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GEOMETRIA E MOSAICOS COM GEOGEBRA
Autor: Eugênio Yamaji1
Orientador: Sandra Malta Barbosa2
Resumo
Este artigo tem por objetivo relatar a experiência de uma proposta de atividades para o ensino de alguns conceitos e propriedades de geometria analítica por meio da construção de mosaicos no software de geometria dinâmica Geogebra e da investigação matemática, uma vez que uma das grandes dificuldades do aluno é visualizar e compreender a relação entre a álgebra envolvida neste conteúdo e a sua representação geométrica. Um dos motivos dessa dificuldade está no fato do professor ter poucos recursos em apresentar de maneira dinâmica várias situações e exemplos gráficos quando se limita ao uso do quadro negro. A aplicação dessas atividades ocorreu com 12 alunos voluntários do 3º ano do Ensino Médio do período matutino do Colégio Estadual Professor Newton Guimarães – Ensino Fundamental e Médio de Londrina (PR) como parte integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) mantido pela da Secretaria Estadual de Educação do Paraná (SEED-PR), em convênio com as Instituições Públicas de Ensino Superior (IES), em particular com a Universidade Estadual de Londrina (UEL) no segundo semestre de 2011. As aulas foram aplicadas em contraturno escolar dos alunos e verificou-se que o uso destes recursos, contribuiu de maneira significativa para a compreensão dos conteúdos envolvidos, levando-os a refletir também sobre a importância dos mosaicos e sua relação com a Matemática.
Palavras-chave: tecnologia; investigação matemática; geometria analítica.
1 Introdução
O estudo de geometria analítica do Colégio Estadual Professor Newton
Guimarães de Londrina (PR) destaca-se no processo algébrico em detrimento das
1 Especilização em Estatística, professor de Matemática do C. E. Prof. Newton Guimarães – Londrina
(PR). 2 Doutora em Educação Matemática. Docente Adjunto B. Departamento de Matemática, Universidade
Estadual de Londrina (UEL).
visualizações geométricas das situações propostas, dada a dificuldade e a falta de
dinamismo para a representação das mesmas no quadro-negro. Desta forma, há
pouco interesse e envolvimento dos alunos nas questões propostas, pois estas
acabam se tornando meras atividades algébricas sem a devida compreensão
geométrica dos problemas em estudo. Neste sentido, o bom uso de tecnologias
educacionais aliado a metodologias adequadas pode contribuir para melhorar o
processo de ensino-aprendizagem.
O uso de software de geometria dinâmica contribui para o dinamismo das aulas
e para que o aluno faça a integração entre o processo algébrico e as construções
geométricas. O software Geogebra foi então escolhido, uma vez que ele é gratuito e
encontra-se instalado nos laboratórios de informática dos colégios estaduais do
Paraná.
As atividades propostas foram construções de mosaicos onde se pretendia
através delas explorar alguns conceitos e propriedades da geometria analítica
envolvidas no processo de construção. Nessas atividades, a investigação
matemática aparece de forma que o professor não tivesse que apresentar as
soluções, mas que colocasse situações para o aluno questionar e conjecturar
envolvendo-os de forma mais significativa no processo de ensino-aprendizagem.
As aulas foram ministradas com 12 alunos voluntários do 3º ano do Ensino
Médio do período matutino em contraturno escolar. Essas aulas ocorreram uma vez
por semana, sempre às terças-feiras das 19h às 22h, totalizando 30 horas. Nas
atividades propostas nas aulas, as soluções apresentadas pelos alunos eram
variadas, uma vez que as construções dos mosaicos se tornavam questões abertas
e não havia uma única forma de se construí-los. Coube ao professor, então
questionar com os alunos a validade das construções e ainda sobre os conceitos e
propriedades que apareciam nas mesmas.
A avaliação da compreensão dos alunos foi feita através de questões escritas e
principalmente através dos questionamentos com alunos durante os processos de
construção. Durante tais questionamentos foi perceptível através das falas dos
alunos que o dinamismo das construções, a visualização gráfica aliada à parte
algébrica proporcionada pelo software que a compreensão se tornava mais
significativa, pois eles podiam testar, comparar e tirar as suas próprias conclusões.
Além de contribuir para o aprendizado em geometria analítica, que era o foco
em questão, os alunos puderam perceber a beleza dos mosaicos e a sua relação
com a Matemática. As construções eram como desafios para os alunos; eles
procuravam alternativas para se conseguir a precisão das formas, notavam as
propriedades geométricas e no final além da satisfação de se conseguir efetuar a
construção, cada um colocava o seu toque pessoal na arte final, combinando cores
e efeitos nos mosaicos.
2 Fundamentação Teórica
De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do
Paraná – Matemática (2008), no Ensino Médio, os conceitos de geometria plana e
espacial devem ser aprofundados através da representação algébrica, ou seja,
através da geometria analítica.
Em geral, nas aulas de geometria analítica são apresentados conceitos,
propriedades e fórmulas e a seguir, passa-se para a resolução de exercícios do livro
didático. Esta metodologia tradicional traz pouco envolvimento dos alunos durante
as aulas; eles fazem o papel de meros aplicadores e repetidores de fórmulas já
prontas, cujos resultados são verificados se o aluno conseguiu ou não resolver os
exercícios, se chegou ou não na resposta já esperada e pré-determinada. Faz-se
necessário, então, encontrar uma metodologia na qual os alunos se envolvam mais,
que sejam desafiados e que as tarefas não sejam meros exercícios, mas atividades
que possibilitem os alunos a pensar, raciocinar, explorar, formular conjecturas e
justificar suas conclusões. As investigações matemáticas contribuem para que este
tipo de situação de aprendizagem ocorra, conforme afirmam Ponte, Brocardo e
Oliveira (2003).
Na disciplina de Matemática, como em qualquer outra disciplina escolar, o
envolvimento ativo do aluno é uma condição fundamental da aprendizagem.
O aluno aprende quando mobiliza os seus recursos cognitivos e afetivos
com vista a atingir um objetivo. Esse é, precisamente, um dos aspectos
fortes das investigações. Ao requerer a participação do aluno na formulação
das questões a estudar, essa atividade tende a favorecer o seu
envolvimento na aprendizagem (PONTE; BROCARDO; OLIVEIRA, 2003,
p.23).
Nas investigações, ao contrário de uma metodologia mais tradicional, as
questões são mais abertas, por isto ela permite que os alunos possam explorar e
investigar sobre as situações propostas, podendo ser aplicada em todos os ramos e
conteúdos matemáticos, sendo muito propícia na Geometria. De acordo com Ponte,
Brocardo e Oliveira (2003), “as investigações geométricas contribuem para perceber
aspectos essenciais da atividade matemática, tais como a formulação e teste de
conjecturas e a procura e demonstração de generalizações” (p.71).
O uso de tecnologias pode permitir que o aluno vivencie tais situações de
exploração, por exemplo, quando ele faz uma investigação dos gráficos de funções
trigonométricas gerados por uma calculadora gráfica ou por algum software. É claro
que a tecnologia por si só não garante uma aula investigativa; cabe ao professor
propor atividades e um ambiente que permita tal situação. O grande diferencial das
tecnologias está nas respostas rápidas, ou feedback, principalmente pelas
representações gráficas desses recursos, permitindo assim que os alunos façam
comparações e conjecturas. Tal potencial encontra-se explícito nas Diretrizes
Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná – Matemática (2008), “no
contexto da Educação Matemática, os ambientes gerados por aplicativos
informáticos dinamizam os conteúdos curriculares e potencializam o processo
pedagógico” (p.65).
Como recurso tecnológico, neste projeto foi utilizado o software de geometria
dinâmica Geogebra, uma vez que ele é gratuito e encontra-se instalado nos
laboratórios de informática das escolas estaduais do Paraná. Neste programa foram
propostas atividades de construção de mosaicos de tal forma que seja propiciado as
condições para que o aluno possa exercitar nessas atividades o processo
investigativo.
A geometria analítica caracteriza-se, muitas vezes, por uma grande quantidade
de álgebra, e o seu estudo é feito de maneira isolada, sem afinidade com outras
geometrias e outras disciplinas, dessa forma é comum o aluno ter dificuldade em
relacionar as representações algébricas com as geométricas. No colégio em estudo,
as aulas de geometria analítica são ministradas através da apresentação de
conceitos, propriedades, fórmulas e resolução de exercícios e essa metodologia
convencional faz com que os alunos tenham pouca compreensão e visualização
geométrica. Assim, para os alunos, o estudo da geometria analítica acaba se
caracterizando como um estudo de álgebra e não como o estudo de conceitos e
propriedades geométricas. E ainda, os alunos pouco são estimulados a raciocinar,
deduzir e conjecturar, pois recebem fórmulas e propriedades prontas, isto é, apenas
comprovam o que já está estabelecido aplicando tais fórmulas e propriedades nos
exercícios propostos, o que tornam essas atividades meras resoluções algébricas e
não um estudo de geometria.
Segundo Moran (2007), o conhecimento não se impõe e não se dá pela mera
transferência de informação, pois o conhecimento necessita de reflexão e precisa
ser construído, no entanto, a facilidade de informações cria a acomodação e a
multiplicação, ou seja, a repetição do que já é conhecido.
Considerando que o aluno precisa experimentar, testar, analisar e conjecturar
para que através da sua reflexão seja construído o conhecimento, este projeto tinha
o seguinte questionamento: o uso de um software de geometria dinâmica, como o
Geogebra, pode propiciar uma aula de geometria em que o aluno não seja apenas
espectador, mas que esteja envolvido em atividades investigativas fazendo parte do
processo de ensino-aprendizagem?
Portanto, o objetivo do projeto foi pesquisar e aplicar uma metodologia para o
estudo da geometria analítica em que não sejam apresentados conceitos, fórmulas e
propriedades prontas para os alunos, mas uma metodologia que leve os alunos a
pensar, conjecturar, deduzir fórmulas e propriedades geométricas, relacionando a
álgebra com a geometria e ainda que visualizem graficamente a aplicação de tais
propriedades geométricas.
2.1 A Geometria
A presença da geometria na nossa vida cotidiana é incontestável. Ela se
encontra nas formas dos objetos que convivemos como móveis, objetos decorativos,
nos desenhos dos imóveis, dos automóveis e outros. Mas ela se encontra ainda em
outras situações, ainda que não seja tão explicitamente ou que não faça parte do
cotidiano de algumas pessoas, como nos estudos de topografia, astronomia,
eletricidade, medicina, polícia científica, esportes e muitas outras aplicações, ou
seja, é difícil pensar em qualquer atividade humana em que não esteja presente
direta ou indiretamente elementos da geometria.
Embora o historiador grego Heródoto relate que a geometria nasceu no antigo
Egito, existem registros que remontam à época das antigas civilizações da
Mesopotâmia como os tabletes de argila datados do período 1900-1600 a.C., do
período babilônico, que fazem menção ao que conhecemos hoje como Teorema de
Pitágoras (GORODSKI, 2008).
O interesse da geometria nos povos antigos sempre esteve ligado às
aplicações práticas da mesma, como a demarcação de terras no antigo Egito, nas
construções de templos dos chineses e hindus e outras aplicações, seja de ordem,
meramente estética ou estrutural.
Até então, o estudo da geometria estava mais ligado para solucionar problemas
e facilitar as questões técnicas das aplicações em si, não aparecendo ainda os
princípios lógicos e as justificativas teóricas em questão, ou seja, eram
simplesmente regras empíricas. A mudança desse quadro foi lenta e gradual, onde
talvez muitos conhecimentos possam não ter registros.
Tales de Mileto (624 a.C. – 547 a.C.) é considerado o primeiro homem a fazer
descobertas matemáticas específicas e o introdutor da geometria na Grécia.
Destaca-se também na Grécia os estudos de Pitágoras de Samos (569 a.C. – 475
a.C.), Platão (427 a.C. – 347 a.C.) e outros.
Mas um marco na história da geometria ocorreu por volta dos anos 300 a.C.
quando Euclides (325 a.C. – 265 a.C.) escreveu a obra os Elementos. São treze
volumes que contém a maior parte da matemática conhecida na época e se
caracteriza pela organização e os critérios de rigor lógico-dedutivo (GORODSKI,
2008).
Muitos outros estudiosos se destacaram na história da Matemática e
Geometria, mas após a obra de Euclides são de grande relevância os estudos de
Gauss, Bolyai e Lobachvski no século XIX com a descoberta das geometrias não
euclidianas; os estudos de Geometria Analítica de Fermat e Descartes, os estudos
do cálculo infinitesimal de Newton e Leibniz.
Destacam-se na geometria diferencial os estudos de Euler, Gauss e Riemann
que unificou as geometrias euclidianas e não-euclidianas, dando um novo conceito
de espaço, que na perspectiva das Ciências Físicas deram origem a teoria da
relatividade de Einstein (GORODSKI, 2008).
2.2 As Investigações Geométricas
Segundo Moran (2007), o conhecimento integrador e inovador é um dos eixos
principais da educação inovadora. E ainda, o conhecimento acontece na alternância
equilibrada entre o pensamento divergente (não estruturado) e o pensamento
convergente (organizado). O não-estruturado caracteriza-se pelas tensões, pela
pesquisa e busca pelo novo, enquanto que o divergente caracteriza-se dentre outros
aspectos, pela organização, sistematização e estruturação.
Mas infelizmente existem muitos problemas e dificuldades que atrapalham essa
aprendizagem inovadora.
Os principais obstáculos para a aprendizagem inovadora são: o currículo
engessado, conteudista; a formação deficiente de professores e alunos; a
cultura da aula tradicional, que leva os professores a privilegiarem o ensino,
a informação e o monopólio da fala. Também são obstáculos: o excessivo
número de alunos, de turmas e de matérias que muitos professores
assumem e a obsessão pela preparação para o vestibular das melhores
universidades, o que concentra a atenção no conteúdo provável desse
exame e não na formação integral do adolescente (MORAN, 2007, p.45).
De acordo com Ponte, Brocardo e Oliveira (2003) as tendências curriculares
atuais salientam a importância do estudo da geometria de forma experimental,
indutiva e exploratória, considerando também as aplicações na vida real.
As Investigações Matemáticas em Geometria podem proporcionar novas
formas de abordar o estudo dessa área proporcionando e estimulando o aluno a
fazer experiências, analisar, traçar hipóteses e conjecturas sobre os resultados
obtidos.
As investigações matemáticas contribuem para perceber aspectos
essenciais da atividade matemática, tais como a formulação e teste de
conjecturas e a procura e demonstração de generalizações. A exploração
de diferentes tipos de investigação geométrica pode também contribuir para
concretizar a relação entre situações da realidade e situações matemáticas,
desenvolver capacidades, tais como a visualização espacial e o uso de
diferentes formas de representação, evidenciar conexões matemáticas e
ilustrar aspectos interessantes da história e da evolução matemática
(PONTE; BROCARDO; OLIVEIRA, 2003, p.71).
De acordo com Borba e Penteado (2001), cada vez mais está sendo
reconhecida a importância e a relevância das atividades de investigação, ganhando
destaque a proposta pedagógica experimental com tecnologia, uma vez que esses
recursos permitem resultados e visualizações rápidas, contribuindo desta forma para
as tarefas investigativas que se caracterizam pelas análises e comparações em
detrimento das meras tarefas de memorização e aplicação de técnicas das
metodologias tradicionais.
2.3 O Uso de Tecnologias
De acordo com Moran (2008), nas propostas inovadoras de ensino-
aprendizagem devemos deslocar o foco para o aprender e para o aluno e para tanto,
o uso de tecnologias pode contribuir pois através delas podemos “flexibilizar o
currículo e multiplicar os espaços, os tempos de aprendizagem e as formas de fazê-
lo” (MORAN, 2008, p.45).
Segundo Borba e Penteado (2001) as inovações educacionais não são
exclusividades do uso de tecnologias informática (TI), pois
na verdade, as inovações educacionais, em sua grande maioria,
pressupõem mudança na prática docente, não sendo uma exigência
exclusiva daquelas que envolvem o uso de tecnologia informática. A
docência, independente do uso de TI, é uma profissão complexa. Nela
estão envolvidas as propostas pedagógicas, os recursos técnicos, as
peculiaridades da disciplina que se ensina, as leis que estruturam o
funcionamento da escola, os alunos, seus pais, a direção, a supervisão, os
educadores de professores, os colegas professores, os pesquisadores,
entre outros (BORBA e PENTEADO, 2001, p.56).
É importante salientar que, quando o professor trabalha com inovações
educacionais, ele deve estar consciente que pode se deparar com situações
imprevisíveis, pois este tipo de proposta faz com que ele trabalhe fora da sua “zona
de conforto” e isto ocorre também quando trabalhamos com tecnologias
computacionais e portando “o professor é desafiado constantemente a rever e
ampliar o seu conhecimento” (BORBA; PENTEADO, 2001, p.65).
A incorporação de recursos computacionais e a atividade em si não garantem
bons resultados, pois o sucesso depende ainda da abordagem pedagógica do
professor.
Os resultados do uso de ambientes computacionais são consequências não
de características intrínsecas dos próprios ambientes, mais sim da
abordagem pedagógica em que esses são inseridos. Daí decorre uma
relação de via dupla: por um lado, o sucesso da incorporação de atividades
computacionais, na prática do professor, não dependendo das atividades
por si só, mas são fortemente determinados pelo papel do professor
(GIRALDO; MURUCI, 2010, p.171).
O uso de software de geometria dinâmica é um grande aliado neste tipo de
proposta pedagógica, pois através dele é possível fazer investigações geométricas
de uma forma mais ágil. Os softwares permitem fazer construções rápidas e de
respostas imediatas, o que seria mais moroso se fossem feitas com papel, lápis,
régua, compasso, transferidores e outros instrumentos. Desta maneira é possível
dedicar-se mais tempo na análise dos resultados do que na construção.
Esse suporte tecnológico permite o desenho, a manipulação e a construção
de objetos geométricos, facilita a exploração de conjecturas e a
investigação de relações que precedem o uso do raciocínio formal. Vários
estudos empíricos destacam também que, na realização de investigações, a
utilização dessas ferramentas facilita a recolha de dados e o teste de
conjecturas, apoiando, desse modo, explorações mais organizadas e
completas e permitindo que os alunos se concentrem nas decisões em
termos de processo (PONTE; BROCARDO; OLIVEIRA, 2003, p.83).
Existem vários programas de geometria dinâmica como Cabri-Géomètre,
Sketchpad, Geometricks, Geogebra, dentre outros. Conforme mencionado, neste
projeto foi utilizado o programa Geogebra por ser gratuito e encontra-se instalado
nos laboratórios de informática das escolas estaduais do Paraná.
Aliado ao uso das TIC, o estudo da Geometria se deu com o auxílio dos
mosaicos, onde através das suas construções foram feitas as explorações e as
investigações geométricas.
2.4 Os Mosaicos
A palavra mosaico origina-se do termo “mosaicon” que significa “musa” e
algumas fontes traduzem como “paciência das musas”. De acordo com o dicionário
da língua portuguesa Michaellis (2002), mosaico é um desenho feito com embutidos
de pedras de várias cores; pavimento feito de ladrilhos variados; a arte de fazer
obras desse gênero; qualquer obra do artefato composto de partes visivelmente
distintas ou Miscelânea.
Os mosaicos são conhecidos desde os povos antigos: assírios, babilônicos,
persas, egípcios, gregos, chineses e outros, e encontram-se presentes até os dias
atuais.
Os primeiros mosaicos conhecidos foram encontrados em pequenos cones de
cerâmica na antiga Suméria apresentado na Figura 1, a seguir.
Figura1 – Cones de cerâmica.
(Disponível em: <http://mosaico.pt/index.php?page=templates-and-stylesheets>. Acesso em: 18 jun. 2012.)
Os mosaicos, no entanto, podem ser encontrados na própria natureza, tais
como, o abacaxi (ilustrado na Figura 2), jaboti, cobras, favo de abelhas e outros.
Figura 2 – Abacaxi.
A aplicação dos mosaicos pode ser tanto de natureza meramente artística
quanto prática. Atualmente, eles podem ser feitos de vários tipos de materiais: vidro,
pedras, mármore, cerâmica, papéis coloridos e outros materiais. Eles se encontram
em vitrais, pisos, revestimentos, painéis e em produções digitais.
Os mosaicos podem não ser formados necessariamente por figuras
geométricas, mas a grande relação que existe entre os mosaicos e a Matemática é a
busca de padrões e simetria, conforme podemos observar na Figura 3, a seguir.
Figura 3 – Mosaico: padrões e simetria.
Maurits Cornelis Escher (1898-1972) foi um dos grandes artistas que
maravilharam o mundo com as suas obras repletas de geometria como o mosaico
ilustrado na Figura 4, a seguir.
Figura 4 – Mosaico de Escher.
(Disponível em: <www6.ufrgs.br/espmat/geonoplano/conteudo14.htm>. Acesso em: 18 jun. 2012.)
Seus trabalhos são marcados por duas fases: na primeira esses trabalhos
correspondem à realidade visível de cidades e regiões italianas e na segunda fase,
seus trabalhos caracterizam pela imaginação, detalhes e a busca de regularidades.
Apesar de ser artista, ele se dizia mais intimamente ligado aos matemáticos do que
aos seus colegas artistas (BARBOSA, 2005).
De acordo com Barbosa (2005), “um conjunto de polígonos é uma
pavimentação do plano se, e só se, o conjunto de polígonos cobre sem cruzamentos
o plano” (p.3).
Observe que no exemplo de pavimentação na Figura 5, todo ponto do plano
pertence a pelo menos um polígono (cobre o plano) e que não é a intersecção de
polígonos, ou seja, não há cruzamentos.
Figura 5 – Pavimentação do plano.
As pavimentações podem ser feitas tanto com polígonos regulares quanto com
polígonos irregulares. O fato é que em ambos os casos, no encontro entre dois ou
mais vértices a soma dos ângulos internos nesse ponto é sempre 360°, conforme
ilustrado na Figura 6, a seguir.
Figura 6 – Soma de 360° nos encontros dos vértices.
As pavimentações com polígonos regulares são comuns em pisos e azulejos
que revestem calçadas, cozinhas, banheiros, decorações de fachadas e outras. Elas
se encontram também na natureza, como nos favos de mel, que são construções de
forma hexagonal, conforme ilustrada na Figura 7, a seguir.
Figura 7 - Favo de mel.
Nas pavimentações com polígonos regulares observa-se que no ponto de
encontro dos polígonos a soma dos ângulos internos em torno desse ponto deve ser
sempre 360º, conforme apresentado no exemplo da Figura 8, em que cada
hexágono regular possui um ângulo interno de 120º, de forma que no encontro de
três hexágonos regulares, obtém-se uma soma de 360º.
Figura 8 – Pavimentação com 3 hexágonos regulares.
A pavimentação sem sobreposição com polígonos regulares só é possível com
triângulos equiláteros (Figura 9), quadrados (Figura 10) e hexágonos (Figura 8).
Figura 9 – Pavimentação com 6 triângulos equiláteros.
Figura 10 – Pavimentação com 4 quadrados.
A Tabela 1, a seguir, apresenta as possíveis pavimentações com polígonos
regulares, pois a soma dos ângulos internos dos polígonos regulares colocados
deve ser sempre 360º.
Nº de lados Soma dos ângulos
internos (graus)
Medida de cada ângulo interno
(graus)
Nº de polígonos colocados
3 180 60 6
4 360 90 4
5 540 108 x
6 720 120 3
7 900 128,5714 x
8 1080 135 x
9 1260 140 x
10 1440 144 x
11 1620 147,2727 x
12 1800 150 x
13 1980 152,3077 x Tabela 1 – Possíveis pavimentações com polígonos regulares.
Observa-se na Tabela 1, que multiplicando o número de polígonos colocados
pela medida de cada ângulo interno, o resultado deve ser 360° para que possa
haver uma pavimentação sem sobreposição de polígonos, portanto, isto só é
possível para polígonos regulares de 3, 4 e 6 lados.
3 A Implementação
Este projeto foi aplicado com 12 alunos voluntários de três turmas do 3º ano do
Ensino Médio do Colégio Estadual Professor Newton Guimarães do município de
Londrina (PR) do período matutino. Estes alunos frequentavam as aulas regulares
no período matutino e durante dez terças-feiras, eles tiveram as aulas deste projeto
das 19h às 22h, totalizando 30 horas no meses de setembro, outubro, novembro e
dezembro de 2011. Cabe salientar ainda que o professor das aulas regulares não foi
o mesmo da aplicação deste projeto, portanto não interferindo no planejamento do
professor das aulas regulares. Estes alunos vieram para as aulas do projeto já com
algum conhecimento de geometria analítica.
Durante o projeto percebeu-se a sobrecarga de estudo e excesso de atividades
desses alunos, pois a maioria deles tinham aulas regulares no período matutino,
aulas de curso pré-vestibular, estágios ou outra atividade no período vespertino e
uma vez por semana frequentavam as aulas do projeto, o que motivou a desistência
de três alunos.
As aulas ocorreram no laboratório de informática do colégio que possuía 20
computadores. Foi utilizado ainda um projetor multimídia que precisou ser
requisitado junto à direção do colégio e montado com antecedência a cada aula.
Na primeira aula foram apresentados os objetivos do projeto, a forma como
seriam trabalhadas as aulas e algumas normatizações. Nesta aula foi questionado
sobre os motivos que levaram os alunos a participaram do projeto como relatado por
duas alunas:
Aluna 1: O que me motivou a participar foi primeiramente pelo aprendizado, pois estava muito confusa com relação à geometria e como segundo motivo, pela informação, pois em ano de vestibular é sempre bom aprender, desde coisas simples até o que não sei, e no meu caso como já mencionei, tenho um pouco de dificuldade em geometria, então pretendo melhorar.
Aluna 2: O principal motivo que me levou a participar desse projeto foi a busca por novos conhecimentos e principalmente porque a faculdade que desejo tem essa matéria na grade de disciplinas, então essa é uma boa oportunidade de conhecer a matéria, aumentar meus conhecimentos sobre geometria, sobre o software e sobre mosaicos.
Foi feita ainda na primeira aula a ambientação dos alunos com o
funcionamento dos equipamentos e o software Geogebra através de algumas
atividades de construções geométricas conforme apresentadas a seguir. Alguns
alunos já haviam trabalhado com o programa, porém com pouca experiência. A
partir da segunda aula foram trabalhadas então as construções dos mosaicos e a
exploração dos elementos da geometria envolvidos.
3.1 As atividades
As atividades foram impressas por aula conforme o desenvolvimento de cada
uma delas, pois como as atividades se caracterizavam por serem abertas o tempo
de construção e questionamento em cada uma delas poderia variar conforme a
compreensão e a dificuldade dos alunos. Outro motivo é para que eles não
antecipassem as atividades em casa, ou seja, eles só sabiam sobre as atividades a
serem desenvolvidas no momento da aula. Isto foi importante, pois se fazia
necessário analisar as dificuldades, o desenvolvimento e os questionamentos dos
alunos no momento da construção.
As três primeiras atividades tiveram como foco a ambientação dos alunos com
o Geogebra e as demais as construções de mosaicos para a exploração de
elementos de geometria analítica e outros conceitos e propriedades.
Atividade 1) Retas
a) Nesta atividade mantenha visível o eixo xy e a malha quadriculada (menu
Exibir: Eixos, Malha) e também a Janela de Álgebra;
b) Trace uma reta qualquer utilizando a ferramenta Reta definida por dois pontos;
c) Observe que aparecerá na Janela de Álgebra dois pontos com a suas
coordenadas em Objetos Livres e a equação geral da reta em Objetos
Dependentes;
d) Clique com o botão direito do mouse sobre a equação da reta na Janela de
Álgebra ou sobre a reta na Janela Geométrica. No menu da reta, selecione a
forma da equação reduzida da reta: Equação y = kx + d e observe o resultado
da nova equação na Janela de Álgebra;
e) Identifique na Janela de Álgebra, quais os valores de k e d;
f) Com a ferramenta Mover (Seta), clique e arraste um dos pontos e observe a
nova equação na Janela de Álgebra;
g) Ainda com a ferramenta Mover, clique e arraste a reta e observe a equação da
reta na Janela de Álgebra;
h) Relate o que você observou.
Atividade 2) Retângulo
a) Nesta atividade mantenha visível apenas a Janela de Álgebra;
b) Construa um retângulo de medidas 8 cm por 5 cm;
c) Verifique o seu perímetro e a sua área.
Atividade 3) Círculo inscrito em um triângulo
a) Nesta atividade mantenha visível apenas a Janela de Álgebra;
b) Construa um triângulo escaleno qualquer e a seguir insira um círculo inscrito
neste triângulo de forma que as suas extremidades sejam tangentes aos lados
do triângulo conforme ilustração da Figura 11, a seguir.
Figura 11 – Círculo inscrito em um triângulo escaleno.
c) Qual o perímetro do triângulo? E do círculo?
d) Qual a área do triângulo não ocupada pelo círculo?
Atividade 4) Mosaico formado por quadrados I.
Construa o mosaico da Figura 12, a seguir, formado por quadrados.
Figura 12 – mosaico formado por quadrados.
Atividade 5) Mosaico formado por quadrados II
a) Construa o mosaico do exercício anterior (Figura 12) sem utilizar a ferramenta
de construção de polígonos regulares.
b) Observe a Figura 13 a seguir. Se a equação da reta a é y = x – 2, qual é a
equação da reta b que é paralela à reta a?
Figura 13 – Mosaico com quadrados – equações de retas.
c) Ainda observando a Figura 13, responda: qual é a equação da reta c?
Justifique.
Atividade 6) Mosaico formado por triângulos equiláteros
a) Construa o mosaico conforme a Figura 14 a seguir que é formado por
triângulos equiláteros sem utilizar a ferramenta de construção de polígonos
regulares.
Figura 14 – mosaico formado por triângulos equiláteros.
b) Observando a Figura 15 a seguir, justifique por que a equação da reta a é
xy 731, .
Figura 15 – Mosaico formado por triângulos equiláteros – equações da reta.
c) Ainda observando a Figura 15, responda: qual a equação da reta b?
Atividade 7) Pavimentação com um polígono regular
Nas atividades 5 e 6, os mosaicos foram construídos apenas com quadrados ou
triângulos equiláteros, ou seja, foi feita a pavimentação do plano apenas com um
tipo de polígono regular. Construa um mosaico que seja formado apenas por um tipo
de polígono regular, sem utilizar a ferramenta de construção de polígonos regulares.
Atividade 8) Pavimentação com octógonos regulares e quadrados
A pavimentação do plano também é possível, utilizando-se mais de um polígono
regular.
a) Construa o mosaico da Figura 16 a seguir em que são utilizados apenas
octógonos regulares e quadrados.
Figura 16 – Mosaico com octógono regulares e quadrados.
b) Qual é a distância entre os pontos A(0,0) e B(2,2) da Figura 17, a seguir?
Figura 17 – Distância entre os pontos A e B.
Atividade 9) Área em azulejo
Esta atividade é uma adaptação da questão 29 do Banco de Questões da OBMEP
(Olimpíadas Brasileira de Matemática das Escolas Públicas) 2010 – nível 3.
A Figura 18 foi montada com 12 azulejos quadrados de lados iguais a 10 cm.
Figura 18 – 12 azulejos quadrados
a) Construa a Figura 18.
b) Qual é a área da região destacada (pintada de cinza)?
Atividade 10) Mosaico estrelado
a) Construa o mosaico ilustrado na Figura 19 a seguir de modo que ele esteja
inserido em um retângulo de 12 cm por 10 cm.
Figura 19 – Mosaico estrelado.
b) Qual a área da região estrelada (área em branco)?
Atividade 11) Colcha quadrada
Esta atividade é uma adaptação da questão 81 banco de questões da OBMEP
(Olimpíadas Brasileira de Matemática das Escolas Públicas) 2010 – nível 1.
a) Uma colcha quadrada em branco e cinza é feita com quadrados e triângulos
retângulos isósceles conforme ilustrado na Figura 20. Construa esta colcha e
responda: a parte em cinza representa qual percentagem da colcha?
Figura 20 – Colcha quadrada.
b) Considere o Ponto P de coordenadas (2,6) e a reta r: y = x – 2 da Figura 21.
Qual a distância entre o ponto P e a reta r?
Figura 21 – colcha quadrada: distância entre ponto e reta
Atividade 12) Mosaico com arcos
Construa o mosaico da Figura 21, a seguir, formado por círculos e arcos.
Figura 21 – Mosaico com arcos.
4 Análise de Algumas Atividades
Na primeira atividade de ambientação, os alunos construíram retas com dois
pontos livres e não tiveram dificuldade em identificar os coeficientes angulares e
lineares verificando ainda a diferença entre movimentar os pontos da reta e
movimentar a reta como relatado, por exemplo, por uma aluna no item g e i da
atividade:
Aluna 3: A equação da reta mudou de acordo com a mudança de algum dos pontos. Houve também mudança nos valores de k (número que acompanha o x) e de d. Ao movimentar a reta não houve mudança no coeficiente angular; os pontos A e B e o coeficiente linear mudaram, mas o ângulo não se altera, ou seja, não muda inclinação da reta.
Na atividade 4, mosaico formado por quadrados I, os alunos não tiveram
dificuldade de construir o mosaico com a ferramenta polígono regular (quadrado)
como observado na construção da aluna 4, conforme a Figura 22, a seguir.
Figura 22 – Mosaico com quadrados – desenvolvido por uma aluna 4.
Na atividade 5, mosaico formado por quadrados II, quando eles foram construir
com retas (paralelas e perpendiculares), alguns se “perderam” e acabaram pedindo
auxílio aos colegas. Nesta construção, utilizando retas, os alunos ficaram focados
em construir o mosaico e não se atentaram para as perguntas a seguir, como mostra
a Figura 23, onde a aluna 5 não posicionou o mosaico exatamente conforme o
exemplo.
Figura23 – Mosaicos com retas 2 – desenvolvido pela aluna 5.
No entanto, verificou-se que os alunos compreenderam muito bem as
propriedades sobre os coeficientes angulares e lineares, pois comparando a figura
do exemplo da atividade e as suas construções, eles não tiveram dificuldade em
responder a pergunta do item b) y = x + 2 e c) sobre retas paralelas como relata a
observação da aluna 6.
Aluna 6: O coeficiente angular continua o mesmo, só o coeficiente linear é que muda.
5 Conclusão
Por meio da aplicação das atividades propostas no projeto, podemos concluir
que a utilização de mosaicos, do software Geogebra e da investigação matemática
contribuem significativamente para o aprendizado de geometria analítica, pois a
dinâmica do programa conciliando a álgebra e sua representação gráfica permite
que os alunos e inclusive o professor, possa fazer conjecturas e análises sobre os
conteúdos envolvidos em questão.
Por outro lado, é evidente que aplicar as atividades em contraturno com uma
quantidade de alunos bem inferior à das aulas regulares, também contribuiu muito
para a condução dos trabalhos, pois foi possível analisar mais atentamente o
caminhar da construção e compreensão de cada aluno em particular. E ainda, em
uma turma regular, já há o problema de que o número de alunos é maior que o de
computadores disponíveis. O fato de trabalhar com alunos voluntários também
facilitou o trabalho e contribuiu para o resultado positivo, pois se tratavam de alunos
que não estavam participando por obrigação e sim por interesse.
Outro ponto a destacar é o grande tempo gasto para esta metodologia pois
envolve o preparo do professor, das atividades, do material e do laboratório de
informática e outros equipamentos auxiliares como projetor multimídia.
Mas o importante é salientar que a metodologia utilizada pode dar bons
resultados, mas para isso é preciso trabalhar com as estruturas adequadas: número
compatível de computadores e alunos, equipamentos auxiliares e tempo de
preparação do professor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BORBA, M. C.; PENTEADO, M. G. Informática e Educação Matemática. Belo Horizonte, Autêntica, 2001, 3.ed. 2.reimp., 2007 (Coleção Tendências em Educação Matemática, 2).
GIRALDO, V.; MURUCI, M. L. Funções Reais em Ambientes de Geometria Dinâmica: tecnologia e saberes docentes. Recife: SEBEM, 2010.
GORODSKI, C. Um breve panorama histórico da geometria. Revista Matemática Universitária. Rio de Janeiro: SBM, p.14-29, n.44, jun. 2008.
MICHAELIS, H. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo:
Melhoramentos, 2000.
MORAN, J. M. A Educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá.
Campinas: Papirus, 2007.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação – SEED. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Matemática. Curitiba: SEED, 2008.
PONTE, J. P.; BROCARDO, J.; OLIVEIRA, H. Investigações Matemáticas na Sala de Aula. Belo Horizonte, Autêntica, 2003, 2.ed., 2009.