integridade intestinal de frangos de corte...
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INTEGRIDADE INTESTINAL DE FRANGOS DE CORTE QUANTO AO USO DE NOVOS ADITIVOS NAS DIETAS MODERNAS
Walbens Siqueira Benevides, Dr. Sc.
Prof. Adjunto FAVET / UECE [email protected]
INTRODUÇÃO
Preservar a integridade intestinal dos frangos de corte é cuidar literalmente do
sucesso desse agronegócio, pois além da genética avançada melhorando
constantemente essas aves, dos rigores da biosseguridade preservando sua sanidade e
da alta tecnologia de ambiência garantindo a zona de conforto, a nutrição fornece as
demais ferramentas para o melhor desempenho pecuário do mundo, começando em
multiplicar por cinco seu peso desde o alojamento até chegar aos sete dias de vida.
No entanto, apesar de toda a evolução da avicultura industrial desde a metade do
século passado e bem mais intensa e tecnificada nos ultimos 30 anos em todo o mundo,
a nutrição também continua sendo a responsável pela maior participação nos custos de
produção de carne e ovos em toda sua cadeia produtiva, variando em torno de 70 %.
Portanto, literalmente mais de 2 terços dos custos operacionais da avicultura passam
pela luz intestinal das aves industriais.
Mesmo assim, a avicultura industrial e principalmente a produção de carne, seja
como frango vivo ou processado, segue avançando, colocando como a segunda carne
mais consumida no mundo e no Brasil como carne líder de consumo, já chegando aos
48 kg percapita (acima dos EUA que é de 44 kg percapita), representando quase um
quilo por semana em nosso cardápio e no ranking mundial ocupamos o quarto lugar.
SAÍDA DOS APC’s NA UE
Durante os últimos 40 anos, os antibióticos têm sido utilizados como promotores
de crescimento (APC’s) e para o controle e prevenção de agentes patogênicos,
incorporando-os como aditivos na alimentação animal ou água de beber,
especialmente na produção intensiva dos frangos de corte, galinhas poedeiras e
suínos, proporcionando, como já é bastante conhecido, melhorias no desempenho
produtivo desses agronegócios.
No entanto, o Regulamento (CE) nº 1803/2003 do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 22 de setembro de 2003, proibiu o uso de antibióticos como promotores
de crescimento na alimentação animal nos países membros da União Europeia, desde
01 de janeiro de 2006.
Com essa medida, o Brasil como entre o 2º. e 3º. maior produtor e o maior
exportador de carne de frango do mundo, obrigou-se a se adequar dessa forma as
dietas para as aves criadas com destino a exportação.
Para o mercado interno, os nutricionistas continuaram a adotar a utilização de
antibióticos promotores de crescimento isoladamente ou em consorcio sinérgico com
os novos aditivos, porém desde que o produto esteja devidamente registrado no
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do governo brasileiro, com
uso, dosagem e carência respeitados.
ESTRUTURA INTESTINAL HISTOLÓGICA
O epitélio intestinal é um complexo sistema de células em multiplicação, que
estão se renovando constantemente com padrões bem definidos geneticamente em
que o intestino delgado é a porção mais longa do sistema digestório.
A mucosa intestinal desde o duodeno, até o jejuno, íleo e cecos (Figura 01),
apresenta estruturas denominadas de vilosidades, criptas de Lieberkühn (base) e
parede intestinal em todo o seu trato (Foto 01), mas gradualmente se alterando a
medida que as funções digestivas, absortivas e reabsortivas vão se incorporando e se
modificando.
Figura 01
As vilosidades são constituídas pôr três tipos de células funcionalmente distintas,
caliciformes, enterócitos e as enteroendócrinas.
As Células Caliciformes são secretoras de glicoproteínas (Foto 02), que
protegem o epitélio intestinal da ação de enzimas digestivas e efeitos abrasivos da
digesta.
Os Enterócitos são células responsáveis pela digestão final do alimento e pelo
transporte transepitelial dos nutrientes a partir do lúmen (Foto 03).
Estas células apresentam um processo de maturação que ocorre durante o
processo de migração da cripta de Lieberkühn até o ápice do vilo.
Foto 01
Foto 02
Foto 03
Já as Células Enteroendócrinas (Foto 04) são produtoras de substâncias que
participam na regulação da digestão, absorção e utilização dos nutrientes.
Além disso, a saúde da mucosa intestinal depende do controle de uma série de
agentes potencialmente agressores como os biológicos (fungos, bactérias e
protozoários) e os tóxicos e agressivos às membranas celulares.
INTEGRIDADE DA PAREDE INTESTINAL
A melhor e mais eficiente forma de se avaliar a integridade intestinal dos frangos
de corte é vendo literalmente, como se faz com qualquer outra estrutura física.
Podemos ver de duas formas, macroscopicamente durante as necropsias de
campo e laboratorial (Foto 05), observando o exterior dos tubos intestinais e a própria
luz, ou seja, internamente, mas que nos informa bastante superficialmente.
A outra forma e mais precisa, é histologicamente (Foto 06), para isso é
necessário essencialmente termos um microscópio óptico, uma lente ocular
milimetrada, uma tabela conversora do grau de aumento da lente em uso em
milímetros e cortes histológicos em lâminas de secções de duodeno, jejuno, íleo e
Foto 04
Foto 05
cecos dos frangos de corte, para medirmos suas vilosidades, profundidades das criptas
de Lieberkühn e espessura da
Tudo isso associado a muita
cortes, para eliminar resíduos do
no microscópio e que devem ser feitas em v
Ressaltando que essas
o desempenho diário e os resultados
AVANÇO DOS ADITIVOS ALTERNATIVOS
Após essa medida de alteração nas dietas quantos aos antibióticos, uma g
variedade de aditivos até então
tomaram e ganharam espaços na nutrição de aves industriais.
Dentre os novos aditivos
as enzimas, os acidificantes, os probi
naturais, os fidelizadores, os complexos
Quase que na sua totalidade, são substancias naturais já existentes nos tratos
gastrointestinais (TGI’s) das aves, mas produzidas em quantidades aquém das
necessidades e exigências para atender a digestão e absorção dos nutrientes ofertados
Foto 06
dos frangos de corte, para medirmos suas vilosidades, profundidades das criptas
a muscular ou parede intestinal.
udo isso associado a muita paciência em lavar cuidadosamente em
duos do conteúdo intestinal (Foto 07) que prejudicam a leitura
que devem ser feitas em várias vilosidades mais definidas.
essaltando que essas observações somente se completam ao cruzarmos com
sultados finais zootécnicos do lote.
O DOS ADITIVOS ALTERNATIVOS
Após essa medida de alteração nas dietas quantos aos antibióticos, uma g
então não conhecidos e outros ainda pouco conhecidos,
ganharam espaços na nutrição de aves industriais.
aditivos que surgiram e que são mais utilizados, podemos citar
as enzimas, os acidificantes, os probióticos, prebióticos e simbióticos, os extratos
complexos metabólitos e as novas proteínas.
Quase que na sua totalidade, são substancias naturais já existentes nos tratos
) das aves, mas produzidas em quantidades aquém das
necessidades e exigências para atender a digestão e absorção dos nutrientes ofertados
06
Foto 07
dos frangos de corte, para medirmos suas vilosidades, profundidades das criptas
em lavar cuidadosamente em água os
que prejudicam a leitura
rias vilosidades mais definidas.
somente se completam ao cruzarmos com
Após essa medida de alteração nas dietas quantos aos antibióticos, uma grande
ainda pouco conhecidos,
utilizados, podemos citar
ticos, os extratos
.
Quase que na sua totalidade, são substancias naturais já existentes nos tratos
) das aves, mas produzidas em quantidades aquém das
necessidades e exigências para atender a digestão e absorção dos nutrientes ofertados
nas dietas. Porém, ao ofertamos essas substâncias em quantidades maiores,
evidentemente alteramos o equilíbrio funcional dos TGI’s, devendo então conhecermos
seus limites de uso e se melhoram, alteram ou causam danos à integridade intestinal dos
frangos de corte.
Procuramos artifícios que aumentem a altura das vilosidades e a profundidade de
criptas, multiplicando assim mais células absortivas, ja que não desejamos um quadro de
doença celíaca (Figura 02) em nossas aves.
COMPORTAMENTO DOS ADITIVOS NA INTEGRIDADE INTESTINAL
Quanto aos aditivos citados, conheceremos de forma sucinta, suas ações e
alterações e possíveis danos à integridade intestinal dos frangos de corte.
ENZIMAS: Conhecidas como exógenas, agem especificamente sobre seus
substratos melhorando a eficiência alimentar desses nutrientes de acordo com as
exigências nutricionais das aves por aptidão e idade. A enzima mais conhecida e uma
das primeiras com destaque no mercado é a fitase, que aumenta a disponibilidade do
fósforo de origem vegetal. Pode auxiliar na manutenção da integridade dos epitélios do
intestino das aves, por reduzir a perda da camada de mucina que protege o epitélio.
ACIDIFICANTES: Existem alguns ácidos naturais que são adicionados para
melhorar a produtividade, entre os mais conhecidos temos o ácido fumárico, lático,
fórmico e acético e o butírico, ou mais precisamente o seu sal, o butirato de sódio. Os
ácidos orgânicos têm a capacidade de baixar o pH do trato gastrointestinal, inibindo o
desenvolvimento das bactérias patogênicas, contudo precisam ser tamponados para se
proteger da acidez do suco gástrico ate atingir seu sítio de ação, a mucosa intestinal.
Figura 02
Existem teorias e estudos aplicados de aumento das vilosidades e consequente aumento
das células absortivas do epitélio intestinal em frangos de corte.
PROBIÓTICOS: Culturas de microrganismos viáveis (bactérias, fungos e
leveduras) que atuam direta ou indiretamente sobre bactérias patogênicas no trato
gastrointestinal e contribuem para o equilíbrio da microbiota intestinal.
PREBIÓTICOS: Ingredientes nutricionais não digeridos por enzimas, sais e
ácidos produzidos pelo organismo animal, sendo, seletivamente, fermentados pelos
microrganismos do trato gastrintestinal constituindo o alimento das bactérias
probióticas. Os prebióticos mais estudados são os oligossacarídeos, principalmente os
frutoligossacarídeos (FOS), glucoligossacarídeos (GOS) e mananoligossacarídeos
(MOS).
SIMBIÓTICOS: Por definição, um simbiótico é um produto no qual um probiótico
e um prebiótico estão combinados, podendo ou não estar somados a mais uma fonte
de alimento ao probiótico.
EXTRATOS NATURAIS: Os extratos naturais são em geral produtos extraídos
de plantas, com propriedades antibióticas ou de estímulo às secreções gástricas e
pancreáticas. Estas substâncias apesar de serem naturais, possuem elevado custo e
resultados menos consistentes.
FIDELIZADORES: Para as aves de produção com restrições a consumo, pode
estimular melhorias no consumo alimentar, através de efeitos fisiológicos diretamente no
hipotálamo por ação olfativa.
COMPLEXOS METABÓLITOS: Podem ser em forma de complexo multifatorial e
multifuncional elaborado a partir de leveduras com xaropes e cereais, passando por
extrusão a frio, é capaz de produzir em torno de 300 metabólitos essenciais às melhorias
na imunidade e na conversão alimentar e consequentemente no ganho de peso dos
frangos de corte.
NOVAS PROTEÍNAS: Podemos considerar como aditvos, mas que são ofertadas
dentro dos insumos, obtidas através da biologia molecular e tecnologias laboratoriais de
manipulação dos componentes moleculares com o auxílio fundamental da cristalografia
(Figura 03) para seu melhor conhecimento, conseguindo assim transformar moléculas
protéicas e montar novas proteínas para disponibilizar in vitro e in vivo nas dietas
modernas das aves industriais.
Objetivando então mais recentemente, ofertar na carne de frango fatores
antioxidantes e de possível retardamento ao envelhecimento humano com uso de algas
marinhas e subproduto da produção de vinho (orujo) entre outros, que possam também
ser mais uma forma de prevenir o avanço ou mesmo até inibir duas das mais sérias
patologias da melhor idade e que vem se manifestando cada vez mais precocemente na
humanidade, a Doença de Parkinson e a Doença de Alzheimer. Na europa e também
no Brasil, já existe interesse nesse sentido de fornecer a carne de frango como
alimento funcional, sem deixar de avaliar e avançar mais ainda nos resultados
zootécnicos na produção de carne avícola.
DISCUSSÕES
Embora que já conseguimos avançar bastante nesse tema de novos aditivos,
ainda não estamos no cenário conclusivo do uso dos mesmos relacionados, assim
como de outros de menor relevância, quanto ao seu uso quantitativamente e
qualitativamente isoladamente ou em conjunto e suas implicações na luz intestinal dos
frangos de corte, apesar de não conhecermos ainda nenhum efeito agressivo desses
na integridade da mesma.
Não existem relatos de prejuízos à integridade intestinal dos frangos de corte na
aplicação desses novos aditivos nas dietas modernas, ao contrário, todas as pesquisas
constataram haver benefícios no aumento de vilosidades e multiplicação celular de
uma forma geral.
Figura 03
Porém, sabemos bastante da eficácia desses aditivos nos resultados
zootécnicos, mas sendo necessário então, continuarmos investigando suas aplicações
sobre esse tema a nível de pesquisas públicas e privadas, como também diretamente
na linha direta de produção de frangos de corte.
Não é necessário precisamente termos um microscópio e uma ótima e paciente
avaliação histológica, para conhecermos profundamente a integridade intestinal dos
frangos de corte, pois os resultados zootécnicos finais expressam-se por sí só.
Então, é de extrema importância, relacionar essas aplicações desses novos
aditivos com seus resultados zootécnicos finais, levando em conta diversos fatores tais
como, marca genética, peso do pintinho com hum dia, peso do pintinho com sete dias,
zona de conforto, formulação em uso, nível de instalações, densidade aviária,
densidade de equipamentos, ambiência do aviário, grau de biosseguridade, vazio
sanitário, reutilização ou não da cama e época do ano entre outros mais, finalizando
com a relação custos benefícios, ou seja, a avaliação econômica de cada lote de
frangos de corte separadamente por unidade produtiva de cada empresa.
Ressaltando que resultados zootécnicos são excelentes indicadores de
referência para comparação de lotes entre situações econômicas iguais ou
semelhantes, minimizando o numero de variáveis, permitindo assim avaliar com maior
precisão especificamente o uso de aditivos nas dietas para frangos de corte.
Enfatizamos também, que nas dietas da avicultura industrial em todas as
aptidões, nunca foi e nem será utilizado hormônios, pois sua aplicação é ilegal, sem
aplicabilidade fisiológica digestiva e além de tudo, sem viabilidade econômica.
Considerando-se que a avicultura dispensa qualquer artifício nocivo a saúde
humana, pois além da confiabilidade na seriedade empresarial do setor, existe uma
imensurável fonte de informações nas páginas eletrônicas e nas redes sociais
informatizadas, que não nos deixam sem respostas.
Acrescentamos que atualmente as indústrias avícolas, consorciadas com as
universidades e órgãos governamentais, investem prioritariamente em pesquisas com
objetivos de uso funcional para a saúde humana, rastreabilidade, sustentabilidade,
meio ambiente e bem estar animal, praticando ciência responsável, transparente e de
domínio público.
Finalizo destacando que essas aves foram melhoradas geneticamente para
ganhar peso através da transformação de proteína de origem vegetal em sua maioria,
em proteína animal de alta qualidade e acessível a todas as camadas sociais.
CONCLUSÕES
Apesar de não conhecermos nenhum prejuízo de ordem epitelial ou zootécnica,
no entanto, cabe a nós, profissionais da avicultura industrial, proporcionar uma situação
adequada em sistema de confinamento e principalmente nesse tema, conhecer bem os
novos aditivos incluídos e que possam vir a ser incluídos nas dietas modernas.