influÊncia do biofeedback no treino de marcha de … · obrigada pelo investimento, valeu à pena!...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA INFLUÊNCIA DO BIOFEEDBACK NO TREINO DE MARCHA DE SUJEITOS HEMIPARÉTICOS: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO ANA CAROLINA DE AZEVEDO LIMA BRASILEIRO NATAL – RN 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA

INFLUÊNCIA DO BIOFEEDBACK NO TREINO DE MARCHA DE SUJEITOS

HEMIPARÉTICOS: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO

ANA CAROLINA DE AZEVEDO LIMA BRASILEIRO

NATAL – RN

2011

2

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA

INFLUÊNCIA DO BIOFEEDBACK NO TREINO DE MARCHA DE SUJEITOS

HEMIPARÉTICOS: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO

ANA CAROLINA DE AZEVEDO LIMA BRASILEIRO

Dissertação apresentada à Universidade Federal

do Rio Grande do Norte – Programa de pós-

graduação em Fisioterapia para a obtenção do

título de Mestre em Fisioterapia

Orientadora: Profa. Dra. Ana Raquel R. Lindquist

NATAL – RN

2011

3

Seção de Informação e Referência Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA

Brasileiro, Ana Carolina de Azevedo Lima. Influência do biofeedback no treino de marcha de sujeitos

hemiparéticos: ensaio clínico randomizado – Natal, RN, 2011.

73 f. ; il.

Orientador: Ana Raquel Rodrigues Lindquist.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia.

1. Acidente cerebrovascular - Dissertação. 2. Biorretroalimentação – Dissertação. 3. Marcha –

Dissertação. 4. Hemiparesia – Dissertação. I. Lindquist, Ana Raquel R. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título.

4

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia

Jamilson Simões Brasileiro

iii

5

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA

INFLUÊNCIA DO BIOFEEDBACK NO TREINO DE MARCHA DE SUJEITOS

HEMIPARÉTICOS: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO CONTROLADO

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Ana Raquel Rodrigues Lindquist, Presidente - UFRN

Profa. Dra Fátima Valéria Rodrigues de Paula – Externo - UFMG

Profa. Dra. Tania Fernandes Campos – Interno - UFRN

Aprovada em 24/02/2011

iv

6

Agradecimentos

À Profa. Ana Raquel Lindquist, pela paciência e compreensão durante esses dois anos.

Mais do que conceitos e teorias de marcha e controle motor, aprendi com você que

disciplina combina com tranqüilidade e alegria, e que a responsabilidade pode ser

atribuída depositando-se confiança. Você confiou em mim, e isso me estimulou a lutar!

Muito obrigada por fazer parte dessa conquista.

Às Profas. Fátima Rodrigues e Tania Campos, membros da banca examinadora, por

terem aceitado o convite, dedicando seu tempo à leitura e discussão deste trabalho

para engrandecimento do seu conteúdo.

À Profa. Tania Campos por ter me ensinado o que é a pesquisa e me inserido no

mundo científico. Você foi a responsável por despertar em mim os questionamentos e

a busca por respostas tão importantes para conseguirmos ciência na nossa área.

Obrigada pelo investimento, valeu à pena!

Aos demais professores do programa por todos os ensinamentos, que foram

essenciais para a minha formação e para a construção deste trabalho. Sinto-me

orgulhosa em fazer parte do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da UFRN.

Aos funcionários desta instituição, Patrícia, Marcos, Joseane e Rose, pela

disponibilidade e atenção.

Aos pacientes pela confiança e disponibilidade, trazendo-nos muitas vezes alegria

quando estávamos tão concentrados nos problemas inerentes da pesquisa. Obrigada

por nos lembrar que o objetivo principal desse estudo são vocês.

Aos meus pais, Carlos Luiz e Maria José, por serem a ESSÊNCIA da minha vida.

Obrigada por terem me passado os valores mais importantes de uma formação, que é

a honestidade, a humildade e a ética. Vocês me presentearam com uma família linda,

com meus irmãos Carlos Eduardo e Pâmela, e me ensinaram o verdadeiro conceito do

v

7

alicerce familiar. Sinto orgulho de sermos vistos como um exemplo de família.

Obrigada por serem meus verdadeiros Mestres na disciplina da vida. Amo vocês!

Ao meu marido, Jamilson, meu amor, amigo e companheiro. Encontrar a tranqüilidade

e o carinho em você após um dia de estresse ou decepção, não tinha preço. Obrigada

pela paciência, apoio, compreensão das ausências, pelas dúvidas sanadas e,

principalmente, por participar da minha vida de forma tão presente e por fazer dos

meus sonhos os seus sonhos. Te amo!

Às amigas Aline Freire, Luciana Protásio, Maria Isabel Noronha, Elijane Alves, Carla

Candice e Sheyla Lago por estarem ao meu lado desde a graduação como grandes

companheiras e por compartilharem comigo momentos desse Mestrado, da concepção

do projeto às angústias finais da entrega. Valeu pela companhia e pela torcida,

amigas!

Às amigas Cinthia Moreno e Luciana Mendes, por todos os ensinamentos de

cinemetria e pela imensa vontade de ajudar, mesmo em meio a momentos tão

particulares de suas vidas, como um casamento e o nascimento de um filho.

À Emília Gomes, por toda a ajuda na difícil tarefa de recrutamento dos pacientes. Não

chore por ter sido nossa “escravinha”, porque no final o reconhecimento sempre vem.

Você foi peça fundamental para a realização desse trabalho.

Às minhas companheiras de laboratório, Tatiana Souza, Gabriela Lopes e Larissa

Lucena, pela maravilhosa convivência e pelo exemplo de ajuda mútua. Fico muito feliz

em ver o nosso laboratório com um clima tão descontraído e com tamanha

responsabilidade. Tati, obrigada pela prontidão em que você sempre me ajudou e por

todas as orientações e bizus, sempre preocupada com que os mesmos erros não

fossem cometidos. Gabi e Larissa, obrigada pela alegria, dedicação e cuidado

despendidos a essa pesquisa como se fosse de vocês. Valeu pelas férias perdidas,

pelos dias e noites no laboratório e pelas idas e vindas nas casas dos pacientes. Sem

vocês eu não teria conseguido!!!

vi

8

Aos colegas vizinhos de laboratório, Rafaela, Ivy, Caio e Francisco, pela ótima

convivência e por compartilhar conosco os momentos de desespero nas coletas de

dados, nas inúmeras faltas de pacientes, com tamanha vontade em ajudar que

queriam representar um padrão hemiplégico para substituir um sujeito da amostra!

Às amigas da Fisioterapia do Hospital Naval de Natal, Anna Paula, Ana Ide, Mirian,

Viviane e Caroline, pela imensa disponibilidade em ajudar, não diretamente na

pesquisa, mas em me proporcionar tempo livre para que eu pudesse assistir aula,

coletar os dados, processá-los, analisá-los, escrever... Enfim, vocês cobriram minha

ausência em muitos momentos possibilitando o desenvolvimento deste trabalho;

somos militares e sabemos a dificuldade disso. Obrigada por tudo e agora é minha vez

de retribuir. Que venha a próxima Mestre do HNNa!

Aos colegas fisioterapeutas do Hospital Giselda Trigueiro pela compreensão e

constantes trocas e alterações na escala.

O meu MUITO OBRIGADA a todos e a cada um que ajudou e incentivou esse

processo, contribuindo para a minha imensa alegria em hoje me tornar Mestre!

vii

9

Sumário

Lista de Figuras .................................................................................................

x

Resumo ..............................................................................................................

xi

Abstract ..............................................................................................................

xii

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................

14

2. JUSTIFICATIVA ..................................................................................................

19

3. OBJETIVOS ........................................................................................................ 21

3.1 Geral ............................................................................................................. 22

3.2 Específicos ....................................................................................................

22

4. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 23

4.1 Desenho do estudo ....................................................................................... 24

4.2 População e amostra .................................................................................... 24

4.2.1 Cálculo amostral ................................................................................... 24

4.2.2 Critérios de inclusão e exclusão ........................................................... 24

4.3 Instrumentos e procedimentos ...................................................................... 25

4.3.1 Avaliação neurológica e motora ............................................................ 25

4.3.2 Análise da marcha ................................................................................ 26

4.3.3 Procedimentos ...................................................................................... 29

4.4 Redução dos dados ...................................................................................... 34

4.5 Análise estatística .........................................................................................

35

5. ARTIGO............................................................................................................... 36

Introdução ........................................................................................................... 38

Métodos................................................................................................................ 39

Resultados............................................................................................................ 44

Discussão............................................................................................................. 49

Conclusão............................................................................................................. 53

Referências Bibliográficas....................................................................................

54

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA DISSERTAÇÃO .................................

58

viii

10

7. ANEXOS 62

Anexo 1 – Escala Modificada de Ashworth ......................................................... 63

Anexo 2 – Functional Ambulatory Category ....................................................... 64

Anexo 3 – Mine-Exame do estado Mental MEEM .............................................. 65

Anexo 4 – National Institute of Health Stroke Scale ……………………………… 66

Anexo 5 – Stroke Rehabilitation Assessment of Moviment ………………………

68

APÊNDICES .......................................................................................................

Apêndice 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ..............................

Apêndice 2 – Ficha de Avaliação Clínica ............................................................

ix

11

Lista de Figuras

FIGURA 1 – Posicionamento das câmeras do sistema Qualysis de movimento em

torno da passarela de coleta ..................................................................................

26

FIGURA 2 – Calibração do sistema com representação esquemática dos eixos de

coordenadas (x, y e z) .............................................................................................

27

FIGURA 3 – Posicionamento dos marcadores de referência e de rastreamento –

visão anterior (A), lateral (B) e posterior (C) ................................................................

28

FIGURA 4 – Disposição dos marcadores para a coleta estática (A) e dinâmica (B) ..........

30

FIGURA 5 – Treino de marcha em esteira com SPP .................................................

31

FIGURA 6 – Biofeedback Visual ....................................................................................

32

FIGURA 7 – Desenho do Estudo ...................................................................................

33

x

12

RESUMO

INTRODUÇÃO: O treino de marcha em esteira com suporte parcial de peso (SPP) tem

mostrado diversos benefícios para o paciente após um acidente vascular encefálico

(AVE), tendo-se, no entanto, pouco conhecimento dos seus resultados associados ao

estímulo por biofeedback. OBJETIVO: Verificar os efeitos imediatos do biofeedback,

visual e auditivo, associado ao treino de marcha em esteira com SPP sobre a marcha

de sujeitos hemiparéticos. MÉTODOS: Foi realizado um ensaio clínico, randomizado e

controlado com 30 sujeitos no estágio crônico do AVE, submetidos ao treino de

marcha em esteira com SPP (controle), podendo ser associado ao biofeedback visual

(experimental I), dado pelo monitor da esteira por meio do aparecimento de pés

simbólicos à medida que o sujeito dava o passo, ou ao biofeedback auditivo

(experimental II), usando-se um metrônomo em uma frequência de 115% da cadência

do indivíduo. Os sujeitos foram avaliados por cinemetria, sendo os dados obtidos pelo

Sistema de Análise de Movimento Qualisys. Para avaliar as diferenças entre os grupos

e dentro de cada grupo após o treinamento, foi aplicada o teste paramétrico ANOVA 3

x 2 de medidas repetidas. RESULTADOS: Não houve diferenças estatísticas entre os

grupos em nenhuma das variáveis espaço-temporais e angulares da marcha, mas

dentro de cada grupo houve um aumento da velocidade da marcha e do comprimento

do passo após o treinamento. O grupo do biofeedback visual aumentou o tempo de

apoio e reduziu o tempo de balanço e sua razão de simetria; e o grupo do biofeedback

auditivo reduziu o tempo de duplo suporte. Houve um aumento da ADM do joelho e

tornozelo e da flexão plantar no grupo biofeedback visual. CONCLUSÃO: Não há

diferenças entre os efeitos imediatos do treino de marcha em esteira com SPP

realizado sem e com biofeedback visual ou auditivo. No entanto, o biofeedback visual

pode promover alterações em um maior número de variáveis espaço-temporais e

angulares da marcha.

Palavras-chave: acidente cerebrovascular, biorretroalimentação, marcha, hemiparesia

xi

13

ABSTRACT

BACKGROUND: Treadmill training with partial body weight support (BWS) has shown

many benefits for patients after a stroke. But their findings are not well known when

combined with biofeedback. OBJETIVE: The purpose of this study was to evaluate the

immediate effects of biofeedback, visual and auditory, combined with treadmill training

with BWS on on walking functions of hemiplegic subjects. METHODS: We conducted a

clinical trial, randomized controlled trial with 30 subjects in the chronic stage of stroke,

underwent treadmill training with BWS (control), combined with visual biofeedback,

given by the monitor of the treadmill through the symbolic appearance of feet as the

subject gave the step; or auditory biofeedback, using a metronome with a frequency of

115% of the cadence of the individual. The subjects were evaluated by kinematics, and

the data obtained by the Motion Analysis System Qualisys. To assess differences

between groups and within each group after training was applied to ANOVA 3 x 2

repeated measures. RESULTS: There were no statistical differences between groups

in any variable spatio-temporal and angular motion, but within each group there was an

increase in walking speed and stride length after the training. The group of visual

biofeedback increased the stance period and reduced the swing period and reason of

symmetry, and the group auditory biofeedback reduced the double stance period. The

range of motion of the knee and ankle and the plantar flexion increased in the visual

biofeedback group. CONCLUSION: There are no differences between the immediate

effects of gait training on a treadmill with BWS performed with and without visual or

auditory biofeedback. However, the visual biofeedback can promote changes in a

larger number of variables spatiotemporal and angular gait.

Keywords: stroke, biofeedback, gait, hemiparesis.

xii

14

1 INTRODUÇÃO

15

O Acidente Vascular Encefálico (AVE) constitui-se na terceira causa de morte

no mundo, além de ser um importante contribuinte para incidência de deficiências

físicas e incapacidades que constituem sobrecarga para uma vida independente1. No

Brasil, o AVE é a primeira causa de morte em pessoas idosas e a maior causa de

incapacidade motora transitória e invalidez permanente2, tendo apresentado os

maiores índices mundiais de AVE isquêmico entre 2000 e 20083.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, é definido como um

comprometimento neurológico agudo, de origem vascular e início súbito, com duração

de mais de 24 horas, ou que cause a morte2.

Pode ser classificado como isquêmico ou hemorrágico. O AVE isquêmico

representa a grande maioria dos casos, e decorre de insuficiência de suprimento

sanguíneo cerebral, resultante da oclusão arterial por coágulos que se formam tanto

na luz dos vasos (trombose arterial) como em qualquer outra região do corpo,

migrando posteriormente até o encéfalo (embolia cerebral)4. O AVE hemorrágico

corresponde a cerca de 10% dos casos e pode resultar de hipertensão ou decorrer de

condições patológicas vasculares prévias, como aneurismas e malformações

arteriovenosas5.

A sintomatologia do AVE é dependente de uma série de fatores, como a

localização do processo isquêmico, o tamanho da área de isquemia, natureza e

funções da área envolvida e a disponibilidade de um fluxo sanguíneo colateral. A

hemiparesia é encontrada em 80 a 90% dos casos, de modo que os pacientes tornam-

se incapazes de gerar a tensão ou a força muscular necessária para iniciar o

movimento, o que costuma acarretar alterações na marcha6.

De acordo com Segura7, a marcha hemiparética é lenta, laboriosa e abrupta,

sendo resultante tanto de alterações que ocorrem no controle central da atividade

muscular, quanto do desenvolvimento de estratégias neuromusculares

compensatórias. Isso ocorre devido aos inúmeros prejuízos na percepção-cognição,

no controle motor, no equilíbrio, no tônus e força muscular desses pacientes.

A presença dessas alterações acaba por gerar uma série de mudanças nas

variáveis espaciais, temporais e angulares da marcha do hemiparético quando

comparadas com a marcha normal. De acordo com Araújo8, um ciclo de marcha

corresponde ao intervalo entre dois toques do mesmo calcanhar no solo. Esse ciclo

pode ser dividido em duas fases: apoio (0-60%) e balanço (60-100%). A fase de apoio

corresponde ao período em que o pé está em contato com o solo e pode ser

16

subdividido em primeiro duplo apoio (0-10%), apoio simples (10-50%) e segundo duplo

apoio (50-60%). A fase de balanço corresponde ao período em que o pé não está em

contato com o solo e é subdividido em balanço inicial (60-75%), balanço médio (75-

85%) e balanço terminal (85-100%).

Chen9 relata que pacientes com hemiparesia exibem uma redução no

comprimento do passo e do ciclo da marcha quando comparados a sujeitos normais.

Além disso, há um aumento no período do ciclo, com consequente redução na

velocidade e cadência. As fases de apoio e balanço também se encontram alteradas,

com aumento do período do apoio duplo e do apoio simples do membro não

acometido decorrente da dificuldade em realizar o deslocamento do membro

acometido na fase de impulsão10,11. Além disso, a inabilidade de gerar força prejudica

a fase de balanço da perna não acometida, havendo contato prematuro do pé não

acometido no chão, com diminuição da flexão do quadril e do balanço do tronco12.

Em relação às variáveis angulares, várias alterações têm sido reportadas na

literatura. No membro inferior parético, observa-se uma diminuição da flexão do quadril

associada a maiores angulações para a flexão do joelho e flexão plantar do tornozelo

no contato inicial. Na fase de apoio, a extensão do quadril é limitada e ocorre a queda

da pelve contralateral (sinal de Trendelenburg). Por outro lado, na fase de balanço

observa-se a elevação excessiva do pé decorrente do déficit de dorsiflexão e uma

redução na flexão do joelho no momento que o pé deixa o solo, e no seu pico de

flexão durante o balanço11,13. Surge, então, o movimento de circundução do quadril

para compensar esses déficits e promover a liberação total do pé durante essa fase,

evitando que este arraste no solo. Todas essas alterações e mecanismos

compensatórios aumentam o gasto de energia durante a marcha dos indivíduos

hemiparéticos9.

As alterações supracitadas, características do comprometimento motor,

resultam de uma ativação muscular anormal decorrente de lesões no córtex cerebral

ou feixe córtico-espinhal presentes no AVE, o que ocasiona alterações das conexões

corticais com o tronco encefálico, o cerebelo e a medula espinhal14.

A melhora funcional do indivíduo hemiparético está relacionada à

neuroplasticidade do sistema nervoso central (SNC). O nível da recuperação da

função motora, por sua vez, é fortemente influenciado pelo tipo do treino motor

realizado no processo de reabilitação15.

17

Um dos principais propósitos da reabilitação é levar o paciente a atingir o nível

mais alto possível de independência funcional. A marcha é um dos componentes

essenciais para atingir essa independência e, portanto, sua restauração constitui-se

num objetivo fundamental na reabilitação desses pacientes15,16.

O treino de marcha em esteira com suporte parcial de peso (SPP) é uma

abordagem que vem ganhando interesse científico e clínico. Constitui-se num sistema

de suspensão que reduz a carga sobre o aparelho musculoesquelético durante o

treino17,18. Seus benefícios fundamentam-se na existência de circuitos neuronais

específicos na medula espinhal capazes de gerar respostas motoras oscilatórias ��

os geradores centrais de padrão (GCP).

Esses circuitos são bem documentados em estudos animais19,20,21, baseando-se

em evidências indiretas para inferir resultados em humanos. Sua participação no

controle da marcha ocorre por meio da geração de uma atividade neural motora

rítmica, com melhora do padrão locomotor através de informações aferentes

provenientes dos sistemas visual, vestibular e proprioceptivo19-22. Nesse sentido, a

esteira com SPP vem se mostrando eficaz como meio de prover adequada atividade

aferente ao GCP, sendo capaz de influenciar os circuitos espinais locomotores, e em

conseqüência, o padrão de marcha23.

Diversos autores demonstraram que o treino em esteira com SPP facilita a

recuperação da marcha em sujeitos hemiparéticos11,12,16-18. De acordo com esses

autores, a suspensão gerada pelo SPP dá maior segurança e melhora o alinhamento

postural do paciente, propiciando uma maior permanência em apoio unipodal, aumento

de descarga de peso no lado afetado, e marcha mais simétrica11,17,18. A facilidade da

marcha gerada por esse sistema de treinamento decorre também do auxílio do

movimento da esteira, que ajuda na extensão do quadril na fase final do apoio,

gerando um importante estímulo sensorial para a tríplice flexão no início da fase de

balanço em conseqüência da ativação rítmica dos geradores centrais de padrão16.

Além disso, a esteira oferece condições ideais para a reprodução dos movimentos

específicos da marcha de forma constante, fator de essencial importância para os

processos de reaprendizagem e memória11.

A aprendizagem motora é o resultado direto da prática e depende muito dos

processos de informação sensorial e feedback, que pode ser traduzido como uma

retroalimentação, referindo-se à utilização de uma informação de saída (resposta) que

vai modificar a informação de entrada, de forma a corrigir ou regular essa resposta. O

18

feedback desempenha papel relevante nesse sentido, podendo ser intrínseco,

ocorrendo como um resultado natural do movimento, ou extrínseco, propiciando pistas

sensoriais externas24.

Considerado um importante adjunto no programa de reabilitação do indivíduo

com lesão neurológica, o biofeedback é um incremento no programa terapêutico. Ele

fornece informações ao indivíduo sobre uma função ou reposta fisiológica e o permite

modular a resposta motora25. Os mecanismos neurológicos desse estímulo, no

entanto, ainda não estão claros. Basmajian26 sugeriu que novos caminhos neurais são

desenvolvidos ou que uma alça de feedback auxiliar recruta vias cerebrais e espinais

existentes. Huanh e Wolf25, por outro lado, sugeriu que o feedback visual e auditivo

ativa sinapses usadas e não usadas na execução do comando motor, de modo a

estabelecer novos engramas sensoriais e ajudar o desempenho dos pacientes mesmo

após a retirada dos estímulos. Em geral, o biofeedback pode realçar a plasticidade

neural por promover estímulos sensoriais auxiliares, sendo uma importante ferramenta

para a neuroreabilitação.

Vários autores demonstraram benefícios do estímulo por biofeedback nos

parâmetros da marcha de sujeitos hemiparéticos, com aumento na velocidade da

marcha e na largura do passo27-33. Esses estudos, em sua maior parte, realizaram o

estímulo de biofeedback por eletromiografia, método de feedback mais usado no treino

de marcha de indivíduos após um AVE. Outras formas de biofeedback, como cinético,

cinemático e espaço-temporal, tem sido usado na reabilitação e treino da marcha,

mas em menor escala. Segundo Tate32, que realizou uma revisão sistemática sobre o

uso de biofeedback durante o treino de marcha de pacientes após AVE em 2010, há

poucos estudos29,30 que utilizaram o estímulo espaço-temporal e ainda permanece

desconhecido se esses métodos são efetivos no tratamento das anormalidades da

marcha desses indivíduos.

Nesse sentido, torna-se necessária a realização de novos estudos para

elucidar o uso do biofeedback no treino de marcha de sujeitos hemiparéticos, já que o

levantamento bibliográfico mostrou poucas evidências sobre a combinação destes dois

recursos. Considerando que a literatura o tem apontado como um poderoso

instrumento para o ajuste das estratégias motoras de pessoas com algum déficit

neurológico, questiona-se: o treino de marcha em esteira com SPP associado ao

biofeedback visual ou auditivo melhora o padrão da marcha de indivíduos que

sofreram AVE?

19

2 JUSTIFICATIVA

20

O AVE é um dos principais fatores causadores de deficiência e dependência

funcional. A diminuição da qualidade de vida do indivíduo após um AVE é largamente

atribuída aos déficits da função motora e o comprometimento da marcha é um fator

importante nesse sentido9.

Por essa razão, muito se tem pesquisado sobre meios de melhorar ou otimizar

a capacidade funcional de indivíduos com déficit na função motora após o AVE,

enfatizando o treino da marcha, que representa uma função preponderante para a

maior independência funcional.

Vários estudiosos têm proposto o uso da esteira com SPP para o treino de

marcha. Sugere-se que ela facilita a aquisição de novas habilidades motoras por

induzir novas reorganizações cerebrais34. No entanto, os trabalhos desenvolvidos até

agora trazem pouca evidência sobre a influência do biofeedback nos parâmetros da

marcha e pouco se tem investigado sobre possíveis alterações nesses parâmetros por

uma análise cinemática. A reabilitação utilizando esse recurso poderá se desenvolver

de forma favorável, contribuindo para a melhora do paciente.

Dessa forma, levanta-se a relevância de se fazerem investigações clínicas

associando o biofeedback ao treino de marcha em esteira com SPP no sentido de

avaliar os possíveis efeitos desse recurso e sua contribuição na melhora da marcha

hemiparética.

21

3 OBJETIVOS

22

3.1 Geral

Verificar os efeitos imediatos do biofeedback, visual e auditivo, associado ao

treino de marcha em esteira com SPP, sobre a marcha e a função motora de sujeitos

hemiparéticos.

3.2 Específicos

- Avaliar e comparar as variáveis espaço-temporais da marcha nas condições:

marcha sem biofeedback, marcha com biofeedback visual e marcha com biofeedback

auditivo, antes e após o treinamento e entre os grupos de treinamento;

- Comparar a amplitude de movimento e os deslocamentos angulares do

quadril, joelho e tornozelo do membro inferior parético antes e após o treinamento e

entre os grupos controle, biofeedback visual e biofeedback auditivo;

23

4 MATERIAIS E MÉTODOS

24

4.1 Desenho do estudo

O estudo caracterizou-se como um ensaio clínico randomizado, controlado e

cego. A randomização foi realizada por meio de sorteio simples e os grupos foram

codificados em nomes de flores, de forma que o pesquisador não tinha conhecimento

do treinamento que seria realizado no paciente.

4.2 População e Amostra

A população foi composta por pacientes com diagnóstico clínico de AVE, em

atendimento ou em listas de espera de centros de reabilitação e de hospitais de

referência da cidade de Natal/RN.

4.2.1 Cálculo amostral

O tamanho da amostra foi definido através do uso do STATCALC do programa

Epi Info versão 6.04 para Windows, considerando um nível de confiança de 95% e um

poder do estudo de 80%. Para o cálculo, foram utilizados os dados da variável

velocidade da marcha de indivíduos com AVE obtidos do estudo de Takami e

Wakayama34. Tais autores obtiveram uma média da velocidade igual a 59,3 m/min e

um desvio-padrão (s) de 29,4 passos/min.

Baseado nesses valores foi encontrado um n amostral de 30 indivíduos para

este estudo, os quais foram distribuídos em três grupos: grupo controle (n=10), grupo

experimental I (n=10) e grupo experimental II (n=10).

4.2.2 Critérios de inclusão e exclusão

Para participar do estudo, os indivíduos deveriam preencher os seguintes

critérios de inclusão:

- estar no estágio crônico do AVE (tempo de lesão acima de 6 meses);

- apresentar hemiparesia;

- ter lesão cerebral unilateral e não-recorrente;

25

- apresentar espasticidade leve a moderada, tendo níveis 1 ou 2 da escala

modificada de Ashworth (Anexo 1) que, segundo Ansari35, constitui-se num teste

clínico eficaz e válido para medir o tônus muscular após o AVE. Possui níveis de 0 a 5,

onde 0 representa nenhum aumento do tônus muscular e 5 indica articulação rígida

em flexão ou extensão;

- apresentar habilidade para deambular funcionalmente, com algum auxílio

pessoal ou com uso de dispositivos auxiliares para a marcha, níveis 4 ou 5 do

protocolo de Categoria de Deambulação Funcional, FAC – Functional Ambulatory

Category (Anexo 2), que classifica em 6 níveis a habilidade para andar, de acordo com

a quantidade de suporte físico requerido para percorrer uma distância de 10 metros36.

- apresentar marcha lenta (velocidade menor que 0,4 m/s) ou moderada

(velocidade de 0,4 a 0,8 m/s) de acordo com a classificação da marcha baseada na

velocidade de Bowden e colaboradores37.

- não apresentar déficit cognitivo, devendo ter escores superiores a 19/20 ou

23/24 no Mine Exame do Estado Mental (MEEM) (Anexo 3) para pacientes sem e com

escolaridade, respectivamente38.

- não apresentar outras patologias ortopédicas ou neurológicas que

acarretassem seqüelas funcionais além das trazidas pelo AVE nem deficiência visual

e/ou auditiva que viessem a prejudicar o treino por biofeedback.

Os critérios de exclusão foram:

- presença de instabilidade na condição cardiovascular durante o treino;

- falta de compreensão das instruções para a realização do treino.

4.3 Instrumentos e procedimentos

4.3.1 Avaliação Neurológica e Motora

Na avaliação neurológica, foi utilizado o protocolo National Institute of Health

Stroke Scale (NIHSS) (Anexo 4) que categoriza os indivíduos em relação à gravidade

do comprometimento neurológico, caracterizando-o como déficit mínimo (escore de 0 a

1), déficit leve (escores de 2 a 5), déficit moderado (escore de 6 a 15), déficit

importante (escore de 16 a 20) e déficit grave (escores maiores que 20)39.

26

A avaliação da função motora foi realizada por meio do protocolo Stroke

Rehabilitation Assessment of Movement (STREAM) (Anexo 5) que permite o

acompanhamento da mobilidade básica e do movimento voluntário dos membros. Ele

analisa 30 itens distribuídos em 3 partes: movimentação voluntária do membro

superior (10 itens), do membro inferior (10 itens) e mobilidade básica (10 itens), sendo

atribuída uma pontuação final máxima de 20 pontos para o membro superior, 20 para

o inferior e 30 para a mobilidade básica, de acordo com a qualidade da resposta40.

4.3.2 Análise da marcha

A avaliação da marcha foi realizada em uma passarela de 10 metros de

comprimento e seus dados cinemáticos, temporais e espaciais foram obtidos por meio

do sistema instrumental de captura do movimento Qualisys (Qualisys Motion Capture

System, Qualisys Medical AB, Suécia) (FIGURA 1). Trata-se de um sistema de

fotogrametria baseado em vídeo, constituído por câmeras interligadas em série que

captam a luz infravermelha refletida por marcadores colocados em pontos anatômicos

e em segmentos corporais do indivíduo, gerando uma imagem bidimensional (2D) das

posições dos mesmos. Através das imagens combinadas das câmeras, obtém-se as

coordenadas do marcador e se constrói o movimento em três dimensões (3D)41.

FIGURA 1. Posicionamento das câmeras do sitema Qualysis de movimento

em torno da passarela de coleta.

27

Para este estudo foram utilizadas oito câmeras (Qualysis Oqus 300) e uma

frequência de captação de 120Hz feita pelo software de aquisição Qualisys Track

Manager 2.3 – QTM. Em seguida, os dados gerados pelo QTM foram exportados para

o software de processamento Visual 3D (Visual3D Standard, 4.75.33 - C-Motion,

Rockville, MD, EUA), que permite a análise das variáveis espaço-temporais e

angulares da marcha a partir de um modelo biomecânico42.

Para determinar as coordenadas de referência global, obtendo o rastreamento

dos marcadores e a transformação dos dados em 3D, é necessário realizar a

calibração do sistema utilizando-se uma estrutura de referência metálica em forma de

“L” posicionada no centro da passarela de coleta, a qual contém quatro marcadores

refletivos. A partir destes define-se as coordenadas em três planos ortogonais: ântero-

posterior (eixo Y), médio-lateral (eixo X) e vertical (eixo Z) para então realizar uma

varredura da área de coleta dentro do volume de interesse com uma batuta em

formato de “T” contendo dois marcadores refletivos fixos na extremidade da haste

superior. A batuta era movida em todos os planos durante 20 segundos, de acordo

com as instruções do manual40 (FIGURA 2).

FIGURA 2 – Calibração do sistema com representação esquemática dos eixos de

coordenadas (x, y e z)

z

y

x

28

Para a captura do movimento, o sistema faz uso de dois tipos de marcadores:

os marcadores de referência, necessários para a construção do modelo biomecânico a

partir da identificação do comprimento dos segmentos e a localização dos eixos

articulares; e os marcadores de rastreamento que determinam a trajetória de cada

segmento durante o movimento por meio de no mínimo três marcadores, posicionados

de forma não-colinear.

Os segmentos construídos foram pelve, coxa, perna e pé bilateralmente. As

referências anatômicas para a colocação dos marcadores foram: ponto mais alto da

crista ilíaca, trocânter maior do fêmur, côndilos lateral e medial do fêmur, maléolos

lateral e medial, calcâneo e cabeças do 1° e 5° metatarsos. Nos segmentos pelve,

coxa e perna foram usados clusters rígidos de base retangular tendo cada um quatro

marcadores de rastreamento. O cluster da pelve foi fixado na base do sacro entre as

espinhas ilíacas póstero-superiores; o da coxa no terço médio, lateralmente, e o da

perna no terço médio da face lateral da perna. No complexo tornozelo-pé, três

marcadores de referência foram utilizados também como marcadores de rastreamento

sobre o maléolo lateral, o calcâneo e a cabeça do 5° metatarso 42 (FIGURA 3).

(A) (B) (C)

FIGURA 3 – Posicionamento dos marcadores de referência e de rastreamento – visão anterior

(A), lateral (B) e posterior (C).

29

4.3.3 Procedimentos

O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em

Humanos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CEP-UFRN), parecer

número 186/10. Todos os sujeitos da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (TCLE) - (Apêndice I), concordando com as normas do estudo e

autorizando a utilização dos dados, de acordo com as Diretrizes e Normas

regulamentadoras das pesquisas envolvendo seres humanos, Resolução 196/1996 do

Conselho Nacional de Saúde.

Inicialmente, foi realizado um treinamento dos examinadores envolvidos na

aplicação dos instrumentos de coleta e no programa de treinamento dos indivíduos, e

um estudo piloto para averiguar os procedimentos metodológicos. A avaliação clínica,

a análise cinemática e o treino de marcha na esteira foram realizados por três

examinadores, sendo cada um destinado a uma mesma função em todas as coletas.

Os dados do estudo foram coletados no Laboratório de Avaliação do Movimento

(LAM), do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (UFRN), Natal/RN no período entre julho e novembro de 2010.

Os indivíduos que atenderam aos critérios de inclusão entraram na amostra,

sendo alocados de forma aleatória em um dos três grupos do estudo: grupo controle,

que realizou apenas o treino de marcha em esteira com SPP; grupo experimental I,

que teve o estímulo do biofeedback visual associado ao treino de marcha em esteira

com SPP e o grupo experimental II, que usou o biofeedback auditivo associado ao

treino de marcha em esteira com SPP.

Avaliação

Após apresentação e assinatura do TCLE, os indivíduos foram submetidos a

uma avaliação clínica para obtenção dos dados de identificação e da lesão, medidas

antropométricas e sinais vitais (frequência cardíaca e pressão arterial), (Apêndice II),

seguida de avaliações neurológica e motora, utilizando os protocolos já descritos. Em

seguida foi realizada a análise cinemática da marcha, para a qual os participantes

usaram um short preto fornecido pela pesquisadora e calçados habituais.

30

Foram então fixados os marcadores de referência e de rastreamento, por meio

de fita adesiva dupla face, e realizada a calibração do sistema Qualisys na área de

coleta. Após esse procedimento, foi feita a captação de uma coleta estática necessária

para a identificação dos segmentos pelo sistema com duração de cinco segundos,

sendo o indivíduo instruído a permanecer parado em posição ortostática com os

braços cruzados. Depois da coleta estática, os marcadores de referência foram

retirados, mantendo-se os de rastreamento (clusters da pelve, da coxa e da perna,

maléolo lateral, calcâneo e cabeça do 5° metatarso) para a realização das coletas

dinâmicas43 (FIGURA 4). Nestas, os indivíduos foram instruídos a caminharem em uma

velocidade confortável ao longo da passarela, sendo realizadas 10 voltas. Um

examinador caminhava próximo ao paciente para oferecer confiança sem, no entanto,

oferecer qualquer ajuda física.

(A) (B)

FIGURA 4 – Disposição dos marcadores para a coleta estática (A) e dinâmica (B)

Treino de marcha na esteira com SPP

Após a avaliação inicial, os indivíduos realizaram o treino de marcha em esteira

com SPP, para o qual foi utilizado o Gait Trainer (Gait Trainer System 2 - Biodex

Medical Systems, NY, USA), esteira elétrica com uma plataforma instrumentada que

monitora e registra o comprimento, a velocidade e a distribuição do tempo do passo.

Associado esse à esteira, foi utilizado um sistema de suspensão dinâmica do corpo

(Unweighing System - Biodex Medical Systems, NY, USA), composto por um colete

acoplado a um mecanismo de suspensão do peso corporal.

31

Os indivíduos foram instruídos sobre os procedimentos que seriam realizados

no treino de marcha e como ocorreria o suporte parcial de peso para então serem

posicionados na esteira, sendo colocado o cinto de suporte e dado orientações de

segurança (FIGURA 5). Inicialmente foram submetidos a alguns minutos de adaptação

e familiarização com o equipamento. Durante todo o treino, a frequência cardíaca (FC)

foi monitorada, não devendo ultrapassar valores submáximos, que foram calculados

no momento da avaliação como 75% da FC máxima (FCsubmax= 0,75 x (220 – idade). A

pressão arterial sistêmica também foi verificada antes e depois do treino por meio de

um medidor de pressão (Visomar Confort III, Incoterm).

FIGURA 5 – Treino de marcha na esteira com SPP

O suporte de peso corporal utilizado foi de 30%, valor utilizado em outros

estudos11,12,34,44. Haupenthal16, após uma análise dos estudos de treino de marcha em

esteira encontrou diversas porcentagens para o suporte parcial de peso (50%, 40%,

30% e 20%), sugerindo que o treino inicie com a menor porcentagem de suporte

necessária, desde que o paciente realize a marcha num padrão mais próximo do

normal.

32

A velocidade da esteira, por outro lado, foi regulada de acordo com a habilidade

de cada sujeito, devendo este caminhar o mais rápido possível sem que houvesse

compensações musculares ou fadiga. Correções verbais e manuais foram realizadas

pelo fisioterapeuta seguindo as necessidades individuais para o alcance do máximo

desempenho na execução dos padrões da marcha.

Após os ajustes do suporte de peso e da velocidade, os indivíduos iniciavam o

treino de marcha na esteira com duração de 20 minutos, podendo ter um período de

descanso de no máximo 2 minutos, caso o paciente apresentasse frequência cardíaca

superior a submáxima ou fadiga muscular.

Biofeedback Visual

O biofeedback visual, realizado no Grupo Experimental I, foi dado pelo monitor

presente no Gait Trainer. Este fornecia aos indivíduos informações, em tempo real,

sobre a largura e a simetria do passo por meio do aparecimento de pés simbólicos na

tela de estimulo à medida que o indivíduo dava o passo. O pé deveria ficar dentro de

um retângulo de 20cm apresentado na tela, de forma a seguir as pistas visuais e fazer

as correções caso o movimento fosse percebido fora dos padrões estipulados

(FIGURA 6).

FIGURA 6 – Biofeedback Visual

33

Biofeedback Auditivo

O biofeedback auditivo foi realizado por um metrônomo digital (GMT 200P BK

Groovin) com uma freqüência de 115% da média da cadência do indivíduo45. Para

obter essa cadência, solicitou-se que o indivíduo caminhasse em um trecho de 10

metros e fez-se o cálculo do número de passos dividido pelo tempo cronometrado. O

indivíduo deveria então caminhar no ritmo do bip dado pelo metrônomo.

Após o treino, foi realizada uma reavaliação por meio da análise tridimensional

da marcha pelo Sistema Qualisys de Análise do Movimento (FIGURA 7).

Figura 7 - Desenho do Estudo

Seleção da amostra segundo os critérios

de inclusão

Aplicação dos questionários de avaliação neurológica (NIHSS) e da função motora (STREAM) +

Análise tridimensional da marcha

Reavaliação - Análise tridimensional da marcha

Divisão aleatória da amostra em 3 grupos

Grupo Experimental I Grupo Controle

Treino de marcha em esteira com SPP + Biofeedback Visual

Treino de marcha em esteira com SPP

PRÉ-INTERVENÇÃO

PÓS-INTERVENÇÃO

Grupo Experimental II

Treino de marcha em esteira com SPP +

Biofeedback Auditivo

INTERVENÇÃO

34

4.4 Redução dos dados

Os dados captados na Cinemetria foram primeiramente processados no

software Qualisys Track Manager 2.3 – QTM, onde foram nomeados os marcadores e

determinadas as suas trajetórias. A partir das coletas dinâmicas foram selecionados 10

ciclos de marcha, com interpolação da trajetória dos marcadores por perdas de no

máximo 10 quadros de movimento.

Em seguida, os dados foram exportados e processados no software Visual 3D

para permitir a construção do modelo biomecânico dos segmentos corporais a partir da

posição dos marcadores de referência capturados na coleta estática e das

informações de peso e altura de cada paciente. O Visual 3D associa os marcadores de

rastreamento das coletas dinâmicas ao modelo biomecânico para o cálculo do

deslocamento angular das articulações durante o ciclo da marcha.

Para eliminar os ruídos decorrentes da movimentação dos marcadores foi

aplicado um filtro passa baixa, com a frequência de corte estabelecida em 6 HZ às

trajetórias dos marcadores46.

Para obtenção dos ângulos articulares, o software usou a associação entre os

segmentos e a sequência de Cardan, definida como a orientação do sistema de

coordenadas de um segmento relativo ao sistema de coordenadas do segmento de

referência47.

Foram analisados os dados do membro inferior parético, sendo os ângulos do

quadril obtidos a partir do deslocamento dos segmentos pelve e coxa, e os do joelho

pelo deslocamento dos segmentos coxa e perna. Para obtenção dos ângulos do

tornozelo foi, primeiramente, construído um segmento virtual do pé para alinhá-lo com

a perna, de forma que os dois tivessem a mesma orientação na posição de referência

com o eixo de rotação.

As curvas das angulações da pelve, quadril, joelho e tornozelo foram

normalizadas pelo ciclo da marcha, representado em porcentagem (0% a 100%). Para

delimitar esse ciclo foi necessária a demarcação entre dois contatos iniciais do pé

parético, realizados com o calcâneo ou com o antepé, dependendo do padrão

apresentado pelo indivíduo. Dessa forma, o contato inicial foi determinado pela

observação dos marcadores inseridos ou no calcâneo ou na cabeça do 5º metatarso.

No momento em que o pé perdia o contato com o solo, o deslocamento da marcha

35

voltava a ser registrado, sendo esse ponto considerado o evento de retirada do pé,

também chamado toe-off. Este foi definido pelo marcador da cabeça do 5º metatarso48.

As variáveis espaciais e temporais da marcha investigadas foram: velocidade

(m/s), comprimento do passo (m), cadência (passos/min), porcentagem das fases de

apoio e balanço, tempo de duplo suporte (s) e razão de assimetria do tempo de

balanço. Para as variáveis angulares, investigou-se os deslocamentos (°) do quadril,

joelho e tornozelo do membro inferior parético. Os movimentos foram avaliados no

plano sagital e os seguintes pontos foram analisados:

� Quadril: máxima extensão no apoio, máxima flexão no balanço e

amplitude de movimento.

� Joelho: angulação no contato inicial, máxima flexão no balanço e

amplitude movimento.

� Tornozelo: angulação no contato inicial, flexão plantar na transição entre

apoio e balanço (toe-off) e amplitude de movimento.

4.5 Análise estatística

A análise dos dados foi realizada por meio do programa estatístico SPSS 17.0

(Statistical Package for the Social Science), atribuindo-se o nível de significância de

5%. Inicialmente foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov (K-S) para verificar a

normalidade dos dados. Realizou-se a análise descritiva das variáveis clínicas e

demográficas por meio das medidas de tendência central e de dispersão, usando-se o

teste de Levene para verificar a homogeneidade de variâncias entre os grupos.

Para avaliar as diferenças das variáveis espaço-temporais e angulares da

marcha entre os grupos controle, experimental I e experimental II, e dentro de cada

grupo após o treinamento, foi aplicada o teste paramétrico ANOVA 3 x 2 de medidas

repetidas.

36

6. ARTIGO

TÍTULO: INFLUÊNCIA DO BIOFEEDBACK NO TREINO DE MARCHA DE

SUJEITOS HEMIPARÉTICOS: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO

Título curto: Influência do biofeedback na marcha hemiparética

Ana C. Brasileiro, MsCa, Ana R. Lindquist, PhDa

a Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal,

Rio Grande do Norte, Brasil.

Este estudo foi financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio

Grande do Norte (FAPERN) e CNPq

Endereço para correspondência:

Ana Raquel Rodrigues Lindquist

Av. Senador Salgado Filho, 3000. Caixa Postal 1524

CEP: 59072-970

Natal, RN

Brasil

e-mail: [email protected]

Tel: +55 (84) 3342 2010

37

RESUMO

OBJETIVO: Verificar os efeitos imediatos do biofeedback, visual e auditivo, associado

ao treino de marcha em esteira com SPP sobre a marcha de sujeitos hemiparéticos.

MÉTODOS: Foi realizado um ensaio clínico randomizado com 30 sujeitos no estágio

crônico do AVE, submetidos ao treino de marcha em esteira com SPP (controle),

podendo ser associado ao biofeedback visual (experimental I), dado pelo monitor da

esteira através do aparecimento de pés simbólicos à medida que o sujeito dava o

passo, ou ao biofeedback auditivo (experimental II), usando-se um metrônomo com

frequência de 115% da cadência do indivíduo. Os sujeitos foram avaliados por

cinemetria, sendo os dados obtidos pelo Sistema de Análise de Movimento Qualisys.

Para avaliar as diferenças entre os grupos e dentro de cada grupo após o treinamento,

foi usado o teste paramétrico ANOVA 3 x 2 de medidas repetidas. RESULTADOS:

Não houve diferenças estatísticas entre os grupos nas variáveis espaço-temporais e

angulares da marcha, mas dentro de cada grupo houve um aumento da velocidade da

marcha e do comprimento do passo após o treinamento. O grupo do biofeedback

visual aumentou o tempo de apoio e reduziu o tempo de balanço e sua razão de

simetria; e o grupo do biofeedback auditivo reduziu o tempo de duplo suporte. Houve

um aumento da ADM do joelho e tornozelo e da flexão plantar no grupo biofeedback

visual. CONCLUSÃO: Não há diferenças entre os efeitos imediatos do treino de

marcha em esteira com SPP realizado sem e com biofeedback visual ou auditivo. No

entanto, o biofeedback visual pode promover alterações em um maior número de

variáveis espaço-temporais e angulares da marcha.

Palavras-chave: acidente cerebrovascular, biorretroalimentação, marcha, hemiparesia

38

INTRODUÇÃO

O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é um importante fator causador de

deficiência e dependência funcional em todo o mundo1. A hemiparesia é um dos seus

sinais clínicos mais comuns e freqüentemente leva ao comprometimento da marcha,

que nesses pacientes é lenta e laboriosa, apresentando uma série de alterações nas

suas variáveis espaço-temporais e angulares2.

Muito se tem pesquisado sobre meios de melhorar ou otimizar a capacidade

funcional de indivíduos com déficit na função motora após o AVE. Vários autores têm

proposto o uso da esteira com suporte parcial de peso (SPP) para o treino da marcha

desses indivíduos3,4,5,6,, o qual fundamenta-se em evidências indiretas, a partir de

estudos animais7,8,9, da existência de circuitos neuronais específicos na medula

espinhal capazes de gerar atividade neural motora rítmica �� os geradores centrais

de padrão (GCP)10. O treino na esteira com SPP pode prover adequada atividade

aferente para esses circuitos neuronais e, portanto, influenciar o padrão de marcha11.

Outra abordagem terapêutica utilizada dentro dos programas de reabilitação

neurológica é o biofeedback. Ele fornece aos indivíduos informações sobre sua função

ou resposta fisiológica a partir da amplificação e exibição dessas informações,

permitindo-o modular a resposta motora por meio do processo de aprendizagem13.

Vários autores demonstraram benefícios do biofeedback nos parâmetros da marcha de

sujeitos com hemiparesia13-17. Esses estudos, em sua maior parte, utilizaram o

biofeedback eletromiográfico14,15,17, sendo ainda pouco estudadas outras formas de

biofeedback, como o cinético, cinemático e espaço-temporal, não estando claro se

esse método é eficaz no tratamento das anormalidades da marcha hemiparética.

Tendo em vista a importância do biofeedback espaço-temporal, em função da

sua aplicabilidade clínica, torna-se necessária a realização de novos estudos para

elucidar o seu uso no treino de marcha de indivíduos com hemiparesia. Além disso,

considerando que a literatura tem apontado o biofeedback como um poderoso

instrumento para o ajuste das estratégias motoras de pessoas com algum déficit

neurológico, o seu uso associado ao treino de marcha pode potencializar os efeitos

nas alterações das variáveis da marcha apresentadas por esses pacientes. Nesse

sentido, o objetivo deste estudo foi verificar os efeitos imediatos do biofeedback, visual

e auditivo, associado ao treino de marcha em esteira com SPP, sobre a marcha e a

função motora de sujeitos hemiparéticos.

39

MÉTODOS

Foi realizado um ensaio clínico randomizado, controlado e cego em pacientes

no estágio crônico do AVE, apresentando hemiparesia, resultante de lesão cerebral

unilateral e não-recorrente. A amostra foi composta por indivíduos com espasticidade

de leve a moderada, níveis 1 ou 2 da escala modificada de Ashworth para membros

inferiores, que possui níveis de 0 a 5, onde 0 representa nenhum aumento do tônus

muscular e 5 indica articulação rígida em flexão ou extensão18. Os indivíduos deveriam

ter habilidade para deambular funcionalmente, com algum auxílio pessoal ou com uso

de dispositivos auxiliares para a marcha, níveis 4 ou 5 do protocolo FAC – Functional

Ambulatory Category, que classifica em 6 níveis a habilidade para andar, de acordo

com a quantidade de suporte físico requerido para percorrer uma distância de 10

metros19. Além disso, os indivíduos deveriam apresentar marcha lenta (velocidade

menor que 0,4 m/s) ou moderada (velocidade de 0,4 a 0,8 m/s), de acordo com a

classificação da marcha baseada na velocidade de Bowden e colaboradores20. Não

poderiam ter déficit cognitivo, devendo apresentar escores superiores a 19/20 ou 23/24

no Mini Exame do Estado Mental (MEEM) para pacientes sem e com escolaridade,

respectivamente21. Por fim, os indivíduos não poderiam apresentar outras patologias

neurológicas ou ortopédicas que acarretassem seqüelas funcionais além das trazidas

pelo AVE nem deficiência visual e/ou auditiva que viessem a prejudicar o treino por

biofeedback.

Seriam excluídos do estudo os indivíduos que apresentassem instabilidade

cardiovascular durante o treino e falta de compreensão das instruções para a

realização do treino.

Cálculo amostral

O tamanho da amostra foi definido através do uso do STATCALC do programa

Epi Info versão 6.04 para Windows, considerando um nível de confiança de 95% e um

poder do estudo de 80%. Para o cálculo, foram utilizados os dados da variável

velocidade da marcha de indivíduos com AVE obtidos do estudo de Takami e

Wakayama7, encontrando um n amostral de 30 para os três grupos do estudo: controle

(n = 10), grupo experimental I (n = 10) e grupo experimental II (n = 10).

40

Avaliação Neurológica e Motora

Foram utilizados os protocolos National Institute of Health Stroke Scale

(NIHSS)22 para a avaliação neurológica e Stroke Rehabilitation Assessment of

Movement (STREAM)23 para a avaliação da função motora.

Avaliação e treino da marcha

A avaliação da marcha foi realizada em uma passarela de 10 metros de

comprimento e seus dados cinemáticos, temporais e espaciais foram obtidos por meio

do sistema instrumental de captura do movimento Qualisys (Qualisys Motion Capture

System, Qualisys Medical AB, Suécia). Para este estudo foram utilizadas oito câmeras

(Qualysis Oqus 300) e uma frequência de captação de 120Hz.

Os segmentos construídos foram pelve, coxa, perna e pé. Conforme

apresentado na Figura 1, as referências anatômicas para a colocação dos marcadores

foram: ponto mais alto da crista ilíaca, trocânter maior do fêmur, côndilos lateral e

medial do fêmur, maléolos lateral e medial, calcâneo e cabeças do 1° e 5° metatarsos.

Nos segmentos pelve, coxa e perna foram usados clusters rígidos de base retangular

tendo cada um quatro marcadores de rastreamento. O cluster da pelve foi fixado na

base do sacro entre as espinhas ilíacas póstero-superiores; o da coxa e o da perna no

terço médio da face lateral dos segmentos. No complexo tornozelo-pé, três

marcadores de referência foram utilizados também como marcadores de rastreamento

- maléolo lateral, calcâneo e cabeça do 5° metatarso 24,25.

Figura 1. Posicionamento dos marcadores de referência e de rastreamento – visão anterior

(A), posterior (B) e lateral (C).

41

O treino da marcha foi realizado no Gait Trainer (Gait Trainer System 2 - Biodex

Medical Systems, NY, USA), associado a um sistema de suspensão dinâmica do corpo

(Unweighing System - Biodex Medical Systems, NY, USA). O suporte de peso corporal

utilizado foi de 30%3,5. A velocidade da esteira, por outro lado, foi regulada de acordo

com a habilidade de cada sujeito, devendo este caminhar o mais rápido possível sem

que houvesse compensações musculares ou fadiga. O período do treino foi de 20

minutos, podendo haver um descanso de até 2 minutos, caso o paciente apresentasse

frequência cardíaca superior a submáxima ou fadiga muscular.

Correções manuais e verbais foram dadas pelo fisioterapeuta seguindo as

necessidades individuais para o alcance do máximo desempenho na execução dos

padrões da marcha.

Biofeedback Visual

O biofeedback visual foi dado pelo monitor presente no Gait Trainer, que

fornecia aos indivíduos informações, em tempo real, sobre a largura e a simetria do

passo por meio do aparecimento de pés simbólicos na tela de estimulo à medida que o

indivíduo dava o passo. O pé deveria ficar dentro de um retângulo de 20cm

apresentado na tela, de forma a seguir as pistas visuais e fazer as correções caso o

movimento fosse percebido fora dos padrões estipulados.

Biofeedback Auditivo

O biofeedback auditivo foi realizado por um metrônomo digital (GMT 200P BK

Groovin) com uma freqüência de 115% da média da cadência do indivíduo26. Para

obter essa cadência, solicitou-se que o indivíduo caminhasse em um trecho de 10

metros e fez-se o cálculo do número de passos dividido pelo tempo cronometrado. O

indivíduo deveria então caminhar no ritmo do bip dado pelo metrônomo.

Procedimentos

O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em

Humanos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CEP-UFRN), sob o

parecer de número 186/10.

42

Os indivíduos incluídos na amostra segundo os critérios de inclusão foram

alocados de forma aleatória em um dos três grupos do estudo: grupo controle, que

realizou apenas o treino de marcha em esteira com SPP; grupo experimental I, que

teve o treino de marcha em esteira com SPP associado ao estímulo do biofeedback

visual e grupo experimental II, que usou o biofeedback auditivo associado ao treino de

marcha em esteira com SPP.

Todos os indivíduos foram submetidos a uma avaliação clínica para obtenção

dos dados de identificação e da lesão, medidas antropométricas e sinais vitais,

seguida das avaliações neurológica e motora, utilizando os protocolos já descritos. Em

seguida foi realizada a análise cinemática da marcha, para a qual os participantes

usaram um short preto fornecido pela pesquisadora e calçados habituais.

Foram então fixados os marcadores de referência e de rastreamento, por meio

de fita adesiva dupla face, e realizada a calibração do sistema Qualisys na área de

coleta. Após esse procedimento, foi feita a captação de uma coleta estática necessária

para a identificação dos segmentos pelo sistema com duração de cinco segundos,

sendo o indivíduo instruído a permanecer parado em posição ortostática com os

braços cruzados.

Após a coleta estática, os marcadores de referência foram retirados, mantendo-

se os de rastreamento para a realização das coletas dinâmicas, para as quais os

indivíduos foram instruídos a caminharem em uma velocidade confortável ao longo da

passarela, sendo realizadas 10 repetições. Um examinador caminhava próximo ao

paciente para oferecer confiança sem, no entanto, oferecer qualquer ajuda física.

Ao término da avaliação cinemática da marcha, iniciava-se o treino na esteira

com SPP, sendo colocado o cinto de suporte e dadas orientações de segurança ao

paciente. Este foi inicialmente submetido a alguns minutos de adaptação e

familiarização com o equipamento. Durante todo o treino, a frequência cardíaca (FC)

foi monitorada, não devendo ultrapassar valores submáximos, ou seja, 75% da FC

máxima (FCsubmax= 0,75 x (220 – idade). A pressão arterial sistêmica também foi

verificada antes e depois do treino por meio do medidor de pressão Visomar Confort

III, Incoterm.

Após o treino, foi realizada uma reavaliação por meio da análise tridimensional

da marcha pelo Sistema Qualisys de Análise do Movimento. O desenho do estudo

pode ser observado na Figura 2.

43

Figura 1. Desenho do estudo

Redução dos dados

Os dados captados na Cinemetria foram processados no software Qualisys

Track Manager 2.3 – QTM, onde foram nomeados os marcadores e determinadas as

suas trajetórias, sendo em seguida exportados para o software Visual 3D. Nele foi

construído o modelo biomecânico dos segmentos corporais a partir da posição dos

marcadores de referência capturados na coleta estática e das informações de peso e

altura de cada paciente. O Visual 3D associa os marcadores de rastreamento das

coletas dinâmicas ao modelo biomecânico para o cálculo do deslocamento angular das

articulações durante o ciclo da marcha.

Seleção da amostra segundo os critérios

de inclusão

Treino de marcha em esteira com SPP

Treino de marcha em esteira com SPP +

Biofeedback Auditivo

Aplicação dos questionários de avaliação neurológica (NIHSS) e da função motora (STREAM) +

Análise tridimensional da marcha

Reavaliação - Análise tridimensional da marcha

Grupo Experimental I

Treino de marcha em esteira com SPP + Biofeedback Visual

Divisão aleatória da amostra em 3 grupos

Grupo Controle Grupo Experimental II

INTERVENÇÃO

PRÉ-INTERVENÇÃO

PÓS-INTERVENÇÃO

44

Para eliminar os ruídos decorrentes da movimentação dos marcadores foi

aplicado um filtro passa baixa, com a frequência de corte estabelecida em 6 HZ às

trajetórias dos marcadores27.

Para obtenção dos ângulos articulares, o software usou a associação entre os

segmentos e a sequência de Cardan, definida como a orientação do sistema de

coordenadas de um segmento relativo ao sistema de coordenadas do segmento de

referência28.

As variáveis espaciais e temporais da marcha investigadas foram: velocidade

(m/s), comprimento do passo (cm), cadência (passos/min), porcentagem das fases de

apoio e balanço, tempo de duplo apoio (s) e razão de assimetria do tempo de balanço.

Para as variáveis angulares, investigou-se os deslocamentos (°) do quadril, joelho e

tornozelo do membro inferior parético no plano sagital.

Análise estatística

A análise dos dados foi realizada por meio do programa estatístico SPSS 17.0

(Statistical Package for the Social Science), atribuindo-se o nível de significância de

5%. Inicialmente foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov (K-S) para verificar a

normalidade dos dados. Realizou-se a análise descritiva das variáveis clínicas e

demográficas por meio das medidas de tendência central e de dispersão, usando-se o

teste de Levene para verificar a homogeneidade de variância entre os grupos.

Para avaliar as diferenças das variáveis espaço-temporais e angulares da

marcha entre os grupos controle, experimental I e experimental II, e dentro de cada

grupo após o treinamento, foi aplicada o teste paramétrico ANOVA 3 x 2 de medidas

repetidas.

RESULTADOS

Caracterização dos sujeitos

Participaram do estudo 30 sujeitos, sendo 18 homens e 12 mulheres, com idade

média de 56,4 ± 6,9 anos, tempo de lesão de 32,5 ± 19,5 meses, apresentando

seqüela de hemiparesia direita (35%) ou esquerda (65%) decorrentes, em sua maior

parte, de AVE isquêmico (81%). Foi excluído do estudo um sujeito que não conseguiu

completar o treinamento por presença de instabilidade na condição cardiovascular.

45

Os grupos apresentaram homogeneidade em todas as variáveis clínicas e

demográficas, não havendo diferenças estatisticamente significativas entre eles, como

pode ser visto na Tabela 1.

Tabela 1 – Características clínicas e demográficas dos sujeitos nos grupos controle (n=10),

Experimental I (n=10) e Experimental II (n=10).

Variáveis Controle Experimental I Experimental II p valor

Idade (anos) 57,9 ± 4,9 52,3 ± 5,9 58,8 ± 7,9 0,09

Altura (cm) 160 ± 5 166 ± 8 160 ± 6 0,60

Peso (kg) 71,9 ± 7,5 72,5 ± 13,4 68,5 ± 13,2 0,73

Tempo de lesão (meses) 27,4 ± 17,4 37,8 ± 21,5 34,1 ± 20,2 0,41

ASHWORTH † 1,4 ± 0,5 1,1 ± 0,3 1,5 ± 0,5 0,16

FAC ‡ 4,4 ± 0,5 4,3 ± 0,5 4,2 ± 0,4 0,48

MEEM § 25,1 ± 10,1 26,5 ± 6,5 24,1 ± 14,8 0,26

NIHSS � 2,1 ± 1,5 2,5 ± 1,3 3,6 ± 1,8 0,28

STREAM (pré) ¶ 70,8 ± 15,5 67,4 ± 18,5 63,7 ± 14,9 0,52

Média ± desvio padrão, *p < 0,05

† Escala Modificada de Ashworth; ‡ Functional Ambulatory Category; § Mine Exame do estado Mental;

� National Institute of Health Stroke Scale; ¶ Stroke Rehabilitation Assessment of Moviment

Variáveis espaço-temporais

As médias e os desvios-padrões das variáveis espaço-temporais da marcha nos

três grupos do estudo estão representados na Tabela 2, a partir da qual pode-se

constatar que não houve diferenças estatísticas entre os grupos controle, experimental

I e experimental II em nenhuma dessas variáveis (p > 0,11).

Dentro de cada grupo, no entanto, observaram-se mudanças nessas variáveis

após o treinamento. Houve um aumento estatisticamente significativo na velocidade da

marcha e no comprimento do passo nos três grupos após o treinamento (p < 0,02), o

que não foi observado na cadência da marcha, que não teve alteração em nenhum

dos grupos do estudo (p > 0, 20).

46

O grupo que realizou o treino de marcha associado ao biofeedback visual

apresentou um aumento significativo na proporção do tempo total de apoio (p = 0,03) e

uma redução na proporção do tempo de balanço (p = 0,02) e na sua razão de simetria

(p = 0,006). O grupo que realizou o treino de marcha associado ao biofeedback

auditivo teve uma redução no tempo de duplo apoio após o treinamento (p = 0,005).

Tabela 2. Variáveis espaço-temporais pré e pós-treinamento, nos grupos controle (n=10),

Experimental I (n=10) e Experimental II (n=10).

Variáveis Controle Experimental I Experimental II

PRÉ PÓS

PRÉ PÓS

PRÉ PÓS

Velocidade (m/s) 0,43 ± 0,15 0,53 ± 0,18 * 0,51 ± 0,17 0,67 ± 0,21 ** 0,41 ± 0,13 0,50 ± 0,18 *

Comprimento do

ciclo (m) 0,68 ± 0,20 0,79 ± 0,18 * 0,82 ± 0,25 0,90 ± 0,27 * 0,60 ± 0,19 0,70 ± 0,23 **

Cadência

(passos/minuto) 67,4 ± 16,6 69,6 ± 19,7 62,3 ± 7,7 65,4 ± 12,7 65,7 ± 15,1 68,4 ± 18,9

Tempo total de apoio

(% do ciclo) 71,0 ± 4,4 69,6 ± 3,4 67,5 ± 3,1 69,6 ± 2,8 * 71,4 ± 6,4 70,4 ± 6,8

Tempo total de

balanço (% do ciclo) 29,0 ± 4,4 30,4 ± 3,4 32,3 ± 2,9 29,4 ± 2,8 * 28,6 ± 6,4 29,6 ± 6,8

Tempo de duplo

apoio (% do ciclo) 69,5 ± 26,7 63,8 ± 24,5 59,3 ± 16,4 56,2 ± 13,6 74,0 ± 37,8 63,9 ± 32,6 **

Razão de simetria

(s) † 1,61 ± 0,43 1,53 ± 0,41 1,43 ± 0,25 1,34 ± 0,23 ** 1,49 ± 0,34 1,58 ± 0,47

Valores são médias ± DP, *p < 0,05, ** p < 0,01.

† Razão de simetria = tempo de balanço do membro inferior afetado/não-afetado

Variáveis angulares

A representação dos deslocamentos angulares no plano sagital das três

articulações do membro inferior parético (quadril, joelho e tornozelo) está exposta na

Figura 3.

47

(A)

(B)

(C)

Figura 3. Deslocamento angular do quadril (A), joelho (B) e tornozelo (C) durante o ciclo da marcha nos

grupos Controle, Biofeedback visual e Biofeedback auditivo, pré e pós treinamento. Os valores positivos

indicam flexão do quadril, joelho e dorsiflexão do tornozelo e os negativos indicam extensão do quadril,

joelho e flexão plantar do tornozelo.

Na Tabela 3 estão representados os valores dos deslocamentos angulares das

três articulações nos grupos controle, experimental I e experimental II. Assim como nas

variáveis espaço-temporais, não houve diferenças estatísticas entre os grupos nas

variáveis angulares (p > 0,12).

Ao se analisar cada grupo pré e pós treinamento, pôde-se observar um

aumento na amplitude de movimento do quadril no grupo do biofeedback auditivo (p =

0,001), apesar de não ter havido alterações significativas na extensão máxima durante

48

o apoio ou na flexão máxima durante o balanço. Nos outros grupos não houve

diferença estatística nas angulações do quadril após o treinamento.

A angulação do joelho no contato inicial reduziu significativamente no grupo do

biofeedback visual (p = 0,04) e a sua amplitude de movimento (ADM) teve um aumento

também significativo neste grupo (p = 0,01). A flexão máxima do joelho durante o

balanço não sofreu alteração em nenhum dos grupos.

No tornozelo, a angulação inicial foi marcada, em todos os grupos, por flexão

plantar, sem diferença estatística pré e pós treinamento. Houve um aumento

significativo da flexão plantar na transição do apoio para o balanço (toe-off) (p = 0,02)

e da amplitude de movimento do tornozelo (p = 0,04) no grupo do biofeedback visual.

Nos grupos controle e biofeedback auditivo não houve diferença estatística nas

angulações do tornozelo após o treinamento.

Tabela 3. Variáveis angulares pré e pós-treinamento, nos grupos controle (n=10),

Experimental I (n=10) e Experimental II (n=10).

Controle Experimental I Experimental II

Variáveis

PRÉ PÓS

PRÉ PÓS

PRÉ PÓS

Máx. extensão do quadril

no apoio (º) -5,2 ± 8,4 -7,0 ± 8,6 0,6 ± 9,8 -0,4 ± 13,4 0,4 ± 9,8 -2,8 ± 9,4

Máx. flexão do quadril no

balanço (º) 19,7 ± 7,9 19,8 ± 8,0 27,2 ± 8,2 28,2 ± 11,1 22,9 ± 11,3 23,5 ± 9,1

Amplitude de movimento

do quadril (º) 25,1 ± 6,1 25,8 ± 6,8 26,9 ± 7,2 29,0 ± 9,9 22,5 ± 7,1 26,3 ± 7,1 **

Ângulo do joelho no

contato inicial (º) 13,0 ± 8,8 13,5 ± 6,2 11,1 ± 9,3 8,2 ± 7,6 * 12,8 ± 11,1 13,3 ± 12,5

Máx. flexão joelho no

balanço (º) 37,7 ± 15,0 38,3 ± 12,3 45,5 ± 10,2 45,3 ± 11,1 36,5 ± 21,3 39,6 ± 19,9

Amplitude de movimento

do joelho (º) 35,1 ± 15,6 34,6 ±12,8 39,4 ± 11,7 42,8 ± 11,2 * 33,7 ± 9,9 36,7 ± 10,3

Ângulo do tornozelo no

contato inicial (º) -5,6 ± 7,0 -4,1 ± 6,4 -7,4 ± 5,4 -9,2 ± 6,4 -7,8 ± 7,0 -7,5 ± 6,4

Flexão plantar no toe-off

(º) -6,1 ± 8,3 -6,3 ± 7,2 -9,5 ± 8,8 -12,8±10,5 * -9,5 ± 9,1 -9,3 ± 8,4

Amplitude de movimento

do tornozelo (º) 18,1 ± 3,5 17,9 ± 4,1 19,2 ± 8,9 21,4 ± 9,5 * 15,0 ± 6,3 15,9 ± 6,2

Valores são médias ± DP, * p < 0,05, ** p < 0,01.

49

DISCUSSÃO

Neste estudo foram investigados exclusivamente os efeitos imediatos do

biofeedback, de forma que a ausência de mudanças nas variáveis espaço-temporais e

angulares da marcha entre os grupos de treinamento pode ter resultado da dificuldade

de retenção de informações em fases precoces da aprendizagem motora. De acordo

com a classificação proposta por Fitts e Posner29, o processo de aprendizagem

abrange três estágios: o cognitivo, o associativo e o autônomo. No estágio inicial ou

cognitivo, em que se enquadram os pacientes do presente estudo, as tarefas

envolvem ações motoras imprecisas e lentas que demandam grande quantidade de

atenção para o processamento de informações.

Segundo os mesmos autores, ainda que os aprendizes percebam o erro

cometido na execução da tarefa, eles não conseguem encontrar caminhos para

solucionar o problema em meio aos vários estímulos. Dessa forma, nossos pacientes

podem ter recebido o estímulo, iniciado o processo de aprendizagem, mas não ter a

capacidade de associar as pistas recebidas ao padrão motor que deveria executar,

apresentando alguns benefícios imediatamente após o treino, mas não o suficiente

para apontar superioridade de uma forma de treinamento sobre a outra.

Variáveis espaço-temporais

Comparações pré e pós treinamento em cada um dos grupos de pacientes, por

outro lado, mostraram que a velocidade da marcha e o comprimento do passo

aumentaram tanto no grupo que realizou apenas o treino na esteira com SPP como

nos que realizaram esse treino associado ao biofeedback. Portanto, apesar de os

resultados deste estudo terem apontado modificação nestas variáveis espaço-

temporais, isso parece não estar associado aos estímulos visuais ou auditivos, já que

também foram observadas no grupo controle. Esse resultado pode, então, ser

atribuído ao treino na esteira com SPP, que conhecidamente possibilita uma marcha

mais rápida e simétrica em indivíduos hemiparéticos3,4,6,30.

Seus benefícios baseiam-se na existência dos geradores centrais de padrão,

circuitos neuronais presentes na medula espinhal, já bem documentados em estudos

animais7,8,10, que geram uma atividade neural motora rítmica a partir de informações

aferentes provenientes dos sistemas visual, vestibular e proprioceptivo10,11. Esses

circuitos, segundo Kautz31, são responsáveis pela contração alternada rítmica dos

50

músculos flexores e extensores dos membros inferiores, sendo portanto capazes de

influenciar o padrão de marcha.

Os sujeitos com hemiparesia apresentam alterações nas relações de apoio e

balanço da marcha, sendo bem documentada a sua natureza assimétrica32-34. A

literatura aponta para uma diminuição do tempo de apoio do membro acometido, com

60-90% do peso corporal apoiado no membro inferior não parético34. No presente

estudo, o grupo do biofeedback visual aumentou o tempo de apoio sobre o membro

parético, o que caracteriza uma melhora nas proporções temporais das fases da marcha.

Essas alterações levam a uma maior simetria da marcha, fator importante, uma

vez que a assimetria temporal é apontada como um preditor ruim do desempenho da

marcha hemiparética33, pois se correlaciona com dificuldade da recuperação motora,

menor velocidade da marcha e presença de quedas. Montoya13 sugeriu um efeito

benéfico do biofeedback visual na marcha de indivíduos com hemiparesia, com

aumento no comprimento do passo do membro parético e na correção de assimetria

do passo, o que corrobora com os dados desse estudo.

O tempo de duplo apoio teve uma redução significativa após o treinamento no

grupo que realizou o treino de marcha associado ao biofeedback auditivo. Sabe-se que

a marcha humana é resultante de uma interação contínua entre os processos motores,

cognitivos e perceptivos, e supõe-se que esses três processos são influenciados pelo

feedback auditivo e que juntos podem causar a melhora do padrão de marcha de

pacientes com AVE crônico35. No presente estudo, a simetria do tempo dada pelo

estímulo do metrônomo pode ter servido como uma pista eficiente para o paciente

alcançar um grau mais alto de simetria temporal do passo e diminuir o tempo de apoio

duplo. Além disso, o biofeedback auditivo parece encorajar o paciente a andar em

conformidade com o ritmo durante o treinamento, adaptando seu padrão de marcha ao

ritmo das pistas auditivas36.

Variáveis angulares

Além das alterações espaço-temporais, a marcha dos sujeitos hemiparéticos

apresenta uma série de adaptações nas variáveis angulares. Neste estudo, o contato

inicial dos sujeitos foi marcado por flexão plantar em todos os grupos, o que pode ser

associado às alterações dos músculos pré-tibiais que ocorrem após o AVE, levando a

uma inadequada produção de força de dorsiflexão e mal posicionamento do pé ao

tocar o solo37.

51

De acordo com Olney37, sujeitos com hemiparesia apresentam déficit de

extensão do quadril durante a fase de apoio, o que pode impedir um posicionamento

posterior da coxa, tornando o avanço do corpo e o comprimento do passo diminuídos.

Nos três grupos deste estudo, houve limitada extensão na articulação do quadril

durante a fase de apoio. No entanto, no grupo do biofeedback auditivo, observou-se

aumento na ADM do quadril, possivelmente devido à tendência de crescimento do

ângulo de extensão após o treinamento.

A postura flexora do joelho apresentada no contato inicial da marcha é uma

característica de indivíduos com hemiparesia2, o que também foi observado neste

estudo. A redução da angulação dessa articulação observada no grupo do biofeedback

visual levou o joelho a uma posição mais próxima de 0˚ no contato inicial, favorecendo

assim o posicionamento do pé com melhor absorção de choque durante a fase de

resposta à carga.

As médias de flexão do joelho na fase de balanço, por outro lado, encontram-se

diminuídas após um AVE. De acordo com Daly4, a fase de balanço nesses pacientes

pode ser caracterizada pela diminuição do pico de flexão do joelho, atraso no início

desse movimento e progressão reduzida. Isso pode ser decorrente da redução do

poder de geração de força dos músculos flexores plantares nessa fase e dos flexores

do quadril, levando a uma diminuição do avanço do membro. Além disso, não se pode

esquecer a influência da espasticidade dos extensores do joelho, característica comum

nesse grupo de pacientes35,37.

Apesar de não ter havido alterações na flexão do joelho do membro inferior

parético nesse estudo, a sua ADM aumentou no grupo que realizou biofeedback visual

após o treinamento, assim como a ADM do tornozelo. A literatura vem mostrando que

ganhos nas amplitudes de movimento articular resultam no aumento do comprimento

do passo e da velocidade da marcha, sendo, portanto, um aspecto importante no

processo de reabilitação37.

Outra alteração observada no grupo do biofeedback visual foi o aumento da

flexão plantar do tornozelo na transição entre o apoio e o balanço (toe-off). A ação dos

flexores plantares é importante para o avanço do corpo durante a marcha, sendo um

dos fatores determinantes da sua velocidade. Pacientes com hemiparesia tendem a ter

uma menor angulação e força de flexão plantar, gerando uma redução na potência de

impulsão do membro parético e conseqüente diminuição da velocidade17. Jonsdottir e

colaboradores17 sugeriram que o biofeedback visual seria eficaz no aumento da

52

potência dos flexores plantares do tornozelo, gerando um aumento importante na

velocidade da marcha, além de crescimento no comprimento e na frequência do

passo.

Baseado nos nossos resultados pôde-se observar que o biofeedback visual

promoveu um maior número de modificações nas variáveis angulares da marcha do

que o biofeedback auditivo e do que o grupo que realizou apenas o treino de marcha.

Tate e Milner39 realizaram uma revisão sistemática de estudos envolvendo

biofeedback cinético, cinemático e têmporo-espacial no tratamento de alterações da

marcha e sugeriram benefícios de moderado a grande para o treino com biofeedback

imediatamente após o tratamento.

Durante o treinamento da marcha com biofeedback, o paciente recebe

informações adicionais em relação às suas respostas fisiológicas, como suas

angulações articulares, sua velocidade, comprimento do passo, posicionamento do pé

ou o nível de ativação muscular. O biofeedback é também um meio de dar instruções

ao paciente de como modificar seus padrões de movimento, complementando assim o

feedback interno já existente40. Ele desempenha um papel importante no processo de

aprendizagem motora, uma vez que facilita a obtenção do objetivo da tarefa e motiva o

paciente a continuar se esforçando em direção a esse objetivo. Isso pode ter levado a

um melhor desempenho da marcha após o treinamento nos indivíduos que tiveram o

estímulo do biofeedback.

Outra questão a ser considerada é que esses pacientes podem ter a

capacidade de utilizar o feedback sensorial crítico diminuída e dificuldade para corrigir

os erros e orientar o desempenho da tarefa41. Assim, informações adicionais ao seu

feedback intrínseco podem ajudar no processo de aprendizagem e facilitar a

realização marcha.

O biofeedback visual pode ter gerado um maior número de alterações

favoráveis nas variáveis espaço-temporais e angulares da marcha pelo fato de a que

visão tende a ser fonte dominante de informação sensorial no controle de movimentos

voluntários42, uma vez que ela auxilia na preparação dos movimentos dos membros,

dando informações para correção dos erros e para garantir que os indivíduos

executem o movimento com mais precisão.

53

Limitações do estudo

Este estudo verificou apenas o efeito imediato do biofeedback sobre a marcha

de sujeitos hemiparéticos, não analisando esses efeitos a longo prazo. Sugere-se a

continuidade do estudo no sentido de verificar o efeito da aprendizagem por um

período maior de intervenção, em função da complexidade da tarefa. Sugere-se ainda

realizar essa investigação em um grupo maior de pacientes, de modo a não suprimir

possíveis diferenças entre as propostas de treinamento.

Espera-se que o presente estudo possa contribuir para as questões

relacionadas ao treino de marcha de pacientes com hemiparesia crônica após AVE e

que incentive novas pesquisas na busca de formas mais eficientes de tratamento e

recuperação desse grupo de pacientes. Para isso, são necessários estudos futuros

que realizem um programa de tratamento com um número mínimo de sessões

necessárias para alguma recuperação da função motora de pacientes neurológicos e

que verifiquem a persistência desses resulatados através de um acompanhamento.

CONCLUSÃO

Não há diferenças entre os efeitos imediatos do treino de marcha em esteira

com SPP de sujeitos com hemiparesia crônica realizado sem e com biofeedback visual

ou auditivo. No entanto, o biofeedback visual pode promover alterações em um maior

número de variáveis espaço-temporais e angulares da marcha após o treinamento do

que o biofeedback auditivo ou do que o treino de marcha realizado sem biofeedback.

Nossos achados sugerem, portanto, que o treino de marcha em esteira com

SPP em sujeitos hemiparéticos crônicos pode ser beneficiado se combinado com o

estímulo do biofeedback visual.

54

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62

ANEXOS

63

ANEXO 1

ESCALA MODIFICADA DE ASHWORTH

Código:___________________________________ Data:___________

Escore de Ashworth Grau de tônus muscular - Quadril

1 → Sem aumento do tônus (normal)

2 → Aumento discreto quando a parte afetada é fletida ou estendida

3 → Aumento mais acentuado, movimentos passíveis fáceis

4 → Aumento considerável, movimentos passíveis difíceis

5 → Parte afetada rígida em flexão ou extensão

Escore de Ashworth Grau de tônus muscular - Joelho

1 → Sem aumento do tônus (normal)

2 → Aumento discreto quando a parte afetada é fletida ou estendida

3 → Aumento mais acentuado, movimentos passíveis fáceis

4 → Aumento considerável, movimentos passíveis difíceis

5 → Parte afetada rígida em flexão ou extensão

Escore de Ashworth Grau de tônus muscular - Tornozelo

1 → Sem aumento do tônus (normal)

2 → Aumento discreto quando a parte afetada é fletida ou estendida

3 → Aumento mais acentuado, movimentos passíveis fáceis

4 → Aumento considerável, movimentos passíveis difíceis

5 → Parte afetada rígida em flexão ou extensão

64

ANEXO 2

FAC – FUNCTIONAL AMBULATORY CATEGORY

Código:___________________________________ Data:___________

Escore de FAC Habilidade do Paciente

0 → Sujeito não consegue deambular

1 → Sujeito requer firme suporte contínuo de uma pessoa para ajudar

no suporte de peso e equilíbrio

2 → Sujeito requer suporte contínuo ou intermitente de uma pessoa

para ajudar no equilíbrio e coordenação

3 → Sujeito requer supervisão verbal

4 → Sujeito caminha independentemente e requer ajuda apenas para

subir degraus

5 → Sujeito consegue deambular independentemente

65

ANEXO 3

MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL - MEEM

Código:___________________________________ Data:___________

Funções cognitivas Pontos Escores

Orientação temporal 1. Qual é o(a) Ano?

Estação?

Data?

Dia?

Mês?

1

1

1

1

1

Orientação espacial 2. Onde estamos? Estado?

País?

Cidade?

Hospital?

Andar?

1

1

1

1

1

Memória imediata 3. Mencione três objetos (carro, bola e boneca), levando 1 segundo para cada um. Então, pergunte ao paciente sobre os três objetos após você os ter mencionado. Estabeleça um ponto para cada resposta correta. Repita as respostas, até o paciente aprender todos os três.

3

Atenção e cálculo 4. Série de sete. Pergunte ao paciente sequencialmente (100 - 7), (93 - 7), (86 – 7), (79 – 7) e (72 – 7). Estabeleça um ponto para cada resposta correta. Alternar: soletre MUNDO de trás para frente.

5

Memória: evocação tardia 5. Pergunte o nome dos três objetos aprendidos na questão 3. Estabeleça um ponto para cada resposta correta.

3

Linguagem 6. Aponte para um lápis e um relógio. Faça o paciente dizer o nome desses objetos conforme você os aponta.

7. Faça o paciente repetir “Não tem se nem mas”.

8. Faça o paciente seguir um comando de três estágios: “Pegue o papel com a mão direita.

Dobre o papel ao meio. Coloque o papel no chão”.

9. Faça o paciente ler e obedecer ao seguinte: FECHE OS OLHOS.

10. Faça o paciente escrever uma frase de sua própria autoria (A frase deve conter um sujeito

e um objeto e fazer sentido. Ignore erros de ortografia ao marcar o ponto).

2

1

3

1

1

Capacidade construtiva visual 11. Faça o paciente copiar o desenho impresso. Estabeleça um ponto se todos os lados e ângulos forem preservados e se os lados de interseção formarem um quadrilátero.

1

Total

30

66

ANEXO 4

NIHSS - NATIONAL INSTITUTE OF HEALTH STROKE SCALE

Código:___________________________________ Data:___________

Instruções Definição de pontuação Pontos

1 a.Nível de consciência 0= alerta

1= sonolento

2= torporoso (requer estimulação repetida)

3=coma (pode responder somente com

reflexos)

b. Nível de consciência –

Perguntas: Qual o mês do ano e

qual a sua idade?

0= responde ambas as perguntas

corretamente

1= responde uma pergunta corretamente

2= nenhuma resposta correta

c. Nível de consciência –

Solicitar para o paciente fechar

e abrir os olhos e fechar e abrir

a mão não-parética

0= executa ambas as tarefas corretamente

1= executa uma tarefa corretamente

2= não executa nenhuma tarefa

corretamente

2. Movimentos oculares –

Solicitar movimentos dos olhos

para a direita e para a esquerda

0= normal

1= paralisia parcial do olhar

2= paralisia total do olhar

3. Campo Visual – Solicitar a

contagem dos dedos nos

quadrantes superiores e

inferiores (direito e esquerdo)

avaliando cada olho

independentemente

0= nenhuma perda visual

1= hemianopsia parcial

2= hemianopsia completa

3= hemianopsia bilateral

4. Movimentos faciais – Solicitar

para o paciente mostrar os

dentes ou levantar as

sobrancelhas e fechar os olhos

0= movimento simétrico normal

1= pequena paralisia

2= paralisia parcial

3= paralisia completa

5 e 6. Função motora do MS e 0= nenhum déficit, mantém a posição MSE

67

MI – Solicitar para o paciente

manter o braço em flexão a 45º

e a perna em flexão de 30º

durante 10 segundos, na

posição supina, iniciando com o

membro não afetado

durante 10 segundos

1= déficit, o paciente mantém a posição,

mas antes dos 10 segundos o membro cai

na cama

2= realiza algum esforço contra a

gravidade, mas não mantém a posição

3= nenhum esforço contra a gravidade,

quedas do membro

4= nenhum movimento

MSD

MIE

MID

7. Ataxia de membros –

Realizar as provas índice-nariz

e calcanhar-joelho

0= ausente

1= presente em um membro

2= presente em dois membros

8. Sensibilidade – Realizar

estimulação dolorosa com

alfinete na região proximal dos

quatro membros

0= normal

1= perda parcial

2= perda total

9. Linguagem – Solicitar ao

paciente para identificar um

grupo de figuras e ler um

conjunto de sentenças (no

mínimo 3)

0= normal

1= moderada

2= severa

3= total

10. Disartria – Solicitar para o

paciente ler uma lista de

palavras

0= normal

1= comprometimento leve a moderado

2= comprometimento severo

11. Negligência espacial –

Solicitar para o paciente

descrever o que está

acontecendo na figura

apresentada numa folha de

papel, do lado direito e

esquerdo, ou reconhecer uma

estimulação tátil simultânea e

bilateral, com os olhos fechados

0= nenhuma anormalidade

1= negligência parcial

2= negligência completa

68

ANEXO 5

STREAM – STROKE REHABILITATION ASSESSMENT OF MOVEMENT

Código:___________________________________ Data:___________

I – MOVIMENTOS VOLUNTÁRIOS DE MEMBROS

Escore de

STREAM Habilidade do Paciente

0 → Incapaz de realizar o movimento testado em qualquer amplitude

apreciável (incluindo movimentos em chicote e lentos)

1 →

A) Capaz de realizar apenas parte do movimento e com forte

desvio do padrão normal

B) Capaz de realizar apenas parte do movimento, mas de forma

semelhante ao lado não afetado

C) Capaz de realizar o movimento completo, mas com marcado

desvio do padrão normal

2 → Capaz de completar o movimento de maneira comparável ao lado

não afetado

X → Atividade não testada ( Especificar o por quê – amplitude, dor,

outras razões)

69

II – MOBILIDADE BÁSICA

Escore de

STREAM Habilidade do Paciente

0 → Incapaz de realizar a atividade testada através de qualquer

amplitude, isto é, mínima participação ativa

1 →

A) Capaz de realizar apenas parte da atividade de forma

independente (requer assistência parcial ou estabilização para

completar o movimento), com ou sem ajuda, e com marcante

desvio do padrão normal

B) Capaz de realizar apenas parte da atividade de forma

independente (requer assistência parcial ou estabilização para

completar o movimento), com ou sem ajuda, mas com um padrão

de movimento grosseiramente normal

C) Capaz completar a atividade de forma normal, com ou sem

ajuda, mas com marcante desvio do padrão normal

2 → Capaz de completar a atividade de forma independente com um

padrão de movimento grosseiramente normal, mas requer ajuda

3 → Capaz de completar a atividade de forma independente com um

padrão de movimento grosseiramente normal, sem ajuda

X → Atividade não testada ( Especificar o por quê – amplitude, dor,

outras razões)

70

IIII – REFERÊNCIA PARA MEDIDA

AMPLITUDE DE MOVIMENTO ATIVO

QUALIDADE DO MOVIMENTO NENHUM PARCIAL COMPLETO Grande desvio 0 1a 1c Grosseiramente normal 0 1a 2(3)

ITENS AVALIADOS

POSIÇÃO DO TESTE

SUBESCALA MOVIMENTOS AVALIADOS PONTUAÇÃO

DEITADO S Protração da escápula S Extensão de cotovelo I Flexão do quadril M Rolar M Fazer a ponte M De supino para sentado

SENTADO S Encolher os ombros S Tocar o topo da cabeça S Mão no sacro S Elevação total S Supinação/pronação S Fechar a mão S Abrir a mão S Oposição I Flexão do quadril I Extensão do joelho I Flexão do joelho I Dorsiflexão I Flexão plantar I Extensão do joelho e dorsiflexão M De sentado para em pé

EM PÉ I Abdução do quadril I Flexão do joelho I Dorsiflexão M Mantendo-se em pé M Passo a passo M Três passos para trás M Três passos com o lado afetado M Andar 10 m M Descer 3 escadas

S - Extremidade Superior; I – Extremidade Inferior; M – Mobilidade Básica.

71

APÊNDICES

72

APÊNDICE I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Este é um convite para você participar da pesquisa “Influência do biofeedback no treino

de marcha em esteira com suporte parcial de peso de sujeitos hemiparéticos”, que é coordenada

por Ana Carolina de Azevedo Lima Brasileiro. Sua participação é voluntária, o que significa que

você poderá desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento, sem que isso lhe traga

nenhum prejuízo ou penalidade.

Essa pesquisa se propõe a fazer uma avaliação do efeito imediato do treino de marcha em

esteira associado a um recurso conhecido como biofeedback, que se caracteriza por oferecer

estímulo visual ou auditivo na tentativa de facilitar sua marcha. Caso decida aceitar o convite,

você será submetido(a) a alguns procedimentos, como descritos abaixo.

Inicialmente será realizada uma avaliação através de fichas, questionários e filmagem

para a análise da marcha. Em seguida será realizado o protocolo de treinamento uma única vez

no Laboratório de Marcha do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, podendo você participar de um dos três grupos da pesquisa, o que será

definido por sorteio simples. Os participantes que ficarem no grupo controle caminharão em

uma esteira elétrica com suporte parcial do seu peso por um período de 20 minutos, podendo ter

um intervalo de descanso. Os que ficarem no grupo experimental 1 farão a caminhada na esteira

associada ao estímulo de pistas visuais, que serão dadas na própria esteira. E os que ficarem no

grupo experimental 2 farão a caminhada na esteira associada ao estímulo de pistas auditivas,

dadas por um metrônomo, aparelho que emite sons em intervalos determinados. Caso seja

demonstrado no fim da pesquisa um benefício de um grupo em relação ao outro, fica assegurado

a realização deste treino nos outros dois grupos.

Os procedimentos da pesquisa serão feitos com toda a segurança necessária para

minimizar as possibilidades de riscos. Durante a coleta será realizada monitorização de sua

pressão arterial e de sua frequência cardíaca, de modo a interromper o tratamento caso

apresente alguma alteração. Além disso, durante o treino de marcha na esteira haverá uma cinta

protetora que lhe dará estabilidade e um fisioterapeuta ao lado para qualquer eventualidade.

Ainda assim, caso aconteça algum dano, você terá o seu tratamento e acompanhamento

assegurado pela equipe de pesquisadores. Essa pesquisa lhe trará informações importantes sobre

os dados e os parâmetros da sua marcha e da sua função motora, já que você passará por uma

minuciosa avaliação usando sistemas modernos de captação de imagens. Além disso, esse

73

estudo trará respostas no que se refere ao efeito dessa intervenção, podendo gerar um benefício

coletivo, direcionando uma forma mais eficiente do tratamento.

Todas as informações obtidas serão sigilosas e seu nome não será identificado em

nenhum momento. Os dados serão guardados em local seguro e a divulgação dos resultados será

feita de forma a não identificar os voluntários.

Se você tiver algum gasto que seja devido à sua participação na pesquisa, você será

ressarcido, caso solicite. Em qualquer momento, se você sofrer algum dano comprovadamente

decorrente desta pesquisa, você terá direito a indenização.

Em caso de dúvidas favor entrar em contato com a pesquisadora responsável através do

endereço citado ou por telefone/e-mail. Ana Carolina de Azevedo Lima Brasileiro: Avenida

Jaguarari, 5250 Bloco A, Apt 801 - Natal/RN CONTATO: tel. 3234-9050/ 9493-3937; e-mail:

[email protected].

Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser questionadas ao Comitê de Ética em

Pesquisa da UFRN pelo telefone (84) 3215-3135.

Eu,_________________________________________________, CPF_____________,

RG_____________, após leitura deste documento, declaro que compreendi os objetivos desta

pesquisa, como ela será realizada, os riscos e benefícios envolvidos e a garantia de

confidencialidade e esclarecimentos sempre que desejar. Diante disso, expresso minha

concordância em participar voluntariamente desse estudo.

Natal, ______ de __________________ de 2010

___________________________________________

Assinatura ou impressão datiloscópica do voluntário

___________________________________________

Ana Raquel Rodrigues Lindquist

___________________________________________

Ana Carolina de Azevedo Lima Brasileiro

74

APÊNDICE II

FICHA DE AVALIAÇÃO CLÍNICA

Código:___________________________________ Data:___________

1. IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE

Nome: _______________________________________________________________

Idade: _________ Data de Nascimento:___________ Sexo : F ( ) M ( )

Endereço: ____________________________________________ Tel.:____________

Grau de Instrução: _ Estado Civil: ___________________________

Data de Avaliação: _____________

2. DADOS CLÍNICOS REFERENTES Á PATOLOGIA

AVE: ( ) Isquêmico ( ) Hemorrágico

Lado da lesão: ( ) Direito ( ) Esquerdo

Área cerebral atingida: _________________________

Tempo de lesão: ______________________________

Laudo da Tomografia Computadorizada:

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Fatores de risco presentes:

( ) Hipertensão ( ) Tabagismo ( ) Diabetes Mellitus

( ) Obesidade ( ) Doença cardíaca ( ) Outros _________________

Medicação controlada: Sim ( ) Não ( ) Qual (is) _____________________________

____________________________________________________________________

Idade na ocasião da lesão: _______ Tempo de seqüela: __________________