lígia pinheiro cordeiro interna escs hras – dip coordenação:dra. luciana sugai caso clínico:...
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Lígia Pinheiro CordeiroInterna ESCSHRAS – DIP
Coordenação:Dra. Luciana Sugai
Caso Clínico: Meningite bacteriana
www.paulomargotto.com.brBrasília, 15 de julho de 2011
História Clínica
Data de admissão no HRAS: 09/06/11 Identificação:AB, sexo masculino, 8anos, natural de
Urucuia- MG, procedente de Planaltina – GO.
Acompanhante: mãe – Ana Carla QP:
“Febre e cefaléia há 15 dias
História Clínica HDA: Mãe relata que criança iniciou quadro
de febre à 15 dia de 39-40oC, mais freqüente pela manha e a noite, apresentava ainda cefaléia, diminuição do apetite e náuseas.
Procurou serviço médico sendo diagnosticado : Amigdalite : amoxacilina tratamento por 5 dias ITU: BactrimR tratado por 7 dias Dengue
História Clínica Antecedentes pessoais:
- Mãe – G3P3A0 – gestação sem intercorrências.- Nascido de parto normal, a termo, P: 3560g, C: 54cm, PC 37 cm, Apgar 5´: 9, recebeu alta precoce. - Vacinação: atualizada- DNPM: adequado- Freqüenta a escola: 3º ano
História Clínica Antecedentes patológicos:
- Nega internações ou cirurgias prévias. Nega uso de medicamentos ou alergias.
Hábitos de vida:- Reside em casa de alvenaria, com saneamento básico completo. Possui cachorro.- Alimentação: cardápio familiar.- Nega tabagistas no domicílio.
Antecedentes familiares:- Mãe, 26 anos, saudável.- Pai, 31 anos, saudável.- Irmão, 6 anos, saudável.- Irmã, 3 anos, saudável.
Exame Físico Ao exame (na entrada no HRAS )
BEG, eupnéico, hipocorado, acianótico, desidratado, ativo, reativo, pouco irritado devido a dor, febril (39,3°C).AR: MVF, s/ RAACV: RCR 2T BNF s/ sopros.ABD: Plano, RHA+, flácido, sem VMG palpáveis.EXT: Sem edema, boa perfusão.
Exames Complementares Exames
Complementares:07/06:
EAS: Cor: amarelo
citrino Aspecto: turvo pH:5 densidade:102
0
sangue: ausente corpos cetônicos: ausente glicose :ausente proteinúria: + pigmentos biliares : ausente nitrito: ausente células epiteliais: 1000 leucócitos: 3.00 bactérias: aumentas outros elementos: muco aumentado células hialinas
Exames Complementares Hemograma Leucócito: 1850 Eritrocito:4% Mielócitos: 0%
Hemoglobina:9,8 Metamielócito: 0% Hematócrito:
29 Bastonetes:12% VCM: 74 Segmentados: 75% HCM: 24 Eosinófilos: 01% CHCM:32 Linfócitos:11% Monócitos:01% Plaquetas:?
Exames Complementares EAS:
Cor: amarelo citrino
Aspecto: turvo Deposito: ausente pH:5 densidade:1020 hemácia: 4.000
corpos cetônicos: ausente glicose :ausente cristais: ausentes proteinúria: + pigmentos biliares : ausente nitrito: ausente células epiteliais: 1000 leucócitos: 10.000 bactérias: + muco: ++++
Exames Complementares
Hemograma Leucócito: 31.500 Hemácia: 3,7% Mielócitos: 0%
Hemoglobina:11,6 Metamielócito: 0% Hematócrito: 35 Batonetes:12% VCM: 94,6 Segmentados: 75% HCM: 31,35 Eosinófilos: 01% CHCM:33,14 Linfócitos:11% Monócitos:01%
NOVOS ACHADOS!!!
Caso Cínico Ao exame físico do dia 09/06/11 foi
identificado : Rigidez de nuca Contratura muscular vertebral Região cervical dolorosa à palpação Lasegue + Sem sinais focais Pupilas isocóricas e fotoreagentes Febril
HIPOTESE DE DIAGNÓSTICO??
CONDUTA??
PUNÇÃO LOMBARANTIBIOTICOTERAPIA HEMOCULTURA
Punção Lombar Difícil realização. Achados:
Proteína 70 mg/dL Cloretos 101 mEq/L Glicose 67 mg/dL Hemácias: 55 /mm3Células nucleadas: 905 /mm3 Neutrófilos: 85 %Linfócitos: 15 %
exames laboratoriais exames laboratoriais (HRAS dia 09/06)
HC: Hb 11 Ht 32 Leuco 23900/82S/4B/10L/3M/1EPLQ 396.000VHS 60mmCl 96Gl 197K 4,4Na 130
Conduta
Evolução No 4o DIH apresentou posição antálgica com
flexão de coxas sobre o tronco e extensão da cabeça , e surgimento de edema/nódulo em região frontal, doloroso sem sinais flogísticos
No 5o DIH apresentou língua sabugosa, placas brancas extensas , (lesão fúngica) discreta lesão ulcerada na língua em região distal sem lesão em mucosa jugal ou gengiva, paladar preservado.
Evolução No 7o DIH foi feito TC de crânio com o seguinte
laudo:pequeno abscesso frontal no hemisfério cerebral
direito; coleções subduraiscompátiveis com empiemas. sinais de leve edema cerebral a direita, comunicação entre abscesso subgaleal frontal, calota craniana e empiema frontal e aparente comunicação com o seio frontal, o qual exibe sinusopatia. correlacionar com dados clinicos/historia pregressa para sinusite complicada com empiemas e abscessos cerebral e subgaleal, c/osteomielite associada.
Evolução
Evolução Ceftriaxona por 21 dias, Metronidazol por 14 afebril por 7 dias, nova TC de crânio para controle : Persistia com abscessos Foi discutido com a neurocirugia do
HBDF onde foi decidido intervenção.
Introdução Processo inflamatório do espaço
subarcnóideo e das membranas leptomeníngeas
Ainda representam importante causa de morbidade e mortalidade infantil
Controle progressivo por meio de vacinas conjugadas em países desenvolvidos
EtiologiaAté 28 dias S. Agalactiae, E. Coli, Listeria,
outrosgram negativos
1 a 3 meses S. Pneumoniae, H.Influenzae, N. Meningitidis, S. Agalactiae,L. Monocytogenes
3 meses a 5 anos N.Meningitidis, S. Penumoniae, H. influenza
5 anos a 18 anos N.Meningitidis, S. Penumoniae
Fisiopatologia
Manifestações Clínicas Crianças maiores : cefaléia, vômito e febre
de início agudo. Acompanhada com : fotofobia, queda do
estado geral (letargia, sonolência) Lactentes: inespecífico – irritabilidade,
apatia, recusa alimentar associado à febre. Abaulamento de fontanela ou diátese de sutura (HIC)
Neonato: instabilidade térmica, dificuldade respiratória, letargia, recusa alimentar, icterícia, vômitos.
Manifestações Clínicas Sinais de irritação meníngea:
Rigidez de nuca Dor nas costas Sinal de Kerning Sinal de Brudzinsk
Sinais de hipertensão intracraniana Convulsões Alterações do estado mental
Diagnóstico
Evidencia de HIC Comprometimento
cardiopulmonar severo
Infecção sobre o local
Trombocitopenia (relativa)
Analise do LCR Contra indicações da PL
Diagnósticos Diferenciais Outros microorganismos podem causar
meningite: Mycobacterium tuberculosis, Nocardiaspp, Treponema pallidum, Borrelia burgdorferi, fungos , Toxoplasma gonddi
Infecções focais do SNC Doenças malignas, síndromes vasculares
do colágeno e toxinas Meningoencefalite viral
tratamento Terapia inicial com ATB
O tratamento empírico é influenciado pela sensibilidade do germe.
É mais frequente a resistência do pneumococo à peniclina relativa(25%) à cefalosporina. O meningococo costuma ser sensível a penicilina e cefalosporina. 30% do H. Influenzae tipo B produzem beta-lactamase- resistente a ampicilina, sendo sensível a cefalosporina com amplo espectro
Tratamento
PROBER, Charles G. ; 602.1: Infecções do Sistema Nervoso Centra – Meningite Bacteriana Aguda após o período neonatal; Nelson- Tratado de Pediatria; tradução 18 edição; 602:2519-2527,2009
Tratamento
PROBER, Charles G. ; 602.1: Infecções do Sistema Nervoso Centra – Meningite Bacteriana Aguda após o período neonatal; Nelson- Tratado de Pediatria; tradução 18 edição; 602:2519-2527,2009
Duração do tratamento Pneumococo, sem complicação, sensível a
penicilina 10 a 14 dias, cefalosporina de 3ª geração se resistente associar a vancomicina
Meningococo: penicilina IV- 400.000U/kg/dia, a cada 4-6horas, por 5 a 7 dias
H.nfluenzae: 7 a 10 dias Sem definição do germe: ceftriaxona ou
cefotaxima por 7 a 10 dias Gram negativo: 3 semanas ou 2 semanas
depois da esterelização do LCR
PROBER, Charles G. ; 602.1: Infecções do Sistema Nervoso Centra – Meningite Bacteriana Aguda após o período neonatal; Nelson- Tratado de Pediatria; tradução 18 edição; 602:2519-2527,2009
5 versus 10 days of treatment with ceftriaxone for bacterial meningitis in children: a double-blind randomised equivalence study.
Molyneux E, Nizami SQ, Saha S, Huu KT, Azam M, Bhutta ZA, Zaki R, Weber MW, Qazi SA; CSF 5 Study Group.
Lancet. 2011 May 28;377(9780):1837-45 ARTIGO INTEGRAL
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Método - Participantes Setembro de 2001 a Dezembro de 2006 Vários países, duplo cego, controle de placebo,
randomizado Bangladech, Paquistão, Egito, Malásia e Vietnã Foram admitidas crianças que realizaram
punção lombar ou com suspeita clinica Foram realizadas punção lombar, história e
exame físico completo, pesada,exame de sangue colido, feito pesquisa para malária, glicose, eletrólitos, hemocultura. Foi já iniciado cefriaxona IV
1 HIV
Discussão Os resultados mostram que o ATB em meningite
por mais de 5 dias em crianças ,além da faixa neonatal causada pelos 3 patógenos mais frequentes, não é necessário, em crianças com quadro clínico estável e melhorando dia a dia
O óbito e as sequelas ao longo prazo são consequencias do processo inflamatório e dano neural isquêmico
O diagnóstico precoce e uso imediato de ATB influencia na diminuição da morbi-mortalidade
Diminuição da audição é a sequela mais frequente
As principais desvantagens do uso da ceftriaxona são o elevado custo (está diminuindo pela quebra da patente)
Menor tempo de internação reduzem os custos – para a família e para o estado e o risco de infecções nasocomiais
Vacina – redução drástica na Malásia - Hib Surgimento de novas bacterias causando
meningite como salmonela não typhi Limitações
Efeitos colaterais dos ATB Flebite Febre pelo medicamento Rash Vômitos Candidíase oral Diarréia
Corticóides na Meningite
Suporte na Meningite Rigorosa monitorização dos sinais vitais, nível
de consciência, diurese e avaliação neurológica
UTI- instabilidade hemodinâmica ou choque, alterações respiratórias e alterações da consciência
Isolamento até completar 24h de ATB Restrição hídrica se houver SSIHAD Suporte nutricional adequado Hemograma e glicemia rotineiro
Complicações – Abscesso Cerebral Em lactentes jovens: são meningite e as
derivações ventrículo-peritoneais em crianças de 5-10 anos: infecções
otorrinolaringológicas, dentárias e as cardiopatias congênitas cianóticas (Tetralogia de Fallot)
raros os casos pós-trauma ou pós-neurocirurgia
30% dos casos não se identifica um fator predisponente
Quadro Clínico -Abscesso Cerebral > 2 semanas e pelo aumento da pressão
intracraniana dependem da localização e do tamanho do
abscess0 50% dos casos está presente a tríade clássica de
febre, cefaléia e sinais neurológicos focais 60% sem febre Ataxia e nistagmo- abscesso cerebelar alterações do nível de consciência (50%) Convulsões 25% paralisia de nervo craniano ocular
Quadro Clínico- Abscesso Cerebral
Diagnóstico- Abscesso Cerebral A punção liquórica deve ser evitada
devido ao risco de deterioração neurológica pós-punção.
LCR alterado : quando ocorre a drenagem do abscesso para o espaço subaracnóide ou para ventrículo: mostrando pleocitose acentuada assim como hipoglicorraquia. cultura do líquor é positiva em torno de 20%
LCR - Abscesso Cerebral
Diagnóstico- Abscesso Cerebral TC Auxilia na diferenciação entre cerebrite
(contraste no centro da lesão) e abscesso bem encapsulado (ausência de contraste no centro da lesão)
TC é utilizada para o acompanhamento da no entanto, pode permanecer alterada por 4-5 meses
US - transfontanela
Causas e Locais -Abscesso Cerebral Abscessos múltiplos: foco à distância ou
pós-meningite e ocorrem em 6 a 22% dos casos.
Abscesso único: infecções contíguas ou pós-trauma
Sinusite : lobos frontal e o temporal Otite e/ou mastoidite: lobo temporal e
cerebelo disseminação hematogênica: artéria
cerebral média – região fronto-parietal cardiopatia congênita: região temporo-
parietal
Agentes etiológicos- Abscesso Cerebral 65% - agente único (sendo 20-40% anaeróbios) até 25% é polimicrobiano 30% é estéril. aeróbios e anaeróbicos (Streptococcusmilleri),
Sthaphylococcus aureus, Haemophylusi nfluenzae, Haemophylus aphrophiluse Citrobacter diversus(neonatal)
Tratamento -Abscesso Cerebral abordagem clínico-cirúrgica Antibiótico : penetração da droga no
tecido cerebral, concentração bactericida e inibitória mínimas.Cultura do material aspirado
antibioticoterapia seja prolongada, em média 4-6 semanas, chegando a até 10 semanas e também depende da técnica cirúrgica
Tratamento -Abscesso Cerebral O uso de corticosteróide no tratamento é
controverso É útil quando há aumento de pressão
intracraniana, deterioração neurológica progressiva e quando, pela tomografia, se evidencia efeito de massa
efeitos indesejáveis: diminuição da concentração de antibiótico no tecido cerebral e o retardamento do processo de formação da cápsula
Tratamento - Abscesso Cerebral A cirurgia é o tratamento definitivo do
abscesso cerebral permite a identificação do agente
etiológico. cirurgia estereotáxica
Sequelas -Abscesso Cerebral Presentes na grande maioria dos casos
geralmente, são leves. As principais são a epilepsia e as
paresias 20% são incapacitantes
Complicações – Empiema Subdural Coleção purulenta entre a dura máter e
aracnóide 70% decorrente a sinusopatias Pode estar associada a : abscesso cerebral,
meningite, osteomielite, abscesso epidural e trombose do seio cavernoso
Mortalidade: 10 a 20% Seios mais acometidos: frontal, etmoidal,
esfenoidal e pansinusite São encontrados na convexidade cerebral (70-
80%) e região inter-hemisférica (10 a 20%)
Complicações – EmpiemaSubdural Clinica:
Deterioração neurológica progressiva. Cefaléia, febre, rigidez de nuca, vertigem, vômitos, convulsões, alteração do nível de consciência e sinais neurológicos focais
Diagnóstico diferencial: Meningite, abscesso extradural e cerebral
Diagnóstico: TC ou RMN
Complicações – Empiema Subdural Agentes:
S.aureus, H.influenzae, S. Epidermidis, estreptococos, pneumococo, germes anaeróbios
Tratamento: Clínico:
ATB de largo espectro – se pequeno, sem alteração do nível de consciência, motitorização clínica e radiológica
Neurocirúrgico: eliminar o efeito expansivo e reação inflamatória Trépano-punção Craniotomia osteoplástica
Sequelas – EmpiemaSubdural Complicações:
Convulsões tardias 25 a 40% Epilepsia Deficiência mental
Prognóstico - Meningite Neonatologia – mortalidade : 15 -20%
Pneumocócica: 10% até 40% Meningocócica: 5- 10% Hib: 3 - 6%
Sequelasneurológicas: 30-50% deficiência auditiva, distúrbios de linguagem, retardo mental, anormalidades motoras, convulsões, distúrbios do comportamento, déficits visuais, baixos quocientes de inteligência e hidrocefalia. Mais frequente é a surdez neurosensorial(3-40%)
Prevenção - Meningite
Prevenção - Meningite Profilaxia para Hib somente quando há
contato domiciliares com idade inferior a 4 anos (mesmo se vacinada) e em creches somente quando há mais de 2 casos em menos de 60 dias – RIFAMPICINA (20mg/dia, uma dose diária por 4 dias)
Se o paciente foi tratado com cloranfenicol ou ampicilina também deverá receber rifampicina
Vacinação- Meningite Pneumocócica 10 (conjugada): em
crianças no primeiro semestre de vida - 2,4,6 meses, reforço entre 12 e 15 meses de idade
Meningocócica C (conjugada): duas doses aos 3 e 5 meses de idade, reforço entre 12 e 15 meses
Bibliografia FARIA,Sonia M. de; FARHAT,Calil K.: MENINGITES BACTERIANAS- diagnóstico e
conduta;artigo de revisão, Jornal de Pediatria, 1999 PEREIRA,CarlosUmbertoet al.: EMPIEMA SUBDURAL DEVIDO A SINUSOPATIAS:
considerações sobre 11 casos, artigo original, J. Bras. de Neurocirurgia,11:13-16,2000
Pereira,RicardoMetal: Abscesso Cerebral na infância:relato de 10 casos,Jornal de Pediatria,1998;62-66
MOLYNEUX,Elizabeth etal: 5 versus 10 daysoftreatmentwithceftriaxone for bacterialmenigitis in children: a double-blindrandomisedequivalencestudy; Lancetb2011, 377: 1837-45
PROBER, Charles G. ; 602.1: Infecções do Sistema Nervoso Centra – Meningite Bacteriana Aguda após o período neonatal; Nelson- Tratado de Pediatria; tradução 18 edição; 602:2519-2527,2009
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Infecções bacterianas no Recém-NascidoAutor(es): Paulo R. Margotto, Martha Gonçalves Vieira, Marta David Rocha
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