lisandro massanori sakata
TRANSCRIPT
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LISANDRO MASSANORI SAKATA
Avaliao dos aspectos morfolgicos dos olhos normais e
dos olhos com fechamento angular primrio antes e aps a
realizao da iridotomia: comparao atravs da
gonioscopia, biometria e biomicroscopia ultra-snica
Tese apresentada Faculdade de Medicina da
Universidade de So Paulo para obteno do ttulo
de Doutor em Cincias
rea de Concentrao: Oftalmologia
Orientador: Prof. Dr. Roberto Freire Santiago Malta
So Paulo
2005
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DEDICATRIA
Aos meus pais, Kenji e Jacy, pelo amor, pelo exemplo de humildade,
integridade e dedicao, toda minha admirao, amor e gratido.
A minhas irms Patrcia e Viviane, ao meu sobrinho Renan, pelo amor,
carinho constantes, todo meu amor.
minha esposa Angela, pelo companheirismo, apoio e amor que me
surpreendem dia aps dia, toda a minha admirao e amor.
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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Ao Prof. Dr. Roberto Freire Santiago Malta pelo total apoio, orientao e entusiasmo na realizao desta tese, pelos ensinamentos, exemplo de
integridade e determinao, pela amizade e sinceridade.
Ao Prof. Dr. Remo Susanna Jr. pelos ensinamentos e conselhos, exemplo de determinao, dinamismo profissional e excepcional incentivo atividade
cientfica.
Ao Prof. Dr. Alberto Jorge Betinjane, pelo incentivo atividade cientfica e total apoio na realizao desta tese, e pela considerao com que sempre
me recebeu.
Profa. Dra. Norma Allemann, pelo incentivo constante atividade cientfica e pela considerao com que sempre me recebeu.
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v
AGRADECIMENTOS Ao Departamento de Oftalmologia da Universidade de So Paulo, So
Paulo, Brasil.
Regina, Ana e Slvia, pela amizade e total apoio, sem os quais este
trabalho no poderia ser realizado.
Aos doutores Marcelo Hatanaka e Roberto Murad Vessani, pelos
ensinamentos e amizade durante esses anos de convvio.
Ao Dr. Julio De Leon Ortega, professor assistente do servio de Glaucoma
da Universidade do Alabama em Birmingham, pela amizade e ajuda na
realizao desta tese.
equipe de estatstica do Departamento de Oftalmologia da Universidade
do Alabama em Birmingham, pela ajuda na realizao desta tese.
Ao professor doutor Sebastio Cronenberger Sobrinho e ao doutor Flvio
Marigo, pelos ensinamentos e pela ajuda na realizao desta tese.
s doutoras Luiza Trancoso e Karla Costa, pela amizade e ajuda na
realizao desta tese.
Aos pacientes, principal inspirao e razo para a realizao desta
pesquisa.
A todos que, direta ou indiretamente, auxiliaram na realizao desta tese.
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vi
SUMRIO
Dedicatria.....................................................................................................iii
Agradecimentos especiais.............................................................................iv
Agradecimentos..............................................................................................v
Lista de abreviaturas.......................................................................................x
Lista de figuras...............................................................................................xi
Lista de tabelas.............................................................................................xiii
Resumo.........................................................................................................xv
Summary.....................................................................................................xvii
1. Introduo...............................................................................................01
1.1 Objetivos..............................................................................................08
2. Reviso Bibliogrfica.............................................................................09
2.1 Glaucoma de ngulo fechado..............................................................10
2.2 Conceito.............................................................................................. 10
2.3 Histrico...............................................................................................10
2.4 Mecanismos de fechamento angular...................................................13
2.5 Classificao........................................................................................18
2.6 Prevalncia..........................................................................................22
2.7 Gonioscopia.........................................................................................25
2.8 Fatores de risco...................................................................................27
2.8.1 Fatores ecobiomtricos...............................................................27
2.8.2 Fatores demogrficos ................................................................28
2.8.3 Outros fatores de risco ...............................................................30
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vii
2.9 Evoluo.............................................................................................30
2.10 Tratamento.......................................................................................35
3. Mtodos...................................................................................................37
3.1 Tipo de Estudo...................................................................................38
3.2 Seleo da Amostra...........................................................................39
3.2.1 Critrios de Incluso...................................................................39
3.2.2 Critrios de Excluso..................................................................40
3.2.3 Constituio dos grupos.............................................................41
3.2.4 Definies...................................................................................42
3.3 Procedimentos e Tcnicas...................................................................45
3.3.1 Exame Oftalmolgico..................................................................45
3.3.1.1 Gonioscopia...................................................................46
3.3.1.2 Biometria ultra-snica....................................................47
3.3.1.3 Biomicroscopia ultra-snica...........................................48
3.3.1.3.1 Avaliao quantitativa das imagens da UBM.............51
3.3.1.3.2 Fechamento angular aposicional na UBM..................56
3.3.1.3.3 Processos ciliares longos sem sulco ciliar nas imagens
da UBM.......................................................................63
3.3.2 Iridotomia.....................................................................................65
3.3.3 Anlise Estatstica.........................................................................65
4. Resultados...............................................................................................70
4.1 Dados demogrficos e clnicos dos participantes................................71
4.2 Comparao dos parmetros morfolgicos entre os olhos do grupo
controle e do grupo caso antes da realizao da iridotomia...............74
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4.2.1 Gonioscopia................................................................................74
4.2.1.1 Medida da concordncia entre os dois examinadores...74
4.2.1.2 Grupo controle x Grupo caso .........................................74
4.2.2 Biometria ultra-snica..................................................................75
4.2.2.1 Grupo controle x Grupo caso...........................................75
4.2.2.2 Olhos normais x Olhos com fechamento angular
assintomtico x Olhos contra-laterais.............................76
4.2.3 Biomicroscopia ultra-snica .........................................................78
4.2.3.1 Parmetros medidos nas imagens da UBM.....................78
4.2.3.1.1 Reprodutibilidade das medidas UBM............................78
4.2.3.1.2 Grupo controle x Grupo caso.........................................79
4.2.3.2 Fechamento angular aposicional nas imagens da
UBM.................................................................................84
4.2.4 Anlise de correlao entre a mdia do grau de fechamento
angular aposicional e os parmetros morfomtricos do olho..............87
4.3 Efeito da iridotomia nos parmetros morfolgicos dos olhos do
grupo caso..............................................................................................89
4.3.1 Presso Intra-Ocular...................................................................89
4.3.2 Gonioscopia................................................................................89
4.3.3 Parmetros ecobiomtricos........................................................90
4.3.4 Parmetros medidos nas imagens da UBM...............................93
4.3.5 Fechamento angular aposicional nas imagens da UBM............95
4.3.6 Processos ciliares longos sem sulco ciliar..................................99
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ix
4.4 Comparao dos parmetros morfolgicos entre os olhos do grupo
caso, aps a iridotomia, com e sem fechamento angular aposicional..99
4.4.1 Parmetros demogrficos...........................................................99
4.4.2 Gonioscopia..............................................................................101
4.4.3 Biometria ultra-snica...............................................................102
4.4.4 Biomicroscopia ultra-snica......................................................103
4.4.4.1 Parmetros medidos nas imagens da UBM.................103
4.4.4.2 Processos ciliares longos sem sulco ciliar....................108
5. Discusso..............................................................................................109
5.1 Caracterizao da casustica.............................................................110
5.2 Comparao dos parmetros morfolgicos entre o grupo controle e
o grupo caso antes da realizao da iridotomia................................112
5.2.1 Gonioscopia..............................................................................112
5.2.2 Biometria ultra-snica...............................................................114
5.3 Biomicroscopia ultra-snica...............................................................118
5.4 Efeito da iridotomia nos parmetros morfolgicos do grupo com
fechamento angular primrio.............................................................134
5.5 Comparao dos parmetros morfolgicos entre os olhos com e
sem fechamento angular aposicional aps a iridotomia...................161
5.6 Limitaes do estudo.........................................................................164
5.7 Consideraes finais..........................................................................167
6. Concluses............................................................................................173
7. Referncias............................................................................................176
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x
LISTA DE ABREVIATURAS
CAX: comprimento axial do olho DAA500: distncia da abertura angular medida a 500 m do
esporo escleral DAPC: dimetro ntero-posterior do cristalino DAPC/CAX: razo do dimetro ntero-posterior do cristalino /
comprimento axial do olho DTCP: distncia entre o trabeculado e os processos ciliares EI500: espessura iriana a 500 m do esporo escleral EI500/DTCP: razo da espessura da ris a 500 m do esporo escleral
/ distncia do trabeculado aos processos ciliares KJ: Dr. Kenji Sakata LMS: Dr. Lisandro Massanori Sakata MNO: mnimo nmero de observaes MSD: menor diferena significativa PCA: profundidade da cmara anterior PCA-UBM: profundidade da cmara anterior medida na imagem da
UBM PIO: presso intra-ocular
PRC: posio relativa do cristalino RFSM: Dr.Roberto Freire Santiago Malta UBM: biomicroscopia ultra-snica
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Imagem da UBM obtida s 6 horas, no escuro, mostrando um
corte radial do ngulo irido-corneano identificando a localizao do esporo escleral ............................................ 53
FIGURA 2 - Representao esquemtica da avaliao quantitativa das
imagens obtidas pela UBM ...................................................55 FIGURA 3 - Imagens da UBM obtidas s 6 horas, no claro e escuro,
selecionadas para exemplificar cada grau de fechamento angular aposicional observadas em indivduos com e sem iridotomia ................................................................................58
FIGURA 4 - Imagem da UBM apresentando um processo ciliar longo e sem
sulco ciliar segundo os critrios adotados pelo autor ..................................................................................................64
FIGURA 5 Diagramas de Venn demonstrando a freqncia e concordncia da deteco do fechamento angular aposicional determinada pelos trs examinadores em imagens da UBM, obtidas s 6 horas, dos olhos do grupo controle e do grupo caso antes da realizao da iridotomia...................................85
FIGURA 6 Histogramas da freqncia do grau de fechamento angular
aposicional classificado pelos trs examinadores nas imagens da UBM, obtidas s 6 horas, dos 27 olhos do grupo controle e dos 31 olhos do grupo caso antes da realizao da iridotomia, segundo a classificao ordinal proposta para este estudo...86
FIGURA 7 Diagramas de Venn demonstrando a freqncia e interseco
do fechamento angular aposicional detectado pelos trs examinadores nas imagens da UBM, obtidas s 6 horas, nos olhos do grupo caso antes e aps a realizao da iridotomia ................................................................................................96
FIGURA 8 Histogramas sobre a freqncia do grau de fechamento
angular aposicional, classificado pelos trs examinadores, nas imagens da UBM obtidas s 6 horas, nos olhos do grupo controle e do grupo caso antes da realizao da iridotomia, segundo a classificao ordinal deste estudo.........................98
FIGURA 9 - Imagens da UBM do seio camerular de trs casos do grupo
controle obtidas no claro e no escuro, s 6 horas (figura A) e s 12 horas (figura B e C).......................................................128
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xii
FIGURA 10 - Imagens da UBM do seio camerular de dois olhos do grupo controle obtidos no claro e escuro, s 6 horas (figura A e B)
..............................................................................................143
FIGURA 11- Imagens da UBM do seio camerular de dois olhos do grupo caso aps a realizao da iridotomia obtidas no claro e escuro, s 6 horas (figura A) e s 12 horas (figura B)........................145
FIGURA 12 - Imagens da UBM do seio camerular de trs olhos do grupo caso aps a realizao da iridotomia, obtidos no claro e no escuro, s 6 horas (figura A, B e C ).....................................147 FIGURA 13 - Foto da face posterior da ris de um olho de doador humano
fixado a uma presso constante de 30 mmHg, antes e aps a remoo do cristalino............................................................150
FIGURA 14 - Imagem da UBM do seio camerular de dois olhos do grupo caso aps a realizao da iridotomia, obtidas no claro e no escuro, s 6 horas (figura A e B) e s 12 horas (figura C)...157
FIGURA 15 - Imagens da UBM demonstrando a profundidade da cmara anterior e cortes radiais obtidos no claro e no escuro, antes e aps a iridotomia, s 12 horas..............................................160
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LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Dados demogrficos dos pacientes do grupo controle e do
grupo caso..............................................................................71 TABELA 2 Mdias ou medianas dos parmetros ecobiomtricos do grupo controle (27 olhos) e do grupo caso (40 olhos) antes da realizao da iridotomia...........................................................75 TABELA 3 Medianas dos parmetros ecobiomtricos dos olhos do grupo
controle, com fechamento angular assintomtico e dos olhos contra-laterais de pacientes com glaucoma agudo unilateral antes da realizao da iridotomia............................................77
TABELA 4 Valores mdios ajustados pela idade dos parmetros medidos
nas imagens da UBM, obtidas no claro, dos 27 olhos do grupo controle e dos 31 olhos do grupo caso antes da realizao da iridotomia.................................................................................80
TABELA 5 Valores mdios ajustados pela idade dos parmetros medidos
nas imagens da UBM dos olhos do grupo controle, com fechamento angular assintomtico e dos olhos contra-laterais de pacientes com glaucoma agudo unilateral antes da realizao da iridotomia..........................................................83
TABELA 6 Freqncia de fechamento angular aposicional determinado
pelos trs examinadores, nas imagens da UBM obtidas s 6 horas, nos 27 do grupo controle e nos 31 olhos do grupo caso antes da realizao da iridotomia............................................84
TABELA 7 - Resultados das anlises de correlao no paramtrica de
Spearman entre a mdia do grau de fechamento angular aposicional e os parmetros morfomtricos dos 58 olhos do grupo controle e do grupo caso antes da realizao da iridotomia.................................................................................88
TABELA 8 - Resultados da anlise da regresso linear mltipla, entre a
mdia do grau de fechamento angular aposicional e os parmetros morfomtricos dos 58 olhos do grupo controle e do grupo caso antes da realizao da iridotomia.........................89
TABELA 9 - Extenso das sinquias anteriores perifricas altas e baixas,
antes e aps a iridotomia, nos 40 olhos do grupo caso, segundo os dois examinadores..............................................90
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xiv
TABELA 10 - Mdias ou medianas dos parmetros ecobiomtricos dos 40 olhos do grupo caso, antes e aps a iridotomia.....................91 TABELA 11 - Medianas dos parmetros ecobiomtricos dos olhos com fechamento angular assintomtico e dos olhos contra-laterais de pacientes com glaucoma agudo unilateral, antes e aps a iridotomia, medidos pela biometria ultra-snica.....................92 TABELA 12 - Mdias ou medianas dos parmetros medidos nas imagens da UBM antes e aps a realizao da iridotomia, nos 31 olhos
do grupo caso (sem goniosinquias no quadrante inferior)...94
TABELA 13 - Freqncia do fechamento angular aposicional determinado pelos trs examinadores, nas imagens da UBM obtidas antes e aps a realizao de iridotomia...........................................95 TABELA 14 Dados demogrficos dos 31 pacientes do grupo caso (sem goniosinquias no quadrante inferior) com e sem fechamento angular aposicional, nas imagens da UBM obtidas s 6 horas,
aps a realizao a iridotomia..............................................100 TABELA 15 Grau de abertura angular, presena e extenso de sinquias anteriores perifricas altas e baixas aps a iridotomia entre os olhos do grupo caso com e sem fechamento angular aposicional nas imagens da UBM........................................102 TABELA 16 Medianas dos parmetros ecobiomtricos dos 31 olhos do grupo caso com e sem fechamento angular aposicional aps a iridotomia, e os valores da mnima diferena significativa e do nmero mnimos de observaes...................................103 TABELA 17 Medianas dos parmetros medidos nas imagens da UBM
obtidas no claro, nos olhos do grupo caso com e sem fechamento angular aposicional, e os valores da mnima diferena significativa e do nmero mnimos de observaes ..............................................................................................104
TABELA 18 Medianas dos parmetros medidos nas imagens da UBM obtidas no escuro, nos olhos do grupo caso com e sem fechamento angular aposicional, e os valores da mnima diferena significativa e do nmero mnimo de observaes ........................................................................................ ....105 TABELA 19 Medianas dos parmetros medidos nas imagens da UBM,
obtidas no claro e escuro, dos 27 olhos do grupo controle e dos 31 olhos do grupo caso com e sem fechamento angular aposicional aps a realizao da iridotomia........................107
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RESUMO
Sakata LM. Avaliao dos aspectos morfolgicos dos olhos normais e dos
olhos com fechamento angular primrio antes e aps a realizao da
iridotomia: comparao atravs da gonioscopia, biometria ultra-snica e
biomicroscopia ultra-snica [tese]. So Paulo: Faculdade de Medicina,
Universidade de So Paulo; 2005.
INTRODUO: O glaucoma de ngulo fechado reconhecido como uma das principais causas de cegueira mundial. A iridotomia representa o
tratamento de eleio nos casos com fechamento angular primrio,
entretanto, este procedimento pode no ser suficiente para proporcionar
abertura do ngulo irido-corneano, controle da presso intra-ocular (PIO) e
estabilizao do processo da leso glaucomatosa. O presente estudo tem
como objetivo avaliar a morfologia do segmento anterior do olho em uma
amostra de pacientes brasileiros, e realizar uma comparao entre olhos
normais (sem sinais de fechamento angular prvio) e olhos com ngulos
oclusveis, antes e aps a realizao da iridotomia. MTODOS: Realizou-se um estudo prospectivo observacional tipo caso-controle em pacientes da
Clnica Oftalmolgica do HC FMUSP, onde 40 olhos com ngulos
oclusveis (grupo caso) e 27 olhos normais (grupo controle) foram
examinados durante o perodo de agosto de 2003 a dezembro de 2004. Os
pacientes do grupo controle foram pareados por idade, sexo e raa. Os
exames de gonioscopia e biometria ultra-snica foram utilizados para
comparar os 27 olhos normais com os 40 olhos com ngulos oclusveis,
antes e aps a realizao da iridotomia. A biometria ultra-snica mediu o
comprimento axial do olho (CAX), a profundidade da cmara anterior (PCA)
e o dimetro ntero-posterior do cristalino (DAPC). Os 27 olhos do grupo
controle foram comparados, atravs da biomicroscopia ultra-snica, antes e
aps a iridotomia com os 31 olhos do grupo caso, que no apresentavam
goniosinquias no quadrante inferior. As imagens da UBM foram obtidas em
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xvi
cortes radiais sobre tpicos processos ciliares, no claro e no escuro. A
distncia da abertura angular a 500m do esporo escleral (DAA500),
profundidade da cmara anterior (PCA-UBM), distncia do trabeculado aos
processos ciliares (DTPC), espessura da ris a 500m do esporo escleral
(EI500) e distncia do esporo escleral insero da ris (linha X) foram
medidas nas imagens da UBM obtidas s 6 horas. As freqncias de
processos ciliares longos sem sulco ciliar e fechamento angular aposicional
no escuro tambm foram determinadas nessas imagens. RESULTADOS: Os parmetros morfolgicos dos 27 olhos do grupo controle apresentaram
diferenas significativas quando comparados com os 40 olhos do grupo
caso. Os olhos normais apresentaram ngulo irido-corneano mais aberto,
menor DAPC e maiores CAX e PCA. Nas imagens da UBM os 27 olhos
normais apresentaram maior DAA500, PCA-UBM, linha X, e tambm, maior
DTPC que os 31 olhos com ngulos oclusveis (651 119 m e 508 116
m; p < 0.001); porm, a EI500 no apresentou diferena significativa entre
os dois grupos. Aps a realizao da iridotomia foi observado uma abertura
significativa do seio camerular, e uma diminuio da freqncia de
fechamento angular aposicional nas imagens da UBM obtidas no escuro
(28/31 para 16/31). Processos ciliares longos sem sulco ciliar foram
observados em 61% (19/31) dos olhos do grupo caso aps a iridotomia e
em 33% (9/27) dos olhos do grupo controle. CONCLUSO: A presena de processos ciliares longos sem sulco ciliar foi um achado comum no
somente nos olhos com ngulos oclusveis como tambm nos olhos
normais. No entanto, nos olhos do grupo caso, os processos ciliares
estavam localizados, em mdia, numa posio mais anterior. Aps a
iridotomia, mais da metade dos olhos com ngulos oclusveis continuaram
apresentando fechamento angular aposicional na UBM. Os valores
preditivos da presena de fechamento angular aposicional (associada ou
no a processos ciliares longos sem sulco ciliar) na deteco de pacientes
sob risco de apresentarem episdios de fechamento angular precisam ser
avaliados em estudos futuros.
-
xvii
SUMMARY
Sakata, LM. Ultrasonographic biomicroscopy, conventional ultrasonography,
and gonioscopy exams in normal and primary angle closure eyes before and
after laser iridotomy [thesis]. So Paulo: Faculdade de Medicina,
Universidade de So Paulo; 2005.
Introduction: Angle closure glaucoma is emerging as one of the leading cause of worldwide blindness. Laser iridotomy (LI) has been proposed as
first line therapy for patients with angle closure, however this procedure may
not be effective opening the irido-corneal angle, controlling intra-ocular
pressure (IOP) and halting glaucoma progression in all cases. Our study
aimed to evaluate anterior segment morphology on a cohort of Brazilian
patients comparing normal eyes (no signs of angle closure) to angle closure
eyes before and after LI. Methods: In this prospective observational case control study, performed from August of 2003 to December of 2004, we
evaluated 40 angle closure eyes and 27 normal control eyes with no signs of
angle closure at clinical exam, paired by age, race and gender. We used
gonioscopy and A-scan biometry to compare anterior segment morphology
of 27 normal control eyes to 40 angle closure eyes of patients from our
service, before and after LI. We also used ultrasound biomicroscopy (UBM)
exam, to compare 27 normal control eyes to 31 of 40 angle closure eyes
with no goniosynachiae at the inferior quadrant evaluated by gonioscopy,
before and after LI. Immersion 50-MHz high-frequency ultrasound transducer
was used to obtain UBM images in radial scans through a typical ciliary
process, in both standard light and dark conditions. A-scan biometry
measured axial length (AXL), anterior chamber depth (ACD) and lens
thickness (LENS). The angle opening distance at 500m from the scleral
spur (AOD500), trabecular ciliary process distance (TCPD), iris thickness at
500m and the distance from scleral spur to iris insertion (line X) were
measured at UBM images obtained at the inferior quadrant. The frequency
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xviii
of appositional angle closure and the presence of long ciliary process with no
ciliary sulcus were also evaluated at UBM images. Results: At gonioscopy and A-scan biometry exam, 27 normal eyes had a significant wider irido-
corneal angle opening, a thinner LENS and a greater AXL, ACD than angle
closure eyes. At UBM exam, 27 normal control eyes had an significant wider
AOD500, line X and also, a longer TCPD than angle closure eyes (651 119
m vs. 508 116 m; p < 0.001); however no differences were observed in
iris thickness between the two groups. After LI, we observed a significant
irido-corneal angle opening and the number of angle closure eyes with UBM
appositional angle closure in dark condition decreased from 28/31 to 16/31.
A long ciliary processes with no ciliary sulcus were observed in 61% (19/31)
of angle closure eyes after LI, and also in 33% (9/27) of normal control eyes.
Conclusion: A long ciliary processes and absence of ciliary sulcus were a quite common finding not only in angle closure eyes, but also in normal
control eyes. However, ciliary processes were located more anteriorly in
angle closure eyes. On this cohort of Brazilian patients, more than half of
studied eyes submitted to LI maintained UBM appositional angle closure.
Whether this apposition with or without long ciliary process and absence of
ciliary sulcus detected at UBM images after LI is associated to further
goniosynachiae formation and/or loss of IOP control remains to be
evaluated.
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1
1. INTRODUO
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2
Nos ltimos anos, no mundo todo, observou-se um grande aumento do
interesse na epidemiologia e nas caractersticas do glaucoma primrio de
ngulo fechado.
Estudos de prevalncia vm demonstrando altas taxas desta doena,
principalmente em pacientes asiticos (China, Monglia, Singapura, ndia).1-
6 Estas pesquisas ainda sugerem que o glaucoma de ngulo fechado uma
condio mais agressiva que o glaucoma de ngulo aberto, chegando a ser
responsvel, em todo o mundo, por metade dos casos de cegueira bilateral
causadas por todos os tipos de glaucoma.2, 4, 7-9 Alm disso, estima-se que
os pacientes portadores de glaucoma de ngulo fechado evoluam para a
cegueira numa freqncia at duas vezes maior que pacientes com
glaucoma de ngulo aberto.2, 7-9
Entretanto, as diferenas entre o glaucoma de ngulo fechado
observado nas populaes asiticas e caucasianas no se restringem s
taxas de prevalncias.
Recentes estudos vm sugerindo que os pacientes asiticos
apresentam diferenas na forma da apresentao clnica da doena, nos
mecanismos de fechamento angular, na resposta ao tratamento e no
prognstico visual, quando confrontados com os dados disponveis sobre o
glaucoma de ngulo fechado nos pacientes da Europa e dos Estados
Unidos.2, 6, 8, 10-19
Em contraste com as populaes caucasianas onde as taxas da
prevalncia de ngulos irido-corneano oclusveis relatadas na literatura
variam entre 0,8 - 5%20, 21, as populaes asiticas apresentaram taxas
-
3
mais elevadas que variam de 5 - 8%.3, 5 Alm disso, aproximadamente 60%
dos pacientes chineses acometidos por esta doena apresentam a forma
crnica e assintomtica, no tendo sintomas de fechamento angular ou de
perda visual at os estgios mais avanados da leso glaucomatosa.2, 3, 6, 19
Os olhos normais de indivduos chineses foram comparados com os
olhos normais de caucasianos na tentativa de encontrar algum fator de risco
que justificasse taxas de prevalncia to dspares entre essas populaes.6,
11, 17-19, 21
Apesar de alguns relatos controversos, a maioria destes estudos
demonstrou que no existem diferenas significativas entre os parmetros
ecobiomtricos dessas populaes.2, 6, 11, 17, 19
Baseado nestes resultados, alguns autores sugeriram que outros
fatores poderiam ser responsveis pela maior prevalncia do glaucoma de
ngulo fechado neste grupo populacional.2, 6, 17, 19
O foco das pesquisas sobre mecanismos de fechamento angular foi
ento direcionado para o local da insero da ris, posio dos processos
ciliares e na configurao e espessura da ris perifrica.19
Do ponto de vista teraputico a iridotomia representa o tratamento de
escolha para os pacientes que apresentam ngulos oclusveis, eliminando o
componente de bloqueio pupilar.22, 23
Entretanto, foi observado que ao redor de 40 a 60% dos pacientes
asiticos apresentam prova da prono-posio em quarto escuro positiva
mesmo aps a realizao deste procedimento.2, 6, 19 Quando o exame da
-
4
UBM foi realizado no escuro, observou-se o fechamento angular aposicional
em 37 a 68% dos casos ps-iridotomia.2, 6, 19
Segundo alguns autores, os resultados destes testes provocativos,
aps a eliminao do componente de bloqueio pupilar, poderiam significar
um risco aumentado para a formao de goniosinquias progressivas
mesmo aps a realizao da iridotomia.19, 24
Na China, observou-se que o mecanismo de bloqueio pupilar estava
presente em 38% dos casos de fechamento angular primrio, que os
mecanismos de bloqueio no pupilar ocorria em 8% dos casos e, que nos
54% restantes, uma associao entre esses dois seria a principal causa
responsvel pelos episdios de ocluso do seio camerular nesta
populao.19
Desse modo, a presena do mecanismo de no bloqueio pupilar aps a
realizao da iridotomia vm sendo sistematicamente relatado como um
achado bem mais comum do que previamente se imaginava.6, 19, 25, 26
O componente da ris em plateau, baseado na interpretao subjetiva
da presena de processo ciliar anteriorizado nas imagens da UBM, seria o
mecanismo fisiopatognico mais freqente nesses casos.6, 19, 25, 26
Alm disso, outros mecanismos de no bloqueio pupilar que no
apresentam a tpica configurao da ris em plateau (sem processos ciliares
anteriorizados que do sustentao periferia iriana contra o trabeculado)
esto sendo descritos em pacientes asiticos.6, 19
A evoluo, aps a eliminao do componente de bloqueio pupilar, dos
pacientes com glaucoma agudo e/ou com glaucoma primrio de ngulo
-
5
fechado, tambm vm sendo avaliados nestas populaes. Alguns estudos
relatam um comportamento agressivo desta doena, verificando altas taxas
de descontrole da PIO, a freqente necessidade de tratamentos adicionais
para evitar a evoluo da leso glaucomatosa e, at mesmo, a progresso
do processo de fechamento angular por formao de novas goniosinquias
aps a iridotomia.12-14, 27, 28
Por esses motivos, alguns pesquisadores esto questionando a eficcia
da iridotomia como tratamento de primeira escolha nos pacientes asiticos
com fechamento angular.19, 25, 29 Tratamentos como a remoo cirrgica do
cristalino transparente e a realizao da iridoplastia perifrica vm sendo
sugeridos como terapias de primeira escolha no tratamento do fechamento
angular primrio.25, 30-33
Entretanto, outros estudos sobre a evoluo dos casos com
fechamento angular demonstram um prognstico melhor, onde o controle da
PIO foi obtido na grande parte dos pacientes submetidos a iridotomia e a
formao de novas goniosinquias no foi observada.10, 34, 35
Contudo, existe um consenso de que, uma vez estabelecido o processo
de leso glaucomatosa (defeitos estruturais no disco ptico e funcionais no
campo visual), praticamente todos os casos necessitam de tratamentos
adicionais para controle da PIO, no s nos pacientes asiticos como
tambm nos pacientes caucasianos.28
Dessa maneira, a eficcia da iridotomia no controle do glaucoma pode
ser dependente tanto dos mecanismos responsveis pelo fechamento
angular como do estgio da neuropatia ptica glaucomatosa.2, 6, 19, 28
-
6
Aps esta reviso sumria sobre o conhecimento do glaucoma de
angulo fechado nos paises asiticos, importante ressaltar que todas estas
consideraes relativas eficcia da iridotomia, freqncia da presena de
mecanismos de no bloqueio pupilar e prognstico dos pacientes com esta
doena devem ser avaliadas em outras populaes do mundo, e, em
especial na brasileira.
E tanto isto verdade, que estudos da prevalncia, realizados em
populaes no asiticas, vm relatando uma maior freqncia de casos de
glaucoma de ngulo fechado do que previamente se imaginava.16, 36
Pesquisas sobre os fatores de risco ecobiomtricos confirmaram que,
independente da populao avaliada, olhos com glaucoma de ngulo
fechado apresentam menor comprimento axial, menor profundidade da
cmara anterior, maior dimetro ntero-posterior do cristalino quando
comparados aos indivduos normais.2, 6, 11, 18, 20, 37, 38
Em um estudo brasileiro, Pereira et al39 avaliaram 25 olhos com cmara
anterior perifrica rasa e ngulo irido-corneano estreito gonioscopia. No
foram includos neste estudo pacientes que apresentaram glaucoma agudo
e casos com configurao da ris em plateau. Estes olhos foram submetidos
prova de prono-posio em quarto escuro antes e aps a iridotomia. Dos
16 olhos com um teste positivo antes da iridotomia, 14 passaram a
apresentar um teste negativo aps a eliminao do componente de bloqueio
pupilar.39
Malta40 estudou 14 olhos que apresentaram glaucoma agudo que no
apresentavam sndrome da ris em plateau (diagnstico biomicroscpico e
-
7
gonioscpico), goniosinquias em mais de 1/3 do seio camerular,
neuropatia ptica glaucomatosa e PIO > 20 mm Hg aps a realizao da
iridotomia e/ou iridectomia. A despeito desta amostra homognea, este
autor observou que a resposta prova da prono-posio em quarto escuro
foi positiva em 37% destes casos.40
Na realidade, existem muito poucos estudos que avaliaram a morfologia
do segmento anterior atravs da UBM em pacientes brasileiros, antes e
aps a eliminao do componente de bloqueio pupilar.39, 41, 42
A eficcia da iridotomia na abertura do ngulo irido-corneano e no
controle da PIO precisa ser estudada de maneira prospectiva e controlada
nos pacientes de diferentes populaes, pois muitas das perguntas sobre o
processo de fechamento angular aps a eliminao do componente de
bloqueio pupilar permanecem sem respostas.
De fato, as prprias definies utilizadas para o diagnstico dos
mecanismos de bloqueio no pupilar esto longe de serem consideradas
adequadas.
Assim sendo, o primeiro passo para responder a estas perguntas,
tentar identificar e caracterizar dados clnicos que possam ser relevantes na
determinao da presena destes mecanismos e no prognstico dos casos
com glaucoma de ngulo fechado.
-
8
1.1 OBJETIVOS
O presente estudo tem como objetivos:
1. Comparar os aspectos anatmicos dos olhos sem sinais de fechamento
angular com os olhos com ngulos irido-corneano oclusveis antes da
realizao da iridotomia.
2. Avaliar o efeito da iridotomia na conformao anatmica do segmento
anterior dos olhos com ngulos irido-corneano oclusveis.
3. Comparar as caractersticas do segmento anterior dos olhos sem sinais
de fechamento angular prvio com os olhos com ngulos irido-corneano
oclusveis aps a realizao da iridotomia.
4. Comparar os aspectos anatmicos dos olhos com ngulos oclusveis com
e sem fechamento angular aposicional detectado nas imagens da UBM
obtidas no quadrante inferior aps a realizao da iridotomia.
-
9
2. REVISO BIBLIOGRFICA
-
10
2.1 Glaucoma de ngulo fechado
2.2 Conceito
O glaucoma primrio de ngulo fechado representa uma doena
provocada por vrias anormalidades que apresentam como caracterstica
comum a aposio mecnica da malha trabecular pela periferia da ris. Por
mecanismos ainda obscuros, esta aposio pode levar a formao de
goniosinquias, resultando na obstruo do trabeculado filtrante com
conseqente aumento da presso intra-ocular (PIO). Dessa maneira, o
processo de fechamento angular pode ocasionar dano glaucomatoso do
nervo ptico.
2.3 Histrico
Em 1969, Duke-Elder43 relatou que, nos livros de aforismo hipocrtico
(460 a.C. e 397 a.C.), o termo glaucoma era utilizado para descrever a
cegueira advinda da cor da pupila opaca e esverdeada. Nesta poca, o
glaucoma e a catarata ainda eram considerados como uma nica doena.43
O primeiro relato associando o aumento da PIO com o glaucoma foi
descrito na literatura por At Tabari* (sculo X) citado por Duke-Elder43. Este
autor descreveu um quadro clnico com processo inflamatrio crnico
associado a aumento da presso intra-ocular.
* Duke-Elder S. Disease of the lens and vitreous; glaucoma and hypotony. In: System of Ophthalmology, London, v.XI, 1969.p.380-381.
-
11
Sams-ad-Din* (1348) citado por Duke Elder43, descreveu um quadro
clnico caracterizado por dor ocular, cefalia hemicraniana e opacidade dos
humores, seguida por dilatao pupilar e catarata. Esta condio foi definida
pelo autor como enxaqueca ocular ou cefalia pupilar.
O reconhecimento do glaucoma como uma doena especfica
aconteceu em 1622, quando Banister** citado em DUKE-ELDER43,
descreveu um quadro clnico caracterizado por aumento crnico da presso
intra-ocular, ausncia de percepo luminosa e pupila fixa.
Entretanto, o conceito de glaucoma como uma patologia caracterizada
pelo aumento da presso intra-ocular, somente foi aceito na Europa em
1818 com a publicao do livro Trait des Maladies de Yeux, escrito por
AntoinePierre Demours*** (1818) citado por DUKE-ELDER.43
Lawrence**** (1829) citado por Ritch44, utilizou o termo glaucoma agudo
pela primeira vez para descrever um quadro de inflamao ocular severa.
* Sams-ad-Din. Duke-Elder S. Disease of the lens and vitreous; glaucoma and hypotony. In: System of Ophthalmology, London, v.XI, 1969.p.380-381. ** Banister R. Duke-Elder S. Disease of the lens and vitreous; glaucoma and hypotony. In: System of Ophthalmology, London, v.XI,1969.p.380-381. ***Demours, AP. Duke-Elder S. Disease of the lens and vitreous; glaucoma and hypotony. In: System of Ophthalmology, London, v.XI,1969.p.380-381. **** Lawrence W. Lectures on surgery: medical and operative, lectures LXX-LXXII. Lancet 1829;1:705.
-
12
O processo de reconhecimento do glaucoma de ngulo fechado como
uma forma distinta de glaucoma aconteceu de maneira lenta e gradativa.44
O conceito da obstruo fisiolgica da passagem do humor aquoso pela
pupila (bloqueio pupilar) foi introduzido por Curran** (1920) citado por
Ritch.44
Em 1923, Raeder* citado por Ritch44, diferenciou casos de glaucoma
com profundidade da cmara anterior rasa dos casos com cmara anterior
com profundidade normal ou aumentada.
Em 1931, Curran*** citado por Ritch44 relatou a eficcia da iridectomia
perifrica em casos de glaucoma com cmara anterior rasa, mas no nos
casos com cmara anterior normal.
Foi somente em 1938 que Barkan****, citado por Ritch44, descreveu a
abertura do seio camerular aps a realizao da iridectomia perifrica e
introduziu o termo glaucoma de ngulo fechado.
* Raeder J. Untersuchungen der lage und Dicke der Linse im menschlichen Augen bei physiologischen und pathologischen Zustanden nach einer neuen methode gemessen. Arch of Ophthalmol 1923;112:44. ** Curran EJ. A new operation for glaucoma involving a new principle in the aetiology and treatment of chronic primary glaucoma. Arch Ophthalmol 1920;49:131, *** Curran, EJ. Peripheral iridotomy in acute and chronic glaucoma: some results after 10 years duration: anatomical classification of glaucoma. Trans Ophthalmol Soc UK 1931;51:520. **** Barkan O. Glaucoma: classification, causes, and surgical control. Am J Ophthalmol 1938;21:1099.
-
13
2.4 Mecanismos de fechamento angular
O glaucoma primrio de ngulo fechado ocorre em olhos
anatomicamente predispostos, onde determinadas estruturas apresentam
alteraes no seu tamanho absoluto ou relativo, como tambm, na sua
posio dentro do globo ocular.44, 45
Estas relaes anatmicas anormais levam a um complexo conjunto de
foras no segmento anterior do olho, que apresentam como resultado final,
a aposio da periferia da ris sobre a malha trabecular.46 Por mecanismos
ainda obscuros, esta aposio pode se tornar permanente, sendo ento
denominada de goniosinquias.44, 47
A aposio da periferia da ris sobre a parede do seio camerular, quer
seja temporria ou permanente, leva a um bloqueio mecnico do
trabeculado filtrante.
Este obstculo na drenagem do humor aquoso pode resultar em um
aumento da PIO, que por sua vez, pode ocasionar a leso glaucomatosa do
nervo ptico (dano estrutural) e seus caractersticos defeitos no campo
visual (dano funcional).
Segundo Ritch e Lowe44, os mecanismos de ngulo fechado podem ser
divididos em quatro categorias: devido ao bloqueio pupilar, pela ris em
plateau, induzidos pelo cristalino e por causas retro-cristalinianas. O
fechamento angular pode ser provocado exclusivamente por qualquer um
destes mecanismos como tambm pela associao de dois ou mais.44
-
14
O componente de bloqueio pupilar representa a causa mais comum de
fechamento angular e pode ser classificado como absoluto (quando a ris se
encontra aderida na cpsula anterior do cristalino por sinquias posteriores)
ou relativo (quando ocorre um bloqueio funcional).
A passagem do humor aquoso da cmara posterior para a cmara
anterior ocorre principalmente atravs da pupila. Um bloqueio pupilar
relativo ir provocar uma dificuldade de fluxo do humor aquoso levando a
aumento da presso na cmara posterior. A maior presso na cmara
posterior em relao cmara anterior provocar o abaulamento anterior da
ris, empurrando-a contra o trabeculado e desencadeando o fechamento
angular.44
A iridotomia perifrica um procedimento que produz uma passagem
de humor aquoso entre a cmara posterior e anterior atravs da ris,
proporcionando um equilbrio pressrico entre estas duas cmaras,
eliminando o componente de bloqueio pupilar e retificando o perfil iriano.44
A configurao da ris em plateau definida por um conjunto de
caractersticas anatmicas do segmento anterior do olho. A ris apresenta
uma angulao anterior em sua base, e depois, assume uma angulao na
direo central, formando o aspecto de uma ris plana, em plateau.44, 46, 48
Desta maneira, a profundidade da cmara anterior central relativamente
ampla.44, 46, 49 Apesar disso, a caracterstica angulao da periferia da ris
resulta em uma repentina queda na sua parte mais prxima ao ngulo irido-
corneano, caracterizando a tpica configurao em plateau.44
-
15
Segundo Pavlin et al48, os casos de ris em plateau apresentam
processos ciliares suficientemente anteriorizados para sustentar a periferia
da ris contra o trabeculado crneo-escleral.
A sndrome da ris em plateau representa a condio patolgica onde o
fechamento angular ocorre em um olho com configurao da ris em
plateau, a despeito da presena de uma iridotomia ou iridectomia patente.46
Esta sndrome pode ter duas formas de apresentao clinica: a completa e
a incompleta.23
A forma completa compreende a situao clssica e rara, onde o
paciente apresenta uma crise congestiva recorrente mesmo aps a
eliminao do componente de bloqueio pupilar.23 Neste caso, a ris
perifrica obstrui todo o trabeculado filtrante, levando ao fechamento
angular completo e aumento agudo da PIO.23
Na forma incompleta no se observa o aumento agudo da PIO e o
paciente no apresenta episdio de glaucoma agudo recorrente. Contudo,
estes casos podem levar a formao de goniosinquias progressivas, em
360 do ngulo irido-corneano, iniciando nas regies mais posteriores,
evoluindo para as mais anteriores e acarretando uma insero da ris
progressivamente mais anterior.23, 50 Lowe50 (1964) definiu esta forma de
fechamento angular de fechamento angular em zper (creeping angle
closure).
Assim, a principal caracterstica que diferencia a sndrome completa da
incompleta o nvel que o estroma da ris alcana em relao s estruturas
do ngulo, ou em outras palavras, a altura em que o plateau se forma. Se
-
16
a ris perifrica ocasionar a ocluso do ngulo acima da malha trabecular a
PIO se eleva de maneira aguda, desencadeando a crise congestiva. Se o
ngulo se fecha apenas parcialmente, poupando a poro superior do
trabeculado filtrante, a PIO no se eleva de maneira aguda, mas pode haver
o desenvolvimento de um processo de fechamento angular crnico e
silencioso.
Em muitos casos, o mecanismo da ris em plateau pode estar
associado ao mecanismo do bloqueio pupilar.19, 23 Nestes casos, o
diagnstico da ris em plateau no pode ser confirmado at que o bloqueio
pupilar relativo seja eliminado atravs da realizao de uma iridotomia.23, 46
Cabe ainda ressaltar que a presena de cistos de ris ou do corpo ciliar
podem levar ao fechamento angular e a configurao do seio camerular
semelhante aos casos da ris em plateau. Entretanto, estes casos so
facilmente identificados pela gonioscopia, que demonstra o fechamento
angular em apenas algumas partes do seio camerular, e no em 360 como
nos casos verdadeiros da ris em plateau.44
Os episdios de fechamento angular induzidos pelo cristalino abrangem
um grupo diverso de anormalidades como, a intumescncia do cristalino
(glaucoma facomrfico), a subluxao e/ou deslocamento do cristalino,51
assim como o aumento do dimetro ntero-posterior do cristalino e a
pequena anteriorizao desta estrutura que surgem com o decorrer da
idade44, 52.
O aumento fisiolgico do dimetro da lente altera as relaes
anatmicas das estruturas do segmento anterior levando a uma diminuio
-
17
gradual da profundidade da cmara anterior.44, 46 Apesar do componente de
bloqueio pupilar no ser considerado como uma desordem relacionada ao
aumento do cristalino, a alterao da posio da superfcie anterior desta
estrutura ocasionar uma alterao da relao da extremidade da ris com a
face anterior da lente (ao nvel da pupila) predispondo o aparecimento do
bloqueio pupilar relativo.44, 46 Alm disso, a ris e o corpo ciliar so
deslocados anteriormente provocando um estreitamento do seio
camerular.44, 46 Desta maneira, este mecanismo induzido pelo cristalino
pode corroborar com o mecanismo de bloqueio pupilar (antes da iridotomia)
e/ou com o mecanismo da ris em plateau (aps a iridotomia).23
Entretanto, o papel do cristalino na fisiopatologia do fechamento
angular apresenta algumas controvrsias e este assunto ser devidamente
abordado na discusso.
As causas retro-cristalinianas de fechamento angular representam os
casos de glaucoma maligno ou glaucoma por bloqueio ciliar. Nestes casos
foras provenientes da regio posterior lente provocam a anteriorizao
de todo o diafragma irido-cristaliniano levando a ocluso do seio
camerular.44 Acredita-se que este mecanismo seja desencadeado pelo
direcionamento anmalo do humor aquoso para a cavidade vtrea.44
Entretanto, a exata etiopatogenia desta agressiva forma de fechamento
angular ainda permanece obscura.46 Uma nova teoria sobre sua etiologia foi
descrita na literatura e ser discutida mais a frente.9
Apesar desta classificao proposta por Ritch e Lowe44 ser considerada
adequada para diferenciar os vrios mecanismos de fechamento angular,
-
18
ela apresenta alguns conceitos mal definidos. Ainda, recentes estudos,
realizados em populaes asiticas, vm descrevendo novos mecanismos
de fechamento angular primrio.6, 19 Estes assuntos tambm sero
abordados mais a frente.
2.5 Classificao
Classicamente, o glaucoma de ngulo fechado classificado segundo
os sinais e sintomas presentes no momento do diagnstico.46 Os pacientes
com fechamento angular podem se apresentar com um amplo espectro de
sintomas, variando desde a ausncia de queixa at um exuberante quadro
clnico com dor severa, nuseas e diminuio sbita da acuidade visual.46
Assim, esta classificao subdivide o glaucoma primrio de ngulo fechado
em: fechamento angular intermitente ou glaucoma subagudo, glaucoma
agudo e glaucoma crnico de ngulo fechado.46
O glaucoma subagudo apresenta episdios de fechamento angular de
curta durao e com sintomatologia moderada.46 Nestes casos, o aumento
da PIO suficiente para provocar sintomas, mas no para desencadear
todo o exuberante quadro clnico de uma crise congestiva.46 Em geral,
sintomas de diminuio da acuidade visual, dor e viso de halos duram em
mdia 30 minutos e tendem a apresentar resoluo espontnea.46 Esses
episdios de fechamento angular podem recorrer durante meses ou anos
at que, eventualmente, ocorra uma crise congestiva.46
-
19
O glaucoma agudo representa o fechamento do ngulo em toda a sua
extenso resultando em sbita elevao da PIO. Essas crises geralmente
ocorrem durante o perodo noturno, iniciando com sintomas moderados, e
evoluindo rapidamente para os sintomas mais severos.46
Aproximadamente um tero dos pacientes com crise de glaucoma
agudo relatam sintomas de crises intermitentes ou subagudas prvias.46 No
momento da crise congestiva, os pacientes relatam dor ocular e/ou
periorbitria intensa, diminuio da acuidade visual, nuseas e vmitos. Ao
exame, os olhos apresentam uma crnea edemaciada, midrase mdia no
fotorreagente e cmara anterior rasa.46
O termo glaucoma crnico de ngulo fechado descreve um olho onde
parte do seio camerular se encontra permanentemente obstrudo pela
presena de goniosinquias.44 Segundo Ritch e Lowe44, a evoluo para
esta forma de glaucoma de ngulo fechado pode ocorrer de modo
sintomtico ou assintomtico.
De uma maneira geral, os olhos com glaucoma crnico de ngulo
fechado apresentam cmara anterior mais profunda do que os olhos com
glaucoma agudo, e a elevao gradual da PIO no provoca edema da
crnea. Estes olhos podem eventualmente desenvolver crise congestiva,
porm, na maioria dos casos, o aumento da PIO e o conseqente processo
da leso glaucomatosa do nervo ptico ocorre de maneira assintomtica.46
Entretanto, apesar desta classificao tradicional do fechamento
angular primrio estar sendo utilizada h vrias dcadas46, seu uso vm
sendo considerado inadequado e sistematicamente criticado.2, 6, 7, 19 Seus
-
20
principais pontos negativos so atribudos a falta de uniformidade nos
conceitos utilizados e a inerente subjetividade em abordar e interpretar os
sintomas relatados pelos pacientes.2, 4, 6
Inmeros trabalhos publicados sobre glaucoma de ngulo fechado
utilizaram critrios prprios para a definio de cada tipo de glaucoma.
Desta maneira a comparao dos resultados entre diferentes trabalhos fica
bastante prejudicada.2
Atualmente, a definio de glaucoma primrio de ngulo aberto
utilizada pelas pesquisas epidemiolgicas adota o conceito de leso do
rgo alvo. Segundo este conceito, esta doena seria caracterizada pela
neuropatia ptica glaucomatosa, identificada atravs de uma combinao
de anormalidades estruturais associada perda visual funcional detectada
atravs do exame de campo visual.2, 53.
Em contrapartida, a presena da neuropatia ptica glaucomatosa no
esta includa como um dos critrios da classificao do glaucoma de ngulo
fechado baseada em sintomas. Os termos glaucoma agudo ou glaucoma
subagudo so utilizados independentemente do aspecto do disco ptico.
Assim, segundo o conceito de leso do rgo alvo, pacientes que
apresentam uma crise congestiva mas no possuem sinais de glaucoma no
nervo ptico, no poderiam ser definidos como casos de glaucoma agudo.2
-
21
Apesar desta situao parecer um contra-senso, na verdade a
presena ou ausncia de sintomas parece no se correlacionar com o
prognstico do dano glaucomatoso.2 Tanto que Douglas et al54 e Dhillon et
al* (1975), citado por Foster2, relataram que 60-75% dos pacientes
caucasianos que apresentaram crises congestivas evoluram sem
neuropatia ptica glaucomatosa ou leso de campo visual.
Por todo esses motivos, uma nova classificao de glaucoma de ngulo
fechado foi adotada pela Academia Americana de Oftalmologia no ano de
2000.2, 6 Nesta nova proposta, os pacientes so classificados conforme o
estgio da leso glaucomatosa em que se encontram, associado aos seus
respectivos achados gonioscpicos. Assim, os pacientes com fechamento
angular primrio podem ser classificados em: suspeitos de fechamento
angular primrio, com fechamento angular primrio e com glaucoma
primrio de ngulo fechado.2
Os pacientes ditos suspeitos de fechamento angular primrio no
apresentam nenhum dano glaucomatoso estrutural ou funcional e, tambm,
no apresentam nenhuma sinquia anterior perifrica. Este termo se aplica
aos olhos dos pacientes que so considerados anatomicamente
predispostos a apresentar episdios de fechamento angular, em outras
palavras, olhos que apresentam ngulos potencialmente oclusveis.2
* Dhillon B, Chew PT, Lim ASM. Field loss in primary angle closure glaucoma. Asia-Pac J Ophthalmol 1990;2:85-87.
-
22
Os pacientes com fechamento angular primrio tambm no
apresentam sinais da leso glaucomatosa no disco ptico e no exame de
campo visual, entretanto, j apresentam sinais de fechamento angular
como goniosinquias e isquemia da ris.2 Os pacientes sem neuropatia
ptica glaucomatosa que apresentam um quadro de glaucoma agudo so
includos nesta classificao. Portanto, o termo apropriado nestes casos
seria fechamento angular primrio agudo.
Por sua vez, os pacientes com glaucoma primrio de ngulo fechado
apresentam no somente sinais de fechamento angular prvio como
tambm j apresentam neuropatia ptica glaucomatosa.2 Assim, este termo
utilizado despeito da presena dos sintomas relacionados aos episdios
de fechamento angular prvio.
Portanto, esta nova proposta tenta estabelecer critrios objetivos que
possibilitem a uniformizao das definies utilizadas nos trabalhos
cientficos.
2.6 Prevalncia
Em 1996, Quigley7 realizou uma reviso de vrios trabalhos
epidemiolgicos sobre a prevalncia do glaucoma, e estimou que o nmero
de pessoas afetadas em todo o mundo seria de aproximadamente 66,8
milhes.
-
23
Aps a atualizao destes dados, Quigley estimou que a prevalncia de
glaucoma em todo o mundo era de mais de 50 milhes de pessoas em
2003.9 Aproximadamente um tero destes pacientes eram portadores de
glaucoma primrio de ngulo fechado,9 principalmente devido as altas taxas
de prevalncia relatadas na populao dos pases asiticos.1, 3-6, 53
interessante salientar que a maioria dos estudos epidemiolgicos
utilizou diferentes critrios para o diagnstico do glaucoma primrio de
ngulo fechado.53 A despeito desta falta de uniformidade nas definies
utilizadas, a prevalncia do glaucoma de ngulo fechado parece variar
consideravelmente entre os grupos tnicos avaliados. Assim, acredita-se
que a prevalncia desta doena seja bem maior em esquims e asiticos,
quando comparados com populaes da Europa e dos Estados Unidos.20, 44,
53 As populaes da frica e as de origem latina apresentariam uma taxa de
prevalncia intermediria quando comparados aos Asiticos e Europeus.2, 6,
7, 19, 20, 55
Alsbirk55, avaliando uma populao de esquims da Groenlndia,
observou uma das maiores taxas de prevalncia de glaucoma de ngulo
fechado em todo o mundo: 5.1% em mulheres e 1.6% em homens acima de
40 anos de idade.55
Uma pesquisa realizada em sete cidades do Japo avaliou 8.126
indivduos, e observou a prevalncia de 0.4% em mulheres e 0.2% em
homens. Neste estudo, os casos diagnosticados como glaucoma de ngulo
fechado incluam indivduos que apresentavam elevao da PIO e seio
-
24
camerular estreito, independente da presena de goniosinquias e leso
glaucomatosa estrutural e/ou funcional.56
Na frica do Sul foram estudados 987 indivduos com mais de 40 anos
de idade, na qual a metade da amostra era originria das regies do
sudeste da sia e a outra metade apresentava descendncia africana. A
prevalncia do glaucoma de ngulo fechado, nessa populao, foi de 2.3%
(23/987) e os critrios diagnsticos exigiam a presena de ngulo oclusvel
associado a vrias combinaes de outros achados clnicos relacionados
com PIO, oftalmoscopia direta e resultados de perimetria automatizada.
Contudo, apenas 8 dos 23 pacientes diagnosticados como casos de
glaucoma de ngulo fechado apresentavam neuropatia ptica
glaucomatosa.57
Recentes estudos epidemiolgicos realizados no continente asitico
vm observando altas taxas de prevalncia do glaucoma primrio de ngulo
fechado.1, 3-5
Utilizando a nova classificao de fechamento angular primrio, duas
populaes, acima de 40 anos de idade, do sudeste asitico foram
avaliadas.3, 5
Na populao proveniente da rea rural da Monglia observou-se que
2% dos indivduos apresentavam fechamento angular primrio e 0.8%
apresentavam glaucoma primrio de ngulo fechado (fechamento angular
primrio associado neuropatia ptica glaucomatosa).3 Na populao,
proveniente da rea urbana de Singapura, foram observados resultados
-
25
praticamente idnticos, ou seja, 2.2% apresentavam fechamento angular
primrio, e 0.8% apresentavam glaucoma primrio de ngulo fechado.4, 5
Nos pases da Europa, de modo geral, a prevalncia do glaucoma de
ngulo fechado se encontra ao redor de 0.1% em indivduos acima de 40
anos.2 Entretanto, um recente estudo realizado no norte da Itlia observou
que essa prevalncia de de 0,6%.16 A maioria destes pacientes no
relatava nenhum sintoma associado a episdios de fechamento angular.
Na regio sul do Brasil, um estudo epidemiolgico avaliou um total de
1772 indivduos, que representavam 83% da populao com mais de 40
anos de idade em dois bairros da cidade de Piraquara (PR).36 O diagnstico
do glaucoma de ngulo fechado exigia a presena de sinais de fechamento
angular prvio associado a um dos seguintes critrios: leso estrutural
tipicamente glaucomatosa avanada (razo escavao-disco > 0.8 com
afinamento localizado da rima neural) ou leso estrutural tipicamente
glaucomatosa associada a defeitos de campo visual.36 A prevalncia do
glaucoma de ngulo fechado foi de 0,65% (11 casos) e representou 16% de
todos os casos de glaucoma diagnosticados nesta populao.36
2.7 Gonioscopia
A avaliao gonioscpica o exame mais importante para a deteco
dos olhos com ngulos oclusveis.58 A gonioscopia de indentao
praticamente indispensvel na diferenciao do fechamento angular
aposicional do fechamento angular por sinquias anteriores perifricas.58
-
26
Entretanto, este exame demanda uma tcnica apurada e a correta
interpretao dos seus resultados depende da experincia do examinador.59
Segundo Ritch e Wilensky58 os sinais gonioscpicos mais importante na
identificao de um olho sob alto risco de ocluso angular so as
goniosinquias e o sinal da impresso de pigmentos irianos na parede do
seio camerular (comentrio no captulo dos mtodos). Estes sinais no s
indicam que o ngulo oclusvel como, de fato, representam seqelas de
um episdio de fechamento angular prvio.
Entretanto, o grande desafio ao oftalmologista identificar ngulos
oclusveis em olhos que no apresentam goniosinquias, mas apresentam
um ngulo estreito gonioscopia.
Na populao geral, existem muitos mais indivduos que apresentam
seio camerular estreito do que pacientes que realmente desenvolvem uma
crise congestiva ou glaucoma primrio de ngulo fechado assintomtico.58
Acredita-se que aproximadamente 2% da populao caucasiana apresente
olhos com ngulo estreito60 e apenas 0,1% ir apresentar episdio de
fechamento angular58.
Wilensky et al 61 realizaram um estudo prospectivo em 127 olhos
considerados sob risco de apresentarem episdio de fechamento angular
atravs do exame de gonioscopia. Estes casos foram seguidos sem
tratamento por um perodo mdio de 2,7 anos. Durante este perodo, 20%
(25/127) destes olhos desenvolveram episdios de fechamento angular,
sendo que 17 apresentaram episdios assintomticos.58
-
27
Mapstone62 avaliou prospectivamente 202 olhos contra-laterais de
pacientes que apresentaram glaucoma agudo unilateral. Este autor
observou que, mesmo sem tratamento, 34% dos olhos contra-laterais no
apresentaram glaucoma agudo durante um perodo de seguimento de 10
anos.
2.8 Fatores de risco
2.8.1 Fatores ecobiomtricos
Vrios estudos avaliaram as caractersticas dos parmetros
ecobiomtricos nos olhos com fechamento angular primrio.2, 6, 11, 18, 37, 38, 44,
63-68 De maneira geral, estas pesquisas relatam que estes olhos apresentam
menor comprimento axial, menor profundidade da cmara anterior, maior
dimetro ntero-posterior do cristalino, maior razo DAPC/CAX e posio
relativa do cristalino mais anterior que os olhos normais.
Calixto et al37 verificaram que os olhos que apresentaram glaucoma
agudo apresentavam dimetro axial e profundidade da cmara anterior
menores que os olhos com glaucoma primrio de ngulo aberto, porm,
nenhuma diferena foi observada com relao a espessura do cristalino.37
Estes autores ainda verificaram que os olhos que tiveram crise congestiva
tinham menor profundidade da cmara anterior que seus olhos contra-
laterais.37
-
28
Assim, olhos que apresentam estas anormalidades anatmicas esto
predispostos a ocluso do ngulo irido-corneano por terem um segmento
anterior mais compactado, que se reflete no seio camerular mais estreito.
2.8.2 Fatores demogrficos
Dados da prevalncia e incidncia demonstram que o glaucoma de
ngulo fechado apresenta uma ntida tendncia de acometer mulheres,
pacientes mais idosos e de origem asitica.53
As mulheres de todas as raas esto mais suscetveis ao glaucoma de
ngulo fechado.20, 46 Esta maior predisposio provavelmente est
relacionada com os parmetros ecobiomtricos.20, 46, 53 Considerando os
olhos normais (sem fechamento angular), as mulheres apresentam
comprimento axial e cmara anterior significativamente menor que os
homens.9, 17, 46, 69
Quigley9 acrescenta que esta maior prevalncia pode tambm estar
relacionada com o fato de que as mulheres tem uma maior predisposio de
apresentar alteraes da permeabilidade vascular e/ou vasoespasmos.
Como ser analisado no capitulo da discusso, estes fenmenos
vasculares podem estar associados com o desencadeamento do
fechamento angular agudo.9
Com o decorrer da idade, existe um aumento no dimetro ntero-
posterior do cristalino e um pequeno movimento anterior desta estrutura
devido perda da tenso zonular.23, 44 A cmara anterior tambm diminui
-
29
em profundidade e em volume.2, 46 Dessa maneira, a prevalncia do
fechamento angular agudo aumenta com a idade, sendo mais freqente
entre os 55 e 70 anos.46 As controvrsias relacionadas com o papel do
cristalino na fisiopatologia do fechamento angular ser, tambm,
comentado na discusso.
Conforme j citado a prevalncia do glaucoma de ngulo fechado varia
consideravelmente entre diferentes grupos tnicos.
Entretanto, Congdon et al11 compararam os parmetros ecobiomtricos
de 170 pacientes brancos, 188 negros e 531 chineses. Estes autores no
observaram nenhuma diferena significativa na profundidade da cmara
anterior e no comprimento axial nos trs grupos avaliados.11 Estes
resultados sugerem que devem existir outros fatores de risco relacionados
com a maior prevalncia do glaucoma de ngulo fechado em pacientes
asiticos.11
Oh et al17 avaliaram 291 indivduos normais de origem afro-americana,
caucasiana e asitica. Esses autores relataram que os olhos estudados no
demonstraram, atravs da gonioscopia, diferenas no grau da abertura
angular. Entretanto, os pacientes asiticos apresentaram insero da ris no
corpo ciliar situada em posio mais anteriorizada.17
-
30
2.8.3 Outros fatores de risco
A histria familiar parece representar um fator de risco para o
desenvolvimento do fechamento angular primrio.46 Alsbirk70 relatou que,
parentes de primeiro grau de um paciente afetado apresentam um risco de
fechamento angular 3,5 vezes maior que pacientes sem histria familiar
positiva.
Alguns fatores ambientais tambm parecem estar relacionados com o
desencadeamento do fechamento angular.2, 46 A incidncia de crises
congestivas demonstra uma variao sazonal, sendo mais comum nos
perodos de extremas temperaturas.2
2.9 Evoluo
Como j foi citado, o glaucoma primrio de ngulo fechado uma
doena provocada por vrias anormalidades que apresentam como
caracterstica comum a aposio mecnica da malha trabecular pela
periferia da ris. Esta aposio pode levar a formao de goniosinquias
que resultam na obstruo do trabeculado filtrante com conseqente
aumento da PIO. Dessa maneira, o processo de fechamento angular pode
ocasionar o dano glaucomatoso do nervo ptico.
Com este conceito em mente, pode-se admitir que se o mecanismo
responsvel pelo bloqueio mecnico do trabeculado for eliminado de
maneira precoce, antes de ocorrerem leses no sistema de drenagem do
-
31
humor aquoso, existe a possibilidade terica da interrupo do processo da
doena. Assim, o diagnstico precoce do ngulo irido-corneano oclusvel
representa um fator fundamental para o bom prognstico visual do paciente,
principalmente quando se considera a possibilidade do desenvolvimento de
uma crise aguda, onde os nveis muito elevados da PIO podem acarretar
graves seqelas visuais em um curto perodo de tempo.58
Entretanto, a despeito da eliminao do mecanismo de bloqueio pupilar,
o processo de leso malha trabecular pode continuar ocorrendo.
Teoricamente, a leso ao sistema de drenagem do aquoso, mesmo aps a
realizao da iridotomia, pode ocorrer ou pela manuteno do processo de
fechamento angular (mecanismos de no bloqueio pupilar) ou pela leso
ultra-estrutural da matrix extracelular da malha trabecular (mecanismo do
dano trabecular observado nos casos de glaucoma primrio de ngulo
aberto).
Alm do mais, o processo glaucomatoso pode continuar progredindo s
custas de outros mecanismos que podem lesar diretamente o nervo ptico,
como as anormalidades na sua perfuso sangunea e/ou anormalidades
nas suas propriedades biomecnicas.71
A realizao da iridotomia perifrica o tratamento de escolha na
maioria dos casos com ngulos oclusveis. Este procedimento elimina o
bloqueio pupilar relativo, que o mecanismo de fechamento angular mais
comum.
Aps a realizao da iridotomia, podemos teoricamente pensar e tentar
descrever pelo menos quatro evolues clnicas. Estas descries
-
32
hipotticas auxiliaro a interpretao da reviso da literatura sobre a
evoluo dos casos que apresentam fechamento angular aposicional.
Como primeiro quadro clnico possvel, o diagnstico do ngulo
oclusvel foi realizado de maneira precoce, no momento em que o dano ao
trabeculado ainda no era extenso o suficiente para comprometer a sua
funo. O bloqueio pupilar relativo era o nico mecanismo do fechamento
angular e no existia nenhuma outra condio associada que pudesse levar
a aumento da PIO ou a neuropatia ptica glaucomatosa. Portanto, nestes
casos, a realizao da iridotomia poderia, teoricamente, bloquear todo o
processo glaucomatoso.
Em uma segunda hipottica situao, o diagnstico do ngulo oclusvel
foi feito de maneira precoce, no momento em que o dano ao trabeculado
ainda no era extenso o suficiente para comprometer a sua funo. O
bloqueio pupilar relativo era o nico mecanismo de fechamento angular.
Entretanto, existiam outras condies associadas que poderiam elevar a
PIO ou causar a neuropatia ptica glaucomatosa. Assim, a iridotomia
bloqueou o processo de fechamento angular, porm outras condies
associadas podem levar ao aparecimento ou progresso da leso
glaucomatosa, tais como leses ultra-estruturais da malha trabecular72 e
anormalidades nas propriedades biomecnicas da cabea do nervo ptico.71
Em uma terceira situao, o diagnstico do ngulo oclusvel foi
realizado de maneira precoce, no momento em que o dano ao trabeculado
ainda no era extenso o suficiente para comprometer sua funo.
Entretanto, o bloqueio pupilar relativo no representava o nico mecanismo
-
33
de fechamento angular. Assim, mesmo aps a eliminao do bloqueio
pupilar, o processo do fechamento angular e o conseqente dano
progressivo malha trabecular pode continuar ocorrendo s custas de
mecanismos de no bloqueio pupilar, tais como a sndrome da ris em
plateau completa ou incompleta.23
Finalmente, o diagnstico do ngulo oclusvel foi feito tardiamente, em
um momento onde a extenso das goniosinquias j comprometia a funo
do trabeculado filtrante. A despeito da presena de outros mecanismos de
fechamento angular ou outras condies associadas com o
desenvolvimento da neuropatia ptica glaucomatosa, este paciente j
apresenta leso no trabeculado suficientemente extensa para comprometer
a drenagem do aquoso. A PIO ps-iridotomia se encontra elevada, assim
como os riscos de desenvolvimento da neuropatia ptica glaucomatosa.
Encerrado esta breve reviso das complexas associaes entre as
diferentes etiopatogenias do glaucoma de ngulo fechado, ser iniciada a
reviso da literatura sobre a evoluo desta doena. Todos os trabalhos
revisados a seguir foram realizados em pacientes asiticos, com exceo
do primeiro que envolveu pacientes caucasianos, negros, hispnicos e
asiticos.
Rosman et al28 avaliaram retrospectivamente casos de glaucoma
crnico de ngulo fechado (com neuropatia ptica glaucomatosa e defeitos
de campo visual) j submetidos a iridotomia e que apresentavam um
acompanhamento mnimo de 9 meses. Estes autores compararam 80 olhos
de pacientes atendidos em Nova Iorque com 83 olhos de pacientes
-
34
atendidos em Singapura. Foi observado que 100% (80/80) dos olhos
avaliados em Nova Iorque e 94% (78/83) dos olhos avaliados em Singapura
necessitaram de tratamento adicional para controle da PIO, mesmo aps a
eliminao do componente de bloqueio pupilar. Entretanto, no foi descrita,
a extenso de goniosinquias na populao estudada.
Ang et al10 observaram que 89% (71/80) dos olhos contra-laterais de
pacientes que apresentaram crise congestiva no necessitaram de
nenhuma medicao para controlar a PIO, por um tempo mdio de 50
meses, ps-iridotomia. Apesar das altas taxas de controle da PIO, os
autores ressaltaram que 9% (7/80) desses olhos apresentaram descontrole
da PIO e formao de novas goniosinquias (anlise retrospectiva) aps a
eliminao do componente de bloqueio pupilar. No entanto, a presena de
mecanismos de no bloqueio pupilar no foram investigados nestes casos.
Lim et al34 acompanharam prospectivamente 44 pacientes que
apresentaram glaucoma agudo unilateral por um tempo mdio de 12 meses
aps a realizao da iridotomia. Estes autores observaram uma abertura
significativa do ngulo irido-corneano aps a eliminao do bloqueio pupilar
e no detectaram a formao de goniosinquias nos olhos que
apresentaram a crise e nos respectivos olhos contra-laterais. No entanto,
41% (19/44) dos pacientes apresentaram descontrole da PIO e
necessitaram de tratamento adicional. Este estudo apresentou duas
importantes limitaes. A primeira diz respeito ao fato de que os pacientes
no foram avaliados quanto presena da neuropatia ptica glaucomatosa.
A segunda limitao se refere a simples excluso de todos os casos que
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35
necessitaram de interveno cirrgica durante a pesquisa, selecionando
assim, os casos com melhor evoluo clnica.
Aung et al14 realizaram um estudo observacional transversal onde 90
pacientes foram avaliados por um perodo de 4 a 10 anos aps glaucoma
agudo. Estes autores notaram que, aps um tempo mdio de 6,3 anos da
crise congestiva, 18% (16/90) dos olhos que apresentaram glaucoma agudo
estavam cegos. A presena de glaucoma primrio de ngulo fechado (dano
estrutural e funcional) foi observada em 48% (43/90) dos olhos. Verificou-se
ainda que 49% (44/90) destes olhos apresentavam ngulo estreito
gonioscopia. (classificao de Shaffer 1). No entanto, como limitao do
estudo, nem todos os pacientes, na poca da crise congestiva realizaram
perimetria automatizada e avaliao do disco ptico.
2.10 Tratamento
O tratamento do fechamento angular primrio realizado de acordo
com o mecanismo etiopatognico envolvido. Na grande maioria dos casos,
a terapia de escolha a realizao da iridotomia perifrica.
Aps a realizao da iridotomia, a eventual necessidade de tratamento
adicional determinada segundo as causas do aumento da PIO e/ou
segundo o processo de fechamento angular persistente.
Dessa maneira, se no houver nenhum mecanismo de fechamento
angular adicional aps a iridotomia (mecanismos de no bloqueio pupilar) o
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36
tratamento deve envolver o uso de colrios ou drogas sistmicas
antiglaucomatosas, e, eventualmente, a realizao da trabeculectomia.73-76
Nos casos onde existe um mecanismo de no bloqueio pupilar levando
ao dano progressivo do trabeculado (formao de novas goniosinquias), o
tratamento pode envolver o uso de crnico da pilocarpina, a realizao da
iridoplastia perifrica ou at mesmo a controvertida realizao da remoo
do cristalino.19, 25, 73, 74, 77, 78
Entretanto, importante ressaltar que a eficcia de cada uma destas
modalidades teraputicas citadas no foi comprovada em estudos
longitudinais controlados.79 Alm disso, cada uma destas modalidades
teraputicas, cirrgicas ou clnicas, apresentam uma srie de potenciais
efeitos colaterais. Assim, a conduta a ser adotada deve ser decidida
criteriosamente para cada caso de glaucoma de ngulo fechado.
-
37
3. MTODOS
-
38
3.1 Tipo de Estudo
A presente pesquisa pode ser dividida em trs etapas. Primeiramente,
realizou-se um estudo observacional tipo caso-controle, onde vrios
parmetros morfolgicos foram comparados entre os olhos com ngulos
irido-corneano oclusveis (grupo caso) e olhos sem sinais de fechamento
angular ao exame clnico (grupo controle). A seguir, uma pesquisa
intervencionista descritiva avaliou os efeitos da iridotomia sobre a
morfologia dos olhos com ngulos oclusveis. Finalmente, um estudo
observacional de corte transversal comparou vrios aspectos anatmicos
entre os olhos do grupo caso com e sem fechamento angular aposicional
detectado nas imagens da UBM, obtidas no quadrante inferior, aps a
iridotomia.
A amostra foi constituda por pacientes atendidos na Clnica
Oftalmolgica do Hospital de Clnicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de So Paulo (HC-FMUSP), durante o perodo de agosto de
2003 a dezembro de 2004.
Todos os participantes ou seus representantes legais foram informados
sobre os objetivos da pesquisa, assim como os riscos e potenciais
benefcios envolvidos. Os indivduos que concordaram em participar
assinaram o termo de consentimento informado, de acordo com as normas
aprovadas pela Comisso de tica para Anlise de Projetos e de Pesquisa
CAPPesq da Diretoria Clnica do HC-FMUSP.
-
39
3.2 Seleo da Amostra
A amostra foi constituda de um grupo caso representado por pacientes
portadores de ngulo irido-corneano oclusvel e um grupo controle
composto de pacientes normais, ou seja, olhos sem sinais de fechamento
angular ao exame clnico.
3.2.1 Critrios de Incluso
Os critrios de incluso deste estudo foram:
Grupo controle:
- idade acima de 18 anos ou mais;
- ausncia de qualquer sinal de fechamento angular prvio ao
exame de biomicroscopia do segmento anterior e/ou
gonioscopia;
- PIO abaixo de 21 mm Hg aferida pelo tonmetro de
Goldmann;
- disco ptico e camada de fibras nervosas com aparncia
absolutamente normal ao exame fundoscpico.
-
40
Grupo caso:
- idade acima de 18 anos ou mais;
- olhos de pacientes portadores de fechamento angular
primrio assintomtico;
- olhos contra-laterais de pacientes que apresentaram
fechamento angular agudo primrio unilateral.
3.2.2 Critrios de Excluso
Os critrios de excluso deste estudo foram:
Grupo controle:
- histria familiar positiva para glaucoma (parentes de primeiro
grau).
Grupo caso:
- cistos do epitlio pigmentar da ris ao exame da UBM;
- causas secundrias de fechamento angular prvio;
- histria prvia de qualquer procedimento cirrgico intra-
ocular, iridotomia a laser, trabeculoplastia a laser, e/ou trauma
ocular;
-
41
- alteraes retinianas associadas e/ou neuropatia ptica no
glaucomatosa ao exame clnico;
- uso de qualquer medicao tpica (principalmente
pilocarpina e/ou tartarato de brimonidina80-83) ou sistmica que
pudesse afetar a configurao do seio camerular.
- olhos contra-laterais de pacientes com fechamento angular
agudo primrio unilateral com ngulo aberto gonioscopia;
- olhos com fechamento angular primrio assintomtico com
sinais de crise congestiva prvia ao exame clnico;
3.2.3 Constituio dos grupos
Apenas um olho por paciente foi considerado para anlise. Quando
ambos os olhos de um mesmo paciente satisfaziam os critrios de incluso
e excluso, um olho era escolhido de maneira aleatria. Os nomes desses
pacientes foram listados em ordem alfabtica. O olho direito foi escolhido
nos trs primeiros pacientes desta lista, o olho esquerdo nos trs prximos
pacientes desta lista, e assim sucessivamente.
O grupo caso incluiu pacientes que se apresentaram de maneira
consecutiva no servio de oftalmologia do HC-FMUSP durante o perodo do
estudo. Este grupo foi constitudo por pacientes portadores de fechamento
angular assintomtico recm-diagnosticados no ambulatrio de glaucoma e
olhos contra-laterais de pacientes com fechamento angular agudo primrio
unilateral que se apresentaram no pronto-socorro. importante ressaltar
-
42
que o diagnstico do fechamento angular primrio assintomtico e do
episdio da crise congestiva foram realizados a despeito da aparncia do
disco ptico e dos resultados da perimetria automatizada.
O grupo controle incluiu olhos sem sinais de fechamento angular prvio
que compareceram Clnica Oftalmolgica do HC-FMUSP para consulta
oftalmolgica de rotina. Esses pacientes foram pareados com o grupo caso
segundo idade, sexo e grupo tnico.
3.2.4 Definies
Sinquias anteriores perifricas foram definidas como a presena de
aderncias adquiridas entre o tecido iriano e a parede do seio camerular.
Neste estudo, estas aderncias foram classificadas em altas e baixas, de
acordo com a altura alcanada na parede do seio camerular. As sinquias
anteriores que estavam presentes at a altura do trabeculado posterior
eram consideradas baixas, e as que ultrapassavam a altura do trabeculado
posterior eram consideradas altas. Os examinadores cuidadosamente
diferenciaram goniosinquias de anomalias congnitas do seio camerular,
tais como a presena de processos irianos isolados ou confluentes.84
O sinal da impresso foi definido como a presena localizada de
aumento da pigmentao na parede do seio camerular. Acredita-se que
este aumento de pigmentao localizado seja o resultado de um
fechamento angular prvio, onde a ris permaneceu em contato ou aposta
com a parede do seio camerular de maneira suficiente a marcar ou
-
43
imprimir esta aposio com seus pigmentos, entretanto sem formar
goniosinquias. Este aumento da pigmentao geralmente se localiza em
uma regio da parede do seio camerular correspondente a uma poro
mais ele