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IMPLANTAÇÃO DA NORMA ISO 9001 EM UMA
EMPRESA DE MANUTENÇÃO OFFSHORE: UM
ESTUDO DE CASO
Camila Bonnemasou (UFF)
Luiz Carlos Brasil de Brito Mello (UFF)
Com o agravamento da crise atual no país, muitas empresas se veem na
necessidade de provar para seus clientes que seu serviço possui alta
qualidade. O presente trabalho tem por finalidade apresentar a norma ISO
9001, sobre sistemas de gestão da qualidade e realizar uma comparação
entre o modelo de implementação proposto pela norma e o modelo seguido
pela empresa estudada. A metodologia utilizada é a de estudo de caso
mostrando uma percepção multidimensional da situação da empresa.A
empresa não possui 12% dos documentos ou atividades necessárias e
aproximadamente 30% dos documentos ou atividades da empresa possuem
oportunidade de melhoria. Assim, empresa deve analisar previamente sua
situação atual antes de buscar uma certificação importante e de alto custo,
já que todo tipo de processo de uma empresa deve estar bem descrito, para
que seja seguido sem falhar.
Palavras-chave: ISO 9001, Gestão da Qualidade, Sistemas de Gestão,
Implementação, Manutenção Offshore
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
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1. Introdução
Devido à grande crise enfrentada pelo país e com isso, a necessidade de criar
alternativas para reduzir os seus efeitos, empresas de reparação e manutenção offshore têm
encontrado um espaço promissor no mercado nacional. A empresa objeto de estudo segue
esse mesmo caminho e busca sempre atender seus clientes com um serviço de qualidade. A
empresa X entrou no mercado visando realizar trabalhos em locais de difícil acesso, através
do método de acesso por corda, seguindo os padrões IRATA e todas as leis vigentes. A
empresa percebeu que o setor de manutenção e reparo offshore está crescente e necessitando
de mão de obra qualificada.
Para o crescimento saudável e bem estruturado da empresa, a direção decidiu
implementar um Sistema de Gestão de Qualidade, através do certificado ISO 9001, para que
as operações da empresa sejam eficientes e seus funcionários trabalhem buscando a melhoria
contínua. Em agosto de 2015 contratou uma empresa de consultoria para auxiliar os
funcionários na elaboração e treinamento de todo o Sistema.
Este artigo tem como objetivo geral analisar as práticas adotadas na implantação da
ISO 9001 aplicadas na empresa pesquisada e comparar se o que é prescrito pela norma foi
seguido.
2. Principais Gurus da Qualidade
Para Deming (1990), “qualidade é tudo aquilo que melhora o produto do ponto de
vista do cliente”. Ou seja, a qualidade está de acordo com a percepção do cliente sobre aquele
produto ou serviço. Deming criou os 14 Pontos da Qualidade, afim de aprimorar o
gerenciamento da qualidade:
1º Ponto: Criar constância de propósito.
2º Ponto: Adotar uma nova filosofia.
3º Ponto: Cessar com a dependência de inspeções para se atingir qualidade
4º Ponto: A prática da escolha de fornecedor apenas pelo quesito preço deve ser
extinguida.
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5º Ponto: O sistema de produção deve ser melhorado continuamente.
6º Ponto: Instaurar treinamentos.
7º Ponto: Instituir a liderança.
8º Ponto: Extinguir o medo.
9º Ponto: Os setores da organização não podem possuir barreiras.
10º Ponto: Eliminar slogans e metas.
11º Ponto: Elimine a gestão por cotas numéricas.
12º Ponto: Evitar medidas de desempenho dos funcionários.
13º Ponto: Criar um programa de educação e autodesenvolvimento.
14º Ponto: Tomar ações que permitam a transformação.
Segundo Juran (1990), “Qualidade é ausência de deficiências” e “a qualidade é
adequação ao uso”. Para ele, a gestão da qualidade deve ser dividida em três pilares, que são
também conhecidos como a Trilogia da Qualidade:
Planejamento da Qualidade: deve se estipular qual o nível de qualidade
desejado e estabelecer os meios para alcançá-la;
Controle da Qualidade: avaliar a atual situação, comparar com a qualidade
desejada e desenvolver técnicas para corrigi-la; e
Melhoria da Qualidade: onde deve ser pensada a qualidade inicialmente
estipulada, criando propostas de melhoria, além da realização do treinamento
da equipe envolvida.
Para Crosby (1990), o foco da organização deve ser na prevenção, objetivando “fazer
certo na primeira vez” através do conceito do “Zero Defeito”. Crosby ainda afirma que
existem quatro princípios absolutos para se atingir a qualidade dentro de uma empresa, que
são apresentados a seguir:
Qualidade é cumprir os requisitos;
Só com a prevenção é possível ter qualidade;
O padrão de qualidade é o de “Zero Defeitos”; e
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A qualidade é medida pelo custo da não-conformidade.
Taguchi (1990) ficou conhecido por desenvolver um sistema de melhoria da qualidade
reduzindo os custos totais, aplicando técnicas da engenharia e estatística. Seus conceitos são
sintetizados em quatro elementos, a saber:
A qualidade deve ser incorporada desde o início de seu desenvolvimento.
Ao minimizar os desvios em relação às metas, a qualidade será alcançada de
forma eficiente.
A qualidade não deve estar só baseada no desempenho e/ou características de
um produto.
Os custos da qualidade devem ser medidos levando em consideração apenas os
desvios em relação ao produto final.
2.1. Norma ISO 9001
A ISO 9001 apresenta os requisitos necessários para se ter um sistema de gestão de
qualidade de sucesso e sua aplicação é genérica. Ou seja, é aplicável a diversos tipos de
organização, independentemente do seu porte e do produto ou serviço fornecido (ABNT NBR
ISO 9001, 2008).
O modelo de sistema de gestão da qualidade, apresentado pela norma, é baseado na
metodologia do ciclo PDCA, como se observa na figura seguinte:
Figura 1 – Modelo de sistema de gestão de qualidade.
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Fonte: Elaborado pelos Autores (2016)
A seção 4 da norma apresenta os requisitos gerais e de documentação necessários para
o desenvolvimento do sistema de qualidade. A seção 5, Responsabilidade da direção, detalha
o comprometimento da alta direção da organização, a estruturação da política da qualidade, o
planejamento do sistema de qualidade e a análise crítica do sistema de gestão. Na seção 6,
Gestão de recursos, diz que a organização deve fornecer todos os recursos necessários para
garantir o desenvolvimento e estabilidade do sistema de gestão da qualidade, como os
recursos humanos, de infraestrutura e de ambiente de trabalho. A seção 7, Realização do
produto, abrange todos os requisitos necessários para o planejamento e desenvolvimento do
produto, desde a aquisição de matéria prima até a prestação do serviço e controle e
monitoramento, assim como todos os processos relacionados com o cliente. A seção 8,
Medição, análise e melhoria, apresenta os meios de como realizar o monitoramento e medição
do produto e /ou serviço, além da realização do controle das não conformidades e do processo
de melhoria contínua (ABNT NBR ISO 9001, 2008).
Para Fortes (2012), o modelo de implementação da norma consiste de 5 etapas:
Decidir implantar: nesta etapa, a alta direção deve definir o escopo da
organização, analisar seus ganhos e estipular quais processos devem ser
certificados de modo a agregar valor ao negócio;
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Diagnosticar: neste momento, as seções 4 a 8 da norma devem ser analisadas a
fim de cumprir todas as obrigatoriedades exigidas;
Implementar: esta é a etapa mais longa do processo, deve ser feito o
treinamento dos funcionários, devem ser elaborados planos de ação com
análises críticas, feitas pela Alta Direção e resolvidas todas as pendências
relacionadas as não conformidades. Além disso, devem ser formados auditores
internos, assim como um programa de auditoria, contendo uma auditoria
interna pré-certificação;
Certificar: nesta fase, a organização deve passar por uma auditoria de
avaliação, por uma Certificadora;
Perenizar: finalmente, após a certificação, o sistema de gestão deve ser mantido
com análises críticas da direção, plano de melhoria contínua e plano de
auditoria interna.
Já Mello et. al (2009) propõem um outro modelo de estratégia de implementação do
sistema de gestão da qualidade, que foi baseado no documento Guidance on the concept and
use of the process approach foi management systems, que pode ser encontrado no site do
comitê técnico 176 da ISO. Este modelo segue cinco etapas, que serão descritas a seguir:
Definição da unidade de negócio: Nesta etapa a missão deve ser definida e os
fornecedores, insumos, processo, produtos e clientes são representados
(MELLO et. al, 2009).
Definição da política e dos objetivos da qualidade: Nesta etapa, os autores
afirmam que a política da qualidade deve ser formulada levando em
consideração a visão, a missão e a estratégia da organização em relação aos
seus concorrentes e a sua posição no mercado. Devem ser estipulados objetivos
da qualidade que sejam mensuráveis, compreensíveis, abrangentes, aplicáveis,
atingíveis, mantidos com facilidade e econômicos, e a partir dos objetivos,
definir as metas, que possuem informações quantitativas para se alcançar os
objetivos.
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Gerenciamento e mapeamento de processos: Mello et. al (2009) destacam que
a norma ISO 9001 afirma que uma organização deve identificar, implementar,
gerenciar e melhorar de forma contínua a eficácia dos processos do sistema de
gestão da qualidade. E a ferramenta mais adequada para o diagnóstico dessa
eficácia é o Ciclo PDCA.
Padronização dos processos: Escolher a atividade, mapear o processo, através
de um fluxograma e elaborar um procedimento, selecionando as atividades
críticas (MELLO et. al, 2009).
Delineamento do sistema de gestão da qualidade: Nesta última etapa, Mello et.
al (2009) apresentam os documentos que devem ser registrados segundo exige
a norma ISO 9001 de 2008.
3. Metodologia
Este artigo pode ser dividido em três etapas principais que deram rumo ao trabalho:
Pesquisa Exploratória, Análise de Aplicabilidade e Estudo de Caso.
A primeira etapa, a Pesquisa Exploratória, foi utilizada para se familiarizar com a
situação problema, através do levantamento bibliográfico de informações relacionadas com a
implantação da norma, para auxiliar na formulação do problema analisado e definir o melhor
método de implantação.
Na fase seguinte foi feita a seleção do melhor método de implantação, dentre os que
foram estudados, para a empresa estudada. A partir disso, foram levantados os pontos a serem
comparados, para garantir que o método selecionado possa ser aplicado.
Por fim, teve início o estudo de caso na empresa, a partir dos dados coletados,
analisando-se todo o processo de implantação, sendo feita uma comparação entre o modelo
teórico selecionado e o modelo utilizado pela empresa, levantando-se os pontos de ambos os
modelos, que serviram de comparação. A partir deste resultado, foram feitas conclusões
baseadas no modelo teórico estudado, além de sugestões para aumentar a efetividade da
gestão do sistema implantado, permitindo a implantação de outros programas de qualidade na
empresa.
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A empresa objeto de estudo foi selecionada por apresentar um caso único, ou seja, um
caso de insucesso na implementação da norma ISO 9001, o que permite observar os erros
cometidos pela empresa e quais foram os motivos. De acordo com Silva Filho et. al (2009), o
Método de Estudo de Caso fornece ao leitor um imagem multidimensional da situação em que
se encontra a empresa estudada, além de mostrar resultados decorrentes da pesquisa
realizadas, assim como mostrar que o processo utilizado foi válido e confiável.
4. Descrição da Empresa e Decisão de Implantar a Norma ISO 9001
A empresa estudada no presente trabalho é uma empresa do ramo de prestação de
serviços, que também atende em locais de difícil acesso, através do alpinismo industrial,
localizada no estado do Rio de Janeiro. A empresa é de pequeno porte com um total de 22
funcionários. A empresa considera que possuir um bom relacionamento com seus clientes e
funcionários, ter responsabilidade social, ter foco nos resultados e reduzir os impactos
ambientais causados por suas operações são seus maiores valores e buscam colaboradores que
possuam os mesmos valores.
Os principais serviços realizados são serviços de manutenção, como Tratamento e
Pintura de Plataformas e Embarcações, Hidrojato, Pintura Industrial, Solda e Serviços em
Espaço Confinado; realização de todo o programa DROPS, entregando ao cliente um relatório
final de inspeção e fazendo treinamento in loco dos funcionários quanto a prevenção da queda
de objetos; inspeções END (Ensaio Não Destrutivo), que contemplam a inspeção visual, por
líquido penetrante, por partícula magnética, por medição de espessura e inspeção ACFM e;
serviços de Manutenção de Torres de Perfuração, realizando inspeção, limpeza e manutenção
em cabos de aço, limpeza em geral e de Blow Outs e inspeção de acumuladores hidráulicos.
Mesmo no auge da crise brasileira, quando a maioria das empresas do setor estão
fechando as portas, a empresa apresenta um demonstrativo de crescimento muito forte, que
pode ser observado no gráfico 1.
Entretanto, já é possível perceber um desvio com relação à previsão de faturamento.
De acordo com os dados fornecidos pela empresa, foi possível elaborar um gráfico
comparando a previsão de faturamento com o que realmente foi faturado, o que pode ser
observado no mesmo gráfico 1.
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Gráfico 1 – Faturamento Real X Faturamento Previsto
Fonte: Elaborado pelos autores com dados fornecidos pela empresa, 2016.
Tendo em vista esse crescimento acelerado, em meados de 2015, a diretoria decidiu
implantar a norma ISO 9001, já que estava crescendo de forma desorganizada e devido à forte
pressão de seus clientes. A empresa contratou uma consultoria para auxiliar no processo de
implantação da ISO 9001, investindo inicialmente R$36.000,00 no treinamento dos
colaboradores responsáveis pela implantação da norma.
Durante o primeiro mês de início do Sistema de Gestão, todos os procedimentos
internos foram revisados e formatados para que fossem aplicados à nova realidade da
empresa. De agosto a fevereiro de 2016, diversos procedimentos, registros e evidências foram
elaboradas de forma que o Sistema de Gestão começou a funcionar e os processos internos
estavam mais organizados e estruturados, sendo visível uma melhora organizacional do
trabalho.
Em março de 2016, foi realizada uma auditoria interna, apresentando resultados
insatisfatórios. Muitos procedimentos não eram utilizados, muitos registros que nunca haviam
sido utilizados e uma vasta necessidade por evidências que comprovassem serviços realizados
pela empresa.
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Em junho de 2016, uma equipe foi alocada para desenvolver os últimos procedimentos
e registros necessários para a conclusão do Sistema de Gestão. E no final de julho, todos os
procedimentos, registros e evidências exigidos pela norma já constavam no sistema, que
funcionava muito bem e era entendido por todos os colaboradores envolvidos. Os principais
documentos do Sistema de Gestão, que são exigidos pela norma, podem ser observados a
seguir: Manual de Qualidade; Procedimento de Gerenciamento de Requisitos Legais e Outros
Requisitos;Procedimento de Análise Crítica; Procedimento de Comunicação Interna e
Externa; Procedimento de Gestão de Mudança; Procedimento de Monitoramento e Medição;
Procedimento de Auditoria Interna; Procedimento de Não Conformidade, Ações Corretivas e
Preventivas; Procedimento de Treinamento, Competência e Conscientização; Procedimento
de Aquisição e Locação de Produtos e Serviços.
A próxima etapa era a realização da auditoria externa, feita pela ABNT, para que a
empresa fosse certificada. A ABNT exige que a auditoria seja feita em duas fases e um
auditor estaria presente avaliando a empresa por dois dias na primeira fase e quatro dias na
segunda fase. O valor a ser pago a ABNT por essa auditoria era de, aproximadamente,
R$11.000,00. Em contrapartida, a economia nacional nesta época estava em forte declínio. De
acordo com Relatório de Inflação de Dezembro de 2016, do Banco Central do Brasil, a
variação do PIB (Produto Interno Bruto) vem mostrando desempenho inferior ao esperado, o
que influencia nas projeções para o ano de 2017, como pode ser observado no gráfico 2, a
seguir.
Gráfico 2 – Variação Trimestral do PIB Brasileiro
Fonte: Relatório de Inflação de Dezembro de 2016, 2016
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Juntamente a todos os problemas da economia, a empresa pesquisada perdeu o seu
último contrato em agosto de 2016, não restando mais nenhum contrato ativo com nenhum
outro cliente. Dessa forma, a empresa precisou cortar gastos e a forma mais rápido e fácil foi
reduzir a equipe. Em agosto de 2016, aproximadamente 50% dos funcionários foram
desligados e até o final dos próximos dois meses mais alguns seriam desligados, caso não
houvesse mais nenhum contrato fechado. E assim, a empresa decidiu interromper, por tempo
indeterminado, o processo de certificação da norma ISO 9001, já que os custos de auditoria
foram considerados altos.
5. Análise de Resultados
A análise da comparação entre os modelos teórico e prático será realizada por meio de
um fluxograma proposto, com as etapas de implementação da norma, apresentado na figura 2,
mostrando o que a empresa possui; o que a empresa possui, porém necessita de algumas
melhorias; e o que a empresa não possui, de atividades ou documentação, através de símbolos
apresentados a seguir. Essa análise foi realizada junto com a empresa, que afirmava onde
determinada atividade ou documentação se encaixava na legenda.
Legenda:
Após a estruturação desse fluxograma, juntamente com a análise do mesmo, será
possível quantificar as atividades que devem ser melhoradas na empresa e as atividades que
devem ser continuadas. Vale ressaltar, como apresentado no capítulo anterior, que a empresa
Empresa possui atividade ou documentação
Empresa possui atividade ou documentação, porém necessita de algumas melhorias
Empresa não possui atividade ou documentação
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interrompeu a implementação do Sistema de Gestão nas últimas etapas. E isto, também será
analisado e discutidas possíveis razões para esta paralisação.
Figura 2 – Fluxograma de Implementação da ISO 9001 com análise
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NãoMissão, Visão e
Valores definidos?
Sim
Empresa orientada
por processos?Não
Sim
Existe demana na
empresa por
mudança?
Não
Sim
A alta direção
reconhece essa
demanda?
Não Fim
Sim
A alta direção sabe
como implementar
um sistema de
qualidade?
Não
Sim
Elaboração da
Política de
Qualidade
Buscar
orientação
Fim
Início
Orientar
empresa por
processos
Definir esses
itens
Definição de
Objetivos da
Qualidade
A
Procedimentos
operacionais bem
definidos?
A
Definição de
Indicadores
Elaboração
Manual da
Qualidade
Definição do
Organograma da
empresa
Definir
procedimentos
operacionais
Não
Elaboração do
Procedimento de
Requisitos Legais
Sim
Elaboração do
Procedimento de
Controle de
Documentos
Elaboração do
Procedimento de
Controle de
Registros
Elaboração do
Procedimento de
Análise Crítica
Elaboração do
Procedimento de
Comunicação
Interna
B
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B
Elaboração do
Procedimento de
Não
Conformidade
Elaboração do
Procedimento de
Ações Corretivas
Elaboração do
Procedimento de
Ações
Preventivas
Elaboração do
Procedimento de
Gestão de
Mudança
Elaboração do
Procedimento de
Aquisição
Elaboração do
Procedimento de
Treinamento
Elaboração do
Procedimento de
Medição e
Controle
Elaboração do
Procedimento de
Auditoria Interna
Mapeamento
dos Macro-
Processos
C
C
Registro de
fornecedores
aprovados
Capacitação e
treinamento dos
funcionários
Formação de
auditores
internos
Elaboração de
documentos de
evidência
Implementação
dos
procedimentos
Realização de
Análise Crítica
pela Direção
Realização de
Auditoria Interna
Realização de
Auditoria Externa
Certificação
FIm
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Fonte: Elaborado pelos autores, 2016.
Conforme observado no fluxograma da figura 2, existem 34 atividades para a
implementação da norma ISO 9001 na empresa estudada. Para ser melhor visualizado, foi
elaborado um gráfico para analisar as atividades ou documentos que a empresa possui e em
que nível de implementação a empresa se encontra.
Gráfico 3 – Análise das Atividades de Implantação
Fonte: Elaborado pelos Autores, 2016.
Observando a análise feita, através do gráfico, é possível perceber que das 34
atividades ou documentos, necessários para a implementação da norma, quase 30%
necessitam ser observadas pois possuem oportunidade de melhorias.
6. Conclusões
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Comparando os modelos propostos de implementação, apresentados no referencial
teórico deste trabalho, com o efetivo modelo utilizado pela empresa, pode-se concluir:
I. Todas as atividades da empresa devem estar bem descritas e serem seguidas.
Segundo Silveira (2013), com todas as atividades bem descritas em procedimentos e
seguidas por todos os funcionários, não há tarefas realizadas fora do padrão especificado. Foi
verificado que, como a empresa não possui todos os procedimentos bem desenvolvidos e nem
todos os funcionários treinados nos mesmos, não existe um padrão na execução das
atividades. Sendo assim, estas não podem ser melhoradas. A falta de padronização mostra que
a empresa não difundiu muito bem o sistema de qualidade proposto.
II. É de extrema importância o registro de todo e qualquer tipo de documento.
De acordo com Silveira (2013), registrando-se todos os documentos, é possível gerar
um histórico que possibilitará o planejamento de atividades além de facilitar nas futuras
tomadas de decisão. Após observação das atividades da empresa percebe-se que não foi muito
bem difundido entre todos os colaboradores a importância da geração de evidências de todas
as atividades, fazendo com que muitas tarefas não sejam documentadas.
III. A empresa necessita analisar seus ganhos antes de decidir implementar a ISO
9001.
Segundo Fortes (2012), a primeira etapa de implementação da norma é definir o
escopo da empresa e analisar seus ganhos. Deve ser analisado o mercado e os clientes que
demandam por essa certificação. Pode-se concluir que apesar de o escopo da empresa ter sido
definido, assim como seus objetivos, o mercado não foi bem analisado e não foi feita uma
projeção dos ganhos a médio e longo prazo, além de não ter sido realizado um planejamento
estratégico. A falta destas análises foi crucial para a interrupção do processo de certificação da
empresa, impedindo que houvesse a realização das duas últimas etapas de implementação
apresentadas por Fortes (2012). Ou seja, a etapa de certificação, onde existiria uma auditoria
externa e a de perenização, que demandava por um programa para continuidade do sistema de
gestão com desenvolvimento de melhorias.
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FORTES, M. M. ISO 9001:2008 – Roteiro prático para implantação. 2012. Disponível em: <
http://tupi.fisica.ufmg.br/michel/docs/Artigos_e_textos/MPE_e_empresa_familiar/ISO_9001_2008_ROTEIRO_I
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http://www.bcb.gov.br/htms/relinf/port/2016/12/ri201612P.pdf >
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