industrializaÇÃo e urbanizaÇÃo porto-alegrense … · no governo federal, a autora vania...
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Anais do III Encontro de Pesquisas Históricas - PPGH/PUCRS.
Porto Alegre, 2016. p.229-243. <www.ephispucrs.com.br>.
INDUSTRIALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃO PORTO-ALEGRENSE NO
CORREIO DO POVO NOS ANOS JK
INDUSTRIALIZATION AND URBANIZATION PORTO-ALEGRENSE IN CORREIO DO
POVO IN THE YARS JK
Robertha Knop Gomes Luiz
Graduada em História/PUCRS
RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo analisar a maneira como o jornal Correio do Povo de Porto Alegre
percebeu as mudanças que ocorriam no Estado e, especialmente, na capital, durante os anos do governo JK, 1956
a 1960, focando no progresso através da industrialização e transformações que a cidade deveria comportar para
se adaptar ao momento, a migração rural e aumento das “malocas”. Perante isso, neste trabalho, procuram-se
examinar os editoriais presentes no jornal, bem como o espaço destinado a “opinião do público” na parte Correio
do Leitor, com o intuito de se determinar os interesses envolvidos entre a imprensa oficial e a construção da
opinião de seus leitores. Primeiramente, abordará o contexto histórico brasileiro e rio-grandense na tentativa de
examinar as transformações que as cidades deveriam comportar para adaptar-se às demandas por infraestruturas
derivadas do desenvolvimento industrial do período. Por esta razão, exploraremos, através de jornais, a migração
de cidadãos rurais para a capital rio-grandense que originou uma maior concentração de pessoas e o aumento de
pobres e “malocas” no espaço urbano. Sobre este último aspecto, a atenção se detém no reconhecer a visão do
jornal, por intermédio de editoriais, sobre o desenvolvimento industrial do período, bem como a sua maneira de
expor a opinião do leitor através da imprensa e a construção de uma opinião pública. Palavras-chave: Correio do Povo. Industrialização. Urbanização. Migração. Malocas.
ABSTRACT This research aims to analyze the way the Porto Alegre newspaper Correio do Povo noticed the changes taking
place in the state, and especially in the capital, while government years JK, 1956-1960, focusing on progress
through industrialization and transformations that the city should act to suit the moment, rural migration and an
increase in "longhouses". In view of this, in this work, are sought to examine the editorial present in the
newspaper as well as the space for the "public opinion" in the Reader's Mail, in order to determine the interests
involved between the official press and the construction of opinion of its readers. First, approach the Brazilian
historical context and Rio Grande in an attempt to examine the changes that cities should behave to adapt to the
demands derived infrastructure of industrial development period. For this reason, we will explore, through
newspapers, the migration of rural people to the Rio Grande capital, which led to a greater concentration of
people and the increase of poor and "huts" in urban space. In that respect, attention has to recognize the paper's
vision, through editorials, on the industrial development of the period, as well as their way to expose the reader's
opinion through the press and the construction of a public opinion.
Keywords: Correio do Povo. Industrialization. Urbanization. Migration. Malocas.
Introdução
Quando lemos os jornais que circulam pelas cidades, de pessoas por pessoas, de
lugares a lugares, nem sempre entendemos, ou melhor, nem sempre conseguimos perceber seu
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verdadeiro sentido, como também suas principais ideias intrínsecas. Utilizaremos as ideias de
Gabriel Tarde em sua obra A opinião e as massas, como também o livro de Walter Lippmann
– Opinião Pública. Com base nessa bibliografia conseguiremos analisar edições do jornal
Correio do Povo compreendido entre os anos de 1956 a 1960.
Podem-se se questionar qual seria a relevância de estudar a marcante administração
pública de JK através de um olhar rio-grandense e não por um pertencente a região Sudeste do
Brasil. Até o presente momento, muito se teve contato com trabalhos analisando as opiniões
de jornais frente às mudanças econômicas, políticas e sociais de outros Estados. Porém,
investigar a maneira como o jornal Correio do Povo constrói a representação das mudanças
ocorridas pelo desenvolvimento industrial para a época, sua visão acerca da migração rural
para a capital Porto Alegre e qual sua intenção perante os leitores na divulgação de
informações a respeito dessa industrialização é o que torna esse trabalho significativo.
Sabemos que não se deve apenas consultar as narrativas presentes nos jornais, mas
antes de tudo analisar a conjuntura histórica em que ele foi produzido, fundadores, escritores,
jornalistas, entre outras características do jornal. Sob esses aspectos no livro A imprensa na
História do Brasil de Maria Helena Rolim Capelato na página 20 refere-se à obra de José
Honório Rodrigues que adverte: “O editorial é a parte menos digna de fé, a notícia e o
anúncio devem ser usados com cautela pois contêm erros. ” Significa que por o editorial
informar a opinião do próprio jornal devemos tratá-lo com atenção redobrada a fim de
encontrarmos o seu verdadeiro ponto de vista. Perante isso, no trabalho que se segue,
procurou-se analisar os editoriais presentes no jornal bem como o espaço destinado à “opinião
do público” na parte Correio do Leitor, na tentativa de se determinar os interesses envolvidos
entre a imprensa oficial e a construção da opinião de seus leitores.
Brasil, seu contexto histórico nos anos 1950
O período do pós-guerra figurou um panorama internacional de recuperação europeia
possibilitando a expansão de investimentos diretos e uma competição entre empresas norte-
americanas e da Europa. Isso colaborou para que, a partir da segunda metade da década de
1950, esse tipo de investimento se inserisse no Brasil. Sob o impulso do Plano de Metas,
1956, ocorreu uma intensa e rápida diferenciação industrial, articulada pelo Estado.
Expandiram-se tanto o setor de bens de capital como as indústrias básicas.
Como característica desse modelo de economia capitalista identificamos a instalação
de pólos de crescimento, que consiste no desenvolvimento de planejamentos industriais. A
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eclosão de um pequeno número de cidades adjacentes a estes pólos contribui para que um
desenvolvimento econômico se espalhasse pelo território regional e nacional. Podemos
identificar essa tentativa de germinação econômica, no caso brasileiro, na construção de
Brasília e todo seu planejamento, visando a implantação de novos pólos (KATZMAN, 1986).
Governos europeus, como o alemão, se interessaram pelo Plano de Metas instaurado
pelo presidente da República Juscelino Kubitschek. Segundo o líder brasileiro, a prática do
Plano visava uma acumulação com o aumento de investimentos existentes, bem como aplicar
em atividades produtoras. Também ampliar as oportunidades de empregos estava entre os
planos (MOREIRA, 2003).
A tabela a seguir ilustra a distribuição dos estabelecimentos industriais e dos operários
inseridos nesse espaço, como também a média do tamanho dos estabelecimentos, segundo o
número de operários, em relação à faixa de ocupação dos trabalhadores industriais nos estados
do Rio Grande do Sul e São Paulo entre os anos 1920 – 50.
Tabela 1: Estabelecimentos industriais e operários nos estados de RS e SP entre os anos 1920 – 1950.
Fonte: Retirada dos censos industriais de 1920 (1º/09) e 1950 (1º/01)
Novas ideias estariam por irromper no período das eleições de 1955. Nesse contexto,
surge na mídia um candidato com propostas voltadas para a modernidade, disposto a
encaminhar o Brasil para uma corrida do desenvolvimento.
Na corrida pela presidência da República, Kubistchek1 realçava a importância do
investimento nesses setores para que o Brasil pudesse participar do bloco dos países
1 Juscelino já apresentava um perfil desenvolvimentista desde quando ocupava a prefeitura da cidade de Belo
Horizonte, como também depois de se tornar governador de Minas Gerais. Já para os anos de sua administração
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desenvolvidos. “Cinquenta anos em cinco”, slogan da campanha de JK, configurava os
objetivos do futuro presidente, que pretendia ministrar um progresso econômico em menor
tempo, sendo este uma ampliação notável, entre outros setores, na instalação de
multinacionais na área automobilística (MOREIRA, 2003).
Segundo Moreira, o Brasil, no período dos anos 50, apresentava características que
atraíam investidores de empresas multinacionais, pois contava com um vasto contingente de
mão-de-obra barata, herança ainda do período das grandes oligarquias. O capitalismo
brasileiro volta-se cada vez mais para uma diversificação industrial, cuja participação do
Estado na economia estimula o investimento privado, bem como o capital estrangeiro.
O desenvolvimento do setor econômico seria alcançado através de grandes
investimentos em infraestruturas, transporte e energia, e da orientação do investimento
privado para os setores produtivos. Juscelino Kubitschek, logo no início de seu mandato,
criou o Conselho do Desenvolvimento, cujos propósitos eram assessorar o presidente da
República na articulação do Plano. Ao longo dos anos foram criados os Grupos Executivos,
com o propósito de estudar, coordenar e incentivar os investimentos nos projetos das
diferentes indústrias.
Dentre as estratégias planejadas por JK para o desenvolvimento econômico nacional, a
construção de Brasília e a expansão territorial para o Oeste, conseguiam, de certa forma,
conciliar as antigas parcerias com os grandes latifundiários brasileiros. A oligarquia rural viu
no projeto de Juscelino uma maneira de ampliar as fronteiras agrícolas em regiões até então
apartadas do processo de desenvolvimento econômico nacional. 2
O interesse latifundiário partiria também para um projeto social ruralista que defendia
uma ligação entre a indústria que avançava com a agropecuária existente, além de
manutenções na propriedade rural em comunhão com a modernização da agricultura. Segundo
citado por Moreira, isso excluía grande parte da população dependente do trabalho rural,
pequenos posseiros ou sem terras, que constituíam 70% dos brasileiros habitantes do campo e
pequenas cidades.
A percepção de que as grandes oligarquias eram predominantemente exportadoras se
esvaiu, pois dependiam da crescente demanda interna provocada pela industrialização.
Aqueles pequenos posseiros, trabalhadores rurais sem terra e alguns povos indígenas, que
no governo federal, a autora Vania Moreira utiliza o termo nacional-desenvolvimentismo para caracterizar a
intensificação do desenvolvimento voltado para o âmbito da indústria de tipo capitalista (MOREIRA, 2003, p.
159). 2 MOREIRA, 2003, p. 177.
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entravam em conflito com os latifundiários dispostos a expandirem suas terras, viam a ida
para a cidade uma nova oportunidade.
O programa de governo de Juscelino apoiou de fato uma expansão do modelo
oligárquico de apropriação territorial. Isso proporcionou um domínio da elite rural sobre os
novos territórios ocupados, influindo no fortalecimento latifundiário numérica, econômica,
social e politicamente. Aos homens e às mulheres pobres que habitavam o interior coube a
retirada para os centros urbanos (MOREIRA, p.185).
Apesar das grandes intenções identificadas nos planos de desenvolvimento econômico
e político para o Brasil, na prática, vemos uma corrida dos indivíduos na tentativa de
incorporarem os blocos operários, pois veem na indústria uma possibilidade de crescimento
financeiro. Nas grandes cidades do país a migração se figura em grandes escalas, onde
famílias residentes do campo visam o bem-estar das cidades assim como o acesso aos bens
duráveis e à tecnologia vinda das empresas multinacionais.
Promovendo um intenso crescimento industrial, não procura solucionar as agudas
contradições do desenvolvimento, particularmente as do campo, cuja miséria e
atraso acabam por permitir a drenagem de mão-de-obra barata para os centros
urbanos em processo de industrialização (MARANHÃO, 1981, p. 55).
O Rio Grande do Sul na caminhada para o desenvolvimento
Uma moderna industrialização nacional só foi possível através de um investimento de
empresas estrangeiras, assim como suas técnicas. E não foi diferente no Rio Grande do Sul.
Com isso, houve uma desigualdade considerável entre algumas regiões do estado gaúcho,
culminando em uma forte concentração de acumulação industrial na parte norte,
enfraquecendo a autonomia industrial do Sul, cuja produção ainda se concentrava nas
charqueadas, com sua ascendência senhorial (ARED; CARIO, 2010, p.393).
Indicado como explicação para a resistência da região sul do estado é uma propriedade
concentrada na terra, enraizada ainda nos antigos sistemas de produção, que no momento
estavam em transição, e de uma rigidez social. Esse polo de industrialização, concentrado nas
cidades de Rio Grande e Pelotas, objetivava exportar a produção, concentrada principalmente
nas charqueadas, para o mercado nacional. O desejo era industrializar a produção de produtos
agropecuários rio-grandenses e não os utilizar como matéria-prima para outros estados.
Contudo, nesse momento da introdução de tecnologias que favoreciam o aumento na
produção, bem como a mudança de interesse para bens duráveis, culminou em um certo
desgaste desses produtos vindos da pecuária (DALMAZO, 1992, p. 79).
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No modelo concentrado no espaço norte, que compreendia Porto Alegre e regiões
coloniais, ocorreu uma proliferação de empresas, bem como a produção de diversificadas
mercadorias. Esses produtores direcionavam o produzido para o próprio mercado regional,
como também nacional. Contudo, não julguemos a diminuição da produção de produtos não-
duráveis. Este setor da indústria continuou mantendo seu crescimento paulatinamente.
Um problema enfrentado nas décadas seguintes ao ano de 1930 foi um esgotamento da
fronteira agrícola, significando certa impossibilidade de seguir alargando a agropecuária
colonial. Inicia-se nesse período uma migração rural-urbana, recaindo sobre o mercado de
trabalho nas cidades. De outra parte, a fragmentação da propriedade da terra na lavoura
colonial obstaculizava a ampliação da produtividade pela adoção de técnicas intensivas em
capital. O latifúndio permaneceu consolidado ao sul do Estado, sem que a pecuária extensiva
alterasse seu padrão produtivo e sem possibilitar utilização mais intensa e produtiva das terras
(HERRLEN JR., 2002, p. 654).
O que se observa a partir da implantação do Plano de Metas de JK é um investimento
concentrado, em sua maior parte, no Sudeste do país, deixando de lado uma mínima parcela
para o Rio Grande do Sul. Com baixas taxas de crescimento, a proposta de sustentação da
industrialização e a prioridade agrícola estavam ameaçadas. As desigualdades regionais no
Brasil eram aceitas, vistas como necessidade do momento de transição da economia
(DALMAZO, 1992).
Nos anos 50, configura-se uma crise econômica regional no Rio Grande do Sul, em
contrapartida com a elevação do quadro econômico brasileiro impulsionado pelo Plano de
Metas de Juscelino Kubitchek. Isso decorrente das instalações de multinacionais que
trouxeram uma tecnologia inovadora, concentrada no sudeste do Brasil.
Estudos mostram também que a crise econômica se intensificou pela falta de
integração rodoviária com o mercado nacional. Com a criação de Brasília, foram construídas
rodovias ligando Estados do Centro-Oeste brasileiro, assim como os do Norte e Nordeste à
nova capital. Essa integração objetivava minimizar os problemas enfrentados com a falta de
vias para comunicação entre o mercado interno (MOREIRA, 2003, p. 177). A integração
submeteu o estado gaúcho a uma concorrência, tanto em território nacional quanto na sua
própria região. Um problema enfrentado foi o início da entrada de produtos industriais do
estado de São Paulo na região Sul com certas vantagens sobre as mercadorias locais.
Em vista desse quadro de crise no setor primário, a renda regional foi altamente
afetada. A percepção da crise abalou os agentes econômicos regionais, os governos estaduais
e também a opinião pública. “Chegou-se a pensar que estava em curso a transformação do RS
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em um ‘novo nordeste’, no sentido de se tornar área periférica, com crescimento restrito e
ampliação da pobreza”. 3
O Plano de Metas não gerou o resultado esperado em algumas economias regionais
nos anos 50, que se estenderia também à primeira metade dos anos 60, já então como crise
nacional. Esse fator deixaria marcas profundas na “autoimagem” da sociedade regional.
Depois de estabelecida a federação e a República, características não encontráveis
em outras regiões do nosso País. Particularmente a existência de uma classe média
que sabia dar o tom aos processos, tonificando-os com a sua presença e com o seu
apego a determinadas normas. A existência dessa classe média e a importância do
seu papel no Rio Grande é que definem o que, no fim de contas, o estado apresenta
de mais firme e duradouro. Ora, é isso que já está com os seus alicerces abalados:
nunca houve, como agora, tantas malocas rodeando as cidades, [...] Nunca o Rio
Grande conheceu a miséria. Está sendo apresentado a ela, agora, e de uma forma
violenta e singular.” Singular porque o RS teria experimentado um tipo de
desenvolvimento econômico peculiar, progressivo, orgânico, que estaria sendo
solapado pela grande indústria de outras regiões que ocupam a vanguarda do
crescimento econômico (SODRE, 1992, p. 110 apud SCHMIDT, HERRLEIN JR).
De acordo com Franklin de Oliveira (1960), um dos pecados ou ainda mais, como o
autor mesmo cita, o terrível crime que o governo de Juscelino cometeu foi, sobretudo, colocar
em execução a política de desenvolvimento que, ao contrário do esperado, somente acentuou
a disparidade e desarticulação entre as regiões do país.
A imprensa assume um papel importante naquilo que consiste em divulgar as
mudanças econômicas do Brasil. Em cada região, os jornais de grande circulação apostam em
notícias que irão mostrar à sociedade local os avanços e, em muitos casos, os benefícios do
grande progresso e da modernidade que o brasileiro está enfrentando.
Nas páginas do Correio do Povo4
Nos três primeiros meses do ano 1956 os ideais e planos de JK estampam a maioria
das capas diárias do jornal analisado. Suas viagens, metas e discursos configuram uma
apresentação do eleito ao povo, sempre procurando destacar a preocupação de Juscelino com
o progresso nacional em vista do internacional. Sob a manchete “Expõe o Presidente da
República ao Ministério Reunido o Seu Programa de Governo”, a edição do Correio do Povo
3 OLIVEIRA, 1960. 4 Jornal fundado por Francisco Antonio Vieira Caldas Junior, em 1 de outubro de 1895. De acordo com
Francisco Rudiger, 1993, o fator que diferenciou o jornal Correio do Povo dos demais existentes até o momento
foi o caráter empresarial que este detinha. O fundador, havia descoberto que o caráter político do jornalismo não
precisava ser explícito.
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do dia dois do mês de fevereiro apresenta o plano de desenvolvimento nacional, realçando as
palavras do presidente na seguinte citação: “o governo inicia, disse encerrando suas palavras o
sr. Presidente, uma marcha cautelosa, firme, mas acelerada no sentido de revitalizar o país,
procurando o bem-estar coletivo e visando o engrandecimento da nação”. 5
Se seguirmos os pensamentos de Gabriel Tarde, entenderemos um pouco mais sobre a
disseminação de ideias que serão ou não aderidas pela sociedade. Podemos, de certa forma,
comparar a compra de uma ideia como a por um produto. A moda, bem como a posição
social, o gosto por um momento, influenciam também no consumo das opiniões. Esta se torna
consumida e não discutida. Dá-se espaço às ideias persuasivas que tomaram o lugar das
antigas autoritárias. Contudo, não perdem o caráter de imposição.
A verdade, perante a opinião, é medida em quantidade. Ela aumenta à medida que é
depositada fé na ideia que se expande entre as pessoas, gerando assim uma opinião
pública. Por esse motivo, a imprensa se responsabiliza pelo rumo que as opiniões irão tomar,
pois ela tem o poder de medir e divulgar a estatística, sendo esta um meio da sociedade se
auto conhecer. Esse fator público colabora para uma opinião pública se transformar em uma
opinião partilhada (TARDE, 1992, p. 21).
O espaço destinado para colaborações do grande público leitor do jornal seguidamente
exprimia relatos e opiniões sobre as “malocas” existentes e espalhadas por Porto Alegre. O
relato a seguir tem como tema algumas mudanças anunciadas pela Prefeitura para o
aproveitamento do terreno existente entre a rua Venâncio Aires e a avenida Getúlio Vargas
para a instalação de um mercado para a venda direta ao público de hortaliças e frutas. Porém,
o que se lê é o não cumprimento dessas mudanças e o surgimento de um “canteiro-abrigo”.
Pena que o projeto não tenha tido andamento, não só pela utilidade pública como
pelo melhoramento urbanístico... agora, com a retirada do parque de diversões que
estava instalado nas proximidades, ficou a descoberto o surgimento de uma vila de
malocas que mais veio enfeiar o aspecto do local.
Ocupando o espaço do popular “Correio do Leitor”, temos como objetivo pedir a
atenção das autoridades municipais para o fato, sugerindo a retirada daquelas
malocas que tanto depõem contra a feição urbana daquele trecho da cidade.6
Uma sequência de notícias de uma mesma semana expunha narrações sobre os
problemas que passava a capital com o fluxo de moradores de moral duvidosa. No dia 15 do
mês de janeiro do ano de 1959, nas páginas 19 e 20, é divulgado o trabalho informal de que
ditos agricultores vêm desempenhar na capital rio-grandense.
5 Correio do Povo, 2 de fevereiro de 1956, p. 19. 6 Correio do Povo, 11 de janeiro de 1959, p. 4.
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Examinava-se a possibilidade de impedir o retorno dos ambulantes à área central e dita
congestionada da cidade, para evitar, como lido na reportagem, o espetáculo de anarquia que
existia em torno do mercado e da Praça Parobé. Embasado em uma lei existente, o executivo
estaria inclinado a vedar o comércio ambulante nos seguintes perímetros: ruas Senhor dos
Passos, Duque de Caxias, General João Manuel até o Guaíba, onde a localização estaria
proibida. Com estas medidas, os ambulantes não mais voltariam ao centro da cidade, e
esperava-se o fim do congestionamento e o desaparecimento de aglomerações, que davam à
cidade, como relatado, um aspecto de mercado oriental.
Aproveitando do mesmo recorte problemático que sofria a cidade, outro pedido é feito
as autoridades locais para um transtorno que atingia os moradores.
É, igualmente, ocasião oportuna para que a polícia providencie em devolver ao uso
do povo, especialmente das famílias, o abrigo de bondes e ônibus da Praça Parobé.
À noite, principalmente, o local é tomado pela prostituição da rua Voluntários da
Pátria e as famílias, com muitas dificuldades, podem cruzar ali, afim de tomar seus
coletivos.
É preciso, assim, seja a oportunidade aproveitada para uma solução definitiva em
que sejam preservados os interesses legítimos e possa a cidade, sem novos
sobressaltos, recuperar sua fisionomia anterior. 7
No dia 18 do mesmo mês, na página 4 do dito jornal encontramos mais um
apontamento sobre o mesmo assunto: o comércio irregular de ambulantes no centro de Porto
Alegre. Num editorial é exposto a opinião sobre as notícias de dias anteriores e a eficácia da
nova ação promulgada com o apoio da Câmara de Vereadores. Aparentemente, a cidade ficou
mais limpa e livre dos mercadores ambulantes que “infectavam” as calçadas, ruas e os largos.
Seguindo as palavras do autor, até então tornara-se um flagelo andar pela cidade. Tinha que
desviar, a cada passo, principalmente nos locais de mais movimento no centro urbano. Para
ele, e aparentemente como deixa claro, para muitos porto-alegrenses, os gritos oferecendo os
produtos eram ensurdecedores aos passantes. Nenhum resultado surtiu efeito as sucessivas
campanhas tentadas contra os vendedores ambulantes. Contudo, agora:
A campanha desta vez levada a efeito parece ter sido afinal vitoriosa. Obteve o
integral apoio da atual administração do Município, e ao qual se somou o da
imprensa, que aliás, sempre tratou do assunto, mas sem resultado, por mais que
mostrasse o abuso e irregularidade em que consistia tal comércio.8
7 Correio do Povo, 15 de janeiro de 1959, p. 20. 8 Correio do Povo, 18 de janeiro de 1959, p. 4.
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O único sentimento que alguém pode ter acerca de um evento que ele não vivenciou é
o sentimento provocado por uma imagem mental daquele evento. Teremos que presumir que
o que cada homem faz está baseado não em conhecimento direto e determinado, mas em
imagens feitas por ele mesmo ou transmitidas a ele. O fato de que os homens teorizam é prova
de que seus pseudo-ambientes, suas representações interiores do mundo, são um elemento
determinante do pensamento, sentimento e ação (LIPPMANN, 2008, p. 37, 38).
Para continuar as grandes realizações de modernização em Porto Alegre atingir a
morfologia da cidade sempre se mostrou um caminho necessário. Na sexta-feira, dia 20 de
novembro do ano de 1959, o município foi oficialmente dividido em 59 bairros, sendo os
nomes instituídos pelo projeto do vereador Ary Veiga Sanhudo.
Com 231 emendas, o Código de Obras da Cidade foi para votação pelo Legislativo na
última semana de novembro de 1959. “Como se sabe, mais de trinta leis e decretos municipais
regulam, até agora, as relações decorrentes do surto de construções civis, assim como de obras
de urbanização em nossa Capital”. 9 De acordo com o jornal, havia urgente necessidade em
sistematizar essa legislação que estava no momento tumultuada e indisciplinada, o que não
condizia com uma capital que conquistou um dos primeiros títulos entre aquelas que mais
acelerado ritmo de construções havia registrado. “Em face desse impulso progressista, que
todos reconhecem vir caracterizando Porto Alegre, impunha-se a adoção de um sistema legal
plasmável e adiantado, empenhando em fazer de nossa cidade uma das mais belas e
adiantadas do Continente Sul-Americano”. 10
No mês de dezembro de 1959, instituiu-se um novo Plano Diretor para Porto Alegre,
um instrumento para o processo de planejamento municipal com o intuito de uma implantação
da política de desenvolvimento da cidade. Composto por 60 artigos, o Plano apresentava um
conjunto de princípios e regras para a utilização do espaço urbano. Neste período, ainda estão
em foco as reclamações das populações marginais. Contudo, na próxima narrativa a ser
apresentada, a palavra marginais está empregada de maneira mais informal, conotando o
vulgarmente conhecido como delinquentes.
Em pleno centro urbano, pois que junto a alterosos edifícios, a dois passos de
modernas avenidas, numa das zonas onde mais concentradas estão as atividades
produtivas, o comércio e a indústria, representados, aliás, no magnífico Palácio do
Comércio, começa o reino das malocas marginais ao Guaíba. O primeiro núcleo das
mesmas, é o da Doca das Frutas – fica à beira do rio e, dali se vem alastrando, como
9 Correio do Povo, 25 de novembro de 1959, p. 4. 10 Correio do Povo, 25 de novembro de 1959, p. 4.
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um rastilho de miséria, por entre as construções, onde quer que haja um terreno
baldio, para as proximidades da Estação ferroviária.11
Ainda na mesma semana um editorial novamente se dirige ao assunto da
modernização em contrapartida do problema das malocas que habitam a cidade. O título agora
é “Marginalismo Urbano”. No texto, são abordados os antigos feitos de outros governantes
que Porto Alegre tivera, de suas administrações e do caminho para a modernização que
desempenharam de modo acertadamente. Todavia, os dois últimos parágrafos têm o objetivo
de um parecer da situação urbana daquele ano.
O crescimento vegetativo da população poderia encontrar, dentro de uma cidade em
constante progresso, correspondente absorção de sentido habitacional e social. Quer
dizer: haveria, dentro de margem normal, possibilidade de alojamento e de
ocupação, de residência e de trabalho, de vida decente e digna, enfim, para as classes
desfavorecidas da fortuna, para as massas operárias, para os que empregam atividade
na função e serviço públicos, no comércio, na conquista dessa condição
indispensável à vida de qualquer indivíduo, quanto mais a essa situação mais
complexa, que está na formação de um lar, implicativa de criação, educação e
encaminhamento dos filhos no rumo das exigências mais naturais à vida em
sociedade.
Mas, ao crescimento vegetativo de nossa Capital se somam as correntes adventistas
de outros municípios, de todo o interior rio-grandense, o êxodo dos campos e
cidades, de fazendas, colônias e lavouras, são levas de gente que vêm para a Capital,
iludidas pelas esperanças de melhor emprego, de escolas para seus filhos, de uma
vida, afinal, que lhes dê um pouco de conforto da civilização. São esses os grandes
desiludidos, os desamparados e miseráveis, que pelo desfalque de energias morais e
recursos econômicos ou financeiros vão se confinar nos aglomerados das malocas.12
Industrialização no Rio Grande do Sul: um olhar crítico
Visto que muitas narrativas dizem respeito às grandes aglomerações de pessoas
“marginais” e o aumento excessivo das “malocas”, procuramos também identificar notícias e
editoriais que expunham um panorama de opiniões acerca da industrialização no Rio Grande
do Sul.
Segundo Dalmazo, as ondas de desenvolvimento do período destinaram-se mais
propriamente para as regiões centrais do Brasil, investindo-se pouco no Rio Grande do Sul.
“Ocorreram efeitos regressivos, restrições ao financiamento público e de bancos oficiais,
contingenciamento de exportações de produtos agrícolas, imposição de preços mínimos
agrícolas, importações com sobretaxa cambial, etc”. 13
11 Correio do Povo, 1 de dezembro de 1959, p. 4. 12 Correio do Povo, 03 de dezembro de 1959, p. 4. 13 DALMAZO, 1992, p. 79.
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No editorial intitulado “Exposição da indústria rio-grandense”, lemos uma
recapitulação sobre aquilo que ocorreu com as indústrias instaladas no Estado. De acordo com
o texto “duas foram as medidas, que sobremodo prejudicaram a expansão das forças vivas do
Rio Grande, o congelamento dos gêneros de primeira necessidade, e, a disciplinação do
crédito que retardam os empreendimentos”. 14
Notamos que além de informar seus leitores com notícias relacionadas aos aspectos
políticos e econômicos, o jornal Correio do Povo possuía o intuito de expor, de maneira sutil,
sua insatisfação com a falta de investimento na industrialização rio-grandense, bem como os
problemas que Porto Alegre enfrentava com um progresso mediano em comparação às outras
capitais de Estados do Sudeste brasileiro. Por terem recursos controlados, a agricultura sulina
sentia os efeitos de inferioridade na produção e isso repercutia nas capas e editoriais do jornal
analisado.
No texto, retirado de um editorial, utilizam-se números para atribuir a real importância
da agricultura, não só para o Estado, mas também para o Brasil. “As atividades rurais figuram
entre as nascentes mais importantes de renda nacional e, a par disso, a produção agro-pastoril
destina-se ao consumo interno, sem esquecer que dela procedem 93% do valor das vendas ao
exterior”. 15 Ao decorrer do texto, apresenta-se a não satisfação da precariedade do transporte,
por exemplo. Também é apontado o problema de pouco investimento na agricultura.
Sob a manchete na capa do jornal, “Sofrerá a Industria Maiores Dificuldades se
Persistirem os Embaraços de Agora”, são relatados aos leitores do dia 21 de janeiro de 1959
as soluções pleiteadas para os problemas que assombram as classes produtoras do Estado.
Através das palavras de Diego Blanco, presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande
do Sul, lemos que caso não forem atendidos os justos reclamos da indústria, relativamente a
uma mais adequada assistência financeira, por parte dos bancos locais, essa classe iria
atravessar um ano de graves dificuldades no setor da manufatura gaúcha.
Avançando na pesquisa encontramos, ao longo do mês de fevereiro, inúmeras notícias
referentes aos problemas enfrentados pelo déficit de investimento nas indústrias gaúchas. Em
março, configuram-se os mesmos moldes de editoriais, abordando consideráveis informações
acerca da economia. Com o título Mão de Obra, a mensagem diz respeito ao problema do
desemprego, apontando este transtorno como uma consequência da falta de investimento de
crédito dispensado ao Estado.
14 Exposição da indústria rio-grandense. Correio do Povo, 4 de janeiro de 1959, p. 4. 15 Maior produtividade agrícola, Correio do Povo, 11 de janeiro de 1959, p. 4.
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A verdade, é que a falta de trabalho vem sendo, em muitas regiões, determinada
principalmente pela depressão econômica inegavelmente observada, como
decorrência das retribuições de crédito, que estão acarretando a não poucas
atividades uma posição difícil e que poderá chegar aos limites da ruina. Ao poder
público cabe, naturalmente, examinar as dificuldades regionais e, na medida em que
o bom senso indica-lo, tomar as providencias acautelatórias indispensáveis. Há
iniciativas, por vezes, que têm mesmo de ruir, por inoportunas, fictícias, mal
preparadas. Outras, contudo, sofrem apenas as contingências de uma fase
excepcional, cumprindo aos governos dar-lhes assistência, para que não venham a
sucumbir, com graves prejuízos para a coletividade.16
Enquanto o pacto entre a indústria e o agrário em prol do desenvolvimento nacional
conseguiu salvar a frágil democracia brasileira em estados do Sudeste, o que identificamos
através das notícias do jornal gaúcho é um ressentimento instaurado pelo precário
investimento no Estado. Hilário Savi, agricultor, expressa sua opinião no Correio do Leitor a
respeito dos problemas do momento, do alto custo de vida, da falta de gêneros de primeira
necessidade no Rio Grande do Sul.
Inúmeras medidas estão sendo apregoadas, entre as quais, a “Volta do Homem ao
Campo”. Muito bem...Realmente é na agricultura que está a salvação! Entretanto,
ocorre uma pergunta: Qual é, no momento, a situação dos que se encontram
trabalhando a terra?
Nem todos os que vivem nas cidades, sabem quanto o agricultor tem de trabalhar e
sofrer. [...] O homem rural, especialmente o pequeno agricultor, é indubitavelmente
um soldado, esquecido e abandonado.
A esses milhões de pequenos agricultores, deem-lhes largo e permanente
financiamento agrícola, rápido e eficiente deem-lhes assistência técnico-agrícola;
assegurem-lhes facilidades na aquisição de máquinas, fertilizantes; deem-lhes
melhores meios de comunicação e transporte;17
Considerações Finais
Sob uma conjuntura nacional, ainda a maior parte da população vivia na parte rural
brasileira, cerca de 60%. JK deixou de cumprir promessas de desenvolvimento social, que
indiretamente estavam associadas ao grande progresso da economia. Os desníveis de avanço
regional não foram superados. Isso podia ser visto ao compararmos as vidas dos moradores do
campo com os da cidade, na ausência ao acesso à terra, à saúde, ao saneamento, direitos
políticos, sociais e trabalhistas. O país permaneceu com desigualdades sociais e larga
conjuntura de pobreza (MOREIRA, 2003, p.189).
O progresso, num primeiro momento, foi visto como uma oportunidade de
crescimento para a economia rio-grandense. O Plano de Metas, de Juscelino Kubitschek,
16 Mão de Obra, Correio do Povo, 18 de março de 1959, p. 4. 17 A volta ao campo, Correio do Povo, 22 de novembro de 1959, p. 4.
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ganhou destaque nos primeiros exemplares de 1956. Narrativas com palavras positivas, de
incentivo e apoio chegavam ao público.
Porém, na base da leitura realizada sobre os editoriais, percebemos uma tendência à
não aprovação do plano de industrialização. Obviamente, essa opinião pode ser observada
mais claramente nos jornais do ano de 1959, final do governo JK, cujas narrativas expunham
a falta de investimento na agricultura, os transtornos da migração para capital e o incomodo
perante o surgimento das “malocas”.
Como já referido, mesmo que não possa ser tomado como expressão decisiva sobre a
opinião pública, as ideias presentes num jornal como o Correio do Povo, dada a sua ampla
difusão e prestígio entre políticos e leitores, serve como bom indício dos posicionamentos
políticos e ideológicos que circulavam pela sociedade gaúcha da época. Verificamos as
grandes repercussões que tiveram os assuntos relacionados com obras públicas, economia
embasada no progresso, industrialização para o futuro e o que ainda deixava a cidade com
ares de atraso quando se dirigiam às “malocas” e “marginais urbanos”. Os símbolos da
opinião pública estão sujeitos a comparações, debates e críticas em certos casos. Este foi o
papel pretendido ao analisarmos o jornal Correio do Povo nesses anos sobre as principais
representações acerca do “progresso” nacional e regional na segunda metade dos anos 50.
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