jucá-avaliação cicatrizante

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302 Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.12, n.3, p.302-310, 2010. Recebido para publicação em 23/03/2009 Aceito para publicação em 18/03/2010 Avaliação da atividade cicatrizante do jucá (Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul. var. ferrea) em lesões cutâneas de caprinos OLIVEIRA, A.F.*; BATISTA, J.S.; PAIVA, E.S.; SILVA, A.E.; FARIAS, Y.J.M.D.; DAMASCENO, C.A.R.; BRITO, P.D.; QUEIROZ, S.A.C.; RODRIGUES, C.M.F.; FREITAS, C.I.A. Departamento de Ciências Animais, Universidade Federal Rural do Semi- Árido - UFERSA, BR 110, Km 47, Caixa Postal 137, Bairro Presidente Costa e Silva, CEP: 59.625-900, Mossoró-Brasil *[email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; yvesjivago@ hotmail.com; [email protected]; [email protected]; [email protected]; cmonadeli@hotmail. com; [email protected] RESUMO: O objetivo deste estudo foi demonstrar os efeitos do tratamento tópico do jucá (Caesalpinia ferrea) em feridas cutâneas. Quinze caprinos machos sem raça definida foram divididos em 3 grupos de acordo com o pós-cirúrgico (7 o , 14 o e 21 o dias). As feridas experimentais foram tratadas com a pomada composta pela casca da Caesalpinia ferrea em pó misturada com a vaselina estéril e as do grupo controle apenas com a vaselina esterilizada. A aplicação diária da pomada e da vaselina estéril foi realizada sobre ferida circular padronizada de 16 cm 2 de área na região torácica de cada animal. As avaliações das feridas foram feitas do ponto de vista clínico, bacteriológico, morfométrico e histopatológico nos períodos pré-determinados (7 o , 14 o e 21 o dias). Morfometricamente, as feridas do controle apresentaram áreas cirúrgicas menores e grau de contração maior que as do grupo tratado, entretanto, histologicamente, houve completa epitelização das feridas tratadas no 21 o dia, enquanto que as feridas do grupo controle necessitavam de mais tempo para resolução do processo cicatricial. No exame microbiológico realizado no momento da produção da ferida, não se observou crescimento bacteriano e no momento das biópsias, identificou-se a presença de bactérias da família Enterobacteriaceae e Staphylococcus aureus, sendo que a partir do 14 o dia observou-se Staphylococcus aureus apenas no grupo controle. A utilização tópica da pomada de Caesalpinia ferrea apresentou eficiência significativa no auxílio da reparação cicatricial de feridas cutâneas de caprinos. Palavras-chave: ferida, cicatrização, caprinos, Caesalpinia ferrea ABSTRACT: Evaluation of the Brazilian ironwood (Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul. var. ferrea) healing activity on cutaneous lesions of goats. The aim of this study was to demonstrate the effects of the topical treatment with Brazilian ironwood (Caesalpinia ferrea) on cutaneous wounds. Fifteen male mongrel goats were divided into 3 groups according to the postoperative period ((7 th , 14 th and 21 st days). The experimental wounds were treated with an ointment composed of Brazilian wood powder bark mixed with sterile vaseline, whereas controls were only treated with sterile Vaseline. The ointment and the sterile vaselin were daily applied on a standardized circular wound (16 cm 2 area) in the thoracic region of each animal. Clinical, bacteriological, morphometric and histopathological evaluations were performed in the wounds at predetermined periods (7 th , 14 th and 21 st postoperative days). Morphometrically, control wounds had smaller surgical areas and greater degree of contraction than those from the treated group. However, histologically, there was a complete epithelialization of the treated wounds on the 21 st day, whereas control wounds required longer time for healing. In the microbiological evaluation performed at the moment of wound production, there was no bacterial growth. During biopsies, Enterobacteriaceae bacteria and Staphylococcus aureus were identified; from the 14 th day, the latter was only observed in the control group. The topical use of Caesalpinia ferrea ointment was significantly efficient to help healing cutaneous wounds in goats. Key words: wound, healing, goats, Caesalpinia ferrea

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Pesquisa Científica - Jucá

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    Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.12, n.3, p.302-310, 2010.

    Recebido para publicao em 23/03/2009Aceito para publicao em 18/03/2010

    Avaliao da atividade cicatrizante do juc (Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul. var.ferrea) em leses cutneas de caprinos

    OLIVEIRA, A.F.*; BATISTA, J.S.; PAIVA, E.S.; SILVA, A.E.; FARIAS, Y.J.M.D.; DAMASCENO, C.A.R.; BRITO,P.D.; QUEIROZ, S.A.C.; RODRIGUES, C.M.F.; FREITAS, C.I.A.Departamento de Cincias Animais, Universidade Federal Rural do Semi- rido - UFERSA, BR 110, Km 47,Caixa Postal 137, Bairro Presidente Costa e Silva, CEP: 59.625-900, Mossor-Brasil *[email protected];[email protected]; [email protected]; [email protected]; yvesjivago@ hotmail.com;[email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]

    RESUMO: O objetivo deste estudo foi demonstrar os efeitos do tratamento tpico do juc(Caesalpinia ferrea) em feridas cutneas. Quinze caprinos machos sem raa definida foram divididosem 3 grupos de acordo com o ps-cirrgico (7o, 14o e 21o dias). As feridas experimentais foramtratadas com a pomada composta pela casca da Caesalpinia ferrea em p misturada com avaselina estril e as do grupo controle apenas com a vaselina esterilizada. A aplicao diria dapomada e da vaselina estril foi realizada sobre ferida circular padronizada de 16 cm2 de rea naregio torcica de cada animal. As avaliaes das feridas foram feitas do ponto de vista clnico,bacteriolgico, morfomtrico e histopatolgico nos perodos pr-determinados (7o, 14o e 21o dias).Morfometricamente, as feridas do controle apresentaram reas cirrgicas menores e grau decontrao maior que as do grupo tratado, entretanto, histologicamente, houve completa epitelizaodas feridas tratadas no 21o dia, enquanto que as feridas do grupo controle necessitavam de maistempo para resoluo do processo cicatricial. No exame microbiolgico realizado no momentoda produo da ferida, no se observou crescimento bacteriano e no momento das bipsias,identificou-se a presena de bactrias da famlia Enterobacteriaceae e Staphylococcus aureus,sendo que a partir do 14o dia observou-se Staphylococcus aureus apenas no grupo controle. Autilizao tpica da pomada de Caesalpinia ferrea apresentou eficincia significativa no auxlio dareparao cicatricial de feridas cutneas de caprinos.

    Palavras-chave: ferida, cicatrizao, caprinos, Caesalpinia ferrea

    ABSTRACT: Evaluation of the Brazilian ironwood (Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul. var.ferrea) healing activity on cutaneous lesions of goats. The aim of this study was to demonstratethe effects of the topical treatment with Brazilian ironwood (Caesalpinia ferrea) on cutaneouswounds. Fifteen male mongrel goats were divided into 3 groups according to the postoperativeperiod ((7th, 14th and 21st days). The experimental wounds were treated with an ointment composedof Brazilian wood powder bark mixed with sterile vaseline, whereas controls were only treated withsterile Vaseline. The ointment and the sterile vaselin were daily applied on a standardized circularwound (16 cm2 area) in the thoracic region of each animal. Clinical, bacteriological, morphometricand histopathological evaluations were performed in the wounds at predetermined periods (7th,14th and 21st postoperative days). Morphometrically, control wounds had smaller surgical areasand greater degree of contraction than those from the treated group. However, histologically, therewas a complete epithelialization of the treated wounds on the 21st day, whereas control woundsrequired longer time for healing. In the microbiological evaluation performed at the moment ofwound production, there was no bacterial growth. During biopsies, Enterobacteriaceae bacteriaand Staphylococcus aureus were identified; from the 14th day, the latter was only observed in thecontrol group. The topical use of Caesalpinia ferrea ointment was significantly efficient to helphealing cutaneous wounds in goats.

    Key words: wound, healing, goats, Caesalpinia ferrea

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    Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.12, n.3, p.302-310, 2010.

    INTRODUOA cicatrizao um fenmeno natural de

    reorganizao dos tecidos orgnicos que se inicia apartir da perda tecidual e no qual o tecido lesado substitudo por tecido conjuntivo vascularizado(Brasileiro Filho, 1998). processo dinmicoenvolvendo fenmenos bioqumicos e fisiolgicos quese comportam de forma harmoniosa para promover arestaurao tissular (Mandelbaum et al., 2003), quepode ser dividido em fases distintas, caracterizadaspor populao celular predominante, seguindosequncia conservada de eventos que se sobrepemno tempo e incluem inflamao, proliferao eremodelao tecidual (Clark, 1996).

    As propriedades teraputicas dos princpiose medicamentos fitoterpicos comeam a ganhar cadavez mais espao no tratamento veterinrio,demonstrado atravs do aumento da pesquisa deprodutos naturais para auxiliar a cicatrizao. Dentreas plantas estudadas, pode-se citar o juc(Caesalpinia ferrea Martius ex Tul var. ferrea) que uma rvore leguminosa nativa do Brasil, amplamentedistribuda principalmente no Norte e Nordeste(Bragana, 1996; Lorenzi, 2002). Tem sido relatado ouso na medicina popular para tratamento de afecesbronco-pulmonares, diabetes, reumatismo, cncer,distrbios gastrintestinais, diarria, inflamao e dor(Balbach, 1972; Bragana, 1996; Hashimoto, 1996;Nakamura, 2002; Frasson et al., 2003; Gomes, 2003).

    Algumas pesquisas mostram que o jucpossui atividade antifngica e antibacteriana (Lima etal., 1997; Ximenes, 2004), antiulcerognica (Bacchi& Sertie, 1994; Bacchi et al., 1995) e antiinflamatria,bem como, propriedades analgsicas (Carvalho et al.,1996).

    No estado do Rio Grande do Norte, o p dacasca da Caesalpinea ferrea bastante usado pelapopulao para o tratamento de feridas cutneas.Assim, a utilizao e comercializao da farinha dediversos tecidos, como por exemplo, a casca daCaesalpinia ferrea para aplicaes na medicinapopular, desperta o interesse desta planta paraestudos biotecnolgicos e farmacolgicos (Ximenes,2004).

    Diante ao exposto, o presente estudo tevepor objetivo avaliar a cicatrizao de feridas cutneasabertas em caprinos, tratados com uso tpico depomada de Caesalpinia ferrea mediante anliseclnica, morfomtrica, histopatolgica e bacteriolgicado processo cicatricial at o 21o dia de ps-operatrio.

    MATERIAL E MTODOQuinze caprinos, adultos, machos, SRD,

    considerados sadios aps exame clnico e mantidosem condies uniformes, foram distribudos em trsgrupos para avaliao morfolgica e morfomtrica das

    feridas cutneas nos perodos de 7, 14 e 21 dias deps-operatrio. Em cada caprino, produziram-se duasferidas cutneas na regio torcica, sendo uma emcada regio lateral, divididas de acordo com o tipo detratamento. As leses laterais direitas do hemitraxde todos os animais formaram o grupo tratado(pomada de juc) e as laterais esquerdas, o grupocontrole (vaselina estril).

    Aps a pr-medicao com sulfato deatropina e cloridrato de xilazina, na dose de 0,02 mgKg-1 e 0,1 mg Kg-1, respectivamente, por via intravenosa,foi realizada a manipulao cirrgica, realizou-se umbloqueio infiltrativo em L duplo, utilizando cloridratode lidocana sem vasoconstrictor, na dose de 7 mgKg-1, diludo em soluo fisiolgica na proporo de1:1 (v/v). Aps demarcao da rea com moldesredondos (ou circulares) de papel de 4 cm dedimetro (num total de 16 cm2 de rea), a pele foiincidida com lmina de bisturi e divulsionada da telasubcutnea com tesoura romba e pina de disseco,at a resseco total. A hemostasia foi realizada porcompresso digital e, quando necessria, pelautilizao de pinas hemostticas.

    Cada falha recebeu o tratamento de acordocom a metodologia estabelecida, sendo a reacruenta totalmente preenchida com 1 mL de cadaproduto (vaselina e pomada feita com a planta). Apomada foi preparada utilizando-se o caule daCaesalpinia ferrea Mart. ex Tul. var. ferrea (juc). Aplanta foi identificada e classificada no HerbrioDrdano de Andrade Lima da Universidade FederalRural do Semi-rido (UFERSA), cuja exsicataencontra-se registrada pelo nmero 11753.

    As cascas foram colocadas para secar atemperatura ambiente por duas semanas, em seguida,levadas para estufa de secagem sob temperatura de45 a 50C, por 24 horas. Posteriormente foramsubmetidas ao processo de moagem em moinho,sendo o p obtido adicionado vaselina estril naproporo de 1:2 m/m, sendo a pomada acondicionadaem potes hermeticamente fechados e armazenadosa temperatura ambiente durante todo o perodoexperimental.

    As feridas foram recobertas com compressade gaze e atadura de crepom. Em cada animal, foirealizada diariamente a troca de curativos e aplicaodos produtos at o 21o dia.

    Todas as feridas foram avaliadas quanto aoaspecto clnico diariamente e nos perodosestabelecidos de ps-operatrio, fotografadas,medidos os dimetros maior e menor, empregando-se paqumetro.

    Na avaliao morfomtrica, para a obtenoda rea das feridas, utilizou-se a equao formuladapor Prata et al. (1988): A = . R. r, na qual A representaa rea (cm); R, o raio maior e r, o raio menor. O grau

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    de contrao expresso em percentual foi mensuradopela equao proposta por Ramsey et al. (1995), naqual Wo = rea inicial da ferida e Wi = rea daferida no dia da bipsia:100 x (Wo Wi) / Wo = % decontrao.

    Os resultados de rea e contrao das feridasforam expressos em mdia desvio padro,submetidos anlise de varincia e ao teste de Tukey,considerando-se significativo os valores comparadosao nvel de 5% de significncia.

    Decorridos os perodos pr-estabelecidos de7, 14 e 21 dias de ps-operatrio, foram realizadascoletas de material para avaliaes histopatolgica emicrobiolgica das feridas. As condutas cirrgicasforam semelhantes s utilizadas no momento daproduo da leso. Retiraram-se fragmentos de 1,5cm de pele atravs de inciso abrangendo pele ntegrae rea da leso, que foram fixados em formalina a10% e submetidos incluso em parafina, paraobteno de cortes de 5 m de espessura e coradospelo mtodo de hematoxilina-eosina (Luna, 1968).

    Para avaliao bacteriolgica, colheram-seamostras atravs de swabs esterilizados, na reada leso que foram semeadas em meio lquido deBHI (Brain Heart Infusion) e meio slido gar Meller-Hinton e incubadas por 24 horas. Posteriormente,efetuou-se a leitura, anotando-se os aspectos decrescimento das colnias. A classificao foi realizadade acordo com as caractersticas morfolgicas emorfotintoriais tcnica de Gram e observadas microscopia de luz.

    Para classificao de enterobactrias,utilizaram-se provas bioqumicas seguindo-semetodologia recomendada por Carter (1988).

    RESULTADO E DISCUSSOAt o 4o dia de ps-cirrgico, o exame clnico

    das feridas dos animais do grupo controle apresentouhiperemia, bordos elevados e presena de exsudatode aspecto seroso e reaes de desconforto, tipodor ao toque, durante as manobras das trocas doscurativos. No mesmo perodo, nas feridas tratadas,observou-se discreto edema ao redor da falha cutnea,ausncia de exsudato e que a pomada do juc formouuma pelcula rgida, espessa de coloraoamarronzada, aderida a todo o leito da leso.

    Quanto formao de crosta, observou-seque estava ausente com 24 horas, sendo que no grupocontrole at o terceiro dia havia a ausnciaprovavelmente devido ao constante trauma produzidopela aderncia e retirada do curativo. Verificou-se apresena em 100% das feridas do grupo controle no9o dia. Observou-se ainda, que esta ocupava todo oleito nos primeiros dias, com reduo do tamanho apartir do 12o dia, apresentando colorao vermelha.No grupo tratado, no foi verificada a formao da

    crosta devido pelcula que o produto formou. Resultadossemelhantes foram encontrados por Monteiro (2003) eAndrade (2006), que tratando caprinos com pomadas abase de Anacardium occidentale (caju) e Jacaratiacorumbensis, observaram a presena de crosta em100% das feridas do grupo controle em torno do 9o diae 7o dia, respectivamente.

    A ausncia de exsudato inflamatrio, edemae hiperemia comprovam que o juc apresentaatividade antiinflamatria, bem como a pelculapromoveu proteo fsica impedindo a penetrao emultiplicao de microrganismo do meio externo noleito da ferida, assim como a perda de gua e calordo tecido de granulao (Monteiro, 2003). Essaformao da pelcula pode ser explicada pela riquezade taninos (Gonzalez et al., 2004). Os taninosprecipitam as protenas dos tecidos lesados, formandoum revestimento protetor que favorece a sua reparao(Jorge Neto et al., 1996), diminuindo a permeabilidadee exsudao da ferida (Brown & Dattner, 1998; Bedi& Shenefelt, 2002).

    A vaselina e a pomada de Caesalpinia ferreamostraram ser de fcil manuseio, porm a vaselinafacilitou a aderncia entre a superfcie da ferida e ocurativo. Tal aderncia constituiu desvantagem,principalmente no grupo controle, no qual se verificousangramento aps a retirada do mesmo. Monteiro(2003) e Andrade (2006) utilizando pomada feita apartir de lanolina, tambm verificaram que estaprovocava adeso do curativo ao leito da ferida. Aaderncia do curativo ao leito da ferida pode retardaro processo cicatricial por causar leso ao epitliodurante a retirada.

    Ao 7o dia de avaliao, observou-se que asmedidas da ferida, nos dimetros maior e menor,mostraram que a rea encontrada apresentava mdiasde 12,15 1,20 cm e 14,08 1,29 cm, para osgrupos controle e tratado, respectivamente. Verificou-se que o percentual de contrao foi muito menor nogrupo tratado com mdia de 7,51% para este grupo ede 28,85% para o controle.

    Ao 14o dia, a rea de leso, no grupocontrole, teve valor mdio de 3,6 0,89 cm. No grupodo juc, a rea mdia foi de 9,67 0,87 cm. Emrelao ao grau de contrao, verificou-se que ocontrole manteve maior percentual em relao aogrupo tratado, 76,97% e 35, 44%, respectivamente.Esses resultados diferem daqueles encontrados porMonteiro (2003) e Andrade (2006), que tratandocaprinos, encontraram percentual mximo decontrao do grupo tratado maior que o do grupocontrole, em torno de 80,78% e 90%, respectivamente.Bem como diferem dos resultados de Estevo et al.(2007), que tratando ratos com leo de copaba(Copaifera langsdorffii), encontraram o percentualde contrao no 14o dia ps-cirrgico de 95,42%para o grupo tratado.

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    FIGURA 1. Evoluo das feridas do grupo controle. A- Visualizao da ferida ao 7o dia de evoluo ps-cirrgica,observando-se crosta rugosa e aderida recobrindo toda a rea cruenta. B- Visualizao da ferida ao 14o dia deevoluo ps-cirrgica, observando-se crosta rugosa, tecido de granulao e tecido cicatricial recobrindo a reacruenta. C- Visualizao da ferida ao 21o dia de evoluo ps-cirrgica, observando-se crosta, tecido cicatriciale rea de tracionamento da ferida.

    A B C

    FIGURA 2. Evoluo das feridas do grupo. A- Visualizao da ferida ao 7o dia de evoluo ps-cirrgica, observando-se. a pelcula formada pelo juc e crosta rugosa recobrindo toda rea cruenta. B- Visualizao da ferida ao 14o diade evoluo ps-cirrgica, observando-se a pelcula formada pelo juc e tecido cicatricial. C- Visualizao daferida ao 21o dia de evoluo ps-cirrgica, observando-se ainda a presena da pelcula e tecido cicatricial.

    A B C

    FIGURA 3. Valor mdio (cm) da rea das feridas ao7o dia (T1), 14o dia (T2) e 21o dia (T3) de evoluo ps-cirrgica. Letras diferentes indicam diferenasignificativa ao nvel de p>0,05.

    Perc

    etua

    l de

    cont

    ra

    o (%

    )

    Dias

    FIGURA 4. Valor mdio do percentual de contrao(%) da rea das feridas ao 7o dia (T1), 14o dia (T2) e21o dia (T3) de evoluo ps-cirrgica. Letras diferentesindicam diferena significativa ao nvel de p>0,05.

    Grupo Controle Grupo TratadoGrupo Controle Grupo Tratado

    Dias

    rea

    da

    ferid

    a (c

    m)

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    No 21o dia de experimento, observou-se queas feridas dos dois grupos ainda necessitavam demais tempo para a resoluo do processo cicatricial,porm as do grupo controle apresentavam valor mdioda rea em torno de 1,51 0,24 cm e percentual decontrao em torno de 90,25%, enquanto que asferidas do grupo tratado apresentavam valores de 5,1 1,42 cm e 67,17%, respectivamente, para rea econtrao. (Figuras 3 e 4).

    No stimo dia de tratamento, a avaliaohistopatolgica dos fragmentos de ambos os gruposrevelou a intensa presena de crostas sobre uma reade tecido de granulao intensamente infiltrado porclulas inflamatrias, alm da formao de capilares(Figura 5). Esse processo caracterizado comoinflamao aguda, considerada reao fisiolgica queindica o incio do processo cicatricial (Spence & Wong,1997). Ocorre aumento da permeabilidade capilar econsequente migrao dos polimorfonucleares paraa ferida que, juntamente com o acmulo de plasma,constituem o exsudato inflamatrio (Arajo, 2001).

    Avaliando-se as feridas ao 14o dia (Figuras 6e 7), foi possvel observar no grupo controle a presenade tecido de granulao fibrovascular, de focosinflamatrios, alm de hiperplasia do epitlio. J nogrupo tratado, constatou-se a presena de extensascriptas epidrmicas, crosta delgada, com poucoinfiltrado e tecido de granulao mais organizadoquando comparado ao controle. Estes achadoshistolgicos coincidem com os de Andrade (2006).

    Ao 21o dia (Figuras 8 e 9), evidenciou-se queas feridas do grupo controle apresentavam um

    processo de epitelizao, com reas de hiperplasiada epiderme, alm de grande quantidade de vasosneoformados de pequeno e mdio calibres. Pde-seobservar ainda, quantidade moderada de fibroblastose fibras colgenas. Isso denota que, evolutivamente,essas feridas ainda necessitavam concluir o processode epitelizao. Achados semelhantes foramencontrados por Marques et al. (2004), ao tratarovinos com leo de girassol.

    Nas feridas tratadas, foi possvel constatarcompleto processo de reepitelizao, com tecidoconjuntivo apresentando grande quantidade defibroblastos ativos, de fibras colgenas melhororganizadas e pequena quantidade de vasossangneos. Segundo Mondolin & Bevilacqua (1992)e Cndido (2001), esta fase chamada de maturaoe caracteriza-se pela deposio, agrupamento eremodelao do colgeno, bem como pela regressoendotelial.

    Vale ressaltar que apesar de estatisticamenteas feridas do grupo experimental apresentaremprocesso cicatricial inferior ao do grupo controle,evidenciado por menor grau de contrao, fica clarona avaliao histopatolgica que as feridas tratadastiveram resoluo da cicatrizao. Isso provavelmenteocorreu devido formao da pelcula pela pomadado juc, que dificultou a avaliao clnica e amensurao dos parmetros morfomtricos, maspropiciou ambiente favorvel ao processo cicatricial.Optou-se pela manuteno nas leses, pois estaformou uma espcie de curativo natural, conferindoproteo presena de microrganismos e miases,

    FIGURA 5. Aspecto histopatolgico das feridas ao 7o dia de evoluo ps-cirrgica dos grupos controle e tratado.HE. A- aumento de 20 X; B- grupo tratado com aumento de 40 X; C, crosta; I, infiltrado inflamatrio; G, tecido degranulao.

    A B

    C

    I

    G

    C

    I

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    FIGURA 6. Aspecto histopatolgico das feridas ao 14o dia de evoluo ps-cirrgica do grupo controle. HE. A- comaumento de 10 X; B- com aumento de 40 X; Ci, crosta com infiltrado; E, Epitlio em formao; G, tecido degranulao; V, vaso neoformado

    FIGURA 7. Aspecto histopatolgico das feridas ao 14o dia de evoluo ps-cirrgica do grupo tratado. HE. A- comaumento de 20X; B- com aumento de 40 X; C, crosta; Eh, Epitlio hiperplsico; G, tecido de granulao; V, vasoneoformado.

    A B

    A B

    Ci

    E

    G

    V

    Ci

    E

    V

    G

    C

    G

    Eh

    G

    V

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    bem como barreira de proteo contra outros traumas,o que constitui vantagem, j que os caprinos socriados, na grande maioria, em regime extensivo,estando sujeitos vegetao espinhosa da caatinga.

    Nas avaliaes realizadas no tempo zero,no houve crescimento microbiano nas lesesexperimentais, certi f icando que estas foramrealizadas em condies asspticas. As bactriasisoladas nos demais momentos foram agrupadas deacordo com o dia de avaliao. No 7o dia, observou-se crescimento de Staphylococcus aureus,Klebisiella sp, Shigella sonnei, Escherichia coli,Salmonella sp, em ambos os grupos.

    No 14o dia, observou-se crescimento deKlebisiella sp, Shigella sonnei, Escherichia coli,Salmonella sp, Proteus sp e Providence sp., emambos os grupos. Quanto presena deStaphylococcus aureus, esta foi encontrada apenasno grupo controle.

    No 21o dia, observou-se crescimento deKlebisiella sp, Shigella sonnei, Escherichia coli,Salmonella sp, Proteus sp e Providence sp., almde Enterobacter agglomerans em ambos os grupos.Quanto presena de Staphylococcus aureus, estafoi novamente encontrada apenas no grupo controle.

    No grupo tratado, observou-se que a partirda segunda semana de tratamento j no houvecrescimento da bactria Staphylococcus aureus,o que pode indicar possv el at iv idadeantimicrobiana da Caesalpinia ferrea.

    FIGURA 8. Aspecto histopatolgico das feridas ao21o dia de evoluo ps-cirrgica do grupo controle.HE, com aumento de 10 X; C, crosta; Eh, Epitliohiperplsico; G, tecido de granulao.

    FIGURA 9. Aspecto histopatolgico das feridas ao 21o dia de evoluo ps-cirrgica do grupo tratado. HE.A- aumento de 20X; B- com aumento de 40X; E, Epitlio; F, fibras colgenas.

    A B

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    Pode-se presumir que no houve infecodas feridas avaliadas, j que as mesmas noapresentaram sinais sugestivos como secreo,presena de pus e de odor ftido, bem como nohouve retardo no processo cicatricial.

    A possvel atividade antimicrobiana daCaesalpinia ferrea pode estar relacionada presenade taninos na composio fitoqumica. Djipa et al.(2002) testaram extrato aquoso e acetnico dacasca do Syzygium jambos , os quaisdemonstraram ter ativ idade antimicrobianaprincipalmente contra os Gram-positivos; e depoisde eliminar o tanino do extrato, atravs de colunade poliamida, a frao resultante foi inativa frentes bactrias testadas.

    Os resultados do presente estudo permitemconcluir que o uso tpico da pomada de Caesalpiniaferrea apresenta efeito significativo na cicatrizao dapele de caprinos. No entanto, importante que seamplie o estudo experimental em animais com diferentesdosagens e formulaes, alm do isolamento decomponente (s) da planta responsvel pela influnciapositiva no processo de reparao de tecidos.

    REFERNCIA

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