incidÊncia e fatores associados Às modificaÇÕes da terapia …

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE FARMÁCIA LETÍCIA PENNA BRAGA INCIDÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS ÀS MODIFICAÇÕES DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL EM PESSOAS COM HIV/AIDS Belo Horizonte 2016

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE FARMÁCIA

LETÍCIA PENNA BRAGA

INCIDÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS ÀS MODIFICAÇÕES DA

TERAPIA ANTIRRETROVIRAL EM PESSOAS COM HIV/AIDS

Belo Horizonte

2016

2

LETÍCIA PENNA BRAGA

INCIDÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS ÀS MODIFICAÇÕES DA TERAPIA

ANTIRRETROVIRAL EM PESSOAS COM HIV/AIDS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Medicamentos e Assistência

Farmacêutica, da Faculdade de Farmácia da

Universidade Federal de Minas Gerais, como

requisito parcial para obtenção do Grau de

Mestra em Medicamentos e Assistência

Farmacêutica

Área de concentração: Medicamentos e

Populações

Orientadora: Profa

Cristiane A. Menezes de

Pádua

Belo Horizonte

2016

3

UFMG

Reitor

Prof. Jaime Arturo Ramirez

Vice-Reitora

Profª. Sandra Regina Goulart Almeida

Pró-Reitora de Pós-Graduação

Profª. Denise Maria Trombert de Oliveira

Pró-Reitora de Pesquisa

Prof. Ado Jório de Vasconselos

FACULDADE DE FARMÁCIA

Diretor

Prof. Gerson Antônio Pianetti

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICAMENTOS E ASSISTÊNCIA

FARMACÊUTICA

Coordenador

Prof. Francisco de Assis Acurcio

Sub-Coordenador

Prof. Augusto Afonso Guerra Júnior

Colegiado

Profª. Djenane Ramalho de Oliveira

Profª. Cristina Mariano Ruas Brandão

Prof. Francisco de Assis Acurcio

Profª. Juliana Álvares

Profª. Maria das Graças Braga Ceccato

Prof. Augusto Afonso Guerra Júnior

Profª. Eli Iola Gurgel Andrade

Profª. Mariângela Leal Cherchila

Discente Michael Ruberson Ribeiro da Silva

Discente Jéssica Barreto R. dos Santos

5

Dedico este trabalho a todas e todos que, de alguma maneira, participam da construção e

consolidação do Sistema Único de Saúde

6

AGRADECIMENTOS

À Cristiane Menezes, minha orientadora, pelo acolhimento quando me despertei para a

pesquisa, incentivo e confiança em dividir conhecimentos e encarar este desafio

comigo.

Ao CEMED e "suas meninas" pelas contribuições nos treinamentos das apresentações e

por ter aberto as portas de forma acolhedora.

À Cássia Mendicino, pela troca de aprendizados e contribuições nos trabalhos.

À todas as pessoas envolvidas no projeto "Reações adversas ao uso prolongado de

antirretrovirais: incidência e fatores associados" que, de alguma maneira, contribuíram

para que este trabalho fosse possível.

Aos serviços de saúde, CTR Orestes Diniz, CTA Sagrada Família e Hospital Eduardo

de Menezes pela parceria e disponibilidade dos dados utilizados neste trabalho.

Ao Silas, da Secretaria do Programa de Pós Graduação em Medicamentos e Assistência

Farmacêutica, sempre disponível no suporte das questões burocráticas.

Aos amigos do Hospital Risoleta Tolentino Neves pelo aprendizado e pela contribuição

no despertar para a ciência.

Aos amigos da UAEM pela troca de experiências, aprendizados e por me proporcionar

momentos de construção coletiva no ativismo pelo acesso a medicamentos essenciais.

À Lu Pinheiro, amiga que divide e constrói o lar Ltotal, pelo compartilhamento de todas

as sagas, sejam elas carnavalescas, acadêmicas, empreendedoras, ou da vida vivida.

Aos amigos, pelos momentos doces e divertidos, e pela compreensão das ausências.

À minha família, exemplo de força e amor. Mesmo com as distâncias geográficas,

sempre há bons motivos para encontros.

7

RESUMO

Introdução: O advento da terapia antirretroviral (TARV) contribuiu para o aumento da

expectativa de vida das pessoas infectadas pelo vírus HIV. A infecção pelo HIV

atualmente se configura como doença crônica transmissível, trazendo novos desafios

para o tratamento de longa duração. Ao longo dos anos, aumentaram as opções de

medicamentos antirretrovirais no mercado farmacêutico, possibilitando a conduta de

modificações na TARV. Modificações recorrentes na TARV aumentam a probabilidade

de desenvolvimento de mutações do vírus HIV. O vírus pode adquirir resistência aos

antirretrovirais da mesma classe terapêutica, sendo necessária a utilização de terapia de

resgate. O objetivo deste estudo foi estudar a ocorrência de modificações da TARV em

pessoas com HIV que iniciaram tratamento entre os anos de 2001 e 2005 em três

serviços de serviços públicos de referência para atendimento a pessoas com HIV/aids na

cidade de Belo Horizonte (MG). Método: Estudo de coorte prospectivo não concorrente

(coorte histórica) conduzido em três centros de referência para tratamento de HIV/aids

em Belo Horizonte (MG), Brasil. Incluiu adultos com HIV, com 18 anos de idade ou

mais, que tiveram a primeira prescrição de TARV entre 2001 e 2005, sendo

acompanhados por no mínimo 1 ano e por até 5 anos. O principal desfecho avaliado foi

a modificação da TARV definida como a substituição de pelo menos um medicamento

de terapia tripla ou acréscimo de pelo menos um medicamento à monoterapia ou terapia

dupla contendo zidovudina (AZT). Foram avaliadas as modificações da TARV inicial

no primeiro ano de tratamento e a primeira, segunda e terceira modificações da TARV

ao longo de cinco anos de acompanhamento, entre 2001 e 2010. Para análise da

primeira modificação, foram considerados todos os pacientes da amostra da coorte

inicial (População 1, n=247). Para a análise da segunda modificação, foram

considerados todos os pacientes da População 1 que apresentaram pelo menos uma

modificação da TARV (População 2, n=119). Para a análise da terceira modificação,

foram considerados todos os pacientes da População 2 que apresentaram pelo menos

uma segunda modificação da TARV (População 3, n=51). As variáveis de exposição

incluíram características sociodemográficas, clínicas, relacionadas à TARV e à

utilização de serviços de saúde. Análise descritiva foi realizada para caracterizar a

população e o perfil de modificações da TARV. O desfecho foi descrito por meio de

frequência de modificações nos diferentes estratos da população, que foram comparadas

pelo teste do qui-quadrado de Pearson. O desfecho também foi descrito por meio da

incidência de modificações por 100 pessoas-mês. Curvas de Kaplan-Meier foram

utilizadas para descrever a durabilidade dos esquemas antirretrovirais nos diferentes

estratos da população. Análise de regressão logística multivariada foi realizada para

verificar fatores associados à modificação da TARV inicial no primeiro ano de

tratamento. Modelo de riscos proporcionais de Cox foi utilizado para verificar os fatores

de risco para modificação da primeira, segunda e terceira TARV, ao longo de cinco

anos. Resultados: 247 pacientes formaram a amostra final do estudo de coorte. 119

(48,2%) pacientes modificaram a TARV pelo menos uma vez e 51 (25,6%)

modificaram pelos menos duas vezes. Um paciente modificou a TARV cinco vezes. A

8

maioria das modificações aconteceu no primeiro ano de tratamento (53,8%), em

esquemas contendo inibidores de protease (IP), tendo como principal motivo as reações

adversas. Dentre os pacientes que modificaram a TARV, o tempo mediano para

primeira, segunda e terceira modificação foi de 10,7; 13,4 e 5,1 meses, respectivamente.

Esquemas contendo inibidores da transcriptase reversa não análogos de nucleosídeo

(ITRNN) apresentaram maior durabilidade quando utilizados como primeira, segunda

ou terceira TARV. Pacientes que iniciaram a TARV com esquemas contendo IP

possuem chance 3,46 vezes maior de ter pelo menos uma modificação da TARV do que

pacientes que iniciaram TARV com esquemas contendo ITRNN [odds ratio (OR)=3,46;

IC95%=2,02 - 5,92], no primeiro ano de tratamento. Ao longo de cinco anos de

acompanhamento, ser do sexo feminino, apresentar diagnóstico relacionado à aids no

início do tratamento, iniciar TARV com esquemas contendo IP ou com

monoterapia/terapia dupla contendo AZT são fatores de risco para primeira modificação

da TARV [hazard ratio (HR)=1,67; IC95%=1,08 - 2,57; HR=1,59; IC95%=1,01 - 2,51;

HR=2,50; IC95%=1,54 - 4,04 e HR=11,45; IC95%=4,28 - 30,63, respectivamente].

Nenhum fator esteve estatisticamente associado à segunda modificação da TARV.

Pacientes que apresentaram média de mais de quatro consultas médicas por ano

apresentaram maior risco de modificação da terceira TARV (HR=7,12; IC95%=1,95 -

26,07) e aqueles que iniciaram a terceira TARV com esquemas contendo IP

apresentaram risco 4,84 vezes o risco dos pacientes que iniciaram a terceira TARV com

esquemas contendo ITRNN (HR=4,84; IC95%=1,32 - 17,83). Conclusões: Esquemas

contendo IP são menos tolerados e mais modificados devido às reações adversas

associadas a esta classe terapêutica. O início tardio da TARV torna o tratamento mais

complexo e está associado à modificação da TARV no primeiro ano de tratamento. O

monitoramento das reações adversas aos antirretrovirais em qualquer fase do tratamento

é imprescindível para garantir a efetividade do tratamento.

Descritores: HIV/aids; terapia antirretroviral; modificações, efetividade; estudo de

coorte.

9

ABSTRACT

Background: Antiretroviral therapy (ART) has led to increased life expectancy and has

given to HIV infection chronic characteristics, bringing up new challenges for long-term

ART use. Over the years, the number of antiretroviral drugs at the pharmaceutical

market has increased, allowing modifications in the ART. However, multiple

antiretroviral drug modifications increase probability of HIV in developing mutations.

HIV could get resistance to antiretroviral drugs from the same therapeutic class, and

salvage therapy could be necessary. This study aimed at investigate ART modifications

in HIV-infected adults, initiating ART between 2001 and 2005 in three HIV/AIDS

referral centers in Belo Horizonte (MG). Method: Non-concurrent cohort study

(historical cohort) from three HIV/AIDS referral centers in Belo Horizonte (MG),

Brazil. It included treatment naїve HIV-infected adults who had their first ART

prescription between 2001 and 2005, followed up for at least one year and for a

maximum of five years. The main endpoint was ART modifications defined as at least

one drug alteration in the triple combined ART or addition to monotherapy or dual

therapy with zidovudine (ZDV). Modifications in first ART were evaluated in the first

year of treatment. Also, first, second and third ART modifications were assessed in a 5-

year follow-up, between 2001 and 2010. For the analysis of first ART modification, all

patients from initial cohort were considered (Population 1, n=247). For the analysis of

second ART modification, all patients from Population 1, who had at least one ART

modification were considered (Population 2, n=119). For the analysis of third ART

modification, all patients from Population 2, who had at least a second ART

modification were considered (Population 3, n=51). Exposure variables were

sociodemographic characteristics, clinical, related to ART and to health care.

Descriptive analysis was performed to characterize studied population and ART

modifications profile. Pearson's qui-square test was performed to compare frequencies

of ART modification in different population categories. The outcome was also describe

by incidence of patients who had ART modified expressed in 100 persons-month.

Kaplan-Meier curves were employed to describe ART durability in population

categories. Multivariate logistic regression analysis was used to evaluate factors

associated to first ART modification in the first year of treatment. Cox proportional

hazard model was performed to evaluate the hazard ratio of first, second and third ART

modifications during five years of follow-up. Results: 247 patients enrolled at initial

cohort. 119 (48.2%) patients modified ART at least once and 51 (25.6%) modified at

least two times. One patient modified ART five times. The vast majority of

modifications occurred in the first year of treatment (53.8%), in protease inhibitor (PI)-

based regimens, and the main reason for modification was adverse drug reactions.

Among patients who modified ART, median time for first, second and third

modifications were 10.7, 13.4 and 5.1 months, respectively. Non-nucleoside reverse

transcriptase inhibitors (NNRTI)-based regimens had higher durability when used as

first, second and third ART option. Patients who started ART with PI-based regimens

had 3.46 higher chance of having at least one ART modification than those who started

10

ART with NNRTI-regimens (odds ratio [OR]=3.46; IC95%=2.02 - 5.92), in the first

year of treatment. Over five years, female sex, have AIDS-defining illness before ART

and start ART with PI-based regimens or monotherapy or dual therapy with ZDV were

risk factors for ART modification (hazard ratio [HR]=1.67; CI95%=1.08 - 2.57;

HR=1.59; CI95%=1.01 - 2.51; HR=2.50; CI95%=1.54 - 4.04 e HR=11.45; IC95%=4.28

- 30.63, respectively]. It was not verified any variable statistically associated to second

ART modification. Patients who had more than four medical visits per year were at

higher risk of third ART modification (HR=7.12; CI95%=1.95 - 26.07), as well as those

who start third ART with PI-based regimens (HR=4.84; CI95%=1.32 - 17.83).

Conclusions: PI-based regimens are not well tolerated and are more modified due to

adverse drug reactions. Delay in ART start makes treatment more complex and it is

associated to ART modifications in the first year of treatment. Monitoring the adverse

reactions to antiretroviral drugs at any stage of treatment is essential to avoid

modifications in ART, contributing to ART effectiveness.

Key-words: HIV/AIDS; antiretroviral therapy; modifications, effectiveness, cohort

study.

11

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Disponibilidade de exames e registro de motivos de modificação da TARV nos

três centros de referência estudados ............................................................................................ 50

TABELA 2 - Distribuição de frequência das variáveis de exposição nas Populações 1, 2 e 3 ... 52

TABELA 3 - Ocorrência de modificações da terapia antirretroviral nas Populações 1, 2 e 3 .... 54

TABELA 4 - Distribuição das medidas de tendência central e de variabilidade nas Populações 1,

2 e 3 ............................................................................................................................................. 56

TABELA 5 - Número de modificações da TARV por paciente ................................................ 56

TABELA 6 - Número de modificações por medicamento nas Populações 1 (n=247), 2 (n=119) e

3 (n=51) ....................................................................................................................................... 58

TABELA 7 - Motivos de modificação da TARV por tipo de esquema, nas Populações 1, 2 e 3

.................................................................................................................................................... .59

TABELA 8 - Medicamentos substituídos nas Populações 1, 2 e 3 ............................................. 60

TABELA 9 - Número de modificações da 1ª, 2ª, 3ª, 4ª e 5ª TARV por tempo de tratamento em

anos ............................................................................................................................................. 61

TABELA 10 – Análise de regressão logística univariada e multivariada dos fatores associados à

primeira modificação da TARV no primeiro ano de tratamento (n=247; desfecho n=64) ......... 65

TABELA 11 - Análise univariada do modelo de riscos proporcionais de Cox para primeira,

segunda e terceira modificação da TARV para as populações 1, 2 e3. ....................................... 68

TABELA 12 - Análise multivariada do modelo de riscos proporcionais de Cox para primeira,

segunda e terceira modificação da TARV para as populações 1, 2 e 3. ...................................... 71

12

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - Variações na carga viral e linfócitos T-CD4+ ao longo das fases da infecção pelo

HIV .............................................................................................................................................. 21

FIGURA 2 - Evolução das recomendações para início da TARV .............................................. 29

FIGURA 3 - Delineamento do estudo de coorte prospectivo não concorrente (coorte histórica)

de adultos com HIV que iniciaram TARV entre 2001 e 2005, Belo Horizonte (MG) ................ 40

FIGURA 4 - Amostragem e definição das populações de estudo ............................................... 41

GRÁFICO 1 - Histograma do tempo de acompanhamento em meses para a População 1 ......... 49

GRÁFICO 2 - Motivos de modificação da primeira, segunda e terceira TARV ........................ 57

GRÁFICO 3 - Tendência de prescrição de esquemas antirretrovirais nas Populações 1, 2 e 3 .. 57

GRÁFICO 4 - Tendência de modificações da TARV em cinco anos ......................................... 61

GRÁFICO 5 - Tempo livre de ocorrência de modificação da TARV nas populações 1, 2 e 3 ... 63

GRÁFICO 6 - Tempo livre de ocorrência de modificação da TARV por esquema antirretroviral

nas Populações 1, 2 e 3................................................................................................................ 64

13

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Classes dos medicamentos antirretrovirais disponíveis no Brasil, mecanismos de

ação e medicamentos em cada classe .......................................................................................... 31

QUADRO 2 - Principais reações adversas observadas no início do tratamento antirretroviral .. 34

QUADRO 3 - Principais estudos que abordam a ocorrência das modificações da TARV ......... 37

QUADRO 4 - Descrição, codificação e parâmetros das variáveis de exposição ........................ 44

14

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

3TC Lamivudina

AIDS Acquired Immunodeficiency Syndrome (Síndrome da Imunodeficiência

Humana)

ATV Atazanavir

AZT Zidovudina

CCR5 Co-receptor de quimiocina tipo 5

CDC Centers for Disease Control and Prevention (Centro de Controle e

Prevenção de Doenças)

CTR/DIP Centro de Treinamento e Referência em Doenças Infectoparasitárias Orestes

Diniz

CTA/SF Centro de Testagem e Aconselhamento Sagrada Família

d4T Estavudina

ddI Didanosina

DNA Ácido desoxirribonucléico

EFV Efavirenz

FAPEMIG Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais

HAART Higly Active Antiretroviral Therapy (Terapia Antirretroviral Altamente

Ativa)

HEM Hospital Eduardo de Menezes

HIV Human Immunodeficiency Virus (Vírus da Imunodeficiência Humana)

HSH Homens que fazem sexo com homens

HR Hazard Ratio

IC Intervalo de confiança

IDV Indinavir

IDV/r Indinavir combinado com ritonavir

IP Inibidor da protease

ITRN Inibidor da transcriptase reversa análogo de nucleosídeo

ITRNN Inibidor da transcriptase reversa não análogo de nucleosídeo

LPV Lopinavir

LPV/r Lopinavir combinado com ritonavir

LT-CD4+ Linfócitos T com marcadores de membrana CD4

15

MG Minas Gerais

NFV Nelfinavir

NVP Nevirapina

OMC Organização Mundial de Comércio

OR Odds Ratio (Razão de Chances)

OMS Organização Mundial de Saúde

PEP Profilaxia Pós-Exposição ao HIV

PrEP Profilaxia Pré Exposição

PVHA Pessoas vivendo com HIV/aids

QDSTM

Questionnaire Development System (Questionário de Desenvolvimento

de Sistemas)

RAM Reação Adversa a Medicamento

RMBH Região Metropolitana de Belo Horizonte

RNA Ácido ribonucléico

RTV Ritonavir

SICLOM Sistema de Controle Logístico de Medicamentos

SIMC Sistema de Monitoramento Clínico

SINAM Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SISCEL Sistema de Controle de Exames Laboratoriais

SMSA/BH Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte

SUS Sistema Único de Saúde

TARV Terapia antirretroviral

TDF Tenofovir

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

UNAIDS Programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids

16

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 18

2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 19

2.1 Etiopatogenia da infecção pelo HIV e história natural da doença ............................... 19

2.2 História da aids ............................................................................................................ 21

2.3 Epidemiologia do HIV/aids ......................................................................................... 23

2.3.1 HIV/aids no Brasil ............................................................................................... 24

2.3.2 HIV/aids no estado de Minas Gerais e na cidade de Belo Horizonte .................. 25

2.4 Terapia antirretroviral ................................................................................................. 26

2.4.1 Histórico .............................................................................................................. 26

2.4.2 Objetivos e recomendações para início da terapia antirretroviral ....................... 28

2.4.3 Medicamentos disponíveis e linhas de tratamento .............................................. 29

2.4.4 Falha ao tratamento antirretroviral e terapia de resgate ...................................... 32

2.4.5 Reações adversas ao tratamento antirretroviral ................................................... 33

2.4.6 Modificações da terapia antirretroviral ............................................................... 35

3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................ 38

4 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 38

4.1 Objetivo geral .............................................................................................................. 38

4.2 Objetivos específicos................................................................................................... 38

5 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 39

5.1 Delineamento e população do estudo .......................................................................... 39

5.2 Coleta de dados ........................................................................................................... 42

5.3 Definição do desfecho ................................................................................................. 42

5.4 Definição das variáveis de exposição .......................................................................... 43

5.5 Análise estatística de dados.........................................................................................46

5.5.1 Análises descritivas ............................................................................................. 46

17

5.5.2 Durabilidade do primeiro, segundo e terceiro esquema antirretroviral prescrito.47

5.5.3 Fatores associados à modificação da TARV ....................................................... 47

6 RESULTADOS ................................................................................................................... 48

6.1 Recrutamento das populações de estudo e disponibilidade de dados .......................... 48

6.2 Análises descritivas ..................................................................................................... 50

6.2.1 Descrição das Populações 1, 2 e 3 ....................................................................... 50

6.2.2 Caracterização das modificações da TARV ........................................................ 56

6.3 Durabilidade da primeira, segunda e terceira TARV .................................................. 62

6.4 Fatores associados à modificação da TARV ............................................................... 65

6.4.1 Fatores associados às modificações da TARV inicial (1ª modificação) no

primeiro ano de tratamento ................................................................................................. 65

6.4.2 Fatores associados à primeira, segunda e terceira modificação da TARV .......... 67

7 DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 73

7.1 Recrutamento das populações de estudo e disponibilidade de dados .......................... 73

7.2 Descrição das populações e do desfecho ..................................................................... 74

7.3 Durabilidade da primeira, segunda e terceira TARV .................................................. 77

7.4 Fatores associados à modificação da TARV no primeiro ano de tratamento e da

primeira, segunda e terceira modificação da TARV ao longo de cinco anos .............................. 78

8 LIMITAÇÕES DO ESTUDO ............................................................................................. 79

9 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 80

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 81

11 APÊNDICES ................................................................................................................... 96

11.1 APÊNDICE A - Pôster apresentado em Congresso .................................................... 96

11.2 APÊNDICE B - Artigo submetido à revista Journal of Tropical Medicine ................ 97

11.3 APÊNDICE C - Artigo submetido à revista AIDS Care ............................................. 99

11.4 ANEXO A - Aprovações dos Comitês de Ética ........................................................ 102

18

1 INTRODUÇÃO

O advento da terapia antirretroviral (TARV) contribuiu para o aumento da

expectativa de vida das pessoas infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana

(HIV) ao reduzir a incidência das infecções oportunistas relacionadas à síndrome da

imunodeficiência adquirida (aids) (MOCROFT et al., 1998; PALELLA et al., 1998).

Ao longo de 30 anos, desde o registro dos primeiros casos de infecção pelo HIV até os

dias atuais, esta infecção foi se configurando como uma doença crônica, trazendo novos

desafios para o tratamento de longa duração (THE STRATEGIES FOR

MANAGEMENT OF ANTIRETROVIRAL THERAPY STUDY, 2008). Atualmente,

estudos apontam ainda que a TARV é uma estratégia eficaz para redução da transmissão

do HIV, trazendo novas discussões sobre a importância do início precoce do tratamento

(COHEN et al., 2012; DEL ROMERO et al., 2014; YANG et al., 2015).

Ao longo dos anos, aumentaram as opções de medicamentos antirretrovirais no

mercado farmacêutico. Atualmente estão disponíveis no Brasil 22 medicamentos

antirretrovirais, divididos em seis diferentes classes terapêuticas (BRASIL, 2016). O

aumento das opções farmacoterapêuticas amplia as possibilidades de modificações da

TARV. No entanto, modificações recorrentes da TARV aumentam a probabilidade do

vírus HIV em desenvolver mutações que configuram resistência. O vírus HIV pode

adquirir resistência aos antirretrovirais da mesma classe terapêutica, aumentando as

chances de necessidade de terapia de resgate (BENNETT et al., 2009; ROSENBLOOM

et al., 2012). Os protocolos clínicos brasileiros atuais recomendam iniciar a TARV com

esquemas contendo inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeo

(ITRNN). Os inibidores de protease (IP) são reservados para segunda linha de

tratamento, pois apesar de menor risco de desenvolvimento de resistência pelo HIV, é

mais frequente a ocorrência de reações adversas (BRASIL, 2015c).

Muitos são os motivos que podem levar à modificação da TARV. Dentre os

principais estão as reações adversas, falha terapêutica e baixa adesão ao tratamento. Por

isso, a incidência e tempo até a modificação da TARV é um importante parâmetro para

predizer a efetividade do tratamento (CARDOSO, LUZ, VELASQUE, TORRES,

COELHO, et al., 2014). Estudos apontam que o primeiro ano de tratamento é o de

maior probabilidade de modificação da TARV, e por isso, a maioria deles avalia esse

desfecho neste período (APUZZO et al., 2009; CHANDY et al., 2011). São escassos os

estudos que avaliam as modificações da TARV em períodos maiores do que dois anos

19

de tratamento. No contexto de uso prolongado de antirretrovirais, esta avaliação se faz

importante já que pacientes estarão em risco constante de modificação da TARV

(PROSPERI et al., 2012). O estudo dos motivos de modificação da TARV e fatores

associados poderá apresentar evidências para subsidiar a melhoria do cuidado ao

paciente com HIV em uso de TARV.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Etiopatogenia da infecção pelo HIV e história natural da doença

A aids é causada pelo vírus HIV tipo 1, originado de chimpanzés selvagens da

subespécie Pan troglodytes troglodytes. O vírus HIV-1 é altamente mutante e foi

transmitido para a espécie humana (GAO et al., 1999). O vírus HIV-2 também causa

aids e é encontrado na África Ocidental, de prevalência rara fora desta localidade (DE

COCK et al., 2011). A transmissão do HIV ocorre pela exposição a mucosas, que se dá

principalmente pelo contato com secreções sexuais, sangue contaminado e de mãe para

o feto (COHEN et al., 2011).

O HIV é da família dos retrovírus, também conhecido como RNAvírus, por ter

como característica a enzima transcriptase reversa, que produz DNA a partir de uma

molécula de RNA. Assim como outras doenças causadas por retrovírus, o vírus HIV se

caracteriza por causar infecções de longo período de latência clínica e replicações virais

persistentes (VELLA, 1998). As células propensas a serem infectadas são os linfócitos

T-CD4+, as células do retículo endotelial, da micróglia do sistema nervoso central e do

centro germinal dos linfócitos (SHEPPARD E ASCHER, 1992). A proteína gp 120 do

envelope viral se liga ao receptor CD4+ dos linfócitos, entra nesta célula e produz novas

partículas virais após transcrição reversa em que o DNA é produzido a partir do RNA

viral (SANDE E VOLBERDING, 1999). Devido a elevada capacidade de mutação do

vírus HIV, cepas recombinantes são frequentemente encontradas na população de

pessoas infectadas e pode ocorrer coinfecção de duas cepas diferentes, quando o

indivíduo infectado se expõe a uma nova cepa viral, em uma fase em que a replicação

viral se estabilizou (JOST et al., 2002).

A infecção de células cruciais do sistema imunológico humano é que leva às

consequências clínicas da infecção pelo HIV. Por isso, os principais marcadores da

infecção são a carga viral e a quantidade de linfócitos T- CD4+ no sangue, sendo este

20

último, indicador da extensão do comprometimento imunológico (GOLDMAN E

AUSIELLO, 2004). A evolução da infecção ocorre quando os linfócitos T-CD4+ são

acometidos e os vírus começam a se multiplicar. Esta dinâmica é evidenciada pelo

aumento da carga viral e declínio da contagem de linfócitos. Por isso, além de

importantes marcadores da infecção, a carga viral e a contagem de linfócitos T-CD4+

também são importantes marcadores para avaliar resposta a TARV (GRABAR et al.,

2000; LYLES et al., 2000).

A história natural da doença se inicia com a infecção aguda, característica das

primeiras semanas de infecção pelo HIV, e vai até a fase avançada, que se caracteriza

pelo aparecimento de sintomas da aids. Estima-se que o tempo entre a infecção aguda e

fase avançada tenha duração média de dez anos em indivíduos não tratados (PORTER,

1998). Durante a infecção aguda ocorre a soroconversão, que se caracteriza pelo

aparecimento de anticorpos anti-HIV e replicação ativa do vírus, atingindo-se níveis

extremamente elevados de carga viral, e por isso de alta taxa de transmissão

(PEDERSEN et al., 1989). A infecção aguda ocorre entre a segunda e quarta semana

após o contato com o vírus e apresenta manifestações clínicas que incluem febre alta,

exantema, cefaleia, letargia, faringite, adenopatia (VANHEMS et al., 1999). Essas

manifestações são inespecíficas, muito semelhantes a outras infecções virais, e por isso,

muitas vezes a infecção pelo HIV não é diagnosticada nessa fase. Os sinais da infecção

aguda normalmente desaparecem em três a quatro semanas e a infecção entra na fase de

latência clínica.

Durante o período de latência clínica, também chamado de infecção

assintomática, o vírus HIV se reproduz dentro dos linfonodos de forma lenta, porém

progressiva. Os indivíduos infectados não apresentam sintomas nesta fase e apresentam

níveis de carga viral baixos, mas continuam transmitindo o vírus. No final desta fase, a

carga viral do indivíduo infectado começa a elevar, a contagem de linfócitos T-CD4+

começa a declinar e os sintomas da aids começam a aparecer (CDC, 2015).

A aids é a fase mais grave da infecção pelo HIV e sua principal característica é o

aparecimento de infecções oportunistas. Isso acontece porque o vírus HIV se

multiplicou de forma intensa, e há uma depleção gradativa dos linfócitos T-CD4+, que

ficam em número abaixo de 200 células/mm3, aparecendo manifestações clínicas

decorrentes de imunossupressão. Entre as infecções oportunistas destacam-se a

pneumocistose, neurotoxoplasmose, tuberculose pulmonar, meningite meningocócica e

as neoplasias, sendo as mais comuns o sarcoma de Kaposi, o linfoma de não Hodgkin e

21

o câncer de colo uterino nas mulheres. Nesta fase, a carga viral apresenta-se elevada, o

indivíduo é altamente infectante e, sem tratamento, a sobrevida é de, em média, três

anos (XIAO et al., 2013). A Figura 1 representa as fases da infecção pelo HIV e

graficamente apresenta a dinâmica de variações na carga viral e contagem de linfócitos

T-CD4+ ao longo destas fases.

FIGURA 1 - Variações na carga viral e linfócitos T-CD4+ ao longo das fases da infecção pelo HIV

Fonte: http://www.infectologia.net.br/infeccao-pelo-hiv-3/

2.2 História da aids

Os primeiros casos de aids foram descritos pela no ano de 1981 pelo Centro de

Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), após diagnóstico de

infecção pelo fungo Pneumociystis jiroveci, causador de um tipo raro de pneumonia em

pessoas saudáveis, em cinco jovens gays da cidade de Los Angeles. No Brasil, o

primeiro caso de aids foi notificado em 1982 na cidade de São Paulo (BRASIL, 2015b).

Em 1983 tem-se o relato de mulheres com sintomas da aids após contato sexual com

parceiros do sexo masculino, soropositivos, sugerindo a transmissão heterossexual

(CDC, 1983).

O teste diagnóstico para detecção do HIV no sangue e redução da transmissão

por transfusão sanguínea foi desenvolvido em 1985 e o primeiro medicamento para

tratamento antirretroviral, a zidovudina (AZT), teve seu registro aprovado em 1987

(GOLDMAN E AUSIELLO, 2004). No Brasil, tem-se a estruturação do primeiro

programa de controle de aids em 1986 pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo

(BRASIL, 2015b).

CD4+

(céls/mL)

HIV RNA

(cópias /mL)

22

Na década de 1990, a sociedade vivenciou o avanço da epidemia de aids,

marcada pelo preconceito e discriminação. Em 1995, foi aprovado o primeiro

medicamento antirretroviral da classe dos inibidores de protease (IP), iniciando uma

nova era, da Terapia Antirretroviral Altamente Ativa (HAART). Apesar dos avanços, no

fim desta década dados alarmantes sobre a epidemia foram divulgados pela Organização

Mundial de Saúde (OMS): a aids foi a quarta causa de morte no mundo e a estimativa é

de que havia 33 milhões de pessoas com HIV/aids no mundo (OMS, 2014). No Brasil, a

década é marcada pelo avanço na política de distribuição de medicamentos

antirretrovirais, iniciada em 1991, que culminou com a Lei 9.313 de 1996, que prevê a

distribuição gratuita de antirretrovirais para pessoas com HIV/aids (BRASIL, 1996).

Em 1993, iniciou-se a notificação da aids no Sistema Nacional de Notificação de

Doenças (SINAN), e no fim da década, mais de 22.000 casos já haviam sido registrados

(SINAN, 1997).

Nos anos 2000, já haviam sido registrados mais de 18 milhões de mortes por

aids no mundo (UNAIDS, 2000). O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre

HIV/aids (UNAIDS) negociou com cinco indústrias farmacêuticas a redução do preço

dos medicamentos antirretrovirais para países em desenvolvimento (BRASIL, 2015).

Em 2001 é criado um fundo de investimento global para financiar ações de combate ao

HIV visando prevenção, tratamento e cuidado em saúde. Neste mesmo ano, a

Organização Mundial do Comércio (OMC) liberou a produção de medicamentos

genéricos para combate à epidemia de HIV/aids pelos países em desenvolvimento

(AVERT, 2016). No Brasil é implantada a Rede Nacional de Laboratórios para

Genotipagem em 2001. A combinação de antirretrovirais utilizada em até 72 horas após

possível contato com HIV, a PEP-sexual (Profilaxia Pós-Exposição), começa a ser

distribuída pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 2011 como medida no âmbito da

prevenção combinada (BRASIL, 2011).

Após três décadas de história, o mundo vivencia uma nova fisionomia da aids,

em que a imagem de corpos e rostos esquálidos dão lugar a imagem de pessoas de

aparência saudável, que convivem com a doença há mais de uma década. A terapia

antirretroviral teve importante papel neste processo de mudança do perfil da aids, que

deixa de ser uma doença de alta letalidade para se tornar uma condição com

características crônicas. O perfil de pessoas infectadas se expande, e passa a atingir

também mulheres, idosos e populações das pequenas cidades (TIMERMAN E

MAGALHÃES, 2015). Desde 2014, a infecção pelo HIV foi incluída na Lista Nacional

23

de Notificação Compulsória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública. Os

desafios ainda são o fim da discriminação, a prevenção, o acesso ao diagnóstico, ao

tratamento e aos serviços de cuidado às pessoas que vivem com HIV/aids (PVHA).

Apesar de todos os avanços relacionados à TARV, o acesso ao tratamento, a adesão e a

efetividade também se constituem desafios. Neste contexto, a UNAIDS lançou em 2014

a meta denominada 90-90-90 que tem o objetivo de que, até 2020, 90% das pessoas com

HIV tenham sido diagnosticadas, 90% delas tenham acesso ao tratamento antirretroviral

e destas, 90% atinjam a carga viral indetectável (OMS/UNAIDS, 2014). No fim de

2015 a UNAIDS anunciou a estratégia para 2016-2021, tendo a meta de zero

discriminação para acelerar a resposta global à epidemia de HIV (UNAIDS, 2015).

2.3 Epidemiologia do HIV/aids

Após três décadas do surgimento dos primeiros casos de aids, a infecção pelo

HIV ainda se configura como um dos maiores problemas de saúde pública mundial,

sendo responsável por 1,5 milhões de mortes no mundo em 2012, a sexta causa de

morte (OMS, 2012). Em 2014, a aids foi a causa de morte de 1,2 milhões de pessoas,

860.000 na África e 52.000 na América Latina. Estima-se que 17,1 milhões de pessoas

estejam infectadas pelo HIV e desconheçam seu status sorológico. Em 2014 ocorreram

aproximadamente dois milhões de novas infecções por HIV no mundo. Em 2013, 75%

das novas infecções pelo HIV ocorreram em 15 países (UNAIDS, 2015). A região com

maior incidência de HIV é a África Subsaariana, com registro de 1,4 milhões de casos.

A América Latina apresentou uma redução de 17% na incidência de HIV de 2000 para

2014, passando 100.000 para 87.000 novos casos/ano.

Segundo a UNAIDS, nos últimos 15 anos o número de novas infecções pelo

HIV no mundo reduziu de 3,1 milhões em 2001 para 2,1 milhões em 2015. A meta é

que em 2030 o número de novas infecções reduza para 0,2 milhões ou menos. Estima-se

que as ações guiadas pela UNAIDS para conter a epidemia evitaram 30 milhões de

novas infecções e 7,8 milhões de mortes por aids. O número de PVHA em terapia

antirretroviral (TARV) aumentou de 1 milhão em 2001 para 15 milhões em 2015. Ao

atingir as metas guiadas pela UNAIDS, espera-se que 21 milhões de mortes por aids até

2030 sejam evitadas. A expectativa de vida das PVHA, que no início dos anos 2000

ultrapassava 36 anos, em 2014 ultrapassou 55 anos de idade, se aproximando da

expectativa de vida de pessoas não infectadas. O maior acesso à TARV é um importante

24

aspecto para a redução destes números e se torna fundamental para que as metas

definidas em resposta ao HIV/aids sejam atendidas. Estima-se que atualmente 40,3%

das pessoas com HIV no mundo tenham acesso à TARV (UNAIDS, 2015). O contexto

epidemiológico atual traz a necessidade de uma nova abordagem para a redução da

incidência e mortes por aids. É preciso reconhecer que cada região possui diferentes

microepidemias com níveis heterogêneos de prevalência e incidência que se modificam

ao longo dos anos em diferentes idades, gêneros e comportamentos. O foco das ações

deve ser nas áreas de altas taxas de transmissão do HIV combinando estratégias que

promovam acesso equitativo ao diagnóstico do HIV, à informação, ao serviço de saúde

e ao tratamento. Desta maneira, poderá ser possível que a epidemia da infecção pelo

HIV se modifique de uma condição de pandemia para uma condição de endemia

(JONES et al., 2014).

2.3.1 HIV/aids no Brasil

Desde o início da epidemia de aids no Brasil até junho de 2015 foram

notificados 798.366 casos de aids. O Ministério da Saúde (MS) divulgou em 2015 que a

taxa de detecção de infecção pelo HIV caiu para menos de 20 casos por 100.000

habitantes (19,7/100.000), a menor taxa nos últimos 12 anos. Houve aumento da taxa de

mortalidade por aids em alguns estados brasileiros, que demonstra necessidade de maior

acesso à TARV e ao serviço de saúde. Algumas populações são mais afetadas pelos

novos casos de infecção pelo HIV: homens que fazem sexo com homens (HSH),

travestis e transexuais, usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo. Destaca-se

também o crescente aumento de novas infecções na população jovem de 15 a 24 anos e

o aumento da proporção do sexo feminino dentre os casos novos (BRITO et al., 2001;

BRASIL, 2015a).

O perfil de notificação de casos de aids de acordo com as regiões brasileiras se

modificou: nos primeiros 15 anos da epidemia, a maior parte dos casos notificados eram

oriundos das capitais dos estados das regiões Sul e Sudeste. Entre 1995 e 2004 houve

expansão da concentração dos casos para as capitais das regiões Nordeste e Centro-

Oeste e duas capitais da região Norte. De 2005 a 2015, a distribuição dos casos de aids

expandiu nacionalmente entre as cinco regiões do país e também para as cidades do

interior dos estados. O ano de 2015 foi o primeiro em que o número de casos registrados

foi menor que nos anos anteriores, com 15.181 casos (BRASIL, 2015a).

25

2.3.2 HIV/aids no estado de Minas Gerais e na cidade de Belo Horizonte

No estado de Minas Gerais, a epidemia de HIV/aids se caracteriza por elevada

incidência entre jovens na faixa etária de 20-34 anos, com 8 a 12 anos de escolaridade.

Apesar da maior parte dos casos diagnosticados ainda ser em homens, há uma elevação

do número de mulheres diagnosticadas com HIV ao longo dos anos, acompanhando o

perfil epidemiológico do Brasil e mundo. A epidemia passou por mudanças no perfil ao

longo dos anos, que passa a ter um caráter multifacetado.

De acordo com dados do SINAN, a estimativa é de que existem 43.286 pessoas

vivendo com HIV/aids no estado de Minas Gerais. O estado ocupa a 25ª posição no

ranking de taxa de detecção de HIV/aids dentre os estados brasileiros. (BRASIL,

2015a). A razão de infectados homens:mulheres, modificou de 2,70:1 em 2010 para

2,25:1 em 2014. Dentre a população de 15 a 49 anos, a incidência de HIV entre homens

que fazem sexo com homens em 2010 foi de 0,23/1.000 pessoas, enquanto dentre a

população geral foi de 0,01/1.000 pessoas. De acordo com dados do Sistema de

Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM), 24.285 pessoas, ou seja, 56% das

pessoas com HIV/aids, estão em tratamento antirretroviral (MINAS GERAIS, 2015). O

Sistema de Monitoramento Clínico das Pessoas Vivendo com HIV (SIMC) permite o

cruzamento dos dados do SICLOM e do Sistema de Controle de Exames Laboratoriais

(SISCEL) sendo possível detectar a pessoa que foi testada e não iniciou tratamento e

apresenta carga viral detectável e aquelas que iniciaram o tratamento e apresentam carga

viral indetectável. De acordo com os dados destes sistemas, 64% das pessoas em

tratamento no estado de Minas Gerais apresentavam carga viral indetectável. Na cidade

de Belo Horizonte, esta porcentagem é de 76% (MINAS GERAIS, 2015).

Na cidade de Belo Horizonte, os dados epidemiológicos apontam um aumento

da incidência de casos de HIV entre os anos de 2001 e 2013, que passou de 17,5

casos/100.000 habitantes em 2001 para 22,9 em 2005, e 24,8 em 2013. Há uma maior

incidência no sexo masculino, sendo que a razão de sexos masculino:feminino em 2013

foi de 4:1, acima da proporção nacional de 1,9:1. Ao longo destes anos, houve uma

redução da letalidade da doença que passou de 53,5% em 2001 para 22,4% em 2013

(BELO HORIZONTE., 2014).

26

2.4 Terapia antirretroviral

2.4.1 Histórico

O primeiro medicamento antirretroviral aprovado para utilização no combate ao

HIV foi a zidovudina (AZT), da classe dos inibidores nucleosídeos da transcriptase

reversa (ITRN). Em 1987 o AZT foi aprovado nos Estados Unidos pelo Food and Drug

Administration (FDA) (HARLASS, 1996), e neste mesmo ano iniciou sua utilização no

Brasil (Brasil, 2015). No começo da utilização do AZT já eram descritos seus efeitos

adversos, que incluíam alterações hematológicas e efeitos gastrintestinais. Além disso,

era previsto o desenvolvimento de resistência do vírus HIV-1 ao medicamento, por

meio de resultados de ensaios in vitro. Isso limitaria a utilização do AZT como

monoterapia, e levava à necessidade de novos fármacos para utilização de terapia

combinada (GILMORE et al., 1992; HAMILTON et al., 1992; MCLEOD E

HAMMER, 1992; HARLASS, 1996).

Em 1988, a didanosina (ddI), também da classe dos ITRN, foi aprovada para

pacientes que apresentavam intolerância ao AZT. Em 1992, a zalcitabina (ddC)

começou a ser utilizada. Nesta época já se observava que a utilização combinada de dois

antirretrovirais poderia ser efetivo e reduziria a resistência do HIV ao tratamento.

Assim, neste mesmo ano, o FDA aprovou a utilização da combinação entre AZT e ddC.

Ensaios clínicos demonstravam que o tratamento com a terapia dupla proporcionava o

aumento dos níveis de linfócitos T-CD4+ de forma mais eficaz do que a monoterapia

com AZT (MOYLE et al., 1997). Entretanto, o efeito do aumento na sobrevida não foi

muito expressivo se comparado à monoterapia com zidovudina (HIV TRIALISTS'

COLLABORATIVE GROUP, 1999).

Em 1996, 15 anos após o surgimento da epidemia, o tratamento que tornaria a

aids uma doença evitável foi anunciado: o “coquetel”, a combinação de comprimidos

que controla a disseminação do HIV no organismo. A classe dos IP foi descoberta e a

terapia combinada passou a conter três medicamentos, sendo dois da classe dos ITRN

mais um medicamento com mecanismo de ação diferente desta classe, no caso, um

inibidor de protease. Este esquema recebeu o nome de Terapia Antiviral Altamente

Ativa (do inglês, Highly Active Antiretroviral Therapy - HAART). Isso permitira às

pessoas com HIV viver com carga indetectável do vírus no organismo, sem que

houvesse progressão para aids (DARBYSHIRE, 1996; WILLIAMS E DE COCK,

27

1996). No ano de 2007, o Nelfinavir, um dos principais IP utilizados no Brasil foi

recolhido pelo laboratório Roche, fabricante do medicamento. A alegação foi de que

houve uma contaminação de dois lotes do medicamento pelo ácido etil éster

metassulfônico, substância que poderia causar câncer com o uso prolongado. O

Nelfinavir era distribuído pelo Programa Nacional de DST/Aids desde 1998, e em 2007,

cerca de nove mil adultos e 250 crianças faziam uso deste medicamento no Brasil. A

alternativa sugerida foi a substituição pelo Lopinavir/Ritonavir, Amprenavir ou

Saquinavir (ANVISA, 2007).

O Ministério da Saúde recomenda a utilização de terapia tripla desde seu

surgimento, mas até o ano de 2004, a terapia dupla era recomendada para pacientes com

menor comprometimento do sistema imunológico (LT-CD4+ entre 350 e 500 céls/mm3

e carga viral abaixo de 30.000 cópias/mL), exposição ocupacional e em casos de

pacientes que já faziam uso da terapia dupla e mantinham-se estáveis. Em 2004 o

Ministério da Saúde passou a recomendar a terapia dupla apenas em alguns casos de

exposição ocupacional. Nos demais casos, a terapia tripla deveria ser adotada uma vez

que com a terapia dupla, o vírus HIV rapidamente desenvolve resistência ao tratamento

(BRASIL, 2000; 2002 - 2003; 2004).

Ao longo dos anos, novos medicamentos, de novas classes terapêuticas surgiram

com os objetivos de contornar o efeito da resistência do vírus HIV, reduzir reações

adversas e simplificar o tratamento, reduzindo o número de comprimidos tomados ao

dia. Medicamentos da classe dos inibidores de fusão (enfuvirtida), da classe dos

inibidores da integrase (raltegravir) e da classe dos antagonistas do receptor CCR-5

(maraviroque) são os medicamentos mais novos incorporados à lista de medicamentos

antirretrovirais disponibilizados pelo SUS e sua utilização é reservada para o caso de

pacientes multirresistentes aos demais medicamentos disponíveis (MIRANDA et al.,

2010; BRASIL, 2012).

Em 2013 foi anunciado o esquema denominado "três em um" que consiste na

terapia combinada dos medicamentos tenofovir (TDF), lamivudina (3TC) e efavirenz

(EFV), atualmente recomendado como esquema para início do tratamento

antirretroviral, em um comprimido de dose única diária (BRASIL, 2015). O esquema 3

em 1 foi disponibilizado no Brasil em meados de 2014 e proporciona maior comodidade

ao paciente em tratamento antirretroviral, com o objetivo de aumentar a adesão ao

tratamento (BRASIL, 2014).

28

Atualmente se discute a utilização da terapia antirretroviral pré-exposição ao

HIV (PrEP). A associação de antirretrovirais tenofovir/emtricitabina é aprovada nos

Estados Unidos para uso profilático ao contágio do HIV antes da exposição ao vírus por

pessoas não infectadas e que estejam sob o risco de infecção, e envolve a utilização

diária desta combinação de antirretrovirais (CDC, 2016). No Brasil é conduzido o

estudo "PrEP Brasil" que objetiva avaliar a aceitação, viabilidade e a melhor forma de

oferecer a PrEP à população brasileira (PrEP Brasil, 2015).

2.4.2 Objetivos e recomendações para início da terapia antirretroviral

A terapia antirretroviral se baseia na inibição da replicação do vírus HIV que

levará à redução da carga viral do indivíduo. Consequentemente, a contagem de

linfócitos T-CD4+ se manterá elevada, evitando-se o comprometimento do sistema

imunológico. Com isso, previne-se o aparecimento de infecções oportunistas e evolução

para aids. O objetivo final da TARV será reduzir morbimortalidade das PVHA,

aumentando a expectativa e qualidade de vida (KUMARASAMY et al., 2011; JONES

et al., 2014). Em 2012 foi publicado o estudo HPTN 052 que revelou a importância da

TARV de início precoce na redução da transmissão sexual do HIV entre casais

sorodiscordantes, de forma que a TARV passou a ter também o objetivo de redução da

transmissão do HIV (COHEN et al., 2012; YANG et al., 2015).

O momento ideal para início da TARV é investigado desde o surgimento dos

primeiros medicamentos antirretrovirais. A busca por critérios de definição de momento

de início da TARV se baseava em medidas de risco de infecções oportunistas, evolução

para aids e óbito. No início da epidemia de HIV, a TARV era recomendada aos

pacientes com grande comprometimento imunológico, que haviam evoluído para o

desenvolvimento da aids (MCLEOD E HAMMER, 1992). Ao longo dos anos, com o

surgimento de novos medicamentos, estudos evidenciam os benefícios do início da

TARV cada vez mais precoce. Na primeira década dos anos 2000, ensaios clínicos

corroboraram a recomendação para início do tratamento antirretroviral em adultos

durante o período assintomático, quando os níveis de linfócitos T-CD4+ atingissem

valores abaixo de 350 células/mm3 (SEVERE et al., 2010). Posteriormente, estudos

observacionais começaram a apontar benefícios do início da TARV em fase

assintomática em indivíduos com linfócitos T-CD4+ entre 350 e 500 células/mm3 e

também entre indivíduos com contagem de linfócitos acima de 500 células/mm3

29

(KITAHATA et al., 2009). No estudo START pacientes com HIV foram randomizados

em dois grupos, um que iniciou a TARV com contagem de linfócitos T-CD4+ acima de

500 células/mm3, e outro que iniciou tratamento após queda dos linfócitos para valores

abaixo de 350 células/mm3. O grupo de início imediato apresentou menor risco de

ocorrência de eventos relacionados à aids (START GROUP, 2015). Este resultado é

importante para embasar a atual recomendação da OMS de início imediato da TARV,

independente do estágio da doença e da contagem de linfócitos T-CD4+ (OMS, 2013).

Além dos aspectos clínicos, avaliações farmacoeconômicas demonstram que o início

precoce utilizando o esquema de primeira linha de tratamento é uma estratégia custo-

efetiva (HOGAN et al., 2005; FREEDBERG et al., 2007). A Figura 2 representa

evolução das recomendações para início da TARV desde o início da epidemia na década

de 1980.

FIGURA 2 - Evolução das recomendações para início da TARV Fontes: Adaptado, informações retiradas de Mcleod e Hammer, 1992; Harlass, 1996; MARINS, 2003;

Severe et al., 2010; Cohen, Mccauley e Gamble, 2012; Yang et al., 2015

2.4.3 Medicamentos disponíveis e linhas de tratamento

Atualmente no Brasil estão disponíveis 22 medicamentos antirretrovirais,

divididos em seis classes terapêuticas, classificados de acordo com o mecanismo de

ação nas diferentes etapas da replicação viral. Para as classes dos ITRN, ITRNN, IP,

inibidores de fusão e inibidores da integrase, os mecanismos de ação farmacológicos se

30

baseiam no bloqueio da multiplicação do vírus HIV no organismo humano ao impedir

que uma das cinco etapas do ciclo replicativo do HIV aconteça: fusão, transcrição

reversa, integração, trascrição e tradução/formação das proteínas (DE BRITO et al.,

2008). Já o maraviroque, único medicamento da classe dos antagonistas do co-receptor

CCR-5, age fora da célula bloqueando a entrada do vírus HIV no linfócito T-CD4+

(MIRANDA et al., 2010).

Também estão disponíveis associações de medicamentos, como o AZT + 3TC e,

mais recentemente o esquema 3 em 1 de TDF+3TC+EFV, que possibilita maior

conforto posológico, de um comprido ao dia (BRASIL, 2014). No Quadro 1 estão

descritas as classes dos medicamentos antirretrovirais, os mecanismos de ação de cada

classe e os respectivos medicamentos disponíveis em cada uma delas.

31

QUADRO 1 - Classes dos medicamentos antirretrovirais disponíveis no Brasil, mecanismos de ação e

medicamentos em cada classe

Classes de medicamentos antirretrovirais

Classe Mecanismo Medicamentos

Inibidores Nucleosídeos da

Transcriptase Reversa (ITRN)

Atuam na enzima transcriptase reversa, incorporando-

se à cadeia de DNA que o vírus cria. Tornam essa

cadeia defeituosa, impedindo que o vírus se reproduza.

Abacavir

Didanosina

Estavudina

Lamivudina

Tenofovir

Zidovudina

Zidovudina/Lamivudina

Tenofovir/Lamivudina

Inibidores Não Nucleosídeos

da Transcriptase Reversa

(ITRNN)

Bloqueiam diretamente a ação da enzima e a

multiplicação do vírus.

Efavirenz

Nevirapina

Etravirina

Inibidores de Protease (IP)

Atuam na enzima protease, bloqueando sua ação e

impedindo a produção de novas cópias de células

infectadas com HIV

Atazanavir

Darunavir

Fosamprenaavir

Indinavir

Lopinavir/r

Nelfinavir

Ritonavir

Saquinavir

Tipranavir

Inibidores de Fusão Impedem a entrada do vírus na célula e, por isso, ele

não pode se reproduzir Enfuvirtida

Inibidores da Integrase

Bloqueiam a atividade da enzima integrase,

responsável pela inserção do DNA do HIV ao DNA

humano (código genético da célula). Assim, inibe a

replicação do vírus e sua capacidade de infectar novas

células.

Raltegravir

Antagonistas do correceptor

CCR-5

Bloqueia a interação entre o CCR5 e a glicoproteína

120 do HIV-1, prevenindo a entrada do vírus HIV-1

R5 trópico nas células

Maraviroque

Fonte: Ministério da Saúde, 2015

Atualmente a TARV inicial consiste na utilização da terapia tripla sendo

preconizado como primeira linha de tratamento a associação de dois ITRN com um

ITRNN, devendo se iniciar com os medicamentos TDF+3TC+EFV. Em casos de

contraindicação de alguns destes medicamentos as alternativas são preferencialmente

medicamentos da mesma classe terapêutica (BRASIL, 2015).

32

Na segunda linha de tratamento, um ITRNN é substituído por um IP, por

motivos que geralmente incluem reações adversas relacionadas ao uso do ITRNN,

presença de vírus com genótipos resistentes a esta classe terapêutica ou baixa adesão.

Os medicamentos darunavir, tipranavir, raltegravir, enfurvirtida e maraviroque são

reservados para utilização como terceira linha de tratamento, recomendada para casos

de pacientes que apresentam falha virológica confirmada e resistência a pelo menos uma

das classes terapêuticas utilizadas com primeira e segunda linha, detectada em teste de

genotipagem. No caso do maraviroque, o medicamento foi incorporado no SUS mais

recentemente, sendo que sua utilização é restrita aos casos de pacientes multirresistentes

que apresentem vírus com tropismo para receptor CCR-5 denominado HIV-R5

(BRASIL, 2013). Os medicamentos de terceira linha possuem custo 15 vezes maior do

que o de primeira linha, seis vezes maior que o de segunda linha (MÉDICINS SANS

FRONTIÈRES, 2016).

Atualmente, o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da

Saúde do Brasil publica a atualização do Protocolo Clínicio e Diretrizes Terapêuticas

para o Manejo da Infecção pelo HIV em adultos. Isso significa que essas diretrizes

devem ser adotadas no tratamento do adulto com HIV, de forma que estratégias

diferentes desta diretriz devem ser devidamente justificadas, como por exemplo, iniciar

a TARV com esquemas de segunda linha. Até o ano de 2008, o Ministério da Saúde

publicava Recomendações para Terapia Antirretroviral em Adultos, em que eram

apresentadas as opções de esquemas terapêuticos indicados, e o médico poderia escolher

por optar ou não por determinado esquema antirretroviral.

2.4.4 Falha ao tratamento antirretroviral e terapia de resgate

A falha terapêutica se caracteriza por uma piora clínica e/ou alteração dos

parâmetros laboratoriais, principalmente da carga viral, de um paciente em TARV. A

ocorrência de infecção oportunista pode ser considerada um indicador de falha

terapêutica, mas atualmente o principal parâmetro utilizado é a falha virológica. Esta se

caracteriza pela verificação de carga viral detectável após seis meses do início do

tratamento ou da modificação da TARV, ou pela detecção de carga viral em indivíduos

que a mantinha indetectável durante o tratamento. Atualmente, a carga viral indetectável

significa valores menores que 50 cópias/mL. Até 2005, este parâmetro poderia ser

abaixo de 80 cópias/mL, dependendo do método laboratorial utilizado. Alguns fatores

33

como a baixa adesão ao tratamento e resistência viral estão associados a falha

terapêutica (BRASIL, 2015).

A falha terapêutica também é um dos motivos de modificação da TARV e o

novo tratamento utilizado pelo paciente que apresentou falha virológica é denominado

"terapia de resgate". Estudo de coorte realizado nos Camarões evidencia dados

alarmantes acerca da resistência terapêutica: 80% dos participantes apresentaram falha

ao esquema de primeira linha e 36% ao esquema de segunda linha. O estudo chama

atenção pela elevada prevalência de cepas multirresistentes, que limitam as opções de

medicamentos na utilização como terapia de resgate (CECCARELLI et al., 2012). No

Brasil, é recomendada a realização do teste de genotipagem antes da escolha do

esquema de resgate para a detecção de genótipos resistentes aos antirretrovirais

(BRASIL, 2015). Estudo brasileiro aponta o tempo mediano de 40 meses entre o início

da TARV de segunda linha e a ocorrência de falha terapêutica (CARDOSO, LUZ,

VELASQUE, TORRES, TAVARES, et al., 2014). Estudo nacional recente discute que

mutações de resistência do HIV aos antirretrovirais são a principal causa de falha

terapêutica e no Brasil, o perfil de resistência a TARV é bastante heterogêneo entre

cidades de diferentes regiões (BRITES et al., 2016).

2.4.5 Reações adversas ao tratamento antirretroviral

Reação adversa a medicamento (RAM) consiste em um efeito nocivo,

indesejável, que se apresenta após a administração de medicamentos nas doses

normalmente utilizadas pelos seres humanos na terapêutica, na profilaxia ou no

diagnóstico (ARONSON, 2009). Estudos demonstram uma elevada prevalência de

reações adversas aos antirretrovirais, principalmente nos primeiros seis meses de

tratamento. As reações adversas são apontadas como uma das principais razões para

modificações e interrupção da TARV (ASTUVILCA et al., 2007; PÁDUA et al., 2007;

MASENYETSE et al., 2015).

As reações adversas agudas, relacionadas à hipersensibilidade, como diarreia e

reações dermatológicas ocorrem nos primeiros três meses de início da TARV (BRASIL,

2015c). As reações adversas mais frequentes relacionadas ao uso prolongado são

alterações metabólicas, como diabetes mellitus, resistência à insulina, dislipidemias e

lipodistrofias (SOUZA et al., 2013). As principais condutas adotadas para redução e

prevenção das RAMs são o ajuste de dose e a substituição dos medicamentos da TARV

34

(MENEZES DE PÁDUA et al., 2006). As reações adversas afetam a qualidade de vida

das PVHA e é um fator de risco para baixa adesão ao tratamento (BONOLO PDE et al.,

2005; GAKHAR et al., 2013). No Quadro 2 estão descritas as principais reações

adversas observadas no início da TARV.

QUADRO 2 - Principais reações adversas observadas no início do tratamento antirretroviral

Reações adversas aos medicamentos antirretrovirais

Medicamento Efeito adverso

Zidovudina (AZT) Náuseas, anorexia, cefaleia, alterações no paladar, mal

estar, insônia, anemia e neutropenia

Lamivudina (3TC) Eventualmente pode ocorrer pacreatite ou neuropatia

periférica

Didanosina (ddI)

Náuseas, vômitos, diarreia e anemia são frequentes.

Pancreatite, com ou sem dor abdominal pode ocorrer

nas primeiras semanas, mas normalmente é mais tardia

Tenofovir (TDF)

Risco de toxicidade renal com elevação da ureia e

creatinina, disfunção tubular proximal (Síndrome de

Fanconi) e diabetes insipidus

Efavirenz (EFV)

Sintomas relacionados ao Sistema Nervoso Central, tais

como: tonturas, "sensação de embriaguez", sonolência

ou insônia, dificuldade de concentração e sonhos

vívidos

Nevirapina (NVP)

Exantema (7%), geralmente maculopapular, do tipo

eritema multiforme; menos de 1% progride para

Síndorme de Stevens-Johnson

Lopinavir/ritonavir (LPV/r) Diarreia (14 a 24%), náuses astenia, dor abdominal,

cefaleia, vômitos e hiperlipidemia com

hipertrigliceridemia

Atazanavir/ritonavir (ATV/r) Náuseas, vômitos e diarreia

Fonte: adaptado de Ministério da Saúde, Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o Manejo da

Infecção pelo HIV em Adultos, 2015

35

2.4.6 Modificações da terapia antirretroviral

A modificação da TARV consiste na alteração do esquema terapêutico incluindo

substituição ou acréscimo de medicamentos ao esquema antirretroviral. Não há

padronização na literatura sobre as denominações ligadas ao conceito de modificações

da TARV. Alguns autores utilizam o termo "troca", outros, "substituição" ou

"alteração". Kumarasamy e colaboradores (2011) consideram como troca a modificação

de linhas de tratamento em caso de falha terapêutica e a substituição como alterações de

medicamentos na TARV por outros motivos como reações adversas e simplificação do

tratamento, sem modificar a linha de tratamento (KUMARASAMY et al., 2011).

Apesar da falta de padronização de conceitos, é consenso que alterações de dose não são

consideradas modificações ou troca da TARV, de forma que este tema é tratado

separadamente.

A não ser que exista confirmação de resistência a determinada classe

farmacológica, a indicação inicial é de que a modificação de antirretrovirais seja feita

por outro de mesma classe, e após um esgotamento de possibilidades é que a opção por

modificações de linhas de tratamento seja feita (BRASIL, 2015c).

São diversos os motivos que podem levar à modificação de algum medicamento

da TARV, sendo este um parâmetro para decisão do momento da sua realização.

Reações adversas, falha terapêutica, interações com outros medicamentos, simplificação

do tratamento, redução do custo, gravidez, ocorrência de coinfecções são exemplos de

motivos que levam às modificações da TARV (CESAR et al., 2010; KUMARASAMY

et al., 2011). A maioria dos estudos avalia os fatores associados às modificações da

TARV no primeiro ano de tratamento, por considerar este o período de maior

probabilidade de ocorrência deste evento (JARRIN et al., 2013; INZAULE et al., 2014).

O principal motivo de modificações na TARV são as reações adversas, com

elevada incidência nos primeiros seis meses de tratamento (JARRIN et al., 2013). Ao

longo do tempo, estes motivos podem mudar, e fatores como comorbidades, época

estudada (e os respectivos antirretrovirais disponíveis) e variáveis externas como

interrupção do fornecimento, podem se destacar como motivos de modificações da

TARV. Landier e colaboradores verificaram que modificações na TARV acontecem

mais precocemente quando motivadas por reações adversas do que por falha terapêutica

(LANDIER et al., 2011). Como a maioria dos estudos avalia as modificações da TARV

em um período de acompanhamento mais curto, de até dois anos, o fato das reações

36

adversas acontecerem mais precocemente pode explicar ser este o motivo de

modificação mais frequente. Em avaliações com período de acompanhamento mais

longo, em que mais de um evento poderá acontecer, espera-se que as modificações por

falha terapêutica sejam um pouco mais frequentes. Estudo espanhol recente apontou a

simplificação do tratamento como o motivo mais frequente de modificação da TARV

(PEDROL et al., 2014). Com o aumento do número de medicamentos antirretrovirais no

mercado farmacêutico, principalmente em combinações com doses fixas, espera-se que

as modificações da TARV devido à simplificação do tratamento seja uma tendência

para os próximos anos. Este aumento de opções de medicamentos no mercado e

aumento do acesso ao tratamento possibilita maior facilidade para realização de

modificações na TARV, contribuindo para o aumento desta prática. Em regiões com

recursos limitados, a incidência de modificações da TARV é menor. Estudo realizado

no oeste da África aponta baixa incidência deste desfecho como resultado da escassez

de recursos na região, que levam a uma maior resistência dos prescritores a modificar os

esquemas pelo limitado número de opções (LANDIER et al., 2011).

O aumento das modificações da TARV pode contribuir para o aumento da

capacidade do vírus HIV em desenvolver resistência genotípica aos antirretrovirais pela

maior capacidade de mutação, que poderá acarretar em acúmulo de resistência do HIV a

antirretrovirais da mesma classe terapêutica (HAMERS et al., 2012;

SANGUANSITTIANANT et al., 2013). A resistência acumulada compromete a

efetividade de novos tratamentos após as modificações, levando à necessidade de

utilização de terapia de resgate. O manejo clínico do paciente que apresentou falha

terapêutica torna-se mais complexo e, somando-se a heterogeneidade dos pacientes que

apresentam falha, é difícil estabelecer padrões de condutas terapêuticas (SIGALOFF et

al., 2011; HAMERS et al., 2012; LIMAVERDE LIMA et al., 2012; NOZZA et al.,

2014; TROTTIER et al., 2014). No Quadro 3 estão resumidos os principais estudos

consultados que avaliam a incidência e motivos de modificações da TARV.

37

QUADRO 3 - Principais estudos que abordam a ocorrência das modificações da TARV

Autor, Ano, Local Desenho do

estudo

Período de

acompanhamento

n (% do

evento) Fatores associados

INZAULE et al,

2014; Kenya

Coorte

prospectiva não

concorrente

3 anos 1140 (15,6) Aids em estágio III/IV no início da TARV; uso

de d4T; aumento da idade em anos

TSUCHIYA et al.,

2014; Tailândia

Coorte

prospectiva

concorrente

4 anos 914 (41,2) Sexo masculino, idade mais jovem,

PEDROL et al.,

2014; Espanha

Estudo

transversal 1 ano 349 (21,0) Categoria de transmissão (HSH)

JARRIN et al.,

2013; Espanha

Coorte

prospectiva

concorrente

2 anos e 10 meses 1512 (27,4)

Tipo de esquema antirretroviral (esquemas

contendo NVP ou LPV/r maior risco que

esquemas com EFV)

LIMA, 2012; Brasil Descritivo

exploratório 1 ano 301 (22,1) Relato de ocorrência de reações adversas

CHANDY et al.,

2011; Índia

Coorte

prospectiva

concorrente

1 ano 229 (32,0)

Baixa contagem de LT-CD4+ no início da

TARV, maior número de sintomas relacionados

à aids

LANDIER et al.,

2011; Mali

Coorte

prospectiva

concorrente

Tempo mediano:

15 meses 865 (23,9)

LT-CD4+ < 200 células/mm3no início da

TARV, idade acima de 30 anos; esquemas

contendo ITRNN para infecções por HIV-2

CESAR et al., 2010;

América Latina e

Caribe

Coorte

prospectiva

concorrente

1 ano 5026 (25,6%)

Esquemas que não continham EFV e

diagnóstico relacionado à aids no início da

TARV

APUZZO et al.,

2009; EUA

Coorte

prospectiva não

concorrente

3 anos 363 (56,0)

Maior tempo entre infecção e início da TARV;

menor contagem de LT-CD4+; esquemas

posológicos maiores que 1 vez ao dia;

TARV: terapia antirretroviral; LT-CD4+: linfócitos T-CD4+; EFV: efavirenz; ITRNN: inibidores da transcripatse

reversa não análogos de nucleosídeo; d4T: estavudina; HSH: homens que fazem sexo com homens; NVP: nevirapina;

LPV/r: lopinavir/ritonavir

3 JUSTIFICATIVA

O advento da TARV contribuiu para que a infecção pelo HIV passasse a

apresentar características de doenças crônico-degenerativas, trazendo desfios

relacionados ao uso prolongado de antirretrovirais. Neste contexto, é necessário o

38

entendimento das causas e consequências das modificações da TARV para garantir

maior sustentabilidade dos esquemas antirretrovirais, sendo uma importante estratégia

para retenção do paciente no serviço, contribuindo para o aumento da expectativa de

vida com qualidade das PVHA.

O primeiro ano de TARV é o de maior probabilidade de modificações e por isso

muitos estudos avaliam a incidência, motivos e fatores associados às modificações da

TARV neste período. Além disso, estas avaliações se referem apenas à modificação do

esquema de primeira linha de tratamento, sem abranger outras modificações da TARV,

que acontecerão após um ano de tratamento. São escassos os estudos que avaliam as

modificações da TARV, incluindo segunda e terceira modificações, em um período de

acompanhamento superior a dois anos. Os resultados deste estudo poderão embasar a

discussão sobre o melhor esquema antirretroviral para início e ao longo do tratamento e

fornecer evidências para implantação de estratégias de cuidado e de monitoramento do

paciente em uso de TARV.

4 OBJETIVOS

4.1 Objetivo geral

Estudar a ocorrência de modificações da TARV em pessoas com HIV que

iniciaram tratamento entre os anos de 2001 e 2005 em três serviços de serviços públicos

de referência para atendimento a pessoas com HIV/aids na cidade de Belo Horizonte

(MG).

4.2 Objetivos específicos

1 - Descrever o perfil sociodemográfico, clínico, terapêutico e de utilização de serviços

de saúde dos participantes do estudo;

2 - Descrever e caracterizar o perfil de modificações da TARV nos participantes do

estudo ao longo de, no mínimo um ano, e no máximo cinco anos de acompanhamento;

3 - Estimar a durabilidade do primeiro, segundo e terceiro esquema antirretroviral

prescrito;

39

4 - Determinar os fatores associados à modificação da TARV inicial no primeiro ano de

tratamento;

5 - Determinar a incidência e fatores associados às modificações da primeira, segunda e

terceira TARV, ao longo de cinco anos de acompanhamento.

5 MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 Delineamento e população do estudo

Este estudo faz parte de projeto guarda-chuva denominado "Reações adversas ao

uso prolongado de antirretrovirais: incidência e fatores associados" que consistiu em um

estudo de coorte prospectivo não concorrente (coorte histórica) conduzido em três

serviços públicos de referência para atendimento a pessoas com HIV/aids na cidade de

Belo Horizonte (MG): Centro de Treinamento e Referência em Doenças Infecto-

Parasitárias - CTR/DIP Orestes Diniz, Hospital Eduardo de Menezes (HEM) e Centro

de Testagem e Aconselhamento Sagrada Família (CTA/SF) da Secretaria Municipal de

Saúde de Belo Horizonte - SMSA/BH. Estes três centros de referência são responsáveis

pelo atendimento das PVHA da cidade de Belo Horizonte e região metropolitana. Entre

os anos de 2001 e 2013 havia 11.850 pacientes em uso de terapia antirretroviral em

Belo Horizonte e região, e estima-se que 90% deles recebiam seviço de assistência

farmacêutica nestes três centros.

No projeto guarda-chuva, os desfechos estudados foram três importantantes

reações adversas relacionadas ao uso prolongado de TARV: dislipidemia, diabetes tipo

2 e lipodistrofia. Os critérios de inclusão compreenderam: ser HIV positivo, com 18

anos ou mais de idade, virgem de tratamento, com início de TARV entre 2001 e 2005,

com confirmação de ausência dos desfechos antes do início da TARV. Estes pacientes

foram acompanhados por um período mínimo de 12 meses e máximo de 60 meses,

abrangendo um período de estudo de 2001 a 2010. A Figura 3 apresenta o desenho

esquemático do delineamento do estudo.

40

FIGURA 3 - Delineamento do estudo de coorte prospectivo não concorrente (coorte histórica) de adultos

com HIV que iniciaram TARV entre 2001 e 2005, Belo Horizonte (MG)

A amostra inicial foi calculada a partir do total estimado de PVHA que iniciou

tratamento entre os anos de 2001 e 2005 nos três centros de realização do estudo

(n=1.631)1. Considerando um nível de significância de 5%, poder de teste de 80% e

risco relativo de ocorrência dos desfechos estimado igual a 2, calculou-se uma amostra

de 288 pacientes. Baseando-se em uma perda amostral de aproximadamente 50%,

estimada a partir do estudo piloto, foram selecionados prontuários de 544 pacientes para

triagem dos critérios de elegibilidade. A seleção dos pacientes foi realizada por meio de

amostragem estratificada, proporcional ao número de atendimentos de cada centro

participante (CTR/DIP: 79%; HEM: 14%; CTA/SF: 7%). Dentro de cada centro foi

realizado o sorteio aleatório simples dos pacientes. Pacientes com registro de menos de

um ano de acompanhamento foram excluídos. Ao todo, 297 pacientes foram inelegíveis,

de forma que a amostra final foi composta por 247 pacientes.

Para o presente estudo foram adotados os mesmos critérios de inclusão do

estudo de coorte inicial. Considerou-se como População 1 todos os pacientes da amostra

final que iniciaram TARV entre 2001 e 2005, sendo formada por 247 pacientes. Nesta

População foram analisados os fatores associados às modificações da TARV no

1Fonte: Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM). Diretoria de Medicamentos

Estratégicos, Secretaria do Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG).

41

primeiro ano de tratamento, a durabilidade da primeira TARV e o tempo até a primeira

modificação da TARV nos cinco anos de acompanhamento foi denominada. Para

análise do tempo até a segunda modificação da TARV foram considerados todos os

pacientes que modificaram a TARV uma vez, em qualquer momento, durante o período

estudado. Estes pacientes formaram a População 2, de 119 pacientes. Para análise dos

desfechos relacionados à terceira TARV, todos os pacientes que apresentaram duas

modificações da TARV durante o período de acompanhamento foram considerados,

compondo a População 3, formada por 51 pacientes. Na Figura 4 está esquematizado o

processo de amostragem do estudo de coorte incial, a definição de cada população

estudada e os percentuais de pacientes acompanhados em cada centro.

FIGURA 4 - Amostragem e definição das populações de estudo

42

5.2 Coleta de dados

Todas as informações sobre o desfecho e variáveis de exposição foram coletadas

a partir de dados secundários obtidos em prontuários médicos de pacientes e registros

dos resultados de exames laboratoriais. Os prontuários dos pacientes foram revisados

para a coleta de dados anteriores à primeira prescrição de TARV, no momento da

prescrição e durante o período de seguimento, até cinco anos após o início da primeira

TARV.

As informações sobre as variáveis de exposição foram coletadas no início da

TARV. Os resultados dos exames laboratoriais, carga viral e contagem de linfócitos T-

CD4+ foram coletadas dos prontuários e diretamente dos registros do laboratório. Para

que o exame fosse considerado como sendo o resultado no início da primeira, segunda e

terceira TARV foi adotado um intervalo de ± 3 meses entre a data registrada do exame

e a data do início da TARV. Intervalos de tempo superiores a esse período foram

considerados dados perdidos (missing).

As informações foram coletadas eletronicamente utilizando o software

Questionnaire Development System (QDSTM

) versão 2.6.1 no período de novembro de

2012 a setembro de 2013 por meio de formulários padronizados, adaptados do projeto

ATAR (GUIMARÃES et al., 2010).

Para garantia da qualidade da coleta de dados, foi elaborado um manual de

instruções para uniformização dos procedimentos de coleta de dados. Pesquisadores de

campo foram sistematicamente treinados para execução de revisão dos prontuários. Um

estudo piloto foi conduzido entre abril e junho de 2012.

5.3 Definição do desfecho

O desfecho deste estudo foi a modificação da TARV definida como a

substituição de pelo menos um medicamento da terapia tripla ou acréscimo de pelo

menos um medicamento à monoterapia com AZT ou ao esquema duplo de AZT/3TC. A

substituição pode ter ocorrido por qualquer motivo, por medicamento de mesma classe

terapêutica ou por medicamento de outra classe. Ajustes de dose não foram

considerados como modificação da TARV.

Os motivos de modificação da TARV foram classificados de acordo com o

registrado em: reações adversas, falha terapêutica, baixa adesão ao tratamento, gravidez

43

e outros, que incluíram interações medicamentosas com outros medicamentos,

desabastecimento do antirretroviral, decisão da equipe de profissionais de saúde.

5.4 Definição das variáveis de exposição

Foram consideradas como variáveis de exposição (Quadro 4):

a. características sociodemográficas: sexo, idade, estado civil, município de

residência, ocupação;

b. características relacionadas à utilização de serviços de saúde: centro de

acompanhamento, média de consultas por ano, possuir plano de saúde privado;

c. características clínicas: contagem de linfócitos T-CD4+, carga viral, presença de

doença ou sinais clínicos definidores de aids, início tardio da TARV;

d. características relacionadas à terapia antirretroviral: tipo de esquema

antirretroviral inicial, durabilidade do primeiro esquema, tipo de segundo

esquema antirretroviral, durabilidade do segundo esquema, tipo de terceiro

esquema antirretroviral.

44

QUADRO 4 - Descrição, codificação e parâmetros das variáveis de exposição

Características sociodemográficas

Variável Definição da variável Codificação e categorias Justificativa da categorização

Sexo Sexo masculino ou feminino de

acordo com o registro

0 - masculino

− 1- feminino

Idadea

Idade em anos no início da TARV.

Foi obtida na data de início de cada

TARV, 1ª, 2ª e 3ª.

0 - ≤ 35 Valor da mediana da distribuição de

idade 1 - > 35

Estado civil

Estado civil de acordo com o

registro: solteiro, casado, divorciado,

viúvo, em união estável

0 - casado/união estável Aproximação de "ter parceiro fixo" x

"não ter parceiro fixo" 1- solteiro/divorciado/

viúvo

Município de

residência

Município de residência cadastrado.

Região metropolitana (RMBH) de

acordo com IBGE,2015b

0 - RMBH/interior MG Variável binária: residir em BH x não

residir em BH 1 - Belo Horizonte

Ocupação Profissão de acordo com o registro.

Campo aberto

0 - trabalho assalariado

Variável binária: estar ou não com

trabalho assalariadoc

1 - sem trabalho

assalariado

Características relacionadas à utilização de serviços de saúde

Variável Definição da variável Codificação e categorias Justificativa da categorização

Centro de

acompanhamento

Centro de acompanhamento: CTR

Orestes Diniz, HEM ou CTA

Sagrada Família

0 - CTR Orestes Diniz Ser ou não acompanhado no CTR

Orestes Diniz 1 - HEM/CTA

Média de

consultas por ano

Variável calculada de acordo com

total de consultas/tempo total de

acompanhamento (anos)

0 - ≤ 4 Valores de acordo com o

recomendado no guia Qualiaids, 2008d 1- > 4

Possuir plano de

saúde

Paciente possui registro de ter plano

de saúde privado

0- Não

─ 1- Sim

(Continua)

45

Quadro 4 (Continuação)

Características clínicas

Variável Definição da variável Codificação e categorias Justificativa da categorização

LT-CD4+ no

início da

TARV

Nível sérico de linfócitos T-CD4+

em mm3/mL no início da TARV

1 - > 350 Variável codificada como dummy.

Parâmetro: valores de referência para

momento de início da TARV

(BRASIL, 2004)e

2 - 200 - 350

3 - < 200

Carga viral

no início da

TARV

Carga viral em cópias/mL no

início da TARV

0 - ≤ 100.000 Valor acima de 100.000 considerado

elevadof, definidor para início de

TARV em assintomáticos (BRASIL,

2004)

1 - > 100.000

Carga viral

no início da

2ª TARV

Carga viral em cópias/mL no

início da 2ª TARV

0 - < 80 Valor abaixo de 80 cópias/mL

considerado indetectável na época do

estudog (BRASIL, 2004)

1 - ≥ 80

Carga viral

no início da

3ª TARV

Carga viral em cópias/mL no

início da 3ª TARV

0 - < 80 Valor abaixo de 80 cópias/mL

considerado indetectável na época do

estudog (BRASIL, 2004)

1 - ≥ 80

Diagnósticos

definidores

de aids

Registro de pelo menos uma

doença ou sinal clínico definidor

de aids - campo aberto.

0 - Não Diagnóstico descrito pelo médico no

prontuário do paciente 1 - Sim

Início tardio

da TARV

Variável que combina ter

contagem de LT-CD4+ < 200

mm3/mL ou ter algum diagnóstico

definidor de aids (CDC, 2008)h

0 - Não Paciente apresentou registro de pelo

menos um dos desfechos 1 - Sim

Características relacionadas à TARV

Variável Definição da variável Codificação e categorias Justificativa da categorização

Primeira

TARV

Primeiro esquema antirretroviral

prescrito

0 - 2 ITRN + ITRNN Classificação de acordo com classes

terapêuticas dos antirretrovirais 1 - 2 ITRN + IPi

2 - AZT ou AZT/3TC

Durabilidade

da 1ª TARV

Duração em dias da primeira

TARV até sua modificação

0 - ≤ 365 Classificação de acordo com a

evidência de que o primeiro ano é o de

maior probabilidade de ocorrência de

modificações da TARV (JARRIN,

2013)j

1 - > 365

Segunda

TARV

Segundo esquema antirretroviral

prescrito após 1ª modificação da

TARV

0 - 2 ITRN + ITRNN Classificação de acordo com classes

terapêuticas dos antirretrovirais 1 - 2 ITRN + IP

Durabilidade

da 2ª TARV

Duração em dias da segunda

TARV até sua modificação

0 - ≤ 365 Classificação de acordo com a

evidência de que o 1º ano é o de maior

probabilidade de ocorrência de

modificações da TARV (JARRIN,

2013)

1 - > 365

(Continua)

46

Quadro 4 (Continuação)

Características relacionadas à TARV

Variável Definição da variável Codificação e categorias Justificativa da categorização

Terceira

TARV

Terceiro esquema antirretroviral

prescrito após 2ª modificação da

TARV

0 - 2 ITRN + ITRNN Classificação de acordo com classes

terapêuticas dos antirretrovirais 1 - 2 ITRN + IP

aIdades consideradas no início de cada esquema antirretroviral, 1º, 2º e 3º. Serão denominadas "Idade 1", "Idade 2" e

"Idade 3" para início da TARV 1, 2 e 3, respectivamente.

b BRASIL. Arranjos Populacionais e Concentrações Urbanas do Brasil. Ministério do Planejamento Orçamento e

Gestão, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro, 2015.

cNa categoria "não ter trabalho assalariado" foram incluídos os desempregados, aposentados e trabalhadores do lar

dGuia Qualiaids recomenda um intervalo máximo de 90 dias entre cada consulta no início da TARV. Fonte:

BRASIL. Qualiaids. Avaliação e Monitoramento da Qualidade da Assistência Ambulatorial em AIDS no SUS.

Brasília, 2008. eValores de LT-CD4+ eram parâmetros definidores para momento de início da TARV. Fonte: BRASIL. Ministério

da Saúde. Coordenação Nacional de DST/AIDS. Recomendações para Terapia Antirretroviral em Adultos e

Adolescentes Infectados pelo HIV. Brasília, 2004. fValor de 100.000 cópias/mL considerado elevado de acordo com Recomendações para Terapia Anti-Retroviral em

Adultos do Ministério da Saúde. Era recomendado início da TARV com valores de carga viral acima de 100.000

cópias/mL mesmo em indivíduos assintomáticos. gAo longo do período do estudo o valor de carga viral indetectável variou de 80 para 50 cópias/mL e optou-se por

adotar o valor mais elevado. hCDC. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Revised Surveillance Case Definitions for

HIV Infection Among Adults, Adolescents, and Children Aged <18 Months and for HIV Infection and AIDS Among

Children Aged 18 Months to <13 Years. Morbidity and mortality Weekly Report, v. 57, n.10, Dec. 2008.

iEsquemas contendo IP podem ser combinados ou não com ritonavir.

jFonte: JARRIN,I. et al. Persistence of novel first-line antiretroviral regimens in a cohort of HIV-positive subjects,

CoRIS 2008-2010. Antivir Ther, v.8, n.2, p. 161-70, 2013.

5.5 Análise estatística de dados

5.5.1 Análises descritivas

As Populações 1, 2 e 3 foram descritas de acordo com a distribuição de

frequência das variáveis sociodemográficas, relacionadas à utilização de serviços de

saúde, clínicas e relacionadas à TARV. As variáveis quantitativas idade, número de

consultas por ano, contagem de linfócitos T-CD4+, carga viral, durabilidades da 1ª e 2ª

TARV também foram descritas por meio das medidas de tendência central, valores

mínimo, máximo e respectivos valores de desvio-padrão. Para comparação de

frequências na população foi utilizado o teste de qui-quadrado de Pearson. O nível de

significância considerado foi de 0,05. O desfecho foi descrito por meio da frequência de

modificações nas diferentes categorias das populações e da densidade incidência em

pessoas-mês. Foi calculada a densidade de incidência de pacientes que modificaram a

47

TARV dividida pelo somatório de tempo de contribuição de cada um. A densidade de

modificações em cada ano foi calculada pela divisão do número de modificações no ano

(o paciente que teve mais de uma modificação no ano foi contabilizado mais de uma

vez) pelo somatório de tempos de contribuição em cada ano. Também foram descritos

os motivos das modificações da TARV nas diferentes populações por meio de suas

frequências.

5.5.2 Durabilidade do primeiro, segundo e terceiro esquema antirretroviral

prescrito

Para descrever as durabilidades dos esquemas antirretrovirais e a probabilidade

de modificação da TARV nos diferentes estratos, das três populações, foram utilizadas

curvas de Kaplan-Meier. Foi considerado "falha", o paciente que apresentou registro de

modificação da TARV (primeira modificação da TARV na População 1, segunda

modificação da TARV na População 2 e terceira modificação da TARV na População

3). Pacientes que não apresentaram nenhuma modificação da TARV, perdas de

acompanhamento e óbitos foram consideradas censuras. O tempo até a falha foi

definido da seguinte maneira: a) População 1 - intervalo, em dias, entre a primeira

prescrição de TARV e a data da primeira modificação; b) População 2 - intervalo, em

dias, entre o início do segundo esquema antirretroviral e a segunda modificação; c)

População 3 - intervalo, em dias, entre o início do terceiro esquema antirretroviral e a

terceira modificação. O tempo até a censura foi o período (em dias) entre a primeira

prescrição e a data registrada da última consulta no serviço ou óbito. O teste de log-rank

foi realizado para comparar as distribuições de probabilidade de modificação da TARV

nos diferentes estrados de cada população. Foi adotado nível de significância de 0,05.

5.5.3 Fatores associados à modificação da TARV

5.5.3.1 Fatores associados à modificação da TARV inicial no primeiro ano de

tratamento

Para verificar a existência e a magnitude da associação entre as variáveis de

exposição e a ocorrência de modificação da TARV inicial no primeiro ano de

tratamento foi realizada análise de regressão logística. A magnitude das associações foi

48

estimada pela medida de Odds Ratio (OR), com intervalo de confiança (IC) de 95%,

por meio da análise de regressão logística univariada. As variáveis com valor-p ≤ 0,20

na análise univariada e variáveis de relevância epidemiológica foram incluídas na

análise de regressão logística multivariada. Permaneceram no modelo final variáveis

que apresentaram valor-p inferior a 0,05 e variáveis de relevância epidemiológica. O

teste de Hosmer e Lemeshow (1980) foi utilizado para verificar adequação do ajuste do

modelo (HOSMER; LEMESHOW, 1980).

5.5.3.2 Fatores associados à primeira, segunda e terceira modificações da TARV

Para análise de fatores associados à primeira, segunda e terceira modificações da

TARV, foi utilizado o modelo de riscos proporcionais de Cox (CARVALHO et al.,

2011). A magnitude das associações entre as variáveis de exposição e a primeira,

segunda e terceira modificações da TARV foi estimada pelo Hazard Ratio (HR) com IC

de 95% na para análise univariada e multivariada. Foram incluídas na análise

multivariada as variáveis de exposição que apresentarem valor-p ≤ 0,20 na análise

univariada e variáveis de relevância epidemiológica. Permaneceram no modelo final as

variáveis com valor-p menor que 0,05 e de relevância epidemiológica. Para verificação

da proporcionalidade de riscos foi realizada análise de resíduos de Shoenfeld

(CARVALHO, et al., 2011). Todas as análises foram realizadas utilizando o software

Stata versão 12.0 (College Station, USA).

6 RESULTADOS

6.1 Recrutamento das populações de estudo e disponibilidade de dados

A amostra final do estudo de coorte foi formada por 247 pacientes e todos

compuseram a População 1, para o estudo das modificações da TARV. Nesta

população, 119 (48,2%) pacientes apresentaram pelo menos uma modificação da

TARV, formando a População 2, elegível para análise de durabilidade do segundo

esquema antirretroviral e fatores associados à segunda modificação da TARV. A

População 3 foi composta por 51 (20,6%) pacientes, que apresentaram uma segunda

modificação da TARV. A média do tempo de acompanhamento foi de 45,2 (±13,4)

49

meses e a maioria dos pacientes (53,8%) foi acompanhada por mais de 48 meses. O

Gráfico 1 representa o histograma do tempo de acompanhamento da População 1.

GRÁFICO 1 - Histograma do tempo de acompanhamento em meses para a População 1

Quanto à disponibilidade dos dados, a variável escolaridade foi coletada, mas

não foi incluída na análise, pois 74,9% dos indivíduos não possuíam registro desta

informação. Com relação aos exames laboratoriais, 15,0% do total de pacientes não

possuíam registro de exame de contagem de linfócitos T-CD4+ e 31,6% não tinham

registro de exame de carga viral no início da TARV. Quanto aos motivos de

modificação da primeira TARV, não havia registro de motivo em 34 (28,6%) das 119

modificações. Para os resultados de exames, o CTA Sagrada Família foi o que

apresentou maior percentual de exames dentre o total de pacientes acompanhados no

início da TARV. Nas Populações 2 e 3, os percentuais de exames disponíveis

mantiveram valores próximos dentre os pacientes atendidos no Hospital Eduardo de

Menezes. Ao contrário, no CTR Orestes Diniz e CTA Sagrada Família, os percentuais

de exames disponíveis decresceram nas Populações 2 e 3. Na Tabela 1 estão descritos

os percentuais de dados obtidos de exames e motivos de modificação para cada centro

participante do estudo.

50

TABELA 1 - Disponibilidade de exames e registro de motivos de modificação da TARV nos três centros

de referência estudados

Local Nº de

pacientes

Total de

mod. da

TARV *

Dados disponíveis (%)

LT-CD4+ Carga viral Motivos mod. da

TARV**

População 1

CTR Orestes Diniz 204 99 171 (83,8) 132 (64,7) 173 (84,8)

CTA Sagrada Família 19 7 18 (94,7) 19 (100,0) 17 (89,5)

HEM 24 13 21 (87,5) 18 (75,0) 23 (95,8)

Total 247 119 210 (85,0) 169 (68,4) 85 (71,4)

População 2

CTR Orestes Diniz 99 40 62 (62,6) 47 (47,5) 34 (66,7)

CTA Sagrada Família 7 5 4 (57,1) 5 (71,4) 4 (80,0)

HEM 13 6 11 (84,6) 12 (92,3) 4 (66,7)

Total 119 51 77 (64,7) 64 (53,5) 42 (82,3)

População 3

CTR Orestes Diniz 40 12 26 (65,0) 24 (60,0) 10 (83,3)

CTA Sagrada Família 5 1 2 (40,0) 2 (40,0) 1 (100,0)

HEM 6 3 5 (83,3) 5 (83,3) 3 (100,0)

Total 51 16 33 (64,7) 31 (60,8) 14 (87,5)

CTR: Centro de Treinamento e Referência; CTA: Centro de Testagem e Aconselhamento; HEM: Hospital Eduardo de

Menezes; LT-CD+: Linfócitos T-CD4+; *Total de mod. da TARV: Total de modificações da Terapia Antirretroviral;

**Motivos mod. da TARV: motivos de modificações da Terapia Antirretroviral, percentuais calculados a partir do

total de modificações da TARV em cada local.

6.2 Análises descritivas

6.2.1 Descrição das Populações 1, 2 e 3

Nas três populações houve predominância de pacientes do sexo masculino, com

idade inferior a 35 anos, sem parceiro fixo, residentes em Belo Horizonte, assalariados.

A maioria dos pacientes foi acompanhada no CTR Orestes Diniz, e nas três populações,

a proporção de pacientes com mais de quatro consultas por ano foi muito baixa (abaixo

de 25%). A maioria dos pacientes não possuía plano de saúde privado e a proporção de

segunda e terceira modificação da TARV foi maior dentre estes pacientes. Quanto às

variáveis clínicas e laboratoriais, na População 1, a maioria dos pacientes iniciou a

TARV com contagem de linfócitos T-CD4+ abaixo de 200 células/mm3, ao passo que

nas Populações 2 e 3 foi maior a proporção de pacientes que iniciou segunda e terceira

TARV com linfócitos T-CD4+ acima de 350 células/mm3. Houve uma menor

51

frequência de pacientes com carga viral elevada (acima de 100.000 cópias/mL) nas três

populações. A proporção de pacientes com carga viral indetectável cresceu da

População 1 para a População 2 e reduziu da População 2 para a População 3. Uma

maior porcentagem de pacientes na População 1 iniciou a TARV com esquemas

contendo ITRNN. Já nas Populações 2 e 3, os segundos e terceiros esquemas continham

IP, predominantemente. Os esquemas contendo IP foram sempre mais modificados nas

três populações. Para a maioria da População 2, o primeiro esquema durou menos de

um ano, e para a maioria da População 3, o segundo esquema durou mais de um ano. A

Tabela 2 apresenta a distribuição de frequência das variáveis de exposição nas três

populações. A Tabela 3 mostra a frequência de ocorrência de modificação da TARV nos

diferentes estratos das três populações e o valor de p para comparação dessas

frequências no teste do qui-quadrado de Pearson. Na População 1 foram encontradas

diferenças estatisticamente significativas entre a frequência de modificação da 1ª TARV

em pacientes com idade igual ou inferior a 35 anos e em pacientes com idade maior que

35 anos. A diferença da frequência de 1ª modificação da TARV também foi

estatisticamente significativa entre os pacientes que iniciaram com as diferentes classes

de esquemas antirretrovirais. Na População 2, a frequência de modificação da 2ª TARV

em pacientes com carga viral elevada (acima de 100.000 cópias/mL) foi diferente da

frequência em pacientes que iniciaram 2ª TARV com carga viral abaixo de 100.000

cópias/mL, sendo esta diferença estatisticamente significativa. Esta diferença também

foi estatisticamente significativa quando comparados pacientes em que a 1ª TARV

durou um ano ou menos com aqueles em que a TARV durou mais de um ano. Na

População 3 não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas dentre as

frequências de modificação da 3ª TARV. Com relação às medidas de tendência central,

houve aumento de média de linfócitos T-CD4+ ao longo das populações. Com relação à

carga viral observou-se grande redução do valor da média da População 1 para a

População 2, e pequeno aumento da População 2 para 3. A Tabela 4 mostra a estatística

descritiva por meio da variabilidade e medidas de tendência central das variáveis de

exposição, nas três populações.

52

TABELA 2 - Distribuição de frequência das variáveis de exposição nas Populações 1, 2 e 3

Variáveis População 1 (n=247) População 2 (n=119) População 3 (n=51)

n (% ) n (%) n (%)

Sociodemográficas

Sexo

Feminino 98 (39,7) 53 (44,5) 21 (41,2)

Masculino 149 (60,3) 66 (55,5) 30 (58,8)

Idade no início do tratamento1

≤ 35 124 (50,2) 61 (51,3) 27 (52,9)

> 35 123 (49,8) 58 (48,7) 24 (47,1)

Estado civil

Casado/União estável 85 (34,4) 44 (37,0) 21 (41,2)

Solteiro/Divorciado/Viúvo 147 (59,5) 67 (56,3) 25 (49,0)

Ignorado 15 (6,1) 8 (6,7) 5 (9,8)

Município de residência

RMBH/Interior MG 93 (37,6) 45 (37,8) 23 (45,1)

Belo Horizonte 154 (62,4) 74 (62,2) 28 (54,9)

Ocupação

Assalariado 158 (64,0) 77 (64,7) 30 (58,8)

Desempregado/Aposentado/Do lar 72 (29,1) 34 (28,6) 18 (35,3)

Ignorado 17 (6,9) 8 (6,7) 3 (5,9)

Relacionadas ao serviço de saúde

Local de acompanhamento

CTR Orestes Diniz 204 (82,6) 99 (83,2) 40 (78,4)

HEM/CTA Sagrada Família 43 (17,4) 20 (16,8) 11 (21,6)

Média de consultas/ano

≤ 4 202 (81,8) 94 (79,0) 41 (80,4)

> 4 45 (18,2) 25 (21,0) 10 (19,6)

Possuir plano de saúde privado

Não 92 (37,2) 46 (38,6) 22 (43,1)

Sim 8 (3,2) 5 (4,2) 1 (2,0)

Ignorado 147 (59,6) 68 (57,2) 28 (54,9)

Variáveis clínicas e laboratoriais2

LT - CD4+ no início da TARV (céls/mm3)

>350 31 (12,5) 38 (40,0) 16 (31,4)

200-350 57 (23,1) 16 (13,4) 7 (13,7)

< 200 122 (49,4) 23 (19,3) 10 (19,6)

Ignorado 37 (15,0) 42 (27,3) 18 (35,3)

Carga viral início TARV (cópias/mL)

≤ 100.000 113 (45,7) 57 (47,9) 27 (52,9)

> 100.000 56 (22,7) 7 (5,9) 4 (7,8)

Ignorado 78 (31,6) 55 (46,2) 20 (39,3)

(Continua)

53

Variáveis População 1 (n=247) População 2 (n=119) População 3 (n=51)

n (%) n (%) n (%)

Variáveis clínicas e laboratoriais2

Carga viral início TARV (cópias/mL)

< 80 5 (2,0) 22 (18,5) 3 (5,9)

≥ 80 164 (66,4) 42 (35,3) 29 (56,9)

Ignorado 78 (31,6) 55 (46,5) 19 (37,2)

Diagnóstico relacionado à aids

Não 100 (40,5) 113 (42,5) −

Sim 121 (49,0) 6 (50,0) −

Ignorado 26 (10,5) − −

Início tardio da TARV

Não 45 (18,2) 19 (16,0) 8 (15,7)

Sim 173 (70,0) 84 (70,6) 38 (74,5)

Ignorado 29 (11,8) 16 (13,4) 5 (9,8)

Relacionadas à TARV

Primeira TARV

2 ITRN + ITRNN 130 (52,6) 42 (35,3) 18 (35,3)

2 ITRN + IP 106 (42,9) 66 (55,5) 25 (49,0)

Mono/Dupla terapia com AZT 11 (4,5) 11 (9,2) 8 (15,7)

Durabilidade 1ª TARV (dias)

≤ 365 − 64 (53,8) 34 (66,7)

> 365 − 55 (46.2) 17 (33,3)

Segunda TARV

2 ITRN + ITRNN − 53 (44,5) 22 (43,1)

2 ITRN + IP − 65 (54,6) 28 (54,9)

Ignorado − 1 (0,9) 1 (2,0)

Durabilidade 2ª TARV (dias)

≤ 365 − − 23 (45,1)

> 365 − − 28 (54,9)

Terceira TARV

2 ITRN + ITRNN − − 21 (41,2)

2 ITRN + IP − − 28 (54,9)

Ignorado − − 2 (3,9)

RMBH: Região Metropolitana de Belo Horizonte; CTR: Centro de Treinamento e Referência; CTA: Centro de Testagem e

Aconselhamento; LT-CD+: linfócitos T-CD4+; TARV: Terapia Antirretroviral; ITRN: inibidor de transcriptase reversa análogo de

nucleosídeo; ITRNN: inibidor de transcriptase reversa não análogo de nucleosídeo; IP: inibidor de protease; AZT: zidovudina.

1Idade no início de cada esquema de TARV.

2Variáveis clínicas e laboratoriais no início de cada esquema de TARV.

TABELA 2 (Continuação)

54

TABELA 3 - Ocorrência de modificações da terapia antirretroviral nas Populações 1, 2 e 3

Variáveis

1ª Modificação da

TARV (n=247)

2ª Modificação da

TARV (n=119)

3ª Modificação da

TARV (n=51)

n*(%) Valor-p n (%) Valor-p n*(%) Valor-p

Sociodemográficas

Sexo 0,13 0,52 0,39

Feminino 53 (54,1) 21 (39,6) 8 (38,1)

Masculino 66 (44,3) 30 (45,4) 8 (26,7)

Idade no início do tratamento1

0,03 0,25 0,78

≤ 35 67 (54,0) 29 (48,3) 8 (29,7)

> 35 52 (42,3) 22 (37,9) 8 (33,3)

Estado civil 0,36 0,28 0,92

Casado/União estável 44 (51,8) 21 (47,7) 7 (33,3)

Solteiro/Divorciado/Viúvo 67 (45,6) 25 (37,3) 8 (32,0)

Município de residência 0,93 0,16 0,63

RMBH/Interior MG 45 (48,9) 23 (51,1) 8 (34,8)

Belo Horizonte 74 (48,4) 28 (37,8) 8 (28,6)

Ocupação 0,83 0,17 0,38

Assalariado 77 (48,7) 30 (39,0) 8 (26,7)

Desempregado/Aposentado/Do lar 34 (47,2) 18 (52,9) 7 (38,9)

Relacionadas ao serviço de saúde

Local de acompanhamento 0,81 0,23 0,69

CTR Orestes Diniz 99 (48,5) 40 (40,4) 12 (30,0)

HEM/CTA Sagrada Família 20 (46,5) 11 (55,0) 4 (36,4)

Média de consultas/ano 0,35 0,83 0,16

≤ 4 93 (46,7) 41 (44,1) 11 (26,8)

> 4 24 (54,5) 10 (41,7) 5 (50,0)

Possuir plano de saúde privado 0,50 0,23 0,41

Não 46 (50,0) 22 (47,8) 9 (40,9)

Sim 5 (62,5) 1 (20,0) 0 (0,0)

Variáveis clínicas e laboratoriais2

LT - CD4+ no início da TARV (céls/mm3) 0,54 0,52 0,86

>350 13 (41,9) 15 (39,5) 5 (31,2)

200-350 25 (43,9) 9 (56,2) 2 (28,6)

< 200 62 (50,8) 10 (43,5) 4 (40,0)

Carga viral início TARV (cópias/mL) 0,79 0,05 0,55

≤ 100.000 52 (46,0) 27 (47,4) 11 (40,7)

> 100.000 27 (48,2) 6 (85,7) 1 (25,0)

Carga viral início TARV (cópias/mL) 0,22 0,08 0,93

< 80 1 (20,0) 8 (36,4) 1 (33,3)

≥ 80 78 (47,6) 25 (59,5) 9 (31,0)

Diagnóstico relacionado à aids 0,26 0,72

Não 42 (42,0) 48 (42,5) −

Sim 60 (49,6) 3 (50,0) −

(Continua)

55

TABELA 3 (Continuação)

Variáveis

1ª Modificação da

TARV (n=247)

2ª Modificação da

TARV (n=119)

3ª Modificação da

TARV (n=51)

n*(%) Valor-p n*(%) Valor-p n*(%) Valor-p

Variáveis clínicas e laboratoriais2

Início tardio da TARV 0,45 0,80 0,74

Não 19 (42,2) 8 (42,1) 3 (37,5)

Sim 84 (48,5) 38 (45,2) 12 (31,6)

Relacionadas à TARV

Primeira TARV 0,00 0,10 0,38

2 ITRN + ITRNN 42 (32,2) 18 (42,9) 6 (33,3)

2 ITRN + IP 66 (62,3) 25 (37,9) 6 (24,0)

Mono/Dupla terapia com AZT 11 (100,0) 8 (72,7) 4 (50,0)

Durabilidade 1ª TARV (dias)

0,02 0,03

≤ 365 − 34 (53,1) 14 (41,2)

> 365 − 17 (30,9) 2 (11,8)

Segunda TARV

0,87 0,52

2 ITRN + ITRNN − 22 (41,5) 6 (27,3)

2 ITRN + IP − 28 (43,1) 10 (35,7)

Durabilidade 2ª TARV (dias)

0,63

≤ 365 − − 8 (34,8)

> 365 − − 8 (28,6)

Terceira TARV

0,13

2 ITRN + ITRNN − − 4 (19,0)

2 ITRN + IP − − 11 (39,3)

RMBH: Região Metropolitana de Belo Horizonte; CTR: Centro de Treinamento e Referência; CTA: Centro de Testagem e

Aconselhamento; LT-CD+: linfócitos T-CD4+; TARV: Terapia Antirretroviral; ITRN: inibidor de transcriptase reversa análogo de

nucleosídeo; ITRNN: inibidor de transcriptase reversa não análogo de nucleosídeo; IP: inibidor de protease; AZT: zidovudina.

1Idade no início de cada esquema de TARV.

2Variáveis clínicas e laboratoriais no início de cada esquema de TARV.

56

TABELA 4 - Distribuição das medidas de tendência central e de variabilidade nas Populações 1, 2 e 3

Variável n (%) Min. Máx. Média Mediana DP

População 1 (n=247)

Idade (anos) 247 (100,0) 18,7 66,8 36,8 34,9 9,8

Nº de consultas 247 (100,0) 1,0 72,0 11,2 11,0 6,0

Linfócitos T-C4+ (mm3/mL) 210 (85,0) 1,0 730,0 193,6 171,0 143,1

Carga viral (cópias/mL) 169 (68,4) 50,0 2.100.000 156.559,2 33.000 301.856,3

População 2 (n=119)

Idade (anos) 118 (99,2) 21,7 69,4 37,3 34,9 9,3

Nº de consultas 119 (100,0) 1,0 72,0 11,9 11,0 7,4

Linfócitos T-C4+ (mm3/mL) 77 (64,7) 8,0 2234,0 374,7 334,0 316,8

Carga viral (cópias/mL) 64 (53,8) 49,0 660.000 37.914,4 203,0 99.540,4

Durabilidade esquema 1 (dias) 119 (100,0) 1,0 1825,0 470,5 322,0 485,6

População 3 (n=51)

Idade (anos) 51 (100,0) 22,3 68,9 36,3 34,5 8,9

Nº de consultas 51 (100,0) 2,0 28,0 12,3 12,0 5,2

Linfócitos T-C4+ (mm3/mL) 33 (64,7) 20,0 858,0 374,9 350,0 222,4

Carga viral (cópias/mL) 31 (56,4) 49,0 182537,0 30833,7 9000,0 47586,2

Durabilidade esquema 2 (dias) 51 (100,0) 12,0 1346,0 472,3 402,0 357,6

Min: valor mínimo; Max: valor máximo; DP: desvio padrão

*Valores missing foram desconsiderados

6.2.2 Caracterização das modificações da TARV

Ao todo ocorreram 187 modificações da TARV em 119 pacientes. O principal motivo de

modificação da TARV nas três populações foram reações adversas aos antirretrovirais, seguido

por falha terapêutica. 51 pacientes modificaram a TARV pelo menos duas vezes e 16 pacientes

modificaram a TARV pelo menos três vezes. Um paciente apresentou cinco modificações da

TARV. O número de pacientes e quantidade de modificações apresentadas ao longo do

acompanhamento estão apresentadas na Tabela 5 e os motivos das modificações da primeira,

segunda e terceira TARV estão apresentadas no Gráfico 2.

TABELA 5 - Número de modificações da TARV por paciente

Nº de modificações Total de pacientes % % acumulado

Nenhuma 128 51,8 51,8

1 68 27,5 79,3

2 35 14,2 93,5

3 15 6,1 99,6

4 0 0,0 99,6

5 1 0,4 100,0

Total 247 100,0 −

57

GRÁFICO 2 - Motivos de modificação da primeira, segunda e terceira TARV

Três esquemas de TARV inicial corresponderam a mais de 50% dos esquemas prescritos

para a População 1: AZT/3TC+EFV; AZT/3TC+NFV e AZT/3TC+NVP (em ordem decrescente

de frequência de prescrição). Como segundo esquema, a combinação contendo AZT/3TC+NFV

foi a mais prescrita e como terceiro esquema, a combinação AZT/3TC+EFV foi a mais prescrita.

O terceiro esquema foi o que apresentou maior variedade de combinações dentre as prescritas:

26 diferentes combinações para 51 pacientes. Como segundo esquema foram prescritas 22

combinações diferentes para os 119 pacientes e como TARV inicial, 25 combinações diferentes

foram prescritas, para os 247 pacientes. No Gráfico 3 estão apresentados os cinco esquemas mais

prescritos e a tendência da frequência de prescrição nas três populações.

GRÁFICO 3 - Tendência de prescrição de esquemas antirretrovirais nas Populações 1, 2 e 3

Pop. 1 - População 1; Pop. 2 - População 2; Pop. 3 - População 3

1ª modificação

da TARV

2ª modificação

da TARV

3ª modificação

da TARV

58

Nas três populações, a maioria das modificações foi de apenas um dos

medicamentos do esquema. Na População 1, dos 119 esquemas modificados, em 74

(62,2%) apenas um medicamento foi trocado. Na População 2, em 30 dos 51 esquemas

modificados (58,8%) apenas um medicamento foi modificado. Na população 3, foram

em 11 dos 16 (68,7%) esquemas em que apenas um medicamento foi trocado. O AZT

foi o medicamento mais modificado nas Populações 1 e 2, seguido pelo EFV. Na

População 3, o LPV foi o medicamento mais modificado. A Tabela 6 mostra o número

de modificações de cada medicamento nas três populações estudadas (medicamentos

que foram retirados e substituídos por outros). Em todas as populações, o principal

motivo de modificação da TARV foram as reações adversas, seguido por falha

terapêutica. Nas três populações, os esquemas contendo IP foram os mais modificados

por reações adversas do que por falha terapêutica. Na População 3, todos os esquemas

contendo ITRNN que foram modificados foi devido à reações adversas, não sendo

verificadas modificações por outro motivo por esta classe, nesta População. A Tabela 7

mostra os motivos de modificações por tipo de esquema, nas três populações.

TABELA 6 - Número de modificações por medicamento nas Populações 1, 2 e 3

Medicamento nº de modificações

População 1 População 2 População 3

Inibidores da Transcriptase Reversa Análogos de Nucleosídeo

AZT 32 13 2

ddI 9 2 2

3TC 7 3 1

d4T 4 6 2

TDF 0 0 1

Inibidores da Transcriptase Reversa Não Análogos de Nucleosídeo

EFV 18 12 1

NVP 16 6 0

Inibidores de Protease

NFV 28 7 0

IDV 20 7 2

LPV 1 3 6

ATV 0 0 2

AZT: zidovudina; 3TC: lamivudina; ddI: didanosina; d4T: estavudina; TDF: tenofovir;

EFV: efavirenz; NVP: nevirapina; IDV: indinavir; LPV: lopinavir; ATV: atazanavir

59

TABELA 7 - Motivos de modificação da TARV por tipo de esquema, nas Populações 1, 2 e 3

Esquemas de TARV

modificados

Reações adversas Falha terapêutica Baixa adesão Gravidez Outros Total

n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)

População 1

2 ITRN + ITRNN 14 (46,7) 6 (20,0) 5 (16,7) 0 (0,0) 5 (16,7) 30

2 ITRN + IP 31 (65,9) 10 (21,3) 5 (10,6) 0 (0,0) 1 (21,3) 47

AZT ou AZT/3TC 0 (0,0) 2 (25,0) 0 (0,0) 3 (37,5) 3 (37,5) 8

População 2

2 ITRN + ITRNN 5 (31,2) 7 (43,7) 2 (12,5) 2 (12,5) 0 (0,0) 16

2 ITRN + IP 15 (62,5) 5 (20,8) 0 (0,0) 1 (4,2) 3 (12,5) 24

População 3

2 ITRN + ITRNN 3 (100,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 3

2 ITRN + IP 8 (80,0) 2 (20,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 10

ITRN: inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeo; ITRNN: inibidores da transcriptase reversa não análogos de

nucleosídeo; IP: inibidor de protease; AZT: zidovudina; 3TC: lamivudina

Com relação aos medicamentos modificados e medicamentos novos prescritos

na População 1, a maior proporção de modificações foi de AZT para d4T (17

modificações). Na População 2, as maiores frequências de modificações foram também

de AZT para d4T (5 modificações) e de AZT para TDF (5 modificações). Na População

3, as 18 modificações se distribuíram em 9 tipos diferentes. A Tabela 9 apresenta o

perfil de modificações e as respectivas quantidades em que cada uma ocorreu.

60

TABELA 8 - Medicamentos substituídos nas Populações 1, 2 e 3

Medicamentos População 1 População 2 População 3

AZT - d4T 17 5 2

AZT - TDF 7 5 0

AZT/3TC - d4T+ ddI 5 1 0

d4T - AZT 5 3 0

d4T - TDF 0 2 1

d4T+ ddI - AZT/3TC 2 0 1

d4T + ddI - TDF + 3TC 0 2 0

ddI - 3TC 12 1 1

EFV - NVP 3 1 2

EFV - LPV 5 5 0

EFV - ATV 3 3 0

EFV - IDV 1 2 0

NVP - EFV 7 3 0

NFV - LPV 11 2 0

NFV - ATV 2 2 0

NFV - IDV 5 0 0

NFV - EFV 4 0 0

NFV - NVP 2 2 0

IDV - EFV 8 3 2

IDV - NFV 4 0 0

IDV - NVP 4 0 0

IDV - LPV 1 2 0

LPV - EFV 1 1 2

LPV - ATV 2 2 3

LPV - IDV 0 0 1

ATV - LPV 0 1 2

TDF - AZT 0 0 1

Acréscimo 8 0 0

Outros 22 11 0

Total 141 58 18

AZT: zidovudina; d4T: estavudina; TDF: tenofovir; 3TC: lamivudina; ddI:

didanosina; EFV: efavirenz; NVP: nevirapina; LPV: lopinavir; ATV: atazanavir;

IDV: indinavir;

Considerando os 119 pacientes que modificaram a TARV pelo menos uma vez,

a incidência acumulada de modificações foi de 48,2%. A densidade de incidência foi de

1,27 pacientes/100 pessoas-mês. Para a primeira modificação, a maior taxa de

incidência de modificações foi no primeiro ano de tratamento. Já para a segunda, a

61

maior taxa de incidência foi terceiro ano de tratamento. Taxa de incidência da terceira,

quarta e quinta modificações foram maiores no quarto ano de tratamento (Tabela 9).

TABELA 9 - Número de modificações da 1ª, 2ª, 3ª, 4ª e 5ª TARV por tempo de tratamento em anos

Ano de tratamento Modificações da TARV (%)

1ª 2ª 3ª 4ª 5ª

1º 64 (53,8) 8 (15,7) 1 (6,2) 0 (0,0) 0 (0,0)

2º 21 (17,6) 11 (21,6) 5 (31,2) 0 (0,0) 0 (0,0)

3º 13 (10,9) 17 (33,3) 2 (12,5) 0 (0,0) 0 (0,0)

4º 15 (12,6) 12 (23,5) 6 (37,5) 1 (100,0) 1 (100,0)

5º 6 (5,0) 3 (5,9) 2 (12,5) 0 (0,0) 0 (0,0)

Total 119 51 16 1 1

TARV: terapia antirretroviral

As densidades de incidência de modificações da TARV no primeiro, segundo,

terceiro, quarto e quinto ano, foram de 2,33; 1,33; 1,30; 2,20 e 1,62 modificações/100

pessoas-mês, respectivamente. Observou-se maior densidade de incidência de

modificações da TARV devido à reações adversas no primeiro ano de tratamento. O

Gráfico 4 mostra as tendências de modificações da TARV ao longo dos anos.

GRÁFICO 4 - Tendência de modificações da TARV em cinco anos

62

6.3 Durabilidade da primeira, segunda e terceira TARV

O tempo mediano livre de modificação da TARV, que representa a durabilidade

do esquema antirretroviral, foi maior na População 1 (1510 dias - 50,3 meses)

comparada à segunda e terceira modificação da TARV. Dentre os pacientes que

modificaram a TARV inicial, o tempo mediano foi 322 dias (10,7 meses). O tempo

mediano livre de modificação da segunda TARV foi menor na População 2 (968 dias -

32,3 meses) e aumentou na População 3 para a terceira TARV (1077 dias - 35,9 meses).

Dentre os que modificaram a TARV pela segunda vez, o tempo mediano foi de 402 dias

(13,4 meses) e dentre os que modificaram a TARV pela terceira vez, este tempo foi de

153 dias (5,1 meses).

Dentre os esquemas antirretrovirais, os esquemas contendo ITRNN

apresentaram maior durabilidade nas três populações. Na População 1, o tempo

mediano livre de modificação para os pacientes que iniciaram a TARV com esquemas

contendo ITRNN foi de 1725 dias (57,5 meses), enquanto esquemas contendo IP foi de

979 dias (32,6 meses). Na População 2, este valor foi de 1243 dias (41,4 meses) para

ITRNN versus 684 dias (22,8 meses) para os IP. Na População 3, estes valores foram de

675 dias (22,5 meses) para esquemas contendo IP e para esquemas contendo ITRNN

não houve tempo mediano livre modificação, uma vez que menos da metade dos

pacientes em uso destes esquemas modificou a terceira TARV. O Gráfico 5 mostra as

probabilidades livres de ocorrência de modificação da TARV por meio da curva de

Kaplan-Meier nas três populações estudadas. O Gráfico 6, mostra estes valores na curva

de Kaplan-Meier estratificada por esquema antirretroviral prescrito, em cada população

(teste de log-rank: p=0,000; p=0,055; p=0,199, para as Populações 1, 2 e 3,

respectivamente).

63

GRÁFICO 5 - Tempo livre de ocorrência de modificação da TARV nas populações 1, 2 e 3

64

GRÁFICO 6 - Tempo livre de ocorrência de modificação da TARV por esquema antirretroviral

nas Populações 1, 2 e 3

Teste de log-rank - População 1: p=0,000; População 2: p=0,055; População 3: p=0,199

65

6.4 Fatores associados à modificação da TARV

6.4.1 Fatores associados às modificações da TARV inicial (1ª modificação) no

primeiro ano de tratamento

Ao analisar os fatores associados à primeira modificação da TARV no primeiro

ano de tratamento, verificou-se que 64 pacientes apresentaram o desfecho. Na análise de

regressão logística univariada, idade igual ou inferior a 35 anos e início com esquema

contendo inibidor de protease apresentaram associação com a primeira modificação da

TARV, no primeiro ano de tratamento. Duas variáveis foram incluídas no modelo final,

incluindo a variável início tardio pela sua relevância epidemiológica. No modelo

multivariado final, apenas a variável esquema de TARV inicial foi estatisticamente

significativa (p=0,00). Pacientes que iniciaram a TARV com esquemas contendo IP

possuem chance 3,74 vezes maior do que pacientes que iniciaram TARV com esquemas

contendo ITRNN (OR=3,74; IC95%=2,15 - 6,50). Na Tabela 10 estão apresentados os

resultados da análise de regressão logística para a População inicial (n=247).

TABELA 10 – Análise de regressão logística univariada e multivariada dos fatores associados à primeira

modificação da TARV no primeiro ano de tratamento (n=247; desfecho n=64)

Variáveis Univariada Multivariada

OR (IC95%) Valor-p OR (IC95%) Valor-p

Sociodemográficas

Sexo

Feminino 1,00

1,00

Masculino 0,67 (0,40 - 1,13) 0,13 0,64 (0,36 - 1,14) 0,13

Idade no início do tratamento

≤ 35 1,00

− −

> 35 0,62 (0,38 - 1,03) 0,06 − −

Estado civil

Casado/União estável 1,00

− −

Solteiro/Divorciado/Viúvo 0,78 (0,46 - 1,33) 0,36 − −

Município de residência

RMBH/Interior MG 1,00

− −

Belo Horizonte 0,98 (0,58 - 1,64) 0,93 − −

Ocupação

Assalariado 1,00

− −

Desempregado/Aposentado/Do lar 0,94 (0,54 - 1,64) 0,83 − −

(Continua)

66

TABELA 10 (Continuação)

Variáveis Univariada Multivariada

OR (IC95%) Valor-p OR (IC95%) Valor-p

Relacionadas ao serviço de saúde

Local de acompanhamento

CTR Orestes Diniz 1,00

− −

HEM/CTA Sagrada Família 0,92 (0,48 - 1,78) 0,81 − −

Média de consultas/ano

≤ 4 1,00

− −

> 4 1,37 (0,71 - 2,63) 0,35 − −

Possuir plano de saúde privado

Não 1,00

− −

Sim 0,98 (0,92 - 1,04) 0,48 − −

Variáveis clínicas e laboratoriais

LT - CD4+ no início da TARV

(céls/mm3)

>350 1,00

− −

200-350 1,08 (0,45 - 2,62) 0,86 − −

< 200 1,43 (0,64 - 3,17) 0,88 − −

Carga viral início TARV (cópias/mL)

≤ 100.000 1,00

− −

> 100.000 1,09 (0,57 - 2,07) 0,79 − −

Carga viral início TARV (cópias/mL)

< 80 1,00

− −

≥ 80 3,63 (0,40 - 33,16) 0,25 − −

Diagnóstico relacionado à aids

Não 1,00

− −

Sim 1,36 (0,80 - 2,31) 0,26 − −

Início tardio da TARV

Não 1,00

− −

Sim 1,29 (0,66 - 2,50) 0,45 − −

Relacionadas à TARV

Primeira TARV

2 ITRN + ITRNN 1,00

1,00

2 ITRN + IP 3,46 (2,02 - 5,92) 0,00 3,74 (2,15 - 6,50) 0,0

RMBH: Região Metropolitana de Belo Horizonte; CTR: Centro de Treinamento e Referência; CTA: Centro de Testagem e

Aconselhamento; LT-CD+: linfócitos T-CD4+; TARV: terapia antirretroviral; ITRN: inibidor de transcriptase reversa

análogo de nucleosídeo; ITRNN: inibidor de transcriptase reversa não análogo de nucleosídeo; IP: inibidor de protease.

1 Categoria monoterapia AZT ou AZT/3TC foi omitida por colinearidade.

2 Teste de Hosmer-Lemeshow: X2

= 0,09; número de grupos=4; p=0,96; OR: Odds Ratio; IC: intervalo de confiança

67

6.4.2 Fatores associados à primeira, segunda e terceira modificação da TARV

A Tabela 11 mostra os resultados da análise univariada do modelo de Cox para

as três populações e na Tabela 12 estão apresentados os resultados da análise

multivariada.

Na análise dos fatores associados à primeira modificação da TARV, 7 variáveis

foram incluídas na análise multivariada. As variáveis sexo, diagnóstico relacionado à

aids e primeira TARV prescrita apresentaram associação estatisticamente significativa.

Sexo feminino apresentou risco de modificação da TARV 1,67 vezes o risco de

modificação no sexo masculino (HR=1,67; IC95%=1,08 - 2,57). Pacientes que

apresentaram diagnóstico relacionado à aids no início do tratamento possuem risco 1,59

vezes maior de modificações na TARV comparados aos pacientes que não apresentaram

diagnóstico relacionado à aids (HR=1,59; IC95%=1,01 - 2,51). Para pacientes que

iniciaram a TARV com esquemas contendo IP, este valor foi de 2,50 (IC95%=1,54 -

4,04), e para os que iniciaram TARV com monoterapia contendo AZT ou terapia dupla

AZT/3TC, este valor foi de 11,45 (IC95%=4,28 - 30,63).

Na População 2, nenhuma das variáveis foi estatisticamente significativa na

análise multivariada de fatores associados à segunda modificação da TARV. Na

População 3, as variáveis média de consultas por ano e terceiro esquema antirretroviral

prescrito apresentaram associação com a terceira modificação da TARV. Pacientes que

apresentaram média de mais de 4 consultas por ano apresentaram maior risco de

modificação da terceira TARV (HR=7,12; IC95%=1,95 - 26,07). Pacientes que

iniciaram a terceira TARV com esquemas contendo IP apresentaram risco 4,84 vezes o

risco dos pacientes que iniciaram a terceira TARV com esquemas contendo ITRNN

(HR=4,84; IC95%=1,32 - 17,83).

68

TABELA 11 - Análise univariada do modelo de riscos proporcionais de Cox para primeira, segunda e terceira modificação da TARV para as populações 1, 2 e3.

Variáveis Pop. 1 (n=247) Pop. 2 (n=119) Pop. 3 (n=51)

HR (IC95%) Valor-p HR (IC95%) Valor-p HR (IC95%) Valor-p

Sociodemográficas

Sexo

Feminino 1,00

1,00

1,00

Masculino 1,36 (0,95 - 1,95) 0,09 1,25 (0,71 - 2,18) 0,44 1,07 (0,39 - 2,91) 0,89

Idade no início do tratamento

≤ 35 1,00

1,00

1,00

> 35 0,69 (0,48 - 1,00) 0,05 0,82 (0,47 - 1,42) 0,48 1,36 (0,51 - 3,65) 0,54

Estado civil

Casado/União estável 1,00

1,00

1,00

Solteiro/Divorciado/Viúvo 0,81 (0,56 - 1,19) 0,29 0,90 (0,51 - 1,62) 0,74 0,96 (0,35 - 2,67) 0,94

Município de residência

RMBH/Interior MG 1,00

1,00

1,00

Belo Horizonte 0,95 (0,65 - 1,37) 0,78 0,73 (0,42 - 1,27) 0,27 1,09 (0,40 - 2,96) 0,87

Ocupação

Assalariado 1,00

1,00

1,00

Desempregado/Aposentado/Do lar 1,03 (0,68 - 1,54) 0,89 1,33 (0,74 - 2,40) 0,33 1,19 (0,42 - 3,31) 0,74

Relacionadas ao serviço de saúde

Local de acompanhamento

CTR Orestes Diniz 1,00

1,00

1,00

HEM/CTA Sagrada Família 0,93 (0,57 - 1,50) 0,75 1,37 (0,70 - 2,69) 0,35 1,49 (0,48 - 4,66) 0,50

Média de consultas/ano

≤ 4 1,00

1,00

1,00

> 4 1,42 (0,90 - 2,23) 0,13 1,33 (0,67 - 2,67) 0,41 4,48 (1,41 - 14,18) 0,01

(Continua)

69

TABELA 11 (Continuação)

Variáveis Pop. 1 (n=247) Pop. 2 (n=119) Pop. 3 (n=51)

HR (IC95%) Valor-p HR (IC95%) Valor-p HR (IC95%) Valor-p

Relacionadas ao serviço de saúde

Possuir plano de saúde privado

Não 1,00

1,00

1,00

Sim 0,96 (0,92 - 1,02) 0,19 0,98 (0,91 - 1,06) 0,70 0,88 (0,77 - 1,01) 0,07

Variáveis clínicas e laboratoriais

LT - CD4+ no início da TARV (céls/mm3)

>350 1,00

1,00

1,00

200-350 1,03 (0,53 - 2,02) 0,09 1,00 (0,44 - 2,30) 0,99 0,73 (0,14 - 3,82) 0,71

< 200 1,30 (0,72 - 2,37) 0,87 0,66 (0,29 - 1,48) 0,31 1,82 (0,47 - 7,08) 0,39

Carga viral início TARV (cópias/mL)

≤ 100.000 1,00

1,00

1,00

> 100.000 0,99 (0,61 - 1,56) 0,93 2,54 (1,04 - 6,18) 0,04 0,53 (0,07 - 4,16) 0,55

Carga viral início TARV (cópias/mL)

< 80 1,00

1,00

1,00

≥ 80 2,56 (0,36 - 18,46) 0,35 1,76 (0,79 - 3,91) 0,16 1,35 (0,17 - 10,73) 0,77

Diagnóstico relacionado à AIDS

Não 1,00

1,00

1,00

Sim 1,31 (0,88 - 1,95) 0,18 1,09 (0,59 - 2,02) 0,77 1,27 (0,43 - 3,71) 0,67

Início tardio da TARV

Não 1,00

1,00

1,00

Sim 1,21 (0,68 - 1,85) 0,65 1,15 (0,53 - 2,47) 0,72 0,94 (0,26 - 3,37) 0,93

(Continua)

70

TABELA 11 (Continuação)

Variáveis Pop. 1 (n=247) Pop. 2 (n=119) Pop. 3 (n=51)

HR (IC95%) Valor-p HR (IC95%) Valor-p HR (IC95%) Valor-p

Relacionadas à TARV

Primeira TARV

2 ITRN + ITRNN 1,00

1,00

1,00

2 ITRN + IP 2,26 (1,53 - 3,33) 0,00 1,03 (0,56 - 1,89) 0,93 0,88 (0,28 - 2,74) 0,83

Mono/Dupla terapia com AZT 17,05 (8,12 - 35,77) 0,00 2,16 (0,93 - 5,00) 0,07 0,86 (0,23 - 3,16) 0,86

Durabilidade 1ª TARV (dias)

≤ 365 − − 1,00

1,00

> 365 − − 1,03 (0,56 - 1,88) 0,93 0,39 (0,09 - 1,73) 0,21

Segunda TARV

2 ITRN + ITRNN − − 1,00

1,00

2 ITRN + IP − − 1,65 (0,92 - 2,93) 0,09 1,09 (0,49 - 2,43) 0,83

Durabilidade 2ª TARV (dias)

≤ 365 − − − − 1,00

> 365 − − − − 1,14 (0,42 - 3,11) 0,80

Terceira TARV

2 ITRN + ITRNN − − − − 1,00

2 ITRN + IP − − − − 2,08 (0,66 - 6,56) 0,21

RMBH: Região Metropolitana de Belo Horizonte; CTR: Centro de Treinamento e Referência; CTA: Centro de Testagem e Aconselhamento; LT-CD+:

linfócitos T-CD4+; TARV: Terapia Antirretroviral; ITRN: inibidor de transcriptase reversa análogo de nucleosídeo; ITRNN: inibidor de transcriptase

reversa não análogo de nucleosídeo; IP: inibidor de protease; AZT: zidovudina.

71

TABELA 12 - Análise multivariada do modelo de riscos proporcionais de Cox para primeira, segunda e terceira modificação da TARV para as populações 1, 2 e 3

Variáveis Pop. 1 (n=247)

1 Pop. 2 (n=119)

2 Pop. 3 (n=51)

3

HR (IC95%) Valor-p HR (IC95%) Valor-p HR (IC95%) Valor-p

Sociodemográficas

Sexo

Masculino 1,00

− − − −

Feminino 1,67 (1,08 - 2,57) 0,02 − − − −

Idade no início do tratamento

≤ 35 − − − − − −

> 35 − − − − − −

Média de consultas/ano

≤ 4 − − − − 1,00

> 4 − − − − 7,12 (1,95 - 26,07) 0,00

Possuir plano de saúde privado

Não − − − − − −

Sim − − − − − −

Variáveis clínicas e laboratoriais

LT - CD4+ no início da TARV (céls/mm3)

>350 − − − − − −

200-350 − − − − − −

< 200 − − − − − −

Carga viral início TARV (cópias/mL)

< 80 − − 1,00

− −

≥ 80 − − 1,42 (0,61 - 3,30) 0,42 − −

(Continua)

72

TABELA 12 (Continuação)

Variáveis Pop. 1 (n=247)

1 Pop. 2 (n=119)

2 Pop. 3 (n=51)

3

HR (IC95%) Valor-p HR (IC95%) Valor-p HR (IC95%) Valor-p

Variáveis clínicas e laboratoriais Diagnóstico relacionado à AIDS

Não 1,00

− − − −

Sim 1,59 (1,01 - 2,51) 0,04 − − − −

Relacionadas à TARV

Primeira TARV

2 ITRN + ITRNN 1,00

1,00

− −

2 ITRN + IP 2,50 (1,54 - 4,04) 0,00 0,85 (0,39 - 1,85) 0,68 − −

Mono/Dupla terapia com AZT 11,45 (4,28 - 30,63) 0,00 1,94 (0,65 - 5,80) 0,24 − −

Durabilidade 1ª TARV (dias)

≤ 365 − − − − − −

> 365 − − − − − −

Segunda TARV

2 ITRN + ITRNN − − 1,00

− −

2 ITRN + IP − − 1,51 (0,72 - 3,19) 0,28 − −

Terceira TARV

2 ITRN + ITRNN − − − − 1,00

2 ITRN + IP − − − − 4,84 (1,32 - 17,83) 0,02

RMBH: Região Metropolitana de Belo Horizonte; CTR: Centro de Treinamento e Referência; CTA: Centro de Testagem e Aconselhamento; LT-CD+: linfócitos

T-CD4+; TARV: Terapia Antirretroviral; ITRN: inibidor de transcriptase reversa análogo de nucleosídeo; ITRNN: inibidor de transcriptase reversa não análogo

de nucleosídeo; IP: inibidor de protease; AZT: zidovudina.

1Análise de resíduos de Shoenfeld: População 1 - X2

=2,95; graus de liberdade=4; p=0,57

2Análise de resíduos de Shoenfeld: População 2 - X2

=2,23; graus de liberdade=4; p=0,69

3Análise de resíduos de Shoenfeld: População 3 - X

2=3,01; graus de liberdade=3; p=0,39

73

7 DISCUSSÃO

7.1 Recrutamento das populações de estudo e disponibilidade de dados

Da amostra inicial de pacientes recrutados, aproximadamente 55% não foram

elegíveis para o estudo. A maior proporção de não elegíveis (79,1%) foi devido ao

critério "acompanhamento menor que 12 meses". Observou-se ainda diferença

estatisticamente significativa entre as proporções de pacientes atendidos no HEM na

população inicial e na população de pacientes excluídos (p=0,01). Esta perda

provavelmente reflete uma limitação do registro e cadastro de dados dos usuários,

fortemente impactado pelo registro manual de dados em prontuários, realidade na época

do estudo. Atualmente os serviços contam com sistema de prontuário informatizado que

minimiza este problema. No entanto, é importante que a informatização seja implantada,

acompanhada de estratégias de mudança na cultura organizacional, para a prática de

registro adequado de dados. Com relação às variáveis de exposição sexo e idade, não

foram verificadas diferenças estatisticamente significativas entre a população inicial e

população excluída (p=0,29 e p=0,25, respectivamente). Não foram observadas

diferenças estatisticamente significativas entre as proporções de cada centro de

acompanhamento entre os pacientes incluídos e excluídos nas Populações 2 e 3.

Uma elevada proporção de valores missing nos exames linfócitos T-CD4+ e

carga viral foram observadas em nosso estudo, e se relacionou principalmente aos

pacientes atendidos no CTR Orestes Diniz e HEM. Fernandes e colaboradores (2009),

ao avaliar o início da terapia antirretroviral em estágio avançado de imunodeficiência

entre indivíduos atendidos nestes dois centros excluíram 7% da amostra devido à

indisponibilidade do exame de contagem de linfócitos T-CD4+. O menor valor neste

estudo provavelmente se relaciona a diferenças no delineamento do estudo, que foi

prospectivo concorrente, em que foi utilizado um questionário semi-estruturado

(FERNANDES et al., 2009). O Hospital Eduardo de Menezes manteve o padrão de

disponibilidade de exames nas Populações 2 e 3, ao contrário dos outros dois serviços

em que a os exames ficaram menos disponíveis ao longo do acompanhamento. Menezes

de Pádua e Moura avaliaram a disponibilidade de dados neste estudo de coorte e

encontraram grande indisponibilidade de dados sobre troca da TARV dentre os

pacientes que tiveram reações adversas relacionadas ao uso prolongado de

74

antirretrovirais, concluindo a necessidade de desenvolvimento de ferramentas

específicas para melhorar o registro de dados (MENEZES DE PADUA E MOURA,

2014).

7.2 Descrição das populações e do desfecho

Ao comparar as variáveis sexo e idade da coorte inicial com os casos de aids

notificados na cidade de Belo Horizonte e região metropolitana no mesmo período do

estudo (n=5.988), não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas,

sugerindo que a amostra é representativa da população de PVHA de Belo Horizonte e

região metropolitana (BRASIL, 2014).

A maioria dos pacientes apresentou média de consultas por ano inferior a 4,

abaixo do recomendado no relatório de avaliação da qualidade dos serviços

ambulatoriais do SUS que assistem adultos vivendo com HIV/aids (NEMES et al.,

2011). Este número de consultas é recomendado por pacientes no início do tratamento,

perfil semelhante ao da amostra estudada. Isso reflete as barreiras de acesso aos serviços

de atendimento especializado a indivíduos com HIV. Por outro lado, o resultado de que

a maioria dos pacientes foi acompanhada por mais de 48 meses, reflete que, apesar do

baixo número de consultas, os pacientes apresentaram baixa evasão dos serviços ao

longo do período de acompanhamento. Os dados do nosso estudo demonstram que é

imprescindível o planejamento constante da distribuição e oferta de serviços de saúde

para atendimento ao indivíduo com HIV, de forma a acompanhar as mudanças no perfil

epidemiológico e estabelecer estratégias de cuidado ao paciente com HIV.

No período em que os pacientes foram recrutados para o estudo de coorte (2001-

2005), era recomendado o início da TARV em pacientes sintomáticos ou assintomáticos

que apresentassem contagem de linfócitos T-CD4+ abaixo de 350 células/mm3

(BRASIL, 2000; 2002 - 2003; 2004). Ao contrário das recomendações, a maioria dos

pacientes iniciou TARV com contagens de linfócitos T-CD4+ abaixo de 200

células/mm3 ou com presença de sinais clínicos ou doenças definidoras de aids. Destes

pacientes, 72,5% iniciaram a TARV nos anos de 2001 ou 2002, época em que era mais

comum o início da TARV com contagens de linfócitos T-CD4+ abaixo de 200

células/mm3. A proporção de 79,4% de pacientes com início tardio foi mais elevada do

que frequência de 31,5% de pacientes que iniciaram TARV com linfócitos T-CD4+

abaixo de 200 células/mm3 entre 2003 e 2006, encontrada em estudo que avaliou o

75

início tardio da TARV no Brasil (SOUZA-JR et al., 2007). Essa diferença se relaciona a

diferenças regionais relacionadas à infecção pelo HIV e aos serviços de saúde, uma vez

que o dado de Souza-Jr et al., se relaciona à região sudeste como um todo. Apesar do

início tardio, houve um aumento da proporção de pacientes com carga viral indetectável

ao longo das populações estudadas, sugerindo que, ao longo do tratamento, a TARV foi

efetiva na redução da carga viral.

A maior proporção de pacientes iniciou a TARV com esquemas contendo

ITRNN, e o EFV foi o medicamento mais prescrito. Os IP se tornaram disponíveis no

Brasil em 1996 e até 2004 seu uso era recomendado apenas para pacientes sintomáticos

com manifestações clínicas relacionadas à aids. No nosso estudo, 85,4% dos pacientes

que iniciaram TARV com IP iniciaram o tratamento tardiamente, 94,4% deles, antes de

2004. A monoterapia com AZT era indicada para profilaxia de transmissão vertical, e

por isso as modificações deste antirretroviral foram de acréscimo de medicamento, após

gestação. Até 2003, a terapia dupla com AZT/3TC ainda era mantida como

recomendação para os casos de pacientes que já faziam uso deste esquema e se

encontravam estáveis (BRASIL, 2002 - 2003). Após 2003, os protocolos seguintes

passaram a sugerir a modificação de terapia dupla para o uso da terapia tripla (BRASIL,

2004). Por isso, todos os pacientes estavam utilizando terapia tripla como segunda e

terceira TARV. Ao longo do período do estudo, as recomendações de esquemas para

início da TARV se atualizaram, mas de um modo geral, os esquemas antirretrovirais

prescritos estavam de acordo com as recomendações da época do estudo.

A incidência de modificação da TARV encontrada em nosso estudo foi maior do

que incidências verificadas em outros estudos nacionais e realizados em outros países

(DE CASTILHO et al., 2006; CHANDY et al., 2011; LIMA et al., 2012). Dentre os

estudos nacionais, pode-se dizer que esta diferença se explica por diferentes definições

do desfecho e maior período de acompanhamento em nosso estudo. De Castilho e

colaboradores mediram a incidência de interrupção seguida por troca do esquema

antirretroviral e encontraram incidência de 35,9%, em até três anos de

acompanhamento, abaixo do encontrado em nosso estudo. Em nosso estudo, 17,6% das

modificações da TARV aconteceram no quarto e quinto ano de acompanhamento, o que

justifica a maior taxa de incidência encontrada. Em estudo de coorte realizado em

Uganda, em que pacientes foram acompanhados por dez anos, a incidência de

substituição da primeira TARV foi 54,0%, maior que o resultado deste estudo,

76

corroborando o efeito do tempo de acompanhamento no aumento da incidência de

modificações da TARV (CASTELNUOVO et al., 2015). Com relação ao cenário

internacional, diferenças nas políticas de HIV/aids e acesso a medicamentos

antirretrovirais também influenciaram nas diferenças das incidências de modificações

da TARV. Landier e colaboradores, ao avaliarem incidência de modificações da TARV

em coorte no oeste da África discutem que a maior escassez de recursos e menor acesso

a medicamentos nesta região levam à maior resistência dos médicos à modificações da

TARV (LANDIER et al., 2011).

Em todas as populações, as reações adversas foram o principal motivo de

modificação da TARV. Se considerarmos a primeira modificação da TARV, este

resultado corrobora outros estudos em que as reações adversas são o principal motivo de

modificação da TARV, principalmente nos primeiros seis meses de tratamento. Além

disso, as modificações acontecem mais precocemente quando motivadas por reações

adversas do que por falha terapêutica (APUZZO et al., 2009; CHANDY et al., 2011;

JARRIN et al., 2013). Com relação à segunda e terceira modificações, escassos são os

estudos que avaliam este desfecho dentre segundo e terceiro esquemas. A maioria dos

estudos relacionados à segunda e terceira linha de TARV avalia a falha terapêutica

como desfecho destes esquemas, por considerar a primeira modificação da TARV como

um preditor de falha terapêutica futura e este ser um desfecho de efetividade da TARV

(CARDOSO, LUZ, VELASQUE, TORRES, COELHO, et al., 2014; KHAN et al.,

2014). Nosso estudo contraria a hipótese de que modificações tardias da TARV

acontecerão por falha terapêutica, já que as reações adversas continuaram a liderar o

motivo de modificação da segunda e terceira TARV. Provavelmente isso significa que

as reações adversas foram identificadas antes da ocorrência de falha terapêutica.

Dentre a classe de medicamentos mais modificada está a dos IP, devido à

reações adversas. É descrito na literatura que os IP são menos tolerados se comparados

aos ITRNN, devido às reações adversas que causam, aumentando a necessidade de

modificações deste medicamento (BOESECKE E COOPER, 2008). Se avaliado cada

medicamento separadamente, o AZT foi o mais modificado. A maior proporção de

modificações do AZT foi para d4T, seguida por TDF. Na época do estudo, a experiência

com o uso do TDF era limitada e por isso ele só era recomendado em caso de

intolerância ao AZT e d4T, considerados antirretrovirais de primeira escolha. O perfil

de modificações do AZT representa a evolução das alterações das recomendações do

77

esquema de primeira linha para início da TARV, que anteriormente era de esquemas

contendo AZT e atualmente é de esquemas contendo TDF (BRASIL, 2004; 2015c).

7.3 Durabilidade da primeira, segunda e terceira TARV

A durabilidade da primeira TARV encontrada no presente estudo (10,7 meses)

foi menor do que a durabilidade de 14,7 meses observada em estudo de coorte realizado

no CTR Orestes Diniz com pacientes que iniciaram TARV entre 1996 e 2005,

acompanhados por dois anos (RIBEIRO et al., 2012). Esta diferença pode estar

relacionada a um menor número de pacientes com início tardio no estudo de Ribeiro e

colaboradores e pode estar relacionado a especificidades dos outros dois centros, CTA

Sagrada Família e Hospital Eduardo de Menezes, em que nosso estudo também foi

realizado.

A segunda TARV apresentou maior durabilidade que a TARV inicial (10,7 vs.

13,4 meses). Isso demonstra que na segunda TARV já existia uma maior estabilidade da

infecção pelo HIV, com redução da carga viral. A proporção de pacientes com carga

viral indetectável aumentou de 3,0% para 34,4%. A durabilidade da segunda TARV foi

maior do que a verificada em estudo que avalia a durabilidade tendo a falha terapêutica

como desfecho, que encontrou um tempo mediano de 9 meses (LEVISON et al., 2012).

Cardoso e colaboradores, ao avaliarem a durabilidade de esquemas de segunda linha

considerando a falha terapêutica como desfecho, encontrou um tempo mediano de 20,3

meses, para aqueles pacientes que iniciaram TARV com carga viral detectável

(CARDOSO, LUZ, VELASQUE, TORRES, TAVARES, et al., 2014). Essas

divergências se relacionam à definição do desfecho e às particularidades de cada região

do país, que incluem perfil da infecção e diferenças no acesso aos serviços de saúde.

Para a terceira modificação da TARV, a durabilidade reduziu para 5,1 meses. Este

resultado pode representar diminuição da efetividade da TARV, indicando que uma

falha terapêutica poderá estar prestes a acontecer. Este resultado também pode ser um

indicador de lacunas na cascata de cuidado às pessoas que vivem com HIV/aids. As

recomendações para tratamento da infecção pelo HIV/aids focam em um cuidado e

monitoramento mais intenso no início da TARV, em que a ocorrência de reações

adversas agudas é mais intensa, podendo comprometer a adesão ao tratamento

(MENEZES DE PÁDUA et al., 2006). Com a redução da carga viral para níveis

78

indetectáveis, o monitoramento se torna menos intenso, com intervalos maiores entre

consultas. Porém, ao longo do tratamento, reações adversas relacionadas ao uso

prolongado ocorrerão, levando à necessidade de diferentes estratégias de cuidado, no

início e no uso prolongado.

7.4 Fatores associados à modificação da TARV no primeiro ano de tratamento e

da primeira, segunda e terceira modificação da TARV ao longo de cinco anos

O estudo demonstrou que no primeiro ano de tratamento, iniciar TARV com

esquemas contendo IP está associado a uma maior chance de modificação da TARV. Ao

analisar estes fatores ao longo dos cinco anos de acompanhamento, além do esquema

contendo IP, sexo feminino e apresentar algum sinal clínico indicador de aids antes do

início do tratamento também estiveram associados à modificação da TARV. É descrito

na literatura a associação entre IP e modificações da TARV, principalmente devido a

reações adversas, se comparado aos ITRNN (PANTAZIS et al., 2015). Estudo de coorte

na Espanha em pacientes com carga viral elevada (acima de 100.000 cópias/mL), ao

comparar esquemas contendo EFV com IP demonstrou melhores resultados com EFV,

mesmo naqueles pacientes com carga viral muito elevada (acima de 500.000 cópias/mL)

e com baixas contagens de linfócitos T-CD4+ (IMAZ et al., 2014). Nosso resultado

reforça a importância de se avaliar benefícios e potenciais riscos do início da TARV

com IP, uma vez que esquemas contendo ITRNN são mais bem tolerados.

Assim como em nosso estudo, a literatura científica descreve maior risco de

modificação da TARV entre mulheres, relacionados a fatores como maior incidência de

reações adversas, como reações dermatológicas e lipodistrofia (TSUCHIYA et al.,

2014; MIRJAM-COLETTE et al., 2009). Em nosso estudo, o maior risco de

modificação da TARV em mulheres está relacionado às mulheres gestantes em uso de

monoterapia com AZT. Este resultado se assemelha ao encontrado por Perez-Elias e

colaboradores em que o tempo até a primeira modificação da TARV foi menor em

gestantes, mesmo dentre aquelas em uso de terapia tripla (PEREZ-ELIAS et al., 2014).

Era esperado que a presença de manifestações clínicas relacionadas à aids fosse

um fator de risco para modificação, uma vez que trata-se de um indicador de início

tardio, que torna o tratamento mais complexo, muitas vezes associado ao tratamento de

infecções oportunistas como tuberculose. Este resultado corrobora os resultados

79

encontrados por Cesar e colaboradores em estudo multicêntrico na América Latina e

Caribe, em que o risco de modificação da TARV foi 1,3 vezes maior para pacientes com

sinais clínicos de aids antes do início da TARV (CESAR et al., 2010).

Na análise dos fatores associados à segunda modificação da TARV, nenhuma

variável apresentou associação estatisticamente significativa. Provavelmente isso

ocorreu pelo menor número de pacientes na população analisada e pela menor

incidência de modificações da segunda TARV. Na análise da terceira modificação da

TARV, o tipo de esquema antirretroviral se apresenta como fator de risco para

modificação da TARV, novamente relacionada aos IP. Isso reflete a relação entre

esquemas prescritos e evolução da doença, em que se inicia com IP para reduzir a carga

viral elevada, quando esta se estabiliza, ITRNN são utilizados por causarem menos

reações adversas, e como terceiro esquema, utiliza-se IP novamente para evitar uma

possível falha terapêutica. Outro fator que está relacionado às modificações dos IP, em

todas as populações, foi a recolhimento do Nelfinavir, um IP de grande utilização no

Brasil, pelo fabricante Roche, alegando contaminação de dois lotes do produto.

8 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

A principal limitação deste estudo se relaciona à utilização de dados

secundários, oriundos de prontuários médicos de pacientes. Este tipo de registro é de

grande utilidade para a documentação do histórico clínico dos pacientes pelos serviços,

de forma que auxilie o processo de tomada de decisão das condutas clínicas e do

cuidado em saúde, além de ser uma forma de rastreamento para fins legais. Importantes

variáveis sociodemográficas como renda e escolaridade não estavam adequadamente

registradas, com elevado número de dados faltantes, inivabilisando sua análise.

Variáveis clínicas como carga viral e contagem de linfócitos T-CD4+, marcadores da

evolução da infecção pelo HIV, apresentaram dados faltantes, que poderiam ter

contribuído para uma melhor interpretação dos dados. Estes exames fazem parte da

rotina dos serviços e o registro destes resultados é de grande importância para embasar

condutas clínicas. Os motivos de modificação da TARV, apesar do seu registro ser um

pré-requisito para dispensação do novo esquema antirretroviral pela farmácia, estavam

com, em média, 30% dos dados faltantes. Isso reforça a necessidade de mudanças na

rotina de trabalho nos serviços de saúde e na cultura organizacional, de forma a oferecer

80

ferramentas práticas de registro de dados e que sua utilização seja incorporada na rotina

de trabalho. Prontuários médicos devidamente preenchidos são fontes importantes para

a condução de pesquisas científicas. Sua utilização permite o acesso a dados

disponíveis, simplificando o processo de coleta, minimizando os custos e o tempo de

execução do estudo. Ademais, pode ser particularmente útil em estudos com longos

períodos de acompanhamento (SILVA et al., 2007) e para obtenção de dados de

pacientes que evoluíram para o óbito, além de ser ferramenta de educação permanente.

Além da utilização de dados secundários, é importante citar o fato de não terem

sido feitas medidas diretas de adesão. Apesar de não fazer parte do escopo do estudo,

estas medidas permitiriam uma análise mais robusta dos motivos de modificação da

TARV, possibilitando uma discussão mais profunda do problema. Por isso, sugere-se

que estudos de modificações da TARV sejam feitos com o foco na adesão ao

tratamento.

9 CONCLUSÃO

Este estudo demonstrou que a incidência de modificações da TARV é elevada,

principalmente quando esta avaliação é feita em um período maior do que um ano. As

reações adversas são o principal motivo de modificação da TARV, seguido por falha

terapêutica. Este resultado corrobora os resultados dos estudos de modificações da

TARV e enfatiza a importância de utilização de esquemas terapêuticos mais

sustentáveis.

Foi verificado que a segunda TARV apresentou maior durabilidade em relação à

TARV inicial e terceira TARV. As diferenças entre as durabilidades encontradas e

aquelas verificadas em outros estudos pode ser explicada pela elevada proporção de

início tardio em nosso estudo e por divergências nos desfechos utilizados para medir a

durabilidade da TARV.

Tanto no primeiro ano de tratamento quanto ao longo de cinco anos, a utilização

de IP está associada à maior ocorrência de modificações da TARV. Este resultado

confirma os achados descritos na literatura científica por associar uma maior frequência

de reações adversas associadas aos IP quando comparados aos ITRNN. A utilização de

IP como primeira, segunda e terceira escolha de TARV deve ser avaliada, de forma a

ponderar os benefícios e potenciais riscos associados ao seu uso. A avaliação e registro

81

das modificações da TARV devem fazer parte da rotina de cuidado ao paciente com

HIV como estratégia de melhoria da efetividade do tratamento, proporcionando maior

qualidade de vida ao paciente.

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo forneceu importantes resultados para o embasamento de discussões

relevantes para a avaliação da efetividade terapia antirretroviral e do cuidado e

monitoramento do paciente com HIV. Por se tratar de um estudo de coorte prospectivo

não concorrente, permitiu uma análise temporal das modificações da TARV e de fatores

de risco associados a este desfecho. Além disso, traz resultados referentes a cinco anos

de acompanhamento, em dez anos de estudo. A discussão de dados longitudinais em

longo período foi um desafio, pois ao longo dos anos, mudanças no perfil da epidemia

aconteceram, assim como modificações nas recomendações de início e tipo de

tratamento. Apesar da complexidade, a utilização de dados longitudinais em períodos

mais longos de acompanhamento se faz necessária, por permitir maior aproximação da

realidade dos pacientes em TARV, e este foi um dos grandes pontos fortes do estudo.

O estudo atendeu aos objetivos propostos de descrever a população de pacientes

com HIV no início e ao longo da TARV, descrever o perfil de modificações dos

esquemas antirretrovirais, medir a incidência de modificações da TARV e verificar os

fatores associados a este desfecho. Demonstrou a importância da avaliação do esquema

ideal para início do tratamento e ao longo de modificações. Apresentou também

importantes resultados sobre o impacto do início tardio da TARV e da importância em

se discutir barreiras de acesso aos serviços de saúde por indivíduos infectados pelo HIV.

Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na distribuição das

variáveis sexo e idade da amostra estudada e dos casos notificados de HIV em Belo

Horizonte e região metropolitana, sugerindo ser a amostra representativa da população

de indivíduos infectados por HIV em Belo Horizonte. Recomenda-se que além de ações

referentes ao início da TARV, novas estratégias de monitoramento do tratamento e do

cuidado ao paciente com HIV sejam implantadas. Essas estratégias devem se basear no

fato de que no contexto de uso prolongado de TARV, a conduta clínica adotada no

início do tratamento deve ser diferente daquela adotada após alguns anos de tratamento.

O uso de aplicativos pode ser uma ferramenta efetiva e eficiente neste processo. Além

82

disso, o monitoramento das reações adversas em qualquer fase do tratamento é

imprescindível. É necessário que se discuta a implantação de serviços de

farmacovigilância com foco na TARV como parte integrante da política de HIV/aids.

Com a terapia antirretroviral foi possível reduzir muitas mortes por aids e prolongar a

vida das pessoas infectadas. Agora, esforços são necessários para melhorar a qualidade

de vida das pessoas que vivem com HIV/aids sem comprometer a efetividade do

tratamento.

83

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0140-6736.

96

11 APÊNDICES

11.1 APÊNDICE A - Pôster apresentado em Congresso

97

11.2 APÊNDICE B - Artigo submetido à revista Journal of Tropical Medicine

Incidence and predictors of antiretroviral treatment modification in HIV-infected adults:

a Brazilian historical cohort from 2001 to 2010

Letícia Penna Braga1, Cássia Cristina Pinto Mendicino

1, Edna Afonso Reis

2, Ricardo Andrade

Carmo3, Cristiane Menezes de Pádua

1

1 Department of Social Pharmacy, Faculty of Pharmacy, Federal University of Minas Gerais

2 Department of Statistics, Exact Sciences Institute, Federal University of Minas Gerais

3 Infectious Disease Reference Center, CTR/DIP Orestes Diniz, Municipal Health Division,

Federal University of Minas Gerais

Corresponding author:

Letícia Penna Braga

Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Farmácia, Departamento de Farmácia

Social

Address: Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha, Belo Horizonte, MG - Brazil

Tel: +55 31 3409 6859; Fax: +55 31 3409 6849

E-mail: [email protected]

This work was supported by Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais -

FAPEMIG (nº APQ0043-10); Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

- CNPq (nº 484865/2011-0) and Pró-Reitoria de Pesquisa PRPq/UFMG.

98

Incidence and predictors of antiretroviral treatment modification in HIV-infected adults:

a Brazilian historical cohort from 2001 to 2010

Abstract

Background: Modifications in antiretroviral therapy (ART) are more frequent in the first year of

treatment, when most studies undertake this evaluation. This study aimed to estimate the

incidence of and time to first ART modification in patients receiving lifelong ART.

Methods: historical cohort from three HIV/AIDS referral centers in Belo Horizonte, Brazil. It

included HIV-infected adults who initiated first ART between 2001 and 2005, covering follow-

up data from 2001 to 2010. The main endpoint was time to first ART modification. Descriptive

analysis, Pearson's chi-square test, Kaplan-Meier inverse survival curve, and Cox proportional

hazard regression were performed.

Results: 247 patients were eligible. 119 (48.3%) modified ART at least once (incidence rate:

1.54 per 100 person-months). 50.3 months after first ART prescription, 50% of all patients

remained in their first regimen. The main reason for ART modification was adverse drug

reactions. In the final multivariate model, those at higher risk of ART modification were women

(hazard ratio [HR]=1.56; p=0.030), and those on PI-based regimens (HR=2.73; p=0.00) or

mono/dual therapy with zidovudine ZDV (HR=14.74; p=0.00) compared with those on non-

nucleoside reverse transcriptase inhibitor (NNRTI)-based ART.

Conclusions: Sex and type of ART impacted the risk of treatment modification. Thus, more

sustainable drugs are needed.

Keywords: HIV/AIDS, antiretroviral therapy, effectiveness, cohort studies, Cox

proportional hazard regression

99

11.3 APÊNDICE C - Artigo submetido à revista AIDS Care

Effectiveness of second-line antiretroviral therapr: the impact of drug switches

Authors: Letícia Penna Bragaa, Cássia Cristina Pinto Mendicino

a, Edna Afonso Reis

b,

Ricardo Andrade Carmoc, Cristiane Menezes de Pádua

a

aDepartment of Social Pharmacy, Faculty of Pharmacy, Federal University of Minas

Gerais

bDepartment of Statistics, Exact Sciences Institute, Federal University of Minas Gerais

cInfectious Disease Reference Center, CTR/DIP Orestes Diniz, Municipal Health

Division, Federal University of Minas Gerais

Corresponding author:

Letícia Penna Braga

Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Farmácia, Departamento de

Farmácia Social

Address: Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha, Belo Horizonte, MG - Brazil

Tel: +55 31 3409 6859; Fax: +55 31 3409 6849

E-mail: [email protected]

This work was supported by Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas

Gerais - FAPEMIG (nº APQ0043-10); Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico - CNPq (nº 484865/2011-0); Pró-Reitoria de Pesquisa

PRPq/UFMG

Ackowlegments: The authors are grateful to collegues from the class of Writting Papers

Tecniques at School of Pharmacy from UFMG, for the valuable contributions to the

100

discussion of this paper and to Leonardo Bahia Tavares for figure editing. The authors

also gratefully acknowledge the financial support from Pró-Reitoria de Pesquisa -

PRPq, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), for language editing of the

manuscript.

Word-count: 2,589 (text only)

101

Abstract

Effectiveness of second-line antiretroviral therapy: the impact of drug switches

Including antiretroviral drug switches as a measure of ART failure could be more suitable

than conventional measures to evaluate health outcomes in 'real-world' settings. This is part

of a historical cohort of HIV-infected adults who initiated ART from 2001–2005, and were

followed up for a maximum of five years, conducted in three HIV/AIDS centers in Belo

Horizonte, Brazil. Follow-up information included data from 2001-2010. All patients

switched from first-line ART were included. Second-line ART effectiveness was measured

as the time-to-ART failure. Failure was defined simulating to scenarios: 1) Clinical,

immunological and virological failure (scenario 1); or scenario 1 plus ART switches

(scenario 2). Descriptive analysis, Kaplan-Meier curves, log-rank test, and Cox proportional

hazards model were performed. We identified 119 eligible patients; most had protease

inhibitor (PI)-based regimens prescribed as second-line. The incidence of failure was

different for the two scenarios (29.4% vs. 54.6% for scenario 1 and 2, respectively; p=0.00).

The main identifiers of failure were increase in viral load (31.1%) for scenario 1 and ART

switches (42.8%) for scenario 2. Median duration on second-line ART was 36.8 vs. 19.8

months for scenario 1 and 2, respectively. In the Cox analysis of scenario 2, increased risk

was found for patients given PI-based second-line regimens (HR=2.26; 95% CI: 1.09–3.17).

There is a high incidence of ART failure associated with PI-based regimens when ART

switches are considered as an indicator of failure. This demonstrates the impact of ART

switches in representing lack of ART effectiveness.

Key-words: HIV/AIDS, antiretroviral therapy, therapeutic failure, effectiveness, cohort

studies.

102

ANEXOS

11.4 ANEXO A - Aprovações dos Comitês de Ética

Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG

103

Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Eduardo de Menezes

104

Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Prefeitura de Belo Horizonte