gestaoenergeticaindustrial(dissertacao)

UNIVERSIDADE DE SO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SO CARLOS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELTRICA

GESTO ENERGTICA INDUSTRIAL: UMA ABORDAGEM FRENTE INTELIGNCIA EMPRESARIAL

So Carlos 2011

OURESTE ELIAS BATISTA

GESTO ENERGTICA INDUSTRIAL:

UMA ABORDAGEM FRENTE

INTELIGNCIA EMPRESARIAL

Trabalho de Concluso de Curso

apresentado Escola de Engenharia de

So Carlos, da Universidade de So Paulo

Curso de Engenharia Eltrica com nfase em

Sistemas de Energia e Automao

ORIENTADOR: Prof. Dr. Rogrio Andrade Flauzino

So Carlos

2011

AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Ficha catalogrfica preparada pela Seo de Tratamento da Informao do Servio de Biblioteca EESC/USP

Batista, Oureste Elias

B333g Gesto energtica industrial: uma abordagem frente

inteligncia empresarial / Oureste Elias Batista ;

orientador Prof. Dr. Rogrio Andrade Flauzino. -- So

Carlos, 2011.

Trabalho de Concluso de Curso (Graduao em

Engenharia Eltrica) -- Escola de Engenharia de So

Carlos da Universidade de So Paulo, 2011.

1. Gesto energtica. 2. Desenvolvimento sustentvel.

3. Oportunidades no setor eltrico. 4. Gesto do

conhecimento. 5. Inteligncia empresarial. I. Ttulo.

i

DEDICATRIA

Dedico este trabalho ao meu pai, que, praticamente,

abdicou de sua vida em funo da minha e tem sido o maior

incentivador nesta minha jornada de aprendizado. Dedico

tambm Maria Jos que durante quase toda minha graduao

foi como uma me para mim, uma guerreira que luta por sua

famlia com determinao sobre-humana.

iii

AGRADECIMENTOS

Agradeo, primeiramente, ao meu orientador Prof. Dr. Rogrio Andrade

Flauzino, que tem apoiado e auxiliado nas empreitadas de fim da graduao e inicio da

vida profissional, alm de apresentar oportunidades de trabalho e ideias para

continuidade do que j temos feito.

Ao Prof. Dr. Jose Carlos de Melo Vieira J. por expandir meus horizontes atravs

de sua disciplina: Eficincia Energtica.

Aos colaboradores da Elektro Eletricidade e Servios S.A. por me permitirem

vivenciar o mundo coorporativo e ser tratado com exemplar respeito durante meu estgio.

Aos professores Carlos Goldenberg e Digenes por, de forma direta ou indireta,

acompanharem minha trajetria na graduao e contriburem para a minha evoluo

pessoal e profissional.

Aos meus amigos, e tambm em breve engenheiros, Murilo Moraes Soares e

Guilherme Serpa Sestito por compartilharem suas experincias e ajudarem a melhorar

minha forma de enxergar muitas coisas.

A todos os amigos e pessoas que fizeram da minha vida em So Carlos uma

experincia fantstica e me instigaram a viver um pouco mais disto tudo.

v

No so os mais fortes das espcies que sobrevivem, nem os

mais inteligentes, mas aqueles que mais se adaptam s mudanas

Charles R. Darwin

vii

SUMRIO

RESUMO ..........................................................................................................................ix

ABSTRACT ......................................................................................................................xi

INTRODUO ................................................................................................................. 1

1. GESTO ENERGTICA ........................................................................................... 3

1.1 Contextualizao ................................................................................................ 3

1.2 O Programa de Gesto Energtica ..................................................................... 5

1.3 Conceitos Bsicos .............................................................................................. 9

1.4 Tarifao da Energia Eltrica .............................................................................12

1.5 Indicadores ........................................................................................................16

1.5.1 Consumo especfico de energia (CE) ...............................................................17

1.5.2 Fator de Carga da Instalao (fc) .....................................................................17

1.5.3 Custo Mdio de Energia (CMe) ........................................................................18

2. A NECESSIDADE DE GESTO DO CONHECIMENTO ..........................................19

2.1 A Utilizao do Conhecimento ...........................................................................19

2.2 A Inteligncia Empresarial .................................................................................21

2.3 Atuao de Agentes do Ambiente Externo ........................................................25

2.3.1 PROCEL ..........................................................................................................25

2.3.2 ISO 50.001: Gesto Energtica .......................................................................29

3. A IDENTIFICAO DAS OPORTUNIDADES ..........................................................33

3.1 Inteligncia Empresarial e Gesto Energtica ...................................................37

3.1.1 Anlise do Faturamento ..............................................................................38

3.1.2 Metodologia Proposta .................................................................................42

3.1.3 Resultados .................................................................................................52

3.1.4 Estudo de Caso ..........................................................................................55

CONCLUSES ...............................................................................................................63

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................65

ix

RESUMO

BATISTA, O. E. Gesto Energtica Industrial: um abordagem frente Inteligncia

Empresarial. 84p. Trabalho de Concluso de Curso Escola de Engenharia de So

Carlos, Universidade de So Paulo, 2011.

O objetivo deste trabalho evidenciar os ganhos econmicos resultantes de

uma poltica de inteligncia empresarial que abrange prticas de gesto energtica.

Neste sentido, mostrado como a gesto do conhecimento um fator determinante no

sucesso ou declnio de uma empresa, especialmente para as pequenas e mdias. A

gesto energtica tomada, ento, como uma prtica gerencial com carter decisivo

para as diretrizes de um planejamento estratgico empresarial, o que reforado pela

criao da ISO 50.001 Sistemas de Gesto da Energia e diversos programas

governamentais de mobilizao para a conservao e gesto de energia, como PROCEL

e PROESCO. Para evidenciar as oportunidades, sugerida uma metodologia de gesto

energtica composta por quatro etapas sequenciais: crdito de ICMS, PIS e COFINS,

deslocamento de carga, melhoria do fator de carga e otimizao contratual; que iro

reduzir, sucessivamente, parcelas do faturamento de energia eltrica. Visto que esta

metodologia se baseia na minimizao do custo mdio da energia eltrica a partir de um

baixo investimento, dentre as oportunidades economia no faturamento, esta proposta tem

uma grande aplicabilidade em pequenas e mdias indstrias, pois so as que mais

carecem de conhecimento e disponibilidade financeira. Resultados ainda mostram que o

montante economizado capaz de viabilizar grandes volumes de investimentos, como a

instalao de geradores diesel, acumuladores de energia (bancos de baterias e de

gelo) e retrofit no sistema produtivo.

Palavras-chaves: gesto energtica, desenvolvimento sustentvel, oportunidades no

setor eltrico, gesto do conhecimento, inteligncia empresarial

xi

ABSTRACT

BATISTA, O. E. Industrial Energy Management: a Business Intelligence approach.

83p. Course Conclusion Work Engineering School of So Carlos, University of So

Paulo, 2011.

The main goal of this paper is to show the resultant gains of a bussiness

inteligence policy that includes energy management practices. In this way, it is shown how

the knowledge management is a key factor for the success or decline of a factory,

specially the medium and small sized ones. Then, the energy management is taken as a

management practice with finality to the bussiness strategic planning, which is

empowered by the creation of the ISO 50.001 Energy Management System standard,

and many governmental programs of mobilization for the energy management and

conservation as PROCEL and PROESCO. In order to present the opportunities about it, it

is suggested an energy management methodology composed of four sequential steps:

ICMS, PIS and COFINS credits, load shift, load factor improvement and contractual

optimization; which will decrease, successively, portions of electric energy bill. Since this

methodology is based on minimizing the average cost of electric energy using a low

investiment, this proposal has a big applicability in medium and small sized factories,

because they lack more knowledge and financial availability. Results still show that the

saved amount enables big amounts of investment, like the install of diesel generators,

energy accumulators (batteries and ice banks) and retrofit on the productive system.

Keywords: energy: management, sustainable development, opportunities in the electricity

sector, knowledge management, business intelligence

1 Introduo

INTRODUO

A qualidade de vida alcanada pela sociedade moderna mantida, em grande

parte, pela utilizao das vrias formas de energia, especialmente, a energia eltrica. De

fato, como exposto na Figura 1, os principais ndices de desenvolvimento humano podem

ser relacionados aos nveis de consumo de energia eltrica per capta [1].

Figura 1: IDH (2002) em funo do consumo de eletricidade per capita (2001) para 177

pases [1].

A importncia da eletricidade, para a manuteno da rotina mundial, exige a

coordenao entre o lado da oferta de energia, pelos sistemas eltricos de potncia

(SEPs), e pelo lado da demanda, consumidores dos segmentos industrial, comercial e

residencial. Em 2001, por exemplo, o Brasil experimentou uma crise de abastecimento no

setor eltrico. Com a finalidade de agilizar as providncias para enfrentar a escassez, o

Governo Federal criou, atravs da Medida Provisria no 2.148-1, de 24 de maio de 2001,

a Cmara de Gesto da Crise de Energia Eltrica - GCE, com o objetivo de propor e

implementar medidas de natureza emergencial, decorrentes da situao hidrolgica

crtica, para compatibilizar a demanda e a oferta de energia eltrica, de forma a evitar

Introduo 2

interrupes imprevistas do suprimento de energia eltrica [2]. Deste cenrio vieram duas

consequncias positivas: a forte mobilizao da sociedade na busca da soluo e a

valorizao da eficincia no uso de energia eltrica. Em decorrncia desse processo de

aprendizagem, vem se formando uma conscincia de que a gesto energtica deve fazer

parte de forma definitiva da poltica energtica nacional, mediante o desenvolvimento de

produtos e processos mais eficientes e a intensificao de programas que levem

mudana de hbitos de consumo.

Para o setor industrial, a energia eltrica tornou-se insumo fundamental para

assegurar o desenvolvimento econmico e social de um pas. A racionalizao (diferente

do racionamento) de seu uso apresenta-se como alternativa para reduo nos custos de

produo. Em alguns casos, significativas economias podem ser obtidas apenas com

mudanas de procedimentos e de hbitos, alm de impactar positivamente o meio

ambiente. Dentre os aspectos econmicos envolvidos na atividade de racionalizao do

uso de energia, deve-se destacar a valorizao da imagem e da viso estratgica da

empresa. Hoje, o mercado est cada vez mais orientado a dar preferncia a produtos de

empresas comprometidas com aes de proteo ao meio ambiente. Uma empresa que

deseja alcanar uma estrutura de custos racionalizada e tornar-se mais competitiva no

pode admitir o desperdcio ou usar a energia de forma ineficiente e irresponsvel [3].

3 1. Gesto Energtica

1. GESTO ENERGTICA

1.1 Contextualizao

Dos vrios custos gerenciveis em uma empresa, seja do setor industrial ou

comercial, a energia vem assumindo uma importncia crescente, motivada pela reduo

de custos decorrentes do mercado competitivo, pelas incertezas da disponibilidade

energtica ou por restries ambientais. Qualquer que seja a motivao, promover a

eficincia energtica essencialmente usar o conhecimento de forma aplicada,

empregando conceitos de engenharia, economia e administrao aos sistemas

energticos. Contudo, dado diversidade e complexidade desses sistemas, essencial o

conhecimento tcnicas e mtodos para definir objetivos e aes para melhorar o

desempenho energtico e reduzir as perdas nos processos de transporte,

armazenamento e distribuio de energia [4].

No mbito coorporativo, o uso eficiente de energia deve ser entendido como um

das estratgias para de reduo das perdas e de racionalizao tcnico-econmica dos

fatores de produo, cabendo tambm observar o carter estratgico e determinante que

o suprimento de eletricidade apresenta em todos os processos produtivos. Ainda que

representando uma parcela por vezes reduzida dos custos totais, via de regra a energia

eltrica no possui outros substitutos, sem a qual os processos no se desenvolvem.

Os responsveis tcnicos pela gesto de energia, alm de tornar cada vez mais

eficientes as instalaes, sistemas e equipamentos deve tambm, responder a dois

desafios: avaliar o montante de energia ou a demanda energtica necessria ao

atendimento de suas necessidades atuais e futuras, bem como adquirir ou contratar no

mercado essa disponibilidade energtica. O primeiro tem impacto direto no planejamento

da expanso do setor eltrico nacional, tendo em vista a infraestrutura necessria para o

atendimento dos consumidores. O segundo tem carter comercial, e impacta no custo

mdio da energia eltrica utilizada pela empresa. A aquisio pode ocorrer em um

Ambiente de Contratao Regulado (consumidor cativo) - ACR ou Ambiente de

Contratao Livre (consumidor livre) ACL, ou ainda ocorrer totalmente ou parcialmente

atravs da auto-produo de energia de energia eltrica no esquecendo de incluir,

quando possvel e vivel, o processo de cogerao. Muitas empresas tambm esto

agregando a esse processo de gesto energtica a questo ambiental atravs, por

1. Gesto Energtica 4

exemplo, do nvel de emisso de carbono decorrente de sua cadeia de produo. Esse

processo de gesto envolve, restries financeiras e disponibilidades de recursos, sejam

de pessoal ou materiais, ferramentas e metodologias de anlise, alm de aspectos

tecnolgicos e diversas reas de conhecimento. Mtodos e modelos de gesto

energtica adotados em uma dada unidade empresarial podem e devem ser

transportados para um modelo de gesto corporativa da empresa. Cada vez mais, as

empresas e seus gestores de energia precisam entender os aspectos legais e

regulatrios dos mercados de energia, as tendncias e perspectivas energticas no Brasil

e no exterior, alm de se preocuparem com eventuais situaes de desabastecimento

gerado pelo desequilbrio entre oferta e demanda de energia [4].

A gesto e a otimizao energtica trata-se uma avaliao permanente de sua

matriz energtica, estabelecendo estratgias de curto, mdio e longo prazos, nos

montantes de aquisio de energia eltrica e autoproduo, evitando nesse caso o custo

(leo combustvel, gs natural, GLP, lenha, biomassa, etc).

Antes de realizar qualquer atividade, no entanto, preciso conhecer e

diagnosticar a realidade energtica, para ento estabelecer as prioridades, implantar os

projetos de melhoria e reduo de perdas e acompanhar seus resultados em um

processo contnuo. Esta abordagem vlida para instalaes novas, em carter

preventivo, ou instalaes existentes, em carter corretivo, em empresas industriais ou

comerciais.

A gesto energtica de uma instalao existente aborda as seguintes medidas:

- Conhecimento das informaes relacionadas com os fluxos de energia, as aes que

influenciam estes fluxos, os processos e atividades que utilizam a energia relacionam

com um produto ou servio;

- Acompanhamento dos ndices de controle como, consumo de energia, custos

especficos, fator de utilizao e os valores mdios, contratados, faturados e registrados

de energia;

- Atuao nos ndices com vista a reduzir o consumo energtico atravs da

implementao de aes que buscam a utilizao racional de energia.

Estas avaliaes constituem um primeiro e decisivo passo nesta direo, a

requerer medidas e aes posteriores, desejavelmente estabelecidas de forma planejada

e estruturada, com clara definio de metas, responsveis e efetivos acompanhamentos,


se possvel no mbito de um Programa de Gesto Energtica, com visibilidade na

corporao e na necessria proviso de recursos fsicos e humanos. Neste sentido, as

auditorias energticas constituem um instrumento essencial de diagnstico preliminar e

bsico, para obter as informaes requeridas para a formulao e acompanhamento

desse programa de reduo de desperdcios de energia.

De forma geral, um diagnstico energtico pode ser executado conforme a

sequncia apresentada na Figura 2 [4].

Figura 2: Etapas de um diagnstico energtico [4].

1.2 O Programa de Gesto Energtica

A evoluo do consumo de energia, as dificuldades crescentes para se atender

ao crescimento desse consumo, o custo crescente das alternativas de suprimento, o

impacto negativo no meio ambiente que novas plantas de oferta de energia causam e a

necessidade de as empresas inserirem-se em um mundo globalizado e competitivo, que


requer uso otimizado dos recursos. E para o sucesso da gesto energtica,

imprescindvel o comprometimento da direo das empresas e instituies.

A implantao de um Programa de Gesto Energtica (PGE) deve ser a primeira

iniciativa ou ao visando reduo de custos com energia em uma empresa. A

importncia da implantao do PGE deve-se ao fato de que aes isoladas, por melhores

resultados que apresentem, tendem a perder o seu efeito ao longo do tempo. Um PGE

deve ser estruturado de forma que os resultados de sua implementao se mantenham e

as aes adotadas permaneam.

Um PGE visa otimizar a utilizao de energia por meio de orientaes,

direcionamento, propostas de aes e controles sobre os recursos humanos, materiais e

econmicos. Objetiva-se reduzir os ndices globais e especficos da energia necessria

obteno do mesmo resultado ou produto.

Na maioria das empresas, a preocupao com a gesto de energia, geralmente,

de carter pontual, no tem continuidade e fica delegada aos escales inferiores da

organizao. Isso no quer dizer que deva ser negligenciada. Na verdade existe a

conscincia de que, cada vez mais, o tema Gesto Energtica vem merecendo a

ateno e o empenho da direo das empresas e de todos os seus nveis hierrquicos.

Atualmente, estamos assistindo a importantes transformaes em nosso Pas e

no mundo com respeito preocupao com a preservao do meio ambiente.

importante que as empresas procurem se antecipar s mudanas que ocorrero quanto

s exigncias de um novo mercado consumidor, que dar preferncia a produtos de

empresas que possuam o compromisso com a preservao do meio ambiente e com o

no desperdcio.

O PGE uma alternativa para mostrar ao mercado que a empresa est

comprometida com esses valores. Para reivindicar a certificao ISO 14000 exigida a

implantao de um programa de conservao [3].

A implantao de um Programa de Gesto Energtica requer mudanas de

procedimentos, de hbitos e de rotinas de trabalho, o que, na maioria das vezes, um

obstculo difcil de ser superado, em virtude da resistncia natural que as coletividades

oferecem a propostas desse tipo.

Torna-se, ento, importante e necessrio o engajamento da direo superior da

empresa e de todo o seu corpo funcional, tcnico e administrativo, na busca de um


objetivo comum, mediante um trabalho conjunto. Com o objetivo de superar as

dificuldades inerentes s resistncias coletivas, a empresa dever demonstrar claramente

sua inteno de atingir os objetivos de racionalizao do consumo de energia.

As aes de eficincia energtica propostas para as empresas contemplam dois

tipos principais de medidas [3]:

a) Medidas que impliquem aes de gesto nas instalaes, incluindo:

- treinamento de pessoal, com o objetivo de criar um ambiente de

conscientizao nos colaboradores da empresa; e

- fixao de procedimentos operativos, de manuteno e de engenharia,

objetivando a perenidade do programa a ser desenvolvido.

b) Medidas que impliquem aes de atualizao tecnolgica, com a substituio

de equipamentos existentes por outros mais eficientes.

As medidas propostas no item a daro nfase aos aspectos de educao e de

treinamento, e devero ter custos significativamente menores do que as medidas

propostas no item b, ainda que seus efeitos somente sejam obtidos no mdio/longo

prazo. As medidas propostas no item b incluiro a aquisio de equipamentos, devendo,

portanto, representar investimentos elevados, porm com efeitos no curto prazo.

A experincia internacional aponta para a concluso de que as medidas de

educao e de treinamento, tipicamente, resultam em reduo do consumo de energia da

ordem de 5% aps o perodo de um ano, a partir do incio de sua implementao, a um

custo inferior a 1% do custo total de um Programa de Gesto Energtica global [3].

As empresas devem estar conscientes de sua imagem pblica. Um Programa de

Gesto Energtica bem-sucedido e que, simultaneamente, contribua para a melhoria do

meio ambiente promove uma significativa publicidade positiva perante seus clientes e a

sociedade em geral.

O incio de um PGE deve ser precedido de uma preparao de todos os

envolvidos. Essa preparao necessria para sensibilizar todos os funcionrios da

empresa para reduzir resistncias, o que normal quando mudanas so

implementadas, e para mostrar o real comprometimento da Direo.


Inicialmente, deve ser constituda uma Comisso Interna de Conservao de

Energia (CICE),que dever estabelecer os principais usos da energia nas instalaes da

empresa, para definir o programa de treinamento mais adequado. Nesta fase, a empresa

poder contar com a experincia de uma consultoria especializada ou com a assistncia

do PROCEL.

A Direo dever estabelecer objetivos claros e apoiar a implantao do PGE,

enfatizando a sua necessidade e importncia, aprovando e estabelecendo metas a serem

atingidas ano a ano, efetuando um acompanhamento rigoroso, confrontando os

resultados obtidos com as metas previstas, analisando os desvios, propondo medidas

corretivas em caso de distores e providenciando revises peridicas e oportunas nas

previses estabelecidas. Tal posicionamento acarretar o aumento da competitividade de

que as empresas tanto necessitam.

O PGE constitudo de trs pilares ou estratgias: Diagnstico Energtico

(levantamento da situao); Controles dos ndices (anlise e acompanhamento dos

dados); e Comunicao do Programa e seus resultados (divulgao). Comisso Interna

de Conservao de Energia (CICE) cabe sua gesto. Todas as aes desenvolvidas no

PGE esto enquadradas em um desses pilares, e muitas delas devem ser desenvolvidas

simultaneamente. Isto significa que no existe um pilar mais importante que o outro [3].

Figura 3: Estrutura de um Programa de Gesto Energtica [3].


1.3 Conceitos Bsicos

O gerenciamento energtico de qualquer instalao requer o pleno

conhecimento dos sistemas energticos existentes, dos hbitos de utilizao da

instalao, dos mecanismos de aquisio de energia e da experincia dos usurios e

tcnicos da edificao.

A implementao de medidas estanques, no coordenadas e no integradas a

uma viso global de toda a instalao ou carente de uma avaliao de custo/benefcio

pode no produzir os resultados esperados e minar a credibilidade do programa,

dificultando a continuidade do processo perante a Direo e os ocupantes da planta.

Por isso, o primeiro passo consiste em conhecer como a energia eltrica

consumida na sua instalao e em acompanhar o custo e o consumo de energia eltrica

por produto/servio produzido, mantendo um registro cuidadoso. Os dados mensais e

histricos so de grande importncia para a execuo do diagnstico, podendo ser

extrados da conta de energia eltrica.

Esses dados podero fornecer informaes preciosas sobre a contratao

correta da energia e seu uso adequado, bem como sobre a anlise de seu desempenho,

subsidiando a tomada de decises, visando reduo dos custos operacionais.

Para realizar a anlise energtica, necessrio, antes, conhecer alguns

conceitos [5].

- Energia ativa. a energia capaz de produzir trabalho. A unidade de medida

usada o quilowatt- hora (kWh).

- Energia reativa. a energia solicitada por alguns equipamentos eltricos,

necessria manuteno dos fluxos magnticos e que no produz trabalho. A unidade

de medida usada o quilovolt-ampre reativo-hora (kvarh).

- Energia aparente. a energia resultante da soma vetorial das energias ativa

e reativa. aquela que a concessionria realmente fornece para o Consumidor (kVA).

- Potncia. a quantidade de energia solicitada na unidade de tempo. A

unidade usada o quilowatt (kW).


- Demanda. a potncia mdia, medida por aparelho integrador, apurada

durante qualquer intervalo de 15 (quinze) minutos.

- Demanda contratada. Demanda a ser obrigatria e continuamente colocada

disposio do cliente, por parte da concessionria, no ponto de entrega, conforme

valor e perodo de vigncia fixado em contrato.

- Carga instalada. Soma da potncia de todos os aparelhos instalados nas

dependncias da unidade consumidora que, em qualquer momento, podem utilizar

energia eltrica da concessionria.

- Fator de carga. Relao entre a demanda mdia e a demanda mxima

ocorrida no perodo de tempo definido.

- Fator de potncia (FP). Relao entre energia ativa e reativa horria, a partir

de leituras dos respectivos aparelhos de medio.

- Tarifa de demanda. Valor, em reais, do kW de demanda em determinado

segmento horo-sazonal.

- Tarifa de consumo. Valor, em reais, do kWh ou MWh de energia utilizada em

determinado segmento horo-sazonal.

- Tarifa de ultrapassagem. Tarifa a ser aplicada ao valor de demanda

registrada que superar o valor da demanda contratada, respeitada a tolerncia.

- Tarifao horo-sazonal (THS). Sistema de tarifas que considera os

segmentos horo-sazonais para precificar a energia.

- Horrio de ponta (HP). Perodo definido pela concessionria, composto por

trs horas consecutivas, compreendidas entre 17 h e 22 h, exceo feita a sbados,

domingos, tera-feira de Carnaval, Sexta- Feira da Paixo, Corpus Christi, Finados e

demais feriados definidos por lei federal: 1 de janeiro, 21 de abril, 1 de maio, 7 de

setembro, 12 de outubro, 15 de novembro e 25 de dezembro. Neste intervalo a energia

eltrica mais cara.

- Horrio fora de ponta (HFP). So as horas complementares s trs horas

consecutivas que compem o horrio de ponta, acrescidas da totalidade das horas dos

sbados e domingos e dos onze feriados indicados acima. Neste intervalo a energia

eltrica mais barata.


- Curva de Carga do Sistema. A curva de carga do sistema eltrico para um

dia tpico apresenta o perfil mostrado na Figura 4. O horrio de ponta representa o

perodo do dia em que o sistema demanda mais carga.

Considerando que o sistema eltrico dimensionado para atender carga

mxima, verifica-se que para atender a uma nova carga no HP a concessionria teria de

investir para aumentar a sua capacidade apenas para aquele perodo, ao passo que para

uma nova carga no HFP no seria necessrio nenhum investimento.

Por meio da sazonalizao tarifria (preos mais elevados e mais baixos nos HP

e HFP, respectivamente), pretende-se que a curva do sistema torne-se mais plana ao

longo do dia.

Figura 4: Curva de carga de um dia til [5].

- Perodo seco. o perodo de 7 (sete) meses consecutivos, compreendendo

os fornecimentos abrangidos pelas leituras de maio a novembro de cada ano.

- Perodo mido. o perodo de 5 (cinco) meses consecutivos,

compreendendo os fornecimentos abrangidos pelas leituras de dezembro de um ano a

abril do ano seguinte.

- Segmentos horrios e sazonais. Identificados tambm como "segmentos

horo-sazonais", so formados pela composio dos perodos mido e seco com os

horrios de ponta e fora de ponta e determinados conforme abaixo:


Horrio de ponta em perodo seco

Horrio de ponta em perodo mido

Horrio fora de ponta em perodo seco

Horrio fora de ponta em perodo mido

Esses perodos foram criados visando compatibilizar a demanda com a oferta de

energia. Isto , por meio da sazonalizao tarifria (preos mais elevados e mais baixos

nos perodos seco e mido, respectivamente), mostra-se o custo da energia, conforme a

lei de oferta e procura.

1.4 Tarifao da Energia Eltrica

O custo da energia eltrica para o consumidor depende de uma srie de fatores.

Alm dos equipamentos e suas condies operacionais, a forma de contratao da

energia pode causar enormes diferenas de preos entre plantas semelhantes.

Dentre as inmeras mudanas, a reestruturao do setor eltrico implicou o

aparecimento de um agente no setor que inexistia at pouco tempo atrs: o consumidor

livre, um novo agente, que hoje se constitui de poucos consumidores, mas com tendncia

de crescimento nos prximos anos.

Os consumidores cativos so regulados por legislao especfica, estabelecida

pela Agncia Nacional de Energia Eltrica (ANEEL), os quais esto sujeitos a tarifas de

energia.

O preo a que esses consumidores esto sujeitos depender da tenso a que

estiverem ligados e, mesmo enquadrados em uma dessas classes de tenso, eles

pagaro por sua energia um preo mdio, que depender de alguns outros fatores.

No setor eltrico, considerado consumidor de baixa tenso (BT) aquele que

est ligado em tenso inferior a 2,3 kV; e de alta tenso aquele ligado em tenso superior

a esta.

Na BT, os clientes esto sujeitos s tarifas do grupo B. Nele existem subgrupos

que variam de acordo com as classes:

a) Subgrupo B1 - residencial; residencial baixa renda;


b) Subgrupo B2 rural; cooperativa de eletrificao rural; irrigao;

c) Subgrupo B3 - demais classes; e

d) Subgrupo B4 - iluminao pblica.

Observa-se que, apesar de o produto (energia) ser o mesmo, na BT o preo da

energia varia por tipo de classe (residencial, industrial/comrcio e rural); por estado,

conforme o ICMS; e entre as concessionrias.

Na alta tenso (AT), a tarifa aplicada no monmia, como na baixa tenso

(BT), e sim binmia. Ou seja, cobra-se, alm do consumo (kWh) registrado, a demanda

(kW) contratada ou a medida (a que for maior), mais o ICMS, PIS e COFINS.

Na AT, clientes esto sujeitos s tarifas do grupo A. Nele os subgrupos no

dependem das classes, e sim do nvel de tenso. So os subgrupos:

- A1 230 kV ou mais;

- A2 88 kV a 138 kV;

- A3 69 kV;

- A3a 30 kV a 44 kV;

- A4 2,3 kV a 25 kV; e

- AS subterrneo.

No setor eltrico, diz-se que os consumidores dos subgrupos AS, A4 e A3a

esto ligados em mdia tenso (MT).

At 1981, a tarifao de energia eltrica considerava paneas dois fatores

bsicos: a demanda de potncia e o consumo de energia. Neste sistema, o cliente no

percebia os reflexos da forma de uso de eletricidade, j que no havia diferenciao de

preos segundo os horrios de utilizao durante o dia e perodos do ano. Do ponto de

vista tarifrio era indiferente usar a energia durante a madrugada ou no final da tarde,

assim como no ms de junho ou de dezembro.

Por consequncia, o perfil da utilizao da energia, ao longo destes perodos,

refletia exclusivamente os hbitos de consumo e as caractersticas prprias de um

mercado de uma dada regio [6].


No horrio compreendido entre 17 e 22 horas, ocorria uma intensificao

do uso da eletricidade, resultado das influncias individuais das vrias classes de

consumo que compem o mercado, notadamente a industrial, a residencial e a

iluminao pblica.

Esse intervalo de tempo o perodo em que o sistema eltrico suporta o

maior volume de carga, atingindo seu valor mximo aproximadamente s 19 horas,

com pequena variao de regio para regio do pas.

Devido ao maior carregamento do sistema eltrico nesse horrio, fcil observar

que uma nova carga a ser atingida custar mais ao setor eltrico, que ter necessidade

de investir em usinas e linhas de transmisso para atender a expanso da carga na ponta

do sistema.

Neste novo modelo, para cada subgrupo estabelecido um grupo de tarifas. Os

clientes da mdia tenso possuem mais opes de tarifas.

Na modalidade convencional, as tarifas independem dos horrios de ponta e fora

de ponta, bem como dos perodos seco e mido.

Na modalidade horo-sazonal, existem dois tipos de tarifa: azul e verde (somente

para a MT). As tarifas de demanda so diferenciadas conforme os horrios, no caso da

azul, ao passo que as de consumo (energia) so diferenciadas conforme os horrios e

perodos.

Existe ainda uma tarifa aplicvel sobre a diferena entre a demanda medida e a

contratada quando a primeira exceder em 5% a segunda. O valor trs vezes superior

ao estabelecido para as tarifas regulares e denomina-se Tarifa de Ultrapassagem. A

Tabela 1 apresenta, ento, como as tarifas so aplicadas [3].


Tabela 1: Estrutura Tarifria. Adaptada de [3].

TIPO DE TARIFA

VALORES A SEREM FATURADOS

CONSUMO (KWH) DEMANDA (KW) ULTRAPASSAGEM

DE DEMANDA

CONVENCIONAL Aplicada como opo para consumidores

com demanda menor que 300kW. A demanda

contratada mnima de 30kW.

Ver observao 1.

Total registrado x Preo nico

Maior valor entre:

- a medida ou

- a contratada x Preo nico

Exceo

Ver observao 2.

Aplicvel quando a demanda medida

superar a contratada em 5%.

VERDE

Aplicada como opo

para consumidores da MT. Ver observao 3.

Total registrado no HFP

x

Preos HFP

para perodos seco e mido.

+

Total Registrado no HP

x

Preos HP


Maior valor entre:

- a medida ou

- a contratada x Preo nico

Exceo

Ver observao 2.

AZUL

Aplicada de forma compulsria para clientes com demanda maior ou igual a 300 kW e opcional

para aqueles com demanda entre 30 a 299

kW. Ver observao 3.

Total registrado no HFP

x

Preos HFP


+

Total Registrado no HP

x

Preos HP


Maior valor entre:

- a medida ou

- a contratada x

Preos diferenciados para HFP e HP Exceo

Ver observao 2.


Observaes:

1. Se uma unidade consumidora enquadrada na THS apresentar nove registros

de demanda medida menor que 300 kW nos ltimos onze ciclos de faturamento, poder

optar por retornar para a convencional.

2. Quando a unidade consumidora for classificada como rural ou reconhecida

como sazonal, a demanda a ser faturada ser:

- tarifa convencional: a demanda medida no ciclo de faturamento ou 10% da maior

demanda medida em qualquer dos onze ciclos completos de faturamento anteriores;

- tarifa horo-sazonal: a demanda medida no ciclo de faturamento ou 10% da demanda

contratada.

A cada doze meses, a partir da data da assinatura do contrato de fornecimento,

dever ser verificada, por segmento horrio, a demanda medida no inferior contratada

em pelo menos trs ciclos completos de faturamento. Caso contrrio, a concessionria

poder cobrar, complementarmente, na fatura referente ao dcimo segundo ciclo, as

diferenas positivas entre as trs maiores demandas contratadas e as respectivas

demandas medidas.

3. Se nos ltimos onze meses de faturamento apresentar trs registros

consecutivos ou seis alternados de demandas medidas maiores ou iguais a 300 kW, o

cliente ser enquadrado compulsoriamente na tarifa horo-sazonal azul, mas poder fazer

opo pela verde.

1.5 Indicadores

De uma maneira geral, pode-se afirmar que a eficincia energtica aumenta

quando se consegue realizar um servio e/ou produzir um bem com uma quantidade de

energia inferior a que era usualmente consumida. Para se poder quantificar esta melhoria

utiliza-se os chamados indicadores de eficincia energtica. Dentre os mais comuns e os

que apresentam maior utilizao, pode-se destacar:


1.5.1 Consumo especfico de energia (CE)

A anlise do consumo de energia (kWh) ou da carga instalada (kW) em relao

ao produto gerado, servio prestado ou rea ocupada produz indicadores de

desempenho passveis de comparao padres estabelecidos no pas e no exterior.

Pode-se, dessa forma, projetar padres muito mais eficientes de consumo de energia

eltrica, considerando-se utilizao de produtos e processos de melhor desempenho

energtico. Para o clculo do consumo especfico de energia (CE), faz-se [5]:

i

i

iQ

CCE (1.1)

Sendo

C o consumo mensal de energia dado em kWh/ms;

Q a quantidade de produto ou servio produzido no ms pela unidade

consumidora;

i ndice referente ao ms de anlise do histrico de dados.

1.5.2 Fator de Carga da Instalao (fc)

O fator de carga, que pode ser obtido atravs dos dados das contas de energia,

um dos indicadores mais importantes de eficincia, pois mostra como a energia est

sendo utilizada ao longo do tempo [5].

maxmax Dh

C

D

Dfc med

(1.2)

Sendo

fc fator de carga do ms na ponta e/ou fora de ponta;

Dmed Demanda mdia no ms na ponta e/ou fora de ponta

C consumo de energia (kWh) no ms na ponta e fora de ponta;


h nmero mdio de horas no ms; sendo geralmente 66 horas para a ponta, 664

horas para o perodo fora de ponta e 730 no total;

Dmax demanda registrada mxima de potncia no ms na ponta e fora de ponta.

Um fator de carga prximo de 1 (seu valor mximo) indica que as cargas

eltricas foram utilizadas racionalmente ao longo do tempo. Por outro lado, um fator de

carga baixo indica que houve concentrao de consumo de energia eltrica em curto

perodo de tempo, determinando uma demanda elevada.

Desta forma, quanto maior for o fator de carga, menor a demanda mxima

registrada e menor ser o custo do kWh.

)(kWfc

DmD

D

Dmfc (1.3)

1.5.3 Custo Mdio de Energia (CMe)

O custo mdio de energia expressa o valor gasto por kWh nas instalaes da

empresa [5].

kWh

R

C

FCMe

$ (1.4)

Sendo

CMe custo mdia da energia eltrica (R$/kWh);

F valor total da fatura de energia eltrica (R$);

C consumo de energia (kWh) no ms na ponta e fora de ponta;

Este indicador um forte aliado na tomada de decises relacionadas

contratao de energia eltrica, e ser abordado novamente no capitulo 4.

19 2. A Necessidade de Gesto do Conhecimento

2. A NECESSIDADE DE GESTO DO CONHECIMENTO

A grande motivao para a disseminao de prticas de gesto energtica,

ainda, a falta de conhecimento por parte dos consumidores, principalmente industriais

de pequeno e mdio porte. Tantos os desperdcios de energia quanto estratgias

tarifrias para reduo do custo da energia so desconhecidos e esquecidos nos estudos

de planejamento estratgico. Desta forma, a precariedade na Inteligncia Empresarial e a

m Gesto do Conhecimento tm sido duas das grandes causas de falncia em

empresas nascentes, pois o conhecimento tornou-se o principal fator de produo do

sculo XXI [7] e [8].

2.1 A Utilizao do Conhecimento

Desde Adam Smith, e sua publicao do livro: A Riqueza das Naes em 1776,

diferentes correntes do pensamento econmico concordam que os fatores bsicos de

produo so terra, capital, trabalho, matria-prima e energia. Esta classificao teve um

profundo impacto no processo de desenvolvimento da Economia enquanto cincia e

marcou o pensamento de geraes de economistas. Embora os trabalhos de Adam Smith

sejam os mais reconhecidos, na realidade o primeiro a definir terra, capital e trabalho

como os trs principais fatores de produo foi o economista francs Jean Baptist Say

(1767-1832). Mas esta realidade parece estar ficando para trs. O relatrio da

Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE) aponta que, em

1998, cerca de 55% da riqueza mundial foi gerada pelo conhecimento. Pela primeira vez

o conhecimento supera os fatores tradicionais de produo no processo de criao de

riqueza. O relatrio destaca, ainda, que a crescente reduo dos custos e a facilidade de

obteno da informao apontam, claramente, para um aumento da participao do

conhecimento no processo de criao de riqueza para organizaes, regies e pases [9].

Na verdade, a economia do conhecimento desloca o eixo da riqueza e do

desenvolvimento de setores industriais tradicionais intensivos em mo-de-obra,

matria-prima e capital - para setores cujos produtos, processos e servios so intensivos

em tecnologia e conhecimento. Mesmo em setores mais tradicionais, como a agricultura,

a indstria de bens de consumo e de capital, a competio cada vez mais baseada na

2.A Necessidade de Gesto do Conhecimento 20

capacidade de transformar informao em conhecimento e este ltimo em decises e

aes de negcio. O valor dos produtos e servios depende, assim, cada vez mais, do

percentual de inovao, tecnologia e inteligncia a eles incorporados. O conhecimento

parece ser, portanto, o novo motor da economia, seguindo uma lgica econmica

particular que o difere de todas as outras commodities, pois no segue a teoria da

escassez. mediada que a escassez de recursos limita os sistemas de produo, o

compartilhamento do conhecimento o torna mais abundante e, consequentemente,

aumenta o seu valor. Conhecimento o fator de produo da nova economia, cuja lgica

diametralmente oposta lgica do capital. Segundo Peter Drucker, considerado como o

pai da administrao moderna, os grandes ganhos de produtividade, daqui para frente,

adviro das melhorias na gesto do conhecimento.

Conceitualmente Gesto do Conhecimento um conjunto de atividades que

busca desenvolver e controlar todo tipo de conhecimento em uma organizao, visando

utilizao na consecuo de seus objetivos. Este conjunto de atividades deve ter como

principal meta o apoio ao processo decisrio em todos os nveis. Para isto, preciso

estabelecer polticas, procedimentos e tecnologias que sejam capazes de coletar,

distribuir e utilizar efetivamente o conhecimento, representando fator de mudana no

comportamento organizacional [10].

Este tipo de procedimento insistentemente ignorado pelos gestores de muitas

empresas, remetendo o problema aos mbitos do sistema educacional brasileiro e

levando situao: como os pequenos empresrios podem se tornar grandes se estes

so os que menos tiveram incentivo em obter conhecimento e apresentam nvel de

escolaridade muito menor [12]? Esta situao representa elevado grau de impacto no

desenvolvimento da sociedade e economia brasileira, pois baseando-se em dados da

Receita Federal, as pequenas empresas representam 98% do total de 4.5 milhes de

empresas do Brasil, ocupando 60% da mo-de-obra e gerando 20% do PIB. No entanto,

apenas 2% delas tm insero no mercado internacional. E a capacidade de competir no

mercado global est cada vez mais ligada ao valor agregado em conhecimento aos

produtos e servios. No caso brasileiro, especificamente, h 4 grandes entraves para a

competitividade das pequenas empresas [9]:

1. a escassez de conhecimento;

2. a falta de uma cultura de treinamento;

3. a falta de conhecimento sobre tecnologia e

21 2.A Necessidade de Gesto do Conhecimento

4. uma precria infraestrutura para inovao tecnolgica e de contedo.

Na opinio dos empresrios que encerraram as atividades, encontram-se em

primeiro lugar entre as causas do fracasso questes relacionadas falhas gerenciais na

conduo dos negcios, expressas nas razes: falta de capital de giro (indicando

descontrole de fluxo de caixa), problemas financeiros (situao de alto endividamento),

ponto inadequado (falhas no planejamento inicial) e falta de conhecimentos gerenciais.

Em segundo lugar, predominam as causas econmicas conjunturais, como falta de

clientes, maus pagadores e recesso econmica no Pas, sendo que o fator falta de

clientes pressupe, tambm, falhas no planejamento inicial da empresa. Outra causa

indicada, com 14% de citaes, refere-se falta de crdito bancrio.

As taxas de mortalidade verificadas para o Brasil so as seguintes:

1) 49,4% para as empresas com at 2 anos de existncia (2002);

2) 56,4% para as empresas com at 3 anos de existncia (2001);

3) 59,9% para as empresas com at 4 anos de existncia (2002).

No novo paradigma tcnico-econmico h necessidade de intenso investimento

em conhecimento, que por sua vez depende de processos de aprendizado interativos.

Alianas estratgicas permitem o estabelecimento de laos de cooperao que

possibilitam s empresas, um maior acesso a informaes e conhecimento. O

estabelecimento de laos de cooperao permite s empresas a obteno de ganhos de

escala e escopo ao gerar externalidades positivas. O estabelecimento de laos de

cooperao tambm permite a estas empresas o acesso a novos mercados [9].

2.2 A Inteligncia Empresarial

A gerao de conhecimento em uma organizao composta por uma parcela

de desenvolvimento interno e uma parcela de aquisio do ambiente externo. O

desenvolvimento interno est relacionado ao sistema produtivo da empresa e remete

rotina de trabalho. J a parcela de aquisio externa engloba reas de conhecimento

diversas, que tem relao direta ou indireta com a cadeia de atividades organizacional.

Desta forma, esta parcela tem a peculiaridade de exigir uma viso mais ampla,


vislumbrando cenrios polticos, governamentais, econmicos, legislativos entre outros;

ao passo que a especificidade garante o sucesso no desenvolvimento interno.

Evidentemente, os resultados de uma empresa so fruto da combinao consciente

destes fatores. Entretanto, a maioria empresas formada a partir de um conhecimento

especfico e amplia-se o conhecimento medida que as necessidades administrativas

vo exigindo e mesmo assim atende-se quelas mais determinantes ao processo

principal.

Para a renovao do conhecimento necessria a vigilncia permanente dos

ambientes externos, internos e das prticas gerenciais, de modo a garantir que a

empresa se transforme num verdadeiro sistema. O modelo apresentado na Figura 5

demonstra, de maneira esquemtica, o que est envolvido nesse processo.

Figura 5: sistema corporativo de assimilao de conhecimento [10].

Historicamente, h cerca de 2.500 anos, um filsofo chins chamado Sun Tzu

registrou toda a sua sabedoria no livro: A Arte da Guerra. Neste livro, que se tornou um

clssico sobre estratgias e tticas militares, o autor discute todos os aspectos da guerra

tticos, hierrquicos e humanos cujos conceitos bsicos se contextualizam em nosso

cotidiano atual. As estratgias e tticas publicadas por Sun Tzu, da mesma forma, mostra


o caminho da vitria em todas as espcies de conflitos comerciais comuns, batalhas em

salas de diretoria e na luta diria pela sobrevivncia. So todas formas de guerra, todas

combatem sob as mesmas regras [10].

De todas as citaes transcritas no livro, uma merece destaque especial, por

focalizar a importncia do conhecimento como vantagem competitiva em qualquer

batalha:

Se voc conhece o inimigo e conhece a si mesmo, no precisa temer o

resultado de cem batalhas. Se voc se conhece, mas no conhece o inimigo, para cada

vitria ganha sofrer tambm uma derrota. Se voc no conhece nem o inimigo nem a si

mesmo, perder todas as batalhas...

Esta mxima de Sun Tzu conduz a uma reflexo a respeito da importncia do

conhecimento para que uma organizao possa sobreviver e atingir seus objetivos

estratgicos e tticos na nova realidade mundial. A organizao que no conhece o

ambiente externo onde est inserida e a sua potencialidade est fadada ao insucesso por

despender esforos redundantes e, muitas vezes, de baixa eficcia em suas atividades.

Em geral, as organizaes respondem a desafios internos e externos com graus

variados de efetividade. Alguma prosperam, outras perecem, e as remanescentes se

confundem pelos nveis moderados de efetividade. Uma caracterstica importante das

que tm esse sucesso que elas so capazes de identificar e responder adequadamente

a mudanas em seus ambientes. Estas mudanas no s incluem as aes especficas

de outras organizaes, mas mudanas em tecnologia, em sua estrutura interna e em

condies scias e culturais que afetam a organizao.

Assim, uma organizao para prosperar deve ser capaz de descobrir sintomas

de ameaas e oportunidades iminentes, alm de diagnosticar as causas fundamentais

destes sintomas. Ela tambm tem de aprender com as suas prprias experincias e com

as das outras. Isto tudo obtido no s pela mudana de suas aes, mas tambm por

meio de modificaes em suas estruturas internas e em seus procedimentos de

processar informao.

Para que uma organizao possa acompanhar a dinmica do ambiente em que

est inserida e as necessidades de melhorias em sua estrutura interna, atuando sempre

com efetividade, preciso que tenha um sistema eficiente de inteligncia empresarial.


A Inteligncia Empresarial ou Inteligncia de Negcios pode ser definida como a

capacidade de uma empresa capturar, selecionar, analisar e gerenciar as informaes

relevantes para a gesto do negcio com o objetivo de [10]:

- Inovar e criar conhecimento;

- Reduzir riscos na tomada de deciso e evitar surpresas;

- Direcionar, assertivamente, os planos de negcios e a implementao de aes;

- Criar oportunidades de negcios;

- Apoiar o desenvolvimento de produtos/servios com uma base de informao confivel,

eficiente e gil;

- Monitorar, analisar e prever, eficientemente, as questes relacionadas ao core business;

- Gerar valor aos negcios.

Pode ser concebida como o resultado de uma evoluo como funo hbrida do

planejamento e das atividades de pesquisa de marketing. sistematizada atravs da

monitorao ambiental. A monitorao tem como meta acompanhar o andamento das

mudanas ambientais visando identificar e agir o mais rpido possvel s foras que as

afetam, seja em forma de oportunidade ou ameaa. Analogamente aos seres humanos,

uma organizao inteligente deve possuir as seguintes caractersticas [10]:

- uma curiosidade receptiva e astuta;

- um conjunto de respostas que seja consistente, mas flexvel;

- uma capacidade de aprender rapidamente.

A inteligncia organizacional um ciclo contnuo de atividades que incluem o

sensoriamento do ambiente, o desenvolvimento de percepes e a criao de

significados por intermdio de interpretao, utilizando a memria sobre as experincias

passadas e escolhendo aes baseadas nas interpretaes desenvolvidas conforme na

Figura 6.


Figura 6: o ciclo da inteligncia empresarial [9].

2.3 Atuao de Agentes do Ambiente Externo

No intuito de acelerar a melhoria dos sistemas de gesto do conhecimento, no

contexto da gesto e conservao energtica, novos requisitos legais relacionados com

energia, solues tecnolgicas, mtodos inovadores, requisitos de prticas e

competncia esto a ser introduzidos no mercado global por diferentes partes

interessadas, nomeadamente, governos, indstria, produtores de energia e fornecedores,

prestadores de servios, professores e investigadores, organismos de normalizao e

organizaes ambientais e de consumidores.

2.3.1 PROCEL

Para definir estratgias, como a de mobilizar a sociedade para o uso

responsvel e eficiente da energia eltrica, combatendo seu desperdcio, o Governo

Federal, por intermdio do Ministrio de Minas e Energia, criou, em 1985, o PROCEL

Programa Nacional de Conservao de Energia Eltrica, cuja Secretria Executiva

exercida pela Eletrobrs. Em 1991, o PROCEL foi transformado em um Programa de

Governo, tendo abrangncia e responsabilidade ampliadas [5].


A partir de sucessivas crises nacionais e internacionais, afetando o

abastecimento, durante as quais a economia de energia passou a fazer parte de um

grande esforo nacional, o PROCEL ampliou sua rea de atuao, desenvolvendo uma

srie de projetos, dirigidos para as classes de consumo industrial, comercial, residencial,

iluminao pblica, rural e poder pblico, com nfase em prdios pblicos.

Concomitantemente, dentre outras iniciativas relevantes, o Programa contribuiu

para a melhoria do rendimento energtico de materiais e equipamentos eltricos de uso

final, por meio da outorga do Selo de Economia de Energia. Capacitou tecnologicamente

centros de pesquisa e laboratrios, visando implementao da Lei de Eficincia

Energtica (Lei 10.295 de 17 de outubro de 2001), alm de interagir com a Educao

Formal do Pas em conformidade com a Lei de Diretrizes e Bases da Educao nacional,

com o objetivo de retirar o consumo perdulrio do Brasil, avaliado em cerca de 20% do

consumo total de energia eltrica do pas [5].

Para cumprir sua misso, utiliza recursos da Eletrobrs e da Reserva Global de

Reverso RGR, fundo federal constitudo com recursos das concessionrias. Utiliza,

tambm, recursos de entidades nacionais e internacionais cujos propsitos estejam

alinhados com seus objetivos.

O PROCEL tem diversas linhas de atuao, que abrangem diferentes

segmentos de consumo de energia. Sua atuao concretizada por meio de

subprogramas especficos, como:

- Centro Brasileiro de Informao de Eficincia Energtica - PROCEL Info

- Eficincia Energtica em Edificaes PROCEL Edifica

- Eficincia Energtica em Equipamentos - PROCEL Selo

- Eficincia Energtica Industrial - PROCEL Indstria

- Eficincia Energtica no Saneamento Ambiental - PROCEL Sanear

- Eficincia Energtica nos Prdios Pblicos - PROCEL EPP

- Gesto Energtica Municipal - PROCEL GEM

- Informao e Cidadania - PROCEL Educao

- Eficincia Energtica na Iluminao Pblica e Sinalizao Semafrica - PROCEL Reluz

A interao com o processo educativo se fez, a partir de 1993, por meio de um

Acordo de Cooperao tcnica entre os Ministrios de Minas e Energia e o da Educao,

estabelecendo, para cada nvel de ensino, uma forma apropriada de abordar as questes

da conservao de energia.


Na Eletrobrs/PROCEL, o ncleo denominado PROCEL EDUCAO se

organizou para atender nova demanda, estabelecendo parcerias com competncias

tcnicas educativas que pudessem desenvolver um produto adequado Educao

Bsica, Mdia Tcnica e Superior.

A ELETROBRAS, no mbito do PROCEL INDSTRIA vem firmando convnios

com as Federaes das Indstrias dos Estados, para desenvolver e implementar o

projeto "Reduo de Perdas de Energia em Sistemas Motrizes". Cuja motivao vem do

fato do setor industrial brasileiro ser responsvel por cerca de 47% do consumo de

energia eltrica do pas. Sabendo-se, ainda, que o consumo de energia nos sistemas

motrizes corresponde a 62% do total da energia eltrica consumida na indstria, o que

representa 28,5% do consumo total deste insumo no pas. A Figura 7 mostra o perfil de

consumo de eletricidade no Brasil [13].

Figura 7: consumo de energia eltrica por setor econmico [13].

O projeto teve origem na poca da crise do abastecimento de energia eltrica,

quando o Governo Federal instituiu a Cmara de Gesto da Crise de Energia Eltrica

GCE, com a finalidade de elaborar um Plano Estratgico Emergencial de Energia

Eltrica, para aumentar a oferta desta energia, garantir o pleno atendimento da demanda,

e reduzir os riscos de ocorrerem novos racionamentos de energia.

Desta forma, foi concebido o Projeto de Otimizao Energtica de Sistemas

Motrizes, base para a estruturao do PROCEL Indstria, com o objetivo inicial de atuar

em duas vertentes de aes, voltadas para a grande indstria.

A primeira vertente visa fomentar aes de incentivo, junto ao mercado, para

utilizao de motores de alto rendimento, alternativa bastante vivel do ponto de vista


tcnico-econmico, conforme experincias internacionais semelhantes e, capacitar

equipes tcnicas da indstria, de modo que possam desenvolver projetos efetivos

destinados a otimizao de sistemas motrizes. Como contrapartida, a indstria se

compromete a implantar os projetos que sejam economicamente viveis.

A segunda vertente trata da formao dos engenheiros brasileiros, cujo foco

acadmico no propicia uma viso multidisciplinar, necessria para atuar no mercado de

eficincia energtica. Para minimizar os efeitos desta abordagem, a Eletrobrs implantou

Laboratrios de Otimizao de Sistemas Motrizes (Lamotrizes) nas universidades

pblicas, de modo a desenvolver experimentos com viso sistmica e o fomento a bolsas

de estudos para graduao e ps graduao.

Para atingir o segmento das micro e pequenas empresas, o Programa atua em

parceria com o SEBRAE-RJ, visando implementar aes de eficincia energtica,

inicialmente nos setores de cermica vermelha e hotelaria.

Atualmente o Programa est em fase de reestruturao, cujas novas diretrizes

pretendem estender sua atuao nos setores industrial, comercial e das micro e

pequenas empresas, visando fomentar a adoo de equipamentos e sistemas eficientes

por estes setores, e ampliar a abordagem da gesto energtica e ao financiamento

dessas aes nesses segmentos por meio das seguintes aes:

- Participar dos Grupos de Trabalho de Bombas e Motores e desenvolver ferramentas

para seleo de equipamentos eficientes utilizados nos sistemas motrizes;

- Estabelecer protocolos de cooperao com Associaes Industriais e instituies

financeiras para fomento a aes de eficincia energtica nos setores alvo do PROCEL

Indstria;

- Implantar a gesto energtica nos setores alvo segundo a tica da ISO 50.001, por meio

da capacitao de gestores de energia;

- Ampliar a capacitao de engenheiros multidisciplinares - eletricistas e mecnicos com

viso sistmica - cuja abordagem se faz necessria para atuar com as questes da

eficincia energtica.

Com efeito, a gesto energtica surge como um instrumento fundamental,

permitindo ao gestor de energia contabilizar os consumos de energia, a eficincia

energtica dos seus equipamentos e as perdas correspondentes em cada processo,


reduzindo os custos de produo e os impactos ambientais, bem como a necessidade de

subsdios para a promoo de tecnologias mais limpas.

Esto habilitadas ao projeto as indstrias de mdio e grande porte que se

comprometam a buscar oportunidades para reduzir seus custos de produo e aumentar

sua produtividade, por meio da adoo de aes para reduo das perdas em sistemas

motrizes.

Desde seu lanamento at 2009, o PROCEL j economizou 38 mil GWh de

energia, o que corresponde a 10% do consumo residencial de 2009 ou energia para

suprir as residncias da regio Sudeste durante um ano. Mais de 1 bilho de reais

investidos em projetos ao longo dos anos, com uma relao custo-benefcio de 24:1, ou

seja, para cada real investido pelo PROCEL, 24 retornaram na forma de investimentos

postergados na expanso do sistema eltrico nacional [14].

2.3.2 ISO 50.001: Gesto Energtica

Publicada em 15 de junho de 2011, a ABNT NBR ISO 50001:2011 Sistemas

de Gesto da Energia Requisitos com orientaes para uso tem o objetivo de orientar

que as organizaes estabeleam os sistemas e processos necessrios para melhorar o

desempenho de energia, incluindo eficincia, uso, consumo e intensidade da energia.

Almeja-se redues nos custos de energia, emisses de gases do efeito estufa e outros

impactos ambientais, atravs da gesto sistemtica da energia. Ela aplicvel a todos os

tipos e tamanhos de organizaes independente de condies geogrficas, culturais ou

sociais. A implementao bem sucedida depende do compromisso de todos os nveis e

funes da organizao, especialmente da Alta Direo [15].

Esta Norma especifica os requisitos de um Sistema de Gesto de Energia (SGE)

para uma organizao desenvolver e implementar uma poltica de energia, estabelecer

objetivos, metas e planos de ao que considerem os requisitos legais e as informaes

relativas ao uso significativo de energia. Um sistema de gesto de energia permite que

uma organizao alcance seus compromissos de poltica, tome aes conforme

necessrio para melhorar seu desempenho energtico e demonstre a conformidade do

sistema com os requisitos da ISO. A aplicao desta Norma pode ser adaptada para se

ajustar aos requisitos de uma organizao incluindo a complexidade do sistema, grau

de documentao e recursos e se aplica s atividades sob o controle da organizao

[16].


A ISO 50001 baseia-se na metodologia de melhoria contnua Plan-Do-Check-

Act, apresentada na Figura 8:

1) Planejar (Plan): estabelecer os objetivos e processos necessrios para atribuir

resultados de acordo com as oportunidades de aprimoramento do desempenho de

energia e das polticas da organizao;

2) Fazer (Do) - implementar os planos de ao do gerenciamento energtico;

3) Verificar (Check) - monitorar e medir os processos e o produto com base em polticas,

objetivos e caractersticas principais das suas operaes e relatar os resultados;

4) Agir (Act) - tomar aes para aprimorar continuamente o desempenho de energia e do

SGE.

Figura 8: Modelo esquemtico para um Sistema de Gesto de Energia [16].


Em suma, a certificao na ISO 50001 ir demonstrar que a organizao

implantou sistemas de gesto energtica sustentveis, aperfeioou a base de uso de

energia e se comprometeu a melhorar continuamente sua intensidade energtica.

Em suas projees, a Empresa de Pesquisa Energtica vislumbra uma

economia no consumo energia eltrica de 4,5% acumulados at 2020, equivalente a 7 mil

MW de capacidade de gerao eltrica instalados, que segundo a EPE, ser equivalente

a uma economia de 390 mil barris de petrleo por dia [7].

33 3. A Identificao das Oportunidades

3. A IDENTIFICAO DAS OPORTUNIDADES

Empresas que investem em projetos de eficincia e gesto energtica podem

economizar recursos, ganhar competitividade e amenizar a presso sobre o aumento da

oferta de energia. Postergar parte do investimento no aumento da oferta de energia

permite ao governo e ao empresrio liberarem recursos para outras prioridades, sem

perda de qualidade, segurana no abastecimento e com ganhos sociais e ambientais.

Para conhecer o que j foi feito no Brasil e identificar prioridades de

investimentos o PROCEL INFO analisou 217 projetos de eficincia energtica industrial

em 13 setores, realizados nos ltimos 10 anos. A maioria dos projetos foi desenvolvida

dentro das regras do Programa de Eficincia Energtica PEE (Lei 9.991/00), sob

regulao da ANEEL

. O montante total investido neste conjunto de projetos foi de R$ 161 milhes,

gerando uma economia de 626 GWh, o que apresenta um Custo da Energia Conservada

CEC de R$ 79/MWh (durao mdia das aes de eficincia de 10 anos e uma taxa de

remunerao do capital de 12% ao ano) [18].

Considerando o valor de R$ 138/MWh para o custo marginal de expanso do

sistema de energia eltrica, valor estimado pela EPE (Plano Decenal 2007/2016), a

eficincia energtica uma alternativa vivel. Ou seja, a mesma quantidade de energia

pode ser disponibilizada, a preos mais baixos, sem a necessidade de novas obras e

com efeitos positivos no meio ambiente.

A Figura 9 apresenta o valor mdio da energia conservada, por setor. A

constante representa o valor do custo marginal de expanso que de R$ 138/MWh.

Nota-se que para alguns segmentos o retorno econmico do investimento em eficincia

energtica invivel. No entanto, os projetos podero se tornar viveis caso o prazo de

retorno passe ser maior do que os 10 anos considerados.

3. A Identificao das Oportunidades 34

Figura 9: Custo da energia conservada por setor [18].

Ainda, a viabilidade econmica pode ser alcanada atravs dos diferentes

programas e fontes de financiamento para a reduo dos desperdcios de energia, que

tm se estabelecido no Brasil ao longo dos anos e das quais se destacam:

- Fundos Setoriais de Cincia e Tecnologia, geridos pela FINEP;

- Programa de Apoio a Projetos de Eficincia Energtica (PROESCO) do BNDES;

- Programas de Eficincia Energtica (PEE) e Programas de Pesquisa e

Desenvolvimento (P&D), desenvolvidos pelas concessionrias do setor eltrico e

coordenados pela ANEEL;

- Iniciativas da Agncia Nacional de Energia Eltrica (ANEEL), da Agncia Nacional de

Petrleo, Gs e Biocombustveis (ANP) e do Programa Nacional de Conservao de

Energia Eltrica (PROCEL);

- Iniciativas das associaes de classe (ABINEE, ABILUX, ABIMAQ, ABDIB, ABRACE,

ABRADEE, etc.);

- Atividades da Associao Brasileira das Empresas de Servios de Conservao de

Energia (ABESCO);


- Iniciativas das principais instituies acadmicas e institutos tecnolgicos.

Alm disso, tem-se criado e reformulado uma vasta legislao em prol da

conservao de energia, e desta gama legal pode-se citar [19]:

Crise de energia:

Portaria 174 de 25.05.2001 - Constitui a Comisso Interna de Reduo do Consumo de

Energia

Medida Provisria 2.147 de 15.05.2001 - Trata da criao da Cmara de Gesto da

Crise de Energia Eltrica (GCE)

Decreto 3.789 de 18.04.2001 - Institui Comisso de Gerenciamento da Racionalizao

da Oferta e do Consumo de Energia Eltrica (CGRE)

Decreto 4.145 de 25.02.2002 - Dispe sobre meta de consumo emergencial

Resoluo CGCE 004 de 22.05.2001 - Estabelece regimes especiais de tarifao, limites

de uso e fornecimento de energia eltrica

Decreto 3.806 de 26.04.2001 - Acrescenta inciso a decreto que trata de medidas

emergenciais de racionalizao de energia

Decreto 93.901 de 09.01.1987 - Estabelece critrios para o racionamento de energia

eltrica

ndices de eficincia:

Decreto 19.147 de 14.11.2000 - Dispe sobre a reduo do consumo de energia eltrica

em prdios pblicos

Decreto 0-006 de 8.12.1993 - Institui o Selo Verde de Eficincia Energtica

Lei 10.295 de 17.10.2001 - Dispe sobre a Poltica Nacional de Conservao e Uso

Racional de Energia

Decreto 21.806 de 26.07.2002 - Torna obrigatria a adoo do Caderno de Encargos

para Eficincia Energtica em prdios pblicos

Portaria 113 de 15.03.2002 - Estabelece meta de consumo para os rgos pblicos


Decreto 45.643 de 26.01.2001 - Estabelece procedimentos para aquisio de lmpadas

de alto rendimento

Linhas de crdito:

Decreto 1.040 de 11.01.1994 - Determina que agentes financeiros oficiais de fomento

incluam projetos de conservao e uso racional da energia

Prmios:

Decreto 0-002 de 8.12.1993 - Cria o Prmio Nacional de Conservao e Uso Racional da

Energia

Programas de Eficincia Energtica:

Portaria 001 de 13.08.1998 - Cria grupo de trabalho para estudar a eficincia energtica

Decreto 99.656 de 26.10.1990 - Cria a Comisso Interna de Conservao de Energia

(CICE)

Decreto 45.765 de 04.05.2001 - Institui o Programa Estadual de Reduo e

Racionalizao do Uso de Energia

Portaria Interministerial 1.877 de 30.12.1985 - Institui o Programa Nacional de

Conservao de Energia Eltrica (PROCEL)

Resoluo CC-23 de 18.03.2004 - Institui grupo tcnico para estudar e propor melhores

prticas de projeto e tcnicas de gesto de sistemas no uso da energia eltrica

Resoluo CC-64 de 29.09.2005 - Define denominao do grupo tcnico do Comit de

Qualidade da Gesto Pblica

Portaria 46 de 07.03.2001 - Cria o Comit de Acompanhamento das Metas de

Conservao de Energia

Projetos ANEEL:

Resoluo ANEEL 271 de 19.07.2000 - Estabelece critrios de aplicao de recursos

no combate ao desperdcio de energia e P&D do setor eltrico


Resoluo ANEEL 186 de 23.05.2001 - Altera dispositivos e promove ajustes nos

critrios para aplicao de recursos no combate ao desperdcio de energia ciclo

2000/2001

Resoluo ANEEL 394 de 17.09.01 - Estabelece critrios para aplicao em projetos de

combate ao desperdcio de energia eltrica

Resoluo ANEEL 185 de 21.05.2001 - Define as dedues para a obteno da Receita

Operacional Lquida

Resoluo ANEEL 334 de 02.12.1999 - Autoriza o desenvolvimento de projetos que

visam melhoria do fator de carga

Resoluo ANEEL 176 de 28.11.2005 - Estabelece critrios para aplicao de recursos

em programas de eficincia energtica

Decreto 3.867 de 16.07.01 - Define onde os recursos de P&D em eficincia energtica

sero depositados

Lei 11.456 de 29.03.2007 - Prorroga a aplicao de recursos nos programas de eficincia

energtica at 2010

Resoluo ANEEL 153 de 18.04.2001 - Estabelece percentual de aplicao de

recursos no Programa de Combate ao Desperdcio de Energia Eltrica Ciclo 2000/2001

Lei 9.991 de 24.07.2000 - Dispe sobre obrigatoriedade de aplicao de recursos em

P&D e eficincia energtica

Projeto de Lei 6164/05 - Prorroga at 2010 a aplicao de recursos em programas

de eficincia energtica

Resoluo ANEEL 492 de 03.09.2002 - Estabelece critrios para aplicao de recursos

em programas de eficincia energtica

3.1 Inteligncia Empresarial e Gesto Energtica

O momento propcio para maior dinamismo nas aes de

eficincia energtica no setor industrial. As iniciativas nacionais para


aes de eficincia energtica industrial ainda so muito tmidas.

Contudo, a existncia de metas de eficincia energtica no Plano

Nacional de Energia 2030 e a iniciativa do Ministrio de Minas e Energia

em desenvolver uma estratgia nacional de eficincia energtica

confirmam que esse o momento para firmar parcerias, reorganizar

esforos, estabelecer metas e priorizar recursos. (PROCEL INFO, 2009)

Dados os objetivos e metodologia envolvidos no conceito de Inteligncia

Empresarial, a Gesto Energtica representa um importante ferramental, visto o grande

dinamismo do setor eltrico e sua regulao. Como apresentado, os projetos de

eficincia energtica necessitam de grandes volumes de investimento. Entretanto, a

gesto energtica vai alm da conservao de energia e busca tambm estratgias para

reduzir o custo da energia, o que no implica necessariamente na reduo do consumo.

A grande vantagem destas estratgias a necessidade de volumes diminutos ou at

nulos de investimento, por se tratarem de operaes de otimizao contratual ou de

mudana de hbitos de consumo. A abordagem a seguir ir evidenciar como a obteno

de conhecimento externo sobre a tratativa do faturamento de energia pode representar

um grande diferencial de economia no valor final da fatura de energia.

3.1.1 Anlise do Faturamento

Em conformidade com a as resolues normativas da ANEEL, o faturamento de

energia eltrica dado a partir das modalidades tarifrias, estando sujeito ao

recolhimento de PIS, COFINS e ICMS [20]:

- Modalidade Convencional:

ICMSCOFINSPISDTDCTCF

1

1)( (3.1)

- Modalidade Horo-Sazonal Verde:

ICMSCOFINSPISDTDCTCCTCF ffpp

1

1)( (3.2)


- Modalidade Horo-Sazonal Azul:

ICMSCOFINSPISDTDDTDCTCCTCF ffppppff

1

1)( (3.3)

Considerando:

F faturamento (R$)

C consumo de energia registrada (kWh)

TC tarifa de consumo (R$/kWh)

D demanda de energia faturada (kW)

TD tarifa de consumo (R$/kW)

Dcon - Demanda Contratada

Dmx demanda mxima registrada

PIS Programa de Integrao Social, contribuio social de natureza tributria,

devida pelas pessoas jurdicas, com objetivo de financiar o pagamento do seguro-

desemprego e do abono para os trabalhadores que ganham at dois salrios mnimos.

COFINS (Contribuio Social para Financiamento da Seguridade Social) foi

instituda pela Lei Complementar n 70, de 30 de dezembro de 1991, destinada a

financiar as despesas das reas de Sade, Previdncia e Assistncia Social.

ICMS (Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios) incidente sobre o

fornecimento de energia eltrica foi institudo no mbito do Estado de So Paulo pela Lei

Estadual n 6.374, de 1 de maro de 1989.

p ndice referente ao horrio de ponta

f ndice referente ao horrio fora de ponta

Para a simplificao da anlise do faturamento e sem perda de generalidade,

sero consideradas as seguintes hipteses:

- o fator de potncia do sistema maior ou igual a 0,92;

- no h ultra ultrapassagem de demanda;


Inicialmente, deve-se atentar que existem algumas regras associadas ao

faturamento para estimular um consumo mais consciente. Desconsiderando, pelas

hipteses, as penalidades por ultrapassagem de demanda e baixo fator de potncia:

- Condies Regulatrias:

),( conmx DDmxD (3.4)

pfpf TCTCeTDTD (3.5)

A demanda faturada ser a maior entre as demandas contratada e registrada,

penalizando pelo incorreto dimensionamento do consumo, pois este representa um dficit

para setor eltrico, que investiu em infraestrutura para assegurar a demanda exigida. As

tarifas nos horrios fora de ponto so maiores para estimular o deslocamento do

consumo para o horrio fora de ponta.

Do ponto de vista do consumidor, como exposto no captulo 2, o fator de carga

expressa o grau de utilizao da demanda ao longo do horrio de trabalho e est

diretamente relacionado ao valor da demanda mxima registrada:

fch

C

fc

DD mdmx

(3.6)

Sendo

h horas na ponta (66h), fora da ponta (664h) ou total (730h)

Dmd demanda mdia mensal

Assim, o faturamento pode ser reescrito em funo do fator de carga:

- Convencional:

ICMSCOFINSPISC

fch

TDTCF

1

1)( (3.7)

- Horo-Sazonal Verde

ICMSCOFINSPISC

fch

TDTCC

fch

TDTCF f

ff

fp

pp

p1

1)()( (3.8)


- Horo-Sazonal Azul

ICMSCOFINSPISC

fch

TDTCC

fch

TDTCF f

ff

f

fp

pp

p

p1

1)()( (3.9)

Esta a abordagem clssica, que mostra como o faturamento dependente do

fator de carga, entretanto esta formulao no possui maiores extenses para

interpretao.

Uma outra abordagem pode ser desenvolvida manipulando as equaes, de

modo a colocar em evidncia o consumo total ou fora de ponta e demanda fora de ponta,

resultando nas seguintes formas:

- Convencional:

ICMSCOFINSPISC

fch

TDTCF

1

1)( (3.10)


ICMSCOFINSPISC

fch

TD

C

C

C

CTCTCF f

f

p

f

p

pf1

1)1()( (3.11)

- Horo-Sazonal Azul

ICMSCOFINSPISC

fchD

DTDTD

C

CTCTCF f

fff

p

pf

f

p

pf1

11)()( (3.12)

Alm de mostrar a influencia do fator de carga, esta formulao evidencia outra

situao: dada a condio (3.5), o valor da fatura to menor, quanto menor forem os

fatores f

p

C

Ce

f

p

D

D. Estes fatores se relacionam da seguinte maneira:

f

p

f

p

f

p

f

p

h

h

fc

fc

D

D

C

C (3.13)

Ainda:


h

fchfchfc

ppff (3.14)

A reduo destes acontece quando o consumo na ponta (Cp) diminui e/ou o

consumo fora de ponta (Cf) aumenta.

O objetivo global desta abordagem minimizar o faturamento sem reduzir o

consumo, que significa no racionar energia e nem realizar investimentos em eficincia

energtica:

cteCCC pf (3.15)

Isto faz com que a demanda mdia tambm seja constante:

ctefc

DDcte

h

CC

h

CD med

pf

med

max (3.16)

Evidentemente, o mnimo objetivado ocorre quando:

00 f

p

f

p

C

C

D

D(3.17)

Esta situao implica em:

00

pp

f

DC

CC(3.18)

Condio que caracteriza o deslocamento total do consumo no horrio de ponta

para o horrio fora de ponta ou deslocamento total de carga.

A minimizao das equaes do faturamento levam ao deslocamento de carga e

ao aumento do fator de carga, entretanto, o conhecimento das regras do setor eltrico

permite a aplicao de outras duas estratgias, compondo ento uma metodologia

fundamentada em 4 passos para a reduo da fatura de energia de consumidores

industriais, a partir de um investimento muito menor que a economia obtida.

3.1.2 Metodologia Proposta


A metodologia proposta baseada em 4 diferentes oportunidades de reduo do

custo da energia eltrica, das quais apenas duas podem necessitar algum investimento

financeiro. As etapas desta so:

1) Credito de ICMS, PIS e COFINS

A Lei Complementar 87/1996 permitia que as empresas comerciais e industriais

utilizassem o crdito integral do ICMS destacado nas faturas de energia eltrica, no

entanto, sua vigncia foi at 31 de dezembro de 2000 e a partir desta data, passou a

vigorar a Lei Complementar 102/2000. Com este texto legal em vigor, a utilizao do

crdito de ICMS restringiu-se a 3 hipteses [21]:

1) quando for objeto de operao de sada de energia eltrica;

2) quando consumida no processo de industrializao;

3) quando seu consumo resultar em operao de sada ou prestao para o exterior, na

proporo destas sobre as sadas ou prestaes totais.

Assim, as empresas industriais que queiram se creditar do ICMS destacado nas

notas fiscais de energia eltrica, devem confeccionar um Laudo Tcnico emitido por um

perito para quantificar a energia eltrica consumida nos setores de industrializao.

possvel buscar a retroatividade do crdito no perodo dos ltimos cinco anos (60 meses)

e os valores apurados podero ser compensados com dbitos vincendos do ICMS,

atentando-se s normas do regulamento estadual do Estado onde estiver situado o

estabelecimento [21].

Salienta-se que em qualquer um dos casos relatados, no passvel de crdito

o consumo de energia relacionado s reas de administrao e vendas e ainda que o

direito ao crdito dado somente s empresas que no optaram pelo recolhimento

simplificado do ICMS.

Alm do ICMS estadual, tambm possvel se creditar dos impostos PIS e

COFINS federais.encontrados nas faturas de energia eltrica. Para fins de apurao de

crditos de Contribuio para o PIS/Pasep e Cofins, nos termos dos incisos II do arts. 3

da Lei No- 10.637, de 2002 e II do art. 3 da Lei No- 10.833, de 2003, consideram-se

insumos os bens e servios adquiridos de pessoas jurdicas, utilizados na prestao de


servios e na produo ou fabricao de bens ou produtos destinados venda. No caso

de bens, para que estes possam ser considerados insumos, necessrio que sejam

consumidos ou sofram desgaste, dano ou perda de propriedades fsicas ou qumicas em

funo da ao diretamente exercida sobre o servio que est sendo prestado ou sobre o

bem ou produto que est sendo fabricado [22].

Realizando o laudo tcnico e legitimando o crdito de ICMS, PIS e COFINS, em

conformidade com as exigncias legais, o faturamento torna-se isento destes impostos,

alterando a formulao do faturamento para:

- Convencional

Cfch

TDTCF

)( (3.19)


f

f

p

f

p

pf Cfch

TD

C

C

C

CTCTCF

)1()( (3.20)

- Horo-Sazonal Azul

f

fff

p

pf

f

p

pf CfchD

DTDTD

C

CTCTCF

1)()( (3.21)

2) Deslocamento da Ponta

O deslocamento da ponta faz parte de um conjunto de medidas cujo intuito

uniformizar a curva de carga e reduzir sua magnitude. Este conjunto denominado de

Gerenciamento pelo Lado da Demanda (GLD). Conceitualmente, programas de

gerenciamento pelo lado da demanda so intervenes deliberadas de uma empresa de

energia eltrica no mercado consumidor (demanda). O conceito de gerenciamento pelo

lado da demanda surgiu em meados dos anos 70 e o primeiro autor a report-lo foi Clark

W. Gellings. Apesar de relativamente novo, esforos de gerenciamento pelo lado da

demanda so conhecidos desde o incio da indstria da eletricidade [23].


O conjunto de medidas do GLD foi proposto pelo Electric Power Research

Institute (EPRI) e diversos pesquisadores, desmembrando-se em [24]:

1.Reduo dos Picos (Peak clipping)

Desligamento de cargas de ponta por nvel de prioridade no sistema produtivo,

geralmente, pela utilizao de um dispositivo denominado controlador de demanda.

Figura 10: Reduo dos Picos [24].

2. Deslocamento de Carga (Load shifting)

Deslocamento do consumo na ponta para fora da ponta, pela reprogramao

das cargas ou utilizao de armazenadores de energia (baterias, banco de gelo).

Figura 11: Deslocamento de Carga [24].

3.Preenchimento de Vales (Valley filling)

Elevao do consumo nos vales, mediante incentivos tarifrios, subsdios de

financiamentos por parte dos agentes do setor eltrico.


Figura 12:Preenchimento de Vales [24].

4.Consevao de Energia (Energy conservation)

Utilizao de eficiente do sistema eltrico, de forma a consumir menos sem

reduzir o nvel de produo.

Figura 13: Conservao de Energia [24].

5.Crescimento Estratgico da Carga (Strategic load growth)

Aumento do nvel de produo baseado em estratgias de mercado e utilizao

de novas tecnologias.


Figura 14: Crescimento Estratgico [24].

6.Curva de Carga Flexvel (Flexible load shape)

Conceito relacionado confiabilidade; a estratgia em que exist

gestaoenergeticaindustrial(dissertacao)

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