração, pois o mesmo ocorre por meio de compressões resultantes de movimentos incidentais, isto é, movimentos efetuados com outra finalidade, como as pulsações das artérias vizinhas, os movimentos respiratórios e as contrações musculares, principalmente durante a locomoção. Assim, a linfa percorre lentamente o corpo em vasos gradualmente mais calibrosos, até desembocar na confluência das veias subclávia e jugular, retornando então à circulação sangüínea. Provavelmente, você pode estar pensando que o sistema linfático serve apenas para conduzir a linfa, o que não é verdade. Ao longo de todo o trajeto existem formações denominadas linfonodos ou nodos linfáticos, de tamanhos variados; responsáveis pela filtragem da linfa, dela retiram as partículas estranhas e, concomitantemente, destroem as bactérias. Portanto, os linfonodos exercem importante papel, retendo microrganismos ou células mortas, impedindo, assim, que um processo infeccioso no organismo se dissemine ou provoque perturbações em outros pontos. Entretanto, por vezes, o processo infeccioso é tão intenso que provoca acentuada proliferação das células dos linfonodos. Tal fato faz com que a filtragem da linfa ocorra de forma mais restrita em vista do grande número de células presentes, que acabam por reduzir sua passagem, resultando no chamado enfartamento ganglionar ou, como comumente chamado, íngua. A compreensão do funcionamento do sistema linfático propicia ao profissional de saúde conteúdos relevantes para a prevenção de doenças e de edemas - com suas conseqüências.

SISTEMA HEMATOPIÉTICO

O sistema hematopoiético (Hema = sangue, poiesis = produção, manufatura) é o sistema responsável pela formação do sangue.

O sangue é um tecido líquido, composta de água e substâncias orgânicas e inorgânicas (sais minerais) dissolvidos, que formam o plasma do sangue e três tipos de elementos formados ou células sanguíneas: glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Uma gota de sangue contém cerca de 5 milhões de células vermelhas do sangue, de 5.000 a 10.000 células brancas do sangue e das plaquetas cerca de 250.000. Um adulto tem uma média de cinco litros de sangue, com uma temperatura próxima de 37 graus Celsius.

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59O plasma sanguíneo : é líquido, e consiste em um de água 90 por cento e 10 por cento de outras substâncias, tais como açúcares, proteínas, gorduras e sais minerais. Salgado, amarelado e flutua aí os outros componentes do sangue, também carrega nutrientes e substâncias residuais provenientes das células recolhidas. Plasma quando o coágulo de sangue, faz com que o soro do sangue.

Os glóbulos vermelhos : também conhecido como eritrócitos . São o componente mais abundante do sangue, e ato transportar oxigénio molecular (O 2 ). Bicôncava moldada e são tão pequenas que, em cada milímetro cúbico é 4-5000000, medindo cerca de sete mícrons de diâmetro. Não têm núcleo, que são consideradas as células mortas. Como o seu nome implica, são células vermelhas por seu conteúdo de hemoglobina (pigmento vermelho responsável pelo transporte de oxigénio dos pulmões para as células). Eles são fabricados na medula vermelha dos ossos longos e produção insuficiente de hemoglobina ou de células vermelhas do sangue pelo corpo, resultando em anemia de etiologia variável, pode ser devido a deficiência nutricional, um defeito genético ou a várias causas mais

WBC : também são chamados de leucócitos, e são maiores do que as células vermelhas. Desempenhar o papel de defesa do organismo contra organismos infecciosos por mecanismos de limpeza (fagócitos) e defesa (linfócitos). São maiores em tamanho do que as células vermelhas do sangue, mas em menor número (cerca de sete mil por milímetro cúbico). Eles são células vivas que se movem, sair dos capilares e são dedicados a destruir micróbios e células mortas que estão no corpo. Eles também produzem anticorpos que neutralizam os micróbios que causam doenças infecciosas e são fabricados na medula óssea.

Plaquetas : também chamadas de trombócitos, são corpúsculos menores de componentes do sangue), são fragmentos de células ea sua função é permitir a coagulação. Porque eles servem para tapar a ferida e, assim, prevenir o sangramento.

Formação do sangue

Os glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas do sangue que forma ocorrem na parte esponjosa (osso) de alguns ossos do esqueleto (aqueles que são o esterno, ossos do crânio, costelas, osso ilíaco e terminações os ossos dos membros superiores e inferiores.

Na medula óssea vermelha do osso são células hematopoiéticas pluripotentes de todas as células derivadas de sangue. A 5 anos de idade destas células dar origem a compostos de sangue em virtualmente todos os ossos no seu corpo. Depois de 20 anos de idade, os glóbulos vermelhos e plaquetas são produzidos principalmente por níveis de medula óssea, como as vértebras esterno, e as costelas.

O plasma sanguíneo : é líquido, e consiste em um de água 90 por cento e 10 por cento de outras substâncias, tais como açúcares, proteínas, gorduras e sais minerais. Salgado, amarelado e flutuar aí os outros componentes do sangue, também carrega nutrientes e de substâncias residuais provenientes das células recolhidas. Plasma quando o coágulo de sangue, faz com que o soro do sangue.

Os glóbulos vermelhos : também conhecido como eritrócitos . São o componente mais abundante do sangue, e ato transportar oxigénio molecular (O 2 ). Bicôncava moldada e são tão pequenas que, em cada milímetro cúbico é 4-5000000, medindo cerca de sete mícrons de diâmetro. Não têm núcleo, que são consideradas as células mortas. Como o seu nome implica, são células vermelhas por seu conteúdo de hemoglobina (pigmento vermelho responsável pelo transporte de oxigénio dos pulmões para as células). Eles são fabricados na medula vermelha dos ossos longos e produção insuficiente de hemoglobina ou de células vermelhas do sangue pelo corpo, resultando em anemia de etiologia variável, pode ser devido a deficiência nutricional, um defeito genético ou a várias causas mais

WBC : também são chamados de leucócitos, e são maiores do que as células vermelhas. Desempenhar o papel de defesa do organismo contra organismos infecciosos por mecanismos de limpeza (fagócitos) e defesa (linfócitos). São maiores em tamanho do que as células vermelhas do sangue, mas em menor número (cerca de sete mil por milímetro cúbico). Eles são células vivas que se movem, sair dos capilares e são dedicados a destruir micróbios e células mortas que estão no corpo. Eles também produzem anticorpos que neutralizam os micróbios que causam doenças infecciosas e são fabricados na medula óssea.

Plaquetas : também chamadas de trombócitos, são corpúsculos menores de componentes do sangue), são fragmentos de células e a sua função é permitir a coagulação. Porque eles servem para tapar a ferida e, assim, prevenir o sangramento.

Formação do sangue

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60Os glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas do sangue que forma ocorrem na parte esponjosa

(osso) de alguns ossos do esqueleto (aqueles que são o esterno, ossos do crânio, costelas, osso ilíaco e terminações os ossos dos membros superiores e inferiores.

Na medula óssea vermelha do osso são células hematopoiéticas pluripotentes de todas as células derivadas de sangue. A 5 anos de idade destas células dar origem a compostos de sangue em virtualmente todos os ossos no seu corpo. Depois de 20 anos de idade, os glóbulos vermelhos e plaquetas são produzidos principalmente por níveis de medula óssea, como as vértebras esterno, e as costelas.

SISTEMA ENDÓCRINO

Hoje em dia, é muito comum escutarmos que uma pessoa procurou auxílio médico por estar muito gorda ou com atraso no ciclo menstrual, por exemplo, e que recebeu a informação de que apresentava problemas hormonais. Mas o que são hormônios? De onde vêm? Para respondermos precisamos saber que não apenas o sistema nervoso realiza o controle de funções vitais como digestão, reprodução, excreção, etc. Elas também são controladas por um sistema que possui estruturas especializadas para a liberação, na corrente sangüínea, de determinadas substâncias que irão controlar o funcionamento de várias células e alguns órgãos importantíssimos para nossa sobrevivência. Esse sistema recebe o nome de sistema endócrino e as estruturas que o compõem são chamadas de glândulas endócrinas, que, por sua vez, liberam substâncias denominadas hormônios. As glândulas endócrinas, localizadas em várias partes do corpo, são a hipófise ou pituitária, a pineal, a tireóide, as paratireóides, as supra–renais, o pâncreas, os ovários e os testículos. Em nosso organismo não existem apenas glândulas com função endócrina. Possuímos órgãos que desempenham a mesma função e não produzem hormônios, mas secretam substâncias que serão lançadas na corrente sangüínea, como, por exemplo, o rim - que produz a renina que irá atuar no controle da pressão arterial. Hipófise ou pituitária É uma glândula do tamanho de um grão de ervilha, localizada no encéfalo, presa numa região chamada hipotálamo. Essa glândula é a mais importante do corpo, pois comanda o funcionamento de outras glândulas, como tireóide, supra-renais e sexuais. Produz grande número de hormônios, como os responsáveis pelo crescimento, metabolismo de proteínas (hormônio somatotrófico), contração do útero (hormônio ocitocina), controle da quantidade de água no organismo (hormônio antidiurético - ADH), estímulo das glândulas tireóide (hormônio tireotrófico - TSH) e supra-adrenais (hormônio adrenocorticotrófico ou corticotrofina – ACTH). Os três tipos de hormônios gonadotróficos atuam no desenvolvimento de glândulas e órgãos sexuais, interferindo nos processos de menstruação, ovulação, gravidez e lactação. São eles: o hormônio folículo estimulante (FSH), que age sobre a maturação dos espermatozóides e folículos ovarianos; o hormônio luteinizante (LH), que estimula os testículos e ovários e provoca a ovulação e formação do corpo amarelo; e a prolactina, que mantém o corpo amarelo e sua produção de hormônios, atuando no desenvolvimento das mamas e interferindo na produção de leite.

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Pineal A pineal ou epífise localiza-se no diencéfalo, presa por uma haste à parte posterior do teto do terceiro ventrículo. Contém serotonina, precursora da melatonina. É um transdutor neuroendócrino que converte impulsos nervosos em descargas hormonais e participa do ritmo circadiano de 24 horas e de outros ritmos biológicos, como os relacionados às estações do ano. A pineal normal responde à luminosidade, sendo mais ativa à noite, quando a produção de serotonina é maior que durante o dia.

Tireóide Esta glândula - sob controle do hormônio hipofisário TSH (hormônio tireotrófico) - localiza-se no pescoço (abaixo da laringe e na frente da traquéia) e libera os hormônios tiroxina e calcitocina, que intensificam a atividade de todas as células do organismo. O primeiro atua no metabolismo (todas as reações que ocorrem no interior do corpo); o segundo, na regulação de cálcio no sangue.

Paratireóide Estas quatro glândulas localizam-se, duas a duas, ao lado das tireóides. Secretam um hormônio denominado paratormônio, que também regula a quantidade de cálcio e fosfato no sangue. Supra-renais Estas duas glândulas localizam-se sobre cada rim e possuem duas partes: a externa, chamada de córtex e a interna, de medula. O córtex da supra-renal produz e libera vários hormônios, dentre eles a aldosterona, que ajuda a manter constante a quantidade de sódio e potássio no organismo. Outro hormônio é o cistrol, cortisona ou hidrocortisona, que estimula a utilização de gorduras e proteínas como fonte energética, aumenta a taxa de glicose na corrente sangüínea e também atua no processo de inflamações, sendo largamente utilizada como medicação. Também produz o andrógeno, o hormônio responsável pelo desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários masculinos. A medula da supra-renal produz e libera a adrenalina e noradrenalina, que é lançada na corrente sangüínea em situações de fortes reações emocionais como medo, ansiedade, sustos, perigos iminentes, etc. A adrenalina estimula a ação cardíaca, aumenta o seu batimento e dilata os brônquios; noradrenalina aumenta a pressão arterial e diminui o calibre dos vasos.

Pâncreas

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62Esta glândula localiza-se na cavidade abdominal e possui duas funções: uma exócrina e outra endócrina. Na

exócrina, produz o suco pancreático que será liberado fora da corrente sangüínea, mais precisamente no duodeno, auxiliando o processo digestivo. Na função endócrina, produz dois hormônios: a insulina, que transporta a glicose através da membrana celular, diminuindo-a da corrente sangüínea, e o glucagon, que contribui, estimulando o fígado, para o aumento da glicose no sangue.

Ovários Os ovários são duas glândulas, uma de cada lado do corpo, que integram o aparelho reprodutor feminino e localizam-se abaixo da cavidade abdominal, em uma região denominada pelvis ou cavidade pélvica. Ligam-se ao útero através de dois ligamentos denominados ligamentos do ovário. Os ovários são responsáveis pela produção e liberação de dois hormônios, o estrogênio ou hormônio folicular e a progesterona. O estrogênio controla o desenvolvimento das características sexuais femininas, como aumento dos seios, depósito de gordura nas coxas e nádegas, aparecimento de pêlos pubianos e estímulo ao impulso sexual. A progesterona, responsável pela implantação do óvulo fecundado na parede uterina e pelo desenvolvimento inicial do embrião, estimula o desenvolvimento das glândulas mamárias e da placenta e inibe a secreção de um dos hormônios gonadotróficos. Além de produzir hormônios, os ovários são também responsáveis pela produção das células sexuais femininas, os ovócitos.

Testículos Em número de dois, localizam-se na pelvis e fazem parte do aparelho reprodutor masculino. Protegidos por uma bolsa denominada bolsa escrotal ou escroto, produzem o hormônio denominado testosterona, que controla as características sexuais masculinas como aparecimento de barba, pêlos no tórax, desenvolvimento da musculatura e impulso sexual. Além da produção de hormônio, os são também responsáveis pela produção das células sexuais masculinas, os espermatozóides.

SISTEMA IMUNOLÓGICO

Introdução

Dentro do seu corpo há um impressionante mecanismo de proteção, chamado sistema imunológico. Ele foi elaborado para defendê-lo de milhões de bactérias, micróbios, vírus, toxinas e parasitas que adorariam invadir o teu corpo. Para compreender o poder do sistema imunológico, tudo o que você precisa fazer é olhar o que acontece quando qualquer coisa morre. Isso pode parecer grosseiro, mas mostra algo muito importante sobre o seu sistema imunológico.

Quando alguma coisa morre, seu sistema imunológico (junto com todo o resto) é desativado. Em uma questão de horas, o corpo é invadido por todo tipo de bactérias, micróbios, parasitas... Nenhuma dessas coisas é capaz de entrar quando o seu sistema imunológico está funcionando, mas no momento em que ele pára a porta fica escancarada. Uma vez mortos, leva apenas algumas semanas para que esses organismos destruam completamente seu corpo e o levem embora, ficando apenas o esqueleto. Obviamente, seu sistema imunológico está fazendo algo impressionante para impedir que toda essa destruição aconteça, enquanto você está vivo.

O sistema imunológico é complexo, conexo e interessante. E há pelo menos duas boas razões para você saber mais sobre ele. Primeiro, é simplesmente fascinante compreender de onde vêm coisas como febre, urticária, inflamação, etc. Você também escuta bastante sobre o sistema imunológico nos noticiários à medida que novas partes dele são compreendidas e novas drogas são lançadas - saber sobre o sistema imunológico torna essas notícias compreensíveis. Neste artigo, vamos dar uma olhada em como o seu sistema imunológico funciona de modo que possa entender o que ele está fazendo por você a cada dia, assim como o que ele não está fazendo.

Sistema imunológico

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63O sistema imunológico funciona 24 horas por dia e age de modos diferentes, porém trabalha quase sem ser notado. Só notamos nosso sistema imunológico quando ele falha por alguma razão ou, quando ele faz alguma coisa que produz um efeito colateral que podemos ver ou sentir. Aqui estão vários exemplos: quando você se corta, vários tipos de bactérias e vírus entram no seu corpo através da abertura na pele.

Quando entra uma farpa na sua pele você fica com a lasca de madeira, que é um corpo estranho, dentro do seu corpo. Seu sistema imunológico responde e elimina os invasores enquanto a pele cicatriza e sela o corte. Em casos raros o sistema imunológico falha e o corte infecciona. Ele inflama e fica cheio de pus. A inflamação e o pus são efeitos colaterais do sistema imunológico fazendo o seu trabalho;

quando um mosquito pica você, o local fica inchado, vermelho e coçando. Esse também é um sinal visível do seu sistema imunológico trabalhando;

todo os dias você inala milhares de germes (bactérias e vírus) que estão flutuando no ar. Seu sistema imunológico lida com todos eles sem problemas. Ocasionalmente, um germe passa pelo sistema imunológico e você pode pegar um resfriado, ficar gripado ou algo pior. São sinais visíveis de que o seu sistema imunológico não conseguiu deter o germe. O fato de você sarar do resfriado ou gripe é outro sinal visível, agora, de que seu sistema imunológico foi capaz de eliminar o invasor depois de tomar conhecimento dele. Se o seu sistema imunológico não fizesse nada, você jamais conseguiria se ver livre de um resfriado ou de outro problema;

todos os dias você come centenas de germes e, mais uma vez, a maioria deles morre na saliva ou nos ácidos do estômago. Ocasionalmente, um escapa e causa intoxicação alimentar. Há, normalmente, um efeito bastante visível dessa falha do sistema imunológico: vômito e diarréia são dois dos sintomas mais comuns;

há também muitos tipos de doenças que são causadas pelo

sistema imunológico trabalhando de modo inesperado ou incorreto, causando problemas. Por exemplo, algumas pessoas têm alergias. Alergias são, na verdade, o sistema imunológico reagindo de forma exagerada a certos estímulos aos quais as outras pessoas nem reagem. Algumas pessoas têm diabetes, que é causada pelo ataque inapropriado do sistema imunológico às células do pâncreas, destruindo-as. Algumas pessoas têm artrite reumatóide, que é causada pelo sistema imunológico quando este ataca inapropriadamente as articulações. Muitas doenças são causadas por um erro do sistema imunológico;

finalmente, às vezes, lembramos do sistema imunológico porque ele nos impede de fazer coisas que poderiam ser benéficas. Por exemplo, os transplantes de órgãos são muito mais difíceis do que deveriam ser porque o sistema imunológico geralmente rejeita o órgão transplantado.

Noções básicas do sistema imunológico

O que significa quando alguém diz "não estou me sentindo bem hoje"? O que é uma doença? Compreendendo os diferentes tipos de doença é possível saber quais delas o sistema imunológico ajuda a combater.

Quando você "fica doente", o corpo não é capaz de funcionar da mesma forma que funciona normalmente. Existem diversos modos de ficar doente, alguns deles são:

lesão mecânica - quando um osso quebra ou um ligamento rompe, você fica "doente" (seu corpo não é capaz de desempenhar todo o seu potencial). A causa do problema é algo fácil de compreender e é visível.

deficiência de vitaminas ou minerais - quando o seu corpo não obtém vitamina D suficiente, ele não é capaz de metabolizar cálcio da maneira correta e você fica com uma doença chamada raquitismo. Pessoas com raquitismo têm ossos fracos e deformidades porque eles não crescem apropriadamente. A falta de vitamina C provoca o escorbuto, que causa inchaço e sangramento

Imagem cedida pelo Instituto

Nacional de Alergias e Doenças Contagiosas

Uma célula imunológica passando por uma reação

alérgica

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64das gengivas, edema das articulações e ferimentos. A falta de ferro leva à anemia, e assim por

diante.

lesão dos órgãos - em alguns casos, um órgão fica lesado ou enfraquecido. Por exemplo, uma forma de "doença cardíaca" é causada pela obstrução dos vasos condutores de sangue que vão para o músculo cardíaco, de modo que o coração não recebe sangue suficiente. A cirrose é causada pelo dano às células do fígado (uma das causas é o consumo excessivo de álcool).

doença genética - uma doença genética é causada por um erro na codificação do DNA, fazendo com que certas proteínas sejam produzidas em excesso ou menos do que o necessário, e isso causa problemas celulares. Um exemplo de problema genético é o albinismo, que é causado pela falta de uma enzima chamada tirosinase. A falta dessa enzima faz com que o corpo não produza melanina, o pigmento natural que dá cor aos cabelos, olhos e o bronzeado. Devido à falta de melanina, pessoas com esse problema genético são extremamente sensíveis aos raios UV da luz solar.

câncer - ocasionalmente uma célula se modifica de uma maneira que faz com que se reproduza descontroladamente. Quando as células chamadas melanócitos, na pele, são lesadas pela radiação ultravioleta, elas se modificam de um modo característico transformando-se em uma forma cancerosa de célula. O câncer que aparece como tumor na pele é chamado de melanoma.

Componentes do sistema imunológico

Uma das coisas engraçadas sobre o sistema imunológico é que ele passa a vida inteira trabalhando, porém, pouco sabemos a seu respeito. Dentro do seu tórax existe um órgão chamado "coração". Quem não sabe que tem um coração? Também temos pulmões, um fígado e rins. Mas, você já ouviu alguma vez falar sobre o timo? Há uma boa chance de você nem mesmo saber que tem um timo, e, contudo, ele está aí dentro do seu tórax, perto do coração. Existem outras partes do sistema imunológico que são igualmente obscuras, portanto, vamos começar aprendendo sobre cada uma delas.

A parte mais óbvia do sistema imunológico é a que você pode ver. Por exemplo, a pele é uma parte importante do sistema imunológico. Age como fronteira primária entre os germes e o seu corpo. Uma parte da função da tua pele é agir como barreira, de um modo bem parecido com a maneira que envolvemos a comida com plástico para protegê-la. A pele é resistente e, geralmente, impermeável a bactérias e vírus. A epiderme contém células especiais chamadas de células de Langerhans (misturadas com os melanócitos na camada basal) que são componentes importantes para alertar o sistema imunológico. A pele também secreta substâncias antibacterianas. Essas substâncias explicam o porquê você não acorda de manhã com uma camada de fungo sobre tua pele: a maioria das bactérias e esporos que aterrisam ali morrem rapidamente.

O nariz, a boca e os olhos são também pontos de entrada óbvios para os germes. As lágrimas e o muco contêm uma enzima (lisozima) que destrói a parede celular de muitas bactérias. A saliva também é antibacteriana. Como as vias nasais e os pulmões são revestidos de muco, muitos germes que não são mortos imediatamente ficam presos no muco e logo são engolidos. Os mastócitos também cobrem as vias nasais, garganta, pulmões e pele. Qualquer bactéria ou vírus que queira entrar no seu corpo precisa primeiro passar por essas defesas.

Uma vez dentro do corpo, o germe enfrenta o sistema imunológico em um nível diferente. Os principais componentes do sistema imunológico são: timo baço sistema linfático medula óssea células sangüíneas brancas anticorpos sistema complemento hormônios

Vamos ver cada um desses componentes detalhadamente.

Sistema linfático

O sistema linfático é mais familiar para as pessoas porque os médicos e as mães com freqüência verificam se há "nódulos linfáticos aumentados" no pescoço. Os nódulos linfáticos são apenas uma parte de um sistema que se estende por todo o corpo através de caminhos muito parecidos com os dos vasos sangüíneos. A principal diferença entre o fluxo de sangue no sistema circulatório e o fluxo de linfa no sistema linfático é que o sangue

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65é pressurizado pelo coração enquanto que o sistema linfático é passivo. Não há uma "bomba linfática" semelhante à "bomba sangüínea" (o coração). Os líquidos fluem lentamente para dentro do sistema linfático e são empurrados pelo movimento do corpo e dos músculos para os nódulos linfáticos. É algo parecido com os sistemas de água e esgoto em uma comunidade. A água é pressurizada ativamente enquanto que o esgoto é passivo e flui pela gravidade.

A linfa é um líquido claro que leva água e nutrientes para as células. A linfa é plasma sangüíneo -o líquido que forma o sangue sem as células vermelhas e brancas. Pense nisso - cada célula não tem seu próprio vaso sangüíneo particular para alimentá-la, mas precisa obter comida, água e oxigênio para sobreviver. O sangue transfere esses materiais para a linfa através das paredes capilares e a linfa os transporta até as células. As células também produzem proteínas e resíduos que a linfa absorve e transporta para longe. Qualquer bactéria aleatória que entre no corpo encontra seu caminho para dentro desse fluido intercelular. Uma das tarefas do sistema linfático é drenar e filtrar esses fluidos para detectar e remover as bactérias. Vasos linfáticos pequenos coletam o líquido e o levam em direção aos vasos maiores de modo que o fluido finalmente chegue aos nódulos linfáticos para o processamento.

Os nódulos linfáticos apresentam tecidos com a capacidade de filtragem e apresentam também uma grande quantidade de linfócitos. Quando estão combatendo certas infecções bacterianas, os nódulos linfáticos incham-se de bactérias e células que lutam contra estas bactérias, a ponto de você senti-los. Nódulos linfáticos inchados é um bom sinal, pois eles alertam você de que há algum tipo de infecção no seu corpo. Após filtrada pelos nódulos linfáticos, a linfa entra novamente na corrente sanguínea. Timo O timo fica dentro do seu tórax, entre o esterno e o coração. É responsável pela produção de células T (veja a próxima seção) e é extremamente importante para os recém-nascidos - sem o timo o sistema imunológico entra em colapso e o bebê morre. O timo é menos importante para os adultos - se for preciso removê-lo o adulto sobreviverá porque outras partes do sistema imunológico conseguem lidar com a sobrecarga. Contudo, o timo é importante para a maturação das células T (como veremos na seção sobre as células sangüíneas brancas). Baço O baço filtra o sangue em busca de células estranhas (procura também células vermelhas velhas que precisam ser substituídas). Uma pessoa que perde o baço fica doente com mais freqüência. Medula óssea A medula óssea produz novas células sangüíneas, tanto vermelhas quanto brancas. As células vermelhas são formadas na medula e depois entram na corrente sangüínea. As células brancas amadurecem em algum outro lugar. A medula produz todas as células sangüíneas a partir de células tronco. São chamadas de "células tronco" porque podem transformar-se em tipos específicos de células sangüíneas - são precursoras de diferentes tipos de células. Anticorpos Os anticorpos (também chamados de imunoglobulinas e gamaglobulinas) são produzidos pelas células brancas. Eles são proteínas em forma de Y e cada um responde a um antígeno específico (bactéria, vírus ou toxina). Cada anticorpo tem uma região especial (nas pontas dos dois ramos do Y) que é sensível a um antígeno específico e se liga a ele de alguma maneira. Quando um anticorpo se liga a uma toxina, passa a chamar-se antitoxina. A ligação inibe, normalmente, a ação química da toxina. Quando um anticorpo se liga ao revestimento externo de uma partícula de vírus ou à parede celular de uma bactéria, interrompe sua ação ou pode se ligar ao invasor e sinalizar para o sistema complemento que tal invasor precisa ser removido. Tipos de anticorpos: imunoglobulina A (IgA) imunoglobulina D (IgD) imunoglobulina E (IgE) imunoglobulina G (IgG) imunoglobulina M (IgM)

Quando ler uma abreviatura do tipo IgE em um documento médico você saberá que eles estão falando de um anticorpo. Células sanguíneas brancas Você sabe que existem "células vermelhas" e "células brancas" no sangue. As células sangüíneas são, na verdade, várias células diferentes que trabalham juntas para destruir bactérias e vírus e, por este motivo, são muito importantes para o sistema imunológico. Aqui estão todos os tipos, nomes e classificações das células brancas que estão trabalhando dentro do seu corpo neste momento:

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66 leucócitos

linfócitos monócitos granulócitos células B células plasmáticas células T células T-Helper células T-Killer células T supressoras células killer naturais neutrófilos eosinófilos basófilos fagócitos macrófagos

Leucócitos: aprender todos esses nomes diferentes e a função de cada tipo de célula requer um certo esforço, mas fará com que você compreenda um pouco melhor os artigos científicos. Fizemos um pequeno resumo dos diferentes tipos de células.

Todas as células sangüíneas brancas são conhecidas oficialmente como leucócitos. Elas não são como as células normais do corpo. Na verdade, agem como organismos vivos independentes e unicelulares capazes de se moverem e capturarem coisas por conta própria. As células brancas se comportam, de certo modo, como amebas em seus movimentos e são capazes de absorver outras células e bactérias. Algumas delas não podem se dividir e reproduzir por conta própria, porém, são produzidas pela medula óssea. Os leucócitos são divididos em 3 classes:

granulócitos - os granulócitos constituem 50 a 60% de todos os leucócitos. Dividem-se em três classes: neutrófilos, eosinófilos e basófilos. Eles têm esse nome porque contêm grânulos com diferentes substâncias químicas, dependendo do tipo de célula;

linfócitos - os linfócitos constituem 30 a 40% de todos os leucócitos. Os linfócitos se dividem em dois subtipos principais: células B (aquelas que amadurecem dentro da medula óssea) e células T (aquelas que amadurecem no timo);

monócitos - os monócitos constituem até 7% de todos os leucócitos. Os monócitos se transformam em macrófagos.

Todas as células sangüíneas brancas começam na medula óssea como células tronco. As células tronco são células genéricas que podem se transformar em muitos tipos diferentes de leucócitos à medida que amadurecem. Por exemplo, é possível pegar um camundongo, irradiá-lo para incapacitar sua medula óssea de produzir novas células sangüíneas, e então injetar células tronco na corrente sangüínea. As células tronco se dividirão e se transformarão em todos os tipos diferentes de células sangüíneas brancas. Um "transplante de medula óssea" é simples: injeta células tronco de um doador dentro da corrente sangüínea. As células tronco encontram seu caminho, de forma quase mágica, para dentro da medula e fazem dela seu lar.

Papéis diferentes

Cada tipo diferente de célula sangüínea branca tem um papel especial no sistema imunológico, e muitas são capazes de se transformar de modos diferentes. As descrições a seguir ajudam a compreender os papéis das diferentes células. Neutrófilos - são a forma mais comum de célula sangüínea branca que você tem no corpo. A

medula óssea produz trilhões deles a cada dia e os libera na corrente sangüínea, mas eles têm vida curta - geralmente vivem menos de um dia. Uma vez na corrente sangüínea os neutrófilos podem passar através das paredes capilares para dentro dos tecidos. Os neutrófilos são atraídos por qualquer material estranho, inflamação ou bactéria. Se você é espetado por uma farpa ou se corta, os neutrófilos serão atraídos por um processo chamado quimiotaxia, muitos organismos unicelulares usam esse mesmo processo. A quimiotaxia deixa as células móveis se deslocarem em direção às concentrações mais altas de uma substância química. Assim que o neutrófilo encontra uma partícula estranha ou uma bactéria, ele a absorve e libera enzimas como o peróxido de hidrogênio e outras substâncias químicas dos seus grânulos para matar as bactérias. Em um local onde haja uma

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67infecção grave (onde muitas bactérias se reproduziram na área), forma-se pus. O pus é feito de neutrófilos mortos e outros resíduos celulares.

Eosinófilos e basófilos - são menos comuns do que os neutrófilos. Os eosinófilos eliminam os parasitas da pele e dos pulmões, enquanto que os basófilos (junto com os mastócitos) liberam a histamina para causar a inflamação. Do ponto de vista do sistema imunológico a inflamação é uma coisa boa. Ela traz para o local mais sangue e dilata as paredes dos capilares para que mais células do sistema imunológico possam chegar ao local da infecção.

Macrófagos - são as maiores (e daí o nome "macro") de todas as células sangüíneas. Os monócitos são liberados pela medula óssea, circulam na corrente sangüínea, entram no tecido e se transformam em macrófagos. A maior parte dos tecidos do corpo tem seus próprios macrófagos. Os macrófagos alveolares vivem nos pulmões e os mantêm limpos (ingerindo partículas estranhas como fumaça e poeira) e livres de doenças (ingerindo bactérias e micróbios). Os macrófagos são chamados de células de Langerhans quando vivem na pele. Os macrófagos também circulam livremente. Uma das suas tarefas é remover neutrófilos mortos, os macrófagos limpam o pus, por exemplo, como parte do processo de regeneração.

Linfócitos - eliminam a maior parte das infecções bacterianas e virais que apanhamos. Os linfócitos têm origem na medula óssea. Aqueles destinados a se transformar em células B se desenvolvem na medula óssea antes de entrar na corrente sangüínea. As células T começam a se formar na medula, mas migram através da corrente sangüínea para o timo e amadurecem lá. As células T e B são geralmente encontradas na corrente sangüínea mas tendem a se concentrar em tecidos linfáticos tais como os nódulos linfáticos, timo e baço. Há também uma boa quantidade de tecido linfático no sistema digestivo. As células B e T têm funções diferentes.

Células B - quando estimuladas, amadurecem como células plasmáticas que são as células que produzem os anticorpos. Uma célula B específica é direcionada para um germe específico e quando o germe está presente no corpo a célula B clona-se e produz milhões de anticorpos para eliminar o germe.

Células T - por outro lado, vão realmente para cima das células e as matam. Conhecidas como células T killer podem detectar células do corpo que estejam alojando vírus e, quando isso acontece, matam essas células. Dois outros tipos de células T, conhecidas como células T helper e supressora, ajudam a ativar as células T killer e controlam a resposta imunológica.

Células T

As células T helper são muito importantes e interessantes. Elas são ativadas pela interleucina-1, produzida pelos macrófagos. Depois de ativadas as células T helper produzem interleucina-2, interferon e outras substâncias. Essas substâncias ativam as células B para que produzam anticorpos. A complexidade e nível de interação entre os neutrófilos, macrófagos, células T e células B é realmente impressionante.

Por serem tão importantes para o sistema imunológico, as células brancas são usadas para medir a saúde do sistema imunológico. Quando você ouve dizer que alguém tem um "sistema imunológico forte" ou um "sistema imunológico fraco", é porque isto foi observado através da contagem de diferentes tipos de células brancas em uma amostra de sangue. Uma contagem normal de células brancas fica na faixa de 4 mil a 11 mil células por microlitro de sangue. Uma proporção de 1,8 a 2,0 células T helper por célula T supressora é normal. Uma contagem normal absoluta de neutrófilos (CAN) fica na faixa de 1.500 a 8 mil células por microlitro.

Perguntas importantes sobre as células brancas e sobre muitas outras partes do sistema imunológico são: "como uma célula sangüínea branca sabe o que deve atacar e o que deve deixar passar?", "Por que uma célula sangüínea branca não ataca todas as células do corpo?" Existe um sistema construído dentro de todas as células do corpo chamado de Complexo Principal de Histocompatibilidade (CPH) (também conhecido como HLA, ou human leukocyte antigen) que marca as células do seu corpo como "você". Qualquer coisa que o sistema imunológico encontre e não tenha essas marcas (ou que tenha marcas erradas) definitivamente não faz parte de você e é, portanto, algo a ser destruído. A Enciclopédia Britânica diz o seguinte sobre o CPH:

"Há dois tipos principais de moléculas protéicas de CPH, classe I e classe II, que se estendem pela membrana de quase todas as células em um organismo. Em seres humanos essas moléculas são

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68codificadas por vários genes, todos agrupados na mesma região no cromossomo 6. Cada gene tem um número não usual de alelos (formas alternativas de um gene). Consequentemente, é muito raro que dois indivíduos tenham o mesmo conjunto de moléculas CPH, que é chamado de tipo de tecido.

As moléculas CPH são componentes importantes da resposta imunológica. Elas permitem que células que foram invadidas por um organismo infeccioso sejam detectadas pelas células do sistema imunológico chamadas de linfócitos T, ou células T. As moléculas CPH fazem isso mostrando fragmentos de proteínas (peptídeos) pertencentes ao invasor que está na superfície da célula. A célula T reconhece o peptídeo estranho preso à molécula CPH e liga-se a ele, uma ação que estimula a célula T a destruir ou curar a célula infectada. Em células saudáveis não infectadas, a molécula CPH apresenta peptídeos da sua própria célula (autopeptídeos), para os quais as células T normalmente não reagem. “Contudo, se o mecanismo imunológico não funciona direito e as células T reagem contra os autopeptídeos, surge uma doença auto-imune”.

Vacinação

Existem algumas doenças que se manifestam somente uma vez, como no caso do sarampo e da catapora. O que acontece com essas doenças é que elas entram no corpo e os vírus começam a se reproduzir. O sistema imunológico se empenha em eliminá-las. No corpo você já tem células B que podem reconhecer o vírus e produzir anticorpos para ele. Contudo, há apenas poucas dessas células para cada anticorpo. Assim que uma doença em particular é identificada por essas poucas células B específicas, as células B se transformam em células plasmáticas, são clonadas e começam a liberar anticorpos. Esse processo leva tempo mas a doença segue seu curso e por fim é eliminada. Contudo, enquanto está sendo eliminada, outras células B para a doença clonam-se mas não geram anticorpos. Esse segundo grupo de células B permanece no seu corpo durante anos, de modo que quando a doença reaparecer, o corpo será capaz de eliminá-la imediatamente.

A vacina é uma forma enfraquecida da doença. Pode ser uma forma diferente da doença ou uma variedade similar, porém menos virulenta. Uma vez dentro do seu corpo o sistema imunológico monta a mesma defesa, mas como a doença é diferente ou mais fraca, os sintomas que aparecem são poucos ou nenhum. Depois da vacina, quando a doença real invadir teu corpo ela será eliminada imediatamente.

Existem vacinas para todos os tipos de doenças, tanto virais quanto bacterianas, como por exemplo sarampo, caxumba, coqueluche, tuberculose, varíola, pólio, febre tifóide, etc.

Contudo, muitas doenças não podem ser curadas através de vacinas. O resfriado comum e a gripe são dois exemplos. Essas doenças sofrem rápidas mutações ou têm tantas linhagens (variedades) diferentes no ambiente que é impossível injetar todas elas no seu corpo. Cada vez que você fica resfriado, por exemplo, está pegando uma linhagem diferente da mesma doença.

Fonte; http://ciencia.hsw.uol.com.br/sistema-imunologico13.htm

FARMACOLOGIA

Droga (fármaco) : composto biologicamente ativo utilizado no diagnóstico, cura, alívio ou prevenção de doenças. Medicamento: é toda substancia que introduzida no organismo, vai preencher uma finalidade terapêutica. Divisão: Farmacocinética: Parte da Farmacologia que estuda quantitativamente os fenômenos de absorção, distribuição, biotransformação e excreção dos fármacos. É aquilo que o organismo faz sobre o fármaco. Farmacologia Clínica: Parte da Farmacologia que avalia a segurança e eficácia dos fármacos no homem. Farmacoterapêutica: Ocupa-se com o uso de fármacos na prevenção e tratamento de doenças. Toxicologia: É a parte da Farmacologia que estuda os efeitos adversos dos fármacos, bem como dos agentes tóxicos.

Medicamentos vide apostila - Drogas e Soluções de autoria da conselheira Drª. Zainet Noguimi - CORENSP que será disponibilizada para o Email da sala.

CÁLCULO DE MEDICAÇÃO

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Uma das atividades que o técnico de enfermagem realiza freqüentemente é a administração de medicamentos. Para fazê-lo corretamente, na dose exata, muitas vezes ele deve efetuar cálculos matemáticos, porque nem sempre a dose prescrita corresponde à contida no frasco. Os cálculos, todavia, não são muito complicados; quase sempre podem ser feitos com base na regra de três simples. Cálculo de medicação utilizando a regra de três simples

Na regra de três simples trabalha-se com três elementos conhecidos, e a partir deles determina-se o 4º elemento. Algumas regrinhas práticas podem auxiliar-nos no cálculo, conforme demonstram os exemplos 1 e 2.

Exemplo 1: O médico prescreve a um paciente 150mg de amicacina e na clínica existem apenas ampolas contendo 500mg/2 ml. Resolução: a) Monte a regra de três dispondo os elementos da mesma natureza sempre do mesmo lado, ou seja, peso sob peso, volume sob volume; b) Utilize os três elementos para montar a regra de três e descubra o valor da incógnita x.

Para facilitar a montagem, uma dica é fazer a seguinte reflexão: se 500mg equivalem a 2ml, 150mg serão equivalentes a x ml: 500mg = 2ml 150mg = x

Na regra de três, a multiplicação de seus opostos igualam-se entre si. Assim, o oposto de 500 é x e o oposto de 150 é 2, portanto: (500) x (x) = (150) x (2) 500x = 300

Para se saber o valor de x é necessário isolá-lo, ou seja, colocar todos os valores numéricos do mesmo lado. Passa-se o valor 500, ou qualquer outro valor que acompanhe a incógnita (x), para o outro lado da igualdade, o que vai gerar uma divisão. Assim: x = 300 500 x = 0,6ml Portanto, o paciente deve receber uma aplicação de 0,6ml de amicacina.

Exemplo 2: Prescrição: 200mg de Keflin EV de 6/6h. Frasco disponível na clínica: frasco em pó de 1g. Resolução: a) siga os mesmos passos do exemplo anterior; b) transforme grandezas diferentes em grandezas iguais, antes de montar a regra de três; nesse caso, tem-se que transformar grama em miligrama; consulte o Anexo I. 1grama = 1.000mg Assim, temos: 1.000mg ______________5 ml 200mg... ______________x ml (1.000) x (x) = 200 x 5 x = 200 x 5 = 1 ml 1.000

Alguns exemplos de cálculo de medicamentos:

Ampicilina (Binotal®)

Apresentação: frasco-ampola de 1g Prescrição médica: administrar 250mg de ampicilina

Resolução: transformar grama em miligrama 1g = 1.000 mg

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Diluindo-se em 4ml, teremos: 1.000 mg _________ 4 ml 250 mg __________ x

x = (250) x (4) x = 1.000 = 1ml 1.000 1.000

Decadron

Apresentação: frasco de 2,5ml com 10mg (4mg/ml) Prescrição médica: administrar 0,8mg de Decadron EV Resolução: 4 mg ________ 1 ml 0,8 mg ________ x (4) x (x) = 0,8 x 1 x = 0,8 x = 0,2 ml 4 Para fazer o cálculo, pode-se também utilizar os elementos 2,5 ml e 10mg: 10mg ________ 2,5ml 0,8mg ________ x (10) x (x) = 0,8 x 2,5 x = 2 x = 0,2 ml 10

Penicilina cristalina Apresentação: frasco-ampola de 5.000.000U Prescrição médica: 3.000.000U Observação: a penicilina de 5 milhões aumenta 2ml após a diluição. 5.000.000U _________ 10 ml (8ml de diluente + 2ml) 3.000.000U __________ x 5.000.000 x x = 3.000.000 x 10 x = 30.000.000 x = 6ml 5.000.000

Permanganato de potássio (KMNO4) Apresentação: comprimidos de 100mg Prescrição médica de KMNO4 a 1:40.000 Quantos ml de água são necessários para se obter a diluição prescrita? 1: 40.000 significa: 1g de KMNO4 em 40.000 ml de água, ou 1.000mg de KMNO4 em 40.000ml de água. Assim: 1.000mg ________ 40.000ml 100mg _________ x x = 100 . 40.000 x = 4.000ml ou 4 litros 1000 Portanto, acrescentando-se 100mg (1 comprimido) em 4 litros de água, obtém-se solução de KMNO4 na concentração 1: 40.000.

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71 Alguns exemplos de rediluição:

Heparina Apresentação: frasco-ampola de 5ml com 25.000U (5.000/ml) Administrar 200U de Heparina EV. 1 ml ________ 5000 U x ml ________ 200 U (5.000) x (x) = (1) x (200) x = 200 x = 0,04 ml 5.000

Entretanto, na prática é impossível aspirar 0,04ml na seringa. Assim, faz-se necessário fazer a rediluição, acrescentando-se um diluente (água destilada estéril ou solução fisiológica).

1º passo: 1ml de heparina _______________________ 5.000U 1ml de heparina + 9ml de diluente ________ 5.000U

2º passo: 10ml ________ 5.000U x ml ________ 200U 5000 x x = 10 x 200 x = 2.000 x = 0,4 ml 5.000 Portanto, 200U da prescrição são equivalentes a 0,4ml de heparina rediluída.

Hidantal Apresentação: Hidantal, ampola de 5ml, equivalente a 50 mg/ml Prescrição médica: Hidantal 4mg 50 mg ________ 1ml 4 mg _________ x x = 4 x 1 x = 0,08 ml 50

Como não há a possibilidade de aspirar 0,08ml em uma seringa, faz-se necessário fazer uma diluição: 50mg ________ 1ml AD __________ 9ml 50mg ________ 10ml 50mg ________ 10ml 4mg _________ x 50 x x = 4 x 10 x = 4 x 10 = 0,8ml 50

Cálculo de medicação utilizando a porcentagem

O sinal % quer dizer por cento, ou seja, uma quantidade em cada 100. A porcentagem é a representação de um número fracionário: 15% = 15 = 0,15 100

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7230% = 30 = 0,30

100 Para se calcular a porcentagem de um número qualquer, basta multiplicar a porcentagem desejada por aquele número.

Ex1: porcentagem representada por fração decimal 40% de 300 = 40 x 300 = 12. 000 = 120 100 1 100

Ex2: porcentagem representada por número decimal 40% de 300 = 0,40 x 300 = 120

Ex3: em um grupo de 75 pessoas, sabe-se que 68% já tiveram sarampo. Qual o número de pessoas que já tiveram a doença? 68% de 75 = 0,68 x 75 = 51 R: 51 pessoas do grupo tiveram sarampo.

Ex4: de 200ml de água destilada, usei 70%; quantos ml restaram no frasco? 0,70 x 200 = 140ml (usados) 200 - 140 = 60ml R: Restaram no frasco 60ml de água destilada. Cálculo de gotejamento de infusão venosa

Exemplo: Calcular o gotejamento, para correr em 8 horas, de 500ml de solução glicosada (SG) a 5%. É possível calcular o gotejamento de infusões venosas pelos seguintes métodos:

Método A 1º passo - calcular o nº de gotas que existem no frasco de solução, lembrando-se que cada ml equivale a 20 gotas. Com três dados conhecidos, é possível obter o que falta mediante a utilização de regra de três simples: 1ml ________ 20 gotas 500ml ______ x x = 500 x 20 = 10.000 gotas 1 2º passo - calcular quantos minutos estão contidos em 8 horas: 1h ________ 60 minutos 8h ________ x x = 8 x 60 = 480 minutos 1 3º passo - calcular o número de gotas por minuto, com os dados obtidos da seguinte forma: 10.000 gotas ________ 480 minutos x _________ 1 minuto x = 10.000 x 1 = 21 gotas/minuto 480

Cálculo de microgotas: multiplicar o resultado por 3 = 63 mgt/min Método B Aplicar a fórmula: nº de gotas = volume , sendo 3 uma constante tempo x 3 Aplicando-se a fórmula teremos: nº de gotas = 500 nº de gotas = 500 = 21 gotas/minuto 8 x 3 24

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ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

Nutrição é o processo pelo qual o organismo recebe e transforma os alimentos, retirando e utilizando as substâncias necessárias à sua manutenção. Ao estudarmos a nutrição, podemos identificar alimentos que contêm substâncias importantes para a saúde, cuja escolha adequada pode contribuir sobremaneira para a prevenção de doenças. ALIMENTOS Agora, falaremos dos alimentos e de como podemos obter as substâncias necessárias ao funcionamento do organismo e à manutenção da vida. Alimento é toda matéria sólida ou líquida que, levada ao trato digestivo, é utilizada para manter e formar os tecidos do corpo, regular processos corporais e fornecer energia, mantendo a vida - energia denominada caloria ou Kcal. Os alimentos são constituídos por vários componentes orgânicos e inorgânicos denominados nutrientes, tais como:

Todos os nutrientes são fundamentais e desempenham uma ou mais funções no organismo. Não existe um mais importante que outro. Nutriente - é todo componente orgânico ou inorgânico essencial ao funcionamento do organismo humano. São ditos essenciais quando o organismo não os produz ou os produz em velocidade ou quantidade inadequada. Assim, devem ser diariamente fornecidos pela alimentação. Os alimentos são encontrados na natureza e têm origem animal ou vegetal. Alguns podem ser consumidos em sua forma natural, como a laranja ou maçã, por exemplo; outros, precisam passar por processos de cocção (assados, fritos, cozidos, grelhados ou sob vapor) para serem consumidos e melhor aproveitados, como a carne, arroz e milho. No caso dos industrializados, que passam pelos mais diversos processos, são acrescentadas várias substâncias que podem ser prejudiciais à saúde, como corantes, conservantes, sal e açúcar em excesso, dentre outras. Ressalte-se que, para atender a situações específicas de saúde, os alimentos podem ser modificados como “diet” e “light”: – Alimentos “diet” – nessa classificação, algum nutriente é retirado ou substituído. Exemplo: refrigerante “diet” – o açúcar é retirado e substituído por outro adoçante, tornando-se indicado para pessoas portadoras de diabetes; – Alimentos “light” – essa designação indica diminuição da quantidade de nutriente. Exemplo: requeijão “light” - a quantidade de lipídios é diminuída, tornando-se indicado para quem necessita perder peso ou diminuir o colesterol. Atualmente, dois conceitos de alimentos vêm sendo incorporados na literatura e bastante discutidos na imprensa: os alimentos funcionais e os transgênicos. Os alimentos funcionais possuem grande quantidade de substâncias benéficas ao funcionamento do organismo. Sua definição ainda está em desenvolvimento mas alguns estudiosos os classificam como produtos alimentares que fornecem benefícios específicos à saúde, superiores aos nutrientes tradicionais que contêm. De maneira geral, são vistos como promotores de saúde - os ricos em fibras dietéticas são os mais conhecidos no tocante ao efeito benéfico - e estão associados com a diminuição dos riscos de doenças crônicas como insuficiências cardíacas, diabetes, câncer e outras. Para melhor entendermos sua atuação no organismo, faz-se necessário apresentar algumas considerações sobre as fibras alimentares. Primeiramente, é importante ressaltar que sua conceituação é complexa, pois incluem diferentes compostos, com efeitos diversos, tanto no alimento como para quem as consome.

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74Essas fibras são componentes de origem vegetal que não constituem fontes de energia, haja vista que não

podem ser digeridas pelo organismo humano, tais como: - celulose, hemicelulose e pectina, que são componentes da parede celular das plantas; - gomas, mucilagens e polissacarídeos de algas. Com base em seu papel fisiológico e propriedades físicas, as fibras são classificadas em solúveis e insolúveis. Durante o seu trânsito no trato alimentar, as fibras da dieta podem interagir com diversas substâncias, levando à sua eliminação ou absorção. As fibras solúveis têm a capacidade de reter água e formar géis, servindo como substrato para a fermentação das bactérias colônicas. Estão presentes na aveia, cenoura, maçã, cevada, feijão, frutas cítricas e morango e parecem contribuir para a diminuição dos níveis séricos de colesterol. As fibras insolúveis integram a estrutura das células vegetais e são encontradas em todos os tipos de substância vegetal, hortaliças, farelos, frutas e, principalmente, nas camadas externas de cereais. Normalizam o trânsito intestinal, tornando-o mais rápido em pessoas com constipação e prolongando-o naquelas que apresentam trânsito rápido ou diarréia - mecanismo esse que reduz a exposição aos agentes cancerígenos; daí sua indicação como prevenção do câncer de cólon. Os alimentos transgênicos são aqueles geneticamente modificados, criados em laboratórios com a utilização de genes de diferentes espécies de animais, vegetais ou micróbios. Seu surgimento tornou- se possível a partir do desenvolvimento da engenharia genética. Sua toxicidade ambiental e ou humana não é facilmente definida pois ainda está em estágio inicial de desenvolvimento. De modo geral, refere-se à interação de substâncias químicas com a vida, em todas as suas formas. Há, entretanto, aspectos impossíveis ou muito difíceis de serem solucionados. Como estimar, por exemplo, que quantidades de substâncias químicas podem ser consideradas tóxicas em uma pessoa, em curto ou longo prazo? Diante de tanta incerteza, não há como precisar se o grau de exposição a esses alimentos e seus efeitos serão benéficos ou maléficos à saúde humana, principalmente para as futuras gerações. Ultimamente, a mídia veicula que produtos alimentícios como soja, milho, batata, tomate e outros já estão sendo comercializados no Brasil sem que o consumidor receba informações detalhadas a respeito de sua origem – o que expõe as pessoas tanto às vantagens como aos riscos da utilização de alimentos transgênicos em sua alimentação. Vantagens: - os transgênicos podem produzir alimentos mais nutritivos e seu cultivo pode ser mais eficaz que o convencional, aumentando-se o poder de armazenamento; - auxilia a eliminação da utilização de agrotóxicos na lavoura; - aumenta a produtividade, baixando os preços. Riscos: - podem causar alergias ou danificar o sistema imunológico, uma vez que, transmitindo seus genes a outras espécies, podem afetar animais; - não há consenso no que se refere aos efeitos, em curto, médio e longo prazos, sobre a saúde do ser humano, nem sobre um eventual tratado de biossegurança. NUTRIENTES Os nutrientes estão distribuídos nos mais diferentes alimentos – motivo pelo qual devemos manter uma alimentação variada, o que nos garante o recebimento de todos os nutrientes essenciais. Alguns alimentos possuem grande quantidade de proteínas, como a soja e a carne; outros, grande quantidade de carboidratos, como o arroz e a batata. No tocante às informações ao consumidor, alguns alimentos industrializados trazem, em seus rótulos, observações sobre sua composição – o que permite maior conhecimento de seu conteúdo nutricional e função no organismo. Proteínas As proteínas são substâncias formadas por aminoácidos ligados entre si e presentes em todas as células dos organismos vivos.

Funções das proteínas no organismo – favorecer o crescimento, manutenção e reparação dos tecidos do corpo; – obter energia, quando a quantidade de carboidratos e lipídios é insuficiente; – formar enzimas, hormônios e anticorpos (protetores contra as infecções); – transportar substâncias orgânicas.

Digestão, absorção e utilização das proteínas

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75Para sua utilização pelo organismo, faz-se necessário que as proteínas sejam “quebradas” em pequeninas partes (aminoácidos), o que ocorre quando do processo de digestão. O primeiro passo é a trituração dos alimentos na boca. A seguir, as proteínas começam a ser “quebradas” no estômago e intestino. Completada a digestão, os aminoácidos passam para a corrente sangüínea e são utilizados na formação de tecidos ou outra função. Ressalte-se que o destino dos aminoácidos varia de acordo com as necessidades orgânicas, havendo um equilíbrio dinâmico entre a quebra e a formação de proteínas.

Necessidades humanas As necessidades de proteínas no organismo são maiores durante a fase de crescimento: os bebês, crianças e adolescentes precisam de maior quantidade por quilograma de peso do que os adultos e idosos. Assim, recomenda-se o consumo de pelo menos uma boa fonte de proteínas diariamente, como leite, ovos e carne.

Fontes de proteínas As proteínas podem ser de origem animal e vegetal. As de origem animal são consideradas de alto valor biológico; as de origem vegetal não têm proteínas de alto valor biológico mas se estiverem presentes na mesma refeição podem tornar-se boa fonte de proteínas. Exemplo: a associação do arroz com o feijão. A soja apresenta grande quantidade de proteínas, maior até que a da carne, mas não possui alguns aminoácidos essenciais em quantidades suficientes. Tal fato nos leva a recomendar que a pessoa que não ingere nenhuma proteína de origem animal deve combinar muito bem os alimentos, para obter uma alimentação equilibrada. Fontes de proteínas de Fontes de proteínas de origem origem animal vegetal carnes vermelhas, frango soja, feijão, lentilha,grão de bico, peixes, leite e derivados, ervilha ovos. Deficiência de proteínas

As crianças que não consomem proteínas em quantidades adequadas podem ter o desenvolvimento e crescimento comprometidos e adquirir uma forma de desnutrição denominada Kwashiorkor – a qual, extremamente grave, pode levar à morte caso não haja rápida intervenção. A criança desnutrida apresenta-se inchada, com lesões na pele e alterações no cabelo (que se torna quebradiço e mais claro). Essa situação, não freqüente em áreas urbanas, é mais comumente encontrada em áreas rurais e nas crianças que recebem alimentação à base de farinha, açúcar e água – o que lhes dá gordura subcutânea, mascarando o quadro de desnutrição e dificultando o diagnóstico. Desde que identificadas, devem ser levadas imediatamente ao serviço de saúde. Sua melhora dependerá de uma alimentação rica em proteínas. Nos adultos, a deficiência de proteínas pode levar ao emagrecimento e à perda muscular.

Criança com Kwashiorkor Excesso de proteínas

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76Paralelamente, o excesso de consumo de proteínas também é prejudicial à saúde, pois a ingestão de uma

quantidade superior às necessidades, além de ser armazenada na forma de gordura, pode sobrecarregar os rins.

CARBOIDRATOS

Também conhecidos como hidratos de carbono ou glicídios, são considerados a fonte primária de energia para o organismo, pois rapidamente fornecem “combustível” para o cérebro, medula, nervos periféricos e células vermelhas do sangue. Os carboidratos dividem-se em dois grandes grupos: - Carboidratos ou açúcares simples - exemplos: glicose, frutose (frutas e mel) e sacarose (açúcar); - Carboidratos complexos - exemplos: amido (arroz, batata), glicogênio (tecido muscular) e fibras dietéticas (celulose e outras). Todos os carboidratos fornecem energia para o corpo, com exceção das fibras - estas, apesar de não aproveitadas pelo organismo e não se constituírem nutriente, são de extrema importância para o ser humano e devem estar presentes na alimentação diária. São encontradas em maior quantidade nas frutas e hortaliças.

Funções dos carboidratos – fornecer energia; – ajudar a regular a utilização das proteínas e lipídios; – proporcionar reserva energética pela formação de glicogênio no fígado e músculos.

Digestão, absorção e utilização de carboidratos A digestão dos carboidratos inicia-se na boca, pela ação de uma substância chamada amilase salivar, mas é no intestino delgado que ela se completa – quando do encontro com outras substâncias intestinais e pancreáticas. A absorção de carboidrato simples, principalmente a glicose, é realizada no intestino delgado, de onde é levado para a corrente sangüínea e transportado para o fígado. A glicose pode seguir os seguintes caminhos no organismo: – ser transformada em glicogênio (reserva de energia) nos músculos e no fígado, para posterior utilização de obtenção de energia durante a atividade física; – ser distribuída para todas as células do organismo, para atendimento das necessidades energéticas. – ser transformada em gordura e armazenada para necessidades futuras.

Necessidades humanas Grande parte das necessidades de energia é atendida pelos carboidratos, que podem ser adquiridos mediante o consumo, de preferência, de alimentos ricos em amido, como trigo, arroz, milho, mandioca (aipim), batata e massas.

Fontes de carboidratos Vários alimentos são ricos em carboidratos. Alguns possuem grandes quantidades e devem constituir a base alimentar, como arroz, batata, pão, mandioca e macarrão, ricos em carboidratos complexos. O açúcar e refrigerantes são ricos em carboidratos simples, não devendo ser consumidos em grande quantidade.

Alimentos ricos em carboidratos complexos

Alimentos ricos em carboidratos simples

Cereais integrais, trigo, arroz, pão, milho, batata, cará,

legumes, batata doce, trigo, mandioca

Frutas, mel, açúcar, balas, refrigerantes,doces concentrados

Deficiência de carboidratos A deficiência de carboidratos pode provocar tonturas, dores de cabeça e magreza. A principal conseqüência de uma alimentação pobre em energia é a desnutrição energético-protéica, também denominada marasmo, cuja característica, de modo geral, é o emagrecimento e insuficiência de energia e nutrientes. Crianças que não recebem nutrientes em quantidades suficientes podem ganhar peso inadequado, ter o crescimento estatural comprometido (ficam baixas) e, dependendo da idade, duração e intensidade da desnutrição, ter o desenvolvimento afetado como um todo. Pessoas que praticam atividade física intensa ou gastam muita energia, como os trabalhadores braçais, atletas, crianças e jovens, necessitam de maior quantidade de carboidratos do que aquelas

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77sedentárias – mesmo que tenham idade, altura e peso idênticos.

Consumo excessivo

O consumo excessivo, principalmente de açúcares simples como “balas”, refrigerantes, doces e biscoitos, pode trazer complicações como o desenvolvimento de cáries dentárias em crianças. A obesidade e o diabetes não são causados pelo consumo elevado de carboidratos simples mas são situações que podem ter menores complicações quando seu uso é mais restrito. As pessoas que sofrem de diabetes e ou precisam ou desejam perder peso geralmente substituem o açúcar de sua alimentação por adoçantes artificiais. Essa substituição, entretanto, deve ser criteriosa pois ainda não se conhecem totalmente os efeitos do consumo desses produtos a longo prazo. Existem muitos substitutos do açúcar, que podem ser naturais ou artificiais, calóricos ou não-calóricos. Adoçantes naturais mais utilizados: a) frutose – calórico. Presente nas frutas, mel e melaço. É também comercializado com o nome de frutose; b) maltose – calórico. Presente no malte, matéria-prima da confecção de cervejas; c) estévia – calórico. É comercializado puro, com o nome de Stévia®, e também associado ao ciclamato e ou sacarina como adoçante industrializado. Adoçantes artificiais mais utilizados: a) aspartame - calórico, mas com alto poder adoçante, motivo pelo qual é aconselhado em dietas de emagrecimento. Não há necessidade de grande quantidade para adoçar, principalmente bebidas. Não deve ser utilizado em altas temperaturas nem por indivíduos portadores de fenilcetonúria. É encontrado nos adoçantes industrializados comercializados com os nomes Finn®, Gold®, Zero Cal® (pó), dentre outros. b) ciclamatos e sacarina – não-calóricos. Encontrados em adoçantes industrializados comercializados com os nomes Doce Menor®, Dietil®, Zero Cal® (líquido), Assugrin®, dentre outros. Segundo a American Diabetes Association7, todos os adoçantes podem ser usados pelos diabéticos, inclusive por mulheres grávidas (com pequena restrição ao uso da sacarina, que pode ser repassada à placenta). Fenilcetonúria é uma doença de origem genética. Seu portador apresenta deficiência da enzima, responsável pelo metabolismo do aminoácido fenilalanina. Essa deficiência tem relação direta com o desenvolvimento mental.

LIPÍDIOS Os lipídios são substâncias que, em temperatura ambiente, não se misturam à água e podem ser líquidos (óleos) ou sólidos (gorduras). Os óleos são de origem vegetal - como o óleo de soja, girassol, canola, milho e azeite de oliva; as gorduras, de origem animal - como a gordura da carne, a banha de porco e o colesterol do ovo. A maioria das gorduras dos alimentos de origem animal é saturada (podem aumentar os níveis de colesterol no sangue); e a maioria dos óleos de origem vegetal e de peixes é insaturada (podem ajudar a baixar os níveis de colesterol no sangue). As exceções são o óleo de coco, o dendê e o chocolate, que contêm grande quantidade de gorduras saturadas.

Funções dos lipídios no organismo – fornecer maior quantidade de energia por grama; – transportar as vitaminas A, D, E e K; – dar mais sabor aos alimentos; – fornecer ácidos graxos essenciais; – participar da síntese de hormônios e da formação da membrana celular.

Digestão, absorção e utilização dos lipídios A digestão dos lipídios inicia-se no intestino delgado. Ao chegarem ao duodeno, entram em contato com as substâncias que promovem sua digestão. Os lipídios são absorvidos no jejuno e transportados, ligados às proteínas, à corrente sangüínea. Parte deles destina-se à produção de energia; outras, são captadas pelo fígado e ou depositadas em forma de gordura corporal.

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78 Necessidades humanas

O consumo de lipídios não necessariamente precisa ser grande, mas deve estar presente na alimentação, todos os dias, principalmente os de origem vegetal.

Fontes – Alimentos ricos em lipídios saturados – carnes (de modo geral), pele de frango, queijo, requeijão, manteiga, leite integral, óleo de coco, ovo, chocolate, fígado, miolo de boi, crustáceos e alguns peixes (tainha, bagre, arenque); – Alimentos ricos em lipídios insaturados - óleo de canola, abacate, azeite de oliva, óleo de peixe, azeitona preta, alguns peixes (sardinha, pescado, robalo), óleo de soja, óleo de milho, óleo de algodão, nozes, germe de trigo; – Alimentos ricos em colesterol - somente os de origem animal, como ovos, carnes, frutos do mar, miolo, fígado, moela, leite integral.

Deficiência de lipídios A deficiência de lipídios essenciais pode ocasionar dermatite, mau funcionamento da retina e afetar o desenvolvimento cerebral em bebês. Dietas pobres em lipídios podem causar doenças carenciais por ausência das vitaminas A, D, E e K, que deixam de ser transportadas, além de ocasionar emagrecimento em proporções exageradas.

Excesso de lipídios O consumo de grande quantidade de lipídios, principalmente os contidos nas carnes, pele de galinha e manteiga, pode causar sérias conseqüências no sistema cardiovascular, como entupimento das artérias (aterosclerose), aumento do colesterol, derrame e obesidade.

VITAMINAS As vitaminas são substâncias orgânicas essenciais, necessárias em pequenas quantidades diariamente, para que o organismo desempenhe bem suas funções. Podem estar ligadas às gorduras, como as vitaminas A, D, E e K, ou não, como as vitaminas do complexo B e a vitamina C. As vitaminas do complexo B e a vitamina C não são armazenadas no organismo e o seu excesso é eliminado pela urina – o que ocorre mais facilmente quando a temperatura aumenta e ou na presença de luz, ar e umidade. As vitaminas A, D, E e K podem ser armazenadas no organismo quando consumidas em quantidade maior que a necessária. Não se perdem com tanta facilidade quando passam por processos de cocção.

Funções, principais fontes, deficiência e excesso das vitaminas As vitaminas, com uma ou mais funções no organismo, têm papel fundamental na utilização de carboidratos, proteínas e lipídios, ajudando nas reações bioquímicas. A vitamina A, por exemplo, desempenha importante função na visão, crescimento e imunidade. Vejamos as principais fontes e funções das vitaminas e o que pode ocorrer quando de seu consumo inadequado:

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Os alimentos ricos em vitaminas C e E, associados com a vitamina A, podem proteger o organismo de muitos tipos de câncer e doenças do coração. Servem como antioxidantes naturais e combatem as substâncias químicas adquiridas no meio ambiente, pela fumaça do cigarro ou poluição do ar, ou formadas pelo próprio organismo.

MINERAIS

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80São substâncias inorgânicas, necessárias ao organismo, que ajudam as reações bioquímicas, participam de

estruturas do corpo (hemoglobina do sangue, ossos e outros) e auxiliam o equilíbrio da água no corpo. Assim como precisa das vitaminas, o organismo também necessita diariamente de pequenas quantidades de diversos minerais. O quadro a seguir mostra as principais funções e fontes de alguns minerais e as conseqüências de seu consumo inadequado.

ÁGUA

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81Apesar de não contribuir para o valor nutricional dos alimentos, é uma das substâncias essenciais à vida, pois constitue 70% da massa corporal e está envolvida em todos os processos orgânicos.

Funções da água – servir como meio de transporte e de reação dos componentes orgânicos; – transportar nutrientes e gases; – eliminar secreções pela urina e fezes; – participar do equilíbrio de eletrólitos; – compor fluidos que lubrificam as articulações; – participar da regulação térmica.

Necessidades de água Normalmente, 2,5 litros de água diários são necessários para os indivíduos adultos que levam vida sedentária e vivem em condições de pequenas variações normais de temperatura ambiente. Essa quantidade pode variar dependendo da composição da alimentação, quantidade de refeições, temperatura externa, umidade e grau de participação em atividades físicas.

Fontes de água – alimentos sólidos; – líquidos, de um modo geral; – quebra dos lipídios, carboidratos e proteínas. Geralmente, as frutas, legumes e verduras apresentam grande quantidade de água; a manteiga, óleos, carnes, chocolates e biscoitos têm pequena quantidade. Sem a água, o ser humano não sobrevive por muitos dias. Veja o percentual de água constante em alguns alimentos: Alimentos % de água Açúcar 1 Alface 95 Batata 80 Bombom 8 Brócolis 90 Carne de boi 66 Carne de frango 64 Gelatina 12 Laranja 86 Leite de vaca 88 Manteiga 20 Melancia 91 Óleo 0 Ovo 75 Pão 36 Pêra 84 CLASSIFICAÇÃO DOS ALIMENTOS QUANTO À SUA FUNÇÃO NO ORGANISMO

Os alimentos ricos em proteínas são denominados construtores; os ricos em carboidratos e lipídios, energéticos; os ricos em vitaminas e minerais, reguladores. Assim, temos o seguinte quadro de classificação dos alimentos: – construtores: carnes, ovos, leite e derivados, leguminosas (feijão, soja, lentilha, grão-de-bico); – energéticos: pão, macarrão, arroz, batata, mandioca, açúcar, óleo, manteiga, margarina, azeite; – reguladores: frutas e hortaliças (legumes e verduras). Embora as leguminosas e o leite sejam ricos em proteínas, também contêm carboidratos e lipídios. Algumas frutas contêm lipídios e algumas hortaliças grande quantidade de carboidratos, além de fornecerem energia ao organismo - a batata, por exemplo.

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82A idéia de que apenas os alimentos energéticos fornecem energia não é verdadeira, pois alguns alimentos

classificados como reguladores podem fornecer energia na forma de calorias - o abacate e o açaí são representativos. Os alimentos reguladores podem ser divididos de acordo com a quantidade de energia que fornecem, o que veremos a seguir. Quantidade de energia

Exemplos

Frutas Hortaliças

Pequena

Laranja, tangerina (mexerica), limão, maracujá, melão, abacaxi, ameixa, melancia, jambo, uva, acerola, siriguela e pitanga.

Tomate, couve, couve-flor, pimentão, cebola, repolho, pepino, alface, rúcula, brócolis, almeirão,

chicória, couve-flor, taioba e agrião.

Média

Mamão, pêra, maçã, goiaba e

carambola.

Abóbora, cenoura, beringela,

beterraba, chuchu, quiabo, jiló, maxixe, vagem, ervilha e abobrinha.

Grande

Banana, caqui, manga, abacate, açaí e

jaca.

Batata, mandioca, batata-doce, cará,

batata-baroa e inhame.

Após termos conhecido todos os nutrientes, suas principais funções, fontes e conseqüências de ingestão inadequada, podemos concluir que: – Caso a alimentação seja monótona e ou repetitiva ao longo de um período, o organismo não receberá todos os nutrientes necessários ao seu crescimento e manutenção, podendo, dessa forma, apresentar algum sinal de carência nutricional ou doença; – O homem necessita de quantidades adequadas de proteínas, carboidratos e lipídios, pois eles fornecem a energia necessária para as funções do organismo e atividades físicas diárias. Apesar de a proteína também fornecer energia, sua principal função é o crescimento e manutenção de tecidos; – Praticamente todos os alimentos fornecem energia; uns, grandes quantidades, caso do torresmo; outros, pequenas quantidades, caso do tomate; – As vitaminas e os minerais não fornecem energia, mas são fundamentais para o efetivo funcionamento do organismo. Necessitamos apenas de pequenas quantidades diárias, pois essas substâncias têm como função regular os processos orgânicos; – Uma alimentação adequada fornece todos os nutrientes necessários à manutenção, restauração e crescimento dos tecidos. No entanto, a necessidade de nutrientes e alimentos varia de pessoa para pessoa, de acordo com o sexo, altura, peso, idade e clima. As necessidades de um bebê são diferentes das de um adulto, assim como as de um adolescente são diferentes das de uma mulher de 40 anos. Os indivíduos sadios devem manter o equilíbrio entre o que comem e o que gastam. Pessoas que comem pouco e não se movimentam (gastam pouca energia) podem ter uma alimentação deficiente em vitaminas e minerais, ficando passíveis de apresentar algum problema nutricional. Por outro lado, as que consomem alimentos de forma exagerada e não gastam muita energia podem apresentar excesso de peso. Vários países têm desenvolvido propostas de recomendação para a prática de uma alimentação saudável, como a da “Pirâmide de Alimentos”, recomendada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos - proposta que substitui a apresentada na “Roda de Alimentos” e nos “Quatro Grupos de Alimentos”, exemplificações bastante conhecidas pelos profissionais de saúde brasileiros. A “Pirâmide de Alimentos” é um instrumento visual simples e prático, cuja observação possibilita a imediata identificação dos grupos alimentares. A intenção é proporcionar à população em geral um guia prático e útil para indivíduos saudáveis maiores de 2 anos, como pode ser observado a seguir:

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No Brasil, a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN) publicou, em 1990, as “Recomendações Nutricionais Adaptadas à População Brasileira”. A atual proposta de escolha de alimentos para uma dieta saudável baseia-se nas seguintes recomendações: a) Coma diversos tipos de alimentos em pelo menos três refeições diárias: café da manhã, almoço e jantar É importante alimentar-se com variedade, pois cada alimento fornece diferentes nutrientes e todos devem estar à disposição do nosso organismo diariamente. Uma alimentação apenas baseada em carne e verdura, por exemplo, não fornece todas as substâncias necessárias. Tomar apenas um cafezinho como a primeira refeição (café da manhã) também não é uma boa opção. b) Utilize o arroz, feijão, farinha, pão e leite como base das refeições É importante variar os alimentos. Combinar arroz com feijão é uma boa escolha para atingir as recomendações de energia, proteína, alguns minerais, vitaminas e fibras. Outra, é beber leite, pois ele contém proteínas, carboidratos, lipídios, algumas vitaminas e minerais como o cálcio, importante para a prevenção da osteoporose. c) Coma sempre frutas e verduras Conforme dissemos, as frutas e verduras possuem minerais e vitaminas. Considerando-se que podem ser obtidas com relativa facilidade, devem integrar a alimentação diária. Para que adotem e cresçam com esse hábito, as crianças devem ser estimuladas a consumi-las sempre, pois na vida adulta também é fundamental o consumo dos nutrientes que propiciam. Caso seja possível, deve-se estimular a realização de hortas caseiras e comunitárias. d) Utilize carnes, sal e açúcar em quantidades moderadas Apesar da idéia de que uma alimentação adequada é a que contém grande quantidade de carne, não é necessário comê-la diariamente. Podemos obter proteínas de outras fontes, pois a carne possui grande quantidade de gordura saturada e o seu consumo elevado pode provocar complicações cardiovasculares. O sal deve ser sempre utilizado com moderação. Muitos alimentos possuem sal naturalmente, mas nos industrializados essa quantidade pode aumentar consideravelmente. Assim, deve-se estimular o uso de outros temperos naturais, pobres em sal. Doenças atuais, como a hipertensão arterial e o diabetes, podem ser controladas com a simples diminuição do sal, cujo uso deve ser desestimulado à mesa. O açúcar de adição também deve ter uso controlado, principalmente por fornecer calorias vazias e possibilitar o aparecimento de cáries quando utilizado entre as refeições e sem a realização de higiene oral adequada.

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84e) Utilize óleo vegetal no preparo da comida e diminua o consumo de gorduras animais

Os óleos de origem vegetal, como os de soja, milho, canola, dentre outros, devem ser utilizados no preparo dos alimentos porque fornecem energia, ácidos graxos poliinsaturados e vitaminas. As frituras, no entanto, devem ter menor freqüência na alimentação. Com relação às carnes e ao frango, é importante retirar toda a gordura visível pois a mesma prejudica a saúde e contribui para o aumento do colesterol sangüíneo. f) Tome, diariamente, bastante água O consumo de água é fundamental para o ser humano, devendo ser estimulado. Recomenda-se a ingestão freqüente de sucos de frutas naturais, os quais fornecem, além da água, outros nutrientes essenciais. g) Prepare a alimentação com bastante higiene Deve-se sempre manter os cuidados com a higiene quando da manipulação de alimentos, visando à prevenção de doenças. Além de evitar desperdícios, esses cuidados mantêm a saúde. h) Mantenha o seu peso controlando a ingestão de alimentos e fazendo exercícios físicos É importante o controle periódico do peso para melhor avaliação do consumo de alimentos. Nas crianças, o acompanhamento do ganho de peso deve ser feito com instrumentos adequados. Nos adultos, deve ser mantido mais ou menos constante. A atividade física é fundamental para a estabilidade do peso. i) Faça das refeições um encontro agradável Sempre que possível, procure realizar suas refeições em ambiente agradável e calmo. A vida moderna e a falta de tempo prejudicam a boa alimentação. Apesar de práticas, as refeições rápidas não propiciam uma alimentação adequada em todos os aspectos. Por isso, destinar um determinado tempo para realizar suas refeições ou compartilhá-las com familiares e amigos é um hábito sempre saudável. Além disso, valorize a comida tradicional. j) Coma melhor e gaste menos Nem sempre uma alimentação cara é a mais adequada. Procure sempre comprar os alimentos da época, que são mais baratos, e conhecer as combinações mais adequadas para crianças e adultos.

HIGIENE E CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS

Apesar de os alimentos conduzirem os nutrientes essenciais ao funcionamento do organismo, eles podem tornar-se prejudiciais à saúde quando infectados por microrganismos patogênicos - por higienização, manipulação ou conservação inadequada -, por conterem substâncias tóxicas ou por terem sido manipulados por pessoas portadoras de doenças infecto-contagiosas. Além dessas circunstâncias, alguns alimentos podem conter substâncias químicas em excesso, como os corantes e inseticidas utilizados nas plantações. Com a evolução da microbiologia, podemos hoje identificar e classificar os microrganismos de acordo com a interação existente entre eles e o alimento - embora, muitas vezes, torne-se difícil definir a que categoria pertencem, pois podem apresentar atividades diferentes em diferentes alimentos. Entre os microrganismos de interesse na área de alimentos, destacam-se os fungos, as bactérias, os vírus, os protozoários e seus respectivos produtos tóxicos.

CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS DE ACORDO COM SUA INTERAÇÃO COM OS ALIMENTOS

a) Microrganismos causadores de reações químicas prejudiciais aos alimentos - utilizam o alimento como fonte de energia, provocando alterações de cor, sabor, textura e aspecto; b) Microrganismos patogênicos - apresentam risco à saúde, provocando doenças muitas vezes fatais; c) Microrganismos causadores de alterações benéficas no alimento – são amplamente utilizados na fabricação de alimentos fermentados, como queijos, vinhos, cervejas e pães. FONTES DE CONTAMINAÇÃO Embora saibamos que a maioria dos microrganismos pode ser encontrada no ar, as principais fontes de contaminação dos alimentos estão no solo, na água, em utensílios usados no preparo, distribuição e armazenamento de alimentos e em manipuladores de alimentos. A lista a seguir explicita os principais microrganismos e as características de sua contaminação nos alimentos:

Staphylococcus aureus Período de incubação - de uma a seis horas; Fonte - nariz, boca, pele e mãos; Contaminação - manipulação inadequada dos alimentos; Alimentos envolvidos - carnes cozidas, produtos lácteos, cremes e recheios doces ou salgados; Quadro clínico - vômitos, náuseas, diarréias e prostração.

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Bacillus cereus Período de incubação - de 8 a 22 horas (forma diarréica); Fonte - solo, cereais e grãos, farinhas e hortaliças; Contaminação - principalmente por vegetais, caixas de transporte e exposição a pó; Alimentos envolvidos - arroz, feijão e outros cereais, vegetais cozidos, pudins, cremes de amido, sopas de vegetais e massas secas; Quadro clínico - náuseas e vômitos.

Clostridium botulinum Período de incubação - de 12 a 72 horas; Fonte - solo, vegetais, frutas e peixes; Contaminação - manipulação e industrialização inadequadas; Alimentos envolvidos - conservas e enlatados em geral, carnes cozidas, patês e maionese; Quadro clínico - distúrbio gastrintestinal, visão dupla, dificuldade para falar ou engolir, paralisia.

Clostridium perfringens Período de incubação - de 8 a 22 horas; Fonte - solo, fezes e hortaliças; Contaminação - transporte e manipulação de carnes e aves; Alimentos envolvidos - carnes mal cozidas, legumes cozidos e massas; Quadro clínico - cólica, diarréia e dores abdominais intensas.

Escherichia coli Período de incubação - de 5 a 48 horas; Fonte - fezes, água; Contaminação - manipulação e preparo de alimentos; Alimentos envolvidos - hortaliças, carnes mal cozidas, saladas, massas frescas, alimentos manipulados; Quadro clínico - diarréia sanguinolenta, vômitos, cólicas, febre na dependência da ingestão de toxinas ou do agente.

Shigella Período de incubação - de 12 a 72 horas; Fonte – fezes e água; Contaminação - falta de higiene pessoal e sanitária; Alimentos envolvidos - vegetais crus e leites crus; Quadro clínico - diarréia com muco e sangue, cólica e malestar.

Salmonella Período de incubação - de 12 a 36 horas; Fonte - fezes e água; Contaminação - manipulação dos alimentos; Alimentos envolvidos - leites crus, vegetais crus, ovos e mariscos; Quadro clínico - diarréia, febre, dores abdominais e vômitos.

COMO PRESERVAR E CONSERVAR OS ALIMENTOS?

Para melhor preservação e conservação dos alimentos, visando evitar a ocorrência de toxinfecções alimentares, devem ser efetuados hábitos higiênicos pessoais e gerais, bem como cuidados na manipulação, preparo, armazenamento e compra de alimentos, como, por exemplo:

- Lavar bem as mãos antes de manipular alimentos ou ingeri-los; - Lavar bem os utensílios e equipamentos de cozinha; - Impedir o contato de alimentos estragados com os em bom estado de conservação; - Manter os alimentos cobertos, protegendo-os contra poeira, moscas e outros insetos; - Não misturar alimentos frescos com os mais antigos; - Não misturar alimentos crus com os cozidos; - Ao consumir frutas com casca e vegetais crus, utilizar solução sanitizante para higienizá-los; - Não comprar e ou consumir alimentos se houver dúvida quanto à sua procedência ou conservação, principalmente alimentos sem carimbo da vigilância sanitária; - Não comprar produtos industrializados cuja embalagem esteja enferrujada, estufada ou defeituosa; - Observar sempre, na hora da compra e do consumo, a data de validade dos produtos industrializados;

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86- Sempre que possível, conservar os alimentos perecíveis em ambiente refrigerado ou consumi-los

imediatamente após o preparo, evitando seu reaproveitamento; - Não congelar alimentos após já os ter descongelado, mesmo que não tenham sido consumidos; - Sempre utilizar água tratada ou fervida, tanto para consumo como para o preparo dos alimentos.

Toxinfecção alimentar - doença causada pela ingestão de alimentos contaminados por microrganismos patogênicos. Solução sanitizante - solução capaz de higienizar e desinfetar os alimentos.

Alimentos perecíveis - são os que apresentam características físicas e químicas de fácil deterioração. Exemplo: frutas, carnes, aves, hortaliças e queijos. COMO PREPARAR E UTILIZAR A SOLUÇÃO SANITIZANTE?

Concentração de hipoclorito de sódio

Água para beber

(2,5ppm por 30 min)

Vegetais

(200 ppm por 15min)

Utensílios

(200 ppm por 2 min)

1,0%

2,0%

2,5%

4,0% (pó) 10,0%

05 gotas

03 gotas

02 gotas

— 01 gota

2 colheres de sopa

1 colher de sopa 1 colher de sopa

1 colher de chá (5g) 1 colher de café

Ressalte-se que outras soluções também podem ser utilizadas para este fim, como o vinagre e a água sanitária. No caso do vinagre, utilizar a diluição de uma colher de sopa para 1 litro de água por, no mínimo, 30 minutos; na água sanitária, considerar a concentração de hipoclorito de sódio existente (utilizar a mesma proporção constante no quadro acima). Sabemos o que é necessário para se ter uma boa alimentação. Entretanto, muitas pessoas não podem comprar todos os alimentos de que precisam, ou preferem ter uma alimentação diferente – caso das alternativas alimentares, ou seja, outras formas de alimentação, tais como: - alimentação vegetariana: as pessoas só consomem alimentos de origem vegetal; - alimentação macrobiótica: as pessoas têm um estilo de vida diferente e acreditam que uma alimentação à base de cereais integrais, como o arroz e o trigo, sem alimentos de origem animal, é a ideal; - alimentação natural: as pessoas alimentam-se de produtos mais naturais, produzidos sem agrotóxicos e pesticidas; e de alimentos de origem animal, como o ovo, leite e carnes brancas; - alimentação ovolacto-vegetariana: as pessoas não consomem carnes, somente alimentos de origem vegetal, ovos e leite; - alimentação enriquecida: todos os alimentos são utilizados, porém a alimentação é enriquecida com folhas, talos, sementes de hortaliças, casca de ovo e outras partes dos alimentos normalmente desprezadas mas ricas em vitaminas e minerais - esse complemento alimentar (multi mistura), na forma de pó, é bastante utilizado pela Pastoral da Criança, que relata ter alcançado resultados positivos na recuperação de crianças desnutridas quando da associação desse complemento a outros cuidados gerais de saúde.

NUTRIÇÃO NOS DIFERENTES CICLOS DA VIDA Há muito, os pesquisadores estudam quais alimentos são necessários ao consumo e em que quantidade devem ser consumidos.Porém, nem todos os alimentos apresentam especificações ao uso por faixa etária. Devemos sempre estar atentos às mensagens veiculadas pelos meios de comunicação e às propagandas das indústrias de alimentos, cujo interesse é vender cada vez mais. Algumas vezes, deparamo-nos com informações incorretas ou parciais, que não esclarecem nossas dúvidas - por exemplo, o conteúdo de colesterol nos alimentos. Apesar de os de origem vegetal não possuírem tal substância, as empresas tentam vender a idéia de que determinado óleo não tem colesterol, sugerindo, assim, que outras marcas o têm. NUTRIÇÃO NA GESTAÇÃO

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87Atualmente, sabemos que a alimentação da gestante é fundamental tanto para sua própria saúde quanto para a da criança. Nessa fase, uma alimentação inadequada pode provocar o nascimento de bebês com baixo peso, retardo no desenvolvimento mental, prematuridade e, até mesmo, levar à morte. Entretanto, muitos pessoas ainda acreditam que a gestante precisa “comer por dois”, ou que tudo o que a criança precisa é retirado da mãe, independentemente de sua dieta. Outras, acreditam que as substâncias necessárias ao feto estão presentes nos alimentos desejados pela mãe, que os consome instintivamente. A inverdade dessas teorias tem sido amplamente comprovada por estudos que mostram o quanto a assistência pré-natal pode influenciar positivamente o desenvolvimento da gravidez. Os programas de orientação pré-natal destacam, prioritariamente, que: – o ganho de peso ideal depende do estado nutricional anterior à gravidez, isto é, mulheres com pouco peso necessitariam ganhar mais peso que mulheres com sobrepeso ou obesidade; – a necessidade de consumo de proteínas de alto valor biológico - minerais e vitaminas - é maior para a gestante que para a não-gestante; – a orientação nutricional deve ser individualizada pois, dependendo da fase em que ocorre a gravidez, cada mulher tem necessidades diferentes. É evidente que a saúde, o estado nutricional e os hábitos alimentares da mulher irão se refletir quando da gravidez. Por isso, a equipe de saúde deve estar atenta às diferentes situações encontradas. NUTRIÇÃO NA LACTAÇÃO Essa fase é de extrema importância para a mulher e a criança. A amamentação é um processo natural, mas nem todas as mulheres o sentem da mesma forma. Durante a amamentação a mulher precisa alimentar-se adequadamente pois seu gasto de energia e perda de outros nutrientes é alto, principalmente proteínas, vitamina D, flúor, cálcio, zinco e ferro. A média de leite produzido durante os seis meses de lactação é de 750ml/dia e o gasto energético situa-se em torno de 640 Kcal, o que pode representar um acréscimo em sua ingestão calórica diária, caso necessário. Na gestação, o ganho de peso também relaciona-se com a reserva feita pelo organismo para suprir suas necessidades energéticas durante a produção do leite materno. Caso a gestante tenha um aumento de peso adequado (em torno de 11kg), necessitará aumentar sua ingestão calórica - em média, 500Kcal/dia - para manter uma amamentação plena - em alguns casos, requerá um atendimento nutricional individualizado, pois o baixo peso pode vir a comprometer o volume de leite produzido. Ao contrário do que muitos acreditam, a qualidade ou composição do leite materno não é prejudicada pelo estado nutricional da gestante. No entanto, a quantidade de leite por ela produzido altera-se caso não ingira a quantidade ideal de água e outros líquidos como sucos de frutas naturais e leite. O ritual da amamentação tem diferentes dimensões na vida da mulher, sendo influenciado por crenças e tabus. Um deles é o de que a cerveja preta e a canjica aumentam a produção de leite materno. De fato, a canjica, como outros alimentos com idêntica composição nutricional, é um preparo com alto valor calórico e protéico, pois é basicamente composta por leite, milho e açúcar - na realidade, um aporte adequado para quem está amamentando. A cerveja preta ou qualquer outra bebida alcoólica não deve ser utilizada na amamentação pois o álcool nelas contido passa para o leite, prejudicando a saúde do bebê. Sabemos, igualmente, que algumas substâncias contidas em medicamentos, ingeridas pela mãe, também podem ser repassadas para o leite. Portanto, nada de álcool e drogas! – caso haja a necessidade de medicamentos, estes devem ser indicados por orientação médica. Considerando tais fatos, cabe-nos, como profissionais de saúde, estimular a amamentação e informar os seus benefícios, bem como advertir sobre a utilização de substâncias contra-indicadas nesse período. Com relação ao consumo de chocolate, alho, cebola e outros condimentos picantes, não há comprovação científica de que provoquem cólicas intestinais nos bebês. Basicamente, as necessidades da mulher que amamenta são: – um ambiente tranqüilo para amamentar; – uma alimentação equilibrada; – maior ingestão de líquidos e água. Além disso, sua alimentação não necessariamente precisa ser diferente da consumida pelas demais pessoas. Contudo, deve ser acrescida de vitaminas e minerais, como frutas e hortaliças, e de fontes protéicas de boa qualidade, como o leite e carnes vermelhas magras - que suprirão suas necessidades de maior complementação de cálcio e ferro. Paralelamente, deve evitar consumir grandes quantidades de calorias vazias, bem como ficar longos períodos sem alimentar-se ou fazer dietas com muitas restrições alimentares - sem a orientação de profissional especializado. NUTRIÇÃO NA INFÂNCIA

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88Uma adequada nutrição na infância é fundamental para o crescimento e desenvolvimento da criança,

prevenindo concomitantemente várias doenças na fase adulta. O alimento ideal para o bebê até os 4 ou 6 primeiros meses de vida é o leite materno, que contém os nutrientes para o seu crescimento adequado. Abaixo, listamos alguns nutrientes que integram sua composição química: Nutrientes Quantidades em 100mls Proteínas 1,1g Carboidratos 7,0g Lipídios 4,5g Cálcio 34 mg Fósforo 14 mg Sódio 0,7 mEq Potássio 1,3 mEq Zinco 0,12 mg Ferro 0,05 mg Vitamina C 5 mg Vitamina D 2,2 UI Vitamina A 0,18 UI Energia 70Kcal No tocante à constituição, o leite materno contém: – proteínas de alto valor biológico; – carboidratos e lipídios essenciais; – vitaminas e minerais em quantidade adequada; – anticorpos. Popularmente, fala-se de mulheres que têm “leite fraco”; contudo, isso não passa de fantasia, haja vista que ele não perde sua eficácia mesmo que a mãe não se alimente adequadamente. Além de superior aos demais, o leite materno é rico em anticorpos que protegem o bebê contra infecções. Ressalte-se o fato de que pode ser o único alimento fornecido à criança até o sexto mês de vida. Apenas nos casos em que a mãe não deseje ou não possa amamentar, deve-se utilizar o leite de vaca ou cabra. A partir do sexto mês, é fundamental introduzir novos alimentos ao bebê (papinhas, sopinhas, frutas raladas e ou amassadas, por exemplo), mesmo que ainda mame - isto o colocará numa nova etapa alimentar e lhe possibilitará melhor crescimento. Esta adaptação gradual é importante para que, ao final do primeiro ano de vida, a criança tenha experimentado grande variedade de alimentos. A alimentação nas fases subseqüentes deve considerar o processo de crescimento e os fatores que o influenciam. Se a criança não receber uma alimentação adequada não desenvolverá todo o seu potencial genético. Vale destacar que os sete primeiros anos de vida são decisivos para a formação dos hábitos alimentares saudáveis. Estímulos externos à família - como escola, contato com outras crianças e meios de comunicação - podem influenciar bastante a seleção e aceitação da alimentação. A partir dessa idade, as crianças começam a perceber – de forma limitada, evidentemente - que os alimentos nutritivos têm efeito positivo no crescimento e saúde. Nessa fase, a escola tem papel significativo na formação alimentar, seja de maneira benéfica, orientando sobre o assunto e oferecendo alimentos saudáveis, seja de modo danoso, pela oferta inadequada da alimentação. A merenda escolar oferecida nas escolas públicas objetiva melhorar e ou manter hábitos alimentares saudáveis, além de oferecer uma complementação alimentar. Por outro lado, escolas que mantêm cantinas cujos alimentos são industrializados e de calorias vazias não oferecem opções saudáveis para as crianças em idade escolar. O cartão de crescimento e desenvolvimento fornecido às mães serve como parâmetro de avaliação da alimentação recebida pelo bebê. Mensalmente, o profissional de saúde pesa e avalia sua evolução. Caso a criança não ganhe peso suficiente ou mantenha o mesmo peso do mês anterior, isto indica que algo está errado: ela pode não estar sendo adequadamente alimentada - em termos de quantidade e qualidade - ou tem alguma doença.

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89Até os sete anos de idade, a alimentação é um dos fatores determinantes do crescimento. NUTRIÇÃO NA ADOLESCÊNCIA A adolescência é uma fase de intensas transformações. Nela, o crescimento e a alimentação aliam-se e integram o processo de desenvolvimento integral da criança. A alimentação do adolescente é fortemente influenciada pela convivência com os outros adolescentes e, geralmente, as hortaliças e frutas são excluídas de sua alimentação - momento em que podem ocorrer conflitos nas escolhas alimentares. Entretanto, como já compreendem o conceito de nutriente, a questão resume-se entre escolher alimentos nutritivos ou consumir os seus preferidos – não-nutritivos, mas com forte influência e aceitação por seu grupo de amizades. Conforme adquire mais idade, aumentam as chances de o adolescente alimentar-se fora de casa – em geral, de forma inadequada. Apesar disso, suas famílias devem continuar a oferecer-lhe refeições saudáveis e apoiar os esforços de educação nutricional das escolas pois é exatamente nesta fase que o corpo requer maior quantidade de vitaminas e minerais. Numa adolescência saudável, a alimentação é um meio de prevenção de muitas doenças na vida adulta. NUTRIÇÃO NO ENVELHECIMENTO O envelhecimento é um processo natural que inicia-se na concepção e finda com a morte. Vários fatores interferem em sua velocidade, haja vista que o organismo vai aos poucos deixando de funcionar como antes. Nessa fase, a digestão e o aproveitamento dos nutrientes já não é tão eficiente – daí a importância de uma alimentação saudável durante toda a vida, pois isto interfere nesse processo degenerativo. Uma pessoa que manteve alimentação rica em lipídios saturados e açúcares simples apresenta maiores probabilidades de acelerar o surgimento de doenças crônicas, como as cardiovasculares e o Diabetes mellitus. Por sua vez, o uso de vitaminas pode ajudar na prevenção de doenças, mas não de forma isolada - muitos acreditam que o maior consumo dessas substâncias possa, por si só, deter ou adiar o envelhecimento.Uma alimentação equilibrada e a adoção de melhores hábitos de vida deveria ser a meta dos adultos que desejam viver mais e livres - por maior tempo - das doenças crônicas. Com o decorrer dos anos, variando de indivíduo para indivíduo, os órgãos dos sentidos tendem a ter sua atividade reduzida: há diminuição do olfato, visão, paladar, tato e audição, o que pode vir a afetar o processo nutricional do idoso. Os sistemas cardiovascular e renal podem apresentar alterações, exigindo que o idoso faça uma dieta mais restrita, porém rica em vitaminas e minerais. É sempre aconselhável a ingestão de frutas ricas em potássio e, principalmente, a redução do sal de adição. Essa situação é crítica pois são tantas as modificações orgânicas e restrições que muitos idosos perdem o prazer e a vontade de alimentar-se e, por vezes, passam a precisar de cuidados especiais. Além disso, a perda dos dentes pode atrapalhar a mastigação, provocando uma natural diminuição no consumo de alimentos ricos em fibras - casos em que a constipação pode agravar-se. Nessa fase, a desnutrição pode ser um dos problemas; portanto, os profissionais de saúde devem atentar para essa eventualidade.

A ALIMENTAÇÃO E O CUIDADO NUTRICIONAL COMO FORMAS DE TERAPIA NÃO MEDICAMENTOSA

Os alimentos podem auxiliar sobremaneira a recuperação da saúde, sendo, em alguns casos, a única opção de tratamento de algumas doenças. A terapia que os utiliza como complemento ou única forma de tratamento é chamada dietoterapia.

O CUIDADO NUTRICIONAL Compete aos profissionais das unidades de saúde a avaliação e identificação do estado nutricional de seus clientes. Para tanto, faz-se necessário adotar certos cuidados que dependerão da presença da doença (ou de alguma doença potencial), ambiente e estado de crescimento e desenvolvimento do indivíduo. Muitas são as etapas que compõem o cuidado nutricional. A seguir, citamos as cinco fundamentais, ressalvando que algumas são específicas do nutricionista mas todas envolvem o conhecimento e participação de uma equipe multiprofissional que tem por objetivo restabelecer a saúde das pessoas.

1. Avaliar o estado nutricional do indivíduo de acordo com as recomendações relativas à sua faixa etária, utilizando os seguintes parâmetros: – antropométricos (peso, comprimento/altura, circunferências, dentre outros);

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90– bioquímicos (sangue, urina, fezes);

– clínicos (sinais e sintomas de carências nutricionais); – dietéticos (avaliação da alimentação com base em realização de entrevista sobre hábitos, alimentos ingeridos, preferências, aversões e alergias alimentares); 2. Identificar as necessidades ou os problemas nutricionais - os resultados da etapa anterior possibilitam identificar os problemas de saúde relacionados à alimentação;

3. Planejar e priorizar os objetivos do cuidado nutricional - compete ao nutricionista traçar um plano com dieta individualizada e orientação quanto ao cuidado e maneiras corretas de preparo dos alimentos, bem como possíveis modificações no padrão alimentar;

4. Executar as atividades nutricionais necessárias para atingir os objetivos - nessa etapa, toda a equipe de saúde deverá envolver- se com vistas ao desenvolvimento das atividades pertinentes ao sucesso do cuidado nutricional;

5. Avaliar os resultados do cuidado nutricional - esta fase é fundamental para a manutenção ou não do tratamento proposto.Com base na avaliação freqüente e no monitoramento dos parâmetros nutricionais anteriormente mencionados, serão efetuadas modificações e adequações necessárias. O cuidado nutricional de pacientes hospitalizados é bem mais complexo do que o mero fornecimento de refeições. Práticas hospitalares simples podem ser aplicadas com vistas à melhoria do estado nutricional dos mesmos. Muitas delas, abaixo listadas, estão diretamente ligadas às atribuições e responsabilidades do profissional de enfermagem em suas diversas áreas de atuação: – registrar as medidas antropométricas (peso e comprimento/altura) freqüentemente; – conhecer a prescrição da dieta a que o paciente está submetido; – observar a aceitação da dieta pelo paciente, informando ao médico e ou nutricionista responsável as possíveis intercorrências; – observar e informar à equipe de saúde as alterações funcionais relacionadas à alimentação diarréias,vômitos, distensão abdominal); – estimular o paciente e informá-lo acerca da importância de seguir rigorosamente a dieta prescrita; – auxiliar o paciente, se necessário, na administração de suas refeições; – procurar tornar o horário das refeições um momento de prazer para os pacientes; – informar, ao paciente e seus familiares, o funcionamento e as rotinas do serviço de nutrição.

ESTRUTURA PADRÃO DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR Essa estrutura tem por objetivos planejar, confeccionar e distribuir alimentação normal e dietas terapêuticas - sempre que possível, atendendo hábitos e preferências alimentares. Suas áreas de atuação – e respectivos profissionais - são assim distribuídas: – setor de armazenamento – recebe e estoca os alimentos (almoxarife); – setor de produção – confecciona as refeições (cozinheiro e auxiliares de cozinha); – setor de distribuição – distribui as dietas e refeições do refeitório (copeira); – setor de administração – planeja, compra, organiza e supervisiona o funcionamento do serviço (nutricionista); – setor clínico – prescreve, acompanha, orienta e avalia as dietas (nutricionista). Sua clientela é composta pelos pacientes hospitalizados, seus acompanhantes e os profissionais de saúde que estiverem de plantão. As refeições são assim distribuídas: – desjejum, colação, almoço, lanche, jantar e ceia (para os pacientes); – desjejum, almoço e jantar (para os acompanhantes, na dependência das normas de cada instituição); – desjejum, almoço, jantar e ceia (para os profissionais de plantão). Compete ao auxiliar de enfermagem registrar a quantidade da dieta aceita pelo paciente - ajudando-o a alimentar-se caso não consiga fazê-lo sozinho - e observar os horários de prescrição, tipos de administração e estado de conservação dos alimentos fornecidos. TIPOS DE DIETAS OFERECIDAS NOS HOSPITAIS

Dieta normal - balanceada em nutrientes, fornece ao organismo os elementos necessários ao crescimento, reparação dos tecidos e funcionamento normal dos órgãos. Adequada para pessoas cuja patologia não exige nenhuma modificação alimentar;

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91 Dieta especial - apesar de possuir os nutrientes adequados, tem suas características físicas e

químicas modificadas: sabor, temperatura, consistência, via de administração e quantidade de resíduos e nutrientes.

Dieta hiperprotéica - dieta com maior quantidade proteínica. Geralmente, é enriquecida com alimentos ricos em proteína de alto valor biológico (leite, carnes magras, ovos) ou complementos industrializados com composição química definida (clara de ovo em pó, caseinato de cálcio). Indicada para clientes submetidos a grandes traumas ou com algum grau de desnutrição;

Dieta hipoprotéica – dieta com menor quantidade proteínica. Normalmente, apresenta baixa aceitação em vista do hábito alimentar de se consumir grande quantidade de proteína – além do fato de, geralmente, estar associada à restrição de sal. Indicada para clientes com insuficiência renal ou encefalopatia hepática;

Dieta hipocalórica - dieta com menor quantidade calórica. A redução calórica é obtida com a diminuição dos alimentos ricos em carboidratos (principalmente os simples) e ricos em gorduras (essencialmente as de origem animal, ricas em gorduras saturadas). Indicada para o controle e perda de peso corporal e para clientes diabéticos que necessitam perder peso;

Dieta hipossódica - dieta com pouca quantidade de sódio (sal). Nela, reduze-se ou retira-se não apenas o sal de adição mas também os alimentos que possuem grande quantidade de sódio em sua composição ou preparo e conservação, como as carnes vermelhas, embutidos e enlatados, por exemplo. Indicada para clientes com hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, cirrose com ascite, diabetes e insuficiência renal;

Dieta hipolipídica - dieta pobre em lipídios (gordura). A redução de gordura é obtida pela diminuição ou restrição de alimentos gordurosos (principalmente os de origem animal) e gorduras saturadas, principalmente as provenientes de frituras. Indicada no tratamento das dislipidemias, doenças hepáticas, diabetes e doenças de má-absorção; bem como para o controle de peso;

Dieta hipoglicídica - dieta pobre em carboidratos. Normalmente, apresentam valor calórico mais baixo que o normal pois, conforme estudado anteriormente, a melhor fonte calórica provém dos carboidratos. A restrição deve relacionar-se principalmente à ingestão de carboidratos simples. Indicada no controle de peso, tratamento do diabetes e da hipoglicemia;

Hipoglicemia – baixo nível de glicose no sangue. Dieta com controle de potássio - o potássio é largamente distribuído nos alimentos, mas sua maior

fonte são as frutas e vegetais. Portanto, nas dietas de restrição ou de suplementação de potássio, o consumo do grupo de alimentos que contém este nutriente deve ser respectivamente, reduzido ou aumentado. Indicada no tratamento da hipopotassemia decorrente do uso de diuréticos e nos casos de insuficiência cardíaca e ou renal .

Hipopotassemia – baixo nível de potássio no sangue. Dieta para controle da diarréia - além de consistência branda, essa dieta deve conter alimentos

constipantes (batata, arroz, cenoura, chuchu, frango cozido sem gordura, mandioca, maçã, banana prata, goiaba, entre outros) e que não acelerem o trânsito intestinal, como vegetais crus e frutas com casca. Especial atenção deve ser dada ao consumo de líquidos, visando evitar a desidratação;

Dieta para controle da constipação - dieta rica em alimentos laxantes, como os vegetais crus (alface, almeirão, couve, repolho, agrião, tomate) e cozidos (espinafre, abóbora, beterraba, inhame, taioba, brócolis), algumas frutas (laranja com bagaço, mamão, manga, abacate, mexerica) e alimentos ricos em fibras, como pães e cereais integrais, farelo de trigo e aveia. É também importante um maior consumo de água;

- Modificações quanto à via de administração - as dietas podem ser administradas por via oral, nasogástrica, enteral e ou parenteral. As por via nasogástrica e enteral são comumente denominadas dietas de nutrição enteral; as por via parenteral, dietas de nutrição parenteral.

Dieta de nutrição enteral – esse tipo de alimentação é utilizado quando o cliente, apesar de apresentar funções gastrintestinais normais, não tem condições de receber por via oral os nutrientes adequados às suas necessidades. É administrada por sonda, de forma lenta e contínua (gota a gota), ou intermitentemente, por porções ao longo do dia. Por serem diretamente administradas no trato gastrintestinal, as dietas enterais estão propícias a uma contaminação maior do que a oferecida por via oral. Considerando-se tal informação, faz-se necessário adotar os seguintes cuidados:

– sua manipulação e preparo deve ser realizado em áreas específicas; – a dieta enteral não-industrializada deve ser administrada imediatamente após sua manipulação; com relação à industrializada, observar as recomendações do fabricante; – seu transporte deve ser efetuado em recipientes térmicos exclusivos - por, no máximo, duas horas;

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92– quando necessária sua conservação na unidade de enfermagem, mantê-la sob refrigeração em geladeira

exclusiva para medicamentos; – realizar a correta lavagem das mãos tanto ao receber a dieta como antes de administrá-la; – antes de iniciar a administração, confirmar a localização da sonda e sua permeabilidade, bem como o nome do cliente, horário e dose; – devem ser observadas as possíveis complicações decorrentes de sua administração (diarréias, vômitos, distensão abdominal e outras); – na administração de sua forma intermitente (porções ao longo do dia), realizar aspiração gástrica antes de cada “refeição”, visando avaliar seu aproveitamento.

Nutrição parenteral - dieta administrada por via subcutânea (menos utilizada em virtude das limitações relacionadas aos líquidos que podem ser utilizados) ou endovenosa (os nutrientes já estão prontos para utilização pelo organismo). Visando melhor atender às necessidades do cliente, algumas modificações podem ser efetuadas na dieta fornecida ao mesmo:

Modificações quanto ao sabor - a dieta pode ser doce, salgada, mista ou, ainda, de sabor suave ou moderado, intenso ou excitante. Deve-se sempre evitar altas concentrações de açúcares, sal, ácidos e condimentos. Aplicabilidade: nos casos em que o cliente apresente um quadro de anorexia e sua doença não requeira nenhuma restrição alimentar, pode lhe ser oferecida uma dieta com sabor mais intenso, utilizando-se vários tipos de ervas naturais no tempero, de modo a estimular seu apetite;

Modificações quanto à temperatura - dependendo do tipo, a dieta pode ser oferecida em temperatura ambiente, quente, fria ou mesmo gelada. Ressalte-se que os alimentos quentes produzem maior saciedade que os frios. Aplicabilidade: clientes que realizaram cirurgias orofaringeanas devem receber dietas geladas; já a dieta por sonda deve ser administrada em temperatura ambiente. Modificações quanto ao volume - o volume alimentar deve ser oferecido de acordo com a capacidade gástrica do cliente e as necessidades ou restrições correlatas à sua patologia. Aplicabilidade: em clientes submetidos a uma intervenção cirúrgica no estômago, como a gastrectomia subtotal, por exemplo, a dieta deve ser iniciada com volume reduzido, gradativamente aumentado com o decorrer dos dias; Modificações quanto à consistência - a dieta pode ter consistência normal, branda, pastosa, semilíquida (líquido-pastosa) e líquida, das quais falaremos a seguir em ordem progressiva, da mais consistente e completa a menos consistente e mais restrita: – normal - destina-se ao paciente cuja patologia não determina nenhuma alteração alimentar. Visa fornecer calorias e nutrientes em quantidades diárias recomendadas para a manutenção de sua saúde. Preparações indicadas: saladas cruas e cozidas; carnes cozidas, grelhadas, assadas e fritas; vegetais crus ou cozidos, refogados ou fritos; frutas cruas, em compotas, assadas; purês; pastelaria; sopas; bolos e doces em geral; óleos, margarinas; – branda - possui menor quantidade de resíduo e todos os alimentos são modificados por cozimento ou mecanicamente (picados, ralados, moídos), para abrandar as fibras, dando-lhes consistência menos sólida. Facilita a digestão, diminuindo o tempo de sua realização, motivo pelo qual é também indicada para pacientes com restrição de mastigação. Preparações indicadas: saladas cozidas (vegetais cozidos e temperados com molho simples); carnes cozidas, assadas e grelhadas; vegetais cozidos e refogados; ovo quente, pochê ou cozido; frutas em forma de sucos, cozidas, assadas, compotas, bem maduras sem casca; torradas, biscoitos e pães não-integrais; pastelaria de forno; sopas; óleos vegetais, margarinas (não utilizar frituras); – pastosa - objetiva proporcionar certo repouso digestivo e facilitar a digestão. Indicada para pacientes com falta de dentes, dificuldade de deglutição e àqueles em fase crítica de doenças crônicas como insuficiência cardíaca e respiratória. As fibras são diminuídas ou modificadas pelo cozimento. Preparações indicadas: leite e derivados (queijos cremosos, naturais ou coagulados); carnes moídas, desfiadas ou souflês; ovo quente, pochê ou cozido; frutas (cozidas, em purês, em sucos); sopas (massas, legumes liquidificados, farinhas e canjas); arroz papa; pão e similares (torradas, biscoitos tipo maizena); óleos vegetais, margarinas; creme de leite; sobremesas (sorvetes, geléia, gelatinas, doces em pasta, cremes, frutas); – semilíquida (líquido-pastosa) - objetiva manter o repouso digestivo ou atender às necessidades do paciente quando de sua intolerância a alimentos sólidos. O valor calórico desse tipo de dieta é menor do que o das anteriores, em vista da maior limitação dos alimentos permitidos e tipo de preparação. Preparações indicadas: água e infusos (café, chá, mate); sucos coados (de carnes, verduras e frutas); purê de vegetais; caldos de carne e vegetais desengordurados; sopas espessadas, liquidificadas; leite, coalhada, creme, queijos cremosos, margarinas; frutas em papa ou liquidificadas; sobremesas (sorvetes, gelatinas e pudins); – líquida completa - visa fornecer nutrientes que não exijam esforço nos processos de digestão e absorção. Indicada quando se deseja um repouso gastrintestinal maior do que nos casos relatados (pós-operatórios, transtornos gastrintestinais).

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93Preparações indicadas: leite, iogurte, leite geleificado, creme de leite; gelatinas, geléia de mocotó, sorvetes; bebidas (café, chá, chocolate, gemadas, suco de frutas e vegetais coados); papas de cereais; sopas de vegetais liquidificados e coados; caldos (de carne, de feijão); ovo quente; óleos vegetais, margarinas; creme de leite; alimentos espessantes (farinhas pré-cozidas, isolados protéicos e clara de ovo); – líquida restrita ou cristalina – esta é uma dieta muito restrita, geralmente utilizada no pré-operatório, pós-operatório ou em preparo de exames. Visando proporcionar o máximo repouso gastrintestinal, fornece um mínimo de resíduos. Por ter baixo valor nutritivo e calórico, não deve ser utilizada por período superior a três dias. Preparações indicadas: água e infusos adocicados (chá,café e mate); sucos de frutas coados; caldo de carnes e legumes coados; geléia de mocotó, picolés de suco de frutas coadas, gelatina; Modificações quanto à quantidade de resíduos - de acordo com a quantidade de resíduos que oferecem, as dietas podem ser: – isentas de resíduos – quando se deseja obter um repouso gastrintestinal; Aplicabilidade: pacientes com gastroenterites; – com pouco resíduo - quando se deseja obter um repouso gastrintestinal moderado; Aplicabilidade: pacientes em tratamento de diarréias moderadas; – ricas em resíduos - quando se deseja estimular o trânsito gastrintestinal. Aplicabilidade: indicadas no tratamento de constipações intestinais. Modificações quanto ao teor de nutrientes – independentemente de sua consistência, a dieta pode apresentar diminuição, restrição ou aumento de um ou mais nutrientes.

INTERAÇÃO DROGA-NUTRIENTE

Uma importante observação diz respeito à interação da alimentação com os medicamentos, aspecto muitas vezes não considerado quando da prescrição medicamentosa. Sabemos que os efeitos colaterais das medicações podem afetar o estado nutricional do indivíduo, bem como o estado nutricional pode afetar a eficácia da droga. Substâncias alimentares podem provocar um retardo ou prejuízo na absorção de determinadas drogas, acelerar a velocidade do metabolismo ou bloquear seu efeito. Além disso, existem os efeitos, a longo prazo, que as drogas podem provocar sobre o estado nutricional, pois muitas delas alteram o apetite, provocam má digestão, depleção e ou má absorção dos nutrientes. As situações que tipicamente levam a sérias interações ocorrem quando as drogas9 são tomadas: – com alimentos; – com suplementos nutricionais; – com álcool; – para atingir interações específicas drogas-nutrientes; – em regimes de drogas múltiplas, nos quais mais do que uma droga produz um efeito adverso, devido à interação entre droga e dieta; A seguir, citamos as interferências mais comuns decorrentes da associação drogas-alimentos: – drogas que modulam o apetite, o que pode ser indesejável ou desejável, como no caso do controle de peso. Exemplos: anfetaminas, benzocaína, dentre outras; – drogas que afetam a absorção de nutrientes, influenciam o tempo de trânsito do alimento no intestino ou mudam o ambiente gastrintestinal. Exemplos: drogas laxativas, colestiramina e antiácidos; – drogas que afetam o metabolismo e a excreção de nutrientes. Exemplos: antidepressivos, antimicrobianos e antineoplásicos; – drogas que causam alterações eletrolíticas. Exemplo: diuréticos; – alimentos e refeições com muita gordura e pouca fibra retardam o esvaziamento do estômago. Logo, os medicamentos administrados durante ou após as refeições também têm sua ação retardada; – bebidas quentes não devem ser ingeridas com cápsulas ou comprimidos de invólucros resistentes, pois podem causar sua destruição.