histÓria e teoria da arquitetura e do urbanismo...

75
TEORIA, HISTÓRIA E CRÍTICA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II TH 2 Profª. Ana Paula de O Zimmermann Curso de Arquitetura e Urbanismo Escola de Artes e Arquitetura Pontificia Universidade Católica de Goiás

Upload: lydat

Post on 04-Dec-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

TEORIA, HISTÓRIA E

CRÍTICA DA

ARQUITETURA E DO

URBANISMO II – TH 2

Profª. Ana Paula de O Zimmermann

Curso de Arquitetura e Urbanismo

Escola de Artes e Arquitetura

Pontificia Universidade Católica de Goiás

O URBANISMO

RENASCENTISTA

Seria lógico pensar que, durante o Renascimento se produzisse uma profunda transformação nas cidades.

No entanto, nada disto, ou quase nada acontece

As realizações e até as ideias urbanistas quinhentistas representam pouco se as compararmos com o caminho percorrido pela arquitetura durante o mesmo período.

ANTECEDENTES HISTÓRICOS

A UTOPIA E A CIDADE IDEAL

POR QUE , NO RENASCIMENTO, HOUVE UM DESENVOLVIMENTO MAIOR DA ARQUITETURA EM RELAÇÃO AO URBANISMO?

Os arquitetos do Renascimento tinham ao seu alcance todos os monumentos da antiguidade romana.

Os exemplos do urbanismo antigo tinham desaparecido, estavam sepultados, ou jaziam em regiões longínquas.

No início do renascimento, a Europa não necessitava de novos núcleos urbanos, dada a estrutura urbana que se havia constituído na Idade Média.

O tamanho contido da cidade medieval não oferecia possibilidades de intervenções em grande escala.

ANTECEDENTES HISTÓRICOS

Para os urbanistas

restavam algumas

passagens obscuras do

texto de Vitrúvio, que,

além disso, não

apresentavam

ilustrações.

No livro I, aparece a

descrição de como deve

ser a cidade para

cumprir os requisitos

básicos da doutrina de

Vitrúvio: firmitas, utilitas,

e venustas.

ANTECEDENTES HISTÓRICOS

ANTECEDENTES HISTÓRICOS

A Utopia Clássica propõe uma cidade cristã e platônica, uma referência ideal, mais do que um instrumento realmente aplicável. A cidade ideal renascentista é o corolário arquitetônico da utopia e como tal é uma cidade mental: uma referência platônica.

Igreja S. Andrea em Mântua, Alberti

No plano ideal, o CÍRCULO passou a ser o preferido dos projetistas da Renascença por significar a redenção da sociedade; um emblema da perfeição, do equilíbrio e da eternidade. A CIDADE PERFEITA deveria ser circular; forma de bases cósmica e metafísica que simbolizava, por analogia, a esfera da criação divina, sem começo nem fim.

Leonardo Da Vinci (1452-1519)

Homo ad circulum

vitruviano

Francesco di

Giorgio

Martini

(1439-1501)

Cesare Cesariano

(1475-1543)

ANTECEDENTES HISTÓRICOS

É, geralmente de forma circular ou um octógono murado, diferindo-se das formas retangulares dos bastiões medievais. Sendo de forma circular possui um centro (geralmente cívico/religioso) com ruas no interior do perímetro em diferentes soluções, podendo ser radiocêntricas. Outro formato de cidade ideal seria a interpretação da mesma em um tabuleiro de damas com uma planta poligonal.

Assim nascerá a cidade ideal do Renascimento, criação mais intelectual que real, que virá a ser uma consequência do pensamento utópico renascentista.

A atividade urbanística durante os séculos XV e XVI

consiste, em grande parte, em alterações no interior

das velhas cidades que, geralmente, modificam muito

pouco a estrutura geral.

Piazza

Annunziata,

Florença

Alberti, retoma o problema da cidade ideal.

A teoria albertinana da cidade: Uma característica forte desta teoria é a capacidade de unir as novas concepções urbanísticas com a antiga, de estrutura medieval.

O tratado De re aedificatoria se divide em duas partes: Tratado de edificação divide-se em:

• Lugar • Distribuição • Muros • Cobertas • Ventos • Solar

A CIDADE (IDEAL) RENASCENTISTA

Tratado de urbanismo. A cidade é formulada a partir de fatores climáticos. As ruas estão divididas em 3 categorias: •As principais •As secundárias • As ruas funcionais Recomendações gerais • As ruas devem estar bem empedradas e limpas ao extremo. • Todos os edifícios devem estar alinhados ter continuidade e mesma altura. • Deve-se prever espaços públicos. • Utilização da Perspectiva no contexto da cidade.

A CIDADE (IDEAL) RENASCENTISTA

Vista aérea de Urbino e pintura da cidade ideal.

PALMANOVA

Essa configuração

resulta, em um modelo

harmonioso graças a uma

complexa disposição de

ruas radiais, três anéis

concêntricos, doze ruas

radiais adicionais e de

seis pequenas praças

secundárias situadas no

interior das quadras.

Palma Nova conseguiu chegar até os dias atuais conservando

seu traçado original, seu contorno fortificado e seus principais

edifícios, sem que tais elementos tenham sido descaracterizados

por desenvolvimentos posteriores.

Palmanova

ALMEIDA - PORTUGAL

Vista aérea de Almeida,

próxima à fronteira com a

Espanha. O sistema

defensivo é do século XVI,

mas a estrutura morfológica

é a mesma do período

medieval (século XIII).

Vista do ar, a vila de Almeida, classificada como Aldeia histórica,

parece uma estrela de 12 pontas, tantas quantos os baluartes e

revelins que rodeiam um espaço com um perímetro de 2500 metros.

Esta notável praça-forte foi edificada nos sécs. XVII-XVIII, em redor de

um castelo medieval, num local importantíssimo como ponto de defesa

estratégico da região.

A CIDADE REAL

Para transformar a cidade real na cidade ideal, Alberti propõe:

Metástase benígna Seletiva

Para evitar que o ideal abstrato atuasse contra a realidade

Adaptação da utopia pontual na malha urbana da cidade medieval

Abertura de Novas Vias, criação de novas praças regulares com objetivos perspectivos => influenciando novos comportamentos racionais

Plano Regulador para Roma, 1585-1590. Ilustração mostrando o núcleo medieval, as muralhas Aurelianas, as vias traçadas no Renascimento e as vias traçadas por Sixto V.

Roma

Relacionadas de certa forma com essas idéias de alternância, pode-se destacar a forma representada pela cidade e a cidadela enquanto função de defesa militar. Com exemplo é o Vaticano, entendido como sede do governo e como cidadela papal em permanente relação dialética com a cidade de Roma.

Roma

Basílica de São Pedro,vista

atual Vaticano Desenhada

por Bramante , com

contribuições de muitos

outros artistas do

Renascimento e do

Maneirismo, como

Michelangelo, Rafael e

Bernini, concluído com o

Barroco

CIDADES COLONIAIS NAS

AMÉRICAS

AMÉRICA A américa torna-se uma terra virgem onde a utopia é uma possibilidade real, onde o esquema urbano idealizados pelos reis católicos e por Carlos V é o único modelo de cidade renascentista planejado e controlado por vários séculos. A retícula hipodâmica é adotada na implantação de novas cidades na américa hispânica em virtude de ser um instrumento prático para facilitar o planejamento e a construção das mesmas. Não serão encontrados variedade dos esquemas renascentistas, tão pouco seu desejo de beleza arquétipica, somente o desejo de expresso e prático de facilitar o PROJETO, A CIRULAÇÃO E A DEFESA.

AMÉRICA Outro aspecto é que “as realizações urbanísticas e de construção nos territórios de além-mar, são, em seu conjunto, muito mais importantes do que as existentes na pátria mãe”. Possibilidades de realizar novos e grandes programas de colonização e urbanização em virtude de grandes espaços vazios. Contrastam-se com a pátria mãe: EUROPA => há especialistas de alto nível e faltam espaços para trabalhos importantes AMÉRICA => há tudo a se fazer e espaços, e faltam os especialistas de alto nível.

CIDADE COLONIAL Entre os séculos XV e XVI, tiveram início a ERA DAS NAVEGAÇÕES e a conseqüente expansão mundial da civilização européia, impulsionada pelo mercantilismo e pela posterior descoberta de metais preciosos nas colônias além mar. Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda tornaram-se grandes potências marítimas e partiram para o domínio do NOVO MUNDO.

• As realizações urbanísticas e de construção nos territórios coloniais, em seu conjunto, constituíram em importantes experiências, assim como nas oportunidades de aplicação na prática dos pressupostos ideais elaborados nas metrópoles.

Colonização da América Espanhola O Renascimento correspondeu ao período de expansão européia. Nos séculos XV e XVI, a expansão marítima e comercial coube às duas nações ibéricas: Espanha e Portugal. A Espanha foi o segundo país a se lançar em sua expansão além-mar. Os espanhóis financiam a viagem de Colombo, que chega ao continente americano em 1492. Na América, eles vislumbram vastas terras virgens, palco propício para as realizações urbanísticas utópicas do Renascimento europeu –possibilidade real de concretização de modelos e planos de cidades ideais quinhentistas.

Os espanhóis encontram territórios mais propícios à colonização: os planaltos da América Central e Meridional. Aqui encontram diversos povos com diferentes culturas, desde os tapuias, no Brasil, até as de alta cultura, como os astecas, maias e incas. A colonização teve como ponto de apoio às minas de ouro e prata, no México e no Peru, e as riquíssimas minas de prata de Potosí (atual Bolívia).

Potosi.(Bolívia)

Na segunda década do século XVI, os espanhóis implantaram as cidades de La Habana, Guatemala, Campeche e Panamá. Estes povoados seguem as mesmas regras: planos simples e práticos, que se adaptavam à topografia local. Ao conquistar a grande cidade indígena Tenochtitlán (transformada na cidade do México), Cortéz impõe um modelo de cidade com planta em forma de tabuleiro de xadrez. O mesmo procedimento é adotado por Pizarro em Cuzco, no Peru. No resto do continente, os espanhóis destroem as aldeias indígenas e suas pirâmides e obrigam seus moradores a ocuparem as novas cidades.

À esquerda, mapa de 1582 de Tentenango, Vila indígena no México. À direita, Cidade do Panamá, plano do século 17.

Tenochtitlán, a capital asteca.

O conceito urbano segue um padrão uniforme: -Quarteirões idênticos, geralmente, com forma quadrada, definidos por ruas ortogonais e retilíneas. -O centro da cidade é ocupado por grandes edifícios públicos. -Estas edificações repousam sobre uma grande praça regular, obtida com a supressão de alguns quarteirões.

Planta de Havana, Juan Síscara

À esquerda, traçado de Luiz Díez Navarro para

Nova Guatemala, 1776. À direita, plano de

Cusco na época da conquista espanhola.

Em 1573, Filipe II institui a Lei das Índias - associação entre os princípios e ideias renascentistas, as influências do Tratado de Vitrúvio e as realizações concretizadas na América.

Algumas regras mais importantes: -A planta do estabelecimento a ser fundado deveria sempre ser levada pronta;

-O plano composto por ruas, praças e lotes deveria ser implantado a partir da praça principal, de onde sairiam às ruas, que se prolongavam até as portas e ruas exteriores;

Mapa colonial de Atitlan

Mapa colonial de Guatemala.

-A implantação deveria ser feita, deixando espaço vazio aberto ; -A praça principal, denominada de praça maior deveria estar sempre localizada no centro da cidade; -A área da praça deveria ser proporcional e adequada ao número de habitantes, pensando-se sempre no futuro crescimento da cidade; -A praça e as ruas principais que se originam nela deveriam ser ladeadas com pórticos; -Nas áreas que necessitam de defesa, as ruas deveriam ser largas para permitir o acesso aos cavalos;

Planta da Cidade de Lima, Peru,

século XVIII

Plano de Montevidéu, século

XVIII

-A igreja deve estar situada livremente e de forma independente -A igreja deveria estar situada numa área com topografia elevada, -O hospital freqüentado pelos pobres deveria estar localizado ao norte, -Os terrenos para construção, situados em volta da praça principal, não deveriam ser cedidos à particulares, e sim à igreja, aos edifícios reais e municipais, às lojas e às habitações de mercadores e, por último, aos colonos mais ricos.

As MISSÕES JESUÍTICAS construídas no século XVI para a catequese indígena constituíram-se em modestos núcleos urbanos assentados em planos regulares compostos por casas, igreja e colégio.

• Por pertencerem a uma congregação relativamente recente – a Companhia ou Sociedade de Jesus, fundada em 1534, quando Inácio de Loyola (1491-1556) e seis companheiros egressos da Universidade de Paris fizeram voto de pobreza e de irem pregar o Evangelho –, os padres jesuítas exerceram uma intensa atividade de irradiação cristã, em pleno espírito da Contra-Reforma.

Os traçados das cidades hispano-americanas não expressam uma grande variedade, seus objetivos são eminentemente práticos, pois visam a facilidade de reimplantação e a defesa.

Na realidade a cidade que é produzida na América possui características próprias originais.

Planta da fundação da cidade de León, hoje Caracas

1. o desenho das ruas e das praças é, por vezes, inutilmente grandioso, ao passo que os edifícios são baixos e modestos (as casas são quase sempre de um andar)”

Planta de 1581,

com a a parte

central da cidade

de Cholula, no

México.

2. A cidade poderá e deverá crescer, porém não se sabe o quanto crescerá; sendo assim o plano em tabuleiro xadrez poderá ser estendido em todo e qualquer sentido.

Planta da cidade de

Guadalajara, no

México.

Cidade de Quito,

no Equador, as 4

praças eliminam

quarteirões.

3. O traçado das vias é uniforme não se importando com as especificidades de cada local. Os traçados americanos não acompanharam a evolução da Europa.

Segundo Benevolo, “as cidades coloniais americanas “são as realizações mais importantes do século XVI.

Vista aérea da

Cidade de

Guadalajara, com a

praça principal.

com casas térreas, e a fachada de uma igreja, onde os elementos da arquitetura clássica são interpretados livremente pelos construtores.

O ambiente das cidades coloniais na América espanhola, uma rua típica,

Ruas em Mérida, na Venezuela, ainda

circundada pelas casas térreas coloniais.

As Leis das Índias, de acordo com a estética do Renascimento, aconselham que todas as casas da cidade sejam da mesma forma, isto é conservem uma grande unidade. Até há pouco eram assim as cidades hispano-americanas grandes e pequenas, “um legado de unidade, harmonia e graça que, hoje, só podemos imaginar revendo as velhas litografias e um ou outro daguerreotipo amarelecido”

Colonização da América Portuguesa

• Em Portugal, as realizações urbanísticas e de construção nos territórios de além-mar são, em seu conjunto, muito mais importantes do que as existentes no próprio território.

• Os portugueses, em seu hemisfério, encontraram

territórios pobres e inóspitos (sobretudo a África Meridional) ou então, no Oriente, Estados populosos e aguerridos que não podem ser conquistados, assim fundam somente uma série de bases navais, para controlar o comércio oceânico, e não tem condições de realizar uma verdadeira colonização em grande escala.

Em relação ao Brasil, a ausência de riquezas minerais aparentes levou os primeiros ocupantes a optarem por uma colonização de baixo investimento, voltada exclusivamente à exploração de suas riquezas naturais mais evidentes.

• Inicialmente foram construídos muitos fortes e fortificações no litoral para protegerem o território português das incursões de espanhóis, franceses e holandeses. Estas obras eram realizadas por engenheiros militares, caracterizando-se por serem recintos amuralhados (cantaria de pedra) com traçados geométricos de bases medievo-renascentistas.

A FORTIFICAÇÃO DAS CIDADES NO SÉC. XVII No período das guerras da restauração, na segunda metade do séc. XVII, muitas cidades portuguesas foram alvo de intervenção, com o objetivo de reforçar e melhorar os sistemas defensivos. Em muitos casos, a nova área urbana irá englobar o burgo medieval e os antigos arrabaldes. COLONIZAÇÃO PORTUGUESA NO BRASIL Até1580 , as vilas como São Paulo, Olinda e Vitória tinham traçados irregulares. Mas Salvador, como “cidade real”, foi criada com características diferentes. Para traça-la, veio de Portugal o mestre de fortificações Luiz Dias, que trouxe diretrizes da Corte sobre o modo de proceder.

A cidade teve desde o início ruas retas e seu desenho aproximava-se, nos terrenos planos, do clássico tabuleiro de xadrez. Um esquema semelhante foi adotado em São Luiz do Maranhão e Filipéia (João Pessoa).

Salvador (Bahia)

Em 1549 para dar novo impulso à colonização, o governo português promoveu a criação de um governo geral e a fundação da cidade de Salvador na capitania da Bahia como sede da nova administração (Cidade Real). Fundada por Tomé de Souza, é a terceira cidade a ser fundada no Brasil. As demais ainda encontram-se na condição de vilas. A primeira foi São Vicente em São Paulo (1532) e a segunda Olinda em Pernambuco (1537).

Colonização da América Britânica

O modelo urbano em tabuleiro, idealizado pelos espanhóis no século XVI para traçar as novas cidades da América Central e Meridional, foi também aplicado extensivamente pelos ingleses, assim como pelos franceses e holandeses, entre os séculos XVII e XVIII para a colonização da América Setentrional.

• Vários técnicos de terceira ordem, emigrados para o Novo Mundo, conseguiram realizar o que não era possível de ser feito na Europa da época: reorganizar o ambiente construído com os novos princípios da simetria e da regularidade geométrica, que garantiam a afirmação do poder.

• O território norte-americano também foi encontrado sem cidades, como no caso do Brasil, contudo, os colonizadores que desembarcaram com o May Flower1, mais de um século após o início da colonização das terras brasileiras, não permaneceram no litoral, embrenhando-se para o oeste no propósito de colonizar e permanecer na sua nova pátria.

A efetiva colonização do território americano – cujo descobrimento deu-se em 12 de outubro de 1492, por Cristóvão Colombo – iniciou-se com a implantação de colônias espanholas (pueblos) na Flórida (St. Augustine, 1565), Novo México (Santa Fé, 1609) e Texas (San Antonio, 1718). O primeiro assentamento francês foi em Quebec (1608), seguido por Detroit (1701), Mobile (1711), New Orleans (1722), Fort Duquesne (Pittsburgh, 1724) e St. Louis (1762), enquanto que o holandês deu-se na foz do Hudson, Ilha de Manhattan (1620). Porém, foi o controle britânico que acabou predominando, graças às cidades coloniais fundadas na Virgínia (1607), na Nova Inglaterra (1620) e na Pensilvânia (1681). Boston passou a ser a sede do governo de Massachusetts em 1630, substituíndo Charlestown (1629) pela boa qualidade de suas fontes d’água.

Filadélfia foi fundada em 1682, na confluência dos rios Delawre e Schuylkill, por William Penn (1644-1718), em um local antes habitado por imigrantes suecos. De traçado uniforme e retilíneo, com ruas cruzando-se em ângulo reto, possui uma grande praça central, na qual atravessam ortogonalmente duas grandes avenidas. O plano já apresentava preocupações de hierarquização de vias e de zoneamento, com lotes de tamanhos distintos.

• Savannah (Georgia), fundada em 1733, apresenta um traçado ortogonal em grelha que, embora uniforme, demonstrava um princípio de diferenciação de vias (principais e secundárias), além da previsão de jardins residenciais e três parques.

A CIDADE BARROCA

Na Itália, após o Concílio de Trento (1545-63), surge uma igreja revigorada pela

definição de novas posturas pela Contra-Reforma, que se volta para as massas e

permite uma concepção mais emocional e universalmente compreensível.

O barroco rompe, assim, com o intelectualismo classicista do

Maneirismo.

O BARROCO

"Barroco", realmente, significa absurdo ou grotesco, e era empregado por homens que insistiam em que as formas das construções clássicas jamais deveriam ser usadas ou combinadas senão da maneira adotada por gregos e romanos. Todos os elementos do Renascimento reaparecem no Barroco, porém elevados ao grau máximo de representação.

O BARROCO

Não foi somente a Igreja Romana que descobriu o poder da arte para impressionar e dominar pela emoção. Os reis e príncipes da Europa seiscentista estavam igualmente ansiosos por exibir seu poderio e assim aumentar a sua ascendência sobre a mente de seus súditos.

O BARROCO

Entendida como um espaço político, centro poderoso de decisão e de grande importância estratégica, a cidade medievo-renascentista do

século XVI sofreu intervenções que permitiram a abertura de ruas e praças, edificadas dentro dos

princípios da simetria e da proporção.

Os ideais estéticos da RENASCENÇA defendiam o alargamento de vias, as quais

deveriam confluir para construções monumentais, agora destacadas em praças ajardinadas, repletas de fontes esculturais,

estátuas e colunatas.

A CIDADE BARROCA

Villa Rotonda, (1566, Vicenza).

Em I Quattro Libri dell’Architettura (1570),

ANDREA PALLADIO (1508-80) estabeleceu as premissas de concepção

tanto da arquitetura como da cidade, as quais se

baseavam em uma atitude de lógica e de produção mental, estabelecendo a

relação das partes e a harmonia das suas grandezas, o que foi muito bem

exemplificado através do projeto de suas villas.

A CIDADE BARROCA

Surgimento do Estado Nacional – como expressão de um todo territorial, de uma integração em vez de uma

soma do conjunto aditivo de cidades.

A formação da Cidade Capital – vinculada ao desenvolvimento da urbanística praticada pelo Barroco em tratar de forma cenográfica os espaços urbanos.

Capital moderna de criação barroca onde estão

associadas as sedes de poder que tudo absorviam e suscitava à grandes intervenções urbanas em cada

uma das capitais que se firmavam através deste conceito

A CIDADE BARROCA

A nova concepção do espaço urbano tornou-se um dos grandes triunfos da mentalidade barroca: organizar o

espaço, tornando-o contínuo, reduzindo-o à media e à ordem, estendendo os limites da grandeza, para

abranger o extremamente remoto e o extremamente pequeno, finalmente, associando o espaço ao

movimento e ao tempo. Uma espécie de início do que conhecemos hoje como “zoneamento” – uso do solo.

A linguagem barroca oferecia dinâmica, movimento e drama à forma clássica estática do renascimento, para

que fosse acessível a todos, que fosse revelado de forma sedutora para as inúmeras camadas sociais.

A CIDADE BARROCA

Afresco da Biblioteca Vaticana mostrando o plano de Sisto V e Domenico Fontana para Roma, 1587-1589. (INSOLERA, 1981, p. 193)

Extensas avenidas cortando a preexistência medieval,os sítios arqueológicos, formando eixos perspectivos que uniriam muitas das principais basílicas cristãs, nova

legibilidade ao espaço urbano.

A CIDADE BARROCA

No século XVII até meados do XVIII, a arte BARROCA

promoveu um prolongamento em escala

do Renascimento e, embora negasse suas normas rígidas

e proporções imutáveis, manteve a perspectiva

como elemento primordial na concepção espacial e da

valorização das vias e monumentos

(Kostof, 1991).

A CIDADE BARROCA

Piazza del Popolo

(1589/1680, Roma Itália)

Carlo Rainaldi (1611-91)

A CIDADE BARROCA teve que atender às aspirações estéticas aristocráticas pela

grandiloquência de suas formas – expressão de poder, de ordem e de controle social – e, ao

mesmo tempo, aos interesses burgueses pelo seu aspecto socioeconômico (Goitia, 2003).

A CIDADE BARROCA

Place Stanilas

ant. Place Royale

(Séc. XVII, Nancy,

França)

A cidade tornou-se um espetáculo para os olhos,

emocionante e dinâmico que utilizava um repertório

mais rico que o renascentista, composto

por obeliscos, chafarizes, estátuas, colunatas e

arcadas, além de grandes planimetrias, traçados

radiocêntricos e ajardinamentos. Place de la Liberátion, Séc. XVII, Dijon

França. François Mansart.

A CIDADE BARROCA

Gravura da praça San Carlo a Torino, projetada por Carlo de Castellamonte, toda com arquitetura uniforme e as duas igrejas gêmeas emoldurando o eixo perspectivo da Via Roma – projetada por Ascanio Vittozi, apenas a igreja da esquerda foi construída.

A CIDADE BARROCA

A CIDADE BARROCA

Entrada norte de Roma Praça del Popolo e o obelisco egípcio e com a imagem de duas igrejas gêmeas com poucas características diferentes (Santa Maria de´Miracoli e Santa Maria di Monte Santo).

Piazza del Popolo (1589/1680, Roma Itália) Carlo Rainaldi (1611-91).

Palácio de Versailles: vista aérea do palácio e do tridente (trivium) concebida pelo Rei Luís XV (1638-1715).

A CIDADE BARROCA

Até o RENASCIMENTO, a arte dos jardins resumia-se na

apropriação pela cidade de espaços verdes naturais, que

eram cercados e domesticados; ou então no cultivo de áreas

verdes domésticas.

A partir do BARROCO, os jardins expandiram-se em

amplas praças com desenhos geométricos e escalonados

em diversos planos.

Palácio Piccolomini, Pienza.

A CIDADE BARROCA

Principais elementos do URBANISMO BARROCO, característico da Europa dos séculos XVII e XVIII:

a) Traçados de bases renascentistas, guiados pela perspectiva, mas dotados de maior liberdade, movimento e escala, passando a simetria a ser relativa (em composição, mas não em detalhes); b) Caráter monumental expresso pela busca da grandiosidade e pela criação de verdadeiras “cidades-cenário”, o que foi obtido por meio de rasgamento e alargamento de vias, assim como a criação de amplos espaços públicos.

A CIDADE BARROCA

c) Desenho urbano realizado com base na composição arquitetônica – simetria, ritmo, dominância de massas compactas e aspecto imponente e sólido das obras –, além da artificialidade dos jardins; d) Paisagem concebida como construção humana, adquirindo assim um espírito mais arquitetônico artificial e cênico: proliferam eixos, ruas e avenidas radiais, composições geométricas e a retificação de canais, fontes e espelhos d’água.

Piazza di Spagna, 1690-1720, Roma. Francesco de Sanctis.

A CIDADE BARROCA

e) Arquitetura urbana exuberante e retórica, de escala monumental composta por igrejas, palácios e monumentos para os quais convergiam alamedas arborizadas e consistiam nos principais temas estéticos.

Piazza del Popolo (1589/1680, Roma Itália) Carlo Rainaldi (1611-91).

A CIDADE BARROCA

A CIDADE BARROCA - FRANÇA

Jardin du Palais de Versailles (1668/85)

André Le Nôtre (1613-1700)

Jardin du

Château de Chantilly (1663)

• O JARDIM BARROCO estabelecia-se como uma

paisagem completa, simétrica e regular, na qual

os edifícios eram vistos como cenários e a natureza

trabalhada como massas compactas e artificiais.

• Os cursos d’água eram canalizados, os percursos

pré-estabelecidos e todo o desenho dominado por

relvados e alamedas, canteiros floridos,

chafarizes, colunatas e estátuas.

A CIDADE BARROCA - FRANÇA Segundo LE NÔTRE, os jardins franceses deveriam ser compostos por:

• Traçados retilíneos e radiocêntricos compostos por caminhos e arruamentos de cascalhos para o tráfego de cavalos e carruagens; • Amplos relvados, alamedas, cercas-

vivas, trepadeiras e canteiros formando desenhos geométricos e bordaduras curvilíneas, separados de bosques;

• Criação de cursos d’água (canais e lagos artificiais), assim como perspectivas que destacassem as fachadas arquitetônicas, os portões de acesso e os elementos decorativos em profusão.

André

Le Nôtre

(1613-1700)

Jardin de

Villandry

A CIDADE BARROCA

• A CIDADE BARROCA foi a espacialização dos

ideais do absolutismo e seu traçado – centro urbano, palácio e jardim – baseava-se em um

conjunto de premissas teóricas e de idealização perspéctica e geométrica.

• O uso de eixos divergentes e convergentes era a expressão e instrumento do poder e da ordem monárquica, representando um ponto de vista simultaneamente unívoco e abrangente, que

aconteceu em outros países europeus.

A CIDADE BARROCA - PORTUGAL

Marquês

de Pombal

(1699-1782)

Lisboa

• Com o Grande Terremoto de 1755, em que a parte antiga e medieval de Lisboa foi totalmente destruída, o MARQUÊS DE POMBAL (1699-1782) realizou um plano urbano que remodelou seu centro e impôs um traçado geometrizado, que valorizava a criação de praças e o destaque de monumentos.

REFERÊNCIAS

SUMMERSON, John. A linguagem clássica da arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2006

NEVES, André Lemoine. Território O pensamento sobre a cidade no Renascimenrto e seus reflexos em Portugal – séculos XV-XVII. Humanae, v.1, n.3, p.27-43, Dez.. 2009.

PEREIRA, José Ramón Alonso. Introdução à História da Arquitetura: das origens ao século XXI.Trad. Alexandre Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2010. p. 29-35.

BENÉVOLO, Leonardo. História da cidade. São Paulo: Perspectiva, 2003.

FAZIO, Michael. A História da arquitetura mundial. Porto Alegre: Bookman, 2011.