intervenção para auxiliar a reabilitação motora no avc e aveh
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Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Intervenção para Auxiliar a reabilitação Motora e
Cognitiva de Pacientes após o Acidente Vascular
Cerebral (AVC)
Proponente: Daniela Maria de Sousa Moura Orientador: Antonio Pereira Jr
2010
Resumo
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a principal causa de disabilidade
motora e cognitiva combinadas em todo o mundo. Atualmente, a reabilitação
dos pacientes com AVC é voltada principalmente para a recuperação motora e
envolve o treinamento motor do membro afetado sob supervisão de
fisioterapeuta. Neste projeto, apresentamos a proposta de uma terapia
cognitiva inovadora que combina elementos de imagética motora implícita e
memória operacional para permitir a melhora da capacidade motora e cognitiva
de pacientes com AVC. A proposta é que a terapia seja administrada como
coadjuvante à fisioterapia tradicional.
Abstract
Stroke, also called Cerebrovascular Accident (CVA) is the world’s leading
cause of cognitive and motor disabilities. Currently, the neurorehabilitation of
stroke patients focuses primarily on motor recovery and involves the training of
the affected limb under the supervision of a physiotherapist. In this project, we
present the proposal for an innovative cognitive therapy that combines elements
of implicit motor imagery and working memory to allow the recovery of motor
function of the upper limb together with cognitive function of stroke patients. The
goal is that the cognitive therapy be administered as an adjuvant to traditional
physical therapy.
1. Caracterização do Problema
1.1 O Acidente Vascular Cerebral
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um evento patológico agudo
desencadeado pela oclusão ou hemorragia de vasos no encéfalo. O AVC pode
causar morte e disfunção celular na área afetada e regiões adjacentes,
facilitando o aparecimento de déficits neurológicos cuja identidade e
intensidade reflete a localização e o tamanho da área acometida (Lo, 2003).
Existem dois tipos de AVC: isquêmico e hemorrágico. A isquemia decorrente
da oclusão de vasos cerebrais é responsável por cerca de 80% dos AVCs,
enquanto que a hemorragia intracerebral responde pelos outros 20% (Dirnagl
et al., 1999; Mergenthaler et al., 2004).
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, a taxa de mortalidade
específica de doenças cerebrovasculares no ano de 2006 chegou a mais de
50% (http://tinyurl.com/3aevkpy). O AVC, assim como as doenças do sistema
circulatório, podem resultar de uma complexa interação entre fatores genéticos
e ambientais, como o cigarro, sedentarismo, obesidade, hábitos alimentares,
hipertensão e diabetes, entre outros (Lo, 2003). Na cidade de Natal (RN), dos
pacientes admitidos no principal hospital público de emergência da cidade,
durante os meses de dezembro/2004 e maio/2005, 8,4% apresentaram
sintomas sugestivos de AVC (Martins et al., 2007). Destes, 74,7% tinham AVC
isquêmico e 25,3% AVC hemorrágico (Martins et al., 2007). Embora tenha sido
detectada uma tendência de diminuição das taxas de mortalidade devidas ao
AVC em algumas regiões do Brasil (André et al., 2006; Cabral et al., 2009), que
pode ser associada com a melhora socioeconômica experimentada pelo país
nas duas últimas décadas e consequente melhora no controle dos fatores de
risco associados ao AVC (hipertensão, fumo, obesidade, etc), o progressivo
envelhecimento da população brasileira levará a um aumento inevitável no
número total de mortes devido ao AVC.
A terapia trombolítica com ativador de plasminogênio tecidual recombinante
(rt-PA), embora tenha influência limitada na redução de mortalidade, é o único
tratamento específico disponível para o AVC que melhora o prognóstico de
pacientes após AVC isquêmico (Hacke et al., 2004), como demonstra o fato de
que o prognóstico de pacientes tratados com essa terapia é consideravelmente
melhor do que pacientes não tratados (Kwiatkowski et al., 1999, Hacke et al.,
2004). A terapia com rt-PA é mais eficiente quando administrada até 3 horas
após o início dos sintomas do AVC.
A maioria dos pacientes sobrevive ao AVC com graus variados de sequelas
motoras e cognitivas, dependendo da região afetada pelo evento isquêmico. As
sequelas motoras são as disabilidades resultantes mais conspícuas e afetam
cerca de 80% dos pacientes, prejudicando os movimentos em um dos lados do
corpo e causando limitação tanto no exercício de atividades cotidianas quanto
nas interações interpessoais. As sequelas motoras são extremamente
onerosas para os pacientes, a família e a sociedade, devido às limitações
fisicas e cognitivas resultantes e aos custos envolvidos com a reabilitação (ver
Langhorne et al., 2009). Atualmente, as técnicas fisioterápicas convencionais
para recuperação da capacidade motora têm sido a principal abordagem
terapêutica regenerativa em casos de AVC e, dependendo da severidade do
caso, os pacientes podem readquirir certa independência e controle motor.
Existe uma variedade de intervenções propostas para a reabilitação motora
de pacientes pós-AVC (Langhorne et al., 2009). Uma revisão sistemática
recente avaliou a eficácia de várias propostas de intervenção publicadas na
literatura para recuperação da função dos braços, mãos, equilíbrio em pé,
marcha e levantamento da cadeira (Langhorne et al., 2009). Existem
evidências de melhora na função motora dos braços pós-AVC com terapia de
restrição de movimento induzida, com biofeedback eletromiográfico, robótica e
prática mental com imagética motora (Langhorne et al., 2009). Em uma meta-
análise comparativa (Langhorne et al., 2009), a prática mental com imagética
motora surgiu como a intervenção mais promissora para recuperação funcional
do movimento dos braços. A sugestão é de que qualquer intervenção para
promover a recuperação motora deve ser uma prática repetitiva tarefa-
específica e de alta-intensidade, com feedback da performance do paciente.
1.2 Plasticidade Cortical
Plasticidade é a capacidade intrínseca do sistema nervoso de modificar o
comportamento do organismo em resposta a mudanças e pressões ambientais,
variações fisiológicas, e ao aprendizado. Esta capacidade de reorganização do
sistema nervoso pode ser demonstrada ao nível do comportamento do animal,
da anatomia, da fisiologia e até nos níveis celulares e moleculares.
A plasticidade é um estado permanente do cérebro, que muda
constantemente em resposta a modificações nos seus aferentes e alvos
eferentes. O AVC, portanto, é apenas um desses eventos que modificam a
estrutura do sistema nervoso e o comportamento do organismo. É comum,
após o AVC, assim como outras formas de injuria ao sistema nervoso, observar
uma recuperação parcial das funções motoras e cognitivas afetadas. Os dados
obtidos experimentalmente com animais, sugerem que essa recuperação
deriva da reorganização de circuitos motores derivada da plasticidade cortical
(Nudo et al., 1996). A hipótese é de que essa reorganização decorre do
"desmascaramento" de circuitos motores paralelos e o estabelecimento de
circuitos alternativos de aferência para os motoneurônios espinhais. As terapias
restauradoras pós-AVC têm como objetivo manipular essa relação entre
recuperação motora e plasticidade cortical para aumentar o potencial de
recuperação funcional do paciente com AVC. Os potenciais mecanismos
envolvidos na recuperação funcional são: reforço de conexões remanescentes
nos circuitos danificados, desmascaramento de vias "silenciosas" e brotamento
axonal.
A reorganização do peso de conexões sinápticas pré-existentes é o
mecanismo básico responsável pelo aprendizado (Martin & Morris, 2002).
Quando ocorre o aprendizado de uma habilidade motora, os mapas corticais
associados com a tarefa se modificam ao longo das sessões de treinamento
(Pascual-Leone et al., 2005), refletindo a progressiva destreza do sujeito na
tarefa. Interessantemente, os mapas corticais apresentam o mesmo padrão de
modificação apenas com a realização implícita da tarefa motora, sugerindo que
a imagética motora, da mesma maneira que o treinamento explícito, engaja os
mesmos mecanismos sinápticos envolvidos na aquisição de uma habilidade
motora (Pascual-Leone et al., 2005).
1.3 A Demência Vascular e o AVC
Uma complicação comum decorrente do AVC é a perda de função cognitiva
e habilidades intelectuais pelo paciente. Esse declínio cognititvo é chamado de
demência vascular e é causada por danos teciduais decorrentes da isquemia
localizada nos lobos frontal e temporal. A demência vascular é a segunda
causa mais frequente de demência após a doença de Alzheimer. A demência
pode levar a perda de memória, confusão, alcance atencional diminuído e
outros problemas relacionados com as atividades cotidianas normais. Deficits
de atenção e função executiva prefrontal são particularmente prevalentes
(Stephens et al., 2004). Estes deficits cognitivos podem prejudicar o
aprendizado sensorimotor necessário para a reabilitação motora e também a
realização de tarefas cotidianas que necessitam de processamento cognitivo
rápido.
Estudos baseados em pacientes hospitalares revelam que até um terço dos
pacientes de AVC apresentam demência dentro de três meses após o AVC,
podendo chegar até 75% quando o declínio cognitivo moderado é considerado
(Haring, 2002). Existe uma associação estreita entre demência vascular e
doença de Alzheimer, com as duas patologias apresentando vários fatores de
risco em comum (Pohjasvaara et al., 2000). Além do AVC, várias outras
patologias vasculares podem levar à demência, tal como os eventos
isquêmicos subcorticais. As causas exatas para a demência pós-AVC ainda
são desconhecidas, mas a incidência de vários AVC silenciosos, que não
apresentam sinais neurológicos óbvios, pode acarretar declinio cognitivo
silencioso progressivo (Vermeer et al., 2003).
1.4 O Lobo Frontal, Inteligência e Memória Operacional
Há mais de 100 anos atrás, Charles Spearman propôs que o
desempenho individual em vários testes cognitivos poderia ser representado
por um fator geral de inteligência, chamado de fator g (Spearman, 1904), que
representa as correlações positivas entre estes vários testes. Mais tarde,
Raymond B. Cattell (Horn & Cattell, 1966) propôs a separação de g em dois
componentes, chamados de inteligência fluida (Gf) e a inteligência cristalizada
(Gc). A Gc é medida por testes que avaliam o conhecimento acumulado e o
nível educacional (testes de vocabulário, por exemplo) e depende da memória
de longo prazo (Gray & Thompson, 2004). Já a Gf é medida em testes
relacionados com a capacidade de o indivíduo pensar e agir rapidamente e
resolver problemas novos com eficiência (ver Gray & Thompson, 2004). Em
termos psicométricos, Gf é mais relacionada com o fator g do que Gc (Colom et
al., 2008; Gray & Thompson, 2004). Normalmente, existe uma grande
variabilidade de Gf na população, que possui uma capacidade plástica notável,
podendo ser facilmente modificada por intervenções dirigidas (ver Jaeggi et al.,
2008).
A Gf é principalmente afetada por lesões no córtex pré-frontal em
humanos (Duncan e al., 1995). Além disso, as diferenças individuais em Gf são
mais evidentes em testes comportamentais que dependem criticamente das
funções executivas, mais particularmente da memória operacional e controle
atencional (Kane & Engle, 2002). Essa forte relação entre a memória
operacional e Gf (Halford et al., 2007) foi demonstrada em humanos por Jaeggi
e colaboradores (2009), que mostraram a transferência dos ganhos obtidos
com o treinamento da memória operacional para Gf. Estes resultados geraram
enorme especulação sobre as possibilidades de intervenção para melhorar Gf
e, em consequência, g.
A memória operacional é uma parte do sistema de memória que
armazena e manipula temporariamente informações importantes durante a
realização de atividades cognitivas complexas, desempenhando um papel
crucial tanto na aprendizagem quanto no raciocínio e na linguagem (Baddeley,
2003). Um bom exemplo do uso da memória operacional em tarefas cotidianas
é a realização mental de procedimentos aritméticos simples, como a
multiplicação de números com dois dígitos (p. ex., 22 vezes 12). Para realizar a
tarefa com sucesso, é necessário armazenar os dois números e aplicar as
regras básicas de multiplicação, armazenando os resultados intermediários
enquanto a operação prossegue. Além disso, o processo é extremamente
sensível à perturbação da atenção e possui um limite claro na quantidade de
informação que deve ser armazenada e processada em cada tarefa (Baddeley,
2003).
O córtex pré-frontal é o substrato anatômico da memória operacional
(Kane & Engle, 2002). Em 1974, os psicólogos Alan Baddeley e Graham Hitch
propuseram um modelo para a memória de curta duração que eles chamaram
de memória operacional. Neste modelo, a memória operacional possuiria três
componentes: uma ―alça fonológica‖, que armazena e processa palavras,
números e sons; um ―rascunho visuoespacial‖, que armazena e processa
informação visual e espacial; e um ―executivo central‖, que focaliza a atenção
ma informação disponível nos outros dois sistemas e controla como ela é
utilizada. Em 2000, Alan Baddeley incluiu um quarto componente no modelo,
um ―buffer episódico‖, que serve como interface entre os outros três sistemas e
a memória de longa-duração (para revisão, ver Baddeley, 2003) (ver Figura 1).
Figura 1- O sistema multicomponente de memória operacional. MLP: memória de
longo prazo (modificado de Baddeley, 2003)
Jaeggi e colaboradores (2008) mostraram recentemente a transferência
dos ganhos obtidos com o treinamento em uma tarefa de memória operacional
para o desempenho em testes de Gf. Neste trabalho, foi utilizado um
paradigma de treinamento baseado em uma tarefa de memória operacional
chamada de dual n-back. Nessa tarefa (ver Fig. 2), era apresentado aos
participantes duas séries de estímulo, de maneira sincronizada a uma taxa de 3
s por estímulo. Uma das séries consistia de letras individuais, enquanto a outra
consistia de localizações espaciais em uma matriz 3x3 na tela de um
computador. A tarefa dos sujeitos era decidir, para cada série, se o estímulo
atual correspondia a um estímulo que havia sido apresentado n itens atrás. O
valor de n variava de um bloco experimental para o outro, com os ajustes
sendo feitos continuamente de acordo com a performance de cada participante.
À medida que o desempenho do sujeito melhorava, n era aumentado em um
item e quando piorava era subtraido de um item. Dessa forma, a tarefa se
adaptava ao desempenho individual, permanecendo desafiadora. Algumas
características do teste que o tornam atrativo como ferramenta de treinamento
de memória operacional: i) é necessário administrar a execução de duas
tarefas simultaneamente, engajando processos executivos distintos para
realizar cada uma; ii) desencoraja a criação de estratégias específicas para a
tarefa e o engajamento de processos automáticos por causa da variação
de n e por causa da inclusão de duas classes de estímulos diferentes.
Figura 2- Implementação do teste n-back utilizada por Jaeggi e colaboradores (2008).
1.5 Imagética Motora e a Reabilitação
De acordo com Kosslyn e colaboradores (2006), a imagética mental ocorre
quando "uma representação, do tipo criado durante as fases iniciais da
percepção está presente, mas o estímulo não está sendo realmente percebido;
tais representações preservam as propriedades perceptuais do estímulo e
podem causar a experiência subjetiva de percepção". Existem vários tipos de
imagética mental, como a imagética de objetos se movendo no espaço (ver
Shepard & Metzler, 1971), a imagética auditiva e imagética motora (IM)
(Kosslyn et al., 2009).
Existem várias evidências de que a imagética mental depende das mesmas
representações envolvidas na percepção sensorial. Isso implica que a
imagética torna acessível, de maneira explícita, as mesmas informações que
são registradas pelos receptores sensoriais durante a percepção, tal como cor,
contraste e movimento, no caso da imagética visual. No caso da imagética
motora, isso é comprovado pelo fato de que a rotação mental da mão humana
é sujeita às mesmas restrições biomecânicas que limitam o movimento do real
membro (Parsons, 1987; Lameira et al., 2009).
Segundo a definição de Richardson (1967), a imagética motora é "o ensaio
simbólico de uma atividade física na ausência de qualquer movimento muscular
evidente". A IM começou a ser usada recentemente na reabilitação de
pacientes com AVC para promover o reaprendizado motor (Liu et al., 2004).
Anteriormente, a IM já vinha sendo utilizada para melhorar o desempenho de
atletas (Driediger et al., 2006). A IM consiste na imaginação do movimento sem
a execução física explícita; é um processo ativo que envolve a ativação da
representação da ação em diversas áreas motoras do lobo pré-frontal, sem
manifestação muscular evidente. Na clínica, a imagética motora têm sido usada
para controlar interfaces cérebro-máquina baseada em EEG (Neurper et al.,
2009) e também para detectar consciência em pacientes em estado vegetativo
(Owen et al., 2006). Em pacientes com AVC, a IM pode ser um substituto para
execução de movimentos e um meio alternativo para ativar redes motoras
danificadas pelo AVC (ver Liu et al., 2004).
Lesões do lobo frontal, incluindo o AVC, causam prejuízo das funções
executivas dos pacientes afetados (McDowell et al., 1997; Robertson & Murre,
1999; Cicerone et al., 2006). O treinamento da memória de trabalho melhora
significativamente o desempenho de pacientes com AVC em testes de
memória de trabalho (Vallat et al., 2005; Westerberg et al., 2007). Além disso, o
uso de estimulação anodal transcraniana com corrente contínua (tDCS) foi
associado com uma melhora na performance da melhora de trabalho em
pacientes com AVC (Jo et al., 2009).
1.6 Justificativa para realização do Projeto
As sequelas motoras e cognitivas do AVC são uma carga elevada para a
família e a sociedade. Com o aumento da expectativa de vida da população e
dos altos níveis de prevalência do AVC após os 60 anos, é de se esperar que o
número de casos continue aumentando nos próximos anos e atinja cada vez
mais pessoas com capacidade produtiva elevada.
Uma das síndromes mais devastadoras resultantes do AVC é a do braço
parético. Nessa situação, após o AVC, além do uso do braço em atividades
relevantes para o paciente estar severamente comprometido, a hemiparese é
usualmente acompanhada por déficits sensoriais. Ambos os eventos causam
severa diminuição na atividade cortical, que é um dos principais determinantes
dos déficits funcionais pós-AVC (Lindberg et al., 2007). A abordagem clássica
das terapias tradicionais de reabilitação motora é baseada principalmente em
técnicas para estimular o uso do membro parético com movimentos repetitivos
durante sessões de treinamento supervisionadas por fisioterapeutas ou
terapeutas ocupacionais (Rossetti et al., 2005). O racional por trás desta
abordagem é de que a prática de movimentos repetitivos e ativos por um
membro parético pode induzir plasticidade neural. Contudo, mesmo quando o
uso do membro é aumentado durante a terapia, a atividade cortical resultante é
limitada. Daí a proposta recente de complementar a reabilitação tradicional com
outras terapias não-convencionais, como a terapia do espelho (para revisão,
ver Ramachandran & Altschuler, 2009) e a imagética motora (Lacourse et al.,
2004) para ativar os circuitos sensoriomotores cerebrais independente da
realização explícita dos movimentos.
Existe evidência experimental crescente de que as áreas motoras são
recrutadas não apenas quando as ações são realmente executadas, mas
também quando são mentalmente ensaiadas ou observadas (para revisão, ver
Jeannerod, 2001). Por exemplo, a imagética motora de ações complexas das
mãos é lateralizada de acordo com a preferência manual explícita dos sujeitos
experimentais (Willems et al., 2009). A base neurofisiológica para explicar este
recrutamento é o sistema de neurônios espelho, descoberto em macacos e
recentemente evidenciado em humanos (Rizzolatti et al., 2009). Recentemente,
foi demonstrado que a imagética motora em pacientes com AVC melhorou o
prognóstico motor do braço afetado e também alterou a organização do mapa
cortical em resposta ao treinamento (Page et al., 2009).
A demência é uma síndrome neurológica que está se tornando cada vez
mais comum a medida que a população envelhece. Pacientes que sofreram
AVC, ou outra doença cerebrovascular apresentam uma maior prevalência de
demência associada com a doença de Alzheimer (DA) do que grupos controle
(Iadecola & Gorelick, 2003). Inclusive, é proposto que a DA e as doenças
cerebrovasculares compartilham características em comum (Iadecola &
Gorelick, 2003). Um estudo de meta-análise recente revelou que 10% dos
pacientes desenvolvem demência após o primeiro AVC e esse risco aumenta
mais de três vezes após um AVC recorrente (Pendlebury & Rothwell, 2009).
Contudo, existem indicações que estes números estejam subestimados, devido
a falta de instrumentos adequados para medir parâmetros relacionados às
funções mentais superiores (Hoffmann, 2001). Em alguns tipos de AVC,
inclusive, a disfunção cognitiva superior pode ser o único déficit aparente
(Furlan, 1988).
Existem várias evidências apontando para uma relação de causa-efeito entre
a demência e a perda da integridade do córtex pré-frontal. Por exemplo, a
atrofia do córtex pré-frontal está associada com a incidência de demência
(Burgman et al., 2009) e com distúrbios de memória de trabalho (Possin et al.,
2009) e a estimulação anodal transcraniana com corrente contínua (tDCS) foi
associado com uma melhora na performance da função executiva em
pacientes com AVC (Jo et al., 2009).
Já foi demonstrado que o treinamento da memória de trabalho melhora
significativamente o desempenho de pacientes com AVC em testes de
memória operacional (Vallat et al., 2005; Westerberg et al., 2007). O teste n-
back é uma ferramenta clássica de avaliação da memória operacional. O teste
pode ser implementado em graus crescentes de dificuldade. No modo mais
básico, o teste requer a comparação ativa de um estímulo corrente, visual ou
auditivo (letras do alfabeto, por exemplo), com uma sequência de estímulos
semelhantes retidos na memória de curto prazo e o sujeito tem que reconhecer
quando o mesmo estímulo ocorreu n passos atrás. O teste é usualmente
implementado em configurações adaptativas, com fases que ficam
progressivamente mais complexas a medida que o sujeito alcança um
determinado critério na fase anterior e passa para a seguinte.
Apesar disso, as síndromes cognitivas resultantes do AVC têm recebido
pouca atenção na literatura e na clínica, que prioriza a reabilitação motora
(Hachinski, 2007). O fato é que as síndromes cognitivas são um problema
ainda mais agudo quando se consideram os "infartos silenciosos e as micro
hemorragias, que afligem muito mais indivíduos que o AVC "óbvio" e causam
danos cerebrais súbitos e cumulativos que resultam em disfunções cognitivas
crescentes.
2. Objetivos e Metas
2.1 Objetivo Geral
Investigar a eficácia de uma terapia inédita, baseada no treinamento
combinado da memória operacional e da imagética motora implícita para
promover a reabilitação motora e cognitiva de pacientes acometidos de AVC.
2.2 Objetivos Específicos
Investigar os efeitos plásticos do método de reabilitação proposto no
córtex através da RMf em pacientes com AVC;
Comparar a eficiência da reabilitação da imagética mental utilizando a
rotação de estímulos abstratos e representando partes do corpo (mão);
2.3 Metas
Contribuir para a reabilitação motora e cognitiva de pacientes com AVC;
Implementar um novo método de reabilitação motora e cognitiva
baseado em imagética motora implícita e treinamento de memória
operacional;
Contribuir para o entendimento dos processos básicos responsáveis
pelo amento da capacidade de memória de trabalho em seres humanos;
Contribuir para estabelecer uma nova linha de pesquisa em reabilitação
no Programa de Pós-Graduação em neurociências da UFRN;
Contribuir para a formação de recursos humanos de alto nível;
3. Metodologia
3.1. Participantes
Serão recrutados 30 pacientes com diagnóstico de AVC, com
comprometimento do lobo frontal, do Hospital Universitário Onofre Lopes da
UFRN (Natal, RN). Os pacientes serão contactados e convidados para uma
entrevista de triagem. Os critérios a serem utilizados para inclusão e exclusão
dos pacientes são listados na tabela I.
Tabela I – Critérios de inclusão e exclusão dos pacientes
Critérios de inclusão
Diagnóstico de ocorrência de AVC do lobo frontal há menos de 6 meses, documentado por PET, MRI ou CT;
Idade entre 30 - 60 anos; Hemiparesia em uma das extremidades superiores; Nenhum sinal de neglect sensorial;
Critérios de exclusão
QI < 70 (avaliado pelo teste WAIS-R); Diagnóstico de uma das seguintes doenças psiquiátricas: Depressão maior, transtorno do humor bipolar, transtorno psicótico, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH);
Deficiência de compreensão de linguagem que impeça o entendimento das instruções necessárias para complementar as tarefas; Deficiência motora ou perceptual que impeça o uso do computador;
Alteração de medicação que porventura estiver tomando durante o período de estudo;
Resultado 4 para o teste de espasticidade de Ashworth;
Movimento restrito do pescoço ou membros superiores devido a problemas médicos anteriores, incluindo desordens neurológicas;
Deficiência auditiva e/ou visual primária que não possa ser melhorada com lentes corretivas ou aparelhos auditivos;
Histórico de abuso de álcool e/ou drogas ilícitas.
O protocolo experimental será submetido previamente ao comitê de ética
com pesquisa em seres humanos da UFRN para aprovação. Cada indivíduo
será informado dos objetivos do trabalho e deverá assinar um termo de
consentimento, de acordo com a Declaração de Helsinki (WMA, 2008).
Para avaliação do status clínico dos pacientes, serão utilizadas escalas
funcionais padrão (Escala de Avaliação de Fugl-Meyer (EFM); Fugl-Meyer et
al., 1975), assim como escalas subjetivas (Stroke Impact Scale—SIS; Duncan
et al., 1999). Todos os testes serão realizados sob a supervisão do mesmo
fisioterapeuta, para manter as condições experimentais constantes.
3.2. Intervenção
O método de treinamento será implementado através de um software criado
especificamente para este estudo e baseado na tarefa criada por Jaeggi e
colaboradores (2008). As tarefas envolvem: (i) a manutenção de múltiplos
estímulos ao mesmo tempo, (ii) curtos atrasos durante o qual a representação
de estímulos deve ser mantida na MT, (iii) nível da dificuldade de adaptação
em função do desempenho individual. O plano de formação especifica que os
participantes devem completar 30 minutos de prática, cinco dias por semana
durante cinco semanas.
O paciente ficará sentado confortavelmente em uma cadeira em uma sala
iluminada, a uma distância de 50 cm do monitor de um computador. As mãos
ficarão posicionadas em frente ao corpo, e os pacientes usarão o dedo
indicador e médio da mão direita para indicar, em um teclado de computador,
se o estímulo atual alcança o critério de lateralidade de n imagens atrás.
Os estímulos serão modelos da mão humana esquerda ou direita,
apresentados em ordem pseudo-aleatória em diferentes ângulos e
configurações (ver Fig. 3). A tarefa primária será o participante identificar se a
lateralidade da mão é semelhante àquela apresentada n passos atrás. Após
um bloco de 30 tentativas, se o número de acertos do paciente alcançar 75%
das tentativas, este passará a uma nova fase do jogo de maior nível de
dificuldade. Dessa forma, a tarefa se adapta ao desempenho individual.
Figura 3 - Exemplo de implementação da tarefa n-back, com n igual a 1. Ao ver a terceira imagem (da esquerda para a direita), o paciente deveria pressionar a tecla 1, que sinaliza correspondência da lateralidade e na quarta imagem a tecla ser pressionada é a 2 que sinaliza não-correspondência (ver texto).
A sequência da orientação e lado das mãos será aleatória para cada
participante e o desempenho será medido pela percentagem de acerto dos
pacientes. O andamento dos testes será informado no decorrer da execução
da tarefa, de forma a motivar os participantes a melhorar continuamente o
desempenho.
Os pacientes serão distribuídos aleatoriamente em três grupos. O primeiro
grupo realizará os testes e será submetido à fisioterapia tradicional (grupo 1), o
segundo grupo realizará somente os testes (grupo 2), e o terceiro grupo (grupo
3) somente a fisioterapia tradicional e uma tarefa semelhante, onde os
estímulos serão do tipo Shepard-Metzler (Shepard & Metzler, 1971). Nessa
última tarefa, os pacientes deverão indicar, apertando a tecla 1 se o estímulo
atual é o mesmo de n passos atrás. Da mesma forma que as mãos, a tarefa é
adaptativa e a sequência de apresentação tanto dos estímulos individuais será
pseudo-aleatória.
Fig. 4 Exemplo de sequência de figuras Shepard-Metzler com n=1. Neste caso, a
figura b é igual a a e o paciente deveria pressionar a tecla 1.
3.3. Avaliação dos resultados
Avaliação da Memória Operacional
Os resultados da intervenção sobre a memória operacional serão avaliados
em três domínios: visuoespacial, verbal e cinestésico. Será avaliada a
capacidade imediata do paciente em lembrar a sequência de uma série de
itens (medida de alcance). O examinador apresenta uma série de itens e pede
ao paciente para reproduzi-la imediatamente na mesma ordem. Para cada
domínio, os itens são escolhidos aleatoriamente de um conjunto limitado de
itens e apresentados sequencialmente. Para cada tipo de material, serão
apresentadas inicialmente cinco listas de dois itens. Se o sujeito reproduzir
corretamente três das cinco listas, o comprimento da lista é aumentado de 1
item; senão, o teste é interrompido. Os estímulos verbais serão retirados de um
conjunto de nove palavras monossilábicas frequentes e imaginárias
apresentadas auditivamente. Na condição visuoespacial, o examinador indicará
com o dedo uma série de nove blocos apresentados em um padrão aleatório
em frente dos pacientes. O paciente será solicitado a reproduzir a sequência
tocando nos mesmos blocos. Na condição cinestésica, o mesmo procedimento
padronizado acima será usado, mas os estímulos serão utilizados para testar
memória de trabalho para movimento. O examinador realizará uma série de
gestos e será solicitado ao paciente para reproduzi-los. Estes gestos forma
escolhidos de um conjunto de seis movimentos simples pré-determinados. Os
gestos envolvem movimentos unilaterais e bilaterais do membro superior.
Avaliação Motora
Os scores obtidos no Teste de Fugl-Meyer e no Teste da Ação da
extremidade superior (ARAT) serão utilizados para avaliar a função motora dos
pacientes antes e depois das intervenções. Os pacientes serão avaliados em
três diferentes tempos: 14 dias antes das intervenções (basal), no dia anterior
ao início da intervenção (pré-teste) e ao fim da intervenção (pós-teste). Uma
avaliação adicional será realizada 8 semanas após o final da intervenção
apenas nos grupos 1 e 3. Será solicitado aos pacientes dos 3 grupos que
continuem com o tratamento fisioterápico convencional após a intervenção,
mas que não iniciem nenhuma outra terapia.
Os resultados do Fugl-Meyer, ARAT e SIS no período basal serão
comparados aos resultados do pré-teste (Teste de Wilcoxon) para avaliar a
estabilidade dos déficits motores no início da intervenção.
Avaliação Funcional com Ressonância Magnética Funcional (RMf)
Aquisição de Imagens: O equipamento a ser utilizado é um aparelho de Ressonância Magnética Siemens, modelo Somatom Vision, de 1.5 Tesla, com bobina de cabeça de quadratura e polarização circular comercialmente disponível. O aparelho está em atividade regular no HC-FMRP – Serviço de Radiodiagnóstico, em condições normais de funcionamento, com manutenção periódica. Os exames serão conduzidos pela equipe de operadores da RM, neurorradiologistas, neurologistas e físicos envolvidos na elaboração deste projeto. As imagens funcionais serão adquiridas em seqüências EPI (Echo Plannar Imaging) com os seguintes parâmetros: TR/TE – 3840/40 ms, ângulo – 90o, FOV – 220 mm, largura da fatia – 6mm. Em seguida será adquirida, para futura visualização dos resultados;
Serão usados paradigmas em bloco para a aquisição das imagens funcionais, em que são intercalados 25 segundos de repouso por outros 25 segundos de atividade motora de movimentação do membro lesado;
Pós- processamento: Uma vez adquiridas, as imagens serão,
primeiramente, pré-processadas para correção de artefatos de movimento, e pela aplicação de filtros espaciais e temporais na série de imagens. Em seguida serão aplicados algoritmos baseados no método geral linear, General Linear Model (GLM) para a análise das séries temporais através de um programa comercial (BrainVoyager 4.85, Brain Innovation, Maastricht, The Netherlands). A visualização dos mapas
estatísticos será feita pela sua superposição anatômica, proveniente de seqüências do tipo MPPPR.
4. Cronograma de Execução das Atividades:
Ano de 2010
Atividades J F M A M J J A S O N D
Disciplinas Mestrado X X X X X X X X X
Levantamento bibliográfico X X X X X X X X X X X X
Preparação dos programas de
terapia X X X X X
Relatório parcial X
Ano de 2011
Atividades J F M A M J J A S O N D
Disciplinas Mestrado X X X X
Consulta Bibliográfica X X X X X X X X X X X X
Aplicação das terapias X X X X X
Análise dos resultados X X X X X X
Discussão e análise dos
resultados X X X X X X
Elaboração do texto final X X X
Defesa X
5. Resultados Esperados
1. Melhora na performance motora e cognitiva dos pacientes com AVC; 2. Subsídios para implementar uma nova técnica de reabilitação motora e
cognitiva para pacientes com AVC; 3. Demonstração de que a imagética motora baseada em movimentos
estereotipados de rotação da mão potencializa reabilitação motora proporcionado pela fisioterapia convencional;
4. Demonstração de que o treinamento com o teste n-back é eficaz para reverter o declínio cognitivo causado pelo AVC.
6. Referências
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