laboreal, volume 15 nº2

330
Laboreal Volume 15 Nº2 | 2019 Varia Electronic version URL: http://journals.openedition.org/laboreal/14568 DOI: 10.4000/laboreal.14568 ISSN: 1646-5237 Publisher Universidade do Porto Electronic reference Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019 [Online], Online since 01 December 2019, connection on 24 September 2020. URL : http://journals.openedition.org/laboreal/14568 ; DOI : https://doi.org/10.4000/laboreal. 14568 This text was automatically generated on 24 September 2020. Laboreal está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.

Upload: others

Post on 23-Oct-2021

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Laboreal, Volume 15 Nº2

Laboreal 

Volume 15 Nº2 | 2019Varia

Electronic versionURL: http://journals.openedition.org/laboreal/14568DOI: 10.4000/laboreal.14568ISSN: 1646-5237

PublisherUniversidade do Porto

Electronic referenceLaboreal, Volume 15 Nº2 | 2019 [Online], Online since 01 December 2019, connection on 24 September2020. URL : http://journals.openedition.org/laboreal/14568 ; DOI : https://doi.org/10.4000/laboreal.14568

This text was automatically generated on 24 September 2020.

Laboreal está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0Internacional.

Page 2: Laboreal, Volume 15 Nº2

TABLE OF CONTENTS

EditorialLiliana Cunha

EditorialLiliana Cunha

Dossier "Subjetividade e trabalho"

Subjetividade e trabalho : entre mal-estar e bem-estar : apresentação do dossierDominique Lhuilier and Marianne Lacomblez

Subjetividad y trabajo : entre malestar y bienestar : presentación del dossierDominique Lhuilier and Marianne Lacomblez

Enfoque clínico de las relaciones entre salud y trabajo : contribuciones y desafíosAndrea Pujol and María Inés Gutiérrez

Clínicas del trabajo en Chile : tres experiencias de intervención en una sociedad dañada porla gestión ‘managerial’Patricia Guerrero Morales, Manuel Gárate Chateu, Elisa Ansoleaga Imas, J. Marcelo Balboa Gallardo, José Tomas SaffirioMezzano, Alejandra Nuñez Carbullancautor and M. Valentina Urrutia Fuenzalida

A Psicologia do trabalho e as Clínicas do trabalho no BrasilJosé Newton Garcia de Araújo and Vanessa Andrade de Barros

La psicología cubana y la salud de los trabajadores : entre el malestar y el bienestar Jorge Juan Román Hernández

Trabajo, subjetividad y clínicas del trabajo : una aproximación al estado de su cuestión en elcaso colombianoJohnny Orejuela, María del Mar Pérez and Andrés Vásquez

Pesquisa empírica

Os desafios do cuidado em situações-limite : as dramáticas da atividade no trabalhohumanitárioLuciana B. Cavanellas and Jussara Brito

O trabalho de supervisão em uma indústria de pneumáticos : entre o trabalho real e odiscurso oficial do gerenciamentoCirlene de Souza Christo, Marcello Santos Rezende and Milton Athayde

Atuação de psicólogas na assistência social : relações entre gênero profissional e saúdeIasmin Libalde Nascimento and Thiago Drumond Moraes

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

1

Page 3: Laboreal, Volume 15 Nº2

Instrumentos de investigação

Debate de la práctica, un instrumento para la construcción de la carrera del ergónomo quetraspasa las fronterasMirtha Mestanza and Damien Cromer

Revisões temáticas

O mundo do trabalho em (re)análise : um olhar a partir da psicodinâmica do trabalhoJoão Areosa

Textos Históricos

Jacques Leplat e a psicologia ergonómicaRégis Ouvrier-Bonnaz

Jacques Leplat y la psicología ergonómicaRégis Ouvrier-Bonnaz

JACQUES LEPLAT : bibliografia seletivaCorinne Lespessailles, Céline Levecque, Aurélie Puybonnieux and Agathe Vuillermet

JACQUES LEPLAT : bibliografía selectaCorinne Lespessailles, Céline Levecque, Aurélie Puybonnieux and Agathe Vuillermet

Adaptação da Máquina ao HomemJacques Leplat

Adaptación de la máquina al hombreJacques Leplat

Datário

O processo do reconhecimento da silicose como fenómeno socialMarianne Lacomblez

El proceso de reconocimiento de la silicosis como fenómeno socialMarianne Lacomblez

Bélgica, 24 de dezembro de 1963: o reconhecimento da silicose como doença profissionalEric Geerkens

Bélgica, 24 de diciembre de 1963: reconocimiento de la silicosis como enfermedad profesionalEric Geerkens

Portugal, 27 de abril de 1962 : a visibilidade da tragédia da silicoseAugusto Rogério Leitão

Portugal, 27 de abril de 1962 : la visibilidad de la tragedia de la silicosisAugusto Rogério Leitão

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

2

Page 4: Laboreal, Volume 15 Nº2

I Semana de Saúde do Trabalhador de 14 a 19 de maio de 1979: um marco na história de umaluta contra a silicose no BrasilFrancisco Antonio de Castro Lacaz

I Semana de Salud del Trabajador, del 14 al 19 de mayo de 1979: un hito en la historia de unalucha contra la silicosis en BrasilFrancisco Antonio de Castro Lacaz

3 de dezembro : Dia Mundial da Não Utilização de PesticidasAlexis Uriel Blanklejder

3 de diciembre : Día Mundial del No uso de PlaguicidasAlexis Uriel Blanklejder

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

3

Page 5: Laboreal, Volume 15 Nº2

EditorialLiliana Cunha

1 Este número traduz vários debates, o que nada tem de singular face a outros números,

senão na forma como eles foram produzidos, e são transpostos nesta edição.

2 Iniciamos com cinco textos enquadrados no dossier temático subordinado ao tema

Subjetividade e trabalho : entre mal-estar e bem-estar. Construção de um novo paradigma de

saúde no trabalho. Resultam de comunicações apresentadas num Simpósio realizado emHavana, em 2018. A diversidade das análises contextualizadas de investigação e a formacomo instruíram a ação nas realidades concretas em que tiveram lugar - na Argentina,no Brasil, no Chile, na Colômbia e em Cuba - articulam neste debate diferentes pontosde vista, atores e instituições, mas também revelam controvérsias que o mantêm vivo.

3 Dominique Lhuilier e Marianne Lacomblez abrem este dossier, sistematizando o seu

referencial para apreendermos o que se entende aqui com a construção de um novo

paradigma de saúde no trabalho. Realçam as questões que subsistem, em regiõeshispanófonas e lusófonas, e que desafiam os discursos hegemónicos produzidos, nãoraras vezes, de forma a-histórica e descontextualizada.

4 Quanto ao conjunto dos artigos “Varia”, este tem início com o artigo de Mirtha

Mestanza e Damien Cromer. No âmago deste texto, está o recurso ao debate sobre aprática em ergonomia, enquanto instrumento de investigação e de intervenção, naconstrução da profissão por jovens profissionais do Peru. Em França, estes espaços dedebate, enquadrados pela comissão “Jeunes Pratiques en Réflexion” da Sociedade deErgonomia de Língua Francesa (SELF), foram criados há já algum tempo, e serviram dereferência a esta experiência mais recente no Peru. Não obstante, as diferenças nasrealidades dos dois países revelam-se determinantes na especificidade dos objetivosque configuram a estruturação destas comunidades de prática.

5 Luciana Cavanellas e Jussara Brito apresentam-nos depois uma pesquisa empírica que

tem como fio condutor o trabalho em saúde, em situações tidas como extremas,exercido por trabalhadores da ONG Médicos Sem Fronteiras. O debate aqui sustenta-senos limites dos usos de si, sempre inantecipáveis, que os contextos em que atuamrequerem. Diferentes contributos teóricos, desde a perspetiva ergológica, a

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

4

Page 6: Laboreal, Volume 15 Nº2

psicodinâmica do trabalho, e a conceção de saúde de Canguilhem, são convocados, einterpelados, pelo que é apreendido do real destas situações concretas.

6 O contributo da psicodinâmica do trabalho é retomado, e assume destaque, na revisão

temática da autoria de João Areosa, que se propõe debater as formas de organização dotrabalho, e o seu impacto na saúde e no bem-estar, em paralelo com outros debates queatravessam a atividade de cada um, na construção de um compromisso possível entresofrimento e prazer.

7 As mudanças na organização do trabalho, perpassam também o artigo de Cirlene

Christo, Marcello Rezende e Milton Athayde, sendo discutidas de forma ancorada narealidade concreta de uma empresa multinacional de fabricação e comercialização deprodutos pneumáticos, em regime de laboração contínua, instalada no Brasil. Nasequência da redução dos níveis hierárquicos na empresa ; da configuração das tarefasassociadas a um novo cargo dos supervisores de equipes ; e da responsabilização dosoperadores de produção por tarefas que antes eram das chefias - é o dia-a-dia destestrabalhadores, nesta nova realidade, que permeia o diálogo-debate dos “Encontrossobre o Trabalho”, enquanto dispositivo metodológico privilegiado.

8 Numa última pesquisa empírica aqui apresentada, e proposta por Iasmin Nascimento e

Thiago Drumond Moraes, foram conduzidos também “Encontros sobre o Trabalho”,prolongados num recorte temporal significativo, e integrando o recurso a imagensfotográficas como dispositivo para instigar o diálogo sobre a atividade de trabalho depsicólogas, em centros de referência de assistência social (CRAS). A participação nestesencontros, não só contribuiu para o fortalecimento do coletivo de trabalho, pelodesenvolvimento e renovação do género profissional, como criou condições para quetal se constituísse como fator protetor da saúde destas trabalhadoras.

9 No que diz respeito à nossa rubrica habitual dos Textos históricos, apresentamos desta

vez um texto de Jacques Leplat sobre a “Adaptação da máquina ao homem”, de 1953. Nasua introdução, Régis Ouvrier-Bonnaz articula o momento historicamente situado emque o texto foi escrito com a história científica do seu autor, e faz-nos descobrir, nestasua (re)leitura, outras indagações. Mas, ainda nesta rubrica, integramos um contributomenos usual, de Corinne Lespessailles, Céline Levecque, Aurélie Puybonnieux e AgatheVuillermet : uma lista selecionada de publicações de Jacques Leplat, que, na verdade,coadjuva a leitura do texto de introdução a este texto histórico.

10 Os nossos leitores sabem que abrimos em julho passado, uma nova rubrica : o Datário

que, na sua definição inicial, tem como finalidade apresentar contributoscorrespondentes a duas datas paradigmáticas. Na verdade, neste número da Laboreal,não são duas datas, mas são mais. Porque há marcos históricos que não são universais.Porque há marcos históricos que são, talvez, menos “súbitos”, contruídos numadinâmica social cuja complexidade lhe é intrínseca.

11 A primeira data é a de 3 de dezembro : data do acidente ocorrido em Bhopal, no ano de

1984, que Alexis Uriel Blanklejder contextualiza quer do ponto de vista dos seusdeterminantes, quer dos seus efeitos, e que deu lugar à instituição do Dia Mundial daNão Utilização de Pesticidas e à denominação de Acidente Grave, tal como definido pelaConvenção n.º 174 da Organização Internacional do Trabalho.

12 As outras datas inscrevem-se num mesmo marco, ainda que temporalmente e

geograficamente desfasado. Refiro-me aos processos relativos ao reconhecimentomédico-legal da silicose como doença profissional, em diferentes países : na Bélgica,

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

5

Page 7: Laboreal, Volume 15 Nº2

como nos relata Eric Geerkens ; em Portugal, num texto da autoria de Augusto RogérioLeitão ; e no Brasil, com o contributo de Francisco Lacaz. O debate que “esta” datasuscitou, é traduzida bem por esta publicação plural. Mas, é também graças àintrodução que articula estes três textos sobre a silicose, da autoria de MarianneLacomblez, que se confere unidade a este debate.

13 Enfim, todo este trabalho não teria sido possível, obviamente, sem o inestimável

contributo de todos os peritos que, para este número, com as suas avaliações esugestões, instigaram outros debates dos autores no seu trabalho de escrita dos artigosagora publicados. Agradecemos a todos/as o tempo dedicado a ler e rever as propostasde artigos, em diferentes fases da sua evolução, muito particularmente a : AntoineDuarte, Antónia Cadilhe, Carla Barros, Cecilia Ros, Clara Araújo, Cláudia Osório, AntonioStecher, Duarte Rolo, Edith Seligmann-Silva, Gilles Amado, Hernan Martinez, IsabelAltamirano, Isabel Torres, Juan Jose Castillo, Laurent Vogel, Manuel Matos, MarianneDe Troyer, Mario Poy, Milton Athayde, Nelcy Arevalo, Nuno Rebelo dos Santos, RicardoVasconcelos, e Teresa Carretero. Não podemos terminar sem agradecer também a JoãoViana Jorge, por sempre podermos contar com as suas traduções dos textos publicadosna rubrica Textos históricos, contando com a ajuda neste número de Francisca BaldrichAdvis e Nicolás Canales Bravo.

14 Desejamos a todos/as que percorram com prazer a leitura deste número,

15 Em nome do Conselho editorial,

16 Liliana Cunha

AUTOR

LILIANA CUNHA

Centro de Psicologia da Universidade do Porto. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

da Universidade do Porto. Rua Alfredo Allen s/n 4200-135 Porto, Portugal

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

6

Page 8: Laboreal, Volume 15 Nº2

EditorialLiliana Cunha

1 Este número traduce varios debates, lo que nada tiene de singular cara a otros números,

salvo en la forma como fueron producidos y trasladados para esta edición.

2 Iniciamos con cinco textos enmarcados en el dosier temático bajo el tema Subjetividad y

trabajo: entre el malestar y el bienestar. Construcción de un nuevo paradigma de salud en el

trabajo, resultado de comunicaciones presentadas en un Simposio celebrado en LaHabana, en 2018. La diversidad de los análisis contextualizados de investigación y laforma como instruyeron la acción en las realidades concretas en que ocurrieron - enArgentina, en Brasil, en Chile, en Colombia y en Cuba - articulan en este debatedistintos puntos de vista, actores e instituciones, pero también revelan controversiasque lo mantienen vivo.

3 Dominique Lhuilier y Marianne Lacomblez abren este dosier, sistematizando su

referencial para que aprehendamos lo que se entiende aquí con la construcción de un

nuevo paradigma de salud en el trabajo. Realzan las cuestiones que subsisten, en regioneshispanófonas y lusófonas, y que desafían los discursos hegemónicos producidos, nopocas veces, de forma a-histórica y descontextualizada.

4 En lo que concierne el conjunto de artículos "Varia", este tiene inicio con el artículo de

Mirtha Mestanza y Damien Cromer. En el núcleo de este texto está el recurso al debatesobre la práctica en ergonomía, como instrumento de investigación y de intervención,en la construcción de la profesión por jóvenes profesionales de Perú. En Francia, estosespacios de debate, enmarcados por la comisión “Jeunes Pratiques en Réflexion” de laSociedad de Ergonomía de Lengua Francesa (SELF), fueron criados hace algún tiempo yhan servido de referencia a esta experiencia más reciente en Perú. No obstante, lasdiferencias en las realidades de los dos países se revelan determinantes en laespecificidad de los objetivos que configuran la estructuración de estas comunidades depráctica.

5 Luciana Cavanellas y Jussara Brito nos presentan después una investigación empírica

que tiene como hilo conductor el trabajo en salud, en situaciones consideradasextremas, ejercido por trabajadores de la ONG Médicos Sin Fronteras. El debate aquí sebasa en los límites de los usos de sí mismo, siempre imposibles de anticipar, que los

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

7

Page 9: Laboreal, Volume 15 Nº2

contextos en los que actúan requieren. Diferentes aportaciones teóricas, desde laperspectiva ergológica, la psicodinámica del trabajo y la concepción de salud deCanguilhem, se convocan, e interpelan, por lo que es aprehendido de lo real de estassituaciones concretas.

6 La aportación de la psicodinámica del trabajo es reanudada y asume destaque en la

revisión temática de la autoría de João Areosa, que se propone debatir las formas deorganización del trabajo y su impacto en la salud y el bienestar, en paralelo con otrosdebates que atraviesan la actividad de cada uno, en la construcción de un compromisoposible entre sufrimiento y placer.

7 Los cambios en la organización del trabajo recorren también el artículo de Cirlene

Christo, Marcello Rezende y Milton Athayde, siendo discutidas de forma anclada en larealidad concreta de una empresa multinacional de fabricación y comercialización deproductos neumáticos, en régimen de producción continua, instalada en Brasil. En lasecuencia de la reducción de los niveles jerárquicos en la empresa - desde laconfiguración de las tareas asociadas a un nuevo cargo de los supervisores de equipos yla responsabilización de los operadores de producción por tareas que erananteriormente de los directivos - es el día a día de estos trabajadores, en esta nuevarealidad, que traspasa el diálogo-debate de los "Encuentros sobre el Trabajo" comodispositivo metodológico privilegiado.

8 En una última investigación empírica aquí presentada y propuesta por Iasmin

Nascimento y Thiago Drumond Moraes, han sido también conducidos "Encuentrossobre el Trabajo", extendidos en un recorte temporal significativo e integrando elrecurso a imágenes fotográficas como dispositivo para instigar el diálogo sobre laactividad de trabajo de psicólogas en centros de referencia de asistencia social (CRAS).La participación en estos encuentros no solo ha contribuido para el fortalecimiento delcolectivo de trabajo, por el desarrollo y renovación del género profesional, como hacriado condiciones para que se constituyera como factor protector de la salud de estastrabajadoras.

9 En lo que respecta a nuestra habitual sección de Textos Históricos, presentamos de esta

vez un texto de Jacques Leplat sobre la “Adaptación de la máquina al hombre”, de 1953.En su introducción, Régis Ouvrier-Bonnaz articula el momento históricamente situadoen el que el texto fue escrito con la historia científica de su autor, y nos hace descubrir,en esta su re(lectura), otras indagaciones. Pero, aún en esta sección, integramos unaaportación menos usual, de Corinne Lespessailles, Céline Levecque, AuréliePuybonnieux y Agathe Vuillermet: una lista seleccionada de publicaciones de JacquesLeplat, que, en realidad, coadyuva la lectura del texto de introducción a este textohistórico.

10 Nuestros lectores saben que abrimos el pasado julio una nueva sección: la Efeméride,

que, en su definición inicial, tiene como finalidad presentar aportacionescorrespondientes a dos fechas paradigmáticas. En verdad, en este número de Laborealno son dos fechas, pero sí más. Porque hay hitos históricos que no son universales.Porque hay hitos históricos que son, quizá, menos "súbitos", construidos en unadinámica social cuya complejidad le es intrínseca.

11 La primera fecha es la de 3 de diciembre, fecha del accidente ocurrido en Bhopal, en el

año de 1984, que Alexis Uriel Blanklejder contextualiza tanto del punto de vista de susdeterminantes como de sus efectos, y que dio lugar a la institución del Día Mundial del

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

8

Page 10: Laboreal, Volume 15 Nº2

No uso de Plaguicidas y a la denominación de Accidente Mayor, tal y como definido porel Convenio n.º 174 de la Organización Internacional del Trabajo.

12 Las otras fechas se inscriben en un mismo marco, aunque desfasado en términos

temporales y geográficos. Me refiero a los procesos relativos al reconocimiento médico-legal de la silicosis como enfermedad profesional en distintos países: en Bélgica, comonos relata Eric Geerkens; en Portugal, en un texto de la autoría de Augusto RogérioLeitão; y en Brasil, con la aportación de Francisco Lacaz. El debate que "esta" fecha hasuscitado es bien traducido por esta publicación plural, pero es también gracias a laintroducción que articula estos tres textos sobre la silicosis, de la autoría de MarianneLacomblez, que se confiere unidad a este debate.

13 Por fin, todo este trabajo no tendría sido posible, indubitablemente, sin la inestimable

participación de todos los expertos que, para este número, instigaron con susevaluaciones y sugestiones otros debates de los autores en su trabajo de escrita de losartículos ahora publicados. Agradecemos a todos(as) el tiempo dedicado a la revisión delas propuestas de artículos, en distintas fases de su evolución, muy particularmente a:Antoine Duarte, Antónia Cadilhe, Carla Barros, Cecilia Ros, Clara Araújo, Cláudia Osório,Antonio Stecher, Duarte Rolo, Edith Seligmann-Silva, Gilles Amado, Hernan Martinez,Isabel Altamirano, Isabel Torres, Juan Jose Castillo, Laurent Vogel, Manuel Matos,Marianne De Troyer, Mario Poy, Milton Athayde, Nelcy Arevalo, Nuno Rebelo dosSantos, Ricardo Vasconcelos y Teresa Carretero. No podemos terminar sin agradecerigualmente a João Viana Jorge, por poder siempre contar con sus traducciones de lostextos publicados en la sección Textos históricos, contando, además, con la ayuda eneste número de Francisca Baldrich Advis y Nicolás Canales Bravo.

14 Deseamos que todos(as) recorran con placer la lectura de este número,

15 En nombre del Consejo Editorial,

16 Liliana Cunha

AUTOR

LILIANA CUNHA

Centro de Psicología de la Universidad de Porto, Facultad de Psicología y de Ciencias de la

Educación de la Universidad de Porto, Rua Alfredo Allen s/n 4200-135 Porto, Portugal

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

9

Page 11: Laboreal, Volume 15 Nº2

Dossier "Subjetividade e trabalho"Dossier "Subjetividad y trabajo"Dossier "Subjectivité et travail"Thematic dossier "Subjectivity and work"

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

10

Page 12: Laboreal, Volume 15 Nº2

Subjetividade e trabalho : entre mal-estar e bem-estar : apresentação dodossierSubjetividad y trabajo : entre malestar y bienestar : presentación del dossier

Subjectivité et travail : entre inconfort et bien-être : présentation du dossier

Subjectivity and work : between discomfort and well-being : presentation of the

dossier

Dominique Lhuilier e Marianne Lacomblez

1. O simpósio de Havana

1 Decorreu em Havana, de 29 a 31 de Outubro de 2018, um simpósio “França-América

Latina” subordinado ao tema : Subjetividade e trabalho : entre mal-estar e bem-estar.

Construção de um novo paradigma de saúde no trabalho.

2 Este evento tinha como objetivo reforçar as formas de cooperação entre diversos

organismos, instituições e investigadores que, de longa data, vêm trabalhando emvários países para a promoção da saúde dos trabalhadores, quer com a produção detrabalhos científicos quer com o desenvolvimento de ações de prevenção nos diferentescontextos laborais. Assim, a organização do simpósio esteve a cargo do InstitutoNacional para a Saúde dos Trabalhadores (Cuba) e de várias universidades, não sócubanas, mas também argentinas, brasileiras, chilenas e francesas. O Simpósio contouainda com a colaboração de diversos parceiros ligados a este tema : SELF, AFPTO,INSAT, RIPSIT, CYTED, a rede TAS, RESPTO, GESTES1.

3 Foi assim que investigadores e especialistas oriundos de contextos sócio-culturais

distintos (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Uruguai, França, Portugal, Quebequee Suíça), com diferentes experiências profissionais, mas todos empenhados numobjetivo comum de humanização do trabalho, colaboraram durante esses três dias :

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

11

Page 13: Laboreal, Volume 15 Nº2

mais de 450 participantes e 181 comunicações (41 em espanhol, 75 em português e 65em francês).

4 Este dossier, publicado pela revista Laboreal, não pretende nem pode dar conta do vasto

número de temas e debates dessas jornadas2. Optou-se, assim, por apresentar aquialgumas contribuições que revelam o desenvolvimento da psico(socio)logia no domínioda saúde no trabalho e, igualmente, da medicina do trabalho.

5 Reúnem-se, deste modo, cinco artigos que, tendo como base as respetivas comunicações

apresentadas no simpósio, propõem análises contextualizadas da investigação e deações levadas a cabo na Argentina, no Brasil, no Chile, na Colômbia e em Cuba.

2. Balanço da construção de um novo paradigma desaúde no trabalho

6 A problemática escolhida privilegia a análise das relações entre trabalho e saúde

baseada em comparações internacionais e estudos pluridisciplinares. Abordar a relaçãosaúde/trabalho pressupõe a clarificação dos conceitos de ambos os termos e das suasrecíprocas relações. Mas, se se impõe clarificar os termos no plano do conhecimentocientífico, no plano da ação o problema é igualmente relevante. Além disso, taisquestões têm de ser necessariamente repostas nos contextos económicos, políticos,sociais e culturais de cada país.

7 Embora a tarefa seja complexa e as situações diversas, há algumas linhas de reflexão

comuns que emergem dos diferentes intercâmbios que, por sua vez, permitem esboçaruma trama para os próximos encontros - e que pretendemos sistematizar aqui :

8 2.1. Tanto no sentido comum como em aceções científicas, o termo trabalho é

polissémico. Quando se confunde com a tarefa definida ou com a profissão, a dimensãoda atividade real desaparece completamente. Por outro lado, a tónica na atividade podeacabar por subestimar a divisão social do trabalho, as relações sociais de trabalho ou asnormas jurídicas previstas para as enquadrar. Além do mais, em muitos países, aquilo aque chamamos trabalho informal (fora de qualquer relação contratual estabelecida)corresponde a uma parte fundamental da produção e das condições de vida dapopulação trabalhadora. Isto obriga a rever as conceções do trabalho essencialmenterelacionadas com a esfera do emprego (por exemplo, como conceber a relação tarefa/atividade nesses contextos laborais ?).

9 2.2. As comparações internacionais podem levar a repensar a assimilação do trabalho

ao emprego. Elas podem ajudar a ter em conta outros tipos de atividades para além dasque assentam no assalariamento. Há inúmeras atividades que asseguram as mesmasfunções que o trabalho, entendido no sentido comum do termo : função utilitária, sociale identitária. Esta perspetiva reassocia a vida de trabalho com a vida fora do trabalhopara levar em conta os processos de interação no âmbito do sistema das atividades, dasua regulação e desregulação. A relação laboral e as atividades nela desenvolvidas, maisdo que caracterizarem uma esfera autónoma, fundem-se com toda a vida passada eatual. São, precisamente, essas atividades desenvolvidas no âmbito do trabalho e foradele que constituem, com o correr dos tempos, conhecimentos e modos de saber-fazerque podem ser transferidos duma esfera para a outra. Esta questão prende-se sobretudocom as questões de género.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

12

Page 14: Laboreal, Volume 15 Nº2

10 2.3. Mesmo quando considerada a atividade (enquadrada ou não na subordinação

constitutiva dum contrato de trabalho), o trabalho pode também designar coisas muitodiferentes, por exemplo : uma "atividade inconsciente", semelhante à do operáriotaylorista ; ou uma atividade laboral sempre única, embora fundamentalmente ligada àatividade dos outros, sobretudo através do coletivo de trabalho, um instrumento daatividade individual. Na verdade, atividade e subjetividade não são dissociáveis,considerando-se a subjetividade quer nas suas relações com os quadros simbólicos queorientam o sentido quer nas suas relações inevitáveis com a corporalidade.

11 2.4. A relação entre saúde e trabalho está envolvida em profundas controvérsias

epistemológicas e simultaneamente em questões sociais igualmente importantes, tantona América Latina como no Canadá e na Europa. É sabido que a perceção da relaçãoentre saúde e trabalho se construiu historicamente através do prisma doença etrabalho, e que os efeitos deletérios do trabalho na saúde são há muito tempo objeto depreocupação. São essas primeiras análises sobre a natureza da relação entre saúde etrabalho que estão na base dos trabalhos atuais que analisam as doenças próprias decada oficio, ou os danos para a saúde do novo trabalho industrial que conjugaexploração e miséria. E também estiveram na base das intervenções dos movimentossociais e do próprio Estado que marcaram a história de uma herança memorável : umaherança materializada no sistema atual, atravessada por uma combinação de lutas,mobilizações, inquéritos, legislações e instituições, e que tiveram por objetivo aprevenção e o ressarcimento dos danos causados pelo trabalho.

12 No entanto, essas abordagens da saúde no trabalho têm de ser reapreciadas à luz dos

atuais contextos sociais, históricos e culturais de países com diferentes referenciais,diferentes regulamentações e diferentes sistemas de avaliação da saúde dostrabalhadores.

13 2.5. O esquema determinista causa-efeito, que durante muito tempo dominou a

abordagem das patologias profissionais, pode ainda prevalecer, designadamente emCuba, onde os colegas esperavam deste Simpósio a possibilidade de se inserir nadinâmica da construção de um novo paradigma da saúde no trabalho. Trata-se, narealidade, de tornar o modelo inicial mais complexo para integrar abordagensmultifactoriais e diacrónicas ; por exemplo : ter em conta a associação e apotencialização de riscos ; considerar o período de latência entre a exposição aos riscose as manifestações clínicas ; reconstituir as trajetórias de exposição a situações nocivas.Reavaliar-se-á, assim, a hipótese patogénica, inspirada no modelo da toxicologiaclássica, à luz de uma abordagem aberta à complexidade das histórias profissionaisreais. Podemos, então, considerar uma revisão da noção de nocividade do trabalho,salientando as desigualdades em relação ao risco, dado que as condições sócio-económicas que caracterizam a vida das/dos que trabalham (estado nutricional,educação, possibilidade de acesso à informação, qualidade concreta/real das políticaspúblicas, alojamento, ...) podem decuplicar os efeitos da exposição a 'fatores de risco'nocivos. É, portanto, por razões científicas, e não apenas éticas ou políticas, que seimpõe uma abordagem 'integrada', multi-profissional e interdisciplinar.

14 2.6. Acresce ainda que essa problematização do modelo toxicológico inicial vem trazer,

também, para primeiro plano os trabalhadores que se querem manter sujeitos do seutrabalho e atores das suas condições de trabalho. Abre-se, assim, um campo deinvestigação e de intervenção que não deixa na sombra o papel determinante dotrabalho enquanto agente de saúde, isto é, no desenvolvimento e na construção da

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

13

Page 15: Laboreal, Volume 15 Nº2

saúde. Um campo ainda mais extenso quando se aborda a manutenção em atividadedaqueles que, cada vez em maior número, vivem com uma saúde frágil, ou aindadaqueles que vivem "sem trabalho" à margem do mercado de emprego. Neste domínio,a produção científica é ainda largamente insuficiente, apesar de a psicopatologia dotrabalho ter legado uma tradição considerável no que toca às funções psicológicas esociais do trabalho no restabelecimento e desenvolvimento da saúde psíquica.

15 2.7. A renovação das abordagens impõe-se também em virtude dos efeitos das

transformações do trabalho nos contextos sociais, económicos e políticos de cada umdos diferentes países. A globalização económica veio, na verdade, questionar ascondições do exercício do poder soberano do Estado em conjunturas nacionaispoliticamente diferentes. Com efeito, o comércio internacional, a livre circulação decapitais e, concomitantemente, o desenvolvimento dos mercados financeirosinternacionais, tendem a interferir e a influenciar o exercício do poder dos Estados.Ora, a liberalização mundial dos fatores de produção, tais como o trabalho e o capital,não se processa do mesmo modo nem com a mesma intensidade. Assim, se, por um lado,os fluxos migratórios são, hoje em dia, rigorosamente controlados em muitos países, aliberdade de circulação de capitais, por outro lado, é fortemente encorajada à escalaglobal, apesar de em alguns países, como Cuba, continuar ainda, por razões diversas, aser objeto de práticas restritivas.

3. A continuação dos debates

16 Este evento científico permitiu reunir um grande número de investigadores e de

profissionais ligados à problemática da saúde no trabalho, empenhados na troca deexperiências e no(s) diálogo(s) entre várias abordagens disciplinares (psicologia dotrabalho, ergonomia, sociologia, ciências da gestão, ciências da educação, direito,filosofia, etc.). Ao submeter a debate o(s) conceito(s) de saúde – entendida nas suasdimensões física, psíquica e social – e o conceito de trabalho, bem como as interaçõesentre ambos, pretendeu-se contribuir para uma produção científica internacional que,por ter frequentemente como referência o mundo anglófono, tende a subestimar ocarácter inovador da investigação e das intervenções levadas a cabo em regiõeshispanófonas e lusófonas.

17 Sem dúvida que o desafio vai continuar, desde logo porque o segundo Simpósio França-

América Latina, irá realizar-se em João Pessoa, no Brasil, em finais de outubro de 2020,terá como tema central Trabalhar : para fazer o quê ? (https://eitajp.wixsite.com/jp2020).

NOTAS

1. Société d’Ergonomie de Langue Française, Association Française de Psychologie du travail et

des Organisations, Instituto National de Salud de los Trabajadores, Red Iberoamericana de

Promoción de la Seguridad Integral en el Trabajo, Programa Iberoamericano de Ciencia y

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

14

Page 16: Laboreal, Volume 15 Nº2

Tecnología para el Desarrollo, Réseau de Recherche de Psychologie du Travail et des

Organisations, Groupe d’Etudes Sur le Travail et la Souffrance au travail.

2. Está a ser finalizada uma obra colectiva, em três línguas, composta por 24 textos resultantes

das comunicações apresentadas durante o Simpósio. Vai ser publicada em 2020 pela editora

L'Harmattan, em versão electrónica e em papel, com o título: Subjectivité et travail. Construction

d’un nouveau paradigme de la santé au travail [Subjectividade e trabalho. Construção de um novo

paradigma de saúde no trabalho].

AUTORES

DOMINIQUE LHUILIER

Équipe Psychosociologie du travail et de la formation, Centre de recherche sur le travail et le

développement, Conservatoire National des Arts et Métiers [Grupo de Psicologia do Trabalho e da

Formação, Centro de Investigação do Trabalho e do Desenvolvimento, Conservatório Nacional das

Artes e Ofícios]. 41 rue Gay Lussac, 75005 Paris, France.

[email protected]

MARIANNE LACOMBLEZ

Centro de Psicologia da Universidade do Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação,

Universidade do Porto. Rua Alfredo Allen, 4200-135, Porto, Portugal.

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

15

Page 17: Laboreal, Volume 15 Nº2

Subjetividad y trabajo : entremalestar y bienestar : presentacióndel dossierSubjetividade e trabalho : entre mal-estar e bem-estar : apresentação do dossier

Subjectivité et travail : entre inconfort et bien-être : présentation du dossier

Subjectivity and work : between discomfort and well-being : presentation of the

dossier

Dominique Lhuilier y Marianne Lacomblez

1. El simposio de La Habana

1 Fue celebrado en La Habana, del 29 al 31 de octubre de 2018, un simposio "Francia-

América Latina" dedicado al tema : Subjetividad y trabajo : entre el malestar y el bienestar.

Construcción de un nuevo paradigma de salud en el trabajo.

2 Este evento tenía como propósito reforzar las formas de cooperación entre diversos

organismos, instituciones e investigadores que, desde hace mucho tiempo, tienentrabajado en varios países para la promoción de la salud de los trabajadores, tanto conla producción de trabajos científicos como con el desarrollo de acciones de prevenciónen los distintos contextos laborales. Así, la organización del simposio estuvo a cargo delInstituto Nacional para la Salud de los Trabajadores (Cuba) y de varias universidades,no solo cubanas, pero también argentinas, brasileñas, chilenas y francesas. El Simposiocontó, además, con la colaboración de distintos socios vinculados a este tema : SELF,AFPTO, INSAT, RIPSIT, CYTED, la red TAS, RESPTO, GESTES [1].

3 Fue, de esta forma, que investigadores y especialistas provenientes de contextos socio-

culturales diversos (Argentina, Brasil, Chile, Colombia, Cuba, Uruguay, Francia,Portugal, Quebec y Suiza), con diferentes experiencias profesionales, pero todoscomprometidos en un objetivo común de humanización del trabajo, han colaborado

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

16

Page 18: Laboreal, Volume 15 Nº2

durante esos tres días : más de 450 participantes y 181 comunicaciones (41 en español,75 en portugués y 65 en francés).

4 Este dosier, publicado por la revista Laboreal, no pretende ni puede contar el gran

número de temas y debates de esas jornadas [2]. Se ha optado, así, por presentar aquíalgunas aportaciones que revelan el desarrollo de la psico(socio)logia en el ámbito de lasalud en el trabajo y, asimismo, de la medicina del trabajo.

5 Se reúnen, de este modo, cinco artículos que, teniendo como base las respectivas

comunicaciones presentadas en el simposio, proponen análisis contextualizadas de lainvestigación y de las acciones llevadas a cabo en Argentina, Brasil, Chile, Colombia yCuba.

2. Balance de la construcción de un nuevo paradigmade salud en el trabajo

6 La problemática elegida privilegia el análisis de las relaciones entre trabajo y salud,

basado en comparaciones internacionales y estudios multidisciplinarios. Abordar larelación salud/trabajo presupone la aclaración de los conceptos de ambos los términosy de sus relaciones reciprocas. Sin embargo, si se impone aclarar los términos en el plandel conocimiento científico, en el plan de la acción el problema es igualmenterelevante. Igualmente, tales cuestiones tienen que ser necesariamente repuestas en loscontextos económicos, políticos, sociales y culturales de cada país.

7 Aunque la tarea sea compleja y las situaciones diversas, hay algunas líneas de reflexión

comunes que emergen de los distintos intercambios que, por su turno, permitenesbozar una trama para los próximos encuentros - y que pretendemos sistematizaraquí :

8 2.1. Tanto en el sentido común como en acepciones científicas, el término trabajo es

polisémico. Cuando se confunde con la tarea definida o con la profesión, la dimensiónde la actividad real desaparece por completo. Por otro lado, la tónica en la actividadpuede acabar por subestimar la división social del trabajo, las relaciones sociales detrabajo o las normas jurídicas previstas para su encuadramiento. Asimismo, en muchospaíses, aquello a que llamamos trabajo informal (fuera de cualquier relacióncontractual establecida) corresponde a una parte primordial de la producción y de lascondiciones de vida de la población trabajadora. Esto obliga a rever las concepcionesdel trabajo esencialmente relacionadas con la esfera del empleo (por ejemplo, ¿cómoconcebir la relación tarea/actividad en esos contextos laborales ?).

9 2.2. Las comparaciones internacionales pueden llevar a repensar la asimilación del

trabajo al empleo. Estas pueden ayudar a tener en cuenta otros tipos de actividadesademás de las que se basan en los salarios. Hay numerosas actividades que aseguran lasmismas funciones que el trabajo, entendido en el sentido común del término : funciónutilitaria, social e identitaria. Esta perspectiva vuelve a asociar la vida de trabajo con lavida fuera del trabajo para tener en cuenta los procesos de interacción en el ámbito delas actividades, de su regulación y desregulación. La relación laboral y las actividadesdesarrolladas en ella, además de caracterizar una esfera autónoma, se fusionan contoda la vida pasada y actual. Son justamente esas actividades desarrolladas en el ámbitodel trabajo y fuera de él que constituyen, con el paso del tiempo, conocimientos y

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

17

Page 19: Laboreal, Volume 15 Nº2

modos de saber-hacer que pueden ser transferidos de una esfera hacia otra. Estacuestión se relaciona, sobre todo, con las cuestiones de género.

10 2.3. Incluso cuando se considera la actividad (enmarcada o no en la subordinación

constitutiva de un contrato de trabajo), el trabajo puede también designar cosas muydiferentes, como, por ejemplo : una "actividad inconsciente", semejante a la del obrerotaylorista, o una actividad laboral siempre única, aunque fundamentalmente vinculadaa la actividad de los otros, especialmente a través del colectivo de trabajadores, uninstrumento de la actividad individual. En realidad, la actividad y la subjetividad no sondisociables, considerándose la subjetividad tanto en sus relaciones con los marcossimbólicos que orientan el sentido como en sus relaciones inevitables con lacorporalidad.

11 2.4. La relación entre salud y trabajo está involucrada en controversias epistemológicas

profundas y, en simultaneo, en cuestiones sociales igualmente importantes, tanto enLatinoamérica como en Canadá o Europa. Es sabido que la percepción de la relaciónentre salud y trabajo se construyó históricamente mediante el prisma enfermedad ytrabajo, y que los efectos deletéreos del trabajo en la salud son, desde hace muchotiempo, objeto de preocupación. Son esos primeros análisis sobre la naturaleza de larelación entre salud y trabajo que se encuentran en la base de los trabajos actuales queanalizan las enfermedades propias de cada oficio, o los daños para la salud del nuevotrabajo industrial que conjuga explotación y miseria. Y también estuvieron en la basede las intervenciones de los movimientos sociales y del Estado mismo que marcaron lahistoria de una herencia memorable : una herencia materializada en el sistema actual,atravesada por una combinación de luchas, movilizaciones, encuestas, legislaciones einstituciones, y que tuvieron por objetivo la prevención y el resarcimiento de los dañoscausado por el trabajo.

12 Sin embargo, estos enfoques de la salud en el trabajo deben ser objeto de revisión a la

luz de los actuales contextos sociales, históricos y culturales de países con diferentesreferenciales, diferentes reglamentaciones y diferentes sistemas de evaluación de lasalud de los trabajadores.

13 2.5. El esquema determinista causa-efecto, que ha dominado durante mucho tiempo el

enfoque de las patologías profesionales, puede todavía prevalecer, particularmente enCuba, donde los compañeros esperaban de este Simposio la posibilidad de insertarse enla dinámica de la construcción de un nuevo paradigma de la salud en el trabajo. Setrata, en realidad, de hacer el modelo inicial más complejo para integrar enfoquesmultifactoriales y diacrónicos, como, por ejemplo : tener en cuenta la asociación y lapotencialización de riesgos, considerar el período de latencia entre la exposición a losriesgos y las manifestaciones clínicas, reconstituir las trayectorias de exposición asituaciones nocivas. Se reevaluará, de este modo, la hipótesis patogénica, inspirada enel modelo de la toxicología clásica, a la luz de un enfoque abierto a la complejidad de lashistorias profesionales reales. Podemos, entonces, considerar una revisión de la nociónde nocividad del trabajo, subrayando las desigualdades en relación al riesgo, dado quelas condiciones socio-económicas que caracterizan la vida de las/los que trabajan(estado nutricional, educación, posibilidad de acceso a la información, calidadconcreta/real de las políticas públicas, alojamiento, …) pueden decuplicar los efectos dela exposición a "factores de riesgo" nocivos. Es, por consiguiente, por razonescientíficas y no solo éticas o políticas, que se impone un enfoque "integrado",multiprofesional e interdisciplinario.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

18

Page 20: Laboreal, Volume 15 Nº2

14 2.6. Por otra parte, aunque la problematización del modelo toxicológico inicial trae,

también, para primer plano los trabajadores que se quieren mantener sujetos de sutrabajo y actores de sus condiciones de trabajo. Se abre, así, un campo de investigacióny de intervención que no deja en la sombra el papel determinante del trabajo comoagente de salud, es decir, en el desarrollo y en la construcción de la salud. Un campotodavía más extenso cuando se aborda la manutención en actividad de aquellos que, enun número cada vez mayor, viven con una salud frágil, o asimismo aquellos que viven"sin trabajo" al margen del mercado de empleo. En este dominio, la produccióncientífica es aun claramente insuficiente, pese a que la psicopatología del trabajo hayalegado una tradición considerable en lo que toca a las funciones psicológicas y socialesdel trabajo en el restablecimiento y desarrollo de la salud psíquica.

15 2.7. La renovación de los enfoques se impone también en virtud de los efectos de las

transformaciones del trabajo en los contextos sociales, económicos y políticos de cadauno de los distintos países. La globalización económica vino, en realidad, cuestionar lascondiciones del ejercicio del poder soberano del Estado en coyunturas nacionalespolíticamente diferentes. De hecho, el comercio internacional, la libre circulación decapitales y, al mismo tiempo, el desarrollo de los mercados financieros internacionales,tienden a interferir y a influenciar el ejercicio del poder de los Estados. Pues bien, laliberalización mundial de los factores de producción, tales como el trabajo y el capital,no se procesa de la misma manera ni con la misma intensidad. De este modo, si por unlado los flujos migratorios son, hoy en día, estrictamente controlados en muchos países,la libertad de circulación de capitales, por otro lado, es intensamente fomentada aescala mundial, a pesar de que, en algunos países, como Cuba, sigue todavía, y pordiversas razones, siendo objeto de prácticas restrictivas.

3. La continuación de los debates

16 Este evento científico ha permitido reunir a un gran número de investigadores y

profesionales relacionados con la problemática de la salud en el trabajo,comprometidos con el intercambio de experiencias y con el/los diálogo(s) entre losvarios enfoques disciplinarios (psicología del trabajo, ergonomía, sociología, ciencias dela gestión, ciencias de la educación, derecho, filosofía, etc.). Al someter a debate el/losconcepto(s) de salud - entendida en sus dimensiones física, psíquica y social - y elconcepto de trabajo, bien como las interacciones entre ambos, se ha pretendido haceruna aportación para una producción científica internacional que, por tener, confrecuencia, al mundo anglófono como referencia, tiende a subestimar el carácterinnovador de la investigación y de las intervenciones llevadas a cabo en regioneshispanófonas y lusófonas.

17 Sin duda que el desafío continuará, desde luego porque el segundo Simposio Francia-

América Latina, que se celebrará en João Pessoa, en Brasil, a finales de octubre del 2020,tendrá como tema central Trabajar : ¿para hacer lo qué ? (https://eitajp.wixsite.com/jp2020).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

19

Page 21: Laboreal, Volume 15 Nº2

NOTAS

1. Société d’Ergonomie de Langue Française, Association Française de Psychologie du travail et

des Organisations, Instituto Nacional de Salud de los Trabajadores, Red Iberoamericana de

Promoción de la Seguridad Integral en el Trabajo, Programa Iberoamericano de Ciencia y

Tecnología para el Desarrollo, Réseau de Recherche de Psychologie du Travail et des

Organisations, Groupe d’Etudes Sur le Travail et la Souffrance au travail.

2. Se está finalizando una obra colectiva, en tres idiomas, compuesta por 24 textos resultantes de

las comunicaciones presentadas durante el Simposio. Será publicada en 2020 por la editorial

L'Harmattan, en versión electrónica y en papel, bajo el título: Subjectivité et travail. Construction

d’un nouveau paradigme de la santé au travail [Subjetividad y trabajo. Construcción de un nuevo

paradigma de salud en el trabajo].

AUTORES

DOMINIQUE LHUILIER

Équipe Psychosociologie du travail et de la formation, Centre de recherche sur le travail et le

développement, Conservatoire National des Arts et Métiers [Grupo de Psicologia do Trabalho e da

Formação, Centro de Investigação do Trabalho e do Desenvolvimento, Conservatório Nacional das

Artes e Ofícios]. 41 rue Gay Lussac, 75005 Paris, France.

[email protected]

MARIANNE LACOMBLEZ

Centro de Psicologia da Universidade do Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação,

Universidade do Porto. Rua Alfredo Allen, 4200-135, Porto, Portugal.

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

20

Page 22: Laboreal, Volume 15 Nº2

Enfoque clínico de las relacionesentre salud y trabajo :contribuciones y desafíosAbordagem clínica das relações entre saúde e trabalho : contribuições e desafios

Approche clinique des relations entre santé et travail : contributions et défis

Clinical approach to the relationships between health and work : contributions

and challenges

Andrea Pujol y María Inés Gutiérrez

NOTA DEL EDITOR

Manuscrito recibido en junho/2019Aceptado tras peritaje outubro/2019

1. La problemática del trabajo contemporáneo y lasalud

1 La salud laboral constituye un campo de investigación específico que ha ido ganando en

importancia en los estudios del trabajo en nuestro país. Desde diversas perspectivasteóricas se realizan esfuerzos significativos por conocer y comprender las vinculacionesentre salud y trabajo, la incidencia de las condiciones de trabajo en la emergencia deenfermedades profesionales, el estudio de la legislación y políticas de protección, y enlos últimos años la importancia que adquieren los riesgos psicosociales en la salud delos trabajadores.

2 La agenda de los problemas del trabajo en nuestro país, al igual que en el resto de los

países latinoamericanos, pone en foco la relación entre calidad del trabajo y saludlaboral. Desde nuestra perspectiva, la calidad de trabajo se define al menos

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

21

Page 23: Laboreal, Volume 15 Nº2

parcialmente en función de las posibilidades de construcción de sentido, demovilización subjetiva, que ofrece a los sujetos la organización del trabajo. Laorganización del trabajo propicia en mayor o menor medida la configuración de untrabajo de calidad, que satisfaga necesidades y que posibilite el desarrollo de lostrabajadores, lo que implica la capacidad de sujetos y grupos de accionarcotidianamente en la búsqueda de un balance adecuado entre trabajo y vida.

3 En un contexto en el que casi un tercio de la población activa accede a empleos

fragilizados, de baja remuneración y baja productividad, y en el que se produce unaimportante reconfiguración en la organización de las actividades y los oficios y laemergencia de empleo atípico, las nuevas formas de organización del trabajo traenconsigo componentes importantes de intensificación del ritmo de trabajo, la paradojade la prescripción de la participación, la sobre-responsabilización de los trabajadoressin contrapartidas que lo justifiquen, la falta de reconocimiento de los logros y enmuchos casos también el deterioro de las condiciones y medio ambiente de trabajocomo consecuencia de la reducción de costos o de la complejidad de los procesos detercerización.

4 Las consecuencias de estas prácticas se evidencian tanto a nivel de la salud física como

en el plano de la subjetividad, en el sufrimiento psíquico asociado a las condiciones enlas que se trabaja actualmente, particularmente en lo relativo a la sensación de que“cuidar” el empleo supone aceptar –y en muchos casos naturalizar- exigencias ycondiciones insatisfactorias, la vivencia de que progresar u obtener mejoras en lapropia carrera, desarrollarse en el trabajo, supone afrontar y resolver un conjuntoimportante de contradicciones individuales y colectivas.

5 La articulación salud y trabajo exige actualmente reconocer qué concepciones de

empleo/trabajo/actividad y qué concepciones de sujeto permiten dar cuenta de larelación entre trabajo y subjetividad y cómo esta díada puede dar cuenta de laproblemática de la salud laboral, a partir de una mejor comprensión de lascontradicciones y las tensiones que marcan las trayectorias singulares y colectivas delos trabajadores y de cómo el bienestar y el sufrimiento que el trabajo implica seencarnan en sujetos y grupos social e históricamente situados.

6 Estas inquietudes tienen su anclaje en un estudio sobre las relaciones entre calidad del

empleo, salud laboral y subjetividad que orientan una parte de nuestra producción(Pujol, 2018 ; Gutiérrez, 2018). Su desarrollo exigió el análisis previo de lascontribuciones que dominan las investigaciones sobre salud laboral en Argentina, conel fin de resignificar la singularidad de los aportes de la perspectiva clínica. En dichoestudio, se analizaron las contribuciones teóricas y empíricas más divulgadas en el país,que incluyó algunos textos fundamentales y revisiones históricas para dar cuenta de losabordajes con mayor arraigo en el país y de comunicaciones y artículos científicos parala producción más reciente, que permiten valorar las concepciones puestas en juego,aunque todavía no se cuente con estados del arte de producción local.

7 En este marco, este escrito presenta en primer término las contribuciones sobre las

Condiciones y medio ambiente de trabajo (CyMAT) y los abordajes ecológicos, como unconjunto de aportes que ponen en juego la noción de riesgo psicosocial. En segundomomento retomamos la perspectiva centrada en los procesos de subjetivación que alintegrar los aportes de las clínicas del trabajo adopta en nuestro país un carácteremergente. A modo de cierre planteamos algunos desafíos que -a nuestro juicio-

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

22

Page 24: Laboreal, Volume 15 Nº2

pueden ampliar las posibilidades de la perspectiva clínica en la investigación y laintervención en el campo de la salud laboral.

2. La perspectiva de las CYMAT como abordajeinstitucional

8 Entre los abordajes con más arraigo en los estudios sobre la salud laboral en Argentina,

se encuentran las contribuciones de la sociología del trabajo y el empleo que en ladécada del 80 constituyeron un enfoque renovador que se plasmó en la adopción de lanoción de condiciones y medioambiente de trabajo, conocidas bajo la sigla CyMAT(Neffa & Del Bono, 2016). Esta noción incluye múltiples dimensiones que no sólo serelacionan con el cuidado de la salud de los trabajadores y la resolución de conflictosderivados de esta problemática, sino también con la preocupación por las actividadesde prevención tendientes a reducir o limitar los riesgos laborales, antes asociados a laidea de compensación.

9 Hasta ese momento, en línea con las contribuciones clásicas de la seguridad y la higiene

en el trabajo, los accidentes y enfermedades profesionales adoptaban el carácter dehechos fatales e imprevisibles, determinados necesariamente por la tecnología y lanaturaleza misma del trabajo, ante lo que solamente cabía prever las indemnizacionespara reparar ex-post el daño. En consecuencia, no tenían lugar las medidas confinalidades de prevención, dado que las necesidades urgentes de la producción llevabana concentrar la atención del proceso productivo en la situación presente y cotidiana,sin analizar los antecedentes de los incidentes y accidentes pasados.

10 Desde una fuerte referencia a la ergonomía de origen francófono, las CyMAT dan cuenta

de una visión macroergonómica y holista de los puestos de trabajo, acentuando suinfluencia en la eficiencia de la organización, en tanto su implementación conlleva amejoras de competitividad. En este sentido, cabe señalar que la ergonomía francófonaconstituye un aporte relevante en la medida en que sus desarrollos han contribuidotanto a fortalecer el enfoque de las CyMAT como el de la clínica del trabajo,principalmente a partir de un doble énfasis : la importancia otorgada a la distinciónentre tarea y actividad, y el privilegio otorgado al sujeto, a través de su principio debúsqueda de la adaptación del trabajo al hombre.

11 Según el modelo analítico más difundido en nuestro país formulado por el CEIL (Neffa,

1995), las dimensiones contempladas en las CyMAT son determinadas por lascaracterísticas de los procesos de trabajo, y si bien enfatizan su importancia en elbienestar del trabajador, la perspectiva que se adopta para su definición es claramenteorganizacional. En este sentido, las buenas condiciones de trabajo impactarían en elincremento de la productividad, el mejoramiento de la calidad de bienes y serviciosproducidos, en la reducción de costos y en el mayor compromiso de los trabajadores.

12 Según Neffa, “Las condiciones y medio ambiente de trabajo (CYMAT) están constituidas

por los factores socio-técnicos y organizacionales del proceso de producciónimplantado en el establecimiento (o condiciones de trabajo) y por los factores de riesgodel medio ambiente de trabajo” (Neffa, 1995, p. 5). Ambos grupos de factoresconstituyen las exigencias, requerimientos y limitaciones del puesto de trabajo, queintegran el trabajo prescripto y que impactan de modo directo en la salud de lostrabajadores. En este enfoque, se adoptó originalmente la noción de salud provista por

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

23

Page 25: Laboreal, Volume 15 Nº2

los trabajos de la Organización Mundial de la Salud, en los que se la entiende comoausencia de enfermedad y como un estado óptimo de bienestar físico, mental y social. Sibien esta noción ha sido posteriormente puesta en discusión, sigue vigente en granparte de los estudios que adoptan este enfoque.

13 La contribución de esta perspectiva ha sido especialmente fructífera, porque puso en

agenda de las empresas, organismos públicos y sindicatos la problemática de lascondiciones y medio ambiente de trabajo como componentes clave de la salud laboral ylogró cierto arraigo en los modelos de gestión de la fuerza de trabajo. Además, elcarácter sociotécnico, organizacional, interdisciplinario y con foco en la gestiónposibilitó el desarrollo de un conjunto de herramientas válidas para intervenir endiferentes contextos ocupacionales en el plano de la prevención de los riesgos.

14 Estas intervenciones operan principalmente sobre el trabajo prescripto y con la

participación funcional de los trabajadores a partir de la ingeniería de los puestos y deestrategias educativas que promueven el desarrollo de la organización, propiciando uncircuito virtuoso entre productividad y salud. En esta concepción, la noción deactividad como espacio de producción de sentido y como soporte de los procesosreflexivos sobre el género profesional resulta restringida. En la misma línea, si bien seutilizan estrategias de ergonomía participativa en los procesos de análisis y en lasinstancias formativas, la consideración de lo colectivo se restringe al plano de laparticipación funcional de los equipos y a la acción colectiva organizada en los procesosde negociación, sin que pueda capitalizarse el potencial que la clínica del trabajo otorgaa esa categoría.

15 Estos rasgos remiten a que la perspectiva de las CyMAT en Argentina conserva en gran

medida su formulación original sin que haya sido posible capitalizar algunasdiscusiones teóricas relevantes. En primer término, integrar las discusiones emergentesdel avance de las ergo-disciplinas que han permitido el esclarecimiento de distintasdimensiones de la actividad y sus determinantes, en las que la incorporación de ladimensión subjetiva y la producción de sentido adquieren un rol clave.

16 En segundo lugar, la mirada institucionalista en la que se inscribe el abordaje de las

Cymat enfatiza en la visión del trabajador como sujeto de derechos y asimila el trabajoa la idea de empleo clásico. En este marco, ante la emergencia del trabajo no clásico (Dela Garza-Toledo, 2009) y la extensión de la precarización del empleo a las experienciasde trabajo (Paugam, 2006) se hacen evidentes los límites que puede encontrar esteabordaje en el marco de un proceso de permanentes transformaciones y novedades delas actividades y la necesidad de asumir una actitud de vigilia permanente en laidentificación y prevención de los riesgos (Neffa, 2015).

3. Los abordajes ecológicos

17 En la línea de las contribuciones de la psicología centradas en la relación factor-

respuesta, los estudios del trabajo que se apoyan en una mirada ecológica, con anclajeen teorías sociocognitivas y socioconstruccionistas, constituyen el abordaje másinternacionalizado de los que pueden encontrarse en las investigaciones de nuestropaís.

18 Desde esta perspectiva, se desarrollan importantes contribuciones en Argentina sobre

la violencia en el trabajo, el acoso laboral y el bullyng (Cebey & Ferrari, 2010 ; Ferrari,

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

24

Page 26: Laboreal, Volume 15 Nº2

Filippi, & Trotta, 2011 ; Ferrari, Filippi, Novo, Sicardi, & Trotta, 2013). Estasinvestigaciones se apoyan en análisis cuantitativos a través de la aplicación decuestionarios al personal –en muchos casos de diversas jerarquías- de empresas yorganismos, públicos y privados, dando continuidad de modo consistente a otrosestudios internacionales con metodologías análogas. La consideración central de esteabordaje son los sistemas de relaciones que se generan en los ambientesorganizacionales, particularmente analizados como sistemas de autoridad y poder queestructuran tramas de relación asimétricas. En este marco, los hallazgos de estasinvestigaciones permiten el desarrollo de instrumentos de intervención entre los que sedestacan los protocolos de abordaje, que resultan exitosos a la hora de regular lasintervenciones sobre situaciones de violencia laboral y otros fenómenos morbosos deíndole psicosocial particularmente asociados al trabajo contemporáneo.

19 En este marco, las intervenciones derivadas de este enfoque pueden inscribirse en la

perspectiva del desarrollo organizacional, aunque en los últimos años han incorporadocontribuciones de la psicología positiva y con ello tienden a propiciar un abordaje máscentrado en el individuo que en los sistemas de relación. Esto deriva en laimplementación de estrategias de intervención que se orientan a maximizar losrecursos adaptativos de las personas y las capacidades socializadoras de la gestión. Enestas aproximaciones, las estrategias de intervención enfatizan en la respuestaindividual de los trabajadores ante los riesgos a partir del dominio de sus emociones yde la apelación a recursos personales y apoyos externos para afrontar las exigencias deltrabajo. En contrapartida, este enfoque soslaya la necesidad de intervenir sobre losprocesos de trabajo y su organización o poner en discusión los modos dedisciplinamiento que se inscriben en la relación laboral entendida como institución.

20 El énfasis alternativo “en el ambiente” (los sistemas de relaciones) y “en la persona”

(los recursos/fragilidades de los sujetos) de los abordajes hasta aquí mencionados tienecomo principal fortaleza su alcance descriptivo –aunque no necesariamente heurístico-que permite la intervención desde la gestión para mitigar el efecto de las exigencias deltrabajo en los operadores, con miras a maximizar -o al menos mantener invariante- laproductividad, siempre desde una visión de adaptación del sujeto al universo de lasprescripciones.

21 Desde la perspectiva clínica, aunque amplían la comprensión y tratamiento de las

relaciones entre salud y trabajo, estas contribuciones proponen una mirada a-históricaque invisibiliza al trabajo como actividad, el carácter estructurante que adquiere laorganización del trabajo en la salud en general y su expresión en los otros dominios deactividad. El papel de los colectivos y su poder para disputar en el campo político porun trabajo saludable a partir de procesos de resignificación y debate de lasprescripciones es también relegado. Es posible señalar además que su carácterindividualizante respecto a los recursos del trabajador lleva incluso a culpabilizar aquien no logra adaptarse y negando que la vulnerabilidad es constitutiva del sujeto.

22 Tanto en la revisión de la perspectiva de las CyMAT como en lo referido a los abordajes

ecológicos, se hace necesario discutir la noción de riesgos –que adquiere un lugarcentral en estas propuestas- y del papel de los sujetos y colectivos a la hora deidentificarlos y actuar sobre ellos, más allá de la intervención que le cabe a los sistemasde gestión sobre los ambientes de trabajo. En este desafío, resultan significativas lascontribuciones de los estudios críticos del management que centran su discusión en ladefinición de los sistemas de relaciones y las identidades laborales.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

25

Page 27: Laboreal, Volume 15 Nº2

4. Discusión clínica sobre la noción de riesgo

23 La noción de riesgos vertebra gran parte de los estudios de salud y trabajo en

Argentina, presente desde mediados de la década del ´80 en las contribuciones de lasCyMAT y el análisis de las enfermedades profesionales (Kohen, 1997) referenciandoprincipalmente la problemática de la salud física y -en la última década- poniendo enfoco la salud psíquica con la discusión y análisis de modelos de análisis específicos paralos Riesgos Psicosociales en el Trabajo (Neffa, 2015 ; Henry & Neffa, 2019).

24 Desde la perspectiva clínica el núcleo de la discusión sobre el enfoque de riesgos

enfatiza en los supuestos que permiten considerar la dimensión psicosocial en un pie deigualdad respecto de otros factores y propiciar así una mirada reduccionista sobre trescuestiones : la complejidad de las relaciones de sujetos y colectivos en la dinámica de laactividad, la noción de salud y la implicación mutua entre salud física y psíquica ; lopsicosocial y la subjetividad.

25 Desde el punto de vista psicosocial, distintos abordajes comparten la idea de que la

noción de riesgo resulta un concepto polisémico : puede referirse por una parte a losfactores de riesgo y por otra a los daños que estos provocan sobre la salud, que puedenser físicos, cognitivos o emocionales. Las dos dimensiones están fuertemente ligadas, ycon frecuencia pueden confundirse. Por otra parte, esta imprecisión se juega tanto enrelación al concepto de factor como a la noción de lo psicosocial en juego, debido a quefinalmente lo psicosocial se establece de modo tan genérico que termina abarcándolotodo : condiciones externas al trabajador, el trabajador mismo, el estrés y susrepercusiones sobre la salud.

26 Las definiciones utilizadas por la Organización Internacional del Trabajo y la

Organización Mundial de la Salud caracterizan a lo psicosocial como factores, es decircomo un conjunto de elementos que se encuentran alrededor del trabajador y quepueden desencadenar algún posible daño en su salud. No se discute su origen y seconsidera que los riesgos psicosociales coexisten con los otros en la misma medida ycon el mismo peso. Tampoco se discute el concepto mismo de factor y suele referirse aestos como riesgos o agentes. En este marco, lo psicosocial se asume en tres niveles :como condiciones causales, como procesos que median (el caso del estrés) y también entérminos de las consecuencias (los daños a la salud).

27 Desde el punto de vista institucional constituye sin duda un avance que este abordaje

enfatice hoy en la carga emocional del trabajo, poco considerada en los estudiosclásicos, dado que históricamente se atendió prioritariamente a las cargas físicas ymentales del trabajo desde una perspectiva psicofisiológica, lo que contribuyó aclarificar y comprender problemáticas clásicas como la fatiga y el estrés. Sin embargo,la ausencia de una mirada clínica en el análisis de la carga física y mental, invisibilizó alcuerpo como expresión primera de la subjetividad y con ello la dimensión emocional.

28 En este sentido, la organización del trabajo actual exige con frecuencia -y con mayor

énfasis en el sector servicios- que el trabajador realice un esfuerzo significativodestinado a controlar y modelar sus emociones, para afrontar la actividad misma o paraincidir en el comportamiento de otros. Además, actualmente se enfatiza en que cuandola naturaleza del trabajo implica actuar sobre otros en situación de sufrimiento (trabajode cuidado, por ejemplo) la necesidad de control emocional se incrementa. En la

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

26

Page 28: Laboreal, Volume 15 Nº2

mayoría de los ambientes de trabajo, no se actúa preventivamente creando lascondiciones o los dispositivos que favorezcan que los trabajadores puedan manifestar oexpresar las emociones y procesar cognitivamente la carga emocional ligada a la tarea,por lo que finalmente esta tiende a mantenerse oculta y volverse un componentefuertemente implicado en el sufrimiento en el trabajo y con efectos en la salud física.

29 Desde la perspectiva clínica, Yves Clot opone los riesgos psicosociales a los recursos

psicológicos y sociales que son propios de los trabajadores y que han surgido del oficiocomo instrumentos de trabajo. Esta idea opera como disparador para cuestionar elenfoque de riesgos y proponer una visión del trabajador como un sujetoemocionalmente implicado y por ello activo respecto de los riesgos en el trabajo. Elautor sostiene que los cambios impuestos por la organización del trabajo, las empresasy el estado han complicado y hasta deteriorado el “trabajo de organización” que lostrabajadores tenían el hábito de realizar. En línea con algunos supuestos de lapsicodinámica del trabajo, Clot afirma que la responsabilidad que se debe imputar a losdirigentes actuales no es la de querer modificar las organizaciones cuando lo necesitansino más bien de hacerlo apropiándose del trabajo de organización que realizan losasalariados para lograr trabajar correctamente, dado que los trabajadores cultivan losrecursos psicológicos y sociales de su oficio como instrumentos de trabajo (Clot, 2010).

30 Retomando contribuciones del ergónomo Daniellou, Yves Clot (2010) refiere también a

que suele hablarse de los riesgos psicosociales como si se tratara de una nube tóxica queplanea sobre la empresa o algunos de sus componentes, que afecta a los asalariadosprimero por supuesto a aquellos que por sus características personales son más frágiles.Según este modelo la atmósfera está contaminada y los más sensibles van a tenerproblemas. Las medidas que se pueden tomar al respecto se deducen de la imagen delmodelo : se pueden hacer relevamientos previos de la atmósfera (valorar el entornopsicosocial), se pueden hacer dosajes a los asalariados de esa toxicidad para evaluar elriesgo que corren, se puede montar un sistema de señalización mutua (alertar cuandoun colega comienza a no estar bien o se lo juzga frágil), se puede intentar desintoxicar alos que ya han sido afectados, por ejemplo ofreciéndoles un soporte psicológicofinanciado por la empresa. Por todos los medios lo que se tiende a hacer es que la nubeno gane demasiadas víctimas, sobre todo aquellas cuya fragilidad intrínseca podríallevarlos a la tentativa de suicidio o aquellos efectos que son fuertemente perjudicialespara la organización y para la imagen de la marca.

31 El autor busca poner de relieve que esta visión tóxica deriva del modelo médico

cientificista y de un paradigma en ergonomía ya superado, en el que la observación dela actividad se plasma en la medición para que pueda ser poco refutable y que por susupuesta neutralidad resulte en una señal de alerta para todos los sectores interesadosen la naturaleza e intensidad de los riesgos evaluados. Esta mirada es la que se orienta ala búsqueda de un estándar internacional que nos lleve a un indicador global de riesgosen torno al cual plantear los protocolos. Así, el riesgo psicosocial queda asimilado a unriesgo tóxico y desemboca en una evaluación experta de la intensidad o consecuenciade los peligros, todo esto garantizado por la neutralidad de las mediciones.

32 Como hemos sostenido en otro lugar (Pujol, Gutiérrez, & Barnes ; 2015) en el enfoque de

riesgos la experiencia vivida queda fuera, aun cuando se trata de una prueba tangiblede la salud, lo que implica una contradicción para la mirada clínica. Se buscan oinvestigan de antemano los impactos negativos e incluso la enfermedad, lo que es unaelección. Saben que es más fácil para el que contesta pensar en lo que habría que

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

27

Page 29: Laboreal, Volume 15 Nº2

cambiar que darse cuenta de lo que ha hecho, de lo que ha logrado gracias a los saberesconstruidos y sedimentados en el género profesional. En este sentido, en el marco de laclínica de la actividad es posible comprender que ciertas emociones sean tóxicas, perolas emociones son también socias en la acción de la transformación colectiva de lassituaciones de trabajo, tienen virtud dinamógena en el plano psicológico y sabemos queel afecto es la fuente de la vitalidad psíquica y corporal.

33 En los términos expuestos, esta discusión de la noción de riesgo permite poner en valor

al enfoque clínico como un resquicio para pensar la actividad de trabajo desde unaperspectiva ampliada y las dinámicas de implicación de los sujetos y colectivos en laconquista de la salud como procesos emancipatorios, por oposición a las miradas en laque lo social limita las posibilidades de los sujetos/colectivos o a aquellas que proponenun reduccionismo psicologista.

34 En el marco de los desarrollos expuestos, entendemos que las contribuciones de la

clínica del trabajo, de larga tradición en los países francófonos, se constituyenprogresivamente en una mirada alternativa que enriquece el análisis de las relacionesdel trabajador con la actividad, su inscripción institucional y colectiva y el lugar de lagestión del contexto organizacional y sus riesgos.

5. Contribuciones de la clínica del trabajo en Argentina

35 La perspectiva clínica se inscribe en Argentina en las tradiciones de la psicología social

crítica y promueve un enfoque centrado en la subjetividad como producción social. Estaperspectiva articula contribuciones de sistemas teóricos en sintonía : la psicosociologíay la sociología clínica, la psicodinámica del trabajo, la clínica de la actividad y laergología. Desde estos referenciales teóricos, la temática salud-trabajo es abordadaconsiderando su inscripción sociohistórica, incluyendo tanto el sufrimiento y losimpactos negativos del trabajo en la salud como las posibilidades de afrontamiento deque disponen los sujetos y las potencialidades terapéuticas de las actividades detrabajo.

36 En este marco, los estudios locales colocan en primer plano algunos supuestos

relevantes : la concepción clínica de la salud articulada a los procesos de subjetivación y auna mirada crítica del trabajo contemporáneo y la noción de actividad como soporte de la

movilización subjetiva y su potencial transformador. En este marco nos interesarecuperar aquí algunos conceptos presentes en esta línea de investigaciones que seplantean como un resquicio para pensar la problemática de la salud.

37 En el marco del análisis de problemáticas diversas como las condiciones en que se

despliega el trabajo de cuidado y las situaciones de violencia que atraviesa el personalde salud del sector público (Wlosko & Ros, 2009 ; Wlosko & Ros, 2012 ; Borgeaud-Garciandía, 2016) algunos estudios locales de inscripción en la psicología social crítica yen sociología del trabajo, recuperan las consideraciones sobre la salud planteadas por lapsicodinámica del trabajo y ponen en discusión la lógica de disciplinamiento del trabajocontemporáneo poniendo de relieve las marcas de la dominación, sus efectos desufrimiento y también las capacidades colectivas de afrontamiento, enfatizando en laproblemática de la precarización, la división social del trabajo y los atravesamientos degénero.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

28

Page 30: Laboreal, Volume 15 Nº2

38 Estas aproximaciones clínicas de la relación salud y trabajo, actualizan la mirada sobre

las patologías asociadas al trabajo contemporáneo y a la depreciación de la calidad delempleo. En ese sentido, la escuela de la psicodinámica del trabajo se propone unalectura crítica de las situaciones propias del trabajo posfordista particularmenterecuperadas en los estudios locales que resignifican los aportes socio-históricos(Wlosko, 2015 ; Wlosko, 2017 ; Pujol, 2013 ; Pujol & Gutiérrez, 2015) y que resaltan lageneralización del miedo en los ámbitos organizacionales al afirmar que el miedo a laprecarización constituye un verdadero sistema de management (Pujol, 2016)

39 Esta generalización del miedo constituye uno de los signos de época que Dejours (2006)

resignifica en términos de patologías que caracterizan las nuevas formas de organizarel trabajo : las patologías de sobrecarga (física, cognitiva y emocional) y la servidumbrevoluntaria que fuerza a los sujetos a evidenciar cuan adaptados e integrados seencuentran a la organización y cuan eficaz resulta su desempeño a la hora de darrespuesta a todo lo que le es requerido. En este marco se refuerza la lógica instrumentaly la organización aprovecha la vulnerabilidad del trabajador para ganar aún más enproductividad, siempre apoyándose en los preceptos del buen desempeño. Finalmente,también la violencia constituye un signo de época que al igual que en otros ámbitos dela vida social no remite solo al golpe físico sino al acoso moral, al maltrato psicológico ya la negación del otro (los pares, los colaboradores, los superiores) como interlocutorsignificativo.

40 Nuestros estudios sobre trabajo docente también resignifican supuestos sobre la salud

alejados de las ideas tradicionalmente acuñadas por las instituciones internacionales ylos enfoques de tradición local, que remiten a la noción de estado de salud, equilibrio oadaptación y enfatizan el papel de la actividad -social e históricamente situada- comocontexto de desarrollo y el rol protagónico de los sujetos en la transformación de laactividad como motor en la conquista de la salud (Gutiérrez & Dall’ Asta, 2016 ;Gutiérrez, 2018). Se rompe así la distinción radical entre el estado de salud y el deenfermedad y se enfatiza en el espacio que entre ambas instancias posibilita la luchacontra la enfermedad, desde la cual es posible hablar de momentos de cierto equilibrio,pero estos –aun siendo satisfactorios o aceptables- siempre serán precarios y nuncaideales. Por fuera del ideal ubica entonces la noción de normalidad, refiriendo ella sí aun estado real.

41 Esta normalidad en línea con las contribuciones de Dejours excluye “la utopía de un

trabajo sin sufrimiento” (Dejours, 1998b, p. 149) y remite a un estado de normalidadsufriente, que considera la normopatía derivada de los niveles de disciplinamiento ycodificación que adquiere el trabajo contemporáneo (Wlosko, 2015 ; Pujol, 2018). Bajo elmismo supuesto y considerando que el trabajo no se produce en soledad se destaca ladimensión social y colectiva del trabajo, que se pone en línea con la dimensión social dela salud contenida en la psicodinámica del trabajo bajo el supuesto fundante de que nohay salud individual sino que esta se expresa a partir de la calidad del compromiso delsujeto en la relación con otros, en tanto mediadores que además enseñan o acompañan,por lo que la salud remite a una dinámica intersubjetiva.

42 En la medida en que la salud responde a una dinámica intersubjetiva, el trabajo como

actividad tiene más de estructurante que de alienante. Los colectivos que se establecenen el trabajo serán entonces un territorio privilegiado para la construcción y defensa dela salud. En el campo del trabajo, la construcción de la subjetividad está ligada alreconocimiento y es por ello que la naturaleza, la calidad y la dinámica de las relaciones

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

29

Page 31: Laboreal, Volume 15 Nº2

en los colectivos de trabajo tienen una responsabilidad considerable con respecto a losefectos del trabajo/empleo sobre la salud.

43 Las contribuciones de la psicosociología del trabajo (Lhuilier, 2006) y de la clínica de la

actividad (Clot, 2008) ocupan un lugar clave para revalorizar la importancia queadquieren los propios sujetos del trabajo como protagonistas de las transformaciones ydel trabajo como actividad, y la actividad humana como fuente de aprendizaje ydesarrollo personal (Pujol, 2015, 2018).

44 Esta línea propone la distinción entre la tarea teórica imaginada por los organizadores

del trabajo como fotografía congelada de lo que sucede en la situación de trabajo y laactividad real que los trabajadores emprenden, que se ofrece como resquicio para queel sujeto opere como protagonista de su propio desarrollo. Sin ese espacio parainterpretar la prescripción, para (re)crear, la alienación es el único destino posible.

45 La actividad de trabajo está sustentada en un proyecto de transformación de lo real y de

construcción de significados personales y sociales que jerarquiza el papel de loscolectivos de trabajadores : Lo real implica un horizonte que va más allá de la realidad,entendida como estado de las cosas y se hace presente en particular en su dimensión defracaso, a la vez que deriva en “un compromiso que contiene una dimensión deimaginación, de innovación, de invención” (Dejours, 1998. p. 43). En el mismo sentido seorienta Clot, alentando la exploración de las actividades excluidas, rechazadas oimpedidas, incluso las contra-actividades, afirmando que “lo real de la actividad esincluso lo que no se hace, lo que no se puede hacer, lo que se intenta hacer sin lograrlo”(Clot, 2008, p. 89, traducción libre).

46 En tal sentido, Clot (2010) señala que restringir la acción a la estricta conservación del

ser es un obstáculo para la salud y que la salud remite más claramente al desarrollo delpoder de acción sobre el entorno y sobre sí mismo, mientras que las defensas que lostrabajadores construyen para salvar su normalidad los rebajan, porque la normalidadno es más que la adopción de una norma única, mientras que la salud responde a lacapacidad de producir nuevas normas, incluso en contra de la norma vigente.

47 El proceso de salud-enfermedad puede explicarse entonces de manera dinámica, como

una tensión sostenida entre trabajo prescripto y trabajo real que el sujeto enfrenta através del despliegue de estrategias colectivas de defensa, pero también de modocreativo a través de procesos de movilización subjetiva, de la puesta en juego de lainteligencia práctica.

48 La psicodinámica del trabajo plantea que en los procesos de movilización subjetiva se

produce una inversión del cuerpo cognitivo-afectivo y la acción sobre lo real, con el finde obtener logro y placer en la realización del trabajo. A su vez, del mismo modo quecada ámbito de actividad da lugar a particulares defensas ante el sufrimiento, tambiénson específicos los anclajes en los que se inscriben las vivencias de placer.

49 En la reconstrucción de los procesos de subjetivación, entendemos importante

identificar las características que adquiere la inteligencia práctica en los procesosconcretos de trabajo, a fin de comprender sobre la base de qué apuntalamientos o apartir de qué recursos personales es posible pensar en la acción transformadora delsujeto sobre el malestar en ese ámbito concreto de trabajo. Asumimos el supuesto deque la movilización de la inteligencia práctica constituye una instancia generadora deplacer porque su puesta en juego en una situación solo es posible actualizando la propiatrayectoria de aprendizajes de manera creativa, y porque ese ajuste creativo también

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

30

Page 32: Laboreal, Volume 15 Nº2

responde a lo compartido con el colectivo, en el sentido del género profesional (Clot,2008) o en el sentido de acción tradicional eficaz (Dejours, 1998).

50 En este sentido, las conceptualizaciones más recientes de la psicodinámica del trabajo

suponen al trabajador emocionalmente necesitado de operar en ruptura con relación altrabajo prescripto, y la clínica de la actividad lo concibe además cognitivamente dotadode recursos para hacerlo. En esta instancia el trabajador tiene la posibilidad dereflexionar sobre la acción y emprender una reconstrucción dinámica de la propiatrayectoria vital identificando esos acontecimientos que han movilizado su subjetividadEn el espacio de tensión entre la prescripción y la actividad se inscribirán entonces losaspectos capaces de generar salud, por la vía de posibilitar la movilización subjetiva yuna dinámica que permita gestionar colectivamente el malestar.

51 Aunque la presencia de las contribuciones de la ergología no encuentra expresión

todavía en las investigaciones locales, sus principales supuestos constituyen una víaregia para repensar distintas dimensiones de la intervención en las situaciones detrabajo. Para la ergología, la orientación clínica se construye a partir del deseo deconocer e intervenir en una situación de trabajo, reconociendo que los saberes puestosen juego por profesionales y trabajadores son de igual valor, diferentes pero nojerarquizados (Schwartz & Durrive, 2009). Se trata de una construcción cooperativa, apartir de la escucha implicada respecto de lo que el trabajo impone a los trabajadores,de los conflictos psíquicos y sociales implicados, de las luchas del colectivo y de losdesafíos que los trabajadores afrontan para mejorar sus vidas.

52 En este marco, se hace preciso capturar las singularidades de las situaciones desde la

narrativa de los protagonistas considerando que se trata de un abordaje antropológicopolítico y ético que entiende la actividad de trabajo como la imbricación del sujeto enun debate de normas, en el uso constante de sí, en una dramática que se constituye y sedesarrolla en el cuerpo, en permanentes renormalizaciones (Schwartz & Durrive, 2009)que a su vez exigen de astucia y creatividad.

53 En la comprensión de los procesos de innovación y su vinculación con la salud, la

clínica de la actividad referencia a la importancia de la crisis de los saberes de oficio, delos saberes técnicos. En esta línea, se observa actualmente que existen seriasdificultades en los grupos para conversar sobre los saberes acerca de la actividad y queel silencio sobre el propio quehacer en términos técnicos, el opacamiento de laconstrucción de los procesos de saber articulados o la pérdida de la cultura deconversaciones acerca del oficio, es otro de los elementos que afectan actualmente lasalud : cuando el saber deja de estar en el centro, el sujeto también queda afectado ensu salud de manera significativa.

54 La depreciación de los saberes técnicos acarrea una significativa pérdida de

consistencia, de densidad de la palabra. La referencia a saber y conocer apela aquí aldominio y la reflexión sobre la acción, y también a la identificación, reconocimiento yapropiación de saberes ya producidos e incorporados a la cultura. Paradojalmente, enuna economía del conocimiento, cada vez tenemos menos tiempo, menos espacio ymenos grupos con quienes asumir la empresa de colectivizar saberes.

55 El potencial transformador de la realidad que reside en la actividad queda implicado en

las deliberaciones sobre la calidad del trabajo : los trabajadores disponen de losrecursos psicológicos y sociales para realizar un trabajo de calidad y discutir loscriterios con los que es juzgado, por lo que en verdad preocupa menos a la clínica eltrabajador expuesto a riesgos con su supuesta pasividad que la búsqueda de

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

31

Page 33: Laboreal, Volume 15 Nº2

capacidades que ignoramos, en tanto la clínica se trata menos de promover el bien-estar que de redescubrir con el trabajador el placer del bien-hacer (Clot & Gollac, 2014),en tanto allí se encuentra uno de los resortes principales de la salud en el trabajo.

56 La clínica de la actividad singulariza en el campo del trabajo como la regeneración de

un profesionalismo deliberado (Clot & Gollac, 2014) que propicia la salud. Al respecto,se remarca que en el trabajo no es suficiente con ser reconocido por alguien sinoreconocerse además en una historia común, un producto, una técnica, un lenguaje, unamarca, un oficio, una trayectoria, sin lo cual resulta difícil ser alguien (Clot & Gollac,2014 ; Lhuilier, 2006).

57 En su propuesta de una psicología de los entornos de trabajo y vida, la clínica de la

actividad resignifica el papel de la eficacia y el sentido en el desarrollo de la actividadde trabajo : trabajar es “lograr hacer lo que se quería hacer, ahorrando esfuerzos, perotambién es juzgar lo que se hace en función de lo que se hubiera podido o debido hacer”(Clot, 2008, p. 89, traducción libre). Así, el sentido de la acción es el valor que el sujetoinstaura entre dicha acción y sus otras actividades posibles y al hacerlo regula laactividad a través de múltiples recreaciones de los objetivos. En este marco, lascontroversias sobre el trabajo bien hecho resultan algo normal en la vida profesional ysu negación, por el contrario, “intoxica las relaciones sociales y las desvitaliza” (Clot &Gollac, 2014, p. 133, traducción libre). La clínica tiene por objetivo eliminar estainhibición dialógica por la vía de retomar la creación profesional colectiva.

6. Desafíos del desarrollo de una clínica del trabajo enArgentina

58 El propósito central de esta revisión es poner en valor la capacidad heurística de las

clínicas del trabajo como recursos potentes para tematizar las relaciones salud-trabajoen Argentina e intervenir sobre dimensiones no exploradas desde las perspectivasactualmente más utilizadas, en la medida en que se trata de una mirada crítica yemancipatoria que pone en discusión la hegemonía de los técnicos y los gestores en ladefinición y abordaje de la salud en el trabajo.

59 Esta posición supone una discusión ideológica, ética y política, y es en este marco en el

que se plantean algunos de sus desafíos : por una parte, en lo referido a la producciónde conocimientos, el desafío de la comprensión del trabajo contemporáneo, quécaracterísticas asume, qué implicancias tiene para la salud, qué significa para lossujetos, desde una perspectiva comprensiva y crítica ; recuperando el carácter socio-histórico de los procesos de subjetivación.

60 En el campo de las intervenciones profesionales, entendemos necesaria una discusión

sostenida acerca del rol de los profesionales en el abordaje del sufrimiento y el malestary de la importancia de la co-construcción con los colectivos de trabajadores de saberestransformadores. En tal sentido, entendemos que la investigación-acción debeproyectarse en el plano de la organización del trabajo como instancia de configuraciónde colectivos implicados, con capacidad de agencia respecto de la conquista de la salud,como vía privilegiada para la construcción de entornos de trabajo que expandan lasposibilidades de acción de los trabajadores y posibiliten su desarrollo.

61 Finalmente, en el ámbito académico y de la formación profesional, la perspectiva clínica

abre a una propuesta de formación reflexiva, en territorio y en diálogo con los actores

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

32

Page 34: Laboreal, Volume 15 Nº2

sociales, las instituciones y los pares (campo intelectual, empresarios, gobierno,sindicatos y trabajadores). Esta formación se halla necesariamente situada a partir de laagenda de los trabajadores, lo que contribuye a identificar las dimensionesidiosincráticas de una clínica del trabajo para nuestra región, de un abordaje queidentifique cada vez con más claridad los modos en que el trabajo contemporáneo seexpresa a nivel local y sus impactos en la salud ; una clínica que disponga decapacidades para interpretar y poner en discusión los encargos sociales a la disciplina ylas prácticas reproductivistas, e intervenir en un sentido transformador.

BIBLIOGRAFÍA

Borgeaud-Garciandía, N. (2016). Intimidad, sexualidad, demencias. Estrategias afectivas y

apropiación del trabajo de cuidado en contextos desestabilizantes. Papeles del CEIC, 2016/1(148),

CEIC (Centro de Estudios sobre la Identidad Colectiva). http://dx.doi.org/10.1387/pceic.15229

Cebey, M, & Ferrari, L. (2010). Funciones, expectativas y riesgos psicosociales del trabajo

contemporáneo. Anuario de investigaciones, 17, 91-98. Recuperado en 02 de octubre de 2019, de

http://www.scielo.org.ar/scielo.php?

script=sci_arttext&pid=S1851-16862010000100009&lng=es&tlng=es.

Clot, Y. (2008). Travail et pouvoir d'agir. Paris : PUF.

Clot, Y. (2010). Travail au cœur : pour en finir avec les risques psychosociaux. Paris : La Découverte.

Clot, Y., & Gollac, M. (2014). Le travail : peut-il devenir supportable ? Paris : Armand Collin.

Dejours, C. (1998). El factor humano. Buenos Aires : Piette/Conicet.

Dejours, C. (2006). La banalización de la injusticia social. Buenos Aires : Topia.

Dejours, C. (1998b). Cómo formular una problemática de la salud en ergonomía y medicina del

trabajo. In D. Dessors & M. Guiho-Bailly (Comps), Organización del trabajo y salud (pp. 139-161).

Buenos Aires : PIETTE/CONICET.

De la Garza-Toledo, E. (2009). Hacia un concepto ampliado de trabajo. In J. Neffa, E. De la Garza-

Toledo & L. Muñiz-Terra (Comps.), Trabajo, empleo, calificaciones profesionales, relaciones laborales e

identidades laborales (pp. 111-140). Buenos Aires : Grupos de Trabajo CLACSO.

Ferrari, L., Filippi, G., & Trotta, M.F. (2011). ¿Moderadores o condicionantes estructurales del

campo organizacional de emergencia del maltrato ? XVIII Anuario de Investigaciones. Volumen

XVIII Tomo I. 117-123. Disponible en https://www.redalyc.org/pdf/3691/369139947022.pdf

Ferrari, L., Filippi, G., Novo, P., Sicardi, E., & Trotta, M. (2013). La intervención frente a la

violencia laboral desde la psicología del trabajo. Enfoques, perspectivas y experiencias. Revista E+E

Estudios de Extensión en Humanidades, 3(3). Disponible en https://revistas.unc.edu.ar/index.php/

EEH/issue/view/469

Gutiérrez, I. (2018). Contribuciones de la psicodinámica del trabajo para el abordaje de la salud y

seguridad en el trabajo : alcances y limitaciones. In O. Orozco-García, N. Del Castillo-Marín & J.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

33

Page 35: Laboreal, Volume 15 Nº2

Román-Hernández (Eds.), Seguridad integral en el trabajo : un enfoque psicosocial (pp. 91-110). Cali,

Colombia : Editorial Bonaventuriana.

Gutiérrez, I., & Dall’Asta C. (2016). La actividad del docente de educación superior desde una

perspectiva clínica. Identidad y salud. In J. Navarra. & F. Barnes (Comps.), Cuadernos TAS : Trabajo,

Actividad y Subjetividad. Escritos entre pares. Córdoba : Universidad Nacional de Córdoba.

Henry, M., & Neffa, J. (2019). Riscos psicossociais no trabalho : diferentes visões para seu estudo

no contexto argentino. Trabalho (En) Cena, 2019, V4(Especial), 01-06. DOI :

10.20873/2526-1487V4NEspecialP01

Kohen, J. (1997). Nuevas relaciones laborales y salud de los trabajadores en Argentina : desafíos y

perspectivas para la investigación. Cadernos de Saúde Pública, 13 (Suppl. 2), 47-57. https://

dx.doi.org/10.1590/S0102-311X1997000600005

Lhuilier, D. (2006). Cliniques du travail. Paris : Editions Érès. https://doi.org/10.3917/eres.lhuil.

2007.01

Neffa, J. (1995). Las condiciones y medio ambiente de trabajo (CyMAT). Presentación de la concepción

dominante y de una visión alternativa. Buenos Aires : Serie CyMAT, PIETTE-CONICET.

Neffa, J. (2015). Los riesgos psicosociales en el trabajo : contribución a su estudio. Buenos Aires : CEIL-

CONICET.

Neffa, J., & Del Bono, A. (2016). Una visión de conjunto sobre los estudios del trabajo en Argentina

(1990-2014). In E. De la Garza-Toledo (Ed.), Los estudios laborales en América Latina. Orígenes,

desarrollos y perspectivas. (pp. 36-75). México : Anthropos-UAM.

Paugam, S. (2006). Les fragmentations de la société salariale. Un autre regard sur la structure

sociale. Sociologia : Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 16, 161-176. https://

www.redalyc.org/articulo.oa ?id =4265/426539975010

Pujol, A. (2013). La qualité du travail au secteur TI en Argentine. Les tensions entre les

trajectoires singulières et collectives. Nouvelle Revue de Psychosociologie, (15), 131-144. https://

doi.org/10.3917/nrp.015.0131

Pujol, A. (2015). Travail créatif et approche clinique. Education Permanente (dossier Travail,

créativité, subjectivité), (202), 53-64. Disponible en : http://www.education-permanente.fr/public/

articles/articles.php?id_revue=1733&id_article=2410#resume2410

Pujol, A. (2016). La violencia laboral en la universidad. Desafíos para la política gremial. Revista

Trabalho (En)Cena, 1(1), 99-116. Disponible en : https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/

encena/article/view/2270

Pujol, A. (2018). La organización del trabajo como categoría estructurante de la salud y seguridad

en el trabajo. In O. Orozco-García, N. Del Castillo-Marín & J. Román-Hernández (Comps.),

Seguridad integral en el trabajo. Un enfoque psicosocial (pp. 57-76). Cali : Editorial Bonaventuriana.

Pujol, A., & Gutiérrez, I. (2015). Violencia Laboral : Nuevos escenarios institucionales y

encrucijadas del abordaje clínico. In L. Godoy & E. Ansoleaga, E. (Comps.) Un campo en tensión o

tensión entre campos. Psicología de las organizaciones y del trabajo en Iberoamérica (pp. 361-374).

Santiago de Chile : Ril editores.

Pujol, A., Gutiérrez, I., & Barnes, F. (2015). Cuidar y cuidarse en el trabajo. Contribuciones desde

una perspectiva clínica. In A. Pujol & I. Gutiérrez (Comps.), Trabajo y subjetividad. Indagaciones

clínicas (pp. 117-132). Doi : http://hdl.handle.net/11086/2323

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

34

Page 36: Laboreal, Volume 15 Nº2

Schwartz, Y., & Durrive, L. (2009). L´activité en dialogues. Entretiens sur l´activité humaine (II).

Toulouse : Octarès Editions.

Wlosko, M. (2015). Clínica de los procesos subjetivos en relación al trabajo : el abordaje de la

Psicodinámica del Trabajo. VERTEX Revista Argentina de Psiquiatría, 16, 417-426. Disponible en

http://www.polemos.com.ar/docs/vertex/vertex124.pdf#page=18

Wlosko, M. (2017). Métodos de organización del trabajo, racionalidad neoliberal y Salud Mental.

Revista Salud Mental y Comunidad, 4(4), 95-99

Wlosko, M., & Ros, C. (2009). Violencia laboral : hipótesis y niveles explicativos a la luz del caso

del personal de enfermería del sector público. In S. Slapak (Presidencia), I Congreso Internacional de

Investigación y Práctica Profesional en Psicología, XVI Jornadas de Investigación, Quinto Encuentro de

Investigadores en Psicología del MERCOSUR. Conferencia llevada a cabo en Facultad de Psicología,

Buenos Aires. Disponible en : https://www.aacademica.org/000-020/306

Wlosko, M., & Ros, C. (2012). Violencia Laboral en el sector salud : Abordajes conceptuales y

resultados de investigación en personal de enfermería en la Argentina. In E. Ansoleaga-Moreno,

O. Artaza-Barrios & J. Suárez-Jiménez (Comps.), Personas Cuidando Personas : Ser Humano y Trabajo

en salud (pp. 211-230). Santiago : OPS/OMS.

RESÚMENES

El artículo reconstruye brevemente las perspectivas de abordaje de las relaciones salud y trabajo

que contribuyen a la comprensión de la problemática de la salud laboral en Argentina. En el

desarrollo se consideran de modo estilizado sus principales supuestos y orientaciones ;

posteriormente considera aportes de la clínica del trabajo que discuten algunos principios que

orientan estas intervenciones, sus alcances y desafíos. El análisis se posiciona en la clínica del

trabajo –que asume en Argentina carácter emergente- ; destaca los aportes que la diferencian de

los enfoques predominantemente en uso tanto en el plano de las proposiciones de base como en

sus derivaciones metodológicas. Como cierre, se esbozan algunos desafíos de la clínica del trabajo

en nuestro campo disciplinar que, de ser asumidos, permitirán enriquecer los debates y prácticas

actuales de la psicología en torno a las tensiones que se expresan en el plano de la salud en los

actuales escenarios laborales.

O artigo reconstrói brevemente as perspetivas de abordagem das relações entre saúde e trabalho

que contribuem para a compreensão da problemática da saúde ocupacional na Argentina. As suas

principais suposições e orientações são apresentadas de forma estilizada, para posteriormente

considerar contribuições da clínica de trabalho que discutem alguns princípios que norteiam

essas intervenções, seus alcances e desafios.

A análise está posicionada na clínica do trabalho - que assume um caráter emergente na

Argentina - e destaca as contribuições que a diferenciam das abordagens predominantemente em

uso, tanto em termos das propostas básicas quanto em suas derivações metodológicas.

Como conclusão, são delineados alguns desafios da clínica do trabalho no nosso campo disciplinar

que, se assumidos, permitirão enriquecer os debates e práticas atuais da psicologia em torno das

tensões que se expressam no plano da saúde nos cenários atuais de trabalho.

L'article décrit brièvement les approches de la santé au travail qui contribuent à la

compréhension du problème en Argentine. Leurs principales hypothèses et orientations sont

présentées de manière stylisée pour considérer les contributions de la clinique du travail qui

mettent en discussion les principes guidant ces interventions. L'analyse se situe dans la clinique

du travail - qui revêt un caractère émergent en Argentine - et met en évidence les contributions

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

35

Page 37: Laboreal, Volume 15 Nº2

qui le différencient des approches plus utilisées, à la fois en termes de propositions de base et de

leurs dérivées méthodologiques. En guise de conclusion, certains défis de la clinique du travail

dans notre domaine disciplinaire sont décrits que s’ils sont assumés, permettront d’enrichir les

débats et les pratiques psychologiques actuelles autour des tensions exprimées sur le plan de la

santé dans les scénarios de travail actuels.

The paper briefly reconstructs the perspectives of approach to the relationship between health

and work that contribute to understanding the problem of occupational health in Argentina. In

the discussion, their main assumptions and orientations are considered in a stylized way ;

subsequently, contributions from the work clinic are considered, discussing some principles that

guide these interventions, their scope and challenges. The analysis is positioned in the work

clinic -which is just emergent in Argentina- highlighting the contributions that differentiate it

from predominant approaches, both at the basic proposals and at its methodological derivations.

As a closing, some challenges of the work clinic in our disciplinary field are outlined ; if assumed,

they will enrich the debates and current practices of psychology about the tensions that are

finding expression in the health area at current work scenarios.

ÍNDICE

Keywords: health, work, work clinic, Argentina

Palabras claves: salud, trabajo, clínica del trabajo, Argentina

Mots-clés: santé, travail, clinique du travail, Argentine

Palavras-chave: saúde, trabalho, clínica do trabalho, Argentina

AUTORES

ANDREA PUJOL

Facultad de Psicología de la Universidad Nacional de Córdoba, Argentina – Deán Funes 1963,

Dpto. 14, Córdoba, Argentina – [email protected]

MARÍA INÉS GUTIÉRREZ

Facultad de Psicología de la Universidad Nacional de Córdoba, Argentina – Baden Powell 2943,

Córdoba, Argentina – [email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

36

Page 38: Laboreal, Volume 15 Nº2

Clínicas del trabajo en Chile : tresexperiencias de intervención en unasociedad dañada por la gestión‘managerial’Clínicas do trabalho no Chile : três experiências de intervenção em uma

sociedade danificada por uma gestão ‘managerial’

Cliniques de travail au Chili : trois expériences d'intervention dans une société

endommagée par la gestion ‘managériale’

Clinics of work in Chile: three experiences of intervention in a society damaged

by ‘managerial’ management

Patricia Guerrero Morales, Manuel Gárate Chateu, Elisa Ansoleaga Imas, J.Marcelo Balboa Gallardo, José Tomas Saffirio Mezzano, Alejandra NuñezCarbullancautor y M. Valentina Urrutia Fuenzalida

NOTA DEL EDITOR

Manuscrito recibido en septiembre/2019Aceptado tras peritaje noviembre/2019

1. Presentación

No era depresión, era el capitalismo. Chile Despertó.[1]

1 Esta frase la encontramos en un grafiti en la puerta de una farmacia en el contexto de

una de las manifestaciones más grandes en la historia chilena del 2019. Cerca de lasinstituciones de salud aparecen alusiones al vínculo que existe entre la salud mental, el

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

37

Page 39: Laboreal, Volume 15 Nº2

malestar laboral de los ciudadanos chilenos y la organización del trabajo managerial [2] propias del neoliberalismo instalado a fuerza en nuestro país.

2 Si bien Chile es pionero, el mundo entero ha virado en el mismo sentido en las últimas

décadas, impactando la organización del trabajo, con una serie de consecuencias en lasubjetividad y en la vida cotidiana. Diversas investigaciones se han concentrado encomprender los alcances de estas transformaciones, tanto a nivel social como subjetivo(Bauman, 2013 ; Boltanski & Chiapello 1999 ; de Gaulejac, 2005 ; de Gaulejac & Hanique,2014 ; Kocyba & Renault, 2007 ; Rosa, 2010 ; Voswinkel, Gernet & Renault, 2007). Losautores citados hacen referencia a un “antes” y un “después” a la transformacióndonde el primer estado tiene cierta nostalgia. Ese “antes” es la industrialización, unasocialdemocracia que logró tener pleno empleo, una integración de los trabajadoreslocales y migrantes (generalmente pertenecientes a las colonias), una organizaciónsindical fuerte. En síntesis, un orden social y una abundancia post guerras mundiales y,en algunos países, momentos de igualdad y de redistribución de las riquezas.

3 La socialdemocracia con pleno empleo nunca sucedió en Chile, ni con el modelo

anterior ni con la llegada del neoliberalismo, por lo tanto, no tenemos una nostalgia deun mundo diferente, de un orden social un poco más justo. La experiencia del gobiernode la Unidad Popular (1970-1973), boicoteado y perseguido, deja un sentimientodividido, para algunos la tristeza “de lo que no fue” y para otros un alivio “de lo quemenos mal no fue”. Pese a lo anterior, la caracterización del modelo que proponen losautores extranjeros recién mencionados nos ayuda a pensar la realidad chilenaentendiendo que esto viene sucediendo desde hace casi 40 años.

4 Este artículo reflexiona sobre la importancia de pensar una clínica del trabajo que tome

en cuenta las características del capitalismo actual y de la organización managerial,presente en la mayoría de las empresas, servicios públicos y privados donde trabaja un60 % de la fuerza laboral chilena. Dejamos afuera los otros trabajadores independientesprecarizados (llamados “emprendedores”) o trabajadores que participan deorganizaciones pequeñas, rurales o urbanas, que se caracterizan por artesanado,precarización y bajas remuneración.

5 Este artículo caracterizará este escenario chileno y describirá brevemente tres

experiencias de intervención en clínicas del trabajo [3], realizadas en los últimos añosen servicios públicos (escuelas, hospitales y servicio público) donde la administraciónmanagerial está totalmente instalada. Interesa reflexionar sobre la posibilidad quetienen, en este escenario, las clínicas del trabajo como una forma de intervención quepermite a los sujetos pensar como un continuo los procesos individuales,organizacionales y sociales.

6 La gestión en este tipo de instituciones se caracteriza por un modelo, supuestamente

“flexible”, que aparentemente ofrece más libertad y mejores condiciones laborales. Sinembargo, en la práctica, esta flexibilidad se ha traducido en un exacerbadoindividualismo y en un mayor nivel de exigencia individual (Bauman, 2013 ; deGaulejac, 2011 ; Honneth, 2006) y menor espacio para el trabajo cooperativo y paraaprender de los pares. Los trabajadores se ven enfrentados con nuevas formas deprecarización laboral (Offe, 1997 ; Zabala, Guerrero & Besoain, 2017) que afectan sunivel de seguridad, estabilidad subjetiva (laboral, familiar y personal) y la construcciónidentitaria que se genera dentro del trabajo (Zabala, Guerrero & Besoain, 2017).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

38

Page 40: Laboreal, Volume 15 Nº2

7 Autores latinoamericanos y chilenos señalan que la organización del trabajo, en un

contexto neoliberal, está fuertemente influenciada, en primer lugar, por una fuertedisminución en el control de la economía por parte del Estado y, en segundo lugar, porel protagonismo y financiamiento de sociedades anónimas donde no existe un solo“patrón”, o líder. Esto, en países subdesarrollados como los nuestros, ha significadoliberalización y precarización pues se ubican de forma antagónica el fortalecimiento delos factores macroeconómicos y la mejora de las condiciones de trabajo de losempleados (De la Garza Toledo & Neffa, 2010 ; Ramos 2009 ; Stecher, 2015).

8 Respecto a lo anterior, en el contexto chileno podemos ver una serie de investigaciones

que muestran, en distintas áreas productivas, impactos similares en la identidad,subjetividad y salud mental de los trabajadores, todas ellas agudizadas por salariosextremadamente bajos en relación con el costo de vida en el país (Ansoleaga, Dávila,Jara & Lucero, 2014 ; Sisto, 2012 ; Stecher & Godoy, 2014 ; entre otros).

2. Neoliberalismo en Chile : la instalación de laorganización “managerial” del trabajo

9 La aceleración, la competencia y la organización managerial llegaron a Chile antes que a

otros lugares del mundo. Nuestro país se ha enfrentado a casi 40 años deneoliberalismo, y mientras se escribe este capítulo nos enfrentamos a una gran protestasocial que, por primera vez, lo critica transversal y masivamente, incluyendo demandasde género, educación, pensiones y de la racionalidad instrumental que dañan nuestroecosistema. La gran movilización social del 2019 propone como forma de lucha, ademásde la protesta masiva en las calles, salir al espacio público a través de reunionescolectivas en las plazas públicas llamadas “cabildos” en que se discute sobre lascondiciones sociales, políticas y personales del país. Estas asambleas tienen como fococonducir el malestar, sistematizarlo y generar propuestas de cambio, donde la másimportante es el cambio a la Constitución y la necesidad de una AsambleaConstituyente.

10 En esas reuniones y en las investigaciones (Araujo, 2016), no existe en la población

chilena nostalgia por un período anterior : nunca hubo pleno empleo, total desarrolloindustrial ni experiencias de colonialismo que dejaran dinero en el país. En los años 60’y 70’ algo se empezaba a formar a partir de la nacionalización de las empresas fundadaspor los colonizadores del siglo XX, pero ante las demandas de justicia y equidad, estosúltimos se coludieron con la oligarquía y los militares para hacer un Golpe de Estadoque instaló a la fuerza, no solo un sistema autoritario de gobierno, sino además unmodo de vida y trabajo que se constituyó bajo un sistema managerial de organización.

11 La llegada del neoliberalismo comienza a mediados de la década de los 70’, junto con el

advenimiento de la dictadura cívico-militar liderada por Augusto Pinochet. En esteperíodo se pone en marcha un modelo económico de orientación exportadora tras lallegada e influjo de economistas formados en la Escuela de Chicago y toda su batería deorganización funcionalista del trabajo defendida por Milton Friedman, conocidos comolos “Chicago Boys” (Gárate, 2012). A partir de aquel momento se pone en marcha unnuevo modelo económico que deja su control en manos del mercado, privatizándosegran parte de los servicios e instituciones, dentro de ellas la salud, las pensiones y laeducación (dando lugar a escuelas privadas subvencionadas). Sorprendentemente, solo

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

39

Page 41: Laboreal, Volume 15 Nº2

permanecieron en manos del Estado aquellas instituciones de salud y seguridad socialde las Fuerzas Armadas, a quienes se les protegió de las inseguridades e incertidumbrespropias de los regímenes de capitalización individual, situación que se mantiene en laactualidad.

12 Junto con la entrada masiva de los privados a la economía, las relaciones laborales

fueron trastocadas de manera radical. El trabajo, tanto en el sector público comoprivado, se organizó de un modo managerial y empresarial, sometiendo a lostrabajadores a una lógica de competencia con sus pares respecto a la productividad. Lafecha simbólica e histórica de inicio es el llamado “Plan Laboral” de 1978, encargado alministro del trabajo de la época. José Piñera, tuvo como objetivo principal debilitar lasorganizaciones obreras y sindicales que llegaron a tener gran fuerza durante elgobierno de Salvador Allende. El plan contaba con cuatro ideas principales : (1) el fin dela negociación colectiva por ramas o rubros, (2) la restricción del derecho a huelga conposibilidad de reemplazo de trabajadores, (3) la libertad sindical como forma degenerar sindicatos paralelos o bien prohibirlos directamente, y (4) la despolitización delas organizaciones de trabajadores.

13 A lo anterior, debe sumarse el proceso de privatización de las grandes empresas del

Estado que habían sido creadas por instituciones estatales desde la década de 1940(ENDESA de electricidad, Lan Chile aeronáutica, ENTEL telecomunicaciones, etc.). Estasempresas, aparte de emplear a miles de personas, habían constituido toda una culturadel trabajo basada en la acumulación de beneficios, mutualización de riesgos yrelaciones laborales horizontales. A ojos de los economistas de la dictadura se tratabade un tipo de empleo ineficiente, de baja productividad, plagado de privilegios yregalías, que fomentaba la politización de los trabajadores. Es así como se impone lanueva idea de la flexibilidad laboral, que, en el papel, aparenta ser muy beneficiosapero que en la realidad se traduce en mayor facilidad para el despido y precarización delas condiciones del trabajo (horarios, turnos, seguridad, vacaciones, etc.).

14 Este modelo se terminó de consolidar en los años posteriores a la dictadura, período

que coincidió con la Caída del Muro de Berlín y la instalación del llamado Consenso deWashington, el cual promovió la privatización de empresas y las reformas liberales paraAmérica Latina. La coalición de partidos de centroizquierda -que gobernaron en Chiledesde 1990- no modificó, en lo fundamental, la estructura central del modeloeconómico heredado de la dictadura (Huneeus, 2016). Es más, sus economistas, tambiénformados fuera de Chile e influenciados por las teorías neoliberales, señalaron,abiertamente que tales reformas y sus modos de gestión eran una condición necesariapara la modernización de los aparatos públicos de todos los países que aspiraban aldesarrollo. Chile con un alto nivel de pobreza en los años 70´, parecía próspero en losaños 90´, vendiéndose incluso como la economía con mayor crecimiento de la región.Esta economía sigue basándose principalmente en la extracción de materias primas yen la exportación de productos primarios, con un constante aumento de sus Tratadosde Libre Comercio, tal como ha ocurrido en las tres últimas décadas.

15 La radicalidad de las transformaciones económicas, sumada a la larga duración de la

dictadura militar, eliminaron casi por completo las prácticas laborales anteriores a esteperíodo. Al menos tres generaciones de chilenos fueron criadas y formadas bajo elparadigma de la productividad capitalista, la cual, si bien ha impulsado índices decrecimiento y acumulación de riquezas, ha generado degradación acelerada delmedioambiente y una alta precarización del empleo que no la justifican.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

40

Page 42: Laboreal, Volume 15 Nº2

16 En términos sociales, entre 1973 y 1990 se prohíbe constitucionalmente agruparse,

formar organizaciones sindicales y partidos políticos. Solo la iglesia podía seguirfuncionando y un sector progresista de ella albergó movimientos sociales. Los chilenostemen al colectivo y desconfían de estar en grupo, cerrándose incluso carrerasuniversitarias de las Ciencias Sociales. Por muchos años, los trabajadores valoraban “irde la casa al trabajo, del trabajo a la casa”, sin espacio para la militancia, el ocio o estarcon otros que no fueran del núcleo más cercano o familiar.

17 Diferentes estudios (PNUD, 2017) demuestran que, hoy en día, los chilenos trabajan

muchas horas, producen relativamente poco, tienen salarios bajos, pasan largas horasen el transporte público y sufren distintas enfermedades asociadas a estas condiciones.Lo anterior demuestra que la aparente bonanza, de los últimos 30 años, se sustenta enuna precarización de la vida y en un consumo basado en un alto endeudamiento. Laimagen de un país con “buena salud económica” ha sido solamente una fachada querefleja, únicamente, el lado positivo, el del crecimiento económico. Esta situación puedeser cuestionada pues, a la fecha, Chile continúa siendo un país sin un desarrolloproductivo real y que basa su economía en la exportación de commodities. Además, yjustamente por la privatización de sus servicios, en detrimento de las estructuraspúblicas, convive con una tasa de inequidad interna mayor que la de sus países vecinos.

18 Varias organizaciones han entrado en crisis por no dar abasto frente a las demandas de

una población que hace público su malestar. Las pensiones con ahorro individualmuestran que los trabajadores obtienen menos de un tercio de su salario, la educaciónchilena tiene malos resultados pese a la inversión de recursos y es una de las másdesiguales de América Latina. Además del malestar social, sabemos que hay problemasen el trabajo, porque existe un consumo masivo de medicamentos psiquiátricos y unaumento sistematizado de ausentismo laboral.

19 La respuesta, por parte de los diferentes gobiernos inspirados en políticas públicas con

estándares internacionales, ha sido la promulgación de nuevas políticas públicas ensalud mental ocupacional. Entre estas está la Ley de Riesgos Psicosociales del trabajoque exige a los empleadores aplicar evaluaciones de riesgo a sus trabajadores y luegoentregar medidas de mitigación para reducirlos. Esta legislación está siendo unaoportunidad para consolidar un trabajo de escucha colectiva y no individualizada(Zabala, Guerrero & Besoain, 2017).

20 En este contexto, las clínicas del trabajo aparecen como línea de intervención que

permite pensar la salud mental tomando en cuenta los factores individuales, sociales ypolíticos. Nuestra apuesta no es solo hacernos cargo de la creciente demanda porabordar y mitigar el malestar dentro del trabajo, producido por estas nuevas formas deorganización managerial, sino pensarlas psicosocialmente para que los actores puedanrealizar acciones, que permitan cambios reales, distinguiendo aquellas que están a sualcance de aquellas que necesitan acciones organizacionales o políticas.

3. Las clínicas del trabajo en Chile : aspectos comunespara resistir

21 Dentro de la aproximación de las “clínicas del trabajo”, para el caso chileno, se logran

aliar aquellos investigadores que trabajan desde el socioanálisis, el análisisinstitucional, la psicodinámica del trabajo, la sociología clínica y otras corrientes

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

41

Page 43: Laboreal, Volume 15 Nº2

psicosociales del trabajo. Luego de algunos años de preguntarse por lo común quetienen estas teorías e intervenciones clínicas logramos acuerdo en los siguientes puntos(Zabala, Guerrero & Besoain, 2017).

22 En primer lugar, las clínicas del trabajo piensan la experiencia laboral a partir de los

límites y conflictos que impone el trabajo. A diario ocurren imprevistos que demandannuevos saberes y habilidades enfrentando al sujeto con lo real del trabajo. Aquí, elfracaso aparece como una posibilidad inminente, como una experiencia afectivadisplacentera que moviliza a resolver la situación a través del análisis y el pensamiento.(Dejours, 2009 ; Zabala, Guerrero & Besoain, 2017). El conflicto y la dificultad son elmotor del trabajo que ayuda a mejorar la capacidad creativa de los sujetos.

23 En segundo lugar, se parte de la experiencia subjetiva y de la implicación para pensar

las problemáticas asociadas al trabajo (Lhuilier, 2006 ; Zabala, Guerrero & Besoain,2017). A través de la utilización del propio cuerpo e identificando las posibilidades decreación y transformación, el trabajador puede comprender y encontrarse ya no solocon el malestar dentro del trabajo, sino también con el placer que este le proporciona(Zabala, Guerrero & Besoain, 2017). El sujeto no es un recurso en el trabajo, sino que esun lugar donde se construye encarnado y es desde esa posición que aporta a lasociedad.

24 En tercer lugar, el sujeto está siempre con otros y/o en relación con otros aún cuando

su actividad pueda parecer solitaria. Esta relación real o simbólica porque el trabajadorsiempre está expuesto al reconocimiento del trabajo de sus pares, de sus usuarios y desus jefes (Barus-Michel, 2004 ; Dejours, 2009 ; Lhuilier, 2006 ; Zabala, Guerrero &Besoain, 2017). Lo relevante de tal encuentro es que afecta, inevitablemente, elresultado de la tarea, según favorezca o dificulte el trabajo cooperativo (Clot &Lhulier,2010 ; Dejours, 2009 ; de Gaulejac, Giust-Desprairies & Massa, 2013). Esta idea cuestionael concepto de “carrera individual”, tan propio de la ideología neoliberal. Las clínicasdel trabajo, incorporan nociones como la de imaginario colectivo, reconocimiento,cooperación, grupalidad e institución (Zabala, Guerrero & Besoain, 2017).

25 En cuarto lugar, todas las clínicas mencionadas analizan las maneras en que los sujetos

construyen “experticia” en el trabajo. Nos damos cuenta de que los trabajadoressienten un impulso por mejorar su actividad laboral y que se esfuerzan para mantenerun buen desempeño. Desde esta perspectiva, las problemáticas del trabajo se analizantomando en consideración elementos individuales y colectivos entendiendo que ambosaspectos son necesarios para que el sujeto acceda a la transformación de su espacio(Lhuilier, 2006 ; Zabala, Guerrero & Besoain, 2017). Aquí las investigaciones convergencon aquellas orientadas a las historias de la profesión, las identidades profesionales ylos manuales de oficio que nos permiten darnos cuenta que los trabajadores se implicanen su labor (Clot & Lhuiller, 2010 ; Guerrero, 2008 ; Lhullier, 2006 ; Zabala, Guerrero &Besoain, 2017).

26 Por último, al momento de intervenir, estas clínicas apuntan a generar procesos

reflexivos colectivos. Para lo anterior se ofrecen a la organización todas susherramientas teóricas, siempre acompañadas de un trabajo de elaboración entre elinterventor y los participantes. Se espera que los trabajadores, en conjunto, puedanluego construir y coordinar su propia acción (Zabala, Guerrero & Besoain, 2017).

27 Las clínicas del trabajo chilenas no buscan entregar prescripciones a las organizaciones

ni adaptar los sujetos a los nuevos escenarios del mundo laboral. El foco consiste en

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

42

Page 44: Laboreal, Volume 15 Nº2

comprender y describir las dificultades humanas en el trabajo, cuestionando sustransformaciones y atendiendo fenomenológicamente las dificultades psicosociales dela organización del trabajo (Zabala, Guerrero & Besoain, 2017).

28 Las características de las clínicas del trabajo son un verdadero desafío en Chile

considerando que durante 17 años de dictadura el trabajo grupal, las investigacionescualitativas, las agrupaciones sindicales y las carreras de las Ciencias Humanas fueronperseguidos. Así, la generación que tiene más de 40 años, fueron educados en dictadura,sin experiencia de aprendizaje cooperativo en lo formal, donde la experiencia grupalestá asociada a la persecución y el miedo.

29 Volver a estar en grupo y tener placer de crear con otros, es una tarea desconocida y

con la que las nuevas generaciones tampoco están familiarizadas porque la educacióntambién es una carrera individual. Por lo tanto, son varias generaciones las que nosaben cómo habitar lo colectivo de manera sana y creativa. Como se señaló, el 2019,comienzan a armarse “cabildos” en que se empieza a crear pensamiento colectivo,antes de eso, lo colectivo carecía de legitimidad.

4. Tres experiencias en clínicas del trabajo

30 Hasta ahora se han presentado las principales características de la situación laboral en

Chile y aquello que reúne a las clínicas del trabajo, construidas para hacer frente a estecomplejo y paradojal escenario. Por lo mismo, es pertinente mostrar tres experienciasconcretas de aplicación de estas clínicas. La idea es reflejar el alcance de sus teorías eintervenciones dentro de organizaciones estatales y privadas con gestión managerial.Cada una de las experiencias permite ejemplificar intervenciones desde diferentesclínicas del trabajo : clínica educacional, clínica psicosocial del trabajo y socioanálisis.

31 La primera experiencia ocurre en un contexto de formación continua (capacitación)

para profesores de escuelas y liceos públicos (formación de docentes en ejercicio). Lasegunda en un servicio de salud y la tercera en un servicio público. Estas son tresexperiencias diferentes en que las clínicas del trabajo están buscando su lugar.

32 Muchos otros autores han quedado fuera de este artículo, pero elegimos aquellos que

permitieran reflejar la diversidad de formas en que se ha intentado dar lugar alsufrimiento humano en el trabajo y las formas de elaborarlo desde y con el colectivo.

4.1 Clínica Educacional : una propuesta aplicada a la Formación deDocentes

33 Tal como se plantea en la introducción, la sociedad chilena y en particular la educación

está fuertemente influenciada por lógicas empresariales (Guerrero, 2017 ; de Gaulejac &Guerrero, 2017). Por lo mismo, para entender esta intervención clínica es necesarioconocer algunos antecedentes particulares. Lo primero es que las escuelas no tienenfinanciamiento basal, sino que se rigen por un sistema de “voucher” donde el dineroque reciben depende de la cantidad de alumnos y alumnas que logran reclutar con susresultados. Por lo mismo, las escuelas tienen un sistema de rendición de cuentas dealtas consecuencias en relación con su calidad, medida principalmente con losresultados de prueba estandarizada. Además, existe una “agencia de la calidad” paraanalizar estos resultados y clasificar a las escuelas en diferentes categorías de

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

43

Page 45: Laboreal, Volume 15 Nº2

desempeño e informar de ello a las familias que eligen escuelas. Se busca, tal como en elsueño de Milton Friedman, que los padres “voten con los pies” y que consecuentementese cierren las escuelas con mal desempeño.

34 Con este tipo de organización, la educación chilena es una de las más segregadas y

desiguales del mundo (OECD, 2015, UNESCO, 2017), ya que los alumnos con buenosrendimientos asisten a escuelas bien clasificadas y los alumnos con bajos rendimientosllegan a las escuelas con bajos resultados. Esta realidad es muy difícil de transformar,porque la lógica neoliberal está instalada y validada en Chile. Muchos padres creen quetras conocer el rendimiento de las escuelas podrán elegir con mayor libertad. Frente aesta realidad ningún gobierno democrático ha decidido realizar transformacionesprofundas, posiblemente porque puede generar mucha oposición por parte de lasfamilias que sienten en esa libertad un beneficio. El Neoliberalismo está instalado en lapoblación chilena y espera de la educación, pública o privada, un servicio de calidad.

35 Paliar las diferencias sociales, se han implementado progresivamente, entre el 2000 y

2017, una serie de reformas orientadas a garantizar la igualdad de derecho a laeducación (MINEDUC, 2015 [4]). En 2015 se promulga la “Ley de Inclusión” que generaun nuevo avance en este proceso de democratización educacional, porque pone desafíoscurriculares y metodológicos a los profesores. Pero además pone fin a la posibilidad delucrar con la educación estatal, impidiendo la selección de los estudiantes a las escuelas- se asignan de manera aleatorias - y entregando recursos para que los profesorestengan ayuda en la atención de los niños con diversas dificultades (MINEDUC,2015/2017) [5].

36 En términos de oficio, esta ley agrega prescripciones a la labor docente. No sólo deben

obtener buenos resultados en las pruebas estandarizadas, sino que además debenaprender a trabajar con otros profesionales y cambiar su oficio en la sala de clases,orientándola hacia un aula diversa que promueva el aprendizaje colaborativo. Loanterior demanda a los docentes estudio y mejoramiento permanente, además de lanecesidad de re-aprender a valorar las diferencias entre los alumnos y manejar lasdiferentes condiciones de aprendizaje.

37 Es la Facultad de Educación de la Pontificia Universidad Católica de Chile que ha dado la

posibilidad de insertarse en procesos de formación continua docente (formación deprofesores en ejercicio) en diversos temas relacionados con las problemáticas de lasdesigualdades en las escuelas (violencia escolar, trabajo con la migración, trabajo conestrategias digitales, entre otros). A partir de los cursos impartidos ha sido posiblegenerar un diálogo y levantamiento, junto con los profesores, sobre el impactosubjetivo que les significa la implementación de estas transformaciones disciplinares.

Aproximarse a este fenómeno, desde una clínica educacional, permite contar con losinstrumentos conceptuales y metodológicos, necesarios para dar cuenta sobre lamovilización subjetiva que esto les significa, tanto a nivel individual como colectivo.

38 En este contexto aparece la tarea de enseñar “Estrategias diversificadas de educación y

aprendizaje cooperativo” desde las clínicas del trabajo. Es decir, enseñar nuevasmetodologías de enseñanza-aprendizaje que se centren en la sala de clases y quepongan foco en la cooperación de los estudiantes.

39 La formación se lleva a cabo a partir de un trabajo situado que apunte al contexto de

cada escuela y que considere central la generación de un diálogo entre los saberesdisciplinares, para visibilizar y valorar el manejo de los docentes frente a la normativa,

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

44

Page 46: Laboreal, Volume 15 Nº2

porque este también implica un saber disciplinar. El dispositivo formativo debeincorporar el saber de oficio de los profesores como parte de un encuentro de saberes,necesario para una mejor asimilación de las tecnologías propuestas por la normativa.Esta formación es desde la clínica del trabajo en educación.

40 Se parte del principio que toda formación debe realizarse de manera implicada.

Entonces, los contenidos que se enseñan a los profesores son en base a su experiencialaboral y de vida. No existe ningún proceso de formación que no esté encarnado en labiografía, en los sentimientos, situado en la organización que ocurre y en el contextodel país. En este sentido, los dispositivos metodológicos tomados en especial de lasociología clínica se adaptan a cada realidad. Por ejemplo, en una sesión deOrganidrama (Gastal de Castro & Guerrero, 2013) en que se teatraliza un conflicto, lapalabra “conflicto” no puede ser explicitada sin previamente dar una definición, uncontexto y un espacio para pensarlo. Es necesario considerar que la sociedad chilenatiene poca experiencia en discutir en grupos y tiene un trauma reciente producto de ladictadura y luego de la política de los consensos, por lo que la asociación entre lapalabra conflicto, resolución violenta, temor, emerge de manera inmediata.

41 El segundo elemento que hace esta intervención clínica es que trabaja desde la

experiencia subjetiva de los trabajadores y confía en la transformación de su lugar detrabajo para hacerse experto en su oficio, siendo el trabajo un lugar que puede darsatisfacción. Las influencias del marxismo tradicional en el pensamiento crítico haninstalado en el imaginario la idea de que es necesario cambiar primero las estructurassociales y luego pensar en hacer cualquier cambio individual. Pese a coincidir con elanálisis que hacen sobre las injusticias y necesidades de cambio en nuestro país, laclínica educacional sigue un camino diferente. Se toma de la sociología clínica y de lapsicosociología la idea de que existe una articulación, una relación indisociable, entrelos procesos sociales y los procesos individuales. En ese sentido, se comprende que paraque una sociedad logre cambiar se necesita un proceso individual además de lastransformaciones sociales. En este sentido, la frase de Vincent de Gaulejac “el individuoes producto de una historia de la que trata de transformarse en sujeto” (de Gaulejac,2000, p. 55) inspira este trabajo porque muestra la posibilidad que tiene el sujeto de seractor de su vida y constructor de su propia historia.

42 Para los interventores, frente al desamparo de la educación de mercado, tal

articulación aparece como una herramienta para trabajar con los equipos de docentes,en especial porque los profesores no están logrando los desempeños esperados por laescuela. Por lo mismo, la intervención considera la revisión de las historias personales yla de la organización, conocer las aproximaciones en el ámbito de la educación e invitaa la construcción de micro experiencias, contextualizadas, que apunten al cambio. Estaidea se complementa, además, con las nociones de agencia (Priestley, Biesta &Robinson, 2015) que, desde algunas teorías críticas, nos muestran la interrelación de losprocesos sociales y los procesos individuales. Un desafío que se tiene pendiente espoder “politizar” el sufrimiento, mediante los procesos de defensa de los trabajadorescomo ya lo realizan equipos en Canadá de abogacía y mediación (Viviers, Boulet &Hamelin, 2018).

43 El dispositivo de formación en “Diversificación de la enseñanza y aprendizaje

cooperativo” se concentra, en un inicio, en el despliegue de un conjunto de conceptos ytareas pre-formativas y performativas dentro del grupo docente.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

45

Page 47: Laboreal, Volume 15 Nº2

44 Esta estructura conceptual y vivencial opera como substrucción para el abordaje del

dispositivo de formación “Diversificación de la enseñanza y aprendizaje cooperativo”,facilitando su comprensión y asimilación inicial y dando pie a una genuina apropiacióne instrumentalización de sus conceptos y su metodología.

45 Concretamente, el curso-taller parte con un trabajo de implicación en que se realiza

una línea de vida en que se identifican momentos y experiencias concretas comoprofesor y/o estudiante en torno a la diversidad. Se le piden experiencias individuales-familiares y experiencias sociales, políticas o culturales (cambios de gobiernos,producciones artísticas que les hayan impactado, movilizaciones ciudadanas etc.).Luego, se entregan diferentes perspectivas teóricas en torno a la diversidad,experiencias nacionales e internacionales contextualizadas y analizadas política,histórica y socialmente. El segundo módulo, se trabajan sesiones de “Organidramas”,metodología en que se teatralizan los conflictos que las organizaciones en torno a ladiversificación de la enseñanza y el trabajo cooperativo. En este módulo se analizan losimpedimentos organizacionales que impiden realizar el propio trabajo y se conectancon las problemáticas asociadas a la ley de calidad de la educación, el financiamiento yel sistema de mercado de la sociedad chilena. El último módulo, los profesores, luego detener una comprensión real de su agencia y capacidad de acción en su institución y enel sistema chileno, organizan micro-experiencias cooperativas de transformación de supropio trabajo.

46 Los elementos que componen esta estructura provienen fundamentalmente de la

Sociología Clínica (de Gaulejac, 2000) de la Psicodinámica del Trabajo (Dejours, 2009) yde la Psicología Grupal Operativa (Pichon-Rivière, 1985).

47 Resultados

48 Los resultados de cada taller o grupo responden a procesos de elaboración singular

determinados por la operatividad grupal alcanzada y por la heterogeneidad de laconstitución subjetiva de los grupos. Sin embargo, es posible precisar algunosresultados de aprendizaje que pueden ser considerados en relación con los dispositivosimplementados. Se presentarán a través de viñetas registradas en los momentos deevaluación de aprendizaje de cada curso :

49 De la implementación posible de un cambio. Los participantes señalan que el curso

efectivamente les permitió concretar el enfoque de transformación de la enseñanza ensus planificaciones, pudiendo discriminar mejor cuando trabajan diversificadamenteorientados a un estudiante “real” : “El curso me permitió abordar la planificación en función

del alumno real, antes planificaba para el alumno ideal”.

50 De la metodología afectiva y participativa. Los participantes reconocen y valorizan un

aprendizaje efectivo a través del vivenciar, personal y grupal de los contenidos,reconociendo el valor de un aprendizaje teórico-práctico con espacios de elaboración yanálisis : “Más que aprender conceptos, se vivieron los conceptos”.

51 Respecto del cambio de las estrategias. El aprendizaje de estrategias diversificadas se

potencia a partir de la de-construcción de la implicación frente a la inclusión escolar,permitiéndole a los docentes poder dimensionar lo que en la teoría se busca : validar ladiversidad y reconocer en heterogeneidad un soporte y un potenciador del aprendizaje.

52 Uno de los principales logros alcanzados en estos dispositivos es el progresivo avance

desde un foco en la particularidad de los niños y niñas “difíciles” (a los que hay queadecuar y hacer más simples las tareas) hacia el reconocimiento y focalización en el

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

46

Page 48: Laboreal, Volume 15 Nº2

colectivo, permitiéndoles visualizar el conjunto de estudiantes, sus necesidades ypotencialidades, y enriqueciendo el aprendizaje grupal y cooperativo.

53 Respecto de la noción de agencia. Este trabajo permite la real comprensión de la

agencia del profesorado, no se siente un actor pasivo que quiere que cambie el sistemaneoliberal, ni un actor ciego a las ataduras de este mismo sistema. La idea es ver quéconcreto puede cambiar en su práctica que lo conecte con el sentido de lo que hace ycon la crítica a la organización empresarial en educación. Los principales impedimentospara hacer bien su trabajo, no es su voluntad, sino el sistema de evaluación empresarialcon pruebas estandarizadas.

54 En este sentido, este curso de formación diseñado desde la clínica del trabajo posibilita

una aproximación privilegiada al fenómeno educacional, permiten la apertura yflexibilidad para articular dispositivos a través de la vivencia y la reflexión grupalfrente a situaciones cotidianas entendidas en su complejidad social, y que operan enfavor de la emergencia de los recursos vivenciales y técnicos del grupo docente.Además de someterlos a un análisis crítico y situado sobre su contexto y tarea.

4.2 Clínica psicosocial del trabajo : una propuesta de intervención

55 Como se señala en la introducción, una de las consecuencias de las transformaciones en

el mundo del trabajo, y que afecta en sus distintas áreas, es la creciente necesidad de lasorganizaciones de contar con intervenciones pertinentes y complejas para abordar elestrés y el sufrimiento derivado del trabajo. Las empresas e instituciones públicas estánexpuestas a grandes demandas de evaluación y se necesita una mayor atención de laspersonas y las organizaciones. Las empresas cuentan con soluciones ligadas al“autocuidado” como estrategias de relajación y felicidad en el trabajo, pero que nocuestionan la organización social del trabajo y las condiciones laborales propias de lasexigencias manageriales y neoliberales.

56 Varias universidades han comenzado a estudiar el mundo del trabajo, incluso hay

grandes fondos estatales que se asignan a esta tarea [6] Sin embargo, la intervención ola investigación-intervención tienen un lugar menor. Frente a este análisis, la ClínicaPsicosocial del Trabajo (CPT) fue elaborada por el Área de Salud Mental y Trabajo,dentro de la Clínica Psicológica de la Universidad Diego Portales en 2013. Estapropuesta considera dos modelos y/o perspectivas útiles para comprender el abordajedel sufrimiento en el trabajo : la sociología clínica o psicosociología (de Gaulejac, 2000)y la psicodinámica del trabajo (Dejours, 2009).

57 Como se trata de una experiencia en clínica del trabajo, las intervenciones desde la CPT

se desarrollan en forma grupal con participación voluntaria y asistencia libre. Estaestructura busca dar cabida a la aparición de temas emergentes dentro del mediolaboral, y permite generar una participación responsable y autónoma. Para guiar lassesiones se sugiere la participación de, al menos, dos profesionales y, en lo posible,contar con el apoyo de una tercera persona cuyo rol sea el registro en audio y escrito dela sesión. Para garantizar la continuidad del trabajo en las reuniones se utiliza comoinstrumento principal una Bitácora, la cual consigna la historia de una sesión a lasiguiente, los temas centrales que se abordaron, acuerdos, conclusiones, propuestas,etc.

58 Esta bitácora es realizada por los profesionales de grupo y tiene como función dar

continuidad a los procesos, para eso se lee al inicio de cada sesión y se completa y/o

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

47

Page 49: Laboreal, Volume 15 Nº2

modifica con la opinión de todos los asistentes. El dispositivo entiende que todo lo quepasa en la relación es parte de la intervención, desde escuchar la demanda hastaampliar posibilidades y participantes, establecer límites y acceder a conversaciones condiferentes actores. Esta metodología tiene como principal tarea dar un espacio a laproblemática de las instituciones y al sufrimiento individual, pero además crearsoluciones en conjunto que transformen la organización del trabajo.

59 Luego de una serie de intervenciones, esta clínica psicosocial del trabajo instala una

metodología, que tiene pasos detallados que además se adecúan a las distintasrealidades y terrenos.

60 El dispositivo comienza por recoger una queja institucional, la que puede ser planteada

por directivos, jefes, o por el malestar de sus funcionarios a través de algún dirigente delos trabajadores. El cómo se comunica la petición ilumina el problema, pues en su‘forma’ están presentes características propias de la organización. Para quien acoge lademanda, una primera tarea consiste en comprender cómo ésta surge la, por qué serequiere su abordaje, por qué es ‘tramitada’ de este modo y de qué manera estorepresenta la forma que la propia organización tiene de entender y enfrentarsituaciones problemáticas (efecto hologramático, sentido e historia institucional). Unavez resuelta esta primera tarea, la cuestión siguiente es resolver cuál es la expectativade quien la solicita y los aspectos formales de funcionamiento del trabajo.

61 Luego de este trabajo de “queja institucional”, desde la lógica de la demanda y la

explicitación de los temas a trabajar, es necesario preguntarse quiénes deben participary a qué unidades pertenecen. Así, se negocian no solo los aspectos formales sinotambién los límites de participación, en lo posible en función de la unidad a la quepertenecen. Mientras más interdependiente es el grupo será más fácil buscaralternativas y posibilidades de acción. Una vez acordados los participantes, seexplicitan y acuerdan las condiciones que la institución ofrece para que las personaspuedan asistir y se procede a hacer contratos colectivos.

62 La etapa siguiente corresponde a la intervención grupal dentro del sistema laboral que

no se crea con esta idea, pero que tienen efectos psicoterapéuticos. La tarea es generarun espacio de confianza, de validación de las distintas versiones sobre las dificultadeslaborales y los sufrimientos personales. De esta forma es posible colectivizar elsufrimiento : si hay personas que dentro del medio laboral están en malas condicionesemocionales, relacionales o psicológicas, no son ellas las responsables. Esta es una ideaopuesta a lo que se concibe dentro de un sistema neoliberal y en una organización detrabajo managerial, donde las responsabilidades del sufrimiento humano sonindividuales. Aquí la sistematización de esta información en Bitácoras no solo dacontinuidad del trabajo sesión a sesión, elabora y pone en palabras, exterioriza elsufrimiento de las personas, pero también las causas sociales y las consecuencias parala organización y para ellos mismos.

63 Concretamente, cada una de las sesiones duran entre una hora y media y dos horas,

donde el tiempo se reparte en tres momentos claves : uno de inicio, uno de desarrollo yotro de cierre. El momento de inicio da un tiempo acotado a la lectura de la Bitácora dela sesión anterior y se abre a comentarios y discusión con los participantes. El momentode desarrollo es el que debe ocupar el mayor porcentaje de tiempo y está destinado acomentar el/los temas expuestos para la sesión, modelando formas de desacuerdo,evidenciando consecuencias y desafíos, y dando la posibilidad a todos los participantesde expresar su opinión. Es relevante para los profesionales guías recordar que no se

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

48

Page 50: Laboreal, Volume 15 Nº2

busca el consenso, que la divergencia es lo que se espera para poder construir nuevasalternativas. El momento de cierre debe ser intencional, dejando al menos 15 minutospara conocer el estado en que están los participantes y cómo se van, así como tambiénpara fijar el tema principal de esa sesión.

64 Además, existen tres tipos de sesiones diseñadas para abordar diferentes momentos y

objetivos del proceso. Se les caracteriza por su temporalidad, es decir, se llaman deinicio, de desarrollo y de cierre. En las sesiones de inicio se establece un espacio deconfianza con normas compartidas de funcionamiento, es especial la confidencialidad,respeto, participación y compromiso. La meta principal es acordar el qué y el cómo setrabajará. Los profesionales deben estar atentos y abiertos a las propuestas del grupo(imprevisibilidad), independiente de los planteamientos iniciales de quien realiza elcontacto o la petición.

65 En las sesiones de desarrollo es el grupo el que fija los objetivos a trabajar, por lo tanto,

dependerá de cada grupo, de sus necesidades y de los temas sus características. Enfunción de la tarea grupal es el número de sesiones que se les proponen, la duración, ellugar, etc.

66 El cierre será acordado considerando lo establecido en las sesiones de inicio con los

mismos participantes. El grupo puede dar continuidad al trabajo armando un grupoautónomo (sólo entre profesionales) o continuar con las sesiones. Al finalizar se entregaun informe escrito que rescata las principales conclusiones, cambios o sugerencias paraentregar a quienes gestionaron la petición original durante el primer contacto. Estedocumento es consensuado y revisado por las/os integrantes del grupo, previo a suenvío y tiene como foco la comunicación de las dificultades encontradas en laorganización del trabajo.

67 Una vez entregados los documentos se acuerda con el grupo una manera de

seguimiento de las acciones interpretadas. El equipo interventor no solo secompromete a visibilizar el sufrimiento, sino también a hacer un seguimiento con lainformación recopilada.

68 Este modelo ya ha sido utilizado con trabajadores del sector público (trabajadores de

salud, justicia y de sitios de memoria y Derechos Humanos demostrando, en terreno,que permite trabajar con el malestar del trabajo. Por lo mismo vale la pena compartiruna experiencia real de aplicación de esta estrategia.

69 La intervención seleccionada es una que se realizó con un grupo de trabajadoras de la

unidad de oncología pediátrica dentro de un hospital público de alta complejidad. Enesa ocasión se trabajó en la elaboración del dispositivo ‘Construyendo espacios de

colaboración : la importancia de lo colectivo en la organización del trabajo’ el que refleja lanecesidad de ofrecer alternativas de abordaje en relación a los efectos que el trabajotiene en la salud de las y los trabajadores.

70 Durante un período de aproximadamente 2 meses se realizaron 9 sesiones en las que

participaron 8 mujeres de distintos estamentos de la unidad : Enfermeras, Secretarias,Técnicos Paramédicos, Auxiliares, Médicos y Psicólogas. Respecto al número deasistentes por sesión hubo un promedio de 4 personas, con un máximo de 6.

71 Para caracterizar la organización es necesario decir que la Unidad de Oncología

considera un área de trabajo Ambulatorio y otra de Hospitalizados, las cuales presentanalgunas diferencias entre sí. Por ejemplo, en el área Ambulatorio hay una alta demandade niños cuyo tratamiento varía en duración y el trabajo se realiza exclusivamente en

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

49

Page 51: Laboreal, Volume 15 Nº2

horario diurno (8 a 17 horas). Por otro lado, en Hospitalizados, además de camas parainternación, se encuentran las salas de cuidados paliativos donde es posible quefallezcan niños. En lo organizativo cuentan con distintos tipos de jornada laboral y enesta sección es posible encontrar diversos sistemas de turnos. Ambas seccionescomparten el objetivo principal de cuidar a niños que han sido diagnosticados concáncer. Lo anterior implica entregar el tratamiento correspondiente en las distintasfases de la enfermedad e informar oportunamente a los familiares o cuidadores de lospacientes sobre su estado de salud. Es así como este servicio se caracteriza por sucomplejidad y no sólo a nivel de competencias clínicas, sino también relacionales,puesto que en él se viven, cotidianamente, situaciones críticas que se acompañan dealtos montos de estrés y desgaste emocional. Estas situaciones implican la contenciónsimultánea, tanto de las familiares como de los propios funcionarios, frente a lagravedad de la sintomatología y al eventual fallecimiento de las/os niñas/os.

72 Resultados

73 A partir del espacio de escucha las fuentes de sufrimiento que emergen, vinculadas al

espacio de trabajo, son numerosas y todas tienen relación con dificultades propias de laorganización de trabajo managerial dentro de los hospitales chilenos.

74 Respecto del reconocimiento de las funcionarias. El trabajo, dentro del equipo, permite

levantar la percepción de las funcionarias sobre no ser reconocidas y valoradas cuandodesempeñan funciones que van más allá de lo prescrito –lo que no está definido-. Estehecho las impacta en términos personales. Queda en evidencia la brecha entre eltrabajo prescrito y el real, siendo este último mucho mayor y muy invisible, en especialpara las profesiones “feminizadas”.

75 Respecto de la imposibilidad de poner límites. Las características de la tarea (edad de

los pacientes y sufrimiento de los usuarios y sus familias) dificulta la posibilidad deestablecer límites, de “decir que no” a un exceso de trabajo, obligando a asumir una altacarga laboral y emocional. Esta sobredemanda de trabajo no puede ser conversada en launidad, pues no cuentan con canales efectivos para manifestar su opinión respecto delos modos de organización del trabajo. Las principales fuentes de bienestar señaladasrefieren al vínculo cercano con usuarios, a la pertenencia al servicio de oncología y a lavocación por trabajar en el ámbito de la salud.

76 Respecto de los mecanismos que se despliegan Los mecanismos que los trabajadores

despliegan para afrontar el sufrimiento tienen que ver con la fantasía de la renuncia ala institución, la negación de las circunstancias de malestar (no compartir lo quesienten, pues puede ser “mal visto”), la dificultad para distinguir espacios laborales delos no laborales y la inexistencia de “auto-autorización” para hacer una pausa cuandoestán afectadas.

77 Respecto a la satisfacción y necesidad de seguir con “espacios de reflexión como este”.

También emerge como necesidad, para un mejor enfrentamiento de la tarea, laposibilidad de involucrar a más personas que participen en la clínica Psicosocial delTrabajo, lo que podría contribuir a generar cambios estructurales en la organizacióndel trabajo siendo fundamental para ello coordinarse para mantener el serviciooperativo.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

50

Page 52: Laboreal, Volume 15 Nº2

4.3 Socioanálisis : el análisis del rol en la organización.

78 La experiencia chilena en Socioanálisis tiene su origen en el Departamento de

Administración de la Facultad de Economía y Negocios de la Universidad de Chile,donde un grupo de profesores ha realizado diferentes procesos de investigación –acción, sumado a programas de formación como Diplomados y Magíster en Gestión dePersonas y Dinámica, todos desde la perspectiva socioanalítica. El grupo que desarrollóla intervención de este artículo colabora con este equipo de profesores en temasparticulares, y a la vez forman parte de la Consultora Sintoniza, dedicada a la gestión depersonas. Además, contribuye a generar cambios en las organizaciones, desarrollandoespacios de reflexión - acción en sus procesos de consultoría y formaciónimplementados. En términos generales, las iniciativas utilizadas vienen desde elenfoque socioanalítico.

79 La tradición Socioanalítica incorpora el pensamiento psicoanalítico, la teoría de

sistemas y el estudio de las relaciones de grupo. Esta tradición emerge a partir de untrabajo seminal realizado durante la segunda mitad del siglo XX en el InstitutoTavistock en Reino Unido. Desde esta orientación se ha contribuido a la exploración dedinámicas que enfrentan las organizaciones contemporáneas y en el diseño demetodologías de intervención, ayudando a abordar procesos de cambio que permitanllegar a los ambientes organizacionales actuales.

80 Esta corriente indaga en aspectos inconscientes de la realidad, poniendo al descubierto

tabúes de la vida de las organizaciones y de la sociedad. Por ello, se considera unametodología adecuada para aproximarse a las experiencias subjetivas. Una tarea es quese toma una postura de sospecha frente a la realidad convencional, reconociendo queesta abarca aspectos ocultos y subterráneos, y que además son complejos de llevar a lasuperficie pues ese proceso implica contactarse con tensiones, conflictos y ansiedadesde difícil discernimiento y solución. El socioanálisis comprende, también, que loshombres y mujeres que participan de una institución suelen estar sometidos a grandespresiones, teñidas por definiciones de autoridades e instituciones, hechos y situaciones,pensamiento positivista, saber de expertos, etc. ; de esta manera reconoce que existeuna realidad en la sombra, donde quedan ocultas dimensiones trascendentes que, deser conocidas, pueden traer entendimiento y liberación (Acuña & Sanfuentes, 2013).

81 Precisamente, el socioanálisis busca liberar las experiencias subjetivas de los

trabajadores ubicando este punto como foco de aprendizaje. Además, destaca el trabajoconjunto, porque reconoce que el conocimiento se genera de manera colectivamediante la interacción entre el cliente y consultor. Aprendizaje que estimula elpensamiento crítico, develando mitos y destrabando el desarrollo de las organizaciones.Imprescindible para que se generen acciones de cambio (Acuña & Sanfuentes, 2013).

82 El socioanálisis cuenta con diversas metodologías que permiten abordar el trabajo en el

espacio organizacional de manera más eficiente, considerando el contexto, el sistema ylas personas en roles. Una de estas metodologías es el Análisis del Rol Organizacional(ARO), la misma que fue utilizada en el caso que dará a conocer en esta presentación.

83 Primero, es importante señalar que ARO es un método de coaching y consultoría que

busca proveer a los clientes un espacio de reflexión y aprendizajes de sus propiasexperiencias en el trabajo. De esta manera, se genera un espacio de colaboración paraque los grupos y personas en rol, en forma autónoma y responsable, encuentren

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

51

Page 53: Laboreal, Volume 15 Nº2

solución frente a los dilemas o dificultades que experimentan en el ejercicio de susroles organizacionales (Acuña & Sanfuentes, 2013).

84 En el ARO se entiende el Rol como la intersección entre la persona y el sistema,

principio regulador que se sostienen en la mente y modela la forma en que se emitenlos juicios y las acciones cuando se está en rol. La autoridad, para ejercer un “rol”, vienedesde adentro (sí mismo) y desde afuera (sistema), por lo mismo estar en rol es unacapacidad y una persona tiene tantos roles como sistemas en los que participa (Acuña &Sanfuentes 2008). Es importante mencionar también que lo que se observa no es un rol,sólo las conductas.

85 El Rol puede ser entendido y analizado desde dos dimensiones : la dimensión

organizacional y personal. En la dimensión organizacional es posible explorar lasexpectativas que tiene la organización sobre cómo se deben llevar a cabo las tareas.Estas expectativas pueden estar mediadas por la cultura de la organización, su historiay su situación actual. Luego, en la dimensión personal del Rol es posible entender lasexpectativas de la persona que ejecuta las tareas, sus necesidades y las habilidades queposee. El rol, por lo tanto, abarca un área de convergencia entre el sistema y la persona,tal como muestra el esquema a continuación (Acuña & Sanfuentes, 2008).

86 Cuando una persona logra alinear estas dos dimensiones se incrementa el desempeño,

en términos de la calidad del trabajo como también en las emociones con las que lovincula. La persona es más productiva y tiene una actitud positiva. Al tener mayorclaridad del Rol es posible que la persona pueda transformar el Rol que tiene en lamente y alinearlo con la idea que tiene el sistema respecto de este. La finalidad centraldel ARO es colaborar con las personas para que puedan administrarse a sí mismos en suRol. Que pueda hacer uso de la autoridad personal, de forma autónoma y responsable,rompiendo así el mito de que únicamente la élite tiene la capacidad de transformar suRol (Acuña y Sanfuentes, 2008).

87 La intervención socio analítica que se presenta fue realizada en un ministerio del

Gobierno de Chile, donde sus autoridades contactan al equipo consultor para solicitarapoyo. El motivo es el aumento de salidas de funcionarios producto de la ausencia deposibilidades de desarrollo dentro de la institución. La tarea asignada fue contribuir aldesarrollo laboral de sus funcionarios existiendo, por ende, la necesidad de pensar suestructura. El programa tuvo como objetivo entregar las herramientas para desarrollarlas competencias necesarias que sirvieran para responder tanto a los requerimientos desus cargos como a sus propias expectativas de desarrollo, e indirectamente generar así

un mecanismo para la retención de talentos. Se diseñó el programa “Gestión deDesarrollo Laboral”.

88 En este contexto, el Programa tenía como objetivo proveer un espacio de reflexión a los

funcionarios participantes, permitiéndoles explorar las dimensiones de su Rol y sobreello analizar su vocación y el sentido de su trabajo. Este objetivo se logró a través de lainstalación de un dispositivo de trabajo en torno a Plenarios, Grupos Pequeños y Gruposde Aplicación, mediante los cuales se facilitaban los procesos reflexivos y las tareas decada grupo. Específicamente se buscó generar en los participantes un proceso de tomade conciencia respecto al Rol que ejercían en su trabajo, entregando espacio paragenerar posibles acciones de cambio o innovaciones orientadas a una mayor conexiónentre sus expectativas y las de la institución. La hipótesis sobre la que se trabajó, a lahora de diseñar el programa, fue que, si el funcionario hallaba algún grado de

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

52

Page 54: Laboreal, Volume 15 Nº2

coherencia, entre la dimensión personal y organizacional del rol, esto impactaríapositivamente en el grado de sentido hallado en el trabajo.

89 El programa de “Gestión de Desarrollo Laboral” contempló 20 horas de trabajo

presencial, además de 16 horas de ejercicios de aplicación monitoreadas por el equipoacadémico a través de una plataforma virtual. El grupo estuvo conformado por 120personas y se dividieron en subgrupos de 30 personas. En la plataforma señalada sepodía acceder a bibliografía de apoyo, contactarse con los demás participantes yentregar ejercicios de aplicación para que así los asistentes, pudieran darle continuidada su aprendizaje.

90 El grupo de trabajo funcionó como una organización temporal de aprendizaje, donde se

experimentaron las dinámicas que surgían en el “aquí y ahora” y donde cadaparticipante vivenciaba la interacción de los distintos roles, convirtiéndose en un“observador participante” de la dinámica y evolución del grupo. La experiencia detrabajo con el grupo permitió extrapolar el aprendizaje a las realidades cotidianas decada participante (Acuña & Sanfuentes, 2013).

91 Resultados :

92 Del análisis de las evaluaciones y comentarios de los participantes sumado a la

experiencia de los consultores podemos señalar los siguientes hallazgos

93 Respecto la percepción de las posibilidades de desarrollo laboral en instituciones públicas. Los

participantes de los talleres una vez que tomaron conciencia de su rol laboral lograronampliar su horizonte de posibilidades, concluyendo que existe desarrollo laboral másallá de la estructura jerárquica. Así, consiguieron ver a la institución de una formatransversal, de forma subjetiva (historia, memoria de la institución, fantasía conscienteo inconsciente del rol) lo cual, tal como mencionamos más arriba, fortalece el liderazgoy la autoridad personal permitiendo el desarrollo del pensamiento crítico y una mayorautonomía en la toma de decisiones respecto al desarrollo laboral.

94 Respecto al impacto de la reflexión en el cambio social. El programa permitió a los

participantes “reflexionar” respecto de sus roles y conectar o reconectar con suvocación, a través de la identificación de las ideas y sentimiento con los cualesvinculaba y “vivía” su trabajo ; en este punto fue posible que cada participanteconstruyera el sentido de su trabajo, sentido que es particular y determinado por lasexpectativas y deseos de cada persona. Este resultado puede ser entendido como unaevidencia de la capacidad de los sujetos para asumir nuevas posturas respecto de surelación con el trabajo y la organización. Particularmente una postura orientada aidentificar las posibilidades ofrecidas por el trabajo antes que sus limitaciones, es decir,mucho más relacionada con un “hacerse cargo”.

95 Respecto de la generación de Sentido. Entendiendo que el rol representa una intersección

entre la organización y las personas, este tipo de intervención también provee espaciosde reflexión y análisis del sistema donde participa el funcionario. En este nivel surgenelementos, que, a juicio de los participantes, determinan sus percepciones respecto a lacalidad del trabajo. Algunos de estos elementos o factores son :

96 Rol de la Jefatura (Capacidad de liderazgo). La relación con las figuras de autoridad es

un factor fundamental en la percepción de los funcionarios respecto a su trabajo. Estámuy presente la necesidad de ser guiado, reconocido y valorado por los jefes, lo cual dacuenta del impacto de la cultura de dependencia que aún sigue presente en este tipo deorganizaciones.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

53

Page 55: Laboreal, Volume 15 Nº2

97 Altos costos de transacción, es decir, baja productividad en términos de las

coordinaciones al interior del equipo. Propio de una cultura burocrática construidasobre la base de la falta de confianza en el desempeño de los colegas. Esta situación esvivida como una gran limitación para desarrollarse laboralmente.

98 Escasez o ausencia de políticas de desarrollo, lo cual es recibido por los trabajadores

como una falta de “interés” por parte de la institución para atender sus requerimientosde progreso. Deben ser entendidas como una limitación que impone el estatutoadministrativo y que rige a todos los funcionarios del Estado, más que sólo unalimitación de esta Institución en particular.

5. Desafíos y oportunidades para una clínica deltrabajo en Chile

99 Hacer clínica del trabajo en Chile tiene una dificultad inicial y es que el país es

culturalmente neoliberal porque se trata de una sociedad que ha vivido y valorado unagestión managerial en todos los ámbitos de la vida y en todos los sectores sociales, nosólo en el sector industrial. Además, y producto de que lleva casi 40 años en marcha,pareciera ser la única manera posible para hacer funcionar del sistema. Se suma a ello,que para países referentes de las Ciencias de la Gestión chilena (EEUU y Europa) es unmodelo, pareciera pionero y moderno, dando lecciones a los que siempre han sido susmaestros.

100 En comparación con los años que preceden a la instalación de este modelo, Chile

aparece ahora como un país más próspero, más desarrollado, más moderno, e inclusolíder dentro de la región principalmente porque tiene menos problemasmacroeconómicos que los vecinos latinoamericanos. La pobreza objetiva chilena de losaños 70 es claramente mucho mayor que la que se tiene hoy. Nuestro país, estárecibiendo la llegada de muchos trabajadores extranjeros, lo cual hacen pensar quenuestra localidad es un lugar de oportunidades para muchos trabajadores de AméricaLatina.

101 Sin embargo, y como lo denuncia el movimiento social que estalla el 2019, detrás de

todos estos supuestos, no hay una reflexión profunda en torno al endeudamiento de lostrabajadores, no en bienes suntuarios, sino ligado a la alimentación, la vivienda, laeducación y la salud de sus familias. La clase empresarial no crea industria, sino queadministra, entre otros servicios, la electricidad, las aguas, las pensiones, los fondos desalud y las escuelas, enriqueciéndose de las necesidades básicas de la población.

102 Hasta el 2019, los trabajadores parecían haber aprendido y aceptado el silencio,

desarrollando sus labores sin quejarse por el miedo a ser despedidos, sin grandesesperanzas en la sindicalización y con una obediencia ciega a sus jefaturas. El miedo aperder el empleo implica no sólo la pérdida de los ingresos, sino además la persecucióndel sistema financiero por no poder pagar las deudas que han contraído. Además, lasformas de organización como el lean management, la evaluación por objetivos y lossistemas de bonos, implementadas en Chile durante casi 40 años, han convencido a lostrabajadores que su salario depende de su esfuerzo individual y no de la cooperaciónentre pares.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

54

Page 56: Laboreal, Volume 15 Nº2

103 En ese sentido, las clínicas del trabajo no tuvieron un espacio sino hasta que la sociedad

chilena y el mundo del trabajo, entraron en un momento crítico como el queevidenciamos hoy y que se manifiesta socialmente.

104 Hace menos de una década se nos abre paulatinamente un espacio en centros de trabajo

del sector servicio porque existe un aumento de licencias médicas, de consumo defármacos psiquiátricos asociados a la productividad y de depresiones y suicidios.Además, una nueva ley de Riesgos Psicosociales del trabajo da un lugar a estaperspectiva, porque la normativa obliga a medir el nivel de riesgos, pero además agenerar grupos de discusión entre trabajadores que cumplen la misma función. La tareade estos grupos es analizar las causas organizacionales de sufrimiento y lasconsecuencias individuales y colectivas de esta situación.

105 En un país neoliberal como Chile, la organización del management fortalece que los

problemas son de rendimientos individuales y no problemas organizacionales. Losresultados de nuestro trabajo muestran la valoración positiva del dispositivo grupal.Este valor está dado por ciertos procesos que es interesante destacar.

106 El encuentro con el reconocimiento de su trabajo. En las tres intervenciones, el

participante se encuentra con sus pares, con el reconocimiento de sus iguales. Engeneral, las personas que trabajan en servicios se encuentran con los beneficiarios queson “clientes” y que exigen como consumidores, lejos de la “gratitud” que necesitanestos profesionales que están ayudando a la población.

107 Por otro lado, las jefaturas siempre exigen más y mejores resultados que no se pueden

lograr sistemáticamente. Un año se pueden alcanzar las metas, pero el aumento no essostenido en el tiempo. Es con los pares, hablando sobre temas de trabajo, que esposible encontrar el reconocimiento de la labor. Aquí aparece la noción de juicio debelleza (Dejours, 2009) de la tarea colectiva.

108 Abordar colectivamente el malestar individual. Trabajar grupalmente permite salir de

la sensación de un problema individual a uno colectivo. Esto es valorado en profesionestan distintas como enfermeras, ingenieros/as y profesores/as instalados enorganizaciones públicas.

109 Los distintos trabajadores pueden expresar sus aprehensiones y angustias y pueden

verlas vinculadas con la organización del trabajo y con los problemas de la sociedadchilena. Por otro lado, es posible realizar construcciones subjetivas que cuestionen losprocesos narcisísticos en que las personas se sienten poderosas mientras logran losresultados demandados y que cuando están en falla, todo se desmorona y son puestasen el banquillo de los acusados de la institución. Los distintos trabajadores, en unespacio clínico del trabajo, observaron los vaivenes identitarios y subjetivos a los queestán expuestos. Además, hay un espacio para la expresión de emociones (ira,frustración) distinta a las que la gestión empresarial demanda (satisfacción, alegría,empuje, ganas). Lo importante es que esos sentimientos no son por problemas entrepersonas, son problemas asociados a la organización del trabajo.

110 Reencontrarse con el sentido de la labor. Las tres experiencias se hacen cargo del

sufrimiento y de los problemas para poder comprenderlos, abordarlos y tomarsoluciones colectivas y coordinadas. En los tres casos, los compañeros de trabajo seponen de acuerdo para mejorar la labor cotidiana. Estar pensado grupalmente no soloda alivio por constatar que no estamos solo, sino también de presionar a que lascondiciones cambien de manera colectiva también. Frente a la culpabilización

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

55

Page 57: Laboreal, Volume 15 Nº2

individual que el neoliberalismo ejerce sobre el trabajador, las clínicas del trabajoentregan otra mirada y muestran que ese sufrimiento está anclado en la forma degestión. Esto hace a los ingenieros a identificar las posibilidades de desarrollo ycapacitación, las enfermeras que sienten la necesidad de poner límites al trabajo y losprofesores que identifican su capacidad de agencia real con los niños y niñas. Así, laidea agobiadora que todo depende de la voluntad del sujeto se termina volcando lamirada a la organización del trabajo.

111 En las experiencias presentadas se puede observar que se revitaliza una salud mental

ligada a la capacidad de hacer bien el propio trabajo, de construir el hilo de la propiaactividad, de mejorar lo que se hace y no con el fin instrumental, sino porque el trabajoestá siempre dedicado a otros. En ese sentido, se trata de la salud mental cognitivaligada al saber hacer de la tarea. Las

112 En todas las experiencias, la función del interventor es además la de un mediador con

las figuras de autoridad de las organizaciones. Este lugar es más bien complejo, puesaparece como algo nuevo en un contexto donde hay ausencia de sindicatos en defensade los trabajadores, ausencia de canales de comunicación y la dificultad cultural paraabordar el conflicto. Este punto puede tener relación con la idea, heredada dedictadura, que el conflicto termina en violencia y además con las nocionesfuncionalistas propias del management que creen que el conflicto es un problema y nouna condición de toda relación de trabajo.

113 Aparece así un primer desafío. ¿Cómo damos seguimiento a las intervenciones ? ¿Cómo

usamos el espacio de este “tercero que ayuda” a las organizaciones que estánfocalizadas en el rendimiento ? ¿Qué rol macro y micro político cumplimos ? Y luego,un desafío mayor, que hace alusión al destino político que damos al sufrimiento.Estamos ante una la tarea de articular el sufrimiento como una forma de pensar laorganización y especialmente la gestión del Estado. Romper la asociación demodernidad con explotación y dar espacio a una nueva forma de defender nuestrosderechos.

114 Ya llevamos casi 40 años de neoliberalismo, ya dimos la vuelta y ya mostramos que no

se destruye la comunidad y tiene costos en la subjetividad. Ahora tenemos la tarea dehacer algo nuevo y los trabajadores señalan que tenemos un rol posible. Hoy, más quenunca en Chile, porque Chile despertó y no quiere más neoliberalismo.

BIBLIOGRAFÍA

Acuña, E., & Sanfuentes, M. (2008). Coaching : Análisis del rol organizacional. Santiago de Chile :

Editorial Universitaria.

Acuña, E., & Sanfuentes, M. (2013). Métodos socioanalíticos : para la gestión y el cambio en

organizaciones. Santiago de Chile : Editorial Universitaria.

Araujo, K. (2016). El miedo a los subordinados. Una teoría de la autoridad. Santiago de Chile : LOM.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

56

Page 58: Laboreal, Volume 15 Nº2

Ansoleaga, E., Dávila, A., Jara, M., & Lucero, C. (2014). La importancia de lo colectivo en la

organización del trabajo : la experiencia de una clínica psicosocial del trabajo en un servicio

público de oncología pediátrica de alta complejidad en Chile. In A. M. Mendes, R. Moraes & A.

Merlo (Dirs.), Sufrimiento en el Trabajo : perspectivas políticas y clínicas (pp. 41-44). Curitiba : Editora

Juruá.

Barus-Michel J. (2004). Souffrance, sens et croyance. L’effet thérapeutique. Toulouse : Érès.

Bauman, Z. (2013). Liquid modernity. Cambridge: John Wiley & Sons.

Boltanski, L., & Chiapello, E. (1999). Le nouvel esprit du capitalisme. Paris : Gallimard.

Clot, Y., & Lhuilier D., (2010). Agir en clinique du travail. Toulouse : Eres.

de Gaulejac, D. (2000). Relatos de Vida e historia social. In E. Taracena (Dir.), La sociología clínica.

Una propuesta de trabajo que interroga las barreras disciplinarias (pp. 53-86). México : UAM.

de Gaulejac, V. (2005). La société malade de la gestion. Paris : Seuil.

de Gaulejac, V. (2011). Travail, les raisons de la colère. Paris : Seuil.

de Gaulejac, V., Giust-Desprairies, F., & Massa, A. (2013). La recherche clinique en sciences sociales.

Toulouse : Eres.

de Gaulejac, V., & Hanique, F. (2014). Le capitalisme paradoxant. Paris : Seuil.

de Gaulejac, V., & Guerrero, P. (2017). La sociedad parajoxante : un sistema que vuelve loco. In H.

Foladori & P. Guerrero (Dirs.), Malestar en el Trabajo : Desarrollo e Intervenciones (pp. 8-33). Santiago

de Chile : LOM Ediciones.

De la Garza Toledo, E., & Neffa, J. (2010). Trabajo y modelos productivos en América Latina : Argentina,

Brasil, Colombia, México, y Venezuela luego de las crisis del modo de desarrollo neoliberal. Buenos Aires :

Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales – CLACSO.

Dejours, C. (2009). Travail vivant. Tome 2 : Travail et émancipation. Paris : Payot.

Gárate, M. (2012). La revolución capitalista de Chile : (1973 – 2003). Santiago de Chile : Ediciones

Universidad Alberto Hurtado.

Gastal de Castro, F., & Guerrero, P. (2013). L’organidrame et possibilités de changement : deux

réflexions theorique-me thodologique sur un dispositif d'intervention en conflits socio-clinique.

In F. Giust-Desprairies, A. Massa & V. de Gaulejac (Dirs.), La recherche clinique en sciences sociales

(pp 219-236). Toulouse : Eres.

Guerrero, P. (2008). La aproximación clínica del trabajo : una posibilidad de intervenir e

investigar la identidad profesional de los docentes de zonas vulnerables. Psiquiatría y Salud Mental,

25(1-2), 92-104.

Guerrero, P. (2017). Cooperación y Sociología clínica : una propuesta de formación de profesores.

In N. Ruiz & H. Foladori (Dirs.), Cooperación en los Vínculos Grupales e Institucionales (pp. 55-73).

Santiago de Chile : Editorial Universitaria.

Honneth, A. (2006). La société du mépris : vers une nouvelle théorie critique. Paris : La Découverte.

Huneeus, C. (2016). El régimen de Pinochet. Santiago de Chile : Taurus.

Kocyba, H., & Renault, D. (2007). Reconnaissance, subjectivisation, singularité. Travailler, (2), 103-118.

Lhuilier, D. (2006). Cliniques du travail. Toulouse : Eres.

OECD (2015). Estudios económicos de la OECD CHILE. Paris : OECD.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

57

Page 59: Laboreal, Volume 15 Nº2

Offe, K. (1997). ¿Qué crisis ? Retos y transformaciones de la sociedad del trabajo. Donostia : Tercera

Prensa.

Pichon-Rivière, E. (1985). El proceso grupal : del psicoanálisis a la psicología social. Buenos Aires :

Editorial Nueva Visión.

PNUD (2017). Chile en 20 años. Un recorrido a través de los Informes sobre Desarrollo Humano. Santiago

de Chile : Programa de Naciones Unidad para el Desarrollo Chile https://www.undp.org/content/

dam/chile/docs/desarrollohumano/undp_cl_idh_Chile-en-veinte-anos-doc.pdf

Priestley, M., Biesta, G., & Robinson, S. (2015). Teacher agency: an ecological approach. Londres :

Bloomsbury Academic.

Ramos, C. (2009). La transformación de la empresa chilena : una modernización desbalanceada. Santiago

de Chile : Ediciones Universidad Alberto Hurtado.

Rosa, H. (2010). Accélération : une critique sociale du temps. Paris : La Découverte.

Sisto, V. (2012). Identidades desafiadas : individualización, managerialismo y trabajo docente en

el Chile actual. Psykhe (Santiago), 21(2), 35-46.

Stecher, A. (2015). La empresa flexible como dispositivo de gobierno. Aportes de la Analítica de la

Gubernamentalidad al estudio de las subjetividades laborales en América Latina. Universitas

Psychologica, 14(5), 179-194.

Stecher, A., & Godoy, L. (2014). Transformaciones del trabajo, subjetividad e identidades. Lecturas

psicosociales desde Chile y América Latina. Santiago de Chile : RIL Editores.

UNESCO (2017). Rendir cuentas en el ámbito de la educación : cumplir nuestros compromisos. Informe de

Seguimiento de la Educación en el Mundo. Paris : UNESCO. http://unesdoc.unesco.org/images/

0025/002595/259593s.pdf.

Viviers, S., Boulet, J., & Hamelin, G. (2018). Santé psychologique et souffrance identitaire de

métier : résultats d’une enquête sur l’expérience du travail de C.O. en milieu scolaire. L’Orientation

, 8(1), 10-14.

Voswinkel S., Gernet I., & Renault E. (2007). L’admiration sans appréciation. Les paradoxes de la

double reconnaissance du travail subjectivise . Travailler, 2(18) 59-87.

Zabala, X., Guerrero, P., & Besoain, C. (2017). Clínicas del Trabajo. Teorías e intervenciones. Santiago

de Chile : Ediciones Universidad Alberto Hurtado.

NOTAS

1. Grafiti encontrado el 2019

2. La palabra managerial no existe en español, pero la usaremos para referirnos a la organización

que viene del management y que Vincent de Gaulejac, ha caracterizado en el libro “Société

malade de la gestion” (2005).

3. En este artículo y en el libro “Clínicas del Trabajo: Nociones y perspectivas” que se publicó el

2017 bajo la coordinación de Ximena Zabala, Patricia Guerrero y Carolina Besoain en las Ediciones

Alberto Hurtado.

4. MINEDUC (2015). Diversificación de la enseñanza. Decreto n° 83/2015: Aprueba criterios y

orientaciones de adecuación curricular para estudiantes con necesidades educativas especiales de

educación parvularia y educación básica.

5. MINEDUC (2017) Orientaciones sobre estrategias diversificadas de enseñanza para educación

básica, en el marco del decreto 83/2015.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

58

Page 60: Laboreal, Volume 15 Nº2

6. Núcleo Milenio Autoridad y Asimetrías de Poder, liderado por Kathya Araujo y Antonio

Stecher. Ver http://www.iniciativamilenio.cl/autoridad/

RESÚMENES

El artículo se propone problematizar el proceso de transformaciones del trabajo contemporáneo

en Chile. Se describen tres experiencias desde las clínicas del trabajo (educacional, psicosocial y

socioanálisis) en diferentes escenarios laborales. A su vez, se realiza una reflexión sobre la

pertinencia de la clínica del trabajo como forma de intervención para contribuir a la

comprensión de los procesos subjetivos de los trabajadores, en su dimensión individual, grupal y

política.

O artigo propõe-se problematizar o processo de transformações do trabalho contemporâneo no

Chile. Três experiências são descritas a partir de estudos desenvolvidas na perspetiva das clínicas

do trabalho (educacional, psicossocial e socioanálise) em diferentes cenários de trabalho. A

seguir, faz-se uma reflexão sobre a relevância da abordagem da clínica do trabalho como forma

de intervenção que contribui para a compreensão dos processos subjetivos dos trabalhadores, nas

suas dimensões individual, grupal e política.

L'article propose une problématisation du processus de transformation du travail contemporain

au Chili. Trois expériences sont décrites au départ d’études menées selon la perspective des

cliniques de travail (éducatives, psychosociales et socio-analytiques) dans différents scénarios de

travail. Une réflexion est menée ensuite à propos de la pertinence de l’approche de la clinique du

travail, définie en tant que mode d’intervention contribuant à la compréhension des processus

subjectifs des travailleurs, dans leur dimension individuelle, de groupe et politique.

The paper aims at problematizing the process of contemporary work transformations in Chile.

Three experiences are described from a clinical point of view (pedagogical, psychosocial and

socio-analytical) in different work scenarios. Then, it reflects on the relevance of the clinical

approach as a form of intervention, which contributes to the understanding of the workers’

subjective processes, in their individual, group and political dimensions.

ÍNDICE

Mots-clés: transformations du travail contemporain, sujet social, cliniques du travail, clinique

psychosociale du travail, socioanalyse

Palabras claves: transformaciones del trabajo contemporáneo, sujeto social, clínicas del trabajo,

clínica psicosocial del trabajo, socioanálisis

Keywords: contemporary work transformations, social subject, work clinics, psychosocial

clinical work, socio-analysis

Palavras-chave: transformações do trabalho contemporâneo, sujeito social, clínicas do trabalho,

clínica psicossocial do trabalho, socioanálise

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

59

Page 61: Laboreal, Volume 15 Nº2

AUTORES

PATRICIA GUERRERO MORALES

Facultad de Educación, Pontificia Universidad Católica de Chile ; Vicuña Mackena 4680, Macul,

Santiago de Chile, Chile ; [email protected]

MANUEL GÁRATE CHATEU

Instituto de Historia, Pontificia Universidad Católica de Chile ; Vicuña Mackena 4680, Macul,

Santiago de Chile, Chile ; [email protected]

ELISA ANSOLEAGA IMAS

Facultad de Psicología, Universidad Diego Portales ; Vergara 275, Santiago de Chile, Chile ;

[email protected]

J. MARCELO BALBOA GALLARDO

Universidad Laval ; 858, Isidore Garon, app 1, Quebec, Canada ; [email protected]

JOSÉ TOMAS SAFFIRIO MEZZANO

Facultad de Economía y Negocios, Universidad de Chile ; Eliodoro Yañez 2972 of.605, Providencia,

Santiago de Chile, Chile ; [email protected]

ALEJANDRA NUÑEZ CARBULLANCAUTOR

Facultad Economía y Negocios, Universidad de Chile ; Eliodoro Yañez 2972 of.605, Providencia,

Santiago de Chile, Chile ; [email protected]

M. VALENTINA URRUTIA FUENZALIDA

Consultora Educación y Trabajo ; Vicuña Mackena 4680, Macul, Santiago de Chile, Chile ;

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

60

Page 62: Laboreal, Volume 15 Nº2

A Psicologia do trabalho e asClínicas do trabalho no BrasilLa Psicología del trabajo y las Clínicas del trabajo en Brasil

La Psychologie du travail et les Cliniques du travail au Brésil

Work psychology and the work clinics in Brazil

José Newton Garcia de Araújo e Vanessa Andrade de Barros

NOTA DO EDITOR

Manuscrito recebido em julho/2019Aceite após peritagem novembro/2019

1. Introdução

1 Este texto tem como horizonte os trabalhos inscritos por pesquisadores brasileiros no

“Simpósio França-América Latina”, em 2018, em Havana. Em torno de 50 propostas,nem todas apresentadas no evento, seus títulos e resumos versavam sobre conceções,campos e conteúdos diversos, o que exigiu a escolha metodológica de elegermos umcampo disciplinar e procedermos a um recorte por temas e perspetivas que maissobressaíram, tanto pela qualidade da abordagem quanto pela quantidade de trabalhos.Destacamos o campo da Psicologia do trabalho, em suas interfaces com a saúde dotrabalhador e com as perspetivas das Clínicas do trabalho, a partir de um recorteorientado pela leitura de títulos, resumos e referências dos estudos submetidos. Daíbuscamos breves referências históricas dessas disciplinas, no Brasil, e retomamos oseixos temáticos do simpósio, elencando algumas contribuições das pesquisasapresentadas, sem, no entanto, nos determos na análise de suas temáticas.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

61

Page 63: Laboreal, Volume 15 Nº2

2. Breves notas sobre os antecedentes da Psicologiado trabalho no Brasil

2 É difícil traçar um panorama completo da psicologia do trabalho, no Brasil, dada a

extensa produção advinda de diferentes correntes teóricas, metodológicas edeontológicas, nos últimos cinquenta anos, bem como de suas conexões com outrasdisciplinas no campo das ciências humanas e sociais, assim como no campo das ciênciasda saúde. Certamente, ao tentar alinhavar um histórico dessas produções, estaremosdeixando de contemplar algumas delas.

3 Uma observação inicial a se fazer diz respeito a uma divisão teórico-metodológica, no

terreno das psicologias que se ocupam do trabalho. De um lado, está a tradição daspsicologias cognitiva e experimental que, fundadas nas premissas do neopositivismo eque visam à previsão e controle do desempenho do trabalhador (Bendassolli & Soboll,2011) ; de outro lado, situaríamos as demais correntes filiadas grosso modo a umaperspetiva social, política e clínica, identificadas a uma psicologia social crítica dotrabalho. Dentre essas últimas, destacamos produções inspiradas na psicossociologiafrancesa (Barus-Michel, Enriquez, & Lévy, 2002), as correntes institucionalistas (Lourau,1970 ; 1975 ; Lapassade, 1967 ; 1977 ; Deleuze & Guattari, 1972 ; 2010), Mendel (1998),entre outras abordagens críticas que se apoiam nas heranças marxista, freudiana,freudomarxista e mesmo foucaultiana, que seguem orientando grande parte dosestudos atuais no campo da psicologia crítica. No campo institucional, lembremos aindaas influências do pensamento engajado dos italianos Berlinguer (1976), Basaglia (1985) eJervis (2019).

4 Sobre a Psicossociologia, tomada aqui como uma das orientações basilares da Psicologia

do trabalho, é oportuno lembrar que ela foi introduzida no Brasil a partir dos contatoscom pesquisadores franceses trazidos por Célio Garcia, professor de psicologia social doDepartamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), desde ofinal dos anos de1960. Citemos, a exemplo, as visitas de Max Pagès, em 1979 e AndréLevy, em 1997. Nesse período, a Psicossociologia também se fazia conhecer, entre nós,por intermédio da A.R.I.P. (Association pour la Recherche et l’InterventionPsychosociologique) e de suas publicações na revista Connexions. Através dessa correnteteórica e metodológica, que tinha em Kurt Lewin um de seus inspiradores, uma novaperspetiva de análise foi introduzida nos estudos e nas intervenções junto àsorganizações, nas quais os problemas ligados direta ou indiretamente ao trabalhosempre ocuparam um lugar de destaque. No início dos anos de 1970, tivemos a presençade George Lapassade, que introduziu entre nós a análise institucional, desenvolvidacom René Lourau. Mais ou menos à mesma época, sempre por intermédio de CélioGarcia, estiveram entre nós Michel Foucault e Cornelius Castoriadis. Dentre asproduções brasileiras, Peter Spink (1997) já na década de 1970 apontava os aspetospsicossociais do trabalho. Uma divulgação básica da Psicossociologia, no Brasil, se deuatravés da publicação do livro Psicossociologia : Análise Social e intervenção (Machado,Moura Castro, Araújo, & Roedel, 1994, 2001), com textos de André Lévy, André Nicolaï,Eugène Enriquez e Jean Dubost.

5 A ênfase que damos a esses pensadores no escopo deste artigo deve-se ao fato de que se

constituem nas bases orientadoras que construíram o pensamento psicossociológicosobre o trabalho na atualidade.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

62

Page 64: Laboreal, Volume 15 Nº2

6 No início da década de 1990, os contatos de pesquisadores brasileiros com a

Psicossociologia tiveram continuidade por meio do CIRFIP (Centre International deRecherche, de Formation et d’Intervention Psychosociologiques). Vale lembrar quediversos pesquisadores-docentes, alocados em universidades brasileiras de norte a suldo país, fizeram sua formação doutoral em instituições universitárias francesas, sendoposteriores os contatos dos doutorandos e pós doutorandos psicólogos com oConservatoire National des Arts et Métiers (CNAM). Tais influências foram marcantesnos trabalhos submetidos ao simpósio.

7 A partir de 2001 até 2011, realizaram-se, na UFMG, em Belo Horizonte, Minas Gerais,

diversos colóquios internacionais de psicossociologia e a sociologia clínica. Esseseventos também ocorreram, anos depois, em outras universidades brasileiras, como aUniversidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade de Brasília (UnB).Nesses eventos, além dos já citados André Lévy e Eugène Enriquez, figuram também osnomes de Jacqueline Barus-Michel, Gilles Amado, Dominique Lhuilier, Vincent deGaulejac, Robert Castel, Robert Sévigni, Jacques Réhaume, Pierre Roche, para citarapenas alguns. Mesmo que esses colóquios não visassem discutir as questões ligadasdiretamente ao trabalho, estas eram fartamente contempladas, em meio a outrastemáticas, envolvendo grupos, organizações, instituições e comunidades, com incursõesespecíficas em questões da atualidade, como minorias, gênero, feminismo,vulnerabilidade social, educação, infância, trabalho rural, políticas públicas,sustentabilidade, imigração, configurando os cenários sociopolíticos, em cujo interior otrabalho, direta ou indiretamente, ocupa um lugar privilegiado.

8 Tais temáticas se desdobraram, ao longo dos anos, constituindo-se atualmente em

atividades de pesquisas relacionadas diretamente ao trabalho, acompanhandoproblematizações de movimentos e grupos que interrogam o mundo laboral, a partir defocalizações específicas, como por exemplo : raça, gênero e trabalho ; sustentabilidade etrabalho ; juventude e trabalho ; migrações e trabalho, trabalho em contextos degrandes riscos e exposições a produtos tóxicos, trabalhos em locais e situaçõesmarginalizados, home office, trabalho no setor de serviços, em bancos, em aplicativos,tudo isso transversalmente inserido em âmbitos mais amplos, como direitos humanos,políticas publicas, saúde, educação, violência, exclusão, corpo, desenvolvimentotecnológico, precarização e fragilização da vida, criatividade, formação e transmissão.

3. O campo da Saúde do trabalhador e sua interfacecom a Psicologia do trabalho

9 Um dos temas que mais se destacaram no simpósio foi a interação entre esses campos –

Saúde do Trabalhador e Psicologia do trabalho - considerando momentos políticosdistintos da historia brasileira.

10 O campo da saúde do trabalhador surgiu, no Brasil, na década de 1980, à época da

chamada abertura política, com a presença de sindicatos e do movimento sanitário, doqual participavam profissionais da saúde, inclusive psicólogos, levando a ConstituiçãoFederal a incorporar políticas públicas voltadas à saúde do trabalhador (Esteves,Bernardo, & Sato, 2017, p. 55). Esse campo de saberes e práticas, continuam os autores,se inspirou nos princípios da Saúde Coletiva e, em especial, na Medicina Social latino-americana (Laurell & Noriega, 1989 ; Matrajt, 2013), que tomavam a saúde como parte

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

63

Page 65: Laboreal, Volume 15 Nº2

do processo histórico e social, tendo o trabalho como categoria explicativa central.Neste contexto, também foram realizados no Brasil desenvolvimentos da teoria dodesgaste, de Laurell, de modo a ser consubstanciada a perspetiva teórica do desgastemental relacionado ao trabalho (Seligmann-Silva, 1994 e 2011).

11 De fato, foi no bojo da retomada da luta dos movimentos sindicais chamados autênticos,

base do novo sindicalismo brasileiro, que o campo da saúde do trabalhador ganharelevo, especialmente com a criação, em São Paulo, do Departamento Intersindical deEstudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (Diesat) no qual, comoaponta Sato (2010) engenheiros, advogados, ergonomistas, sociólogos, psiquiatras,sanitaristas, médicos do trabalho e psicólogos, passam a olhar para o mundo dotrabalho através dos problemas de saúde. A atuação profissional de psicólogos emórgãos sindicais e em órgãos de saúde pública fortaleceu essa nova forma de olhar osproblemas e demandas dos trabalhadores e seus órgãos de representação, que seconstituem como protagonistas da luta pela saúde do trabalhador.

12 Importante ressaltar que essa inserção inicial de psicólogos na saúde publica e em

órgãos de defesa dos trabalhadores representa sólida base de atuação da psicologia dotrabalho, no campo de políticas publicas que, atualmente, são referência de práticaspsicológicas de saúde e atenção, nas redes SUS (Sistema Único de Saúde), SUAS (SistemaÚnico de Assistência Social), RENAST (Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde doTrabalhador), CEREST’s (Centros Estaduais e Regionais de Referência em Saúde doTrabalhador), CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), CERSAM’s (Centro de Referênciaem Saúde Mental), CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), CREAS (Centro deReferência Especializado de Assistência Social) e NASF’s (Núcleos de Apoio à Saúde daFamília). Nesse sentido, a Portaria nº 1.823, de 23 de agosto de 2012, do Ministério daSaúde, que “institui a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora »abre frentes importantes de atuação da psicologia do trabalho, sobretudo na esfera dasaúde mental.

13 Sato (2010) também comenta que a abordagem crítica de Laurell e Noriega traz os

elementos orientadores no campo da Saúde do Trabalhador, analisando a categoriatrabalho, através do conceito de processo de trabalho, central para a compreensão dadinâmica saúde-doença, além de compreendê-lo como uma atividade que se desenvolvenum processo histórico. Tal posição serviu de suporte teórico para um diálogointerdisciplinar, além de sustentar “práticas profissionais em diálogo comtrabalhadores e trabalhadoras e seus órgãos de representação política” (Sato, 2010,p. 45). Essa perspetiva, norteada pela Psicologia social do trabalho, situa o campodisciplinar da psicologia voltado ao trabalhador, em sua dimensão histórico-política,distinguindo-o das abordagens positivistas, individualizantes e a serviço dos modelosgerencialistas de intervenção. É de se destacar igualmente que as práticas de pesquisa eintervenção em Saúde do Trabalhador, no Brasil, também tiveram como fonte ochamado Modelo Operário Italiano, apresentado nos anos 70 por Ivar Oddone e suaequipe (Oddone, Re, & Briante, 1981) ; tal abordagem recoloca o trabalhador comoprotagonista da análise do trabalho, através de sua participação efetiva, naquelainvenção metodológica que Oddone et al. (1981) denominaram “comunidade científicaampliada”.

14 Assim é que podemos situar a formação de um novo campo de saberes e práticas

voltadas, no Brasil, para a saúde do trabalhador, tendo como base as relações dapsicologia social com o campo do trabalho. Demarcando-se da psicologia clínica e da

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

64

Page 66: Laboreal, Volume 15 Nº2

psicologia da saúde, esse campo toma a saúde do trabalhador como importante terrenode pesquisa de uma psicologia social “que buscava tanto compreender quais aspetos dosprocessos de trabalho levavam a adoecimento dos trabalhadores quanto identificarformas de enfrentá-los” (Esteves, Bernard, & Sato, 2017, p. 57).

15 Aqui situamos um grupo de docentes e pesquisadores, cuja identificação teórica e

metodológica ficou conhecida como Psicologia social do trabalho. Este grupo, em 1998,criou a revista Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, vinculada ao Departamentode Psicologia social e do trabalho, do Instituto de Psicologia da Universidade de SãoPaulo (USP). As publicações desta revista se tornaram uma referência para estudantes,docentes e pesquisadores da área do trabalho. Além dessa revista, mencionemos a obra“Psicologia social do trabalho”, organizada por Maria Chalfin Coutinho, MárciaHespanhol Bernardo e Leny Sato, lançada em 2017 e que sintetiza o pensamento crítico,as pesquisas e as ações deste mesmo grupo.

16 Outras interfaces significativas da Psicologia do trabalho dizem respeito ao campo da

medicina do trabalho, e suas conexões internas com a medicina social, preventiva e dasaúde coletiva, no Brasil (Seligmann-Silva, 2011 ; Lacaz, 2016), e seus intercâmbios comas pesquisas, intervenções, assessorias e formações desenvolvidas pela FUNDACENTRO(Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho), voltadas àprevenção em ambientes de trabalho e à saúde do trabalhador. A Revista Brasileira deSaúde Ocupacional – RBSO, publicada por esta fundação é uma referencia na área.Importante mencionar também os trabalhos de Selma Lancman e de Teresa Mitsunaga,esta ultima precursora dos estudos em saúde do trabalhador na região nordestebrasileira.

4. Psicologia do trabalho, intercâmbios com asClínicas do trabalho e outros saberes

17 As chamadas Clinicas do trabalho, a saber : a Psicodinâmica do trabalho, a Clínica da

atividade, a Ergologia e a Psicossociologia do trabalho, tiveram significativo destaque,em termos de perspetivas teórico-metodológicas dos trabalhos aprovados no “SimpósioFrança-América Latina, em especial aqueles relativos a estudos sobre agravos à saúdedo trabalhador e ao campo da saúde mental e trabalho.

18 Destas abordagens clínicas, a Psicodinâmica do trabalho (Dejours, 1996) foi a precursora

no Brasil. Posteriormente, passamos a conhecer a Clínica do trabalho (Clot, 2006) e aErgologia (Schwartz & Durrive, 2010 ; 2015), enquanto a Psicossociologia do trabalho(Lhuilier, 2014), apesar de sua originalidade, já tinha certa familiaridade com o públicobrasileiro, em função de sua precedente filiação com a psicossociologia tout court. Essascorrentes tiveram especial divulgação com o livro Clinicas da Atividade (Bendassolli &Soboll, 2011).

19 A obra A Loucura no trabalho (Dejours, 1987) marcou uma inflexão nos estudos sobre o

trabalho, no Brasil, na medida em que introduziu na chamada ‘Psicologiaorganizacional’ análises sobre a relação saúde e trabalho e os impactos da organizaçãodo trabalho no psiquismo. Essa obra foi de grande utilidade, posto que inspirou acriação de novos modelos de intervenção e reflexões do campo da saúde mental etrabalho - e aqui não podemos deixar de mencionar a influência dos precursores

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

65

Page 67: Laboreal, Volume 15 Nº2

franceses Paul Sivadon (1957), Claude Veil (2012) e, principalmente, Louis Le Guillant(2006).

20 Suas críticas ao taylorismo igualmente levaram à construção de novos modos de pensar

o trabalho nas organizações, chegando no Brasil em um momento já impactado peloavanço das novas tecnologias computadorizadas, nos processos produtivos, com efeitosna saúde e na organização dos trabalhadores. Havia, à época, um sentimento de perdareal do conteúdo do trabalho, fonte de grande preocupação do movimento sindical queressurgia no fim da ditadura militar no Brasil.

21 Outra disciplina desse campo das clínicas é a Clínica da atividade, desenvolvida a partir

de 1990, na França, por Yves Clot e Daniel Faïta gozando de enorme recetividade nosmeios acadêmicos brasileiros. Desde 2007, Yves Clot participa frequentemente deeventos no Brasil, tendo sido sua obra divulgada, além de numerosos artigos e capítulosde livros, com a publicação de A função psicológica do trabalho (2006) e Trabalho e poder de

agir (2010). Segundo Silva, Barros de Barros e Louzada (2011), os conceitos emetodologias da Clínica da atividade têm sido utilizados, no Brasil, “em múltiplascomposições... e outros modos de produzir interferências/conhecimentos que jáestavam aqui mais ou menos sedimentados” (p. 200). Diversos eventos científicos sobrea Clínica da atividade têm sido realizados no Brasil, dentre os quais três edições doColóquio Internacional da Clínica da atividade- CICA, nas cidades de São João del Rei(2010), Natal (2013) e São Paulo (2016).

22 Além da Clínica da atividade, observa-se, no Brasil, grande influência da Ergologia, que

se iniciou, conforme afirmam Athayde e Brito (2011) por meio de contatos depesquisadores brasileiros com a Université de Provence, onde trabalhava YvesSchwartz. A relação com este autor se intensificou, a partir de sua primeira vinda aoBrasil, em 1997, aí se incluindo missões científicas junto a organismos dedicados àquestão do trabalho, onde se destaca um acordo Capes / Cofecub, em 1997, quepossibilitou a realização de doutorados de pesquisadores brasileiros na Université Aix-Marseille. A partir daí foram realizados intercâmbios pontuais (cursos, participação empesquisas conjuntas, organização de eventos, etc., principalmente no Rio de Janeiro,São Paulo e Minas Gerais), com profissionais brasileiros de diferentes formaçõesacadêmicas, em diversas regiões do Brasil, além de cooperação com organismosintersindicais, como o Dieese/SP, a Escola Sindical Sete de Outubro/MG e o Cesat/BA.Assim, houve um aumento de pesquisas e publicações inspirados na Ergologia, noscursos de graduação e pós-graduação brasileiros, com predominância de “investigaçõesvinculando o trabalho à Linguística, Psicologia social, Ergonomia, Engenharia deprodução, Educação, Saúde pública, Comunicação, Administração” (Athayde & Brito,2011, p. 273), o que evidencia o crescimento de pesquisas interdisciplinares, focandoquestões específicas do mundo do trabalho, com diversas experimentações no campo dapesquisa-intervenção. A tradução dos livros Trabalho e ergologia : conversas sobre a

atividade humana (Schwartz & Durrive, 2010) e Trabalho e Ergologia II - Diálogos sobre a

atividade humana (Schwartz & Durrive, 2015) por grupos de pesquisadores do Rio deJaneiro e de Minas Gerais trouxe enorme impacto nas pesquisas desenvolvidas no quepodemos chamar de transdisciplinariedades do trabalho.

23 Quanto à Psicossociologia do trabalho, sua afirmação como campo disciplinar

autônomo é mais recente, mesmo que ela guarde as anteriores vinculações com aclássica Psicossociologia francesa. Esse campo tem se consolidado no Brasil por meio deum intercâmbio intenso com Dominique Lhuilier, presente em inúmeros eventos

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

66

Page 68: Laboreal, Volume 15 Nº2

realizados em diversas universidades brasileiras. Lhuilier tem também recebidosignificativo número de doutorandos e pós-doutorandos brasileiros, no ConservatoireNacional des Arts et Métiers (CNAM), além de contar uma vasta publicação de artigos ecapítulos de livros, no Brasil. Em 2012 e 2015 foram realizados, na Universidade Federalde Minas Gerais, o primeiro e segundo Colóquio internacional de Psicossociologia dotrabalho. Cabe salientar a importante iniciativa de Dominique Lhuilier, juntamente comAndréa Pujol, da Universidad Nacional de Córdoba (Argentina), que foi justamente aorganização deste Simpósio França-América Latina, intitulado “Subjetividade etrabalho - entre mal-estar e bem-estar : construção de um novo paradigma da saúde notrabalho”. Este Simpósio teve o grande mérito de reunir, provavelmente pela primeiravez, um grande contingente de pesquisadores brasileiros com colegas de uma dezena depaíses latino-americanos, além de numerosos pesquisadores franceses e canadenses.

24 Dentre outros intercâmbios internacionais que enriqueceram as pesquisas sobre a

Psicologia do trabalho, no Brasil e que possuem interfaces com as perspetivas clínicas ecríticas, citemos também a presença de Marianne Lacomblez, da Universidade do Porto,que atuou, em 2014, como professora visitante da Universidade Federal Fluminense(UFF), tendo também trabalhado, antes e após esta visita, com diversos outrosprogramas de pós-graduação, no país. Um pouco de sua sólida trajetória intelectualpode ser apreciado na entrevista que ela concedeu à revista Cadernos de PsicologiaSocial do Trabalho (Lacomblez, Araújo, Zambroni-de-Souza, & Máximo, 2016). Cabelembrar aqui que o seu nome está ligado também à revista Laboreal, que é igualmenteuma referência na divulgação da psicologia crítica do trabalho e das disciplinas afins,na Europa e na América Latina, com grande penetração no Brasil.

25 Voltando ao contexto nacional, na impossibilidade de elencar todos os intercâmbios da

Psicologia do trabalho, cabe mencionar, de passagem, as aproximações da Psicologia dotrabalho com a Sociologia do trabalho, representada especialmente por RicardoAntunes (2018), lembrando o quanto essas parcerias têm sido férteis, no campo dapesquisa e de sua consequente produção teórica. Aqui acrescentamos as colaboraçõescom a economia (Marcio Pochmann, João Antônio de Paula) e muito especialmente coma ergonomia (Leda Leal Ferreira, Laerte Sznelwar, Seiji Uchida, Selma Lancman,Francisco Lima), cujos trabalhos possuem articulações importantes com aPsicodinâmica do trabalho, para citar apenas alguns.

5. Pesquisas brasileiras

26 Tendo em vista a enorme variedade temática dos trabalhos brasileiros submetidos ao

Simpósio França-América Latina, podemos afirmar que esses trabalhos possuem forteconvergência, no que se refere à orientação ético-política presente nas conceções dehomem e sociedade. Conforme já indicamos, é um desafio identificar peculiaridades dosestudos brasileiros, embora elas sejam inegáveis. Limitamo-nos a observar que, emconsonância com muitas pesquisas internacionais, elas focalizam, entre outros temas, odesgaste físico e psíquico dos trabalhadores, impactados pelo agravamento daprecarização, intensificação e individualização do trabalho. Isso ocorre com ofortalecimento de políticas neoliberais traduzidas, grosso modo, por novas e variadasformas de contratação e de remuneração, pelo desmonte dos marcos regulatórios dasrelações de trabalho, pela perda do sentido do trabalho e por modelos gerenciais

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

67

Page 69: Laboreal, Volume 15 Nº2

coercitivos e opressores, embutidos na ideologia da excelência e da captura desubjetividades, em tempos de produção flexível.

27 De fato, os avanços de políticas de ajuste económico, de desmantelamento da

solidariedade e de formas de cooperação no trabalho, configuram situações de enormeviolência institucional que têm como alvo os trabalhadores e suas organizações. Tudoisso incide diretamente no processo de saúde-doença do trabalhador tanto nos setoresformais quanto informais da economia, como indicou um grande número dos estudosapresentados.

28 Outros, por sua vez, apontaram a necessidade de resistência e de protagonismo dos

trabalhadores, mesmo que incipientes, visíveis na construção de novas formas de vivere trabalhar, buscando fazer frente às metamorfoses atuais do mundo laboral. Citem-seaqui trabalhos sobre a participação em organizações e ações comunitárias ; novasformas de trabalho educativo ; o uso do trabalho como resistência à violências degênero, raça e classe - tanto no sentido de que o ato de trabalhar se configura comoresistência em sí, empoderando o/as trabalhadores quanto como locus de organizaçãode maneiras de resistir às diferentes formas de violência - a participação emmovimentos militantes ; a desconstrução de modos instituídos de trabalhar ; a criaçãode redes de cuidado e proteção social.

29 Tivemos assim um conjunto de temáticas que, embora variadas, tendem todas à mesma

orientação social e crítica. No que diz respeito às perspetivas teóricas e metodológicasapresentadas, os trabalhos possuem ampla diversidade, traduzindo a polissemia quecontém a noção de trabalho. A prevalência de referenciais da Psicologia do trabalho, emdiálogo com Clínicas do trabalho e com outras disciplinas - Medicina, Sociologia,Economia, Teorias críticas da administração de empresas e Ergonomia da atividade -configura um mosaico onde os autores recorreram a uma disciplina única ou a mais deuma, buscando um diálogo entre elas.

30 Elencamos, a seguir, os temas abordados nos trabalhos apresentados nos 05 eixos

temáticos, observando que se trata de uma divisão meramente didática, posto que ostemas são transversais e complementares. Em comum, eles trazem, de maneira mais oumenos evidenciada, as conflitualidades presentes nas finalidades do trabalho, do nivelmicro da atividade ao macro das politicas e regulações, convocando diferentesdisciplinas para dar conta de suas problemáticas.

Diretamente relacionados à saúde, temos os trabalhos que tratam prioritariamente de :

problemas relativos à inserção de pessoas com deficiência no trabalho ; o presenteísmo ou o

escondimento do adoecimento, por medo de perder o trabalho ; os problemas de saúde dos

trabalhadores da saúde pública, no combate a endemias urbanas ; os transtornos mentais e

comportamentais do trabalhador, em tempos de reestruturação produtiva ; a saúde e o

adoecimento mental do trabalhador dos serviços de atenção básica, no sistema brasileiro de

saúde (SUS, CERESTs, CAPS, CERSAM’s) ; as relações entre trabalho e uso de drogas ; saúde e

adoecimento do trabalhador do setor público ; problemas que atingem os profissionais de

reabilitação profissional, no serviço público brasileiro ; sofrimento e saúde de trabalhadores

eletricitários ; políticas de reabilitação profissional ; a saúde do trabalhador que lida com

adolescentes em conflito com a lei, o uso de substâncias psicoativas no trabalho.

No eixo relativo às políticas neoliberais e precarização do trabalho, temos : trabalho formal,

informal e precarizado ; efeitos perversos da gestão neoliberal na vida do trabalhador ; a

precarização do trabalho do professor universitário do setor privado ; impactos do modelo

de gestão por indicadores quantitativos da produção sobre a subjetividade e a saúde do

trabalhador ; a precarização do trabalho do teleatendente ; a lógica de funcionamento das

1.

2.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

68

Page 70: Laboreal, Volume 15 Nº2

universidades corporativas : formação ou formatação profissional (hiperespecialização) e

seus efeitos sobre a subjetividade ; os efeitos da reforma trabalhista brasileira na saúde do

trabalhador ; a questão da terceirização ; a carreira de mulheres executivas e os problemas

de sua qualidade de vida.

As questões contemporâneas relacionadas ao trabalho e à políticas publicas aparecem em

estudos que privilegiam os temas : corpo e trabalho ; o problema do assédio moral nos

setores público e privado ; questões ligadas ao trabalho dos servidores do poder judiciário ; o

trabalho de professores no ensino especial de jovens e adultos (EJA) ; a experiência e os

desafios de ex-atletas na função de gestores de empresa ; o trabalhador e a reprodução

assistida, em situações de maternidades tardias ; questões envolvendo os efeitos do racismo

no mercado de trabalho : as cotas para negros na universidade, o mito da democracia racial

no Brasil, diferenças salariais entre trabalhadores negros e brancos ; normativas de gênero e

de trabalho ; trabalho e riscos psicossociais em empresas públicas e privadas ; o poder de

agir e os conflitos sobre critérios relativos ao “trabalho bem feito”, em agentes

comunitários ; causas de sobrevivência e mortalidade das atividades produtivas informais ;

construção da intersetorialidade no campo saúde e trabalho.

No eixo resistências, apontamos os trabalhos : as formações coletivas como agente de

mudanças no trabalho, em um hospital universitário ; estratégias coletivas de saúde em

servidores hospitalares ; a dominação e a resistência do coletivo de trabalhadores ; a reforma

agrária, cooperação e resistência dos assentados ; terceirização e formas de resistência.

Em trabalhos com relevância para as questões metodológicas observamos a prevalência de

pesquisas orientadas por historias de vida e de trabalho e uma oficina de fotos : a trajetória

de vida e o gesto profissional no campo da psiquiatria ; história de vida e transição

profissional ; história de vida e problemas de gênero, no caso de mulheres trabalhadoras

portadoras de HIV ; trabalho, violência e suicídio.

31 Entendemos que todos os eixos são perpassados pela questão central do trabalhador (aí

incluído o pesquisador) que é aquela referente ao sentido e ao significado do trabalho,enquanto uma práxis e um construto teórico essencial à compreensão do mundo dotrabalho e seus desdobramentos na vida psíquica e político-social.

6. Considerações finais

32 Os contatos, eventos e intercâmbios acadêmicos, acima referidos, possibilitaram uma

enorme divulgação das Clínicas do trabalho no Brasil, particularmente em suasconexões com a Psicologia social do trabalho. Atualmente, há diversos grupos elaboratórios de pesquisas, em todo o país, ligados a essas disciplinas e/ou autores,sendo a sua difusão bastante ampla, não apenas nos cursos de psicologia, mas em outrosprogramas de ensino, pesquisa e extensão, ligados à saúde do trabalhador, (medicina dotrabalho, psiquiatria, enfermagem, terapia ocupacional, fisioterapia), à engenharia deprodução, à ergonomia da atividade, ao direito e à administração de empresas,demonstrando a necessidade, importância e riqueza da transdisciplinaridade, nosestudos relativos ao trabalho.

33 Assinalamos ainda que a presença das abordagens clínicas do trabalho e da Psicologia

social do trabalho têm lugar de destaque entre os pesquisadores da ANPEPP (AssociaçãoNacional de Pesquisa em Pós-graduação em Psicologia), com diversos Grupos deTrabalho (GT’s) dedicados especificamente à problemática clínica, social e política, apartir dos problemas ligados ao mundo do trabalho. Entre esses GT’s, citamos os

seguintes : Modos de vida e trabalho : ciência, cotidiano e democracia ; Psicodinâmica e

3.

4.

5.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

69

Page 71: Laboreal, Volume 15 Nº2

Clínica do trabalho ; Psicossociologia do trabalho ; Trabalho e processos organizativosna contemporaneidade ; Trabalho e saúde.

34 Esperamos, finalmente, embora não tenhamos discutido esta questão ao longo do texto,

que as diferenças teóricas e metodológicas entre as abordagens acima apresentadas, emlugar de provocar os desgastantes conflitos institucionais ou grupais, levem a debatesacadêmicos aprofundados que explicitem sempre mais a riqueza de seus fundamentosepistemológicos e façam valorizar a importância da diversidade, tanto no campocientífico quanto nas demais esferas do campo social.

BIBLIOGRAFIA

Athayde, M., & Brito, J. (2011). Ergologia e clínica do trabalho. In P. F. Bendassolli & L. A. Soboll

(Orgs), Clínicas do trabalho : novas perspectivas para compreensão do trabalho na atualidade.

(pp. 258-282). São Paulo :Atlas.

Antunes, R. (2018). O privilégio da servidão : o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo :

Boitempo editorial.

Barus-Michel, J., Enriquez, E., & Lévy, A. (2002) Vocabulaire de Psychosociologie, références et

positions. Ramonville Saint-Ange : Érès Éditions. https://doi.org/10.3917/eres.barus.2002.01

Basaglia, F. (1985). A instituição negada : relato de um hospital psiquiátrico. Rio de Janeiro : Graal.

Bendassolli, P. F., & Soboll, L. A. ( 2011). Clínicas do trabalho : novas perspectivas para compreensão do

trabalho na atualidade. São Paulo : Atlas.

Berlinguer, G. (1976). Psiquiatria e poder. Belo Horizonte : Interlivros.

Clot, Y. (2006). A função psicológica do trabalho. Petrópolis : Vozes.

Clot, Y. (2010). Trabalho e poder de agir. Belo Horizonte : FabreFactum.

Dejours, C. (1987). A loucura no trabalho. São Paulo : Oboré.

Dejours, C. (1996). Introduction, psychodynamique du travail. Revue Internationale de

Psychosociologie, 3(5), 5-15.

Deleuze, G., & Guattari, F. (2010). O Anti-Édipo : capitalismo e esquizofrenia. São Paulo : Editora 34.

Esteves, E., Bernardo, M. H., & Sato, L. (2017). Fontes do pensamento e das práticas em Psicologia

social do trabalho. In : M. C. Coutinho, M. H. Bernardo & L. Sato (Orgs). Psicologia social do trabalho

(pp. 49-80). Petrópolis : Vozes.

Jervis, G. (2019). Manual crítico de psiquiatria. Barcelona : Editorial Anagrama.

Lacaz, F. A. C. (2016). Continuam a adoecer e morrer os trabalhadores : as relações, entraves e

desafios para o campo Saúde do Trabalhador. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 41(13), 1-11.

http://dx.doi.org/10.1590/2317-6369000120415

Lacomblez, M. H., Araújo, A. J., Zambroni-de-Souza, P. C., & Máximo, T. A. (2016). Marianne

Lacomblez e a construção de uma Psicologia da Atividade de Trabalho. Cadernos De Psicologia Social

Do Trabalho, 19(1), 121-133. https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.v19i1p121-133

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

70

Page 72: Laboreal, Volume 15 Nº2

Lapassade, G. (1967). Groupes, organisations et institutions. Paris : Gauthier-Villars.

Lapassade, G. (1977). Grupos, Organizações e instituições. Rio de Janeiro : Livraria Francisco Alves.

Laurell, A. C., & Noriega, M. (1989). Processo de produção e saúde. Trabalho e desgaste operário. São

Paulo : Cebes - Hucitec.

Le Guillant, L. (2006). Escritos de Louis Le Guillant - da Erogoterapia à Psicopatologia do trabalho.

Petrópolis : Vozes.

Lhuilier (2014). Introdução à psicossociologia do trabalho. Cadernos de Psicologia

Social do Trabalho, 17(1), 5-19. DOI : 10.11606/issn.1981-0490.v17ispe1p5-19

Lourau, R. (1970). L’analyse institutionnelle. Paris : Minuit.

Lourau, R. (1975). A análise institucional. Petrópolis : Vozes.

Machado, M. N. M., Moura Castro, E., Araújo, J. N. G., & Roedel, S. (1994). Psicossociologia : análise

social e intervenção. Petrópolis : Vozes.

Machado, M. N. M., Moura Castro, E., Araújo, J. N. G., & Roedel, S. (2001). Psicossociologia : análise

social e intervenção Belo Horizonte : Ed. Autêntica.

Matrajt, M. (2013). Travail, subjectivité et société. México : Subjetividad y Cultura.

Mendel, G. (1998). L'Acte est une aventure : du sujet métaphysique au sujet de l'acte pouvoir. Paris :

Éditions La Découverte.

Oddone, I., Re, A., & Brianti, G. (1981). Redécouvrir l’expérience ouvrière : vers une autre psychologie du

travail ? Paris : Messidor/Éditions Sociales.

Sato, L. (2010) Psicologia, saúde e trabalho : distintas construções dos objetos “trabalho” e

“organizações”. In A. I. Leonardi, C. C. C. Netto, C. Moreira, C., D. C. Façanha, K. Eidelwein, & R.

Oliveira (Orgs). Psicologia crítica do trabalho na sociedade contemporânea (pp. 41 – 53). Brasília :

Conselho Federal de Psicologia.

Schwartz, Y., & Durrive, L. (2010). Trabalho e ergologia : conversas sobre a atividade humana. Niterói :

EdUFF.

Schwartz, Y., & Durrive, L. (2015). Trabalho e ergologia II : conversas sobre a atividade humana. Belo

Horizonte : Fabrefactum.

Seligmann-Silva, E. (1994). Desgaste mental no trabalho dominado. São Paulo : Cortez editora.

Seligmann-Silva, E. (2011). Trabalho e desgaste mental : o direito de ser dono de si mesmo. São

Paulo : Cortez editora.

Silva, C. O., Barros de Barros, M. E., & Louzada, A. P. F. (2011). Clínica da atividade : dos conceitos

às apropriações no Brasil. In P. F. Bendassolli & L. A. P. Soboll, L. A. P. (Org.) Clinicas do trabalho –

novas perspectivas para compreensão do trabalho na atualidade (pp. 188-207). São Paulo : Atlas.

Sivadon, P. (1957). Psychiatrie du travail. In H. Desaille (Org.). Cours de médecine du travail

(pp. 405-420). Paris : Le François, T. II.

Spink, P. K. (1997). Organização como fenômeno psicossocial : notas para uma redefinição da

psicologia do trabalho. Psicologia & Sociedade, 8(1), 174-192.

Veil, C. (2012). Vulnérabilités au travail - naissance et actualité de la psychopathologie du travail.

Toulouse : Éditions Érès. https://doi.org/10.3917/eres.veil.2012.01

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

71

Page 73: Laboreal, Volume 15 Nº2

RESUMOS

Este artigo apresenta uma breve discussão sobre a Psicologia do trabalho no Brasil e suas

interfaces com as Clínicas do trabalho e com o campo da saúde do trabalhador. Nosso ponto de

partida são os trabalhos inscritos por pesquisadores brasileiros no “Simpósio França-América

Latina”. Um recorte metodológico permitiu-nos eleger esses campos disciplinares, por meio da

leitura de títulos, resumos e referências dos trabalhos apresentados. Os textos evidenciaram uma

significativa convergência entre aos seguintes temas : a orientação social e crítica, no interesse

pelos sujeitos trabalhadores ; a complexidade e as singularidades que regem suas experiências

laborais ; os processos de constituição, os engajamentos psíquicos e político-sociais desses

trabalhadores. Acreditamos que uma síntese das pesquisas apresentadas neste colóquio reflete o

estágio atual da Psicologia do trabalho no Brasil, em suas conexões com as Clínicas do trabalho e

com o campo da Saúde do trabalhador.

Este artículo presenta una breve discusión sobre la Psicología del trabajo en Brasil y sus

interfaces con las Clínicas del trabajo y el campo de la salud del trabajador. Nuestro punto de

partida son los trabajos registrados por investigadores brasileños en el "Simposio Francia-

América Latina". Un recorte metodológico nos permitió elegir estos campos disciplinarios

mediante la lectura de títulos, resúmenes y referencias de los trabajos presentados. Los textos

evidencian una convergencia significativa entre los siguientes temas : la orientación social y

crítica en el interés de los sujetos trabajadores ; la complejidad y singularidades que rigen sus

experiencias laborales ; los procesos de constitución, los compromisos psíquicos y político-

sociales de estos trabajadores. Creemos que una síntesis de las investigaciones presentadas en

este coloquio refleja el momento actual de la Psicología del trabajo en Brasil, en sus conexiones

con las Clínicas del trabajo y con el campo de la Salud del trabajador.

Cet article présente une brève discussion sur la Psychologie du travail au Brésil et ses interfaces

avec les Cliniques du travail et le champ de la Santé du Travailleur. Les travaux présentés par les

chercheurs brésiliens au “ Symposium France-Amérique Latine » constituent notre point de

départ. Ces champs disciplinaires ont été définis à partir d’une analyse des titres, des résumés et

des références des communications présentées. Les textes ont mis en évidence une convergence

significative sur les thèmes suivants : l'orientation sociale et critique, dans l'intérêt des sujets

travailleurs ; la complexité et les singularités qui régissent leurs expériences de travail ; les

processus de constitution, les engagements psychiques et politico-sociaux de ces travailleurs.

Nous pensons qu'une synthèse des recherches présentées dans ce colloque reflète l'état actuel de

la Psychologie du travail au Brésil, dans ses liens avec les Cliniques du travail et avec le champ de

la Santé du travailleur.

This paper presents a brief discussion about Work psychology, in Brazil, and its interfaces with

the Work clinics and the Worker's health field. Our starting point is the set of papers presented

by Brazilian researchers in the "France-Latin America Symposium". A methodological cut has

allowed us to elect these disciplinary fields by reading titles, reviews and paper references. The

texts showed a significant convergence between the following themes : social and critical

orientation, keeping interest in the working subjects ; the complexity and singularities that lead

their work experiences ; the processes of constitution, the psychic and political-social

commitments of these workers. We believe that a synthesis of the researches presented in this

colloquium reflects the current moment of the Work Psychology in Brazil, in its connections with

the Work Clinics and the Worker's Health.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

72

Page 74: Laboreal, Volume 15 Nº2

ÍNDICE

Mots-clés: psychologie du travail, cliniques du travail, santé du travailleur, recherches

brésiliennes

Palavras-chave: psicologia do trabalho, clínicas do trabalho, saúde do trabalhador, pesquisas

brasileiras

Keywords: work psychology, work clinics, worker’s health, brazilian researches

Palabras claves: psicología del trabajo, clínicas del trabajo, salud del trabajador, investigaciones

brasileñas

AUTORES

JOSÉ NEWTON GARCIA DE ARAÚJO

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Rua Grão Pará, 1060/101. Funcionários.

30.150-348. Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. [email protected]

VANESSA ANDRADE DE BARROS

Universidade Federal da Paraiba. Av. Maria Elizabeth, 265/302. Cabo Branco, 58.045-180, João

Pessoa, Paraiba- Brasil. [email protected].

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

73

Page 75: Laboreal, Volume 15 Nº2

La psicología cubana y la salud delos trabajadores : entre el malestar yel bienestar A psicologia cubana e a saúde dos trabalhadores : entre o mal-estar e o bem-

estar

La psychologie cubaine et la santé des travailleurs : entre le mal-être et le bien-

être

Cuban psychology and workers’ health : between malaise and welfare

Jorge Juan Román Hernández

NOTA DEL EDITOR

Manuscrito recibido en julio/2019Aceptado tras peritaje octubre/2019

Introducción

1 En octubre de 2018, los profesionales cubanos de la salud ocupacional, particularmente

los psicólogos, tuvimos el privilegio de recibir a numerosos colegas europeos,fundamentalmente franceses. La iniciativa de la profesora Dominique Lhuilier, delConservatoire National des Arts et Métiers (CNAM) de París, de organizar un simposio en LaHabana sobre la subjetividad y la salud de los trabajadores, desbordó toda previsiónsobre sus positivos resultados. Las barreras lingüísticas no fueron óbice para laproductividad de los intercambios entre los asistentes. Dejo constancia de nuestroprofundo y sincero agradecimiento a la profesora Lhuilier por su elección de la sede delencuentro, gesto que nos honra y compromete.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

74

Page 76: Laboreal, Volume 15 Nº2

2 En mi intervención en el simposio pretendí expresar mis criterios sobre la situación

actual y las perspectivas de desarrollo de la psicología aplicada a los problemas de lasalud de los trabajadores en Cuba. Sin aspiraciones de exhaustividad, consideréimprescindible desarrollar en extenso condiciones sociales, socio-laborales, de la saludocupacional, así como de la ciencia psicológica en el país. Esas condiciones configurancontextos que influyen en la elaboración de la conducta del sujeto en ámbitos laboralesy extralaborales (Román, 2017a, 2017b, 2019).

1. Escenario socio-laboral cubano

1.1. El proyecto de sociedad

3 Cuba es un país económicamente subdesarrollado en el cual rige un sistema social

socialista, oficialmente proclamado en 1961, cuyo fundamento ideológico es elmarxismo-leninismo. Los medios fundamentales de producción son propiedad delEstado. La economía se basa en la planificación estatal. La estructura de gobierno y deadministración es estratificada y altamente centralizada.

4 En términos poblacionales, según el Anuario estadístico de Cuba (Oficina Nacional de

Estadística e Información, 2019), al término del año 2018, existían 11.209628 habitantes.De esos, 7 146 900 (63.8 %) se encontraban en edad laboral, y estaban ocupados 4.482700(39.9 %). De los ocupados, 3.067000 (68.4 %) eran del sector estatal, definitivamentemayoritario. La tasa de desocupación en el propio año fue de 1.7 %.

5 Tras la toma del poder político en 1959, se adoptaron medidas conducentes a extinguir

las diferencias de clases. Dos leyes de reforma agraria suprimieron los latifundios, quefueron parcelados y su propiedad pasó a los campesinos que laboraban en esas tierras, ose dedicaron a granjas estatales. Se nacionalizaron las empresas de mayor significacióneconómica, varias de capital extranjero. En 1968, la llamada Ofensiva revolucionariaincrementó el poder del Estado sobre todos los medios de producción y las empresas deservicios, incluidas actividades privadas menores.

6 La burguesía nacional fue despojada de su poder económico y desapareció como clase

social fundamental. Las empresas norteamericanas fueron las más perjudicadas con lasexpropiaciones. Se generó una larga historia de desavenencias y confrontaciones queresiste el paso del tiempo.

7 Se tomaron medidas para nivelar las diferencias económicas en la población, sin dejar

de considerar el principio de retribuir según el trabajo. Sin embargo, no dejaron deexistir diferencias sociales en la esfera del consumo.

8 En la actualidad, las diferencias sugieren no la existencia de clases propiamente dichas,

porque el Estado se reserva la propiedad de los medios de producción fundamentales.Sin ser su única fuente, esas diferencias también se nutren de irregularidades en laesfera de la distribución y por tanto, del consumo.

9 La Constitución, aprobada por referendo el año 2018, en su artículo 1 caracteriza al

Estado cubano como un Estado “de trabajadores”. En el artículo 3 afirma que todo elpoder del Estado dimana de la soberanía del pueblo. Sin embargo, el partido comunistaes definido en el artículo 5 como la “fuerza dirigente superior de la sociedad y delEstado” (Constitución de la República de Cuba, 2019). En consecuencia, el silogismo

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

75

Page 77: Laboreal, Volume 15 Nº2

coloca a la organización política como intérprete y modeladora de la soberaníanacional. No existe otro partido político oficialmente reconocido.

10 La salud y la educación son gratuitas. La propiedad de la vivienda fue entregada a sus

moradores. Se proporcionan las condiciones para el empleo pleno, y se prohíbe todotipo de discriminación.

11 En el texto constitucional se preservan otros derechos civiles (igualdad, creencia,

conciencia, palabra, expresión, reunión, asociación, manifestación, opinión, etc.) ; cuyodisfrute –explícitamente se reitera- no puede contraponerse al orden social establecido.Más aún, en el artículo 3 se legitima el derecho ciudadano de “combatir por todos losmedios” a cualquiera que intente derribar el orden político, social y económico.

12 Los sindicatos, como las demás organizaciones sociales, que Lenin llamó “poleas de

transmisión”, tienen la función de transmitir la política del partido y convocar a lostrabajadores para cumplirla. Asumen la representación de los trabajadores y median enla solución de conflictos con las administraciones de las instituciones laborales. Lossindicatos se subordinan a una instancia superior centralizada. No se admite laexistencia de sindicatos autónomos.

13 La identificación ideológica y política del partido, del Estado y de las organizaciones

sociales, entre las que se incluyen los sindicatos, se garantiza además porque lapertenencia al partido es un criterio de peso que se toma en cuenta para ocupar cargosdirectivos en cualquier nivel.

14 Las fuentes principales de ingreso de divisas del país son la exportación de servicios

técnicos, fundamentalmente relacionados con la salud y el turismo.

15 El sistema de dirección y gestión empresarial actual, conocido como

“perfeccionamiento empresarial”, se caracteriza por preservar y favorecer lacentralización.

16 Los trabajadores tienen el derecho de manifestar directamente sus criterios, para lo

cual se convocan asambleas periódicas de conjunto con los directivos de lasinstituciones laborales. Existen modos indirectos, a través de sus representantes enórganos de dirección, por ejemplo. Los cambios de importancia en la legislación laboralson motivo de análisis y propuestas en asambleas de trabajadores convocadas a esosfines.

17 No hay sociedad en que sus ciudadanos, de modo homogéneo, sigan al pie de la letra

todas sus normas. Tampoco existe un régimen social que carezca de una base de apoyoen la sociedad que lo legitime y sostenga.

1.2. El proyecto en la práctica

18 El proyecto social, que tiene más de 60 años de existencia, si partimos de la toma del

poder en 1959, se encuentra expuesto a dificultades derivadas de la acción de factoresexternos e internos.

19 En el caso cubano, los factores externos más relevantes que han afectado a la sociedad

son el bloqueo o embargo económico y comercial impuesto por los Estados Unidos y,por otra parte, la desaparición del campo socialista y de la otrora Unión Soviética.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

76

Page 78: Laboreal, Volume 15 Nº2

20 La confrontación entre los gobiernos de Estados Unidos y Cuba ha llegado a extremos

de poner en peligro la paz mundial. El embargo eleva los costos de productos de diversogrado de necesidad, entre los cuales, tecnologías y medicamentos de última generación.

21 La desaparición del campo socialista en el este de Europa y la Unión Soviética, sumió al

país en una grave crisis económica, dado que en gran medida sus finanzas dependían deesas relaciones.

22 No es posible atribuir enteramente a razones externas o internas la actual situación de

la sociedad cubana. El mensaje político oficial con frecuencia es francamenteexternalista, lo cual no es enteramente satisfactorio porque puede ofrecer una imagenparcializada de relativa credibilidad, y se desvía la atención de las condiciones sobre lasque se puede tener mayor influencia.

23 La resistencia a los cambios que demanda la realidad social y que favorecerían la

dinamización de la economía y una mejora de las condiciones de vida de los ciudadanoses una manifestación del peso que tiene la subjetividad de la alta dirigencia del país, oal menos de una parte de quienes la componen.

24 La ineficiencia de la economía no constituye secreto alguno. El Producto interno bruto

en 2018 fue de 1,4 %. El más elevado desde el año 2012 fue de 4,4 % en 2015.Comparándolo con el PIB promedio de América Latina de 1,2 %, el ministro de economíacalificó el de Cuba como no suficiente, pero “meritorio” (Figueredo & Concepción,2018).

25 El trabajo autónomo fue autorizado en 2005. No pocas personas entrevistadas por el

autor en la consulta clínica, paradójicamente preferían perder el empleo para dedicarsea una actividad privada, con la que aspiraban liberar su capacidad e iniciativa, mejorarsu calidad de vida y la de su familia.

26 Educación y salud son dos sectores priorizados a los que se ha dedicado el 51 % del

presupuesto nacional en 2019 ; pero no por ello son inmunes al contexto descrito. Laexportación masiva de servicios técnicos, con amplia mayoría de los de salud,constituye la mayor fuente de ingreso del país.

27 Se ha procurado mantener los servicios básicos, e incrementar los ingresos de la

población, con vista a proteger a quienes se encuentran en mayor desventaja ; oestimular a quienes trabajan en sectores prioritarios, como son la salud y la educación ;pero no por ello superan sus necesidades (Molina, 2016).

28 Desde 1993 existen dos monedas, una de las cuales es convertible en divisa extranjera

con una relación de cambio de 1 :24 con la moneda nacional. Si en sus inicios la medidafue útil, en la actualidad es un problema complejo pendiente de solución. Basta aclararque como los salarios se pagan en la moneda nacional y no todas las personas tienenacceso directo a la convertible, en la que se fijan los precios de no pocos productosnecesarios ; aunque se admite el pago en la moneda nacional respetando la relación decambio antes apuntada.

29 Según la Oficina Nacional de Estadística e Información (ONEI) (2019) el salario medio en

2018 fue de 777 pesos, moneda nacional.

30 Factores como el trabajo privado, la existencia de doble moneda, los apoyos familiares

desde el exterior, las gratuidades existentes (vivienda, salud, educación), a lo largo delos años han polarizado económicamente a la población y por tanto también en su nively calidad de vida.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

77

Page 79: Laboreal, Volume 15 Nº2

31 Demográficamente, dos fenómenos son característicos : los flujos migratorios y el

envejecimiento poblacional. Los primeros suceden hacia el exterior del país, y de zonasrurales a las ciudades. Estos han aumentado entre los sectores más jóvenes. Elenvejecimiento plantea demandas específicas de diverso tipo : constructivas,alimentarias, de servicios, ocio, y a la vez disminuirá la fuerza de trabajo disponible.

1.3. Las consecuencias

32 Antes de centrar la atención en dificultades, limitaciones y desaciertos, es preciso

aclarar que no faltan consecuencias positivas. Entre ellas han prevalecido el sentido deidentidad, que, pese a las desavenencias y el alejamiento, ha mantenido vivo el espírituy la cultura de la nación. Se añaden la solidaridad, el sentido de responsabilidad por lafamilia, la ingeniosidad y creatividad sobradamente probadas en tiempos difíciles.

33 La actualidad nos presenta un panorama muy complejo que enfrenta la población

cotidianamente, en particular los trabajadores (el orden de mención no expresaprioridad) :

La emigración y el envejecimiento disminuyen la fuerza de trabajo.

Profesionales experimentados han abandonado su trabajo para dedicarse a una ocupación

menos calificada, pero mejor retribuida.

Los incrementos compensatorios de salarios y pensiones no alcanzan proporciones

comparables al que ha tenido el aumento del costo de la vida.

La oferta de productos alimenticios en un mercado normado a precios subsidiados no

alcanza a cubrir las necesidades de la población y los precios de oferta y demanda en

cualquier moneda, son elevados.

La ocurrencia de hechos de corrupción y delictivos ha sido favorecida por las dificultades

económicas, y el bajo control de los bienes.

La convivencia cotidiana con la irregularidad, la transgresión de la ley y hasta la corrupción,

contradictoriamente son percibidos por la población con naturalidad y resignación.

Desvalorización del trabajo. Los ciudadanos, en particular los jóvenes, manifiestan

escepticismo sobre el valor del trabajo como medio de crecimiento personal y de progreso

en la escala social.

Medidas para motivar el trabajo (reconocimientos morales, incrementos salariales,

contrataciones de jubilados, incentivos materiales de bajo costo), antes efectivas, carecen de

suficiente valor de estímulo actualmente.

La elevada cautela y dilación en la toma de decisiones refleja resistencia al cambio.

No ha sido posible diseñar un sistema de transporte estable, eficiente y sostenible que

garantice, en particular, la movilidad de los trabajadores.

La construcción de viviendas continúa siendo un problema no resuelto.

La calidad de la enseñanza ha mostrado debilidades organizativas que afectan su misión

social.

Los servicios de salud también se han resentido por la falta de recursos y medicamentos

El trabajo expatriado es “tercerizado” por una agencia empleadora estatal. El trabajador se

favorece económicamente ; pero como viajan sin sus familiares, la ausencia prolongada

puede dar lugar a la falta de influencia en los hijos, sobrecarga doméstica de la pareja y hasta

fractura familiar.

En el caso particular del sector de la salud, el ministerio correspondiente es el único

empleador de médicos, tecnólogos de la salud y enfermeros, lo que da lugar a una relación

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

78

Page 80: Laboreal, Volume 15 Nº2

de poder desventajosa para el trabajador, quien pudiera limitarse en la expresión de sus

discrepancias o iniciativas.

34 Las circunstancias anteriores actúan cotidianamente sobre las personas, entre las

cuales los trabajadores. Estas son fuente de tensiones emocionales que se agregan a lasgeneradas por otras circunstancias de la vida. La elaboración del síntoma no esinfrecuente que conduzca a estados más complejos, como la depresión, por ejemplo. Lademanda de servicios de salud mental no ha conducido hasta el momento al incrementode la formación de especialistas, a pesar de que los servicios de psiquiatría han ocupadodurante años el 3º o 4º lugar en la cantidad de consultas efectuadas por especialidad(Román, 2017a).

35 Ciertas conductas que se observan en predios y colectivos laborales, sobre todo los

estatales, pueden interpretarse como respuestas defensivas compensatorias de la cargalaboral y extra-laboral cotidianas. Pueden tener diverso grado de conciencia a pesar deque sean actitudes de potencial generalización en los colectivos laborales. Sureiteración y expansión intencionada, su comisión en colectivo y en condiciones de realdesgaste por el trabajo, puede merecer que sean consideradas como verdaderasideologías defensivas en el concepto formulado por Dejours (1990). Entre ellas, las dossiguientes :

Graduación subjetiva del esfuerzo en concordancia con la estimación de la retribución

(“hacen como que me pagan y hago como que trabajo”).

Desvalorización del sentido y objetivos del trabajo dando prioridad al cumplimiento formal

del rol (por ejemplo, enfocarse no en las necesidades de un paciente o un cliente, sino en las

acciones que debe realizar).

36 La autoridad administrativa y la moral de trabajo pueden disminuir por efecto de

condiciones que afectan a todos, directivos y dirigidos. Se incrementa la tolerancia a loirregular. A veces al punto de consentir modificaciones en la organización del trabajoque afectan, o al menos potencialmente pueden afectar el cumplimiento del mismo.

37 La desvalorización es capaz de transferirse de un ámbito a otro, o transmitirse de una

persona a otra, generalizarse. Su antídoto no puede limitarse a apelativos morales eideológicos, que no guarden significación para el sujeto.

38 La existencia de una “delincuencia organizacional”, como la llama Barral (2010),

constituye un caso extremo, aunque no infrecuente. Sobre la base de años deinvestigación, este autor la caracteriza del siguiente modo :

Conjunto de relaciones institucionales que incluye a personas de diverso nivel jerárquico.

Involucra, preferentemente a trabajadores de las áreas de mayor ganancia potencial

fraudulentas.

La ganancia fraudulenta se obtiene por diversas vías : alteración de los documentos

financieros, de los inventarios, liquidación de los planes económicos en valores para

apropiarse de los excedentes, alteraciones de los precios de venta públicos, gestiones

individuales normalmente engorrosas y dilatadas, tráfico de influencias y favores,

oportunidades de publicitarse y promocionarse a través de los medios de comunicación,

entre otras.

Es un antisistema social producto de una dinámica particular de las relaciones económicas

que modifica las relaciones sociológicas y, como consecuencia, genera problemas

ideológicos.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

79

Page 81: Laboreal, Volume 15 Nº2

En las organizaciones laborales afectadas, bajo la institución formal, aparece una más real

institución sumergida.

39 Esto último resulta de gran interés, pues representa no la apropiación de una

producción dada que configuraría un robo ordinario ; sino el usufructo de los medios deproducción, en cierto modo una apropiación temporal de los mismos para beneficiopropio. Los productos se destinan no solamente al mercado negro ; sino también alcomercio en establecimientos de venta pública, generalmente estatales.

40 Simultáneamente, van modificándose los valores de la población o de una parte de ella,

asumiendo con relativa tolerancia la existencia y la inevitabilidad de estos hechos. Ellenguaje popular lo ilustra : el concepto de “robar” cambia al más concesivo y ambiguode “luchar”.

41 La base social de apoyo del sistema se enturbia. No solo la conforman quienes, con real

integridad ideológica sinceramente creen en el mismo ; sino también quienes medranen irregularidades como las antes descritas y prefieren su perpetuidad. La existencia deese sector oportunista de apoyo, resulta difícil de identificar.

2. La psicología en el contexto de la salud ocupacional

42 La salud ocupacional tuvo una magra representación en los contextos laborales antes

del período revolucionario. Existían ordenanzas que establecían las inspeccionessanitarias estatales, así como chequeos médicos periódicos en trabajos con riesgoslaborales identificados.

2.1. Tiempos de auge

43 Período 1978 – 1985

44 La salud ocupacional tuvo un pujante desarrollo en el país después de 1959. Más de dos

mil médicos fueron ubicados en centros laborales, se creó una red de centrosprovinciales y municipales con departamentos dedicados a la salud ocupacional, y selogró una cobertura nacional. En 1978 se fundó el Instituto de Medicina del Trabajo(IMT) por el profesor Antonio Granda Ibarra. Le acompañaba un psicólogo del trabajorecién graduado, Pedro Almirall Hernández que inició investigaciones sobre cargamental, y neurotoxicología (Almirall, 2001, Granda, 1992).

45 La existencia de una residencia médica en Medicina del trabajo formaba a los

especialistas necesarios para desarrollar la salud ocupacional. Varios cursaron estudiosen países de Europa del este.

46 La Ley 13 de 1977 (Asamblea Nacional del Poder Popular, 1977) rigió la salud y

seguridad de los trabajadores, fortaleció la inspección sanitaria estatal y cumplió unafunción metodológica, con rigurosas regulaciones.

47 Importante fue la colaboración con instituciones homólogas de la Unión Soviética y de

los países socialistas de Europa del este, bajo la coordinación del multinacional Consejode Ayuda Mutua Económica (CAME). Su programa de ciencia y técnica contenía unalínea de investigación sobre la higiene del trabajo y enfermedades profesionales.

48 Desde mediados de los años 80 este autor gestionó por la parte cubana el plan de

colaboración científica en salud ocupacional del CAME. Participaban Alemania,

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

80

Page 82: Laboreal, Volume 15 Nº2

Bulgaria, Checoslovaquia, Hungría, Polonia y la Unión Soviética. Solamente Alemania,Hungría y Cuba trabajaban en investigaciones psicológicas. En los dos primeros países,los trabajos eran más bien dedicados a investigaciones de carga mental, psicofisiología,neurotoxicología, condiciones y ambiente laboral.

49 A pesar del llamado en 1974 de la 27ª Asamblea Mundial de la Organización Mundial de

la Salud (OMS) (Organización Mundial de la Salud, 1974) sobre la necesidad de dedicaresfuerzos investigativos a las condiciones sociales del trabajo y su relación con la salud,diez años después solo Cuba entre los países del CAME tenía una línea de investigaciónsobre ese tema. La historia posterior no permitió establecer una colaboración.

50 Fueron años dedicados a la organización e inicio del trabajo de investigaciones y

clínico. Se realizaron también numerosos servicios a empresas de evaluación de riesgosdiversos y chequeos médicos a trabajadores.

51 Las investigaciones se fueron agrupando en líneas específicas. Se iniciaron nuevas

actividades docentes como la Maestría Internacional de Salud Ocupacional. Seprocuraba dar visibilidad al trabajo a través de publicaciones en el ámbito nacional,capacitaciones, divulgación, servicios a empresas, etc.

52 Período 1985 – 1991

53 A pesar del cierre de la especialidad médica de Medicina del Trabajo, la salud

ocupacional y la psicología a ella aplicada, experimentaron tiempos de auge.

54 En la salud ocupacional, se amplió la cobertura de sus servicios a todo el país, y se

firmaron convenios para la formación posgraduada de investigadores en paísessocialistas, se estableció un plan de investigaciones y se incrementaron los recursosmateriales.

55 En la psicología, a pesar de lo reducido del grupo, pues se contaba con cinco

investigadores e igual número de auxiliares, hubo cambios favorables de diverso tipo :se creó un departamento independiente, el índice de publicaciones por investigadorcomo promedio fue superior al de los restantes colectivos y se editó un Manual deevaluación de trabajadores expuestos a neurotóxicos (Almirall, Mayor, Del Castillo,Rodríguez & Román, 1987). Tres psicólogos alcanzaron su doctorado. El temapsicosocial, que hasta entonces se había limitado a la estimación subjetiva de la cargade trabajo, fue adquiriendo progresivamente mayor elaboración teórica, con elreferente de la teoría de la alienación de Marx y sus posteriores desarrollos. Seincrementaron las investigaciones empíricas en equipos multidisciplinariosconformados por investigadores de diversas disciplinas mayoritariamente del sector dela salud. Se definieron como líneas de investigación fundamentales : neurotoxicidad,factores psicosociales, estrés, riesgos físicos, salud mental y trabajo. Prevalecieron lasinvestigaciones de carácter cuantitativo.

56 Esas líneas requieren de una organización multidisciplinaria del trabajo de

investigación. Tal organización se evidencia en los autores de los artículos publicadosen la Revista Cubana de Salud y Trabajo (www.revsaludtrabajo.sld.cu/index.php/revsyt).

57 En relación con el estudio del trabajo, existieron tres institutos de investigación. Uno,

dependiente del Ministerio del Trabajo abordaba temas de seguridad y protección deltrabajo ; otro, llamado de Investigaciones Científicas del Trabajo abordaba temas deorganización del trabajo, economía del trabajo y estudios ergonómicos. Ambos dejaronde existir hace años. Los temas de salud son asumidos por profesionales del actual

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

81

Page 83: Laboreal, Volume 15 Nº2

Instituto Nacional de Salud de los Trabajadores (INSAT), e instituciones de salud,universidades y empresas, algunas, del interior del país.

58 La Maestría en Salud Ocupacional iniciada en este período, incluía un módulo de

psicología. Además, se impartieron capacitaciones en instituciones laborales. Serealizaron servicios de evaluación psicológica en empresas y una consulta clínica.Estudiantes universitarios realizaban pasantías.

59 La salud ocupacional vivió una época de auge y proporcionó un área de trabajo inédita

para la ciencia psicológica en Cuba.

2.2. Tiempos de crisis

60 Como antes se expuso, los años 90 fueron marcados en Cuba por la precariedad

económica y sus consecuencias.

61 Período 1992 – 2000

62 La inexistencia de los apoyos del entonces campo socialista tuvo su resonancia en la

salud ocupacional. Abruptamente, planes de colaboración en investigaciones,formación posgraduada e intercambio de especialistas, perdieron toda efectividad.Disminuyeron los recursos para el trabajo, equipamiento, reactivos, entre otros.Medidas generales afectaron también el trabajo, como largas interrupciones delservicio eléctrico, falta de transporte público, disponibilidad de alimentos. Se cerraronnumerosos centros laborales y en otros se disminuyó la jornada laboral o los días depresencia.

63 Los planes de investigación, incluidos los de psicología, experimentaron una reducción,

dadas las limitaciones objetivas. En particular, las carencias bibliográficas seacrecentaron, dificultando sobremanera la actualización de la información.

64 En 1987 la residencia de medicina del trabajo había sido fusionada con la de higiene y

epidemiología. Las expectativas de que una parte de los graduados de la residencia enhigiene y epidemiología se dedicara a la medicina del trabajo, ya fue evidente en estosaños que no se cumpliría en la práctica. Desde entonces no se ha graduado unespecialista más. Los egresados de la Maestría tampoco han satisfecho esa necesidad.

65 A los fines de reforzar la atención médica en la comunidad, se fundó la especialidad de

Medicina General Integral, con énfasis en pediatría, obstetricia, clínica y psicología. Susegresados fueron denominados médicos de familia, parte de los cuales se destinaban acentros laborales.

66 Sin embargo, luego se redujo la ubicación de médicos de familia en centros laborales.

En el año 1995 llegaron a la cantidad de 2304, en 2002 quedaban 876, y actualmente yano se reportan datos (Ministerio de Salud Pública, 1986-2002).

67 Entre 1988 y 2018, la cifra más alta de médicos del trabajo se alcanzó en 1989 con 375

médicos, de los cuales 181 especialistas titulados y 194 “dedicados”, quienes, sin poseerel título de especialista, por su experiencia se habilitan para ejercer como médicos deltrabajo. Al no haber nuevas graduaciones, la cifra anterior fue reduciéndose pordiversas causas : fallecimientos, emigración, traslado de institución, etc. Según losdatos oficiales, en la actualidad existen en todo el país para atender la salud laboral demás de 4 millones de trabajadores solamente 104 médicos, de los cuales solo 55 sonespecialistas titulados en medicina del trabajo (Ministerio de Salud Pública, 1995-2018).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

82

Page 84: Laboreal, Volume 15 Nº2

68 La inspección sanitaria estatal fue minimizada, y desapareció la presencia de la salud

ocupacional en la red de higiene y epidemiología.

69 Período 2000 – Presente.

70 Podemos diferenciar un nuevo período a partir del año 2000. Si bien la recuperación

económica al nivel de décadas anteriores no se ha producido, existe una organizacióninstitucional y social superior a los años iniciales del período más crítico.

71 La identificación de enfermedades profesionales debe haber afectado su precisión al

quedar en manos de especialistas dispuestos ; pero menos experimentados. De hecho,durante años la enfermedad profesional de más elevada prevalencia ha sido la laringitisnodular en personal docente, lo cual es inusual en un país agrícola, con bajo niveltecnológico en muchas de sus empresas. Desde hace varios años no se dispone de estedato y no se informa a la OIT.

72 En lo que se refiere a la salud ocupacional, se mantienen condiciones adversas a su

recuperación y desarrollo.

73 La decisión de clausurar la residencia médica, no se ha modificado hasta el día de hoy.

Dado que progresivamente disminuyen los especialistas por razones diversas(jubilación, emigración, fallecimiento), y que en las instituciones de salud rige lanorma, integrada a la cultura de la organización, de que las instituciones de salud en loposible deben ser dirigidas por médicos, es razonable albergar inquietudes sobre lasupervivencia de la especialidad y de las restantes disciplinas afines, entre las cuales, lapsicología.

74 La inspección sanitaria estatal no se ha recuperado. La cobertura nacional de los

servicios de salud ocupacional no se vislumbra como una posibilidad real. La ley 13 fuederogada y en su lugar ha quedado el Código de trabajo (Asamblea Nacional del PoderPopular, 2014) cuyo contenido no posee la especificidad necesaria y el detalle de la leysuplantada.

75 Una consulta anónima a once expertos en salud ocupacional de diverso perfil

profesional fue realizada para conocer su valoración del estado actual de la saludocupacional. Los requisitos de su elección fueron tener más de 15 años de trabajo ensalud ocupacional, no tener responsabilidades que permitieran la toma de decisionesestratégicas, y su voluntaria participación. Las evaluaciones más bajas las recibieron laformación de pregrado, y la efectividad del liderazgo de los decisores. Las másfavorables recayeron en el nivel científico de los profesionales y técnicos en ejercicio, yla visibilidad internacional de la Salud ocupacional cubana, por cierto, consideradamayor que la visibilidad nacional (Román, 2017b).

76 Las perspectivas de desarrollo de la psicología se cifran no solo en los ya dedicados a la

salud ocupacional, sino también en otros profesionales de la salud, docentesuniversitarios, psicólogos de empresas que han incorporado contenidos de saludocupacional a sus trabajos, por ejemplo, véase Medina (2018). Las carenciasbibliográficas no han aminorado sustancialmente debido a dificultades para adquirirsuscripciones a publicaciones periódicas. El servicio Hinari de la OMS que permitía ellibre acceso a cientos de revistas, entre las cuales de salud ocupacional y de psicología,retiró la gratuidad y cerró el acceso a la mayor parte de sus fondos. Durante años, elacceso a Internet estuvo vedado.

77 Otro ejemplo del interés por este campo es la proporción de artículos con participación

autoral de psicólogos de diversa afiliación institucional en la Revista Cubana de Salud y

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

83

Page 85: Laboreal, Volume 15 Nº2

Trabajo. Contabilizados los datos desde su primer número en el año 2000 hasta 2019, sehan editado 45 números, con un total de 400 artículos, de los cuales más de la cuartaparte de sus autores (26,5 %) son psicólogos.

78 En el año 2018, se indicó a la dirección del INSAT reestructurar la institución mediante

la fusión de algunos de sus componentes.

79 Contrariamente a lo esperado, el departamento de psicología fue fusionado con el de

fisiología ; en una decisión inmerecida e impuesta sin la participación plena y previa delos afectados.

3. El psicólogo de la salud ocupacional en Cuba

80 En la década de los años 60, entre los primeros psicólogos egresados con formación

clínica, un pequeño grupo debió enfrentar diversos problemas no incluidos en susprogramas docentes. Se trataba no solo de atender la clínica de los trastornos mentales,sino sobre todo colaborar en numerosos programas especiales de atención comunitaria(materno infantil, conducta suicida, tercera edad, cáncer, etc.), ningunoespecíficamente dedicado a la salud del trabajador. Sin embargo, las exigenciasconcretas de la práctica profesional se impusieron. Con más inspiración práctica quebagaje teórico, desarrollaron un campo de aplicación de la ciencia psicológica quedenominaron “psicología de la salud”, varios años antes de que la American Psychological

Association la reconociera como una sub-disciplina en 1995.

81 Solemos distinguir entre el psicólogo del trabajo y el psicólogo de la salud ocupacional.

82 El estudio, la investigación y la práctica profesional en relación con la actividad laboral

entraña una postura y un compromiso ético que encuentra su expresión en la actituddel investigador, independientemente de la especialización que practique.

83 La psicología del trabajo y la psicología organizacional surgieron con propósitos aún

vigentes, que a la larga están dirigidos a incrementar la productividad y la calidad deltrabajo ; mejorar las condiciones de trabajo, las relaciones humanas, manejar losestímulos al trabajo, pero el foco fundamental está en el incremento de la eficiencia. Noes un propósito ilegítimo. El trabajador necesita del trabajo y de la valoración de susresultados ; pero el hombre es percibido como recurso. Recurso que hay que preservar.El bienestar y la salud ocupan un segundo espacio. Algunos prescinden hasta deconsiderar esos asuntos.

84 Percibimos en cambio, a la psicología de la salud ocupacional de modo inverso. Su

énfasis se coloca en la prevención y la promoción de la salud de los trabajadores y,secundariamente, con esas medidas de cuidados y protección de la fuerza laboral,favorecer el desempeño de sus tareas. Dejours (1990) refiere : “Lo que parece verdaderodesde un punto de vista de la productividad es falso mirándolo desde la economía delcuerpo…” (p. 48).

85 Dos razones de carácter más práctico que conceptual. En primer lugar, la

compartimentación de los objetos sociales de los organismos de salud por un lado, y detrabajo por el otro, sugieren la distinción que hacemos. En segundo lugar, en losprogramas universitarios de pregrado el más afín, de Psicología del trabajo y de lasorganizaciones laborales, no incluye contenidos de salud.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

84

Page 86: Laboreal, Volume 15 Nº2

3.1. Realizaciones

86 Las realizaciones se exponen de modo resumido en cuatro áreas de desempeño :

investigación, docencia, atención clínica y servicios.

87 En la investigación se pueden mencionar los siguientes : Batería de pruebas cognitivas

digitalizada para el diagnóstico de la acción de sustancias neurotóxicas ; Ergonomíacognitiva en el estudio de puestos de trabajos de altas demandas intelectuales ;Complementación del modelo de R. Karasek sobre la tensión emocional mediante laadición de una dimensión motivacional ; Sistema de vigilancia epidemiológica deriesgos psicosociales en la Fiscalía General de la Nación de Colombia ; Estrés psicosocialen gestantes trabajadoras ; Adaptación de cuestionarios diversos para la evaluaciónpsicológica en salud ocupacional

88 En Cuba, la formación posgraduada del psicólogo en contenidos de salud ocupacional,

ha quedado a expensas de programas de postgrado que los incluyen con diferenteamplitud y profundidad. Entre esos, la Maestría en salud ocupacional, del InstitutoNacional de Salud de los Trabajadores ; las maestrías en Salud Pública y en Psicología dela Salud, ambas de la Escuela Nacional de Salud Pública ; la Especialidad en Psicología dela Salud, de la Universidad de Ciencias Médicas de La Habana y la Maestría en Psicologíadel Trabajo y de las Organizaciones Laborales, de la Facultad de Psicología de LaHabana, así como la Maestría en Salud y Seguridad del Trabajo, de la Facultad deIngeniería Industrial de la Universidad de Ciencias Tecnológicas (Universidad deCiencias Tecnológicas, 2016 ; Universidad de Ciencias Médicas de La Habana, 2016).

89 A solicitud de las empresas algunos temas son objeto de talleres y capacitaciones

específicas.

90 Con la vista puesta en el futuro, se imparte un curso optativo de pregrado en la

Licenciatura de Psicología.

91 La atención clínica, fundamentalmente diagnóstica, se realiza un día en la semana. Los

estudios de casos favorecieron la experiencia profesional que nos permitió cobrarconciencia de las limitaciones de las técnicas cuantitativas. Los servicios a empresasbásicamente son solicitados por las organizaciones laborales. Son sumamente diversos :sobre determinada condición peligrosa, de estrés, vigilancia, prevención de accidentes,etc. Sin embargo, la fascinación por el número, la proporción, las tasas, etc., siempreprevalece entre quienes solicitan los servicios, por lo cual es difícil dar la espaldatotalmente a la cuantificación.

92 Los colectivos laborales son casi en su totalidad entusiastas y colaboradores. No resulta

difícil obtener la mejor disposición y apoyo en las investigaciones de los trabajadores,directivos y sindicatos.

93 Resulta imposible relacionar la cantidad de publicaciones en artículos, capítulos de

libros e informes realizados por los psicólogos cubanos en el campo de la saludocupacional. Lo mismo sucede con la cantidad de cursos de postgrado impartidos y lascontribuciones a eventos científicos, tanto en Cuba como en otros países.

94 A pesar de la crisis económica, y muy probablemente a consecuencia de ella, el foco de

atención de nuestro grupo de trabajo, se volvió hacia los países hispanoamericanos. Eldespliegue de actividades académicas y eventos a que fueron invitados sus especialistas,ha favorecido los intercambios y la visibilidad internacional de la psicología cubana engeneral y de la psicología aplicada a la salud de los trabajadores.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

85

Page 87: Laboreal, Volume 15 Nº2

95 Dos proyectos de redes fueron presentados por este autor en 2007 y 2012,

respectivamente, a las convocatorias del Programa Iberoamericano de Ciencia yTecnología para el Desarrollo (CYTED). Cada uno en su correspondiente momento fueaprobado y recibieron un generoso financiamiento durante cuatro años. El autor deestas páginas fue el coordinador de ambas redes.

96 La primera, la Red Iberoamericana de Riesgos Psicosociales Laborales (RIPSOL) integró a

más de 60 experimentados profesionales de Argentina, Bolivia, Colombia, Cuba, Chile,España, México, Perú y Venezuela. Esta red logró con creces los propósitos generales deCYTED de propiciar el mutuo conocimiento de especialistas dedicados a un tema deimportancia regional. Se ofrecieron en total 111 actividades de formación en 15 países,a las que asistieron 5 343 personas. Se realizaron publicaciones conjuntas y se celebróun evento científico internacional con el apoyo de la Universidad de Guayaquil.

97 La segunda, la Red Iberoamericana para la Promoción de la Seguridad Integral en el

Trabajo, con un número relativamente similar de participantes, actividades yproductos, mereció la evaluación de “Destacada” por expertos y por la dirección delPrograma CYTED.

98 En ambas redes se publicaron varios libros “Los trabajadores y la salud mental”

(Varillas, Ed., 2009) ; “Evaluación e intervención psicosocial” (Carrión, López & Tous,Eds., 2007) y “Seguridad integral en el trabajo. Un enfoque psicosocial” Orozco, DelCastillo & Román, Eds., 2018)

99 El despliegue de relaciones con colegas latinoamericanos, propició que los cubanos

accediéramos a otros referentes teóricos, que conociéramos la labor científica decolegas que desde otras posiciones teóricas desarrollaban o se adherían a enfoquespsicodinámicos con el propósito de penetrar en el plano de los sentidos personales, ylas vivencias que conforman complejas formaciones subjetivas de diverso nivel deconciencia y de variabilidad que intervienen en la elaboración de la conducta del serhumano. Formaciones subjetivas que exigen una metodología propia de trabajocualitativo.

3.2. Orientación epistemológica

100 A inicios de los años 60 del pasado siglo, la psicología adquirió la condición de carrera

independiente de la educación superior, y sus egresados la condición de profesionalespsicólogos titulados. Hasta entonces la psicología se estudiaba en Bachillerato, y encarreras como Filosofía, Pedagogía y Medicina en calidad de na asignatura más delprograma de estudios. Algunos de los egresados ofrecían servicios de orientación,estudios de mercado, diagnóstico clínico, o realizaban labores docentes (Rodríguez,1990). Solo a fines de la década de los años 50 del pasado siglo, se creó una escuela depsicología en una universidad privada, que desapareció al decretarse la intervencióndel Estado en la enseñanza.

101 Los programas de estudio se caracterizaban por su eclecticismo. Prácticamente, las

escuelas fundamentales estaban todas representadas. Su propósito era ofrecer lasalternativas posibles al estudiante de modo tal que juzgara por sí mismo y no secoactara su libertad de elección y afiliación a uno u otro paradigma teórico. Múltiplesautores convergieron en aquel plan de estudios : Freud, James, Wallon, Rubinstein,Allport, Fraisse, Piaget, Luria, Wundt, Vygotsky, Zazzó, Rogers, entre tantos otros.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

86

Page 88: Laboreal, Volume 15 Nº2

102 Así lo reconoció Fernando González quien años después fuera Decano de la Facultad de

Psicología en la Universidad de La Habana :

“…ese eclecticismo fue saludable porque permitió a los estudiantes superardesde un principio el dogmatismo estrecho basado en las teorías psicológicasclásicas…” (González & Pavón-Cuéllar, 2019, p. 24).

103 Esa estrategia docente transmitía una idea más real del estado de la disciplina, en que

coexistían tendencias y escuelas diferentes, pero no siempre los estudiantes estaban encondiciones de asumir criterios propios.

104 El proceso de depuración ideológica iniciado en 1968 que se denominó Ofensiva

revolucionaria, condujo a decisiones radicales. Por contener pasajes críticos a la UniónSoviética, se dio orden de retirar todos los ejemplares del tratado de personalidad deAllport, acabado de editar, así como una compilación de artículos de psicología socialrealizada por el jefe de departamento de Psicología social, quien fuera uno de losfundadores de la Escuela (luego Facultad) y fue retirado de su cargo. Una edicióncubana de las Obras escogidas de Freud corrió la misma suerte a causa de los estudiosculturales que componían el tercer tomo.

105 Al entrar Cuba como miembro pleno de la comunidad socialista, se abrieron amplias

oportunidades para la formación postgraduada en los países que la componían, seampliaron los intercambios institucionales, se descubrieron autores más recientes ;pero se perdió la diversidad de las fuentes bibliográficas. En su lugar se importó enbloque la literatura de diversas especialidades y se proclamó la orientación histórico-cultural como enfoque fundamental.

106 La obra de Vygotsky, que pretendió construir un enfoque de la psicología desde los

principios del materialismo dialéctico, se truncó por su temprana muerte. El enfoquehistórico-cultural tuvo un desigual desarrollo en los diversos campos de aplicación dela disciplina. El trabajo y la salud no fueron de los más favorecidos.

107 En Cuba, los trabajos de elaboración teórica en el campo de la salud ocupacional son

escasos ; pero fundados en el enfoque histórico-cultural son prácticamenteinexistentes.

108 El psicólogo cubano Fernando González, que dedicó gran parte de su fructífera

trayectoria profesional al estudio de la subjetividad ha afirmado rotundamente : “Lasubjetividad no ha sido un tema importante para la psicología cubana” (González &Pavón-Cuéllar, 2019, p 23).

109 Me anticipo a asumir la responsabilidad por no haber dado continuidad a mi trabajo de

tesis doctoral en que se propuso y validó un modelo de factores psicosociales laboralesen relación con la salud centrado en la subjetividad (Román, 1990). La afluencia deinformación sobre los modelos de estrés de Karasek y de Siegrist entre otros, y elinterés por conocer las recientes formulaciones teóricas sobre el estrés, desvió miatención y mis esfuerzos en momentos en que la comunicación con nuestrosinterlocutores exigía conocer a profundidad esas realizaciones.

110 Es preciso reformular los conceptos, inclusive los más conocidos si pretendemos un

enfoque coherente desde la subjetividad. De ese modo, pongamos por caso, el riesgo yano sería un número que exprese una probabilidad estadística, ni un objeto ajeno anuestras atribuciones ; sino precisamente nuestra representación del objeto y de suprobable peligro, hasta si se quiere con una noción apreciativa de su probabilidad, y

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

87

Page 89: Laboreal, Volume 15 Nº2

todo ello con el añadido de nuestras atribuciones de sentido respecto a cualidades quelo hacen a nuestros ojos frágil, importante, evocador de recuerdos u otras atribuciones.

111 Dos fuentes más aportadas por profesionales europeos, ideológica y éticamente

comprometidos con la clase trabajadora, se sumó al conjunto de referentes con que seiniciaron nuestros trabajos sobre los determinantes, sociales, psicosociales eindividuales de la salud de los trabajadores. Primero, el Modelo Obrero Italiano,liderado por Ivar Odonne que destacaba el rol anti-hegemónico del investigador y lasabiduría obrera forjada en el propio trabajo. Un enfoque no ajeno a la formación ypráctica de un psicólogo cubano. Segundo, un ejemplar de “Trabajo y desgaste mental”,del profesor Christophe Dejours que solidariamente nos llegó en su edición argentinade 1990. Pasaron alrededor de 20 años para que de igual modo recibiéramos “El factorhumano” y otras obras más. En lo personal, solo los códigos psicoanalíticos me impidenuna mejor comprensión y sacar más provecho de su lectura. De cualquier modo, laidentificación con su concepto de la experiencia subjetiva como objeto de la psicologíay sus críticas a la teoría del estrés son criterios con que me identifico plenamente.

112 Bajo la exploración conjunta, acompañada, de la subjetividad de los propios

trabajadores podremos descubrir riesgos psicosociales laborales que habíamos pasadopor alto porque siendo propios de nuestras condiciones concretas no los habíamosadvertido, o tal vez habiendo pretendido colocar el molde de uno u otro modeloreconocido.

113 En esa búsqueda ya iniciada, aparecerán productos autóctonos. Como un riesgo

psicosocial las incertidumbres de trabajadores cubanos, contradictoriamente en unasociedad que les ofrece garantías fundamentales ; así como la manifiesta e inesperadareacción de satisfacción de no pocos trabajadores jóvenes ante la pérdida de un empleoestatal, estable y seguro a cambio de un posible empleo privado, lo que en otrascoordenadas geográficas y sociales probablemente sería un motivo de severa angustia(Román, 2019).

3.3. Salud mental de los trabajadores

114 Los problemas que atañen a la salud mental de los trabajadores son de diverso

carácter :

El trabajo como determinante de la calidad del estado de la salud mental y de trastornos

ocasionados por el trabajo.

Relaciones de la salud mental con alteraciones de la salud física.

Las competencias de los profesionales de la salud mental para la atención de los

trabajadores.

El reconocimiento de las alteraciones de la salud mental de los trabajadores.

115 El trabajo como factor de desgaste puede ser también fuente de realización y

crecimiento personal y colectivo, y modificar la calidad de la salud mental, la que aludea los juicios que cabe formularse en relación con dimensiones tales como funcionalidad-disfuncionalidad, sano-patológico, bienestar-malestar y similares.

116 Los estados de malestar relacionados con el trabajo han permitido describir

alteraciones, como el burnout, karoshi, estrés laboral, acoso psicológico. Su especificidad,así como sus relaciones con alteraciones somáticas reclaman una formación especial delos profesionales.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

88

Page 90: Laboreal, Volume 15 Nº2

117 No pocas investigaciones han permitido observar asociaciones entre ciertos trastornos

y enfermedades somáticas, como la hipertensión arterial y la diabetes con condicionespsicosociales laborales.

118 Las alteraciones de la salud mental vinculadas al trabajo no han recibido en todos los

países su reconocimiento en calidad de trastorno psiquiátrico. Reconocerlas ademáscomo enfermedades profesionales ha dado lugar a extensos debates para demostrar suexclusivo origen laboral (Organización Internacional del Trabajo, 2010).

119 En la última revisión técnica de la lista, que entrañó un largo proceso de múltiples

consultas, la OIT sacó a debate la posibilidad de incorporar un acápite dedicado a lasalteraciones mentales ; sin modificar el requisito del origen laboral.

120 Además, propuso considerar tres alteraciones : depresión, trastorno por estrés

postraumático y síndrome psiquiátrico por efecto del acoso laboral.

121 La lista finalmente aprobada como recomendación a los países miembros incluyó el

controvertido acápite, pero solamente con el trastorno por estrés postraumático. Cuba,al revisar su lista, adoptó una decisión tan tajante como conservadora : no incluyó elacápite de alteraciones mentales, ni ninguna de ellas.

122 Los profesionales de la salud mental cubanos psiquiatras, psicólogos, enfermeros y

tecnólogos de la salud necesitarían de una formación complementaria para enfrentarcorrectamente las demandas de atención de la salud mental de los trabajadores. De otromodo no estarían al nivel profesional y la calidad de los servicios que en el reputadosistema nacional de salud cubano poseen otras especialidades. Existen condiciones parahacerlo.

3.4. Consideración final

123 Espero haber podido transmitir una fundamentada preocupación por el

empobrecimiento progresivo de la salud ocupacional cubana, al punto de verseamenazada su propia existencia ; o lo que es prácticamente lo mismo, una involuciónhacia un practicismo extremo, manifestación de mediocridad científica, lo que conducea una limitada capacidad de dar respuestas eficaces, de validez y confiabilidadcomprobables, a las necesidades que en este campo tiene y tendrá el país.

124 Confío en que la psicología tendrá un mejor destino. El trabajo de largos años ha creado

las condiciones a nuestro alcance para que sea así. La psicología de la salud ocupacionalen Cuba ha rebasado los marcos institucionales en que surgió.

125 Hoy prácticamente no es concebible un programa de psicología del trabajo o de

psicología de la salud en el país que no incluya su intersecto como objeto deconocimiento propio. Cada vez, más profesionales desde sus respectivas institucionestrabajan en este campo, e inclusive dedican a él sus trabajos de tesis de maestrías y dedoctorado. En ellos también reside la garantía de la continuidad de la psicología de lasalud ocupacional cubana,

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

89

Page 91: Laboreal, Volume 15 Nº2

4. Conclusiones

126 Los análisis realizados permiten formular los juicios conclusivos siguientes :

Es lamentablemente paradójico que la Constitución cubana defina al país como un Estado de

trabajadores y que la Salud Ocupacional y las especialidades que conforman esa

multidisciplina, incluida la psicología, se encuentren en situación crítica.

La relación entre las demandas actuales y previsibles a la salud ocupacional, por una parte, y

los recursos materiales, humanos y organizativos, por la otra resulta desventajosa, por

cuanto las primeras superan a los segundos.

La clausura de la residencia de Medicina del trabajo limita en extremo la función social de la

salud ocupacional, e inclusive hace peligrar su existencia, lo cual repercutiría negativamente

sobre la psicología y las restantes especialidades que convergen en ese espacio

multidisciplinario.

El diálogo entre la salud ocupacional y las ciencias sociales, así como con otras

especialidades médicas es aún limitado, a pesar de que ha de resultar mutuamente

productivo y útil.

La aplicación de la ciencia psicológica a la salud ocupacional se ha caracterizado por la

sistematicidad de sus resultados en las investigaciones y la docencia, principalmente.

El positivismo es aún el enfoque prevalente en las investigaciones y la práctica profesional,

aunque se han iniciado trabajos con una perspectiva psicodinámica basadas en la

subjetividad, lo que requiere una reformulación de sistema conceptual tradicional de la

salud ocupacional.

El enfoque histórico-cultural de L.S. Vygotsky es la referencia teórica fundamental de los

psicólogos cubanos en el problema de la subjetividad.

La psicología de la salud ocupacional cubana puede basar sus perspectivas no solo en los

profesionales del sistema nacional de salud ; sino además en otros pertenecientes a sectores,

instituciones académicas y organizaciones laborales que, habiendo recibido una formación

complementaria, desarrollan trabajos de esa especialidad.

BIBLIOGRAFÍA

Almirall, P. (2001). Neurotoxicología. Apuntes teóricos y aplicaciones prácticas. Caracas : Imprenta

universitaria de la Universidad Central de Venezuela.

Almirall, P., Mayor, J., Del Castillo, N., Rodríguez, R., & Román, J. (1987). Manual de recomendaciones

para la evaluación psicológica de trabajadores expuestos a sustancias neurotóxicas. La Habana : Instituto

de Medicina del Trabajo.

Asamblea Nacional del Poder Popular (ANPP) (1977). Ley 13 de Protección e Higiene del Trabajo. La

Habana : Consultado en : www.aclifim.sld.cu/Leyes/Ley13.htm

Asamblea Nacional del Poder Popular (ANPP) (2014). Ley 116/2013. Gaceta Oficial de la República de

Cuba, Nº 29, Año CXII [Extraordinaria], 17 de junio de 2014. Consultado en : http://

www.gacetaoficial.gob.cu

a.

b.

c.

d.

e.

f.

g.

h.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

90

Page 92: Laboreal, Volume 15 Nº2

Barral, F. (2010). Mis vidas sucesivas. Recuerdos y destino de un niño de la guerra. La Habana : Ediciones

“La Memoria”. Centro Cultural “Pablo de la Torriente Brau”.

Carrión, M. A., López, F., & Tous, J., (Eds.). (2007). Evaluación e intervención psicosocial. Barcelona :

Asociación de expertos en psicosociología aplicada.

Constitución de la República de Cuba (2019, 10 de abril). Gaceta Oficial de la República de Cuba, Nº 5,

Año CXVII [Extraordinaria]. Consultado en : http://www.gacetaoficial.gob.cu

Dejours, C. (1990). El desgaste mental en el trabajo. Buenos Aires : Humanitas (2ª edición).

Figueredo, O., & Concepción, J. R. (2018). Economía cubana : Balance de 2018 y perspectivas para el

futuro inmediato. Consultado en : http://www.cubahora.cu/economia/economia-cubana-balance-

de-2018-y-perspectivas-para-el-futuro-inmediato

García, E., & Granda, A. (2013). Proposición para perfeccionar la conquista social de la seguridad y

salud de los trabajadores en Cuba. Revista Cubana de Salud Pública, 39(3) 19-23.

González, F., & Pavón-Cuéllar, D. (2019). La revolución cubana : subjetividad y psicología. Teoría y

crítica de la psicología. 12(1),10-35, http://www.teocripsi.com/ojs/

Granda, A. (1992). La Salud Ocupacional en Cuba. Revista Médica del Uruguay. 8(3), 13-14.

Medina, A. (2018). Programa de formación de competencias para la gestión eficaz de la seguridad y salud

en el trabajo. Evaluación en una empresa biotecnológica. (Tesis de Doctorado). Facultad de Psicología,

Universidad de La Habana, La Habana, Cuba.

Ministerio de Salud Pública (MINSAP) (1995-2018). Anuarios Estadísticos de Salud 1995-2018. La

Habana : Consultado en : http://files.sld.cu/dne/files/

Ministerio de Salud Pública (MINSAP) (1986-2002). Informes anuales de la Dirección de Registros

Médicos y Estadísticas de Salud 1986 a 2002. La Habana.

Molina, E. (2016). Devenir del modelo económico socialista. La Habana : Editorial de Ciencias Sociales.

Oficina Nacional de Estadística e Información (ONEI) (2019) Anuario estadístico de Cuba. La Habana.

Organización Internacional del Trabajo (OIT) (2010). Lista de enfermedades profesionales

(revisada en 2010). Identificación y reconocimiento de las enfermedades profesionales : Criterios

para incluir enfermedades en la lista de enfermedades profesionales de la OIT. Serie Seguridad y

Salud en el Trabajo. Ginebra : Oficina Internacional del Trabajo, (74).

Organización Mundial de la Salud (OMS) (1974). Actas oficiales de la Organización Mundial de la Salud,

Nº 217. Ginebra : Asamblea Mundial de la Salud, 7-23 de mayo. Parte 1.

Orozco, O., Del Castillo, N., & Román, J., Eds. (2018). Seguridad integral en el trabajo. Un enfoque

psicosocial. Cali : Editorial Bonaventuriana.

Rodríguez, A. (1990). Transitando por la psicología. Antes y después de la revolución. La Habana :

Editorial de Ciencias Sociales.

Román, J. (1990). Los factores psicosociales y la salud del trabajador : un procedimiento para su

evaluación (Tesis de Doctorado). Facultad de Psicología. Universidad de La Habana, La Habana,

Cuba.

Román, J. (2017a). El especialista en salud mental en Cuba ante la actividad laboral, Alternativas

cubanas en Psicología, 5(14), 12-27.

Román, J. (2017b). La salud ocupacional en Cuba. Pasado, presente y perspectivas futuras. Anales

de la Academia de Ciencias de Cuba. 7(3).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

91

Page 93: Laboreal, Volume 15 Nº2

Román, J. (2019). Riesgos, trabajo y sociedad : la subjetividad como vínculo. Teoría y Crítica de la

Psicología. 12, 97-116. Consultado en : teocripsi.com/ojs/index.php/TCP/article/view/307

Universidad de Ciencias Médicas de La Habana (2016). Plan de estudio de la carrera de medicina.

Documento consultado en la Dirección de Pregrado (15-12-2018).

Universidad de Ciencias Médicas de La Habana (2016). Plan de estudio de la residencia médica de

higiene y epidemiología. Documento consultado en el Departamento de Docencia del Instituto

Nacional de Higiene, Epidemiología y Microbiología (15-12-2018).

Universidad de Ciencias Médicas de La Habana (2016). Plan de estudio de la residencia médica de

Psiquiatría. Documento consultado en el Departamento de Docencia de la Facultad de Ciencias

Médicas “Calixto García” (16-12-2018).

Universidad de Ciencias Tecnológicas. Ingeniería industrial (2016). Plan de estudios D. Consultado

en : http://cujae.edu.cu/industrial/carrera/ingeniería-industrial

Varillas, W, Ed. (2009). Los trabajadores y la salud mental. El reto de la prevención y el tratamiento en un

mundo enfermo. La Habana : Editorial Ciencias Médicas.

RESÚMENES

El artículo tiene como objetivo comunicar el origen y la evolución de la aplicación de la ciencia

psicológica al campo multidisciplinario de la salud ocupacional en Cuba. Se tienen en cuenta

diversos factores en este proceso : el contexto social y socio-laboral, con una exposición

relativamente extensa dada la singularidad del sistema social cubano. La trayectoria de la salud

ocupacional en el país y su situación actual crítica. Las aportaciones de la práctica profesional de

los psicólogos de la salud en los escenarios laborales que dieron origen a la psicología de la salud

ocupacional como una línea de trabajo en la investigación, la docencia y la práctica profesional.

Se enfatiza la necesidad de desarrollar trabajos teóricos y metodológicos en esa área desde un

punto de vista psicodinámico, que tenga en cuenta la subjetividad, para la que se propone el

enfoque histórico cultural de L. S. Vygotsky.

O artigo tem como objetivo comunicar a origem e a evolução da aplicação da ciência psicológica

ao campo multidisciplinar da saúde ocupacional em Cuba. Vários fatores são levados em

consideração nesse processo : O contexto social e sócio-laboral, com uma exposição

relativamente extensa, dada a singularidade do sistema social cubano. A trajetória da saúde

ocupacional no país e sua situação atual crítica. As contribuições da prática profissional dos

psicólogos em cenários de trabalho, que deram origem à psicologia da saúde ocupacional como

uma linha de trabalho em pesquisa, ensino e prática profissional. Enfatiza a necessidade de

desenvolver trabalhos teóricos e metodológicos nessa área do ponto de vista psicodinâmico, que

leva em conta a subjetividade, para a qual é proposta a abordagem histórica cultural de L. S.

Vygotsky.

L'article veut exposer l'origine et l'évolution de l'application de la science psychologique au

domaine multidisciplinaire de la santé au travail à Cuba. Plusieurs facteurs sont pris en compte

dans ce processus : le contexte social et socio-professionnel, qui exige un exposé développé

compte tenu du caractère singulier du système social cubain ; la trajectoire de la question de la

santé au travail dans le pays et sa situation critique actuelle ; les contributions de la pratique

professionnelle des psychologues dans les scénarios de travail, qui sont à la source de la

psychologie de la santé au travail en tant que domaine d'activité de recherche, d'enseignement et

de pratique professionnelle. On souligne la nécessité de développer des travaux théoriques et

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

92

Page 94: Laboreal, Volume 15 Nº2

méthodologiques dans ce domaine, sous un point de vue psychodynamique qui prenne en compte

la subjectivité. L'approche culturelle et historique de L. S. Vygotsky est alors proposée.

The paper aims at communicating the origin and evolution of the application of psychological

science to the multidisciplinary field of occupational health in Cuba. Several factors are taken

into account in this process : the social and socio-labor context, with a relatively extensive

exposure, given the uniqueness of the Cuban social system. The trajectory of occupational health

in the country and its current critical situation. The contributions of the professional practice of

psychologists in work scenarios, which gave rise to occupational health psychology as a line of

work in research, teaching and professional practice. It emphasizes the need to develop

theoretical and methodological work in this area from a psychodynamic point of view, which

takes subjectivity into account, for which the cultural historical approach of L. S. Vygotsky is

proposed.

ÍNDICE

Keywords: occupational health, occupational health psychology, subjectivity, Vygotski, Cuba

Palabras claves: salud ocupacional, psicología de la salud ocupacional, subjetividad, Vygotsky,

Cuba

Palavras-chave: saúde ocupacional, psicologia da saúde ocupacional, subjetividade, Vygotsky,

Cuba

Mots-clés: santé au travail, psychologie de la santé au travail, subjectivité, Vygotsky, Cuba

AUTOR

JORGE JUAN ROMÁN HERNÁNDEZ

Universidad de Ciencias Médicas de La Habana. Facultad de Ciencias Médicas “Julio Trigo”.

Calzada de Bejucal, 7.5 km, CP 10900, La Habana, Cuba, [email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

93

Page 95: Laboreal, Volume 15 Nº2

Trabajo, subjetividad y clínicas deltrabajo : una aproximación al estadode su cuestión en el casocolombianoTrabalho, subjetividade e clinicas do trabalho : uma aproximação ao estado da

questão no caso colombiano

Travail, subjectivité et clinique du travail : approximation de l’etat de question

dans l’affaire colombien

Work, subjectivity and clinics of work : an approximation to the state of the art

in the colombian case

Johnny Orejuela, María del Mar Pérez y Andrés Vásquez

NOTA DEL EDITOR

Manuscrito recibido en septiembre/2019Aceptado tras peritaje noviembre/2019

1. Presentación

1 Este trabajo presenta el balance sobre la investigación alrededor de los desarrollos de

las clínicas del trabajo, en general, y de la psicodinámica del trabajo, en particular, en elcontexto académico colombiano. La relación trabajo-subjetividad comienza a serabordada como foco central de las clínicas del trabajo, y más específicamente desde lapsicodinámica del trabajo, desarrollada por su pionero Christophe Dejours y ampliadaparticularmente en Brasil por los trabajos de Laerte Idal Sznelwar, Selma Lancman, SeijiUshida, Juliana de Oliveira Barros, en la Universidad de São Paulo ; Ana Magnolia

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

94

Page 96: Laboreal, Volume 15 Nº2

Mendes, desde la Universidad de Brasilia y Álvaro Merlo, en la Universidad de RioGrande do Sul.

2 En Colombia, la aparición de trabajos desde esta perspectiva es reciente, debido en

parte a la poca difusión en español de esta perspectiva de análisis. No obstante, seencuentran algunos estudios que han abordado el problema de la relación trabajo-subjetividad, que, aunque no se suscriben como clínicas del trabajo propiamente, síseñalan interés por descifrar los efectos del trabajo sobre la subjetividad y de laparticipación de ésta en el desarrollo de la actividad laboral.

1. Las clínicas del trabajo : una perspectiva clínico-crítica para el análisis/intervención de la relacióntrabajo-subjetividad-contexto

3 En Francia, hacia 1980, emergió el subcampo de la psicodinámica del trabajo dentro del

amplio y tradicional campo de la psicología de las organizaciones y del trabajo.Apareció en cabeza del psicopatólogo del trabajo y también psicoanalista ChristopheDejours y su propósito inicial fue estudiar las psicopatologías derivadas del mundolaboral, para luego abarcar el lugar del trabajo en la economía psíquica de los sujetos yla significatividad anímica del trabajo como organizador socioemocional.

4 La novedad de esta perspectiva fue que superó los prejuicios usando la perspectiva

clínica para analizar el trabajo y sus efectos sobre la subjetividad en clave deexperiencias de malestar subjetivo, sufrimiento y placer. Igualmente, inspiró a leer esteobjeto (la relación trabajo-subjetividad) a partir de otros marcos teóricos referencialescomo los de la teoría de la actividad de Vygotsky y las sociología clínico-crítica y ergonomía

francesas. Todo esto dio lugar al surgimiento de tres perspectivas clínicas del trabajo :la psicodinámica del trabajo, la clínica de la actividad y la sociología clínica (Tabla 1). De aquíque no se trata de una clínica del trabajo en singular, (no es una sola), sino de lasclínicas del trabajo, en plural (Lhuilier, 2006 ; Orejuela, 2018 ; Mendes, Araujo, & Duarte,2014).

Tabla 1 : Las clínicas del trabajo : un campo, tres perspectivas

5 Las clínicas del trabajo hacen parte de la psicología organizacional y del trabajo, pero

no se reducen a ella, sino que pueden ser entendidas como una propuesta sub-

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

95

Page 97: Laboreal, Volume 15 Nº2

disciplinar, con identidad propia (al interior de la psicología aplicada a las

organizaciones y el trabajo), y, a la vez, transdisciplinar (recoge y re-articula conceptosde la antropología, la sociología, la filosofía, el psicoanálisis, la medicina, etc.). Asímismo, el campo de clínicas del trabajo, particularmente la psicodinámica del trabajo,propenden a ayudar a superar tres supuestos hiatos : el primero, la incompatibilidadentre el mundo subjetivo y el mundo del trabajo ; segundo, el aparente abismo entre laPsicología Clínica y la Psicología Organizacional y del Trabajo ; y tercero, el supuestoinfundado de una incompatibilidad entre el Psicoanálisis y el estudio de lasOrganizaciones y del Trabajo.

6 La perspectiva de las clínicas del trabajo ha mostrado valor heurístico y fecundidad

teórica, investigativa y práctica al recoger ampliamente estudios sobre temas queconstituyen los conceptos de la psicodinámica del trabajo, alrededor de los cualesgravitan teoría e investigación, a la vez que sirven de marco teórico de inteligibilidadde la subjetividad implicada en la actividad laboral : placer en el trabajo, sufrimiento

laboral (patogénico, creativo, ético), estrategias de defensa e inteligencia desplegada,

movilización subjetiva, trabajo real, trabajo prescrito, real de trabajo, defensa colectiva y

colectivo de trabajo, psicodinámica del reconocimiento (juicio de utilidad y juicio de belleza),

etc. Toda una gramática conceptual claramente diferenciada de los intereses de lapsicología organizacional tradicional, de origen norteamericano y cuño funcionalista,que se ha centrado en el análisis del trabajo organizado, formal, consistente con laorganización clásica del trabajo (Taylor-fordista) y la teoría del capital humano de T.Shultz, y cuyos ejes temáticos han sido : la cultura, la selección, el clima, el cambio, la

estructura, el liderazgo, el conflicto, los grupos y equipos, el compromiso y los valores

organizacionales, entre otros.

7 Los pioneros y autores representativos de la psicodinámica del trabajo son C. Dejours,

D. Lhuilier, P. Molinier (por citar solo algunos de Francia) y S. Uchida, L. Sznelwar, J. O.

Barros, S. Lancman (2011), Ana Magnolia Mendes y Álvaro Merlo (para el caso deBrasil). En el área francófona de Canadá esta subdisciplina también ha tenido ampliodesarrollo. Sin embargo, hemos de advertir que esta tendencia es poco desarrollada enAmérica Latina, y prácticamente desconocida entre una gran mayoría de investigadoreshispanos y, obviamente, colombianos, lo cual explica que sea una perspectiva deanálisis e investigación, si no inédita, sí poco desplegada y difundida en nuestro país.

8 Las clínicas del trabajo, y más enfáticamente la perspectiva psicodinámica del trabajo

como una de ellas, son una perspectiva del análisis de la relación trabajo-subjetividad, enla que se reconocen tres aspectos importantes : (a) la dimensión singular del sujeto

trabajador ; (b) la centralidad del trabajo en la economía psíquica (psicodinámica) y (c)la organización como contexto especifico de relaciones intersubjetivas y marco

simbólico que pauta el orden de la interacción en las mismas (Tabla 2). Es un abordajeque implica el uso del método clínico, que quizás a los psicólogos organizacionales lesparezca inusual y hasta extraño que pueda articularse al análisis de problemáticaslaborales (labor-reales : laborales reales, o de lo real presente en lo laboral que siempredemanda la recursividad subjetiva para superarlo – como bien lo sugiere el nombremismo de esta revista), porque tienden a asociarlo de manera inmediata y acrítica conla psicoterapia, lo cual no es así necesariamente.

9 Además, la psicodinámica del trabajo, como una de las clínicas del trabajo, por lo menos

en la opinión de Mendes et al. (2014), podría decirse que constituye a la vez unapropuesta de intervención clínico-terapéutica-ampliada en el contexto de trabajo, lo

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

96

Page 98: Laboreal, Volume 15 Nº2

cual supera el prejuicio de que es desaconsejable, e incluso poco ético, procurar tenerefectos psicoterapéuticos en el contexto laboral. Las experiencias de intervenciónclínica con trabajadores de Telecom en Francia (Dejours & Bègue, 2010) y de sindicatosde docentes y personal bancario en Brasil (Mendes et al., 2014), derrumban esteprejuicio, que solo es una racionalización ideológica en la psicología, que carece defundamento y más bien evidencia lo poco que se conoce este campo subdisciplinar ennuestro país.

10 En términos generales, se podría decir que las clínicas del trabajo, y en particular la

psicodinámica del trabajo, tienen por objeto de estudio la relación trabajo-subjetividad-

contexto ; y, por método, el clínico.

Las clínicas del trabajo no tratan de una clínica del diván enfocada enproblemáticas singulares girando en torno a las fantasmáticas individuales.Tampoco se trata de un abordaje que diluye al sujeto en estructuras socialesque lo anteceden. El énfasis de la palabra clínica en ese caso es sobre la articulacióndel mundo psíquico con el mundo social... Y no siendo una clínica exclusivamentedel sujeto intrapsíquico, pero sin desconocerlo, ella incorpora en suscuestionamientos “la producción social del sufrimiento en el trabajo”(Bendassolli & Soboll, 2011, p. 3, traducción libre).

Tabla 2. Triple dimensión del análisis de la relación sujeto-trabajo en las clínicas del trabajo

11 Así, en nuestra consideración, las clínicas del trabajo pueden entenderse como una

apuesta crítica de carácter teórico-clínico-terapéutico-investigativo que se propone ayudar

a comprender, visibilizar y superar el malestar y sufrimiento propios del mundo deltrabajo. Con esto, se podría decir en sentido amplio, que, las clínicas del trabajo, y

particularmente la psicodinámica del trabajo, son una apuesta etho-política

comprometida con tres aspectos fundamentales : (a) denunciar el sufrimientoinvisibilizado que implica el trabajo bajo la gramática de la fragmentación precarizanteque impone el nuevo espíritu del capitalismo, (b) la no banalización de la injusticia

social presente en el mundo del trabajo y (c) aportar un dispositivo de “cura”

(dispositivo de escucha colectiva) para el sufrimiento experimentado en el trabajo.

3. La relación trabajo-subjetividad como foco deinvestigación en Colombia

3.1. La tradición en psicología del trabajo y de las organizaciones

12 En las principales universidades públicas y privadas de Colombia existe una fuerte

tradición de formación en psicología del trabajo y de las organizaciones. Está presente

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

97

Page 99: Laboreal, Volume 15 Nº2

en casi todos los programas de formación ; es la segunda área de aplicación de lapsicología después de la psicóloga clínica y la primera con mayor índice deempleabilidad y calidad de empleo entre los psicólogos profesionales (Orejuela,Bermúdez, Urrea, & Delgado, 2013). Esto ha permitido la proliferación de programas deformación de pregrado y posgrado en psicología de las organizaciones, del trabajo y delos recursos humanos (campo también denominado gestión humana), lo que a su vez haderivado en publicaciones nacionales e internacionales, pero de manera dispersa.

13 En Colombia no existe una revista especializada en este campo pese al alto volumen de

producción científica en él, lo que señala la necesidad de un órgano difusorespecializado y de alto impacto que concentre la producción nacional a este respecto,porque existe un conjunto de investigaciones y publicaciones derivadas de los trabajosde grado e investigaciones desarrolladas en los principales grupos de investigación delos diferentes departamentos y facultades de psicología, que toman como foco larelación trabajo-subjetividad.

14 La subjetividad puede expresarse en diferentes dimensiones, según la relación con el

trabajo : La subjetividad laboral, la identidad laboral, el contrato psicológico, los sentidos

atribuidos al trabajo, la valoración subjetiva del trabajo, y, por supuesto, las experiencias de

placer, malestar y sufrimiento en el trabajo, que han sido objeto de investigación en elcontexto colombiano. Cabe destacar el papel de los grupos de investigación en elproceso de formación de investigadores y sobre el abordaje de estos temas. Lospropósitos de los grupos se centran de manera específica en la psicología del trabajo ylas organizaciones, o en líneas de trabajo, aunque adscritas a grupos mayores ygeneralistas, reconocidos por el sistema de ciencia y tecnología colombiano(Colciencias). Estos grupos se adscriben a universidades a redes, así como del Nodo enPsicología Organizacional y del Trabajo (POT), adscrito a la Red Colombiana deInvestigadores en Psicología, auspiciada por la Asociación Colombiana de Facultades dePsicología (Ascofapsi).

15 Es de destacar el papel que ha cumplido el nodo de investigación en POT en la

articulación de los investigadores especializados en este campo y como un espacio dedifusión de la investigación en general, así como también, más recientemente, lainvestigación asociada a las clínicas del trabajo. El nodo ha capitalizado los esfuerzos deinvestigación en los que la temática trabajo-subjetividad ha sido abordada hasta elmomento en tres proyectos editoriales, que han consolidado la investigación nacional,con algunas participaciones internacionales, entre las que se encuentran la de laprofesora Ana Magnolia Mendes como una de las principales representantes de laclínica del trabajo en América Latina.

16 El primero de los tres volúmenes titulado Psicología Organizacional y del Trabajo :

Reflexiones y experiencias de investigación (Rentería & Aguilar, 2009), aborda temas como :la construcción de sujetos en las nuevas realidades laborales (Peralta, 2009) ; el contratopsicológico y las nuevas realidades del trabajo (Vesga, 2009) ; una lectura crítica de lasoperaciones de la Psicología en su relación con el trabajo (Pulido, 2009) ; la fatigalaboral como una consecuencia en la salud derivada de la organización del trabajo(Fang, 2009) ; el Mobbing y la violencia en las organizaciones (Giraldo, Aguilar &González, 2009), y la promoción de la salud en el lugar de trabajo (Gómez, 2009), entreotros.

17 El segundo volumen, Psicología de las Organizaciones y del trabajo : Apuestas de investigación

(Orejuela, 2014a), discute en varios de sus capítulos sobre la relación trabajo-

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

98

Page 100: Laboreal, Volume 15 Nº2

subjetividad, aludiendo a temas tales como : el significado del trabajo (Del Carpio,Álvaro & Garrido, 2014) ; la identidad profesional y la agencia (Andrade, 2014). Elcontrato psicológico (Vesga, 2014) ; la motivación y satisfacción laboral (García &Forero, 2014) ; la fatiga laboral (Neisa, Godoy & Tangarife, 2014) las estrategias deafrontamiento del estrés (Montoya & Panesso, 2014), entre otros. Además, en estevolumen se aborda por primera vez y de manera explícita la temática de las clínicas deltrabajo, mediante un estado de la cuestión en América Latina (Melo & Orejuela, 2014),un trabajo sobre la valoración subjetiva del trabajo en clave de placer y sufrimiento(Orejuela, 2014c) ; y la escucha clínica y política del sufrimiento en el trabajopresentada por Ana Magnolia Mendes (Mendes et al., 2014), entre otros, que sedescribirán más adelante.

18 El tercer volumen, Psicología de las Organizaciones y del trabajo : Apuestas de investigación II

(Orejuela, Andrade & Villamizar, 2014), incluye trabajos que aluden a la relacióntrabajo-subjetividad como : el acoso laboral (Araujo, 2014) ; las actitudes frente a lareintegración laboral (Grueso, Antón & Lopez-Santamaia, 2016) ; el contagio emocionalen las organizaciones (Delgado, 2016) ; el estrés y su afrontamiento en el ámbitoorganizacional (García & Vélez 2016), entre otros. También son abordados de nuevotemas específicos en clínica del trabajo como : el malestar en el trabajo, el métodoclínico y el trabajo con grupos en las organizaciones, la experiencia clínica con ungrupo de enfermeras en su lugar de trabajo y el trabajo como un factor productor desufrimiento subjetivo, entre otros que también se describirán en detalle.

19 Aparte del nodo de investigación en POT, también se deben resaltar en este mapa

académico del abordaje de la relación trabajo-subjetividad los desarrollos del grupo deinvestigación en Psicología Organizacional y del Trabajo, dirigido por el profesor ÉricoRentería, y del doctorado en psicología de la Universidad del Valle, en el cual, cabesubrayar, se han formado la mayoría de los doctores en psicología del trabajo en el país,con trabajos que involucran : “Contenido y extensión del contrato psicológico según lamodalidad de trabajo” (Vesga, 2015) ; “Carrera, identidad y trayectorias en condicionesde trabajo fragmentado” (Giraldo, 2015) ; “El burnout como una metáfora paracomprender las relaciones y contextos de trabajo desde la salud” (Díaz, 2017) ; “Elsignificado del trabajo y el sentido de la producción académica” (Romero, 2017) ; “Laconfiguración de la identidad profesional en trabajadores de alta empleabilidad”(Andrade, 2015) ; y, “Emprendimiento, gubernamentalidad y subjetividad” desarrolladapor Deidi Maca (2019), bajo la orientación del profesor Nelson Molina

20 En trabajos de pregrado y maestría se destacan algunos que han derivado en

publicaciones nacionales e internacionales. : “La identidad profesional de dirigentes deorganizaciones no gubernamentales” (Torres, 2010) ; “La identidad profesional y eldesarrollo de carrera en mujeres gerentes” (Galves & Garcés, 2013) ; y, “La construcciónde la identidad de profesionales en oficiales de policía” (García, 2014).

21 Finalmente, otro polo de desarrollo de la investigación sobre la relación trabajo-

subjetividad ha estado en el grupo de investigación Estudios Críticos de las Organizaciones

y del Trabajo de la Universidad Javeriana, bajo la dirección del profesor Hernán CamiloPulido (2012, 2013, 2018), en el cual, desde la perspectiva de una psicología crítica, sehan abordado temas relacionados con el trabajo y la subjetividad en clave de identidad,la subjetividad laboral y patologización y despatologización de los discursospsicológicos (Pulido & Carvajal, 2014), entre otros.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

99

Page 101: Laboreal, Volume 15 Nº2

3.2. El desarrollo de la investigación sobre la relación trabajo-subjetividad

22 El desarrollo de la investigación sobre la relación trabajo-subjetividad, y

específicamente de la aproximación de la investigación sobre el placer y el sufrimientoen el trabajo, se encuentra en el grupo de investigación Estéticas Urbanas y Socialidades

de la Facultad de Psicología de la Universidad de San Buenaventura, Cali, con su líneade investigación Aproximación Interdisciplinaria del Trabajo y las Organizaciones. EnMedellín, los grupos de investigación El Método Analítico y sus aplicaciones a las Ciencias

Sociales y Humanas, de la universidad EAFIT y COMPHOR, de la Universidad de Antioquia,se constituyen también en focos de formación y de difusión, no sólo de lasinvestigaciones que se concentran en el abordaje de la relación trabajo-subjetividad,sino también de la perspectiva Clínica del Trabajo. Más adelante, a partir de la página20, se describen los trabajos y aportes de estos grupos.

23 Este desarrollo investigativo se puede entender en concentración de publicaciones y

difusión. En cuanto a concentración, las temáticas de la subjetividad laboral (Orejuela &Ramírez, 2011) y los sentidos del trabajo (Corredor, Páramo, & Orejuela, 2018 ; Romero,Blanch, & Rentería, 2016) son quizás las líneas que mayor número de trabajosinvestigativos y publicaciones sobre expresiones de la relación trabajo-subjetividad. Encuanto a la difusión de este conocimiento especializado se resalta el papel que hanjugado revistas como Universitas Pshychologica, (Universidad Javeriana, Bogotá),Diversitas, (Universidad Santo Tomás), Psicología desde el Caribe, (Universidad del Norte),Pensamiento Psicológico, (Universidad Javeriana, Cali), y Revista Guillermo de Ockham

(Universidad de San Buenaventura, Cali) ; y, el Congreso Colombiano de Psicología, puesdesde 2015 ha incluido la perspectiva clínica del trabajo mediante simposios yponencias que presentan y discuten los temas relativos a la perspectiva Clínica delTrabajo y al placer y sufrimiento en el trabajo como manifestaciones de la subjetividad.

24 Finalmente, si bien las relaciones trabajo-subjetividad y salud mental o psíquica han

tenido una amplia discusión, sobre todo desde la perspectiva de la psicología de la saludocupacional y de los riesgos psicosociales (Lemos, Calle, Roldán, Valencia, Orejuela, &Román-Calderón, 2019), incluso desde la perspectiva de la felicidad y el bienestarpsicológico en el trabajo (Sanín, 2016), y de las organizaciones saludables (Grueso,2016), aun en el país no existe un evento de envergadura que aglutine a losinvestigadores para discutir las implicaciones del trabajo sobre la subjetividad desdeuna perspectiva Clínica del Trabajo, debido precisamente a que es una perspectiva aunpoco conocida en nuestro contexto y aun no logra consolidar la masa crítica suficiente.Como en el caso de las revistas, estas participaciones están dispersas en eventos másamplios de psicología general o de salud ocupacional. Hay mora de plantear un eventodesde la psicología que permita socializar los diferentes esfuerzos de investigación yformación alrededor de la relación trabajo-subjetividad en una perspectiva clínica, yaque quizás ahora exista un volumen de trabajos suficientes que puedan dar lugar a unevento de tal naturaleza.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

100

Page 102: Laboreal, Volume 15 Nº2

4. La perspectiva de las clínicas del trabajo y lasorganizaciones en Colombia

4.1. Presencia de las clínicas del trabajo en la formación depregrado

25 Si bien la producción en español sobre la relación trabajo-subjetividad en una

perspectiva clínica del trabajo aún es limitada, desde 2014 se ha iniciado con fuerza enColombia la difusión de esta perspectiva en varias vías : trabajos de grado de pregrado yposgrado, publicaciones, participación en congresos y formaciones específicas en eltema.

26 En cuanto a las participaciones en congresos, en 2015 el autor principal de este texto

presentó por primera vez en la historia académica del campo de la PsicologíaOrganizacional y del Trabajo una conferencia central sobre Clínicas del trabajo, titulada“Las clínicas del trabajo : una perspectiva de análisis de la relación sujeto-trabajo entiempos de fragmentación laboral”. Esta presentación ocurrió en el CongresoColombiano de Psicología, evento organizado por la Asociación Colombiana deFacultades de Psicología (Ascofapsi) y el Colegio Colombiano de Psicología (Colpsic). Endicho congreso también se presentó el primer taller pre-congreso sobre esta temáticatitulado : “El malestar en el trabajo : elementos para un diagnóstico crítico en tiempo defragmentación del trabajo”.

27 Para 2017, esta perspectiva volvió a presentarse en el Congreso Colombiano de

Psicología, como simposio entre profesores de la Universidad de Antioquia y laUniversidad EAFIT titulado : “Clínica Analítica de las organizaciones y del trabajo”. Eneste mismo congreso se presentó también la conferencia central : “Teoría y práctica dela mediación, una lectura desde la perspectiva de Gilbert Simondon y el Métodoanalítico en las organizaciones”, por parte del doctor en Administración Carlos MarioHenao, de la Universidad EAFIT.

28 En noviembre de 2016, en la Institución Universitaria Cesmag, de la ciudad de Pasto, se

presentó la conferencia central “El malestar laboral en tiempos de fragmentación”, enel marco del VII Congreso Internacional Perspectivas y Abordajes de la PsicologíaClínica en la Actualidad. Cabe indicar también que, previo a la explosión de trabajossobre esta subdisciplina después de 2014, el profesor Horacio Manrique había hechouna avanzada en la presentación de una comprensión desde el método clínico delmundo de las organizaciones y del trabajo en el III Congreso Nacional de PsicologíaColpsic-Ascofapsi del año 2013, con la ponencia “Clínica de las organizaciones : unaaplicación del método analítico” ; y en el XVIII Congreso Internacional de Psicoterapiade Grupo y Procesos Grupales, en julio de 2012 en Cartagena, participó con la ponencia“Clínica de las organizaciones”, una perspectiva aún más inusual en nuestro contextoacadémico para esa fecha.

29 Recientemente, en octubre de 2018 hubo participación de diez trabajos de autores

colombianos en el Simposio franco-latinoamericano sobre subjetividad y trabajo : entre el

malestar y el bien estar : entre ellos se destacan los siguientes trabajos por serespecíficamente desarrollados en la perspectiva clínica psicodinámica del trabajo : lanegación del reconocimiento como determinante del malestar en el trabajo : unas lectura entre

Honneth y Dejours, ponencia central presentada por Johnny Orejuela ; La evaluación del

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

101

Page 103: Laboreal, Volume 15 Nº2

desempeño : entre la sujeción del trabajador y lo humano e inhumano en la organización por

Sergio René Oquendo Puerta y Héctor L. Bermúdez de la Universidad de Antioquia ;

Experiencias de sufrimiento laboral en trabajadores por Iván David Jojoa Arcos, CanadyOrdoñez Pérez y Juan Pablo Mora de la Institución Universitaria Cesmag ; Sentidos

atribuidos a las experiencias de reconocimiento por un grupo de investigadores de una

universidad pública colombiana por Daniel Ernesto Gómez de la Maestría en Psicología dela Universidad de Antioquia ; Escenarios de expresión oral para tramitar el sufrimiento

laboral por Iván David Jojoa Arcos y Johana Trujillo Zambrano de la InstituciónUniversitaria Cesmag de Pasto, Nariño.

30 De igual manera, en la Facultad de Psicología de la Universidad de San Buenaventura,

en Cali, la profesora María del Pilar Murcia ha dirigido también tres Trabajos de Gradoa nivel de pregrado en el campo de las clínicas del trabajo, los cuales han versado sobrela dimensión dialéctica del trabajo como fuente de placer y sufrimiento (Giraldo, 2018) ;los efectos de la negación del reconocimiento en la autopercepción de docentes(Londoño, 2015) ; y las experiencias de placer y sufrimiento en trabajadoras sexuales(López, 2017).

31 En paralelo a la divulgación, en la formación se dio un primer ejercicio en el ámbito

formal entre 2016 y 2017. Desde la Universidad EAFIT se ofreció el primer diplomado enel país que apuntó a presentar y formar desde una perspectiva clínica para el análisis delas organizaciones y del trabajo, y que llevó por nombre Diplomado en Clínica analíticade las organizaciones. De igual manera, el programa de Maestría en Psicología quepróximamente ofrecerá la Universidad EAFIT tendrá una línea de énfasis en clínica de las

organizaciones y del trabajo.

32 En esta misma línea de formación, los profesores Carlos Mario Henao y Horacio

Manrique dirigieron en la Universidad EAFIT entre 2009 y 2014 el grupo de estudioGestión humana de orientación analítica ; del que surgió la idea de realizar el proyecto deinvestigación Clínica de las organizaciones : una aplicación del método analítico, bajo elauspicio del Grupo de investigación interinstitucional El método analítico y sus aplicaciones en

las ciencias sociales y humanas (Universidad EAFIT y Universidad de Antioquia).

33 En relación con la formación se destacan también ya varios trabajos de grado de

pregrado, especialización, maestría y doctorado, que se han desarrollado en laperspectiva de una clínica del trabajo y las organizaciones. En pregrado, la profesoraAngélica Delgado de la Universidad de San Buenaventura dirigió el trabajo “Lainvestigación como trabajo, ¿un escenario de placer, sufrimiento y lucha por elreconocimiento ? : un estudio en un grupo de ocho investigadores de la ciudad de Cali”(Quiroga & Valencia, 2016). Por su parte, Angélica Meléndez (2018), bajo la supervisióndel profesor Wilner Riascos, desarrolló el trabajo “Causas, síntomas y estrategias dedefensa del malestar y el sufrimiento en altos mandos de la ciudad de Cali”.

34 En el pregrado en Psicología de la Universidad EAFIT los estudiantes han comenzado a

interesarse por las Clínicas del Trabajo y su abordaje de problemáticas relativas alplacer y el sufrimiento y así han escogido diferentes campos de verificación empírica deesta perspectiva clínico-teórica. Eugenia Durando (2019) se interesó por comprender las“Vivencias de placer y sufrimiento en el trabajo como Chef” y su trabajo de grado fuereconocido como meritorio por su novedad y rigor ; Alejandro Correa (2019) se interesóen conocer las “Experiencias de malestar, sufrimiento y placer en el trabajo de pilotosde aerolíneas Charter” ; Andrés Felipe López (2019) indagó las experiencias de “Placer ysufrimiento en el proceso de sucesión de empresa familiares” ; Anderson Gañan (2019)

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

102

Page 104: Laboreal, Volume 15 Nº2

indagó para conocer las “Experiencias de placer y sufrimiento en el trabajo deperiodistas” ; Javier Cardona (2019) se preocupó por el “Placer y sufrimiento entrabajadores emprendedores” y, debido a las recurrentes quejas de malestar en laformación y realización de la tesis doctoral, Laura Aristizabal (2019) se interesó porrealizar una investigación sobre las vivencias de placer y sufrimiento en este nivel deformación.

35 Por su parte, la profesora Adaneis Álvarez, en el programa de Psicología de la

Universidad Católica de Pereira dirigió el trabajo “El sufrimiento del sujeto por eltrabajo : una aproximación psicoanalítica” (García, 2015). En 2019, en el departamentode psicología de la Universidad EAFIT, se fundó el primer semillero de investigaciónsobre clínica del trabajo y las organizaciones, bajo el liderazgo del estudiante AndersonGañan, y en concordancia con la línea de investigación del mismo nombre de laMaestría en Psicología del mismo departamento. De la misma manera, los profesoresSergio Oquendo y Héctor Bermúdez lideran el grupo de estudio adscrito a la maestríaen gestión humana y el grupo de investigación Comportamiento Humano en la Organización

(Comphor) de la Universidad de Antioquia, en el que se debaten temas sobre la relacióntrabajo-subjetividad en perspectiva Clínica del Trabajo.

36 Estas dos iniciativas, inéditas a la fecha en Colombia, indican el crecimiento del interés

por la Clínica del Trabajo en nuestro país. Si bien hasta el momento no existe unamaestría especializada en Clínica del Trabajo, es de reconocer que la Maestría enPsicología de la Universidad de EAFIT es la primera en Colombia en desplegar una líneade énfasis en Clínica del Trabajo y las Organizaciones, con lo que espera servir desemillero para la formación de investigadores con esta perspectiva, y que sus esfuerzosse traduzcan en una mayor investigación y publicación en el país.

37 Finalmente, otra de las universidades que ha comenzado a desarrollar trabajos de

formación en investigación sobre la psicodinámica del trabajo ha sido la UniversidadCesmag de Pasto, Nariño, bajo la dirección del profesor Iván David Jojoa Arcos se handesarrollado los trabajos de pregrado : “Experiencias de sufrimiento laboral en

trabajadores” (Ordoñez & Mora, 2018) y “Escenarios de expresión oral para tramitar elsufrimiento laboral” (Trujillo, 2018).

4.2. Presencia de las clínicas del trabajo en la formación deposgrado

38 En el marco de la Especialización en Psicología Clínica con Orientación Psicoanalítica de

la Universidad de San Buenaventura, Cali : Johnny Orejuela dirigió los trabajos : “Lasignificatividad anímica del trabajo : una lectura psicoanalítica del valor del trabajo enla constitución del sujeto” (Ruiz, 2015) y “Pasando del malestar al sufrimiento : lo nodicho que se escucha a través del síntoma de un docente” (Murcia, 2015). Igualmente,Sandra Sanabria (2016) desarrolló una investigación alrededor de “El sufrimientopsíquico de militares frente al retiro laboral”, bajo la orientación del profesor ManuelMoreno.

39 En el nivel de maestría, el profesor Horacio Manrique, en el marco de la Maestría en

Desarrollo Humano Organizacional de la Universidad EAFIT, ha dirigido los trabajos :“Gestión humana de orientación analítica : un camino para la responsabilización”(Pérez & Lopera, 2016) y “Método clínico y trabajo analítico con grupos en el ámbitoorganizacional” (Ramírez, 2013) ; mientras que, en esta misma maestría, Lina María

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

103

Page 105: Laboreal, Volume 15 Nº2

Gómez (2014), bajo la dirección de Isabel Lopera, desarrolló la tesis “Aplicaciones de laentrevista clínica en los procesos de selección de personal en la ciudad de Medellín”. ASandra Moreno (2019), por su parte, le interesó caracterizar las experiencias de placer ysufrimiento en trabajadores de áreas de gestión humana comparando a profesionalesde psicología con los de otras promociones.

40 En la Maestría en Psicología de la Universidad de San Buenaventura, Cali : Johnny

Orejuela dirigió el trabajo titulado : “Experiencias de placer y sufrimiento en el trabajode un grupo de altos ejecutivos de empresas privadas de la ciudad de Cali” (Londoño,2016) ; en la Maestría en Psicología de la Universidad de Antioquia, la profesora LinaMarcela Gil y el mismo autor dirigieron la investigación : “Sentidos atribuidos a lasexperiencias de reconocimiento en el trabajo. Estudio de caso de investigadores de unauniversidad pública colombiana” (Gómez, 2018), la cual por su novedad, envergadura yrigor fue meritoria de una distinción. El profesor Julio Rubio, en la Maestría en AltaDirección de Servicios Educativos de la Universidad de San Buenaventura, Cali : dirigióel trabajo : “Experiencias de malestar y sufrimiento en el trabajo de altos directivos deservicios educativos de instituciones públicas y privadas de la ciudad de Cali” (Rave,2017).

41 En esta misma dirección de trabajos de grado de posgrado, la tesis doctoral del profesor

Horacio Manrique, presentada en 2017, “Pensamiento intuitivo y deliberado en laexperiencia de toma de decisiones intuitivas en directivos expertos colombianos”, sibien no apela en su título a los significantes clínica del trabajo o de las organizaciones,sí analiza el fenómeno laboral de la toma de decisiones de directivos empresarialesdesde una perspectiva clínica. En síntesis, se encuentran cuatro tesis de doctoradodesarrolladas por investigadores colombianos, relacionadas con el campo de las clínicasdel trabajo y las organizaciones : la de Lina Marcela Gil, la de Carlos Mario Henao,presentada en 2016, la de Horacio Manrique y la de Sergio Oquendo (2019). Nocontamos aquí la tesis de Orejuela (2014b), “O mal-estar subjetivo derivado dafragmentação laboral”, porque si bien fue desarrollada por un autor colombiano, serealizó en el marco del doctorado en psicología social del trabajo de la Universidad delSao Paulo, bajo la dirección del profesor Sigmar Malvezzi.

42 Quizás la primera tesis doctoral desarrollada en el país, es decir con impronta

específicamente colombiana, en la perspectiva propiamente dicha de la clínica deltrabajo que se sirve directamente tanto de los trabajos de Christophe Dejours como delos planteamientos de Axel Honneth, fue “El reconocimiento en los discursos deevaluación de desempeño”, desarrollada por el profesor Sergio Rene Oquendo Puerta,presentada en 2019, bajo la dirección del Doctor Rodrigo Muñoz, en el marco deldoctorado en Administración de la Universidad de EAFIT.

43 Como consecuencia, en parte, y por la influencia de la presencia de profesor Héctor

Bermúdez también formado en Sociología y Clínica del trabajo en Canadá, en laMaestría de Gestión Humana de la Universidad de Antioquia, comienzan a desarrollarseinvestigaciones en la perspectiva de la psicodinámica del trabajo a través de trabajoscomo “El placer y el displacer en el trabajo en un hospital público de Nechí”,desarrollado por Alexandra Quinta y Diana Sanclemente (2019), bajo la orientación delos profesores Óscar Ortiz y Sergio Oquendo. Se encuentra también el trabajo “Placer ysufrimiento en auxiliares de ambulancia del Municipio de Medellín” de Juliana MuñozSoto y Yoleni García Torres, presentada en 2019, bajo la dirección de Sergio Oquendo.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

104

Page 106: Laboreal, Volume 15 Nº2

4.3. La principal producción escrita sobre las clínicas del trabajo enColombia

44 La producción escrita se encuentra dispersa en libros, capítulos de libros y artículos y

ha venido en aumento en los últimos años. Se destacan el libro : Gramáticas actuales de la

relación sujeto trabajo, en la que Sigmar Malvezzi et al. (2012) aborda la necesidad de unalectura clínica de la relación sujeto-trabajo en la era de las empresas red, así como losefectos subjetivos de malestar y sufrimiento en el trabajo derivados de la flexibilizaciónlaboral precarizante. En 2014, en el primer volumen del libro Psicología de las

organizaciones y del trabajo : apuestas de investigación se publica por primera vez en unlibro colombiano algo sobre las clínicas del trabajo, destacándose la colaboración de laprofesora Ana Magnólia Mendes, quien junto con Luciane Araujo y Fernanda Duarte(Mendes et al., 2014), presenta su trabajo titulado Escucha política y clínica del sufrimiento

en el trabajo : contribuciones desde las prácticas en clínica brasileña de psicodinámica del

trabajo, y el trabajo del profesor Marcelo Ribeiro (2014), de la Universidad de São Paulo,titulado Problemas contemporáneos para a psicología do trabalho e das Organizações, en elcual toca explícitamente como un tópico relevante y actual el problema del sufrimientoen el trabajo.

45 En este mismo libro se publican por autores colombianos, apelando a los significantes

clínica del trabajo y sufrimiento laboral por primera vez en la literatura académicanacional, los trabajos : “La identidad de la evaluación subjetiva del trabajo : de lasatisfacción al sufrimiento laboral” (Orejuela, 2014c) y “Clínicas del trabajo : un estadode la cuestión” (Melo & Orejuela, 2014). De cuño plenamente colombiano se destaca lapublicación de los profesores Horacio Manrique y Carlos Mario Henao, en coautoría conIsabel Lopera, Juan Pérez y Victoria Ramírez (2015) quienes publican el que sería elprimer libro en una perspectiva clínica y analítica de la relación sujeto-organizacióntitulado : Clínica analítica de las organizaciones. Adicionalmente, y sin inscribirloexplícitamente en una clínica del trabajo, la profesora de la Universidad de AntioquiaLina Marcela Gil (2016) publica Psicología, Trabajo e Individuación, el cual se podríacaracterizar como una lectura clínica del sujeto en el contexto laboral desde laperspectiva de la psicología de Gilbert Simondon. Cabe aclarar que estos dos últimoslibros han sido publicados en coedición por el fondo editorial de la Universidad Eafit yla editorial San Pablo y son resultado de trabajos desarrollados por investigadores delGrupo de Investigación El método analítico y su relación con las ciencias sociales y humanas.En la misma línea clínica y simondoniana, el profesor Carlos Mario Henao (2019), de laUniversidad EAFIT, publicó el libro Individuación y mediación analítica en contextos

organizacionales.

46 Ampliando la difusión de la perspectiva clínica del trabajo en Colombia, en el segundo

volumen del libro Psicología de las organizaciones y del trabajo : apuestas de investigación II

se hicieron múltiples contribuciones. Allí, el profesor Thomas Périlleux (2016) de laUniversidad Católica de Lovaina, presentó su trabajo titulado “Malestar y sufrimientoen el trabajo : una comprensión institucional”. Por su parte, Armando García (2016), dela Universidad de Puerto Rico, presentó el capítulo “Experiencia clínica con un grupode enfermeras en su lugar de trabajo, consideraciones teóricas y metodológicas”. Lasprofesoras Lina Marcela Gil y Jennifer Ortiz (2016) presentaron el trabajo“Comunicación e individuación : las organizaciones en su dimensión transindividual”,afianzando la perspectiva de Gilbert Simondon en el campo laboral. Por su parte,

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

105

Page 107: Laboreal, Volume 15 Nº2

Victoria Ramírez y Horacio Manrique (2016) aportaron el trabajo “Método clínico ytrabajo analítico con grupos en el ámbito organizacional”.

47 En el mismo sentido, en el libro Abordajes psicoanalíticos a inquietudes sobre la subjetividad

III, dirigido principalmente a un público psicoanalítico, se publicaron dos trabajos quebuscan introducir las reflexiones desde las clínicas del trabajo en este campo, en el cuales escaso el conocimiento de esta perspectiva en la que se usa el arsenal conceptualheredado por Freud y Lacan, aplicado a la comprensión del sufrimiento en el contextode trabajo con un enfoque clínico-crítico. Se trata de los capítulos : “Del malestar alsufrimiento : lo no dicho que se escucha a través del síntoma de un docente” (Murcia &Orejuela, 2016), y también su contribución “Malestar, sufrimiento y síntoma : suscualidades subjetivas y su comprensión en el mundo del trabajo”.

48 En este esfuerzo de difusión editorial se suma el capítulo “El malestar laboral en las

clases medias profesionales : el impacto de la fragmentación del trabajo” (Orejuela &Patiño, 2016) en el libro Pensar las clases medias profesionales : trayectorias, paradojas,

estrategias y malestares. Otros dos libros publicados en español por investigadorescolombianos, haciendo uso del referencial psicoanalítico, que han contribuido aldesarrollo de una perspectiva clínica del trabajo y las organizaciones son : Fantasías que

crean empresa : elementos psicoanalíticos sobre la génesis de las empresas familiares (Ortiz &Bermúdez, 2015) ; y El malestar en la empresa : un síntoma del sujeto contemporáneo

(Villegas, 2015).

49 Quizás el primer libro en el país escrito en una perspectiva Clínica del Trabajo, alineado

con la tradición psicodinámica de clínica brasilera y francesa es el libro Clínica del

Trabajo : El Malestar subjetivo derivado de la fragmentación laboral (Orejuela, 2018), el cualaborda la discusión amplia y muy bien fundamentada sobre cómo las actualescondiciones de fragmentación y precarización del trabajo (menos salario, másexigencias, peores contratos, más barreras a la inserción laboral, más tiempo de trabajointensificado y bajo presión y menos reconocimiento, etc.) producen efectos demalestar y sufrimiento subjetivo en el campo laboral. Este libro articula y cierra el hiatoentre la psicología clínica y la psicología organizacional y del trabajo, para dar lugar auna comprensión clínica de la relación del sujeto con el trabajo, más allá de laspreocupaciones eficientistas y pragmatistas que han dominado la reflexión sobre elcampo de la salud mental en el trabajo en Colombia.

50 El libro Clínica del Trabajo de Orejuela Gómez tiene como principal mérito involucrar el

lector en las cuestiones del trabajo y acompañarlo en la búsqueda de la profundizaciónen su estudio. Su lectura enriquece la comprensión de la interfaz entre el trabajo y laexistencia humana, aunque los interrogantes sigan renitentes, o incluso aumentados. Sila lectura de este libro multiplica las cuestiones en la mente del lector, esas nuevasinquietudes serán señales de su mayor dominio sobre ese objeto. (Malvezzi, 2019, p. 66).

51 Pasando a la producción de artículos publicados en español por autores colombianos se

destacan a su vez : Gestión humana de orientación analítica : un camino para laresponsabilización (Pérez & Lopera, 2016) ; Una revisión crítica de la noción desufrimiento presentada por la psicodinámica del trabajo (Orejuela & Malvezzi, 2016) yClínica analítica de las organizaciones : una propuesta conceptual (Manrique, Lopera, &Pérez, 2018), estos dos últimos publicados en la Revista Trabalho (En)Cena.

52 Desde Montreal, Canadá, otro centro de producción del conocimiento sobre clínica del

trabajo, el profesor colombiano Héctor Bermúdez, quien tuvo a su cargo la cátedra deSociología de la Empresa y fue Investigador del Département de l’enseignement du

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

106

Page 108: Laboreal, Volume 15 Nº2

management, de la Université HEC-Montréal, ha contribuido con la difusión de laperspectiva clínica del trabajo en español a través de trabajos como : Sobre laalienación subjetiva en la organización del trabajo actual : una observación participanteen el comercio de la alimentación al detal (Bermúdez, 2016) ; Sociología Clínica yPsicodinámica del Trabajo en el estudio del placer y el sufrimiento en el trabajocotidiano (Bermúdez, 2013) ; y apelando al referencial psicoanalítico para una lecturaclínico social de la empresa publicó : ¿De la horda a la empresa ? Una comparaciónpreliminar de la empresa con la masa organizada, ya estudié antes por el autor.

53 Recientemente, María Alejandra Gómez y Paula Andrea Calderón (2017) publicaron un

artículo en el que integran la categoría sufrimiento desde una perspectivapsicodinámica, comparando esta perspectiva con la de organización saludable, de cara adescifrar el fenómeno de la salud mental en el trabajo. Por su parte, Néstor Porras-Velásquez (2017) plantea un análisis de la relación entre la salud mental y el malestarhumano en el trabajo.

54 Finalmente, vale la pena destacar que en el marco de la Conferencia Iberoamericana sobre

Seguridad, Salud y Subjetividad en el Trabajo realizada en 2015, en la Universidad de SanBuenaventura, Cali : se desarrolló el Panel Internacional sobre Clínicas del Trabajo,contando por primera vez en Colombia con la presencia de la profesora Ana MagnoliaMendes, de la Universidad de Brasilia, quien ofreció una conferencia sobre “La escuchaclínica del sufrimiento en el trabajo : contribuciones de la clínica psicodinámica deltrabajo brasilera”. En este mismo panel, el autor principal del presente artículoparticipó con una ponencia titulada “El malestar subjetivo en el trabajo y suscondiciones de posibilidad : una lectura desde las clínicas del trabajo” ; y la profesoraTania García Ramos, de la Universidad de Puerto Rico, cerró el panel con una ponenciasobre “La psicología y la salud ocupacional en Puerto Rico : complejizando la categoríade salud desde una mirada histórico-crítica”.

55 Estas conferencias, que se encuentran en proceso con la editorial Bonaventuriana para

la consolidación de un libro fueron organizadas por la Red Iberoamericana para laPromoción de la Seguridad Integral en el Trabajo (Ripsip), que en esta oportunidad fueliderada en Colombia por el profesor Octavio Alberto Orozco, director de laEspecialización en Psicología de la Salud Ocupacional de la Universidad de SanBuenaventura, Cali : posgrado que alojó y patrocinó el evento. Cabe aclarar que estaespecialización es única en su tipo en Latinoamérica y es hasta el momento el primerposgrado en nuestro país dentro del cual se ofrecieron cursos electivos sobre laperspectiva clínica del trabajo y su relación con la salud ocupacional, y particularmentecon la investigación y teorización sobre los riesgos psicosociales en el contexto laboral.

4.4. Síntesis de la producción académica sobre la relación trabajo-subjetividad y clínica del trabajo en Colombia

56 La tabla presentada en el Anexo, después de la bibliografía final, y que la completa para

las referencias, sintetiza la producción académica directamente relacionada sobreclínica del trabajo, refiriéndose los trabajos de grados de los diferentes niveles deformación.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

107

Page 109: Laboreal, Volume 15 Nº2

5. Conclusiones

57 Se puede concluir que en Colombia las clínicas del trabajo y las organizaciones vienen

desarrollándose con mayor fuerza en los últimos cinco años. Desde 2014,particularmente en Cali y Medellín, ha sido evidente su mayor difusión y alcance tantoen el número de publicaciones (artículos, capítulos y libros) como de presencia en lavida académica a través de la participación en congresos, paneles y actividades deformación (cursos, direcciones de tesis) a nivel de pregrado y posgrado ; solo restacomenzar a hacer encuentros académicos especializados en esta área subdisciplinar :coloquios, simposios, congresos, etc.

58 La relación trabajo-subjetividad como foco de investigación tiene una relativa tradición

en el campo de la Psicología Organizacional y del Trabajo en Colombia, no obstante,sólo en el último lustro ha comenzado a emerger como perspectiva especifica deanálisis la Clínica del Trabajo en el país. La dilatación temporal de la llegada de laClínica del Trabajo a Colombia ha tenido como principal obstáculo la limitada difusiónde esta perspectiva en el idioma español, pues la mayoría de las producciones esta enfrancés y portugués. Aun así, la migración académica de algunos de los profesores dePsicología del Trabajo a Brasil facilitó por primera vez el contacto con esta perspectivade análisis y campo subdisciplinar y transdisciplinar. Cabe destacar la presencia delprofesor Sigmar Malvezzi de la Universidad de Sao Paulo como formador de varios delos doctores y magísteres colombianos en el campo POT, lo que se constituyó en unaoportunidad, una interfaz, para conocer los trabajos de Christophe Dejours, DominiqueLhuilier y Ana Magnolia Méndes.

59 El contacto general con el contexto académico brasilero potencializó ampliamente las

posibilidades de inserción de la perspectiva clínica del trabajo en el país, aún incipientepero con amplias posibilidades de progreso apuntalados en los programas de formaciónde posgrado en universidades como EAFIT y la Universidad de Antioquia, en donde lasformaciones de maestría, clases y trabajos de grado, incluyen de manera explícita ydecidida la temática del placer y el sufrimiento en el trabajo y, en general, deinvestigación sobre los efectos del trabajo sobre la salud mental en las perspectivas delas Clínicas del Trabajo. Con seguridad la organización de eventos especializados enClínica del Trabajo y la continuación de publicación de libros desde esta perspectivaserán en el futuro inmediato algunas de las formas como puede fomentar ainstitucionalizarse la clínica del trabajo en Colombia.

60 Por el momento, como aconteció en Brasil, los resultados de la investigación en Clínica

del Trabajo están dispersos en formaciones de pregrado y posgrado, revistas depsicología, medicina, administración y salud ocupacional y congresos generales depsicología, que poco a poco fueron dando lugar a la aglutinación de la producciónacadémica e investigativa en revistas y congresos especializados como lo son Trabalhio

(En)cena y el Congreso Brasilero de Psicodinamica y Clínica del Trabajo, liderados por laprofesora Ana Magnolia Mendes, de la Universidad de Brasilia, y Lilian Ghizoni, de laUniversidad Federa de Tocantins, y demás miembros del Laboratorio de Psicodinámicay clínica del Trabajo de la Universidad de Brasilia, que se constituyen en un ejemplo aseguir en pos de la consolidación de una comunidad académica cuyo interés sea lainvestigación sobre la relación trabajo-subjetividad en una perspectiva especifica de laClínica del Trabajo como campo sub y transdisciplinar.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

108

Page 110: Laboreal, Volume 15 Nº2

61 Cabe resaltar, una vez más, que, si bien los asuntos laborales han sido estudiados en

Colombia y Latinoamérica desde hace algún tiempo, desde múltiples perspectivas y condiversos focos de análisis, en el que ha sido dominante, casi hegemónica, la perspectivafuncionalista-positivista muy frecuentemente alineada con la perspectiva capitalista(taylor-fordista) e instrumental del trabajo ; el tema de relación sujeto-trabajo en clavede sufrimiento y desde una perspectiva clínica es casi totalmente nuevo, como se haquerido mostrar con todo detalle aquí, compilando referencias útiles tanto paraexpertos como para quienes inician un acercamiento al campo en nuestro país.Aproximarse y difundir la perspectiva de las clínicas del trabajo, como un enfoque deconceptualización, investigación e intervención de la relación sujeto-trabajo, es másque necesario y pertinente ; es una perspectiva clínico-crítica que puede reintroducirun humanismo más que retórico en la gestión de los recursos humanos.

62 El desafío consiste, entonces, en difundir, generalizar y legitimar en mayor medida un

uso más amplio de las aproximaciones clínicas en el contexto del trabajo, tanto en sudimensión aplicada (terapéutica) como investigativa (metodológica). Una clínica quesupere la perspectiva “ortopédica psicologista” de referencia adaptacionista, quereduce la subjetividad a un conjunto de prescripciones consideradas para restaurar elbienestar en el trabajo, o para asegurar el adecuado desempeño en tareas de servicio. Setrata, por el contrario, de la clínica en una perspectiva alternativa que no se reduce abuscar el ajuste a las normas y a la adaptación a las limitaciones exteriores, sino queconcibe el desarrollo de posibilidades individuales y colectivas, la exploración de lascondiciones de trabajo, así como de sus procesos (Lhuilier, 2006). Una clínica que partede comprender que el sufrimiento emerge de un desarrollo impedido, de unaamputación del poder de actuar (Clot, 2009) ; que reconoce la dimensión subjetivaimplicada en el trabajo humano y que concibe “la intervención como investigaciónacción a esta doble articulación : comprender para transformar y transformar paracomprender” (Lhuilier, 2006. p. 19). He aquí otro desafío.

BIBLIOGRAFÍA

Andrade, V. (2014). Técnicas de análisis cualitativo en uso : exploración a través de la relación

entre la identidad profesional y la agencia. In J. Orejuela (Ed.), Psicología de las Organizaciones y del

trabajo : Apuestas de investigación (pp. 191-216). Cali : Bonaventuriana.

Andrade, V. (2015). Configuración de la identidad profesional desde la agencia como un recurso

explicativo de la relación persona-trabajo (Tesis de doctorado). Instituto de Psicología, Universidad

del Valle, Cali, Colombia.

Araujo, A. (2014). La gestión por resultado. Del capitalismo afectivo al acoso moral. In J. Orejuela,

V. Andrade, & M. Villamizar (Eds.), Psicología de las Organizaciones y del trabajo : Apuestas de

investigación II (pp. 111-124). Cali : Bonaventuriana.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

109

Page 111: Laboreal, Volume 15 Nº2

Aristizabal, L. (2019). Vivencias de placer y sufrimiento en la formación de un grupo de doctorandos de la

ciudad de Medellín (Tesis de Pregrado). Departamento de Psicología, Universidad Eafit, Medellín,

Colombia.

Bendassolli, P. & Soboll, L. (2011). Clínicas do trabalho : novas perspectivas para compreensão do

trabalho na atualidade. São Paulo : Atlas.

Cardona, J. (2019). Placer y sufrimiento en trabajadores emprendedores (Tesis de Pregrado).

Departamento de Psicología, Universidad Eafit, Medellín, Colombia.

Bermúdez, H. (2013). Sociología Clínica y Psicodinámica del Trabajo en el estudio del placer y el

sufrimiento en el trabajo cotidiano. Revista Latinoamericana de Investigación en Organizaciones,

Ambiente y Sociedad - Teuken Bidikay, 4(4), 153-180.

Bermúdez, H. (2016). Sobre la alienación subjetiva en la organización del trabajo actual : una

observación participante en el comercio de la alimentación al detal. Contaduría y Administración,

62(1), 262-278. http://dx.doi.org/10.1016/j.cya.2016.10.004

Clot, Y. (2009). ¿El trabajo sin seres humanos ? Psicología de los entornos de trabajo y de vida. Madrid :

Modus Laborandi.

Correa, A. (2019). Vivencias de placer y malestar en pilotos de aerolíneas Charter colombianas (Tesis de

Pregrado). Departamento de Psicología, Universidad Eafit, Medellín, Colombia.

Corredor, L., Páramo, A., & Orejuela, J. (2018). Sentidos atribuidos al trabajo : un estudio sobre las

generaciones ‘X’ y ‘Y’, en una empresa de servicios de Medellín. Revista Fórum Doctoral, 7, 1-38.

Dejours, C., & Bègue, F. (2010). Trabajo y suicidio. Madrid : Modus Laborandi.

Del Carpio, S., Álvaro, J., & Garrido, A. (2014). El significado del trabajo : aproximaciones teóricas

y empíricas. In Orejuela, J. (Ed.), Psicología de las Organizaciones y del trabajo : Apuestas de

investigación (pp. 131-159). Cali : Bonaventuriana.

Delgado, L. (2016). El contagio emocional en las organizaciones. Conceptos, hallazgos e

implicaciones prácticas. In J. Orejuela, V. Andrade, & M. Villamizar (Eds.), Psicología de las

Organizaciones y del trabajo : Apuestas de investigación II (pp. 371-384). Cali : Bonaventuriana.

Díaz, F. (2017). Burnout, una metáfora para comprender las relaciones y contextos de trabajo desde la

salud (Tesis de doctorado). Instituto de Psicología, Universidad del Valle, Cali, Colombia.

Fang, Y. (2009). La Fatiga laboral como una consecuencia en la salud derivada de la organización

del trabajo. In E. Rentería & M. Aguilar (Eds.), Psicología Organizacional y del Trabajo : Reflexiones y

experiencias de investigación (pp. 363-390). Cali : Editorial Universidad del Valle.

Gálvez, L., & Garcés, M. (2013). La identidad profesional y el desarrollo de carrera en mujeres gerentes.

(Tesis de maestría). Instituto de Psicología. Universidad del Valle. Cali, Colombia.

García, F. (2014). Construcción de identidades profesionales de oficiales de la policía nacional de Colombia

(Tesis de maestría). Instituto de Psicología, Universidad del Valle, Cali, Colombia.

García, A. (2016). Experiencia clínica con un grupo de enfermeras en su lugar de trabajo.

Consideraciones teóricas y metodológicas. In J. Orejuela (Ed.), Psicología de las organizaciones y del

trabajo : apuestas de investigación (pp. 459-470). Cali : Bonaventuriana.

García, Y. (2015). El sufrimiento del sujeto por el trabajo : una aproximación psicoanalítica. (Tesis de

Pregrado). Facultad de Psicología, Universidad Católica de Pereira, Pereira, Colombia.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

110

Page 112: Laboreal, Volume 15 Nº2

García, M., & Forero, C. (2014). La motivación y satisfacción laboral como determinantes

asociados al cambio organizacional. In J. Orejuela (Ed.), Psicología de las Organizaciones y del trabajo :

Apuestas de investigación (pp. 327-350). Cali : Bonaventuriana.

García, M., & Vélez, H. (2016). Estrés y afrontamiento en el ámbito laboral. In J. Orejuela, V.

Andrade, & M. Villamizar (Eds.), Psicología de las Organizaciones y del trabajo : Apuestas de

investigación II (pp. 489-515). Cali : Bonaventuriana.

Gil, L. (2016). Psicología, Trabajo e Individuación. Bogotá : San Pablo-Eafit.

Gil, L., & Ortiz, J. (2016). Comunicación e individuación : las organizaciones en su dimensión

transindividual, afianzando la perspectiva de Gilbert Simondon en el campo laboral. In J.

Orejuela, V. Andrade, & M. Villamizar (Eds.), Psicología de las Organizaciones y del trabajo : Apuestas

de investigación II (pp. 303-326). Cali : Bonaventuriana.

Giraldo, A. (2015). Carrera, identidad y trayectorias en condiciones de trabajo fragmentado (Tesis de

doctorado). Instituto de Psicología, Universidad del Valle, Cali, Colombia.

Giraldo, J., Aguilar, M., & González, L. (2009). El Mobbing y la violencia en las organizaciones en

Colombia. In E. Rentería, & M. Aguilar (Eds.), Psicología Organizacional y del Trabajo : Reflexiones y

experiencias de investigación (pp. 391-420). Cali : Editorial Universidad Del Valle.

Gómez, D. (2018). Sentidos atribuidos a las experiencias de reconocimiento en el trabajo. Estudio de caso

de investigadores de una universidad pública colombiana (Tesis de Maestría). Maestría en Psicología,

Universidad de Antioquia, Medellín, Colombia.

Gómez, I. (2009). Promoción de la salud en el lugar de trabajo. In E. Rentería, & M. Aguilar (Eds.),

Psicología Organizacional y del Trabajo : Reflexiones y experiencias de investigación (pp. 445-476). Cali :

Editorial Universidad del Valle.

Gómez., L. (2014). Aplicaciones de la entrevista clínica en los procesos de selección de personal en la

ciudad de Medellín (Tesis de Maestría). Maestría en Desarrollo Humano Organizacional,

Universidad Eafit, Medellín, Colombia.

Gómez, M., & Calderón, P. (2017). Salud mental en el trabajo : entre el sufrimiento en el trabajo y

la organización saludable. Katharsis, 23, 177-201. https://doi.org/10.25057/issn.2500-5731

Grueso, M. (2016). Organizaciones saludables y procesos organizacionales e individuales : comprensión y

retos. Bogotá : Universidad del Rosario.

Grueso, M., Antón, C., & López-Santamaria, M. (2016). Actitudes frente a la vinculación laboral de

personas en proceso de reintegración a la empresa colombiana : retos para la Psicología de las

Organizaciones y del Trabajo. In J. Orejuela, V. Andrade, & M. Villamizar (Eds.), Psicología de las

Organizaciones y del trabajo : Apuestas de investigación II (pp. 167-194). Cali : Bonaventuriana.

Henao, C. (2019). Individuación y mediación analítica en contextos organizacionales. Medellín : Eafit.

Lemos, M., Calle, G., Roldán, T., Valencia, M., Orejuela, J., & Román-Calderón, J. (2019). Factores

psicosociales asociados al estrés en profesores universitarios colombianos. Diversitas : Perspectivas

en Psicología, 15(1), 59-70. https://doi.org/10.15332/s1794-9998.2019.0001.05

Lhuilier, D. (2006). Clinique du Travail. Paris : Érès.

Maca, D. (2019). El emprendimiento, gubernamentalidad y subjetividad : un abordaje de la política pública

de emprendimiento en Colombia (Tesis de doctorado). Universidad del Valle, Cali, Colombia.

Malvezzi, S. (2019). The Clinics of Work : Subjective Distress Derived from Labour Fragmentation.

International Journal of Psychological Research, 12(1), 66-67. https://doi.org/10.21500/20112084.4111

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

111

Page 113: Laboreal, Volume 15 Nº2

Malvezzi, S., Orejuela, J., Chiuzi, R., Vesga, J., & Riascos, W. (2012). Gramáticas actuales de la relación

sujeto trabajo. Cali : Bonaventuriana.

Manrique, M. (2017). Pensamiento intuitivo y deliberado en la experiencia de toma de decisiones

intuitivas en directivos expertos colombianos (Tesis de doctorado). Facultad de Psicología,

Universidad del Norte, Barranquilla, Colombia.

Manrique, H., Henao, C. Lopera, I, Pérez, J., & Ramírez, V. (2015). Clínica analítica de las

organizaciones. Bogotá : San Pablo.

Manrique, H., Lopera, I., & Pérez, J. (2018). Clínica analítica de las organizaciones : una propuesta

conceptual. Revista Trabalho (En)Cena, 3(1), 23-34.

Melo, A., & Orejuela, J. (2014). Clínicas del trabajo : un estado de la cuestión. In J. Orejuela (Ed.),

Psicología de las Organizaciones y del trabajo : Apuestas de investigación (pp. 381-410). Cali :

Bonaventuriana.

Mendes, A., Araujo, L, & Duarte, F. (2014). Escucha política y clínica del sufrimiento en el trabajo :

contribuciones desde las prácticas en clínica psicodinámica del trabajo brasilera. In J. Orejuela

(Ed.), Psicología de las organizaciones y del trabajo : apuestas de investigación (pp. 25-46). Cali :

Bonaventuriana.

Montoya, F., & Panesso, A. (2014). Las estrategias de afrontamiento en una muestra de

trabajadores con exposición a factores de riesgo psicosociales de una empresa manufacturera del

norte del cauca. In J. Orejuela (Ed.), Psicología de las Organizaciones y del trabajo : Apuestas de

investigación (pp. 467-494). Cali : Bonaventuriana.

Muñoz, J., & García, Y. (2019). Placer y sufrimiento en auxiliares de ambulancia del Municipio de

Medellín. (Tesis de Maestría). Maestría en Gestión Humana, Universidad de Antioquia, Medellín,

Colombia.

Murcia, M., & Orejuela, J. (2016). Del malestar al sufrimiento : lo no dicho que se escucha a través

del síntoma de un docente. In M. Moreno, J. Orejuela, & T. Calderón (Eds.), Abordajes psicoanalíticos

a inquietudes sobre la subjetividad III (pp. 251-278). Cali : Bonaventuriana.

Neisa, C., Godoy, L., & Tangarife, A. (2014). Variables moderadoras de la relación la fatiga laboral

y accidentes de trabajo en personal operativo. In J. Orejuela (Ed.), Psicología de las Organizaciones y

del trabajo : Apuestas de investigación (pp. 429-448). Cali : Bonaventuriana.

Oquendo, S. (2019). El reconocimiento en el discurso de la evaluación del desempeño : el caso de una gran

empresa de Medellín (Tesis de Doctorado). Doctorado en Administración, Universidad Eafit,

Medellín, Colombia.

Ordoñez, C., & Mora, J. (2018). Experiencias de sufrimiento laboral en trabajadores (Tesis de Pregrado).

Facultad de Psicología, Institución Universitaria Cesmag, Pasto, Colombia.

Orejuela, J. (2014a). Psicología de las Organizaciones y del trabajo : Apuestas de investigación. Cali :

Bonaventuriana.

Orejuela, J. (2014b). O mal-estar subjetivo derivado da fragmentação laboral (Tesis de Doctorado).

Doctorado en Psicologia Social del Trabajo, Instituto de Psicología, Universidad de São Paulo, São

Paulo, Brasil.

Orejuela, J. (2014c). La identidad de la evaluación subjetiva del trabajo : de la satisfacción al

sufrimiento laboral. In J. Orejuela (Ed.), Psicología de las organizaciones y del trabajo : apuestas de

investigación. (pp. 163-190). Cali : Bonaventuriana.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

112

Page 114: Laboreal, Volume 15 Nº2

Orejuela, J. (2018). Clínica del trabajo : el malestar subjetivo derivado de la fragmentación laboral.

Bogotá : San Pablo-Eafit.

Orejuela, J., Andrade, V., & Villamizar, M. (2014). Psicología de las Organizaciones y del trabajo :

Apuestas de investigación II. Cali : Bonaventuriana.

Orejuela, J., Bermúdez, R., Urrea, C., & Delgado, L. (2013). Inserción laboral de jóvenes profesionales :

el caso de los psicólogos bonaventurianos. Cali : Bonaventuriana.

Orejuela, J., & Malvezzi, S. (2016). Una revisión crítica de la noción de sufrimiento presentada por

la psicodinámica del trabajo. Trabalho (En)Cena, 1(1), 15-28.

Orejuela, J., & Patiño, J. (2016). El malestar laboral en las clases medias profesionales : el impacto

de la fragmentación del trabajo. In F. Sánchez, J. Orejuela, R. Bermúdez, V. Unas, & J. Patiño

(Eds.), Pensar las clases medias profesionales (pp. 61-86). Cali : Bonaventuriana.

Orejuela, J., & Ramírez, A (2011). Aproximación cualitativa al estudio de la subjetividad laboral en

profesionales colombianos. Pensamiento psicológico, 9(16), 125-144.

Ortiz, O., & Bermúdez, H. (2015). Fantasías que crean empresa : elementos psicoanalíticos sobre la

génesis de las empresas familiares. Bogotá : Ecoe y Unaula.

Peralta, C. (2009). La construcción de sujetos en las nuevas realidades laborales : reflexiones para

su estudio desde la psicología organizacional y del trabajo. In E. Rentería, & M. Aguilar (Eds.),

Psicología Organizacional y del Trabajo : Reflexiones y experiencias de investigación : (pp. 53-76). Cali :

Editorial Universidad Del Valle.

Pérez, J., & Lopera, I. (2013). Gestión humana de orientación analítica : un camino para la

responsabilización (Tesis de Maestría). Maestría en Desarrollo Humano Organizacional,

Universidad Eafit, Medellín, Coombia.

Pérez, J., & Lopera, I. (2016). Gestión humana de orientación analítica : un camino para la

responsabilización. Revista de Administração de Empresas, 56(1), 101-113. https://doi.org/10.1590/

S0034-759020160109

Périlleux, T. (2016). Malestar y sufrimiento en el trabajo : una comprensión institucional. In J.

Orejuela, V. Andrade, & M. Villamizar (Eds.), Psicología de las organizaciones y del trabajo : apuestas de

investigación II (pp. 101-110). Cali : Bonaventuriana.

Porras-Velásquez, N. (2017). Análisis de la relación entre la salud mental y el malestar humano en

el trabajo. Equidad & Desarrollo, 29, 161-178. http://dx.doi.org/10.19052/ed.4173

Pulido, H. (2009). Examinado las operaciones de la Psicología en su relación con el trabajo. In E.

Rentería, & M. Aguilar (Eds.), Psicología Organizacional y del Trabajo : Reflexiones y experiencias de

investigación (pp. 99-112). Cali : Universidad del Valle.

Pulido, H. (2012). Reflexiones en torno al papel de la psicología en la constitución de la

subjetividad en medio de las transformaciones de la organización del trabajo.

Cuadernos De Psicología, 8(2), 69-84.

Pulido, H. (2013). ¿Y entonces ¿esto de la crítica que es ? De las relaciones de la psicología con el

mundo del trabajo. Universitas Psychologica, 12(4), 1456-1467.

Pulido, H. (2018). Explorando la construcción de la subjetividad laboral : del ejecutor de oficios, al

trabajador psicologizado. Revista de Psicología Universidad de Antioquia, 10(1), 237-258. https://

doi.org/10.17533/10.17533/udea.rp.v10n1a10.

Pulido, H., & Carvajal, M. (2014). Pathologization and depathologization of the "free worker" in

terms of the psychosocial risk. International Journal of Psychological Research, 7(2), 76-84.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

113

Page 115: Laboreal, Volume 15 Nº2

Quiroga, S., & Valencia, A. (2016). La investigación como trabajo, ¿un escenario de placer, sufrimiento y

lucha por el reconocimiento ? : un estudio en un grupo de ocho investigadores de la ciudad de Cali (Tesis de

Pregrado). Facultad de Psicología, Universidad de San Buenaventura, Cali, Colombia.

Ramírez. V., & Manrique, H. (2016). Método clínico y trabajo analítico con grupos en el ámbito

organizacional. In J. Orejuela, V. Andrade, & M. Villamizar (Eds.), Psicología de las Organizaciones y

del trabajo : Apuestas de investigación II (pp. 415-436.). Cali : Bonaventuriana.

Rentería, E., & Aguilar, M. (2009). Psicología Organizacional y del Trabajo : Reflexiones y experiencias de

investigación. Cali : Universidad del Valle.

Ribeiro, M. (2014). Problemas contemporâneos para a psicología do trabalho e das organizações.

In J. Orejuela (Ed.), Psicología de las Organizaciones y del trabajo : Apuestas de investigación (pp. 47-78).

Cali : Bonaventuriana.

Romero, M. (2017). Significado del trabajo y sentido de la profesión académica : un estudio en el contexto

colombiano (Tesis de doctorado). Instituto de Psicología, Universidad del Valle, Cali, Colombia.

Romero, M., Blanch, J., & Rentería, E., (2016). Significado del trabajo y sentido de la profesión

académica en el contexto flexible de la universidad colombiana. In M. Grueso (Ed.), Organizaciones

saludables y procesos organizacionales e individuales : comprensión y retos (pp. 289-328). Bogotá :

Universidad del Rosario.

Sanabria, S. (2016). El sufrimiento psíquico de militares frente al retiro laboral (Tesis de

Especialización). Especialización en Psicología Clínica con orientación Psicoanalítica, Universidad

de San Buenaventura, Cali, Colombia.

Sanín, A. (2016). Felicidad Laboral : Reflexiones sobre su aplicación al contexto laboral. Psicología del

trabajo. Un entorno de factores psicosociales saludables para la productividad. México : Manual

Moderno.

Torres, F. (2010). La identidad profesional de dirigentes de organizaciones no gubernamentales a partir de

sus trayectorias (Tesis de maestría). Instituto de Psicología, Universidad del Valle, Cali, Colombia.

Uchida, S., Sznelwar, L., Barros, J., & Lancman, S. (2011). O trabalhar em serviços de saúde

mental : entre o sofrimento e a cooperação. Laboreal, 7(1), 28-41. http://laboreal.up.pt/revista/

artigo.php?id=48u56oTV65822353389453854:2

Vesga, J. (2009). El contrato psicológico y las nuevas realidades del trabajo. In E. Rentería, & M.

Aguilar (Eds.), Psicología Organizacional y del Trabajo : Reflexiones y experiencias de investigación

(pp. 77-98). Cali : Editorial Universidad Del Valle.

Vesga, J. (2014). Evolución histórica del concepto “contrato psicológico. In J. Orejuela (Ed.),

Psicología de las Organizaciones y del trabajo : Apuestas de investigación (pp. 243-250). Cali :

Bonaventuriana.

Vesga, J. (2015). Contenido y extensión del contrato psicológico en trabajadores vinculados a una misma

organización mediante distintas modalidades de trabajo (Tesis de doctorado). Universidad del Valle.

Cali, Colombia.

Villegas, E. (2015). El malestar en la empresa : un síntoma del sujeto contemporáneo. Bogotá : San Pablo.

ANEXOS

Anexo

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

114

Page 116: Laboreal, Volume 15 Nº2

Trabajos de grado según el nivel de formación, tipo de producto y relación directa conlas Clínicas del trabajo

RESÚMENES

El propósito de este trabajo es presentar un balance sobre la investigación alrededor de las

clínicas del trabajo en el contexto académico colombiano. El valor de este estado de la cuestión es

que ofrece la posibilidad de representarnos y ubicar en el mapa académico una perspectiva

alternativa de la psicología de la salud ocupacional. Para cumplir este cometido se propone

discutir tres aspectos relevantes : primero, hacer una aproximación inicial a las condiciones que

caracterizan las clínicas como un abordaje clínico-crítica de la relación trabajo-subjetividad-

salud laboral ; segundo, se indica como contexto predecesor : la investigación sobre la relación

trabajo-subjetividad en Colombia, que en nuestro país ha sido generalmente abordado por el

multicampo de la psicología del trabajo y las organizaciones. Posteriormente, se describe la

progresiva emergencia e institucionalización de las clínicas del trabajo en Colombia (publicación,

eventos, posgrados, tesis, etc.) en algunas universidades, principalmente de las ciudades de Cali y

Medellín

O objetivo deste artigo é apresentar um balanço sobre a pesquisa em torno das clínicas do

trabalho no contexto académico colombiano. O interesse deste estado da arte é o de oferecer,

simultaneamente, a possibilidade por si mesmo de uma representação, e uma perspectiva

alternativa da psicologia da saúde ocupacional no mapa do mundo universitário. Para cumprir

esse objetivo, propõe-se discutir três aspectos pertinentes. Primeiro, fazer uma abordagem inicial

das condições que caracterizam as clínicas como abordagem clínico-crítica da relação trabalho-

subjetividade-saúde. Em segundo lugar, a pesquisa sobre a relação trabalho-subjetividade é

definida como um contexto predecessor. Na Colômbia, este tipo de pesquisa tem sido geralmente

abordada pelo domínio interdisciplinar da psicologia do trabalho. Por fim, descreve-se a

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

115

Page 117: Laboreal, Volume 15 Nº2

emergência e a institucionalização progressiva dos estudos que integram as clínicas do trabalho

em algumas universidades na Colômbia (publicação, eventos, pós-graduação, teses, etc.),

principalmente nas cidades de Cali e Medellín.

Cet article veut présenter un bilan des recherches menées en clinique du travail dans le contexte

universitaire colombien. L'intérêt de cet état de l´art est de situer dans le champ du monde

académique colombien la place qu’y prend une perspective de la psychologie de la santé au

travail qui se veut alternative. L’article est organisé en trois volets. Le premier reprend les

conditions qui sont propres à la clinique-critique de la relation travail-subjectivité-santé. Dans le

second, nous définissons la recherche sur la relation travail-subjectivité comme préalable, car en

Colombie ce type de recherche a généralement été intégré dans le large domaine de la

psychologie du travail et des organisations. Enfin, nous décrivons l'émergence et

l'institutionnalisation progressive des cliniques du travail dans quelques universités

colombiennes, (publications, manifestations, études de troisième cycle, thèses, etc.), notamment

dans les villes de Cali et Medellín.

The purpose of this document is to present an update on work clinics research in the Colombian

academic context. The value of this state-of-the-art research is that it offers the possibility of

representing ourselves and placing on the academic map an alternative perspective of the

psychology of occupational health. Three relevant aspects will be discussed to fulfill this task.

First, to make an initial approach to the conditions that characterize clinics as a clinical-critical

approach to the work-subjectivity-occupational health relationship. Second, it is indicated as a

predecessor context : research on the work-subjectivity relationship in Colombia, which in our

country has been generally approached by the multi‑field of work psychology and organizations.

Finally, to describe the progressive emergence and institutionalization of work clinics in

Colombia (publication, events, postgraduate studies, thesis, etc.) in some universities, mainly in

the cities of Cali and Medellin.

ÍNDICE

Palavras-chave: trabalho, subjetividade, clínicas do trabalho, prazer e sofrimento

Palabras claves: trabajo, subjetividad, clínicas del trabajo, placer y sufrimiento

Mots-clés: travail, subjectivité, cliniques du travail, plaisir et souffrance

Keywords: work, subjectivity, clinics of work, pleasure and suffering

AUTORES

JOHNNY OREJUELA

Departamento de Psicología, Universidad Eafit, Calle 27 D sur 28-50, Medellín, Antioquia,

Colombia

[email protected]

MARÍA DEL MAR PÉREZ

Universidad Antonio Nariño ; Calle 5b4 N° 36 b 40, Cali : Valle, Colombia

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

116

Page 118: Laboreal, Volume 15 Nº2

ANDRÉS VÁSQUEZ

Departamento de Psicología, Universidad Eafit ; Calle 3 sur 37 A 25, Medellín, Antioquia, Colombia

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

117

Page 119: Laboreal, Volume 15 Nº2

Pesquisa empíricaInvestigaciones empíricasRecherches empiriquesEmpirical research

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

118

Page 120: Laboreal, Volume 15 Nº2

Os desafios do cuidado emsituações-limite : as dramáticas daatividade no trabalho humanitárioLos retos del cuidado en situaciones límite : las dramáticas de la actividad en el

trabajo humanitario

Les défis des soins dans des situations limites : les dramatiques de l'activité dans

le travail humanitaire

The challenges of care in extreme situations : the dramatics in the humanitarian

work activity

Luciana B. Cavanellas e Jussara Brito

NOTA DO EDITOR

Manuscrito recebido em dezembro 2017 Aceite após peritagem abril 2019

1. Introdução

O corpo vive porque se desintegra, sem se desintegrar demais... Só os sonhossão sempre o que são. (Fernando Pessoa)

1 Esse artigo é fruto de uma pesquisa de Doutorado em Saúde Pública sobre um campo

onde o trabalho do cuidado em saúde atinge limites extremos, porque ocorre emsituações de conflitos armados, epidemias, catástrofes naturais, fome etc. Nossointeresse de base está vinculado ao tema da saúde do trabalhador da saúde, revelandoum contexto diferenciado e contornos muito particulares, relativos à atividade detrabalho inscrita no âmbito da medicina humanitária.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

119

Page 121: Laboreal, Volume 15 Nº2

2 O movimento humanitário contemporâneo tem seu início associado à criação da Cruz

Vermelha (croix-rouge), por Henri Dunant, filantropo suíço, em 1864, após testemunhara agonia de milhares de feridos no campo de batalha de Lombardie, em Solferino.Revoltado com o espetáculo de sofrimento que presenciou, Dunant tomou a iniciativade providenciar socorro aos soldados, sem distinguir-lhes a procedência (Brauman,2009).

3 Seu testemunho transformou-se no livro “Un souvenir de Solferino”, publicado em 1862,

onde, além de descrever as atrocidades da guerra, o autor propôs a criação desociedades permanentes de socorro aos feridos e a adoção de regras para seufuncionamento (Brauman, 2009).

4 Segundo Rony Brauman, médico, epidemiologista e ex-presidente da ONG Médicos sem

Fronteiras, o sucesso do livro de Dunant, em diversos países europeus, colaborou para osurgimento da Cruz Vermelha e da Convenção de Genebra, em 1864, inaugurando ochamado direito internacional humanitário, trazendo um novo significado ao termo econstituindo o fundamento do “espírito humanitário para além de qualquer divisão emnações, etnias ou religiões” (Brauman, p. 15, tradução livre).

5 Com o tempo, o movimento humanitário expandiu-se e deixou de contemplar somente

feridos e exilados de guerra, estendendo-se a populações consideradas vulneráveis, cujaexistência e dignidade estejam sob ameaça. Houve, então, uma proliferação deorganizações e profissionais envolvidos na ajuda humanitária.

6 A não-indiferença ao outro e a seu sofrimento, base do movimento humanitário,

tornou-se central na problematização das questões de responsabilidade e direito deinterferência sobre a vida alheia.

7 Em 2003, Eric Stobbaerts, então Diretor de MSF Espanha, escreveu no prólogo do livro

Humanitario, El dilema, sobre a perda do sentido original do “humanitário”, falando comindignação sobre o uso que determinados governos ou multinacionais vêm fazendo dotermo para engendrar campanhas, cujos objetivos distanciam-se barbaramente daproposta de salvar vidas e de respeito à dignidade humana (como citado em Brauman,2003).

8 Nesse texto, ele também se refere às dificuldades operacionais e à capacidade de

resposta das organizações humanitárias, diante de situações tão complexas, ressaltandoque hoje as fronteiras, além de políticas, são também de ordem econômica, cultural esocial (como citado em Brauman, 2003)

9 Oriundos da Cruz Vermelha, Bernard Kouchner e um grupo de médicos e jornalistas

voluntários na guerra de Biafra (1967-1970), inconformados com fatos presenciados esilenciados diante de limites e entraves burocráticos e políticos, resolvem criar em1971, na França, a Organização Médicos sem Fronteiras (MSF), com o compromisso dealiar socorro médico e testemunho, em favor das populações em risco.

10 Em “Les métiers de l´humanitaire et de la solidarité”, ao abordar as diferenças e

características das associações e organizações no âmbito do humanitário, Aubrée dizque com Médicos sem Fronteiras (MSF) surge uma “era de médicos franceses quepartem para cuidar além das fronteiras e das separações ideológicas” denominando-os“os sem fronteiristas” (Aubrée, 2004, p. 13).

11 Apesar das diferenças filosóficas e dos modos e estratégias de intervenção, essas

grandes estruturas de caráter médico humanitário atuam a partir do envio deprofissionais ao campo (terreno), com o propósito comum de não se deixar limitar por

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

120

Page 122: Laboreal, Volume 15 Nº2

“fronteiras internacionais, interesses estatais ou imperativos diplomático-estratégicos”(Ferreira, 2010, p. 29).

12 Em nossa pesquisa, elegemos “Médicos Sem Fronteiras”, uma Organização Não-

Governamental Internacional de ajuda médico-humanitária, para nos aproximarmos econhecermos o que e como se faz, quando se pretende salvar vidas e levar socorromédico a populações em risco, a partir da compreensão de que a atividade de trabalho éum objeto de pesquisa complexo. Como vivenciam o trabalho nas missões, comosuportam o convívio com a fome e doenças negligenciadas, a exposição a guerras econflitos armados, a insegurança diante de catástrofes naturais e epidemias ; querecursos utilizam para lidar com o sofrimento inerente a tais situações e queconsequências ou sequelas carregam, após deixarem as experiências do campo,constituíram perguntas fundamentais e fundantes desse estudo, cuja construção sebaseou na perspectiva ergológica.

2. Aporte teórico-metodológico

13 Vários estudos acadêmicos voltados para o trabalho em saúde têm feito uso da

perspectiva ergológica tanto do ponto de vista metodológico quanto teórico-conceitual(Brito, 2011). O paradigma ergológico abre-nos então um guarda-chuva depossibilidades, onde diversos pontos de vista e experiências são postos emconversações, visando uma maior interação e compreensão de determinada atividadede trabalho. Nesta pesquisa, de cunho qualitativo, a perspectiva ergológica permitiuuma análise em que também foram considerados os aportes da Psicodinâmica doTrabalho.

14 Ressaltamos também as contribuições da filosofia da vida de G. Canguilhem (referência

teórica e epistemológica fundamental para a Ergologia), no que tange especificamenteao nosso olhar sobre a questão da saúde dos trabalhadores de MSF, que vivenciamsituações de confronto com um meio imprevisível, abalado por contingências onde ocaos muitas vezes se sobrepõe à ordem.

15 Nas palavras de Canguilhem, “a vida não é, portanto, para o ser vivo, uma dedução

monótona, um movimento retilíneo ; ela é debate ou explicação com um meio em quehá fugas, vazios, esquivamentos e resistências inesperadas” (Canguilhem, 2009, p. 149).Neste sentido, “a saúde é um guia regulador das possibilidades de reação”(Canguilhem, 2009).

16 A doença não pode ser entendida como mera oposição à saúde, visto que numa

concepção dinâmica de busca de regulação, a doença também se manifesta comoexperiência que abre possibilidades ao organismo de instauração de novas respostas enovos padrões. “A doença não é uma variação da dimensão da saúde ; ela é uma novadimensão da vida” (Canguilhem, 2009, p. 138).

17 Nisto consiste a concepção de saúde de Canguilhem, ao afirmar que :

Ser sadio significa não apenas ser normal em uma situação determinada, masser, também, normativo, nessa situação e em outras situações eventuais. Oque define a saúde é a possibilidade de ultrapassar a norma que define onormal momentâneo, a possibilidade de tolerar infrações à norma habitual ede instituir novas normas em situações novas. (Canguilhem, 2009, p. 148).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

121

Page 123: Laboreal, Volume 15 Nº2

2.1. A perspectiva ergológica

18 A Ergologia reconhece o risco que a generalidade conceitual pode representar à

singularidade, no afã de produzir modelos de comportamento, como dispositivos deanálise e de gestão. É importante dispor de conceitos para pensar a ação humana, mas épreciso respeitar a história, que diferencia homens e mulheres que vivem e trabalham,de objetos a-históricos, foco das ciências naturais. Assumir tal postura, sem a esperadahumildade é enfraquecer as dramáticas do uso de si, ignorando que homens e mulheresestão sempre renormatizando “os saberes, os procedimentos, os organogramas...E pormeio disso, fragilizam os modelos e os conceitos elaborados sem eles” (Schwartz, 2003,p. 30)

19 Diante do reconhecimento da polarização entre os saberes formais, disciplinares e

aqueles investidos e convocados na e pela atividade, a démarche ergológica buscadesenvolver dispositivos de três polos por toda a parte onde é possível, voltando-se tantoao campo das práticas sociais, como à elaboração dos saberes formais (Durrive &Schwartz, 2008).

20 Nesta perspectiva, a Ergologia, segundo Pierre Trinquet (2010, p. 95), “representa um

salto epistemológico no domínio das Ciências do Homem”. Interessada na atividadehumana e, mais precisamente, na atividade humana no trabalho, a orientaçãoergológica enxerga a necessidade de facilitar o encontro de diferentes saberes,disciplinas e abordagens. Prevê, então, um método que vise colocar em diálogo edebate : saberes eruditos e saberes da experiência (Trinquet, 2010), numa espécie dedupla confrontação : dos saberes entre si e dos saberes com as experiências da atividade(Durrive & Schwartz, 2008).

21 Esses dois polos de saber são postos em confronto no interior do Dispositivo Dinâmico

de Três Polos, não sem antes incluir um terceiro polo articulador, capaz de representaruma postura ética de respeito às diferenças, mantendo vigilância sobre a possibilidadedo encontro e do diálogo entre os dois outros polos e visando a complementaridade,numa relação dialética.

22 Para Schwartz, trata-se de uma exigência ética, de respeito, mas também de uma

exigência epistemológica, sem cuja postura “nos faltaria um espaço de compreensão doque torna possível a história, as instituições, o próprio trabalho” (Schwartz, 2007c,p. 268).

23 Neste sentido, entendemos que a perspectiva ergológica de Yves Schwartz em sua

posição de “desconforto intelectual permanente” (Schwartz, 2007a, p. 31) e o arcabouçoteórico construído em torno da ideia de atividade servem-nos como eixo conceitual econdutor da abordagem do trabalho nesta pesquisa, na medida em que enxerga seucaráter essencialmente criativo, dinâmico e singular.

24 A atividade de trabalho, nesta perspectiva, é atividade humana, em sua multiplicidade

dramática, em oposição à inércia e à indiferença, “nunca pura execução ou alienação.Ela é sempre tentativa – mais ou menos individual, mais ou menos coletiva, [...] – dereinventar maneiras de fazer, maneiras de viver as contradições, os constrangimentos,os recursos do presente” (Schwartz, 2003, p. 25). Por isso, seu lugar de acontecimento éo do momento, da situação, de quem trabalha, inventa e transforma o já posto eexistente em algo novo e original.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

122

Page 124: Laboreal, Volume 15 Nº2

25 Neste confronto com o real, que nunca se apresenta conforme imaginado ou prescrito é

preciso gerir os usos de si (Schwartz, 2007b). A atividade pressupõe usos de si por si e usos

de si por outros, estabelecendo-se na dialética, no diálogo, na ambiguidade, nosencontros e desencontros entre essas instâncias que acabam por configurar as

dramáticas dos usos de si.

26 O coletivo de trabalho, “os outros”, o universo social atravessa toda e qualquer

atividade, de modo visível e invisível, na presença e ausência, de colegas, chefes,clientes, pessoas, sociedade. A Ergologia cria o conceito de entidades coletivas

relativamente pertinentes (ECRP) para abordar esse coletivo, as relações, trocas, escolhase negociações relativas aos usos de si no trabalho.

Exige-se que cada um, além de aplicar regras, faça ‘uso de si’ (por/paraoutrem, dadas as normas antecedentes ; por/para si, dadas as necessáriasrenormatizações, fazendo a gestão da (sua) vida, em uma tensão, uma‘dramática’ relação consigo e com os outros (Athayde & Brito, 2011, p. 263).

27 O drama das arbitragens nas situações de trabalho, entre os “usos de si por si” e “os

usos de si pelos outros”, entre o prescrito e o real, entre o sujeito e o mundo tem lugarno corpo. O corpo assume assim o viés da situação, como articulador de diferentesdimensões e propiciador de diálogos e debates.

28 Em tempos contemporâneos onde, uma vez “descoberta” a subjetividade é rapidamente

convertida em recurso humano, matéria utilizável, controlável e até prescrita, Schwartznos convoca a resistir às tentativas de objetivação do sujeito e para isso recorre aocorpo, como entidade irredutível, cujas experiências ultrapassam tentativas de

tradução. “O ‘corpo-si’, árbitro no mais íntimo da atividade, não é um “sujeito”delimitado, definido, mas uma entidade enigmática que resiste às tentativas de serobjetivado” (Schwartz, 2007b, p. 198).

29 O autor propõe a expressão corpo-si (corps-soi) por reconhecer e desconfiar da noção de

subjetividade como melhor forma de se referir a algo que nos é tão caro e intrínseco,mas, ao mesmo tempo, tão complexo e enigmático.

[...] Ora, falando do corpo e principalmente do corpo-si coloca-se o dedosobre “alguma coisa” que nos ultrapassa a todos, na medida em que isso nosremete às profundezas do que somos – a essa “alguma coisa’ que é, digamosnovamente, biológica, mas atravessada pela nossa história. Ou seja, nóstrabalhamos nosso corpo, nós o trabalhamos permanentemente pela nossaexperiência de vida – e, portanto, por nossas paixões, por nossos desejos, pornossas experiências (Schwartz, 2007b, p. 199).

30 Athayde, ao discorrer sobre a saúde mental e o trabalho, nos diz, referindo-se à

Ergologia, que “nesta perspectiva, toma-se o humano de ‘corpo inteiro’, como um‘corpo-si’, um corpo-atividade-potência” (Athayde, 2011, p. 359).

31 Esta expressão - corpo-atividade-potência - criada na junção de três palavras, reforça a

escolha pela Ergologia como ponto de partida, mas também caminho, na tentativa decompreendermos a atividade de trabalho dos profissionais de MSF.

32 Nas palavras de Schwartz : “A saúde começa com a tentativa de redesenhar

parcialmente o meio em que se vive, em função de suas próprias normas, elaboradaspor sua história” (Schwartz, 2011, p. 139).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

123

Page 125: Laboreal, Volume 15 Nº2

33 Essa tentativa de recentramento do meio acontece em pleno debate de normas, onde as

normas antecedentes, já dadas, anteriores à atividade, são confrontadas pelo acontecerpresente, do aqui e agora, tecido pelas circunstâncias, histórias, relações. A atividade seapresenta em sua complexidade dramática, porta-voz do imprevisível, do que não sesabe de antemão, do que precisa ser descoberto e inventado, no confronto com o real dotrabalho.

34 No espaço do vazio de normas, onde as normas antecedentes não são suficientes para a

realização da experiência, a singularidade é convocada, usos de si negociados e suasdramáticas vivenciadas. Neste mesmo movimento criam-se novas normas, que dãoorigem a novos debates e possibilidades, em contato com um meio que, infiel, desafia otrabalho, sua vivência e sua gestão.

35 Ao instaurar normas vitais, o homem também cria valores (valere = passar bem, em

latim), sempre em busca de realizar sua natureza mais do que simplesmente manter-seem seu estado ou meio atuais (Canguilhem, 2009). A individualidade deve serconsiderada como um caráter na ordem de valores, marcado pela originalidade. “Viveré irradiar, é organizar o meio a partir de um centro de referência em que ele próprionão pode ser referido sem perder sua significação original” (Canguilhem, 2012, p. 159).

36 Da mesma forma o ambiente no qual ele se insere e ao qual ele reage “encontra-se

originalmente centrado nele e por ele” (Canguilhem, 2012, p. 166). É o mundo tal qualele percebe que será palco de suas ações e reações, suas escolhas pautadas em valores,que repercutirão sobre esse mesmo campo de experiências

37 Nessa linha, Schwartz e Durrive (2007) trazem a ideia de um jogo entre dois polos de

valores, nos quais estamos socialmente envolvidos : um polo mercantil e outro político.Um de valores dimensionados e outro de valores não dimensionados, tais como bem-estar, saúde, educação.

2.2. A Psicodinâmica do Trabalho

38 Também na Psicodinâmica do Trabalho, fica clara a importância legada ao corpo na

obra de seu principal autor, Cristophe Dejours. O corpo assume lugar privilegiado noconhecimento, na execução e na vivência da atividade de trabalho. Dejours nos fala deum corpo inteiro, sede da inteligência e da habilidade, guiada por uma intimidadeestabelecida entre o corpo e os objetos de seu trabalho.

39 Essa inteligência, adquirida no exercício da atividade de trabalho, é denominada de

inteligência prática, enraizada no corpo, fundamentalmente astuciosa e criativa emanifesta nas expressões, reações e realizações do sujeito, de maneira singular eenigmática.

40 A inteligência do corpo é própria de um engajamento ; de quem vive e sofre as

experiências, descobrindo defesas e alternativas para manter-se, equilibrando-se.

É sempre o corpo que é envolvido em primeiro lugar. Contrariamente ao quesupõe o senso comum, o próprio trabalho intelectual não se reduz a umapura cognição. Ao contrário, trabalhar passa, primeiro, pela experiênciaafetiva do sofrimento, do pático. Não existe sofrimento sem um corpo paraexperimentá-lo [...] A subjetividade só se experimenta na singularidadeirredutível de uma encarnação, de um corpo particular e de umacorporeidade absolutamente única. (Dejours, 2004, p. 29).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

124

Page 126: Laboreal, Volume 15 Nº2

41 A psicodinâmica do trabalho de Dejours estabelece a relação entre sofrimento e prazer

no trabalho, dando visibilidade ao engajamento subjetivo do trabalhador, suamobilização, estratégias e possibilidades de criação e adoecimento no exercício de suaatividade.

42 Na visão de Ferreira (2010), a noção de sofrimento é central na obra de Dejours,

implicada com as formas de constituição da organização do trabalho, onde a divisão dastarefas, os ritmos e modos operatórios prescritos e, sobretudo, a divisão dos homensrepresentada pelas hierarquias, repartições de responsabilidade e sistemas de controlepodem entrar em conflito com o funcionamento psíquico dos trabalhadores, emergindoum sofrimento patogênico. Esta ideia se contrapõe à de sofrimento criativo, que buscadar sentido ao trabalho.

43 A cooperação, neste contexto, ocupa lugar importante, por escapar a qualquer tentativa

de previsibilidade e estabelecer-se a partir de relações de confiança baseadas na ética(Dejours, 2008a).

44 A questão do sentido do trabalho, explorada pela psicodinâmica do trabalho assume um

ponto nevrálgico em nossa investigação, considerando ligar-se intrinsecamente àconcepção de saúde que escolhemos como fundamento.

45 Dejours desmistifica a ideia de saúde mental como um estado de completo bem-estar e

conforto, explicitando o papel da angústia como estimuladora de processos detransformação, onde “há fins, objetivos, desejos, esperanças” (Dejours, 1986, p. 9). Paraesse autor, a saúde é quando é permitido ter esperança (Dejours, 1986).

3. Estratégias adotadas

46 - Primeira aproximação do campo

47 Realizamos visitas aos Centros Operacionais (COs) de MSF em Bruxelas e Barcelona,

onde tivemos acesso a documentos publicados pela organização e conversamos comprofissionais responsáveis pelo suporte psicossocial aos expatriados, assim como comalguns expatriados brasileiros, provisoriamente lotados no CO. Essas visitas e conversasforam fundamentais como primeira aproximação do campo de pesquisa, permitindo acoleta de informações iniciais e fomentando questões que mais tarde puderam serretomadas nas entrevistas.

48 - Leitura dos diários de bordo

49 Os Diários de Bordo constituem um material importante de contato com as experiências

dos trabalhadores de MSF em missão. São textos escritos por eles durante as missões,contando suas impressões no terreno, com redação livre, que passa por uma revisão dosetor de comunicação do escritório Brasil, visando principalmente evitar algumasexposições que poderiam colocar sua segurança em risco.

50 Essa leitura nos permitiu obter um conhecimento prévio das realidades vividas pelos

trabalhadores em missão, o que foi importante para a estruturação e condução dasentrevistas.

51 - Participação em sessões de apresentação de filmes e visitas a exposições

52 Para divulgar seu trabalho internacionalmente, a Organização Médicos Sem Fronteiras

realiza filmes e documentários, promovendo debates, em várias cidades e países. Com o

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

125

Page 127: Laboreal, Volume 15 Nº2

mesmo intuito, organiza exposições, facilitando o acesso do grande público ao trabalhohumanitário, também como forma de cativar mais doadores.

53 Além da participação em debates, em 2013 visitamos a exposição “Campo de Refugiados

no Coração da Cidade”, montada em várias cidades brasileiras, que simulou um campode refugiados, apresentando o trabalho realizado por MSF, envolvendo os participantesna tentativa de aproximá-los de uma realidade estrangeira. As observações feitasdurante esses eventos trouxeram novos elementos para os diálogos que foramestabelecidos posteriormente.

54 - Visitas ao Escritório do Rio de Janeiro

55 Foram realizadas uma série de visitas ao escritório de MSF no RJ, no período de

novembro de 2012 a janeiro de 2013, onde pudemos conversar com profissionais deRecursos Humanos (RH), responsáveis pelo processo seletivo dos expatriadosbrasileiros, conhecendo de perto as etapas da seleção, além de documentos deorientação aos selecionados para as missões.

56 Nesse período, contamos com a disponibilidade dos profissionais do escritório,

destacando-se uma das psicólogas que nos ajudou a selecionar e contatar os candidatosàs entrevistas. Baseados nessa primeira lista, elegemos aqueles a quem iríamosentrevistar, considerando o interesse da pesquisa, com caráter exploratório, emcontemplar a maior diversidade possível quanto à formação, na área da saúde, e às suasexperiências, isto é, os países/contextos onde já houvessem trabalhado. A faixa etária eo tempo de vinculação com a ONG também seguiram os mesmos princípios. Por fim,levamos em consideração a disponibilidade de profissionais, de ambos os sexos, que nãoestivessem em missão no período de entrevistas.

57 - Entrevistas

58 Foram entrevistados dez trabalhadores da ONG Médicos Sem Fronteiras, sendo dois

médicos, duas médicas, um farmacêutico, uma farmacêutica, duas psicólogas, umaenfermeira e um enfermeiro, com idades entre 34 e 54 anos e tempo de trabalhovariando de 1 a 10 anos no MSF, conforme quadro abaixo :

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

126

Page 128: Laboreal, Volume 15 Nº2

Quadro : Caracterização dos trabalhadores entrevistados, segundo sexo, ano de nascimento,formação e tempo em MSF

59 Para a definição do modo de condução das entrevistas encontramos em autores que

vêm utilizando o pensamento de Mikhail Bakhtin, em suas pesquisas e estudos emCiências Humanas, uma potente interlocução por também considerarem que “o saberteórico, instituído academicamente, precisa interagir com as percepções construídas nocotidiano das relações sociais, possibilitando uma permanente troca (...)” (Freitas,Souza & Kramer, 2003, p. 7). Também para Bakhtin, é na tensão entre os polossingularizante e universalizante que residem a riqueza e o desafio das CiênciasHumanas (Amorim, 2003). Não há como fugir dessa tensão, mas é preciso admiti-la deinício. “Somente somos iguais no plano teórico e abstrato ; no plano empírico, cada umde nós ocupa um lugar singular e único” (como citado em Amorim, 2003, p. 14).

60 Assim sendo, ao mesmo tempo em que os enunciados são únicos e não se repetem, do

ponto de vista da historicidade, são dialógicos, “tecendo sentidos” no diálogo comoutros enunciados (Pereira & Rodrigues, 2010). Em consonância com esses autores,entendemos a importância das entrevistas como momento privilegiado de contato eprodução de mundos, textos e sentidos, longe de considerá-las mero instrumento decoleta de informações ou opiniões a respeito de algo.

61 Concebidas como método, as entrevistas tornam-se pontes que propiciam ao

entrevistado investir-se no diálogo, não como mero informante, mas como sujeito daanálise, tomando para si “a tarefa de interpretar o trabalho” (Alvarez, França, &Figueiredo, 2015, p. 44).

62 Seguindo essa visão, não há na entrevista uma verdade a ser desvelada que,

correspondendo à realidade, responderia às perguntas da pesquisa, confirmando ourefutando hipóteses. O encontro entre entrevistador e entrevistado caracterizam aentrevista como “dispositivo enunciativo” (Rocha, Daher, & Sant`Anna, 2004),autorizando práticas de linguagem que implicam uma configuração de co-enunciadores, impulsionando sujeitos a produzirem textos. Defende-se através desseenfoque, a entrevista como opção política.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

127

Page 129: Laboreal, Volume 15 Nº2

63 Portanto, ao contrário de perguntas objetivas, optamos pelo estabelecimento de

diálogos com os profissionais, com foco em quatro grupos temáticos, definidos a partirde nossas questões iniciais de pesquisa e da aproximação prévia do campo. Assim, nacondução dos diálogos buscamos abordar sequencialmente todos os grupos temáticos,abaixo explicitados :

64 a) a escolha e as expectativas em relação ao trabalho humanitário ;

65 b) os desafios e as situações críticas dessa atividade de trabalho ;

66 c) os recursos utilizados no enfrentamento de tais situações ;

67 d) os impactos na saúde do trabalhador

68 Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas posteriormente, totalizando cerca de

14 horas de gravação e de 400 páginas. Na análise do material produzido, com o intuitode preservar ao máximo sua riqueza e manter a coerência com o aporte teórico-metodológico, evitamos enquadrar as experiências dos trabalhadores em categoriasgenéricas. Em função disso, após leituras e releituras das entrevistas transcritas, fomosconstituindo um corpus, a partir do qual procuramos colocar os entrevistados emdiálogo entre si, com o pesquisador e seus referenciais, e com o leitor, assim como comos outros materiais gerados no trabalho de campo, de acordo com os quatro grupostemáticos e as questões específicas que emergiram, tendo em vista que :

“Nessa busca pelo entendimento da constitutividade dialógica do enunciado,Bakhtin afirma que não há enunciados isolados, à medida que todo equalquer enunciado pressupõe enunciados que o antecederam [...] e aquelesque se sucederão no tempo e no espaço.” (Pereira & Rodrigues, 2010, p. 149)

69 Entretanto, como no decorrer da análise observamos que os conteúdos do segundo e

terceiro grupo temático apareceram intimamente relacionados, esses foram tratadosconjuntamente. Além disso, com frequência, alguns assuntos eram recorrentes emdiversos momentos das entrevistas. A dinamicidade na produção dos enunciados eraviva e ativa, provocando idas e vindas nas conversações.

4. Análise das entrevistas : descobrindo mundos evalores

70 Como efeito do modo empregado na análise dos materiais produzidos ao longo da

pesquisa, abordaremos três questões nos tópicos que compõem essa parte do artigo, asaber : a escolha e as expectativas em relação ao trabalho humanitário ; desafios esituações críticas da atividade de MSF e recursos utilizados no seu enfrentamento ; osimpactos do trabalho humanitário na saúde do trabalhador

4.1. Escolha e expectativas em relação ao trabalho humanitário

4.1.1. “Mas o meu sonho era Médicos Sem Fronteiras”

71 Observamos que, ao serem indagados sobre as expectativas em relação ao trabalho

humanitário, sete entrevistados deixaram transparecer em seus discursos a relaçãocom um desejo, muitas vezes antigo e anterior ao momento em que se é exigida ouesperada a decisão por uma profissão. Há uma imagem, um projeto, um sonho de

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

128

Page 130: Laboreal, Volume 15 Nº2

interferir e de “mudar o mundo”, que geram disponibilidade e mobilização para lançar-se em “qualquer lugar do mundo, qualquer condição”. Há um desejo claro, uma escolhadeliberada por esse tipo de trabalho e uma relação com o conteúdo significativo datarefa (Dejours, 1992). Abaixo destacamos alguns desses discursos em diálogo entre si :

B :

“Mas na verdade, assim, o que me motivou a trabalhar com Médicos Sem Fronteiras era ir

pro terreno. Sempre foi ir pra missão. E eu sempre tive um sonho de trabalhar na Somália.

Uma vez eu tinha lido uma matéria, enfim, falando sobre mulheres mutiladas e como era a

situação na Somália, aquela mutilação genital e tal... Então aquilo tinha me tocado muito.”

N :

“[...]porque eu realmente, assim, realizei um sonho. [...] Eu demorei quatro anos para

conseguir entrar na organização. Esse foi um processo...

[...]A profissão que eu escolhi em prol... Eu queria usar as minhas oito horas diárias pra

fazer um trabalho em prol de uma população, enfim, um trabalho.

[...]E na carta de motivação estava lá : “Estou disponível para ir para qualquer lugar do

mundo, qualquer condição.”

E :

” ...tinha uma cena[...] eu tinha uma cena na minha cabeça, minha, eu numa guia, no meio

fio, atendendo uma senhora na Índia, não sei, eu coloquei isso na minha cabeça e me via

mesmo, era uma cena minha.”

72 No âmbito do trabalho em Médicos sem Fronteiras, fala-se em “motivação

humanitária”, como algo fundamental à realização do trabalho e que distingue estetrabalhador de outros, mesmo na área da saúde.

73 Importante ressaltar que a equipe de RH, além de fornecer todas as informações

necessárias ao entendimento de cada missão, também faz questão de enfatizar que estenão é um trabalho como os outros. “Não é uma seleção para um emprego. É uma opçãode vida, onde todos, sem exceção, são transformados”.

74 Lançar-se ao desconhecido, levar ajuda a quem precisa em contextos radicalmente

diferenciados daqueles em que se vive, vencer limites, superar barreiras, arriscar-se porum trabalho que pressupõe exposição a situações inéditas, querer colocar-se a serviçodo outro além das fronteiras experimentadas até então. Ser estrangeiro e ter apossibilidade de mergulhar em outros mundos e culturas pelo viés da ajudahumanitária parece constituir um valor especial a quem escolhe tornar-se membro deMSF.

4.1.2. “Eu já cresci com uma bagagem muito de que fazer pelo outro é fazer pormim também”

75 Muitos relatos referem-se a valores pessoais possivelmente ancorados em valores

universais, não dimensionáveis, que não se mensuram em quantidades e que se referem

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

129

Page 131: Laboreal, Volume 15 Nº2

ao bem-viver em comum (Schwartz, 2007c). Destacamos dois desses relatos, emboratenhamos identificado sete discursos nessa direção :

B :

“[...]O trabalho voluntário, esse trabalho mais humano sempre foi muito comum na minha

família, então, digamos, não sou pioneira disso. De maneira nenhuma, assim. As pessoas da

minha família, assim, minha vó, ela é de origem alemã e ela na época do pós-guerra abriu

uma escola em Friburgo pra receber as pessoas que vinham da guerra, ensinar português,

alemão, ia dar vacina nas crianças. Enfim, eu cresci um pouco com essa história, essas

histórias. E minha mãe... bom, como boa brasileira, sou totalmente mestiça : minha mãe

vem do Amazonas, que também era uma família super... Enfim, o pai dela, era... Trabalhava

no Itamaraty na parte de fronteira, então ajudava muito os índios, também. Então eu já

cresci com uma bagagem muito de que fazer pelo outro é fazer por mim também”.

A :

“... eu queria trabalhar em África e eu queria, porque eu achava, assim, tem muita

necessidade de... de atendimento de saúde e não tem tanto profissional. Essa era a minha

ideia assim de quem não conhecia muito, mas...”

76 Ao escolher o trabalho humanitário, e isso é perceptível nas entrevistas, essas pessoas o

fazem baseadas em ideias que identificam como humanitárias, que se preocupam cominteresses humanos, que veem a humanidade como um coletivo

77 Valores como altruísmo, compaixão e solidariedade, ainda que não nomeados desta

forma pelos entrevistados, parecem naturalmente associados a um trabalho onde há odespojamento de um modo de vida confortável e pretensamente seguro, em prol depessoas e populações que vivem em contextos fundamentalmente diferenciados,desprovidos de condições básicas, vítimas de guerras, conflitos, fome e doenças.

78 No momento em que se escolhe ser um “Médico sem Fronteiras”, essa escolha baseia-se

no desejo de ajudar a pessoas doentes e necessitadas, de fazer algo de realmente útil aooutro, de diminuir o sofrimento de quem padece. “Impossível dar realidade a estesvalores sem lhes atribuir uma dimensão, sem lhes alocar recursos...” (Schwartz, 2007b,p. 251). Mas esse polo dos chamados valores dimensionados não são os que movem osprofissionais que optam pelo trabalho humanitário, pelo menos não na origem de suaescolha.

4.1.3. “A seriedade da organização pra mim 'tava ligada a esses princípios, e foisó em Médicos Sem Fronteiras que eu encontrei”.

79 Alguns relatos, como os que se seguem (selecionados dos seis que registramos), deixam

claros a admiração e a identificação com os valores de MSF, além da confiança naorganização, o que parece não só colaborar, mas muitas vezes fundamentar a decisão dese tornar um “médico sem fronteiras”.

J :

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

130

Page 132: Laboreal, Volume 15 Nº2

“O que me chamou atenção em MSF foi a valorização que eles davam para cada

profissional, assim. Era bem diferente de qualquer outro emprego que eu conversasse com

amigos meus. A gente é bastante ouvido. Eles valorizam bastante o profissional.”

S :

“a seriedade da organização pra mim 'tava ligada a esses princípios, e foi só em Médicos

Sem Fronteiras que eu encontrei.”

80 Ao projetar e escolher uma determinada atividade de trabalho deliberadamente,

decide-se por um meio de realização de potencialidades identificadas, que encontramressonância na imagem e nas ideias que se tem a respeito daquele trabalho. Assimsendo, escolher um trabalho diz respeito à construção e confirmação da identidade doindivíduo, considerando-se saudável procurar, através do trabalho, a construção daidentidade no campo social. Isso está relacionado diretamente à mobilização subjetiva ea uma espécie de direito à contribuição, que remete ao plano ético (Dejours, 2008b).

81 Para Dejours (2008c), apoiando-se em Ricoeur, “a identidade é uma promessa”, jamais

definitivamente conquistada e a atividade, apesar de não produzir identidade, “é o queproporciona a oportunidade de um encontro entre a identidade e o real” (Dejours,2008c, p. 261). Nesse sentido, o trabalho adquire caráter central na “construção daidentidade, na realização de si mesmo e na saúde mental” (Dejours, 2008b, p. 140).

4.1.4. “Eu andei caminhos longos pra atingir um objetivo”

82 Sete entrevistados discorreram amplamente sobre o longo caminho percorrido até se

tornarem trabalhadores de MSF, porém fizemos um recorte de dois depoimentos,visando fornecer alguns elementos para essa discussão :

E :

“ [...]. Então a minha ideia foi “tudo bem, vamos tentando, eu sou persistente[...]fiquei sete

anos trabalhando em Saúde Mental e mandando currículo, eles já sabiam o meu nome de

cor...”

C :

“Eu fui pra primeira missão na Amazônia com esse, com essa ONG, era uma missão que ia

durar três meses, e eu acabei ficando um ano nessa organização. Aí voltei pra, pro sul e no

mês seguinte fui chamado por uma outra organização pra uma missão de dois anos, né ?

[...] fui emendando uma missão na outra.

[...] Fiz francês, fiz os quatro anos de francês, depois fiz inglês, três anos de curso, mas

assim, sem pensar em sair do Brasil, sem pensar em, não sei, fui fazendo...

[...] É, foi um caminho assim, uma coisa meio tortuosa, meio longa, eu andei caminhos

longos pra atingir um objetivo que eu não pensava ainda em atingir.”

83 O processo de escolha de uma atividade de trabalho também é uma experiência

singular, ancorada em histórias de vida, valores e anseios, movido pela necessidade,obrigação e/ou desejo (Revuz, 2007). Muitas vezes, o trabalho é considerado somente

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

131

Page 133: Laboreal, Volume 15 Nº2

objeto de necessidade, como se fosse preciso “morrer em relação ao desejo” (Revuz,2007, p. 230). Abandonar os sonhos, “deixar no vestiário todos os seus desejos, todo oseu imaginário” (Durrive, 2007, p. 230) e comprometer-se com a realidade.

84 Esse modo de selecionar pode ser um fator gerador de sofrimento posterior, quando se

considera impossível conciliar os diferentes aspectos do trabalho : o trabalho comonecessidade, sustento e como realização de desejo ; abrindo-se mão de parte importantena sustentação de uma atividade. “Na medida em que se reúna os dois é que se tornapossível sobreviver no trabalho” (Revuz, 2007, p. 230).

85 A autora sugere que o trabalho é um objeto íntimo, comparando-o às escolhas amorosas,

às vezes difíceis de explicar. Nesse sentido, já na preferência, o trabalho se revelaenigmático, às vezes pouco provável ou incompreensível. É o enigma da atividade quejá se apresenta na definição por esta ou aquela profissão, este ou aquele trabalho.Aquilo que faz alguém se direcionar às mais diversas frentes e encarar o que ainda nãose pode imaginar, na intenção ou necessidade de realizar algo estritamente pessoal e,ao mesmo tempo, definitivamente político através de sua atuação no mundo.

86 O que constatamos aqui é que os trabalhadores de saúde que optam por trabalhar em

Médicos sem Fronteiras são movidos por um desejo claro e consciente de participarativamente na produção da sociedade, na criação do mundo mais do que na adaptação aele. E pretendem fazer isso através do seu trabalho.

4.2. Desafios e situações críticas da atividade de MSF e recursosutilizados no seu enfrentamento

4.2.1. “Um risco que vale a pena”

87 A proximidade com contextos mais violentos e inseguros, traz à tona o contato com o

extremo na sua acepção mais contundente, que é o limite entre a vida e a morte,tornando para alguns a possibilidade da morte uma realidade concreta.

88 Apesar do medo explicitado por um entrevistado e da tristeza gerada pela morte de

pessoas conhecidas, parece haver algo que talvez possamos ousar nomear de uma pré-disposição ao enfrentamento de situações adversas. Os entrevistados mostraram-secientes dos riscos inerentes àquelas missões e dispuseram-se a lidar com eles, apesar dapericulosidade e gravidade a que estavam expostos. A atitude de desapego numasituação extrema em que é preciso deixar tudo para trás convive com a necessidade decriar laços e referências afetivas na criação de um meio vivível (Schwartz, 2007b), umambiente de trabalho que durante um tempo também será o seu lar.

B :

“É um trabalho. Essas pessoas aqui precisam de alguém pra fazer esse trabalho. Por acaso

sou eu, né ? Eu tive a sorte de estar aqui, poder aprender com elas e poder viver isso”.

89 A reflexão de Nouroudine (2004) a respeito dos riscos das atividades humanas,

inspirada em Canguilhem, contribui com a análise dessa questão. O autor traz umavisão mais positiva e criativa do risco e mesmo das infrações às normas de segurança,como modo de viver a atividade e mesmo de manter-se saudável no trabalho. Semnegar a importância das regras estabelecidas visando a segurança dos trabalhadoresnas mais diversas profissões e situações de trabalho, o que o autor pretende é chamar a

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

132

Page 134: Laboreal, Volume 15 Nº2

atenção para “o risco como ocasião de expressão da criatividade nas atividadeshumanas” (Nouroudine, 2004, p. 38).

90 No caso de Médicos sem Fronteiras e do trabalho em situações extremas, essa discussão

parece adquirir outros contornos, se considerarmos os riscos inerentes a determinadasmissões, como constituintes mesmo do trabalho, sem os quais talvez essa vertente dotrabalho humanitário inexistisse. Tanto é assim que os trabalhadores de MSF têm aliberdade de escolher se aceitam ou não trabalhar em missões que envolvam riscosmaiores. E uma vez que concordem, recebem todas as instruções necessárias àminimização dos mesmos ; regras da organização visando proteger os profissionais queaceitaram expor-se em nome da realização de um trabalho. A maneira como cada umirá proceder na situação diz respeito a modos próprios de agir e tem profunda conexãocom a subjetividade e singularidade humanas.

Se o correr risco pelos sujeitos individuais e coletivos produz-se no âmago daexperiência, então cada uma de suas características imprime o risco com suamarca. [...] podemos considerá-lo negativamente como podemos vê-lopositivamente. Consequentemente, só podemos atingir sua significaçãosituando-a na experiência dos protagonistas no contexto multidimensionaldas atividades realizadas. (Nouroudine, 2004, p. 52)

91 Nos depoimentos colhidos, é possível perceber a relação estabelecida com os riscos já

assumidos para a realização da atividade. Mas cada um busca encontrar formas de lidarcom as tensões, emoções e medos, tratando por vezes situações-limite como acidentais,talvez “subestimando” sua gravidade, encarando-as como parte do trabalho, cujoobjetivo maior, de ajuda, se torna capaz de relativizar o caráter extremo de taiscircunstâncias. Considerar a morte como parte da vida e uma possibilidade sem hora oulugar pré-determinados, além da missão de “levar ajuda às pessoas que mais precisamsem discriminação de raça, religião ou convicções políticas” constituem valores comunsaos trabalhadores de MSF.

4.2.2. “Muita gente tem jeito melhor de lidar, muita gente tem pior”.

92 Um tema relevante abordado por todos os entrevistados, a partir de diferentes

perspectivas, refere-se à complexidade da gestão do trabalho.

E :

“[...]do sequestro. (...) E aí tudo muito tenso, na hora fechou as atividades, parou tudo,

ninguém sai, ninguém sai até segunda ordem, e aí tem, ‘tá, eu não saio, mas e os

pacientes ?’...[riso leve]... ‘eu não saio mas eu tenho um grupo’...”

93 Apesar de reconhecer os riscos a que estava exposta se permanecesse no local, uma das

entrevistadas demonstrou não ter lidado bem com a interrupção abrupta de seutrabalho, além da separação imediata dos colegas e dos pacientes. Algo a que vinha sededicando com muito envolvimento e para o qual havia se preparado teve que serabortado, sem aviso prévio. Além disso, o sequestro de duas trabalhadoras de MSFenvolvia pessoas de sua ligação afetiva, o que também tornava sua condição especialneste caso. O tratamento dispensado pela Organização não lhe pareceu satisfatório,apesar de reconhecer algumas iniciativas. Eis uma situação onde as dramáticas daatividade se tornam explícitas, mobilizando tentativas e exigindo posicionamentos,

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

133

Page 135: Laboreal, Volume 15 Nº2

escolhas para lidar com algo que é da ordem do imprevisto ; ou seja, que acontece naexperiência real do trabalho e para o qual não se sabe o quanto preparado está, até queo momento aconteça de fato.

A gestão, como verdadeiro problema humano, advém por toda parte onde hávariabilidade, história, onde é necessário dar conta de algo sem poderrecorrer a procedimentos estereotipados. Toda gestão supõe escolhas,arbitragens, uma hierarquização de atos e de objetivos, portanto de valoresem nome dos quais essas decisões se elaboram. (Schwartz, 2004, p. 23)

94 Gerir o trabalho implica gerir-se no trabalho, enfrentando limitações, dificuldades,

descobrindo recursos e surpreendendo-se com superações, mas também comimpossibilidades.

95 Se concordamos com a perspectiva ergológica que considera que o trabalho é sempre

uso de si, gerir o trabalho é gerir os diferentes usos de si, por si e pelos outros,confrontando universos de macro com micro gestão, interesses externos e normasorganizacionais com possibilidades e escolhas pessoais. Segundo Schwartz, essanegociação é sempre problemática, “sempre lugar de uma dramática” (Schwartz, 2004,p. 25).

96 No caso de MSF e dos trabalhadores da Saúde, em geral, essa gestão adquire

características peculiares. “Podemos mesmo dizer que eles levam ao extremo asdramáticas” (Schwartz, 2005, p. 8). Há choque de valores e confrontos com valores nãodimensionáveis na atividade de profissionais que se deparam com verdadeiros“dramas” alheios, enquanto tentam gerir os seus próprios.

É toda a grandeza e a dificuldade deste “trabalhar, gerir” dos profissionais desaúde : um encontro particularmente crítico de dramática de uso de si (...)que não pode ser facilmente codificado, procedimentarizado. (Schwartz,2005, p. 8)

97 Uma das entrevistadas chama a atenção, em seu relato, para a questão das regras

institucionais e do “controle”. Sua abordagem nos remete ao conceito de normasantecedentes, com a relevância e complexidade que lhes são características.

C :

“...é, eles veem muito, assim, em uma missão eles veem um projeto, eles traçam, delineiam,

é, um projeto, e você tem que seguir aquilo à risca, mesmo que um desvio à esquerda e um

desvio à direita podem ser necessários pra melhoria mais à frente desse projeto, não, você

tem que seguir pelo meio. É, então um pouco assim, eu, eu passei por isso no Paquistão, é, no

Paquistão eles, momento assim de dece..., decepcionante pra mim do Paquistão...”

98 Parece-nos claro, em seu discurso, que a rigidez das regras era proporcional à

insegurança do local dessa missão, o que provavelmente fez com que a Organizaçãocriasse uma série de protocolos para garantir o maior cuidado e proteção de seusprofissionais, como é de praxe no âmbito do trabalho humanitário, pelo menos no quese refere a MSF. Mesmo com todas as medidas visando garantir ao máximo a segurançae preservação dos expatriados, houve um bombardeio num hospital próximo, o queafetou diretamente a rotina dos trabalhadores e da entrevistada em questão. Tal

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

134

Page 136: Laboreal, Volume 15 Nº2

acontecimento vem reforçar a ideia da imprevisibilidade e infidelidade do meio(Canguilhem, 2009).

99 Interessante notar, na fala de outro entrevistado, a ênfase dada à necessidade dos

protocolos como forma de facilitar o trabalho para quem permanece no terreno,

quando há troca de médicos e profissionais :“[...] Num projeto onde você tem essa

rotatividade, a única forma de você manter esse controle é você seguir protocolo, né ?”

4.2.3. “O ser humano, quanto mais complexo o mundo no qual ele vive...maiscomplexo torna-se o relacionamento dele para com os outros”

100 As relações profissionais estabelecidas nas missões são foco de uma série de

depoimentos (todos os entrevistados se manifestaram em relação a isso), que ressaltamtanto a oportunidade de conviver com pessoas de culturas, hábitos e valores diversos,como também as crises e dificuldades resultantes dessa convivência no trabalho.

S :

“Eu acho que assim, além do trabalho, a segunda grande paixão é exatamente o staff

nacional. Eu acho, que eu tenho uma, não vou dizer naturalmente porque eu sou uma

psicóloga, mas eu tenho uma facilidade, um desejo, uma sensibilidade muito grande para

outras culturas...

[...]Se você me vir depois de um mês de missão você vai achar que eu 'tô há um ano lá,

porque tem uma conexão muito boa. E olha que o [...] nacional do Sudão do Sul não é nada,

qualquer um vai te dizer isso, não é nada fácil, eles são muito, independente de quem você

seja, eles são muito resistentes, muito difíceis. Mas, é clichê dizer isso, né ? E talvez até old

fashion, mas eu amo, então eu passo por cima daquilo, é como se eu não estivesse vendo,

né ? O meu sorriso é de verdade, sabe ?”

101 Como sugere Pezé, se o trabalho pode ser um operador potente na construção da saúde,

ampliando a subjetividade, as possibilidades do corpo e da sensibilidade, existe tambémuma dimensão de sofrimento relativa aos conflitos intrapsíquicos e intrasubjetivos,visto que “trabalhar é se trabalhar” e também “trabalhar em conjunto” (Pezé, 2009,p. 16).

102 Para que o trabalho aconteça, não basta antecipar as diretrizes e coordenar funções e

tarefas de cada um no grupo. As escolhas que cada um faz de si, os diferentes usos emodos de ser e agir pessoais, somados às inúmeras combinações possíveis entrepessoas, movidas por ideias, afetos e valores reforçam o caráter imprescritível daatividade. No trabalho humanitário, há que se destacar ainda os efeitos causados peloencontro de culturas, as mais diversas, que se veem obrigadas a conviver dia e noite,sem descanso, durante as missões, principalmente nas que exigem maior restrição demovimentação, devido à insegurança local. É uma prova de fogo, que traz à tona osrecursos individuais no confronto com o coletivo. “Renormatizar é também escolhercom quem trocar piscadas de olhos, o que compartilhar, com quem, que patrimônioconstruir - ou destruir – ao longo dos dias” (Schwartz, 2011, p. 140).

103 O coletivo não está dado previamente. “Ele é indefinidamente variável no tempo, no

espaço, infinitamente mais instável do que as interações previstas pelos protocolos,pelos organogramas” (Schwartz, 2011, p. 139).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

135

Page 137: Laboreal, Volume 15 Nº2

104 O agir coletivo, o coletivo em movimento na realidade do trabalho, suas iniciativas e

combinações não são prescritíveis, como não são as relações de confiança e cooperação.Para Dejours (2008a), a dimensão da cooperação no trabalho diz respeito à contribuiçãodos agentes e às relações intersubjetivas, escapando aos limites daprocedimentalização.

105 Para que a cooperação aconteça, é preciso antes que se estabeleçam relações de

confiança entre os trabalhadores e estas referem-se ao compartilhamento das regras deofício (Pezé, 2009) e baseiam-se mais em condições éticas do que propriamente afetivas

(Dejours, 2008a). “Não tem ‘você me ajuda’. A pessoa chega : ‘Pô, tá carregando

essa caixa. Eu carrego outra.’ ”

106 Ao criar o conceito de entidades coletivas relativamente pertinentes, a Ergologia

procura tratar da dimensão do “viver junto” que acontece no trabalho, onde osprotagonistas são convocados a engendrar um modo de gerir as situações, lidando comtodos os “outros” que de modo instável e variável compõem o coletivo de trabalho.Fazer parte desse coletivo significa criar e recriar normas, fazer usos de si por outros,por si e para outros, rever e retrabalhar valores, construir e reconstruirincessantemente um meio onde seja possível viver e trabalhar.

4.2.4. “Você se adapta, é im-pres-sio ...só vivendo pra saber, é impressionante”.

E :

“Não tinha estrutura nenhuma, só terra, a mesma comida o dia int..., todos os dias,né ? Morar com cento e vinte, cento e oitenta pessoas, chegou a cento e oitenta...”

107 Apesar de saberem da provisoriedade dessas experiências, algumas missões podem

levar meses e é preciso se adaptar ao tipo de vida local, que pode variar absurdamente.Mesmo diante de um estranhamento inicial, ao se depararem com um contexto tãoprecário, os relatos de diversos entrevistados refletem uma capacidade adaptativaimportante, que os permitiu manterem-se no terreno, diferentemente de outrostrabalhadores mencionados.

108 O medo, os riscos e o desgaste são admitidos e denunciam as dramáticas da atividade. A

falta de condições básicas de moradia e higiene, a exposição a guerras e a fenômenosnaturais pouco comuns tornam mais exposta também a vulnerabilidade dostrabalhadores, afetando diretamente sua integridade física e trazendo o foco para ocorpo. Quando isso acontece, fugas e disfarces tornam-se insuficientes para esconder aslimitações concretas impostas pela realidade, onde o sofrimento físico é a própriaimpossibilidade de escapar do instante da existência (Lévinas, 1988). É a falta derefúgio, convite ao enfrentamento.

109 Para Dejours, “é sempre o corpo que é envolvido em primeiro lugar” (Dejours, 2004,

p. 29), inteiro, encarnação da subjetividade, afetado pela experiência do trabalho e pelosofrimento que ela acarreta.

110 Existe uma intimidade, uma relação com a matéria do trabalho que só é experimentada

no corpo e a partir dele, e que o convoca a transformar-se a si próprio diante daresistência do real (Pezé, 2009).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

136

Page 138: Laboreal, Volume 15 Nº2

4.2.5. “Ai meu Deus do Céu, não vou poder salvar o mundo”

111 Chegamos aqui ao que nos parece um dos pontos cruciais, àquilo que toca a essência do

trabalho humanitário, conforme vivido por essas pessoas : o contato com o sofrimentoextremo de outra pessoa e as possibilidades e limitações do cuidado.

112 Vale ressaltar que essa percepção só é possível graças ao encontro de diálogos

presentes nas entrevistas, que nos remetem à visão bakhtiniana de que a experiênciaverbal individual evolui na interação contínua com os enunciados do outro. Dessaforma, “os enunciados não são indiferentes uns aos outros, nem são auto-suficientes ;conhecem-se uns aos outros, refletem-se mutuamente. São precisamente esses reflexosrecíprocos que lhes determinam o caráter.” (Bakhtin, 1997, p. 316-317).

113 Todas as dificuldades e obstáculos relatados anteriormente referem-se, de certa forma,

ao que é preciso atravessar para se aproximar de um outro desconhecido e distante,conhecer suas necessidades e oferecer-lhe ajuda. Esses trabalhadores deixam suascasas, rotinas, famílias e relações e lançam-se rumo ao que lhes é completamenteestrangeiro para tocar no sofrimento do outro e “salvá-lo” da falta, da dor e daquilo queo mantém em condições que desafiam sua humanidade. A extrema pobreza, oabandono, a ausência completa de cuidados de saúde e de recursos, as perdas brutaisem consequência de guerras, violência e conflitos intermináveis, a falta de liberdade, aimpossibilidade de se viver em paz atraem e confrontam cuidadores imbuídos peloespírito humanitário.

114 O sofrimento desses trabalhadores provocado pelo contato próximo com o sofrimento

alheio, em situações de atuação limitada, nos parece colocá-los diante de alguns dosmaiores desafios. Para Dejours (2008d), todo trabalho implica um confronto com o realque gera sofrimento. O real resiste às prescrições, conhecimentos, expectativas econvoca o trabalhador a se deslocar, defender, expressar, criar para transformar osofrimento e “conquistar” o prazer no trabalho. O sofrimento tende a se manterquando, esgotados os recursos pessoais, o trabalhador se vê diante de obstáculosinsuperáveis (Pezé, 2009). O que os faz conseguir preservar a mobilização espontâneapara o trabalho, a despeito de toda a resistência, mudanças, dificuldades e decepçõesaponta para o foco das investigações da psicodinâmica do trabalho, em sua curiosidadepela normalidade enigmática do trabalhador.

115 Um dos eixos fundamentais de resposta a essa pergunta, segundo esta abordagem,

passa pela dinâmica da contribuição/retribuição. Esse reconhecimento que pode sermanifestado tanto por superiores hierárquicos ou subordinados na organização dotrabalho, como por colegas e pares, também pode advir dos clientes ou da própriacomunidade e pode ter um sentido não só de constatação da contribuição individual,como de gratidão (Dejours, 2008).

116 Essa confirmação também acontece quando a atividade de trabalho é reconhecida

coletivamente pela sua importância e contribuição à sociedade, como é o caso de MSF.Há um reconhecimento tácito. A relevância desse trabalho é praticamenteinquestionável. E ainda que não houvesse o devido reconhecimento institucional,haveria o efeito imediato de gratidão de quem recebe ajuda e cuidados, fonteprimordial de prazer para quem trabalha na assistência, no contato direto com ospacientes. Quando não há mediação que interrompa o fluxo do trabalho e o cuidadopode atingir diretamente quem precisa, o sentido do trabalho permanece vivo e ativo.

“São essas coisas que eu acho que me fazem uma pessoa muito melhor”.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

137

Page 139: Laboreal, Volume 15 Nº2

4.3. Os impactos do trabalho humanitário na saúde do trabalhador

4.3.1. “Existe um desgaste, né ? Isso não tem como negar”.

117 Todos os entrevistados tinham muito o que dizer sobre os modos como sua saúde foi

afetada durante as missões. Mas para introduzir esse tema destacamos apenas algunstrechos de entrevistas :

M :

“Mesmo que você pegue um projeto simples, um projeto que não puxe muito, não adianta.

Você não tá relaxado. Você tá lá, é vinte e quatro horas, mesmo que você não esteja

trabalhando vinte e quatro horas.”

“Se você tem Médicos Sem Fronteiras uma vez, você vai pegar malária e tá tudo bem”.

E :

...me impactou muito. Eu voltei da missão, por exemplo, em Dadaab destruída fisicamente

mesmo, é, fiquei com anemia...

C :

Então nesse, nesse um mês que eu fiquei nessa atividade intensa eu acabei tendo essa

hérnia inguinal...

118 A intensificação do trabalho refere-se não só ao número de horas trabalhadas

diariamente ou à falta de separação entre vida pessoal e profissional em missão, mastambém ao esforço maior colocado, muitas vezes sob o sacrifício do corpo, paraaguentar uma bagagem ou ajudar a diminuir o sofrimento de um paciente. A maneiracomo cada um vive o trabalho, se coloca a serviço de sua atividade, respeitando edesrespeitando determinados limites refere-se à gestão dos usos de si, experienciada erefletida no corpo-si.

119 Mesmo a reação a uma ocorrência mais frequente em missões, como a diarreia ou a

malária, pode vir a se tornar algo crítico, exigindo uma evacuação médica, como pode

ser tratado como algo banal, que faz parte do trabalho e não merece destaque : “eu tive

uma malariazinha, mas nada sério”.

120 Se no físico, o desgaste causado pelo trabalho é detectado de maneira mais direta, sob

forma de marcas, lesões, cirurgias, doenças conhecidas e tratáveis, como a malária paraa qual existe inclusive a profilaxia, os efeitos psicológicos advindos do trabalhohumanitário são menos objetiváveis e percebidos de forma mais sutil. Podem aparecermais tardiamente, com menos obviedade, às vezes com pequenas alterações de humor(B), como algo difícil de definir (E) ou facilmente detectável nos outros, quando isso semostra de forma contundente (C). Mas não pretendemos considerar tais aspectosseparadamente, distintos em psico e soma, por tratarmos aqui do organismo como umtodo em sua relação com o meio. Entendemos que tais fronteiras não são facilmentedetermináveis e adotamos a ideia de corpo-si para corroborar com a visão de unidadecorpo-sujeito. As palavras dos entrevistados nos ajudam a confirmar essa tese :

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

138

Page 140: Laboreal, Volume 15 Nº2

A :

“A gente fica muito mais estressado ou focado quando a gente 'tá lá. Então, o queas pessoas estão aqui dia a dia sofrendo, a gente sofre uma, um boom...”

C :

“Teve meninas [...] no Haiti, no terremoto, que elas choravam o dia inteiro, todosos dias, elas tinham crise nervosa, e elas foram obrigadas a abandonar o projeto !Tinha um moço que ele era logístico, ele tinha crise de vômito, ele via umasituação, ele não conseguia controlar o sistema nervoso dele, o emocional, evomitava, eu tinha dó daquele moço...”

121 “Cada um procura no trabalho o equilíbrio aceitável entre uso de si requisitado e

consentido” (Schwartz, 2007b, p. 200). O quanto cada trabalhador entende que podeentregar de si à atividade, sem que sua saúde sofra abalos graves e, na eventualidade deacidentes ou imprevistos, o modo como se cria possibilidades e novas normas dizrespeito à característica mediadora do corpo-si (Schwartz & Echternacht, 2009).

122 Em confronto com os espaços, tempos, limites e potencialidades da produção, no

contato entre corpo e meio, “face a lacunas, a um ‘vazio de normas’, é preciso, acima detudo, operar uma inventividade criadora, renormatizando” (Athayde & Brito, 2011,p. 263). Para isso enfrenta os debates, as dramáticas dos usos de si e a nãoestandardização das situações a serem geridas.

123 Segundo Schwartz, saúde é poder encontrar um equilíbrio entre as normas individuais,

as do coletivo relativamente pertinente e as do coletivo social (Schwartz, 2007b). Nessesentido, as diferenças culturais também oferecem desafios importantes aostrabalhadores em missão, exigindo uma reconfiguração de seus hábitos, normas evalores, nem sempre possível.

4.3.2. “O que que faz eu aguentar, eu não sei”

124 O conjunto de relatos de nossos entrevistados (que não serão reproduzidos aqui devido

à sua extensão) indica que, mesmo afetados em sua saúde pelas experiências detrabalho no terreno, independente do sexo, idade, tempo de trabalho em MSF, missõesmais ou menos longas, mais ou menos arriscadas, eles têm um desejo de permanecer naatividade humanitária, expondo-se a novos contextos e riscos.

125 As vivências de situações extremas compartilhadas pelos trabalhadores de MSF

entrevistados por nós são tratadas pelos próprios como caldeirão de acontecimentos eeventos críticos, com os quais cada um tem que lidar a partir de seus recursos, história,valores, em uma atividade atravessada por dramáticas de escolhas e de usos de si diantedo ineditismo do presente.

126 Por outro lado, a organização procura prover toda a assistência necessária em relação a

adoecimentos ou afastamentos de missão por questões relativas à saúde, conformeconfirmam os relatos de nossos entrevistados, mas sempre há questões difíceis deprever.

127 De toda forma, mesmo aqueles, que reconhecem o desgaste sofrido no e pelo trabalho,

não parecem carregar uma imagem de adoecimento associada aos eventos vividos,

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

139

Page 141: Laboreal, Volume 15 Nº2

preservando a nosso ver uma ideia do trabalho como processo de construção de simesmo e operador de saúde (Duraffourg, 2008), transformando o sofrimento emcriatividade e beneficiando o fortalecimento de sua identidade (Dejours, Abdoucheli,Jayet, Dejours, & Abdoucheli, 2010).

128 Nesse momento, à medida em que nos aproximamos mais e mais da atividade,

confirmamos a relevância de um dispositivo como o DD3P, que pode explicitar lacunas ediferenças entre o patrimônio estocado dos conceitos e ideias a respeito de algo, e opatrimônio vivo da experiência relatada pelos trabalhadores :

C :

“[...]Os benefícios não são consolidados em ganhos materiais. Creio que se traduzem em

propostas pessoais, o que me leva a fazer uma missão e se isso me traz o retorno esperado

dentro de meu pensamento filosófico ou de minha construção de caráter. Dom e dádiva”.

5. Considerações finais

129 No trabalho humanitário, profissionais se deslocam de seus países, deixando suas casas,

para prestar ajuda a povos distantes e desconhecidos, sendo alvo de admiração,gratidão e reconhecimento. Ainda que as diferenças culturais configurem barreirassignificativas, muitas vezes são considerados heróis e contam com uma valorizaçãosocial, das pessoas de modo geral.

130 Ao final da pesquisa, verificamos tratar-se de um trabalho inspirado pela ideologia de

um mundo melhor, baseando-se de fato em valores como altruísmo e preocupação como sofrimento e necessidades do outro, sem fazer disso um motivo de heroísmo. Isso nãosignifica que não haja conflitos em relação aos seus princípios e à preservação dosvalores humanitários.

131 Parece haver, no entanto, para quem permanece vivendo desse trabalho, imerso em

realidades críticas por longos períodos, um desgaste físico, mental e emocional grandeque levanta questões acerca do tempo de possibilidade de engajamento e dacontinuidade do vínculo com a atividade. Não há dados estatísticos que comprovem talsuposição, mas Brauman (2003, p. 111) afirma que essa disponibilidade requerida tendea diminuir na maioria das pessoas. “A reserva de indignação e de compaixãonecessárias para que a ação conserve todo o seu vigor e não se degrade emautomatismos, não são inesgotáveis”.

132 No entanto, na maioria dos relatos, são conflitos relativos à esfera da gestão, que

engloba protocolos, procedimentos, decisões administrativas e, logicamente, modosdiversos de pensar e agir humanos, que impactam mais diretamente na atividade deprestação de cuidados. Na visão do gestor de RH de MSF, os maiores problemas com ostrabalhadores expatriados, que interferem na preservação ou não do trabalho sãooriundos de conflitos de valores. Os valores presentes no trabalho precisam estar emcoerência com os valores pessoais para que a atividade conserve seu sentido.

133 Ainda assim, há preocupação com os rumos da carreira do expatriado que pode passar

alguns anos trabalhando em missões, mas que sentirá, com o tempo, a necessidade dediminuir seu ritmo e encontrar uma outra forma de poder colaborar.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

140

Page 142: Laboreal, Volume 15 Nº2

134 Alguns trabalhadores sofrem a “pressão” pela possibilidade de tentarem, em dado

momento, voltar a uma “vida normal”, constituir família e possuir um emprego. A vidahumanitária traz repercussões contundentes para quem a escolhe, dificultando aformação de determinados vínculos e modelos reforçados socialmente.

135 É compreensível a dificuldade e mesmo a impossibilidade de saber como cada um

reagirá em missão, visto tratar-se de modos singulares dos usos de si diante de um meioinfiel, onde a capacidade normativa do corpo-si é convocada em situação.

136 Entretanto, podemos afirmar que deixar seu país e sua vida, romper barreiras e hábitos

e ter sua liberdade cerceada nos parece um desafio emblemático a quem busca umtrabalho sem-fronteiras. As normas antecedentes e a necessidade de checá-las, corrigi-lase reinventá-las na atividade configura-se como exercício de superação eultrapassamento de fronteiras, que pode conferir sentidos paralelos ao trabalho.

137 Porém, em todos os casos, o aspecto relacional, a parceria, a colaboração, a cooperação

entre pessoas, colegas de trabalho nas circunstâncias, mostrou-se fundamental à

realização do trabalho, traduzida na fala de um dos entrevistados : “quando o time é

bom, a missão é boa”.

BIBLIOGRAFIA

Alvarez, D., França, M. B., & Figueiredo, M. (2015). Exercício Analítico sobre o Método : Aspectos

Linguageiros na Atividade Dialógica com Trabalhadores de Exploração e Produção no Setor

Petrolífero. Laboreal, 9(1), 39-52. doi :10.15667/laborealxi0115da

Amorim, M. (2003). A contribuição de Mikhail Bakhtin : a tripla articulação ética, estética e

epistemológica. In M. T. A. Freitas, S. Jobim e Souza, & S. Kramer (Orgs.), Ciências humanas e

pesquisa : leituras de Mikhail Bakhtin (pp. 11-25). São Paulo : Cortez.

Athayde, M. (2011). Saúde, mental e trabalho : questões para discussão no campo da saúde do

trabalhador. In C. M. Gomez, J. M. H. Machado, & P. G. L. Pena (Orgs.), Saúde do trabalhador na

sociedade brasileira contemporânea (pp. 345-366). Rio de Janeiro : Editora Fiocruz.

Athayde, M., & Brito, J. (2011). Ergologia e clínica do trabalho. In P. F. Bendassolli, & L. A. Soboll

(Org.). Clínicas do trabalho (pp. 258-281). São Paulo : Atlas.

Aubrée, C. (2004). Les métiers de l´humanitaire et de la solidarité. Paris : L´Etudiant.

Bakhtin, M. (1997). A Estética da criação verbal. São Paulo : Martins Fontes.

Brauman, R. (2003). Humanitario el dilema. Barcelona : Icaria.

Brauman, R. (2009). La Médecine humanitaire. Paris : Puf.

Brito, J. (2011). A Ergologia como perspectiva de análise : a saúde do trabalhador e o trabalho em

saúde. In C. M. Gomez, J. M. H. Machado, & P. G. L. Pena (Orgs.), Saúde do trabalhador na sociedade

brasileira contemporânea (pp. 479-494). Rio de Janeiro : Editora Fiocruz.

Canguilhem, G. (2009). O normal e o patológico (6a ed.). Rio de Janeiro : Forense Universitária.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

141

Page 143: Laboreal, Volume 15 Nº2

Canguilhem, G. (2012). O conhecimento da vida. Rio de Janeiro : Forense Universitária.

Dejours, C. (1986). Por um novo conceito de saúde. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 14(54),

7-1.

Dejours, C. (1992). A loucura do trabalho : estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo : Cortez.

Dejours, C. (2004). Subjetividade, trabalho e ação. Revista Produção, 14(3), 27-34.

Dejours, C. (2008a). Addendum Da Psicopatologia à Psicodinâmica do Trabalho. In C. Dejours, S.

Lancman, & L. I. Sznelwar (Orgs.), Christophe Dejours : da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho

(pp. 49-106). Rio de Janeiro : Ed. Fiocruz ; Brasília : Ed. Paralelo 15.

Dejours, C. (2008b). O Trabalho como Enigma In C. Dejours, S. Lancman, & L. I. Sznelwar (Org.),

Christophe Dejours : da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho (pp. 129-141). Rio de Janeiro : Ed.

Fiocruz ; Brasília : Ed. Paralelo 15.

Dejours, C. (2008c). Análise Psicodinâmica das Situações de Trabalho e Sociologia da Linguagem

In C. Dejours, S. Lancman, & L. I. Sznelwar (Org.), Christophe Dejours : da psicopatologia à

psicodinâmica do trabalho (pp. 245-289). Rio de Janeiro : Ed. Fiocruz ; Brasília : Ed. Paralelo 15.

Dejours, C. (2008d). Entre Sofrimento e Reapropriação. In C. Dejours, S. Lancman, & L. I. Sznelwar

(Org.), Christophe Dejours : da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho (pp. 351-364). Rio de Janeiro :

Ed. Fiocruz ; Brasília : Ed. Paralelo 15.

Dejours, C., Abdoucheli, E., Jayet, C., Dejours, C., & Abdoucheli, C. J. (2010). Psicodinâmica do

trabalho : contribuições da escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São

Paulo : Atlas.

Duraffourg, J. (2008). Santé au travail, santé du travail. Ergologia, (0), 155-176. Retirado de http://

www.ergologia.org/uploads/1/1/4/6/11469955/0_duraffourg.pdf

Durrive, L. (2007). O trabalho e o sujeito. In Y. Schwartz, & L. Durrive (Org.), Trabalho e Ergologia,

conversas sobre a atividade humana (pp. 295-307). Niterói : EDUFF.

Durrive, L., & Schwartz, Y. (2008). Glossário da Ergologia. Laboreal, 4(1), 23-28. Retirado de http://

laboreal.up.pt/pt/articles/glossario-da-ergologia

Ferreira, J. (2010). O humanitário no Brasil : entre o ideal universal e a cultura local. In Ferreira,

J., & Schuch, P (Org.). Direitos e ajuda humanitária : perspectivas sobre família, gênero e saúde

(pp. 25-48). Rio de Janeiro : Ed. Fiocruz.

Freitas, M. T., Souza, S. J., & Kramer, S. (Org.). (2003). Ciências humanas e pesquisa : leituras de

Mikhail Bakhtin. São Paulo : Cortez.

Lévinas, E. (1988). Le temps et L´Autre. Paris : Puf.

Nouroudine, A. (2004). Risco e atividades humanas : acerca da possível positividade aí presente. In

M. Figueiredo, J. Brito, M. Athayde, & D. Alvares, Labirintos do trabalho : interrogações e olhares sobre

o trabalho vivo (pp. 37-62). Rio de Janeiro : DP&A.

Pereira, R. A., & Rodrigues, R. H. (2010). Os gêneros do discurso sob perspectiva da análise

dialógica de discurso do círculo de Bakhtin. Letras, Santa Maria, 20(40), 147-162.

Pezé, M. (2009). Corps et souffrance au travail. Corps. Revue Interdisciplinaire, (6), 15-22.

Revuz, C. (2007). O trabalho e o sujeito. In Y. Schwartz, & L. Durrive, L. (Orgs.), Trabalho e Ergologia,

conversas sobre a atividade humana (pp. 226-246). Niterói : EDUFF.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

142

Page 144: Laboreal, Volume 15 Nº2

Rocha, D., Daher, M. D. C., & Sant´anna, V. L. A. (2004). A entrevista em situação de pesquisa

acadêmica : reflexões numa perspectiva discursiva. Polifonia, 1(8), 161-180. Retirado de http://

periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/polifonia/article/view/1132/896

Schwartz, Y. (2003). O Trabalho em uma perspectiva filosófica [Comunicação apresentada em

Seminário Educação e Trabalho : trabalhar, aprender, saber]. Cuiabá, MT : UFMT.

Schwartz, Y. (2004). Trabalho e gestão : níveis, critérios, instâncias. In M. Figueiredo, J. Brito, M.

Athayde, & D. Alvares, Labirintos do trabalho : interrogações e olhares sobre o trabalho vivo (pp. 23-33).

Rio de Janeiro : DP&A.

Schwartz, Y. (2005). Trabalho e saúde : construindo outros modos de gestão. Comunicação

apresentada no Congresso da Abrasco, Florianópolis, Brasil.

Schwartz, Y. (2007a). O Trabalho se Modifica. In Y. Schwartz, & L. Durrive (Orgs.), Trabalho e

Ergologia, conversas sobre a atividade humana (pp. 25-36). Niterói : EDUFF.

Schwartz, Y. (2007b). Trabalho e Uso de Si. In Y. Schwartz, & L. Durrive (Orgs.), Trabalho e

Ergologia, conversas sobre a atividade humana (pp. 191-206). Niterói : EDUFF.

Schwartz, Y. (2007c). O Homem, o Mercado e a Cidade. In Y. Schwartz, & L. Durrive (Orgs.).

Trabalho e Ergologia, conversas sobre a atividade humana (pp. 249-275. Niterói : EDUFF.

Schwartz, Y., & Echternacht, E. (2009). Le Corps-soi dans le milieu de tavail : comment se spécifie

sa competence à vivre ? Corps : Revue Interdisciplinaire, (6), 31-38.

Schwartz, Y. (2011). Manifesto por um Ergoengajamento. In P. F. Bendassolli, & L. A. Soboll

(Orgs.), Clínicas do trabalho (pp. 132-166). São Paulo : Atlas.

Trinquet, P. (2010). Trabalho e educação : o método ergológico. Revista Histedbr, 10(38e), 93-113.

doi :10.20396/rho.v10i38e.8639753

RESUMOS

O trabalho em saúde em situações extremas é o fio condutor desse artigo, que investiga a

atividade de trabalhadores da ONG Médicos Sem Fronteiras, buscando compreender os usos de si,

no confronto com a realidade do trabalho de cuidar, prestar socorro e salvar vidas. Os desafios

impostos por contextos complexos tornam o trabalho mais exigente, expondo a vulnerabilidade

de pacientes, trabalhadores e organizações, mas também sua capacidade de enfrentamento e

superação. A perspectiva ergológica de Schwartz, a Psicodinâmica do Trabalho e a concepção de

saúde de Canguilhem orientam a condução teórico-metodológico da pesquisa, de base qualitativa,

que faz uso de entrevistas, além de visitas a Centros Operacionais de MSF. Os resultados

encontrados revelam uma atividade instigante, onde há desejo, proteção institucional e

valorização profissional ; mas, também, desgaste e pressão por uma vida “normal”, conflitos de

valores e relevância da cooperação para a preservação do sentido do trabalho no cuidado

humanitário.

El trabajo en salud en situaciones extremas es el hilo conductor de este artículo, que investiga la

actividad de trabajadores de la ONG Médicos Sin Fronteras, buscando comprender sus usos en la

confrontación con la realidad del trabajo de cuidar, socorrer y salvar vidas. Los retos planteados

por contextos complejos hacen el trabajo más exigente, exponiendo la vulnerabilidad de

pacientes, trabajadores y organizaciones, pero también su capacidad de enfrentamiento y

superación. La perspectiva ergológica de Schwartz, la Psicodinámica del Trabajo y la concepción

de salud de Canguilhem proporcionan una orientación teórico-metodológica a la investigación,

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

143

Page 145: Laboreal, Volume 15 Nº2

de base cualitativa, que recurre a entrevistas, además de visitas a Centros Operacionales de MSF.

Los resultados revelan una actividad estimulante, donde hay deseo, protección institucional y

reconocimiento profesional, pero también desgaste, presión por una vida “normal”, conflictos de

valores y relevancia de la cooperación para la preservación del sentido del trabajo en el cuidado

humanitario.

Le fil conducteur de cet article est l'activité, en situations extrêmes, des travailleurs en santé de

l'ONG Médecins Sans Frontières. On cherche à mieux comprendre les usages de soi en

confrontation avec la réalité du travail de soigner, porter secours et sauver des vies. Les défis

posés par des réalités complexes rendent le travail plus exigeant, mettant à épreuve la

vulnérabilité des patients, des travailleurs, des organisations et leur capacité d’y surmonter. Les

fondements théoriques et méthodologiques sont : la perspective ergologique de Schwartz, la

Psychodynamique du Travail et le concept de santé tel que proposé par Canguilhem. Des visites

et des entretiens menés au sein de centres opérationnels MSF ont nourri la recherche, menée

dans une approche qualitative. Les résultats révèlent une activité vécue comme stimulante, où

sont présents le désir, la protection institutionnelle et la valorisation professionnelle ; mais

également l'épuisement, la difficulté d’une vie “ normale », le conflit de valeurs et l’importance

de la coopération pour la sauvegarde du sens du travail dans la prestation de soins humanitaires

Healthcare work in extreme situations is the guiding principle of this paper, which investigates

the activity of workers in the NGO Doctors Without Borders, seeking to understand the uses of

self in the confrontation with the reality of healthcare work, help and lifesaving. The challenges

posed by complex contexts make this work more demanding, exposing the vulnerability of

patients, workers and organizations, but also their capacity to confront and overcome

difficulties. Schwartz’s ergological perspective, the Psychodynamics of Work and Canguilhem’s

conception of health provide the theoretical-methodological direction to the qualitative research

that used interviews as well as visits to MSF Operational Centers. The results show a challenging

activity, where there is desire, institutional protection and professional appreciation ; but also

strain and the pressure for a “normal” life ; conflicts of values, and the relevance of cooperation

for the preservation of the sense of work in humanitarian care.

ÍNDICE

Palabras claves: cuidado en salud, trabajador de la salud, trabajo humanitario, ergología

Keywords: health care, health worker, humanitarian work, ergology

Mots-clés: soin, travailleur de la santé, travail humanitaire, ergologie

Palavras-chave: cuidado em saúde, trabalhador da saúde, trabalho humanitário, ergologia

AUTORES

LUCIANA B. CAVANELLAS

Fundação Oswaldo Cruz, Coordenação de Saúde do Trabalhador (CST/Cogepe/Fiocruz), Avenida

Brasil, 4365. Pavilhão Carlos Augusto da Silva. Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 21040-36 ;

[email protected]

JUSSARA BRITO

Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz) ; Rua

Leopoldo Bulhões, 1480, Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ, 21041-210 ; [email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

144

Page 146: Laboreal, Volume 15 Nº2

O trabalho de supervisão em umaindústria de pneumáticos : entre otrabalho real e o discurso oficial dogerenciamentoEl trabajo de supervisión en una industria de neumáticos : entre el trabajo real y

el discurso de los profesionales de la gestión

Le travail de supervision dans une industrie du pneu : entre le travail réel et le

discours des professionnels de la gestion

The supervision work in a tire industry: between the actual work and the

managers official speech

Cirlene de Souza Christo, Marcello Santos Rezende e Milton Athayde

NOTA DO EDITOR

Manuscrito recibido en : julio 2018Aceptado tras peritage : octubre 2019

1. Introdução

1 A problemática que se propõe discutir nesse texto envolve as reconfigurações no

trabalho de supervisão de produção industrial[1] em contexto de inovações tecnológicase organizacionais. Mudanças impulsionadas pelo que se tem denominado“reestruturação produtiva”, incluindo informatização de base microeletrônica,reestruturação de linhas de produção, diminuição de níveis hierárquicos,descentralização do gerenciamento e abordagens de controle de qualidade. É frequentena literatura a indicação de alterações no trabalho de gerentes de nível médio, ou

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

145

Page 147: Laboreal, Volume 15 Nº2

chefes de equipes de produção, em termos de reformulações de suas tarefas decomando, de acompanhamento e de coordenação do pessoal (Bellini & Labit, 2005). Paraalém das tradicionais tarefas de comando e controle do trabalho dos integrantes dasequipes de produção segundo os critérios definidos pela organização empresarial,tendencialmente, o escopo desse tipo de trabalho estar-se-ia ampliando no sentido deincluir exigências de aproximação com os serviços de apoio e direção da empresa.Renovam-se as tarefas de comando, de acompanhamento e de coordenação do pessoal esomam-se a elas propostas de recomposição do trabalho dos operadores comalargamento de suas responsabilidades na gestão da produção (Trouvé, 2009 ;Mispelblom-Beyer & Bismuth, 2009), requerendo também maior disponibilidade para osoperadores, com vistas à formação e incentivo à participação. Uma das mudançasverificadas é a supressão de alguns níveis hierárquicos de chefia, com criação implícitaou explícita de novos cargos de supervisão em níveis hierárquicos superiores.Bouffartigue e Bouteiller (2004) argumentam que, com a transição das atividades decomando anteriormente mais ligadas à sanção dos desvios às prescrições para aproposição de uma ênfase na coordenação das equipes de trabalho, cada vez mais serequer desses profissionais capacidades relacionais e qualidades de facilitação dasrelações humanas.

2 Essas mudanças têm sido objeto de pesquisas empíricas também no Brasil. Em

levantamento bibliográfico realizado nas bases de dados que compõem o PortalPeriódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),do Ministério da Educação e Cultura (MEC) do Brasil, identificaram-se, entre 2007 e2017[2], 39 artigos sobre o trabalho de supervisão. Deles, 10 % dedicavam-se ao estudodas relações hierárquicas, autonomia, idade e percepção de poder entre supervisores eempregados ; 13 % à investigação sobre as causas e efeitos de relação de supervisãoabusiva nas atitudes e comportamento organizacional, assim como na exaustãoemocional dos empregados ; e 15 % à pesquisa sobre as implicações do trabalho destesprofissionais no processo saúde-doença dos trabalhadores sob sua supervisão.Entretanto, a maior parte das pesquisas (62 %) orientou-se para o estudo do quedenominaram atitudes, habilidades de comunicação, construção de valores, relações deconfiança, escuta e suporte social. Isto é, para o estudo da dimensão relacional dotrabalho de supervisão, assim como para suas implicações no comportamento edesempenho dos trabalhadores, na satisfação destes com o trabalho, na retenção daforça de trabalho, no comprometimento organizacional, na transferência deaprendizagem dos treinamentos, no fomento da justiça social, assim como naspercepções e comportamento político dos trabalhadores.

3 No que se refere à produção das ciências da gestão, pode-se dizer que os princípios da

“Teoria Geral da Administração” tal como desenvolvidos por Fayol (1968/1916)continuam a influenciar os principais estudos sobre o trabalho gerencial, fazendo comque sejam preponderantes na literatura orientações normativas e indicações sobre oque se espera do gerente em termos de comportamentos e atitudes, em detrimento dasque se propõem à descrição e à compreensão de suas atividades. As pesquisas,desenvolvidas principalmente com base na literatura anglo-saxã, privilegiam aabordagem deste trabalho tanto sob a perspectiva de seu processo quanto a dedefinição das responsabilidades e papéis dos gerentes, destacando-se a de transmitir efomentar junto ao nível operacional o alcance dos objetivos organizacionais.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

146

Page 148: Laboreal, Volume 15 Nº2

4 Identificam-se também esforços no sentido de discutir o trabalho gerencial para além

dessa perspectiva normativa. Ao contrário de ser previsível e planejado, o trabalhogerencial comporia como um conjunto complexo de atividades que requerem mais doque habilidades e conhecimentos uniformes. Especificamente em relação ao trabalho desupervisão, alguns autores (Faverge, 1966 ; Dejours & Jayet, 1994 ; Faïta & Duc, 1996 ;Rogard & Béguin, 1997 ; Carballeda & Garrigou, 2001 ; Mascia, 2007) apontam para umdenominador comum : o direcionamento real e não somente prescrito do trabalho dosque estão sob sua responsabilidade. Essas pesquisas indicam que, assim como outros, oconteúdo do trabalho de supervisão não pode ser totalmente definido a priori, masconstruído com a situação. Tanto quanto ou mais do que outros trabalhadores, ossupervisores lidam com a variabilidade da produção na interação das dimensõestécnica, humana e social, assim como as diferentes racionalidades provenientes dediferentes serviços que compõem o sistema organizacional, fazendo a interface entre oambiente – muitas vezes constrangedor e flutuante – e a organização do trabalho.Segundo Mascia (2007), sua tarefa se desenvolve em um processo de integração edissociação de elementos múltiplos e heterogêneos, que envolve tornar compatíveis ascondições internas do nível operacional e as exigências dos outros subsistemas. Mas, adespeito de tais estudos, mesmo no campo da Ergonomia da Atividade, poucos ainda sãoos estudos que abordam a distinção entre as tarefas e as atividades realizadas por estesprofissionais (Falcoz & Livian, 2006). Tal escassez, em comparação aos estudosergonômicos relativos à atividade de operários nas indústrias, faz com que oconhecimento sobre esse trabalho esteja muito aquém da sua importância naimplantação e efetividade das formas de organização do trabalho atuais em termos deprodutividade & qualidade, saúde & segurança.

5 De outro modo, a análise pode se beneficiar ao incorporar o debate sobre a emergência

de uma ideologia gerencialista nas sociedades contemporâneas (Gaulejac, 2007) que emmuito dizem respeito ao trabalho gerencial. Nesse debate analisa-se o quão fortementepode ser vivida a contradição capital / trabalho pelos profissionais que ocupam funçõesgerenciais. Isto por localizarem-se no centro da tensão entre as exigências de adaptaçãoàs expectativas do mercado e a necessidade de melhoria das condições de trabalho e devida dos trabalhadores e de si próprios. Ao mesmo tempo em que têm seu trabalhoenquadrado pela exigência de identificação com os interesses da empresa, encontram-se em uma condição social submetida a uma lógica de concorrência e pressão queexpõem eles próprios ao risco de dispensa. E isso não pode ser desconsiderado na buscade compreensão das gestões cotidianas em suas atividades de trabalho. Dejours (1999)adverte que as novas formas de dominação e manipulação gerencial – especialmente aameaça de precarização do emprego – gerariam um medo constante nos gerentes,fazendo com que tendessem a adotar comportamentos de obediência e submissão eadesão ao discurso oficial do gerenciamento, mesmo tendo consciência de suascontradições e incoerências diante das situações reais de trabalho. Chama-se, portanto,a atenção para um ponto de vista presente nessa discussão : não o do gerente enquantoapenas vítima deste sistema, mas como o de quem consente e participa de suamanutenção.

6 Cada vez mais as organizações solicitam aos trabalhadores (incluindo os gerentes) a

agir, decidir, participar e tomar iniciativas. E o fazem tomando, prioritariamente, osvalores de mercado como referência na produção de normas antecedentes, conferindoa elas um significativo uso como instrumentos de exploração econômica e dominação

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

147

Page 149: Laboreal, Volume 15 Nº2

social, jurídico-política (Schwartz, 2005), Mas, justamente porque nenhuma norma épuramente técnica e – por isso mesmo – neutra (Schwartz, 2011), pode-se supor a nãosubmissão total das pessoas aos imperativos de normas antecedentes fundadasexclusivamente em valores mercadológicos.

7 Schwartz (2007) afirma que além de “impossível”, como demonstrada pelos

ergonomistas, a total antecipação da atividade humana é também “invivível”,insuportável de viver. Ele baseia essa proposição no pensamento do filósofo (e médico)francês Canguilhem (2001/1947 ; 2010/1966), para quem a saúde é proveniente de umdebate (uma luta ou embate) sempre renovado entre normas anônimas provindas domeio e normas que cada ser produz no confronto com o meio natural e social. Por esteponto de vista, ser sujeito de suas normas é condição fundamental para a vida dohomem. Segundo Schwartz (2005), devido às infidelidades do meio e à singularidade daspessoas e das situações de trabalho, a atividade representa uma dinâmica decontradições potenciais, colocando-se sempre como um lugar de debates entre normasantecedentes e tendências a renormatizações. Estas renormatizações, resultado dasmicroescolhas realizadas no curso das atividades de trabalho, podem até mesmo estarproduzindo novas técnicas e saberes que, quiçá, serão incorporados/patrimonializadosàs normas antecedentes. Elas representam a potência humana de exercer o vai-e-vementre a ordem do estabelecido, a norma, e a tendência ao agir em aderência no aqui eagora, tornando-se necessário gerir o que não foi previamente normalizado (Schwartz& Durrive, 2009). E como este gerir se faz por intermédio de cada pessoa, de cadaprotagonista do trabalho, de vidas singulares, cada ser humano introduziriapermanentemente algo de si na situação.

8 Assim, em se tratando de profissionais que normalmente provêm e se mantêm

vinculados ao lugar (operação) onde se defrontam diferentes racionalidades nemsempre convergentes, e em um lugar onde se vivenciam diretamente as contradiçõeseconômicas e sociais do processo produtivo, colocam-se algumas questões : o trabalhode supervisão se resumiria a uma transmissão e controle da execução das prescriçõesdo gerenciamento ou a uma tradução prática das políticas da empresa ? Suascompetências se restringiriam ao convencimento e à argumentação com fins deaplicação das orientações e referenciais por ela adotados ? No curso da ação, quenormas entram em embate, que valores são convocados e que reservas de alternativas(Schwartz & Durrive, 2010) emergem em suas atividades de trabalho ?

9 Reiterando a pertinência de se mobilizar o conceito de atividade (Athayde & Rezende,

2015 ; Schwartz, 2007) procedeu-se em uma pesquisa-intervenção (Christo, 2013) àanálise do trabalho de supervisores de equipes de produção, cujo objetivo foicompreender como eles fazem a gestão da interface entre as diretrizes e objetivosestratégicos da empresa e as múltiplas exigências que se apresentam nas situaçõesconcretas de trabalho, buscando destacar as implicações subjetivas e intersubjetivas darealização desse trabalho.

2. Método de pesquisa

10 A pesquisa foi realizada em uma unidade industrial de uma empresa multinacional de

fabricação e comercialização de produtos pneumáticos instalada no Brasil[3]. A escolhada unidade industrial como campo empírico de investigação se deu por estar em curso aimplantação de um projeto de mudança da organização do trabalho, envolvendo

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

148

Page 150: Laboreal, Volume 15 Nº2

redução dos níveis hierárquicos, adoção de estrutura matricial de responsabilidades,com projeto de responsabilização (PR) dos operadores de produção por tarefas queantes eram das chefias. Esse projeto se sustentava com base em um novo sistema detecnologia de informações gerenciais. As mudanças propostas pressionavam em direçãoa uma reconfiguração das tarefas dos Supervisores de Equipes (SE, cargo novo naempresa, criado com a eliminação do de chefe de setor e a responsabilização dosoperadores por tarefas que antes eram dos chefes). Nessa fábrica, as equipes deprodução eram organizadas em turnos de oito horas, o que permitia seu funcionamento24 horas por dia. Cada unidade de produção pela qual os SE se tornaram responsáveisera composta por em média três setores, contando cada um com quatro equipes deprodução que trabalhavam em três turnos, tendo sempre uma equipe em folga.

11 A identificação da possibilidade de análise das questões levantadas na pesquisa se deu

pela aproximação da primeira autora ao campo, onde atuava como consultora, levandoa um pedido à direção da empresa de autorização para uma análise do trabalho dos SEnesse contexto de mudanças organizacionais e tecnológicas. A autorização foi dada emfunção do entendimento do RH e da direção da fábrica de que as ações da pesquisapoderiam contribuir também para os objetivos do projeto AR no que se referia àformação dos SE, via participação deles no processo de análise de seu trabalho. Aolongo da pesquisa os objetivos, focos, métodos e meios da análise do trabalho foramdiscutidos individual e coletivamente com os membros da direção e os SE,estabelecendo-se o acordo de que, a despeito das ações serem realizadas na fábrica e nohorário de expediente, a participação seria voluntária. Uma estratégia adotada foi a denão reporte à direção da empresa de informações sobre presença e participação dos SEnas atividades de pesquisa.

12 A estratégia metodológica da pesquisa orientou-se para a construção de um dispositivo

que em Ergologia denomina-se “Encontros sobre o Trabalho” – EsT (Durrive, 2010 ;Athayde, Muniz, França & Figueiredo, 2010 ; Athayde, Zambroni-de-Souza & Brito,2014). Tal dispositivo viabiliza o funcionamento de um espaço de diálogo-debate sobre otrabalho dos SE, em um exercício de confrontação de dois registros : o das normasantecedentes (incluindo as tarefas prescritas) e o das atividades de trabalho. Tendocomo base o princípio da autoconfrontação (Pinsky & Theureau, 1982 ; Clot & Leplat,2005 ; Faïta & Maggi, 2007), privilegiou-se um enquadramento clínico (Bendassolli &Soboll, 2014 ; Lhuilier, 2006) da pesquisa. O objetivo era favorecer – por meio da trocaverbal dos supervisores sobre o objeto de seu próprio trabalho com os colegas e com ospesquisadores – a deflagração de um novo contexto : um (re)encontro entre os SE e suasatividades de trabalho, ao engendrar uma atividade de pensamento e linguagem sobreelas, tendo quiçá o potencial (individual e coletivo) de produzir novos possíveis parasuas atividades de trabalho (Faïta & Maggi, 2007).

13 Os EsT foram precedidos por uma etapa de análise global do trabalho (Guérin et al,

2001), em que a demanda dos pesquisadores pôde ser discutida com a direção e SE, nosentido de sua análise e reformulação. Essa etapa foi iniciada por entrevistas realizadasindividualmente com o diretor da fábrica, quatro gerentes, dois membros dos serviçosde apoio e três SE direcionadas à análise global e do trabalho dos SE. Nelas se buscouconhecer o funcionamento geral da empresa e as normas antecedentes do trabalhorealizado pelos SE, assim como debater sobre os objetivos caminhos da intervenção. Aforma como encaminhamos a entrevista, ou como a ela chegamos, tem a ver com o queapontaram Rocha, Daher e Sant’Anna (2004). No lugar de toma-la como ferramenta para

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

149

Page 151: Laboreal, Volume 15 Nº2

a imediata captação e apropriação da informação desejada e de incorporar oentrevistado como mero informante que teria uma informação com valor de verdade,entendemos ser necessário, no diálogo com os trabalhadores – gerando estranhamentose controvérsias – explorar as consequências da natureza polifônica da linguagem, assimcomo colaborar para que eles assumam o lugar de sujeito de análise, tomando para si atarefa de interpretar o trabalho em análise, desenvolvendo-se.

14 Concomitantemente, procedeu-se ao levantamento de documentos sobre o processo de

produção ; os métodos de gerenciamento ; a história ; o mercado em que a empresaestava inserida ; os regulamentos e as políticas organizacionais. Foram realizadasobservações livres do trabalho em três setores de produção aproveitando paraeventuais conversas com os SE sobre seu trabalho e sobre a demanda.

15 Os materiais produzidos foram registrados em diários de campo, transformados em

relatórios descritivos. Foi feita uma análise e discussão desses materiais pelo coletivo depesquisadores que estiveram à frente da investigação[4]. Elas foram orientadas para aidentificação de elementos que pudessem indicar possíveis conflitos entre as normasantecedentes e entre elas e as situações reais de trabalho até então descritas ouobservadas, que pudessem servir como elementos disparadores da discussão nos EsT.Esses elementos foram organizados por temas e apresentados aos SE, propondo umadiscussão sobre estes e outros possíveis temas a serem abordados nos EsT. Foramdefinidos como temas para os EsT : delegação de tarefas ; autonomia eresponsabilização dos operadores ; hierarquia e construção da cooperação ;comunicação e construção de sentido ; e prescrição do gerenciamento. Cadaparticipante tinha a tarefa se preparar para o encontro, registrando dados de situaçõesconcretas a serem objeto de discussão no encontro.

16 A formação se deu por meio da realização de EsT, que foram desenvolvidos da seguinte

forma : apresentação de materiais conceituais do campo da Ergonomia da Atividade eda démarche ergológica (20 minutos em média) pertinentes aos temas selecionadospelos pesquisadores[5] e os SE no primeiro Encontro, seguidas de diálogos-debatesmobilizados pela confrontação com trechos de diálogos sobre o trabalho estabelecidosna fase preliminar da pesquisa e nos Encontros anteriores (1h10 em média). Essestextos (produzidos em outros contextos) alimentavam os diálogos sobre o trabalho,reconstruindo-se em cada Encontro e em cada reunião da equipe de pesquisadoresprofissionais destinados à sua preparação[6].

17 A partir da análise da distância entre os registros das atividades e o das prescrições e

normas antecendentes, buscou-se realizar com os SE um debate crítico, tanto acercadas condições em que seu trabalho se realizava, quanto das mobilizações subjetivas queele implicava. Um trabalho de co-elaboração crítica que envolve riscos.

18 Segundo Schwartz (2010), o primeiro risco é o de se dispor a colocar em análise suas

escolhas (nem sempre conscientes) nos debates de normas das atividades, assim comoos critérios (que envolvem diferentes valores) utilizados nessa escolha. Expressar asescolhas e possíveis renormatizações (ou seja, o potencial do ser vivo para gerar novasnormas, mais pertinentes a si) envolve também risco político numa situaçãoprofissional regulada-regulamentada por relações hierárquicas e subordinação jurídica.Primeiro buscou-se alertar os participantes sobre tais riscos em uma reunião deapresentação/discussão sobre procedimentos da pesquisa e, em seguida, construir umcontrato psicossocial (Rousseau & Parks, 1993) de respeito à decisão de cada um quantoa participar ou não de qualquer etapa. Acordou-se que, apesar da direção da fábrica

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

150

Page 152: Laboreal, Volume 15 Nº2

sugerir que todos participassem da pesquisa (que entendia contribuir para a formaçãodos supervisores), não haveria qualquer reporte à mesma sobre a participação ou nãodos supervisores em qualquer de suas etapas.

19 Realizaram-se cinco EsT com a participação de onze SE[7]ao total, gravados em áudio,

todos ocorrendo no espaço da própria fábrica, no início da tarde. Dentre osparticipantes, três eram funcionários há menos de sete anos e oito há mais de vinteanos, sete tinham formação no nível superior (cinco em ciências exatas) e quatro nonível médio. Dentre eles, havia apenas uma mulher. Para identificá-los fez-se uso denomes fictícios. A análise dos dados empíricos e dos materiais discursivos foi realizada apartir dos conteúdos, sendo objeto de discussões em reuniões no coletivo depesquisadores profissionais. Realizou-se um Encontro de restituição aos SE dosmateriais de análise produzidos, com espaço para discussão crítica e validação dorelatório que foi apresentado à direção e gerência da fábrica.

20 A seguir, são apresentados os resultados da pesquisa, cuja discussão em parte é

sustentada em extratos de diálogos entre os supervisores que tiveram o papel decoinvestigação e profissionais de pesquisa presentes nos EsT.

3. Resultados e discussão

21 Uma importante diferença observada entre os SE e os antigos chefes de setor foi a de

que, do ponto de vista do contrato jurídico de trabalho, deixaram de ser horistas(trabalho em turnos rotativos) e passaram a ser mensalistas (trabalho das 8 às 17h, desegunda à sexta), o que lhes impedia estar fisicamente presentes junto a todas asequipes de operadores de produção. Com o arranjo organizacional recém-introduzido,eles foram convocados a colocar em ação uma proposta de gerenciamento que sepretendia orientada ao desenvolvimento da autonomia e à delegação deresponsabilidades (PR). A eles passaram a ser designadas novas responsabilidades, sejaa missão de formação e desenvolvimento de competências dos operadores, seja amobilização da disposição desses para assumirem tarefas que antes eram dos chefes desetor e líderes de equipes (cargos que tinham sido extintos). Dentre elas estão : controlede presença e distribuição de uniforme, controle de qualidade e quantidade de produtose disponibilidade de materiais, assim como definição de férias. Isso para que os SEpudessem se concentrar em atividades que a direção classificava “de médio prazo”,como preparação de investimentos, proposição de melhorias no processo produtivo ena organização do trabalho, aperfeiçoamento dos procedimentos, acompanhamento edesenvolvimento das competências dos operadores, assistência, orientação e motivaçãodas equipes de trabalho, assim como manutenção da comunicação entre a operação e adireção. De outro lado, esperava-se que eles se envolvessem mais fortemente nogerenciamento da produção, fazendo uso do sistema informatizado de informaçõesindustriais.

3.1. Um trabalho de regulação

22 Passando a estar posicionados hierarquicamente mais próximos da direção geral, e

confirmando a tendência apontada na literatura, as novas tarefas dos SE passaram a sermais destinadas à coordenação e formação das equipes de operadores. Assim, àsvariabilidades relacionadas à produção – como as variações na matéria prima, desgastes

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

151

Page 153: Laboreal, Volume 15 Nº2

de máquinas e mudanças de prioridades no planejamento da produção – somaram-se asrelacionadas às condições de disponibilidade (envolvendo o estado de saúde),capacitação, orientação e formação da vontade dos operadores para as efetuarem. Issoem um quadro de maior exigência de participação dos mesmos no processo produtivo ena gestão da produção. Passando a ser os responsáveis finais pelo planejamento,organização e gerenciamento das operações dos setores de produção (que deveria sedar especialmente pelo resultado de uma eficiente “gestão de pessoas”), os SE faziamtentativas, mesmo que quase sempre insuficientes, de acomodar as múltiplas exigênciasque se apresentam nas situações concretas de trabalho.

1.023 : Flávio - Você tem que ver que você não lida só com máquinas, tem que lidarcom pessoas (…). Esse é o problema : a máquina já tá preconizada. Eu tenhodisponibilidade. Esta máquina, neste mês ela vai ficar um tempo parada. Pode seragora, pode ser depois. Agora, a pessoa é uma incógnita, a qualquer momento...Com o jurídico, eu tive um comunicado que um rapaz foi lá pegar um material nochão e deu um mau jeito na coluna. Aí, estava previsto isso aí ? Não estavaprevisto. O cara deu um mau jeito na coluna.

(…)

1.034 : Diego - (…) Como a gente trata numa situação dessas ? Na verdade, sãocoisas que nós temos que contar. E aí a gente vai ter que exigir em algum momentoum esforço a mais de outras pessoas do grupo para poder suprir isso. (…) Então,menos cinco pessoas e a fábrica tem que estar limpa do mesmo jeito porque temque atender. Então as pessoas tiveram que ser sobrecarregadas. Só que vocêsobrecarrega num momento, mas noutro momento você também vai serpenalizado porque você vai estar sem as pessoas da equipe porque elas têm quedescansar. (…) E aí são essas variáveis que a gente tem que ter jogo de cintura ehabilidade para poder contornar.

23 Diante de acontecimentos fortuitos, precisavam cotidianamente realizar improvisações

e recomposições das tarefas nas equipes para que o trabalho fosse efetivamenterealizado. Aponta-se, assim, para um importante componente do trabalho dos SE : aparte ativa que necessariamente tinham que assumir nas regulações (Faverge, 1966) doseventos que desestabilizavam a organização prescrita do trabalho de produção. Essasregulações ocorriam em meio a múltiplas fontes de prescrição e exigências, seja dadireção em termos de limpeza da fábrica e entrega da produção ; seja dos operadoresque, após uma sobre demanda, apresentavam expectativa de compensação pelo sobre-esforço. Como em muitas ocasiões, essas múltiplas exigências revelaram-secontraditórias entre si, exigindo um trabalho de auto-organização (Rogard & Béguin,1997). Realizadas no curso de múltiplas variações da demanda e das condições deatividade, as regulações realizadas pelos SE remetiam a um complexo jogo de relações(psico)sociais que se desdobravam em uma renegociação da organização do trabalho,envolvendo as equipes de operadores sob sua responsabilidade, mas também a direção,a gerência, a administração e os serviços de apoio.

2.111 : Renato – (…) A gente tem muita variabilidade e acaba não respeitando o queé prescrito. Será que não está, por deixar de respeitar o que é prescrito, algumasvezes, acaba se tornando variabilidade. Eu acho que a gente não conseguiu

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

152

Page 154: Laboreal, Volume 15 Nº2

encontrar essa harmonia entre… (…) “Ah, vem cá… Tem uma reunião que vai teragora, daqui a quinze minutos e você tem que participar”. Ontem eu fui chamado,todos nós fomos chamados a participar de um módulo da formação de qualidadeque não estava na nossa agenda. “Ó, o SE tem que estar aqui para o pessoalapresentar...”.

2.112 : Flávio – Porém pra gente não teve essa antecipação não aconteceu.

2.113 : Benício – Na verdade, acaba que a gente se adapta tanto, que as pessoasacham já normal que a gente absorva aquela carga. Por quê ? Porque no final agente consegue fazer. Você se adapta tanto, você se desdobra tanto, que no final aspessoas não tratam com a prévia que deveriam, não se antecipam da maneira quedeveriam para a gente se organizar porque a gente acaba fazendo.

24 Benício, ao comentar o atropelamento da agenda dos SE pela direção e serviços de apoio

mencionado por Renato, expressa os custos, a carga adicional de trabalho que elesacabavam assumindo em nome de “se adaptar”, de fazer regulações imprescindíveis aobom andamento do trabalho. Como já assinalava Faverge (1966), as consequências dasregulações apresentam-se de modo difuso, mas são acompanhadas de dificuldades econstrangimentos, comportando custos subjetivos. Custos esses que tendem a serinvisibilizados, frente à aceitação de que, impedindo a oficina de se desviar, seriamnaturalmente necessárias, e mais : sinônimo de competência. No caso dos SE, essescustos incluíam se mobilizar para ter eficácia em seu trabalho, a despeito de prescriçõespouco realistas.

3.2. Entre as prescrições e a eficácia do seu trabalho

25 Curiosamente, havia na empresa uma significativa malha de procedimentos, regras e

normas de orientação para o trabalho dos SE. Segundo alguns gerentes da fábricaentrevistados, em função de queixas de falta de tempo por parte dos SE, a direçãorealizara uma “análise de carga” do trabalho deles. Foi então identificado que, paraatender a todas as demandas do “posto”, os SE deveriam trabalhar 13 horas por dia, istoé, 5 horas a mais do que o previsto no contrato de trabalho. Assim, a partir doreconhecimento da dificuldade de conciliação de demandas relativas ao trabalho dosSE, foi construída uma agenda que se propunha servir de referência para a “gestão dotempo” de trabalho que os SE deveriam realizar. Essa foi definida por hora, dia esemana, incluindo tempos de preparação e levantamento de informações para cadauma das rotinas, tempo para leitura de e-mail, hora de almoço, preparação e reuniões.Interessante notar que por essa agenda, por mês, os SE contavam com 17,5 horasdesignadas como “livres”, as quais eram indicadas como disponíveis para o“gerenciamento dos imprevistos”.

26 Os SE eram convocados em suas atividades a deliberar entre correr o risco de eficácia

no trabalho ou contrariar as prescrições oficiais de organização do tempo. Dentre elas,permitir ser acionado em casa para resolver alguns problemas de trabalho, ou mesmosentir necessidade de ligar para a empresa para “ver como andam as coisas”.

4.370 : Júlio – Eu sou um cara que liga no final de semana, sempre. Ligo duas vezes.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

153

Page 155: Laboreal, Volume 15 Nº2

4.371 : Pesquisador 1 – Você liga pra cá…

4.372 : Júlio - Ligo. Pra ver como está. Não é questão de… ver como é que eles estãotrabalhando, né. Por que… (…). Sempre fiz isso no primeiro setor, funcionou bem.Não é cobrando. (…) Eu não espero eles me ligarem. Eles só me ligam quando temum problema grave. Sim. Aí eu preciso saber por que vai chegar segunda-feira, agente está calçado. (…) Por que o nosso gerente cobra quando a gente chega nasegunda-feira.

27 Muitas vezes os SE optavam por trabalhar fora do expediente, apesar do risco que

reconheciam correr de passar a impressão estar sendo desorganizados, assim como decontrariar a orientação oficial da empresa relativa à chamada qualidade de vida notrabalho. Outras vezes retrabalhavam a prescrição da rotina, de forma a dar tratamentoao que consideravam prioritário, escolhas essas que sempre comportavam riscos.

3.284 : “Hoje eu desabafei com esse cara [apontando para outro SE] : hoje eu voubicar 30 minutos da rotina do gerenciamento. Porque eu tinha que conversar comum operador… Mas eu fui preocupado”.

3.285 : Otávio : Não pode.

3.286 : Rodrigo : Não pode. Eu quebrei todas as regras. (…)

3.287 : Rodrigo : Mas se deixar pra depois, você perde a mão. Tem assunto que vocêtem que esperar esfriar para tratar. Tem assunto que não pode deixar esfriar, temque tratar quando ele tá quentinho. (…) Eu vim aqui de madrugada. (…)

3.288 : Otávio : É isso aí.

3.289 : Rodrigo : Encostei o carro aí de madrugada. O cara tomou até um sustoquando me viu. “Preciso conversar”, “vamos lá conversar…” Quando deu mais oumenos umas 7 horas, tinha terminado a conversa. E ele entendeu.

3.290 : Otávio : Isso é sair do quadrado.

3.291 : Rodrigo : Mas não pode, tá ? Tem qualidade de vida, tem que ter umintervalo entre as jornadas… Mas é o que eu estou te falando, é o que não estáescrito, é o que o método não te diz. Mas se você não fizer você perde uma situaçãomais tarde.

28 Salientamos o caráter construído das situações de trabalho que exigem essas regulações

por parte dos SE, assim como as implicações desses modos de organização dasatividades em sua vida e saúde, especialmente no que se refere à dimensão temporal(Teiger, 1987). O discurso que prevalece nesse diálogo retrata a tendência de entenderessas regulações como algo natural, necessário e inevitável na realização de seutrabalho, “não fosse, na realidade, a expressão da eficácia relativa de um regimeinventado para canalizar e amortecer os antagonismos sociais” (Canguilhem,1966/2010, p. 222). Naturalizar as exigências de regulação no trabalho dos SE implicariaem tomar esses ajustamentos das partes como regras ou normas imanentes, tal como as

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

154

Page 156: Laboreal, Volume 15 Nº2

normas de funcionamento de um organismo, e não como o resultado de antagonismos,soluções paralelas e interesses distintos, característico das normas sociais.

29 Era nessa mesma lógica de não reconhecimento e debate das contradições,

antagonismos e diferenças de interesses que se dava o objetivo fixado aos SE no projetoAR de delegar tarefas e de coordenação do trabalho aos operadores,

3.3. Supervisionar, coordenar, delegar, formar : estratégias, riscos ecustos

30 Evidenciou-se no trabalho dos SE a exigência de delegação de algumas tarefas aos

operadores. Todavia, essa exigência se apresentava enquanto imposição, tanto aosoperadores, que, segundo alguns SE, se queixavam de não serem recompensados pelaincorporação de novas responsabilidades, quanto aos SE, na medida em que não eradeles a autoridade para definir o que seria possível delegar, para quem e quando.

4.331 : Júlio – Então quando você delegar alguma coisa assim, sendo imposta. “Ó,você vai ter que delegar presenteísmo[8].” Ou : “Você vai delegar férias”. Eu nãoacho legal. Acho legal : “Não. Já que o PR tem que delegar, escolha alguma coisa pravocês delegarem”. Sem impor : “Ó, tem que ser isso aqui”. Aí fica mais fácil vocêtrabalhar. Esse problema de presenteísmo é um problema. Eu acho um problema.Porque você deixa a equipe solta. O cara fala que… “Não veio por quê ?”. “Não, eujá falei com o responsável na equipe que eu ia faltar...” E fica um buraco naequipe... E você fica um pouco sem... com as mãos atadas. E a empresa pede pravocê fazer isso : “tem que delegar”. Mas depois como é que você vai pegar asrédeas depois ? É complicado.

31 Essa definição, segundo eles, deveria considerar alguns fatores situacionais : a

composição da equipe (4.345), as competências disponíveis (4.329), as consequências depossíveis erros (4.349), assim como suas possibilidades de acompanhamento (4.337) eremediação de um possível erro (4.349). Sinalizavam que, apesar da política ser dedelegação, eles é que deveriam responder à hierarquia no final pelo resultado dotrabalho.

4.431 : Júlio - Não sei. Eu vejo assim : a responsabilidade vai continuar sendo nossa.Então, como é que tem que fazer ? Tem que trabalhar na delegação, treinar mais aspessoas... Porque ninguém vai cobrar o representante direto, vai cobrar a gente…

4.432 : Antunes – Você delega, mas o responsável é você.

4.433 : Renato – Delegar responsabilidades, mas é nossa a responsabilidade. Porquea gente é responsável, continua sendo responsável, vai ter uma pessoa que vaiexecutar…

4.335 : Júlio – Você perde o domínio, é.

4.336 : Antunes – É. Um atraso que foi acordado com o cara que está fazendo opresenteísmo…

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

155

Page 157: Laboreal, Volume 15 Nº2

4.337 : Júlio – Aí você tem muito mais trabalho porque você tem que ficar atrás dodo do delegado, né, que fez isso. “E aí, o que aconteceu no dia tal ?” Pô, mas oobjetivo não é isso.

32 Reconheciam que a posição hierárquica dos operadores que recebiam essas delegações

(ora denominados “delegados”) não lhes daria condição de realizar o trabalho deintegração entre as múltiplas exigências que, não obstante, se apresentava comocondição para a coordenação do trabalho. Sim, pois não estariam autorizados anegociar com as diversas fontes de proveniência dessas exigências, as quais incluíaminstâncias gerenciais e os serviços de apoio.

4.319 : Renato – Isso volta normalmente quando a gente... quando a pessoa tem.Normalmente quando é uma coisa que a própria pessoa… só depende daquelapessoa, ele faz. Agora se ele precisa da ajuda de…

4.320 : Otávio – De terceiros.

4.321 : Renato – De terceiros… de manutenção. (…) Ele precisa de uma ajuda deoutro setor, ele vai esbarrar numa dificuldade. E é quando ele para porque senãoele vai passar o dia tentando fazer aquilo e ele não vai fazer a produção que ele temque fazer. (…)

4.356 : Pesquisador 1 – Agora, foi colocado aqui, o Renato falou de que também temo o... Quando depende dele, pode ser que ele faça, quando depende exclusivamentedele. Mas quando ele precisa de outra pessoa... É como se essa delegação não fossereconhecida por outros além do próprio chefe, além de vocês ? (…) Seria isso umdos limites ?

4.357 : Renato – Eu acho que sim. É… Às vezes… é é… pelo menos é o que eu perceboé… a pessoa tem a tendência de estar diminuindo aquela necessidade porque ooperador foi lá pedir..

4.358 : Pesquisador 1 – Foi o operador, não foi o chefe.

4.359 : Renato – É. E aí… “Será que ele priorizou direito ?”. Será que quando ooperador vai lá pedir… “Será que... é realmente a máquina prioritária ?”. Apesar deexistirem regras de decisão para isso… Eu vejo... é eu sentindo dificuldade comrelação a essa ajuda.

33 Esse mesmo tema, quando trazido em um diálogo sobre a formação dos “operadores

delegados”, remete a uma discussão sobre a dobra da carga de trabalho decorrente deter que formar o operador para que seja possível delegar as tarefas e, ao mesmo tempo,responsabilizar-se pelo resultado.

4.505 : Júlio – Mas tem que ter um acompanhamento inicial. Você vai perder tempocom isso, …

4.506 : Renato – E ter, e ter um coeficiente de cagaço, né ?

4.507 : [risos]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

156

Page 158: Laboreal, Volume 15 Nº2

4.508 : Renato – Um coeficiente, “pera aí, vai errar, mas vai dar tempo de eucorrigir...”. Se eu tiver que acertar alguma coisa... é a análise que tem que fazer, pô.Sem deixar essa margem.

34 Parece que a gestão dessas situações era feita com uso de estratégias mais locais, sem

suporte nas orientações do sistema de gerenciamento da empresa. Renato sugere queessas estratégias implicavam muitas vezes em uma mobilização de si, que emconsonância com o conceito ergológico de corpo-si (Schwartz, 2010) implicava em umaoperação fisiológica (“um coeficiente de cagaço”) para lidar com o medo produzido pelorisco que corria ao delegar tarefas, pelas quais teria que responder ao final, mesmosabendo da fragilidade das condições para o operador assumir tal responsabilidade.Indicava fazerem uso de uma margem de segurança para verificar e corrigir possíveisproblemas em relação ao resultado final da tarefa delegada, assumindo, também nessecaso, os riscos de forma individualizada e secreta.

35 Ressalta-se o chamado de adesão dos SE às deliberações oficiais, que muitas vezes

subestimavam os problemas relacionados, não apenas à dimensão de eficácia dotrabalho, mas principalmente à dimensão ética, dos valores em jogo nas relaçõespsicossociais. No caso das delegações, é importante ressaltar que os operadores nãotinham qualquer ganho financeiro para assumir essas novas responsabilidades, apenasa sinalização de que serviriam como aprendizado, experiência a ser considerada emcaso de possibilidade de progressão na carreira. Ocorria que muitos deles não estavamconvencidos de que valia a pena, restando aos SE a tarefa de convencê-los a assumiressas responsabilidades, na medida em que a imposição já não cabia mais no discursooficial do gerenciamento dito participativo.

36 Cada vez mais o trabalho dos SE se apresentava como se dando entre a consideração da

realidade das situações concretas de trabalho e o tratamento das dificuldades que lá seapresentavam junto à direção e pares. Entre a diversidade de elementos provenientesdas situações concretas a se considerar e a coerência dela com as determinações dahierarquia superior – normalmente em forma de objetivos fixados de forma distanciadada realidade concreta da produção – há um esforço efetuado pelos SE de construção desentido e coerência na confrontação constante de suas interpretações das situaçõescom as de tantas outras envolvidas no trabalho. Sobre a questão, os ergonomistasCarballeda e Garrigou (2001) trazem como hipótese as implicações disso na saúde dosprofissionais de supervisão.

3.4. Gerenciar “com as mãos atadas”

37 Coordenar o trabalho coletivo implica na exigência de estabelecimento de alianças e

negociação de compromissos com os diversos atores organizacionais. Mas, comogerenciar (palavra cuja origem etimológica envolve manejar) de mãos atadas ? Em umdiálogo sobre o questionamento feito pela gerência quando um SE liberou osoperadores para descansar em determinados dias para compensar por um esforçoextra, um SE afirma :

2.119 : Júlio - Autonomia é você meter o código e não ser questionado

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

157

Page 159: Laboreal, Volume 15 Nº2

2.120 : Jorge - Mas isso é o que nós não temos, já que vem a pergunta : “Por quevocê aplicou este código assim ?”.

2.121 : Amauri – Agora… Acho que isso reflete no seu trabalho. Eu acho que a gentetem que ser cobrado pelo teu resultado. Como você faz o resultado – é claro,sempre respeitando as normas, as regras – eu acho que você tinha que ter essaautonomia para fazer da forma como… Se a empresa te contratou, eu acho que elatem que te deixar realizar o trabalho. Né ? Porque essa questão de deixar o caraabonar a ausência do cara é o teu tempero, é a forma como você vai fazer a gestãoda tua equipe. Se isso é tirado da gente…

2.122 : Benício – Você fica com as mãos...

(…)

2.127 : Flávio – Eu digo pra você o seguinte… São pequenas coisas… Tinha umainsatisfação muito grande num departamento por que… tinha um departamento -Não aqui nessa fábrica, mas numa outra – em que todos os outros departamentos, ocara poderia, se tivesse tranquilo na máquina, cinco minutos antes ele subia,tomava o banho dele e aí passava o cartão. Coisa pouca ! Você tá entendendo ?Você vai trocar uma roupa : “pô, eu vou numa reunião que vai ser às 16 horas”. Tupara cinco minutos antes, toma o teu banho, vai na reunião. (…) Então, quer dizer,funcionário ficava… os outros, “pô, cara você não pode ? Todo mundo tomoubanho...” O cara, “é, mas eu não posso”. Entendeu ? Uma coisinha boba, que vocêficava amarrado e... Cara aí tu dá essa liberdade... Pô… entendeu ? Já faz adiferença.

2.128 : Amauri – A gente toma certas decisões, que a gente tá ali no dia a dia,convivendo com as pessoas (…). E quem vem de fora e não participa, não tá ali noconvívio, é… questiona e e muitas vezes não entende a a decisão que foi tomada.

2.129 : Pesquisador 2 – Não percebe talvez como é que esses cinco minutos podemfazer diferença. Pra você que está de fora... “Oh… que isso ?”.

2.130 : Amauri - Friamente, quando você olha de fora, você acha : “pô, o cara táliberando o cara cinco minutos antes, virou bagunça isso ?”. Mas quando vocêentra no contexto da coisa, você vê que...

38 Os SE tinham que considerar, nas microescolhas de suas atividades, que eles poderiam

ser cobrados e teriam que justificar suas decisões. “Coisinha boba”, dentre as tantasoutras decididas no decorrer de um período de trabalho, pode ser esquecida,colocando-o em risco caso tivesse que se justificar. Explicações que deveriam ser dadasa um interlocutor distanciado das situações singulares em que essas microdecisõesforam tomadas. Um interlocutor sempre sob pressões diversas quanto a resultados emtermos de valores mercadológicos (competitividade), o que poderia levá-lo a terdificuldade para compreender as justificativas ou as priorizar em sua avaliação dotrabalho.

39 Ao tratar as dificuldades que se apresentavam no decurso do trabalho junto à direção e

aos pares, os SE se deparavam com um lugar onde as dificuldades podiam ser expressasde forma menos explícita e mais difusa por um conjunto de discursos que remontam a

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

158

Page 160: Laboreal, Volume 15 Nº2

uma previsibilidade do processo de trabalho. Discursos estes sustentados por umaideologia que define como bom profissional aquele que não traz os problemas cotidianos(tidos como menores) para serem discutidos, pois que deve saber tratá-los ali ondeocorreram, pois afinal este seria um bom gestor, o que lhe exigiria, nas situaçõesconcretas de seu trabalho, construir parcerias.

3.5. Construção de canais de parceria

40 Schwartz (2004) adverte que não se pode “governar, gerir o trabalho como se

geríssemos um deserto de gestões. Gerir o trabalho dos outros é sempre aprender agerir as gestões” (Schwartz, 2005, p. 12, grifos do autor). Entretanto, pensando naformação social brasileira, com sua tradição escravista, que ao longo do tempo, em cadahistória local e conjuntura específica, foi agregando elementos do coronelismo,militarismo e positivismo, onde os chefes, dirigentes, gerentes, administradores, foramformatados (e cobrados) para saber das coisas e preservar sua posição neste plano,supõe-se que operar um gerenciamento orientado pelo ponto de vista da atividade (quepermite considerar que cada um que trabalha, em alguma medida, faz a gestão) não sejaalgo muito comum. Promover um gerenciamento do trabalho reconhecendo-o nãoapenas como mera aplicação de normas e regras ou execução de tarefas, masconsiderando o que se mobiliza do sujeito para sua realização frente às situações reaisque são dinâmicas, instáveis e imprevisíveis implicaria em abordar cada situação detrabalho em sua concretude, globalidade e complexidade, considerando suas diferentesproblemáticas. Claro, considerando o que foi dito, não se trata de algo fácil,especialmente quando o discurso oficial do gerenciamento opera a partir de outralógica. Paradoxalmente, tampouco ignorar a presença da potência de gerir de quemtrabalha é algo facilmente contornável, haja vista a proximidade desses profissionais desupervisão com o “chão de fábrica” e a sua convivência com a complexidade dassituações que lá se desenrolam.

41 Apesar de raras, algumas passagens nos diálogos que circularam nos EsT sugerem um

potencial de desenvolvimento do modo de gerenciar que leva em consideração asmicrogestões realizadas pelos operadores nas situações concretas de trabalho. O trechode fala abaixo denota a concordância de um SE com os princípios dessa forma degerenciar :

5.597 : Renato – E o trabalho real. Eu acho que tem que saber, a gente precisa sabero trabalho real. Quando a gente faz o manual PR, quando a gente coloca de regrasde vida, quando a gente coloca é é uma porção de formulário para o pessoalpreencher… No papel fica tudo muito bonito, fica tudo legal. Mas… é importante agente ver se é o que está prescrito. É importante a gente estar lá e saber realmenteque trabalho real ele vai ter. Ele vai conseguir fazer aquilo ? É necessário fazeraquilo ? Aquilo ajuda ? Aquilo tá atrapalhando o operador ? E a gente acabacolocando ali o que pra aquele momento o que a gente viu que é bom, mas para ocontexto de fábrica, no momento que ele está, na sua marcha corrente, vaiatrapalhar toda a rotina do operador (…). Tem coisas que está lá prescrito, mas agente sabe que a atividade vai ser uma coisa muito difícil de ser realizada,principalmente porque talvez não seja o melhor momento.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

159

Page 161: Laboreal, Volume 15 Nº2

42 Algumas práticas relatadas pelos SE também apontaram para a impossibilidade de se

adotar um modo de gerenciar baseado apenas na mera aplicação, transmissão etradução das prescrições e políticas da empresa. Revelaram saber que seu trabalhoimplica, muitas vezes, “favorecer uma determinada situação” (2.127), como, porexemplo, liberar os trabalhadores cinco minutos antes do horário oficial. Segundoalguns SE, seria essa uma estratégia possível, considerando a necessidade de estabelecere manter uma parceria com os operadores para a realização do trabalho.

2.133 : Benício - E se você é muito muito caxias, no final o cara inventa n motivospor não ter feito a produção, que depois você mesmo fica com o seu resultadoprejudicado. É… pô… Às vezes ele tira cinco minutos antes do almoço dele, maspara sair cinco minutos antes. Então, é…

2.134 : Flávio - A gente tá falando de mixaria, tá ? Não tá falando em termos de...não vou dar cinco... “meu amigo, vou te dar de presente cinco dias”. (…)

2.135 : Renato – Não é mercenário.

2.136 : Flávio - E sim valorizar o esforço daquela pessoa. E lembrando do seguinte :você não tem como enxertar um dinheiro na sua conta, não tem como tediferenciar, não tem nada disso. Então, um recurso que você tem é, é favoreceruma determinada situação.

43 Realizar “ajustes para dar conta do trabalho” (2.072 a 2.089) envolvia efetuar escolhas

nos debates de normas, nos quais valores, para além dos econômicos, poderiam estarsendo convocados. Parece que era necessária aos SE uma interpretação das situações detrabalho do seu próprio ponto de vista, e não apenas o das orientações gerenciais naconstrução de um modo de tratar as pessoas, de falar e de fazer socialmenteposicionados. Segundo Mispelblom-Beyer (2010), este modo de fazer se expressa tantono dito quanto no não dito, nas palavras e também nos atos, nas práticas de trabalho,muitas vezes em acordo, mas também em contradição com as regulamentações.

2.159 : Flávio – Eu vou falar o “discordando ou não”. Certo ? Teve um comunicadoque chegou tardiamente, que foi o seguinte : “a partir de amanhã, quem tem umplano [de saúde] enfermaria, não pode mudar para o plano quarto”.

2.164 : Flávio – Pô, eu, eu ! Como é que eu vou passar para o cara que a partir deontem… Você tá entendendo ? (…)

2.172 : Pesquisador 1 – Tem que passar uma sinceridade, uma verdade para aspessoas.

2.173 : Flávio – É isso aí… Transparência. Se você não faz isso, não adianta que ocara não vai ser aquele… É o que eu falo, eu não quero ser melhor que ninguém, eunão quero que você chegue lá fora, “pô, eu quero ser seu amigo”, não. Mas aquidentro eu tenho que te respeitar, você me respeitar e ser profissional. (…) Então euprocuro não ter surpresas. (…)

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

160

Page 162: Laboreal, Volume 15 Nº2

2.174 : Renato – É complicado e perigoso ao mesmo tempo. Porque dependendo danossa reação, a gente pode gerar reações também nas pessoas.

44 As oscilações no discurso de Flávio e a fala de Renato indicam que cada situação deste

tipo que se apresentava deflagrava um debate de normas, onde a ordem de prioridadedos valores convocados nas microdecisões de suas atividades era sempre provisória.Nesses debates, tanto o valor respeito aos funcionários, quanto o valor responsabilidadecom a empresa apresentavam um peso significativo, o que faz com que, apesar de sereconhecer a dimensão social nos debates de normas das atividades dos supervisores,dificilmente se pode pensar em uma liberação da exigência de buscar apoio no discursooficial do gerenciamento, na medida em que o sistema de avaliação formal de seutrabalho se sustentava nos pressupostos desse discurso.

3.6. Tornar-se “gestor”, aderir ao discurso oficial

45 Em autoconfrontação a um trecho de conversa da pesquisadora 1 com um SE – a partir

da fala “tudo cai na mão do SE”, referindo-se às exigências de diversas fontes naempresa, incluindo as das prescrições do gerenciamento em relação ao tempo e aosprocedimentos indicados para a formação, delegação, acompanhamento da rotina,dentre outras – os supervisores reconheceram que o tempo não era suficiente, emboratendessem a reproduzir o discurso oficial do gerenciamento de atribuição de(in)competência aos que conseguem ou não fazer a gestão do tempo e dasvariabilidades.

2.096 : Flávio - O que acontece… O que a gente vê é que o processo ele não...Embora você tenha as regras, você tem tudo, mas… não é engessado o processo. (…)

2.097 : Amauri – Eu acho que se a gente seguisse o prescrito, o que é preconizadopara a função do SE, a questão do tempo não seria um problema. Só que a gente, atodo momento, é envolvido na questão da variabilidade, que compromete o queestá prescrito e acaba o tempo, a gente não conseguindo realmente fazer o que estápreconizado. Então é… acho que o segredo está em fazer a gestão da variabilidade(…) Acho que o segredo tá nisso.

46 Mas como “saber lidar” / “fazer a gestão” ? Que custos comportam este “lidar” /

“gerir” ?

2.098 : Pesquisador 1 – E como se desenvolve essa capacidade ?

2.100 : Amauri – Acho que a experiência.

2.101 : Benício – O ambiente industrial é muito complexo.

2.102 : Otávio – É muito dinâmico. E não sei se a gente… Você falou aí num ponto…Porque o variável é algo de novo que aparece, não é isso ? (…) Foi o que o Flávio, oexemplo do Flávio. Uma hora que dançou. Ele estava preparado para dançar nessauma hora ?

2.103 : Amauri – Nem sempre ele está preparado, mas…

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

161

Page 163: Laboreal, Volume 15 Nº2

2.104 : Otávio – Então… [inaudível] Uma hora é uma hora, uma hora tu não voltaatrás não. Sabe como ele compensa essa uma hora dele ? Deixando de fazer algumacoisa ou ficando até às 18h. Ponto.

[Silêncio]

47 Problematizaram-se as regras. Especialmente em relação ao respeito que eles poderiam

exigir que fosse dado aos seus horários por parte da hierarquia e dos serviços de apoio,indicando um poder de ação dos mesmos em relação ao problema de agenda diáriavivenciado por eles. Entretanto, o diálogo não evoluiu em direção à análise do que osimpediria de fazer para transformar essa situação, apesar do custo disto em sua vidafora do trabalho, como, por exemplo, trabalhar fora do horário de expediente.

48 Saber fazer a gestão da variabilidade. A questão das regulações temporais frente às

múltiplas exigências nas tarefas dos SE seria solucionada com a aquisição dessacompetência ? Esse enunciado exemplifica outros tantos produzidos nos diálogos dos SEnos EsT : uma tendência a evoluir sem confrontos e apagar as contradições e oselementos de tensão no real do trabalho. Durante os contatos da pesquisadora 1 nocampo[9], pôde-se perceber uma tendência de enquadre das falas proferidas em públicoem relação às expressões em situações privadas. As primeiras tendem a se aproximar deuma reprodução do discurso oficial do gerenciamento, não apenas em relação aotrabalho do operador, mas em relação ao seu próprio. No plano linguageiro, França(2005) indica ser essa uma via possível no diálogo realizado quando nele predominamforças centrípetas. Essa via produz um efeito de aparente uniformidade de pensamento,convergente para um único ponto de vista, um sobredestinatário comum. Nesse caso, oque o gerenciamento da direção indicava como diretrizes e objetivos estratégicos daempresa, os quais eram sustentados por um conjunto de normas, balizadas em umreferencial científico-positivista e uma ideologia gerencialista, que convocamprioritariamente valores mercantis de eficácia, rentabilidade, objetividade, utilidade,funcionalidade e previsibilidade. Ocorrendo em uma situação pública, essa foi aprincipal via adotada nos diálogos nos EsT. De modo geral, as produções linguageiras seorientavam para indicar que o modo de organização do trabalho não deveria serquestionado, apenas “gerido” (no caso, entendido como ajustado, adaptado). Se algodeveria mudar, eram os trabalhadores. Se havia disfuncionamentos, eram eles, comsuas incompetências e/ou interesses particulares que as promovem.

49 Percebe-se assim no discurso dos SE indícios do que Dejours e Jayet (1994) chamaram de

psicologia espontânea do executivo, a qual por meio de um olhar pejorativo sobre osoperadores (expresso no enunciado 3.277 : “A batata podre não vai, não adianta...”)ocultaria o desafio dos mesmos em sustentar o domínio imperfeito do processo detrabalho e da distância entre a organização prescrita e a organização real. Em algunsmomentos nos diálogos notam-se os SE atribuindo aos operadores falta de empenho,falta de seriedade (“O problemático para mim é aquele que tá lá, não entrega oresultado, não faz e não te explica porque que está fazendo” – 3.239), falta deresponsabilidade (“Ele tem todas as justificativas. Primeiro : ‘eu não tenho formação…’Depois : ‘eu não tinha a informação’ […] Ele fica dando desculpa […]” – E3.218) ou faltade competência, o que pode distanciar a possibilidade de construção de fundamentospara uma negociação coletiva da organização real do trabalho.

50 Por mais que se sustente a não submissão total das pessoas que trabalham aos

imperativos das normas antecedentes fundadas em valores monetários, há que se

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

162

Page 164: Laboreal, Volume 15 Nº2

reconhecer seu grande peso nas atividades de trabalho dos SE. Foi por eles apontadocomo “fato” que a competitividade está relacionada à sobrevivência da empresa(5.567-5.568), levando à necessidade de “se calçar”, de “ter essas armas nas mãos” paraquando vierem as cobranças em relação às metas estabelecidas, campo no qual amanutenção do emprego e o desenvolvimento de sua carreira estão em jogo.

51 Assim, os materiais produzidos nos diálogos sinalizam para a exigência trazida por essa

reconfiguração de seu trabalho no sentido de adesão ao discurso oficial da empresa.Mais do que a outros trabalhadores que são cobrados (todavia mais indiretamente)pelas decisões de conciliação de diversas dimensões (muitas vezes incompatíveis) nassituações concretas de trabalho, aos SE é imputada a responsabilidade final pelasconsequências das decisões tomadas no chão de fábrica. Essa imputação é feitadesconsiderando-se que o processo de produção só pode efetivar-se a contento namedida em que se viabilize a gestão do trabalho que é sempre social e coletivo.Colaborar para essa estruturação coletiva, que é sempre fluida e frágil, considerar asituação de trabalho em sua concretude, globalidade e complexidade, admitir asinfidelidades do meio, assim como a não disposição de todos os meios e ferramentas deantecipação do trabalho, parece ser um desafio difícil de ser enfrentado, especialmenteem um trabalho em que, apesar das múltiplas interações, se dá de forma tão solitária.Tão difícil que na maioria das vezes se prefira a via mais óbvia : reproduzir o discurso eas orientações do gerenciamento, operando com base na autoridade hierárquica, nasprescrições e na crença da possibilidade de total antecipação do trabalho.

4. Considerações finais

52 Dentre os elementos do processo de trabalho, a atividade (trabalho vivo, concreto) é

aquela que dá vida ao mesmo, na sinergia com os outros elementos que o compõe. Nãoobstante, parece persistir a adoção de modos e modelos de gerenciamento baseadosmais no trabalho abstrato, objetivado de forma estreita à prescrição de tarefas ; mais nocontrole de indicadores e resultados e menos no trabalho concreto, nos processos e nasrelações de trabalho. Soma-se a isto a manutenção da visão dos trabalhadores(incluindo os gerentes) como meros recursos, o que contribui para um distanciamentoda realidade vivida nas situações de trabalho, explicitada, tanto no discurso oficial dogerenciamento, quanto na literatura da área, muitas vezes com a expressão fatorhumano.

53 A despeito desse quadro, buscou-se nessa pesquisa privilegiar uma dinâmica relacional

entre os diversos fatores presentes na complexidade das situações de trabalho, na qualos SE não seriam vistos como apenas passivos pontos de impacto, mas também comoaqueles que escrevem a sua história. Assim, partindo do pressuposto ergológico de quetrabalhar é gerir (Schwartz, 2004), buscou-se analisar em que medida, intensidade eforma os profissionais que gerenciam fazem cotidianamente uma gestão (não apenas dooutro, mas de si próprio) na qual valores de vida e de saúde estivessem tambémconvocados.

54 Os resultados mostraram que essa gestão, que apesar de remeter a negociações de

eficácia, não é reconhecida em seus custos, na tentativa cotidiana de fazer conciliarexigências, muitas vezes contraditórias, provenientes de diversas fontes de prescrição ede objetivos a alcançar. Realizado na fronteira entre as prescrições do gerenciamento,políticas e diretrizes da empresa e a realidade da produção, o trabalho dos SE revelou

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

163

Page 165: Laboreal, Volume 15 Nº2

envolver a busca de pontos de convergência, de regularidade, de constância, não comoas que se apresentam nos relatórios gerenciais, mas com as que se configuram nos fatose nas situações concretas de trabalho. Os diálogos produzidos nos EsT evidenciam queas atividades dos SE se configuravam em meio a informações imprecisas, muitasconflitantes e discordantes entre si, provenientes de fontes esparsas na empresa. Aomesmo tempo, essas atividades ocorriam em relação dinâmica, com interferênciasdiversas e em cooperação com numerosos atores, assim como em referência a váriasfontes de prescrições e expectativas. Conforme esperado, regulações de orientaçãofuncional faziam parte das atividades de trabalho dos SE, tendo eles uma participaçãoimportante na organização real do trabalho. Assim, no lugar de previsibilidade,planejamento e constância, no cotidiano de seu trabalho revelaram ser preciso lidarcom imprevistos, variabilidades, diferentes expectativas e demandas, contradiçõesentre normas e regras. Mas as condições de intercompreensão nunca se encontravaminteira e perfeitamente reunidas.

55 O enquadramento do trabalho dos SE na categoria de um trabalho gerencial, traz uma

pressão pela adoção de um discurso oficial, da empresa e do gerenciamento que, aocontrário da linguagem subjetiva da vivência, pressupõe o tratamento de fatos e dadosobjetivos e quantitativos, possibilidade de antecipação dos eventos e previsibilidade dosresultados. Entretanto, suas atividades de trabalho, além de serem orientadas pornormas e objetivos predeterminados pelo sistema de gerenciamento, especialmente emfavor do desempenho econômico da empresa, apontaram também para uma capacidadenormativa desses profissionais (de produzir novas normas, mesmo que não totalmenteformuladas, acabadas e precisas), onde valores relativos à vida em conjunto e à saúdeeram também convocados. Muitos reconhecem o mundo do trabalho em uma sociedadecapitalista como se limitando ao reino pleno dos interesses privados, onde imperaria aexploração e a violência (inclusive simbólica) como forma de regulação econômica, e otrabalho como uma atividade puramente técnica. Com a pesquisa realizada, foi possívelidentificar, por meio da coanálise de situações concretas de trabalho, das comunicaçõese das relações intersubjetivas nelas estabelecidas, a existência de dimensões sociais nasatividades de supervisão do trabalho, cujas dinâmicas extrapolam a exploraçãomecânica.

56 Identificam-se limites na experimentação que foi feita deste dispositivo de pesquisa-

intervenção. Um em especial está relacionado ao contexto político em que se pretendeudescrever e analisar a experiência dos SE, reunindo profissionais que têmresponsabilidades idênticas, que ocupam o mesmo cargo, mas que na verdade nãopossuem um trabalho prioritariamente coletivo. Ao contrário, em parte têm osresultados de seu trabalho tomados pela hierarquia como objeto de comparação,mesmo que em uma análise que privilegia os desempenhos e não uma avaliação dotrabalho enquanto atividade. Reconhecem-se, portanto, razões estratégicas paramanter secretos certos aspectos da relação dos SE com o próprio trabalho, na medidaem que sua revelação poderia fazer perder alguma vantagem na negociação de suaautonomia. Outro limite refere-se à construção social do contrato da pesquisa-intervenção, que, pela via de negociação da demanda pela direção da fábrica, foireconhecido pelos participantes como uma ação vinculada à política de gerenciamentoda empresa.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

164

Page 166: Laboreal, Volume 15 Nº2

BIBLIOGRAFIA

Athayde, M., Muniz, H., França, M. & Figueiredo, M. (2010). A perspectiva da ergologia e o campo

da saúde mental e trabalho. In D. Glina & E. Rocha (Orgs.), Saúde mental e trabalho : da teoria à

prática (pp. 229-247). São Paulo : Roca.

Athayde, M., Zambroni-de-Souza, P. & Brito, J. (2014). Intervenção e pesquisa em psicologia : uma

postura ergológica. In P. Bendassolli & L. Soboll (Orgs.), Métodos de pesquisa e intervenção em

psicologia do trabalho : clínicas do trabalho (pp. 129-157). São Paulo : Atlas.

Athayde, M. & Rezende, M. (2015). Atividade. In P. Bendassolli & J. Borges-Andrade (Orgs.),

Dicionário de psicologia organizacional e do trabalho (pp. 101-108). São Paulo : Casa do Psicólogo.

Bendassolli, P. & Soboll, L. (Orgs.) (2014). Métodos de pesquisa e intervenção em psicologia do trabalho :

clínicas do trabalho. São Paulo : Atlas.

Bellini, S. & Labit, A. (2005). Des petits chefs aux managers de proximité : L'évolution des rôles de la

maîtrise dans l'industrie. Paris : L´Harmattan.

Bouffartigue, P. & Bouteiller, J. (2004). A l'épreuve du travail des cadres. A propos d'une expérience de

recherche. Artigo apresentado no primeiro congresso da Associação Francesa de Sociologia.

Villetaneuse, France.

Canguilhem, G. (1947/2001). Meio e normas do homem no trabalho. Pro-posições, 12 (2-3), 35-36.

Canguilhem, G.(1966/2010). O normal e o patológico. Rio de Janeiro : Forense.

Carballeda, G. & Garrigou, A. (2001). Derrière le “ stress », un travail sous contraintes. In P.

Bouffartigue (Ed.), Cadres : la grande rupture (pp. 89-105). Paris : La Découverte.

Christo, C. (2013). Análise da atividade de supervisão do trabalho : um olhar Psico-social para o

gerenciamento na indústria. Tese de Doutoramento. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio

de Janeiro.

Clot, Y. & Leplat, J. (2005). La méthode clinique en ergonomie et en psychologie du travail. Le

Travail Humain, 68, 4, 289-316.

Dejours, C. (1999). A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro : FGV.

Dejours, C. & Jayet, C. (1994). Psicopatologia do trabalho e organização real do trabalho em uma

indústria de processo : metodologia aplicada a um caso. In C. Dejours, E. Abouchelli & C. Jayet

(Eds.), Psicodinâmica do trabalho : contribuições da escola dejouriana à análise da relação prazer,

sofrimento e trabalho (pp. 67-118). São Paulo : Atlas.

Durrive, L. (2010). Pistas para o ergoformador animar os encontros sobre o trabalho. In Y.

Schwartz & L. Durrive (Orgs.), Trabalho & Ergologia : conversas sobre a atividade humana

(pp. 309-318). Niterói : EDUFF.

Faïta, D. & Maggi, B. (Eds.) (2007). Un débat em analyse du travail : deux méthodes em synergie dans l

´étude d´une situation d´enseignement. Toulouse : Octarès.

Faïta, D. & Duc, M. (1996). Savoir-faire d´encadrement et prescription floue. In J. Girin & M.

Grosjean (Orgs.), La transgression des règles au travail (pp. 51-81). Paris : L´Harmattan.

Falcoz, C. & Livian, Y. (2006). Que sait-on du travail des managers ? In Y. Livian (Org.), Être cadre,

quel travail ? Organization et Technologie (p.58-84). Paris : Anact.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

165

Page 167: Laboreal, Volume 15 Nº2

Faverge, J.M. (1966). L’analyse du travail en terme de régulation. In J.M. Faverge, M. Olivier, J.

Delahaut, P. Stephaneck, P. & J.C. Falmagne (Orgs.), L’ergonomie des processus industriels (pp. 33-60).

Bruxelles : Université Libre de Bruxelles.

Fayol, H. (1916/1968). Administração Industrial e Geral (7. ed.). São Paulo : Atlas.

França, M. (2005). O trabalho de recepcionistas de guichê de hospital público universitário : o

ponto de vista teórico-metodológico de uma Comunidade Dialógica de Pesquisa. Laboreal, 2, 1,

06-17.

Gaulejac, V. (2007). Gestão como doença social : ideologia, poder gerencialista e fragmentação social.

Aparecida/SP : Ideias e Letras.

Guérin, F., Laville, A., Daniellou, F., Duraffourg, J. & Kerguelen, A. (2001). Compreender o trabalho

para transformá-lo : a prática da ergonomia. São Paulo : Edgar Blücher.

Lhuilier, D. (2006). Cliniques du Travail. Toulouse : Érès.

Mascia, F. (2007). O trabalho da supervisão : o ponto de vista da ergonomia. In P. Falzon (Ed.),

Ergonomia (pp. 609-625). São Paulo : Blücher.

Mispelblom-Beyer, F. (2010). Encadrer, un métier impossible ? Paris : Armand Colin.

Mispelblom-Beyer, F. & Bismuth, D. (2009). Autorité et connaissance dans les dispositifs d'analyse

des pratiques d'encadrement. Education permanente, 178, 1, 55-78.

Pinsky, L. & Theureau, J. (1982). Activité cognitive et action dans le travail : éléments et événements du

travail infirmier. Paris : CNAM.

Rocha, D., Daher, M.C. & Sant’anna, V. (2004). A entrevista em situação de pesquisa acadêmica :

reflexões numa perspectiva discursiva. Revista Polifonia. 8, 08, 161-180.

Rogard, V. & Béguin, P. (1997). L´ergonomie au risqué du travail des cadres. Performances

Humaines & Techniques, 91, 8-10.

Rousseau, D.M. & Parks, J.M. (1993). The contracts of individuals and organizations. Research in

Organizational Behavior, 15, 1-43.

Schwartz, Y. (2004). Trabalho e gestão : níveis, critérios, instâncias. In M. Figueiredo et al (Orgs.),

Labirintos do Trabalho (pp. 23-33). Rio de Janeiro : DP&A.

Schwartz, Y. (2005, julho). Trabalho e saúde : construindo outros modos de gestão. Comunicação

apresentada em Mesa redonda no Congresso da ABRASCO. Florianópolis, Brasil.

Schwartz, Y. (2007). Un bref aperçu de l’histoire culturelle du concept d’activité. Revue

électronique @ctivités, 4, 2, 122-133.

Schwartz, Y. (2010). A experiência é formadora ? Educação e Realidade, 35, 1, 35-48.

Schwartz, Y. (2011). Manifesto por um ergoengajamento. In P. Bendassolli & L. Soboll (Orgs.),

Clínicas do trabalho : novas perspectivas para a compreensão do trabalho na atualidade (pp :132-166). São

Paulo : Atlas.

Schwartz, Y. & Durrive, L. (Eds.) (2009). Activité em dialogues : entretiens sur l´activité humaine II.

Toulouse : Octarès.

Schwartz, Y. & Durrive, L. (Eds.) (2010). Trabalho e Ergologia : conversas sobre a atividade humana (2a.

ed. ampl.). Niterói : EDUFF.

Teiger, C. (1987). L’organisation temporelle des activités. In C. Lévy-Leboyer & J. C. Sperandio

(Orgs.), Traité de psychologie du travail (p. 659-682). Paris : PUF.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

166

Page 168: Laboreal, Volume 15 Nº2

Trouvé, P. (2009). La contribution des entreprises à la formation de leur encadrement

intermédiaire : un investissement sans retour ? Education permanente, 178, 1, 37-53.

NOTAS

1. No Brasil, essa posição na organização do trabalho pode ser referida por diferentes

denominações, como chefe de setor, chefe de equipe, contramestre, supervisão direta, hierarquia

intermediária, gerente de primeiro nível, gerente de linha e coordenador. Em língua francesa,

usam-se, dentre outros, os termos encadrement de proximité, encadrement de premier niveau,

agents de maîtrise, cadres encadrants, contremaîtres e gestionnaires de premier niveau. Já em

língua inglesa, é comum o uso dos termos supervisors, first-line managers ou midle management.

2. O levantamento foi realizado em agosto de 2017, orientado para a busca de artigos em todos os

idiomas disponíveis, especialmente em bases de dados no campo da Psicologia, Engenharia,

Ciências Sociais e Business & Economics, utilizando-se os descritores WORK e SUPERVISOR na

busca por assunto.

3. A pesquisa foi realizada, de setembro de 2012 a janeiro de 2013 e foi realizada com

financiamento da CAPES e do CNPq, na forma de bolsa de Doutorado e de Doutorado Sanduich.

4. Além dos autores do artigo, participaram desse coletivo o prof. Dr. Hélder Pordeus Muniz e a

então doutoranda Ana Paula Taveira Leite.

5. Conceitos e noções discutidas com os participantes: trabalho prescrito, trabalho real, tarefa,

atividade, situação de trabalho, variabilidades da produção, exigências temporais, diversidade e

variabilidade das pessoas, análise da atividade, relações com a saúde e segurança, usos de si (por

si, pelos outros), competência e gerenciamento ergológico.

6. Foram realizadas cinco reuniões (gravadas em áudio) no coletivo de pesquisadores

profissionais com essa finalidade.

7. Desses, dois compareceram aos quatro Encontros e um em três. Dois foram substituídos na

função (um por promoção de cargo, outro por demissão) durante a realização dos Encontros e

três participaram apenas de um Encontro.

8. O SE se refere ao controle de frequência dos operadores daquela equipe, que deve ser delegado

a um de seus membros.

9. Antes mesmo da realização dessa investigação, a pesquisadora 1 realizou frequentes visitas às

unidades fabris dessa empresa, tendo variadas oportunidades de conversas com membros da

direção, gerência e média gerência.

RESUMOS

Discutem-se no texto os resultados de uma investigação realizada em uma indústria de fabricação

de pneumáticos. Realizado na fronteira entre as prescrições, políticas e diretrizes da empresa e a

realidade da produção, o trabalho de supervisão foi o objeto de pesquisa. Teve-se como objetivo

identificar as implicações subjetivas e intersubjetivas na realização desse trabalho, a partir das

exigências emergentes no processo de reconfiguração das responsabilidades de supervisores de

produção. O método baseou-se na autoconfrontação dos sujeitos com suas atividades, a partir de

textos produzidos em diálogos sobre o trabalho que circularam ao longo de entrevistas,

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

167

Page 169: Laboreal, Volume 15 Nº2

observações e encontros coletivos de discussão sobre o trabalho. Os resultados apontam para uma

pressão pela adoção de um discurso oficial, baseado em racionalidade objetivista e utilitarista que

se confronta com outra, produzida no curso das situações concretas de trabalho.

Se analizan en el texto los resultados de una investigación realizada en una industria de

fabricación de neumáticos. Realizado en la frontera entre las prescripciones, políticas y

directrices de la empresa y la realidad de la producción, el trabajo de supervisión fue el objeto de

la investigación. Se buscó identificar las implicaciones subjetivas e intersubjetivas en la

realización de este trabajo, a partir de las exigencias emergentes en el proceso de

reconfiguración de las responsabilidades de los supervisores de producción. El método se basó en

la autoconfrontación de los sujetos con sus actividades, a partir de textos producidos en diálogos

sobre el trabajo que circularon durante las entrevistas, observaciones y reuniones grupales de

discusión sobre el trabajo. Los resultados indican una presión hacia la adopción de un discurso

oficial, basado en la racionalidad objetivista y utilitarista que se enfrenta a otra, producida en las

situaciones concretas de trabajo.

Le texte décrit les résultats d’une enquête menée dans une industrie de fabrication de pneus. Se

situant à la frontière entre les prescriptions, les politiques et directives de l'entreprise et la

réalité de la production, le travail de supervision a fait l'objet de la recherche. L'objectif était

d'identifier les conséquences subjectives et intersubjectives de ce travail en fonction des

exigences émergentes dans le processus de reconfiguration des responsabilités des superviseurs

de production. La méthode repose sur l'auto-confrontation des sujets avec leurs activités, à partir

de textes produits lors de dialogues sur le travail qui ont circulé au cours des entretiens, des

observations et des discussions collectives. Les résultats indiquent l’existence d’une pression

pour l'adoption d'un discours officiel, basé sur une rationalité objectiviste et utilitariste, qui se

confronte à une autre rationalité produite dans le cours des situations de travail réelles.

The text discusses the results of an investigation carried out in a tire manufacturing industry.

The supervisory work was the research object, located at the boundary connecting requirements,

policies and company guidelines as well as the production reality. The objective was to identify

the subjective and intersubjective implications in the completion of the work from the emerging

requirements in the reconfiguration process of the production supervisors’ responsibilities. The

method was based on the self-confrontation of the subjects with their activities; it was

substantiated on texts produced in dialogues about work that circulated during interviews,

observations and collective discussion meetings about work. The results indicate a pressure for

the adoption of an official speech based on an objectivist and utilitarian rationality that is

confronted with another rationality produced in the course of actual work situations.

ÍNDICE

Palabras claves: trabajo de supervisión, autoconfrontación, clínica del trabajo, ergología

Keywords: supervision work, self-confrontation, work clinic, ergology

Palavras-chave: trabalho de supervisão, autoconfrontação, clínica do trabalho, ergologia

Mots-clés: travail de supervision, auto-confrontation, clinique du travail, ergologie

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

168

Page 170: Laboreal, Volume 15 Nº2

AUTORES

CIRLENE DE SOUZA CHRISTO

Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Psicologia. Av. Pasteur, 250 Urca, Rio de

Janeiro, RJ CEP 22290-902, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, [email protected]

MARCELLO SANTOS REZENDE

Fundação Oswaldo Cruz, Coordenação de Saúde do Trabalhador. Av. Brasil, 4365 – Pavilhão Carlos

Augusto da Silva, Sala 114. Manguinhos – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. CEP : 21040360,

[email protected]

MILTON ATHAYDE

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Psicologia. Rua Sao Francisco Xavier 524,

sala 10.009, bloco F, Maracanã, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

169

Page 171: Laboreal, Volume 15 Nº2

Atuação de psicólogas na assistênciasocial : relações entre gêneroprofissional e saúdeActuación de psicólogas en la asistencia social : relaciones entre género

profesional y salud

Actuation de psychologues en assistance social : relations entre genre

professionnel et santé

Performance of women psychologists in social assistance : relationships between

professional gender and health

Iasmin Libalde Nascimento e Thiago Drumond Moraes

NOTA DO EDITOR

Manuscrito recebido em outubro/2018Aceite após peritagem outubro/2019

1. Introdução

1 Este artigo apresenta o resultado do debate empreendido com um grupo de psicólogas

que atuam na proteção social básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS)brasileiro acerca de sua atividade de trabalho e as reverberações desta na saúde dasprofissionais. As discussões foram guiadas pela perspetiva teórico-metodológica daClínica da Atividade (CAt) (Clot, 2006), na qual a análise do trabalho surge como umdispositivo clínico com o objetivo de ampliar o poder de agir das profissionais, sobreelas mesmas e sobre seu campo de atuação, potencializando o coletivo de trabalhado e,com isso, intervindo na saúde laboral. O conceito de gênero profissional configura ocerne da discussão aqui proposta por permitir explicar alguns problemas que

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

170

Page 172: Laboreal, Volume 15 Nº2

atravessam a atividade de trabalho das participantes assim como traçar pistas parapromoção de saúde.

2 Cabe mencionar que, embora a CAt seja a referência desta pesquisa, durante as

discussões será possível perceber o valor atribuído à vivência subjetiva dasparticipantes. Nesse sentido, convém esclarecer que esse aspeto da análise que seráaqui empreendida advém tanto das contribuições da própria CAt (Souto, Lima, &Osorio-da-Silva, 2015), mas também por algumas inspirações dos modos como a teoriada psicodinâmica do trabalho (Dejours, 2004) tratam a questão. Considerou-se relevanteapresentar essas questões devido à forte carga emocional que atravessou o diálogo daspsicólogas sobre a atividade de trabalho em CRAS.

3 Embora as duas correntes teóricas utilizadas marquem pontos de divergência

epistemológica e metodológica substanciais, convergem tanto pelo interesse emproduzir condições nas quais os sujeitos possam se apropriar de sua atividade(Bendassolli & Soboll, 2011), quanto por partilhar algumas heranças teóricassemelhantes, dentre as quais Canguilhem (2011) e Wisner (1994). Por essas razões, aindaque se identifiquem divergências, estas não impedem o debate entre tais abordagensteóricas sobre a atividade e sobre o trabalho. Portanto, durante as discussõesposteriores, o trabalho também será considerado como uma “provação para asubjetividade da qual esta sai sempre ampliada, engrandecida ou, ao contrário,reduzida, mortificada. Trabalhar constitui, para a subjetividade, uma provação que atransforma” (Dejours, 2012, p. 34).

4 O SUAS, instituído pela Política Nacional de Assistência Social (PNAS) em 2004 no Brasil,

reorganizou os serviços socioassistenciais por níveis de proteção, inaugurou acentralidade do Estado no acompanhamento às famílias, a territorialização das ações ea oferta de serviços da proteção social básica prioritariamente para famíliasbeneficiárias de transferência de renda (Brasil, 2005). Suas ações dividem-se por níveisde complexidade nos âmbitos da proteção social básica, que visa prevenir situações derisco pessoal e social, e proteção social especial, cujo serviço destina-se a pessoas quevivenciaram ameaça ou violação de direitos ou cuja convivência familiar mostra-seprejudicial para sua proteção e desenvolvimento (Brasil, 2005).

5 No Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), unidade na qual são executados

serviços de proteção social básica, a família usuária do serviço tem acesso a programas,projetos e benefícios que buscam promover a socialização, acolhimento, suporte parainserção no mercado de trabalho e fortalecimento dos vínculos sociofamiliares (Brasil,2005). A equipe de referência mínima necessária para a realização das ações daproteção social básica é composta por um psicólogo, um assistente social, dois técnicosde nível médio, além de um coordenador de nível superior com experiência em gestãode serviços socioassistenciais (Brasil, 2009).

6 A inserção do profissional de psicologia como requisito para composição da equipe de

referência mínima dos CRAS reflete a compreensão da importância de se trabalhar,simultaneamente, fatores psicológicos e sociais em contextos de risco evulnerabilidade. Contudo, a recente entrada da profissão no campo da assistência socialsoma-se à imprecisão das prescrições institucionalizadas para a atuação do profissionalde psicologia em CRAS, considerando que não especificam sua função nesse espaço (Flor& Goto, 2015 ; Yamamoto & Oliveira, 2010). Tal feito promove confusão para a ostrabalhadores, que têm dificuldade em diferenciar sua atuação e a do assistente social, e

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

171

Page 173: Laboreal, Volume 15 Nº2

para as instituições que parecem apresentar dificuldade em diferir o papel dos técnicos(Leão, Oliveira, & Carvalho, 2014).

7 Para construir sua atividade profissional nesse espaço o psicólogo deve fazer frente à

nebulosidade das prescrições (Flor & Goto, 2015 ; Yamamoto & Oliveira, 2010), àcarência de referenciais teórico-metodológicos específicos para sua atuação (Yamamoto& Oliveira, 2010) e às precárias condições de trabalho – com sobrecarga laboral,instabilidade dos vínculos empregatícios, falta de recursos humanos e materiais eremuneração insatisfatória (Leão et al., 2014 ; Macedo & Dimenstein, 2012 ; Romagnoli,2016). Para tanto, parece haver uma intensa mobilização subjetiva por parte dosprofissionais, além da produção de um conhecimento próprio sobre o trabalho advindoda experiência prática, para que seja possível realizar sua tarefa. Ainda assim, Macedo eDimenstein (2012) alegam que a vivência profissional do psicólogo nesses espaços émarcada por sensações como estranhamento, medo, impotência e frustração, além deum ressentimento quanto ao funcionamento dos serviços.

8 Em que momento a provável mobilização psicológica e o possível desenvolvimento de

saberes por parte dos psicólogos em suas atividades cotidianas deixam de atuar comofatores produtores de saúde, neste contexto, é uma questão a se elucidar. A teoria daCAt em particular, somadas a algumas inspirações da psicodinâmica do trabalho,principalmente os modos como abordam as vivências subjetivas dos trabalhadores,apresentam-se como possíveis ferramentas para auxiliar no desvelamento de taisquestões, sobretudo por possibilitar relacionar os modos de gestão das mobilizaçõescoletivas diante das situações de trabalho e suas relações com processos de produção desaúde e/ou adoecimento.

1.1. Atividade e subjetividade

9 Para a CAt a atividade de trabalho está intrinsecamente vinculada à subjetividade. Essa

perspetiva teórico-metodológica visa desenvolver o poder de agir dos profissionais“sobre o mundo e sobre si mesmos, coletiva e individualmente” (Clot, 2011, p. 72).Fundamenta sua atuação no estudo da perspetiva desenvolvimental da atividade,buscando analisar e desenvolver aspetos nos quais o trabalho constrói sentido emobiliza a subjetividade dos profissionais de maneira que a singularidade do fazer decada trabalhador possa ser construída a partir da atualização, frente à interpretação doreal, de uma produção coletiva (re)vitalizada e, portanto, produtora de saúde (Clot,2006).

10 Destaca-se nessa perspetiva o conceito de real da atividade de trabalho. Uma vez que o

que se faz é somente uma ínfima parte de todos os possíveis que, por algum motivo, nãoforam realizados, o conceito de real da atividade é um avanço frente aos conceitosclássicos da ergonomia, tais como tarefa-atividade, trabalho prescrito-trabalho real(Clot, 2006). O trabalho prescrito pode ser definido como aquilo que os profissionaisdevem fazer segundo a organização do trabalho, e o trabalho real o que de fato se faz afim de lograr a realização da tarefa. Entre o trabalho prescrito e o trabalho real, existe epersiste um oceano de possibilidades de ação em constante conflito que acabará pordeterminar o desenvolvimento da atividade vencedora (Fernández & Clot, 2007). Oconceito de real da atividade afirma que a atividade não se limita somente ao que érealizado : “o que não está feito, o que se pretenderia fazer, o que deve ser refeito e

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

172

Page 174: Laboreal, Volume 15 Nº2

mesmo o que se faz sem se querer fazer, é acolhido na análise da atividade esclarecendoseus conflitos” (Clot, 2010, p. 149).

11 Ao se considerar o campo de possibilidades presentes no real da atividade e, ainda, a

singularidade de cada trabalhador ao gerir a imprevisibilidade do meio a fim de realizarsua a tarefa, pode-se vislumbrar um leque, sempre em mutação, de possibilidades de sefazer a mesma tarefa. Segundo Clot (2006, 2010), é o coletivo de trabalho que seencarregará de validar e organizar as diferentes formas de saber-fazer o trabalho,constituídas em determinado espaço sócio-histórico para responder a demandasespecíficas, transformando-as em recurso para a realização da atividade.

12 Ao longo do tempo esse acumulado de recursos para a ação, mobilizado e construído

pelo coletivo de trabalho, adquirirá um caráter histórico e irá retratar a memórialaboral daquele coletivo profissional. Essa memória transpessoal e coletiva, quecontribui com densidade e sentido para o fazer de cada trabalhador e do coletivo detrabalho, é o que Clot (2010) denomina de gênero profissional. Este gênero “contém aintegralidade dos equívocos do trabalho coletivo, a memória dos fracassos, dasperguntas sem resposta e das proezas realizadas, mas também as ‘pequenezas’ em queinsistem o não realizado e o realizável em gestação” (Clot, 2010, p. 286).

13 O gênero profissional fornece um conjunto de normas e estratégias de ação maleáveis,

que podem ser adaptadas pelo profissional durante seu fazer. O gênero, ao ser renovadocontinuamente a partir do trabalho coletivo do coletivo de trabalho, fortalece erespalda a atividade profissional (Fernández & Clot, 2007). Quando o gêneroprofissional encontra-se enfraquecido, quando a produção desses previsíveis genéricosdo trabalho encontra-se suspensa ou ausente, a saúde no ambiente de trabalho começaa se deteriorar e “cada um, individualmente, é confrontado, então, com surpresas ruinsde uma organização do trabalho que o deixa ‘sem voz’ diante do real” (Clot, 2010,p. 171).

14 Segundo Clot (2010), a presença do gênero profissional e sua constante atualização pelo

coletivo de trabalho é a chave para a produção de atividades de trabalho saudáveis.Uma ressalva, porém : reconhece-se que a construção genérica pressupõe a partilha devivências cotidianas, o que não é o caso de boa parte dos psicólogos, quefrequentemente atuam em seus serviços sem a presença de outros psicólogos ou, pelomenos, sem contar com pares em seus turnos de trabalho. O trabalho que executam écoletivo, sem dúvida, mas em partilha de espaços e situações de trabalho comprofissionais de outras formações. Nesse sentido, no que tange ao direcionamentoespecífico das atividades dos psicólogos, e dos modos de mobilizar seus saberes para assituações reais, parte-se da premissa que os processos saúde-doença envolvem nãosomente a dimensão genérica da construção realizada em partilhas de experiências dolocal de trabalho, mas, também, na incorporação de debates que são internos aoconjunto de atores de uma profissão em particular, como o dos psicólogos. Supõe-se, apartir daí, que a qualidade de um trabalho bem feito, e suas relações com o poder deagir, deve incorporar um debate constante com os pares e com os saberes, tanto locaisquanto, em alguns casos, com pares não espacialmente presentes.

15 Reconhecemos aqui a importância da partilha das produções genéricas desenvolvidas

nas experiências dos locais de trabalho, independente da formação acadêmico-disciplinar dos trabalhadores. Supõe-se, por exemplo, a existência de um gênero daatividade de trabalhadores dos CRAS, independente se psicólogos, assistentes sociais oueducadores. Contudo, essa pesquisa se debruçou sobre a compreensão das dimensões

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

173

Page 175: Laboreal, Volume 15 Nº2

genéricas produzidas, ou não, entre pessoas de uma mesma formação profissional, nocaso os psicólogos, que possuem, ou não, condições de partilhar, em seu dia-a-dia, essasexperiências cotidianas da atividade de trabalho com outros trabalhadores da mesmaformação profissional. Daí seu objetivo, a saber : identificar e analisar o gêneroprofissional de psicólogos que atuam na proteção social básica e sua relação com oprocesso de saúde/doença por eles vivenciados.

16 Já a psicodinâmica do trabalho, reconhecida essencialmente pelas idealizações de

Cristophe Dejours, fundamenta-se nas contribuições da psicanálise, da ergonomia e dasociologia do trabalho. O estudo da normalidade no trabalho coloca-se como um dospontos centrais de investigação, sendo esta compreendida como “produto de umadinâmica humana em que as relações intersubjetivas – na construção das estratégiasdefensivas, ou mesmo ofensivas, contra o sofrimento – ocupam um lugar central”(Dejours, 2004, p. 52). Em outras palavras, a normalidade resulta do equilíbrio instável eprecário entre o sofrimento, que é inerente ao trabalhar, e as estratégias defensivaselaboradas enquanto recurso para enfrentamento e mediação desse sofrimento. Destaforma, a relação homem-trabalho é estudada do ponto de vista do normal e não apenasdo patológico (Bendassolli & Soboll, 2011 ; Dejours, 2004).

17 A psicodinâmica do trabalho compreende o homem enquanto sujeito cindido por

conflitos intrapsíquicos, constituído sempre na relação com o outro ; e considera que osjogos de reconhecimento, que são fundamentalmente de natureza simbólica, sãocapazes de transmutar o sofrimento em prazer nas atividades de trabalho, uma vez queas dinâmicas de reconhecimento fornecem uma retribuição simbólica ao sujeito econtribuem para a produção de sentido à vivencia no trabalho. Ressalta-se que, para ateoria, o trabalho é compreendido como “a atividade manifestada por homens emulheres para realizar o que ainda não está prescrito pela organização” (Dejours, 2004,p. 65), assumindo uma dimensão constitutiva do sujeito e, nesse sentido, basal nosprocessos de subjetivação. Desta feita, podemos dizer que a psicodinâmica do trabalhorealiza uma análise “sociopsíquica do trabalho, tendo como ponto de partida aorganização deste último, para então compreender as vivências subjetivas, dentre elaso prazer, o sofrimento, o processo saúde-adoecimento e os mecanismos de defesa e demediação do sofrimento” (Bendassolli & Soboll, 2011, p. 10).

2. Método

18 Haja vista a perspetiva teórico-metodológica adotada, principalmente a CAt, o presente

estudo tem como foco de discussão o desenvolvimento da atividade de trabalho, paraalém de seu funcionamento prescrito. Assim, torna-se necessário a utilização de ummétodo que se proponha a analisar aquilo que diante do real do trabalho osprofissionais fazem com os desafios que emergem e as soluções encontradas, ou não,para confrontá-lo (Clot, 2006).

19 Nesse sentido, convém destacar a importância do coletivo de trabalho para a CAt, uma

vez que ele se apresenta como recurso para o desenvolvimento da subjetividadeindividual. De facto, o coletivo “é uma das condições que favorecem o desenvolvimentode competências, na medida em que a sua vitalidade permite que se coloquem emdebate maneiras de fazer, o que permite que elas evoluam” (Vidal-Gomel, Delgoulet, &Geoffroy, 2014, p. 17). Por fim, envolve o compartilhamento de um conjunto de valores,

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

174

Page 176: Laboreal, Volume 15 Nº2

formas de ser e de se relacionar com os outros e com os objetos, definindo com mais oumenos precisão o que é desejável ou não de fazer (Vidal-Gomel et al., 2014).

2.1. Participantes

20 Participaram da pesquisa cinco psicólogas que atuam em CRAS em Vitória-ES, no

serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF). O PAIF é um serviçocontinuado de trabalho social com famílias que objetiva fortalecer os laçossociofamiliares, contribuindo para convivência, reconhecimento de direitos econstrução de caminhos para o enfrentamento de questões que possam apresentarrisco de rutura de vínculos e/ou violação de direitos no âmbito familiar ou comunitário(Brasil, 2009). Das psicólogas que compuseram o grupo de trabalho, duas atuam há umano em CRAS, outras duas encontram-se no serviço por três anos e uma participantepossui sete anos de trabalho na proteção social básica. Ademais, duas profissionaispossuem vínculo empregatício por contrato temporário com a Prefeitura e as demaissão vinculadas a uma Organização Não-Governamental.

21 A pesquisa foi autorizada pelo comitê de ética em pesquisas com seres humanos da

UFES e que a anuência das trabalhadoras foi firmada mediante assinatura do Termo deConsentimento Livre e Esclarecido, pelo qual se autorizou a gravação dos encontros esua posterior transcrição na íntegra.

2.2. Instrumentos e procedimentos para a coleta das informações

22 Como instrumento foi utilizado o método da oficina de fotos, que tem como objetivo

instigar o profissional a refletir sobre sua atividade de trabalho rotineira. Em outraspalavras, “a tarefa apresentada aos sujeitos consiste em elucidar para o outro e para simesmo as questões que surgem durante o desenvolvimento das atividades” (Clot, 2006,p. 136).

23 Osorio-da-Silva, Pacheco e Barros (2013) sugerem que as fotos apresentam marcas da

atividade que será analisada, contribuindo para produzir um distanciamento que abreespaço para diálogo consigo mesmo e com o gênero profissional. Este métodopossibilita que os trabalhadores se envolvam diretamente ao produzirem os retratos deseu trabalho (Alves & Osorio, 2014). Além disso, para essas autoras, as fotos adotam umaperspetiva lúdica e que se torna mais próxima da realidade vivenciada pelostrabalhadores, deixando-os mais confortáveis para analisarem o trabalho sem que sejanecessária a constante intervenção do pesquisador.

24 Os psicólogos de todos os doze CRAS do município de Vitória-ES foram convidados

pessoalmente à construção coletiva e informados da permissão para sua liberação pelaSecretaria Municipal de Assistência Social de Vitória. A atividade de pesquisa-intervenção foi realizada na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), conforme adecisão do grupo. As reuniões aconteceram no período compreendido entre novembroe dezembro de 2015, subdivididas em quatro encontros quinzenais de duas horas,realizadas às sextas-feiras.

25 No primeiro encontro foram apresentados os objetivos da pesquisa e a perspetiva

teórico-metodológica da CAt, buscando responder a possíveis dúvidas acerca datemática e dos objetivos da pesquisa. Realizou-se a apresentação das participantes e a

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

175

Page 177: Laboreal, Volume 15 Nº2

discussão acerca de suas vivências enquanto psicólogas do PAIF e como compreendiamo papel e a atuação do psicólogo nos serviços de proteção social básica.

26 No segundo encontro o debate desenvolveu-se em torno da apresentação e pertinência

do método proposto pela pesquisadora e da escolha dos temas compartilhados pelogrupo para realização da fotografia. As participantes validaram o método proposto,decidindo que seriam realizadas no mínimo três fotografias que representavamvivências positivas em seu trabalho, promovendo saúde laboral, e três fotografias desituações que despotencializavam sua saúde. Dentre as três fotos de cada categoria,duas seriam decididas em grupo e, no mínimo, uma seria realizada a partir daexperiência singular de cada psicóloga. As participantes optaram por usarem seuspróprios aparelhos celulares para registro das fotografias e enviá-las para apesquisadora organizar a apresentação das produções, a fim de expô-las no terceiroencontro.

27 A escolha das fotos de situações negativas e positivas foi ancorada na experiência

relatada por Osorio-da-Silva e colegas (2013) com profissionais da área de saúde. Aopção pelo debate prévio das fotografias que representavam temas comuns a todas sedeu por questões estratégicas, visto que algumas participantes relataram que asobrecarga do serviço e/ou conflitos com a hierarquia poderiam dificultar aparticipação em todos os encontros. Nos terceiro e quarto encontros foram discutidasas fotografias de cada uma das participantes, suas semelhanças e diferenças e suasrelações com as vivências no trabalho. Discutiu-se, igualmente, as questões construídasa partir da experiência de realização das fotos.

28 Vale ressaltar que a função da pesquisadora, no grupo, era de mobilizar um debate

coletivo entre os trabalhadores, permitindo fazer circular a palavra entre osparticipantes. Sem conduzir o destino das conversas, esses encontros também foraminspirados na metodologia das Rodas de Conversa (Afonso & Abade, 2008), cujaestratégia se constitui como metodologia participativa que propõe partir dosconhecimentos já construídos acerca de determinado assunto, buscando um processode compreensão e de criação. Uma vez que o objetivo era colocar em evidência aspetosda atividade de trabalho das psicólogas em CRAS, tal metodologia apresentou-se comofacilitadora do processo tendo em vista que “o que se busca na Roda não é uma disputasobre “quem tem razão”, mas a apreciação das diversas razões, o alargamento da visãode cada um, a ampliação dos horizontes e a possibilidade de melhor refletir sobre aquestão abordada” (p. 24).

29 Em outras palavras, a metodologia proposta priorizou o debate em torno de uma

temática, de modo a dar visibilidade às práticas relacionadas à vivência cotidiana que serelacionavam ao tema em debate. Por meio de tal dispositivo, possibilitou-se fluidezdiscursiva e negociações diversas entre as participantes. Assim, a partir da exposição deum tema, as pessoas apresentaram suas elaborações sobre ele, “sendo que cada umainstiga outra a falar, argumentando e contra-argumentando entre si, posicionando-se eouvindo o posicionamento do outro” (Méllo, Silva, Lima, & Di Paolo, 2007, p. 30). Ostemas abordados nos encontros serão apresentados a seguir, quando forem descritos osresultados da presente pesquisa.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

176

Page 178: Laboreal, Volume 15 Nº2

2.3. Análise de dados

30 Para análise de dados foi utilizada a análise do discurso (AD) subsidiada pelo trabalho

de Faïta (2005). A análise do discurso busca compreender os sentidos estabelecidos naspráticas discursivas, que podem ser verbais ou não-verbais. Assim, uma vez que a ADnão trabalha com o conteúdo específico do texto, mas com os sentidos produzidos, opesquisador deve “estar atento ao silêncio, ao não verbalizado, ao que foiexplicitamente incluído, ao tom da voz e, mesmo, às falas que se esvaziam de sentidopara aquilo que está sendo discutido” (Macedo, Larocca, Chaves, & Mazza, 2008).Segundo Faïta (2005), o pesquisador não deve considerar o texto por ele mesmotampouco “buscar as correlações possíveis com situações ou acontecimentos extra-linguísticos. O texto obtido é apenas a imagem de um momento de uma história, de umprocesso complexo de onde recortamos um segmento” (Faita, 2005, p. 124).

31 No debate empreendido no grupo com psicólogas atuantes em CRAS, as trocas se

desenvolveram de modo alternado entre questionamento, afirmação, crítica,comparação, etc., desencadeando um processo dialógico que desestabilizou algunspressupostos que as participantes detinham no começo (Faïta, 2005), conforme serádemonstrado ao longo do texto. Nesse sentido, o discurso das profissionais não deve serentendido simplesmente como uma “instância de mediação de pensamentos e posiçõescognitivas do sujeito em direção a outros, mas o lugar onde se desenvolve ummovimento específico desse pensamento” (Faïta, 2005, p. 57) ; o que permitiu ummelhor manejo dos limites encontrados quando buscamos vislumbrar os meandros daatividade de trabalho.

32 O texto produzido a partir do registro dos encontros, serviu para mediar a relação entre

a atividade de trabalho e a atividade discursiva das psicólogas. A “relação entre essasatividades, sua evolução e suas transformações elabora ‘regimes de significação’próprios” (Faïta, 2005, p. 122), cabendo ao pesquisador reinterpretar os discursos tendoem conta, também, sua experiência nesse o processo.

33 Cabe mencionar, ainda, que as análises que se seguem podem dar a impressão de um

enrijecimento do processo ocorrido. Entretanto, o que se buscou colocar em evidênciaforam as “grandes linhas da relação dialógica” (Faïta, 2005, p. 127) produzida nosencontros com as profissionais de psicologia e identificadas no processo de análise.

3. Resultados e discussão

34 Durante o segundo encontro foi discutido e acordado entre as participantes duas

fotografias que retratavam aspetos considerados como negativos à sua saúde e duasfotos que se referiam a aspetos positivos. As fotografias que versavam sobre aspetosnegativos foram : cesta básica e visita domiciliar (simbolizada por fotos da paisagem doterritório). A primeira foi elencada uma vez que, segundo as psicólogas, a presença detal benefício implica risco de reprodução do assistencialismo pelo serviço. A fototambém remete à dificuldade de se trabalhar tais questões junto à população atendida,visto que para elas muitos munícipes parecem compreender a função do CRAS somentecomo distribuição de cesta básica. A segunda foto refere-se ao risco corrido pelasprofissionais ao entrarem no território para realização das visitas domiciliares duranteconflitos entre gangues.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

177

Page 179: Laboreal, Volume 15 Nº2

35 Os aspetos positivos de seu trabalho, evocados a partir das imagens, foram as visitas

domiciliares e o grupo de trabalho (pesquisadora e psicólogas). A primeira faz alusão àimportância, reconhecida pelas técnicas, de se fortalecer os vínculos com a famíliaatendida, além da possibilidade de exercer sua atividade para além dos muros do CRAS.A segunda refere-se ao fato de que os encontros durante a pesquisa foram escolhidospor oportunizar a troca de experiências entre as participantes e o debate sobre suaatividade de trabalho.

36 Curiosamente, as fotografias individuais apresentaram forte similaridade, muitas vezes

com o mesmo significado. Retratos de cadeira, ralo do banheiro, sala de atendimento evale transporte, diziam da precarização das condições de trabalho. Duas participantesregistraram o relatório quantitativo – instrumento de mensuração de atendimentos,enviado mensalmente à gestão – e a foto do Cadastro Único, expressando a gestão pormetas e a exigência de produtividade. Uma participante fotografou a placa dacoordenação, simbolizando o autoritarismo da gestão quanto às formas de atuar, querestringia e sufocava a profissional.

37 A equipe técnica foi retratada por todas as profissionais como um aspeto positivo de seu

trabalho, referindo-se à importância do trabalho em equipe e ao apoio prestado pelasassistentes sociais para a realização de sua atividade. Também foram apresentadasfotografias que retratavam atividades com as famílias acompanhadas, simbolizando ovalor dos debates e do processo grupal para as técnicas, como fortes instrumentos paraluta por garantia de direitos e construção de vínculos comunitários.

38 As fotos serviram como dispositivo para que as diferentes formas de saber-fazer o

trabalho pudessem ser atualizadas no discurso das profissionais, oportunizando seuconfronto e produção de sentido compartilhado. Desta forma, as análises que se seguemapresentam um recorte das redes de significados e interconexões tecidas ao longo docomplexo trabalho de se traduzir a atividade em palavra.

3.1. “Falta tudo !”

39 Em acordo com a literatura (Macedo & Dimenstein, 2012 ; Romagnoli, 2016), as

psicólogas relataram que a intensa rotatividade entre os trabalhadores se mostraprejudicial para a realização do serviço e para as atividades em equipe : “gente, tevemês esse ano que eu estava de férias e entrou uma técnica e saiu e eu nem conheci atécnica [...] E como você trabalha vínculo se a própria equipe não tem vínculo ?” (P10).As psicólogas definem a construção do vínculo com as famílias acompanhadas pelo PAIFcomo a base da produção do trabalho em CRAS, em conformidade ao PNAS (Brasil, 2005)que estabelece o fortalecimento de vínculos sociocomunitários e familiares como o eixoorganizador das ações desenvolvidas nesse serviço. Porém, por se tratar de uma relaçãoconstituída na dimensão de afeto e confiança, muitas famílias evadem com a mudançade seu técnico de referência.

40 Para além da alta rotatividade, o discurso das profissionais também sinaliza um modelo

de organização do trabalho definido por metas estipuladas pela gestão, corroborandocom os resultados encontrados por Romagnoli (2016). Tal modelo, aliado a uma relaçãoautoritária por parte da coordenação do serviço, com pouco espaço para diálogo,contribui para que algumas psicólogas se sintam pressionadas e, muitas vezes, seexponham ao risco :

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

178

Page 180: Laboreal, Volume 15 Nº2

41 “Tem uma meta a cumprir, então, às vezes, se você não consegue localizar aquela

família, você é pressionada estar buscando. [...] semana passada mesmo : ‘Não, mesmocom tiro você vai subir’ [fala da coordenadora do serviço]. E eu tinha que subir. [...]Assim, você sabe do seu compromisso, mas você também é um ser humano, vocêtambém fica apreensiva” (P1).

42 A rotatividade relatada pelas profissionais surge como efeito da precarização dos

vínculos trabalhistas, definido por Franco, Druck, e Seligmann-Silva (2010) como aprimeira dimensão da precarização do trabalho. Trata-se de um processo que envolve aperda de direitos trabalhistas, perdas salariais e produz uma desestabilização dasreferências de proteção social do trabalho, conduzindo à metabolização cotidiana dainsegurança e da instabilidade : “terrenos em que prolifera e se move a gestão pelomedo” (p. 231).

43 O controle estabelecido a partir da instrumentalização do medo à demissão produz uma

intensificação do trabalho, que se caracteriza por metas cada vez mais exigentes eritmos de trabalho mais intensos, constituindo a segunda dimensão do processo deprecarização laboral (Franco et al., 2010). Embora o medo à demissão não tenha surgidona fala das profissionais, tendo em vista a extrema competitividade e o atual cenário domercado de trabalho brasileiro, podemos inferir que tal receio figura como um dospossíveis motivos pelos quais as técnicas, muitas vezes, arriscam sua segurança.

44 Ainda neste debate, outras estratégias foram confrontadas. A fim de evitar tal exposição

ao risco, algumas psicólogas optam por não cumprir, ou ainda ocultar, que não realizamvisitas domiciliares quando ocorre conflito no território, como sinaliza umaprofissional : “você falando a questão da visita... a relação que eu tenho com a minhacoordenadora hoje é uma relação assim. [silêncio] Mas, aí eu também me arrisco nessesentido. O que acaba me adoecendo. Meu risco é não cumprir a meta” (P4). Percebe-seque tais “transgressões” às prescrições são realizadas de maneira solitária, na sombra ena inquietação, produzindo sofrimento para as trabalhadoras.

45 Clot (2010) ressalta que diante do enfraquecimento ou ausência do gênero profissional,

dos previsíveis genéricos que mediam a gestão dos imprevisíveis do real do trabalho, ossujeitos são expostos ao isolamento. Assim, “cada um é individualmente confrontado,então, com surpresas ruins de uma organização do trabalho que os deixa ‘sem voz’diante do real” (p. 171) e coloca em risco sua saúde, conforme é possível perceber nafala da participante.

46 O enfraquecimento do gênero profissional ocorre diante do mutismo do coletivo de

trabalho, de seu esgotamento (Clot, 2010). A premissa de que existe um possívelenfraquecimento do coletivo de trabalho dos psicólogos que atuam em CRAS écorroborada pela fala de uma das técnicas : “a gente teve um fórum de psicólogos hámuito tempo atrás que foi... eu acho que foi o máximo ! Que a gente conseguiu chegarna discussão. E depois agente regrediu” (P4). Pode-se dizer que a “regressão”,mencionada pela participante, ocorreu uma vez que a manutenção da vivência socialentre os sujeitos é imprescindível para que os esquemas técnicos, o confronto entre asconstruções singulares no fazer e a produção de um saber partilhado, não venham a seextinguir (Clot, 2006). Nesse sentido, supõe-se que a dissolução do fórum, que era umespaço formal de discussão sobre a atividade de trabalho, impactou profundamente ocoletivo de trabalho desses profissionais, enfraquecendo-o.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

179

Page 181: Laboreal, Volume 15 Nº2

47 O fórum no qual os psicólogos dos CRAS de Vitória se reuniam para discutir sua

atividade era realizado mensalmente, durante o expediente de trabalho. Os encontrosiniciaram-se em 2008 e continuaram por dois anos. Entretanto, os efeitos de taismobilizações terminaram por incomodar a gestão em vigor na ocasião, que dissolveu ogrupo. Após o término das atividades de um dos encontros do grupo uma participanterelata à pesquisadora que houve tentativas de reuniões informais : “Aí, aos poucos agente voltou a fazer reunião de uma maneira muito informal e a gente acabouenfraquecendo e acabando” (P4).

48 Segundo Moraes e Athayde (2014) o coletivo de trabalho está intrinsecamente

vinculado às atividades de trabalho de uma determinada profissão e constitui-se pormeio dos relacionamentos, formais e informais, estabelecidos entre os trabalhadores.Ele é atravessado por afetos, sistemas de identificação profissional e partilha de valores,instigado em resposta aos “entraves, as exigências, as demandas das tarefas e dascondições e formas de organização do trabalho” (p. 332). Nesse sentido, quando aparticipante menciona “a gente acabou enfraquecendo e acabando” (P4) para além dotérmino do fórum, o “a gente” pode referir-se ao coletivo de trabalho. O que foi“acabando”, esmorecendo-se a partir da dissolução do fórum de psicólogos de CRAS,pode-se conjecturar, foram os sistemas de identificação profissional que estavam sendoforjados.

49 Por fim, as participantes vivenciam falta de recursos humanos e materiais, precarização

dos vínculos laborais, demonstram insatisfação com os salários e a necessidade, muitasvezes, de realizarem dupla jornada de trabalho para aumentar seus recursos,integrando o cenário exposto por outros estudos (Leão et al., 2014 ; Macedo &Dimenstein, 2012 ; Romagnoli, 2016). Assim, “faltam recursos financeiros, cortaram ummonte de colegas nossos que trabalhavam com a gente, falta tudo [grito] ! O que nãofalta é presença de munícipe dentro da unidade, que continua só aumentando !” (P4).

50 Não obstante, a redução das equipes gera sobrecarga de trabalho para as psicólogas,

conforme relato : “então, são 36 famílias, mais acolhida, mais as reuniões... e aassistente social está de férias. Então... aaahhhhh [grito]” (P11). Podemos dizer que ogrito da participante se manifestou como expressão da angústia da necessidade deatuar em tal estado de precariedade. É um grito contido e que, embora não possa semanifestar em qualquer espaço, fez-se presente no grupo por lhe oportunizarelaboração.

51 Revelado não apenas como uma forma de desespero, o grito expressa-se como um

movimento catártico que permitiu, em sequência, um segundo movimento deelaboração favorecido no e pelo grupo, tal qual este artigo posteriormentedemonstrará. Assim, o discurso das profissionais nos sugere que as reverberaçõesocasionadas pelo desmantelamento do fórum de psicólogos atuantes em CRASsomaram-se à precarização dos vínculos empregatícios, da organização e das condiçõeslaborais, com a falta de recursos, intensificação dos ritmos e gestão por metas – o quedificulta em grande medida que as técnicas dialoguem entre si acerca de sua atividadede trabalho –, sustentando a hipótese do esmorecimento do coletivo de trabalho dessasprofissionais. Nesse sentido, as participantes confrontam-se com o esgotamento dosrecursos de ofício característicos de uma construção coletiva, o que somado àprecarização de seu trabalho, parece contribuir para a diminuição do poder de agirdessas trabalhadoras e para a precarização de sua saúde.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

180

Page 182: Laboreal, Volume 15 Nº2

3.2. E o nosso trabalho, para onde vai ?

52 Para além do que já fora mencionado, as participantes necessitam gerir aspetos

contraditórios do serviço. As psicólogas do PAIF precisam cumprir metas deatendimento às famílias, sendo um dos objetivos dos serviços do CRAS o enfrentamentoà vulnerabilidade (Brasil, 2005). Entretanto, diante da falta de recursos, rotatividade eredução da equipe, a meta de famílias para a obtenção dos benefícios e da verbanecessária para manutenção das atividades algumas vezes não é atingida. Nessesentido, mesmo que o objetivo do CRAS seja combater a vulnerabilidade, reduzindo onúmero de usuários do serviço, para se obter os recursos é necessário que haja um altonúmero de famílias cadastradas, o que se mostra paradoxal segundo as participantes :

53 “Você tem que combater aquilo [vulnerabilidade] mas ao mesmo tempo você precisa

daquela pessoa para você ter o recurso. Gente, que viagem ! Não dou conta, não douconta [bate forte em alguma superfície], não dou conta !” (P1) ; “É, adoece !” (P8) ;“Adoece !” (P1) ; “Adoece !” (Grupo).

54 Cabe destacar que mesmo diante da ausência de recursos para a realização de suas

tarefas, as profissionais continuam sendo cobradas a atingirem a meta de famíliascadastradas, necessária para a obtenção do recurso. Nesse sentido, as psicólogasdemonstram revolta e frustração diante de tal necessidade. Sentem que a realização desua atividade de trabalho é impedida, pois, de certa forma, necessitam que a famíliapermaneça vinculada ao CRAS para que o serviço possa receber os recursos, emconsonância com fala da técnica : “E o nosso trabalho, para onde vai ? (P1) [Risos] ...[Silêncio] (Grupo)”.

55 Para Clot (2006), na atividade de trabalho o sujeito exerce seu poder de recriação, ou

seja, a atividade permite que o trabalhador produza um contexto para viver e constitui-se enquanto “fonte de uma espontaneidade indestrutível. Mesmo brutalmente proibida,nem por isso ela é abolida” (p. 14). Ao mesmo tempo potência criadora de vida e saúde,ela corre o risco de se desregrar e voltar-se contra o sujeito na medida em que otrabalhador, por mais que se tente, percebe-se impedido de realizar sua atividade ou éforçado a impedir-se de realizá-la, como parece ser o caso das psicólogas. “Quandochegam a isso, é ao preço de um insidioso esgotamento, de uma fadiga que é o ponto departida para novos conflitos” (Clot, 2006, p. 15).

56 Interessante notar que em vários momentos as profissionais engasgam ou silenciam, o

grupo silencia. Ao se analisar as situações nas quais ocorre o mutismo ou o entrave dodiscurso das psicólogas percebe-se que sempre se relaciona ao impedimento de suaatividade, seja por questões como definição rígida dos territórios de abrangência doCRAS, que muitas vezes dificulta sua atuação, ou pela imposição do cumprimento demetas, que para elas reduz a qualidade do serviço ofertado. Nesse sentido, a atividadetravada, silenciada, amputada, manifesta-se também no discurso das profissionais quesilenciam, gaguejam e engasgam quando atualizam e, consequentemente, (re)criam taissituações de trabalho no debate produzido durante os encontros do grupo de pesquisa(Clot, 2010).

57 As técnicas expõem que a falta de recursos exige que elas tenham de gerir a

distribuição das cestas básicas, o que se mostra extremamente complexo e produtor deaflição, considerando que o cadastro no programa pressupõe que a família já seencontre em condições de extrema pobreza, segundo nota-se no excerto :

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

181

Page 183: Laboreal, Volume 15 Nº2

58 “E essa questão também de achar que a gente tem o poder de decidir dói tanto ! Isso dói

tanto !” (P4) ; “Isso dói mesmo, dói demais !” (P1) ; “Você ser obrigado a escolher” (P8) ;“Parece, assim, que você tem que decidir uma vida” (P1).

59 Se por um lado, diante da falta de recursos elas possuem “autonomia” para decidirem

sobre quais famílias irão receber as cestas, quando os recursos estão disponíveis, elasdevem seguir rigidamente os critérios para a concessão de cesta básica, mesmo queidentifiquem a necessidade da família receber o benefício. O discurso construído nosCRAS é de que as cestas, mesmo que suficientes para atender a demanda, só devem serdistribuídas para os miseráveis dentre os miseráveis, uma vez que o recurso pode faltare outra família “precisar mais”. Tal prescrição tácita é confusa para as profissionais egera conflitos na equipe uma vez que a avaliação das psicólogas, em alguns momentos,é desautorizada pela equipe conforme observa-se no trecho que se segue :

60 “Às vezes eu fico me questionando qual é a autonomia do técnico. Porque tem lá do lado

da mesa de cada técnico e ali tá a regrinha do 77 per capta. E aí [...] se você abre[exceção] para uma família a equipe já cai em cima de você questionando, tipo assim,você avaliou família. Você tem autonomia para isso ou não ?” (P11).

61 Conforme demonstrado, as psicólogas são expostas continuamente a uma série

exigências, ou normas, e prescrições em seu meio de trabalho. Devido ao hiato que secoloca entre essas prescrições e as inúmeras variações possíveis na situação local, essasprofissionais vão incessantemente reinterpretar o prescrito e as normas. Fazendo isso,elas tentam configurar o meio como o seu próprio meio. É o processo derenormalização que está no cerne da atividade (Schwartz, 2015). Nessa perspetiva,compreendendo poder de agir enquanto “o raio de ação efetivo do sujeito ou dossujeitos em sua esfera profissional habitual, o que se pode também designar porirradiação da atividade, seu poder de recriação” (Clot, 2010, p. 15), pode-se dizer que terpoder de agir é ser capaz de renormalizar, de ser senhora de seu próprio trabalho.

62 Tendo em vista que a renormalização é o cerne da atividade de trabalho, possibilidade

de produção modos existir e de saúde (Schwartz, 2015), percebe-se que amputar opoder de agir das psicólogas é ferir aquilo que há de inestimável no trabalho. Diantedisso, Clot (2010) acrescenta que o sujeito, na maioria das vezes, deixa de se reconhecernaquilo que faz, tendo em vista que os objetivos e metas que lhe são determinadosdiferem significativamente daquilo que é importante, que constitui sentido, para ele.Ora, diante do que já foi exposto até o presente momento, não surpreende que asprofissionais relatem adoecimento e, como se verá a seguir, não se reconheçamenquanto psicólogas na assistência. Nesse sentido, a participante comenta : “Então, hojeeu acho que a gente tá tão perdido, a gente está tão esgotada, que a gente nem sabe oque está fazendo mais” (P4).

3.3. A clínica da atividade enquanto clínica

63 Para Clot (2006) a análise do trabalho configura-se enquanto dispositivo que possibilita

restaurar a capacidade diminuída, ou seja, ampliar o poder de agir dos sujeitos, sobre oseu trabalho e sobre si mesmos, a partir do fortalecimento do coletivo de trabalho e doresgate ao gênero profissional. Nesse sentido, quando os sujeitos se deslocam deposição e passam a ter como objeto de análise seu trabalho, este último transforma-se ecria possibilidade de restauração da saúde.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

182

Page 184: Laboreal, Volume 15 Nº2

64 Isto posto, pretende-se sinalizar a mudança no discurso das psicólogas ao longo dos

encontros em direção ao início da produção de um (re)conhecimento profissional queencontrou voz no bojo da partilha e debate de normas, valores e estratégias que semostraram pertinentes ou não para responder aos entraves da tarefa e/ou daorganização do trabalho. Em outras palavras, aponta-se para o que parece ser umindício do desenvolvimento inicial de uma identificação desenvolvida e mediada pelospares.

65 Conforme sinalizado anteriormente, as perceções sobre o papel do psicólogo em CRAS

foram confrontadas no primeiro encontro. As profissionais afirmaram não sereconhecerem como psicólogas da proteção social básica, expressando dificuldade emse perceberem como profissionais de psicologia a partir de sua atuação na assistência.Ademais, informaram não saber qual seria o papel do psicólogo ou o que caracterizariaa especificidade de sua atuação profissional naquele espaço, conforme sinaliza atécnica :

66 “Eu entrei também com essa pergunta : o que faz o psicólogo no CRAS ? [...] E aí, quando

começa a trabalhar, você vai ver que não existe uma identidade pro psicólogo. Querealmente é mais um ali para ajudar ; talvez com um olhar diferente. E aí, tô lá há umano, vai fazer um ano” (P8).

67 A fala das trabalhadoras vai ao encontro de estudos (Leão et al., 2014 ; Macedo &

Dimenstein, 2012) que indicam que os técnicos de psicologia não se identificamprofissionalmente com o trabalho no SUAS, apresentando dificuldade em distinguir suafunção da função do assistente social. Motta e Scarparo (2013) relatam que taldificuldade também se expressa nas instituições, que não compreendem com clareza opapel e as atribuições do psicólogo, o que corrobora com a fala das participantes :

68 “Aí, a gente se perde. Por que esse profissional no CRAS, ele se perde pelo próprio fazer

do CRAS. [...] na prática, e a gente ouve o tempo inteiro, né, sempre tem umcoordenador, um gerente, um gestor, que fala assim : ‘vocês fazem a mesma coisa’[referindo-se ao psicólogo e ao assistente social]” (P4).

69 Algumas participantes mencionaram sentirem-se inseguras quanto à sua atuação, haja

vista o atual déficit de debates e produções construídas e compartilhadas coletivamentepelos psicólogos atuantes nos CRAS em Vitória, a carência de referências teórico-metodológicas específicas (Yamamoto & Oliveira, 2010) e a nebulosidade dasprescrições. Uma psicóloga diz : “você está sozinha. Enfim, tem coisas que vãoatrapalhando o andamento, vamos dizer assim. Mas, assim, eu às vezes fico meio nadúvida. Será que tá legal ? Será que eu poderia estar fazendo mais ? Será que a limitaçãoé minha ?” (P1).

70 Subsidiados por outras pesquisas (Flor & Goto, 2015 ; Silva & Corgozinho, 2011 ;

Yamamoto & Oliveira, 2010) que são atravessadas pelas mesmas questões, pode-se dizerque a nebulosidade das orientações (Brasil, 2009) que definem as atribuições de umtécnico de referência que atua em CRAS contribui para a incerteza demonstrada pelastrabalhadoras e pela gestão do serviço. Nesse sentido, Flor e Goto (2015) colocam que“reuniões entre os psicólogos dos CRAS, discussões e até mesmo supervisões do fazerpsicológico” (p. 31) poderiam auxiliar os profissionais a regularem tal defasagem,entretanto, apontam a inexistência de tais espaços de construção coletiva.

71 Ora, Clot (2006) afirma que o gênero profissional, construído e renovado no seio do

trabalho de discussão e organização empreendido pelo coletivo de trabalho, fornecerá

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

183

Page 185: Laboreal, Volume 15 Nº2

os subsídios necessários para que os profissionais encontrem segurança para enfrentara assimetria entre a prescrição e o real do trabalho. O gênero, transmutado eminstrumento na atividade in situ, permitirá que o técnico acesse “procedimentos,organização do tempo, linguagem de ofício, organogramas, instrumentos técnicos,planos, regras implícitas, mas também todas as metáforas gestuais e verbais queconservam a memória das emoções de um meio de trabalho” (Clot, 2006, p. 154). Nãoobstante, no gênero encontra-se a sedimentação da experiência da atividade detrabalho coletiva, forjada ao longo da história daqueles trabalhadores. Essa memóriatanspessoal e sócio-histórica do ofício, aglutina as marcas constitutivas e simbólicas,formas de ação e interpretação do mundo, ampliando o poder de agir dos trabalhadorese dotando de sentido e significado a atividade laboral.

72 Retomando o que foi discutido em um tópico anterior, pode-se conjeturar que a

fragilidade do coletivo de trabalho dos psicólogos que atuam em CRAS dificulta emgrande medida a manutenção e renovação de um patrimônio coletivo, dos pressupostosgenéricos da atividade, favorecendo a construção do sentimento de solidão relatadopela psicóloga. Conforme Clot (2006) argumenta, quando o sujeito se encontra isoladode um coletivo de trabalho, na maioria das vezes, torna-se penoso saber por ondecomeçar a desenvolver sua atividade. Assim, desassistidos frente às imprevisibilidadesdo real do trabalho, os indivíduos são levados a construir sua atividade sozinhos, aerrar sozinhos, e a alcançar as metas e os objetivos impostos pela organização dotrabalho ao preço custoso de sua saúde (Clot, 2006). Diante disso, talvez se possacompreender a dificuldade que as psicólogas expressam de se reconhecerem em suaatuação na proteção social básica e relatarem adoecimento.

73 Não obstante, as psicólogas realizam seu trabalho no contexto no qual ele se constrói e

esforçam-se a fim de atingir as metas e conquistar, mesmo assim e apesar de tudo, osobjetivos traçados pela PNAS. Embora afirmassem não saber o papel do psicólogo emCRAS, ao começarem a debater sobre sua atividade de trabalho – o que faziam, comofaziam, o que não conseguiam fazer, o que gostariam de fazer – a partir de exemplos desua atuação, foram tecendo aos poucos o fazer psicológico na proteção social básica.

74 Embora inicialmente não pudessem formular seu papel naquele espaço, a partir de

exemplos de sua atividade foi possível perceber que, para as profissionais, cabe aopsicólogo em CRAS articular a realização do trabalho social junto aos demais serviçosda rede socioassistencial, construir e fortalecer vínculos sociofamiliares, mediar odiálogo intrafamiliar e trabalhar as potencialidades de seus membros, visando superarsua situação de vulnerabilidade socioeconômica, além de colaborar com a construçãode processos de mobilização política e social dos usuários. Nesse sentido, percebe-seque as auto-prescrições construídas pelas profissionais no tocante ao papel dopsicólogo vai ao encontro do que é proposto na Nota Técnica com Parâmetros para aAtuação Profissional do Psicólogo no SUAS, elaborada pelo Conselho Federal dePsicologia (2016).

75 Ainda se destaca que a concessão de benefícios eventuais e a realização do cadastro

socioeconômico não foram citadas pelas profissionais durante os exemplos queemergiram ao longo do debate. Lima (2014), ao realizar a análise das significações sobrea especificidade do trabalho de psicólogos na assistência social, aponta a resistênciadesses profissionais em assumir atividades que envolvam o atendimento de demandasexplicitamente econômicas. Segundo o autor, os psicólogos consideram que o trabalhocom dimensões objetivas do serviço prestado, como a concessão de benefícios

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

184

Page 186: Laboreal, Volume 15 Nº2

socioassistenciais e cestas-básicas, corrobora com o assistencialismo e carece deimportância se comparado ao trabalho com aspetos subjetivos, como odesenvolvimento de autonomia junto aos usuários do serviço e a reconstrução deaspetos subjetivos de suas vidas.

76 De fato, ainda que a tarefa de prestar serviços de concessão de benefícios a partir de

aspetos socioeconômicos da vidas das pessoas não tenha sido mencionada na discussãosobre o papel do psicólogo em CRAS, as participantes realizam tais tarefas por estaremprescritas como funções de um técnico da assistência social (Brasil, 2009), conforme sepercebe nos tópicos anteriormente descritos. Diferente do que destaca Lima (2014),infere-se que tais tarefas não surgiram nos exemplos das profissionais, não pelo fato deelas ignorarem sua importância ou pensarem que ao concederem o benefício estãocorroborando com o assistencialismo, mas por existir uma carência de referências queorientem o papel de psicólogos nessas situações (Silva & Corgozinho, 2011 ; Yamamoto& Oliveira, 2010).

77 Além disso, a ausência de um espaço formal de discussão, ou mesmo a dificuldade

encontrada pelas técnicas de dialogarem sobre sua atividade de trabalho ao nívelinterpessoal, devido à intensa carga de trabalho, prejudica em grande medida que astrabalhadoras possam, elas mesmas, construírem um saber que abarque tais questões epossa, assim, contribuir para a identificação profissional com tais tarefas. Ao seamputar espaços de discussão sobre o trabalho ou embaraçar, de uma forma ou deoutra, o diálogo entre os profissionais acerca de sua atividade, restringe-se as vias quepermitem formalizar um saber que é próprio da experiência, mas que, de modo algum,é ausente de preparo, de possibilidades (Faïta, 2005).

78 Apesar dessas falas iniciais, chama-se a atenção para a mudança no discurso das

participantes ao longo dos encontros em direção à construção de uma identificaçãopartilhada pelo grupo, no que se refere aos psicólogos de CRAS. No primeiro encontro, afala das técnicas era direcionada aos CRAS nos quais elas atuavam. Assim, quandodiziam “a gente” se referiam à equipe técnica do CRAS ; seus exemplos e falasdificilmente eram generalizados em direção a um discurso que pudesse dizer daquelegrupo de psicólogas da proteção social básica. O relato construía-se a partir daexperiência pessoal enquanto psicóloga em CRAS, sinalizando isso com falas como “eu”,“isso pra mim”, “é a minha experiência, tá gente”, ou então, retratavam a equipetécnica : “a gente”.

79 Entretanto, a partir da metade do segundo encontro, o “a gente” passou a refletir as

psicólogas que atuam em CRAS, suas falas passaram generalizar a experiência laboraldaquele grupo. Começaram a interromperem-se umas às outras, completando frasessobre situações de trabalho e sentimentos que atravessavam a vivência naquele espaço.A perceção de que compartilhavam uma mesma linguagem e eram atravessadas porsentimentos semelhantes, no que tange à atuação, foi recebida com surpresa eempolgação. Nesse trecho a participante exemplifica a dificuldade em gerir a concessãode cestas básicas a partir de um episódio vivenciado por ela durante um atendimentoindividual, sendo logo interrompida, em sequência, pela fala de outras colegas quecomplementavam seu discurso :

80 “Olha, a gente não tem cesta. Eu não estou negando. É que a gente não tem cesta. Mas,

assim, elas [as usuárias do serviço] não deixavam de ir. Podia reclamar, mas nãodeixavam de ir. Mas aí, com aquele monte de cestas que chegaram no início do ano,virou parece que uma obrigação” (P1) ; “e parece que a gente mentiu” (P4) ; “É ! É !

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

185

Page 187: Laboreal, Volume 15 Nº2

[grito] Depois cai em cima também : ‘poxa, tem tanta cesta...” (P1) ; “porque como é agente que escolhe, às vezes eles [os usuários do serviço] ficam na dúvida será que nãotem mesmo ? Por que não me deram ?” (P8).

81 Pode-se dizer que a perceção desses sentimentos e vivências, partilhada pelo grupo de

psicólogas, foi possível a partir das discussões provocadas na oficina de fotos. Asparticipantes sugeriam uma imagem símbolo ou, então, situações de trabalho a seremfotografadas, que seriam validadas ou não no movimento dialógico dos encontros.Mobilizadas a justificar a escolha do retrato, elas deslocavam-se de posição colocandoem análise sua atividade laboral (Alves & Osorio, 2014). Assim, a partir do confrontoentre suas vivências singulares, as participantes puderam perceber quecompartilhavam algo em comum além de realizarem as mesmas tarefas no CRAS. Pode-se inferir que o processo vivenciado no/pelo trabalho do grupo de pesquisa propiciou oterreno para construção de um senso de compartilhamento de sentimentos, anseios,estranhezas, entraves e também conquistas que as atravessavam enquanto profissionaisde psicologia atuantes na assistência. Vemos assim que mesmo sem a partilha dasexperiências da atividade in situ, as profissionais vivenciam situações semelhantescotidianamente, o que as permitiu construir reflexões em comum, contribuindo paraesse exercício de uma construção genérica das experiências de psicólogos de CRAS. Poroutro lado, e considerando-se que há nos CRAS trocas de saberes e experiências entreprofissionais de formações as mais diversas, deve-se supor a existência de produçõesgenéricas mais transdisciplinares visando o funcionamento do serviço. As relaçõesentre as dimensões do gênero produzido a partir da partilha das situações de trabalhocom profissionais que trabalham in situ e as dimensões genéricas relacionadas aosconhecimentos disciplinares na atividade profissional podem ter relações com o poderde agir e a produção de saúde dos trabalhadores (Duarte & Moraes, 2016). A maneiracomo tais relações ocorrem nos CRAS não foi devidamente investigada nessa pesquisa.De todo modo, vale observar que o poder de agir é atravessado por uma polifonia devozes (Bezerra, 2012), oriundos de vários estratos distintos, que dialogam e se debatemo tempo inteiro.

82 Interessante observar que a produção dessa identificação entre as psicólogas,

partilhada pelo grupo, se produziu também por meio do discurso das profissionais. Aolongo das construções, o debate da fotografia das visitas domiciliares propiciou adiscussão acerca da territorialização dos CRAS que, embora necessária, define limitesrígidos para as participantes e usuários do serviço, o que restringe sua atuação.Destarte, a mudança do “eu” para o “nosso” pode ser percebida no fragmento que sesegue : “é complicado eu... Eu...Argh... Essas coisas... Essas coisas... Essas pontuações dagestão são necessárias. Eu acho que o meu.... A nossa... O meu... Eu falo a nossacompreensão enquanto psicólogo ! Isso acaba amarrando demais !” (P1).

83 Convém sinalizar que as participantes relataram que após os encontros, realizados às

sextas-feiras, reuniam-se para confraternizar em um local próximo à universidade : “Daúltima vez nós saímos daqui fomos no Bar Boteco [nome fictício do estabelecimento]”(P8). Possivelmente, tais encontros possam explicar o motivo pelo qual as fotosindividuais representaram as mesmas situações de trabalho.

84 Ao final dos encontros, retomou-se a pergunta inicial de como elas interpretavam o

papel do psicólogo em CRAS. Curiosamente, as participantes responderam de formasimilar ao primeiro encontro, ou seja, relataram dificuldade em sinalizar uma resposta

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

186

Page 188: Laboreal, Volume 15 Nº2

para tal questão. Entretanto, quando a pesquisadora apontou as construções realizadasao longo das discussões, o sentimento foi de espanto conforme observa-se no trecho :

85 “Eu queria saber como vocês avaliam isso que eu falei” (Pesquisadora) ; “Eu... Eu nem

sei falar [risos]” (P10) ; “Acho que é por isso que a gente valorizou tanto espaço. Que agente falou ‘ai que bacana !’ Que é aqui que a gente consegue reforçar e reafirmar isso.Você falando agora eu pensei assim ‘não, gente !’” (P4) ; “É ! Eu sou psicólogo ! [grito]”(P10) ; “Então assim, ouvir as meninas a gente conversando... Desde o primeiroencontro, nossa, dá muito gás ! Até para gente conseguir se organizar. Porque quando agente vai para a prática parece que tudo tende a se destruir e, aqui, parece que a genteconsegue juntar os nossos caquinhos, assim ...” (P4) ; “Sim ! E aí as meninas falavamumas coisas e eu voltava para o CRAS pensava ‘vou fazer isso também !’ então, assim,me engrossava !” (P10).

86 A partir da fala das profissionais, podemos perceber que o “a gente” refere-se ao grupo

de psicólogas. Ademais, inferimos que ao colocar “que é aqui que gente conseguereforçar e reafirmar isso” (P4), a participante sinaliza que aquilo que se reafirma ereforça pelo trabalho coletivo de discussão da atividade de trabalho é o reconhecimentode si mesmas, como profissionais de psicologia, naquilo que fazem na assistência social.Os encontros criaram espaço para que fosse possível que as técnicas partilhassemformas diversas de se pensar e fazer o trabalho psicológico na proteção social básica,estratégias construídas frente ao real e a vivência de sentimentos e anseios a partir deuma linguagem comum, transformando-os em recurso para ação (Clot, 2006, 2010).

87 Nesse sentido, os encontros “engrossavam” as profissionais uma vez que possibilitavam

a ampliação de sua capacidade de agir. Restaurar a capacidade diminuída, “juntar oscaquinhos” dos trabalhadores, contribuindo para aumentar seu poder de agir sobretrabalho, potencializa produção de saúde laboral (Clot, 2010).

4. Conclusão

88 Pode-se dizer que as condições de trabalho e a fragilidade do coletivo profissional, na

construção e renovação dos pressupostos genéricos da atividade de trabalho,constituíram as bases para o adoecimento relatado pelas psicólogas no presente estudo.Em síntese, as técnicas vivenciam tanto um desgaste afetivo, com a experiência desentimentos de ansiedade, frustração, impotência e insegurança, corroborando com otrabalho de Macedo e Dimenstein (2012), quanto um desgaste físico devido ànecessidade de realizarem as visitas domiciliares de ônibus e, muitas vezes,caminhando : “falando de adoecimento do corpo, eu estou com meu joelho direito quefalhou duas vezes numa escadaria lá. Eu falei : ‘gente, eu preciso ir no médico !’” (P8).

89 Conforme demonstrado ao longo deste trabalho, as imagens fotográficas serviram como

dispositivo para disparar diálogos sobre a atividade de trabalho em CRAS. Asparticipantes puderam trocar informações e confrontar estratégias produzidas deforma solitária para enfrentar o real da atividade, validando-as ou não. Tal feitocontribuiu para “ampliar o repertório de possibilidades de compreender e de agir nasituação de trabalho, desenvolvendo a atividade” (Souto et al., 2015, p. 14) epotencializando a produção de saúde. Ademais, inferimos que a partir dos diálogos seconstruiu um sentido sobre o trabalho do psicólogo em CRAS, compartilhado pelo

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

187

Page 189: Laboreal, Volume 15 Nº2

grupo. Tal produção dialógica foi demonstrada no discurso das profissionais no terceiromovimento de análise.

90 Depreende-se que se fosse possível a expansão e permanência de tais encontros sobre o

trabalho, “pelo fato de passar de mão em mão e de boca em boca” (Clot, 2011, p. 76) aolongo do tempo os saberes, vivências e formas do fazer laboral, construídas ecompartilhadas no coletivo de trabalho, iriam renovar sua dimensão genérica eproduzir junto aos trabalhadores o sentimento de viver uma mesma história. Somente apartir do trabalho de debate do coletivo de trabalho ao longo do tempo, torna-sepossível construir e renovar continuamente um plano de referência genérico queoriente a ação e produza sentido para um grupo profissional (Clot, 2006). Em outraspalavras, a possibilidade de fortalecer e manter vivo o gênero profissional permite aostrabalhadores se reconhecerem em sua atuação e nos resultados obtidos, assim como noque produzem de si mesmos em sua atividade de trabalho (Clot, 2010).

91 Não obstante, a partir do discurso das participantes – da experiência de solidão durante

a atuação, vivência de insegurança e da sensação de não se reconhecerem comoprofissionais de psicologia naquilo que fazem na assistência social – pode-se dizer queessa dimensão genérica do trabalho de psicólogos de CRAS, para além da dimensãogenérica de trabalho na assistência social, encontra-se extremamente enfraquecida oque produz, junto à precarização do trabalho, o adoecimento das técnicas. Entretanto,por meio de experiência apresentada neste artigo, sugere-se que o fortalecimento docoletivo de trabalho, que desenvolve e renova o gênero profissional, possibilita aprodução de recursos que potencializam da saúde do trabalhador.

BIBLIOGRAFIA

Afonso, M. L., & Abade, F. L. (2008). Para reinventar as rodas : rodas de conversa em Direitos

Humanos. Belo Horizonte : RECIMAM.

Alves, E. A., & Osorio, C. (2014). Clínica da atividade e oficina de fotos : eletricistas em foco.

Revista Psicologia e Saúde, 6(2), 62-71. doi : 10.20435/pssa.v6i2.360

Bendassolli, P. F., & Soboll, L. (2011). Introdução às clínicas do trabalho : aportes teóricos,

pressupostos e aplicações. In P. F. Bendassolli, & L. Soboll (Eds.), Clínicas do Trabalho : novas

perspectivas para compreensão do trabalho na atualidade (pp. 3-21). São Paulo : Atlas.

Bezerra, P. (2012). Polifonia. In B. Brait (Ed.), Bakhtin : conceitos-chave (pp. 191-200). São Paulo :

Editora Contexto.

Brasil (2005). Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004). Norma Operacional Básica

(NOB/SUAS). Brasília : Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Brasil (2009). Orientações técnicas : Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Brasília :

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Canguilhem, G. (2011). O normal e o patológico. Rio de Janeiro : Forense Universitária.

Clot, Y. (2006). A função psicologica do trabalho. Petrópolis : Vozes.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

188

Page 190: Laboreal, Volume 15 Nº2

Clot, Y. (2010). Trabalho e poder de agir. Belo Horizonte : FabreFactum.

Clot, Y. (2011). Clínica do trabalho e clínica da atividade. In P. F. Bendassolli & L. Soboll (Eds.),

Clínicas do trabalho (pp. 71-83). São Paulo : Atlas.

Conselho Federal de Psicologia. (2016). Nota Técnica com Parâmetros para atuação das e dos

profissionais de Psicologia no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) (2016).

Brasília : Autor.

Dejours, C. (2004). Addendum : da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. In S. Lancman, & L.

I. Sznelwar (Eds.), Christophe Dejours : da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho

(pp. 47-104). Rio de Janeiro : Editora Fiocruz, Paralelo 15.

Dejours, C. (2012). Trabalho vivo : trabalho e emancipação (Vol. 2). Brasília : Paralelo 15.

Duarte, L. C., & Moraes, T. (2016). Saúde mental de psicólogos atuantes em serviços de atenção

primária à saúde. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 7(2), 123-146. doi :

10.5433/2236-6407.2016v7n2p123

Faïta, D. (2005). Análise dialógica da atividade profissional. Rio de Janeiro : Imprinta Express

Editora.

Fernández, G., & Clot, Y. (2007). Entrevistas de auto-confrontação : um método na clínica da

actividade. Laboreal, 3(1), 15-19. doi : 10.4000/laboreal.12782

Flor, T. C., & Goto, T. A. (2015). Atuação do psicólogo no CRAS : uma análise fenomenológico-

empírica. Revista da Abordagem Gestáltica, 21(1), 22-34.

Franco, T., Druck, G., & Seligmann-Silva, E. (2010). As novas relações de trabalho, o desgaste

mental do trabalhador e os transtornos mentais no trabalho precarizado. Revista Brasileira de

Saúde Ocupacional, 35(122), 229-248. doi : 10.1590/S0303-76572010000200006

Leão, S. M., Oliveira, I., & Carvalho, D. (2014). O Psicólogo no Campo do Bem-Estar Social : atuação

junto às famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade e risco social no Centro de

Referência de Assistência Social (CRAS). Estudos e Pesquisas em Psicologia, 14(1), 264-289.

Lima, V. C. (2014). A psicologia da pobreza e a pobreza da psicologia (Dissertação de Mestrado).

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, Brasil.

Macedo, J. P., & Dimenstein, M. (2012). O trabalho dos psicólogos nas políticas sociais no Brasil.

Avances en Psicología Latinoamericana, 30(1), 182-192

Macedo, L. C., Larocca, L., Chaves, M., & Mazza, V. (2008). Análise do discurso : uma reflexão para

pesquisar em saúde. Interface - Comunicação, Saúde e Educação, 12(26), 649-657. doi : 10.1590/

S1414-32832008000300015

Méllo, R. P., Silva, A., Lima, M. , & Di Paolo, A. (2007). Construcionismo, práticas discursivas e

possibilidades de pesquisa em psicologia social. Psicologia & Sociedade, 19(3), 26-32. doi :

10.1590/S0102-71822007000300005

Moraes, T. D., & Athayde, M. (2014). Dimensões do coletivo na atividade de trabalho dos

motoboys. Fractal, 26(2), 327-348. doi : 10.1590/1984-0292/906

Motta, R. F., & Scarparo, H. (2013). A psicologia na assistência social : transitar, travessia.

Psicologia & Sociedade, 25(1), 230-239. doi : 10.1590/S0102-71822013000100025

Osorio-da-Silva, C., Pacheco, A., & Barros, M. (2013). Oficinas de fotos : experiências brasileiras em

clínica da atividade. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 16, 121-131. doi : 10.11606/issn.

1981-0490.v16ispe1p121-131

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

189

Page 191: Laboreal, Volume 15 Nº2

Romagnoli, R. C. (2016). Relações macropolíticas e micropolíticas no cotidiano do CRAS.

Psicologia & Sociedade, 28(1), 151-161. doi : 10.1590/1807-03102015v28n1p151

Schwartz, Y. (2015). Manifesto por um ergoengajamento. In Y. Schwartz & L. Durrive (Eds.),

Trabalho e ergologia II : diálogos sobre a atividade humana (pp. 132-166). Belo Horizonte :

Fabrefactum.

Silva, J. V., & Corgozinho, J. (2011). Atuação do psicólogo, SUAS/CRAS e Psicologia Social

Comunitária : possíveis articulações. Psicologia & Sociedade, 23, 12-21. doi : 10.1590/

S0102-71822011000400003

Souto, A. P., Lima, K., & Osorio-da-Silva, C. (2015). Reflexões sobre a metodologia da Clínica da

Atividade : diálogo e criação no meio de trabalho. Laboreal, 11(1), 11-22. doi : 10.4000/laboreal.

3962

Vidal-Gomel, C., Delgoulet, C., & Geoffroy, C. (2014). Competências coletivas e formação em

condução de veículos de socorro num contexto de especialização de bombeiros sapadores em

França. Laboreal, 10(1), 14-31. doi : 10.4000/laboreal.5133

Wisner, A. (1994). A inteligência no trabalho : textos selecionados de ergonomia. São Paulo :

Fundacentro.

Yamamoto, O. H., & Oliveira, I. (2010). Política Social e Psicologia : uma trajetória de 25 anos.

Psicologia : Teoria e Pesquisa, 26, 9-24. doi : 10.1590/S0102-37722010000500002

RESUMOS

Considerando que na teoria da Clínica da Atividade a presença do gênero profissional e sua

constante atualização pelo coletivo de trabalho é a chave para a produção saúde laboral, este

estudo objetivou identificar e analisar o gênero dos psicólogos que atuam em centros de

referência de assistência social (CRAS) de um município brasileiro e sua relação com o processo

de saúde/doença desses profissionais. Realizaram-se encontros com cinco psicólogas que

debateram sobre sua atividade a partir do método de oficina de fotos. Para análise de dados

utilizou-se a análise do discurso. As condições de trabalho e a ausência de um coletivo

profissional constituíram as bases para o adoecimento relatado pelas psicólogas. Contudo, nos

encontros permitiu-se intensificar a partilha de saberes, fortalecendo o sentimento de

pertencimento coletivo, e afetando na reinterpretação das condições de trabalho. Sugere-se que

debates coletivos sobre atividade de trabalho podem contribuir como fator protetivo ao

adoecimento de trabalhadores.

Considerando que en la teoría de la Clínica de la Actividad la presencia del género profesional y

su constante actualización por el colectivo de trabajo es la clave para la producción de salud

laboral, este estudio objetivó identificar y analizar el género de los psicólogos que actúan en

centros de referencia de asistencia social de un municipio brasileño y su relación con el proceso

de salud/enfermedad de estos profesionales. Se realizaron encuentros con cinco psicólogas que

debatieron su actividad utilizando fotos. Para el análisis de los datos se utilizó el análisis del

discurso. Las condiciones de trabajo y la ausencia de un colectivo profesional constituyeron las

bases para las enfermedades relatadas. En los encuentros se intensificó el intercambio de saberes,

fortaleciendo el sentimiento de pertenencia y afectando la reinterpretación de las condiciones de

trabajo. Se sugiere que los debates colectivos pueden contribuir como factor protector de

enfermedad de los trabajadores.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

190

Page 192: Laboreal, Volume 15 Nº2

Considérant que, par la clinique de l’activité, la présence du genre professionnel et sa mise à jour

constante par le collectif de travail constituent la clef de la production de la santé au travail,

cette étude voulait analyser le genre des psychologues des services d’assistance sociale d’une

municipalité brésilienne et sa relation avec le processus santé-maladie. Des rencontres ont eu

lieu avec cinq psychologues qui ont débattu de leur activité à partir de l’usage de photographies.

Les données ont été traitées par analyse du discours. Les conditions de travail et l'absence d'un

collectif professionnel se sont révélées être à la source des dégradations de santé rapportées.

Toutefois, au cours des rencontres, le partage croissant de connaissances a renforcé le sentiment

d’appartenance collective, et a infléchi l’interprétation des conditions de travail. Il est suggéré

que les débats collectifs sur l'activité professionnelle puissent contribuer à protéger les

travailleurs contre les dégradations de leur état de santé

Considering that in the clinic of activity theory the presence of the professional gender and its

constant updating by the work collective is the key to the production of occupational health, this

study aimed at analyzing the gender of the psychologists who work in social work reference

centers of a Brazilian municipality and its relationship with these professionals’ health-illness

process. Meetings were conducted with five psychologists who debated on their activity from the

use of photos. Discourse analysis was used to analyze the data. The conditions of work and the

absence of a professional collective were the basis for the illness reported. However, in the

meetings it was possible to intensify the sharing of knowledge, strengthening the feeling of

collective belonging, and affecting in the reinterpretation of working conditions. It is suggested

that collective debates about the work activity can contribute as a protective factor to the

sickness of workers.

ÍNDICE

Palabras claves: psicología, servicios sociales, acción social

Keywords: psychology, social services, social action

Palavras-chave: psicologia, serviços sociais, ação social

Mots-clés: psychologie, services sociaux, action sociale

AUTORES

IASMIN LIBALDE NASCIMENTO

Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo.

Universidade Federal do Espírito Santo. Avenida Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras, Vitória,

Espírito Santo, 29075-910.

[email protected]

THIAGO DRUMOND MORAES

Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento / Programa de Pós-Graduação em

Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo. Universidade Federal do Espírito Santo,

Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Avenida Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras, Vitória,

Espírito Santo, 29075-910.

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

191

Page 193: Laboreal, Volume 15 Nº2

Instrumentos de investigaçãoInstrumentos de investigaciónInstruments de rechercheResearch instruments

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

192

Page 194: Laboreal, Volume 15 Nº2

Debate de la práctica, uninstrumento para la construcción dela carrera del ergónomo quetraspasa las fronterasDebate sobre a prática, um instrumento para a construção da profissão do

ergonomista que atravessa fronteiras

L’échange sur la pratique, un instrument pour la construction du métier

d’ergonome qui dépasse les frontières

intervention ergonomique, metier d’ergonome, reflexion sur la pratique

Discussion on the practice, an instrument for the construction of the profession

of ergonomist who goes beyond the borders

Mirtha Mestanza y Damien Cromer

NOTA DEL EDITOR

Manuscrito recibido en julio/2019Aceptado tras peritaje octubre/2019

Los autores tienen a bien agradecer al conjunto de participantes a los eventos de la Comisión

Jeunes Pratiques en Réflexion en Francia, Quebec y Perú. Su perennidad está enteramente ligada

a su compromiso desde su creación

También, los autores tienen a bien recalcar que sin el sostenimiento continúo de la SELF y del

equipo de consejo de administración y oficinas sucesivas desde el 2014 en esta aventura

Finalmente, los autores desean acentuar que una Comisión funciona por el compromiso de

personas las cuales están compuestas por : Sarah Couillaud, Damien Cromer, Laurène Elwert,

Karen Hubert (1ra oficina Francia, 2014 - 2017) ; Patricia Bélanger, Natja Boulianne, Martin

Chadoin, Céline Delga, Simon Fournier (oficina Quebec, 2014 - 2017) ; Mélissa Bohorquez, Mirtha

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

193

Page 195: Laboreal, Volume 15 Nº2

Mestanza, Carolina Ullien (oficina Perú, 2018 – en curso) ; Camille Bachellerie, Manon Cléret,

Damien Cromer, Julie Marié, Camille Toulisse (2da oficina Francia, 2017 – en curso).

1

1. Introduccion

2 La Comisión “Jeunes Pratiques en Réflexion” (JPR) es una emanación de la Sociedad de

Ergonomía de Lengua Francesa (SELF) creada en 2014 a la iniciativa de jóvenesergónomos practicantes de Francia y de Quebec. Esta comisión nace a partir de laconstatación que los jóvenes practicantes hacen frente a dificultades particulares(Viau-Guay, 2009) y que, en la ausencia de espacios de debate de estas dificultades, éstasno hacen más que ampliarse. Para responder a esta necesidad, la Comisión ha podidorealizar hasta el día de hoy 12 jornadas de debate de la práctica. Cada una de ellas,articuladas alrededor de una temática específica, ha podido reunir entre 10 y 20ergónomos procedentes de formas diferentes de ejercicio de la carrera. Desde sucreación, la Comisión se desarrolló a nivel internacional con la creación de un despachoen Quebec. Gracias a esta experiencia y con la iniciativa de jóvenes ergónomospracticantes que realizaron sus estudios de ergonomía en Francia, la Comisión ahoraestá presente en el Perú, desde 2018. A pesar de los países y sus diferentes contextos,los objetivos de cada despacho de la Comisión “Jeunes Pratiques en Réflexion” son losmismos : donar un espacio propicio a los debates y discusiones para favorecer el debateentre jóvenes practicantes y participar a la construcción de nuevas prácticas,permitiendo a los participantes desarrollar sus redes de contacto. Este articulo nospermitirá presentar el desarrollo de la Comisión y los aportes de esta en la práctica delos ergónomos recientemente graduados. A partir de lo que se hace en Francia y enQuebec, presentaremos los objetivos de su desarrollo recientemente en el continentesudamericano, en Perú.

2. Del hecho a la necesidad

3 Los ergónomos viven dificultades profesionales que tienen un impacto a la vez sobre

ellos y sobre sus intervenciones (Viau-Guay, 2009). Como todo trabajador, el ergónomojuega su identidad, moviliza su objetividad, regula aspectos no anticipables de laintervención (Daniellou, 2006) en una perspectiva donde en pone en obra una actividadsituada que implica una adaptación continua de la acción en función del contexto y queno resume solamente la aplicación de planes de acción “todos hechos” (Schon, 1987).

4 Esto es verdad a lo largo de su carrera, pero de forma particular después de sus

primeros años de ejercicio (Vézina & Baril, 2009) cuando el dispositivo de seguimiento,después de una formación inicial, no está implementado. Entonces, es en el momentode la práctica profesional que todo está flaqueando y donde los ergónomosrecientemente diplomados están necesitando beneficiarse de la experiencia “de otros”,para manejar las situaciones en las cuales ellos están, han estado o estaránconfrontados (Beaujouan & Daniellou 2012 ; Beaujouan, Coutarel & Daniellou, 2013 ;Beaujouan, Aubert & Coutarel, 2015). Los ergónomos principiantes están a la espera dela impartición de prácticas subrayando la importancia del desarrollo profesional deconocimientos y de competencias a lo largo de su recorrido profesional. Este desarrollo

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

194

Page 196: Laboreal, Volume 15 Nº2

es crucial para el ergónomo que debe hacer frente a las dificultades inherentes a supráctica (Viau-Gay, 2009) : gestión de discrepancias entre los modelos de intervención eimplementación real del modelo en función de los contextos : dimensión relacional delas intervenciones en ergonomía ; necesidad de colaboración con ciertos actores de laempresa ; demanda de intervención yendo al encuentro de los valores del interviniente.

5 Es en una postura de “agente reflexivo” (Schön, 1983) que el ergónomo va poder

enriquecer sus maneras de hacer y de ver sobre la base de su práctica y el de los otros.Como lo subraya Clot (2010) es en la puesta en discusión de las controversiasprofesionales entre profesionales que desarrollan, ellos, su práctica y por el sentido deduda, la carrera y la disciplina. Un desarrollo un tanto más indispensable a la vista delas evoluciones del mundo del trabajo y del campo de acción de la práctica de losergónomos.

6 Si cada nuevo practicante viene a buscar algo específico después que participa a una

jornada organizada por la Comisión “Jeunes Pratiques en Réflexion” (JPR), quisiéramosespecificar su razón de ser en la continuidad de nuestro propósito y a partir de palabrasque componen su denominación (Cromer, Elwert, Hubert, Francou, & Couillaud, 2016) :

“Jeunes” [Joven] aquí, lejos de ser tomados en flagrante delito de juvenilismo. En efecto, este

calificativo se atribuye únicamente a la antigüedad en la práctica y no a la edad de los

practicantes. La creación de esta comisión se basa sobre un hecho : los jóvenes practicantes

tienen dificultades particulares en diferentes tipos de ejercicio de su profesión. Y la ausencia

del espacio de debate y de instrucción de sus dificultades no hacen más que acentuarlas. La

puerta abierta dejada a los jóvenes ergónomos en su práctica es de hecho un común

denominador permitiendo la creación de un colectivo facilitando el intercambio de palabras.

“Pratiques” [Prácticas] : el ergónomo es un trabajador como los otros : como todo

trabajador, es en la acción que el ergónomo construye los problemas, en los cuales, él tiene

que hacer frente y es la reflexión sobre la acción (Scho n, 1983) que lo llevan a conocer sus

propios límites y a sobrepasarlos. Las practicas están en el centro del debate y de los

intercambios de palabras durante las jornadas organizadas por la Comisión. Su pluralidad es

tan material permitiendo dar vida la carrera y cuestionar las reglas de la profesión para

hacerla avanzar juntos (Hubault, 2003). Denominador común, ellos también, los practicantes

permiten a los “estilos” (Clot, 1999) cuestionar el “tipo” común al criterio de diversos

lugares del ejercicio en un contexto cambiante (Bourgeois, 2006).

“(en) Réflexion” [Reflexionando/pensado/cuestionando] : la reflexión de las practicas

demanda la construcción de un dispositivo específica permitiendo a los practicantes de traer

de si durante las jornadas y de ponerlo en movimiento colectivamente. Para favorecer esta

practica reflexiva colectiva, todo comienza por la explosión de una intervención cuya

estructura puedo parecerse a un curso de formación (Beaujouan & Daniellou, 2012). Lejos de

ser una simple historia, esta exposición es la ocasión de pausar en una intervención que ha

generado preguntas al respecto del tema propuesto. Se trata entonces, de exponer las dudas,

los obstáculos, lo que se ha podido hacer y lo que no se ha podido hacer. Sigue, una discusión

inicial en colectivo limitado, después en colectivo pleno permitiendo el enriquecimiento a

partir de similitudes de otras intervenciones y la construcción de la reflexión común

alrededor de un tema propuesto.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

195

Page 197: Laboreal, Volume 15 Nº2

3. Contexto y nacimiento de la Comisión en Francia

7 El censo de ergónomos efectuado por el colectivo ORME (“Organisation Représentant

les Métiers de l’Ergonomie”) en 2015 (Bonnin, Rascle, & Roger, 2017) ha permitidoestimar el número de ergónomos a más de dos mil en Francia. Su número esta encrecimiento hace 50 años y las formas de ejercicio de la carrera son múltiples :consultores, internos, en servicio de salud en el trabajo (SST), en investigación, etc.También, un título protegido a la escala de Europa (el título de ergónomo Europeo)permite calificar a los ergónomos de más de 3 años de ejercicio que hacen la solicitud yla formación, la trayectoria y la práctica correspondiente a ciertos criterios. Desde el2018, certificación “ergónomo junior certificado” viene a completar una necesidadcomplementaria : permite a los nuevos profesionales hacer valorar la calidad de suformación inicial, ya que ellos no pueden todavía acceder al título de ErgónomoEuropeo en ejercicio.

8 En este contexto de desarrollo de la carrera y de la disciplina, muchas asociaciones

participan a esta estructuración. La SELF creada en 1963 es la primera de entre ellasseguida recientemente por asociaciones profesionales, locales o todavía de estudiantes.También, cada año muchos congresos o jornadas de estudios son realizadas por ciertasuniversidades o asociaciones dentro de ello el congreso anual de la SELF.

9 A pesar de esta estructuración, el constatado hecho en 2014 es que ha sido poco

frecuente ver jóvenes practicantes aventurarse y participar a los debates después de laspresentaciones durante los congresos animados por la comunidad. Muchos factorespueden explicar esta reserva y notablemente el hecho de un cierto miedo aljuzgamiento. Estos temores pueden igualmente expresarse dentro de estructuras queproponen momentos de los intercambios de palabras. Este hecho ha llevado a losmiembros fundadores de la Comisión a identificar una necesidad de compartiralrededor de la práctica de la carrera del ergónomo y para que este debate puedaaprovechar a los jóvenes ergónomos, era necesario que la palabra pueda ser liberada.Esta libertad parece poder tener lugar solamente entre “nosotros” los jóvenesergónomos, que era necesario crear un “entre sí” efímero y recurrente.

10 A la escucha de este hecho y de los jóvenes practicantes que lo portan, la SELF permite

la apertura de la Comisión Jeunes Pratiques en Réflexion. Su creacion dentro de la SELFhace sentido en un sentido integrativo de diálogo con las otras asociaciones yapresentes en la comunidad francófona. Era necesario todavía definir lo que “jóvenes”quiere decir. “El entre sí” necesita la reunión de individuos teniendo un nivel deexperiencias similares o próximas y es para favorecer los debates y las comparacionesde prácticas entre profesionales. También, después de una reflexión madura, ha sidodecidido abrir estos espacios de discusión a los participantes de menos de 6 años deexperiencia en ergonomía cualquiera sea su edad. Validado en acta, la Comisión hapodido comenzar su trabajo.

4. Construcción de la comisión en Francia

11 Presentaremos aquí algunos elementos sobre la estructuración, así como también la

ingeniería de la discusión implementada en Francia. La filosofía de fondo es invariable

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

196

Page 198: Laboreal, Volume 15 Nº2

en sus duplicaciones en Quebec, después hoy en día en Perú. Las siguientes partes nospermiten evocar e interrogar las especificaciones locales.

12 En Francia después de su creación, la Comisión ha realizado 12 jornadas de debates

sobre la práctica. Las cuales han reunido una quincena de ergónomos recientementegraduados llegando a más de 150 el número de participantes después de 5 años deactividad. Cada jornada está articulada alrededor de una temática especifica (e.g., : “lapluridisiplinariedad en la intervención” ; “la promoción de la intervenciónergonómica” ; “el ergónomo en búsqueda de profesionalización” ; “la caja aherramientas del ergónomo”). Estas temáticas son construidas a partir de un sondajeanual en línea a fin de abarcar al mayor número, respondiendo a las problemáticasconcretas que preocupan la práctica cotidiana.

13 Las jornadas son animadas por dos animadores en el cual el rol, aparte de animar es de

asegurarse de la participación activa de los participantes favoreciendo el debate.Detallaremos la organización de estas jornadas en tres tiempos : (1) antes de la jornada ;(2) la jornada ; (3) después de la jornada.

4.1. Antes de la jornada

14 Previamente a la jornada, una organización metodológica de ésta a la vista de los

objetivos de la Comisión resulta indispensable (Clot, Faita, Fernandez, & Scheller, 2000).Así, el animador procede al trabajo “de ingeniería y discusión” (Detchessahar, 2011 ;Van Belleghem & Forcioli-Conti, 2015). El crea las condiciones que serán necesarias a laemergencia y la realización efectiva del debate de las prácticas y la actividad real. Otro,los aspectos logísticos, el animador establece el desarrollo de la jornada vigilandocuadrarla sin atraer la rigidez, a fin de dejar lugar a los debates. El define así losdiferentes tiempos de la jornada, las orientaciones dadas, y pre-identifica los momentosde regulación de la jornada. El organiza la jornada en función del panel de inscritos conel fin de favorecer el debate de las practicas entre ergónomos de estructurasheterogéneas. Aparte del contenido, el animador vigila también el contenido de lajornada. El identifica puntos alrededor de los cuales los participantes intercambiaran afin de asegurarse que cada uno pueda expresarse y que el grupo tome una pausa sobrela temática propuesta y sobre su práctica. Los participantes se inscriben conanticipación vía un sondeo en línea y proponen una presentación voluntaria.

4.2. La jornada

15 Durante la jornada, el animador debe hacer emerger los debates de las practicas :

El primer tiempo consiste en abrir la jornada. Cada participante se presenta y expresa sus

expectativas. Las reglas de funcionamiento del grupo son construidas con el fin de instaurar

un clima de escucha, de confianza y de benevolencia, permitiendo la libre expresión de cada

uno y la disputa profesional. La importancia del marco propuesto, en la cual los animadores

son los garantes es primordial en el transcurso de esta jornada.

El segundo tiempo consiste en debatir colectivamente en grupos pequeños. En efecto, los

sub-grupos son preparados con anticipación, una discusión situada es lanzada, permitiendo

en lo consecutivo a los participantes evocar situaciones de intervenciones en conexión y de

alargar la dinámica del cuestionamiento a todo el grupo. Durante esta fase, los animadores

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

197

Page 199: Laboreal, Volume 15 Nº2

navegan de grupo en grupo a fin de asegurar que los debates y la “mayéutica” tengan lugar

y, como responsable del marco, intervienen si hay necesidad.

La tercera parte consiste en una difusión de los debates que hayan tenido lugar en los sub-

grupos. Seguido a la fase de restitución, un debate con todos los participantes es iniciado.

Los animadores, en cuanto a ellos, sintetizan los puntos más destacados de cada restitución y

acompañan vinculando los diferentes elementos evocados.

4.3. Después de la jornada

16 Después de la jornada, los animadores realizan el informe. Para este hecho, ellos se

basan esencialmente en el último momento de la jornada para construir un soporte deintegración y de nuevas reflexiones seguido a los debates. La idea no es de producir undocumento analítico y exhaustivo, pero de “retranscribir” las preguntas acentuadas, losobstáculos y las fortalezas identificadas, poniendo en evidencia las conexiones quepudieron ser hechas. Este documento es únicamente a destinación de los participantesde la jornada, permite acceder a un nivel superior de “sedimentación” de los debates.

17 El análisis de estos cinco años de funcionamiento nos ha permitido hacer evolucionar

las formas de debates y de convocatoria de la actividad de los participantes. También,cada temática llama a una modificación específica guardando los elementos deestructuración invariable.

18 Las opiniones de los participantes son numerosas. Muy a menudo en caliente, pero

también después y son a distintos niveles. De una parte, los participantes ponen enevidencia la importancia de la creación de redes ; no es de hecho raro que losparticipantes se llamen o llamen a los miembros de la Comisión fuera de las jornadas.Por otra parte, a nivel individual los elementos de debate han permitido resolversituaciones concretas en el ejercicio de los participantes. A nivel colectivo, ciertosparticipantes han podido trasponer este formato de debates en la práctica con suscolegas dentro de su estructura de pertenencia. Después de un Symposium (Cromer etal., 2016), dejamos el lugar a un participante. Este ha podido evocar de formaespontánea “en su práctica profesional, los debates de la jornada lo han ayudado, encierta medida, a evolucionar su manera de comprender las intervenciones”. También,concluyó su intervención diciendo : “mi participación en esta jornada a dado un nuevoímpetu y una nueva dinámica al ejercicio de mi carrera de intervencionista. LaComisión representa un espacio privilegiado, un apoyo para “reinterrogar” y hacerevolucionar nuestras prácticas sobre la base de retornos de experiencia”.

5. Una primera experiencia tras-Atlántica : Quebec

19 A partir de su construcción en Francia, la Comisión ha encontrado muy rápido un eco a

cargo de jóvenes practicantes en el extranjero y en ocurrencia en Quebec.Desarrollaremos en seguida la apropiación peruana actual, deseamos evocar laexperiencia desarrollada en Quebec de 2014 a 2017 y hoy en día pendiente, esperandonuevos voluntarios para volver a implantarlo. En Quebec, el número de ergónomos sesitúa entre 250 y 300 (Lortie, 2009) por tres formaciones en ergonomía impartidas en launiversidad. Dos asociaciones estructuran el pasaje : uno a la escala de Canadá(“l’Association Canadienne d’Ergonomie” – ACE) y el otro más reciente en Quebec(“l'Association Professionnelle des Ergonomes du Québec” – APEQ). Sobre una

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

198

Page 200: Laboreal, Volume 15 Nº2

superficie de más de 1,5 millones de km2, los ergónomos resultan dispersos en elterritorio lo que no facilita las posibilidades de reagrupamiento y de debates entrepracticantes. La mayoría de entre ellos trabajan en demandas orientadas porproblemáticas de salud (indemnización, readaptación, TMS, ergonomía de oficina).También, el hecho de su proximidad con los Estados Unidos hace que esté presente unainfluencia de la ergonomía de Factores Humanos.

20 En este contexto, en Francia pudimos desde el principio favorecer el debate sobre la

práctica, la función de la Comisión en Quebec era también de contribuir a laestructuración de una comunidad pluralista (Chadoin, Boulianne, Hubert, & Couillaud,2016). Así, el objetivo ha sido de llegar a consolidar una comunidad a través de losdebates entre jóvenes practicantes para identificar los puntos comunes que hacen“comunidad”, pero también para romper el aislamiento profesional. Las empresas deQuebec no permiten la realización de estas jornadas dentro del tiempo de trabajo de losergónomos, los eventos organizados en Quebec se desarrollaban al finalizar el día.Como para Francia, los eventos se articulaban alrededor de temáticas (e.g., “el trabajodel ergónomo en lo cotidiano, posicionamiento, colaboraciones, desafíos, etc.”).

21 Estos eventos agrupaban una decena de jóvenes practicantes articulándose, como en

Francia, en diferentes tiempos. En un inicio, dos o tres ergónomos han sido invitados aatestiguar sus prácticas en función de un sujeto. Ellos disponían de un tiempo parapresentarse y presentar su estructura, pues su exposición de intervención en conexióncon la temática. Durante este tiempo, toda interrupción era posible a fin de anclarformas de comparaciones de prácticas entre los participantes.

22 Estos eventos han podido desarrollarse durante los tres años de funcionamiento del

despacho en Quebec permitiendo el intercambio de prácticas difíciles tanto del puntode vista de formaciones iniciales de los participantes (ergonomía de la actividad /Human Factors) que solo del punto de vista de alejamiento territorial.

6. La comisión en Perú

23 No se encontró una traducción literal del nombre de la Comisión a español, pero las JPR

son tituladas : “Jornadas de Jóvenes Ergónomos en Perú”.

24 Los países de América del sur al igual que Quebec se ven muy influenciados por las dos

corrientes de ergonomía : Ergonomía de la actividad / Human Factors. En este contextoen el Perú encontramos profesionales con formación pura en una de las dos corrientesde ergonomía o una formación mixta ya que actualmente, sólo hay dos maestrías en dosuniversidades de Lima. Estos profesionales se desempeñan en diversos sectores como :minería, industria, agricultura, salud, etc.

25 Hay una gran cantidad de médicos del trabajo, ingenieros, entre otros profesionales,

que tienen la formación de ergonomía y utilizan sus conocimientos para la gestión de lasalud ocupacional en las empresas, consultores externos o profesores en lasuniversidades.

26 Los jóvenes practicantes se ven envueltos en las dos formas de prácticas de la

ergonomía. Es cierto que muchos de ellos practican la ergonomía de forma empíricaporque cuentan con alguna pequeña formación (diplomado, cursos de universidad,cursos de especialización, etc.). Entonces, ellos sólo responden directamente a lademanda inicial de la empresa, generalmente realizar una medición de ángulos de la

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

199

Page 201: Laboreal, Volume 15 Nº2

postura de trabajo de la persona, aplicar un método de evaluación del riesgo yrecomendar algunas soluciones. Esto para el cumplimiento de las exigencias legales onormativas de la empresa. Otros, por el contrario, cuentan con maestrías en elextranjero y tratan de reformular la demanda para generar una intervenciónergonómica que genere en el mejor de los casos la transformación del trabajo o en sudefecto un impacto positivo en los actores de la empresa.

27 Las demandas en su mayoría emergen por problemas asociados a Trastornos Musculo

Esqueléticos o un alto índice de días de descanso médico. Es el médico del trabajo,responsable de higiene y seguridad o el gerente de recursos humanos quien porta en sumayoría las solicitudes de intervención. En muy pocas ocasiones se desarrollanintervenciones ergonómicas, pero éstas van tomando un importante posicionamientogracias a los resultados evidenciados en las empresas y el desarrollo de diplomados deergonomía con un enfoque sistémico.

28 Gracias a la formación francesa de algunos ergónomos practicantes en Perú

actualmente, conociendo la importancia de la práctica reflexiva en las formaciones enFrancia e inspirados en el éxito de las jornadas de “Jeunes Pratiques en Réflexion” noshemos visto en la necesidad de generar espacios de reflexión de la práctica de laergonomía en Perú.

29 El objetivo queda invariable, es decir la generación de espacios de debate para los

practicantes recién graduados, pero a raíz de las necesidades de formación, durante lasjornadas se toma un tiempo para la formación técnica, recomendación bibliográfica dela ergonomía de la actividad o ergonomía sistémica y el desarrollo de una intervenciónergonómica.

30 Hasta la fecha hemos realizado dos jornadas, una en Lima y otra en Arequipa y éstas

reunieron en total 12 participantes. El contexto laboral exige generalmente realizarlolos fines de semana (viernes por la tarde, sábados o domingos).

31 Las jornadas son organizadas bajo la misma metodología de la matriz Francia, teniendo

en cuenta ciertas modificaciones : tiempo para la impartición de conocimientos de laergonomía de la actividad, la exposición de casos de accidentes de trabajo, el desarrollode proyectos de investigación, las intervenciones bajo la ergonomía Humans Factors ypor su puesto las intervenciones bajo la ergonomía de la actividad. Debido al pequeñonúmero de participantes, hemos resuelto la exposición de cada caso frente a todos y eldebate ha estado focalizado en : “la construcción de la intervención, el posicionamientoy la transformación del trabajo”.

32 De la primera jornada hemos tenido la retroalimentación de algunos participantes. Uno

de ellos nos dijo lo siguiente :

33 “la razón por la cual participé en la jornada es porque buscaba casos reales que otros

participantes hayan solucionado. Esta jornada se diferenció de otras porque tuve laoportunidad de contar mis errores, fallas, éxitos y avances en la gestión. Además, mebeneficie de la experiencia de los otros participantes. Me quedó grabado la importanciadel posicionamiento para lograr la transformación del trabajo. A partir de esa jornadaabordo los problemas en mi empresa de forma sistémica, no busco una solucióninmediata, sino tomo una pausa para encontrar la causa raíz del problema. En laspróximas jornadas espero encontrar experiencias de otros rubros y las diferentesformas de solucionar los problemas para de esta manera abrir mi mente a nuevasideas”.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

200

Page 202: Laboreal, Volume 15 Nº2

34 Debido al contexto peruano del desarrollo de la ergonomía tenemos ciertas dificultades

básicamente en la formación técnica. Comparando la práctica peruana, con la francesay la quebequense, encontramos mucha similitud con la realidad quebequense y un pocolejana la realidad francesa. Pero, esto está en evolución ya que las formaciones vanabriendo espacio a la ergonomía de la actividad, hay empresas que van conociendo losimpactos de una intervención ergonómica y hay nuevas formaciones en proyectos.

35 En lo consecutivo deseamos seguir afianzado estas jornadas tanto en Lima como en

provincia. Del mismo modo queremos converger con otras organizaciones quedesarrollan la ergonomía en el Perú como la SOPERGO (Sociedad Peruana deErgonomía).

7. Conclusión

36 Si uno de los objetivos de la Comisión JPR es de proporcionar espacios para que los

jóvenes practicantes puedan dialogar en un marco favoreciendo el “entre nosotros”,pensamos que éste no tiene sentido que en la aplicación dinámica con la totalidad de lacomunidad profesional (Cromer, Cléret, Marié, Toulisse, Chambel, & Bachellerie, 2019).Ha sido el objetivo de este artículo : dar a conocer los objetivos de la fabricación, desdeeste año, talleres de dialogo sobre la practica en el Perú. Estos últimos, son el fruto deuna construcción más antigua que ha comenzado y funciona hasta el día de hoy enFrancia.

37 A través de lo que presentamos en los tres países, en los cuales la Comisión ha podido

organizar estos espacios de debate sobre la práctica, hemos podido poner en evidencialos objetivos comunes. El ergónomo defiende un enfoque de desarrollo conjunto de laeficacia y de la salud en la empresa, y es con estos dos objetivos centrales que se juegatoda la necesidad del debate sobre la práctica. Frente a contextos de intervencionesmúltiples y siempre complejas, el ergónomo se apoya sobre sus recursos (formacióninicial, colegas, supervisor, etc.), pero las situaciones de aislamiento y/o de límite deestos recursos pueden resultar numerosos (Viau-Guay, 2009). Es aquí mismo que sesitúan los objetivos de esta Comisión : frente al hecho de diversidad y de diversificaciónde prácticas, ser espacio de debate y de reflexión sobre las practicas actuales creadospor y para los jóvenes practicantes Lugares de debates que permiten a los practicantesdesarrollar individual y colectivamente su práctica a través de relatos de lo que Elloshan podido hacer, pero también lo que no han podido hacer. Si este punto esconvergente en Francia, Quebec y Perú podemos ver que las divergencias de contextosentre estos países conllevan a diferentes objetivos dentro de la emergencia y laestructuración de la comunidad de práctica. En todos los casos, estas tres experienciasdesarrolladas por la Comisión ponen en evidencia la necesidad de un marcopermitiendo estos desarrollos de la práctica de la carrera del ergónomo a la escalaindividual, colectiva e institucional. Y es en esta perspectiva y en un dialogo constanteentre practicantes recientemente graduados y toda la comunidad nacional einternacional de la Comisión se propone proseguir su contribución para los futurosaños.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

201

Page 203: Laboreal, Volume 15 Nº2

BIBLIOGRAFÍA

Beaujouan, J., & Daniellou, F. (2012). Les récits professionnels dans une formation d'ergonomes.

Le Travail Humain, 4(75), 353-376. doi : 10.3917/th.754.0353

Beaujouan, J., Coutarel, F., & Daniellou, F. (2013). L'expérience des autres dans la formation :

apports et limites du récit professionnel. Éducation Permanente, 196, 25-38.

Beaujouan, J., Aubert, S., & Coutarel, F. (2015). Construction de l’intervention ergonomique. D’une

préoccupation de montée en cadence à la décision d’investir pour transformer le travail :

embûches et stratégies. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, 17(2). doi : 10.4000/

pistes.4599

Bonnin, D., Rascle V., & Roger, T. (2017). Ergonomes praticiens et ergonomie opérationnelle :

quels ancrages et quels moyens ? Problématiques actuelles de l’organisation du métier. In B.

Barthe, O. Gonon, & C. Brun (Coord.), Actes du 52ème Congrès de la SELF : Présent et futur de

L’Ergonomie (pp. 709-711). Toulouse : SELF.

Bourgeois, F. (2006). Déterminer la valeur et l’importance d’une intervention : l’ergonome

confronte encore a la mesure, a la subjectivité et a la finalité de son action. In Collection

Journées de Bordeaux sur la pratique de l’ergonomie : La place de l’évaluation dans la pratique de

l’ergonomie (pp. 113-121). Université Victor Segalen Bordeaux 2.

Chadoin, M., Boulianne, N., Hubert, K., & Couillaud, S. (2016). Un processus commun de

construction des pratiques, mais des moyens et des temporalités différents

L'exemple de la Commission SELF Jeunes Pratiques en Réflexion en France et au Québec. Congrès

de l’ADÉO - L’ergonomie de l’activité à travers le Monde.

Clot, Y. (1999). La fonction psychologique du travail. Paris : PUF.

Clot, Y. (2010). Le travail a cœur. Pour en finir avec les risques psychosociaux. Paris : La De couverte.

Clot, Y., Faita, D., Fernandez, G., & Scheller, L. (2000). Entretiens en autoconfrontation croisée :

une méthode en clinique de l’activité. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, 2(1).

doi : 10.4000/pistes.3833

Cromer, D., Elwert, L., Hubert, K., Francou, F., & Couillaud, S. (2016). La commission SELF Jeunes

Pratiques en Réflexion : de l’échange sur la pratique a son enrichissement. In S. Leduc, & G.

Valléry (Dirs.), Actes du 51ème Congrès de la SELF : Ergonomie(s), Ergonome(s) : Quelles évolutions à la

croisée d’une discipline et d’un métier ? Marseille : SELF.

Cromer, D., Cléret, M., Marié, J., Toulisse, C., Chambel, A., & Bachellerie, C. (2019). Quand les

expériences se rencontrent : une opportunité de développement des pratiques de chacun –

Ateliers d’échanges sur les pratiques ouverts à tous. In Actes du 54ème Congrès de la SELF - Université

de l'Ergonomie : Comment contribuer à un autre monde ? Tours : SELF.

Daniellou, F. (2006). Entre expérimentation réglée et expérience vécue : Les dimensions

subjectives de l’activité de l’ergonome en intervention. @ctivites 3(1), 5-18. doi : 10.4000/activites.

1835

Detchessahar, M. (2001). Quand discuter, c'est produire... Pour une théorie de l'espace de

discussion en situation de gestion. Revue française de gestion, 132, 32-43.

Hubault, F. (2003). Impossible de s’entendre si on renonce a danser ensemble. In F. Hubault

(Coord.), Le métier d’ergonome (pp. 155-169). Toulouse : Éditions Octare s.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

202

Page 204: Laboreal, Volume 15 Nº2

Lortie, M. (2009). L’ergonomie au Québec : perspectives et prospectives. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, 11(1). doi : 10.4000/pistes.2902

Schon, D. (1983). The reflexive practitioner : how professionals think in action. USA : Basic Books.

Schön, D. (1987). Educating the Reflective Practitioner. San Francisco : Jossey-Bass.

Van Belleghem, L., & Forcioli Conti, E. (2015). Une ingénierie de la discussion ? Chiche ! In Actes du

50ème Congrès de la SELF : Articulation performance et santé dans l'évolution des systèmes de

production (pp. 323-331). Paris : SELF.

Vezina, N., & Baril, R. (2009). Apprendre a intervenir : difficulte s rencontrees par de jeunes

ergonomes et strate gies. In 40ème Congres annuel de l'Association Canadienne d'Ergonomie. Quebec :

ACE.

Viau-Guay, A. (2009). Analyse de l’activité déployée par un ergonome lors de difficultés professionnelles.

Contribution a la formation initiale (Thèse de doctorat). Faculté des Études Supérieures, Université

Laval, Quebec.

RESÚMENES

Desde este año, espacios de debate de la práctica de la carrera creada por y para jóvenes

practicantes en ergonomía son implementados en Perú. Esta iniciativa parte del hecho que el

ergónomo es un trabajador como otro, y que, a este título, es necesario dialogar sobre la acción

que realiza cotidianamente para avanzar y construir su práctica futura. Si estos espacios están

recientemente en Perú, éstos existen en Francia hace 5 años y son propuestos por la Comisión

“Jeunes Pratiques en Réflexion” de la sociedad de Ergonomía de Lengua Francesa. En este

artículo, proponemos contar su génesis, su funcionamiento y los objetivos de su desarrollo.

Desde este ano, espaços de debate sobre a prática do oficio, criados por e para jovens

profissionais em ergonomia, foram implementados no Peru. Essa iniciativa baseia-se no fato de

que o ergonomista é um trabalhador como qualquer outro, e que, por isso, é necessário discutir a

ação realizada diariamente afim de progredir na construção da sua prática futura. Se esses

espaços são recentes no Peru, eles existem na França há já 5 anos e são propostos pela comissão

“Jeunes Pratiques en Réflexion” da Sociedade de Ergonomia Francesa (SELF). Neste artigo,

propomos contar sua gênese, seu funcionamento e os desafios dos seus desenvolvimentos.

Depuis cette année, des espaces d’échanges sur la pratique du métier créés par et pour de jeunes

praticiens en ergonomie sont mis en place au Pérou. Cette initiative part du constat que

l’ergonome est un opérateur comme un autre, et qu’à ce titre il a besoin d’échanger sur l’action

qu’il mène quotidiennement pour avancer et construire sa pratique de demain. Si ces espaces

sont récents au Pérou, ils existent depuis plus de 5 ans en France et sont proposés par la

Commission “ Jeune Pratiques en Réflexion » de la Société d’Ergonomie de Langue Française.

Dans cet article, nous proposerons d’en raconter la genèse, le fonctionnement et les enjeux de

leur développement.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

203

Page 205: Laboreal, Volume 15 Nº2

ÍNDICE

Palavras-chave: intervenção ergonômica, profissão de ergonomista, reflexão sobre a prática

Keywords: This year, spaces to exchange practices have been created by and for young

ergonomics practitioners in Peru. This initiative stems from the observation that the ergonomist

is an operator as any another, and that as such it is necessary to discuss the daily action in order

to advance and build tomorrow’s practice. If these spaces are recent in Peru, they exist for more

than 5 years in France and are proposed by the Committee “Jeunes Pratiques en Reflexion” from

the French Speaking Ergonomics Society (SELF). In this paper, we propose to tell their genesis,

their functioning and the challenges of their development. rgonomic intervention, ergonomist

profession, reflection on practice

Palabras claves: intervención ergonómica, profesión ergónomo, reflexión sobre la práctica

AUTORES

MIRTHA MESTANZA

Aquaergo / Pontificia universidad católica del Perú, Av. Universitaria 1801, San Miguel, Lima 32,

Perú

[email protected]

DAMIEN CROMER

Ousia Conseil / Laboratoire ACTé (EA 4281), Université Clermont Auvergne, 34 Avenue Carnot,

63000 Clermont-Ferrand, France

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

204

Page 206: Laboreal, Volume 15 Nº2

Revisões temáticasRevisiones críticasRévisions thématiquesCritical and topical review

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

205

Page 207: Laboreal, Volume 15 Nº2

O mundo do trabalho em(re)análise : um olhar a partir dapsicodinâmica do trabalhoEl mundo del trabajo en (re)análisis : una mirada desde la psicodinámica del

trabajo

Le monde du travail en (re)analyse : regard sur la psychodynamique du travail

The world of work in (re)analysis: a view from the psychodynamics of work

João Areosa

NOTA DO EDITOR

Manuscrito recebido em julho/2018Aceite após peritagem novembro/2019

1. Introdução

1 Os efeitos do trabalho sobre a saúde mental são ainda um campo relativamente pouco

considerado, apesar que já existirem algumas décadas de investigação sobre estatemática. Na realidade, estamos ainda longe de conhecer o verdadeiro alcance einfluência que o trabalho nos pode provocar, quer seja nos benefícios que oferece, querseja nos aspetos prejudiciais que suscita, quer ainda, como um misto de ambas assituações. Talvez, na maioria das vezes, o trabalho implique isso mesmo : um mistoentre aspetos positivos e negativos.

2 Obviamente que a saúde mental depende de múltiplos fatores (incluindo do nosso

modelo económico – capitalismo), mas nunca podemos esquecer a variabilidade pessoalde cada membro da sociedade. Por isso, uma determinada situação pode ser entendidaou sentida como negativa para determinados indivíduos e, pelo contrário, pode ser

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

206

Page 208: Laboreal, Volume 15 Nº2

vista como positiva para outros. Naturalmente que isto acaba por complexificarbastante a forma como podemos interpretar aquilo que afeta a saúde mental. Assim,quando ao longo do texto se fizer alusão - de modo aparentemente simplista - à relaçãotrabalho/saúde mental deve considerar-se que esta ligação está entrelaçada por aspetosmultidimensionais, decorrente de fatores biopsicossociais. Logo, não há uma relaçãodeterminista entre trabalho e adoecimento. São as múltiplas e diversificadas interaçõesentre o trabalhador, o seu coletivo de trabalho e a organização do trabalho que podemproteger ou degradar a saúde mental. E nesta teia complexa de interações há umaespécie de coexistência ou “confronto” entre fatores protetores e não-protetores(deteriorantes) da saúde mental. A vivência nunca é monolítica.

3 O presente artigo pretende apresentar algumas das principais ideias discutidas na

perspetiva da psicodinâmica do trabalho, estruturando-se na extensa literatura sobre otema. Ao longo do texto será debatida a saúde mental relacionada ao trabalho, sabendoque este é o ponto de ancoragem desta disciplina (Sznelwar, 2015). A seleção dabibliografia foi efetuada, entre outras fontes, a partir de diversas pesquisas em bases dedados, seminários no âmbito da temática ou, pontualmente, através de contatospessoais. Esta área de conhecimento surgiu há pouco mais de 25 anos e teve comoprincipal mentor Christophe Dejours. Apesar da discussão sobre a relação entretrabalho e saúde mental ser mais ampla (em termos de modelos e perspetivas) apsicodinâmica do trabalho acaba por incorporar diversos saberes de outras disciplinascientíficas e isso permitiu-lhe desenvolver uma análise extraordinariamente pertinentesobre o seu objeto de estudo. É exatamente por isso que a utilizámos como principalreferencial.

2. Capitalismo : um travão para a humanização dotrabalho

4 Os diversos fatores que estiveram na génese do capitalismo, preconizados por Max

Weber (2001), são bastante diferentes daqueles que podemos observar na atualidade.Segundo Richard Sennett (2001) houve uma rutura significativa entre o velho capitalismo

de classe e o novo capitalismo flexível. As consequências desta transformação foram, nomínimo, aterradoras para algumas formas de interação e convivência contemporâneas,incluindo ao nível do trabalho. O lucro tornou-se, cegamente, no único objetivo dasempresas (ou pelo menos o principal) e a ideologia utilitarista foi levada ao extremo,tendo em conta que os meios utilizados para atingir esse fim (lucro) são, em certoscasos, imorais. Foi também por isso que no mundo atual do trabalho as pessoas setornaram descartáveis e este tipo de práticas originou um verdadeiro batalhão detrabalhadores precários e um exército de desempregados. A pobreza e a exclusãoalastram-se num mundo de crescente produção e abundância, pois nunca tantosrecursos estiveram tão concentrados - e assimetricamente distribuídos - na história dahumanidade. O capital passou a ter um valor superior ao próprio Homem. Estaafirmação não é exagerada se considerarmos que a hegemonia financeira dos mercadosde capital empurra para a miséria largas camadas da população em diversos países. Asconsequências negativas para a qualidade de vida das populações são demasiadoevidentes, mas os efeitos que estas situações acarretam para a saúde/sanidade mentaldos indivíduos e para a sua própria identidade estão, ainda hoje, longe de sertotalmente compreendidas.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

207

Page 209: Laboreal, Volume 15 Nº2

5 A forma como estamos a gerir politicamente as nossas sociedades levanta alguns

paradoxos, os quais só encontram explicação na “irracional” procura do lucro. Vejamosapenas dois exemplos assustadores : 1- Existem milhões de homens e mulheresdesempregados, mas continuamos a obrigar alguns de nós a trabalhar mais de 50 horaspor semana ou, ainda pior, a recorrer ao trabalho infantil ; 2- Produzimos cada vezmais, mas, pelo contrário, não produzimos cada vez melhor, apesar dos constantesavanços técnicos e tecnológicos [1]. Para além disso, nem mesmo aquilo que produzimosem excesso é distribuído pelas classes desfavorecidas (em particular por aqueles quemorrem de fome, literalmente) e isto é algo absolutamente imoral.

6 O nosso carácter parece estar a ficar profundamente corroído, em parte, por termos

perdido a sensação de que somos úteis para os outros e de que temos um papel adesempenhar no seio da comunidade, ou seja, é a nossa própria vivência ancestralcoletiva que parece estar a desmoronar-se. A coesão está mais frágil e a conceção deque temos uma função social útil para desempenhar torna-se cada vez menos clara eevidente. Paralelamente, a ideia de contrato social (onde está subjacente a noção de quecada um dos membros da sociedade tem mais vantagens em viver em conjunto do queisoladamente) parece estar a desvanecer-se, devido aos processos de individualizaçãoimpulsionados pelo atual capitalismo flexível. Estaremos nós a caminhar para aquiloque Hobbes (1983) designou como estado de natureza, em que, neste caso, a fugazsobrevivência humana só poderia ser obtida através da guerra de um contra todos ? Oproblema é que perante este cenário hipotético não haverá vencedores, todosestaremos inevitavelmente vencidos ! É precisamente por isso que a noção de contrato

social (preconizada por Jean-Jacques Rousseau, 1989) é mais vantajosa para todos.Dentro deste contexto, é importante vincar a seguinte ideia : “Um regime que não dáaos seres humanos razões profundas para cuidarem uns dos outros não pode manterpor muito tempo a sua legitimidade” (Sennett, 2001, p. 225).

7 Segundo uma assertiva expressão utilizada por diversos autores, desde meados da

década de 1970, existe uma dualização do mercado de trabalho, dado que muitas empresastêm gerado, por um lado, uma elite de trabalhadores, com rendimentos consideráveis erelativamente estáveis ao nível da sua situação laboral e, por outro lado, umaesmagadora maioria de trabalhadores precários, mal remunerados e sem qualquer nívelde proteção e segurança no emprego [2]. Por motivos diferentes, quer uns, quer outros,acabam por estar sujeitos a pressões significativas oriundas do seu ambiente laboral,devido, por exemplo, ao excesso de trabalho e a jornadas bastante mais longas do queseria admissível [3]. Após este pequeno enquadramento pouco animador sobre omomento histórico que estamos a viver, volto a sublinhar qual é o verdadeiro objetivodeste texto. Daqui por diante, irei tentar debater quais são os principais efeitos dotrabalho na qualidade de vidas das pessoas, particularmente, na sua saúde mental. Estadiscussão tem vindo a ganhar importância nos últimos anos e têm chegado muitoscontributos de diversas disciplinas científicas ; mas a abordagem da psicodinâmica dotrabalho (a qual inclui muitos destes achados) destacou-se pela sua originalidade epertinência. Em resumo, vou socorrer-me da já longa reflexão da escola dejouriana paracompreender qual é a verdadeira influência que o mundo do trabalho exerce sobre nós.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

208

Page 210: Laboreal, Volume 15 Nº2

3. Sobre as noções de trabalho e de saúde

8 Acredito que será útil começar por efetuar algumas considerações sucintas acerca da

noção de trabalho, dado que é em torno deste tema que gira uma parte significativa da

reflexão da psicodinâmica do trabalho. Atualmente a divisão social do trabalhocomplexificou-se de tal forma que já não se limita a umas quantas operações simplesrealizadas ao longo da vida, tal como era preconizado por Adam Smith (1979), no seuclássico “A riqueza das nações”. Segundo as suas palavras, naquela época a vida dostrabalhadores estava remetida para uma quase inevitável ignorância (visão que, decerto modo, Marx (1993) também perfilhava quando abordou o tema da alienaçãoprovocada pelo trabalho). Mesmo depois do contributo de Durkheim (1984), emparticular com o seu livro intitulado “A divisão social do trabalho”, verificaram-sesignificativas alterações à forma como o trabalho é compreendido, organizado eexecutado, nomeadamente após a década de 1980. Aliás, nas últimas décadas o trabalhofoi alvo de uma profunda intensificação (Dal Rosso, 2008). Para Dejours (2005) otrabalho traduz-se numa atividade socialmente útil e carece de técnicas para a suaexecução (embora, como iremos ver adiante, elas possam ser insuficientes paraalcançar as metas ditadas pela coordenação). Esse mesmo trabalho assume, naatualidade, uma enorme variedade de formas, suscita uma grande diversidade deentendimentos e é concebido de maneiras diferentes pelos múltiplos atores/agentessociais, consoante, por exemplo, a sua localização na estrutura social (Freire, 2002). Oconceito de trabalho está cheio de controvérsias sendo mesmo, nos dias de hoje,insuscetível de se tornar consensual, tendo em conta as diversificadas correntes que oabordam (Dejours, 1998).

9 Para além disso, é imprescindível não esquecer que a esmagadora maioria da população

mundial faz depender a sua subsistência do trabalho, ou seja, são uma enorme classe-

que-vive-do-trabalho (Antunes, 2008). O conceito de trabalho é polissémico emultifacetado, apesar de poder conter algumas regularidades relativamente à suaorganização social. Revela, no entanto, um papel fundamental na construção deidentidades (individuais e sociais), é passível de conter resistências e conflitos, dependede afetividades e emoções, está repleto de diferentes formas de poder e dominação e éainda suscetível de gerar quer coesão e emancipação, quer descompensações e mal-estar. É, portanto, suficientemente ambivalente, podendo ser compreendido de formapolarizada : entre o prazer que suscita e o sofrimento que produz [4]. Dada a suainfluência sobre a moral coletiva (entendida como as diferentes formas de convivênciasocial), o trabalho é algo que merece uma permanente reflexão ética. É importantelembrar que o trabalho é algo que não parou de sofrer múltiplas evoluções ao longo dostempos (ou retrocessos, em determinados casos) e que por isso mesmo carece de uma“constante” reavaliação. Toda a obra de Dejours está centrada na análise edescodificação desta dinâmica do trabalho e na sua influência sobre a saúde mental.

10 Tentar idealizar um mundo sem trabalho (tal como foi preconizado por alguns autores,

os quais profetizavam “o fim do trabalho”), parece cada vez mais um cenário irrealistaou dificilmente sustentável. Entendo que devido à magnitude da sua presença e da suafunção na vida dos indivíduos, bem como no funcionamento das sociedades, imaginarum mundo sem trabalho soa a algo absurdo [5]. Apesar de as previsões em determinadoscontextos serem altamente falíveis, penso que o trabalho continuará a acompanhar ahistória da humanidade (pelo menos nos tempos mais próximos, exceto se ocorrer uma

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

209

Page 211: Laboreal, Volume 15 Nº2

alteração tão extraordinariamente inesperada que possa ser designada como um Cisne

Negro – no sentido proposto pelo filósofo Nassim Taleb, 2008). Fazendo fé que nãoocorrerá esse evento inesperado, manter-se-á a pertinência de tentar aferir quais são osdiversos efeitos que o trabalho produz na vida das pessoas, incluindo na sua saúde.

11 Diversas organizações internacionais (nomeadamente a OMS) definem a saúde como

um estado de bem-estar físico, mental e social. Dejours (1986) critica essa definiçãoessencialmente por dois motivos : por um lado, se tentarmos aprofundar o que é essebem-estar, verificamos que é quase impossível de definir ; por outro lado, esse completoe perfeito estado de bem-estar, não existe. No seu entender, esta noção de bem-estarassociada à saúde é muito vaga. A saúde não é um estado permanente, algo que depoisde atingido se mantenha estável. Deve ser entendida como um objetivo a ser atingido,como um fim. Por isso, a saúde passa por “ter meios de traçar um caminho pessoal eoriginal, em direção ao bem-estar físico, psíquico e social” (Dejours, 1986 : 11). De certomodo, pode-se afirmar que é através da análise psicodinâmica das vivências singularese únicas do trabalhador, articuladas com a organização do trabalho, que se estabelece acompreensão do processo saúde/doença no trabalho.

12 Para o autor, existem três elementos que podem ajudar a construir um “novo conceito”

de saúde : a fisiologia, a psicossomática e a psicopatologia do trabalho. O primeiro estárelacionado com o próprio funcionamento do organismo, ou seja, os preceitos queasseguram o seu equilíbrio e sobrevivência. O segundo elemento traduz-se através darelação entre o que se passa na mente humana e o funcionamento dos seus corpos ; háinterações permanentes entre corpo e mente. Por último, o terceiro elemento defendeque o trabalho pode ser um aspeto fundamental para a saúde. É verdade que o foco dapsicopatologia do trabalho está, em grande medida, direcionado para os aspetosnegativos do trabalho ; contudo, reconhece que quando a organização do trabalho nãocolide com as aspirações, com as ideias e com os desejos dos trabalhadores, serájustamente um meio de promover a saúde através do trabalho.

4. A psicodinâmica do trabalho

13 A obra de Christophe Dejours oferece uma reflexão singular sobre a influência do

trabalho na saúde mental dos sujeitos. Este tema é indiscutivelmente importante nacontemporaneidade, dadas as múltiplas consequências (positivas e/ou negativas) quepodem provocar nos trabalhadores, bem como na forma como organizamos, dividimose distribuímos socialmente o trabalho. Numa perspetiva histórica, o autor destaca que aclínica do trabalho e a psicopatologia do trabalho, as quais surgiram em meados doséculo passado, dedicaram-se, exclusivamente, aos efeitos negativos do trabalho.Entretanto, durante a década de 1980, chegaram novos contributos para esta discussão,oriundos de outras abordagens disciplinares, nomeadamente a ergonomia, a psicologia,a sociologia, a psicanálise, a medicina ou a antropologia (isto só para citar algumasdelas). Na década seguinte emerge uma nova disciplina, designada por psicodinâmicado trabalho, onde é ampliado o debate sobre os efeitos do trabalho na saúde mental. Apsicodinâmica do trabalho baseia-se na teoria da centralidade do trabalho, a partir dediferentes níveis (Dejours, 2017). Dentro desta renovada conceção, o trabalho deixou deser apenas observado a partir dos seus fatores negativos, passando também aconsiderar os aspetos positivos que nos pode proporcionar. Esta dualidade não éexatamente nova, tendo em conta que já desde Karl Marx (1993) sabíamos que o

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

210

Page 212: Laboreal, Volume 15 Nº2

trabalho nos podia oferecer o “melhor” e o “pior” para a nossa existência. O trabalhotanto pode auxiliar na emancipação, como conduzir à alienação. Contudo, aquilo queparece constituir-se como algo realmente novo nesta abordagem é a descoberta daextraordinária influência que o trabalho pode ter sobre a saúde mental, destapando ovéu sobre a subjetividade [6] inerente à forma como cada trabalhador lida com o próprioambiente laboral. O trabalhador nunca é um sujeito passivo perante osconstrangimentos impostos pela organização do trabalho. É por esse motivo que otrabalho dificilmente pode ser considerado como um elemento neutro perante a saúdemental (Dejours, 1999). Trabalhar não é apenas produzir, é construir-se a si próprio, étransformar-se e criar a sua identidade, por exemplo, via psicodinâmica doreconhecimento. Outro vetor importante debatido pela psicodinâmica do trabalho é amobilização subjetiva do trabalhador. Este processo traduz-se pelo comprometimentodo trabalhador com o seu trabalho fazendo uso da subjetividade, da inteligência práticae do coletivo de trabalho para transformar os fatores da organização do trabalho quesão suscetíveis de gerar sofrimento (Dejours, 2005). De certa forma, esta disciplinaprocura compreender o significado do trabalho para o sujeito. Em resumo, apsicodinâmica do trabalho “se define como a análise psicodinâmica dos processosintersubjetivos mobilizados pela situação do trabalho” (Sznelwar, Uchida & Lancman,2011, p. 12). Julgo que estes são alguns dos aspetos inovadores que esta abordagem nostem vindo a transmitir, a partir de um manancial de conhecimentos, simultaneamente,teóricos e empíricos.

14 Penso já ter deixado suficientemente explícito que existem sobreposições temáticas

entre a psicopatologia do trabalho e a psicodinâmica do trabalho. Enquanto a primeiraestava maioritariamente centrada nas doenças mentais provocadas pelo trabalho, asegunda foi além disso e tentou compreender como é que os trabalhadores lidavam como sofrimento provocado pela violência imposta pela organização do trabalho e,particularmente, quais as estratégias que utilizavam para se proteger/defender dessemesmo sofrimento. Talvez o grande enigma que a psicodinâmica do trabalho pretendaresponder seja o seguinte : como é que muitos trabalhadores conseguem manter a suasanidade mental, numa espécie de homeostasia, quando em determinadas situaçõespodem ser alvo de profundos ataques oriundos do seu ambiente laboral ? É pertinentelembrar que o atual modelo económico – capitalismo flexível – tem corroído o nossocaráter (Sennett, 2001) e as suas políticas neoliberais estão a dar origem a umaverdadeira hecatombe social, onde podemos incluir, por exemplo, diversas assimetriasque estão na base da pobreza e da exclusão, além de promoverem uma competitividadeempresarial exacerbada, reestruturações desastrosas, desemprego e precariedade(Bourdieu, 1998 ; de Gaulejac, 2007 ; Standing, 2014). Tendo em conta este contextoseria expectável observarmos muitos trabalhadores a entrarem em descompensação,mas, na verdade, verificamos empiricamente que isso nem sempre acontece. Então,torna-se incontornável perguntar o que estará a “salvar” um grande número detrabalhadores destas brutais ofensas provenientes do mundo do trabalho ? A respostada psicodinâmica do trabalho para esta melindrosa questão é a de que os trabalhadoresencontraram diferentes estratégias (individuais e/ou coletivas) para se protegerem daviolência emanada das formas atuais em que se encontram as relações laborais e aorganização do trabalho. Isto significa que muitos trabalhadores encontraram um meiopara suportar e ajustar o sofrimento produzido pelo trabalho e, ainda assim, manter aaparente normalidade do seu funcionamento psíquico. O autor empregou o conceito deestratégias defensivas para definir o “escudo protetor” utilizado pelos trabalhadores

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

211

Page 213: Laboreal, Volume 15 Nº2

(Dejours, 1991). Para além disso, Dejours (1999, p. 18) refere que as estratégias de defesaconstruídas por homens e mulheres são, por vezes, subtis, cheias de engenhosidade,diversidade e inventividade.

“Em face do sofrimento, o ego não fica passivo, ele se defende. As pesquisasem psicodinâmica e psicopatologia do trabalho mostram que existem defesasindividuais e coletivas contra o sofrimento no trabalho. E essas defesas têmem comum funcionar como atenuadores da consciência desse sofrimento,como uma espécie de analgésico” (Dejours, 2005, p. 60).

15 Contudo, apesar deste mecanismo defensivo ser normalmente bastante eficaz (evitando

as referidas descompensações psicopatológicas), é importante sublinhar que autilização deste tipo armaduras também revela o seu lado contraproducente. Naverdade, as estratégias defensivas podem funcionar como uma armadilha queinsensibiliza os trabalhadores contra aquilo que os faz sofrer (Dejours, 1999). Isto é,servem para tolerar o intolerável. Não apenas para consigo, mas também para com osofrimento dos outros. Um dos seus maiores perigos que esta situação acarreta é tornarsuportável o “sofrimento ético” ; isto acontece quando o trabalhador é obrigado apraticar determinadas ações que condena moralmente, por causa do seu trabalho. Esteefeito de reprovação da consciência moral (ou de afronta aos valores sociais) pode serdenominada como traição do Ego, pelos psicanalistas, ou como dissonância cognitiva, pelospsicólogos.

16 A noção de coletivo de trabalho está no âmago da abordagem da psicodinâmica do

trabalho. Esta disciplina aduz que pensar num coletivo implica a presença de um grupoou de uma comunidade estruturada por regras, por códigos de conduta que decorremde compromissos e pactos dentro do coletivo de trabalho. É através da estabilização dasregras dentro do grupo que os sujeitos conseguem trabalhar juntos e construir umcoletivo de trabalho. Existem as regras que provêm do trabalho prescrito, as quais têmde ser complementadas pelas “regras” que emergem do real do trabalho, as regrasinformais, as experiências e os saberes práticos dos trabalhadores. Porém, as atuaistécnicas de gestão estão a desestruturar os coletivos de trabalho (de Gaulejac, 2007), ouseja, há uma intensa degradação do viver-junto em coletividade e isso, em situaçõesextremas pode estar na base de suicídios relacionados ao trabalho (Dejours & Bègue,2009).

17 Se o trabalho real funciona bem são produzidos consensos no coletivo de trabalho. O

somatório desses consensos transforma-se em “novas regras de trabalho”. A coesão doscoletivos de trabalho – que se constrói a partir da confiança recíproca – demonstra queos trabalhadores conhecem as regras, que cooperam entre si, mas também que asconseguem contornar e ludibriar. Porque não há regras universais que funcionem emtodos os contextos, situações e circunstâncias. Há sempre as exceções e os imprevistosque necessitam de ser enfrentados pela inteligência, criatividade e inventividade dostrabalhadores. Por outras palavras, precisam de utilizar o trabalho vivo (Dejours, 2012).A coordenação que advém do trabalho prescrito necessita de ajustes efetuados pelotrabalho realizado (Dejours & Gernet, 2011). Mas, quando um coletivo chega a umainterpretação compartilhada, comum ao coletivo, forma-se uma cooperação.Coordenação e cooperação são os dois termos ao nível coletivo que representam odesfasamento entre tarefa e atividade ao nível individual (Dejours, 2016, p. 324).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

212

Page 214: Laboreal, Volume 15 Nº2

5. Trabalho prescrito e trabalho real

18 Um dos aspetos mais sonantes da obra de Christophe Dejours é a distinção entre

trabalho prescrito e trabalho real [7]. O primeiro é designado pelo autor como tarefa,enquanto o segundo é denominado como atividade. Tudo aponta para que esta discussãotenha surgido do seio da ergonomia, mas rapidamente se estendeu a quase todas asáreas ligadas às ciências do trabalho (incluindo, claro está, a própria psicodinâmica dotrabalho). Há, contudo, um aspeto central nesta dicotomia : a forma como o trabalho

prescrito é imaginado/idealizado tende a ser substancialmente diferente da forma comoele é realizado na prática (designado como trabalho real). Esta abismal diferença, entreambas as conceções, depende de múltiplos fatores ; é precisamente sobre essasdescoincidências que nos iremos debruçar de seguida.

19 Há ainda um enorme campo por explorar relacionado com a forma como nós pensamos

quando estamos a trabalhar. Tal como refere Dejours, trabalhar é correr riscos e issoimplica ter de gerir a alguma incerteza. Normalmente o trabalho prescrito nãoconsidera as limitações da própria condição humana [8], logo, torna-se um fatorpotenciador de lapsos, erros, falhas e acidentes. Para além disso, as situações detrabalho são, em larga medida, fixadas de modo independente da vontade do sujeito,são moduladas por decisões dos outros (Molinier, 2006) e isso vai gerarconstrangimentos na sua forma de agir. O trabalho prescrito é a forma como a entidadeempregadora concebe e organiza o modo de realização do trabalho (tarefas a executar,tempos de trabalho, regras, normas, procedimentos, recursos materiais e humanos paracada função, tipo de máquinas utilizado, etc.) ; no fundo, é projetar como é que otrabalho deve ser feito. No entanto, o design do trabalho, por melhor elaborado queesteja, nunca consegue prever todas as circunstâncias, constrangimentos, dificuldades eobstáculos que a sua realização prática pode implicar. Até ao fim de vários anos delaboração podem sempre surgir coisas novas e inesperadas. Nem mesmo asorganizações que trabalham em cenários de alto risco e que regra geral apostambastante na segurança - nesse contexto está subjacente a ideia de mindfulness -conseguem antecipar e detetar todas as situações suscetíveis de causar danos (Areosa,2012b). Isto significa que os executantes do trabalho prescrito nunca conseguemcumprir na íntegra o modelo que foi desenhado pela organização, mesmo que oquisessem fazer (recorrendo àquilo que Dejours designa metaforicamente por greve de

zelo). Existem várias causas e explicações para isso, as quais têm normalmente comopano de fundo o fato de o trabalho ser, regra geral, uma entidade dotada deimprevistos.

20 O trabalho real é sempre muito mais rico e diversificado do que aquilo que os

organizadores/mentores do trabalho prescrito conseguem prever. Porém, é importantelembrar que o trabalho prescrito resultou sempre do trabalho real de alguém (Clot,1995). No mundo do trabalho há sempre incertezas, resistências, dificuldades,obstáculos, incidentes ou acidentes. Por isso, é pertinente referir que trabalhar implicanormalmente efetuar adaptações, fazer ajustes ou criar alternativas para, por exemplo,ultrapassar as dificuldades impostas por novas situações. Algumas vezes isso tambémimplica não cumprir regras ou tentar contorná-las para que a execução do trabalho sejapossível. Não é tanto uma resistência à autoridade hierárquica, é essencialmente paratentar “fazer bem as coisas”. Nenhuma organização pode funcionar adequadamentesem que os seus trabalhadores utilizem este tipo de estratégias, pois a execução estrita

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

213

Page 215: Laboreal, Volume 15 Nº2

das prescrições oficiais (ou seja, fazer greve de zelo) é condenar uma organização aofracasso e ao insucesso. A título de exemplo, Dejours refere o seguinte : “Se osenfermeiros executassem rigorosamente as ordens dos médicos, haveria muitos mortosnos hospitais, o que precisamente conseguem evitar graças ao seu zelo” (Dejours, 2013,p. 11).

21 Os desvios ao trabalho prescrito não são apenas uma forma de desobediência ao

controlo hierárquico, são acima de tudo - volto a frisar - uma necessidade imperativapara conseguir realizar o trabalho de forma eficiente. Mas há outras dificuldadescolocadas aos trabalhadores durante a execução das suas atividades. Dejours (2005,p. 40) define o real como aquilo que no mundo se faz conhecer pela sua resistência aodomínio técnico e ao conhecimento científico. O real implica uma certa descoberta. Noseu entender, os termos “trabalho real” e “real do trabalho” não são sinónimos.Remetem-nos para referenciais teóricos distintos. Sem aprofundar este aspeto, creioque vale a pena sublinhar o que se entende por real do trabalho : diante da tarefa éinevitável que a falha humana possa ocorrer, já que o real só se apreende sob a formade revés. O real do trabalho revela os limites do saber e do conhecimento ; revela aindaos obstáculos da atividade, os quais colidem com os atos técnicos, por vezes, colocando-os em xeque (Dejours, 2005). Paralelamente, a utilização do zelo por parte dostrabalhadores permite recriar o trabalho e encontrar soluções para as dificuldades nãoprevistas pelos mentores da organização do trabalho. Por vezes isso implica ter detransgredir ordens ou instruções formais. Ao trabalho prescrito é acrescentada ainteligência dos trabalhadores para que as coisas funcionem. A aplicação destainteligência é designada por trabalho vivo, o qual se torna imprescindível para o normalfuncionamento de qualquer organização (Dejours, 2012). Não há nenhuma organizaçãoque possa prescindir do trabalho vivo, dado que o prescrito é sempre incompleto.Contudo, a partir deste ponto de vista, o trabalho vivo é, regra geral, um enigma, vistoque não sabemos antecipadamente o que será necessário fazer para que funcione. Épreciso recorrer à criatividade, empenho, esforço e sensibilidade dos trabalhadores.Mas o trabalho vivo é simultaneamente suscetível de gerar medo, devido a colocar otrabalhador perante o cenário de enfrentar um possível fracasso. Paralelamente, omodelo de organização social baseado no capitalismo tem acentuado a transformaçãodo trabalho vivo em trabalho morto (Antunes, 2008).

22 Em resumo, o que será então necessário acrescentar às prescrições formais (regras,

normas, procedimentos, instruções de trabalho, ordens, etc.) para que funcionem deforma eficaz ? Segundo Christophe Dejours (2013) a resposta para esta questãoencontra-se nas múltiplas formas de zelo que os trabalhadores utilizam paradesempenhar bem a sua função (num sentido similar, em português, existe a expressãobrio profissional). De certo modo, pode-se afirmar que o trabalho vivo não é mais do que asdiversas fornas de zelo aplicadas pelos trabalhadores. Por outras palavras, o zelo é aquiloque o sujeito acrescenta às prescrições para atingir os objetivos do trabalho. O zelo

permite assim gerar soluções que reduzam o afastamento entre o trabalho prescrito e otrabalho real.

23 Pretendo ainda voltar aos motivos que estão por trás dos “desvios” efetuados pelos

trabalhadores. A sua ocorrência não significa que eles sejam na sua maioria imputáveisà vontade, autonomia ou liberdade de decisão dos próprios trabalhadores ; pelocontrário, a forma como está planeada a execução do trabalho pode estar subjugada pormúltiplas questões organizacionais (impossibilidade técnica para executar certas

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

214

Page 216: Laboreal, Volume 15 Nº2

tarefas, avarias em máquinas ou equipamentos cujo bom senso aconselharia a suaparagem, mas que continuam a funcionar sem estar garantida a segurança, pressãopara aumentar a produção e por aí adiante) ; é também isto que pode implicar desviosao trabalho prescrito.

24 Existem ainda outros tipos de desvios que estão relacionados com a própria condição

humana, particularmente com o nosso funcionamento cognitivo. Estou a falar de algoque nos é intrínseco, onde se incluem todas as potencialidades e limites relacionadoscom a nossa forma de pensar. O psicólogo Daniel Kahneman (2012) e o neurocientistaAntónio Damásio (1994) têm produzido conhecimentos extraordinários neste campo,embora numa ótica bastante diferente daquela que é utilizada na psicodinâmica dotrabalho. Anteriormente George Miller (1956) já tinha defendido que a nossa espécie sótem capacidade para processar uma certa quantidade limitada de informação de cadavez. Quando esse limite é ultrapassado, ficamos sobrecarregados e o nosso rendimentocomeça a baixar drasticamente. Talvez seja por isto que só conseguimos dar atenção ecumprir um número restrito de normas, regras, procedimentos ou tarefas e tendemos aignorar outras [9]. Contudo, verifica-se que algumas organizações continuam a nãoconsiderar a importância da interação entre os fatores humanos (ao nívelbiopsicossocial) e as componentes técnicas e tecnológicas incorporadas na organizaçãodo trabalho (Areosa, 2012a).

25 Dentro deste contexto, pretendo ainda abordar a perspetiva de Amalberti (1996), onde o

autor desenvolve um modelo denominado gestão cognitiva dinâmica ou compromisso

cognitivo. Segundo o seu ponto de vista, os trabalhadores gerem permanentemente a suaatividade laboral através de um compromisso cognitivo entre riscos internos e riscosexternos. Os primeiros são aqueles que os trabalhadores aceitam sujeitar-se, enquantoos segundos estão relacionados com os diferentes ambientes de trabalho, onde seencontram várias categorias de risco, nomeadamente, riscos físicos, químicos,biológicos, psicossociais, etc. (cf. Areosa, 2011 ; 2014). Quando Amalberti defende quenem todos os desvios ao trabalho prescrito são necessariamente negativos, esta ideiaestá a considerar de modo muito consistente alguns dos conhecimentos sobre a nossaforma de pensar quando estamos a trabalhar. No decorrer das suas atividades laboraisalguns trabalhadores preferem efetuar “desvios” ao trabalho prescrito, quando sabemantecipadamente que esses “erros” não se traduzem em cenários ou consequênciasperigosas para a organização (ou para si próprios), do que ter de cumpri-lo à risca e terbasear o seu funcionamento cognitivo em regras que tornam o trabalho mais lento,desgastante, fastidioso e que envolve recursos fatigantes. Aceitar determinados desviosconsiderados inconsequentes pode revelar-se uma gestão mais económica do ponto devista cognitivo (Amalberti, 1996). Afinal, parece que o nosso cérebro não estáprogramado, numa perspetiva evolutiva, para desperdiçar energias e recursosdesnecessariamente.

26 Segundo Rasmussen (1997) a análise do trabalho real vem muitas vezes demonstrar

uma variedade de situações vividas pelos trabalhadores que não vêm previstas nasnormas e regras (de segurança) das empresas. A gestão desta variabilidade nos diversoslocais de trabalho carece de “adaptações locais”. A título de exemplo, refiro que já pudeobservar numa investigação realizada em contexto hospitalar que as regras informaisdominam largamente o quotidiano deste tipo de organizações (Areosa & Carapinheiro,2008 ; Areosa, 2011). No setor dos transportes ferroviários a realidade é similar àquelaque encontrei no ambiente hospitalar (Areosa, 2012a). Neste último estudo, alguns

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

215

Page 217: Laboreal, Volume 15 Nº2

trabalhadores “da linha da frente” afirmaram que determinadas normas, regras ouprocedimentos parecem ser elaboradas estritamente “em gabinete”, por alguém quenão conhece a realidade prática e quotidiana da organização, pois essas prescriçõeslaborais só funcionam em teoria, mas não na prática. Em casos extremos como este, éóbvio que esta condição prejudica bastante a realização de algumas tarefas, dado que asinstruções normativas estão desfasadas da realidade.

27 Tal como muitos outros autores, Sidney Dekker (2006) também corrobora as legítimas

preocupações que distinguem o trabalho prescrito do trabalho real. A visão distorcidaque, por vezes, a gestão de topo revela sobre a forma como imaginam que o trabalho éfeito e como ele é efetivamente realizado pode tornar as organizações mais frágeis e,por consequência, menos resilientes. As organizações de alto risco são particularmentevulneráveis perante este tipo de condicionalismos (Areosa, 2012b). Um dos muitosproblemas que provoca a descoincidência entre o trabalho prescrito (idealizado) e otrabalho real (aquele que é realizado na prática) decorre de não se analisar se asnormas prescritas são, de facto, exequíveis ou aplicáveis para realização das tarefaspretendidas ou se existem, por exemplo, outros aspetos de natureza cognitivasuscetíveis ter causado algum tipo de “armadilha” (Amalberti, 1996) e que podem estarna base daquilo que alguns analistas menos experientes (ou ideologicamentecontaminados) consideram o grande problema da segurança organizacional, o designadoerro humano. Os trabalhos do psicólogo James Reason (1990) e do sociólogoorganizacional Charles Perrow (1999) são referências indiscutíveis no debate destamatéria.

6. Atividade deôntica e reconhecimento

28 Dejours (2013) defende que a construção e reconstrução de regras consomem uma parte

significativa do nosso tempo e energia ; esta condição é apelidada de atividade deôntica.As regras no trabalho nunca são apenas técnicas, são também sociais, pois implicamconvivência. Normalmente o trabalho envolve uma relação com o outro, não é apenasproduzir, é, sobretudo, um jogo de experiências em conjunto com o outro. Ostrabalhadores que se recusam a fazer greve de zelo, aqueles que são pró-ativos nacooperação com a organização do trabalho, esperam que esta atitude possa sercompensada. Anseiam que o seu contributo tenha uma retribuição ; não somente umarecompensa material – indiscutivelmente importante, mas não a mais importantesegundo as palavras de Dejours – acima de tudo esperam uma retribuição simbólica,cujo expoente máximo é o reconhecimento.

29 O poder simbólico que é exercido pelo reconhecimento resulta, em parte, da mobilização

subjetiva dos trabalhadores e do julgamento dos outros. Neste contexto, existem doistipos de julgamentos no trabalho : 1) aquele que é efetuado pelas hierarquias, a partirde uma perspetiva mais utilitarista (utilidade técnica, económica ou social) ; e 2) aqueleque é preconizado pelos pares (é aqui que reside a beleza do trabalho). Este segundo tipode julgamento diz respeito à conformidade do trabalho, da produção ou do serviço, ouseja, está relacionado com as “artes do ofício” (Dejours, 2005). É pertinente referir quede reconhecimento em reconhecimento o trabalhador vai fortalecendo a suaidentidade, a sua saúde e o seu bem-estar no trabalho, evitando deste modo uma maiorvulnerabilidade aos riscos psicossociais do seu trabalho (Facas et al., 2015). Oreconhecimento desempenha um papel crucial relativamente à prevenção do

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

216

Page 218: Laboreal, Volume 15 Nº2

sofrimento patogénico, dado que confere significado aos esforços exercidos por cadatrabalhador (Rolo, 2018), atribuindo dignidade ao próprio ato de trabalhar (Wandelli,2015).

30 O ato de trabalhar está relacionado com a forma de mobilizar o corpo e com a utilização

da inteligência do trabalhador, no sentido de produzir algo que incorpore valor(Dejours, 1998). Destaco que o trabalho está profundamente relacionado com arealização do ego e que o fortalecimento da nossa identidade se constitui, em parte,como uma armadura da nossa saúde mental. O reconhecimento assume neste processoum papel extraordinário, dado que quando não há reconhecimento o mais provável éque o trabalho se resuma a uma expressão de sofrimento. A falta de reconhecimento notrabalho é suscetível de gerar um círculo vicioso de sofrimento, desestabilizador daidentidade e tudo isto pode conduzir à doença mental.

“Quando a qualidade de meu trabalho é reconhecida, também meus esforços,minhas angústias, minhas dúvidas, minhas decepções, meus desânimosadquirem sentido. Todo esse sofrimento, portanto, não foi em vão ; nãosomente prestou uma contribuição à organização do trabalho, mas tambémfez de mim, em compensação, um sujeito diferente daquele que eu era antesdo reconhecimento. O reconhecimento do trabalho, ou mesmo da obra, podedepois ser reconduzido pelo sujeito ao plano da construção da identidade. Eisso se traduz afetivamente por um sentimento de alívio, de prazer, às vezesde leveza d’alma ou até de elevação” (Dejours, 1999, p. 34).

31 Neste contexto é imprescindível não esquecer qual é o sentido que o trabalho assume

na contemporaneidade. O trabalho de cada um deveria estar ao serviço da comunidade,mas o capitalismo tem provocado a implosão do mundo do trabalho e a consequentefalência de um universo social coerente. O capitalismo flexível tem originado umaprofunda desestabilização dos empregos estáveis e, para muitos trabalhadores, umaintermitência entre trabalho precário e desemprego. Além de todas as consequênciasmateriais que o desemprego acarreta, ele gera medo, ansiedade, porque faz pairar sobrenós o fantasma da inutilidade (Sennett, 2006) e isso é absolutamente aterrador para asaúde mental. Talvez o maior desafio que o capitalismo flexível nos coloque seja o desaber “quem precisa de nós” ? Esta pergunta está longe de ter uma resposta imediata,mas se não houver o reconhecimento de que o nosso trabalho é importante, de queexercemos uma função social útil, o nosso ego sente-se perdido no universo social, bemcomo nós próprios enquanto seres sociais ; e as pessoas sentem falta de maior coesãosocial, de relações humanas sustentadas e de objetivos duradouros (Sennett, 2001,p. 153).

32 Termino a discussão desse aspeto reforçando a ideia de que o reconhecimento serve

para transformar o sofrimento resultante do trabalho, em prazer, em consolidação doego e em fortalecimento da identidade. Quando Dejours (2013) debate esta questãoentra profundamente no domínio psicanalítico, onde se aborda o conceito de sublimação

, o qual tem sido alvo de inúmeros contributos por parte da psicodinâmica do trabalho.

7. Os novos métodos da organização do trabalho :mecanismos de controlo e repressão

33 As novas formas de gestão das organizações, impostas pela cúpula hierárquica, acabam

por fomentar a diluição dos elos sociais, da coesão e da interajuda entre pares. Este

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

217

Page 219: Laboreal, Volume 15 Nº2

fenómeno que começou a emergir a partir da década de 1980 é suficientementeperverso para a identidade e integridade dos trabalhadores, dado que quebra as suasredes de solidariedade, incorporando o medo e a solidão no mundo do trabalho(Dejours, 2011). O nosso quotidiano está, aparentemente, dominado peloenfraquecimento de alguns vínculos sociais ancestrais. Uma das muitas formas paracompreender a atual desestruturação socio-organizacional já foi anteriormentedesignada por desintegração do grupo de trabalho (Areosa & Dwyer, 2010), a qual pode serefetuada, por exemplo, através de políticas de outsourcing, dado que estas estratégiasutilizadas no orbe capitalista tendem a promover a precarização do trabalho e umaelevada rotatividade de trabalhadores nas empresas (Sennett, 2001).

34 Tudo isto tem como consequência imediata uma maior vulnerabilidade dos

trabalhadores “da linha da frente” às patologias do foro mental, as quais podem tercustos e consequências muito elevados. A título ilustrativo, os dramáticos suicídios emalgumas organizações francesas (extensíveis a outras realidades do mundo ocidental)parecem ter-se tornado virais (utilizo este termo no sentido de contagioso, algo que setornou numa espécie de mini-epidemia). Na base desta sequência de suicídios esteve,entre outras situações, o silêncio, a covardia e o abandono por parte dos colegas detrabalho (Dejours & Bègue, 2009). Esta conduta parece ter como explicação as alteraçõesna organização do trabalho e as consequentes perdas de solidariedade entre pares. Istonão significa, obrigatoriamente, que o sofrimento seja maior hoje do que foi no passado,significa antes que as nossas resistências se tornaram menos eficazes. E porquê ?Porque estamos cada vez mais isolados nos nossos locais de trabalho. Deste ponto devista, poderei afirmar que a psicodinâmica do trabalho revela uma preocupação maishumanista, por comparação com outras disciplinas, particularmente a gestão. Existeminúmeros indícios sobre os efeitos iatrogénicos dos “novos” modelos de gestão.Atualmente a gestão é uma tecnologia de poder, colocada ao serviço do capital, cujafinalidade é adaptar os trabalhadores, de múltiplas formas, às exigências das empresas(de Gaulejac, 2007). Este poder tem como função tornar os corpos “úteis, dóceis eprodutivos”. O poder do capital é mantido, por exemplo, através da “patologia daindiferença” para com o outro (Mendes, 2018). Embora a gestão em si mesma possa nãoser obrigatoriamente um mal, neste momento a forma como está a ser utilizada (aoserviço do capital) coloca as sociedades e o mundo do trabalho sob enorme pressão. Eisso afeta a saúde mental ! Para a gestão a “otimização constante” (melhoria continua) éum dogma e a “qualidade total” é uma bíblia. A lógica subjacente é fazer sempre mais,mais barato, mais rápido, melhor, com os mesmos meios e com menos trabalhadores. Adegradação dos coletivos de trabalho e a individualização dos trabalhadores contribuipara “psicologizar” as causas do sofrimento, as quais resultam, na verdade, da pressãoexercida pela gestão (de Gaulejac, 2007).

35 Pretendo ainda abordar algumas questões relativas aos novos métodos da organização

do trabalho, bem como as suas implicações para a saúde dos trabalhadores. Já foireferido que dentro das organizações o trabalho depende de dois fatores chave : acoordenação (a qual implica o uso de poder sobre os outros, enquanto forma dedominação) e a cooperação (onde está implícita uma certa forma de convivialidade).Segundo a perspetiva de Dejours (opinião expressa numa entrevista ao jornal Público,em 1 de Fevereiro de 2010) [10], a organização do trabalho sofreu nos últimos anosprofundas alterações a partir de três grandes vetores : 1) Emergência de novos métodosde gestão, particularmente a avaliação de desempenho (ao nível individual) ; 2)

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

218

Page 220: Laboreal, Volume 15 Nº2

Introdução de técnicas ligadas à designada “qualidade total” (sistemas de certificação,círculos de qualidade, protocolos de atuação, etc.) ; e 3) Políticas de outsourcing (queconduzem à precarização no emprego).

36 Num estudo sobre trabalhadores de call center, foi utilizada a expressão “o reino da

performance” para definir aquele tipo de organizações, cujas exigências são levadas aoextremo (Dejours, 2015). A avaliação das performances individuais dentro dasorganizações tem como propósito principal medir “objetivamente” o desempenho dostrabalhadores, de forma quantitativa e comparativa. Dejours (2013) afirmataxativamente que este método é cientificamente incorreto. Na verdade, dificilmente sepode medir o trabalho em si mesmo, aquilo que se pode medir são os resultados dotrabalho. Todavia, o trabalho realizado e os resultados do trabalho são coisas muitasvezes distintas. Na prática não se consegue medir o tempo que os trabalhadores levam aformar as suas competências (técnicas e/ou relacionais), os saberes e habilidades quenecessitam aprender, ou mesmo o tempo psíquico e intelectual que cada um dedicapara conseguir realizar as suas atividades (incluindo o tempo de descanso que passam apensar no trabalho, por vezes roubando horas de sono quando já estão na cama). Paraalém disso, os resultados do trabalho dependem de diversas circunstâncias(maioritariamente exteriores ao trabalho) que podem ter uma fraca correlação com oesforço e empenho desenvolvidos pelo trabalhador. A sorte está longe de ser um fatordespiciente nas nossas vidas, incluindo a vida profissional.

37 É pertinente referir que a relação do trabalhador com a sua hierarquia (avaliador) está

normalmente longe de ser isenta. Regra geral, as relações sociais (abrangendo tambémas de trabalho) são profundamente dominadas por interesses diversos, por empatias esimpatias pessoais, por imposições ou, pelo contrário, por escolhas livres, porestratégias coincidentes ou descoincidentes entre os sujeitos envolvidos (isto só parareferir alguns exemplos), logo, não são neutras, isentas ou justas como inicialmentepressupõem os modelos de avaliação de desempenho. A partir deste ponto de vista aalegada “justiça” dos modelos de avaliação individual são em determinados casos umafraude e potenciadoras de inúmeras situações de conflito, como se observou, porexemplo, numa empresa do setor ferroviário (Areosa, 2012a). Mas a relação entrehierarquias e subordinados pode estar na origem de casos bem mais dramáticos para asaúde dos trabalhadores. Uma reveladora pesquisa sueca que monitorizou a saúde demais de 3000 trabalhadores do género masculino, durante cerca de dez anos, comidades compreendidas entre os 19 e os 70 anos, sugere que os “maus chefes”(incompetentes, autoritários ou autocráticos) aumentam significativamente o númerode problemas cardíacos nos trabalhadores, incluindo casos fatais (Nyberg et al., 2009). Oestudo demonstrou ainda que este efeito é cumulativo, ou seja, quanto mais tempoestiverem os trabalhadores sob a alçada deste tipo de hierarquias, maior é o risco deadoecerem. Isto significa que um mau chefe pode matar, literalmente !

38 Christophe Dejours preconiza que o mundo do trabalho se transformou, em parte,

numa guerrilha que faz cada vez mais vítimas ; não porque este “combate” entre paresseja exatamente novo, mas porque a solidão a que cada um ficou remetido afetouprofundamente a saúde mental. A génese desta espiral catastrófica para a saúde dotrabalhador está em grande medida dependente das atuais formas de organização dotrabalho, onde se inclui os modelos de avaliação de desempenho. Não posso deixar decitar um pequeno excerto do texto de Dejours, onde são referidas as consequênciasdeste tipo de práticas :

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

219

Page 221: Laboreal, Volume 15 Nº2

“Efetivamente, a avaliação individualizada e quantitativa do desempenhocoloca todos os assalariados em concorrência uns com os outros. Os sucessosde um colega tornam-se uma ameaça para o outro assalariado. É agora cadaum por si e todos os golpes são permitidos. A desconfiança e o medo recaemsobre o mundo do trabalho. A deslealdade torna-se banal. A amabilidade e aentreajuda desaparecem. As pessoas já não se falam. A solidariedadedesaparece. No fim, cada um se encontra só no meio da multidão, numambiente humano e social repleto de hostilidade. A solidão abate-se sobre omundo do trabalho e isso muda radicalmente os dados no que diz respeito àrelação subjetiva com o trabalho e à saúde mental” (Dejours, 2013, p. 21).

39 Na sequência da avaliação individual de desempenho surge um segundo vetor associado

à organização do trabalho, o qual é designado por “qualidade total”. Esta é uma outraforma de controlo e avaliação do trabalho em que os gestores traçam como objetivo a“qualidade total”. Porém, a “qualidade total” é algo carregado de utopia (similar aos“zero-defeitos” ou aos “zero-acidentes”) ; é um mito, é algo idealizado (mas inexistenteou impraticável no mundo real). Pode ser importante ter um ideal de “qualidade total”se este aspeto servir de referencial, se apontar um caminho ou direção, desde queacompanhado por um entendimento absolutamente claro de que não é possível atingi-lo em pleno. De certo modo, aquilo que se torna assustador nesta questão é que osgestores nem sempre conhecem verdadeiramente as especificidades de cada profissão,mas são eles que vão definir os critérios de avaliação e do controlo da qualidade. Issoacaba por gerar diversos problemas. Dejours afirma que a “qualidade total” é umcontrassenso, pois a própria realidade constantemente nos mostra que o mundo realnão funciona de forma ideal (por exemplo, o trabalho prescrito é algo que está distantedo trabalho real e é por isso que o trabalho vivo se torna imprescindível). Afinal o mundoé um local repleto de riscos, onde predominam as incertezas, as aleatoriedades, asindeterminações, as contingências, os imprevistos, os imponderáveis ou as não-linearidades (Areosa, 2010), mas parece que agimos sem ter consciência disso.

40 Nos dias de hoje, podemos observar que muitas empresas entraram na “loucura” da

estandardização dos seus processos para obter determinadas certificações (em quenormalmente acaba por estar subjacente a ideia de “qualidade total”, “zero-defeitos”ou “zero-acidentes”). Veem isso como a “salvação” para os seus problemas externos(pois supõem que isso lhes permite aumentar a credibilidade e o prestígio) e internos ;neste último caso, imaginam que as certificações servem para controlar o grande vilãoexistente dentro das organizações : as falhas humanas (Areosa, 2017). Contudo, estascertificações são muitas vezes uma ilusão fraudulenta e, ainda pior, acarretam diversosproblemas que em certos casos as tornam desastrosas. Isto acontece porque quando oideal de “qualidade total” se torna na condição obrigatória para obter a referidacertificação, as falhas passam a ser escondidas ou omitidas e o funcionamento daorganização transforma-se numa “dissimulação consentida”. As pessoas passam a terpudor em falar das dificuldades do seu trabalho real (porque a idealização do trabalho

prescrito raramente as consegue antecipar) e porque se torna “politicamente incorreto”abordar o que não funciona bem ou o que correu mal, tal como incidentes, erros oulapsos. Imaginem o quão arriscado se torna os trabalhadores sentirem medo, receio ouansiedade em reportar falhas ou incidentes em organizações de alto risco. Na verdade,este tipo de inibições pode transformar-se em algo fatal ou catastrófico.

41 Ao nível da saúde mental, a “qualidade total” pode também implicar diversos

problemas. E porquê ? Porque em certos casos nos obriga a vivenciar a traumática

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

220

Page 222: Laboreal, Volume 15 Nº2

experiência de realizar o nosso trabalho de forma que nos envergonha. Estarfortemente condicionado a fazer batota, a ter de mentir ou a omitir pode transformar-se num meio atroz de sofrimento ético. Nos trabalhadores mais zelosos isso tem um efeito(negativo) poderoso sobre a sua saúde mental. O sofrimento ético acontece quando otrabalhador é obrigado a praticar determinadas ações que condena moralmente, porcausa do seu trabalho. É uma espécie de traição de si mesmo ou traição do ego. Naspalavras de Dejours :

“O novo capítulo do sofrimento ético torna mais compreensível uma segundafaceta da forma como “ a nossa escala social de valores entra em linha deconta », a saber, o julgamento que o sujeito faz de si próprio, não só sobre aqualidade da sua contribuição no que concerne à produção, mas sobre o valorético da sua prestação. Porque, pela sua atividade de produção, o trabalhadorcompromete, de facto, o destino de outro, em particular do cliente que temobrigação de enganar ou do subordinado que deve “ colocar sob pressão ».Isto significa que o trabalho não se reduz a uma atividade, implica dimensõesque advém da ação, no sentido que Aristóteles dá ao conceito de praxis : açãomoralmente justa” (Dejours, 2013, p. 23).

42 Em diversas profissões, nomeadamente a medicina, existem múltiplos protocolos que

devem ser seguidos rigorosamente (caso contrário, podem existir fortes penalizações).Mas, por vezes, verifica-se que o protocolo não está em consonância com a avaliaçãopericial do profissional (dado que as generalizações nunca conseguem compreender eincluir todas as especificidades associadas aos casos particulares) ; mas o médico sentemedo em violá-lo, porque no caso de as coisas “darem para o torto” poderá ser acusadode negligência, porque não fez o que deveria fazer. Caso o profissional opte por seguir oprotocolo em detrimento daquilo que a sua experiência pessoal lhe indica que seriaadequado fazer, além do sofrimento ético que isso lhe pode custar (e isso já ésuficientemente penoso), também estamos perante uma profunda limitação da suaautonomia profissional, imposta pelo ideal de “qualidade total” (Areosa, 2018b).Obviamente que a “qualidade total” oferece algumas vantagens, mas se tivermos emconta aquilo que referi anteriormente, verifica-se que em certos contextos ela torna-seperigosa e contraproducente.

43 O terceiro e último aspeto referido por Dejours está relacionado com as políticas de

outsourcing. Contudo, esta questão tem um outro problema a montante : os processos dereestruturação/reengenharia das organizações, os quais se traduzem muitas vezes pelaredução do número de trabalhadores (downsizing dos empregos). Segundo Sennett(2001) o downsizing acaba por estar intimamente relacionado com a crescentedesigualdade no mundo do trabalho contemporâneo. Considerando que, por exemplo,apenas uma residual minoria de trabalhadores despedidos consegue encontrar um novoemprego auferindo um salário igual ou superior àquele que tinha anteriormente(Sennett cita, por exemplo, o caso dos trabalhadores norte-americanos de meia idade).Mesmo para as empresas os processos de reengenharia tendem a ser altamenteenganadores e penalizadores ; ou seja, as reestruturações normalmente falham, poistornam as organizações disfuncionais (em grande parte devido aos processos deredução de pessoal).

44 Richard Sennett (2001, p. 78) refere diversos estudos que apontam resultados

desastrosos para as empresas, pois indicam que os processos de reengenharia econsequente downsizing diminuem os lucros e a produtividade das empresas, tendem anão reduzir as despesas e são escassas aquelas que conseguem aumentar a

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

221

Page 223: Laboreal, Volume 15 Nº2

rentabilidade. Em resumo, estes processos são normalmente um fracasso, entre outrascoisas, porque a moral e a motivação dos trabalhadores caem a pique perante cenáriosdesta natureza. Nem mesmo os trabalhadores “sobreviventes” aos processos dedownsizing conseguem alegrar-se, regra geral sucede o inverso ; porque além de veremos seus pares partirem (desintegrando-se o seu coletivo de trabalho), instala-se o medode serem eles próprios as vítimas seguintes no próximo processo de reengenharia.

45 Muitos gestores ainda acreditam que o recurso à terceirização [11] ( outsourcing ou

subcontratação) de determinadas tarefas ou serviços será a chave para reduzir oscustos e melhorar a funcionalidade da organização. Também aqui estamos perante umagritante ilusão, baseada numa crença infundada ! O recurso ao outsourcing é conhecidono jargão dos gestores como dessedimentação organizacional (Sennett, 2006). Este tipo depráticas caracteriza-se por a atribuir determinadas funções a terceiros, libertando aorganização de certas “camadas” consideradas secundárias. Com a flexibilizaçãoorganizacional as empresas engordam ou emagrecem (em termos de número detrabalhadores), mediante a transição de uma tarefa para outra. Muitos empregospermanentes transformam-se em sazonais. Porém, é importante lembrar que a boarelação entre pares é normalmente construída a partir da confiança, a qual écimentada, por vezes, ao longo de vários anos. Já referi que as estratégias informais – asquais implicam relações de confiança - dominam largamente o funcionamento internode algumas organizações. Mas quando as pessoas não se conhecem, porque por exemplotrabalham em empresas diferentes, é mais difícil construir relações de confiança e criarredes de solidariedade no trabalho. A integração ou coesão dos grupos de trabalhoentre trabalhadores de empresas diferentes tende a ser bastante mais fragilizada.

46 Numa conversa recente, um trabalhador contou-me um episódio que se tinha passado

com ele, o qual é revelador da “distância” que existe entre trabalhadores que partilhamo mesmo espaço de trabalho, mas que simultaneamente pertencem a organizaçõesdistintas. Apesar de este ser um exemplo bastante comezinho, ilustra plenamente aideia anterior. Resumidamente, a história foi a seguinte : algures numa estação demetro na cidade de Lisboa, durante o período noturno em que as instalações já estãoencerradas ao público, o trabalhador acima referido (pertencente aos quadrospermanentes da empresa do ramo ferroviário) solicita a um trabalhador de umaempresa prestadora de serviços de limpeza (em regime de outsourcing) para lheemprestar a chave das instalações sanitárias (as quais naquele momento seencontravam fechadas). Surpreendentemente, em vez de emprestar a chave (que estavana sua posse, o que seria naturalmente óbvio por vários motivos), o trabalhador daempresa prestadora de serviços refere que o primeiro trabalhador se deve dirigir trêsestações adiante, pois seria aí que as instalações sanitárias estariam abertas. O leitorrepare bem : três estações adiante (tendo em conta que o metro está encerrado, devidoao período normal de encerramento noturno). Cumprir esta indicação implicaria umadeslocação de carro, com a consequente perda de tempo (além da aflição biológica àqual o primeiro trabalhador teria de sujeitar-se), tudo isto sem qualquer justificaçãoplausível. Nunca tinha havido nenhum conflito anterior entre estes trabalhadores,apenas não havia sido construída uma estrutura de solidariedade e confiança entre eles.Não há empatia [12], nem o reconhecimento de que o outro faz parte da sua “equipa detrabalho”. Sem entrar em mais detalhes relativos a este caricato episódio, podemosreferir que as políticas de outsourcing são passíveis de originar casos tão estranhos comoeste (ou ainda muitos outros de maior gravidade e perigosidade).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

222

Page 224: Laboreal, Volume 15 Nº2

8. Notas finais

47 Como breve nota final refiro que apesar dos esforços e avanços propostos por algumas

disciplinas, o trabalho, enquanto campo de pesquisa, é algo que epistemologicamenteainda está em aberto. Na realidade, os efeitos e as consequências do trabalho, ao nívelbiopsicossocial, são afinal uma “caixa-negra” longe de estar totalmente decifrada. Ouniverso do trabalho ainda acarreta alguns enigmas e incorpora um lado obscurorepleto de subjetividades. Na perspetiva de Dejours (2005) o conhecimento científicosobre complexidade humana nas situações de trabalho é ainda incompleto. Porém,julgo que não restam dúvidas sobre a enorme influência que o atual modelo económicodominante exerce nas múltiplas dimensões do trabalho ; e isso afeta a saúde mental notrabalho.

48 Segundo as palavras de Dejours (1999) o nosso modelo de organização social banalizou a

injustiça social. Atualmente tudo parece girar em torno do lucro (onde estão incluídasinúmeras formas de exploração e alienação), procrastinando a felicidade humana porcausa do trabalho. Volto a sublinhar que se o principal objetivo das organizações nãofosse a obtenção do lucro e a acumulação de capital, estes recursos poderiam seraplicados na melhoria das condições de trabalho (o que naturalmente permitiriareduzir o sofrimento no trabalho) e, principalmente, poderíamos reduzir o tempo quepassamos a trabalhar (melhorando a qualidade de vida das nossas sociedades). Noteatro laboral contemporâneo a subjetividade e a convivência deveriam serconsideradas variáveis tão importantes quanto a produção e a rentabilidade (deGaulejac, 2007, p. 288).

49 É pertinente ter em conta que os riscos ocupacionais (positivos ou negativos) são, de

certo modo, omnipresentes e estão em constante mutação. Isto significa que sãodinâmicos e nunca são verdadeiramente os mesmos. Todavia, podemos afirmar que osmúltiplos riscos no trabalho são uma espécie de “antecâmara” para a ocorrência defalhas, conflitos, acidentes ou doenças (Areosa, 2012a), logo, estes mesmos riscos sãosempre passíveis de afetar a segurança e a saúde das pessoas no mundo laboral. Apsicodinâmica do trabalho tem contribuído de forma singular para compreender asdiversas alterações, bem como as respetivas consequências, associadas às novas formasde organização do trabalho, particularmente aquelas que estão relacionadas com asaúde mental dos trabalhadores. Esta disciplina identificou ainda ruturas significativasque podem conduzir os trabalhadores à morte, já não apenas por doença ocupacionalou acidente de trabalho, mas também por suicídio devido a descompensações mentaisou psicossociais (Dejours, 2017). Sem dúvida que este é um dos grandes dramas domundo do trabalho contemporâneo !

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

223

Page 225: Laboreal, Volume 15 Nº2

BIBLIOGRAFIA

Amagasa, T., Nakayama, T., & Takahashi, Y. (2005). Karojisatsu in Japan : characteristics of 22 cases

of work-related suicide. Journal of Occupational Health, 47(2), 157-164.

Amalberti, R. (1996). La conduite des systèmes à risques. Paris : Presses Universitaires de France.

Antunes, R. (2008). Desenhando a nova morfologia do trabalho : As múltiplas formas de

degradação do trabalho. Revista Crítica de Ciências Sociais, 83, 19-34.

Areosa, J., & Carapinheiro, G. (2008). Quando a imagem é profissão : profissões da imagiologia em

contexto hospitalar. Sociologia, Problemas e Práticas, 57, 83-108.

Areosa, J., & Dwyer, T. (2010). Acidentes de trabalho : uma abordagem sociológica. Configurações,

7, 107-128.

Areosa, J. (2010). O risco nas ciências sociais : uma visão crítica ao paradigma dominante. Revista

Angolana de Sociologia, 5/6, 11-33.

Areosa, J. (2011). Riscos ocupacionais da Imagiologia : estudo de caso num hospital

português. Tempo Social, 23(2), 297-318.

Areosa, J. (2012a). O lado obscuro dos acidentes de trabalho : um estudo de caso no setor ferroviário.

Famalicão : Editora Húmus.

Areosa, J. (2012b). O contributo das ciências sociais para a análise de acidentes maiores : dois

modelos em confronto. Análise Social, 204, 558-584.

Areosa, J. (2014). As perceções de riscos laborais no sector ferroviário. Sociologia, Problemas e

Práticas, 75, 83-107.

Areosa, J. (2017). Compreender os comportamentos para melhorar a segurança. In H. V. Neto, J.

Areosa & P. Arezes (Eds.). Liderança e Participação em Segurança e Saúde no Trabalho (pp. 176-198).

Porto : Civeri Publishing.

Areosa, J. (2018a). O trabalho como palco do sofrimento. International Journal on Work Condition, 15,

81-95.

Areosa, J. (2018b). Imagem como profissão - A radiologia enquanto revolução na arte de fazer medicina.

Beau Bassin : Novas Edições Acadêmicas.

Bourdieu, P. (1998). Contrafogos. Oeiras : Celta.

Clot, Y. (1995). Le Travail Sans L’homme ? Pour une Psychologie des Milieux de Travail et de Vie. Paris :

Edition La Découverte.

Dal Rosso, S. (2008). Mais trabalho ! A intensificação do labor na sociedade contemporânea. São Paulo :

Boitempo.

Damásio, A. (1994). O Erro de Descartes. Emoção, Razão e Cérebro Humano. Mem Martins : Publicações

Europa-América.

de Gaulejac, V. (2007). Gestão como doença social : ideologia, poder gerencialista e fragmentação social.

São Paulo : Ideias e Letras.

Dejours, C. (1986). Por um novo conceito de saúde. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 54(14),

7-11.

Dejours, C. (1991). A loucura do trabalho. São Paulo : Cortez Editora.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

224

Page 226: Laboreal, Volume 15 Nº2

Dejours, C. (1998). “ Travailler » n’est pas “ déroger ». Travailler, 1, 5-12.

Dejours, C. (1999). A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro : FGV Editora.

Dejours, C. (2005). O fator humano. Rio de Janeiro : FGV Editora.

Dejours, C., & Bègue, F. (2009). Suicide et travail : Que faire ? Paris : Presses Universitaires de France.

Dejours, C. (2011). Texto Introdutor : Psicopatologia do trabalho - Psicodinâmica do trabalho.

Laboreal, VII(1), 13-16.

Dejours, C., & Gernet, I. (2011). Trabalho, subjetividade e confiança. In L. I. Sznelwar (Org.), Saúde

dos Bancários (pp. 33-42). São Paulo : Publisher Brasil/Editora Gráfica Atitude.

Dejours, C. (2012). Trabalho vivo (Tomo I e II). Brasília : Paralelo 15.

Dejours, C. (2013). A sublimação, entre o sofrimento e prazer no trabalho. Revista Portuguesa de

Psicanálise, 33(2), 9-28.

Dejours, C. (2015). Le choix, souffrir au travail n’est pas une fatalité. Montrouge, Fr : Bayard.

Dejours, C. (2016). Organização do trabalho e saúde mental : quais são as responsabilidades do

manager ? In K. Macêdo et al. (Orgs.). Organização do trabalho e adoecimento : uma visão interdisciplinar

(pp. 317-331). Goiânia : Editora PUC Goiás.

Dejours, C. (2017). Psicodinâmica do trabalho : casos clínicos. Porto Alegre - São Paulo : dublinense.

Dekker, S. (2006). Resilience Engineering : Chronicling the Emergence of Confused Consensus. In

E. Hollnagel ; D. Woods & N. Leveson (Eds.). Resilience Engineering : Concepts and Precepts (pp. 77-92).

Aldershot, UK : Ashgate Publishing.

Durkheim, E. (1984). A divisão social do trabalho. Lisboa : Presença.

Facas, E., Duarte, F., Mendes, A. M., & Araujo, L. (2015). Sofrimento ético e (in)dignidade no

trabalho bancário : análise clínica e dos riscos psicossociais. In J. Monteiro, F. Vieira, & A. M.

Mendes (Orgs.). Trabalho e prazer : teoria, pesquisas e práticas (pp. 233-255). Curitiba, PR : Juruá.

Forrester, V. (1997). O Horror Económico. Lisboa : Terramar.

Franco, T., Druck, G., & Seligmann-Silva, E. (2010). As novas relações de trabalho, o desgaste

mental do trabalhador e os transtornos mentais no trabalho precarizado. Revista Brasileira de

Saúde Ocupacional, 122, 229-248.

Freire, J. (2002). Sociologia do trabalho : uma introdução. Porto : Edições Afrontamento.

Goleman, D. (2006). Inteligência emocional. Lisboa : Sábado.

Hirata, H. (2011). Tendências recentes da precarização social e do trabalho : Brasil, França, Japão.

Caderno CRH, 24(1), 15-22.

Hobbes, T. (1983). Leviatã ou Matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. São Paulo :

Editora Abril.

Kahneman, D. (2012). Pensar depressa e devagar. Lisboa : Temas e Debates.

Kovács, I. (2006). Novas formas de organização do trabalho e autonomia no trabalho. Sociologia,

Problemas e Práticas, 52, 41-65.

Marx, K. (1993). Manuscritos económico-filosóficos. Lisboa : Edições 70.

Mendes, A. M. (2018). Desejar, Falar, Trabalhar. Porto Alegre : Editora Fi.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

225

Page 227: Laboreal, Volume 15 Nº2

Miller, G. (1956). The magical number seven, plus or minus two : Some limits on our capacity for

processing information. The Psychological Review, 63(2), 81‑97.

Molinier, P. (2006). Les enjeux psychiques du travail. Paris : Payot & Rivages.

Nyberg, A. et al. (2009). Managerial leadership and ischaemic heart disease among employees : the

Swedish WOLF study. Occupational and Environmental Medicine, 66, 51-55.

Perrow, C. (1999). Normal accidents : living with high-risk technologies. New Jersey : Princeton

University Press.

Rasmussen, J. (1997). Risk management in a dynamic society : A modeling problem. Safety Science,

27, 183-213.

Reason, J. (1990). Human error. Cambridge : Cambridge University Press.

Rolo, D. (2018). O trabalho : entre prazer e sofrimento. TMQ – Techniques, Methodologies and Quality,

número especial, 28-38.

Rousseau, J-J. (1989). O contrato social. Mem-Martins : Publicações Europa-América.

Sennett, R. (2001). A corrosão do carácter : as consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo.

Lisboa : Terramar.

Sennett, R. (2006). A cultura do novo capitalismo. Rio de Janeiro : Editora Record.

Simons, D., & Chabris, C. (2010). The Invisible Gorilla : How our intuitions deceive us. New York :

Crown Publishers.

Smith, A. (1979). Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações. São Paulo : Abril

Cultural.

Standing, G. (2014). O precariado – a nova classe perigosa. Lisboa : Editorial Presença.

Sznelwar, L. I., Uchida, S., & Lancman, S. (2011), A subjetividade no trabalho em questão. Tempo

social, 23(1), 11-30.

Sznelwar, L. I. (2015). Quando trabalhar é ser protagonista e o protagonismo no trabalho. São Paulo :

Blucher.

Taleb, N. (2008). O Cisne Negro – O impacto do altamente improvável. Amadora : Dom Quixote.

Wandelli, L. V. (2015). Da psicodinâmica do trabalho ao direito fundamental ao conteúdo do

próprio trabalho e ao meio ambiente organizacional saudável. Revista Eletrônica do Curso de Direito

da UFSM, 10, 193-217.

Weber, M. (2001). A ética protestante e o espírito do capitalismo. Lisboa : Editorial Presença.

NOTAS

1. Porém, a forma de não produzirmos cada vez melhor está longe de ser inocente.

Provavelmente o leitor iria sorrir com ironia se eu lhe dissesse que uma lâmpada (similar às que

tem em sua casa) poderia durar mais de cem anos. Mas pode! E não é mera ficção, pois existe uma

lâmpada em Livermore (Califórnia, EUA) que tem atualmente cerca de 117 anos de existência e

continua a funcionar. Esta situação intrigou um empresário de Barcelona – Benito Muros – e

levantou-lhe a seguinte questão: se há mais de cem anos existiam técnicas e tecnologias

suficientes para fazer uma lâmpada durar tanto tempo, porquê que hoje “já não somos capazes

disso”? É neste contexto que entramos na noção de “obsolescência programada”, a qual está

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

226

Page 228: Laboreal, Volume 15 Nº2

intimamente relacionada com o capitalismo atual. Na realidade, a obsolescência programada é

uma prática fraudulenta, efetuada por algumas empresas, dado que fabricam produtos para

durarem pouco tempo. Obviamente que o que está por trás desta política é vender mais e, por

consequência, lucrar mais. O nosso modelo económico atual, baseado no consumo, tem de vender

em grandes quantidades para sobreviver, logo, se os produtos durassem muito tempo as vendas

cairiam de forma drástica. É por isso que atualmente se produz, de forma intencional, quase tudo

com um ciclo de vida limitado, quer seja uma simples lâmpada doméstica, quer sejam

automóveis, roupas, eletrodomésticos ou computadores. Todavia, este tipo de estratégia utilizada

à escala global tem diversos efeitos negativos (alguns porventura incalculáveis), tanto ao nível do

desperdício de recursos (os quais são suscetíveis de afetar gravemente o meio ambiente), como

no âmbito dos direitos humanos, laborais e da qualidade de vida individual e coletiva (porque,

por exemplo, obrigamos as pessoas a trabalhar mais e em piores condições quando não há

necessidade disso).

2. A escritora Viviane Forrester (1997) refere ironicamente uma terceira “categoria de pessoas”:

os supérfluos. São indivíduos que estão fora do mercado de trabalho e que a economia os

pretende rotular como nefastos para a sociedade. Paralelamente à questão da dualização do

mercado de trabalho existem autores que não partilham esta visão determinista do mundo do

trabalho, referindo que ele é bem mais complexo e diversificado do que esta visão dualista traduz

(Kovács, 2006).

3. A propósito destas duas situações surgiu o termo japonês karoshi para se referir aos

trabalhadores que morrem por causa do excesso de trabalho, normalmente após longas horas

sem interrupção para descansar. Paralelamente, também no Japão, foram detetados alguns casos

de trabalhadores que se suicidaram devido ao excesso de trabalho. Esta situação foi apelidada por

karojisatsu (Amagasa et al., 2005). Os autores colocam como hipótese o seguinte: longas jornadas

de trabalho, sobrecarga de trabalho e níveis reduzidos de apoio social podem causar depressão, a

qual, por sua vez, pode conduzir ao suicídio. Estes são alguns dos traços comuns nos casos de

suicídio analisados por esta pesquisa (Amagasa et al., 2005).

4. Ao longo do texto irei apresentar múltiplos casos que são fonte de sofrimento no trabalho, mas

creio que não é difícil imaginar diversas situações que, inversamente, podem gerar prazer no

trabalho. Lembremos, por exemplo, uma equipa de cirurgia que conclui com sucesso uma

intervenção, cujo paciente estava em risco de vida; um jogador de futebol que marca o único golo

na final de uma competição importante e sente a euforia de milhares de adeptos; ou um

agricultor com sensibilidade suficiente para se orgulhar ao ver florescer os frutos do seu trabalho

(Areosa, 2018a).

5. Pretendo deixar claro que não é minha intenção efetuar uma apologia do trabalho em

detrimento do lazer, até porque me parece que o equilíbrio entre ambos será, em princípio, mais

vantajoso em diversos níveis (incluindo na saúde mental). Sob o formato de analogia, evoco, neste

contexto, as palavras de Aristóteles, onde o filósofo grego apontava que a felicidade do Homem

(provavelmente a finalidade última da nossa existência e a maior de todas as virtudes) estaria no

meio-termo, no ponto médio entre o excesso e o defeito, ou seja, entre dois extremos (neste caso,

metaforicamente, no equilíbrio entre o trabalho e o lazer).

6. A subjetividade é um dos aspetos centrais na abordagem da psicodinâmica do trabalho.

Segundo Dejours, a afetividade é a base da subjetividade. Neste contexto, entende-se por

afetividade a forma como o corpo vivencia o contato com o mundo exterior. Menosprezar ou

desconsiderar a afetividade e a subjetividade é negar no homem a sua própria humanidade. “O

essencial da subjetividade é da categoria do invisível. O sofrimento não se vê. Tampouco a dor. O

prazer não é visível. Esses estados afetivos não são mensuráveis. São vivenciados de «olhos

fechados». O fato de que a afetividade não possa jamais ser medida nem avaliada

quantitativamente, de que ela pertença ao domínio das trevas, não justifica que se lhe negue a

realidade nem que se despreze os que dela ousam falar de modo obscurantista. Ninguém ignora o

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

227

Page 229: Laboreal, Volume 15 Nº2

que sejam o sofrimento e o prazer, e todos sabem que isso só se vivencia integralmente na

intimidade da experiência interior” (Dejours, 1999, p. 29).

7. Segundo as palavras do autor: “A psicodinâmica do trabalho estuda as condições de articulação

das inteligências singulares, na coordenação das atividades, no nível da organização do trabalho

como um todo ou de um segmento dessa organização. Nesse ponto, encontramos então a

distância entre a organização do trabalho prescrito e organização do trabalho real. Este último

toma o lugar da distância inicial entre tarefa e atividade, de modo que passamos do singular ao

plural, do individual ao coletivo, do solipsismo à intersubjetividade, da inteligência astuciosa à

cooperação” (Dejours, 2005, p. 57).

8. Em determinadas organizações as pessoas são imaginadas como uma espécie de robots

invulneráveis a alterações de ordem bio-psicossociológicas, pois surge constantemente reforçada

a “fantasia” de que existe um homem quimérico, um trabalhador irrepreensível que não é

suscetível de errar ou de estar momentaneamente desatento, que nunca pode estar cansado e que

trabalha sempre com o mesmo ritmo (sem acelerar ou ficar mais lento), que não adoece nem tem

alterações de humor, que não tem problemas familiares ou conflitos com os colegas e hierarquias.

Em resumo, idealizam um trabalhador perfeito; infelizmente esse trabalhador não existe no

mundo real!

9. Um outro exemplo marcante desta situação é relatado no reputado livro de Daniel Simons e

Christopher Chabris (2010), onde os participantes de uma pesquisa estão tão concentrados num

determinado objetivo (contar o número de passes que os jogadores de basquetebol com camisola

branca fazem, ignorando os de camisola preta) que a maioria não consegue visualizar um alegado

gorila que surge inesperadamente no meio do ringue.

10. Acedido em 05/02/2018, através do link: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/um-

suicidio-no-trabalho-e-uma-mensagem-brutal-1420732

11. Alguns autores complementam esta noção ao afirmarem que existe já uma quarteirização,

isto é, são “empresas contratadas para gerir contratos com as terceiras, caracterizando a cascata

de subcontratação” (Franco et al., 2010, p. 233). É pertinente acrescentar que a expansão da

subcontratação no mundo do trabalho tem sido um fator bastante notório em alguns países,

nomeadamente no Brasil, na França e no Japão (Hirata, 2011).

12. Podemos definir a empatia como uma capacidade ou habilidade para conseguir colocar-se no

lugar do outro. No fundo, é tentar antever ou compreender aquilo que os outros estão a sentir.

Demonstrar empatia oferece diversas vantagens no campo das relações humanas e nas interações

sociais. Inversamente, a ausência de empatia é reveladora de alguma falha emocional; a título de

exemplo, em casos extremos encontramos este tipo de falhas em criminosos psicopatas,

violadores e pedófilos (Goleman, 2006).

RESUMOS

A organização do trabalho está diretamente relacionada com a forma como os trabalhadores

percecionam os múltiplos aspetos (positivos e/ou negativos) relacionados com a sua atividade

laboral. A abordagem da psicodinâmica do trabalho trata precisamente das consequências do

trabalho na saúde mental dos trabalhadores, nomeadamente no prazer que suscita ou no

sofrimento que produz. É por esse motivo que nos parece pertinente debater a organização do

trabalho a partir da perspetiva da psicodinâmica do trabalho, a qual tem oferecido inúmeros

conhecimentos sobre esta complexa realidade.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

228

Page 230: Laboreal, Volume 15 Nº2

La organización del trabajo está directamente relacionada con el modo como los trabajadores

perciben los múltiples aspectos (positivos y/o negativos) relacionados con su actividad laboral. El

enfoque de la psicodinámica del trabajo aborda precisamente las consecuencias del trabajo en la

salud mental de los trabajadores, especialmente en el placer que suscita o en el sufrimiento que

produce. Es por ese motivo que nos parece pertinente debatir la organización del trabajo a partir

de la perspectiva de la psicodinámica del trabajo, la cual ha ofrecido innumerables conocimientos

sobre esta compleja realidad.

L’organisation du travail est en lien direct avec la façon dont les travailleurs perçoivent les

aspects multiples (positifs et/ou négatifs) de leur activité de travail. L’approche de la

psychodynamique du travail traite, précisément, des conséquences du travail sur la santé

mentale des travailleurs, notamment le plaisir et la souffrance qu’il peut générer. Pour cette

raison, il nous paraît pertinent de discuter l’organisation du travail à partir de l’approche de la

psychodynamique du travail et de ses nombreuses contributions à la connaissance et à la

compréhension de cette réalité complexe.

The organization of work is closely related to how employees perceive the multiple aspects

(either positive or negative) of their work activity. The approach of psychodynamics of work

deals precisely with the effects of work on the workers’ mental health, in particular with the

pleasure or pain it produces. That is why we consider it appropriate to discuss the organization

of work from the perspective of the psychodynamics of work, which gives significant knowledge

contributions for this complex reality.

ÍNDICE

Palabras claves: trabajo, organización del trabajo, psicodinámica del trabajo

Keywords: work, organization of work, psychodynamic of work

Palavras-chave: trabalho, organização do trabalho, psicodinâmica do trabalho

Mots-clés: travail, organisation du travail, psychodynamique du travail

AUTOR

JOÃO AREOSA

Investigador integrado no CICS-NOVA (Universidade Nova de Lisboa) ; Professor Convidado no

Instituto Politécnico de Setúbal (ESCE-IPS) ; Escola Superior de Ciências Empresariais (ESCE), do

Instituto Politécnico de Setúbal (IPS), Campus do IPS – Estefanilha, 2914-503 Setúbal ;

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

229

Page 231: Laboreal, Volume 15 Nº2

Textos HistóricosTextos históricosTextes historiquesHistorical texts

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

230

Page 232: Laboreal, Volume 15 Nº2

Jacques Leplat e a psicologiaergonómicaJacques Leplat y la psicología ergonómica

Jacques Leplat et la psychologie ergonomique

Jacques Leplat and ergonomic psychology

Régis Ouvrier-Bonnaz

Tradução : João Viana Jorge

1 A 17 de Outubro de 2019, Jacques Leplat fez 98 anos.

2 Em 1949 empurra pela primeira vez a pesada porta do Institut national d’étude du travail

et de l’orientation professionnelle (INETOP) no nº 41 da rua Gay Lussac no 5ème arrondissement

de Paris para seguir durante dois anos a formação como conselheiro de organizaçãoescolar e profissional. Setenta anos mais tarde, sexta-feira 19 de Abril de 2019, nesselugar histórico do desenvolvimento da psicologia do trabalho, da orientação e daergonomia [1], as equipas de ergonomia, de psicologia do trabalho e de clínica daatividade organizam uma jornada intitulada “ Avec Jacques Leplat au 41 de la rue Gay

Lussac », por iniciativa do Groupe de recherche et d’étude sur l’histoire du travail et de

l’orientation (GRESTHO) ao qual se juntou desde a sua criação no seio do Centre de

recherche sur le travail et le développement (CRTD) do Conservatoire national des arts et

métiers.

3 Todos os que frequentam ou frequentaram o 41 da rua Gay Lussac cruzaram-se com a

sua esbelta silhueta subindo sem esforço, com uma passada viva as escadas que serviamos cinco andares do edifício para alcançar o seu gabinete ou o de colegas seus.Apaixonado por corridas de montanha, particularmente nos Alpes que descobriu desdejovem e continua a percorrer nos seus tempos de lazer, o esforço físico e o intelectualmantêm-se para ele, como especificaria múltiplas vezes, uma necessidade vital. Muitosse recordam das suas corteses visitas aos seus gabinetes e da sua permanente pergunta :“ em que trabalha neste momento ? ». Os intercâmbios com outros da sua própriadisciplina, a ergonomia, mas também de disciplinas afins, interessam-no da forma maisaguda. Por ocasião de uma entrevista marcada para a SELF em 2002, especificando quequalquer “ problema prático » é sempre multidisciplinar, não hesitou em citar Marc

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

231

Page 233: Laboreal, Volume 15 Nº2

Bloch (1886-1944) o historiador fundador dos Annales d’histoire économique et sociale em1929 : “ a ciência não decompõe o real senão a fim de melhor o observar, graças a umjogo de fogos cruzados cujos raios constantemente se combinam e se interpretam. Operigo começa quando cada projetor pretende ver tudo por si só, quando cada cantãodo saber se toma por uma pátria » [2].

4 Titular do diploma de Estado de conselheiro de orientação escolar e profissional e da

licenciatura em psicologia, recentemente criada e em paralelo preparada, integra em1951 o Centre d’études et de recherches psychotechnique (CERP), financiado pelo Ministériodo Trabalho, a conselho de Paul Fraisse (1911-1996) então professor de Psicologia naUniversidade de Paris o qual dirigirá a sua tese de Estado “ La notion d’application en

psychologie du travail », defendida em 1974. Mantém-se quinze anos nesteestabelecimento público cuja primeira missão é a de gerar a conceção e a organizaçãode exames psicológicos precedendo a entrada dos estagiários nos centros de formaçãoprofissional da Association pour la formation professionnelle des adultes (AFPA), sucedendona sua direção em 1959 a Jean-Marie Faverge (1912-1988).

5 Na sua chegada ao CERP, então dirigida por André Ombredane (1898-1958), elabora e

adapta testes e questionários para um público identificado como portador dedeficiências ; dois artigos publicados no Bulletin du CERP dão conta desses primeirostrabalhos [3]. Muito em breve é agregado ao departamento de Faverge [4] que acabara delevar a cabo uma missão de observação e de estudo de laboratórios de psicologiaaplicada ao trabalho, nos Estados Unidos, financiada pelo Commissariat Général à la

productivité, uma espécie de Commissariat au Plan. Aí Faverge descobre os laboratórios da“ Human engineering » e descreve no seu relatório um mundo, desconhecido em França[5], em que o equipamento técnico predomina. Na altura dessa viagem descobre tambémo livro de Chapanis e colaboradores, “ Applied Experimental Psychology » [6], solicitando aJacque Leplat que sobre ele apresente um relatório. Este redige então, para o Bulletin du

CERP criado em 1952, o que podemos considerar como o seu primeiro artigo científico :“ Adaptation de la machine à l’homme ». Como refere numa entrevista realizada pelarevista Pistes em 2005 [7], este artigo marca o início de uma nova orientação do CERPque desde então se interessa pelos métodos de análise do trabalho que os seusinvestigadores não cessarão de estudar e desenvolver [8]. É este artigo que a revistaLaboreal agora publica em conjunto com uma bibliografia selecionada de JacquesLeplat, agrupando a maior parte dos seus escritos, organizada pela Bibliothèque et le

Centre de documentation sur la formation et le travail (CDFT) do CNAM situada na rua GayLussac. Pelo elevado número de recensões este documento confirmaria, se necessáriofosse, a atenção que sempre prestou ao trabalho dos outros. As suas apresentações, emcompensação, sempre suscitaram o interesse dos investigadores da comunidade, mastambém o dos profissionais desse domínio. Por isso Yves Clot na conclusão da jornadade homenagem precisa que se sentiu encorajado a abraçar a carreira universitária queencarava após ter tomado conhecimento do relatório de Jacques Leplat no Travail

humain de uma obra de 1981 [9] com um seu prefácio. A sua obra, no sentido em queIgnace Meyerson a entende (1948) [10], é um precioso caleidoscópio para escrutinar aespessura atual dos territórios da ergonomia e da psicologia do trabalhocontemporâneos.

6 No artigo aqui apresentado, após ter definido o que abrange o “ Human engineering » e

adotado uma tradução possível : “ adaptação da máquina ao homem » definiu umaclassificação para expor dois tipos de pesquisa que julga característicos do que se faz

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

232

Page 234: Laboreal, Volume 15 Nº2

nesse domínio : o estudo dos dispositivos de controlo e o estudo dos comandos. Econclui : “ a introdução da experimentação no estudo do trabalho, domínio em que oempirismo foi por longo tempo a única regra, permitirá sem dúvida alcançarimportantes progressos tanto no plano puramente técnico (melhoramento do material)e pedagógico (aprendizagem mais racional da tarefa) como no plano mais estritamentepsicológico (orientação e seleção) » (1953, p. 38).

7 Desde então o que interessa a Jacques Leplat são as relações entre técnica e psicologia

que permitem pensar o estudo do sistema homem /máquina como uma unidade, comoum todo. Esse interesse é uma chave de leitura para melhor apreender a orientaçãodada à maior parte dos seus estudos e investigações.

8 Num artigo publicado no mesmo ano em L’Année psychologique intitulado “ Travaux

récents de ‘’technologie humaine’’ (Human engineering) » [11], ao efetuar uma ampla revisãode questões que a bibliografia testemunha, esboça uma primeira análise para melhorapreender as relações suscetíveis de serem pensadas entre uma psicologia experimentalfundamental e uma psicologia experimental aplicada. Como indica na sua tese “ se com

efeito é bom distinguir uma visão fundamental e uma visão de aplicação, essa distinção não deve

acabar por isolar as démarches que se inscrevem nestas duas visões (…) psicologia do trabalho

fundamental e aplicada devem articular-se duma maneira estreita e coerente (1974, p. 158) ».Desde então não relaxará no estudo da relação dialética existente entre estas duasorientações da psicologia, uma fornecendo os modelos de inteligibilidade, a outra assoluções concretas suscetíveis de ajudar mulheres e homens a fazer face às tarefas queelas – eles – têm de levar a cabo no seu trabalho. Desta abordagem decorre a definiçãodo campo próprio da psicologia ergonómica que a diferencia da psicologia cognitiva :estudo clínico da interação do homem com o seu meio de trabalho com a preocupaçãode agir sobre os dispositivos sociotécnicos para melhorar as condições de vida demulheres e homens no trabalho [12].

NOTAS

1. Ver, a este respeito, Régis Ouvrier-Bonnaz, « A psicologia em França de 1870 a 1940, de uma

ciência aplicada a uma disciplina universitária », Laboreal [Online], Volume 3 Nº1 | 2007, posto

online no dia 01 julho 2007, consultado o 21 novembro 2019. URL : http://

journals.openedition.org/laboreal/13016

2. Marc Bloch (1993). Apologie pour l´histoire ou métier d´historien. Paris. Armand Colin.

3. J. Leplat (1953). L´examen psychotechnique des aveugles. Bulletin du CERP, II, 2-3, 23-39 et

(1954). Étude dúne batterie de tests pour aveugles. Bulletin du CERP, III, I, 9-15.

4. Sobre Ombredane e Faverge no CERP ver R. Ouvrier-Bonnaz e A. Weil-Fassina. André

Ombredane (1898-1958) et Jean-Marie Faverge (1912-1988). L´analyse du travail, rupture et

évolutions. Toulouse: éditions Octares (versão electrónica de acesso livre – https://

www.octares.com).

5. Citado por J. Leplat (2002) numa entrevista concedida à comissão de história da SELF. (https://

ergonomie-self.org).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

233

Page 235: Laboreal, Volume 15 Nº2

6. Chapanis, A., Gardner,W.-R.,Morgan, C.-T. (1949). Applied experimental Psychology. New-York:

Jonh Wiley.

7. Esther Cloutier et Corinne Gaudart, « Entrevue guidée avec Jacques Leplat », Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé [En ligne], 7-1 | 2005, mis en ligne le 01 février 2005,

consulté le 21 novembre 2019. URL : http://journals.openedition.org/pistes/3250 ; DOI : 10.4000/

pistes.3250

8. Estes estudos, levados a cabo na indústria têxtil, na das máquinas ferramenta e junto dos

construtores de máquinas para estaleiros, são apresentados e discutidos em J.-M. Faverge e B.

Guiguet (1958). «L´adaptation de la machine à l´homme». Paris: PUF.

9. Trata-se da obra de Y. Oddone, A. Alessandra e G. Briante (1981). Redécouvrir l´expérience

ouvrière. Vers une autre psychologie du travail? Paris: Éditions Sociales.

10. I. Meyerson (1948). Les fonctions psychologiques et les oeuvres. Paris: Librairie Philosophique

J. Vrin. Para este autor: «A ação, o pensamento humano, exprimem-se pelas obras (…) O espírito

nunca funciona no vazio; não existe e não se conhece senão no seu trabalho, nas suas

manifestações dirigidas, expressas, conservadas» (p. 10).

11. J. Leplat (1953). «Travaux récents de “techologie humaine” (Human Engineering)» L´Année

Psichologique, LIII, 2, 517-537.

12. Ver J. Leplat (1980). La psychologie ergonomique. Paris: PUF.

AUTORES

RÉGIS OUVRIER-BONNAZ

Groupe de Recherches sur l’Histoire du Travail et de l’Orientation (GRESHTO)

Centre d’Études sur le travail et le développement (CRTD)

Centre National des Arts et Métiers (CNAM), 41 Rue Gay-Lussac, 75020 Paris, France

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

234

Page 236: Laboreal, Volume 15 Nº2

Jacques Leplat y la psicologíaergonómicaJacques Leplat e a psicología ergonómica

Jacques Leplat et la psychologie ergonomique

Jacques Leplat and ergonomic psychology

Régis Ouvrier-Bonnaz

Tradución : Francisca Baldrich Advis

1 El 17 de octubre de 2019, Jacques Leplat cumplió 98 años.

2 En 1949, empujó por primera vez la pesada puerta del Instituto nacional de estudios del

trabajo y de la orientación profesional (INETOP) ubicado en el 41 de la calle Gay Lussacen el 5to distrito de Paris para seguir durante dos años la formación de consejero deorientación escolar y profesional. Setenta años más tarde, el viernes 19 de abril de 2019,en este sitio histórico del desarrollo de la psicología del trabajo, de la orientación y dela ergonomía [1], una jornada, titulada “ Con Jacques Leplat en el 41 de Gay Lussac », esorganizada por los equipos de ergonomía, de psicología del trabajo y de clínica de laactividad a iniciativa del Grupo de investigación y de estudio sobre la historia deltrabajo y de la orientación (GRESTHO) al que se unió desde su creación en el Centro deinvestigación sobre el trabajo y el desarrollo (CRTD) del Conservatorio nacional de artesy oficios.

3 Todos aquellos que frecuentan o que frecuentaron el 41 de la rue Gay Lussac cruzaron

su delgada silueta subiendo sin dificultad, a paso enérgico, las escaleras que llevan a loscinco pisos del edificio para llegar a su oficina o a la de sus colegas. Apasionado por lascarreras en montaña, en particular en los Alpes, que descubrió joven y que continuórecorriendo durante su tiempo libre, el esfuerzo físico y el esfuerzo intelectual seguiránsiendo para él, como nos lo dirá muchas veces, une necesidad vital. Muchos recuerdansus amables visitas a sus oficinas y su eterna pregunta : “ ¿sobre qué trabaja usted eneste momento ? ». Los intercambios con las demás personas en su disciplina, laergonomía, pero asimismo en las disciplinas vecinas, le interesan sobremanera.Durante una entrevista con la SELF en 2002, precisando que el “ problema práctico » essiempre multidisciplinario, no dudaría en citar a Marc Bloch (1886-1944), el historiador

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

235

Page 237: Laboreal, Volume 15 Nº2

fundador de los Anales de historia económica y social en 1929 : “ La ciencia descomponela realidad con la finalidad de observarla mejor, gracias a un juego de fuegos cruzadoscuyos rayos se combinan y se interpretan constantemente. El peligro empieza cuandocada proyector pretende ver todo por él mismo, cuando cada cantón del conocimientode toma por una patria » [2].

4 Titular del diploma de estado de consejero de orientación escolar y profesional y de la

licencia de psicología recién creada preparada en paralelo, se unió en 1951 al Centro deEstudios y de Investigación Psicotécnica (CERP) financiado por el Ministerio del Trabajobajo el consejo de Paul Fraisse (1911-1996) entonces profesor de psicología de laUniversidad de Paris, que dirigirá su tesis “ La noción de aplicación en psicología del

trabajo », defendida en 1974. Permanecerá quince años en este establecimiento públicocuya primera misión es de gestionar la concepción y la organización de exámenespsicológicos previos a la entrada de los alumnos en práctica en los centros de formaciónprofesional de la Asociación para la formación profesional de adultos (AFPA),sucediendo en 1959 a Jean-Marie Faverge (1912-1988) en la dirección.

5 Desde su llegada al CERP, entonces dirigida por André Ombredane (1898-1958),

desarrolló y adaptó pruebas y cuestionarios para un público identificado comodiscapacitado, dos artículos publicados en el Boletín del CERP dan cuenta de susprimeros trabajos [3]. Rápidamente fue asociado al servicio de Faverge que acababa dellevar a cabo una misión de observación y de estudio de los laboratorios de psicologíaaplicada al trabajo en los Estados Unidos, financiada por el Comisariado General para laproductividad, una especie de Comisión de Planificación. Faverge [4] descubre ahí loslaboratorios de “ Human engineering » y describe en su reporte un mundo dondedomina el equipamiento técnico, desconocido en Francia [5]. Asimismo descubre,durante este viaje, el libro de Chapanis y de sus colaboradores “ Applied Experimental

Psychology » [6], sobre el cual le solicita a Jacques Leplat hacer un informe. Éste redactaentonces para el boletín del CERP creado en 1952 lo que podríamos considerar como suprimer artículo científico “ Adaptation de la machine à l’homme » (“ Adaptación de lamáquina al hombre »). Como señala en una entrevista realizada para la revista Pistes en2005[7], este articulo marca el comienzo de una nueva orientación del CERP, que desdeaquel momento, se interesa en los métodos de análisis del trabajo que susinvestigadores no cesarán de estudiar y desarrollar [8]. Es dicho artículo el cual larevista Laboreal ahora publica junto con una bibliografía selecta de Jacques Leplat,agrupando la mayor parte de sus escritos, compilada por la Biblioteca y el Centro dedocumentación sobre la formación y el trabajo (CDFT) del CNAM ubicado en la calle GayLussac. Dada la gran cantidad de reseñas de libros, esto último confirma, si fueranecesario, la atención que siempre ha prestado al trabajo de los demás. Suspresentaciones, a su vez, suscitaron siempre el interés de los investigadores de lacomunidad pero también de los profesionales de su ámbito. Es así como Yves Clot,concluyendo la jornada de homenaje, señala haberse sentido alentado a seguir lacarrera universitaria que estaba considerando, luego de leer el reporte de JacquesLeplat en el Trabajo humano, de un libro cuyo prefacio él habría redactado en 1981 [9].Su obra, en el sentido en que Ignace Meyerson lo entiende (1948) [10], es un valiosocaleidoscopio para escudriñar el espesor de los territorios de la ergonomía y de lapsicología del trabajo hoy en día.

6 En el artículo presentado aquí, luego de haber definido lo que cubre la “ Human

engineering » y de haber adoptado una posible traducción al francés : “ adaptation de la

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

236

Page 238: Laboreal, Volume 15 Nº2

machine à l’homme » (“ adaptación de la máquina al hombre »), define una clasificaciónpara exponer dos tipos de investigación que juzga características de lo que se hace eneste ámbito : el estudio de los dispositivos de control y el estudio de los mandos.Concluye : “ la introducción de la experimentación en el estudio del trabajo, un terreno en el

cuál el empirismo ha sido durante mucho tiempo la única regla, permitirá indudablemente

alcanzar importantes progresos tanto en el nivel puramente técnico (mejora del material) y

pedagógico (aprendizaje más racional de la tarea) como en el nivel más estrictamente psicológico

(orientación y selección) » (1953, p. 38). Por ende lo que interesa a Jacques Leplat es larelación entre técnica y psicología que permite pensar el estudio del sistema hombre/

máquina como una unidad, como un todo. Este interés es clave para aprehender mejorla orientación dada a gran parte de sus estudios e investigaciones.

7 En un artículo publicado el mismo año en L’Année psychologique (El año psicológico)

titulado “ Trabajos recientes de “tecnología humana” (Human engineering) » [ 11], querealiza una amplia revisión de los temas como lo atestigua la bibliografía, esboza unprimer análisis para comprender mejor las posibles relaciones entre una psicologíaexperimental fundamental y una psicología experimental aplicada. Como afirma en sutesis, “ si es bueno, en efecto, distinguir un objetivo fundamental y un objetivo de aplicación,

esta distinción no debería conducir a aislar los pasos que se inscriben en estos dos objetivos (…) la

psicología del trabajo fundamental y aplicada deben estar articuladas de manera estrecha y

coherente (1974, p. 158). Por consiguiente, no dejará de estudiar la relación dialécticaexistente entre estas dos orientaciones de la psicología, una que proporciona modelosde inteligibilidad, y la otra, soluciones concretas susceptibles de ayudar a mujeres yhombres a enfrentar las tareas que tienen que llevar a cabo en sus trabajos. De esteenfoque deriva la definición del campo específico a la psicología ergonómica que ladiferencia de la psicología cognitiva : estudio clínico de la interacción del hombre consu entorno laboral, con el fin de actuar sobre los dispositivos socio-técnicos paramejorar las condiciones de vida de mujeres y hombres en el trabajo [12].

NOTAS

1. Ver sobre este tema Régis Ouvrier-Bonnaz, « A psicologia em França de 1870 a 1940, de uma

ciência aplicada a uma disciplina universitária », Laboreal [En línea], Volume 3 Nº1 | 2007,

Publicado el 01 julio 2007, consultado el 21 noviembre 2019. URL : http://

journals.openedition.org/laboreal/13016

2. Marc Bloch (1993). Apologie pour l’histoire ou métier d’historien. Paris : Armand Colin.

3. J. Leplat (1953). L’examen psychotechnique des aveugles. Bulletin du CERP, II, 2-3, 23-39 et

(1954). Étude d’une batterie de tests pour aveugles. Bulletin du CERP, III, 1, 9-15.

4. Sobre Ombredane y Faverge en el CERP, ver R. Ouvrier-Bonnaz y A. Weill-Fassina. André

Ombredane (1898-1958) et Jean-Marie Faverge (1912-1988). L’analyse du travail, ruptures et

évolutions. Toulouse : éditions Octares (versión electrónica en acceso libre – https://

www.octares.com)

5. Citado por J. Leplat (2002) en una entrevista realizada en la comisión de historia de la SELF.

(https://ergonomie-self.org).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

237

Page 239: Laboreal, Volume 15 Nº2

6. Chapanis, A., Gardner, W.-R., Morgan, C.-T. (1949). Applied experimental psychology. New-

York : John Wiley.

7. Esther Cloutier et Corinne Gaudart, «Entrevue guidée avec Jacques Leplat », Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé [En ligne], 7-1 | 2005, mis en ligne le 01 février 2005,

consulté le 21 novembre 2019. URL : http://journals.openedition.org/pistes/3250 ; DOI : 10.4000/

pistes.3250

8. Estos estudios, llevados a cabo en la industria textil, la industria de máquinas-herramientas y

con fabricantes de artefactos para obras de construcción, son presentados y discutidos en J.-M.

Faverge, J. Leplat et B. Guiguet (1958). L’adaptation de la machine à l’homme ». Paris : PUF.

9. Se trata de la obra de Y. Oddone, A. Alessandra et G. Briante (1981). Redécouvrir l’expérience

ouvrière. Vers une autre psychologie du travail ? Paris : Éditions Sociales.

10. I. Meyerson (1948). Les fonctions psychologiques et les œuvres. Paris : Librairie philosophique

J. Vrin. Para este autor: « La acción, el pensamiento humano, se expresan mediante las obras (…).

La mente nunca se expresa en el vacío; se le conoce sólo en el trabajo, en sus manifestaciones

dirigidas, expresadas, conservadas » (p. 10).

11. J. Leplat (1953). «Travaux récents de ‘’technologie humaine’’ (Human engineering)». L’Année

psychologique, LIII, 2, 517-537.

12. Ver J. Leplat (1980). La psychologie ergonomique. Paris : PUF.

AUTORES

RÉGIS OUVRIER-BONNAZ

Groupe de Recherches sur l’Histoire du Travail et de l’Orientation (GRESHTO)

Centre d’Études sur le travail et le développement (CRTD)

Centre National des Arts et Métiers (CNAM), 41 Rue Gay-Lussac, 75020 Paris, France

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

238

Page 240: Laboreal, Volume 15 Nº2

JACQUES LEPLAT : bibliografia seletivaCorinne Lespessailles, Céline Levecque, Aurélie Puybonnieux e AgatheVuillermet

1 Esta bibliografia foi confirmada pela Biblioteca Gay-Lussac e pelo Centre de

documentation sur la formation et le travail du Cnam (Conservatoire national des arts et

métiers) [Centro de documentação sobre a formação e o trabalho do Cnam] no quadro deum seminário organizado à volta da Obra de Jacques Leplat pelo Groupe de recherche et

d’étude sur l’histoire du travail et de l’orientation (Greshto) [Grupo de investigação e estudosobre a história do trabalho e da orientação] no dia 19 de abril de 2019 em Paris.

2 Para uma bibliografia mais exaustiva sobre os trabalhos de Jacques Leplat anteriores a

1993, reenviamos o leitor para a recensão realizada pela revista Le Travail humain (vol.56, n° 2-3, 1993, pp. 267-275). Citamos igualmente o artigo publicado em 2006 na revistaLaboreal de Catarina Silva (Sobre a Psicologia Ergonómica de Jacques Leplat, vol. 2, n° 2,pp. 47-61).

Entrevista com Jacques Leplat

3 2005 — Cloutier, E. & Gaudart, C. Entrevue guidée avec Jacques Leplat. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, 7(1). http://dx.doi.org/10.4000/pistes.3250

Obras e Direção de Obras

4 1958 — Faverge, J.-M., Leplat, J. & Guiguet, B. L’Adaptation de la machine à l’homme.

Paris : Presses universitaires de France.

5 1960 — Dellenbach, J., Faverge, J.-M. & Leplat, J. Quelques aspects du vieillissement en

rapport avec l’ergonomie. Paris : Centre national de la recherche scientifique.

6 1963 — Piéron, H., Chocholle, R. & Leplat, J. Traité de psychologie expérimentale. II,

Sensation et motricité. Paris : Presses universitaires de France.

7 1968 — Leplat, J. Attention et incertitude dans les travaux de surveillance et

d’inspection. Paris : Dunod.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

239

Page 241: Laboreal, Volume 15 Nº2

8 1969 — Leplat, J. L’Enseignement programmé. Paris : Sociétés d’éditions scientifiques.

9 1969 — Leplat, J., Kalsbeek, J. & Schmidtke, H. Travail mental et automatisation  :activités mentales, fatigue mentale et activités de contrôle et de surveillance dansl’industrie. Luxembourg : Service des publications des Communautés européennes.

10 1970 — Leplat, J, Énard, C. & Weill-Fassina, A. La Formation par l’apprentissage  :éléments de psychopédagogie. Paris : Presses universitaires de France.

11 1974 — Leplat, J. Les Accidents du travail. Paris : Presses universitaires de France.

12 1977 — Cuny, X., Leplat, J. Introduction à la psychologie du travail. Paris : Presses

universitaires de France.

13 1980 — Leplat, J. La Psychologie ergonomique. Paris : Presses universitaires de France.

14 1985 — Leplat, J. Erreur humaine, fiabilité humaine dans le travail. Paris : Armand

Colin.

15 1987 — Rasmussen, J., Duncan, K. D. & Leplat, J. (éd.). New technology and human error.

Chichester ; New York : J. Wiley.

16 1990 — Leplat, J. (dir.) & Terssac, G. de (dir.), Cellier, J.-M. (collab.), Neboit, M. (collab.),

Oudiz A. (collab.). Les Facteurs humains de la fiabilité dans les systèmes complexes.Marseille : Octares. (Coll. Ergonomie et gestion).

17 1992 — Leplat, J. (coord.). L’Analyse du travail en psychologie ergonomique : recueil de

textes, tome 1. Toulouse : Octares.

18 1993 — Leplat, J. (coord.). L’Analyse du travail en psychologie ergonomique : recueil de

textes, tome 2. Toulouse : Octarès.

19 1997 — Leplat, J. Regards sur l’activité en situation de travail  : contribution à la

psychologie ergonomique. Paris : Presses universitaires de France.

20 2000 — Leplat, J. L’Analyse psychologique de l’activité en ergonomie  : aperçu sur son

évolution, ses modèles et ses méthodes. Toulouse : Octarès.

21 2001 — Leplat, J. & Montmollin, M. de. Les Compétences en ergonomie. Toulouse :

Octarès.

22 2002 — Leplat, J. Psychologie de la formation  : jalons et perspectives  : choix de textes

(1955-2002). Toulouse : Octarès.

23 2008 — Leplat, J. Repères pour l’analyse de l’activité en ergonomie. Paris : Presses

universitaires de France.

24 2011 — Leplat, J. Mélanges ergonomiques  : activité, compétence, erreur. Toulouse :

Octarès.

Estudos e relatórios

25 [s.d.] — Leplat, J. Communications et codage dans le travail. Paris : Laboratoire de

psychologie du travail de l’École pratique des hautes études.

26 1965 — Leplat, J. Introduction sur les travaux effectués en exécution du contrat sur les

aspects psychologiques et psychopédagogiques de la formation des techniciens. Paris  :Centre d’études et recherches psychotechniques.

27 1965 — Leplat, J. L’Organisation temporelle de la transmission de l’information. Paris :

Centre d’études et recherches psychotechniques.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

240

Page 242: Laboreal, Volume 15 Nº2

28 1973 — Leplat, J.. Les Critères dans les études économiques de sécurité routière. Paris :

Laboratoire de psychologie du travail de l’École pratique des hautes études.

29 1975 — Leplat, J.. Genèse des accidents et facteurs de risque. Paris : Laboratoire de

psychologie du travail.

30 1975 — Leplat, J. La Notion d’application en psychologie du travail. Paris : Université

Paris 5 [Thèse de doctorat]

31 1976 — Leplat, J. Les Facteurs déterminant la charge de travail  : rapport introductif.

Paris : Laboratoire de psychologie du travail.

32 1976 — Leplat, J. Recherches en cours et travaux publiés 1974-1976. Paris : Laboratoire

de psychologie du travail.

33 1978 — Leplat, J. Le Contrôle du système d’arrêt d’urgence dans une centrale nucléaire  :observations préalables d’une étude ergonomique. Paris : Conservatoire national desarts et métiers, Laboratoire de physiologie du travail et d’ergonomie.

34 1990 — Rasmussen, J., Brehmer, B., Montmollin, M. de & Leplat, J. (éd.). Taxonomy for

analysis of work domains. Proceedings of the first MOHAWC workshop, Liège, May15-16, 1990. Roskilde, Denmark : Risø National Laboratory.

35 1992 — Brehmer, B. & Leplat, J. (éd.). Simulations, evaluations and models. Proceedings

of the fourth Mohawc Workshop, Bamberg, October 22-23, 1991. Roskilde, Denmark :Risø National Laboratory.

36 1996 — Leplat, J. À propos de l’environnement : questions terminologiques et

théoriques. Paris : École pratique des hautes études.

Contribuições em obras coletivas

37 1969 — Leplat, J. Les liaisons sensori-motrices. In Fraisse Paul (dir.), Piaget Jean (dir),

Traité de psychologie expérimentale. Tome II  : Sensation et motricité (p. 125-171).Paris : Presses universitaires de France.

38 1971 — Leplat, J. La psychologie du travail. In M. Reuchlin, Traité de psychologie

appliquée. 1, Les applications de la psychologie (p. 105-160). Paris : Pressesuniversitaires de France.

39 1972 — Leplat, J. La psychologie du travail en ergonomie. In M. Reuchlin (dir.), Traité de

psychologie appliquée. 3, Travailleurs et systèmes techniques (p. 61-136). Paris : Pressesuniversitaires de France.

40 1973 — Leplat, J. La méthode expérimentale en psychologie appliquée. In M. Reuchlin

(dir.), Traité de psychologie appliquée. 2, Les méthodes de la psychologie appliquée (p.19‑61). Paris : Presses universitaires de France.

41 1980 — Leplat, J. Développement et dégradation des habiletés dans le travail. In Société

française de psychologie, Équilibre ou fatigue par le travail  ? (p. 55–63). Paris :Entreprise moderne d’édition.

42 1982 — Leplat, J. Les situations de travail, terrains d’avenir pour la psychologie. In

P. Fraisse (dir.), Psychologie de demain (p. 311‑330). Paris : Presses universitaires deFrance.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

241

Page 243: Laboreal, Volume 15 Nº2

43 1989 — Leplat, J. Quelle place pour l'erreur humaine et pour la fiabilité humaine en

ergonomie. In Anais, Actes du 4ème Seminario Brasileiro de ergonomia. Rio de Janeiro :Fundaçao Getulio Vargas.

44 1990 — Leplat, J. About Psychological Taxonomies. In J. Rasmussen, B. Brehmer, M. de

Montmollin, J. Leplat, J. (éd.). Taxonomy for analysis of work domains. Proceedings ofthe first MOHAWC workshop, Liège, May 15-16, 1990. Tome 2 (p. 1-18). Roskilde,Denmark : Risø National Laboratory.

45 1991 — Leplat, J. Compétence et ergonomie. In R. Amalberti, M. de Montmollin, J.

Theureau. Modèles en analyse du travail (p. 295-316). Liège : Pierre Mardaga.

46 1992 — Leplat, J. Conférence introductive. In M. Neboit, É. Fadier (éd.). Facteurs

humains de la fiabilité et de la sécurité des systèmes complexes : actes du colloque tenuà Vandoeuvre les 17 et 18 avril 1991. Nancy : INRS.

47 1992 — Leplat, J. Les aspects cognitifs dans la formation. In F. Ginsbourger (coord.), V.

Merle (coord.), G. Vergnaud (coord.), Formation et apprentissage des adultes peuqualifiés  : actes du colloque des 24 et 25 juin 1992 (p. 87–116.). Paris : La Documentationfrançaise.

48 1993 — Leplat, J. Ergonomie et activités collectives. In F. Six, X. Vaxevanoglou (dir.). Les

aspects collectifs du travial : actes du XXVIIème congrès de la Société d'ergonomie delangue française, Lille, 23-25 septembre 1992 (p. 7-27). Toulouse : Octarès.

49 1995 — Leplat, J. Préface. In P. Rabardel. Les hommes et les technologies : approche

cognitive des instruments contemporains (p. 5-7). Paris : Armand Colin.

50 1996 — Leplat, J. Quelques aspects de la complexité en ergonomie. In F. Daniellou (dir.),

L’ergonomie en quête de ses principes : débats épistémologiques (p. 57‑76). Toulouse :Octarès.

51 1996 — Leplat, J. Petites histoires pour des Histoires. In Y. Clot. Les histoires de la

psychologie du travail : approche pluri-disciplinaire (p. 87-98). Toulouse : Octarès.

52 1997 — Leplat, J. Les lectures des ergonomes. In Recherche, pratique, formation en

ergonomie : évolutions et interactions dans le contexte social, économique ettechnique : actes du XXXIIème congrès de la Société d'ergonomie de langue française(p. 735-742). Bron : Éditions Guerra.

53 1997 — Leplat, J. Event analysis and responsibility in complex systems. In A. Hale, B.

Wilpert, M. Freitag (eds). After the event (p. 23-40). Oxford : Pergamon.

54 1998 — Leplat, J. & Cuny, X. Las condiciones del trabajo. In J. J. Castillo, J. Villena (eds).

Ergonomia : conceptos y methodos (p. 109-124). Madrid : Editorial Complutense.

55 1998 — Leplat, J. & Hoc, J.-M. Tarea y actividad en el andisis psychologico de

situaciones. In J. J. Castillo, J. Villena (eds). Ergonomia : conceptos y methodos (p.163-180). Madrid : Editorial Complutense.

56 1998 — Leplat, J. Las representaciones funcionales en el trabajo. In J. J. Castillo, J.

Villena (eds). Ergonomia : conceptos y methodos (p. 181-196). Madrid : EditorialComplutense.

57 1999 — Leplat, J. Préface. In D. R. Kouabenan. Explication naïve de l'accident et

prévention (p. 3). Toulouse : Octarès.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

242

Page 244: Laboreal, Volume 15 Nº2

58 2000 — Leplat, J. L’environnement de l’action en situation de travail. In Centre de

recherche formation, Conservatoire national des arts et métiers, L’analyse de lasingularité de l’action (p. 107‑132). Paris : Presses universitaires de France.

59 2000 — Leplat, J. La gestion des communications par le contexte. In B. Mélier (coord.), Y.

Quéinnec (coord.). Communication et travail : actes du 35ème congrès de la Self.,Toulouse, les 20, 21 et 22 septembre 2000 (p. 36–43). Toulouse : Octarès.

60 2002 — Terssac G. de & Leplat, J. La fiabilité et l’ergonomie  : spécificité et

complémentarité. In Terssac Gilbert de, Le travail  : une aventure collective  : recueil detextes (p. 93–101). Toulouse : Octarès, (Coll. Travail et activité humaine)

61 2002 — Leplat, J. Éléments pour une histoire de la notion de charge mentale. In M.

Jourdan, J. Theureau (éd.). Charge mentale : notion floue et vrai problème (p. 27-40).Toulouse : Octarès.

62 2003 — Leplat, J. Questions autour de la notion de risque. In D.R. Kouabenan, M. Dubois

(ed.). Les risques professionnels : évolutions des approaches, Nouvelles perspectives(p. 37-52). Toulouse : Octarès.

63 2003 — Leplat, J. La modélisation en ergonomie à travers son histoire. In J.-C. Spérandio,

M. Wolff (éd.). Formalismes de modélisation pour l'analyse du travail et l'ergonomie(p. 1-26). Paris : Presses universitaires de France.

64 2003 — Leplat, J. Préface. In C. Martin, D. Baradat (éd.). Des pratiques en réflexion (p.

1-6). Toulouse : Octarès.

65 2004 — Leplat, J. & Montmollin, M. de. Les voisinages disciplinaires de l’ergonomie. In P.

Falzon (dir), Ergonomie (p. 51‑65). Paris : Presses universitaires de France.

66 2005 — Leplat, J. Préface. In P. Pastré (dir.). Apprendre par la simulation : de l'analyse

du travail aux apprentissages professionnels (p. 1-6). Toulouse : Octarès.

67 2006 — Leplat, J. 15 ans d’analyse de l’activité  : quelles évolutions ? In G. Valléry (dir.),

R. Amalberti (dir.), L’analyse du travail en perspectives  : influences et évolutions (p.17-31). Toulouse : Octarès, (Coll. Le travail en débats/Entreprise, travail, emploi)

68 2006 — Leplat, J. Risque et perception du risque dans l'activité. In D.R. Kouabenan, B.

Cadet, D. Herman, M.T. Munoz Sastre (ed.). Psychologie du risqué (p. 21-33). Bruxelles :De Bœck.

69 2013 — Leplat, J. Préface. In A. Drouin (coord.). Ergonomie : travail, conception, santé :

cinquantenaire de la Société d'ergonomie de langue française, 1963-2013 (p. 1-2).Toulouse : Octarès.

70 2014 — Leplat, J. Aperçu sur les critères à la lumière de l'histoire. In D. Lhuillier

(coord.). Qualité du travail, qualité au travail (p. 17-25). Toulouse : Octarès.

71 2015 — Leplat, J. L'analyse du travail : deux auteurs, une histoire, une actualité. In R.

Ouvrier-Bonnaz, A. Weill-Fassina (coord.). André Ombredane (1898-1958), Jean-MarieFaverge (1912-1988) : l'analyse du travail, ruptures et évolutions (p. 55-64). Toulouse :Octarès.

72 2017 — Leplat, J. Concepts et méthodologie d’intervention  : quelques aperçus

historiques. In A.-L. Ulmann (dir.), A. Weill-Fassina (dir.), T. H. Benchekroun (dir.),Intervenir  : histoires, recherches, pratiques (p. 15–24). Toulouse : Octarès, (Coll. Travailet activité humaine)

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

243

Page 245: Laboreal, Volume 15 Nº2

73 2018 — Leplat, J. Jean-Marie Faverge et Antoine Léon : cheminement et rencontre

autour de l'analyse du travail. In S. Blanchard, R. Ouvrier-Bonnaz (coord.).Connaissance du travail et orientation : une histoire en débats (p. 93-97). Toulouse :Octarès.

Artigos

74 1953 — Leplat, J. Adaptation de la machine à l’homme = The adaptation of the machine

to man. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 2(1), pp. 35-39.

75 1953 — Leplat, J. Étude expérimentale du travail = The experimental study of work.

Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 2(4), pp. 31-35.

76 1953 — Leplat, J. Note sur le plan d’analyse de la variance = Note on the analysis of

variance design. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 2(4),pp. 37-41.

77 1953 — Leplat, J. V. Travaux récents de “  technologie humaine  » (Human engineering).

L’Année psychologique, 53(2), pp. 517-537. http://dx.doi.org/10.3406/psy.1953.30122

78 1954 — Leplat, J. Étude des conduites au cours du travail = Study of behavior during

work. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 3(3), pp. 41-47.

79 1954 — Leplat, J. Étude d’une batterie de tests pour aveugles = A study of a battery of

tests for the blind. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 3(1),pp. 9-14.

80 1955 — Leplat, J. Analyse du travail et formation = Analysis of work methods and

training. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 4, pp. 175-183.

81 1955 — Leplat, J. Quelques aspects de la formation professionelle à des tâches

manuelles = Some aspects of professional training involving manual work. Bulletin duCentre d'études et recherches psychotechniques, 4, pp. 393-407.

82 1956 — Faverge, J.-M., Browaeys, R. & Leplat, J. Enquête sur les programmes de

formation professionnelle existant au sein des entreprises = Investigation of technicaltraining programs existing in industries. Bulletin du Centre d'études et recherchespsychotechniques, 3, pp. 235-324.

83 1956 — Leplat, J. Quelques travaux critiques sur l’étude des temps et mouvements = A

few critical works on time-motion studies. Bulletin du Centre d'études et recherchespsychotechniques, 3, pp. 351-368.

84 1956 — Leplat, J. La compatibilité du système signal-réponse dans l’adaptation de la

machine à l’homme = S-R compatibility in the adaptation of the machine to man.Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 5, pp. 91-102.

85 1956 — Leplat, J. La compatibilité du système signal-réponse dans l’adaptation de la

machine à l’homme = Compatibility of the stimulus-response in the adaptation of themachine to man. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 6,pp. 206-208.

86 1957 — Browaeys, R. & Leplat, J. Étude d’aménagement du continu à filer = Study on the

operation of the spinning frame. Bulletin du Centre d'études et recherchespsychotechniques, 6, pp. 297-304.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

244

Page 246: Laboreal, Volume 15 Nº2

87 1957 — Browaeys, R. & Leplat, J. Étude d’un travail de surveillance = Study of a work of

inspection. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 6, pp. 373-378.

88 1959 — Leplat, J. & Rouanet, H. Décisions et fonctions d’utilité = Decision-making and

functions of utility. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 8,pp. 122-128.

89 1961 — Leplat, J. Psychologie expérimentale et étude des accidents = Experimental

psychology and the study of accidents. Bulletin du CERP, 10(4), pp. 473-487.

90 1962 — Leplat, J. Psychologie et aménagement du travail. Le Travail humain, 25(3/4),

pp. 269-280.

91 1962 — Leplat, J. Dispersion des signaux et niveau de vigilance. L’Année psychologique,

62(1), pp. 17-28. http://dx.doi.org/10.3406/psy.1962.7154

92 1963 — Leplat, J., Lantier, F., Barbichon, G. & Grisez, J. Les recherches du Centre

d'études et recherches psychotechniques en matière de formation professionnelle.Sociologie du travail, 5(4), pp. 411-415. https://dx.doi.org/10.3406/sotra.1963.1163

93 1964 — Leplat, J. Rôle des intervalles temporels entre signaux dans un travail de

surveillance. L’Année psychologique, 64(2), pp. 353-374. http://dx.doi.org/10.3406/psy.1964.27252

94 1967 — Leplat, J & Sperandio, J.-C. La mesure de la charge de travail par la technique de

la tâche ajoutée. L’Année psychologique, 67(1), pp. 255-277.

95 http://dx.doi.org/10.3406/psy.1967.27563

96 1967 — Leplat, J. Economics and Professional Training. Bulletin de psychologie,

20(18-19), pp. 1153-1163.

97 1967 — Leplat, J. Ergonomics and Professional Training : Work Analysis and Problem

Diagnosis. Bulletin de psychologie, 20(16-17), pp. 1005-1012.

98 1967 — Leplat, J. Temporal Uncertainty and Additional Task. Bulletin du CERP, 16(1),

pp. 41-59.

99 1970 — Leplat, J. Definition of the study object in the psychology of work. Bulletin de

psychologie, 23(11-12), pp. 677-681.

100 1971 — Leplat, J., Chesnais, M. & Gulian, E. Étude d’un modèle stochastique pour une

tâche d’inspection. Le Travail humain, 34(2), pp. 265-276.

101 1971 — Leplat, J. (1971). Planning for action and regulation of a complex system.

Bulletin de psychologie, 25(10‑11), pp. 533-538.

102 1972 — Leplat, J. & Pailhous, J. A taxonomy of tasks for a psychology of work : Some

introductory considerations. Bulletin de psychologie, 25(10‑11), pp. 539-545.

103 1973 — Leplat, J. & Chesnais, M. Le contrôle des produits industriels  : travaux actuels et

perspectives d’étude. Le Travail humain, 36(1), pp. 75-94.

104 1973 — Leplat, J. & Pailhous, J. Intellectual activity in work on an instrument. Bulletin

de psychologie, 26(12-13), pp. 673-680.

105 1974 — Leplat, J. & Pailhous, J. Comments on the origin of errors. Bulletin de

psychologie, 27(13-14), pp. 729-736.

106 1974 — Leplat, J. Les critères dans les études ergonomiques de sécurité routière.

Ergonomics, 17(5), pp. 663-675.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

245

Page 247: Laboreal, Volume 15 Nº2

107 1975 — Leplat, J., Pailhous, J. & Vermersch, P. Can the acquisition of a system of

representation be rationalized ? Bulletin de psychologie, 28(7-8), pp. 398-409.

108 1975 — Pailhous, J., Chesnais, M. & Leplat, J. Détection et localisation de lacunes en

présentation tachistoscopique  : rôle des visions fovéale et périphérique. L’Annéepsychologique, 75(2), pp. 445-456. http://dx.doi.org/10.3406/psy.1975.28107

109 1975 — Pailhous, J., Chesnais, M. & Leplat, J. Détection et localisation de lacunes en

présentation tachistoscopique : rôle des visions fovéale et périphérique. L’Annéepsychologique, 75(2), pp. 445-456. http://dx.doi.org/10.3406/psy.1975.28107

110 1976 — Leplat, J. Study of hypotheses in natural environmental settings. Bulletin de

psychologie, 30(1‑2), pp. 25-29.

111 1976 — Leplat, J. & Pailhous, J. Cognitive conditions of the acquisition and use of

sensorimotor skills. Bulletin de psychologie, 29(4-7), pp. 205-211.

112 1977 — Leplat, J. Les facteurs déterminant la charge de travail : rapport introductif. Le

Travail humain, 40(2), pp. 195-202.

113 1977 — Leplat, J. & Welford, A. T. Communications présentées à un symposium du XXIe

Congrès international de psychologie Paris, juillet 1976. Le Travail humain, 40(2),pp. 193.

114 1978 — Leplat, J. IIe congrès de la société de biomécanique (Liège, 22 et 23 septembre

1977). Le Travail humain, 41(1), pp. 185-190.

115 1978 — Leplat, J. L’équivalence des situations de laboratoire et de terrain. Le Travail

humain, 41(2), pp. 307-318.

116 1978 — Leplat, J. Factors Determining Work-load. Ergonomics, 21(3), pp. 143-149.

117 1978 — Leplat, J. Régulation de l’action et connaissance des résultats. Psychologie et

éducation (revue de recherche du laboratoire associé au. CNRS), 259(2), pp. 73–79.

118 1978 — Leplat, J. & Pailhous, J. Task description : Status and role in problem solving.

Bulletin de psychologie, 31(1-2), pp. 149-156.

119 1980 — Leplat, J. Overview of the psychology of work. Bulletin de psychologie, 33(4‑11),

pp. 195-200.

120 1981 — Leplat, J. & Pailhous, J. L’acquisition des habiletés mentales  : la place des

techniques. Le Travail humain, 44(2), pp. 275-282.

121 1981 — Leplat, J. & Hoc, J.-M. Subsequent verbalization in the study of cognitive

processes. Ergonomics, 24(10), pp. 743-755.

122 1982 — Leplat, J. Fiabilité et sécurité. Le Travail humain, 45(1), pp. 101-108.

123 1983 — Leplat, J. Statut et fonction des communications dans l’activité des équipes de

travail. Psychologie française, 28(3/4), pp. 247-253.

124 1983 — Leplat, J. & Hoc, J.M. Tâche et activité dans l’analyse psychologique des

situations. Cahiers de psychologie cognitive, 3.

125 1984 — Leplat, J. & Savoyant, A. Ordonnancement et coordination des activités dans les

travaux individuels et collectifs. Bulletin de psychologie, 37(6-10), pp. 271-278.

126 1984 — Montmollin, M., de & Leplat, J. Les cadres travaillent-ils  ? : à propos d’un

ouvrage de Luc Boltansky. Le Travail humain, 47(1), pp. 89-93.

127 1985 — Leplat, J. La psychologie du travail  : recherches et inventions. Psychologie

française, 30(2), pp. 163–167.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

246

Page 248: Laboreal, Volume 15 Nº2

128 1985 — Leplat, J. Les représentations fonctionnelles dans le travail. Psychologie

française, 30(3/4), pp. 269-275.

129 1986 — Leplat, J. L’analyse psychologique du travail. Revue de psychologie appliquée,

36(1), pp. 9-27.

130 1988 — Leplat, J. L’analyse de l’erreur dans les nouvelles technologies : voies de

recherche. Revue de psychologie appliquée, 38(2), pp. 151-160.

131 1988 — Leplat, J. & Bellagh, M. A. Des recommandations utiles pour les psychologues du

travail maghrébins (entretien). Horizons Maghrébins - Le droit à la mémoire, 12(1),pp. 27-30. http://dx.doi.org/10.3406/horma.1988.1473

132 1989 — Leplat, J. & Bertrand, L. Rôle du schéma dans un diagnostic de panne sur une

motrice de métro. Performances, 41, pp. 16-25.

133 1989 — Leplat, J. Error analysis, instrument and object of task analysis. Ergonomics,

32(7), pp. 813-822.

134 1990 — Leplat, J. La fiabilité et l’ergonomie : spécificité et complémentarité. Revue de

psychologie appliquée, 40(3), pp. 377-386.

135 1990 — Leplat, J. & Terssac, G. de. Facteurs humains de la fiabilité. Performances, 47,

pp. 27-31.

136 1990 — Leplat, J. Relations between task and activity : elements for elaborating a

framework for error analysis. Ergonomics, 33(10/11), pp. 1389-1402.

137 1990 — Leplat, J & Terssac, G. de. Reliability and ergonomics : specificity and

complementarity. Revue de psychologie appliquée, 40(3), pp. 377-386.

138 1990 — Leplat, J. Skills and tacit skills : a psychological perspective. Applied psychology,

39(2), pp. 143-154.

139 1993 — Leplat, J. L’analyse psychologique du travail  : quelques jalons historiques. Le

Travail humain, 56(2/3), pp. 115-131.

140 1993 — Leplat, J. Intention and error : a contribution to a study of responsibility. Revue

européenne de psychologie appliquée, 43(4), pp. 279-287.

141 1994 — Leplat, J. Collective activity in work  : some lines of research. Le Travail humain,

57(3), pp. 209-226.

142 1995 — Leplat, J. À propos des compétences incorporées. Éducation permanente, 123,

pp. 101-114.

143 1995 — Leplat, J. Cause et risque dans l'analyse des accidents. Revue romaine de

psychologie, 39(1), pp. 9-24.

144 1998 — Leplat, J. À propos des procédures. Performances, 94, pp. 6-15.

145 1998 — Leplat, J. About implementation of safety rules. Safety Science, 29(3),

pp. 189-204. http://dx.doi.org/10.1016/S0925-7535(98)00022-8

146 1998 — Leplat, J. & Hale, A. Guest editorial : Safety rules. Safety Science, 29, pp. 159-161.

147 1998 — Leplat, J. About implementation of safety rules. Safety Science, 29(3),

pp. 189-204.

148 1999 — Leplat, J. Cognitive error analysis. Revue européenne de psychologie appliquée,

49(1), pp. 31-42.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

247

Page 249: Laboreal, Volume 15 Nº2

149 2000 — Leplat, J. La psychologie du travail = The psychology of work. Psychologie

française, 45(1), pp. 83-96.

150 2000 — Leplat, J. Compétences individuelles, compétences collectives. Psychologie du

travail et des organisations, 6(3-4), pp. 47-73.

151 2001 — Leplat, J. La gestion des communications par le contexte. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, 3(1). http://dx.doi.org/10.4000/pistes.3755

152 2002 — Leplat, J. De l’étude de cas à l’analyse de l’activité. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, 4(2). http://dx.doi.org/10.4000/pistes.3658

153 2004 — Gadbois, C. & Leplat, J. Connaissances et interventions. Activités, 1(1), pp. 6-22.

http://dx.doi.org/10.4000/activites.1138

154 2004 — Leplat, J. Éléments pour l’étude des documents prescripteurs. Activités, 1(2).

http://dx.doi.org/10.4000/activites.1293

155 2004 — Leplat, J. L’analyse psychologique du travail. Revue Européenne de Psychologie

Appliquée/European Review of Applied Psychology, 54(2), pp. 101-108. http://dx.doi.org/10.1016/j.erap.2003.12.006

156 2005 — Clot, Y. & Leplat, J. La méthode clinique en ergonomie et en psychologie du

travail. Le Travail humain, 68(4), pp. 289-316. http://dx.doi.org/doi:10.3917/th.684.0289

157 2005 — Leplat, J. Les automatismes dans l’activité  : pour une réhabilitation et un bon

usage. Activités, 2(2). http://dx.doi.org/10.4000/activites.1797

158 2006 — Leplat, J. La notion de régulation dans l’analyse de l’activité. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, 8(1). http://dx.doi.org/10.4000/pistes.3101

159 2006 — Leplat, J. Les contextes en formation. Éducation permanente, 166, pp. 29-48.

160 2008 — Leplat, J. Formation et didactique professionnelles  : un chemin psychologique

dans l’histoire. Travail et apprentissages, 1, pp. 22-33.

161 2008 — Leplat, J. Les compétences dans l'activité et leur analyse. Psihologia Resurselor

Umane, 6(2), pp. 16-30. http://pru.apio.ro/index.php/prujournal/article/view/188

162 2009 — Leplat, J. L’erreur comme défaut et moyen de contrôle de l’activité en situation

de travail = The error as a defect and as a mean of controlling the activity in work

situation. Psihologia Resurselor Umane Revista Asociaţiei de Psihologie Indusstrială şi

Organizaţională, 7(1), pp. 14-28.

163 2010 — Leplat, J. Jalons dans l’œuvre d’Alain Savoyant. Travail et apprentissages, 5,

pp. 13-30.

164 2011 — Rogalski, J. & Leplat, J. L’expérience professionnelle  : expériences sédimentées

et expériences épisodiques. Activités, 8(2). http://dx.doi.org/10.4000/activites.2556

165 2011 — Leplat, J. Comentários ao artigo “Contributo para uma introdução ao estudo dos

sistemas homens-máquinas” de Michel Olivier. Laboreal, 7, (2), pp. 69-72. http://laboreal.up.pt/revista/artigo.php?id=37t45nSU547112435:2573:4791

166 2013 — Leplat, J. Les gestes dans l’activité en situation de travail : aperçu de quelques

problèmes d’analyse. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, 15(1).http://dx.doi.org/10.4000/pistes.2951

167 2013 — Leplat, J. Contribution à une introduction aux études des systèmes hommes-

machine de Michel Olivier, Pistes, 15(3), 5 p. https://journals.openedition.org/pistes/3497

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

248

Page 250: Laboreal, Volume 15 Nº2

168 2015 — Leplat, J. Um modelo de investigação coletiva e internacional acerca da

segurança. Laboreal, 11(1), pp. 106-108. http://dx.doi.org/10.15667/laborealxi0115jl

169 2016 — Leplat, J. Maurice Reuchlin e a dialética laboratório / terreno. Laboreal, 12(1),

pp. 93-97. http://dx.doi.org/10.15667/laborealxii0116jl

170 2018 — Leplat, J. Um retorno a Gilbert Simondon e à sua obra inicial. Laboreal, 14(1),

pp. 65-68. http://dx.doi.org/10.15667/LABOREALXIV0118JL

171 Notas de leitura

172 1990 — Leplat, J., & Hoc, J.-M. (1990). Notes de lecture. Le Travail Humain, 53(2),

189‑191.

173 1991 — Leplat, J. Notes de lecture. Le Travail Humain, 54(4), 391‑392.

174 1991 — Leplat, J. Notes de lecture. Le Travail Humain, 54(3), 283‑286.

175 1992 — Leplat, J., Hoc, J.-M., & Rogalski, J. Notes de lecture. Le Travail Humain, 55(3),

307-312.

176 1993 — Wisner, A., Leplat, J., & Hoc, J.-M. Notes de lecture. Le Travail Humain, 56(1),

101‑103.

177 2001 — Leplat, J. La signalétique  : conception, validation, usages de Cambon de

Lavalette, Doré et Tijus. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (3‑2).http://journals.openedition.org/pistes/3794

178 2001 — Leplat, J. Proactive risk management in a dynamic society de Rasmussen et

Syedung. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (3‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3793

179 2002 — Leplat, J. Apprentissage organisationnel. Théorie, méthode, pratique de Argyris

et Schön. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (4‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3758

180 2002 — Leplat, J. De la motivation à la formation de Carré. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (4‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3762

181 2002 — Leplat, J. Discours sur l’organisation du travail de De Montmollin. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (4‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3756

182 2002 — Leplat, J. Error prevention and well-being at work in western Europe and Russia.

Psychological traditions and new trends de De Keyser et Leonova. Perspectivesinterdisciplinaires sur le travail et la santé, (4‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3764

183 2002 — Leplat, J. Le travail  : une activité collective de De Terssac. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (4‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3791

184 2002 — Leplat, J. L’intervention ergonomique. Un regard sur la pratique professionnelle

de Lamonde. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (4‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3768

185 2002 — Leplat, J. Management des compétences. Réalisations, concepts, analyses de

Aubret, Gilbert et Pigeyre. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé,(4‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3787

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

249

Page 251: Laboreal, Volume 15 Nº2

186 2002 — Leplat, J. Organiser la fiabilité de Bourrier. Perspectives interdisciplinaires sur

le travail et la santé, (4‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3760

187 2002 — Leplat, J. Psychologie du travail de Karnas. Perspectives interdisciplinaires sur

le travail et la santé, (4‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3789

188 2002 — Leplat, J. Task analysis d’Annett et Stanton. Perspectives interdisciplinaires sur

le travail et la santé, (4‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3766

189 2002 — Leplat, J. Work process knowledge de Boreham, Samurçay et Fischer.

Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (4‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3785

190 2003 — Leplat, J. Le travail collectif dans l’industrie à risque. Six points de vue de

chercheurs étayés et discutés de Maggi et Lagrange. Perspectives interdisciplinaires surle travail et la santé, (5‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3781

191 2003 — Leplat, J. Lifelong learning : which ways forward  ? de Colardyn. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (5‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3780

192 2003 — Leplat, J. Stress au travail et santé psychique de Neboit et Vézina. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (5‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3783

193 2004 — Leplat, J. Recherches en didactique professionnelle de Samurçay et Pastré.

Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (6‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3259

194 2005 — Leplat, J. Handbook of cognitive task design de Hollnagel. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (7‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3248

195 2005 — Leplat, J. Le facteur humain. Réinventer notre rapport à la technologie de

Vicente. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (7‑3). http://journals.openedition.org/pistes/3137

196 2005 — Leplat, J. Les savoirs d’action  : une mise en mots des compétences  ? de Barbier

et Galatanu. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (7‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3244

197 2005 — Leplat, Jacques. (2005). Modèles et méthodologies d’analyse des compétences. Le

double éclairage des pratiques et des recherches de Hajjar et Baubion-Broye.Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (7‑3). http://journals.openedition.org/pistes/3149

198 2005 — Leplat, J. Hoc, J.-M. & Darses, F. (Eds.). (2004). Psychologie ergonomique :

tendances actuelles. Paris : PUF, Collection Le Travail humain. 260 pages. Activités, 2(1).https://journals.openedition.org/activites/1635

199 2005 — Leplat, J. Bronckart, J.-P. (Ed.), Bulea, E., Filliettaz, L., Fristalon, I., Plazaola

Giger, I. & Revaz F. (2004). Agir et discours en situation de travail. Cahiers de la sectiondes sciences de l'éducation, n° 103. Université de Genève (312 p.). Activités, 2(1).https://journals.openedition.org/activites/1628

200 2005 — Leplat, J. Alamargot, D., Terrier, P. & Cellier, J.-M. (Eds). (2005). Production,

compréhension et usages des écrits techniques au travail. Toulouse : Octarès Éditons,243 pages. Activités, 2(2). https://journals.openedition.org/activites/1828

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

250

Page 252: Laboreal, Volume 15 Nº2

201 2005 — Leplat, J. Norros, L. (2004). Acting under uncertainty. The core-task analysis in

ecological study of work. VTT Industrial Systems, Techniicantie 12, P.O. Box, 1301,FIN-02044 VTT Finland. Activités, 2(2). https://journals.openedition.org/activites/1832

202 2006 — Leplat, J. Barriers and accident prevention de Hollnagel. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (8‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3019

203 2006 — Leplat, J. L’analyse des actions et des discours en situation de travail de Fillietaz

et Bronckart. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (8‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3774

204 2006 — Leplat, J. L’ergonomie de Darses et de Montmollin. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (8‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3776

205 2006 — Leplat, J. Rabardel, P. & Pastré, P. (s/d). (2005). Modèles du sujet pour la

conception. Dialectiques activités développement. Toulouse : Octarès. 260 pages.Activités, 3(1). https://journals.openedition.org/activites/1885

206 2007 — Leplat, J. La décision médicale collective. Pour des médecins moins savants et

moins autonomes  ? De Mollo et Sauvagnac. Perspectives interdisciplinaires sur letravail et la santé, (9‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3012

207 2007 — Leplat, J. Pratiques d’information-conseil en VAE (Validation des Acquis de

l’Expérience). Une analyse des pratiques par le réseau des conseillers PRC (Point RelaisConseil) en Bourgogne de Mayen et Perrier. Perspectives interdisciplinaires sur letravail et la santé, (9‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3011

208 2007 — Leplat, J. Resilience engineering. Concepts and precepts de Hollnagel, Woods et

Leveson. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (9‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3770

209 2008 — Leplat, J. La conception en design industriel et en architecture. Désir,

pertinence, coopération et cognition de Lebahar. Perspectives interdisciplinaires sur letravail et la santé, (10‑2). http://journals.openedition.org/pistes/2927

210 2008 — Leplat, J. Travail et pouvoir d’agir de Clot. Perspectives interdisciplinaires sur le

travail et la santé, (10‑2). http://journals.openedition.org/pistes/2922

211 2008 — Leplat, J. Nosulenko, V. & Rabardel, P. (2007). Rubinstein aujourd'hui. Nouvelles

figures de l'activité humaine. Activités, 5(1). https://journals.openedition.org/activites/1973

212 2008 — Leplat, J. Merri, M. (Ed.) (2007). Activité humaine et conceptualisation.

Questions à Gérard Vergnaud. Toulouse : Presses universitaires du Mirail. Activités,5(2). https://journals.openedition.org/activites/2057

213 2009 — Leplat, J. Remaining sensitive to the possibility of failure de Hollnagel, Nemeth

et Dekker. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (11‑1). http://journals.openedition.org/pistes/2898

214 2009 — Leplat, J. Hollnagel, E. (2009). The ETTO Principle : Efficiency – Thoroughness

Trade – Off. Why things that go right sometimes go wrong ?. Farnham (U.K.) : Ashgate.Activités, 6(2). https://journals.openedition.org/activites/2284

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

251

Page 253: Laboreal, Volume 15 Nº2

215 2010 — Leplat, J. Owen, C., Béguin, P. & Wackers, G. (2009). Risky word environment.

Reappraising human work within fallible systems. Farnham (G.B.) : Ashgate. Activités,7(2). https://journals.openedition.org/activites/2383

216 2011 — Leplat, J. Yvon, F. & Saussez, F. (Eds) (2010). Analyser l'activité enseignante. Des

outils méthodologiques et théoriques pour l'intervention et la formation. Laval(Canada) : Les Presses de l'Université Laval. Activités, 8(1). https://journals.openedition.org/activites/2532

217 2011 — Leplat, J. Adé, D., & De Saint-Georges, I. (Eds) (2010). Les objets dans la

formation. Usages, rôles et significations. Toulouse : Octarès. Activités, 8(1). https://journals.openedition.org/activites/2531

218 2011 — Leplat, J. Pastré, P. (2011). La didactique professionnelle. Approche

anthropologique du développement chez les adultes. Formation et pratiquesprofessionnelles. Paris : PUF, 318 p. Activités, 8(2). https://journals.openedition.org/activites/2645

219 2012 — Leplat, J. Norman, D.A., The design of futre things et Living with complexity.

Activités, 9(1). https://journals.openedition.org/activites/184

220 2012 — Leplat, J. De Terssac, G., Mignard, J. Les paradoxes de la sécurité. Le cas d'AZF.

Activités, 9(1). https://journals.openedition.org/activites/216

221 2012 — Leplat, J. Molinié, A.-F., Gaudart, C. & Pueyo, V. La vie professionnelle. Âge,

expérience et santé à l'épreuve des conditions de travail. Activités, 9(2). https://journals.openedition.org/activites/513

222 2013 — Leplat, J. Contribution à une introduction aux études des systèmes hommes-

machine de Michel Olivier. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé,(15‑3). http://journals.openedition.org/pistes/3497

223 2013 — Leplat, J. La confiance au travail sous la coordination de Karsenty. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (15‑3). http://journals.openedition.org/pistes/3543

224 2013 — Leplat, J. (Se) Former pour transformer le travail. Dynamiques de constructions

d’une analyse critique du travail. Sous la coordination de Catherine Teiger et MarianneLacomblez. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (15‑3). http://journals.openedition.org/pistes/3499

225 2013 — Leplat, J. Vulnérabilités au travail. Naissance et actualité de la psychopathologie

du travail de Veil, présentation par Dominique Lhuilier. Perspectives interdisciplinairessur le travail et la santé, (15‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3216

226 2013 — Leplat, J. Datchary, C. La dispersion au travail. Activités, 10(2). https://

journals.openedition.org/activites/863

227 2014 — Leplat, J. Le risque et la règle. Le cas du bâtiment et des travaux publics de Cru.

Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (16‑3). http://journals.openedition.org/pistes/4014

228 2014 — Leplat, J. Le travail peut-il devenir supportable  ? De Clot et Gollac. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (16‑4). http://journals.openedition.org/pistes/4314

229 2014 — Leplat, J. Falzon, P. (sous la direction de). (2013). Ergonomie constructive. Paris :

PUF. Activités, 11(1). https://journals.openedition.org/activites/400

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

252

Page 254: Laboreal, Volume 15 Nº2

230 2015 — Leplat, J. Mieux-être au travail  : appropriation et reconnaissance de Bernoux.

Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (17‑2). http://journals.openedition.org/pistes/4532

231 2015 — Leplat, J. Mayen, P. & Lainé, A. Apprendre à travailler avec le vivant ?

Développement durable et didactique professionnelle. Activités, 12(1). https://journals.openedition.org/activites/1052

232 2016 — Leplat, J. Dekker, S.W.A. Safety Differently : Human Factors for a New Era.

Activités, 13(2). https://journals.openedition.org/activites/2898

233 2017 — Leplat, J. Dujarier, M.-A., Gaudart, C., Gillet, A. & Lénel, P. L'activité en théories.

Regards croisés sur le travail. Activités, 14(1). https://journals.openedition.org/activites/2946

234 2017 — Leplat, J. Christol-Souviron, M., Leduc, S., Drouin, A. & Étienne, P. Performances

humaines et techniques : d'hier VERS aujourd'hui. Activités, 14(1). https://journals.openedition.org/activites/2960

AUTORES

CORINNE LESPESSAILLES

Centre de documentation sur la formation et le travail - Direction des bibliothèques et de la

documentation - Conservatoire national des arts et métiers, 41 rue Gay Lussac, 75005 Paris (case

courrier 4SCD01), France

[email protected]

CÉLINE LEVECQUE

Bibliothèque Gay-Lussac

Direction des bibliothèques et de la documentation - Conservatoire national des arts et métiers,

41 rue Gay Lussac, 75005 Paris (case courrier 4SCD01), France

[email protected]

AURÉLIE PUYBONNIEUX

Centre de documentation sur la formation et le travail - Direction des bibliothèques et de la

documentation - Conservatoire national des arts et métiers, 41 rue Gay Lussac, 75005 Paris (case

courrier 4SCD01), France [email protected]

AGATHE VUILLERMET

Bibliothèque Gay-Lussac - Direction des bibliothèques et de la documentation - Conservatoire

national des arts et métiers, 41 rue Gay Lussac, 75005 Paris, France

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

253

Page 255: Laboreal, Volume 15 Nº2

JACQUES LEPLAT : bibliografía selectaCorinne Lespessailles, Céline Levecque, Aurélie Puybonnieux y AgatheVuillermet

Tradución : Francisca Baldrich Advis

1 Esta bibliografía ha sido compilada por la Biblioteca Gay-Lussac y el Centro de

Documentación sobre la Formación y el Trabajo del CNAM (Conservatorio Nacional deArtes y Oficios) como parte de una jornada de estudio organizada en torno a la obra deJacques Leplat por el Grupo de Investigación y de Estudio sobre la Historia del Trabajo yde la Orientación (GRESHTO) el viernes 19 de abril de 2019 en París.

2 Para una bibliografía más exhaustiva sobre los trabajos de Jacques Leplat antes de 1993,

remitimos al lector a la revisión realizada en la revista Le Travail humain (vol. 56, n° 2-3,1993, pp. 267-275). Citemos asimismo el artículo publicado en 2006 en la revista Laboreal

por Catarina Silva (Sobre a Psicologia Ergonónomica de Jacques Leplat, vol 2, n ° 2,pp. 47-61).

Entrevista con Jacques Leplat

3 2005 — Cloutier, E. & Gaudart, C. Entrevue guidée avec Jacques Leplat. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, 7(1). http://dx.doi.org/10.4000/pistes.3250

Libros y direcciones de libros

4 1958 — Faverge, J.-M., Leplat, J. & Guiguet, B. L’Adaptation de la machine à l’homme.

Paris : Presses universitaires de France.

5 1960 — Dellenbach, J., Faverge, J.-M. & Leplat, J. Quelques aspects du vieillissement en

rapport avec l’ergonomie. Paris : Centre national de la recherche scientifique.

6 1963 — Piéron, H., Chocholle, R. & Leplat, J. Traité de psychologie expérimentale. II,

Sensation et motricité. Paris : Presses universitaires de France.

7 1968 — Leplat, J. Attention et incertitude dans les travaux de surveillance et

d’inspection. Paris : Dunod.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

254

Page 256: Laboreal, Volume 15 Nº2

8 1969 — Leplat, J. L’Enseignement programmé. Paris : Sociétés d’éditions scientifiques.

9 1969 — Leplat, J., Kalsbeek, J. & Schmidtke, H. Travail mental et automatisation  :activités mentales, fatigue mentale et activités de contrôle et de surveillance dansl’industrie. Luxembourg : Service des publications des Communautés européennes.

10 1970 — Leplat, J, Énard, C. & Weill-Fassina, A. La Formation par l’apprentissage  :éléments de psychopédagogie. Paris : Presses universitaires de France.

11 1974 — Leplat, J. Les Accidents du travail. Paris : Presses universitaires de France.

12 1977 — Cuny, X., Leplat, J. Introduction à la psychologie du travail. Paris : Presses

universitaires de France.

13 1980 — Leplat, J. La Psychologie ergonomique. Paris : Presses universitaires de France.

14 1985 — Leplat, J. Erreur humaine, fiabilité humaine dans le travail. Paris : Armand

Colin.

15 1987 — Rasmussen, J., Duncan, K. D. & Leplat, J. (éd.). New technology and human error.

Chichester ; New York : J. Wiley.

16 1990 — Leplat, J. (dir.) & Terssac, G. de (dir.), Cellier, J.-M. (collab.), Neboit, M. (collab.),

Oudiz A. (collab.). Les Facteurs humains de la fiabilité dans les systèmes complexes.Marseille : Octares. (Coll. Ergonomie et gestion).

17 1992 — Leplat, J. (coord.). L’Analyse du travail en psychologie ergonomique : recueil de

textes, tome 1. Toulouse : Octares.

18 1993 — Leplat, J. (coord.). L’Analyse du travail en psychologie ergonomique : recueil de

textes, tome 2. Toulouse : Octarès.

19 1997 — Leplat, J. Regards sur l’activité en situation de travail  : contribution à la

psychologie ergonomique. Paris : Presses universitaires de France.

20 2000 — Leplat, J. L’Analyse psychologique de l’activité en ergonomie  : aperçu sur son

évolution, ses modèles et ses méthodes. Toulouse : Octarès.

21 2001 — Leplat, J. & Montmollin, M. de. Les Compétences en ergonomie. Toulouse :

Octarès.

22 2002 — Leplat, J. Psychologie de la formation  : jalons et perspectives  : choix de textes

(1955-2002). Toulouse : Octarès.

23 2008 — Leplat, J. Repères pour l’analyse de l’activité en ergonomie. Paris : Presses

universitaires de France.

24 2011 — Leplat, J. Mélanges ergonomiques  : activité, compétence, erreur. Toulouse :

Octarès.

Estudios e informes

25 [s.d.] — Leplat, J. Communications et codage dans le travail. Paris : Laboratoire de

psychologie du travail de l’École pratique des hautes études.

26 1965 — Leplat, J. Introduction sur les travaux effectués en exécution du contrat sur les

aspects psychologiques et psychopédagogiques de la formation des techniciens. Paris  :Centre d’études et recherches psychotechniques.

27 1965 — Leplat, J. L’Organisation temporelle de la transmission de l’information. Paris :

Centre d’études et recherches psychotechniques.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

255

Page 257: Laboreal, Volume 15 Nº2

28 1973 — Leplat, J.. Les Critères dans les études économiques de sécurité routière. Paris :

Laboratoire de psychologie du travail de l’École pratique des hautes études.

29 1975 — Leplat, J.. Genèse des accidents et facteurs de risque. Paris : Laboratoire de

psychologie du travail.

30 1975 — Leplat, J. La Notion d’application en psychologie du travail. Paris : Université

Paris 5 [Thèse de doctorat]

31 1976 — Leplat, J. Les Facteurs déterminant la charge de travail  : rapport introductif.

Paris : Laboratoire de psychologie du travail.

32 1976 — Leplat, J. Recherches en cours et travaux publiés 1974-1976. Paris : Laboratoire

de psychologie du travail.

33 1978 — Leplat, J. Le Contrôle du système d’arrêt d’urgence dans une centrale nucléaire  :observations préalables d’une étude ergonomique. Paris : Conservatoire national desarts et métiers, Laboratoire de physiologie du travail et d’ergonomie.

34 1990 — Rasmussen, J., Brehmer, B., Montmollin, M. de & Leplat, J. (éd.). Taxonomy for

analysis of work domains. Proceedings of the first MOHAWC workshop, Liège, May15-16, 1990. Roskilde, Denmark : Risø National Laboratory.

35 1992 — Brehmer, B. & Leplat, J. (éd.). Simulations, evaluations and models. Proceedings

of the fourth Mohawc Workshop, Bamberg, October 22-23, 1991. Roskilde, Denmark :Risø National Laboratory.

36 1996 — Leplat, J. À propos de l’environnement : questions terminologiques et

théoriques. Paris : École pratique des hautes études.

37 Contribuciones en obras colectivas

38 1969 — Leplat, J. Les liaisons sensori-motrices. In Fraisse Paul (dir.), Piaget Jean (dir),

Traité de psychologie expérimentale. Tome II  : Sensation et motricité (p. 125-171).Paris : Presses universitaires de France.

39 1971 — Leplat, J. La psychologie du travail. In M. Reuchlin, Traité de psychologie

appliquée. 1, Les applications de la psychologie (p. 105-160). Paris : Pressesuniversitaires de France.

40 1972 — Leplat, J. La psychologie du travail en ergonomie. In M. Reuchlin (dir.), Traité de

psychologie appliquée. 3, Travailleurs et systèmes techniques (p. 61-136). Paris : Pressesuniversitaires de France.

41 1973 — Leplat, J. La méthode expérimentale en psychologie appliquée. In M. Reuchlin

(dir.), Traité de psychologie appliquée. 2, Les méthodes de la psychologie appliquée (p.19‑61). Paris : Presses universitaires de France.

42 1980 — Leplat, J. Développement et dégradation des habiletés dans le travail. In Société

française de psychologie, Équilibre ou fatigue par le travail  ? (p. 55–63). Paris :Entreprise moderne d’édition.

43 1982 — Leplat, J. Les situations de travail, terrains d’avenir pour la psychologie. In

P. Fraisse (dir.), Psychologie de demain (p. 311‑330). Paris : Presses universitaires deFrance.

44 1989 — Leplat, J. Quelle place pour l'erreur humaine et pour la fiabilité humaine en

ergonomie. In Anais, Actes du 4ème Seminario Brasileiro de ergonomia. Rio de Janeiro :Fundaçao Getulio Vargas.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

256

Page 258: Laboreal, Volume 15 Nº2

45 1990 — Leplat, J. About Psychological Taxonomies. In J. Rasmussen, B. Brehmer, M. de

Montmollin, J. Leplat, J. (éd.). Taxonomy for analysis of work domains. Proceedings ofthe first MOHAWC workshop, Liège, May 15-16, 1990. Tome 2 (p. 1-18). Roskilde,Denmark : Risø National Laboratory.

46 1991 — Leplat, J. Compétence et ergonomie. In R. Amalberti, M. de Montmollin, J.

Theureau. Modèles en analyse du travail (p. 295-316). Liège : Pierre Mardaga.

47 1992 — Leplat, J. Conférence introductive. In M. Neboit, É. Fadier (éd.). Facteurs

humains de la fiabilité et de la sécurité des systèmes complexes : actes du colloque tenuà Vandoeuvre les 17 et 18 avril 1991. Nancy : INRS.

48 1992 — Leplat, J. Les aspects cognitifs dans la formation. In F. Ginsbourger (coord.), V.

Merle (coord.), G. Vergnaud (coord.), Formation et apprentissage des adultes peuqualifiés  : actes du colloque des 24 et 25 juin 1992 (p. 87–116.). Paris : La Documentationfrançaise.

49 1993 — Leplat, J. Ergonomie et activités collectives. In F. Six, X. Vaxevanoglou (dir.). Les

aspects collectifs du travial : actes du XXVIIème congrès de la Société d'ergonomie delangue française, Lille, 23-25 septembre 1992 (p. 7-27). Toulouse : Octarès.

50 1995 — Leplat, J. Préface. In P. Rabardel. Les hommes et les technologies : approche

cognitive des instruments contemporains (p. 5-7). Paris : Armand Colin.

51 1996 — Leplat, J. Quelques aspects de la complexité en ergonomie. In F. Daniellou (dir.),

L’ergonomie en quête de ses principes : débats épistémologiques (p. 57‑76). Toulouse :Octarès.

52 1996 — Leplat, J. Petites histoires pour des Histoires. In Y. Clot. Les histoires de la

psychologie du travail : approche pluri-disciplinaire (p. 87-98). Toulouse : Octarès.

53 1997 — Leplat, J. Les lectures des ergonomes. In Recherche, pratique, formation en

ergonomie : évolutions et interactions dans le contexte social, économique ettechnique : actes du XXXIIème congrès de la Société d'ergonomie de langue française(p. 735-742). Bron : Éditions Guerra.

54 1997 — Leplat, J. Event analysis and responsibility in complex systems. In A. Hale, B.

Wilpert, M. Freitag (eds). After the event (p. 23-40). Oxford : Pergamon.

55 1998 — Leplat, J. & Cuny, X. Las condiciones del trabajo. In J. J. Castillo, J. Villena (eds).

Ergonomia : conceptos y methodos (p. 109-124). Madrid : Editorial Complutense.

56 1998 — Leplat, J. & Hoc, J.-M. Tarea y actividad en el andisis psychologico de

situaciones. In J. J. Castillo, J. Villena (eds). Ergonomia : conceptos y methodos (p.163-180). Madrid : Editorial Complutense.

57 1998 — Leplat, J. Las representaciones funcionales en el trabajo. In J. J. Castillo, J.

Villena (eds). Ergonomia : conceptos y methodos (p. 181-196). Madrid : EditorialComplutense.

58 1999 — Leplat, J. Préface. In D. R. Kouabenan. Explication naïve de l'accident et

prévention (p. 3). Toulouse : Octarès.

59 2000 — Leplat, J. L’environnement de l’action en situation de travail. In Centre de

recherche formation, Conservatoire national des arts et métiers, L’analyse de lasingularité de l’action (p. 107‑132). Paris : Presses universitaires de France.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

257

Page 259: Laboreal, Volume 15 Nº2

60 2000 — Leplat, J. La gestion des communications par le contexte. In B. Mélier (coord.), Y.

Quéinnec (coord.). Communication et travail : actes du 35ème congrès de la Self.,Toulouse, les 20, 21 et 22 septembre 2000 (p. 36–43). Toulouse : Octarès.

61 2002 — Terssac G. de & Leplat, J. La fiabilité et l’ergonomie  : spécificité et

complémentarité. In Terssac Gilbert de, Le travail  : une aventure collective  : recueil detextes (p. 93–101). Toulouse : Octarès, (Coll. Travail et activité humaine)

62 2002 — Leplat, J. Éléments pour une histoire de la notion de charge mentale. In M.

Jourdan, J. Theureau (éd.). Charge mentale : notion floue et vrai problème (p. 27-40).Toulouse : Octarès.

63 2003 — Leplat, J. Questions autour de la notion de risque. In D.R. Kouabenan, M. Dubois

(ed.). Les risques professionnels : évolutions des approaches, Nouvelles perspectives(p. 37-52). Toulouse : Octarès.

64 2003 — Leplat, J. La modélisation en ergonomie à travers son histoire. In J.-C. Spérandio,

M. Wolff (éd.). Formalismes de modélisation pour l'analyse du travail et l'ergonomie(p. 1-26). Paris : Presses universitaires de France.

65 2003 — Leplat, J. Préface. In C. Martin, D. Baradat (éd.). Des pratiques en réflexion (p.

1-6). Toulouse : Octarès.

66 2004 — Leplat, J. & Montmollin, M. de. Les voisinages disciplinaires de l’ergonomie. In P.

Falzon (dir), Ergonomie (p. 51‑65). Paris : Presses universitaires de France.

67 2005 — Leplat, J. Préface. In P. Pastré (dir.). Apprendre par la simulation : de l'analyse

du travail aux apprentissages professionnels (p. 1-6). Toulouse : Octarès.

68 2006 — Leplat, J. 15 ans d’analyse de l’activité  : quelles évolutions ? In G. Valléry (dir.),

R. Amalberti (dir.), L’analyse du travail en perspectives  : influences et évolutions (p.17-31). Toulouse : Octarès, (Coll. Le travail en débats/Entreprise, travail, emploi)

69 2006 — Leplat, J. Risque et perception du risque dans l'activité. In D.R. Kouabenan, B.

Cadet, D. Herman, M.T. Munoz Sastre (ed.). Psychologie du risqué (p. 21-33). Bruxelles :De Bœck.

70 2013 — Leplat, J. Préface. In A. Drouin (coord.). Ergonomie : travail, conception, santé :

cinquantenaire de la Société d'ergonomie de langue française, 1963-2013 (p. 1-2).Toulouse : Octarès.

71 2014 — Leplat, J. Aperçu sur les critères à la lumière de l'histoire. In D. Lhuillier

(coord.). Qualité du travail, qualité au travail (p. 17-25). Toulouse : Octarès.

72 2015 — Leplat, J. L'analyse du travail : deux auteurs, une histoire, une actualité. In R.

Ouvrier-Bonnaz, A. Weill-Fassina (coord.). André Ombredane (1898-1958), Jean-MarieFaverge (1912-1988) : l'analyse du travail, ruptures et évolutions (p. 55-64). Toulouse :Octarès.

73 2017 — Leplat, J. Concepts et méthodologie d’intervention  : quelques aperçus

historiques. In A.-L. Ulmann (dir.), A. Weill-Fassina (dir.), T. H. Benchekroun (dir.),Intervenir  : histoires, recherches, pratiques (p. 15–24). Toulouse : Octarès, (Coll. Travailet activité humaine)

74 2018 — Leplat, J. Jean-Marie Faverge et Antoine Léon : cheminement et rencontre

autour de l'analyse du travail. In S. Blanchard, R. Ouvrier-Bonnaz (coord.).Connaissance du travail et orientation : une histoire en débats (p. 93-97). Toulouse :Octarès.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

258

Page 260: Laboreal, Volume 15 Nº2

Artículos

75 1953 — Leplat, J. Adaptation de la machine à l’homme = The adaptation of the machine

to man. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 2(1), pp. 35-39.

76 1953 — Leplat, J. Étude expérimentale du travail = The experimental study of work.

Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 2(4), pp. 31-35.

77 1953 — Leplat, J. Note sur le plan d’analyse de la variance = Note on the analysis of

variance design. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 2(4),pp. 37-41.

78 1953 — Leplat, J. V. Travaux récents de “  technologie humaine  » (Human engineering).

L’Année psychologique, 53(2), pp. 517-537. http://dx.doi.org/10.3406/psy.1953.30122

79 1954 — Leplat, J. Étude des conduites au cours du travail = Study of behavior during

work. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 3(3), pp. 41-47.

80 1954 — Leplat, J. Étude d’une batterie de tests pour aveugles = A study of a battery of

tests for the blind. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 3(1),pp. 9-14.

81 1955 — Leplat, J. Analyse du travail et formation = Analysis of work methods and

training. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 4, pp. 175-183.

82 1955 — Leplat, J. Quelques aspects de la formation professionelle à des tâches

manuelles = Some aspects of professional training involving manual work. Bulletin duCentre d'études et recherches psychotechniques, 4, pp. 393-407.

83 1956 — Faverge, J.-M., Browaeys, R. & Leplat, J. Enquête sur les programmes de

formation professionnelle existant au sein des entreprises = Investigation of technicaltraining programs existing in industries. Bulletin du Centre d'études et recherchespsychotechniques, 3, pp. 235-324.

84 1956 — Leplat, J. Quelques travaux critiques sur l’étude des temps et mouvements = A

few critical works on time-motion studies. Bulletin du Centre d'études et recherchespsychotechniques, 3, pp. 351-368.

85 1956 — Leplat, J. La compatibilité du système signal-réponse dans l’adaptation de la

machine à l’homme = S-R compatibility in the adaptation of the machine to man.Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 5, pp. 91-102.

86 1956 — Leplat, J. La compatibilité du système signal-réponse dans l’adaptation de la

machine à l’homme = Compatibility of the stimulus-response in the adaptation of themachine to man. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 6,pp. 206-208.

87 1957 — Browaeys, R. & Leplat, J. Étude d’aménagement du continu à filer = Study on the

operation of the spinning frame. Bulletin du Centre d'études et recherchespsychotechniques, 6, pp. 297-304.

88 1957 — Browaeys, R. & Leplat, J. Étude d’un travail de surveillance = Study of a work of

inspection. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 6, pp. 373-378.

89 1959 — Leplat, J. & Rouanet, H. Décisions et fonctions d’utilité = Decision-making and

functions of utility. Bulletin du Centre d'études et recherches psychotechniques, 8,pp. 122-128.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

259

Page 261: Laboreal, Volume 15 Nº2

90 1961 — Leplat, J. Psychologie expérimentale et étude des accidents = Experimental

psychology and the study of accidents. Bulletin du CERP, 10(4), pp. 473-487.

91 1962 — Leplat, J. Psychologie et aménagement du travail. Le Travail humain, 25(3/4),

pp. 269-280.

92 1962 — Leplat, J. Dispersion des signaux et niveau de vigilance. L’Année psychologique,

62(1), pp. 17-28. http://dx.doi.org/10.3406/psy.1962.7154

93 1963 — Leplat, J., Lantier, F., Barbichon, G. & Grisez, J. Les recherches du Centre

d'études et recherches psychotechniques en matière de formation professionnelle.Sociologie du travail, 5(4), pp. 411-415. https://dx.doi.org/10.3406/sotra.1963.1163

94 1964 — Leplat, J. Rôle des intervalles temporels entre signaux dans un travail de

surveillance. L’Année psychologique, 64(2), pp. 353-374. http://dx.doi.org/10.3406/psy.1964.27252

95 1967 — Leplat, J & Sperandio, J.-C. La mesure de la charge de travail par la technique de

la tâche ajoutée. L’Année psychologique, 67(1), pp. 255-277.

96 http://dx.doi.org/10.3406/psy.1967.27563

97 1967 — Leplat, J. Economics and Professional Training. Bulletin de psychologie,

20(18-19), pp. 1153-1163.

98 1967 — Leplat, J. Ergonomics and Professional Training : Work Analysis and Problem

Diagnosis. Bulletin de psychologie, 20(16-17), pp. 1005-1012.

99 1967 — Leplat, J. Temporal Uncertainty and Additional Task. Bulletin du CERP, 16(1),

pp. 41-59.

100 1970 — Leplat, J. Definition of the study object in the psychology of work. Bulletin de

psychologie, 23(11-12), pp. 677-681.

101 1971 — Leplat, J., Chesnais, M. & Gulian, E. Étude d’un modèle stochastique pour une

tâche d’inspection. Le Travail humain, 34(2), pp. 265-276.

102 1971 — Leplat, J. (1971). Planning for action and regulation of a complex system.

Bulletin de psychologie, 25(10‑11), pp. 533-538.

103 1972 — Leplat, J. & Pailhous, J. A taxonomy of tasks for a psychology of work : Some

introductory considerations. Bulletin de psychologie, 25(10‑11), pp. 539-545.

104 1973 — Leplat, J. & Chesnais, M. Le contrôle des produits industriels  : travaux actuels et

perspectives d’étude. Le Travail humain, 36(1), pp. 75-94.

105 1973 — Leplat, J. & Pailhous, J. Intellectual activity in work on an instrument. Bulletin

de psychologie, 26(12-13), pp. 673-680.

106 1974 — Leplat, J. & Pailhous, J. Comments on the origin of errors. Bulletin de

psychologie, 27(13-14), pp. 729-736.

107 1974 — Leplat, J. Les critères dans les études ergonomiques de sécurité routière.

Ergonomics, 17(5), pp. 663-675.

108 1975 — Leplat, J., Pailhous, J. & Vermersch, P. Can the acquisition of a system of

representation be rationalized ? Bulletin de psychologie, 28(7-8), pp. 398-409.

109 1975 — Pailhous, J., Chesnais, M. & Leplat, J. Détection et localisation de lacunes en

présentation tachistoscopique  : rôle des visions fovéale et périphérique. L’Annéepsychologique, 75(2), pp. 445-456. http://dx.doi.org/10.3406/psy.1975.28107

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

260

Page 262: Laboreal, Volume 15 Nº2

110 1975 — Pailhous, J., Chesnais, M. & Leplat, J. Détection et localisation de lacunes en

présentation tachistoscopique : rôle des visions fovéale et périphérique. L’Annéepsychologique, 75(2), pp. 445-456. http://dx.doi.org/10.3406/psy.1975.28107

111 1976 — Leplat, J. Study of hypotheses in natural environmental settings. Bulletin de

psychologie, 30(1‑2), pp. 25-29.

112 1976 — Leplat, J. & Pailhous, J. Cognitive conditions of the acquisition and use of

sensorimotor skills. Bulletin de psychologie, 29(4-7), pp. 205-211.

113 1977 — Leplat, J. Les facteurs déterminant la charge de travail : rapport introductif. Le

Travail humain, 40(2), pp. 195-202.

114 1977 — Leplat, J. & Welford, A. T. Communications présentées à un symposium du XXIe

Congrès international de psychologie Paris, juillet 1976. Le Travail humain, 40(2),pp. 193.

115 1978 — Leplat, J. IIe congrès de la société de biomécanique (Liège, 22 et 23 septembre

1977). Le Travail humain, 41(1), pp. 185-190.

116 1978 — Leplat, J. L’équivalence des situations de laboratoire et de terrain. Le Travail

humain, 41(2), pp. 307-318.

117 1978 — Leplat, J. Factors Determining Work-load. Ergonomics, 21(3), pp. 143-149.

118 1978 — Leplat, J. Régulation de l’action et connaissance des résultats. Psychologie et

éducation (revue de recherche du laboratoire associé au. CNRS), 259(2), pp. 73–79.

119 1978 — Leplat, J. & Pailhous, J. Task description : Status and role in problem solving.

Bulletin de psychologie, 31(1-2), pp. 149-156.

120 1980 — Leplat, J. Overview of the psychology of work. Bulletin de psychologie, 33(4‑11),

pp. 195-200.

121 1981 — Leplat, J. & Pailhous, J. L’acquisition des habiletés mentales  : la place des

techniques. Le Travail humain, 44(2), pp. 275-282.

122 1981 — Leplat, J. & Hoc, J.-M. Subsequent verbalization in the study of cognitive

processes. Ergonomics, 24(10), pp. 743-755.

123 1982 — Leplat, J. Fiabilité et sécurité. Le Travail humain, 45(1), pp. 101-108.

124 1983 — Leplat, J. Statut et fonction des communications dans l’activité des équipes de

travail. Psychologie française, 28(3/4), pp. 247-253.

125 1983 — Leplat, J. & Hoc, J.M. Tâche et activité dans l’analyse psychologique des

situations. Cahiers de psychologie cognitive, 3.

126 1984 — Leplat, J. & Savoyant, A. Ordonnancement et coordination des activités dans les

travaux individuels et collectifs. Bulletin de psychologie, 37(6-10), pp. 271-278.

127 1984 — Montmollin, M., de & Leplat, J. Les cadres travaillent-ils  ? : à propos d’un

ouvrage de Luc Boltansky. Le Travail humain, 47(1), pp. 89-93.

128 1985 — Leplat, J. La psychologie du travail  : recherches et inventions. Psychologie

française, 30(2), pp. 163–167.

129 1985 — Leplat, J. Les représentations fonctionnelles dans le travail. Psychologie

française, 30(3/4), pp. 269-275.

130 1986 — Leplat, J. L’analyse psychologique du travail. Revue de psychologie appliquée,

36(1), pp. 9-27.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

261

Page 263: Laboreal, Volume 15 Nº2

131 1988 — Leplat, J. L’analyse de l’erreur dans les nouvelles technologies : voies de

recherche. Revue de psychologie appliquée, 38(2), pp. 151-160.

132 1988 — Leplat, J. & Bellagh, M. A. Des recommandations utiles pour les psychologues du

travail maghrébins (entretien). Horizons Maghrébins - Le droit à la mémoire, 12(1),pp. 27-30. http://dx.doi.org/10.3406/horma.1988.1473

133 1989 — Leplat, J. & Bertrand, L. Rôle du schéma dans un diagnostic de panne sur une

motrice de métro. Performances, 41, pp. 16-25.

134 1989 — Leplat, J. Error analysis, instrument and object of task analysis. Ergonomics,

32(7), pp. 813-822.

135 1990 — Leplat, J. La fiabilité et l’ergonomie : spécificité et complémentarité. Revue de

psychologie appliquée, 40(3), pp. 377-386.

136 1990 — Leplat, J. & Terssac, G. de. Facteurs humains de la fiabilité. Performances, 47,

pp. 27-31.

137 1990 — Leplat, J. Relations between task and activity : elements for elaborating a

framework for error analysis. Ergonomics, 33(10/11), pp. 1389-1402.

138 1990 — Leplat, J & Terssac, G. de. Reliability and ergonomics : specificity and

complementarity. Revue de psychologie appliquée, 40(3), pp. 377-386.

139 1990 — Leplat, J. Skills and tacit skills : a psychological perspective. Applied psychology,

39(2), pp. 143-154.

140 1993 — Leplat, J. L’analyse psychologique du travail  : quelques jalons historiques. Le

Travail humain, 56(2/3), pp. 115-131.

141 1993 — Leplat, J. Intention and error : a contribution to a study of responsibility. Revue

européenne de psychologie appliquée, 43(4), pp. 279-287.

142 1994 — Leplat, J. Collective activity in work  : some lines of research. Le Travail humain,

57(3), pp. 209-226.

143 1995 — Leplat, J. À propos des compétences incorporées. Éducation permanente, 123,

pp. 101-114.

144 1995 — Leplat, J. Cause et risque dans l'analyse des accidents. Revue romaine de

psychologie, 39(1), pp. 9-24.

145 1998 — Leplat, J. À propos des procédures. Performances, 94, pp. 6-15.

146 1998 — Leplat, J. About implementation of safety rules. Safety Science, 29(3),

pp. 189-204. http://dx.doi.org/10.1016/S0925-7535(98)00022-8

147 1998 — Leplat, J. & Hale, A. Guest editorial : Safety rules. Safety Science, 29, pp. 159-161.

148 1998 — Leplat, J. About implementation of safety rules. Safety Science, 29(3),

pp. 189-204.

149 1999 — Leplat, J. Cognitive error analysis. Revue européenne de psychologie appliquée,

49(1), pp. 31-42.

150 2000 — Leplat, J. La psychologie du travail = The psychology of work. Psychologie

française, 45(1), pp. 83-96.

151 2000 — Leplat, J. Compétences individuelles, compétences collectives. Psychologie du

travail et des organisations, 6(3-4), pp. 47-73.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

262

Page 264: Laboreal, Volume 15 Nº2

152 2001 — Leplat, J. La gestion des communications par le contexte. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, 3(1). http://dx.doi.org/10.4000/pistes.3755

153 2002 — Leplat, J. De l’étude de cas à l’analyse de l’activité. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, 4(2). http://dx.doi.org/10.4000/pistes.3658

154 2004 — Gadbois, C. & Leplat, J. Connaissances et interventions. Activités, 1(1), pp. 6-22.

http://dx.doi.org/10.4000/activites.1138

155 2004 — Leplat, J. Éléments pour l’étude des documents prescripteurs. Activités, 1(2).

http://dx.doi.org/10.4000/activites.1293

156 2004 — Leplat, J. L’analyse psychologique du travail. Revue Européenne de Psychologie

Appliquée/European Review of Applied Psychology, 54(2), pp. 101-108. http://dx.doi.org/10.1016/j.erap.2003.12.006

157 2005 — Clot, Y. & Leplat, J. La méthode clinique en ergonomie et en psychologie du

travail. Le Travail humain, 68(4), pp. 289-316. http://dx.doi.org/doi:10.3917/th.684.0289

158 2005 — Leplat, J. Les automatismes dans l’activité  : pour une réhabilitation et un bon

usage. Activités, 2(2). http://dx.doi.org/10.4000/activites.1797

159 2006 — Leplat, J. La notion de régulation dans l’analyse de l’activité. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, 8(1). http://dx.doi.org/10.4000/pistes.3101

160 2006 — Leplat, J. Les contextes en formation. Éducation permanente, 166, pp. 29-48.

161 2008 — Leplat, J. Formation et didactique professionnelles  : un chemin psychologique

dans l’histoire. Travail et apprentissages, 1, pp. 22-33.

162 2008 — Leplat, J. Les compétences dans l'activité et leur analyse. Psihologia Resurselor

Umane, 6(2), pp. 16-30. http://pru.apio.ro/index.php/prujournal/article/view/188

163 2009 — Leplat, J. L’erreur comme défaut et moyen de contrôle de l’activité en situation

de travail = The error as a defect and as a mean of controlling the activity in work

situation. Psihologia Resurselor Umane Revista Asociaţiei de Psihologie Indusstrială şi

Organizaţională, 7(1), pp. 14-28.

164 2010 — Leplat, J. Jalons dans l’œuvre d’Alain Savoyant. Travail et apprentissages, 5,

pp. 13-30.

165 2011 — Rogalski, J. & Leplat, J. L’expérience professionnelle  : expériences sédimentées

et expériences épisodiques. Activités, 8(2). http://dx.doi.org/10.4000/activites.2556

166 2011 — Leplat, J. Comentários ao artigo “Contributo para uma introdução ao estudo dos

sistemas homens-máquinas” de Michel Olivier. Laboreal, 7, (2), pp. 69-72. http://laboreal.up.pt/revista/artigo.php?id=37t45nSU547112435:2573:4791

167 2013 — Leplat, J. Les gestes dans l’activité en situation de travail : aperçu de quelques

problèmes d’analyse. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, 15(1).http://dx.doi.org/10.4000/pistes.2951

168 2013 — Leplat, J. Contribution à une introduction aux études des systèmes hommes-

machine de Michel Olivier, Pistes, 15(3), 5 p. https://journals.openedition.org/pistes/3497

169 2015 — Leplat, J. Um modelo de investigação coletiva e internacional acerca da

segurança. Laboreal, 11(1), pp. 106-108. http://dx.doi.org/10.15667/laborealxi0115jl

170 2016 — Leplat, J. Maurice Reuchlin e a dialética laboratório / terreno. Laboreal, 12(1),

pp. 93-97. http://dx.doi.org/10.15667/laborealxii0116jl

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

263

Page 265: Laboreal, Volume 15 Nº2

171 2018 — Leplat, J. Um retorno a Gilbert Simondon e à sua obra inicial. Laboreal, 14(1),

pp. 65-68. http://dx.doi.org/10.15667/LABOREALXIV0118JL

172 Notas de lectura

173 1990 — Leplat, J., & Hoc, J.-M. (1990). Notes de lecture. Le Travail Humain, 53(2),

189‑191.

174 1991 — Leplat, J. Notes de lecture. Le Travail Humain, 54(4), 391‑392.

175 1991 — Leplat, J. Notes de lecture. Le Travail Humain, 54(3), 283‑286.

176 1992 — Leplat, J., Hoc, J.-M., & Rogalski, J. Notes de lecture. Le Travail Humain, 55(3),

307-312.

177 1993 — Wisner, A., Leplat, J., & Hoc, J.-M. Notes de lecture. Le Travail Humain, 56(1),

101‑103.

178 2001 — Leplat, J. La signalétique  : conception, validation, usages de Cambon de

Lavalette, Doré et Tijus. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (3‑2).http://journals.openedition.org/pistes/3794

179 2001 — Leplat, J. Proactive risk management in a dynamic society de Rasmussen et

Syedung. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (3‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3793

180 2002 — Leplat, J. Apprentissage organisationnel. Théorie, méthode, pratique de Argyris

et Schön. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (4‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3758

181 2002 — Leplat, J. De la motivation à la formation de Carré. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (4‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3762

182 2002 — Leplat, J. Discours sur l’organisation du travail de De Montmollin. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (4‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3756

183 2002 — Leplat, J. Error prevention and well-being at work in western Europe and Russia.

Psychological traditions and new trends de De Keyser et Leonova. Perspectivesinterdisciplinaires sur le travail et la santé, (4‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3764

184 2002 — Leplat, J. Le travail  : une activité collective de De Terssac. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (4‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3791

185 2002 — Leplat, J. L’intervention ergonomique. Un regard sur la pratique professionnelle

de Lamonde. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (4‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3768

186 2002 — Leplat, J. Management des compétences. Réalisations, concepts, analyses de

Aubret, Gilbert et Pigeyre. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé,(4‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3787

187 2002 — Leplat, J. Organiser la fiabilité de Bourrier. Perspectives interdisciplinaires sur

le travail et la santé, (4‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3760

188 2002 — Leplat, J. Psychologie du travail de Karnas. Perspectives interdisciplinaires sur

le travail et la santé, (4‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3789

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

264

Page 266: Laboreal, Volume 15 Nº2

189 2002 — Leplat, J. Task analysis d’Annett et Stanton. Perspectives interdisciplinaires sur

le travail et la santé, (4‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3766

190 2002 — Leplat, J. Work process knowledge de Boreham, Samurçay et Fischer.

Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (4‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3785

191 2003 — Leplat, J. Le travail collectif dans l’industrie à risque. Six points de vue de

chercheurs étayés et discutés de Maggi et Lagrange. Perspectives interdisciplinaires surle travail et la santé, (5‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3781

192 2003 — Leplat, J. Lifelong learning : which ways forward  ? de Colardyn. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (5‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3780

193 2003 — Leplat, J. Stress au travail et santé psychique de Neboit et Vézina. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (5‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3783

194 2004 — Leplat, J. Recherches en didactique professionnelle de Samurçay et Pastré.

Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (6‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3259

195 2005 — Leplat, J. Handbook of cognitive task design de Hollnagel. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (7‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3248

196 2005 — Leplat, J. Le facteur humain. Réinventer notre rapport à la technologie de

Vicente. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (7‑3). http://journals.openedition.org/pistes/3137

197 2005 — Leplat, J. Les savoirs d’action  : une mise en mots des compétences  ? de Barbier

et Galatanu. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (7‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3244

198 2005 — Leplat, Jacques. (2005). Modèles et méthodologies d’analyse des compétences. Le

double éclairage des pratiques et des recherches de Hajjar et Baubion-Broye.Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (7‑3). http://journals.openedition.org/pistes/3149

199 2005 — Leplat, J. Hoc, J.-M. & Darses, F. (Eds.). (2004). Psychologie ergonomique :

tendances actuelles. Paris : PUF, Collection Le Travail humain. 260 pages. Activités, 2(1).https://journals.openedition.org/activites/1635

200 2005 — Leplat, J. Bronckart, J.-P. (Ed.), Bulea, E., Filliettaz, L., Fristalon, I., Plazaola

Giger, I. & Revaz F. (2004). Agir et discours en situation de travail. Cahiers de la sectiondes sciences de l'éducation, n° 103. Université de Genève (312 p.). Activités, 2(1).https://journals.openedition.org/activites/1628

201 2005 — Leplat, J. Alamargot, D., Terrier, P. & Cellier, J.-M. (Eds). (2005). Production,

compréhension et usages des écrits techniques au travail. Toulouse : Octarès Éditons,243 pages. Activités, 2(2). https://journals.openedition.org/activites/1828

202 2005 — Leplat, J. Norros, L. (2004). Acting under uncertainty. The core-task analysis in

ecological study of work. VTT Industrial Systems, Techniicantie 12, P.O. Box, 1301,FIN-02044 VTT Finland. Activités, 2(2). https://journals.openedition.org/activites/1832

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

265

Page 267: Laboreal, Volume 15 Nº2

203 2006 — Leplat, J. Barriers and accident prevention de Hollnagel. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (8‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3019

204 2006 — Leplat, J. L’analyse des actions et des discours en situation de travail de Fillietaz

et Bronckart. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (8‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3774

205 2006 — Leplat, J. L’ergonomie de Darses et de Montmollin. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (8‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3776

206 2006 — Leplat, J. Rabardel, P. & Pastré, P. (s/d). (2005). Modèles du sujet pour la

conception. Dialectiques activités développement. Toulouse : Octarès. 260 pages.Activités, 3(1). https://journals.openedition.org/activites/1885

207 2007 — Leplat, J. La décision médicale collective. Pour des médecins moins savants et

moins autonomes  ? De Mollo et Sauvagnac. Perspectives interdisciplinaires sur letravail et la santé, (9‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3012

208 2007 — Leplat, J. Pratiques d’information-conseil en VAE (Validation des Acquis de

l’Expérience). Une analyse des pratiques par le réseau des conseillers PRC (Point RelaisConseil) en Bourgogne de Mayen et Perrier. Perspectives interdisciplinaires sur letravail et la santé, (9‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3011

209 2007 — Leplat, J. Resilience engineering. Concepts and precepts de Hollnagel, Woods et

Leveson. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (9‑2). http://journals.openedition.org/pistes/3770

210 2008 — Leplat, J. La conception en design industriel et en architecture. Désir,

pertinence, coopération et cognition de Lebahar. Perspectives interdisciplinaires sur letravail et la santé, (10‑2). http://journals.openedition.org/pistes/2927

211 2008 — Leplat, J. Travail et pouvoir d’agir de Clot. Perspectives interdisciplinaires sur le

travail et la santé, (10‑2). http://journals.openedition.org/pistes/2922

212 2008 — Leplat, J. Nosulenko, V. & Rabardel, P. (2007). Rubinstein aujourd'hui. Nouvelles

figures de l'activité humaine. Activités, 5(1). https://journals.openedition.org/activites/1973

213 2008 — Leplat, J. Merri, M. (Ed.) (2007). Activité humaine et conceptualisation.

Questions à Gérard Vergnaud. Toulouse : Presses universitaires du Mirail. Activités,5(2). https://journals.openedition.org/activites/2057

214 2009 — Leplat, J. Remaining sensitive to the possibility of failure de Hollnagel, Nemeth

et Dekker. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (11‑1). http://journals.openedition.org/pistes/2898

215 2009 — Leplat, J. Hollnagel, E. (2009). The ETTO Principle : Efficiency – Thoroughness

Trade – Off. Why things that go right sometimes go wrong ?. Farnham (U.K.) : Ashgate.Activités, 6(2). https://journals.openedition.org/activites/2284

216 2010 — Leplat, J. Owen, C., Béguin, P. & Wackers, G. (2009). Risky word environment.

Reappraising human work within fallible systems. Farnham (G.B.) : Ashgate. Activités,7(2). https://journals.openedition.org/activites/2383

217 2011 — Leplat, J. Yvon, F. & Saussez, F. (Eds) (2010). Analyser l'activité enseignante. Des

outils méthodologiques et théoriques pour l'intervention et la formation. Laval

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

266

Page 268: Laboreal, Volume 15 Nº2

(Canada) : Les Presses de l'Université Laval. Activités, 8(1). https://journals.openedition.org/activites/2532

218 2011 — Leplat, J. Adé, D., & De Saint-Georges, I. (Eds) (2010). Les objets dans la

formation. Usages, rôles et significations. Toulouse : Octarès. Activités, 8(1). https://journals.openedition.org/activites/2531

219 2011 — Leplat, J. Pastré, P. (2011). La didactique professionnelle. Approche

anthropologique du développement chez les adultes. Formation et pratiquesprofessionnelles. Paris : PUF, 318 p. Activités, 8(2). https://journals.openedition.org/activites/2645

220 2012 — Leplat, J. Norman, D.A., The design of futre things et Living with complexity.

Activités, 9(1). https://journals.openedition.org/activites/184

221 2012 — Leplat, J. De Terssac, G., Mignard, J. Les paradoxes de la sécurité. Le cas d'AZF.

Activités, 9(1). https://journals.openedition.org/activites/216

222 2012 — Leplat, J. Molinié, A.-F., Gaudart, C. & Pueyo, V. La vie professionnelle. Âge,

expérience et santé à l'épreuve des conditions de travail. Activités, 9(2). https://journals.openedition.org/activites/513

223 2013 — Leplat, J. Contribution à une introduction aux études des systèmes hommes-

machine de Michel Olivier. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé,(15‑3). http://journals.openedition.org/pistes/3497

224 2013 — Leplat, J. La confiance au travail sous la coordination de Karsenty. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (15‑3). http://journals.openedition.org/pistes/3543

225 2013 — Leplat, J. (Se) Former pour transformer le travail. Dynamiques de constructions

d’une analyse critique du travail. Sous la coordination de Catherine Teiger et MarianneLacomblez. Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (15‑3). http://journals.openedition.org/pistes/3499

226 2013 — Leplat, J. Vulnérabilités au travail. Naissance et actualité de la psychopathologie

du travail de Veil, présentation par Dominique Lhuilier. Perspectives interdisciplinairessur le travail et la santé, (15‑1). http://journals.openedition.org/pistes/3216

227 2013 — Leplat, J. Datchary, C. La dispersion au travail. Activités, 10(2). https://

journals.openedition.org/activites/863

228 2014 — Leplat, J. Le risque et la règle. Le cas du bâtiment et des travaux publics de Cru.

Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (16‑3). http://journals.openedition.org/pistes/4014

229 2014 — Leplat, J. Le travail peut-il devenir supportable  ? De Clot et Gollac. Perspectives

interdisciplinaires sur le travail et la santé, (16‑4). http://journals.openedition.org/pistes/4314

230 2014 — Leplat, J. Falzon, P. (sous la direction de). (2013). Ergonomie constructive. Paris :

PUF. Activités, 11(1). https://journals.openedition.org/activites/400

231 2015 — Leplat, J. Mieux-être au travail  : appropriation et reconnaissance de Bernoux.

Perspectives interdisciplinaires sur le travail et la santé, (17‑2). http://journals.openedition.org/pistes/4532

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

267

Page 269: Laboreal, Volume 15 Nº2

232 2015 — Leplat, J. Mayen, P. & Lainé, A. Apprendre à travailler avec le vivant ?

Développement durable et didactique professionnelle. Activités, 12(1). https://journals.openedition.org/activites/1052

233 2016 — Leplat, J. Dekker, S.W.A. Safety Differently : Human Factors for a New Era.

Activités, 13(2). https://journals.openedition.org/activites/2898

234 2017 — Leplat, J. Dujarier, M.-A., Gaudart, C., Gillet, A. & Lénel, P. L'activité en théories.

Regards croisés sur le travail. Activités, 14(1). https://journals.openedition.org/activites/2946

235 2017 — Leplat, J. Christol-Souviron, M., Leduc, S., Drouin, A. & Étienne, P. Performances

humaines et techniques : d'hier VERS aujourd'hui. Activités, 14(1). https://journals.openedition.org/activites/2960

AUTORES

CORINNE LESPESSAILLES

Centre de documentation sur la formation et le travail, Direction des bibliothèques et de la

documentation - Conservatoire national des arts et métiers, 41 rue Gay Lussac, 75005 Paris (case

courrier 4SCD01), France. [email protected]

CÉLINE LEVECQUE

Bibliothèque Gay-Lussac

Direction des bibliothèques et de la documentation - Conservatoire national des arts et métiers

41 rue Gay Lussac, 75005 Paris (case courrier 4SCD01), France

[email protected]

AURÉLIE PUYBONNIEUX

Centre de documentation sur la formation et le travail - Direction des bibliothèques et de la

documentation. Conservatoire national des arts et métiers, 41 rue Gay Lussac, 75005 Paris (case

courrier 4SCD01), France. [email protected]

AGATHE VUILLERMET

Bibliothèque Gay-Lussac - Direction des bibliothèques et de la documentation - Conservatoire

national des arts et métiers, 41 rue Gay Lussac, 75005 Paris, France

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

268

Page 270: Laboreal, Volume 15 Nº2

Adaptação da Máquina ao HomemAdaptación de la máquina al hombre

Adaptation de la machine à l'homme

Adaptation of Machine to Man

Jacques Leplat

Tradução : João Viana Jorge

REFERÊNCIA

Texto original : Leplat, J. (1953). Adaptation de la machine à l’homme. Bulletin du Centre

d'études et recherches psychotechniques, 2(1), pp. 35-39.

1 A psicologia industrial americana viu, nestes últimos anos, o desenvolvimento de todo

um corpo de pesquisas geralmente agrupadas sob o nome de «Human Engineering».Não é evidentemente intenção nossa julgar aqui o que será, para a América, osignificado económico e social desses esforços; a nossa finalidade é fornecer uma visãode conjunto dos trabalhos que suscitou e de mostrar o interesse que estes apresentampara nós.

2 Em primeiro lugar é necessário definir esta nova e complexa disciplina. A tradução de

«Human Engineering» é difícil. Traduzindo os sinónimos americanos obter-se-ia«biomecânica, psicofísica aplicada, psicotecnologia, psicologia da mecanização». Foifrequentemente proposto em França «Adaptação da máquina ao homem». Estaexpressão, se não é plenamente satisfatória tem pelo menos a vantagem de ser simples,o que nos fez adoptá-la. Se se tivesse pretendido dar um título a esse novo ramo dapsicologia que desseconta, simultaneamente do seu método e do seu objeto, teria sidonecessário escolher «psicologia experimental aplicada» (Chapanis 1-2) precisando «àsrelações do homem e da máquina». Mas, melhor que uma definição, a análise dasorigens da «Human Engineering» permite-nos apreender os seus princípios e domínio.Situa-se na confluência de três ordens de pesquisas (1): o estudo dos tempos emovimentos, a seleção e a psicologia experimental.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

269

Page 271: Laboreal, Volume 15 Nº2

3 Os engenheiros de tempos e movimentos foram os primeiros a debruçar-se de um modo

algo sistemática sobre as relações do homem e da máquina. Os estudos de movimentos,por exemplo, dos quais os Gilbreth foram os iniciadores são consagrados à análise dosgestos e à descoberta dos mais económicos. Na medida em que estes estudosconduziram à reorganização das máquinas, das ferramentas, dos locais e das condiçõesde trabalho, pode dizer-se que eles se enquadravam já na «Adaptação da máquina aohomem».

4 A seleção constitui uma outra abordagem dos problemas profissionais. Parte daquela

constatação de que os homens não eram igualmente bem sucedidos em todas as tarefas.Deve ser possível encontrar, para cada uma delas, os sujeitos mais capazes de as levar acabo: conhecendo o homem e o trabalho tenta-se pois, o seu melhor«emparelhamento». A perspetiva na qual se coloca o «Human Engineering» étotalmente diferente. O que lhe interessa não é a escolha de um indivíduo para um dadotrabalho, mas a organização desse trabalho de tal modo que o maior número possível deindivíduos seja capaz de o executar. Esta distinção é importante para bem compreendero «Human Engineering». Mas ainda que visando outras finalidades a seleção tinha,contudo, preparado a via para a nova disciplina na medida em que tinha suscitadoestudos de postos de trabalho e de tarefas.

5 A psicologia experimental, apesar de um passado já longo, não tinha saído até há pouco

do laboratório, o que não tinha deixado de limitar-lhe o alcance das suas descobertas.Por outro lado, parecia que o estudo do trabalho, para progredir, deveria fazer apelo àexperimentação. Na América, este encontro da psicologia experimental com osproblemas do trabalho teve lugar nomeadamente no decurso da última guerra.Obrigados a sair do seu laboratório, os experimentalistas tomaram contacto com osengenheiros de tempos e movimentos e com os psicólogos encarregados da seleção.Colocados perante problemas relativos à utilização de aparelhagens complicadasprocuraram a solução nos estudos experimentais. A complexidade de certosdispositivos modernos, como as cabines de aviões, mostrava que o limite daspossibilidades humanas estava atingido. As medidas de seleção tornadas ineficazes, erapreciso repensar a afinação dos aparelhos. Tal não podia fazer-se senão a partir deprincípios que somente a experiência permitiria extrair. Assim nasceu a «HumanEngineering» que viria a ganhar cada vez maior importância por via das grandesempresas.

6 Entre os diversos aspetos deste novo ramo da psicologia industrial reteremos os que

mais se relacionam com as questões psicotécnicas que nos preocupam. No trabalho emgeral combinam-se aspetos preceptivos e motores. É assim que, para cumprir uma dadaoperação é necessário dispor de um certo número de informações (perceções) a partirdas quais a sucessão dos gestos adequados possa ser executada (motricidade). Pensemosno trabalho com uma máquina: somos levados a aí distinguir, de um modo algoesquemático as operações de controlo e as operações de comando; as operações decontrolo consistem em reconhecer todos os indicadores visuais, auditivos, diretos oufornecidos por instrumentos que dirigirão as operações subsequentes (operações decomando) que levarão à peça acabada. Serão também dois os grandes grupos depesquisas da «Adaptação da máquina ao homem»: o estudo dos dispositivos de controloe o estudo dos comandos.

7 A primeira apresenta frequentemente à partida um aspeto fisiológico. Quando se faz

apelo à perceção é necessário de facto conhecer os mecanismos sensoriais que a

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

270

Page 272: Laboreal, Volume 15 Nº2

condicionam para saber em que circunstâncias estes últimos são mais eficazes. Assimsendo, tendo que decidir qual a cor dos sinais luminosos utilizados durante a noite serábom dispor de informações sobre a visão noturna das cores em geral: somente depois, ea partir desses dados, se poderão experimentar diferentes tipos de sinais. Vê-se,portanto, como dados de ordem fisiológica e aparentemente teóricos vêm a imbricar-secom o estudo do trabalho.

8 Numerosas pesquisas da «Adaptação da máqina ao homem» relevam desse domínio dos

sinais. Se se recordar que esses estudos tiveram primitivamente por objeto omelhoramento das cabines de comando dos aviões compreender-se-á a importância dostrabalhos relativos à legibilidade dos mostradores (1, 3). Estas pesquisas sãoparticularmente interessantes, tanto pelo método seguido como pelos resultadosobtidos. Fitts e Jones por exemplo fazem primeiro um inquérito junto dos pilotos parasaber quais são os erros cometidos na leitura dos quadrantes de bordo. Tentam emseguida classificar esses erros sob um certo número de rubricas (confusão das agulhasde um mesmo quadrante, confusão das graduações, quadrante tomado por um outro,etc.). A partir dessas indicações podem então imaginar um certo número deexperimentações. Foi assim que foi estudada a influência, na boa leitura, da forma dosquadrantes, da escala utilizada, do número de referências de cada escala, do sentido derotação das agulhas, do arranjo do conjunto dos quadrantes, etc…. Nos dispositivosrelativos à visão sempre os psicólogos da «Human Engineering» pesquisaram se asinformações deviam ser fornecidas de preferência num gráfico ou numa tabela,tentaram descobrir o melhor tipo de esquema, os caracteres tipográficos mais legíveisem determinadas condições. No domínio auditivo devem assinalar-se os trabalhosrelativos ao “mascarar (do som)”, importantes para as rádio comunicações. Muitas dessaspesquisas não alcançaram ainda conclusões definitivas, todavia iluminam um pouco umdomínio mantido bem obscuro até ao presente.

9 O proveito que podemos retirar de estudos orientados nesse sentido aparece de modo

mais evidente num artigo de Gibbs (5), consagrado aos indicadores de translação dasmáquinas ferramenta. Sabe-se que o chariot [1] é comandado por duas manivelasmunidas de um tambor graduado. Quem tenha utilizado um torno não deixou, semdúvida, de notar as dificuldades que apresenta a utilização correta desses tambores.Uma destas é devida ao facto de que após uma volta completa da manivela o tamborvolta à graduação inicial. Consequentemente, quando se tem de deslocar o chariot aolongo de uma certa distância e se pretende voltar a atacar a peça no mesmo sítio não sepode confiar apenas nas indicações do tambor senão arrisca-se errar num númerointeiro de voltas. Em certos casos esta insuficiência obriga à utilização de instrumentosde medida externos (ao torno), (paquímetro ou craveira ou “péclisse”, – corruptela depied à coulisse – palmer ou parafuso micrométrico) ou a proceder a alguns cálculos,tudo operações que ocasionam perdas de tempo. Gibbs estuda experimentalmente esteproblema comparando o dispositivo clássico a novos sistemas. Apesar do reduzidonúmero de sujeitos este estudo é extremamente interessante: faz apelo a profissionais,a aprendizes e a estudantes, o que permite comparações mais ricas. Mostra tambémtodos os benefícios que podem ser extraídos de um estudo do trabalho conduzido até àexperimentação.

10 Depois de ter examinado o que se refere ao modo de obter informações da máquina

vejamos o outro capítulo importante de «Human Engineering» que diz respeito àutilização da máquina, quer dizer as operações que devem ser executadas uma vez

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

271

Page 273: Laboreal, Volume 15 Nº2

recolhidas as informações necessárias. Esta questão pode ser encarada de dois modosdiferentes conforme se parte do homem ou da máquina. No primeiro caso pergunta-se:«quais são os movimentos que o homem pode fazer? Como os faz? Como deve executá-los para que sejam económicos e eficazes?». No segundo caso examinar-se-á emprimeiro lugar: «Como classificar os diferentes tipos de comandos? Como utilizá-los?Como escolhê-los?». Nenhum destes pontos de vista é suficiente por si só e devemcompletar-se.

11 Como não se trata aqui de produzir uma classificação detalhada do que se fez neste

domínio pretendemos apenas expor dois tipos de pesquisas assaz características. Sabe-se que numerosas tarefas exigem que se manejem aparelhos de comando sem olharporque no mesmo momento, por exemplo, é preciso vigiar as indicações de umcontador. Se diversos comandos se encontram numa mesma vizinhança há, pois, operigo de confusão; como evitá-lo? Na pilotagem dos aviões este problema dediscriminação de posições coloca-se de forma imperiosa. Fitts idealizou colocar numasala com a forma de uma cabine de avião um certo número de alvos, análogos aos dotiro, a diferentes alturas. Cada um correspondia a uma letra de um código que o pilotoaprendia previamente, este último era a seguir equipado com um par de óculos opacose tinha de localizar o ponto central destes alvos. Para cada posição dos alvos podia,portanto, ver-se a importância e a localização dos erros. Era assim possível apreciar asdiferenças de posição percebidas para uma dada colocação do operador. Ulteriormente,estas observações permitiam saber a que distância uns dos outros deviam estar osdiferentes comandos conforme a sua posição em relação ao operador para reduzir aomínimo os riscos de confusão.

12 Um segundo tipo de trabalhos que é objeto de uma literatura já importante tem

ligações ao estudo dos movimentos de ajustamento com a ajuda de experiências de

localização (tracking) (1, 4, 6). Sabe-se que numerosas tarefas exigem tais movimentos edaí o interesse dirigido a essas pesquisas. Essas experiências consistem geralmente,

para o sujeito, em fixar um objeto que se move de maneira imprevisível dentro decertos limites ou ainda a seguir esse objeto. É assim que num quadrante uma agulha sedesloca de uma determinada maneira, mas desconhecida do sujeito. Uma outra agulha,esta comandada pelo sujeito deve seguir com tanta precisão quanto possível, osmovimentos da primeira. Esta segunda agulha é comandada por um volante ou umbotão. Um sistema de registo fornece graficamente a cada instante a posição das duasagulhas. As experiências deste tipo permitem estudar numeroso fatores (natureza dosestímulos, padrão dos estímulos, lugar relativo do comando e do estímulo, porexemplo) dos quais é necessário conhecer a importância quando se pretende organizartarefas desta natureza.

13 Outras pesquisas puseram em relevo o interesse que havia em ter em conta

movimentos dominantes, quer dizer movimentos executados naturalmente pelo sujeitoquando nenhuma indicação lhe tenha sido dada. Mostrou-se também nos estudos sobreo realismo dos comandos, que não era indiferente numa dada situação que tal botão oualavanca se movesse num dado sentido.

14 Estes são alguns tipos de pesquisas do quadro da «Human Engineering». Esta revisão

está longe de ser exaustiva porque importava mais aqui dar uma ideia das pesquisas doque enumerá-las todas. Podem extrair-se destes diferentes trabalhos os elementos deum método do qual vamos tentar tornar mais precisos alguns aspetos. Na origemencontramos quase sempre um estudo muito minucioso do trabalho: condução por

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

272

Page 274: Laboreal, Volume 15 Nº2

procedimentos variados, observação, questionário, análise dos erros, etc., permitindoextrair um certo número de fatores e emitir hipóteses. É então que se faz apelo àexperimentação; e esta não mais é um exercício gratuito sendo um fim em si mesma,mas constituindo uma fase importante do processo de estudo do trabalho. É a este nívelda investigação que podem ser usados os métodos estatísticos quer se trate de pensar aexperimentação, de a organizar num esquema que torne a sua exploração fácil efrutuosa, quer ainda que se trate de verificar as hipóteses formuladas. Os métodos deanálise da variância encontram aí uma boa aplicação. Permitem nomeadamente testar osignificado dos diferentes fatores e das suas interações. Todavia o que parececaracterístico dos estudos de «Human Engineering» é que eles geralmente não se detêmna determinação da influência dos fatores, mas tentam descobrir para cada um o seuvalor ótimo. É assim que no estudo dos movimentos rotativos, por exemplo, não só sepesquisa a influência do raio (de rotação) da manivela no número de voltas por minutoque o sujeito pode executar mas também, nas mesmas condições, qual é o raio quepermitirá o maior número de voltas. Nos estudos do espaçamento (dos traços) dereferências num quadrante pesquisar-se-á do mesmo modo a distância entre asreferências e depois a distância ótima, quer dizer aquela que reduz ao mínimo onúmero de erros (1). Parece ser, esta pesquisa das otimizações, característica da«Adaptação da máquina ao homem»: é por aí que ela se distingue da perspetiva daseleção. Para esta última importa antes de tudo pôr em evidência a influência dosfatores intervenientes no sistema homem-máquina. Os psicólogos da «HumanEngineering» vão mais longe dado que tentam repensar a organização desse sistema ede o estabelecer em bases mais racionais. Se é bem evidente que os problemas dotrabalho industrial não se podem reduzir unicamente aos problemas de utilização demáquinas não é menos verdadeiro que tais estudos podem acarretar elementosinteressantes para uma organização mais humana do trabalho: vislumbra-se emparticular todo o interesse que apresentam na adaptação de postos de trabalho asujeitos deficientes. Este apanhado da «Human Engineering» é forçosamenteincompleto em virtude da perspetiva adotada e do enquadramento deste artigo. Terátalvez sido suficiente para mostrar que é uma ciência jovem que ainda não explorousenão domínios limitados e cujas descobertas mantêm frequentemente um aspetofragmentário. Os iniciadores estão disso conscientes e não deixam de sublinhar osprogressos por alcançar antes de atingir uma síntese mais ou menos geral. Desde já,todavia, resultados válidos foram adquiridos e um método de pesquisa tomou forma.Quanto a nós, ainda que não nos seja evidentemente possível colocarmo-nos naperspetiva da «Human Engineering», podemos tirar desde já o maior proveito dos seustrabalhos e métodos. Fornece-nos os meios de chegar a um melhor conhecimento dastarefas industriais para as quais temos de selecionar candidatos. Além disso aintrodução da experimentação no estudo do trabalho, domínio em que o empirismo foipor longo tempo a única regra, permitirá sem dúvida alcançar importantes progressostanto no plano puramente técnico (melhoramento do material) e pedagógico(aprendizagem mais racional da tarefa) como no plano mais estritamente psicológico(orientação e seleção).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

273

Page 275: Laboreal, Volume 15 Nº2

BIBLIOGRAFIA

Só mencionamos aqui os artigos mais recente e mais importantes. Para uma bibliografia mais

completa reportar-nos-emos ao livro de Chapanis e ao final dos artigos citados.

Obra completa

A. Chapanis, W. R. Garner, C. T. Morgan: Applied experimental psychology. Uma das raras obras

que faz o ponto da situação das pesquisas sobre a «Human Engineering». Bibliografia abundante

sobre todas as questões.

Artigos

A. Chapanis: Applied experimental psychology (Personnel psychology. Vo.5. nº1, Spring 1952.

Fitts: Psychological research on equipement in the A. A. F.

Fitts and Simon: Some relations between stimulus patterns and performance in a continuous dual

pursuit task (Jounal of experimental psychology, June 1952).

C. B. Gibbs: A new indicator of machine tool travel (Occupational psychology, october 1952).

E. C. Poulton: Perceptual anticipation in tracking with two-pointer and one-pointer displays

(British jornal of psychology, August 1952).

Dimensional analysis of motion (Journal of applied psychology) :

Effects of laterality and movement direction (Davis, Wehrkamp, Smith) – Oct. 1951.

Travel-distance effects (Wehrkamp and Smith) – June 1952.

Complexity of movement pattern (Rubin, Treba, Smith) – August 1952.

Transfer effects and direction of movements (Treba, Smith) – Oct. 1952.

Resumos de artigos relativos ao «Human Engineering»:

Année psychologique : Certas rubricas no interior da parte «Psychologie appliquée» são

reservadas à Adaptação do máquina ao homem. Cf. No número de 1949, 93: Lecture d’instruments ;

94 : Lisibilité de texts.

Annual Review of Psychology. No capítulo «Industrial psychology», redigido por Brown et

Ghiselli, um parágrafo é reservado aos trabalhos relativos à «Human Engineering».

NOTAS

1. Nota do Tradutor: Chariot - carrinho porta ferramenta que se desloca ao longo do torno,

referido em muitos sítios pelo nome francês.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

274

Page 276: Laboreal, Volume 15 Nº2

Adaptación de la máquina alhombreAdaptação da Máquina ao Homem

Adaptation de la machine à l'homme

Adaptation of Machine to Man

Jacques Leplat

Tradución : Nicolás Canales Bravo

REFERENCIA

Texto original : Leplat, J. (1953). Adaptation de la machine à l’homme. Bulletin du Centre

d'études et recherches psychotechniques, 2(1), pp. 35-39.

1 La psicología industrial estadounidense ha desarrollado durante los últimos años un

conjunto de investigaciones que suelen ser agrupadas con el nombre de Human

Engineering. Evidentemente no es nuestra intención juzgar aquí cual es para los EstadosUnidos el significado económico y social de este esfuerzo ; nuestro fin es de dar unamirada general de los trabajos que se han publicado en este campo y mostrar el interésque éstos tienen para nosotros.

2 Primero es necesario definir a esta disciplina nueva y compleja. La traducción de Human

Engineering es difícil de realizar. Si se traducen los sinónimos en inglés, se obtendría“biomecánica, psicofísica aplicada, psicotecnología, psicología de la mecanización”. EnFrancia hemos propuesto “Adaptación de la maquina al hombre”. Aunque estaexpresión no es totalmente satisfactoria, la hemos adoptado porque tiene la ventaja deser simple. Si hemos querido poner a esta nueva rama de la psicología un título quediera cuenta a la vez de su método y de su objeto de estudio, habría que elegir“psicología experimental aplicada” (Chapanis 1-2), agregando “…a las relaciones delhombre y de la maquina”. Pero, mejor que una definición, será el análisis de losorígenes de la Human Engineering que nos permitirá introducir su dominio y sus

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

275

Page 277: Laboreal, Volume 15 Nº2

principios. Se encuentra en la confluencia de tres campos de investigación (1) : elestudio de los tiempos y movimientos, la selección y la psicología experimental.

3 Los ingenieros de los tiempos y los movimientos fueron los primeros en examinar de

una manera sistemática las relaciones del hombre y de la máquina. Por ejemplo, losestudios de los movimientos, de los cuales los Gilberth fueron los iniciadores, sededicaron al análisis de los gestos y al descubrimiento de cuáles son los que resultanmás económicos. En la medida que estos estudios contribuyeron al diseño de máquinas,de herramientas, de lugares y condiciones de trabajo, podemos decir que éstos dabancuenta de la “Adaptación de la maquina hombre”

4 La selección constituye otro enfoque de los problemas profesionales. Ella parte de la

constatación que todos los hombres realizan de la misma manera todas las tareas, porlo cual debe ser posible de encontrar a los individuos más capaces ejecutar a cada unade ellas ; conociendo al hombre y al trabajo se trata entonces de “emparejarlos” mejor.La perspectiva en la cual se ubica la Human Engineering es totalmente diferente. Lo quele interesa no es la elección de un individuo para un trabajo determinado, sino laorganización de este trabajo, de tal manera que el mayor número posible de individuossea capaz de ejecutarlo. Esta distinción es importante para comprender bien la Human

Engineering. Sin embargo, y aunque apunta a otros fines, la selección había preparado lavía para esta nueva disciplina en la medida que ella había originado estudios sobre lospuestos de trabajo y las tareas.

5 La psicología experimental, a pesar de su larga historia, apenas había salido del

laboratorio hasta hace poco, lo que no había sido sin limitar significativamente elalcance de sus descubrimientos. Ella hacia parecer que el estudio del trabajo tenía queapelar a la experimentación para progresar. En Estados Unidos, este encuentro de lapsicología experimental con los problemas del trabajo se produjo durante la últimaguerra. Obligados de salir de su laboratorio, los experimentalistas empezaron acontactarse con los ingenieros de los tiempos y los movimientos y con los psicólogosencargados de la selección. Enfrentados a problemas en la utilización de aparatostécnicos, buscaban a resolver estos problemas por estudios experimentales. Lacomplejidad de algunos dispositivos modernos, como los fuselajes de aviones,demostraba que se había llegado al límite de las posibilidades humanas. Las medidas deselección se volvían ineficaces, haciendo necesario repensar la terminación de losdispositivos. Esto sólo podría hacerse a partir de principios que la experiencia de losindividuos puede entregar. Así nació la Human Engineering, la cual iba ser cada vez másimportante dentro de las grandes empresas.

6 Entre los variados aspectos de esta nueva rama de la psicología industrial, nos

detendremos en los que tienen mayor relación con los asuntos psicotécnicos que nosinteresan.

7 En el trabajo se combinan en general elementos perceptivos y motores. Es así que, para

lograr una determinada operación, es necesario disponer de un cierto número deinformaciones (percepciones) para poder ejecutar la sucesión de los gestosconvenientes. Imaginemos lo que es trabajar dentro de una máquina : somos puestosahí para distinguir, de una manera más o menos sistemática, las operaciones de controly las operaciones de comandos : las operaciones de control consisten en reconocertodos los índices, visuales, auditivos, directos o entregados por instrumentos, quedirigirán las maniobras sucesivas (operaciones de comando) para terminar una pieza.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

276

Page 278: Laboreal, Volume 15 Nº2

Por lo tanto, dos grandes grupos de investigación sobre la adaptación de la máquina alhombre estudiarán los dispositivos de control y los sistemas de mando.

8 El primero a menudo presenta en principio un aspecto fisiológico. Cuando se utiliza la

percepción, es necesario conocer los mecanismos sensoriales que la condicionan parasaber bajo qué circunstancias son más eficaces. Así, teniendo que decidir sobre el colorde las señales luminosas que se pueden utilizar en la noche, es necesario contar coninformación sobre la visión nocturna de los colores en general ; es sólo entonces, y apartir de estos datos, que podremos experimentar diferentes tipos de señales. Vemoscómo los datos fisiológicos y aparentemente teóricos se entrelazan en el estudio deltrabajo.

9 Numerosas investigaciones sobre la “Adaptación de la maquina al Hombre” caen dentro

de este dominio de las señales. Si recordamos que estos estudios tuvieron inicialmentepor objetivo mejorar las cabinas de mando de los aviones, se entiende la importancia delos trabajos acerca de la legibilidad de los contadores (1.3). Estas investigaciones sonparticularmente interesantes, tanto por el método utilizado como por los resultadosobtenidos. Por ejemplo, Fitts y Jones hicieron primero una investigación con pilotos conla finalidad de saber cuáles son los errores cometidos en la lectura de los indicadores devuelo. Luego intentaron de clasificar estos errores bajo un cierto número de temas(confusión entre las agujas de un mismo indicador, confusión de las graduaciones,indicador tomado por otro, etc). Es así que fue estudiada la influencia, sobre una buenalectura, de la forma de los indicadores, de la escala utilizada, del número de referenciasde esta escala, del sentido de rotación de las agujas, de la disposición del conjunto de losindicadores, etc… Siempre dentro de los dispositivos relativos a la visión, los psicólogosde la Human Engineering buscaban si los datos deberían ser entregados sobre un gráficoen lugar de una tabla, intentando de descubrir el mejor tipo de esquema, los caracterestipográficos más legibles dentro de las condiciones específicas. En el dominio auditivohay que señalar los trabajos relativos al enmascaramiento de sonido (sound masking),importantes para la radio-comunicación. A pesar que estas investigaciones no entreganaun conclusiones definitivas, iluminan un dominio bastante oscuro hasta el presente.

10 El beneficio que podemos extraer de estos estudios aparece de una manera más

evidente en un artículo de Gibbs (5), dedicados a los indicadores de traslación de lasmaquinas-herramientas. Se sabe por ejemplo que un torno (chariot du tour) estácontrolado por dos manivelas equipadas de un tambor graduado. Cualquiera que hayautilizado un torno probablemente se haya dado cuenta de las dificultades que implica eluso correcto de estos tambores. Una de ellas se debe a que después de un giro completode la manivela, el tambor vuelve a la graduación inicial. También, cuando se tiene quecolocar el carro sobre una cierta distancia y luego se quiere volver embestir la pieza enel mismo lugar, no se puede confiar únicamente en las indicaciones del tambor, ya quede lo contrario se estaría expuesto a cometer errores en un número entero de giros. Enalgunos casos, esta falta de información requiere el uso de instrumentos de mediciónexternos (calibre, palma) o cálculos, todos los cuales requieren mucho tiempo. Gibbsestudia experimentalmente este problema comparando el dispositivo clásico consistemas reales. A pesar del escaso número de sujetos, este estudio es muy interesante :involucra a profesionales, aprendices y estudiantes, lo que permite comparaciones másricas. De este modo, muestra todos los beneficios que se pueden derivar de un estudiodesde el trabajo hasta la experimentación.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

277

Page 279: Laboreal, Volume 15 Nº2

11 Después de haber examinado la forma de obtener información de la máquina, veamos

otro capítulo importante de la Human Engineering que se refiere a la utilización de estamáquina, es decir, a las operaciones que deben llevarse a cabo una vez que se harecogido la información necesaria. Esta cuestión puede ser considerada de dos manerasdiferentes dependiendo de si partimos del ser humano o de la máquina. En el primercaso, nos preguntamos : "¿Cuáles son los movimientos que el hombre puede hacer ?¿Cómo los hace ? En el segundo caso, examinaremos en su lugar : "¿cómo clasificar losdiferentes tipos de mandos ? Ninguno de estos puntos de vista es suficiente por sí solo ydeben complementarse entre sí.

12 Como aquí no se trata de entregar una clasificación detallada de todo lo que se ha hecho

en este dominio, quisiéramos solamente exponer dos tipos de investigación que sedestacan bastante. Sabemos que numerosas tareas exigen manejar aparatos de mandosin mirarlos, porque, al mismo momento, por ejemplo, hay que supervisar lasindicaciones de un contador. Si muchos mandos se encuentran dentro del mismo lugar,existe el peligro de confusión ; ¿cómo evitarlo ? En el pilotaje de avión, este problemade discriminación de posición de los componentes se plantea de forma imperiosa. Fittsse imaginó poniendo dentro de una sala que tiene la forma de una célula de avión uncierto número de “blancos”, parecidas a las grandes casetas de tiro, en diferentesalturas. Cada blanco correspondía a una letra con un código que el piloto aprendía demanera previa ; este último era luego dotado de lentes opacos y debía localizar el puntocentral de estos blancos. Para cada posición de los blancos, se podía entonces ver laimportancia y la localización de los errores. Así, era posible de apreciar las diferenciasde posiciones percibidas para un lugar dado del operador. Posteriormente estasobservaciones hicieron saber a qué distancia los diferentes mandos debían encontraselos unos de los otros para reducir los riesgos de confusión al mínimo, siguiendo suposición respecto al operador.

13 Un segundo tipo de trabajos que es objeto de una literatura importante, abordó el

estudio de los movimientos de ajuste para la ayuda de experiencias de continuación

(tracking) (1, 4, 6). Se sabe que numerosas tareas exigen tales movimientos, de ahí elinterés para estas investigaciones. Estas experiencias consisten generalmente en que elsujeto se inhiba ante un objeto que se mueve de manera impredecible, dentro de ciertos

límites, o de seguir a este objeto. Así dentro de un indicador una aguja de desplaza deuna manera determinada pero desconocida para el sujeto. Otra aguja, dirigida por elsujeto debe seguir con la mayor precisión posible los movimientos de la primera. Estasegunda aguja se dirige mediante un volante o un botón. Un sistema de registro entregagráficamente, a cada instante, la posición de ambas agujas. Las experiencias de este tipopermiten de estudiar numerosos factores (naturaleza del estímulo, modelo delestímulo, lugar relativo del mando y del estímulo, por ejemplo), los cuales resultaindispensable conocer su importancia si se quiere organizar tareas de esta naturaleza.

14 Otras investigaciones han puesto en relieve el interés la importancia de tener en cuenta

los movimientos dominantes, es decir movimientos logrados de forma natural por elindividuo, cuando ninguna consigna le ha sido entregada. También se mostró dentro delos estudios sobre el realismo de mandos que no es irrelevante si, dentro de unasituación dada, un botón o una palanca en particular se mueve en una cierta dirección.

15 Estos son sólo algunos tipos de investigaciones que entran en el marco del Human

Engineering. Esta revisión está lejos de ser exhaustiva debido que aquí importaba másdar una idea general de estas investigaciones que de enumerar a cada una. Podemos

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

278

Page 280: Laboreal, Volume 15 Nº2

identificar en estos diferentes trabajos elementos de un método que vamos a intentarde precisar ciertos aspectos. En el origen, encontramos casi siempre un estudio detrabajo muy minucioso ; conducido por procedimientos variados, observaciones,cuestionarios, análisis de errores, etc… estos permiten identificar un cierto número defactores y de proponer hipótesis. Es entonces cuando hay que recurrir a laexperimentación, la cual no es un ejercicio gratuito sino una fase importante delproceso de estudio del trabajo. Es a este nivel de la investigación que pueden serutilizados los métodos estadísticos, ya sea para pensar la experimentación, deorganizarla, sobre un esquema que hace la explotación fácil y fructuosa, o para verificarlas hipótesis formuladas. Los métodos de análisis de varianza encuentran ahí unaaplicación de elección. Permiten especialmente de probar el significado de losdiferentes factores y de sus interacciones. Sin embargo, lo que parece característico delos estudios de la Human Engineering, es que ellos no se detienen generalmente endeterminar la influencia de los factores, sino que intentan de descubrir para cada unoun valor óptimo. Es así que, para el estudio de los movimientos rotativos, por ejemplo,no se busca solamente saber la influencia del radio de la manivela en el mayor númerode revoluciones que el sujeto puede ejecutar cada minuto sino también, si lascondiciones son las mismas, conocer cuál es el radio que permitirá el mayor número derevoluciones. En los estudios de espaciado de las referencias sobre un indicador demando, se buscará de la misma manera, la influencia de la distancia entre lasreferencias y luego la distancia optima, es decir lo que reduce al mínimo el número deerrores (1). Parece que esta investigación de lo óptimo es característica de la“Adaptación de la máquina al hombre” : es ahí que ella se distingue de la perspectiva dela selección. A esta última le importa principalmente poner en evidencia la influenciade los factores que intervienen dentro del sistema hombre-maquina. Los psicólogos delHuman Engineering van más lejos ya que tratan de repensar la organización de estesistema y de establecerlo sobre bases más racionales. Si es bastante evidentes que losproblemas de trabajo industrial no pueden reducirse únicamente a problemas deutilización de máquina, no es menos cierto que tales estudios pueden aportarelementos interesantes a una organización más humana del trabajo ; vemos enparticular todo el interés que ellas presentan para la adaptación de puestos de trabajo alos sujetos deficientes.

16 Este panorama de la Human Engineering resulta forzosamente incompleto dada la

perspectiva adoptada y los objetivos de este artículo. Puede haber sido suficiente paramostrar que es una ciencia joven, que ha todavía explorado únicamente dominioslimitados y cuyos descubrimientos guardan a menudo un aspecto fragmentario. Susiniciadores son por otro lado conscientes y no dejan de subrayar los progresos quequedan por lograr antes de llegar a una síntesis general. Ahora mismo, sin embargo, sehan obtenido resultados válidos y un método de investigación ha tomado forma. Encuanto a nosotros, aunque es obvio que no es posible situarnos actualmente en laperspectiva de la Human Engineering, podemos beneficiarnos de sus trabajos y susmétodos. Nos da los medios para llegar a un mejor conocimiento de las tareasindustriales para los cuales tenemos que seleccionar a los candidatos. Además, laintroducción de la experimentación dentro del estudio del trabajo, dominio donde elempirismo ha sido durante mucho tiempo la única regla, permitirá sin duda de realizarimportantes progresos tanto sobre los planos puramente técnico (mejoramiento delmaterial) y pedagógico (aprendizaje más racional de la tarea) que sobre el plano másestrictamente psicológico (orientación y selección).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

279

Page 281: Laboreal, Volume 15 Nº2

BIBLIOGRAFÍA

Solo hemos mencionado aquí los artículos más recientes y los más importantes. Para una

bibliografía más completa nos referiremos al libro de Chapanis y al final de los artículos citados.

Obra general

A. Chapanis, W. R. Garner, C. T. Morgan : Applied experimental psychology. Una de las pocas obras

que presentan de manera general las investigaciones de la “ Human Engineering ». Bibliografía

abundante sobre todas estas cuestiones.

Artículos

A. Chapanis : Applied experimental psychology (Personnel psychology. Vo.5. nº1, Spring 1952.

Fitts: Psychological research on equipement in the A. A. F.

Fitts and Simon: Some relations between stimulus patterns and performance in a continuous dual

pursuit task (Jounal of experimental psychology, June 1952).

C. B. Gibbs: A new indicator of machine tool travel (Occupational psychology, october 1952).

E. C. Poulton: Perceptual anticipation in tracking with two-pointer and one-pointer displays

(British jornal of psychology, August 1952).

Dimensional analysis of motion (Journal of applied psychology):

Effects of laterality and movement direction (Davis, Wehrkamp, Smith) – Oct. 1951.

Travel-distance effects (Wehrkamp and Smith) – June 1952.

Complexity of movement pattern (Rubin, Treba, Smith) – August 1952.

Transfer effects and direction of movements (Treba, Smith) – Oct. 1952.

Artículos que haceun unq revisión de la literatura de la “ Human Engineering » :

Année psychologique : Ciertas rubricas al interior de la parte “Psychologie appliquée” que son

reservadas a la Adaptación de la máquina al hombre”. Cf. En el número de 1949, 93 : Lecture

d’instruments ; 94 : Lisibilité de texts.

Annual Review of Psychology. Número del capítulo “ Industrial psychology », escrito por Brown y

Ghiselli, un párrafo está dedicado a los trabajos de la “ Human Engineering ».

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

280

Page 282: Laboreal, Volume 15 Nº2

DatárioEfemérideÉphéméride Datary

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

281

Page 283: Laboreal, Volume 15 Nº2

O processo do reconhecimento dasilicose como fenómeno socialMarianne Lacomblez

1 Três das contribuições publicadas no Datário deste número de Laboreal descrevem e

analisam três processos relativos ao reconhecimento médico-legal da silicose comodoença profissional : três experiências nacionais, com as suas especificidades edinâmicas históricas próprias, na Bélgica, no Brasil e em Portugal.

2 A silicose foi considerada, em razão do número de vítimas que ocasionou, como a mais

grave doença profissional do século XX. Mas tal ameaça continua a pairar ainda, nestenovo século, sobre muitos países, de vários continentes, e particularmente sobreaqueles que hoje são considerados, no quadro do desenvolvimento económico mundial,como países emergentes.

3 O reconhecimento desta “doença dos pós” como doença profissional, conheceu

processos longos e, não raras vezes, atribulados. Tal como o ilustram as análises queseguem, a questão central nunca foi exclusivamente de ordem médico-legal, uma vezque a reparação dos danos (e sua dimensão financeira) envolvia uma negociação naqual o social, o económico e o político tinham inevitavelmente um papel determinante.Aliás, o desfecho resultará em geral de dinâmicas de confronto, direto ou indireto,entre os interesses das entidades empregadoras e a salvaguarda de direitos dostrabalhadores.

4 Porém, se o reconhecimento da silicose como doença do e no trabalho constitui uma

verdadeira conquista social, mais de que impor a importância das políticas deprevenção e de melhoria das condições e da organização do trabalho, acabaráfrequentemente por manter, e talvez reforçar, a ideia do seu carácter inevitável noâmbito de determinada atividade económica. Trata-se de questões quase endémicas àproblemática das doenças profissionais, que reencontramos se tivermos em atenção oque acontece com a exposição de inúmeros trabalhadores a uma larga variedade deprodutos tóxicos (dos quais muitos são cancerígenos) e, por exemplo, à exposição aoamianto - um dos maiores problemas da nossa contemporaneidade.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

282

Page 284: Laboreal, Volume 15 Nº2

5 Nesse último caso, o campo da “saúde no trabalho” se insere claramente no domínio da

“saúde pública”, realçando assim um dos maiores desafios que se coloca atualmente aosinvestigadores e aos atores da prevenção. Desejamos, pois, que a leitura destes textosenriqueça a vossa reflexão.

AUTOR

MARIANNE LACOMBLEZ

Centro de Psicologia da Universidade do Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação,

Universidade do Porto. Rua Alfredo Allen, 4200-135, Porto, Portugal

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

283

Page 285: Laboreal, Volume 15 Nº2

El proceso de reconocimiento de lasilicosis como fenómeno socialMarianne Lacomblez

1 Tres de las aportaciones publicadas en la Efeméride de este número de Laboreal,

describen y analizan tres procesos relativos al reconocimiento médico-legal de lasilicosis como enfermedad profesional : tres experiencias nacionales, con susespecialidades y dinámicas históricas propias, en Bélgica, en Brasil y en Portugal.

2 La silicosis fue considerada, en razón del número de víctimas que provocó, como la más

grave enfermedad profesional del siglo XX. Pero tal amenaza sigue permaneciendotodavía en este nuevo siglo, en muchos países de diferentes continentes yparticularmente en aquellos que son hoy considerados, en el marco del desarrolloeconómico mundial, países emergentes.

3 El reconocimiento de esta "enfermedad de los polvos" como enfermedad profesional,

ha conocido procesos largos y no pocas veces agitados. Tal como lo ilustran los análisisque se presentan a continuación, la cuestión central nunca fue exclusivamente deorden médico-legal, puesto que la reparación de los daños (y su dimensión financiera)implicaba una negociación en la cual lo social, lo económico y lo político tenían,inevitablemente, un papel determinante. De hecho, el desenlace resultará, en general,de dinámicas de enfrentamiento, directo o indirecto, entre los intereses de losempleadores y la salvaguardia de los derechos de los trabajadores.

4 Sin embargo, si el reconocimiento de la silicosis como enfermedad del y en el trabajo

constituye una verdadera conquista social, más que imponer la importancia de laspolíticas de prevención y de mejoría de las condiciones y de la organización del trabajo,acabará con frecuencia por mantener, y quizá reforzar, la idea de su carácter inevitableen el ámbito de una determinada actividad económica. Se trata de cuestiones casiendémicas de la problemática de las enfermedades profesionales, que reencontramos sitenemos en atención lo que sucede con la exposición de numerosos trabajadores a unaamplia variedad de productos tóxicos (de los cuales muchos son cancerígenos) y, porejemplo, a la exposición al amianto - uno de los principales problemas de nuestracontemporaneidad.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

284

Page 286: Laboreal, Volume 15 Nº2

5 En este último caso, el campo de la "salud en el trabajo" se inscribe claramente en el

dominio de la "salud pública", realzando, así, uno de los mayores desafíos planteadosactualmente a los investigadores y a los actores de la prevención. Deseamos, pues, quela lectura de estos textos enriquezca vuestra reflexión.

AUTOR

MARIANNE LACOMBLEZ

Centro de Psicología de la Universidad de Porto, Facultad de Psicología y de Ciencias de la

Educación, Universidad de Porto. Rua Alfredo Allen, 4200-135, Porto, Portugal

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

285

Page 287: Laboreal, Volume 15 Nº2

Bélgica, 24 de dezembro de 1963: oreconhecimento da silicose comodoença profissionalEric Geerkens

1 A lei de 24 de dezembro de 1963 põe termo a quase quatro décadas em que a Bélgica se

destacou pelo seu sistema de indemnização das doenças profissionais. Esta lei vaimodificar profundamente uma outra de 1927, criticada desde a sua aprovação, e incluira indemnização da silicose dos mineiros, até então excluída da lei para ser contempladano quadro de uma reforma antecipada por invalidez.

1. Características e fragilidades da lei de 24 de julhode 1927 relativa à indemnização dos danos causadospor doenças profissionais

2 Tal como em inúmeras economias industrializadas, a indemnização por doenças

profissionais surge posteriormente à dos acidentes de trabalho, devido à especialdificuldade da atribuição da responsabilidade. A lei belga de 1927, "uma das poucas leisque obtiveram unanimidade no Parlamento", tem um carácter meramente transacionale não deve ser de modo nenhum considerada uma “grande vitória” dos trabalhadores,apesar de as organizações sindicais terem conseguido que a entidade patronal fossereconhecida como a única responsável por essas doenças profissionais e, por issomesmo, a única a financiar a indemnização.

3 O reduzido âmbito de aplicação da lei (as únicas três doenças contempladas são as

incluídas na Convenção Internacional do Trabalho nº 18 de 1925) foi, em teoria,atenuado pela perspetiva de um alargamento da lista de doenças objeto deindemnização de que uma secção do Fundo de Previdência das Vítimas de Doenças

Profissionais ficou especificamente incumbida, a saber, a Comissão Técnica. No entanto,a entidade patronal mantém aí uma garantia substancial na aprovação das decisõesdessa comissão técnica. A inclusão de uma doença na lista exigia maiorias específicas :

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

286

Page 288: Laboreal, Volume 15 Nº2

ou o voto dos três médicos que integram a Comissão ou o voto de representantes decada um dos grupos. Tendo em conta que a composição dessa comissão incluía sempreum médico de empresa, o patronato dispunha assim de um direito de veto, caso fosseimposta uma disciplina de voto. Como a lei belga se baseia numa lista dupla, as doençasconsideradas profissionais e os sectores que causam exposição, o veto da ComissãoTécnica podia incidir em qualquer destas vertentes.

4 A lei observava o princípio da responsabilidade coletiva por sector causador da

exposição, mas o patronato defendeu desde o início que "os grupos industriaisresponsáveis por suportar os encargos dos sinistros devem estar extremamente bemdefinidos", defendendo uma diferenciação entre subsectores causadores sempre queexequível, por exemplo, dentro da própria empresa, entre as diferentes atividadesprodutivas. Esta delimitação restritiva da responsabilidade deu imediatamente origema dificuldades práticas na cobrança das contribuições, gerando uma grandeheterogeneidade de escalões e problemas de financiamento no caso de o sector serpequeno e de risco elevado. A um patronato com uma visão restritiva da atribuição daresponsabilidade, os funcionários dirigentes do Fundo de Previdência contrapuseramuma forma de solidariedade que obrigava a que o pagamento das indemnizações fossesuportado por todo o patronato, o que vigorou desde 1941. Isto resultou, durante muitotempo, em protestos das empresas que se viam obrigadas a pagar mais do que os custosdos danos que causavam.

5 Dado que a responsabilidade das empresas causadoras de exposição ao risco assentava

na declaração da respetiva entidade patronal, as constantes subdeclarações privaram oFundo, sem meios de controlo adequados, de uma parte significativa das receitas quelhe eram devidas.

6 Com meios financeiros estruturalmente insuficientes, as indemnizações às vítimas

acabam por ser em número reduzido : ao longo dos cerca de trinta e cinco anos deatividade, o Fundo só indemnizou 5174 vítimas das 13190 declaradas, ou seja, uma taxamédia de aceitação de 39 % durante todo esse período. A avaliação da invalidez tambémvai ser muito parca : entre 1930 e 1937, em 85 % dos casos, fixou-se abaixo dos 50 % deinvalidez (Moldaver, 1939, p. 130).

7 A situação permanentemente deficitária do Fundo vai impedi-lo de continuar com uma

política de prevenção assente em incentivos financeiros, ao ponto de aresponsabilização coletiva por ramo levar a comportamentos oportunistas.

8 À vontade dos sindicatos de que fosse unicamente a entidade patronal a suportar os

encargos das indemnizações das doenças profissionais, este sector respondeu que sóaceitava pagar os custos das doenças profissionais pelas quais fosse o únicoresponsável. Estas posições de princípio e as correspondentes implicações técnicascontribuíram para uma certa paralisação do Fundo, cuja reforma foi protelada peladecisão de não incluir nele a silicose dos mineiros e pela dificuldade de inverter essasituação.

2. O acordo Delattre de 1937 para os trabalhadoresmineiros

9 No quadro da elaboração da lei de 1927, o patronato do sector mineiro do carvão foi o

único que conseguiu fazer ouvir uma forte oposição e obteve que nem o nistagmo nem

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

287

Page 289: Laboreal, Volume 15 Nº2

a ancilostomíase nem o enfisema pulmonar constassem da lista das doenças suscetíveisde indemnização.

10 Quando, em 1934, o Secretariado Internacional do Trabalho (BIT) propõe a inclusão da

silicose na lista das doenças profissionais suscetíveis de indemnização[1], as entidadespatronais desse sector não pararam de tentar eximir as empresas mineiras do carvão daobrigação de indemnizar as patologias respiratórias dos mineiros como doençasprofissionais. Chegaram até a financiar um grande estudo com o objetivo de provar ainexistência de silicose no sentido restrito que tinha sido aprovado numa conferênciado Secretariado Internacional do Trabalho realizada em Joanesburgo em 1930. Asgreves de 1936 vão, no entanto, levantar de novo a questão da silicose na ComissãoTécnica do Fundo de Previdência. O presidente desta comissão, pressentindo osobstáculos que a referência à silicose poderia levantar, propôs que não se utilizasse essapalavra, mas antes a categoria genérica de "pneumoconioses" que facilitava a inscriçãona lista das doenças suscetíveis de indemnização. A probabilidade de inclusão das minasde carvão nos sectores originadores da pneumoconiose aumentava. E foi então que opatronato tirou da manga uma solução alternativa.

11 Concluiu-se um acordo entre a Federação patronal e o Ministro do Trabalho, ele próprio

antigo presidente da principal central sindical de mineiros, que contemplava o direito areforma antecipada por invalidez em caso de pneumoconiose, a ser financiada por umaumento das cotizações de trabalhadores e patrões. Esta decisão, transposta para a lei,permitiu nomeadamente, indemnizar um maior número de vítimas, cujas pensõesforam revistas, mas sobretudo refinanciar o próprio Fundo Nacional de Pensões dosTrabalhadores Mineiros que tinha sido apanhado pelas medidas de racionalização que,para além de o terem privado das cotizações dos cerca de 50000 mineiros despedidos,levaram-no a incluir uma doença de proporções, na altura, desconhecidas : apneumoconiose dos mineiros, mais conhecida na Bélgica por silicose (Geerkens, 2009).

12 Este acordo vai vigorar de 1937 a 1963. Apesar das resoluções aprovadas pelos

congressos sindicais a favor de uma indemnização por doença profissional, não vaihaver grandes exigências nesse sentido até à catástrofe de Marcinelle em 1956 (262mortos, dos quais 136 italianos). A questão volta, então, a ser discutida no âmbito dacontratação coletiva (na Comissão Nacional Mista do Sector Mineiro) ; os sindicatosatêm-se, então, ao essencial do acordo de 1937. De facto, esse acordo facilita o direito auma indemnização por via da noção de "incapacidade de trabalhar no subsolo e nasuperfície", sem qualquer referência a uma patologia específica nem ao grau deinvalidez. Nesta medida, não implica pesados processos de avaliação e raramente dáorigem a grandes contenciosos. Na ausência de qualquer menção ao grau de invalidez, omineiro inválido tem direito à pensão por inteiro, calculada nos mesmos moldes doregime geral de pensões (Geerkens, 2014).

13 Depois do desastre de Marcinelle, um conjunto de fatores – a luta dos dois maiores

sindicatos pela indemnização da silicose, a perspetiva de encerramentos maciços deminas que ameaçam deixar desamparados mineiros doentes sem direito aindemnização por insuficiência de tempo de trabalho no subsolo, nos termos da lei de1937 – vai levar a uma redução do tempo de exposição que passa de 10 para 5 anos.

14 Posteriormente, vão entrar em ação as organizações dos mineiros italianos, apoiados,

por um lado, pelo seu governo (a lei Bitossi que indemniza os mineiros italianos doentesque regressam a Itália) e, por outro, pelas forças progressistas belgas e ainda aintegração económica europeia pela via da CECA e da CEE (segurança social dos

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

288

Page 290: Laboreal, Volume 15 Nº2

trabalhadores migrantes) para, finalmente, se chegar, em 1963, à revisão do regime dasdoenças profissionais.

3. As características gerais da Lei de 24 de dezembrode 1963

15 A revisão concomitante da lei de 1927 e da indemnização da silicose demorou muito a

concluir-se, e só dificilmente as organizações sindicais e os seus intermediáriospolíticos conseguiram contrariar os vários meios e estratégias dilatórias do patronato.Essa lentidão deveu-se muito à importância vital do carvão como principal fonte deenergia industrial e doméstica até ao início da década de 1960.

16 A lei aprovada em dezembro de 1963 vai dar origem a uma dupla reforma : por um lado,

a integração das doenças profissionais no regime geral da segurança social e ofinanciamento do novo Fundo de Doenças Profissionais por meio de uma contribuiçãopaga por todas as entidades patronais ; por outro, a inclusão da silicose dos mineiros nalista das doenças profissionais. Esta inclusão só foi conseguida na condição de o Estadose comprometer a suportar 50 % dos custos das indemnizações, comparticipação queserá aumentada para 65 % em 1970. É, portanto, toda a sociedade que vai suportar oscustos para a saúde de uma atividade que está nas mãos do sector privado, visto que, naBélgica, as minas de carvão nunca foram nacionalizadas. As indemnizações da silicoserepresentam 87,5 % do total das indemnizações pagas durante os primeiros vinte ecinco anos de funcionamento do novo Fundo de Doenças Profissionais, e constituíram aprincipal atividade deste organismo (Ugeux, 1995, p. 12).

BIBLIOGRAFIA

Geerkens, E. (2009). Quand la silicose n’était pas une maladie professionnelle. Genèse de la

réparation des pathologies respiratoires des mineurs en Belgique (1927-1940). Revue d’histoire

moderne et contemporaine, 56(1), 127‑141. https://doi.org/10.3917/rhmc.561.0127

Geerkens, E. (2014). La négociation collective d’une maladie professionnelle : la pneumoconiose

des ouvriers mineurs en Belgique (c. 1937- c. 1970). In J. Rainhorn (Dir.), Santé et travail à la mine,

XIX-XXIe siècles (pp. 59-79). Villeneuve d’Ascq : Presses Universitaires du Septentrion.

Moldaver, J. (1939). Le problème social des maladies professionnelles et sa solution en droit belge.

Bruxelles : Falk.

Ugeux, J. (1995). L’assurance contre les maladies professionnelles. In Ministère de la prévoyance

sociale : Cinquante ans de sécurité sociale… et après  ? vol. 5  : Quand le travail nuit à la santé (pp. 11-42).

Bruxelles : Bruylant.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

289

Page 291: Laboreal, Volume 15 Nº2

NOTAS

1. Convenção OIT nº 42, relativa às doenças profissionais (modificada em 1934), que entrou em

vigor a 17 de junho de 1936.

AUTOR

ERIC GEERKENS

Département des sciences historiques. Faculté de Philosophie et Lettres. Université de Liège. Quai

Roosevelt, 1B (bât A4) – 4000 Liège, Belgique

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

290

Page 292: Laboreal, Volume 15 Nº2

Bélgica, 24 de diciembre de 1963:reconocimiento de la silicosis comoenfermedad profesionalEric Geerkens

1 La ley del 24 de diciembre de 1963 pone fin a casi cuatro décadas en las que Bélgica se

destacó por su sistema de indemnización de enfermedades profesionales. Esta ley va amodificar profundamente otra ley de 1927, criticada desde su aprobación, e incluir laindemnización de la silicosis de los mineros, hasta entonces excluida de la ley, para serconsiderada en el marco de la jubilación anticipada por discapacidad.

1. Características y fragilidades de la ley del 24 dejulio de 1927 sobre la indemnización de los dañoscausados por enfermedades profesionales

2 Tal como en numerosas economías industrializadas, la indemnización por

enfermedades profesionales surge posteriormente a la de los accidentes de trabajodebido a la especial dificultad de atribución de la responsabilidad. La ley belga de 1927,“una de pocas leyes que han obtenido unanimidad en el Parlamento”, tiene un caráctermeramente transaccional y no debe ser de ninguna manera considerada una “granvictoria” de los trabajadores, aunque las organizaciones sindicales hayan conseguidoque los patronatos fuesen reconocidos como los únicos responsables de esasenfermedades profesionales y, por eso mismo, los únicos a financiar la indemnización.

3 El reducido ámbito de aplicación de la ley (las únicas tres enfermedades contempladas

son las incluidas en el Convenio Internacional del Trabajo nº 18 de 1925) fue, en teoría,atenuado por la perspectiva de una ampliación de la lista de enfermedades objeto deindemnización de la cual una sección del Fondo de Previsión de las Victimas de

Enfermedades Profesionales ha quedado específicamente encargada, en concreto, laComisión Técnica. Sin embargo, los patronatos mantienen ahí una garantía substancialen la aprobación de las decisiones de esa comisión técnica. La inclusión de una

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

291

Page 293: Laboreal, Volume 15 Nº2

enfermedad en la lista exigía mayorías específicas : o el voto de los tres médicos queintegran la Comisión o el voto de representantes de cada uno de los grupos. Teniendoen cuenta que la composición de esa comisión incluía siempre un médico de empresa, elpatronato disponía así de un derecho de veto, caso se impusiera una disciplina de voto.Una vez que la ley belga se basa en una lista doble, las enfermedades consideradasprofesionales y las industrias que causan exposición, el veto de la Comisión Técnicapodría incidir en cualquier una de estas vertientes.

4 La ley cumple el principio de la responsabilidad colectiva por industria causadora de

exposición, pero el patronato defendió desde el inicio que “los grupos industrialesresponsables de la asunción de los costes de los accidentes deben estarextremadamente bien definidos”, defendiendo una diferenciación entre las sub-industrias causadoras siempre que sea factible, por ejemplo, dentro de la mismaempresa, entre las distintas actividades productivas. Esta delimitación restrictiva de laresponsabilidad ha originado inmediatamente dificultades prácticas en la recaudaciónde las cotizaciones, generando una gran heterogeneidad de escalones de cotización yproblemas de financiación en los casos en que la industria es de pequeña dimensión ode alto riesgo. A un patronato con una visión restrictiva en términos de la atribución dela responsabilidad, los empleados dirigentes del Fondo de Previsión contrapusieron unaforma de solidaridad que obligaba a que el pago de las indemnizaciones fuese soportadopor todo el patronato, lo que estuvo en vigor desde 1941. Esto resultó, durante muchotiempo, en protestas de las empresas que se vieron obligadas a pagar más que los costesde los daños que causaban.

5 Puesto que la responsabilidad de las empresas causadoras de exposición al riesgo se

basaba en la declaración del respectivo patronato, las constantes sub-declaracionesprivaron el Fondo, sin medios de control adecuados, de una parte significativa de losingresos que le eran debidos.

6 Con unos medios financieros estructuralmente insuficientes, las indemnizaciones a las

victimas acaban siendo en número reducido : a lo largo de los cerca de treinta y cincoaños de actividad, el Fondo solamente indemnizó a 5174 víctimas de las 13190declaradas, o sea, un porcentaje medio de aceptación del 39 % durante todo ese período.La evaluación de la discapacidad será también muy débil : entre 1930 y 1937, en el 85 %de los casos fue fijada por debajo del 50 % de discapacidad (Moldaver, 1939, p. 130).

7 La situación permanentemente deficitaria del Fondo le impedirá de seguir con una

política de prevención basada en incentivos financieros, hasta el punto de laresponsabilización colectiva por cada uno de los ramos llevar a comportamientosoportunistas.

8 A la voluntad de los sindicatos de que fuese únicamente el patronato a hacerse cargo de

las indemnizaciones por enfermedades profesionales, esta industria respondió que soloaceptaría pagar los costes de las enfermedades profesionales de las que fuese el únicoresponsable. Estas posiciones de principio y las correspondientes implicacionestécnicas contribuyeron a una cierta paralización del Fondo, cuya reforma fue aplazadapor la decisión de no incluir en este la silicosis de los mineros y por la dificultad derevertir esta situación.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

292

Page 294: Laboreal, Volume 15 Nº2

2. El acuerdo Delattre de 1937 para los trabajadoresmineros

9 En el marco de la elaboración de la ley de 1927, el patronato de la industria minera del

carbón fue el único que consiguió hacer oír una fuerte oposición y ha logrado que ni elnistagmo ni la anquilostomiasis ni el enfisema pulmonar figuraran en la lista de lasenfermedades susceptibles de indemnización.

10 Cuando, en 1934, la Oficina Internacional del Trabajo (BIT) propuso la inclusión de la

silicosis en la lista de las enfermedades profesionales susceptibles de indemnización[1],los patronatos de esa industria no pararon de intentar eximir las empresas mineras delcarbón de la obligación de indemnizar a las patologías respiratorias de los mineroscomo enfermedades profesionales. Llegaron incluso a financiar un gran estudio con elfin de probar la inexistencia de la silicosis en el sentido estricto que había sidoaprobado en una conferencia de la Oficina Internacional del Trabajo celebrada enJohannesburgo en 1930. Las huelgas de 1936 van, sin embargo, a plantear una vez másla cuestión de la silicosis en la Comisión Técnica del Fondo de Previsión. El presidentede esta comisión, presintiendo las trabas que la referencia a la silicosis podría plantear,propuso que esa palabra no fuese utilizada, pero antes la categoría genérica de“ neumoconiosis » que facilitaba la inscripción en la lista de las enfermedadessusceptibles de indemnización. La probabilidad de incluir a las minas de carbón en lasindustrias originadoras de neumoconiosis aumentaba. Y fue entonces que el patronatoconjeturó una solución alternativa.

11 Se celebró un acuerdo entre la Federación patronal y el Ministro del Trabajo, él mismo

antiguo presidente de la principal central sindical de mineros, en el que se contemplabael derecho a la jubilación anticipada por discapacidad en el caso de neumoconiosis, quese financiaría con un aumento de las cotizaciones de los trabajadores y empleadores.Esta decisión, transpuesta a la ley, ha permitido, entre otras cosas, indemnizar a unmayor número de víctimas, cuyas pensiones fueron revisadas, pero sobre todorefinanciar el mismo Fondo Nacional de Pensiones de los Trabajadores Mineros quehabía sido cogido por las medidas de racionalización que además de privarlo de lascotizaciones de los cerca de 50000 mineros despedidos, lo llevaron a incluir unaenfermedad de proporciones desconocidas en esa época : la neumoconiosis de losmineros, más conocida por silicosis en Bélgica (Geerkens, 2009).

12 Este acuerdo estuvo en vigor de 1937 hasta 1963. No obstante, las resoluciones

aprobadas por los congresos sindicales a favor de una indemnización por enfermedadprofesional, no habrá grandes exigencias en ese sentido hasta la catástrofe deMarcinelle en 1956 (262 muertos, de los cuales 136 italianos). El tema se vuelve adiscutir en el ámbito de la contratación colectiva (en la Comisión Mixta Nacional de laIndustria Minera) ; los sindicatos se atienen entonces al esencial del acuerdo de 1937.De hecho, ese acuerdo facilita el derecho a una indemnización mediante la noción de“incapacidad para trabajar bajo tierra y en la superficie”, sin cualquier referencia a unacondición específica o grado de discapacidad. Esta medida no conlleva pesados procesosde evaluación y pocas veces da lugar a litigios importantes. En ausencia de cualquiermención al grado de discapacidad, el minero discapacitado tiene derecho a la pensiónpor entero, calculada del mismo modo que el régimen general de pensiones (Geerkens,2014).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

293

Page 295: Laboreal, Volume 15 Nº2

13 Después del desastre de Marcinelle, un conjunto de factores - la lucha de los dos

sindicatos más grandes por la indemnización de la silicosis, la perspectiva de cierresmasivos de minas que amenazan dejar sin amparo mineros enfermos sin derecho aindemnización por insuficiencia de tiempo de trabajo en el subsuelo, de conformidadcon la ley de 1937 - va a conducir a una reducción del tiempo de exposición, que pasa de10 para 5 años.

14 Posteriormente, las organizaciones de los mineros italianos van a entrar en acción,

apoyadas, por un lado, por su gobierno (la ley Bitossi que indemniza a los minerositalianos enfermos que regresan a Italia) y, por otro, por las fuerzas progresistas belgasy aún por la integración económica europea mediante la CECA y la CEE (seguridad socialde los trabajadores migrantes) para, por fin, llegar a la revisión del régimen de lasenfermedades profesionales en 1963.

3. Las características generales de la Ley de 24 dediciembre de 1963

15 La revisión concomitante de la ley de 1927 y de la indemnización de la silicosis tardó

mucho tiempo en completarse y fue con mucha dificultad que las organizacionessindicales y sus intermediarios políticos contrarrestaron los varios medios y estrategiasdilatorias del patronato. Esa lentitud se debió en gran medida a la importancia vital delcarbón como principal fuente de energía industrial y domestica hasta el inicio de ladécada de 1960.

16 La ley aprobada en diciembre de 1963 conducirá a una doble reforma : por un lado, la

integración de las enfermedades profesionales en el régimen general de la seguridadsocial y la financiación del nuevo Fondo de Enfermedades Profesionales mediante unacontribución pagada por todos los patronatos ; por otro, la inclusión de la silicosis delos mineros en la lista de las enfermedades profesionales. Esta inclusión se logrósolamente bajo la condición de que el Estado se comprometiera a asumir el 50 % de loscostes de las indemnizaciones, una coparticipación que sería aumentada para el 65 % en1970. Es, por lo tanto, toda la sociedad la que asumirá los costes para la salud de unaactividad que está en las manos del sector privado, ya que en Bélgica las minas decarbón nunca han sido nacionalizadas. Las indemnizaciones de la silicosis representanel 87,5 % del total de las indemnizaciones pagadas durante los primeros veinte y cincoaños de funcionamiento del nuevo Fondo de Enfermedades Profesionales, yconstituyeron la principal actividad de este organismo (Ugeux, 1995, p. 12).

BIBLIOGRAFÍA

Geerkens, E. (2009). Quand la silicose n’était pas une maladie professionnelle. Genèse de la

réparation des pathologies respiratoires des mineurs en Belgique (1927-1940). Revue d’histoire

moderne et contemporaine, 56(1), 127‑141. https://doi.org/10.3917/rhmc.561.0127

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

294

Page 296: Laboreal, Volume 15 Nº2

Geerkens, E. (2014). La négociation collective d’une maladie professionnelle : la pneumoconiose

des ouvriers mineurs en Belgique (c. 1937- c. 1970). In J. Rainhorn (Dir.), Santé et travail à la mine,

XIX-XXIe siècles (pp. 59-79). Villeneuve d’Ascq : Presses Universitaires du Septentrion.

Moldaver, J. (1939). Le problème social des maladies professionnelles et sa solution en droit belge.

Bruxelles : Falk.

Ugeux, J. (1995). L’assurance contre les maladies professionnelles. In Ministère de la prévoyance

sociale : Cinquante ans de sécurité sociale… et après  ? vol. 5  : Quand le travail nuit à la santé (pp. 11-42).

Bruxelles : Bruylant.

NOTAS

1. Convenio nº 42 sobre las enfermedades profesionales (revisado en 1934), que entró en vigor el

17 de junio de 1936.

AUTOR

ERIC GEERKENS

Département des sciences historiques. Faculté de Philosophie et Lettres. Université de Liège. Quai

Roosevelt, 1B (bât A4) – 4000 Liège, Belgique

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

295

Page 297: Laboreal, Volume 15 Nº2

Portugal, 27 de abril de 1962 : avisibilidade da tragédia da silicosePortugal, 27 de abril de 1962: la visibilidad de la tragedia de la silicosis

Portugal, 27 avril 1962 : la visibilité de la tragédie de la silicose

Portugal, April 27, 1962: the visibility of the tragedy of silicosis

Augusto Rogério Leitão

Introdução

1 Em 27 de abril de 1962, foi adotado, pelo governo de Salazar, o Decreto-lei n.º 44307

relativo à silicose como doença profissional, que na época revestia dimensõessocialmente dramáticas. Esta legislação estabelecerá um regime especial para areparação dos danos sofridos pelos trabalhadores afetados por essa doença, que eramentão sobretudo mineiros. Cria, para isso, a Caixa Nacional de Seguros de DoençasProfissionais (CNSDP), como instituição da Previdência social, que terá por missõesprincipais gerir o seguro obrigatório e administrar os procedimentos que permitirãoindemnizar os trabalhadores e os seus familiares

2 Este decreto altera a Lei n.º 1942 de 27 de junho de 1936, que ainda estava em vigor em

1962 e que tinha sido adotada no contexto histórico da primeira fase do Estado Novocorporativo de Salazar (Constituição de 1933) e da instituição da respetiva Previdênciasocial : o Estatuto do Trabalho Nacional (Decreto-lei n.º 23048, de 23 de setembro de1933) e a Lei das Instituições de Previdência Social (Lei n.º 1884, de 16 de março, de1935), dentre as quais teremos de referir as Caixas Sindicais de Previdência de naturezacorporativa, criadas por iniciativa dos Grémios e dos Sindicatos Nacionais (Decreto n.º25935 de 12 de Outubro de 1935) (Amaro, 2008).

3 Tal sobressalto político em relação à situação sanitária da silicose, expressou-se, desde

logo, através da criação institucional dum seguro obrigatório gerido pelo Estado einserido nas missões da previdência social. Tal progresso, em relação à reparação e àproteção social dessa doença profissional, terá lugar na conjuntura histórica do Estadosalazarista dos finais dos anos 50, princípios dos anos 60 do século passado,

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

296

Page 298: Laboreal, Volume 15 Nº2

caracterizada por uma dinâmica de industrialização e de modernização do país.Dinâmica essa apoiada por certas elites do regime que defendiam uma abertura àEuropa (EFTA e CEE) e pelos grupos económicos que vinham se afirmando à sombra doregime ditatorial, tais como CUF, Champalimaud, Espírito Santo, Borges. Todavia, apartir de 1961-62 esses atores tiveram de integrar nessa dinâmica os problemassuscitados pelo início e pela continuação da guerra colonial em África (1961-1974).

1. Os primeiros passos da doutrina do “riscoprofissional”

4 Em Portugal, tal como nos outros países europeus, a legislação relativa à reparação dos

danos causados pelas doenças profissionais foi adotada após a dos acidentes detrabalho, que surgiu pouco tempo depois da implantação da República (5 de outubro de1910), através da Lei n.º 83, de 24 de julho, de 1913, atribuindo a responsabilidade (civil)objetiva ao empregador pelos acidentes de trabalho de que fossem vítimas ostrabalhadores ao seu serviço. Consagra assim a denominada doutrina do “riscoprofissional”, sem impor a obrigatoriedade de transferência da responsabilidadepatronal para uma seguradora ou entidade equivalente, pública ou privada. Adota, comefeito, o modelo da lei belga de 1903, ao estabelecer uma obrigatoriedade indireta deseguro traduzida na imposição, para os empregadores sem seguro, da constituição dumdepósito bancário como garantia de indemnizações e pensões eventualmente por elesdevidas.

5 Pouco tempo depois, o Decreto n.º 5637, de 10 de maio de 1919, instituirá “o seguro

social obrigatório contra os desastres no trabalho”, inserindo, neste modelo queconsagra o princípio de seguro obrigatório, as doenças profissionais, tal como eramentendidas na época [1]. Passa a abranger todas as atividades profissionais e o conceitode “desastre no trabalho” apreenderá “toda a lesão interna ou externa e todaperturbação nervosa ou psíquica, que resulte da ação duma violência exterior súbita,produzida durante o exercício profissional ; as intoxicações agudas produzidas durantee por causa do exercício profissional, e as inflamações das bolsas serosas profissionais ;e todos os casos de doenças profissionais devidamente comprovadas“ (art. 3º).

6 Contudo, este primeiro sistema de previdência social, assente em seguros sociais

obrigatórios, quer para os acidentes de trabalho (AT) e doenças profissionais (DP), querpara a doença, a velhice e a invalidez, nunca chegará a ser realmente implementado,por variadíssimas razões, quase todas elas relacionadas com as turbulências políticas esociais vividas nos finais da I República (Halpern-Pereira, 1999).

7 Aliás, em 25 de novembro de 1925, o Ministério do Trabalho e Previdência Social, que

tinha sido criado em 1916, é extinto e o golpe de estado militar de 28 de maio de 1926instituirá uma Ditadura Nacional que se prolongará até 1933, transformando-se, então,em Estado Novo [2].

8 Como facilmente se compreende, Portugal viverá durante esse período uma certa

indefinição legislativa, um quase vazio normativo, em relação à previdência social,nomeadamente, no que dizia respeito à proteção e reparação dos danos provocadospelos riscos profissionais (Cardoso & Rocha, 2009).

9 Será, então, a Lei n.º 1942, de 27 de julho de 1936, já acima referida, que virá clarificar o

regime de reparação dos riscos profissionais, no contexto histórico da primeira fase do

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

297

Page 299: Laboreal, Volume 15 Nº2

Estado Novo corporativo de Salazar de 1933. Esta lei, tal como as outras legislaçõesestrangeiras, abrange os AT e as DP (“unidade legislativa dos riscos profissionais”),adotando, contudo, o modelo da obrigatoriedade indireta da transferência paraseguradoras da responsabilidade patronal, princípio que tinha já sido consagrado na leide 1913 da I República.

10 E, em relação às DP estabelece um elenco abreviado de intoxicações e infeções (art. 8º),

prevendo em anexo um quadro de atividades podendo originar tais doenças, entre asquais o sector mineiro e o fabrico de cimentos, de super-fosfatos, de vidro “e outrasindústrias que produzam poeiras contendo carvão, arsénio, sílica, silicatos e tabaco”.Anotemos que esta lei retoma, em parte, a nomenclatura das DP consagrada naConvenção OIT n.º 42, modificada em 1934, e que entrou em vigor em 17 de junho de1936.

11 Portanto, as possíveis indemnizações e pensões resultantes das DP a favor de

trabalhadores com vínculo salarial (contrato) eram, em geral, da responsabilidade deseguradoras que na prática se focavam, obviamente, na dimensão estrita da causa-efeito (“exercício da profissão causa direta e necessária da doença”), especialmente noscontenciosos judiciários com os assalariados afetados.

2. A “euforia especulativa”, a silicose, “as aldeias dasviúvas” e a inquietação do Governo de Salazar

12 Relembremos, então, que Portugal conhecerá, sobretudo entre o período da Grande-

Guerra e os finais dos anos 50 do século passado, um desenvolvimento assinalável daatividade mineira, muito especialmente da extração do volfrâmio (tungsténio), marcadapor momentos de grande “euforia especulativa”, sobretudo aquando da II Guerra-mundial. O mundo do trabalho que se constituiu à volta deste tipo de exploração seráfortemente marcado pela sua origem rural e, fora das empresas das grandes e médiasconcessões, será caracterizado também pelo trabalho informal ou então com vínculosmuito precários (Avelãs-Nunes, 2007).

13 Grande parte desta mão-de-obra será assolada pela silicose e, especialmente, a partir

dos meados dos anos 50 do século passado, o panorama a nível da saúde pública e anível social revestirá dimensões calamitosas. Por isso, muitas das aldeias dessas regiõesmineiras passarão a ser conhecidas como “as aldeias das viúvas”.

14 Numa situação política, sem liberdade sindical (sindicatos oficiais), nem liberdade de

imprensa (censura), esta população de trabalhadores esteve completamenteabandonada, ou quase, quer em termos de proteção social, quer mesmo a nível daassistência social (por exemplo, a Igreja Católica esteve muito afastada destesproblemas). Assim, no fim, após muitos e longos calvários individuais e coletivos, nãoserá a caridade cristã, nem os protestos dos trabalhadores que irão favorecer/proporcionar a resolução ou a atenuação desses problemas, mas sim a grandeinquietação do Governo e de certos quadros da sua Administração perante essa gravequestão social. E tudo se passará num contexto político e económico intrincado, em queo regime de Salazar já tinha decidido reformar a sua Previdência Social (Carolo, 2006).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

298

Page 300: Laboreal, Volume 15 Nº2

2.1. A Reforma da Previdência de 1962

15 Ainda antes da publicação das bases, sobretudo institucionais, dessa reforma da

previdência (Lei n.º 2115, de 18 de junho de 1962), o Decreto n.º 43 189 de 23 desetembro de 1960, adotará finalmente uma Tabela nacional de incapacidades poracidentes de trabalho e doenças profissionais, tendo “como critério básico de avaliaçãodas desvalorizações, o da incapacidade geral de ganho”, não deixando, contudo, deexplicitar já alguma preocupação em relação à silicose. Por isso, estabelece que oscoeficientes a aplicar, na avaliação das incapacidades provocadas por essa doençaprofissional, terão de ser “especiais, atentas as características peculiares das lesõesprovocadas (...) e a sua irreversibilidade e as exigências específicas da sua peritagem”.

16 Mas será então o Decreto-lei n.º 44307, de 27 de abril de 1962 que virá tentar responder

“à urgência que a proteção das vítimas da silicose imperiosamente reclama” antes dequalquer revisão do regime geral de reparação dos danos provocados pelos riscosprofissionais consagrado na Lei n.º 1942 de 1936.

17 Este diploma de 1962, constatando, no seu preâmbulo, a dimensão e gravidade social e

médico-sanitária que a silicose naquela época revestia no país, estipula que o segurodaquela doença profissional passará a ser obrigatório e gerido por um organismopúblico (sem fins lucrativos), integrado no sistema da Previdência Social do EstadoNovo. Cria, assim, para esse efeito, a Caixa Nacional de Seguros de Doenças Profissionais(CNSDP), financiada essencialmente por contribuições patronais, e,concomitantemente, aponta que era necessário iniciar um processo no sentido dacobertura dos danos e riscos das doenças profissionais passar gradualmente a serassumida e gerida pela Previdência Social (responsabilidade social).

18 Daí que o Governo de Salazar tivesse logo considerado que esta nova “Caixa abrangerá

de início, a cobertura do risco da silicose e, se necessário, estender-se-á às demaispneumoconioses e a outras doenças profissionais graves”. Definindo, deste modo, amissão futura da C.N.S.D.P. como devendo “assegurar a reparação das doençasprofissionais e a recuperação dos trabalhadores que delas sejam vítimas (...)” (artigos 2ºe 3º do Dec.-lei n.º 44307).

19 Na verdade, o poder político da época foi obrigado a reconhecer publicamente que o

panorama nacional, em relação à situação dos trabalhadores afetados pela silicose, era“vivamente desolador”. E que os “numerosos processos instaurados nos tribunais dotrabalho” evidenciavam “a ineficácia do atual regime de seguro privado” (preâmbulodo Decreto-lei n.º 44307).

20 Tudo isso revelava também que a confrontalidade entre trabalhadores e entidades

patronais em matéria de danos causados pelos riscos profissionais, quando se processano âmbito dum regime/sistema de seguro privado obrigatório, é transferida para umplano de enfrentamento entre seguradoras e trabalhadores sinistrados, cujo epílogo éfrequentemente decidido pelo poder judicial (tribunais). Tais mediações tendem aesbater os confrontos entre os interesses intrinsecamente antagónicos em jogo nessesconflitos, que não raras vezes acabam por ser dolorosos, penalizadores e destruturantespara os trabalhadores (Lacomblez & Leitão, 2018).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

299

Page 301: Laboreal, Volume 15 Nº2

2.2. A silicose e a os primeiros tempos da medicina do trabalho

21 Enfrentar a problemática das DP, e muito especialmente as do tipo da silicose, obrigará

o Governo de Salazar a encarar a questão do controlo médico, da medicina do trabalho,quer a nível de exames, quer a nível da prevenção da saúde dos trabalhadores.

22 Daí que tenha sido publicado o Decreto-lei n.º 44308, no mesmo dia da publicação do

decreto-lei que cria a CNSDP, estabelecendo que para as “minas, estabelecimentosindustriais e outros locais em que exista o risco de silicose devem ser organizadosserviços médicos apropriados” (art. 5º). E acrescenta que “a silicose não só apresentataxas de morbilidade e mortalidade importantes, como constitui causa deincapacidades, totais ou parciais, em elevado número de indivíduos (…) a sua prevençãomédica constitui, portanto, uma necessidade social que se impõe satisfazer combrevidade” (preâmbulo do decreto-lei).

23 Neste contexto, e a partir de 1963, o ensino da medicina do trabalho passa a ser

assegurado pelo Instituto de Higiene Dr. Ricardo Jorge, como especialização do Curso deMedicina Sanitária, na área da Medicina do trabalho (Decreto n.º 45160, de 25 de julhode 1963). E em 1966, com a criação da Escola Nacional de Saúde Pública e de MedicinaTropical (Decreto-lei n.º 47102 de 16 de julho), o referido curso transitará para essanova instituição.

24 Em seguida, o Decreto-Lei n.º 47511, de 25 de janeiro de 1967, instituirá a

obrigatoriedade para as empresas de organizar e custear (os seus) serviços médicos dotrabalho (serviços médicos privativos e serviços médicos comuns, em função donúmero dos trabalhadores da empresa). Obrigatoriedade que deverá ser implementada“com as necessárias cautelas e dentro de períodos de transição bastante amplos, demodo que tudo se possa processar sem atropelos de direitos nem exigências demasiadoonerosas”.

25 Interessante notar que os governantes da época, pelo menos alguns dos altos quadros

da Administração das Corporações e Previdência Social, entendiam a medicina dotrabalho como um dos meios que permitiria defender a “dimensão humana daorganização do trabalho” e a “defesa do trabalhador e da sua dignidade”, desde logo,porque “tende a harmonizar o máximo de rendimento com o mínimo de desgastebiológico” (preâmbulo do decreto-lei).

26 Por outro lado, teremos também de sublinhar que o legislador da época não pôde deixar

de constatar, nesse mesmo preâmbulo, que “a progressiva industrialização do país nãotem sido suficientemente acompanhada pelo desenvolvimento de serviços de medicinado trabalho nas empresas”, fazendo, em seguida, um inventário do que existia, então,nesse domínio, em Portugal. E notará que, “apesar de tudo”, tais serviços já eramobrigatórios, desde 1962/63, “nas indústrias com risco de silicose”, além dos previstosem certas convenções coletivas de trabalho e daqueles que certas grandes empresas(como a CUF, a CP, a Siderurgia Nacional e certos estaleiros navais de Lisboa) tinhamcriado voluntariamente. Era esse o panorama geral, em 1967, dos serviços de medicinado trabalho nas empresas em Portugal. Panorama esse que pouco vai mudar até ao 25de Abril de 1974. E que continuará nos anos seguintes.

27 É evidente que preocupações com a gestão do mercado de trabalho da época também

estavam presentes nos processos destas reformas, dadas especialmente as mutaçõesque esse mercado vinha conhecendo em Portugal, resultantes, sobretudo, da enorme

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

300

Page 302: Laboreal, Volume 15 Nº2

emigração para a Europa ocidental e da vasta mobilização de mão-de-obra masculinajovem para a guerra colonial em África. Além disso, toda esta atividade legislativavisando o progresso da proteção social dos trabalhadores, insere-se na ação político-ideológica do regime político de Salazar que procurará reforçar a sua legitimidadeinterna no quadro da situação de guerra colonial, mas também tentará retocar, destemodo, alguns dos contornos negativos que muitas vezes eram associados à presença dopaís na cena internacional.

28 Relembremos ainda que, no quadro desta reforma da Previdência Social de 1962, o

governo de Salazar adotará a Lei n.º 2127, de 3 de agosto de 1965, que revogaráfinalmente a Lei n.º 1942, de 27 de julho de 1936, estabelecendo, deste modo, um novoregime jurídico para a reparação dos danos causados pelos AT e pelas DP. No queconcerne os AT mantém o regime de seguro privado (tendencialmente obrigatório) e norespeitante às DP mantém também o mesmo regime de seguro privado, exceto “se orisco estiver coberto pela CNSDP” (n.º 3 da Base XLIII da Lei), o que acontecia na épocasó com o risco de silicose.

29 Assinalemos que, todavia, esta lei só entrará em vigor em finais de 1971, após a sua

regulamentação pelo Decreto n.º 360/71, de 21 de agosto, adotado, pois, já durante operíodo do consulado de Marcelo Caetano (finais de 1968 a 25 de abril de 1974). E serátambém o Governo de Caetano que publicará a primeira Lista nacional de doençasprofissionais (Decreto n.º 434/73, de 25 de agosto) e determinará, através do Decreto-lein.º 478/73, de 27 de setembro, que a CNSDP passe a abranger a generalidade dasentidades patronais, legislação que só entrou em vigor em 1 de janeiro de 1976, jádepois da Revolução do 25 de Abril.

3. Uma herança que perdurará após 1974

30 Será o Decreto-lei n.º 200/81, de 9 de julho, que realizará a efetiva e plena integração da

proteção do risco de doença profissional no regime geral da agora segurança social.Proteção essa que ficou completamente desligada, a partir de 1 de outubro de 1981, datada entrada em vigor desse decreto-lei, da atividade seguradora privada. Assim, asseguradoras deixaram de poder cobrir, no quadro dos contratos do ramo acidentes detrabalho, as doenças profissionais (Decreto-lei n.º 227/81, de 18 de julho).

31 Todavia, o legislador não operou qualquer dissociação entre este novo sistema de

proteção das doenças profissionais com o regime geral de proteção dos riscosprofissionais estabelecido na Lei n.º 2127 de 1965 e no Decreto n.º 360/71, que aindacontinuará em vigor. Só em 1997, a Lei n.º 100, de 27 de agosto, procederá à revogaçãoda lei de 1965 e da sua regulamentação de 1971, consagrando, enfim, um “novo regimegeral” para os acidentes de trabalho e doenças profissionais. Mas tal regime previa umaregulamentação autónoma para a proteção de cada um desses riscos, desde logo,porque os respetivos modelos/sistemas de proteção eram, e continuam a ser ainda hoje,diferentes. Assim, será o Decreto-lei n.º 143/99, de 30 de abril, que regulamentará oregime dos acidentes de trabalho, assente nos seguros privados obrigatórios, e, por suavez, o Decreto-lei n.º 248/99, de 2 de julho, regulamentará o respeitante à reparação dasdoenças profissionais. Daí que o regime jurídico anterior, que vigorava desde finais de1971, só terminará a sua vigência no dia 1 de janeiro de 2000, isto é, 27 anos e meio apósa Revolução democrática.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

301

Page 303: Laboreal, Volume 15 Nº2

32 Ora, no que diz respeito à reparação dos danos das doenças profissionais, o Decreto-lei

n.º 248/99 vai tentar atualizar uma legislação que datava de há mais de 30 anos,adaptando-a à “nova filosofia da proteção social”, às “próprias alterações dos factossociais” e ao regime geral da nova segurança social.

33 Aponte-se, também, que a Caixa Nacional de Seguros de Doenças Profissionais, criada

em 1962, como já reportado, será substituída, através da Lei n.º 160/99, de 11 de maio,pelo Centro Nacional de Proteção contra os Riscos Profissionais (CNPRP), ao qualsucederá, mais tarde, na sequência do estabelecido na Lei n.º 83/2012, de 8 de maio, oDepartamento de proteção contra os riscos profissionais do Instituto da SegurançaSocial.

34 À guisa de conclusão, diremos que este “novo regime geral”, que, por sua vez, vai

vigorar até finais de 2009, retoma, com alguns aperfeiçoamentos relativamente àproteção e aos direitos dos trabalhadores, os traços estruturantes do sistema e doquadro normativo do(s) regime(s) jurídico(s) estabelecido(s) pelos Governos de Salazare de Caetano (Guibentif, 1997). E, na verdade, tal herança perdura até aos dias de hoje(Gomes, 2013).

BIBLIOGRAFIA

Amaro, A.R. (2008). O modelo de previdência social do Estado Novo (1933-1962). In L. R. Torgal &

H. Paulo (Coord.), Estados autoritários e totalitários e suas representações (pp. 65-79). Imprensa da

Universidade de Coimbra.

Avelãs-Nunes, J.P. (2007). Efeitos colaterais do “fomento industrial”. O exemplo do subsector

português do volfrâmio até à década de 1950. HISTÓRIA, Revista da Faculdade de Letras, 8, 273-297.

Cardoso, J.L., & Rocha, M.M. (2009). O seguro social obrigatório (1919-1928) : ação e limites de um

Estado previdente. Análise Social, 44(192), 439-470. Retirado de http://www.scielo.mec.pt/

scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732009000300001&lng=pt&tlng=pt.

Carolo, D. (2006). A reforma da Previdência Social de 1962 na institucionalização do Estado-Providência

em Portugal. Dissertação de Mestrado, Instituto Superior de Economia e Gestão, Lisboa.

Esping-Andersen, G. (1993). Orçamentos e Democracia : O Estado-Providência em Espanha e

Portugal, 1960-1986. Análise Social, 38(122), 589-606.

Gomes, J.M.V. (2013). O acidente de trabalho - Acidente in itinere e a sua descaracterização. Coimbra:

Coimbra Editora.

Guibentif, P. (1997). The transformation of the Portuguese social security system. In M. Rhodes

(Ed.), Southern European Welfare States. Between Crisis and Reform (pp. 219-239). Londres: Routledge.

Halpern-Pereira, M. (1999). As origens do Estado-providência em Portugal : as novas fronteiras

entre o público e o privado. In A Primeira República Portuguesa-entre o Liberalismo e o Autoritarismo

(pp. 47-76). Lisboa : Edições Colibri.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

302

Page 304: Laboreal, Volume 15 Nº2

Lacomblez, M., & Leitão, A.R. (2018). O regresso ao trabalho após um acidente de trabalho :

apresentação do dossier. Laboreal, 14(1), 9-12. http://dx.doi.org/10.15667/LABOREALXIV0118ML

NOTAS

1. Este decreto faz parte de um conjunto de diplomas (“pacote legislativo”) que estabeleceram,

em maio de 1919, o primeiro sistema integrado de segurança social (ou previdência social)

obrigatório. Desse pacote faziam ainda parte: o Decreto n.º 5636 que criou o seguro social

obrigatório para a doença; o Decreto n.º 5638 que estabelecia o seguro social obrigatório contra a

invalidez, velhice e sobrevivência; o Decreto n.º 5639 que previa a (re)organização das bolsas

sociais de trabalho; e o Decreto n.º 5640 que criava o Instituto de Seguros Sociais Obrigatórios e

da Previdência Geral, cuja missão principal era a de implementar este sistema de previdência

social.

2. Ficou, pois, a intenção da criação dum primeiro sistema de previdência social obrigatório, por

parte dum sector da classe política republicana sensível à proteção social dos trabalhadores e,

igualmente, empenhado na institucionalização da OIT (1919) e na “pacificação e harmonia da

sociedade futura” através das negociações do Tratado de Paz de Versalhes. Para estes

republicanos, radicais e socialistas, “o novo estado social criado pela República” teria “de tornar

uma realidade a aliança entre o capital e o trabalho”, assente “num espírito de justiça e

equidade” (preâmbulo do Decreto n.º 5637). Foi, por esta via, que o Estado republicano tentou

promover a implementação dum sistema integrado de previdência social, sobretudo através das

mutualidades, sendo a sua comparticipação financeira insignificante, dado, desde logo, o

contexto económico-financeiro do país no pós-Grande-Guerra (Esping-Andersen, 1993).

AUTOR

AUGUSTO ROGÉRIO LEITÃO

Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra Av. Dr. Dias da Silva 165 3004-512 Coimbra &

Centro Observare, Universidade Autónoma de Lisboa, Rua Santa Marta 56, 1169-023 Lisboa,

Portugal

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

303

Page 305: Laboreal, Volume 15 Nº2

Portugal, 27 de abril de 1962 : lavisibilidad de la tragedia de lasilicosisPortugal, 27 de abril de 1962: a visibilidade da tragédia da silicose

Portugal, 27 avril 1962 : la visibilité de la tragédie de la silicose

Portugal, April 27, 1962: the visibility of the tragedy of silicosis

Augusto Rogério Leitão

Introducción

1 El 27 de abril de 1962 fue adoptado, por el gobierno de Salazar, el Decreto-ley n.º 44307

relativo a la silicosis como enfermedad profesional, que en esa época presentabadimensiones sociales dramáticas. Esta legislación establecería un régimen especial parala reparación de los daños sufridos por los trabajadores afectados por esa enfermedad yque eran entonces mayoritariamente mineros. Crea, para ese fin, la Caja Nacional deSeguros de Enfermedades Profesionales (CNSDP, por sus siglas en portugués), comoinstitución de la Previsión social, que tendrá como principales misiones gestionar elseguro obligatorio y administrar los procedimientos que permitirán indemnizar a lostrabajadores y sus familias.

2 Este decreto modifica la Ley n.º 1942 del 27 de junio de 1936 que todavía estaba en vigor

en 1962 y que había sido adoptada en el contexto histórico de la primera fase del EstadoNuevo corporativo de Salazar (Constitución de 1933) y de la institución de la respectivaPrevisión social : el Estatuto del Trabajo Nacional (Decreto-ley n.º 23048, del 23 deseptiembre de 1933) y la Ley de las Instituciones de Previsión Social (Ley n.º 1884, del 16de marzo de 1935), de entre las cuales tendremos que mencionar a las Cajas Sindicalesde Previsión de naturaleza corporativa, creadas por iniciativa de los Gremios y de losSindicatos Nacionales (Decreto n.º 25935 del 12 de octubre de 1935) (Amaro, 2008).

3 Dicho sobresalto político en relación con la situación sanitaria de la silicosis se ha

expresado, desde luego, mediante la creación institucional de un seguro obligatorio

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

304

Page 306: Laboreal, Volume 15 Nº2

gestionado por el Estado e incorporado en las misiones de la previsión social. Eseprogreso, en relación con la reparación y la protección social de esa enfermedadprofesional, ocurrirá en la coyuntura histórica del estado salazarista de los finales delos años 50, inicios de los años 60 del siglo pasado, caracterizada por una dinámica deindustrialización y de modernización del país. Esa dinámica ha sido apoyada por ciertasélites del régimen que defendían una abertura hacia Europa (EFTA y CEE) y por losgrupos económicos que se afirmaban a la sombra del régimen dictatorial, tales comoCUF, Champalimaud, Espirito Santo, Borges. Todavía, a partir de 1961-62 esos actorestuvieron que integrar en esa dinámica los problemas planteados por el inicio y lacontinuación de la guerra colonial en África (1961-1974).

1. Los primeros pasos de la doctrina del "riesgoprofesional"

4 En Portugal, tal como en otros países europeos, la legislación relativa a la reparación de

los daños causados por las enfermedades profesionales fue adoptada después de lalegislación de los accidentes de trabajo, que surgió poco tiempo después de laimplantación de la República (5 de octubre de 1910), mediante a Ley n.º 83, del 24 dejulio de 1913, atribuyendo la responsabilidad (civil) objetiva al empleador por losaccidentes de trabajo de que fuesen victimas los trabajadores a su servicio. Así, seconsagra la denominada doctrina del "riesgo profesional", sin imponer laobligatoriedad de transferencia de la responsabilidad patronal para una compañía deseguros o entidad equivalente, pública o privada. Adopta, de hecho, el modelo de la leybelga de 1903 al establecer una obligatoriedad indirecta de seguro traducida en laimposición, para los empleadores sin seguro, de la constitución de un depósito bancariocomo garantía de indemnizaciones y pensiones eventualmente debidas por ellos.

5 Poco tempo después, el Decreto n.º 5637, del 10 de mayo de 1919, instituirá “el seguro

social obligatorio contra los accidentes en el trabajo”, incorporando, en este modelo,que consagra el principio de la obligatoriedad de seguro, a las enfermedadesprofesionales, tal y como eran entendidas en esa época [1]. Pasa a incluir todas las actividades profesionales y el conceptode “accidente en el trabajo” comprenderá “cualquier lesión interna o externa ycualquier trastorno nervioso o psíquico que resulte de la acción de una violenciaexterior súbita, producida durante el ejercicio profesional ; las intoxicaciones agudasproducidas durante y debido al ejercicio profesional, y las inflamaciones de las bolsasserosas profesionales ; y todos los casos de enfermedades profesionales debidamentecomprobadas“ (art. 3).

6 Sin embargo, este primer sistema de previsión social, basado en seguros sociales

obligatorios, tanto para los accidentes de trabajo (AT) y las enfermedades profesionales(EP), como para la enfermedad, la vejez y la invalidez, nunca llegará a serimplementado en realidad, por las más variadas razones, casi todas ellas relacionadascon las turbulencias políticas y sociales vividas en los finales de la Primera República(Halpern-Pereira, 1999).

7 Por otra parte, en 25 de noviembre de 1925, el Ministerio del Trabajo y Previsión Social,

que había sido creado en 1916, es extinto y el golpe de estado militar del 28 de mayo de1926 instituirá una Dictadura Nacional que perdurará hasta 1933, transformándose,entonces, en el Estado Nuevo [2].

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

305

Page 307: Laboreal, Volume 15 Nº2

8 Como fácilmente se comprende, Portugal vivirá durante ese período una cierta

indefinición legislativa, un casi vacío normativo, en relación con la previsión social, enparticular en lo que respecta a la protección y reparación de los daños causados por losriesgos profesionales (Cardoso & Rocha, 2009).

9 Será, entonces, la Ley n.º 1942, del 27 de julio de 1936, ya mencionada arriba, que

aclarará el régimen de reparación de los riesgos profesionales en el contexto históricode la primera fase del Estado Nuevo corporativo de Salazar de 1933. Esta ley, al igualque las otras legislaciones extranjeras, abarca los AT y las EP ("unidad legislativa de losriesgos profesionales"), adoptando, no obstante, el modelo de la obligatoriedadindirecta de la transferencia para compañías de seguros de la responsabilidad patronal,un principio que había ya sido consagrado en la ley de 1913 de la Primera República.

10 Y, en relación con las EP, establece un elenco abreviado de intoxicaciones e infecciones

(art. 8), previendo en anexo un cuadro de actividades que pueden originar talesenfermedades, entre las cuales la industria minera y la fabricación de cementos, desuperfosfatos, de vidrio "y otras industrias que produzcan polvos que contengancarbón, arsénico, sílice, silicatos y tabaco". Anotemos que esta ley recupera, en parte, lanomenclatura de las EP consagrada en el Convenio n.º 42 de la OIT, modificado en 1934,y que entró en vigor el 17 de junio de 1936.

11 Por consiguiente, las posibles indemnizaciones y pensiones resultantes de las EP a favor

de trabajadores con vínculo salarial (contrato de trabajo) eran, en general, de laresponsabilidad de compañías de seguros que en la práctica se centraban, por supuesto,en la dimensión estricta de la causa-efecto ("ejercicio de la profesión como causadirecta y necesaria de la enfermedad"), especialmente en los contenciosos judicialescon los asalariados afectados.

2. La "euforia especulativa", la silicosis, las "aldeas delas viudas" y la inquietación del Gobierno de Salazar

12 Recordemos, entonces, que Portugal conocerá, sobre todo entre el período de la

Primera Guerra Mundial y los finales de los años 50 del pasado siglo, un desarrollonotable de la actividad minera, muy especialmente de la extracción de volframio(tungsteno), marcado por momentos de gran "euforia especulativa", sobre todo durantela Segunda Guerra Mundial. El mundo del trabajo que se constituyó alrededor de estetipo de explotación será muy marcado por su origen rural y, fuera de las empresas delas grandes y medianas concesiones, se caracterizará también por el trabajo informal oentonces con vínculos muy precarios (Avelãs-Nunes, 2007).

13 Una gran parte de esta mano de obra será asolada por la silicosis y, especialmente, a

partir de mediados de los años 50 del pasado siglo, el panorama a nivel de salud públicay a nivel social revestirá dimensiones calamitosas. Por esa razón, muchas de las aldeasde esas regiones mineras pasarán a conocerse como las "aldeas de las viudas".

14 En una situación política sin libertad sindical (sindicatos oficiales) ni libertad de prensa

(censura), esta población de trabajadores estuvo totalmente abandonada, o casi, tantoen términos de protección social como incluso a nivel de asistencia social (por ejemplo,la Iglesia Católica estuvo muy alejada de estos problemas). Así, en el final, y después demuchos y largos calvarios individuales y colectivos, no será la caridad cristiana ni losprotestos de los trabajadores que irán favorecer/proporcionar la resolución o la

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

306

Page 308: Laboreal, Volume 15 Nº2

atenuación de estos problemas, pero sí la gran inquietación del Gobierno y de ciertosdirectivos de su Administración ante esa grave cuestión social. Y todo se pasará en uncontexto político y económico intrincado, en que el régimen de Salazar había yadecidido reformar su Previsión Social (Carolo, 2006).

2.1. La Reforma de la Previsión de 1962

15 Incluso antes de la publicación de las bases, mayoritariamente institucionales, de esa

reforma de la previsión (Ley n.º 2115, del 18 de junio de 1962), el Decreto n.º 43189 del23 de septiembre de 1960, adoptará por fin una Tabla nacional de incapacidades poraccidentes de trabajo y enfermedades profesionales, teniendo "como criterio básico deevaluación de las devaluaciones el de la incapacidad general de obtener ingresos", nodejando, sin embargo, de explicitar ya alguna preocupación en relación con la silicosis.Por este motivo, establece que los coeficientes que deben ser aplicados en la evaluaciónde las incapacidades provocadas por esa enfermedad profesional tendrán que ser"especiales, atendiendo a las características peculiares de las lesiones provocadas (...) ysu irreversibilidad y las exigencias específicas de su peritación".

16 Pero será entonces el Decreto-ley n.º 44307, del 27 de abril de 1962 que intentará

responder "a la urgencia que la protección de las víctimas de la silicosisimperiosamente reclama" antes de cualquier revisión del régimen general dereparación de los daños provocados por los riesgos profesionales consagrado en la Leyn.º 1942 del 1936.

17 Esta normativa de 1962, la cual consta en su preámbulo la dimensión y la gravedad

social y médico-sanitaria que la silicosis revestía en el país en aquella época, estipulaque el seguro de aquella enfermedad profesional pasará a ser obligatorio y gestionadopor un organismo público (sin ánimo de lucro), integrado en el sistema de la PrevisiónSocial del Estado Nuevo. Crea, así, para tal efecto, la Caja Nacional de Seguros deEnfermedades Profesionales (CNSDP, por sus siglas en portugués), financiadaesencialmente mediante cotizaciones patronales y, al mismo tiempo, señala lanecesidad de iniciar un proceso en el sentido de que la cobertura de los daños y riesgosde las enfermedades profesionales pase gradualmente a ser asumida y gestionada por laPrevisión Social (responsabilidad social).

18 De ahí que el Gobierno de Salazar hubiera inmediatamente considerado que esta nueva

"Caja abarcará, de inicio, la cobertura del riesgo de la silicosis y, si fuera necesario, seextenderá a las demás neumoconiosis y a otras enfermedades profesionales graves".Definiendo, de este modo, la futura misión de la CNSDP como debiendo "asegurar lareparación de las enfermedades profesionales y la recuperación de los trabajadores quede estas sean víctimas (...)" (artículos 2 y 3 del Decreto-ley n.º 44307).

19 En realidad, el poder político de la época fue obligado a reconocer públicamente que el

panorama nacional, en relación con la situación de los trabajadores afectados por lasilicosis, era "extremadamente desolador", y que los "numerosos procedimientosdesarrollados ante los tribunales de trabajo" evidenciaban "la ineficacia del actualrégimen de seguro privado" (preámbulo del Decreto-ley n.º 44307).

20 Todo esto revelaba también que el enfrentamiento entre los trabajadores y los

patronatos en materia de daños causados por los riesgos profesionales, cuando seprocesa en el ámbito de un régimen/sistema de seguro privado obligatorio, estransferida para un plan de enfrentamiento entre las compañías de seguros y los

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

307

Page 309: Laboreal, Volume 15 Nº2

trabajadores siniestrados, cuyo epílogo es a menudo decidido por el poder judicial(tribunales). Tales mediaciones tienden a difuminar los enfrentamientos entre losintereses intrínsecamente antagónicos en juego en esos conflictos, que no pocas vecesresultan dolorosos, penalizadores y destructurantes para los trabajadores (Lacomblez &Leitão, 2018).

2.2. La silicosis y los primeros tiempos de la medicina del trabajo

21 El enfrentamiento de la problemática de las EP, y muy especialmente las del tipo de la

silicosis, obligará el Gobierno de Salazar a encarar la cuestión del control médico, de lamedicina del trabajo, tanto a nivel de reconocimientos médicos como de la prevenciónde la salud de los trabajadores.

22 De ahí que se haya publicado el Decreto-ley n.º 44308 en el mesmo día de la publicación

del decreto-ley que crea la CNSDP, estableciendo que para las "minas, establecimientosindustriales y otros locales donde exista el riesgo de la silicosis, deben organizarseservicios médicos apropiados" (art. 5). Y añade que "la silicosis no solo presenta tasasde morbilidad y mortalidad importantes, como constituye causa de incapacidades,totales o parciales, en un elevado número de individuos (...), su prevención médicaconstituye, por consiguiente, una necesidad social que se impone satisfacer conbrevedad" (preámbulo del decreto-ley).

23 En este contexto, a partir de 1963 la enseñanza de la medicina del trabajo será

asegurada por el Instituto de Higiene Dr. Ricardo Jorge, como especialización de laCarrera de Medicina Sanitaria, en el área de la Medicina del trabajo (Decreto n.º 45160,del 25 de julio de 1963). Y, en 1966, con la creación de la Escuela Nacional de SaludPública y de Medicina Tropical (Decreto-ley n.º 47102 del 16 de julio), la mencionadacarrera transitará para esa nueva institución.

24 Luego después, el Decreto-Ley n.º 47511, del 25 de enero de 1967, instituirá la

obligatoriedad para las empresas de organizar y costear (sus) servicios médicos deltrabajo (servicios médicos privados y servicios médicos comunes, en función delnúmero de trabajadores de la empresa). Una obligatoriedad que deberá implementarse"con las debidas cautelas y dentro de períodos de transición bastante amplios, de modoa que todo se pueda tramitar sin atropellos de derechos ni exigencias demasiadoonerosas".

25 Es interesante señalar que los gobernantes de la época, por lo menos algunos de los

altos directivos de la Administración de las Corporaciones y Previsión Social, entendíana la medicina del trabajo como uno de los medios que permitirían defender la"dimensión humana de la organización del trabajo" y la "defensa del trabajador y de sudignidad", desde luego porque "tiende a armonizar el máximo rendimiento con elmínimo de desgaste biológico" (preámbulo del decreto-ley).

26 Por otro lado, tendremos también que subrayar que el legislador de esa época no pudo

dejar de constatar, en ese mismo preámbulo, que "la progresiva industrialización delpaís no ha sido suficientemente acompañada por el desarrollo de servicios de medicinadel trabajo en las empresas", haciendo, posteriormente, un inventario de lo que existía,entonces, en ese ámbito, en Portugal. Y señalará que, pese a todo, tales servicios eran yaobligatorios desde 1962/63, "en las industrias con riesgo de silicosis", además do losprevistos en ciertos convenios colectivos de trabajo y en aquellos que ciertas grandesempresas (como CUF, CP y Siderurgia Nacional y ciertos astilleros navales de Lisboa)

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

308

Page 310: Laboreal, Volume 15 Nº2

habían creado voluntariamente. Era ese el panorama general, en 1967, de los serviciosde la medicina del trabajo en las empresas de Portugal. Un panorama que poco mudaráhasta el 25 de Abril de 1974, e incluso en los años que se seguirían.

27 Por supuesto, las preocupaciones con la gestión del mercado de trabajo de esa época

también se presentaban en los procesos de estas reformas, dadas especialmente lasmutaciones que ese mercado había estado experimentando en Portugal, y queresultaron, sobre todo, de la gran emigración a Europa occidental y de la ampliamovilización de la mano de obra masculina joven para la guerra colonial en África.Además, toda esta actividad legislativa que tenía como finalidad el progreso de laprotección social de los trabajadores, se inscribe en la acción político-ideológica delrégimen político de Salazar que buscará reforzar su legitimidad interna en el marco dela situación de guerra colonial, pero también intentará retocar, de este modo, algunacarga negativa que era muchas veces asociada a la presencia del país en la escenainternacional.

28 Recordemos aún que, en el marco de esta reforma de la Previsión Social de 1962, el

gobierno de Salazar adoptará la Ley n.º 2127, del 3 de agosto de 1965, que derogará, porfin, la Ley n.º 1942, del 27 de julio de 1936, estableciendo, de este modo, un nuevorégimen jurídico para la reparación de los daños causados por los AT y las EP. En lo queconcierne a los AT, mantiene el régimen de seguro privado (tendencialmenteobligatorio) y en lo que respecta a las EP mantiene también el mismo régimen de seguroprivado, excepto "si el riesgo está cubierto por la CNSDP” (n.º 3 de la Base XLIII de laLey), lo que sucedía en la época únicamente con el riesgo de la silicosis.

29 Señalemos que, todavía, esta ley no entrará en vigor hasta finales de 1971, después de

su reglamentación mediante el Decreto n.º 360/71, del 21 de agosto de 1971, adoptado,pues, ya durante el período de gobernación de Marcelo Caetano (de finales de 1968hasta 25 de abril de 1974). Y será también el Gobierno de Caetano que publicará laprimera Lista nacional de enfermedades profesionales (Decreto n.º 434/73, del 25 deagosto de 1973) y determinará, por medio del Decreto-ley n.º 478/73, del 27 deseptiembre de 1973, que la CNSDP pase a abarcar la generalidad de las entidadespatronales, legislación que solamente entró en vigor el 1 de enero de 1976, ya despuésde la Revolución del 25 de abril de 1974.

3. Una herencia que perdurará después de 1974

30 Será el Decreto-ley n.º 200/81 de 9 del julio de 1981, que realizará la integración efectiva

y plena de la protección del riesgo de enfermedad profesional en el régimen de la ahora“Seguridad Social”, una protección que quedó complemente desconectada, a partir del1 de octubre de 1981, fecha de la entrada en vigor de ese decreto-ley, de la actividad deseguros privada. De este modo, las compañías de seguros dejaron de poder cubrir, en elmarco de los contratos del ramo de los accidentes de trabajo, las enfermedadesprofesionales (Decreto-ley n.º 227/81, del 18 de julio de 1981).

31 Todavía, el legislador no operó cualquier disociación entre este nuevo sistema de

protección de las enfermedades profesionales con el régimen general de protección delos riesgos profesionales establecido en la Ley n.º 2127 de 1965 y en el Decreto n.º360/71, que permanecerá aún en vigor. Solamente en 1997, la Ley n.º 100, del 27 deagosto, procederá a la derogación de la ley de 1965 y de su reglamentación de 1971,consagrando, por fin, un "nuevo régimen general" para los accidentes de trabajo y

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

309

Page 311: Laboreal, Volume 15 Nº2

enfermedades profesionales. Pero dicho régimen preveía una reglamentaciónautónoma para la protección de cada uno de esos riesgos, desde luego porque losrespectivos modelos/sistemas de protección eran, y siguen siendo todavía hoy,diferentes. Así, será el Decreto-ley n.º 143/99 del 30 de abril de 1999, que reglamentaráel régimen de los accidentes de trabajo, basado en los seguros privados obligatorios y,por su turno, el Decreto-ley n.º 248/99, del 2 de julio de 1999, reglamentará lo querespecta a la reparación de las enfermedades profesionales. De ahí que el régimenjurídico anterior, que estaba en vigor desde finales de 1971, terminará su vigenciasolamente en el día 1 de enero de 2000, es decir, 27 años y medio después de laRevolución democrática en Portugal.

32 Ahora bien, en lo que respecta a la reparación de los daños de las enfermedades

profesionales, el Decreto-ley n.º 248/99 intentará actualizar una legislación que databade más de 30 años, adaptándola a la "nueva filosofía de la protección social", a las"modificaciones mismas de los hechos sociales" y al régimen general de la nuevaseguridad social.

33 Se destaca, también, que la Caja Nacional de Seguros de Enfermedades Profesionales,

creada en 1962, como mencionado con anterioridad, sería sustituida, por medio de laLey n.º 160/99, del 11 de mayo de 1999, por el Centro Nacional de Protección contra losRiesgos Profesionales (CNPRP, por sus siglas en portugués), al que se sucederá mástarde, como resultado de lo establecido en la Ley n.º 83/2012, del 8 de mayo de 2012, elDepartamento de protección contra los riesgos profesionales del Instituto de SeguridadSocial.

34 A modo de conclusión, diremos que este "nuevo régimen general" que, por su turno,

estuvo en vigor hasta finales de 2009, recupera, con algunos perfeccionamientos en loque respecta a la protección y los derechos de los trabajadores, los rasgosestructurantes del sistema y del marco normativo de los regímenes jurídicosestablecidos por los gobiernos de Salazar y de Caetano (Guibentif, 1997). Y, endefinitiva, dicha herencia perdura hasta los días de hoy (Gomes, 2013).

BIBLIOGRAFÍA

Amaro, A.R. (2008). O modelo de previdência social do Estado Novo (1933-1962). In L. R. Torgal &

H. Paulo (Coord.), Estados autoritários e totalitários e suas representações (pp. 65-79). Imprensa da

Universidade de Coimbra.

Avelãs-Nunes, J.P. (2007). Efeitos colaterais do “fomento industrial”. O exemplo do subsector

português do volfrâmio até à década de 1950. HISTÓRIA, Revista da Faculdade de Letras, 8, 273-297.

Cardoso, J.L., & Rocha, M.M. (2009). O seguro social obrigatório (1919-1928) : ação e limites de um

Estado previdente. Análise Social, 44(192), 439-470. Retirado de http://www.scielo.mec.pt/

scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732009000300001&lng=pt&tlng=pt.

Carolo, D. (2006). A reforma da Previdência Social de 1962 na institucionalização do Estado-Providência

em Portugal. Dissertação de Mestrado, Instituto Superior de Economia e Gestão, Lisboa.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

310

Page 312: Laboreal, Volume 15 Nº2

Esping-Andersen, G. (1993). Orçamentos e Democracia : O Estado-Providência em Espanha e

Portugal, 1960-1986. Análise Social, 38(122), 589-606.

Gomes, J.M.V. (2013). O acidente de trabalho - Acidente in itinere e a sua descaracterização. Coimbra :

Coimbra Editora.

Guibentif, P. (1997). The transformation of the Portuguese social security system. In M. Rhodes

(Ed.), Southern European Welfare States. Between Crisis and Reform (pp. 219-239). Londres : Routledge.

Halpern-Pereira, M. (1999). As origens do Estado-providência em Portugal : as novas fronteiras

entre o público e o privado. In A Primeira República Portuguesa-entre o Liberalismo e o Autoritarismo

(pp. 47-76). Lisboa : Edições Colibri.

Lacomblez, M., & Leitão, A.R. (2018). O regresso ao trabalho após um acidente de trabalho :

apresentação do dossier. Laboreal, 14(1), 9-12. http://dx.doi.org/10.15667/LABOREALXIV0118ML

NOTAS

1. Este decreto forma parte de una serie de actos legislativos (“paquete legislativo”) que

establecieron, en mayo de 1919, el primer sistema integrado de seguridad social (o previsión

social) obligatorio. De ese paquete hacían todavía parte: el Decreto n.º 5636 que creó el seguro

social obligatorio para la enfermedad; el Decreto n.º 5638 que establecía el seguro social

obligatorio contra la invalidez, vejez y supervivencia; el Decreto n.º 5639 que preveía la

(re)organización de las Bolsas sociales de trabajo; y el Decreto n.º 5640 que creaba el Instituto de

Seguros Sociales Obligatorios y de la Previsión General, cuya principal misión era implementar

este sistema de previsión social.

2. Quedó, pues, la intención de la creación de un primer sistema de previsión social obligatorio,

por parte de un sector de la clase política republicana sensible a la protección social de los

trabajadores y, igualmente, comprometido con la institucionalización de la OIT (1919) y con la

“pacificación y armonía de la sociedad futura” mediante las negociaciones del Tratado de Paz de

Versalles. Para estos republicanos, radicales y socialistas, "el nuevo estado social creado por la

República" tendría que "convertir en realidad la alianza entre el capital y el trabajo", basada "en

un espíritu de justicia y equidad" (preámbulo del Decreto n.º 5637). Fue, por esta vía, que el

Estado republicano intentó promocionar la implementación de un sistema integrado de previsión

social, sobre todo mediante las mutualidades, siendo su coparticipación financiera insignificante

dado, desde luego, el contexto económico y financiero del país en el pos Primera Guerra Mundial

(Esping-Andersen, 1993).

AUTOR

AUGUSTO ROGÉRIO LEITÃO

Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra Av. Dr. Dias da Silva 165 3004-512 Coimbra &

Centro Observare, Universidade Autónoma de Lisboa, Rua Santa Marta 56, 1169-023 Lisboa,

Portugal

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

311

Page 313: Laboreal, Volume 15 Nº2

I Semana de Saúde do Trabalhadorde 14 a 19 de maio de 1979: ummarco na história de uma lutacontra a silicose no BrasilFrancisco Antonio de Castro Lacaz

1 No Brasil, o Ministério da Saúde, pela Portaria nº 1.984, datada de 12 de setembro de

2014, define lista de doenças de notificação compulsória, dentre elas a silicose. Já para oextinto Ministério da Previdência Social[1] a exposição à sílica é prevista no Decreto nº3.048, de 06/05/1999, que definiu diversas atividades com risco de exposição à sílica e adoenças relacionadas à exposição, dentre elas a silicose. Em 06/02/2007, o Decreto nº6.042, alterou o Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo referido Decreto3.048. Assim, o Decreto nº 6.042 apresenta uma lista dos agentes causadores de doençasprofissionais ou do trabalho, conforme previsto no artº 20 da Lei nº 8.213 de 1991. Noscasos em que o reconhecimento previdenciário ocupacional da silicose não é aceito peloempregador nem pela Previdência Social, resta ao trabalhador buscar a Justiça doTrabalho para obter indenização por danos materiais e morais. A indenização por danomaterial, é prevista pelo Código de Processo Civil, sendo dividida em três situações: a)indenização no caso de morte do doente (artº 948, Código Civil); b) indenização no casode incapacidade temporária (artº 949, Código Civil); c) indenização no caso deincapacidade permanente, total ou parcial (artº 950, Código Civil). No caso deindenização por incapacidade permanente devido à silicose, parcial ou total, alegislação prevê, além da cobertura das despesas para o tratamento até o retorno aotrabalho, o pagamento de pensão mensal em valor proporcional aos danos sofridos pelavítima ou à sua inabilitação profissional. Muitos trabalhadores com silicose podemreceber benefícios previdenciários, mas existe demora na definição pericial pelo nexo,além de ocorrer um número excessivo de avaliações periciais para estabelecimento donexo ocupacional em trabalhadores com silicose (Fernandes, 2017).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

312

Page 314: Laboreal, Volume 15 Nº2

2 Essa base legal teve origem no final dos anos 1970. Era o momento das grandes greves

operárias que abalaram as estruturas da ditadura civil-militar brasileira, após o fim dochamado “milagre econômico” (Singer, 1976).

3 Naquela época, havia no Brasil cerca de 150 mil trabalhadores expostos cotidianamente

ao pó de sílica, sendo que destes, 30 mil apresentavam comprometimento pulmonarpela silicose, doença que levava invariavelmente, à morte. Dentre estes estavam ostrabalhadores da extração de carvão e minérios de pedreiras; da escavação de túneis; deindústrias metalúrgicas; das fábricas de sabões e materiais abrasivos. Além destes, umadas categorias mais afetadas era a dos trabalhadores das indústrias de cerâmica e louçasonde observa-se altas temperaturas e o ar é dominado pelo pó de sílica (Rebouças,1989).

4 O Sindicato dos Ceramistas da cidade de Jundiaí, no interior do estado de São Paulo,

enfrentava a silicose desde o início dos anos 1970. Foi uma luta pioneira no “(...)contexto do movimento sindical da época” (Rebouças, 1989, p. 206).

5 Ocorre que o problema somente passou a ser considerado pelos trabalhadores

ceramistas daquela cidade quando o então presidente do Sindicato “(...) associou asqueixas dos operários à doença, num Congresso da Previdência Social, durante umapalestra sobre pneumoconioses. Dirigentes e trabalhadores desconheciam a silicose,fato que ainda persiste em vários lugares do Brasil” (Rebouças, 1989, p. 206-207).

6 Apesar da omissão das empresas, muitos trabalhadores ceramistas queixavam-se com

frequência de tosse seca, cansaço e falta de ar o que apontava para um estágio jáavançado da doença. Havia uma grande dificuldade para o Sindicato comprovar adoença e avançar na luta. Era preciso realizar exames que a confirmassem e muitosmédicos confundiam-na com tuberculose com a qual podia associar-se ou compneumonia. Diante disso, o Sindicato procurou a Santa Casa da Misericórdia de SãoPaulo onde atuavam médicos especialistas em doenças pulmonares.

7 Mesmo com o diagnóstico firmado por exames de função pulmonar e Raios X dos

pulmões realizados pelos dois especialistas, as centenas de trabalhadores com silicose,quando encaminhados para o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) paraobtenção de afastamento do trabalho e auxílio-doença frustravam-se, pois:

(...) muitas vezes os peritos do INPS recusavam o diagnóstico de silicose (...)de 1971 a 1976, o Sindicato constatou 311 casos de silicose entre osceramistas (...) O número de casos registrados (...) poderia ter sido bem maiornão fosse o medo de represálias por parte dos patrões. Quando o empregadordescobria que alguém estava doente fazia de tudo para demiti-lo (Rebouças,p. 208).

8 Esta situação começa a mudar no final dos anos 1970, quando o foco da luta dos

ceramistas também mudou. Ocorreram muitas reuniões no Sindicato dos Ceramistas deJundiaí com a participação de médicos militantes, nas quais chegaram à conclusão queera preciso:

(...) buscar a mudança do ambiente de trabalho e o (...) fim da doença, aoinvés de apenas garantir os direitos previdenciários. (...) as pressões dosempresários eram mais fortes que o Sindicato (…). As represálias contra aorganização dos trabalhadores se repetiam o tempo todo, incentivadas peloregime autoritário da época (Rebouças, 1989, p. 208).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

313

Page 315: Laboreal, Volume 15 Nº2

9 Mesmo com toda dificuldade, o enfrentamento contra a silicose na região de Jundiaí

deu origem a uma maior organização da luta sindical por melhores condições detrabalho e em defesa da saúde, no Brasil, ainda sob o regime militar (Ribeiro & Lacaz,1984).

10 Dado que o problema da silicose acometia várias categorias como já foi dito, a luta

iniciada pelos ceramistas de Jundiaí mobilizou também os trabalhadores das indústriasmetalúrgicas e construção civil que em 1978 criaram “(...) um grupo de trabalho sobre adoença [silicose] constituído por dirigentes sindicais, médicos, advogados eengenheiros. O grupo transformou-se na Comissão Intersindical de Saúde dosTrabalhadores (Cisat). Já no ano seguinte, 1979, a Cisat organizou a I Semana de Saúdedo Trabalhador – I Semsat” (Rebouças, 1989, p. 208).

11 A primeira Semsat teve como tema de discussão justamente as “Poeiras e as doenças

pulmonares”. A I Semsat foi realizada em várias cidades do país no período de 14 a 19de maio de 1979. Representou o primeiro momento de efetiva articulação dos sindicatosde trabalhadores para discutir e propor medidas de prevenção contra as doençaspulmonares do trabalho pois uma delas, a silicose, já registrava entre 20 a 30 miltrabalhadores afetados (Ribeiro & Lacaz, 1984).

12 Numa realidade de repressão ao movimento sindical pela ação da ditadura civil-militar,

dentre as Conclusões da I Semsat publicadas no livro De que Adoecem e Morrem os

Trabalhadores, organizado por Ribeiro e Lacaz, em 1984, são dignas de nota as seguintes,as quais apontam para o crônico descaso empresarial para com o problema, assim comoa omissão da Universidade e da Previdência Social:

“As condições dos ambientes de trabalho, (...) para trabalhadores sujeitos aopó de sílica, asbestos, algodão (...) são reconhecidamente precárias. Dessascondições resultam doenças pulmonares graves, irreversíveis e progressivas”(Ribeiro & Lacaz, 1984, p. 39, grifos introduzidos).“Os estudos e pesquisas sobre essas doenças são raros, quando nãoinexistentes, caracterizando a desatenção das Escolas Médicas e instituiçõesde pesquisa brasileira para o problema” (Ribeiro & Lacaz, 1984, p. 39, grifosintroduzidos).“As doenças pulmonares provocadas pelo ambiente de trabalho incapacitamparcial ou totalmente milhares de trabalhadores brasileiros, encurtando suasvidas, marginalizando-os social e economicamente, recaindo o ônus sobre aspróprias vítimas ou sobre a sociedade (...) como um todo” (Ribeiro & Lacaz,1984, p. 39, grifos introduzidos).“A instabilidade no emprego, o desconhecimento dos perigos a que estãoexpostos pelas poeiras, a falta de organização das bases, a ausência deliberdade e autonomia sindicais, são obstáculos para que a classetrabalhadora assuma esse papel de defesa de sua saúde” (Ribeiro & Lacaz,1984, p. 40, grifos introduzidos).

13 Quanto às Recomendações são relevantes, por sua abrangência ético-social e forte

caráter de enfrentamento dos interesses do Capital:

“Reconhecimento da insalubridade de todas as atividades que liberempoeiras minerais ou orgânicas, independente de inspeções técnicas” (Ribeiro& Lacaz, 1984, p. 40, grifos introduzidos).“Fixação de um prazo para que todas as empresas cujas atividades produzampoeiras adotem as medidas preventivas necessárias em relação ao ambientede trabalho” (Ribeiro & Lacaz, 1984, p. 40, grifos introduzidos).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

314

Page 316: Laboreal, Volume 15 Nº2

“Redução da jornada de trabalho e proibição de regime de horas extras paraos trabalhadores sujeitos às poeiras de sílica, asbesto, algodão (...), através decontrato coletivo, por indústria, realizado com o sindicato, até que sejamadotadas medidas preventivas, cientificamente comprovadas, ...” (Ribeiro &Lacaz, 1984, p. 40, grifos introduzidos).“Proibição do trabalho do menor de 18 anos e da mulher nos ambientessujeitos a poeiras capazes de produzir doenças pulmonares irreversíveis”(Ribeiro & Lacaz, 1984, p. 40, grifos introduzidos).

14 É importante assinalar que a luta sindical iniciada contra a silicose em Jundiaí trouxe

progresso na redução de casos da doença, pois sua ocorrência diminuiu pela metade eas empresas passaram a realizar exames mais frequentemente, entregando osresultados aos trabalhadores (Rebouças, 1989).

15 Ademais, um importante desdobramento desta luta pioneira foi a criação, em 1980, por

dezenas de sindicatos de trabalhadores, do Departamento Intersindical de Estudos ePesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (Diesat) que existe até hoje, apesar demais frágil em suas ações, em função da crise de representação sindical em todo omundo ocidental.

BIBLIOGRAFIA

Fernandes, M. de C. (2017). Asma relacionada ao trabalho e silicose: avaliação pericial no INSS de

casos diagnosticados em ambulatório especializado entre 2005 e 2015 (dissertação de mestrado

profissional). Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho

(Fundacentro), São Paulo.

Rebouças, A.J. (1989). Insalubridade: morte lenta no trabalho. São Paulo: Oboré Editorial/Diesat.

Ribeiro, H.P. & Lacaz, F.A. (1985, Orgs.) De que adoecem e morrem os trabalhadores. São Paulo:

Imprensa Oficial do Estado/Diesat.

Singer, P. I. (1976). A crise do “Milagre”: interpretação crítica da economia brasileira. Rio de Janeiro:

Paz e Terra [2ª. edición]

NOTAS

1. O Ministério da Previdência Social foi extinto pelo atual governo brasileiro e as atribuições

anteriormente por ele assumidas foram transferidas para o Ministério da Economia,

demonstrando o caráter financista dos direitos sociais assumido pelo governo Bolsonaro.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

315

Page 317: Laboreal, Volume 15 Nº2

AUTOR

FRANCISCO ANTONIO DE CASTRO LACAZ

Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de

São Paulo, Rua Botucatu, 740 – 4º. Andar, CEP 04023-900, São Paulo, São Paulo

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

316

Page 318: Laboreal, Volume 15 Nº2

I Semana de Salud del Trabajador,del 14 al 19 de mayo de 1979: un hitoen la historia de una lucha contra lasilicosis en BrasilFrancisco Antonio de Castro Lacaz

1 En Brasil, el Ministerio de la Salud, mediante la Orden Ministerial nº 1.984, fechada el 12

de septiembre de 2014, define la lista de enfermedades de notificación obligatoria,entre ellas la silicosis. Ya para el extinto Ministerio de la Previsión Social[1], laexposición a la sílice está prevista en el Decreto nº 3.048, del 06/05/1999, que definiódiversas actividades con riesgo de exposición a la sílice y a enfermedades relacionadascon la exposición, entre ellas a la silicosis. En 06/02/2007, el Decreto nº 6.042 modificóel Reglamento de la Previsión Social, aprobado por el mencionado Decreto 3.084. Así, elDecreto nº 6.042 presenta una lista de los agentes causadores de enfermedadesprofesionales o del trabajo, en virtud del art. 20 de la Ley nº 8.213 del 1991. En los casosen que el reconocimiento previsional ocupacional de la silicosis no es aceptado por elempleador ni por la Previsión Social, no queda más al trabajador que buscar la Justiciadel Trabajo para obtener una indemnización por daños materiales y morales. Laindemnización por daño material está prevista por el Código Procesal Civil y seencuentra dividida en tres situaciones: a) indemnización en caso de muerte del enfermo(art. 948, Código Civil); b) indemnización en caso de discapacidad temporal (art. 949,Código Civil); c) indemnización en caso de discapacidad permanente, parcial o total(art. 950, Código Civil). En caso de indemnización por discapacidad permanente debidoa la silicosis, parcial o total, la legislación prevé, además de la cobertura de los gastospara tratamiento hasta el retorno al trabajo, el pago de una pensión mensual con unimporte proporcional a los daños sufridos por la víctima o a su incapacidad profesional.Muchos trabajadores con silicosis pueden recibir beneficios previsionales, pero existedilación en la definición pericial del vínculo, además de la ocurrencia de un númeroexcesivo de evaluaciones periciales para establecer el vínculo ocupacional detrabajadores con silicosis (Fernandes, 2017).

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

317

Page 319: Laboreal, Volume 15 Nº2

2 Esa base legal tuvo origen en los finales de los años 1970. Se vivían momentos de

grandes huelgas obreras que han socavado las estructuras de la dictadura civil-militarbrasileña, después del llamado "milagro económico" (Singer, 1976).

3 En aquella época, había en Brasil cerca de 150 mil trabajadores expuestos

cotidianamente al polvo de sílice, y de estos, 30 mil presentaban comprometimientopulmonar por la silicosis, una enfermedad que llevaba, invariablemente, a la muerte.Entre estos, se encontraban los trabajadores de extracción de carbón y minerales decanteras, de excavación de túneles, de industrias metalúrgicas, de fábricas de jabones ymateriales abrasivos. Además de estos, una de las categorías más afectadas era la de lostrabajadores de las industrias de cerámica y loza, donde se observan altas temperaturasy el aire es dominado por el polvo de sílice (Rebouças, 1989).

4 El Sindicato de los Ceramistas de la ciudad de Jundiaí, en el interior del estado de São

Paulo, enfrentaba la silicosis desde el inicio de los años 1970. Fue una lucha pionera enel "(...) contexto del movimiento sindical de la época (Rebouças, 1989, p. 206).

5 Resulta que el problema solamente pasó a ser considerado por los trabajadores

ceramistas de aquella ciudad cuando el entonces presidente del Sindicato "(...) asociólas quejas de los obreros a la enfermedad en un Congreso de la Previsión Social, duranteuna ponencia sobre neumoconiosis. Dirigentes y trabajadores desconocían la silicosis,un hecho que persiste todavía hoy en diversos lugares de Brasil" (Rebouças, 1989, p.206-207).

6 Pese a la omisión de las empresas, muchos trabajadores ceramistas se quejaban con

frecuencia de tos seca, cansancio y falta de aire, lo que indicaba un estadio másavanzado de la enfermedad. El Sindicato tenía una gran dificultad en comprobar laenfermedad y avanzar en la lucha. Era necesario realizar reconocimientos que laconfirmasen y muchos médicos la confundían con tuberculosis, con la cual podíaasociarse, o con neumonía. Ante eso, el Sindicato se dirigió a la Santa Casa de laMisericordia de São Paulo, donde actuaban médicos especialistas en enfermedadespulmonares.

7 Incluso con el diagnostico firmado por reconocimientos médicos de la función

pulmonar y Rayos X de los pulmones realizados por dos especialistas, los centenares detrabajadores con silicosis, cuándo trasladados para el Instituto Nacional de PrevisiónSocial (INPS) para obtener baja laboral y auxilio-enfermedad, se sentían frustradosporque:

"(...) muchas veces, los peritos del INPS rechazaban el diagnóstico de silicosis(...) del 1971 al 1976, el Sindicato constató 311 casos de silicosis entre losceramistas (...). El número de casos registrados (...) podría haber sidobastante más alto si no fuera el miedo de represalias por parte de losempleadores. Cuando el empleador descubría que alguien estaba enfermo,hacía de todo para dimitir-lo" (Rebouças, p. 208).

8 Esta situación empezó a cambiar en el final de los años 1970, cuando el enfoque de la

lucha de los ceramistas ha cambiado también. Se realizaron muchas reuniones en elSindicato de los Ceramistas de Jundiaí con la participación de médicos militantes, en lascuales llegaron a la conclusión de que era necesario:

(...) buscar el cambio del ambiente de trabajo y el (...) fin de la enfermedad,en lugar de simplemente garantizar los derechos previsionales. (...) laspresiones de los empresarios eran más fuertes que el Sindicato (...). Las

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

318

Page 320: Laboreal, Volume 15 Nº2

represalias contra la organización de los trabajadores se repetían a cadamomento, incentivadas por el régimen autoritario de la época (Rebouças,1989, p. 208).

9 Pese a todas las dificultades, el enfrentamiento contra la silicosis en la región de Jundiaí

dio origen a una mayor organización de la lucha sindical por mejores condiciones detrabajo y en defensa de la salud, en Brasil, todavía bajo el régimen militar (Ribeiro &Lacaz, 1984).

10 Dado que el problema de la silicosis acometía varias categorías, como fue ya

mencionado, la lucha iniciada por los ceramistas de Jundiaí movilizó también a lostrabajadores de las industrias metalúrgicas y de construcción civil, quienes crearon, en1978, (...) un grupo de trabajo sobre la enfermedad [silicosis], constituido por dirigentessindicales, médicos, abogados e ingenieros. El grupo se convirtió en la ComisiónIntersindical de Salud de los Trabajadores (Cisat). Ya en el año siguiente, 1979, Cisatorganizó la I Semana de Salud del Trabajador - I Semsat" (Rebouças, 1989, p. 208).

11 La primera Semsat ha tenido como tema de discusión precisamente "Los polvos y las

enfermedades pulmonares" (Ribeiro & Lacaz, 1984). La I Semsat fue realizada endistintas ciudades del país en el periodo del 14 al 19 de mayo de 1979. Representó elprimer momento de articulación efectiva de los sindicatos de trabajadores para discutiry proponer medidas de prevención contra las enfermedades pulmonares del trabajo,puesto que una de ellas, la silicosis, registraba ya entre 20 a 30 mil trabajadoresafectados (Ribeiro & Lacaz, 1984).

12 En una realidad de represión al movimiento sindical por la acción de la dictadura civil-

militar, entre las Conclusiones de la I Semsat publicadas en el libro De que Adoecem e

Morrem os Trabalhadores (De Que Enferman y Mueren los Trabajadores), organizado porRibeiro & Lacaz, en 1984, son dignas de nota las siguientes, las cuales señalan lanegligencia crónica de las empresas hacia el problema, bien como la omisión de laUniversidad y de la Previsión Social:

"Las condiciones de los ambientes de trabajo, (...) para los trabajadoresexpuestos al polvo de sílice, asbestos, algodón (...) se reconocen comoprecarias. De esas condiciones resultan enfermedades pulmonares graves,irreversibles y progresivas" (Ribeiro & Lacaz, 1984, p. 39, itálico añadido)."Los estudios e investigaciones sobre esas enfermedades son raros, cuandono son inexistentes, y caracterizan la desatención de las Escuelas Médicas einstituciones de investigación brasileñas hacia el problema" (Ribeiro & Lacaz,1984, p. 39, itálico añadido)."Las enfermedades pulmonares provocadas por el ambiente de trabajo incapacitan parcial o totalmente a miles de trabajadores brasileños,acortando sus vidas, marginalizándolos social y económicamente, recayendola carga sobre las víctimas mismas o sobre la sociedad (...) como un todo"(Ribeiro & Lacaz, 1984, p. 39, itálico añadido)."La instabilidad en el empleo, el desconocimiento de los peligros a que estánexpuestos debido a los polvos, la falta de organización de las bases, laausencia de libertad y autonomía sindicales, son obstáculos para que la clasetrabajadora asuma ese papel de defensa de su salud" (Ribeiro & Lacaz, 1984,p. 40, itálico añadido).

13 En lo que concierne las Recomendaciones, estas son relevantes por su alcance ético-

social y fuerte carácter de enfrentamiento de los intereses del Capital:

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

319

Page 321: Laboreal, Volume 15 Nº2

"Reconocimiento de la insalubridad de todas las actividades que desprendanpolvos minerales u orgánicos, independente de inspecciones técnicas"(Ribeiro & Lacaz, 1984, p. 40, itálico añadido)."Fijación de un plazo para que todas las empresas cuyas actividadesproduzcan polvos adopten las medidas de prevención necesarias en relacióncon el ambiente de trabajo" (Ribeiro & Lacaz, 1984, p. 40, itálico añadido)."Reducción de la jornada de trabajo y prohibición del régimen de horasextras para los trabajadores expuestos a los polvos de sílice, asbestos,algodón (...), mediante un convenio colectivo, por industria, realizado con elsindicato, hasta que sean adoptadas medidas de prevención, científicamentecomprobadas, ..." (Ribeiro & Lacaz, 1984, p. 40, itálico añadido)."Prohibición del trabajo de menores de 18 años y de mujeres en losambientes expuestos a polvos capaces de producir enfermedades pulmonaresirreversibles" (Ribeiro & Lacaz, 1984, p. 40, itálico añadido).

14 Es importante señalar que la lucha sindical iniciada contra la silicosis en Jundiaí ha

traído progreso a la reducción de casos de la enfermedad, puesto que su incidenciadisminuyó a la mitad y las empresas empezaron a realizar más reconocimientosmédicos, y con más frecuencia, entregando los resultados a los trabajadores (Rebouças,1989).

BIBLIOGRAFÍA

Además, un importante desdoblamiento de esta lucha pionera ha sido la creación, en 1980, por

docenas de sindicatos de trabajadores, del Departamento Intersindical de Estudios e

Investigaciones de Salud y de los Ambientes de Trabajo (Diesat), que existe hasta hoy, aunque sea

más frágil en sus acciones en función de la crisis de representación sindical en todo el mundo

occidental.

Fernandes, M. de C. (2017). Asma relacionada ao trabalho e silicose: avaliação pericial no INSS de casos

diagnosticados em ambulatório especializado entre 2005 e 2015 (tesis de maestría profesional).

Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), São

Paulo.

Rebouças, A.J. (1989). Insalubridade: morte lenta no trabalho. São Paulo: Oboré Editorial/Diesat.

Ribeiro, H. P. y Lacaz, F. A. de C. (1985, Orgs.) De que adoecem e morrem os trabalhadores. São Paulo:

Imprensa Oficial do Estado/Diesat.

Singer, P. I. (1976). A crise do “Milagre”: interpretação crítica da economia brasileira. Rio de Janeiro:

Paz e Terra [2ª. edición]

NOTAS

1. El Ministerio de la Previsión Social fue extinto por el actual gobierno brasileño y las

atribuciones anteriormente asumidas por este fueron transferidas para el Ministerio de la

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

320

Page 322: Laboreal, Volume 15 Nº2

Economía, demostrando el carácter financiero de los derechos sociales asumido por el gobierno

de Bolsonaro.

AUTOR

FRANCISCO ANTONIO DE CASTRO LACAZ

Departamento de Medicina Preventiva de la Escuela Paulista de Medicina de la Universidad

Federal de São Paulo, Rua Botucatu, 740 – 4º. Andar, CEP 04023-900, São Paulo, São Paulo

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

321

Page 323: Laboreal, Volume 15 Nº2

3 de dezembro : Dia Mundial da NãoUtilização de Pesticidas3 de diciembre : Día Mundial del No uso de Plaguicidas

3 décembre : Journée mondiale sans utilisation de pesticides

December 3rd: World Day of No Pesticide Use

Alexis Uriel Blanklejder

1 Ocorreram mais de 2000 mortes numa questão de horas, às que se seguiram outros

milhares nas semanas seguintes, multiplicadas por centenas se nos remetermos aos queviram a sua saúde gravemente afetada de modo permanente, chegando assim acontabilizar mais de 200.000. Partindo destes números, bastante vagos pela falta deexatidão perante semelhante tragédia, poderíamos pensar que se tratou de uma guerraque mudou a história de dois países. Mas tratou-se de um acidente, um acidente deenormes proporções, inclusivamente maior, no que se refere ao número de vítimas, doque o famoso Titanic, cujo naufrágio causou cerca de 1513 mortes.

2 A efeméride está associada ao tipo de substância que originou a catástrofe, um

pesticida. Como alguns devem ter deduzido, estou a referir-me ao acidente ocorrido emBhopal, em 1984. Se bem que a palavra efeméride, que provém do grego ephemeros, serefere ao que “dura só um dia” (Soca, 2010), não reflete o que a fuga do tóxicoprovocou. Foi preciso muito menos de um dia para causar tantas vítimas. O Dia Mundialda Não Utilização de Pesticidas celebra-se a 3 de dezembro. Um evento poucodivulgado, bem como o acidente de Bhopal, com a exceção dos meios que se interessampor temas ecológicos ou de segurança industrial. Para além de se tratar de um acidentecausado pela fuga de um produto químico, também se trata do pior acidente industrialda história no que se refere ao número de vítimas.

Como tudo aconteceu...

3 Na cidade de Bhopal, capital de Madhya Pradesh, na Índia, estava em funcionamento,

de modo parcial, uma fábrica de pesticidas que, na sua maioria, pertencia à UnionCarbide Corporation, sendo que a parte restante era propriedade, ora do governo da

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

322

Page 324: Laboreal, Volume 15 Nº2

Índia, ora de um grande número de acionistas. Esta fábrica embalava produtos químicosintermédios para mais tarde os misturar e obter um pesticida denominado Sevin. Entreos produtos químicos que constituíam o Sevin, um pesticida ligeiramente tóxico,encontravam-se o alfa-naftol e o isocianato de metilo (MIC), os quais deviam sermisturados, diluídos com um pó não toxico e embalados na fábrica (Trotter, Day, &Love, 1989).

4 As falhas operativas que conduziram à tragédia tiveram início na noite de 2 de

dezembro, tendo eclodido na madrugada de 3 de dezembro de 1984, quando ocorreu umaumento da pressão no tanque número 610 de armazenamento de isocianato de metilo(MIC) (Fischer, 1996). A sobrepressão teve origem numa reação exotérmica do MIC aoentrar em contacto com água, cloreto de sódio e restos metálicos. O gás sob pressãodentro do tanque começou a escapar para a atmosfera através das válvulas desegurança, que rebentaram devido aos níveis de pressão alcançados pela mistura,aumentando a fuga da mistura. Por sua vez, as condições de temperatura do gáscausaram a sua decomposição em várias substâncias altamente tóxicas, einclusivamente letais, como o fosgénio, a monometilamina e o cianídrico, todas estascom uma densidade superior ao ar, o que gerou uma nuvem tóxica que se abateu nasimediações cobrindo uma superfície de mais de 60 quilómetros quadrados. Nasproximidades da fábrica, em lugar de existir um espaço desabitado e livre deconstruções, encontrava-se uma densa acumulação de casas de pessoas com baixosrecursos, que cresceu como qualquer outro bairro de lata, onde quer que seja. Demadrugada, estas casas começaram a ser invadidas pelo nevoeiro letal. As vítimas dapobreza de sempre, tornavam-se agora vítimas de uma catástrofe industrial.

As causas

5 Ao analisar o acidente de Bhopal, Reason (2009) enumera uma longa série de fatores. O

denominado modelo do Queijo Suíço toma em consideração a complexidade dos eventosque conduziram a este terrível final. Entre estes, julgo ser útil distinguir os queoriginaram a fuga do tanque 610 e que ocasionaram um tão elevado número de vítimas.

A fuga do tanque 610

6 Entre as denominadas falhas latentes, Reason enumera, como erros do sistema, a falta

de adequação da fábrica em termos de segurança para o armazenamento do metilisocianato (MIC), uma vez que estava guardada uma quantidade de MIC muito superiorà necessária para sua utilização. Uma longa série de deficiências de segurança porresolver, detetadas em inspeções anteriores e após seis acidentes prévios, entre os quaisse contava pelo menos um relativo a uma fuga de gases.

7 Quando se analisaram os erros de gestão, identificou-se uma redução da quantidade de

pessoal das operações e de manutenção, falta de pessoal qualificado presente na fábricae a desativação da sirene imediatamente após esta ter disparado.

8 Ao nível da instalação, os erros detetados foram o não funcionamento do sistema de

refrigeração e a ausência de sensores automáticos de temperatura. No painel decontrolo, faltavam indicadores de pressão e de temperatura, não havia monitores emlinha dos tanques MIC, as válvulas da sala de controlo não possuíam indicadores de

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

323

Page 325: Laboreal, Volume 15 Nº2

posição e o monitor de pressão indicava uma leitura de 30 psi abaixo do valor real. Acapacidade da instalação era insuficiente para a depuração de gases, a chaminé decombustão dos gases em excesso estava desligada e o tratamento dos gases deventilação encontrava-se em modo inativo. As tubagens utilizadas para o transporte doMIC eram de ferro, material que fez parte da reação que originou o acidente. Alémdisso, o número de máscaras de gás do equipamento de proteção pessoal não erasuficiente.

Sobre a dimensão da tragédia

9 A fábrica estava rodeada por uma área densamente povoada e o grande número de

vítimas, não o acidente que as originou, está vinculado a esta condição. Se ascircunstâncias não fossem estas, provavelmente as vítimas mortais teriam sido apenasos próprios operários da fábrica que não tivessem meios para se proteger dos gasestóxicos. É essencial mencionar que esta fábrica não produzia inicialmente Sevin, masarmazenava-o como produto acabado para distribuição (Trotter, Day, & Love, 1989). Foia sua elevada procura que conduziu à modificação da fábrica para produzir o pesticidae, consequentemente, o que alterou substancialmente o risco para a populaçãocircundante. Adicionalmente, tal como se explicou mais acima, as áreas vizinhas dafábrica foram sendo paulatinamente ocupadas dando lugar a um bairro de lata, umacondição que não foi sujeita a qualquer controlo.

Os outros efeitos de Bhopal

10 Tal como o caso de outros acidentes com uma magnitude semelhante, e inclusivamente

muito menores, o de Bhopal tornou-se no motor, ou como referem alguns autores(Khan, 2007), num catalisador de melhorias dos processos de segurança e das alteraçõesna legislação específica, tendo mesmo dado origem a uma nova categoria paraclassificar este tipo de desastres (Kliesch, 1990). Surgiu assim a denominação deAcidente Grave, definido pela Convenção n.º 174 da Organização Internacional doTrabalho (Convenção-C174, 1993, p. 2) como :

“(…) um acidente grave designa qualquer acontecimento repentino, comouma emissão, um incêndio ou uma explosão de grande magnitude, nodecurso de uma atividade dentro de uma instalação exposta a riscos deacidentes graves, no qual estejam envolvidas uma ou várias substânciasperigosas e que exponha os trabalhadores, a população ou o ambiente a umperigo grave, imediato ou diferido”.

11 Nesta mesma categoria, podemos encontrar os acidentes de : Beek (1975), Seveso (1976),

Basileia (1986), Flixborough (1974), México D.F. (1984), Deepwater Horizon (2010).

Conclusão

12 Ao passo que a efeméride do dia 3 de dezembro permanece na memória só de alguns,

associada sobretudo aos produtos químicos, o pior acidente industrial da históriacontinua a deixar uma marca mórbida no corpo de crianças indianas que nascem commalformações, atrasos ou surdez, como consequência dos efeitos genéticos da tragédia.

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

324

Page 326: Laboreal, Volume 15 Nº2

O Dia da Não Utilização de Pesticidas poderia igualmente ser o Dia para a Prevenção dosAcidentes Graves. Com o propósito de cobrir necessidades, há uma longa série deatividades desenvolvidas pelo Homem que podem conduzir a eventos semelhantes.Possivelmente, o facto de pensar nestes permite a sua redução, ainda que só em parte.

BIBLIOGRAFIA

Fischer, M. (1996). Union carbide's Bhopal incident : a retrospective. Journal of Risk and

Uncertainty, 12(2-3), 257-269. https://doi.org/10.1007/BF00055797

Kahn, M. (2007). Environmental disasters as risk regulation catalysts? The role of Bhopal,

Chernobyl, Exxon Valdez, Love Canal, and Three Mile Island in shaping U.S. environmental law.

Journal or Risk and Uncertainty, 35(1), 17-43. https://doi.org/10.1007/s11166-007-9016-7

Kliesch, G. (1990). Control de riesgos de accidentes mayores. Manual práctico. Ginebra : OIT.

Organização Internacional do Trabalho (1993). Convenio sobre la preventión de accidents industriales

mayores (número 174). https://www.ilo.org/dyn/normlex/es/f ?p =NORMLEXPUB :12100 :

0 : :NO : :P12100_ILO_CODE :C174

Reason, J. (2009). El Error humano. Madrid : Modus Laborandi.

Soca, R. (2010). La fascinante historia de las palabras. Bogotá: Rey Naranjo Editores.

Trotter, R., Day, S., & Love, A. (1989). Bhopal, India and union carbide: the second tragedy. Journal

of Business Ethics, 8(6), 439-454. https://doi.org/10.1007/BF00381810

AUTOR

ALEXIS URIEL BLANKLEJDER

Faculdade de Ciências Sociais (FSC), Universidade de Buenos Aires (UBA), Chile 1860, 2º piso “7”

(C1227AAB), Cidade Autónoma de Buenos Aires. Argentina.

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

325

Page 327: Laboreal, Volume 15 Nº2

3 de diciembre : Día Mundial del Nouso de Plaguicidas3 de dezembro : Dia Mundial da Não Utilização de Pesticidas

3 décembre : Journée mondiale sans utilisation de pesticides

3 de diciembre : World Pesticide Non-Use Day

Alexis Uriel Blanklejder

1 Hubo más de 2000 muertos en cuestión de horas, a los que le siguieron otros miles en

las semanas posteriores, multiplicados por centenares si nos remitimos a quienesvieron gravemente afectada su salud de manera permanente llegamos a contabilizarmás de 200.000. Partiendo de esos guarismos, bastante vagos por la falta de exactitudante semejante tragedia, podríamos pensar que se trató de una guerra que modificó lahistoria de dos países. Pero se trató de un accidente, uno de proporciones inmensas,incluso mayores en lo que a víctimas se refiere a las del afamado Titanic, cuyohundimiento produjo unas 1513 víctimas.

2 La efeméride está vinculada al tipo de sustancia que generó la catástrofe, un plaguicida.

Como algunos deben haber deducido me refiero al accidente ocurrido en Bhopal en1984. Si bien la palabra efeméride, que proviene del griego ephemeros se refiere a lo que“dura un solo día” (Soca, 2010), no refleja lo que le demandó a la fuga del tóxico.Demandó mucho menos de un día el cobrarse tantas víctimas. Cada 3 de diciembre secelebra el Día Mundial del No uso de Plaguicidas. Un evento poco divulgado, al igual queel accidente de Bhopal, a excepción de los medios interesados por temas ecológicos o deseguridad industrial. Más allá de tratarse de un accidente por la fuga de un productoquímico, también se trata del peor accidente industrial de la historia en lo que avíctimas se refiere.

Cómo sucedió todo…

3 En la ciudad de Bhopal, capital de Madhya Pradesh en la India, se encontraba operando,

de manera parcial, la planta de pesticidas que en mayor parte pertenecían a la UnionCarbide Corporation, mientras el resto era propiedad del gobierno indio y otra parte

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

326

Page 328: Laboreal, Volume 15 Nº2

pertenecía a una numerosa cantidad de accionistas. Dicha planta envasaba productosquímicos intermedios, para luego combinarlo y obtener un plaguicida denominadoSevin. Entre los productos químicos del Sevin, un plaguicida ligeramente tóxico, seencontraban el alfa-naftol y el isocianato de metilo (MIC), los cuales debían combinarse,diluirse con polvo no tóxico, y envasarse en la planta (Trotter, Day, & Love, 1989).

4 Las fallas operativas que llevaron a la tragedia se iniciaron en la noche del 2 de

diciembre para finalizar su eclosión en la madrugada del 3 de diciembre de 1984,cuando se produjo un aumento en la presión del tanque de almacenamiento deIsocianato de Metilo (MIC) número 610 (Fischer, 1996). El origen de la sobrepresión seocasionó por una reacción exotérmica del MIC al entrar en contacto con agua, clorurode sodio y restos metálicos. El gas a presión dentro del tanque comenzó a fugar a laatmósfera a través de las válvulas de seguridad, las cuales estallaron por lo niveles depresión que alcanza la mezcla aumentando el escape de la mixtura. A su vez, lascondiciones de temperatura del gas llevaron a su descomposición en varias sustanciasaltamente tóxicas, e incluso letales, como el Fosgeno, la Monometilamina y el ÁcidoCianhídrico. Todas ellas de mayor densidad que el aire, lo que generó una nube tóxicaque se arrastró a las inmediaciones cubriendo una superficie de más de 60 kilómetroscuadrados. En los alrededores de la planta, en vez de encontrar un amplio espaciodeshabitado y libre de construcciones, se hallaba una densa acumulación de casas degente de bajos recursos, que crecieron como lo hace cualquier villa miseria, donde sepueda. En la madrugada estos hogares comenzaban a ser invadidos por la niebla letal,víctimas de la pobreza siempre, se convertían ahora en víctimas de un desastreindustrial.

Las causas

5 Al analizar el accidente de Bhopal, Reason (2009) enumera una larga serie de factores.

Su denominado modelo del Queso Suizo toma en cuenta la complejidad de los eventosque llevaron a este desgraciado final. Entre estos creo que es útil diferenciar los quedieron origen a la fuga del tanque 610 respecto de los generaron tamaña cantidad devíctimas.

La fuga del tanque 610

6 Entre las denominadas las fallas latentes, Reason enumera como errores del sistema la

falta de adecuación de seguridad de la planta para el almacenamiento de MetilIsocianato (MIC), ya que se guardaba una cantidad de MIC muy superior a las requeridaspara su uso. Una larga serie de deficiencias de seguridad sin resolver, detectadas eninspecciones anteriores y tras seis accidentes previos, entre los que había al menos unode fuga de gases.

7 Cuando se analizan los errores de gestión identificó una reducción en la cantidad de

personal operativo y de mantenimiento, falta de personal calificado presente en laplanta y la desactivación de la sirena apenas iniciada la misma.

8 A nivel de la instalación, los errores detectados fueron la falta de funcionamiento de la

planta de refrigeración y la ausencia de sensores automáticos de temperatura. Entre loscontroles había indicadores de presión y temperatura en falla, no había monitores en

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

327

Page 329: Laboreal, Volume 15 Nº2

línea de los tanques MIC, las válvulas de la sala de control no poseían indicadores deposición y el monitor de presión ofrecía una lectura inferior en 30 Psi a la real. Lainstalación poseía una capacidad insuficiente para la depuración de gases, la chimeneade combustión de gases sobrantes se encontraba desconectada y el tratamiento de gasesde ventilación estaba en modo inactivo. Las tuberías utilizadas para el transporte delMIC eran de hierro, material que formó parte de la reacción que llevó al accidente.Además, había una cantidad insuficiente de máscaras de gas entre los elementos deprotección personal.

Sobre la dimensión de la tragedia

9 La planta estaba rodeada por un área densamente poblada, y la gran la cantidad de

víctimas, no el accidente que las originó, está vinculada a esta condición. De no habersido así, posiblemente las víctimas fatales incluirían solamente a los propios operariosde la planta que no contasen con los medios para protegerse de los gases tóxicos. Escentral mencionar que dicha planta inicialmente no producía el Sevin, sino que loalmacenaba como producto terminado para su distribución (Trotter, Day, & Love, 1989).Fue la alta demanda de este lo que llevó a la modificación de la planta para laproducción del plaguicida y por lo tanto lo que cambió sustancialmente el riesgo para lapoblación circundante. Además, como se explicó más arriba, las zonas aledañas a laplanta fueron ocupándose paulatinamente conformando una villa miseria, condiciónque estuvo ajena a cualquier tipo de control.

Los otros efectos de Bhopal

10 Como en el caso de otros accidentes de semejante magnitud, e incluso mucho menores,

el de Bhopal se convirtió en el motor, o como refieren algunos actores (Khan, 2007) enun catalizador de mejoras de los procesos de seguridad, modificaciones en la legislaciónespecífica e incluso dio origen también a una nueva categoría para clasificar este tipode sucesos (Kliesch, 1990). Surgió así la denominación de Accidente Mayor, definido porel Convenio 174 de la Organización Internacional del Trabajo (Convenio-C174, 1993,p. 2) como :

“(…) accidente mayor designa todo acontecimiento repentino, como unaemisión, un incendio o una explosión de gran magnitud, en el curso de unaactividad dentro de una instalación expuesta a riesgos de accidentesmayores, en el que estén implicadas una o varias sustancias peligrosas y queexponga a los trabajadores, a la población o al medio ambiente a un peligrograve, inmediato o diferido”.

11 En esta misma categoría podemos encontrar los accidentes de : Beek (1975), Seveso

(1976), Basilea (1986), Flixborough (1974), México D.F. (1984), Deepwater Horizon(2010).

Conclusión

12 Mientras la efeméride del 3 de diciembre queda en la memoria sólo de algunos,

vinculada principalmente a los productos químicos, el peor accidente industrial de la

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

328

Page 330: Laboreal, Volume 15 Nº2

historia sigue dejando una huella morbosa en los cuerpos de niños indios que nacen conmalformaciones, retraso o sordera por los efectos genéticos de la tragedia. El Día del Nouso de Plaguicidas también podría ser el Día para la Prevención de los AccidentesMayores. Con el propósito de cubrir necesidades, existe una larga serie de actividadesdesarrolladas por el Hombre que pueden llevar a eventos similares, posiblementepensar en ellos permita que se reduzcan, aunque sea en parte.

BIBLIOGRAFÍA

Fischer, M. (1996). Union carbide's Bhopal incident: a retrospective. Journal of Risk and Uncertainty,

12(2-3), 257-269. https://doi.org/10.1007/BF00055797

Kahn, M. (2007). Environmental disasters as risk regulation catalysts? The role of Bhopal,

Chernobyl, Exxon Valdez, Love Canal, and Three Mile Island in shaping U.S. environmental law.

Journal or Risk and Uncertainty, 35(1), 17-43. https://doi.org/10.1007/s11166-007-9016-7

Kliesch, G. (1990). Control de riesgos de accidentes mayores. Manual práctico. Ginebra : OIT.

Organização Internacional do Trabalho (1993). Convenio sobre la preventión de accidents industriales

mayores (número 174). https://www.ilo.org/dyn/normlex/es/f ?p =NORMLEXPUB :12100 :

0 : :NO : :P12100_ILO_CODE :C174

Reason, J. (2009). El Error humano. Madrid : Modus Laborandi.

Soca, R. (2010). La fascinante historia de las palabras. Bogotá: Rey Naranjo Editores.

Trotter, R., Day, S., & Love, A. (1989). Bhopal, India and union carbide: the second tragedy. Journal

of Business Ethics, 8(6), 439-454. https://doi.org/10.1007/BF00381810

AUTOR

ALEXIS URIEL BLANKLEJDER

Facultad de Ciencias Sociales (FCS), Universidad de Buenos Aires (UBA), Chile 1860, 2º piso “7”

(C1227AAB), Ciudad Autónoma de Buenos Aires. Argentina.

[email protected]

Laboreal, Volume 15 Nº2 | 2019

329