heresias - dogma cristológico

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Resumo de aula sobre o dogma cristológico

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  • Controvrsias (tendncias) pr-nicenas: adocionismo, modalismo, docetismo e subordinacionismo. O arianismo e os Conclios de Niceia e Constantinopla: a heresia arquetpica = a inveno da heresia. Controvrsias (batalhas) ps-nicenas: apolinarismo, nestorianismo e monofisismo (feso e Calcednia), monoenergismo e monotelismo (Constantinopla II e III), crise iconoclasta (Niceia II). CONTROVRSIAS CRISTOLGICAS

  • Os primeiros cristos afirmavam a unicidade de Deus, tal como os judeus. Mas, ento, colocava-se da relao de Jesus Cristo com a divindade: enquanto alguns Padres falavam de Jesus Deus com certa reserva (Incio de Antioquia e Melito de Sardes), outros no hesitam no s em afirmar a divindade de Jesus como tambm o seu carcter distinto do Pai (Justino e Hiplito), numa espcie de binitarismo bem comum aos Padres da Igreja pr-nicenos. Para os judeus (e pagos) isso era adorar dois deuses: como fazer para evitar esta aparncia de politesmo?Controvrsias pr-nicenas

  • Alguns grupos judeo-cristos reconheciam Cristo como profeta, e messias, mas no como Filho de Deus. Por exemplo: * alguns cristos de Corinto, Colossos e Galcia (grupos de raiz zelota), aos quais se ops Paulo; * ou ainda os Ebionitas (de raiz essnia), que continuam a seguir a observncia judaica; * outros com tendncias mais sincretistas (de influncia gnstica e iraniana).Grupos judeo-cristos

  • Meios muito prximos do pensamento judeo-cristo (e bblico) defendem que Jesus no de origem divina, mas um homem, e um profeta, que foi adotado por Deus como seu Filho (doutrina defendida por Teodoto de Bizncio, Paulo de Samosata e Fotino de Sirmio). Alguns situavam essa adoo no episdio do batismo no Jordo, enquanto outros a situam no momento da ressurreio dos mortos (cf. tambm carta aos Romanos 1,4).adocionismo

  • Outros meios negam que se trate de um outro Deus. H um nico Deus que se revelou no AT como o Pai e, em Jesus Cristo, como o Filho (e, at, depois, como o Esprito que assiste a Igreja). No h vrias pessoas diferentes, mas um s Deus, que se manifesta de vrios modos. Uma vez que se trata do mesmo Deus (e por isso se fala de monarquianismo), Ele encarnou e sofreu na cruz (patripassionismo). Esta doutrina foi defendida por Noeto de Esmirna, Prxeas em Cartago e Sablio em Roma.Modalismo

  • E o docetismo, simplesmente, nega a verdadeira humanidade do Filho. Ele teria sido homem e teria sofrido a paixo unicamente em aparncia (dokein). Esta doutrina nasce, provavelmente, em meios da gnose helnica, que pretendem evitar o contacto imediato de Deus com a carne. As comunidades joaninas j se confrontaram com estas ideias (cf. Prlogo do Evangelho e cartas joaninas). Incio de Antioquia, nas suas cartas, j refere pessoas que defendiam que Jesus morreu e ressuscitou apenas em aparncia. Encontramos tambm ecos do docetismo no Alcoro (via grupos judeo-cristos instalados na Arbia). Docetismo

  • O subordinacionismo ope-se ao modalismo, para sublinhar o trinitarismo em Deus: a confisso da f batismal na Trindade (cf. Mt 28,19: Batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo). Antes de Niceia, porm, a afirmao do monotesmo trinitrio tinha um carcter subordinacionista, que era bebido dos escritos do NT: 1Corntios 11, 3 (A origem de Cristo Deus); 1Corntios 15, 24-28 (recapitulao de todas as coisas em Cristo e submisso deste a Deus); Joo 14, 28 (O Pai maior do que Eu).Subordinacionismo

  • No incio do sculo III surge o arianismo que vai obrigar a Igreja a definir o seu dogma cristolgico. um longo processo de mais de 500 anos (entre 325, primeiro Conclio de Niceia, e 787, segundo Conclio de Niceia)o arianismo

  • O arianismo considerado a heresia arquetpica, que nega o essencial da f crist: a divindade (eterna) de Cristo. Na realidade, a cristologia ariana bastante mais complexa:1) proclama uma espcie de subordinacionismo substancial: o Filho o Verbo foi gerado pelo Pai; no eterno. criado, antes de todos os tempos, por vontade do Pai. S Deus(-Pai) sem origem, ingerado (agenetos), eterno e imutvel;2) tendncia docetista: o Verbo criado, antes de todas as coisas, para nele todas as coisas serem criadas (demiurgo: Deus criador); o Deus transcendente no podia entrar em contacto com a matria;3) quanto a Jesus Cristo, ele possui uma dupla natureza, humana e divina; enquanto encarnao do Verbo, ele foi associado divindade (uma espcie de adocionismo).heresia arquetpica

  • As definies de Niceia respondem ao arianismo: afirmam a identidade de Jesus Cristo como Filho de Deus consubstancial ao Pai, e gerado, no criado (definio terminolgica) antes de todos os sculos (eternamente). Combate-se, simultaneamente, o subordinacionismo e o adocionismo arianos. A identidade do Esprito ser deixada para o conclio seguinte, Constantinopla (que combate aos semiarianos), e a dupla natureza de Cristo, para os 3. e 4. conclios, feso e Calcednia (ver infra). Creio em Jesus Cristo, Filho de Deus unignito, nascido antes de todos os sculos...Gerado, no criado, consubstancial ao Pai.

  • Tendncias heterodoxas ps-nicenas:1) niceanos moderados que defendiam que Pai e Filho tinham uma natureza semelhante, mas no consubstancial (homoiousianos); 2) arianos moderados que defendem a natureza semelhante do Pai e do Filho, sem a qualificar (o Filho como o Pai), mas no renunciam a uma certa subordinao do Filho em relao ao Pai (homostas); este o arianismo histrico que se expandiu pela Europa (so contra a especulao teolgica);3) arianos radicais, para quem s o Pai Deus eterno, e falar de semelhana um exagero.Creio em Jesus Cristo, Filho de Deus unignito, nascido antes de todos os sculos...Gerado, no criado, consubstancial ao Pai.

  • Apolinrio de Laodiceia, um acrrimo opositor ao arianismo e amigo de Atansio defendeu tanto a unidade e impecabilidade do Verbo encarnado, que afirmou que Jesus Cristo carecia de alma intelectual (razo humana), tendo o Verbo divino assumido estas funes. Deste modo abria caminho problemtica da compreenso das duas naturezas (divina e humana) em Jesus Cristo, que ir ocupar os dois conclios do sculo V (feso e Calcednia), mas tambm os posteriores, at Niceia II (787).

  • o nestorianismoO nestorianismo surge em torno ao ttulo mariano de Me de Deus (Theotokos), mas tem um cariz fundamentalmente cristolgico. Nestrio defende que Cristo tem duas naturezas (humana e divina) completamente independentes e distintas: Maria me do homem Cristo (e no do Deus Filho). Era como que se houvesse duas pessoas em Cristo. Contra estas ideias se revolta Cirilo de Alexandria, para afirmar, em Cristo, a unidade das duas naturezas, numa s pessoa. O Conclio de feso (431) d-lhe razo, mas a questo apenas ser resolvida em Calcednia (451).

  • Entretanto, surge a polmica monofisita. O monofisismo diz que em Jesus apenas est presente a natureza divina (e no a humana); ou, por outras palavras, a natureza humana absorvida (perdendo-se) pela natureza divina. O Conclio de Calcednia afirma, precisamente, a permanncia das duas naturezas: sem confuso, sem mudana, sem diviso, sem separao. a aceitao da doutrina do papa Leo Magno, que defende a dupla consubstancialidade de Cristo: com Deus e com os homens.o monofisismo

  • Conclio de Calcednia

    O Conclio afirma que, em Cristo, h uma s hipstase (entidade/ pessoa) e duas naturezas (a divina e a humana), que no se misturam (ou absorvem = problemtica monofisita) nem se separam (so independentes = problemtica nestoriana).O entendimento deste equillbrio extremamente complexo, como demonstraram as controvrsias posteriores (monoebergismo e monotelismo).verdadeiro Deus e verdadeiro homem

  • Questes que se colocavam:

    a) Se Cristo possua uma vontade humana libre poderia rebelar-se contra a vontade divina e pecar; mas no o fez, antes estava libre das ms inclinaes e paixes. Ento: no poderia concluir-se que, em Cristo, apenas existiu uma vontade (monotelismo) em ao?b) O facto de que todas as operaes humanas e divinas se deverem atribuir a Cristo, como pessoa nica, no se poderia pensar que havia uma nica energia em ao (monoenergismo)?

  • Em geral, a vontade ou energia que era valorizada era a divina. Mas isto colocava um grande problema compreenso soteriolgica do Mistrio de Cristo:Negar, em Cristo, a energia volitiva humana ou a vontade humana, seria desvalorizar a humanidade de Cristo; e, por conseguinte, negar o valor meritrio da sua morte redentora, fundamental para a f crist.

  • Crise iconoclasta A ltima das controvrsias a iconoclasta (no scs. VIII/IX), sobre a liceidade ou no de representar a divindade nos cones/ /na pintura, e nomeadamente Cristo. Fundando-se na teologia de Cristo como imagem do Pai/da divindade (cf. Cl 1,15; Heb 1,3), a tendncia favorvel aos cones acabou por sair vitoriosa.