história e geografia fundamental para o enem

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    Repblica Federativa do Brasil

    Ministrio da EducaoSecretaria Executiva

    Instituto Nacional de Estudose Pesquisas Educacionais Ansio TeixeiraDiretoria de Avaliao para Certificao de Competncias

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    Histria e Geografia

    Livro do Estudante

    Ensino Fundamental

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    Braslia

    MEC/INEP

    2006

    Histria e Geografia

    Livro do Estudante

    Ensino Fundamental

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    Coordenao Geral do Projeto

    Maria Ins Fini

    Coordenao de Articulao de Textos do Ensino FundamentalMaria Ceclia Guedes Condeixa

    Coordenao de Texto de rea

    Ensino Fundamental

    Histria e Geografia

    Antonia Terra de Calazans Fernandes

    Leitores Crticos

    rea de Psicologia do Desenvolvimento

    Mrcia Zampieri TorresMaria da Graa Bompastor Borges DiasLeny Rodrigues Martins TeixeiraLino de Macedo

    rea de Histria e Geografia

    rea de Cincias Humanas e suas Tecnologias

    Paulo Celso MiceliRaul Borges GuimaresNdia Nacib PontuschkaModesto Florenzano

    Diretoria de Avaliao para Certificao de Competncias (DACC)

    Equipe TcnicaAtade Alves DiretorAlessandra Regina Ferreira AbadioClia Maria Rey de Carvalho

    Ciro Haydn de BarrosClediston Rodrigo FreireDaniel Verosa Amorim

    David de Lima SimesDorivan Ferreira Gomesrika Mrcia Baptista CaramoriFtima Deyse Sacramento PorcidonioGilberto Edinaldo MouraGislene Silva LimaHelvcio Dourado PachecoHugo Leonardo de Siqueira CardosoJane Hudson AbranchesKelly Cristina Naves PaixoLcia Helena P. MedeirosMaria Cndida Muniz TrigoMaria Vilma Valente de AguiarPedro Henrique de Moura ArajoSheyla Carvalho LiraSuely Alves WanderleyTase Pereira Liocdio

    Teresa Maria Abath PereiraWeldson dos Santos Batista

    CapaMarcos Hartwich

    Ilustraes

    Raphael Caron Freitas

    Coordenao Editorial

    Zuleika de Felice Murrie

    O MEC/INEP cede os direitos de reproduo deste material s Secretarias de Educao, que podero reproduzi-lo respeitando a integridade da obra.

    H673 Histria e Geografia : livro do estudante : ensino fundamental / Coordenao : Zuleika

    de Felice Murrie. 2. ed. Braslia : MEC : INEP, 2006.

    178p. ; 28cm.

    1. Histria (Ensino fundamental). 2. Geografia (Ensino fundamental). I. Murrie,

    Zuleika de Felice.

    CDD 372.89

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    Sumrio

    Introduo .....................................................................................................................................

    Captulo I

    Confrontos sociais e territrio nacional .........................................................

    Dora Shellard Corra

    Captulo II

    Mudanas no espao geogrfico do Brasil ......................................................

    Gilberto Pamplona da CostaCaptulo III

    O valor da memria .........................................................................................

    Denise Gonalves de Freitas

    Captulo IV

    Cidadania e democracia ...................................................................................

    Antnio Aparecido Primo - Nico

    Captulo V

    Movimentos polticos pelos direitos dos ndios .............................................

    Adriane Costa da Silva

    Captulo VI

    A cidade e o campo no Brasil contemporneo...............................................

    Roberto Giansanti

    Captulo VII

    As sociedades e os ambientes ..........................................................................

    Hugo Luiz de Menezes Montenegro

    Captulo VIII

    A organizao econmica das sociedades na atualidade ..............................

    Snia Maria Vanzella Castellar

    Captulo IX

    Estado e democracia no Brasil ........................................................................

    Jaime Tadeu Oliva

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    Este material foi desenvolvido pelo Ministrio da Educao com a finalidade de ajud-lo a

    preparar-se para a avaliao necessria obteno do certificado de concluso do EnsinoFundamental denominada ENCCEJA Exame Nacional de Certificao de Competncias deJovens e Adultos.

    A avaliao proposta pelo Ministrio da Educao para certificao do Ensino Fundamental composta de 4 provas:

    1. Lngua Portuguesa, Lngua Estrangeira, Educao Artstica e Educao Fsica

    2. Matemtica3. Histria e Geografia

    4. Cincias

    Este exemplar contm as orientaes necessrias para apoiar sua preparao para a prova de

    Histria e Geografia.

    A prova composta de 45 questes objetivas de mltipla escolha, valendo 100 pontos.

    Este exame diferente dos exames tradicionais, pois buscar verificar se voc capaz de usar

    os conhecimentos em situaes reais da sua vida em sociedade.

    As competncias e habilidades fundamentais desta rea de conhecimento esto contidas em:

    I. Compreender processos sociais utilizando conhecimentos histricos e

    geogrficos.

    II. Compreender o papel das sociedades no processo de produo do espao, doterritrio, da paisagem e do lugar.

    III. Compreender a importncia do patrimnio cultural e respeitar a diversidade

    tnica.

    IV. Compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, de

    forma a favorecer uma atuao consciente do indivduo na sociedade.

    V. Compreender o processo histrico de ocupao do territrio e a formao da

    sociedade brasileira.

    VI. Interpretar a formao e organizao do espao geogrfico brasileiro,

    considerando diferentes escalas.

    VII. Perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente.

    VIII. Compreender a organizao poltica e econmica das sociedades

    contemporneas.

    IX. Compreender os processos de formao das instituies sociais e polticas a

    partir de diferentes formas de regulamentao das sociedades e do espao

    geogrfico.

    Introduo

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    Os textos que se seguem pretendem ajud-lo a compreender melhor cada uma dessas nove

    competncias. Cada captulo composto por um texto bsico que discute os conhecimentos

    referentes competncia tema do captulo. Esse texto bsico est organizado em duas

    colunas. Durante a leitura do texto bsico, voc encontrar dois tipos de boxes: um boxe

    denominado de desenvolvendo competnciase outro, de texto explicativo.

    O boxe desenvolvendo competnciasapresenta atividades para que voc possa ampliar seu

    conhecimento. As respostas podem ser encontradas no fim do captulo. O boxe de texto

    explicativoindica possibilidades de leitura e reflexo sobre o tema do captulo.

    O texto bsico est construdo de forma que voc possa refletir sobre vrias situaes-problema

    de seu cotidiano, aplicando o conhecimento tcnico-cientfico construdo historicamente,

    organizado e transmitido pelos livros e pela escola.

    Voc poder, ainda, complementar seus estudos com outros materiais didticos, freqentando

    cursos ou estudando sozinho. Para obter xito na prova de Histria e Geografia do ENCCEJA,esse material ser fundamental em seus estudos.

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    Dora Shellard Corra

    CONFRONTOS SOCIAIS E TERRITRIO NACIONAL

    COMPREENDERPROCESSOSSOCIAISUTILIZANDO

    CONHECIMENTOSHISTRICOSEGEOGRFICOS.

    Captulo I

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    Histria e Geografia Ensino Fundamental

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    Captulo I

    Confrontos sociais e

    territrio nacionalNDIOS DIVULGAM DOCUMENTOELES DECLARAM QUE O BRASIL TEM UMA HISTRIA INFAME E EXIGEMA DEMARCAO DAS TERRAS

    Chefes indgenas reunidos em Santa Cruz de Cabrlia, na Bahia, declararam que os 500anos festejados no sbado so, na verdade, uma histria infame e anunciaram a uniode seu movimento ao dos negros e dos sem-terra, em uma luta de resistncia. Mais detrs mil chefes indgenas, representando 140 tribos, se reuniram numa chamada

    anticelebrao da descoberta do Brasil. Eles redigiram uma declarao de 20 pontos, naqual sintetizam suas exigncias ao Estado brasileiro. (...) A declarao extensa e renemuitas exigncias antigas j apresentadas pelos indgenas. A primeira delas diz respeitos terras, que eles querem que sejam demarcadas at o final deste ano. Essas terras foramasseguradas aos ndios na Constituio de 1988 e representam, no total, um oitavo daextenso territorial do Brasil.Associated Press. ndios divulgam documento. 22 de abril de 2000.Diponvel em: . Acesso em: 22 de jul. 2002.

    APRESENTAO

    Durante o ano de 2000, inmeras foram ascomemoraes dos 500 anos do descobrimentodo Brasil e muitas as crticas ao que essa datasignificou. Os ndios sempre questionaram essescinco sculos. A sociedade brasileira, constitudasobre a destruio dos povos indgenas, no tinhao que comemorar.

    A notcia daAssociated Press foi uma das muitaspublicadas. Ela diz que a data 1500 se resume descoberta de terras que Cabral encontrouocupadas milenarmente por vrios povos deculturas diversas. Assim, 1500 marca o incio deuma invaso. Essa a histria. O Brasil foiconstrudo sobre sociedades e terras indgenas.

    Tal realidade, bem como a existncia h milharesde anos das populaes indgenas da Amrica,deveriam ser discutidas nas escolas. Outra

    reivindicao central da declarao dos3.000 chefes foi a demarcao de todas as terrasdos ndios e a retirada dos invasores das reas jdemarcadas.

    Apesar de hoje serem reconhecidos os direitos dosndios terra, bem como a importncia dapreservao de suas diversas culturas para oprprio desenvolvimento do Brasil, ainda sonoticiados casos de extermnios de populaes ede contnuas invases das terras. Isso porque,como a notcia demonstra, os povos indgenascontinuam resistindo e mostrando que discutir oterritrio brasileiro falar em terra de ndio. Este o tema deste captulo: Confrontos sociais eterritrio nacional.

    demarcadas

    reas com seus limites j fixados espera do

    decreto presidencial de homologao, ou seja, de

    reconhecimento.

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    Captulo I Confrontos sociais e territrio nacional

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    DIREITOS DOS NDIOSDesde que voc nasceu, o Brasil mantm asmesmas fronteiras polticas. Alis, uma dasltimas grandes alteraes de nosso mapa foi em1903. Naquele ano, o Acre, que estava

    incorporado Bolvia, foi anexado ao Brasil.

    Na Amrica Latina, ao longo do sculo XX(vinte), podemos observar poucastransformaes de fronteiras, se compararmoscom outros continentes. As tenses sociais quea Amrica enfrenta hoje tm suas razes noprocesso de colonizao empreendido porespanhis e portugueses. Os povos ocupantesoriginais da Amrica, a partir de 1492,denominados de ndios pelos primeiroseuropeus, submetidos, escravizados, mortos,impedidos de professarem suas religies, de

    manterem seus costumes e obrigados a seportarem e se vestirem como os europeus,comearam a perder suas terras. Mesmo assim,apesar de mais de 500 anos de domnio, dadiminuio drstica da populao e dadizimao de muitos deles, esses povoscontinuam lutando pela preservao de suasculturas, de seus direitos e suas terras.

    No caso do Brasil, somente a partir daConstituio promulgada em 1988, foireconhecido, oficialmente, o direito dos ndios a

    AS POPULAES INDGENAS HOJE

    Em 1999, havia no Brasil 378.000ndios concentrados, em grande parte,na regio amaznica, falando cerca de180 lnguas diferentes. Acredita-se

    que, em 1500, existiam por volta de6.000.000 a 10.000.000 ndios emrea hoje brasileira, divididos em maisde 200 tribos.

    preservar sua organizao social, costumes,lnguas, tradies e crenas, cabendo ao governoapoiar, incentivar e respeitar suas manifestaesculturais e impedir a sua destruio. At a

    dcada de 1970, o Estado brasileiro desenvolviauma poltica que objetivava assimilar o ndio, ouseja, integr-lo, faz-lo adotar os costumes e acultura da sociedade nacional, o seu modo devida. Essa postura desprezava as culturasindgenas e a sua importncia para o prpriodesenvolvimento do pas.

    A Constituio de 1988 confirma tambm odireito dos ndios s terras tradicionalmente poreles ocupadas, por serem essenciais para suasobrevivncia fsica, por meio da produoagrcola e animal, da caa, da pesca e da coleta,

    bem como necessrias para a sua subsistnciacultural. Para os ndios, tudo na vida estinterligado, da obteno de alimentos aoconhecimento da flora e fauna, doaprimoramento de tcnicas s teorias sobre aorigem do mundo. Tudo se relaciona s terrasem que vivem. Tal concepo completamentediferente daquela das sociedades capitalistas,que encaram a terra como uma mercadoria,podendo ser vendida ou arrendada aqualquer momento.

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    Desenvolvendo competncias

    Leia o mito dos Kaingang sobre a sua origem, coletado e relatado, em 1912, por KurtNiemandaj, um estudioso das culturas indgenas.

    A origem dos Kaingang

    A tradio dos Kaingang afirma que os primeiros da sua nao saram do solo; por isso tm cor deterra. Numa serra, no sei bem onde, no sudeste do estado do Paran, dizem eles que ainda hoje

    podem ser vistos os buracos pelos quais subiram. Uma parte deles permaneceu subterrnea; essa

    parte se conserva at hoje l e a ela se vo reunir as almas dos que morrem, aqui em cima. Eles

    saram em dois grupos chefiados por dois irmos, Kanyer e Kam, sendo que aquele saiu primeiro.

    Cada um j trouxe consigo um grupo de gente. Dizem que Kanyer e toda a sua gente eram de corpo

    delgado, ps pequenos, ligeiros, tanto nos seus movimentos como nas suas resolues, cheios de

    iniciativa, mas de pouca persistncia. Kam e seus companheiros, pelo contrrio, eram de corpo

    grosso, ps grandes e vagarosos nos seus movimentos e resolues.

    Revista do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, n. 21, p. 86, 1986.

    Como os Kaingang concebem a sua origem e a importncia que suas terras tradicionais tmem termos culturais?

    Observe que a sada dos homens por buracos do solo aconteceu num tempo indeterminadoainda no encerrado. Parte dos Kaingang ainda se conserva subterrnea, e a ela se unem asalmas dos que morrem aqui, sobre a terra. Ou seja, essas terras so fundamentais para eles,de onde vieram, de onde ainda podem vir outros grupos de Kaingang, e para onde retornamas suas almas. Note que, embora a localizao dos buracos pelos quais os grupos chefiados

    por Kanyer e por Kam subiram superfcie no seja precisa, est claro que o localexiste concretamente, no sudeste do estado do Paran. Portanto, essas terras tm queser preservadas.

    A Constituio de 1988 estipulou cinco anos para que todas as terras indgenas fossemdemarcadas. Entretanto, at 2000, de um total de 592 reas, a maior parte na regio Norte -nos estados do Acre, Amap, Amazonas, Par, Rondnia, Roraima e Tocantins e no Centro-Oeste no estado do Mato Grosso apenas 310 reas (52%) estavam regularizadas, ou seja,reconhecidas por ato oficial do presidente da Repblica e registradas em cartrio pblico.

    Essa demora na demarcao e regularizao fundiria tem favorecido a contnua invaso dasterras indgenas, o que resulta em conflitos com muitas vtimas entre os ndios. Por isso, sorecorrentes os protestos dos grupos indgenas, reivindicando a demarcao imediata desuas terras.

    mito

    relato simblico, passado de gerao a gerao

    dentro de um grupo. Explica a origem de algum

    fenmeno.

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    Captulo I Confrontos sociais e territrio nacional

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    Desenvolvendo competncias

    Protesto

    Em Aquidauana (190km de Campo Grande), na aldeia Ipegue, cerca de 5 mil ndios, entre

    guaranis, caius, kadiweus, terenas, guats e ofai-xavantes, fizeram um protesto reivindicando

    a demarcao de terras. Em Dourados (220km de Campo Grande), aproximadamente 300 ndiosdas etnias guarani, caiu e terena bloquearam das 7h s 13h a MS-156, rodovia que d acesso

    ao municpio de Itapor.AGNCIA ESTADO. Protesto. Disponvel em . Acesso em: 22 jul. 2002.

    Responda em seu caderno:

    Qual a reivindicao que os ndios esto fazendo na notcia de jornal acima?

    A notcia acima nos informa sobre um protesto feito por cinco mil ndios de diferentes tribos(Guarani, Caiu, Kadiweu, Terena, Guat e Ofai-Xavante), reivindicando a demarcao deterras. Lembre-se de que a notcia na abertura deste captulo transcreve parte de umadeclarao redigida por trs mil chefes, representantes de 140 tribos indgenas. Esses atosmostram a organizao e luta dos povos indgenas pelo reconhecimento da importncia desuas culturas e pelo direito de preservar suas terras. Um fato essencial dessa luta que, aocontrrio do que se projetava nas dcadas de 1960 e 1970, quando se supunha que adestruio total das populaes indgenas era apenas uma questo de tempo, o nmero dendios cresceu vigorosamente nos ltimos dez anos, conforme levantamento do ConselhoIndigenista Missionrio CIMI. Enfim, falar sobre o processo de formao do territriobrasileiro implica refletir sobre a questo indgena e reconhecer que esse processo ainda estsendo definido.

    OS NDIOS NA POPULAOBRASILEIRAO Brasil tem 8.511.996 quilmetros quadrados e

    concentra uma populao de variadasdescendncias: americana, africana, europia easitica. Tem como lngua oficial o portugus.Porm, para alguns brasileiros, o portugus no a primeira lngua, ou seja, eles falam diariamenteoutros idiomas em suas casas, porque soimigrantes que se naturalizaram ou descendentesde imigrantes. Alguns conversam em espanhol,italiano, japons ou armnio com seus filhos,pais, avs, marido ou esposa. Preservamcostumes, comidas tradicionais e roupas de suaterra natal. Outros falam lnguas indgenas, comotukano, yanommi, tikuna, guarani. Mantm seuscostumes tradicionais, suas danas, seu modo devida e de educao das crianas.

    Quando os portugueses chegaram Amrica, em1500, aprenderam com os ndios a localizar os

    caminhos para o interior, a se orientar e se

    alimentar nas matas, a encontrar colmias ecolher o mel, a distinguir as plantas comestveis.Ocuparam as clareiras j abertas pelos ndios paraconstrurem suas vilas, aprenderam a utilizarvenenos para pesca, assim como arcos e flechasna falta de plvora. Os Munduruku, Tupari,Bororo, Zoe, Waninawa e mais uma centena depovos, de culturas variadas eram os nicossenhores dessas terras at 1500.

    O contraditrio em nossa histria que, hoje, osndios, primeiros habitantes dessas terras,parecem estrangeiros em seu prprio pas. Poucos

    brasileiros sabem falar as lnguas indgenas emuitos exigem que os ndios entendamportugus. Ademais, embora se afirme que obrasileiro , basicamente, o resultado damiscigenao cultural e racial de amerndios,

    Conselho Indigenista Missionrio CIMI

    uma das vrias entidades brasileiras, no

    ligadas ao governo federal, que apiam os povos

    indgenas.

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    africanos e europeus, nossas escolas pouco ounada discutem com seus alunos sobre oscostumes, as crenas e o modo de vida das vriasetnias que habitam e habitavam o territrionacional.

    Mas como eram essas terras quando o

    portugueses chegaram?

    A CHEGADA DOS PORTUGUESESSabemos muito pouco sobre como eram as terrasindgenas antes de 1500. Analisemos um dosprimeiros documentos escritos descrevendo essasterras. Voltemos a 1500. Nesse ano, Pedro lvaresCabral, com sua esquadra, chegou costa dasterras que viriam a constituir o Brasil. Entreoutros, acompanhava-o o escrivo Pero Vaz deCaminha. Ele descreveu numa carta, encaminhadaao rei de Portugal, D. Manoel, o primeiro

    encontro dos portugueses com as terrasamericanas:

    Neste dia, ao final do dia, tivemos a viso deterra, seja, primeiramente de um grande monte,mui alto e redondo, e de outras serras mais baixasao sul dele; e de terra plana, com grandesarvoredos; ao qual monte alto o capito ps onome o Monte Pascoal, e terra a Terra daVera Cruz.CAMINHA, Pero Vaz de. Carta a El Rey Dom Manoel . Transcrita e comentadapor Maria Angela Villela. 2. ed. So Paulo: Ediouro, 2000. p.15.

    TERRA DA VERA CRUZA princpio essas terras foramchamadas pelos portugueses Terra daVera Cruz, depois Terra de Santa Cruz.Por volta de 1503, comearam adenomin-las Brasil.

    Qual foi a primeira coisa que se distinguia napaisagem e que chamou a ateno de Pero Vaz deCaminha? Repare que foi um monte, ao qual viriaa ser dado o nome de Monte Pascoal, e seusarredores. E que mais ele avistou? Vejamos.

    Esta terra, Senhor, me parece que da ponta quemais contra sul vimos at outra ponta quecontra o norte, de que ns deste porto tivemosviso, ser tamanha que haver nela bem vinte

    ou vinte cinco lguas por costa. Traz, ao longodo mar, nalgumas partes, grandes barreiras,algumas vermelhas, outras brancas; e a terra

    por cima toda plana e muito cheia de grandesarvoredos. (idem, p. 93)

    Ele observou uma parte do litoral sul do estado

    da Bahia de hoje. Divisou tambm o que suaviso alcanava no interior, ou seja, o serto,como eles chamavam.

    Pelo serto nos pareceu, vista do mar, muitogrande, porque, a estender os olhos, no podamosver seno terra com arvoredos, que nos pareciamui longa terra. (idem, p. 93)

    A princpio, Pero Vaz de Caminha parecia estarmuito impressionado com a extenso das matas.Elas iam at onde sua vista podia alcanar. No de estranhar esse fato, pois ele vinha de Portugal,que, no sculo XV, j havia abatido, em grande

    parte, suas reas de matas. A madeira era umrecurso natural fundamental para asobrevivncia, como ainda . As caravelas eramconstrudas de madeira, a comida era preparadaem fogo a lenha, o fogo aquecia as moradias.

    Embora essa imagem que Caminha constri sobreas matas nos leve a imaginar uma terradesabitada, ele logo desfaz essa sensao aoafirmar ter avistado homens na praia:

    E quando fizemos vela, estariam j na praiaassentados, junto ao rio, cerca de sessenta ousetenta homens que se juntaram ali aos poucos.(idem, p. 21)

    Ele descreve os homens que os portuguesesencontraram:

    A feio deles serem pardos, quaseavermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem

    feitos. Andavam nus, sem nenhuma cobertura.Nem estimam nenhuma coisa cobrir nem mostrarsuas vergonhas; e esto em relao a isto comtanta inocncia como tm em mostrar o rosto.(idem, p. 25)

    Pero Vaz de Caminha observa justamente aquelesaspectos que os ndios tinham de diferente dos

    portugueses: a cor, a nudez e sua aparnciasaudvel. Cabe apontar que os marinheiros daesquadra de Cabral, como era comum naquelaslongas viagens martimas, quando chegaram costa, estavam fisicamente debilitados, por

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    Captulo I Confrontos sociais e territrio nacional

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    ficarem muito tempo em alto mar alimentando-seinadequadamente e tomando gua insalubre.Muitos contraram escorbuto, uma doena quedecorre da falta de vitaminas e que podelevar morte.

    Em sua carta, Pero Vaz de Caminha anota que os

    degredados enviados terra pelo Capito paraobservarem o que havia mais ao interior, ao sejuntarem novamente aos membros da esquadra,descreveram a povoao indgena que haviamvisitado:

    (...) foram bem uma lgua e meia a umapovoao, em que haveria nove ou dez casas, asquais diziam que eram to compridas (...) Eramde madeira (...) e cobertas de palha, de razovelaltura. (idem, 65)

    Como ser que as populaes que viviam aquidenominavam essas terras antes de osportugueses chegarem? Isso no ficamos sabendopela carta de Pero Vaz de Caminha, porque eleno nos diz. Ele no conhecia a lngua faladapela populao que encontrou, mas tambm noestava interessado em obter essa informao.Afinal, Pedro lvares Cabral e sua frota estavama servio do rei de Portugal. Descobriram asterras para que D. Manoel tomasse posse delas.Tanto que uma das primeiras iniciativas deles aodesembarcarem foi dar o nome Terra da Vera Cruzs terras que comeavam a conquistar. Emrealidade, a princpio, acreditavam que haviamdescoberto uma ilha. Note como Pero Vaz deCaminha encerra a sua carta:

    Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz,

    hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.

    (idem, p. 95)

    Repare que Pero Vaz escreve vossa ilha da VeraCruz, afirmando que as terras pertenciam ao reide Portugal, D. Manoel.

    Os relatos de Caminha e de poucos outrosviajantes, que aqui estiveram junto com Cabralou logo nos primeiros anos seguintes, so ospoucos documentos escritos que existemdescrevendo as terras indgenas, antes deefetivamente ter sido iniciada a conquistaterritorial e de sua conseqente transformaopaisagstica, populacional, cultural e social.

    Note-se que, nos relatos feitos ao rei de Portugal,foi dada especial ateno aos detalhes mais

    insalubre

    no saudvel.

    importantes para a conquista, os habitantes e osrecursos naturais, em detrimento de outrosaspectos. Afora isso, como as culturas indgenasso muito diferentes das europias, os primeirosnarradores no entendiam o significado demuitos costumes indgenas, no compreendiam as

    suas formas de organizao social, econmica epoltica; conseqentemente, interpretavam-nos demodo totalmente errado. Por exemplo,tradicionalmente, os ndios no estabeleciamlimites precisos para suas terras, pelo menoscomo fazemos hoje em dia, conforme sedepreende da descrio seguinte, retratando arelao de muitos grupos indgenas com a terra:

    o degredado

    era uma pessoa exilada de seu pas, afastada, como

    punio por um ato considerado crime. O governo

    portugus desembarcava os degradados fora, na

    costa, para aprenderem a lngua e servirem depois

    como intrpretes e, principalmente, observarem as

    terras ao redor, seus habitantes e sua localizao,

    para fornecerem informaes queles que os seguiam.

    Abriam suas roas, seus caminhos decaa e as trilhas para visitar outrasaldeias. Quando o solo ou a caa se

    esgotavam, abriam caminho em outrasdirees mas conservavam de algumaforma os lugares das antigas moradas eos cemitrios em que enterravam seusmortos, percursos historicamenterememorados e que assinalavam a reade ocupao de cada grupo. (...)

    fronteiras naturais, como serras, riosetc., demarcavam os territrios, quetambm iam sendo conquistados com

    povos vizinhos.VALADO, Virgnia. Terra e territrio. In: _____. ndios do Brasil.Braslia: MEC: Secretaria de Educao a Distncia, 1999. p. 83.(Cadernos da TV Escola, 2).

    Os primeiros europeus no reconheciam oscaminhos indgenas, que podiam ser demarcadosde forma muito sutil, ou seja, por um galhoquebrado. Eram veredas a serem trilhadas em fila.Muito diferente de um caminho aberto paratrnsito de cavalos, carroas e mercadorias, comoacontecia na Europa. Esses lugares de antigasmoradas conservadas por ndios, a que o textoacima se refere, eram interpretados peloseuropeus como aldeias abandonadas porque,quando as encontravam, elas estavam vazias.

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    Histria e Geografia Ensino Fundamental

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    3

    Desenvolvendo competncias

    Observe, ao lado, o mapa da Colniaportuguesa desenhado no incio dacolonizao.

    O mapa da primeira metade do sculo XVIretrata a Colnia portuguesa (o Brasil).

    Descreva, em seu caderno, as informaesque o mapa transmite sobre o Brasil.

    Como a carta de Pero Vaz de Caminha, estemapa um documento histrico. Issosignifica que, por meio dele, possvelobtermos algumas informaes sobreaquela poca. Vamos fazer este exerccio

    juntos. Repare que, no litoral, estoassinalados rios e outros acidentesgeogrficos. No interior do territrio,contudo, o mapa nos oferecerepresentaes de outra natureza: podemosobservar desenhos retratando ndios,macacos, felinos, rpteis, aves, rvores.Diversamente da carta de Caminha, novemos sinal de povoaes. Os ndios

    parecem habitar essas terras como osanimais, sem transformar a natureza, sem

    Quanto aos cemitrios, os ndios tinham crenasvariadas e diferentes formas de encararem amorte, de tratarem e reverenciarem seus mortos,at porque no eram cristos como osportugueses, que dificilmente distinguiam umcemitrio indgena na paisagem.

    Por tudo isso, pelo fato de no entenderem eaceitarem a diversidade cultural entre os povos,os europeus acreditavam que os ndios eramselvagens e ainda estavam num estgio inicial dedesenvolvimento social e cultural. Essa concepointerferia no modo de olhar e descrever associedades indgenas.

    Os documentos escritos sobre as terras queformariam o Brasil e seus habitantes de antes dacolonizao ainda existentes so poucos, parciaise apresentam um quadro incompleto que podelevar a concluses incorretas.

    Colnia

    territrio ocupado e administrado por um Estado

    localizado fora de suas fronteiras geogrficas.

    HOMEM, Lopo. Terra Brasilis: 1515-1519. In: Mapa do Atlas Miller. Localizadona Biblioteca Nacional de Paris.

    Com a dizimao de dezenas de tribos entre ossculos XVI e XX, perdeu-se a memria demuitos desses povos, importante para a pesquisasobre como eram estas terras e os povos que aquiviviam antes da chegada dos portugueses.

    A FIXAO DAS FRONTEIRASBRASILEIRASPor volta de 1503, as terras recm-conquistadaspelos portugueses na Amrica passaram a serdenominadas Brasil. Essas terras foramincorporadas aos domnios de Portugal como suaColnia, ficando, portanto, sob sua posse e suaadministrao. A natureza foi explorada etransformada, e as terras repovoadas, conformeos interesses portugueses.

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    Captulo I Confrontos sociais e territrio nacional

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    construrem moradias ou caminhos. Algunsndios esto totalmente pelados, prximos costa, carregam pedaos de madeira,

    possivelmente pau-brasil, ou trabalhamcom um machado. A cena nos lembra que,num primeiro momento, os europeus

    comercializaram madeiras com as tribosindgenas do litoral. Outros ndios vestemcocares, capas e tangas de penas, eseguram arcos e flechas, suas armas.

    Parecem estar preparando-se para a luta.Era assim que os portugueses viam oBrasil no incio da colonizao. Conheciama costa e dominavam parte dela, eimaginavam sua maneira o que havia nointerior. Os ndios eram divididos em duas

    categorias: os mansos, que colaboravam etrabalhavam para os portugueses, e osbravos, que enfrentavam os invasores.

    Desde o primeiro sculo da colonizao, o mapaoficial do Brasil colnia (de 1500 a 1822) varioua partir de tratados estabelecidos entre Portugal eEspanha, como se aquelas terras no fossemocupadas por povos indgenas. Boa parte da

    Amrica do Sul ficou como domnio espanhol porconta do Tratado de Tordesilhas, que estabeleceua primeira fronteira do Brasil.

    As terras pertencentes a Portugal, situadas naregio do Brasil, foram divididas em quinzepores, demarcadas por linhas paralelas aoEquador, que se estendiam da costa at uma linhaimaginria que passava pela foz do Amazonas eterminava no litoral do atual estado de SantaCatarina. Cada poro foi denominada capitania,e entregue a um capito donatrio. Este ficouincumbido de povo-la com colonos vindos dePortugal. Tudo que estava alm daquela faixa, aoeste, pertencia Espanha. Observe o mapaapresentado ao lado:

    Tratado de Tordesilhas

    por esse tratado, firmado em 1494, o mundo foi dividido em dois hemisfrios, cabendo uma parte a Portugal e outra

    Espanha. No Brasil, essa linha imaginria passava pela foz do Amazonas at o litoral de Santa Catarina, em Laguna. A leste

    da linha, as terras eram de possesso de Portugal e a oeste, da Espanha.

    Adaptado de AZEVEDO, Aroldo de. Terra brasileira. 38. ed. So Paulo: Ed.Nacional, 1964.

    Povoamento sob

    domnio portugus no

    sculo XVI

    TRATADO DE TORDESILHAS E OPOVOAMENTO DO BRASIL

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    20possesso

    territrio sob dominao colonial de um Estado.

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    Desenvolvendo competncias

    Compare o mapa ao lado com um mapado Brasil atual e anote em seu cadernoos estados que estavam ocupados porcolonos portugueses e os que estavam

    povoados por ndios no sculo XVIII.

    Adaptado de AZEVEDO, Aroldo de. Terra brasileira. 38. ed. So Paulo: Ed.Nacional, 1964.

    Apesar do Tratado de Tordesilhas, esse mapa noexpressava a realidade. Embora houvesse umalinha no mapa, separando as possessesportuguesas das espanholas, ela no assinalava oque efetivamente cada uma das potnciaseuropias dominava e o que j povoava.

    Significava somente o que os Estados Ibricos Portugal e Espanha - consideravam comocolnias suas, independentemente de quem asocupava. Observe novamente o mapa e voc verque, ao longo da costa brasileira, h uma manchamais escura, que mostra a rea de efetivopovoamento. Para alm dessa mancha, o territrioera dominado por grupos indgenas, ou naes,como diziam os portugueses.

    AS FRONTEIRAS, O POVOAMENTO EOS CONFRONTOS COM OS NDIOSNos trezentos anos iniciais da colonizao,embora Espanha e Portugal houvessemestabelecido fronteiras polticas e as demarcadonos mapas, no conseguiram conquistarefetivamente todas as terras dos ndios, nempovoar boa parte do continente sul-americano. Aexpanso da rea ocupada por fazendas decriao, lavouras e cidades caminhouvagarosamente e ficou bem aqum das fronteiraspolticas dos domnios espanhis e portugueses.Os grupos indgenas resistiram invaso de suasterras, impedindo a efetivao do domnioportugus e espanhol.

    Povoamento sob domnioportugus no sculo XVIII

    POVOAMENTO DO BRASIL NO SCULO XVIII

    Terra povoada por ndios

    Fronteiras atuais

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    Captulo I Confrontos sociais e territrio nacional

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    Em 1822, na poca da Independncia, o Brasil jtinha quase a mesma conformao do territriobrasileiro atual, conseguida atravs de acordosdiplomticos entre Portugal e Espanha.Entretanto, tais acordos desconsideravam osgrupos indgenas que habitavam e dominavam as

    terras brasileiras. Portugal e Espanhaconsideravam como suas possesses terras que,em realidade, seus colonos no haviam povoadointegralmente. O processo de avano da reacolonizada foi rduo.

    A resistncia indgena invaso e escravizaose estendeu penosamente do incio da colonizaoportuguesa ao sculo XX. Podemos enumerar

    centenas de confrontos. Como exemplo,apontamos a luta dos Kaingang, de Guarapuava,no Paran, nos sculos XVIII e XIX; dosTupinikim, em Ilhus, no litoral sul da Bahia e noEsprito Santo, e dos Potiguara, na Paraba, nosculo XVI; dos Tamoio, no Rio de Janeiro, e dos

    Guaiacuru, no Pantanal, no sculo XVIII; dosXavante, em Gois, e dos Kadiwu, no MatoGrosso do Sul, no sculo XIX; e dos Maxakali, emMinas Gerais, no sculo XX. Muitas tribos levaramos colonos a srios reveses, dificultando o seuavano por mais de uma dcada. Foram vriasguerras. O resultado foi desastroso: ao redor de1.477 povos indgenas vtimas de extino.

    5

    Desenvolvendo competncias

    Vamos analisar um outro documento histrico. Veja, a seguir, o relato de soldados quebuscavam tomar terras dos Kaingang, na bacia do Tibagi, no Paran, no final do sculo XVIII. parte de um dirio, escrito entre 1768 e 1774, sobre uma expedio enviada porrepresentantes das autoridades portuguesas, para conhecimento daquelas terras e dos ndiosque as habitavam.

    As contnuas sadas do gentio, que ocupa os grandes Sertes do Tibagi h 9 anos a esta parte, tendo

    morto bastantes pessoas, e achando-se j muito prximo da estrada, que vem da cidade de S. Paulo

    para estes Campos Gerais, e Rio Grande; as muitas fazendas, que se tem despovoado (...) no meio

    destes sertes povoados de vrias naes do gentio, movem ao ilustrssimo e excelentssimo senhor

    general a mandar invadir o dito serto.

    Notcia da conquista e descobrimento dos sertes do Tibagi, na capitania de S. Paulo, no Governo do General D. Lus Antnio de Sousa Botelho Mouro, conforme ordensde sua Majestade. 1768 1774. ANAIS DA BIBLIOTECA NACIONAL, Rio de Janeiro , v. 76, p. 77, 1956.

    No mesmo documento, o prprio comandante afirma que os ndios que habitavam a bacia dorio Tibagi, chamado de serto do Tibagi, os Kaingang, ocupavam aquelas terras. Apesar disso,e diferentemente da concepo dos indgenas, os portugueses consideravam aquelas terrascomo parte do domnio do rei de Portugal. Uma vez que esses ndios que as habitavamatacavam as fazendas em que tentavam se estabelecer, ali o general ordenou a invaso, o quesignificava destruio dos ndios e de suas aldeias.

    Leia, na prxima pgina, a passagem seguinte do dirio, em que fica claro o reconhecimentode que os ndios dominavam aquelas terras (eram os senhores da casa), assim como asconheciam muito bem, tanto que sabiam suas entradas e sadas, ou seja, conseguiam se

    localizar e se orientar em seus caminhos.

    gentio

    ndio.

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    Captulo I Confrontos sociais e territrio nacional

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    Esses ndios Panar, segundo pesquisas, sodescendentes dos Kayap do Sul, que, do sculoXVII ao XIX, se distribuam em terras do oestepaulista, Tringulo Mineiro, Mato Grosso do Sul esul do Mato Grosso. Com a expanso dasfazendas em direo ao seu territrio, entre ofinal do sculo XIX e incio do XX, eles evitaramo contato, migrando para a regio das bacias dosrios Peixoto e Iriri, entre Mato Grosso e Par.

    Consideravam os brancos maus e perigosos.A sua histria revela que esses grupos, queainda hoje fogem ao contato com a sociedadebrasileira, resistem invaso de suas terras e,quando no conseguem, se refugiam em reasde difcil acesso.

    TERRAS DOS NDIOS E TERRITRIONACIONALApesar da destruio trazida pelo colonizadorportugus e da diminuio drstica de suapopulao, os ndios tm subsistido ao longo

    desses 500 anos, tm imposto,constitucionalmente, o respeito s suas culturas etm reivindicado suas terras. Esse um processoque parte da histria da formao do territrio

    6

    Desenvolvendo competncias

    Leia parte do relato sobre o contato, na dcada de 1970, com um povo livre, os Panar,conhecidos ento como Krenakarore, ou ndios gigantes.

    Ao serem descobertos pelos brancos, h pouco menos de 30 anos, os Panar recusaram o contato e

    embrenharam-se na floresta. Durante muito tempo, permaneceram arredios, resistindo s tentativasde aproximao. Em 1973, ao recolherem presentes com que os indigenistas queriam provar suas

    intenes pacficas, foram contagiados e dizimados por epidemias. Os sobreviventes aceitaram,

    ento, o contato. O que aconteceu depois parece ter confirmado a afirmao dos ancios de que os

    brancos, sim, que so selvagens. Quase reduzidos mendicncia, foram transferidos para o

    parque do Xingu, onde nunca se adaptaram. Mesmo assim, a populao jovem aumentou e a

    lembrana da terra tradicional manteve-se viva. Por isso, h pouco mais de cinco anos, tomaram

    uma deciso histrica: comearam a identificar os lugares de suas antigas aldeias e a voltar.

    SCHWARTZMAN, Stephan. Panar: a saga dos ndios gigantes. Cincia Hoje, So Paulo, v. 20, n. 119, p.27, abr. 1996.

    Responda em seu caderno:

    O que os Panar sabiam sobre os brancos, antes de entrarem em contato com osindigenistas? Quem havia transmitido a eles essas informaes?

    indigenista

    estuda os ndios.

    brasileiro, e que ainda est em andamento.

    Ao longo do tempo, os confrontos entre povos eculturas constituram-se em processos sociais epolticos que modelaram as fronteiras nacionais,como ns as conhecemos hoje. A histria doBrasil exemplifica como as fronteiras foramdelimitadas por processos de ocupao e confiscode terras, guerras e acordos diplomticos. E,apesar de estarem definidas com a consolidao

    do Estado Nacional brasileiro, os conflitosenvolvendo o territrio continuam at hoje,diante do direito das populaes indgenas deresguardarem para si suas terras tradicionais, e,assim, garantirem sua prpria continuidade fsicae cultural.

    Quando os ndios brasileiros clamam hoje pelademarcao de suas terras, indicam o carterconflituoso do processo de formao do territrionacional e a permanncia de tenses, revelando ainstabilidade das situaes presentes.

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    Desenvolvendo competncias

    Leia os textos abaixo e, em seguida, assinale a alternativa correta.

    1- Depoimento de um ndio da Aldeia de Limo Verde:

    Ns vivemos entre o morro e aquela cerca. No sabemos por que a cerca muda constantemente de

    lugar, ela se aproxima cada vez mais do morro. Um dia a gente planta um mandiocal e ele est donosso lado. O mandiocal cresce, e, quando a gente sai e vai colher a mandioca, verifica que a cerca

    mudou e o nosso mandiocal passou para o outro lado. Ns perdemos a mandioca ou somos

    considerados ladres se passarmos a cerca para apanh-la. A cerca anda e um dia ela vai

    encontrar o morro. Neste dia ns teremos desaparecido.

    ZENUN, Katsue Hamada; ADISSI, Valeria Maria Alves. Ser ndio hoje. So Paulo: Loyola, 1998. p. 28. (Histria Temtica Retrospectiva).

    Qual dos artigos da Constituio de 1988, abaixo relacionados, possibilita que os ndios da Aldeiade Limo Verde entrem na justia contra seus vizinhos para impedir o movimento da cerca?

    a) Art. 176: As jazidas, em lavras ou no, e demais recursos minerais e os potenciais deenergia hidrulica constituem propriedade distinta do solo, para efeito de explorao ouaproveitamento, e pertencem Unio, garantida ao concessionrio a propriedade do

    produto da lavra.

    b) Art. 210, pargrafo 2: O ensino fundamental regular ser ministrado em lnguaportuguesa, assegurada s comunidades indgenas tambm a utilizao de suas lnguasmaternas e processos prprios de aprendizagem.

    c) Art. 215: O Estado garantir a todos o pleno exerccio dos direitos culturais e acesso sfontes da cultura nacional, e apoiar e incentivar a valorizao e a difuso dasmanifestaes culturais.Pargrafo 1: O Estado proteger as manifestaes das culturas populares, indgenas eafro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatrio nacional.

    d) Art. 231, pargrafo 2: As terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios destinam-se asua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios edos lagos nelas existentes.Pargrafo 4: As terras de que trata este artigo so inalienveis e indisponveis, e os

    direitos sobre elas, imprescritveis.

    2- Artigo 231: So reconhecidos aos ndios sua organizao social, costumes, lnguas,crenas e tradies, e os direitos originrios sobre terras que tradicionalmente ocupam,competindo Unio demarc-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

    pargrafo 1: So terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios as por eles habitadas emcarter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindveis

    preservao dos recursos ambientais necessrios a seu bem-estar e as necessrias a suareproduo fsica e cultural, segundo seus usos, costumes e tradies.

    A partir do artigo 231 e de seu pargrafo 1, podemos afirmar que a Constituio de 1988:

    a) despreza a importncia que a terra tem para a preservao das populaes indgenas.

    b) reconhece a importncia da preservao dos ndios e de suas terras.

    c) nega os direitos originrios dos ndios sobre suas terras.

    d) cria mecanismos para a integrao dos ndios ao mundo do trabalho.

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    7

    Conferindo seu conhecimento

    1 (d)

    2(b)

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    ORIENTAO FINAL

    Para saber se voc compreendeu bem o que est apresentado neste captulo, verifique se est apto ademonstrar que capaz de:

    Identificar diferentes formas de representao de fatos e fenmenos histrico-geogrficos expressosem diferentes linguagens.

    Reconhecer transformaes temporais e espaciais na realidade.

    Interpretar realidades histricas e geogrficas estabelecendo relaes entre diferentes fatos e processossociais.

    Comparar diferentes explicaes para fatos e processos histricos e/ou geogrficos.

    Considerar o respeito aos valores humanos e diversidade sociocultural, nas anlises de fatos eprocessos histricos e geogrficos.

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    Gilberto Pamplona da Costa

    MUDANAS NO ESPAO GEOGRFICO DO BRASIL

    COMPREENDEROPAPELDASSOCIEDADESNOPROCESSO

    DEPRODUODOESPAO, DOTERRITRIO,

    DAPAISAGEMEDOLUGAR.

    Captulo II

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    Histria e Geografia Ensino Fundamental

    Captulo II

    Mudanas no espao

    geogrfico do BrasilObserve a tabela abaixo:

    rodovirio

    Brasil

    EUA

    AlemanhaJapo

    Frana

    ex-URSS

    Paraguai

    70%

    25%

    18%20%

    28%

    4%

    47%

    18%

    50%

    53%38%

    55%

    83%

    4%

    12%

    25%

    29%42%

    17%

    13%

    49%

    TRANSPORTE DE CARGAS NOS ANOS 1990

    ferrovirio hidrovirio

    Sobre o que a tabela nos informa? O que diz ottulo da tabela? Os dados referem-se a quaispases? E a qual poca?

    Voc j deve ter percebido que a tabela tratados tipos de transporte utilizados para levar etrazer mercadorias no Brasil e em outroslocais do mundo, na dcada de 1990. E deve terreparado que setenta por cento (70%), ou seja, amaior parte do transporte de carga no nosso pas realizado por rodovias, com caminhes quecruzam as estradas de norte a sul e de lestea oeste. Isso significa que o Espao Geogrficobrasileiro tem sido marcado e integradopor rodovias.

    CAMINHONEIROSANUNCIAM NOVA GREVE

    Os caminhoneiros marcaram greve parasegunda-feira em todo pas. A partir de

    hoje, os motoristas que deveriam recebercarga para viagens mais longas tmorientao para recusar o trabalho. E deacordo com estimativas do MovimentoUnio Brasil Caminhoneiro (MUBC),cerca de um milho deles cruzaro osbraos. A determinao da entidade deque os caminhes fiquem parados noacostamento das estradas ou em

    postos de gasolina, evitando obloqueio de rodovias.Jornal da Tarde, So Paulo, 26 abr. 2000.

    De que trata a reportagem?

    O que pode acontecer com o transporte de cargano Brasil com a greve dos caminhoneiros? Comoas mercadorias vo circular no pas? Isso podeafetar a sua vida?

    Como vimos na tabela, o principal meio detransporte de carga no Brasil a rodovia.Uma grande greve de motoristas de caminho,portanto, pode interromper a circulao dosprodutos, o abastecimento dos supermercadose dos postos de gasolina, o transporte demercadorias do campo para a cidade

    e para os portos martimos e aeroportos,afetando assim a todos.

    Na sua histria recente, a sociedade brasileiraintegrou suas diferentes localidades por meio das

    Agora leia a reportagem.

    CESP 1995 apud OLIVA, Jaime; Roberto Giansanti. Espao e modernidade:temas da geografia mundial. So Paulo: Atual,1999.

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    Captulo II Mudanas no espao geogrfico do Brasil

    estradas de rodagem. possvel dizer que osistema de rodovias , na sociedade brasileira, umdos vrios meios de organizar o EspaoGeogrfico.

    Vamos, assim, neste captulo, refletir sobre aorganizao do Espao Geogrfico do Brasil.

    Para isso, vamos estudar: A organizao do territrio brasileiro,

    a partir de aes realizadas pelasociedade ao longo de sua histria,especialmente marcada, nos ltimos60 anos, pela expanso do transporterodovirio um fator de integrao dediferentes localidades.

    Os deslocamentos da populaoentre diferentes regies movimentosmigratrios , que aumentaram apsa construo do sistema de

    transportes no Brasil. Os efeitos e danos sobre o meio ambiente,

    por conta do crescimento das atividadeseconmicas, como a abertura de estradas,instalao de indstrias, expanso daagricultura e criao de gado em regies deflorestas etc.

    O TRANSPORTE NO BRASILVoc j deve ter se perguntado: por que umagreve de caminhoneiros afeta nossa vida?

    Voc sabe que todo produto tem um custo. Porexemplo: o arroz e o feijo, alimentos bsicos,tm um custo de plantio, colheita, armazenageme transporte. O custo do transporte, isto , o que cobrado pelo caminhoneiro ou pela empresatransportadora, se chama frete; ele variaconforme a distncia, o peso e a quantidadedas mercadorias.

    importante destacar que existem outros meiosde transporte usados para que os produtos

    cheguem a voc; dentre eles, escolhemos alguns,para entendermos o Espao brasileiro:

    As ferrovias, que foram muito utilizadas nopassado, sculos XIX e comeo do XX, com otransporte de cargas e passageiros.

    As hidrovias, que utilizam rios para navegao.

    As rodovias, assunto principal deste captulo.

    Voltando nossa estatstica inicial, vimos que70% do transporte de carga no Brasil feitopor caminhes. Por que adotamos otransporte rodovirio?

    O Brasil considerado um pas de dimensescontinentais, isto , tem uma extenso territorialque o coloca entre os maiores do mundo. Com essetamanho todo, seria adequado utilizar caminhespara transportar praticamente 2/3 de toda a carga?Voltemos tabela das modalidades de transportede carga nos anos 1990, para compararmos os

    dados brasileiros aos dos outros pases. Algumdeles transporta carga da mesma maneira que oBrasil? O que mais se aproxima o Paraguai, com47% de transporte rodovirio. Veja que os outrospases destacados na tabela, exceto a ex-URSS,destinam ao sistema rodovirio aproximadamente30% das cargas. Ou seja, a cada 100 mercadoriastransportadas no Brasil, 70 viajam de caminho; jnos Estados Unidos, por exemplo, apenas 25 sotransportadas por rodovias.

    Voltemos greve dos caminhoneiros. Leia comateno o depoimento do presidente do MUBC

    (Movimento Unio Brasil Caminhoneiro), NlioBotelho: Se h pouca carga e os caminhestrafegam com excesso de peso, isso significa que

    um caminho est trabalhando por dois,

    agravando ainda mais a crise. Botelho diz que afrota de caminhes envelhecida e semmanuteno, o excesso de peso e de trabalho soos principais responsveis pelos acidentes nasestradas; alm disso, reclama que o caminhoneirono tem condies de pagar os pedgios.

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    Captulo II Mudanas no espao geogrfico do Brasil

    TRANSPORTES NO BRASIL - 1990

    areo0,3% aquavirio

    17%

    dutovirio

    3,7%

    ferrovirio21%

    rodovirio58%

    Ministrio dos Transportes, 1999.

    dutovirio

    uso de dutos, enormes tubulaes, para o

    transporte de gs natural, petrleo etc.

    O que notamos nas porcentagens do grficoacima? Mais da metade dos transportes realizadosno territrio brasileiro, 58%, feita por meiorodovirio.

    Vamos retomar algumas das questes levantadasat agora: Por que adotar esse modelo? Queimplicaes isso pode trazer para um pas como oBrasil, que tem uma rea muito grande? Ser queo transporte rodovirio o mais adequado paralongas distncias? E nas cidades, onde asdistncias so menores, vivel tambm?

    O transporte rodovirio a longa distncia, num

    pas de dimenses continentais, como o Brasil,acarreta mais prejuzos do que benefcios. Osgastos com combustvel so enormes; a frota decaminhes para transportar os produtos daindstria, da agricultura e do comrcio deve sersuficientemente grande para atender snecessidades do mercado brasileiro; o preo dofrete (o custo do transporte) alto, levando aoencarecimento das mercadorias.

    O transporte rodovirio foi praticamente impostonos anos 1940 e 50, com a industrializao.

    Observe os seguintes dados:

    Visando a incentivar a vinda de novas indstrias,em especial, as do setor automobilstico, oGoverno Federal, principalmente, preparou oterritrio com rodovias, comunicao e energia.

    O setor de transporte rodovirio de cargas responsvel por aproximadamente 2/3 das cargasque circulam no pas. Fatura quase R$ 40 bilhespor ano e gera 3,5 milhes de empregos diretos eindiretos. Atualmente, existem 900 milcaminhoneiros autnomos, isto , que trabalhampor conta prpria, e 35 mil empresas. A frotachega a dois milhes de veculos.

    O Brasil tem mais de 250 mil quilmetros derodovias, dos quais mais da metade sopavimentados. Nos ltimos anos, os governosFederal e Estaduais vm passando o controle dasrodovias para empresas privadas ou particulares,o que resultou no aumento dos pedgiosdas rodovias.

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    Histria e Geografia Ensino Fundamental

    ORGANIZAO TERRITORIAL DAS RODOVIAS

    Adaptado de FERREIRA, Graa Maria Lemos.Atlas geogrfico: espao mundial. Comunicao Cartogrfica de Marcelo Martinelli. So Paulo: Moderna, 1998.

    Observe abaixo o mapa da organizao territorialdas rodovias no Brasil.

    O que percebemos em relao concentrao dasestradas no territrio? Como a associamos aoprocesso de industrializao que ocorreu no Brasil?Leia a legenda para entender o significado das

    linhas e pontos desenhados no mapa. Perceba queh tipos diferentes de estradas de rodagem.

    Notamos que a concentrao dessas estradas nosudeste atende a razes econmicas, sobretudoaos interesses das indstrias. Isto provocou umaintensa movimentao de cargas e pessoas entreos principais centros econmicos do Brasil.

    Outro fato que chama a ateno o nmeroreduzido de rodovias que integram a regio Norte l, predomina o transporte hidrovirio.

    Retomando nossa questo inicial, o Brasil tem umvasto territrio, integrado parcialmente porrodovias. A dependncia em relao a um s

    modelo, que foi imposto, causa vrios problemas.Ento, podemos perceber que a organizao e aintegrao do Espao Geogrfico brasileiro vmmudando ao longo da sua histria. A rede detransporte um bom exemplo para notarmoscomo as pessoas circulam e como os produtoschegam at ns. A greve dos caminhoneiros foium bom exemplo para compreendermos osproblemas do transporte rodovirio.

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    Captulo II Mudanas no espao geogrfico do Brasil

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    Desenvolvendo competncias

    1. O Brasil tem, como principal meio de transporte, a rodovia. Isso gerou inmeros problemas

    de deslocamento das pessoas e mercadorias. O que levou milhares de motoristas a pararem as

    principais estradas brasileiras? Que conseqncias uma greve de caminhoneiros causou ao

    sistema de transporte do territrio brasileiro?Assinale a alternativa correta.

    a) A greve no teve conseqncia alguma, pois existem no Brasil outros meios de transporte

    mais eficientes que as rodovias, como as hidrovias.

    b) A greve prejudicou o abastecimento de alimentos, pois a maior parte do transporte de

    mercadorias no Brasil feita pelas rodovias.

    c) A greve no alterou o abastecimento de produtos, porque a paralisao no atingiu as

    principais rodovias do pas; os caminhoneiros reivindicavam transportar apenas produtos

    de primeira necessidade.

    d) O Brasil vem investindo rapidamente em outros meios de transporte, tais como as

    ferrovias, com o objetivo de transportar toda a carga sem utilizar o sistema rodovirio.

    FLUXOS MIGRATRIOS NO BRASIL

    Adaptado de SANTOS, Regina Bega. Migraes no Brasil. So Paulo: Scipione, 1994. (Ponto de apoio).

    Vimos, na parte anterior deste captulo, aimportncia dos meios de transporte naorganizao do espao geogrfico. Agora,analisaremos os movimentos migratrios dapopulao, que s foram possveis em nmeroelevado devido expanso do sistema detransporte. Isso resultou em inmeras mudanasno Espao Geogrfico.

    Observe os trs mapas abaixo sobre os fluxosmigratrios no Brasil:

    O que os mapas mostram? A que regies eles sereferem? H diferenas e semelhanas entre ostrs mapas? Pense a respeito dessas questes.

    Dcadas de1950 e de 1960

    Dcadas de1960 e de 1970

    Dcadas de1970 e de 1980

    O PAS EM MOVIMENTO: FLUXOS MIGRATRIOS NO BRASIL

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    Histria e Geografia Ensino Fundamental

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    Desenvolvendo competncias

    Agora, responda: o que representam as setas nos mapas?

    a) O processo de industrializao do Brasil.

    b) As principais rodovias que ligam os estados brasileiros.

    c) As hidrovias e ferrovias do Brasil.

    d) O deslocamento da populao pelo territrio brasileiro.

    Sabemos que o uso de setas nos mapas indicamovimento, deslocamento, fluxos. Os trs mapastratam das diferentes ocorrncias de um mesmofenmeno em momentos histricos distintos.

    No seria tambm a industrializao, pois as setasno fornecem elementos suficientes para acompreenso dos diferentes tipos de indstrias

    que existem no Brasil.As hidrovias, como voc j sabe, consistem noconjunto de mudanas que ocorrem ao longo dosrios para transportar mercadorias e pessoas nomapa, no h indicao de nenhum rio. Pararepresentarmos as estradas, usamos traos elinhas. S nos resta a alternativa (d): os mapasrepresentam o deslocamento da populao peloterritrio, fenmeno conhecido como migrao.

    Agora, surgem novas perguntas. O que as setasindicam em cada mapa? Por que tantas pessoas sedeslocaram nas dcadas de 1950 e 1960? possvel identificar qual regio teve a maior sadade habitantes ao longo desses anos?

    O que motivou esses habitantes a sarem dosseus locais de origem? Por que a Amazniapraticamente no teve movimento populacionalat a dcada de 1960?

    AS DCADAS DE 1950 E 1960No mapa das dcadas de 1950 e 1960, a setamaior (que se divide em 4 ramos) indica umgrande movimento da regio Nordeste para aSudeste. Voc saberia levantar as razes desse

    deslocamento populacional?A intensa migrao ocorrida est associada aoxodo rural (sada de pessoas das reas ruraispara as cidades) verificado no Brasil a partir dosanos de 1930.

    Parte da populao rural foi praticamenteexpulsa do campo, sobretudo em conseqncia dainstalao de mdias e grandes propriedades, daintroduo de mquinas agrcolas (tratores,colhedeiras, sementeiras...) modernizao daagricultura , da falta de incentivo ao pequenoprodutor rural e da concentrao de terras nasmos de poucos proprietrios. Tudo isso, e mais assecas em determinadas regies do pas, provocou odesemprego de milhares de trabalhadores. Sempossibilidade de sobreviver dignamente, muitasfamlias rumaram para a cidade.

    Famlias inteiras, na maioria das vezes, fugiam daseca, do desemprego, da falta de investimento dosgovernos nos lugares onde moravam.

    Atualmente, conforme dados do IBGE (InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatstica), a populaourbana (aquela que vive nas cidades) do Brasilest em torno de 82%.

    O Brasil dos anos 1950 e 1960 se industrializavarapidamente. A fim de atrair as indstriasestrangeiras, em especial as do setorautomobilstico, o Governo Federal,principalmente, garantia os investimentosnecessrios ao territrio: construram-seestradas, siderrgicas, redes de energia e decomunicao. A regio Sudeste foi a que recebeumais investimentos.

    Em cidades como So Paulo, Rio de Janeiro eBelo Horizonte, a crescente industrializao atraiumuitos migrantes. Aumentou expressivamente apopulao das metrpoles da regio Sudeste e oresultado foi que a mo-de-obra superou aprocura de trabalhadores pela indstria.

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    Captulo II Mudanas no espao geogrfico do Brasil

    PRINCIPAIS FLUXOS MIGRATRIOSNO BRASIL (1990)

    Adaptado de: OLIVEIRA, A.U. Geografia do Brasil. [S.l.: s.n.],1995.

    AS DCADAS DE 1960 E 1970O mapa das dcadas de 1960 e 1970, alm deindicar um significativo movimento em direoao Sudeste, registra dois novos movimentosimportantes para a compreenso da migrao.

    O primeiro deles est representado pela seta quese origina na regio Sul e vai at a regio Centro-Oeste: diferentemente das migraes ocorridasnas dcadas de 1950 e 1960, esse fluxomigratrio no se relacionava com odesenvolvimento industrial, mas com a ampliaoda fronteira agrcola, isto , com a formao deuma nova rea para a agricultura. As terras doSul ficaram mais caras, e a concorrncia comgrandes empreendedores (grandes proprietrios)levou os pequenos agricultores a buscarem novaspropriedades no Centro-Oeste. Nesta poca, ogoverno brasileiro incentivou a migrao de

    famlias de trabalhadores agrcolas, que saram daregio Sul e Sudeste e foram abrir fazendas noMato Grosso e Gois.

    O segundo movimento tem como destino aAmaznia: muitos vo trabalhar no garimpo eem projetos agropecurios para atender aosinteresses das grandes empresas; alm disso, aconstruo da rodovia conhecida por

    Transamaznica estimulou a chegada de novosmigrantes, sobretudo nordestinos, comomostram as setas do mapa.

    E o mapa das dcadas de 1970 e 1980? Quemudanas ele registra? A migrao para oSudeste diminuiu ou aumentou? Para que partedo territrio direcionam-se os fluxos?

    Repare que o fluxo de migrantes do Nordeste parao Sudeste continua, porm em menor ritmo. Oque se destaca, nessas dcadas, a migraorumo regio Norte, em busca dos empregosproporcionados por novas reas de pecuria e

    agricultura.E nos anos 1990? O brasileiro continuamigrando? Observe o mapa e o grfico a seguir:

    7

    6

    5

    43

    2

    1

    0

    Amap

    Roraima

    Amazonas

    Acre

    %

    estados

    ESTADOS QUE MAIS CRESCERAMENTRE 1996 E 2000

    IBGE. Censo demogrfico. Rio de Janeiro, 2000.

    5,74

    4,57

    3,432,77

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    Histria e Geografia Ensino Fundamental

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    Desenvolvendo competncias

    Leia os versos da cano abaixo: voc percebe alguma ligao entre a migrao que ocorre no

    Brasil e a histria de sua vida e de sua famlia?

    O meu pai era paulista

    Meu av, pernambucanoO meu bisav, mineiro

    Meu tatarav, baiano

    Vou na estrada h muitos anos

    Sou um artista brasileiro.

    BUARQUE, Chico. Paratodos. [S.l.]: BMG Ariola,1993. 1 CD.

    O que retratam esses versos do compositor e msico Francisco Buarque de Holanda,

    conhecido como Chico Buarque? Voc se identifica de alguma maneira com essa cano?

    Esses versos podem ser lidos como um testemunho do artista a respeito das migraes da

    populao brasileira? Justifique.

    O que representa o grfico? possvel relacion-lo com o mapa? Qual a semelhana entre adireo dos fluxos e a linha do grfico?

    Podemos entender que:

    um grande ndice de migrantes se deslocapara as reas de garimpo e para as fronteiras

    agrcolas; o desinteresse dos migrantes pelas metrpoles

    da regio Sudeste pode ser explicado pela

    crise econmica, que diminuiu o nmero deempregos na indstria;

    a migrao rumo regio Norte foiresponsvel pelas altas taxas de crescimentoanual dos estados que a integram, crescimentoeste bastante expressivo se comparado ao dos

    estados que apresentaram as menores mdias,como a Paraba, com 0,80%, e mdiabrasileira, que ficou em 1,6%.

    Em 1940, havia 3,4 milhes de brasileiros forade sua cidade natal; o nmero chegou a12,5 milhes em 1960, 43,3 milhes em 1980 e53,3 milhes em 1991, de acordo com o IBGE.Os nmeros contribuem para a anliseda msica?

    O meu pai era paulistaMeu av, pernambucanoO meu bisav, mineiroMeu tatarav, baianoVou na estrada h muitos anos

    Sou um artista brasileiro.BUARQUE, Chico. Paratodos. [S.l.]: BMG Ariola,1993. 1 CD.

    O brasileiro, de modo geral, migrante.O trabalho do migrante proporcionou o

    desenvolvimento dos lugares e das regies.Os fluxos migratrios acompanham as atividadeseconmicas, tais como a indstria, aagropecuria, o comrcio e os servios, que seorganizaram de maneira desigual pelo territrio.

    necessrio entender como, por que e ondeocorreram os movimentos migratrios paraanalisar o territrio e compreender astransformaes nele ocorridas nasltimas dcadas.

    O grande crescimento das metrpoles explicado

    pelo aumento das migraes internas, observadasnas tabelas e nos mapas. A maioria dosmigrantes, pertencente a camadas da populaomais pobre, foi obrigada a deixar sua terra natal

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    Captulo II Mudanas no espao geogrfico do Brasil

    CRESCIMENTO ECONMICO E DANOS AO MEIO AMBIENTE

    O que voc percebe no grfico de barras? O quesignifica cada barra? Como relacionar a readesmatada ao longo dos anos? O desmatamentoteve alteraes? Em que ano ocorreu o maiordesmatamento na Amaznia? Por que ocorre o

    desmatamento? Quais as suas conseqnciassociais e ambientais?

    Como vimos na discusso sobre migrao etransportes, o espao geogrfico se altera devido ampliao das atividades econmicas no territrio,tais como a indstria, comrcio, servios,agropecuria e minerao. Percebemos que, paraatender aos interesses do desenvolvimentocapitalista no Brasil, principalmente aps os anosde 1950, o Estado atuou na produo eorganizao do territrio, construindo uma infra-estrutura de transportes, energia e comunicao.

    Note que a transformao do territrio no foipor igual. Muitas regies tiveram sua ocupaoacentuada aps os anos de 1970. Isso tambm

    ocorreu na Amaznia. Por qu?Observe novamente o mapa dos fluxos migratriosdo Brasil nos anos de 1990. O que voc nota? Porque milhares de migrantes se dirigiram para aAmaznia? Em que eles foram trabalhar?Ocorreram problemas sociais e ambientais nessesdeslocamentos nos ltimos anos? Que atividadesforam realizadas l? Os vrios governos queadministraram o Brasil nos ltimos anoscontriburam para alguma mudana no quadrosocial e ambiental da Amaznia? possvel mudaro quadro da ocupao da Amaznia?

    Observe o grfico de barras ao lado sobre aevoluo do desmatamento na Amaznia.

    Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 1996.

    rea em km2

    EVOLUO DO DESMATAMENTONA AMAZNIA

    35000

    30000

    25000

    20000

    15000

    10000

    5000

    0

    1988

    ano

    1989

    1990

    1991

    1992

    1993

    1994

    1995

    em busca de melhores condies de vida.

    Muitos dos que seguiram para as grandes emdias cidades brasileiras trabalham no setor deservios e no setor informal, pois foram essas asoportunidades que encontraram. Habitamgeralmente moradias precrias nas periferias dos

    centros urbanos no participaram,infelizmente, da distribuio da riqueza queajudaram e ajudam a construir.

    O ato de migrar para a cidade significa umamudana brusca no modo de vida. s vezes, parteda famlia fica na terra natal. A adaptao nametrpole difcil, o preconceito social e

    econmico dificulta a possibilidade de se buscaruma cidadania plena no novo lugar. Aos poucos,h uma perda da identidade e das razes.

    Nos anos de 1950 e 1960, o migrantepraticamente se isolava de seu local de origempor causa da pouca integrao dos transportes e

    da comunicao no Brasil. A partir dos anos1970, com o desenvolvimento dos correios e deoutros setores de comunicao e da construo demais estradas, muitas famlias puderam mantermais contato, desempenhando uma maiorinterao social e cultural.

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    Histria e Geografia Ensino Fundamental

    Discutimos, na parte anterior a idia de fronteiraagrcola, ou seja, expanso da agricultura epecuria para novas reas. Percebemos que, nosanos de 1960 e 1970, a fronteira avanava paraos estados da regio Centro-Oeste com a pecuriae a agricultura da soja. Como os governos

    participaram incentivando as atividades para asregies Norte e Centro-Oeste?

    A ocupao das regies foi estimulada pelosgovernos, principalmente o Federal, com afinalidade de atrair novas empresas do setoragropecurio e mineral para produzir emgrande quantidade. Para isto, o governo

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    Desenvolvendo competncias

    Localize no mapa Organizao territorial das rodovias (pgina 32) as estradas que ligamessas cidades. Observe se elas so pavimentadas ou no.

    A atitude do Governo em promover a ocupao da Amaznia privilegiando a atividade

    agropecuria em grandes propriedades tinha uma inteno evidente.

    Qual das opes abaixo melhor exprime essa inteno?

    a) Ocupar a regio apenas com pequenos proprietrios de terras que vieram do Sul do Brasil.

    b) Ocupar a regio atravs de grandes projetos agropecurios e minerais que visavam o

    mercado externo.

    c) Preservar as terras indgenas e garantir uma vida adequada aos migrantes que

    l chegavam.

    d) Construir outros caminhos, no rodovirios, que integrassem a regio.

    implantou uma poltica chamadadesenvolvimentista, baseada nos incentivosfiscais (vantagens concedidas aos empresriosque queriam produzir na Amaznia),principalmente a partir da dcada de 1970.

    A tentativa de ocupar o Cerrado e a Floresta

    Amaznica desencadeou uma migrao em buscade novos empregos e novas terras. Associados aosincentivos fiscais, o Governo Federal construiuvrias rodovias, tais como a BelmBraslia,a Transamaznica, a CuiabSantarm,a CuiabPorto Velho.

    Por que os camponeses do Sul foram para oCentro-Oeste e para Amaznia, conforme osmapas de migrao das pginas 31 e 33 mostram?O uso das mquinas pelas empresas agrcolas naproduo da soja, principalmente, e a valorizaodas terras expulsaram o pequeno produtor. Apresso por terras e emprego fez, ento, com que

    o governo incentivasse a migrao para o Norte.

    Vejamos outra questo para entender os danosambientais causados pelo desmatamento: naAmaznia, as madeireiras retiram muitas rvoresnativas e deixam brechas enormes na vegetao;reas de pastagens substituem a mata.

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    Captulo II Mudanas no espao geogrfico do Brasil

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    Desenvolvendo competncias

    A agricultura voltada para o mercado se espalha sobre antigas reas de floresta. A vegetao

    original destruda e a eroso prejudica os solos. Assinale a alternativa que explica as

    transformaes ambientais na Amaznia.

    a) A floresta e as atividades agropecurias convivem sem gerar danos ao ambiente.b) O ecossistema amaznico, muito resistente, tem impedido a ocupao da regio e tornado a

    Amaznia pouco atraente s empresas.

    c) A rpida ocupao pelas empresas capitalistas tem provocado danos por desmatarem-se,

    com mquinas ou queimadas, enormes trechos de floresta.

    d) O aumento do nmero de pequenas propriedades para a realizao da agricultura de

    subsistncia tem representado um grande desastre ecolgico.

    8

    Desenvolvendo competncias

    Escolha, dentre as alternativas abaixo, a soluo mais adequada para um uso mais racional

    da natureza e para a vida dos homens.

    a) As experincias voltadas para a explorao em grandes reas, com o cultivo de um s

    produto, no prejudicam a regio e geram empregos para milhares de trabalhadores.

    b) A transformao da Amaznia em uma rea de grandes pastagens evita o desmatamento e

    os danos ambientais.

    c) A produo dos seringueiros deve ser controlada pelos grandes grupos econmicos paraatingir o mercado internacional, garantindo lucros para o pas.

    d) O estmulo criao de reservas extrativistas garante o sustento dos povos da floresta,

    preserva-a e gera empregos e renda.

    O que voc acha da imposio desse modelo dedesenvolvimento na Amaznia? Existe uma outramaneira de ocupar e at mesmo explorar asriquezas naturais da Amaznia que noprejudique o meio e atenda aos interesses dascomunidades? A expanso da fronteira agrcolaatendeu s necessidades dos milhares demigrantes que foram para a Amaznia?

    Seringueiros e castanheiros, que h sculostentam viver sem depender das empresasagropecurias e dos grandes proprietrios deterras, conseguem, com muita luta, a criao dereservas extrativistas que representam umaproposta diferente de ocupao e organizao doespao amaznico.

    Em relao Amaznia, necessrio propornovas prticas sociais que no excluam aquelesque so marginalizados na sociedade.

    Em relao s prticas ambientais, precisorepensar o modelo de ocupao do espao.Grandes pastagens e cultivos nas reas deflorestas no podem mais ocorrer, pois necessrio estabelecer um rgido controle daexpanso das fronteiras agrcolas. Criarreservas naturais estimularia a pesquisacientfica para o conhecimento dafauna e flora.

    fundamental garantir a preservao,a qualidade de vida e diminuir as desigualdadessociais.

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    Histria e Geografia Ensino Fundamental

    MUDANA DO ESPAO GEOGRFICO BRASILERO

    Como vimos, o Espao Geogrfico mudourapidamente aps os anos de 1950, com aconstruo de um sistema de transportebasicamente rodovirio. A maior parte das cargasso transportadas sobre rodas e notamos osproblemas que isso trouxe para todos.

    Alm do transporte de carga, notamos tambmque as pessoas saram mais dos estados em buscade uma vida melhor. Para isso, muitos migraramusando o transporte rodovirio.

    Na inteno de integrar o pas, o Governopreparou o territrio com os transportes,comunicao e energia e possibilitou o aumentode outras atividades. Essas transformaescausaram inmeros danos ambientais. A questoque colocamos ento para o presente e o futuro :como construir o desenvolvimento, favorecendo amelhoria de vida para a populao, sem, contudo,criar tantos impactos no ambiente?

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    Captulo II Mudanas no espao geogrfico do Brasil

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    Conferindo seu conhecimento

    a) As trs alternativas contribuem para a eficincia e o barateamento do transporte de cargas. Contudo,concentrar praticamente toda a carga no transporte rodovirio pode trazer srias conseqncias populao.Voc saberia responder quais? O aumento do frete do transporte.

    O alto custo de construo e manuteno das estradas. O enorme gasto com combustvel.Essas so algumas das conseqncias que ocorreram no Brasil aps a escolha do transporte de cargas atravsdas rodovias.

    b) Se voc escolheu a ferrovia, acertou. A ex-URSS transporta 83% dos seus produtos atravs da ferrovia,enquanto o Brasil s usa 18%.

    Optar pelos pedgios um bom comeo. Afinal, o que o pedgio tem a ver com a situao? Voc paga pedgiosquando viaja? Todas as estradas tm pedgios? Por que existe o pedgio nas estradas brasileiras? O que vocsouber sobre o assunto, anote em seu caderno.

    Resposta (b).

    Resposta (d).

    A alternativa (b) a que melhor identifica o projeto de colonizao da Amaznia nos anos 1970 e 1980. Oprojeto consistiu numa srie de aes: parte das terras indgenas foi invadida por garimpeiros e empresas deminerao; a construo de estradas e a ocupao ao longo das suas margens com a agricultura e pecuriaaumentaram o desmatamento.

    A alternativa (c) correta, pois a ocupao da Amaznia por grandes empresas agropecurias e de minerao responsvel por desequilbrios sociais e ambientais. As reas desmatadas perdem sua riqueza natural. Os solosficam expostos s chuvas fortes e s queimadas, causando eroso e perda da fertilidade. A prtica da mineraopoluiu alguns rios por conta da utilizao de produtos qumicos, como o mercrio, muito usado no processo deseparao do ouro e de outros minerais.

    A alternativa (d) uma soluo possvel para a Amaznia. Tente lembrar de outras situaes que acontecem nolugar onde voc mora. Seria possvel, na sua comunidade, aliar uma atividade econmica com a preservao danatureza, gerando uma renda adequada para os seus cooperados? possvel encontrar solues alternativas aomodelo de desenvolvimento capitalista que elevem a qualidade de vida dos habitantes?

    2

    3

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    Histria e Geografia Ensino Fundamental

    ORIENTAO FINAL

    Para saber se voc compreendeu bem o que est apresentado neste captulo, verifique se est apto ademonstrar que capaz de:

    Identificar fenmenos e fatos histrico-geogrficos e suas dimenses espaciais e temporais, utilizando

    mapas e grficos. Analisar geograficamente caractersticas e dinmicas dos fluxos populacionais, relacionando-os com

    a constituio do espao.

    Interpretar situaes histrico-geogrficas da sociedade brasileira referentes constituio do espao,do territrio, da paisagem e/ou do lugar.

    Comparar os processos de formao socioeconmicos e geogrficos da sociedade brasileira.

    Comparar propostas de solues para problemas de natureza socioambiental, respeitando valoreshumanos e a diversidade sociocultural.

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    Denise Gonalves de Freitas

    O VALOR DA MEMRIA

    COMPREENDERAIMPORTNCIADOPATRIMNIO

    CULTURALERESPEITARADIVERSIDADETNICA.

    Captulo III

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    Histria e Geografia Ensino Fundamental

    Captulo III

    O valor da memria

    Hoje um dia que vou marcar no meu caderno; voc me deu oportunidade de falar deminha f, de minha me, de minha gente e de minha raa. Nunca ningum me perguntounada. E eu nunca pude contar nada para ningum. A minha prpria vida ficou maisclara. Venha sempre que puder. Venha comer feijo com couve.BERNARDO, Teresinha. Memria em branco e negro: olhares sobre So Paulo. So Paulo: EDUC/FAPESP, 1998.

    APRESENTAOEsse depoimento que voc acabou de ler dedona Sebastiana, mulher negra, moradora dacidade de So Paulo, para o livro Memria emBranco e Negro, Olhares sobre So Paulo, escritopor Teresinha Bernardo.

    Relembrar, reviver o passado, segundo DonaSebastiana, deixa a vida mais clara.

    O que significa uma vida mais clara?

    Para dona Sebastiana, deixar a vida mais clara contar sobre sua f (sua religio), sua me(que a famlia dela), sua gente (que so seusconhecidos e amigos) e sua raa. Contarsignifica retomar fatos, acontecimentos.Lembrar, relembrar.

    Muitas vezes, o exerccio de contarpermite que relembremos detalhes, costumes,comportamentos, permite deixar a vidamais clara, permite que saibamos quem somose como somos.

    Para dona Sebastiana, ter falado sobre ela e sobrea histria parece t-la deixado mais feliz.

    Neste captulo, vamos tratar um pouco dessavontade, dessa necessidade, dessa alegria deretomarmos nossa memria, de compartilharmoscom outros as nossas lembranas, as imagens deoutros tempos, de como eram a nossa terra,nossos costumes, tudo isso envolvendo tambm

    histrias de nosso pas.Vamos estudar juntos a necessidade que umgrupo tem de retomar a sua memria, a suahistria, para atingir um objetivo particular:provar o direito propriedade de um determinadotrecho de terra.

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    Histria e Geografia Ensino Fundamental

    1

    Desenvolvendo competncias

    Se voc fosse um escravo naquela poca, qual teria sido sua forma de resistncia?

    1. Fugir e voltar para a sua terra natal.

    2. Exigir seus direitos perante a lei.

    3. Lutar para a lei acabar com a escravido.4. Fugir para a mata.

    Anote em seu caderno a alternativa que voc escolheu.

    Observe o mapa apresentado abaixo, leia ostextos de poca e veja as imagens de objetos, naspginas a seguir, refletindo sobre a melhoralternativa para a questo acima.

    Onde est a frica e onde est o Brasil?O que separa esses dois lugares?

    Qual a nica forma, naquela poca, de irmos deum lugar a outro?

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    Captulo III O valor da memria

    Embarcam-se, anualmente, cerca de 120.000 negros da costa da frica, unicamente parao Brasil, e raro chegarem a seu destino mais de 80 a 90 mil. Perde-se, portanto, cercade 1/3 durante uma travessia de dois meses e meio a 3 meses. Reflita-se sobre aimpresso cruel do negro diante da separao violenta de tudo que lhe caro, sobre osefeitos do mais profundo abatimento ou da mais terrvelexaltao de esprito em

    associao com asprivaes do corpo e aos sofrimentos da viagem... Os escravos so aamontoados de encontro s paredes do navio e em torno do mastro; onde quer que hajalugar para uma criatura humana... Todos, principalmente, nos primeiros tempos detravessia, tm algemas nos ps e nas mos e so presos uns aos outros por umacomprida corrente...

    A falta dgua a causa mais freqente das revoltas dos negros, mas ao menor sinal desedio, no se distingue ningum; fazem-se impiedosas descargas de fuzil nesseantroatravancado de homens, mulheres e crianas.

    Texto 1 RUGENDAS, Johann-Moritz. Viagem pitoresca atravs do Brasil. Traduo de Sergio Milliet. Belo Horizonte:

    Itatiaia; So Paulo: USP, 1989. (Coleo Reconquista do Brasil. 3. Srie; v. 8). A primeira publicao desta obra foi em 1835.

    Que lembranas os homens, mulheres e crianaspossuam da viagem realizada por eles ou porseus parentes?

    Depois que todos eles desfrutaram por algum tempo das delcias do ar puro, foi-lhestrazida gua para que bebessem. Foi nesse momento que toda a extenso do seusofrimento se tornou pavorosamentepatente. Eles todos se atiraram como loucos sobre agua. (...) Eles se debatiam e brigavam uns com os outros para conseguir um gole do

    precioso lquido, como se tivessem endoidecido ao v-lo. No h nada que faa sofrer

    tanto os escravos, durante a travessia, do que a falta de gua (....) Certa vez sucedeu queum navio vindo da Bahia zarpou sem que, por esquecimento, a gua fosse trocada; j emalto mar descobriu-se, para horror de todos, que os barris estavam cheios de guasalgada. E todos os escravos a bordo morreram...

    Texto 2 WALSH, Robert.Notcias do Brasil(1828-1829). Traduo de Regina Regis Junqueira. Belo Horizonte: Itatiaia; So

    Paulo: Ed. Universidade de So Paulo, 1985. (Coleo Reconquista do Brasil. Nova srie; v. 74-75). Ttulo original: News of

    Brasil in 1828 and 1829.

    mastro

    pea de madeira circular que fica no meio do navio. usada para segurar as velas, que so os panos que servem

    para empurrar o navio quando bate o vento.

    antro atravancado

    no caso do texto, significa um lugar escuro, na parte debaixo do navio, lotado de homens e mulheres.

    exaltao

    no texto, agitao, desespero.

    patente

    claro, evidente.

    cerca de 1/3

    no texto, isso significa que 40.000 negrosmorreram nas viagens entre a frica e

    Brasil, por ano.

    privaes

    carncia de alimentos, sofrimentos.

    sedioagitao, revolta.

    travessia

    viagem.

    Como os escravos eram tratados?

    O prximo texto conta a chegada de um dessesnavios que traziam escravos, chamados de navionegreiro, com 562 escravos, dos quais 55morreram e foram lanados ao mar.

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    Captulo III O valor da memria

    Voltando questo Se voc fosse um escravonaquela poca, qual teria sido sua forma deresistncia?, que alternativa voc anotou emseu caderno?

    Os africanos que chegaram ao Brasil na situaode escravos estavam muito distantes de sua

    terra, separados dela por um grande oceano.A travessia era lembrada com muita dor esofrimento. O Texto 1 mostra que embarcavam,anualmente, da frica, cerca de 120 mil negros.No entanto, era raro chegar ao seu destino, noBrasil, mais de 80 ou 90 mil. Isso significa quemorriam na travessia, todo ano, cerca de 30 a 40mil negros. Com certeza, essa no uma boalembrana da viagem, no mesmo?

    Eram vendidos, alugados, trabalhavam semdescanso e sem salrio, e recebiam castigoscorporais, quando seus donos acreditavam quemerecessem, isto , bastava os donos quereremque os escravos eram castigados. Que direitos,ento, possuam esses homens e mulheres? Poisbem, voc j percebeu: no existiam nem leis enem direitos que protegessem os escravos.

    Pois , restava para os escravos fugir para a mata.Fugiam, formando comunidades que receberam onome de quilombos, que podem ser consideradosuma forma de resistncia que durou toda a pocada escravido.

    Segundo pesquisas atuais, os quilombos foramcriados mesmo aps o fim da escravido, j que,depois dela, os negros foram abandonados

    prpria sorte: no tinham onde morar, ondetrabalhar, eram considerados inferiores eenxergavam nessas comunidades uma maneirade sobreviver.

    Para sobreviver na mata desconhecida, esseshomens e mulheres enfrentaram vrios desafios:tinham que construir suas moradias, aprender aplantar para poderem se alimentar, alm deterem que combater as vrias expediesmandadas pelo governo para destruir as aldeias ecapturar os escravos fugitivos.

    Nesses quilombos, no foram morar apenas os

    negros que resistiam escravido, mas, tambm,alguns ndios e homens brancos pobres queprocuravam alternativas de vida na sociedadebrasileira.

    Como voc pode perceber, a palavra quilombo foiusada no Brasil com o mesmo sentido com quefoi usada na frica, ou seja, uma novacomunidade formada por diferentes grupos.

    OS QUILOMBOS NOS DIAS DE HOJE

    Voc percebeu como so importantes osdocumentos, por exemplo, os textos de poca eobjetos preservados em museus e arquivosbrasileiros, para podermos retomar a histriabrasileira. Foi analisando alguns dessesdocumentos que conseguimos retomar um pedaoda histria dos escravos negros no Brasil.

    Vamos voltar questo inicial, sobre aquelegrupo da regio do Vale do Ribeira que, sendonetos ou bisnetos desses homens e mulheres queresistiram escravido e organizaram quilombos,pedem hoje o reconhecimento da terra como

    propriedade deles. So essas reas de antigosquilombos que chamamos de reas remanescentesde quilombos.

    No ano de 1988, foi promulgada no Brasil umanova Constituio, isto , um conjunto de leis quedeve ser seguido pela populao de nosso pas.Nesta nova Constituio, o artigo 68 dispe: aosremanescentes das comunidades dos quilombosque estejam ocupando suas terras, reconhecidaa propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os ttulos respectivos.

    Assim, se for provado que uma rea

    remanescente de quilombos local onde vivempessoas descendentes dos negros que fugiram daescravido e formaram uma comunidade essesdescendentes tm por lei o direito de possedessas terras.

    Mas como esses grupos atuais de quilombolas,nome dado aos que viviam e aos que vivem nosquilombos, podem provar que nessas reasmoravam os seus antepassados (avs, avs,bisavs, bisavs), transformando esses locais emseus por direito, garantido pela Constituio?

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    Histria e Geografia Ensino Fundamental

    Veja o exemplo a seguir: no interior deGois, na Chapada dos Veadeiros,existe um quilombo chamado Kalunga.

    No mapa do Brasil, na pgina 43, vocpode localizar o estado de Gois GO,

    e no mapa abaixo, a Chapada dosVeadeiros, no Nordeste desse estado.

    Leia abaixo o que conta a pesquisadoraMari de Nasar Baiochi, que estudou ahistria dessa comunidade, sobre adificuldade da pesquisa sobre a origemdo quilombo.

    A Histria oficial do Brasil silenciosaem relao aos movimentos deresistncia escrava, suas lutas, fugas ea formao de quilombos. Dessaforma, tornou-se necessrio um

    projeto espec